Aula 01
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Autor:
Equipe Direito Constitucional
Estratégia Concursos
08 de Dezembro de 2022
Índice
1) Gerações dos Direitos Fundamentais
..............................................................................................................................................................................................3
Antes de qualquer coisa, é necessário apresentar a diferença entre as expressões “direitos do homem”,
“direitos fundamentais” e “direitos humanos”.
Segundo Mazzuoli, “direitos do homem” diz respeito a uma série de direitos naturais aptos à proteção global
do homem e válido em todos os tempos. Trata-se de direitos que não estão previstos em textos
constitucionais ou em tratados de proteção aos direitos humanos. A expressão é, assim, reservada aos
direitos que se sabe ter, mas cuja existência se justifica apenas no plano jusnaturalista.1
Direitos fundamentais, por sua vez, se refere aos direitos da pessoa humana consagrados, em um
determinado momento histórico, em um certo Estado. São direitos constitucionalmente protegidos, ou seja,
estão positivados em uma determinada ordem jurídica.
Por fim, “direitos humanos” é expressão consagrada para se referir aos direitos positivados em tratados
internacionais, ou seja, são direitos protegidos no âmbito do direito internacional público. A proteção a esses
direitos é feita mediante convenções globais (por exemplo, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos) ou regionais (por exemplo, a Convenção Americana de Direitos Humanos).
Há alguns direitos que estão consagrados em convenções internacionais, mas que ainda
não foram reconhecidos e positivados no âmbito interno.
É importante termos cuidado para não confundir direitos fundamentais e garantias fundamentais. Qual seria,
afinal, a diferença entre eles?
1
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2010, pp. 750-751.
Os direitos fundamentais são os bens protegidos pela Constituição. É o caso da vida, da liberdade, da
propriedade... Já as garantias são formas de se protegerem esses bens, ou seja, instrumentos
constitucionais. Um exemplo é o habeas corpus, que protege o direito à liberdade de locomoção. Ressalte-
se que, para Canotilho, as garantias são também direitos.2
As “gerações” de direitos
Os direitos fundamentais são tradicionalmente classificados em gerações, o que busca transmitir uma ideia
de que eles não surgiram todos em um mesmo momento histórico. Eles foram fruto de uma evolução
histórico-social, de conquistas progressivas da humanidade.
Não há consenso na doutrina brasileira acerca do conceito de “gerações de direitos humanos”. Porém, a
doutrina majoritária reconhece a existência de três gerações de direitos:
==245596==
a) Primeira Geração: são os direitos que buscam restringir a ação do Estado sobre o indivíduo,
impedindo que este se intrometa de forma abusiva na vida privada das pessoas. São, por isso,
também chamados liberdades negativas: traduzem a liberdade de não sofrer ingerência abusiva por
parte do Estado. Para o Estado, consistem em uma obrigação de “não fazer”, de não intervir
indevidamente na esfera privada.
É relevante destacar que os direitos de primeira geração cumprem a função de direito de defesa dos
cidadãos, sob dupla perspectiva: não permitem aos Poderes Públicos a ingerência na esfera jurídica
individual, bem como conferem ao indivíduo poder para exercê-los e exigir do Estado a correção das
omissões a eles relativas.
Os direitos de primeira geração têm como valor-fonte a liberdade. São os direitos civis e políticos,
reconhecidos no final do século XVIII, com as Revoluções Francesa e Americana. Como exemplos de
direitos de primeira geração citamos o direito de propriedade, o direito de locomoção, o direito de
associação e o direito de reunião.
b) Segunda geração: são os direitos que envolvem prestações positivas do Estado aos indivíduos
(políticas e serviços públicos) e, em sua maioria, caracterizam-se por serem normas programáticas.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª edição. Coimbra: Almedina, 2003.
São, por isso, também chamados de liberdades positivas. Para o Estado, constituem obrigações de
fazer algo em prol dos indivíduos, objetivando que todos tenham “bem-estar”: em razão disso, eles
também são chamados de “direitos do bem-estar”.
