C4T2 - Capítulo 1

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COLETÂNEA IV

“EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CIDADANIA


E POLÍTICAS PÚBLICAS”

TOMO 2
“EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS”

Francisca Mayara Pereira Moreira


Suedio Alves Meira
Antônio Jeovah de Andrade Meireles
Edson Vicente da Silva
(Organizadores)
COLETÂNEA IV
“EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CIDADANIA E
POLÍTICAS PÚBLICAS”
Edson VicEntE da silVa
RodRigo guimaRãEs dE caRValho
(cooRdEnadoREs)

TOMO 2
“EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS“
FRancisca mayaRa PEREiRa moREiRa
suEdio alVEs mEiRa
antônio JEoVah dE andRadE mEiRElEs
Edson VicEntE da silVa
(oRganizadoREs)

UFC
Reitor
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Prof. Pedro Fernandes Ribeiro Neto
Vice-Reitor
Reitor
Prof. Aldo
Pedro Gondim
Fernandes Fernandes
Ribeiro Neto
Pró-Reitor
Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
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Conselho Editorial das Edições UERN
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Isabela Pinheiro Cavalcante Lima
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Projeto Gráfico:
Amanda Mendes de Amorim

Campus Universitário Central


BR 110, KM 48, Rua Prof. Antônio Campos,
Costa e Silva – 59610-090 - Mossoró-RN
Fone (84)3315-2181 – E-mail: [email protected]
Coordenação Editorial
Anderson da Silva Marinho
Andressa Mourão Miranda
Tacyele Ferrer Vieira

Projeto Gráfico
David Ribeiro Mourão

Diagramação
Francisca Mayara Pereira Moreira

Capa e Ilustração
Ana Larissa Ribeiro de Freitas

Revisão
Edson Vicente da Silva
Rodrigo Guimarães de Carvalho

Catalogação
UERN

Catalogação da Publicação na Fonte.


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Educação ambiental em unidades de conservação e políticas públicas/


Francisca Mayara Pereira Moreira... et al (Orgs.) – Mossoró – RN: EDUERN, 2017.

138 p.

ISBN: 978-85-7621-184-6

1. Educação ambiental 2. Integração – Conhecimentos científicos – Saberes tradi-


cionais. 3. Educação ambiental – Desenvolvimento sustentável. 4. Meio ambiente – Ed-
ucação. I. Meira, Suedio Alves. II. Meireles, Antônio Jeovah de Andrade. III. Silva, Edson
Vicente da. IV. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. V. Título.

UERN/BC CDD 372.357

Bibliotecária: Aline Karoline da Silva Araújo CRB 15 / 783

UFC
Prefácio
As universidades, institutos de educação e pesquisa e as escolas públicas devem, cada vez
mais, permeabilizar seus muros, como uma rocha calcária, para permitir uma maior porosidade e
infiltração social. Abrir nossas portas e janelas, para saída e entrada de pessoas cidadãs, estudiosos
e pesquisadores, afinal a população brasileira é quem nos constrói e alimenta.
Nosso retorno socioambiental é construir um tecido junto com os atores sociais, líderes
comunitários, jovens entusiastas, crianças curiosas e velhos sábios. A integração entre os conhe-
cimentos científicos e os saberes tradicionais é a base para um desenvolvimento sustentável e
democrático.
Encontros como o V Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Ter-
ritorial têm sido realizados de forma integrada e aberta para a sociedade em geral. Como uma
grande e imensa árvore que vai se desenvolvendo a partir de seus eventos, dispondo para todos
os seus frutos de diletos e diversos sabores, como essas coletâneas e tomos, cultivados por dife-
rentes pessoas desse nosso imenso terreiro chamado Brasil.
Coube a Universidade Federal do Ceará, através de seu Departamento de Geografia, a re-
alização do evento e a organização final dos artigos que compõem os livros, e às Edições UERN,
pertencente à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, a catalogação e publicação dos
31 livros pertencentes às 07 coletâneas. Essa parceria interinstitucional, que na verdade coaduna
muitas outras instituições, demonstra as redes já estabelecidas de cooperação científica e ideoló-
gica que, em um cenário político-econômico de grande dificuldade para as instituições de ensino
e para a ciência brasileira, se auto-organizam para o enfrentamento dos desafios de maneira ge-
nerosa e solidária.

RodRigo guimaRãEs dE caRValho (uERn)


Edson VicEntE da silVa – cacau (uFc)
sumário
“EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E
POLÍTICAS PÚBLICAS ”
TOMO 2

Considerações soBre edUCação amBiental em Unidades de ConserVação e políti-


Cas púBliCas. ................................................................................................. 07
a geoinFormação e a gestão de programas de edUCação amBiental: programa de
edUCação amBiental da itaipU BinaCional - CUltiVando ágUa Boa (CaB). .............. 16
a sUstentaBilidade na administração púBliCa - Um desaFio a ser alCançado. ......... 30
edUCação amBiental e ComUnidades tradiCionais da apa delta do parnaíBa. ..... 36
edUCação amBiental no projeto “prodUção e elaBoração de material didátiCo a
partir do programa BiodiVersidade nas Costas – parna montanhas do tUmUCUma-
qUe”. ............................................................................................................ 53
meio amBiente e edUCação: inserção do Ceará nas polítiCas de edUCação am-
Biental. ........................................................................................................ 62

paisagens dos sertões: Uma aBordagem soBre preserVação na Unidade de ConserVa-


ção reFúgio de Vida silVestre pedra da andorinha – taperUaBa/Ce. .................... 73
polítiCas púBliCas para a sUstentaBilidade amBiental na serra do espinho/pB. ... 82
projetos de edUCação amBiental realizados pela seCretaria mUniCipal de edUCa-
ção de santarém – pa a partir da lei 9.795/1999. .......................................... 93
reserVa de desenVolVimento sUstentáVel ponta do tUBarão ConheCendo e ViVen-
Ciando o loCal pela Visão de Um morador. ....................................................... 108
rios de teresina e polítiCas púBliCas de ConserVação soB as representações dos
alUnos do ensino médio da rede púBliCa estadUal de ensino. ............................... 115
Unidades de ConserVação mUniCipais em teresina – pi: parqUe amBiental Flores-
ta Fóssil. ..................................................................................................... 131

V Congresso Brasileiro de edUCação amBiental aapliCada e gestão territorial


V CBEAAGT

Considerações soBre edUCação am-


Biental em Unidades de ConserVação e
polítiCas púBliCas

suEdio alVEs mEiRa


Edson VicEntE da silVa
antônio JEoVah dE andRadE mEiRElEs
caRlos sEnna soaREs FaRias

1. Introdução

As Unidades de Conservação podem ser definidas, a grosso modo, enquanto espaços prote-
gidos que apresentam características naturais relevantes, tendo como função assegurar a repre-
sentatividade de amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, ha-
bitats e ecossistemas (BRASIL, 2011). As Unidades de Conservação também se impõem enquanto
uma estratégia de conservação territorial e ferramenta para assegurar o uso sustentável dos recur-
sos naturais e propiciar às comunidades envolvidas o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis em seu interior ou entorno (BRASIL, 2011; DRUMMOND et al, 2010).
Diante a definição supracitada surge algumas indagações, o que levou e quando se instituiu a
necessidade de criação de áreas próprias para a manutenção de habitats naturais? Para responder
essas difíceis questões há de se remeter a um rebuscado referencial histórico, que não se configu-
ra objetivo do presente escrito, mas a grosso modo é possível dizer que a resposta perpassa pelas
diferentes fases da relação que o Homem, enquanto ser social, apresenta com a natureza.
Santos (1992, p. 97) aborda que os primeiros grupos humanos mantinham uma relação “ami-
gável” com a natureza, já que a organização de produção, da vida social e do espaço respondia
as necessidades e desejos reais, diante disso não ocorria a necessidade de delimitar áreas especí-
ficas para a conservação do ambiente, porém, com o tempo as necessidades de comércio entre
coletividades, a expansão do capitalismo, introduziram “nexos novos e também novos desejos e
necessidades e a organização da sociedade e do espaço tinha de se fazer segundo parâmetros
estranhos às necessidades íntimas ao grupo”. Nessa segunda fase o Homem interpreta a natureza
enquanto um bem de consumo, o que acaba por ocasionar uma crise ambiental com a diminui-
ção do potencial biológico em escala global tornando necessário a instituição de áreas protegi-
das para salvaguardar habitats naturais, espécies, bem como, espaços de lazer, já que o Homem
mesmo sendo um animal social, que se distanciou de sua “natureza primitiva” com o desenrolar
da história da sociedade, ainda necessita do contato com a natureza para a manutenção do seu
bem-estar.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 7


V CBEAAGT

Pontuar onde e quando se estabeleceu a primeira Unidade de Conservação (UC) é algo com-
plexo já que os registros históricos são variados quando se tratam desse assunto, porém é credi-
tado ao Parque Nacional de Yellowstone, localizado no estado do Wyoming, Estados Unidos da
América, criado em 1872, o título de primeiro Parque Nacional do mundo já que é apenas nesse
momento que técnicas e tecnologias especificas passam a ser empregadas para a conservação
estética e científica da natureza (MENIS e CUNHA, 2011).
A partir da segunda metade do século XIX as UCs passam a se consolidar e popularizar em
todo o mundo, sendo que um avanço expressivo é visualizado a partir da década de 1960 median-
te o crescimento da corrente ambientalista em escala mundial. A criação dessas áreas protegidas
são incentivas enquanto uma das ferramentas na busca da solução da crise ambiental que tem se
instaurado mediante a intensificação do modo de produção capitalista. Movimentos de contra-
cultura que se intensificam nesse período tem na busca de uma relação mais sustentável do ho-
mem com a natureza um dos seus pressupostos, esses tentam criar uma nova lógica de consumo,
bem como de políticas públicas visando atingir e influenciar diferentes esferas da sociedade, seja
o governo, empresas privadas, organizações não governamentais ou público comum.
No caso brasileiro a primeira Unidade de Conservação foi o Parque Nacional de Itatiaia no
Estado do Rio de Janeiro, nos anos 1930, o que demonstra que as ações em torno da proteção
ambiental são antigas apesar de ainda incipientes, principalmente quando se leva em considera-
ção alguns biomas como a Caatinga e o Cerrado. No ano 2000, com a Lei n° 9.985 de 18 de junho,
houve um grande avanço na instituição de áreas protegidas em âmbito nacional com a criação do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que seria regulamentada dois anos após.
As Unidades de Conservação integrantes do SNUC podem ser divididas em dois grandes gru-
pos, as de proteção integral, que apresentam maiores limitações de uso por parte da população, e
as de uso sustentável (Tabela 1). As Unidades de Conservação brasileiras podem ser regidas pelos
três níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal).

Unidades de Proteção Integral Unidades de Usos Sustentável


1 – Estação Ecológica (Esec) 1 – Área de Proteção Ambiental (APA)
2 – Reserva Biológica (Rebio) 2 – Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie)
3 – Parque Nacional (Parna) 3 – Floresta Nacional (Flona)
4 – Monumento Natural (MN) 4 – Reserva Extrativista (Resex)
5 – Refúgio de Vida Silvestre (RVS) 5 – Reserva de Fauna (Refau)
6 – Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS)
7 – Reserva Particular do Patrimônio Natural (PRRN)
Tabela 1 – Tipos de Unidade de Conservação.
Fonte: (ICMBio, 2011, p.22).

Drumonnd et al (2010, p. 350) expõem que os principais objetivos e diretrizes contemplados


pela Lei do Snuc partem da preocupação em quatro pontos específicos, sendo eles:

(1) a conservação da biodiversidade em seus três níveis fundamentais (diversidade ge-


nética, de espécies e de ecossistemas), (2) o uso sustentável dos recursos naturais, (3) a
participação da sociedade e (4) a distribuição equitativa dos benefícios auferidos por in-
termédio da criação, implementação e gestão das UCs.

Para alcançar esse conjunto de objetivos, os quais se apresentam um caráter abrangente, di-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 8


V CBEAAGT

versas ferramentas e ações são utilizadas, porém é certo afirmar que uma merece destaque devido
a sua capacidade integradora e interdisciplinar, funcionando enquanto base para a consolidação
de uma atitude sustentável por parte da população, sendo ela a Educação Ambiental.
Rodriguez e Silva (2016) apontam que a Educação Ambiental apresenta múltiplas definições,
as quais partem das diversas vivências e concepções da realidade dos povos, diante disso a Educa-
ção Ambiental pode adquirir um caráter técnico, comportamental, ético, ético-social, entre outros.
Apesar dessa diversidade de significações e correntes teórico-metodológicas os autores apontam
que a maioria delas interpretam a Educação Ambiental enquanto

(...) um processo de aprendizagem e comunicação das questões relacionadas com o am-


biente, tanto em âmbito global, natural, como no criado pelo homem. Isso permitiria aos
educandos participar de forma responsável e eficaz na prevenção e solução dos proble-
mas ambientais, na gestão do uso dos recursos e serviços, bem como para a elevação da
qualidade de vida para a conservação e proteção ambientais (RODRIGUEZ e SILVA, 2016).

As Unidades de Conservação são espaços propícios para o desenvolvimento de atividades


voltadas para a Educação Ambiental, tanto em medidas formais ou informais, já que são com-
postas por locais que preservam os ambientes naturais e os aspectos culturais. A importância
dessas áreas para o desenvolvimento dessa atividade é tamanha que o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, órgão gestor das Unidades de Conservação em âmbito federal,
expõe categoricamente que dentre as suas finalidades está à necessidade de “fomentar e executar
programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação
ambiental” (BRASIL, 2016, p. 30).
Diante disso as Unidades de Conservação podem ser consideradas como as melhores “salas
de aula” na consolidação de uma educação voltada para o desenvolvimento sustentável, funcio-
nando enquanto contraponto entre os ambientes antropizados e a “primeira natureza”, enquanto
parâmetro para uma relação de simbiose com o meio. Por outro lado a consolidação de atividades
educacionais gera o aprofundamento da consciência ambiental, resultando numa maior preser-
vação e diminuição dos riscos e ameaças a manutenção dessas áreas protegidas.
É certo afirmar, após a discussão anterior, que a criação de territórios protegidos sobre a
figura de Unidades de Conservação e a instituição de ações de Educação Ambiental devem ser
encaradas pelos gestores enquanto uma política pública. As Políticas Públicas são definidas por
Rua (1998) enquanto ações governamentais no nível federal, estadual e municipal, que tem como
objetivo desenvolver o bem coletivo, já Viana Junior (apud VALLEJO, 2003, p. 91) traz uma defini-
ção mais complexa e classifica Políticas Públicas como

(...) uma ação planejada do governo que visa, por meio de diversos processos, atingir al-
guma finalidade. Esta definição, agregando diferentes ações governamentais introduz a
idéia de planejamento, de ações coordenadas. Entretanto, as ações classificadas como
políticas públicas são realizadas por diferentes organismos governamentais, nem sempre
articulados entre si.

A sociedade nas últimas décadas, como citado anteriormente, tem voltado a sua atenção
para os aspectos ambientais mediante a crise que tem se instaurado devido ao uso excessivo dos
elementos naturais. Ocorre hoje uma busca pelo consumo de produtos ecologicamente correto
e por ações sustentáveis como nunca antes na história. Esse fato deve perpassar por todos os
estratos sociais, não ficando apenas no consumidor final, na população comum, mas ser alvo de
planejamento das empresas e principalmente dos governos.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 9

V Congresso Brasileiro de edUCação amBiental aapliCada e gestão territorial


V CBEAAGT

A questão ambiental no âmbito político é um assunto sensível e que demanda uma mudança
de paradigmas, já que muitas vezes a conservação da natureza é encarada pelos políticos enquan-
to um empecilho para o desenvolvimento econômico. A falta de conhecimento dos gestores nos
temas relativos às ciências ambientais gera uma ineficiência no cumprimento e monitoramento
das leis conservacionistas brasileiras, que tem uma legislação complexa nessa área e apontada
por muitos como uma das melhores em escala mundial, bem como na cobrança por novas me-
didas que venham a ser necessárias. Falta uma visão de futuro, de enxergar as capacidades e os
limites do ambiente.
Para auxiliar na mudança do aspecto acima citado o papel da Academia é de suma impor-
tância, essa deve desenvolver trabalhos ligados à área ambiental nas mais diversas disciplinas.
Sempre que possível os estudos devem apresentar uma linguagem acessível servindo enquanto
base para medidas de planejamento ambiental e conscientização da importância de se entender
e conservar os elementos naturais. Nesse parâmetro estudos em Unidades de Conservação e no
campo da Educação Ambiental devem ser incentivados, sendo o presente livro um aparato de
experiências ligadas a essas temáticas.
Durante o V Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial foram
apresentados doze trabalhos científicos involucrados em Unidades de Conservação e/ou com te-
mas relacionados a Educação Ambiental e Políticas Públicas. Esses trabalhos foram realizados em
diferentes ambientes naturais e tendo como parâmetro uma diversidade de culturas.
Cada um dos capítulos do livro será discutido de maneira sintética e objetiva, de forma a se
condensar o conteúdo de cada uma das pesquisas apresentadas no evento. De forma completa,
os artigos que constituem esse livro faz parte da coletânea denominada “Educação Ambiental,
Cidadania e Políticas Públicas” que é constituída por cinco tomos.

2. Experiências Variadas em Educação Ambiental e Políticas Públicas

A realização de trabalhos com enfoque em atividades de Educação Ambiental em unidades


de conservação e políticas públicas voltadas para a preservação da natureza contribuem para a
popularização de conceitos e temas relativos ao desenvolvimento sustentável e na consolidação
de uma corrente ambientalista capaz de transpassar os muros da academia atingindo os agentes
responsáveis pelo planejamento territorial e a sociedade como um todo.
Diante disso pretende-se nesse momento relatar de forma síntese os exemplos e estudos de
caso presentes nesse livro. Os artigos comportam análises realizadas em múltiplas abordagens,
por meio do uso de ferramenta de geoprocessamento, discussões no âmbito legal, abordagens
etnológicas, entre outras, assim como diversas escalas de atuação, apresentando estudos em nível
estadual, municipal e local, diversidade essa que enriquece o campo da educação ambiental e
gestão territorial e multiplica a capacidade de replicação das metodologias utilizadas.
O capítulo “Geoinformação e a Gestão de Programas de Educação Ambiental: Programa de Edu-
cação Ambiental da Itaipu Binacional – Cultivando Água Boa” aborda como o uso de geotecnolo-
gias constituem uma importante ferramenta na gestão de programas voltados para a Educação
Ambiental. Por meio de uma rica discussão teórica e tendo como estudo de caso o Programa de
Educação Ambiental desenvolvido pela Itaipu Binacional e parceiros na Bacia Hidrográfica do Pa-
raná 3, no âmbito do Programa Cultivando Água Boa, o estudo realiza o mapeamento dos atores
sociais e das ações desenvolvidas o que possibilita visualizar as capilaridades da mobilização e da
força social associada ao mesmo, o qual tem sua estrutura enraizada em intervenções educativas.
Porém, deve ser salientado que, tão importante quanto os dados obtidos, o escrito contribui en-
quanto incentivo (e modelo metodológico) na realização de experiências que integre do uso de
geotecnologias à Educação Ambiental.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 10


V CBEAAGT

Partindo para a outra temática desse livro o capítulo “A Sustentabilidade na Administração


Pública - Um Desafio a Ser Alcançado” propõe a discussão da aplicabilidade do conceito de sus-
tentabilidade em órgãos públicos, tendo como foco especial a abordagem de projetos de cunho
sustentáveis enquanto política pública. Por meio de um extenso levantamento bibliográfico sobre
a questão ambiental e a aplicação de questionários com gestores públicos do município de Ilha
das Flores, estado de Sergipe, o artigo aborda a percepção e o conhecimento dos agentes do
poder executivo local em relação à adoção de medidas de projetos vinculados para a inserção de
redução de passivos ambientais e, consequentemente, custos para o município.
Como resultado os autores expõem que a maioria dos gestores públicos pesquisados des-
conhece a importância da sustentabilidade como um aliado ao desenvolvimento local. Fato esse
que contribui no desencadear de medidas que não concebem as limitações de uso dos ambientes
físicos e culturais o que resulta em um desgaste dos mesmos. O presente trabalho surge então
enquanto indagação, “em que nível os gestores municipais brasileiros compreendem as questões
ambientais? Os secretários, vereadores e prefeitos concebem os pressupostos de uma gestão vol-
tada para o desenvolvimento sustentável?” Tais questões são de suma importância para a institui-
ção de medidas reais de conservação ambiental e melhoria da qualidade de vida dos brasileiros,
sendo então a realização de trabalhos como o apresentado de suma importância enquanto diag-
nóstico da capacitação dos gestores públicos.
Como citado anteriormente a Educação Ambiental constitui uma das mais importantes ações
no desenvolvimento e difusão de práticas sustentáveis, sendo as Unidades de Conservação um
local propício para a instituição de atividades de caráter formal ou informal. Diante disso o capí-
tulo “Educação Ambiental e Comunidades Tradicionais da APA Delta do Parnaíba” se insere nesse
contexto apresentando como objetivo principal sensibilizar as comunidades sobre os resultados
das ações antrópicas na natureza.
Para alcançar o resultado pretendido os autores realizaram a aplicação de questionários se-
miestruturados e discussão teórica sobre temas relacionados a Educação Ambiental e atividades
ecoturísticas. O estudo tem como foco a Comunidade Carnaubeiras que passa por um processo de
abertura às práticas turísticas mediante a valorização do espaço do Delta do Parnaíba a esse tipo
de atividade. Foi realizado uma descrição das características socioeconômicas da população e de
como essa se relaciona com os recursos naturais no seu entorno. Percebesse por fim que a Comu-
nidade Carnaubeiras busca a instituição de um turismo de base local, com viés ecoturístico, onde
o seu legado histórico e cultural seja parte do atrativo e um meio de preservação dos elementos
naturais presentes.
O capítulo “Educação Ambiental no Projeto ‘Produção e Elaboração de Material Didático a partir
do Programa Biodiversidade nas Costas – PARNA Montanhas do Tumucumaque’” constitui a descri-
ção das experiências vivenciadas durante a realização da primeira fase do Projeto de Extensão em
questão, o qual foi realizado pelo Laboratório de Pesquisa e Ensino de Geografia (LAPEGEO) da
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
O projeto que buscou contribuir para a formação e o aperfeiçoamento de alunos e profes-
sores do curso de Geografia a partir da elaboração de materiais didáticos voltados para práticas
de Educação Ambiental transcende os limites do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque,
localizado no estado do Amapá, e se ergue enquanto modelo a ser seguido mediante a necessi-
dade de criação de novas metodologias passíveis de replicação em meio a atividades formais e
informais de educação ambiental tendo como alicerce a população local, ou seja, o etnoconheci-
mento. Por meio do contato com as paisagens, os lugares, os territórios, sujeitos, culturas e práti-
cas educativas nos campos do Ensino de Geografia e Educação Ambiental foram elaborados um
conjunto de materiais didáticos composto por um gibi, jogo de tabuleiro e um diário de campo
expressando e propondo narrativas geográficas sobre o Parque Nacional Montanhas do Tumucu-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 11


V CBEAAGT

maque a partir da experiência vivida.


Em “Meio Ambiente e Educação: Inserção do Ceará nas políticas de educação ambiental” é rea-
lizado uma discussão teórica sobre a relação entre o campo ambiental e a educação tendo como
foco principal analisar a inserção do Estado do Ceará nas Políticas de Educação Ambiental. É re-
alizado uma ampla análise histórica do conceito da Educação Ambiental em termos globais e
uma análise das disposições básicas traçadas em âmbito federal pela Lei de Diretrizes e Bases
de Educação Nacional e pela Política Nacional de Educação Ambiental. Posteriormente o estudo
apresenta um enfoque estadual discutindo a inclusão do Estado do Ceará nessas políticas a fim de
inferir quanto a uma estrutura mínima de conscientização para a proteção e promoção do meio
ambiente. A estudo salienta a importância da institucionalização da Educação Ambiental no currí-
culo formal das escolas nos diferentes estágios educativos, sendo que o mesmo deve ser realizado
de forma integrada e crítica, buscando o caráter interdisciplinar característico desse campo.
O capítulo “Paisagens dos Sertões: Uma Abordagem sobre Preservação na Unidade de Conserva-
ção Refúgio de Vida Silvestre Pedra da Andorinha – Taperuaba/CE” realiza uma análise das práticas
de educação ambiental presentes nessa unidade de conservação do município de Sobral, Estado
do Ceará, bem como a divulgação da importância de preservar o bioma Caatinga. O trabalho,
alçando de técnicas de geoprocessamento e trabalhos de campo, apresenta como produto princi-
pal a delimitação cartográfica de trilhas ecológicas onde é possível ter contato direto com o meio
ambiente e desenvolver atividades de educação ambiental significativas, provocantes, temáticas,
organizadas e prazerosas. Os autores salientam que nos dias atuais o espaço, o meio ambiente,
deve apresentar uma ressignificação, deixar de ter somente o status de moradia, para ser o lugar
onde se sente o dever de preservar e conviver sustentavelmente.
Em “Políticas Públicas para a Sustentabilidade Ambiental na Serra do Espinho/PB” é analisado as
políticas públicas captadas em diversas comunidades presentes na Serra do Espinho, Estado da
Paraíba. As ações adquirem importância enquanto uma contribuição real ao desenvolvimento re-
gional e local, já que se comporta enquanto amenizador de disparidades sociais. As comunidades
da Serra do Espinho já se beneficiaram de políticas públicas como o Luz Para Todos, que objetiva a
universalização de energia elétrica em localidades rurais, um projeto de âmbito federal que visa a
implantação de cisternas, do Programa Nacional de Fortalecimento Agricultura Familiar (PRONAF)
que incentivou a implantação de horticultura nas comunidades e atualmente foi feito um projeto
para o PRONAF/MULHER que resultaria em um investimento para estabelecimento de atividades
voltadas para a pecuária. Apesar dos programas já institucionalizados nas comunidades Ouricuri,
Poço Escuro, Titara e o Assentamento Veneza, alvos do estudo, é salientado pelos autores a neces-
sidade de novas medidas, bem como a organização e capacitação de associações de moradores
para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento socioeconômico dos locais estudados.
O capítulo “Projetos de Educação Ambiental Realizados pela Secretaria Municipal de Educação
de Santarém – PA a partir da lei 9.795/1999” traz uma série de medidas e ações desenvolvidas em
âmbito municipal após a instituição da referida lei que identifica o poder público enquanto um
dos principais responsáveis no desenvolvimento de medidas de Educação Ambiental. Por meio de
uma abordagem qualitativa-quantitativa o estudo busca realizar um aparado geral dos principais
métodos de sensibilização utilizados nos projetos desenvolvidos, os quais são compreendidos por
seminários e oficinas, seguidos de feiras e treinamentos, bem como das principais temáticas abor-
dadas as quais foram Educação Ambiental, Resíduo e Meio Ambiente. O presente artigo surge
enquanto suporte para a cobrança de ações efetivas de Educação Ambiental por parte das popu-
lações às Secretarias Municipais de Educação em todo o território nacional por meio da exposição
das leis que embasam essa requisição e de um modelo com bom índice de sucesso.

Em “Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, Conhecendo e Vivenciando o

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 12


V CBEAAGT

Local pela Visão de um Morador” é possível desfrutar da construção histórica dessa Unidade de
Conservação na cidade litorânea de Macau, Estado do Rio Grande do Norte, não com base em
artigos científicos, relatórios técnicos ou em discurso estrangeiro, mas pelas palavras de que tem
esse espaço enquanto dia-a-dia, enquanto cotidiano e pertencimento, enquanto lugar.
No escrito as arguições do morador são acrescidas de conceitos e legislações que permeiam
as temáticas das Unidades de Conservação, sendo possível distinguir ao final que a criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão foi de suma importância, tanto para
a conservação e preservação do meio ambiente daquele local, como também para a sociedade,
apesar da mesma não conseguir visualizar dessa forma em muitos casos. Os autores acrescentam
que deve-se buscar brevemente conservar e melhorar as fragilidades socioambientais que ainda
persistem, mesmo após dez anos de criação da Unidade de Conservação, para elas não se torna-
rem problemas futuros.
A única entre as capitais nordestinas localizadas no interior do continente a cidade de Tere-
sina tem a sua história, identidade e composição ambiental interligada aos cursos hídricos que
cortam o seu território. No capítulo “Rios de Teresina e Políticas Públicas de Conservação sob as Re-
presentações dos Alunos do Ensino Médio da Rede Pública Estadual de Ensino” é possível entender
a importância que os rios Parnaíba e Poti apresentam para a disposição do desenhado urbano e
enquanto elemento natural.
O artigo busca expor as representações dos alunos do nível básico de ensino de Teresina-PI
sobre as políticas públicas ambientais, analisando o caso de suas proposições direcionadas aos
rios Parnaíba e Poti e discutindo as normatizações legais ligadas ao ambiente e as funções dos
diversos atores sociais envolvidos na conservação e preservação destes rios. Sendo que para tal
foi alçado do uso de oficinas didáticas. Os resultados obtidos no estudo expôs a falta de conhe-
cimento por parte dos alunos sobre conceitos relacionados à temática ambiental, percebendo
mudanças nas representações dos participantes após a realização da atividade prática. Sendo as-
sim a instituição de atividades como as desenvolvidas no presente estudo dispõem de resultados
válidos ao gerar comportamentos ativos e comprometidos dos alunos, sendo importante a sua
replicação em diferentes locais e escalas.
Levantar uma discussão sobre o processo de constituição das Unidades de Conservação de
Desenvolvimento Sustentável (US) e o papel que essas apresentam na resolução de conflitos (para
além da disputa pela posse da terra) na zona costeira do Ceará configura o escopo do capítulo
intitulado “Unidades de Conservação de Desenvolvimento Sustentável no Ceará: Direitos, Processos e
Resolução de Conflitos”. Por meio de uma fundamentação teórica, levantamento histórico, da aná-
lise da atual situação de US já estabelecidas, como as Reservas Extrativistas do Batoque e da Prai-
nha do Canto Verde, e de um diagnóstico das propostas vigentes o estudo se consolida enquanto
uma importante ferramenta para o entendimento da instituição dessas unidades enquanto uma
estratégia de manutenção de comunidades tradicionais e de garantia do direito aos territórios.
A última experiência presente nesse livro é encontrada no capítulo “Unidades de Conservação
Municipais em Teresina – PI: Parque Ambiental Floresta Fóssil” o qual vem reafirmar a importância
das Unidades de Conservação para a manutenção de espaços naturais em diferentes escalas e pa-
râmetros, seja na preservação dos aspectos da biodiversidade e geodiversidade, ou, na melhoria
de qualidade de vida das populações que usufruem ou são cercadas por esses refúgios naturais.
O estudo realiza uma discussão, por meio de levantamento bibliográfico e análise do plano de
manejo, sobre a atual situação do Parque Municipal da Floresta Fóssil, localizado na cidade de
Teresina – PI. Assim como diversas unidades de conservação no Brasil, que apresentam sua deli-
mitação apenas no âmbito legal sem a presença de medidas eficazes de proteção ambiental, foi
constatado que a área se encontra em situação de abandono e descaso. Sendo assim o artigo se
levanta enquanto uma forma de atrair atenção aos órgãos gestores mediante a degradação que

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 13


V CBEAAGT

esse Parque de relevância ambiental e paleontológica única vem sofrendo.

3. Considerações Finais

A Educação Ambiental cada vez mais deve ser incentivada nos diferentes estágios de forma-
ção, do ensino fundamental ao superior, essa deve apresentar um caráter interdisciplinar capaz de
cativar o interlocutor e ser uma ferramenta na consolidação de uma consciência ambiental com-
pleta capaz de gerar atitudes conservacionistas por parte da sociedade. Indo além é certo afirmar
que a Educação Ambiental deve aparecer nos planejamentos enquanto uma Política Pública dada
a importância que apresenta na diminuição da poluição, desmatamento, queimadas e demais
problemas de degradação ambiental, sendo assim uma forma de contenção de gastos para o Es-
tado e melhoria da qualidade de vida da população.
As diversas experiências contidas nesse livro demonstram a riqueza de temas e metodologias
presentes em meio aos estudos no campo da Educação Ambiental em Unidades de Conservação
e Políticas Públicas. Seja por meio de uma abordagem mais teórica ou de caráter prático os estu-
dos demonstram a importância desses campos para a instituição do desenvolvimento sustentá-
vel. É esperado que os mesmos se estruturem enquanto base na elaboração de novos trabalhos
em diferentes áreas pelo Brasil, ou seja, que constituam sementes replicadoras de conhecimento
na busca de uma educação pautada na autonomia e de políticas públicas voltadas no respeito ao
meio ambiente.

Referências
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http://www.mma.gov.br/estruturas/240/_publicacao/240_publicacao-05072011052536.pdf>.
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mática, tendências e desafios. Fortaleza: Expressão Gráfica. 4ª Edição. 2016.

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 15


V CBEAAGT

a geoinFormação e a gestão de pro-


gramas de edUCação amBiental: pro-
grama de edUCação amBiental da
itaipU BinaCional - CUltiVando ágUa
Boa(CaB)
PatRícia gaRcia da silVa caRValho
ValéRia cRiVElaRo casalE
milEna coRnélio oliVi
lEila dE Fátima albERton

Resumo Abstract
Este artigo objetiva demonstrar a partir de breve This article aims to demonstrate, in a brief essay,
ensaio as possibilidades de aplicação da geoin- the possibilities of application of geoinformation
formação na gestão de programas de Educação in the management of Environmental Education
Ambiental. O objeto de análise é o Programa de programs. The subject of this analysis is the Envi-
Educação Ambiental desenvolvido pela Itaipu ronmental Education Program developed by Itai-
Binacional e parceiros na Bacia Hidrográfica do pu Binacional and partners in the Paraná Basin 3.
Paraná 3, no âmbito do Programa Cultivando The program is developed within the scope of the
Água Boa. Trata-se de um convênio de coopera- Programa Cultivando Água Boa (Cultivating Good
ção técnico-científica e financeira entre a Itaipu Water Program), an agreement of technical, scien-
Binacional e a Fundação Parque Tecnológico de tific and financial cooperation between Itaipu
Itaipu, por meio do Centro Internacional de Hi- Binacional and the Fundação Parque Tecnológico
droinformática (CIH). O mapeamento dos atores de Itaipu (Itaipu Technological Park Foundation),
e ações do programa permitiu visualizar a rede made possible by the Centro Internacional de Hi-
de atores sociais, a capilaridade da mobilização droinformática (CIH). The mapping of the agents
social e a força social associada ao programa que and actions of the program allowed visualizing
se estrutura e enraíza a partir das intervenções the network of social agents, the capillarity of so-
educadoras. cial mobilization and the social strength associa-
ted with the program that structures itself and is
Palavras-Chave: Coletivo Educador, Capilarida- rooted in educational interventions.
de, Indicadores de processo e resultados.
Keywords: Collective Educator, Capillarity, Pro-
cess and results indicators.

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V CBEAAGT

1. Introdução

Este artigo objetiva demonstrar a partir de breve ensaio as possibilidades de aplicação da


geoinformação na gestão de programas de Educação Ambiental. O objeto de análise é o Progra-
ma de Educação Ambiental desenvolvido pela Itaipu Binacional e parceiros na Bacia Hidrográfica
do Paraná 3, no âmbito do Programa Cultivando Água Boa. Trata-se de um convênio de coopera-
ção técnico-científica e financeira entre a Itaipu Binacional e a Fundação Parque Tecnológico de
Itaipu, por meio do Centro Internacional de Hidroinformática (CIH) e tem como principal objetivo
promover a interface entre a Educação Ambiental e a geoinformação. As ações do Programa de
Educação Ambiental no território da Bacia do Paraná 3 são desenvolvidas pela empresa Nativa
Socioambiental contratada para a execução. A bacia abrange 28 municípios da região oeste do
Paraná e um município do Mato Grosso (Mundo Novo) e tem importância fundamental para a
dinâmica ecológica e preservação dos recursos hídricos na medida em que é responsável pela
drenagem de afluentes do território para o Rio Paraná e, por isso foi adotada como território de
planejamento e gestão do programa.
As modificações socioambientais que esse território vem sofrendo, sobretudo após as dé-
cadas de sessenta e setenta, trouxeram importantes impactos socioambientais para a região. A
formação das cidades, a expansão da agricultura e da pecuária, com destaque em nível nacional, e
a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no início dos anos 80, alteraram de forma significativa
o perfil territorial e populacional (VIEZZER, 2007).
A missão de “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental,
impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico sustentável do Brasil e Pa-
raguai” (ARRUDA FILHO, 2012, p. 20) foi determinante para que Itaipu Binacional assumisse o com-
promisso de promover processos de gestão socioambiental pautados na construção da cultura da
sustentabilidade. Estas diretrizes fundamentam programas, projetos e ações educativas baseadas
na ética do cuidado, vivenciadas no cotidiano dos/as colaboradores/as e comunidade diretamen-
te e indiretamente envolvida com a usina.
O Programa Cultivando Água Boa é fruto do compromisso assumido por Itaipu em 2003. Lan-
çado neste mesmo ano, o programa adota a dimensão da bacia hidrográfica como modelo de
gestão territorial e promove 20 programas que se desdobram em 65 ações de responsabilidade
socioambiental e se estruturam por meio do conhecimento técnico e tecnológico, da gestão par-
ticipativa e da Educação Ambiental (EA) (ITAIPU BINACIONAL, 2016).
O programa de Educação Ambiental da Itaipu Binacional está alicerçado na Política Nacional
de Educação Ambiental (PNEA) instituída pela sanção da Lei nº 9795/1999, que determinou a re-
alização de uma consulta pública nacional para a construção do Programa Nacional de Educação
Ambiental (ProNEA) entre os anos de 2004 e 2005 (VIEZZER, 2007).
O ProNEA tem como proposta orientar as ações da sociedade e do governo em uma dinâmica
capaz de articular a Educação Ambiental em todo o país, concretizando sua missão de contribuir
para a construção de sociedades sustentáveis (BRASIL, 2005). Uma das estratégias utilizadas para
o alcance destas metas foi a criação do ProFEA - Programa Nacional de Formação de Educadoras
e Educadores Ambientais, processo educativo que se concretiza por meio da constituição de Co-
letivos Educadores em cada bioma e território do Brasil (BRASIL, 2006).

