Artigo A Autotranscendência e o Sentido Da Vida Através Da Psicanálise Humanista Aline Tatiane de Carli
Artigo A Autotranscendência e o Sentido Da Vida Através Da Psicanálise Humanista Aline Tatiane de Carli
Artigo A Autotranscendência e o Sentido Da Vida Através Da Psicanálise Humanista Aline Tatiane de Carli
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICANÁLISE
Santa Maria – RS
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2022
Aline Tatiane de Carli
Santa Maria – RS
2022
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RESUMO
Este estudo visa elucidar como a Psicanálise Humanista consegue auxiliar o Ser em
sua jornada e seus desafios, impulsionando-o sempre à superação a fim de
descobrir o sentido de sua vida, ressignificando sua forma de viver e levando-o
quase que inevitavelmente à sua autotranscendência. Este amoroso processo de
análise pessoal que a Psicanálise Humanista nos proporciona, é riquíssima herança
advinda da teoria de Erich Fromm, sociólogo e psicanalista, que tendo atualmente
seus estudos somados à logoterapia de Viktor Frankl, nos fornece uma visão
profunda do Ser perante a existência. Ao mesmo tempo em que desvela valioso
método para chegarmos ao objetivo comum almejado por todos nós, consciente ou
inconscientemente, de profunda conexão com o Todo e sentimento de
preenchimento, permite que cada indivíduo busque de forma singular o sentido de
sua vida, auxiliando, facilitando e potencializando esse processo.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................05
2 TRANSCENDER......................................................................................................06
3 A BUSCA PELA UNIDADE......................................................................................14
4 O AMOR COMO TRANSCENDÊNCIA....................................................................19
4.1 Amor Fraterno.......................................................................................................20
4.2 Amor Materno........................................................................................................20
4.3 Amor Erótico..........................................................................................................21
4.4 Amor Próprio.........................................................................................................21
4.5 Amor Por Deus......................................................................................................22
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INTRODUÇÃO
2 TRANSCENDER
exercício contínuo de qualidades biofilas, estas que Fromm nos traz como sendo
uma arte o seu aprendizado.
Na contemporaneidade, o ser humano encontra-se aprendendo nessas duas
formas, ora pela dor, ora pelo amor, como num pêndulo onde jaz a dualidade.
Segundo Andréa (2018, p. 23) “A transcendência seria o desejo de erguer-se
acima de uma existência passiva e acidental, ela pode acontecer de modo positivo
ou negativo, criando ou destruindo a vida.”.
Quando o ser se depara com o sofrimento, a falta e a dor em sua vida, por
mais difícil que seja a situação, ainda assim possui a liberdade de escolha, podendo
optar pela vitimização ou pelo enfrentamento a fim de superar o que há de
desagradável em sua vida, consequentemente aprendendo, tirando lições dessa sua
experiência e por vezes auxiliando os outros que estão passando pelos mesmos
problemas.
O que não significa de forma alguma que o sofrimento seja indispensável em
sua vida.
Se for evitável, o que faz sentido é remover a sua causa, porque sofrimento
desnecessário é masoquista e não heroico. Por outro lado, mesmo se a
pessoa não puder mudar a situação que causa seu sofrimento, pode
escolher a sua atitude. (FRANKL, 1985, p. 134)
Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida: cada um
precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir cumprimento. Nisto
a pessoa não pode ser substituída, nem pode sua vida ser repetida. Assim,
a tarefa de cada um é tão singular como a sua oportunidade específica de
levá-la a cabo. (p. 106)
O mesmo seria válido para a existência humana, que segundo ele, não se
deveria procurar um sentido abstrato à vida.
Uma vez que cada situação na vida representa um desafio para a pessoa e
lhe apresenta um problema para resolver, pode-se, a rigor, inventar a
questão pelo sentido da vida. Em última análise, a pessoa não deveria
perguntar qual o sentido da sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela
que está sendo indagada. Em suma: cada pessoa é questionada pela vida;
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e ela somente pode responder à vida respondendo por sua própria vida. (p.
106)
Como afirma Zekhry (2020), “O sentido da vida não pode ser apenas dado ou
inventado, mas procurado e descoberto através da expansão da consciência.”, pois
“a consciência é a essência do nosso ser e a sua expansão nosso dever sagrado”.