Os direitos de segunda geração têm como valor fonte a igualdade. São os direitos econômicos,
sociais e culturais. Como exemplos de direitos de segunda geração, citamos o direito à educação, o
direito à saúde e o direito ao trabalho.
c) Terceira geração: são os direitos que não protegem interesses individuais, mas que transcendem
a órbita dos indivíduos para alcançar a coletividade (direitos transindividuais ou supraindividuais).
Os direitos de terceira geração têm como valor-fonte a solidariedade, a fraternidade. São os direitos
difusos e os coletivos. Citam-se, como exemplos, o direito do consumidor, o direito ao meio-
ambiente ecologicamente equilibrado e o direito ao desenvolvimento.
Percebeu como as três primeiras gerações seguem a sequência do lema da Revolução Francesa: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade? Guarde isso para a prova! Abaixo, transcrevemos decisão do STF que resume
muito bem o entendimento da Corte sobre os direitos fundamentais.
Parte da doutrina considera a existência de direitos de quarta geração. Para Paulo Bonavides, estes
incluiriam os direitos relacionados à globalização: direito à democracia, o direito à informação e o direito ao
pluralismo. Desses direitos dependeria a concretização de uma “civitas máxima”, uma sociedade sem
fronteiras e universal. Por outro lado, Norberto Bobbio considera como de quarta geração os “direitos
relacionados à engenharia genética”.
Há também uma parte da doutrina que fala em direitos de quinta geração, representados pelo direito à paz3.
A expressão “geração de direitos” é criticada por vários autores, que argumentam que ela daria a entender
que os direitos de uma determinada geração seriam substituídos pelos direitos da próxima geração. Isso não
é verdade. O que ocorre é que os direitos de uma geração seguinte se acumulam aos das gerações
anteriores. Em virtude disso, a doutrina tem preferido usar a expressão “dimensões de direitos”. Teríamos,
então, os direitos de 1ª dimensão, 2ª dimensão e assim por diante.
3
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2008.
LIBERDADE
IGUALDADE
Do ponto de vista dessa teoria, status nada mais é do que a relação que o indivíduo mantém com o Estado.
Essa relação pode qualificar o indivíduo em um dos quatro grupos criados por Jellinek (status passivo, status
negativo, status positivo e status ativo)
Segundo Marcelo Novelino1, status passivo (status subjectionis) é aquele no qual se encontra o indivíduo
submetido ao Estado na esfera das obrigações individuais. Em outras palavras, o Estado pode submeter uma
pessoa às suas ordens, fazendo com que o indivíduo fique em uma posição de sujeição. Quando o Estado
estabelece alguma obrigação ou proibição que afeta o indivíduo, tem-se a presença do status passivo.
O status negativo (status libertatis), por outro lado, indica que a pessoa tem liberdade perante o Estado,
fazendo com que possa atuar livremente em algumas situações, sem a interferência do Poder Público.
Marcelo Novelino ensina que o status negativo "costuma ser referido em dois sentidos diversos. Em sentido
estrito, é formado por faculdades, isto é, diz respeito apenas às liberdades jurídicas não protegidas. Em
sentido amplo, refere-se aos direitos de defesa, compreendidos como direitos a ações negativas do Estado
voltadas à proteção do status negativo em sentido estrito. Sob esta óptica, impõe aos órgãos estatais o dever
de não intervir na esfera de liberdade dos indivíduos". A liberdade de expressão e de ir e vir exemplificam
esse status.
Já o status positivo (status civitatis) indica a possibilidade de o indivíduo exigir do Poder Público alguma
prestação positiva. O Estado atuará em favor do indivíduo, portanto. Segundo Robert Alexy2, uma pretensão
positiva aduz que uma pessoa faz jus a algo perante o Estado, fazendo surgir o direito a determinadas ações
estatais. O direito de acesso à educação básica e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos, por
exemplo, ilustra o status positivo, já que a pessoa poderá até mesmo recorrer judicialmente para ver
satisfeito o direito à educação.