2. O Coletivo Educador da Bacia do Paraná 3

O Coletivo Educador é o encontro de um grupo de pessoas, que trazem o apoio de suas ins-
tituições, e participam de um amplo processo educativo continuado, dialógico, democrático e
orientado para a totalidade de um território. Apoiado nas diretrizes do ProFEA, os coletivos têm

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 17


V CBEAAGT

como alguns de seus fundamentos (BRASIL, 2006):


• A Educação de Educadores, que propõe a Educação Ambiental dentro do paradigma da
educação libertária, incentivando a transformação de educadores/as e educandos/as através da
participação na transformação da realidade social e ambiental;
• A Educação Ambiental Crítica e Emancipatória, que defende a realização de intervenções
socioambientais a partir da leitura crítica da realidade, da enunciação do desejado e da formula-
ção de ações, projetos, estudos que levem à construção de sociedades sustentáveis;
• A Multiplicidade de Espaços e Vias Educadoras, que considera que educação se faz por
meio da intencionalidade, planejamento, ação e avaliação, podendo se valer das escolas e centros
de ensino e/ou dos foros de participação, das ruas, praças e todo o espaço público;
• A Totalidade e a Permanência, que defendem o direito à participação ampla e irrestrita,
que não significa a ausência do conflito, mas a busca pela democratização das sociedades, pelo
controle social como contribuição para a superação da desigualdade socioeconômica historica-
mente construída;
• Arquitetura de Capilaridade: As raízes das árvores vão se ramificando até formarem os ca-
pilares, que contribuem para a nutrição e fixação das árvores ao solo. Assim funciona o coletivo, se
dispersando por todo o território, se nutrindo pelos encontros, possibilitando a fixação do proces-
so educativo instaurado.
O Coletivo Educador da Bacia do Paraná 3, fomentado por meio do Programa Cultivando
Água Boa da Itaipu Binacional, é um dos pioneiros no Brasil. Com o objetivo de alimentar e di-
namizar a atuação do coletivo inseriu-se no Programa de EA, o FEA - Programa de Formação de
Educadores e Educadoras Ambientais que tem como perspectiva as diretrizes do ProFEA e utiliza
como metodologia a pesquisa-ação-participante, a educação por meio de sólida formação te-
órica/metodológica/conceitual, de desenvolvimento humano e da intervenção socioambiental
(VIEZZER, 2007).
O FEA tem tido como proposta envolver diversos segmentos da sociedade em processos re-
flexivos, críticos e emancipatórios, mobilizando encontros de saberes diversificados e promoven-
do o comprometimento da população diretamente afetada e envolvida com as questões socio-
ambientais da região.
Essas pessoas integraram os coletivos de pesquisa-ação-participante (PAPs) e foram selecio-
nadas pelo histórico de envolvimento com questões socioambientais, representatividade no es-
paço rural e urbano, diversidade sociocultural, de gênero, profissões, instituições e potencial de
liderança e capilaridade. Os encontros formativos com trabalhos em campo, sempre levam em
conta o conhecimento de cada indivíduo, a troca de saberes e a mobilização para que educador
possa deflagrar intervenções socioambientais de cunho educativo em seus territórios.
Como forma de garantir a condução participativa e descentralizada do FEA, foram definidos
três núcleos de ação, situados nos municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu e Toledo, cada um com
aproximadamente 100 educadores e educadoras ambientais. Todo esse processo foi iniciado em
2005, com 300 educadores/as em formação.
A primeira etapa do FEA foi concluída em 2007, com a constituição das Comunidades de
Aprendizagem, grupos PAP atuantes em cada munícipio integrante do coletivo. As principais áre-
as de atuação destes grupos, identificadas em 2008, foram: Educação Ambiental na gestão de ba-
cias hidrográficas; Educação Ambiental comunitária; Educação Ambiental e saneamento; Educa-
ção Ambiental e educomunicação; Educação Ambiental para unidades de conservação; Educação
Ambiental para agroecologia; princípios e valores da Educação Ambiental.
A consolidação do Coletivo Educador trouxe diversas conquistas para a região. O ano de 2009
marca o início da segunda etapa de formação, caracterizada pelo enraizamento das Comunidades
de Aprendizagem e aprimoramento do programa. Também merecem destaque o acesso ao fundo

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 18


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de apoio a projetos socioambientais, vinculado ao Programa Cultivando Água Boa, a implementa-


ção das Salas e Espaços Verdes e a constituição dos Coletivos Educadores Municipais.
Os Coletivos Educadores Municipais retratam a maturidade adquirida pelos anos de atuação
do FEA e o incentivo para que a educação socioambiental realizada na Bacia do Paraná 3 aconteça
de forma autônoma, descentralizada e autogerida. Estes coletivos são formados pelos gestores/
as municipais de Educação Ambiental, educadores/as ambientais em formação e integrantes das
Comunidades de Aprendizagem e os parceiros do coletivo, as prefeituras municipais e outras ins-
tituições locais.
Outro ciclo de formação ocorreu em 2013 e, em 2015 uma nova formação foi iniciada. Sabe-
mos hoje que o trabalho realizado por meio das Comunidades de Aprendizagem constituídas nos
municípios da Bacia do Paraná 3 e outros atores da Educação Ambiental local têm gerado impor-
tantes processos educativos de intervenção territorial, reconhecidas nos mais diversos níveis. A
Tabela 1 apresenta os dados quantitativos associado ao FEA de 2011 a 2015.

Quantitativo do Programa de EA 2011 2012 2013 2014 2015

Municípios de abrangência 29 29 29 29 29
Coletivos Educadores Municipais 29 29 29 29 29
Implementados
Gestores/as Municipais de Educa- 70 70 70 70 70
ção Ambiental
Educadores e Educadoras Am- 274 350 300 300 209
bientais (PAPs3) formados
Comunidades de Aprendizagem 150 81 81 50 80
Integrantes das Comunidades de
Aprendizagem (PAPs4) 2.757 7.000 7.000 7.015 4.340

Tabela 1 - FEA em números (ano).


Fonte: Nativa Socioambiental, 2016.

As Comunidades de Aprendizagem são locais de encontro, de vivência dos processos edu-


cativos ordenados pelas atividades formativas, transformados em ação ambiental e apoiados
integralmente na práxis (ação-reflexão-ação). Estas comunidades abarcam os fundamentos das
Comunidades Aprendentes e das Comunidades Interpretativas, razão que torna importante o en-
tendimento destes conceitos (BRANDÃO, 2005).
De acordo com Brandão (2005, p. 87) “Comunidades Aprendentes são pares, grupos, equipes,
instituições sociais de associação e partilha da vida. Lugares onde ao lado do que se faz como o
motivo principal do grupo, as pessoas estão também inter-trocando saberes entre elas. Estão se
ensinando e aprendendo”.
Os segmentos mais representados nas Comunidades de Aprendizagem são as comunidades
escolares em geral, sendo estas compostas por pais, alunos, professores e funcionários; terceira
idade; agentes de saúde; universitários; catadores de materiais recicláveis; grupo de mulheres;
jovens e adolescentes; sociedade civil em geral; e ainda grupos de crianças e adolescentes deno-
minados como Coletivo Educador Mirim.
As áreas de atuação de cada Comunidade de Aprendizagem são variadas, no entanto a maior
parte trabalha temas gerais que envolvem a Educação Ambiental, como: resíduos sólidos, com
destaque ao lixo tecnológico; agricultura sustentável; plantas medicinais; monitoramento da qua-
lidade da água e recursos hídricos em geral. E a maioria das Comunidades de Aprendizagem atua

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 19


V CBEAAGT

no espaço urbano (62%).


Um dos fatores de extrema importância para as Comunidades de Aprendizagem são as insti-
tuições parceiras, que auxiliam de forma direta ou prestam apoio nos trabalhos socioambientais
desenvolvidos. As escolas atuam como parceiras para a totalidade das Comunidades de Aprendi-
zagem. Na sequência, surgem os órgãos públicos municipais, parceiros de 85% delas. Os órgãos
púbicos estaduais (69%), as associações de moradores (54%), os grupos comunitários (31%), as
cooperativas (46%), as universidades (19%, associações (12%), entidades religiosas (15%), o Rotary
Club (12%) e as ONGs (12%) também estão na lista de seus mais importantes parceiros.
No Coletivo Educador da Bacia do Paraná 3, a articulação e as reuniões entre os integrantes
dos Coletivos Educadores Municipais e a formação das Comunidades de Aprendizagem, por meio
de projetos de intervenção local, são critérios que compõem a trilha de formação e certificação
dos educadores e educadoras ambientais. O registro das ações executadas por estas comunida-
des é formalizado por meio do envio de relatórios semestrais para equipe encarregada da coorde-
nação do FEA: Itaipu Binacional e Nativa Socioambiental.
Em linhas gerais, e de acordo com o olhar dos educadores/as ambientais da Bacia do Paraná
3 , a Educação Ambiental tem possibilidades de se aproximar dos projetos de gestão de resíduos,
1

executados em 84% dos municípios da Bacia do Paraná 3. Os outros campos de aproximação são
os projetos de arborização e ajardinamento (60%), de revitalização de espaços públicos (52%) e
de revitalização de nascentes e cursos d´água (72%). Outras ações, citadas com menos frequên-
cia, também fazem parte deste cenário: reflorestamento, agricultura familiar, plantas medicinais,
projeto de recolhimento de pilhas e baterias, monitoramento participativo da qualidade de água,
projetos realizados nas escolas municipais, projeto memória do município, projeto cisterna, fórum
de Educação Ambiental e eventos realizados em datas comemorativas.
Ao longo dos anos, é possível afirmar que o trânsito de pessoas que participaram do movi-
mento do Coletivo Educador da Bacia do Paraná 3 foi intenso. Muitos dos integrantes encerram
sua participação com o término dos ciclos educativos, enquanto outros interrompem seu percur-
so de formação, pelos mais variados motivos. Por outro lado, o processo de formação expande e
ganha novos atores, além daqueles que buscam retroalimentação, permanecendo no coletivo ao
longo dos anos.
Como principais avanços destacamos: o pertencimento dos educadores e educadoras forma-
dos pelo programa FEA. Em sete anos de realização do programa, a demanda de novos participan-
tes é crescente, assim como o interesse de permanência no programa. Já são mais de 1000 educa-
dores e educadoras envolvidos nas formações. Além disso, um segundo aspecto é a mobilização
de pessoas e ações realizadas por meio das Comunidades de Aprendizagem, são mais de 200
Comunidades de Aprendizagem constituídas e que articulam mais de 10.000 PAP4. O potencial de
ação dessas Comunidades de Aprendizagem é percebido através dos inúmeros projetos que são
desenvolvidos por elas, e surpreendem no que tangem a diversidade de segmentos envolvidos e
temas trabalhados.
Ressaltamos ainda a constituição dos Coletivos Educadores Municipais, existentes nos 29 mu-
nicípios da BP3. A partir do ano de 2009, com a exitosa experiência do Coletivo Educador, pessoas
de diferentes segmentos se reúnem para a reflexão, realização de diagnóstico socioambiental da
realidade do município e para planejar ações e intervenções (CASALE, 2013). Desta forma, os cole-
tivos vêm conquistando diversos resultados positivos, como empoderamento e envolvimento da
sociedade nas questões socioambientais, e ainda recursos financeiros para elaboração de projetos
socioambientais, já são 55 projetos contemplados com fundo de apoio a projetos da BP3, fruto
do Convênio entre Itaipu Binacional e Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao
1 Os dados quantitativos e qualitativos relacionados aos Coletivos Educadores Municipais se reportam ao ano de 2012, e
foram obtidos através de questionário aplicado aos integrantes dos Coletivos Educadores Municipais.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 20


V CBEAAGT

Lago de Itaipu2.
Além dos diversos resultados positivos alcançados é notável como a EA potencializou, não
somente a formação humana, mas também desencadeou a melhoria dos aspectos ambientais na
região, como por exemplo, recuperação de matas ciliares, monitoramento da qualidade da água,
através de metodologia participativa; limpeza e proteção de nascentes, envolvendo principalmen-
te os agricultores nas ações.
Ainda, com a realização do FEA podemos constatar alguns fatores determinantes para a efi-
cácia e replicação do Programa. De acordo com Viezzer et al (2007), é fundamental partilhar e
trabalhar com as instituições que interagem com o Coletivo Educador, além de estratégias como,
formação didático-pedagógica; elaboração de materiais; valorização da EA na política pública mu-
nicipal; otimização de recursos; elaboração de projetos e captação de recursos, entre outros. Daí a
importância da Educação Ambiental, enquanto um processo pedagógico participativo de trans-
formação socioambiental, como vem sendo delineado pelo Programa FEA.
Importa salientar que a articulação do programa é realizada por um grupo de Gestores de EA
(ver Figura 1) formado por representantes do poder público e sociedade civil dos 29 municípios
da BP3, esses gestores são facilitadores das ações e programas de Educação Ambiental. Atual-
mente são cerca de 70 gestores, com atribuições que vão além da articulação do programa FEA. O
empoderamento desses gestores é significativamente reconhecido no território e são um elo de
parceria entre Itaipu Binacional e os municípios, com o intuito de juntos construírem estratégias
de fortalecimento de políticas públicas socioambientais e melhoria da qualidade de vida nos mu-
nicípios da BP3.
Os gestores/as municipais de educação ambiental participam diretamente com a equipe en-
volvida na gestão dos processos educativos e na tomada de decisões e alinhamento da agenda
anual de formação. Eles/as também são importantes agentes na busca por recursos para projetos
da Educação Ambiental e na articulação entre os grupos PAPs3, PAPs4, instituições parceiras e
outros movimentos organizados nos municípios. A presença dos/as Gestores/as de Educação Am-
biental nos conselhos municipais, nos comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa e das
bacias hidrográficas é bastante comum, aspecto que conecta a Educação Ambiental aos processos
de gestão ambiental, organização e mobilização social.

Figura 1 – A estrutura em rede do Programa de Educação Ambiental do Cultivando Água Boa atrelada ao
Gestor de EA. O Gestor é o articulador entre a Itaipu Binacional e o território para o desenvolvimento das
ações do Programa de EA do Cultivando Água Boa. (Fonte: Nativa Socioambiental, 2016).
2 O Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu é formado por representantes das Prefeitu-
ras Municipais, Câmaras de vereadores e Associações Comerciais dos dezesseis municípios Lindeiros. Surgiu devido à necessidade
que se apresentava nestes municípios, que viviam a expectativa dos royalties, de um órgão que os representasse. Pois, embora
existisse a AMOP - Associação dos Municípios do Oeste do Paraná, havia a necessidade de uma organização que defendesse especi-
ficamente os interesses dessa região ribeirinha, por isso, representantes desses três segmentos se reuniram juntamente com outras
autoridades da região e da Itaipu Binacional, formando o Conselho em 1990.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 21


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3. A inserção da Educação Ambiental na escola

O programa envolve ainda o ambiente escolar através do Projeto “A Escola e a Cultura da


Sustentabilidade - Formação Continuada em Educação Ambiental para Professores e Professoras
da Bacia do Paraná 3” e vem sendo realizado na região desde 2010. Este projeto sugere a vivência
ecopedagógica como caminho para o debate, o exercício de cidadania e a construção da cultura
da sustentabilidade nos contextos socioambientais onde esses espaços estão integrados.
No início deste projeto foram visitados 21 dos 29 municípios associados ao programa e reali-
zadas 38 oficinas, envolvendo 232 escolas e 1135 professores, em sua maioria representantes da
rede municipal (Escolas e Centros Municipais de Educação Infantil - CMEIs).
O segundo encontro de formação, também executado em 2010, teve como objetivo de for-
necer subsídios para a elaboração de projetos ecopedagógicos, a partir da identificação, diálogo
e construção dos conteúdos essenciais para o trabalho com projetos. Foram desenvolvidas 31
oficinas em 17 municípios, com a participação de 809 educadores e educadoras de 174 espaços
educativos (escolas municipais, estaduais, particular e CMEIs).
Para favorecer a reflexão sobre conceitos, possibilidades e estratégias para a implementação
de projetos ecopedagógicos na educação formal e não formal, foi lançado o Caderno Ecopedago-
gia – Educação Ambiental para Sustentabilidade foi lançado durante o Encontro Anual do Progra-
ma Cultivando Água Boa, em Foz do Iguaçu, PR, em 2010. Este caderno é produto dos primeiros
encontros de formação do projeto e foi elaborado pela Nativa Socioambiental e distribuído pela
Itaipu Binacional e pelo Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itai-
pu.
Participaram da terceira etapa 63 espaços educativos de 18 municípios. Estes espaços rece-
beram assessoria pedagógica com monitoramento virtual para a elaboração dos projetos, com
base no conteúdo do Caderno Ecopedagogia – Educação Ambiental para Sustentabilidade, que
foi distribuído para cada instituição envolvida durante as atividades de formação continuada.
Em 2012, por uma iniciativa do Conselho dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu e Se-
cretarias Municipais de Educação dos municípios da Bacia do Paraná 3, a Itaipu Binacional apoiou
e divulgou o lançamento do Concurso: “Boas Práticas Ecopedagógicas da Bacia do Paraná 3”. Os
objetivos deste concurso foram incentivar práticas ecopedagógicas nos espaços educativos, dis-
seminar ideias para melhoria da qualidade socioambiental e divulgar as experiências ecopedagó-
gicas desenvolvidas pelos participantes do projeto “A escola e a Cultura da Sustentabilidade”.
O concurso reuniu a inscrição de 70 projetos, todos orientados pelas ações do Programa Cul-
tivando Água Boa, com iniciativas vinculadas à Educação Ambiental, baseadas nos princípios da
Carta da Terra, do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabili-
dade Global e da Ecopedagogia. A relação dos projetos vencedores é apresentada na Tabela 2.

PROJETO
MUNICÍPIO ESCOLA

Pequenos Aprendizes, Grandes


Altônia E.M. Professor Rubens Tessaro Cidadãos

Reciclagem Digital: Mudando


Hábitos e Atitudes e Dividindo Res-
Diamante do Oeste E.M. Presidente Kennedy ponsabilidades

Reciclar para Brincar na Educa-


Entre Rios do Oeste CMEI Padre Emílio ção Infantil

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 22


V CBEAAGT

Educa-ação para a Sustentabi-


Foz do Iguaçu E.M. da Vila Shalon lidade: Revitalização, Paisagismo e
Bem-estar Social na Escola
Sustentabilidade e Mudanças
de Hábitos no Ambiente Escolar e na
Marechal Cândido Rondon E.M. Costa e Silva Comunidade do Distrito de Marga-
rida
Cultura da Paz e a Sustentabili-
Marechal Cândido Rondon E.M. Érico Verissimo dade na Escola
Matelândia E.M. Claudino Zanon Aprendendo a ser Sustentável
C.E. Marechal Arthur da Costa
Medianeira Consumo Consciente
e Silva
Plantando Educação, Colhendo
Missal E.M. Novo Milênio Saúde
Pomar na Escola. Qualidade e
Nova Santa Rosa E.M. Arnaldo Busato Alimentação Saudável
Faça Parte desta Corrente, Con-
Pato Bragado E.M. Marechal Deodoro tribua na Prevenção da Natureza
Santa Helena CMEI Meu Cantinho Somos a Esperança da Terra
Santa Helena E.M. Anita Garibaldi Eco Escola
Não Somos Gralha Azul, mas
Santa Tereza do Oeste E.M. Francisco Dias Bernardo Plantamos Pinhão
Água: preciosidade e desafio
Santa Tereza do Oeste E.M. Levino Jorge Weidmann de século XXI
Alimentação Consciente, Cor-
Santa Terezinha de Itaipu CMEI Áureo Eyng po Saudável
Educação Infantil para uma
Santa Terezinha de Itaipu CMEI Vovó Dentinha Sociedade Sustentável
São José das Palmeiras E.M. Regente Feijó Conhecendo o Município
Toledo E.M. Olívio Beal Minha Escola Meu Lugar
CMEI Terezinha dos Reis Tho- Árvores da Minha Vida – Um pé
Vera Cruz do Oeste mazinha de quê?
Vera Cruz do Oeste E.M. Geraldo Batista Chaves GBC Alimentando Saúde

Tabela 2 - Projetos Ecopedagógicos premiados em 2013.

Os espaços educativos premiados receberam uma visita de acompanhamento e fortaleci-


mento in loco dos projetos em 2015. O total destas experiências pode ser acessado no manual de
Boas Práticas Ecopedagógicas da Bacia do Paraná 3, lançado durante o Encontro Anual do Progra-
ma Cultivando Água Boa, em 2013.

4. As Estruturas Educadoras e a Educomunicação

Os centros de Educação Ambiental são compreendidos como estruturas educadoras com


identidade clara e finalidade explícita: serem espaços irradiadores de saberes e ações voltadas
às mudanças individuais e coletivas em direção à sustentabilidade socioambiental. Estes centros
possuem potencial relevante para a articulação e execução de ações de caráter socioambiental,
cultural, político, informativo, de pesquisa, dentre outros (BRASIL, 2016).
As Salas Verdes são centros de Educação Ambiental, instituídos formalmente no Brasil en-
tre os anos de 2004 e 2006, por meio de chancela concedida pelo Departamento de Educação

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 23


V CBEAAGT

Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA). Elas são constituídas por uma biblioteca
ambiental, composta por materiais encaminhados periodicamente pelo DEA/MMA ou doações, e
devem atuar de acordo com um projeto político-pedagógico, documento capaz de conferir estru-
turação ideológica, política, material, pedagógica e metodológica a esses espaços.
Os Espaços Verdes são centros de educação ambiental situados na Bacia do Paraná 3, concebi-
dos e estruturados nos mesmos moldes das Salas Verdes. A implementação destes espaços ocor-
reu por meio da parceria entre prefeituras municipais, Programa Cultivando Água Boa e Conselho
de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu.
A aproximação entre Salas Verdes, Espaços Verdes e Coletivos Educadores é uma das estraté-
gias concebidas com o intuito do fortalecer o enraizamento da Educação Ambiental na Bacia do
Paraná 3. A implementação das Salas Verdes na Bacia do Paraná 3 ocorreu paralelamente ao movi-
mento para a constituição do Coletivo Educador, entre 2004 e 2006. Ao final do primeiro ciclo de
formação do FEA, em 2007, existiam 17 Salas Verdes nesta região, número que se mantém até os
dias atuais. Os 13 Espaços Verdes localizados nos municípios da Bacia do Paraná 3 foram instalados
a partir de 2008, ver Tabela 3.
O potencial educomunicativo das Salas e Espaços Verdes passou a ser reforçado em 2012,
por meio da articulação com o Projeto de Formação de Comunicadores Comunitários – Web Rádio
Água (WRA). A produção de mídias educomunicativas é possível por meio da utilização dos recur-
sos da Rádio Web instalados nas estruturas educadoras.

Estruturas Educadoras/ Municípios


Salas Verdes (DEA/MMA) - Foz do Iguaçu, São Pedro do Iguaçu, Toledo, Santa Helena,
Entre Rios do Oeste, Vera Cruz do Oeste, Cascavel (Sala Verde Timburi), Cascavel (Sala Verde “Es-
paço Verde GPEA-BIO-Unioeste), Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha de Itaipu, Matelândia,
Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Nova Santa Rosa, Maripá, Terra Roxa, Mercedes
Espaços Verdes - Ouro Verde do Oeste, Pato Bragado, Diamante do Oeste, Céu Azul, Rami-
lândia, Missal, Itaipulândia, Quatro Pontes, Marechal Cândido Rondon, São José das Palmeiras,
Guaíra, Altônia
Tabela 3 - Projeto de Formação Continuada para Facilitadores das Salas e Espaços Verdes da Bacia do Paraná
3. Relação de Estruturas Educadoras e Municípios participantes (2013).

O Projeto de Formação de Comunicadores Comunitários se concretiza por meio da realização


de três conteúdos metodológicos: as oficinas de formação de comunicadores comunitários, o mo-
nitoramento virtual e a mediação de matérias. O objetivo deste programa é aproximar conteúdos
e ações da Educação Ambiental e a da comunicação educativa, possibilitando o diálogo e a forma-
ção continuada no contexto socioambiental da Bacia do Paraná 3.
As oficinas de formação abordam o diálogo entre a Educação Ambiental e a educomunicação
no contexto do Programa Cultivando Água Boa com o uso e manuseio da plataforma web rádio.
Para subsidiar a elaboração dos conteúdos, cada comunicador recebeu o Manual Teórico e Técnico
da Web Rádio Água e o Estudo de Caso do Programa Cultivando Água Boa, publicado pela Funda-
ção Getúlio Vargas (FGV, 2012). Também foi realizada a entrega de um kit da rádio web para cada
município, contendo gravadores, câmera fotográfica digital, mesa de som, microfone e caixa de
som. Este material foi alocado nas Salas e Espaços Verdes, reforçando o potencial educomunicati-
vo destas estruturas educadoras.
Os Comunicadores Comunitários têm a possibilidade de publicar os conteúdos na plataforma
virtual da Web Rádio Água. As atividades de monitoramento consistem em medir a produção de
matérias e analisar a percepção dos comunicadores em relação às potencialidades de uso que a

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 24


V CBEAAGT

web rádio oferece, possibilitando identificar ações de mediação que possam gerar maior resulta-
do de participação dos comunicadores.
A mediação de matérias se refere ao processo de relacionamento e interlocução com os Co-
municadores Comunitários e tem por objetivo incentivar a produção e difusão de conteúdos so-
cioambientais nos 29 municípios da bacia. O acompanhamento técnico dos conteúdos ocorre à
distância, por correio eletrônico, diariamente.
A postagem e difusão dos conteúdos são realizadas através da plataforma Web Rádio Água,
dentro da qual os Comunicadores Comunitários têm a possibilidade de publicar, na página princi-
pal da WRA, conteúdos em áudio + texto: matérias de rádio jornalísticas, entrevistas, entre outros
conteúdos. Os conteúdos em texto + foto + vídeo: matérias produzidas, matérias de outros portais
e textos diversos podem ser publicados no blog de cada município na página da WRA.
Em 2012, foram realizadas duas turmas de formação dos Comunicadores Comunitários, num
total de 127 pessoas nos 29 municípios da BP3, e 21 matérias veiculadas entre os meses de agosto
a dezembro. No ano de 2013, uma nova turma foi formada, com 70 participantes de 26 municípios
tendo sido veiculadas, entre os meses de junho e dezembro, 52 matérias.
Em 2015, participaram da oficina de formação 55 pessoas, de 22 municípios, tendo sido vei-
culadas, entre os meses de agosto e dezembro, 9 matérias.
As matérias produzidas e publicadas pelos/as Comunicadores/as Comunitários/as da Bacia
do Paraná 3 retratam as diversas atividades de Educação Ambiental que ocorrem neste território e
apresentam o desenvolvimento de suas ações em Unidades de Conservação, grupos de pesquisa,
Coletivos Educadores, Salas e Espaços Verdes, escolas de educação básica, museus e na comuni-
dade. Essa abrangência de espaços alcançados reforça a determinação das políticas públicas de
Educação Ambiental que deve ocorrer em espaços formais, não-formais e informais.
Pôde-se perceber ainda que os jovens pelo domínio das tecnologias de comunicação em
rede e também pela visão que têm da necessidade de transformação social e ambiental em seu
pedaço compõem um perfil identificado pelo Programa de Educomunicação Socioambiental do
ProNEA.
Buscou-se até aqui apresentar o cenário do programa de EA na BP3 para em seguida propor
a geoinformação como importante ferramenta de gestão de dados, análise de resultados e de
processo do programa, auxiliando na gestão estratégica.

5. A Educação Ambiental em interface com a Geoinformação

A ferramenta da geoinformação agrega valor aos programas de Educação Ambiental por pos-
sibilitar análise de processos e resultados, dentro da mesma lógica educativa, pois os processos
vinculados à geoinformação aplicada partem de formatos colaborativos e participativos de ges-
tão de dados territoriais. O processo de construção da plataforma de gestão de dados e interface
com o usuário deve ser reflexo da construção colaborativa do Coletivo Educador, de determinada
comunidade, município, associação, ou corporação.
A geoinformação ao integrar dados territoriais, socioambientais e de gestão (programas) pos-
sibilita a interação do saber dos diferentes atores sociais agregados no coletivo educador, permi-
tindo análises técnicas e orientando à tomada de decisão relativa aos processos e resultados do
programa de educação ambiental. Esta ferramenta permite ainda a partir da vivência do Coletivo
Educador a identificação das necessidades de formação e aprimoramento do indivíduo e do co-
letivo, com o objetivo de aprimorar a leitura e interpretação da realidade socioambiental e dos
processos de mobilização social dando maior agilidade e consistência ao programa de EA, seja na
gestão, ou no acompanhamento das atividades desenvolvidas pelas Comunidades de Aprendiza-
gem.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 25


V CBEAAGT

Neste breve ensaio é demonstrada uma das possibilidades de aplicação da geoinformação na


gestão de programas de Educação Ambiental a partir de dados dos Comunicadores Comunitários,
projetos ecopedagógicos, estruturas educadoras, Gestores de Educação Ambiental e educadores
ambientais. Assim, a partir de 2012 foram investidos recursos no delineamento metodológico da
integração da geoinformação ao Programa de Educação Ambiental da Itaipu Binacional. Foram
definidos 3 grandes eixos de indicadores de resultados que passaram a ser estruturados em banco
de dados que possibilitassem a migração para os sistemas de geoinformação. Um grande inves-
timento inicial foi feito na estruturação das fichas de cadastro dos participantes e na coleta de
dados em campo que pudessem possibilitar o cruzamento das variáveis.
Para esta amostragem foi utilizada a ferramenta de geoprocessamento de código aberto Qgis
versão 2.14 e os dados vetoriais do Programa de EA na BP3, que através de técnicas de geopro-
cessamento foram espacializados, permitindo assim visualização da rede do programa como um
todo.
A Figura 2 – Rede do Programa de Educação Ambiental da Bacia do Paraná 3 -reflete o cruza-
mento dos dados citados acima referente ao ano de 2015. A primeira interpretação que a espacia-
lização dos dados permite é observar a diferença na estrutura da rede do Programa em função do
porte dos municípios, assim, verifica-se que os municípios acima de 80.000 habitantes (Cascavel,
Foz do Iguaçu e Toledo) têm uma rede mais densa de pontos e apresentam maior número de ges-
tores e de educadores. Além disso, o fato de terem as Salas Verdes estruturadas e apoiadas pelas
prefeituras municipais fornece base física e estrutural para as ações dos Coletivos Educadores.
Entre os municípios de médio porte (até 80.000 habitantes), Marechal Cândido Rondon e
Guaíra, têm uma boa rede estruturada sendo que possuem Espaços Verdes associados também à
gestão municipal.
Cabe salientar que a rede de Marechal Cândido Rondon mobiliza em termos de educadores e
Comunidades de Aprendizagem, números similares às Toledo e Foz do Iguaçu (mais de 300 pesso-
as). Pode-se observar também que o município de Medianeira está desestruturado, evidenciando
a importância da existência do Gestor de Educação Ambiental, elo importante para a capilaridade
do programa e estruturação das ações nos municípios.
Nos municípios de até 30.000 habitantes, nos 23 municípios restantes associados ao progra-
ma, as redes têm estruturas similares diferenciando-se ora pela presença de Comunicadores Co-
munitários, e ora pela inserção entre os projetos ecopedagógicos premiados. Mercedes e Mundo
Novo aparecem em destaque, pela fragilidade na estrutura, em função da ausência de um ou mais
elementos da rede. Cruzando-se a interpretação da estrutura de rede com os dados das Comu-
nidades de Aprendizagem verifica-se que onde existem estruturas em rede bem consolidadas,
maiores são as comunidades de aprendizagem, em número absoluto e em participação de PAPs4.
Assim, Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon mobilizam entre 300 e
800 pessoas. Os outros municípios mobilizam entre 20 e 150 pessoas, com exceção de Vera Cruz
do Oeste, que é uma das Comunidades de Aprendizagem mais antigas e onde as Gestoras de EA
têm se mantido as mesmas ao longo dos anos, hoje, são mobilizadas mais de 1000 pessoas na
rede municipal de ensino.
Em suma, a espacialização dos dados permitiu verificar a capilaridade do Programa de Edu-
cação Ambiental no território e demonstrar a estrutura em rede criada. Simultaneamente, o cru-
zamento das informações permite identificar os municípios em que existe maior força social pela
participação nas diferentes ações do programa e pelo número de pessoas envolvidas diretamente
nas intervenções educadoras.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 26


V CBEAAGT

Figura 2 – Mapa da Rede de Educação Ambiental do Programa Cultivando Água Boa


da Itaipu Binacional na Bacia Hidrográfica do Paraná 3 em 2015 (Fonte: Centro Inter-
nacional de Hidroinformatica, 2016).

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 27


V CBEAAGT

Esse ensaio foi importante para tornar evidente algumas inferências que a equipe gestora do
programa tinha do desenvolvimento do programa e também por permitir vislumbrar outros des-
dobramentos da interface com a geoinfoirmação. Dentre eles, a identificação temática dos proje-
tos das Comunidades de Aprendizagem em paralelo às ações do CAB e os problemas ambientais
observados no território; o perfil do gestor e a capilaridade da intervenção socioambiental; a ação
do educador ambiental e a mobilização das Comunidades de Aprendizagem, por exemplo.
Outro desdobramento inicial foi a identificação de padrão de indicadores, assim, o primeiro
eixo de indicadores refere-se à participação, o segundo a qualidade ambiental e o terceiro a qua-
lidade de vida, descritos em sequência (CARVALHO, 2013).
Participação – como as pessoas, instituições, grupos, projetos e estruturas estão atuando em
Educação Ambiental; como a educação emerge nos mecanismos de participação social nas po-
líticas públicas (orçamento participativo, plano diretor participativo, conselhos municipais, etc.);
qual o nível de representatividade por segmento social (relação entre pessoas/instituições); se há
equidade de participação dos segmentos sociais;
Qualidade ambiental – como a cobertura vegetal foi regenerada ou é conservada/preserva-
da (matas nativas, matas ciliares, reservas legais e arborização urbana nos espaços públicos); qua-
lidade dos serviços de saneamento (quantos domicílios ou habitantes têm acesso aos serviços
prestados; regularidade e qualidade destes serviços, nível de satisfação dos usuários, etc.), dentre
outros;
Qualidade de vida – existência de programas de educação que previnam doenças de veicu-
lação hídrica ou resultantes de outras formas de contaminação ambiental; como se dá as relações
de trabalho existência de Eco-trabalho e de cooperativas de catadores, respeito à questão de
gênero, ações voltadas à erradicação do trabalho infanto-juvenil; a oferta de equipamentos e
serviços públicos é suficiente e considera o tipo de habitação e a capacidade de pagamento dos
usuários (ligação domiciliar/tarifas/taxas); programas de capacitação que contribuam para o for-
talecimento da identidade, auto estima, cidadania e grau de satisfação com a vida cotidiana, taxa
de alfabetização e de escolarização; como a geração de renda, a agricultura familiar, o turismo
rural estão ocorrendo.
Considera-se que o uso da informação territorial é importante tecnologia na construção de
sociedade sustentável, desde que associada aos processos de educação socioambiental (partici-
pativa, mobilizadora e crítica). Trata-se do uso integrado de geotecnologias e tecnologias sociais.
Cada vez mais objetivaremos promover a interface entre os programas de Educação Am-
biental e o uso de geotecnologia, com vistas ao melhor gerenciamento do programa e, ao mesmo
tempo, avançar na operacionalização dos indicadores de processo e de resultados.
Esperamos que este breve ensaio possa motivar mais pesquisadores a compor experiências
que integrem a Educação Ambiental às geotecnologias.

Referências
ARRUDA FILHO, Norman de Paula et. al. Estudo de Caso: Programa Cultivando Água Boa. Curi-
tiba, PR, 1ªed.2012
BRANDÃO, C.R. Comunidades Aprendentes. In: FERRARO JR, L.A. (Org.). Encontros e Caminhos:
Formação de Educadores Ambientais e Coletivos Educadores, v.1. Brasília: Ministério do Meio
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Brasília: MMA/DEA, 2005.

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V CBEAAGT

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Projeto Salas Verdes. Disponível em: < http://www.mma.
gov.br/educacao-ambiental/educomunicacao/salas-verdes#oprojeto > Acesso em: 23 mar. 2016.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Série Documentos Técnicos – 8: ProFEA – Programa Na-
cional de Formação de Educadoras(es) Ambientais. Brasília: MMA/DEA, 2006.
CARVALHO, P.G.S; CASALE, V. C. & MARQUES, F. Dialogando sobre a interface da geoinformação
em processos de educação para a sustentabilidade. In: Anais do I Congresso Internacional de
Inovação e Sustentabilidade: ciência e tecnologia como vetores da sustentabilidade. Vespa Co-
municação: São Paulo, 2013.
CASALE, V.C.; ALBERTON, L.F.S.; ROCKER, C. Coletivo Educador da Bacia do Paraná 3. In: FERRARO
JR, L.A. (Org.). Encontros e Caminhos: Formação de Educadores Ambientais e Coletivos Edu-
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BP3. Foz do Iguaçu, PR: Itaipu Binacional, 2016.
VIEZZER, M., et al. Círculos de aprendizagem para a sustentabilidade. 1ª Ed. Foz do Iguaçu:
Itaipu Binacional, Ministério do Meio Ambiente, 2007;

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V CBEAAGT

a sUstentaBilidade na administração
púBliCa - Um desaFio a ser alCançado

i. c. b. andRadE
R. R. dE souza
g.g. Faciolli

Resumo Abstract
Este trabalho propõe-se a pesquisar sobre a apli- This paper proposes to research the applicability
cabilidade de conceitos de sustentabilidade em of sustainability concepts in public agencies, par-
órgãos públicos, em especial com relação à ade- ticularly with respect to adherence to sustainable
são a projetos de cunho sustentáveis e que estão nature of projects that are shod in the arguments
calçados nos argumentos das políticas públicas. of public policy. Through applied research in units
Através de uma pesquisa aplicada em unidades of a local authority in the island municipality of
de uma autarquia municipal, no município de Flores / SE / BRAZIL, down San Francisco, was
Ilha das Flores /SE/BRASIL, baixo São Francisco, asked for managers (executive) the perception
foi perguntado para os gestores (executivo) qual and knowledge of these regarding the adoption
a percepção e conhecimento destes com relação of linked projects measures for the inclusion of
à adoção de medidas de projetos vinculados para projects that reduce environmental liabilities
a inserção de projetos que reduzam passivos am- and consequently costs for the municipality. The
bientais e consequentemente custos para o mu- methodology used in this research was the sur-
nicípio. A metodologia utilizada nesta pesquisa vey data; bibliographical research carried out in
foi o levantamento de dados; a pesquisa biblio- books, articles and current legislation as sources
gráfica realizada em livros, artigos e na legislação for gathering information and for the construc-
vigente como fontes para a coleta de informações tion of the theoretical framework. The results of
e para a construção do referencial teórico. Os re- this survey indicate that the majority of public
sultados desta pesquisa indicam que a maioria managers surveyed unaware of the importance
dos gestores públicos pesquisados desconhece a of sustainability as an ally to local progress. Thus,
importância da sustentabilidade como um aliado considering the value of sustainability in public
ao progresso local. Desta forma, considerando o administration as a support in the development
valor da sustentabilidade na administração públi- process: social, environmental and economic. In
ca como um suporte no processo de desenvolvi- view of the effectiveness and applicability in the
mento: social, ambiental e econômico. Tendo em strategic planning process of public institutions
vista a efetividade e a aplicabilidade no processo with a view to the involvement of people to ob-
de planejamento estratégico das instituições pú- tain short, medium and long-term results.
blicas com vistas ao envolvimento das pessoas
para obtenção de resultados a curto, médio e lon- Keywords: Public Policy, Sustainability, Public ad-
go prazo. ministration.

