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Resumo
Introdução: A representação social da morte vem mudando ao longo da história. A morte se tornou um fato que
deve ser escondido da nossa sociedade, se refletindo nas ações individuais e culturais. A medicina trouxe para si
a responsabilidade da morte ou a responsabilidade de evitá-la ou prolongá-la a todo custo. Este fato fez com que
surgisse um novo paradigma cultural: A morte sob terapêutica intensiva, o que favoreceu distorções nas condutas
junto aos pacientes, a distanásia. Objetivos: Analisar a influencia das representações sociais da morte,
elaboradas por médicos que trabalham em UTI, sobre as práticas de distanásia. Métodos: Os dados foram
coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas com médicos que trabalham em UTI. A análise foi feita
através da técnica de análise de conteúdo na modalidade de análise temática. Resultados: Após análise
qualitativa das entrevistas, foram gerados 06(seis) temas: O papel da não-aceitação da morte como fator causal
da Distanásia; Mudança cultural: A morte sai do ambiente familiar; A Ausência de uma Educação para a Morte:
da Pré-escola à Faculdade de Medicina; A Medicina Moderna e o Perfil Obstinado do Médico; A obstinação
terapêutica e as pressões externas; e O papel da religião. Conclusões: A não-aceitação da morte favorece a
propagação da Distanásia nas instituições médicas, principalmente em UTIs. Os profissionais de saúde, em
especial os médicos, não têm uma preparação adequada para lidar com a morte, o que torna indispensável um
avanço do ensino médico nesse sentido.
Abstract
Introduction: Depression it's been considered, in the last decades, a major problem in Public Health, imposing a
heavy burden in the society, being the fourth cause of social burden and leading to a reduction of 4.4% in life
expectancy. The WHO predicts a worsening of the situation in 2020. The conditions of work are intimately
associated to the development and aggravation of depressive disorders. The work in the bank clerk area has been
one of the most affected with the reformulation in its administrative organization after the 90's decade of last
century, mainly with automation, with the aggravation in the worker's mental health. Objectives: To accomplish
a speech analysis in bank clerks, seeking a deepening understanding of the causes of their psychic sickening.
Methods: It was made a case study in six individuals, bank clerks, with depression, analyzing their speech about
their sickening and work relations. Results: All subjects interviewed reported the beginning of their depressive
symptoms in relation with situations involving work and described feelings in the negative sphere of humor.
Were reported, also, diverse situations, including moral harassment and humiliation in the work environment
with progressive deterioration of life quality. Conclusions: It is necessary changes in the work relations inside
bank organizations, with a higher awareness of the impact of the organization's attitudes towards the subordinate
workers' health. It's also necessary more long term studies in order to reinforce this causal nexus and give more
data to propose improvements in these relations
1 INTRODUÇÃO
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
estampado nas manchetes de noticiários e jornais, apesar de sem dúvida, ser opção bem
menos praticada do que a “distanásia” em nossas instituições de saúde, notadamente nas
unidades de terapia intensiva, as modernas catedrais do sofrimento humano. Isso tudo é no
mínimo curioso e nos exige uma reflexão aprofundada que atinja as razões subjacentes, que
vá além do simplismo ético de querer compreender e resolver questões tão difíceis e
polêmicas quanto esta da distanásia, na base do reducionismo ético de ser a favor ou contra. O
termo também pode ser empregado como sinônimo de tratamento inútil. Trata-se da atitude
médica que, visando salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento. Nesta
conduta não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No mundo
europeu, fala-se de “obstinação terapêutica” e nos Estados Unidos, de “futilidade médica”
(medical futility).(6)
eram levadas a um tribunal na presença dos deuses Tot, Anúbis e Osíris, onde suas ações
