A Importância Da Eucaristia Na Vida Pastoral e Missão Do Leigo
A Importância Da Eucaristia Na Vida Pastoral e Missão Do Leigo
A Importância Da Eucaristia Na Vida Pastoral e Missão Do Leigo
Nova Era – MG
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Sumário
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ORAÇÃO INICIAL:
Ó Salvador do Mundo,
no deserto, Deus Pai alimentou o povo com o maná
e preparou na sua bondade uma mesa para o pobre.
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O TESTEMUNHO DE COMUNHÃO DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES:
O testemunho das primeiras comunidades continua a nos inspirar no tempo de hoje. Nossa
realidade tão plural, marcada pela cultura urbana, é chamada a ver o caminho que eles
percorreram, a fim de iluminar nossa caminhada atual.
“Eles eram perseverantes na comunhão fraterna”. A fraternidade deve estar presente no meio de
nós, para que a Eucaristia continue sendo celebrada na vida. Por isso, o banquete da Palavra, na
Missa, tem o papel de nos preparar para o banquete do Corpo e Sangue do Senhor. Quando
vamos a Cristo, encontramo-nos também com os irmãos. A Eucaristia nos forma na escola da
comunhão fraterna com a comunidade. Lucas, nos Atos dos Apóstolos, também escreve: “A
multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma... tudo entre eles era posto em comum... sobre
todos descia generosamente a graça de Deus... entre eles ninguém passava necessidade... tudo
era distribuído conforme a necessidade de cada um...” (At 4,32-37).
A importância de vermos a Palavra de Deus como alimento, como mistério de comunhão. Mais do
que isso! É preciso trazermos presentes as palavras de São Jerônimo: “Eu penso que o
Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as santas Escrituras são o seu ensinamento. E
quando Ele fala em “comer a minha carne e beber o meu sangue” (Jo 6, 53), embora estas palavras
se possam entender do Mistério [eucarístico], todavia também a palavra da Escritura, o
ensinamento de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e o seu sangue”.
Continua o grande santo: “Quando vamos receber o Mistério [eucarístico], se cair uma migalha,
sentimo-nos perdidos. E, quando estamos a escutar a Palavra de Deus, e nos é derramada
esta Palavra, que é carne de Cristo e seu sangue, se nos distrairmos com outra coisa, não
incorremos em grande perigo?”. Assim como Cristo está presente no pão e vinho, de modo
análogo, está presente na Palavra proclamada em cada liturgia, como nos diz o Papa Bento XVI
(VD 56)
O papa emérito Bento XVI afirmou: “A propósito, é necessário explicitar a relação entre mistério
eucarístico e compromisso social. A Eucaristia é sacramento de comunhão entre irmãos e irmãs
que aceitam reconciliar-se em Cristo [...]. Através do memorial do seu sacrifício, Ele reforça a
comunhão entre os irmãos e, de modo particular, estimula os que estão em conflito a apressar a
sua reconciliação, abrindo-se ao diálogo e ao compromisso em prol da justiça. A restauração da
justiça, a reconciliação e o perdão são, sem dúvida alguma, condições para construir uma
verdadeira paz; desta consciência nasce a vontade de transformar também as estruturas injustas,
a fim de se restabelecer o respeito da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de
Deus; é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o
que significa na celebração. Como já tive ocasião de afirmar, não é missão própria da Igreja tomar
nas suas mãos a batalha política para se realizar a sociedade mais justa possível; todavia, ela não
pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça” (SC, n. 89).
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EUCARISTIA: FÉ E VIDA, CONTEMPLAÇÃO E AÇAO
A Eucaristia nos convida a unir fé e vida, contemplação e ação. O Cristo que recebemos na
Eucaristia nos compromete com a luta dos pobres. Neste sentido, o Papa Francisco nos recorda
que “no coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo
‘se fez pobre’ (2Cor 8,9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. [...].
Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma ‘forma
especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja.
Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas
causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a
misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles’” (EG, 197-199).
Nos primeiros tempos da Igreja, as pequenas comunidades cristãs que se reuniam nas casas, ao
celebrarem a Eucaristia, enviavam uma mensagem incômoda e contestadora à Roma não cristã,
construída sobre uma economia de escravidão. A mensagem profética e contestadora era o próprio
fato de fazer da partilha do pão algo sagrado. Escravos e senhores, homens e mulheres, hebreus
e pagãos sentavam-se como iguais. Aquela mesa das casas cristãs desafiava o altar dos templos
pagãos. Uma refeição desafiava o culto oficial. A comunhão entre irmãos e irmãs, iguais entre
si, colocava em discussão a pirâmide do poder. Precisamos voltar a dar ao mundo essa
profecia eucarística.
