Fichamento Orlandi AD

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


GRADUAÇÃO EM LETRAS

ANÁLISE DO DISCURSO 2021.2


Discente: Maria Gabrielly Jatobá de Melo

ATIVIDADE III

Fichamento

Referências:
Orlandi, Eni. 2006. Análise de Discurso. In: Orlandi, Eni. P.; Lagazzi-Rodrigues,
Suzy. (Orgs). Introdução às Ciências da Linguagem – Discurso e Textualidade:
Pontes.

Eni P. Orlandi no livro "Introdução às ciências da linguagem: discurso e textualidade",


discute no seu capítulo a análise do discurso como uma ciência intermediária entre a
linguística e as ciências sociais. Cujo embasamento se detém no sujeito, na história e na
língua. A análise de discurso pressupõe a psicanálise, a linguística e o marxismo, se
relacionando com a teoria da ideologia, a teoria da sintaxe e da enunciação realizando a
determinação histórica dos processos de significação por uma teoria psicanalítica do
sujeito.

1. Língua e fala, língua e discurso

Saussure apresenta uma dicotomia de língua e fala trazendo para a linguística a


concepção da língua enquanto performance social e a fala como efeito histórico e
individual. Isso possibilitou uma análise dessa relação enquanto sistema com a sua
organização e funcionamento. Porém, nesse conceito dicotômico, não se pode
analisar a fala, já numa perspectiva de análise não dicotômica entre língua e
discurso, isso é possível.

2. O que é Discurso

M. Pêcheux (1969) diz que o discurso é o efeito de sentidos. Nessa perspectiva, não
há uma relação linear entre locutores onde a língua seria apenas um código no qual
se pautaria a mensagem transmitida entre os sujeitos. Os locutores são sujeitos
tocados pelo simbólico que atuam de acordo com as circunstâncias, mobilizando,
cada um, sua memória discursiva, determinando os efeitos. Dentro da análise de
discurso, importa, portanto, a relação sujeito-situação e suas condições de produção
de discurso.

3. Condições de produção
As condições de produção incluem o sujeito, a situação, a memória discursiva e o
interdiscurso. A situação se refere às circunstâncias imediatas em que se produz um
enunciado por um sujeito, e junto a isso, ao contexto sócio-histórico ideológico. O
sujeito é posição projetada no discurso e não o sujeito físico, empírico que funciona
no discurso.
Dentro disso, existem as formações imaginárias, onde os elementos da situação
discursiva mobilizam a imagem que têm sobre quem lhe fala, o objeto do discurso e
sobre si mesmos. O interlocutor também tem a capacidade de se colocar na posição
do locutor e se antecipar quanto a sua resposta.
Sobre o imaginário, o que importa é a posição social do discurso.”Desse modo, não
é do operário que estamos falando, por exemplo, mas da imagem que a nossa
sociedade faz do operário.”, diz Orlandi.
Faz-se interessante mencionar também o conceito das relações de sentido que
dizem respeito aos dizeres outros que têm relação com o que dizemos. Além disso,
as relações de força entram como um outro ponto da AD quando refletimos sobre a
força da locução marcada pelo lugar social no qual se executa a produção discursiva
entre sujeitos representando uma posição. É dizer: importa se um sujeito está na
posição de pai ou de filho, determinando a força da relação de interlocução.

4. A análise, o texto e o discurso


O texto é o objeto da análise de discurso, estudado para verificar a produção de
sentido em seu funcionamento discursivo, levando em conta todas as possibilidades
determinadas pela formação ideológica. Esse texto que é produzido em
determinadas condições, carrega em sua textualidade a sua historicidade, inscrita
nela, como diria Foucault.
O analista, em ação, deverá então obter o objeto discursivo a partir de uma
de-sintagmatização do texto, do corpus. Após isso, ele irá tentar determinar a
relação desse objeto em análise com as formações ideológicas, o que já faz o
analista entrar no processo discursivo da análise. Os significantes de uma formação
discursiva podem passar, por exemplo, por um sistema de relações de substituição,
paráfrases e sinonímia, nesse processo discursivo, assim definido por M. Pêcheux
(1975).

5. Formação Discursiva e Interdiscurso

De acordo com o texto, as formações discursivas mudam de sentido segundo as


posições sustentadas por aqueles que as empregam. Elas são as projeções, na
linguagem, das formações ideológicas. Chamamos de formação discursiva aquilo
que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa
conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito. Portanto, as palavras,
proposições, expressões recebem seu sentido da formação discursiva na qual são
produzidas. Segundo M. Pêcheux (ibidem) então os indivíduos são interpelados em
sujeitos-falantes (em sujeitos de seu discurso) pelas formações discursivas que
representam na linguagem as formações ideológicas que lhes são correspondentes.
O discurso é a materialidade específica da ideologia e a língua é a materialidade
específica do discurso. O conjunto de formações discursivas é o que chamamos de
interdiscurso. O interdiscurso é irrepresentável. Ele é constituído de todo dizer
já-dito. Ele é o saber da memória discursiva. Aquilo que preside todo dizer. Para
que uma palavra tenha sentido é preciso que ela já faça sentido (efeito do já-dito, do
interdiscurso, do Outro).