Palavras-Chave: Políticas Públicas, Sustentabili-


dade, Administração Pública.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 30


V CBEAAGT

1. Introdução

A problemática ambiental enfrentada pela sociedade contemporânea é fruto do modelo de


modernidade imposto pelo domínio da razão tecnológica sobre a natureza. De qualquer modo,
essa crise ambiental em que se vivencia nos tempos atuais, decorre-se do esgotamento do padrão
de desenvolvimento adotado pela sociedade moderna, baseado no consumismo desenfreado e
acompanhado de elevada desigualdade social.
Já é constatado os impactos ambientais provocados pelo homem provenientes da explora-
ção do meio ambiente para obtenção dos recursos naturais, estes, de forma desenfreada e des-
comprometida de qualquer vinculo com o meio natural.
O que se fomenta é a aceleração da produção de bens e serviços, indispensáveis a sua sub-
sistência, o que tem motivado os órgãos públicos na busca de novas alternativas para solucionar
esses problemas que ameaçam a continuidade da existência humana.
De acordo com a WWF- Brasil (2016), uma ONG brasileira participante de uma rede interna-
cional e comprometida com a conservação da natureza dentro do contexto social, ambiental e
econômico brasileiro a expressão desenvolvimento sustentável - DS é definida como: “O desen-
volvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de
atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos
para o futuro.”
Atentos com as questões ambientais que se constituem como uma advertência à sobrevivên-
cia no planeta e na busca de soluções, institutos governamentais agruparam-se durante a Confe-
rência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1972, em Estocolmo. Outro marco
importante foi à realização da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizado no Rio de Janeiro em 1992, nesse momento é elaborada a Agenda 21, tida como uma
das principais conquistas daquela conferência. Fomentando instrumentos e diretrizes do DS que
concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. (MMA, 2016).
Uma vez elucidada a relevância do papel exercido pela administração pública em questões
desta magnitude, o Ministério do Meio Ambiente lançou em 1999 a Agenda Ambiental na Ad-
ministração Pública – A3P, como um projeto que buscava a revisão dos padrões de produção e
consumo e a adoção de novos referenciais de sustentabilidade ambiental nas instituições da Ad-
ministração Pública, (MMA, 2016).
Nesse sentido, o presente artigo tem por finalidade proporcionar um cenário das ações so-
cioambientais desenvolvidas pela Administração Pública no enfrentamento das questões am-
bientais, enquanto se amplia a busca por bens e serviços de forma desenfreada. A necessidade
eminente por transformações de paradigma neste sentido. Uma vez que a inserção de princípios
sustentáveis na gestão pública exige a adoção de novas atitudes e práticas por parte, principal-
mente, dos seus gestores.
O grande desafio consiste em minimizar os impactos sociais e ambientais advindos de pro-
cedimentos cotidianos que por falta de uma gestão básica exequível, deixam vulneráveis ações
gerenciais que seriam facilmente solucionadas com a inclusão de planejamentos estratégicos.
No decorrer da pesquisa, foi selecionado para melhor compreensão do cenário encontrado
na área de estudo, representantes do poder executivo municipal (prefeito e vereadores) para apli-
cação de pesquisa. Os dados foram coletados no segundo semestre de 2015, utilizou-se questio-
nários semiestruturados, tomando-se como base a conceituação de Bardin (2006), bem como as
etapas da técnica explicitadas por este autor.
A opção por este autor dar-se ao fato de que é o mais citado no Brasil em pesquisas que ado-
tam a análise de conteúdo como técnica para averiguação de dados. Bardin (2006, p. 38) refere
que “[...] a análise de conteúdo consiste em: um conjunto de técnicas de análise das comunicações,

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 31


V CBEAAGT

que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”.


Percebe-se que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunica-
ções, que objetiva suplantar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados. Como afirma
Chizzotti (2010, p. 127), “[...] o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sen-
tido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”.
Sendo assim, este artigo está estruturado em quatro seções, além desta introdução. Na seção
seguinte apresentam-se a evolução das questões ambientais e alguns conceitos de sustentabili-
dade, bem como um apontamento do uso racional dos recursos naturais. A terceira seção aborda
os procedimentos metodológicos adotados, tais como estratégia de pesquisa, coleta e análise dos
dados. A quarta seção traz resultados e discussões obtidos. Por fim, as conclusões.

2. O caminhar das Questões Ambientais

As constantes mudanças ambientais em curso, os alertas de riscos iminentes quanto à escas-


sez dos recursos naturais, proliferação da fome e da miséria e as evidentes catástrofes humanas e
econômicas que colocam em risco a sobrevivência do homem e expõe o ambiente natural. Tem-
-se apresentado nestas últimas décadas como um dado preocupante para a sociedade como um
todo.
O Estado, os órgãos públicos e os diversos organismos de fomento, tanto nacionais, quanto
internacionais seguem na mesma direção, na busca de soluções para frear de alguma forma a
degradação ambiental que caminha a passos galopantes para o caos, no entanto, observa-se que,
estes, esbaram-se nos interesses econômicos e de consumismo.
A questão está em um despertamento da consciência ambiental quanto à necessidade de
harmonizar o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente. No entanto, nota-
-se que o discurso é intensificado sobre a necessidade de agir no presente, sem a atenção devida
para um olhar do futuro.
O proposito frenético e imprescindível percorre a maior atenção aos dados favoráveis o aos
índices de crescimento econômicos atuais. Pontuam-se nas mesas dos grandes acionistas a lucra-
tividade e a liquidez, alicerçadas nos fatores de produção e consumo, todos embriagados pelo en-
riquecimento pontual, sem demonstrar qualquer preocupação que podem afetar a estabilidade
econômica e ambiental no futuro.
Segundo Camargo (2007, p. 82) ao longo do século XX, presencia-se uma grande transforma-
ção na relação do homem com a natureza, sobretudo na percepção que os seres humanos têm
da natureza e dos problemas ambientais. “As décadas que se seguem à segunda grande guerra
mundial são fortemente marcadas pela discussão a respeito do modelo de desenvolvimento e
crescimento econômico predominante desde a Revolução Industrial”.
Em 1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), que desde a sua fundação desta-
ca temas como a paz, os direitos humanos, e o desenvolvimento equitativo, vindo mais tarde a ter
um papel fundamental nas questões relacionadas aos problemas ambientais, quando a proteção
ambiental assumiu a quarta posição no universo das principais preocupações das Nações Unidas.
DIAS (2008).
Em 1987, no texto do Relatório Brundtland, conhecido como “Nosso Futuro Comum”, apresen-
ta-se ao mundo a noção de desenvolvimento sustentável como “ o desenvolvimento que satisfaz
as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades”. Frente a essa perspectiva, o Relatório Brundtland propõe um conjunto de
medidas voltadas para o DS, tendo em conta a preservação do meio ambiente e a utilização crite-
riosa de recursos naturais. (CAMARGO, 2007).
No setor público, o governo tem papel fundamental na consolidação do DS, pois tem o papel

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 32


V CBEAAGT

de responsável pelo estabelecimento das leis e normas que definem os critérios ambientais que
devem ser seguidos por todos os cidadãos. Faz-se necessário a promoção de atitude coerente,
responsabilizando-se também por ajustar seu comportamento ao princípio da sustentabilidade,
tornando-se exemplo de mudança dos padrões de consumo e de produção.
Nas últimas décadas a gestão pública brasileira passou por diversas mudanças, buscando,
sobretudo, a ampliação da eficiência dos fatores de produção e da qualidade dos serviços ofereci-
dos, com o intuito de promover a trajetória da gestão patrimonial e burocrática da administração
pública para a gerencial. (BARBIERI, 2011).
Contrapondo à administração burocrática, que já não desempenhava seu papel, na primeira
metade do século XX apareceu a administração pública gerencial, como estratégia para diminuir
custos e tornar mais eficiente à administração dos serviços sob a responsabilidade do Estado;
como ferramenta de amparo ao patrimônio público; e para amenizar a insatisfação existente con-
tra a administração pública burocrática.
Quanto ao consumo dos recursos naturais, estes, já excede em 30% a capacidade do plane-
ta de se regenerar. Estudiosos indicam que em torno do ano 2030, caso nenhum procedimento
contrário for tomado, seriam preciso mais dois planetas para manter a vida humana da forma que
vem sendo exercida e absorvida pelo seu processo de exploração. (ALIGLERI, 2009). Conse-
quentemente, a proteção ambiental, em face da crescente demanda como a potencialização de
novas possibilidades de oferta ambiental adquiriu importância extraordinária cuja influência so-
bre o desenvolvimento se torna cada vez mais relevante. (BARBIERI, 2011).
Outra questão que vem sendo exaustivamente elucidada, trata-se da cultura do desperdício,
esta, tem se constituído como a marca dos nossos tempos, fruto de um modelo econômico apoia-
do em padrões de consumo e produção insustentáveis, que ultrapassam as camadas de alta renda
e paradoxalmente atinge as camadas menos favorecidas. A economia brasileira caracteriza-se por
elevado nível de desperdício de recursos naturais.

3. Método

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi o levantamento de dados e a pesquisa bibliográ-


fica realizada em: livros, legislação vigente, artigos; dissertações, periódicos como fontes para a
coleta de informações e alicerçamento do referencial teórico.
Para a coleta das informações para a pesquisa foi aplicado um questionário contendo duas
perguntas fechadas, para 10 (dez) gestores públicos municipais, sendo um, membro do poder
executivo e os outros 09 (nove) da câmera dos vereadores (legislativo) das repartições onde exer-
cem suas funções.
A pesquisa foi efetuada entre os dias 02 a 10 de junho de 2014. O objetivo do questionário
foi verificar se os gestores públicos têm praticado alternativas para o desempenho da sustenta-
bilidade e se utiliza das ferramentas gerenciais públicas no sentido de realizaram ações para a
diminuição de despesas, o que permitiria direcionamento dos recursos financeiros para melhoria
das atividades realizadas.

4. Resultados e Discussões

Nesta seção será apresentada a análise dos resultados obtidos pelo meio da aplicação dos
questionários. No primeiro momento perguntamos se os gestores conhecem o significado da sus-
tentabilidade. Dentro desta linha, num primeiro aspecto a ser notado é o total desconhecimento
por parte dos gestores do que venha a ser a sustentabilidade e como esta pode auxiliá-lo no
momento de tomada de decisão e no gerenciamento dos recursos públicos. Conforme Figura 01

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 33


V CBEAAGT

abaixo:

Figura 01: conhecimento sobre o conceito de sustentabilidade.


Fonte: Autores, (2013-2015), pesquisa in loco.

Quase 92 por cento dos entrevistados não conhecem o significado de que venha a ser a sus-
tentabilidade, apresentando um leve conhecimento. Desta feita, faz-se necessária uma comuni-
cação e empenho por parte dos gestores, em nível estratégico, para dispersão dos desafios da
sustentabilidade e sua representatividade para uma organização pública.
A outra questão diz respeito ao conhecimento, dos gestores, de como o seu município pode
ser beneficiado com a inclusão de projetos que contemplem metas e ações de cunho sustentável
que venham a diminuir as despesas até o ano do pleito político vigente, ou seja, ações e metas que
podem ser cumpridas até o ano de 2016 para diminuição de despesas administrativas municipais.
No tocante aos gestores que conhecem o que significa e a importância da sustentabilidade é
que realizaram ações para a redução de despesas utilizando-se deste conhecimento. Os gestores
ainda falaram que a aplicação de práticas sustentáveis ajudaram na análise, aplicação e controle
das despesas administrativas municipais.
Contudo, o discurso da sustentabilidade, presente nas organizações, principalmente, nos
órgãos públicos, não é ressaltada na prática administrativa habitualmente. (COSTA; TEODÓSIO,
2016). Portanto, faz-se necessário o envolvimento de todos os gestores nas decisões administra-
tivas, principalmente, na esfera municipal, onde todos os munícipes irão se beneficiar com tais
procedimentos. Tendo, por certo, que se sintam realmente parte da organização e se empenhem
com as ações e as metas da sustentabilidade.

5. Conclusões

Nessa perspectiva, é imprescindível usar racionalmente os recursos naturais, tendo como


ponto inicial a sensibilização e o comprometimento dos gestores públicos para com os preceitos
da sustentabilidade. A alta direção comprometida com a utilização dos bens públicos minimizará
o desperdício dos recursos naturais. É importante elucidar que este eixo engloba o uso racional
de recursos não renováveis, como: energia elétrica, água, combustíveis fosseis, madeira além de
outros.
De forma abrangente, tem-se que o uso racional dos recursos naturais faz com que a Admi-
nistração Pública cumpra seu papel com um menor impacto ambiental possível, seja pela redução
dos recursos naturais usados como pela sensibilização dos gestores públicos. O certo é que o pro-
cesso deve ser uma constante nos procedimentos de políticas públicas, e fundamentalmente, no

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 34


V CBEAAGT

planejamento administrativo municipal.

Referências
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ed. Brasília: Senado Federal/Subsecretaria de Edições Técnicas, 1997.
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1ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.
BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 4ª. ed.
Atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011.
BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70. (Obra
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COSTA, D. V.; TEODÓSIO, A. Desenvolvimento sustentável, consumo e cidadania: um estudo
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CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 10ª ed. São Paulo: Cortez. 2010.
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mar. 2016.
WWF - Brasil. O que é sustentabilidade? Disponível em: http://www.wwf.org.br/natureza_brasilei-
ra/questoes_ambientais/desenvolvimento_suSustentavel /. Acesso em: 22 mar. 2016.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 35


V CBEAAGT

edUCação amBiental e ComUnidades


tradiCionais da apa delta do par-
naíBa
Jéssica alVEs da silVa
JaciaRa FERREiRa maRquEs
John KEnnEdy Viana Rocha
EdVania gomEs dE assis

Resumo Abstract
A preocupação inerente ao meio ambiente The concern regarding the environment has
destaca-se nos dias de hoje, e a educação am- great importance nowadays and environmental
biental surge como alternativa de difusão de education arises as an alternative to the diffusion
conhecimentos sobre as práticas sustentáveis. O of knowledge on sustainable practices. The main
principal objetivo deste artigo é sensibilizar as objective of this paper is to reach the awareness
comunidades sobre as relações antrópicas e a na- of the communities about the anthropic relations
tureza. Constatou-se que o processo de difusão and nature. It could be observed that the process
da educação ambiental requer uma mudança no of diffusion of environmental education requi-
comportamento principalmente daqueles que se res a change in the behavior, especially of those
beneficiam dos recursos naturais para sua subsis- who benefit from the natural resources for their
tência. O presente artigo trabalha essa temática subsistence. The present paper works such the-
visando destacar como as comunidades da APA me aiming at highlighting the manner in which
Delta do Parnaíba vêm se comportando em re- the communities in the Environmentally Protec-
lação à utilização do meio ambiente, através de ted Area of the Delta of the Parnaiba behave in
uma análise do desenvolvimento socioeconômi- relation to the use of the environment through
co e ambiental da comunidade de Carnaubeiras an analysis of the social, economical and environ-
e a implantação do ecoturismo de base comuni- mental development of Carnauba trees and the
tária. implementation of community-based ecotou-
rism.
Palavras-Chave: Educação Ambiental, Comuni-
dades, Ecoturismo de Base Comunitária. Keywords: Environmental education, Communi-
ties, Community-based ecotourism.

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1. Introdução

A humanidade vive uma cultura de risco, com consequências devastadoras para as pessoas,
espécies e até gerações. Trata-se de uma crise ambiental sem precedentes na história, que se deve
ao ilimitado poderio humano. A degradação ambiental, no âmbito mundial, tem introduzido nos
debates a necessidade de uma mudança de mentalidade, de busca de novos valores, de uma nova
ética, onde a natureza deixa de ser vista apenas como um cenário. A educação ambiental surge
como alternativa para a apreciação das questões ambientais sob sua perspectiva econômica, so-
cial, política, cultural, ecológica e, enfim, como educação política, na medida em que são decisões
políticas todas as que, em qualquer nível, dão lugar às ações que afetam o meio ambiente.
Este artigo trata de uma análise do desenvolvimento socioeconômico e sobre a sensibilização
da educação ambiental nas comunidades da Área de Proteção Ambiental (APA) no Delta do Par-
naíba, território distribuído nos municípios de: Barroquinha e Chaval (Ceará); Água Doce, Araioses,
Paulino Neves e Tutóia (Maranhão); Cajueiro da Praia, Ilha Grande, Luís Correia e Parnaíba (Piauí). A
APA é uma extensa área natural destinada à proteção e conservação dos atributos bióticos (fauna
e flora), estéticos ou culturais, importantes para a qualidade de vida da população local e para a
proteção dos ecossistemas regionais, através da orientação, do desenvolvimento e da adequa-
ção das várias atividades humanas às características ambientais da área. Unidade composta por
ambiente marinho-costeiro: manguezais, praias, restingas, dunas fixas e móveis, planícies flúvio-
-marinhas e lacustres, além da caatinga e áreas de carnaubal.
O cenário de estudo abordado está localizado em uma das comunidades tradicionais de
Araioses, município que se encontra na região Nordeste do Estado do Maranhão, às margens do
Rio Santa Rosa (afluente do Rio Parnaíba) que é cortado pelo Rio Magu (Rio este que tem nascente
no município de Santana do Maranhão) e é uma das portas de entrada para o Delta do Rio Parna-
íba (ou das Américas). No caso o objeto de estudo em questão, é a comunidade de Carnaubeiras,
povoado do município de Araioses-MA, com aproximadamente 2.000 habitantes (IBGE, 2010), que
leva este nome devido à quantidade de pés de carnaúba existentes na região. A grande maioria da
população sobrevive das atividades de subsistência como a pesca e agricultura familiar.
Em virtude disso, dentre as atribuições do Grupo PET (Programa de Educação Tutorial) Turis-
mo, está o desenvolvimento dos mosaicos geográficos, onde são distribuídas as principais comu-
nidades da APA Delta do Parnaíba, sendo que o povoado do município Araioses pertence a esta
categorização, no qual se analisa os aspectos socioeconômicos e a viabilidade da localidade para
a implantação do ecoturismo de base comunitária, cabendo ao PET, o papel de sensibilizar estas
comunidades para o desenvolvimento do ecoturismo de base comunitária, através da inserção do
contexto pedagógico da educação ambiental dentro da comunidade de Carnaubeiras.

2. A Educação Ambiental, Comunidades Tradicionais e Sustentabilidade

No início da década de 1980, a ONU formou a comissão mundial sobre o meio ambiente e o
desenvolvimento, onde tinha como principal foco estudar novas alternativas de sustentabilidade.
Foi lançado um documento denominado “Nosso futuro comum” ou relatório Brundtland. Ele tam-
bém apontava o relacionamento entre os países ricos e pobres como causador do desequilíbrio
ecológico, estabelecendo uma ligação entre pobreza e degradação ambiental e alancava as ne-
cessidades entre os países ricos e pobres.
O mundo hoje passa pelo processo de reeducação ambiental, que gera uma nova ideia, e
reproduz instrumentos capazes de inventar formas de novas alternativas que possa recompor ou
repôs aquilo que foi destruído da natureza ou retirado de alguma forma que afetou o meio em
que hoje a matéria viva ocupa. Podemos classificar como o habito de educar, que significa cons-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 37


V CBEAAGT

truir ou aperfeiçoar aquilo que um dia foi aprendido de forma incorreta, isso mostra que o homem
está cada vez mais preocupado com seu meio, onde se pode notar a escassez ou até mesmo a
extinção de algumas espécies.
O aparecimento de órgãos geradores dessa educação ambiental vem crescendo muito nas
últimas décadas, cada um visando um ponto onde pode se notar uma maior deficiência na bus-
ca da tão sonhada sustentabilidade, além desses órgãos facilitadores de preservação podemos
verificar um aparecimento das instituições de ensino em todas as modalidades, esta iniciativa se
deu desde a chamada interdisciplinaridade do conteúdo aplicado, que permitiu de forma correta
inserir vários outros conteúdos dentro de todas as disciplinas, entre eles a educação ambiental.

A promoção da saúde no âmbito escolar parte de uma visão integral, multidisciplinar do


ser humano, que considera as pessoas em seu contexto familiar, comunitário e social. Pro-
cura desenvolver conhecimento, habilidades e destrezas para o autocuidado da saúde
e a preservação das condutas de riscos em todas as oportunidades educativas; fomenta
uma análise crítica e reflexiva sobre valores, condutas, condições sociais e estilos de vida,
buscando fortalecer tudo aquilo que contribui para melhoria da saúde, da qualidade am-
biental e desenvolvimento humano. (PHILIPPI JR, 2014)

A sociedade se organiza dentro de campanhas a partir de politicas públicas que influencia


na formação dessas novas ideias, assim podemos citar prefeituras, sede de governo estadual e
federal, uma vez que quando se adquire novos hábitos saudáveis envolvem vários outros pontos
que se tornam positivos dentro da ideia real de educação ambiental; fator muito favorável dentro
de uma comunidade e assim partindo para outros setores: cidades, estados e chegando a esfera
principal o país.

Na participação, contudo a potencialidade individual deve esta a serviço de um processo


coletivo, transformador, em que a população, no exercício do seu direito, conquistará au-
tonomia por meio de uma presença ativa e decisória. Desse modo exercerá controle sobre
a autoridade constituída. A população deve provar que indivíduos ou grupos são capa-
zes, em um dado momento, de mobilizar-se ou organizar-se para alcançar seus objetivos
sociais. (PHILIPPI JR, p.487. 2014)

Assim também podemos perceber que a descoberta da necessidade de autoproteção de áre-


as que ainda se encontram em pleno desenvolvimento natural, assim se formaram as Áreas de
Proteção Ambiental APA, e Áreas de Preservação Ambiental APAs. Esses tipos de espaço são dedi-
cados exclusivamente para manter espaços onde identifica um ciclo positivo natural das espécies
ali identificada.
A educação ambiental transforma e monta uma nova identidade, perfil de uma sociedade,
dentro do ramo de trabalho, por exemplo, na busca de novas alternativas, o custo com energia
de uma empresa pode ser substituído pela energia solar, eólica dentre outras fontes renováveis,
a cada dia o homem vem trabalhando na busca de novas fontes que venha trazer melhoras para
sua sociedade esse é o trabalho que diferencia uma teia social.
Nas áreas de proteção ambiental um dos segmentos do turismo que vem crescendo é o eco-
turismo de base comunitária que busca novas alternativas, através de ações sustentáveis que de-
mostram que os recursos extraídos da natureza são escassos e importantes para subsistência das
comunidades, preservado a identidade natural e cultural para as futuras gerações.

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V CBEAAGT

2.1 A Educação Ambiental e o Ecoturismo de base comunitária na APA Delta do Parna-


íba

As áreas de proteção ambiental tiveram origem a partir de atos e práticas das primeiras so-
ciedades humanas, que reconhecendo valores especiais de determinados espaços com cobertura
vegetal, tomaram medidas para protegê-los. As referências mais antigas são da Índia, Indonésia
e Japão. Essas áreas estavam associadas à presença de animais sagrados, de fonte de água pura,
à existência de plantas medicinais, mitos e fatos históricos. Outras eram criadas como reserva de
caça para famílias reais (Miller, 1997).
Atualmente, segundo a Lei 9.985 de 18 de julho de 2000, sobre Sistema Nacional de Unida-
des de Conservação, define unidades de conservação como, “uma área em geral extensa, com um
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas”.
(Brasil, 2000).
A APA é uma das categorias de UC (Unidade de Conservação) que pode ser constituída por
terras públicas e/ou privadas. Na APA deve-se restringir o uso e ocupação do solo, desde que ob-
servados os limites constitucionais e, nas áreas sob propriedade particular, o proprietário é quem
deve estabelecer as condições para visitação e pesquisa de acordo com as exigências legais.
De acordo com o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), até junho de 2015,
existem 294 áreas de proteção ambiental no país: 32 na esfera federal, 185 na esfera estadual e 77
na municipal. Dentre elas destaca-se a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, unidade de
conservação administrada pelo IBAMA, criada por Decreto Presidencial em 28 de agosto de 1996,
com uma área de 307.590,51 hectares localizada na região meio norte do Brasil, abrangendo os
Estados do Piauí e Maranhão.
A APA Delta do Parnaíba possui uma importante área de zona costeira brasileira por formar o
único delta em mar aberto das Américas, com mais de 75 ilhas e ser um santuário de reprodução
de diversas espécies de peixes, caranguejos, lagostas e camarões. A unidade protege também
estuários onde se reproduz o peixe-boi marinho. Esta APA possui aproximadamente 3.031 km2 e
seu acesso é feito pela BR 343 até Parnaíba, a partir de onde se torna possível visitar o delta por
meio de embarcações.
Através da criação das APA’s surge a tendência pela procura de ambientes naturais. Na déca-
da de oitenta e, mais intensamente na década de noventa do século passado, o Delta do Parnaíba
passou a ser explorado turisticamente pelas operadoras de turismo na região, e com isso nasce às
preocupações inerentes ao meio ambiente. Eleva-se as discussões acerca dos impactos gerados
por este fluxo crescente de pessoas em zonas costeiras que podem ser drasticamente alterados
pela ação humana se não ocorrer um planejamento adequado por parte dos gestores, frutos de
uma atividade sem planejamento, pois foi erguida e ainda ergue-se, apesar do conhecimento já
obtido sobre questões ambientais, infraestruturas em locais frágeis, que precisam de monitora-
mento visando uma melhor qualidade na gestão do espaço, para evitar distorções irreparáveis.
Considerando a área de estudo, a APA do Delta do Parnaíba, torna-se pertinente enfatizar
impactos ocorridos em ambientes naturais. O lixo e resíduos sólidos tornam-se problemas graves.
Depositados nos ambientes naturais, degradam a aparência física e provocam a perda da biodi-
versidade local. Existe também o problema da destinação dos esgotos provenientes das instala-
ções destinadas ao turismo como os hotéis, áreas de lazer, etc., que, por sua vez, também polui
esteticamente ou visualmente quando realizados sem planejamento. Além disso, o consumo do
caranguejo-uçá e peixes da região cresceu exageradamente, causando impactos diretos para a
população local que viam esta atividade como meio de subsistência, e atualmente são explorados
pelos grandes empresários da região, diminuindo as perspectivas de vida dos moradores.

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V CBEAAGT

Em virtude destes aspectos, surge a necessidade da implantação do ecoturismo de base co-


munitária na APA Delta do Parnaíba para a sensibilização das comunidades tradicionais, que se
encontram vulneráveis aos processos capitalistas, através da difusão da educação ambiental. O
ecoturismo está sendo umas das grandes possibilidades à extração voraz de recursos florestais e
minerais, além de poder gerar as divisas necessárias, trazendo receitas para administrar adequa-
damente as UC’S, pois a má condução das relações que envolvem o turismo, sobretudo em áreas
de forte apelo ambiental, pode ser uma ameaça, causando riscos não somente ambientais, mas
social principalmente.
Segundo o que estabelece o art. 4°, XII, do SNUC/2000, um dos objetivos das unidades de
conservação é favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação
em contato com a natureza e o turismo ecológico (Brasil, 2000). Para Pelicioni (2000), a educação
ambiental é uma ideologia que conduz à melhoria da qualidade de vida e ao equilíbrio dos ecos-
sistemas para todos os seres vivos. Assim, mais do que instrumento de gestão ambiental, ela deve
se tornar filosofia de vida, que se expressa como uma forma de intervenção em todos os aspectos
sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos e estéticos.

3. Metodologia

Lakatos e Marconi (2003) afirmam que para obtenção de informações e conhecimentos acer-
ca de determinado problema, faz-se necessário à aplicação de questionários. Através deste meca-
nismo, as informações podem ser analisadas e discutidas seus resultados.
Foram feitas visitas técnicas, aplicação de questionários semiestruturado, visitas guiadas, le-
vantamento bibliográfico, rodas de conversas e orientação para implantação do ecoturismo de
base comunitária na comunidade, visando uma contribuição que possa favorecer o andamento
do processo de desenvolvimento de práticas educacionais associadas ao meio ambiente criando
atividades planejadas geradoras da renda da
comunidade e o bem-estar do turista.

4. Resultados e Discussões

A pesquisa aplicada analisou e avaliou as questões socioeconômicas da comunidade de


Carnaubeiras, onde buscou-se compreender as dificuldades enfrentadas sobre as questões am-
bientais, sociais e econômicas, que influenciam diretamente na composição de estratégias para
implantação da educação ambiental, no qual 56 habitantes participaram diretamente para o pre-
enchimento dos dados, no dia 22 de outubro de 2014.

Figura 01 – Sexo dos Entrevistados.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

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V CBEAAGT

A Pesquisa foi realizada com uma amostra de cinquenta e seis entrevistados. Na identificação
desses, observamos um leve equilíbrio com a população masculina de 46,43% de participação,
seguido de 53,57% de participação feminina.

Figura 02– Faixa Etária.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

No quesito faixa etária 50% da população estão ente 27 a 48 anos, sendo que 25% estão com
27 a 37 anos e os outros 25% estão com 38 a 48 anos. Seguido assim de 23,21% entre 49 e 59 anos.
Os moradores entre 16 e 26 anos correspondem a 8,93%. A população com 60 anos ou mais se
configura em 17,86% das pessoas entrevistadas.

Figura 03- Escolaridade.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Quanto à escolaridade dos entrevistados os resultados obtidos foram os seguintes: 39,29%


possuem Ensino Fundamental Incompleto; 19,64% não possuem nenhum grau de instrução edu-
cacional (Analfabetos); 14,29% possuem Ensino Fundamental Completo; 5,36% tem Ensino Médio
Completo; 12,5% possuem Ensino Médio Incompleto e apenas 8,9% possuem Ensino Superior
Completo. Observa-se que a

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maioria dos entrevistados não possui Ensino Fundamental Completo, mostrando a fragilida-
de no setor educacional das classes de níveis econômicos mais baixos, que se encontram às mar-
gens da sociedade, esquecidos pelos órgãos públicos, sem estrutura de ensino satisfatória para a
qualificação dessas pessoas.

Figura 04- Tipos de Ocupação.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Dentre as ocupações pesquisadas o gráfico quatro aponta que 33,93% dos entrevistados se
destinam a atividades tradicionais ligados a pesca e 16,07% trabalham com a agricultura familiar
para a subsistência; 17,86% dos moradores já estão aposentados; a minoria restante se enquadra
em atividades relacionadas ao ramo público e comerciário, sendo que 7,14% são estudantes.

Figura 05- Produção Destinada.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Ao ser perguntado sobre quanto da Produção é destinada ao consumo familiar 57% dos en-
trevistados responderam que em média 10 a 30% são destinados para o uso próprio e apenas
1,79% usa de 70 a 100%. Outros 17,86% destinam de 40 a 60% para o consumo e há aqueles que
destinam toda sua produção para o mercado com 1,79%.

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Figura 06- O que mudou em relação à pesca e/ou o trabalho no mangue ao longo do tempo.
Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Com o objetivo de saber como esta o trabalho desses moradores foi questionado o que se
modificou com o passar dos anos no seu trabalho. Mais da metade dos moradores 60,71% respon-
deram que a situação piorou. A explicação esta na pesca e cata do caranguejo de forma predatória
e não respeitar o período de defeso o que diminui, ao longo do tempo, a quantidade desses ali-
mentos, dificultando cada vez mais seu trabalho. Apenas 8,93% dos entrevistados afirmaram que
seu trabalho melhorou seguido de 10,71% que manteve inalterada. Outros 7,14% não souberam
responder.

Figura 07- Renda Familiar.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

A parte do gráfico 7 aponta que o município de Carnaubeiras tem uma população que em
sua maioria ganha um (1) salário mínimo com um pouco mais de 41%. Essa renda baixa é uma
realidade em pequenos municípios à qual sua renda é oriunda a partir de pequenos empreen-
dimentos e atividades tradicionais como a pesca, cata do caranguejo, marisco e artesanato. 25%
afirmam que ganham de 1 a 2 salários mínimos, seguindo de 30,36% que ganham de 2 a 4 salários
mínimos. Apenas 3,57% da população gana menos de um salário mínimo.

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Figura 08- Está satisfeito com o que ganha?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Dos entrevistados um pouco mais de 60% afirmaram que não há necessidade de obter uma
renda maior, essa situação preocupando quando ao desenvolvimento da região mais ao mesmo
tempo mostra a simplicidade da região e motivação para preservar as atividades que lhes foram
repassadas. Cabe ainda ressaltar que as maiorias dos entrevistados eram adultas. Aos jovens e
adolescentes essa realidade pode ser diferente. Outros 28,57% identificam que há a necessidade
de ganhar um pouco mais, seguido de 10,71 que disseram que é indiferente uma renda maior.

Figura 09- Recebe alguma ajuda de custo Governo?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

O Atual Governo com uma política de erradicação da pobreza implantou programas sociais
que tem gerado resultados positivos não só nessa linha da extrema pobreza. O gráfico 9 apontou
que 55,36% das famílias da comunidade recebem algum benefício governamental e 41% não re-
cebem nenhuma ajuda financeira.

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Figura 10 – Tipo de Moradia.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Das condições de moradias dos entrevistados o (gráfico 10) aponta que a comunidade tem
80% de casa do tipo alvenaria, seguidos de 14,29% de casa do tipo taipa e 5,36%.

Figura 11 – Abastecimento de água.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Quanto ao abastecimento de água a maioria da população 67,86% utiliza-se ainda de poços


como principal meio de recebimento de água. Seguido de 17, 8% com água Canalizada e 1,7% é
por meio de cacimba.

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Figura 12 – Energia Elétrica.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

O gráfico 12 mostra quanto da população de Carnaubeiras tem energia elétrica em suas re-
sidências. 91% responderam que sim, e apenas 8% da população ainda não tem energia elétrica.

Figura 13- Rede de Esgoto.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Sobre a realidade da comunidade de Carnaubeiras, 96,43% dos habitantes afirmaram que


possuem rede de esgoto em suas residências, e apenas 3,57% dos moradores utilizam-se da rede
de esgoto.

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Figura 14- Destino do Lixo.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Quando perguntados sobre o destino do lixo 60,71% dos moradores responderam que usam
a coleta pública na região, seguidos de 19,64% que ainda fazem a prática de queima dos dejetos;
outros 16,07% utilizam áreas naturais para despejo dos resíduos sólidos e 3,57% usam outros me-
canismos para eliminar o lixo produzido.

Figura 15- O que mudou em relação ao lixo e desmatamento ao longo do tempo?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Sobre o que mudou em relação ao lixo e o desmatamento ao longo do tempo, cerca de 70%
dos entrevistados apontam para aspectos positivos ou sem nenhuma alteração, no caso 35,71%
afirmam que houve melhoras, e os outros 35,71% dizem que se mantiveram inalterados; 28,57%
dos habitantes afirmam que a situação piorou durante os anos.

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Figura 16- Quem deveria cuidar da proteção dos recursos naturais?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

A entrevista mostrou que 75% preferem que o governo juntamente com a população cuide
da proteção dos recursos naturais da comunidade, 17,86% querem que apenas o governo atue
nesse posicionamento de zelo, seguido de 7,14% afirmaram que é a própria população que de-
vem ter tais cuidados.

Figura 17- Qual é a maior necessidade de sua família?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Ao serem questionados sobre qual seria a maior necessidade de suas famílias hoje, 41,07%
dos entrevistados afirmaram que não há grande quantidade de empregos ofertados, seguido de
39,29% que falam sobre a carência da saúde, falta de postos e hospitais para a comunidade, 8,93%
citaram outras necessidades, 3,57% por opção de alimentos e 1,79% dizem que a educação é uma
de suas necessidades.

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Figura 18- Participação de Associação.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

A respeito da integração com as associações, 58,93% afirmaram que não fazem parte de ne-
nhuma associação e 41,07% são partes integrantes de alguma associação.

Figura 19- Se sente representado pela associação?


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

Segundo a pesquisa direcionada, 35,71% dos habitantes se sentem representados pela asso-
ciação, em oposição de 32, 14% que afirmam que não se sentem representados.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 49


V CBEAAGT

Figura 20- Qualidade de vida na comunidade.


Fonte: Pesquisa Direta (2014).

De modo geral, quando perguntados a respeito da qualidade de vida na comunidade, 55,36%


consideram insuficientes, seguidos de 23,21% que afirmam que são atendidas suas necessidades
básicas e 21,43% dizem que não atende de forma alguma de suas carências.

Figura 21- Comercialização do caranguejo- uçá na Comunidade de Carnaubeiras.


Fonte: PET TURISMO (2014).

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 50


V CBEAAGT

Figura 22- Aplicação de Questionários na Comunidade de Carnaubeiras.


Fonte: PET TURISMO (2014).

5. Considerações Finais

A comunidade de Carnaubeiras mostra-se disposta para a introdução do ecoturismo de base


comunitária, uma vez sendo aplicados por órgãos facilitadores da educação ambiental. Seria viá-
vel à implantação de projetos que fortalecessem a ideia de preservação e sustentabilidade na área
de proteção ambiental, fazendo com que visitantes do local possam introduzir em suas atitudes,
práticas sustentáveis que assegurem e mantenha a proteção dos recursos naturais e culturais da
população.
Preparar a comunidade para o turismo é um passo importante, pois, os lucros e os impactos
positivos são de grande interesse, mas a comunidade e o visitante precisam pensar o que essas
atividades podem impactar negativamente no local visitado, tendo consciência da coleta do lixo
que não se decompõe na natureza; respeito com a cultura local; tomar cuidado com as doenças
que podem ser transmitidas vindas de turistas de outros países; e a utilização de matérias primas
e espécies da fauna e da flora sem permissão dos órgãos responsáveis, outro ponto relevante
dentro da comunidade e de caráter negativo é a falta de exposição junto aos demais membros do
controle do dinheiro vindo dos turistas.
Através deste trabalho pode se verificar uma forte influência enraizada no seu legado cultu-
ral, socioambiental, econômico e político, diante de uma forte resistência principalmente dos mais
velhos da localidade dominados pelo poder público, que não se preocupam com os interesses
comunitários. A realidade é que se deve preocupar com estas comunidades que ainda preservam
parte de sua história e detêm de um ambiente favorável de relação homem e natureza, sendo que
a educação ambiental é um importante aliado para a preservação do meio ambiente e as culturas
das comunidades tradicionais.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 51


V CBEAAGT

Referências
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2001.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 52


V CBEAAGT

edUCação amBiental no projeto


“prodUção e elaBoração de material
didátiCo a partir do programa Biodi-
Versidade nas Costas – parna mon-
tanhas do tUmUCUmaqUe”

ElianE a. cabRal silVa


Pablo s. moREiRa FERnandEz

Resumo Abstract
Esse texto tem por finalidade socializar as expe- This text aims to socialize the experiences during
riências vivenciadas durante a realização da pri- the course of the first phase of the extension pro-
meira fase do Projeto de Extensão “Produção e ject "Production and Development of Teaching
Elaboração de Material Didático para Educação Materials for Environmental Education from the
Ambiental a partir do Programa Biodiversidade Biodiversity Program Coastal - PARNA Tumucu-
nas Costas - PARNA Montanhas do Tumucumaque maque Mountains - Geography" developed by
– Geografia” realizado no Laboratórios de Pesqui- teachers and students members the Research
sa e Ensino de Geografia (LAPEGEO) da Univer- Laboratories and Geography Teaching (LAPEGEO)
sidade Federal do Amapá (UNIFAP). O projeto in the Federal University of Amapá. The objective
teve por objetivos, contribuir para a formação e was to contribute to the training and the impro-
o aperfeiçoamento de alunos e professores do vement of students and Geography faculty mem-
curso de Geografia a partir da elaboração de um bers from the elaboration of didactic material
material didático voltado para práticas de Educa- facing environmental education practices in the
ção Ambiental e que partiu do Plano de Manejo National Park Tumucumaque Mountains. The re-
do Parque Nacional Montanhas do Tumucuma- sults were prepared two textbooks, one HQ and
que. Além das leituras e trocas de conhecimento, Field Journal on Mountains National Park Tumu-
o grupo de pesquisadores realizou um Trabalho cumaque Mountains that involved in its construc-
de Campo ao PARNA enquanto “repositório” de tion interesting methodological practices to think
vivências e experiências geográficas com as pai- about the geography teaching relationship and
sagens, os lugares, os territórios, sujeitos, culturas environmental education.
e de práticas educativas nos campos do Ensino de
Geografia e Educação Ambiental. Como resulta- Keywords: Education, Environment, Geography
dos foram elaborados um conjunto de materiais Teaching, Fieldwork.
didáticos, um GIBI (Quadrinho), jogo de tabuleiro
e um Diário de Campo expressando e propondo
narrativas geográficas sobre o Parque Nacional
Montanhas do Tumucumaque a partir da experi-
ência vivida.

Palavras-Chave: Educação, Meio Ambiente, Ensi-


no de Geografia, Trabalho de Campo.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 53


V CBEAAGT

1. Introdução

O mundo meu é pequeno, Senhor.


Tem um rio e um pouco de árvores.
Manoel de Barros, O Livro das Ignorãças.

