Tese Biblioteca UFRGS
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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Egeslaine de Nez
Porto Alegre
2014
1
Egeslaine de Nez
Porto Alegre
2014
CIP - Catalogação na Publicação
de Nez, Egeslaine
EM BUSCA DA CONSOLIDAÇÃO DA PESQUISA E DA PÓS-
GRADUAÇÃO NUMA UNIVERSIDADE ESTADUAL: A CONSTRUÇÃO
DE REDES DE PESQUISA / Egeslaine de Nez. -- 2014.
284 f.
Egeslaine de Nez
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Estela Dal Pai Franco – Orientadora
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Nadia Hage Fialho – Uneb
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Bosco de Lima - UFU
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Glades Tereza Felix – UFSM
_______________________________________________________________
Prof. Dra. Maria Elly Herz Genro - UFRGS
3
Jaime e Loiva, meus queridos pais, pela grandiosa tarefa, desde pequenina e até hoje, de me
incentivar a trabalhar e a estudar.
Guilherme, filho amado, a quem mesmo longe esteve sempre presente e que trouxe para as
nossas vidas alguém ainda mais especial “Noah”. Vocês junto com a Thati são os motivos
para que eu acredite num mundo melhor a cada dia.
Sidimar, meu “amante” companheiro e dedicado “motorista”, pelo amor e carinho com que
me trata sempre, pelas tarefas divididas ao longo dos quatro anos, pelas risadas, pelo bom
humor e pela alegria de viver.
Celina Cervi Kremer, minha querida professora alfabetizadora, pois me ensinou a ler as
primeiras palavras e “pegando na minha mão” me ensinou a desenhar as letras.
Amigos e familiares do Paraná, de Santa Catarina, de Mato Grosso e de outros tantos lugares,
que souberam esperar o momento de uma visita a tanto tempo solicitada e não cumprida.
Enfim, a todos que fazem jus à luz do sol e que, sobretudo, fazem com que eu continue
acreditando que a caminhada diária de muitos passos e inúmeras palavras no “Nortão” de
Mato Grosso vale a pena...
4
Meus agradecimentos são para muitas pessoas, mas algumas são merecedoras de destaques
especiais...
À Professora Dra. Maria Estela Dal Pai Franco, pela orientação, pelo apoio e pelos
esclarecimentos valiosos, possibilitando o compartilhar de seu saber e de sua experiência em
inúmeros encontros ao longo desses quatro anos, em meio a momentos “turbulentos” e
“emocionados”.
Ao Professor Dr. Antonio Bosco de Lima, pela atenção e disponibilidade para fazer parte
deste momento, que em muito contribui para meu crescimento profissional e acadêmico.
Às Professoras Dras. Nadia Hage Fialho, Maria Elly Herz Genro e Glades Tereza Felix, pela
preciosa participação nesse momento avaliativo.
Aos Professores Drs. Cláudio Roberto Baptista e Aumeri Carlos Bampi, coordenadores do
Doutorado Interinstitucional em Educação, pela disposição e compromisso de suas
articulações e, em especial, pela atenção recebida.
Aos alunos da Unemat – Campus Universitário Vale do Teles Pires pela compreensão e apoio
neste momento tão difícil e importante de minha vida profissional e acadêmica. Entre todos,
agradecimentos especiais para Anderson Rafael Dacroce e Roberson Silva de Oliveira, pela
incrível possibilidade de poder contar com vocês em momentos que era necessário realizar
tarefas “quase impossíveis” de serem cumpridas.
Aos familiares, colegas e amigos, pela compreensão e estímulo diário nessa árdua caminhada.
Enfim...
5
Essa tese, que aqui está nesse momento, é o “melhor que posso oferecer!"
6
RESUMO
ABSTRACT
In the tangle of the network society, knowledge and hypermodern is a Brazilian university,
rooted in relations with the socio-economic context that are traversed by tensions and
paradoxes. It is considered that higher education institutions are dynamic and transform with
the changes taking place in society, culture, politics and economics. There is an assumption
on evidence that is the privileged locus for access to culture and science, and has its
guaranteed to create and disseminate knowledge existence. In recent years, numerous were
the spaces where discussions have focused to analyze the role of the university in
contemporary society were fought. Is undertaken in this thesis a substantive reading of reality
about the research and its conditions of achievement in academic areas. In this sense, this
investigation falls within the specificity of Higher Education, with emphasis on institutional
policies, focuses on the research and Postgraduate multicampi a state university, and has its
genesis in the projection scenarios. Aims to identify and analyze the policies and practices of
research at the State University of Mato Grosso (Unemat), with a view to designing scenarios
to strengthen research in its space that is Postgraduate. The thesis consists of successive and
articulated within a study multimethodological steps. This continuous process of analysis of
the literature and extends the documentary research , in addition to field research with semi-
structured interviews with three categories of participants (group leaders, coordinators
Postgraduate programs and former pro- rectors research and Postgraduate Studies). Analytical
procedures are content analysis, the network of meanings and qualitative/quantitative
approach, constituting a case study. The study is descriptive and exploratory in nature but is
permeated by an effort of categorical theoretical construct which emerges from the network of
meanings of the object. The categories are: research, Postgraduate, density and density of
teacher production, design and research funding, hypermodernity network society and
knowledge paradox individual/group/network. In this sense, the thesis is organized into four
parts representing the traveled path: the first methodological discussions are held, we draw a
map of the research and lists is their definition and justification. Then contextualizes the
conceptual network address is the tessitura of hyper (Lipovetsky), the network society
(Castells) and knowledge (Didriksson). The third is devoted to explore the scenario of which
highlights the history of universities and Unemat as a public institution in the State of Mato
Grosso. In the fourth parts, the constituent scenario identifies the constituent networks of
individual, institutional and ties for integration with their respective scenarios that are the
focus of this investigation meanings elements. Thus, the networks are composed of "tradition"
of doing research and economic policy (organization and structuring of regulatory acts)
elements (project financing), and ideological (research design and characteristics of the
researchers). Finally, in conclusive terms, signal up the connections that underlie the initiation
of the thesis stating that the university, through the Postgraduate is a source of knowledge, in
that it thickens and densified their policies and actions for the production of research among
the groups, projects and networks. This provides context and defined roles (the university and
the researcher) and deriving meanings of habitus and institutional environment that permeate
the design of purposeful for the integration of research scenarios.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE SIGLAS
AC – Análise de conteúdo
Anped – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação
ARWU - Academic Ranking of World Universities
Bionorte - Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal
BM - Banco Mundial
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
CEE/MT – Conselho Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso
CES - Câmara de Educação Superior
Cepax - Centro de Pesquisa Ambiental Araguaia-Xingu
CFE - Conselho Federal de Educação
Cindeci – Centro de Investigação sobre Desenvolvimento Humano e Educação Infantil
CMES - Conferência Mundial da Educação Superior
CNE – Conselho Nacional de Educação
CNPG - Conselho Nacional de Pós-graduação
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Concur - Conselho Curador
Conepe – Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
Consuni – Conselho Universitário
CP – Coordenador de Pós-graduação
CPEDA - Centro de Pesquisas, Estudos e Desenvolvimento Agro-Ambientais
CRES - Conferência Regional de Educação Superior
DAU - Departamento de Assuntos Universitários
DGPB - Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil
Dinter – Doutorado Interinstitucional
EEES - Espaço Europeu de Ensino Superior
Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Enlaces - Espaço de Encontro Latino-Americano e Caribenho de Educação Superior
Fapemat – Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Mato Grosso
FAPERGS - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FAP – Fundação de Apoio à Pesquisa
FCESC - Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres
FCUC/Fucuc - Fundação Centro Universitário de Cáceres
Fesmat - Fundação de Ensino Superior de Mato Grosso
FIDPEx – Fundo Institucional de Desenvolvimento da Pesquisa e da Extensão
Finep - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetário Internacional
GATS - General Agreement on Trade in Services
GEU – Grupo de Estudos sobre Universidade
GPO - Gestão de Pesquisa On Line
GTRU - Grupo de Trabalho para a Reforma Universitária
IES – Instituições de Educação Superior
IESC - Instituto de Ensino Superior de Cáceres
IFES - Instituições Federais de Ensino Superior
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LG - Líder de grupo
12
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................................07
ABSTRACT.............................................................................................................................08
LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................................09
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................10
LISTA DE SIGLAS................................................................................................................11
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................15
3 O CENÁRIO CONSTITUÍDO...........................................................................................80
3.1 À luz da história: os modelos de universidade.................................................................82
3.2 Pós-graduação: lócus da pesquisa....................................................................................93
3.3 A Unemat e sua trajetória sócio-política........................................................................105
3.3.1 Os campi e a questão da territorialidade.................................................................122
3.3.2 Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação: indução e promoção da pesquisa..........139
3.3.3 Síntese territorial: a geopolítica do conhecimento.................................................154
14
4 O CENÁRIO CONSTITUINTE.......................................................................................165
4.1 O perfil de quem pesquisa..............................................................................................166
4.2 O “pensar” sobre a pesquisa: concepções e experiências..............................................173
4.2.1 Cenário A – Rede de significações do pesquisador...............................................180
4.3 O “olhar” sobre a instituição: o operacional e a ambiência...........................................187
4.3.1 Cenário B – Rede de significações institucional....................................................205
4.4 O “agir” sobre a pesquisa: grupos e redes......................................................................217
4.4.1 Cenário C – Rede de significações dos laços para a integração...........................234
4.5 Síntese enriquecida: consolidação da pesquisa e da Pós-graduação..............................243
REFERÊNCIAS....................................................................................................................254
ANEXOS................................................................................................................................273
Anexo I – Estrutura organizacional (organograma) da Unemat.............................................274
APÊNDICES..........................................................................................................................276
Apêndice I – Quadro síntese da tese.......................................................................................277
Apêndice II - Entrevista semiestruturada Tipo I.....................................................................280
Apêndice III - Entrevista semiestruturada Tipo II..................................................................282
15
INTRODUÇÃO
Essa pesquisa é uma atividade voltada para a problematização de uma questão; uma
atividade de busca e indagação. Permitiu elaborar um conjunto de conhecimentos que auxiliou
na compreensão da realidade e orienta ações. Foi também entendida como um procedimento
formal, com método crítico, que requereu um tratamento científico e se constituiu no
desvelamento do contexto universitário do Estado de Mato Grosso. Acima de tudo, foi
considerada como uma investigação que solicitou análise e enfrentamento com o instituído.
Uma descoberta, uma invenção, uma criação, enfim... é uma tese!
O presente estudo se insere na área do conhecimento da Educação e na especificidade
da Educação Superior, com destaque para a gestão e as políticas institucionais, enfoca a
consolidação da pesquisa e da Pós-graduação numa universidade estadual, e tem sua gênese e
construção vinculada à reflexão de cenários propositivos.
A construção do objeto revelou enlaces dos fios da teia de significados produzida por
múltiplas composições advindas da realidade. Por isso, a decisão de investigar esta temática
não foi apenas uma opção teórica, ao contrário, foi produto das inquietações provocadas pelas
dificuldades de se fazer pesquisa na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
Na trilha dos dilemas e desafios que se impõem para a universidade na sociedade do
conhecimento e em rede, na obsolescência do trabalho dos pesquisadores na
hipermodernidade, esboçou-se a problemática desta investigação que foi expressa na questão
norteadora: em que extensão e significado as políticas e ações com relação à pesquisa na Pós-
graduação se configuram como adensadas e densas numa instituição pública de Mato Grosso.
A tese proposta compreende que a universidade, por meio da Pós-graduação é fonte
geradora de conhecimento, na medida em que adensa e densifica1 suas políticas e ações de
produção da pesquisa por meio dos grupos, dos projetos e das redes. Assim, sua consolidação,
1
A densidade reflete as características do que é denso, é a relação física entre uma massa de um corpo e seu
volume, sendo então uma distribuição de uma quantidade num espaço. O adensamento é compreendido como o
ato ou efeito de tornar-se denso, compacto, espesso, aumentando em número, enfim, avolumando-se (HOUAISS
e VILLAR, 2009).