Por fim, o status ativo (status activus civitatis) alude ao exercício dos direitos políticos por parte do
indivíduo. O fato de exercer tais direitos é um dos aspectos intrínsecos à cidadania. O direito ao voto
exemplifica esse status.
A teoria dos Quatro Status de Jellinek serve de base para a existência de diversas outras classificações dos
direitos fundamentais, notadamente a classificação trialista, que faz a seguinte divisão: i) direitos de defesa
(ou direitos de resistência), ii) direitos a prestações e iii) direitos de participação.
Avançando em nosso estudo, a doutrina aponta as seguintes características para os direitos fundamentais:
a) Universalidade: os direitos fundamentais são comuns a todos os seres humanos, respeitadas suas
particularidades. Em outras palavras, há um núcleo mínimo de direitos que deve ser outorgado a
todas as pessoas (como, por exemplo, o direito à vida). Cabe destacar, todavia, que alguns direitos
1
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. Salvador: JusPodivm, 2017, pp. 278-279.
2
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017, p. 418.
não podem ser titularizados por todos, pois são outorgados a grupos específicos (como, por exemplo,
os direitos dos trabalhadores).
f) Irrenunciabilidade: o titular dos direitos fundamentais não pode deles dispor, embora possa deixar
de exercê-los. É admissível, entretanto, em algumas situações, a autolimitação voluntária de seu
exercício, num caso concreto. Seria o caso, por exemplo, dos indivíduos que participam dos
conhecidos “reality shows”, que, temporariamente, abdicam do direito à privacidade.
Por isso, guarde o seguinte: não há direito fundamental absoluto! Todo direito
sempre encontra limites em outros, também protegidos pela Constituição. É por isso
que, em caso de conflito entre dois direitos, não haverá o sacrifício total de um em
relação ao outro, mas redução proporcional de ambos, buscando-se, com isso,
alcançar a finalidade da norma.
h) Complementaridade: a plena efetivação dos direitos fundamentais deve considerar que eles
compõem um sistema único. Nessa ótica, os diferentes direitos (das diferentes dimensões) se
complementam e, portanto, devem ser interpretados conjuntamente.
Segundo Canotilho, baseado no princípio do não retrocesso social, os direitos sociais, uma vez tendo
sido previstos, passam a constituir tanto uma garantia institucional quanto um direito subjetivo. Isso
limita o legislador e exige a realização de uma política condizente com esses direitos, sendo
inconstitucionais quaisquer medidas estatais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou
compensatórios, anulem, revoguem ou aniquilem o núcleo essencial desses direitos.
Os direitos fundamentais possuem uma dupla dimensão: i) dimensão subjetiva e; ii) dimensão objetiva.
Na dimensão subjetiva, os direitos fundamentais são direitos exigíveis perante o Estado: as pessoas podem
exigir que o Estado se abstenha de intervir indevidamente na esfera privada (direitos de 1ª geração) ou que
o Estado atue ofertando prestações positivas, através de políticas e serviços públicos (direitos de 2ª geração).
Já na dimensão objetiva, os direitos fundamentais são vistos como enunciados dotados de alta carga
valorativa: eles são qualificados como princípios estruturantes do Estado, cuja eficácia se irradia para todo
o ordenamento jurídico.
Os direitos fundamentais consagrados na CF/88 não podem ser abolidos por Emenda à
Constituição. Isso decorre do art. 60, § 4º, inciso IV, da CF/88.
(DP-DF – 2022) Os direitos fundamentais caracterizam-se por seu caráter absoluto, característica que
permanece mesmo havendo eventuais colisões entre eles.
Comentários:
Uma das características dos direitos fundamentais é a sua relatividade. Não existem direitos fundamentais
de natureza absoluta, já que eles encontram limites nos demais direitos previstos na Constituição. Questão
errada.
