Livro - Sob Os Olhos Da Clarividente
Livro - Sob Os Olhos Da Clarividente
Livro - Sob Os Olhos Da Clarividente
INTRODUÇÃO
Caro Leitor:
Este livro não é, apenas, um
livro espírita. Ele é uma
mensagem descontraída, simples,
que visa você, particularmente.
As estórias aqui contadas
são experiências autênticas,
vividas, e mostram a relação
natural e inexorável do ser
humano com seu passado
transcendental, as vidas que
viveu anteriormente, e, ao mesmo
tempo, com os que o cercam.
Ele irá responder, através da
vida dos personagens registrados,
por que você veio parar neste
planeta, o que você veio fazer aqui
e para onde você irá quando
terminar seu estágio!
É possível que, nas várias estórias aqui contadas, você não se
encontre totalmente. Mas irá encontrar muito de você mesmo e
imensas possibilidades de identificação. De qualquer forma, ele, o
livro, não pretende torná-lo religioso; ele nem fala de uma religião!
Pretende, apenas, mostrar o porquê do sofrimento e as causas ocultas
do desequilíbrio humano. Essas causas são ocultas por natureza,
apenas estão ocultas pela própria cegueira que a dor nos causa e que
o bálsamo suave do Amor irá minorar. Sim, no fundo, este livro é uma
mensagem de Amor a você! Você que vive com sua dor,
incompreendido. Abra-o sem se preocupar em ser convertido,
crençado, proselitado; desinibido, sem medo de ouvir a voz do seu
próprio espírito! Sim, porque ao lê-lo, preso aos enredos simples e
humanos, você irá ouvir a voz do seu próprio íntimo, o repositório
transcendental que está presente no seu coração.
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 2
OS PRIMEIROS PASSOS
O DESFALQUE
- Mário, quero que você conheça esses meus amigos. Sugiro que
você bata um papinho com o Jairo, aqui, e lhe explique um pouco da
nossa Doutrina. Ele está propenso a trabalhar espiritualmente.
Como de hábito, expus da melhor maneira possível o que
significava “trabalhar espiritualmente”, e meu atual amigo Jairo hoje é
um dos companheiros de luta.
Logo que eles saíram, procurei uma brecha no trabalho e me
aproximei de Neiva.
- Como é que foi o resultado da coisa? – perguntei.
- O melhor possível. O contador fez uma complicada manobra
bancária e o dinheiro apareceu. Até os sete mil cruzeiros ele arranjou
emprestado, e fez a reposição. A firma pagou todos os seus
compromissos, e os negócios melhoraram. Ficou tudo azul! E você não
sabe da melhor. O contador arrependeu-se tanto do mal que estava
causando, que resolveu se casar com a irmã do engenheiro... Está
bom?
DANIEL
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 18
O DESAPARECIDO
- Dona Neiva, me ajude, por favor! Não agüento mais esta vida!...
A moça, aparentando ter uns vinte anos de idade, tinha o bonito
semblante sulcado pelas lágrimas. A Clarividente anotou seu nome e
idade, e ela começou a contar sua história:
- Dona Neiva, casei-me há três meses com o George. Minha vida,
antes desse casamento, era muito sofrida. Aos quinze anos fui
violentada por um desconhecido, e com isso sofri horrores. Só comecei
mesmo a viver depois que encontrei George. Gostamos um do outro
assim que nos vimos, mas tivemos que lutar muito para nos unir.
George é filho de argentinos, e seus pais não gostam de mim. Nunca
aceitaram esse casamento. Tanto que, depois de nosso casamento,
eles se mudaram para a Argentina. Mesmo assim, nos deixaram o
apartamento onde moramos. George formou-se em Mineralogia, e
adora sua profissão. Seu sonho dourado era se formar e fazer um
curso especializado no Rio de Janeiro. Eu trabalho num instituto do
Governo, e nossa vida de casados começou muito bem. Logo que
terminamos a lua de mel, George foi ao Rio, para fazer o curso.
Infelizmente não pude acompanhá-lo, mas, como o período era curto,
não me importei muito. Dois meses depois, George voltou, mas me
encontrou meio adoentada. Sempre tive complicações ovarianas, e
George, assim que chegou, providenciou uma consulta no hospital. O
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 22
TRANSPORTE ESPIRITUAL
- Meu filho, vou ajudá-lo a resolver o que você fará com esse
dinheiro. Vá para sua casa, e confie em mim. Quando é que você
pretende partir?
- Amanhã! – respondeu ele.