16
pode acontecer por meio de três cenários: individual, institucional e da integração das
atividades de pesquisa. Essas projeções agregariam valor científico e disposição acadêmica.
A metáfora da rede foi utilizada em vários momentos ao longo desta tese, também
como uma analogia à Rede de Significações (RedSig) que indica a perspectiva teórico-
metodológica e a sintonia que se estabelece com as características da sociedade do
conhecimento organizada em rede. A representação metafórica sugere uma imagem mental
para ilustrar o problema e seu contexto.
Dessa forma, o objetivo dessa investigação foi identificar e analisar as políticas e as
práticas de pesquisa da Unemat, a qual busca desenhar cenários propositivos para a
consolidação da pesquisa e da Pós-graduação. Para o desenvolvimento deste estudo sobre a
universidade enquanto espaço de produção de conhecimento, o trabalho acadêmico aqui
apresentado se constitui de quatro capítulos, além da introdução e as considerações finais que
salientam os nexos e as proposições.
No primeiro momento, a escolha foi traçar o mapa da pesquisa para situá-la.
Realizou-se, assim, a problematização e delimitação inicial do objeto de estudo, indicando o
trajeto percorrido sobre a escolha da temática, bem como a justificativa e os objetivos da
investigação. Especificamente nesse primeiro capítulo, foi sinalizado o percurso metodológico
realizado. Destacou-se a concepção de pesquisa e os procedimentos relacionados à coleta e a
análise dos dados que deram sustentação metodológica a essa investigação. Caracterizou-se,
uma apresentação dos encaminhamentos metodológicos, à luz das categorias, tecendo a malha
que identificou os fios que compuseram a teia analítica, entre eles: a RedSig, a análise de
conteúdo (AC) e a abordagem quali/quantitativa. Apresentou-se ao final, uma síntese que
abarcou o sentido orientador desta investigação.
No segundo momento, foram trazidos à cena, para compor a rede conceitual,
diferentes olhares que configuram uma visão abrangente, não homogeneizadora, proveniente
de autores com posicionamentos diferenciados, de matizes que até podem se contrapor em
algumas abordagens. Num vasto campo teórico, foi feito um recorte de contribuições que
configuram as tessituras desta tese, busca-se um refinamento que cumpre a função de
fundamentação teórica. A intenção de uma abordagem híbrida fundou-se na trajetória
empreendida a partir dos estudos de intelectuais que apontaram práticas que desafiaram
antigas formulações. A ausência do reconhecimento de suas contribuições levaria de certo
modo a uma perspectiva parcial da realidade do ponto de vista de sua interpretação.
Na tese, este é o capítulo da configuração teórica com aprofundamentos a respeito da
hipermodernidade, por meio de leituras de Lipovetsky, assim como da sociedade em rede de
17
chave dessa pesquisa na busca de explicações que esses não contemplavam, numa
característica de complementaridade.
É presente para a autora dessa tese a diversidade de filiação dos autores escolhidos,
bem como os riscos que pode representar um ecletismo ou até mesmo o sincretismo que a
opção deles evidencia. No entanto, o histórico da Unemat e da PRPPG é multidimensional e
complexo e apenas uma abordagem teórica não abarcaria contemplar essa diversidade. Cabe
lembrar que de alguma forma tanto o objeto de pesquisa quanto as mudanças derivaram da
prática política da instituição e dos partícipes da regionalidade mato-grossense. E por essa
razão, compreendeu-se que a inovação na interpretação com múltiplos olhares teórico-
metodológicos desse contexto e do campo institucional, admite um processo influenciado pela
ação dos sujeitos, atores ou agentes dessa história.
Ao final desse capítulo, apresentou-se uma síntese territorial que procurou demonstrar
o sentido da geopolítica da produção de pesquisa na Unemat e seus territórios que enfatizam a
regionalização. Optou-se por fechar as arestas históricas e teóricas para os encaminhamentos
analíticos a serem revelados, ressaltando a estrutura multicampi e os nós das relações de poder
que emanam dos espaços circunscritos ao ato de reger na instituição (PRPPG) e que
permearam a discussão da produção da pesquisa nos campi.
No quarto momento, a rede de significações dessa tese foi desvelada no contexto
mato-grossense, compreendendo a Unemat, os entrelaçamentos da especificidade da pesquisa
e da Pós-graduação. Esse movimento foi realizado no exercício analítico dos dados
alavancados da realidade institucional e nas proposições dos cenários ao final de cada um dos
elementos analíticos que estão dispostos nesse capítulo.
Essas considerações futuristas foram realizadas depois de ser definido o perfil dos
pesquisadores e da caracterização dos líderes de grupos entrevistados na Unemat, Além disso,
apresentaram-se as concepções e experiências (rede de significações do pesquisador) e sua
interlocução com o operacional e a ambiência da pesquisa (rede de significações
institucional). Por fim, agregou-se uma discussão sobre os grupos e as redes de pesquisa (rede
de significações dos laços para a integração). Assim, foram privilegiadas as informações
coletadas para inferir como se impõe o financiamento dos projetos na Unemat, bem como a
garantia de espaço físico para sua execução. Essas são algumas das inúmeras reflexões que
compuseram os fios da trama do ato de pesquisar nessa instituição, que tem como
característica fundamental a estrutura multicampi e a regionalização.
Nesse capítulo, também foi passível de se identificar o adensamento e a densidade das
atividades de pesquisa realizada pelos líderes de grupos e pelos docentes envolvidos com a
20
2
O GEU foi criado em 1988, em 1995, desdobrou-se no GEU/Sociologia e GEU/Edu/Ipesq. Posteriormente,
foram também implementados dois grupos em IES no interior do Rio Grande do Sul: GEU/Universidade de
Passo Fundo e GEU/Universidade Federal de Pelotas (FRANCO, LONGHI e RAMOS, 2009). No ano de 2012,
foi instituído o GEU/Unemat, um grupo multicampi interinstitucional, alargando o espaço de atuação da rede,
alçando vôos em estados diferentes.
22
tem como objetivo a análise dos sistemas de Educação Superior e suas transformações, assim
como suas políticas de ciência e tecnologia, na perspectiva do desenvolvimento institucional.
Dentro do GEU, um dos subgrupos mais ativo é o GEU/Edu/Ipesq - “Universidade, pesquisa
e inovação”, que traça o perfil dos grupos de pesquisa em relação à origem, identidade,
continuidade, configuração e compreende o seu processo de institucionalização na articulação
política e sua corporificação na universidade. Além disso, se preocupa em captar e
compreender suas especificidades desdobradas na complexidade da universidade incluída a
diversidade de natureza, desvelando articulações entre a institucionalização de grupos e as
mediações para a pesquisa.
Essa tese tem seus propósitos amarrados ao GEU/Edu/Ipesq no levantamento da
organização da pesquisa e da institucionalização dos grupos. Também procura articular-se aos
objetivos na perspectiva de avaliação das ações e implementação de novas políticas e práticas
para as atividades de pesquisa, que pode desencadear sua consolidação na IES.
Os pressupostos teóricos apresentados ao longo da revisão bibliográfica sinalizam que
a universidade é a instituição dedicada a promoção e o espaço de socialização do
conhecimento. Em função do atual momento vivenciado, são dinâmicas, com compromissos e
contradições, e se projetam como centro aglutinador e multidisciplinar da produção da
pesquisa, com um espaço marcado pela ambiência institucional. É ao mesmo tempo uma
“agência de transmissão” e construção do conhecimento e um agente questionador desse
saber, onde se pode instigar a curiosidade, a ousadia e a iniciativa. Considera-se, também, que
a universidade está inserida numa dada realidade histórica, política e social, da qual é fruto e
na qual atua e intervém.
Dessa forma, é a instituição de geração e difusão do conhecimento, e esses princípios
inspiram as normas constitucionais que atribuem às funções de ensino, pesquisa e extensão.
Franco (2009) caracteriza a universidade como uma instituição de conhecimento por
excelência, marcada por um duplo papel na formação das gerações e na construção do
conhecimento, é o habitat propício para desencadear a força estratégica da produção da
pesquisa científica.
Legalmente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº.
9.394/96, em seu artigo 52, as universidades são consideradas instituições pluridisciplinares
de formação dos quadros profissionais de nível superior. Suas características são:
Na proposição dessa tese, se fez obrigatório num momento inicial retomar a história da
universidade3 e interrogar-se sobre seu papel e a natureza da sua função, antes mesmo de
querer sugerir cenários prospectivos. Isso supôs refletir sobre suas características
fundamentais e permanentes. Teixeira (1989) indica que “[...] não só cultiva o saber e o
transmite como pesquisa, descobre e aumenta o conhecimento humano [...] A universidade
faz-se o centro da elaboração do próprio saber, de busca desinteressada do conhecimento, da
ciência e saber fundamental básico” (p. 168 – grifo meu).
A universidade contemporânea defronta-se com imensas responsabilidades sociais que
não pode atender senão na sua atuação (ensino, pesquisa e extensão). Alves (1996) assinala:
Nessa concepção de universidade, é necessária uma estreita relação entre os seus três
eixos. Quanto ao papel do ensino, não deve se destinar apenas à formação da elite, mas à
qualificação de profissionais engajados na transformação da sociedade. O ensino oferecido
pelas universidades é uma das formas mais tradicionais de serviço prestado pelas IES,
fortalecendo e desenvolvendo o país. Para Saviani (1984), o ensino se destina à formação de
profissionais de nível superior e, se fundamenta basicamente na transmissão do saber;
enquanto que a pesquisa se destina a produção desses novos conhecimentos.
Dias Sobrinho (2010) externaliza que a formação profissional, realizada através do
ensino, é um dos mais importantes encargos da universidade, sendo tarefa “inarredável” da
universidade. Seja porque a sociedade necessita de profissionais qualificados; ou porque as
pessoas precisam ganhar a vida; ou porque é necessário formar cidadãos; ou por outros
motivos eminentes. Isto porque “[...] o grande diferencial da universidade é a produção de
conhecimentos, especialmente quando isso significa formação humana e desenvolvimento
econômico-social” (p. 35).
A extensão, segundo eixo do tripé, deve ser compreendida como a inserção da
universidade no contexto social por meio da prática. Botomé (1996) destaca que é uma ação:
3
Maior detalhamento será oferecido no capítulo três, onde constam os modelos mundiais que imprimiram
contornos nas instituições brasileiras.
24
Assim, pela sua natureza, é uma forma de democratizar o saber produzido na pesquisa
e acumulado ao longo dos anos. A Constituição Federal de 1988, no caput do artigo 207,
também enfatiza e reconhece a extensão como uma atividade pertinente ao fazer acadêmico,
indissociada do ensino e da pesquisa4 (BRASIL, 2007). Segundo Dias Sobrinho (2010) nem
mesmo a extensão pensada como um mecanismo que conecta mais diretamente a universidade
à sociedade, foge às ambivalências. Em algumas situações privilegiam programas
assistencialistas que não passam de um “arremedo” do sentido social da universidade.
Também, não pode ser compreendida como um mero balcão de negócios visando à
lucratividade, ou então, um possível “departamento de assistência social”.
A reflexão sobre o papel da extensão ganha importância diante da construção de um
sistema universitário pautado pela dimensão “pública” da Educação Superior, sem deixar de
considerar as particularidades da realidade específica de cada instituição. Calderón (2007)
identifica nesta perspectiva que sem a extensão, enquanto função real da universidade, o
ensino funciona precariamente, devido à quase ausência da inserção no contexto social.
Caracteriza-se, então, a importância da extensão universitária como atividade do fazer
acadêmico, relacionada ao ensino e à pesquisa5. Salientando um viés de responsabilidade
social da universidade brasileira com a sociedade que, ao expandir-se, proporciona a
socialização do conhecimento e o compromisso na construção de um mundo melhor.