Nos séculos IV e V, São João Crisóstomo emerge como o grande defensor dos pobres e de sua
centralidade na Igreja. Em uma de suas homilias mais famosas e mais citadas, mostra o vínculo
essencial entre a participação na Ceia do Senhor e o cuidado dos pobres. Não se pode
separar o Corpo de Cristo que está no altar do Corpo de Cristo que está no pobre: “Queres honrar
o Corpo de Cristo? Então, não aceites que ele seja desnudado. Depois de tê-lo adorado na Igreja,
vestido de seda, não permitas que, fora, ele fique nu e morra de frio. O mesmo Jesus que, na ceia,
disse: ‘Isto é o meu corpo’, confirmando com suas palavras o ato que fazia, disse também: ‘Pois
eu estava com fome, e não me destes de comer’. E ‘todas as vezes que não fizestes isso a um
desses mínimos, foi a mim que o deixastes de fazer!’”
O Magistério atual da Igreja, passando pelo Vaticano II e pela palavra dos últimos papas reforça a
mesma temática. Afirma Bento XVI: “O Senhor Jesus, pão de vida eterna, incita a tornarmo-nos
atentos às situações de indigência em que ainda vive grande parte da humanidade. [...] O alimento
da verdade leva-nos a denunciar as situações indignas do homem, nas quais se morre à míngua
de alimento por causa da injustiça e da exploração, e dá-nos nova força e coragem para trabalhar
sem descanso na edificação da civilização do amor” (SC, 90).
Tudo isso tem ajudado a Igreja a explicitar cada vez mais o vínculo essencial entre a Ceia do
Senhor, dos Evangelhos Sinóticos, e o lava-pés, do Evangelho de João. Pode-se dizer que não há
Eucaristia sem lava-pés. Não por acaso, ao rezarmos pela Igreja, na Oração Eucarística VI D,
suplicamos:
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“Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos de
nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para
confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de
Cristo, nos empenhemos lealmente no serviço a eles...”.
É que a presença real de Cristo na Eucaristia é inseparável da presença real de Cristo no pobre.
Esse é um aspecto fundamental de nossa fé para o qual muitos Padres da Igreja chamaram a
atenção e sobre o qual o Papa Francisco tanto tem insistido.
São Romero das Américas, arcebispo de San Salvador, foi assassinado durante a celebração da
Eucaristia no dia 24 de março de 1980 e canonizado pelo Papa Francisco no dia 14 de outubro de
2018. Em 1970, foi nomeado bispo auxiliar de San Salvador e, em 1974, Paulo VI o designa bispo
da Diocese de Santiago de Maria, no meio de um contexto político de forte repressão, sobretudo
contra as organizações camponesas. Em 1977, é nomeado arcebispo de San Salvador. Pouco
tempo depois, é assassinado o padre jesuíta Rutílio Grande. Romero passa então a denunciar a
repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores
político-militares e econômicos, apoiada pelos EUA, bem como a violência da guerrilha
revolucionária.
Dom Helder foi arcebispo de Olinda e Recife, grande articulador da Igreja na América Latina seja
na CNBB ou nas Conferências Episcopais do nosso continente. Destacou-se pelo cuidado e
atenção com os pobres e pela defesa dos direitos humanos na época da ditadura. Era também um
homem místico que tinha profunda devoção pela Eucaristia.
O Coração Eucarístico de Jesus nos torna missionários. Somos discípulos e enviados para
testemunhar as maravilhas de Deus também em nossa vida. Partilhar a Eucaristia é comungar o
Cristo pão do céu, bem como é compromisso com os irmãos, sobretudo, os mais necessitados. A
Eucaristia nos encaminha ao outro, pois somos responsáveis uns pelos outros: dividindo o pão e
o peso das nossas cruzes, fortalecendo as comunidades, levando a força da comunhão eucarística
a todos que estão afastados de Deus, mas nunca esquecidos por Ele. Unidos num só coração,
elevemos ao nosso Pai de bondade as nossas necessidades
Olhando para o mundo em que vivemos, o Brasil, nosso estado, nossa cidade, nosso bairro, nossa
rua, nossa casa, nossa família, percebemos que há tantas coisas negativas, que, às vezes, somos
dominados pelo desânimo de achar que não tem jeito. De todos os lados e meios, nos chegam
notícias de desgraças. Estamos decepcionados com muitas coisas, na política, na justiça, nas
religiões, nos comportamentos. O aumento do empobrecimento do nosso povo e da fome muito
nos preocupa.