(TJ-PR – 2019) Considerando-se o surgimento e a evolução dos direitos fundamentais em gerações, é correto
afirmar que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é considerado, pela doutrina, direito de
segunda geração.
Comentários:
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de 3ª geração. Questão errada.
(PGE-PE – 2018) Os direitos destinados a assegurar a soberania popular mediante a possibilidade de
interferência direta ou indireta nas decisões políticas do Estado são direitos políticos de primeira dimensão.
Comentários:
São direitos de 1ª geração os direitos civis e políticos. Os direitos políticos são aqueles que estão relacionados
à participação do indivíduo na vida política do Estado. Questão correta.
(DPE-PR – 2017) A dimensão subjetiva dos direitos fundamentais resulta de seu significado como princípios
básicos da ordem constitucional, fazendo com que os direitos fundamentais influam sobre todo o
ordenamento jurídico e servindo como norte de ação para os poderes constituídos.
Comentários:
A dimensão objetiva dos direitos fundamentais é que impõe que estes influam sobre todo o ordenamento
jurídico. Nesse sentido, fala-se em “eficácia irradiante” dos direitos fundamentais. Questão errada.
(FUB – 2015) A característica da universalidade consiste em que todos os indivíduos sejam titulares de todos
os direitos fundamentais, sem distinção.
Comentários:
Há alguns direitos que não podem ser titularizados por todas as pessoas. É o caso, por exemplo, dos direitos
dos trabalhadores. Questão errada.
(TRT 8ª Região – 2013) Os direitos fundamentais são personalíssimos, de forma que somente a própria
pessoa pode a eles renunciar.
Comentários:
Os direitos fundamentais têm como característica a “irrenunciabilidade”. Questão errada.
Para tratar das limitações aos direitos fundamentais, a doutrina desenvolveu duas teorias: i) a interna e; ii)
a externa.
A teoria interna (teoria absoluta) considera que o processo de definição dos limites a um direito é interno a
este. Não há restrições a um direito, mas uma simples definição de seus contornos. Os limites do direito lhe
são imanentes, intrínsecos. A fixação dos limites a um direito não é, portanto, influenciada por aspectos
externos (extrínsecos), como, por exemplo, a colisão de direitos fundamentais. 1
Para a teoria interna (absoluta), o núcleo essencial de um direito fundamental é insuscetível de violação,
independentemente da análise do caso concreto. Esse núcleo essencial, que não poderá ser violado, é
identificado a partir da percepção dos limites imanentes ao direito.
A teoria externa (teoria relativa), por sua vez, entende que a definição dos limites aos direitos fundamentais
é um processo externo a esses direitos. Em outras palavras, fatores extrínsecos irão determinar os limites
dos direitos fundamentais, ou seja, o seu núcleo essencial. É somente sob essa ótica que se admite a solução
dos conflitos entre direitos fundamentais pelo juízo de ponderação (harmonização) e pela aplicação do
princípio da proporcionalidade.
Para a teoria externa, o núcleo essencial de um direito fundamental também é insuscetível de violação; no
entanto, a determinação do que é exatamente esse “núcleo essencial” dependerá da análise do caso
concreto. Os direitos fundamentais são restringíveis, observado o princípio da proporcionalidade e/ou a
proteção de seu núcleo essencial. Exemplo: o direito à vida pode sofrer restrições no caso concreto.
Questão muito relevante a ser tratada é sobre a teoria dos “limites dos limites”, que incorpora os
pressupostos da teoria externa. A pergunta que se faz é a seguinte: a lei pode impor restrições aos direitos
fundamentais?
A resposta é sim. A lei pode impor restrições aos direitos fundamentais, mas há um núcleo essencial que
precisa ser protegido, que não pode ser objeto de violações. Assim, o grande desafio do exegeta (intérprete)
e do próprio legislador está em definir o que é esse núcleo essencial, o que deverá ser feito pela aplicação
do princípio da proporcionalidade, em suas três vertentes (adequação, necessidade e proporcionalidade em
sentido estrito).