Neiva continuou a narrativa:
- Dei-lhe, então, uma florzinha de plástico, daquelas que tenho
em minha mesa. Você sabe, não é, Mário, essas flores preparadas, que
chamamos de “príncipe”, e ele se foi. Nessa noite, mal tinha me
deitado, senti as vibrações de Alcino. Dormi um sono agitado, em que
me debatia com o problema dele. Por volta das três horas da
madrugada, senti um puxão violento, seguido do alívio imediato ao me
libertar do corpo. De pronto, percebi que as vibrações de Alcino me
arrastavam para perto dele. Fora do corpo eu sou totalmente
consciente, e procurei controlar minhas emoções. Encaminhei-me
para os lados do IAPI, e comecei a procurar o barraco de Alcino. Creia-
me, Mário, não foi fácil. O quadro de uma favela na madrugada é algo
de estarrecer. Havia chovido, e as ruas imundas, estavam
encharcadas pela água que corria, levando lixo para os córregos. As
vibrações foram aumentando, e percebi que estava na rua de Alcino.
Ouvi, então, um canto cadenciado e percebi que era um ponto de
macumba. Identifiquei o ponto do Exu Ventania, e a voz era a de uma
mulher. Aproximei-me do mísero barraco e vi uma mulher magra, de
uns quarenta anos, que fritava uns bolinhos num fogão de carvão.
Enquanto lidava com as frituras, cantarolava o ponto de Ventania.
- De novo os exus! – interrompi – A toda hora você topa com eles,
Neiva!
- Sim, meus Mestres se preocupam muito com eles. Há sempre
um plano em andamento, na Espiritualidade, visando ajudá-los. Não
esqueça, Mário, de que são espíritos filhos de Deus, como nós. Veja o
caso de Ventania, por exemplo. Sua falange é poderosa e enorme, e ele
procura se evoluir através da assistência que proporciona às pessoas
de sua afinidade. Tem uma força tremenda, e usa inúmeros aparelhos
em seus trabalhos.
- Aparelhos? – perguntei, sem entender.
- Sim, aparelhos, equipamentos. – respondeu – São máquinas
complicadas, fabricadas com magnético animal, que custam
caríssimo.
- Explica melhor! – implorei – Para que servem esses aparelhos e
porque precisam deles?
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 27
- Você não pode ver, minha filha, mas o espírito dele está ali, a
um metro acima do cadáver. Nesse momento, ele está recebendo todo
o acervo da encarnação que terminou. Ficará assim, próximo ao
corpo, até se encharcar de todo. Quando a última partícula for
absorvida, os Mentores dele levarão seu espírito para Pedra Branca, e
o corpo entrará em decomposição. Seu ectoplasma está sendo usado,
neste instante, para os outros atos deste triste drama.
Naquele momento, o garoto do mendigo veio bater à porta, mas
percebendo-a entreaberta, empurrou-a, como quem já está
familiarizado, e deu um grito, recuando. Formou-se uma algazarra na
porta do barraco do mendigo, quando o menino contou o que
encontrara, com muita gesticulação e gritos. O garoto saiu correndo e,
pouco depois, retornou, acompanhado de uns policiais, que entraram
no barraco de Alcino e iniciaram seus exames de rotina, como quem já
está acostumado com essas cenas. Enquanto os policiais
trabalhavam, Mãe Tildes me explicou:
- Veja, minha filha, o que são os reajustes e os laços cármicos.
Esse cadáver só seria descoberto quando estivesse putrefato. Nessa
altura, o crioulo já teria matado outros e teria fugido. Esse garoto
estava habituado a receber uma esmola de Alcino todos os sábados, e
é por isso que veio aqui.
- E esse garoto, Mãe Tildes, que destino triste o dele, por ter que
servir a um mendigo tão irascível!...
- Esse garoto, minha filha, é um espírito evoluído, que só veio
para passar por essas provas e servir de elemento de ligação na
justiça ao crioulo, que esta madrugada, tramou a morte de sua
amante em seguida ao assassinato de Alcino. Logo esse menino irá
desencarnar e vai se juntar a Zenóbio, seu pai, que é um missionário
de Mayante.
Enquanto Mãe Tildes conversava comigo, os policiais acharam a
carteira do crioulo junto ao corpo de Alcino.
- Vejam, – disse um deles – este é aquele cara que passou por
nós, há pouco, e parou, à espera do caminhão da construtora,
comendo bolinhos. Vamos localizar a empresa e o bicho está no papo!
Ainda traumatizada e um pouco cansada daquilo tudo, lembrei-
me de perguntar a Mãe Tildes sobre a esposa de Alcino, se ela não
estaria incluída naquele reajuste, se ela não teria, também, um pouco
de culpa.
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 33
- Não, minha filha, ela não tem qualquer culpa. Durante muito
tempo, foi evitado um mal maior, pois Alcino iria se endividar ainda
mais. Se ele voltasse para o Ceará, iria se defrontar com o velho
inimigo, e ambos se matariam. Graças à sua interferência e à fé que
Alcino depositou na sua Doutrina, o carma se cumpriu em melhores
condições.
O dia já clareava, e eu voltei para minha casa, para o meu corpo.
No caminho, passei por cima da obra onde o crioulo trabalhava, e vi
um carro de radiopatrulha parado e os policiais conduzindo-o, preso.
Fiz uma prece silenciosa em benefício daquele espírito atribulado, e
voltei ao meu sono normal.
nivelam todos quase no mesmo plano. Por isso, quero que vocês, no
futuro, construam um hospital onde o rico possa ser tratado com o
conforto que merece. E há, ainda, as tradições humanas.