O mal também tem feito um grande estrago no interior de nossa Igreja. Não podemos ficar alheios
ao que nos ameaça: aumento da desobediência e rebeldia; a falta de testemunho. Nossos bispos
dizem nas Diretrizes Gerais (Doc. 109) que estamos num cenário marcado por luzes e sombras.
“A Igreja enfrenta um desafio que está diretamente ligado à sua missão: a transmissão integral da
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fé no interior de uma cultura, em rápidas e profundas transformações, que experimenta forte crise
ética com a relativização do sentido de pecado”.
Irmãos e irmãs, não devemos nos deixar abater pelo mal. Esse nosso encontro é para nos animar,
nos ajudar a olhar com olhos diferentes para as nossas diversas realidades e reafirmarmos que o
Reino de Deus está no meio de nós. Cremos na permanente presença de Jesus em nosso meio.
Ele é nossa força. Diante desta realidade, quais são os sinais de esperança?
A experiência dos discípulos de Emaús nos ajuda a compreender o vínculo indissolúvel entre a
Eucaristia e a missão. Eles estavam decepcionados e perplexos com o aparente final da
missão de Jesus. Estavam indo na direção contrária de Jerusalém. Porém, no caminho, são
tocados por um encontro que transforma radicalmente as suas vidas.
Jesus aceita ficar. Ele “...tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles”. Neste instante,
os olhos dos discípulos se abriram e reconheceram o Senhor. A fração do pão (Eucaristia) é o
sinal por excelência da presença do Senhor.
Ao partilhar o pão, os olhos se abrem, reconhecem a presença de Jesus e se dão conta do quanto
o coração ardia quando ele lhes explicava a Escritura. Essa motivação traz mudança no modo de
pensar e agir dos discípulos. Conforme o relato, “naquela mesma hora, levantaram-se e
voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os onze e os outros discípulos”.
NÃO ESTAMOS SOS: ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS - POR ISSO, VAMOS AO ENCONTRO
DOS IRMÃOS
“Animais Uns Aos Outros Enquanto Ainda Se Disser Hoje” (Hb 13,3)
A experiência eucarística, unida à partilha da vida, iluminada pela Palavra de Deus, nos arranca
do desânimo e gera em nós um novo ardor, e nos faz ir ao encontro dos outros, para anunciar a
Boa Nova da experiência que fizemos. O banquete eucarístico provoca a saída de nós mesmos,
nos lança no caminho, pois a vida de Jesus foi uma constante saída. O encontro com Cristo não
deve ser confundido com um ato devocional e intimista.
A missão nos impulsiona para frente, nos tira do comodismo, nos tira de uma vida feita
estacionamento. Não há missão sem conversão. Conversão é transformação, mudança de estilo
de vida. Não há conversão sem transformação e não há transformação sem libertação. A missão
existe porque o presente não nos basta. Missão é vida.
Por tudo isso, irmãos e irmãs, não podermos ficar parados, feito espectadores críticos esperando
que os outros façam. Precisamos fazer valer as missas de que participamos, pois terminada a
missa, começa a missão. Lembramos também que a grande meta da Igreja, no Documento de
Aparecida, é fazer com que todos os fiéis se tornem discípulos missionários.
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NOSSA SENHORA: MULHER DA EUCARISTIA – MISSIONÁRIA DO PAI
Podemos dizer, com toda certeza, que Nossa Senhora é completamente mulher da Eucaristia. Já
na Encarnação, Maria Santíssima se faz toda de Deus, pois acolhe em seu ventre, de maneira
sobrenatural, a presença de Jesus Cristo, nosso Salvador. Que grandeza para uma jovem receber,
em seu seio, a realidade física daquele que se daria em Corpo e Sangue. Para isto, sendo
preservada do pecado original, Maria é Imaculada, preparando-se para esta importante tarefa de
ser a Mãe de Deus. Cantemos com Frei Fabretti:
No Magnificat, canto de louvação e intercessão da Virgem Maria, a Igreja se une de maneira muito
profunda a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Seu sacrifício. Nas orações eucarísticas que rezamos
em cada celebração da Santa Missa, elevamos nosso canto de louvor, agradecimento e
intercessão a Deus Pai. A solene conclusão de todas as preces eucarísticas diz: “por Cristo, com
Cristo e em Cristo”. Desta forma, a Igreja, corpo místico, confirma sua plena ligação com Jesus,
cabeça da Igreja.
