África, Desafios e Perspectivas Contemporâneas : PDF
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Embora o processo de reforma e abertura chinês tenha iniciado em 1978, sob a égide de Deng
Xiaoping, podemos afirmar que somente no alvorecer do século XXI, como não é objetivo
verificar origem, o texto aborda, diretamente tratar das motivações por trás da maior
aproximação econômica entre a China e o continente africano.
A internacionalização chinesa a partir dos anos 2000: a busca por recursos naturais
Pode-se dizer que a experiência chinesa de crescimento acelerado das últimas décadas reforça
a ideia de que a intervenção do Estado na economia, com o intuito de promover uma política
ativa de consolidação da indústria, na condução das políticas macroeconômicas e na criação
de um ambiente atrativo para a captação de investimentos externos diretos é fator crucial do
desenvolvimento. Embora o tamanho do desafio pareça refletir as dimensões de tudo que
envolve a China, esse país demonstrou, até agora, saber lidar com os instrumentos de política
econômica de modo gradualista e pragmático, atuando conforme as exigências das
circunstâncias. O sucesso atingido pelo modelo chinês de “Estado Desenvolvimentista”
demonstra a importância do papel do Estado, bem como fornece uma orientação para
responder aos desafios impostos pela globalização, entendida aqui como uma trajetória de
longo prazo na economia-mundo capitalista (WALLERSTEIN, 2004). Neste sentido, pode-se
afirmar que a China tem conseguido se beneficiar do padrão de distribuição de riqueza do
capitalismo histórico, como herdeira do modelo de desenvolvimento instaurado na região do
Leste Asiático desde os anos 1950
tendo como ápice a Conferência de Bandung, em 1955, na qual países asiáticos e africanos
criaram o Movimento dos Não Alinhados, cujo objetivo era manter o afastamento em relação
à União Soviética e ao imperialismo dos países ocidentais.
Alden (2007) menciona a visita do então Presidente Jiang Zemin ao continente africano em
1996, na qual ele apresentou a proposta dos cinco pontos seriam os seguintes:
a amizade confiável,
a igualdade soberana,
a não intervenção,
o desenvolvimento mutuamente benéfico
cooperação internacional
que visava estabelecer os termos de uma nova relação com a região. A África tornou-se um
dos principais focos da política de “parceria estratégica” chinesa e, desde então, a diplomacia
chinesa empenhou-se em fortalecer suas ligações com os países africanos e a formar acordos
não só econômicos e comerciais, mas também de cooperação técnica, política e militar.
Pautasso (2010) e Carmody e Owusu (2011) sugerem que isto se deve à exigência de uma
maior participação nos negócios internacionais, por parte da China, com fins de manter o
ritmo acelerado do crescimento econômico. Uma vez que a capacidade de exportação e o
fortalecimento do mercado interno aumentaram a demanda por mercados e matérias-primas,
e, consequentemente, fortaleceram o peso político-diplomático do país no contexto mundial,
além de obrigarem a China a repensar sua posição geopolítica e formar novas alianças:
Assim, o final do Século XX reuniu elementos de inflexão rumo à universalização da
diplomacia chinesa:
1) a repressão da Paz Celestial em 1989 forçou a diversificação das relações exteriores para
evitar o isolamento promovido pelos EUA;
2) o crescimento econômico impulsionou a dependência crescente de importação de petróleo
a partir de 1993, exigindo a ampliação e diversificação do fornecimento;
3) o fortalecimento macroeconômico gerou crescentes acúmulos de capitais ampliando a
capacidade financeira do país em realizar investimentos diretos e fornecer créditos
internacionais.
Tais transformações têm criado condições objetivas ao país para reocupar seu status de
potência mundial. E uma diplomacia voltada aos países periféricos (diplomacia zhoubian),
com destaque ao continente africano, é parte fundamental da universalização da política
externa chinesa (PAUTASSO, 2010:109).
Portanto, o interesse chinês pela África deve ser encarado como
consequência desse reposicionamento estratégico, tendo em vista as
necessidades de abastecimento de produtos naturais para a
sustentação do modelo de desenvolvimento chinês4. O tamanho da
população, a pouca disponibilidade de terras aráveis e a demanda
energética são exemplos que explicam a grande necessidade chinesa
por recursos naturais, existentes em abundância na África, sendo esta
necessidade obviamente decorrência do modelo de crescimento da
economia chinesa, baseado na expansão da indústria pesada, na
expansão imobiliária e da infraestrutura e no próprio aumento da
produção e consumo interno de bens manufaturados, como
automóveis.