Convencionou-se que a caridade é para os pobres, os miseráveis, e se
faz disso uma indústria. Essa é uma idéia muito material da caridade!
Até essa palavra está tão desvirtuada que prefiro que a usem o menos
possível. Todos merecem ser bem tratados, e não quero que se
demonstre ressentimento a uma pessoa, só porque ela tem um carro e
um padrão de vida melhor. Lembrem-se de que vocês conhecem a
precariedade da existência na Terra. O homem que hoje é rico e
poderoso, ontem foi, talvez, um pobre miserável. E o pobre de hoje foi,
talvez, o rico que ontem desperdiçou sua fortuna e oprimiu outros.
Todos devem ser bem tratados, mas cada um merece atenção de
acordo com seu padrão!...
Quando ela terminou, meus pensamentos estavam muito
modificados a respeito desse assunto. Neiva, então, contou um caso
que se passara há alguns anos, na antiga UESB, que bem demonstra
o que Seta Branca queria dizer:
- Mário, você não conheceu a UESB. Lá é que a pobreza se
concentrava, nos seus aspectos mais tristes. Meio alqueire de terra de
cerrado e água escassa. Beira de estrada, a meio caminho de
Anápolis, próximo a Alexânia. Quando começamos, Brasília ainda
estava em obras e quase não havia assistência hospitalar. Os pobres e
desajustados, que em grande quantidade vinham para cá, atraídos
pela miragem de um futuro melhor, acabavam por procurar socorro
na UESB. Nossas construções eram todas de barro e cobertas com
palha. Todos os dias, uma verdadeira multidão se concentrava lá.
Vinham a pé, de carroça, a cavalo, ou desciam dos ônibus que faziam
a linha de Brasília. Portavam as moléstias mais terríveis e muitos
pediam para ficar, pois não tinham para onde ir. Improvisamos um
hospital, à nossa maneira, e tratávamos todos os tipos de doenças.
Predominavam os problemas mentais. Trabalhávamos dia e noite, sem
parar. Eu atendia numa pequena palhoça, bem no centro da
comunidade. Certa tarde, as coisas estavam particularmente difíceis.
Como você sabe, Mário, aquela concentração de pessoas desajustadas
formava tremendas cargas espirituais negativas. A par do simples
atendimento, tínhamos que manter o ambiente psíquico em constante
renovação. As cargas, às vezes, pesavam demais e, até darmos conta
da limpeza, o ambiente permanecia pesado. Naquela tare, as coisas
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 36
OS SUICIDAS
EMERENCIANA
Neiva continuou:
- Agora, ali estava ela, naquela triste situação. Voltei-me para
Marcolino, que me olhava esperançoso, e lembrei-o da consulta que
Emerenciana havia feito antes.
- Mentira, dona Neiva! Ela nunca me disse que a senhora a havia
convidado para o trabalho espiritual. Se ele me tivesse falado na
ocasião, eu teria dado graças a Deus, pois eu vivia desesperado,
procurando alguma coisa que a acalmasse. O que ela sempre quis, na
verdade, foi infernizar a minha vida.
- Fiquei com pena dele, – falou Neiva – e achei justificada sua
explosão. Entretanto, nada podia fazer. Cheguei a pensar em convidá-
la, novamente, para o trabalho. Imaginei-a de uniforme, no meio do
corpo mediúnico, mas desisti da idéia. Há cinco anos, tinha o charme
bem distribuído, proporcional à cobrança que se aproximava. Com o
seu desenvolvimento mediúnico, seu ectoplasma iria se afinando, seus
cobradores iriam se afastando, na medida em que obtivessem a
devolução do que se julgavam com direito, em termos de energia e de
doutrina, e ela atravessaria seu carma com relativa tranqüilidade.
Agora, com seu magnético animal concentrado, a única coisa que fazia
era puxar seus cobradores para perto de si, e eles a sugariam até a
morte. Não, não seria possível impregnar a Corrente com esse pesado
fluido animal. A Corrente Indiana do Espaço é uma corrente muito
fina, de espíritos em evolução, e tem muita força. Ela poderia, com
seus poderes, trazer algum alívio e, talvez mesmo, absorver aqueles
espíritos de negros escravos africanos. Mas, para isso, seria
necessário que Emerenciana tivesse capacidade consciencional de
tomar conta de si, e isso era impossível. Seu cérebro, seu sistema
nervoso, sua circulação, tudo já estava deteriorado, e o espírito não
tem capacidade de domínio quando o aparelho está estragado.
- Mas, Neiva, – disse eu – quer dizer que uma pessoa que esteja
doente não tem oportunidade no mediunismo?
- Depende, Mário. Se a doença é apenas do carma e se ainda não
atingiu os centros de controle do ser encarnado, é lógico que ele tem
essa oportunidade. Naturalmente, ele não poderá integrar a Corrente
se tiver algum defeito físico, mas, mesmo assim, pode ser assistido por
ela e, até mesmo, se curar. Cada caso merece um exame especial. O
principal é saber que tudo tem um tempo certo e uma oportunidade.