A teoria dos “limites dos limites” visa, portanto, impedir a violação do núcleo essencial dos direitos
fundamentais. Como o próprio nome já nos induz a pensar, ela tem como objetivo impor limites às restrições
1
SILVA, Virgílio Afonso da. O conteúdo essencial dos direitos fundamentais e a eficácia das normas constitucionais. In:
Revista de Direito do Estado, volume 4, 2006, pp. 35 – 39.
(limites) aos direitos fundamentais criados pelo legislador. Por isso, a teoria dos “limites dos limites” tem
dado amparo ao controle de constitucionalidade de leis, pela aplicação do princípio da proporcionalidade.
O Prof. Gilmar Mendes, ao tratar da teoria dos “limites dos limites”, afirma o seguinte:
“da análise dos direitos individuais pode-se extrair a conclusão errônea de que direitos,
liberdades, poderes e garantias são passíveis de ilimitada limitação ou restrição. É preciso
não perder de vista, porém, que tais restrições são limitadas. Cogita-se aqui dos chamados
limites imanentes ou ‘limites dos limites’ (Schranken-Schranken), que balizam a ação do
legislador quando restringe direitos individuais. Esses limites, que decorrem da própria
Constituição, referem-se tanto à necessidade de proteção de um núcleo essencial do
direito fundamental, quanto à clareza, determinação, generalidade e proporcionalidade
das restrições impostas.”2
No Brasil, a CF/88 não previu expressamente a teoria dos limites dos limites. Entretanto, o dever de
proteção ao núcleo essencial está implícito na Carta Magna, de acordo com vários julgados do STF e com a
doutrina, por decorrência do modelo garantístico utilizado pelo constituinte. Isso porque a não-admissão de
um limite à atuação legislativa tornaria inócua qualquer proteção fundamental3.
Por fim, vale ressaltar que os direitos fundamentais também podem ser restringidos em situações de crises
constitucionais, como na vigência do estado de sítio e estado de defesa.4
(FUB – 2015) Os direitos fundamentais, considerados como cláusula pétrea das constituições, podem sofrer
limitações por ponderação judicial caso estejam em confronto com outros direitos fundamentais, por
alteração legislativa, via emenda constitucional, desde que, nesse último caso, seja respeitado o núcleo
essencial que os caracteriza.
Comentários:
É possível, sim, que sejam impostas limitações aos direitos fundamentais, mas desde que seja respeitado o
núcleo essencial que os caracteriza. Em um caso concreto no qual haja o conflito entre direitos fundamentais,
o juiz irá aplicar a técnica da ponderação (harmonização). Questão correta.
2
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: Estudos de Direito
Constitucional. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. P. 41.
3 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.
P. 319.
4 O estado de defesa e estado de sítio estão previstos nos art. 136 e art. 137, da CF/88.
Até o século XX, acreditava-se que os direitos fundamentais se aplicavam apenas às relações entre o
indivíduo e o Estado. Como essa relação é de um ente superior (Estado) com um inferior (indivíduo), dizia-se
que os direitos fundamentais possuíam “eficácia vertical”.
A partir do século XX, entretanto, surgiu a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que
estendeu sua aplicação também às relações entre particulares. Tem-se a chamada “eficácia horizontal” ou
“efeito externo” dos direitos fundamentais. A aplicação de direitos fundamentais nas relações entre
particulares tem diferente aceitação pelo mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, só se aceita a eficácia
vertical dos direitos fundamentais.
Existem duas teorias sobre a aplicação dos direitos fundamentais aos particulares: i) a da eficácia indireta e
mediata e; ii) a da eficácia direta e imediata. ==245596==
Para a teoria da eficácia indireta e mediata, os direitos fundamentais só se aplicam nas relações jurídicas
entre particulares de forma indireta, excepcionalmente, por meio das cláusulas gerais de direito privado
(ordem pública, liberdade contratual, e outras). Essa teoria é incompatível com a Constituição Federal, que,
em seu art. 5º, § 1º, prevê que as normas definidoras de direitos fundamentais possuem aplicabilidade
imediata.