O sujeito aprendiz que busca compreender o Meio Ambiente, passa a apreender o espaço e
compreender o "mundo" a partir de suas vivências e experiências geográficas com ele, não sendo
exclusivamente de uma forma científica, mas através do caminhar ou do viajar, através das brinca-
deiras, do devanear e de uma escrita que expresse o “pertencimento” aos lugares e suas paisagens,
tal qual a relação com o mundo apresentada pelo poeta Manoel de Barros ao criar uma imagem
de mundo composto por pertencimento, afetos e valorização da Natureza.
A proposta de Educação Ambiental aqui apresentada, parte de experiências espaciais vividas
por alunos e professores do curso de Geografia da UNIFAP no Parque Nacional Montanhas do Tu-
mucumaque (a maior Unidade de Conservação brasileira, localizada entre os estados do Amapá e
do Pará, e fronteira com a Guiana Francesa), e que aqui são relatadas como integrantes de proces-
sos de criação de materiais didáticos e práticas pedagógicas no contexto do Ensino de Geografia
e do Meio Ambiente.
Relatamos nesse texto algumas das experiências vivenciadas durante a realização da primei-
ra fase do Projeto de Extensão voltado a produção de material didático em Educação Ambiental,
desenvolvido por professores e alunos integrantes dos Laboratórios de Pesquisa e Ensino de Geo-
grafia (LAPEGEO), em parceria com o Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal
do Amapá. O projeto de Extensão “Produção e Elaboração de Material Didático para Educação
Ambiental a partir do Programa Biodiversidade nas Costas - PARNA Montanhas do Tumucumaque
– Geografia” foi realizado em parceria com o Departamento de Biologia (UNIFAP), Instituto Chico
Mendes (ICMBio), das ONGs WWF e Ecocentro/IPEC e teve início no mês de Abril de 2013, finali-
zando em 2014.
O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque é a Unidade de Conservação mais recente
no contexto de PARNA’s no Brasil, criado em 22 de agosto de 2002, teve como principal objetivo
a preservação do seu ecossistema natural. Está localizado na região noroeste do Amapá, numa
porção da Floresta Amazônica bastante peculiar, com características únicas e ainda pouco explo-
radas. Estende-se por uma área de 3.867.000 hectares de Floresta Tropical protegida, é o maior
do Brasil nessa qualidade (Ver figura 1). Além da diversidade na flora e fauna, seu subsolo é em
rico minerais com valor comercial, como ouro, minério de ferro e manganês. O entorno do PAR-
NA Montanhas do Tumucumaque é portador de uma dinâmica social na qual convivem diversos
agentes com interesses diferentes e antagônicos, dos quais destacam-se as populações extrati-
vistas, grupos indígenas, e grupos ligados exploração do minério realizada por grandes empresas
internacionais e às práticas agropecuária, indicando um cenário de conflitos e pressão sobre a
área de conservação.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 54


V CBEAAGT

Figura 1: Localização do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Fonte: ICMBIO/MMA, 2014.

A elaboração do projeto foi motivada por uma necessidade que tem sido unânime nos de-
bates educativos no Amapá e outros lugares da Região Norte brasileira, que é a da produção de
materiais de caráter educativo pelos sujeitos que moram e vivem nestes lugares, elaborando uma
forma de resistência com a “importação” de textos, imagens e propostas produzidas em outros
lugares e regiões do Brasil.
Neste contexto, se dá a intenção de criar subsídios e conteúdo a partir da realidade local atra-
vés de um material didático voltado para práticas em Educação Ambiental no contexto do Estado
do Amapá, tendo como tema gerador o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e alguns
processos (sociais, ambientais, políticos, culturais,...) que permeiam sua criação e funcionamento.
Dessa forma o projeto teve como objetivos, criar e oferecer espaços de formação pedagógica e
cientifica aos pesquisadores (docentes e alunos do curso de Geografia) no LAPEGEO, que impul-
sionaram as ações e atividades de elaboração de um material didático voltado para práticas de
Educação Ambiental o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.
Na construção dos “fazeres metodológicos” do projeto, optou-se pelo trabalho coletivo e par-
ticipativo, multidisciplinar e engajado com a sociedade e suas questões, e considera que cada
pessoa tem a sua “leitura de mundo” dada a sua singularidade e suas experiências. Ela se dá na
busca por um encontro do sujeito com os lugares, paisagens, seus sujeitos e suas memórias, falas,
saberes a partir de suas vidas e “viagens”.
Sobre esta educação dos “encontros e das viagens”, Paulo Freire (1970) nos indica que, nin-
guém desvela o mundo ao outro e, ainda quando um sujeito inicia o esforço de desvelamento
aos outros, é preciso que estes se tornem sujeitos do ato de desvelar, portanto não é apenas o
“transmitir conteúdos específicos” as vezes tido como fundamental no processo educativo, mas
sim promover novas formas dos educandos se relacionarem com a experiência vivida, de maneira
que o relacionamento educador-educando se estabelece na horizontalidade e que juntos se po-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 55


V CBEAAGT

sicionam como sujeitos do ato do conhecimento.


Ainda segundo esse autor, a ação educativa deve ser sempre um ato de recriação, de ressig-
nificação e a atitude dialógica, deve ser antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos
homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar. Daí que, para esta concepção
como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador e educando se
encontram como educandos/educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aque-
le se pergunta em torno do que vai dialogar com estes.
A Educação Ambiental nesta perspectiva, deve ser vista como o estímulo a um olhar ético
para com o mundo e seus inúmeros problemas ambientais, e assim, como estas participam da rea-
lidade dos sujeitos e de seus lugares. Deve buscar o entendimento de que os inúmeros problemas
ambientais presentes no mundo contemporâneo são resultados de um modelo de desenvolvi-
mento indicado pela sociedade ocidental e está intimamente relacionada com os modos de vida
e de produção espacial, que esta adotou no decorrer do seu processo de evolução.
Ainda sobre este modelo, Diegues (2010) afirma que este modelo, assentou-se sobre alguns
princípios básicos: o progresso como sinônimo de crescimento econômico, a afirmação da dicoto-
mia homem/natureza a partir da construção da ideia de “natureza natural”, e na transformação dos
elementos naturais em recurso/mercadoria. Isso foi extremamente impactante sobre a natureza,
pois orientou, incentivou e justificou a exploração sem limites dos elementos naturais necessários
para garantir a dinâmica, especialmente a econômica.
Dessa forma, ações de Educação Ambiental que visam incentivar uma relação sociedade/na-
tureza mais harmônica não devem acontecer distanciadas dessa compreensão mais totalizadora e
integrada que envolvem as relações da sociedade com a natureza. No mesmo caminho proposto
por Diegues (2010), entendemos que as práticas educativas devem promover relações sustentá-
veis entre sociedade/natureza, provocando um olhar “para além” das questões conceituais ou téc-
nicas, considerando as questões políticas, sociais, as visões de vários grupos sociais com interesses
divergentes a respeito do uso e acesso dos recursos ambientais. Este processo deve revelar que
não existe um único paradigma de sociedade de bem-estar (a ocidental) a ser atingido por vias do
"desenvolvimento" e do progresso linear, e sim, de que existem vários tipos de sociedades e mo-
dos de se relacionar com a natureza, com os lugares e as paisagens naturais: com respeito, ética,
de formas sustentáveis, considerando modos particulares, históricos e ancestrais de se relacionar
com o mundo.
Atualmente esse projeto se encontra em sua terceira etapa, que é a avaliação dos materiais
didáticos produzidos no âmbito do projeto, por professores da Rede Básica de Ensino do Estado
do Amapá que trabalham e vivem no entorno do Parque do Tumucumaque. A primeira fase, rela-
tada nesse texto, foi concluída em janeiro de 2014 e envolveu professores do Curso de Geografia
da Universidade Federal do Amapá- UNIFAP ligados à área de Ensino de Geografia, Geoproces-
samento e Educação Ambiental, mais 13 alunos do curso Geografia da Universidade Federal do
Amapá. Foram nove meses de trabalho em que o protagonismo dos alunos e a produção de
vários materiais didáticos, dentre eles o Gibi Ana Clara e Jupará: uma aventura pelo Tumucuma-
que, um jogo de tabuleiro e um Diário de Campo onde os alunos discorrem sobre a experiência
de conhecer o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e propõe atividades de produção
de textos, imagens, poesias e narrativas de pertencimento a partir de viagem realizada ao PARNA.

2. Das práticas realizadas para produção do material didático e da Expedição ao Tumu-


cumaque

Para elaborar o gibi (História em Quadrinhos) propôs-se a criação de um grupo de trabalho


intitulado “Grupo de Trabalho Geografia” que teve a participação de cerca de 10 alunos da gra-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 56


V CBEAAGT

duação de Geografia e integrantes do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Geografia. Os alunos


tiveram como ponto partida para a construção do gibi, um aprofundamento de leituras acerca
das paisagens naturais e culturais da Amazônia e a leitura do Plano de Manejo do Parque Nacional
Montanhas do Tumucumaque, fundamentando e referenciando a construção do quadrinho, en-
tendendo que este processo se daria na “transformação” de uma linguagem técnica (do documen-
to) em uma linguagem acessível e prazerosa para os alunos do Ensino Fundamental I, transpondo
saberes e construindo pontes de saber a partir das informações contidas no Plano Manejo.
A ideia inicial, foi a viagem de uma menina chamada Ana, que sai de Macapá com seu pai, e
percorre caminhos que se transformam em trajetórias e experiências pelo Estado do Amapá em
sua busca pelo Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Nesta viagem realizada de ônibus,
trem (dos municípios de Santana a Serra do Navio), de barco pelos rios e corredeiras, percursos
fundados em um caminho real, mas que se desdobra em narrativa enquanto dado imaterial, sub-
jetivo, repleto de lendas, histórias, mitos e até mesmo de um Jupará (marsupial endêmico símbolo
do PARNA), personagem guia que vai apresentar a Floresta Amazônica, a população indígena (re-
presentada por Guanacira), a cultura ribeirinha e os elementos naturais do lugar.

Figura 2: Imagem do gibi (Quadrinho) e do Diário de Campo elaborado pelos acadêmicos de Geografia.
Fonte: Eliane Silva, 2014.

O “GT Geografia”, foi um dos momentos mais importantes do projeto de extensão, dado que
estimulou a criatividade, permitiu que os alunos escrevessem uma narrativa pedagógica a partir
de seus olhares sobre a natureza próxima, tendo como marco o protagonismo dos alunos. Estes
organizaram a proposta de roteiro para o gibi, escreveram a história e elaboraram os desenhos
que compõe o material. Da mesma forma estabeleceram uma organização do trabalho entre eles,
com seus ritmos e disposição ao encontro, o que permitiu no final da produção do trabalho, o
entendimento de que este foi resultado de um trabalho coletivo e colaborativo.
Os professores participantes acompanharam o desenvolver do trabalho, contudo na condi-
ção de orientadores, não interferindo diretamente na escolha do tema e dos personagens, no
processo criativo, indicando algumas referências bibliográficas e didáticas que poderiam indicar
caminhos para a escolha de conteúdos e informações a serem organizadas, como por exemplo
a leitura e busca pela “tradução” em uma linguagem pedagógica do Plano de Manejo do PARNA

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 57


V CBEAAGT

Montanhas do Tumucumaque (BRASIL, 2009) como referência guia, buscando construir a auto-
nomia e a liberdade na produção do gibi “Ana e Jupará”. Os encontros do “GT Geografia” com os
professores da UNIFAP sempre tiveram como premissa a participação e organização coletiva e
participante de seus integrantes, se constituindo em um espaço de diálogos e de troca de conhe-
cimentos.

3. A viagem ao Tumucumaque como projeto de envolvimento afetivo e Educação Am-


biental

A viagem (expedição) ao Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque ocorreu em função


do anseio dos pesquisadores do Projeto de Extensão, que apontaram a necessidade de conhecer a
realidade (vivenciada) sobre a qual estavam escrevendo, e com intuito de ampliar o entendimento
e as reflexões que compuseram o material didático em Educação Ambiental. A viagem aconteceu
no mês de Outubro de 2013 e teve como objetivo além de conhecer o parque, coletar dados, pro-
duzir imagens fotográficas e audiovisuais, georreferenciar alguns pontos da área do Tumucuma-
que e relatar estes percursos em linguagem poética, informações indispensáveis para subsidiar o
material que os acadêmicos estavam produzindo. Nesta viagem, os pesquisadores (acadêmicos e
professores) não se limitaram a produzir esses registros, se permitindo ao encontro e as conversas
com moradores de algumas comunidades, escolas, centros comunitários localizados no entorno
do PARNA o que contribuiu para a ampliação de um olhar da “sociobiodiversidade” que o envolve.

Figura 3: Dois momentos da viagem ao PARNA Montanhas do Tumucumaque: Trilha do Tauarí e percurso de
barco pelo Rio Feliz. Fonte: Trabalho de Campo, 2014.

Para os participantes da expedição, a viagem foi fundamental para o levantamento de infor-


mações que auxiliaram na elaboração do gibi (Quadrinho), contudo foi mais do que isso, foi tam-
bém um momento de troca de experiências e vivências, de reflexões profundas sobre os sentidos
da natureza no mundo atual e da desconstrução e reconstrução dos valores e ideias que muitos
alunos e professores tinham sobre o Parque. Tonou-se um momento em que muitos entenderam
um pouco mais de suas próprias histórias, sua condição humana no mundo atual e a construção
de um sentido de Educação Ambiental que transcendesse esta enquanto saber meramente impo-
sitivo ou desconectado de suas realidades..
A valorização da natureza e o pertencimento aos lugares, podem ser acessados nas falas que
seguem, indicando o fortalecimento de ideais ambientais e de um olhar de afeto e valorização
do Meio Ambiente. Um olhar exploratório (baseando na percepção primeira) sobre o lugar, foi

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 58


V CBEAAGT

lançado pelos pesquisadores/investigadores, dando início ao trilhar investigativo e ao acesso à


experiência, que segundo a perspectiva de Tuan em relação a percepção é: “uma atividade, um
estender-se para o mundo (...)" (TUAN, 1980).
Percepções que se ampliam e se consolidam como pertencimento, como as que são apresen-
tadas nas falas de alguns alunos e que foram coletadas durante a visita ao Parque:

“…eu nunca tinha tido contato com natureza, e quando a minha mão falava a relação
dela com a natureza, eu não entendia porque eu nunca tinha ido. A primeira vez que eu
tive contato com o interior, foi quando eu fui lá para enterrar a minha mãe. A mãe dizia
pra gente quando ele morresse ela queira ser enterrada na terra dela (...). Hoje, com esses
momentos que nós estamos vivendo eu consigo ter o mesmo sentimento que ela tinha, e
queria transferir pra gente e a gente não consegui entender .... a viagem está sendo uma
realização pessoal minha, crescimento como ser humano e de respeito com a natureza”
(Acadêmico do Curso de Bacharelado em Geografia da UNIFAP).

“...das primeiras vezes que vi falar do parque não foram coisas muitas boas, falavam que
não podia entrar aqui, .... então eu achava que era uma fortaleza tudo blindada, fechado
e que os gestores eram monstros carrasco e que não deixavam ninguém entrar aqui (rs)...
e hoje não, eu vi o trabalho que estão fazendo e esforço para transforma esse espaço em
espaço de visitação. Eu aprendi que nós devemos valorizar todos as pessoas, hoje a gente
veio com os barqueiros, eu não conheço eles, mas acredito que o nível de escolarização
deles não deve ser tão elevado, um dos barcos vinha sendo guiados por dois adolescentes
e naquele momento, pra quem não sabe nadar toda a nossa vida estavam nas mão deles...
todo o nosso conhecimento não servia de nada e nossa vida toda estava entregue a eles”
(Acadêmico de Licenciatura em Geografia da Unifap).

“(...) o que mais deu significado a essa reflexão que eu consegui fazer, principalmente re-
lacionada a estratégia de gestão, e que eu não entendia tanto, fui até preconceituoso em
certos momentos. Eu perguntava porque não abriam o parque, porque as pessoas não
tinha uma visitação maior, porque não se implantava a questão do turismo, do ecoturis-
mo e o significado não veio através das reposta que eu esperava, mas através das resposta
que eu não esperava, que foi encontrar uma dificuldade tremenda de se chegar aqui no
parque, uma necessidade de uma logística muito grande .... principalmente de compar-
tilhar esse momento com pessoas que estão junto comigo nessa caminhada de amadu-
recimento, de amadurecimento na academia, amadurecimento de reflexão crítica e isso
me proporcionou um ganho muito grande...” (Acadêmico de Licenciatura em Geografia
da UNIFAP)

“(...) é um coisa boa, acho que todos aqui conseguem percebem esse afloramento dos
sentimentos esse estimulo as nossas percepções, de estar realmente sentido todos os de-
talhes, esse sentimento bom .... a gente percebe que dentro do corre, corre do dia, isso
ai é tomado da gente, o nosso tempo, o nosso sentimento vem sendo controlado vai se
perdendo a medida a gente vai sendo engolido por sistema que oprime, que realmente
não respeita a natureza porque é progresso, progresso, progresso …. então em cima dis-
so a gente é mais o sentir do que o próprio intelecto do que próprio conhecimento que
transcende, e a gente vê a nossa pequenez perante todo essa exuberância da natureza,

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 59


V CBEAAGT
realmente perante a natureza é gente é tão pequeno…” (Acadêmico de Licenciatura em
Geografia pela UNIFAP).

Tais falas indicam percursos singulares e compartilhados do campo de pesquisa, de um aces-


so ao lugar a partir da experiência, e constituem-se numa possibilidade de se conseguir não só
uma aproximação com o objeto de estudo, mas também, de criar conhecimento partindo da reali-
dade vivenciada. Neste caminho de encontro ao PARNA Montanhas do Tumucumaque, os sujeitos
se valeram da pesquisa qualitativa, da investigação participante, partindo da construção teórica
acerca do objeto de estudo para que o campo se tornasse “um palco de manifestações de inter-
subjetividade e interações entre pesquisador e grupos estudados, propiciando a criação de novos
conhecimentos" (NETO, 2001, p.54).
Muitas dessas narrativas se fazem presentes no diário de campo que foi elaborado pelos aca-
dêmicos como forma de registro da viagem e indicação pedagógica, na qual foram orientados a
produzirem poemas, falas em primeira pessoa, fotografias, vídeo e imagens de caráter poético,
documental, produzidos por esses alunos como registro de uma vivência e de percepções espa-
ciais e ambientais.
Ao conhecer de um jeito tão próximo as paisagens e lugares que dão forma ao Parque Tumu-
cumaque, ao estarem próximos de árvores centenárias com mais de 500 anos, ao ouvir as narra-
tivas carregadas de saberes tradicionais dos habitantes que sempre viveram nesse lugar, ao ex-
perimentarem com tanta intensidade os sons e ambiências da natureza, puderam compreender
“um mundo”, como a relação de amor que os antepassados nutriam pelo lugar; que a floresta é
um lugar especial, que ela é uma sistema em equilíbrio natural, que ela é abrigo de culturas, de
histórias, de vida.
Estas experiências geográficas de encontro com o mundo e com a natureza, permitiram ela-
borar e materializar paisagens “em movimento” no percurso de barco pelas corredeiras e braços
do rio Feliz, no canto dos pássaros e outros animais, na vista da floresta exuberante ou o encontro
(abraço) com um imponente Tauarí após uma trilha percorrida por lugares significativos e guiado
por um habitante do lugar. Em percursos educativos, pois conforme Tuan, “(...) cada pausa esta-
belece uma localização como sendo significativa, transformando-a em lugar” (TUAN, 1982). Os
lugares e suas conexões tornam-se expressões de amizade, de solidariedade e de afeto, as vezes
de um olhar ou um gesto, que podem indicar um novo modo e postura com o relacionar-se com
a natureza. A viagem para o PARNA Montanhas do Tumucumaque, tornou-se significativo para os
discentes a partir do momento em que permitiu um contato direto e vivido com a natureza pre-
sente no PARNA, antes vista apenas nos livros e documentos.

4. Considerações Finais

No percurso realizado durante a execução do projeto, passando pela Viagem ao Parque Tu-
mucumaque, até a elaboração dos Materiais Didáticos (a publicação do Quadrinho, do jogo e do
Diário de Campo) enquanto produtos pedagógicos, fica evidente a valorização do protagonismo
e participação dos alunos no desenvolvimento de ações e práticas educativas, fundamentais para
ações e reflexões nos contextos do debate metodológico sobre a Educação Ambiental baseadas
no Ensino de Geografia na região Norte do Brasil e no bioma amazônico.
Na produção desses materiais os alunos construíram um grupo de trabalho que se pautou
por práticas colaborativas, de troca de saberes e amadurecimento de um olhar para com a nature-
za, iniciado nos estudos acerca do PARNA Montanhas do Tumucumaque. Indicando um processo
de socialização do conhecimento que permitiu que o grupo todo tivesse informações adequadas

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 60


V CBEAAGT

sobre a temática, possibilitando assim a eles escreverem e produzirem os conteúdos e imagens


que compuseram tanto a cartilha quanto o diário de campo. Da mesma forma realizaram um apri-
moramento acerca de práticas, métodos e metodologias do Ensino de Geografia para fazer com
que assuntos escritos em uma linguagem “extremamente” técnica, pudesse ser compartilhada em
uma linguagem direcionada ao Ensino Fundamental I.
Além disso, durante a viagem, ao observarem a realidade do Parque buscaram narrar e elabo-
rar um material que tivesse de fato uma identidade local baseado em vivências, com personagens,
paisagens e sentimentos que condizem com o lugar, para que os meninos das escolas do entorno
do PARNA ou do Estado do Amapá, ao trabalharem com o material, possam se reconhecer nele.
Desta forma, a viagem ao Tumucumaque foi para além da condição de apropriação e troca de
conhecimento, e se transformou em uma grande ação reflexiva por parte dos participantes da
expedição, conforme observado nas falas dos discentes citadas. Esse foi um momento em que os
pesquisadores confrontaram conceitos, imagens e ideias construídas sobre a natureza e Unidades
de Conservação a partir de suas realidades, o que contribuiu para refletirem sobre as formas de ver
a natureza e se relacionar com ela no mundo do presente.

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TUAN, Yi-Fu. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do Meio Ambiente. Trad.
de Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 61


V CBEAAGT

meio amBiente e edUCação: inserção


do Ceará nas polítiCas de edUCação
amBiental
diEgo PEREiRa da silVa
gEisE Paula dE sousa
maRina macêdo gomEs albuquERquE

Resumo Abstract
O presente trabalho tem por objetivo estudar o This article aims to study the environment and
Meio Ambiente e a inserção do Estado do Cea- the inclusion of Ceará in Environmental Educa-
rá nas Políticas de Educação Ambiental. Nesse tion Policies. In this sense, it will be done a his-
sentido, parte-se de uma análise histórica do torical analysis of the concept of environmental
conceito da Educação Ambiental em termos glo- education globally, starting in 1970. In Brazil, the
bais, iniciando-se em 1970. No Brasil, a discussão discussion by this theme becomes relevant from
sobre o tema ganha relevância a partir de 1980. 1980. After this, it will be analyzed the basic gui-
Em seguida, analisar-se-ão as diretrizes básicas delines set by the Law of Guidelines and Bases of
traçadas pela Lei de Diretrizes e Bases de Educa- National Education, Law no. 9394 of 1996 and the
ção Nacional, a Lei n°. 9.394 de 1996, bem como National Environmental Education Policy, Law no.
pela Política Nacional de Educação Ambiental, a 9795/1999. At the end, there will be a study of the
Lei n°. 9.795 de 1999. Ao final, será feito um estu- Law of the State of Ceará (Law No. 14,892/2011), in
do da Legislação Estadual do Ceará (Lei nº 14.892 order to answer the question about inserting the
de 2011), com o objetivo de responder a questão Ceará in environmental education policies in or-
a respeito da inclusão do Estado do Ceará nas der to infer, particularly in the formal framework,
políticas de educação ambiental a fim de inferir, as the a minimum of awareness framework for the
sobretudo no âmbito formal, quanto a uma estru- promotion and protection of the environment.
tura mínima de conscientização para a proteção e The methodology of the present work took from
promoção do meio ambiente. A metodologia do a bibliographical research and descriptive, using
presente trabalho se deu a partir de uma pesquisa theoretical and interpretive study of law.
bibliográfica e descritiva, utilizando-se de um es-
tudo teórico e interpretativo das normas.

Palavras-Chave: Inclusão, Ensino, Legislação,


Sustentável.

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1. Introdução

Com a crise ambiental, decorrente, sobretudo, da ação devastadora do homem ao utilizar os


recursos naturais de forma inconsciente e imoderada, tornou-se imprescindível o surgimento de
medidas para a conservação e recuperação de bens e recursos ambientais, inclusive a criação e
aperfeiçoamento de institutos que objetivem a proteção efetiva do meio ambiente.
A Constituição Federal disciplinou tal proteção de forma ampla e detalhada, especialmente
ao reconhecer, em seu artigo 225, que todos devem ter o direito ao meio ambiente ecologicamen-
te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, e ao atribuir,
ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações (BRASIL, 1988).
Como forma de superação dessa crise, outrossim, apresentou-se, em diversos fóruns e con-
gressos, o modelo de desenvolvimento sustentável, o qual propõe associar desenvolvimento eco-
nômico como preservação do meio ambiente. Um dos instrumentos utilizados como meio para
se atingir esse tipo de desenvolvimento tem sido a Educação Ambiental (E.A.), e vem se intensifi-
cando a cada dia nas produções de trabalhos, artigos, ensaios sobre o assunto e, sobretudo, por
meio de políticas públicas.
A Constituição Federal, em seu capítulo VI, no art. 225, parágrafo 1°, inciso VI institui como
competência do Poder Público a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988).
Foram instituídas, no Brasil, leis que possuem tal objetivo, e em razão disto, o presente tra-
balho tem como finalidade estudar as leis que foram criadas para a implementação da educação
ambiental no País, mais especificamente, no Estado do Ceará.
Em primeira análise, temos um breve estudo teórico da Educação Ambiental em termos mun-
diais, tendo em vista que a discussão sobre o tema se deu na década de 1970. No Brasil, a Edu-
cação Ambiental ganha relevância a partir de 1980, quando começaram a ser produzidos alguns
trabalhos neste sentido.
Logo, são analisadas as diretrizes básicas traçadas pela Lei de Diretrizes e Bases de Educação
Nacional, a Lei n°. 9.394 de 1996, e pela Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei n°. 9.795
de1999, e no terceiro capítulo, estudar-se-á a inclusão do Ceará nas Políticas de Educação Am-
biental, fazendo um estudo da Legislação Estadual (Lei nº 14.892 de 2011) sobre o assunto.
A metodologia do presente trabalho é bibliográfica e descritiva, utilizando-se de um estudo
teórico e interpretativo para entender a Educação Ambiental, bem como das leis que foram cria-
das neste sentido, fazendo considerações acerca do cumprimento destas, de sua implementação
no Brasil e no Estado do Ceará.
Com isso, pretende-se responder a indagação acerca da inserção o Estado do Ceara nas políti-
cas de educação ambiental a fim de deduzir, sobretudo no âmbito formal, acerca de uma estrutura
mínima de conscientização para a proteção e promoção do meio ambiente.

2. Meio Ambiente e Educação: Breve histórico

A abordagem sobre o conceito de Educação Ambiental é ampla, e tem-se que, no Brasil, as


discussões sobre a temática ambiental se fizeram no período do Governo Militar. Os diversos pro-
blemas que os avanços das indústrias ocasionaram fizeram com que a sociedade começasse a
ter uma preocupação maior em preservar os ambientes de modo mais sistematizado e eficiente,
surgindo, a partir daí uma série de estudos, programas e legislações específicas.
Guimarães (1998) concebe a Educação Ambiental como um processo, um meio de aprendi-
zagem permanente baseado no respeito a todas as formas de vida, que emprega valores e agrega

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ações e atitudes para que se tenha a transformação do ser social voltado à preservação. Visar o
equilíbrio do meio ambiente com a sociedade é uma maneira de obter resultados para a melhoria
da qualidade de vida dos seres que habitam o planeta.
Assim, à medida que as diversas sociedades se territorializam, seja por dominação, expansão
ou construção dos espaços, ocorrem diversos exemplos de práticas e percepções culturais.
Os conceitos de educação ambiental se apresentam de variadas formas e sob a visão de di-
versos autores. Desta forma, temos Rodriguez e Silva (2010) trazendo a educação ambiental como
um processo que visa meios de fornecer subsídios para o conhecimento, bem como da interpre-
tação das interações socioambientais.
A educação ambiental é um processo permanente, em que os indivíduos e a comunidade
tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e de-
terminação que os tornam aptos a agir de forma individual e coletiva, e resolver problemas am-
bientais presentes e futuros (BRASIL, 2005).
Para Jacobi (2003), a educação ambiental é uma condição necessária para modificar um qua-
dro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente e se converte em
mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e
interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas.
A educação ambiental gera uma perceptível integração de propostas educativas e concep-
ções teórico-metodológicas distintas, se fazendo assim como uma grande construção da criticida-
de ambiental que permeia o âmbito educacional atual. Loureiro (2006) traz a educação ambiental
como uma práxis educativa que se desenvolve no processo de atuação do indivíduo na sociedade
e nas diferentes formas que se identificam com a “questão ambiental”.
Segundo Carvalho (2006, p. 71) apud Cuba (2010), a Educação Ambiental é considerada ini-
cialmente como uma preocupação dos movimentos ecológicos com a prática de conscientização,
capaz de chamar a atenção para a má distribuição e esgotamento dos recursos naturais e de en-
volver os cidadãos em ações sociais ambientalmente apropriadas.
Muitos foram os eventos/encontros realizados voltados para a questão ambiental vigente
no mundo e, sobretudo, para o desenvolvimento da Educação Ambiental. Dentre estes, temos a
Conferência sobre Meio Ambiente Humano, em 1972, realizado pela Organização das Nações Uni-
das (ONU) em Estocolmo, Suécia, onde se gerou a declaração sobre o meio ambiente, trazendo a
Educação Ambiental como elemento essencial ao combate à crise do meio ambiente.
Em um de seus princípios temos que é imprescindível que exista um trabalho de educação
em questões ambientais, objetivando tanto às gerações jovens como os adultos, prescindindo a
devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opi-
nião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das
comunidades, conduzida no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melho-
ramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana (ONU, 1972).
A conferência colocou em cheque os alertas sobre o desenvolvimento e o subdesenvolvi-
mento como as causas dos problemas ambientais que vinham assolando o meio ambiente em
termos mundiais. Assim, foram discutidas questões como os serviços básicos precários; a falta de
alimentação, moradia, educação, saúde, saneamento, entre outros, o que dificulta um desenvolvi-
mento humano integrado e igualitário.
Outra questão evidenciada é que a industrialização e o desenvolvimento tecnológico deve-
riam colaborar para o desnivelamento mundial entre os Estados mundiais, e não contribuir para o
aumento do abismo que separa os países ricos dos pobres (ONU, 1972).
Entre os projetos em discussão, um de maior relevância é o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), que, em colaboração da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), criou o Programa Internacional de Educação Ambiental

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(PIEA) em 1975, e no mesmo ano, o projeto abordou várias questões sobre Educação Ambiental
no Seminário Internacional de Educação Ambiental em Belgrado.
Segundo a Carta de Belgrado, a Educação Ambiental deve ser desenvolvida com ações indi-
viduais e, também, coletivas para haver o desenvolvimento do cidadão de maneira crítica, onde
este tenha em mente buscar refletir sobre os problemas ambientais. Esta buscou uma educação
ambiental que se adequasse ao sistema global (UNESCO, 1977). Este documento se constitui até
hoje como um marco conceitual no tratamento das questões ambientais mundiais.
Em suas diretrizes básicas, o documento supracitado esclarece que a Educação Ambiental
deve ser considerada em sua totalidade, colocando assim, todas as suas instâncias: natural, social,
ecológica, econômica, tecnológica, social, legislativa, cultural e estética. Ressalta, também, que a
E.A. deve ser um processo contínuo, tanto dentro como fora do ambiente escolar. Partindo dessa
visão, coloca-se que a E.A. deve sempre adotar métodos interdisciplinares (UNESCO, 1977).
Para tanto, segundo a Carta de Belgrado, a educação ambiental deve preparar o cidadão para
que tenha conhecimento, atitudes, motivações e habilidades para pensar e resolver os problemas
que os diversos ambientes apresentam (UNESCO, 1977).
Em 1977, houve a Conferência Internacional sobre Educação Ambiental realizada em Tbilisi,
na Geórgia, onde a Educação Ambiental foi definida como a dimensão que deveria ser dada ao
conteúdo da prática educacional, na busca pela resolução dos problemas ambientais.
A E.A. atribuída pela Conferência em Tbilisi, em 1977, trouxe como contribuição o desenvol-
vimento de responsabilidades entre as regiões mundiais, para que, a longo prazo, houvesse uma
maior conservação e melhoria dos ambientes. Assim, a E.A. deveria proporcionar reflexão sobre os
fenômenos que configuram o meio ambiente.
A educação ambiental deve dirigir-se à comunidade despertando o interesse do indivíduo
em participar de um processo ativo no sentido de resolver os problemas dentro de um contexto
de realidades específicas, estimulando a iniciativa, o senso de responsabilidade e o esforço para
construir um futuro melhor. A educação ambiental pode, ainda, auxiliar de forma satisfatória para
renovar o processo educativo como um todo (UNESCO, 1997).
Em 1992, ocorreu a Conferência do Rio de Janeiro – denominada de Rio 92 - com a Agenda 21,
buscando uma mudança nos hábitos da população e visualizando a Educação Ambiental como
um meio para o desenvolvimento sustentável no país.
Segundo Penteado (1997), a Rio 92 foi um evento em que foi posto o desafio de tentar elabo-
rar propostas de ações visando à preservação consciente dos espaços mundiais. Pode-se afirmar
também que houve o envolvimento de esferas da sociedade vinculadas à educação básica duran-
te a conferência, favorecendo a importância do meio escolar nas elaborações da práxis voltada à
E.A. nas diferentes instâncias culturais e socioeconômicas.
Como resultado das parcerias realizadas na Conferência, criou-se a Agenda 21 do Brasil, colo-
cando as questões educacionais fundamentais para a preservação dos recursos naturais, e repen-
sando a ética ambiental. Essa conferência conseguiu reunir o maior número de governos de vários
países, chegando a ultrapassar 150 governos e entrando para a história das conferências que a
ONU já realizou (LEITE; MEDINA, 2001).
Após a Rio-92, aconteceram outras conferências que trouxeram a preocupação para com o
meio ambiente e a questão da sustentabilidade. Dentre estas temos a Cúpula de Brasília, a Con-
ferência Internacional de Tessalonica, a Rio+10, a Rio+15, entre outras, que buscaram e buscam
resolver ou apontar medidas para o crescimento constante e desenfreado das grandes nações,
onde o meio ambiente é utilizado como fonte de suprimento de recursos básicos (água, minério,
solo, etc.) e, portanto, é degradado com o uso excessivo e sem controle.
Nesse contexto, considera-se que E.A. “é um processo permanente no qual os indivíduos e a
comunidade tomam consciência de seu meio ambiente e adquirem conhecimentos aptos a agir e

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resolver problemas ambientais presentes e futuros” (DIAS, 1994, p. 59).


Jacobi (2003) ressalta que a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume
um papel cada vez mais desafiador, necessitando novos saberes para que se apreendam processos
sociais que se tornam mais complexos e riscos ambientais que se intensificam.
As políticas ambientais e os programas educativos relacionados à consciência da crise am-
biental, outrossim, demandam cada vez mais novos enfoques integradores de uma realidade con-
traditória e geradora de desigualdades, que ultrapassam a mera aplicação dos conhecimentos
científicos e tecnológicos disponíveis (JACOBI, 2003).

3. A Educação Ambiental no Âmbito Federal

O direito ao meio ambiente encontra-se disciplinado na Constituição Federal, em seu Capítu-


lo VI, Título VIII, referente à ordem social. Foi a Constituição de 1988 a primeira a tratar na sua his-
tória deliberadamente sobre a questão ambiental, assumindo o tratamento da matéria em termos
amplos e modernos (SILVA, 2003).
A partir da Constituição de 1988, pode-se dizer que o meio ambiente ganhou identidade nor-
mativa superior autônoma, definindo os fundamentos da proteção constitucional, despertando a
consciência da necessidade de uma convivência harmoniosa com a natureza.
Ao fazer uma reflexão das educação ambiental, o legislador brasileiro consagrou, na Cons-
tituição Federal de 1988, o princípio e a determinação de que a educação ambiental permeie os
currículos dos níveis de ensino como um todo, e que a população se conscientize a respeito do
dever de proteger e de preservar o meio ambiente (MILARÉ, 2004, p. 319).
De acordo o mesmo, a educação ambiental é um preceito constitucional e, como tal, é uma
exigência nacional que engloba dois aspectos distintos, no entanto complementares, ou seja, tra-
ta-se de exigência social e natural (MILARÉ, 2004).
Segundo Wainer (1991), a educação ambiental passa a ser, em termos constitucionais no Bra-
sil, um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente por meio da Lei n. 6.938/98.
Com a inclusão da E.A nos Parâmetros Curriculares Nacionais, há uma abertura para deba-
tes em prol de uma educação, no Brasil, voltada à conscientização dos educandos. Com a Lei n.º
9.795/99, a Educação Ambiental ganha um caráter transversal e indispensável na questão da polí-
tica nacional sobre educação. Com esta, a chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a
E.A. passa a ser considerada na concepção dos conteúdos curriculares nacionais de todos os níveis
de ensino (BRASIL, 1996).
A E.A., então, se constitui frente aos órgãos públicos como institucional, onde é desenvolvido
o Departamento de Educação Ambiental – DEA – instituído pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA). O MMA e o Ministério da Educação (MEC) dirigem a Política Nacional de Educação Ambien-
tal (PNEA), desenvolvendo ações, a partir do auxílio da Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999).
Pode-se afirmar que nas últimas décadas, a colocação “meio ambiente” vem se consolidando
e alcançando parâmetros grandiosos para se pensar na educação de nosso país.
Na Lei n° 9.795 de 1999, estão estabelecidas, em seus artigos iniciais, a concepção de Educa-
ção Ambiental e a indicação de sua inserção nos conceitos, tanto nos processos formais como nos
não formais, em todos os níveis e modalidades de ensino.
O primeiro artigo compreende a educação ambiental como sendo os processos por meio
dos quais se constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências di-
recionadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade. Ademais, afirma no segundo artigo a importância da
presença da educação ambiental em todos os níveis de ensino, seja em caráter formal como não
formal (BRASIL, 1999).

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 66


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A respeito da educação ambiental, no Art. 9º da Lei supracitada, encontramos a especificação


da educação escolar, em especial às questões que envolvem o currículo, bem como às modalida-
des da educação básica, educação especial, educação profissional, educação de jovens e adultos
(EJA) e educação superior. E o Art. 10º trata que a E.A deve ser desenvolvida como uma prática
integrada, contínua e permanente no ensino formal (BRASIL, 1999).
O número de encontros, publicações, debates, projetos e ações sobre a temática vêm se in-
tensificando em todas as instâncias educacionais, sociais e políticas. É sabido, no entanto, que a
Educação Ambiental deve ser pensada como uma proposta de longo prazo, onde os frutos devam
ser colhidos no presente e no futuro, tornando-a parte integrante da instância cultural de nosso
país.
Para Dias, a E.A. é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam
consciência de seu meio ambiente e adquirem conhecimentos aptos a agir e resolver problemas
ambientais presentes e futuros (1994, p. 59).
Na Lei nº 9.394 de 1996, tem-se a E.A. prevista nos conteúdos curriculares da educação básica,
tema este que será debatido mais à frente ao se abordar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB.
Desta forma, é necessário que se pense em trabalhar a E.A. de maneira que todos os aspec-
tos sociais vigentes na cultura contemporânea se relacionem, para formar e manter uma reflexão
sobre as práticas desenvolvidas. Assim, deve-se pensar numa E.A. sem isolamentos, mas ampla no
processo de modificações.