Nossa Senhora, em seu cântico, evidencia sua total confiança em Deus, pois sabe que Ele
abençoa e salva, cria e conserva, cuida e ama infinitamente. Por isso, Maria Santíssima o adora
plenamente. Essa bela atitude de Nossa Senhora nos ensina a buscar nosso Deus e sermos todos
dele como ela foi. Somente numa atitude de adoração ao Deus nosso Senhor, podemos nos
afastar do mal e do pecado que quer nos escravizar.
Assim como a vida de Maria Santíssima, precisamos fazer da nossa uma eterna ação de graças.
No início do prefácio de cada Missa, rezamos: “Na verdade é justo e necessário, é nosso dever
e salvação dar-vos graças, sempre e em todo lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-
poderoso, por Cristo, Senhor Nosso”. Assim, vemos o quanto Deus nosso Senhor merece
nossa louvação.
Ainda no Cântico do Magnificat, Maria Santíssima recorda a história da salvação, um grande hino
do amor de Deus para com a humanidade, que passou de geração em geração. A promessa que
tinha sido feita anteriormente se torna realidade. A presença de Deus é constante entre o seu povo
e chegou até nós. Como você percebe a relação entre Maria e a Eucaristia? Em que sentido Maria
é mulher eucarística?
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ORAÇÃO FINAL:
Todos: “Pai Celeste! Nós temos a felicidade de crer que o vosso Filho, nosso irmão Jesus Cristo,
está vivo na Hóstia Consagrada, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Que a nossa graça abra
os nossos olhos e nós aprendamos sempre mais a passar do Santíssimo Sacramento da Eucaristia
para a Eucaristia do pobre. Nosso irmão é como hóstia: não se pode profanar! Sentiríamos horror
vendo hóstias consagradas jogadas na lama. E encontramos Cristo na Eucaristia do pobre, na
hóstia viva que é o pobre, não só mergulhado na lama, mas pisado, humilhado, injustiçado, como
depois da flagelação, como carregando a cruz no caminho do calvário. E que todos nós
entendamos, sempre mais, que não basta distribuir alimento, roupa, remédio... Tudo isso, Pai, é
ótimo, mas não basta. Dai-nos olhos abertos para descobrir as causas da fome, do desemprego,
da falta de casa, da falta de trabalho. Ajudai-nos a entender que pobreza, hoje, mais do que nunca,
é fruto da injustiça. Dai-nos horror de ver Cristo profanado na Eucaristia do pobre! Amém
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ORAÇÃO FINAL II: Por que, Senhor, me abandonas?
Não quero desertar a tua obra.
Por causa de seu amor infinito, Devo terminar tua tarefa,
Senhor, Ultimar a construção da Igreja...
Me chamaste a seguir-te
A ser teu(tua) filho(a) e teu (tua) discípulo(a) Por que os homens atacam a tua obra?
Por que a privam de seu sustento?
Depois me confiaste uma missão
Que não se assemelha a nenhuma outra, Diante de teu alar, perto da Eucaristia,
Mas como o mesmo objetivo das outras; Senti a tua resposta, Senhor:
Ser teu apóstolo e testemunha. Sou eu aquele que segues e não minhas obras!
Se o quero entregarei a tarefa
Todavia, a experiência me ensinou A minha confiada.
Que continuo a confundir Pouco importa quem assumirá o teu posto;
As duas realidades: É assunto meu,
Deus e a suas obras. Deves escolher a mim!”
Empenhando na pastoral paroquial,
Entre os jovens, Cardeal François-Xavier Nguyen Van Thuan
Nas escolas,
Entre os artistas e os operários,
No mundo da imprensa,
Da televisão e do rádio,
Coloquei todo o meu ardor
Empregando todas as capacidades,
Não poupei nada,
Nem mesmo a vida.
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Fonte:
- Subsidio para encontros preparatórios para o XVII Congresso Eucarístico no Brasil – 2022 “Rumo
ao Congresso – Pão em todas as mesas”.
- Thuan, François-Xavier Nguyen Van - Cinco pães e dois peixes: do sofrimento ao cárcere um
alegre Testemunho de fé” – Editora Santuário, 2000.
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