Fauna Parasitária de Tambaqui Colossoma
Fauna Parasitária de Tambaqui Colossoma
Fauna Parasitária de Tambaqui Colossoma
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho foi estudar a parasitofauna e a relação hospedeiro- parasito em tambaqui Colossoma
macropomum cultivados em tanques-rede no Rio Matapi, município de Santana, estado do Amapá, região da Amazônia oriental,
Brasil. Foram examinados 60 tambaquis, dos quais 96,7% estavam parasitados por protozoários Ichthyophthirius multifiliis
(Ciliophora) e Piscinoodinium pillulare (Dinoflagellida), monogenoideas Mymarotheciun boegeri e Anacanthorus spathulatus
(Dactylogyridae) e sanguessugas Glossiiphonidae gen. sp. (Hirudinea). Os maiores níveis de parasitismo foram causados por
protozoários I. multifiliis e P. pillulare e os menores por sanguessugas Glossiiphonidae gen. sp. Porém, os índices de infestação
não tiveram efeitos na saúde dos peixes hospedeiros, uma vez que o fator de condição relativo (Kn) não foi estatisticamente
(p<0,05) correlacionado com a intensidade desses parasitos. Este foi o primeiro relato da ocorrência de I. multifiliis e P. pillulare
em C. macropomum cultivados em tanques-rede na Amazônia brasileira.
Palavras-chave: Tanque-rede, Parasitos, Peixe, Prevalência, Sanidade.
1
Embrapa Amapá, Laboratório de Aquicultura e Pesca.
2
Rodovia Juscelino Kubitschek, Km 5, 2600, 68903-419, Macapá, AP, Brasil. [email protected], [email protected]
RESULTADOS E DISCUSSÃO foi composta por Myxobolus sp., Henneguya sp., A. spathulatus,
L. brinkmanni, N. buttnerae, Gamidactylus jaraquensis e
Dos 60 espécimes de tambaquis que tiveram a boca, olhos,
Ergasilus sp. (Varella et al. 2003) e em tambaqui do Lago Paru,
narinas, brânquias e trato gastrointestinal examinados; 96,7%
somente por monogenoideas A. spathulatus, Notozothecium
estavam com as brânquias parasitadas por Ichthyophthirius
janauachensis, M. boegeri e L. brinkmanni (Morais et al. 2009).
multifiliis Fouquet, 1876 (Ciliophora) e Piscinoodinium
Essas diferenças em relação à diversidade parasitária, para um
pillulare Schäperclaus, 1954, Lom 1981 (Dinoflagellida), por
mesmo hospedeiro, se devem ás densidades de cultivo distintas
Mymarothecium boegeri Cohen e Kohn 2005 e Anacanthorus
e ao ambiente diferenciado.
spathulatus Kritsky, Thatcher e Kayton 1979 (Monogenoidea:
Dactylogyridae) e por sanguessugas Glossiphoniidae gen. A ocorrência de I. multifiliis em peixes de cultivo no
sp (Hirudinea). As maiores taxas de infestação foram Brasil é comum (Eiras et al. 2010; Eiras et al. 2012), mas
por protozoários I. multifiliis e P. pillulare, seguido por Amazônia tem sido pouco relatada e não há registro destes
monogenoideas M. boegeri e A. spathulatus. Porém, a maior parasitos em peixes de tanque-rede. Esse protozoário é o
dominância relativa média foi causada por I. multifiliis e a parasito mais comum em peixes de cultivo e responsável por
menor por sanguessugas (Tabela 1). Não foram encontrados perdas econômicas significativas em pisciculturas de todos os
parasitos em outros órgãos examinados. continentes (Tavares-Dias et al. 2001a; Lemos et al. 2007;
Pavanelli et al. 2008; Eiras et al., 2010). A prevalência de I.
No Brasil, apesar da expansão da piscicultura, a fauna de
multifilis (96,7%) nas brânquias de tambaqui de tanques-rede
parasitos em peixes de piscicultura de tanque-rede tem sido
no Rio Matapi (AP) foi similar à descrita para este mesmo
pouco investigada. Entretanto, o surgimento de enfermidades
hospedeiro (100%) de viveiros de piscicultura da Venezuela
em uma população cultivada é um fenômeno dinâmico, pois
(Fogel et al. 2004). Porém, essa prevalência foi maior do que
a variação na prevalência e o impacto na saúde dos peixes
para tambaquis (66,6%) cultivados em viveiros de Manaus-
dependem da interação hospedeiro-parasito-ambiente. Assim,
AM (Tavares-Dias et al. 2006) e da região de Jaboticabal-SP
é necessário o diagnóstico epidemiológico e acompanhamento
(19,1%) (Martins e Romero 1996).
