A Comida em Eça de Queirós
A Comida em Eça de Queirós
A Comida em Eça de Queirós
Introdução:
Por fim, deixaremos, em anexo, as receitas de alguns dos pratos servidos durante
os episódios retratados nesse trabalho com o objetivo de conhecer melhor cada um dos
pratos.
Episódios Gastronômicos:
No capítulo III, Vilaça vai visitar Afonso da Maia em Santa Olávia e é avisado
pelo mordomo que o jantar será servido em 10 minutos. Ele coloca sua sobrecasaca e
desce para a sala de jantar. Todos já estão na sala, incluindo Afonso da Maia, alguns
amigos e Carlos da Maia, ainda criança. Primeiramente, foi servida uma sopa, depois
pimentão e fricassê:
— Ora sirva-se desse fricassé, ande, abade — disse Afonso — que eu sei que é o seu
fraco, e deixe lá o latim...
O abade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico os bons pedaços de ave...
(Os Maias, p.113)
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Para beber, havia os vinhos Bucelas, Colares e vinho do Porto. O Bucelas é um
vinho branco produzido na região de Bucelas, próxima de Lisboa, sua uva é considerada
de uma casta especial (Arinto). Esse vinho ficou conhecido internacionalmente na época
das Invasões Francesas, e foi, inclusive, apreciado por William Shakespeare. O Colares
também leva o nome da região onde é produzido, muito apreciado pelos portugueses, é
considerado um vinho de alto padrão. Segundo pesquisas, sua fabricação data por volta
do século XIII, portanto, é um dos vinhos mais antigos de Portugal, servia a mesa dos
nobres e dos reis, que também o ofertava às cortes estrangeiras. Já o vinho do Porto é
um dos vinhos portugueses mais conhecidos, famoso pelo seu teor mais licoroso e sabor
adocicado. Por fim, a sobremesa é servida em uma compoteira de cristal:
Ao final do jantar, os homens vão para uma outra mesa no terraço da quinta,
onde é servido o café. É importante ressaltar que durante o jantar ocorrem diferentes
diálogos entre as personagens. A mesa, portanto, é o cenário escolhido para o desenrolar
dos acontecimentos que compõem esse trecho da narrativa.
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champignons), petits-pois à la Cohen (bacon e ervilhas ao molho branco). Como
sobremesa havia doce de ananás. Ao final do jantar, novamente, serviu-se o café. Toda a
cerimônia foi regada a vinhos e champagne e as personagens estiveram por três horas à
mesa:
Os criados serviram o café. E como havia já três longas horas que estavam à
mesa, todos se ergueram, acabando os charutos, conversando, na animação viva que
dera o champanhe. A sala, de teto baixo, com os cinco bicos de gás ardendo largamente,
enchera-se de um calor pesado, onde se ia espalhando agora o aroma forte das
Chartreuses e dos licores por entre a névoa alvadia do fumo. (p. 212)
Na sala de jantar, um pouco sombria, forrada de papel cor de vinho, escurecida ainda
por dois antigos painéis de paisagem tristonha, a mesa oval, cercada de cadeiras de carvalho
lavrado, ressaltava alva e fresca, com um esplêndido cesto de rosas entre duas serpentinas
douradas. (Os Maias, p.406)
O seu vivo desejo seria comer o famoso coelho guisado — mas como era cedo
para esse acepipe, decidiu-se, depois de pensar muito, por uma bela pratada de ovos
com chouriço. Era uma coisa que não provava havia anos e que lhe daria a sensação de
estar na aldeia... Quando o patrão, com um ar importante e como fazendo um favor,
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pousou sobre a mesa sem toalha a enorme travessa com o petisco, Cruges esfregou as
mãos, achando aquilo deliciosamente campestre. (p.255)
O prato foi acompanhado de vinho Colares e para finalizar o jantar, veio o café,
sempre presente em todas as refeições. Quando os amigos estão voltando para Lisboa,
no meio do caminho, Cruges lembra-se de que esqueceu de comprar as famosas
queijadinhas para levar a sua mãe. Durante todo esse dia, Cruges pediu aos amigos que
não o deixassem esquecer das queijadas. Essa cena de grande humor termina com a
seguinte frase:
Por fim, iremos relatar um jantar na casa de Craft. Nesta noite, Ega está desolado
porque Cohen descobriu que ele era amante de sua esposa e o expulsa de sua festa. Ao ir
se desabafar com Carlos, os dois resolvem ir à casa de Craft, pois Ega quer saber a
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posição do amigo em relação a esse problema. Ao chegarem lá, Craft está se preparando
para cear e os convida para lhe fazer companhia:
— Excelente! Então, meu caro Ega, tens outra coisa a fazer, antes de morrer
amanhã talvez, é cear esta noite. Eu ia cear, e por motivos longos de explicar, há nesta
casa um peru frio. E há de haver uma garrafa de Borgonha...
Daí a pouco estavam à mesa — naquela bela sala de jantar do Craft, que encantava
sempre Carlos, com as suas tapeçarias ovais representando bocados solitários de
arvoredo, as severas faianças da Pérsia, e a sua original chaminé flanqueada por duas
figuras negras de núbios com olhos rutilantes de cristal. Carlos, que se declarara
esfomeado, trinchava já o peru enquanto Craft desarrolhava, com veneração, duas
garrafas do seu velho Chambertin, para reconfortar Mefistófeles. (pp. 305-306)
Notamos também, nesse excerto, os detalhes da sala de jantar dados por meio da
perspectiva de Carlos. Na ceia, há uma mistura das culinárias francesa e inglesa
acompanhadas de diferentes bebidas, afinal, Ega precisa “afogar” suas mágoas. Antes
do jantar, os três servem-se de uns “grogs de cognac e limão” (p.303). Já à mesa, abrem
duas garrafas de um vinho francês de casta nobre, o Chambertin, da região da
Borgonha.
