Relato Rins Policísticos
Relato Rins Policísticos
Relato Rins Policísticos
Relato de Caso
Resumo:
A doença renal policística (DRP) é uma enfermidade congênita autossômica
dominante, caracterizada pelo desenvolvimento de cistos renais com crescimento
progressivo podendo atingir uni ou bilateralmente os rins. Ainda não há um
tratamento específico para a doença, apenas o acompanhamento, proteção do
parênquima renal funcional e terapia de suporte. O presente relato descreve um
caso de um felino diagnosticado como portador da doença renal policística e
encaminhado ao médico veterinário nefrologista para acompanhamento.
Introdução
MATERIAL E MÉTODOS:
Foi atendido em uma clínica particular, um paciente da espécie felina, fêmea,
FIV/FELV negativa, sem raça definida (SRD), com cinco anos de idade, pesando
quatro quilos, com suspeita de ingestão de corpo estranho linear. A tutora relatou
durante a anamnese que a paciente não apresentava sinais clínicos, sendo
observado normodipsia, normofagia e diurese normal e que gostaria de excluir a
suspeita inicial. Diante da suspeita clínica foi solicitado o exame ultrassonográfico,
no qual pode-se observar a presença de múltiplos nódulos em ambos os rins. Após
a exclusão da suspeita de ingestão de corpo estranho, a paciente foi encaminhada
para acompanhamento com médico veterinário nefrologista, o qual requisitou a
repetição do exame ultrassonográfico.
Durante a realização do novo exame de imagem, foi possível observar a
presença de inúmeros cistos distribuídos pelo parênquima renal (figura 1A e 1B),
sendo que o de maior tamanho tinha entre 1,5 - 1,8 cm de diâmetro no rim esquerdo
e 1,3 - 1,8 cm no rim direito. Ainda, foi solicitado hemograma, no qual havia um
quadro de leucopenia (linfopenia), enquanto que no exame bioquímico foi
identificado azotemia. A terapia instaurada voltou-se para a mudança na
alimentação com introdução de um alimento comercial específico para pacientes
com doença renal, além de suplementação com uma cápsula de Ômega 3 (Ograx 3
500) uma vez ao dia (SID) e ½ comprimido de suplemento alimentar vitamínico
(Nexin) SID, ambos de uso contínuo. Além disso, indicou-se a implementação de
métodos de enriquecimento ambiental na rotina do animal, como atividade física,
maior estímulo à ingestão hídrica e redução do estresse.
Após dois meses do atendimento inicial, a paciente retornou para um novo
acompanhamento, onde pode-se observar ganho de peso e redução dos níveis de
uréia e creatinina. Além disso, a tutora relatou que a paciente estava mais ativa e
adaptada às mudanças realizadas. Foi recomendado o acompanhamento com
exames de imagem e laboratoriais a cada seis meses para verificar a progressão da
enfermidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A doença renal policística é uma enfermidade hereditária que promove a
formação de cistos repletos de líquido nos rins, cuja formação e progressão causam
compressão do tecido renal adjacente, levando à insuficiência renal irreversível (5).
O presente relato descreve um paciente felino, fêmea, SRD, de 5 anos de idade,
sendo que de acordo com a literatura, a doença renal policística é prevalente em
gatos persa e de raças relacionadas, independente do sexo, desenvolvendo-se a
partir dos três anos de idade (6).
Os sinais clínicos apresentados são variáveis, estando relacionados
diretamente ao tamanho dos cistos, à compressão do parênquima renal provocada
e à evolução do quadro clínico. (7). Como sinais clínicos mais comuns pode-se
destacar: letargia, anorexia, vômito, polidipsia, poliúria, perda de peso, desidratação
e hematúria (8). Apesar da presença de múltiplos cistos em ambos os rins e de seus
tamanhos significativos, a paciente relatada não apresentava sinais clínicos.
Testes genéticos foram desenvolvidos com o objetivo de facilitar o
diagnóstico da PKD, contudo, essa avaliação não pode prever a gravidade da
doença e não permite o monitoramento da progressão nos animais afetados (9).
Devido a isso, a ultrassonografia ainda é o exame complementar mais utilizado no
monitoramento dessa enfermidade, assim como foi recomendado pelo profissional
responsável pelo caso. Apesar disso, estudos anteriores os quais avaliaram a
acurácia da ultrassonografia na detecção da PKD demonstraram sensibilidades de
até 91%, além de resultados discordantes com base na avaliação ultrassonográfica,
o que pode justificar a necessidade de repetição do exame complementar no caso
relatado (9).
Atualmente não existe tratamento específico para a doença renal policística,
devido a sua irreversibilidade (10). A terapia é voltada ao controle da progressão da
doença e dos sinais de insuficiência renal crônica. Deve-se corrigir ou minimizar os
distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-basico, controlar a uremia e proporcionar uma
nutrição adequada, sendo utilizado um alimento comercial com essa finalidade do
caso relatado (POLZIN). Além disso, a suplementação com Ômega 3 pode auxiliar a
aumentar a taxa de filtração glomerular, reduzir a pressão intraglomerular, assim
como a pressão sanguínea, promovendo uma mais adequada hemodinâmica renal
(BARTGES).
CONCLUSÃO
A doença renal policística é uma enfermidade com alta prevalência em
animais da espécie felina, sendo caracterizada por promover um quadro de
insuficiência renal crônica, cujo tratamento atual é apenas paliativo. Devido a isso,
são necessários mais estudos para determinar as mutações associadas ao
aparecimento desta enfermidade, para a realização de um diagnóstico precoce,
esterilização dos animais positivos e consequente retardo de sua progressão
clínica.
REFERÊNCIAS
BARTGES, J.W. Chronic kidney disease in dogs and cats. Veterinary Clinics
of North America – J Small Anim Pract, Philadelphia, 2012, v. 42, n. 4, p.
669-692.
CARVALHO, L., LINDOSO, J., ARAÚJO, M., ROCHA, H., KUNKEL, D., NETO, A.,
FERREIRA, C., JÚNIOR, A., OLIVEIRA, M., FILHO, M. . Doença Renal Policística
em gata mestiça Persa– Relato de Caso. REDVET. Revista Electrónica de
Veterinaria, v. 18, n. 12, p. 1-7, 2017.
FERRANTE, T. Doença renal policística em felinos. Nosso Clínico, v.7, n.42, p.6-
10, 2004
Lee, Y.-J.; Chen, H.-Y.; Hsu, W.-L.; Ou, C.-M.; Wong, M.-L. (2010). Diagnosis of
feline polycystic kidney disease by a combination of ultrasonographic examination
and PKD1 gene analysis. Veterinary Record, 167(16), 614–
618.doi:10.1136/vr.c4605