constante desses animais nesse tipo de piscicultura que usa
elevada densidade de cultivo. Nas brânquias de tambaqui deste estudo, a intensidade de
I. multifilis foi maior que a descrita por Fogel et al. (2004) e
Em espécimes jovens de tambaquis de piscicultura de
Tavares-Dias et al. (2006), para o mesmo hospedeiro cultivado
tanques-rede no Rio Matapi (AP) a prevalência total de
em viveiros. Porém, nesses dois estudos, o método usado para
parasitos foi de 96,7%. Resultados similares foram descritos
a determinação da intensidade desse protozoário oportunista
para juvenis e jovens de tambaquis (100%) de tanques-rede
foi distinto. Além disso, a infestação por I. multifilis é de
mantidos no Lago Ariauzinho (Varella et al. 2003) e para
transmissão horizontal (Dickerson 2006; Pavanelli et al.
juvenis de tambaquis (100%) de tanque-rede do Lago Paru
2008; Eiras et al. 2010) e há uma maior aproximação entre
(Morais et al. 2009), ambos no estado do Amazonas. Porém,
os peixes de tanques-rede quando comparado à piscicultura
quando comparados a fauna parasitária desses três cultivos
de viveiros escavados.
distintos, houve diferenças. Nas brânquias de tambaqui
do presente estudo, a fauna parasitária foi composta por I. O P. pillulare é um protozoário flagelado que tem sido
multifiliis, P. pillulare, M. boegeri, A. spathulatus e sanguessugas; relato parasitando diversas espécies de peixes no Brasil,
enquanto em tambaqui do Lago Ariauzinho a fauna parasitária principalmente em cultivo (Eiras et al. 2010; Eiras et al.
Tabela 1 - Índices parasitológicos nas brânquias de Colossoma macropomum mantidos em tanques-rede no Rio Matapi, estado do Amapá, Amazônia
oriental. DP: Desvio padrão
2012). A prevalência (96,7%) de P. pillulare nas brânquias devem ter grande atenção, uma vez que são frequentemente
do tambaqui mantido em tanques-rede no Rio Matapi foi encontradas em índices elevados quando comparados a outras
similar a descrita por Fogel et al. (2004), para o mesmo espécies de monogenoideas. Porém, Cohen e Kohn (2009)
hospedeiro (100%). Porém, foi maior que a relatada para examinando as brânquias de C. macropomum cultivados em
Piaractus mesopotamicus (24,0%) e híbridos tambacu (20,0%) viveiros escavados de Pentecostes (CE) coletaram um total de
de pesques-pague de Franca-SP (Tavares-Dias et al. 2001a). 7.372 espécimes de monogenoideas, dos quais 5.266 foram
No presente estudo, a intensidade média de P. pillulare Notozothecium janauachensis, 1.623 M. boegeri e 453 N. euzeti.
(26.173,2/peixe) (Tabela 1) foi menor do que a descrita Neste estudo, a prevalência de parasitos monogenoideas
para P. mesopotamicus (558.959/peixe) e híbridos tambacu nas brânquias do tambaqui foi similar a relatada para esse
(6.658.437/peixe) (Tavares-Dias et al. 2001a). Essas diferenças hospedeiro de tanques-rede de duas localidades do estado do
na prevalência deste protozoário oportunista podem ser Amazonas (Varella et al. 2003; Morais et al. 2009). Porém,
atribuídas à diferença de espécies hospedeiras e, além disso, a intensidade média, aqui encontrada, foi menor que para
a piscicultura de viveiros escavados muitas vezes apresenta tambaquis de tanques-rede no Lago Paru-AM (Morais et al.
baixa qualidade ambiental, o que favorece a proliferação 2009) e de viveiros escavados do estado do Ceará (Cohen
do protozoário, aumentando a sua intensidade nos peixes. e Kohn 2009), mas foi maior que desse peixe cultivado em
Por outro lado, o P. pillulare é um parasito com transmissão tanques-rede do Lago Arialzinho-AM (Varella et al. 2003).
horizontal (Noga e Levy 2006; Pavanelli et al. 2008) e nos Esses resultados distintos devem-se às diferentes densidades
tanques-rede há uma maior aproximação entre os peixes e condições ambientais que os peixes estavam submetidos.
devido a elevada densidade de estocagem, o que facilitou a
Nas brânquias de tambaquis, neste estudo, os níveis
transmissão deste parasito entre os tambaquis aqui analisados,
de parasitismo por sanguessugas Glossiphoniidae gen. sp.
causando então essa maior prevalência quando comparada aos
foram similares aos descritos para Hoplosternum littorale do
peixes de viveiros escavados.
