Manual de Horticultura Orgânica Jacimar

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Sumário

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APRESENTAÇÃO............................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1 - OS MOTIVOS, AS CAUSAS E OS INCENTIVOS PARA A BUSCA DA


SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA ..................................................................... 19

1.1. AS FRAGILIDADES DA AGRICULTURA MODERNA


1.2. CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR RESÍDUOS QUÍMICOS
1.3. A CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR
1.4. A QUALIDADE SUPERIOR DOS ALIMENTOS ORGÂNICOS

CAPÍTULO 2 - CONCEITOS, OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DA


AGRICULTURA ORGÂNICA ............................................................................. 35

2.1. CONCEITOS
2.2. OBJETIVOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA
2.3. AS ESCOLAS DA LINHA AGROECOLÓGICA
2.4. PRINCÍPIOS GERAIS DA AGRICULTURA ORGÂNICA
2.4.1. A “construção” do agroecossistema produtivo e a conversão
2.4.2. Diversificação e equilíbrio ecológico
2.4.3. Teoria da trofobiose
2.4.4. Reciclagem de matéria orgânica

CAPÍTULO 3 - MÉTODOS DE PRODUÇÃO APLICÁVEIS AO


CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS ......................................................... 63

3.1. GÊNESE, MANEJO, CONSERVAÇÃO E FERTILIZAÇÃO DO SOLO


3.1.1. Considerações sobre a gênese do solo
3.1.2. Preparo do solo
3.1.3. Balanço e manejo equilibrado das adubações
3.1.4. Conteúdo de macronutrientes no sistema ar-solo-planta
3.2. ADUBAÇÃO ORGÂNICA ............................................................................................................... 79
3.2.1. Compostagem orgânica
3.2.1.1. Descrição geral do processo
3.2.1.2. Processos especiais de compostagem
3.2.1.3. Enriquecimento do composto
3.2.1.4. Formas de aplicação de composto
3.2.1.5. Custo de produção de composto
3.2.1.6. Um exemplo de cálculo da dosagem de adubos orgânicos para plantio

3.3. CULTIVARES ADAPTADAS ......................................................................................................... 123

3.4. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS EM SISTEMA ORGÂNICO ................................................................. 128


3.4.1. Considerações gerais
3.4.2. Produção de mudas em ambiente protegido (estufas)

3.5. BIOFERTILIZANTES LÍQUIDOS .................................................................................................... 140


3.5.1. Extrato de Composto
3.5.2. O Biofertilizante Líquido
3.5.3. O Biofertilizante Supermagro
3.5.4. Biofertilizante líquido enriquecido
3.5.5. Biofertilizante AD-1 (aeróbico)

3.6. ADUBAÇÃO VERDE APLICADA À OLERICULTURA ..................................................................... 150


3.6.1. Funções da adubação verde
3.6.2. Efeitos dos adubos verdes na fertilidade do solo
3.6.3. Caracterização das espécies de adubos verdes
3.6.4. Critérios para escolha de adubos verdes
3.6.5. Formas de utilização da adubação verde

3.7. ROTAÇÃO, SUCESSÃO E CONSORCIAÇÃO DE CULTURAS ............................................................ 172


3.7.1. Rotação e sucessão
3.7.2. Consorciação

3.8. COBERTURA MORTA (“MULCHING”) ......................................................................................... 180


3.8.1. Cobertura morta com palha
3.8.2. Cobertura morta com plástico

3.9. MANEJO E CONTROLE DE ERVAS ............................................................................................... 185


3.9.1. Manejo
3.9.2. Controle

3.10. ÁGUA E IRRIGAÇÃO EM SISTEMAS ORGÂNICOS ....................................................................... 190


3.10.1. Qualidade da água
3.10.2. Quantidade de água
3.10.3. Irrigação
3.11. MANEJO E CONTROLE ALTERNATIVO DE
PRAGAS E DOENÇAS EM HORTALIÇAS ......................................................................................194

3.11.1. Manejo do sistema produtivo


3.11.2. Manejo ecológico de pragas e doenças
3.11.3. Métodos de controle
Controle biológico
Substâncias inseticidas, fungicidas e repelentes
Armadilhas e iscas
Controle mecânico

CAPÍTULO 4 - PRODUÇÃO ORGÂNICA


DE HORTALIÇAS ................................................................................................ 249

CONSIDERAÇÕES GERAIS

4.1. CULTIVO ORGÂNICO DA ABÓBORA........................................................................................... 253

4.2. CULTIVO ORGÂNICO DA ALFACE .............................................................................................. 263

4.3. CULTIVO ORGÂNICO DO ALHO .................................................................................................. 269

4.4. CULTIVO ORGÂNICO DA BATATA .............................................................................................. 281

4.5. CULTIVO ORGÂNICO DA BATATA-BAROA ................................................................................. 289

4.6. CULTIVO ORGÂNICO DA BATATA-DOCE ................................................................................... 297

4.7. CULTIVO ORGÂNICO DA BETERRABA ........................................................................................ 305

4.8. CULTIVO ORGÂNICO DO BRÓCOLIS ........................................................................................... 311

4.9. CULTIVO ORGÂNICO DA CENOURA............................................................................................ 325

4.10. CULTIVO ORGÂNICO DA COUVE-FLOR .................................................................................... 335

4.11. CULTIVO ORGÂNICO DO GENGIBRE ......................................................................................... 347

4.12. CULTIVO ORGÂNICO DO INHAME (CARÁ) ................................................................................ 355

4.13. CULTIVO ORGÂNICO DO MORANGO ........................................................................................ 363

4.14. CULTIVO ORGÂNICO DO PEPINO ............................................................................................. 381


4.15. CULTIVO ORGÂNICO DO PIMENTÃO......................................................................................... 389

4.16. CULTIVO ORGÂNICO DO QUIABO ............................................................................................ 399

4.17. CULTIVO ORGÂNICO DO REPOLHO .......................................................................................... 407

4.18. CULTIVO ORGÂNICO DO TARO ................................................................................................ 419

4.19. CULTIVO ORGÂNICO DO TOMATE ............................................................................................ 427

CAPÍTULO 5 - LIMPEZA, CLASSIFICAÇÃO, EMBALAGEM E


COMERCIALIZAÇÃO DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS ..........................455

CAPÍTULO 6 - NORMAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ............................................................ 461

CAPÍTULO 7 - EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA


ORGÂNICA ........................................................................................................... 465

7.1. O MERCADO ORGÂNICO MUNDIAL


7.2. O MERCADO ORGÂNICO NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................................... 481

ANEXOS ................................................................................................................................. 495

GLOSSÁRIO ................................................................................................................................. 541

MANUAL DE HORTICULTURA ORGÂNICA – Ficha Catalográfica.


Souza, Jacimar Luiz de
Manual de horticultura orgânica / Jacimar Luiz de
Souza e Patrícia Resende – Viçosa : Aprenda Fácil, 2003.
564p. : il.

Bibliografia: p. 482-494

1. Horticultura. 2. Agricultura orgânica. I. Resende,


Patrícia. II. Título.

CDD 19.ed. 635


CDD 20.ed. 635

ISBN: 85-88216-38-8
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

APRESENTAÇÃO

A nova tendência mundial de preservação ambiental precisa urgentemente ser levada a sério
por todos. Estamos ficando a reboque dessa tendência irreversível, onde a agricultura se
apresenta como um dos alicerces mais importantes.

Há muitos anos se sabe que, através do atual modelo agrícola de base agroquímica (adubos
químicos e agrotóxicos) em uso no Brasil e no mundo inteiro, se produz e se consome
alimentos contaminados. Estamos assistindo a esse filme interminável há mais de trinta
anos, enquanto doses cumulativas de compostos químicos, que causam diversos problemas
de saúde, especialmente na terceira idade (câncer, distúrbios neurológicos, alergias em
geral, fibrose pulmonar, etc...) se elevam em nosso corpo dia após dia.

Por diversas vezes, o problema dos produtos agrícolas contaminados por resíduos de
agrotóxicos vem à tona na grande mídia e, poucos dias após, cai no esquecimento. Um
agravante é que, os diversos responsáveis por políticas públicas, que apresentam relação
direta ou indireta com esse problema, não tem dado o devido valor a esse fato vital, através
da efetiva demonstração de ações integradas para contornar o problema.

Diversas pessoas ainda sustentam a idéia de que não se produz sem os adubos químicos e
os agrotóxicos. Sabemos bem que isso é uma falácia, pois a agricultura orgânica é hoje uma
alternativa segura para a produção de alimentos saudáveis, apresentando-se plenamente
viável técnica, econômica e ambientalmente, fato este comprovado pelas diversas
experiências acumuladas nos últimos anos.

Pela complexidade da questão, há necessidade da interação de medidas por parte do


governo (incentivo e subsídio financeiro), da pesquisa agropecuária (geração de
tecnologias), dos órgãos de extensão rural e ONG’s (difusão e acompanhamento), dos
agricultores (decisão em fazer), dos consumidores (consciência do problema e exigências
por produtos saudáveis) e de toda sociedade organizada (apoio financeiro e logístico), para a
promoção de uma forma alternativa de agricultura, que valorize a vida e se baseie na
reciclagem da matéria orgânica para o alcance da autossustentabilidade de todo sistema
produtivo.

A agricultura orgânica passou por uma fase, no Brasil e no mundo, em que foi deixada no
esquecimento por todos, redundando num atraso tecnológico lamentável. Os poucos
programas de pesquisa em agricultura orgânica em Empresas oficiais de governo,
juntamente com os diversos trabalhos realizados por ONG’s e alguns conscientes
agricultores, tem sido auxiliares importantes para a promoção da agricultura orgânica em
todo o país.

Diante deste quadro, a presente obra pretende, além de apresentar as questões conceituais
e as técnicas de produção, oferecer uma resposta definitiva para algumas inverdades que
têm sido ditas por aí, tais como:

10 - “A agricultura orgânica é uma atividade de alto risco”;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
2o - “A agricultura orgânica é uma atividade cara”;

3o - “A agricultura orgânica consome muita mão-de-obra”;

4o - “A produtividade das culturas na agricultura orgânica é baixa”;

5o - “Os produtos orgânicos apresentam padrão comercial inferior, inadequado às exigências


dos consumidores”.

No decorrer das diversas seções, se visualizará resultados de pesquisa científica incontestes


(que deveriam ser muito mais, porém já não são tão poucos), os quais, juntamente com as
experiências de entidades diversas e de milhares de agricultores em todo país, contemplam
dados seguros que permitem afirmar a falácia dessas afirmativas, com a maior credibilidade
e segurança.

O que precisa ser feito? Bons projetos governamentais de incentivo, promoção e subsídio a
agricultores interessados em se integrar no processo de conversão para um modelo de
produção agrícola sustentável e não agressor ao meio ambiente, além da sustentação de
bons projetos técnicos de pesquisa, validação e difusão de tecnologias em produção
orgânica de alimentos.

Qual é a esperança? A esperança é de que todos, enquanto consumidores, dêem a devida


importância ao problema, com a seriedade e determinação necessários para superá-lo.
Antigamente, o velho ditado de que “o peixe morre pela boca” se aplicava apenas
figurativamente aos seres humanos. Hoje, se aplica literalmente!!

O autor

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 1
OS MOTIVOS, AS CAUSAS E OS INCENTIVOS
PARA A BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
AGRÍCOLA

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.1. As fragilidades da agricultura moderna

O processo de modernização da agricultura, ocorrido principalmente a partir dos anos 50,


desvalorizou os processos naturais e biológicos e priorizou a auto-mecânica, os adubos
minerais e os agrotóxicos. Este pacote tecnológico elevou sobremaneira a produtividade das
culturas, porém gerou incontáveis problemas ambientais, dentre os quais podemos destacar:

 Declínio de produtividade pela degradação do solo, erosão e perda de matéria orgânica.

 Degradação dos recursos naturais, pela poluição através dos agrotóxicos e fertilizantes,
com efeitos maléficos em plantas, animais, rios, solo.

 Contaminação de alimentos e trabalhadores rurais.

 Aumento da resistência de pragas, doenças e ervas daninhas, conforme ilustração da


Figura 1.

 Compactação, erosão, desertificação e salinização dos solos.

 Utilização de insumos sintéticos (combustível, adubos e agrotóxicos), de alta demanda de


energia, proporcionando um reduzido balanço energético, conforme ilustrado pelas
Figuras 2 e 3.

 Perda de autonomia do produtor rural, tornando-se dependente da indústria, o que


provocou uma grande diminuição da renda do agricultor ao longo dos anos, como
demonstra a Figura 4, onde verificamos que a parcela do preço dos alimentos destinada
ao produtor tem sido cada vez menor.

20
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica


450
432
400

350

300 300

250

200 185
170
150
140
100
100

50 45
20
5 10 18
0
A-1930 A-1940 A-1950 A-1960 A-1970 A-1980

Figura 1: Números acumulados de espécies resistentes de


artrópodes e novos inseticidas – 1930 a 1980. Fonte:
Adaptado de Bull e Hathaway, 1986.

Balanço energético: 12,5 / 1


Produção de
Ferram entas sem entes
m anuais 7%
3%

Trabalho
hum ano
90%

Aporte de energia: 553.678 Kcal/ha

Saída de energia(colheita): 6.901.200 Kcal/ha

Figura 2: Plantação tradicional de milho de roçado no México.


Fonte: Pimentel, 1984.

21
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Balanço energético: 2,9 / 1


Fósforo,
Potássio,
Calcário
Sementes 5,8%
5,3% Adubo
Nitrogenado
Agrotóxicos 26,5%
10,7%

Eletricidade
Secagem 1,1%
17,1%

Transporte
Gasolina, óleo,
0,6%
GLP
Maquinaria Trabalho 21,0%
11,8% humano
0,1%

Aporte de energia: 8.390.750 Kcal/ha


Saída de energia(colheita): 24.333.175 Kcal/ha

Figura 3: Plantação convencional de milho nos EUA.


Fonte: Pimentel, 1984.

100%
90%
80% Comércio
70%
60%
50%
40% Produtor
30%
20%
10% Custo de produção
0%
10

20

30

40

50

60

70

80

90
9

9
A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

A-1

Figura 4: Participações relativas no valor total dos alimentos no


mercado americano – 1910 a 1990.
Fonte: Smith (1992), citado por Gliessman, 2000.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.2. Contaminação ambiental por resíduos químicos


Uma das justificativas mais consistentes para a necessidade de se empregar este modelo
agrícola, baseado no uso de recursos naturais (sem emprego de adubos químicos e
agrotóxicos) é a proteção da saúde do agricultor, isto é, o trabalhador é quem mais tem
sofrido problemas de contaminação e, em alguns casos, até morte pelo uso de venenos nas
lavouras. GARCIA (1996) realizou um abrangente estudo sobre a segurança e a saúde do
trabalhador rural com agrotóxicos, destacando-se os impactos que estes agentes tem
causado sobre a agricultura, o meio ambiente, sobre o aplicador e o consumidor de
alimentos.

Segundo GARCIA (1996), quando o consumo de agrotóxicos nos países em


desenvolvimento era calculado em 20% do consumo mundial, em 1985, estimava-se que
cerca de 70% das intoxicações agudas eram produzidas nesses países. Em 1990, quando
estimava-se um consumo de 25%, as intoxicações se elevavam para 90%, dos estimados 3
milhões de casos mundiais, nestes mesmos países. A tendência é que esta desproporção
aumente ainda mais pois, enquanto os países industrializados estão procurando diminuir as
quantidades de agrotóxicos utilizadas, os países em desenvolvimento deverão aumentar
bastante o consumo desses produtos nos próximos anos. Isto nos preocupa muito pois, o
consumo de agrotóxicos na América Latina só perde para o da África e o Brasil é
considerado o maior mercado potencial do mundo.

Para reforçar estas afirmativas, observe um estudo da FUNDACENTRO realizado no período


de 1986/87 na Tabela 1.

Tabela 1: Intoxicações referidas, ocorridas durante a vida laboral, entre a população


que trabalha em contato direto com agrotóxicos. Brasil (1), Junho/1986 a
Dezembro/1987.

Intoxicações Número de % em relação ao % em relação ao total da


referidas pessoas que total de pessoas população que trabalha
referiram que referiram em contato direto com
intoxicações intoxicações agrotóxicos (n=5143)
UMA 917 63,2 17,8

DUAS A TRÊS 328 22,6 6,4

QUATRO OU 206 14,2 4,0


MAIS
TOTAL 1451 100,0 28,2
(1) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

A Organização Mundial da Saúde – OMS, estima que 70% das intoxicações agudas por
exposição ocupacional são causadas por compostos organofosforados e considera, ainda,
que a colinesterase pode ser utilizada como um indicador de exposição, pois há uma boa

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

correlação entre a exposição a esses inseticidas e a redução da atividade da colinesterase. A


OMS define que 30% de inibição da colinesterase determina nível de risco.

Em resultados obtidos nos exames de colinesterase (Tabela 2), observou-se que 19,4% dos
examinados apresentou alteração laboratorial indicativa da exposição excessiva a
agrotóxicos inibidores de colinesterase (organofosforados e carbamatos). Outros trabalhos
realizados em alguns países latino-americanos encontraram resultados que variaram de 3 a
18% dos trabalhadores com atividade reduzida de colinesterase. Trabalhos feitos na Ásia
indicam de 24 a 30% dos usuários de agrotóxicos com inibições excessivas (GARCIA, 1996).

Tabela 2: Atividade da colinesterase (1), entre a população que trabalha em contato


direto com agrotóxicos. Brasil (2), Junho/1986 a Dezembro/1987.

ATIVIDADE DA N.º DE TRABALHADORES %


COLINESTERASE
Maior ou igual a 75% 4104 79,8

Menor que 75% 998 19,4

Sem informação 41 0,8

TOTAL 5143 100,0


(1) Método de Edson.
(2) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

Outra pesquisa realizada pela FUNDACENTRO apresenta dados de referências a sintomas


pela população direta e indiretamente exposta aos agrotóxicos (Tabela 3). Os dados
mostram que mais da metade da população manifestava sintomas que poderiam ser
relacionados com a exposição a agrotóxicos.

Tabela 3: Referência a sintomas relacionados ao uso de agrotóxicos, entre


trabalhadores e produtores rurais. Brasil (1), Junho/1986 a Dezembro/1987.

Referência População pesquisada %


Sem sintomas 3085 44,8

Com sintomas 3469 50,4

Sem informação 330 4,8

TOTAL 6884 100,0


(2) RS, SC, PR, SP, MG, ES, BA, PE e DF.
Fonte: FUNDACENTRO.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

a Revista ÉPOCA, em sua edição de 16 de novembro de 1998, divulgou dados atuais de


análises em alimentos realizadas pelo Instituto Biológico de São Paulo e pela
UNESP/Botucatu-SP, onde se confirma que os problemas de contaminação de alimentos
com agrotóxicos continua a passos largos, conforme a síntese contida na Tabela 4.

Tabela 4: Análises da contaminação de alimentos por resíduos de pesticidas agrícolas


– 1998.
ALIMENTOS VERIFICAÇÃO EM ANÁLISES
Verificou-se a existência de resíduos de Clorotalonil,
ALFACE um dos fungicidas mais utilizados na agricultura
brasileira.
Presença de 0,390 mg/Kg do piretróide deltametrina
LEITE em 10 bovinos da raça girolândia. O limite máximo
permitido é de apenas 0,02 mg/Kg.
De 98 amostras analisadas, em 7% delas encontrou-se
TOMATE o fungicida clorotalonil acima do limite máximo
permitido por lei.
Em todas as cinco amostras testadas encontrou-se o
MELÃO acefato, inseticida organofosforado amplamente
vetado no Brasil para a cultura do melão.
Identificados resíduos de endosulfan e de
UVA procimidone, cuja utilização não é permitida para essa
cultura.
De um total de 106 amostras analisadas verificou-se
que:
- Morangos SEM SELO de qualidade: 34% das
amostras apresentaram resíduos de pesticidas não
MORANGO autorizados para a cultura e 4% delas contaminadas
com resíduos acima do limite.
- Morangos COM SELO de qualidade: 3% das
amostras com resíduos acima do limite.
Em 37% das 24 amostras testadas foi detectada a
PIMENTÃO presença do fungicida clorotalonil acima do limite
máximo de resíduos autorizado pela legislação
brasileira.
Em 16% das amostras identificou-se a presença do
MAMÃO fungicida clorotalonil, não permitido para esse tipo de
cultura.

Para ilustrar os riscos e os malefícios dos agrotóxicos para a saúde humana, verifique
algumas complicações no organismo em virtude de doses exageradas dos resíduos desses
compostos químicos identificados nestas análises citadas anteriormente:

INTESTINO: Alguns fungicidas, como o clorotalonil, encontrado na alface e em outras


verduras, podem provocar irritação nas mucosas intestinais. Acima do limite permitido, geram
também diarréias.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PERNAS: O metamidofós, inseticida fosforado encontrado com freqüência no morango, é


capaz de produzir atrofia dos membros inferiores e até paralisia temporária.
DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS: Em doses muito elevadas, os pesticidas clorados, como o
endosulfan, aplicados no morango e na uva, podem afetar os sistemas neuromusculares
central e periférico.
CORAÇÃO: A arritmia cardíaca é um dos sintomas de doses elevadas de inseticidas
fosforados. É o caso do clorpirifós, também encontrado na cenoura e morango.

GARCIA (1996) cita que Pimentel e colaboradores fizeram uma avaliação detalhada dos
impactos econômicos e ambientais decorrentes do uso de agrotóxicos nos EUA. Com base
nos dados disponíveis, estimaram que o custo desses impactos seria da ordem de 8 bilhões
de dólares anuais naquele país, conforme a Tabela 5.

Tabela 5: Estimativa dos custos sociais e ambientais conseqüentes do uso de


agrotóxicos nos Estados Unidos.

IMPACTOS CUSTO
(Milhões de dólares)
Impacto na saúde pública 787
Mortes e contaminações de animais domésticos 30
Perdas de inimigos naturais 520
Custos da resistência aos agrotóxicos 1400
Perdas de mel e polinização 320
Perdas nas culturas 942
Perdas na pesca 24
Perdas de aves 2100
Contaminações de águas subterrâneas 1800
Regulamentação governamental para prevenir danos 200
TOTAL 8123
Fonte: Pimentel, 1993.

Ademais, os autores consideram que esses custos são subestimados pois, não
incluem todos os tipos de custos indiretos como, por exemplo, eventos acidentais de
contaminação de pessoas e do meio ambiente, a poluição do solo e custos mais realistas
dos efeitos na saúde humana.

26
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.3. A consciência do consumidor


No início da década de 60 a publicação de dois livros, Silent Spring, de CARSON (1962) e
Pesticides and the Living Landscape, de RUDD (1964), chamou a atenção para os aspectos
importantes relacionados aos possíveis impactos dos agrotóxicos à saúde humana, aos
animais domésticos, à vida selvagem, à contaminação dos solos e das águas, às
interferências nos ecossistemas e na própria agricultura (GARCIA, 1996). A consciência dos
problemas advindos do uso dos agrotóxicos tem aumentado significativamente, a exemplo
desta pesquisa realizada nos Estados Unidos há anos atrás (Tabela 6).

Tabela 6: Percentagem de consumidores com grande ou alguma preocupação com o


uso de agrotóxicos. EUA, 1965 e 1984.
Considerações 1965 1984
Pessoalmente preocupado com o uso de agrotóxicos 31,6 76,0
por agricultores

Perigo dos agrotóxicos para o agricultor 15,0 78,7

Perigo das substâncias químicas para a vida selvagem 51,8 80,8

Perigo para as pessoas que comem frutas e vegetais 41,5 71,1


tratados com agrotóxicos
Fonte: SACHS (1993).

O entendimento dos problemas diversos do modelo agroquímico de produção agrícola que


praticamos hoje, aliado às vantagens marcantes do consumo de alimentos orgânicos, de
elevado valor biológico e sem contaminantes químicos danosos à saúde, tem proporcionado
uma rápida mudança na visão dos consumidores Europeus. Verifique os resultados das
pesquisas de opinião nas Tabelas 7, 8 e 9.

Tabela 7: Garantias ecológicas influenciam bastante - Incitação na compra de produtos


em %. França, 1996.
CARACTERÍSTICA PORCENTUAL
O produto tem garantias de higiene e segurança 84
O preço é competitivo 81
O produto é fabricado na França 74
O produto porta um sinal de qualidade 71
A marca inspira confiança 68
O produto tem garantias ecológicas 64
O produto é fabricado na minha região 59
O fabricante defende causas humanitárias 51
O produto é fabricado na Europa 49
Fonte: Igia. O Agribusines Europeu. In: Agroanalysis, dez. 1996.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 8: Leitura das etiquetas sobre a composição dos produtos alimentares, em %,


na França - 1996.
AÇÃO PORCENTUAL

Não, jamais 0,6


Não, raramente 16,0
Sim, de tempos em tempos 37,0
Sim, freqüentemente 30,0
Sistematicamente 11,0
Total dos que lêem 78,0
Fonte: Igia. In: Agroanalysis, dez. 1996.

Tabela 9: Os principais atributos dos alimentos, em %, na EUROPA – 1996.

Países do Norte Países do Sul


ATRIBUTOS
NATURAL 46,6 73,1
SAUDÁVEL 73,1 48,6
NUTRITIVO 26,7 35,0
BARATO 9,1 4,7
SEM SUBSTÂNCIAS TÓXICAS 64,8 57,6
VITAMINAS E SAIS MINERAIS 38,9 28,1
Fonte: Wageningen Agricultural University. In: Agroanalysis, dez. 1996.

Cientistas americanos lançaram recentemente um livro que pode ser considerado uma
grande contribuição para a humanidade, chamado “O futuro roubado”, de autoria da Drª Theo
Colborn e colaboradores. Neste livro está destacado os efeitos dos agrotóxicos e outras
substâncias químicas sobre a vida animal, seus acúmulos na cadeia alimentar e o
comprometimento da saúde e reprodução da espécie humana.

“O Futuro Roubado” oferece uma descrição realista sobre a pesquisa científica emergente
que investiga de que maneira uma ampla variedade de agentes químicos sintéticos alteram
delicados sistemas hormonais. Sistemas estes que tem um papel fundamental, desde o
desenvolvimento sexual humano até a formação do comportamento da inteligência e o
funcionamento do sistema imunológico. Estudos com animais e seres humanos relacionam
os agentes químicos a inúmeros problemas, como a infertilidade e deformações genitais;
cânceres desencadeados por hormônios, como o câncer de mama e de próstata; desordens
neurológicas em crianças, como hiperatividade e déficit de atenção; e problemas de
desenvolvimento e reprodução em animais silvestres (COLBORN et al., 1997).

28
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Outra informação que interessa a todos nós, enquanto consumidores de alimentos, foi
publicada na Revista ÉPOCA, de 16 de novembro de 1998, referenciando-se a uma pesquisa
realizada pelo instituto Gallup em novembro e dezembro de 1996, com donas de casa da
zona sudoeste de São Paulo, onde se confirma que, mesmo no Brasil, considerado um país
do terceiro mundo, a consciência do consumidor já é muito expressiva (Tabela 10).

Tabela 10: Pesquisa de opinião com donas de casa, quanto aos produtos
contaminados com resíduos de agrotóxicos. São Paulo, 1996.

Opiniões %

“Fazem mal à saúde e os resíduos não saem na lavagem do alimento”. 49

“Não sei o que são agrotóxicos”. 29

“Fazem mal à saúde, mas os resíduos saem se os produtos forem lavados”. 12

“Não sei se os resíduos saem ou se fazem mal”. 7

“Os resíduos não são nocivos à saúde”. 3

TOTAL 100

Mesmo reconhecendo que, nos últimos anos, se constata uma crescente sensibilização por
parte dos consumidores acerca das consequências de suas decisões de compra sobre o
meio ambiente em geral, e sobre sua saúde, existem alguns fatores que provocam entraves
à uma expansão mais rápida da agricultura orgânica.

Em um artigo divulgado na página www. infoagro.com, em maio de 2002, intitulado: “Efeito


de la información en la aceptación de los productos ecológicos: un enfoque experimental”,
trabalho este realizado na Espanha, concluiu-se que o principal obstáculo para o
desenvolvimento deste mercado, radicava em dois aspectos: ‘escassa disponibilidade do
produto ecológico em estabelecimentos convencionais’ e os ‘elevados preços de venda’,
superiores à disposição do consumidor em pagar pelo atributo ecológico.

29
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.4. A qualidade superior dos alimentos orgânicos


Há algumas décadas atrás, quando se falava de alimentos do futuro, se imaginava aqueles
alimentos processados, industrializados e até em forma de cápsulas, conforme se alimentam
os astronautas ou se divulga nos filmes de ficção científica. Entretanto, o que não se
imaginava é que a maior preocupação da sociedade nos dias de hoje fosse a qualidade dos
alimentos “in natura”. A composição bio-química desses alimentos foi brutalmente alterada
pela forma de se produzir. A agricultura lança mão de produtos químicos para “fertilizar” as
plantas e para “protegê-las” contra pragas e doenças, comprometendo completamente a sua
qualidade.

A essência dos alimentos está em seus nutrientes e dois aspectos importantes devem ser
considerados:
1) o objetivo do alimento orgânico é a ausência de agentes químicos nocivos ao organismo;
2) o objetivo é a produção de plantas saudáveis, o que beneficia a qualidade e quantidade
dos nutrientes nelas contidos.

Reportando sobre o assunto, HIGASHI (2002) cita um trabalho científico de grande valia
(publicado pelo Dr. Bob Smith, no Journal Of Applied Nutrition, pág. 35 a 45, de 1993), onde
foram comparados os teores de macro e microminerais e metais pesados no trigo, milho,
batata, maçã e pêra, oriundos da agricultura convencional, em comparação com a produção
orgânica. Os dados indicaram haver maiores teores de vários minerais nos alimentos
orgânicos, em todas as análises individuais por produto. Na média geral para todos os
produtos(Tabela 11), os orgânicos revelaram maiores teores de minerais e menores teores
de metais pesados.

Tabela 11: Análise média do teor de minerais em trigo, milho, batata, maçã e pêra,
oriundos de sistemas Orgânicos vs. Convencionais.

Minerais Quanto a mais/menos nos alimentos orgânicos


Boro + 70%
Cálcio + 63%
Cobre + 48%
Magnésio + 138%
Manganês + 178%
Molibdênio + 68%
Potássio + 125%
Selênio + 390%
Metais pesados
Alumínio - 40%
Chumbo - 29%
Mercúrio - 25%

30
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

AZEVEDO (2002), informa que estudos feitos por SCHARPF & ALBERT, em 1976, citados
por BONILLA (1992), mostram como a adubação química nitrogenada, usada na agricultura
convencional, altera negativamente o valor nutricional dos alimentos vegetais. No espinafre,
constatou-se diminuição de potássio (de 0,8% para 0,5%) e aumento de sódio e nitratos.
Ademais, o teor de matéria seca decresceu de 6,8% para 5,5%, quando recebeu adubação
nitrogenada sintética de 120 Kg/ha (é por este motivo que se diz: 100 gramas de alimento
orgânico ‘in natura’ é mais que 100 gramas de alimento convencional).

O mesmo estudo verificou ainda que ocorre diminuição acentuada no teor de vitamina C,
quando se utiliza adubos nitrogenados sisntéticos. Em 100 gramas de matéria seca dos
produtos analisados, constatou-se uma redução de 8,5 mg para 7,5 mg na cenoura; de 40
mg para 25 mg em espinafre e de 6,0 mg para 3,5 mg em maçãs. Na batata verificou-se que
se obtém o máximo de aminoácidos essenciais com menos de 60 Kg/ha de nitrogênio. A
partir de 70 a 80 Kg ocorre queda muito rápida do teor desses aminoácidos. Resultados
similares foram observados em milho, ocorrendo redução de lisina, metionina, teonina e
triptofano.

Duas importantes explicações necessitam ser feitas para se conhecer e definir


adequadamente os alimentos orgânicos.

Primeira: não se pode confundir alimentos orgânicos com alimentos naturais que são
vendidos em lojas especializadas. Para se caracterizar um produto como orgânico, significa
que durante todo o processo produtivo se empregou técnicas e métodos não agressivos ao
meio ambiente. Por outro lado, “produtos naturais” se referem muito mais a “produtos
integrais”, não identificando a maneira como foi produzido, sendo quase sempre oriundos de
sistemas agroquímicos de produção.

Segunda: Alimentos orgânicos não se referem apenas a alimentos sem agrotóxicos. Além de
não conter esses agentes químicos, para se produzir alimentos orgânicos, também não se
utiliza adubos químicos e diversos outros produtos que possam deixar resíduos nos
alimentos ou degradar o solo, as águas e outros componentes do meio ambiente.

O sistema orgânico de produção se baseia em normas técnicas bastante rigorosas para


preservar integralmente a qualidade do produto. Consideram inclusive as relações sociais e
trabalhistas envolvidas no processo produtivo.

Na fase de campo, emprega-se princípios, técnicas e métodos naturais, tais como: cultivo em
ambientes diversificados em fauna e flora para se obter equilíbrio ecológico na unidade de
produção; uso de matéria orgânica, adubação verde, biofertilizantes, dentre outros, que irão
conferir riqueza bio-química e uma elevada qualidade ao produto colhido; uso de métodos
alternativos para proteção contra possíveis pragas e doenças, como caldas e extrato de
plantas, que servem para repelir pragas e inibir as doenças.

Na fase de processamento também não se emprega aditivos, conservantes e outros artifícios


que não são adequados para o consumo humano.

31
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Na fase de comercialização, o produto deve ser protegido contra possíveis contaminações


por contato, motivo pelo qual são vendidos em embalagens fechadas, desde a colheita e
processamento até a venda final do produto.

Dessa forma, conforme já verificamos, os alimentos orgânicos apresentam uma composição


muito mais diversificada e rica em minerais, fitohormônios, aminoácidos e proteínas,
proporcionando uma nutrição perfeita ao corpo humano. Além disso, apresentam maiores
teores de Carbohidratos e matéria seca, significando que no consumo de um produto
orgânico, como já dissemos, o consumidor estará ingerindo um porcentual a mais de
“alimento real”, uma vez que 100 gramas de um produto orgânico fresco contém menos água
do que um produto convencional produzido com adubos químicos.

32
Capítulo 2

CONCEITOS, OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DA


AGRICULTURA ORGÂNICA
2.1. Conceitos
A Agricultura Orgânica é frequentemente entendida como a agricultura que não faz uso de
produtos químicos. Também há a falsa crença de que ela representa um retrocesso à
práticas antieconômicas de décadas passadas e à produção de subsistência de pequena
escala, usando métodos agronômicos já superados. A realidade, porém, é outra.

Embora os agricultores orgânicos não usem agrotóxicos sintéticos, fertilizantes solúveis,


hormônios, sulfas, aditivos e outros produtos químicos, e utilizem várias práticas que foram
muito eficientes no passado, o conceito é bem mais amplo do que isso. Os métodos
alternativos de agricultura são métodos modernos, desenvolvidos em sofisticado e complexo
sistema de técnicas agronômicas, cujo objetivo principal não é a exploração econômica
imediatista e inconsequente mas, sim, a exploração econômica por longo prazo, mantendo o
agroecossistema estável e auto-sustentável. Leis e princípios ecológicos e de conservação
de recursos naturais são, assim, parte integrante destes métodos. As questões sociais são
prioritárias, procurando-se preservar métodos agrícolas tradicionais apropriados, ou
aperfeiçoá-los (PASCHOAL, 1994).

O conceito de Agricultura Orgânica, estabelecido em 1984 pelo Departamento de Agricultura


dos Estados Unidos, pode ser assim descrito “Agricultura Orgânica é um sistema de
produção que evita ou exclui amplamente o uso de fertilizantes, agrotóxicos, reguladores de
crescimento e aditivos para a produção vegetal e alimentação animal, elaborados
sinteticamente. Tanto quanto possível, os sistemas agrícolas orgânicos dependem de
rotações de culturas, de restos de culturas, estercos animais, de leguminosas, de adubos
verdes e de resíduos orgânicos de fora das fazendas, bem como de cultivo mecânico, rochas
e minerais e aspectos de controle biológico de pragas e patógenos, para manter a
produtividade e a estrutura do solo, fornecer nutrientes par as plantas e controlar insetos,
ervas invasoras e outras pragas” (EHLERS, 1996).

Mas, segundo PASCHOAL (1994), a Agricultura Orgânica pode ser também definida como
sendo “um método de agricultura que visa o estabelecimento de sistemas agrícolas
ecologicamente equilibrados e estáveis, economicamente produtivos em grande, média e
pequena escalas, de elevada eficiencia quanto à utilização dos recursos naturais de
produção e socialmente bem estruturados que resultem em alimentos saudáveis, de elevado
valor nutritivo e livres de resíduos tóxicos, e em outros produtos agrícolas de qualidade
superior, produzidos em total harmonia com a natureza e com as reais necessidades da
humanidade”.
2.2. Objetivos da Agricultura Orgânica
• Desenvolver e adaptar tecnologias às condições sociais, econômicas e ecológicas de
cada região;
• Trabalhar a propriedade rural dentro de um enfoque sistêmico envolvendo todas as
atividades da mesma;
• Priorizar a propriedade familiar;
• Promover a diversificação da flora e da fauna;
• Reciclar os nutrientes;
• Aumentar a atividade biológica do solo.
• Promover o equilíbrio ecológico das unidades de produção da propriedade;
• Preservar o solo, evitando a erosão e conservando suas propriedades físicas, químicas e
biológicas.
• Manter a qualidade da água, evitando contaminações por produtos químicos ou biológicos
nocivos ;
• Controlar os desequilíbrios ecológicos pelo manejo fitossanitário;
• Buscar a produtividade ótima e não a máxima;
• Produzir alimentos sadios, sem resíduos químicos e com alto valor biológico.
• Promover a auto-suficiência econômica e energética da propriedade rural;
• Organizar e melhorar a relação entre os produtores rurais e os consumidores;
• Preservar a saúde dos produtores rurais e dos consumidores.
2.3. As escolas da linha agroecológica
A Agricultura Orgânica é um sistema de produção agrícola do ramo da Agroecologia, onde
estão incluídas outras escolas, como a Agricultura Biodinâmica, Agricultura Biológica,
Agricultura Ecológica, Agricultura Natural e a Permacultura. Algumas diferenças entre elas e
o objetivo de cada uma delas encontra-se no Quadro 1.

Quadro 1: Escolas do ramo da Agroecologia, onde se inclui a Agricultura Orgânica.


Escolas Definição
Agricultura Orgânica Surgiu em 1931, na Índia, e seu fundador foi Sir Albert Howard e
aperfeiçoado por Lady Eve Balfour. Dentre as diversas técnicas de
manejo orgânico, a principal característica deste movimento é o
processo ‘Indore’ de compostagem. Howard demonstrou que um
solo provido de altos níveis de matéria orgânica assegura uma vida
microbiana intensa e rica, pela qual a nutrição e a sanidade das
plantas são plenamente atendidas e os alimentos produzidos são de
alto valor biológico. Recomenda-se, ainda, o uso de plantas de
raízes profundas, capazes de explorar as reservas minerais do
subsolo.
Agricultura Surgiu na França, na década de 60, e seu fundador foi Claude
Biológica ou Aubert. Distingue-se das demais, por recomendar o uso de rochas
Agrobiológica moídas como fertilizantes e por adotar a posição de que a
resistência das plantas ao ataque de predadores e patógenos e,
portanto, a sua saúde e vigor, é determinada pelo equilíbrio
nutricional ou desequilíbrios provocados por agroquímicos (Teoria da
Trofobiose).
Agricultura Surgiu nos Estados Unidos, na década de 70. O iniciadores deste
Ecológica ou movimento foram: William Albrecht, Stuart Hill e Fritz Schumacher.
Agroecológica Outro sucessor, Miguel Altieri, define Agroecologia como um
movimento que incorpora idéias ambientais e sociais na agricultura,
preocupando-se não somente com a produção, mas também com a
“ecologia” do sistema de produção. Apresenta como características:
a busca da equidade na distribuição de renda e bens; adaptar a
agricultura ao ambiente e às condições sócio-econômicas; reduzir o
uso de energia e recursos externos à propriedade; promover a
diversificação de plantas, animais e o múltiplo uso da terra; reduzir
os custos de produção e aumentar a eficiência e a viabilidade
econômica dos pequenos e médios agricultores, promovendo assim
um sistema agrícola diversificado e potencialmente resistente.
Agricultura Natural Surgiu no Japão, na década de 30, e seu fundador foi Mokiti Okada.
Este orientava não movimentar o solo; que todos os restos de
culturas e palhadas fossem reciclados e o composto fosse feito
unicamente à base de vegetais, sem o uso de estercos animais.
Hoje os adotantes desse sistema de cultivo utilizam-se de
microrganismos efeitvos (EM), aplicados no solo, nas plantas para
prevenção de problemas fitossanitários ou para inocular o composto
orgânico a ser empregado nas adubações.
Agricultura Surgiu na Alemanha, em 1924, e seu fundador foi Rudolf Steiner. A
Biodinâmica biodinâmica trabalha a propriedade como um organismo, onde o
todo reflete o equilíbrio de suas partes. Assim, trabalha as relações
existentes entre o solo, planta, animal, homem e o universo e as
energias que envolvem e influenciam cada um e o todo. As técnicas
usadas são similares às da Agricultura Orgânica, acrescentando-se
o emprego de “preparados biodinâmicos” e a adoção de um
calendário agrícola, baseado no movimento da lua ao redor da terra.
Permacultura Surgiu na Austrália, na década de 70. Seus fundadores foram Bill
Mollison e Dave Hoemgren. A permacultura defende a manutenção
de sistemas Agro-silvo-pastoris, sendo especialmente adequado às
regiões de florestas tropicais e subtropicais. Não permite nenhuma
intervenção no solo, quer seja aração ou gradagem. Não utiliza
adubação mineral e nem composto orgânico. Alterna o cultivo de
gramíneas com leguminosas, deixando sempre uma palhada sobre o
solo pelo manejo de ervas infestantes, através de roçadas.
Outras escolas Além destas escolas descritas acima, existem outras de menor
adoção. Geralmente estes movimentos derivam destas anteriores:
Método Lemaire-Boucher
Método Jean
Método Rusch-Muller
Método Pain
Método Georges Marron.
2.4. Princípios gerais da Agricultura Orgânica

2.4.1. A ‘construção’ do agroecossistema produtivo e a conversão:

Ecossistema é um sistema funcional de relações entre organismos vivos e seu ambiente,


delimitado arbitrariamente, mantendo um equilíbrio dinâmico e estável, no espaço e no
tempo. A manipulação e a alteração humanas dos ecossistemas, com o propósito de
estabelecer uma produção agrícola, tornam os Agroecossistemas muito diferentes dos
ecossistemas naturais, ao mesmo tempo que conservam processos, estruturas e
características semelhantes. Veja as ilustrações desses sistemas, nas Figuras 5 e 6,
propostas por GIESSMAN (2000).

Os agroecossistemas, comparados aos ecossistemas naturais, têm muito menos diversidade


funcional e estrutural, além do que, quando a colheita é o enfoque principal, há perturbações
em qualquer equilíbrio que se tenha estabelecido, e o sistema só pode ser mantido se a
interferência externa com trabalho e insumos for mantida. As principais diferenças entre os
ecossistemas e os agroecossistemas estão relatadas na Tabela 12.

Figura 5: Componentes funcionais de um ecossistema natural. Os


componentes identificados como Atmosfera, Chuva e Sol estão fora de
qualquer sistema específico e fornecem insumos naturais essenciais.
Fonte: GLIESSMAN (2000).
Figura 6: Componentes funcionais de um Agroecossistema. Além
dos insumos naturais fornecidos pela Atmosfera e pelo Sol, um
agroecossistema tem todo um conjunto de insumos humanos, que
vêm de fora do sistema. Um agroecossistema tem, também, um
conjunto de saídas aqui identificadas como “Consumo e
Mercados”. Fonte: GLIESSMAN (2000).

Tabela 12: Diferenças estruturais e funcionais importantes entre ecossistemas


naturais e agroecossistemas.
Fatores Ecossistemas naturais Agroecossistemas
Produtividade líquida Média Alta
Interações tróficas Complexas Simples, Lineares
Diversidade de espécies Alta Baixa
Diversidade genética Alta Baixa
Ciclos de nutrientes Fechados Abertos
Estabilidade Alta Baixa
Controle humano Independente Dependente
Permanência temporal Longa Curta
Heterogeneidade do habitat Complexa Simples
Fonte: Adaptado de Odum (1969), citado por GLIESSMAN (2000).

O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar características


semelhantes às de ecossistemas naturais, mantendo uma produção a ser colhida. Um
agroecossistema que incorpore as qualidades de ecossistemas naturais de estabilidade,
equilíbrio e produtividade, assegurará melhor a manutenção do equilíbrio dinâmico
necessário para estabelecer uma base ecológica de sustentabilidade. Nesse sentido,
GLIESSMAN (2000) propõe os seguintes princípios orientadores para a conversão de
propriedades agrícolas a sistemas agroecológicos.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA CONVERSÃO

O processo de conversão pode ser complexo, exigindo mudanças nas práticas de campo, na
gestão da unidade de produção agrícola em seu dia–a–dia, no planejamento, marketing e
filosofia. Os seguintes princípios podem servir como linhas mestras orientadoras neste
processo geral de transformação:

 Mover-se de um manejo de nutrientes, cujo fluxo passa através do sistema, para um


manejo baseado na reciclagem de nutrientes, como uma crescente dependência em
relação a processos naturais ,tais como a fixação biológica do nitrogênio e as
relações com micorrizas.

 Usar fontes renováveis de energia, em vez das não renováveis.

 Eliminar o uso de insumos sintéticos não renováveis oriundos de fora da unidade


produtiva, que podem potencialmente causar danos ao ambiente ou à saúde dos
produtores, assalariados agrícolas ou consumidores.

 Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema, usando aqueles que ocorrem
naturalmente, em vez de insumos sintéticos manufaturados.

 Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, em vez de “controlá-las”.

 Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer naturalmente na unidade


produtiva, em vez de reduzi-las ou simplificá-las.

 Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e o potencial


produtivo e as limitações físicas da paisagem agrícola.

 Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e genético das espécies de


plantas agrícolas e animais às condições ecológicas da unidade produtiva, em vez de
modificá-la para satisfazer as necessidades das culturas e animais.

 Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.

 Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no desenho e manejo geral do


agroecossistema.

Entretanto, muito antes das questões relativas ao agroecossistema, se situa o homem


contido nele. Nessa direção, PEREIRA (2000) discute a conversão do homem e o período de
transição da propriedade, oferecendo-nos substancial contribuição, relatada a seguir.

“A prática da agroecologia é um processo que passa por um estilo de vida, isto é,


transformar transformando-se. Como processo, passa por várias dimensões ou etapas
importantes. Uma delas refere-se à conversão ou período de transição, que vem a ser aquele
período de tempo variável que é preciso para a propriedade passar do modelo convencional
ao sistema agroecológico ou orgânico, ou seja, constituir-se num agroecosssitema.

Por conversão, entende-se um processo gradual e crescente de desenvolvimento interativo


na propriedade até chegar a um agroecossistema. Está orientado para a transformação do
conjunto da unidade produtiva, gradativamente, até que se cumpra por completo o todo. Só
após transposta essa fase, isto é, cumprido o conjunto de requisitos para a produção
orgânica, atendendo as normas observadas pelas entidades certificadoras, é que pode-se
obter o selo orgânico. A transição deve ser feita a partir de pequenas glebas, iniciando-se
pelas áreas mais apropriadas, num processo crescente.

Essa etapa ou fase do processo, contempla pelo menos três dimensões principais:
educativa, biológica e normativa.

A primeira, a dimensão educativa, constitui-se na mais importante, uma vez que o Homem,
enquanto espécie animal (Homo sapiens sapiens) representa o início, o meio e o fim. Está
portanto, na mudança da percepção humana o desencadeamento do processo de
desenvolvimento – um processo de mudança, que neste caso, representa a conversão do
modelo convencional ao processo agroecológico ou agroecossistema, pois, é na mente
humana que tudo acontece em primeiro lugar. Portanto, a conversão, em primeiro lugar
deverá ser das pessoas, do homem. Deveremos pois, nos tornarmos agroecologistas –
transformar transformando-se - para que o processo seja efetivo.

Os ecossistemas agrícolas, nada mais são do que a exteriorização das concepções que o
homem possui. O quadro mental dominante, resultou no modelo convencional, centrado na
tecnologia por produto, na produtividade, no resultado econômico-financeiro. É aqui que
deveremos concentrar nossos esforços, se queremos implementar a concepção de
agroecossistemas, centrada no problema, no processo, no homem, na pessoa, na família, no
holos.

Portanto, cada uma das dimensões contempladas, está fortemente associada umas às
outras e, por isso, devem ocorrer simultaneamente, até que se fortaleçam, num processo
sinérgico de interações em rede.

A dimensão biológica compreende, basicamente, a restauração da qualidade e saúde do


solo, assim como da sua biodiversidade, (tanto acima como abaixo da sua superfície). A
rotação de culturas e a adição de matéria orgânica, que pode vir das plantas de cobertura,
dos estercos, dos compostos, etc..., são condições indispensáveis para se atingir a plenitude
neste caso.

Em relação à dimensão normativa, é importante observar as regras que orientam a


obtenção do selo de qualidade orgânica. De uma maneira geral, estas normas obedecem a:
- Um período de carência que vai até 2-4 anos entre a utilização das práticas convencionais
e a adoção da agroecologia;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos que não são permitidos: neste contexto
encontram-se os agrotóxicos e os fertilizantes de síntese química, especialmente os
nitrogenados;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos tolerados, a critério da organização
certificadora;
- Uma listagem de produtos e/ou procedimentos recomendados, onde incluem-se a ciclagem
e reciclagem de nutrientes e de biomassa, o controle de biológico, a rotação de culturas, as
plantas de cobertura, adubação orgânica (verde, estercos e compostos), além, é claro, da
recuperação, proteção e conservação dos recursos naturais, como o solo, a água, a fauna e
a flora nativa, entre outros aspectos, onde se inclui o harmônico relacionamento entre os
membros da família.

Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma seqüência lógica e
explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto basicamente constituí-se de um
diagnóstico de toda a propriedade, levantando todos os recursos disponíveis, além das
relações sociais e comerciais que esta mantém, assim como a ocupação da área e o seu
respectivo rendimento físico e econômico.

Neste diagnóstico são identificadas as principais dificuldades/entraves assim como o


potencial da propriedade. Nesta fase, são identificadas as necessidades do agricultor,
incluindo a sua capacitação. O projeto deve incluir um cronograma e um fluxograma entre as
atividades estabelecendo-se metas claras e viáveis.

O aspecto comercial é também, extremamente, importante neste processo. Um projeto bem


feito não poderá prescindir desta fase ou etapa. Os “canais” de comercialização devem ser
previamente identificados e definidos.

A certificação é também necessária para assegurar direitos aos agricultores de um produto


diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando tiver cumprido os prazos e
prescrições previstas nas normas, quando estarão habilitados a receber o selo de qualidade”.

2.4.2. Diversificação e equilíbrio ecológico:


A monocultura representa um dos maiores problemas do modelo agrícola praticado
atualmente, porque não existindo diversificação de espécies numa determinada área, as
pragas e doenças ocorrem de forma mais intensa sobre a cultura por ser a única espécie
vegetal presente no local. O monocultivo torna o sistema de produção mais instável e sujeito
às adversidades do meio (Figura 7).

O equilíbrio biológico das propriedades, bem como o equilíbrio ambiental e o equilíbrio


econômico de grandes regiões, não podem ser mantidos com as monoculturas. A
diversificação de culturas é o ponto-chave para a manutenção da fertilidade dos sistemas,
para o controle de pragas e doenças e para a estabilidade econômica regional (Figura 8).
Nesse aspecto, choca-se frontalmente com a idéia de especialização agrícola,
freqüentemente levada ao extremo nas monoculturas regionais. Historicamente, as
monoculturas regionais apenas se têm viabilizado com doses crescentes de agroquímicos ou
com a incorporação de novas terras em substituição àquelas já exauridas (KHATOUNIAN,
2001).
Figura 7: Ambiente agrícola simplicado pelo cultivo de uma única espécie (monocultura),
com alta instabilidade e dependência de grande aporte de insumos externos.

Figura 8: Ambiente agrícola diversificado pelo cultivo e manutenção de várias espécies no


agroecossistema, em propriedade orgânica com alta estabilidade e baixa
dependência de insumos externos – Santa Maria de Jetibá - ES.
Reforçando o tema, GLIESSMAN (2000) relata em seu livro “Agroecologia – processos
ecológicos em Agricultura Sustentável”, que a monocultura é uma excrescência natural de
uma abordagem industrial da agricultura e suas técnicas casam-se bem com a agricultura de
base agroquímica, tendendo a favorecer o cultivo intensivo do solo, a aplicação de
fertilizantes inorgânicos, a irrigação, o controle químico de pragas e as variedades
‘especializadas’ de plantas com estreita base genética que as tornam extremamente
suscetíveis em termos fitossanitários. A relação com os agrotóxicos é particularmente forte;
vastos cultivos da mesma planta são mais suscetíveis a ataques devastadores de pragas
específicas e requerem proteção química.

Sistemas de produção diversificados são mais estáveis porque dificultam a multiplicação


excessiva de determinada praga e doença e permitem que haja um melhor equilíbrio
ecológico no sistema de produção, através da multiplicação de inimigos naturais e outros
organismos benéficos.

Assim, uma propriedade orgânica fundamentalmente tem que se preocupar em buscar


primariamente diversificar a paisagem geral, de forma a restabelecer a cadeia alimentar entre
todos os seres vivos, desde microrganismos até animais maiores e pássaros.

Para tanto, se faz necessário compor uma diversidade de espécies vegetais, de interesse
comercial ou não, recomendando que se opte por espécies locais, adaptadas às condições
edafo-climáticas da região. Como exemplo, em áreas marginais às glebas de produção e nas
bordas de riachos, pode-se proceder o plantio de espécies como: Goiaba, Ingá, Pitanga,
Araçaúna, Biribá, Nêspera, Abacate, Calabura, Jamelão, Amora, Uva japonesa, dentre
outras.

Além disso, é fundamental também proceder manejo da vegetação espontânea. Este manejo
pode ser realizado de três formas, visando permitir a conservação natural da vegetação do
próprio local, conforme abaixo:

1º. Manutenção de áreas de refúgio, fora da área cultivada para interesse comercial,
inclusive áreas com alagamento natural, visando preservar ao máximo os aspectos naturais
estabelecidos pelo ecossistema local ao longo de anos.

2º. Não utilizar intensivamente o solo, procedendo o planejamento de faixas de cultivo,


intercaladas com faixas de vegetação espontânea, chamadas de corredores de refúgio. Para
divisão dos Talhões de plantios deixar corredores de 2,0 a 4,0 metros de largura, para
abrigar a fauna local (Figura 9).

3º. Proceder o controle parcial da vegetação ocorrente dentro das áreas cultivadas,
aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com maiores espaçamentos nas
entrelinhas e manutenção da vegetação entre os canteiros para culturas cultivadas por esse
sistema de plantio, como Alfaces, Cenoura, Alho, dentre outras.

Estes três aspectos anteriores serão os responsáveis pela maior estabilidade do sistema
produtivo e representará uma diminuição expressiva de problemas com pragas e doenças,
tão comuns em sistemas desequilibrados ecologicamente. Vale lembrar que, o não
cumprimento desses princípios têm sido uma das maiores falhas em propriedades rurais,
mesmo orgânicas, em franca atividade no Brasil.

Para completar, o estabelecimento de um desejável nível de diversidade genética, a adoção


de um sistema de produção com culturas diversificadas, de interesse comercial, também é
fundamental. Para tanto, recomenda-se que se adote um plano de uso do solo de forma mais
sustentável possível, procedendo o planejamento dos plantios, visando permitir o descanso
(pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de dois em dois anos, através do plantio
solteiro ou misto, de leguminosas (Ex: Mucuna Preta, Crotalária, Labe-labe) e Gramíneas
(Ex: Milho, Aveia preta), fato que promoverá fixação biológica de nitrogênio e estruturação do
solo, respectivamente.

Figura 9: Corredores de refúgio entre plantio de morango e tomate (à esquerda, acima), entre as linhas
de plantio de brócolis(à direita, acima), entre canteiros de morango (abaixo), em sistema
orgânico de produção.
Em sistemas orgânicos de produção, o equilíbrio ecológico que ocorre entre os macro e
micro organismos, é de fundamental importância para manter as populações de pragas e
doenças em níveis que não causem danos econômicos às culturas comerciais. Sistemas que
utilizam adubos químicos e agrotóxicos provocam instabilidade no ambiente e desequilíbrios
na nutrição das plantas, levando ao aumento da população desses organismos.

Na natureza existe uma forte interrelação biológica entre insetos, ácaros, nematóides,
fungos, bactérias, vírus e outros macro e microorganismos, a qual é responsável pelo
equilíbrio do sistema, podendo-se citar como exemplos: Pulgões (praga) controlados por
joaninhas (predador); Ácaros (praga) controlados por Ácaros predadores; Lagarta-da-soja
(praga), controlada por Baculovirus (parasita); microrganismos antagonistas presentes em
compostos orgânicos, inibindo o desenvolvimento de fungos de solo (por exemplo:
Fusarium), dentre tantos outros.

2.4.3. Teoria da trofobiose:


Através da Teoria da Trofobiose aprendemos que todo ser vivo só sobrevive se houver
alimento adequado e disponível para ele. A planta ou parte dela só será atacada por um
inseto, ácaro, nematóide ou microrganismos (fungos e bactérias), quando tiver na sua seiva,
o alimento que eles precisam, principalmente aminoácidos. O tratamento inadequado de uma
planta, especialmente com substâncias de alta solubilidade, conduz a uma elevação
excessiva de aminoácidos livres. Portanto, um vegetal saudável, equilibrado, dificilmente
será atacado por pragas e doenças.

A explicação técnica do processo se baseia em fatores ligados à síntese de proteínas


(proteossíntese) ou à decomposição das mesmas (proteólise). O metabolismo acelerado
pelos adubos de alta solubilidade ou qualquer outra desordem que interfira nos processos de
proteossíntese ou proteólise, elevará a quantidade de aminoácidos livres na seiva vegetal,
servindo de alimento para alguns insetos e microrganismos (Figura 10).

Os insetos, nematóides, ácaros, fungos, bactérias e vírus são organismos que possuem uma
pequena variedade de enzimas (responsáveis pela formação de proteínas), o que reduz sua
possibilidade de digerir moléculas complexas como as proteínas, necessitando do seu
desdobramento em moléculas mais simples como os aminoácidos.

Existem vários fatores que interferem na resistência das plantas, pois interferem no seu
metabolismo, podendo aumentar ou diminuir a sua resistência.

Fatores que melhoram a resistência: Espécie ou variedade adaptada ao local de cultivo;


Solo; Adubos orgânicos; Adubos minerais de baixa
solubilidade e Defensivos Naturais.
Fatores que diminuem a resistência: Idade da planta; Solo; Luminosidade; Umidade; Tratos
culturais; Adubos minerais de alta solubilidade e
Agrotóxicos.

Portanto, conhecendo-se todos esses fatores citados anteriormente, o agricultor deve


adequar o seu sistema de produção, empregando práticas recomendadas para sistemas
orgânicos, que certamente conduziram à obtenção do desejado equilíbrio nutricional e
metabólico nas suas culturas comerciais.
Figura 10: Desordens no metabolismo vegetal deixam as plantas mais atrativas ao ataque de insetos e
microrganismos. Fonte: APTA.
2.4.4. Reciclagem de matéria orgânica:

A matéria orgânica é um dos componentes vitais do ciclo da vida, descrito por KIEHL (1985),
conforme a ilustração da Figura 11. Ela exerce importantes efeitos benéficos sobre as
propriedades do solo, nas propriedades físicas, químicas, fisico-químicas e biológicas,
contribuindo substancialmente para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Verifique
a seguir a descrição desses efeitos, adaptados de KIEHL (1985).

Figura 11: Ciclo da vida na natureza (Fonte: KIEHL, 1985).

Propriedades físicas

A matéria orgânica exerce grande influência nas propriedades físicas do solo, daí ser
classificada por alguns autores como “material melhorador do solo”.

a) Densidade aparente – a matéria orgânica reduz a densidade aparente. Densidade


aparente é a relação existente entre a massa (ou peso) de uma amostra de terra seca
e o volume aparente ou global ocupado pela soma das partículas e poros da amostra.
O uso indiscriminado de máquinas agrícolas pesadas aumenta a densidade aparente
pela compactação da camada superior da terra. Para reduzir a densidade aparente
recomenda-se aplicar matéria orgânica nas suas mais diversas formas: adubos
verdes, estercos animais, compostos e demais fertilizantes orgânicos. A matéria
orgânica reduz a densidade aparente direta e indiretamente. Diretamente, ao se juntar
à terra, que tem densidade aparente entre 1,2 a 1,4 g/cm3, um material cuja
densidade média vai de 0,2 a 0,4 g/ cm3. Indiretamente, pelo seu efeito na
estruturação do solo, tornando-o mais solto, menos denso.

b) Estruturação do solo – a estrutura é o resultado da agregação das partículas


primárias, quais sejam, areia, silte , argila e outros componentes do solo como matéria
orgânica e calcário. Para haver a formação de agregados são necessárias duas
principais condições: a primeira, uma força mecânica qualquer para provocar a
aproximação das partículas, como o crescimento das raízes, por exemplo; a segunda
condição é a de que, após o contato das partículas haja um agente cimentante para
consolidar essa união, gerando o agregado. A matéria orgânica humificada,
juntamente com os minerais de argila são os dois agentes cimentantes que mais
contribuem para a agregação do solo. A incorporação de matéria orgânica ao solo
provoca uma intensa atividade de microrganismos, fazendo com que os micélios dos
fungos e dos actinomicetos ou as substâncias viscosas produzidas pelas bactérias
funcionem como elementos aglutinantes das partículas. A matéria orgânica dá mais
liga aos solos arenosos, tornando-os mais “pesados”, e reduz a coesão dos argilosos,
fazendo que fiquem mais “leves”.

c) Aeração e drenagem – a matéria orgânica melhora a aeração e a drenagem interna do


solo, porque promove sua agregação e estruturação, de forma que tenha poros, por
onde circulam o ar e a água.

d) Retenção de água – a matéria orgânica aumenta direta e indiretamente a capacidade


do solo de armazenar água. A matéria orgânica crua tem capacidade de retenção de
água em torno de 80%; à medida que vai sendo humificada, essa capacidade de reter
água se eleva alcançando em média 160%. Materiais bem humificados, ricos em
colóides, como as turfas e os solos orgânicos, podem ter de 300 a 400% de
capacidade de retenção, enquanto que o húmus puro alcança valores maiores ainda,
até o dobro das anteriores.

A matéria orgânica humificada pode armazenar água indiretamente, melhorando as


propriedades físicas do solo. A matéria orgânica aumenta a capacidade de infiltração de
água devido às melhorias das condições físicas do horizonte superficial do solo, como por
exemplo, aumentando a granulação, a estruturação e protegendo a superfície contra a
formação de crostas impermeáveis. Quanto maior a capacidade de infiltração, menor o
escorrimento de água pela superfície formando enxurradas, e menor as perdas por erosão.
Também, as perdas de água do solo por evaporação são reduzidas pela presença de
matéria orgânica. É possível economizar água de irrigação incorporando-se matéria orgânica
ao solo ou aplicando-a na forma de restos vegetais em cobertura morta.

Propriedades químicas

a) Fornecedora de nutrientes - A matéria orgânica é uma importante fonte de nutrientes


para as plantas, a microflora e a fauna terrestre. Fornece principalmente nitrogênio,
fósforo, enxofre e micronutrientes.
- Nitrogênio (N)– este elemento só pode ser armazenado no solo na forma orgânica. As
formas minerais (amoniacal – NH4+ - e nítrica – NO3-) estão sujeitas a perdas por
volatilização ou por lavagem, respectivamente, não permanecendo na terra por longo
tempo. Na matéria orgânica vegetal o nitrogênio é encontrado principalmente na forma de
proteínas e, em menor quantidade, em outros componentes celulares. A proporção de N
mineral encontrado no solo é de 1 a 10% do Nitrogênio total; o restante, 90 a 99%, está
na forma orgânica. Pode-se afirmar que, em média, maisde 95% do nitrogênio encontrado
no solo está na forma orgânica.

- Fósforo (P) – a matéria orgânica é uma importante fonte de fósforo para as plantas,
contendo geralmente de 15 a 80% do fósforo total encontrado no solo. O fósforo, no solo
apresenta o problema de se fixar aos sesquióxidos de ferro e alumínio das partículas de
argila, ficando indisponível para as plantas. Quando se mistura fosfatos naturais (fonte de
fósforo) aos restos orgânicos (animais e vegetais), a serem decompostos pelo processo
de compostagem, o fósforo fica solubilizado (misturado com água e outros nutrientes e
disponível para as plantas) pela ação dos ácidos orgânicos formados durante a
fermentação e, também, pelo ataque dos microrganismos. Além disso, o húmus que vai
se formando protege o fósforo solubilizado, evitando sua fixação.

- Potássio (K) – o potássio não participa de compostos da planta, como acontece com o
nitrogênio, o fósforo e o enxofre. Ele é um elemento ativo na planta, porém, na forma
livre, sendo por isso prontamente liberado para o solo quando restos vegetais são a ele
incorporados.

- Enxofre (S) – o enxofre está presente no solo na forma mineral e orgânica. Na forma
orgânica constitui de 50 a 70% do total encontrado.

- Cálcio (Ca) e magnésio (Mg) – como o potássio, a maior parte do Cálcio e do Magnésio
fornecido às plantas provém dos minerais do solo, sendo pequena a contribuição da
matéria orgânica como fornecedora desses dois macronutrientes, excetuando-se estercos
de aviários que podem elevar, até em níveis excessivos, os teores de cálcio em solos
submetidos a manejos orgânicos sucessivos.

- Micronutrientes – os micronutrientes presentes no solo são de origem mineral e orgânica.


Através de reações de troca e mecanismos de complexação ou de quelação, o húmus
pode reter em formas disponíveis certos micronutrientes liberados pelos minerais do solo
ou da matéria orgânica em decomposição.

b) Correção de substâncias tóxicas – a aplicação de matéria orgânica humificada aos


solos tem sido recomendada como uma maneira de controlar a toxidez causada por
certos elementos encontrados em quantidades acima do normal. O ferro, o alumínio e o
manganês são apontados como os elementos tóxicos mais comuns nos solos
brasileiros. O controle da toxidez, geralmente, é feito pela aplicação de fertilizantes
orgânicos, devido à propriedade do húmus em fixar, complexar ou quelar esses
elementos.

c) Índice pH – a matéria orgânica humificada contribui para que o solo ácido fique com um
pH mais favorável às plantas. Os solos fortemente alcalinos, com pH elevado, podem
também ser corrigidos com aplicações de matéria orgânica. Em experimento de campo,
constatou-se que a aplicação de 40 toneladas de esterco por hectare foi mais efetiva
em corrigir o pH de dois solos, um ácido e outro alcalino, que a aplicação de 1 tonelada
de calcário por hectare.

d) Poder tampão – o poder tampão do solo é devido à presença de minerais de argila e


de matéria orgânica. Quanto maior o teor de matéria orgânica no solo, maior será sua
resistência à mudança de pH. Assim, solos ricos em matéria orgânica necessitam maior
quantidade de calcário para modificar o pH.

Propriedades físico-químicas

a) Adsorção iônica – é um fenômeno físico-químico onde há uma retenção eletrostática


de um cátion em uma massa. A argila e o húmus são dois colóides eletronegativos,
pois quando suspensos em um líquido e sob a ação de uma força eletromagnética,
caminham para o pólo positivo. O húmus têm maior capacidade de adsorção de
cátions que a caulinita, argila que ocorre na maioria dos solos brasileiros. Assim,o
húmus é capaz de reter nutrientes essenciais para as plantas, devido ao seu poder de
adsorção.

b) Capacidade de troca catiônica (CTC) – o colóide orgânico húmus tem a habilidade de


adsorver cátions existentes na solução do solo, podendo depois cedê-los às raízes ou
efetuar trocas, caso ocorra uma concentração de íons diferentes ou uma variação do
pH. O húmus apresenta uma elevada CTC se comparado com os colóides inorgânicos
do solo:
CTC do húmus – 200 a 400 meq/100g
CTC da caulinita – 3 a 15 meq/100g

c) Superfície específica – a matéria orgânica eleva a superfície específica do solo. O


húmus tem uma área de exposição superficial (superfície específica) 70 vezes maior
que a caulinita. Quanto maior a superfície específica do colóide do solo, maior sua
capacidade de retenção e maior seu poder de fornecer nutrientes para as plantas. O
aumento da superfície específica dos solos, proporcionado pelas adubações
orgânicas continuadas, pode elevar a sua capacidade de retenção de água.

Propriedades biológicas

A matéria orgânica atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte de energia e
de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico. Assim, a presença
de matéria orgânica aumenta a população de minhocas, besouros, fungos benéficos,
bactérias benéficas e vários outros organismos úteis, que estão livres no solo. Aumenta,
também, a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas,
como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são fungos capazes de
aumentar a absorção de minerais do solo.
Indiretamente, a matéria orgânica atua na biologia do solo pelos seus efeitos nas
propriedades físicas e químicas, melhorando as condições para a vida vegetal. Por isso, é
chamada como melhoradora ou condicionadora do solo.
Experimentos mostram que o húmus estimula a alimentação mineral das plantas, o
desenvolvimento radicular, diversos processos metabólicos, a atividade respiratória, o
crescimento celular e a formação de flores em certas plantas.

Em sistemas orgânicos, a utilização do método de reciclagem de estercos animais e de


biomassa vegetal permitem a independência do agricultor quanto à necessidade de
incorporação de insumos externos ao seu sistema produtivo, minimizando custos, além de
permitir usufruir dos benefícios da Matéria Orgânica em todos os níveis.

Relação Matéria Orgânica vs. Resistência de plantas

- Aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas.

- Aumenta a população de minhocas, besouros, fungos benéficos, bactérias benéficas e


vários outros organismos úteis, que estão livres no solo.

- Aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas,
como as bactérias fixadoras de Nitrogênio e as Micorrizas, que são fungos capazes de
aumentar a absorção de minerais do solo.

- Aumenta significativamente a capacidade das raízes em absorver minerais do solo, quando


se compara aos solos que não foram tratados com matéria orgânica.

- Possui, na sua constituição, os macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas,


que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em qualidade e quantidade. Com isso,
o nível de proteossíntese aumenta. Os micronutrientes são fundamentais para a
proteossíntese, tanto como constituintes quanto ativadores das enzimas que regulam o
metabolismo da planta.

- A matéria orgânica é fundamental na estruturação do solo por causa da formação de


grumos. Isto aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo.

- A matéria orgânica possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a


respiração e a fotossíntese das plantas.

Em função dos fatores anteriores, a matéria orgânica interfere significativamente na


intensidade de ocorrência de doenças em diversas hortaliças, conforme demonstrado na
Tabela 13.
Tabela 13: Doenças de hortaliças afetadas pelo uso matéria orgânica.
Doença Patógeno Cultura Composto Efeito no patógeno
Orgânico e/ou doença
Meloidoginose Meloidogyne Tomate Esterco de Redução da população
javanica bovino
Palha de café
Meloidoginose Meloidogyne Cenoura Esterco de suíno Redução da população
javanica Esterco de
Meloidogyne carneiro
incognita Húmus de
minhoca
Podridão Sclerotium Alho Vermicomposto Redução da população
branca cepivorum Cebola Torta de cacau
Esterco de aves
Esterco de
bovino
Mancha Leandria Pepino Vermicomposto Redução da doença
Zonada momordicae Palha de café
Tombamento Rhizoctonia solani Pepino Casca de Redução da doença
madeira
Tombamento Rhizoctonia solani Rabanete Esterco de Redução da população
Sclerotium rolfsii bovino Redução da doença
Casca de
madeira
Murcha Fusarium Tomate Vermicomposto Redução da doença
oxysporum f.sp.
lycopersici
Podridão Botrytis spp. Aspargo Esterco de Aumento da doença
bovino
Raiz-rosada Pyrenochaeta Cebola Adubo verde Redução da doença
terrestris
Hérnia-das- Plasmodiophora Repolho Casca e restos Redução da doença
crucíferas brassicae culturais de arroz

Podridão-de- Sclerotinia minor Alface Resíduos de Redução da população


esclerotinia esgoto urbano
Casca de
pinheiro Redução da doença e da
Sclerotinia Alface Esterco de aves, população
sclerotiorum cavalo, bovino,
composto de
feno de alfafa
Podridão-de- Fusarium sp. Inhame Casca de Controle da doença
rizoma pinheiro

Sarna Streptomyces Batata Composto de Efeito variável


scabies fazenda
Esterco de
bovino
Murcha Phytophthora Pimentão Exoesqueleto de Redução da doença
capsici crustáceos
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1997.

PEREIRA et al. (1996) também relatam o importante efeito que os compostos orgânicos
exercem de forma direta e indireta sobre o controle de doenças em plantas, principalmente
daquelas induzidas por patógenos habitantes e/ou invasores do solo. Embora possa ocorrer
indução de resistência nas plantas, os principais mecanismos de controle são decorrentes da
elevação da atividade microbiana, proporcionada pela biomassa dos compostos orgânicos.
Fatores abióticos, como o material de origem, o método de compostagem e o nível de
estabilização do composto afetam, indistintamente, populações de patógenos e de
microrganismos antagonistas e, consequentemente, a supressividade às doenças.

Além disso, a incorporação de microrganismos antagonistas ao composto, através da


inoculação dos mesmos antes da adubação, pode elevar o efeito supressivo desse e
contribuir para o controle de doenças em plantas. SERRA-WITTLING et al. (1996)
verificaram que a adição de composto orgânico ao solo promoveu um aumento na
supressividade de Fusarium, de forma proporcional à quantidade de composto usada na
mistura (10%, 20% e 30%), em relação ao solo puro.

SOUZA & VENTURA (1997), comparando sistemas de adubação orgânica e mineral,


isoladas e associadas, verificaram que nas parcelas adubadas exclusivamente com
composto orgânico houve menor incidência de Phythophtora infestans na cultura da batata,
por proporcionarem menores teores de nitrogênio e fósforo e maiores teores de cálcio e boro,
na parte aérea das plantas. Observaram que houve uma correlação positiva para os níveis
foliares de N e P e correlação negativa para os níveis de Ca e B, com a incidência do
patógeno.

ELAD & SHTIENBERG (1994) também confirmaram efeitos de extratos aquosos de


compostos orgânicos no controle de doenças, através de um estudo sobre a incidência de
mofo cinzento (Botrytis cinerea) em Tomate, Pimentão e Uva. Os três tipos de extratos
foram obtidos de compostos orgânicos preparados da forma tradicional, à base de esterco
bovino, esterco de frango e resíduos da fabricação de vinho. Para todos os 3 tipos, obteve-se
o extrato padrão fazendo-se a diluição em água, na base de 1:5 (v/v), deixando-se fermentar
por 4 horas, 1 semana e 2 semanas. Os extratos puros (sem diluição) foram pulverizados
sobre as folhas de tomate e pimentão e sobre os cachos de uva, após terem sido infectados
artificialmente com pulverização de solução aquosa contendo 105 conídios.ml-1. Verificaram
que a eficiência na redução da doença, variou com o tempo de fermentação e com o tipo de
extrato utilizado. Todos os extratos apresentaram maior eficiência quando fermentados por 2
semanas. Em geral, a redução da doença situou-se na faixa de 56% a 100% quando se
utilizou extratos fermentados por mais de 10 dias.
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 3

MÉTODOS DE PRODUÇÃO APLICÁVEIS AO


CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS

63
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.1. Gênese, Manejo, conservação e fertilização do


solo

3.1.1. Considerações sobre a gênese do solo:

Na visão agroecológica, a gênese do solo e as transmutações, como disponibilizadores de


nutrientes, têm sido destacadas como questões importantes. Segundo WERNER (2001), “a
gênese do solo sempre foi interpretada mais sob a ótica mineralógica, como um lento
processo físico-químico de intemperização da rocha-mãe, sendo secundária a importância
dos organismos vivos na formação dos solo. O autor destaca que o prof. Andreas Miklós
recentemente desenvolveu estudos convincentes sobre a origem biológica dos solos, sendo
que a principal responsável por tal formação é a biodiversidade, cujos componentes
principais são a flora (raízes) e a fauna, com destaque para os cupins e as formigas, entre
outros. Sua tese explica ainda a gênese das ‘Stone Lines’, que são linhas horizontais de
pedras encontradas em profundidade em alguns tipos de solos, em consequência do
remonte biológico vertical. Portanto, o solo cresce”.

O engenheiro e biólogo francês C. Louis Kervran comprovou as reações das transmutações


biológicas a baixa energia, que ficaram conhecidas como as “Reações de Kervran”. Elas
atestam que os organismos vivos, sejam fungos, bactérias, plantas, animais ou o próprio
homem, são capazes de transmutar um elemento químico em outro. Isto é realizado por
enzimas, semelhantemente ao que ocorre com as moléculas, envolvendo absorção ou
liberação de energia. Um dos elementos básicos, Carbono, Hidrogênio, Oxigênio ou
Nitrogênio, é acoplado ou desacoplado nas reações de transmutações formando outro
elemento químico (WERNER, 2001).

Essas considerações anteriores deixam ainda mais evidente que, a análise puramente
aritmética de disponibilidade e uso dos nutrientes é insuficiente para o entendimento
completo sobre adubação e nutrição de plantas em sistemas agroecológicos.

3.1.2. Preparo do solo:

A busca da sustentabilidade na Agricultura Orgânica se inicia com a quebra do ciclo da


pobreza, isto é, degradação dos recursos naturais, principalmente do solo e da água (Figura
12), conforme relatado por SATURNINO & LANDERS (1997).

64
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Preparo inadequado do solo

Monocultura

Compactação Erosão
Falta de cobertura

Insolação direta

Degradação do solo

Menor produção
de biomassa

Menor
produtividade

Menor renda líquida


(Descapitalização)

Figura 12: Ciclo da pobreza.

A degradação do solo e suas consequências, tem resultado no desafio de viabilizar sistemas


de produção que possibilitem maior eficiência energética e conservação ambiental, criando-
se novos paradigmas tecnológicos na agricultura, baseados na sustentabilidade. Entre as
alternativas tecnológicas, destacam-se a cultivo mínimo e o plantio direto como práticas de
suma importância a serem adaptadas a sistemas orgânicos de produção, com vistas a
perturbar o mínimo possível a estrutura física e a vida biológica do solo. O plantio direto é
uma forma de plantio em que o solo sofre o mínimo distúrbio possível. O plantio pode feito
diretamente sobre os restos culturais da lavoura anterior, sobre adubos verdes ou sobre as
ervas espontâneas em áreas de pousio temporário.

Segundo DERPSCH (1997), o principal problema da agricultura convencional em áreas


tropicais e subtropicais é a perda da fertilidade natural dos solos, a qual se relaciona com a
duração de sua exploração. Com o passar dos anos, o manejo inadequado conduz a uma
redução dos rendimentos das colheitas e, dependendo do tipo de solo e das técnicas
empregadas, a rentabilidade do sistema começa a ser comprometida. O autor menciona as
leis não-escritas dos rendimentos decrescentes, que elucidam com mais detalhes essas
questões.
65
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Dentre os diversos tipos de degradação do solo, o processo de erosão pode ser considerado
o mais negativo e de maior agressividade ao meio ambiente. Conforme relata DERPSCH
(1997), seu controle é imprescindível. Em se tratando de sistemas orgânicos de produção,
poderíamos acrescentar que esta necessidade se torna ainda mais evidente, tornando-se
fundamental em propriedades orgânicas:
a) a adoção de princípios e práticas recomendadas pela agricultura orgânica, que visam a
proteção do solo;
b) a adoção do plantio direto como alternativa eficaz na redução das perdas de solo,
comprovado em diversos trabalhos de pesquisa (Tabela 14);
c) a adoção das práticas tradicionais de conservação de solo, há muito conhecidas, como
plantio em curvas de nível (Figura 13) , cordões em contorno, faixas de retenção, caixas
secas em estradas e carreadores, dentre outras.

As leis não-escritas dos


rendimentos decrescentes

• Em condições tropicais e subtropicais, o preparo do solo tem, como consequência, a


mineralização da matéria orgânica em quantidades maiores do que as possibilidades
de reposição. Daí resulta o decréscimo da matéria orgânica no solo e a diminuição dos
rendimentos das culturas ao longo do tempo.

• A alta intensidade de chuvas que prevalece nos trópicos e subtrópicos está geralmente
associada (inclusive em terreno com pouco declive) a perdas de solo maiores do que a
regeneração natural, resultando em degradação química, física e biológica do solo e na
diminuição dos rendimentos das culturas.

• A degradação da matéria orgânica e a erosão não podem ser evitadas quando o solo
tropical e subtropical é revolvido em arações e outros preparos. Como consequência, a
sustentabilidade da produção agrícola, sob os efeitos dos métodos convencionais, fica
comprometida.

• E outras palavras, o arado e outros implementos de preparo do solo são antagônicos


ao uso sustentável da terra nas regiões tropicais e subtropicais.

Fonte: DERPSCH (1997).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 14: Comparação das perdas de solo e água nos sistemas de preparo
convencional (PC) e plantio direto (PD).

Descrição Perdas de solo Perdas de água


(t/ha/ano) (mm/ha/ano)
PC PD (%) PC PD (%)
PARANÁ1
(12 anos de soja + trigo) 26.4 3.3 87.5 666 225 66.2

PARAGUAI2
4 anos 21.4 0.6 97.2 - - -
2 dias com chuva de 186 mm 46.5 0.01 99.7 - - -

CERRADOS3
Soja (dados de 11 meses) 4.8 0.9 81.2 206 120 41.7
Milho (dados de 11 meses) 3-3.4 2.4 20-29 252-318 171 32-41
Fontes: Merten et al. (1996); Venialgo (1996); Santana et al. (1994), citados por DERPSCH (1997).
1 2 3

Figura 13: Encanteiramento e linhas de plantio em nível, em cultivo orgânico de hortaliças na Fazenda
Luiziânia – evitando perdas desnecessárias de solo. Um pequeno declive de, no máximo
2%, deve ser deixado para evitar acúmulos excessivos de água. Entre Rios de Minas - MG.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Para o cultivo orgânico de hortaliças, o uso do solo é feito de forma mais intensiva,
comparado à outras atividades agrícolas, além de existir espécies que exigem um preparo
mais refinado para expressar melhores rendimentos comerciais, como o uso de arado e
enxada rotativa, que ocasionam a pulverização da camada superficial do solo e a
compactação subsuperficial.

De acordo com WERNER (2000), a Tabela 15 oferece importantes informações e indicativos


para as causas da degradação do solo, e deve servir de base para a conversão do manejo
convencional para o agroecológico.

Tabela 15: Grau de interferência negativa das causas da degradação do solo na


fertilidade química, física e biológica.

CAUSAS DA DEGRADAÇÃO DO SOLO FERTILIDADE DO SOLO

QUÍMICA FÍSICA BIOLÓGICA


DEVASTAÇÃO DAS FLORESTAS *** *** ***
ARADO *** *** ***
GRADE *** *** ***
ROTATIVA *** *** ***
TRÁFEGO DE MÁQUINAS *** *** ***
EROSÃO *** *** ***
FALTA DE COBERTURA DO SOLO *** *** ***
COMPACTAÇÃO *** *** ***
ADUBOS QUÍMICOS MUITO SOLÚVEIS ** *** ***
VARIEDADES DE ALTA RESPOSTA ** * ***
CALCÁRIO EM EXCESSO ** * **
MONOCULTURA ** * ***
PRÁTICAS DE ESTERILIZAÇÃO DO SOLO * * ***
QUEIMADAS ** * **
BAIXO FORNECIMENTO MAT. ORGÂNICA *** *** ***
DOENÇAS E PRAGAS * * *
AGROTÓXICOS * * ***
VENTOS *** *** ***
PROBLEMAS DE CLIMA * * *
MAU USO DA IRRIGAÇÃO ** * *
MODELO ECONÔMICO PRODUTIVISTA *** *** ***
CRÉDITO AGRÍCOLA (INSUMOS) *** *** ***
PERDAS DE NUTRIENTES *** * **
Grau de interferência negativa : * = Pouco ** = Médio *** = Muito

68
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Diante do exposto até o momento e, baseado em informações de POPIA (2000), ROWE
(2000) e SOUZA (2002), podemos recomendar os seguintes procedimentos aplicáveis à
olericultura orgânica:

• Uso de barreiras de árvores e/ou arbustos como quebra-ventos, para melhorar o


microclima, aumentar a produtividade (Tabela 16) e diminuir a erosão eólica. A descrição
dos princípios e as técnicas para implantação de quebra-ventos podem ser verificadas em
GLIESSMAN (2000).

Tabela 16: Impactos relativos de quebra-ventos sobre a produtividade de várias


culturas de grãos e forragens.

Cultura Aumento percentual de produtividade


em relação a áreas sem barreiras
Alfafa 99

Milheto 44

Trevo 25

Cevada 25

Arroz 24

Trigo (inverno) 23

Centeio 19

Mostarda 13

Milho 12

Linho 11

Trigo (primav.) 8

Aveias 3
Fonte: Kort (1988), citado por GLIESSMAN (2000).

• Emprego do plantio direto, sempre que possível, utilizando-se dos seguintes


equipamentos:

Rolo faca: para acamar espécies de cobertura. Existem modelos de tração animal,
microtrator e tratores.

Rolo-disco: Usado para acamar espécies que apresentam maior dificuldade de


acamamento, como a mucuna, devido ao seu hábito de crescimento.

69
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Triturador: implemento acoplado ao microtrator, igual a um triturador de grãos, sendo


indicado para espécies mais fibrosas (sorgo, milho, milheto, crotalárias).

Roçadeira: existem modelos para microtrator e trator, podendo ser utilizada para adubos
verdes menos fibrosos ou com muita rama (ex: mucuna) e ervas espontâneas.

Segundo ROWE (2000), quanto a equipamentos para semeadura, existem kits de plantio
direto/cultivo mínimo. Esses kits geralmente são enxadas rotativas adaptadas, retirando-
se jogos de facas, deixando-se apenas dois.

Já existem vários modelos, com maior ou menor grau de sofisticação, dependendo do


fabricante e do objetivo do kit, fabricadas na forma de semeadeiras-adubadeiras para
plantio direto/cultivo mínimo, movidas a tração animal ou microtrator, que podem ser
adaptadas para a semeadura de algumas espécies olerícolas ou adubos verdes em
sistema orgânico, a exemplo deste modelo apresentado na Figura 14.

Figura 14: Implemento de tração animal ou microtrator, para semeadura em plantio direto (à
esquerda) e rolo-faca a tração animal (à direita).

• Utilizar o sistema de preparo tradicional, com aração e gradagem, o mínimo possível de


forma racional e, utilizar a enxada rotativa apenas em caso de extrema necessidade,
limitando-se apenas para culturas que necessitam de encanteiramento.

• Para hortaliças de espaçamentos maiores, plantadas em covas ou sulcos, pode-se


empregar diretamente o preparo manual ou utilizar equipamentos como sulcador ou ainda
a enxada com 2 jogos de facas, cultivando apenas a linha de plantio.

• É recomendável proceder a rotação de culturas, envolvendo espécies que exigem


sistemas de preparo de solo diferentes, intercalando espécies de preparo intensivo com
espécies de plantio direto.

• Uso do subsolador em áreas submetidas a cultivos intensivos (em média, de 2 em 2


anos).

70
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
3.1.3. Balanço e manejo equilibrado das Adubações:

O correto manejo de solos em sistemas orgânicos de produção é uma das atividades


prioritárias e vitais, uma vez que o mesmo deve ser considerado não apenas como suporte
de plantas ou reservatório de nutrientes, mas como um organismo vivo e um sistema
complexo que abriga uma diversidade de fauna e flora indispensáveis para a
sustentabilidade do agroecossistema.

Adubações orgânicas devem ser realizadas de forma adequada para não provocar excessos
de nutrientes no solo, especialmente quanto ao aporte de Fósforo em áreas de cultivo
intensivo de hortaliças, quando se conjuga o uso de estercos e fosfato natural.

Da mesma forma, o uso de estercos de aviários pode elevar excessivamente os níveis de


Cálcio, conduzindo a excessos do elemento e desbalanço da relação Ca:Mg. Entretanto,
deve-se lembrar que a clássica relação 3:1 não é uma recomendação estática e ainda, que
concentrações elevadas de Potássio decrescem a absorção de Cálcio e Magnésio.

Em sistemas convencionais, é comum a afirmativa de que relações Ca:Mg de 0,3:1 até 30:1
não tiveram nenhuma influência na produção. As plantas geralmente produzem bem em uma
gama variada de relações Ca:Mg. As diversas culturas têm diferentes necessidades de
Cálcio e Magnésio, porém como regra geral uma relação 5:1 é considerada boa para a
maioria das lavouras se o objetivo for atingir alta qualidade e boa resistência a doenças
(Garcia, 2000). O mesmo autor reporta, ainda, que o uso de calcário também deve ser feito
com prudência e que o uso excessivo deste corretivo pode conduzir a solos compactados e
com baixa produtividade.

Dados obtidos por Souza (2000), nos 3 primeiros anos de manejo orgânico em cultivo de
hortaliças, registraram elevações muito rápidas de fósforo e cálcio em solos trabalhados com
compostagem à base de esterco de aviário, enriquecida com 3 Kg/m3 de fosfato de araxá no
momento da confecção da pilha.

De posse dessas informações pode-se afirmar que o uso do calcário e fosfato natural, em
manejo orgânico intensivo do solo, devem ser realizados (dependendo da análise do solo),
apenas no início da implantação do sistema orgânico e/ou durante a fase de conversão do
sistema convencional para o orgânico, uma vez que a própria ciclagem de matéria orgânica,
nos anos subsequentes, será suficiente para fornecer todos os nutrientes às plantas e
manter o pH do solo numa faixa ideal para o melhor desenvolvimento das plantas.

Em geral, sistemas orgânicos de cultivo permitem ciclar, ofertar e acumular no solo todos os
macronutrientes necessários ao bom desenvolvimento da maioria das espécies cultivadas.
Atenção especial deve ser dada ao Nitrogênio, aplicando um sistema de manejo ou
empregando fontes que permitam a fixação e disponibilização desse elemento para as
culturas.