eram pesadas na balança da deusa da justiça. As almas dos maus seriam devoradas pelo deus
monstro e não poderiam mais renascer. A partir daí a morte passa a ser temida devido á sua
associação com penalidades.(10) Na idade média, a partir do século IV a Igreja combate a
tradição pagã que desencadeiam nos cemitérios danças frenéticas. Estas danças proclamavam
a alegria de estar vivo e podiam ser vistas quase 1000 anos depois. Por volta do século XIV,
as danças adquirem um tom mais introspectivo.(4)
Figura 1 - Entre os túmulos, jovens formavam alegres e ruidosas rodas de dança / Farândola
[...] ao invés da certeza passa a reinar a incerteza, uma vez que agora cabia à Igreja
intermediar o acesso da alma ao paraíso e o julgamento final deixava de ser visto
como evento que ocorreria nos Tempos Finais e passa a ser visto como um evento
que aconteceria imediatamente após a morte e resultaria na descida ao inferno (no
sofrimento eterno) ou a ascensão aos céus (na alegria eterna) e isso dependeria da
conduta do moribundo antes da morte.(9)
Nesta época, a Igreja já era a instituição mais influente, e com o Concílio de Nicéia,
convocado por Constantino, começa a imputar na mente das pessoas a idéia de julgamento,
que não acontecerá mais no “fim dos tempos”, mas chegará com a morte. Além disso, nessa
época acontece a personificação da morte, aparecendo nas pinturas e obras literárias como
uma figura desfigurada, com significado de deterioração.(10)A morte adquiriu uma nova e
proibitiva significação, sendo considerada um castigo de Deus. A morte agora, revelava ao
homem suas culpas e indignidades, se tornando um grande tormento ao ser humano.(11) Com a
chegada da Idade Moderna e as mudanças na vida cultural e intelectual, a forma de o homem
se relacionar com a morte também sofreu uma mudança. Começa um declínio da
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
exclusividade religiosa sobre a morte, agora o homem passa a querer manipulá-la. Uma das
repercussões foi a mudança de local do sepultamento: “As igrejas deixaram de ser o local dos
enterramentos, os quais passaram a ocorrer em cemitérios, construídos nas margens da cidade,
marcando assim uma dicotomia entre vivos e morto”.(9) A medicina relutou em trazer a morte
para sua tutela, porém com a chegada do iluminismo, da Revolução industrial e ascensão da
classe burguesa trouxeram novos valores sócio-econômicos e morais, e um novo tipo de
cliente: um homem rico que se recusa a morrer.(4) A Europa do final do século XVIII começa
a conhecer Saúde Pública e medidas higiênico-sanitárias, assim como grandes Hospitais
transformando a medicina e agora o lidar com a morte se torna uma coisa muito impessoal, há
um distanciamento das pessoas. No século XX surge um tipo novo de morte no mundo
Ocidental, nas sociedades industrializadas, uma morte que é “banida das cidades”. “A
sociedade deixa de fazer pausas: o desaparecimento de um indivíduo já não afeta mais sua
continuidade, tudo se passa na cidade como ninguém jamais morresse.”(11) Nesta época, a
Igreja já era a instituição mais influente, e com o Concílio de Nicéia, convocado por
Constantino, começa a imputar na cabeça das pessoas a idéia de julgamento, que não
acontecerá mais no “fim dos tempos”, mas chegará com a morte. Além disso, nessa época
acontece a personificação da morte, aparecendo nas pinturas e obras literárias como uma
figura desfigurada, com significado de deterioração.(10) A morte adquiriu uma nova e
proibitiva significação, sendo considerada um castigo de Deus. A morte agora, revelava ao
homem suas culpas e indignidades, se tornando um grande tormento ao ser humano.(11) Com a
chegada da Idade Moderna e as mudanças na vida cultural e intelectual, a forma de o homem
se relacionar com a morte também sofreu uma mudança. Começa um declínio da
exclusividade religiosa sobre a morte, agora o homem passa a querer manipulá-la. Uma das
repercussões foi a mudança de local do sepultamento: “As igrejas deixaram de ser o local dos
enterramentos, os quais passaram a ocorrer em cemitérios, construídos nas margens da cidade,
marcando assim uma dicotomia entre vivos e morto”.(9) A medicina relutou em trazer a morte
para sua tutela, porém com a chegada do iluminismo, da Revolução industrial e ascensão da
classe burguesa trouxeram novos valores sócio-econômicos e morais, e um novo tipo de