6. Sujeito

A forma-sujeito, de fato, é a forma de existência histórica de qualquer indivíduo,


agente das práticas sociais. É examinando as propriedades discursivas da
forma-sujeito que nos deparamos com o ego-imaginário, como sujeito do discurso.
Este por sua vez se constitui pelo esquecimento do que o determina, pois é do
funcionamento da ideologia em geral que resulta a interpelação dos indivíduos em
sujeitos (e, como diz M. Pêcheux, especificamente dos sujeitos de seu discurso). No
teatro da consciência segundo o qual o indivíduo é interpelado em sujeito pela
ideologia, pelo simbólico. Dessa interpelação do indivíduo em sujeito resulta uma
forma-sujeito histórica. Esta por sua vez sofre um processo de individualização pelo
Estado e aí reencontramos o indivíduo agora não mais bio e psico, mas social,
resultado de processos institucionais de individualização. Esse indivíduo que hoje
se distingue do indivíduo constituído, por exemplo, na Idade Média. Isto porque as
formas-sujeito históricas que resultam da interpelação do indivíduo em sujeito
diferem em sua constituição histórica, no complexo das formações ideológicas. O
assujeitamento não é quantificável. Ele diz respeito á natureza da subjetividade, á
qualificação do sujeito pela relação constitutiva com o simbólico pela ideologia: se
é sujeito pelo assujeitamento á língua na história. Não há nem sentido nem sujeito
se não houver assujeitamento á língua. Em outras palavras: o sujeito submete-se á
língua. Pode -se dizer que o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia. Ele, o
sujeito, não poderia ser a origem de si. Por seu lado, a história é história porque os
fatos reclamam sentidos ( P. Henry, 1994) perante um sujeito que está condenado a
interpretar (significar). É isso que significa a determinação histórica dos sujeitos e
dos sentidos: nem fixados ad eternum, nem desligados como se pudessem ser
quaisquer uns. Porque é histórico é que muda e é porque é histórico que se mantém.
Entre o possível e o historicamente determinado é que trabalha a análise de discurso
A determinação não é uma fatalidade mecânica, ela é histórica. O moderno é ao
mesmo tempo livre e submisso, determinado pela exterioridade e determinador do
que diz: essa é a condição de sua responsabilidade (sujeito jurídico, sujeito a
direitos e deveres).

7. Esquecimentos

Na análise de discurso temos duas formas de esquecimento. O que chamamos de


esquecimento número 1 e esquecimento número 2. O esquecimento número 1 é o
que dá conta do fato de que o sujeito falante não pode, por definição, se encontrar
no exterior da formação discursiva que domina. O esquecimento número 1 é
chamamos esquecimento ideológico e é inconsciente. é da ordem de constituição do
sujeito e do sentido. O esquecimento número 2 é da ordem da formulação. O sujeito
esquece que há outros sentidos possíveis. Esse esquecimento é chamado
esquecimento enunciativo. Ele produz impressão da realidade do pensamento, como
se houvesse uma relação termo a termo entre o digo, o que penso e a realidade a que
me refiro.
8. Memória Discursiva

A memória discursiva vai se tratar de algo que já foi dito e que de alguma maneira
influencia naquilo que está se dizendo / vai se dizer agora. O texto vai explicitar o
pensamento de J.J Courtine (1985) no qual temos como base dois eixos um vertical
que é o da constituição do dizer e outro na horizontal que é o da formulação. Esses
dois eixos se cruzam e nesse cruzamento (constituição e formulação) se dá todo o
dizer e a constituição desse dizer determina a sua formulação. A memória fica no
eixo vertical.

Pode-se dizer que a memória discursiva é constituída pelo esquecimento já que se


deriva de formações que já foram feitas em algum momento da história
anteriormente, mas foram esquecidas. O texto traz como exemplo a palavra
“família” e explica que por trás dessa palavra existem diversas intenções que foram
expressas em diversos contextos e são esses sentidos e intenções na qual a palavra
foi utilizada que constitui a memória da palavra “família” então quando fazemos
uso dessa palavra ela não significa apenas o que queremos dizer, mas também a
memória que carrega.

9. Texto e Discurso

A autora cita que para ser texto é necessário ter textualidade e define textualidade
como função da relação do texto consigo mesmo e com a exterioridade
(características que fazem com que o texto seja mais que um amontoado de palavras
ou frases). Em outra citação temos que o texto é um objeto linguístico-histórico. Ele
não é apenas um conjunto de enunciados portadores de uma e até mesmo várias
significações; é antes um processo que se desenvolve de múltiplas formas em
determinadas situações sociais. (P. Fiala e C. Ridoux, 1973).