Mais uma vez, observamos que os diálogos acontecem ao redor de uma mesa, é
entre uma comida e outra, uma e outra bebida, que as personagens conversam, expõem
seus pensamentos e pontos de vista sobre os mais variados assuntos. Há diversas
passagens no livro em que a sala de jantar é o espaço selecionado para o desenrolar da
narrativa, no entanto nos detivemos a essas por apresentarem variedades culinárias de
diferentes países.
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também apreender acerca de suas personalidades, estilos de vida, posicionamentos
políticos, sociais e culturais. A gastronomia, portanto, pode ser considerada mais um
fator de análise; visto que na literatura de Eça de Queirós, nada é por acaso. Dessa
forma, por meio da seleção de cada prato descrito nas mais diversas cerimônias, o autor
também tem algo a nos dizer.
Anexos:
Ingredientes:
Modo de preparar:
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Leve a panela com esses caldos ao fogo e reduza pela metade. Deve ficar um pouco
espesso, meio cremoso. Junte então o creme de leite e deixe ficar no fogo até engrossar.
Adicione, nesse molho os mariscos, os camarões, cogumelos e os filés de linguado.
Deixe esquentar durante mais ou menos 3 minutos e sirva imediatamente.
Delicioso.
Ingredientes:
- frango
- 1 cebola grande, picada
- 3 dentes de alho picados
- 500 gr. de cogumelos frescos (usei congelados)
-150 gr. de bacon defumado
- 45 cl de caldo de frango
- 2 c. (de sopa) de açúcar
- 3 c. (de sopa) de molho de soja
- 2 folhas de louro
- sal
- pimenta
- um pouco de azeite
Modo de preparar:
Ingredientes:
6 tomates longa vida (ou outro, desde que sejam bem vermelhos e de tamanho
médio/grande)
Óleo de oliva
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150 g de carne picada
150 g de presunto
1 fatia de pão de fôrma
1 copo de leite
1 ovo
1 cebola
1 dente de alho
1 ramo de salsinha
Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparar:
Em um prato de sopa, coloque a fatia de pão e o copo de leite, para amolecer o pão. Em
outro recipiente, pique o presunto em cubinhos, no menor tamanho que conseguir.
Numa panela, frite o alho picado com óleo de oliva. Então, adicione a cebola cortada em
cubinhos.
Em seguida, adicione a carne moída. Mexa até que a carne pegue cor, como carne
moída normal, mas sem deixar ela dourar (ela vai ficar molhadinha mesmo).
Retire do fogo e adicione à mistura o ovo, o pão amolecido no leite, o presunto
picadinho, a salsinha picada, sal e pimenta do reino a gosto.
A mistura vai ficar bem consistente. Agora, é só rechear os tomates e colocar a
tampinha de volta, por cima.
Disponha os tomates sobre uma fôrma e leve ao forno pré-aquecido. Asse a 180º por
aproximadamente 30 minutos.
Na França, esse prato é tradicionalmente servido com arroz branco. Mas também vai
muito bem com um risoto de queijo ou com ervilhas, milho etc. Use a imaginação!
Modo de preparar:
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5. Galantine:
Ingredientes:
1 peito de frango picadinho em tamanhos miúdos
1 colher (chá) de estragão sêco
1 colher (sopa) de manteiga clarificada
60 gr de cenoura raladinha
1 cebola pequena cortada em quadradinhos (brunoise)
1 haste de aipo
1 bouquet garni
1 cálice de vinho do Porto
500 ml de caldo de carne
40 gr de passas brancas e pretas
1 pacote de gelatina sem sabor
Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparar:
- Pique o peito de frango, tempere-o com sal e pimenta do reino e reserve. Leve ao fogo
o caldo de carne, e acrescente o aipo e o bouquet garni , deixando pegar gosto, por mais
ou menos 10 minutos, em fogo baixo. Não deixe evaporar muito o caldo, e se
necessário, acrescente um pouco de água, pois precisamos do meio litro do caldo, para
finalizar.
- Refogue a cebola em uma frigideira com a manteiga, até ficar transparente. Acrescente
a cenoura, o vinho do Porto, o caldo de carne coado, e cozinhe até que a cenoura fique
transparente.
- Coloque as passas e deixe levantar fervura. Desligue e esfrie.
- Refogue o peito de frango na manteiga clarificada, e salpique o estragão, e vá
colocando água aos poucos até que fique tenro. Resfrie.
- Derreta a gelatina conforme instrução do pacotinho, misture com o caldo e o peito de
frango, coloque em forminhas, e leve para gelar por 4 horas. Sirva com salada verde.
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Referências bibliográficas:
Sites pesquisados:
- https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/o-vinho-de-bucelas-doc-2/, acessado
em 22/05/2021.
- https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/25/em-colares-videiras-crescem-na-
areia-sembarreira.ghtml , acessado em 22/05/2021.
-http://umamorbemtemperado.blogspot.com/2012/10/linguado-normanda-sole-
normande.html, acessado em 22/05/2021.
- https://www.ossaboresdabeth.com/2018/01/frango-com-cogumelos-poulet-aux.html,
acessado em 22/05/2021.
- https://cuisine.journaldesfemmes.fr/recette/332579-jambon-aux-epinards , acessado
em 22/05/2021.
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