TEMPLE et. al., 1994 (Tabelas 17 e 18) e SCOW et. al., 1994 (Tabela 19), em experimentos
realizados na Califórnia - EUA, no período de 1989 a 1992, compararam os sistemas
orgânico, baixos-insumos e convencional, numa rotação de culturas com Tomate industrial,
Milho, Açafrão e Feijão. Em ambos trabalhos, nos casos em que se verificou menor

71
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
produtividade em sistema orgânico, quando comparado ao sistema convencional de
produção, relacionaram à deficiência no aporte de Nitrogênio.

Tabela 17: Teores de NO3 no solo na época da floração, biomassa de ervas e


rendimento de frutos na cultura do tomate em quatro sistemas de produção.
Califórnia – EUA, 1991 e 1992.1
NO3 biomassa ervas2 rendimento
Sistemas de produção (ppm) (lb/acre) (ton./acre)
1991 1992 1991 1992 1991 1992

Orgânico 1530 b 6560 b 46 162 a 28.2 c 42.7 a

Baixos-insumos 1800 b 12220 a 40 212 a 34.9 b 42.9 a

Conv. 4 anos 4270 a 15470 a 0 16 b 45.6 a 47.8 a

Conv. 2 anos 4100 a 15150 a 0 44 b 37.4 b 41.3 a


1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade.
2 Peso seco.

Tabela 18: Porcentagem de Nitrogênio nas folhas, rendimento de grãos e biomassa de


ervas na cultura do milho em três sistemas de produção. Califórnia – EUA,
1991 e 1992.1
N nas folhas biomassa ervas2 rendimento
Sistemas de produção (%) (lb/acre) (ton./acre)
1991 1992 1991 1992 1991 1992

Orgânico 2.4 a 2.4 b 93 744 a 4.07 b 4.92 b

Baixos-insumos 2.4 a 2.8 a 46 33 b 4.09 b 5.92 a

Convencional 3.0 a 2.8 a 1 20 b 5.06 a 4.76 b


1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade.
2 Peso seco.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 19: Teores de NO3 no solo, porcentagem de Nitrogênio nas folhas e
rendimentos de tomate e milho em diferentes sistemas de produção.
Califórnia – EUA, 1990 a 1992.

Sistemas de produção Níveis analisados Rendimento

1990 1991 1992 1990 1991 1992


Tomate NO3 no solo (ppm) Ton./Acre

Orgânico 7.42 b 1.53 b 6.56 b 30.7 c 28.2 c 42.7 a

Baixos-insumos 12.49 a 1.80 b 12.23 a 36.3 b 34.9 b 42.9 a

Convencional - 4 anos 12.73 a 4.28 a 15.48 a 36.8 ab 45.6 a 47.1 a

Convencional - 2 anos 13.19 a 4.10 a 15.15 a 40.0 a 37.4 b 41.3 a

Milho N nas folhas (%) Ton./Acre

Orgânico 2.97 a 2.4 a 2.4 b 5.2 a 4.1 b 4.9 b

Baixos-insumos 2.87 a 2.4 a 2.8 a 5.0 a 4.1 b 5.9 a

Convencional - 4 anos 2.99 a 3.0 a 2.8 a 4.9 a 5.1 a 4.8 b


1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade,
pelo teste de DUNCAN.

BERTALOT & MENDOZA (1996) informam que a fixação biológica de Nitrogênio é o principal
mecanismo de fornecimento desse elemento nos ecossistemas naturais e em grande parte
das culturas agrícolas nas regiões tropicais. Comentam ainda que, a fixação biológica pode
ocorrer de diversas formas, realizada por microrganismos, em associação simbiótica com
plantas hospedeiras ou em forma de vida livre, destacando-se: Rhizobium, Bradyrhizobium,
Sinorhizobium, Azorhizobium, Photorhizobium, Azospirillum sp. (associadas à gramíneas),
Herbaspirillum seropedicae (associadas à Cana-de-açúcar e Arroz), Azoarcus (associada a
rizosfera do arroz), Acetobacter diazotrophicus (encontradas no tecido da Cana-de-açúcar e
Batata-doce), Azotobacter, Burkolderia sp., dentre outros.

Estudo realizado por SOUZA & PREZOTTI (1196 a) demonstrou que o parcelamento da
adubação orgânica pode auxiliar no desenvolvimento de plantas, visto que fornece de forma
gradual os nutrientes essenciais para a cultura, principalmente o Nitrogênio que não se
acumula no solo, necessitando ser reciclado a todo momento. Exemplificando esta
informação, a Tabela 20 mostra a resposta da cultura do tomate a adubações em cobertura
com vários tipos de adubos orgânicos, revelando aumento expressivo na produtividade
quando se utilizou adubação em cobertura com torta de cacau, que contém 3,0 a 3,5% de N
na matéria seca.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 20: Efeito da adubação orgânica em cobertura sobre a cultura do tomate em
sistema orgânico de produção.

Total Comercial
Tratamentos NO
Peso No
Produtividade
Frutos Frutos
(kg/ha) (kg/ha)

1 - Composto ( 30 dias) 128 32.617 91 26.284

2 - Composto (30 e 60 dias) 140 32.138 95 27.991

3 - Composto diluído 1:2 (30 dias) 137 32.279 98 28.378

4 - Composto diluído 1:2 (30 e 60dias) 129 30.745 89 26.986

5 - Esterco de galinha (30 dias) 140 32.328 10l 29.723

6 - Esterco de galinha (30 e 60 dias) 144 33.723 98 31.034

7 - Torta cacau (30 dias) 168 42.038 113 36.343

8 - Torta cacau (30 e 60 dias) 154 42.005 107 36.460

9 - Testemunha 139 30.924 94 26.971

WOLINSK MIKLÓS (1997), destaca o importante papel desempenhado pela fauna do solo
sobre seus atributos químicos, especialmente pelas minhocas e cupins epígenos. De uma
maneira geral, as minhocas apresentam ação sobre os processos de humificação
(contribuem na fragmentação dos resíduos vegetais e incorporação); sobre os elementos
totais, trocáveis e assimiláveis (Cálcio, Potássio, Magnésio e Fósforo tornam-se mais
abundantes) e sobre o nitrogênio do solo (favorecem a nitrificação da matéria orgânica e
aumentam o teor de N no solo).

Ainda segundo WOLINSK MIKLÓS (1997), os cupins epígenos apresentam ação sobre a
matéria orgânica e sobre as bases totais e trocáveis. Relata que LEE & WOOD (citados por
BACHELIER, 1978) calcularam que, no cerrado australiano, os grandes cupinzeiros de
Nasutitermes triodiae representam apenas 2% do peso total do conjunto cupinzeiros mais
horizonte superficial (0 – 8 cm), mas continham até 9,6% do carbono total, 5,3% do
nitrogênio total, 5% do fósforo total, 11,6% do cálcio total e 9,1% do cálcio trocável, 6,4% do
potássio total e 13,1% do potássio trocável e até 22% do magnésio trocável.

74
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
3.1.4. Conteúdo de macronutrientes no sistema Ar-Solo-Planta:

O manejo recomendado para sistemas orgânicos, compreende técnicas que conduzam ao


uso equilibrado do solo, visando o fornecimento de macronutrientes e a manutenção de uma
fertilidade real e duradoura no tempo, destacando-se as seguintes práticas:

 Preparo mecânico com mínimo impacto na estrutura, lembrando que existe uma resposta
diferenciada das espécies ao emprego da aração, gradagem e da enxada rotativa;
 Aplicação de adubos orgânicos, na forma de estercos animais, compostos orgânicos ou
outra fonte recomendada pelas normas técnicas de produção;
 Uso da adubação verde com leguminosas (fixação biológica de Nitrogênio) e com
gramíneas (melhoria na estrutura física);
 Emprego de cobertura morta em situações de necessidade de proteção do solo ou
favorecimento do desenvolvimento de plantas, também observando que nem todas as
espécies respondem positivamente ou oferecem um retorno econômico que viabilize o
uso dessa prática.
 Manejo de ervas espontâneas, como forma de proteção do solo e ciclagem de nutrientes,
além da preservação do equilíbrio biológico na área de produção.
 Utilização de adubações suplementares com biofertilizantes líquidos via solo ou via foliar,
em caso de necessidade;
 Adubações auxiliares com adubos minerais de baixa solubilidade para a correção
temporária de deficiências, a exemplo de fosfatos de rochas.

Essas práticas, em conjunto, tem demonstrado uma elevada eficiência, conduzindo a um


bom desempenho técnico e econômico de cultivos orgânicos, reflexo da manutenção e
melhoria da fertilidade dos solos, conforme destaca um trabalho realizado por SOUZA
(2000). Nesse estudo, o monitoramento das características químicas, revelou uma melhoria
generalizada na fertilidade dos solos sob manejo orgânico. A evolução nos valores da CTC é
reflexo da evolução similar nos teores de matéria orgânica, mostrando uma progressão
gradual ao longo dos anos. De forma similar, a Soma de Bases desses solos atingiu um valor
máximo no 8º ano (1997), em função da expressiva progressão dos teores de nutrientes
alcançados com o manejo orgânico empregado.

Após dez anos de manejo orgânico (1990 a 1999), os níveis médios de fósforo elevaram-se
até 390% (de 46,0 para 225,6 ppm) e os níveis médios de potássio elevaram-se em até 92%
(de 144,0 para 276 ppm), podendo ser considerados plenamente suficientes para atender às
necessidades nutricionais da maioria das culturas. Observou-se acréscimos significativos nos
teores de Cálcio e Magnésio, uma vez que o Ca evoluiu linearmente de 3,2 para 6,6
Cmol/dm3 e o Mg de 0,78 para 1,48 Cmol/dm3. Como reflexo das elevações nos teores das
bases K, Ca e Mg, a Saturação por Bases dos solos apresentou progressão linear até o 7º
ano, elevando-se de 61% para 82 %, conforme observado nos índices médios do sistema
(SOUZA, 2000).

Semelhantemente, CLARK et. al. (1998), estudando as mudanças nas propriedades


químicas do solo durante o processo de transição do sistema convencional para o orgânico,
avaliaram 4 sistemas de produção (orgânico, baixos-insumos, e dois sistemas
convencionais), durante 8 anos na Califórnia – EUA. Verificaram que, após 4 anos, os solos
nos sistemas orgânico e baixos-insumos apresentaram maiores teores de Carbono, P

75
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
solúvel, K trocável e pH. Observaram também que os níveis estáveis de EC – Condutividade
Elétrica, no sistema orgânico, indicaram que a aplicação de esterco animal não aumentou a
salinidade dos solos.

GLIESSMAN et. al. (1996), analisaram as características do solo, durante 3 anos de


produção de morango em sistema orgânico e convencional, na Califórnia – EUA. Verificaram
que a matéria orgânica total decresceu em ambos sistemas de produção, dados que diferem
daqueles obtidos por Souza (2000), apresentados anteriormente. Por outro lado, verificaram
que o manejo orgânico do morangueiro revelou maiores teores de K nos 3 anos e maiores
teores de N, P, Mg e Ca no 2º e 3º anos estudados.

REGANOLD et. al. (1993), estudando as propriedades do solo e a performance financeira de


propriedades biodinâmicas na Nova Zelândia, concluíram que as propriedades biodinâmicas
apresentaram melhor qualidade do solo que as convencionais e foram viáveis
economicamente. Na média de todas as propriedades e todas atividades avaliadas
(hortaliças, citrus, maçã, pêra, grãos), a CTC e o Nitrogênio total foram maiores nas
propriedades biodinâmicas. O Fósforo total, Cálcio trocável, Magnésio trocável e potássio
trocável não diferiram entre os sistemas. Os sistemas convencionais apresentaram maiores
teores em Fósforo e Enxofre trocáveis.

Outra questão importante a ser abordada, refere-se à eficiência dos adubos orgânicos em
relação aos adubos minerais. Em geral, a literatura técnica sobre sistemas convencionais de
cultivo, relatam que os adubos minerais têm uma eficiência em torno de 80% e que para os
adubos orgânicos esta eficiência está em torno de 30%. HARKALY (1990) pondera que
essas informações baseiam-se em experimentações de curto prazo (1 ano) e não permite
uma interpretação segura. Relata que um trabalho realizado por Petterson, na Suécia, no
período de 1971 a 1979, avaliou a eficiência dos adubos orgânicos e minerais ao longo dos
anos em duas rotações de cultura, nos sistemas convencional e biodinâmico. Concluiu que a
eficiência na adição de Nitrogênio no sistema biodinâmico foi de 64% e não 30% como se
relatou anteriormente.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.2. Adubação orgânica


Existem diversos tipos de adubos orgânicos, de origem animal, vegetal e agro-industrial,
recomendados para utilização no cultivo orgânico de hortaliças e, de maneira geral, deve-se
atentar para a origem e a qualidade dos mesmos. Em se tratando de adubos oriundos de
fontes externas à propriedade ou de sistemas convencionais de criação (no caso dos
estercos de origem animal), a atenção deve ser redobrada, pois muitos deles podem
apresentar contaminação por resíduos químicos, antibióticos e outras substâncias de uso
proibido pelas normas técnicas de produção.

Por este motivo, atualmente recomenda-se empregar sistemas de compostagem no


processo produtivo, tema central da abordagem do presente livro, que além de promover a
‘higienização’ da matéria orgânica, obtêm-se um produto parcialmente mineralizado, de
maior eficácia na nutrição das plantas em sistemas orgânicos de produção de hortaliças.

Porém, estercos gerados na propriedade ou originados de fontes conhecidas (que


apresentem qualidade comprovada por análise), podem ser utilizados diretamente como
adubo orgânico, sem sofrer o processo de compostagem. Vejam algumas recomendações de
POPIA et al. (2000), descritas a seguir.

Estercos:

Esterco de aviário: As aves não produzem urina, eliminando-a junto com as fezes, por isso
seu esterco é mais rico em nitrogênio que o de ruminantes ou suínos. O esterco proveniente
de frangos e galinhas, de criações intensivas e alimentadas com ração, é rico em nutrientes,
especialmente nitrogênio e fósforo, mas pobre em celulose. Por isso, sua decomposição é
rápida, liberando em poucos dias a maior parte dos nutrientes. Essa liberação rápida tem
consequências importantes para o manejo do esterco. Ao ser deixado para curtir, as perdas
de nitrogênio para o ar podem ser muito grandes (Figura 15).

Para evitar esses inconvenientes, o esterco de aves não deve ser armazenado puro. Deve
ser misturado a materiais de reação ácida, como a terra, promovendo imobilização do
esterco por microrganismos. No caso do uso direto do esterco fresco, a incorporação ao solo
reduz as perdas de nitrogênio. Os efeitos dos estercos de aves são muito semelhantes aos
da uréia porque têm efeito rápido, sendo porém os que mais rápido desaparecem.

Esterco de ruminantes: Dentre os mais utilizados estão os de bovinos, eqüinos, caprinos e de


coelhos. Como de quaisquer outros animais, a composição do esterco dessas espécies
depende da alimentação. Exclusivamente a pasto, o conteúdo de nitrogênio desses estercos
é menor do que com suplementação com concentrados. Como referência média, pode-se
considerar que, do total ingerido, cerca de 70% é excretado pela urina e 10 a 15% pelas
fezes.
Quando o esterco provém de pastos, na sua composição entram apenas fezes, porque a
urina fica na terra. Quando provém de animais estabulados, a palha presente na cama (piso)
retém parte da urina. Recomenda-se 5 a 6 kg de palha seca por dia para reter totalmente a

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

urina produzida por uma vaca adulta estabulada. O esterco oriundo de pastos pode ser
usado crú, curtido ou em forma de composto (Figura 16).

Esterco de suínos: Pela natureza da alimentação dos suínos, o esterco que produzem é mais
rico em nutrientes e mais pobre em matéria orgânica do que o de ruminantes. Também,
como a de aves, a matéria orgânica decompõe-se rapidamente, tornando-se mais um
alimento para as plantas que para o solo. O porco sofre de muitas doenças que atacam o
homem e, por causa dos riscos, é preferível reciclar o seu esterco em culturas arbóreas ou
de cereais. Na produção de hortaliças recomenda-se utilizar este esterco apenas como
inoculante no processo de compostagem.

Figura 15: Criação de galinhas com pastejo rotacionado, em


sistema orgânico: geração de esterco de comprovada qualidade e
insumo fundamental na reciclagem de matéria orgânica e
integração no processo produtivo. Estação agrroecológica
‘Domaine Ile-de-France’ – Pedra Azul – ES.

Figura 16: Rebanho bovino em conversão para manejo orgânico:


geração de grande volume de esterco a baixo custo, para a
ciclagem interna da propriedade. Fazenda Luiziânia – Entre Rios
de Minas – MG.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.2.1. Compostagem orgânica

3.2.1.1. Descrição geral do processo


O processo de compostagem pode ser simplificadamente representado pelo esquema
mostrado abaixo (ABES, 1999):

Matéria orgânica + Microrganismos + O2 → M.O.estável + CO2 + H2O + calor + Nutrientes

A compostagem é o processo de transformação de materiais grosseiros, como palhada e


estrume, em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura. Este processo envolve
transformações extremamente complexas de natureza bioquímica, promovidas por milhões
de microrganismos do solo que têm na matéria orgânica in natura sua fonte de energia,
nutrientes minerais e carbono. Por essa razão uma pilha de composto não é apenas um
monte de lixo orgânico empilhado ou acondicionado em um compartimento. É um modo de
fornecer as condições adequadas aos microrganismos para que esses degradem a matéria
orgânica e disponibilizem nutrientes para as plantas através de um produto de elevada
qualidade (PLANETA ORGÂNICO, 2002).

Esta qualidade incontestável têm sido comprovada em diversos trabalhos que mostram que
a utilização de composto orgânico nas adubações produz múltiplos efeitos sobre o solo e as
plantas cultivadas, através do aumento da permeabilidade do solo, agregação das partículas
minerais, fornecimento de macro e micronutrientes, correção da acidez, incremento na
população de microorganismos e elevação da eficiência na absorção de nutrientes.

A técnica de compostagem orgânica pelo método ‘indore’, isto é, realizada em pilhas,


montes ou medas, é uma prática que tem sido utilizada há muitos anos em todo o mundo,
servindo de um importante auxiliar nos processos produtivos agrícolas. Conhecer os efeitos
benéficos que a matéria orgânica provoca nas estrutura química, física e biológica dos
nossos solos tropicais, define esta prática como fundamental para a busca da
sustentabilidade agrícola de nossos sistemas produtivos. Além disso, o conhecimento das
propriedades físicas e químicas das substâncias húmicas, assim como dos benefícios da
atividade microbiana dos solos, indica a necessidade de um melhor aproveitamento dos
resíduos rurais (esterco, cama de aviários, restos de cultura, folhagens, etc), permitindo a
manutenção e incremento da produtividade do mesmo. Ademais, existe ainda a
possibilidade de aproveitamento de resíduos industriais e de centros urbanos.

A legislação brasileira de acordo com o Decreto 86.955 de 18/02/82 denomina o composto


orgânico como fertilizante composto e o define como fertilizante obtido por processo
bioquímico, natural ou controlado, com mistura de resíduos de origem vegetal ou animal
(Brasil, citado por KIEHL, 2001)

Dito de maneira científica, o composto é o resultado da degradação biológica da matéria


orgânica, em presença de oxigênio do ar, sob condições controladas pelo homem. Os
produtos do processo de decomposição são: gás carbônico, calor, água e a matéria orgânica
"compostada" (PLANETA ORGÂNICO, 2002).

81
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Todos os restos de alimentos, estercos animais, aparas de grama, folhas, galhos, restos de
culturas agrícolas, enfim, todo o material de origem animal ou vegetal pode entrar na
produção do composto.

Considerando que a grande maioria de nossos produtores de hortaliças trabalham em áreas


com alto grau de diversificação, muitos deles com criações de animais associadas no
processo de produção, justifica-se a necessidade e revela certa facilidade de se estabelecer
formas de produção baseadas na integração dos recursos internos da propriedade, visando
redução de custos e melhorias no rendimento de todo sistema produtivo.

Contudo, existem alguns materiais que, por questões óbvias, devem ser evitados na
compostagem, que são: madeira tratada com pesticidas contra cupins ou envernizadas,
vidro, metal, óleo, tinta, couro, plástico e papel, que além de não serem facilmente
degradados pelos microorganismos, podem ser transformados através da reciclagem
industrial ou serem reaproveitados em peças de artesanato.

À medida em que o processo de compostagem se inicia, há proliferação de populações


complexas de diversos grupos de microrganismos (bactérias, fungos, actinomicetos), que
vão se sucedendo de acordo com as características do meio. De acordo com suas
temperaturas ótimas, estes microrganismos são classificados em psicrófilos (0 – 20 °C),
mesófilos (15 – 43 °C) e termófilos (40 – 85 °C) (ABES, 1999). Na verdade estes limites não
são rígidos e representam muito os intervalos ótimos para cada classe de microrganismos do
que divisões estanques.

ABES (1999) ainda descreve a compostagem em várias fases, onde no início há um forte
crescimento dos microrganismos mesófilos, com a elevação gradativa da temperatura,
resultante do processo de biodegradação, a população de mesófilos diminui e os
microrganismos termófilos proliferam com mais intensidade. A população termófila é
extremamente ativa, provocando intensa e rápida degradação da matéria orgânica e maior
elevação da temperatura, o que elimina os microrganismos patogênicos. Quando o substrato
orgânico for em sua maioria transformado, a temperatura diminui, a população termófila se
restringe, a atividade biológica global se reduz de maneira significativa e os mesófilos se
instalam novamente. Nesta fase, a maioria das moléculas facilmente biodegradáveis foram
transformadas, o composto apresenta odor agradável e já teve início o processo de
humificação, típico da segunda etapa do processo, denominada maturação, nesta fase de
maturação a atividade biológica é pequena, portanto a necessidade de aeração também
diminui. Este processo pode ser melhor elucidado na Figura 17.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 17. Mudanças ocorrentes nos principais parâmetros de controle durante


as fases de compostagem (PEREIRA NETO, 1996).

Relação C/N:

A compostagem é um processo biológico sendo por isso necessário criar as condições


corretas para o crescimento de seres vivos, em particular, satisfazendo os seus requisitos
nutricionais. Dos muitos elementos necessários à decomposição microbiológica o carbono e
o nitrogênio são os mais importantes (Planeta Orgânico, 2002)

Os microrganismos utilizam cerca de trinta vezes mais carbono do que nitrogênio, sendo este
valor freqüentemente encontrado na literatura como o recomendado para o início do
processo (ABES, 1999; KIEHL, 2001 e ROSSETI,1994).

No caso de esta razão ser muito superior a 30/1 o crescimento dos microrganismos é
atrasado pela falta de nitrogênio e consequentemente a degradação dos compostos torna-se
mais demorada. Se, pelo contrário, a razão for muito baixa, o excesso de nitrogênio acelera o
processo de decomposição mas faz com que há criação de zonas anaeróbicas no sistema. O
excesso de nitrogênio é liberado na forma de amônia, provocando mau cheiro, perda de
nitrogênio e consequentemente um composto mais pobre neste nutriente e por isso, menos
valioso em termos comerciais (ABES, 1999).

Esta relação é bastante variável entre os resíduos de origem vegetal:


Leguminosas 20/1 a 30/1
Palhas de cereais 50/1 a 200/1
Madeiras 500/1 a 1000/1

Durante a compostagem, a relação C/N dos resíduos tende a decrescer até tornar-se
constante em torno de 10/1 a 12/1. Nesse ponto, dizemos que o composto está curado, ou
convertido em húmus. Este decréscimo é devido à utilização do C da matéria orgânica como

83
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

fonte de energia pelos microrganismos, que o expelem sob a forma de CO2. A relação C/N
final está sempre próxima de 10/1 porque tende a se aproximar da C/N das bactérias (5/1 a
6/1) e dos fungos (8/1 a 10/1) (KIEHL, 2001). Entretanto, na prática agrícola, o composto
orgânico tem sido utilizado com uma relação C/N final na faixa de 15/1 a 18/1, pois o tempo
de compostagem se alongaria muito até atingirmos a relação final em torno de 10/1.

Composição dos principais resíduos agrícolas:

Nas Tabelas 21 e 22 podemos observar a composição de diversos materiais possíveis de


serem utilizados na compostagem. Além da relação C/N (que é muito importante para
obter um composto equilibrado, onde os organismos encontrem condições de se
desenvolverem satisfatoriamente), conhecendo-se a composição dos materiais que iremos
utilizar, fica mais fácil se estimar os teores dos nutrientes no final da compostagem, e ainda
regulá-los para satisfazer nossas necessidades.

Tabela 21: Composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interesse
como matéria prima para o preparo de fertilizantes orgânicos.
Material Matéria orgânica N C/N P2O5 K2O
% % %
Abacaxi: fibras 71,41 0,90 44/1 traços 0,46
Arroz: cascas 54,55 0,78 39/1 0,58 0,49
Arroz: palhas 54,34 0,78 39/1 0,58 0,41
Aveia: cascas 85,00 0,75 63/1 0,15 0,53
Aveia:palhas 85,00 0,66 72/1 0,33 1,91
Café: cascas 82,20 0,86 53/1 0,17 2,07
Café: palhas 93,13 1,37 38/1 0,26 1,96
Capim gordura 92,38 0,63 81/1 0,17 -
Capim guiné 88,75 1,49 33/1 0,34 -
Capim jaraguá 90,51 0,79 64/1 0,27 -
Capim meloso 90.00 0.70 75/1 0.22 0.65
Capim mimoso 93,69 0,66 79/1 0,26 -
Capim napier verde 96.00 1,40 40/1 0,33 0,76
Capim pé de galinha 86,99 1,17 41/1 0,51 -
Crotalária júncea 91,42 1,95 26/1 0,40 1,81
Eucalipto: resíduos 77,60 2,83 15/1 0,35 1,52
Feijão de porco 88,54 2,55 19/1 0,50 2,41
Feijão guandú 95,90 1,81 29/1 0,59 1,14
Feijoeiro: palhas 94,68 1,63 32/1 0,29 1,94
Labelabe 88,46 4,56 11/1 2,08 -
Milho: palhas 96,75 0,48 112/1 0,38 1,64
Mucuna preta 90,68 2,24 22/1 0,58 2,97
Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 0,01 0,01
Fonte: Adaptado de KIEHL (2001) e SOUZA (2002).

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Tabela 22: Teores de macro e micronutrientes de diversos resíduos orgânicos.


Resíduo C/N C N P2O5 Ca Mg K2O Na Fe Mn Cu Zn

% Ppm

Vinhaça 14 1,3 0,09 0,005 0,06 0,03 0,26 37 55 6 1,4 3,8

Torta de filtro 29 7,9 0,27 0,63 0,26 0,13 0,07 92 10960 190 19 49

Torta/mamona 6 30,1 5,5 1,99 5,37 0,59 1,44 207 1420 55 80 141

Esterco de gado 13 19,4 1,53 0,53 0,83 0,34 1,16 1700 3623 196 8 57

Esterco de aves 14 29,6 2,14 1,79 4,93 0,35 1,56 6210 838 23 23 298
(gaiola)
Esterco de aves 20 32.5 1.60 1.50 2.33 0,78 1,76 - 3.125 550 21 266
(cama)
Lodo de esgoto 11 15,7 1,38 1,83 1,57 0,62 0,27 920 36700 268 22 4110

Biodigestor 17 35,1 2 - 9,57 4,98 6,96 2185 4730 2490 67 119


Fonte: Adaptado de FUNDAÇÃO CARGILL (1983) e SOUZA (2002).

Considerando que existe uma grande variabilidade nos teores de nutrientes dos resíduos
orgânicos, provocada pela metodologia e calibração de equipamentos, tipo de solo de origem
dos resíduos vegetais, processo agroindustrial adotado, alimentação dos animais, dentre
outros, apresentamos também outras análises e fontes de fertilizantes orgânicos e minerais
(Tabela 23), adaptadas de Dadonas (1989), citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997).

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Tabela 23: Composição média e relação de proporção de NPK para diversas fontes de
fertilizantes orgânicos e minerais.1
Fertilizantes Orgânicos % na matéria seca Proporção
N P K N-P-K
Cinzas - 2.5 10 0-1-4
Fosfato de Araxá - 30 - 0-3-0
Ossos carbonizados - 35 - 0-3,5-0
Torta de Mamona 5.0 2.0 1.1 5-2-1
Torta de Algodão 6.0 3.0 1.4 4-2-1
Cascas de Café 1.7 1,4 3.7 12-1-26
Esterco de Cavalo 0.7 0.4 0.3 2-1-1
Esterco de Coelho 2.0 1.3 1.2 1,5-1-1
Esterco bovino de curral 5.0 2.5 5.0 2-1-2
curtido
Esterco Bovino Seco 2.0 1.5 2.2 1,5-1-1,5
Esterco de Ovelha 2.0 1.0 2.5 2-1-2
Esterco de Cabra 3.0 2.0 3.0 1,5-1-1,5
Esterco de Galinha 4.0 4.0 2.0 2-2-1
Resíduo de Esgoto 2.0 1.5 0.5 4-3-1
Bagaço de Cana 0.3 0.03 0.02 14-1-1
Borra de Café 1.8 0.1 0.01 176-9-1
Farinha de Ossos Crua 2.0 20.0 - 1-10-0
Guano 2.5 8.8 1.1 2-8-1
Serragem de Madeira 0.06 0.01 0.01 6-1-1
Lixo Curtido 1.1 0.3 0.6 3-1-2
Palha de Arroz 0.8 0.6 0.4 2-1-1
Palha de Café 1.4 0.2 2.0 5-1-7
Feijão (sementes) 2.6 0.5 2.4 5-1-5
Palha de Feijão 1.6 0.3 1.9 6-1-7
Guandu - sementes 3.6 0.8 1.8 4-1-2
Cascas de Mandioca (raiz) 0.4 0.3 0.5 1-1-1
Milho (palha) 0.5 0.4 1.6 1-1-4
Mucuna (sementes) 3.9 1.1 1.4 4-1-1

Montagem da pilha:

Segundo PLANETA ORGÂNICO (2002), a quantidade de matéria orgânica (palha) deve ser
de três vezes a quantidade de esterco. PEREIRA NETO (1996) diz que a proporção, na
prática, em peso, de mistura desses materiais é de 70% de material palhoso para 30% de
esterco ou lixo orgânico domiciliar.

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Entretanto, a forma mais técnica que define as proporções ideais dos resíduos orgânicos a
serem misturados na pilha de composto se baseia na relação Carbono/Nitrogênio dos
materiais empregados. Sugere-se que, a quantidade de cada material na mistura proporcione
uma relação C/N média inicial da pilha na faixa de 30/1 a 40/1, o que permite obter uma
fermentação ideal, obtendo o produto pronto num período de tempo satisfatório, o que em
geral tem ocorrido entre 70 e 90 dias para materiais triturados e entre 100 e 120 dias para
materiais sem trituração.

Recomenda-se escolher um local preferencialmente plano, livre de ventos e de fácil acesso


para carga e descarga do material, próximo a uma fonte de água para as irrigações
periódicas (Figura 18).

Figura 18: Pátio de compostagem orgânica. Centro de Desenvolvimento


Sustentável Guaçu-virá – Venda Nova do Imigrante – ES.

Inicia-se o empilhamento das palhas por camadas de, no máximo 30 cm, de cada tipo de
palha que se tenha disponível, aplicando-se sobre esta primeira seqüência, uma fina camada
de esterco animal ou resíduo agroindustrial (3 a 5 cm), irrigando-se abundantemente após,
evitando escorrimentos excessivos de água, permitindo assim obter uma melhor distribuição
da umidade no interior do monte. Após empilhar esta primeira seqüência de palhas e esterco,
inicia-se nova seqüência dos mesmos materiais, até formar uma altura adequada do monte.

Para um melhor manuseio do material no pátio, controle do arejamento e da umidade, o


tamanho da pilha de composto não deve exceder a 3,0 metros de largura por 1,5 metros de
altura. O comprimento é livre, dependendo apenas da quantidade de material e do espaço
disponível no local.

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A Figura 19 ilustra um esquema prático de montagem de um bom composto orgânico,


utilizando os seguintes materiais e espessuras de camadas:
Materiais Espessura das camadas
∗ Capim cameron picado e/ou bagaço de cana (Alta C/N) 20 cm
∗ Palha de café (Baixa C/N) 10 cm
∗ Esterco bovino 03 a 05 cm
∗ Esterco de aviário ou outro resíduo rico em N (torta de
mamona, farelo de cacau, planta da mamoneira triturada ou 01 a 02 cm
leguminosas trituradas, etc..)
∗ Fosfato de rocha 03 Kg/m3

Durante o empilhamento, o fosfato deve ser colocado junto com os inoculantes (estercos ou
similares), após uma sequência completa das camadas de palhadas disponíveis (no caso:
bagaço de cana, capim e palha de café). Toda vez que colocar os inoculantes mais fosfato,
irrigar abundantemente para que o ‘chorume’ infiltre e inocule as camadas de palha abaixo.
Além disso, as camadas dos materiais mais fibrosos (alta C/N) devem ser dispostas juntas às
menos fibrosas (baixa C/N), para melhor fermentação (Figura 19).

Etc... Etc.
Etc... Etc.
Esterco + Fosfato 12ª
Capim picado 11ª
Palha de café 10ª
Bagaço de Cana 9ª
Esterco + Fosfato 8ª
Capim picado 7ª
Palha de café 6ª
Bagaço de Cana 5ª
Esterco + Fosfato 4ª
Capim picado 3ª
Palha de café 2ª
Bagaço de Cana 1ª
Sequência dos materiais Camadas

Figura 19: Ilustração prática da sequência de montagem de


uma pilha de composto orgânico.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Irrigações:

A umidade adequada é um dos fatores mais importantes para uma decomposição mais
rápida do material. De maneira geral, recomenda-se irrigar os montes de 2 em 2 dias,
usando uma quantidade de água suficiente apenas para repor a perda por evaporação, pois
o excesso de umidade atrasa o processo de decomposição. Existem duas maneiras práticas
de verificar se a umidade está adequada. A primeira é espremer um punhado de composto
com as mãos. Se escorrer água entre os dedos, o composto estará muito molhado, mas se
formar um torrão e este se desmanchar com facilidade, a umidade estará próxima ao ponto
ideal. A segunda, no momento dos reviramentos, observar se existe um mofo branco em
alguns locais no meio do monte, o que indica que a umidade está baixa.

Especialmente em períodos chuvosos, a manutenção de uma cobertura dos montes ou


pilhas, com palha de coqueiro ou lona plástica, é essencial para evitar excessos de água
(Figura 20). Em regiões de baixa precipitação pluviométrica ou em períodos secos do ano,
essa prática pode ser dispensada.

Figura 20: Pilha de composto orgânico coberto com lona plástica para proteção
contra chuvas – Estação Experimental do INCAPER - ES.

Reviramentos:

Para um controle adequado da umidade e temperatura do composto, é fundamental revirar


os montes periodicamente. Os reviramentos podem ser realizados manualmente ou com
máquinas convencionais como a pá carregadeira (Figura 21), com máquinas próprias para
esta finalidade (Figura 22) ou com implementos acoplados a trator (Figura 23). A
mecanização do processo de compostagem dependerá do volume de composto demandado
pela área total cultivada e deverá ser definido com critério técnico e econômico.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 21: Empilhamento e reviramento de composto com pá carregadeira, em fazenda orgânica de 400
hectares, para produção de acerola, abacaxi, coco e horticultura. Serra do Ibiapaba - Ceará –
Brasil.

Figura 22: Máquina movida a gás, para Figura 23: Implemento acoplável a trator para
reviramento de composto. Centro de reviramento de pilhas de composto. CIVEMASA –
Desenvolvimento Sustentável ‘Guaçu-virá – SP – Brasil.
Espírito Santo – Brasil.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Em reviramentos manuais, é importante fazer o primeiro reviramento com 7 - 10 dias após a


montagem e os demais espaçados de 20 a 25 dias, num total de 4 reviramentos até o
composto ficar pronto. Em sistemas mecanizados, a quantidade de reviramentos pode ser
maior, com intervalos menores entre as operações (geralmente de 7 em 7 dias), reduzindo-
se o tempo de decomposição e obtendo-se o composto pronto em até 60 dias, dependendo
dos materiais empregados.

Durante cada reviramento (ou logo após), deve-se proceder nova irrigação com uma
quantidade de água suficiente para repor as perdas por lixiviação e evaporação, de forma a
distribuir bem a umidade em todo o monte.

Temperatura:

A faixa de temperatura ideal para a decomposição do material varia de 50 a 60 graus.


Temperaturas excessivas podem queimar o material, o que não é desejável. Por isso, deve-
se evitar que a temperatura ultrapasse 70 graus, o que pode ser obtido com reviramentos e
irrigações. Pedaços de vergalhão enterrados nos montes permitem verificar periodicamente a
temperatura interna do composto, através do contato com as mãos. Se o calor for suportável,
estará normal. Caso contrário, estará muito quente.

Após 60 dias a temperatura diminui significativamente, atingindo níveis abaixo de 35 graus,


indicando o fim da fase de fermentação e início da fase de mineralização da matéria
orgânica.

Características gerais do composto maduro:

Uma avaliação visual do composto já pode nos dar muita informação do estado de
maturação dele. Um composto maduro apresenta-se segundo KIEHL (2001) com as
seguintes características:
a) Redução do volume da massa para 1/3 do volume inicial;
b) Degradação física dos componentes, não sendo possível identificar os constituintes;
c) Permite que seja moldado facilmente nas mãos;
d) Cheiro de terra mofada, tolerável e agradável

Por meio de análises químicas KIEHL (2001) também define os seguintes parâmetros:
a) pH geralmente acima de 6,5, sendo que por lei o composto curado deve ter pH no
mínimo de 6,0;
b) Mínimo de 40% de matéria orgânica, mas o ideal é que tenha 50% ou mais;
c) O teor de nitrogênio e de outros nutrientes deve estar acima de 1,75% no produto
curado e seco. Por lei, o teor mínimo de nitrogênio é 1%.;
d) Relação C/N entre 10/1 e 12/1, sendo que a lei exige no máximo 18/1;
e) CTC alta, não especifica o valor.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Um trabalho de monitoramento de 20 medas de composto, produzidos principalmente à base


de esterco de aviário, capim meloso, capim napier, palha de café, palha de feijão e palha de
milho (materiais não triturados), serve como parâmetro em termos quantitativos e
qualitativos, conforme os detalhamentos das Tabelas 24 e 25 (SOUZA (1998).

Tabela 24: Avaliação quantitativa de compostos orgânicos preparados com esterco de


aviário e materiais vegetais sem trituração.1
Gastos Tempo para Volume Peso Relações1
de
Medas Esterco Decomposição Inicial Final Perda Final Pf/Vi Pf/Vf
(Kg) (dias) (m3) (m3) (%) (Kg) (Kg/m3) (Kg/m3)
1 1.050 150 36,0 11,7 67,4 7.035 195 601
2 2.450 160 36,0 11,7 67,4 7.035 195 601
3 1.400 160 45,0 14,7 67,4 8.796 195 589
4 1.050 150 45,0 19,1 57,6 11.389 253 596
5 1.125 180 49,5 13,3 73,1 5.746 116 432
6 1.500 150 45,0 14,0 68,8 5.600 124 400
7 1.414 120 60,0 15,2 74,7 8.877 148 584
8 1.400 126 30,0 14,4 52,0 8.870 296 616
9 1.000 150 14,4 3,8 73,6 2.389 166 629
10 1.000 150 13,2 3,6 72,7 2.650 201 736
11 1.125 150 27,5 9,4 65,8 5.565 202 592
12 900 147 15,4 6,6 57,1 3.643 237 552
13 3.000 180 41,6 20,6 50,5 14.330 344 696
14 800 141 26,0 5,7 78,1 3.420 132 600
15 1.875 135 48,0 13,1 72,7 9.430 196 720
16 1.875 128 48,0 15.8 67,1 11.100 231 702
17 1.250 135 36,4 11.7 67,9 9.173 252 784
18 1.250 124 36.,4 12,5 65,7 9.400 258 752
19 1.636 121 54,0 13,3 75,4 8.086 150 608
20 1.400 108 28,0 11,5 58,9 6.808 243 592
Média2 1.425 143 36,8 12,1 66,7 7.467 207 620
Desvio Padrão 2
- 19 - - 7,8 - 58 96
Valor Mínino2 - 108 - - 78,1 - 116 400

Valor Máximo2 - 180 - - 50,5 - 344 784


1 Fonte: SOUZA (1998).
2 Pf = Peso final; Vi = Volume inicial; Vf = Volume final.

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Tabela 25: Composição química e matéria orgânica de compostos orgânicos


preparados com esterco de aviário e materiais vegetais sem trituração.1
Macro (%) Micro (ppm)
Medas M.O C/N pH N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
(%)
1 22 18 7.9 0.70 0.49 0.40 1.75 0.23 3 110 35.000 650 19
2 32 12 8.7 1.50 1.50 1.35 5.70 0.60 30 200 20.500 660 28
3 26 11 8.2 1.40 1.45 0.98 7.14 0.50 50 188 20.391 1.328 35
4 52 13 6.8 2.40 0.41 0.75 1.55 0.31 32 62 17.578 642 36
5 35 20 8.2 1.00 3.00 0.58 7.00 0.50 54 292 22.813 1.544 20
6 45 13 8.6 2.00 2.31 1.92 7.98 0.65 48 147 10.235 681 46
7 40 14 7.5 1.70 2.65 1.90 9.00 1.00 63 200 11.365 1.000 58
8 40 11 7.0 2.10 1.60 1.35 6.04 0.48 39 350 16.563 1.167 40
9 61 10 7.3 3.40 1.80 2.10 5.76 0.70 57 378 12.969 883 54
10 59 12 7.1 2.80 1.78 2.05 4.83 065 57 344 15.313 850 55
11 66 10 6.7 4.00 1.58 2.50 3.19 0.60 75 306 12.813 783 50
12 75 13 6.7 3.40 0.78 2.50 1.35 0.52 57 82 6.719 305 47
13 64 10 6.3 3.70 1.53 2.50 3.57 0.75 79 156 15.652 708 58
14 46 15 6.6 1.80 0,57 1,29 5.90 0.58 39 121 20.481 547 17
15 45 13 7.5 2.00 2.06 1.71 8.68 0.49 49 234 11.720 781 22
16 46 13 7.8 2.10 2.19 1.95 9.61 0.57 44 234 10.652 781 27
17 45 15 7.9 1.79 1.38 1.33 7.61 0.40 36 156 12.110 665 19
18 45 15 7.8 1.70 2.00 0.95 10.61 0.50 69 219 12.580 820 21
19 48 13 7.0 2.20 1.90 0.84 7.00 0.55 53 363 22.660 833 26
20 62 11 7.0 3.40 1.06 0.96 6.00 0.66 68 325 13.203 455 39

MÉDIA1 48 13 7.4 2.25 1.60 1.50 6.01 0.56 50 223 16.064 804 36

DESVIO PADRÃO1 13.7 2.6 0.7 0.9 0.7 0.7 2.7 0.16 18 98 6.311 286 14

VALOR MÍNINO 1 22 10 6.3 0.7 0.4 0.4 1.35 0.23 3 62 6.719 305 17

VALOR MÁXIMO1 75 20 8.7 4.0 3.0 2.5 10.61 1.00 79 378 35.000 1.544 58
1 Fonte: SOUZA (1998).

NAKAGAWA et al. (1991) trabalhando com diferentes tipos de materiais na compostagem,


encontrou que o composto produzido com esterco de galinha, tanto com casca de
amendoim, bagaço de cana e serragem de madeira, foi o melhor, em termos químicos,
principalmente nos teores de fósforo, potássio, cálcio e magnésio, além de uma elevada
saturação em bases (V≈96%), associada a um pH praticamente neutro. Seguido nestes
mesmos parâmetros, a seqüência da qualidade do composto depois do de galinha foi:
esterco de porco, esterco de curral, napier e em último a uréia, que em relação aos demais,
produziu um composto de baixo valor em nutrientes e levemente ácido.

93
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.2.1.2. Processos especiais de compostagem

Compostagem Laminar:

De acordo com CERVEIRA (2000), uma nova tecnologia vem sendo utilizada para a
produção de composto: é a compostagem laminar, que surge em função de um
aperfeiçoamento da compostagem pelo método ‘indore’, como é chamada a compostagem
feita em monte ou pilha. Esta tecnologia não busca eliminar a compostagem em pilha, serve
como complemento da mesma em pequenas áreas. A pergunta que surgiu na elaboração da
técnica de compostagem laminar é: no Brasil temos déficit de temperatura? Então porque
devemos fazer pilhas?
No entanto, segundo informações verbais de PEREIRA NETO e LELIS (2002), a elevação da
temperatura numa pilha de compostagem não se destina apenas à degradação do material,
mas também à eliminação de organismos patogênicos e ervas indesejáveis.
Basicamente, a técnica consiste em aplicar as matérias–primas que serão utilizadas (já
balanceadas) em camadas ou misturadas, diretamente no campo, na superfície do solo,
podendo ser incorporada até 7 cm dentro do solo (região ainda bem aerada). Devemos
deixar o material de maior relação C/N, como palhas, como última camada desta lâmina (daí
o nome laminar) para servir como cobertura morta de proteção do solo (CERVEIRA, 2000).
Uma descrição mais detalhada deste processo não foi encontrada em pesquisas na internet
e ainda não se tem nenhum artigo científico sobre este assunto.
As vantagens do sistema, além da economia de tempo, trabalho e conseqüentemente,
dinheiro, inclui a inserção de toda a atividade biológica da fermentação do composto no
próprio solo, ao invés de ficar confinado na pilha. A desvantagem encontra-se em grandes
áreas, onde o deslocamento de grande volumes de materiais orgânicos torna a
compostagem de pilha mais econômica. Na realidade, a compostagem laminar busca imitar a
natureza, onde nada é incorporado mecanicamente: o solo de uma mata é um composto
laminar espontâneo feito de folhas e excrementos de animais. Devido à escassez de
informações sobre o processo de compostagem laminar, não se sabe o porque da economia
de tempo, trabalho e dinheiro citada por CERVEIRA (2000) e nem sobre a necessidade de
revolver ou não a pilha, e qual a sua espessura.
Não foram encontrados artigos científicos sobre processo de compostagem laminar, apenas
este breve comentário fornecido por CERVEIRA (2000). Parece ser uma prática pouco
conhecida e pesquisada, no LESA (Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental) os
professores não conheciam este tipo de compostagem.

Bokashi:

É um método japonês de compostagem baseado na adição de microrganismos efetivos


(EM). Os microorganismos eficazes na produção do Bokashi não são restringidos a um grupo
especial, mas são espécies muito comuns que podem se multiplicar rapidamente em
materiais usados para compostagem. Os produtos do EM foram desenvolvidos por T. HIGA

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

(1983) da universidade de Ryukyu, Okinawa, contém bactérias anaeróbicas abundantes e


fermentos do ácido láctico, assim como outros microorganismos. A utilização destes
microorganismos anaeróbicos é uma característica que distingue o EM de outros produtos de
origem microbial.

Materiais utilizados no preparo do Bokashi:


Ingredientes Quantidade
Farelo de arroz 500

Farelo de algodão 200

Farelo de soja 100

Farinha de osso 170

Farinha de peixe 30

Termofosfato 40

Carvão moído 200

Melaço ou Açúcar 04

EM-4 04

Água 350

Estes ingredientes são misturados, e inoculados com microorganismos. A água é adicionada


para dar um índice de umidade de 50-55%, e o composto é tipo pilha. Quando a temperatura
da pilha alcança 50-55°C, esta é misturada e espalhada. Quando o composto esfria, a pilha é
refeita. Este procedimento é repetido três ou quatro vezes. Os materiais são espalhados
(desfaz-se a pilha) para secar, e embalados finalmente nos sacos para o armazenamento. A
concentração do nitrogênio no Bokashi é muito mais baixa do que no fertilizante químico,
cerca de 2 a 5 % do nitrogênio total. Para evitar a fermentação anaeróbica e seu odor
desagradável, o composto é inoculado com microorganismos aeróbicos que se multiplicam
rapidamente. Como estes microorganismos necessitam do oxigênio e não têm nenhuma
tolerância ao calor, a pilha é misturada e espalhada a cada um ou dois dias. Durante o
processo de compostagem, a matéria orgânica é facilmente decomposta com a produção da
biomassa microbial, liberando íons de amônia que ficam retidos em partículas do solo. A
biomassa microbial contribui para liberação mais lenta dos nutrientes. Cria-se um fertilizante
orgânico de ação mais lenta.

HIGA (1983) cita em seu livro que uma volta na agricultura é possível, desde que o uso de
produtos do EM aumente extremamente o rendimento das colheitas. Por exemplo, o arroz
fertilizado com Bokashi (EM) produziu mais de 12 t/ha.

95
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Goto et al.(1996) realizaram algumas experiências de campo em cooperação com a EM


Company, onde analisaram o Bokashi (EM) fornecido pela companhia e também o Bokashi
fornecido por fazendeiros, e verificaram que as amostras da companhia continham em média
40 quilos de N, 30 quilos PO5 e 13 quilos KO3 em cada 1000 quilos, muito menos que o
Bokashi dos fazendeiros (GOTO e MURAMOTO, 1995). EM Company recomenda a
aplicação de 1000 kg/ha do Bokashi (EM), mas os 40 quilos de nitrogênio contidos nesta
quantidade não é suficiente para o crescimento dos vegetais. Goto examinou as colheitas
dos fazendeiros que usam o bokashi (EM), e encontrou que o rendimento da alface usando
1000 quilos do Bokashi (EM) era muito menor do que com uso de fertilizante orgânico
comercial, quando os níveis do nitrogênio foram ajustados. Verificou também que os
fazendeiros aplicavam geralmente 30 t/ha de esterco de gado além do Bokashi (EM), e
indicou que os rendimentos obtidos pelos fazendeiros podem ter sido devido ao esterco.

Nos vegetais cultivados somente com o Bokashi (EM), 1000 kg/ha, nos campos da
universidade, verificou-se que os rendimentos de muitos vegetais eram somente metade
daqueles obtidos pelas práticas orgânicas comuns (MURAMOTO e GOTO, 1995). Mais
tarde, os investigadores do EM relataram que quando o nível do nitrogênio foi ajustado a 100
kg/ha, ou seja, utilizando-se 2500 kg/ha de Bokashi, obteve-se a mesma quantidade da
alface que o fertilizante químico (IWAHORI et al., 1996). Conseqüentemente, insistiram que a
quantidade padrão de Bokashi (EM) que deveria ser aplicada era de 2500 kg/ha para a
alface.

Atualmente já existem diversas variações do ‘Bokashi’ padrão relatado anteriormente. Uma


delas tem sido divulgada pelo Engº Agrº. Shiro Miyasaka, a qual consiste na mistura dos
seguintes ingredientes:
♦ Terra Virgem (subsolo) ............. 500,00 Kg
♦ Torta de oleaginosas ................ 200,00 Kg
♦ Esterco de galinha .................... 170,00 Kg
♦ Farinha de osso .......................... 50,00 Kg
♦ Inoculante .....................................1,75 Kg

Além deste composto, Dr. Shiro recomenda associar ‘fino de carvão’ (carvão moído ou
‘munha’ de carvão) na adubação de campo, em função do seu elevado potencial estruturante
do solo. O ‘fino de carvão’ é muito poroso, contendo 300 m2 de superfície para cada 1 grama
do produto, considerando as cavidades internas, além de ter a capacidade de aumentar as
micorrizas do solo. Em geral, a quantidade recomendada pode variar de 500 a 1000 Kg por
ha de ‘fino de carvão’, proporcionando bons resultados.

Compostagem com Preparados Biodinâmicos:

A biodinâmica teve suas bases colocadas, em 1923, por Rudolf Steiner, iniciador da
antroposofia (movimento de esoterismo fundado por ele próprio em 1913). Um dos seus
seguidores, chamado Pfeiffer, perguntou se os preparados não deviam passar por uma fase
experimental antes de serem divulgados, Steiner respondeu: “O mais importante é colocar os
benefícios de nossos preparados à disposição das maiores áreas possíveis da terra inteira.
Este deve ser o nosso primeiro objetivo. Experimentos podem vir mais tarde”. Setenta anos

96
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

depois, RALF (1983) disse: “Até agora não tivemos chance de penetrar nesse caminho de
pesquisa”. E hoje, quase 90 anos depois, ao realizar esta atualização sobre o assunto, não
encontramos nenhum artigo científico sobre o uso de preparados biodinâmicos na
compostagem. O que se tem são apenas livretos de divulgação destes preparados.

Os preparados biodinâmicos são encontrados no comércio e consistem em extratos


(minerais, vegetais ou animais) geralmente fermentados e aplicados em quantidades
homeopáticas. Dentre os preparados biodinâmicos básicos, os utilizados na compostagem
são: 502 (milfolhas - Achillea millefolium), 503 (camomila - Chamomilla officinalis), 504 (urtiga
- Urtica dioca), 505 (carvalho - Quercus robur), 506 (dente-de-leão - Taraxacum officinale) e
507 (valeriana - Valeriana officinalis). O preparado 507 (líquido) deve ser diluído, dinamizado
(agitado vigorosamente) e então aspergido sobre a pilha de composto, os preparados 502 a
506 (sólidos) devem ser colocados como “pitadas” isoladas na pilha.

Os praticantes da agricultura biodinâmica reivindicaram que as preparações biodinâmicas


aumentam a atividade microbial na compostagem e rendem um produto melhor, contudo a
investigação científica de confiança desta reivindicação é escassa (REGANOLD,2000).
Citamos como exemplo a receita de um dos preparados biodinâmicos utilizados na
compostagem:

Preparado biodinâmico número 502 (milfolhas – Achilea millefolium):


► Material utilizado:
- flores de milfolhas
- bexiga de cervo macho
► Preparo:
- amassar as flores e enfiar dentro da bexiga
- amarrar a bexiga e pendurar em local ensolarado (deixar até abril)
- enterrar até a primavera (Outubro/Novembro)
- desenterrar e usar o preparado imediatamente

As receitas dos outros preparados biodinâmicos estão descritas no “Cadernos Demeter nº1”,
elaborado por CORREIA - RICKLI (1983).

Pfeiffer desenvolveu um inoculante para composto, o Starter® , que contem todas os


preparados biodinâmicos usados na compostagem (502 a 507) mais o preparado 500, assim
como 55 tipos diferentes de microorganismos (culturas misturadas de bactérias, fungos,
actinomicetos, e fermentos). O composto Starter® é usado extensamente por produtores
biodinâmicos por ser de fácil aplicação na pilha de compostagem. Hoje, o acionador de
partida é preparado e vendido através do instituto porter de Josephine (JPI).

Em trabalho realizado por REGANOLD (2000), compostos foram tratados biodinâmicamente,


um com maturação mais rápida, e outro com mais nitrato do que os compostos que não
tinham recebido as preparações biodinâmicas, mas tinham recebido um inoculante de solo.
Os resultados desta pesquisa suportam a idéia de que o uso das preparações biodinâmicas
no composto poderia apressar o processo de compostagem, destruir patógenos e remover
sementes de ervas daninhas do material, mantendo altas temperaturas por mais tempo, e
mudando o valor do composto resultante como fertilizante e aumentando a quantidade de
nitrato.

97
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.2.1.3. Enriquecimento do composto


A utilização de diversos materiais orgânicos e minerais para a melhoria da qualidade do
composto é uma alternativa eficaz. Além do esterco animal, que normalmente já participa do
processo de compostagem para a inoculação da pilha e para equilibrar a relação C/N,
geralmente se utiliza pós de rocha, resíduos agroindustriais e materiais vegetais ricos em
nitrogênio.

Urina e resíduos vegetais verdes:

Do que o animal ingere, e não aproveita, parte se encaminha para as fezes e parte para a
urina. Em média, pode-se considerar que, do total de nitrogênio ingerido, cerca de 70% é
excretado pela urina e 10 a 15% pelas fezes. Portanto, uma alternativa extremamente
eficiente para o enriquecimento do composto em nitrogênio, e muito pouco utilizada pelos
agricultores, é a utilização de pisos com palhas (“cama”) em estábulos para reter a urina
liberada pelos animais estabulados. Em geral, para a retenção total da urina produzida por
uma vaca adulta são necessários 5Kg a 6Kg de palha seca por dia de estabulação. Neste
caso, tanto a urina quanto as fezes são aproveitadas, resultando em maior qualidade e maior
eficiência de reciclagem (KHATOUNIAN, 2001).

Um manejo importante que pode enriquecer o composto, é a utilização de resíduos vegetais


verdes, para conservação de nitrogênio e outros nutrientes que podem ser perdidos durante
“secagem” do material. Como exemplo, recomenda-se preparar o composto, o mais breve
possível, quando se empregar capim cameron ou napier triturados, roçada de grama, dentre
outros.

Fosfatos naturais:

Outra alternativa é a utilização de fosfatos naturais, que auxiliam na retenção da amônia e


enriquecem o produto final com fósforo (KHATOUNIAN, 2001). Além disso, pela sua elevada
concentração em cálcio, este elemento também se eleva significativamente em compostos
enriquecidos com fosfatos, conforme verificado por SOUZA (1998). Este autor, avaliando 12
pilhas de composto preparados com 6Kg/m3 de fosfato de araxá por ocasião da montagem
das pilhas, comparados a 12 pilhas testemunhas (sem enriquecimento com fosfato), verificou
uma elevação significativa em fósforo (+ 156%), cálcio (+ 135%) e zinco (+ 38%), além de
uma tendência de elevação do pH final do produto, conforme a Tabela 26.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 26: Composição química e teor de matéria orgânica de compostos elaborados


com e sem adição de fosfato de araxá.1

MACRO (%) MICRO (ppm)


M.O.

Discriminação (%) C/N pH N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Sem Fosfato 52 15/1 7,1 2,12 0,71 1,18 2,74 0,48 44 164 17.335 747 25

Com Fosfato 50 15/1 7,4 2.10 1,82 1,36 6,44 0,56 54 226 14.810 905 30

Teste t ns ns ns Ns ** ns ** ns ns ** ns ns ns

1 Fonte: Souza (1998)

Considerando que as adubações orgânicas têm situado na faixa de 30 t/ha (composto com
50% de umidade), tal adição de fosfato na pilha, equivale a uma fosfatagem de 1.000 Kg/ha
diretamente no solo, acrescida da vantagem do fosfato ser levado ao solo de forma
parcialmente solubilizada pelo ataque microbiano e pela ação dos ácidos orgânicos.

Calcário:

Quando se emprega em compostagem materiais originalmente ácidos, como serragem,


folhas, acículas de árvores coníferas, grama ou terra ácida de pântano, a fermentação destes
materiais será melhor se forem adicionados de 25 a 50 Kg de calcário por tonelada da
mistura na pilha. O calcário não deverá ser usado em misturas que contenham maior
quantidade de esterco animal ou farinha de sangue ou similares, pois estas matérias que
contém muito Nitrogênio podem corrigir a acidez, naturalmente, gerando compostos com pH
final em torno de 7,0 (KOEPF, 1990).

Composto de lixo, feito somente com restos de cozinha, que contém muito carboidratos de
fácil acesso para os microrganismos, precisa de 25 Kg de calcário por tonelada.

KOEPF (1990) fornece ainda uma nota extremamente importante quanto ao uso do calcário
e fosfato de rocha, integralmente concordante com trabalhos de pesquisa e observações
realizadas pelo INCAPER (SOUZA, 2002), nota esta transcrita na íntegra, a seguir.

NOTA: “No Brasil e outras áreas tropicais, a agricultura exige, via de regra, o uso de fosfatos
de rochas, cujo aproveitamento é melhor se adicionado nas pilhas de composto. Sendo
principalmente fosfato de cálcio, este já traz para a pilha alguns dos efeitos do calcário, o
qual por sua vez pode acelerar demais a decomposição da matéria orgânica, o que é
indesejável em climas tropicais. Portanto: de modo geral, se sugere nestes climas, que o
calcário seja reservado para tratar diretamente o solo (correção de acidez), e que se
adicione em lugar do mesmo, o fosfato de rocha na pilha do composto.”

99
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Farinha de rocha ‘MB-4’:

‘MB-4’ é composto pelos minerais constituintes das rochas que lhe dão origem – o
Biotitaxisto e o Serpentinito, misturadas em proporções iguais e trituradas. Quimicamente, o
‘MB-4’ apresenta uma composição rica em muitos elementos, vários deles detectados
apenas como traços, totalizando até o momento 29 elementos, dentre os quais destacam-se:

Sílica em SiO2 - 39,73%


Alumínio em Al2O3 - 7,10%
Ferro em Fe2O3 - 6,86%
Cálcio em CaO - 5,90%
Magnésio em MgO - 17,82%
Sódio em Na2O - 1,48%
Potássio em K2O - 0,84%
Fósforo em P2O5 - 0,075%
Manganês em Mn - 0,074%
Cobre em Cu - 0,029%
Cobalto em Co - 0,029%
Zinco em Zn - 0,03 %
Enxofre em S - 0,18%

PINHEIRO & BARRETO (1996) relatam vários experimentos realizados no Brasil que
atestam a eficácia deste pó de rocha como fertilizante para diversas culturas (aumento de
produção de uva itália em 33%, de arroz irrigado em 20%, de feijão em 58%, dentre outros),
além de relatar as suas funções como promotor de maior resistência vegetal ao ataque de
enfermidades.

Ademais, além do uso direto no solo, apresentam uma recomendação de uso via
biofertilizante e via compostagem, conforme descrito a seguir.

Biofertilizante AD-1 (aeróbico):

Composição:
- 70 litros de água;
- 25 Kg de esterco fresco;
- 3 Kg de ‘MB-4’;
- 4 Kg de açúcar;
- 4 litros de leite.

Preparo:
Coloca-se o esterco no recipiente aberto (bombona de 100 litros), 1 Kg de açúcar, 1 litro de
leite e 40 litros de água; depois, a cada 3 dias, coloca-se 1 Kg de ‘MB-4’, 1 Kg de açúcar e 1
litro de leite. Colocados os últimos ingredientes (12 dias depois), completa-se o restante do
recipiente com água. Agitar diariamente o produto para homogeneizar adequadamente. Após
30 dias o biofertilizante estará pronto. Em regiões de elevada temperatura este tempo pode
ser reduzido para 15 a 20 dias.
Aplicação:

100
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A dosagem recomendada para uso direto em pulverizações é de 200 ml do biofertilizante


para cada 20 litros de água.

Composto orgânico enriquecido com ‘MB-4’:

Composição:
- Restos vegetais;
- Esterco bovino;
- ‘MB-4’;
- Biofertilizante AD-1;
- Água.

Preparo:
No processo tradicional de confecção de composto, em camadas alternadas de materiais
vegetais e esterco animal, após as camadas de todos os materiais vegetais, pulverizar com o
biofertilizante AD-1 e colocar 500 gramas de MB-4 por m2 em toda superfície do composto.
Repete-se esta operação também após colocar a camada do inoculante (esterco). Após as
novas sequências de camadas, proceder da mesma maneira, acrescentando o AD-1 e o MB-
4, até o final do preparo da pilha.

Aplicação:
Utilizar o composto pronto da forma habitualmente empregada.

Resíduos agroindustriais:

KHATOUNIAN (2001) cita que, caso a pilha de composto seja feita com material muito pobre
em nutrientes minerais, como por exemplo, apenas palhada de cereais, faltam nutrientes
para manter a atividade das bactérias, reduzindo o aquecimento interno da pilha. Nesse
caso, pode se introduzir materiais ricos em nutrientes, tais como resíduos de abatedouros,
descartes de peixarias, torta de cacau, etc.

Torta ou farelo de cacau:


Um dos principais fatores que deve ser observado na fabricação de um bom composto
orgânico, é o seu teor de nitrogênio, por ser o elemento fundamental para o desenvolvimento
de plantas. Este teor pode ser elevado com o uso de resíduos agroindustrais ricos em N,
como a torta ou o farelo de cacau (Figura 24), os quais contém de 3,0 a 3,5% do elemento
na matéria seca, conforme ilustrado na Tabela 27. Estes subprodutos, empregados como
inoculantes das pilhas, proporcionam compostos de qualidade superior, conforme confirmam
os dados da Tabela 28 (SOUZA, 1998).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 24: Farelo de cacau – resíduo agroindustrial de elevada qualidade e grande potencial
para uso em compostagem orgânica.

Tabela 27: Composição química e teor de matéria orgânica de 4 tipos de inoculantes.1


Macro (%) Micro (ppm)
Inoculantes M.O. C/N pH
(%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Esterco Galinha 68 19/1 7,1 2,1 0,89 1,14 2,55 0,38 37 116 4.474 369 19

Composto 45 14/1 7,7 2,0 1,88 1,66 8,63 0,49 43 208 11.485 742 23

Torta de Cacau 90 16/1 6,6 3,3 0,64 3,17 0,32 0,58 60 108 3.431 80 36

Terriço de Mata 16 19/1 4,3 0,5 0,04 0,26 0,04 0,01 15 27 20.785 74 1
1 Média de três fontes utilizadas. Fonte: SOUZA (1998)

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

TABELA 28: Composição química e teor de matéria orgânica de compostos,


preparados com 4 diferentes inoculantes.1

Macro (%)2 Micro (ppm)


Tipos de M.O C/N pH

Compostos (%) N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B
Composto/
Esterco 48 15/1 7,2 1,9 1,1 1,2 5,3 0,5 51 204 1.936 891 27
Composto/
Composto 49 15/1 7,1 2,0 1,0 1,1 3,3 0,4 45 166 22.981 902 27
Composto/
Torta Cacau 63 12/1 6,5 3,2 0,7 1,5 1,8 0,5 44 130 17.324 659 35
Composto
Terriço 35 18/1 6,7 1,1 0,4 0,6 1,2 0,2 30 75 20.832 410 24
1Média de 5 repetições. SOUZA (1998).

Neste trabalho, a quantidade dos inoculantes utilizados durante o empilhamento foi de 40 Kg


para cada metro cúbico de material vegetal, para todos os quatro tipos avaliados. Isto foi
suficiente para proporcionar diferenças significativas de qualidade, provocando efeitos
significativos no comportamento das culturas em nível de campo. Na Tabela 29, verificamos
que foi possível elevar significativamente a produtividade do milho-verde com o emprego da
torta de cacau como inoculante, em função, principalmente, do destacado teor de Nitrogênio
(SOUZA, 1998).

Tabela 29: Avaliação conjunta do efeito de tipos de inoculantes em compostos


orgânicos, sobre o desenvolvimento do milho verde.1
Espigas comerciais

Tipos Stand Altura Diâmetro No Produti- Peso Comp. Diâmetro


de Final de Do de vidade Médio Médio Médio
Inoculantes Plantas Caule Espigas
(40 Kg/m3) (m) (cm) (ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm)

Esterco 15 a 2,5 b 2,1 c 29397 b 6339 b 220 b 17,1 ab 4,5 b

Composto 12 ab 2,4 b 2,2 ab 27745 b 6273 b 232 ab 17,2 a 4,6 a

Torta Cacau 13 ab 2,7 a 2,3 a 38905 a 9384 a 244 a 17,5 a 4,6 a

Terriço 11 b 2,4 b 2,1 bc 26406 b 5642 b 221 b 16,4 b 4,5 ab

CV(%) 15,6 4,9 8,3 12,6 30,0 12,2 5,9 3,9


1 Fonte: Souza (1998).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Mesmo culturas reconhecidamente rústicas quanto à exigência em nutrientes, a exemplo da


batata doce, podem responder de forma diferenciada a compostos que apresentam
qualidades distintas, conforme comprovamos na Tabela 30 (SOUZA, 1997).

Tabela 30: Desenvolvimento da cultura da batata-doce em função de 4 tipos de


inoculantes em compostos orgânicos.1
Tipos Raízes totais Raízes comerciais
de
Inoculantes No Peso de No Produtividade Peso Comprimento Diâmetro Ciclo
Raízes Raízes Raízes de Raízes Médio Médio Médio
(40 Kg/m3) (kg/ha) (kg/ha) (g) (cm) (cm) (dias)
Esterco 68 a 38.059 ab 27 a 17.903 ab 221 b 18,1 a 5,2 b 253

Composto 47 c 30.344 b 20 b 14.691 b 237 b 15,3 b 5,3 b 253

Torta de Cacau 49 c 43.850 a 21 b 21.522 a 331 a 17,9 a 6,0 a 253

Terriço 62 b 33.906 b 26 a 16.391 b 199 b 17,6 a 4,9 b 253

CV(%) 5,1 24,5 6,4 25,0 22,7 8,3 8,9 -


1 Fonte: Souza (1997).

Contrastando-se esses resultados com a composição média dos tipos de compostos


contidos na Tabela 28, observamos que o composto inoculado com torta de cacau destaca-
se nos teores de matéria orgânica e nitrogênio. Logo, postulou-se que estes fatores foram
decisivos nos rendimentos observados.

Através das análises foliares contidas na Tabela 31, confirmamos as expressões dos
tratamentos empregados sobre o desenvolvimento vegetativo da cultura. O solo adubado
com composto/torta de cacau, conduz a maiores teores foliares de nitrogênio, potássio,
magnésio, ferro e manganês.

Tabela 31: Teores de macro e micronutrientes em folhas de batata-doce, aos 150 dias
após plantio, em função de tipos de inoculantes em composto orgânico.
Tipos Macronutrientes (%) Micronutrientes (Ppm)
de

Inoculantes
(40 Kg/m3)
N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B

Esterco 4,25 0,49 3,93 0,89 0,41 20 30 450 104 60

Composto 3,90 0,52 4,46 0,74 0,42 23 32 456 104 55

Torta de Cacau 4,65 0,34 4,77 0,89 0,55 22 34 976 123 54

Terriço 3,95 0,53 3,95 0,75 0,42 21 30 370 106 55


Fonte: Souza (1997)

104
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Torta de mamona:

Segundo KIEHL (1985), a torta de mamona pode ser utilizada com efeitos semelhantes à
torta de cacau, por apresentar um teor de N na faixa de 3,0 a 5,0% e um teor de P e K na
faixa de 1,5 a 3,0%.

Por se tratar de um produto relativamente caro, seu emprego se justifica apenas como
inoculante das pilhas de composto, numa proporção de 30 a 50 Kg para cada metro cúbico
de composto recém-montado. Neste caso, pode-se dispensar o uso de outro inoculante,
como o esterco animal (mais comumente usado), de forma a obter um produto final a custo
compensador.

Composição:
Material M.O (%) N (%) C/N P2O5 (%) K2O (%)
Torta de mamona 92.20 5.44 10/1 1.91 1.54
Fonte: Kiehl, 1985.

Farinha de ossos:

Este subproduto pode ser utilizado diretamente no solo ou via o processo de compostagem.
Segundo KIEHL (1985), os ossos são constituídos basicamente de fosfato de cálcio,
distribuído em matriz de natureza orgânica. Relata que a composição dos ossos é a
seguinte: fração orgânica (totaliza 34% dos ossos e contém 7% de gordura e 27% de
osseína, com 5% de nitrogênio) e fração mineral (totaliza 66% dos ossos e contém 53 a 56%
de fosfato tricálcico, com 24 a 26% de P2O5; 1 a 2% de fosfato trimagnésico; 7 a 8% de
carbonato de cálcio e 1 a 2% de fluoreto de cálcio).

Por se tratar de um material de preço relativamente elevado, a quantidade utilizada em


compostagem situa-se na faixa de 20 a 30 Kg por m3 de composto, no momento da
montagem das medas, de forma complementar ao inoculante tradicional à base de esterco
de animais. Isto promove melhorias na qualidade do composto, elevando principalmente os
níveis de nitrogênio, fósforo e cálcio.

Borra de café:

Subproduto oriundo da industrialização do café solúvel, contendo muita umidade (80 a 85%),
sendo rico em matéria orgânica e relativamente rico em nitrogênio (1,5 a 2,5%, no material
seco). A borra de café não deve ser utilizada diretamente como fertilizante orgânico, devendo
sofrer previamente uma decomposição, preferencialmente através da compostagem orgânica
junto com outros materiais (KIEHL, 1985).

Para um melhor enriquecimento do composto, pode ser utilizada uma quantidade maior na
inoculação das medas, na faixa de 50 a 100 Kg por m3 de material palhoso, por ocasião da
montagem das pilhas. Pode ser empregada de forma complementar (menor quantidade: 50
Kg/m3)) ou em substituição aos inoculantes tradicionais à base de estercos de animais (maior
quantidade: 100 Kg/m3).

105
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Composição:
Material M.O (%) C/N N (%) P2O5 (%) K2O (%)
Torta de café 90.46 22/1 2.30 0.42 1.26
Fonte: Kiehl, 1985.

Preparados biodinâmicos:

Os preparados biodinâmicos são utilizados na compostagem com a função de ajudar a


regular toda atividade interna da pilha, bem como suas trocas com o ambiente – tanto em
termos de substâncias como de forças. Favorecem a microvida mais desejável, bem como
direcionam a formação de substâncias importantes. Compostos tratados com estes
preparados são mais ‘limpos’, mais estáveis e efetivamente mais ricos e equilibrados para a
nutrição do solo e das plantas. A fabricação dos preparados utilizados neste processo já foi
detalhado anteriormente.

3.2.1.4. Formas de aplicação de composto

A aplicação de composto orgânico pode ser realizada a lanço ou de forma localizada nas
covas ou sulcos de plantio. Para culturas mais rústicas, como o feijão (Tabela 32), a
aplicação a lanço é suficiente para melhorar o solo e permitir obter boas produtividades.
Entretanto, para culturas mais exigentes em fertilidade, como a couve-flor, torna-se
necessário adubar de forma localizada, pois isto permite melhorar a nutrição das plantas e
aumentar o rendimento comercial (Tabela 33).

Tabela 32: Avaliação conjunta de formas de adubação orgânica com composto na


cultura do feijão.1
Produtividade Peso de 100 Ciclo
Tratamentos Grãos Sementes
(Kg/ha) (g) (dias)

Incorporado 2.160 a 20,4 a 101

Superficial 1.954 a 20,4 a 101

Localizado 1.983 a 20,1 a 101


1 Fonte: SOUZA (1996)

106
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 33: Avaliação conjunta de formas de adubação com composto na cultura da


couve-flor em sistema orgânico.1

No Produtividade Peso Compacidade2 Ciclo


Tratamento Cabeças Médio Médio
Comerciais
(ha) (Kg/ha) (g) (dias)
Incorporado 2.666 b 982 b 334 b 4,4 b 109 a

Superficial 3.064 b 1.172 b 350 ab 5,7 ab 109 a

Localizado 7.286 a 2.868 a 378 a 7,6 a 109 a


1 Fonte: SOUZA (2002).

3.2.1.5. Custo de produção de composto

Pouco se conhece sobre os fatores econômicos envolvidos no processo de compostagem,


tornando-se um dos principais aspectos de resistência quanto à adoção dessa prática em
nível de propriedade rural, especialmente pelo consumo e custos da mão de obra.
Entretanto, estudos realizados por SOUZA & PREZOTTI (1996), demonstraram que em
sistema orgânico de produção, a produção de composto orgânico apresenta-se como
atividade de elevada viabilidade econômica.

Os componentes necessários à elaboração de um composto orgânico com 36,8 m3 iniciais,


desde a montagem até a obtenção do composto pronto, podem ser descritos assim:
COMPONENTES Quantidades/valores utilizados
A. MÃO-DE-OBRA:
A.1. Roçada e transporte de material 2,0 D/H
A.2. Confecção 2,0 D/H
A.3. 4 Reviramentos 2,5 D/H
A.4. 10 Irrigações 1,0 D/H
B. INSUMOS:
B.1. Esterco de galinha. 1.425 Kg
B.2. Fosfato de araxá. 220,8 Kg
B.3. Óleo diesel (tranporte de material ) 4,1
C. PREÇOS:
C. 1. Esterco de galinha. 0,07 U$/Kg
C. 2. fosfato de araxá. 0,08 U$/Kg
C..3. Óleo diesel. 0,38 U$/Kg
C. 4. mão-de obra 7,00 U$/dia
Obs.: Preços em dólar paralelo ( dez/95).

Diante dessas informações, a composição do custo de produção está totalizada na Tabela


34, onde observamos que o custo total de uma meda de 36,8m3 foi de 183,56 dólares para a
produção de 7.467 Kg de composto. Assim, o custo médio foi de 24,60 dólares por tonelada

107
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

do produto. Comparando-se esse valor, ao custo do esterco de galinha, na época desta


análise, (80,00 dólares/ton), verificamos que o mesmo representa 31%, já incluindo todas as
despesas adicionais com outros insumos e serviços.

Tabela 34: Dados econômicos médios do sistema de compostagem.1


Insumos Serviços
Discrimi- Esterco Fosfato Óleo Roçada Confec- Revira- Irriga Peso Custo por Proporção
nação de de Diesel e ção mentos ção Final Toneldada para
Galinha Araxá Transporte Composto Composto Esterco

(Kg) (Kg) (l) (D/H) (D/H) (D/H) (D/H) (Kg) (U$) (%)

Qde 1.425 220,8 4,1 2,0 2,0 2,5 1,0 7.467


24,60 31
Valor 114,00 15,50 1,56 14,00 14,00 17,50 7,00 183,56
1 Média de 20 medas. Valores em dólar paralelo (dez./95). Fonte: SOUZA (1998).

3.2.1.6. Um exemplo de cálculo da dosagem de adubos orgânicos para plantio

Uma proposta de cálculo, descrita por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), serve de
orientação para proceder os cálculos da quantidade de adubos orgânicos, levando em
consideração a composição dos materiais e a exigência da cultura. Será enfocada a cultura
do morango, como exemplo, para definição dos passos e dos cálculos. Lembre-se que esta
quantidade deve ser considerada como MÍNIMA, visto que leva em consideração apenas o
fator nutriente, dispensando a parte física e biológica do solo.

EXEMPLO
A composição de fertilizantes orgânicos para atender às exigências das culturas, necessariamente tem que
passar por uma sequência de cálculos, para que no final a planta seja produtiva e rentável.

• PRIMEIRO PASSO:
Saber a composição média de nutrientes que a fonte orgânica contém e, também, a proporção em que eles
ocorrem, principalmente em relação a nitrogênio, fósforo e potássio (NPK). Através da composição de diversos
resíduos, apresentadas no item 4.2.1, do presente manual , podemos conhecer várias fontes disponíveis para o
agricultor.

Para se ter um bom fertilizante para plantio, Dadonas (1989), citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997),
estabelece que o ideal é que para cada parte de N, haja três partes de fósforo e duas de potássio.

Assim, as diretrizes para balancear e calcular uma boa formulação de adubos orgânicos, poderão ser baseadas
em fatores de conversão, que é um método rápido e prático, apesar de não resultar em uma formulação muito
rigorosa, porém atende dois pontos básicos da adubação, que é a capacidade de colocar nutrientes em
condições da planta assimilar e a economicidade.

• SEGUNDO PASSO:

108
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O cálculo do fator de conversão para fertilizantes é simples: basta dividir 100 pelo teor de nutrientes que o
fertilizante possui. Exemplos: 100 dividido por 4% de N, supondo um esterco de galinha com esse teor, teremos
o fator 25 para nitrogênio; para o fósforo também utilizaremos o fator 25, supondo que este esterco contenha
também 4% de fósforo (100÷4 = 25); para o potássio, o fator será 50, supondo que esse esterco contenha 2%
desse nutriente. Portanto, o esterco de galinha que estamos analisando tem um fator de conversão para NPK
igual a 25-25-50.

A Tabela 35 apresenta os fatores de conversão para as principais fontes de nutrientes em alguns fertilizantes
orgânico

Tabela 35: Fatores de conversão para N – P – K, em fertilizantes orgânicos.

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


NITROGÊNIO N P K
Esterco de Galinha 25 25 50
Torta de Mamona 20 50 99
Torta de Algodão 16 33 71
Labe-labe 22 50 (?)
Guandu (sementes) 27 125 54
Mucuna-preta (sementes) 26 95 33
Salitre do Chile 6 0 0
Esterco de Coelho 50 77 83
Esterco de Bovino Verde 20 40 20
Esterco de Cabra 33 50 33
Resíduo de Esgoto 50 66 200
Bagaço de Laranja 65 476 83
Lixo Curtido 94 312 156
Folhas de Amoreira 26 95 -
Folhas de Mandioca 22 142 -
Crotalária 51 285 55
Feijão-de-porco 39 200 41

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


FÓSFORO P N K
Farinha de Ossos Crua 5 50 0
Farinha de Ossos Carbonizados 3 0 0
Fosfatos naturais (média) 3 0 0
Guano 11 35 91

FONTES DE FATORES DE CONVERSÃO PARA


POTÁSSIO K P N

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cascas de Café 26 714 57


Palha de Café 51 400 74
Palha de Milho 60 285 222
Talos de Banana 13 666 133
Cinzas 10 40 0
Esterco de Cabra 33 50 33
Esterco de Ovelha 40 100 50
Esterco Bovino Curtido de Curral 20 40 20
Esterco Bovino Seco 40 66 50
Mucuna-preta (pé) 33 181 44
Palha de Trigo 80 2000 133
Palha de Aveia 52 285 153
Palha de Centeio 100 400 222
Palha de Cevada 80 500 133
Palha de Feijoeiro 52 400 62
Casca de Mamona 55 333 87
Fonte: Dadonas, 1989, citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997).

Quanto menor o fator de conversão, maior o teor de nutriente em cada material, podendo-se notar ainda que
em certos materiais, os fatores relativos a N e K são praticamente idênticos, permitindo apenas receber adição
de fósforo (P), para ficar com uma relação aproximada de 1-1,5-1 ou 1-2-1, facilitando ainda mais obter
fertilizantes.

Com base nos critérios de fatores de conversão, podemos calcular as doses aproximadas para uma adubação
satisfatória.

• TERCEIRO PASSO:
Para exemplificar a utilidade do método baseado em fatores de conversão, vamos calcular uma quantidade de
mistura de fertilizantes simples para atender as necessidades de adubação, determinada pela análise de solo
para a cultura do morango.

Ex. Através de uma análise de solo, detectamos que, para a adubação mineral de 1 ha de plantio de morangos,
deveríamos aplicar 40 kg de N, 300 kg de P e 100 kg de K. Sendo que temos na propriedade, os seguintes
fertilizantes orgânicos e seus respectivos fatores de conversão:

Resíduos orgânicos N P K
esterco de galinha 25 25 50
farinha de ossos 0 3 0
cinzas 0 40 10

Iniciamos os nossos cálculos pelo esterco de galinha, que é a nossa única fonte de nitrogênio. De acordo com a
análise, necessitamos de 40 kg de N no plantio. Assim, multiplicamos 40 pelo fator de 25, referente ao
nitrogênio contido no esterco e teremos 1000 kg, ou seja, 1 ton. de esterco de galinha é necessário para suprir
a quantidade necessária de nitrogênio. Ademais, se utilizarmos 1 ton. de esterco, estaríamos ainda colocando

110
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

40 kg de fósforo e 20 kg de potássio; portanto, temos que descontar a quantidade necessária, 300 kg - 40 kg =


260 kg de fósforo e 100 kg - 20 kg = 80 kg de potássio.

Assim, estamos prontos para continuar os cálculos que agora deverão concentrar-se nas cinzas porque essa
fonte nos fornece fósforo e potássio. Para suprir a necessidade de 80 kg de potássio, multiplicamos essa
quantidade pelo fator 10 da cinza e obteremos 800kg de cinzas necessárias para suprir o potássio. Estes 800
Kg de cinzas também deve adicionar 20 kg de fósforo na mistura, sendo assim, temos que descontar do total de
260 kg de fósforo faltantes, ou seja, só nos falta 240,0 kg de fósforo para ser suprido pela farinha de ossos.
Para esse cálculo, multiplicamos 240,0 pelo fator 3 da farinha de ossos e obtemos 720 kg de farinha para
completar a nossa mistura. Na Tabela 36, podemos resumir os nossos cálculos.

Tabela 36: Quantidades de fertilizantes orgânicos para atender os resultados de uma análise de solo
para plantio de morangos.
QUANTIDADE EM KG
FONTE DE NUTRIENTE N P K
1 ton. de esterco de galinha 40,0 40,0 20,0
800 kg de cinzas - 20,0 80,0
720 kg de farinha de ossos - 240,0 -
Total da mistura: 2.520 Kg 40,0 300,0 100,0

Portanto, para atender às recomendações provindas da análise de solo, necessitaríamos de aplicar na


adubação de plantio, uma mistura contendo:
- 1000 Kg de esterco de galinha, contendo 40 kg de N, 40 kg de P e 20 kg de K;
- 800 kg de cinzas contendo 20 kg de P e 80 kg de K e,
- 720 kg de farinha de ossos, contendo 240 kg de P,

Somando todos os ingredientes, a mistura vai pesar 2520 kg, o que eqüivale a 252 g da mistura por metro
quadrado de canteiro de morango, ou seja, 28 gramas por cova (supondo 9 plantas por m2).

Através deste exemplo, observa-se que a quantidade de adubo orgânico para nutrição de
plantas em sistema orgânico não representa problema. Apenas do ponto de vista nutricional,
2520 Kg da mistura exemplificada seria suficiente. Se, ao invés dessa mistura, utilizarmos a
dosagem média recomendada para composto orgânico (15 ton. por hectare) – que contenha
2,0% de N, 1,5% de P e 1,3% de K na matéria seca – estaríamos aportando 300 Kg de
nitrogênio, 255 Kg de fósforo e 195 Kg de potássio. Compare as duas situações, faça críticas
e os devidos ajustes, como “dever de casa”!!!

111
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.3. Cultivares adaptadas


Um dos primeiros aspectos a se observar quando se pensa em praticar sistemas orgânicos
de cultivo é a escolha adequada da cultivar a ser plantada.

Para a maioria das culturas olerícolas, existem cultivares mais rústicas ou com maior
resistência a pragas e doenças, que se desenvolvem melhor nestes sistemas de cultivo.
Observe na Tabela 37, as características de alguns cultivares disponíveis no mercado
convencional de sementes, em relação à resistência a doenças.

Tabela 37: Cultivares de hortaliças com resistência genética a doenças.

Espécie Doença/Patógeno Cultivar/Híbrido resistente


Alface Mosaico Brasil 303, Carolina, AG-576, Regina 71,
Virus do mosaico da alface(LMV) Madona AG-605, Monalisa AG-819

Batata Pinta preta (Alternaria solani) Aracy, Apuã, Itararé, Monte Bonito,
Catucha

Mela ou Requeima (Phytophthora infestans) Matilda, Itararé, Monte bonito, Catucha

Contenda e Catucha
Virus do enrolamento das folhas (PLRV)
Achat
Murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum)
Beringela Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) Ciça

Podridão de Phomopsis (Phomopsis vexans) Ciça

Cebola Mal-das-sete-voltas (Colletotrichum Pira Ouro, Roxa do Barreiro


gloeosporioides) f. sp. cepae

Raiz rosada (Pyrenochaeta terrestris) Texas Grano 502 PRR

Vírus do nanisno amarelo (OYDV) Granex Precoce*, Pera 3*, Roxa do


Barreiro*, São Paulo, Texas Grano 502
PRR.
Cenoura Queima das folhas (Alternaria dauci) Brasília, Carandaí AG-106, Kuroda
Nacional, Kuronan, Uberlância.

Brasília, IPA-5, IPA-6.


Nematóide das galhas (Meloidogyne spp.

Ervilha Oídio (Erisyphe pisi) Samba, Maria.


Pepino Míldio (Pseudoperonospora cubensis) Jóia AG-454

Mancha angular (Pseudomonas syringae pv. Jóia AG-454


lachrymans)

Oídio (Erysiphe cichoracearum) Jóia AG-454

123
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Pimentão Mosaico ou Vírus Y da Batata (PVY) Agronômico 10G, Apolo AG-


511,Cascadura Ikeda, Continental AG-498,
Hércules AG-672, Itaipú.

Apolo AG-511, Continental AG-498,


Requeima (Phytophthora infestans) Hércules AG-672, Nacional AG-506,
Atenas AG-322.

Repolho Míldio (Peronospora parasitica) Híbrido Matsukase SK

Podridão negra (Xanthomonas campestris pv. Híbrido Fuyutoyo SK, Cv. Louco, H. Master
Campestris) AG-325, Cv. União.

Tomate Cancro bacteriano (Clavibacter michiganensis Barão vermelho AG-561, Jumbo AG-592,
subsp. Michiganensis) Príncipe Gigante AG-590, Roquesso AG-
591.

Pinta bacteriana (Pseudomonas syringae pv. Agrocica Botu-13


Tomato)

Mancha de Stenfilium (Stenfilium solani) Angela Gigante I-5100, Barão Vermelho


AG-561, Concorde Ag-595, Jumbo AG-
592, TSW-10, IPA-5.

C38-D
Murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum)
Nemadoro
Nematóide das galhas (Meloidogyne spp.)
Angela Gigante I-5100, Barão Vermelho
Murcha de fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. Ag-561, Concorde AG-595, Jumbo Ag-592,
licopersici) TSW-10, Nemadoro, IPA-5, IPA-6,
Agrocica Botu-13.

Príncipe Gigante Ag-590, Roquesso AG-


591, Santa Clara I-5300, Tropic, TSW-10,
Murcha de verticilium (Verticillium albo-atrum) Nemadoro, IPA-5, Agrocica Botu-13,
Jumbo Ag-592.

Angela Gigante I-5100, Santa Clara I-5300.

TSW-10
Risca ou Mosaico Y (PVY)

Vira-cabeça (TSWV)
Fonte: Guia Técnico de Hortaliças/Agroceres (1995/96); LOPES & SANTOS(1996), citados por ZAMBOLIM,
1997.
*Cultivares de Cebola tolerantes ao vírus do nanismo.

Um exemplo mais evidente é o caso da batata, uma cultura muito sensível à requeima,
provocada pelo fungo Phytophthora infestans. As cultivares Matilda, Itararé e Monte Bonito

124
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

apresentam um nível de resistência a esta doença que permite obter boas produções de
batatas em sistemas de cultivo orgânico (Tabela 38).

Tabela 38: Avaliação de genótipos de batata em cultivo orgânico.1

Bulbos totais Bulboscomerciais


Genótipos Stand N Tub./
0
Peso N Tub./
0
Produti Peso Comp. Diâm. Incid. de Ciclo
Final Parcela Parcela Vidade Médio Médio Médio Requeima
(Kg/ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm) (dias)

Matilda 13,7 b 135 a 10.550 b 79 ab 8.900 b 82 b 6,4 c 5,0 b 0a 92 a

Itararé 11,3 c 100 b 17.700 a 71 b 17.533 a 154 a 9,2 a 6,0 a 0a 92 a

Monte 15,8 a 136 a 12.783 b 90 a 11.567 b 90 b 7,7 b 4,9 b 0a 92 a


Bonito

C.V. (%) 4,6 9,5 23,5 12,1 25,6 15,8 6,6 5,8 - -

Fonte: SOUZA et al., 1996.