Há pessoas que se devem iniciar, imediatamente, no trabalho, embora
a aparência de suas vidas não indique essa necessidade. Há outras
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 51
HIPPIES
OS PRECURSORES
M I S S Ã O
mesmo dos ataques epilépticos, por muito tempo. Por sua vez, Elza
viera a este mundo quase que, exclusivamente, para ser suporte de
Moacir, ajudando-o a percorrer o resto de seus dias. Percebendo
minha vacilação em decidir suas vidas, todos os dias ela me procurava
e me pedia que autorizasse o casamento deles no Templo. Se eu
negasse, estaria, tranqüilamente, cumprindo com meu dever moral,
sem me sujeitar a qualquer crítica. Mas, desaconselhando, estaria
interferindo no livre arbítrio do casal e no destino cármico da outra
personagem, Júlia, sua cobradora e esposa. Que fazer numa situação
dessas?
- E como decidiu? – perguntei.
- Estava nessa agonia, vivendo o problema dos dois, todos os
dias, quando minha querida Mãe Etelvina, a profetiza de nossa tribo,
teve pena de mim e veio em meu socorro, pedindo que dissesse a eles
que seu casamento era do gosto de Pai Seta Branca! Meu alívio foi
grande. Por prudência, pedi aos dois um prazo de trinta dias, pois iria
tentar obter o desquite de Júlia e Moacir, embora soubesse que iria
ser duro consegui-lo. Enquanto isso, Júlia já estava começando a se
desiludir do amante, e se arrependeu de ter deixado Moacir sair de
casa. Tanto que negou o desquite. Quando comuniquei este fato a
Elza e Moacir, eles não titubearam. Pediram a minha bênção e foram
embora de Brasília, indo começar nova vida na fazenda da mãe de
Elza.
- Neiva, – disse eu – só quero fazer uma pergunta: Júlia e Moacir
eram casados ou, apenas, vivam juntos?
- Casados, Mário, casados com todos os sacramentos. Como é
difícil a gente ter que decidir entre uma visão real, autêntica, das
coisas, e outra, a social. De acordo com o padrão comum de
referência, eu nunca poderia ter sancionado aquela irregular situação
social. Problemas como esse se apresentam a mim quase todos os
dias...
- É, Neiva, isso sugere inúmeras reflexões. Realmente, tenho
visto o número de casais irregulares, perante a sociedade, que vive em
torno de nós, e aceitamos isso com naturalidade. Qual, realmente, a
nossa posição diante da família?
- Nossa posição é muito segura e bem definida. A família, o lar,
na presente faixa evolutiva da humanidade, é o lugar de maiores
reajustes. Não que esse núcleo da vida social não o fosse assim, antes.
Só que, na presente situação cármico-mediúnica, os reajustes
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 74
ELIETE
POSSESSÃO OBSESSIVA
pior é que ela foi jogada num hospital, internada como louca. Isso foi
o que eles – sua mãe e meu pai – arranjaram com essa história de
macumba! Minha pobre mãe presa num hospício como sendo uma
doida varrida! Ó, meu Deus! Dona Neiva, meu nome é Marcela, e
peço-lhe que nos diga a verdade. Mostre a essa gente o mal que eles
fizeram... Ó, meu Deus! Minha pobre mãezinha!
E continuando a gritar, descontrolada, engalfinhou-se com os
jovens. Eu, aturdida, procurava apartá-los. O senhor que fora me
buscar chegou para me ajudar. A muito custo separamos aquelas
criaturas sofridas, que se agarravam e se agrediam, e, depois, Manoel
me conduziu a um sofá, perto do quarto da paciente.
- Seu Manoel, – disse eu – essas crianças estão completamente
neuróticas!
Ele voltou para tentar acalmar mais um pouco os jovens.
Sentada naquele sofá, procurei me reequilibrar e, com o auxílio de
Mãe Tildes, fui compondo o quadro daquela sofrida família,
percebendo, de início, que o miolo do conflito era a relação existente
entre a paciente – Blanca – e o irmão de Manuel, por nome Antone. Há
muito que eram amantes, situação que havia causado toda a desgraça
que se abatera sobre as duas famílias. O quadro formado era
estarrecedor.
Manoel interrompeu minha visão ao me informar que a paciente
havia acordado. Entrei no quarto, e Blanca, ao me ver, fez menção de
levantar-se, mas as forças lhe faltaram. No seu rosto esmaecido,
notavam-se traços da antiga beleza. Os olhos se destacavam, com um
brilho ensandecido. Com voz cavernosa, exclamou:
- Tia Neiva! Tia Neiva! Ó, Tia Neiva! Pelo amor de Deus, tire essa
macumba de mim... Veja o que fizeram comigo!...