cliente: um homem rico que se recusa a morrer.(4)A Europa do final do século XVIII começa a
conhecer Saúde Pública e medidas higiênico-sanitárias, assim como grandes Hospitais
transformando a medicina e agora o lidar com a morte se torna uma coisa muito impessoal, há
um distanciamento das pessoas.No século XX surge um tipo novo de morte no mundo
Ocidental, nas sociedades industrializadas, uma morte que é “banida das cidades”. “A
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
sociedade deixa de fazer pausas:o desaparecimento de um indivíduo já não afeta mais sua
continuidade, tudo se passa na cidade como ninguém jamais morresse.”(12) Dentre os filósofos
existencialistas do século XX, a angústia existencial tem, no pensamento de Heidegger (1889-
1976),uma posição central. Para ele a angústia resulta da precariedade da base da existência
humana. A "existência" do homem é algo temporário, paira entre o seu nascimento e a morte
que ele não pode evitar. Sua vida está entre o passado (em suas experiências) e o futuro, sobre
o qual ele não tem controle, e onde seu projeto serásempre incompleto diante da morte
inevitável.(13)
3 OBJETIVOS
4 MATERIAL E MÉTODOS
(HP). A escolha de médicos que trabalham em UTIs se deve ao fato de que a morte e a
distanásia estão intimamente relacionadas a este ambiente de trabalho. A coleta de dados era
constituída de uma entrevista semi-estruturada com perguntas acerca da opinião dos
entrevistados sobre distanásia, os motivos que levam a sua prática, a influência da religião e
opinião pessoal sobre a morte. As entrevistas foram gravadas com o intuito de favorecer a
livre expressão dos entrevistados e, a posteriori, transcritas na íntegra e analisadas segundo a
técnica de análise de conteúdo, na modalidade de análise temática. A análise temática consiste
em extrair núcleos de sentidos contidos nas comunicações cuja presença ou freqüência nos
mostra algum significado para aqueles indivíduos que vivenciam determinadas experiências
em seu dia-a-dia.(1) Portanto, a análise pautou-se na visão dos entrevistados sobre aspectos
relacionados à morte e à distanásia, tentando compreender o papel da representação social da
morte desses indivíduos assim como o da religião sobre a sua prática médica. Inicialmente se
fez uma leitura compreensiva do conjunto do material coletado nas entrevistas, de forma que
o conteúdo fosse apreendido demaneira que se pudesse ter uma visão do todo, se destacassem
particularidades, fossem elaborados pressupostos que serviram de base para a classificação e
análise do material. Num segundo momento, foram agrupadas as falas que tiveram
similaridades de sentido (núcleos de sentido). A partir daí, foram gerados 06(seis) temas: O
papel da não-aceitação da morte como fator causal da Distanásia; Mudança cultural: A morte
sai do ambiente familiar; A Ausência de uma Educação para a Morte: da Pré-escola à
Faculdade de Medicina; A Medicina Moderna e o Perfil Obstinado do Médico; A obstinação
terapêutica e as pressões externas; e O papel da religião. A participação neste estudo foi
voluntária. Após a aceitação verbal dos sujeitos de pesquisa, foi solicitado que os mesmos
assinassem o termo consentimento livre e esclarecido (TCLE). A pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética da Faculdade de Tecnologia e Ciência da cidade de Salvador obedecendo aos
preceitos éticos acordados na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos incluídos na pesquisa em relação ao sexo, idade, tempo de
trabalho em UTI, local de trabalho e religião
tornou um problema para a sociedade moderna. Esse fato se deve ao fato de que os indivíduos
tomaram consciência de sua individualidade e de sua autonomia com o fim da Idade Média,
como podemos observar na frase de Ludwig Feuerbach:(16)
5.2 Distanásia
Um dos entrevistados apontou a mudança que ocorreu com o papel cultural da morte,
a qual deixa o ambiente domiciliar e passa quase que exclusivamente a tutela do hospital:
[...] Houve uma mudança cultural muito grande nos últimos anos, por exemplo, porque
eu tive uma experiência como filho de médico que era clinico e trabalhava em uma
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
comunidade onde se permitiam que o doente morresse em casa com a própria família.