A pesquisa, terceiro e não menos importante elemento deste tripé, pode ser
conceituada como alma geratriz da universidade e um dos instrumentos mais específicos de
sua atuação. Alves (1996) esclarece que: “[...] a investigação em todos os domínios da ciência
e da cultura são os objetivos primeiros, os postulados da Universidade no mundo
contemporâneo” (p. 55 – grifo meu).
Calderón (2007) complementa ainda que a pesquisa é um elemento inerente às
atividades de ensino; articulando-se ao desenvolvimento de habilidades orientadas à procura
do conhecimento. Assim, justifica-se pelos resultados que se tornam públicos e acessíveis, e
4
Vale ressaltar que foi a Lei N º 5.540, responsável pela reforma de 1968 incorporou várias características da
concepção universitária norte-americana, entre elas a ideia moderna de extensão universitária.
5
Esse é um dos cenários para a consolidação da pesquisa na Unemat que será detalhado no capítulo quatro. Uma
proposição similar já acontece desde 2010, com chamadas públicas de projetos de extensão com interface na
pesquisa, por uma das agências financiadoras de projetos no Estado de Mato Grosso, que é a Fundação de
Amparo à Pesquisa no Estado de Mato Grosso (FAPEMAT, 2013).
25
pela recepção e retorno que a sociedade dá a essas reflexões. Nessa perspectiva, a função
social da universidade não depende apenas de um status adquirido ao longo dos anos (lócus
de acesso ao conhecimento sistematizado), mas do livre-intercâmbio de informações,
publicações e atividades que renovem e revitalizem sua atuação. O lugar da pesquisa tem
sido, desta forma, redimensionado e refletido continuamente.
Considerando os dados coletados numa ampla consulta e análise da literatura que
foram encaminhadores de um estado de conhecimento6, evidenciam-se algumas reflexões
acerca da pesquisa, entre elas ser conceituada como cerne da universidade. Isso permitiu
elaborar um conjunto de conhecimentos, que caracteriza a atividade da comunidade de
pesquisadores e orienta suas ações.
Para Nunes (2012), quando se observa a atual situação das universidades, verifica-se
que a pesquisa é característica “quase exclusiva” da Pós-graduação, especificamente das que
possuem excelente qualidade no país. Levou-se em conta esse indicativo, assim como os
paradoxos da sociedade do conhecimento e em rede, conceitos e teorias que orientam essa
tese e que serão detalhados a posteriori, partiu-se para o estudo com a seguinte questão
norteadora: em que extensão e significado as políticas e ações com relação à pesquisa na Pós-
graduação se configuram como adensadas e densas numa instituição estadual?
Desse modo, consubstancia-se a problematização dessa tese no sentido de
compreender que a universidade, por meio da Pós-graduação é fonte geradora de
conhecimento, na medida em que adensa e densifica suas políticas e ações da pesquisa por
meio dos grupos, dos projetos e das redes. Sua consolidação pode acontecer por meio dos
cenários do habitus do pesquisador, da cultura institucional e da integração das pesquisas.
Para compreender substantivamente a propositura dessa tese7, é válido esclarecer o
conceito das duas categorias envolvidas na questão norteadora: densidade e adensamento.
Etimologicamente, densidade vem do latim densitas, substantivo que indica na Física, a razão
da massa específica de um corpo pela massa específica de um material de referência. A
densidade é a qualidade do que é denso que também vem do latim densu, e significa que tem
muita massa em relação ao volume, num sentido figurado intenso.
Essa problemática se articula à complexidade que envolve a universidade na
qualificação do quadro docente, nas instâncias decisórias e reguladoras, além das condições
6
“São produções acadêmicas que sintetizam um dado número de estudos, selecionados sob critério(s)
previamente estabelecido(s), sobre uma temática ou um recorte específico. A matéria-prima para tais estudos
pode ser bancos de resumos, produções para uma conferência, revisões de uma temática em periódicos
científicos, entre outros exemplos” (FRANCO, 2011, p. 152).
7
Ver mais detalhes no quadro síntese da tese (Apêndice I).
26
8
Consultar informações complementares sobre esses estudos em Nez (2013).
27
doutorado interinstitucional (Dinter) que contribuem para a qualificação docente, mas não
resolvem o problema da implementação da pesquisa e da articulação dos grupos.
Compreendendo a importância desse estudo para o desenvolvimento de ações
adequadas às dificuldades existentes, a tese em questão teve como objetivo geral: identificar e
analisar as políticas e as práticas de pesquisa da Unemat, busca-se desenhar cenários
propositivos para fortalecer a consolidação da pesquisa, enquanto produtora de conhecimento,
no seu espaço constituído que é a Pós-graduação.
Ao recuperar a questão de pesquisa dessa tese que foi em que extensão e significado as
políticas e ações com relação à pesquisa se configuram como adensadas e densas numa
instituição estadual, os desdobramentos do objetivo geral em específicos foram:
• Mapear o processo de institucionalização dos grupos e suas articulações, construindo
um quadro sinóptico para a compreensão da produção da pesquisa;
• Realizar um levantamento das formas de financiamento da pesquisa na Unemat,
revelando um paralelo demonstrativo do financiamento interno e externo;
• Configurar ações e silenciamentos da PRPPG, tendo em vista a construção de uma
linha do tempo identificando as políticas de pesquisa na Unemat;
• Identificar o conceito de pesquisa veiculado na instituição, bem como compreender as
ações existentes neste espaço universitário a partir das áreas do conhecimento;
• Compreender o contexto no qual afloram as práticas da pesquisa na Unemat,
analisando-o na conjuntura das políticas que marcam a universidade brasileira;
• Enfatizar a Pós-graduação, como espaço de produção da pesquisa, buscando
compreender seu movimento expansionista institucional, vislumbrando o
planejamento a longo prazo com vistas a sua ampliação;
• Sinalizar cenários propositivos para a consolidação da pesquisa e da Pós-graduação na
instituição, fortalecendo a construção de uma perspectiva para uma universidade
contextualizada na sociedade do conhecimento crítico.
Esses objetivos nortearam essa tese, buscando a reflexão crítica acerca das práticas de
pesquisa na Unemat, que alia a isso uma percepção da rede de significações da realidade
educacional no Estado de Mato Grosso.
produção científica por meio das redes, é possível salientar que refletir sobre o modelo de
organização e sobre a pesquisa na Unemat foram o eixo basilar neste estudo.
Com relação ao trajeto percorrido para a seleção do tema, enfatiza-se a necessidade de
verificar as práticas da pesquisa na Pós-graduação e apresentar desenhos alternativos de
cenários. Isso objetivou buscar um diálogo permanente com os envolvidos para se pensar o
planejamento da pesquisa que leve a IES a excelência acadêmica. Assim, a relevância
científica desta tese de doutoramento se colocou a partir da possibilidade de incremento de
caminhos para as políticas da pesquisa na Unemat, tendo como finalidade buscar uma maior
inserção nacional e quiçá internacional.
Também pode se destacar a relevância política que esteve orientada para a construção
de mecanismos de análises da regularização, do financiamento e da publicização que
visualizem o planejamento e a avaliação dos processos da produção do conhecimento. Isso
significou enfatizar as análises dos objetivos e das normas que regulam a atividade de
pesquisa, com vistas a torná-la mais efetiva. Desta forma, a proposição dessa tese foi
justificada como um momento reflexivo, servindo como um apontamento avaliativo para a
universidade. Chauí (2001) informa que essa avaliação é indispensável, pois, “[...] orienta a
política para suprir carências, resolver demandas, quebrar bolsões de privilégios e de
inoperância” (p. 124 – grifo meu).
Isto porque a universidade desse estudo é um espaço privilegiado para o pensamento
sistematizado e para o debate, que tem como objetivo a elevação cultural e científica da
comunidade mato-grossense. Logo, uma avaliação permanente e processual é vital para
identificar as ações para o fortalecimento da dimensão pública da instituição, que se efetiva a
partir de sua capacidade de representação social, cultural, científica e intelectual.
Os questionamentos dessa tese foram suscitados por uma pesquisadora comprometida
com essa universidade e, isto se fez presente na importância de se discutir a gestão.
Direcionou-se, assim, a atenção para um conjunto de questões pertinentes e merecedoras de
reflexões atentas, por parte daqueles que se propõem a produzir conhecimento na Educação
Superior. Enquanto instituição pública, a Unemat deve reconhecer que a avaliação de suas
ações é uma necessidade para atingir a qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão. Essa
tese é um ensaio de momento avaliativo, na medida em que se propôs pensar cenários
propositivos para o fortalecimento da pesquisa.
A temática escolhida correlacionada ao enfoque teórico abordado articulou uma
percepção crítica da realidade. Santos e Azevedo (2009) acrescentam que são chamados de
crítico “[...] os estudos que, ao analisar políticas implementadas, denunciam irregularidades,
29
9
Plataforma eletrônica do governo que comporta um sistema de informação e conhecimento para gestão da
ciência e tecnologia, tornando público os grupos e os currículos dos pesquisadores (PLATAFORMA, 2013).
10
Nos últimos anos houve perda significativa de docentes por motivos diversos, consultar justificativas em Nez
(2011).
11
Conforme será descrito no capítulo três, a Unemat é relativamente nova, sendo credenciada como universidade
há apenas vinte anos.
30
12
Entende-se que essas condições são relativas à qualificação do quadro institucional, criação de cursos de Pós-
graduação, organização do trabalho docente, disponibilidade de tempo, entre outros (FRANCO, 1997).
31
13
Essa perspectiva teórico-metodológica será detalhada em momento subsequente.
32
diferente do que foi, e se o presente é diferente do que poderia ter sido, deixando ao futuro o
desejo de transformar. Nessa perspectiva, somente o diálogo favoreceu um pensar crítico
sobre a Pós-graduação e os grupos de pesquisa da Unemat.
Quanto ao método utilizado, não há uma visão geral, porém, muitos concordam que
existem variações. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999) discutem essa questão ao
enfatizar que não há um modelo único para se construir conhecimentos confiáveis; e, sim,
modelos adequados ou não ao que se pretende investigar. É válido destacar que o método
utilizado fundamentou-se em uma rede de pressupostos, que definiram o ponto de vista que o
pesquisador teve do mundo, como pensou e em que acreditou. Richardson (1999) enfatiza que
esses pressupostos proporcionam as bases do trabalho científico, fazendo com que o mundo
seja interpretado relacionado a uma determinada perspectiva que escolheu a partir de alguns
elementos. Nessa tese, realizou-se uma pesquisa com perspectiva crítica, conforme poderá ser
observado ao longo do estudo.
Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999) esclarecem que essa abordagem crítica é
essencialmente relacional, pois se investigou o que ocorre nos grupos e instituições
relacionados à cultura e às estruturas sociais e políticas, em que procura entender de que
forma as redes são produzidas, mediadas e transformadas. Partiu-se do pressuposto de que
nenhum processo é isolado, acima dos conflitos da sociedade, no caso aqui, do espaço
universitário. Estão sempre profundamente ligados, vinculados, às desigualdades culturais,
econômicas e políticas que dominam a sociedade, portanto, a uma rede de significações.
Para as reflexões analíticas dessa tese, destacou-se que todo conhecimento estava
comprometido com um ponto de vista determinado, não pela subjetividade da pesquisadora,
mas pela totalidade na qual estava inserida e ocupa uma posição social e política. Para isso,
foi preciso que o pensamento fosse além do observável, concretiza-se nas abstrações, que se
apreendem e se constituem através do movimento.
Assim sendo, traçou-se um problema que foi situado e analisado criticamente. Foi
comparado às abordagens teórico-metodológicas e avaliado à confiabilidade dos resultados,
identificou-se pontos de consensos, controvérsias e lacunas que foram esclarecidas. Portanto,
o conhecimento obtido nessa pesquisa foi um conhecimento situado, vinculado a critérios de
escolha e interpretação de dados. A investigação científica, pois, foi um ato de construção,
onde cada elemento envolvido não foi apenas mais uma informação, contribuiu sumariamente
para o desenvolvimento das respostas adequadas ao problema suscitado.