Meu Deus, pensei, vejo o quadro da morte e meu único desejo é o
de desmascarar essa mulher! Dominei-me de pronto, e pude perceber
porque Mãe Tildes quisera minha presença ali. Sentei-me à cabeceira
de Blanca, e lhe disse algumas palavras de conforto. Senti que ela se
acalmou e prometi que iria fazer tudo o que pudesse para ajudá-la.
Ela se reanimou, o começou, de novo, a balbuciar:
- Tia, Tia, sei que a senhora é vidente e pode ver a porcaria que
jogaram em cima de mim!
Enquanto ela falava, os que estavam na sala foram entrando no
quarto, com ar de expectativa. Blanca, ao vê-los, aumentou o tom de
voz, continuando:
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 87
colocaram suas famílias. Quanto mais você culpa a pobre Kátia, mais
você se endivida com ela. Lembre-se de que seus dias estão acabando,
e você terá que enfrentar sua própria consciência, queira ou não. Não
adianta culpar os outros por seus próprios desatinos. Nem Kátia, nem
seu falecido marido são culpados pelo seu comportamento. Não queira
justificar seus atos pelo procedimento dos outros!
Enquanto falava, eu sentia certa tontura, pois estava carregada
de ectoplasma, e só esses fluídos poderiam atingir aquele espírito
dementado pelo egoísmo e ciúme.
Nesse ponto interrompi a narrativa de Neiva:
- Não estou percebendo bem onde essa história quer levar. No
caso de Eloísa, o quadro era nítido, quer dizer, ela não havia se
reajustado com espíritos desencarnados, e esses apareceram, na
última hora, para cobrar. Mas, e o caso de Blanca? Está parecendo
um drama conjugal comum. Não consigo entender como uma simples
infidelidade pode provocar tanta tragédia!
- Mário, Mário! Procure ver as coisas com mais profundidade.
Quando os líderes religiosos do passado condenaram o adultério, eles
tinham razões mais amplas que o simples contato carnal. O problema
não é apenas sexo. Quando um casal ingressa nesse quadro,
quaisquer que sejam suas justificativas, eles passam a ver um mundo
mental complexo e falso. A mentira se torna a norma de suas vidas.
Com a falta do elã afetivo, eles são presas de quadros mentais
negativos e se tornam vulneráveis a forças inferiores. Falta respeito,
falta afeto, falta sinceridade, e isso tudo leva aos desvios mentais de
toda espécie. Como conseqüência, os filhos se afastam do convívio e se
tornam descrentes da família. Até certo ponto, essa situação que se
cria com a promiscuidade conjugal afeta apenas o plano humano e
social. Surgem problemas psicológicos, dificuldades no estudo dos
filhos, problemas de saúde, influências na vida profissional e
financeira dos responsáveis pela casa e os pequenos escândalos
sociais. Até aí, o problema é comum e a sociedade como que se
adaptou a essa situação. Os jornais e revistas estão cheios desses
acontecimentos e isso parece não afetar muito a existência humana. O
verdadeiro problema começa, Mário, é no campo mediúnico e cármico.
A displicência mental leva a ligações com espíritos sofredores e
possibilita o acesso de obsessores. Desenvolve-se, então, a
mediunidade angustiada, com toda a gama de obsessões e doenças,
que tão bem nós conhecemos em nosso trabalho. A família se torna
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 90
- Não, Mário, não é bem assim. Ser feliz e realizado não é viver
segundo um estereótipo, um padrão estratificado. Ser feliz é viver
segundo o fluxo da própria vida de cada um. É viver conforme o
padrão único e individualizado de cada ser. Felicidade padronizada é
utopia. Cada ser tem que, necessariamente, encontrar seu próprio
caminho, sua própria maneira de ser, sua posição exata no conjunto
universal. E é esse, exatamente, o ponto focal do contato espiritual
com os Mentores e Guias. O ser humano é transitório e seu percurso é
limitado. A densidade das leis que regem esse percurso não lhe
permite ver o princípio nem o fim. Ele não sabe, na simples qualidade
de ser humano, de espírito encarnado, de onde veio e nem para onde
vai. Mas seus Mentores e Guias têm a visão mais ampla, não são
cerceados pela Lei Densa, têm um maior descortino. Assim, o
problema se simplifica. Ao invés de gastarmos nossa energia mental e
psíquica na elaboração de complicados esquemas, é muito mais
simples receber o esquema pronto de quem sabe. Ora, se aceitarmos a
reencarnação, somos obrigados a admitir que aqui estamos segundo
um esquema, um plano. Nosso problema é ter acesso a esse esquema
e, para isso, temos que sintonizar as antenas espirituais. Com isso, o
ser humano não abre mão dos seus privilégios, de sua liberdade, e
recebe o mapa de sua vida, o roteiro para esta existência. Quanto a
segui-lo, obedecer a esse esquema , isso fica a critério dele. Nada é
compulsório, e o livre arbítrio é um dos maiores privilégios do ser
humano. Mas é preciso, sempre, distinguir o que é do espírito, da
partícula divina individualizada, e o que é da personalidade, da
psique, do transitório, do perecível. “Não acumuleis tesouros na
Terra...” – o Evangelho é bem claro...
