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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta metodológica para o ensino de
História, direcionada ao Ensino Médio, a qual consiste na realização do processo da pesquisa
histórica em sala de aula, procurando transformá-la em 'laboratórios' ou 'oficinas', para que os
alunos possam 'vivenciar' a produção do conhecimento histórico. Para isso, toma-se como
parâmetro de reflexão e discussão, a experiência tida durante o 1º semestre de 2009, no
Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon, Curitiba, Paraná (Brasil), desenvolvida durante
o Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE.
Palavras-chave: Metodologia. Ensino de História. Pesquisa histórica.
ABSTRACT
This article aims to present a methodologic propose for History teaching, directing to high
school, which consist in making the process of Historical research in the classroom, trying to
turn it into laboratories or workshops, for the students can vivence the production of historical
knowledge. For this takes it as a parameter of reflexion and discussion, the experience has
taken during the first semester of 2009, in state College Marechal Cândido Rondon, Curitiba,
Paraná (Brasil), developed during the Educational Development Program – PDE.
Keywords: Methodology. History teaching. Historical research.
1 Artigo científico apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Coordenação do PDE), como
requisito para a aprovação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação do Prof.
Dr. Sandro M. Wambier.
2 Professora de História, do Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon E.F.M., Curitiba-Paraná; Professora
PDE-2008, graduada em História pela UFPR e com especialização em História e Geografia do Paraná pelo
Instituto Superior de Educação Padre João Bagozzi.
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1 INTRODUÇÃO
4 TRAVERIA, Gemma T. Enseñar a pensar historicamente: los archivos y las fuentes documentales em la
enseñanza de la historia. Barcelona: I.C.E. Universitat Barcelona/ Horsori Editorial, 2005. p. 11
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conhecimento é um processo e que, portanto, a verdade também o é”. (SCHAFF, 1974, p.90).
respondessem em uma aula de 50 minutos, sem nenhuma explicação ou consulta prévia. Esta
atividade possibilitaria discutir e aprofundar o conteúdo, a partir do conhecimento dos alunos.
Não houve a preocupação em coletar esses dados nem tão pouco tabulá-los quantitativamente.
A estratégia consistiu em centralizar em discussões e despertar o interesse do aluno pelo
assunto, pois durante o projeto esse conteúdo viria à tona constantemente.
Comentaremos sobre as respostas dos alunos, de uma forma geral, sem especificá-las
individualmente ou quantitativamente. A questão nº 1 foi respondida em geral relacionando o
passado e o presente, a menção de estudo de fatos, mas não aparece o conceito de Ciência,
dentre as respostas ouvidas. Os alunos não relacionavam História ao conceito de Ciência. Na
questão nº 2, os alunos conheciam exemplos de fontes históricas, contudo, tiveram
dificuldade de conceituá-las, salvo raros casos que o fizeram. A questão nº 3, causou uma
estagnação geral na turma. Os alunos pareciam perdidos sobre o que escrever em relação ao
tempo histórico. Talvez, foi a questão que mais tiveram dificuldades. Na questão nº 4,
escreveram de uma forma geral, sem mencionar as etapas de uma pesquisa histórica. Porém,
relacionaram as fontes históricas com o trabalho do historiador.
Após ouvir as respostas dos alunos sobre cada questão, a explicação, a discussão e o
aprofundamento foi feito pela professora seguindo questão por questão. Pode-se refletir sobre
o conceito de Ciência na área de História, a compreensão do conceito de Fontes Históricas e o
papel do historiador ao analisá-las, o conceito de verdade histórica, tomando como exemplo
um objeto de estudo nas Ciências Exatas, como o resultado de uma equação:x+5=2 ;
resolvendo x= 2-5; resultando: x=-3. Voltando a equação inicial, se o resultado de x for
substituído pelo valor encontrado: x+5=2 ; -3+5=2 , assim 2=2. Os alunos perceberam que
nesta equação o resultado correto só podia ser x=-3. Diferentemente das Ciências Humanas
que pode ter o mesmo objeto de estudo, o uso das mesmas fontes históricas, mas que poderá
ser diferente o resultado da pesquisa histórica, em virtude, principalmente, da visão
(ideológica) do historiador, ao coletar e analisar os dados. Outro ponto abordado foi o
conceito de presente e passado, tempo curto, médio e longo e de etapas de um projeto de
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pesquisa (histórica). Como referencial teórico dessa fase do trabalho, podemos citar a obra de
Adam Schaff, História e Verdade (1974), na qual trabalha com três principais instâncias,
divididas em partes: na primeira parte, são os pressupostos gnoseológicos; na segunda parte,
trata do condicionamento social do conhecimento histórico e na terceira, e última parte,
aborda a objetividade da verdade histórica.