1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de DUNCAN a 5%. Média de

4 repetições e 3 pontos amostrais por repetição.


2 Avaliação por notas em escala de 0 - 10.

Um trabalho realizado por SOUZA(1999), na Estação Experimental de São


Joaquim/EPAGRI, identificou diferenças significativas de resistência de cultivares de batata à
doenças foliares ( principalmente a requeima ), agrupando-as da seguinte maneira:

Relação com as doenças Cultivares de Batata

GRUPO 1: Altamente resistentes Araucária, Catucha, EEI-004, Tollocan,


Sante, Cristal e Aracy Ruiva.
Monte Bonito, Itararé, Apuã, Aracy,
GRUPO 2: Medianamente resistentes Astrid, Bronka, Desiree, Tarpan,
Clarissa, SJ-89239 e SJ-97606.
Porta, SJ-83005, Granola, Baraka,
GRUPO 3: Menos Resistentes Baronesa, Macaca e SJ-90478.

Da mesma forma, a cultivar de Cenoura Brasília apresenta um alto grau de resistência à


queima das folhas, o que tem permitido obter altas produtividades em sistemas orgânicos de
produção. Cultivares sensíveis à esta doença (Ex: cv.Forto), necessitam de proteção com
calda bordalesa para se alcançar rendimentos satisfatórios, conforme indicado na Tabela 39.

125
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 39: Efeito da calda bordalesa 1% sobre o desenvolvimento de duas cultivares


de cenoura em sistema orgânico - 1995.1

Raízes totais Raízes comerciais

Cultivares Tratamento No Peso No Produti- % Peso Peso Comp. Diâm.


(Bordalesa) Raizes Raizes vidade Comerci Médio Médio Médio
al
(Kg/ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm)

Brasília Sem 308 a 31.616 a 180 a 25.581 a 78 b 56 b 12,1 a 2,7 a


Com 257 b 32.663 a 185 a 29.109 a 89 a 63 a 12,8 a 2,7 a

C.V.(%) - 3,3 13,0 6,4 17,1 4,2 8,3 5,3 10,0

Forto Sem 234 a 19.959 b 119 b 14.025 b 65 b 48 b 12,5 b 2,5 b


Com 239 a 39.757 a 191 a 36.346 a 91 a 76 a 13,5 a 2,8 a

C.V.(%) - 5,4 8,1 4,5 11,1 12,2 9,7 5,3 4,2

Fonte: SOUZA et al., 1996.


1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas (para cada cultivar), não diferem entre si pelo teste de DUNCAN a 5%.

Média de 8 repetições.

Em algumas situações, a escolha do material genético a ser empregado no cultivo orgânico


dependerá do seu comportamento produtivo e também da sua resistência na pós-colheita, a
exemplo do morango conforme indicam os dados a seguir (Tabela 40 e Figura 25).

Tabela 40. Avaliação de genótipos de morangueiro em cultivo orgânico.1

Nº frutos Frutos comerciais Colheitas Ciclo médio


totais
Cultivares Nº frutos Produti- Peso Nº frutos Peso Início Fim
por
por vidade médio por frutos
parcela
parcela planta por
planta
(kg/ha) (g) (g) (dias) (dias) (dias)
Regional 1300 c 864 b 21.659 b 9,1 c 25,4 b 232 b 93 b 200 a 147 a
Vila Nova 1195 c 772 b 19.511 b 9,2 c 22,7 b 209 b 93 b 198 a 146 a
Guarani 1547 b 780 b 20.534 b 9,6 c 22,9 b 220 b 95 b 200 a 147 a
Oso Grande 637 e 548 c 22.250 b 14,7 a 16,1 c 238 b 104 a 196 a 150 a
Dover 1876 a 1204 a 31.091 a 9,3 c 35,4 a 333 a 92 b 200 a 146 a
Princ. Isabel 1208 c 872 b 26.155 a 10,8 b 25,6 b 280 a 108 a 198 a 153 a
Camarosa 961 d 775 b 29.594 a 14,0 a 22,7 b 319 a 98 b 200 a 149 a
C.V (%) 11,6 11,4 14,2 4,4 11,5 14,5 5,0 3,8 1,7 a
1Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de
probabilidade. Fonte: SOUZA (2001).

126
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 25. Perda de frutos em pós-colheita de cultivares de morango


submetidas a cultivo orgânico. Fonte: SOUZA (2001).

127
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.4. Propagação de plantas em sistema orgânico

3.4.1. Considerações gerais:

Quanto à produção de mudas de hortaliças para sistemas orgânicos, algumas informações e


cuidados são fundamentais para o sucesso da produção. O sistema de produção de mudas
recomendado para cada cultura está apresentado na Segunda parte deste livro, no
detalhamento do manejo de cada espécie. Porém, algumas recomendações gerais estão
descritas a seguir.

A propagação das hortaliças pode ser realizada via semente botânica ou utilizando-se de
partes das plantas do cultivo anterior (rebentos, tubérculos, bulbos, ramas, etc.), a qual
chamamos de propagação vegetativa.

Na propagação das hortaliças em sistema orgânico, evitar problemas futuros é uma


necessidade e, portanto, deve-se estar atento a alguns critérios fitossanitários e de seleção
genética, como:

• Evitar a utilização de partes das plantas que apresentaram sintomas de doenças ou que,
mesmo visualmente sadias, tenham originado de campos que apresentaram problemas
com fungos de solo (como Fusarium, Esclerotinia), com Bacteriose ou murchadeira
(como Pseudomomas, Ralstonia), com viroses (como o vírus do enrolamento da batata,
vira-cabeça do tomateiro), com nematóides (como nematóide de galhas em batata,
nematóide do anel em batata-barôa), dentre outros.

• Utilizar sementes ou partes de plantas, de indivíduos identificados durante a fase


vegetativa e na fase de colheita, que apresentaram aspecto de elevado vigor, fenótipo
característico da espécie ou variedade, elevado padrão comercial do produto, de forma a
proceder uma “seleção positiva”, com ganhos de adaptabilidade ao sistema, ao longo dos
anos.

• Quando necessário, proceder o tratamento das mudas antes do plantio, através da


imersão em biofertilizante líquido, hipoclorito de sódio (água sanitária), especialmente
para a prevenção de problemas com brocas, nematóides e doenças.

• Proceder a quebra de dormência de sementes e o pré-enraizamento de mudas, para


algumas espécies, conforme as recomendações específicas para cada cultura,
detalhadas nos sistemas de produção contidos na parte 2 do presente livro.

• Respeitar os critérios de propagação e seleção da cada espécie, como: tamanho de


bulbos e bulbilhos de alho; mudas de batata-doce da parte mediana da rama, dentre
outros.

128
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.4.2. Produção de mudas em ambiente protegido (estufas):

A formação de mudas é uma fase muito importante que define o sucesso do plantio. Produzir
mudas em estufas (Figura 26), permite vantagens fundamentais, como por exemplo:
- proteção contra excesso de chuvas;
- diminuição da incidência de pragas (pulgões, lagartas, grilos) e doenças;
- formação de mudas em menor tempo;
- obtenção de mudas mais uniformes.

Figura 26: Produção de mudas orgânicas em ambiente protegido (Visão externa, à esquerda e interna, à direita)
– melhor qualidade, maior uniformidade, maior rendimento e prevenção de problemas na fase inicial
da cultura. Fazenda Luiziânia – Entre Rios de Minas – MG.

Local de instalação da estufa:

A definição correta do local de instalação da estufa para a produção de mudas e o respeito a


alguns critérios técnicos, pode facilitar sobremaneira a operacionalidade do sistema e elevar
a eficiência, se observados os seguintes fatores:

1º. Local plano ou com pequeno declive, sem problemas de drenagem e com boa insolação;

2º. Evitar sombreamento de árvores ou construções;

3º. Proximidade de uma fonte de água de boa qualidade;

4º. Em áreas sujeitas a ventos fortes, posicionar a estufa com sua parte frontal no sentido do
vento predominante;

5º. Dependendo do tamanho e da quantidade de módulos de estufas, pode ser necessário


implantar quebra-ventos para evitar danos à estrutura e ao plástico. Os mesmos devem
ter uma permeabilidade de 50%, para apenas reduzir a força do vento, sem interromper
por completo a ventilação. Podem ser empregadas árvores de grande porte (porém, a

129
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

uma distância suficiente que evite o sombreamento excessivo), árvores ou arbustos de


crescimento rápido e menor porte (como bracatinga, leucena e guandu) ou telas plásticas
ou sombrites.
Lembre-se: Um bom quebra-vento, pode fornecer proteção (zona de calmaria) a uma
distância proporcional a 10-20 vezes sua altura.

6º. Posicionamento da estufa para melhor aproveitamento da luminosidade. O ideal é o


sentido Leste-Oeste, sendo que os fatores inclinação do terreno e ventos também serão
determinantes e nem sempre será possível construí-la neste sentido.

Substrato:

Atualmente já existe no mercado brasileiro diversos tipos de substratos orgânicos,


apropriados para a aplicação na formação de mudas para sistemas orgânicos de produção
de hortaliças. O agricultor deve avaliar para sua realidade, os mais adequados,
principalmente com relação aos custos de aquisição, pois muitas vezes se pode produzir seu
próprio substrato a custos muito baixos, pois originando-se de processos fermentativos a alta
temperatura, como na compostagem, até a desinfecção pode ser dispensada.

Estudando-se várias concentrações de composto orgânico em mistura com terra, como


substrato para formação de mudas de tomate, concluiu-se que as melhores mudas são
obtidas usando-se composto puro peneirado ou em mistura com terra na proporção de 1:1.
Menores quantidades de composto comprometem significativamente a qualidade e o padrão
das mudas (Tabela 41).

Tabela 41: Efeito de substratos orgânicos na formação de mudas de tomate.


EMCAPER/EEMF, 19961. Média de 2 anos. EMCAPER/CRDR -1997.
Folhas
Stand Torrões Massa Massa Seca %
Substratos Final inteiros no Verde M.S.
Transplantio
(%) (g) (g)
Terra Pura 18,5 6,7 e 3,7 e 0,57 e 16,0 a
Composto/Puro % 20,1 97,2 a 52,6 a 6,0 a 13,2 c
Terra/Composto (1:1) 19,8 84,6 b 32,7 b 4,4 b 14,8 b
Terra/Composto (2:1) 19,2 60,6 c 20,4 c 2,9 c 15,0 b
Terra/Composto (3:1) 19,8 49,6 d 14,4 d 2,1 d 14,8 b
C.V.(%) 10,9 34,4 47,6 33,4 11,4
1 Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de DUNCAN a 5%.

O substrato orgânico próprio, caso não se origine de um processo de fermentação a altas


temperaturas (como ocorre durante a compostagem), pode exigir algum método de

130
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

desinfecção de patógenos. Nesse sentido, a solarização vem sendo estudada e empregada


em escala cada vez maior por pesquisadores e produtores de mudas.

A solarização pode ser realizada em um piso de cimento limpo, espalhando-se uma camada
de substrato umedecido (mínimo de 50% de umidade para gerar mais calor), com no máximo
10 cm de altura. Em seguida, cobre-se todo substrato com lona plástica preta ou
transparente, fechando-se bem as bordas do plástico com areia ou terra, mantendo-se assim
por um período mínimo de 3 dias ensolarados.

A solarização também pode ser feita em um coletor solar, que segundo EMBRAPA/CNPMA
(2002), é um equipamento de funcionamento simples e construção barata, que tem por
finalidade controlar os fungos, bactérias e algumas sementes de planta (Figura 27).
Normalmente, em um dia de sol, a temperatura dentro do aparelho chega a 90 graus, o que é
suficiente para matar os fungos mais comuns como Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotium
rolfsii, Verticillium e Rhizoctonia solani entre outros, pois são todos sensíveis ao calor.

O coletor consiste em uma caixa de madeira com tubos de metal (ferro galvanizado,
alumínio, cobre, tubo de irrigação usado, etc.) e uma cobertura de plástico transparente que
permite a entrada de raios solares. O solo é colocado nos tubos de metal pela abertura
superior e, após o tratamento, retirado pela abertura inferior, por gravidade. Este modelo
permite tratar 120 litros de substrato por vez. Os coletores devem ser instalados com
exposição na face Norte, com ângulo de inclinação de 10º mais a latitude local.

Figura 27. Solarizador e Coletor Solar (EMBRAPA-Meio Ambiente/Divisão


de Engenharia Agrícola do Instituto Agronômico de Campinas
(DEA –IAC).

131
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Recipientes:

Os recipientes mais utilizados são as bandejas de isopor, alojadas sobre bancadas


suspensas (estrados), normalmente utilizando-se de fios de arame para suportar as
bandejas. Dessa forma, ocorre a “poda aérea das raízes”, ou seja, elas param de crescer
quando encontram a luz e o ar, pelo orifício inferior das células, evitando o enrolamento das
raízes e aumentando a emissão de raízes secundárias (Figura 28).

Figura 28: Agricultor orgânico apresentando seu sistema de produção de


mudas orgânicas em bandejas - Estrutura rústica, de baixo
custo e funcional. Canellones – Uruguai.

O uso de bandejas de isopor, existentes no mercado, podem comprometer a qualidade das


mudas de algumas espécies de hortaliças, visto que o volume de substrato em suas células
é insuficiente. Por isso, em se tratando de substratos orgânicos, que não contém adubos
solúveis em sua composição, pode ser necessário se usar recipientes com maior capacidade
volumétrica para obtenção de mudas mais vigorosas, a exemplo de copos de jornal ou copos
plásticos que comportem, pelo menos, 200 cc de volume de substrato, conforme sugere os
resultados contidos na Tabela 42.

Tabela 42: Efeito de dois recipientes para substratos orgânicos na formação de mudas
de tomate. Média de 2 anos.1
Stand Torrões Folhas
Recipientes Final inteiros no Massa Massa %
transplantio Verde Verde M.S.
(%) (g) (g)

Bandejas de Isopor (80cc) 19,2 a 59,2 a 17,8 b 2,0 b 14,0 b


Copos plásticos 200 cc 19,7 a 60,2 a 31,9 a 4,3 a 15,5 a
C.V. (%) 10,9 34,4 47,7 33,4 11,4
1Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de DUNCAN a 5%. Fonte: SOUZA, (1998).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Em caso de utilização de bandejas de isopor, utilizar um substrato orgânico com boa


composição de nutrientes e proceder o transplantio mais cedo, para evitar o esgotamento
nutricional das mudas. Isto geralmente ocorre em torno de 25 dias para tomate e pepino
‘japonês’ e 30 dias para pimentão, estando as mudas um pouco menores do que as
recomendações tradicionais, sem contudo haver comprometimento da produção, visto que
as mesmas se recuperam rapidamente após serem transplantadas.

Para culturas mais exigentes e com sistema radicular maior, como o tomate, pimentão e
pepino ‘japonês’, é recomendável se optar pela formação de mudas em copos,
especialmente para o cultivo em estufas, por se tratar de um investimento mais elevado.
Verifique a ilustração deste sistema na Figura 29.

Figura 29: Mudas orgânicas de pepino ‘japonês’ em copos plásticos com substrato à
base de composto orgânico puro – maior enraizamento, maior vigor e
melhor ‘pegamento’ no campo. Fazenda Luiziânia – Entre Rios de Minas
– MG.

A técnica de produção de mudas em copos plásticos (200 cc) contempla as seguintes


etapas:
1º. Preparo do suporte para os copos: Utilize a mesma bancada das bandejas, porém
fixando uma base com folhas de isopor com 2,5 cm de espessura, perfuradas com
canos de 2 polegadas. Esses furos terão um diâmetro adequado para suportar os copos
plásticos (Figuras 30 e 31).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

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Figura 30: Disposição dos furos em folha de isopor para suporte de copos plásticos na
formação de mudas em sistema orgânico.

Figura 31: Detalhes do suporte de isopor para os copos – formação de mudas mais
vigorosas e maior produtividade no campo. Fazenda Luiziânia – Entre Rios de
Minas – MG.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

2º. Preparo dos copos: Os copos deverão ser perfurados no fundo, utilizando-se de um cano
ou ferro aquecido, com diâmetro mínimo de 2,0 cm e máximo de 3,0 cm, de forma que
possibilite ocorrer a “poda aérea das raízes”. Para maior rapidez na operação, perfurar uma
maior quantidade de copos por vez. Normalmente um trabalhador hábil perfura um máximo
de 10 copos por vez, pois o esfriamento rápido da periferia da seção perfurada, “cola” um
copo ao outro, dificultando a individualização dos mesmos.
P.S.: Furos menores dificultam a drenagem do substrato (pela tensão superficial da
água) e furos maiores impedem a fixação do substrato dentro do recipiente.

3º. Enchimento dos copos: Em função da necessidade desse maior diâmetro dos furos, o
substrato deverá estar umedecido adequadamente para não cair pelo orifício. Um grau
de umidade em torno de 50% tem sido suficiente para uma adequada fixação do
substrato no interior dos copos, sem dificultar a operação de semeio. O enchimento dos
copos não deverá ser total, deixando-se um espaço livre de 1 a 2 cm a ser preenchido
após a distribuição das sementes.

4º. Semeio e acondicionamento dos copos: Colocar os copos em bandejas ou caixas


plásticas de borda baixa para facilitar o transporte para a estufa após estarem prontos.
Distribuir as sementes da forma usualmente adotada, cobrindo-as com uma nova
camada de substrato que encherá por completo os copos. Irrigar abundantemente, de
forma lenta, com regador de crivo fino, até que se perceba que todo o substrato está
uniformemente umedecido.
Proceder o transporte e acondicionamento dos copos na base de isopor preparada e
fixada anteriormente dentro da estufa.

IMPORTANTE: Devido ao ressecamento, dificuldade de limpeza e danos aos copos no


momento do transplantio, sua reutilização não é recomendada. Portanto, deve-se atentar
para o destino desse material, que apresenta elevado potencial poluente. Assim, sugere-se
a prensagem e estocagem dos mesmos, até formar um volume satisfatório , que possibilite
sua destinação direta à usinas de reciclagem de plástico ou entregá-los em um local mais
próximo que pratique a coleta seletiva de lixo, para posterior destino.

Manejo e tratos culturais das mudas:

Irrigação:

O fornecimento de água, desde a semeadura, deve ser criterioso para evitar perdas ou
formação de mudas de baixa qualidade. Excesso de água prejudica o enraizamento,
provoca aumento de doenças de solo que causam tombamento/murchamento das mudas
(Rhizoctonia, Pythium, etc) e elevam doenças foliares, pela elevada umidade relativa do ar.
A falta de água provoca a murcha (que pode ser permanente) e reduz a fotossíntese,
causando sub-desenvolvimento das plântulas.

POPIA et al. sugere manter um reservatório de água dentro da própria estufa para a
irrigação, para não haver choque térmico, pois a água e as mudas estarão em temperaturas
próximas.

135
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A irrigação deve ser realizada preferencialmente com microaspersores, que produzem gotas
pequenas e permitem uma distribuição uniforme da água dentro da estufa. Normalmente é
necessário instalar filtros de água na rede de irrigação para evitar entupimentos, sempre
muito comuns neste tipo de sistema.

O turno de rega tem sido o principal causador de problemas fitossanitários e formação de


mudas de baixa qualidade em sistemas orgânicos de produção. Do semeio até o início da
emergência, se deve irrigar mais freqüentemente (2 a 3 vezes ao dia), com menor
quantidade de água por vez, de forma a manter constantemente úmido o substrato nesta
fase. A partir desta fase, o fornecimento de água deverá ser feito de forma mais espaçada (1
a 2 vezes ao dia), com maior quantidade de água por vez.

OBS 1: A temperatura, insolação, umidade relativa e ventilação influenciam a


evapotranspiração e, portanto, a quantidade necessária de água de irrigação. Portanto, o
diagnóstico constante da umidade do substrato tem sido a maneira mais eficaz para definir a
necessidade de irrigação de mudas em estufa.

OBS 2: Lembre-se que, mesmo que o excesso de umidade não cause problemas
perceptíveis com patógenos ou com o desenvolvimento das mudas, pode provocar um
fenômeno conhecido como “raízes preguiçosas”, isto é, menor quantidade e menor volume
de raízes. Em outras palavras, na fase após a emergência, pequenos ‘estresses’ hídricos
podem forçar a planta a “buscar água” através de suas raízes, formando um sistema
radicular mais vigoroso.

Adubação líquida via foliar/substrato:

Havendo problemas nutricionais, detectados por diagnose visual ou análises laboratoriais,


pode-se utilizar métodos alternativos de nutrição orgânica e mineral das mudas, com adubos
líquidos, tais como: biofertilizantes, chorumes, pós de rochas, soluções de micronutrientes
(já existem diversos produtos comerciais), dentre tantos outros.
P.S.: Alguns desses produtos têm uso restrito na agricultura orgânica e a certificadora deve ser consultada.

Fitossanidade:

Em geral, a produção de mudas em estufa evita integralmente problemas com pragas, pelas
barreiras físicas proporcionadas pela própria construção (plástico, telas), como pelas
bancadas suspensas. Para as doenças, o desenvolvimento da maioria dos patógenos é
reduzido. Entretanto, havendo incidência que justifique o controle, pode-se lançar mão de
métodos alternativos de proteção de plantas (de forma criteriosa, geralmente em menores
concentrações, pela alta sensibilidade das plantas em estágios iniciais) , como as caldas
fitoprotetoras, os biofertilizantes ou outros métodos compatíveis com as normas técnicas de
produção, descritos em outras seções do presente livro.
P.S.: Alguns desses produtos têm uso restrito na agricultura orgânica e a certificadora deve ser consultada.

Nota: Outras informações úteis para a propagação de plantas e formação de mudas podem
ser encontradas na descrição dos sistemas de produção de cada cultura, detalhados
posteriormente em seção própria.

136
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.5. Biofertilizantes líquidos


Outra alternativa de suplementação de nutrientes na produção orgânica de hortaliças é a
utilização de fertilizantes orgânicos líquidos, aplicados via solo, via sistemas de irrigação ou
em pulverização sobre as plantas. Neste caso, destaca-se o chorume de composto,
preparado com 1 parte de composto curtido para 2 partes de água, que após coado obtém-
se um produto de excelente qualidade. Além disso, destaca-se o biofertilizante líquido,
preparado à base de esterco de curral fresco e água, na proporção de 1:1, fermentado de
forma anaeróbica em bombonas plásticas. Outra eficiente alternativa para a nutrição
suplementar de plantas é o emprego do Biofertilizante Supermagro, conforme veremos
adiante.

3.5.1. Extrato de Composto

Características:

Considerando a riqueza em nutrientes e organismos presentes no composto orgânico,


preparados líquidos a partir deste material apresenta a capacidade de melhorar o
desenvolvimento de plantas, especialmente quando ocorre a necessidade de reposição de
nutrientes durante o ciclo da cultura.

Preparo do extrato:

A diluição mais empregada em cultivo orgânico de hortaliças é de 1 parte de composto para


2 a 5 partes de água, em volume de cada componente.

O primeiro passo é selecionar um composto bem curtido, deixar secar à sombra sob galpão e
após, proceder o peneiramento do material para separar a fração mais mineralizada do
composto.

Para o preparo de 100 litros de extrato 1: 2, coloca-se 33 litros de composto peneirado e


acrescenta-se 67 litros de água, misturando-se bem. Deixar a solução descansar por, pelo
menos 10 minutos, para uma melhor extração dos nutrientes pela ãgua. Este é o material
para pronto uso, sem a necessidade de diluições.

Recomendações de uso:

Para a aplicação do extrato, que contém muitas partículas sólidas advindas do composto,
deve-se utilizar um regador ser crivo. Para cultivos de hortaliças em canteiros ou em sulcos,
proceder a irrigação manual nas entrelinhas dos cultivos, distribuindo-se um filete contínuo
ao lado das plantas, próximo à região de exploração das raízes. Para hortaliças plantadas
em covas, aplicar o extrato ao redor das plantas, para um melhor aproveitamento da
adubação.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Outra alternativa é a aplicação foliar, através de pulverizadores ou regadores com crivos,


sendo necessário para tanto, coar o material de forma cuidadosa, em peneiras bem finas ou
em sacos de pano, especialmente para evitar o entupimento dos bicos dos pulverizadores na
hora da aplicação.

3.5.2. O Biofertilizante Líquido1

O biofertilizante líquido é obtido a partir da fermentação, em sistema fechado, com ausência


de ar( anaeróbico ), do esterco fresco de gado, de preferência leiteiro, por possuir uma
alimentação mais balanceada e rica, aumentando a qualidade do biofertilizante líquido.

O esterco é misturado em partes iguais com água pura, não clorada, e colocado em uma
bombona plástica ( 200 litros ), deixando-se um espaço vazio de 15 a 20 centímetros no seu
interior ( figura 32 ).

A bombona é fechada hermeticamente e adapta-se à sua tampa uma mangueira plástica


fina. A outra extremidade da mangueira é mergulhada em uma garrafa com água ( selo de
água ) para permitir a saída do gás metano produzido no sistema e não permitir a entrada do
oxigênio, o qual alteraria o processo de fermentação e a qualidade do produto.

A fermentação terá a duração de aproximadamente 30 dias e , depois, o material será coado


em uma peneira para separar a parte sólida mais pesada, filtrando-o em um pano ou uma
tela bem fina.

O biofertlizante líquido não poderá ser armazenado por muito tempo, após ser coado, pois irá
reduzir o seu efeito fitossanitário, dando-se preferência em usá-lo imediatamente ou na
primeira semana após sua produção. Caso não seja todo utilizado, poderá ser armazenado
por um período de 30 dias, desde que volte ao mesmo sistema anterior, mantendo ainda seu
feito de adubo foliar e estimulante fitohormonal.

O biofertilizante líquido deverá ser diluído em água, em várias concentrações, para diferentes
usos e aplicações.

Métodos de utilização do Biofertilizante Líquido:

O biofertilizante líquido pode ser utilizado de várias maneiras, sendo que o método mais
eficiente é a aplicação de pulverizações foliares, as quais promovem em feito mais rápido.
Nas pulverizações, o biofertilizante líquido deverá cobrir totalmente todas as folhas e ramos
das plantas, chegando ao ponto de escorrimento, para um maior contato do produto com a
planta ( alto volume ).

1 Fonte: VAIRO DOS SANTOS, 1992.

141
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 32 – Esquema prático da montagem de um biodigestor.

P.S.: Deve-se tomar cuidado de não deixar entupir a mangueira plástica, para permitir a livre saída do gás
metano formado no sistema fechado ( anaeróbico ).

Pode ser utilizado também no tratamento de sementes sexuadas e selecionadas a nível de


campo, para plantio. Neste caso, as sementes deverão ser mergulhadas em biofertilizante
líquido a 100% ( puro ) por um período de 1 a 10 minutos, secas à sombra por duas horas e
plantadas em seguida. As sementes assim tratadas não deverão ser armazenadas, pois
poderão perder a sua capacidade de germinar e tornar-se inviáveis para o plantio.

O mesmo tratamento poderá ser utilizado em elementos de propagação vegetativa assim


como: estacas, toletes, bulbos e tubérculos, para plantio imediato, aumentando o
enraizamento e viabilizando o seu uso em lavouras comerciais.

Na produção de mudas, poderá ser utilizado na rega de sacolas ou canteiros de germinação,


antes do plantio, para promover um expurgo do solo utilizado, possuindo um excelente efeito
bacteriostático quando aplicado puro.

A parte sólida do biofertilizante poderá ser usada como adubo de cova em plantios ou na
formação de compostagem.

Composição Química do Biofertilizante Líquido:

O Biofertilizante Líquido foi analisado pelo sistema de absorção atômica e apresentou o


seguinte resultado em quatro amostras de diferentes idades de fermentação ( 30,60, 90 e
120 dias ), e os resultados seguem abaixo , em ppm.

142
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

DIAS DE FERMENTAÇÂO

ELEMENTOS 30 60 90 120
(ppm)
CaCO3 3.260,0 2.600,0 2.460,0 2.372,0
SO3 ( sulfito ) 447,0 170,0 97,2 112,0
PO4 ( ortofos ) 1.668,0 569,0 410,0 320,0
SiO2 83,1 168,0 143,0 177,0
Fe ( total ) 44,7 11,3 9,7 11,0
CI 1.160,0 810,0 1.090,0 840,0
Na 166,0 250,0 276,0 257,0
K 970,0 487,0 532,0 500,0
Mo/litro 1,0 1,0 1,0 1,0
B/litro 1,1 1,0 1,0 1,0
Zn 6,7 3,7 1,3 1,7
Cu 1,1 0,7 1,0 0,2
Mn 16,6 4,7 3,8 4,6
Mg 312,0 305,0 281,0 312,0
PH 7,8 7,4 7,6 7,7
Fonte: Vairo dos Santos, 1992.

Pode-se observar maiores concentrações em ppm, na amostra de 30 dias de fermentação,


deixando-se em observação que as concentrações podem variar conforme o produto
utilizado na fermentação. No exemplo acima, foi utilizado o esterco fresco de curral de gado
leiteiro. As amostras foram analisadas por BUKMAN LABORATORIES INTERNATIONAL Inc.
– Techinical Service Laboratory Report, Menphis, Tennessee, U.S.A. ( Vairo dos Santos,
1992).

3.5.3. O Biofertilizante Supermagro 2

O SUPERMAGRO é um biofertilizante foliar, isto é, um adubo para pulverizar nas plantas.


Ele serve para adubar e melhorar a saúde das plantas, melhorando o crescimento e a
produção das lavouras.

Vantagens:

- é um alimento completo, contendo todos os nutrientes que a planta precisa.


- ajuda a controlar algumas doenças, mas não é agrotóxico.
- deixa a planta mais resistente contra insetos.
- melhora o crescimento das plantas.

2
Fonte: APTA, 1997.

143
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Composição:

O SUPERMAGRO é uma mistura de materiais orgânicos, minerais, esterco e água. A


mistura de materiais orgânicos, nós chamamos de MISTURA PROTEICA, pois é rica em
proteínas que vem dos animais.

Componentes minerais:

1) 2,0 kg de sulfato de zinco


2) 2,0 kg de sulfato de magnésio
3) 300 gr de sulfato de manganês
4) 300 gr de sulfato de cobre
5) 50 gr de sulfato de cobalto
6) 300 gr de sulfato de ferro
7) 2,0 kg de cloreto de cálcio
8) 1,0 kg de ácido bórico
9) 100 gr de molibdato de sódio

Mistura proteica:

- 1 litro de leite ou soro de leite


- 1 litro de melaço ou 500 gr de rapadura moída ou 5 litros de garapa
- 100 ml de sangue
- 100 gr de fígado moído
- 200 gr de farinha de osso
- 200 gr de calcário
- 200 gr de fosfato de araxá

Para fazer a mistura proteica não é necessário ter todos os ingredientes, mas o quanto mais
diversificado, melhor.

Preparo:

Em um tambor de 200 litros, colocar 20 kg de esterco fresco de gado e completar com 100
litros de água.

A partir do primeiro dia, colocar o primeiro dos nutrientes no tambor, junto com a mistura
proteica. Ir colocando cada nutriente de 3 em 3 dias.

Toda vez que for colocar um nutriente, colocar também a mistura proteica, e mexer bem.

Quando for colocar o quinto nutriente, acrescentar mais 10 kg de esterco fresco e 20 litros de
água. No final, depois de adicionar todos os nutrientes e a mistura proteica, completar com
água até encher o tambor.

144
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Depois é só deixar fermentando por no mínimo 1 mês, em local fresco e com sombra, para
poder aplicar nas plantas.

Ele pode ficar guardado por mais tempo, mas o resultado é melhor, quanto mais novo o
SUPERMAGRO for.

Utilização:

Na hora da aplicação, mexer bem o SUPERMAGRO, pegar a quantidade que vai ser usada,
diluir em água e coar essa mistura em um pano fino ou numa tela fina, isso é importante para
não entupir o bico do pulverizador.

Algumas recomendações de uso para olericultura:

Para horta, se forem plantas de folhas mais macias ( alface, almeirão ), usar a concentração
de até 3% (600 ml de SUPERMAGRO em um pulverizador de 20 litros).

Se foram plantas de folhas mais grossas ( couve-flor, repolho, brócolis), pode ser usado a
uma concentração de 5%, isto é, 1 litro de SUPERMAGRO para um pulverizador de 20
litros). As pulverizações podem ser semanais, podendo variar com o nível de fertilidade do
solo e o nível nutricional das plantas. Para controle de doenças e insetos, as concentrações
podem ser mais fortes.

3.5.4. Biofertilizante líquido enriquecido

Atualmente vários biofertilizantes são utilizados regionalmente, preparados com resíduos


animais, vegetais e agroindustriais, das mais diversas formas. O emprego de “biofertilizantes
de ervas” tem aumentado muito, devido ao seu baixo custo, à sua variada composição
mineral e especialmente pela boa concentração de nitrogênio quando se emprega espécies
ricas nesse elemento.

A biofertilização, em suplementação à adubação orgânica de base no plantio, deve fornecer


os nutrientes de maior exigência da cultura comercial. Portanto, uma preparação simples,
enriquecida com nitrogênio e potássio, pode melhorar sobremaneira o desenvolvimento
vegetativo e produtivo de espécies de hortaliças, como o tomate, pimentão, morango,
pepino, dentre outras. Uma dessas formulações é que será o objeto da presente
recomendação.

Componentes para um recipiente de 1000 litros:


Composto orgânico ou esterco bovino curtido 100 Kg
Mamona triturada (folhas, talos, bagas e astes tenras) 100 Kg
Cinza vegetal 20 A 30 Kg
Água 700 litros
P.S.: A mamona triturada pode ser substituída por outro resíduo vegetal na mesma quantidade ou resíduos
agroindustriais (torta de mamona, farelo de cacau, etc. em quantidade menor: 50 Kg).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Preparo:

Em um recipiente com capacidade volumétrica de 1000 litros, acrescenta-se o ingrediente da


base orgânica (composto ou esterco bovino) e 500 litros de água, fazendo uma pré-mistura.
Após homogeneizada esta solução, acrescentar a mamona ou resíduo similar e a cinza
vegetal, agitando até nova homogeneização. Completar com água até o volume total do
recipiente (Figura 33).

Figura 33: Biofertilizante líquido enriquecido, preparado em caixa d’água de 1000


litros – produto eficaz para suplementar a nutrição orgânica de hortaliças.

Para evitar mau cheiro advindo da fermentação anaeróbica, esta solução deve ser agitada
durante um tempo mínimo de 5 minutos, no mínimo 3 vezes ao dia.

Após 10 dias de fermentação, pode-se iniciar a retirada da parte líquida (procedendo um


peneiramento fino e/ou coando), sempre após uma pré-agitação, para aplicação nas culturas
de interesse.

P.S.: Em função da grande quantidade de partículas em suspensão e da massa resultante no fundo do


recipiente, após o uso deste primeiro preparado, pode-se acrescentar novamente 500 litros de água nestes
mesmos ingredientes, agitar vigorosamente, e reutilizar este novo preparado com bons resultados. Entretanto,
não se recomenda reutilizar mais de uma vez a mistura, pois a concentração dos nutrientes já estará reduzida.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Recomendações de Uso:

1ª. Diferentemente dos biofertilizantes bovino e supermagro, citados anteriormente, a


aplicação deste biofertilizante enriquecido deve ser realizada via solo, na zona de raiz,
lateralmente às plantas, como uma adubação líquida em cobertura.

2ª. Esta preparação rende aproximadamente 500 litros de solução líquida para pronto uso. A
malha de filtragem dependerá do sistema de aplicação que será adotado.

3ª. A aplicação pode ser realizada manualamente (com regador), por bombeamento ou em
redes de fertirrigação. Neste último caso, a filtragem deve ser bem feita para evitar
entupimentos.

4ª. Avaliações preliminares indicaram elevações de 20% no rendimento de frutos comerciais


de tomate, em cultivo protegido, quando se empregou a dosagem de 200 ml por planta,
semanalmente (via fertirrigação), a partir dos 30 dias até à fase de frutificação.
Recomendação semelhante pode ser feita para pimentão e pepino ‘japonês’.

5ª. Em canteiros de morango e alho, recomenda-se utilizar 400 ml por metro quadrado,
aplicado nas entrelinhas ou via sistema de irrigação.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.6. Adubação verde aplicada à olericultura


O conceito clássico de adubação verde pode ser assim enunciado: “Consiste na prática de
se incorporar ao solo massa vegetal não decomposta, de plantas cultivadas no local ou
importadas, com a finalidade de preservar e/ou restaurar a produtividade das terras
agricultáveis”, segundo Chaves (1989), citado por COSTA et. al. (1993).

Por muito tempo, a adubação verde caracterizou-se pelo uso de leguminosas, visando-se à
melhoria da produtividade das culturas pela adição do Nitrogênio, ciclagem mais eficiente de
nutrientes e melhoria física e biológica do solo.

Na atualidade, pode-se conceituar a adubação verde como a utilização de plantas em


rotação, sucessão ou consorciação com as culturas, incorporando-as ao solo ou deixando-as
na superfície, visando-se à proteção superficial, bem como a manutenção e melhoria das
características físicas, químicas e biológicas do solo, inclusive a profundidades significativas.
Eventualmente, partes das plantas utilizadas como adubos verdes podem ter outras
destinações como, por exemplo, produção de sementes, fibras, alimentação animal, etc.

São utilizados como adubos verdes, além das leguminosas, plantas de outras famílias, em
cultivo exclusivo ou consorciado, isso porque normalmente as leguminosas decompõem-se
mais rapidamente que as gramíneas, apresentado por isso efeitos físicos menos prolongados
no solo.

Por outro lado podem ser destacadas, dentre várias funções que o adubo verde desempenha
na melhoria da produtividade do solo, aquelas que se referem à aração biológica e à
introdução de microvida em profundidade no solo, isto é, a mais de 0,70 a 0,80 m, em escala
extensiva. Essas funções não são fáceis de ser desempenhadas por outras tecnologias e
insumos ( práticas mecânicas e fertilizantes químicos ) comumente utilizados na agricultura
convencional, tornando-se assim, o uso do adubo verde uma das técnicas indispensáveis
para a agricultura de hoje, segundo Miyasaka (1990), citado por COSTA et. al. (1993).

3.6.1. Funções da adubação verde:

• Proteger o solo das chuvas alta intensidade. A cobertura vegetal dissipa a energia
cinética das gotas da chuva, impedindo o impacto direto e a consequente desagregação
do solo, evitando o seu selamento superficial.

• Manter elevada a taxa de infiltração de água no solo, pelo efeito combinado do sistema
radicular com a cobertura vegetal. As raízes, após sua decomposição, deixam canais no
solo que agregam sua estrutura, enquanto a cobertura evita a desagregação superficial e
reduz a velocidade de escoamento das águas pelas enxurradas.

• Promover grande e contínuo aporte de fitomassa, de maneira a manter ou até mesmo


elevar, ao longo dos anos o teor de matéria orgânica do solo.

• Aumentar a capacidade de retenção de água do solo.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

• Atenuar as oscilações térmicas das camadas superficiais do solo e diminuir a


evaporação, aumentando a disponibilidade de água para as culturas.

• Recuperar solos degradados através de uma grande produção de raízes, mesmo em


condições restritivas, rompendo camadas adensadas e promovendo a eração e
estruturação, o que pode-se entender como um preparo biológico do solo.

• Promover mobilização e reciclagem mais eficiente de nutrientes. As plantas usadas como


adubo verde, por possuírem sistema radicular profundo e ramificado, retiram nutrientes de
camadas subsuperficiais, que as culturas de raízes pouco profundas normalmente não
conseguem atingir. Quando tais fitomassas são manejadas ( incorporadas ou deixadas na
superfície ) os nutrientes nelas contidos são liberados gradualmente durante o processo
de decomposição, nas camadas superficiais, ficando assim disponíveis para as culturas
subsequentes. Alguns adubos verdes, como por exemplo, o tremoço-branco apresentam
a capacidade de solubilizar o fósforo não disponível.

• Diminuir a lixiviação de nutrientes como o nitrogênio. A ocorrência de chuvas de alta


intensidade e precipitações anuais elevadas, normalmente estão associadas a processos
intensos de lixiviação de nutrientes. O nitrogênio mineral por exemplo na forma de nitrato
( NO3 ), apresenta-se como um dos nutrientes mais sujeitos ao arraste pela água através
do perfil do solo. Essa forma de perda de nitrogênio, além de afetar o custo da produção
de culturas, pode gerar problemas de contaminação de águas superficiais e subterrâneas.

• Promover o aporte de nitrogênio através da fixação biológica, atendendo assim a grande


parcela das necessidades desse nutriente nas culturas comerciais e melhorando o
balanço de nitrogênio no solo.

• Reduzir a população de ervas invasoras dado o crescimento rápido e agressivo dos


adubos verdes ( efeito supressor e/ou alelopático ). A alelopatia é a inibição química
exercida por uma planta ( viva ou morta ) sob a germinação ou o desenvolvimento de
outras. Exemplos desse fenômeno são a ação da cobertura morta de aveia-preta inibindo
a germinação do papuã e da mucuna sobre o desenvolvimento da tiririca. O efeito
supressor é atribuído à ação de impedimento físico. Assim, por exemplo, a passagem de
luz é prejudicada, reduzindo a germinação de espécies exigentes nesse fator.

• Apresentar potencial de utilização múltipla na propriedade agrícola. Alguns adubos verdes


como aveia, ervilhaca, trevos , serradela ( de inverno ), guandu, caupi e labe-labe ( de
verão ) possuem elevado valor nutritivo podendo ser utilizados na alimentação animal.
Outros adubos verdes possuem sementes ricas em proteínas que podem ser
empregadas inclusive na alimentação humana, caso do tremoço, do caupi e do guandu.
Adubos verdes de porte arbóreo, utilizados na recuperação de áreas degradadas, como a
leucena, apresentam elevada produção de madeira e carvão vegetal, além de seu
potencial de uso como suplemento protéico na ração animal.

• Criar condições ambientais favoráveis ao incremento da vida biológica do solo.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.6.2. Efeitos dos adubos verdes na fertilidade do solo:

• Aumento do teor de matéria orgânica do solo pela adição da fitomassa total (parte aérea
mais raízes ) e outros organismos.

• Aumento da disponibilidade de macro e micro nutrientes no solo, em formas assimiláveis


pelas plantas.

• Aumento CTC ( Capacidade de Troca de Cátions ) efetiva do solo.

• Auxílio na formação de ácidos orgânicos, fundamentais ao processo de solubilização dos


minerais do solo.

• Diminuição nos teores de alumínio trocável ( complexação ).

• Elevação do pH do solo e consequente diminuição da acidez.

• Incremento da capacidade de reciclagem e mobilização de nutrientes lixiviados ou pouco


solúveis que se encontram em camadas mais profundas do perfil do solo.

3.6.3. Caracterização das espécies de adubos verdes:

O uso de plantas leguminosas como adubo verde são fundamentais em sistemas orgânicos
de produção, pois permitem a melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo,
destacando-se a fixação biológica de Nitrogênio, elemento indispensável para um bom
crescimento das plantas (Tabela 43).

Tabela 43: Estimativa de fixação simbiótica (N2) por diferentes leguminosas.

Nome Científico Nome Comum Nitrogênio (N2) fixado


Mucuna aterrima Mucuna preta 157 kg/ha
Mucuna deeringiana Mucuna anã 76-282 kg/ha
Crotalaria juncea Crotolária juncea 150-165 kg/ha
Crotalaria sp. Crotalária 154 kg/ha
Cajanus cajan Guandu 41-280 kg/ha
Canavalia ensiformis Feijão de porco 49-190 kg/ha
Vigna unguiculata Caupi 50-340 kg/ha
Vigna radiata Mungo 63-342 kg/ha
Calopogonium mucunoides Calopagônio 64-450 kg/ha
Pueraria phaseoloides Kudzu tropical 30-100 kg/ha/ano
Macroptilium atropurpureum Siratro 76-140 kg/ha

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Centrosema pubescens Centrosema 112-398 kg/ha


Neonotania wightii Soja perene 40-450 kg/ha
Leucaena leucocephala Leucena 400-600 kg/ha/ano
Fonte: COSTA et al. (1993).

Ademais, a própria composição de nutrientes no tecido vegetal, reciclado do perfil do solo,


além daqueles fixados da atmosfera, pode oferecer uma boa contribuição para o sistema,
conforme indicam as informações contidas nas Tabelas 44, 45 e 46.

Tabela 44: Produção de fitomassa e análise bromatológica de espécies de adubos


verdes de inverno avaliadas na região Oeste catarinense, Chapecó, 1990.

Nome comum Nome científico Massa seca DIVMO NDT Proteína bruta
( t/ha ) (%)
Aveia-preta Avena strigosa 7,7 55,6 50,9 8,69
Azevém Lotium multiflorum 4,8 63,3 55,7 6,31
Centeio Secale cereale 6,2 50,8 49,0 6,06
Chincho Lathyrus sativas 3,9 62,2 57,5 16,88
Ervilha Forrageira Pisum arvense 3,0 61,0 56,1 18,06
Gorgo Spergula arvensis 3,8 56,3 50,7 10,12
Nabo forrageiro Raphanus sativus 3,5 67,9 57,3 14,50
Vica comum Vicia sativa 3,6 58,7 53,3 18,75
Vica peluda Vicia villosa 5,0 58,2 53,2 21,31

Fonte: COSTA et al. (1993).


DIVMO = Digestibilidade in vitro da matéria orgânica. NDT = Nutrientes digestíveis totais.

Tabela 45: Quantidade de nutrientes no tecido vegetal de algumas espécies de adubos


verdes de inverno, CPPP/EMPASC/Chapecó, 1990.

Espécies Massa Massa Nutrientes ( kg/ha)


verde seca Relação C/N

( t/ha ) ( t/ha ) N P2O5 K2O CaO MgO

Aveia-preta 31,5 7,7 107 30 213 41 22 27


Azevém 29,8 4,8 48 14 151 35 14 36
Centeio 35,4 6,2 60 29 153 28 11 40
Chincho 30,8 3,9 105 23 129 30 18 14
Ervilha Forrageira 28,9 3,0 87 22 88 35 14 13
Gorga 33,0 3,8 62 26 133 23 47 23

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Nabo forrageiro 28,0 3,5 81 28 151 102 22 14


Vica comum 18,9 3,6 108 26 109 50 18 12
Vica-peluda 23,9 5,0 170 40 180 63 22 11
Fonte: COSTA et al. (1993).

Tabela 46: Composição química de diferentes espécies de plantas para adubação


verde.
Espécies Nutrientes(% da matéria seca ) Relação ppm
N P K Ca Mg C C/N Cu Zn Mn
Mucuna cinza 2,50 0,15 1,40 1,10 0,27 52,80 21,12 16 28 183
Mucuna preta 2,49 0,13 1,40 1,17 0,27 52,15 21,06 14 29 174
Mucuna anã 3,10 0,19 4,49 2,14 0,65 50,83 16,39 9 85 179
Crotalária juncea 2,50 0,19 1,20 2,31 0,47 45,25 18,10 14 44 179
Crotalária mucronata 3,43 0,09 2,30 1,32 0,47 53,70 15,65 13 35 111
Crotalária spectabilis 2,17 0,09 1,59 0,43 0,37 50,83 23,42 8 23 126
Crotalária breviflora 3,29 0,14 2,84 0,91 0,25 47,69 14,49 17 31 81
Crotalária grantiana 2,67 0,19 2,59 0,55 0,23 51,20 19,17 10 28 73
Guandu 2,61 0,14 2,61 1,79 0,45 56,30 21,57 7 22 87
Feijão de porco 3,19 0,15 5,62 1,35 0,63 50,15 15,72 9 62 254
Feijão bravo do Ceará 2,49 0,13 1,68 0,20 0,16 51,24 20,57 4 14 17
Feijão mungo 2,09 0,21 4,94 1,48 0,75 52,47 25,10 10 78 127
Caupi 2,62 0,20 2,82 0,93 0,28 45,42 17,33 - - -
Lab-lab 2,36 0,44 2,34 1,36 0,47 43,18 18,30 10 33 143
Leucena 4,30 0,22 1,70 0,81 0,50 63,50 14,76 - 45 -
Amendoim rasteiro 2,50 0,16 1,62 1,72 0,33 - - 11 49 77
Indigófera 2,17 0,14 1,54 1,20 0,32 40,36 18,60 13 24 53
Calopogônio 2,16 0,12 1,56 1,40 0,29 46,73 21,63 9 15 172
Kudzu 3,68 0,29 2,14 1,30 0,41 54,10 14,70 11 27 155
Soja perene 2,60 0,23 2,39 0,99 0,35 45,03 17,31 8 32 102
Centrosema 2,34 0,23 1,19 0,66 0,45 47,60 20,34 10 32 67
Crotalária striata 3,24 0,32 2,82 2,00 0,91 49,29 15,21 10 31 584
Fonte: COSTA et al. (1993).

Outras informações extremamente úteis, que contribuem para o conhecimento das espécies
e auxiliam na definição da forma de inserir o adubo verde no sistema produtivo, podem ser
verificadas nas Tabelas 47 e 48.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 47: Características botânicas e complementares de espécies de adubos verdes


de verão avaliados no CPPP, Chapecó, 19901.

Nome Família Ciclo Hábito de


crescimento
Altura da
planta (cm)
Agressivida
de inicial
Tol.
Geada2
Reb.3

comum/científico
procedência
Anuais
Crotalária/EEU Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 215/250 Rápida S -
Crotalária juncea
Crotalária/IAC Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 68/80 Lenta S -
Crotalária retusa
Crotalária/IAC Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 150/170 Lenta S -
Crotalária spectabilis
Crotalária/IAC Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 60/90 Muito S -
Crotalária grantiana lenta
Crotalária/SLO Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 80/100 Muito S -
Crotalária lanceolata lenta
Feijão-de-porco/EEU Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 85/100 Mediana/ S -
Canavalia ensiformis Rápida
Guandu-anão/CNPAF Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 95/120 Mediana/ S -
Cajanus cajan Rápida
Mucuna-anã/EEU Leguminosa Anual Ereto/herbáceo 50/70 Mediana/ S -
Mucuna Rápida
deeringiana
Mucuna-cinza/EEU Leguminosa Anual Prostrado / - Mediana/ S -
Mucuna niveum trepador Rápida
Mucuna-preta/IAC Leguminosa Anual Prostrado / - Mediana/ S -
Mucuna aterrima trepador Rápida
Mucuna rajada/EEU Leguminosa Anual Prostrado / - Mediana/ S -
Mucuna sp. trepador Rápida
Semiperenes/perenes
Anileira/IAC Leguminosa Perene Ereto/herbáceo/ 130/150 Muito MT S/B
Indigofera endecaphyla arbustivo lenta
Crotalária/EEU Leguminosa Semi Ereto/herbáceo 150/180 Muito S I/S
Crotalaria mucronata Perene lenta
Crotalária/IAC Leguminosa Semi Ereto/perene/ 250/280 Lenta S I
Crotalaria paulina Perene herbáceo
Guandu arbóreo/cv. Leguminosa Semi Ereto/arbóreo 300/330 Mediana/ MT/T B
KAKI
Cajanus cajan Perene rápida
Guandu arbóreo/CPPP Leguminosa Semi Ereto/ arbóreo 260/300 Mediana/ MT/T B
Cajanus cajan Perene rápida
Leucena/EMCAPER Leguminosa Perene Ereto/arbóreo 170/190 Lenta MT/T B
Leucena leucocephala
Leucena/CV;PERU Leguminosa Perene Ereto/arbóreo 168/180 Lenta MT/T B
Leucena leucocephala
Tefrosia/IAC Leguminosa Perene Ereto/arbóreo 150/160 Lenta MT/T S/B
Tephrosia candida
Os dados apresentados referem-se às avaliações realizadas durante as safras 1984/85, 1986/87, 1987/88, 1988/89.
Tolerância à geada: S = susceptível; MT = moderadamente tolerante; T = tolerante.
Rebrota: I = insuficiente; S = suficiente; B = boa.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 48: Características a serem observadas nas diferentes espécies passíveis de uso como adubos verdes de verão no
paraná.

Espécie Época de Plantio Espaçamento Qtde sementes Peso de Floração Massa vegetal Emprego principal como
entrelinhas (kg/ha) 1.000 plena (t/ha/ano)
(m) sementes (dias)
(g)
p/ cobert. P/prod.se Cobertura Prod. Verde Seca Pré cultura Consórcio Intercalar
solo mentes solo sementes
Mucuna cinza Set-Jan Set-Out 0,5-1,50 60-90 15-30 765,0-904,0 130-150 20-46 5-9 M-A-Ar M C.per.

Mucuna preta Set-Jan Set-Out 0,50-1,00 60-80 15-20 503,0-800,0 140-170 4-7,5 M-A-Ar M C.per.
Mucuna anã Set-Jan Set-Dez 0,50 80-10 80 533,0-751,0 80-100 12-27 3,5-6,5 M-A-Ar M Cf.Fr.Am
C.juncea Set-Dez Set-Out 0,25-0,50 40 20-30 48,0-53,2 80-130 15-60 5-15 M-C-Tr M-Md Cf.Fr
C.mucronata Set-Dez Set 0,25-0,80 10 3-6 6,8-7,2 120-150 10-63 2,5-16 M-F M Cf.Fr
C.spectabilis Set-Dez Set-Out 0,25-0,50 15 5-8 17,0-18,2 110-140 15-30 3-8 M-F-Al M-Md M-S
C.breviflora Set-Jan Set-Nov 0,25-0,50 20 5-8 16,0-20,0 100 15-21 3-5 M-F M-Md Cf.Fr-Am
C.grantiana Set-Dez Set-Out 0,25-0,50 8,0 3-6 3,7-4,15 140-160 7-28 2,5-6,0 M M-Md Cf-Ci
C.paulina Set-Dez Set 0,25-0,70 15 5-0 14,5-17,4 120-150 50-80 5-9 M-Al-Ca M-Md Cf-Ci
Guandu Set-Jan Set-Jan 0,50-1,5 50 20-45 134,0 140-180 9-70 3-22 M.Tr.Ar.Al. M-S Cl-Ma
H
Guandu anão Out-Jan Out-Dez 0,60-0,70 15-24 15 65,0-80,0 100 12-20 2,5-5,6 M-H M-S Fr.C.per
Feijão de Set-Dez Set-Out 0,50-1,0 150-180 60-120 1285-1517 100-120 14-30 3,2-7,0 M.Al.Ar.H M-Md Cf.Fr
Porco
Feijão bravo Set-Dez Set 0,50-1,0 60 15-20 588 180-210 20-32,5 M-H M-Md C.per.
do Ceará
Feijão mungo Set-Fev Set-Jan 0,40-0,50 30 20 55,0 80 5-12 0,8-3,0 M-Al M-Md Cf-Cult.
Caupi Set-Jan 0,40-0,50 60-75 45-60 145,0 70-110 12-47 2,5-5,4 M-Al-H M.Al.Ma.S. Cf-C.per.
Ml
Lab-lab Set-Dez Set 0,50-0,80 45 12-15 239,0-262,0 130-140 18-30 3,9-13,0 Ar-M M-Md Cf-C.per
Leucena1 Set-Dez Set-Dez 1,50-5,0 3,0-8,0 3,0-8,0 42,0-50,0 Corte a 60-120 15-40 - G-Ml-F Cf-Cd.veg
cada 120
dias
Amendoim Set-Dez Set 0,50 - - - - 10-25 3-6 - - Fr
rasteiro2
Indigofera3
Set-Jan Set 0,50-1,5 15-20 15-20 2,66 240-270 15-30 40-10 - - Fr
Calopogônio3 Set-Dez Set 0,50-1,0 4-10 3-6 9,8-12,0 180-210 15-40 4-10 - M-Ar-Gr-Fo Fr.C.per
Kudzu3 Set-Dez Set 0,50-1,0 2-5 2-5 9,8-12,0 240-270 15-36 3,5-8,0 - Gr-Fo Fr.C.per
Siratro3 Set-Jan Set 0,50-1,0 4,0 2,0 8,6-12,2 210-240 14-28 3-6,5 - Gr-Fo-M Fr.C.per
Centrosema3 Set-Dez Set 0,50-0,80 4,0-8,0 4,0 18,9 200-220 16-35 3-7 - M-Gr-Fo Fr.C.per
Soja perene3 Set-Dez Set 0,50-1,060-90 3,0-6,0 3,0 7,0 210-240 25-40 4,0-10,0 - Gr-Fo Fr.C.per
M= milho ;Al= algodão; Am= amoreira; Ar= arroz; Ca= cana; Tr= trigo; F= feijão; H= hortaliças; Md= mandioca; S= sorgo; Ma= mamona; Ml= milheto; Gr= gramínea;Fo=
forrageira;Cf= café; Fr= frutíferas; Ci= citros; Ma= macieira; Cd.veg= cordão vegetal; C.per.= culturas perenes.
Utilização especial: 1Banco de proteínas
2
Cobertura de canal escoadouro
3
Forragem

156
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.6.4. Critérios para escolha de adubos verdes:

ROWE & WERNER (2000), relatam que não existe uma planta ideal para adubação verde e
cobertura do solo, que apresente apenas características positivas. Todas as espécies
apresentam vantagens e desvantagens, desenvolvendo-se bem dentro de certas condições
climáticas e práticas de cultivo e de manejo.

Critérios:

• Grande produção de massa. Quanto maior a produção de massa, maior será a


quantidade de nutrientes que a planta mobilizará; também maior será o abafamento sobre
as plantas daninhas.

• Sistema radicular profundo. Plantas com raízes pequenas terão uma pequena capacidade
de retirar os nutrientes não aproveitados pelas culturas.

• Rápido crescimento inicial. Quanto mais rápido a planta cobrir o solo, menor será a
erosão e menor a chance de crescimento das plantas daninhas.

• Fixação de nitrogênio (leguminosas). Proporciona o aumento da disponibilidade de


nitrogênio no solo, o que significa economia de adubo nitrogenado (uréia).

• Simbiose com micorrizas. As micorrizas aumentam o teor de fósforo disponível para as


plantas no solo, economizando adubo.

• Uso eficiente da água. As plantas de adubação verde e cobertura do solo devem se


desenvolver bem mesmo com pouca umidade, pois geralmente o nosso outono apresenta
um veranico em maio, com pouca chuva. Exemplo desta característica é o centeio, que
cresce melhor com pouca chuva que a aveia preta e o azevém.

• As plantas para adubação verde/cobertura do solo não podem apresentar rizomas ou


outras estruturas de reprodução vegetativa, para que não venham a se tornar inços de
difícil controle.

• Produção abundante e fácil de sementes. Esta característica é muito importante, pois o


agricultor não pode depender todos os anos de semente de fora da propriedade. É,
talvez, um dos maiores problemas que a adubação verde enfrenta, pois existe atualmente
pouca semente, que é cara e de má qualidade.

• É interessante que as espécies utilizadas como adubação verde e cobertura do solo


possam ser utilizadas como alimentação animal (como a aveia preta, o nabo, o azevém) e
até como alimentação humana (como o triticale).

157
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.6.5. Formas de utilização da adubação verde:

Apesar da extensa divulgação sobre os benefícios da adubação verde em diversas


publicações, verifica-se um baixo nível e adoção entre os agricultores, inclusive até muitos
praticantes da agricultura orgânica. Este fato pode ser atribuído à ocupação de terra e à
ausência de retorno financeiro direto para o produtor.

Entretanto, face à importância desta prática para sistemas orgânicos, apresentamos a seguir
algumas recomendações ou alternativas de utilização da adubação verde, adaptadas de
COSTA et. al. (1993), que se aplicam à produção de hortaliças, visando auxiliar agricultores
e técnicos na tomada de decisão para viabilizar o emprego desta prática indispensável
nestes sistemas.

A prática da adubação verde, quanto à sua utilização aplicada à olericultura, pode ser
classificada em:

• Adubação verde exclusiva de primavera/verão;


• Adubação verde exclusiva de outono inverno;
• Adubação verde consorciada;
• Adubação verde em faixas;

Adubação verde exclusiva de primavera/verão:


Essa modalidade de adubação verde é a mais antiga e tradicional. Consiste no plantio de
adubos verdes ( geralmente leguminosas ) no período de outubro a janeiro, apresentando
vigoroso crescimento durante o verão. Entre as espécies utilizadas destacam-se a mucuna, o
feijão-de-porco, o guandu, as crotalárias (Figura 34), o labe-labe e o caupi. Um dos
exemplos característicos é a utilização da Crotalaria juncea na renovação de canaviais no
Estado de São Paulo.

As principais vantagens desse tipo de adubação verde são a elevada produção de massa
verde e o grande aporte de Nitrogênio. Destaca-se também a proteção ao solo durante o
período de chuvas de alta intensidade na região Sul do Brasil. A ocupação das áreas
agrícolas durante um período em que são cultivadas culturas econômicas, tem sido apontada
como a principal desvantagem dessa modalidade. A rotação de áreas, ou seja, a divisão de
propriedade em glebas, reservando uma por ano para o plantio de leguminosas e as
restantes para culturas comerciais pode ser um alternativa viável. Nesse sistema, a
adubação verde deve ser cultivada novamente na mesma área num intervalo máximo de dois
a três anos, dependendo da intensidade de uso do solo.

A eficiência dessa forma de utilização pode ser comprovada em trabalho realizado por
OLIVEIRA (2001), avaliando os efeitos da adubação verde com crotalária e do pousio, sobre
a cultura do repolho. Verificou que o pré-cultivo com a crotalária promoveu aumento
significativo da produção de massa fresca da parte aérea, do peso médio das “cabeças” e,
consequentemente, da produtividade da cultura (Tabela 49), evidenciando o benefício da
prática da adubação verde em sistema orgânico de produção.
158
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 34: Cultivo solteiro de Crotalária na ‘Fazendinha’ Ecológica (Sistema


Integrado de Produção Agroecológica – EMBRAPA). Em primeiro
plano, nodulação abundante e em segundo plano, campo com alto
vigor e biomassa. Seropédica – RJ.

Tabela 49. Produção de massa fresca da parte aérea, peso da “cabeça” e


produtividade do repolho (cv. Astrus) cultivado sob manejo orgânico, a
partir do pré-cultivo com Crotalaria juncea.
Parte aérea de repolho
Massa fresca Peso da “cabeça” Produtividade
Tratamento
(kg/planta)
(kg/planta) (t/ha)
Pré-cultivo com C. 1,942 a1 1,249 a 34,71 a
juncea

Pousio (vegetação 1,442 b 0,887 b 24,64 b


espontânea)
1- Os valores representam médias de quatro repetições; Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não
diferem entre si pelo teste F (p<0,05).

Neste sistema, uma das técnicas mais conhecidas é o cultivo solteiro da mucuna preta, em
rotação com as hortaliças. Outra técnica tradicional é o cultivo consorciado com gramíneas
(por ex.: milho), que permite a fixação do nitrogênio e melhoraria da estrutura do solo. Ambos
sistemas estão descritos a seguir.

159
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cultivo solteiro da mucuna preta (mucuna aterrima)

Leguminosa anual, robusta, de crescimento indeterminado, com hábito rasteiro, emitindo ramos trepadores;
vagem alargada, com 3 a 6 sementes duras, de coloração preta com hilo branco. O peso de 1.000 sementes
varia entre 503 e 680 g.

É a espécie de Mucuna mais conhecida no Brasil. Apresenta um razoável desenvolvimento à sombra e um


rápido crescimento em condições favoráveis de umidade, boa insolação e bom nível de fertilidade do solo,
propiciando uma eficiente cobertura do solo.

Exigências de clima e solo:


Planta de clima tropical e subtropical, é resistente a temperaturas elevadas, à seca, ao sombreamento e
ligeiramente resistente ao encharcamento temporário do solo. Rústica, apresenta bom desenvolvimento em
solos ácidos, de baixa fertilidade. É bastante adequada ao cultivo de hortaliças, principalmente em regiões de
altitude, devendo neste caso ser cultivada durante a primavera-verão, ou seja, de setembro a janeiro.

Preparo do solo e plantio:


O solo poderá ser preparado pelo método convencional (1 aração + 2 gradagens), preparo mínimo (1 ou 2
gradagens) ou pela escarificação. Pode-se ainda fazer uso do plantio direto.

A semeadura poderá ser efetuada em linhas, em covas (matraca) ou a lanço. Para sistemas orgânicos, onde a
competição com a vegetação nativa é intenso, recomenda-se optar pelo plantio em linhas ou em covas, que
favorecerão a prática da capina.

No plantio em linhas, recomenda-se um espaçamento de 50 cm entre sulcos, com 6 a 8 sementes por metro
linear ( 60 a 80 kg/ha de sementes ). Para o plantio em covas, utiliza-se a matraca, recomendando-se neste
caso um maior espaçamento entre plantas, de 40 cm, com deposição de 2 a 3 sementes por cova. Na
semeadura a lanço, o gasto com sementes será aproximadamente 20% superior ao plantio em linhas. Procede-
se a distribuição ( manual ou mecânica ) das sementes sobre a superfície do solo e posteriormente incorpora-
se, através de uma gradagem leve.

Deve-se observar que o tegumento das sementes, é normalmente mais duro e impermeável do que nas
mucunas cinza e anã, o que, às vezes, reduz a percentagem de germinação, principalmente nas sementes
mais velhas. Neste caso, recomenda-se a escarificação das sementes, utilizando-se um tambor giratório com
areias grossas ou pedras irregulares.

Outra prática simples e eficaz para se alcançar uma melhor germinação, é a embebição das sementes em água
corrente, um dia antes do plantio. Para tanto, coloque as sementes dentro de sacos telados e mergulhe em
água de rio, nunca em água parada, sem oxigênio, pois prejudicará a emergência. Esta prática inviabiliza o
plantio com matraca por dificultar a saída das sementes pelo bico da plantadeira.

Manejo e incorporação:
Em sistemas orgânicos, por não se utilizar herbicidas, a competição com ervas nativas no início do ciclo é muito
grande, podendo comprometer o rendimento de Massa verde da leguminosa. Por isso, torna-se necessário
realizar de uma a duas capinas na fase inicial da cultura, para que a mesma cresça e cubra todo o terreno.

O manejo poderá ser realizado entre 120 e 170 dias após a emergência, na fase de florescimento/enchimento
de vagens, através de roçagem manual, com roçadeira de trator ou utilizando-se rolo faca. Para incorporação
do material, caso a biomassa seja excessiva, recomenda-se o uso de grade pesada ou aração, uma semana
após, para evitar que as ramas “embuchem” no equipamento.

Além de todas as vantagens já conhecidas, a mucuna possui capacidade de atuar na diminuição da


multiplicação de populações de nematóides.

160
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Doenças e/ou pragas:


De maneira geral, relata-se a ocorrência de cercosporiose, vírus do mosaico do feijoeiro e incidência de
lagartas. Entretanto, em sistemas orgânicos verifica-se um crescimento vigoroso, sem incidência de patógenos,
dispensando quaisquer prática de controle fitossanitário.

Produção de sementes:
Recomenda-se o plantio de 3 a 4 semanas por metro linear, com espaçamento de 1 metro entre linhas ( 15 a 20
kg/ha de sementes ). O tutoramento ( com plantas de milho, hastes de madeira, guandu, etc. ) possibilita a
produção de maior quantidade de sementes, com melhor qualidade. Neste caso, o ciclo da cultura varia de 210
a 260 dias.

A colheita deve ser feita manualmente, quando as vagens estiverem secas. As vagens colhidas devem ser
secadas à sombra em galpões bem ventilados. Posteriormente, procede-se a debulha, limpeza das sementes e
conservação em bombonas plásticas bem fechadas. A produtividade pode atingir 2.000 kg/ha de sementes.

Cultivo consorciado de mucuna preta e milho (um sistema tradicional)



• Para este caso, após o preparo do solo, procede-se o semeio da mucuna preta, em sulcos
distanciados 50 cm um do outro, numa densidade de 10 sementes por metro linear. É recomendável a
quebra de dormência das sementes, deixando-as imersas em água corrente por 24 horas, antes do
plantio. O plantio da mucuna deve ser realizado antes do milho, por apresentar emergência mais lenta.
O milho é plantado entre as linhas da mucuna, logo no início da emergência desta, também em sulcos
numa densidade de 10 sementes por metro linear. Em torno de 90 dias após, se procede a roçada
(mantendo a biomassa sobre o solo) ou incorporação da biomassa formada, dependendo do tipo de
cultivo que se fará na área. Para plantios em covas, opta-se pela roçada e posterior plantio direto. Para
cultivo em canteiros, incorpora-se a biomassa com arado e faz-se a gradagem para um adequado
preparo de canteiros.

• P.S.: Havendo interesse do agricultor em aproveitar a produção de espigas de milho verde, para
fins comerciais antes de incorporar a biomassa, torna-se necessário proceder o semeio das duas
espécies simultaneamente, para evitar o abafamento da mucuna sobre o milho. A produção de
biomassa de mucuna será menor, porém trará benefícios importantes para o sistema.

Adubação verde exclusiva de outono/inverno:

Esse tipo de adubação é mais recente e teve incremento a partir dos trabalhos de Miyasaka (
1971 ) que avaliou, em São Paulo, a utilização de leguminosas durante o outono/inverno na
entressafra de culturas comerciais de verão. A constatação de que grandes áreas na região
Sul do Brasil permanecem sem utilização durante o período de inverno (somente no Rio
Grande do Sul e no Paraná somam 9 e 5 milhões de hectares), sujeitas à ação da erosão, à
lixiviação de nutrientes e à proliferação de invasoras, contribuiu para a rápida difusão dessa
modalidade de adubação verde.

Nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, as principais espécies
utilizadas são a aveia-preta, o azevém, o nabo forrageiro, os tremoços, o chícharo, as
ervilhacas, a serradela e a gorga. A época da semeadura desses adubos verdes varia de
março a junho. Na região sudeste, os adubos verdes mais utilizados são as aveias, o
161
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

tremoço, a Crotalaria juncea e a mucuna-preta, com época de semeadura compreendida


entre fevereiro e abril.

Entre as vantagens dessa modalidade de adubação destacam-se a proteção de áreas


normalmente ociosas, o controle da erosão, a diminuição da infestação de ervas invasoras,
a redução de perdas de nutrientes por lixiviação, o aporte de nitrogênio –quando utilizadas
leguminosas – a possibilidade de utilização de adubos verdes com potencial forrageiro na
alimentação animal e o fornecimento de cobertura morta para preparos convencionais do
solo. O somatório dessas vantagens faz com que esse tipo de adubação verde seja
atualmente o mais empregado na região Sul do Brasil.

Adubação verde consorciada:

Nessa modalidade, o adubo verde é semeado na entrelinha da cultura comercial, sem haver,
portanto, o inconveniente da suspensão das culturas em parte do ano agrícola. Esse sistema
adapta-se principalmente às pequenas propriedades nas quais a utilização do solo é a mais
intensa possível.

A utilização da adubação verde consorciada com hortaliças deve ser feita criteriosamente, de
maneira a evitar que o adubo verde possa vir a competir com a cultura comercial,
ocasionando, inclusive, redução na produtividade. Isso pode se verificar, especialmente, em
períodos de deficits hídricos coincidentes com a fase crítica de necessidade de água da
cultura.

As principais vantagens desse sistema são a utilização intensiva do recurso solo, o eficiente
controle da erosão e a redução da infestação de invasoras e das temperaturas máximas da
superfície do solo, favorecendo a atividade biológica e o desenvolvimento vegetal.

Adubação verde em faixas:

Nesse sistema, alocam-se faixas onde são plantados os adubos verdes, permanecendo o
restante da área cultivada com a cultura comercial. Nos anos seguintes, as faixas são
deslocadas, com o objetivo de gradualmente ir promovendo a melhoria do solo de toda a
propriedade.

Uma variação desse sistema é o plantio de leguminosas perenes em faixas que são
mantidas fixas, podendo ser utilizadas periodicamente, na alimentação animal, através de
cortes ou distribuídas na área de cultivo comercial, visando-se à cobertura do solo e à
economia da adubação nitrogenada (caso do sistema Alley Cropping).

Outra variação conhecida é o emprego de plantios de interesse comercial, intercalares com


faixas de adubo verde, com alternância das faixas a cada ciclo cultural. Como ilustração
desse exemplo, apresentamos na Figura 35, o cultivo de abóbora de moita em faixas
intercalares de aveia comum, realizado por um agricultor orgânico de Canellones – Uruguai.
A cada cultivo, o adubo verde alterna-se com outras culturas comerciais da rotação pré-
estabelecida.
162
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 35: Produção orgânica de abóbora de moita em túneis baixos, em


faixas intercalares de aveia comum. Canellones – Uruguai.

Além dessas formas descritas anteriormente, ROWE & WERNER (2000) apresentam uma
descrição de como proceder para empregar a técnica conhecida como “coquetel de adubos
verdes”, que vale a pena conhecer e utilizar. Para tanto, suas proposições estão detalhadas
abaixo:

Coquetel de adubação verde


Entre as técnicas para regenerar a fertilidade do solo a adubação verde e o pousio são as mais utilizadas. A
associação destas duas técnicas pode ser feita através de um coquetel de adubos verdes, tal como um pousio,
porém utilizando-se plantas mais eficientes na produção de massa verde. Esta técnica foi desenvolvida pelo
Instituto Biodinâmico, de Botucatu, São Paulo.

A prática consiste num consórcio em que se misturaram espécies de plantas de diversas famílias e finalidades,
de modo a se obter a maior diversidade possível. Cada tipo de planta vai crescer no seu ritmo e do seu modo,
algumas mais precoces e outras mais tardias, na vertical ou na horizontal. As raízes de algumas vão explorar a
superfície do solo, outras crescerão em profundidade. Então ao final a diversidade promove maior eficiência de
uso da luz solar e maior volume de raízes em diferentes profundidades. As diferentes espécies possuem
diferentes exigências nutricionais e diferentes habilidades em extrair os nutrientes, ocorrendo uma
complementação entre as plantas que crescem na mesma área. Assim também ocorre posteriormente uma
maior reciclagem de nutrientes. Com o coquetel é possível obter uma rápida cobertura do solo, que vai também
permanecer por mais tempo, auxiliando muito o manejo de ervas espontâneas.

No momento adequado a massa vegetal poderá ser incorporada ou acamada para servir como cobertura do
solo, tornando-se fonte de material orgânico rico em elementos que ficarão a disposição do próximo cultivo.
Esta prática não tem o inconveniente de ser uma monocultura. Também é possível obter alguma renda da área
com a colheita de algumas espécies (milho, girassol, sementes de adubos verdes, forragem, etc.).

163
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Modo de fazer o coquetel

♦ Quando necessário, preparar o solo com operações de aração e gradagem.


♦ Misturar as sementes e se preciso, fazer antes a inoculação com inoculante específico para cada tipo de
leguminosa.
♦ Adicionar 5 kg de fosfato natural para cada 100 kg de sementes, com água suficiente para fixar o produto e
deixar secar por algumas horas.
♦ Semear a lanço numa densidade de aproximadamente 100 kg/ha e incorporar com rastelo ou grade leve.
Não é necessário fazer adubação de cobertura e nem capina.

A massa verde deve ser roçada e deixada sobre o solo como cobertura morta no momento do início do
florescimento da mucuna preta (± 150 dias), quando se obtém a máxima produção de massa verde da mistura.
Para se obter uma decomposição mais rápida, roça-se antes. Para mais lenta, roça-se depois.

A quantidade de massa verde a ser produzida varia de 50 a 70 t/ha (acima de 20 t/ha já é considerado bom),
podendo atingir em alguns casos até 120 a 150 t/ha. A produção normal de uma espécie isolada varia entre 25-
30 t/ha de massa verde (mucuna, por exemplo). Portanto, com a prática do coquetel, podemos obter mais que o
dobro de produção de massa verde na mesma área. Convém ressaltar novamente que toda esta massa verde
retornará ao solo, sendo seus nutrientes reciclados pelos microrganismos.

Os efeitos benéficos do coquetel de adubação verde de verão, sobre o cultivo de hortaliças, persistem por mais
de um ano, eliminando ou reduzindo o uso de outras fontes orgânicas em algumas situações.

As espécies e quantidades citadas nas Tabelas 50 e 51 são oferecidas como sugestão para um coquetel de
adubação verde de verão ou de inverno, mas cada situação requer o seu “ajuste” próprio para o local. Cada
caso é um caso e somente o agricultor no seu pedaço de terra saberá como agir melhor.

Tabela 50: Coquetel de adubação verde de verão.

Espécies principais

Família Nome científico Nome comum kg/ha


- Gram. Zea mays Milho (porte alto) 24
- Leg Stizolobium aterrum Mucuna preta 16
- Leg Canavalia brasiliensis Feijão de porco 16
- Leg Dolichos lab-lab Lab lab 12
- Leg Cajanus cajan Gandu 10
- Com Helianthus annus Girassol 8
- Leg Crotalaria juncea Crotalária 5
- Pol Ricinus communis Mamona 5
- Leg Vigna unguiculata Feijão catador 4
- Grã Panicum miliaceum Painço 4
- Leg Leucena leucena Leucena 2
- Leg Tephrosia cândida Tefrósia 1

Espécies opcionais

- Leg Canavalia obtusifolha Feijão bravo 8


- Leg Crotalaria ochoroleuca Crot. Africana 5
- Leg Calopogonio mucunoides Calopogônio 4
- Leg Crotalaria anageroides Anageróides 3
- Gram. Pennisetum typhoideum Milheto 2
- Pol Fogopirum esculentun Trigo serraceno 2
Fonte: Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural, Botucatu – SP.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 51: Coquetel de adubação verde de invermo.

Espécies principais

Família Nome científico Nome comum kg/ha


- Gramíea Avena strigosa Aveia preta 15
- Gramínea Secale cereale Centeio 20
- Brássica Raphanus sativus Nabo forrageiro 1
- Leguminosa Vicia sativa Ervilhaca comum 5
- Leguminosa Lupinus albus Tremoço branco 15
- Leguminosa Pisum sativum Ervilha forrageira 30
- Leguminosa Lathiyrus sp. Vicão 20
- Cariofilácea Spergula arvensis Gorga ou espérgula 2
Fonte: Sugestão da EPAGRI/Estação Experimental de Ituporanga para o Alto Vale do Itajaí.

165
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.7. Rotação, Sucessão e Consorciação de culturas

3.7.1. Rotação e sucessão:

Um dos aspectos mais importantes em sistemas orgânicos de produção é a exploração


equilibrada solo, o que se consegue através do emprego de práticas como a alternância de
culturas numa mesma área, através da sucessão vegetal, levando a praticar também a
rotação de culturas entre as diversas unidades de solo de uma propriedade agrícola.

Essas práticas conjugadas permitirão explorar os nutrientes do solo de maneira mais


racional, evitando seu esgotamento, uma vez que pode-se alternar culturas mais exigentes
com culturas menos exigentes em nutrientes (rústicas), além de explorarem seções
diferentes do solo pela diferença na estrutura radicular.

Outro fator decisivo é evitar o acúmulo de inóculos de organismos patogênicos, que atacam
as monoculturas de forma constante, uma vez que as sucessões vegetais provocarão uma
quebra do ciclo biológico desses organismos pela alternância de espécies diferentes,
especialmente com características fitossanitárias distintas. Como exemplo, destacamos que
o plantio de espécies de solanáceas (Tomate, Batata, Pimentão, etc.), em sucessão numa
mesma área, pode elevar a incidência de patógenos de solo e foliares nestas culturas.

VIEIRA (1999), estudando sistemas de rotação para a cultura da Batata, conclui que os
sistemas rotacionais, comparados ao monocultivo, apresentaram superioridade incontestável
quanto à produtividade e qualidade dos tubérculos (Tabela 52). Além disso, observa que a
monocultura aumenta drásticamente a incidência de sarna, afetando diretamente a qualidade
dos tubérculos.

Tabela 52: Rendimento de tubérculos de batata em três sistemas de cultivo.


Epagri/EEU, 1999.
Rendimento de tubérculos comerciais (t/ha)
Sistemas de cultivo Índice comparativo (%)
1996 1997 1998 Média*
Sem rotação 14.5 5.8 7.2 9.2 b 100

1 ano de rotação 19.3 12.2 19.8 17.1 a 186

2 anos de rotação 19.3 12.3 18.7 16.8 a 182


* Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5%.

Para o plano de uso numa área para cultivo orgânico de hortaliças, SOUZA (2002)
recomenda que a área seja dividida em talhões e cada um dividido em 4 faixas de solo (A, B,
C e D), todas separadas por corredores de refúgio de 2,0 m de largura, de forma que
alternando-se 3 grupos de cultivo (Hortaliças de Flores/frutos, Raízes/Tubérculos e

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Folhosas), num ciclo cultural máximo de 6 meses, teremos a revitalização do solo com
Pousio e/ou Adubação verde, sempre após 3 semestres com cultivos comerciais, ou seja, a
cada um ano e meio, em média. Além disso, praticamos cultivos comerciais distintos em
cada faixa, explorando uniformemente o solo, conforme o exemplo na Tabela 53.

Tabela 53: Sucessão e rotação cultural por grupos de cultivo, durante 2 anos.
TALHÕES FAIXAS GRUPOS DE CULTIVO PERÍODO
Pousio/Adubação verde 1º semestre
Faixa A Flores e Frutos 2º semestre
(400 m2) Raízes e Tubérculos 3º semestre
Folhosas 4º semestre

Folhosas 1º semestre
Faixa B Pousio/Adubação verde 2º semestre
(400 M2) Flores e Frutos 3º semestre
Raízes e Tubérculos 4º semestre
Talhão
(1600 m2)
Raízes e Tubérculos 1º semestre
Faixa C Folhosas 2º semestre
(400 M2) Pousio/Adubação verde 3º semestre
Flores e Frutos 4º semestre

Flores e Frutos 1º semestre


Faixa D Raízes e Tubérculos 2º semestre
(400 M2) Folhosas 3º semestre
Pousio/Adubação verde 4º semestre

Uma outra forma de planejamento de áreas para uso sustentável na produção de hortaliças
foi descrita por KHATOUNIAN (2001), assim: recomenda-se intercalar a produção de
hortaliças com a produção de espécies de enraizamento denso e palhada abundante, para o
que as melhores espécies são gramíneas como o milho, o milheto e o sorgo vassoura, para o
verão, e as aveias pretas ou o centeio para o inverno. O terreno pode ser dividido em um
número de talhões, que recebe periodicamente a cultura de palhada (Figura 36). Por
exemplo, onde a principal estação de hortaliças é o inverno, pode-se reservar o verão para o
milho ou milheto, em área total ou pelo menos metade da área. Analogamente, pode-se
ocupar o terreno com aveia, se o verão é a principal estação para as hortaliças. Esse tipo de
rotação tem sido chamada de rotação de talhão.

173
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A – Recuperação anual de ¼ da área, no verão.

verão Inverno Verão inverno

horta horta horta horta descanso horta horta horta

descanso horta horta horta horta horta horta horta

Ano 1 Ano 2

B – Recuperação anual de ½ da área, sendo ¼ no verão e ¼ no inverno.

verão Inverno Verão inverno

horta horta horta descanso descanso horta horta horta

descanso horta horta horta horta horta horta descanso

Ano 1 Ano 2

Figura 36: Rotação de talhões em olericultura.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.7.2. Consorciação:

O consórcio de plantas, se apresenta como um dos métodos mais adequados à prática da


olericultura, em moldes agroecológicos, com inúmeras vantagens no aspecto ambiental,
produtivo e econômico.

Uma boa descrição do sistema de cultivos consorciados é apresentada por DEBARBA


(2000), que caracteriza a consorciação, quando são plantadas duas ou mais culturas, na
mesma área e ao mesmo tempo.

A consorciação de culturas busca uma maior produção por área, pela combinação de plantas
que irão utilizar melhor o espaço, nutrientes, área e luz solar, além dos benefícios que uma
planta traz para a outra no controle de ervas daninhas, pragas e doenças. Todas estas
questões técnicas, estão aliadas a uma maior estabilidade na oferta de produtos e segurança
no processo produtivo (Figura 37).

No consórcio há várias formas de combinar as plantas. O plantio pode ser em linha ou em


faixa. Na linha ou na faixa, pode-se plantar uma única cultura ou intercalar outras. Ao
planejar a consorciação deve-se lembrar:

• Definir qual é a cultura mais importante.


• Plantas que têm bastante folhas e que produzem sombra, poderão ser associadas com
plantas que gostam de sombra.
• Combinar plantas que têm raízes que se aprofundam na terra com plantas com raízes
mais superficiais.
• Associar plantas que têm bastante folhas com outras que têm poucas.
• Combinar plantas de ciclo longo com as de ciclo curto.
• Associar plantas com diferentes formas de crescimento.
• Observar o sinergismo entre as espécies, ou seja, plantas que se desenvolvem melhor,
quando associadas a outras (Tabela 54).
• Combinar plantas com diferentes exigências nutricionais e água, conforme a classificação
abaixo:

Classificação de hortaliças e outras espécies, quanto à exigência nutricional e água:

Grupo 1 (mais exigentes): Alface, almeirão e chicória; couve, brócole, repolho, couve-flor,
rúcula e outras crucíteras; cenoura, funcho, salsinha, salsão;
ervilha torta, feijão-de-metro, vagem; pepino e abobrinha italiana;
espinafre; cebolinha, cebola, alho porró;

Grupo 2: (média exigência): pimentas, jiló e berinjela; ervilha de grão verde e feijão
fradinho; batata-doce; quiabo e vinagreira; milho; abóboras, chuchu; aveia
preta;

Grupo 3: (baixa exigência): guandu; cará; adubos verdes e sorgo vassoura.


Fonte: DEBARBA (2000).

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Figura 37: Em ambas ilustrações, verifica-se da esquerda para a direita, os


seguintes consórcios: Acima, verifica-se um consórcio de couve
chinesa/repolho X alface/beterraba X repolho verde X repolho roxo X alface X
couve chinesa, na fazendinha ecológica da EMBRAPA – Rio de Janeiro.
Abaixo, percebe-se um consórcio de cebolinha X alface X cenoura X alface
roxa X cenoura, na fazenda luiziânia – Minas Gerais. Belíssimas paisagens!

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Tabela 54: Associações de Plantas mais desejáveis para a realização de consórcios. Fonte: DEBARBA (2000).
Culturas Companheiras Antagonistas
beneficiadas
Abóbora ∗ milho, vagem, acelga, taioba, chicória, amendoim, nastúrcio, borragem batata
Alface ∗ cenoura, rabanete, morango, pepino, alho-poró, beterraba, rúcula, abobrinha, salsa, girassol
tomate, cebola
Alho-poró ∗ cenoura, tomate, salsão, cebola, alho, morango, couve, alface feijão, ervilha
Aspargo ∗ tomate, salsa, manjericão, malmequer, pepino, alface cebola, alho, gladíolos
Bardana ∗ funcho, cenoura
Batata ∗ feijão, milho, repolho, rábano, favas, ervilha, couve, alho, berinjela (isca), urtiga, raiz- abóbora, pepino, girassol,
forte, cravo-de-defunto, linho, hortelã, nastúrcio ◊ caruru tomate, maçã, framboesa,
abobrinha
Berinjela ∗ feijão, vagem
Beterraba ∗ couve, rábano, alface, nabo, vagem, repolho, cebola vagem
Café ∗ seringueira, bananeira, urucum kiri
Cebola ∗ beterraba, morango, camomila, tomate, cenoura, pepino, couve ervilha, feijão
segurelha, alface ◊ caruru
Cebolinha ∗ cenoura ervilha, feijão
Cenoura ∗ ervilha, alface, manjerona, rabanete, tomate, cebola, cebolinha, bardana, alho-poró, endro
alecrim, sálvia, linho, acelga
Couve ∗ cebola, batata, salsão, beterraba, camomila, hortelã, endro, artemisia, sálvia, framboesa, tomate, vagem,
alecrim, menta, tomilho, nastúrcio, alface rúcula
Couve-chinesa ∗ vagem
Couve-flor ∗ salsão rúcula
Ervilha ∗ cenoura, nabo, rabanete, pepino, milho, feijão, abóbora, couve-rábano, milho doce, Cebola, alho, batata,
couve, alface, abobrinha gladíolos
Espinafre ∗ morango, feijão, beterraba, couve-flor, tomate, batata, couve
Feijão ∗ milho, batata, cenoura, pepino, couve-flor, repolho, ervas aromáticas, couve, petúnia, alho-poró, funcho,
alecrim, segurelha, nabo, beterraba gladíolos, alho, cebola,
salsão
Fumo ∗ soja tomate
Frutíferas ∗ tanásia1, nastúrcio2
Girassol ∗ pepino, feijão batata, linho

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Tabela 55: continuação


Culturas Companheiras Antagonistas
beneficiadas
Laranjeira ∗ seringueira, goiabeira, feijão-de-porco
Maxixe ∗ quiabo, milho
Milho ∗ batata, ervilha, feijão, pepino, abóbora, melão, melancia, trigo, rúcula, nabo, gladíolos
rabanete, quiabo, maxixe, mostarda, feijão-de-porco, serralha, moranga,
girassol, tomate
◊ beldroega, caruru
Morango ∗ espinafre, borragem, alface, tomate, feijão branco repolho, funcho, couve
Mostarda ∗ milho
Nabo ∗ ervilha, milho, alecrim, hortelã tomate
Pepino ∗ girassol, feijão, milho, ervilha, alface, rabanete, repolho, cebola, beterraba batata, ervas aromáticas,
sálvia
Quiabo ∗ milho
Rabanete ∗ ervilha, pepino, agrião, cenoura, espinafre, vagem, chicória, cerefólio, milho, acelga
nastúrcio, alface, morango, couve, tomate, cebola
Repolho ∗ ervas aromáticas, batata, salsão, beterraba, alface, nastúrcio, hortelã, estragão, morango, tomate, vagem,
(brócolos) cebola, cebolinha, alho-poró, espinafre menjerona, rúcula
Rúcula ∗ chicória, vagem, couve-rábano, milho, alface salsa
Salsa ∗ tomate, aspargo, vagem, couve, pimenta, rabanete alface, rúcula
Serralha ∗ tomate, cebola, milho
Salsão ∗ alho-poró, tomate, couve-flor, couve, repolho, camomila
Taioba ∗ abóbora, leucena, milho
Sorgo gergelim, trigo
Tomate ∗ cebola, cebolinha, salsa, cenoura, calêndula, serralha, erva-cidreira, aspargo, couve-rábano, batata,
malmequer, menta, nastúrcio, urtiga, manjericão, borragem, cravo-de-defunto3, alho funcho, repolho, pepino,
feijão, fumo, milho.
Vagem ∗ milho, segurelha, abóbora, rúcula, chicória, acelga, rabanete cebola, beterraba, girassol,
couve-rábano
Cana-de-açúcar ∗ crotalária, gandu, feijão-fradinho
Mandioca ∗ melancia, abóbora
∗ Favorece o crescimento e acentua o sabor, ◊ ajuda a recompor o solo
1Nastúrcio, conhecido como capuchinha, chagas (Tropaeolum majus)
2Tanásia ou atanásia conhecida como catinga de mulata (Tanacetum vulgare)
3Cravo de defunto ou tagetes, calêndula, são as plantas mais ativas na luta contra insetos e semeia-se em toda a horta.