Já para a teoria da eficácia direta e imediata, os direitos fundamentais incidem diretamente nas relações
entre particulares. Estes estariam tão obrigados a cumpri-los quanto o Poder Público. Esta é a tese que
prevalece no Brasil, tendo sido adotada pelo Supremo Tribunal Federal.
Suponha, por exemplo, que, em uma determinada sociedade empresária, um dos sócios não esteja
cumprindo suas atribuições e, em razão disso, os outros sócios queiram retirá-lo da sociedade. Eles não
poderão fazê-lo sem que lhe seja concedido o direito à ampla defesa e ao contraditório. Isso porque os
direitos fundamentais também se aplicam às relações entre particulares. É a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
Pode-se, ainda, falar na eficácia diagonal dos direitos fundamentais. Essa expressão serve para se referir à
aplicação dos direitos fundamentais em relações assimétricas entre particulares. É o caso, por exemplo, das
relações de trabalho, marcadas pela desigualdade de forças entre patrões e empregados.
(TJ-CE – 2018) A exclusão de sócio de associação privada sem fins lucrativos independe do contraditório e da
ampla defesa, desde que haja previsão estatutária.
Comentários:
Os direitos fundamentais têm eficácia horizontal, isto é, se aplicam nas relações entre particulares. Assim,
na exclusão de sócio de associação privada sem fins lucrativos, devem ser garantidas a ampla defesa e o
contraditório. Questão errada.
(PGE-PR – 2015) Os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente só os
poderes públicos, estando direcionados mediatamente à proteção dos particulares e apenas em face dos
chamados poderes privados.
Comentários:
Os direitos fundamentais têm eficácia horizontal, aplicando-se, também, às relações entre particulares.
Destaque-se que, no Brasil, prevalece a tese da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais.
Questão errada.
Os direitos fundamentais estão previstos no Título II, da Constituição Federal de 1988. O Título II, conhecido
como “catálogo dos direitos fundamentais”, vai do art. 5º até o art. 17 e divide os direitos fundamentais em
5 (cinco) diferentes categorias:
É importante ter atenção para não cair em uma “pegadinha” na hora da prova. Os direitos individuais e
coletivos, os direitos sociais, os direitos de nacionalidade, os direitos políticos e os direitos relacionados à
existência, organização e participação em partidos políticos são espécies do gênero “direitos
fundamentais”.
O rol de direitos fundamentais previsto no Título II não é exaustivo. Há outros direitos, espalhados pelo texto
constitucional, como o direito ao meio ambiente (art. 225) e o princípio da anterioridade tributária (art.150,
III, “b”). Nesse ponto, vale ressaltar que os direitos fundamentais relacionados no Título II são conhecidos
pela doutrina como “direitos catalogados”; por sua vez, os direitos fundamentais previstos na CF/88, mas
fora do Título II, são conhecidos como “direitos não-catalogados”.
(DP-DF – 2022) Os direitos e garantias previstos pela Constituição Federal de 1988 estão dispostos em rol
taxativo, em razão da ampla rede de proteção a eles destinada.
Comentários:
A enumeração constitucional dos direitos e garantias fundamentais não é limitada, taxativa, haja vista que
outros poderão ser reconhecidos futuramente, seja por meio de emendas constitucionais ou mesmo
mediante normas infraconstitucionais, como os tratados e convenções internacionais de direitos humanos
celebrados pelo Brasil. Questão errada.
(CGE-CE – 2019) O rol dos direitos e das garantias fundamentais se esgota nos direitos e deveres individuais,
na nacionalidade e nos direitos políticos.
Também se enquadram como direitos e garantias fundamentais os direitos sociais e os direitos relacionados
à existência, organização e participação em partidos políticos. Questão errada.