4. A Inserção das Políticas de Educação Ambiental no Estado do Ceará

A Constituição do Ceará, de 1989, em seu capítulo II, ao tratar da educação, afirma, em seu ar-
tigo 215, § 1º, inciso g, que, serão ministradas, obrigatoriamente, nos estabelecimentos de ensino
público e privado, com o envolvimento da comunidade, noções de ecologia.
A Constituição Estadual possui ainda um capítulo referente ao Meio Ambiente, o capítulo
VIII, que vai dos artigos 259 a 271, e assegura a efetividade do direito ao meio ambiente ecolo-
gicamente equilibrado e uma sadia qualidade de vida, por parte do poder público, através de lei
estadual (CEARÁ, 1989).
Ademais, no que diz respeito à Educação Ambiental, o artigo 263 da Constituição do Ceará
coloca que é dever do Estado e Municípios promover uma educação ambiental em todos os ní-
veis de ensino, para que haja conscientização pública da preservação do meio ambiente (CEARÁ,
1989).
Criou-se ainda, em 1994, a Lei Estadual n°. 12.367, a qual instituiu as atividades de Educação
Ambiental, e outras providências. De acordo com o artigo 3º da mencionada Lei, a E.A. abrangerá,
além das discussões teóricas a respeito dos aspectos ecológicos, históricos, políticos, econômicos
e sócio-culturais da questão do meio ambiente em sala de aula, a observação direta da natureza,
assim como o estudo do meio, a pesquisa de campo e as experiências práticas que levem o aluno
a concretizar ações ambientais neste sentido, compreendendo a interdependências entre os di-
versos ecossistemas (CEARÁ, 1994).
No Estado do Ceará, tem-se a Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental no Ceará
ou CIEA-CE, existente desde 2001 com o Decreto n° 26.465, mas só regulamentada em 2003 por
outro Decreto, o nº 27.028. Em 2005, houve sua revisão, o que contribuiu para uma representação
paritária, ou seja, igualitária, diante do governo. Isso gerou debates e articulações para ações no
âmbito da Educação Ambiental no estado, sendo um passo importante para a educação cearense.
O Programa de Educação Ambiental do Estado do Ceará (PEACE) existe desde 1997, cujo
planejamento é feito de maneira que haja uma revisão a cada decênio, como em 2007, quando

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houve um replanejamento junto ao governo estadual e outras instituições. A Política Estadual de


Educação Ambiental, até 2011, não havia sido institucionalizada no Ceará, mas, ainda assim, havia
o artigo 263 do capítulo VIII da Constituição Estadual, que instituía todas as atividades sobre edu-
cação ambiental em todos os níveis de ensino, com a Lei nº 12.367/1994.
Publicou-se no Diário Oficial do Estado (DOE), em 2011, a Lei que instituiu a Política Estadual
de Educação Ambiental no estado cearense, a Lei n. 14.892. Segundo esta, o Conselho de Políticas
e Gestão do Meio Ambiente (CONPAM) e a Secretaria de Educação (SEDUC) ficam com gestão nor-
mativa da Lei. Considerando o ensino formal, a lei supracitada revela que deve haver inclusão de
alguns temas voltados para a realidade regional nas escolas. Alguns exemplos são os Programas
de Conservação de Solos, Resíduos Sólidos, Convivência com o Semiárido, entre outros. Sendo
assim, temos que tal norma, ao promover a preservação dos ambientes a partir de seu uso mais
consciente, visa uma E.A voltada ao meio ambiente equilibrado em termos ecológicos.
A Política Estadual de Educação Ambiental, conforme o artigo 4°. da Lei nº 14.892, compreen-
de em sua esfera de ação, além do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente – CONPAM,
a Secretaria de Educação do Estado do Ceará – SEDUC, a Superintendência Estadual do Meio Am-
biente – SEMACE, e a Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental – CIEA, as instituições
educacionais públicas e privadas, formais e não-formais do Estado do Ceará e seus Municípios,
assim como as Organizações Não-Governamentais – ONGs, em atuação na Educação Ambiental.
(CEARÁ, 2011).
As entidades citadas no artigo 4º devem desenvolver atividades, e dentre as linhas de atu-
ação tem-se: capacitação em Educação Ambiental; Educação Ambiental nas áreas formal e não
formal; fomento de mecanismos de articulação e mobilização da comunidade para a Educação
Ambiental; Educação Ambiental e mecanismos de gestão dos recursos naturais; comunicação e
arte na Educação Ambiental; fomento de estudos e pesquisas em Educação Ambiental; produção
e divulgação de material educativo; articulação intra e interinstitucional; criação da Rede Cearen-
se de Educação Ambiental – RECEBA; acompanhamento e avaliação permanentes da Educação
Ambiental no Estado do Ceará (CEARÁ, 2011).
De acordo com tal norma, o que se pretende, dentre outros, é que haja nas instituições esco-
lares, uma maior capacitação dos professores, que o Estado seja mais proativo nas pesquisas sobre
E.A e que o material didático sobre E.A sempre esteja à disposição para pesquisa e leitura (CEARÁ,
2011).
A Educação Ambiental, além de discutir as teorias acerca dos aspectos ecológicos, históricos,
políticos, éticos, econômicos e socioculturais da questão ambiental em sala de aula, deverá enfa-
tizar a observação direta da natureza, o estudo do meio, a pesquisa de campo e as experiências
práticas que induzam o aluno a ações concretas no meio ambiente.
Observa-se ainda, na lei 14.892 de 2011, em seu artigo 7º, no que se refere às temáticas per-
tinentes ao semiárido, estas devem ser trabalhadas na zona rural, contudo, é necessário, para pro-
mover a conscientização de maneira integrada, que todas essas temáticas sejam abordadas em
toda a região cearense, com o objetivo de disseminar o conhecimento das problemáticas e poten-
cialidades do Ceará, estimulando o manejo sustentável dos recursos naturais.
Pode-se afirmar que não só a zona rural é influenciada pela seca, mas sim todo o estado. E
atualmente, muitos dos produtos e serviços recebidos na zona urbana, de alguma forma, foram
influenciados pela zona rural, como exemplo podemos citar a retirada de matéria prima. Ou seja,
pensar sobre meio ambiente é analisar as regiões de maneira integrada.
Analisando ainda o artigo 7º, inciso IX, pode-se dizer que o mesmo fomenta o incentivo a
Agroecologia, todavia o poder público, dentro dos programas socioambientais pouco incentiva a
Agroecologia no estado cearense.
Conforme os artigos 9º e 10º a CONPAM e a SEDUC devem definir diretrizes da Educação

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Ambiental para a implementação no âmbito do Estado do Ceará, além de articular, coordenar,


monitorar e avaliar os planos, programas e projetos na área de Educação Ambiental, em âmbito
estadual (CEARÁ, 2011).
Pode-se dizer que atualmente existem ações de educação ambiental no Ceará, promovidas
pela já mencionada SEDUC, e que vêm gerando resultados positivos, por meio do trabalho de-
senvolvido dentro das escolas.
De acordo com a SEDUC, criou-se a eleição de alunos delegados para representar suas es-
colas em conferências municipais, estaduais, nacionais e internacionais. Tal projeto integra a co-
munidade escolar em debates relativos às questões ambientais de suas localidades e também
contribui para a elaboração de políticas públicas ambientais (SEDUC, 2016a).
Outra ação importante realizada pela Secretaria foi o incentivo dado a docentes e alunos
para participarem de eventos e concursos que estimulam o desenvolvimento de tecnologias so-
ciais que melhorem a convivência com o semiárido (SEDUC, 2016b). Ademais, outras iniciativas já
foram tomadas no sentido de capacitar os professores em relação às questões das problemáticas
da caatinga e do semiárido (SEDUC, 2016c), assim como eventos específicos para toda a comuni-
dade escolar (SEDUC, 2016d).
Pode-se dizer que embora já existam normas que regulamentem a educação ambiental, e
que tais normas já estejam sendo implementadas, a legislação básica do Estado do Ceará ainda
aparenta caminhar em um processo de desenvolvimento sobre educação ambiental. Há, além
disso, morosidade do poder público em dar efetividade àquilo que a Constituição Federal prevê.
Tal demora também se faz presente no Estado do Ceará, sendo relevante citar que a lei que insti-
tuiu a Política Estadual de Educação Ambiental, lei nº 14.892/11, só foi aprovada em 2011 e regu-
lamentada em 2014 pelo Decreto 31.405/14, logo, quinze anos depois da publicação da Política
Nacional de Educação Ambiental.
Pode-se dizer, neste sentido, que ainda há a necessidade de que estas leis se transformem
em práticas educacionais concretas. A expressão “Educação Ambiental” passou a ser usada como
termo genérico para algo que se aproximaria de tudo o que pudesse ser acolhido sob o guarda-
-chuva das “boas práticas ambientais” ou ainda dos “bons comportamentos ambientais” (CAR-
VALHO, 2004, p. 153). O que se espera da Educação Ambiental no Estado é bem mais que isso,
principalmente em razão da relevância do bem jurídico tutelado, o meio ambiente.
A educação ambiental precisa ser um bem adquirido para toda vida, e pode-se afirmar que
vem sendo um dos meios mais eficientes para solucionar os problemas causados pelo homem ao
meio ambiente. No entanto, à própria população caberá a fiscalização do meio natural e a exigên-
cia da aplicabilidade e efetividade da legislação ambiental.

5. Considerações Finais

A necessidade da implementação das leis de educação ambiental, seja no âmbito federal,


seja estadual, se dá, sobretudo, diante da ameaça à natureza, à economia e ao próprio homem,
decorrente da utilização excessiva e exacerbada dos recursos ambientais, do desmatamento in-
discriminado, do consumismo exagerado, da degradação do solo, entre tantos outros, que mobi-
lizam hoje parte da população, preocupada com o futuro da humanidade.
Pode-se dizer que a principal função dos estudos sobre a questão ambiental é contribuir
para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e a atuar na realidade socioambiental
de modo comprometido com a vida, com o bem-estar do indivíduo e da sociedade como um
todo. Para isto, é necessário mais do que informações, legislação e conceitos. Considera-se que
as pessoas proponham a trabalhar com atitude, formação de valores, com a aprendizagem de
habilidades e procedimentos, ou seja, há que se pensar em educação ambiental e na educação

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em geral. (BALDIN et all., 2009).


Estando a Educação Ambiental institucionalizada no Estado do Ceará, cabe agora, provocar a
ação instituinte, já que uma grande parcela dos fazeres em Educação Ambiental adentrou no con-
senso de uma Educação Ambiental superficial, como uma prática pontual, sem uma perspectiva
crítica.
Na perspectiva regional, devem ser implementadas ações efetivas envolvendo comitês de
bacias hidrográficas e manejo no semiárido, devido a grave situação da seca associada a índices
elevados de degradação do solo que vem ocorrendo nos últimos anos.
É mister que o acesso às informações e a repercussão na mídia dos aspectos que digam res-
peito ao meio ambiente seja possível, assegurando um aumento considerável sobre educação
ambiental, ampliando esse conhecimento especializado para um número maior de pessoas, para
que não se delimite apenas aos especialistas.
As escolas, os parques, as secretarias de educação e meio ambiente, entre outros, precisam
urgentemente colocar em prática os programas e atividades que são ofertados e institucionaliza-
dos pelo Governo, para que a legislação ambiental seja cumprida e a sociedade seja mais influen-
te, buscando uma qualidade ambiental mais sustentável, mais equilibrada.

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V CBEAAGT

paisagens dos sertões: Uma aBorda-


gem soBre preserVação na Unidade de
ConserVação reFúgio de Vida silVestre
pedra da andorinha – taperUaBa/Ce
Jéssica FREitas E silVa
laRissa nERis baRbosa
FRancisca maiRla gomEs bRasilEiRo
cláudio luis gomEs PEREiRa

Resumo Abstract
A Caatinga é uma das formações vegetais mais The Caatinga is one of the ecosystems more de-
degradadas do Brasil, e tornando indispensável a graded of Brazil. It is inevitable talks about the
conservação de sua biodiversidade. Neste cená- conservation of her biodiversity. It becomes more
rio, a educação ambiental vem se fazendo assun- applicable in current scenery. This way, the envi-
to recorrente na atualidade em vários segmentos. ronmental education is persistent theme in pre-
A necessidade de refletir e aplicar esta como fer- sent days from several segments. The necessity of
ramenta de preservação ambiental têm sido um to think and to apply this like environmental tool
caminho explorado por vários profissionais, dire- of preservation have been a way explored for se-
ta ou indiretamente. A pesquisa desenvolveu-se veral professionals. In the research was develop
na Unidade de Conservação Refúgio de Vida Sil- in Conservation Unit Wildlife Refuge – Swallow’s
vestre - Pedra da Andorinha que está localizada Stone. It is located in Taperuaba, district of Sobral,
em Taperuaba, no Noroeste Cearense pertencen- Ceara. In the UC, this paper has in order to realize
te como distrito de Sobral- CE. E nesta UC, o pre- an environmental education analyze, and after, to
sente trabalho tem como objetivo realizar uma spread studies about the natural preservation of
análise das práticas de educação ambiental, e Caatinga to schools, society and academic com-
posteriormente, divulgar tais estudos sobre a pre- munity. Through of adoption of multidisciplinary
servação natural na Caatinga às escolas, socieda- activities to linked to geoprocessing. This paper
de e comunidade acadêmica, através da adoção was make through of realizing camp’s activities,
de atividades multidisciplinares atreladas ao ge- survey of bibliographic data, elaboration of maps,
oprocessamento. Tal produção foi feita através de systematization and discussion of data collected.
realização de atividades de campo, levantamento By means of the analyses, it is possible to see a
de dados bibliográficos, elaboração de mapas, sis- space resignification, one of them is the place
tematização e discussão dos dados coletados. Por where they live, and other where they feel that
meio de tais análises, foi possível observar a res- should preserve and live sustainably.
significação do espaço, de não somente o lugar
onde moram, para ser o lugar onde sentem que Keywords: Environmental Preservation, Environ-
devem preservar e conviver sustentavelmente. mental education, Conservation Unit, Ecologic
trails.
Palavras-Chave: Preservação Ambiental, Educa-
ção Ambiental, Unidade de Conservação, Trilhas
Ecológicas.

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1. Introdução

A região semiárida nordestina apresenta características peculiares que a difere de todas as


outras regiões brasileiras, pois possui como principal bioma a Caatinga que cobre 11% do territó-
rio brasileiro, o que representa uma área de 844.453 Km² (IBGE, 2004). Entretanto, este potencial
natural, como é de conhecimento comum, foi degradado desde os primórdios da colonização
brasileira, tendo sido extremamente utilizado para o cultivo da cana-de-açúcar e o extrativismo
vegetal (HAUFF, 2010).
No atual cenário, algumas medidas estão sendo tomadas para a preservação de áreas densa-
mente degradadas, e uma delas é a criação de Unidades de Conservação, que são uma das formas
mais eficientes de proteção da biodiversidade, definida segundo Brasil (2000, p.1), como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com carac-
terísticas naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção;

Elas se subdividem em Unidades de Conservação de Proteção Integral e Unidades de Uso


Sustentável, sendo que a área de estudo se encaixa na primeira, classificada como Refúgio de Vida
Silvestre, para a proteção do ambiente natural e suas espécies de flora local e fauna residentes e
migratórias (BRASIL, 2000).

Figura 1 - Localização geográfica do Distrito de Taperuaba e da REVIS Pedra da Andorinha, Sobral- CE.

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A partir do Decreto Nº 1.252 de 18 de agosto de 2010 foi criada a Unidade de Conservação In-
tegral Refúgio de Vida Silvestre Pedra da Andorinha (Figura 1) localizada no distrito de Taperuaba
em Sobral, com área de 598,60ha, para fins de sustentação e preservação do território natural, que
são espécies de animais e vegetação que integram a Caatinga (SOBRAL, 2010).
Por estar em um dos biomas brasileiros mais degradados, a conservação de sua biodiversi-
dade se torna ainda mais relevante no cenário ambiental atual (HAUFF, 2010). E essas motivações
mostram a necessidade de informar e conscientizar a população residente a reconhecer e valori-
zar a riqueza natural presente.
O conhecimento acerca tal diversidade biológica, potencializa estudos sobre espécies de
plantas medicinais, preservação de espécies ameaçadas de extinção como é o exemplo do tatu-
-bola. Aproximando assim da comunidade, para a intensificação dessas possibilidades, que apre-
sentam em sua matriz a sustentabilidade.
A informação, obtida através dos meios educacionais por meio de atividades como o ecotu-
rismo, tem potencial de fomentar a conscientização e o reconhecimento do lugar a qual se vive,
proporcionando a comunidade um sentimento de pertencimento, para assim tornar a utilizá-lo
sustentavelmente, fazendo com que episódios como o incêndio que ocorreu no segundo semes-
tre de 2015, tornem-se raros, ou até mesmo, com o grau de instrução da comunidade cada vez
maior, em um futuro próximo estarem ativos e preparados para tal situação, presentes na mobili-
zação em defesa do patrimônio natural e ecológico. Salientando-se a necessidade de ampliação
dos estudos no sertão cearense, para que estes tragam reconhecimento e valorização para a utili-
zação sustentável da Caatinga.

2. Metodologia

A pesquisa foi dividida em quatro etapas: a realização de atividades de campo, levantamento


de dados bibliográficos, elaboração de mapas, sistematização dos dados coletados.
A realização de atividade de campo desenvolveu-se para reconhecimento preliminar da área
de estudo e levantamento de dados primários, e realizando avaliações através de observações, e
resultando em anotações prévias acerca a vegetação, solo, relevo, além da produção de material
fotográfico.
O levantamento de dados bibliográficos seleção de publicações em bibliotecas eletrônicas
(Scielo, Bdtd, Google Acadêmico), na Prefeitura de Sobral com documentos próprios da Reserva
e dados científicos sobre a legislação do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
especificando a categoria de Refúgio de Vida Silvestre, e também levantamentos socioambientais
sobre o local onde está concentrado a REVIS Pedra da Andorinha- Taperuaba/Sobral, e de trilhas
realizadas.
Elaborou-se mapas sobre a REVIS, das seguintes temáticas: localização geográfica e trilhas
percorridas em campo, a partir da utilização de imagens de satélite obtidas, e configuração dos
mapas em softwares como o ArcGIS, QGis e Envi.
A terceira etapa refere-se as análises espaciais e geoprocessamento, conseguidas a partir da
imagem de satélite Landsat-8 do ano de 2014, onde foram elaborados produtos cartográficos com
o auxílio de softwares de Sistema de Informações Geográficas (SIG), como ArcGis 10.1, QGis 2.12.3
Lyon e Envi 5.0. Fez-se uso de arquivos shapes disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE), e a criação de shapes a partir da coleta de pontos realizada no campo de
reconhecimento, que geraram coordenadas geográficas para serem utilizadas no mapeamento
da trilha percorrida, como também para a delimitações naturais e administrativas da área preser-
vada pela UC.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 75


V CBEAAGT

À posteriori, a sistematizou-se todos os dados científicos apurados, primários e secundários,


seguido da análise conjunta e multidisciplinar dos mesmos, com fins da interpretação real da su-
perfície estudada, como a diferenciação das trilhas percorridas dentre outras.

3. Fundamentação Teórica

A caatinga por ser o bioma em qual a REVIS está inserida, tem o nome originado do tupi, que
significa “mata-branca”, em razão da paisagem esbranquiçada em épocas de seca, e da perda da
folhagem da vegetação neste período. Tal realidade descrita é encontrada somente em território
brasileiro, praticamente em toda a Região Nordeste, compreendendo também uma área suscep-
tível a desertificação (HAUFF, 2010; IHU, 2012).
Entende-se por educação ambiental, o que o ser humano necessita aprender e comunicar
para haver a interação ótima entre ele e o meio ambiente, em escala global, natural e antrópica.
Fazendo assim com que esteja preparado para gerir sustentavelmente os recursos naturais, ser
atuante na prevenção ou correção de adversidades ambientais. (RODRIGUEZ; SILVA, 2009)
Segundo a Lei N° 9.985, de 18 de julho de 2000, a preservação é um “conjunto de métodos,
procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossis-
temas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas
naturais” (BRASIL, 2000). Por isso ela se torna ainda mais importante, por ser um bioma exclusiva-
mente brasileiro, e por isso abrigar também espécies endêmicas.
Ainda de acordo com a lei citada, as unidades de conservação são caracterizadas pela deli-
mitação do espaço territorial natural, protegido e assegurado pelo Poder Público, que possuem
como objetivo a conservação de tais recursos nele existente. Elas são divididas em dois grupos:
Unidades de Proteção Integral (preservação da natureza e uso indireto dos seus recursos naturais)
e Unidades de Uso Sustentável (equilibrar conservação da natureza e uso sustentável de parte de
seus recursos naturais). A primeira subdivide-se em Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque
Nacional; Monumento Natural; Refúgio de Vida Silvestre. A segunda apresenta-se em Área de Pro-
teção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista;
Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio
Natural (BRASIL, 2000).
Mais especificamente, a Unidade de Conservação em estudo configura-se como Refúgio de
Vida Silvestre, que objetiva proteger os ambientes que são habitats de espécies de fauna e flora lo-
cal, assegurando assim sua reprodução e prolongando sua existência. Admite-se neste ambiente
o uso indireto dos recursos naturais, sendo possível a utilização deste meio para visitação pública
e área de pesquisa científica somente regida pelo Plano de Manejo da UC ou previstas em regula-
mento (BRASIL, 2000). Para corroborar, de acordo com Vale e Soares (2006, p.142):

As unidades de conservação são áreas que possuem uso específico e limitado, o que favo-
rece certas atividades em seu espaço. Entre as atividades econômicas de uso e ocupação,
que possuem em seus princípios a necessidade de preservação ambiental, está a prática
do ecoturismo, costumeiramente incentivada e praticada nessas áreas protegidas por lei.

É a partir desse pressuposto que percebemos que atividades como Educação Ambiental atra-
vés de oficinas escolares e o Ecoturismo, são permitidas através do consenso entre Plano de Mane-
jo e regulamento, sendo acompanhadas pelo órgão responsável pela administração da unidade.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 76


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4. Desbravando a Caatinga: Trilhas na Unidade de Conservação

O Refúgio de Vida Silvestre assegura atividades como visitação pública e realização de pes-
quisas científicas, somente se ponderadas no Plano de Manejo da Unidade, seguindo então as
normas propostas por este, que foram estabelecidas pela própria administração da Unidade de
Conservação, como também das normas previstas em regulamento. (BRASIL, 2000, p.8). Ambas si-
tuações estão previstas no Regimento Interno e Conselho Consultivo da Unidade de Conservação
de Proteção Integral – Refúgio de Vida Silvestre (REVIS): Pedra da Andorinha, visto que o Plano de
Manejo ainda está em construção.

4.1 Caracterização ambiental da Unidade de Conservação

A Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre Pedra da Andorinha (Figura 2) está loca-
lizada nas seguintes coordenadas, 4° 4'11.72"S de latitude e 40° 0'9.17"W de longitude, no Noro-
este Cearense, em Taperuaba, distrito de Sobral, inserida na unidade geoambiental da Depressão
Sertaneja, com Neossolos Litólicos e Luvissolos, e geologia de embasamentos cristalinos, e o tipo
climático Tropical quente semi- árido (EMBRAPA, 1973; IPECE 2007).

Figura 2- Pedra da Andorinha, Taperuaba, Sobral- CE.


Fonte: SILVA, J.F., 2016.

Há necessidade de sistematização de informações cientificamente estudadas e levantadas,


expressa pelo propósito de informar à comunidade local sobre o patrimônio natural e ecológico
do distrito, e apresentar à comunidade acadêmica uma nova área de estudo que merece a atenção
dos mesmos, por ser uma área de preservação de altíssima importância ecológica para o Bioma da
Caatinga, por assegurar “condições para a existência ou reprodução de espécies, comunidades da
flora local e da fauna residente ou migratória a reprodução das espécies” (SOBRAL, 2010).

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A REVIS Pedra da Andorinha abriga uma diversidade de espécies de fauna, como exemplo a
gralha-cancã (Figura 3), tatu-bola, macaco-prego, onça vermelha, andorinhas da região e migra-
tórias do Sul da Patagônia, e na flora estão presentes o ipê, catingueira, aroeira, cedro, umbuzeiro,
juazeiro, entre outras.

Figura 3 e 4 – Gralha- cancã na UC, popularmente conhecida como Cancão. Árvore Pau- Pereiro, caracterís-
tica da Caatinga.
Fonte: SILVA, J.F., 2016.

4.2 Trilhas Ecológicas: Disseminando Conhecimento

A Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre – Pedra da Andorinha, é a primeira Uni-


dade de Conservação Ambiental de Proteção Integral na categoria "Refúgio de Vida Silvestre" no
Estado do Ceará.
É uma UC desde 2010, porém não havia proposta para plano de manejo, essa situação modi-
ficou-se, a partir da mudança de administradores, que desde o segundo semestre de 2014, vêm
sendo gerenciado pelo professor biólogo Francisco Ávila e Maria Vilma Gomes Mendes, que onde
estudam e elaboram atividades que subsidiem um plano de manejo, e já realizam atividades de
educação e preservação ambiental na localidade, através de projetos, e aulas de campo para estu-
dantes e moradores da região.
Nessa perspectiva e como proposta de interação com a população, e consequentemente a
divulgação informacional sobre a Caatinga, apresentam como atração as trilhas ecológicas na UC
(Figura 5), onde foi inaugurada a nova trilha da UC, no dia 24/10/2015. Estas, com objetivo de re-
tratar as principais espécies da flora e fauna para a população, e subsequente, colaboração com a
instrução ambiental da comunidade.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 78


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Figura 5 – Nova trilha criada na REVIS.


Fonte: Google Earth.

O retorno desta prática está acontecendo com as visitações frequentes da população que
aderiu ao projeto. Sendo estimulada principalmente por visitações de escolas da localidade de
ensino fundamental ao médio, universitárias de instituições de ensino como UVA, UFC, IFCE, até
mesmo internacionais como a Universidade de Évora - Portugal, profissionais técnicos e para prá-
ticas de lazer (Figura 6 e 7).

Figura 6 e 7 – Estudantes da rede pública realizam aula de campo na reserva ambiental. (Fonte: Blog Sobral,
2016). Aula de campo do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará. Fonte: SILVA, J.F., 2016.

5. Considerações Finais

A inserção da população local nas atividades internas inerentes as UC’s devem ser incentiva-
das para assim ocorrer a formação de cidadãos conscientes ambientalmente e socialmente. Por-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 79


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tanto, as alternativas educacionais propostas pela administração de Unidades de Conservação


devem ser consideradas e apoiadas por instituições de ensino (em todas as esferas), órgãos go-
vernamentais e a comunidade, para a divulgação do patrimônio natural, haja vista as implicações
que essas atividades possam vir a trazer. Ponderando-se a redução dos impactos e ressaltando as
potencialidades tais atividades devem ser estudadas, para assim trazer mais benefícios que male-
fícios da prática.
A partir da disseminação deste conhecimento, é possível melhorar a formação preventiva
da população quanto a imprevistos desagradáveis, como o incêndio que ocorreu em 2015, que
podem acontecer naturalmente, ou através de ações antrópicas irregulares. Tal como ocorreu no
segundo semestre de 2015, quando a Reserva foi acometida por incêndio de grandes proporções
que durou cerca de cinco dias, onde todo esse período poderia ter sido mais curto, se houvesse
instrução por parte da população, e presença de brigadas de incêndio na região.
Considerando-se todos os objetivos conseguidos pela Reserva, tais como: preservação na-
tural de espécies de flora e fauna, diminuição da degradação do solo (onde antes eram exercidas
práticas de agricultura e pecuária por partes dos antigos proprietários), reequilibrando assim o
ambiente natural, é possível aliar esses a atividades que visam disseminar o conhecimento ade-
quando-se as normas requeridas pelo gerenciamento da reserva, no intuito de adquirir o conheci-
mento do espaço geográfico, atentando ao vinculo permanente da Caatinga, também como lugar
de identidade do nordestino brasileiro.

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VALE, Victor Hugo Amancio do; SOARES, Fátima Maria. Ecoturismo em Unidades de Conservação:
visitar para sustentar. In: SILVA, José Borzacchiello da; DANTAS, Eustógio Wanderley Correia; ZA-
NELLA, Maria Elisa; MEIRELES, Antonio Jeovah de Andrade (Orgs.). Litoral e Sertão: natureza e
sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006. Cap. 10. p. 139-14.

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polítiCas púBliCas para a sUstentaBil-


idade amBiental na serra do espinho/
pB
dayanE FERREiRa guilhERmE
auRycElia batista dE silVa
JaciElE cRuz silVa
luciEnE ViEiRa dE aRRuda
caRlos antônio bElaRmino alVEs

Resumo Abstract
A Serra do Espinho é o nome dado às elevações si- The Serra do Espinho is the name given to eleva-
tuadas na vertente oriental do Planalto da Borbo- tions located on the eastern slope of the Borbore-
rema, na área ocupada pelo município de Pilões/ ma Plateau, an area occupied by the municipality
PB, em direção ao município de Cuitegi/PB. Ape- of Pilões / PB, towards the town of Cuitegí / PB.
sar de ser um ambiente ocupado por pequenas Despite being an occupied environment by small
comunidades rurais, esta proporciona a produção rural communities, they provide agricultural pro-
agropecuária, a manutenção e preservação das duction, the maintenance and preservation of
florestas e animais. Apresenta um forte potencial forests and animals. It has a strong potential for
turístico, mas possui muitas limitações e instabili- tourism, but it has many limitations and instabili-
dades por conta do relevo acentuado e a imper- ties due to the sharp relief and the impermeability
meabilidade de seus solos. Esta pesquisa objetiva of its soil. This research aims to analyze public po-
analisar as políticas públicas captadas nas comu- licies picked in communities of Veneza, Ouricuri,
nidades Veneza, Ouricuri, Titara e Poço Escuro, na Titara and Poço Escuro, in the Serra do Espinho,
Serra do Espinho, Pilões/PB. Para fundamentar Pilões / PB. To support this work and achieve ob-
este trabalho e atingir os objetivos se fez neces- jectives a literature survey was necessary with
sário um levantamento bibliográfico em artigos the aid of specialized articles and journals, semi-
e revistas especializadas, entrevistas semiestrutu- -structured interviews, characterization of study
radas, caracterização da área de estudo e registro and photographic registration area. The commu-
fotográfico. As comunidades da Serra do Espinho nities of the Serra do Espinho already benefited
já se beneficiaram de diversas políticas públicas from various public policies such as the project
como o projeto feito para a obtenção da ener- made for obtaining electricity, LIGHT FOR ALL, the
gia elétrica, LUZ PARA TODOS, a implantação de deployment of tanks through the federal govern-
cisternas através do governo federal em parceria ment in partnership with the Educational Profes-
com o Centro Educacional Profissional (CEDUP), sional Centre (CEDUP), in the communities was
se desenvolveu nas comunidades a horticultura, developed the horticulture, sewing, by the Na-
corte e costura, pelo Programa Nacional de For- tional Program of Strengthening Family Farming
talecimento Agricultura Familiar (PRONAF/A), e (PRONAF / A), and it was currently done a project
atualmente foi feito um projeto para o PRONAF/ for PRONAF / WOMAN that have an investment in
MULHER que teria um investimento em criação livestock breeding to use as a source of income.
pecuária para se utilizar como fonte de renda. Even getting these public policies is necessary to
Mesmo obtendo essas políticas públicas se faz search for more policies to develop the economy
necessário a busca de mais políticas que possam of these communities. The current Public Policies
desenvolver a economia das comunidades. As acting are of great importance in view of their
Políticas Públicas atuantes são de grande impor- contribution to regional and local development,
tância tendo em vista suas contribuições para acting as reliever social disparities.
desenvolvimento regional e local agindo como
amenizador de disparidades sociais. Keywords: Social Organization, Geotourism, De-
velopment.
Palavras-Chave: Organização social, Geoturismo,
Desenvolvimento.

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1. Introdução

Políticas públicas são ações governamentais no nível federal, estadual e municipal, com ob-
jetivo de desenvolver o bem coletivo (RUA, 1998). Podem ser desenvolvidas em parceria com o
governo e sociedade, através de organizações não governamentais (ONGs), além da iniciativa pri-
vada. Na esfera ambiental, tais políticas incentivam um desenvolvimento sustentável procurando
diminuir o impacto sobre o meio ambiente.
A Região Nordeste do Brasil possui 1.561.177,8 km2, corresponde a 18,26% do território bra-
sileiro (EMBRAPA,1993), engloba biomas e ecossistemas com resquícios de mata atlântica e vários
padrões de caatinga. Em meio à imensa vastidão semiárida, encontram-se as serras cristalinas e
os planaltos, que funcionam como “ilhas de umidade” no domínio morfoclimático das caatingas e
são considerados como feições de exceção nesse espaço (AB’SÁBER, 1970).
O Nordeste brasileiro é conhecido por ser uma das regiões mais carentes, caracterizada pela
má distribuição de terras, alto índice de natalidade, de mortalidade e de analfabetismo, o que jus-
tifica a grande necessidade de políticas públicas que promovam o desenvolvimento dessa região.
Particularmente, o estado da Paraíba figura entre os mais carentes da região nordeste, o que
despertou fazer um estudo sobre a importância de políticas públicas para as comunidades da
Serra do Espinho, em Pilões/PB. Trata-se de um ambiente que adquire importância fundamental
na disposição dos recursos naturais locais, pois condiciona os tipos de recobrimento vegetal, os ti-
pos de solos, de climas e a disposição hidrológica, que vão influenciar diretamente nas atividades
econômicas. Entretanto, as comunidades locais carecem de apoio, orientação e investimentos,
essenciais para a sustentabilidade dos assentados (CAVALCANTE, 2010; FERREIRA, 2012).
A Serra do Espinho é um ambiente ocupado por pequenas comunidades agropecuárias, é
um espaço dotado de forte potencial turístico, devido as suas belezas paisagísticas, possuindo
também suas limitações naturais, econômicas e sociais. É nesse contexto que pretendemos rea-
lizar um acompanhamento das Comunidades da Serra do Espinho, para incentivar a valorização
ambiental dos espaços sociais e naturais e orientar os moradores sobre as políticas públicas que
possam contribuir para a melhoria das comunidades, em termos sociais, ambientais e turísticos.

2. Revisão da Literatura

Políticas públicas são ações governamentais no nível federal, estadual e municipal, com ob-
jetivo de desenvolver o bem coletivo (RUA, 1998). Podem ser desenvolvidas em parceria com o
governo e sociedade, através de organizações não governamentais (ONGs), além da iniciativa pri-
vada. Na esfera ambiental, tais políticas incentivam um desenvolvimento sustentável procurando
diminuir o impacto sobre o meio ambiente.
A área de Políticas Públicas surgiu na Europa na década de 1930, como um desdobramento
dos trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Estado e de uma das mais im-
portantes instituições do Estado - o governo, produtor, por excelência, de políticas públicas. São
considerados os pais da política pública H. D. Laswell, Hebert Simon, Charles E. Lindblom e D.
Easton (SOUZA, 2006). Existem várias definições sobre o que seja política pública, não existe uma
única ou uma melhor definição.
Segundo Schmitter (1984, p. 34), a “política é a resolução pacífica para os conflitos” Este con-
ceito é demasiado amplo, discrimina pouco. É possível delimitar um pouco mais e estabelecer que
política consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de
poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos (RUA, 1998).
Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado di-
retamente ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visam asse-

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gurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social,
cultural, étnico ou econômico.
A formulação de Políticas Públicas com fins sociais e ambientais é recente no Brasil e remonta
a era da primeira gestão do Presidente Getúlio Vargas, desenvolvidas em três campos: na previ-
dência e na legislação trabalhista; na saúde e na educação; no saneamento básico, habitação e
transporte (MEKSENAS, 2002, p.110). Particularmente, a gênese da política ambiental brasileira,
preocupada explicitamente com a proteção, conservação e uso dos recursos ambientais, só vai
adquirir maior importância com a promulgação da Constituição de 1988 (ARAÚJO, 2000), seguida
da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) (Lei nº 9.795/99) que obteve seu decreto de
regulamentação em 2002 e desde então têm contribuído para acelerar o processo de instituciona-
lização da Educação Ambiental no País, cujo marco inicial, pelo menos para o ensino formal, foi a
Lei nº 6.938/81, a qual, ao instituir a Política Nacional de Meio Ambiente, determinou a inclusão da
EA (Educação Ambiental) em todos os níveis de ensino.
No que diz respeito às políticas públicas para o desenvolvimento de áreas rurais, as ações
abrangem todas as necessidades, desde que haja uma participação e interesse, em forma de or-
ganização das comunidades, para dar continuidade a essas atividades. As atividades turísticas já
ocorrem há muito tempo no mundo, principalmente nos ambientes dotados de belezas culturais
e paisagísticas. Dessa forma são desenvolvidos diversos tipos de turismo, desde os de cunho con-
templativo até as atividades mais radicais.
Uma das modalidades mais recentes do turismo é o geoturismo que tem se apresentado
como um segmento promissor da atividade turística que tem características específicas e essen-
ciais à conservação do patrimônio geológico e ao desenvolvimento econômico das comunidades
envolvidas.
A atividade está pautada em três princípios fundamentais: base no patrimônio geológico,
sustentabilidade e na informação geológica. Juntamente ao geoturismo está o turismo rural que
segundo Queiroz (2012) essa modalidade vem conquistando espaços, mesmo que ainda de forma
desordenada, mas trazendo consigo propostas de conservação ambiental.

3. Metodologia

Para atingir os objetivos propostos foram realizados entrevistas semiestruturadas com os che-
fes de família, de acordo com Albuquerque et al (2010), onde são flexibilizadas perguntas abertas,
seguindo um roteiro guia previamente elaborado pelo entrevistador. O levantamento bibliográfi-
co teve como base monografias, dissertações, periódicos e artigos publicados em revistas especia-
lizadas sobre o tema. Durante as etapas de pesquisa de campo utilizou-se registro fotográfico para
melhor verificar a ausência de algumas políticas públicas existentes nas Comunidades de Ouricuri,
Poço Escuro e Titara.