O trabalho realizado com esta Unidade Didática ocorreu principalmente nos meses
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de março e abril (2009), dispondo de textos, cuja fonte histórica dava o direcionamento a
discussão do tema, e seguidos de atividades elaboradas para poder enfatizar o conteúdo
abordado. O tempo e a quantidade de atividades não foram compatíveis, por isso houve a
necessidade de selecioná-las para poder cumprir a implementação dentro do prazo solicitado.
Durante uma aula semanal trabalhou-se com a Unidade Didática, o que resultou num
distanciamento grande, dificultando o desenrolar e entendimento do tema. Por ter necessidade
de recapitular algumas considerações, o tema talvez se tornou enfadonho. Acredito que não
deveria intercalar com outro conteúdo da disciplina, mas seguir apenas no desenvolvimento
do Projeto. Foi uma das dificuldades enfrentadas que podem alertar o curso de um novo
projeto do mesmo teor metodológico.
Após essa fase de leitura e discussão do tema a Revolta do Comércio, em Curitiba,
no ano de 1883, destacou-se o papel da imprensa periódica de retratar e avaliar o movimento
pelo jornal Dezenove de Dezembro, de caráter oficial. Nesse ponto, a linha norteadora da
discussão foi a fonte histórica: de um lado, enquanto produção de uma época e classe, de
outro, a sua utilização e análise crítica de dados, por parte do historiador, para reconstrução do
passado. O uso das fontes históricas em sala de aula faz parte do debate atual acadêmico e
escolar. Nossa proposta de utilização faz parte de um processo de incorporá-la enquanto
elemento fundamental à pesquisa histórica, e não, como pretensa forma de substituição do
conteudismo/verbalismo. Para entender com mais clareza essa questão, podemos citar o
exemplo de como foram tratadas -as fontes históricas- em manuais didáticos da Primeira
República, CAIMI afirma que
cumpre uma função ilustrativa,tal qual propugnava Serrano(1932), trazendo
a modesta possibilidade de ensinar pelos olhos, não só pelos ouvidos. Não
está colocada, ainda, a intenção de tomar essas fontes como objetos de
estudo, desvendando suas condições de produção, nem mesmo a
possibilidade de, por meio de seu estudo, desenvolver determinadas
competências cognitivas, como observação, investigação, compreensão,
interpretação, argumentação, análise, síntese, comparação, formulação de
hipóteses, crítica documental, etc (2008, p. 137-138).
5 “(...) semelhantes nisto a uma matéria-prima, a uma substância bruta, sirvam para construções diferentes”
(SCHAFF,1974, p. 294)
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Dados Curiosos:
Concreto: a quantidade de concreto utilizado na construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu daria para construir 210 estádios de futebol do tamanho do
Maracanã;
Ferro: O ferro e o aço utilizados permitiriam a construção de 380 Torres Eiffel;
Energia: O Brasil teria que queimar 434 mil barris de petróleo por dia para gerar
em usinas termelétricas a potência de Itaipu;
Trabalhadores: A sua construção envolveu o trabalho de 40 mil pessoas.
Referências:
Revista Panorama. Novembro de 1976, p, 31 a 38.
Entrevistas com trabalhadores e engenheiros.
Projeto 02 – Turismo
Alunos: G. F., G., C. J, C., T.Q., D., M., P.H.S. , P.H. .
Tema: Turismo
Justificativa: Escolhemos este tema, pois mostra as riquezas do Paraná e pontos turísticos,
como ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá, Vila Velha, Jardim Botânico, as Cataratas do
Iguaçu e outros.
Objetivo: Caracterizar as riquezas do Paraná pelo turismo.
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Referências:
Revista Panorama, agosto de 1976, p.28 -30.
Entrevistas
Documentos diversos nos hospitais.
6 Para muitos alunos utilizar a máquina de microfilme foi uma novidade. Mesmo dominando o uso de
computadores, tiveram que se familiarizar com as máquinas de microfilme e entender a razão de sua
existência.
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que não queria selecionar acontecimentos trágicos); aniversariantes 'famosos'. Alguns alunos
fizeram a pesquisa na Internet.
Este trabalho foi apresentado oralmente e individualmente para a turma. Para isso,
fizemos um círculo e cada aluno pôde expor as informações obtidas, nessa pesquisa.
4. CONCLUSÃO
Analisando o Projeto de Implementação durante a sua execução houve um
distanciamento da proposta inicial com a sua aplicação. Primeiramente, pretendia-se apenas
trabalhar com um tema específico, e a partir disso, selecionar e analisar diferentes fontes
históricas,para poder mostrar a diversidade de visões em um mesmo tema, refletindo sobre
uma suposta verdade histórica. Contudo, tornou-se difícil a busca de fontes históricas sobre
um tema pouco abordado. Para isso, necessitaríamos de mais tempo, de uma organização
específica da turma, com um número reduzido para que o trabalho de pesquisa pudesse ser de
viável e de qualidade. Tal procedimento demandaria outras pessoas a ficarem com a turma,
assim, seria difícil, pois sabemos que o professor é responsável por toda a turma e devido a
falta de recursos humanos nas Escolas, tal prática seria até utópico.