Nesse estudo, o método representou um procedimento racional e ordenado, constituído
por instrumentos que utilizaram a reflexão para alcançar os objetivos pré-estabelecidos no
33
planejamento da pesquisa. Para tanto, foi acompanhado de técnicas que auxiliaram na procura
do resultado.
Com relação a esse exercício contínuo de pensar a metodologia coerente ao objeto de
estudo, Gatti (2007) reconhece que o conhecimento se faz por meio de uma variedade de
procedimentos e a criatividade do ato de inventar maneiras de realizar bons estudos. Os
procedimentos metodológicos utilizados para a implementação desta pesquisa, no que diz
respeito aos métodos e técnicas de coleta e análise de dados, foram ao encontro da concepção
de pesquisa utilizada que buscou a problematização crítica da realidade educacional da
Unemat, no que diz respeito à pesquisa e a Pós-graduação.
Esta investigação foi composta de etapas sucessivas e articuladas na qualidade de uma
pesquisa multimetodológica, que captou arremates diferentes. Esse processo circular e
contínuo de indagação e análise do objeto investigado foi em constante espiral. Desta forma, a
pesquisa se configurou num cerco em torno do problema. Gatti (2007, p. 63) destaca que: “É
necessário escolher instrumentos para acessar a questão, vislumbrar e escolher trilhas a seguir
e modos de se comportar nessas trilhas, criar alternativas de ação para eventuais surpresas,
criar armadilhas para capturar respostas significativas”. Para a execução desse cerco ao objeto
foram realizadas várias etapas, uma delas foi a pesquisa bibliográfica. Severino (2010)
ressalta que se constitui na base imprescindível de qualquer tipo de pesquisa, pois não existe
investigação científica, sem antes haver um conhecimento das contribuições teóricas
existentes em textos que abordaram o assunto estudado. Esse tipo de pesquisa foi realizado a
partir de textos que se tornaram fonte do tema pesquisado. Bruyne, Herman e Schoutheete
(1977) comentam que as teorias são redes que capturam e explicam o mundo.
Constituiu-se, então, o estado de conhecimento, sendo um estudo
quantitativo/qualitativo, descritivo da trajetória e distribuição da produção científica sobre um
determinado tema, que estabelece relações contextuais com um todo (MOROSINI, 2006b).
Esse estado de conhecimento apresentado ao longo desta tese contemplou os estudos e
trabalhos acadêmicos sobre as temáticas: universidade, pesquisa e Pós-graduação; e compõe
diretamente a rede de significações, uma das perspectivas metodológicas, que apresenta as
relações contextuais que podem ser capturadas da realidade contemporânea.
Outra fase basilar para o desenvolvimento dessa tese foi a pesquisa documental, que
aconteceu concomitantemente à pesquisa de campo. Foram levantadas as resoluções e
normativas do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conepe) que regulamentam a
pesquisa e a Pós-graduação na Unemat. Severino (2010) destaca que no caso desse tipo de
pesquisa, tem-se como fonte documentos que não tiveram tratamento analítico.
34
14
Para visualizar as informações do software indicado sugere-se o uso do CD-ROM que acompanha a tese.
15
As reflexões analíticas dos dados levantados no software serão apresentadas no capítulo quatro.
16
Os líderes de grupo serão identificados ao longo da tese pela sigla LG, acompanhada da numeração
correspondente ao controle das entrevistas. Estão discriminados por LG01, LG02, LG03, e assim
consecutivamente. Com esse cuidado ético, foram preservadas as identidades dos respondentes, garantindo o
sigilo da pesquisa. Também se aponta que fora utilizado o termo de consentimento, já apresentado na defesa do
projeto de tese, para esclarecimentos a respeito da identificação dos participantes.
35
explicitado sempre será o ponto de partida para a identificação do conteúdo, seja ele explícito
e/ou latente” (p. 16). Numa mensagem há significado e sentido, que não podem ser
considerados isolados, pois, “os dois modos pelos quais o sujeito se inscreve no texto
correspondem a diferentes representações que tem de si mesmo como sujeito e do controle
que tem dos processos [...]” (p. 19).
Com esses pressupostos, enfatiza-se que a AC é considerada um conjunto de técnicas
de análises de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens. Para Bardin (1977, p. 38) “A intenção da análise de conteúdo é a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção de mensagens,
inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos, ou não)”.
Os passos realizados para a execução da AC nesse estudo foram: inicialmente
descrever as situações, depois interpretar o sentido, tanto do histórico quanto das entrevistas
que remetiam a elementos da historicidade da instituição. Buscou-se com isso atender ao
objetivo que pressupôs elencar as ações e os silenciamentos da PRPPG nesse processo. O
primeiro momento, a dimensão descritiva, visou dar conta do que foi percebido; e o segundo,
a dimensão interpretativa, decorreu das interrogações da pesquisadora em face de seu objeto
de estudo (pesquisa e Pós-graduação). Bardin (1977) considera que o objetivo da AC é
compreender de forma crítica o sentido das comunicações através de uma descrição objetiva,
sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto ou latente das significações explícitas ou
ocultas do conjunto de informações.
Nesse sentido, um detalhe de grande relevância para esta tese foi apreender o
significado dos documentos encontrados, onde o pressuposto fundamental consistia na ideia
de que existia algo subjacente à comunicação linguística que precisava ser desvendado. É
necessário comentar que a quantidade de documentos existentes era pequena (principalmente
os relatórios de gestão da PRPPG) e nem sempre expressavam o que aconteceu naquele
período. Exatamente com essa justificativa, numa análise paralela aos documentos foram
realizadas as entrevistas com os Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação e dois LGs que
auxiliaram na compreensão da constituição dos fatos históricos da IES e da PRPPG.
Não se pode deixar de esclarecer que a AC é uma técnica e não um método. Utilizou-
se desta forma, um procedimento que confrontou o quadro teórico e o material empírico
recolhido ao longo da pesquisa documental e de campo. Por isso, foi possível sua aplicação,
enquanto procedimento analítico, no âmbito de uma perspectiva multimetodológica crítica.
Reporta-se novamente a pesquisa documental que contou, por fim, com um
levantamento dos currículos lattes de todos os entrevistados e do quadro docente dos oito
36
17
A entrevista dos líderes de grupos foi dividida em partes para fins de procedimentos analíticos. Conforme
pode ser visualizado no apêndice II, a parte I (identificação e caracterização) recebeu tratamento estatístico, além
de inserções de análises qualitativas. Na parte II (contato e concepção de pesquisa) foram utilizadas as seguintes
metodologias: quantitativa e AC. Já na parte III, as quatro primeiras questões tiveram reflexões quali/quanti e
nos desdobramentos da penúltima e na última questão foi realizada AC.
18
Seguindo orientações da Professora Jandyra Maria Guimarães Fachel que compõe a equipe do Núcleo de
Assessoria Estatística (NAE), do Instituto de Matemática da UFRGS, foi utilizado o software Statistical Package
37
dependência funcional entre variáveis para tratar partes do fenômeno estudado. Gamboa
(1995) considera que a pesquisa quantitativa identifica os elementos constituintes do objeto
estabelecendo a estrutura e a evolução das relações entre os elementos. Seus dados são
métricos (medidas, comparação, padrão) e a abordagens é hipotético-dedutiva.
Correlacionado aos processos quantitativos, foi utilizada a abordagem qualitativa, isto
aconteceu porque algumas informações não puderam ser apenas quantificadas e precisaram
ser interpretadas de forma ampla, do que apenas circunscrita ao dado objetivo. Essas
abordagens que subsidiaram as reflexões sobre o material variaram em função dos objetivos
de cada parte da entrevista. Gatti (2001) esclarece que
for the Social Sciences (SPSS) para tratamento estatístico. Esse aplicativo é um dos programas de análise mais
utilizado nas Ciências Sociais, e também referenciado por pesquisadores de outras áreas do conhecimento
(STATISTICAL, 2013).
38
dimensões presentes numa situação, focalizando-a como um todo, sem deixar de enfatizar os
detalhes e as circunstâncias específicas que favoreceram a apreensão do todo.
Esse estudo de caso se diferencia de outras metodologias, que poderiam ter sido
utilizadas, quando tem como característica distinta a ênfase na singularidade e no particular.
Isso implicou examinar a Unemat como uma representação única da realidade
multidimensional e historicamente situada em Mato Grosso, resultando na ênfase da
importância da contextualização e problematização.
Na composição desse estudo, na pesquisa de campo foram utilizados os seguintes
instrumentos para coleta dos dados com as respectivas amostras:
Notas:
* Há três LGs que possuem, cada um deles, dois grupos. Assim, o total de grupos seria de oitenta e seis; mas a
quantidade de respondentes são de oitenta e três, sendo que esse será o total utilizado nas análises empreendidas
ao longo da tese.
** Vale ressaltar que dentre os sujeitos entrevistados (líderes de grupos, pró-reitores e coordenadores de
programas) há pesquisadores que se repetem e estão presentes em mais de uma categoria da amostra. Como no
caso de quatro coordenadores e três pró-reitores, que também são líderes. Sendo assim, do total de noventa e oito
e retirando-se as duplicidades, o número real de entrevistados respondentes é de oitenta e oito.
Ainda com relação à amostra, destaca-se que não se constituiu por acaso, mas em
função de características específicas de intencionalidade (pesquisadores) e estruturada em
categorias: LGs, coordenadores de Pós-graduação (CPs19) e pró-reitores de pesquisa e Pós-
graduação (PRs20). Guerra (2008) salienta que a escolha de uma pessoa, situação ou local para
fazer uma análise intensiva, também caracteriza o estudo de caso.
Tradicionalmente, Severino (2010) indica que as entrevistas são concebidas como
estudos exploratórios, uma técnica de coleta de informações sobre um assunto, diretamente
solicitadas aos sujeitos. Gil (2009) comenta ainda que é eficiente para obtenção de dados em
profundidade acerca dos mais diversos aspectos da vida social e a mais flexível de todas as
técnicas de levantamento de informações. “Como os estudos de casos são guiados por
questões de pesquisa, é natural que as entrevistas tenham algum direcionamento” (p. 64).
Assim, a entrevista é reconhecida como a mais adequada para este tipo de estudo,
proporcionando aos respondentes, abertura nas respostas e sua explicação livre. As questões
se caracterizaram por meio de um teor orientado, mas com significativos graus de
espontaneidade do participante. Esse foi um momento ímpar de interação entre a pesquisadora
e os pesquisados que visou apreender o que os sujeitos pensaram, sentiram e fizeram, assim
como conhecer de que forma a instituição se comportou. Além disso, proporcionou visitas in
loco aos campi da IES para compreender as dificuldades regionais que cercam cada um deles
com relação à pesquisa.
É indispensável comentar que se poderia encontrar problemas para entrevistar todos os
LGs. Além é claro da dificuldade proveniente da distância geográfica envolvida entre os
campi e o fato da pesquisadora estar trabalhando durante o período de execução da coleta de
dados, que ocorreu ao longo do ano de 2012. Todavia, os pesquisadores contatados se
mostraram solícitos, compreenderam esse momento como uma forma de exprimir suas
angústias e apontar os desafios que percebem para a Unemat. Uma pequena parte do montante
(dezesseis entrevistas) foi realizada por email, pois os líderes estavam afastados para
qualificação em outros estados brasileiros e/ou fora do país, o que inviabilizou um encontro
presencial. Apenas uma quantidade mínima de líderes não participou21.
19
Os coordenadores de Pós-graduação foram representados pela sigla CP, seguida da ordenação correspondente
a entrevista. Manteve-se o mesmo padrão de anonimato já explicitadas para os LGs.
20
Assim como os LGs e o CPs, os pró-reitores de pesquisa e Pós-graduação receberam a denominação PR.
Garantiram-se, desta forma, as identidades dos respondentes e o sigilo da pesquisa, ajustado no termo de
consentimento que acompanhou a entrevista.
21
Dos contatados, apenas quatro se recusaram a participar alegando falta de tempo. Outro líder não faz mais
parte do quadro docente da IES e três não foram conseguido nenhum tipo de contato. E, ainda, dois
pesquisadores afastados sinalizaram que gostariam de participar, mas infelizmente, até o momento do
fechamento da coleta de dados não houve devolutiva das informações.