3.1 A área da pesquisa

O município de Pilões está localizado na Microrregião do Brejo e na Mesorregião Agreste, do


Estado da Paraíba (CPRM 2005). De acordo com dados do Censo demográfico (IBGE, 2010), Pilões
abrange uma área territorial de 64 km², abriga uma população de 6.978 habitantes, sua sede está
na altitude de 334 metros. Em Pilões está localizada a Serra do Espinho um ambiente formado por
um assentamento e três comunidades, das quais são ligadas por estradas de barro até a rodovia
principal (PB 077), em direção ao munícipio de Cuitegi.
Segundo a CPRM (2002), a Serra do Espinho se encontram dividida em dois períodos geológi-
cos (Mesoproterozóico e Paleógeno) e três unidades estratigráficas distintas: Formação Serra dos

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Martins, Complexo São Caetano e metagranitóides Cariris. Esse material rochoso vai gerar feições
bastante diferenciadas, que constituem o Planalto.
Para a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM, 2005) a malha hidrográfica do mu-
nicípio de Pilões é composta pelo rio Araçagi e Araçagi-Mirim, afluentes da bacia hidrográfica do
Mamanguape. Geomorfologicamente, é notória a formação de feições conhecidas como “marmi-
tas de gigante”, que se trata de geoformas circulares e côncavas esculpidas nas rochas através da
ação erosiva das águas ao longo do curso dos rios. O relevo côncavo-convexo caracteriza a Serra
do Espinho por toda sua extensão, com resquícios de vegetação de mata atlântica condicionados
fortemente pela encosta oriental, expostos às chuvas orográficas e favorecidos pela penetração de
ventos alísios, ricos em umidade, através dos vales do rio Paraíba do Norte e do rio Mamanguape.
No município de Pilões, as características hidrológicas e climatológicas diferem daquelas que
marcam o Polígono das secas, pois se encontra em um enclave paisagístico marcado por tempe-
raturas mais amenas e período chuvoso mais definido, com precipitações abundantes, formando
os “brejos” no semiárido, surgem como verdadeiras ilhas de umidade e de refúgios para os seres
bióticos e para os elementos que compõem a paisagem.
Segundo a CPRM (2005) as principais classes de solos que ocorrem no município de Pilões
são os ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO distróficos e os NEOSSOLOS LITÓLICOS. Os ARGISSO-
LOS são formados por material mineral, desenvolvidos a partir de diferentes materiais de origem,
apresentam horizonte B textural (Bt), argila de atividade baixa (Tb), ou alta (Ta) conjugada com
saturação por bases (V) baixa ou caráter alítico. O horizonte Bt encontra-se imediatamente abaixo
de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o hístico, sem apresentar, contudo, os requisitos
estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos LUVISSOLOS, PLANOSSOLOS, PLINTOSSO-
LOS ou GLEISSOLOS (EMBRAPA, 2006).
A cobertura vegetal da localidade enquadra-se no tipo mais conhecido como brejo de altitu-
de, com várias matas que acompanham os principais recursos hídricos, funcionando como uma
mata ciliar, de porte alto e de grande densidade. As principais essências florestais encontradas
nesse tipo de mata são:Angico (Anadenantheramacrocarpa), Pau D’arco Roxo (Handroanthushep-
taphyllus), Pau D’arco Amarelo (Handroanthusserratifoliius), Aroeira (Myracrodruonurundeuva),
Freijó (Cordiatrichotoma (Vell.) Arráb. ExSteud), Ingá (Inga vera subsp.Affinis(DC.) T.D. Penn e Em-
baúba (CecropiapachystachyaTrécul). Com a retirada da floraoriginal, a cobertura vegetal do muni-
cípio enquadra-se na mata latifoliada perenifóliada de altitude (FERREIRA, 2012).
As comunidades Veneza, Titara, Ouricuri e Poço Escuro, apresentadas a seguir, são uma atra-
ção à parte, pois desenvolvem atividades pastoris, agrícolas, artesanais e culinárias características
da cultura local, mas precisam de orientação quanto à valorização desse ambiente e ao uso sus-
tentável de seus recursos naturais necessitando de um trabalho de sensibilização ambiental.

4. Resultados e Discussão

4.1 O Assentamento Veneza

Na Serra do Espinho o assentamento rural Veneza tem grande importância dentre as demais
comunidades, pois além de serem desenvolvidas atividades atrativas foi a única entre as quatros
comunidades citadas a cima que conseguiu se tornar em um Assentamento devido a um projeto
do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). O assentamento Veneza recebeu
esse nome pelas quantidades de nascentes, riachos, cacimbas e cachoeiras que ficam na localida-
de de Veneza, sendo comparada com a cidade Italiana de Veneza. Após o período de desapropria-
ção das terras, as mesmas foram divididas em 5,5 hectares de terra para cada uma das 26 famílias.
Os assentados residem em casa própria, de alvenaria, dotada de banheiro, fossas sépticas,

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energia elétrica e cisternas implantadas pelo governo federal. As famílias são cadastradas nas polí-
ticas públicas atuais e cada família possui renda de até um salário mínimo com as suas atividades.
Organizam-se através da Associação dos Moradores e da Associação de Mulheres e guardam seus
costumes, crenças e tradições, dentro da religião católica, com a padroeira Nossa Senhora das
Graças, adorada na capela local.
Antes do processo de desapropriação de terras os moradores de Veneza trabalhavam no cul-
tivo da cana de açúcar e fabricavam melado, rapadura e açúcar mascavo. Com a falência da Usina
Santa Maria, localizada no município de Areia, vizinho ao município de Pilões e que recebia a pro-
dução local, o engenho de Veneza e todos os demais foram ao declínio. A partir daí os moradores
buscaram alternativas agrícolas, cultivando produtos para a subsistência, além da banana, como
cultivo comercial, e atualmente iniciam atividades ligadas ao turismo rural.
Os assentados de Veneza demonstram um nível mais adiantado de organização em relação
às outras comunidades, no que diz respeito ao usufruto de suas potencialidades naturais e cultu-
rais, pois receberam acompanhamento técnico e recursos financeiros que permitiram organizar os
seus espaços de forma mais harmoniosa com a natureza e com as necessidades da comunidade.
Assim, os espaços comunitários vêm sendo estruturados para o turismo rural, como é o caso da
casa de farinha, de uma casa antiga, da capela e da casa das mulheres artesãs.
A antiga casa de farinha, utilizada pelos moradores para beneficiamento da mandioca, está
em andamento para se transformar no Memorial Casa de Farinha, que será aberto aos turistas.
Dessa forma, o turista poderá acompanhar de perto todo o processo de fabricação da farinha e
provar as iguarias (bolinho de mandioca, bife de mandioca, beijú, tapioca...), preparados pelas
mulheres da associação, além disso, desfrutará de um ambiente acolhedor, resquício da época
colonial.
A casa Grande, onde morava o administrador do engenho na época do Brasil colônia, é uma
importante construção de aspecto rústico que também está em obras para de transformar em
uma pousada e em um restaurante (financiamento do Banco Mundial). O restaurante ocupará a
antiga obra, já os chalés serão construídos ao lado e atrás da casa, para que os turistas possam
desfrutar de um conforto maior.
A associação de mulheres foi fundada em 2012, buscando aproveitar as habilidades de crochê
e pintura passada de mães para filhas ao longo dos anos. Após dois anos de sua fundação as mu-
lheres associadas participaram de várias capacitações e consultorias promovidas pelo Serviço de
Apoio às Microempresas da Paraíba (SEBRAE) e outros órgãos aprimorando, assim, seus trabalhos
e dando origem a novos artesanatos feitos de bambu (Bambusa vulgares), espécie vegetal muito
presente na comunidade.
Os fatos marcantes que ocorreram na comunidade dizem respeito à conquista da terra, à con-
quista da casa própria obtida por meio de empréstimos concedidos pelo INCRA aos assentados e
a construção da igreja, em 2002, pelo Padre Cristiano. O número de residências é de 50 a 100 do-
micílios de alvenaria, mas apenas algumas casas são abastecidas com água encanada e cisternas,
além de terem energia elétrica, resultado do Projeto LUZ PARA TODOS.
Os estudantes são assistidos com um transporte que faz o deslocamento para as escolas do
município. Como atividades de lazer, os moradores praticam esporte em um campo de futebol
comunitário, andam pelas trilhas ecológicas e tomam banho nas cachoeiras e nas piscinas naturais
que se formam ao longo do rio Araçagi-Mirim. Contudo, não se sabe das condições de potabilida-
de dessas águas, pois não se tem nenhuma análise laboratorial.
Os assentados são conscientes de que é preciso tomar medidas sérias sobre a preservação
do meio ambiente e a retirada dos resíduos sólidos na comunidade e nas trilhas que levam até a
cachoeira. O lixo doméstico orgânico é transformado em adubo e os recicláveis são transformados
em artesanato ou levados para a ENERGISA, que retribui concedendo descontos aos moradores

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nas contas de energia.


Os problemas mais comuns em Veneza são as péssimas estruturas das estradas que dão aces-
so à comunidade, pois não possuem acostamento, são de terra batida, estreitas, desalinhadas e
sujeitas à erosão a cada período de chuvas, além da falta de sinalização e de placas de orientação
para os visitantes. Com relação às principais doenças que mais afetam os moradores da comuni-
dade atualmente, a gripe, a dengue e a virose são as mais citadas. Os entrevistados lembraram
que, antigamente, quando as casas eram de taipa e o esgoto era encaminhado para os córregos,
ocorreram casos de doença de chagas, verminose e schistosoma.
A Associação de Moradores da Comunidade Veneza foi fundada em 28 de Outubro de 1998
e tem como presidente atual o Sr. Francisco Nogueira dos Santos. O local de reuniões acontece
no galpão da comunidade, no último sábado de cada mês e recebe apoio externo dos seguintes
órgãos: SEDUP, SPTI, EMATER, CONAB, SEBRAE e da secretaria de agricultura municipal.
A participação da comunidade nas reuniões e nas decisões da mesma no inicio eram maiores,
mas com o passar do tempo os moradores têm participado menos das reuniões. Através dessa
instituição foi possível desenvolver a horticultura, corte e costura, junto ao Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF/A). Além disso, a comunidade foi beneficiada
com diversos cursos e consultoria técnica no intuito de contribuir no desenvolvimento de gerar
renda para os assentados. No que diz respeito ao acompanhamento da saúde da comunidade, o
presidente da associação afirmou que a comunidade passará a ter médico uma vez na semana no
próprio assentamento, com apoio da Prefeitura Municipal.
Questionados sobre a situação econômica das famílias da comunidade Veneza, o presidente
da associação afirmou que, as maiorias dos associados recebem de um a dois salários mínimos,
tiram seus sustentos da criação de animais, agricultura e de seis em seis meses os chefes das fa-
mílias vão trabalhar em outras lavouras fora do estado. Admitem que estejam satisfeitos no lugar
que residem e não pensam em se mudar para outro lugar, mas em realizar projetos que melhorem
a qualidade de vida e a renda de toda a família e se sentem felizes com a vida que têm.
Com relação às residências da comunidade, as mesmas foram construídas pelos moradores
agregados com recursos próprios, após a desapropriação das terras, a cerca de onze anos, porém
alguns moradores já vivem nessas terras a mais de 23 anos, antes da desapropriação. Os domi-
cílios possuem entre três e quatros cômodos, o piso predominante é o de cimento queimado,
possuem reboco, cobertura de telha, construção de alvenaria, providas de serviços básicos de
abastecimento d’água e energia elétrica. Os moradores contam com o apoio do governo federal e
aguardam projetos para a reforma de suas residências.
Os principais cultivos agrícolas do projeto de assentamento Veneza é a banana (Musa sp), o
feijão (Phaseolus vulgaris), o milho (Zea mays), a mandioca (Manihot esculenta Crantze) a batata
doce ( ipomaea batatas). A área de uso é própria e o cultivo começa no inicio de Janeiro a Março
que são os meses mais chuvosos, o solo em algumas áreas é de boa fertilidade e em outras áreas
encontram-se degradados. Quando o inverno é chuvoso o agricultor chega a colher dois sacos de
60 kg do milho, o feijão 02 sacos de 60 kg, já a mandioca rende 60 kg, o cultivo da banana exige
cuidado e bastante água, além da qualidade do solo, no entanto com o inverno chuvoso contribui
para os agricultores locais coletarem até três milheiros de banana mensalmente.
As ferramentas utilizadas para o manejo da terra é a enxada, a foice, o enxadeco, o e facão,
utensílios típicos da agricultura de subsistência, sendo que alguns agricultores ainda se utilizam
da prática da queimada. Dependendo da safra, o camponês consome e comercializa seus produ-
tos nas feiras públicas da região. O que ocasiona a dificuldade no plantio é a forma de relevo incli-
nado, bem como as pragas que danificam a plantação, os moradores instruídos pela CONAB utili-
zam um veneno orgânico para destruir as pragas de mosquitos e lagartas que atacam os plantios.
Na Comunidade Veneza é perceptível o potencial pautado em belezas naturais e cênicas, tais

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como as formações rochosas, as trilhas ecológicas, as cachoeiras, a cobertura vegetal exuberan-


te, além das atividades puramente humanas, como as apresentações culturais, o artesanato e a
gastronomia local que devem ser preservados e valorizados pelas futuras gerações. Dotada desse
rico potencial, percebe-se a necessidade da preservação de suas riquezas naturais e humanas (ar-
quitetura, valores, costumes e identidade local) para então definir a qual público deve interessar o
potencial dessa comunidade, no propósito de difundir a economia local e subsidiar medidas que
estimulem na produção associada à geração de renda e à qualidade de vida.
Atualmente a Consultoria de Minas Gerais (CG), em parceria com o SEBRAE/PB e a prefeitura
municipal de Pilões vem criando roteiros turísticos no intuito de fortalecer e desenvolver o turis-
mo de base rural e através da gestão municipal conseguiu conquistar um projeto de horticultura
que visa integrar os agricultores no plantio de legumes e hortaliças.

4.2 Comunidade Titara

A origem do nome da Comunidade Titara de acordo com o relato dos moradores entrevista-
dos é proveniente de um vegetal nativo da vegetação do Brejo Paraibano, uma espécie de trepa-
deira típica da região, na qual os moradores da comunidade produziam cestos e caçuás.
A comunidade Titara está localizada a 4 km da sede do município de Pilões, formada por 30
famílias. O Sr. Antônio Rodrigues Pereira foi o primeiro morador, que veio trabalhar e morar nessas
terras, acompanhado dos cinco filhos e da esposa, no início do século XX. As terras pertenciam ao
Sr. José Pacífico, mas à medida que novas famílias se instalavam, o anseio pela posse da terra au-
mentava. Assim, uma parte da comunidade, em torno de cinco famílias, conseguiram a posse de
alguns lotes que foram distribuídos entre 4 e 5 hectares para cada família. Os demais moradores
passaram a comprar as terras e construir suas próprias moradias.
Os primeiros moradores sobreviviam do campo, ou seja, através da agricultura de subsistên-
cia, onde plantavam o feijão (Phaseolus vulgaris), o milho (Zea mays), a fava (Phaseolus lunatus),
a mandioca (Manihot) e a batata doce (Ipomoea batatas). Criavam em abundância as aves como
galinha (Gallus gallus domesticus), pato (Anas platyrhynchos ) e outros animais a exemplo de boi
(Bos taurus) e porco (Sus domesticus).
Na comunidade Titara não existiam engenhos como ocorreu em Veneza, por isso os morado-
res migravam para as comunidades vizinhas em busca de trabalhos. Com o declínio da usina Santa
Maria os moradores foram obrigados a procurar outros meios para sobreviver. Em Titara o que
predomina atualmente como fonte de renda é aposentadoria, empregos da prefeitura, e outra
parcela trabalham nas cidades circunvizinhas de Areia, Cuitegi e Guarabira, para ajudar nas despe-
sas da família, enquanto que a agricultura familiar é utilizada como reforço e se mantém presente
na base social da comunidade.
Dentre os acontecimentos marcantes na comunidade Titara estão às celebrações da festa do
padroeiro Santo Antônio. Os mutirões para a construção das casas de alvenaria dos moradores e a
formação da Associação de Moradores, que vem proporcionando vários benefícios para a comu-
nidade, inclusive a instalação da energia elétrica.
A associação comunitária fez um projeto para a antiga Sociedade Anônima de Eletrificação
da Paraíba (SAELPA) instalar energia para todos os moradores, na década de 1990. Dessa forma,
percebe-se o papel fundamental que a união dos moradores exerce na comunidade, a partir da
organização social para continuarem prosperando nas atividades praticadas. Nesse contexto,10
moradores se reuniram, contribuíram com a quantia individual de R$ 800,00 para escavação de
poços e encanação d’água em suas residências. Outra conquista que beneficiou a todos foi à im-
plantação de cisternas através do governo federal, em parceria com o Centro Educacional Profis-
sional (CEDUP).

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Atualmente uma das maiores preocupações se refere à coleta de lixo na comunidade Titara,
devido às péssimas condições da única estrada que dá acesso à comunidade. Assim, o lixo pro-
duzido é queimado, mas provoca mau cheiro e proliferação de insetos, pois agrega o lixo dos 50
domicílios da comunidade.
Os moradores costumam utilizar espaços naturais como área de lazer, os espaços mais co-
muns são cachoeiras, piscinas naturais e os rios Araçagi e Araçagi-Mirim. Mas esses espaços estão
carentes de uma maior atenção da gestão pública na coleta dos resíduos sólidos e apoio na sen-
sibilização ambiental. Porém, sem a ajuda dos moradores não se obterá êxito, pois, cada um deve
arcar com suas responsabilidades e conservar o meio ambiente.
Na comunidade Titara as principais fontes de renda são aposentadoria, a cultura da banana e
a agricultura familiar que servem como complemento para as famílias. Em um acordo feito entre
o CEDUP e a secretaria de agricultura municipal, ficou certo que quem assistiria a associação seria
a secretaria de agricultura do município de Pilões.
As reuniões acontecem no 4º sábado de cada mês na escola da comunidade ou na capela,
pois não tem sede própria. As reuniões já foram bem participativas, mas com a falta de apoio e
de assistência por parte dos órgãos responsáveis, a comunidade tem dado pouca importância a
esses encontros.
Atualmente a associação não participa de nenhum projeto voltado para o desenvolvimento
comunitário, no entanto, tem planos para o futuro de formar uma associação comunitária de mu-
lheres que visam trabalhar com artesanatos, além de que pretendem fazer eleição para nomear
nova mesa diretora e o próximo objetivo é lutar para conquistar um local para a sede da associa-
ção comunitária.
Os moradores estão satisfeitos onde residem e não pretendem migrar para a cidade, gostam
de suas casas e do lugar onde vivem e trabalham. Os principais cultivos são a banana (musan spp),
milho (Zea mays), fava (Phaseolus lunatus), feijão (Phaseolus vulgaris), a mandioca (Manihot ) e o
abacate (Persea americana).
Para que práticas inovadoras venham a se desenvolver, a comunidade rural deverá está arti-
culada e fortalecida pela associação de moradores, pelo cooperativismo ou fórum regional. É pos-
sível criar alternativas de desenvolvimento local por meio de geração de trabalho e renda, através
do envolvimento participativo, melhorias dos produtos e serviços e o aproveitamento sustentável
das potencialidades culturais, ambientais e históricas.
Nesse sentido, o potencial turístico de Titara deverá ser desenvolvido em parceria com as
comunidades potencializadas pelo o turismo natural e rural, de suas cachoeiras, trilhas ecológi-
cas, caminhadas pedagógicas e passeios ciclísticos por comunidades mais próximas como a de
Veneza, Ouricuri e Poço Escuro. Ambas as comunidades juntas, em forma de políticas públicas
poderão desenvolver o geoturismo, através da contemplação das paisagens, da geomorfologia,
da geologia e das manifestações culturais locais.

4.3 Comunidade Ouricuri

A palavra Ouricuri no tupi guarani quer dizer entre morros e serras. Nela residiam duas famílias
que eram os senhores das terras, as famílias Flor do Rego e Pacifico, que foi o vetor da formação da
comunidade. Essas terras foram passadas de pai pra filho, onde seus moradores mais antigos eram
trabalhadores das próprias fazendas, procedentes do município de Pilões. A sede da comunidade
de Ouricuri situa-se ha 6 km de Pilões na PB 077, na vertente oriental do Planalto da Borborema.
Cada residência da comunidade de Ouricuri é feita de alvenaria possuindo aproximadamente
3,0 hectares de terras, que são usadas para a agricultura familiar e a criação pecuária de pequeno
porte. Essa área rural possui cerca de 50-100 moradias, com cinco pessoas por residência, sendo

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 89


V CBEAAGT

em sua maioria crianças e jovens que estudam na zona urbana, enquanto seus pais trabalham no
campo.
A comunidade Ouricuri possui uma associação de moradores, que foi fundada em 1996, em
uma casa cedida por um dos donos de terra local, e surgiu através das necessidades de projetos
e benefícios de melhorias na comunidade. A associação hoje se encontra fechada por motivos
desconhecidos segundo moradores, ela procurava resolver as dificuldades locais, reunindo-se há
cada segundo domingo do mês na sede.
Atualmente ao se tratar da Associação, percebe-se que os próprios moradores não se organi-
zam para reativar as atividades desencadeadas pela Associação. Visto a necessidade de organiza-
ção social e a melhor gestão de futuros benefícios para essa comunidade em termos de políticas
públicas.
Na produção agrícola os moradores da comunidade de Ouricuri cultivam milho (Zea mays),
feijão (Phaseolus vulgaris), mandioca (Manihot), fava (Phaseolus lunatus), banana (musanspp), caju
(Anacardium occidentale), jaca (Artocarpus heterophyllus), acerola (Malpighia emarginata), cacau
(Theobroma cacao) e abacate (Persea americana), laranja (Citrus sinensis). Com a comercialização
desses produtos, os agricultores conseguem completar a renda familiar. A produção agrícola se
torna melhor no período chuvoso, pois as terras ficam mais favoráveis para o plantio.
No cultivo de produtos agrícolas os agricultores se utilizam de meios de ferramentas simples
como a enxada, foice, faca e o facão, que facilitam a retirada do produto. Trata-se da agricultura
de subsistência, aonde o solo são menos impactadas e agredidas, as sementes utilizadas no novo
plantio são das produções anteriores. Essa região abriga um espaço natural belíssimo, uma cacho-
eira que recebe o nome da própria comunidade “Ouricuri”, e que atrai turistas de todos os lugares
da região, e ate mesmo de outros estados como Rio de janeiro e São Paulo e de outros países, para
fazer expedições e acampamentos nessa área.
A associação de moradores exerce papel fundamental na organização social de uma comu-
nidade. Por isso, se faz necessária a reabertura das atividades da associação de moradores de Ou-
ricuri, no sentido de uma melhor organização sobre o desenvolvimento local, com as práticas tu-
rísticas e a conservação do meio ambiente. É de fundamental importância a participação ativa da
comunidade no desenvolvimento econômico da localidade, para que haja um bom planejamento
econômico social e aproveitamento das práticas sobre o meio ambiente. De acordo com os mo-
radores, atualmente a comunidade sobrevive com a agricultura e a pequena criação de animais,
ambas sendo utilizadas para o consumo e para o comércio.

4.4 Comunidade Poço Escuro

A toponímia “Poço Escuro” se justifica na força das águas das cachoeiras que, ao impactar-
-se com o solo, formam grandes buracos, cuja água aparenta ser de cor escura. Essas terras fo-
ram compradas à proprietária Raquel Pimentel, com cerca de 5-10 hectares. Seus moradores são
procedentes de Guarabira e lá se instalaram para trabalhar no campo. Atualmente cada família
garante o seu sustento com a monocultura da banana e conseguem um a dois salários mínimos
mensais.
A Comunidade Poço Escuro, está situada a 300m de altitude, em relevo constituído por ver-
tentes côncavo-convexas, cobertas pela vegetação de mata úmida, drenadas pelo rio Araçagi
Mirim, afluente da bacia hidrográfica do Rio Mamanguape, ocupadas por atividades agrícolas e
pecuárias. A área é dotada de belezas naturais e cênicas que podem ser exploradas na modalida-
de do turismo rural, tais como as formações rochosas, as trilhas ecológicas, as piscinas naturais,
as grutas, o mirante da Pedra do Espinho, a cobertura vegetal exuberante, além das atividades
agropecuárias e da gastronomia.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 90


V CBEAAGT

É existente na comunidade cerca de 100 moradias de alvenaria e uma capela católica, mes-
mo a comunidade não tendo uma rede de sistema de abastecimento de água e esgoto, ela se
desenvolve ao longo de um riacho que forma um vale, tendo além de um campo comunitário um
balneário ecológico.
Poço Escuro possui uma associação de moradores que surgiu através da EMATER, tendo como
Presidente o morador Sr. Manoel Silvano, que foi eleito entre os moradores para representar essa
área rural. A associação procura resolver as dificuldades locais, reunindo-se há cada terceiro do-
mingo do mês, na sede.
Essa comunidade tem grandes planos futuros como organizar os jovens e as mulheres para
produzirem o artesanato e formar um grupo de artesão, tendo apoio do Sindicato dos Trabalhado-
res do município de Pilões e da Secretaria de Agricultura.
As famílias de moradores de Poço Escuro possuem cerca de 1-5 pessoas por residência, sendo
em sua maioria crianças e jovens que estudam na zona urbana, enquanto seus pais trabalham no
campo. As famílias criam vários animais. Na produção agrícola os moradores cultivam milho (Zea
mays), feijão (Phaseolus vulgaris), mandioca (Manihot), fava (Phaseolus lunatus), banana (musans-
pp), caju (Anacardium occidentale), jaca (Artocarpus heterophyllus), jambo (Syzygium malaccense),
acerola (Malpighia emarginata), cacau (Theobroma cacao) e abacate (Persea americana). Com a co-
mercialização desses produtos, os agricultores conseguem completar a renda familiar.
O cultivo desses produtos é do tipo artesanal, com o uso de ferramentas simples como a enxa-
da, foice, faca e o fação, que facilitam a retirada do produto. Trata-se da agricultura de subsistência,
aonde o solo é menos impactado, porém não é feito o pousio dessas terras, uma vez que o plantio
é ininterrupto. As sementes utilizadas no novo plantio são das produções anteriores.

5. Considerações Finais

As comunidades da Serra do Espinho já se beneficiaram de diversas políticas públicas como


o projeto feito para a obtenção da energia elétrica, LUZ PARA TODOS, a implantação de cisternas
através do governo federal em parceria com o Centro Educacional Profissional (CEDUP), se desen-
volveu nas comunidades a horticultura, corte e costura, pelo Programa Nacional de Fortalecimen-
to Agricultura Familiar (PRONAF/A), e atualmente foi feito um projeto para o PRONAF/MULHER
que teria um investimento em criação pecuária para se utilizar como fonte de renda. Mesmo ob-
tendo essas políticas públicas se faz necessário a busca de mais políticas que possam desenvolver
a economia das comunidades. De posse dos resultados referentes à pesquisa podemos observar
que é possível criar alternativas de desenvolvimento local por meio de geração de trabalho e ren-
da, através do envolvimento participativo, melhorias dos produtos e serviços e o aproveitamento
sustentável das potencialidades culturais, ambientais e históricas. A partir dos trabalhos e reuniões
feitos nas comunidades foi possível observar que ainda é necessária uma orientação quanto à or-
ganização das associações dos moradores e no caso de Ouricuri se faz necessária à reabertura da
associação de moradores, que foi desativada pela comunidade.

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 91


V CBEAAGT

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 92


V CBEAAGT

projetos de edUCação amBiental re-


alizados pela seCretaria mUniCipal de
edUCação de santarém - pa a partir
da lei 9.795/1999

maRia ElcilanE PRado dE aguiaR


quêzia lEandRo mouRa quERREiRo
séRgio gabRiEl baina chênE

Resumo Abstract
As mudanças Ambientais sempre ocorreram, po- The environmental changes always occurred,
rém se agravou quando o homem descobriu que but worsened when the man discovered that fire
o fogo podia transformar e modificar o seu entor- could transform and modify your surroundings,
no, de maneira que se fazem necessárias mudan- so that if urgent changes are needed in the habit
ças urgentes no hábito da sociedade. Portanto, of society. Therefore, awareness-raising actions
ações de sensibilização e conscientização se tor- and awareness have become indispensable to
naram indispensáveis para a construção de novos the construction of new values, attitudes and
valores, atitudes e habilidades sociais sustentá- social skills. According to the Law nº 9,795/199
veis. Conforme a Lei Federal nº 9.795/199 o poder public power is one of the responsible to promo-
público é um dos responsáveis para promover a te environmental education. The present study
Educação Ambiental. O presente trabalho buscou sought to list the actions and practices of envi-
elencar as ações e práticas de Educação Ambien- ronmental education carried out in Department
tal realizadas no município de Santarém pela Se- of education the municipality of Santarém. Were
cretaria Municipal de Educação (SEMED). Para a identified 44 Projects. The main methods of rai-
realização da pesquisa foi feito: a) levantamento sing awareness of the projects were seminars and
bibliográfico sobre a temática; b) pesquisa docu- workshops, followed by fairs and training; and
mental, onde foram consultados projetos, relató- the themes more addressed were environmental
rios, folders que se referiam a ações de educação education, waste and Environment.
ambiental junto a SEMED. Foram identificados 44
Projetos. Os principais métodos de sensibilização Keywords: Environmental education practices,
dos projetos foram Seminários e Oficinas, segui- Environment, students, community.
dos de Feiras e Treinamentos; e as Temáticas mais
abordadas foram Educação Ambiental, Resíduo e
Meio Ambiente.

Palavras-Chave: Ações de educação ambiental,


Meio Ambiente, discentes, comunidade.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 93


V CBEAAGT

1. Intrudução

Os problemas ambientais estão intimamente ligados ao crescimento populacional e a de-


manda por recursos naturais. A criação das cidades é a atividade humana que mais causa impacto
no meio natural (FELIZOLA, 2007; DIAS, 2008). Para Moran (2008), foi na pré-história, a partir da
descoberta do fogo, que o homem começou a interferir no meio ambiente, por meio da fumaça
que gerava ao aquecer seu abrigo.
A partir da Revolução industrial no século XVIII, houve um aumento do consumo, da geração
de resíduos, e da poluição ambiental no mundo (DIAS, 2008). Essas ações são acumulativas e por
isso vem modificando o espaço natural ao longo dos tempos, portanto será necessário promover
ações que auxiliam na reflexão, na ação, e no processo de Educação Ambiental-EA (OLÍVIO et al.,
2010; BENINI e MARTIN, 2012).
Conforme Pereira et al. (2012), os governos devem estar a frente das decisões e atitudes que
visem a sustentabilidade. De acordo com Philippi Jr. e Pelicioni (2005), o Estado é o representante
legal da sociedade e deve almejar o bem comum e a satisfação dos anseios econômicos, educa-
cionais e ambientais. Diante disso, investir em projetos, aplicá-los e esclarecer qual o papel da
comunidade é fundamental na questão da EA.
A Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988, no art. 225, estabelece que o meio ambien-
te ecologicamente equilibrado é direito de todos porém, também impõe o dever, ao poder públi-
co e a comunidade, de defendê-lo e preservá-lo. Para assegurar esse direito, o mesmo art. incube
ao poder público, no inciso VI, o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL,1988).
A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental-
-PNEA, e institui no art. 10 que a EA será desenvolvida integrada ao ensino formal em todos os
níveis; rege no art. 13 que o ensino não-formal será a sensibilização coletiva sobre as questões am-
bientais na sociedade e decreta no art. 16 que o Município, o Estado e o Distrito Federal, definirão
suas responsabilidades em conformidade com os princípios e objetivos da PNEA (BRASIL, 1999).
O decreto n° 4.281, de 25 de junho de 2002, regulamenta a Lei n° 9.795/1999 e estabelece no
art. 1° que a PNEA deve ser executada pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional
de Meio Ambiente-SISNAMA, além de instituições educacionais, pelos órgãos públicos da União,
Distrito Federal, Estados e Municípios, deve envolver entidades não governamentais, entidades
de classe, meios de comunicação e demais segmentos da sociedade (BRASIL, 2002).
Após a implantação da PNEA, uma série de trabalhos e projetos foi desenvolvida no âmbito
da EA. Dentre eles podem se destacar o de Medeiros et al. (2011), que abordou uma discussão
sobre os pontos relativos a EA inserida na educação escolar; o de Mayer et al. (2013), realizado na
Escola Kyaren Pérsia de Alcântara, na cidade de Redenção-PA, que apresentou esclarecimentos
para a comunidade estudantil sobre os conceitos dos 3 Rs (reduzir, reutilizar, reciclar); o de An-
drade e Quaresma (2013), que estudaram as dificuldades que as escolas têm em promover a EA
fazendo uma articulação com o desenvolvimento local e gestão social; o de Silva e Romero (2013),
que avaliaram a proposta do projeto “Escola do Parque”, em Santarém-PA.
Santarém é o terceiro município mais populoso do Pará, com 292.520 mil habitantes (IBGE,
2015). Sua localização privilegiada permite os meios de transporte hidroviário, rodoviário e aero-
viário. Com isso serve de pólo comercial para os municípios de Óbidos, Alenquer, Monte Alegre,
Rurópolis, placas, Prainha, Uruará, Juruti, Aveiro e Belterra, (SANTARÉM, 2013).
Apesar de sua importância para a região, a cidade de Santarém apresenta inúmeros proble-
mas devido ao acúmulo de resíduo em bueiros, ruas e praças, ocasiona danos ao meio ambiente e
a saúde humana (CAJAÍBA, 2013). Esses problemas se agravam na época chuvosa, correspondente
aos meses de dezembro a maio (BRASIL, 2004). Conforme os dados do Ranking de Saneamento

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 94


V CBEAAGT

de 2015, dos 100 maiores municípios do país, os 20 piores em saneamento são da região norte e
nordeste, e Santarém se encontra na 19° posição (BRASIL, 2015).
O poder público é o responsável por gerenciar as problemáticas, através de metodologias e
diálogo para abranger o maior número de pessoas e informar sobre o interesse coletivo de disse-
minar e aplicar os conhecimentos ambientais podendo ainda associar-se com entidades privadas
que assumam compromisso com as questões ambientais (ANDRADE, 2013).
A EA é instrumento de gestão formador de opinião que auxilia na mitigação dessas proble-
máticas, pois visa sensibilizar os moradores quanto aos problemas ambientais do município, e de
acordo com Jardim (2009), sua consciência influencia nas ações educativas organizadas pela prá-
tica social por meio de processos que irá promover mudanças na qualidade de vida da população.
A presente pesquisa buscou estudar os Projetos de Educação Ambiental desenvolvidos pela
Secretaria Municipal de Educação (SEMED), desde a implantação da Lei 9.795/1999 até o ano de
2014. Essa pesquisa surgiu da motivação de mostrar à população santarena e a comunidade em
geral, os benefícios, os avanços e os pontos fracos dos projetos de EA, e também de fornecer sub-
sídios para futuras ações dessa secretaria.

2. Materiais e Métodos

2.1 Localização da Área de Estudo

A área de estudo corresponde os limites do município de Santarém, região oeste do Pará (Fi-
gura 1), que está situado no km 0 da rodovia BR-163 Santarém-Cuiabá (FAUSTINO, 2013).

Figura1: Imagem ilustrativa da localização do município de Santarém-Pará.


Fonte: CORRÊA et al.. 2013, Adaptado pelos autores.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 95


V CBEAAGT

2.2 Caracterização da Área de Estudo

Com uma população estimada em 292.520 habitantes conforme IBGE (2015), Santarém é
uma cidade, segundo Ramos (2004), que se estabeleceu sem planejamento urbano, crescendo
sob total descaso de condições habitacionais e se desenvolveu de acordo com os ciclos econô-
micos da Amazônia (borracha, ouro e militar), sendo este ultimo ciclo, muito importante para o
crescimento urbano na época (entre 1950-1960), o qual proporcionou um aumento acelerado e
desordenado da cidade.
A cidade de Santarém conhecida inicialmente por aldeia dos Tupaius (índios da região)
foi ocupada pelos portugueses que extraiam as chamadas drogas do sertão (especiarias), em
1626, pela expedição do capitão Pedro Teixeira, a primeira realizada pelo rio Tapajós, e em 1661,
os jesuítas do padre João Felipe Betendorf, “catequizaram os índios” chegaram a este local, o qual
passou a categoria de Vila em meados de 1750 com a denominação de Santarém, e elevada à
categoria de cidade e sede do município pela Lei Provincial nº 145, de 24 de outubro de 1848
(SANTARÉM, 2013).

2.3 Tipo de Pesquisa e Levantamento dos Dados

A presente pesquisa teve uma abordagem qualitativo-quantitativa, pois o qualitativo buscou


caracterizar (Público Alvo; Temática abordada, Métodos de sensibilização) os Projetos de EA de-
senvolvidos pela SEMED de Santarém; e a quantitativa, pois buscou identificar a quantidade de
projetos desenvolvidos por ano, ou seja, verificar a evolução temporal. A pesquisa caracteriza-se
como pesquisa documental, que conforme Marconi e Lakatos (2010) é o tipo de pesquisa onde os
dados são obtidos por meio de fontes históricas, bibliográficas e estatísticas e para elencar os da-
dos deste estudo utilizou-se os documentos dos Projetos, relatórios, folders disponíveis na SEMED
de Santarém-Pará.
Também foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os temas: Educação Ambiental
na Escola, Gestão Ambiental Municipal, Cidade Sustentável, Histórico e Evolução da Educação
Ambiental, Legislação sobre Educação Ambiental. A consulta foi realizada nas bibliotecas da UFO-
PA (Universidade Federal do Pará), IESPES (Instituto Esperança de Ensino Superior), FIT-UNAMA
(Faculdades Integradas do Tapajós/Universidade da Amazônia), e no banco de dados da Scielo.

2.4 Tabulação dos Dados

O presente trabalho apresentou seus dados em números absolutos e em porcentagem, sis-


tematizados em tabelas com colunas e/ou fileiras horizontais. Também foram apresentados em
forma de gráficos: linear (para apresentar a evolução temporal do quantitativo de projetos) e de
barras (para apresentar as temáticas abordadas, o publico alvo, métodos de sensibilização dos
projetos). Os gráficos e tabelas foram construídos com o auxilio do Software Excel 2007®. Os
Apêndices A, B, C e D, apresentam todas as informações extraídas dos documentos obtidos na
SEMED.
O gráfico que apresentou as informações sobre as Temáticas dos projetos foi sistematizado
por categorias, por exemplo, os temas “Ecologia de Várzea”, “Várzea que queremos”, “Experiência
do Ituqui”, registrados nos documentos consultados foram incluídos na categoria Várzea.

3. Resultados

A figura 2 apresenta a quantidade de Projetos realizados pela SEMED, por ano de execução,

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 96


V CBEAAGT

para o período de 1994 a 2014. O ano que apresentou maior quantidade de Projetos foi 2011 (17
Projetos). De 2006 a 2010 foram registrados, em média, dois projetos por ano. Para os anos 2012 e
2014 foram registrados sete projetos por ano e em 2013 apenas dois Projetos.

Figura 2: Quantidade de Projetos de Educação Ambiental, por ano, desenvolvidos pela SEMED de Santarém
de 1994-2014.
A figura 3 apresenta a caracterização quanto ao Público Alvo dos Projetos realizados pela
SEMED para o período de 1994 a 2014. O Público que mais foi atingido foram os discentes (31
Projetos), seguido dos Docentes de escolas públicas (22 Projetos). A Comunidade foi incluída em
14 Projetos, o Corpo técnico (técnicos das escolas e dos órgãos institucionais), em 11 Projetos; os
Transeuntes em sete Projetos; a População em geral em quatro Projetos. O Público incluído em
apenas um projeto foram as entidades CLEAN, IFPA, DIVISA e IESPES.

Figura 3: Público Alvo dos Projetos de Educação Ambiental desenvolvidos pela SEMED de Santarém de
1994-2014.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 97


V CBEAAGT

A figura 4 apresenta a quantidade e o Método sensibilização trabalhados pela SEMED, para o


período de 1994 a 2014. O Método mais trabalhado foram os Seminários e Oficinas (18 Projetos),
seguido de Feiras (12 Projetos), Treinamentos (sete Projetos); Doção de mudas, Lúdicos e Não in-
formado (dois Projetos) e o inicio do desenvolvimento de um Projeto (Águas).

Figura 4: Métodos de sensibilização dos Projetos de Educação Ambiental desenvolvidos pela SEMED de
Santarém de 1994-2014.

A figura 5 apresenta a caracterização quanto as Temáticas abordadas nos Projetos de EA re-


alizados pela SEMED, para o período de 1994 a 2014. A Temática mais abordada foi Educação
Ambiental (14 Projetos), seguida de Resíduos (10 Projetos). As Temáticas de Meio Ambiente, Sus-
tentabilidade ocorreram em sete Projetos e a menos trabalhadas foram Água e Várzea, registradas
em apenas três Projetos. Não foram registradas temáticas para sete.

