82-Texto Do Artigo-127-137-10-20171004
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RESUMO
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Graduandos do 8° Período do Curso de Direito das Faculdades Integradas Vianna Junior.
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INTRODUÇÃO
1 ELEMENTOS PRELIMINARES
Ao contrário de Mazza (2012), Bandeira de Mello (2010) faz a opção por definir a
supremacia como um princípio geral do direito, inerente a qualquer sociedade e
condição indispensável para sua existência, figurando como um dos principais fios
condutores da conduta administrativa. Concorda Mazza (2012, p. 80) com o eminente
doutrinador no que se refere à sua importância e diz que deveria ser tratada como “uma
regra inerente a qualquer grupo social: os interesses do grupo devem prevalecer sobre
os dos indivíduos que o compõem”. Mello conclui que a própria existência do Estado
somente teria sentido se o interesse por ele perseguido e protegido for voltado ao
coletivo e se a posição privilegiada do órgão administrativo gerar para si o dever de
zelar pelo interesse público e o de exprimi-lo em relações com os particulares.
Destaca-se ainda que, de acordo com esta corrente doutrinária clássica, a
supremacia do interesse público, antes de conceder poderes intangíveis ao ente
abstrato da Administração, volta-se diretamente àquele que exerce a função pública. De
acordo com Bandeira de Mello (2010), a supremacia é exercida por aquele que está
investido no dever de satisfazer certas finalidades em prol de outrem. Daí emerge a
expressão poder-dever: a administração possui, simultaneamente, a autoridade e a
obrigação de garantir que o interesse coletivo seja resguardado, além de ser obrigada a
impedir a ocorrência de irregularidades no âmbito administrativo.
Sobre o assunto, Medauar pontua que
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Mazza (2012), ao invés de defini-la prolixamente como Mello, escolhe, por sua
vez, trazer de forma sucinta alguns “exemplos de prerrogativas especiais conferidas à
Administração Pública e seus agentes decorrentes da supremacia do interesse público”.
Cita-se: a requisição de bens; a requisição de serviço; benefícios de prazos maiores
para a intervenção ao longo do processo judicial, como observado no artigo 188 do
Código de Processo Civil2; a rescisão unilateral de contratos; o dever de dar passagem
a viaturas sinalizadas; a presunção de legalidade dos atos administrativos; a
impenhorabilidade dos bens públicos; a imprescritibilidade dos bens públicos; as
cláusulas exorbitantes em contratos administrativos; a imperatividade dos atos
administrativos; o poder de polícia. Ainda elenca como
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CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL de 11 de janeiro de 1973
Art. 188 - Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte
for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
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recorrer no processo civil, além do recurso de ofício são apenas alguns exemplos que
não figuram como interesses diretos da população e obstaculizam com freqüência o
exercício de direitos fundamentais, como a liberdade de contratar do Direito Privado. É
inaceitável que, com freqüência, os administradores desidiosamente deixem de realizar
com o devido zelo e cuidado o seu trabalho e se beneficiem de verdadeiros privilégios
concedidos pela lei que só servem para prejudicar um ou outro cidadão que decide, por
exemplo, participar de contratos administrativos ou buscar indenização decorrente de
dano causado pelo próprio Estado.
2 CONCEITUAÇÃO
Pode-se dizer, que o interesse público busca almejar os fins colimados em lei,
seria, em outras palavras, aquilo que a Administração persegue ao praticar atos.
Medauar (2005, p. 149), defende que “a expressão interesse público pode ser
associada ao bem de toda a coletividade, à percepção geral das exigências da vida na
sociedade”.
Para Rui Cirne Lima (apud Berclaz, 2002),
Todavia, ante ao exposto, Carvalho Filho diz que a acepção de interesse público
não deve ser indeterminada ainda que muitos doutrinadores enquadrem a acepção de
interesse público como um conceito jurídico indeterminado3. Este seria o cerne da
questão e o eminente doutrinador busca delimitá-lo ao dizer que
3
SILVA, Guilherme de Abreu e. A reconfiguração do conceito de interesse público à luz dos direitos
fundamentais como alicerce para a consensualidade na Administração Pública. Jus Navigandi,
Teresina, ano 17, n. 3217, 22 abr. 2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21566>. Acesso em: 9
set, 2013.
SILVA, Shyrley Souza da. O interesse público na jurisprudência do STJ: uma abordagem sobre a fixação
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Como ocorre com os demais ramos do Direito, o ius publicum é norteado por
diversos princípios que foram sujeitos à constitucionalização. Acerca do tema,Berclaz
afirma que
o simples fato do princípio do interesse público não ter sido objeto de
catalogação expressa de parte do nosso legislador constituinte - que, ao
construir a redação do artigo 37 da Constituição Federal, explicitou tão-
somente os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência como sendo as premissas constitucionais
regentes da Administração Pública – não quer dizer que ele não tenha
sido contemplado. Muito antes pelo contrário, embora não haja
referência específica, resta óbvio que sua adoção encontra implícita
recepção em nosso ordenamento, assumindo, de igual parte, status
constitucional, na medida em que, como vimos anteriormente, todas as
ações adotadas pelo administrador público devem ter como motivação
de fundo a obediência ao interesse da coletividade (2012, p. 2)
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988
Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: III- função social da propriedade; V- defesa do consumidor; VI- defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação.