E a cultura hoje tanto é de rejeição da família como a cultura de que tudo tem que ser
resolvido dentro do hospital. (Silvio)
Nos anos de 1930, de 1940 e principalmente de 1950, a morte no ambiente natural das
pessoas se tornou um evento indesejado. Algo que era comum se torna repulsivo,
desconfortável. Então, o hospital passa a ser o lugar de cura e da morte, esta muitas vezes
apenas adiada ou até planejada. O hospital passa não só a ser o lugar onde acontece a morte
por doenças e falhas terapêuticas, mas também onde acontece a morte natural.
A valorização do conforto, da intimidade, da higiene pessoal, da assepsia, tornaram
todos mais delicados: os sentidos já não suportam os odores e os espetáculos que ainda no
século XIX, faziam parte, com o sofrimento e a doença, do dia-dia O quarto do moribundo
passou da casa para o hospital, que oferece a família o asilo onde abrigar o doente e toma para
si o seu cuidado, possibilitando que a vida siga seu curso.(18)
Da mesma maneira, P. Ariés, 1988 detecta uma mudança na atitude da sociedade
frente à morte, especialmente no século XX, em algumas sociedades mais tecnicamente
avançadas, mais industrializadas, mais urbanizadas na qual as pessoas passam a ter uma
imagem invertida da morte, o negativo: a sociedade expulsou a morte, exceto dos homens de
Estado.
Esta visão corrobora com Gadamer,(3) trata deste assunto afirmando que a mudança do
ambiente onde acontece a morte nada mais é do que um reflexo de um processo muito mais
radical, o desaparecimento da imagem da morte na sociedade moderna. A morte perde sua
representação pública, como cortejo fúnebre, e afastamento do moribundo do ambiente
familiar, inserindo-se numa empresa técnica de produção industrial. Isto pode ser visto numa
das falas de um dos entrevistados: “[...] morrer deixa de ser um processo natural a menos que
passe por uma UTI ou por uma tentativa de prolongamento.” (Kleber)
Um dos entrevistados afirmou que as pessoas não são educadas para a morte. Já 7 dos
entrevistados afirmaram que uma das causas de se existir distanásia é o fato de a faculdade de
Medicina que poderia ter um papel relevante nesse processo, simplesmente, se abstém de
qualquer responsabilidade. Estes dados fica sintetizado nas seguintes falas: “Acho que não
somos educados ou preparados para lidar com a morte, nem por nossos pais ou mesmo pela
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
significativa: o estudante tem que aprender a lidar com o sofrimento, a dor e a morte dos
pacientes fazendo com que o aluno se defronte com a própria finitude, ao lidar com o vivo
que está próximo da morte.(27, 28) A última etapa da formação médica é o internato, no qual os
alunos começam a fazer parte do corpo médico, aprendendo a medicina em situações reais do
cotidiano hospitalar. Suas dúvidas e angústias aumentam e a auto-avaliação é realizada frente
ao paciente por meio da capacidade diagnóstico-terapêutica. Então, se tem a percepção que a
realidade profissional é muito distorcida e dissuadida da fantasia da cura e controle sobre a
vida.(27)
Fica claro que os estudantes de medicina, durante os 6 anos de formação, não
encontram momentos de reflexão mais profunda sobre a morte. As grades curriculares são
insuficientes no tratamento deste assunto. Além disso, não há espaços acadêmicos onde se
possa discutir, nem entre estudantes, nem com profissionais mais gabaritados, e quando há, os
estudantes não se interessam. Por esses motivos, esses estudantes que tiveram uma formação
deficiente nos aspectos que envolvem a morte e o morrer, quando se tornam profissionais,
adotam práticas desumanas como a distanásia.