Arrighi (2006) nos recorda que, no contexto das lutas pela libertação colonial e
independência que varreram a África pós Segunda Guerra Mundial, vários países do
continente tiveram desempenhos econômicos satisfatórios, até meados dos anos 1970. O
colapso africano “foi parte integrante de uma grande mudança da irregularidade inter-regional
do desempenho econômicos do Terceiro Mundo. Nesse período, desenvolveu-se uma forte
bifurcação entre o desempenho em queda da África subsaariana, da América Latina e, do
outro lado, o desempenho em ascensão da Ásia oriental e meridional” (p. 41). Essa
bifurcação, para esse autor, liga-se à própria crise de hegemonia dos EUA dos anos 1970, que
fez com que esse país, para tentar resolver seus problemas de legitimidade política e de crise
de lucratividade7, promovesse uma virada em sua política econômica mais ampla, através da
política de elevação dos juros, que redirecionou os fluxos de capitais para os Estados Unidos,
em detrimento de algumas das regiões periféricas. Para Arrighi,
Para esse autor, em flagrante contraste com o Leste Asiático, no final dos anos 1970 a África
subsaariana estava em desvantagem na luta competitiva, “não só em função da sua escassez
estrutural de oferta de mão de obra barata e flexível como também da exiguidade do estrato
empresarial local capaz de mobilizar de forma lucrativa a pouca oferta de mão de obra barata
e flexível existente” (ARRIGHI, 2006: 4)
Castells (1999) também relata a conjuntura de crise generalizada na África a partir dos anos
1980. Segundo esse autor, a África subsaariana experimentou um processo de significativa
deterioração de sua posição relativa no comércio, investimentos, produção e consumo em
relação a todas as demais áreas do globo.
a China acabou se tornando cada vez mais importante economicamente para muitos países
africanos simplesmente porque empresas e governos ocidentais deixaram de investir ou
investiram muito pouco nos mesmos. O outro aspecto importante a ser aqui mencionado é a
própria proeminência política que a China passou a ter aos olhos de muitas lideranças
africanas, pois este país, através da disseminação da política de parceria estratégica (com a
criação do Fórum de Cooperação China–África – FOCAC10) tem sido mais e mais encarado
como um exemplo a ser seguido pelo “Terceiro Mundo”11 e um parceiro nos negócios que
não apresenta condicionalidades para investimentos e empréstimos, além de ter feito um
gesto simbólico de perdão de dívidas externas de vários países africanos.
Do ponto de vista das oportunidades, está presente em vários autores a percepção de que, face
ao abandono a que foi submetida a África desde os anos 1980, a maior conexão com a
economia chinesa pode significar uma oportunidade de avanço econômico. Alerta-se, nesse
sentido, para que a África não fique refém tão somente da exportação de produtos primários
Na verdade, parece mesmo que a maioria dos países ou regiões, especificamente a África
(independentemente de suas ações específicas), continuam e continuarão funcionando como
periferias e semiperiferias nos quadros da economia-mundo capitalista.
Texto 2
direitos humanos
marginalização da grande maioria dos seus povos.
nesse sentido Roque tras, 7 características que são comuns aos países africanos envolvidos
em conflitos ou em situação recente de reconstrução pós-conflito:
4. Inflação elevada e controlo ineficiente das despesas públicas, com despesas importantes
não incluídas no orçamento e com desfasamento nas contas fiscais;
5. Quase total destruição das infraestruturas físicas e sociais;
Parece-nos, por isso, evidente, que entre os mais importantes desafios colocados aos
governos africanos no século XXI, estão:
1. Consolidar a legitimidade interna e cooperar ativamente na construção do Estado-Nação
(nation-building);
2. Reduzir a pobreza e a exclusão social;
3. Garantir a segurança e promover a confiança;
4. Equilibrar os custos e os benefícios da transformação para um desenvolvimento inclusivo e
da integração nas áreas social, política, económica e institucional.
- Neste contexto, para a materialização destes princípios estratégicos, a NEPAD elege no seu
programa, oito (8) áreas prioritárias, nomeadamente:
1. Desenvolvimento das infraestruturas em sentido lato;
2. Educação;
3. Saúde;
4. Agricultura;
5. Ambiente;
6. Novas tecnologias da informação e comunicação;
7. Energia;
8. Acesso aos mercados dos países desenvolvidos.
Medidas eficazes para combater a corrupção e uma reforma judicial completa [nos
países africanos]»
O autor considera o grande potencial do continente africano.
sendo considerado um polo global, os desafios continuam a ser imensos e as
responsabilidades dos seus líderes legítimos, atuais e futuros ainda maiores, sendo não só
concretizar os objetivos-chave da NEPAD, mas também implementar a Agenda de
Desenvolvimento Sustentável 2030, adotada, pela Organização das Nações Unidas (ONU),
mais também, o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Agenda 2063, aprovada
em 2015, pela 24.ª Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da
União Africana (UA) na, Etiópia, onde foi, incluindo as sete (7) ambições africanas para a
transformação estrutural e o desenvolvimento socioeconômico do continente (2015).
Texto 3-
África está à busca de sua própria Doutrina Monroe, da África para os africanos.