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3.8. Cobertura morta (“mulching”)

3.8.1. Cobertura morta com palha:

A cobertura morta é uma prática cultural pela qual se aplica, ao solo, material orgânico como
cobertura da superfície, sem que ele seja incorporado. Através dela procura-se influenciar
positivamente as qualidades físicas, químicas e biológicas do solo, diminuindo a erosão e
criando condições ótimas para o crescimento radicular.

A prática de cobertura do solo é tradicionalmente recomendada em sistemas orgânicos, pois


permite evitar perdas excessivas de água, retendo a umidade do solo, diminuir o impacto da
chuva e diminuir o excesso de temperatura do solo, além de enriquecer o solo com
nutrientes após a decomposição do material, permitindo melhorar o desempenho das
culturas. Também, em áreas de cultivo protegido, esta prática pode proporcionar todos
benefícios citados, exceto a proteção contra impactos de chuvas – verifique a ilustração da
Figura 38.

Figura 38: Cobertura morta com capim triturado (alta relação C/N) em cultivo
orgânico de repolho. Área Experimental – INCAPER – ES.

Caracterização dos materiais mas usados:

- Restos de culturas, palhadas, capim elefante, cameron ou napiê picados


(plantados ou não para esta finalidade), até varreduras de jardim e sobras de
podas de árvores e arbustos (triturados).
- A relação C/N do material deve ser alta para que sua decomposição seja lenta,
sendo que o material mais grosseiro (cana de milho, por exemplo) deve ser
retirado para facilitar capinas futuras.
- Tomar cuidado para não utilizar material com sementes de ervas invasoras.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

- Avaliar os benefícios e os custos no emprego da cobertura morta para cada cultura


comercial. Muitas vezes o retorno econômico é pequeno e compensa fazer a
proteção do solo com cobertura viva (ervas nativas).
- Alguns materiais (cavaco de madeira, cascas de árvores, etc) podem ser
alelopaticamente inibidores ou até fitotóxicos para algumas espécies.
- A cobertura morta com materiais com alta capacidade de fermentação (como a
palha de café) deve ser cuidadosa para não provocar prejuízos ou diminuir a
produção pela competição por Nitrogênio.

Espessura das camadas:

A quantidade de material orgânico a ser aplicado em uma determinada área deverá ser o
suficiente para promover uma cobertura que permita a proteção completa do solo, levando à
retenção de umidade, observando-se atentamente a compensação de retorno econômico
obtido com a cultura comercial em questão. De maneira geral, quanto mais fino for o
material, menor poderá ser a espessura da camada, pois melhor ela se assentará sobre o
solo. Portanto, na prática, recomenda-se uma camada de 5 a 10 cm para materiais finos e de
10 a 15 cm para os mais grosseiros.

Època de aplicação:

Em relação ao clima, é recomendável empregar a cobertura morta antes de períodos


chuvosos para um melhor efeito no controle da erosão e proteção do solo. Por outro lado, a
utilização da cobertura no período de inverno (época seca) conduz à obtenção de efeitos
positivos sobre o desenvolvimento de hortaliças, pela retenção de umidade no solo.

Dependendo da espécie e da textura do material, a cobertura morta pode ser aplicada antes
da emergência das sementes. (Palha de pinus em alho, Casca de arroz em cenoura) ou
depois das plantas estarem estabelecidas no campo, permitindo uma aplicação ao redor das
plantas ou nas entrelinhas de plantio.

Observem na Tabela 55, a seguir, os efeitos da cobertura morta com casca de arroz na
cultura da cenoura, em cultivo de verão em região de altitude. Verifica-se que a cobertura
favoreceu o stand final (+27%), a produtividade comercial (+45%), o peso médio(+13%) e o
diâmetro médio(+10%) de raízes, quando comparado à testemunha, sem cobertura.

Cobertura morta gerada no próprio local:

Uma das melhores alternativas, em sistemas orgânicos de produção, é a geração de


biomassa para cobertura morta, através do manejo da vegetação espontânea em períodos
de pousio. Na ilustração da Figura 39, percebe-se a camada de matéria orgânica produzida
pela vegetação local, em um curto período de descanso do solo. Basta proceder uma
roçagem deste material, deixar acamar sobre o solo por uma semana e praticar o plantio
direto de uma hortaliça. Sistema barato, simples e que preserva o colo protegido a maior
parte do ano.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 55: Efeitos de formas de aplicação de composto orgânico e da cobertura morta


em cultivo orgânico de cenoura, no verão.
Tratamentos Nº raízes Produtividade Peso médio Diâmetro médio
por parcela comercial (Kg/ha) (g) (cm)

Incorporado SEM 22 a 7769 bc 71 bc 3.1 bc


cobertura

Incorporado COM 28 ab 11281 ab 80 ab 3.4 a


cobertura

Superficial 20 b 6831 c 66 c 2.9 c

Localizado 35 a 14 894 a 84 a 3.3 ab


Fonte: SOUZA (1996).

Figura 39: Manejo da vegetação espontânea, em períodos de pousio, podem


proteger o solo e gerar biomassa para cobertura morta no próprio
local, a baixo custo.

3.8.2. Cobertura morta com plástico:

A proteção do solo ( canteiros, camalhões, etc.), com plástico, tem permitido reduzir as
perdas de Nitrogênio por lixiviação e volatilização, tornando-o mais disponível às
culturas. Em observações preliminares, verificou-se um acréscimo de produtividade
significativo na cultura do Alho ( Tabela 56) e no Tomate (Tabela 57), conforme apresentado
adiante (SOUZA, 2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 56: Avaliação comparativa da cobertura de canteiros com plástico preto e palha de pinus na cultura do alho.1

Total Comercial
Tratamentos Nº Peso Nº Produtivi- Peso Médio Diâmetro Diâmetro Razão
Bulbos/ (Kg/ha) Bulbos dade (g) Médio(cm) Talo (cm) Bulbar
amostra (Kg/ha)

Plástico 36b 15.025a 34a 14.920a 43a 4,8a 0,7a 0,14a


Palha Pínus 42a 10.990 b 30b 9.450 32 b 4,2 b 0,6 b 0,14a
C.V.% 3,4 10,3 5,2 11,6 11,1 3,6 10,4 9,2
1 Fonte: SOUZA (2002).

Tabela 57: Avaliação dos efeitos da cobertura de solo com plástico preto na cultura do tomate.1

Tratamentos Total Comercial

Nº Peso Nº Produção Comp. ∅ P.M R B M D

Plástico Preto (A) 623664 56754 387376 53505 6,3 5,8 4,7 12,3 3,2 0,5 3,4

Teste (B) 580123 37406 273736 35819 5,8 4,6 6,5 11,6 2,6 1,2 1,3

Relação A/B - 1,52 - 1,49 - - - - - - -


1 Fonte: SOUZA (2002).

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3.9. Manejo e controle de ervas

3.9.1. Manejo:

Em sistemas orgânicos de produção, a vegetação local, muito importante para o equilíbrio


ecológico dos insetos, deve ser manejada adequadamente, pois provoca perdas muito
grandes de rendimento comercial em várias culturas. Observando a Tabela 58, podemos
verificar a perda de produtividade com o aumento do intervalo de capinas, numa cultura
considerada relativamente rústica, de boa capacidade competitiva, como o inhame.

TABELA 58: Períodos de capina na cultura do inhame em sistema orgânico de


produção.
Comerciais (dedos)
Períodos
de Capina Stand N0 Produtividade Peso Comp. Diâmetro Médio N0 Dedos/
Final Dedos médio Médio Cabeças

(Kg/ha) (g) (cm) (cm)

15 38 a 227 18.548 a 111 8.1 5.2 6.1 a

30 34 ab 205 13.628 b 92 7.2 4.9 6.1 a

45 33 abc 127 7.739 c 82 5.0 3.8 3.8 b

60 26 bcd 95 4.945 d 70 6.8 4.8 3.6 b

75 23 d 70 3.548 d 70 6.6 5.2 3.0 b

90 24 cd 68 3.217 d 64 6.8 5.4 2.9 a

105 14 e 16 1.002 e 48 3.9 3.6 0.8 c

120 12 e 6 248 e 37 4.2 3.2 0.4 c

Fonte: SOUZA (1996).

Observe que, mesmo para períodos curtos entre capinas, a perda foi significativa, ou seja,
em capinas de 15 em 15 dias a produção de inhame foi de 18.548 kg/ha e de 30 em 30 dias
reduziu para 13.628 kg/ha.

Diante disto, sugere-se práticas de manejo da vegetação espontânea, que permitam o


convívio com as ervas, sem danos econômicos. Recomenda-se a capina em faixas, desde o
início do ciclo cultural (Figura 40) ou durante o ciclo da cultura (Figura 41), de forma a evitar
a presença de ervas próximas à zona de raiz da cultura de interesse comercial, deixando-se
uma estreita faixa de vegetação apenas nas entrelinhas do plantio.

Para culturas que exigem a prática de encanteiramento, deve-se retirar toda vegetação
espontânea sobre o leito do canteiro, para não haver competição por água, luz ou nutrientes.
Entretanto, para proporcionar ambientes que sirvam de refúgio para predadores de pulgões,

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ácaros e tripes – principalmente, recomenda-se a manutenção da vegetação espontânea


entre os canteiros da cultura, conforme a ilustração de um campo de morango orgânico,
apresentada na Figura 42.

Figura 40: Preparo mínimo do solo, em faixas, para Figura 41: Capina manual, em faixa, na cultura de
plantio de pimentão, mantendo-se os corredores de brócolis – redução de mão-de-obra, sem perda de
refúgio, desde o início da cultura. rendimento comercial.

Figura 42: Manutenção da vegetação espontânea entre os canteiros –


fundamental para o equilíbrio ecológico e redução de problemas com
pragas.

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3.9.2. Controle:

Para áreas que apresentam alta infestação de ervas invasoras persistentes, como a Tiririca
(Cyperus rotundus), Trevo (Oxalis latifolia) e Beladona (Artemisia verlotorum), o cultivo de
hortaliças, especialmente em canteiros, é extremamente dificultado em sistemas orgânicos,
visto que não se permite o emprego de herbicidas sintéticos que provocam contaminação ao
meio ambiente, principalmente ao solo e à água.

Assim sendo, o controle dessas ervas através da técnica de solarização do solo, pode ser
uma alternativa eficaz. Esta técnica consiste no uso de plástico em cobertura sobre o solo,
após ter sido preparado e saturado com irrigação, deixando o mesmo coberto por um período
mínimo de 40 dias. Para maior eficiência de controle, recomenda-se a solarização no período
de verão em regiões de altitude (Janeiro e Fevereiro), uma vez que se obtém maiores
temperaturas sob o plástico, podendo assim controlar até 100% da população de tiririca de
uma determinada área. A solarização, realizada no período do inverno, especialmente em
regiões de altitude, não permitem a formação de uma bolsa de calor intenso abaixo da lona
(acima de 50ºC), não controlando eficazmente as ervas.

Observe na Tabela 59 que a solarização por 45 dias permitiu alcançar temperaturas de até
54 graus sob o plástico, o que possibilitou o controle total da tiririca e a beladona logo após a
retirada do plástico (Figura 43). O acompanhamento da emergência dessas ervas até 6
meses (180 dias) demonstrou ausência total para estas duas espécies (SOUZA, 2002).

Tabela 59: Efeito da solarização do solo, por 45 dias, sobre o desenvolvimento de


ervas ao 0, 90 e 180 dias após plantio – período do verão.
ERVAS*
Tratamentos t(ºC)
Tiririca Trevo Beladona
0 90 180 0 90 180 0 90 180
Testemunha 3 1 2 2 1 1.5 1 1 0.5 34

Plático Preto 0 0 0 0 1 1 0 0 0 52

Plástico transparente 0 0 0 0 1 1 0 0 0 54
*O nível de infestação foi avaliado por notas de 0 a 3 (0=ausência; 1=baixo; 2=médio e 3=alto.

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Figura 43: Área submetida a solarização (à esquerda) e área testemunha (à direita)


– Área Experimental de Agricultura Orgânica do INCAPER – Domingos
Martins – ES.

O emprego de sistemas de rotação de culturas olerícolas com algumas espécies de adubos


verdes, podem retardar o crescimento de ervas espontâneas, mantendo-as num nível
populacional que permita o convívio sem danos econômicos. Como exemplos, cita-se o feijão
de porco como inibidor da tiririca, por efeitos alelopáticos dos exudatos de suas raízes, e a
mucuna preta, por efeito de ‘abafamento’, pelo seu vigoroso crescimento vegetativo.

O controle também pode ser realizado de forma manual ou mecanizada, ou utilizando-se de


produtos alternativos – alguns já disponíveis no mercado.

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3.10. Água e Irrigação em sistemas orgânicos


3.10.1 Qualidade da água:

A qualidade da água para irrigação em propriedades orgânicas deve ser a primeira


preocupação na atualidade, devido à poluição das fontes de superfície, por resíduos
industriais (metais pesados, cloro, fenóis, álcalis e outras substâncias químicas), por
resíduos municipais (esgoto e lixo urbano), e por resíduos agrícolas (agrotóxicos, nitratos de
adubos solúveis, materias fecais, etc.). As águas subterrâneas também estão sendo
poluídas, principalmente por herbicidas, nitratos e materiais fecais. Águas poluídas, com
excesso de sais e cloriformes fecais, são de uso proibido em agricultura orgânica.

Portanto, recomenda-se utilizar águas de fontes não contaminadas, tanto de superfície como
subterrânea; inspeções e análises de qualidade devem ser feitas sempre que houver
suspeita de contaminação; proteção de mananciais, pela preservação da cobertura vegetal
natural; proteção de lagos, represas e rios contra resíduos e contra agrotóxicos trazidos pelo
vento de áreas convencionais próximas e por enxurradas, que também podem carrear
resíduos de adubos químicos e materiais fecais.

3.10.2. Quantidade de água:

Pelo severo processo de desmatamento realizado há décadas atrás, associado à grande


perda de biodiversidade nos agroecossistemas, o volume de água tem diminuído
substancialmente, tornando-se um fator crítico em algumas regiões do Brasil.

Em propriedades orgânicas, recomenda-se adotar o sistema de caixas secas em estradas e


carreadores, como forma de:
• Controlar a erosão.
• Conservar estradas e carreadores.
• Retardar o escoamento superficial e aumentar a infiltração das águas das chuvas.
• Evitar assoreamento de leitos de rios e lagos.
• Reintroduzir esta água no lençol freático.
• Disponibilizar esta água para manutenção das nascentes durante o ano todo,
proporcionando estabilidade na vazão.

O sistema de caixas secas inicia-se com um diagnóstico das estradas que servem a
propriedade, fazendo uma medição da extensão, largura, e porcentagem de inclinação. Com
estes dados, mais a precipitação média e a probabilidade de chuvas pesadas na região,
calcula-se a distância entre as caixas e o tamanho das mesmas.

O passo seguinte é a localização das caixas nas estradas da propriedade, e em seguida a


escavação com máquina tipo retro escavadeira. A terra que é extraída dos buracos pode ser
utilizada dentro da estrada para criar grandes lombadas, as quais servem de barreira para a
água, desviando a mesma para serem coletadas nas caixas. O princípio de ação do sistema
de caixas secas é não deixar a água ganhar volume e nem velocidade.

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3.10.3. Irrigação:

Quanto aos métodos de irrigação a serem empregados, de maneira geral o sistema de


irrigação por aspersão se aplica para a maioria das espécies hortícolas cultivadas
organicamente. Entretanto, para culturas como a Batata e o Tomate, que são sensíveis a
doenças foliares causadas por fungos, principalmente a requeima, torna-se necessário
empregar irrigações por infiltração (sulcos ou mangueiras) ou por gotejamento, uma vez que
se evita molhar as folhas e se diminui a umidade relativa no ambiente, conseguindo-se
assim, diminuir bastante a multiplicação de doenças foliares, aumentando a produção da
cultura (Figura 44).

Figura 44: Irrigação por aspersão em propriedade orgânica do Sr. Almerindo Uhlig – município de Santa Maria
de Jetibá – ES (esquerda) e irrigação por infiltração realizado por mangueiras na cultura da batata –
redução de problemas fitossanitários (direita).

Observações em campos de produção orgânica de hortaliças, tem demonstrado que


pequenas variações na umidade relativa do ar (2 a 3%) dentro da lavoura, tem alterado
significativamente o nível de infecção da mancha púrpura do alho (Alternaria porri) e da
requeima do tomate (Phytophthora infestans).

191
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.11. Manejo e controle alternativo de Pragas e


Doenças em hortaliças

3.11. 1. Manejo do sistema produtivo:

Em agricultura orgânica, o que se busca é o estabelecimento do equilíbrio ecológico e a


prevenção de problemas fitossanitários, através do emprego das técnicas que foram
descritas antes, como:

 A escolha de espécies e variedades resistentes;

 Manejo correto do solo;

 A adubação orgânica, com fornecimento equilibrado de nutrientes para as plantas;

 Manejo correto das ervas nativas;

 A irrigação bem feita e;

 Uso de rotação e consorciação de culturas.

Confirmando a elevada estabilidade e reduzidos problemas fitossanitarios em sistema


orgânico, observações realizadas por SOUZA (2002), permitiram comprovar que a grande
maioria das pragas e doenças que atacam as hortaliças, comuns em sistemas
convencionais, não se manifestam em nível de dano econômico.

Para as pragas, podemos citar como exemplo de problemas superados pelo próprio sistema:
pulgões em repolho, ácaro do chochamento em alho, broca do fruto em abóbora, ácaro em
batata baroa, pulgões em batata, dentre outros.

Para as doenças, a Tabela 60 comprova a grande estabilidade de sistemas orgânicos,


revelando a expressiva redução dos problemas com doenças fúngicas, bacterianas e
viróticas, de possível ocorrência nas principais espécies hortícolas.

194
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 60 : Monitoramento de doenças de hortaliças e nível de incidência, em sistema


orgânico de produção, ao longo de 10 anos.
INCIDÊNCIA
CULTURA DOENÇA/PATÓGENO NULA BAIXA MÉDIA ALTA

Abóbora Antracnose – Colletotrichum orbiculare X


Crestamento bacteriano – Xantomonas sp. X
Crestamento gomoso do caule – Didymella bryoniae X
Mancha de lternaria – lternaria sp. X
Mancha foliar – Rhagadolobium cucurbitacearum X
Mancha zonada – Leandria momordicae X X
Míldio – Pseudoperonospora cubensis X X
Mosaico – Vírus do mosaico do pepino; X
Oídio – Eurysiphe cichoracearum X X
Podridão dos frutos – Phytophthora capsici X
Podridão dos frutos - Pythium sp. X
Podridão mole – Erwinia sp. X X
Podridão preta dos frutos – Diplodia sp. X
Podridão seca dos frutos – Fusarium sp. X
Tombamento – Fusarium sp. X
Alho Bacteriose – Pseudomonas fluorescens biovar II X
Ferrugem – Puccinia allii X
Mancha púrpura – Alternaria porri X X
Mofo ou bolor cinzento no armazenamento – Penicillium sp. X
Mosaico – Vírus não caracterizado X
Nematóide – Ditylenchus dipsaci X
Podridão branca – Sclerotium cepivorum X
Podridão seca – Fusarium sp. X
Podridão de Sclerotinia – Sclerotinia sclerotiorum X
Queima das pontas – Botrytis sp. X

195
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Batata Canela preta ou talo oco – Erwinia carotovora X X


Enrolamento das folhas – Vírus X X
Mosaico leve – Vírus A da batata X X
Mosaico rugoso – Vírus Y da batata X X
Murcha bacteriana – Ralstonia solanacearum X X
Murcha ou podridão de Sclerotium – Sclerotium rolfsii X
Nematóides – Meloidogyne sp. X
Pinta preta ou mancha de lternaria – Alternaria solani X X
Podridão mole – Erwinia carotovora X
Podridão seca ou podridão de tubérculos – Fusarium sp. X
Requeima ou mela – Phytophthora infestans X X
Rizoctoniose – Rhizoctonia solani X X
Roseliniose – Rosellinia sp. X
Sarna comum – Streptomyces scabies X X X
Sarna pulverulenta – Spongospora subterranea X
Vírus S da batata X X
Vírus X da batata X X
Batata – Crestamento bacteriano – Xanthomonas campestris pv.
Arracacie
X X
baroa
Mancha foliar – Septoria sp. X
Mancha foliar – Cercospora arracacina X X
Murcha; Podridão de raízes – Sclerotinia sclerotiorum X X X
Nematóides – Meloidogyne sp. X X
Podridão – Sclerotium rolfsii X
Podridão de raízes – Rosellinia sp. X
Podridão mole – Erwinia sp. X
Batata-doce Ferrugem branca – Albugo ipomoeae-panduratae X
Podridão preta – Ceratocystis fimbriata X
Beterraba Mancha foliar – Cercospora beticola X X
Nematóide – Meloidogyne sp. X
Tombamento – Rhizoctonia sp. X

196
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cenoura Crestamento ou queima


campestris pv. Carotae
bacteriana – Xanthomonas X X
Nematóides – Meloidogyne sp. X
Podridão de raízes pós-colheita – Rhizopus sp. X
Podridão mole – Erwinia carotovora X X
Queima das folhas – Alternaria dauci X X X
Queima das folhas – Cercospora carotae X
Couve-flor Mancha de Alternária – Alternaria sp. X X
Mancha de Mycosphaerella – Mycosphaerella sp. X X
Míldio – Peronospora parasitica X
Mosaico – Vírus do mosaico da couve-flor X
Oídio – Oidium sp. X
Podridão de Sclerotinia – Sclerotinia sclerotiorum X X
Podridão mole – Erwinia sp. X X
Podridão negra das Crucíferas – Xanthomonas campestris
pv. Campestris
X X
Inhame Podridão de rizoma e raízes – Rosellinia sp. X
Morango Antracnose – Colletotrichum sp. X
Mancha angular – Xanthomonas fragariae X
Mancha de Dendrophoma – Phomopsis obscurans X
Mancha de Diplocarpon – Diplocarpon sp. X
Mancha de Mycosphaerella – Mycosphaerella fragariae X X
Mosqueado – Vírus do mosqueado do morangeiro X
Murcha de Verticillium - Verticillium sp. X
Nematóides – Meloidogyne sp. X
Podridão do fruto – Botrytis cinerea X X
Podridão do fruto – Rhizopus sp. X X
Pepino Antracnose – Colletotrichum sp. X
Mancha angular – Pseudomonas syringae pv. lachrymans X
Mancha zonada – Leandria momordicae X X
Míldio – Pseudoperonospora cubensis X X
Mosaico – Vírus do mosaico do pepino X
Oídio – Oidium sp. X X

197
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Pimentão Amarelo do pimentão – Vírus do broto crespo do tomateiro X


Antracnose – Coletotrichum gloeosporioides X
Mancha de Alternária – Alternaria sp. X
Mancha bacteriana
vesicatoria
– Xanthomonas campestris pv. X X
Mancha de Stemphylium – Stemphylium sp. X X
Mosaico – Vírus Y da batata X
Murcha ou requeima – Phytophthora capsici X
Murcha bacteriana – Ralstonia solanacearum X X
Nematóides – Meloidogyne sp. X
Podridão de Sclerotinia – Sclerotinia sclerotiorum X
Podridão do colo e raízes – Sclerotium rolfsii X
Talo oco e podridão mole – Erwinia carotovora subsp.
carotovora
X X
Mancha angular - Xanthomonas campestris pv. esculenti X
Mancha foliar - Cercospora sp. X X
Quiabo Mancha foliar – Ascochyta sp. X X
Murcha de Fusarium – Fusarium oxysporum X
Murcha de Verticillium – Verticillium sp. X
Nematóide – Meloidogyne sp. X X
Oídio – Erysiphe cichoracearum X X X
Tombamento – Rhizoctonia sp. X
Repolho Mancha de Mycosphaerella – Mycosphaerella brassicicola X X
Mancha foliar – Aternaria brassicae X X
Míldio – Peronospora parasitica X X
Podridão de Sclerotinia – Sclerotinia sclerotiorum X
Podridão mole e talo oco – Erwinia sp. X X
Podridão negra das Cruciferas – Xanthomonas campestris
pv. campestris
X
Tombamento – Rhizoctonia sp. X

198
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tomate Broto crespo – Vírus do broto crespo do tomateiro X


Cancro bacteriano – Clavibacter michiganensis subsp.
Michiganensis
X
Mancha de Stemphylium – Stemphylium sp. X X
Mancha foliar – Septoria lycopersici X X
Mofo cinzento – Botrytis cinerea X
Mosaico comum – Vírus do mosaico do tomateiro X
Murcha de Fusarium – Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici X
Murchadeira
solanacearum
ou Murcha bacteriana – Ralstonia X
Murcha de Verticillium – Verticillium sp. X
Nematóide – Meloidogyne sp. X X
Oídio – Oidium sp. X
Pinta bacteriana ou mancha bacteriana
Pseudomonas syringae pv. tomato
pequena – X
Pinta preta ou mancha de Alternária – Alternaria solani X X
Podridão de Sclerotinia – Sclerotinia sclerotiorum X
Podridão de Sclerotium – Sclerotium rolfsii X
Podridão mole dos frutos e talo oco – Erwinia carotovora X X
Pústula ou mancha bacteriana – Xanthomonas campestris
pv. vesicatoria
X
Requeima ou mela – Phytophthora sp. ; Pythium sp. X X
Topo amarelo – Vírus do topo amarelo do tomateiro X
Vira cabeça – Tospovirus a ser caracterizado X
Fonte: SOUZA (2002).

3..11.2. Manejo ecológico de pragas e doenças:

Vale lembrar que, antes de se lançar mão de métodos alternativos de controle, o emprego
dos princípios e conceitos convencionais do MIPD–Manejo Integrado de Pragas e Doenças,
também conhecido como MEPD–Manejo Ecológico de Pragas e Doenças, podem auxiliar de
forma marcante na definição das práticas de manejo e controle em sistemas orgânicos. A
maioria delas são recomendadas ou plenamente aceitáveis pelas normas técnicas de
produção vigentes no país. Observe, por exemplo, algumas táticas do controle integrado da
murcha bacteriana das solanáceas, causadas por Ralstonia solanacearum, e sua importância
relativa, na Tabela 61.

199
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 61 : Importância relativa de mediadas de controle da murcha bacteriana das


solanáceas, causada por Ralstonia solanacearum.
Medida de Controle Valor Relativo *

Solo livre do patógeno 7


Solos supressivos 4
Rotação da cultura 4
Resistência ou tolerância 3
Material propagativo sadio 3
Época de plantio 3
Clima frio 2
Evitar disseminação por água de irrigação 2
Controle de nematóides 2
Aquecimento do solo 2
Roguing de plantas doentes 2
Desinfestação de ferramentas e equipamentos 2
Solarização 1
Cultivo mínimo 1
Incorporação de resíduos orgânicos 1
Fonte: French ( 1994 ), citado por ZAMBOLIM, 1997.
*Valor relativo baseado numa escala de 1 a 7, em que 1 significa medida de pouco valor e 7 medida de valor muito alto.

A presença de um agente patogênico na planta raramente resulta em doença se não houver


condições favoráveis ao patógeno. O conhecimento das condições básicas para que ocorra
doença em plantas em caráter epidêmico como hospedeiro suscetível e cultivado em grande
extensão, presença de grande quantidade de inóculo do patógeno na área e de raças
virulentas do patógeno e ambiente favorável a infecção e que deve persistir por vários ciclos
de vida do patógeno, constitui a base para o estabelecimento de esquema de controle
integrado de fitopatógenos. O sucesso no controle da maioria dos agentes bióticos requer
conhecimento detalhado do ciclo de vida de cada organismo envolvido, de seu
comportamento na planta e do efeito dos fatores do ambiente na interação entre patógenos e
hospedeiro (ZAMBOLIM et al., 1997).

Embora uma doença específica possa, em certos casos, ser controlada por uma única
medida de controle, a complexidade de fatores envolvidos requer o uso de mais um método
para alcançar controle adequado da mesma. Daí a necessidade de concentrar esforços
visando combinar várias medidas e vários métodos de controle quer sejam físicos,
mecânicos, culturais, genéticos, legislativos, químicos (à base de Cobre, Enxofre, etc.) e
biológicos, para que se obtenha otimização na redução de intensidade das doenças e,
consequentemente se alcance o máximo em produtividade, sem reflexos negativos no meio
ambiente.

200
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Na Tabela 62 são apresentados os princípios de controle de doenças em hortaliças, com as


principais medidas e seus efeitos epidemiológicos. Verifica-se que algumas medidas atuam
sobre o inóculo inicial, outras sobre a taxa de desenvolvimento da doença e algumas sobre
ambos. Algumas medidas atuam também sobre o tempo, como por exemplo antecipando ou
retardando o plantio ou a colheita, para fugir à doença.

IMPORTANTE: A maioria das medidas descritas são aceitas pelas certificadoras, por
estarem de comum acordo com as normas técnicas de produção orgânica. Outros princípios
apresentados são de uso proibido e não devem ser usados, necessitando portanto estar
atento no momento da definição da estratégia de manejo a ser adotada.

Assim, pode-se dizer que o controle integrado de doenças de hortaliças nada mais é do que
estabelecer uma estratégia de controle de doenças que envolva todos os conhecimentos
relacionados com o processo infeccioso e o desenvolvimento da doença. Para isso,
pesquisadores, técnicos e agricultores devem estar atentos aos efeitos dos fatores do
ambiente sobre as doenças e conscientes da necessidade de saber escolher os métodos de
controle mais adequados, econômicos e eficientes. O agroecossistema precisa ser
preservado, e é de fundamental importância que as medidas de controle contemplem este
objetivo.

201
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 62: Princípios e medidas de controle de doenças que se aplicam às hortaliças e


seus principais efeitos epidemiológicos.

Princípio Medida de Controle Atua Sobre


de
Controle Inóculo Taxa (r) Tempo (t)
inicial (Xo)
Inspeção e certificação de sementes e mudas +
Quarentena e barreira +
Exclusão Tratamento químico e térmico de sementes e mudas +
Desinfestação de máquinas, bandejas de isopor para sementeira, +
implementos e ferramentas destinadas a podas
Emprego de sementes e mudas sadias +
Indexação ( cultura de tecido ) +
Eliminação e queima de restos culturais +
Eliminação de hospedeiros principais e/ou alternativos +
Eliminação de plantas doentes “roguing” + +
Emprego de plantas armadilhas e antagônicas a nematóides +
Poda de ramos doentes + +
Aração visando enterrio de restos culturais doentes +
Erradicação Emprego de fungicidas erradicantes +
Emprego de nematicidas +
Rotação de culturas +
Inundação do solo +
Tratamento do solo (biológico, térmico, químico) +
Solarização +
Tratamento de sementes e mudas ( térmico e fungicidas erradicantes ) +
Desinfestação de embalagens, equipamentos e de armazéns +
Eliminação de patógenos pela cultura de tecidos +
Termoterapia (calor) +
Terapia Quimioterapia (fungicidas sistêmicos ) +
Poda de ramos doentes +
Resistência de vertical +
Resistência horizontal + +
Resistência Resistência induzida pela nutrição +
Resistência por quimioterapia + +
Fusão de protoplastos + +
Proteção cruzada (pré-imunização) + +
Tratamento químico de semente, mudas e sementeiras (substrato) +
Proteção Pulverização com fungicidas +
Controle de insetos vetores +
Tratamento pós-colheita ( químico e biológico ) +

202
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Escolha de área e/ou local de plantio + + +


Escolha da época de plantio + + +
Modificação do ambiente por práticas culturais + +
Armazenamento de sementes, hortaliças e frutos em ambientes + +
modificados ( refrigeração )
Plantio em locais de altitude maior que 1.000 m, para fugir de insetos + +
Escape vetores
Sementes com alto vigor + +
Profundidade de plantio +
Emprego de cultivares de ciclo precoce + +
Cultivares em arquitetura ereta +
Espaçamento e número adequado de plantas por área +
Cultivares com maior teor de cera nas folhas, com frutos mais distantes do +
solo bem protegidos
Fonte: WHETZEL (1929); CHAVES (1966); ZADOKS & SCHEIN ( 1979 ); KIMATI & BERGAMIN FILHO (1995), citados por ZAMBOLIM et.
al. (1997).

As perdas que as doenças causam às hortaliças variam com uma série de fatores, dentre os
quais citam-se o clima e a suscetibilidade das variedades e do patógeno. No Manejo
Integrado das Doenças (MID) de hortaliças, além desses fatores, é importante considerar
também:

• O modo de transmissão do patógeno ( sementes, mudas ).

• A forma de sobrevivência do patógeno (clamidospóros, escleródios, oosporos,


cistosoro, cistos, massa-de-ovos, juvenis de fitonematóides, micélio, células
bacterianas em solo, em restos culturais, em plantas daninhas e em partes da planta).

• A maneira pela qual o patógeno é disseminado ( mudas, sementes, bulbilhos, águas


de irrigação e tipo de irrigação; respingos de chuvas e água de enchurrada; vento;
implementos agrícolas; insetos como pulgão, trips, mosca-branca e cigarrinha; solo
infestado; restos culturais ).

• As condições favoráveis ao surgimento da doença ( planta suscetível, temperatura,


umidade relativa, umidade do solo, tipo do solo, chuva, pH do solo, deficiência de
nutrientes e densidade de plantas ).

As condições favoráveis ao desenvolvimento da maioria das doenças fúngicas e bacterianas


que atacam a parte aérea das hortaliças são: alta umidade relativa, chuva e temperatura
entre 18 e 25º C. Além disso, há que considerar a densidade de plantas por área, o tipo de
irrigação ( aspersão, infiltração ), a quantidade de água de irrigação e a forma e quantidade
de nutrientes. Para fungos, bactérias e nematóides do solo, há que se considerar o pH e tipo
de solo, teor de matéria orgânica, nutrientes, umidade e temperatura do solo. A
disseminação das doenças causadas por vírus em hortaliças depende da presença do vetor,
de hospedeiros cultivados ou silvestres e das condições do ambiente, como, por exemplo, da
chuva, temperatura, luminosidade e altitude.

203
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Conforme já discutido anteriormente, em sistemas orgânicos de produção, o uso e


reciclagem constante de matéria orgânica permite minimizar problemas fitossanitários de
forma significativa. Os resultados contidos nas Tabelas 63 e 64, comprovam mais uma vez
esta afirmativa, de forma científica.

Tabela 63: Efeito de Composto de Palha de Café (CPC), Composto de Lixo Urbano
(CLU), Composto de Casca de Eucalipto (CCE) e Vermicomposto (VER) no
peso da matéria seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e
massa de ovos de Meloidogyne javanica (Mj).
Substrato Peso da Galhas por Massa de ovos Galhas por planta2
matéria seca planta 1 por planta
do tomateiro
(g)
Solo + Mj 98.20 a 1748.40 a 1861.80 a 110.82 bc
Solo – Mj 103.43 a Ausente Ausente Ausente

CPC + Mj 117.61 a 103.40 c 59.00 c 58.80 c


CPC – Mj 104.40 a Ausente Ausente Ausente

CLU + Mj 96.46 a 1853.80 a 1945.60 a 134.00 bc


CLU – Mj 84.62 a Ausente Ausente Ausente

CCE + Mj 100.00 a 1581.00 a 1787.75 a 284.01 b


CCE – Mj 107.68 a Ausente Ausente Ausente

VER + Mj 105.40 a 1053.02 b 815.00 b 484.22 a


VER - Mj 103.20 a Ausente Ausente Ausente
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1996.
* Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
1 Número de galhas e massa de ovos por planta, 60 dias após o primeiro transplante.
2 Número de galhas por planta, 40 dias após o segundo transplante.

Tabela 64: Efeito do Composto de Fazenda (CF), Vermicomposto (VER) e Composto de


Palha de Café (CPC), misturado ao solo (1:1), sobre o peso da matéria
seca da parte aérea do tomateiro e no número de galhas e massa de ovos
de Meloidogyne javanica.
Substrato Peso da parte Galhas por planta Massa de ovos por
aérea (g) planta
Solo 133.64 b 4631.51 a 2475.72 a
CF 138.37 b 569.20 c 320.40 b
VER 222.48 a 2311.00 b 2448.56 a
CPC 97.58 c 77.99 c 77.14 b
Fonte: ZAMBOLIM et al., 1996.
* Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

204
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Além da relação com a matéria orgânica, as doenças apresentam uma estreita correlação
com os nutrientes foliares e do solo. SOUZA & VENTURA (1997), estudando níveis foliares
de nutrientes na cultura da batata, identificaram correlação significativa com a incidência de
requeima provocada pelo fungo Phytophthora infestans. O estudo confirmou correlação
positiva com alto nível de significância para Nitrogênio e Fósforo e correlação negativa para
Cálcio e Boro.

Em se tratando das doenças em pós-colheita em hortaliças, há que se considerar a


temperatura e a umidade relativa. Entretanto, tais doenças estão ligadas ao tipo de manejo
da cultura no campo e aos cuidados que devem ser tomados na colheita, no transporte e
armazenamento. Injúrias de qualquer natureza ( mecânica, queima por sol e frio ) durante
estas fases constituem as principais causas das doenças em pós-colheita (ZAMBOLIM et al.,
1997)

Todos esses fatores citados, aliados a tantos outros, podem interagir harmonicamente num
agroecossistema orgânico, permitindo reduzir a manifestação de pragas e doenças,
minimizando de forma segura as possibilidades de perdas nas culturas comerciais. Observe
na Figura 45, os variados fatores do ambiente, do manejo e de métodos alternativos, que
podem interferir na incidência de pragas e doenças, proporcionando plena segurança aos
que desejam iniciar neste modelo de produção.

205
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Rotação cultural Diversificação e


equilíbrio ecológico

Tratamento Inundação do
biológico do solo solo

Variedades
Matéria orgânica resistentes
(Antagonismos,
resistência induzida,
etc..)
‘Roguing'

Manejo de água e
Umidade
Associação de
cultivos
Aeração do
ambiente PRAGAS Limpeza manual
& (folhas e hastes)
doentes
Sementes e mudas
sadias
DOENÇAS
(orígem ou cultura
Quebra-Ventos
tecidos)

Eliminação de restos Termoterapia


culturais

Solarização
Espaçamento

Caldas e
Eliminação de Extratos
hospedeiros

Biofertilizantes
Armadilhas luminosas

Época de plantio
Controle biológico
(Bacillus, Trichograma, Ferormônios
Baculovirus, etc.)

Figura 45: “O que fazer com tantas pragas e doenças na Agricultura Orgânica, se não
posso usar agrotóxicos”?

206
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

No Manejo Integrado de Pragas (MIP), recomenda-se lançar mão de táticas adequadas, as


quais podem assim ser resumidas:

• Reconhecimento das pragas-chave da cultura: nem todas as pragas que ocorrem na


cultura são necessariamente pragas-chave, ou seja, pragas importantes para a cultura.
Um exemplo disso é a larva minadora de folhas. Apesar de ser considerada importante, a
larva minadora de folhas é uma praga que, de modo geral, aparece em decorrência do
uso abusivo de inseticidas em sistemas convencionais de cultivo. Há diversos agentes de
controle biológico (inimigos naturais) que controlam tal praga, entretanto, com o uso
excessivo de produtos, ocorre mortalidade dos agentes de controle biológico, o que
permite o aumento da população da praga.

• Reconhecimento dos inimigos naturais da cultura: Diversos insetos atuam como


agente de controle biológico e podem reduzir a infestação de pragas nas lavouras,
gratuitamente. Por isso, a preservação dos mesmos é muito importante.

• Amostragem: A determinação da presença de pragas (ovos, larvas, adultos, etc.) e seus


danos, bem como a de seus inimigos naturais, devem ser monitorada. Essa é a melhor
maneira para o produtor avaliar a real necessidade de controle com métodos alternativos.
Portanto, no MIP, o controle das pragas deve ser corretivo e não preventivo, na maioria
dos casos.

• Táticas de controle: Emprego de produtos biológicos ou alternativos, uma vez que


mesmo com todo equilíbrio ecológico estabelecido em sistemas orgânicos de produção
de hortaliças, a ocorrência de algumas pragas e doenças persistentes são comuns,
podendo-se citar como exemplos a Traça do tomateiro (Tuta absoluta), a requeima da
batata e tomate (Phytophthora infestans), a Mancha púrpura do Alho (Alternaria porri),
dentre outros. Assim, torna-se necessário utilizar métodos alternativos naturais ou pouco
agressivos ao meio ambiente, para auxiliar no controle específico desses problemas.

3.11.3. Métodos de controle:

Controle biológico:

Antes de se falar em qualquer alternativa de controle biológico, com potencial de utilização


em agricultura orgânica, é recomendável lembrar que o controle biológico se divide em duas
áreas: o controle biológico natural, que ocorre em função do próprio potencial de equilíbrio
ecológico do sistema de produção (a exemplo da Figura 46) e o controle biológico
artificial, executado através de criações de predadores e colonizadores em laboratório, com
posterior soltura ou aplicação em nível de campo.

207
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 46: Presença de predadores no sistema produtivo indicam que o manejo está correto. Na
ilustração, verificamos um aracnídeo, em lavoura de tomate orgânico, na fazenda Luiziânia -
Entre Rios de Minas – MG (à esquerda) e Joaninha predadora de pulgões em folha de batata-
baroa (à direita).

A maneira de potencializar o equilíbrio entre as populações de macro e microrganismos,


respeitando os princípios agroecológicos, já foi devidamente discutido em seções anteriores
deste manual.

Entretanto, em função da evolução de alguns insetos e pelo favorecimento por condições


ambientais, muitas vezes nos deparamos com desequilíbrios esporádicos que necessitam
interferência através de métodos alternativos de controle, como ilustra a Figura 47. Portanto,
a partir desse momento, estão descritas algumas recomendações de controle biológico
artificial e alguns métodos alternativos de controle, possíveis de serem utilizadas em
olericultura orgânica.

Figura 47: Presença de colônia de pulgões (esquerda) e lagarta mede-palmo (direita), em folhas de repolho – o
desequilíbrio com a população de seus predadores, poderá provocar aumento excessivo desses
insetos e justificar a adoção de métodos alternativos de controle.

208
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

 Bacillus thuringiensis: Inseticida biológico, que pode ser utilizado para controlar vários
tipos de lagartas que causam danos a diversas hortaliças. Atualmente já é encontrado no
mercado diferentes marcas comerciais, à base de variedades diferentes. Como exemplo,
citamos:
- Dipel em pó e líquido (Bacillus thuringiensis var. kurstaki).
- Agree (combinação de Bacillus thuringiensis var. kurstaki com var. aizawai.).
- Xentari (Bacillus thuringiensis var. aizawai).

MODO DE AÇÃO DO Bacillus thuringiensis

 Lagartas ingerem esporos e cristais tóxicos juntamente com a folhagem.


 No estômago das lagartas os cristais se solubilizam e provocam perfurações na parede
estomacal.
 Através das perfurações, os esporos atingem a hemolinfa ( sangue da lagarta ) e se
multiplicam em milhões de bactérias causando infecção generalizada.
 De 5 minutos a 1 hora depois de ingerido o produto, as lagartas param de se alimentar,
cessando dessa forma os danos à cultura. A morte da lagarta ocorre em período de 1 a 3
dias.

RECOMENDAÇÕES DE USO
As dosagens recomendadas para uso dependerão da concentração de Bacillus na
composição do produto comercial, conforme algumas indicações de uso apresentadas
abaixo:

CULTURAS PRAGAS PRODUTO DOSES


COMERCIAL (produto comercial)
REPOLHO Traça das Crucíferas DIPEL pó 300-500g/ha
( Plutella xylostella ) AGREE 750 g/ha
XENTARI 350-500g/ha

COUVE e Curuquerê da Couve DIPEL pó 240-400g/ha


BRÓCOLIS (Ascia Monuste orseis ) AGREE -
XENTARI 400-800g/ha
TOMATE Traca do Tomate DIPEL pó 240-400g/ha
(Tuta absoluta )
Broca peq. do fruto AGREE 2000-2400g/ha
(Neoleucinodes
elegantalis) XENTARI 400-800g/ha
PEPINO Broca/Cucurbitáceas AGREE 2000g/ha
(Diaphania nitidalis)

MELÃO Broca/Cucurbitáceas AGREE 750g/ha


(Diaphania nitidalis

Repolho: Aplicar, em média, 1000 litros de calda por hectare (cultura adulta).
Tomate, couve e brócoli: 800 litros de calda por hectare (cultura adulta).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

INÍCIO, NÚMERO E INTERVALO DE APLICAÇÃO:

Realizar as pulverizações no início de infestação das lagartas. Dependendo do conhecimento


histórico da ocorrência das pragas, pode-se iniciar as aplicações preventivamente. É
importante consultar demais orientações de cada fabricante.

 Trichogramma spp: Pequenas vespas, inimigo natural para a traça do tomateiro (broca
do ponteiro), broca grande e pequena do fruto do tomate e curuquerê da couve.
Encontra-se para venda em cartelas contendo ovos do Trichogramma, que devem ser
fixadas no interior da lavoura.

 Beuaveria bassiana: Fungo que controla com eficiência ácaros, lagartas, pulgões e
mosca branca. Já existem produtos comerciais disponíveis no mercado.

 Metarrhizium anisopliae: Fungo utilizado para o controle de tripes, cigarrinha, cupins e


pulgões. Já existem produtos comerciais disponíveis no mercado.

 Trichoderma sp: Fungo antagonista de solo que permite o controle de outros fungos de
solo, como Fusarium. Já existem produtos comerciais disponíveis no mercado.

Recentemente, muitos estudos e desenvolvimento de produtos comerciais estão em


andamento para a atender a crescente demanda desse mercado. Como exemplo, citamos
estudos sobre a bactéria Pasteuria penetrans e os fungos Paecilomyces e Artrobotrys, como
controladores de nematóides.

 Produtos homeopáticos: A homeopatia aplicada à área vegetal evoluiu muito nos


últimos anos. Atualmente, existem diversas recomendações de preparações caseiras e
produtos comerciais para algumas pragas de hortaliças, formiga cortadeira, dentre
outros.

 Substâncias inseticidas, fungicidas e repelentes:

 NIM (Azadirachta indica)


O principal princípio ativo é a Azadirachtina. Atualmente, registra-se que mais de 418
espécies de pragas, que ocorrem em vários países, são afetados pelos extratos de NIM.
Para redução de custos, o agricultor pode plantar a árvore em sua propriedade e obter este
insumo o ano inteiro (Figura 48). Já existem produtos comerciais, disponíveis no mercado.

Modo de ação:
Inseticida, fungicida, nematostático, inibidor de crescimento, inibidor de ingestão por lagartas
e larvas de insetos.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 48: Árvore de Nim (Meliaceae), em início de


crescimento, na Fazendinha ecológica (SIPA) da
EMBRAPA. Município de Seropédica – RJ.

Receita 1:
∗ 5 kg de sementes secas e moídas
∗ 5 litros de água
∗ 10 gr de sabão
∗ Colocar 5 kg de sementes de Nim moídas em um saco de pano , amarrar e colocar em 5
litros de água. Depois de 12 horas, espremer e dissolver 10 gramas de sabão neste
extrato. Misturar bem e acrescentar água para obter 500 litros de preparado. Aplicar
sobre as plantas infestadas, imediatamente após preparar.

Receita 2:
∗ 25 – 50 gramas de sementes
∗ 1 litro de água
∗ Despolpar os frutos, secar as sementes a sombra, moê-las e deixar repousar (amarradas
em um saco de pano) imersas em 1 litro de água por 1 dia. Coar e pulverizar sobre as
plantas atacadas.

Receita 3:
∗ 2 Kg de folhas verdes ou frutas inteiras
∗ 15 litros de água
∗ Bater no liqüidificador as folhas ou frutos de Nim, com um pouco de água. Deixar
descansando por uma noite com um pouco mais de água. Antes de aplicar, filtrar e diluir

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

com água para obter 15 litros do preparado. Pode ser armazenado em frasco e local
escuros por 3 dias.

Indicações:
Pragas: Mosca branca (Bemisia tabaci), pulgões (Aphis gossypii), mosca minadora
(Liriomyza sativae), Nematóides ( M. javanica e M. incognita), traça das crucíferas
(Plutella xylostela), lagartas em geral e outros.
Doenças: Manchas de alternária, tombamento (Rhizoctonia solani), Fusarium e Sclerotium
rolfsii.

Precauções:
Usar com critério por ser um produto de largo espectro de ação. Tóxico a peixes e baixa
toxicidade a mamíferos. Não há período de carência.

 EXTRATO PIROLENHOSO

É um líquido resultante da condensação da fumaça, quando se procede a carbonização de


madeiras ou bambú. Esse líquido concentrado contém cerca de 200 tipos de compostos
diferentes, predominando o ácido acético. É importante ressaltar que a coleta do extrato deve
ser feita quando a temperatura da fumaça varia de 80ºC a 120ºC, para evitar a presença de
algum tipo de alcatrão, que constitui elemento cancerígeno.

Deixando-se em repouso por um período superior a 180 dias para decantação, tal líquido se
divide em 3 fases: a parte superior é composta por óleos essenciais, a parte mediana é o
extrato pirolenhoso e a parte inferior é o alcatrão. Já existem produtos comerciais,
disponíveis no mercado.

Recomendações de Uso:
∗ Em pulverização, recomenda-se a diluição em água na proporção de 1:500 (200 ml para
100 litros) a 1:1000 (100 ml para 100 litros).
∗ Tratamento do solo: Diluir o extrato em água na proporção de 1:50 (2 litros para 100
litros) e misturar com o adubo orgânico a ser utilizado no plantio.

Indicação:
Controle de pragas e doenças, aumento na concentração de microrganismos benéficos
(Trichoderma, Penicillium e outros) e proporciona ambiente favorável para multiplicação de
Micorrizas.

Pragas:
- Nematóides;
- Mosca branca, broca (larva da mariposa) e tripes em abobrinha.

Doenças:
- Vírus do mosaico do pepino;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

- Oídio, míldio e mancha angular em abobrinha;


- Míldio em alface, escarola e acelga;
- Fusarium, quando adicionado ao solo.

 ALHO

Existem diversas formulações, de fácil preparo caseiro e que podem apresentar boa
eficiência. Também já existem produtos comerciais, disponíveis no mercado.

Alho 1:
∗ 3 cabeças de alho
∗ 1 colher grande de sabão de coco picado
∗ 2 colheres de sopa de parafina líquida
∗ Amassar as cabeças de alho misturando a parafina líquida. Diluir este preparado para 10
litros de água com o sabão. Pulverizar logo em seguida.

Alho 2:

∗ 100 gr de alho
∗ 0,5 litro de água
∗ 10 gr de sabão de coco
∗ 2 colheres de café de óleo mineral
∗ Os dentes de alho devem ser finamente moídos e deixados em repouso por 24 horas em
2 colheres de óleo mineral. À parte, dissolver 10 gr de sabão em 0,5 litros de água.
Misturar todos os ingredientes e filtrar. Antes de usar o preparado, diluir o mesmo em 10
litros de água, podendo, no entanto, ser utilizado em outras concentrações de acordo com
a situação.

Alho 3:
∗ 1 pedaço de sabão de coco
∗ 4 litros de água quente
∗ 2 cabeças de alho finamente picadas
∗ 4 colheres pequenas de pimenta vermelha picada
∗ Dissolver um pedaço de sabão do tamanho de um polegar ( 50 gr ) em 4 litros de água.
Juntar 2 cabeças picadas de alho e 4 colheres de pimenta vermelha picada. Coar com
pano fino e aplicar

Indicações:
Repelente de insetos, bactérias, fungos, nematóides e inibidor de digestão de insetos.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

 FERMENTADO DE SORO COM VEGETAL (FERSORAL)

∗ 200 l de soro de leite sem sal;


∗ 3,0 kg de folhas verdes ou 500 g de folhas secas de urtiga;
∗ 1,0 kg de flor verde de camomila ou 220 g de flores secas;
∗ 500 g de dente de alho amassado;
∗ Junto com estes produtos acrescentar, no mínimo, mais três espécies vegetais
relacionadas abaixo:

- 10 kg de folhas verdes de samambaia das taperas;


- 6 kg de folhas verdes de losna brava ou losna verdadeira;
- 2 kg de folhas verdes de erva de santa maria;
- 1 kg de raiz de cipó timbó;
- 10 kg de folhas verdes de cinamomo;
- 3 kg de sangue fresco de boi – optativo.

Preparo:
Picar todas as ervas e colocá-las num tambor com soro de leite. Tampar e deixar fermentar
por 3 a 4 meses. No primeiro mês mexer o fermentado todos os dias. Coar e pulverizar,
usando a concentração de 1 a 5%.

Modo de ação:
Biofertilizante foliar com propriedades repelentes e fungicida.

Observações:
- O líquido obtido do fermentado, tem um cheiro que lembra o da guarapa fermentada;
- Pode-se misturá-lo com o biofertilizante “super-magro”;
- Pode-se armazenar, sem coar o produto, por tempo indefinido.

 ÁRVORE DO PARAÍSO, SANTA BÁRBARA, CINAMOMO DO SUL

∗ 150 gr de folhas frescas ou 50 gr de folhas ou frutos secos


∗ 1 litro de água ou álcool.
∗ Deixar em repouso a mistura de água ou álcool com folhas ou frutos da árvore, por 24
horas. Diluir 1 parte deste concentrado para 10 a 20 partes de água e pulverizar.

Obtenção:
Mudas obtidas em viveiros, árvores ao longo das estradas.

Modo de ação:
Repelente de insetos, toxina de contato e ingestão, inseticida, inibidor de ingestão e
crescimento.
Pode ser tóxico a mamíferos por via oral.

Indicação:
Insetos em geral.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

 BRASILEIRINHO

∗ 100 gr de brasileirinho ou patriota (Diabrotica)


∗ raiz de Taiuiá, purungo ou cabaça verde
∗ Coletar 100 gr de brasileirinho, cascudinho ou patriota, também conhecido como verde-
amarelo, usando como isca a raiz da Taiuiá, frutos de purungo ou cabaça verde. Esmagar
os besouros e filtrar. Acrescentar 30 a 40 litros de água a cada 100 gramas de
brasileirinhos esmagados. Pulverizar as plantas a cada 20 dias.
Provoca toxidade na planta com aplicação contínua.

Método de ação:
Repelência, devido a grande concentração de feromônio de agregação.

Indicação:
Indicado como repelente do próprio brasileirinho nas hortaliças.

 MANIPUEIRA
∗ Manipueira é o suco de aspecto leitoso, extraído por compressão da mandioca ou aipim
ralado. Usar uma parte de manipueira e uma parte de água, acrescentando 1% de açúcar
ou farinha de trigo. Aplicar em intervalos de 14 dias, pulverizando ou irrigando.

Obtenção:
Na propriedade ou em regiões produtoras de subprodutos da mandioca.

Indicação:
Pragas do solo, pulgões e lagartas.

Toxidade:
Cuidado, pois contém ácido cianídrico, não ingerir, não armazenar.

 PERMANGANATO DE POTÁSSIO E CAL

∗ 125 gr de permanganato de potássio


∗ 1 kg de cal virgem
∗ 100 litros de água
∗ Diluir primeiramente o permanganato de potássio em um pouco de água quente (para
acelerar o processo ). A cal também deve ser queimada à parte, colocando um pouco de
água. Complete para 100 litros, incluindo a solução do permanganato.

Obtenção:
Farmácias, casas de agropecuária e casas de material de construção.

Modo de ação:
Aumenta o pH superficial das folhas.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Indicação: Pulverizar sobre as plantas no início da infestação.

Indicação: Contra Míldio e Oídio.

 SOLARIZAÇÃO DO SOLO

∗ plástico fino ( 30 micras ) e transparente


∗ A solarização é um método de desinfestação do solo para controle de patógenos, pragas
e plantas invasoras através do uso da energia solar. Consiste na cobertura do solo,
devidamente preparado, com filme plástico transparente (se não houver, utiliza-se o
preto), antes do plantio, preferencialmente no período de maior incidência de radiação
solar, entre setembro a março. Para a colocação do plástico, o terreno deve ser
preparado através de aração e gradagem, retirando os materiais pontiagudos e saturado
com água. Colocar o plástico manualmente sobre o terreno, sem a ocorrência de bolsas
de ar, enterrando-se as bordas em sulcos no solo. De preferência, usar plástico com 3,0 –
4,0 m de largura. Deixar o solo solarizando por 30 a 50 dias.

Obtenção : lojas de produtos agropecuários.

Modo de ação : Aquecimento do solo, stress dos patógenos e controle biológico.

Indicação: controle de pragas e doenças de solo.

 TIMBÓ (Rotenona)

Receita 1:
∗ 60 gr de pó de raiz de timbó ( cipó)
∗ 11 litros de água fria
∗ 100 gr de sabão
∗ Preparar a emulsão de sabão juntando o sabão com 1 litro de água. Adicionar uma colher
de chá de soda cáustica. Levar ao fogo, mexendo bem com uma colher de pau, até a
completa dissolução da mistura. Retirar do fogo e deixar esfriar até ficar morno. Junte a
essa emulsão 60 gr de pó de raiz de timbó, 10 litros de água, aplicando sobre as plantas
logo em seguida.

Receita 2:
∗ 50 gr de timbó
∗ 200 ml de acetona
∗ 950 ml de álcool 42o GL

Deixar extrair o timbó em acetona por 24 horas. Filtrar, colocar 50 ml deste extrato em 950 ml
de álcool 420 GL.
Pulverizar molhando até o escorrimento. Período de carência de 1 dia.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Modo de ação: bloqueio do ciclo de Krebs.

Indicação: lagartas, percevejos e pulgões.

Precaução:.
Incompatível com calda bordalesa e a cal. Compatível em misturas com enxofre para
controle de doenças, além do enxofre potencializar a ação inseticida da rotenona.

 EXTRATO DE PIMENTA DO REINO, ALHO E SABÃO


∗ 100 gramas de pimenta do reino
∗ 2 litros de álcool
∗ 100 gramas de alho
∗ 50 gramas de sabão neutro
∗ Prepara-se uma garrafa de 100 gramas de pimenta do reino em 1 litro de álcool; deixar
por 1 semana; ao mesmo tempo, fazer outra garrafa de 100 gramas de alho em 1 litro de
álcool; passada esta semana, dissolver 50 gramas de sabão neutro em 1 litro de água
quente; apenas na hora de aplicação, juntar as três partes na seguinte proporção: 200 ml
da garrafada de pimenta + 100 ml de garrafada de alho e toda solução de sabão podem
ser diluídos em 20 litros de água (1 pulverizador costal ).

A aplicação deve ser feita nas horas mais frescas do dia.

Indicação:
pragas da batatinha, tomate, pimentão e beringela.

 EXTRATO DE PRIMAVERA (Bougainvillea)


∗ 200 gramas de folhas
∗ 1 litro de água
∗ O extrato deve ser preparado em liquidificador, colocando 200g de folhas em 1 litro de
água. Esse caldo deve ser coado e depois diluído em um tanque com 20 litros de água, o
que é suficiente para a pulverização de uma estufa (cerca de 500 m2). No caso do
tomate, a aplicação deve ser repetida semanalmente até 60 dias após o transplantio. Os
resultados tem sido excelentes, mostrando redução de mais de 90% na incidência de
vira-cabeça no tomateiro.

Indicação:
Principalmente durante a primavera e no início do verão, tem-se utilizado desse extrato para
amenizar os danos causados pelo vírus do vira-cabeça, disseminado por tripes, uma vez que
o tripes adquire o vírus após alimentar-se de plantas infectadas e/ou ervas nativas,
transmitindo-o à cultura.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

 CALDA BORDALESA:

Como Preparar e Usar:

A Calda Bordalesa é um fungicida eficiente contra várias doenças que aprecem na horta e no
pomar. O produto surgiu no século passado, na região de Bourdeaux, na França, para o
controle do míldio, uma doença que ataca a videira. Ela resulta da mistura de sulfato de
cobre com cal virgem, diluídos em água. O seu uso é permitido na Agricultura Orgânica por
ser o sulfato de cobre um produto pouco tóxico e por melhorar o equilíbrio nutricional das
plantas.

Abaixo propomos as quantidades para encher um pulverizador costal de 20 litros para uma
calda na concentração de 1,0%. A quantidade da cal poderá ser reduzida para a metade da
quantidade do sulfato, dependendo da sua capacidade de neutralização da acidez. Em
função de variadas fontes comerciais da cal, recomenda-se fazer uma calibração da
quantidade necessária para estabilizar o pH da solução na faixa de 8,0 a 9,0.

Ingredientes para a calda bordalesa a 1%:


Sulfato de cobre....................................................................................200 gramas
Cal virgem...................................................................................100 a 200 gramas
Água......................................................................................................20 litros

O sulfato de cobre dissolve lentamente na água, por isso, colocam-se 200 gramas do produto
em um saquinho de pano ralo, mergulhado em balde com 5 litros de água. O saquinho deve
ficar suspenso, próximo à superfície da água, a fim de facilitar a dissolução. Para se obter a
dissolução mais rápida do sulfato de cobre, pode-se dissolvê-lo diretamente na água morna
ou colocá-lo na noite anterior.

A cal virgem deve ser de boa qualidade para reagir totalmente com a água. Colocam-se 100
a 200 gramas de cal (dependendo da fonte utilizada) no fundo de um balde com pouca água
para haver reação rápida. Se não houver aquecimento da mistura em menos de 30 minutos,
a cal não deve ser usada, pois é de má qualidade. Quanto mais rápida é a reação, melhor é
a cal. Depois de a cal ter reagido com a água, formando uma pasta rala, completa-se o
volume de água até 5 litros. A mistura terá a aparência de leite de cal, bem homogênea.

Em seguida, faz-se a mistura das duas soluções, conforme ilustra a Figura 49. Para tanto
despeja-se a solução de sulfato de cobre sobre a cal e nunca o inverso. A mistura deve ter
um aspecto denso, em que a cal não decanta. Após mexer algumas vezes, coar a mistura e
despejar no pulverizador, completando o volume de 20 litros.

Quando a calda está ácida, ela queima as folhas das plantas pulverizadas. Para evitar isso,
antes de usar faz-se um teste: pinga-se uma gota da calda sobre a lâmina de um canivete ou
faca de ferro. Se, após três minutos, no local da gota, formar-se uma mancha avermelhada,
semelhante a ferrugem, é sinal de que a calda está ácida. Deve-se então, adicionar mais
leite de cal, até que a mistura fique neutra e não apareça a mancha.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 49: Agricultor preparando a calda bordalesa, durante aula prática de curso
de agricultura orgânica. Município de Conceição do Castelo – ES.

Recomendações de Uso:

Tomate:
A calda controla a requeima, a pinta-preta e septoriose.

1. Calda Bordalesa a 0,2 a 0,5% ou Calda Viçosa em aplicações semanais, já no viveiro de


mudas, quando as plantinhas apresentarem as primeiras folhas.
2. Tratamentos com Calda Bordalesa a 1,0 a 1,5% ou Calda Viçosa em aplicações
preventivas a cada 7 a 15 dias, dependendo das condições locais (umidade, infestação
de doenças, cultivar, etc. ).
3. Em culturas instaladas em estufas, reduzir em 50% as dosagens e fazer os tratamentos
em períodos frescos, pelos riscos de queima da planta.

Batata:
Aplicar a partir de vinte dias após a germinação. Controla a requeima e a pinta-preta.

1. Iniciar o tratamento preventivo, estando as plantas com 15 a 25 centímetros de altura.


Empregar a Calda Bordalesa como tratamento preventivo. Nos tratamentos iniciais utilizar
Calda Bordalesa com dosagens mais fracas 0,4 a 0,6%, elevando a concentração até 0,8
a 1,0% na fase adulta.
2. A concentração e o intervalo de aplicação deve ser alterado em função da época de
plantio ( seca ou das chuvas ), susceptibilidade da cultivar, ocorrência de doenças, etc.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cenoura:
1. Tratamento preventivo das doenças fúngicas (especialmente a queima das folhas), com
Calda Bordalesa 0,4 a 0,6%, iniciando as aplicações nos primeiros sintomas.
2. Repetir o tratamento com Calda Bordalesa a cada 07 dias a 14 dias e alterar a
concentração dependendo das condições locais.

Morango:
Contra fungos, principalmente Micosferela e Mofo Cinzento.

1. Pulverizar até a floração com Calda Bordalesa a 0,5% alternado com Calda Sulfocálcica,
na concentração de 1,0 litros em 100 litros de água, para solução matriz a 27º Beaumé.
2. Após a fase da florada, encerrar a aplicação das Caldas Bordalesa e utilizar apenas
produtos protetores inócuos ou biofertilizantes.

Cebola:
Contra a mancha púrpura e outras manchas das folhas, diluir três partes da calda em uma
parte de água (caso já esteja preparada a 1,0%).

Alho:
Usar a mesma concentração para a cebola. Contra a ferrugem usar calda sulfocálcica.

Beterraba:
Contra a mancha da folha ( Cercospora beticola ) usar três partes de calda para uma de
água (caso já esteja preparada a 1,0%).

Alface e Chicória:
Contra míldio e podridão-de-esclerotínia, usar uma parte de calda para uma parte de água
(caso já esteja preparada a 1,0%).

Couve e Repolho:
Contra míldio e alternária em sementeira, diluir uma parte de calda em uma parte de água
(caso já esteja preparada a 1,0%).

Abobrinha e Pepino:
Contra míldio e outras manchas foliares, diluir uma parte de calda em uma parte de água
(caso já esteja preparada a 1,0%).

Importante recomendações:
- Usar a calda no máximo até o terceiro dia de seu preparo;

- Não aplicar a calda em concentração forte sobre as plantas pequenas ou em fase de


brotação;

- A Calda Bordalesa é muito pouco tóxica. Mesmo assim, proteja-se. Lave-se após ter
trabalhado em sua aplicação. Não coma o que foi pulverizado sem antes lavar bem;

- Procurar não usar esterco puro em excesso na adubação, porque isso contribui para

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

o aparecimento de doenças.
- As doenças de hortaliças geralmente ocorrem em condições de alta umidade do ar.
Portanto, quando as condições do ambiente forem favoráveis às doenças, fazer
aplicações semanais. Caso contrário, pulverizar a cada quinzena ou a cada mês.
- A variação da dosagem dos ingredientes depende do estágio de desenvolvimento da
planta. Para plantas jovens ou em florescimento, utiliza-se dosagens menores e para
plantas adultas em estágio vegetativo, dosagens maiores.

Observação: Diversas pragas como vaquinhas, angolinhas, cigarrinha-verde,


cochonilhas e tripes, também são controladas com o uso da calda
bordalesa.

 CALDA SULFOCÁLCICA

Características:

A Calda Sulfocálcica é um dos mais antigos defensivos agrícolas. Possui ação inseticida
contra insetos sugadores, como ácaros, tripes e cochonilhas, etc. Tem efeito fungicida,
atuando de forma curativa, principalmente contra oídio e ferrugens.

A sua qualidade é medida em função da densidade da calda, empregando para isso o


Aerômetro de Baumê, muito utilizado na indústria de xaropes. A calda ideal possui densidade
de 32º Beumê, porém é considerado boa uma calda com 29 ou 30º Beumê.

ssssssPreparo da Calda Sulfocálcica:

A fabricação da calda é feita à quente, requerendo recipiente de metal (latão ou inox ). No


caso de preparar 10 litros de calda sulfocálcica, utilizar os ingredientes abaixo:

Água 10 litros
Cal virgem 1 Kg
Enxofre em pó 2 Kg

Coloque o recipiente no fogo com metade da quantidade de água recomendada (5 litros).


Deixe aquecer ligeiramente e se adiciona a cal, deixando a mistura ferver. Durante a fervura,
acrescenta-se, pouco a pouco, o enxofre em pó, agitando-se tudo fortemente com uma pá de
madeira e com o cuidado de não deixar esfriar a mistura. A agitação deve ser contínua até
formar uma mistura homogênea, sem separação do enxofre.

Em seguida, adiciona-se o restante da água e deixa-se ferver por mais 50 – 60 minutos.


Durante este tempo, manter o nível da mistura, adicionando-se água fervendo ou água fria
lentamente para não abaixar a temperatura. Quando atingir a coloração pardo-avermelhada (

221
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

cor de âmbar ), a calda estará pronta. Tirar do fogo e deixar esfriar. Coar a calda com
peneira bem fina ou com pano e medir sua concentração (densidade) com um aerômetro de
beaumé.

Recomendações de Uso:

A Calda Sulfocálcica é um tradicional defensivo agrícola, muito recomendado para o


tratamento de inverno em fruteiras, para erradicação de pragas e moléstias. Ela é dissolvida
um litro para 8 a 12 litros de água.

Ultimamente vem sendo utilizada em horticultura para tratamento fitossanitário no período


vegetativo com êxito, pois tendo custo baixo e eficiência, torna-se muito econômico o seu
emprego. A dosagem recomendada para o período vegetativo é de concentrações de 1 litro
da calda para 30 a 120 litros de água, dependendo da concentração da solução matriz,
conforme indicações da Tabela 65.

Tabela 65: Tabela de Diluição da Calda Sulfocálcica em função da sua concentração e


da graduação de uso.

Concentração 4,0º Beumê 2,0º Beumê 1,0º Beumê 0,5º Beumê 0,3º Beumê
Original
32º 9,0(*) 19,3 38,7 81 137
31º 86 18,5 38,1 77 131
30º 8,2 17,7 36,5 74 129
29º 7,8 17,7 34,8 71 120
28º 7,4 16,2 33,3 68 116
27º 7,1 15,4 31,9 65 110
(*) litros de água a serem diluídos com 1,0 litro de calda concentrada.

Metodologia de Aplicação:

A aplicação da Calda Sulfocálcica deve ser feita sempre em períodos frescos, para evitar
queimaduras na folhagem.

Em épocas muito quentes, é recomendável aumentar a diluição com água, uma vez que
temperaturas altas aumentam a sua efetividade. Com temperaturas muito elevadas, é
recomendável suspender as aplicações de Calda Sulfocálcica.

Durante a floração, aplicar a Calda Sulfocálcica apenas para culturas que tolerem enxofre
nesta época, devendo normalmente ser empregada, após a fecundação das flores.

Fazer aplicação com alto volume e alta pressão ( acima de 150 libras ), cobrindo totalmente
as partes vegetais.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Observações importantes:
• Para guardar a calda concentrada por curto período, cobrir com uma fina
camada de óleo mineral.
• Por longo tempo, manter em embalagem plástica ou de vidro, bem vedado.
• Após a aplicação, todo equipamento, inclusive as mangueiras, devem ser
lavadas com solução amoniacal ou solução diluída de ácido acético (vinagre).
• Em culturas instaladas em estufas, reduzir em 50% as dosagens e fazer os
tratamentos em períodos frescos, pelos riscos de queima da planta.

Atenção:
1- Estas informações são resultantes de observações em testes regionais e de
trabalhos de revisão de literatura, servindo apenas como sugestões quanto ao
potencial de uso das caldas.
2- Para o emprego de caldas, recomendamos que sejam feitas observações
preliminares em poucas plantas, considerando o local, clima, cultivar, etc. O
tratamento em área total deverá ser efetuado somente após os testes iniciais.

Armadilhas e Iscas:

• Armadilha Luminosa: atrai diversas espécies, entre besouros, mariposas e borboletas,


cigarras, moscas e mosquitos, ou seja, apresenta alta eficiência para pragas de hábitos
noturnos, dentre os quais podemos destacar: Broca das cucurbitáceas, Broca dos frutos e
do ponteiro do tomate, Lagarta do cartucho e das espigas do milho, etc. Entretanto, seu
emprego conforme a recomendação convencional tem o inconveniente de eliminar tanto a
praga como espécies úteis. Portanto, uma alternativa tem sido a utilização da armadilha
apenas como atrativo, distante da cultura de interesse, sem o emprego do recipiente
tradicional acoplado sob o aparelho.

• Armadilha de Cor: utilizada para atrair o besouro «brasileirinho», consiste em uma chapa
de 20x30 cm. pintada de amarelo gema e disposta a 45%. Coberta com goma colante ou
com graxa bem grossa, retém os insetos que pousaram nela.

• Armadilha com feromônios: Atualmente já se encontra no mercado, hormônios sexuais


(feromônios), que provocam o confundimento dos machos, dificultando o acasalamento.
Estes hormônios são colocados em armadilhas (que podem ser de captura ou não) e
pendurados no meio da lavoura, a exemplo da ilustração da Figura 50, que apresenta
uma armadilha com feromônios para a mosca da fruta em pomar de pessegueiro.

• Iscas para Lesmas e Moluscos: coloca-se sacos de estopa ou algodão, úmidos e


embebidos em xarope de açúcar ou leite entre os canteiros atacados. Os moluscos são
atraídos durante a noite podendo ser catados na manhã seguinte.

223
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 50: Armadilha luminosa para atração de insetos (à esquerda). Armadilha com feromônio,
utilizada para redução de população de mosca da fruta, em pomar de pessegueiro em
conversão para a agricultura biológica - Estação experimental de pesquisa agrícola -
vale da Emília Romana – Itália (à direita).

Controle mecânico:

• Escavação de insetos sociais ( principalmente a formiga quem-quem ): segue-se


cavando com enxadão pelo «olheiro», até chegar ao ninho, de onde se retira a rainha, a
cria e o fungo, deixando-se os adultos a definhar de inanição. Este método é 100%
eficiente se for feito um repasse, e aplica-se bem em áreas menores.

• Catação manual: aplicável sempre que o foco de ataque estiver no início, principalmente
em áreas menores. Ex. cochonilhas, besouros, etc. ( em hortas e pomares ).

Outros preparados e demais métodos alternativos de controle de pragas e doenças


podem ser encontrados em:

- Receituário caseiro (GUERRA, 1985).


- Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura (ABREU JUNIOR,
1998).
- Manual de alternativas ecológicas para prevenção e controle de Pragas e Doenças
(BURG & MAYER, 1999).

224
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 4

PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS

249
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CONSIDERAÇÕES GERAIS:

Nesta seção serão apresentadas as práticas empregadas e recomendadas para o cultivo


orgânico das principais hortaliças, enriquecidas com informações e tecnologias
recomendadas em nível nacional por diversas instituições e organizações de agricultores,
envolvidos com esta atividade.

Sistemas orgânicos de produção podem apresentar bom nível de produtividade e qualidade


comercial dos produtos, contudo se não for realizado um manejo adequado do mesmo, pode
apresentar elevado custo, diminuindo a rentabilidade. Por outro lado, o aproveitamento e a
reciclagem de resíduos locais e a mínima dependência dos insumos sintéticos externos à
propriedade podem auxiliar significativamente na redução de custos.

Os sistemas de cultivo convencional em uso no Brasil caracterizam-se pela elevada


importação de insumos sintéticos que provocam um aumento expressivo nos custos de
produção, além da dependência do agricultor aos diversos fatores do mercado.

De maneira geral, existe o preconceito de que sistemas orgânicos são onerosos por se
trabalhar com um alto volume de material a ser reciclado e pelo suposto acréscimo de mão-
de-obra no sistema.Estudos realizados por DULLEY & SIMÕES DO CARMO (1987), junto a
agricultores que praticam o sistema orgânico de produção no Estado de São Paulo,
demonstraram a viabilidade técnica e econômica a nível comercial dos sistemas avaliados.
Além disso, outros estudos que avaliaram comparativamente os indicadores físicos e
financeiros dos sistemas orgânico e convencional de cultivo, comprovaram uma elevada
rentabilidade econômica dos sistemas orgânicos de produção.

Nesta 2ª parte deste manual, serão apresentados o manejo detalhado para cada espécie, a
estimativa de produtividade a ser alcançada em função de dados científicos existentes e a
estimativa de custos de produção.

Para composição dos custos, considerou-se os seguintes aspectos abaixo:

1º. Utilizou-se o preço de venda do produto, praticado por empresas compradoras de


produtos orgânicos, as quais procedem a embalagem e a venda final do produto ao
consumidor.

2º. Neste caso, o preço recebido pelo produto é mais baixo que aquele obtido quando
realizam a venda direta aos consumidores, ou entregam em supermercados. Por esse
motivo, na composição dos coeficientes técnicos das culturas, não se contemplou gastos
com frete e embalagem nos custos de produção.

3º. O custo do composto orgânico, considerando a preparação na propriedade, utilizado no


presente trabalho, foi de R$ 23,00 por tonelada, segundo dados disponíveis na literatura.

Entretanto, vale ressaltar que, a opção de embalar o produto orgânico e comercializá-lo


diretamente, pode ser mais vantajoso economicamente para os agricultores, por
conseguirem melhores preços de venda, que geralmente compensam os gastos com
embalagem e frete.

250
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Uma observação importante deve ser feita: considerando que as hortaliças geralmente são
consumidas ‘in natura’ e que a atividade se desenvolve muitas vezes em áreas de grande
propensão a impactos ambientais (baixadas, próxima a cursos d’água, intenso trabalho
humano dentro das lavouras, próxima a residências, etc), lembre-se:

“Quando falamos de custo de produção, não estamos levando


em conta os custos ambientais e sociais e quando falamos em
rentabilidade econômica, não estamos levando em conta a
rentabilidade para o meio ambiente e para a saúde humana”.

251
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.1. Cultivo Orgânico da Abóbora

253
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO:

A abóbora pertence à família das Cucurbitáceas, assim como a abobrinha e o pepino. Um


dos pontos importantes da biologia da abóbora é que as flores são monóicas, ou seja, cada
flor tem apenas um sexo. As flores femininas têm o ovário bem destacado, com formato
parecido com o do fruto. As flores masculinas fornecem o pólen para a fecundação. O fruto
só se desenvolve a partir de flores femininas que foram fecundadas, através da polinização.

A polinização das flores é feita principalmente por abelhas. O pólen não é transportado pelo
vento. Por isso, é importante a presença de abelhas na fase de floração e frutificação da
lavoura.

Dentre as cultivares existentes no mercado, destacam-se: Menina brasileira, Jacarezinho,


Baianinha, Híbrido Tetsukabuto, Moranga exposição, dentre outras. A cultivar mais vendida é
o híbrido Tetsukabuto, obtido pelo cruzamento de duas linhagens selecionadas de abóbora e
moranga. Esse híbrido produz poucas flores masculinas, por isso, deve ser cultivada junto
com uma cultivar polinizadora, o que aumenta a produção de frutos. A moranga Exposição é
uma boa alternativa para o consórcio com a Tetsukabuto, visando a polinização do híbrido.

A aboboreira é um planta típica de clima quente. Tolera temperaturas amenas, mas não
suporta temperaturas abaixo de 10 graus. A faixa térmica ideal está entre 18 e 24 graus.
Temperaturas mais altas são bem toleradas. Por outro lado, o frio excessivo prejudica a
germinação e o desenvolvimento das plantas, e favorece a incidência de doenças como o
oídio.

A época de plantio em regiões de altitude superiores a 800 metros vai de agosto a fevereiro e
em locais com altitude inferior a 400 metros, com invernos suaves, a abóbora pode ser
cultivada o ano todo.

FORMAÇÃO DE MUDAS

Tradicionalmente, a abóbora pode ser plantada diretamente nas covas ou através de mudas
formadas em sementeiras. Entretanto, para sistemas orgânicos de produção, onde o convívio
com a vegetação nativa é uma constante, torna-se mais recomendável adotar o método de
plantio por mudas para um crescimento inicial mais rápido da cultura.

No caso do cultivo do Tetsukabuto, cujas sementes são caras, é melhor produzir as mudas
em recipientes. Assim, há economia de sementes, com um bom rendimento das mudas.
Além disso, a opção pelo plantio por mudas têm a vantagem de reduzir o ciclo de campo e
obtenção de um melhor pegamento das plantas.
Para obtenção das mudas, o semeio deve ser realizado em copos plásticos ou sacolas
plásticas, que possuam capacidade de comportar pelo menos 200 cm3 de volume de
substrato.

O substrato orgânico pode ser o próprio composto peneirado puro ou misturado com terra na
proporção de 1:1. Além deste, pode se empregar misturas de estercos bem curtidos com
terra ou produtos comerciais já disponíveis no mercado, desde que sejam compatíveis ao

254
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

sistema produtivo. Como o índice de germinação em abóboras é bastante elevado pode-se


semear apenas uma semente por copo que permitirá obter um bom stand de mudas.

Para o plantio de abóboras híbridas, torna-se necessário plantar uma cova da variedade
polinizadora (normalmente a moranga exposição) para 6 covas do híbrido (Tetsukabuto).
Entretanto, pela diferença de ciclo entre estes materiais, deve se proceder tanto o semeio
quanto o plantio da variedade 15 a 20 dias antes do híbrido, para que a floração ocorra no
mesmo período no campo e favoreça a polinização.

Recomenda-se a formação de mudas em ambiente protegido (telado) para evitar ou diminuir


possíveis pragas e doenças comuns em sementeiras e obter um melhor desenvolvimento
das plantas. A irrigação em ambientes protegidos deve ser muito criteriosa, pois a
evaporação é intensa e pode provocar umidade excessiva em certas horas do dia e falta de
água em outras. Portanto, recomenda-se irrigar mais vezes (mínimo 3 vezes/dia) com menor
quantidade de água por vez, para se obter uma unidade regular no substrato. As mudas
estão prontas quando sai a primeira folha verdadeira. Nas dias anteriores ao plantio, é feito o
endurecimento das mudas, reduzindo a irrigação.

PREPARO DE SOLO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Dependendo das condições do terreno se decidirá a necessidade de preparo mecânico do


solo através de aração e gradagem. Em áreas com pouca vegetação nativa pode-se
proceder a limpeza da área e a abertura de covas diretamente. Em solos com um nível
médio a alto de ervas nativas, efetua-se uma aração com, no mínimo uma semana de
antecedência ao plantio e por ocasião do plantio realiza-se uma gradagem para uniformizar o
solo. Em seguida, faz-se a abertura das covas, devendo ter as dimensões de 30X30X30 cm
para comportar adequadamente o adubo orgânico.

Na adubação orgânica pode ser usado o composto orgânico (7,5 t/ha, em peso seco),
esterco de curral curtido ( 20 a 30t/ha) ou outra fonte orgânica compatível com as Normas
Técnicas de Produção. Recomenda-se aplicar 2/3 desta adubação na cova de plantio,
misturando o adubo orgânico com a terra e 1/3 em cobertura, ao redor das plantas, aos 45
dias após plantio.

As covas devem ser irrigadas, antes do plantio, para melhorar o pegamento das mudas.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

Tanto para o plantio direto das sementes nas covas, como para o transplantio de mudas,
recomenda-se o espaçamento de acordo com as cultivares utilizadas. Em geral, os
espaçamentos recomendados variam de 2,5 a 5,0 metros entre linhas de plantio e de 2,0 a
4,0 metros entre plantas na linha. Em cultivo orgânico do híbrido Tetsukabuto tem se
utilizado um espaçamento mais estreito (2,5 m X 2,0 m) com um bom desempenho da
cultura. Para o plantio direto em covas, deve-se semear 3 a 4 sementes para garantir um
melhor “pegamento”.

255
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Na hora do plantio, retira-se o recipiente, e planta-se apenas uma muda por cova. Havendo
mais de uma, eliminar a mais fraca. Respeitando a proporção necessária para a polinização
do híbrido, você deverá plantar 1 muda de moranga Exposição para cada 6 mudas de
Tetsukabuto, distribuindo as mudas de maneira uniforme no campo.

MANEJO DA CULTURA:

Irrigação:
Além de uma boa irrigação com mangueira, localizada nas covas antes do plantio, deve-se
empregar a irrigação por aspersão duas vezes por semana até o pegamento definitivo das
mudas, nos primeiros 15 dias de campo. Posteriormente, irriga-se de 1 a 2 vezes por
semana, dependendo do regime de chuvas que será variável em função da época do ano em
que se efetuou o plantio.

Desbastes:
Caso tenha adotado o plantio direto das sementes nas covas, será necessário realizar o
desbaste das mudas, deixando-se apenas uma planta por cova para um melhor
aproveitamento do adubo orgânico. No plantio através de mudas, esta prática não será
empregada.

Capinas:
Em sistemas orgânicos de cultivo, as capinas devem ser realizadas, de forma a manter, no
mínimo, uma faixa contínua de 1,0 m de largura entre as linhas com a vegetação nativa do
local. Em caso de alta infestação de ervas, pode-se utilizar a capina mecanizada com
microtratores ou com cultivadores tracionados por animais, nas entrelinhas antes que as
ramas ocupem todo o terreno.

Adubação em cobertura:
Aos 45 dias após o plantio, recomenda-se aplicar 1/3 da adubação orgânica recomendada
para a cultura. Esta adubação deve ser aplicada ao redor das covas, efetuando uma
irrigação logo após.

A pulverização de biofertilizante líquido sobre as folhas da abóbora, também, é uma forma de


fazer adubação complementar à cultura. Pode ser pulverizado a uma concentração de 20%,
quinzenalmente, até à metade do período de frutificação.
Nutrição de plantas:
Dependendo do estado nutricional das plantas, expresso pelo seu vigor vegetativo, se
poderá utilizar biofertilizante líquido a 20% ou Supermagro a 3%, em pulverizações foliares
quinzenais.

MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS:

Doenças
Dentre as doenças de possível ocorrência nesta cultura, destacam-se: Oídio, Míldio,
Antracnose, Mancha Zonada, Sarna, Mancha Angular, Podridão dos frutos e Mosaicos
(viroses).

256
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Pelo equilíbrio obtido em cultivo orgânico, o nível de incidência de doenças tem sido
insignificantes, não proporcionando danos econômicos e não justificando empregar métodos
alternativos de controle. Havendo necessidades esporádicas, emprega-se a calda bordalesa
a 1% ou biofertilizante foliar a 20%.

É importante lembrar que a atividade das abelhas é maior até às 10 horas da manhã, se
estendendo até às 13 horas. Por isso, qualquer produto deve ser aplicado na parte da tarde,
quando as abelhas não estão presentes, para não prejudicar a polinização das flores.

Pragas
Dentre as diversas pragas das Cucurbitáceas, apenas a broca do fruto pode apresentar um
pequeno nível de incidência na cultivar moranga exposição, enquanto que no híbrido
tetsukabuto, por ser mais resistente, o dano tem sido inexpressivo, não justificando controle
por métodos alternativos.

COLHEITA:

A colheita deve ser realizada quando os frutos apresentam sinais característicos de


amadurecimento, o que se verifica por coloração, firmeza e textura da casca. Em média se
inicia a colheita aos 60 a 90 dias após o transplantio das mudas no campo definitivo.

O padrão de mercado da abóbora Tetsukabuto é peso unitário variando de 2 a 2,5 quilos, e


diâmetro de 18 a 20 centímetros. O desenvolvimento vegetativo da abóbora cultivada
organicamente tem sido bastante satisfatório, demonstrando plena adaptação a esse sistema
de plantio, com excelente formação de frutos (Figura 50), tanto para o híbrido quanto para a
c.v. Moranga.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

DESEMPENHO DA CULTURA DA ABÓBORA NO SISTEMA ORGÂNICO

A Tabela 66 apresenta uma média de rendimento superior a 7000 Kg/ha, em 10 anos de


cultivo orgânico, o que indica boa adaptabilidade da cultura a esse sistema.

Tabela 66: Desenvolvimento agronômico da cultura da Abóbora em sistema de cultivo


orgânico.1
Produção COMERCIAL
Cronologia
Dos Ano Total Produti- Peso Diâm. Frutos Frutos Ciclo
Cultivos vidade Médio Médio Brocados Podres
(Kg/ha) (Kg/ha) (Kg) (cm) (%) (%) (dias)
Tetsukabuto 1 1991/92 6.176 6.118 1,4 16,0 0,9 0,9 87
Moranga 1 2.140 2.064 2,4 20,0 4,4 15,5 107

Tetsukabuto 2 1992/93 6.048 5.322 1,4 21,0 1,1 - 88


Moranga 2 8.705 8.705 3,0 22,7 13,0 - 103
Tetsukabuto 3 1993/94 3.098 2.872 1,2 15,5 1,7 0,0 100
Moranga 3 1.050 1.050 2,2 20,4 5,0 0,0 116
Tetsukabuto 4 1993/94 3.203 3.076 1,4 16,6 6,8 - 100
Moranga 4 1.210 1.128 2,4 21,0 22,2 - 101
Tetsukabuto 5 1994/95 10.938 10.834 3,2 19,0 1,2 4,8 109
Moranga 5 3.383 3.357 3,4 22,1 6,0 7,3 131
Tetsukabuto 6 1995 12.568 12.568 2,7 18,4 1,2 0,9 110
Moranga 6 3.942 3.942 3,3 20,7 19,4 1,0 133
Tetsukabuto 7 1995/96 8.360 8.236 3,2 21,2 0,0 0,7 112
Moranga 7 15.272 15.192 3,0 23,2 8,3 1,0 133
Tetsukabuto 8 1996 14.598 14.477 2,7 19,1 1,4 2,8 91

Moranga 8 1.904 1.697 3,6 20,9 10,0 35,0 111


Tetsukabuto 9 1997 4.450 4.258 2,1 15,7 2,6 13,4 120
Moranga 9 644 578 2,7 22,0 2,9 35,3 104
Tetsukabuto 10 1998 5.163 4.696 1,9 17,1 3,0 13,1 120
Moranga 10 971 950 2,9 20,9 25,0 ----- 131
Tetsukabuto 11 1999/00 9.004 8.975 2,4 18,0 0,4 0,1 137
Moranga 11 3.133 3.133 3,2 22,0 13,3 10,0 156
Tetsukabuto 12 1999/00 6.770 6.478 2,1 19,4 0,4 4,7 141
Moranga 12 695 695 2,7 21,0 0,0 5,5 160
7.531,3 7.325,8 2,1 18,0 1,7 4,6 109,6
3.587,4 3.540,9 2,9 21,4 10,8 13,8 123,8
1Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Verificamos através dos dados individuais de cada cultivo, uma variabilidade considerável
nas produções, refletindo a estreita dependência dessa espécie a fatores climáticos.
Entretanto, os índices de produtividade comercial obtidos expressaram uma média de
7.325,8 Kg/ha para o híbrido Tetsukabuto.