Rio Guandu (Abdallah et al. 2006), mas foram menores que
Apesar da elevada prevalência de P. pillulare nas brânquias os de Brycon amazonicus cultivados em canais de igarapé no
dos peixes deste estudo não houve mortalidade e nem sinais estado do Amazonas (Lemos et al. 2007). Elevado parasitismo
clínicos de enfermidade. Porém, no Sudeste do Brasil, foi por sanguessugas Zeylanicobdella arugamensis causaram
registrada mortalidade em 40,0% dos C. macropomum grande perda de sangue e inapetência em Epinephelus
cultivados em viveiros da região de Jaboticabal (SP), no coioides cultivados, levando esses hospedeiros à morte (Cruz-
período de maio a agosto, quando as temperaturas da água Lacierda et al. 2000). Em peixes, o parasitismo branquial por
variaram de 17 a 24 oC (Martins et al. 2001). Em temperatura sanguessugas pode ser acidental quando em ambientes com
da água adequada (23–25 °C) a reprodução do P. pillulare presença de aves, répteis e anfíbios, os quais são, geralmente,
ocorre em 2–3 dias (Noga e Levy 2006; Eiras et al. 2010). parasitados temporariamente por esses hirudíneos (Thatcher
Mudanças bruscas de temperaturas ambientais, de 30 oC para 2006; Lemos et al. 2007; Eiras et al. 2010), o que parece
21 oC, também causam mortalidade em peixes cultivados, também ter ocorrido em tambaquis de tanques-rede deste
pois reduzem a imunidade dos peixes hospedeiros (Shaharom- estudo.
Harrinson et al. 1990; Martins et al. 2001; Noga e Levy Nas brânquias do tambaqui, somente o comprimento
2006), favorecendo a reprodução deste parasito e levando a mostrou correlação positiva com a intensidade de P. pillulare
infestações severas. (Figura 1). Porém, não houve correlação entre o fator de
Nas brânquias de tambaquis de tanques-rede do Rio condição relativo (Kn) e a intensidade de I. multifiliis,
Matapi (AP) foram coletadas um total de 4.170 espécimes de P. pillulare, monogenoideas e sanguessugas (Figura 2).
monogenoideas M. boegeri e A. spathulatus; enquanto nesse Similarmente, em Heterobranchus longfilis selvagem e de
mesmo hospedeiro de tanque-rede do estado do Amazonas cultivo, foi relatada correlação positiva entre o comprimento
foram coletados um total de 7.974 espécimes de M. boegeri total e a intensidade de I. multifilis, Chilodonella sp., Trichodina
(17) e 6.894 de A. spathulatus, 256 de N. janauachensis sp. e Hexamita sp. Houve correlação porque os peixes maiores
e 17 de L. brinkmanni (Morais et al. 2009). No presente dessa espécie filtradora passam a maior tempo à procura de
estudo, embora M. boegeri e A. spathulatus não tenham sido alimentos, assim ficam mais expostos às infecções por esses
quantificados separadamente, observou-se também maior protozoários (Omeji et al. 2010). Por outro lado, em alevinos
quantidade de A. spathulatus. O A. spathulatus é uma espécie de Oncorhynchus mykiss a intensidade de I. multifilis não foi
de monogenoidea patogênica, pois pode causar redução na correlacionada com o comprimento total (Ogut et al. 2005).
capacidade respiratória do peixe hospedeiro (Kritsky et al. Portanto, o tamanho dos peixes hospedeiros, um reflexo de sua
1979; Morais et al. 2009). Morais et al. (2009) destacaram idade, pode ser um importante fator na variação da intensidade
que em tambaqui de cultivo as infecções por A. spathulatus das infracomunidades parasitárias.
Figura 1- Correlação entre a intensidade (número de parasitos/peixe) de Piscinoodinium pillulare e o comprimento de Colossoma macropomum (N=58) mantido em tanques-
rede no Rio Matapi, estado do Amapá, Amazônia oriental.
CONCLUSÕES
Em tambaqui, a presença de uma diversidade relativamente
pequena de parasitos e em níveis moderados de infestação
devem-se à idade dos hospedeiros (cerca de um ano de idade),
além da baixa densidade de estocagem dos peixes em boas
condições ambientais no Rio Matapi. Esses resultados foram os
primeiros dados sobre índices epidemiológicos de tambaquis
criados em tanques-rede na Amazônia oriental. Porém,
para esse peixe, estudos adicionais deverão ser conduzidos
durante todas as fases do cultivo e nas diferentes densidades
de estocagem usualmente praticadas em pisciculturas de
tanque-rede.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro (Proc:
Figura 2 - Correlação do fator de condição relativo (Kn) com a intensidade 578159/2008-2) e pela bolsa de Produtividade em Pesquisa
intensidade (número de parasitos/peixe) de Ichthyophthirius multifiliis, a M. Tavares-Dias (Proc: 300472/2008-0).
Piscinoodinium pillulare, Mymarothecium boegeri e Anacanthorus spathulatus
e sanguessugas Glossiphoniidae gen.sp nas brânquias de Colossoma
macropomum (N=58) mantidos em tanques-rede no Rio Matapi, estado do
Amapá, Amazônia oriental.
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