O discurso ao contrário do texto não é completo, não tem necessariamente um


começo, meio e fim, pois nem o sujeito, nem o discurso, nem os sentidos são
completos. “[...] O texto, visto na perspectiva do discurso, não é uma unidade
fechada, pois ele tem relação com outros textos (existentes, possíveis ou
imaginários), com suas condições de produção (os sujeitos e a situação), com o que
chamamos sua exterioridade constitutiva (o interdiscurso e a memória do dizer).”

10. A função discursiva autor

O discurso está para o texto assim como o sujeito está para o autor. Foucault (1971)
considera então o autor como princípio de agrupamento do discurso, como unidade
e origem de suas significações, como o núcleo de sua coerência. O que o coloca
como responsável pelo texto que produz. Já para nós o autor não se limita como em
Foucault; a função do autor se realiza sempre que o produtor de linguagem se
representa na origem, produzindo um texto com unidade, coerência, progressão, não
contradição e fim. O autor fica responsável pelo que diz ou escreve, pois é suposto
estar em sua origem. Assim se cria uma correlação entre sujeito/autor e
discurso/texto. O autor, embora não instaure discursividade, produz, no entanto, um
lugar de interpretação no meio dos outros. Esta é a sua particularidade. O sujeito só
se faz autor se o que ele produz for interpretável.

*Sem a inscrição da língua na história (memória discursiva) não há significação

11. Interpretação

A interpretação pela análise do discurso, segundo Eni P. Orlandi, segue por duas
vias: uma que entende a interpretação como atividade do analista e outra que
entende o mesmo como atividade interpretativa do sujeito. E enquanto atividade
do analista a interpretação não procura produzir sentidos, porém busca explicitar
como aquele objeto simbólico estudado produz sentidos. Vale ressaltar que a
interpretação é uma questão ideológica, ou seja, ao se analisar determinados
signos aquele que faz a interpretação analítica de um artifício linguístico não deve
se ater ao que o conteúdo quer dizer, mas sim aos sentidos encontrados nas
entrelinhas da produção linguística observada. A ideologia no ato de sua produção
para o sujeito funciona como uma ocultação, por isso na análise não se interpreta
o que foi produzido, se interpreta o que levou determinado fato linguístico a ser
produzido.

12. Dispositivos de interpretação

Os dispositivos de interpretação nada mais são que os pontos de partida da


análise discursiva. E tais mecanismos podem ser divididos em duas linhas:
teóricos e analíticos. Os teóricos são as noções e os conceitos que se vão utilizar
para analisar determinado fato linguístico, e é ele que determina o dispositivo
analítico. A via analítica dos dispositivos de interpretação, é específica em relação
a aquilo que o analista vai analisar, e está correlacionada com a natureza do
material analisado, o objetivo do analista e a região teórica na qual vai se situar a
análise, podendo ser ela histórica, antropológica, linguística e etc. Por fim, depois
de pensado nos dispositivos de interpretação, o analista não vai interpretar o
artefato linguístico em si, mas sim os resultados da análise do que foi produzido
somado ao dispositivo e a teoria relacionada a ele, formando assim o que se
entende como compreensão.

13. Efeito metafórico

Efeito metafórico, pelo que se compreende de M.Pêcheux (1969), seria o evento


semântico gerado por uma alteração no contexto. Isto significa que o efeito
metafórico trabalha com as possibilidades de interpretação, não com aquilo que foi
propriamente dito, mas sim com aquilo que poderia ser dito. E seria trabalho do
analista mostrar os mecanismos linguísticos que produzem essas possibilidades,
que ocorrem através do deslize na fala no momento em que ela está sendo
concebida. Quando se produz um enunciado, a fala está simultaneamente
expressando um pensamento, que quando exposto está sob efeito da
ambiguidade da língua. Por isso que uma fala ou algo expressado, pode gerar
diferentes formas de enunciação. E é por conta disso que a língua pensada como
sistema, se torna suscetível a um jogo de dizeres, suscetível aos efeitos
linguísticos relacionados ao contexto em que ela está inserida. Então é isto que
seria o efeito metafórico para a análise linguística, uma abrangência dos
mecanismos de produção de sentido da língua, levando em conta os deslizes da
fala que geram várias possibilidades discursivas.

14. Finalizando

Nesta última seção do capítulo estudado há uma reflexão sobre a análise do


discurso. Se é compreendido que a análise do discurso serve para abrir a mente
para novas possibilidades de leitura, sustentadas em dispositivos analíticos e
teóricos. E isto abre caminho para que o sujeito como analista se reconheça no
que se lê e no que se é ouvido. Além de reconhecer as produções de sentido, e
relações simbólico-políticas no acontecimento linguístico que está sendo
analisado. Por fim, a análise do discurso não opera idealizações do sujeito ou dos
sentidos, mas sim a materialidade das relações sociais e históricas desse
determinado sujeito. E é por isso que a análise se desloca entre o mesmo e o
diferente, se pondo constantemente no limite contraditório do dizer.

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