(MPU – 2015) Na CF, a classificação dos direitos e garantias fundamentais restringe-se a três categorias: os
direitos individuais e coletivos, os direitos de nacionalidade e os direitos políticos.
Comentários:
Pode-se falar, ainda, na existência de outros dois grupos de direitos: os direitos sociais e os direitos
relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. Questão errada.
QUESTÕES COMENTADAS
1. (IADES / PGDF – 2011) Os direitos fundamentais foram projetados para serem limites de atuação
do Estado, não irradiando, portanto, seus efeitos sobre as relações jurídico-privadas.
Comentários:
Os direitos fundamentais aplicam-se tanto à relação dos indivíduos com o Estado como nas relações entre
particulares. Pode-se dizer que os direitos fundamentais têm uma eficácia vertical e uma eficácia horizontal.
Questão errada.
2. (IADES / PGDF – 2011) Os direitos e as garantias fundamentais chegaram a tal nível de abrangência
na previsão constitucional que, de sua interpretação, é possível afirmar que não mais somente frente ao
Estado, mas, agora também, nas relações privadas, podem os cidadãos fazer valer suas garantias a fim de
concretizar seus direitos fundamentais.
Comentários:
De fato, os direitos e garantias fundamentais aplicam-se, também, às relações privadas. Questão correta.
Comentários:
De fato, a inalienabilidade dos direitos fundamentais caracteriza-se pela impossibilidade de estes serem
transferidos ou negociados, ou mesmo abolidos por vontade de seu titular. Questão correta.
4. (IADES / CFA – 2010) Os direitos fundamentais podem ser reclamados em um determinado tempo,
pois há um lapso temporal que limita sua exigibilidade.
Comentários:
Os direitos fundamentais são imprescritíveis, não se perdem com o tempo. Questão errada.
Comentários:
A complementaridade diz respeito à interpretação conjunta dos direitos fundamentais, com o objetivo de
sua realização plena. Questão incorreta.
Comentários:
É isso mesmo. Os brasileiros e os estrangeiros (residentes ou não) são titulares de direitos fundamentais.
Questão correta.
Comentários:
A teoria interna (absoluta) considera que o processo de definição dos limites a um direito é interno a este. A
fixação dos limites a um direito não é, portanto, influenciada por aspectos externos, como a colisão de
direitos fundamentais. Dessa forma, a ponderação é incompatível com a teoria interna dos direitos
fundamentais. Questão correta.
8. (FUNIVERSA / PCDF – 2009) A teoria dos direitos fundamentais leva ao estudo daqueles de natureza
indisponível por parte dos cidadãos, na medida de sua titularidade pela comunidade como um todo, como
a essência mínima de caracterização da própria definição de sociedade humana. A respeito dos direitos e
garantias fundamentais, assinale a alternativa correta.
a) Por caracterizarem espécie altamente diferenciada de direitos, impondo, inclusive, limitações ao poder
constituinte derivado, é assente na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que, como exceção que são,
assim devem ser tratados, restringindo-os às espécies previstas no art. 5º da Constituição Federal, o
conhecido artigo da cidadania.
b) Na evolução das conhecidas dimensões dos direitos fundamentais, há, sucessivamente, substituição de
direitos na medida do atingimento de novos estágios.
c) Os direitos previstos no art. 5º da Carta Federal também têm sido deferidos pelo Supremo Tribunal Federal
mesmo aos estrangeiros não residentes.
d) Os direitos e garantias fundamentais têm, sem exceção, aplicação imediata.
e) Tendo em conta o histórico do nascimento dos direitos fundamentais, não há que se considerar a sua
aplicação em face dos particulares.
Comentários:
Letra A: errada. O rol de direitos individuais elencados no art. 5º, CF/88, não é exaustivo. Segundo o art. 5º,
§ 2º “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte”.
Letra B: errada. As gerações de direitos fundamentais anteriores não são substituídas pelas posteriores. Ao
contrário, os direitos das diversas gerações se acumulam.
