Entrevista-Com-Yolanda-Reyes Etapa 1
Entrevista-Com-Yolanda-Reyes Etapa 1
Entrevista-Com-Yolanda-Reyes Etapa 1
https://novaescola.org.br/conteudo/2143/entrevista-
com-yolanda-reyes
Prática Pedagógica
De acordo com sua experiência com formação de leitores, qual a relação dos jovens
com a leitura?
YOLANDA REYES Na Colômbia, tal como em outros países, incluindo o Brasil, uma
característica antiga da Educação marca a aproximação desse público com os
livros: o ato de ler é orientado para fazer provas. Isso vincula a literatura à
aprendizagem memorizada e à ideia de que os livros precisam estar sempre
ligados à escola e à obrigação de ler para fazer algo depois. Os jovens leem e
escrevem bastante, mas têm pouco contato com os livros na vida fora da
escola. Eles acessam outros suportes, como celular, blogs, Facebook, e
trocam mensagens o tempo todo. Ou seja, têm mais relação com a leitura
para a comunicação do dia a dia, por vezes superficial, e não com a leitura
para decifrar a vida - que tem a ver com a literatura.
Ainda que muito jovens considerem ler importante, a maioria não vê utilidade nisso e
não se dedica ao hábito. Como reverter essa situação?
YOLANDA Realmente, as artes nem sempre têm resultados imediatos e funções
práticas. A literatura, por exemplo, não tem a ver só com ler para entender
algo. Lemos por prazer, para relaxar e para vivenciar experiências que não
são nossas. Mas a cultura contemporânea conspira contra o que não tem
utilidade imediata. As provas internacionais que avaliam leitura também
reforçam seu caráter utilitário porque cobram que os alunos leiam para
resolver algo e entendo que essa é uma aptidão importante e faz parte da
vida. Precisamos mostrar aos estudantes que a leitura também tem a ver
com sentimentos e toma tempo, mas não é um desperdício. Isso pode ser
feito, por exemplo, organizando sessões de leitura coletiva e de troca de
recomendações entre colegas.
A escola precisa mudar o jeito de se comunicar com os jovens para que eles se
interessem pelos livros?
YOLANDA Sem dúvida. Temos de rever as barreiras que colocamos entre a
linguagem da Educação e as linguagens da vida cotidiana, muito ligadas à
internet e à televisão. O mundo se abriu e a escola precisa considerar isso,
integrando as novidades à sala de aula. Levar isso em conta não tem a ver só
com a formação de leitores, mas também com conhecer melhor os jovens, se
aproximar deles, falar a mesma língua. Como entender alguém de 15 anos
sem considerar a tecnologia que ele domina? É necessário desenvolver um
intercâmbio. Os adolescentes têm muito a ensinar sobre como navegar na
internet, onde encontrar conteúdos interessantes e de que forma aproveitar
ao máximo as funcionalidades de um celular, por exemplo. Os educadores,
por sua vez, podem aproveitar que a literatura é um meio para entender a
experiência humana, e a adolescência, uma fase de paixões para convidar os
alunos a descobrir nos livros como outras pessoas, de outras épocas, se
apaixonaram, por exemplo.
Atualmente, as bibliotecas são lugares repletos de livros, porém sem muito movimento.
É necessário repensar o modelo tradicional para torná-lo mais atrativo?
YOLANDA Sim. Várias delas oferecem acesso à internet e isso chama a atenção
da comunidade local. No entanto, em um canto ficam os computadores, em
outro os livros e, num terceiro, os funcionários. São três mundos que não
estão conectados. Os bibliotecários e os professores precisam trabalhar para
envolver as crianças, os jovens e outros adultos e não se contentar em
atender às necessidades deles, mas criar novas, mostrar outras
possibilidades.
Convidar os autores para conversar com o público, a fim de despertar nas pessoas um
interesse pela história, é uma alternativa válida?
YOLANDA Em primeiro lugar, é fundamental ter claro que o mais importante de
tudo isso é o livro, a história que ele contém. Depois, é imprescindível
compreender que a estratégia de levar o escritor ao encontro das pessoas
nem sempre funciona. Acho que a reunião tende a ser mais frutífera quando
as pessoas já leram o livro porque elas têm sobre o que conversar com o
escritor, podem fazer perguntas, questionar o autor e contar suas
impressões. Ainda assim, há que se considerar que, mesmo já conhecendo a
obra, o evento pode ser decepcionante: alguns leitores criam uma imagem do
autor que nem sempre coincide com a real e há profissionais que são
grosseiros, tímidos... No mais, nem sempre é possível encontrar quem criou a
história. Conversar com quem não está por perto, mora longe ou não vive
mais é uma das coisas que fazem da literatura algo maravilhoso.