41
22
As concepções e experiências dos pesquisadores serão apresentadas nas análises quali/quanti no capítulo
quatro. Já a descrição dos perfis dos campi da IES serão explicitados no item 3.3.1.
43
simultaneamente imersos e submetidos em, e constituídos por elas, e esse movimento produz
múltiplos significados.
Neste sentido, Gentil (2005) comenta que a rede é um processo dinâmico, pois a cada
situação um elemento se destaca e provoca a rearticulação de vários outros nas situações
analisadas. O que se ressalta é um exercício “de ir e vir” ou de figura-fundo que articulou
conhecimentos e significados singulares sobre a pesquisa em cada campus da instituição, e
simultaneamente, representativos da regionalidade do Estado de Mato Grosso. Foi exatamente
isso que ocorreu na construção do histórico da Unemat e da linha do tempo da PRPPG. Foram
processos dialógicos, e emergiram angústias e preconceitos, ocorreram transformações e
reconstrução de significados e valores.
Essa investigação ocorreu num contínuo processo de reflexão onde em alguns
momentos, foi preciso privilegiar alguns elementos que se destacaram e aprofundou-se o
estudo sobre eles. Em outros, foi preciso buscar uma visão determinada da interação entre
esses elementos e a configuração advinda de uma relação complexa. Por isso, a pesquisa foi
caracterizada como multimetodológica, acentuando os vários tipos de abordagens utilizadas
na busca da compreensão da realidade da Educação Superior mato-grossense. Rossetti-
Ferreira, Amorim e Silva (2000) destacam que há uma configuração semiótica que
[...] estrutura um "meio" que, a cada momento e situação, captura e recorta o fluxo
de comportamentos das pessoas, tornando-os significativos naquele contexto [...]
Pessoas e redes de significações sofrem mútuas e contínuas transformações,
canalizadas por características físicas e sociais do contexto, numa dinâmica
segmentação e combinação de fragmentos de formações discursivas e ideológicas,
experiências passadas, percepções presentes e expectativas futuras [...] (p. 01 – grifo
da autora).
estudo um sujeito histórico em ação. As duas juntas tentaram observar, ao mesmo tempo, o
sujeito e a sociedade em interação e os fatos que os acompanharam.
Ainda sobre a abordagem da AC, é necessário dizer que não se constituiu num fim em
si mesmo, mas um instrumento para atender a determinados objetivos dessa investigação. Seu
valor e sua força se sobrepuseram na soma dos recursos oferecidos pela técnica e no substrato
oferecido pelo referencial teórico mediante, o qual foi analisado o material empírico
recolhido. A escolha de uma perspectiva de cunho multimetodológico se fez eminente porque
apenas a AC não daria conta de perceber uma realidade onde os fenômenos apresentaram uma
variedade de ponto de vistas que integravam um todo complexo. A RedSig complementou e
possibilitou observar essas múltiplas dimensões interativas, para melhor compreender os
fatos, tendo como estatuto epistemológico a historicidade e a contextualidade, enquanto a AC
foi sistêmica e estrutural.
Isso significa dizer que a interlocução entre essas duas abordagens trouxe um processo
analítico avançado com detalhamento apurado do que se encontrou na realidade, revelou-se
um passo a mais do que apenas um dado quantitativo. O que estava escrito, ou foi falado, ou
pode ser mapeado, foi o ponto de partida para a identificação do conteúdo implícito ou
explícito dos dados coletados ao longo do processo de investigação. Em alguns momentos foi
necessário colocar a rede em suspensão, buscou-se a revelação de algo diferente ao
circunscrito. Isso gerou interconexões e apresentou facetas diferentes de uma mesma
realidade que se complementaram e provocou aprofundamento analítico.
Quanto às explicações quantitativas não aparecem em relevo nessa tese, perpassam
transversalmente as outras formas analíticas (a RedSig com o contexto e a AC dos dados
levantados). Serviu como um contraponto a ambas as perspectivas e funcionou como um
reforço validativo de alguns elementos analisados.
A adoção de diferentes fontes que se cruzaram, capturam-se os sentidos e os
significados de uma pesquisa multimetodológica intermediaram a passagem de uma
abordagem apenas quantitativa para a intensificação de uma pesquisa qualitativa. Houve,
então, um vínculo entre o objetivo e a subjetividade que não pode ser traduzida em números.
Capturam-se os diferentes significados, de modo a auxiliar na compreensão das relações entre
os indivíduos e suas ações se alinhavando, à RedSig. A interação com o objeto estudado
(visitas aos campi e as entrevistas) se tornou destaque nesse estudo de natureza qualitativa.
Para tratamento dos dados foi necessário então escolher uma abordagem que fosse coerente
com o enfoque crítico, uma vez que a problemática se propusera a trabalhar com questões
interpretativas, na busca por cenários propositivos para a pesquisa e a Pós-graduação. Além
48
disso, tal abordagem proporcionou uma postura permanente de indagação para se conhecer o
contexto da realidade mato-grossense.
Ainda, na busca de um prisma qualitativo, a análise do material não foi linear, foi
cíclica e circular. Isso porque os dados não falaram por si, fazendo-se necessário extrair seus
significados, o que não foi atingido num único esforço, mas sim, mediatizado ao retorno
periódico. Esse movimento intenso buscou significados (implícitos e explícitos), atingidos por
intermédio de um progressivo refinamento das categorias.
É notório que, no início do trabalho de campo, a pesquisadora não possuía todas as
categorias predeterminadas, mas havia delineado um quadro conceitual, bem como os
objetivos deste estudo. Através dos procedimentos analíticos, houve um constante diálogo
entre a teoria e a prática que auxiliou na definição das outras categorias que foram emergindo.
A pesquisa realizada foi uma teorização fundamentada numa contínua análise
comparativa dos dados em que se construíam progressivamente as categorias, que foram
novamente confrontadas com a realidade. Assim, seguiu-se o processo hipotético-dedutivo de
identificação das categorias sugerido por Bardin (1977). Utilizou-se uma determinada
construção teórica que serviu de instrumental metodológico orientando a investigação.
Barbosa Franco (2008) considera que:
As categorias vão sendo criadas à medida que surgem nas respostas, para depois
serem interpretadas à luz das teorias explicativas. Em outras palavras, o conteúdo,
que emerge do discurso, é comparado com algum tipo de teoria. Infere-se, pois, das
diferentes “falas”, diferentes concepções [...] (p. 61 – grifo do autor).
Dessa forma, para construir categorias foi preciso examinar preliminarmente aos
dados descobrindo aspectos regulares e concorrentes. Estava implícito na AC que um critério
para determinar sua relevância seria a frequência de ocorrência, mas essa não seria a única
possibilidade de identificá-las. Para Franco e Wittmann (1998) as categorias podem ser:
referentes, conceituais e substantivas.
Quanto à categoria referente, foi delimitada nos contornos de abrangência do objeto,
caracterizando um recorte específico. Isso porque foi o conceito inicial escolhido numa
categoria referente, mas, ao ser construído no processo analítico se inseriu numa categoria
substantiva que vai servir novamente de referência na fase seguinte. Já a categoria conceitual
iluminou a organização e a compreensão das informações, inserindo os resultados em um todo
interpretativo. Marcaram teórica e metodologicamente o estudo e o fundamentaram,
direcionando o olhar. Com relação à categoria substantiva, foi desvelada no processo de
49
investigação, a partir da análise das informações obtidas nas várias fontes documentais
(FRANCO e WITTMANN, 1998).
As categorias a priori analisadas se propuseram a reflexionar inicialmente sobre:
pesquisa, grupos, Pós-graduação, adensamento e densidade e se desdobraram e noutras que
podem ser observadas no Apêndice I. É preciso, pois levar em conta que esse processo de
categorização envolveu não só conhecimento lógico, intelectual, objetivo, mas também,
conhecimento pessoal, intuitivo, subjetivo e experiencial.
Finalmente, é possível considerar que conforme características, restrições e vantagens
dos procedimentos citados ao longo da malha metodológica nesta tese, acreditou-se que a
melhor forma de se visualizar os dados e promover uma análise coerente foi à integração entre
as várias abordagens. Pois para se analisar com fidedignidade uma situação foi necessário o
uso da variedade metodológica. O que desvelou a importância de cada uma delas foi o
propósito da pesquisa, a natureza do objeto estudado e o encaminhamento da investigação.
A guisa de algumas constatações e a partir da síntese de exposição dos pressupostos
teórico-metodológicos (estudo de caso, RedSig, AC e abordagem quali/quantitativa) pode-se
dizer que a análise da realidade não foi uma reflexão diletante, mas uma reflexão para a
transformação (FAZENDA, 1989). Foi nessa perspectiva que os grupos e as políticas de
pesquisa foram compreendidos no universo da Educação Superior do Estado de Mato Grosso.
50
23
Termo de origem grega que significa padrão e teve diferentes significados ao longo da história. Uma das
referências teóricas foi Kuhn, que procurou compreender a história do pensamento na segunda metade do século
XX. Sinteticamente, é aquilo que os membros de uma comunidade científica compartilham. Esse conceito tem
forte componente sociológico, pois está associado à ideia de comunidade de investigação científica (KUHN,
1978). Em termos gerais, na tese, usar-se-á o termo para definir uma visão de mundo, que serve como referência
para analisar fatos e fenômenos. Um paradigma não é atemporal e deslocado, está situado num momento
histórico e impregnado de valores, muitas vezes impostos pela sociedade.
52
teórico foram inseridos de maneira orgânica, na busca de uma síntese relativamente original,
derivada de uma combinação de contribuições de diferentes perspectivas.
24
É a contradição cultural do capitalismo. De um lado, exige-se que o indivíduo trabalhe muito, aceitando deixar
para depois as recompensas e satisfações, caracterizando-se uma engrenagem da organização. De outro lado,
encoraja-se o prazer, a descontração, o deixar-andar. “É preciso ser-se consciencioso de dia e libertino à noite”
(LIPOVETSKY, 1996, p. 117).
25
É um sistema de ações eficientes, baseadas no conhecimento científico que se orienta tanto para a natureza
quanto para a sociedade, visando a transformação do mundo (BAUMGARTEN, 2005).
26
Palavra de origem anglo-saxônica, Chesnais (1999) opta por utilizar a expressão mundialização que provem
do francês, designando o quadro político e institucional no qual um modo específico de funcionamento do
capitalismo foi se constituindo desde o início dos anos 80, em decorrência das políticas de liberalização e de
desregulamentação adotadas pelos países industriais, encabeçados pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha.
Nessa tese, as duas palavras serão utilizadas como sinônimos, compreendendo as limitações dos conceitos, em
tempo é possível esclarecer a compreensão de que a globalização é um campo contraditório dos diversos
fenômenos interdependentes que interferem na vida das pessoas. É um processo multidimensional em contínua e
complexa atuação e mútua dependência do mercado, da política, da ciência e da educação.
54
Ao mesmo tempo em que a modernidade foi um grande ciclo histórico dominado pelo
futuro, a pós-modernidade se apresenta como uma saída da “prisão”. A sociedade que se
implantou até os anos 70 estava centrada no presente, indicando o fim das grandes crenças
políticas. Isso legitimou a ideia de pós-modernidade que surgiu inicialmente no discurso
arquitetônico, e rapidamente mobilizou e abalou os alicerces absolutos da racionalidade e o
fracasso de grandes ideologias da história (LIPOVETSKY, 2011).
Pereira (2003) levanta a reflexão da modernidade, ao trazer à tona a essência humana
como parte da construção do conhecimento. Esse período não advoga que se vivem problemas
novos, mas que a forma de abordá-los passa a ter outro direcionamento. Porém, não apresenta
evidências para um confronto, ao contrário sugere uma “[...] força política dos
questionamentos sobre os alcances da modernidade norteada pelo fechamento de seus
paradigmas. Apresenta uma nova postura que se desenha nos caminhos do conhecimento,
como resultado de uma nova tomada de consciência” (p. 102).