Figura 5: Temáticas abordadas pelos Projetos de Educação Ambiental desenvolvidos pela SEMED de Santa-
rém de 1994-2014.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 98


V CBEAAGT

4. Discussão

Verificou-se que a SEMED atuou em conformidade com a os princípios Municipais estabele-


cidos pela Lei 17.894, de 15 de dezembro de 2004, que estabelece o Código Ambiental do Muni-
cípio de Santarém e pela Lei 18.051, de 29 de dezembro de 2006, que estabelece o Plano Diretor
Participativo do Município de Santarém. Com relação às diretrizes apresentadas na Lei 9.795/1999,
art. 10, a SEMED deixa a desejar, pois o mesmo estabelece que a EA deva ser uma prática educativa
Integrada, Contínua e Permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, pois foi
identificado que os Projetos costumam não ter uma continuidade, sendo sua duração restringida
até, no máximo um ano. Ferraz (2008), também identificou em seu estudo que a maioria das ativi-
dades não apresenta como característica a continuidade, já Santos (2014), estudando as ações de
EA na Escola Municipal Silvana Oliveira Pontes, identificou Projetos com ações continuas.
Segundo o Plano Municipal de Educação, aprovado pela Lei 19.829, de 14 de julho de 2015,
para o decênio 2015-2025, Santarém conta com 397 Escolas Municipais em toda sua jurisdição,
então se pode destacar que nem todas as Escolas foram incluídas como Público alvo nos Projetos,
ao contrário, apenas uma minoria (apenas 20 Escolas identificadas) foi atingida pelas ações.
As Temáticas abordadas nas ações são coerentes com as problemáticas de Santarém, pois
abordam as situações do cotidiano, porém a quantidade de projetos que abordaram a Temática
Água foi pouca, pois devido a localização privilegiada da cidade, a preocupação com os recursos
hídricos deveria ser maior; a EA foi a mais trabalhada, no entanto necessita de Projetos contínuos
que justifique a transversalidade real do tema, que é a sensibilização e a conscientização.
De todos os projetos elencados, optou-se por detalhar o Projeto PEA/IPAM, pois foi o Projeto
com maior duração e também o que teve maior quantidade de publico atendido. Este recebeu
apoio financeiro da WWF e da comunidade Européia, sendo este dividido em 3 fases, onde a 1°
fase (1994 à 1999), foi a origem do Programa e teve como eixo central o processo participativo
de desenvolvimento da proposta dos temas geradores com os professores e a experiência piloto
nas escolas. A 2° fase, de 1999 à 2003, foi a expansão do programa por toda a área de Várzea, com
encontro de formação de docentes nas regiões do Aritapera, Tapará Grande, Urucurituba e Ituqui;
e a 3° fase, de 2002 à 2005, foi o desenvolvimento de campanhas como “Lixo” e o projeto “Águas”.
Este foi um projeto continuo e destaca-se pelo fato de ter contemplado muitos moradores dessas
comunidades.
O principal objetivo do PEA era desenvolver projetos que visassem capacitar professores en-
volvidos para identificar e entender os conceitos de ecologia de várzea. Com esse objetivo pode-
-se entender que houve uma preocupação primeiramente em transmitir os conhecimentos aos
multiplicadores de EA, não se pensou apenas na cidade, mas também em áreas de várzea, com a
realização, por exemplo, de atividades de campo com esses docentes, como visitas em áreas de
florestamento.
Apesar de o PEA ter formalizado um convênio com a SEMED para ações de monitoramento e
apoio aos docentes nas comunidades a apartir do 2° semestre de 1997, com o intuito de garantir
a continuidade de ações, destaca-se a colocação de que esta parceria foi formalizada, no entanto
sem evidências do acompanhamento monitorado aos Docentes, pois esse era o objetivo da parce-
ria, que segundo consta nos relatórios da SEMED, não existe documentos no IPAM que descrevam
os detalhes desse monitoramento, mostrando apenas que a parceria não teve sucesso. Também
foi identificado o descaso dos comunitários (alojamentos e alimentação) para a equipe do PEA.
De acordo com a pesquisa e o apoio dos documentos cedidos pela SEMED, no Município de
Santarém o PEA trabalhou o projeto “Águas Limpas, Comunidades Saudáveis” (2004), investindo
em ações de formação de Docentes relacionadas aos problemas de “lixo”, água, agricultura, saúde
e alimentação, este considera a área de Várzea do Município de Santarém uma unidade de Gestão

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 99


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adequada para tratar dos Recursos Hídricos com estratégias de formação de multiplicadores e
coleta seletiva de resíduos sólidos e seu destino final. No entanto faltou uma logística para esse
trabalho, pois o relatório apontou que a coleta desses resíduos (Baterias, Vidro, Plástico, Lata), não
teve um destino final adequado, mostrando que acabou sendo destinada a área de disposição
final de resíduos do município.

5. Conclusões

A SEMED já participava de Projetos de Educação Ambiental, na condição de parceira, antes


da implantação da Política Nacional de Educação Ambiental em 1994. A quantidade de projetos
apresentou crescimento ao longo dos anos e teve seu pico no ano de 2011, onde foram desenvol-
vidos 17 projetos. Em 15 anos (1994-2014) foram registrados, ao todo, 44 Projetos desenvolvidos
pela SEMED sobre Educação Ambiental. As temáticas trabalhadas estavam de acordo com as pro-
blemáticas ambientais, porém destaca-se que o tema qualidade das águas poderia ter sido mais
abordado. As ações apresentaram abordagem interdisciplinar e o Público alvo mais atingido foi os
Discentes. Assim, ratifica-se que é preciso adequar as temáticas às problemáticas da região e que
os Projetos precisam apresentar ações continuas, a fim de que o processo de sensibilização dos
discentes e da população santarena seja mais eficaz.

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 102


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APÊNDICE A
Quadro 1: Informações dos projetos de Educação Ambiental desenvolvidos no ano de 1994
a 2005 pela Secretaria Municipal de Educação-SEMED de Santarém.

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APÊNDICE B
Quadro 2: Informações dos projetos e programas de Educação Ambiental desenvolvidos no
ano de 2006 a 2010 pela Secretaria Municipal de Educação-SEMED de Santarém.

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APÊNDICE C
Quadro 3: Informações dos projetos e programas de Educação Ambiental desenvolvidos no
ano de 2011 pela Secretaria Municipal de Educação-SEMED de Santarém.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 105


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APÊNDICE D
Quadro 4: Informações dos projetos e programas de Educação Ambiental desenvolvidos no
ano de 2012 a 2014 pela Secretaria Municipal de Educação-SEMED de Santarém.

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reserVa de desenVolVimento sUsten-


táVel ponta do tUBarão: ConheCendo
e ViVenCiando o loCal pela Visão de Um
morador
J. R. dE F. RodRiguEs
m. g. dE a. dantas
t. c. dE aRaúJo
F. J. da silVa souza

Resumo Abstract
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta The Sustainable Development Reserve Shark
do Tubarão é a primeira do Rio Grande do Nor- Point is the first of Rio Grande do Norte. This in
te. Esta por sua vez, rege e abriga uma variedade turn governs and hosts a variety of new features
de novidades que as Unidades de Conservação that protected areas seek, among them, a form of
buscam, dentre elas, uma forma de preservação preservation and conservation of local communi-
e conservação das comunidades locais. A mais de ties. The over 10 years of its creation, you can still
10 anos de sua criação, ainda é possível encontrar find local weaknesses stemmed from to society
fragilidades locais, provindos desde á sociedade itself, as the limitations of the bodies (in this case
em si, como pelas limitações dos órgãos (no caso the absence of zoning and management plan).
a ausência do zoneamento e plano de manejo). This work seeks to observe the perspective of an
Este trabalho busca observar pela óptica de um active local resident views on the reserve, from
morador ativo da região visões a respeito da re- its origins to the present. It was found that the
serva, desde sua origem até a atualidade. Foi creation of it is of paramount importance both
possível constatar que a criação da mesma é de to the conservation and preservation of the envi-
suma importância, tanto para a conservação e ronment of this place, as also for society, althou-
preservação do meio ambiente daquele local, gh the same can not see that way in many cases.
como também para a sociedade, apesar da mes- However, one should seek briefly to conserve and
ma não conseguir visualizar dessa forma em mui- improve the weaknesses for them not to become
tos casos. Entretanto, deve-se buscar brevemente future problems.
conservar e melhorar as fragilidades para elas não
se tornarem problemas futuros. Keywords: Weakness, vision, importance.

Palavras-Chave: Fragilidades, visão, importância.

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1. Introdução

A intenção de se criar um reserva ambiental que abrangesse as comunidades de Diogo Lopes,


Barreiras e Sertãozinho, localizadas no município de Macau / RN, foi despertada diante de dois
acontecimentos os quais foram considerados por essas comunidades como uma ameaça ao meio
ambiente local e à continuidade das atividades tradicionalmente realizadas na área, notadamente
a pesca artesanal.
A Reserva Ambiental de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão (RDSPT) foi institu-
ída pela Lei 8.349 de 18 de julho de 2003, a qual cria a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Estadual Ponta do Tubarão, na região de Diogo Lopes e Barreiras nos Municípios de Macau e Gua-
maré no Rio Grande do Norte e dá outras providências. Nesse sentido, buscou-se mesclar esta
lei com a 9.985/00, que trata de regulamentar o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras provi-
dências. Nesse sentido, almeja discutir sobre os objetivos básicos de uma RDS, os quais são ditos
por: preservar a natureza; assegurar condições e os meios necessários para melhoria da qualidade
de vida das populações; melhorar os modos de exploração dos recursos naturais utilizados pela
população residentes na reserva e valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas
de manejo do ambiente desenvolvido por estas populações.
O objetivo desse trabalho será trabalhar sobre a RDSPT de forma geral, buscando conhecer
através da vivencia de um morador local, todo o espaço e história envolta do mesmo. Além de
pretender conhecer as fragilidades e problemáticas ocorridas e que persistem até atualmente.

2. Metodologia

A elaboração deste ensaio consistiu em adotar uma metodologia de cunho qualitativo, a qual
é descrita por Gerhardt e Silveira (2009), como uma técnica que não se preocupa com represen-
tatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de
uma organização, etc. Nesse tocante, utilizou-se de pesquisas bibliográficas para buscar conceitos
e averiguar as informações, em diversas fontes de pesquisa, as quais são compreendidas como
revistas, artigos científicos e sites acadêmicos.
Como instrumento de coleta dos dados foi feito o uso de questionário previamente elabo-
rado com 30 questões abertas e fechadas. A pesquisa toda foi realizada com materiais online,
inclusive a própria entrevista se deu de forma online pela questão da locomoção até o local e a
praticidade. O entrevistado é possuidor de um blog na região de Macau e outros municípios, mos-
tra-se sempre atualizado e conhecedor da história da região e por este motivo foi escolhido para
abordar sobre. Na pesquisa não será divulgado o nome do entrevistado apesar de o mesmo ter
concebido, porém por não ter sido possível o scanner de sua assinatura no termo de responsabili-
dade, os autores preferem continuar no anonimato. A pesquisa ocorreu no ano de 2014, contudo
por meio de pesquisas, é possível constatar que a maioria dos problemas persistem, entretanto,
alguns, como o plano de manejo, estão sendo solucionados, contudo, não os foram até a presença
data para submissão.

3. Referencial teórico

3.1 Dados gerais sobre a RDSPT

A RDSPT é conhecida na região como reserva ambiental, reserva sustentável e reserva de


Diogo Lopes. Foi criada em 18 de junho de 2003, regida pela Lei nº 8.349/2003. A sua implantação

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 109


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deu-se inicio em 11 de dezembro de 2003, com a constituição e tomada de posse do conselho


gestor. O Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (IDEMA) vinculado à secreta-
rio Estadual de Planejamento, é considerado o responsável primordial pela RDS. A sua localização
esta ao Norte da Região Costeira do Estado do Rio Grande do Norte, abrangendo os municípios de
Macau e Guamaré, dado por uma área de 12.960 hectares, correspondendo a aproximadamente
129,6 km².
A caracterização do local pode ser descrita por a região ser considerável intensa, constituin-
do-se de manguezais e por uma restinga, que separa o mar dos oceanos, por dunas fixas ou mó-
veis, e pela própria caatinga típica, que é responsável por compor o cenário mais interiorano da
RDS. Alguns desses caminhos já são utilizados para o turismo, no entanto sem fluxo considerável,
como é o caso das dunas e da praia. A sua principal finalidade e de preservar a natureza e, ao mes-
mo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a melhoria dos medos e qualidade
de vidas das populações tradicionais.
O surgimento da RDSPT deu-se em decorrência de reivindicações coletivas a cerca dos im-
pactos negativos motivados pelo turismo local e pela técnica de carcinicultura presente na região
do litoral potiguar. Originou-se com uma ameaça ao meio ambiente local e à continuidade das
atividades tradicionalmente realizadas na área. O primeiro foi em 1995 quando técnicos da Gerên-
cia Regional do Patrimônio da União (GRPU/RN) estavam preparando um local para a construção
de um hotel com grandes dimensões. Diante disso, a população ficou indignada, pois não con-
cordavam e nem mesmo foram alertados de que aquilo seria um pólo turistico. No ano seguinte,
ranchos de palha dos pescadores localizados na restinga foram queimados e acreditou-se que os
empresários do futuro hotel foram os agressores. O segundo acontecimento ocorreu no final de
2000, quando as comunidades foram pegas de surpresa com a queima de 4 hectares de mangue
em uma das ilhas do manguezal do rio Tubarão, conhecida como Ilha dos Cavalos. Diante destes
acontecimento a população que já era ciente, passou a lutar e a fazer revoluções para com a cria-
ção de algo que servisse para proteger, preservar e conservar suas terras; não sabendo ao certo se
seria uma APA, uma RDS, ou outra.
Então após alguns encontros sobre o assunto com representantes de orgãos ambientais
como o IBAMA, IDEMA, e representantes de ONG's ambientais que participaram para esclarecer
a população do que a região de Ponta do Tubarão se tratava. Foi a partir da Lei do SNUC que os
moradores constataram que para a realidade de Diego Lopes e Barreiras, a categoria de unidade
mais adequada seria a RDS ao invés de APA. Vale salientar que é a primeira e unica RDS fora da
região amazônica.
O estrevistado contou o seguinte sobre a origem do local:

Vi chegar a Petrobrás e assisti a expansão das salinas e agora mais recentemente a invasão
das usinas eólicas. Os núcleos urbanos - talvez em razão da distancia de grandes centros -
tiveram crescimento lento o que preservou a região. Acompanhei a luta - principalmente
dos jovens -- para a criação da Reserva [final da década de 1990]. À época a região estava
ameaçada por especuladores da área do turismo. O jornal Folha de Macau fez algumas
matérias sobre o assunto. Na criação da Reserva houve sensibilidade dos políticos que se
convenceram da necessidade da preservação daquela região. O papel de pessoas como
Luiz Itá, morador de Diogo Lopes foi fundamental para a concretização da Reserva.

Em um segundo momento, quando questionado sobre a reação da população frente a cria-


ção da reserva o mesmo acrescentou:

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A maioria da população - e em especial os pescadores - sempre foram favoráveis à Re-
serva, mas grande parte, ainda hoje é alheia à Reserva. Acredito que o maior problema é
a falta de um trabalho perene de conscientização, que envolva as igrejas, as escolas e as
associações comunitárias e classistas.

Contudo, vale ressaltar ainda que a única forma visível da contribuição positiva da população
é sua participação nos eventos promovidos pela Reserva. A criação da Reserva veio cunhada de
inúmeras vantagens para a região como um todo. E tomando como base os conhecimentos do
entrevistado:

A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão evitou de ma-


neira eficiente a cobiça daqueles que viam a região como propícia ao turismo devastador
como ocorre em outras regiões. Este turismo - destruidor - não se preocupa com os nati-
vos que são tratados como pessoas de segunda classe. A existência do turismo comunitá-
rio - em bases razoáveis -- na Reserva, ajuda na preservação a defesa do ambiente.

No âmbito da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão os bons exemplos


são o turismo ecológico ainda incipiente e o campo de pesquisa para a Universidade. É sempre
importante ressaltar que a Reserva não deve ser apenas o local onde os pesquisadores vão com
o intuito de titulação e o consequente aumento do salário. O pesquisador da Universidade - man-
tido com o dinheiro do povo - deve ter a responsabilidade cultural e social de colaborar para a
melhoria da vida daquelas populações com o resultado dos seus estudos e reflexões.
A humanidade, pode ser considerada como sendo a principal beneficiada pela implementa-
ção desse projeto, pois a manutenção do ambiente é fundamental para a vida na terra. A popula-
ção local é beneficiada, mas ainda não tem consciência do fato. A Universidade é beneficiada, pois
há um campo enorme de pesquisa em todas as áreas dos saberes humano.

3.2 Conceito de Reserva de Desenvolvimento Sustentável

O conceito de Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) apareceu legalmente pela pri-


meira vez na Lei federal nº 9.985 de 18 de Julho 2000. No art. 20 é dito que:

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga populações tra-
dicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos
naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais
e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção
da diversidade biológica (BRASIL, 2000).

Nos parágrafos seguintes, a lei diz que a RDS tem como objetivo básico preservar a natureza
e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melho-
ria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradi-
cionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do
ambiente, desenvolvido por estas populações. Além disso, ela é de domínio público, sendo que
as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de
acordo com o que dispõe a lei. Outro aspecto importante da lei a ser mencionado, é o parágrafo
4o , que diz que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Delibe-
rativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes
de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes

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na área.
No tocante as atividades, a lei estabelece que as mesmas deverão seguir determinadas con-
dições, como: a visitação publica, desde que compatível com os interesses locais e o Plano de
manejo da área; é permitida e incentivada a pesquisa científica; deve ser sempre considerado o
equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e é admitida a exploração
de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da
cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais
e ao Plano de Manejo da área.

3.3 Problemas encontrados até hoje

Este tópico, trata sobre os problemas de ambito social, cultural, economico e ambiental en-
contrado até hoje, depois de mais 10 anos da criação da reserva. Uma das principais reclamações
da população feita quanto a questão da poluição, é justamente a ausência de um zoneamento e
de um plano de manejo, onde eles percebem que isto torna a reserva de certa forma vulnerável.
Entrentando, ressalta-se que está havendo um processo de Plano de Manejo atualmente. Os pro-
blemas são oriundos desde a criação da reserva, tanto que esta teve seu início justamente por
conta destes. A poluição por empresas de petróleo, carcinicultura, industria salina sempre foi alvo
de criticas dos moradores e mesmo pós 10 anos da construção da reserva é visível que o unico
interesse destes é o lucro imeadiato.O entrevistado da pesquisa relata sobre essa questão da visão
capitalista. Onde as empresas enxergam somente o seu lucro imeadiato, não dando importância
para o que ocorre e o que irá ocorrer futuramente com seu uso. Ele disse que:

Todas estas atividades são potencialmente poluentes. Hoje existe tecnologia suficiente
para evitar a poluição destas atividades. Muitas vezes o chamado desastre ambiental
ocorre em razão da falta de consciência das empresas que enxerga mais o lucro imediato,
sempre perigoso para o meio ambiente e para o futuro da atividade explorada. Falta res-
ponsabilidade social.

Na atualidade, um outro problema está emergindo e criando forças.; a questão da implan-


tação de aerogeradores na região, popularmente denominada de energia éolica. Pelo fato de o
Rio Grande do Norte ter uma posição de destaque nos leilões de energia eólica, todos os cantos
onde contam com esse fator estão em risco a isto. Segundo nosso entrevistado na região de Dio-
go Lopes, Barreiras e Sertãozinho, por lá ser uma região onde a fiscalização ainda é lenta, não é
acidua a todo momento, muitos erros são cometidos durante a inserção de tais. Está ocorrendo
uma repressão por parte da população quanto a isso, os quais dizem que estão reinvindicando
pela não implantação dos aerogeradores na área de dunas. Pois eles entendem a função vital que
as dunas tem e querem preserva-las. Além disso, os moradores locais preocupam-se com a ques-
tão do turismo visualizando a implantação desta atividade como um impacto negativo. Porém as
reinvindicações estão praticamente não sendo ouvidas e o consórcio cumpriu todos os processos
burocráticos. Sobre isso, o entrevistado disse que:

Este parque é um problema para as comunidades que sobrevivem da pesca. Além disso,
é uma agressão ao meio ambiente. A empresa fez o rebaixamento da consta e avançou.
Construíram estradas retirando areia das dunas e isso impossibilita nosso livre trânsito
com o pescado e as canoas, como fazíamos antes.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 112


V CBEAAGT

Então com questões como essa fazem a população pensar negativamente sobre energias
sustentáveis, quando deveria ser o contrário. Tudo devido a ganancia dos empresários. Uma ques-
tão não menos importante, é a respeito da superexploração com o turismo da região, já que por
ser uma área da primeira reserva de desenvolvimento sustentável do estado, deveria servir como
modelo para estruturas civis sustentáveis, porém estão desenvolvendo apenas o papel de em-
preendimentos capitalistas, visando somente o lucro, desrepeitando principalmente os nativos.
Um dos problemas que consta atualmente na reserva é a questão da poluição. Segundo nosso
entrevistado atualmente a RDSPT está com dois problemas sérios, o primeiro seria a questão do
lixo carregado pelo movimento das marés que é algo consideravel e perigoso, com proporsões e
dimensões inimagináveis, e o outro problema seria a falta de um sistenta de esgotamento sanitá-
rio nas comunidades. Isso torna as concentrações urbanas os locais mais poluídos da reserva. No
tocante a inexistência do zoneamento e do plano de manejo, o entrevistado acredita que forma
fica indefinido o que pode e o que não pode na reserva que fica assim vulnerável ao avanço de-
senfreado daqueles que buscam lucro sem respeitar nada e ninguém.

4. Resultados e Discussão

Ao longo do trabalho, pode-se perceber a função primordial da RDS de Ponta do Tubarão


consiste em preservar a natureza; assegurar condições e os meios necessários para melhoria da
qualidade de vida das populações; melhorar os modos de exploração dos recursos naturais utili-
zados pela população residentes na reserva e valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e
as técnicas de manejo do ambiente desenvolvido por estas populações. Dessa forma, conciliando
com os aspectos do desenvolvimento sustentável estão inseridos, visando ser socialmente justos,
economicamente viável e ambientalmente correto. Há certos contra-tempos, como a resistência
por parte de alguns, principalmente de empresários que dizem ter propriedades dentro da reser-
va e desejam construir seu império capitalista dentro da reserva, mesmo contrariando as regula-
mentações exigidas pelo IDEMA.
Para tanto, a população contribui para a reserva desde sua criação, onde está só ocorreu após
repressão da comunidade para que aquele local tivesse um olhar diferenciado. Deve-se salientar
que a população, e a humanidade no geral, são os principais beneficiados com esse projeto, mas
que ainda existe desconhecimento da parte de alguns moradores.

5. Conclusão

Após mais de 10 anos da reserva, o morador acredita que a principal mudança é no quesito
preservação, onde considera isto como principal conquista. As expectativas ainda esperadas são
sobre a questão da conscientização de maior parte da população, a criação de um zoneamento e
de um plano de manejo. O entrevistado encerrou dizendo que acredita que a maior expectativa é
vida com dignidade para todos, sem precisar sair da região.

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 113


V CBEAAGT

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Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 114


V CBEAAGT

rios de teresina e polítiCas púBliCas


de ConserVação soB as representações
dos alUnos do ensino médio da rede
púBliCa estadUal de ensino

lucas almEida montE


caRlos sait PEREiRa dE andRadE

Resumo Abstract
O conceito de meio ambiente possui abordagens The concept of environment has approaches in
em distintos campos científicos, discutindo a re- different scientific fields, discussing the man-na-
lação homem-natureza nas suas transformações, ture relationship in their transformation, helping
contribuindo para utilização e aplicação prática to use and practical application of the concepts
dos conceitos de preservação e conservação. As- of preservation and conservation. Thus, environ-
sim, a educação ambiental, torna-se importante mental education, it is important mediation ins-
instrumento de mediação da relação entre poder trument of the relationship between government
público e sociedade no sentido de inserção da and society to the environmental issues insertion.
temática ambiental. Nesta proposta, objetivou-se This proposal aimed to present representations
apresentar as representações dos alunos do nível of students of basic level of Teresina-PI school on
básico de ensino de Teresina-PI sobre as políticas environmental public policies, analyzing the case
públicas ambientais, analisando o caso de suas of his propositions directed to Parnaíba and Poti
proposições direcionadas aos rios Parnaíba e Poti, rivers, aimed at discussion of legal norms rela-
visando a discussão de normatizações legais liga- ted to the environment and roles of the different
das ao ambiente e as funções dos diversos atores actors involved in the conservation and preser-
sociais envolvidos na conservação e preservação vation of these rivers. Therefore, an educational
destes rios. Para tanto, uma oficina didática foi workshop was held in order to discuss the issue.
realizada com objetivo de discussão sobre a te- The workshop was the result of the activities de-
mática. A oficina foi fruto das atividades desen- veloped by the Institutional Scholarship Program
volvidas pelo Programa Institucional de Bolsas de Introduction to Teaching (PIBID) at the College of
Iniciação à Docência (PIBID) no Colégio da Polícia Military Police (CPM) - Dirceu Mendes Arcoverde.
Militar (CPM) – Dirceu Mendes Arcoverde. O pre- This study was divided into six stages: bibliogra-
sente trabalho dividiu-se em seis etapas: Levan- phical survey; Pre-workshop - application of 15
tamento bibliográfico; Pré-oficina – aplicação de questionnaires; lecture on environmental policies;
15 questionários; aula teórica sobre políticas pú- Planning and preparation workshop; Workshop -
blicas ambientais; Planejamento e preparação da Simulated Jury and Post Workshop - Registration
oficina; Oficina – Júri simulado e Pós oficina – Re- new insights by applying more questionnaires in
gistro de novas percepções através da aplicação return to the classroom. The actions took place in
de mais questionários no retorno à sala de aula. 2015, the CPM - Dirceu Mendes Arcoverde, with a
As ações ocorreram no ano de 2015, no CPM – group of 3rd year of high school. The results obtai-
Dirceu Mendes Arcoverde, com uma turma do 3º ned in the study showed a lack of knowledge by
ano do ensino médio. Os resultados obtidos no the students about concepts related to environ-
estudo apresentaram falta de conhecimento por mental issues, noting changes in representations
parte dos alunos sobre conceitos relacionados à of the participants after the completion of prac-
temática ambiental, percebendo mudanças nas tical activity. Knowing this, we can see a positive
representações dos participantes após a realiza- action of the proposals to result in active behavior
ção da atividade prática. Sabendo disso, percebe- and committed students.
-se uma ação positiva das propostas no sentido
de resultarem em comportamentos ativos e com- Keywords: Environment, Rivers Parnaíba and
prometidos dos alunos. Poti, Environmental education, Teaching and le-
arning.
Palavras-Chave: Meio ambiente, Rios Parnaíba e
Poti, Educação ambiental, Ensino-aprendizagem.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 115


V CBEAAGT

1. Introdução

O conceito de meio ambiente é abordado de diversas maneiras em distintos campos cientí-


ficos, discutindo a relação homem-natureza nas suas transformações. Assim, estão inseridos ele-
mentos que são analisados através da inter-relação entre desenvolvimento, manutenção e trans-
formação das suas respectivas características naturais.
Na ciência geográfica este conceito é analisado através de categorias e temas que orientam
a interpretação da realidade como: Território, Paisagem, Lugar, Região e Espaço (ANDREIS, 2012).
Nesta perspectiva, Moreira (2007, p. 118) apresenta elementos que auxiliam na análise espaço
temporal da realidade. Para ele, os procedimentos lógicos geográficos escala, extensão, frequên-
cia, distância e proximidade contribuem para os diversos estudos não só da geografia a medida
que organizam o entendimento da realidade e suas diversas alterações.
No âmbito do processo de ensino aprendizagem em torno do conceito de meio ambiente, a
articulação entre os conceitos geográficos, seus procedimentos lógicos e o cotidiano dos alunos
se tornam aspectos fundamentais para o encaminhamento de análises integrais e interdisciplina-
res do ambiente, como proposto e relatado em literatura especializada.
Nesse contexto, esse trabalho é um desdobramento do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Federal
do Piauí – UFPI, implementado no Colégio da Polícia Militar (CPM) – Governador Dirceu Men-
des Arcoverde, na cidade de Teresina-PI, desde o ano de 2013, desenvolvendo práticas de ensino
aprendizagem entre futuros professores de geografia e alunos desta instituição de ensino básico,
através de dinâmicas teóricas e práticas que envolvem temas dessa ciência.
Nesta proposta, objetivou-se apresentar as representações dos alunos do nível básico de en-
sino de Teresina-PI, sobre as políticas públicas ambientais, analisando o caso de suas proposições
direcionadas aos rios Parnaíba e Poti, visando à discussão de normatizações legais ligadas ao am-
biente e as funções dos diversos atores sociais envolvidos na conservação e preservação desses
corpos hídricos.

1.1 Meio Ambiente e Políticas Públicas: Entendimento e Ação

O meio ambiente está presente no espaço geográfico, abordando assim sua inserção no lu-
gar, território, paisagem e região. Com base nisso, este conceito é, então, compreendido como o
meio geográfico, contendo a natureza e a sociedade, sendo esta última verificada de uma forma
mais localizada, situada historicamente num tempo e num espaço determinado e caracteriza-
da distintamente devido aos diferentes níveis culturais dos grupos que a compõem (AZAMBUJA,
2009, p. 31).
No processo de conceitualização do meio ambiente, se verifica a necessidade de utilizar ou-
tros conceitos que complementem sua compreensão. O conceito de natureza se faz presente,
tendo em vista que este é um tema integrador que designa ambientes naturais e transformados
(ART, 1998).
Tomando como base tais elementos da natureza, que favorecem a sobrevivência humana, se
verifica algumas definições que podem ser tomadas como base para melhor compreensão dos
aspectos norteadores do meio ambiente.
Assim, Abreu et al (2011, p. 1) afirmam que meio ambiente constitui um conjunto de todos os
fatores e elementos que cercam uma dada espécie de seres, é a natureza com alta mutabilidade e
grande complexidade, onde a interação população e ecossistema determinam a organização do
espaço em um dado período de tempo.
Na definição de meio ambiente, percebe-se que este possui conceituação não só através de

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 116


V CBEAAGT

literaturas especificas do tema, mas também de órgãos governamentais, os quais definem meio
ambiente na tentativa de conciliar com suas respectivas políticas públicas. De acordo com IBGE
(2004, p. 210), meio ambiente é o conjunto dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fato-
res sociais susceptíveis de exercerem um efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou em longo
prazo, sobre todos os seres vivos, inclusive o homem. Ressalta-se que este efeito é proporcionado
principalmente pelas condições de sobrevivência dada ao homem a partir do conjunto dos agen-
tes descritos.
A alteração das características naturais do ambiente pode resultar na degradação das condi-
ções mínimas favoráveis à existência humana. Com base nisso, a relação homem-natureza tornou-
-se, desde então, alvo de inúmeras análises a fim de se investigar a atuação antrópica no ambiente.
A modificação deste, realizada pelo homem, trouxe não só condições necessárias para sua sobre-
vivência, mas também alterações nas características naturais do seu próprio ambiente.
Nesse contexto, utilizam-se, então, outros dois conceitos interligados com a temática am-
biental: conservação e preservação ambiental. A definição destes conceitos favorecerá as suas
respectivas aplicabilidades na prática, tendo em vista que possuem diferenças em suas conceitu-
ações.
Para IBGE (op. cit., p. 84), a conservação consiste numa utilização racional dos recursos natu-
rais renováveis (ar, água, solo, flora e fauna) e obtenção de rendimento máximo dos não renová-
veis (jazidas minerais), de modo a produzir o benefício sustentado para as gerações atuais, man-
tendo suas potencialidades para satisfazer as necessidades das gerações futuras. Destaca ainda,
que este conceito não é sinônimo de preservação porque está voltada para o uso humano da
natureza, em bases sustentáveis.
Ainda sobre o conceito de conservação, Pinheiro et al (2008, p. 15) afirmam que manter um
meio ambiente bem conservado significa preservar todos os seus componentes em boas condi-
ções, ou seja, ecossistemas, comunidades e espécies.
Em complemento ao conceito de conservação, tem-se a utilização do conceito de preserva-
ção, que segundo Grisi (2007, p. 192) é a ação de proteção e/ou isolamento de um ecossistema
com a finalidade de que ele mantenha suas características naturais, pelo fato de ser constituído
como patrimônio ecológico de valor. Dessa forma, haverá uma proteção em longo prazo das es-
pécies e seus respectivos habitats.
Estes conceitos tornaram-se mais evidentes a partir da segunda metade do século XX, em
meados da década de 1950. De acordo com literatura especializada, isso decorre devido ao avan-
ço tecnológico e econômico verificado historicamente até os dias atuais. Young (2001, p. 26) com-
plementa que o crescimento econômico e sua relação com o meio ambiente passou a requerer
estratégias de desenvolvimento.
Na segunda metade do século XX a questão ecológica, com seus desdobramentos, passou
a ser discutida de uma forma cada vez mais intensa, que vai do âmbito local ao global. Tais dis-
cussões assumem em cada espaço valores e características particulares e que são analisadas com
base numa questão ecológica geral, discutida internacionalmente somada às demandas e acon-
tecimentos locais.
Com isso, o século XX firma-se como sendo o período de maior conscientização acerca das
questões ambientais. Nos anos iniciais deste século passa a ser notório um ambiente já bastante
degradado, sendo isso proveniente das diversas ações antrópicas que se utilizavam dos recursos
naturais diversos. A partir da percepção sobre a relação desarmônica entre sociedade e meio am-
biente, houve o surgimento de uma maior discussão acerca das consequências que se desencade-
avam a partir da relação sociedade-natureza.
A preocupação ambiental, originada no século XX, deriva do pensamento ambiental remon-
tado de meados do século XVIII, quando ainda neste período havia a predominância de uma so-

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 117


V CBEAAGT

ciedade ruralista, baseada na simplicidade. Em contrapartida a isso, com o surgimento da socie-


dade urbana-industrial, as discussões ambientais dominam as teorias de autores como Von Linné,
na Suécia, e G. White, na Inglaterra (HERCULANO, 1992, p. 11).
As ações que foram tomadas nos anos compreendidos entre as décadas de 1960 e 1970 re-
presentam de forma significativa a perpetuação da preocupação ambiental no século XX, contri-
buindo no processo de mudança e construção do verdadeiro pensamento ambiental. Percebe-se
que neste período houve a difusão do pensamento ecológico em todo o mundo.
Em conjunto com a difusão do pensamento ecológico insere-se o movimento hippie. Este
movimento baseou-se em estilos de vida de etnias diversas (indianos, camponeses e ciganos) e
culturas não urbanas. De acordo com Herculano (op. cit., p. 13), este movimento teve sua origem
calcada em uma critica a sociedade que se formara a partir da segunda metade do século XX, ba-
seada no produtivismo e consumismo. A partir disso, ainda de acordo com a autora, o movimento
hippie se utiliza da vertente consumista, proveniente do avanço do capitalismo, como forma de
disseminação do ambientalismo.
As principais marcas que demonstram a difusão deste pensamento consistem no surgimento
de Organizações Não Governamentais (ONG’s) e grupos ambientalistas que possuíam como prin-
cipal objetivo demonstrar a atual situação do meio ambiente, explicitando também os principais
atores modificadores do meio, sendo destas organizações não governamentais e os grupos am-
bientalistas, juntamente com a população externa a estes, a tomada de ações para reverter essa
situação.
Os problemas ambientais, atualmente tomam abrangência ainda maior do que no passado
devido às relações que estão sendo estabelecidas entre sociedade e natureza. Essas relações são
orientadas e refletidas segundo o cerne do capital, dos seus meios de produção e consequente
consumo que atingem a organização social e seus entendimentos de relação em sociedade/espa-
ço natural.
Nesse sentido, a dinâmica do capitalismo e seus anseios de progresso econômico proporcio-
na maior exploração dos recursos naturais, realizando elevado descarte de materiais não utiliza-
dos, contribuindo aceleradamente para a poluição ambiental. Ainda assim, tais ações possuem a
justificativa inserida no crescimento populacional e a necessidade de uma maior produção, que
favorecem para o desequilíbrio ecológico (YOUNG, op. cit., p. 27).
A questão ambiental, seja ela discutida em âmbito local ou internacional, por instituições
governamentais ou não, têm se tornado pauta da agenda social e econômica que deve ser tra-
balhada em sociedade na mesma velocidade que é debatida oficialmente. Contudo, essa neces-
sidade se esbarra nos obstáculos do consumo, da mídia capitalista e na organização social pouco
participativa nas questões ambientais.
Contextualmente, os movimentos ambientais surgiram para expor as consequências surgi-
das a partir da relação sociedade-natureza. Partindo das décadas de 1960 e 1970, estes movimen-
tos vêm ganhando maior notoriedade entre a sociedade devido à real necessidade da tomada de
atitudes para mudanças no pensamento ambiental e posterior maior conservação da natureza.
Em meio a uma mídia capitalista verifica-se a veiculação da atual situação ambiental através
dos diversos meios de comunicação, os quais fazem com que o sentimento de conservação da
natureza seja difundido com maior força por toda a sociedade.
Nos últimos anos, foi possível observar que o significado da preservação ambiental está sen-
do utilizado por diversos atores que ocasionam mudanças no ambiente através de suas respecti-
vas ações, sendo esta uma ação que desperta um sentimento de ambientalismo em praticamente
todas as classes sociais.
Uma vez que as ideias difundidas pelo ambientalismo se propagam pela sociedade, verifica-
-se uma maior mobilização a favor da conservação da natureza e dos seus recursos, alterando

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 118


V CBEAAGT

todo o modo de pensar de grande parte da população. Porém, é necessário destacar que essa
mobilização pode acabar se tornando um simples modismo, idealizado através de campanhas
midiáticas que favorecem para um pensamento ecológico breve e passageiro, o qual não possui a
verdadeira essência do pensamento ecológico e da consequente conservação do meio.
Nesse sentido, é preciso refletir sobre a validade das experiências, até agora vividas pelos que
militam por questões ambientais, em busca de não só a preservação do ambiente físico natural,
mas como também pela justiça ambiental que é intrínseca as discussões do equilíbrio do ambien-
te, sendo necessário entender que os debates, discussões e vivência das pessoas devem romper
com a zona de conforto de esperar o momento certo para alcançar relações mais equilibradas no
ambiente.
Para isso, as ações de conservação e preservação da natureza são formadas a partir das com-
petências de cada ator no processo: sociedade e poder público com suas bases de políticas pú-
blicas ligadas ao setor (MONTE, 2016), que visam a melhoria da qualidade vida para a população
partindo da conservação/preservação do ambiente.
As políticas públicas, são definidas como instrumentos importantes para as ações voltadas ao
meio ambiente, consistem num conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução
de problemas da sociedade (SEBRAE, 2008, p. 5), destacando dentre este problemas os resultados
negativos das relações entre sociedade e natureza.
Acerca dos tipos de políticas públicas, estas podem ser agrupadas em três classes, que são:
políticas econômicas; políticas sociais, na qual se insere a educação, saúde, entre outras ações;
políticas territoriais, inserindo-se ações voltadas para urbanização, regionalização, transportes,
dentre outras (MORAES, 1998, p. 29).
Ainda segundo Moraes (op. cit., p. 30), a política ambiental estaria inserida como uma ramifi-
cação da política territorial, tendo em vista que o meio ambiente se insere como um modelador
do espaço, sendo esta modelagem ocorrida através da visão que o homem possui sobre o am-
biente, influenciando por vez na forma como este será utilizado.
Assim, as políticas públicas ambientais surgem como forma de organização e fiscalização de
como o ambiente seria utilizado pelo homem, ou então, assim como afirma Salheb et al (2009, p.
12), proteger o meio ambiente, o integrando aos demais objetivos da vida em sociedade, como
forma, inclusive, de proporcionar qualidade de vida.
Dessa maneira, estratégias são criadas para amenizar e sensibilizar a população sobre suas
interferências no ambiente e as possibilidades de resultados. Dentro do contexto de sensibiliza-
ção ambiental, destacam-se ações que planejadas de maneira integrais, contínuas e críticas estão
organizando as normatizações estabelecidas por lei. Nesse contexto, ações voltadas ao fortaleci-
mento do acesso à informação da população somado a sua educação são desenvolvidas, norma-
tizadas pela lei nº 9795/1999, ações de Educação Ambiental (EA) no Brasil.
A educação ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental
materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, implicando
na questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza (SORREN-
TINO et al, 2005, p. 289).
Em complemento a isso, Júnior (2013, p. 128) afirma que a EA deve ser vista e praticada como
um processo permanente de aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e
contribui com a consciência local dos cidadãos em articulação com a escala planetária. No entan-
to, deve-se ressaltar a interdisciplinaridade verificada na educação ambiental, tornando-a mais
complexa (LOUREIRO, 2004, p. 72).
Para isso, o poder público cria mecanismos que possam contribuir no processo de abordagem
de temas relevantes na educação básica, dentre eles a EA. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) configuram-se como principal mecanismo que contribui para as abordagens dos diversos

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 119


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temas, os quais se caracterizam por ser um referencial de qualidade para a educação no país, ten-
do por consequência a garantia de investimentos no sistema educacional (BRASIL, 1997a, p. 13).
No tocante à temática ambiental, os trabalhos devem ser orientados e desenvolvidos de for-
ma a proporcionar aos alunos uma diversidade de experiências e ensinar-lhes formas de partici-
pação. Ainda assim, Brasil (1997b, p. 52) afirma que estes trabalhos devem possuir visão ampla
e integradora, de uma forma que envolva não só os elementos naturais do meio ambiente, mas
também os elementos construídos e todos os aspectos sociais envolvidos na questão ambiental.
Com isso, se verifica a transversalidade de conteúdos presente nos PCNs, levantando, assim, a sua
importância.