Neste estudo, três dos entrevistados acham que a medicina moderna fabrica médicos
obstinados. Existe a necessidade de soluções para todos os processos de saúde-doença,
inclusive a morte. Quando não se consegue, o médico tem a sensação de impotência, segundo
um de nossos entrevistados:
“Quando se perde uma paciente, dá uma grande sensação de impotência”.(Alexandre)
O rápido progresso técnico-científico pelo qual a medicina está passando, desde a
metade do século XX, transformou o estilo de se praticar medicina e as atitudes perante a
morte e pacientes em estado terminal, como podemos ver em Pessini:(29) Doenças e feridas
outrora letais são, hoje em dia, com tratamento adequado, curáveis. Este orgulho de conseguir
a cura facilmente se transforma em arrogância e a morte, ao invés de ser vista como o
desfecho natural da vida, se transforma num inimigo a ser vencido ou numa presença
incômoda a ser escondida. Para vencer a morte, a medicina moderna lança mão de todos os
recursos possíveis. A farmacologia moderna e a alta tecnologia empregada na medicina
conseguem muitas vezes, garantir a “vida” a pacientes clinicamente sem perspectiva. É o que
afirma uma das entrevistadas:
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
religiões judaico-cristãs sobre a morte, como podemos ver nas seguintes falas. “A igreja
católica e evangélica que tem a questão das punições que são mais severas se não segue o
caminho...”(Silvio); “Agora a religião judaico-cristã acabou distorcendo valores de vida e
morte.” (Sulivan). Apesar desta visão apresentada pelos sujeitos de pesquisa, Monteiro(31)
afirma que a posição da Igreja católica tem servido de referência a esta temática. Assim, no
Catecismo da Igreja católica, pode se encontrar a seguinte alusão: “A cessação de tratamentos
médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionados aos resultados esperados,
pode ser legítima.” Assim, podemos identificar que existe a rejeição do excesso terapêutico.
Podemos ver também na encíclica EvangeliumVitæ (Igreja Católica, Papa João Paulo II. O
Evangelho da Vida. Lisboa: Editora Rei dos Livros 1995: 115.), de SS João Paulo II,
referência à obstinação terapêutica, afirmando que “se pode, em consciência, renunciar, a
tratamentos que dariam somente “um prolongamento precário e penoso da vida.” Refere ainda
que “É peremptória ao indicar que “a renúncia a meios extraordinários ou desproporcionados
não equivale ao suicídio ou à eutanásia; exprime, antes, a aceitação da condição humana
perante a morte”. Para 04(quatro) dos entrevistados, a religião não tem influencia alguma
sobre as praticas de obstinação terapêutica:
“Muito pouco. Não são esses os fatores que levam” (Marçal); “Acredito que há
influencia sobre alguns familiares, mas não na minha prática clínica”(Marcos Leitão); “ Não
existe influencia”(Iury); “Não acho que seja majoritariamente uma questão religiosa e sim
social.”(André Luiz).
A maior parte dos entrevistados refere que um dos fatores da obstinação do médico
são pressões externas como leis e questões éticas. Além destas questões, pode-se notar que a
mídia e opinião pública também tem seu papel.