- É, Neiva, assim acho que posso entender. Chego à conclusão de
que nosso problema é de “desconfiômetro”, de tomar cuidado com o
mundo ilusório da predominância de nosso ego, daquilo que nós
pensamos sermos “nós”. E com respeito a Blanca, como terminou sua
ação junto àquela família?
- Com três visitas, consegui afastar as correntes negativas e
restabeleci a normalidade psicológica do grupo. Mostrei a elas que não
existiam macumbas e afastei a idéia de que Kátia era a culpada das
desditas deles. A concentração do ódio de Blanca em Kátia é que
abrira seu corpo para o câncer e causara o desequilíbrio de Kátia.
Com a inversão na corrente mental de Blanca, ela recuperou energias
e resistiu melhor à dor, quer dizer, passou a sofrer menos. Com o
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 94
- É por isso, Mário, que Jesus nos diz, taxativamente, que não
devemos julgar. O nosso julgamento é limitado pela nossa razão e pelo
que enxergamos no plano físico. O ser encarnado, porém, está vivendo
vários planos simultaneamente: os do seu passado e os do passado
dos que o cercam.
- Mas, Neiva, como a gente pode viver sem julgar? Como
podemos tomar decisões a respeito de nossos negócios, nossos
amores, nossas obrigações, sem julgar as pessoas com quem somos
obrigados a entrar em relações?
- Mário, o nosso juízo, as idéias que fazemos a respeito das
pessoas, têm que ter a flexibilidade necessária. Devemos aceitar as
pessoas como elas são, e não segundo um juízo nosso. Se tomarmos
em conta o amor, a tolerância e a humildade, dificilmente iremos
cometer erros de julgamento. Os erros maiores nós cometemos
quando julgamos com ódio, rancor, preconceitos e egoísmo. Percebe,
Mário, a validade do Evangelho? Mas voltemos ao cemitério.
Ali estava eu, na companhia desse maravilhoso espírito que é Pai
João, mas, ao mesmo tempo, me acabando de medo. Não era só o
caso do frade e de seu pai que eu via, mas inúmeros outros dramas.
Ainda preocupada com o pobre frade, perguntei a Pai João:
- Esse sacerdote, meu pai, está num plano melhor que o meu?
- Sim, filha. Você ainda é uma simples clarividente, enquanto ele
já completou o seu tempo, com renúncia e humildade.
- Mas, Pai João, eu também já renunciei a muita coisa!
- Sim, filha, você renunciou por medo dos espíritos fora da
matéria. Não se apresse, filha! Continue na sua missão, não cometa
erros contra a Lei do Senhor, e um dia chegará ao plano onde está
esse frade. Se você continuar no bom caminho, não terá necessidade
de passar por aqui, como esses espíritos que aqui estão.
Nisso, para minha surpresa, surgiu o espírito de Marcondes,
dirigindo-se para nós, embora ele não visse Pai João. Ao chegar junto
a mim, falou emocionado:
- Tia Neiva, minha santa! Que bom encontrá-la aqui! Oh, Tia
Neiva! Armanda e Waldo me decepcionaram, apesar de tudo que a
senhora disse a ele. Perdoe-me, tiazinha, não pude resistir. Joguei
meu carro num barranco, bem na entrada da nossa mansão.
- Meu Deus, meu Pai João, outro suicida!...
- Sim, Neiva, – falou Pai João – outro suicida que irá ficar aqui
muito tempo. Armanda e Waldo formaram uma corrente tão negativa
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 101
- Sim, filha, sofri, mas foi uma experiência edificante. Tive não só
que evoluir meu pai, mas, também, corrigir os erros que cometi.
Disse isso e se aprestou para partir. Pude, então, ver que o pai
suicida também se movimentava, e percebi que seu corpo apresentava
uma porção de pingos de luz. Intrigada com aquilo, perguntei a Pai
João o que eram aqueles pingos.
- Aquilo, minha filha, são as gotas de óleos santos e água benta
que o frade empregou no seu pai, quando lhe deu a absolvição. Sim,
filha, aquela matéria impregnada com os fluídos do frade é que lhe
dão esse aspecto de pingos de luz. Você vê, portanto, minha filha, que
tudo são valores aproveitados pela misericórdia divina. Sim, filha,
nada se perde em Seu Santo Nome.
Em seguida, Pai João me pediu que fizesse uma prece, pois
ainda tinha algo a me mostrar. Logo que me preparei, encaminhamo-
nos para uma capela, onde se processava o velório de um recém-
desencarnado. Ali estava o ataúde, com o corpo de uma jovem,
rodeado pela família, que chorava sua morte. Um rapaz – que podia
ser um noivo ou, talvez, um irmão da jovem – debruçado sobre o
cadáver, chorava com desespero. Procurei o espírito da moça, mas não
pude vê-lo por ali. Pai João me disse que ali só estava o cadáver,
tendo o espírito já partido.