Esse valor pode ser considerado bastante significativo, se comparados com a produtividade
média de 6.000 Kg/ha desse híbrido em sistemas convencionais. Além disso, a qualidade
comercial de frutos tem sido excelente, atingindo um ótimo padrão comercial (peso médio =
2,1 Kg e diâmetro médio = 18,0 cm).

A abóbora moranga tem nos fornecido o rendimento adicional médio de 3.540,9 Kg/ha de
frutos comerciais, também de excelente qualidade.

CUSTO DE PRODUÇÃO

No sistema orgânico, o custo de produção foi de R$ 1355,00, e considerando um rendimento


médio de 7325 Kg/ha, o custo para produção de 1por kg do produto foi de R$ 0,18 (Tabela
67). Nas condições analisadas, para uma venda a preço médio de R$ 0,40 por Kg, obtém-se
uma receita bruta de R$ 2930,00, o que proporciona uma rentabilidade altamente satisfatória,
com uma receita líquida de R$ 1575,00 por hectare (Tabela 68).

O fator que mais onerou os custos foi a mão-de-obra, participando com 39% do total, seguida
dos gastos com composto orgânico, que representou 25%.

Tabela 67: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Abóbora (1 ha) em sistema


orgânico de produção.
Discriminação Qde Valor (R$) %
DESPESAS:
Semente (g) 750 300,00 22
Composto (t) 15 345,00 25
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 53 530,00 39
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 14
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 1.355,00 100
CUSTO POR Kg 7.325 0,18 -
1 SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 68: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Abóbora em sistema


orgânico de produção.
ud Valor Qde Valor Total
Especificação Unitário
(R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 15 345,00
Semente Tetsukabuto g 0,57 500 285,00
Semente Moranga g 0,06 250 15,00
Calcário t 44,00 - -
2.SERVIÇOS:
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Preparo do Solo (covas) D/H 10,00 5 50,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 6 60,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 1 10,00
Desbaste D/H 10,00 - -
Adubação em Cobertura D/H 10,00 6 60,00
Capinas D/H 10,00 5 50,00
Pulverizações D/H 10,00 - -
Irrigações D/H 10,00 10 100,00
Colheita(s) D/H 10,00 10 100,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 5 50,00
Transporte Interno D/H 10,00 5 50,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 1.355,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA KG 0,40 7.325 2.930,00
Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 50: Frutos de abóbora orgânica, com bom padrão comercial.

261
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.2. Cultivo Orgânico da Alface

263
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

A alface é hortaliça tipicamente de inverno, existindo porém materiais genéticos com boa
tolerância ao cultivo de verão, de forma que em regiões de altitude é possível cultivá-la o ano
todo. De maneira geral, existem 3 grupos de alfaces:

Grupo Manteiga (folhas lisas e formam cabeças):


∗ Elisa, Regina, Brasil 303, Floresta, Áurea, dentre outras.

Grupo de folhas crespas ( folhas crespas e não formam cabeças):


∗ Grand rápids, Verônica, Brisa, Elba (inverno) e Vanessa (verão).

Grupo de folhas crocantes ou Americana:(folhas grossas e formam cabeças):


∗ Tainá, Salinas, Great Lakes, Mesa, Lorca.

PREPARO DE SOLO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

O preparo do solo pode ser feito com gradagem ou rotativa, porém dependendo das
condições do solo, pode ser realizado o levantamento dos canteiros sem o emprego do
preparo mecânico.

Os canterios devem ter boa exposição solar e em áreas de muito vento, plantar linhas de
feijão guandu, de 10 em 10 metros nas áreas cultivadas com folhosas. A largura dos
canteiros deve ser de 1,0 a 1,2 metros, com 30 a 40 cm entre si, para facilitar o trânsito de
operários.

As adubações orgânicas podem ser realizadas a lanço, antes do preparo dos canteiros, em
solos já enriquecidos. No entanto, para o primeiro ano de manejo orgânico, recomenda-se
abrir as covas e adubar de forma localizada, após ter sido preparado os canteiros definitivos.
Aplicar 200 gramas de composto úmido (50%) ou 100 gramas de humus ou esterco de boi
curtido por cova.

FORMAÇÃO DE MUDAS

As mudas podem ser obtidas em canteiros ou em bandejas. Em cultivo orgânico, recomenda-


se optar pela formação de mudas em bandejas, visando minimizar riscos. Para tanto,
emprega-se bandejas de 200 ou 288 células.

As bandejas devem ficar suspensas (sem contato com o solo), em estufa própria para esta
finalidade. As irrigações nesta fase são fundamentais, devendo ser realizadas, no mínimo, 2
vezes ao dia. Lembrar que o excesso de umidade no substrato propicia a ocorrência de
doenças, como murchas e tombamento de mudas por fungos de solo. Após um período de
20 a 30 dias, as mudas estarão prontas para o transplante

264
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

Os plantios serão realizados durante todo o ano, observando que as variedades de inverno
devem ser plantadas de março a agosto e as de verão, de setembro a fevereiro.

O espaçamento de plantio deve ser de 25 cm X 30 cm para as variedades lisas e de 30 cm X


30 cm para as variedades crespas e americanas.

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

Realizada por aspersão, pela manhã ou à tarde, oferecendo ao solo um bom teor de
umidade, da forma mais uniforme possível. Lembrar que o excesso de umidade é um dos
fatores que provocam problemas com doenças.

b) Cobertura morta:

Se as condições locais permitirem, o emprego da cobertura morta dos canteiros com casca
de arroz ou outro material vegetal de textura fina é extremamente benéfico para o
desenvolvimento da alface e outras folhosas. Além disso, auxilia na fertilização do solo de
forma muito rápida.

c) Rotação cultural:

O cultivo sucessivo de alface na mesma área deve ser evitado, pois tem sido comum o
acúmulo de doenças. Portanto, em áreas de folhosas, efetuar a rotação com hortaliças de
raízes (beterraba, cenoura, etc) ou hortaliças-fruto (feijão-vagem, berinjela, etc).

d) Capinas:

Para cultivos em canteiros, toda vegetação sobre os canteiros deve ser eliminada
manualmente, para evitar a concorrência com a cultura. Porém, é fundamental que a
vegetação entre os canteiros seja preservada para favorecer a multiplicação de insetos
benéficos e inimigos naturais.

DOENÇAS

A utilização de caldas para controle de doenças foliares deve ser evitada. Normalmente, não
se verifica problemas com doenças que justifiquem controle quando o sistema é bem
conduzido. Entretanto, havendo necessidade, pode-se empregar biofertilizante bovino,
aplicado semanalmente, em concentrações fracas ( máximo 10%) para não sujar as folhas,
de forma a auxiliar na nutrição e proteção contra moléstias. Suspender a aplicação, 15 dias
antes do corte das cabeças.

265
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PRAGAS

A ocorrência de pragas não é comum, porém havendo infestação por tripes, pode-se aplicar
extrato de primavera (Bouganville - 1 litro de folhas para 20 litros de água) ou outro produto
natural repelente.

COLHEITA

Ocorre de 60 a 90 dias, dependendo da cultivar e da época do ano. O rendimento esperado


varia de 90.000 a 120.000 plantas ou 20 a 40 t/ha. O sistema de embalagem mais utilizado
está ilustrado na Figura 51.

Rendimento esperado: 90.000 a 120.000 plantas/ha ou 9 a 12 plantas por m2.

Figura 51: Alface ‘americana’ embalada para o mercado orgânico.


Domaine Agroecológica – Pedra Azul – ES.

266
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.3. Cultivo Orgânico do Alho

269
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
INTRODUÇÃO

O alho, cujo nome científico é Allium sativum, é uma planta anual, com cerca de 50 cm de
altura. As folhas possuem bainhas que formam um pseudocaule, curto, cuja parte inferior, é
um bulbo composto, que é a parte comestível do alho.

O bulbo é formado por bulbilhos, que são, comumente, chamados de dentes. O número de
bulbilhos é muito variável, e é uma característica usada para diferenciar os cultivares. Cada
bulbilho contém uma gema, capaz de originar uma nova planta. Assim, o dente de alho é a
muda, utilizada no plantio.

No bulbo maduro, especialmente, após a cura, podem-se observar as túnicas ou capas de


proteção, envolvendo todo o bulbo. Cada bulbilho, também, possui películas de proteção,
individuais. A coloração das túnicas e das películas é outra característica importante utilizada
para diferenciar os clones comerciais.

CULTIVARES

A classificação dos cultivares de alho é confusa, uma vez que eles podem receber nomes
diferentes em cada região. Os cultivares são, também, chamados clones, porque as mudas
são pedaços da planta mãe.

Atualmente, os clones que produzem bulbilhos de maior tamanho e em menor número são
os preferidos dos consumidores. Por isso, eles têm sido mais amplamente cultivados. Como
exemplos desses cultivares, temos o Amarante, o Gigante de Lavínia, o Gigante Roxão e o
Gigante Curitibanos.

Os cultivares ou clones podem ser agrupados de acordo com a duração do seu ciclo, como é
mostrado a seguir.

a) Clones brancos precoces:

Esse grupo é composto por clones que tem túnicas e películas de cor branca e ciclo precoce,
produzindo bulbos maduros de 110 a 140 dias após o plantio.

Neste grupo, o cultivar mais disseminado é o Branco Mineiro, pois se adapta a diferentes
regiões do país, sendo produzido no Centro-sul, no extremo sul, no Nordeste e no Norte do
país.

Este clone produz bulbos com bulbilhos pequenos e numerosos, com grande quantidade de
palitos, que são muito pequenos, compridos e de peso insignificante. O grande número de
palitos e os bulbilhos pequenos desvalorizam esse clone no mercado.

O Branco Mineiro é susceptível ao ‘superbrotamento’, um distúrbio causado por excesso de


nitrogênio e de água, e às doenças fúngicas da folhagem, principalmente, à queima de
Alternaria e à ferrugem.

270
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
b) Clones de ciclo médio:

Os clones de ciclo médio são colhidos com 141 a 170 dias após o plantio. A coloração dos
bulbos pode ser branca ou arroxeada e os bulbilhos têm película roxa ou arroxeada.

Nessa categoria, temos o Gigante de Lavínia, o Amarante, o Gigante Roxão e o Caturra,


que apresentam bulbilhos grandes e baixa incidência de palitos. Estes clones são menos
adaptáveis que o Branco Mineiro em termos climáticos e de solo e mais exigentes em
fotoperíodo. São resistentes ao superbrotamento, mas suscetíveis à queima de Alternaria e à
ferrugem. Por causa da produção de bulbos de excelente qualidade e boa aceitação no
mercado, tem crescido a área cultivada com esses clones.

Ainda no grupo dos clones de ciclo médio, temos o Centenário e o Cateto Roxo, que
apresentam muitos bulbilhos pequenos e palitos. Como vantagens, eles apresentam alta
produtividade e maior rusticidade, se adaptando a diferentes localidades e apresentando alta
resistência a doenças fúngicas da parte aérea.

c) Clones tardios:

Os clones tardios são colhidos com mais de 170 dias após o plantio. Essa categoria inclui o
clone ‘Dourados’, com túnicas brancas e películas arroxeadas envolvendo os bulbilhos, que
são muito numerosos e com grande número de palitos. Outro clone é o Chonan, que produz
no máximo12 bulbilhos por bulbo. A túnica que recobre o bulbilho é arroxeada a púrpura.

Esses clones são muito exigentes em fotoperíodo, tendo baixa adaptação às condições
climáticas do Centro-Sul. O Chonan, por exemplo, só produz nas condições do sul do país ou
em plantios tardios ( a partir de maio ) no sudeste brasileiro, empregando-se bulbilhos
frigorificados em pré-plantio.

EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS

Os fatores climáticos mais importantes para a cultura do alho são o fotoperíodo e a


temperatura. O fotoperíodo refere-se ao número de horas de luz que o alho exige para
formar bulbos. Assim, é considerado uma planta de dia longo, somente havendo formação de
bulbos quando os dias apresentam uma duração acima de um certo número mínimo de
horas de luz. O número mínimo varia de clone para clone.

Os clones de ciclo tardio exigem dias mais longos para formar os bulbos e os de ciclo
precoce exigem dias menores.

O alho é uma planta de clima frio, suportando bem as baixas temperaturas, inclusive geadas.
Produz melhor quando ocorrem temperaturas amenas na fase inicial; temperaturas mais
baixas na fase de crescimento vegetativo e temperaturas mais elevadas na fase de
amadurecimento do bulbo.

271
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Por causa dessas exigências climáticas, na Região Centro-Sul do Brasil, o plantio do alho é
feito de fevereiro a início de maio. Em locais baixos e quentes, a época de plantio mais
recomendável é de abril a maio. E em locais altos, com altitude superior a 800 metros, é
melhor plantar de fevereiro a abril.

PRODUÇÃO DE ALHO-SEMENTE (MUDAS)

O plantio do alho é feito por meio de bulbilhos. O agricultor necessita comprar os bulbos para
plantio apenas uma vez. Depois, ele pode armazenar uma parte da colheita para utilizar no
plantio do ano seguinte.

O tamanho ou o peso do bulbilho-semente é muito importante para uniformizar a brotação, a


emergência e o posterior desenvolvimento e maturação das plantas. Os bulbilhos devem ser
classificados pelo tamanho. Para isso, podem ser usadas as peneiras classificadoras, que
separam os bulbilhos em 5 classes: grandes, médios, médio-pequenos, pequenos e palitos.

Para o plantio, os mais indicados são os médios a médio-pequenos, pois são capazes de
gerar plantas vigorosas por um custo compensador para o produtor. Os bulbilhos grandes
produzem plantas de ótima qualidade, mas não se justifica o seu uso, por causa do maior
custo. Os palitos são condenados, pois a produtividade e o tamanho dos bulbos que geram
é sensivelmente menor.

PLANTIO

Ao escolher o local de plantio deve-se observar o tipo de solo e o histórico da área, no que
se refere à ocorrência de pragas e doenças. Para o cultivo do alho é o areno-argiloso, solto
e leve, que possibilita um bom desenvolvimento dos bulbos.

O plantio é feito em canteiros de 1,20 m de largura, no espaçamento de 0,25 m entrelinhas e


0,10 m entre plantas. Os sulcos de plantio devem ter cerca de 10 cm de profundidade. Após
a distribuição nos sulcos, os bulbilhos devem ser cobertos com uma camada de 2 a 3 cm de
terra.

COBERTURA MORTA

Após o plantio, é preciso colocar uma cobertura morta sobre os canteiros, antes da
emergência das plantas. Podem ser usadas acículas de pinus, palha de arroz bem seca, ou
diversos tipos de capins secos, sem sementes. Cobre-se toda a superfície do canteiro, com
uma camada de cerca de cinco centímetros do material. Em sistema orgânico, em caso de
baixos níveis de Nitrogênio no solo ou no adubo orgânico utilizado, pode-se optar pela
cobertura com plástico preto ou branco opaco, com bons resultados.

272
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ADUBAÇÃO ORGÂNICA

A aplicação do adubo orgânico pode ser feita a lanço, em toda área de plantio, antes do
encanteiramento, na base de 10 toneladas de composto orgânico por hectare, tomando-se
como referência o peso seco, ou seja, descontando-se a umidade do composto. Aos 30 dias
após o plantio, deve ser feita uma adubação em cobertura, utilizando 5 toneladas de
composto orgânico por hectare, em peso seco, totalizando 15 toneladas de composto por
hectare. Pode ser usada a mesma quantidade de esterco curtido de curral ou metade da
quantidade de esterco de aves.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação

O método de irrigação mais indicado é a aspersão. A irrigação do alho é indispensável para


obter boa produção, pois a cultura se desenvolve na época da seca. Nas fases de
crescimento da planta e de enchimento dos bulbos, é importante manter o solo úmido, mas
sem encharcar. A freqüência e a intensidade de aplicação depende de vários fatores ligados
ao clima e ao tipo de solo local.

Nos cultivares de ciclo precoce é preciso evitar o excesso de água, pois provoca o
‘superbrotamento’ do bulbo. Nesse caso, a irrigação deve ser cortada de 15 a 25 dias antes
da data prevista para a colheita.

Os cultivares de ciclo médio ou tardio são mais exigentes em água e mais tolerantes a um
eventual excesso de umidade, no solo. Assim, a irrigação deve ser suspensa apenas 10 dias
antes da colheita.

b) Capina

A capina sobre os canteiros é necessária, sempre que houver mato, para evitar a competição
das ervas com a cultura. A cobertura morta reduz bastante o crescimento do mato, mas torna
necessário fazer a capina com as mãos. Quando se utiliza cobertura com plástico, a mão de
obra com capinas é reduzido. A vegetação nativa que cresce entre os canteiros dever ser
mantida, para servir de refúgio e multiplicação de predadores do ácaro do chochamento e do
tripes, de forma a dispensar o uso de produtos alternativos para o controle destas pragas.

c) Adubação em cobertura

É preciso realizar uma adubação em cobertura, 30 dias após o plantio, para fornecer o
nitrogênio que as plantas necessitam, nessa fase de intenso crescimento. Isso pode ser feito
através da aplicação de composto orgânico, de chorume de composto ou de biofertilizantes
líquidos, junto às plantas.

A dosagem de composto é de 5 toneladas por hectare. O chorume é preparado misturando-


se uma parte de composto orgânico peneirado e duas a cinco partes de água. As dosagens

273
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
de chorume ou de biofertilizante líquido enriquecido é de 400 mililitros por metro quadrado,
ou seja, quatro mil litros por hectare. Também, devem ser aplicados no solo, junto às linhas
das plantas.

CONTROLE DE DOENÇAS

A mancha púrpura, causada pelo fungo Alternaria porri, é a doença do alho mais
disseminada. As manchas marrom-avermelhadas podem cobrir toda a folha. Os sintomas
iniciais são manchas brancas, pequenas alongadas ou irregulares, que se tornam púrpuras,
posteriormente. Condições de umidade e temperaturas elevadas favorecem o fungo.

O cultivar Centenário tem se mostrado bastante resistente a essa doença, e o Gigante de


Lavínia é muito suscetível.

O controle da Alternaria no sistema orgânico tem sido feito com aplicações semanais de
calda bordalesa a 1%. O tratamento deve começar de 60 a 80 dias após o plantio, para
proteger a cultura no período crítico da doença, ou seja, dos 80 aos 130 dias do ciclo. Fora
desse período, normalmente não é necessário proceder pulverizações para esta doença.

CONTROLE DE PRAGAS
O tripes (Thrips tabaci), um inseto que raspa e suga a seiva das folhas, ocorre com
freqüência da cultura do alho. O ataque é favorecido pela baixa umidade do ar. O tripes
provoca o amarelecimento e secamento prematuro das folhas.

O ácaro do chochamento (Eriophyes tulipae), também, é de comum ocorrência na lavoura de


alho. Ele provoca deformações nas folhas, com retorcimento e secamento prematuro das
plantas, o que afeta o desenvolvimento dos bulbos. Pode atacar, também, os bulbos
armazenados, levando à perda de peso e da qualidade do produto.

O controle dessas pragas é executado pela presença dos inimigos naturais na lavoura,
favorecida pela vegetação nativa que cresce entre as linhas de cultivo e nos corredores de
refúgio.

A calda bordalesa, aplicada na dosagem recomendada acima, e a calda sulfocálcica,


também são auxiliares no controle do ácaro e do tripes.

COLHEITA

A colheita deve ser feita quando se completar o amadurecimento das plantas. Este se inicia
pelo amarelecimento das folhas e termina pela secagem parcial da parte aérea (Figura 51).
Alguns cultivares apresentam o estalo ou tombamento da parte aérea, outros permanecem
eretos, depois do amadurecimento.

A colheita deve ser feita com o solo levemente úmido, para facilitar a retirada das plantas.
Por isso, a irrigação deve ser suspensa cerca de duas semanas antes. A colheita deve ser

274
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
feita manualmente, puxando as plantas, sem uso de ferramentas e deve ocorrer,
preferencialmente, pela manhã, em dias secos e ensolarados.

CURA

O alho colhido deve passar pela pré-cura, ainda no campo. Para isso, é organizado em
fileiras, de modo que os bulbos de uma fileira sejam cobertos pelas folhas da fileira do lado.
Os bulbos devem ser protegidos do sol direto, para evitar lesões. O objetivo é secar a planta
e cicatrizar eventuais ferimentos, feitos durante a colheita. A pré-cura, no campo, dura de um
a três dias, dependendo das condições do tempo.

Após esta etapa, o alho deve ser levado para um galpão, bem seco e arejado, para fazer
uma cura mais lenta. Neste processo, há uma perda gradual de umidade e a concentração
de sólidos nos bulbos. Também, completa-se a cicatrização dos ápices dos bulbilhos,
favorecendo a boa conservação do bulbo.

O tempo necessário é variável, de acordo com a umidade inicial das plantas e a temperatura
e umidade do ar. Pode-se gastar de 20 a 60 dias na cura à sombra. As operações de pré-
cura e cura devem ser muito bem feitas, para melhor conservação dos bulbos, evitando
ataque de fungos durante o armazenamento.

ARMAZENAMENTO

O alho pode ser armazenado em molhos ou réstias, e pendurados em galpão, seco e bem
arejado. Dessa forma, é possível armazenar, também, os bulbos que serão usados como
sementes, no próximo plantio (Figura 52).

BENEFICIAMENTO

No momento da comercialização, é preciso fazer o beneficiamento, ou a toalete, que consiste


no corte da rama, feito após a cura completa. É preciso deixar 1 a 2 centímetros de
comprimento do pseudo-caule, para evitar a debulha e a invasão de patógenos. Também,
aparam-se as raízes, bem rente ao bulbo e eliminam-se algumas túnicas externas, que
estejam sujas.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 51: Ponto de colheita de alho, em sistema orgânico de


produção.

Figura 52: Bulbos de alho orgânico, armazenados em galpão


sombreado.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
DESEMPENHO DA CULTURA DO ALHO NO SISTEMA ORGÂNICO

O desenvolvimento produtivo da cultura do alho melhora substancialmente ao longo dos


anos, à medida que a fertilidade do solo é aumentada. O índice médio de produtividade de
6.102 Kg/ha, apresentado na Tabela 69, pode ser altamente competitivo, comparado a outros
rendimentos médios conhecidos em sistemas convencionais de produção.

Tabela 69. Desenvolvimento agronômico da cultura do alho em sistema de cultivo


orgânico.1
Comercial
Cronologia Ano Produção Produtividade 2 % peso Peso Diâm. Ciclo
dos total (kg/ha) comercial médio Médio (dias)
cultivos (kg/ha) (g) (cm)
Alho 1 1991 4.333 2.328 54 15,5 3,7 136
Alho 2 1992 5.699 4.172 73 29,4 4,3 132
Alho 3 1993 2.700 1.450 54 11,1 3,1 148
Alho 4 1993 4.176 3.527 84 14,6 3,5 152
Alho 5 1994 6.624 3.151 48 28,0 4,3 137
Alho 6 1994 4.777 3.185 67 17,7 4,2 132
Alho 7 1995 8.727 6.323 76 25,0 4,2 144
Alho 8 1995 10.960 8.764 80 33,0 4,4 154
Alho 9 1996 6.184 5.686 92 23,9 3,8 152
Alho 10 1996 12.261 10.455 85 33,6 4,2 153
Alho 11 1997 10.990 9.450 86 32,0 4,2 153
Alho 12 1998 11.960 7.430 62 33,7 3,6 147
Alho 13 1999 10.630 9.910 93 36,2 3,9 147
Alho 14 1999 10.470 9.600 92 30,0 3,7 148
Média 7.859,7 6.102,2 74,7 26,0 4,0 145
1 Fonte: SOUZA (2002).
2 Pesagem aos 15 dias de cura em galpão.

Neste trabalho, a melhoria do desempenho da cultura, a partir de 1994/95, foi atribuída a


diversos fatores ambientais do sistema de produção, destacando-se três principais, como:
controle total do ácaro do chochamento por inimigos naturais, a partir do terceiro ano;
melhoria substancial em todas as características do solo e proteção foliar com calda
bordalesa a 1%, a partir de 1994.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CUSTO DE PRODUÇÃO

Os custos com mão-de-obra no sistema orgânico de produção de alho, representam a


parcela mais expressiva, chegando a contribuir com 65% do total dos custos de produção da
cultura, que totalizou R$ 5.262,80, conforme se observa nos indicadores físicos e financeiros
da cultura, contidos na Tabela 70.

Considerando uma produtividade média de 6.120 Kg/ha, o custo unitário por Kg do produto
foi de R$ 0,86. Uma vez que o alho é um produto de alto valor no mercado (R$ 3,00/Kg), a
receita total prevista foi de R$ 18.306,00, ou seja, uma rentabilidade de 3,48 reais para cada
real investido. Veja o detalhamento dos coeficientes técnicos contidos na Tabela 71.

Tabela 70: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Alho (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (Kg) 800 800,00 16
Composto (t) 30 690,00 13
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - 172,80 3
Mão de Obra (d/h) 342 3.420,00 65
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 3
Embalagem (ud) - -
Frete (ud) - -
TOTAL DE DESPESAS - 5.262,80 100
CUSTO POR Kg 6.102 0,86 -
1 Valores em R$ ( atualizado em outubro de 2001).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 71: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Alho em sistema orgânico
de produção.1

Especificação ud Valor Unitário Qde Valor Total


(R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Sementes kg 1,00 800 800,00
Calcário t 44,00 - -

2. SERVIÇOS:
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Obtenção de Palhas D/H 10,00 40 400,00
Preparo de bulbilhos-sementes D/H 10,00 20 200,00
Preparo de solo (canteiros) D/H 10,00 30 300,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 6 60,00
Plantio D/H 10,00 50 500,00
Aplicação de Cobertura Morta D/H 10,00 25 250,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 10 100,00
Capinas D/H 10,00 30 300,00
Pulverizações (Calda Bordalesa) D/H 10,00 16 160,00
Irrigações D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 30 300,00
Cura D/H 10,00 15 150,00
Limpeza D/H 10,00 25 250,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 5 50,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTO - - - 5.262,80
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA KG 3,00 6.120 18.306,00
Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.4. Cultivo Orgânico da Batata

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCA DE PLANTIO

Para o sucesso na produção orgânica de batata, torna-se indispensável a utilização de


materiais genéticos com tolerância ou resistência à requeima. Portanto, recomenda-se
utilizar as seguintes cultivares:

∗ Matilda, Itararé, Monte Bonito, segundo recomendações de SOUZA (1996), além de


Araucária, Catucha, EEI-004, Tollocan, Sante, Cristal e Aracy ruiva, segundo SOUZA
(1999).

Em regiões de altitude, onde o clima é ameno e o desenvolvimento da cultura é melhor, a


Batata apresenta três épocas de plantio: da seca, de inverno e das águas. Entretanto, para
enfrentar menores problemas com o desenvolvimento das plantas e com doenças, deve-se
optar pelas épocas da seca (março) e de inverno (junho).

PREPARO DE SOLO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

O preparo de solo deve ser minucioso para se obter bons rendimentos. Recomenda-se uma
aração e duas gradagens para permitir uma boa prática de amontoa posteriormente.

Os sulcos devem ser preparados com dimensões maiores do que os tradicionalmente


recomendados para a cultura, para comportar adequadamente o material orgânico da
adubação.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Realizada com composto orgânico, na base de 30 t/ha, sendo parcelada em 2/3 no plantio e
suplementada com 1/3 desta dose aos 30 dias após, imediatamente antes da amontoa.

Dependendo das características locais, pode-se empregar esterco bovino (20 a 30 t/há),
cama de frango de corte (15 t/ha) ou esterco de galinha puro/gaiola (10t/ha).

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

O plantio é realizado em sulcos, espaçados de 0,8 m, com 0,35 m entre plantas, totalizando
35.700 plantas/ha. Utilizar batata-semente com brotação bem desenvolvida ( brotos com no
mínimo 1 cm de comprimento) para um arranque inicial mais rápido das plantas (Figura 53).
As batata-sementes são colocadas no fundo do sulco, sobre o adubo orgânico curtido, e
cobertas com a terra retirada do próprio sulco.

282
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 53: Batatas-semente orgânicas, no estágio ideal de brotação, prontas para


transplantio.

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

Não se deve utilizar o método de irrigação por aspersão. Recomenda-se a irrigação por
infiltração, utilizando-se mangueiras, nas entrelinhas do plantio, evitando-se molhar as folhas
da batata e elevar a umidade, desfavorecendo o desenvolvimento da requeima (P. infestans).

b) Adubação em cobertura:

Aplicar antes da amontoa, ao lado das linhas de plantio ou ao redor das plantas, utilizando-se
1/3 da dosagem de adubo orgânico recomendado para a cultura.

Através de uma avaliação visual do vigor das plantas, avalia-se a necessidade de


suplementar a nutrição da cultura com fertilizantes orgânicos via foliar. Para tanto, utiliza-se o
Biofertilizante líquido, Supermagro ou similares, conforme recomendações.

c) Amontoa:

Aos 30 dias após o plantio, quando as plantas estiverem com 15 a 20 cm de altura, é


realizada a amontoa para auxiliar o desenvolvimento dos tubérculos (Figura 54).

d) Capinas:

283
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A primeira capina é realizada simultaneamente com a amontoa. Havendo necessidade,


realizar a segunda capina manualmente ou com enxada pequena, sobre as leiras,
preservando a vegetação nativa que estabelecerem entre as linhas de plantio após a
amontoa.

Figura 54: Campo de batata orgânica, logo após receber amontoa. Área Experimental do
INCAPER – ES.

DOENÇAS

Dentre todas as doenças da batata, a requeima (Phytophtora infestans) tem se apresentado


como limitante ao desenvolvimento dessa cultura em sistema orgânico.

A incidência de Murchadeira (Ralstonia solanacearum) dependerá de medidas de manejo


adequadas para evitar a sua ocorrência e disseminação.

Para o controle da requeima, além do uso de cultivares resistentes, emprega-se a calda


bordalesa a 1%, semanalmente, a partir dos 30 dias, logo após a prática da amontoa, até
aos 80 dias do ciclo, quando a formação e crescimento dos tubérculos já estão definidos.

Outras doenças de possível ocorrência na cultura:


Canela preta ou talo oco (Erwinia carotovora)
Mosaicos (Vírus A, S, X e Y)
Vírus do enrolamento das folhas
Nematóides (Meloidogyne sp.)
Pinta preta (Alternaria solani)

284
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Podridão seca dos tubérculos (Fusarium sp.)
Rizoctoniose (Rhizoctonia solani)
Roseliniose (Roselinia sp.)
Sarna comum (Helminthosporium sp.)
Sarna pulverulenta (Spongospora subterranea).

PRAGAS

A incidência de pragas na cultura não tem sido significativa em sistemas orgânicos


equilibrados ecologicamente, não justificando adotar medidas de controle.

Pragas de possível ocorrência:


Pulgões (Myzus persicae e Macrosyphum euphorbiae)
Bicho-alfinete (Larva de Diabrotica speciosa)
Bicho-arame (Larva de Conoderus scalaris)
Burrinho-da-batata (Epicauta atomaria)
Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)
Cochonilha branca (Pseudococcus maritimus)
Cigarrinha verde (Empoasca sp.)
Traça ou Larva minadora das folhas (Gnorimoschema operculella).

COLHEITA

A colheita dos tubérculos deve ser realizada de 7 a 15 dias após a morte total da parte aérea
da planta, para que a epiderme dos tubérculos esteja firme. Na Figura 55, observa-se uma
planta de batata ‘Itararé’ aos 90 dias após plantio e os tubérculos após a colheita de um
campo orgânico no INCAPER – ES.

285
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
DESEMPENHO DA CULTURA DA BATATA NO SISTEMA ORGÂNICO

A Tabela 72, contendo os resultados de oito cultivos, demonstra uma grande variabilidade
nos rendimentos comerciais (7.274 Kg/ha a 35.348 Kg/ha) e no ciclo vegetativo (83 a 121
dias), atribuída basicamente à estreita relação entre a incidência da requeima e as condições
ambientais durante o ciclo produtivo. Observa-se que, maiores rendimentos relacionam-se
diretamente com maiores ciclos vegetativos, fato explicado pela maior área foliar, por maior
período de tempo, redundando em maior taxa fotossintética.

TABELA 72: Desenvolvimento agronômico da cultura da Batata em sistema de cultivo


orgânico.1

Cronologia Ano Produçã Produt. Peso Comp. Diâm. Ciclo


dos o Comercial Médio Médio Médio
Total
Cultivos (Kg/ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm) (dias)
Batata 1 1991 9.028 7.993 87 7.5 5.9 85

Batata 2 1991 13.814 13.161 75 8.5 5.5 83

Batata 3 1992 37.492 30.857 104 7.9 5.6 110

Batata 4 1993 8.292 7.274 91 7.7 5.4 87

Batata 5 1993 17.700 14.497 69 7.2 5.9 100

Batata 6 1995 20.829 19.029 139 9.1 5.8 92

Batata 7 1996 36.948 35.348 149 9,7 6,2 121

Batata 8 1997 28.221 27.450 89 9,9 4,7 101

Média - 21.540,5 19.451,1 100,4 8,4 5,6 97,4


1 Fonte: SOUZA (2002).

CUSTO DE PRODUÇÃO

Dentre os insumos utilizados no sistema orgânico (composto e calda bordalesa) observa-se


um total de despesas de R$906,00 reais. Por outro lado, o item que mais onera o custo de
produção é a aquisição de batata-semente, representando 42% do custo total de R$
5076,00. O segundo item de maior custo foi a mão-de-obra, participando com 37% do total
(Tabela 73).

Considerando um valor de venda de R$ 1,00 por Kg e um custo de produção de R$ 0,26 por


Kg, a receita bruta foi de R$ 19.451,00, encerrando uma rentabilidade extremamente
vantajosa de 3,83 reais para cada real investido (Tabelas 74).

286
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 73: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Batata (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Batata - semente (cx) 60 2.100,00 42
Composto (t) 30 690,00 14
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - 216,00 4
Mão de Obra (d/h) 189 1.890,00 37
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 3
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 5.076,00 100
CUSTO POR Kg 19.451 0,26 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

287
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 74: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Batata em sistema orgânico
de produção.1
ud Valor Qde Valor
Especificação Unitário Total
(R$) (R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Calcário t 44,00 - -
Batatas-semente cx 35,00 60 2.100,00
Calda Bordalesa l 0,027 8.000 216,00

2. SERVIÇOS:
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (sucos) D/H 10,00 10 100,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Plantio D/H 10,00 15 150,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Amontoa D/H 10,00 20 200,00
Pulverizações / Calda Bordalesa D/H 10,00 24 240,00
Irrigações D/H 10,00 20 200,00
Colheita (s) D/H 10,00 50 500,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 20 200,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS 5.076,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 1,00 19.451 19.451,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

288
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 55: Planta da cultivar Itararé aos 90 dias após plantio e caixas de
batata orgânica da mesma cultivar. Área Experimental do
INCAPER – ES, 2000.

289
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.5. Cultivo Orgânico da Batata-Baroa

289
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCA DE PLANTIO

A batata-baroa (Arracacia esculenta), também conhecida como mandioquinha-salsa, cenoura


amarela, ou batata-salsa, tem como parte comestível as raízes tuberosas. Ela é originária da
Cordilheira dos Andes, em altitudes ao redor de 2.500 metros.

A origem da batata baroa faz com que seja exigente em frio, não sendo recomendável o seu
cultivo sob temperaturas elevadas. As mais importantes regiões produtoras estão situadas
em altitudes em torno de mil metros.

As condições climáticas ideais para a cultura são: dias longos e temperaturas amenas ou
baixas, sem geadas. Em regiões altas, as melhores épocas de plantio compreendem os
meses de outubro/novembro e de fevereiro/março, em áreas que possam ser irrigadas.

A propagação da baroa é feita através de filhotes ou rebentos, o que origina os clones.


Existem diversos clones que apresentam boa produtividade e adaptabilidade ao sistema
orgânico, como a Amarela de Carandaí e a Senador Amaral. O ideal é que o produtor
selecione as melhores plantas, em termos de produtividade e resistência a pragas e
doenças, em cada cultivo, para retirar as mudas. Assim, obterá plantas bem adaptadas às
condições ambientais de sua propriedade.

PREPARO DAS MUDAS

As mudas da baroa são os filhotes ou rebentos, que crescem na base da planta e formam a
coroa. O preparo das mudas começa logo após a colheita, destacando os rebentos da coroa
e fazendo uma seleção daqueles mais vigorosos e saudáveis. Deve-se utilizar apenas mudas
provenientes de plantas sadias, principalmente, sem nematóides e fungos do solo, para
evitar a contaminação da área de cultivo.
Deve-se cortar as folhas dos rebentos e fazer um corte em bisel duplo, na ponta do filhote,
como é mostrado no filme, para aumentar a superfície de enraizamento da muda.

As melhores mudas são aquelas obtidas e plantadas logo após a sua separação da planta
mãe. Mas as coroas inteiras podem ser conservadas por alguns meses em local sombrio,
ventilado e seco, o que possibilita o plantio posterior.

PLANTIO

A baroa é cultivada em leiras, que permitem o melhor crescimento das raízes tuberosas e
evitam o encharcamento do solo.

As leiras, com cerca de 15 a 30 centímetros de altura, devem ser levantadas com


espaçamento de 1,0 metro entre si. Esse espaçamento, mais largo que o convencional, que
é de 80 a 90 centímetros, auxilia na redução da umidade interna da lavoura, minimizando
problemas com mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum.

290
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
O espaçamento entre plantas deve ser de 40 centímetros. As mudas devem ser enterradas
no topo das leiras, a uma profundidade de 5 a 10 cm para não ficarem expostas à medida
que a água de irrigação vai ‘acamando’ a leira.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Deve-se espalhar o composto orgânico a lanço, no solo preparado, porém, antes de levantar
as leiras, utilizando-se 10 toneladas por hectare, com base no peso seco, ou seja,
descontando-se a umidade do composto. Para totalizar 15 toneladas de composto orgânico
por hectare, deve-se aplicar mais 5 toneladas por hectare em cobertura, cerca de 120 dias
após o plantio, em função do longo ciclo dessa cultura.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

A baroa necessita de fornecimento regular de água, em todo o seu ciclo cultural. Na época
das chuvas, a irrigação deve ser complementar, principalmente, em caso de ocorrência de
veranico. Os métodos de irrigação que se aplicam a essa cultura são a aspersão e a
infiltração.

b) Capina:

No sistema orgânico, recomenda-se capinar o mato sobre as leiras, deixando crescer a


vegetação espontânea nas entrelinhas.

c) Adubação em cobertura:

Aos 120 dias após o plantio, deve ser aplicada uma adubação em cobertura, com 5
toneladas de composto por hectare, na base de peso seco ou 200 gramas por planta. Pode-
se aplicar, também, 2,5 toneladas de esterco de galinha por hectare ou 100 gramas por
planta. O adubo deve ser aplicado junto aos pés das plantas sobre as leiras e coberto com
um pouco de terra.

d) Amontoa:

Periodicamente, pode ser preciso fazer a amontoa, ou seja, refazer as leiras, chegando terra
junto aos pés das plantas, de forma que as raízes permaneçam cobertas.

PRAGAS E DOENÇAS

A baroa tem apresentado elevado grau de resistência a pragas e doenças, no sistema


orgânico de cultivo.

291
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Ocorrem alguns ataques de patógenos, que não chegam a causar dano econômico, como a
mancha de Septoria e bacteriose provocada por Xanthomonas arracacia, cujas ocorrências
moderadas dispensam a utilização de métodos de controle.

Pode ocorrer, também, o ataque de fungos do solo como a Sclerotinia, que provoca o
apodrecimento das raízes e o amarelecimento e murcha da parte aérea. O controle da
Sclerotinia deve começar pela utilização de mudas sadias. Quando a doença se manifesta, é
preciso fazer o ‘rogging’, ou seja, a planta doente deve ser arrancada juntamente com a terra
da cova, retirada da área de cultivo e queimada.

A rotação de culturas, com o plantio de culturas que não são atacadas pelo fungo, e o plantio
de leguminosas são práticas que ajudam a desinfestar um solo atacado por Sclerotinia,
porque quebra ciclo de vida do fungo.

O ataque de nematóides é outro problema fitossanitário que pode ocorrer na baroa e em


todas as Apiáceas, de modo geral. Existem dois tipos de nematóides. Um é conhecido como
nematóide do anel, por provocar um anelamento escuro, nas raízes da baroa. O outro
provoca calos nas raízes, chamados de galhas. O controle dos nematóides é feito pela
utilização de mudas sadias, não provenientes de campos com nematóides e pelo plantio de
Crotalaria spectabilis e Tagetes erecta, o cravo de defunto, na rotação de culturas.

Outra alternativa de controle de nematóides é a desinfecção das mudas, isto é, a imersão


das mudas, antes do plantio, em solução contendo 5% de água sanitária (50 ml de água
sanitária por litro de água), durante 5 minutos.

COLHEITA

A baroa pode ser colhida com 240 a 330 dias após o plantio, ou seja, seu ciclo dura de 8 a
11 meses, dependendo do cultivar utilizado. O sinal de que a planta completou seu ciclo é o
amarelecimento e secagem das folhas mais velhas. Atualmente, já existem cultivares mais
precoces, como a Senador Amaral, que pode ser colhido com 6 a 8 meses de campo.

Os pés são arrancados inteiros com a ajuda de enxada ou enxadão. Deve-se tomar cuidado
para evitar ferimentos nas raízes tuberosas, que podem se transformar em porta de entrada
para patógenos, que causam podridões, na fase pós-colheita.

292
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
DESEMPENHO DA BATATA-BAROA EM SISTEMA ORGÂNICO

A Tabela 75 mostra os resultados de nove cultivos de baroa em sistema orgânico, realizados


por SOUZA (2002). A produtividade comercial média foi de 15.355 quilos por hectare, que é
similar à obtida em sistemas convencionais. Além disso, verifica-se um peso médio de raízes
na faixa de 126 g, comprimento médio de 14,8 cm e diâmetro médio de 4,5 cm, confirmando
o bom padrão comercial do produto orgânico (Figura 56).

Tabela 75. Desenvolvimento agronômico da cultura da batata-baroa em sistema de


cultivo orgânico.1
Comercial
Cronologia dos Ano Produção Produtividade Peso Comp. Diâm. Ciclo
cultivos total médio (dias)
(kg/ha) Médio Médio
(kg/ha) (g) (cm) (cm)
Batata-baroa 1 1991/92 9.916 9.034 126 14,6 4,7 266
Batata-baroa 2 1991/92 37.033 34.946 225 13,7 5,5 328
Batata-baroa 3 1992/93 9.429 8.156 89 10,7 3,9 320
Batata-baroa 4 1992/93 14.168 11.695 114 10,5 4,2 322
Batata-baroa 5 1994/95 16.637 14.439 127 17,8 5,5 327
Batata-baroa 6 1995 20.101 17.823 127 17,0 4, 328
Batata-baroa 7 1996 21.083 15.833 131 12,0 4,4 373
Batata-baroa 8 1998 12.313 4.773 95 16,5 4,0 357
Batata-baroa 9 1999/00 23.257 21.497 103 20,8 4, 299
Média 18.215,2 15.355,1 126,3 14,8 4,5 324,4
1 SOUZA (2002).

CUSTO DE PRODUÇÃO

Em função da rusticidade dessa espécie, o custo de produção de 1 ha dessa cultura


apresenta-se relativamente baixo em sistema de manejo orgânico (R$ 2.510,00 reais),
apesar do extenso ciclo vegetativo (Tabela 76). Por este motivo, o custo com mão-de-obra
representa a maior parcela do custo de produção, participando com 75% do total.

A batata-baroa apresenta-se como uma das culturas mais rentáveis em sistema orgânico de
produção. O baixo custo (R$ 0,16 por Kg), aliado aos bons preços de venda alcançado pelo
produto (R$ 1,00 por Kg), encerrou uma rentabilidade de 6,1 reais para cada real investido,
ou seja, uma receita bruta de R$ 15.355,00 contra um custo de R$ 2.510,00. veja os
detalhamentos dos coeficientes técnicos na Tabela 77.

293
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 76: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Batata-baroa (1 ha) em
sistema orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (Kg) - 0,00 -
Composto (t) 20 460,00 18
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 187 1.870,00 75
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 7
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 2.510,00 100
CUSTO POR Kg 15.355 0,16 -
1 SOUZA (2002)

294
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 77 : Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Batata-baroa em dois
sistemas de produção.1
Especificação Ud Valor Unitário Qde Valor Total
(R$)
1. INSUMOS
Mudas Ud 0,00 25000 0,00
Composto Orgânico t 23,00 20 460,00
CalcárIo t 44,00 - -

2. SERVIÇOS:
Distribuição calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Preparo de Mudas/Semente D/H 10,00 10 100,00
Preparo de Solo (leiras) D/H 10,00 6 60,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Plantio D/H 10,00 10 100,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Amontoa D/H 10,00 15 150,00
Capinas D/H 10,00 22 220,00
Irrigações D/H 10,00 20 200,00
Colheita (s) D/H 10,00 40 400,00
Lavagem D/H 10,00 4 40,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 30 300,00
Transporte interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 2.510,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA KG 1,00 15.355 15.355,00
1 SOUZA (2002).

295
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 56: Campo de pordução orgânica de batata-baroa próximo à colheita


(acima) e raízes colhidas com alto padrão comercial. Área
Experimental do INCAPER – ES.

296
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.6. Cultivo Orgânico da Batata-Doce

297
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCA DE PLANTIO

A batata-doce, cujo nome científico é Ipomoea batatas, é uma hortaliça tuberosa originária da
América do Sul. Produz melhor em clima quente, com temperaturas noturnas e diurnas
superiores a 20 graus centígrados, e alta luminosidade. O cultivo da batata-doce é feito
preferencialmente, no período chuvoso e quente. Entretanto, ela pode ser cultivada, também,
em locais com clima ameno, mas, que não sejam demasiadamente frios.

Normalmente, a época de plantio vai de outubro até janeiro em locais de altitude. Em regiões
baixas, com inverno ameno, ou seja, não muito frio, pode ser cultivada o ano todo.

Existem cultivares de batata com película externa branca, rosada ou avermelhada, e


coloração da polpa de cor branca, amarela ou creme. A escolha de qual plantar, depende da
preferência do mercado ao qual se destina a produção. Para o cultivo orgânico, deve-se dar
preferência aos cultivares existentes na região, que apresentem boa adaptação às condições
de clima e solo locais, e boa produtividade.

MUDAS

A propagação da batata-doce pode ser feita através de pedaços de ramas, brotos ou batatas
brotadas. Recomenda-se a utilização da seção mediana de ramas, obtidas em viveiros, onde
são plantadas batatas ou ramas selecionadas do campo anterior, livres de problemas
fitossanitários.

Em regiões altas, o plantio em viveiro, para produção de mudas, utilizando-se ramas do


plantio anterior, deve ser feito de abril a agosto, com irrigação.

Depois, as ramas novas das plantas no viveiro, devem ser cortadas, formando mudas com 3
ou mais nós, e 30 a 40 centímetros de comprimento, em média.

PLANTIO

A batata-doce deve ser plantada em leiras com altura de 25 a 35 centímetros. O


espaçamento recomendado é de 1 m entrelinhas e 40 cm entre plantas.

As ramas devem ser enterradas forçando sua parte central contra o solo. Para
que não se quebrem, no momento do plantio, estas ramas devem ter sido
preparadas um dia antes, de forma a estarem parcialmente murchas, no
momento do plantio.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA

A adubação de plantio deve ser realizada a lanço em todo o solo, na dosagem de 10


toneladas de composto orgânico por hectare (máximo de 20 ton., dependendo das condições
de solo). A incorporação do adubo orgânico é feita na ocasião do levantamento das leiras.

298
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Em solo já enriquecidos pela constante adubação orgânica, em sistemas rotacionais de
hortaliças, pode-se avaliar a alternativa de dispensar a adubação específica para esta
cultura, pela boa resposta a efeitos residuais.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação

Quando o plantio é realizado na época das chuvas, é quase desnecessário fazer irrigações.
Estas devem ser feitas apenas em caso de veranico prolongado e no cultivo realizado na
época da seca. O sistema indicado é a aspersão.

As fases em que a batata-doce exige mais água são: no início do crescimento das ramas
plantadas e na fase de formação das batatas.

Ao aproximar-se a época da colheita, a irrigação deve ser mais escassa, pois excesso de
água prejudica o sabor do produto e sua conservação pós-colheita, e aumenta a incidência
de podridões.

b) Capina

Devem ser feitas duas a três capinas manuais, junto às linhas de plantas, até
que as ramas da batata-doce cubram totalmente a área. A partir desse
momento, a cultura convive bem com as ervas nativas do local.

PRAGAS E DOENÇAS

A batata-doce é uma planta muito rústica e, por isso, não apresenta problemas com pragas e
doenças. Eventuais problemas com brocas, que atacam as batatas, podem ser controlados
pelas práticas utilizadas na agricultura orgânica, como a rotação de culturas e o equilíbrio
ecológico no solo, além da manutenção de corredores de refúgio na área, por exemplo.

COLHEITA

O ponto de colheita é indicado pelo amarelecimento da parte aérea e pela queda de grande
parte das folhas; o que ocorre de 120 a 210 dias após o plantio, em média, dependendo das
condições climáticas da região..

A colheita pode ser feita com enxada ou enxadão, evitando-se ferimentos às batatas, e pode
ser parcelada, uma vez que a batata-doce conserva-se por algumas semanas, debaixo do
solo. Mas, deve ser realizada antes que comece novo período de chuvas (Figura 56).

299
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
DESEMPENHO DA BATATA-DOCE NO SISTEMA ORGÂNICO

O cultivo orgânico da batata-doce mostra excelentes resultados, principalmente, por ser uma
espécie muito rústica. A produtividade média de 13 cultivos em sistema orgânico foi de
21.629,5 kg/ha, com peso médio de raízes de 329 g (Tabela 78).

Observa-se, ainda, uma considerável proporção de raízes comerciais em relação à produção


total (83,4%), reflexo de um bom padrão comercial de raízes, uma vez que o comprimento
médio foi de 20,1 cm e o diâmetro médio, 6,5 cm. O nível de incidência de brocas e a
ocorrência de veias em raízes foram insignificantes, por isso, não foram relatados.

Tabela 78. Desenvolvimento agronômico da cultura da batata-doce em sistema de


cultivo orgânico.1

Comercial
Cronologia dos Talhão Ano Produçã Produti- % peso Peso Diâm. Comp. Ciclo
cultivos o total vidade comer- médio Médio Médio (dias)
(kg/ha) (kg/ha) ciais (g) (cm) (cm)
Batata-doce 1 03 1991 17.856 15.118 85 139 4,9 19,0 178
Batata-doce 2 06 1991/92 13.642 11.288 83 318 7,5 19,5 188
Batata-doce 3 10 1992 13.575 11.500 85 300 7,0 20,2 202
Batata-doce 4 14 1992/93 38.334 33.854 88 321 6,5 15,8 191
Batata-doce 5 08 1993 38.059 17.903 47 211 5,2 18,1 253
Batata-doce 6 09 1994 29.675 27.758 94 442 7,0 20,4 266
Batata-doce 7 15 1994/95 26.298 23.524 89 762 8,9 21,9 197
Batata-doce 8 10 1995 49.327 41.838 85 348 8,0 23,1 225
Batata-doce 9 14 1995/96 29.025 26.988 93 354 8,1 23,8 224
Batata-doce 10 08 1997 39.181 37.319 95 377 5,7 18,7 195
Batata-doce 11 14 1997 19.243 16.429 85 248 5,6 20,5 298
Batata-doce 12 14 1999 15.034 10.342 69 297 5,6 19,9 291
Batata-doce 13 10 1999/00 8.460 7.323 86 170 5,0 20,4 251
Média 25.977,6 21.629,5 83,4 329 6,5 20,1 227,6
1 Média de 13 cultivos

CUSTO DE PRODUÇÃO

Os indicadores físicos e financeiros dessa cultura apontam um total de despesas do sistema


orgânico de R$1.979,00 reais, tendo quase a totalidade dos gastos representados pela mão-
de-obra (67%) e adubo orgânico (23%), que somaram 90% do total dos custos (Tabelas 79 e
80).

O custo por quilo do produto no sistema orgânico foi de R$ 0,09, enquanto o preço
conseguido no mercado está em média a R$ 0,40. Considerando que a produtividade média

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
foi de 21.630 Kg/ha, a receita bruta foi de R$ 8.652,00. A um custo total de R$ 1.979,40,
obtemos uma rentabilidade estimada de 4,37 reais para 1,00 real investido.

Tabela 79: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Batata-doce (1 ha) em


sistema orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Mudas (ud) 33.300 - -
Composto (t) 20 460,00 23
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - 9,40 1
Mão de Obra (d/h) 133 1.330,00 67
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 9
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 1.979,40 100
CUSTO POR Kg 21.630 0,09 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 80: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Batata-doce em sistema
orgânico de produção.1
Especificação ud Valor Qde Valor
Unitário Total
(R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 20 460,00
Mudas Ud 33300 - -
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Calcario t 44,00 - -
Óleo Diesel l 0,94 10 9,40

2. SERVIÇOS:
Distribuição de Calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Enleiramento (micro Trator) D/H 10,00 1 10,00
Preparo de Mudas (33.300 ud) D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 5 50,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 10 100,00
Capinas D/H 10,00 20 200,00
Irrigações D/H 10,00 10 100,00
Colheita (s) D/H 10,00 50 500,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 15 150,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS 1.979,40
PRODUÇÃO ORGÂNICA ESPERADA KG 0,40 21.630 8.652,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 56: Campo de batata-doce em sistema orgânico por ocasião da


colheita (acima) e raízes colhidas (abaixo). Boa adaptabilidade da cultura e
bom padrão comercial do produto.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.7. Cultivo Orgânico da Beterraba

305
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA E CULTIVARES

A beterraba (Beta vulgaris) pertence à família das Quenopodiáceas, que inclui, também, a
acelga e o espinafre. A parte comestível da beterraba é uma raiz tuberosa.

Os cultivares mais comumente plantados são Early Wonder, Early Wonder Tall Top e
Wonder Precoce.

Essa hortaliça é típica de climas temperados, exigindo temperaturas amenas ou frias para
produzir bem, com melhor desenvolvimento em temperaturas entre 10 e 20 graus
centígrados.

Por causa dessas exigências, a semeadura da beterraba é feita de abril a junho,


principalmente em locais baixos, com altitude inferior a 400 metros. Em altitudes superiores a
800 metros, a semeadura pode ser feita de fevereiro a julho. No entanto, em locais que
apresentam verões com temperaturas amenas, pode ser semeada o ano todo, com pequena
redução de rendimento no período do verão.

PRODUÇÃO DE MUDAS

As mudas de beterraba podem ser produzidas em sementeiras (canteiros) ou em bandejas e,


posteriormente, transplantadas para o local definitivo.

Nas sementeiras, que são canteiros com até 1,20 m de largura, a semeadura é feita em
sulcos transversais, distanciados de 15 centímetros, com profundidade de 15 a 25
milímetros. A adubação da sementeira deve ser feita com 3 Kg de composto orgânico por
metro quadrado, à base de peso seco.

Quando se utiliza bandejas de isopor, estas devem ser preenchidas com um substrato
comercial próprio para o cultivo orgânico ou composto orgânico de boa qualidade, peneirado
fino. Coloca-se uma semente, ou glomérulo, por célula. Posteriormente, é preciso fazer o
desbaste, pois cada glomérulo tem 3 ou 4 sementes. Assim, poderá nascer mais de uma
planta por célula. Deverá ficar, apenas, a muda mais forte. O gasto de sementes nesse
método é de 4 quilos por hectare.

As mudas devem ser transplantadas com cerca de 15 centímetros e 6 folhas definitivas, o


que ocorre entre 20 e 30 dias após a semeadura.

A semeadura, também, pode ser feita diretamente no canteiro definitivo, em sulcos


transversais, com 15 a 25 milímetros de profundidade. O espaço entre sulcos deve ser de 30
centímetros. Coloca-se um glomérulo a cada 5 centímetros de sulco. Depois, deve ser feito o
desbaste, deixando-se uma planta a cada 10 a 15 centímetros, na linha. As mudas retiradas
no desbaste, também, podem ser aproveitadas para o plantio.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PLANTIO

A beterraba é cultivada em canteiros com largura de 1,20 metro e altura de 20 centímetros. O


espaçamento das plantas no local definitivo, em qualquer método de formação das mudas,
deve ser de 30 centímetros entre linhas, por 10 a 15 centímetros entre plantas. Em solos
com fertilidade natural alta, optar pelo menor espaçamento para obter raízes menores, de
acordo com o padrão comercial exigido pelo consumidor.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA
A adubação orgânica pode ser feita com 10 toneladas de composto orgânico em peso seco,
por hectare, espalhado a lanço, antes do encanteiramento. Dependendo do estado
nutricional das plantas, pode-se complementar esta adubação de plantio, aplicando-se mais
5 toneladas de composto orgânico (peso seco) por hectare, ou biofertilizantes líquidos, em
cobertura, junto às linhas das plantas.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação

A beterraba necessita de bom suprimento de água durante todo o seu ciclo. A deficiência de
água torna as raízes tuberosas lenhosas e reduz a produtividade.

As irrigações leves e freqüentes são mais indicadas, por isso, o melhor método de irrigação
para a cultura é a aspersão.

b) Capina

Deve-se manter o leito dos canteiros, ou seja, o espaço próximo às plantas, livre do mato. No
entanto, para aumentar a diversidade biológica na área, deve ser mantido o mato que cresce
entre os canteiros.

PRAGAS E DOENÇAS

A beterraba não apresenta problemas fitossanitários, que comprometam o rendimento de


raízes, quando cultivada em sistema de cultivo orgânico e sob condições climáticas
adequadas.

Geralmente, ocorre a mancha da folha, causada pelo fungo Cercospora beticola. O ataque
moderado não afeta a produção da lavoura (Figura 55). Por isso, não tem sido necessário
utilizar métodos de controle. Em casos extremos de necessidade, os biofertilizantes foliares e
a calda bordalesa podem ser um auxiliares importantes para a proteção das plantas.

307
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 57: Lavoura de beterraba em sistema orgânico – plantas vigorosas, ótimo convívio
com manchas foliares e perspectivas de alta produtividade. Propriedade orgânica
do Sr. Almerindo Uhlig em Santa Maria de Jetibá – ES (acima). Beterrabas
orgânicas de alto padrão comercial (Abaixo).

308
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

COLHEITA

O ponto de colheita é determinado pela preferência dos consumidores, quando a raiz atinge
o tamanho desejado. Em linhas gerais, o mercado prefere raízes com 6 a 8 centímetros de
diâmetro transversal, pesando cerca de 150 a 200 gramas.

Quando é feita a semeadura direta, a colheita da beterraba se inicia depois de 60 a 70 dias.


Em caso de transplante, a colheita começa mais tarde, dos 80 aos 90 dias.

Em sistemas orgânicos de produção, o rendimento médio, em nível de propriedade rural, tem


sido na faixa de 3 a 4 quilos por metro quadrado, ou seja, descontando-se a perda de área
para movimentação entre os canteiros (30%), espera-se uma produtividade média de 21 a 28
toneladas por hectare.

Rendimento esperado: 21 a 28 t/ha ou 3 a 4 Kg por m2 de canteiro.

309
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.8. Cultivo orgânico do Brócolis

311
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
ORÍGEM E BOTÂNICA

Esta variedade botânica também conhecida como Brócolo, Brócolis e Couve-brócoli


(Brassica oleracea var. italica), pertence à mesma espécie e possui muitas semelhanças com
a Couve-flor. O seu nome se originou do italiano “brocco” – que significa “broto”, pois são as
suas brotações florais a parte comestível. Durante a fase vegetativa, a planta se assemelha à
couve-flor, diferenciando-se mais significativamente quando emite uma inflorescência central
de coloração verde e diversas brotações laterais menores (grupo ramoso). Existem também
as cultivares que formam cabeça única central, conforme veremos posteriormente.

Apesar de ainda não ter a mesma expressão econômica da couve-flor, apresenta uma
riqueza nutricional superior, além de um sabor mais apurado – fatos que elevaram
substancialmente o consumo deste produto nos últimos anos.

CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

São plantas que se desenvolvem e produzem melhor sob condições de clima ameno,
estando a temperatura entre 7 e 22 graus. Entretanto, devido às seleções genéticas
praticadas no material original, existem hoje cultivares que se adaptam bem ao plantio em
condições de verão.

As cultivares de outono-inverno predominam nos plantios no centro-sul do Brasil,


desenvolvendo bem sob temperaturas amenas, resistindo bem ao frio, inclusive a geadas
leves. Em relação à couve-flor, apresenta uma maior adaptabilidade quanto à temperatura,
suportando uma oscilação térmica maior. Estas cultivares podem ser semeadas de março a
maio em localidades baixas e quentes e de fevereiro a junho, em localidades mais altas e
frias. Uma das cultivares mais tradicionais que se desta neste grupo é a Ramoso Santana.

Graças ao melhoramento genético, as cultivares de verão ampliaram as épocas de plantio e


contribuíram notavelmente para a distribuição da oferta deste produto durante todo o ano. As
cultivares de verão podem ser semeadas de setembro a janeiro em regiões baixas e quentes
e de outubro a dezembro em regiões mais altas e frias. Neste grupo, destacamos as
cultivares Ramoso Piracicaba e Piracicaba Precoce.

Outra excelente alternativa comercial é o plantio de Híbridos de cabeça-única, de granulação


floral mais fina, para mercados mais específicos e exigentes. Apresentam melhor
desenvolvimento no outono-inverno, entretanto alguns materiais possuem larga
adaptabilidade climática e permitem o plantio durante todo o ano. No Quadro 2,
encontramos os principais materiais genéticos existentes no mercado:

312
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Quadro 2: Cultivares e híbridos de brócolis disponíveis no mercado nacional

TIPO CULTIVARES ÉPOCA/PLANTIO EMPRESA

Ramoso Santana Outono-Inverno ISLA, Agroceres,


Agroflora
RAMOSO
Piracicaba Precoce Primavera-Verão ISLA, Agroflora

Ramoso Piracicaba Primavera-Verão Agroceres

Hib. Flórida Ano todo Agroflora

Hib. Skiff Outono-Inverno Royal Sluis

Hib. Sunrise Outono-Inverno Royal Sluis

CABEÇA ÚNICA Hib. Hana-Midori S. I. Agroceres

Hib. BR-068 S. I. Rogers

Hib. Everest Ano todo Rogers

Hib. Laguna S. I. Rogers

Hib. Green Storm Primavera-Verão ISLA


Bonanza

Hib. Baron S. I. Asgrow

Hib. Big Sur S. I. Asgrow

Hib. Legacy S. I. Asgrow

Hib. Karatê Outono-Inverno Agroflora

Hib. Sabre S. I. Asgrow


S.I.: Sem Informação (necessário consultar antes de plantar).

MÉTODOS DE SEMEADURA E FORMAÇÃO DE MUDAS

O brócolis é propagado através de sementes, as quais devem ser semeadas em sementeiras


e, posteriormente, as mudas são transplantadas para o campo. A utilização de mudas
vigorosas e sadias é extremamente importante para o sucesso na produção orgânica de
hortaliças.

313
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Elas podem ser formadas em bandejas de isopor, copos plásticos ou canteiros. Porém,
quando se usa substratos puramente orgânicos, que não contêm adubos solúveis em sua
composição, não se deve usar as bandejas de isopor. O volume de substrato em suas
células é insuficiente e a muda não terá a quantidade adequada de nutrientes que necessita
para o seu desenvolvimento. Por isso, é necessário usar recipientes com maior volume,
como os copos de jornal ou os copos plásticos, que cabem, pelo menos duzentos mililitros de
volume de substrato ou ainda optar pelo método tradicional de formação de mudas em
canteiros a céu aberto.

Caso prefira usar a produção de mudas em bandejas, será necessário utilizar substratos
orgânicos de melhor qualidade ou rico em nutrientes para uma melhor nutrição das mudas.

A produção em ambiente protegido, ou seja, em estufas é recomendável, em alguns casos. A


estufa oferece as vantagens de formar mudas mais uniformes e em menor tempo, além de
protegê-las contra o excesso de chuva e da incidência de pragas e doenças.

Em sistema orgânico de produção, a produção de mudas em canteiros pode ser realizada


com sucesso. Nesse sistema se obtém mudas mais vigorosas, a um custo menor que as
produzidas em bandejas ou copos. Além disso, em um ambiente equilibrado ecologicamente,
não se tem verificado problemas com pragas e doenças, mesmo a céu aberto.

Nesse caso, o solo é preparado com microtrator. Caso haja muita vegetação nativa, faz um
preparo com uma semana de antecedência, para permitir uma decomposição parcial do
mato, e um novo preparo imediatamente antes do levantamento dos canteiros para o semeio.

A adubação da sementeira é feita com matéria orgânica bem curtida, numa quantidade maior
do que a empregada no campo definitivo. Pode-se utilizar cinco quilos de composto, três
quilos de esterco de galinha ou cinco quilos de esterco de curral por metro quadrado. O
material orgânico deve ser incorporado por ocasião do último preparo de solo.

Em seguida, os canteiros são levantados com 20 cm de altura, 1,0 m metro de largura e com
comprimento variável em função da anecessidade. Em seguida são feitos os sulcos, com
espaçamento de quinze centímetros entre si e profundidade, em torno de dois centímetros. É
melhor fazê-los transversalmente ao comprimento do canteiro, para facilitar a capina e outros
tratos na sementeira.

Cada grama de sementes de brócolis tem 230 sementes, em média. Elas são semeadas na
densidade de dois gramas por metro quadrado. Então, gastam-se de 150 a 200 gramas de
sementes para obter mudas suficientes para o plantio de um hectare, no espaçamento de
1,0m por 0,5m.

Após a semeadura, cobre-se as sementes com uma fina camada de terra. Em seguida, é
recomendável cobrir a sementeira com palha seca, bastante fibrosa, ou seja, que
apresentam alta relação Carbono/Nitrogênio, e que sejam fáceis de retirar. Isto ajudará a
manter a umidade e evita a formação de crostas na superfície do solo. Com isso, ocorre um
aumento da taxa de germinação e maior uniformidade na emergência das sementes. Essa
cobertura deve ser retirada quando as plântulas começarem a emergir.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Logo após o semeio, é preciso irrigar bem o leito. A sementeira deve ser mantida úmida, mas
sem encharcar. Por isso, recomenda-se irrigar de uma a três vezes ao dia, dependendo das
condições climáticas.

A capina é outro importante trato na sementeira. As ervas invasoras devem ser


sistematicamente eliminadas para não competirem com as mudas. Não é necessário realizar
a prática do desbaste, pois no momento do transplante, é feita uma seleção das melhores
mudas.

Elas atingem o ponto de transplante quando estão com dez a quinze centímetros de altura e
quatro a seis folhas definitivas, o que leva cerca de trinta a quarenta dias em sistema
orgânico. É importante transplantá-las no ponto certo, pois as mudas muito novas podem ser
mais afetadas por problemas fitossanitários e as mudas mais velhas (“passadas”) sofrem
muito com o transplante, podendo ter uma menor taxa de “pegamento” no campo.

PREPARO DE SOLO, ESPAÇAMENTO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA:

O brócolis é relativamente exigente em condições edáficas, preferindo solos areno-argilosos,


com bom teor de matéria orgânica e boa disponibilidade de macro e micronutrientes.
Comparado à Couve-flor pode ser considerado menos exigente, tanto em tipo de solo quanto
em nutrição de plantas.

Dependendo das condições do terreno se decidirá a necessidade e a forma de preparo do


solo. Para áreas novas ou áreas em que se praticava agricultura convencional, antes do
preparo do solo para o cultivo orgânico, deve ser realizada uma análise do solo para
conhecer a sua fertilidade. Caso seja necessário, é recomendado a realização de uma
calagem para a correção de acidez, de forma a elevar a saturação de bases a 70%, de
acordo com as recomendações convencionais.

Posteriormente, apenas o manejo orgânico do solo manterá um elevado nível de fertilidade,


além de manter o pH numa faixa ideal para o desenvolvimento das plantas, não sendo mais
necessário utilizar calcário no solo.

Pode se utilizar o preparo de solo convencional, com aração e gradagem, caso haja alta
infestação de ervas nativas no terreno. Em situações de baixo nível de infestação de ervas
ou após a prática da adubação verde, é recomendável o emprego do plantio direto.

Na produção convencional de hortaliças, é muito comum o uso do microtrator para o preparo


do solo. No sistema orgânico de produção, muitas vezes torna-se necessário usar esse tipo
de máquina. Embora a enxada rotativa provoque uma pulverização do solo, seu emprego
associado à constante aplicação de matéria orgânica reduz o impacto causado por esse tipo
de equipamento. Isto porque a matéria orgânica incorporada ao solo, melhora
substancialmente a sua estrutura e sua atividade biológica. Se o mato estiver pouco denso,
as covas para o plantio poderão ser abertas em seguida ao preparo com o microtrator. Se
estiver muito denso, é melhor deixar que as plantas comecem a se decompor, para facilitar o
trabalho.

315
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Em seguida, faz-se a abertura das covas, devendo ter o espaçamento de 1,2m entre linhas
e 0,5m entre plantas para os plantios de outono-inverno, período em que as plantas
apresentam um maior desenvolvimento vegetativo. Para os plantios de primavera-verão,
pode se adotar espaçamentos menores, como 1,0m entre linhas e 0,4 a 0,5m entre plantas,
em função do menor crescimento das plantas de brócolis.

Na adubação orgânica das covas pode ser usado o composto orgânico (15 t/ha, em peso
seco), esterco de curral (30 t/ha) ou esterco de galinha (15 t/ha). Recomenda-se aplicar 2/3
desta adubação na cova de plantio e 1/3 em cobertura, ao redor das plantas, aos 45 dias
após. Assim sendo, para culturas no espaçamento de 1,0m por 0,5m, isto equivaleria a uma
adubação na base de 500 grams de composto, 1,0 Kg de esterco de boi ou 500 g de esterco
de galinha por cova, no momento do plantio.

PLANTIO

No ponto de transplante, as mudas são retiradas da sementeira com cuidado, para preservar
suas raízes. Para facilitar o arranquio, é bom molhar o solo antes da operação e transplantá-
las imediatamente.

O transplante deve ser feito, de preferência, no final da tarde, evitando que as mudas sofram
com o calor. Selecione as melhores mudas para o plantio, para obter uma plantação mais
uniforme e mais resistente.

Outra prática muito importante consiste na irrigação das covas imediatamente antes da
operação de plantio das mudas para permitir um melhor “pegamento”. Para isso, pode-se
utilizar um jato forte de água. É importante irrigar a cova antes do plantio, para reduzir o
estresse sofrido pelas mudas após o transplante, evitando que murchem. Além disso, o jato
faz automaticamente uma mistura do composto na cova e dispensa a irrigação por aspersão
no primeiro dia do plantio, ou seja, a primeira irrigação será feita apenas no dia seguinte,
quando as mudas já estiverem eretas, sem contato com o solo.

O plantio das mudas deve ser realizado imediatamente após o preparo e adubação das
covas, quando se emprega adubos orgânicos bem curtidos. Utilizando-se adubos orgânicos
ou estercos que ainda não estão totalmente curtidos, as covas deverão ser adubadas e
irrigadas com, no mínimo, uma semana de antecedência.

A operação de plantio é manual, colocando-se as mudas a uma profundidade tal, que não
cubra a região de crescimento das folhas novas, permitindo assim um desenvolvimento
normal das plantas durante a fase vegetativa.

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

O brócolis é altamente exigente em água. O solo deve ser mantido sempre úmido, por isso
recomenda-se a irrigação diária, na fase de “pegamento” das mudas. Depois, o turno de rega
316
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
pode ser reduzido para três vezes por semana, para solos de textura média. É indispensável
irrigar, mesmo durante o período chuvoso em dias de chuvas fracas.

A aspersão é a forma mais utilizada e tem a vantagem de auxiliar no controle de pragas,


como os pulgões e lagartas.

b) Manejo de ervas:

A capina é muito importante, principalmente no início do estabelecimento da cultura. Deve


ser realizada periodicamente, até que os pés de brócolis cubram totalmente a área.

Ela é feita em faixas, ao lado das fileiras das plantas. Nas entre-linhas mantém-se uma faixa
de vegetação nativa, de vinte a trinta centímetros. Essa vegetação permite a proliferação de
insetos, que são inimigos naturais de pragas; a proteção do solo; o controle da erosão e
outras vantagens. Mas, junto à planta, na área de exploração de suas raízes, é preciso tirar
todo o mato, para evitar que haja competição por nutrientes.

Quando ocorre desenvolvimento excessivo da vegetação mantida na entre-linha, pode-se


proceder a roçada com roçadeiras motorizadas manuais ou mesmo ‘abaixar’ o mato com
enxada, sem retirá-lo totalmente.

c) Adubação em cobertura:

O parcelamento da adubação orgânica pode auxiliar no desenvolvimento das plantas, pois


fornece gradualmente os nutrientes essenciais para a cultura. O mais importante é o
fornecimento de nitrogênio, que não se acumula no solo e necessita ser reciclado a todo
momento.

Trinta dias após o transplante do brócolis é feita a adubação de cobertura, aplicando-se


composto orgânico ou esterco de gado, na dosagem de 500 gramas por planta, ou de
esterco de aves, na dosagem de 250 gramas por planta. Existe também a alternativa de se
utilizar tortas industriais, extrato de composto, dentre outros. O adubo orgânico é distribuído
junto ao pé da planta. Ele pode ser coberto, fazendo-se uma capina em seguida à sua
aplicação, no momento da realização da amontoa.

d) Nutrição de plantas:

Pela característica de alta cerosidade nas folhas, normalmente não se emprega métodos de
nutrição orgânica foliar.

O brócolis e a couve-flor são plantas sensíveis a níveis de Molibdênio e Boro, podendo


apresentar deficiência desses micronutrientes, como se observa em sistemas de cultivos
convencionais, que empregam principalmente adubação mineral à base dos Macronutrientes
Nitrogênio, Fósforo e Potássio. Entretanto, em sistemas orgânicos, onde se utiliza matéria
orgânica diversificada, que naturalmente apresenta em sua composição teores bastante

317
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
significativos de micronutrientes ( ex.: composto orgânico ) essa carência nutricional torna-se
inexistente.

Em função do bom desenvolvimento vegetativo das brássicas em sistema orgânico, não se


tem recomendado aplicações preventivas de fertilizantes orgânicos, exceto em casos de
visível carência ou por necessidade reconhecida pelo histórico do solo. É recomendável dar
preferência para aplicações via solo, na forma de adubação em cobertura.

PRAGAS E DOENÇAS

A cultura do brócolis em sistema orgânico, à semelhança da couve-flor e do repolho não


apresenta problemas significativos com pragas ou doenças, quando o solo e o ambiente
estão adequadamente equilibrados.

Entretanto, em condições de desequilíbrios ocasionais ou em períodos de transição de


sistemas convencionais para sistemas orgânicos, alguns problemas fitossanitários poderão
ocorrer, sendo portanto necessário lançar mão de práticas de manejo e de métodos
alternativos de controle, conforme veremos num capítulo específico apresentado adiante.

COLHEITA E PREPARO

Nas cultivares de inverno, a colheita de brócoli começa dos 60 aos 70 dias depois do
transplante. Ela pode prolongar-se por até quatro meses. Nas cultivares de verão, a colheita
inicia-se entre 50 e 60 dias após o transplante, ou seja, é mais precoce que no plantio de
inverno.

A colheita deve ser feita quando as hastes, botões e cabeças apresentam cor verde-intenso.
Os botões florais devem estar bem fechados, sem aparecer as pétalas amarelas das flores.
Se as flores estiverem abrindo, o brócoli fica invalidado para o mercado. Quando a cabeça
central atinge o ponto de colheita, deve ser cortada logo, para promover o maior
desenvolvimento das inflorescências laterais.

A colheita é feita de forma parcelada, na medida em que as inflorescências atingem o “ponto”


citado anteriormente. No momento da colheita, as hastes com inflorescências abertas
(“passadas”) devem ser retiradas da planta.

As cultivares do tipo Ramoso são preparadas em maços, para comercializar. As


inflorescências com as hastes devem ter comprimento médio de vinte e cinco centímetros,
unidas em maços atados com fitas. Veja ilustrações de um campo e do produto pronto para
comercialização na Figura 58.

318
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 56: Brócolis, tipo ramoso, preparado em maços, prontos para a


comercialização. Lourenção produtos ecológicos – Venda Nova do
Imigrante – ES.

DESEMPENHO DO BRÓCOLIS EM SISTEMA ORGÂNICO

O rendimento do brócolis do tipo Ramoso, produzido em sistema orgânico é de 2,4 maços,


em média, por planta, uma vez que o rendimento no inverno é maior ( 3,0 maços/planta) e no
verão é menor (1,8 maços/planta).

319
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Assim, considerando os distintos espaçamentos para cada época, os rendimentos médios
por hectare, serão de 50.000 maços no inverno e de 36.000 maços no verão.

Rendimento esperado: No inverno...: 50.000 maços por hectare.


No verão.......: 36.000 maços por hectare.

CUSTO DE PRODUÇÃO

O custo de produção de hortaliças em sistema orgânico é muito variável em função da


diversidade natural de formas de manejo e adubação orgânica utilizados pelos agricultores.
Dessa forma, pode-se ter um plantio com um custo de produção muito baixo ou muito alto.

O custo de produção dessa cultura no sistema orgânico, baseado no emprego de composto


orgânico como adubação e nos rendimentos médios no período de inverno, apresentou um
total de R$ 3.840,00 para 1 ha plantado(Tabela 81).

Nota-se que a mão-de-obra foi o fator que mais onerou o custo de produção dessa cultura,
contribuindo com 63% do total, face às características de preparo e processamento em pós-
colheita, conforme se confirma nos coeficientes técnicos detalhados na Tabela 82.

Observando-se a estimativa de retorno bruto com a venda do produto a R$ 0,50 o maço,


totaliza-se R$ 25.000,00, o que nos leva a considerar esta cultura, como de alta rentabilidade
(6,5 reais para 1,0 real investido) e, portanto, ótima alternativa comercial para o mercado de
alimentos orgânicos.

TABELA 81: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Brócolis (1 ha) em sistema


orgânico de produção, no período de inverno.1

Discriminação Qde Valor %


(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 200 30,00 1
Composto (t) 30 690,00 18
Esterco (t) - -
Outros Insumos - -
Mão de Obra (d/h) 244 2.440,00 63
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 5
Embalagem (milheiro) 50 500,00 13
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 3.840,00 100,0
CUSTO POR MAÇO 50.000 0,08 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

320
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 82: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Brócolis em sistema


orgânico de produção1.
Especificação ud Valor Qde Valor Total
Unitário
(R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,15 200 30,00
Calcário t 50,00 - -

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (covas) D/H 10,00 7 70,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 20 200,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Capinas D/H 10,00 15 150,00
Irrigações (15 vezes) D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 40 400,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 100 1.000,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem (fitas para amarrio) mil 10,00 50 500,00
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 3.840,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA maços 0,50 50000 25.000,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

321
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.9. Cultivo Orgânico da Cenoura

325
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

A cenoura (Daucus carota) pertence à família das Umbelíferas, a mesma da batata-baroa, da


salsa, do coentro e do aipo. A parte comestível da cenoura é conhecida botanicamente como
raiz tuberosa.

A cultura da cenoura é muito sensível às condições climáticas. Os cultivares de inverno,


como os do Grupo Nantes, por exemplo, produzem melhor sob temperaturas amenas ou
frias, entre 16 e 20 °C. Assim, em localidades baixas e quentes, cultiva-se tal grupo apenas
no outono-inverno. Nesses locais, no período chuvoso e quente, os cultivares de inverno não
produzem bem, ocorrendo doenças fúngicas na folhagem. Em locais altos, com verões
amenos, esses cultivares podem ser semeados durante a maior parte do ano.

Os cultivares de verão, como o Brasília e aqueles do grupo Kuroda, adaptam-se bem às


chuvas e temperaturas elevadas. Assim, são semeadas de setembro a fevereiro, na maioria
das localidades. Mas em locais baixos e quentes, podem ser semeados o ano todo.

Todos os cultivares são sensíveis à geadas, que provocam a queima das folhas e prejudicam
a produção. Mas se ocorrem geadas no final do ciclo, com as raízes tuberosas já formadas,
não há prejuízo.

PLANTIO

A cenoura produz melhor em solos mais leves e soltos, como os areno-argilosos, franco
arenosos e turfosos. Esse tipo de solo permite o desenvolvimento de cenouras lisas e retas,
de alto valor comercial. No entanto, um solo argiloso pode ser condicionado pela aplicação
de matéria orgânica.

O plantio é feito em canteiros, com largura máxima de 1,20 metro e altura de cerca de 20
centímetros. Porém, já existem no mercado cultivares do tipo ‘raízes longas’, que exigem
uma altura de canteiro na faixa de 30 cm. O solo deve ser preparado cuidadosamente,
criando um leito próprio para a semeadura direta das sementes. Os canteiros devem ser
nivelados e, em seguida, deve ser feito o sulcamento, numa profundidade de um a dois
centímetros. A distância entre os sulcos deve ser de 25 centímetros.

As sementes devem ser distribuídas ao longo dos sulcos, com 1 a 2 cm de profundidade,


num filete ralo e contínuo. O espaçamento entre sulcos deve ser de 25 cm. Na semeadura,
gastam-se cinco quilos de sementes por hectare, em média.

Após a semeadura, pode-se cobrir os canteiros com uma camada de capim seco, sem
sementes, para manter a umidade do solo por mais tempo, melhorando a germinação. O
capim deve ser retirado, após a emergência das plantas.

ADUBAÇÃO ORGÂNICA
Feita através da aplicação de composto orgânico ou esterco de curral a lanço, antes do
preparo do solo e dos canteiros, na base de 10 toneladas por hectare em peso seco. Aos 30

326
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
dias após o plantio, deve ser aplicada uma adubação em cobertura com 5 toneladas de
composto por hectare, resultando na aplicação total de 15 toneladas por hectare no ciclo da
cultura.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

O sistema de irrigação mais indicado para a cenoura é a aspersão. O solo deve ser mantido
constantemente úmido, mas sem encharcar, durante todo o ciclo da cultura. Com um bom
suprimento hídrico, as raízes crescem na forma cilíndrica. Períodos de falta d’água no solo
seguidos de irrigação excessiva, podem provocar fissuras ou rachaduras nas raízes.

b) Capina:

É necessário fazer a capina manual entre as linhas, sempre que houver mato, mantendo os
canteiros limpos . Mas, a vegetação entre os canteiros deve ser preservada, para favorecer a
diversidade e o equilíbrio ecológico entre os macro e micro organismos.

c) Desbaste:

O desbaste do excesso de plantas nas linhas deve ser feito cerca de 30 dias após o plantio.
Deve-se escolher as plantas mais vigorosas, eliminando-se as mais fracas, deixando um
espaçamento de 7 centímetros entre elas. O desbaste é importante para se obter raízes com
tamanho no padrão comercial.

d) Adubação em cobertura:

Após o desbaste, deve ser feita a adubação em cobertura, aplicando-se 5 toneladas de


composto orgânico por hectare, nas entrelinhas, próximo às plantas. Pode ser aplicado,
também, o chorume de composto, utilizando 1 parte de composto peneirado para 2 a 5
partes de água.

Lembre-se: Para esta cultura, a avaliação visual do estado nutricional da lavoura pode
dispensar a realização da adubação em cobertura, por ser uma espécie pouco
exigente em nitrogênio. Isto reduziria os custos de produção, sem perda na
produtividade.

e) Cobertura morta:

Outro procedimento recomendado é a aplicação de cobertura morta nos canteiros. É


recomendável utilizar material com uma granulometria mais fina, como a casca de arroz. O
uso da cobertura morta traz vários benefícios, como a manutenção da umidade, no inverno, e
a redução da temperatura do solo, no verão, resultando em maior crescimento das cenouras.

327
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
PRAGAS E DOENÇAS

A cenoura não apresenta sérios problemas fitossanitários, em cultivo orgânico. O que se


observa é uma incidência amena de queima das folhas, causada pelo fungo Alternaria dauci.
A maior ou menor severidade do ataque depende da resistência do cultivar. Caso
necessário, para o controle dessa doença a aplicação de calda bordalesa a 1%, uma vez por
semana, tem sido muito eficiente, bastando proteger a cultura no período de 50 a 100 dias
após o plantio.

Podem ocorrer, também, problemas com nematóides, cujo controle é feito através de
práticas culturais, como a rotação com culturas não suscetíveis. Recomenda-se, também, o
plantio de Crotalaria spectabilis e de Tagetes erecta nos solos infectados com nematóides de
galhas. Além disso, o emprego de composto orgânico, permite o aumento na população de
antagonistas de solo e reduz eficazmente a população de nematóides.

COLHEITA

Em sistema orgânico, normalmente, a colheita começa de 90 a 110 dias após a semeadura.


Pode ser realizada de uma única vez ou parcelada, prolongando-se por 15 a 30 dias.
Quando as plantas atingem o ponto de maturação, geralmente, as folhas superiores se
abrem, encostando as pontas no solo, e as inferiores começam a amarelecer.

Para o mercado de produtos orgânicos, as raízes podem ser vendidas em embalagens


apropriadas (Figura 59) ou proceder a venda da planta inteira (raízes e parte aérea), na
forma de maços, visto que suas folhas são muito ricas e apreciadas por alguns
consumidores.

DESEMPENHO DA CULTURA DA CENOURA NO SISTEMA ORGÂNICO


A Tabela 83 mostra os resultados obtidos em 17 cultivos orgânicos de cenoura, realizados
por SOUZA (2002).

A incidência média de 5,1% de raízes rachadas e 0,3% no número de raízes podres não
interfere significativamente no rendimento da cenoura, principalmente, por causa da elevada
incidência de raízes comerciais em relação ao total, em torno de 85%.

Além disso, a produtividade média de 23.535 kg/ha está plenamente compatível com a
produtividade média de cultivos convencionais, que varia de 20.000 a 30.000 kg/ha.

328
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 83: Desenvolvimento agronômico da cultura da cenoura em sistema de cultivo
orgânico.1

Comercial
Cronologia Ano Produção Produti- % peso Peso Comp. Diâm. Racha Podres Ciclo
dos cultivos total vidade comerci médio médio Médio dura em
(kg/ha) (kg/ha) al (g) (cm) (cm) (%) (%) dias
Cenoura 1 1990/91 23.775 22.725 96 49 13,6 2,6 3,9 - 116
Cenoura 2 1992 24.684 21.971 89 81 14,3 3,9 8,8 10,6 95
Cenoura 3 1992/93 39.740 36.450 92 92 15,9 3,6 4,0 0,5 110
Cenoura 4 1992/93 20.981 14.894 71 84 13,5 3,3 0,1 3,3 104
Cenoura 5 1993 24.520 18.480 75 62 13,0 3,1 3,7 5,6 117
Cenoura 6 1993 14.335 12.569 88 70 14,0 2,9 4,8 - 112
Cenoura 7 1993/94 16.450 15.650 95 49 12,0 3,3, 5,6 2,1 99
Cenoura 8 1994/95 32.300 27.250 84 89 13,3 2,4 1,9 0,2 103
Cenoura 9 1995 53.321 53.064 99 116 16,5 3,8 2,0 - 108
Cenoura 10 1995 36.078 30.803 85 65 13,0 2,8 2,9 - 114
Cenoura 11 1995 22.994 20.680 90 102 18,7 4,2 3,1 0,0 116
Cenoura 12 1996 25.430 24.236 95 76 15,3 2,9 3,3 0,0 114
Cenoura 13 1997 18.902 10.145 54 60 13,5 3,2 12,3 0,2 139
Cenoura 14 1997 41.620 27.170 65 74 14,5 2,9 21,3 3,8 129
Cenoura 15 1998 13.043 9.870 76 67 18,3 3,3 1,3 0,0 110
Cenoura 16 1998 13.933 13.400 96 79 14,3 3,0 3,4 1,9 96
Cenoura 17 1999 41762 40.737 97 96 15,6 2,8 2,9 0,0 104
Média 27.286,3 23.535 85 77 14,6 3,1 5,1 0,3 111
1 Fonte: SOUZA (2002).

CUSTO DE PRODUÇÃO

A participação da mão-de-obra no custo de produção do sistema orgânico contribuiu com


71% (241 d/h), seguida dos custos com adubação orgânica (21%). Ambos representaram
92% do total das despesas, conforme a Tabela 84.

No nível de produtividade considerado, o custo para produção de 1,0 Kg do produto foi de R$


0,13. Procedendo-se a venda para o mercado orgânico, a preço médio de R$ 0,50 por Kg,
obtém-se uma receita bruta de R$ 11.767,50. Para um total de despesas de R$ 3.360,00,
confere-se uma rentabilidade de 3,5 reais para 1,0 real investido (Tabela 85).

329
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 59: Campo de cenoura orgânica em ponto de colheita (acima) e


embalagens prontas para o mercado. Área Experimental do
INCAPER – ES.

330
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 84: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Cenoura (1 ha) em sistema
orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (Kg) 4 80.00 2
Composto (t) 30 690,00 21
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 241 2.410,00 71
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 6
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 3.360,00 100
CUSTO POR Kg 23.535 0,13 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

331
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Tabela 85: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Cenoura em sistema
orgânico de produção.1
Especificação Ud Valor Qde Valor Total
Unitário
(R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes kg 20,00 4 80,00
Calcário t 44,00 - -

2. SERVIÇOS:
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Preparo de Solo (canteiros) D/H 10,00 30 300,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 5 50,00
Distribuição de esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 6 60,00
Desbaste D/H 10,00 50 500,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 10 100,00
Capinas D/H 10,00 30 300,00
Irrigações D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 25 250,00
Lavagem D/H 10,00 10 100,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 35 350,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 3.360,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA KG 0,50 23.535 11.767,50
1 Fonte: SOUZA (2002).

332
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.10. Cultivo Orgânico da Couve-Flor

335
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CARACTERÍSTICAS

A couve-flor é uma planta com características semelhantes ao brocolis, sendo que a parte
comestível é uma inflorescência imatura. Essa inflorescência forma uma “cabeça”, de cor
branca ou creme, sustentada por um caule curto. Seu cultivo é muito semelhante ao do
brócolis, porém mostra-se muito mais exigente em solos e nutrientes, quando comparada ao
brócolis e ao repolho, produzindo melhor em solos com pH na faixa de 6,0 a 6,8.

CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

A couve-flor é uma cultura tipicamente de clima temperado. As cultivares existentes têm


exigências de temperatura muito específicas. A escolha da cultivar vai depender das
condições climáticas locais. Elas podem ser agrupadas de acordo com a suas respostas à
temperatura, com base na formação de cabeças.