[...] com relação à restrição para que a gente possa ajudar os pacientes a fazerem uma
passagem mais humana, de repente fazer o que a gente chama oficialmente de
ortotanásia, você fazer o contrário e você ser exigido pela lei brasileira e às vezes pela
opinião pública e pela mídia, exigir que você mantenha um tratamento obstinado, fazer
a pessoa que está prestes a encerrar seu ciclo de vida e está em etapa final de vida, me
parece que isso é fazer tortura com o indivíduo.(Sulivan).
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Albuquerque, Dunningham. Distanásia: uma reflexão sobre o papel psicossocial da morte.
Apesar de a maioria dos médicos acharem que questões éticas e legais são um
empecilho para se impedir que se ocorra distanásia, no final de 2006, o Conselho Federal de
Medicina emitiu a Resolução 1.805/2006, que permite ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal. Porém,
quando se fala em leis, percebemos que a norma constitucional brasileira e o Código Civil
trazem contradições acerca do papel dos médicos nesse processo. A norma constitucional
brasileira afirma que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou
degradante” (art.5º, III). O novo Código Civil, em seu art.13, expressa que “Salvo por
exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição
permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”. Ao analisar esta última
frase, nota-se que o médico tem o poder de decisão sobre o futuro do paciente, gerando
conflito com o artigo 15 cujo texto afirma: “ninguém pode ser constrangido a submeter-se,
com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”. Todos os entrevistados se
reportam às pressões familiares como uma das principais causas de se ocorrer a distanásia,
como pode ficar explicitado nas falas:“[...] nosso meio é feito por questões culturais, você
prolonga a vida mais por conta da família”(Anderson); “Influencia familiar
principalmente..”(Marcos Leitão); “Depende da família, tem opinião muito decisiva. Muitas
vezes vc fica esperando que o paciente venha a melhorar, a família não tem consciência, quer
que mantenha os aparelhos ligados pensando numa possível melhora.”(Marcos Pedro); “[...] e
pra gente que está no embate frente a família no dia a dia, é difícil ir ao contrário..”(Sandra).
Monteiro(31) afirma que a pressão que os familiares exercem nos médicos é da unidade, no
sentido de que se continue a insistir em todas as atitudes terapêuticas. Refere que esta coação
é conseqüente a algumas causas como: do desconhecimento da situação médica real; da
avaliação arbitrária da qualidade de vida do doente; e do complexo de culpa que alguns
sentem em relação ao doente, o qual foi, por vezes, quase ignorado. Esta última causa pode
ser encontrada em uma das entrevistas:“Quanto aos familiares, muitas vezes pode estar
atrelada a um certo grau de culpa, por não ter feito algo durante a vida daquele ente
querido...(Diego)
Nas UTIs, os pacientes são isolados de seus familiares e submetidos a tratamentos com
equipes por eles desconhecidas, o que lhes causa ansiedade e angústia. Nessas circunstâncias,
não raro, os familiares se encontram desamparados, carentes de informações e sem
orientação.(36) Portanto, um dos fatores que se torna importante para que a distanásia não
aconteça é a comunicação com a família. Este simples fato pode diminuir a angústia familiar e
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a desinformação, e assim tornar possível chegar a um acordo com a equipe médica sobre
intervenções no paciente, como pensa um dos entrevistados: “A única coisa que a gente
precisa do ponto de vista ético é ficar em comum acordo com a família, é os 2 entenderem o
doente do mesmo jeito, verem o mesmo desfecho, nós queremos a mesma coisa, queremos
que ele seja operado, ou não tem nenhuma proposta terapêutica, é inviável. O aspecto ético
precede o comum acordo co a família e a certeza científica. Existe o entrave
familiar.”(Laudenor); A comunicação permeia todas as ações nos cuidados, envolvidas no
processo de morrer, bem como todas as dimensões do ser humano, e a forma como o
profissional se comunica na relação com o paciente e sua família ficará para sempre lembrada.
Refletir sobre a comunicação, em um ambiente onde predomina o efetivo, significa o resgate
da importância do afetivo.(37)
6 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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