- Como, Pai João, o espírito não veio com o cadáver?
É que essa moça era espírita, e soube se preparar para seu
desencarne. Terminadas as vinte e quatro horas normais, em que o
espírito absorve o charme de seu corpo físico, ela foi encaminhada
para Pedra Branca, e não mais voltará para cá...
ABORTO
sem gosto pela vida, e com profunda antipatia pela mãe. Esse, Mário,
é um dos quadros mais tristes com que a gente se depara. O espírito
sofre entre a necessidade de amar e a repulsão, e isso resulta na
indiferença. São criaturas que parecem paradas, cínicas, que passam
pela vida sem viver. Assim era Sônia.
No dia seguinte, mesmo contra a vontade, voltei à casa de Sônia.
Mentalizei seu irmão, Antônio, e vi que ele também só havia nascido
na terceira tentativa. Ao entrar no quarto de Sônia, me deparei com o
obsessor de Wanda, que dava horríveis gargalhadas, demonstrando
todo o seu ódio e sua insanidade mental. Estranhei sua presença ali, e
procurei o espírito que iria reencarnar como filho de Sônia, mas não o
vi. Súbito, tive um choque: o espírito que ali tentava reencarnar era o
obsessor de Wanda! Era terrível aquela situação de uma família
enredada na trama de um espírito empedernido. Além do choque
natural de uma gravidez na sua idade, havia, ainda, a presença, no
seu ventre, das emanações daquele terrível espírito. Fiz, então, a
única coisa que podia, naquela situação. Atraí o obsessor para mim, e
o afastei da cena. Ele se deixou levar, dando grandes gargalhadas.
Fui para casa, levando o obsessor comigo. No dia seguinte, a
filha já tinha conversado com a mãe, e, quando cheguei, notei que
ambas tinham um ar reservado comigo. Embora percebendo a
resistência delas, chamei Wanda para uma conversa a sós, em que lhe
mostrei seu quadro e sua situação de resistência aos planos
espirituais. Ela, porém, não aceitou a doutrina. Na verdade, ela fez o
maior escândalo com relação à gravidez da filha. Por fim, dando por
terminada minha missão, apresentei minhas despedidas. A pergunta
que Wanda me fez foi chocante:
- Devo alguma coisa pelo seu trabalho?
- Não, – respondi – a mim a senhora não deve coisa alguma. A
senhora deve é a Deus!
Voltei para casa com o coração oprimido. Um pensamento me
consolava: Wanda ficara encantada com minha capacidade de
adivinhação. Alguns dias depois, soube pela pessoa que havia me
pedido para atendê-las, que as duas haviam ido a um médico, que
fizera o aborto de Sônia.
- Bem, Neiva, creio que a estória dessa família esclarece bem
nossa posição diante do assunto. O aborto pode acontecer como um
reajuste, como qualquer crime. Não se pode fazer um aborto, como
não se pode matar uma pessoa, não é isso?
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 111
- Tia Neiva, veja como estou conseguindo muita coisa por aqui!
Veja minhas novas amigas!...
E foi me apresentando outras mulheres, espíritos em estado tão
deprimente como o seu.
- Wanda, pelo amor de Deus! Quem são essas mulheres?
- Amigas, tia, amigas... – respondeu, enquanto continuava
agitada, andando de um lado para outro.
Restava bem pouco da Wanda que eu conhecera em vida. O rosto
estava encaveirado, cheio de pipocas, como alguém que tivesse tido
varíola, e os longos cabelos desgrenhados. Dava pena ver!
- Veja, Tia Neiva, esta minha amiga não foi enterrada aqui, mas
eu consegui trazê-la para cá.
- A senhora conseguiu? – perguntei.
- Sim, consegui. E que tem isso, tia? Os espíritos não vão e
voltam para onde quiserem?
- E isso é assim mesmo? – perguntei – Qualquer espírito pode
entrar ou sair de um cemitério?
- Não, Mário, não podem. Os cemitérios são dirigidos pela Igreja
Católica, e suas falanges são rigorosas. Inclusive, nunca deixam os
espíritos se entrosarem enquanto estão nesse plano. Os guardiães dos
cemitérios são figuras de centuriões romanos, e esses centuriões
invocam sues Ministros, sacerdotes desencarnados, que fazem a
doutrina. Só esses abnegados espíritos, com suas grandes doutrinas,
conseguem encaminhar esses sofredores.
- Bem, Neiva, isso mostra uma faceta da Igreja que eu não
conhecia.
- Já lhe falei da grandiosidade dessa religião. Para que ela seja
completa, só falta admitir o reencarne e a existência do carma.
- E como Wanda conseguiu burlar essa vigilância?