Tendo o ser atingido este nível de percepção, inicia o “despertar da
consciência”, por vários almejado e ao mesmo tempo temido.
consequência surge um sentimento que é comum para todos que atingem esse
estado de consciência: a gratidão.
A gratidão é pela ciência reconhecida como uma “emoção de nível superior”.
(Emmons; McCullough, 2004). Em seu aspecto biológico, afeta o sistema
neuroquímico do cérebro em uma área específica conhecida como Núcleo Accubens
(NAcc), que ativa o sistema de recompensa cerebral, produzindo os hormônios
ocitocina e dopamina que geram uma sensação de prazer. Assim, aquele que a
sente constantemente passa a viver com entusiasmo (do grego enthousiasmós,
"inspiração divina"), ou seja: “com Deus dentro”.
Segundo Pereira:
O ser humano vive em busca do prazer, e podemos afirmar que, muito além
de suas necessidades puramente biológicas:
A teoria de Fromm tem por base de que o homem é o único ser na natureza
com consciência de si mesmo. Sendo o único que tem essa habilidade de
autopercepção, ele se utiliza da capacidade de reflexão e do exercício da razão e
assim se depara afastado da comunhão com a natureza, diferente dos outros
animais onde esta integração se dá automaticamente.
Esta separação é causa de uma ansiedade denominada “ansiedade de
separação”:
A experiência da separação desperta a ansiedade; é, de fato, a fonte de
toda a ansiedade. (...) Eis porque ser separado é o mesmo que ser
desamparado, incapaz de apreender o mundo, as coisas e as pessoas, de
modo ativo; significa que o mundo nos pode invadir sem que tenhamos
condições para reagir. (FROMM, 1962, p.)
Quem está preso pelas amarras da neurose, não consegue ser diferente e
fazer a diferença, as estruturas neuróticas do passado não permitem que a
pessoa seja criativa, a neurose insiste em sempre repetir o mesmo padrão
de fantasia. (p.85)
Portanto, desde que o ser humano nasce ele está sendo desafiado pela
existência a superar-se. Se ele opta pela biofilia, superando seus medos e traumas,
está agindo num estado de consciência e, ao contrário disso, se sucumbe ao
fracasso e vitimismo, está num estado de inconsciência que acentua a pulsão de
morte, perpetuando a repetição da neurose.
Segundo a teoria de Maslow, os seres humanos possuem cinco necessidades
básicas, que podem ser elencadas no formato de uma pirâmide, na qual
Conforme ilustração:
Fonte: https://blog.waycarbon.com/2016/05/acv-sustentabilidade-dos-negocios/
Fromm (p.49) frisa ainda que “O importante em todos esses sistemas não é
tanto a estrutura intelectual, as concepções em si, mas a atitude humana que orienta
a doutrina.”.
E esta atitude, como se pode imaginar, está embasada num ensinamento que
foi deixado à humanidade há cerca de dois milênios: “amaivos uns aos outros”.
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A psicanálise mostra também que o amor, pela sua própria natureza, não
pode restringir-se a uma única pessoa. Quem ama apenas uma pessoa e
não ama "o seu semelhante" demonstra que essa atração exprime, na
realidade, um anseio de dependência ou de dominação, ou seja, uma
mistificação do amor. Além disso, quem ama o seu semelhante e não ama a
si mesmo mostra que o interesse no semelhante não pode ser genuíno. O
amor baseia-se numa atitude de afirmação e respeito, e quando essa
atitude não existe em relação ao próprio indivíduo, que é afinal de contas
um ser humano, não podemos falar em amor. (FROMM, 1962, p.103-104)
Fromm nos ensina que amar é uma arte que requer prática para seu
aprendizado. O amor apenas pode ser considerado real e genuíno quando possuir
um caráter universal, não direcionado unicamente a um objeto de desejo. Pois se
assim o é, não passa de uma estratégia narcísica para a existência.