O primeiro grupo são as cultivares de outono-inverno, que requerem temperaturas mais


baixas. A faixa de temperatura ótima para formação de boas cabeças é de 14 a 20 graus,
mas as plantas toleram temperaturas diurnas acima de 20 graus. Nesse grupo destacam-se
a Bola de Neve, Teresópolis Precoce (Figura 60), Teresópolis Gigante, dentre outras.

As cultivares de primavera-verão são resistentes ao calor e não precisam de frio. Formam


cabeça em temperaturas acima de vinte graus centígrados. Nesse grupo está a cultivar
Piracicaba Precoce e alguns híbridos, como o Shiromaru-I e Verona AG-184.

A época de plantio está muito relacionada com as exigências termoclimáticas da cultivar


escolhida. Às vezes, uma pequena variação na temperatura, pode levar uma cultivar a
produzir cabeças precocemente, pequenas e sem valor comercial.

As cultivares de outono-inverno, que são exigentes em frio moderado ou intenso, não devem
ser plantadas em localidades baixas e quentes. Elas são adequadas para locais com
altitudes superiores a 800 metros. Devem ser plantadas de março a junho.

As cultivares de primavera-verão não precisam de frio ou requerem apenas um frio suave.


Elas têm elevada ou moderada resistência ao calor. Não servem para a semeadura de
inverno, mesmo em localidades baixas e quentes. Em locais de baixa altitude, são semeadas
de setembro a março. E em locais de altitude elevada, de outubro a janeiro. No Quadro 3
adiante encontramos os principais materiais genéticos existentes no mercado:

336
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Quadro 3: Cultivares e híbridos de couve-flor disponíveis no mercado.

ÉPOCA CULTIVARES/HÍBRIDOS EMPRESA

Teresópolis Gigante Agroflora, Agroceres

Teresópolis e Teresópolis Agroflora, Agroceres, ISLA


Precoce.

Bola de Neve ISLA

OUTONO-INVERNO Hib. First-Snow Kobayashi ISLA

Hib. Sharon (AF-820) Agroflora

Hib. Florença AG-314 Agroceres

Hib. Shiromaru-III Agroflora

Hib. Barcelona AG-312 Agroceres

Hib. Silver Streak Asgrow

Piracicaba precoce Agroflora, Agroceres, ISLA

Hib. Snow-Flake Kobayashi ISLA

PRIMAVERA-VERÃO Hib. Jaraguá Agroflora

Hib. Shiromaru-I e Hib. Agroflora


Shiromaru-II

Hib. Miyai Agroflora

Hib. Verona AG-184 e 284 Agroceres

MÉTODOS DE SEMEADURA E FORMAÇÃO DE MUDAS

A couve-flor é propagada através de sementes. As mudas podem ser formadas da mesma


maneira que as mudas de brócolis, ou seja, em bandejas de isopor, copos plásticos ou em
canteiros. Em função da maior exigência nutricional, recomenda-se optar pela formação de
mudas em canteiros, pois se obtém mudas mais vigorosas e a um custo menor que as
produzidas em bandejas ou copos.

A adubação da sementeira é feita com matéria orgânica bem curtida, numa quantidade maior
do que a empregada no campo definitivo. Pode-se utilizar 5 Kg de composto, 3 Kg de esterco

337
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

de galinha ou 5 Kg de esterco de curral, por metro quadrado. O material orgânico deve ser
incorporado ao solo da sementeira por ocasião do último preparo com microtrator.

São feitos sulcos transversais no canteiro, com espaçamento de 15 cm entre si. As sementes
são distribuídas nos sulcos, à base de 2g por metro quadrado. Considerando-se que cada
grama contém 375 sementes, em média, e que a porcentagem de germinação é de 70%, o
gasto de sementes para produzir mudas para um hectare é de 150 a 200 gramas.

Logo após a semeadura, o canteiro deve ser coberto com capim ou palha seca. A cobertura
deve ser removida assim que as plântulas começarem a emergir. O solo da sementeira deve
ser mantido permanentemente úmido, sem encharcar. Por isso, as irrigações devem ser
feitas diariamente.

É importante manter o leito livre de plantas invasoras. No período de formação das mudas,
faça quantas capinas forem necessárias. A manutenção da vegetação nativa entre os
canteiros pode ajudar num melhor equilíbrio ecológico do ambiente da sementeira.

As mudas atingem o ponto de transplante quando estão com cerca de 10 cm de altura,


apresentando de 4 a 5 folhas definitivas. Em sistema orgânico elas levam cerca de 30 a 40
dias para chegarem nesse ponto, quando devem ser selecionadas e levadas ao campo
definitivo.

PREPARO DE SOLO, ESPAÇAMENTO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

O preparo de solo para a couve-flor deve seguir os princípios básicos do cultivo orgânico,
evitando-se tanto quanto possível o revolvimento excessivo do solo. Dependendo das
condições do terreno se decidirá a necessidade de preparo mecânico através de aração e
gradagem. Em áreas com pouca vegetação nativa pode-se proceder a limpeza da área e a
abertura de covas diretamente. Também, logo após a realização de uma adubação verde,
em que se deixa a massa verde sobre o terreno, pode-se abrir diretamente as covas para
plantio, praticando o plantio direto. Em solos com um nível médio a alto de ervas nativas,
efetua-se uma aração com, no mínimo uma semana de antecedência ao plantio e por
ocasião do plantio realiza-se uma gradagem para uniformizar o solo.

A couve-flor geralmente é plantada em covas, feitas com espaçamento de 1,0 m entre linhas
por 0,5 m entre plantas. Normalmente devem possuir um tamanho maior que as praticadas
em plantios convencionais, para permitir comportar adequadamente a matéria orgânica,
principalmente quando se utilizam materiais mais volumosos como o composto.

O adubo orgânico é aplicado diretamente nas covas. Para a couve-flor você pode usar 30
toneladas de composto orgânico, 15 toneladas de esterco de galinha ou 30 toneladas de
esterco bovino, para um hectare. A adubação orgânica deve ser parcelada, para manter um
bom nível de nutrientes, especialmente Nitrogênio no solo, durante o crescimento das
plantas. Assim, recomenda-se aplicar 2/3 da dosagem total no plantio e 1/3 em cobertura aos
30 dias após. Dessa forma, dois terços dessas recomendações seriam equivalentes a um

338
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

quilo de composto, 500 gramas de esterco de galinha ou um quilo de esterco de boi para
adubação de cada cova por ocasião do plantio.

PLANTIO

O transplantio das mudas deve ser realizado imediatamente após o preparo e adubação das
covas, quando se emprega adubos orgânicos bem curtidos. Utilizando-se adubos orgânicos
ou estercos que ainda não estão totalmente curtidos, as covas deverão ser adubadas e
irrigadas com, no mínimo, uma semana de antecedência.

Uma boa irrigação nas covas, antes do plantio, vai melhorar o pegamento das mudas. O uso
de um jato forte de água serve, também, para misturar, um pouco, o adubo à terra. O
transplante deve ser feito no final da tarde, evitando-se as horas de sol forte e muito calor. As
mudas devem ser plantadas imediatamente após sua retirada. Não há necessidade de irrigar
logo após o transplante, se as covas estiverem bem molhadas.

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

A couve-flor também é uma planta altamente exigente em água, razão pela qual irriga-se em
caráter suplementar, mesmo durante o período chuvoso, em curtos períodos de seca. Deve-
se manter a camada superficial do solo, onde se desenvolvem as raízes, com um teor de
água útil de 100%. Isto é feito durante todo o ciclo cultural, até às vésperas da colheita. Para
tanto, pode se fazer duas irrigações por infiltração ou três por aspersão, semanalmente. Vale
lembrar que irrigações por aspersão permitem diminuir a incidência de pulgões.

b) Manejo de ervas:

O manejo da vegetação nativa deve ser muito cuidadosa, pois apesar de trazer benefícios
fundamentais para o equilíbrio biológico local, pode provocar perdas muito grandes no
rendimento da cultura da couve-flor pela concorrência por nutrientes e água.

Portanto, recomenda-se realizar capinas em faixas, lateralmente às fileiras de plantio, de


forma a eliminar toda vegetação na zona das raízes das plantas, mantendo uma faixa de
vegetação nas entre-linhas. Assim, se aproveita dos benefícios da proteção do solo e da
proliferação de inimigos naturais, sem prejuízos à produtividade.

c) Adubação em cobertura:

Um terço da quantidade total recomendada de adubo deve ser aplicada trinta dias após o
plantio, isto é, 500 gramas de composto, 250 gramas de esterco de galinha ou 500 gramas

339
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

de esterco de boi. A aplicação deve ser feita ao redor das plantas e coberta com terra por
ocasião de uma capina.

Para um aproveitamento mais rápido pela cultura, outra alternativa é a aplicação dos
materiais orgânicos via líquida, preparados com a diluição de 1 parte do produto para 2
partes de água, aplicados na região das raízes das plantas.

d) Nutrição de plantas:

Diante da boa resposta dessa cultura às aplicações de matéria orgânica, não se recomenda
aplicações de fertilizantes orgânicos foliares, exceto em casos de carência comprovada de
nutrientes através de diagnose visual.

Dentre as brássicas, a couve-flor tem se mostrado ser mais sensível à deficiência Molibdênio
e Boro, podendo apresentar deficiência desses micronutrientes, como se observa em
sistemas de cultivos convencionais, que empregam principalmente adubação mineral à base
dos Macronutrientes Nitrogênio, Fósforo e Potássio. Entretanto, em sistemas orgânicos, a
oferta desses elementos é constante, motivo pelo qual este problema torna-se inexistente.

e) Clareamento das cabeças:

Um trato cultural importante é o branqueamento ou clareamento das cabeças. Para que elas
adquiram e mantenham uma coloração branco-leitosa ou creme-clara, cobrem-se as cabeças
através da quebra de uma folha central ou através do amarrio de duas a três folhas sobre as
cabeças, de modo a sombreá-las até atingirem o ponto de colheita.

Atingidas pela luz solar, algumas cultivares desenvolvem uma cor creme forte, especialmente
na época de verão, a exemplo da piracicaba precoce. Entretanto, muitas cultivares de
inverno não são afetadas por este problema, dispensando o clareamento, sem perder o seu
padrão e valor na comercialização.

PRAGAS E DOENÇAS

A cultura da couve-flor não apresenta problemas consideráveis com pragas e doenças,


quando cultivadas organicamente, motivo pelo qual não se adota nenhum método alternativo
de controle. Apenas o emprego de práticas de manejo adequadas permitem impedir a
incidência de pragas e doenças em nível de dano econômico nessa cultura.

Entretanto, vale lembrar que o excesso de matéria orgânica e a cobertura morta no solo
propicia abrigo e ambiente favorável par a multiplicação de lesmas. Este inseto pode
danificar a parte comercial da couve-flor (cabeças), provocando perda total, conforme a
ilustração da Figura 60. Como medida de prevenção, recomenda-se evitar práticas que
favoreçam a multiplicação do inseto e, como medida de controle, utilizar armadilha descrita
na seção ‘manejo e controle de pragas e doenças’.

340
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Nos casos de desequilíbrios esporádicos ou durante períodos de conversão para sistemas


orgânicos, quando o ambiente ainda não está adequadamente equilibrado, havendo
incidêndia de pulgões, lagartas ou doenças foliares, pode-se buscar outras alternativas na
seção relativa a ‘manejo e controle de pragas e doenças’ do presente manual.

COLHEITA E RENDIMENTO EM CULTIVO ORGÂNICO

Normalmente, para as cultivares de primavera-verão, a colheita realiza-se entre 75 e 100


dias da semeadura. As cultivares de outono-inverno produzem com 90 a 115 dias do semeio.
Entretanto, em sistemas orgânicos é comum haver um pequeno alongamento no ciclo
vegetativo, conforme se verifica na Tabela 21, onde se registrou uma média geral de 113
dias.

As cabeças são colhidas quando atingem o seu máximo desenvolvimento, mas antes que
percam a sua compacidade ou iniciem a formação de “pelos”. É preferível colher um pouco
antes do tempo, do que depois, pois a cabeça “passada” não serve para o comércio.

O padrão de qualidade de couve-flor, para o mercado, são as cabeças compactas, alvas,


com um mínimo de quinze centímetros de diâmetro. Os cultivos em sistema orgânico
realizados ao longo de dez anos, na Estação Experimental do INCAPER, mostram que é
perfeitamente possível obter produtos com esse padrão, nesse sistema de produção (Figura
60).

Como as plantas não produzem ao mesmo tempo, é preciso fazer a colheita parcelada em
duas vezes por semana. A haste é cortada abaixo da cabeça, deixando-se algumas folhas.
Essas folhas envolvem a couve-flor, protegendo-a contra injúrias durante o transporte interno
na propriedade ou até o mercado.

Para o mercado orgânico, normalmente o produto é vendido sem as folhas externas, pois as
cabeças são naturalmente protegidas pelas embalagens plásticas utilizadas.

A couve-flor tem demonstrado ser uma espécie com elevada dependência das condições
químicas e físicas dos solos. Em solos com melhores características, tem se alcançado
rendimentos comerciais superiores a 18.000 Kg/ha e cabeças com diâmetro médio de até
16,5 cm. Por outro lado, em solos de fertilidade natural baixa, verifica-se rendimentos
inferiores. No monitoramento do desempenho da cultura em sistema orgânico, SOUZA
(2002) relata uma média de produtividade satisfatória, na faixa de 13.686 Kg/ha (Tabela 86).

341
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 60: Planta de couve-flor orgânica, cv. Teresópolis precoce, próxima à fase de colheita – material de
boa adaptabilidade ao sistema (acima à esquerda). Ataque de lesma, inviabilizando o produto
para o mercado (acima à direita). Cabeças recém-colhidas (abaixo à esquerda) e produto
embalado para o mercado (abaixo à direita).

342
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 86: Desenvolvimento agronômico da cultura da Couve-flor em sistema de


cultivo orgânico.1

Cronologia Comerciais
dos Talhão Ano N0
Produção N0
Produtivi- Peso Diâm. Compa Cabeças Ciclo
Cultivos Cabeça Total Cabeça dade Médio Médio -cidade Comerc.
por ha
(ha) (Kg/ha) (ha) (Kg/ha) (g) (cm) (%) (dias)

Couve-flor 1 03 1992 14.860 8.955 8.668 7.395 853 12.1 7.6 43 104

Couve-flor 2 07 1992 11.780 7.581 10.820 4.835 445 12.6 8.1 54 130

Couve-flor 3 09 1992 18.120 6.476 11.013 3.987 362 12.1 7.8 55 100

Couve-flor 4 04 1994 19.834 19.736 18.600 19.304 1.038 15.9 9.3 93 131

Couve-flor 5 03 1995 19.600 18.135 18.000 17.346 958 13.1 7.0 90 108

Couve-flor 6 04 1995 19.830 17.790 19.400 15.605 802 16.5 8.5 97 108

Couve-flor 7 07 1995 13.360 11.425 12.400 8.680 696 14.8 5.3 62 109

Couve-flor 8 09 1996 19.714 14.025 18.571 13.691 666 16,0 8,5 94 118

Couve-flor 9 04 1997 20.000 15.260 17.600 14.708 836 14,8 7,0 88 109

Couve-flor 10 04 1998 20.000 18.304 19.600 18.228 930 16,5 7,4 98 105

Couve-flor 11 07 1998 20.000 17.592 18.500 16.944 907 17,0 7,0 92 119

Couve-flor 12 04 1999 19.600 23.796 19.200 23.508 1.245 16,9 7,4 98 117

Média 18.058 14.923 16.031 13.686 811 14,9 7,6 80 113


1 Fonte: SOUZA (2002).

Diante desses resultados, concluímos que em solos com melhores características, torna-se
plenamente viável a produção orgânica de couve-flor, conseguindo-se bom desenvolvimento
vegetativo e produtos com boas características para o mercado consumidor.

CUSTO DE PRODUÇÃO

O total de despesas do sistema orgânico foi de 2.330,00 reais, com uma perspectiva de
receita bruta de 9.580,00 reais, o que confere uma rentabilidade de 4,1 reais para cada real
investido.

Apesar da mão-de-obra representar 62% e o composto orgânico representar 29%, somando


91% do total das despesas, esta cultura no sistema orgânico apresentou um custo unitário
por Kg do produto na faixa de R$ 0,17. O preço médio que tem sido pago aos produtores na
faixa de R$ 0,70 por Kg, torna o investimento altamente compensador (Tabelas 87 e 88).

343
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 87: Indicadores físicos e financeiros da cultura da Couve-flor (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 200 20,00 1
Composto (t) 30 690,00 29
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 144 1.440,00 62
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 8
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 2.330,00 100
CUSTO POR Kg 13.686 0,17 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

344
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 88: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Couve-flor em sistema


orgânico de produção.1
Especificação ud Valor Qde Valor Total (R$)
Unitário(R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,10 200 20,00
Calcário t 44,00 - -

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (covas) D/H 10,00 7 70,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 20 200,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Capinas D/H 10,00 15 150,00
Pulverizações D/H 10,00 - -
Irrigações (5 vezes) D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 10 100,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 30 300,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 2.330,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA KG 0,70 13.686 9.580,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.11. Cultivo Orgânico do Gengibre

347
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ORÍGEM

O gengibre pertence à família Zingiberaceae e seu nome científico é Zingiber officinale


Roscoe. É uma planta herbácea de rizoma perene e parte aérea anual. Os rizomas são
ramificados, carnosos, geralmente de cor amarela, sendo encontradas variedades de cor
branca e azul. Esses rizomas são utilizados na alimentação, na indústria de bebidas e como
produto medicinal.

Acredita-se que o gengibre seja originário da Índia e, posteriormente, foi introduzida em


várias partes do mundo, em regiões de clima tropical e subtropical.

Os maiores produtores de gengibre no mundo são a China e a Índia, sendo que outros
importantes produtores são Bangladesh, Tailândia, Malásia, Filipinas, Taiwan, Japão, Sierra
Leone, Nigéria, Ilhas Figi, Austrália, Jamaica, Havaí, Costa Rica e Brasil. Esses países
exportam a maior parte da sua produção para os Estados Unidos, Japão, Europa Ocidental,
Arábia Saudita e Yemen.

CULTIVARES

Ao redor do mundo são encontradas diversas variedades de gengibre, que recebem nomes
regionais. Dentre essas variedades são observadas variações quanto ao aspecto, conteúdo
de fibras e de óleo, aroma e rendimento.

No Brasil, a variedade mais cultivada é o “Gigante”, sendo o material que apresenta melhor
padrão comercial. São cultivados, também, os clones regionais, que, geralmente, têm
reduzido tamanho de rizomas e pouca aceitação comercial.

CLIMA E SOLO

As condições que favorecem a produção do gengibre são: clima tropical e subtropical, quente
e úmido, com temperaturas entre 25°C e 30°C (média anual acima de 21°C) e precipitação
(chuvas) de no mínimo 1.500 mm/ano, o que conduz às seguintes recomendações:

- durante períodos longos de seca, o gengibre deve ser irrigado;


- excesso de umidade no solo pode apodrecer as raízes;
- o solo deve ser fértil, leve e solto, bem drenado e rico em húmus.
- o pH do solo deve estar na faixa de 6,0 a 6,5. Se estiver abaixo desse valor deve ser feita a
calagem para corrigir a acidez.

MUDAS

O plantio do gengibre é feito através de pedaços de rizomas, com 5 a 10 centímetros de


comprimento, apresentando diversas gemas.

348
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Gastam-se em média de 3 a 4 toneladas de rizomas para o plantio de 1,0 hectare. Se as


mudas forem pequenas o gasto é de 2,5 a 3 toneladas por hectare. São usados como
sementes, os rizomas colhidos no mesmo ano.

Para acelerar a emergência das plantas no campo, recomenda-se induzir a brotação dos
rizomas-sementes, antes do plantio, da seguinte maneira:

- Amontoar os rizomas no campo, em camada de 15 a 20 centímetros de altura;


- Cobrir com palha (arroz, capim sem sementes, feijão, etc);
- Irrigar sobre a palha, diariamente, para manter os rizomas úmidos.
- Quando as brotações começam a aparecer, as mudas estão no ponto ideal para o plantio.

PREPARO DO SOLO

O preparo do solo tem grande importância na qualidade e produtividade do gengibre. O


terreno deve ser bem preparado, de forma a eliminar os torrões muito grandes no solo. O
plantio do gengibre deve ser feito em sulcos e sua profundidade deve ser de 10 a 15
centímetros, dependendo do tamanho dos rizomas-sementes.

ADUBAÇÃO

Recomenda-se adubar a lavoura de gengibre com 15 toneladas de composto por hectare,


sendo que a adubação deve ser parcelada, da seguinte maneira:
- 5 toneladas de composto por hectare no plantio
- 5 toneladas de composto por hectare na primeira cobertura, antes da primeira
amontoa (90 dias)
- 5 toneladas de composto por hectare na segunda cobertura, antes da terceira
amontoa (150 dias).

No plantio, o composto deve ser espalhado no fundo do sulco, sendo necessário colocar 600
gramas por metro de sulco, quando o espaçamento entre-linhas for de 1,20 metro; ou 700
gramas por metro de sulco, no espaçamento de 1,40 metro.

O composto pode ser substituído por outros adubos orgânicos, como o esterco de gado e de
aves. Mas é preciso que os estercos estejam bem curtidos e sejam de fonte conhecida para
evitar contaminações por resíduos químicos ou antibióticos. Nesse caso, a dosagem será:

- esterco de gado = dosagem de composto orgânico


- esterco de aves = metade da dosagem do composto orgânico.

PLANTIO

O gengibre deve ser plantado de agosto a dezembro. A colheita se dá de 7 a 10 meses após


o plantio, dependendo da variedade. Os espaçamentos recomendados são:
- espaçamento entre linhas: 1,20 metro a 1,40 metro

349
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

- espaçamento entre plantas: 20 centímetros

Os rizomas-sementes devem ser distribuídos ao longo dos sulcos , espaçados de 20


centímetros um do outro e posicionados transversalmente dentro do sulco, para que as
novas brotações (que darão orígem às “mãos”, cresçam perpendicularmente ao sulco,
evitando que os rizomas de uma planta entrelacem nos da planta vizinha e se partam na
hora da colheita. Após estarem dispostos adequadamente, devem ser cobertos com uma
camada de 5 a 10 cmcentímetros de terra.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

O gengibre necessita de fornecimento regular de água durante todo o seu ciclo, por isso, é
preciso irrigar a lavoura. O gengibre não suporta solo encharcado, o que causa o
apodrecimento dos rizomas. Podem ser usados os sistemas de aspersão, infiltração ou
irrigação localizada.

b) Capina:

Deve ser feita a capina em faixas, eliminando-se com cuidado as plantas que crescem junto
aos pés de gengibre, para não danificar os rizomas. O mato que cresce entre as linhas de
cultivo deve ser preservado até iniciarem as amontoas. A partir desse momento não será
mais possível preservar o mato nas entrelinhas por causa da quantidade de terra exigida na
amontoa.

- Devem ser planejados corredores de refúgio ao redor da área cultivada ou em faixas de 20


em 20 metros no interior da lavoura, para abrigar a entomofauna local.

c) Amontoa:

A amontoa é o chegamento de terra junto aos pés das plantas, de forma a recobrir os
rizomas que começam a aparecer na superfície. Essa operação deve ser feita de 3 a 4 vezes
durante o ciclo do gengibre.

Recomenda-se iniciar as amontoas quando as plantas estiverem com cerca de 30


centímetros de altura. Normalmente, as amontoas são realizadas aos 90, 120, 150 e 180
dias após o plantio.

d) Adubação em cobertura:

Faz-se uma adubação em cobertura por ocasião da primeira amontoa, cerca de 90 dias após
o plantio, e outra na terceira amontoa, ou seja, 150 dias após o plantio.

A dosagem de cada adubação é de 5 toneladas de composto orgânico por hectare, ou 600


gramas de composto por metro linear no espaçamento de 1,20 metro ou 700 gramas de
composto por metro linear no espaçamento de 1,40 metro.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PRAGAS E DOENÇAS

Dentre as pragas, pode haver ocorrência de lagarta rosca, Agrotis ipsilon¸ que ataca as
brotações cortando-as no colo da planta. Nematóides também podem ser um sério problema
para a cultura.

A rotação de culturas é um eficiente meio de controle das pragas na lavoura do gengibre.


Após o plantio do gengibre, deve-se cultivar plantas com um sistema radicular diferente,
como o milho, hortaliças que produzem folhas ou frutos, ou leguminosas para adubação
verde.

Quanto às doenaçs, o gengibre pode ser atacado por uma série de fungos (Fusarium
oxysporum, Phylosticta gengiberi, Phoma, etc). Para diminuir a ocorrência desses fungos,
deve-se escolher rizomas sadios para o plantio e fazer a rotação de culturas.

COLHEITA

O ponto de colheita do gengibre é indicado pelo amarelecimento e secamento das folhas e


brotos.

Na colheita manual, os rizomas são retirados com enxadão ou enxada, cuidadosamente, e


depois colhidos com as mãos. Em seguida, os rizomas são lavados, colocados em caixas
plásticas e transportados para o local de secagem e armazenagem à sombra.

A lavagem dos rizomas deve ser cuidadosa para evitar ferimentos, de forma a evitar porta de
entradas de patógenos de pós-colheita e aumentar a vida útil no armazenamento e
comercialização. Uma das formas mais simples e funcionais de lavagem é realizada no
próprio campo, logo após a colheita, em superfície lisa (por ex.: estrados de bambú), com
jatos d´água (mangueira ou máquina de pressão), conforme a ilustração da Figura 59.

Rendimento esperado: 2 a 3 Kg por m2 ou 20 a 30 toneladas por hectare.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 61: Acima à esquerda: Planas de Gengibre logo após a amontoa.


Acima à direita: Colheita de raízes.
Abaixo à esquerda: Lavagem de gengibre orgânico com jato d’água, sobre estrados de bambú –
evitar danos aos rizomas é fundamental.
Abaixo à direita: Túnel plástico para secagem das raízes.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.12. Cultivo Orgânico do Inhame (Cará)

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ORÍGEM E CULTIVARES

O inhame é uma planta herbácea, com caules volúveis. Produz tubérculos isolados ou em
feixes, com coloração escura na casca e polpa de cor branca, amarelada ou avermelhada.

Essa planta também é chamada de Cará. Porém, para uniformizar com o nome popular em
espanhol nãme, usado internacionalmente, vamos usar o termo inhame.

Diversas plantas do gênero Dioscorea são chamadas de inhame. No Brasil, as espécies mais
encontradas no mercado são a Dioscorea alata e a Dioscorea cayennensis.

Dentro de cada espécie, existe ainda uma variação entre os clones, principalmente, no
aspecto dos tubérculos, na cor da polpa e na adaptação ecológica. A variedade cará São
Tomé (Figura 62) é bastante difundida na Região Centro-Sul. No Nordeste, o cará da Costa
é o mais cultivado.

As espécies do gênero Dioscorea têm origem em várias partes do mundo, especialmente no


continente asiático. Também existem espécies originárias do Brasil.

CLIMA E SOLO

O inhame é uma planta tipicamente tropical, de clima quente e úmido. A planta não é muito
exigente em água durante os cinco primeiros meses. Em média, as chuvas por ano devem
superar os 1.500 milímetros, devendo ter disponíveis 400 milímetros entre os 3,5 meses e
cinco meses de vegetação. Quando atinge o ponto de colheita, o excesso de umidade no
solo pode provocar apodrecimento e brotação dos rizomas.

A temperatura média deve ser de 23 a 25 graus centígrados. É intolerante ao frio e às


geadas.

O inhame desenvolve-se melhor em solos areno-argilosos ou mesmo arenosos, leves e bem


drenados, com pH na faixa de 5,5 a 6,0.

A planta responde bem ao fósforo. Por isso, se o teor no solo for baixo, recomenda-se
adicionar fosfato natural ao composto orgânico, ou aplicá-lo diretamente no solo, antes do
plantio. No entanto, é capaz de aproveitar bem os resíduos de adubação de outras culturas,
no plano de rotação.

MUDAS

O inhame, também, propaga-se exclusivamente através de material vegetativo. Podem ser


usados tubérculos pequenos, inteiros, que não atingem o padrão comercial, mas com peso
mínimo de 100 gramas; ou os tubérculos maiores podem ser cortados em pedaços, contendo
de duas a três gemas cada um, com peso na faixa de 250 a 350 gramas. Todas as partes
podem ser usadas no plantio. No entanto, a parte de cima apresenta melhor pegamento, que
as partes do meio e da ponta, pois tem maior quantidade de gemas.
356
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

É preciso deixar os rizomas em repouso, após cortados, em local ventilado, para que
cicatrize a parte cortada, formando um “selo” que impede a entrada de patógenos. As mudas
podem ser plantadas diretamente no local definitivo ou podem ser enviveiradas, ou seja,
plantadas em canteiros específicos para reprodução e posterior transplante.

Quando as brotações atingem de 20 a 30 centímetros, o que ocorre cerca de 60 dias após o


plantio, cava-se em torno das mudas, retirando-as, com cuidado para não romper as raízes.
Depois, separam-se as brotações com pedaços do tubérculo e cada um será uma muda. É
importante manter um pedaço do tubérculo, para que ele forneça alimento para a muda, até
que esta se fixe no solo.

PREPARO DO SOLO

O inhame pode ser plantando em sulcos abertos no solo, ou em leiras. Os sulcos só são
indicados para solos bem soltos, e devem ser abertos numa profundidade de 15 a 20
centímetros.

Em terrenos mais pesados, recomenda-se utilizar leiras para o plantio. A altura das leiras
deve ser de, pelo menos, 30 centímetros. Deve ser feito um sulco no topo das leiras, com
cerca de 15 centímetros de profundidade. Neste sulco, é distribuído o adubo, na dose de um
quilo de composto orgânico ou esterco de gado por metro linear.

ADUBAÇÃO

A recomendação é de 15 toneladas por hectare de composto orgânico (peso seco) ou


esterco curtido de curral, ou 5 toneladas de esterco de aves. Dois terços desta adubação (10
toneladas por hectare) pode ser usada no plantio, reservando um terço para a adubação em
cobertura.

PLANTIO

No Nordeste, o plantio irrigado é feito de setembro a outubro e sem irrigação, de janeiro a


março.

No Centro-Sul, o plantio é feito de setembro a dezembro, quando começa o período das


chuvas.

Em regiões de baixa altitude, com temperaturas médias anuais mais elevadas, planta-se de
junho a setembro.

No plantio, as mudas devem ser distribuídas ao longo da leira ou do sulco, colocando a parte
cortada virada para baixo. Após a distribuição, as mudas devem ser cobertas com uma
camada de 5 centímetros de terra.

357
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O espaçamento entre linhas e entre plantas depende da forma de condução da lavoura, da


fertilidade e do tipo de solo:
♦ para a cultura rasteira, o espaçamento pode ser de 80 a 90 centímetros entre
linhas por 20 a 30 centímetros entre plantas.
♦ no caso do tutoramento, recomenda-se o espaçamento de 1,20 m entre linhas e
40 a 60 centímetros entre plantas.

Se o solo for fértil e a umidade alta, recomenda-se utilizar espaçamentos mais apertados,
para evitar que as raízes cresçam muito, o que dificulta sua aceitação em mercados mais
exigentes.

TRATOS CULTURAIS

a) Capina:

O principal trato cultural da lavoura de inhame é a realização de capinas até os 100 primeiros
dias após o plantio, pois as plantas são muito sensíveis à competição com ervas.

Na fase inicial da cultura, as capinas devem ser feitas em faixas, limpando-se junto às
plantas e mantendo uma faixa de mato de cerca de 20 centímetros entre as linhas da cultura.

b) Adubação em cobertura:

A adubação em cobertura deve ser feita em torno de 90 dias após plantio. Aplica-se o adubo
lateralmente às linhas de plantio, e cobre-se com terra por ocasião da capina.

A dosagem é de 5 toneladas de composto orgânico ou esterco de gado curtido por hectare.

c) Irrigação:
Quando plantado durante o período chuvoso, o inhame não precisa de irrigação, pois é
bastante resistente à seca, suportando bem os períodos de veranico.

No caso da antecipação do plantio para julho ou agosto, em locais de inverno ameno, o uso
de irrigação após o plantio, apressa a brotação e favorece o desenvolvimento inicial das
plantas. Dessa forma, é possível obter colheitas precoces e melhores preços na
comercialização.

d) Tutoramento:

O tutoramento é feito com varas com 2 metros de comprimento. Pode-se utilizar uma vara
por planta ou uma para cada duas plantas, para economizar. Também pode-se fazer o
tutoramento na forma de cerca cruzada, semelhante ao utilizado na cultura do tomate.

358
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O tutor é fincado na leira, bem firme. A planta se desenvolve sobre tal apoio, enroscando-se
sozinha.

PRAGAS E DOENÇAS

São relatadas algumas doenças que atacam o inhame. Por exemplo, fungos dos gêneros
Cercospora, Colletotrichum, Gloesporium atacam as folhas; Bothryodipoida, e Phythium
causam o apodrecimento dos rizomas. Além disso, o vírus do mosaico pode causar danos
econômicos.

Quanto às pragas, as larvas de Heteroligus meles (Coleoptera-Scarabidae) são as mais


conhecidas pelo ataque dos rizomas. Aspidiella hartii (Homoptera Coccidae) pode infestar os
rizomas armazenados. Outro inimigo do cultivo é o nematóide Scutellona bradis, que é
controlado com a rotação de culturas.

Apesar da referência do ataque dessas pragas e doenças, observa-se que o inhame é uma
planta bastante rústica, que resiste bem ao ataque desses organismos, não havendo danos
econômicos significativos, principalmente se o sistema estiver equilibrado, através do uso de
práticas de cultivo orgânico.

COLHEITA

O ciclo do inhame, do plantio à colheita, dura de 8 a 10 meses. O ponto de colheita


manifesta-se quando as folhas ficam amarelas e os ramos secam.

A colheita manual é feita com auxílio de enxada ou enxadão, tomando-se cuidado para não
ferir os rizomas. Depois, eles são recolhidos e colocados em caixas (Figura 62).

Para comercializá-los é preciso limpar a terra e retirar as raízes. Pode-se lavar os rizomas,
deixando secar, em seguida, como foi feito com o taro.

Para estocar, o inhame deve ser colocado em galpão arejado e fresco, sendo os tubérculos
espalhados em uma camada fina. Assim, pode ser estocado por até 2 meses.

Rendimento esperado: » Cultura rasteira: 15 a 25 ton. por hectare.


» Cultura tutorada: 30 a 40 ton. por hectare.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 62: Planta de inhame, variedade ‘cará são tomé’ – espécie rústica e de elevada adaptabilidade a
sistemas orgânicos de produção (acima à esquerda. Campo em início de ciclo (acima à
direita). Raízes colhidas (abaixo).

360
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.13. Cultivo Orgânico do Morango

363
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

O morangueiro é uma planta bastante sensível ao fotoperíodo, sendo que, para a produção
de mudas, a planta precisa ter o crescimento vegetativo estimulado e isso acontece sob
condições de dias longos e temperaturas elevadas. Para a produção de frutos, a planta tem
que ter o florescimento estimulado e isso acontece sob condições de dias curtos e
temperaturas amenas ou baixas.

Por isso, a recomendação geral de épocas de plantio no centro-sul de Brasil, visando a


produção de frutos comerciais, é:
∗ Fevereiro e Março, nas regiões que apresentam altitudes acima de 700 metros;
∗ Abril, nas regiões que apresentam altitudes que variam de 600 a 700 metros;
∗ Maio, nas regiões que apresentam altitude de 500 a 600 metros;

Regiões com altitude inferior a 500 metros de altitude, não apresentam condições ideais para
o plantio do morangueiro, comprometendo o desenvolvimento das plantas e o rendimento de
frutos.

A cultivar mais utilizada por agricultores, na região produtora do Espírito Santo, é a Dover –
planta que apresenta frutos com bom peso médio e alta resistência na fase de pós-colheita.
Entretanto, nestas condições tem se apresentado sensível à incidência de Mycosphaerella (
fungo que ataca as folhas), necessitando de proteção foliar. A cultivar Camarosa tem sido
outra alternativa, por apresentar padrão de frutos e resistência pós-colheita semelhante ao
Dover, porém com melhor sabor de frutos.

Em sistemas orgânicos regionais, se multiplica cultivares de orígem desconhecida, bem


adaptadas ao sistema, com alta resistência a doenças e podem ser uma opção de material
genético a utilizar.

PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), apresentam as características padrões dos principais
cultivares, conforme descrito abaixo.

Campinas IAC 2712:


- Utilização: consumo “in natura”.
- Frutos: graúdos, cônicos-alongados, firmeza regular, suculentos, coloração externa
vermelha brilhante, coloração interna rosa, sabor adocicado.
- potencial de produtividade: 30 - 40 t/ha.
- plantas: vigorosas, produtivas e precoce.
- resistência a doenças: média.

Toyonoka:
- Utilização: consumo ïn natura”/indústria.
- Plantas: vigorosas, com melhor desempenho em regiões frias, tardias.
- Frutos: grandes, cônicos, regularmente suculentos, textura firme, coloração externa
vermelho-brilhante, coloração interna, rosa, sabor de excepcional doçura.
- Potencial de produtividade: 20 - 40 t/ha
- Resistência a doença: média

364
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Dover:
- Utilização: indústria, “in natura”, se bem manejado
- Plantas: moderadamente vigorosas, produtivas e precoces.
- Frutos: grandes, cônico-alongado e ápice cristado (ponta alargada), coloração externa
vermelha intensa, coloração interna vermelha , polpa firme, epiderme forte, pouco
suculento, resistente ao transporte e comercialização, sabor fraco e ácido.
- Potencial de produtividade: 30 - 40 t/ha
- Resistência a doenças: média

Guarani - IAC 5074:


- Utilização: industrialização/ congelamento.
- Plantas: moderadamente vigorosas, produtivas e precoces.
- Frutos: tamanho médio a grande, formato cônico com “pescoço”, polpa de textura firme,
coloração externa vermelho-brilhante, coloração interna vermelho intensa, centro é branco;
sabor ácido
- Potencial de produtividade: 30 - 40 t/ha.
- Resistência a doenças: resistente à mancha de Mycosphaerella.

PREPARO DE SOLO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Os implementos mais utilizados pelos agricultores, para proceder o adequado preparo do


solo exigido por esta cultura são: os arados de discos e de aivecas, grades aradoras,
escarificadores e as enxadas rotativas. Arados são indicados para uma mobilização profunda
com revolvimento(apenas caso seja necessário), as grades aradoras servem para
mobilizações médias, às vezes da mesma forma que é a enxada rotativa. Os escarificadores
servem para mobilizações verticais profundas e rasas, porém, sem revolvimento.

A construção dos canteiros pode ser mecânica ou manual e deve ser realizada de
preferência bem próxima da época do plantio. Levantar os canteiros com aproximadamente
20 cm de altura, com 1,2m de largura na sua parte superior, de forma a permitir que a lona
cubra-o adequadamente, ‘sobrando’ 20 cm em cada lateral dos canteiros, pois a mesma
possui 1,6m de largura.

O composto orgânico ou qualquer outro material adequadamente decomposto, deve ser


preferencialmente ‘rico’ (ou seja, de boa qualidade), pois o morango é planta exigente em
nutrientes. Este adubo deve ser aplicado nas pequenas covas, preparadas sobre o leito
depois de levantado o canteiro – este adubo localizado em cada pé é muito importante para
o morango.

Abre-se as covas, aplica-se em média 200 gramas, mistura-se à terra da cova, irriga-se com
mangueira e depois procede-se o plantio.

FORMAÇÃO DE MUDAS

As mudas podem ser compradas de viveiristas certificados ou produzidas na própria


propriedade.

365
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Para a produção das mudas na propriedade, deve ser feito o plantio das matrizes do campo
de produção, em uma nova área, a partir do mês de setembro, após encerrar a colheita.
Retira-se as mudas e procede-se o plantio em covas bem adubadas, no espaçamento de
1,0m X 1,0m, para permitir a emissão de ramificações laterais (estolons), onde serão
formadas mudas novas para o plantio seguinte, nos meses de fevereiro – maio do ano
posterior.

Para a multiplicação das matrizes no campo, a observação quanto à ausência de doenças e


alta produtividade, servirão de base para ampliação destes materiais, da mesma forma que,
lotes de mudas que apresentarem doenças e/ou baixa produtividade são materiais com
fortes indícios para descarte.

Normalmente, utilizando as técnicas adequadas para produção de mudas e utilizando


espaçamentos recomendados para matriz, obtêm-se de 75 a 200 mudas por metro
quadrado.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

A operação de plantio destaca-se como uma das mais importante, entre muitas outras que
caraterizam o processo operacional da produção de morangos.

PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), informa que o processo de plantio começa com um
conjunto de operações antecedentes ao ato de plantar, em que podemos destacar os
trabalhos preparativos onde a primeira coisa a fazer é uma limpeza na muda removendo
folhas velhas e danificadas, estolons ou cipós, rebentos e também o excesso de folhas
verdes, principalmente as folhas muito grandes; essa “poda” na muda é realizada com
objetivo de diminuir a probabilidade da muda perder água (desidratar) para o solo ou para o
meio.

Ainda nesta fase, é muito importante um exame criterioso no sistema radicular e nas
folhagens no sentido de detectar algum foco de doença. Qualquer detalhe que indique
possíveis sinais de doença, as mudas devem que ser eliminadas, sendo queimadas
imediatamente. Neste exame, ainda há possibilidade de eliminar, se necessário for, um
excesso de raiz podando-as e deixando-as com o comprimento por volta de 7 a 10 cm. Muda
com raiz muito comprida aumenta a possibilidade de ocorrer o enovelamento na ocasião do
plantio.

Por fim, o exame da muda deve proporcionar uma classificação das mesmas por tamanho
em pelo menos três categorias, pequenas, médias e grandes. Esse detalhe, garantirá
canteiros com plantas uniformes. Após a classificação, as mudas serão amarradas em
maços e estarão prontas para o plantio no campo.

366
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Observe abaixo, o resumo da sequência operacional das atividades preparativas para uma
boa seleção de mudas em pré-plantio:
1- Desinfecção de mãos e instrumentos
2- Remoção de folhas velhas e danificadas
3- Remoção de estolons (cipós) e rebentos
4- Retirada do excesso de folhas (número e grandeza)
5- Exame minucioso:
5.1- Busca de pontos “negros”(sintomas)
5.2- Busca de anomalias (hematomas, etc)
5.3- Exame de raízes
5.4- Retirada do “excesso” de raízes (a partir de 10 cm)
5.5- Classificação (pequenas, médias e grandes)
5.6- Arrumação de maços e mudas
6-Queima das partes vegetais e mudas descartadas
7- Desinfecção constante de mãos e instrumentos
8- Hidratação das mudas (maços)

O espaçamento tradicionalmente recomendado é de 30 cm entre linhas e 30 cm entre as


covas na linha, obtendo-se assim 11,1 plantas por m2 de canteiro e um total de 77.000
plantas por hectare (descontando-se a “perda” de 30% de área entre os canteiros). Em
sistemas orgânicos pode-se utilizar um menor espaçamento entre plantas (25 cm), pelo
menor desenvolvimento vegetativo e crescimento da parte aérea, podendo-se obter 13,3
plantas por m2, totalizando 93.000 plantas por hectare.

Afasta-se a terra da cova com a própria mão a uma profundidade suficiente para não dobrar
as raízes no fundo das mesmas (isso é muito importante). Uma vez que as covas estarão
úmidas, não será necessário irrigar por aspersão logo após plantar. Isto evita que as folhas
fiquem em contato com o solo. Apenas irrigar no dia seguinte.

Posiciona-se a muda na cova, de forma que a ‘coroa da muda’ receba terra somente até a
região do colo (onde acaba o caule e começa as raízes), tomando-se o cuidado de não
aprofundar muito a muda, nem deixá-la muito rasa. A profundidade adequada é aquela que
cobre totalmente as raízes e a terra não chega nem perto da gema apical (“miolo”). Esse
detalhe de plantio talvez seja a razão do sucesso ou do fracasso da lavoura.

PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), resume assim, as atividades de plantio de morango:

1- Revolvimento do solo
2- Irrigação pré-plantio, na cova.
3- Marcação com gabarito
4- Segurar a muda posicionando os dedos ao redor da coroa
5- Abrir a cova com os dedos
6- Posicionar a muda no solo, de maneira correta (altura do colo)
7- Compactar a terra em volta da muda.
8- Irrigação pós-plantio (no dia seguinte)

367
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
MANEJO E TRATOS CULTURAIS

a) Replantio:
Deve ser realizado ainda na primeira quinzena após o plantio das mudas. O operador
caminha ao longo do canteiro, controlando o mato sobre os canteiros, manualmente ou com
pequenas ferramentas e, ao mesmo tempo, retira as folhas mortas e debilitadas das mudas
pegas. As mudas mortas ou muito debilitadas são eliminadas e substituídas por mudas
novas. É uma atividade importante, pois há recomposição do stand. Se necessário por volta
de vinte e cinco dias essa operação é repetida.

b) Capinas:
Nas capinas realizadas manualmente, elimina-se totalmente a vegetação nativa sobre os
canteiros, deixando-se apenas o desenvolvimento das ervas espontâneas entre os mesmos,
evitando-se competição com a cultura.

Após a lonagem dos canteiros, o controle do mato que nasce junto à muda, nos furos da
lona, é feito manualmente e simultâneo à uma prática profilática que é a retirada também
manual de folhas velhas e folhas com sintomas de doenças, como citado anteriormente. Em
estágios mais avançados, a prática de profilaxia contínua, também é aliada à eliminação dos
estolons ou “cipós” que, por ventura, apareçam tirando a “força” da frutificação.

c) Irrigação:

Normalmente é realizada por aspersão, num turno de rega diário na primeira semana. Após o
pegamento definitivo das mudas, pode-se irrigar de 2 em 2 dias, dependendo do regime
hídrico e da umidade do solo ( em períodos de muito sol, pode ser necessário irrigar todos os
dias ).

O sistema ideal para a cultura do morango é a irrigação por gotejamento, que tem como
vantagens a não aplicação de água na parte aérea da planta, possibilita automatização,
irrigações freqüentes e a fertirrigação, mas o custo de implantação do gotejamento é mais
elevado do que o da aspersão.

Segundo relato de PECHE FILHO & DE LUCCA (1997),, em sistemas mais tecnificados, o
manejo das irrigações pode ser realizado via solo, clima ou planta, sendo que o mais usado é
via solo ou clima. A estimativa da lâmina de irrigação é um estudo de caso para cada
situação, pois são inúmeros fatores interferindo, principalmente, os relacionados diretamente
com a capacidade de armazenamento de água no solo na camada onde se encontra a maior
parte de raízes absorventes do morangueiro.

d) Cobertura plástica dos canteiros:

Normalmente, a colocação da lona se dá em torno de 40 dias (quando as plantas estiverem


com folhas definitivas). Com o tato, identifica-se o local das mudas, faz-se um corte em forma

368
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
de ‘cruz’, com o auxílio de uma lâmina bem afiada e ‘puxa-se as mudas para fora. A lona
deve ser presa nas laterais dos canteiros, utilizando-se ‘paletas’ de taquara (1 cm de largura
e 20 cm de comprimento), enterradas em forma de ‘U’, de 50 em 50 cm, nas laterais dos
canteiros (Figura 63a). Jamais se deve enterrar as bordas do plástico, pela dificuldade
posterior de retirá-lo totalmente da área no final do cultivo, agravada pelo ressecamento do
mesmo (Figura 63b).

Lembre-se: Os resíduos de plástico devem ser estocados e destinados a indústrias de


reciclagem.

Figura 63a: Área de produção de morangos orgânicos. Verifique as paletas de taquara


fixando a lona na lateral dos canteiros.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 63b: Áreas de morango em sistema orgânico, em Canellones – Uruguai, mostrando o que não
deve ser feito: Fixação das lonas, enterrando-as nas laterais dos canteiros (esquerda) e
resíduos do plástico usado no plantio anterior.

Em sistemas irrigados por aspersão, a prática de abrir furos na cobertura plástica, nas
entrelinhas do plantio, é uma prática usual e tem a finalidade de auxiliar na infiltração de
água e principalmente propiciar condições de colocar biofertilizantes em cobertura,
corretamente. Para isso, recomenda-se:

- os furos devem ser sempre redondos, pois auxiliam a prevenção contra rasgos causados
pelo vento;
- diâmetro por volta de 5 cm, devendo ser adequado para receber biofertilizantes e água;
- utilizar um cano ou bambu com a “borda afiada” como furador;
- uniformizar o diâmetro dos furadores;
- treinar os operadores;
- desinfectar o furador constantemente

e) Adubação em cobertura:

Segundo PECHE FILHO & DE LUCCA (1997), o IAC recomenda aplicar 210 kg/ha de
nitrogênio e 90 kg/ha de potássio, parcelando em seis aplicações espaçadas de um mês, a
partir do plantio da muda.

Para atender estas quantidades, se tivermos como fertilizantes a torta de mamona (rica em
N) e cinzas (rica em K), podemos calcular a quantidade de mistura a partir dos fatores de
conversão, como mostrado na seção 4.2.1. de ‘compostagem orgânica’ deste manual.

Para o cálculo da quantidade de torta (5% de N), utilizamos o fator 20 para nitrogênio, e
podemos calcular o total multiplicando este valor pela recomendação que é 210 kg/ha, assim,
20 x 210 teremos 4200 kg de torta para suprir as exigências de N, que também podemos
afirmar que nestes 4200 kg ha uma considerável quantidade de potássio que também
devemos calcular. Pelas tabelas informamos que a torta de mamona tem mais ou menos 11
kg de K por tonelada (1,1% de K) o que daria por volta de 46,2 kg de potássio adicionados

370
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
pela torta de mamona. Subtraindo-se 46,2 do total recomendado, que é de 90 kg de K por
ha, teremos um resíduo de 44 kg que pode ser suprido pela adição de cinzas (10% de K), ou
seja, multiplicando 44 pelo fator 10, teremos 440 kg de cinza para misturar nos 4200 kg de
torta, formando um total de 4640 kg de adubos para cobertura, necessários para adubar 1 ha
de morango. Para cada vez que formos aplicar (6 parcelas), utilizaremos por volta de 775 kg
da mistura por ha ou 77,5 g por metro quadrado do canteiro.

Outra forma muito eficaz de realizar a adubação em cobertura na cultura do morango é


através do emprego de biofertilizante líquido enriquecido (em N e K), conforme descrito na
seção de ‘biofertilizantes líquidos’ deste manual. Uma grande vantagem deste método é a
disponibilização mais rápida dos nutrientes às raízes do morangueiro. Deve ser aplicado 400
ml por m2 de canteiro (dividido igualmente pelos furos das entrelinhas), numa periodicidade
de 7 a 15 dias, dependendo do vigor da lavoura. Outra grande vantagem deste método, em
sistemas irrigados por gotejamento, é a facilidade de aplicação via fertirrigação.

f) Nutrição foliar:

O morangueiro responde muito bem a adubação foliar, sugerindo-se que o fertilizante


utilizado tenha por volta de 3 g de nitrogênio por litro e seja aplicado pelo menos uma vez por
semana a partir do plantio, sendo recomendado aplicação de micronutrientes contendo boro,
zinco e cobre a cada três semanas; na fase de frutificação, é interessante o uso de potássio,
na forma de sulfato de potássio e cálcio, via foliar, para conferir dureza aos frutos.

Por se tratar de uma espécie exigente em nutrientes, recomendamos a aplicação de


Biofertilizante bovino ou, preferencialmente, Supermagro, durante a fase de crescimento e
frutificação, para manter uma produção de frutos mais duradoura. O biofertilizante bovino
comum pode ser pulverizado semanalmente, a uma concentração de 20%. Caso utilize o
Supermagro, este pode ser aplicado da mesma forma, porém a uma concentração de 3%. As
aplicações podem iniciar a partir de 45 dias do plantio.

PRAGAS E DOENÇAS:

Antes de empregarmos uma visão reducionista de praga e doença, centrada apenas na


relação planta/parasita, devemos lembrar de todos os princípios e técnicas descritas na
primeira parte deste manual, que permitem controlar ou minimizar problemas fitossanitários.
Além disso, observe adiante os fatores que facilitam o aparecimento de pragas e doenças na
cultura do morango:

♦ escolha errada da variedade para as condições locais;


♦ falta de qualidade da muda;
♦ erros no plantio e nos tratos culturais;
♦ preparo do solo inadequado;
♦ umidade excessiva ou falta de água;

371
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
♦ adubação unilateral, excessiva ou insuficiente;
♦ inadequação das condições climáticas locais;
♦ foco de inóculos;
♦ ausência de condições para desenvolvimento de inimigos naturais;
♦ solo degradado.

Doenças:

No cultivo orgânico do morangueiro, as doenças mais comuns têm sido: Manchas foliares
causadas por Mycosphaerella; podridão de frutos ou ‘mofo cinzento’, causada por Botrytis e
flor preta ou Antracnose, causada por Colletotrichum. Os biofertilizantes podem ajudar a
prevení-las.
Obs: A catação de folhas velhas e de frutos doentes ajudam muito na redução de problemas
sanitários.

A Tabela 89 apresenta a descrição das principais doenças, seus sintomas padrões e


medidas de controle.

Tabela 89: Principais doenças do morangueiro, sintomas e medidas de controle.


DOENÇAS SINTOMAS E/OU SINAIS CONTROLE CONTROLE
CULTURAL ALTERNATIVO
MANCHA DE Inicia com pequenas manchas -Retirada de folhas com - Pulverizar até a
MICOSFERELA de cor violácea passando para sintomas de queima. floração com calda
Agente causal - Fungo negra, conforme a evolução da -rotação cultural. bordalesa 0,5%,
(Mycosphaerella doença. As manchas se - quebra ventos. alternando com calda
fragariae) caracterizam por apresentar um -controle de sulfocálcica, 1,5 litros
halo esbranquiçado. umidade em 100 litros de água.
A medida, que as manchas - após a florada, aplicar
evoluem, elas coalescem somente biofertilizantes
causando a quedas das folhas. como protetores.
Pode infectar ainda, pecíolo,
cálice floral e estolão.
MANCHAS DE As folhas se caracterizam por -Rotação de culturas.
DIPLOCARPON uma “escaldadura” em -áreas “novas”.
Agente causal - Fungo praticamente toda superfície. -controle de umidade.
(Diplocarpon lartianum)
ANTRACNOSE A doença se caracteriza por -Fiscalização periódica
Agente causal - Fungo manchas escuras, que atacam nas mudas em
(Colletotrichum os estolões, pecíolos, frutos e formação.
fragariae) rizomas, causando necrose (é -seleção rigorosa de
conhecida como mancha de mudas.
chocolate) e flor preta. -controle de umidade.
MOFO CINZENTO A doença se caracteriza por -Controle de frutos
Agente causal - Fungo manchas de cor cinza doentes.
(Botrytis cinerea) (frutificação do fungo) na -higiene nas mudas.
superfície dos frutos. -drenagem dos
Pode atacar em qualquer canteiros.
estágio de desenvolvimento do -cobertura morta
mesmo. plantio.
-colheita em dias

372
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
secos.
MURCHA DE A doença se caracteriza por -Controle na qualidade
VERTICILLIUM murchamento das folhas da água de irrigação.
Agente causal - Fungo periféricas, evoluindo para um -evitar espécies
(Verticillium albo crestamento e finalmente hospedeiras.
atrum) necrose total. -rotação cultural.
-mudas sadias.
Fonte: PECHE FILHO & DE LUCCA (1997),

Pragas:

Caso o equilíbrio ecológico não esteja perfeito, é possível ocorrer ácaros e pulgões, apesar
de não ser comum. Uma diagnose visual permite identificar esta necessidade, observando se
as plantas estão com sintomas de ‘bronzeamento’ característico do ácaro rajado ou com
acúmulo de terra na base da planta, provocado pelos pulgões associados com formigas.
Observe as possíveis pragas, seus sintomas e medidas de controle na Tabela 90.

Tabela 90: Principais pragas do morangueiro, seus sintomas e medidas de controle.


PRAGAS DO SINTOMAS E/OU CONTROLE NATURAL CONTROLE COM
MORANGUEIRO SINAIS PRODUTOS
ALTERNATIVOS
ÁCAROS As folhas apresentam -Manter ervas -Aplicações de calda
Agente causal pequenas manchas espontâneas nas sulfocálcica.
(Tetranychus urticae e isoladas, podendo mais entrelinhas -uso de plástico branco
desertorum) tarde unirem-se, ficando -Guanxuma é planta opaco.
as folhas mais velhas, hospedeira do Ácaro
amareladas e rajado.
ressequidas.
BROCA DOS FRUTOS Após a ovoposição do O controle só será eficaz -Controle biológico.
(Agente causal - Larva besouro, ocorrem a através do uso da isca, -rotação de cultura.
(Lobiopa insularis) eclosão das larvas no como segue: -uso do plástico na cobertura
interior dos frutos, Inseticidas mais suco de de canteiro.
ocasionando danos de morango. -inseticidas a base de
dentro para fora. Colocar a solução em rotenona.
Os frutos próximos ao portes distribuídos na
solo são mais sujeitos cultura
ao ataque.
PULGÕES Normalmente os insetos -Óleo de Nim (no colo da
Agente causal - Inseto se localizam na face planta aplicar jato dirigido).
(Capitophorus inferior das folhas ou no -Extrato de fumo (consultar
fragaefolii) colo das plantas. certificadora).
(Cerosipha farbesi) -calda sulfocálcica.
-extrato de fumo com
pimenta.
FORMIGA LAVA-PÉS Normalmente aparecem Geralmente são - Calda sulfocálcica.
Agente causal em associações ou eliminados, quando se - extrato de fumo bem forte
(Solenopsis saevissima)simbíose com pulgões efetua o controle de (consultar certificadora).
ou outros sugadores de pulgões. Recomenda-se -fórmulas a base de
seiva, como os pulgões a rega para distribuição rotenona.
no colo da planta. dos ninhos.. -pulverizar com creolina a
Também formam ninhos 0,5%
sob a lona pela -extrato de manipuieira (ver
ambiente propício. receita).
Fonte: Adaptado de PECHE FILHO & DE LUCCA (1997),

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
COLHEITA, CLASSIFICAÇÃO E EMBALAGEM

Apesar da aparente fragilidade desta cultura, tem se verificado campos de produção orgânica
de excelente vigor e desenvolvimento de plantas, quando se aplica adequadamente os
princípios agroecológicos e as técnicas de produção. A Figura 63c mostra uma área de
produção de morango em cultivo protegido com túneis baixos (proteção contra frio intenso ou
geada), em propriedade orgânica certificada no Uruguai. Observa-se um bom manejo da
vegetação espontânea, alto vigor da lavoura e excelente formação de frutos.

Figura 63c: Sistema orgânico de produção de morangos em túneis baixos (Canellones – Uruguai). À
esqueda: vista geral da área e dos túneis (proteção contra geada). À direita: detalhes da
frutificação e da vegetação entre os canteiros, observando-se também o detalhe da
‘cavidade’ no arco de sustentação do plástico, que permite levantar a borda do túnel em
dias e horários mais quentes.

As colheitas se iniciam quando os frutos apresentam de 30 a 50% de coloração


avermelhada, para melhor conservação no transporte. Normalmente se colhe de dois em
dois dias para evitar que haja excesso de amadurecimento de alguns frutos (Figura 63d).

Existem embalagens padrões para morango e podem ser compradas em lojas de revenda,
de regiões tradicionalmente produtoras, sem dificuldade.

A classificação para o mercado de frutos ‘in natura’ é feita por tamanho, da seguinte forma:
“extra” (acima de 14 g) e “primeira” (de 6 a 14 g). Para uso industrial, a fruta é embalada
solta em caixas de madeira com 5 kg.

A melhor conservação do fruto se dá em atmosfera com 20% de gás carbônico (CO2). A vida
pós-colheita aproximada do fruto é de sete dias, em câmara fria, com temperatura entre -0,5
e 0,0 graus centígrados, em ambiente com umidade relativa do ar entre 90 a 95%.

Rendimento esperado: 20.000 a 25.000 Kg/ha ou 2 a 2,5 Kg por m2.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 63d: Colheita de frutos de morango orgânico no INCAPER – ES.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
CUSTO DE PRODUÇÃO

Na cultura do morango observa-se que os custos são relativamente elevados, em relação a


outras culturas, basicamente pelos gastos com mão-de-obra (36%), com embalagens (30%)
e com aquisição de mudas (18%), como pode se confirmar na Tabela 91. Para totalização
dos custos, não se incluiu gastos com caixa de 1,6 kg (que comportam 4 ‘cumbucas’), pois
se considerou os preços pagos aos produtores por empresas especializadas na
comercialização de produtos orgânicos, que recebem apenas as embalagens individuais
(‘cumbucas’) e são responsáveis pelos gastos com outras embalagens e frete no processo
de comercialização.

Considerando uma receita de R$75.600,00 (para uma produtividade estimada de 21.000


kg/ha e preço de venda de R$ 3,60/Kg) e o custo de R$ 15.912,00 (preço unitário do produto
(em Kg) de R$ 0,80), a rentabilidade de 1,0 ha de morango orgânico pode atingir 4,75 reais
para cada 1,0 real aplicado (Tabela 92).

Ademais, pelas características do fruto do morangueiro ( por ser consumido ‘in natura’,
imediatamente após o ponto de colheita e pela atratividade que o mesmo exerce sobre os
consumidores infantis), esta pode ser uma boa opção econômica, enriquecida com uma boa
dose de compromisso com a saúde humana e responsabilidade ambiental.

Tabela 91: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Morango (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Mudas (ud) 93.000 2.790,00 18
Composto (t) 30 690,00 4
Esterco (t) - - -
Bobina (500 m2) 14 1.260,00 8
Outros Insumos 587,60 4
Mão de Obra (d/h) 568 5.680,00 36
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 1
Embalagem c/ 4 cumbucas (ud) 52.500 4.725,00 30
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 15.912,60 100
CUSTO POR Kg 20.000 0,80 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Tabela 92: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Morango em sistema
orgânico de produção1.
Especificação ud Valor Unit Qde Valor
(R$) Total
1. INSUMOS.
Plástico de polietileno (bobinas/500m) bobinas 90,00 14 1.260,00
Composto Orgânico T 23,00 30 690,00
Calcário t 44,00 - -
Esterco de Galinha t - - -
Mudas ud 0,03 93.000 2.790,00
Óleo de Nim (2 aplicações) l 50,00 10 500,00
Biofertilizante líquido enriquecido (2 vezes) l 0,006 5.600 33,60
Calda Bordalesa (04pulverizações) l 0,027 2000 54,00

2. SERVIÇOS:
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (canteiro) D/H 10,00 50 500,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 6 60,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 80 800,00
Capinas D/H 10,00 20 200,00
Aplicação de biofertilizante D/H 10,00 10 100,00
Aplicação de Calda Bordalesa D/H 10,00 8 80,00
Pulverizações D/H 10,00 4 40,00
Irrigações D/H 10,00 20 200,00
Colheita e Embalagem D/H 10,00 350 3.500,00
Transporte Interno D/H 10,00 20 200,00

3. OUTROS:
Caixa de 1,6 kg - - - -
Caixeta 0,4 kg (cumbuca) ud 0,09 52.500 4.725,00
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 15.912,60
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 3.60 21.000 75.600,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

377
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.14. Cultivo Orgânico do Pepino

381
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO:

A planta de pepino é semelhante à aboboreira. Na maioria das cultivares, as flores são


monóicas, com predominância das masculinas sobre as femininas. Mas, trabalhos de
melhoramento genético criaram híbridos que produzem, quase exclusivamente, flores
femininas, o que aumenta a produtividade, uma vez que somente as flores femininas geram
frutos.

Tal como na abóbora, a polinização das flores depende das abelhas. A fecundação das
flores feimininas é imprescindível para a fixação e o desenvolvimento normal dos frutos, nas
cultivares tradicionais.

Nas regiões Sudeste e Sul, as cultivares mais plantadas para consumo 'in natura' podem ser
reunidas em três grupos: Aodai, Caipira e Japonês. As do Grupo Aodai, produzem frutos
alongados, cilíndricos, bem retos, com 20 a 25 centímetros de comprimento, 4 a 5
centímetros de diâmetro e peso unitário de 320 a 400 gramas. Neste grupo, destacam-se as
cultivares Monark, Vitória, Nazaré, Ginga, Midori, Sprint 440 S, dentre outras.

O grupo de pepinos denominado Caipira produz frutos de tamanho médio, com 10 a 14


centímetros, claros, alongados ou bojudos, com 3 a 5 lóculos. Dentre estes, podemos citar as
cultivares Pérola, Rubi, Colonião, Imperial II, Nobre, Safira, dentre outras.

Os pepinos do grupo japonês, são híbridos mais adaptados ao plantio em estufas, como
'Seiriki nº 5, Nikkey, Ancor 8, Flecha, dentre outros.

O pepino prefere clima quente. Não suporta temperaturas muito baixas e nem geadas. Por
isso, é mais fácil de cultivar no período chuvoso. Mas, na época da seca em regiões de baixa
altitude, os dias mais curtos, as temperaturas mais baixas e a menor luminosidade levam a
uma maior formação de flores femininas, o que resulta em maior número de frutos e
produtividade mais elevada.

Em regiões com altitude superior a 800 metros, a semeadura pode ser feita de agosto a
fevereiro. Em locais baixos, normalmente a época de plantio vai de março a agosto, porém
pode-se plantar o ano todo, com vantagem para o produtor, por produzir na entressafra.

O cultivo em estufa, mais recomendado para as cultivares do tipo 'japonês', permite a


produção durante o inverno, em regiões onde ocorrem baixas temperaturas nessa estação.
Além disso, a estufa tem a vantagem de reduzir a luminosidade, o que favorece a formação
de flores femininas.

FORMAÇÃO DE MUDAS:

Grande parte dos produtores faz a semeadura direta na cova, semeando 4 a 6 sementes
juntas, a uma profundidade de 2 centímetros. Mas, quando se usa sementes híbridas, de
custo elevado, o melhor é semear em recipientes, como os copos de jornal ou de plástico.
Assim, há um melhor aproveitamento das sementes.

382
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Como substrato pode ser usado o composto puro peneirado ou outro substrato comercial
apropriado.

Em locais muito frios, a formação das mudas em estufa favorece a germinação, a


emergência e o desenvolvimento inicial das plantas. Assim, é possível adiantar o cultivo,
obtendo-se colheita antecipada.

No caso de formação de mudas em recipientes, o semeio pode ser realizado em copos


plásticos de 200 cc, com apenas uma semente/copo. Preparar uma quantidade 20 a 30%
superior ao número necessário de mudas. Elas estarão prontas para serem transplantadas
quando tiverem com o primeiro par de folhas definitivas, ou cerca de 10 centímetros de
altura.

PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO:

O preparo mecânico do solo pode ser dispensado, caso o local não tenha excesso de ervas
espontâneas ou se tiver recebido adubação verde, procedendo-se a abertura e adubação
das covas diretamente.

A adubação recomendada é de 10 toneladas de composto orgânico por hectare (peso seco),


o que equivale a 400 gramas por cova no espaçamento de 1,0m X 0,4m, ou 500 gramas no
espaçamento de 1,2 m entre-linhas.

Assim como foi feito para o plantio de abóbora, o composto deve ser misturado à terra, na
cova e, em seguida deve ser feita uma rega para auxiliar no ‘pegamento’ das mudas.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO:

As covas indicadas para o pepino tutorado devem ser preparadas no espaçamento de 1,00 a
1,20 metro entre linhas por 40 centímetros entre plantas.

Deve ser deixada uma planta por cova. No caso do plantio direto, é preciso fazer o desbaste,
deixando-se a muda mais forte. O plantio também pode ser realizado em covas abertas
sobre leiras levantadas manualmente, para posterior aplicação do 'mulching', isto é,
cobertura plástica que deve ser aplicada sobre as leiras para evitar evaporação excessiva da
água, quando o sistema for por gotejamento.

O plantio de pepino, após a cultura do tomate, mostra excelentes resultados, pois há um


aproveitamento dos resíduos da adubação e do sistema de tutoramento e irrigação já
instalados.

MANEJO DA CULTURA:

a) Irrigação:

383
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Quando o cultivo é feito no período seco ou em estufa, é imprescindível o uso da irrigação. O


sistema mais indicado é o gotejamento, principalmente em estufas, pela elevada evaporação.

Em plantios a ‘céu aberto’ pode se empregar também a irrigação por infiltração. Neste caso,
em períodos chuvosos, as irrigações serão apenas complementares às chuvas.

b) Capinas:

A capina do pepino deve ser feita em faixas, limpando-se em torno das plantas e deixando
uma faixa de ervas espontâneas nas entre-linhas. Em plantios com camalhões cobertos com
plástico, esta operação é limitada a apenas limpeza manual junto ao colo da planta, na
abertura das covas, reduzindo significativamente os gastos com mão-de-obra.

c) Tutoramento e amarrio:

O tutoramento das plantas favorece os tratos culturais, facilita o controle fitossanitário e a


colheita e preserva a qualidade dos frutos, obtendo-se melhor padrão comercial.

O sistema indicado para o cultivo orgânico é o tutoramento vertical, feito com varas
individuais de bambu ou em fetilhos, presos a fios de arame (Figura 64), uma vez que deve-
se evitar a cerca cruzada, para obter um melhor arejamento dentro do plantio. Será
necessário fazer, também, o amarrio dos ramos no tutor, periodicamente.

d) Manejo das plantas

No caso do pepino japonês, o manejo das plantas de pepino deve ser cuidadoso, de forma a
obter um maior número de frutos comerciais por planta (20 a 30), com comprimento e
diâmetro dentro do padrão exigido pelo mercado desse produto. Para tanto, recomenda-se
eliminar os primeiros frutos, quando ainda estiverem bem pequenos (máximo de 1 a 2 cm),
dos 3 primeiros nós da haste principal.

A partir deste momento, à medida que a planta se desenvolve, haverá emissão de frutos na
haste principal e emissão de hastes laterais, em cada nó da planta – hastes que também
produzirão seus próprios frutos. Então, procede-se da seguinte maneira:
- Eliminação de todos os frutos da haste principal ( apenas se observar bom vigor das
plantas e emissões abundantes de hastes laterais).
- Manter, no máximo, dois frutos por cada haste lateral, podando a mesma antes de emitir
o 3º fruto.

Dessa forma, se produz mais frutos dentro do padrão exigido pelo mercado, ou seja, 20 cm
de comprimento e 3 cm de diâmetro, aproximadamente, o que permite um bom arranjo dos
mesmos na embalagem.

e) Adubação em cobertura

384
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A adubação de cobertura deve ser feita 30 dias após o plantio no local definitivo. Pode-se
usar o composto orgânico ou outro resíduo curtido, que possuam bom teor de nitrogênio e
potássio, na dosagem de 150 gramas por planta. Este adubo pode ser incorporado
superficialmente, tomando-se cuidado para não ferir as raízes. Isso pode ser feito durante a
capina, ‘chegando-se’ terra ao redor da planta.

Outras maneiras de se fazer a adubação de cobertura é pela aplicação de biofertilizantes


líquidos, como o chorume de composto ou biofertilizante enriquecido, na dosagem de 200 ml
por planta.

Também pode-se optar pela pulverização de biofertilizante líquido a 20% nas folhas, que
proporciona efeito nutricional, fitohormonal e proteção contra patógenos. Nesse caso, por se
tratar de pulverização de alto volume, gasta-se em média 1000 litros de biofertilizante por
hectare, por aplicação.

PRAGAS E DOENÇAS

O pepino não apresenta sérios problemas fitossanitários quando cultivado organicamente.


Todas as práticas empregadas nesse sistema contribuem para a maior resistência das
plantas.

O biofertilizante Supermagro é um bom auxiliar no controle de míldio e outras manchas


foliares e deve ser usado na concentração de 10%, ou seja, 2 litros para 20 litros de água. As
aplicações devem ser feitas, semanalmente, especialmente quando as condições forem
favoráveis ao aparecimento de doenças, ou seja, temperaturas altas e umidade excessiva.

As doenças de ocorrência mais comum em sistemas orgânicos são:

Oídio: Mofo branco na parte superior das folhas, que ocorre normalmente em condições de
desnutrição ou no final do ciclo da cultura. Havendo ocorrência precoce (meio do
ciclo), aplicar soro ou leite de vaca, sem ser pasteurizado, diluído a 20% em água,
semanalmente.

Mancha zonada: Como o nome sugere, são pequenas lesões (3mm), disformes, que podem
destruir toda a folha. O controle deve ser feito no início do aparecimento
dos sintomas, com calda bordalesa a 1%, semanalmente. Obs: verificar a
acidez da calda para evitar queimaduras nas plantas e aplicar apenas em
dias frescos ou no final da tarde.

Dentre as pragas de possível ocorrência nesta cultura, destacam-se as vaquinhas


(brasileirinho), que podem causar raspaduras em alguns frutos no início de seu crescimento,
prejudicando seu padrão comercial. Neste caso, pode-se utilizar placas amarelas,
impregnadas de graxa, que são atrativas deste inseto, promovendo a redução da população.
Mas, lembre-se: o equilíbrio biológico na área de produção, pode minimizar a incidência, não
justificando controle.

385
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Outras recomendações para o controle de pragas e doenças podem ser vistas na seção
correspondente, já descrita neste manual.

COLHEITA

A colheita inicia-se entre 60 e 80 dias após a semeadura, dependendo do tipo empregado,


prolongando-se por dois meses. Colheitas freqüentes estimulam a produtividade. Assim, é
vantajoso fazer no mínimo 3 colheitas por semana. Deve-se cortar o pedúnculo com uma
faca afiada ou tesoura, cuidadosamente.

O mercado exige frutos tenros, alongados, retos, sem curvaturas. Os frutos amarelados não
têm boa aceitação, pois passaram do ponto ideal de maturação.

O rendimento médio de frutos de pepino, tipo ‘japonês’, em nível de propriedade de


agricultores orgânicos, em condições de solo com boa fertilidade natural, tem se observado
rendimentos de 3,0 a 5,0 Kg por planta, sob ambiente protegido (estufa). Considerando o
espaçamento de 1,2m por 0,4 m, isso equivale a uma produtividade máxima de 62.400 a
104.166 Kg/ha.

Rendimento esperado: 3,0 a 5,0 Kg por planta ou 62.400 a 104.166 Kg por hectare.

386
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 64: Acima: Cultivo orgânico de pepino em ambiente protegido (Canellones –


Uruguai). Observe a associação de cultivos no mesmo módulo de estufa,
os camalhões cobertos com lona plástica e o tutoramento da planta com
fetilhos.
Abaixo: Frutos de pepino orgânico prontos para o mercado – cv. ‘Jóia’ à
esquerda e ‘Seiriki’ à direita.

387
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.15. Cultivo Orgânico do Pimentão

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO

O pimentão é uma planta da mesma família do tomate, as Solanáceas. Por isso, seu cultivo
tem algumas similaridades com o tomateiro. Isso significa, também, que o pimentão nunca
deve suceder o tomate na rotação de culturas.

As variedades de pimentões mais cultivadas pertencem a dois grupos: o grupo cascadura,


com formato semi-cônico, ligeiramente alongado e coloração verde-escura; e o grupo
quadrado, com frutos cilíndricos, com comprimento quase igual ao diâmetro.

Os materiais genéticos que tem apresentado melhor padrão de frutos em sistema orgânico,
apesar de sua elevada exigência em nutrientes, tem sido os híbridos, especialmente o
‘Magali’ e ‘Magali R’.

O pimentão é uma hortaliça típica de clima tropical, exigindo temperaturas noturnas e diurnas
mais elevadas que o tomate. As temperaturas mais favoráveis para o desenvolvimento da
cultura variam com a fase da planta.

A época de plantio depende do clima da região. Em regiões baixas, com altitude menor que
400 metros, e de inverno ameno, pode ser semeado o ano todo. Mas, nessas regiões, a
semeadura de março a maio propicia melhores condições para a cultura e a colheita se dá
na época de melhores preços.

Em locais muito quentes, é melhor cultivar o pimentão no outono-inverno. Em regiões altas e


mais frias, acima de 800 metros de altitude, a época de plantio vai de agosto a fevereiro,
assim, o cultivo se dá na primavera e no verão. Também nestas regiões, uma boa alternativa
é o cultivo do pimentão em estufa. Assim, é possível ter o produto na entressafra, o que traz
maiores lucros para o produtor.

FORMAÇÃO DE MUDAS

O semeio deve ser realizado em copos plásticos de 200 cc, com duas sementes/copo,
desbastando-se após a germinação, mantendo-se apenas 1 muda. Empregando-se
substratos orgânicos mais ricos ou substratos comerciais, estas mudas podem também ser
formadas em bandejas.

Também, é recomendável que as mudas sejam feitas dentro de uma estrutura fechada. Elas
estão prontas para serem transplantadas quando estiverem com 10 a 15 centímetros de
altura e 6 a 8 folhas definitivas. Por apresentar desenvolvimento mais lento que o tomate, as
mudas são transplantadas entre 30 e 45 dias após a semeadura.

PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO

De forma semelhante ao recomendado para pepino, o preparo mecânico do solo pode ser
dispensado, caso o local não tenha excesso de ervas espontâneas ou se tiver recebido
adubação verde, procedendo-se a abertura e adubação das covas diretamente.

390
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O pimentão é uma planta bastante exigente em nutrientes, devendo receber adubações


orgânicas de boa qualidade. Deve-se utilizar composto orgânico, na base de 1,0 Kg por cova
no plantio (peso seco). Aos 30 dias após, recomenda-se uma adubação em cobertura com
500 g de composto por planta, diluído em água na proporção de 1:2 e aplicado de forma
localizada, com regador sem crivo, ao redor das plantas.

O Nitrogênio e o Potássio são fundamentais para um bom desenvolvimento das plantas e


boa formações de frutos, respectivamente. Portanto, preferencialmente, a adubação em
cobertura sugeria com composto deve ser substituída por outros resíduos ricos nestes
nutrientes (preferencialmente na forma líquida – biofertilizantes), como torta de mamona,
esterco de galinha de gaiola, cinza de madeira, etc.). Veja a seção ‘biofertilizantes líquidos’.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

O espaçamento para o plantio em linha simples é de 1 metro entre linhas e 40 a 50


centímetros entre plantas, dependendo da fertilidade natural do solo.

As covas devem ser irrigadas abundantemente antes do transplante das mudas,


dispensando a irrigação no primeiro dia. Na hora do plantio, é preciso também evitar enterrar
muito a muda. Ela deve ficar na mesma profundidade que estava no recipiente, pois, o
plantio profundo favorece a podridão do colo, motivo pelo qual não se recomenda a amontoa
para esta cultura.

MANEJO DA CULTURA

a) Irrigação:

Um dia após o transplantio, o pimentão deve ser irrigado. O melhor sistema é o gotejamento.
Também pode ser utilizada a aspersão. No início, durante o aparecimento das primeiras
folhas, não deve haver excesso de umidade no solo, pois provoca a queda das mesmas. O
pimentão mostra o estresse por falta de água, quando as folhas ficam esbranquiçadas e as
folhas das novas brotações ficam menores. Por outro lado, o excesso de umidade deixa as
folhas com coloração verde clara e algumas plantas morrem pela falta de oxigenação nas
raízes.

b) Cobertura morta:

A cultura do pimentão, também, é muito beneficiada pelo uso da cobertura morta do solo,
feita com capim ou com plástico preto (no caso de plantios em leiras).

c) Capinas:

391
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As capinas são realizadas manualmente, em faixa, lateralmente às plantas, mantendo-se


uma faixa de vegetação nativa de 30 cm nas entrelinhas de plantio. Uma prática comum em
outros cultivos, que é a amontoa, não deve ser realizada em pimentão, pois favorece
doenças no colo da planta.

d) Tutoramento e amarrio:

Quando as plantas atingem cerca de 30 cm de altura, torna-se necessário o tutoramento do


pimentão. Pode-se usar o tutoramento de três maneiras:

♦ Com estacas individuais de bambu ou taquara, com 1,0 m de comprimento, fincadas


lateralmente em cada planta, procedendo-se o amarrio das plantas;

♦ Com ‘chicotes’ de nylon (fetilhos), empregados também na cultura do tomate,


individualmente em cada planta, fixando os fetilhos num fio de arame esticado sobre a
linha de plantio, a 1,5m de altura. Não necessita amarrar as plantas, bastando enroscá-
las periodicamente no fetilho, à medida que vão crescendo.

♦ Com espaldeira, de 2 fios de arame ( a 20 e a 50 cm do solo, alternados lateralmente às


plantas (um na direita e outro na esquerda da linha). Os arames são fixados nas
cabeceiras das linhas por moirões e sustentados ao longo da linha, por taquara ou
bambú, de 5 em 5 metros (Figura 65). Neste sistema, dispensa-se a operação de
amarrio. Em regiões de ventos fortes, que não tenham empregado quebra-vento, pode
ser necessário duplicar a espaldeira, ou seja, fios duplos a 20 cm e a 50 cm do solo, de
ambos os lados das plantas.

e) Adubação em cobertura:

Por se tratar de uma planta exigente em nutrientes, a adubação em cobertura é uma prática
fundamental. Deve ser realizada de 30 a 45 dias após o transplantio, aplicando-se 250
gramas de composto ou 150 gramas de esterco de galinha em torno das plantas. Também
pode ser utilizado um biofertilizante líquido preparado especificamente para esta cultura,
utilizando-se materiais orgânicos ricos em Nitrogênio e Potássio, como Farelos de soja e
cacau, torta de mamona ou talos, folhas e bagas de mamona triturados, cinza vegetal, dentre
outros (ver receita na seção sobre ‘biofertilizantes líquidos’ apresentados neste manual.
Fazer aplicações semanais, a partir dos 30 dias, até a fase de frutificação, na base de 200 ml
por planta por vez.

f)Desbrota

A emissão de brotações secundárias, além das hastes principais da planta (que normalmente
são de 2 a 4), devem ser eliminadas periodicamente, para evitar “esgotamento” da planta, ou
seja, destinação de reservas para a parte vegetativa, em detrimento da frutificação.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PRAGAS E DOENÇAS

Não se deve esquecer que, no cultivo orgânico, o controle de pragas e doenças é feito pelo
correto manejo da cultura, a adequada nutrição das plantas e pelo equilíbrio ecológico entre
os diversos macro e micro organismos do ecossistema.

Doenças

Em sistema orgânico, a incidência da doença mais comum dessa cultura (Antracnose) não
tem sido problema. Entretanto, em caso de necessidade, a calda bordalesa pode oferecer
boa proteção, conforme as recomendações apresentadas na seção correspondente deste
manual.

Além disso, por ser uma planta da família das solanáceas (como o tomate e a batata), deve-
se evitar plantios em áreas que já ocorreu murchadeira (bacteriose), áreas muito úmidas ou
provocar excesso de umidade pela irrigação, pois poderá favorecer a incidência dessa
doença, que não tem controle imediato depois de instalada.

Uma doença limitante em determinadas regiões, é a incidência de viroses, sendo o mosaico


Y, o mais comum. O controle das doenças viróticas é feito através da utilização de
variedades resistentes, como aquelas da Série Agronômico 10, ou empregando extratos para
controle de vetores.

A calda sulfocálcica controla ferrugem e ácaros, numa proporção de um litro de calda a 26


graus Baumé, para 50 litros de água. Também, a utilização de extrato de primavera auxilia
no controle de agentes transmissores de viroses (especialmente o tripes).

Pragas

Dentre as pragas que podem atacar esta cultura, destacam-se pulgões, ácaros e vaquinha
(brasileirinho). Normalmente não causam danos econômicos em sistemas orgânicos
ecologicamente equilibrados. Porém, havendo necessidade, aplicar preparados à base de
NIM para pulgões ou outros extratos e caldas repelentes para vaquinha ou ainda a calda
sulfocálcica para ácaros.

Outra alternativa é a utilização do extrato de pimenta-do-reino com alho e sabão que serve
para o controle de pragas do pimentão, de maneira genérica. Diversas outras alternativas
podem ser obtidas nas recomendações descritas na seção correspondente a ‘manejo e
controle de pragas e doenças, deste manual.

Em geral, esses produtos devem ser usados somente até os 45 dias após transplante, pois
estes agentes têm provocado problemas apenas no início do ciclo da cultura.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

COLHEITA

O início da colheita se dará em torno de 70 dias após transplante e poderá se estender por
mais 2 a 3 meses, dependendo do estado nutricional das plantas. Os frutos devem ser
colhidos quando apresentam o máximo de desenvolvimento e estão firmes.

A produtividade do pimentão, no sistema de cultivo orgânico, tem sido em média de 16.000


Kg/ha, podendo atingir 25.000 Kg/ha com maiores aportes de insumos, índices que têm
permitido boa rentabilidade econômica ao produtor orgânico. Este rendimento médio pode
ser aumentado com a utilização da adubação orgânica em cobertura com biofertilizantes
líquidos enriquecidos com Nitrogênio e Potássio de fontes orgânicas, aplicados via solo,
conforme descrito na seção ‘biofertilizantes líquidos’.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 65: Campo de pimentão orgânico, mostrando o sistema de tutoramento (acima). Frutos de
pimentão orgânico embalados para o mercado.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CUSTO DE PRODUÇÃO

O custo de produção da cultura, considerando um maior aporte de insumos para alcançar um


índice de produtividade de 23.000 Kg/ha, foi de R$ 4.935,20, encerrando um custo de R$
0,21 por Kg do produto. Destaca-se que a mão-de-obra foi substancialmente o ítem que mais
onerou os custos, representando 77% do total das despesas (Tabela 93).

Baseado no preço do produto, pago pelo mercado orgânico (R$ 0,70 por Kg), que neste caso
tem sido, 37% a mais que o convencional, estima-se uma receita bruta de R$ 16.100,00 por
hectare. Assim, a rentabilidade do sistema foi de R$ 3,26 para R$ 1,00 investido,
confirmando-se como excelente alternativa econômica (Tabela 94).

Tabela 93: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Pimentão (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 250 50,00 1
Composto (t) 30 690,00 14
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - 235,20 5
Mão de Obra (d/h) 378 3.780,00 77
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 3
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 4.935,20 100
CUSTO POR Kg 23.000 0,21 -
1 Valores em R$ ( atualizado em outubro de 2001).

396
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 94: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Pimentão em sistema


orgânico de produção.1
Especificação ud Valor Qde Valor
Unitário Total
(R$) (R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Calcário t 44,00 - -
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,20 250 50,00
Biofertilizante líquido enriquecido (8 vezes) l 0,006 32.000 192,00
Calda Bordaleza (02 pulverizações) l 0,027 1.6000 43,20

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcareo D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (covas) D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 20 200,00
Tutoramento D/H 10,00 45 450,00
Aplicação biofertilizante líquido enriquecido D/H 10,00 16 160,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Amontoa D/H 10,00 - -
Capinas D/H 10,00 10 100,00
Pulverizações / Calda Bordalesa D/H 10,00 8 80,00
Irrigações D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 100 1000,00
Amarrio, Desbrota e capação D/H 10,00 50 500,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 50 500,00
Transporte Interno D/H 10,00 15 150,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 4.935,20
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 0,70 23.000 16.100,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.16. Cultivo Orgânico do Quiabo

399
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

O quiabeiro (Abelmoschus esculentus) é uma planta de clima tropical, devendo ser plantada
de agosto a fevereiro em regiões de clima ameno ou o ano todo em regiões baixas, com
clima mais quente.

As cultivares mais comuns são a Santa Cruz 47 (plantas de porte baixo) e a Campinas 2
(plantas de porte alto), ambas com boa qualidade de frutos para o mercado.

PREPARO DE SOLO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Pode-se realizar o preparo mecânico em caso de necessidade ou optar pelo plantio direto,
procedendo-se a abertura das covas sobre a palhada do adubo verde (se for o caso) ou em
faixas limpas manualmente com enxada, preservando a vegetação nativa nas entrelinhas
desde o início da cultura.

As adubações orgânicas devem ser localizadas nas covas, na base de 800 gramas de
composto ou esterco de curral curtido ou ainda, 300 gramas de esterco de galinha curtido.

Para ampliar o período de colheita, pode-se melhorar a nutrição das plantas com uma
adubação em cobertura aos 45 dias, com composto diluído. Aplicações foliares de
biiofertilizantes, de quinze em quinze dias também podem auxiliar o desenvolvimento da
cultura, melhorando a nutrição e protegendo contra patógenos.

FORMAÇÃO DE MUDAS

Tradicionalmente, o plantio de quiabo é realizado, semeando-se diretamente nas covas


preparadas no campo definitivo. Entretanto, em sistema orgânico, é recomendável optar pelo
sistema de plantio por mudas. Neste caso, pode-se utilizar recipientes menores, como as
bandejas de isopor, uma vez que logo após haver a emissão do primeiro par de folhas
definitivas (mudas com 7 a 10 cm altura), se realiza o transplante – normalmente 20 dias
após semeio. Dessa forma, se obtém um melhor stand de plantas, um melhor ‘pegamento’ e
um melhor desenvolvimento inicial do quiabeiro.

Obs.: Antes da semeadura nas bandejas, deixar as sementes imersas em água corrente por
24 horas, para acelerar a germinação.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

O plantio das mudas deve ser realizado nas covas adubadas e irrigadas previamente, sendo
que em cultivo orgânico recomenda-se utilizar apenas uma muda por cova. Sendo assim, o
espaçamento entre plantas deve ser menor que o tradicional para compensar o stand por ha,
ou seja, empregando-se 1,0 m entre as linhas e 0,4 m entre plantas.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

Uma vez que as covas foram irrigadas antes do plantio das mudas, não se deve irrigar por
aspersão no dia do plantio. A primeira irrigação será realizada apenas no dia seguinte, com
um turno de rega diário até o ‘pegamento’ definitivo. Depois desta fase, o turno de rega varia
de 2 a 3 dias, dependendo do regime de chuvas.

b) Capinas:

De forma semelhante às outras culturas implantadas em covas e que tenham espaçamentos


mais largos entre as linhas de plantio, realiza-se a capina lateralmente às plantas,
preservando uma faixa de 30 a 40 cm de vegetação espontânea nas entrelinhas.

c) Desbrotas:

Deve ser mantida apenas a haste principal da planta, de forma que toda a emissão de
brotações secundárias deve ser eliminada o mais cedo possível, para evitar o “esgotamento”
da planta, ou seja, destinar a maior quantidade de fotoassimilados para os frutos.