A pós-modernidade tem seus questionamentos dirigidos ao pensamento científico
como saber único. Para Lyotard (1989) isso foi por séculos hegemônico, hoje existe um maior
entendimento de que não seja o único saber. Com esses indicativos, é compreensível dizer que
Os fatos que eu estava assinalando, assim como os demais teóricos, são bem
pontuais: o fim das ideologias, o surgimento de uma nova cultura hedonista, o
destino da comunicação e do consumo de massa, o psicologismo, o culto do corpo.
Todas essas realidades mostravam que havia um novo capitalismo e também um
novo tempo da vida democrática. Foi para marcar essa mudança muito importante
que empregamos o conceito de pós-moderno, assinalando, assim, uma bifurcação.
Entendo que isso foi correto e verdadeiro naquele momento (LIPOVESTKY, 2011,
p. 01).
27
Outros autores categorizam esse período com aproximações e dissonâncias, Bauman (2001) o chama de
modernidade líquida. “Diferentemente da sociedade moderna anterior, a que eu chamo de modernidade sólida,
que também estava sempre a desmontar a realidade herdada, a de agora não o faz com uma perspectiva de longa
duração, com a intenção de torná-la melhor e novamente sólida. Tudo está agora sempre a ser permanentemente
desmontado, mas sem perspectiva de nenhuma permanência. Tudo é temporário” (p. 22). É por isso que o autor
sugere a metáfora da liquidez para compreender o estado da sociedade, que, como os líquidos, se caracterizam
por uma incapacidade e instabilidade de manter a forma.
56
28
“Com o processo de personalização, o individualismo sofre um aggiornamento que designamos aqui, na
esteira dos sociólogos americanos, como narcísico: o narcisismo, consequência e manifestação miniaturizada do
processo de personalização, símbolo da passagem do individualismo limitado ao individualismo total, símbolo
da segunda revolução individualista” (LIPOVETSKY, 1996, p. 12).
29
Verificar mais informações sobre essa discussão no capítulo quatro.
57
ritmo hipermoderno para não sumir. Tudo acontece rapidamente como se tivesse ido do pós
para o hiper, nascendo outra sociedade. “Hipercapitalismo, hiperclasse, hiperpotência,
hiperterrorismo, hiperindividualismo, hipermercado, hipertexto - o que mais não é hiper? O
que mais não expõe uma modernidade elevada à potência superlativa? Ao clima de epílogo
segue-se uma sensação de fuga [...]” (LIPOVETSKY, 2012, p. 01).
O prefixo pós se volta para o passado. Enquanto que o prefixo hiper dá uma dimensão
de futuro e para frente. Nessa nova condição há consumo comercial da relação com o tempo,
prevalece uma escalada ao extremo e a uma dinâmica ilimitada, a uma “espiral hiperbólica”.
Nessa sociedade, o tempo é cada vez mais visto com preocupação, se exerce uma pressão
temporal crescente e constante. Para Lipovetsky (2004) “estamos em um mundo de
incertezas, de risco. Tudo isso me faz rejeitar o conceito de pós-moderno. Essa conceituação
tinha um sentido cultural e não estrutural” (p. 38).
Trata-se, assim, não mais de sair do mundo da tradição para se chegar à racionalidade
moderna. Ao contrário, Lipovetsky (2004) aventa a possibilidade de “[...] modernizar a
própria modernidade, racionalizar a racionalização – ou seja, na realidade destruir os
‘arcaísmos’ e as rotinas burocráticas, por fim à rigidez institucional e aos entraves
protecionistas, relocar [...]” (p. 56 – grifo do autor). É a remobilização das crenças
tradicionais, o indivíduo híbrido entre o passado e o presente, e não exclusivamente a
autocrítica do conhecimento científico. Muito mais do que apenas uma expectativa quanto a
um prefixo e sua discussão retórica, o termo define a situação paradoxal da sociedade,
dividida de modo esquizofrênico entre a cultura do excesso e o elogio da moderação.
Lipovetsky (2011) aponta ainda que a hipermodernidade é caracterizada como um
momento conflitante, a modernidade passou para uma velocidade superior em que tudo hoje
pode ser levado ao excesso. Assim, não tem limites, e o triunfo do mercado através da
globalização, serve como evidência de que se vive na era hiper.
Nessa tessitura, dois nexos constitutivos ainda precisam ser ressaltados, o
hiperconsumo e o hiperindividualismo. No primeiro caracteriza-se o surgimento de um
consumidor volátil e fragmentado. Ao mesmo tempo, a expansão de um consumidor mais
experiencial/emocional do que ligado apenas ao status da compra. Consome-se mais para
satisfazer o eu do que para ganhar o reconhecimento dos outros. Assim, “comprar é sentir o
gozo, é adquirir uma pequena revivescência no cotidiano subjetivo. Talvez esteja aí o sentido
definitivo da engrenagem hiperconsumista” (LIPOVETSKY, 2004, p. 121).
O mundo do consumo e da propaganda aparece como um sonho jubiloso. A sociedade
se exibe sob o signo do excesso e da fartura. Os tempos hipermodernos exigem hipermercados
58
e shopping centers gigantescos que contenham espaço para divulgar os produtos. Devem ser
sofisticados, pois sua clientela é cada dia mais egocêntrica, chegando a ser hiperindividualista,
compreendendo o consumismo como uma forma de compensar a angústia existencial. Para
Lipovetsky (2004)
Nasce toda uma cultura hedonista e psicológica que incita à satisfação imediata das
necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o florescimento pessoal,
coloca no pedestal o paraíso do bem-estar, do conforto e do lazer. Consumir sem
esperar; viajar; divertir-se; não renunciar a nada: as políticas do futuro radiante
foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico ( p. 61).
Lampert (2005), a universidade principal gestora de ciência, precisa refletir sobre essa nova
cultura, encontrando saídas possíveis e salutares para analisar as diversas modalidades de
compreender o mundo. Espera-se que esses desafios trazidos pela hipermodernidade tornem-
se o passaporte para uma resposta audaciosa e urgente da universidade.
Pois, para atender a uma modernidade elevada a potência superlativa, é necessário
buscar um discurso e uma prática que encontre saídas para a desvalorização do diploma. Na
atual configuração do capitalismo e na globalização econômica, há um incentivo ao
sucateamento das qualificações e a precarização do trabalho, não só nas universidades, mas
em todos os postos de trabalho. A partir do exposto fica evidente a complexidade do momento
vivenciado pela universidade. Anuncia-se, agora uma sociedade organizada em rede, onde as
tecnologias ocupam posições dominantes na estrutura econômica, caracterizando a segunda
tessitura conceitual.
30
Para Castells (2001) esse paradigma é um agrupamento de inovações técnicas, organizacionais e
administrativas inter-relacionadas cujas vantagens podem ser descobertas não apenas em uma nova gama de
produtos, mas sobretudo na dinâmica dos custos dos insumos para a produção.
31
Também estudada por Lévy que se utiliza da tipologia cibercultura para sinalizar um espaço de interações
propiciado pela realidade virtual, para explicar que as pessoas experienciam uma nova relação espaço-tempo.
Serve-se da mesma analogia da rede para indicar a formação de uma “inteligência coletiva”. Para Simões (2009),
muito embora as linhas analíticas de Castells e Lévy sigam caminhos diferentes, (o primeiro numa abordagem
marxista da sociedade e o segundo com um pensamento antropológico), há um aspecto que não pode ser
desconsiderado na intersecção dos pensamentos: “não é possível mais ignorar o impacto dessas tecnologias à
vida humana, muito menos à vida em sociedade” (p. 02).
60
32
Por informação, Castells e Bell entendem o processamento de dados em uma perspectiva ampla, com o
armazenamento e sua recuperação, tornando-se o recurso essencial para todas as trocas econômicas e sociais. Já
o conhecimento, é entendido como um conjunto organizado de declarações, de fatos ou ideias que apresentam
julgamento lógico ou resultado de comunicação de alguma forma sistemática. A partir da década de 70, a
informação e o conhecimento adquirem uma projeção social e econômica, na medida em que dentro dessa lógica
de geração, processamento e transmissão da informação, as inovações e o conhecimento vão se tornar a marca
dessa economia e dessa sociedade (CASTELLS, 2001).
62
Informação domina o espaço de lugares das culturas das pessoas. O tempo intemporal, como
tendência social rumo à invalidação do tempo pela tecnologia, supera a lógica do tempo
cronológico da era industrial”.
Ainda é oportuno indicar que o espaço de fluxos é a organização material das práticas
sociais de tempo compartilhado. Castells (2001) enfatiza que se compõe de três camadas: a
primeira formada por um circuito de impulsos eletrônicos; a segunda constituída por seus nós
(centros de funções estratégicas); e a terceira refere-se à organização espacial das elites
gerenciais dominantes que exercem as funções de gestão e direção.
Nas reflexões dessa tese sobre pesquisa e Pós-graduação na Unemat, uma dessas
camadas se torna eminente de ser compreendida, visto que permeia discussões posteriores a
serem feitas sobre a territorialidade, o global e o local no processo de produção de
conhecimento na universidade. Essa camada destacada é a segunda, que indica que esse
espaço de fluxos não é desprovido de lugar, embora sua estrutura lógica indique que seja.
Alguns lugares são os nós ou centros das redes, isto é, a localização de funções
estrategicamente importantes que constroem uma série de atividades em torno de uma função-
chave na rede. Castells (2001) complementa que os principais processos “são articulados em
redes que ligam lugares diferentes e atribuem a cada um deles um papel e um peso em uma
hierarquia de geração de riqueza, processamento de informação e poder, fazendo que isso, em
última análise, condicione o destino de cada local” (p. 439).
Tanto o espaço quanto o tempo são transformados sob o efeito combinado do
paradigma da tecnologia da informação e das formas e processos sociais induzidos pela
transformação histórica. Destarte, o espaço organiza o tempo na sociedade em rede. Enfim, o
espaço de fluxos não permeia toda a esfera da experiência humana. Os indivíduos também
percebem seu espaço com base no lugar, concebido como um local cuja forma, função e
significado são independentes dentro das fronteiras da contiguidade física.
De acordo com Castells (2001), as sociedades são formadas pela interação entre a net
e o ser, entre a sociedade e o poder da identidade. O lugar também conduz a compreensão do
conceito de identidade como fonte de significado e experiência. Constituem-se como
nascentes de significado para os atores e construídas por meio de um processo de
individualização; pois que organizam papéis e funções. Do ponto de vista sociológico, toda e
qualquer identidade é construída. Porém, o processo de globalização estudado sob a ótica da
cultura, tem apontado para um fenômeno aparentemente contraditório: quanto mais intensa a
mundialização das relações, mais fortes se articulam os grupos e os projetos.
64
é a mistura de tempos para criar um universo eterno que não se expande sozinho,
mas que se mantém por si só, não cíclico, mas aleatório, não recursivo, mas incurso:
tempo intemporal, utilizando a tecnologia para fugir dos contextos de sua existência
e para apropriar, de maneira seletiva, qualquer valor que cada contexto possa
oferecer ao presente eterno (CASTELLS, 2001, p. 460).
contraditórias de acordo com a dinâmica espacial” (p. 490). O espaço de fluxos dissolve o
tempo desordenando tornando-os simultâneos, instalando, a sociedade na efemeridade eterna.
A partir desses indicativos, é perceptível que a sociedade em rede, como qualquer
outra estrutura, não deixa de ter contradições, conflitos sociais e provocações de formas
alternativas de organização social. Porém, são instigados pelas tramas dessa sociedade,
personificados por diferentes sujeitos. Mesmo apresentando desafios, a compreensão do
momento atual requer a análise dos seus desdobramentos e sua influência na sociedade e
principalmente nessa tese que vislumbra discutir a universidade inserida nesse contexto.