Sendo assim, buscamos uma reformulação do Projeto para que o mesmo pudesse ser
aplicado no tempo solicitado pela equipe PDE. A primeira mudança foi ter o tema da Revolta
do Comércio como um exemplo de questionamento e de posição crítica em relação ao Jornal
Dezenove de Dezembro, veículo de imprensa oficial do governo vigente no período. O aluno
teria a possibilidade de escolher outro tema para elaborar um projeto de pesquisa,
considerando o local – Biblioteca Pública do Paraná (BBP) e suas fontes disponíveis para
isso, sendo que se tratava de um grupo de aproximado de quinze pessoas, em cada visita. A
segunda mudança, se refere à seleção do local de pesquisa, restringimo-nos a BBP, devido ao
tipo de tratamento dos funcionários, ou seja, uma acessibilidade maior e por ser um local
espaçoso e de fácil acesso (centro de Curitiba). Procuramos dar um incentivo ao aluno,
despertado no interesse pela pesquisa de acontecimentos ocorridos na data do seu aniversário.
Por último, limitamos essencialmente na produção do projeto de pesquisa, elaborado pelo
grupo, produção de uma narrativa histórica feita sobre a Revolta do Comércio e apresentação
do resultado da pesquisa sobre a data do aniversário.
Assim, pudemos perceber que a ideia central se dispersou e que a escolha do tema
não favoreceu. Julgávamos que o ineditismo do tema e a sua ligação com a história do Paraná
favoreceriam, mas foi um engano. Cabe ao professor, como sugestão escolher um tema mais
conhecido, ligado a história de seu país, que talvez permita ao desenrolar do processo da
pesquisa histórica a facilidade de se encontrar diversas fontes históricas. Contudo, vale um
alerta, o aluno pode restringir a pesquisa via internet, pois este se acomodou a procurar nela
tudo e acredita ser o único caminho e fonte histórica. Deve-se estruturar e organizar cada
etapa do projeto num espaço de tempo razoável, digamos que numa previsão anual seria o
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ideal. Este projeto foi realizado em quatro meses, sendo que eram duas aulas semanais com a
turma e uma apenas destinada ao projeto. Nesse caso, o tempo foi restrito!
Tornam-se fundamentais para a viabilização desse projeto em qualquer lugar do país
ou do mundo, três aspectos: a escolha do tema; a disponibilidade de vários tipos de fontes
históricas e o embasamento teórico do professor e aluno como ferramenta de discussão e
análise do processo de pesquisa histórica. Amarrando esses elementos simultaneamente,
estruturando-os e organizando-os de forma clara, a viabilidade de aplicar esse projeto em sala
torna-se possivelmente atingível. E principalmente, de possibilitar às aulas de História um
caráter inovador, questionador e de criação de conhecimento histórico, por mais que não seja
uma novidade tal experiência metodológica.
Retomando os três itens fundamentais para a obtenção de resultados positivos do
projeto, é de extrema importância a escolha do tema, pois ele lhe dará subsídios de poder
selecionar as fontes históricas dele existente ou a ele relacionadas, sejam primárias ou
secundárias. Na experiência citada o tema inédito dificultou o andamento do processo da
pesquisa histórica, pela insuficiência de fontes históricas. Tal dificuldade levou ao extremo de
uma restruturação do projeto, que não atendeu aos objetivos geral e específicos do mesmo.
Assim, a disponibilidade de fontes históricas é outro ponto essencial: quanto maior o
número de variedades de fontes históricas e a facilidade em ter acesso as mesmas, maiores
serão as possibilidades de reflexão sobre o tema, tendo como ponto central a visão dada de
cada fonte histórica.
Por último, percebe-se a necessidade de uma preparação teórica para fundamentar as
discussões, reflexões e orientações no decorrer das etapas da pesquisa histórica, entre
professor e os alunos. Torna-se imprescindível que o aluno ao vivenciar a prática do ofício do
historiador possua conhecimentos no âmbito conceitual e metodológico, permitindo-lhe
compreender, utilizar e dominar instrumentos básicos da produção do conhecimento histórico.
Outro aspecto importante que deve-se ressaltar, está na problematização e significação dos
documentos. As fontes históricas constituem-se em marcas do passado, vestígios e indícios
que evidenciam significados ao serem trabalhados pelo historiador. É a construção do
historiador, o seu olhar que dará (re)significação às fontes históricas, conforme a sua
problematização. Isso é importante ser percebido pelos alunos, pois uma fonte histórica não
se expressa sozinha,ou seja, é a detentora da verdade, como acreditavam os historiadores
positivistas. Um dos papéis do historiador, consiste na análise crítica das fontes históricas.
Será relevante na perspectiva desse projeto o trabalho ativo e construtivo dos alunos, sendo o
professor um mediador da produção do conhecimento histórico. Serão olhares diferenciados
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REFERÊNCIAS
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Boitempo,1997.
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