O amor é uma faculdade que pode ser desenvolvida na vida se houver a
conscientização de que amar não é assim tão simples e fácil, e é por isso que
muitos relacionamentos ao longo da vida de uma pessoa podem fracassar se o ser
não buscar entender a real significação do que é o amor e como amar. Nesse
sentido,
É o amor de igual para igual que temos pelo próximo, baseia-se no altruísmo
e na consciência de que Todos Somos Um e cada vida importa, devendo ser
cuidada e respeitada em suas particularidades.
4.2 Amor Materno:
Em contraste com o amor fraterno e o amor erótico, que são amor entre
iguais, a relação de mãe e filho é, por sua própria natureza, de
desigualdade; nela, um necessita de toda a ajuda, o outro a dá. Por esse
caráter altruísta, abnegado, é que o amor de mãe tem sido considerado a
mais alta espécie de amor, o mais sagrado de todos os laços emocionais.
(FROMM, 1958, p. 43)
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A idéia expressa no Bíblico “ama teu próximo como a ti mesmo” implica que
o respeito pela própria integridade e singularidade de alguém, o amor e a
compreensão de seu próprio ser, não se podem separar do respeito, do
amor e da compreensão para com outro indivíduo. O amor por meu próprio
ser liga-se inseparavelmente ao amor por qualquer outro ser. (FROMM,
1958, p. 49)
Diferente do narcisismo onde não existe amor, apenas uma imagem a ser
zelada, e do egoísmo onde desejo que apenas as minhas necessidades sejam
atendidas, ambos sem se importar com as demais pessoas, no amor próprio o ser
ama e cuida de si, na mesma medida que ama e cuida do outro.
Afinal, como conseguir amar, cuidar, respeitar e nutrir sentimentos por outro
alguém, sem antes saber fazer isso a si mesmo?
Visto que também é um ser humano, o seu amor deve partir de si e assim
espalhar-se aos outros.
Deus toma-se para ela um símbolo em que o homem, numa etapa anterior
de sua evolução, expressou a totalidade daquilo por que o homem luta, o
reino do mundo espiritual, do amor, da verdade, da justiça. Tem fé nos
princípios que “Deus” representa; pensa verdade, vive amor e justiça e
considera a sua vida inteira como só valiosa enquanto lhe dá ocasião de
alcançar um sempre mais amplo desdobramento de seus poderes humanos
— como a única realidade que importa, como o único objeto de
“preocupação última”; e acaba não falando a respeito de Deus, nem mesmo
mencionando seu nome. Amar a Deus, se tal pessoa fosse usar esta
expressão, significaria, então, ansiar pelo atingimento da plena capacidade
de amar, pela realização daquilo que “Deus” representa em alguém.
(FROMM, 1958. p. 57)
O amor por Deus nesse contexto representaria o amor que sinto a tudo que
existe. O amor à vida. A biofilia por excelência.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se por meio desse estudo que através da clínica e análise humanista,
somada a uma visão da logoterapia é possível ressignificarmos a existência a um
nível de sentido e amor à vida.
O ser através de sua análise pessoal consegue transcender suas limitações,
criando um projeto de vida onde pouco a pouco vai galgando uma nova forma de
existir e encarar a sua existência, de forma mais biófila, baseada nas diferentes
formas de amar e se realizar.
Os conflitos e angústias fazem parte dessa jornada chamada vida, mas
conforme vamos curando nossos traumas e ressignificando a nossa forma de ver a
vida e existir no mundo, novos horizontes de expansão da consciência e
possibilidades vão surgindo, elevando o homem a níveis cada vez mais elevados da
existência.
Quando desenvolvida e amadurecida plenamente a nossa capacidade de
amar, damos luz à nos mesmos, descobrimos o sentido de nossa vida e assim,
também o outro é abarcado por essa biofilia.
É esta transcendência, através do amor, que finalmente supera a nossa
ansiedade de separação.
Sendo o amor, como afirma Fromm, a resposta aos problemas da existência.
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BIBLIOGRAFIA
CENATTI, Márcio José. Homem – Ser de Transcendência. São Paulo, Ixtlan, 2013.
SALLIN, Edson. Existência Humana Prazer na Dor e no Amor. Santa Maria: ITPH,
2019.
ZEKHRY, Shlomo. Viktor Frankl e um Sentido para a Vida (palestra virtual). São
Paulo: ITPH, 2020.