Como tendência histórica, admite-se que a inovação seja a fonte principal de
produtividade, e que os conhecimentos e a informação sejam os elementos essenciais desse
novo processo produtivo (CASTELLS, 2000). Essa é a encruzilhada que se vive no processo
de desenvolvimento da sociedade em rede, uma crescente contradição que caracteriza a
expansão das forças produtivas, isso explica a centralidade da Educação Superior no
capitalismo reestruturado nessa era global.
Com essa lógica, desenha-se a teia que une e move as inúmeras mutações verificadas
na sociedade, estreitamente associadas ao ritmo feroz com que ocorrem. A compreensão dessa
meada que rege esse contexto mundial, indica uma lógica de funcionamento, construído com
um grau cada vez maior de imprevisibilidade e de incerteza, de ordem e de desordem.
Todos esses elementos se remetem direta ou indiretamente a terceira tessitura que
compõem a rede conceitual dessa tese, a sociedade do conhecimento numa perspectiva crítica
e a intensificação da importância da Educação Superior no contexto mundial. Essa análise
torna-se, imprescindível para se investigar a complexidade dos fenômenos presentes na
sociedade que constitui a realidade contemporânea da universidade brasileira.
quando se trata de um estudo que abarca a temática da pesquisa. Esse tema é pauta de estudos
na sociedade do conhecimento, período histórico em que inovações técnicas e científicas têm
se tornado essencial. Na verdade, é inerente ao desenvolvimento da Educação Superior e a sua
expansão é inevitável, diante da sociedade globalizada.
Essa discussão vem desde 2003, quando foi realizada a Segunda Reunião dos
Parceiros da Educação Superior33, Paris+5, como o objetivo de discutir a cooperação
internacional para a melhoria da sua qualidade, administração e financiamento. Neste
encontro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
apontava ações estratégias no fortalecimento da internacionalização; combinação das
racionalidades acadêmica e econômica; importância do contexto global na discussão sobre
políticas no nível institucional. Zamberlan (2009) considera que
Frente ao novo cenário, a Unesco propõe como guia das políticas para o ensino
superior três palavras chaves: relevância (no papel do ensino, pesquisa e extensão),
qualidade (um sistema de ensino superior bem estruturado e administrado para as
necessidades e expectativas da sociedade) e internacionalização (busca de uma
reflexão global do aprendizado e da pesquisa, compartilhando conhecimentos
teóricos e práticos entre países e continentes) (p. 17 – grifos do autor).
A Unesco ainda alertou as instituições que não deveriam somente reagir diante das
forças resultantes da globalização, mas idealizar a cooperação internacional como parte
integrante de sua missão institucional criando mecanismos e estruturas apropriadas para
promovê-la. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
também tem se manifestado e publicado recomendações aos países em desenvolvimento.
No conceito de internacionalização, há uma variedade de interpretações, sendo objeto
de diferentes definições. Observa-se que é algo discutido há muito tempo e algumas
formulações tendem a privilegiar determinados aspectos em detrimento de outros. Morosini
(2006b) destaca que o conceito oscila entre uma visão minimalista, instrumental e estática, na
busca de financiamento externo para programas de intercâmbio; e uma visão complexa, de
ampla abrangência, orientada por políticas que permeiam a cultura, o currículo, o ensino,
assim como as atividades de pesquisa das universidades.
O resgate histórico das definições ilustra essa miscelânea. Knight (2005) informa que
o termo foi utilizado na década de 70, por Van der Wende e identificado como “qualquer
esforço sistemático de tornar o ensino superior receptivo às demandas e aos desafios
relacionados à globalização das sociedades e dos mercados econômicos e de trabalho” (p. 19).
33
Houve um destaque nesta reunião no sentido de entender que a dimensão internacional se caracterizava por:
intercâmbio de conhecimento, redes interativas, projetos internacionais e mobilidade acadêmica, além de ênfase
nas redes de pesquisa.
67
É, pois, uma definição ampla que corresponde a um conjunto de esforços que objetiva
capacitar a Educação Superior a responder aos desafios impostos e que decorrem da
mundialização da sociedade e da economia. Na década de 90, Knight (2005) sinaliza que é o
processo no qual se integra uma dimensão internacional e intercultural ao ensino, à pesquisa e
aos serviços de uma IES. Altbach e Knight (2006) discutem que a internacionalização inclui
políticas e programas governamentais para explorar a globalização.
Rudzik (apud KNIGHT, 2005) a define como um conjunto de mudanças
organizacionais, de inovação curricular, de mobilidade. Destaca-se, então, como um processo
capaz de transformar estabelecimentos nacionais em instituições internacionais, pois imprime
dimensão internacionalizada em todos os aspectos da gestão. Ainda quanto ao conceito
Marginson e Rhoades (apud MOROSINI, 2006b) conceituam-na “[...] como a globalização do
ensino superior, o desenvolvimento do aumento de sistemas educacionais integrados e as
relações universitárias além da nação” (p. 116). Visto por essa perspectiva, a
internacionalização é uma atividade além-fronteira entre os sistemas de Educação Superior.
Atualmente, a internacionalização tem evoluído da mobilidade de pessoas
(manifestação mais recorrente) para a circulação de programas, abertura de campi (branch-
campus) e instalação de instituições fora do país de origem. Knight citado por Lima e
Maranhão (2009) propõe uma definição técnica, prática e neutra capaz de respeitar
especificidades existentes nos sistemas educativos. “L’internationalisation à l’échelle du
pays/du secteur/de l’établissement désigne le processus que consiste à intégrer une dimension
internationale, interculturelle ou mondiale aux finalités, aux fonctions ou à l’organisation de
l’enseignement postsecundaire34” (p. 584).
O Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES) mais conhecido como Processo de
Bolonha, ocupa um papel de destaque nas discussões acerca da Educação Superior, não
apenas na Europa, mas também em todo o mundo, com especificidades nas políticas públicas
brasileiras (SIEBIGER, 2013). Tem como objetivo a convergência dos sistemas de Educação
Superior, baseando-se em três ciclos (licenciatura, mestrado e doutorado). Também busca
introduzir um sistema de graus acadêmicos, promovendo a mobilidade dos estudantes, dos
professores e dos investigadores, assegurando a elevada qualidade da docência (EUROPA,
2010).
Desta forma, enquanto para alguns a internacionalização é fruto da reestruturação da
IES na exploração de alternativas de autofinanciamento, com a ampliação do mercado e
34
A internacionalização em todo o país, setor, instituição é o processo de integração de uma função
internacional, intercultural ou global para os fins, e organização da educação pós-secundária (Tradução nossa).
68
35
A OMC ou World Trade Organization (WTO) é o agrupamento de países com o intuito de coordenar a política
comercial internacional. Seus acordos são assinados pela maioria dos países envolvidos no comércio mundial.
Foi criada em 1947 com o nome de General Agreement on Trade in Services (GATS), mas com o crescente
desenvolvimento do comércio internacional, em 1997, passou a chamar-se OMC (MOROSINI, 2006c).
36
A internacionalização ativa é a implantação de políticas voltadas para a atração de acadêmicos, oferta de
serviços educacionais no exterior envolvendo a mobilidade de experts em áreas de interesse estratégico,
exportação de programas e instalação de instituições ou campi no exterior. Já a passiva é o envio de acadêmicos
para se formar nos grandes centros, objetivando investir no desenvolvimento de uma elite capaz de influenciar o
processo de modernização do país (LIMA e MARANHÃO, 2009).
69
37
As crises serão discutidas na síntese conceitual: espaço constituinte dos nexos.
70
no conhecimento; por isso suas políticas e suas práticas são cooptadas e dimensionadas por
interesses políticos e econômicos geoestratégicos mais amplos.
Com relação aos termos conhecimento, informação e sociedade do conhecimento, que
emergem a partir das relações hipermodernas e em rede, os conceitos são complexos e
despertam interesse de intelectuais e especialistas. Entretanto, independentemente da
definição que se adote, há um denominador comum que é a combinação das configurações e
aplicações da informação com as tecnologias em todas as suas potencialidades.
Primeiro, com relação à palavra informação, não há facilidade em ser definida, é um
conceito polissêmico. Atualmente, é mais difícil ainda, visto que ganhou significado no
processo de desenvolvimento dos países juntamente com o conhecimento. Para Houaiss e
Villar (2009), informação é o ato ou efeito de informar, é um esclarecimento sobre os méritos
ou estado de alguém ou algo. Segundo Lima e Contel (2011) é a transmissão de uma
significação, por meio de uma mensagem e com base em um suporte espaço-temporal
(impresso, sonoro, por telefone, ou outros meios). Porém, essas definições guardam
divergências com Castells (2001) que a compreende relacionada com o processamento, o
armazenamento e a recuperação dos dados, tornando-se moeda de troca econômica e social.
Já a noção de conhecimento é abrangente e com amplitude; existem diversos tipos de
conhecimentos e isso permite aos indivíduos dar significado as informações que recebe do
meio. Este termo muitas vezes é utilizado para se referir ao conjunto de fatos e princípios
acumulados pela humanidade. No dicionário, é definida como ato ou efeito de conhecer,
ideias, noção, notícia (HOUAISS e VILLAR, 2009).
Genericamente, pode-se dizer que o conhecimento é o ato de saber alguma coisa, de
tomar consciência de determinado fato, apropriar-se intelectualmente de fatos ou ideias.
Squirra (2005) esclarece que pode ser compreendido como a “familiaridade ou estado de
consciência que se obtém com a experiência de estudar determinado fato” (p. 257) e, por fim
a informação específica sobre algo. Hoje, é amplamente reconhecido como o principal insumo
da economia, segundo Lima e Maranhão (2009), no capitalismo, ganha importância por ser
reconhecido como a principal força produtiva. O conhecimento é marca dos tempos atuais,
determinando novos padrões de organização social e econômica e produzindo riqueza. Há,
pois, um caráter estratégico do conhecimento.
Ao retomar a conceituação de Castells (2001), se constatam diferenças, sendo apenas
um conjunto organizado de declarações, de fatos ou ideias que apresentam julgamento lógico
ou resultado de comunicação de forma sistemática. Há, pois, evidências que as conceituações
71
38
O poder pode ser compreendido a partir das características epistemológicas, ideológicas e de conteúdo que os
grandes sistemas de explicação científica apresentam. Para Lima e Contel (2011), essas características exercem
importante e estratégico papel, e são consideradas como dados da geopolítica do mundo atual. Um dos
mecanismos que reforça o poder das nações é a concessão e/ou reconhecimento de patentes.
72
39
As infraestruturas sofisticadas (como exemplo o Vale do Silício) permitiram o aumento de fluxos em regiões
produtivas que foram incrementados pela alta conectividade (tecnologias de comunicação e internet).
73
requiere ser explicado como proceso de trabajo pero también como el eje de la nueva
organización social y como plataforma ideológico-cultural” (p. 417).
Isto significa esclarecer, que a sociedade do conhecimento não é uma sociedade da e
para a população; é dos e para os que têm capacidade de produção e consecutivamente obtem
algum tipo de benefício. Quem detém o conhecimento também tem o poder de criar e
assegurar direitos que determinam o seu valor, por quem, como e quando deve ser consumido.
Didriksson (2006) destaca que há tipos diferentes de sociedade do conhecimento relacionados
pela Organização das Nações Unidas,
Indica-se, desta forma, uma diferenciação na proposição até agora apresentada com
relação ao momento histórico atual. Essa opção é a “sociedade inteligente” que enfatiza não
só a riqueza dos ativos da ciência, tecnologia ou inovação empresarial; mas também a garantia
de níveis de qualidade de vida. Essa tese se relaciona a essa ideia e enfatiza esse tipo de
atitude. Didriksson (2008b) sugere que:
40
A maior parte das universidades trabalha com o modelo tradicional de produção de conhecimento de natureza
disciplinar que Gibbons (et all, 1997) chama de modo 1, centrado no pesquisador e nas disciplinas, seguindo um
padrão linear, da ciência básica à aplicada e, depois, ao desenvolvimento e à produção. O modo 2 é um conjunto
de práticas cognitivas sociais, que tem como características: o contexto; a transdisciplinaridade; a
heterogeneidade; a diversidade organizacional das habilidades; o aumento das responsabilidades sociais; e por
fim, a qualidade da participação dos atores. Assim, no segundo modo, a produção é contextualizada, focada em
problemas e explora a interdisciplinaridade.