PRAGAS E DOENÇAS

Doenças

Apenas o Oídio (mofo branco na parte superior do limbo foliar) tem provocado danos na fase
final da cultura. Neste caso, identificando a necessidade de controle por diagnose visual, 2 a
3 aplicações de calda bordalesa a 1%, semanalmente, tem se mostrado muito eficiente.
Biofertilizantes foliares também podem ser utilizados para nutrir as plantas e reduzir doenças.

Pragas

A incidência de pragas em sistema orgânico não tem sido problema nesta cultura,
dispensando métodos alternativos de controle.

Quaisquer necessidade, em função de desequilíbrios ocasionais, pode-se recorrer aos


métodos e produtos alternativos descritos na seção sobre ‘manejo e controle de pragas e
doenças’ deste manual.

COLHEITA

A primeira colheita de frutos deverá ocorrer entre 60 e 80 dias, prolongando-se por mais 60
dias. Deve ser realizada de 2 em 2 dias, quando os frutos apresentarem-se tenros e com a

401
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ponta quebradiça, o que ocorre de 4 a 5 dias após a queda da flor. Recomenda-se a colheita
com luvas, pois pode haver irritação nas mãos, dependendo da sensibilidade do operador.

O comportamento produtivo desta cultura tem se mostrado muito variável em função das
condições do solo, revelando melhores rendimentos em solos de boa fertilidade natural.

Rendimento esperado: 15.000 a 20.000 Kg/ha ou 1,5 a 2,0 Kg por m2.

Figura 66: Planta de quiabo orgânico de alto vigor vegetativo. INCAPER – ES.

402
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CUSTO DE PRODUÇÃO

O sistema orgânico de produção do quiabo tem seus principais custos em mão-de-obra


(72,%) e composto (19%), de um total de despesas de R$ 3.711,20 por hectare Tabela 95).
Baseado no sobrepreço pago pelo mercado orgânico (R$ 0,70 por quilo) e nos custos
unitário do produto (R$ 0,21 por quilo), verificou-se uma receita bruta de R$12.600,00 e uma
rentabilidade econômica de 3,4 reais para 1,0 real empregado (Tabela 96).

Tabela 95: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Quiabo (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 8.000 128,00 3
Composto (t) 30 690,00 19
Esterco (t) - -
Outros Insumos - 43,20 1
Mão de Obra (d/h) 267 2.670,00 72
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 5
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 3.711,20 100
CUSTO POR Kg 18.000 0,21 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

403
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 96: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Quiabo em sistema


orgânico de produção.1
Especificação ud Valor Qde Valor Total (R$)
Unitário
(R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Calcário t 44,00 - -
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,016 8.000 128,00
Calda Bordalesa (02 pulverizações) l 0,027 1.600 43,20

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (covas) D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 20 200,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Capinas D/H 10,00 10 100,00
Pulverizações/Calda Bordalesa D/H 10,00 8 80,00
Irrigações D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 100 1.000,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 50 500,00
Transporte Interno D/H 10,00 15 150,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 3.711,20
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 0,70 18.000 12.600,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

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4.17. Cultivo Orgânico do Repolho

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CARACTERÍSTICAS

O repolho (Brassica oleracea var. capitata) possui origem Européia e Americana, e como as
outras espécies desta família, origina-se da couve selvagem Brassica oleracea L. O
melhoramento genético realizado ao longo dos anos permitiu a obtenção de híbridos muito
uniformes e vigorosos, com elevado grau de adaptabilidade às várias condições ambientais
existentes em nosso país.

CLIMA, CULTIVARES E ÉPOCAS DE PLANTIO

O repolho é uma planta tradicionalmente de inverno, desenvolvendo-se melhor em climas


amenos, com temperaturas na faixa de 15 a 20 graus. A utilização de híbridos permite obter
produções satisfatórias também no verão, viabilizando o cultivo desta espécie durante todo o
ano. Conforme a coloração das folhas pode ser classificado em dois grupos: Verde e Roxo.
No Quadro 4 encontramos os principais materiais genéticos existentes no mercado:

Quadro 4: Principais cultivares e híbridos de repolho encontrados no mercado.

GRUPO CULTIVARES EMPRESA

Astrus, Saturno, Centauro, XPH-5786, Asgrow


XPH-5787

Kenzan, Wakaba, Aoba, Caribe, Agroflora


Savornach, Saiko

Matsukase Agroceres
VERDE
Chato de Quintal, Louco de verão, Agroceres, Isla
Coração-de-Boi, Fuyutoyo

Fuyu-301, Repolho 60 dias, União de Isla


Verão

Dynamo, Itiro Rogers

Arixos, Ippon Royal Sluis

XPH-15511 Asgrow

Red Jewl Agroflora


ROXO
Rookie Agroceres

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Red Ball Rogers

Repolho Roxo, Super Red Isla

MÉTODOS DE SEMEADURA E FORMAÇÃO DE MUDAS

Para obtenção das mudas, o semeio pode ser realizado em canteiros de 1,0 m de largura,
em campo próximo à área de plantio definitivo, adubados na base de 5 Kg de composto, 5
Kg de esterco bovino ou 2 Kg de esterco de galinha, incorporados em cada m2. Deve-se
preferencialmente utilizar adubos orgânicos bem curtidos para evitar fermentação no solo, o
que compromete a germinação e o desenvolvimento das mudas.

As sementes são plantadas em filetes contínuos, à base de 2 g/m2, em sulcos espaçados de


15 cm. Neste sistema se obtém mudas mais vigorosas a um preço menor que outros
métodos.

São necessários de 150 a 250 gramas de sementes para produzir mudas para o plantio de
um hectare. Após o semeio, as sementes são cobertas com terra. Também é recomendável
usar cobertura morta na sementeira, que deve ser retirada tão logo as sementes germinem.

Os tratos da sementeira de repolho são os mesmos indicados para as outras duas espécies,
ou seja, é preciso manter o solo úmido através da irrigação e fazer a capina, sempre que
necessário. Também não se realiza desbaste de mudas na sementeira. A seleção é
realizada por ocasião do plantio.

As mudas de repolho atingem o ponto de transplante cerca de trinta a quarenta dias após a
semeadura. Elas devem ter de quatro a seis folhas definitivas e altura de dez a quinze
centímetros.

Existe também a opção de se produzir as mudas em bandejas de isopor, com 128 células,
devendo-se para tanto ter o cuidado de se empregar substratos orgânicos de alta qualidade,
ricos em nutrientes. Caso contrário, a qualidade das mudas será prejudicada. Neste caso,
recomenda-se a formação de mudas em ambiente protegido (telado) para evitar pragas de
sementeira e obter um melhor desenvolvimento das plantas. A irrigação em telado deve ser
muito criteriosa, pois a evaporação é intensa. Portanto, recomenda-se irrigar mais vezes
(mínimo 3 vezes/dia) com menor quantidade de água por vez.

PREPARO DE SOLO, ESPAÇAMENTO E ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Dependendo das condições do terreno se decidirá a necessidade de preparo mecânico do


solo através de aração e gradagem. Em áreas com pouca vegetação nativa pode-se
proceder a limpeza da área e a abertura de covas diretamente. Em solos com um nível
médio a alto de ervas nativas, efetua-se uma aração com, no mínimo uma semana de

409
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

antecedência ao plantio e por ocasião do plantio realiza-se uma gradagem para uniformizar o
solo.

Em seguida, faz-se a abertura das covas, empregando-se normalmente o espaçamento de


0,60 entre linhas e 0,40 m entre plantas. Neste espaçamento, em caso de solos de boa
fertilidade natural ou já melhorados pelo manejo orgânico ao longo dos anos, possivelmente
serão colhidas cabeças de repolho muito grandes, acima do padrão exigido pelo mercado,
ocasionado pelo alongamento do ciclo vegetativo. Nestes casos, será necessário empregar
um espaçamento menor, 0,60 x 0,30m, visando reduzir o tamanho das cabeças para um
peso médio na faixa de 1,0 a 1,5 Kg.

Para adubação orgânica das covas, utiliza-se composto orgânico (30 t/ha), esterco de curral
(20 a 40t/ha) ou esterco de galinha (15 t/ha). Atualmente existem outras opções de adubos
orgânicos disponíveis no mercado ou de preparação a nível de propriedade, a exemplo do
composto orgânico ‘Bokashi’.

Pela rusticidade desta cultura não se justifica a realização do parcelamento da adubação


orgânica total recomendada. Portanto, para plantios no espaçamento de 0,6m entre linhas e
0,3m entre plantas (55.500 plantas/ha), estas recomendações equivalem à uma aplicação de
540 g de composto, 360 a 720 g de esterco bovino ou 270 g de esterco de galinha, por cova.

PLANTIO

O transplantio das mudas deve ser realizado imediatamente após o preparo e adubação das
covas, quando se emprega adubos orgânicos bem curtidos. Utilizando-se adubos orgânicos
ou estercos que aínda não estão totalmente curtidos, as covas deverão ser adubadas e
irrigadas com, no mínimo, uma semana de antecedência.

Imediatamente antes do transplantio, irrigar as covas com mangueira, visando misturar o


adubo orgânico e obter um melhor pegamento das mudas. Assim, não é necessário irrigar
por aspersão logo após finalizar o transplantio. A primeira irrigação será feita apenas no dia
seguinte, quando as mudas já estiverem eretas, sem contato com o solo.

MANEJO DA CULTURA E TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

A partir do 2º dia do plantio, as irrigações serão realizadas por aspersão, uma vez que a
cultura não apresenta problemas fitossanitários significativos. A periodicidade da irrigação vai
depender do regime de chuvas. Entretanto, em períodos secos, irrigar 2 a 3 vezes por
semana até os 30 dias e de 1 a 2 vezes por semana, a partir deste período.

b) Manejo de ervas:

Em sistemas orgânicos, a concorrência das ervas nativas com a cultura do repolho é muito
grande. Em trabalhos realizados pela EMCAPER, observou-se uma perda significativa de

410
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

rendimento comercial de repolho quando se permitiu a presença de ervas próximas à região


das raízes das plantas.

Entretanto, considerando a necessidade de manter as ervas nativas para favorecer o


equilíbrio ecológico do local, recomenda-se a capina em faixa, a 20 cm das linhas de plantio,
mantendo-se parcialmente a vegetação nas entrelinhas, numa faixa de 20 cm de largura.
Essas capinas deverão ser realizadas periodicamente até a cobertura total da área pelas
plantas de repolho, o que deverá ocorrer em torno de 60 dias após o transplantio.

c) Adubação em cobertura:

O desenvolvimento da cultura do repolho em sistema orgânico tem sido bastante vigoroso,


não justificando o parcelamento da adubação orgânica ou aplicação adicional de adubos
orgânicos em cobertura.

Em casos esporádicos de diagnose comprovada de deficiência de nitrogênio ou em casos


específicos, onde o solo ainda não apresenta boas características de fertilidade e estrutura
(normalmente durante o primeiro ano de cultivo orgânico – fase de conversão), pode ser
necessário realizar suplementação nutricional com adubação em cobertura, utilizando-se
adubos orgânicos ricos em nitrogênio (500 gramas por m2 ou 5 t/ha) ou biofertilizantes
líquidos via solo (400 ml por m2 ou 4000 litros por ha), em cobertura, lateralmente às linhas
de plantio.

PRAGAS E DOENÇAS

Em um sistema equilibrado de produção, onde se utiliza dos benefícios da diversidade


vegetal e da adubação orgânica, geralmente não ocorre ataque de pragas e doenças em
nível de dano econômico.

No final do ciclo, próximo à época de colheita, pode ocorrer um pequeno aumento na


população de algumas pragas e patógenos, devido à queda na resistência natural das
plantas. Mas, nessa fase do seu desenvolvimento, já não há interferência na produção.
Assim, é dispensável a utilização de produtos alternativos para a proteção das plantas.

Em regiões onde o clima favorece uma maior infestação de insetos, especialmente a


ocorrência da Traça-das-crucíferas, pode ser necessário realizar o controle com aplicações
de Bacillus thuringiensis, conforme as recomendações específicas de cada produto comercial
(ver seção sobre manejo e controle alternativo de pragas e doenças deste manual)

COLHEITA E RENDIMENTO EM CULTIVO ORGÂNICO

Em sistema orgânico de produção, a absorção gradual dos nutrientes contidos na matéria


orgânica, propiciará um desenvolvimento ordenado das plantas, as quais atingiram o estágio
de compactação da cabeças além do ciclo indicado pelos fabricantes, aumentando o ciclo
vegetativo da cultura e atingindo ponto de colheita em torno de 130 dias (Figura 67).

411
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

No ponto de colheita, a cabeça deve estar bem compacta, fechada, com as folhas internas
bem coladas umas às outras. O ponto pode ser verificado apertando-se o repolho no centro e
verificando sua solidez. Se o repolho for colhido antes do ponto, ele murcha rapidamente,
perdendo seu valor comercial (Figura 67).

O caule é cortado, de forma que as folhas externas à cabeça permanecem até o momento da
embalagem ou da venda no varejo. Elas protegem as cabeças de repolho contra danos
mecânicos depois da colheita.

Na hora de vender, é importante diferenciar o seu produto. O rótulo de produto orgânico,


especialmente com o selo de certificação, confere um valor especial (Figura 67). Outra forma
de agregar valor aos produtos orgânicos, consiste em vendê-los embalados. Eles são pré-
selecionados e passam por uma toalete. São previamente pesados. Em seguida, são
embalados e recebem o rótulo do produtor ou do entreposto e o selo de qualidade. Quando
se faz a venda em feiras ou mercados especializados em produtos orgânicos, o repolho pode
ser vendido sem embalagem especial.

A Tabela 97 externa o elevado grau de adaptabilidade dessa cultura ao sistema orgânico de


produção. Em trabalho realizado por SOUZA (2002), obteve-se produtividades que variaram
de 17.447 Kg/ha a 99.508 Kg/ha, assegurando uma média expressiva de 55.325 Kg/ha.
Portanto, a produção orgânica de repolho tem se confirmado como uma das alternativas de
maior viabilidade técnica e econômica em cultivos orgânicos de hortaliças.

Os índices alcançados nos fatores ligados aos padrões de mercado, onde verifica-se peso
médio de 1,7 Kg e diâmetro médio de 18,2 cm, estão acima das expectativas do mercado do
produto. Uma vez que o consumidor prefere repolhos com peso médio de 1,0 a 1,5 Kg, é
importante que o produtor orgânico ajuste o espaçamento da sua cultura de forma a atender
a esse padrão, mantendo a distância entre as linhas e reduzindo para 30 cm, o espaçamento
entre plantas dentro da linha, conforme citado anteriormente.

412
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 67: De cima para baixo, observa-se um campo de


produção orgânica de repolho, cabeças
recém-colhidas e o produto embalado e
etiquetado.

413
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 97: Desenvolvimento agronômico da cultura do Repolho em sistema de cultivo


orgânico.1

Cronologia Ano Produti- Peso Diâmetro Compa- Ciclo


dos vidade Médio Médio cidade
cidade (Kg/ha) (Kg) (cm) (notas) (dias)
Repolho 1 1991 25.760 1.6 14.0 8.7 120
Repolho 2 1992 61.826 2.3 21.1 9.6 133
Repolho 3 1992 57.204 2.2 20.9 9.6 133
Repolho 4 1992 99.508 2.4 21.8 9.1 126
Repolho 5 1993 71.598 2.0 21.2 8.0 144
Repolho 6 1993 31.525 1.3 16.3 9.0 134
Repolho 7 1993 54.089 1.8 19.1 8.3 124
Repolho 8 1994 79.819 2.0 17.4 10.0 166
Repolho 9 1994 71.285 1.9 16.7 10.0 166
Repolho 10 1994 52.027 2.4 22.9 10.0 140
Repolho 11 1995 50.656 1.4 16.1 9.1 134
Repolho 12 1995 55.973 1.9 18.2 7.3 110
Repolho 13 1995 52.355 1.9 18.2 7.2 110
Repolho 14 1996 65.670 1.7 17.7 9.0 129
Repolho 15 1996 52.886 1.3 17,1 10,0 126
Repolho 16 1996 64.857 1.7 16.5 8,5 139
Repolho 17 1996 62.657 1.7 16.8 8,9 139
Repolho 18 1996 66.778 1.6 19.4 9.1 149
Repolho 19 1997 51.545 1.7 18.2 10.0 153
Repolho 20 1998 71.928 1.9 17.9 10.0 133
Repolho 21 1998 17.447 1.3 16,8 10,0 128
Repolho 22 1998 53.981 1.2 16.6 10.0 133
Repolho 23 1998 48.731 1.6 17.5 10.0 133
Repolho 24 1999 28.412 1.1 19.2 8.8 131
Repolho 25 1999 44.008 1.1 16.6 9.0 131
Repolho 26 1999 45.924 1.3 19,7 10,0 139
Média 55.325 1,7 18,2 9,2 135
1
Fonte: SOUZA (2002)..

414
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CUSTO DE PRODUÇÃO

Em geral, a ausência de problemas fitossanitários no sistema de cultivo orgânico, induz


apenas ao uso do composto como insumo necessário à produção (690,00 reais), de forma
que o custo de produção dessa cultura no sistema orgânico apresenta-se muito baixo,
totalizando 2.726,00. Aliado ao grande potencial produtivo, o custo unitário do produto foi de
R$ 0,05 (Tabelas 98 e 99).

A receita bruta do sistema foi de R$ 9.958,00, considerando o sobrepreço médio de 260%


pago pelo mercado orgânico para esse produto. Considerando o preço médio pago ao
produtor (R$ 0,18), a rentabilidade foi de 3,6 reais para cada 1,0 real investido.

Tabela 98: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Repolho (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 300 246,00 9
Composto (t) 30 690,00 25
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 161 1.610,00 59
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 7
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 2.726,00 100
CUSTO POR Kg 55.325 0,05 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

415
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 99: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Repolho em sistema


orgânico de produção.1

Especificação ud Valor Qde Valor Total (R$)


Unitário (R$)
1. INSUMOS:
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Esterco Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,82 300 246,00
Calcário t 44,00 - -

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparação de Solo (sucos ou covas) D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 22 220,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 34 340,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Capinas D/H 10,00 15 150,00
Pulverizações D/H 10,00 - -
Irrigações (5 vezes) D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 8 80,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 22,5 225,00
Transporte Interno D/H 10,00 7,5 75,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 2.726,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 0,18 55.325 9.958,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

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4.18. Cultivo Orgânico do Taro

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E CULTIVARES

O taro, cujo nome científico é Colocasia esculenta, é conhecido, também, como inhame, nas
regiões sul e sudeste do Brasil. Pertence à família das Aráceas, juntamente com a taioba.
Taro é o nome usado internacionalmente, para essa planta, por isso, está sendo adotado
entre os pesquisadores e os produtores.

É uma planta herbácea, que pode atingir até dois metros de altura. As folhas são verde-
escuro e têm limbo com formato de coração. Os pecíolos, que são as hastes das folhas,
podem ser arroxeados ou verdes.

A parte utilizada compõe-se de um rizoma central esférico, rodeado por vários rebentos
laterais, menores, revestidos por uma pele fibrosa, coberta de pequenas raízes. Geralmente,
a cor da polpa é branca, mas existem variedades com a polpa mais corada, chegando até a
cor vinho. A planta não produz sementes, talvez por causa da utilização contínua da
propagação vegetativa, através dos rizomas.

O ciclo de cultivo é muito variável, indo de 5 até 12 meses, de acordo com as variedades e
as condições de cultivo.

Existem numerosas variedades de taro, no mundo, mas as que têm valor comercial no Brasil
são poucas. Elas são divididas em dois grupos, conforme a coloração da túnica seja roxa ou
branca.

No Brasil, os cultivares importantes são o Chinês e o japonês, que têm túnicas roxas e
polpas brancas. Outra variedade que está sendo muito promissora na região sudeste é a
macaquinho, que tem rizomas menores, mais arredondados e de bom padrão comercial.

CLIMA E SOLO

O taro é uma planta tipicamente tropical, exigindo clima quente e úmido. Necessita de pelo
menos 1.800 mm de chuvas por ano, distribuídas regularmente, boa luminosidade e
temperatura na faixa de 25 a 30° C.

O taro produz melhor em solos leves, areno-argilosos ou francamente arenosos. Os solos


pesados tornam difícil a emergência e o desenvolvimento das raízes. É exigente em umidade
no solo, mas o terreno não pode ser encharcado. Pode ser plantado em terrenos de baixada,
mas com solo bem drenado.

PRODUÇÃO DE MUDAS

O taro é propagado exclusivamente de forma vegetativa. São utilizados como mudas a


cabeça central e os ‘dedos’ laterais menores.

420
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Os ‘dedos’ menores (exceto aqueles classificados como refugo) podem ter a mesma
capacidade de produção que os maiores e têm menor valor no mercado, para
comercialização. Por isso, sua utilização no plantio é mais favorável economicamente, que a
utilização de ‘dedos’ maiores.

O material para plantio deve ser selecionado e separado logo após a colheita. De quinze a
30 dias antes do plantio, os rizomas devem ser amontoados e cobertos com palha seca, para
indução da emissão de raízes e brotações. Se necessário, devem ser irrigados diariamente,
para mantê-los constantemente úmidos. Estas mudas “pré-germinadas” permitem a redução
das falhas e a melhoria da uniformidade da lavoura, em comparação com mudas não
germinadas.

PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO

O taro pode ser plantado em camalhões com cerca de 30 centímetros de altura, em covas
individuais ou, preferencialmente em sulcos. Em qualquer caso, as mudas devem ser
colocadas a 10 a 15 centímetros de profundidade, para evitar exposição ao sol após o
‘assentamento’ do solo pelas irrigações.
A adubação orgânica em sulcos, é feita na base de 1 quilo de composto orgânico ou esterco
de gado, por metro linear. O adubo orgânico deve ser distribuído no fundo do sulco de
plantio.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

No Centro-Sul do Brasil, o plantio do taro é feito no início do período chuvoso, quando as


condições climáticas são mais favoráveis a essa espécie. Em locais quentes, pode ser
plantado o ano todo, usando irrigação na época seca do ano.

O espaçamento entrelinhas deve ser de 1,0 metro e 30 a 40 centímetros entre plantas. Os


rizomas devem ser colocados de forma que as brotações fiquem voltadas para cima. Os
rizomas devem ser cobertos com uma camada de 10 centímetros de terra.

TRATOS CULTURAIS

a) Irrigação:

É necessário irrigar a lavoura de taro quando se faz o plantio em locais de clima seco ou na
época seca do ano. O plantio na época das chuvas e, especialmente em locais úmidos,
dispensa a irrigação.

b) Capina:

Deve-se adotar a técnica de capina em faixas, cortando todo o mato que cresce até a 40
centímetros da linha de plantio. Preserva-se uma faixa de cerca de 20 centímetros da

421
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

vegetação espontânea entre as linhas de cultivo. Esta prática é fundamental, principalmente


no início do crescimento da lavoura ( até 90 dias após plantio).

c) Adubação em cobertura:

Aplicam-se 200 gramas de composto orgânico ou esterco de gado por planta, ou cerca de
100 gramas de esterco de aves, imediatamente antes da amontoa.
Em regiões de altitude, o ciclo do taro é maior e a adubação de cobertura deve ser feita de
90 a 120 dias após o plantio.

Em regiões baixas e mais quentes, o ciclo da cultura é menor e a adubação de cobertura


deve ser feita cerca de 60 dias após o plantio.

d) Amontoa

O ‘chegamento’ de terra nos pés das plantas deve ser feito logo após a adubação de
cobertura, permitindo preservar as qualidades do adubo orgânico, concentrar nutrientes
próximo às raízes e reduzir a brotação dos ‘dedos’ (Figura 68).

PRAGAS E DOENÇAS

Devido à sua rusticidade, o taro não tem apresentado problemas fitossanitários no sistema
orgânico de produção. As práticas utilizadas no cultivo orgânico, como o manejo da
vegetação espontânea, a adubação orgânica equilibrada e a rotação de culturas, podem
manter a sanidade, o vigor e a produtividade da lavoura perenemente.

COLHEITA

O ponto de colheita do taro é identificado pelo amarelecimento e o aparecimento de manchas


nas folhas no final do ciclo da cultura. O arranquio das plantas é feito manualmente com o
auxílio de enxadão ou enxada.

Depois da colheita, os “dedos”, ou rizomas laterais, são separados da “cabeça”, ou rizoma


central. Em seguida, retiram-se o excesso de pequenas raízes e um pouco das fibras que
envolve a túnica.

Os rizomas destinados à comercialização devem ser lavados e secados. O taro deve ser
colhido na época certa, pois, se ficar no campo após o ponto de colheita, a planta inicia a
brotação, utilizando as reservas armazenadas, prejudicando as qualidades do produto.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

São comercializados os “dedos” e as “cabeças”, sendo que os primeiros têm maior valor
comercial. O padrão comercial do taro é o rizoma que pesa de 100 a 200 gramas, com
diâmetro médio de 6 centímetros e comprimento médio de 10 a 12 centímetros (Figura 68).

Depois de colhido, o taro pode ser armazenado em galpão fresco e bem ventilado, espalhado
em camada fina, de modo que o ar possa circular entre os rizomas. O período de
armazenamento pode ser de até 60 dias.

Em sucessivos cultivos orgânicos de taro, SOUZA (2002) obteve um rendimento médio de


23.805 quilos por hectare de dedos comerciais, além da produção adicional de 24.408 quilos
de cabeças (Tabela 100). Estes índices representam um excelente resultado, comparando-
se com a média de 15 a 20 toneladas por hectare obtida em sistemas convencionais.

Tabela 100: Desenvolvimento agronômico da cultura do taro em sistema de cultivo


orgânico.1
Cronologia ‘Dedos’ Cabeças
dos Ano Produção Produti- Peso Comp. Diâmetro Peso Diâm. Ciclo
Cultivos Total vidade Médio Médio Médio Médio

(Kg/ha) (Kg/ha) (g) (cm) (cm) (Kg/ha) (cm) (dias)

Inhame 1 1992/93 42.923 18.548 111 8,1 5,2 24.375 9,3 224

Inhame 2 1994/95 26.286 14.262 65 8,8 5,6 11.139 9,5 335

Inhame 3 1994/95 57.687 34.330 181 9,4 5,8 21.169 9,6 286

Inhame 4 1995/96 31.033 26.186 71 6,4 4,0 36.943 8,6 310

Inhame 5 1996/97 26.548 25.167 120 8,2 5,8 37.132 11,6 294

Inhame 6 1998/99 25.420 24.338 102 10,1 4,8 21.693 10,0 299

Média 34.982 23.805 108 8,5 5,2 24.408 9,8 291


1
Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 68: Área de cultivo orgânico (acima). Detalhe de uma planta (abaixo à esquerda).
Cabeça e dedos colhidos (abaixo à direita). Área Experimental do INCAPER –
ES.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CUSTO DE PRODUÇÃO

Os indicadores físicos e financeiros dessa cultura estão contidos na Tabela 101 e os


coeficientes técnicos estão detalhados na Tabela 102, onde verificamos que o total de
despesas foi de R$ 3.440,00. Considerou-se a compra de rizomas-semente, o que nos leva a
considerar que os custos podem ser reduzidos para o agricultor que reservar seu material
propagativo para o próximo plantio.

Com produtividade de 23.535 kg/ha e custo unitário de R$ 0,15 por Kg, o sistema orgânico
obteve receita bruta de R$ 11.902,50, mostrando ser uma cultura de alto potencial de
rentabilidade.

Tabela 101: Indicadores físicos e financeiros da cultura do taro (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1

Discriminação Qde Valor %


(R$)
DESPESAS:
Semente (Kg) 2.000 1.500,00 43
Composto (t) 20 460,00 14
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - - -
Mão de Obra (d/h) 130 1.300,00 38
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 5
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 3.440,00 100
CUSTO POR Kg 23.535 0,15 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 102: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Taro em sistema orgânico


de produção.1

Especificação ud Valor Qde Valor


Unitário (R$) Total (R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 20 460,00
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes Kg 0,75 2.000 1.500,00
Calcário t 44,00

2. SERVIÇOS:
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Preparo de Solo (sucos ou covas ) D/H 10,00 10 100,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 10 100,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Amontoa D/H 10,00 15 150,00
Capinas D/H 10,00 10 100,00
Irrigações D/H 10,00 10 100,00
Colheita (s) D/H 10,00 30 300,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 15 150,00
Transporte Interno D/H 10,00 10 100,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 3.440,00
PRODUÇÃO/RECEITA ESPERADA Kg 0,50 23.805 11.902,50
1 Fonte: SOUZA (2002).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

4.19. Cultivo Orgânico do Tomate

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO

Por ser uma espécie susceptível a um grande número de pragas e doenças, o cultivo
orgânico do tomate pode exigir cuidados extras, em comparação com outras culturas mais
resistentes. O primeiro cuidado refere-se à escolha de variedades e cultivares adaptadas às
condições locais e ao sistema de plantio que será adotado – a ‘céu aberto’ ou em ‘estufa’.

A escolha da cultivar a ser plantada é um dos pontos básicos no sistema de cultivo orgânico.
Devem ser escolhidas as cultivares mais rústicas e com maior resistência a pragas e
doenças. Além disso, é muito importante que se observe a preferência dos consumidores.

Atualmente pode se utilizar tomates do tipo Santa Cruz , tipo saladinha e tipo cereja, que são
os mais fáceis de comercializar. Atualmente, o mercado tem apresentado boa aceitação de
tomates tipo ‘italiano’, que caracterizam-se pelos frutos alongados, de superfície irregular.

No grupo Santa cruz, podem ser empregadas cultivares comerciais ou optar por materiais
regionais, como as cultivares ‘Roquesso’, ‘Bocaina’ e ‘Coração de Boi’, de maior
adaptabilidade ao sistema e maior resistência a doenças.

No grupo saladinha, existem diversos materiais comerciais, do tipo longa vida, que podem
ser uma boa alternativa pela elevada conservação na pós-colheita. Por serem híbridos, a
desvantagem desses materiais é a impossibilidade de multiplicação de sementes, tornando
obrigatória a compra e encarecendo o custo de produção.

No tipo cereja, existem muitas variedades regionais, de formato arredondado ou alongado.


Geralmente são materiais com boa tolerância a doenças foliares e, principalmente, boa
resistência ao ataque de pragas e incidência de patógenos nos frutos, conforme ilustra a
Figura 70a, mostrando uma lavoura em final de ciclo, com toda parte aérea comprometida e
ainda muitos frutos para serem colhidos. Também existem híbridos comerciais, com maior
potencial produtivo, porém mais sensíveis a enfermidades.

Vale ressaltar que, uma recomendação extremamente importante é verificar a aceitação do


consumidor de tomates orgânicos, quanto ao sabor e aos padrões comerciais exigidos.

O clima fresco e seco e a alta luminosidade favorecem a cultura do tomate. A faixa de


temperatura ideal para o cultivo é de 20 a 25 graus, de dia, e 11 a 18 graus, à noite. A
temperatura noturna deve ser sempre menor que a diurna, pelo menos 6 graus.
Temperaturas acima de 35 graus, diurnas e noturnas, prejudicam a frutificação, com queda
acentuada de flores e frutos novos. Temperaturas muito baixas, também, prejudicam a
planta, reduzindo seu crescimento.

O excesso de chuva é outro fator do clima que tem efeito negativo na cultura, pois favorece a
proliferação de fungos e bactérias, que reduzem a parte aérea e, por consequência,
diminuem a produção.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 70 a: Campo de produção orgânica de tomate cereja em final de ciclo,


ainda com muitos frutos para serem colhidos, revelando a alta
resistência dos frutos a pragas e doenças, e alta produtividade.
Excelente alternativa comercial para o mercado orgânico. Fazenda
Luiziânia – Entre Rios de Minas – MG.

De modo geral, em regiões altas, com altitudes superiores a 800 metros, o plantio deve ser
realizado de agosto a fevereiro. Já, em localidades baixas e quentes, sob altitudes inferiores
a 400 metros, a época favorável ao cultivo do tomate é de fevereiro a julho.

O uso de estufas possibilita o cultivo do tomate fora de época, viabilizando o plantio durante
todo o ano em regiões altas. O plástico usado na cobertura permite modificar o ambiente, de
forma a torná-lo mais favorável para as plantas, protege contra as chuvas excessivas e de
grande número de organismos que causam problemas fitossanitários. Por causa dessas
vantagens, as estufas têm sido cada vez mais usadas. Mas, o manejo orgânico da cultura
dentro da estufa requer experiência do produtor no cultivo fora da estufa.

FORMAÇÃO DAS MUDAS

A qualidade das mudas afeta profundamente o desenvolvimento da cultura no campo. Por


isso, a etapa de formação das mudas é muito importante no processo de produção.

Para o tomate, a semeadura em recipientes é o melhor método, trazendo vantagens como a


produção de mudas de boa qualidade, a redução do risco de contaminação por patógenos do
solo, o menor gasto de sementes e a redução do ciclo da cultura.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O recipiente mais indicado para mudas de tomate é o copinho de jornal, com 10 centímetros
de comprimento por 6 centímetros de diâmetro. Esse copinho pode ser substituído pelo copo
plástico descartável de 200 cc.

Como substrato, pode-se empregar o composto orgânico puro, associado a um recipiente


maior, como os copos, para que as mudas tenham os nutrientes na quantidade que
necessitam, uma vez que este material não contém minerais adicionais, como alguns
substratos comerciais. Lembre-se: “o tamanho das células das bandejas foram idealizadas
para substratos organo-minerais, disponíveis no mercado”.

Outra opção é a utilização de substratos prontos, próprios para cultivo orgânico. Utilizando
substratos prontos, é possível a formação das mudas em bandejas de isopor, devendo neste
caso serem transplantadas mais cedo que pelo sistema de copos.

Para usar o composto orgânico, primeiro é preciso peneirá-lo, para separar as partículas
maiores ainda não decompostas, usando-se assim a fração mais mineralizada, de pronto uso
para as plântulas. Depois, misture um pouco de água, para que fique ligeiramente úmido.
Usando-se os copos plásticos, lembre-se de fazer um furo no fundo, usando um ferro quente,
de diâmetro mínimo de 2 cm. Em seguida coloque o composto nos copos, compactando
levemente.

As mudas devem ser produzidas em uma estufa, com cobertura plástica e tela nas laterais,
para evitar a entrada de insetos. A estufa protege contra as chuvas, diminui a ocorrência de
pragas e doenças, forma mudas mais uniformes e em menos tempo.

Os recipientes devem ser colocados sobre bancadas, com cerca de 80 centímetros de altura.
Dessa forma, as mudas não têm contato com o solo, a umidade à sua volta é menor e o
trabalho fica mais confortável, além de permitir a “poda aérea” das raízes.

São semeadas duas sementes de tomate por copo. A sanidade das sementes é muito
importante, por isso, você deve adquiri-las de firmas idôneas ou pode produzir suas próprias
sementes, fazendo seleção das melhores plantas de sua lavoura.

Depois de germinadas, procede-se o desbaste, retirando a planta mais fraca, deixando


apenas uma por recipiente.

O substrato deve ser mantido úmido, porém, sem encharcar. O sistema de irrigação mais
indicado é a micro-aspersão ou nebulização aérea. Também pode ser usada a irrigação com
mangueira, de forma criteriosa, empregando-se um crivo fino. Recomenda-se irrigar mais
vezes ao dia, com menor quantidade de água de cada vez. Dependendo da temperatura e da
umidade do ar, você pode irrigar de 1 até 3 vezes ao dia.

As mudas estarão no ponto para serem transplantadas, quando tiverem de 4 a 5 folhas


definitivas, cerca de 30 dias após a semeadura, para o sistema de copos ou de 20 a 25 dias
no sistema de bandejas. Nos dias anteriores ao plantio, é preciso reduzir a irrigação. E, na
véspera do plantio, é preciso suspender a água, para tornar as mudas mais resistentes.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO

O primeiro passo para se iniciar um sistema orgânico de produção é a realização da análise


do solo. Se houver necessidade de aplicar calcário no solo, é preciso que seja feito com
cerca de dois a três meses de antecedência, para que possa reagir. Para a suplementação
de fósforo, recomenda-se aplicar fosfato natural, a lanço, em toda superfície do solo, na base
de 500 Kg/ha, 6 meses antes do plantio.

O sistema de preparo de solo é dependente das condições locais. No cultivo orgânico,


sempre que possível, evita-se o uso de equipamentos pesados e de enxadas rotativas no
preparo do solo, para reduzir a compactação.

Havendo necessidade, pode se utilizar a aração ou o preparo com subsolador, quando se


têm excesso de ervas persistentes ou terrenos compactados, respectivamente. Em seguida
realiza-se a gradagem para uniformizar o solo.

Se as condições do solo permitirem, recomenda-se optar pelo preparo manual do solo,


procedendo-se a capina em linha, onde serão abertas as covas, mantendo-se uma faixa de
vegetação nativa nas entrelinhas, na fase inicial da cultura, até o momento da amontoa.

Também é recomendável realizar o plantio direto sobre palhadas de vegetação ou de adubos


verdes previamente roçados e mantidos como cobertura morta do terreno. Neste sistema,
tem se verificado em nível de propriedades orgânicas, que o manejo da água de irrigação
será de vital importância para o sucesso do plantio. Excesso de água neste sistema pode
proporcionar multiplicação excessiva de patógenos, que prejudicarão o bom desenvolvimento
das plantas.

PLANTIO E ESPAÇAMENTO

O plantio pode ser feito em sulcos ou covas, com 20 centímetros de profundidade, para
comportar adequadamente a matéria orgânica.

O espaçamento recomendado é de 1,20 metro entre linhas e 40 centímetros entre plantas. A


direção ideal das linhas é no sentido Norte-Sul e ainda no sentido do vento dominante. Esse
espaçamento mais largo entre as linhas, associado ao direcionamento recomendado, permite
diminuir a umidade dentro da lavoura, reduzindo significativamente a multiplicação excessiva
de uma série de doenças.

A adubação de plantio pode ser feita com composto orgânico, na base de 10 toneladas por
hectare (peso seco), ou seja, cerca de meio quilo de composto por cova, o que eqüivale a 1,2
quilos por metro linear de sulco.

Em estufas, o tomate é, usualmente, plantado em leiras, em função da necessidade do


emprego da cobertura plástica para manutenção da umidade, a qual não permite a
realização de amontoa normalmente empregada na cultura, por ocasião da primeira capina
(Figura 70b).

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

No momento do plantio, é preciso fazer uma seleção das mudas, descartando aquelas mais
fracas. As covas devem ser irrigadas com mangueira imediatamente antes de se transplantar
as mudas, de forma que a primeira irrigação do campo será feita apenas no dia seguinte,
quando as mudas estarão eretas, com suas folhas distantes do solo.

MANEJO DA CULTURA

a) Irrigação:

No dia seguinte ao plantio, é preciso iniciar a irrigação. Daí em diante o solo deve ser
mantido com um nível adequado de água, úmido mas sem encharcar.

O sistema de aspersão é contra-indicado porque molha as folhas e umedece o ambiente em


torno das plantas, o que favorece o aparecimento de doenças, como a requeima. Assim, a
melhor opção é o gotejamento ou micro-aspersão, que molham apenas o solo em torno da
planta. Dessa forma, o tipo de irrigação é um bom aliado na prevenção de problemas
fitossanitários. A freqüência de irrigações é variável conforme o tipo de solo e o clima.

b) Cobertura morta:

A cobertura com palha retém água no solo, diminui o crescimento de ervas invasoras, diminui
o impacto da chuva e evita que o solo se aqueça excessivamente, além de fornecer
nutrientes, após a decomposição do material. Recomenda-se optar materiais de pequena
granulometria ou triturados, para não elevar a umidade junto às plantas novas, o que
favorece a incidência de doenças precocemente.

Pode-se empregar também a lona plástica preta, possibilitando as vantagens em comum


com a palha e, ainda, permite reduzir as perdas de nitrogênio por lixiviação e volatilização,
tornando esse nutriente mais disponível para as culturas, além de não elevar a umidade
relativa do ar junto ao solo (Figura 70b).

c) Capinas:

No sistema orgânico, recomenda-se a capina em faixas. Mantendo limpa a área junto às


plantas, para não haver competição das ervas com a cultura. No meio das linhas, deve ser
deixada uma estreita faixa de mato, com cerca de 40 centímetros de largura. Essa vegetação
espontânea é importante para manter o equilíbrio ecológico de insetos.

Com o uso da cobertura morta nas linhas de plantio, o trabalho de capina é facilitado, pois há
redução no crescimento das invasoras. Caso não se utilize cobertura morta, por ocasião da
primeira capina do tomate, é feita a amontoa das plantas, que consiste em chegar terra junto
ao pé. A amontoa estimula o crescimento de raízes, aumentando a absorção de água e
nutrientes. Após esta fase também pode ser empregada a cobertura morta com palhas.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

d) amontoa:

É uma operação muito importante em plantios de tomate, realizados em covas. Constitui-se


do ‘chegamento’ de terra nas linhas de plantio, deslocando-se a terra da entrelinha para
próximo às plantas. Deve ser realizada logo após a adubação em cobertura.

A altura da amontoa deve ser de, no mínimo, 20 cm de altura, permitindo preservar a


qualidade do adubo orgânico usado na cobertura, concentrar nutrientes na zona de raiz,
propiciar a emissão de raízes adventícias e, ainda, melhoram a sustentação das plantas do
tomateiro. Estes fatores em conjunto, permitem uma maior absorção de nutrientes e elevam
a produtividade.

e) Tutoramento e amarrio:

O tutoramento do tomateiro, que produz frutos para consumo in natura, é necessário porque
suas hastes são herbáceas e flexíveis. Ele pode ser feito com taquara ou bambu, com arame
e com fitas (Figura 70b). O objetivo é manter a planta ereta e afastada do solo. O
fundamental é que este tutoramento seja vertical, evitando-se a cerca cruzada, pois assim
temos um melhor arejamento dentro do plantio, diminuindo a umidade relativa e assim,
reduzindo problemas com doenças.

O amarrio acompanha o tutoramento. A planta deve começar a ser amarrada no tutor quando
tiver 30 centímetros de altura. À medida que a planta cresce é preciso fazer novos amarrios.
Para isso, podem ser usadas fibras naturais ou sintéticas existentes no mercado. Com as
fibras, é melhor fazer um amarrio na forma de 8, para evitar atrito das hastes com o tutor.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 70 b: Leiras com adubação orgânica em sulco (acima à esquerda) e Leiras prontas para plantio de
tomate orgânico (aima à direita), mostrando a colocação das linhas de gotejamento em estufa.
Tutoramentos verticais com taquara (abaixo à esquerda) e com fetilhos (abaixo à direita), em
plantio de tomate, INCAPER – ES e Fazenda Luiziânia – Entre Rios de Minas – MG.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

f) Adubação em cobertura:

A adubação de cobertura visa, principalmente, o fornecimento de nitrogênio, que não se


mantém no sistema por muito tempo, tornando necessária uma reposição ou ciclagem
constante.

A adubação de cobertura pode ser feita com composto orgânico, esterco de aves,
biofertilizante líquido, biofertilizante Supermagro ou chorume de composto. As
características, o preparo e as recomendações dos biofertilizantes e do chorume de
composto estão contidos no anexo.

Outra alternativa eficiente é a utilização de biofertilizantes líquidos preparados


especificamente para a cultura, utilizando-se materiais orgânicos ricos em Nitrogênio e
Potássio, como Farelos de soja e cacau, torta de mamona, cinza vegetal, dentre outros.
Neste caso, fazer aplicações semanais a partir dos 30 dias até a fase de frutificação, na base
de 200 ml por planta (ver detalhes do preparo na seção correspondente).

A recomendação de composto orgânico é de cinco toneladas por hectare, o que dá 185


gramas por planta, de peso seco. O esterco de galinha pode ser usado na base de três
toneladas por hectare, ou seja, 150 gramas por planta. Esses adubos orgânicos devem ser
colocadod junto ao pé da planta e, depois, ser incorporado, superficialmente, o que pode ser
feito no momento da capina.

g) Desbrota e capação:

A desbrota ou poda de brotações consiste em eliminar todos os brotos que saem das axilas
das plantas, deixando apenas uma haste em cada planta, para um melhor aproveitamento do
adubo orgânico. Os brotos laterais diminuem o vigor vegetativo da planta e consomem
nutrientes que poderiam ser conduzidos para a formação dos frutos.

A obtenção de frutos de melhor qualidade e maiores e a maior sanidade do cultivo são


alguns benefícios conseguidos com a poda.

Os brotos devem ser cortados quando ainda estão bem pequenos, para que não haja muita
perda de nutrientes pela planta.

A capação consiste na poda da haste principal após a emissão de um certo número de


cachos. Esta prática limita o número de frutos que se quer colher e diminui o ciclo da planta.
Assim, a quantidade de frutos produzidos é menor, mas eles serão maiores e de melhor
qualidade.

A capação permite, também, reduzir os problemas fitossanitários, pela redução do ciclo


vegetativo e pela não emissão de folhas novas, uma vez que as folhas já estabelecidas
estarão protegidas por caldas e extratos protetores.

Em sistemas orgânicos, recomenda-se proceder a capação da haste principal após a


emissão do 3º ao 6º cacho, dependendo do vigor e do estado fitossanitário da cultura.

435
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Lembre-se: É necessário deixar, no mínimo, um par de folha acima do último cacho mantido
na planta. Em outras palavras, em plantas manejadas com 4 cachos, a poda deve ser
realizada imediatamente abaixo do 5º cacho.

PRAGAS E DOENÇAS

As técnicas normalmente utilizadas na agricultura orgânica, objetivando o equilíbrio ecológico


do sistema, são capazes de prevenir o aparecimento e a proliferação de grande parte de
doenças e pragas. Dentre estas, podemos citar: a escolha de variedades resistentes; o
manejo correto do solo; a adubação orgânica, com fornecimento equilibrado de nutrientes
para as plantas; o manejo correto das plantas nativas; a irrigação bem feita e o uso de
rotação e consorciação de culturas.

Muitas vezes, os insetos, ácaros, vírus e bactérias estão presentes na lavoura, mas não
chegam a comprometer a produção, por isso, não há necessidade de usar técnicas de
controle. Mas alguns são persistentes e podem causar danos econômicos se não forem
controlados, em especial a traça ou broca do ponteiro (Tuta absoluta) e a requeima ou mela
(Phytophthora infestans), especialmente em regiões de altitude.

A requeima tem sido um dos principais problemas fitossanitários do tomate cultivado


organicamente. Para o controle é indicado a aplicação de calda bordalesa a 1%,
semanalmente, a partir dos 20 a 30 dias do plantio. Ao aplicar a calda, faça a cobertura total
das folhas, aplicando na face superior e na inferior. Mas evite o excesso. Aplique de forma
que a calda não escorra e que as folhas não fiquem azuladas. Com a aplicação excessiva,
além de desperdiçar a calda, você estará intoxicando a planta.

Outras caldas e os biofertilizantes, também, são eficientes para o controle de pragas e


doenças no tomate. Assim, a calda sulfocálcica pode ser usada para o controle de ácaro e
tripes.

Outra alternativa interessante para o controle do tripes, que transmite viroses para o tomate,
especialmente o virus do vira-cabeça, é a utilização de extrato de primavera (Bouganville), 2
vezes por semana a partir de 30 dias até o início da frutificação. O preparo do extrato é feito
triturando em liquidificador, 1 litro de folhas maduras em 1 litro de água. Este extrato é diluído
em 20 litros ( a 5% ) e deve ser aplicado logo após o preparo.

O biofertilizante líquido e o Supermagro pulverizados nas folhas, fornecem nutrientes,


melhorando o equilíbrio nutricional das plantas, aumentam a resistência aos insetos e
ajudam no controle de doenças.

Para a redução do problema com pragas, principalmente, a broca do ponteiro e as brocas


pequena e grande do fruto, recomenda-se o uso da armadilha luminosa, instalada a uma
distância mínima de 50 metros da área de cultivo de tomate. A armadilha é usada somente
para atrair os adultos desses insetos (mariposas), sem proceder a captura, pois muitos
inimigos naturais poderiam ser eliminados junto com as pragas. A aplicação de extrato

436
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

pirolenhoso tem sido um auxiliar importante na redução de ataque de pragas nesta cultura
(ver detalhes na seção ‘manejo e controle de pragas e doenças’ deste manual).

A utilização de Bacillus thuringiensis, semanalmente e de forma preventiva, também é uma


medida fundamental para o controle dessas pragas-chave que atacam esta cultura. As
recomendações de uso podem ser verificadas no anexo deste manual.

O emprego de armadilha de cor pode ser utilizada para redução da população de insetos. A
cor amarela atrai insetos como Diabrotica (‘brasileirinho”), mosca branca, dentre outros. As
de cor azul são adequadas para a atração de Tripes. Existem firmas que já comercializam
fitas adesivas, apropriadas para esta finalidade. Uma forma artesanal de promover a atração
e captura, consiste em uma chapa de 20x30 cm, pintada da cor desejada e disposta a 45%.
Coberta com goma colante ou com graxa bem grossa, retém os insetos que pousarem nela.

Outras medidas fitossanitárias importantes para o tomate são a utilização de sementes


sadias e a erradicação de plantas atacadas por vírus. As plantas doentes, devem ser
arrancadas, retiradas da área e queimadas.

COLHEITA

Os frutos são colhidos assim que iniciam o processo de amadurecimento, quando estão
amarelados ou rosados. Para mercados mais próximos, os frutos podem ser colhidos num
estágio de maturação mais adiantado, mas quando ainda estiverem bem firmes. O tempo
gasto do transplantio ao início da colheita varia de 60 a 70 dias, dependendo da variedade.

Para a limpeza dos frutos de tomate, que apresentem resíduos externos de calda bordalesa,
proceder a imersão dos frutos, por 5 minutos, em solução de ácido acético (vinagre), na
concentração de 2%. Deixar secar e proceder a embalagem.

Em plantios a ‘céu aberto’, o rendimento da cultura em sistemas orgânicos a nível de


agricultores, tem variado de 30 a 40 ton. por ha, conforme confirma este estudo realizado por
SOUZA (2002), que obteve uma produtividade média de 34.545 kg de frutos comerciais por
hectare, nestas condições, ao longo de oito anos (Tabela 103).

Tabela 103: Desenvolvimento agronômico da cultura do Tomate em sistema de cultivo


orgânico.1
Frutos comerciais Requeima
Cultivos Ano Produção Produti- Peso Diâm. Folhas Frutos Frutos Frutos Ciclo
Total vidade Médio médio com com
brocas Defeito
(Kg/ha) (Kg/ha) (g) (cm) (notas) (%) (%) (%) (dias)

Tomate 1 1992/3 48.672 48.072 120 6,5 4 3,6 2,7 1,7 127

Tomate 2 1993/4 57.256 51.641 94 5,7 1 1,4 9,7 0,9 121

Tomate 3 1994/5 29.588 26.050 79 5,4 6 1,5 2,1 0,0 126

Tomate 4 1994/5 32.924 31.321 97 5,8 3 0,0 6,3 0,3 111

437
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tomate 5 1995/6 45.120 43.153 121 6,1 5 2,0 2,3 5,5 127

Tomate 6 1996/7 73.614 32.527 93 5,3 4 6,1 ---- --- 99

Tomate 7 1997/8 43.254 26.694 ---- 5,9 3,5 7,3 3,5 1,9 130

Tomate 8 1999 46.968 33.560 94 5,5 ------ 0,7 7,3 ----- 95

Tomate 9 1999/0 26.996 17.890 94 5,9 1 0,8 36,6 --- 127

Média - 44.932 34.545 99 5,8 3,4 2,6 8,8 1,7 118


1 SOUZA (2002).

Em plantios orgânicos, realizados em ambiente protegido, o desenvolvimento vegetativo, a


sanidade e o nível de produtividade da cultura pode ser melhorado significativamente (Figura
70c). A produtividade comercial de frutos, obtido nessas condições, tem variado de 50 a 60
ton. por hectare, em nível de propriedade de agricultores orgânicos.

Considerando-se as características dessa espécie, esses níveis de rendimentos podem ser


considerados satisfatórios, dentro dos princípios da produção orgânica de alimentos.
Considerando ainda o sobrepreço obtido por este produto no mercado orgânico, a
rentabilidade da cultura tem sido extremamente favorável.

438
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 70c: Produção orgânica de tomate em estufa, na propriedade do Sr.


Martim Uhlig, mostrando excelente vigor e sanidade das plantas
- Santa Maria de Jetibá – ES (acima). Frutos de tomate orgânico
tipo ‘cereja’ (abaixo à esquerda) e tipo ‘saladinha’ (abaixo à
direita) embalados para o mercado.

439
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CUSTO DE PRODUÇÃO

Para a composição de custos do cultivo orgânico do tomateiro, adotou-se o rendimento


médio do cultivo a ‘céu aberto’ (34.545 t/ha), sendo importante lembrar que uma
rentabilidade ainda mais expressiva pode ser obtida em cultivos protegidos, que podem
atingir 50 a 60 t/ha. O preço de venda considerado foi de R$ 1,00 por Kg, que tem sido o
valor praticado para a entrega a granel a empresas que procedem a embalagem e a venda
do produto ao consumidor final – motivo pelo qual não se considerou gastos com embalagem
e frete.

Vale lembrar que a venda direta pelo agricultor, que arca com custos de embalagem e frete
até o mercado, é sem dúvida a melhor opção, elevando a lucratividade, uma vez que o
produto pode atingir uma média de R$ 3,00 por Kg – faça as contas!

Nas condições pré-estabelecidas, o total de despesas para produção de 1 hectare de tomate


em sistema orgânico foi de R$ 6.362,00, encerrando um custo unitário de R$ 0,18 por Kg.
Estes custos estão muito abaixo de sistemas convencionais, que pelo elevado aporte de
insumos, aumentam a produtividade, mas a custos médios de R$ 14.000 por hectare
(Tabelas 104 e 105).

A receita bruta esperada foi de R$ 34.545,00, o que conduz a uma rentabilidade


extremamente favorável de 5,4 reais para cada real investido. Fazendo um raciocínio rápido,
sem considerar o custo de implantação de uma ‘estufa’, para uma produtividade de 60 t/ha, a
rentabilidade poderia chegar a 9,4 para 1,0.

Tabela 104: Indicadores físicos e financeiros da cultura do Tomate (1 ha) em sistema


orgânico de produção.1
Discriminação Qde Valor %
(R$)
DESPESAS:
Semente (g) 250 50,00 1
Composto (t) 30 690,00 10
Esterco (t) - - -
Outros Insumos - 512,00 8
Mão de Obra (d/h) 493 4.930,00 78
Serviços Mecânicos (H/T) 6 180,00 3
Embalagem (ud) - - -
Frete (ud) - - -
TOTAL DE DESPESAS - 6.362,00 100
CUSTO POR Kg 34.545 0,18 -
1 Fonte: SOUZA (2002).

440
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 105: Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de Tomate em sistema orgânico de produção.1
Especificação ud Valor Qde Valor
Unitário Total (R$)
(R$)
1. INSUMOS.
Composto Orgânico t 23,00 30 690,00
Calcário t 44,00 - -
Esterco de Galinha t 80,00 - -
Sementes g 0,20 250 50,00
Biofertilizante enriquecido (8 vezes) l 0,006 32.000 192,00
Dipel (8 vezes) kg 40,00 2,6 104,00
Calda Bordaleza (08 pulverizações) l 0,027 8.000 216,00

2. SERVIÇOS:
Sementeira D/H 10,00 2 20,00
Aração e Gradagem H/T 30,00 6 180,00
Aplicação de Calcário D/H 10,00 - -
Preparo de Solo (covas) D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Composto D/H 10,00 12 120,00
Distribuição de Esterco D/H 10,00 - -
Plantio D/H 10,00 20 200,00
Estaqueamento D/H 10,00 45 450,00
Aplicação de biofertilizante líquido D/H 10,00 16 160,00
Adubação em Cobertura D/H 10,00 8 80,00
Amontoa D/H 10,00 12 120,00
Capinas D/H 10,00 10 100,00
Aplicação de Calda Bordaleza D/H 10,00 32 320,00
Pulverizações D/H 10,00 24 240,00
Irrigações D/H 10,00 30 300,00
Colheita (s) D/H 10,00 100 1000,00
Amarrio, Desbrota e capação D/H 10,00 105 1050,00
Classificação/Embalagem D/H 10,00 50 500,00
Transporte Interno D/H 10,00 15 150,00

3. OUTROS:
Embalagem - - - -
Frete - - - -
TOTAL DE CUSTOS - - - 6.362,00
PRODUÇÃO ORGÂNICA ESPERADA Kg 1,00 34.545 34.545,00
1 Fonte: SOUZA (2002).

441
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 5
LIMPEZA, CLASSIFICAÇÃO, EMBALAGEM E
COMERCIALIZAÇÃO DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS

455
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
Para a comercialização de hortaliças orgânicas, deve-se ter o entendimento de todo
processo, desde a colheita, armazenamento, transporte e distribuição, uma vez que qualquer
tratamento ou prática na pós-colheita, deve assegurar o máximo da qualidade biológica e
nutritiva dos produtos orgânicos.

Adubações orgânicas, com suplementos minerais e nutrientes específicos como cálcio,


estimulam as plantas a produzirem fitoalexinas, que têm efeitos fungistáticos e bactericidas,
reduzindo perdas no armazenamento. Hortaliças folhosas podem concentrar nitratos em
ambientes de pouca luz, mesmo sem terem sido adubadas com excesso de Nitrogênio.

Assim, as Normas Técnicas orientam para algumas questões importantes neste processo,
destacando-se abaixo as que se aplicam diretamente às hortaliças:

 Os produtos orgânicos devem ser identificados e mantidos em local separado dos demais
de origem desconhecida, de modo a evitar possíveis contaminações, exceto quando
claramente identificados, embalados e fisicamente separados.

 Todos os produtos orgânicos devem estar devidamente acondicionados e identificados


durante todo o processo de armazenagem e transporte.

 A certificadora deverá regular as formas e os padrões permitidos para a


descontaminação, limpeza e desinfecção de todas as máquinas e equipamentos, onde os
produtos orgânicos são mantidos, manuseados e processados.

 As condições ideais do local de armazenagem e do transporte de produtos, são fatores


necessários para a certificação de sua qualidade orgânica.

Além destas orientações da normativa, torna-se necessário estar atentos às medidas


adicionais descritas a seguir:

⇒ Colheita no ponto exato de maturação e sob condições climáticas favoráveis.

⇒ Secagem dos alimentos em níveis adequados de umidade, usando-se métodos naturais


ou artificias permitidos;

⇒ Secagem no campo, em secadores solares ou em outros aparelhos que empreguem


métodos físicos apenas. Isso é importante para evitarem-se danos por pragas de
produtos armazenados e por fungos que produzem substâncias tóxicas.

⇒ Manutenção de alimentos perecíveis em baixa temperatura, por meio de água fria,


câmaras frias ou geladeiras, no armazenamento, transporte e distribuição.

⇒ Controle da atmosfera (CO2 e N2).

⇒ Redução de organismos que causam podridões, por tratamentos térmicos, com imersão
em água quente ou com vapor d’água.

456
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica
⇒ Uso de substâncias não tóxicas, como pó de rochas, terra diatomácia, extratos de
plantas, plantas aromáticas, etc., para evitar pragas de produtos armazenados.

⇒ Limpeza e higiene absolutas nos depósitos e arrmazéns, nos veículos de transporte e nos
locais de comercialização.

⇒ Tratamento térmico de sementes, via seca ou úmida (com posterior secagem).

⇒ Métodos não químicos de amadurecimento, para alimentos colhidos verdes.

A descentralização da estrutura produtiva e de distribuição e venda é outra meta da


agricultura orgânica. Verduras, legumes e outros alimentos podem ser adquiridos
diretamente nas propriedades agrícolas, entregues nas residências, ou comprados em lojas
especializadas.

Cooperativas, associações de agricultores, distribuidores e revendedores, especializados em


alimentos orgânicos e insumos naturais, também atuam na comercialização dos produtos,
industrializados ou não, de fazendas, de hortas e de pomares orgânicos. Portanto, a
comercialização de produtos orgânicos é mais complexa que o comércio de produtos
convencionais, em função da estrutura do mercado e do processo de certificação e
embalagem.

Geralmente, as certificadoras exigem um setor de pós-colheita, respeitando alguns critérios


de construção adequados para o manuseio, seleção, classificação e embalagem de produtos
orgânicos, que exclua qualquer possibilidade de contaminação do produto nesta fase do
processo produtivo, conforme ilustrado na Figura 71.

Os produtos orgânicos necessitam receber uma diferenciação através de um selo ou rótulo,


que caracterize o produto como “orgânico”. Esta diferenciação é o que vai dar credibilidade
junto ao consumidor, o qual terá a certeza e segurança de que o mesmo foi produzido dentro
de princípios e normas técnicas pré-estabelecidas, onde não se permite a utilização de
qualquer substância química que possa provocar danos à sua saúde (Figura 71).

Para as hortaliças, os sistemas de comercialização mais empregados são a venda em feiras


livres, entregas em domicílio e em supermercados, que já disponibilizam espaço específico
para produtos orgânicos em suas prateleiras.

Para manter o mercado, o produtor necessita ofertar produtos de forma constante durante
todo o ano, com uma variedade de espécies diversificadas para atender à demanda dos
consumidores. Portanto, torna-se imperativo que os agricultores trabalhem em grupos ou
associações para ampliar o leque de atuação, programando a produção, de forma a ofertar o
maior número de produtos durante todo o ano. Outra característica do mercado de alimentos
orgânicos, que o diferencia do sistema convencional, é que em muitos casos, há o
estabelecimento de um preço fixo para o produto durante todo o ano, além de muitas vezes
produzir por contrato, ou seja, programa uma determinada produção na certeza de venda
após a colheita. Isso é extremamente vantajoso, especialmente no mercado de hortaliças,
que normalmente apresenta uma oscilação muito alta de oferta e preço nas diversas épocas
do ano.

457
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 71: Setor de pós-colheita de produtos orgânicos da fazenda Luiziânia –


ambiente simples, higiênico, barato e eficaz. Entre Rios de Minas –
MG. Hortaliças orgânicas, devidamente embaladas, prontas para o
mercado – qualidade preservada e um belo visual. Estação
Agroecológica ‘Domaine Île-de-France’ – Pedra Azul/Domingos
Martins – ES.

458
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 6
NORMAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

461
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Para alcance de maior credibilidade e aceitação pelos consumidores, o produto orgânico


necessita receber uma diferenciação no mercado, através de uma marca ou selo que ateste
a sual real qualidade. Isto é conseguido pela certificação do produto como “orgânico”, o que
é obtido através de organismos competentes e credenciados para este fim, chamados de
certificadoras.

Para viabilizar este processo, existem Normas Técnicas de produção que orientam os
agricultores orgânicos quanto aos produtos e métodos recomendados, tolerados e proibidos,
tanto para a produção vegetal, como para a produção animal, além de normas para
processamento e comercialização.

Visando apoiar a crescente demanda por produtos orgânicos no Brasil, o Ministério da


Agricultura e Abastecimento publicou a Instrução Normativa Nº 007, de 17 de maio de
1999, que define as “Normas disciplinadoras para a produção, tipificação,
processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade de
produtos orgânicos, sejam de orígem animal ou vegetal”, conforme apresentado no
Anexo-1. Além disto, publicou a Instrução Normativa nº 006, de 10 de janeiro de 2002, que
rege as certificadoras de produtos orgânicos. Após o estabelecimento destas normativas,
surgiram diversas certificadoras em todo o país, facilitando sobremaneira a entrada de novos
agricultores neste processo produtivo.

Em conformidade com a legislação brasileira referente aos produtos orgânicos, o termo


certificação pode ser definido como sendo “o procedimento pelo qual uma entidade
certificadora dá garantia por escrito que uma produção ou um processo claramente
identificados foram metodicamente avaliados e estão em conformidade com as normas de
produção orgânica vigente”. Certificado “é um documento emitido por uma certificadora
credenciada, declarando que um produtor ou comerciante está autorizado a usar a marca de
certificação em produtos especificados”

As regras bem como os parâmetros para a produção de orgânicos no Brasil fica a cargo do
CNPOrg: Colegiado Nacional para a Produção Orgânica, órgão criado pela Instrução
Normativa nº 07, de 17 de maio de 1999, vinculado à Secretaria de Defesa Agropecuária do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que é assessorado nos estados pelo
CEPOrg: Colegiado Estadual para a Produção Orgânica, que tem por objetivo primário o
assessoramento e acompanhamento da implementação das normas para produção de
produtos orgânicos vegetais e animais, avaliando e emitindo parecer conclusivo sobre os
processos de credenciamento de entidades certificadoras, e fornecendo subsídios a
atividades e projetos necessários ao desenvolvimento do setor.

Atualmente já existem diversas organizações que tratam da produção orgânica de alimentos


em todo o mundo, destacando-se diversas Associações não governamentais, Institutos,
Programas de governos, Certificadoras privadas, dentre outros, organismos estes que
possuem suas Normas regulamentares em consonância com os princípios da Agricultura
Orgânica.

As entidades certificadoras atribuem aos produtos, processos e serviços suas marcas que
atestam a garantia desses alimentos como exemplo pode-se citar as marcas AAO, ABIO,

462
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ANC, APAN, BCS, CHÃO, VIVO, CMO, COOLMÉIA, ECOCERT, FVO, IBD, IMO, OIA, SKAL,
entre outras (Figura 72).

Visando o mercado internacional, um dos órgãos mais reconhecidos, que regulamenta,


credencia e congrega as certificadoras de produtos orgânicos, com credibilidade reconhecida
em vários países, é a IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Moviments).

Uma boa estrutura de certificação, seja ela privada (sem fins lucrativos) ou estatal,
certamente irá despertar estímulos a um maior apoio à atividade e proporcionará um
crescimento ainda mais significativo do setor, tanto em nível de produção, como em nível de
comercialização nos diversos estados do país.

Figura 72: Selos e rótulos de algumas certificadoras do Brasil e do Exterior.

463
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Capítulo 7
EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA

465
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

7.1. O mercado orgânico mundial

Esta atividade tem crescido muito no mundo inteiro, principalmente pela necessidade de
preservação ambiental e também pela exigência de toda a sociedade por alimentos mais
saudáveis, não maléficos para a saúde. A Agricultura Orgânica tem apresentado um
crescimento expressivo em nível mundial, principalmente em área plantada e oferta de
produtos. O mercado de produtos orgânicos tem crescido a uma taxa média que varia de
10% a 30% ao ano, existindo porém exemplos de crescimentos mais expressivos, que
superam os 100% ao ano.

A área certificada com produção orgânica nos países da Comunidade Européia cresceu
quase 900% em 10 anos, ou seja, se elevou de pouco mais de 100.000 ha em 1985, para
quase 1.000.000 ha em 1995. Em 1999, a Europa já totalizava uma área superior aos 3,3
milhões de hectares, conforme o detalhamento das áreas por país, contidas na Tabela 106.

Tabela 106: O Mercado Orgânico na Europa no Ano de 1999.


Country Usable Agric. % Total Companies % Total
Surface (ha)
Austria 287.900 8,4 20.207 8,9
Belgium 18.572 1,4 550 0,9
Denmark 160.369 6 3.029 5,2
Finnland 137.000 6,3 5.200 6,1
France 234.800 0,8 6.599 1
Gremany 416.318 2,4 9.209 1,8

United Kingdon 291.538 1,8 1.356 0,7

Greece 15.849 0,5 4.231 0,5


Italy 1.000.000 5,3 50.000 1,8
Luxembourg 1.002 0,8 29 1,1

Normay 18.747 1,8 1.818 2,3


Netherlands 22.997 1,2 1.216 1,2
Portugal 47.974 1,2 750 0,2
Czech Republic 110.756 2,6 473 -
Spain 352.164 1,4 11.773 0,9
Sweden 127.000 3,7 2,860 3,1
Switzerland 83.100 7,8 5.037 6,8
Origin of data: Production 1999: Stiftung Landbau

As Figuras a seguir, apresentam um panorama do mercado de alimentos orgânicos, em nível


mundial, e a situação em alguns países, revelando uma vertiginosa expansão, já
representando uma parcela significativa em relação à área agrícola total.

466
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Ha
7.654.924

2001
8.000.000

7.000.000

6.000.000

5.000.000

4.000.000
3.000.000
3.000.000

2.000.000
958.687 900.000
1.000.000
452.279 380.000 352.164 316.000
287.900 188.195
100.000
0
A

ce

il
n
a

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ria
ly

K.
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st

Au
ge

Fr
er
Au

ª-
Ar

15
Figura 73: Land area (ha) under organic management.
Fonte: Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

Figura 74: Percentage of land area under organic


management. Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

467
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Ha

500000 12000
450000 Coluna: Área
Linha:Fazendas 10000
400000
350000
8000
300000
250000 6000
200000
4000
150000
100000
2000
50000
0 0
A- 85
A- 86
A- 87
A- 88
A- 9
A- 90
A- 91
A- 92
A- 93
A- 4
A- 95
A- 96
A- 97
A- 98
99
8

9
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
A-

Figura 75: Evolução da Agricultura Orgânica na


Alemanha, 1985 a 1999. Fonte: WILLER & YUSSEF,
2001.

Ha Nº
400000 3500

350000 3000
Coluna: Área
300000 Linha:Fazendas
2500
250000
2000
200000
1500
150000
1000
100000

50000 500

0 0
A- 5

A- 6

A- 7

A- 8

A- 9

A- 0

A- 1

A- 2

A- 3

A- 4

A- 5

A- 6

A- 7

A- 8
99
8

9
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19
A-

Figura 76: Evolução da Agricultura Orgânica na Inglaterra,


1985 a 1999. Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

468
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 77: Evolução da Agricultura Orgânica na Itália,


1985 a 1999. Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

Figura 78: Share of each continent of total area under


organic management. Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

Atualmente, o mercado mundial desses alimentos ultrapassou a barreira dos 50 bilhões de


dólares, confirmando as estimativas citadas por Harkaly (1996), apresentadas na Figura 79.

469
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Figura 79: Estimativa da evolução do mercado de alimentos orgânicos no


mundo – 1994/95.

Na Figura 80, verificamos a relação entre o valor total das vendas de produtos orgânicos no
varejo e a área cultivada com estes produtos, por País, mostrando uma “atrativa” relação de
valor por hectare orgânico cultivado.

500000 (Inclui "produtos naturais")

US$
30000
26090
25000

20000

15000

10000 8622 8321


5528 5113
4090 3956 3750
5000 2569
1389 1147
0
y
any
A

den
and

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Ne

Ne

Figura 80: Organic retail sales per organic hectar in the year 2000.
Fonte: WILLER & YUSSEF, 2001.

470
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

7.2. O mercado orgânico na América Latina e no Brasil:

As estatísticas sobre o mercado orgânico na América Latina e no Brasil ainda são muito
escassas e apresentam uma variação muito acentuada nos dados. Entretanto, um trabalho
realizado por DAROLT (2002) nos fornece valiosas informações e referências sobre esse
crescente mercado – trabalho este apresentado em detalhe nesta seção do manual.

Atualmente, cerca de 40 mil produtores cultivam aproximadamente 3,2 milhões de hectares


sob manejo orgânico na América Latina, conforme mostra detalhadamente a Tabela 107. Os
países com as maiores percentagens da área total com agricultura orgânica são: Argentina,
Costa Rica, Paraguai, El Salvador e Suriname. Em termos de número de produtores
orgânicos o México aparece em primeiro, seguido do Brasil, Costa Rica, Peru e Argentina.

Vale lembrar que a América Latina tem uma tradição milenar de cultivo da terra, acumulando
experiências, como a dos Incas e Astecas, que buscavam a interação com o meio ambiente
sem acesso a insumos externos, capital ou conhecimento científico. Utilizando a
autoconfiança criativa, o conhecimento empírico e os recursos locais disponíveis, os
agricultores tradicionais da América Latina freqüentemente desenvolveram sistemas
agrícolas com produtividades sustentáveis.

Preocupados com a crítica situação dos pequenos agricultores da América Latina, mais de
80 organizações desenvolvem projetos relacionados com a agroecologia. Uma das
organizações mais expressivas é o Movimento Agroecológico Latino Americano (MAELA),
que atualmente trabalha com mais de 15 países da região.

Segundo a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), o


sistema é praticado em 20 países da América Central e Caribe e 10 países da América do
Sul. Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento da demanda por produtos
“limpos” ou livre de agrotóxicos, proveniente dos países desenvolvidos; pelo elevado custo
de produção da agricultura convencional e baixo poder aquisitivo dos agricultores latino-
americanos; e, pela busca de alternativas agrícolas sustentáveis que não degradem o meio
ambiente, sejam economicamente viáveis e socialmente justas.

471
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Tabela 107: Área, número de produtores e percentual da área agrícola sob manejo
orgânico em alguns países da américa latina.
PAÍS ÁREA Nº DE % ÁREA ANO
ORGÂNICA PRODUTORES TOTAL
(Ha)
ARGENTINA 3.000.000 1.400 1,77 2000
BOLÍVIA 8.000 3 0,02 1997
BRASIL 100.000 4.500 0,04 2000
CHILE 2.700 200 0,02 1998
COLOMBIA 202 185 0,0004 1999
COSTA RICA 9.607 3.676 0,4 2000
R. DOMINICANA - 1.000 - 1997
EL SALVADOR 4.900 - 0,31 1996
GUATEMALA 7.000 - 0,16 -
NICARÁGUA 1.400 - 0,02 -
MÉXICO 85.676 27.282 0,08 2000
PARAGUAI 19.218 - 0,08 1998
PERU 12.000 2.072 0,04 1999
TRINIDAD & TOBAGO - 80 - 1999
SURINAME 250 - 0,28 1998
URUGUAI 1.300 150 0,01 1999
TOTAL 3.252.253 40.548 - -
FONTE: Adaptado de WILLER & YUSSEFI (2001), citado por DAROLT (2002).

Panorama dos principais países latino-americanos:

Argentina:

A Argentina é, atualmente, o país com a maior área certificada na América Latina, ocupando
o segundo lugar em nível mundial, atrás da Austrália. Os dados mais recentes mostram que
existem cerca de 1.400 produtores orgânicos certificados. Nos últimos quatro anos, houve
um aumento gigantesco da área certificada, passando de 287.000 ha em 1997, segundo
FOGUELMAN & MONTENEGRO (1999), citados por DAROLT (2002), para cerca de
3.000.000 ha em 2001, o que corresponde a cerca de 1,7% da área total cultivada naquele
país. Vale lembrar que cerca de 95% desta superfície corresponde a áreas de pastagens.

Em relação aos produtos vegetais, o volume exportado, segundo dados da Câmara


Argentina de Produtores Orgânicos Certificados (CAPOC), foi de aproximadamente 25.000
toneladas em 1999, sendo a maior parte (52%) de cereais e oleaginosas (girassol, soja,
milho, trigo, linho); 31% de frutas frescas (maçã, pera, citrus, melão); 10 % de hortaliças e
legumes; 2 % produtos animais e 5% de outros produtos (basicamente industrializados).

472
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Em relação à exportação de produtos animais, dois produtos se destacam, a carne bovina e


o mel. Para finalizar, é interessante observar que a maior parte dos produtos orgânicos
argentinos é exportada (85%), sendo 15% deles vendidos no mercado local. Dos produtos
destinados ao mercado externo, cerca de 85% da produção vai para a União Européia e 15%
para EUA e Japão, basicamente. O volume do mercado orgânico argentino está estimado em
U$ 20 milhões anualmente.

Brasil:

O mercado brasileiro:

O Brasil ocupa atualmente a segunda posição na América Latina em termos de área


manejada organicamente. Levantamentos recentes sobre a agricultura orgânica brasileira,
realizados pelo ITC e pelo IBD (AGRORGÂNICA, 2002), indicam a existência de 7.063
produtores certificados ou em processo de certificação, sendo 6.936 ocupando-se da
produção agropecuária e 127 do processamento.

A área ocupada está estimada em 269.718 ha, sendo 116.982 ha utilizados para a pastagem
de gado de corte e de leite, manejados segundo normas da agricultura orgânica e, os
restantes 152.736 ha destinados ao cultivo dos mais diversos produtos agrícolas, desde
commodities a especiarias, incluindo também produtos típicos de atividade extrativista. Para
vislumbrar o largo potencial desse mercado no Brasil, basta verificar que, somente a Europa,
tem mais de 2,5 milhões de hectares plantados, segundo dados da Federação Internacional
dos Movimentos de Agricultura Orgânica.

Dos cultivos nos quais se identifica uma estreita correlação entre quantidade de produtores e
culturas trabalhadas, destaca-se a produção de hortaliças, como conseqüência da
adequação do sistema de produção orgânica às características de pequenas propriedades
com gestão familiar, seja pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, seja
pela menor dependência de recursos externos, com maior utilização de mão-de-obra e
menor necessidade de capital.

De acordo com informações publicadas na Gazeta Mercantil, em abril de 2002, o mercado


brasileiro de produtos orgânicos deverá mobilizar, em 2002, U$ 390 milhões, 30% superior
aos U$ 300 milhões do ano de 2001. Deste total, 70% representa vendas para exportação e
30% comercializado principalmente em redes de supermercado e feiras livres. Vejam as
estimativas de evolução desse mercado, nos últimos 4 anos, apresentadas abaixo:
Anos Movimento anual Acréscimo relativo ao ano
(Milhões de U$) anterior
1999 100 -
2000 150 50 %
2001 300 100%
2002 390 30%
* Dados adaptados de várias fontes.

473
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Aproximadamente 70% da produção brasileira encontra-se nos estados do Paraná, São


Paulo, Rio Grande do Sul , Minas Gerais e Espírito Santo. Nos últimos anos, o crescimento
das vendas chegou a 50% ao ano. Os principais produtos brasileiros exportados são café
(Minas Gerais); cacau (Bahia); soja, açúcar mascavo e erva-mate (Paraná); suco de laranja,
óleo de dendê e frutas secas (São Paulo); castanha de caju (Nordeste) e guaraná
(Amazônia).

O Estado do Paraná é o maior produtor de alimentos orgânicos do Brasil. Segundo


informações da Secretaria de Agricultura do Paraná, foram produzidas quase 50 mil
toneladas de produtos orgânicos na safra 1999/2000. Um levantamento da Emater-PR
mostrou um aumento de 100% entre a safra de 1998/1999 e a safra de 1999/2000.

São Paulo é outro estado com destaque na produção orgânica nacional. Dados da AAO -
Associação de Agricultura Orgânica, mostraram um crescimento de 60% na área de cultivo
orgânico no cinturão verde de São Paulo, responsável por 80% do abastecimento de
hortaliças da capital. Além disso, foram criados pólos de agricultura orgânica, como as
cidades de São Roque, Ibiúna, Cotia e Vargem Grande Paulista, que somam um total de 260
hectares. De forma similar, se registra um crescimento significativo no mercado,
apresentando um aumento médio anual de 30% nas vendas desses produtos.

A certificação no Brasil:

A expansão do mercado orgânico obrigou os produtores brasileiros a procurarem um selo de


qualidade para seus produtos, como forma de obter uma garantia perante o consumidor, que
ateste que o alimento é realmente orgânico. Algumas estatísticas extra-oficiais indicam que
existem atualmente no Brasil, 13 entidades certificadoras de produtos orgânicos, entre
empresas nacionais e estrangeiras. Pela carência de estudos oficiais, pela velocidade de
crescimento do setor e, pelo que se verifica nas informações do dia-a-dia desse mercado, o
número de entidades que estão operando no Brasil já é muito superior.

Uma das principais certificadoras brasileiras é o Instituto Biodinâmico, que reúne 2300
produtores. O IBD segue o padrão das certificadoras européias, e desde 1992, o selo de
garantia do Instituto é aceito na Europa, Estados Unidos e Japão, além do mercado nacional.
Esta certificadora trabalha com a IFOAM (Federação Internacional dos Movimentos de
Agricultura Orgânica) e com o DAR (Círculo de Credenciamento Alemão). De janeiro a
agosto de 2001, o total de área certificada ou em processo de certificação pelo IBD passou
de 30 mil para 61 mil hectares. Informações do Instituto mostram que 90% dos produtores
certificados são pequenos produtores.

A AAO - Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo, é outra entidade não


governamental sem fins lucrativos que também investe em certificados de produtos
orgânicos. Seu selo de garantia foi lançado em 1996, baseado nas Normas de Produção
Orgânica. Atualmente, a Associação acompanha 380 produtores certificados ou em processo
de certificação e tem mais de 20 mil hectares de área orgânica certificada em diferentes
estados.

474
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Rede de dsitribuição:

Atualmente, grandes redes varejistas tem apoiado esse novo mercado, como o grupo
Carrefour, grupo Pão de Açúcar e a rede Hortifruti, por exemplo. Estão apostando nesse
mercado para atrair um público que tem aumentado constantemente – fato esse
indispensável para a disponibilização em massa desses alimentos à toda sociedade
brasileira. Além desses exemplos, registra-se a inserção de várias empresas e
supermercados nos vários estados brasileiros, em maior ou menor escalas.

Outra opção para o consumidor são as feiras livres especializadas, especialmente ofertando
hortaliças, também presentes em centenas de cidades por todo Brasil. Uma das mais
conhecidas e tradicionais, é a Feira de Produtos Orgânicos do Parque da Água Branca, na
cidade de São Paulo, realizada às terças e sábados, que chega a atrair 3 mil pessoas no
final de semana, em busca de alimentos naturais, sem agrotóxicos.

Apoio governamental e institucional:

Reconhecidamente, a expansão do setor de alimentos orgânicos no Brasil, dependerá de


ações de apoio governamental, a exemplo da normatização da produção orgânica realizada
pelo Ministério da Agricultura, no ano de 1999. Além disso, torna-se indispensável a alocação
de subsídios de créditos, como tem feito o Banco do Brasil, através do seu programa de
crédito rural voltado somente para os produtores orgânicos - o BB Agricultura Orgânica. O
crédito é voltado ao produtor certificado e deve ser utilizado para o custeio, o investimento e
para a comercialização da safra. O Banco do Brasil tem convênios com entidades
certificadoras, para efetivar o processo. Já foram assinados 463 contratos em SP, SC, RS,
MT e MG para produção orgânica de arroz, banana, café, hortifrutigranjeiros e soja.

Algumas informações disponíveis sobre a estatística da produção orgânica brasileira


evidenciam que a área e o número de produtores que se dedicam à produção orgânica é
bem maior que os dados levantados em alguns trabalhos. Como exemplo, dados da
Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) apontam a existência de um rebanho
bovino de aproximadamente 210 mil cabeças e que o manejo, por esse sistema, exige um
mínimo de 2 ha por cabeça, podendo-se então concluir que a pecuária orgânica no Brasil
ocupa uma área próxima de 420 mil ha, número bastante superior aos 116 mil ha certificados
até o momento pelas entidades consultadas (AGRORGÂNICA, 2002).

De forma semelhante, informações fornecidas pela Emater-RS e PR e pelo Epagri-SC


informam a existência de 9.447 produtores orgânicos (com e sem certificação), somente nos
estados da região Sul do Brasil – número este superior à estimativa de propriedades e
projetos certificados para todo país, apresentada anteriormente. Os custos da certificação
são os maiores responsáveis por essa situação. A certificação alternativa, dada por
associações de produtores ou organizações que reúnem produtores e consumidores, tem

475
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

sido utilizada para a minimização desses custos, opção que, deve-se enfatizar, só se presta
a mercados locais (AGRORGÂNICA, 2002).

Apesar de uma enorme falta de apoio e um fraco planejamento do setor de alimentos


orgânicos no Brasil, a opção pela produção orgânica, está se revelando um bom negócio
para os produtores rurais, especialmente pela relação mais próxima com o consumidor, o
que conduz a uma valorização do seu trabalho e do seu produto. Em geral, depois de obtido
o certificado, o produtor consegue valorização média de 20% a 30%, em relação ao produto
convencional – sem poluir o meio ambiente e a saúde dos consumidores.

México:

No México a agricultura orgânica começou a crescer a partir do início dos anos de 1980.
Entretanto, foi nos últimos 5 anos que o crescimento foi maior. Segundo TOVAR (2000),
citado por DAROLT (2002), as áreas orgânicas certificadas passaram de 23.000 ha em 1996
para cerca de 85.000 ha no ano 2000.

Existem cerca de 137 zonas incorporadas ao movimento orgânico no México, cultivando


cerca de 30 diferentes produtos, com destaque para o café (cultivado em cerca de 75% da
área); hortaliças, incluindo tomate, pimenta, pepino, alho, etc. (10% da área); maças (5% da
área); sementes de gergelim (4%); feijões e grão-de-bico (3%); e outros produtos em menor
escala (3% da área) como amendoim, cana-de-açúcar; banana, abacate, cacau, manga,
morango e outras ervas medicinais.

O México apresenta o maior número de produtores orgânicos da América Latina, cerca de


28.000, divididos em dois grupos: pequenos produtores ligados a grupos de movimentos
sociais, que representam 95% do total de produtores e grandes produtores ligados a grupos
privados. Os pequenos produtores são responsáveis por 89% da produção orgânica
mexicana e respondem por 78% da renda gerada com estes produtos.

Em torno de 85% da produção orgânica mexicana é exportada, sobretudo para os Estados


Unidos. O restante 15% é distribuído no mercado interno. Isto faz com que as principais
certificadoras sejam estrangeiras. Para se ter uma idéia, aproximadamente 79% da
certificação é realizada por agências estrangeiras, sobretudo por certificadoras americanas,
como a Organic Crop Improvement Association International (OCIA), que acompanha 43%
da área certificada. Segundo TOVAR (2000), citado por DAROLT (2002), o setor orgânico
mexicano gera aproximadamente 8,7 milhões de empregos por ano e movimenta cerca de
U$ 70 milhões anuais em exportações.

Costa Rica:

A Costa Rica é o terceiro país com o maior número de produtores orgânicos da América
Latina. O número de agricultores passou de 1.300 em 1996, para cerca de 3.676 em 2000.
Uma característica que chama atenção é que a grande maioria das propriedades é pequena,
sendo a produção orgânica desenvolvida numa área de 2,6 hectares em média.

476
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Atualmente, cerca de 0,4% da área total agricultável encontra-se no sistema orgânico. Os


maiores volumes de produção são para os cultivos de banana, café, cana de açúcar e
palmito. Entretanto, está bem desenvolvido o cultivo de hortaliças, citrus, mamão, manga,
abacaxi, feijão e arroz.

República Dominicana:

A República Dominicana é uma pequena ilha no Caribe que se destaca pelo grande número
de produtores orgânicos, cerca de 1.000, que produzem principalmente banana, cacau, café,
abacaxi, manga e outras frutas tropicais. Em menor escala pode-se encontrar a produção de
hortaliças

Paraguai:

O Paraguai conta atualmente com uma área em torno de 19 mil hectares sob manejo
orgânico. Sua principal atividade no setor orgânico é a produção de soja, milho e açúcar
orgânico para exportação.

Chile:

O Chile ainda apresenta um pequeno número de produtores orgânicos (200), numa área de
aproximadamente 2.700 hectares. A produção, como em outros países da América Latina, é
voltada basicamente para exportação, destacando-se a produção de frutas, como o kiwi e
outras consideradas nobres como a framboesa e o morango. Alem disso, o Chile também
exporta legumes orgânicos frescos e desidratados.

Em síntese, os dados latino-americanos sobre a produção orgânica permitem que sejam


feitas algumas considerações finais. A maioria dos países da América Latina não possui uma
legislação eficiente, que regulamente a produção e comercialização de alimentos orgânicos.
Alguns países como o Brasil, Chile e Paraguai já iniciaram o processo de regulamentação. A
Argentina, que hoje é o país mais desenvolvido no setor orgânico da América Latina, já
estabeleceu seu regulamento em 1994. Também a Costa Rica já possui uma
regulamentação nacional para a produção orgânica.

O fato de não haver um processo legal na maioria dos países, faz com que a produção para
exportação seja certificada por empresas estrangeiras, sobretudo companhias americanas e
européias. Este procedimento torna o custo de certificação muito alto e, em muitos casos,
acaba sendo um entrave para a expansão do mercado. Apesar de a maior parte da produção
orgânica ser destinada à exportação, alguns países da América Latina apresentam um
grande potencial para expansão do mercado interno, sobretudo por meio de feiras livres,
lojas especializadas e supermercados, como é o caso do Brasil, Argentina, Chile, Equador,
México e Uruguai.

A venda em supermercados tem crescido substancialmente. Atualmente, podem ser


encontrados produtos orgânicos em supermercados no Uruguai, Costa Rica, Honduras,

477
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Peru, Brasil e Argentina. Os produtos processados ainda são encontrados em menor escala,
sendo um mercado promissor para a América Latina. Atualmente, a Argentina é o país com a
maior produção de alimentos orgânicos industrializados (sucos concentrados, óleos, vinhos,
chás, frutas secas, condimentos, etc.).

Em resumo, podemos dizer que, a rapidez de expansão da agricultura orgânica na América


Latina dependerá, entre outros fatores, de uma legislação eficiente adaptada às condições
regionais de cada país, que garanta que o produto é orgânico; de processos de
certificação mais eficientes e participativos, que considerem não só aspectos tecnológicos,
mas também sociais; da organização dos circuitos de comercialização (agricultores,
transformadores, distribuidores, fornecedores e consumidores); do apoio governamental
por meio de políticas que apoiem e incentivem a conversão dos agricultores convencionais
em orgânicos; além da valorização e investimento em centros de pesquisa, ensino e
extensão, que permitam o resgate de conhecimentos dos agricultores tradicionais latino-
americanos para impulsionar o sistema orgânico.

478
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

CAPÍTULO 7
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

481
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Jacimar Luis de Souza. Roteiro e Direção de Patricia Resende. Viçosa: CPT, 1999. 1
Videocassete (56 min.): VHS, NTSC, son., color. 1 Manual técnico (135 p.): nº 228. Didático.

CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS: Tomate, Pimentão, Abóbora e Pepino.


Coordenação de Jacimar Luis de Souza. Roteiro e Direção de Patricia Resende. Viçosa:
CPT, 2001. 1 Videocassete (62 min.): VHS, NTSC, son., color. 1 Manual técnico (140 p.): nº
324. Didático.

CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS: Alho, Cenoura, Baroa, Beterraba e Batata-doce.


Coordenação de Jacimar Luis de Souza. Roteiro e Direção de Patricia Resende. Viçosa:
CPT, 2001. 1 Videocassete (57 min.): VHS, NTSC, son., color. 1 Manual técnico (126 p.): nº
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494
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

ANEXOS

495
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Anexo-1

NORMAS DISCIPLINARES PARA A PRODUÇÃO, TIPIFICAÇÃO, PROCESSAMENTO,


ENVASE, DISTRIBUIÇÃO, IDENTIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE DE
PRODUTOS ORGÂNICOS, SEJAM DE ORIGEM ANIMAL OU VEGETAL.
INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º. 7, DE 17 DE MAIO DE 1999
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO.