Letra C: correta. Até mesmo os estrangeiros não-residentes fazem jus aos direitos previstos no art. 5º, CF/88.
Letra D: errada. Pelo art. 5º, § 1º, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata. Essa é a regra geral. Porém, há vários direitos fundamentais que constituem normas de eficácia
limitada e, portanto, têm aplicação mediata.
Letra E: errada. Os direitos fundamentais também se aplicam aos particulares, ou seja, eles possuem eficácia
horizontal.
9. (FUNCAB / PC-RJ – 2012) Assinale, dentre as opções abaixo, aquela que indica uma característica
INCORRETA dos direitos e garantias tidos como fundamentais previstos na Constituição da República:
a) Históricos.
b) Cumuláveis ou concorrentes.
c) Inalienáveis.
d) Absolutos.
e) Irrenunciáveis.
Comentários:
Os direitos fundamentais são históricos, cumuláveis, inalienáveis, irrenunciáveis e relativos. Não existem
direitos fundamentais absolutos. O gabarito é a letra D.
LISTA DE QUESTÕES
1. (IADES / PGDF – 2011) Os direitos fundamentais foram projetados para serem limites de atuação do
Estado, não irradiando, portanto, seus efeitos sobre as relações jurídico-privadas.
2. (IADES / PGDF – 2011) Os direitos e as garantias fundamentais chegaram a tal nível de abrangência na
previsão constitucional que, de sua interpretação, é possível afirmar que não mais somente frente ao
Estado, mas, agora também, nas relações privadas, podem os cidadãos fazer valer suas garantias a fim
de concretizar seus direitos fundamentais.
3. (IADES / CFA – 2010) A inalienabilidade dos direitos fundamentais caracteriza-se pela impossibilidade
de negociação dos mesmos, tendo em vista não possuírem conteúdo patrimonial.
4. (IADES / CFA – 2010) Os direitos fundamentais podem ser reclamados em um determinado tempo, pois
há um lapso temporal que limita sua exigibilidade.
6. (IADES / PGDF – 2011) Os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, embora
assegurados no caput do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 apenas aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País, interpretados teleologicamente, são direitos de todos os brasileiros e
estrangeiros, residentes ou não.
8. (FUNIVERSA / PCDF – 2009) A teoria dos direitos fundamentais leva ao estudo daqueles de natureza
indisponível por parte dos cidadãos, na medida de sua titularidade pela comunidade como um todo,
como a essência mínima de caracterização da própria definição de sociedade humana. A respeito dos
direitos e garantias fundamentais, assinale a alternativa correta.
a) Por caracterizarem espécie altamente diferenciada de direitos, impondo, inclusive, limitações ao poder
constituinte derivado, é assente na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que, como exceção que são,
assim devem ser tratados, restringindo-os às espécies previstas no art. 5º da Constituição Federal, o
conhecido artigo da cidadania.
b) Na evolução das conhecidas dimensões dos direitos fundamentais, há, sucessivamente, substituição de
direitos na medida do atingimento de novos estágios.
c) Os direitos previstos no art. 5º da Carta Federal também têm sido deferidos pelo Supremo Tribunal Federal
mesmo aos estrangeiros não residentes.
d) Os direitos e garantias fundamentais têm, sem exceção, aplicação imediata.
e) Tendo em conta o histórico do nascimento dos direitos fundamentais, não há que se considerar a sua
aplicação em face dos particulares.
9. (FUNCAB / PC-RJ – 2012) Assinale, dentre as opções abaixo, aquela que indica uma característica
INCORRETA dos direitos e garantias tidos como fundamentais previstos na Constituição da República:
a) Históricos.
b) Cumuláveis ou concorrentes.
c) Inalienáveis.
d) Absolutos.
e) Irrenunciáveis.
==245596==
GABARITO
1. ERRADA
2. CORRETA
3. CORRETA
4. ERRADA
5. ERRADA
6. CORRETA
7. CORRETA
8. LETRA C
9. LETRA D