2. Materiais e Métodos

2.1 Área de Estudo

O município de Teresina tem sua formação geomorfológica associada aos rios Parnaíba e
Poti. Para caracterização desta associação, é necessária a verificação acerca da estrutura geoló-
gica do município de Teresina, tendo em vista que este é outro aspecto inter-relacionado com a
dinâmica dos rios.
A estrutura geológica do estado do Piauí possui sua composição, cerca de 84%, formada
pela Bacia do Maranhão-Piauí. (ARAÚJO, 2010). Sobre esta Bacia, Pfaltzgraff (2010, p. 18) afirma
que é essencialmente paleozoica, possuindo a seguinte divisão: Siluriana (Grupo Serra Grande),
Devoniana (Grupo Canindé) e Carbonífero-Triássica (Grupo Balsas). Ainda assim, este último autor
descreve que a Bacia do Maranhão-Piauí tem uma estrutura circular fechada, atingindo em seu
centro cerca de 3.000m de espessura, com uma superfície de aproximadamente 600.000 km.
As características geológicas e geomorfológicas interferem de forma direta nas bacias hi-
drográficas presentes no estado, ou seja, contribuirá para as formas de armazenamento, recarga
e circulação da água (ARAÚJO, op. cit., p. 61). Para melhor gerenciamento da água, o estado do
Piauí promulgou a lei nº 5.165/2000 (SILVA, P., 2003, p. 112), na qual institui a Politica Estadual de
Recursos Hídricos e cria o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.
No Piauí, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAR) realizou uma
classificação na qual apresenta as principais bacias hidrográficas presentes no estado, com desta-
que para Bacia Hidrográfica do Parnaíba com seus respectivos afluentes. O Rio Parnaíba, principal
rio piauiense e presente em toda parte oeste do estado, percorre desde os planaltos da região sul
piauiense e recebe na cidade de Teresina um de seus principais afluentes, o Rio Poti (PMT, 2002,
p. 16).
A partir das caracterizações físicas do estado do Piauí e da cidade de Teresina, tem-se o CPM
– Dirceu Mendes Arcoverde como área de estudo para realização das atividades relacionadas com
a oficina didática e consequente desenvolvimento deste trabalho. O colégio possui suas instala-
ções na zona leste da cidade de Teresina-PI, como pode ser observado na figura 1 abaixo.
Está área encontra-se mais próxima do Rio Poti, caracterizando-se por, inicialmente, serem
encontradas lagoas que foram aterradas principalmente para ocupação e expansão da cidade.
Destacam-se construções ligadas aos empreendimentos de alto padrão (shopping centers, re-
sidências de luxo), que alteraram a paisagem diretamente, influenciando, também, na dinâmica
dos rios, tendo em vista que houve um maior despejo de esgotos não tratados no decorrer de
crescimento do processo de urbanização às margens dos rios.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 120


V CBEAAGT

Figura 1: Localização da área de estudo.

2.2 Método

A compreensão da realidade e seu nível de organização são aspectos que geram questio-
namentos e posições distintas dos indivíduos (MELAZO, 2005, p. 47). Um aluno pode analisar o
estado de conservação da rede hídrica de sua cidade distintamente dos atores governamentais
da mesma, o que pode ser explicado através das diferentes bases de concepção que contribuem
para estas visões de mundo.
Sobre as concepções que resultam em visões de mundo, verifica-se na Geografia Humanística
a sua caracterização, assim como Johnston (1986, p. 221) afirma que este campo da geografia tem
o homem como sujeito ativo a partir das suas interações com o ambiente, interações estas com
consequências relacionadas à modificação do meio e do próprio homem. Ainda segundo o autor,
a Geografia Humanística tem a compreensão disso através de representações feitas pelos próprios
indivíduos que no meio se inserem.
A representação é, então, o ato de representar algo que não se possui ao alcance, tendo ape-
nas conhecimentos sobre aquilo que se quer representar. Ou, assim como se refere Piaget (1964)
ao descrever que a representação reduz-se à imagem mental ou à recordação-imagem, isto é,
utilização de símbolos que representem as realidades ausentes.
No tocante à ciência geográfica, a representação se expressa de maneira que proporciona
aproximar discussões pertinentes às análises referentes ao homem e vida cotidiana no espaço
(ANDRADE, 2000, p. 90).
Dessa forma, quando o desafio é relatar e analisar as diversas representações sobre a mesma
base material com suas dinâmicas ambientais associadas, é fundamental correlacionar cultura e

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 121


V CBEAAGT

variedade de apreensões ambientais que possibilitam o esclarecimento da atuação das políticas


públicas ambientais trabalhadas no campo educacional no sistema básico de ensino – buscando
entender e explicitar as ações de todos os seus atores.

2.3 Procedimentos Metodológicos

Para desenvolvimento do presente trabalho, dividiu-se o mesmo em seis etapas: Levanta-


mento bibliográfico; Pré-oficina – aplicação dos questionários; aula teórica sobre políticas públi-
cas ambientais; Planejamento e preparação da oficina; Oficina – Júri simulado e Pós-oficina – Re-
gistro de novas percepções através dos questionários no retorno à sala de aula.
A culminância da oficina didática, que ocorreu através da realização de um júri simulado, se
mostrou significativamente produtiva, com grande influência dos alunos inseridos nesta ativida-
de. O júri simulado foi utilizado para que os alunos pudessem analisar, através do campo jurídico,
a relação existente entre politicas publicas e meio ambiente. Antes da culminância, conteúdos
foram abordados em sala para melhor explicitação acerca do que seria júri simulado, apresentan-
do a dinâmica de tal atividade. Assim, uma peça teatral foi montada durante a fase de desenvolvi-
mento da oficina e efetivada no momento da culminância desta, na qual os alunos faziam o papel
de membros de um tribunal, julgando as ações das políticas públicas perante o meio.
O principal objetivo da oficina didática consistia na apresentação de conceitos importantes
relacionados com a temática ambiental, levantando questões sobre a relação das políticas pú-
blicas inseridas nesta temática. Os conceitos que foram apresentados contribuíram para maior
inserção dos alunos no desenvolvimento e culminância das atividades, contribuindo, também,
para despertar o interesse dos alunos em verificar a atuação das políticas públicas no processo de
conservação e preservação dos rios na cidade de Teresina–PI.
O Projeto, que ocorreu no ano de 2015, contou com a participação de uma turma do 3º ano
do ensino médio do CPM – Dirceu Mendes Arcoverde, com um total de 30 alunos, ressaltando a
participação de todos no projeto da oficina didática. Dentre os alunos, 15 foram selecionados para
responder um questionário contendo perguntas relacionadas com a temática ambiental e sua
relação com as políticas públicas, levantando questões acerca da ação destas últimas perante o
processo de preservação e conservação dos rios Parnaíba e Poti.
Foram utilizados um total de 30 questionários semiestruturados, sendo um número amos-
tral de 15 (n) questionários aplicados aos alunos num momento anterior ao desenvolvimento da
oficina (pré-oficina), e outro número amostral de 15 (n) questionários utilizados posteriormente
à oficina (pós-oficina). Ressalta-se ainda que os questionários foram embasados na abordagem
de Colognese & Melo (1998), que organizam os questionamentos de acordo com os objetivos da
pesquisa.
Após a aplicação dos questionários na fase pré-oficina aos 15 alunos selecionados, houve, en-
tão, o desenvolvimento da oficina didática com a temática ambiental, especificamente ligada aos
rios Parnaíba e Poti, ambos presentes na cidade de Teresina–PI. A preparação da oficina consistiu
em aulas expositivas com a abordagem acerca da preservação e conservação do meio ambiente,
sendo analisada a atuação das políticas públicas em tal prática.
Dentre as perguntas contidas nos questionários, algumas foram utilizadas para realizar análi-
ses acerca da concepção dos alunos perante o tema abordado na oficina, dentre elas: Qual o con-
ceito que melhor define meio ambiente?; Qual o conceito que melhor define a expressão políticas
públicas?; Na sua opinião, quais deveriam ser as ações das políticas públicas voltadas para os rios
Parnaíba e Poti?; Os rios Parnaíba e Poti são poluídos?.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 122


V CBEAAGT

2.4 Análise dos dados

Nas discussões, foi abordado o conceito de meio ambiente e as políticas públicas direcionadas
para sua preservação/conservação. Nesse sentido, a representação dos resultados foi organizada
em classes e categorias, mediante os objetivos da pesquisa (RYAN e BERNARD, 2000), inventa-
riando através de pré-teste e pós-teste representações dos alunos participantes sobre definições,
atuações e relevância das políticas públicas ambientais com destaque para aquelas aplicadas no
âmbito da preservação/conservação dos rios Parnaíba e Poti em Teresina/PI.

3. Resultados e Discussões

Dentre os alunos participantes da pesquisa, 60% (n = 9) correspondem ao sexo masculino,


enquanto 40% (n = 6) corresponderam ao sexo feminino. No tocante à faixa etária, foi possível
perceber que 60% (n = 9) possuem idades entre 15 e 17 anos e 40% (n = 6) possui faixa etária entre
18 e 20 anos. Dentre os alunos pesquisados não houveram faixas etárias acima de 20 anos.
Os elementos presentes na natureza favorecem para que ocorra uma definição abrangente
acerca do conceito de meio ambiente. Tais elementos contribuem para que a percepção sobre o
meio ambiente seja distinta, tendo em vista que a percepção é uma atividade, um estender-se
para o mundo (TUAN, 1980, p. 14).
Ainda sobre isso, Grisi (op. cit., p. 157) afirma que a expressão meio ambiente é considerada
por alguns autores como dúbia e pleonástica e como tal, inclui dimensões muito amplas com co-
notações econômicas, socioculturais e de segurança, inerentes ao ambiente humano.
Partindo disso, a primeira pergunta a ser analisada diz respeito ao conceito de meio ambiente
a partir das representações dos alunos entrevistados. A pergunta solicitava aos alunos para que
escrevesse o conceito que melhor define meio ambiente. Dentre as respostas, percebeu-se uma
diferença entre os questionários aplicados nas fases pré-oficina e pós-oficina.
Na fase pré-oficina obteve-se como principais respostas vida e natureza e local onde vive-
mos, ocorrendo, assim, uma igualdade nos resultados sobre estas duas respostas (40%; n = 6). Em
contrapartida a isso, na fase pós-oficina, local onde vivemos configurou-se como a resposta mais
presente (60%; n = 9), como pode ser observado na figura 2 abaixo.

Figura 2: Representações sobre o conceito de meio ambiente.


Fonte: MONTE, 2016.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 123


V CBEAAGT

A partir das análises acerca dos conceitos verificados sobre meio ambiente, percebe-se que
a sua conservação e preservação decorre de atores inseridos no meio, sendo essa função dada à
sociedade e o governo com suas políticas públicas, ressaltando a importância destas últimas no
processo de preservação e conservação.
Sobre as políticas públicas Sorrentino et al (op. cit., p. 289) descrevem que estas podem ser
entendidas como um conjunto de procedimentos formais e informais que expressam a relação de
poder e se destina à resolução pacífica de conflitos, assim como à construção e ao aprimoramento
do bem comum.
Sabendo disso, a próxima pergunta utilizada no questionário fez menção à compreensão dos
alunos acerca do conceito de políticas públicas. Nas respostas obtidas na fase pré-oficina verifi-
cou-se notoriamente uma falta de conhecimento por parte dos alunos sobre o conceito de tal
expressão, não sabendo, também, suas respectivas atribuições.
As respostas dos questionários aplicados nas fases pré-oficina e pós-oficina mostraram a ní-
tida diferença nas representações dos alunos sobre a conceituação das políticas públicas. Este
ocorrido deriva do fato de os alunos passarem a ter maior contato com o conceito de politicas
públicas a partir do momento de preparação da oficina (fase de desenvolvimentos e apresentação
de conceitos). Dentre as designações feitas pelos alunos, observa-se que ação governamental é
considerado o conceito que melhor descreve políticas públicas, tendo em vista que esse conceito
aparece em maior número nas respostas obtidas nas fases pré-oficina e pós-oficina. Abaixo, na fi-
gura 3, há a demonstração dos dados obtidos com a segunda pergunta analisada no questionário.

Figura 3: Representações sobre o conceito de políticas públicas.


Fonte: MONTE, 2016.

As respostas observadas nas duas primeiras perguntas analisadas demonstram uma falta de
conhecimento por parte dos alunos acerca da temática ambiental. De maneira geral, Fernandes
et al (2008, p. 152) afirmam que este fato decorre da falta de informações básicas repassadas não
somente aos alunos, mas também para a sociedade. O reflexo disso contribui para que possa ser
gerado um déficit no tocante aos ensinamentos de conceitos importantes para o processo da
educação ambiental.
Ainda de acordo com estes autores, verifica-se que esta situação pode se originar através
das falta de ações da própria sociedade, no momento em que esta não se insere de maneira ativa

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 124


V CBEAAGT

nas questões ambientais, buscando informações e conhecimentos em fontes relacionadas com


a temática ambiental. Dentre as fontes, insere-se as políticas públicas ambientais com ações que
envolvam toda a população e visem a conservação e preservação do meio ambiente, proporcio-
nando o acesso à informações importantes relacionadas a este.
Tendo a descrição da definição de políticas públicas, verificam-se, assim, debates sobre como
estas podem implicar e responder à questão sobre o espaço, que cabe aos governos na definição
e implementação de tais políticas públicas aplicadas para a sociedade (SOUZA, 2006, p. 26), po-
dendo estas serem estritamente voltadas para a esfera ambiental.
Sobre esta esfera, o campo científico mostra-se bastante influenciador no processo de aná-
lises, tendo em vista o constante crescimento dos impactos humanos sobre o meio ambiente. A
ação humana modificando as estruturas ambientais tem feito com que as ciências e, principal-
mente a Geografia, passem a repensar as composições categóricas do conhecimento para melho-
res soluções acerca de tal modificação da estrutura do meio ambiente (BARRETO, 2012, p. 192).
Ao se discutir a temática ambiental e a implementação de políticas públicas para o meio
ambiente, insere-se o fato de a maior parte da população viver nas cidades, contribuindo para
maiores interferências e degradação ambiental, fruto da consequente alteração das condições
de vida principalmente no ambiente urbano, chegando a uma crise ambiental. Percebe-se, então,
uma necessidade de ação por parte das políticas públicas a fim de superar tal crise. (JACOBI, 2003,
p. 190).
O meio ambiente degradado contribuirá para o surgimento de problemas que afetarão de
forma direta a população. Sabendo disso surge, então, o planejamento ambiental como sendo
fruto das políticas públicas. O planejamento ambiental tem como papel importante o de orientar
os instrumentos metodológicos, administrativos, legislativos e de gestão para o desenvolvimento
de atividades num determinado espaço e tempo, incentivando a participação institucional e dos
cidadãos, induzindo as relações mais estreitas entre sociedade e autoridades locais e regionais
(SILVA I. et al, 2012, p. 6).
A partir disso, a última pergunta a ser utilizada para análise consistiu na relação existente en-
tre políticas públicas e meio ambiente. No questionário, a pergunta dizia respeito sobre quais de-
veriam ser as ações das políticas públicas voltadas para o meio ambiente. As ações de preservação
e conscientização da população (40%, n = 6, pré-oficina; 60%, n = 9, pós-oficina) consistiu como
sendo a resposta mais obtida, seguida pela resposta baseada na limpeza dos rios e saneamento
básico (27%, n = 4, pré-oficina; 40%, n = 6, pós-oficina), assim como pode ser observado na figura
4 abaixo.

Figura 4: Representações sobre ações de políticas públicas ambientais.


Fonte: MONTE, 2016.

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 125


V CBEAAGT

As respostas obtidas na terceira pergunta analisada, decorrem da representação dos alunos


acerca do atual nível de poluição verificado nos rios Parnaíba e Poti. Tais níveis derivam de um
crescente processo de urbanização da cidade de Teresina–PI. De acordo com Cabral et al (2014, p.
6), algumas áreas de lagoas naturais na cidade foram aterradas para serem construídos edifícios
e centros comerciais, dificultando, assim, o controle do escoamento, filtragem e absorção natural
das águas que escoavam para o rio.
Dentre as consequências de construções em áreas próximas aos rios, têm-se ligações de es-
gotos clandestinos direcionados aos rios, os quais tornaram suas águas impróprias para os diver-
sos usos (SALLES, 2002 citado por CABRAL et al, op. cit., p. 6).
Nesse contexto, utilizou-se como análise, uma pergunta relacionada ao problema da poluição
verificada nos dois rios. Nesta última parte do questionário aplicado aos alunos, foi questionado
se os rios Parnaíba e Poti são poluídos. A partir da análise das respostas obtidas, foi possível inferir
que 100% (n = 15) dos alunos responderam de forma positiva, afirmando a poluição nos dois rios.
Ressalta-se ainda que a resposta de caráter positivo foi obtida nas fases pré-oficina e pós-oficina.
A partir da realização da oficina didática relacionada com a temática de preservação e con-
servação do meio ambiente, verificou-se a necessidade da aplicação de tais conceitos, relevando a
importância de se trabalhar essa temática no ensino básico, tendo em vista a inserção dos alunos
em tal prática. Nas figuras 5 e 6, abaixo, é possível observar as atividades da oficina sendo desen-
volvidas no pátio central do CPM – Dirceu Mendes Arcoverde, com a presença de toda a escola.

Figura 5: Apresentação do júri Figura 6: Realização das atividades da ofi-


simulado. cina didática.
Fonte: MONTE, 2015. Fonte: MONTE, 2015.
4. Considerações Finais

Refletir sobre a questão ambiental é compreender as relações que se estabelecem no espaço,


buscando correlacionar suas causas e consequências. Para essa compreensão, o entendimento e
correlação dos temas ambientais com as normatizações legais sobre políticas públicas torna-se
elemento indispensável para se pensar integralmente sobre o ambiente em sua dimensão política
(BARRETO, op. cit., p. 190).
O desenvolvimento de uma oficina didática apresentou a importância em se trabalhar com
conceitos pertinentes à temática ambiental, tais como os conceitos de preservação, conservação,
meio ambiente e políticas públicas, tendo esse último conceito um papel importante na prática
de conservação e preservação do meio, juntamente com o apoio de toda a sociedade.
Através da realização da oficina didática foi possível perceber um déficit de conhecimento
dos alunos a respeito de conceitos importantes, dentre eles o de políticas públicas, tendo em vista
que na fase pré-oficina foi verificado que grande parte do alunado entrevistado (60%; n = 9) não

Educação ambiEntal Em unidadEs dE consErvação E políticas públicas 126


V CBEAAGT

possui conhecimentos acerca de tal conceito, ressaltando que este número acaba por interferir
nos demais questionamentos, por serem conceitos interligados.
Ainda nesse sentido, as respostas obtidas na fase pós-oficina mostram a notória falta de co-
nhecimento acerca da temática abordada, tomando como base a divergência entre as respostas
verificadas nas duas fases, demonstrando a importância em se realizar tal atividade prática a fim
de apresentar conhecimentos que contribuirão para o processo de formação cidadã dos alunos
no ambiente escolar.

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V CBEAAGT

Unidades de ConserVação mUniCipais


em teresina - pi: parqUe amBiental
Floresta Fóssil
diana silVa mElo
andRéa maciEl lima
samuEl lima dE sousa
João VictoR alVEs amoRim
WEslEy Pinto caRnEiRo

Resumo Abstract
A apropriação dos recursos naturais pelo homem, The appropriation of natural resources by the
de maneira acelerada e desordenada, agravam os man, in a fast and disorderly way aggravate the
problemas ambientais e comprometem o meio environmental problems and compromises the
natural e social. Nesse sentido, a criação de Uni- natural and social environments. In this way, the
dades de Conservação – UCs torna-se bastante re- creation of Conservation Units – CUs becomes
levante, ao mesmo tempo que estas contribuem very relevant, at the same time that they contribu-
para preservar a biodiversidade local e proporcio- te to preserve the local biodiversity and provide a
nam melhor qualidade de vida para população. better quality of life for the population. Applied
Estudos realizados nestas UCs contribuem para studies in these CUs contribute to the analysis of
análise de tais espaços destinados ao uso susten- these spaces, destined to sustainable use, in or-
tável, no intuito de detectar possíveis usos e po- der to detect possible uses and potential, as also
tencialidades, como também evidenciar a inade- highlight the inadequacy of the area, supporting
quação da área, subsidiando estudos posteriores. the future studies. The present study aims to
O presente estudo objetiva caracterizar o Parque characterize the Floresta Fossil Municipal Park,
Municipal da Floresta Fóssil, localizado na cidade located in Teresina, state of Piauí, Brazil, through
de Teresina – PI, através de pesquisas bibliográfi- bibliographical research in articles and journals,
cas em artigos e periódicos, bem como consultas as well as consultations in the Management Plan.
no plano de manejo. Com base nas informações Based on the information obtained, has been pro-
obtidas foi comprovada a situação de abandono ved the situation of abandonment and neglect,
e descaso, reflexo do quadro atual de degradação reflection of the current situation of environmen-
ambiental que o Parque apresenta. tal degradation that the Park presents.

Palavras-Chave: Conservação, Caracterização Keywords: Conservation, Environmental charac-


ambiental, Parques Municipais. terization, Municipal Parks.

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1. Introdução

O Parque Municipal da Floresta Fóssil abrange uma área de 13 há e está localizado às mar-
gens do Rio Poti, na cidade de Teresina, capital do Piauí. É enquadrado como uma Unidade de
Conservação (UC) Municipal, e pode ser entendida como um museu a céu aberto, na área urbana
de Teresina. Sua maior relevância se prende ao caráter científico, não apenas pela exclusividade
paleontológica, mas, também ao significado ambiental, paisagístico, urbanístico e turístico que
essa UC agrega à paisagem cultural da cidade (IPHAN, 2013). Foi criada por meio do Decreto nº
2.195, de 08 de janeiro de 1993, instituído pela Prefeitura Municipal de Teresina, sob a finalidade
de se preservar um importante patrimônio natural do município, tendo em vista que é uma das
principais áreas de resgate histórico na cidade de Teresina, sendo reconhecido por uma pequena
parcela da população que respeita o caráter do parque como patrimônio histórico natural, confor-
me está previsto na legislação. A Figura 1 ilustra uma fotografia da entrada do parque.

Figura 1: Entrada do Parque Ambiental Floresta Fóssil, voltada para Av. Marechal Castelo Branco.
Fonte: LIMA, 2016.

De acordo com informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN


(2008), os cientistas acreditam que a floresta, por sua antiguidade, preexistiu aos grandes répteis
que habitaram a Terra. As plantas pteridófitas lá encontradas pertencem a um gênero extinto an-
tes do surgimento dos dinossauros e o sítio destaca-se também por ser um exemplo de grande
raridade por conta da disposição da maioria dos seus troncos (na posição de vida), caso único na
América Latina, havendo apenas outro similar, no Parque Yellowstone, nos Estados Unidos.
Com base nas informações adquiridas, a UC Floresta Fóssil encontra-se em estado de aban-
dono, tanto por parte dos órgãos, quanto pela sociedade. Vale ressaltar que o IPHAN, diante dessa
realidade, elaborou um Plano de Manejo para revitalizar essa Unidade de Conservação e em sua
proposta admite-se que a gestão deva ser intergovernamental, ou seja, não são somente os ór-
gãos da Prefeitura Municipal de Teresina que seriam responsáveis pela gestão do parque, mas sim
os órgãos estaduais e federais.

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O trabalho foi desenvolvido com o intuito de se caracterizar o Parque Municipal Floresta Fós-
sil, levando em consideração seus aspectos físicos, bem como identificar os diferentes tipos de
uso deste. Para tanto, no presente trabalho foram desenvolvidas as seguintes etapas para obten-
ção das informações necessárias, sendo elas seleção das principais bibliografias para embasar o
trabalho e, posteriormente, entrevistas com representantes da SEMAM (Secretaria Municipal do
Meio Ambiente e Recursos Hídricos). Por fim, uma visita ao parque foi realizada, com o objetivo de
comprovar as informações obtidas no decorrer da pesquisa.

2. Referencial Teórico

2.1 Unidades de Conservação em Teresina – PI

Conforme a Lei nº 9.985/2000, art. 7º, §1º: “o objetivo básico das Unidades de Proteção Inte-
gral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais [...]”.
Dentre as Unidades de Proteção Integral, as classificadas como Parques Naturais Municipais têm
como objetivos complementares: a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimen-
to de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza
e de turismo ecológico (Lei n° 9.985/2000,art. 11) (IPHAN, 2013).
O estado Piauí é beneficiado em termos de atrativos naturais, históricos e culturais. Em Tere-
sina encontramos um grande número de parques ambientais, sendo estimado o número de 26
parques, incluindo as reservas florestais (QUARESMA, 2013).
As Unidades de Conservação constituem espaços muito importantes para cidade de Tere-
sina porque possibilitam a conservação e/ou preservação permanente da flora e da fauna, sus-
tentando também o patrimônio genético da natureza (biodiversidade), além de outros atributos
do ambiente, como a manutenção dos cursos d’água, de monumentos geológicos, de vestígios
histórico-culturais e das belezas cênicas. De forma integral ou parcial, essas Unidades se destinam
a estudos e atividades educativas, culturais, cientificas e de lazer. Mais recentemente, como atra-
ções rotuladas de “turismo ecológico” ou “ecoturismo”, podem também trazer retornos econômi-
cos e de lazer às comunidades locais (LIMA, 1996). Acrescenta ainda que na cidade de Teresina tais
Unidades de Preservação Ambiental, conhecidas também como Parques Ecológicos, localizam-se
principalmente nas margens dos rios e são consideradas pela legislação ambiental como áreas de
preservação permanente. Dentre as quais, destacaremos o Parque Municipal Floresta Fóssil do Rio
Poti.

2.2 Parque Municipal da Floresta Fóssil

Com base nos registros do IPHAN (2013) em 08 de janeiro de 1993 foi criado o Parque Muni-
cipal da Floresta Fóssil, pelo Decreto Municipal n° 2.195, tendo seus limites definidos pelo Decreto
Municipal n° 7.444/2007. Em 16 de março de 1998 foi realizado o tombamento estadual da Flores-
ta Fóssil, por meio do Decreto Estadual nº 9.885.
Segundo o IPHAN (2013), entende-se por tombamento o ato administrativo realizado pelo
Poder Público, em qualquer esfera (federal, estadual ou municipal), com o objetivo de preservar
por intermédio da aplicação de legislação específica, gestão e fiscalização, os bens de valor históri-
co, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico, e também de valor
afetivo para a população, que importem preservar, impedimento que venham a ser destruídos ou
descaracterizados. O tombamento federal da área ocorreu através do Processo de Tombamento
nº 1510-T-03, em 11 de setembro de 2008, durante a reunião do Conselho Consultivo do IPHAN,

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realizada no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro.


O parque municipal da floresta fóssil possui 23 hectares, 18 hectares situam-se do lado oes-
te e 05 hectares do lado leste. Esta área passou por um processo de afundamento de terreno ou
subsidência, o que tornou possível a petrificação dos troncos. (TERESINA, 2005). Constatou-se a
existência de troncos fossilizados, na margem direta do Rio Poti – dentro do Parque Municipal da
Floresta Fóssil, na margem esquerda – dentro do Parque Urbano Ilhotas, bem como no leito do Rio
Poti (IPHAN, 2013). Os fósseis ali encontrados (Figura 2) datam de mais de 250 milhões de anos.

Figura 2: Destino da trilha principal e as margens do rio, onde são encontrados também troncos fossilizados.
Fonte: LIMA, 2016.

O IPHAN (2013) acrescenta ainda que uma das ações mais relevantes para a proteção da Flo-
resta Fóssil foi em 1994, através do Decreto Municipal n° 2.704, que demarca a área do Parque Mu-
nicipal da Floresta Fóssil do Rio Poti. Em setembro de 2008, a Floresta Fóssil do Rio Poti foi tombada
pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Brasileiro devido ao notável interesse científico e paisagís-
tico. Tal iniciativa visou, além da proteção deste patrimônio, sua transformação em um espaço
turístico e de incentivo ao conhecimento científico. Na área do tombamento federal estão incluí-
dos, além do Parque Municipal da Floresta Fóssil, outros dois parques municipais: Parque Urbano
Ilhotas – localizado na margem esquerda do Rio Poti, com uma área de 08 hectares, inaugurando
no dia 31 de março de 2002, através da Lei de Preservação Ambiental e Conservação Ambiental nº
1.939 de 16 de agosto de 1988; e o Parque Regional dos Noivos.
Apesar da sobreposição de iniciativas de proteção, os troncos fossilizados que resistiram mi-
lhões de anos, hoje se encontram permanentemente ameaçados devido a sua localização no cen-
tro da malha urbana de Teresina, em uma das regiões mais valorizadas da cidade, onde existe
pressão por urbanização das áreas no seu limite, cujos projetos – imobiliários, viários, sanitários, de
drenagem e eletrificação – são propostos sem levar em consideração as exigências de preservação
do sítio e seu entorno, pela utilização inadequada da área protegida e ações diretas e indiretas

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decorrentes dos fatores climatológicos (IPHAN, 2013).


Segundo a assessoria técnica da SEMAM, além da ação antrópica de exploração dos troncos,
chama atenção o vandalismo e a ocupação dos parques para práticas e atividades ilícitas e inapro-
priadas à preservação ambiental, em sua maioria devido à ausência de infraestrutura de proteção
e gestão eficazes. Outros fatores de degradação apontados são as frequentes práticas de pesca
amadora que acarretam impacto direto sobre os fósseis, pelo trânsito inadequado de pessoas
sobre a área, pelos rejeitos de peixe (limpos e consumidos no local), fogueiras (que ocasionam
incêndios durante o período de estiagem), resíduos sólidos (sacos plásticos, garrafas, lonas etc.).
Ainda com base na assessoria técnica da SEMAM os órgãos governamentais com responsabi-
lidades diretas relacionadas à floresta fóssil são: SEMAM – Secretaria Municipal de Meio Ambiente
de Teresina; FUNDAC – Fundação Cultural do Piauí; DNPM – Departamento Nacional de Produ-
ção Mineral; IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Já os órgãos governa-
mentais com responsabilidades indiretas são: SEMDEC – Secretaria Municipal de Desenvolvimen-
to Econômico de Teresina; SEMPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento de Teresina; CEA/
SEMAR – Centro de Educação Ambiental da SEMAR e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos do Piauí; SETUR – Secretaria de Estado do Turismo do Piauí; Batalhão de Posi-
cionamento Ambiental; Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Piauí; Comando Geral da Polícia
Militar do Estado do Piauí; ANA – Agência Nacional de Águas; SPU – Superintendência do Patrimô-
nio da União; CPRM – Serviço Geológico do Brasil e a Polícia Federal.

3. Materiais e Métodos
3.1 Localização e características físicas da área de estudo

Figura 3: Mapa de Localização da Floresta Fóssil de Teresina.


Fonte: MELO, 2016.

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O parque ambiental Floresta Fóssil está localizado no município de Teresina, capital do esta-
do do Piauí, Próximo ao Centro de Educação Ambiental do Piauí (CEAPI) e ao Parque Potycabana,
tendo seu acesso facilitado pela avenida Raul Lopes. A floresta petrificada estende-se por uma
área de 23 hectares que passou por um processo de afundamento de terrenos, tornando possível
a petrificação dos troncos (TERESINA, 2005).
De acordo com Lima (1998) é atribuído o nome de Floresta para o Parque pelo fato da distri-
buição dos troncos petrificados serem muito próximos uns dos outros, aflorando onde o rio esca-
vou o seu leito. Os troncos podem observados desde o Parque Potycabana até aproximadamente
15 km a montante do curso do Rio Poti indicando sua continuidade sob as rochas, em um espaço
bem maior na área em torno do leito do rio. Foram identificados aí cerca de 60 troncos, encontran-
do-se parte dos troncos em posição de vida ou levemente inclinados, outra parcela rolada pelo
transporte das águas do rio, apresentando diâmetros e comprimentos variados e aflorando com
alturas de até 70 cm.
Embora alguns troncos já apresentem desgaste, o estado de conservação geral é conside-
rado bom, indicando que o tipo de fossibilização foi realizado através da “permineralização”. Este
consiste na substituição de matéria orgânica por minerais, sendo sílex o mineral predominante,
seguido da hematita e da calcedônia, que se encontra preenchendo algumas fraturas. De acordo
com SANTOS e CARVALHO (2004) este material pertence à formação Pedra de Fogo, de idade per-
miana, sendo as camadas dessa formação rochosa rica em troncos fósseis silicificados.
Ao longo de todo o percurso do Rio Poti – que nasce na Serra da Joaninha, no Município de
Parambu, Estado do Ceará – é possível encontrar ocorrências de vegetais fossilizados. No entanto,
é em Teresina que os remanescentes da floresta permiana foram tombados em níveis estadual e
federal (IPHAN, 2013).

3.2 Procedimentos Metodológicos

No estudo foi utilizada uma abordagem qualitativa descritiva, no qual realizou-se através de
levantamento bibliográfico em artigos, periódicos e sites que abordam a temática, coletando in-
formações sobre o Parque Floresta Fóssil. Destacam-se a consulta de artigos científicos, do site
Paisagens o ambiente em movimento da Professora Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima (http://
iracildefelima.webnode.com).
Posteriormente foi realizado dois momentos em campo, a começar por uma visita a Secreta-
ria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAM), onde foi feita uma entrevista com a
assessoria técnica da instituição, que apresentou um novo plano de manejo elaborado pelo Insti-
tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN, em parceria com a SEMPLAN – Secretaria
Municipal de Planejamento. A assessoria relatou ainda um pouco sobre o litígio que ocorre entre a
Prefeitura e o instituto, pela questão da gestão e da falta de recursos para a concretização do que é
previsto no plano de manejo, e que enquanto isso perdurar é eminente que não haverá perspecti-
vas quanto à reforma e revitalização do parque, quanto a contratação de funcionários para manter
a segurança e preservação do patrimônio, dentre outros aspectos.
Através do embasamento teórico, anteriormente a aula de campo, constatou-se o conheci-
mento da história, dos aspectos físicos, como a localização, extensão de terra, vegetação, dentre
outros fatores. No segundo momento de realização do trabalho, houve a comprovação de algu-
mas das estimativas envoltas na parte teórica, como por exemplo, a falta de infraestrutura e de
manutenção, bem como outras características, que serão abordadas no tópico seguinte.

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4. Resultados e Discussão

Ao longo do tempo, com o crescimento desordenado da cidade, as construções públicas e


privadas se tornaram uma ameaça para a preservação do parque, pois é possível perceber um
avanço em direção a área da floresta fóssil, visto que esta situa-se em um local de intenso fluxo
urbano. Como afirma LIMA (1996) o crescimento acelerado da cidade de Teresina é um dos princi-
pais fatores responsáveis pela redução do verde, pois o intenso crescimento da população confi-
gurou a ocupação do espaço urbano de forma desordenada.
Durante a visita in loco ao Parque foi comprovada a situação de abandono e descaso, em que
o ambiente encontra-se degradado, como podemos visualizar na Figura 4, a área do parque está
sujeita ao descarte de vários resíduos de qualquer natureza.

Figura 4: Imagens A e B ilustram a área do Parque Floresta Fóssil, onde foi encontrado preservativos e resto
de roupas.

Fonte: LIMA, 2016.


Como foi detectado durante o estudo o parque conta com uma dificuldade do governo em
administrar e garantir a estruturação, manutenção e segurança compatíveis à relevância que a
Floresta Fóssil do Rio Poti detém. Além das dificuldades pela falta de orçamento e descontinuida-
de nos programas de manutenção e a gestão desarticulada acaba por ocasionar diferenciações de
investimentos e posturas entre as áreas integrantes, o que invariavelmente geram impactos sobre
o patrimônio cultural, científico e natural que se pretende preservar.
Para tanto, o IPHAN elaborou uma proposta para manejo do Parque Natural Municipal da
Floresta Fóssil do Rio Poti para aplicação intergovernamental. O plano aponta como primeira me-
dida a implantação de uma UCs que garanta de forma eficaz a proteção do patrimônio cultural,
científico e natural da Floresta Fóssil do Rio Poti, a proposta recomenda que o Parque Municipal
da Floresta Fóssil, delimitado pelo Decreto Municipal n° 7.444/2007, deva ter sua área ampliada,
de forma a unificar as demais Unidades de Conservação da região. Dessa forma, o Parque Regional
dos Noivos e o Parque Urbano Ilhotas deverão ser incorporados à nova UCs.
Como tal medida a Unidade de Conservação passaria a ter as seguintes características:
• Denominação: Parque Natural Municipal da Floresta Fóssil do Rio Poti.
• Categoria de Manejo: Unidade de Proteção Integral/ Parque Natural Municipal.
Elaborado pela contratação da Superintendência do IPHAN no Piauí, a proposta foi entregue
ao órgão do SNUC em âmbito municipal: a SEMAM, que deverá se encarregar da avaliação, revisão
e aprovação do Plano de Manejo. No entanto, segundo a assessoria técnica da SEMAN, o plano
está parado, pois o impasse existente é referente a justificativa da SEMAN de não ter recursos

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disponíveis para colocar em prática as medidas dispostas no Plano. E também as outras entidades
citadas no plano não se responsabilizam por fornecer repasse para instalação das medidas dispos-
tas nessa nova proposta.

5. Conclusão

A importância desses fósseis para a vida atual, apesar de datarem de milhões de anos atrás é
relevante. Para Lima (1998) eles representam relíquias que possibilitam a reconstrução de aspec-
tos do ambiente piauiense, dando pistas de etapas da evolução dos vegetais, bem como da data-
ção, profundidade e tipos de sedimentação e ainda das condições de climas pretéritos.
O Parque Floresta Fóssil possui um importante valor histórico, ambiental e científico, é notório
o potencial didático desse sítio, que remete à necessidade de um pequeno centro de apoio opera-
cional, tanto a pesquisadores e estudantes, quanto a visitantes e turistas que possam se dirigir, em
busca de lazer e de contemplação dessa singular paisagem urbana.
A sociedade está perdendo um local riquíssimo, tanto para estudos, como para a manutenção
da fauna e da flora local, e também fontes diretas do passado que se mantem vivas através das
petrificações, e que se estivesse com a manutenção adequada proporcionaria além de tudo, um
ambiente ímpar no que concerne a beleza do meio natural.

Referências
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NO PIAUÍ – IPHAN – PI. Plano de Gestão, Conservação e Manejo da Floresta Fóssil do Rio Poti
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