1. DO CONCEITO

1.1. Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária e industrial, todo aquele em que se adotam
tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural
e tendo por objetivo a auto sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a
minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e
outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados- OGM/transgênicos, ou radiações
ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos,
privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os
estágios da produção e da transformação visando:

a) a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes
que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente;

b) a preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou transformado, em que se insere


o sistema produtivo;

c) a conservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, da água e do ar; e

d) o fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos orgânicos e o incentivo à
regionalização da produção desses produtos para mercados locais.

1.2. Considera-se produto da agricultura orgânica, seja “ in natura” ou processado, todo aquele obtido em
sistema Orgânico de produção agropecuária e industrial. O conceito de sistema de produção agropecuária e
industrial abrange os denominados ecológico, biodinâmico, natural, sustentável, regenerativo, biológico,
agroecológico e permacultura. Para efeito desta Instrução considera-se produtor orgânico, tanto o produtor de
matérias-primas como processador das mesmas.

2. DAS NORMAS DE PRODUÇÃO ORGÂNICA

Considera-se unidade de produção, a propriedade rural que esteja sob sistema orgânico de produção. Quando
a propriedade inteira não for convertida para a produção orgânica, a certificadora deverá assegurar-se de que a
produção convencional está devidamente separada e passível de inspeção.

2.1. DA CONVERSÂO

Para que um produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um sistema onde tenham
sido aplicadas as bases estabelecidas na presente Instrução, por um período variável de acordo com a
utilização anterior da unidade de produção e situação ecológica atual, mediante análises e a avaliação das
respectivas instituições certificadoras ( Anexo I ).

2.2. DAS MÁQUINAS E DOS EQUIPAMENTOS:


As máquinas e os equipamentos usados na unidade de produção, não podem conter resíduos contaminantes,
dando-se prioridade ao uso exclusivo à produção orgânica.

496
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

2.3. SOBRE OS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL E OS NATURAIS ( PLANTAS, SOLOS E ÁGUA )

Tanto a fertilidade como a atividade biológica do solo e a qualidade das águas, deverão ser mantidas e
incrementadas, mediante entre outras, as seguintes condutas:

a) proteção ambiental;
b) manutenção e preservação das nascentes e mananciais hídricos
c) respeito e proteção à biodiversidade;
d) sucessão animal e vegetal;
e) rotação e/ou associação de culturas;
f) cultivo mínimo;
g) sustentabilidade e incremento da matéria orgânica no solo;
h) manejo da matéria orgânica;
i) utilização de quebra-ventos;
j) sistemas agroflorestais; e
k) manejo ecológico das pastagens.

2.3.1. O manejo de pragas, doenças e de plantas invasoras, deverá se realizar mediante a adoção de uma ou
várias condutas, de acordo com os Anexos II e III, desta Instrução que possibilitem:

a) incremento da biodiversidade no sistema produtivo;


b) seleção de espécies, variedades e cultivares resistentes;
c) emprego de cobertura vegetal, viva ou morta, no solo;
d) meios mecânicos de controle;
e) rotação de culturas;
f) alelopatia;
g) controle biológico ( excetuando-se OGM/transgênicos )
h) integração animal-vegetal; e
i) outras medidas mencionadas nos Anexos II e III, da presente Instrução.

2.3.1.1. É vedado o uso de agrotóxico sintético, seja para combate ou prevenção, inclusive na armazenagem;

2.3.1.2. A utilização de medida não orgânica para garantir a produção ou a armazenagem, desqualifica o
produto para efeito de certificação, de acordo com o subítem 2.1, da presente Instrução.

2.3.2. As sementes e as mudas deverão ser oriundas de sistemas orgânicos;

2.3.2.1. Não existindo no mercado sementes oriundas de sistemas orgânicos adequadas a determinada
situação ecológica específica, o produtor poderá lançar mão de produtos existentes no mercado, desde que
avaliadas pela instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos geneticamente
modificados(OGM/transgênicos )

2.3.2.2. Para culturas perenes, não havendo disponibilidade de mudas orgânicas, estas poderão ser oriundas
de sistemas convencionais desde que avaliadas pela instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos
geneticamente modificados(OGM/transgênicos ) e de cultura de tecido vegetal quando as técnicas empregadas
conduzam a modificações genéticas ou induzam à variantes soma-clonais.

2.3.3 . Os produtos oriundos de atividades extrativistas só serão certificados como orgânicos, caso o processo
de extração não comprometa o ecossistema e a sustentabilidade do recurso explorado.

2.4. PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

Os produtos de origem animal devem provir de unidades de produção, prioritariamente auto-suficientes quanto
a geração de alimentos para os animais em processo integrado com a produção vegetal, conforme o Anexo IV

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

da presente Instrução. Para a efetivação da sustentabilidade, esses sistemas devem obedecer os seguintes
requisitos:

a) respeitar o bem estar animal;

b) manter um nível higiênico em todo processo criatório, compatível com as normas de saúde pública vigente ;

c) adotar técnicas sanitárias preventivas sem o emprego de produtos proibidos;

d) contemplar uma alimentação nutritiva, sadia e farta, incluindo-se a água, sem a presença de aditivos
químicos e/ou estimulantes, conforme o Anexo IV, da presente Instrução;

e) dispor de instalações higiênicas, funcionais e confortáveis;

f) praticar um manejo capaz de maximizar uma produção de alta qualidade biológica e econômica ; e

g) utilizar raças, cruzamentos e melhoramento genético ( não OGM/transgênicos ), compatíveis tanto com as
condições ambientais e como estímulo à biodiversidade.

2.4.1. Entende-se como bem estar animal, permanecer o mesmo livre de dor, de sofrimento, angústia e viver
em um ambiente em que possa expressar proximidade com o comportamento de seu habitat original:
movimentação, territoriedade, vadiagem, descanso e ritual reprodutivo.

2.4.2. Os insumos permitidos e proibidos na alimentação animal estão especificados no Anexo IV, da presente
Instrução.

2.4.3. O transporte, pré-abate e o abate dos animais devem seguir princípios humanitários e de bem estar
animal, assegurando a qualidade sanitária da carcaça.

2.4.4. Excepcionalmente, para garantir a saúde ou quando houver risco de vida animais, na inexistência de
substituto permitido, poder-se-ão usar medicamentos convencionais.

2.4.4.1. É obrigatório comunicar a cerficadora o uso desses medicamentos, bem como registrar a sua
administração, que deve respeitar o que estabelece o subitem 2.4.4. desta instrução. O período de carência
estipulado pela bula do produto a ser cumprido, deverá ser multiplicado pelo fator três, podendo ainda ser
ampliado de acordo com a instituição certificadora.

2.4.4.2. São permitidas todas as vacinas previstas por lei.

2.4.5. Preferencialmente, a aquisição dos animais deve ser feita em criações orgânicas.

2.4.5.1. No caso de aquisição de animais de propriedades convencionais, estes devem prioritariamente ser
incorporados à unidade produtora orgânica, com a idade mínima em que possam ser recriados sem a presença
materna.

2.4.5.2. Os animais adquiridos em criações convencionais devem passar por quarentena tradicional ou, outra a
ser definida pela certificadora.

3. DO PROCESSAMENTO

Processamento é o conjunto de técnicas de transformação, conservação e envase de produtos de origem


animal e/ou vegetal.

3.1. Somente será permitido o uso de aditivos, coadjuvantes de fabricação e de outros produtos de efeito
brando( não OGM/transgênicos ), conforme mencionado no Anexo V da presente Instrução, e quando
autorizados e mencionados nos rótulos das embalagens.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

3.2. As máquinas e os equipamentos utilizados no processamento dos produtos orgânicos deverão estar
comprovadamente limpos de resíduos contaminantes, conforme estabelece os termos desta Instrução e seus
Anexos.

3.3. Em todos os casos, a higiene no processamento dos produtos orgânicos será fator decisivo para o
reconhecimento de sua qualidade. Para efeito de certificação, as unidades de processamento devem cumprir,
também, as exigências contidas nesta Instrução e nas legislações vigentes específicas.

3.3.1. A higienização das instalações e dos equipamentos deverá ser feita com produtos biodegradáveis e
caso estes produtos não estejam disponíveis no mercado, deverá ser consultada a certificadora.

3.4. Para o envase dos produtos orgânicos, deverão ser priorizadas embalagens produzidas com materiais
comprovadamente biodegradáveis e/ou recicláveis.

3.5. Poderá ser certifdicado como produto processado orgânico, aquele cujo principal seja de origem orgânica.

3.5.1. Os aditivos e os coadjuvantes de fabricação de origem não orgânica, serão permitidos em percentuais a
serem definidos pelas certificadoras e pelo Órgão Colegiado Nacional, conforme estabelece o Anexo V da
presente Instrução.

3.5.2. É obrigatório explicitar no rótulo, os tipos e as quantidades de aditivos, os coadjuvantes de fabricação e


outros produtos de origem não orgânica nele contidos, sempre de acordo com o subitem 3.1. da presente
Instrução.

3.5.3. Os ingredientes de origem não orgânica serão permitidos em percentuais definidos no Anexo VII, da
presente instrução.

4. DA ARMAZENAGEM E DO TRANSPORTE

Os produtos orgânicos devem ser identificados e mantidos em local separado dos demais de origem
desconhecida, de modo a evitar possíveis contaminações, seguindo o que prescreve o Anexo VI, da presente
Instrução.

4.1. A higiene e as condições do ambiente de armazenagem e do transporte será fator necessário para a
certificação de sua qualidade orgânica.

4.2. Todos os produtos orgânicos devem estar devidamente acondicionados.

5. DA IDENTIFICAÇÃO

Além de atender as normas vigentes quanto as informações que devem constar nas embalagens, os produtos
certificados deverão contar um “selo de qualidade” registrado no Órgão Colegiado Nacional, específico para
cada certificadora, atendendo as condições previstas no Anexo VII da presente Instrução, além de outras
abaixo:

a) será mencionado no rótulo a denominação “ produto orgânico “; e

b) o nome e o número de registro da certificadora junto ao Órgão Colegiado Nacional.

No caso de produto a granel, o mesmo será acompanhado do certificado de qualidade orgânica.

6. DO CONTROLE DA QUALIDADE ORGÂNICA

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

A certificação e o controle da qualidade orgânica serão realizados por instituições certificadoras credenciadas
nacionalmente pelo Órgão Colegiado Nacional, devendo cada instituição certificadora manter o registro
atualizado dos produtores e dos produtos que ficam sob suas responsabilidades.

7. DA RESPONSABILIDADE

Os produtores certificados assumem a responsabilidade pela qualidade orgânica de seus produtos e devem
permitir o acesso da certificadora a todas as instalações relativas ao seu processo produtivo.

7.1. À instituição certificadora cabe a responsabilidade pelo controle da qualidade orgânica dos produtos
certificados, permitindo o acesso do Órgão Colegiado Nacional ou do Distrito Federal a todos os atos,
procedimentos e informações pertinentes ao processo de certificação.

8. DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

8.1. O Órgão Colegiado Nacional será composto paritariamente por 5 ( cinco ) membros do Poder Público,
titular e suplente e 5 ( cinco ) membros de Organizações Não-Governamentais, titular e suplente, que tenham
reconhecida atuação junto à sociedade no âmbito da agricultura orgânica, de forma a respeitar a paridade de
um representante por região geográfica, chegando a um total de até 10 ( dez ) membros.

8.1.1. A escolha dos membros das organizações governamentais, será de responsabilidade exclusiva do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento.

8.1.2. A escolha dos membros das organizações não-governamentais obedecerá sistemática própria dessas
organizações.

8.2. Os Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal serão compostos por 5 ( cinco ) membros do Poder
Público, titular e suplente e 5 ( cinco ) membros de Organizações Não-Governamentais, titular e suplente, que
tenham reconhecida atuação junto à sociedade no âmbito da agricultura orgânica, chegando a um total de 10 (
dez ) membros.

8.2.1. A escolha dos membros das organizações governamentais, nas Unidades Federativas, será de
responsabilidade exclusiva das Delegacias Federais de Agricultura.

8.2.1.1. A escolha dos membros das organizações não-governamentais obedecerá sistemática própria dessas
organizações.

8.3. Cabe ao Órgão Colegiado Nacional fiscalizar as atividades dos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito
Federal, de acordo com as Normas vigentes.

8.4. Cabe aos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal, fiscalizar as atividades das certificadoras
locais. As que não cumprirem a legislação em vigor, serão passíveis de sanções, de acordo com as normas
vigentes.

8.5. Ao Órgão Colegiado Nacional compete o deferimento dos pedidos de registro das entidades certificadoras
encaminhados pelos órgãos colegiados citados no subítem acima.

8.6. Aos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal compete a fiscalização e o controle, bem como o
encaminhamento dos pedidos de registro das entidades certificadoras para o Órgão Colegiado Nacional.

8.6.1. Na inexistência de Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal, o Órgão Colegiado Nacional
cumprirá estas atribuições.

9. DAS ENTIDADES CERTIFICADORAS

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

9.1. Os produtos de origem vegetal ou animal, processados ou “ in natura “, para serem reconhecidos como
orgânicos devem ser certificados por pessoa jurídica, sem fins lucrativos, com sede no território nacional,
credenciada no Órgão Colegiado Nacional, e que tenha seus documentos sociais registrados em órgão
competente da esfera pública.

9.2. As instituições certificadoras adotarão o processo de certificação mais adequado às características da


região em que atuam, desde que observadas as exigências legais que trata da produção orgânica no país
e das emanadas pelo Órgão Colegiado Nacional.

9.2.1. A importação de produtos orgânicos certificados em seu país de origem, ficará condicionada às
exigências sanitárias, fitossanitárias e de inspeção animal e vegetal, de conformidade com as leis
vigentes no Brasil, complementada com prévia análise e autorização de uma certificadora credenciada
no Órgão Colegiado Nacional.

9.3. As instituições certificadoras para serem credenciadas devem satisfazer os seguintes requisitos:

a) requerer o credenciamento através dos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal;

b) anexar cópias dos documentos requeridos, devidamente registrados em cartório;

c) descrever detalhadamente seu processo de certificação com o respectivo regulamento de funcionamento,


demonstrando suas etapas, inclusive, os mecanismos de auto-regulação ética;

d) apresentar as suas Normas Técnicas para aprovação do Órgão Colegiado Nacional;

e) descrever as sanções que poderão ser impostas, em caso de descumprimento de suas Normas; e

f) comprovar a capacidade própria ou de alguma contratada para realizar as análises, se necessárias, no


processo de certificação.

9.4. As instituições certificadoras devem dispor na sua estrutura interna, dos seguintes membros:

a) Comissão Técnica: corpo de técnicos responsáveis pela avaliação da eficácia e qualidade da produção;

b) Conselho de Certificação: responsável pela análise e aprovação dos pareceres emitidos pela Comissão
Técnica; e

c) Conselho de Recursos: que decide sobre apelações de produtores e outros interessados.

9.4.1. Aos integrantes de quaisquer estruturas mencionadas nas alíneas a, b e c do subítem 9.4., é vedada a
participação em mais de uma das alíneas, tanto como pessoa física ou jurídica.

9.4.2. São obrigações das certificadoras:

a) manter atualizadas todas as informações relativas a certificação;

b) realizar quantas visitas forem necessárias, com o mínimo de uma por ano, para manter atualizadas as
informações sobre seus produtores certificados;

c) promover a capacitação e assumir a responsabilidade pelo desempenho dos integrantes da comissão


técnica;

d) no caso de destinação para o comércio exterior não comercializar produtos e insumos, nem prestar serviços
de consultorias, assistência técnica e elaboração de projetos;

e) no caso de destinação para o comércio interno, não comercializar produtos e insumos;

f) manter a confiabilidade das informações quando solicitadas pelo produtor orgânico; e

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

g) cumprir as demais determinações estabelecidas pelos Colegiados Nacional, Estadual e do Distrito Federal.

10. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Os demais atos necessários para a completa operacionalização da presente Instrução Normativa serão
estabelecidos pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e do Abastecimento.

ANEXO I

DO PERÍODO DE CONVERSÃO

1. Produção vegetal de culturas anuais: para a unidade de produção em conversão deverá ser obedecido
um período mínimo de 12 meses de manejo orgânico, para que a produção do ciclo subsequente seja
considerada como orgânica.

2. Produção vegetal de culturas perenes: para a unidade de produção em conversão deverá ser obedecido
um período mínimo de 18 meses de manejo orgânico, para que a colheita subsequente seja certificada.

3. Produção vegetal de pastagem perene: para a unidade de produção em conversão deverá ser
obedecido um período mínimo de 12 meses de manejo orgânico ou de pousio.

Observação: Os períodos de conversão acima mencionados poderão ser ampliados pela certificadora em
função do uso anterior e da situação ecológica da unidade de produção, desde que seja julgada a conveniência

ANEXO II

ADUBOS E CONDICIONADORES DE SOLOS PERMITIDOS

1. Da própria unidade de produção ( desde que livre de contaminantes ):

Composto orgânico;
Vermicomposto;
Restos orgânicos;
Esterco: sólido ou líquido;
Restos de cultura;
Adubação verde;
Biofertilizantes;
Fezes humanas, somente quando compostadas na unidade de produção e não empregadas no cultivo de
olerícolas;
Microorganismos benéficos ou enzimas, desde que não sejam OGM/transgênicos; e
Outros resíduos orgânicos.

2. Obtidos fora da unidade de produção:

a) Somente se autorizados pela certificadora:


Vermicomposto;
Esterco composto ou esterco liquido;
Biomassa vegetal;
Resíduos industriais, chifres, sangue, pó de osso, pelos e penas, tortas, vinhaça e semelhantes, como
complementos de adubação;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Algas e derivados, e outros produtos de origem marinha;


Peixes e derivados;
Pó de serra, cascas e derivados, sem contaminação por conservantes;
Microorganismos, aminoácidos e enzimas, desde que não sejam OGM/transgênicos;
Cinzas e carvões vegetais;
Pó de Rocha;
Biofertilizantes;
Argilas ou ainda vermiculita;
Compostagem urbana, quando oriunda de coleta seletiva e comprovadamente livre de substâncias tóxicas.

b) Somente se constatado a necessidade de utilização do adubo e do condicionador, através de análise, e se


os mesmos estiverem livres de substâncias tóxicas:
Termofosfatos;
Adubos potássicos – sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio, este de origem mineral natural;
Micronutrientes
Sulfato de Magnésio
Ácido bórico, quando não usado diretamente nas plantas e solo;
Carbonato, como fonte de micronutrientes; e
Guano

ANEXO III

PRODUÇÃO VEGETAL

1. Meios contra doenças fúngicas:

Enxofre simples e suas preparações, a critério da certificadora;


Pó de pedra;
Um terço de sulfato de alumínio e dois terços de argila ( caulim ou bentonita ) em solução a 1%;
Sais de cobre, na fruticultura;
Própolis;
Cal hidratado, somente como fungicida;
Iodo;
Extrato de plantas;
Extratos de compostos e plantas;
Vermicomposto;
Calda bordalesa e calda sulfocálcica, a critério da certificadora; e
Homeopatia.

2. Meios contra pragas:

Preparados viróticos, fúngicos e bacteriológicos, que não sejam OGM/transgênicos, e só com permissão
específica da certificadora;
Extratos de insetos;
Extratos de plantas;
Emulsões oleosas;
Sabão de origem natural;
Pó de café;
Gelatina;
Pó de rocha;

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Álcool Etílico;
Terras diatomáceas, ceras naturais, própolis e óleos essenciais, a critério da certificadora;
Como solventes: álcool, acetona, óleos vegetais e minerais;
Como emulsionante: lecitina de soja, não transgênica;
Homeopatia.

3 Meios de captura, meios de proteção e outras medidas biológicas:

Controle biológico;
Feromônios, desde que utilizados em armadilhas;
Armadilhas de insetos com inseticidas permitidos no ítem 2, do Anexo III;
Armadilhas anti-coagulantes para roedores;
Meios repelentes mecânicos ( armadilhas e outros similares );
Repelentes naturais ( materiais repelentes e expulsantres );
Métodos vegetativos, quebra-vento, plantas companheiras e repelentes;
Preparados que estimulem a resistência das plantas e que inibam certas pragas e doenças, tais como: plantas
medicinais, própolis, calcário e extratos de algas, bentonita, pó de pedra e similares;
Cloreto de cálcio;
Leite e derivados; e
Extratos de produtos de origem animal.

3. Manejo de plantas invasoras:

Sementes e mudas, isentas de plantas invasoras;


Técnicas mecânicas;
Alelopatia;
Cobertura morta e viva;
Cobertura inerte, que não cause contaminação e poluição, a critério da certificadora;
Solarização;
Controle biológico como manejo de plantas invasoras.

ANEXO IV

PRODUÇÃO ANIMAL

1. Condutas desejadas:

Maximização da captação e uso de energia solar;


Auto suficiência alimentar orgânica;
Diminuir a dependência de recursos externos no processo produtivo;
Associação de espécies vegetais e animais;
Criação a campo;
Abrigos naturais com árvores;
Quebra-ventos;
Conservação das forragens como silagem ou fenação ( desde que de origem orgânica );
Mineralização com sal marinho;
Suplementos vitamínicos: óleo de fígado de peixe e levedura;
Aditivos permitidos: algas calcinadas, plantas medicinais, plantas aromáticas, soro de leite e carvão vegetal;
Suplementação com recursos alimentares, provenientes da unidade de produção orgânica;
Aditivos para arraçoamento: leveduras e misturas de ervas e algas;
Aditivos para silagem: açúcar mascavo, cereais e seus farelos, soro de laticínio e sais minerais;
Homeopatia, fitoterapia e acupuntura.

2. Técnicas permitidas sob o controle da certificadora:

Uso de equipamentos de preparo de solo que não impliquem na alteração de sua estrutura, na formação de
pastagens e cultivo de forragens, grãos, raízes e tubérculos;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Aquisição de alimentos não certificados orgânicos, equivalente a até 20% e 15% do total da matéria seca de
alimentos para animais monogástricos e para animais ruminantes, respectivamente;
Aditivos, óleos essenciais, suplementos vitamínicos e sais minerais;
Suplementos de aminoácidos;
Amochamento e castração; e
Inseminação artificial.

3. Técnicas proibidas:

Uso de agrotóxicos nas pastagens e culturas de alimentos para os animais;


Restrições especificadas nos Anexos II e III , quanto à produção vegetal;
Uso do fogo no manejo de pastagens;
Confinamentos que contrariam o ítem 2.4 e suas subdivisões desta instrução e demais técnicas que restrinjam
o bem estar animal;
Uso de aditivos estimulantes sintéticos na alimentação, na engorda e na reprodução;
Descorna e outra mutilações;
Presença e manejo de animais geneticamente modificados;
Promotores do crescimento sintético;
Uréia;
Restos de abatedouros na alimentação;
Qualquer tipo de esterco para ruminantes ou para monogástricos da mesma espécie;
Aminoácidos sintéticos; e
Transferência de embriões.

4. Insumos que podem ser adquiridos fora da unidade de produção, segundo a espécie animal e sob
orientação da assistência técnica e controle da certificadora:

Silagem, feno palha, raízes, tubérculos, bulbos e restos de culturas orgânicas;


Cereais e outros grãos e seus derivados;
Resíduos industriais sem contaminantes;
Melaço;
Leite e seus derivados;
Gorduras animais e vegetais; e
Farinha de osso calcinada ou auto-clavada e farinha de peixe.

5. Higiene e desinfecção:

Adotar programas sanitários com bases profiláticas e preventivas;


Realizar limpeza e desinfecções com agentes comprovadamente biodegradáveis, sabão, sais minerais solúveis,
permanganato de potássio ou hipoclorito de sódio, em solução 1:1000, cal, soda cáustica, ácidos minerais
simples ( nítrico e fosfórico ), oxidantes minerais em enxágues múltiplos, creolina, vassoura de fogo e água.

ANEXO V

ADITIVOS PARA PROCESSAMENTO E OUTROS PRODUTOS QUE PODEM SER USADOS NA PRODUÇÃO
ORGÂNICA

Nome: Condições especiais:


Água potável
Cloridato de potássio..................................................... Agente de coagulação
Carbonato de cálcio...................................................... Antiumectante
Hidróxido de cálcio........................................................ Agente de Coagulação
Sulfato de cálcio............................................................ Agente de Coagulação
Carbonato de potássio.................................................. Secagem de uvas
Dióxido de carbono
Nitrogênio
Etanol............................................................................ Solvente

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Ácido de tanino............................................................. Auxílio de filtragem


Albumina branca de ovo
Caseína
Óleos vegetais
Gel de dióxido de silicone ou solução coloidal
Carbono ativo
Talco
Betonina;
Caolinita;
Perlita;
Cera de abelha;
Cera de Carnaúba;
Microorganismose enzimas (não OGM/transgênico )

ANEXO VI

DA ARMAZENAGEM E DO TRANSPORTE:

Os produtos orgânicos devem ser mantidos separados de produtos não orgânicos;


Todos os produtos deverão ser adequadamente identificados durante todo o processo de armazenagem e
transporte;
O Órgão Colegiado Nacional deverá estabelecer padrões para a prevenção e controle de poluentes e
contaminantes;
Produtos orgânicos e não orgânicos não poderão ser armazenados ou transportados juntos, exceto, quando
claramente identificados, embalados e fisicamente separados;
A certificadora deverá regular as formas e os padrões permitidos para a descontaminação, limpeza e
desinfecção de todas as máquinas e equipamentos, onde os produtos orgânicos são mantidos, manuseados ou
processados;
As condições ideais do local de armazenagem e do transporte de produtos, são fatores necessários para a
certificação de sua qualidade orgânica.

ANEXO VII

DA ROTULAGEM

A pessoa física ou jurídica legalmente responsável pela produção ou processamento do produto deverá ser
claramente identificada no rótulo, conforme se segue:

1. Produtos de um só ingrediente poderão ser rotulados como “ produto orgânico “, desde que certificado;

2. Produtos compostos de mais de um ingrediente, incluindo aditivos, em que nem todos os ingredientes
sejam de origem certificada orgânica, deverão ser rotulados da seguinte forma:

a) os produtos compostos que apresentarem um mínimo de 95% de ingredientes de origem orgânica


certificada, serão rotulados como produtos orgânicos;
b) os produtos compostos que apresentarem 70% de ingredientes de origem orgânica certificada, serão
rotulados como produtos com ingredientes orgânicos, devendo constar nos rótulos as proporções dos
ingredientes orgânicos e não orgânicos;
c) os produtos compostos que não atenderem as exigências contidas nas alíneas a e b anteriormente
mencionadas, não serão rotulados como orgânicos.

Água e sal adicionados, não poderão ser incluídos no cálculo do percentual de ingredientes orgânicos.

506
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Todas as matérias-primas deverão estar listadas no rótulo do produto em ordem de peso percentual, de forma a
ficar claro quais os materiais de origem certificada orgânica e quais os que não o são, e
Todos os aditivos deverão estar listados com o seu nome completo. Quando o percentual de ervas e
condimentos for inferior a 2% esses poderão ser listados como “ temperos “ .

507
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Anexo-2

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 6, DE 10 DE JANEIRO DE 2002

O SECRETÁRIO DE DEFESA AGROPECUÁRIA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,


PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso de sua atribuição que lhe confere o art. 83, inciso
IV, do Regimento Interno da Secretaria, aprovado pela Portaria Ministerial nº 574, de 8 de
dezembro de 1998, tendo em vista o disposto no inciso X, do anexo da Instrução Normativa
nº 07, de 17 de maio de 1999, e o que consta do Processo nº 21000.001504/2001- 14,
resolve:
Art. 1º Aprovar os Anexos desta Instrução Normativa, que definem:

I - o Glossário de Termos Empregados no Credenciamento, Certificação e Inspeção da Produção Orgânica,


constante do Anexo I desta;

II - os Critérios de Credenciamento de Entidades Certificadoras de Produtos Orgânicos, constantes do Anexo II


desta; e

III - as Diretrizes para Procedimentos de Inspeção e Certificação, constantes do Anexo III desta.

Art. 2º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA

ANEXO I

GLOSSÁRIO DE TERMOS EMPREGADOS NO CREDENCIAMENTO, CERTIFICAÇÃO E INSPEÇÃO DA


PRODUÇÃO ORGÂNICA

Auditoria interna: mecanismo do sistema de certificação destinado à realização de uma constante avaliação dos
seus objetivos e desempenho.

Auditoria de credenciamento: procedimento pelo qual uma equipe oficial de auditores realiza a avaliação do
sistema de certificação de uma entidade candidata ao credenciamento como certificadora, para verificar a
conformidade com as normas oficiais.

Auditoria de supervisão: procedimento pelo qual uma equipe oficial de auditores realiza a avaliação do sistema
de certificação de uma entidade certificadora, para verificar se está em conformidade com as normas oficiais.

Certificado: documento emitido por uma certificadora credenciada, declarando que um produtor ou comerciante
está autorizado a usar a marca de certificação em produtos especificados.

Certificação: procedimento pelo qual uma entidade certificadora dá garantia por escrito que uma produção ou
um processo claramente identificados foram metodicamente avaliados e estão em conformidade com as
normas de produção orgânica vigentes.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Certificação indireta: processo no qual a licença concedida à unidade certificada inclui serviços subcontratados
de outras unidades de produção ou transformação ou, ainda, de produtores organizados pela unidade
certificada.

CNPOrg: Colegiado Nacional para a Produção Orgânica, criado pela Instrução Normativa nº 07, de 17 de maio
de 1999, vinculado à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, tendo por finalidade básica o assessoramento e acompanhamento da implementação das
normas para produção de produtos orgânicos vegetais e animais, avaliando e emitindo parecer conclusivo
sobre os processos de credenciamento de entidades certificadoras, e fornecendo subsídios a atividades e
projetos necessários ao desenvolvimento do setor.

CEPOrg: Colegiado Estadual para a Produção Orgânica, criado pela Instrução Normativa nº 07 de 17 de maio
de 1999, vinculado à Delegacia Federal de Agricultura da sua Unidade da Federação, tendo por finalidade
básica o assessoramento e apoio ao CNPOrg na implementação das normas para produção de produtos
orgânicos vegetais e animais, avaliando e emitindo parecer sobre os processos de credenciamento de
entidades certificadoras, e fornecendo subsídios a atividades e projetos necessários ao desenvolvimento do
setor.

Credenciamento: procedimento pelo qual o CNPOrg reconhece formalmente que uma entidade certificadora
está habilitada para realizar a certificação de produtos orgânicos, de acordo com as normas de produção
orgânica e com os critérios de credenciamento em vigor, oficializado por ato do Secretário de Defesa
Agropecuária.

Conversão parcial: quando ocorrem, na mesma unidade, produção convencional e produção orgânica, ou
produção convencional e produção em conversão.

Declaração de interesse: declaração feita pelos envolvidos no processo de certificação para esclarecimento de
seus interesses e objetivos pessoais, tendo em vista evitar potenciais conflitos.

Entidade certificadora credenciada: certificadora cujo programa de certificação foi aprovado pelo Órgão
Colegiado Nacional, mediante o compromisso formal do cumprimento das normas oficiais de credenciamento e
certificação vigentes.

Entidade certificadora: instituição responsável pela certificação.

Equipe oficial de auditores: equipe técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento encarregada
de proceder a auditorias nas entidades certificadoras, podendo contar com especialistas convidados.

Insumos de produção: insumos destinados à produção ou processamento de produtos agropecuários.

Inspeção: visita para verificar se o desempenho de uma operação está sendo executado conforme as normas
vigentes de produção orgânica.

Inspetor: pessoa designada por uma certificadora para empreender a inspeção.

Licença: contrato bilateral entre a certificadora e a unidade de produção ou comercialização orgânica, que
concede o direito de uso das marcas de certificação, conforme as regras daquele sistema e as normas gerais
vigentes.

Marca da certificação: selo de certificação, símbolo ou logotipo que identifica que um ou diversos produtos
estão em conformidade com as normas oficiais de produção orgânica.

Medidas disciplinares: medidas adotadas contra unidades certificadas que não cumprirem as normas ou outras
exigências do sistema de certificação.

Normas de produção orgânica: padrões nacionais para produção e processamento de produtos orgânicos,
oficialmente regulamentados.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Período de conversão: tempo decorrido entre o início do manejo orgânico de culturas ou criações animais e sua
certificação como processos orgânicos.

Produção paralela: produção obtida onde, na mesma unidade, haja cultivo, criação ou processamento de
produtos orgânicos certificados e não-certificados. É também considerada produção paralela a produção obtida
em uma unidade com áreas com produção orgânica e produção em conversão.

Produção extrativista: produção obtida em um ecossistema não-modificado artificialmente ou recuperado de


forma a restabelecer e garantir a manutenção das condições de sustentabilidade e regeneração natural.

Reclamação: protesto contra políticas, procedimentos ou decisões da certificadora que não se constituam em
recurso.

Recurso: processo por meio do qual uma unidade credenciada/certificada pode solicitar, a uma instância
superior, a revisão de uma decisão tomada.

Relatório anual: relatório de atividades entregue anualmente pelas certificadoras credenciadas ao Órgão
Colegiado Nacional, mediante encaminhamento e parecer do Órgão Colegiado Estadual, por meio do qual
tenha efetivado seu credenciamento.

Sistema de certificação: conjunto de regras e procedimentos adotados por uma entidade certificadora,
objetivando a certificação de produtos agropecuários.

Transferência de certificação: reconhecimento formal por parte de uma certificadora de que um determinado
produto está autorizado a ser processado ou comercializado mediante o uso de sua marca de conformidade,
tendo sido acompanhado e certificado por uma outra certificadora.

Unidade produtora certificada: empreendimento individual ou empresarial destinado à produção, processamento


ou comercialização de produtos orgânicos, devidamente certificada por entidade certificadora credenciada.

Unidade produtora: empreendimento individual ou empresarial destinado à produção, processamento ou


comercialização de produtos orgânicos.

ANEXO II

CRITÉRIOS PARA CREDENCIAMENTO DE ENTIDADES CERTIFICADORAS DE PRODUTOS ORGÂNICOS

1.Do pedido de credenciamento

1.1As certificadoras de produtos orgânicos, para fins de credenciamento junto ao Órgão Colegiado Nacional,
devem, ao solicitar seu credenciamento, disponibilizar aos órgãos oficiais de controle:

- suas normas e procedimentos gerenciais e operacionais;

- sua estrutura organizacional;

- seus controles de recursos financeiros;

- seu sistema de certificação;

- seu programa de treinamento de pessoal;

- seus registros de procedimentos; e

510
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

- outras informações pertinentes ao processo de certificação.

1.2A avaliação e análise dos documentos apresentados e a auditoria de credenciamento devem considerar,
além do conteúdo teórico, a aplicação prática das políticas e procedimentos de modo a atender aos seguintes
requisitos:

1.2.1Gerenciamento da entidade

A entidade deve possuir documentação relativa à descrição da sua estrutura administrativa, incluindo a
gerência e as responsabilidades individuais.

No processo de avaliação do pedido de credenciamento, deverão ser avaliados diversos elementos que
indicam a capacidade de gerenciamento da entidade.

1.2.2 Gestão financeira

As certificadoras devem possuir administração financeira idônea e transparente com a garantia de dispor de
mecanismos para o provimento de recursos para os fins a que se propõem.

1.2.3 Política de pessoal

As certificadoras devem demonstrar competência profissional baseada na formação, treinamento e experiência


de seus funcionários. Para tanto, devem possuir documentação referente aos requisitos necessários para
contratação de pessoal, com referência à formação profissional, treinamento, conhecimento técnico e
experiência em cultivo orgânico, processamento orgânico ou ambos.

As certificadoras devem empregar ou contratar pessoal em número suficiente para o desenvolvimento de suas
atividades, incluindo inspetores que tenham formação profissional necessária, treinamento, conhecimento
técnico e experiência para executar funções de certificação quanto ao tipo, extensão e volume de trabalho a ser
executado.

As informações sobre as qualificações, treinamento e experiência de todo o pessoal devem ser arquivadas pela
certificadora. O pessoal deve ter informações disponíveis a respeito de seus deveres e responsabilidades, de
forma clara, atualizada e documentada.

1.2.4Normas e regulamentos

As certificadoras devem apresentar normas, procedimentos gerenciais e operacionais de inspeção e


certificação abrangentes em todos os aspectos pertinentes aos produtos e métodos de produção.

As certificadoras devem publicar normas e padrões para todos os sistemas de produção ou categorias de
produtos certificados por seu programa, em consonância com as normas e padrões oficiais, apresentadas de
forma adaptada ao idioma nacional, à capacidade e ao nível de entendimento das unidades certificadas.

As alterações nas normas e padrões oficiais devem ser regularmente incorporadas às normas internas, no
prazo estabelecido por estas. Em casos específicos, referentes a mudanças complexas ou controversas, o
prazo de incorporação pode ser estendido com a anuência do CNPOrg. As certificadoras podem admitir, desde
que justificado, prazo para implantação das mudanças por parte das unidades produtoras certificadas.

As normas e padrões devem ser objeto de revisões periódicas.

A equipe responsável pelas revisões, com membros claramente identificados, deve ser constituída por
elementos com comprovada qualificação ou experiência nas atividades a serem desenvolvidas.
Alternativamente, podem ser contratados peritos não-pertencentes ao quadro de colaboradores da certificadora.

O processo de revisão das normas e padrões deve prever mecanismos de avaliação das propostas de
alteração encaminhadas pelas partes interessadas.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Devem ser definidos, também, a data de implantação das modificações e os prazos finais para implantação
pelas unidades certificadas. Quando se fizer necessário, é permitido estabelecer um período para implantação
das principais alterações.

1.2.5 Independência

A certificadora deve possuir estrutura e procedimentos que possibilitem desenvolver suas atividades sem a
interferência de interesses de qualquer natureza, que venham a comprometer seu sistema de certificação em
relação aos objetivos gerais do sistema.

1.2.6Responsabilidade

As certificadoras devem definir claramente a área de competência e o grau de responsabilidade dos inspetores
contratados e de suas comissões internas, devendo, ainda, assumir total responsabilidade por todas as
atividades executadas diretamente ou por meio de terceiros - pessoas ou organizações subcontratadas.

1.2.7Objetividade

O sistema de certificação deve ser imparcial uma vez que os serviços de inspeção e de certificação devem
estar baseados em avaliações objetivas, observando-se procedimentos regulamentados. O sistema deve
possuir mecanismos regulamentados também para o julgamento de recursos.

1.2.8Credibilidade

As certificadoras devem exercer controle sobre o uso de suas licenças, certificados e marcas registradas -
logotipo ou selo de conformidade.

1.2.9Gestão para qualidade

As certificadoras devem adotar procedimentos adequados para melhoria contínua da qualidade, com a
avaliação de seu desempenho e desenvolvimento de rotinas.

As certificadoras devem conduzir auditorias internas periódicas abrangendo todos os procedimentos de forma
planejada e sistemática, para verificar a implantação e efetividade do sistema de certificação, assegurando que:

1.2.9.1as pessoas responsáveis pela área auditada estejam informadas dos resultados da auditoria;

1.2.9.2 as ações corretivas sejam tomadas de maneira oportuna e apropriada; e

1.2.9.3os resultados da auditoria sejam documentados.

A administração do sistema de certificação revisará suas rotinas e procedimentos em intervalos determinados,


sendo mantidos registros destas revisões.

1.2.10Confidencialidade

As certificadoras devem adotar meios que assegurem a confidencialidade das informações, relativas aos
produtores e comerciantes certificados, obtidas em decorrência das atividades de certificação em todos os
níveis da organização, inclusive nas comissões e instituições contratadas.

1.2.11Administração participativa

As certificadoras devem possuir mecanismos que possibilitem a manifestação e participação de todas as partes
efetivamente comprometidas no desenvolvimento de políticas e princípios relativos ao conteúdo e
funcionamento do sistema de certificação.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.2.12Adoção de procedimentos não- discriminatórios

As políticas e procedimentos adotados pelas certificadoras e por sua administração devem ter natureza não-
discriminatória, sem que interfiram nos seus trabalhos questões relativas à raça, nacionalidade, religião, sexo,
idade, estado civil, opção sexual ou quanto à sua condição física.

As certificadoras devem tornar seus serviços acessíveis, indistintamente, a todas as unidades de produção ou
comercialização que os solicitarem e que desenvolverem atividades no seu âmbito de atuação. As solicitações
devem estar abertas a quaisquer interessados, sem que se leve em conta interesses comerciais.

O acesso à certificação não pode ser condicionado ao tamanho da unidade produtora. Da mesma forma, a
certificação não deve estar condicionada ao número de certificados emitidos.

As certificadoras que forem constituídas mediante a formação de um corpo associativo devem ter exigências de
certificação idênticas para filiados e não-filiados, ou devem fazer da certificação uma atividade claramente
separada das demais atribuições sociais.

As exigências relativas ao processo de certificação, as inspeções e as decisões devem restringir-se ao âmbito


da atividade em processo de certificação. Assuntos como pagamento de taxas ou cumprimento de exigências
legais podem justificar a suspensão do uso de uma licença de uma unidade certificada, baseada na violação do
contrato de licenciamento, mesmo se os demais requisitos de certificação estiverem sendo atendidos. Este
procedimento deve estar previsto nos contratos de licenciamento.

1.2.13Cumprimento de normas e regulamentos

As certificadoras devem observar fielmente as determinações legais pertinentes às suas atividades, devendo
apresentar documentos que demonstrem a regularidade de sua situação perante as demais legislações
vigentes, assim como a propriedade ou controle sobre a marca de certificação, quando tal marca existir.

1.2.14Estrutura funcional

As certificadoras devem possuir estrutura onde esteja clara a organização das funções de inspeção, certificação
e recursos.

1.2.15Subcontratações

Quando uma certificadora subcontratar um trabalho relativo à certificação, de uma outra entidade ou pessoa,
deverá ter firmado um contrato que inclua os procedimentos referentes à confidencialidade e aos conflitos de
interesse.

As certificadoras devem assegurar que a pessoa ou entidade subcontratada é competente e preenche todos os
requisitos destes critérios, responsabilizando-se integralmente pelos serviços contratados.

1.2.16Regulamentação para situações de impedimento funcional

Todos os envolvidos nos processos de inspeção e certificação devem assinar termos de compromisso de
recusa em tomar parte em qualquer decisão ou atividade de inspeção que envolva ligações familiares ou
relações comerciais de qualquer natureza (comércio, consultoria e outro ) com as unidades certificadas.

As declarações de interesse, firmadas por todas as pessoas envolvidas em certificação, inspeção e apelações
devem ser arquivadas nas sedes das certificadoras.

O sistema de certificação também deve estabelecer que, atendendo a princípios éticos, os inspetores que
rescindirem seus contratos com a certificadora estarão impedidos, pelo prazo de dois anos após as inspeções,
de prestar consultoria em unidades por ele inspecionadas. Da mesma forma, consultores estarão impedidos de
executar inspeção em unidades por eles assistidas pelo mesmo prazo.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Todos os inspetores e colaboradores em geral que apresentarem conflito em potencial com uma unidade
certificada serão excluídos dos trabalhos, reuniões e decisões em todas as fases do processo de certificação,
relacionadas com a atividade em conflito.

1.2.17Documentação e controle de documentos

As certificadoras devem manter um sistema para o controle de toda a documentação relativa ao sistema de
certificação, assegurando que:

1.2.17.1 a documentação atualizada esteja disponível em locais apropriados;

1.2.17.2 todas as mudanças nos documentos estejam devidamente autorizadas;

1.2.17.3todas as mudanças sejam processadas de maneira que sejam asseguradas providências rápidas e
diretas

1.2.17.4os documentos substituídos sejam retirados de uso dentro da organização e suas representações;

1.2.17.5todas as partes envolvidas sejam notificadas das mudanças;

1.2.17.6os documentos sejam reeditados quando forem efetuados aperfeiçoamentos significativos;

1.2.17.7exista um registro de todos os documentos relevantes, com a identificação de seus respectivos


assuntos; e

1.2.17.8a distribuição dos documentos deva ser feita de forma controlada.

1.2.18Registros

Todos as informações arquivadas devem ser armazenadas e guardadas com segurança e confidencialidade,
por um período mínimo de 5 (cinco) anos.

Os relatórios de inspeção, as decisões adotadas no processo de certificação, os certificados e outros registros


relevantes devem ser assinados por pessoa autorizada.

O sistema de registro de informações deve ser transparente e de fácil acesso.

1.2.19Reclamações

As certificadoras devem adotar políticas e procedimentos para processar as reclamações a respeito de sua
atuação ou referentes a unidades certificadas, que devem ser processadas de maneira rápida e eficiente.

As certificadoras devem manter registros de todas as reclamações e ações corretivas relativas à certificação.
Quando uma reclamação é resolvida, a solução do problema deve ser documentada e encaminhada ao
reclamante e às demais partes envolvidas no assunto.

2Das outras atividades executadas pela certificadora

2.1Da oferta de produtos e serviços

As certificadoras não podem prestar qualquer serviço ou fornecer produto que possam comprometer a
confidencialidade, objetividade ou imparcialidade de seu processo de certificação e decisão.

As certificadoras devem, ainda, assegurar que as atividades de certificadoras ou entidades subcontratadas não
afetem a confidencialidade, objetividade e imparcialidade de suas certificações.

2.2Da prestação de informações às unidades certificadas

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As certificadoras podem, como parte do processo de certificação, efetuar avaliações preliminares do sistema de
produção, visando a identificar eventuais deficiências e propor melhorias.

Podem ser prestadas, ainda, informações sobre assuntos pertinentes às normas de cultivo orgânico, mas sem
pagamento de qualquer taxa adicional. As informações devem estar restritas às normas de cultivo e criação,
não abordando procedimentos, fórmulas e técnicas de cultivo e criação orgânicas.

Informações genéricas, incluindo informativos, seminários e outros, podem ser oferecidos a todas as unidades
certificadas, indiscriminadamente, podendo ser cobradas taxas adicionais.

2.3Das atividades de marketing

As certificadoras podem estabelecer uma política relativa à divulgação de resultados de pesquisas, promoções
e outras atividades relacionadas a mercado, observando tratamento igual a todas as unidades certificadas e o
não-envolvimento efetivo com vendas, política de preços e outras atividades comerciais.

2.4Da divulgação de informações

As certificadoras devem prestar informações ao público sobre o âmbito de suas atividades de certificação e o
conteúdo de suas normas internas. Para isso, devem possuir rotina de publicação de informações que inclua,
pelo menos:

2.4.1os critérios de publicidade e confidencialidade das informações;

2.4.2a publicação dos padrões e da descrição geral do sistema de certificação;

2.4.3a publicação e atualizações das listas das unidades certificadas, informando nomes e endereços. As listas
de unidades indiretamente licenciadas também devem estar disponíveis, podendo ser publicadas de forma
geral, sem vínculo com a unidade licenciada principal;

2.4.4a divulgação de relatórios de atividades de certificação, preferivelmente no formato de um relatório anual; e

2.4.5as informações, mediante solicitação do interessado, sobre qualquer produto certificado ou sobre os tipos
de produto para os quais uma unidade certificada está licenciada.

2.5Das Subcontratações

Quando uma certificadora subcontratar um trabalho relacionado à certificação à uma outra organização ou
pessoa (inspeção, por exemplo), deverá ser firmado um contrato que inclua os procedimentos referentes à
confidencialidade e aos conflitos de interesse.

As certificadoras devem assegurar que a pessoa ou organização subcontratada é competente e preenche todos
os requisitos destes critérios, responsabilizando-se integralmente pelos serviços sub-contratados.

3Da aplicação dos critérios

Com base nos presentes critérios, o CNPOrg pode adotar as seguintes medidas:

3.1Da aprovação do credenciamento

Uma vez que a análise do processo demonstre que a certificadora solicitante atende a todas as exigências
legais e aos critérios aqui estabelecidos, o CNPOrg pode aprovar o credenciamento, encaminhando sua
resolução ao Secretário de Defesa Agropecuária para homologação e publicação.

3.2Das recomendações:

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O CNPOrg poderá deliberar que, considerado o contexto geral das políticas de certificação e o desempenho
específico de um sistema, as conseqüências decorrentes do descumprimento de um critério em particular não
sejam significativas. O Colegiado Nacional poderá recomendar o cumprimento integral do critério, sem fazer
disso uma condição de credenciamento. Fica reservado, contudo, o direito de transformar tais recomendações
em condições, em função de reavaliações, ou que mudanças no sistema assim o garantam.

3.3Do indeferimento da solicitação

Caso o sistema de trabalho da certificadora solicitante apresentar significativo número ou grau de


irregularidades durante a avaliação, o Colegiado Nacional deverá indeferir a solicitação de credenciamento.

Neste caso, a certificadora solicitante deverá ser informada das medidas necessárias a serem adotadas e o
prazo determinado. O CNPOrg deverá exigir provas do cumprimento das condições para que o credenciamento
seja concedido, o que poderá demandar uma ou mais visitas da comissão técnica encarregada da auditoria de
credenciamento.

3.4Da suspensão ou cancelamento do credenciamento:

No caso de sistemas de certificação em andamento, o não-atendimento das disposições regulamentares pode


levar à suspensão ou cancelamento do credenciamento, em função da gravidade das irregularidades apuradas
por auditorias de supervisão.

O CNPOrg poderá suspender o credenciamento, definindo o prazo e as exigências a serem cumpridas pela
certificadora solicitante, de modo a harmonizar seus procedimentos com os presentes critérios.

3.5Das auditorias

As entidades certificadoras devem fazer constar, de seus regulamentos e contratos, cláusulas específicas que
demonstrem que todas as ações previstas à serem inspecionadas por elas estarão sujeitas a serem auditadas
por equipe oficial de auditores. Todas as informações e acessos previstos para as inspeções deverão estar
garantidos para as auditorias de credenciamento e de supervisão.

Os procedimentos para auditorias de credenciamento e de supervisão estarão regulamentados por norma


específica, sendo que o programa de auditoria terá que levar em consideração os procedimentos estabelecidos
no Anexo III desta Portaria e outras observações levantadas pelo CNPOrg.

4Da revisão dos critérios de credenciamento

Os presentes critérios serão reavaliados mediante as seguintes condições e procedimentos:

4.1Das propostas de alteração

As propostas para alterações dos presentes critérios poderão ser encaminhadas a qualquer momento pelas
partes interessadas, mediante solicitação formal ao CEPOrg que, após parecer, o encaminhará ao CNPOrg.

4.2Das revisões periódicas

Os presentes critérios serão revisados bienalmente, mediante procedimento organizado pelo CNPOrg.

O Colegiado Nacional poderá, no intervalo das revisões periódicas, efetuar mudanças nos critérios de
Credenciamento, caso se faça necessário em função do desenvolvimento do sistema de credenciamento, de
harmonização com as normas internacionais ou de outros fatores pertinentes.

4.3 Da consulta pública

As propostas de alteração dos presentes critérios, sejam elas de iniciativa do Colegiado Nacional, das partes
interessadas no processo de certificação ou decorrentes das revisões periódicas, serão submetidas à consulta

516
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

pública, devendo, portanto, ser estabelecidos mecanismos de recebimento, sistematização e discussão de


eventuais críticas ou sugestões encaminhadas.

4.4Do poder de decisão

Caberá ao CNPOrg, avaliar as alterações propostas aos presentes critérios, devendo, após sua aprovação,
encaminhá-las ao Secretário de Defesa Agropecuária para apreciação.

4.5Da notificação das alterações

As certificadoras, já credenciadas ou em processo de credenciamento, serão informadas de qualquer mudança


no prazo máximo de dois meses após a publicação dos novos critérios, por meio do CEPOrg onde se
formalizou o pedido de credenciamento.

4.6Da vigência das alterações

As alterações entram em vigor no dia de sua publicação.

Os pedidos de certificação que tiverem sido submetidos à avaliação antes da data de implantação das
alterações serão qualificados conforme os critérios vigentes anteriormente.

No caso de deferimento dos pedidos, estas certificadoras deverão, juntamente com todos outras certificadoras
credenciadas, enviar uma declaração de concordância com os novos critérios, por ocasião da apresentação dos
relatórios anuais.

Eventuais exclusões de critérios terão efeito imediato após sua publicação, não sendo mais exigido seu
cumprimento, quer pelas certificadoras credenciadas, quer pelas certificadoras em processo de
credenciamento.

ANEXO III

DIRETRIZES PARA PROCEDIMENTOS DE INSPEÇÃO E CERTIFICAÇÃO

1Da inspeção

Todos os procedimentos necessários à inspeção devem ser regulamentados pelas certificadoras.

1.1Da indicação de inspetores

As indicações de inspetores, de responsabilidade das certificadoras ou empresas subcontratadas deverão ser


efetuadas de modo que:

1.1.1seja assegurada a necessária experiência para uma inspeção efetiva;

1.1.2sejam excluídas quaisquer possibilidades de conflito de interesse; e

1.1.3seja evitada a indicação contínua de um único inspetor para a mesma unidade certificada.

As unidades certificadas não podem escolher ou recomendar inspetores, devendo ser informadas da identidade
do inspetor antes da visita de inspeção, e levantar objeções relacionadas a qualquer conflito de interesse em
potencial, o que não se aplica às inspeções não-comunicadas previamente.

1.2Das visitas de inspeção

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Os inspetores e as certificadoras devem ter acesso a todas as instalações, inclusive aos registros contábeis e
demais documentos das unidades certificadas.

As visitas de inspeção devem ser previamente preparadas, a fim de que os inspetores disponham de
informações suficientes sobre as unidades certificadas. O planejamento prévio das visitas deve incluir, entre
outras coisas, levantamentos de inspeções anteriores, descrições das atividades, dos processos, mapas,
planos, especificações dos produtos, insumos utilizados, irregularidades detectadas anteriormente, infrações,
medidas disciplinares adotadas e condições especiais estabelecidas para a certificação da unidade em análise.

As visitas, os questionários usados e os relatórios resultantes da inspeção devem ser suficientemente


abrangentes, observando aspectos pertinentes às normas de produção, e que adequadamente validem a
informação fornecida.

As certificadoras devem ter acesso a qualquer produção não-orgânica da unidade, ou demais unidades
situadas nas proximidades que, por propriedade ou vínculos administrativos, estiverem relacionadas com a
atividade certificada. As inspeções, inclusive a revisão de documentos, devem incluir tais unidades quando
houver razão para tanto.

Os relatórios de inspeção e a inspeção devem, até onde possível, seguir roteiros e regras preestabelecidas,
visando a promover procedimentos de inspeção objetivos e não-discriminatórios. Estes relatórios devem ser
planejados para permitir elaboração e análise do inspetor em áreas onde o cumprimento das exigências possa
ser parcial, as normas possam não estar claras ou outras ocorrências extraordinárias.

1.3Das informações

As informações contidas nos relatórios devem incluir os seguintes itens, além de outros circunstancialmente
necessários:

1.3.1data e hora da inspeção;

1.3.2pessoas entrevistadas;

1.3.3culturas, criações ou produtos cuja certificação tenha sido solicitada;

1.3.4lavouras, pastagens e instalações visitadas;

1.3.5documentos revisados;

1.3.6observações dos inspetores; e

1.3.7avaliação do cumprimento de padrões e exigências de certificação.

1.4Da abrangência e freqüência das inspeções

A abrangência e a freqüência das inspeções serão determinadas por fatores como:

1.4.1volume da produção;

1.4.2tipo de produção;

1.4.3tamanho do empreendimento;

1.4.4resultado de inspeções prévias;

1.4.5registro do cumprimento das exigências legais pela unidade certificada;

1.4.6reclamações recebidas pela certificadora;

518
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.4.7exclusividade da produção certificada ou ocorrência de produção paralela;

1.4.8risco de contaminação por deriva; e

1.4.9complexidade da produção.

As diretrizes de atuação das certificadoras devem ser documentadas e, obrigatoriamente, conter disposições
específicas relacionadas à freqüência das inspeções, com a definição das fontes de recursos para a realização
das ordinárias e das extraordinárias.

As inspeções das unidades certificadas e de entidades subcontratadas devem ser realizadas, no mínimo, uma
vez ao ano, sendo que o intervalo de tempo entre as inspeções programadas não poderá ter uma regularidade
que as tornem previsíveis.

Devem ser provisionados recursos para a realização do maior número de inspeções, de acordo com os fatores
acima mencionados.

Deve ser definida a porcentagem mínima de inspeções sem aviso prévio, assim como os critérios para seleção
de unidades sujeitas a tais inspeções.

1.5Das análises laboratoriais

As análises laboratoriais não são o principal instrumento em certificação orgânica, mas podem ser necessárias
para subsidiar alguns procedimentos de inspeção ou para o atendimento de declarações adicionais exigidas em
algumas certificações.

As certificadoras devem possuir políticas e procedimentos regulamentados para as análises de resíduos, testes
genéticos e outras análises. Os procedimentos adotados pelas certificadoras devem prever, pelo menos:

1.5.1a indicação dos casos em que devem ser coletadas amostras;

1.5.2a obrigatoriedade de amostragem nas suspeitas de uso de substâncias proibidas pelas normas;

1.5.3procedimentos apropriados a serem adotados quando as normas estabelecerem limites para a


contaminação de resíduos ou produtos;

1.5.4indicação dos requisitos para amostragens aleatórias;

1.5.5instruções sobre procedimentos e métodos de amostragem;

1.5.6procedimentos de pós-amostragem; e

1.5.7indicação da responsabilidade para pagamento dos custos.

As análises devem ser executadas por laboratórios credenciados por órgãos oficiais. Nos casos de inexistência
de credenciamento, a aprovação dos laboratórios deverá ser submetida ao CNPOrg.

1.6Da inspeção e certificação durante o período de conversão

Nos casos em que forem estabelecidos períodos de conversão para a produção orgânica, a certificação não
será efetuada antes de decorrido o prazo estabelecido para a conversão.

Podem ser adotadas exceções, quando o cumprimento integral das normas puder ser comprovado, mediante a
aplicação de políticas e procedimentos previamente estabelecidos pelas certificadoras. As provas necessárias
não devem estar limitadas apenas a documentos e atestados.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Quando o período de conversão for reduzido ou não for exigido para as práticas agrícolas convencionais,
conforme o estabelecido pelas normas, a certificadora deverá verificar se aquelas práticas estão em
conformidade com as normas e padrões oficiais.

1.7Da inspeção para conversão parcial ou produção paralela

As certificadoras devem ter estabelecido regimes especiais de inspeção nos casos onde houver conversão
parcial da propriedade ou produção paralela, de modo a garantir que a certificação só será concedida quando
houver um sistema que assegure que:

1.7.1o sistema de armazenamento assegura manipulação separada;

1.7.2a documentação relativa à produção será apropriadamente administrada, fazendo distinções claras entre
produção certificada e não-certificada;

1.7.3as inspeções sejam efetuadas em períodos críticos e com maior freqüência;

1.7.4que estejam disponíveis estimativas de produção confiáveis;

1.7.5os produtos sejam distinguíveis;

1.7.6o processo de obtenção do produto seja efetuado de modo que haja método confiável para verificar o
efetivo volume da produção por meio de inspeções extraordinárias.

O sistema adotado deverá ser aprovado pelas certificadoras para cada situação individual.

As certificadoras deverão desenvolver procedimentos de inspeção apropriados e adequados para os casos de


produção paralela.

1.8Da inspeção para impedir o uso de produtos geneticamente modificados

As certificadoras devem possuir um sistema de inspeção que evite o uso de produtos geneticamente
modificados.

As certificadoras devem publicar e distribuir a todas as unidades certificadas e inspetores, no mínimo uma vez
ao ano, uma lista dos produtos geneticamente modificados conhecidos, relacionados às suas áreas de
certificação ou uma lista de produtos conhecidos que não sejam geneticamente modificados. Alternativamente,
as certificadoras podem obter e distribuir listas produzidas por terceiros.

As listas devem incluir os seguintes itens:

1.8.1material de propagação vegetal e reprodução animal;

1.8.2animais;

1.8.3insumos agrícolas; e

1.8.4ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de processamento.

Quando determinado pelas certificadoras, as unidades certificadas devem exigir e manter declarações,
assinadas pelos seus fornecedores, da ausência de produtos geneticamente modificados nos insumos ou
ingredientes fornecidos.

1.9Da inspeção nas fases da produção

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cada etapa na obtenção de um produto deve ser inspecionada, pelo menos, uma vez ao ano. Isto significa que
não só os produtores agrícolas, mas também as unidades de armazenamento, de processamento,
empacotamento etc sejam inspecionadas. Qualquer exceção estará baseada em uma avaliação de risco
documentada e estará restrita às situações aqui identificadas.

1.10Da inspeção de produtos embalados

As certificadoras não são obrigadas a adotar sistemas de inspeção de produtos após sua embalagem para o
consumo final ou após a emissão de um certificado de transação comercial. Entretanto, sua responsabilidade
continua em situações onde haja risco de alteração da natureza orgânica dos produtos ao longo da cadeia de
custódia.

1.11Da inspeção de depósitos e armazéns

As inspeções em armazéns podem ser dispensadas, em função do tipo de armazenamento, de produto, de


empacotamento, das práticas e do tempo de armazenamento. Será exigida uma inspeção preliminar para
determinar a necessidade de futuras inspeções.

1.12Da inspeção de transportadoras

A atividade de transporte não é certificada normalmente, mas permanece sob responsabilidade do detentor do
produto na fase do transporte.

1.13Da inspeção e certificação de produção extrativista

1.13.1Os coletores de produtos extrativistas, por suas especificidades, estão sujeitos a exigências diferenciadas
de forma a manter a integridade do sistema de certificação.

As unidades produtoras extrativistas certificadas devem dispor de instruções para os coletores, determinando
normas, padrões e outras exigências para certificação, sendo responsáveis por seu cumprimento. As unidades
certificadas devem manter registros de todos os coletores, produtos e respectivas quantidades adquiridas de
cada um.

As unidades certificadas devem dispor de mapas ou croquis geo-referenciados, delimitando as áreas de coleta
e detalhando infra-estrutura, vias de acesso e acidentes geográficos relevantes.

1.13.2Os procedimentos de inspeção, além de visitas à unidade certificada e suas instalações, devem também
incluir:

- entrevistas com coletores e intermediários locais;

- visita a uma fração representativa da área certificada;

- entrevistas com pessoas e instituições ligadas a questões ambientais e sociais que possam prestar
informações sobre a unidade produtora.

1.14Da inspeção de insumos

Certificadoras que operam sistemas de aprovação de insumos para as unidades de produção, sem licença ou
cessão de direitos ao uso de logotipo para o fabricante, quando publiquem listas ou de qualquer outro modo
aprovem produtos sem certificação formal, devem ter regulamentado, pelo menos, os seguintes pontos:

1.14.1o procedimento de matrícula, inclusive os documentos necessários a serem apresentados pelo


solicitante;

1.14.2o procedimento a ser seguido na avaliação do cumprimento das normas e padrões aplicáveis aos
produtos;

521
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

1.14.3a responsabilidade e competência pelas decisões;

1.14.4o tempo de concessão para a aprovação e a exigência ao fabricante de informar mudanças na


composição dos produtos ou outros fatores relevantes; e

1.14.5uma declaração clara da natureza e garantia da aprovação.

Os sistemas de aprovação não devem permitir qualquer indicação da aprovação no próprio produto e não
isentem o produtor do insumo de cumprir com as demais exigências legais que regulamentem esse segmento.

1.15Dos sistemas de certificação de insumos

As certificadoras que emitem certificados ou permitem o uso de sua marca de certificação em insumos, além
das medidas especificadas em 1.14, devem documentar os procedimentos de inspeção e certificação, incluindo
os requisitos definidos para certificação neste instrumento, devendo ser claramente indicadas a freqüência de
inspeção e as exigências não-referentes à composição do produto, que serão objeto de inspeção e que serão
avaliadas no processo de certificação como poluição ambiental, riscos de contaminação, etc.

1.16Da inspeção das relações sociais

As certificadoras deverão incluir nos seus procedimentos de inspeções a avaliação dos seguintes aspectos:

- atendimento à legislação trabalhista;

- cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente;

- condições de acesso à moradia, escola e saúde;

- relações comerciais.

1.17Da inspeção dos aspectos ambientais

Com relação aos aspectos ambientais, deverá ser observado o que determina a legislação ambiental nos
âmbitos federal, estadual e municipal.

2Da certificação

2.1Do conselho de certificação e das decisões de certificação

As decisões relativas ao processo de certificação, que abrangem a aprovação inicial das unidades certificadas,
mas também a subseqüente aprovação de produtos, mudanças na produção, adoção de medidas disciplinares
e outras, devem ser tomadas por um Conselho de Certificação, cujos critérios para funcionamento devem ser
adotados em consonância com as normas oficiais vigentes.

A estrutura das certificadoras assegurará que cada decisão de certificação seja tomada por pessoas não-
envolvidas com as atividades de inspeção, de maneira que seja assegurada a competência funcional suficiente.
O critério para a seleção de membros para o Conselho de Certificação deve refletir diversidade, sem
predomínio de qualquer interesse específico.

Quando as decisões de certificação forem delegadas a gerentes ou a pequenos comitês, as certificadoras


devem provar que o Conselho de Certificação detém o controle final e a responsabilidade sobre as decisões,
mediante a elaboração de relatórios e atividades de inspeção interna.

2.2Do processo de certificação

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As certificadoras devem adotar políticas e procedimentos regulamentados, nos quais sejam obrigatoriamente
abordadas disposições sobre:

2.2.1todas as etapas do processo de certificação, desde a análise da solicitação inicial até a certificação final;

2.2.2indicação da situação de todas as unidades certificadas e seus produtos, ao longo do processo de


certificação;

2.2.3procedimentos para ampliação e atualização da certificação, incluindo certificação de produtos individuais


(as certificadoras devem exigir que as unidades certificadas informem qualquer alteração em produtos,
processos de produção, ampliações na área de cultivo e outras. As certificadoras deverão avaliar a
necessidade de investigações adicionais em função das mudanças informadas. Neste caso, as unidades
certificadas não devem comercializar produtos certificados decorrentes das alterações processadas sem
notificação apropriada das certificadoras);

2.2.4decisões de certificação que sejam registradas e claramente comunicadas às unidades certificadas;

2.2.5casos de indeferimento do pedido de certificação com as razões que motivaram aquela decisão
claramente justificadas;

2.2.6condições e restrições que podem ser adotadas e os mecanismos para monitorá-las;

2.2.7critérios para a aceitação de unidades de produção e comercialização, anteriormente certificadas por


outras certificadoras que sejam documentados, devendo ser requisitados informações relevantes da certificação
anterior;

2.2.8encaminhamento de registros pertinentes, quando solicitado pela unidade certificada, à outra certificadora;

2.2.9periodicidade e prazo para elaboração de relatórios de inspeção e decisão de certificação; e

2.2.10providências cabíveis nos casos de irregularidades que devem ser adotadas com a mais alta prioridade.

2.3Das exceções

As certificadoras devem adotar critérios claros e procedimentos para os casos em que podem ser adotadas
exceções às normas de certificação e submetê-los, por meio do CEPOrg, à aprovação do CNPOrg. Estas
concessões especiais devem ser limitadas a um período de tempo definido e suas razões devem ser
justificadas em bases técnico-científicas, ambientais e sociais.

2.4Dos recursos

As certificadoras devem possuir procedimentos para análise de recursos apresentados contra decisões de
certificação, devendo manter registro de todas os recursos impetrados e documentar as ações decorrentes. As
pessoas responsáveis pelas decisões questionadas não podem estar envolvidas na análise dos recursos.

2.5Dos arquivos das unidades certificadas

Os arquivos sobre as unidades certificadas devem ser atualizados e conter todo o histórico, informações
pertinentes e especificações dos sistemas de produção e processamento e dos produtos. As certificadoras
devem dispor de dados relevantes sobre todas as unidades certificadas, incluindo quaisquer unidades
subcontratadas e membros de grupos de produtores.

Os relatórios de inspeção e documentação escrita devem conter informação suficiente para que a certificadora
tome decisões competentes e objetivas.

Os arquivos devem demonstrar o modo no qual cada procedimento de certificação foi aplicado, incluindo os
relatórios de inspeção e os resultado de medidas disciplinares impostas.

523
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As certificadoras devem regularmente atualizar as listas de todas as unidades de produção e de todos os


produtos certificados.

2.6Dos registros

Devem ser mantidos registros sobre irregularidades, precedentes, exceções e medidas disciplinares que
existam de cada unidade certificada, de modo a ser possível um fácil acesso às informações e permitir uma
visão geral da situação.

Estas informações devem estar disponíveis, tanto nos arquivos individuais das unidades certificadas como num
arquivo separado.

2.7Dos relatórios anuais de certificação

Os relatórios anuais devem relacionar:

2.7.1número de inspeções executadas;

2.7.2número de unidades certificadas, divididas em grupos por área de atuação;

2.7.3países, estados e municípios nos quais a certificadora opera;

2.7.4freqüência e tipo de irregularidades e as medidas disciplinares adotadas;

2.7.5freqüência e tipo de isenções;

2.7.6freqüência e tipo de reclamações;

2.7.7freqüência e tipo de recursos; e

2.7.8outras áreas de interesse.

2.8Da integridade do sistema

O sistema de certificação deve estar baseado em acordos formais e responsabilidades claras firmados por
todas as partes envolvidas na cadeia de produção de um produto certificado.

As unidades certificadas devem assumir compromissos formais, obrigando-se, entre outras providências, a:

2.8.1seguir as normas de produção e outros requisitos publicados para certificação;

2.8.2consentir com a realização de inspeções, incluindo as realizadas pelo órgão credenciador das
certificadoras;

2.8.3fornecer informações precisas e no prazo determinado;

2.8.4informar a certificadora de quaisquer alterações.

As certificadoras não devem permitir sucessivos ingressos e saídas de unidades certificadas no sistema de
certificação.

2.9Das medidas disciplinares

As certificadoras devem estabelecer e regulamentar medidas disciplinares e sanções, incluindo procedimentos


atinentes às infrações de menor importância.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As medidas disciplinares devem ter efetividade e devem ser aplicadas segundo procedimentos claros.

2.10Da suspensão da certificação

As certificadoras devem adotar procedimentos de suspensão de certificação de lotes de produtos em que


tiverem sido verificadas infrações que afetem a qualidade orgânica dos produtos.

A certificação de uma unidade certificada deverá ser suspensa, por período determinado, nos casos de
irregularidades graves.

2.11Das marcas e certificados

As certificadoras devem possuir diretrizes relativas ao uso de sua marca ou outra referência para a certificação,
devendo exercer controle apropriado sobre o uso de suas licenças, certificados e marcas de certificação.

O uso enganoso de licenças, certificados, marcas ou quaisquer referências indevidas ao sistema de certificação
deve ser submetido a medidas corretivas apropriadas, da mesma forma que no caso de uso das marcas ou
selos em unidades produtoras não-certificadas.

As certificadoras devem possuir procedimentos regulamentados para suspensão e cancelamento de contratos,


certificados e marcas de certificação.

2.12Dos certificados

Os certificados deverão mencionar:

2.12.1nome e endereço da unidade certificada;

2.12.2nome e endereço da entidade certificadora;

2.12.3referência às normas e padrões aplicáveis;

2.12.4produtos ou categorias de produto envolvidos;

2.12.5data de emissão; e

2.12.6validade.

2.13Dos certificados de transação

As certificadoras somente podem emitir certificados se o vendedor fornecer todos os detalhes necessários. A
emissão só pode se dar após a certificadora adotar procedimentos adequados para verificar a veracidade das
informações fornecidas.

Deverão ser adotadas medidas para que os certificados contenham informações suficientes, visando à
prevenção do uso fraudulento.

As cópias dos certificados de transação emitidos serão arquivadas, de modo a permitir fácil acesso nas
auditorias de supervisão nas unidades certificadas.

2.14Das declarações de transação

As certificadoras devem ter regulamentados procedimentos que permitam às unidades certificadas emitir
declarações de transação, que devem conter:

2.14.1o nome do vendedor;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

2.14.2o nome do comprador;

2.14.3a data de entrega;

2.14.4a data de emissão do certificado;

2.14.5descrição clara dos produtos, sua quantidade e, quando relevante, a qualidade e a estação de colheita;

2.14.6números de lote e outros tipos de identificação (marcas) dos produtos;

2.14.7referência à fatura ou ao conhecimento de embarque;

2.14.8a indicação da certificadora e das normas aplicáveis;

2.14.9a declaração da unidade certificada de que o produto foi produzido de acordo com as normas aplicáveis;
e, quando aplicável

2.14.10 certificação de matérias-primas e qualquer outra certificação necessária.

2.15Da informação para as unidades certificadas

As certificadoras assegurarão que cada unidade certificada terá, por ocasião da solicitação e no decurso do
processo de certificação:

2.15.1versões atuais das normas aplicáveis;

2.15.2descrições adequadas dos processos de inspeção, certificação e recursos;

2.15.3informação de mudanças nas normas e procedimentos pertinentes em tempo hábil;

2.15.4certificados atuais ou outra prova por escrito da situação da certificação; e

2.15.5cópias de contratos e licenças válidas.

As unidades certificadas devem ter direito a cópias dos relatórios de inspeção e a qualquer outra
documentação relacionada à certificação da produção, a menos que os documentos sejam
confidenciais, como as reclamações arquivadas, e as seções confidenciais dos relatórios de inspeção e
outros, de acordo com os critérios de confiabilidade definidos pelas certificadoras.

2.16Dos registros e documentação mantidos pelas unidades certificadas

As certificadoras devem requerer que cada unidade certificada tenha um sistema de registro adaptado ao tipo
de produção que permita a obtenção, por ela, de informações para realizar as verificações necessárias sobre
produção, armazenamento, processamento, aquisições e vendas.

2.17Da produção subcontratada

As certificadoras devem possuir regras para a produção subcontratada, situações em que uma unidade
certificada tem produção subcontratada de outras entidades prestadoras de determinados serviços como
armazenamento, manipulação, processamento, etc, que devem, pelo menos:

2.17.1proibir a subcontratada de comercializar os produtos;

2.17.2aplicar-se exclusivamente a situações em que o processo de produção, o fornecimento das matérias-


primas e as vendas estão sob controle da unidade certificada principal. Normalmente isto significa que a
unidade subcontratada não tem marca no produto; e

2.17.3exigir que a unidade principal tenha responsabilidade completa pela produção subcontratada.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As certificadoras devem determinar que os contratos, entre a unidade certificada principal e a subcontratada,
incluam cláusulas relativas ao cumprimento das normas, à obrigação de fornecimento de informações e
concessão de acesso à certificadora. As certificadoras devem assegurar que cada unidade subcontratada tenha
disponível a versão atual das normas aplicáveis e uma descrição geral do sistema de certificação.

Devem ser adotados procedimentos normais de inspeção das unidades subcontratadas.

2.18Da certificação de associações de produtores

As certificadoras que adotarem procedimentos especiais para certificação de pequenos produtores, projetos de
assentamento e outras circunstâncias semelhantes devem possuir regulamentação dos procedimentos para
inspeção destes grupos que, freqüentemente, diferem dos aplicáveis às unidades certificadas individuais.
Nestes casos, pode ser adotada sistemática de inspeções anuais que não abranja todas as unidades
individuais.

Para a certificação desses grupos, todas as unidades individuais têm que ser objeto de inspeção inicial pela
certificadora.

As certificadoras devem restringir sua atuação aos grupos que atendam aos seguintes requisitos:

2.18.1constituídos de produtores que adotem sistemas agrícolas e produção semelhantes;

2.18.2possuam estratégias de mercado coordenadas, para permitir a supervisão do fluxo de produção;

2.18.3tenham organização e estrutura suficientes para assegurar um sistema de controle interno que garanta a
adoção, por parte das unidades individuais, dos procedimentos regulamentados;

2.18.4possuam registros do controle interno para fiscalização pela certificadora onde esteja assegurado que:

2.18.4.1 as inspeções internas em todas as unidades sejam realizadas ao menos uma vez por ano;

2.18.4.2 novas unidades somente sejam incluídas após a realização de inspeções pela certificadora;

2.18.4.3 as inspeções internas abordam adequadamente a adesão das unidades individuais aos objetivos
comuns do grupo;

2.18.4.4 os casos de irregularidades são adequadamente conduzidos;

2.18.4.5 registros adequados de inspeções sejam mantidos pelo sistema interno de controle;

2.18.4.6 os registros internos correspondem aos fatos observados pela certificadora;

2.18.4.7 as unidades têm adequada compreensão das normas e padrões, e o sistema de controle interno
auxilia na adoção de seus princípios.

Todas as unidades do grupo devem ter acesso a uma cópia das normas ou das seções pertinentes das normas,
apresentadas de forma adaptada ao seu modo de expressão, capacidade e conhecimento.

A administração do grupo deve assinar um acordo formal, para definir a responsabilidade do grupo e de seu
sistema de controle interno, em que deve ser incluída a exigência do compromisso de todas as unidades
individuais ao cumprimento das normas vigentes e de permitir a realização de inspeções.

As inspeções da associação devem ser feitas pelas certificadoras, devendo incluir inspeções de uma
porcentagem de unidades individuais. A porcentagem de unidades sujeita a inspeção, no mínimo de 25% dos
associados e cujos critérios de cálculo devem estar definidos pela certificadora, levando em conta o número de

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

operações envolvidas, o tamanho de cada uma, o grau de uniformidade, o sistema de produção e a estrutura
administrativa.

A avaliação do sistema de controle interno deve ser empreendida pelo menos uma vez ao ano pelas
certificadoras, devendo ser totalmente documentada.

As certificadoras devem manter informações básicas sobre todas as unidades individuais. Estas informações
deverão incluir a identificação, nome, ano de ingresso no grupo, mapa de localização da área, área da
propriedade, receita proveniente das colheitas, as últimas inspeções interna e externa e os registros de
produção.

A certificadora deve ter regulamentada uma política clara de sanções no caso de irregularidades frente às
normas e padrões, incluindo a identificação das falhas no sistema de controle interno, como situações em que
irregularidades graves forem apuradas pelas certificadoras e não pelo sistema de controle interno. Devem
possuir procedimentos para suspensão da certificação da associação, nos casos de falha do sistema de
controle interno.

2.19Da transferência de certificação

As certificadoras credenciadas somente podem aceitar a transferência de certificação de produtos certificados


por outra certificadora credenciada. Nos casos de produtos importados, pode ser aceita a transferência quando
o CNPOrg houver reconhecido a equivalência dos critérios e procedimentos oficiais utilizados no país de
origem.

Os procedimentos adotados pelas certificadoras para transferência de certificação devem estar claramente
regulamentados.

Deve haver um registro formal de certificadoras, credenciadas ou reconhecidas, que são aceitas. A inclusão
neste registro se faz com base em visita recente e adequada para avaliação e relatório, conduzida pela
certificadora que concede a aceitação ou por terceiros, no credenciamento junto ao Órgão Colegiado Nacional e
no reconhecimento, pelo CNPOrg, de sistema de credenciamento considerado equivalente ao nacional, para
certificadoras estrangeiras registradas no Brasil, ou certificadoras estrangeiras cujos produtos estão sendo
importados.

As certificadoras devem demonstrar, para cumprimento do credenciamento do Colegiado Nacional, a


equivalência do outro sistema de certificação.

Toda a documentação dos sistemas registrados, inclusive normas, procedimentos de inspeção e certificação e
relatórios de avaliação devem estar disponíveis.

Deve ser assinado um contrato entre as certificadoras, que determine as obrigações das partes, o que também
pode ser um acordo multilateral. Este contrato deve observar, pelo menos, as seguintes providências:

2.19.1o âmbito do mútuo reconhecimento;

2.19.2os procedimentos e condições para aceitação de um produto certificado pela outra parte;

2.19.3a obrigação da informação à outra parte, das alterações do programa ou das normas e padrões;

2.19.4a obrigação da informação à outra parte, sobre a produção certificada;

2.19.5as indenizações;

2.19.6a obrigação de informação à outra parte, nos casos de cancelamento de credenciamento ou ocorrências
similares;

2.19.7o direito de inspecionar o desempenho da outra parte;

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

2.19.8o direito de acesso a informações relevantes;

2.19.9o regulamento de confidencialidade; e

2.19.10as providências para a solução de controvérsias.

A aprovação de transferência esta sujeita a atualizações e revisões periódicas. Os produtores, processadores,


comerciantes ou outras unidades certificadas devem ser prontamente informados sobre qualquer alteração na
situação das certificadoras reconhecidas.

2.20Da recertificação de produtos

As certificadoras somente podem aceitar projetos ou produtos certificados por outras certificadoras se as
seguintes condições forem preenchidas:

2.20.1os procedimentos e a responsabilidade da tomada de decisões devem estar claramente regulamentados


e seguir os mesmos princípios da própria certificação;

2.20.2os relatórios de inspeção recentes e outra documentação relevante devem estar disponíveis;

2.20.3as certificadoras devem avaliar as salvaguardas para garantir a integridade e a competência dos
inspetores e das inspeções. A avaliação deve ser documentada e demonstrar a utilização de critérios objetivos;

2.20.4a certificação desses projetos e produtos deve ser feita por um tempo limitado, com fito em critérios
estabelecidos nas normas de cada certificadora, e sujeita a revisões anuais.

2.21Da certificação conjunta

O Órgão Colegiado Nacional reconhece a possibilidade de parcerias ou empreendimentos conjuntos entre


certificadoras, reservando-se o direito de estabelecer critérios pertinentes no futuro. Na ausência dos critérios
específicos para certificação conjunta, deve ser observado o disposto no item 2.19 deste anexo.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

GLOSSÁRIO

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

As definições das palavras e expressões, apresentadas abaixo, se restringem apenas


ao entendimento das mesmas no contexto deste Atlas.

A
Adubo verde: Matéria orgânica adicionada ao solo através do cultivo e incorporação de uma
espécie de cobertura, geralmente leguminosa ou gramínea.

Agentes de controle biológico: Organismos vivos utilizados para regular ou eliminar a


população de outros organismos potencialmente danosos às plantas ou animais.

Agricultura Orgânica: Modelo de produção agrícola, do ramo da Agroecologia, que não


utiliza produtos ou processos de produçãoa que possam gerar alimentos contaminados e de
baixo valor biológico. Se baseia no uso racional do solo; em adubações orgânicas de origem
vegetal ou animal; em rotações e consorciações de culturas e criações; no uso de produtos
alternativos e homeopáticos para controle da pragas, doenças e parasitas; No uso de
produtos em pós-colheita que não deixem resíduos nos alimentos processados; no comércio
justo; no respeito aos trabalhadores e suas famílias e na preservação plena dos
ecossistemas naturais.

Agroecologia: Ciência que estuda e aplica conceitos e princípios ecológicos ao desenho e


manejo de agroecossistemas sustentáveis.

Agroecossistema: Um sistema de produção agropecuária, compreendido como um


ecossistema.

Atividades produtivas: Sistema de produção específico de um produto, que no conjunto


compõem o sistema de produção de uma unidade produtiva.

Auto-sustentação: Processo de gestão do sistema de produção em que se prioriza a


utilização dos recursos internos da propriedade ou unidade de produção, com vistas a obter
o máximo de independência de recursos externos a elas.

B
Banco de sementes do solo: Total de sementes presentes no perfil do solo, nativas ou exóticas
introduzidas de fora da área.

Biomassa: A massa de toda matéria orgânica em um determinado sistema, em um dado momento no


tempo.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Biomassa microbiana do solo: A massa de microrganismos presentes numa determinada área ou


volume de solo, num dado momento no tempo.

Biota do solo: Toda diversidade de espécies de microrganismos presentes no solo.

C
Cadeia produtiva: Todo processo produtivo de um produto orgânico, desde sua origem até a entrega
final ao consumidor, envolvendo planejamento, produção ou criação, colheita ou abate,
beneficiamento, processamento, embalagem, transporte e venda.

Ciclos naturais: Ciclos de nutrientes e minerais nos agroecossistemas, que tem efeitos na
produtividade da área. Os ciclos naturais envolvem os solos, as águas, as plantas e os animais.

Cobertura viva: Uma cultura de cobertura que é plantada na mesma área da cultura principal,
intercalada no espaço ou no tempo. Geralmente utiliza-se de ervas espontâneas e espécies de adubos
verdes (leguminosas ou gramíneas).

Comunidade: Todos os organismos que vivem juntos em um determinado local.

Comunidade rural: Grupos de pessoas e famílias que residem num mesmo local (microbacia, vila ou
distrito).

Consumidor: (1) Um organismo que ingere partes ou produtos de outros para obter sua energia
alimentar. (2) Pessoa ou população que consome alimentos para sua manutenção física.

Conversão: Mudança do sistema de manejo anterior para o manejo orgânico, também chamado de
período de transição. Este período começa no início da aplicação do manejo orgânico e se estende até
ao alcance pleno da estabilidade ecológica e eliminação de possíveis resíduos químicos advindos do
manejo anterior. O tempo mínimo do período de transição é variável em função da natureza das
atividades, do mercado e das organizações certificadoras.

Corredor biológico: Faixas de vegetação nativa mantidas para interligação entre reservas florestais,
matas e outras áreas de preservação permanente, para permitir livre movimentação e acesso de animais
no seu habitat natural.

Corredor de refúgio: Faixas de ervas espontâneas, mantidas no agroecossistema, entre e dentro das
áreas de produção, como forma de abrigar insetos predadores e manter um ambiente propício para a
multiplicação de microrganismos benéficos às plantações e aos animais.

Critério: Um meio para julgar se um princípio foi adequadamente cumprido ou não. Pode ser avaliado
de forma plena (aprovação ou exclusão) ou em escala de intensidade no atendimento do respectivo
princípio.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

Cultivos em Faixa: Desenho das áreas cultivadas, implantadas em faixas intercalares entre espécies
comerciais ou entre estas e a vegetação espontânea do local.

D
Diversidade: (1) O número ou variedade de espécies em um local, comunidade, ecossistema ou
agroecossistema. (2) O grau de heterogeneidade dos componentes bióticos de um ecossistema ou
agroecossistema.

Diversidade biológica ou Diversidade ecológica: (1) A variabilidade entre organismos vivos de todas
as origens, incluindo terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e complexos ecológicos dos
quais fazem parte; isto inclui diversidade dentro da espécie, entre espécies e, entre espécies e seu
ecossistema. (2) O grau de heterogeneidade da composição de espécies, potencial genético, estrutura
espacial vertical ou horizontal, estrutura trófica, funcionamento ecológico e mudança no tempo, de um
ecossistema ou agroecossistema.

Diversificação: Forma pela qual se opera num agroecossistema, visando aumentar a diversidade
biológica ou ecológica existente.

E
Ecossistema: Uma comunidade de plantas e animais, e seu ambiente físico, que funcionam juntos, de
forma complementar, formando uma unidade interdependente.

Equilíbrio ecológico: Uma condição caracterizada por um equilíbrio geral no processo de modificação
de um ecossistema, que resulta em estabilidade relativa da estrutura e função, apesar de haverem
modificações e perturbações constantes, em pequena escala. Geralmente o termo se aplica aos insetos e
microrganismos atuantes num sistema de produção.

Ervas espontâneas: Espécies de plantas que se originam da área de cultivo, podendo ser espécies
nativas ou exóticas já estabelecidas no banco de sementes do solo.

Ervas nativas: Espécies nativas de plantas ocorrentes dentro das áreas cultivadas.

Espécies nativas: Espécies que se apresentam naturalmente na região, originadas da própria área.

Espécies exóticas: Espécies introduzidas na região, que não são nativas ou originadas da própria área.

544
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

F
Fator abiótico: Um componenente não vivo do ambiente, como solo, nutrientes, luz, fogo ou umidade.

Fator biótico: Um aspecto do ambiente relacionado com organismos vivos e suas interações.

G
Genótipo: A informação genética de um organismo considerada como um todo.

H
Habitat: O ambiente particular, caracterizado por um conjunto específico de condições ambientais, no
qual ocorre uma determinada espécie.

Húmus: A fração de matéria orgânica, resultante da decomposição e mineralização de material


orgânico.

M
Manejo orgânico: Manejo operativo dos recursos naturais da unidade de produção, de acordo com as
normas técnicas da agricultura orgânica.

Micorriza: Ligações fúngicas simbiontes com raízes de plantas, através das quais os fungos fornecem
água e nutrientes a uma planta e ela fornece açúcares aos fungos.

Mineralização: O processo pelo qual os resíduos orgânicos são decompostos para liberar nutrientes
minerais que podem ser utilizados pelas plantas.

545
Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

O
Organismo: (1) Um indivíduo de uma espécie. (2) Um conjunto de sistemas inter-relacionados,
operando harmonicamente.

Organismos geneticamente modificados ou OGM’s: Organismos biológicos que tenham sido


induzidos a ter alterações genéticas, mediante qualquer técnica.

P
Paisagem: Um mosaico geográfico composto por ecossistemas que interagem como resposta à
influência da interação dos solos, do clima, da topografia, da biota e das influências humanas em uma
área.

Período de transição: Período de tempo que começa no início da aplicação do manejo orgânico e se
estende até ao alcance pleno da estabilidade ecológica e eliminação de possíveis resíduos químicos
advindos do manejo anterior. Vide Conversão.

População: Um grupo de indivíduos da mesma espécie que vive na mesma região geográfica. Também
usado genericamente para referir-se a todas as pessoas do planeta.

Princípio: Uma regra ou elemento essencial para o cumprimento correto do manejo orgânico dos
sistemas produtivos.

Produtividade: (1) Os processos e estruturas ecológicas em um agroecossistema que possibilitam a


produção. (2) Rendimento da produção por unidade de área.

Produto orgânico: Alimentos produzidos de acordo com as normas técnicas da agricultura orgânica,
oriundos de áreas cultivadas, criações animais, extrativismo, processamento, pesca, dentre outros.

Produtos químicos: Todos os fertilizantes, inseticidas, fungicidas, herbicidas, carrapaticidas,


vermífugos e hormônios, de origem sintética, que se utilizam na agricultura.

R
Rastreabilidade: Possibilidade de um produto ser rastreado, ou seja, ser acompanhado nas suas
diversas fases de geração ou obtenção.

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Souza & Resende, 2003. Manual de Horticultura Orgânica

S
Sazonalidade de preços: Variação dos preços pagos aos produtos agrícolas durante os meses do ano,
provocada por variações climáticas (variação na oferta) e por oscilações do mercado (alteradas pela
demanda).

Sistema orgânico de produção: Unidade de produção vegetal ou animal, de geração ou processamento


de produtos ou insumos, em conformidade com as normas técnicas da agricultura orgânica.

T
Transgênicos: Vide Organismos Geneticamente Modificados ou OGM’s.

U
Unidade de produção ou Unidade Produtiva: Propriedade, área de criação animal, unidade de
beneficiamento ou área de exploração extrativista, destinadas à obtenção de alimentos.

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