- Graças à suma mediunidade, ao seu magnético animal. Não se
esqueça de que a interferência dos Espíritos de Luz é sempre sujeita
ao livre arbítrio. Mas o livre arbítrio, ou seja, a capacidade de decisão,
é proporcional à consciência do ser no plano em que está. Explico
melhor: em um cemitério, existem seres em várias faixas, inclusive
encarnados, como era o meu caso e o dos macumbeiros que ali se
achavam. Wanda, saturada de ectoplasma e senhora da sua
mediunidade, tinha uma capacidade de decisão quase humana. Isso
explica como ela conseguiu fazer sua política ali. Isso é o que fazem os
exus e os macumbeiros, o terrível comércio com os mortos, do qual
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 116
muito tenho falado. Com essa aparente vantagem, ela apenas perdia a
oportunidade de seguir a doutrina dos Ministros e partir para lugares
melhores do que a Terra. As pessoas que morrem ainda obsidiadas,
conservam sua mediunidade e são atraídas para a continuação de
seus reajustes. Wanda, por suas fortes ligações com Sônia, se sentia
presa a essa espécie de compromisso. E era por isso que eu estava lá.
Lembre-se de que eu fora em busca dela em função do atendimento a
Sônia.
- Lembra-se de Sônia? – perguntei a ela.
- Como não lembrar!... – respondeu-me
Contei-lhe meu encontro com Sônia, e ela deu uma risada
tenebrosa. Gritou:
- Sônia nunca terá filhos!... Ela não gosta do marido que eu lhe
arranjei, e não vou deixar que tenha filhos com ele.
Nisso, ouvi o sibilar de um chicote, e se operou completa
modificação no ambiente. Não estou autorizada a contar o que
aconteceu, mas pela força que se formou, consegui cortar a ligação
entre Wanda e a filha, com isso libertando ambas. A atitude de Wanda
é que estava impedindo a evolução de Sônia!
- No dia seguinte, o casal me procurou, e se podia notar a
transformação que se operara neles. Sônia estava desinibida e Roberto
estava sorridente. Chegaram abraçados ao Templo, e agradeci a Deus,
silenciosamente, pela oportunidade que me dera em ajudá-los.
Garanti-lhes que teriam o filho desejado, pois eu iria trabalhar na Alta
Magia para que nada mais atrapalhasse aquela felicidade que
sentiam. De fato, quase um ano depois, Sônia deu à luz um menino.
- E o espírito de Wanda? – perguntei.
- Certo dia, saí à procura dela, e tive a tristeza de encontrá-la
numa caverna de exus. Sim, Mário, lá estava ela, ativa, ensinando
espíritos a manipular forças mediúnicas.
- Como ensinando a manipular forças mediúnicas, Neiva?
- Wanda era portadora de uma mediunidade especial, de que
viera provida para poder enfrentar suas obsessões. Desencarnada,
longe de uma doutrina crística, exercia sua mediunidade da pior
maneira. A caverna estava cheia de espíritos que se haviam juntado
por uma afinidade específica: abortadores! Alguns tinham sido
enfermeiros, outros parteiras, e até mesmo médicos se encontravam
entre eles. Esse tipo de caverna é muito mais comum do que
possamos pensar. Com tanta facilidade, atualmente, nessa questão do
SOB OS OLHOS DA CLARIVIDENTE FLS 117
SODOMIA
sua libertação. Então, busca de novo o seu antigo devedor e lhe cobra
de alguma forma. O destino provável de um paciente de um câncer
(que é um caso semelhante ao ovóide) é ser assediado por outras
formas de sofrimento, às vezes piores do que seu câncer original, se
não houver sua complementação harmônica com o mundo invisível.
- Bem, Neiva, creio ter entendido o que se passa no caso de
ovóide. Entretanto, o problema é bem mais extenso. Há o caso das
mulheres. Elas, também, são passíveis de sodomia?
- Sim, também as mulheres têm problemas nesse sentido, só que
em menor quantidade, pelo menos na manifestação homossexual.
Predomina, porém, a questão educacional. As mulheres são muito
mais afetadas pelos preconceitos. Talvez pela posição de relativa
passividade no intercâmbio e pela predominância da tônica
reprodutiva na sua existência. Poderíamos dizer que a maternidade
supera o sexo, ou melhor, predomina sobre o sexo. E quanto à
religião, é uma faca de dois gumes. Se, de um lado, traz um
comportamento moral, por outro traz a má interpretação dos fatos
naturais. Em todo caso, creio que o balanço ainda é favorável à
religião. Sem ela, as manifestações sodomitas seriam mais numerosas
com a liberdade social. Talvez a prisão moral-religiosa seja mais
dolorosa, faça com que o indivíduo sofra mais. Mas será sempre
menor o número de indivíduos anormais, isolados nos seus
complexos. Já a atitude liberal, não religiosa, tira o sentido verdadeiro
de anormalidade, para conceituar a sodomia quase como uma coisa
normal. Haja visto a notícia que a gente tem de classes, ajuntamento
de sodomitas e, até mesmo, casamento entre homens, como os jornais
noticiam de vez em quando. Não, Mário, é preferível a tirania religiosa!
COMPENSAÇÕES CÁRMICAS
A PORTA DO CÉU
EPÍLOGO
-FIM-