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LEI 9784 de 29 de janeiro de 1999
Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência.
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de expressos. Nem, a contrario sensu, pode ser dita como hierarquicamente superior a
quaisquer direitos fundamentais expressos na Lei Fundamental até mesmo porque ela
só poderia ser inferida através de procedimentos hermenêuticos estensivos enquanto
aqueles estão expressos, por sua suma importância, logo nos dispositivos iniciais da
Carta Magna.
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988
Art. 5° - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXV- no caso de iminente
perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano.
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TJSP, Apelação Cível - 211.502-1/9, Relator: Des. Cambrea Filho,1995
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de seus empregos não podia prevalecer sobre o interesse dos outros novecentos mil
moradores da região, população esta que havia sido duramente afetada com a poluição
proveniente das queimadas. Seguindo tal linha argumentativa, o Tribunal optou pela
proibição do uso do fogo na colheita da cana-de-açúcar, inclusive com base no artigo
225, caput, da Constituição Federal. 8
De maneira mais simples, tal lide poderia ter sido resolvida ao se confrontar os
dois bens jurídicos tutelados, quando seria constatado que o direito social ao trabalho
de centenas de pessoas não poderia obstaculizar o exercício do direito social à saúde
de milhares de pessoas, no caso, injustificadamente expostas a gases tóxicos.
Como dito, o Direito Administrativo é regido por inúmeros princípios que guiam
sua dogmática, nos quais estaria inserida a supremacia do interesse público sobre o
privado de modo implícito. Todavia, como já exposto, Bandeira de Mello (2010) refuta o
patamar de princípio e a define como um axioma jurídico, tendo em vista que traduz um
raciocínio, teoricamente, aceito por todos, logo, incontestável. Sabe-se que o
administrador deve atuar a fim de atender os interesses públicos previstos em lei, sendo
assim, proibida qualquer atitude que represente suas vontades pessoais em
consonância até mesmo com o princípio da impessoalidade.
Segundo Bandeira de Mello (2010, p. 69), este axioma “proclama a superioridade
do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o do particular, como
condição, até mesmo, da sobrevivência e do asseguramento deste último”.
Da mesma forma, Carvalho assevera que
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
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Binenbojm (2005), por sua vez, na questão pontual discutida por Ávila acima,
disserta que a consagração de interesses particulares em detrimento de interesses
públicos não configura o denominado desvio de finalidade da Administração Pública,
uma vez que os interesses particulares, estariam, de determinada forma, interligados.
Nesse sentido, Ávila dispõe que
[...] vem sendo matizado pela idéia de que à Administração cabe realizar
a ponderação dos interesses presentes numa determinada
circunstância, para que não ocorra sacrifício “a priori” de nenhum
interesse; o objetivo dessa função está na busca de compatibilidade ou
conciliação dos interesses, com a minimização dos sacrifícios (2005, p.
149-150).
deve esquecer que não existe direito individual que possa ser exercido de forma
ilimitada. Conclui dizendo que esta oposição é mais antiga que se imagina, remontando
à dualidade entre o Estado Absolutista e o Estado Liberal.
O ilustre doutrinador Carvalho Filho coaduna com essa visão e reflete que
CONCLUSÃO
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Resta claro, então, que o entendimento voltado para a aplicação dos princípios
constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade, associado à ponderação entre
o interesse público e o particular no caso concreto, relembre-se, mais uma vez, adotada
pelo Supremo Tribunal Federal, parece ser mais verossímel que posicionamento
diverso na direção da defesa pura, simples e inconteste do interesse dito da
coletividade.
Inegavelmente, os atos administrativos devem ser sempre direcionados para
alcançar o bem-estar comum e o interesse geral da sociedade. Destarte, contudo, não
é isso que vemos em diversas situações. Muitas vezes, o interesse do Estado se
confunde com o interesse público, de forma que os administradores tentam buscar o
primeiro em detrimento do segundo. Ademais, deve-se destacar que, em determinadas
ocasiões, o interesse de um particular não ser expurgado de forma arbitrária,
subjugando-o a total passividade em meio de uma decisão absoluta e irrecorrível, o que
mostra ser imprescindível a ponderação de valores.
No cenário ideal, a investigação de formas para conciliar o interesse privado e o
público representa a decisão mais acertada para que o fim precípuo do Direito seja
atingido, sendo, assim, realizada a justiça social.
ABSTRACT
According to Brazilian legal scholars, the so-called ‘public interest supremacy’ as well as
the constitutional principles of public administration are of extreme importance in order
to guide Administrative Law. Since it’s regarded as being vital to our legal system, the
present article aims to elucidate all the questions that relate to the theme and, while
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doing this, analyze many different point of views. Once the research was done, it was
possible to identify many ways to interpret this principle, though one of them has been
the most prominent. This one was even adopted by the Brazilian Supreme Court (STF)
and includes the principle of proportionality.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São
Paulo: Melhoramentos, 2010.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 25. ed. São
Paulo: Atlas, 2012.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2008.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 9. ed. rev. e atual. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2005.
SHIER, Paulo Ricardo. Ensaio sobre a supremacia do interesse público sobre o privado
e o regime jurídico dos direitos fundamentais. In: SARMENTO, Daniel (Org.).Interesses
Públicos versus Interesses Privados: Descontruindo o Princípio da Supremacia
do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.