75
Finalizando, é possível ressaltar que a universidade nesta perspectiva não deve dar
razão apenas e tão somente ao mercado. Não deve ser um motor da globalização da economia
de mercado, mas, sim, da recuperação da dimensão histórica dos indivíduos e da reintegração
da sociedade. Esta reformulação do seu papel, sua composição e organização, referem-se às
mudanças que estão ocorrendo em suas estruturas fundamentais. No entanto, a articulação da
universidade no contexto da sociedade do conhecimento revela diferenças substanciais às
tendências que vem sendo discutidas ao longo dos últimos anos.
A caminhada na superação deste posicionamento é longa e árdua e exige o preparo dos
envolvidos com a Educação Superior para a execução de uma proposta alternativa de
construção de uma universidade de inovação com pertinência social e de produção de
pesquisa articulada a essa interlocução entre o global e o local.
3 O CENÁRIO CONSTITUÍDO
Para se compreender a universidade decorrente da situação emblemática apresentada,
houve a necessidade de se buscar uma abordagem das relações entre a instituição e as
estruturas e os processos onde está inserida. Isso possibilita mostrar como foi e estão sendo
produzidas as formas de organização que assumiu no passado, as forças sociais que atuam
sobre ela e as mudanças que esbarram e sinalizam o conteúdo de suas políticas e as
contradições que enfrenta hoje.
Esse entendimento também exige a análise de fatores históricos, estruturais e
conjunturais que levem em conta a multiplicidade das dimensões dos aspectos econômicos,
políticos, sociais e culturais. Para isso, discorre-se nesse capítulo sobre alguns elementos
históricos da universidade, da pesquisa e da Pós-graduação que corroboram para a
compreensão do momento crucial que as instituições vivem. Essa discussão oferecida é o
pano de fundo onde se insere a problemática anunciada. Isso se reveste de um sentido
especial, tendo presente que a universidade, por meio da Pós-graduação é fonte geradora de
conhecimento, na medida em que adensa e densifica as suas políticas e ações de produção da
pesquisa por meio dos grupos, dos projetos e das redes.
A globalização vem se desenvolvendo há décadas e não é uma imagem apenas deste
século. As alterações geradas pela revolução científica e tecnológica leva a uma fronteira
entre o individual e o coletivo, caracterizando a sociedade em rede. Porém, a sociedade
hodierna é contraditória e assimétrica, assim como a universidade é cheia de ambiguidades.
Na economia, lócus da competição e da mundialização do capital fala-se em hiperpotência,
hipercapitalismo e hipermercado (LIPOVETSKY, 2004). As análises detectam uma sociedade
segmentada em alguns poucos que têm acesso às riquezas e muitos que vivem à mercê desse
processo. Isso também acontece no espaço da Educação Superior.
Historicamente, muitos veem a universidade como o lugar apropriado para a criação e
divulgação do saber, para o desenvolvimento da ciência e para a formação de profissionais.
Outros a percebem como uma instituição social que articula o ensino, a pesquisa e a extensão
nos níveis mais elevados da política educacional de um país, satisfazendo as necessidades da
sociedade. Se há um consenso unânime no sentido de se conferir à universidade a função de
produzir e socializar conhecimentos há também uma concordância de que proporciona contato
sistemático com a cultura universal. Nesse sentido, desde o início teve por finalidade cultivar
e transmitir o saber acumulado, missão que ela cumpre com persistência ao longo dos anos.
Contudo, a partir das constatações das crises, percebe-se que nem sempre consegue
atender a todas as demandas, exigências, expectativas e necessidades de uma sociedade
81
Como essa tese trata especificamente dessa temática, torna-se referência obrigatória uma
reflexão nesse sentido, pois significa uma importante e valiosa contribuição para o
conhecimento da natureza e da finalidade da Pós-graduação.
Tratou-se, com efeito, de um estudo consciencioso, abrangente e aprofundado da
problemática da Pós-graduação Stricto Sensu, conforme delimitação da tese, envolvendo suas
relações com os modelos universitários, com ênfase na pesquisa. O assunto foi estudado sob o
ponto de vista histórico-sistemático, o qual explora os pontos relevantes das discussões
suscitadas pelos dilemas e avanços vivenciados na Pós-graduação brasileira.
Numa terceira parte, inicia-se um delineamento em profundidade do estudo de caso
dessa tese, para isso apontou-se a necessidade de se inventariar a Unemat dentro do atual
momento político, econômico, social, tecnológico e cultural como o resultado de um conjunto
de elementos processuais construídos em sua trajetória histórica. Em busca de um
esgotamento sobre o objeto de estudo, a ideia foi apresentar a Unemat a partir das suas arenas
sócio-políticas, com destaque para as linhas da estrutura multicampi e o nó da questão da
territorialidade dos campi universitários. Para isso, essa terceira parte foi subdividida em dois
momentos, o primeiro destaca a estrutura multicampi abordando a questão da regionalidade e
o segundo, levanta considerações acerca da indução e da promoção da pesquisa no espaço da
PRPPG. Esses aspectos foram analisados de maneira sinóptica, objetivando apontar os
elementos constitutivos dessa tese.
E para finalizar esse capítulo, apresenta-se uma síntese territorial que revela a
geopolítica do conhecimento na IES, fecha as arestas para os encaminhamentos analíticos do
próximo capítulo e sintetiza pontos relevantes da estrutura multicampi e das relações de
poder. Essa foi uma análise, entre muitas, tendo presente que a realidade não se esgota nas
objetivações que dela se possa fazer, pretendeu-se que essa interlocução se constitua no fio
condutor das ações para a consolidação da pesquisa e da Pós-graduação na Unemat.
(1984) enfatiza que com o seu surgimento, o saber foi colocado ao alcance de um número
maior de pessoas e o conhecimento proporcionou uma nova dimensão da vida.
Para Fávero (1980), a ideia de universidade é mais complexa do que pode parecer.
Somente a partir de sua criação e da identificação dos rumos que tomou, com parte de uma
realidade concreta, historicamente condicionada e em íntima relação com os valores e demais
instituições da sociedade que se pode compreendê-la. Segundo Rossato (2007) Bolonha foi à
primeira cidade ocidental da Europa que ampliou sua escola, transformando-a em studium
generale e posteriormente se destacou na caracterização de uma modelo organizacional que
seria seguido por outras instituições nos séculos XII e XIII. Outro modelo de universidade
medieval se originou em Paris. Zainko (1998) considera que Bolonha e Paris foram às
primeiras instituições na Europa a constituírem universidades: a primeira é a mais antiga; e a
segunda, a mais importante. Como instituição se estabeleceu definitivamente a partir deste
período e se expandiu. O predomínio da Igreja era eminente e necessário neste momento
histórico para ensinar as verdades da fé.
No século XIV, as universidades dobrariam em quantidade e surgiriam as primeiras na
Europa Central, as alemãs (ROSSATO, 1998). Porém, com a revolução industrial e a
consolidação do modo de produção capitalista, nasceriam exigências de especializações e
técnicas que se ajustassem a uma divisão do trabalho. A crise dos séculos XVI e XVII, com
novas realidades e os colégios, encaminha no século XVIII a supressão das instituições em
alguns países; em contrapartida surgem universidades em outros contextos. Gradativamente,
as instituições tiveram que se adequar aos processos de desenvolvimento econômico e social.
Wanderley (1984) destaca que as universidades foram atingidas, pois se exigiam cada vez
mais conhecimentos úteis e de aplicação imediata.
Desse modo, a universidade moderna foi produzida ao longo do século XIX, Lombardi
(2011) explica que foi gerada sob impulso do desenvolvimento das ciências, do iluminismo e
do enciclopedismo, porém não seguiram um modelo único, estabelecendo diferenciadas
relações entre ciência, Estado e desenvolvimento econômico. Dessas relações emergiram os
dois modelos clássicos de universidade: o francês/napoleônico e o alemão/humboldtiano, que
influenciaram significativamente a concepção e a estrutura da Educação Superior mundial. No
contexto marcado pelas revoluções, o modelo napoleônico emergiu para explicitar o
verdadeiro caráter da ideologia burguesa como um instrumento de defesa dos interesses dessa
classe. Todo o sistema educacional foi chamado a ser um eficiente instrumento de formação
profissional. Esse modelo influenciou as universidades tradicionais da América Espanhola e
inspirou a formação tardia das primeiras faculdades profissionais no Brasil, no século XIX.
84
Especificamente sobre a pesquisa, Ribeiro (1978) destaca que em 1936 por iniciativa
de Jean Perrin e Paul Langevin, foi criado o Centre National de la Recherche Scientifique que
tinha como objetivo eliminar as deficiências científicas do país, insuperáveis por uma
universidade totalmente burocratizada e obsoleta, separando oficialmente o ensino
universitário da pesquisa científica. Neste modelo, a pesquisa não é tarefa da universidade,
havendo dissociação entre instituições.
Diferentemente, o modelo alemão forjou-se num contexto de desenvolvimento tardio
das relações capitalistas de produção. Esse período, que foi considerado a época de ouro da
universidade alemã, baseou-se na concepção de Humboldt, ou melhor, na concretização deste
modelo, razão pela qual a universidade desta época é chamada de humboldtiana. Há uma
simples fórmula que Drèze e Debelle (1983) utilizam para caracterizá-la: “procurou realizar a
unidade (indissociabilidade) de pesquisa e ensino” (p. 48).
A fundação da Universidade de Berlim, em 1810, representou um marco fundamental
para a concepção moderna de universidade. Foi precedida por uma reflexão teórica da qual
fizeram parte seu principal orientador Humboldt, e os filósofos Fitche, Schelling e
Schleiermacher. Para Lombardi (2011), essa estrutura universitária constituiu-se a partir de
uma progressiva reconstrução das universidades alemãs, numa clara oposição as escolas
profissionais napoleônicas e reinava os princípios da individualidade e da liberdade.
Houve outros modelos de universidade, tais como o inglês e o norte-americano. Mas
como salientou Ribeiro (1978) a inglesa contribuiu muito pouco como modelo de estruturação
universitária e não houve destaques para a pesquisa. Com relação a norte-america, estruturou-
se livre, democrática, fecunda, impondo uma cultura própria, aproximando a universidade da
empresa, seu ideal básico cultivou o “velho saber acadêmico-humanístico, mas, também o do
novo saber científico. Sua maneira de alcançá-lo foi a criação de um quarto nível de ensino,
através de escolas de pós-graduação, destinadas a ministrar cursos e a conceder títulos
doutorais [...]” (p. 66). Havia de certa forma, um caráter inovador com potencialidades para a
pesquisa através de estudos pós-graduados que se elevaram ao nível de mestrado e doutorado.
Outro modelo de universidade é o soviético, Ribeiro (1978) destaca que contrasta, mas
também, apresenta semelhanças com os modelos até agora apresentados. Simpatizou mais
com a universidade francesa e a alemã, do que com a inglesa e a norte-americana. Todavia,
não acrescentou encaminhamentos específicos para a pesquisa na universidade e não se
constituí num modelo de destaque mundial.
Sinteticamente, Rossato (2007) ressalta que a unidade dos séculos XII, XIII e XIV foi
rompida no século XV; e o século XIX, com suas reformas, fez emergir novas características.
85
41
Sguissardi (2006b) comenta que no Brasil foram feitos transplantes ou adaptações de estruturas universitárias
europeias, vazadas nos modelos clássicos; primeiro, o napoleônico e depois o humboldtiano.
86
Vale ressaltar também que em 1937, com a instituição do Estado Novo, foi criada a
Universidade do Brasil, projetada para servir de suporte às demais instituições. Oliven (1990)
indica que se constituiu num modelo perfeito de centralização autoritária. Nesse período, sob
as malhas do Estado Novo, ocorreram modificações profundas na estrutura e organização das
instituições universitárias, apontando um caráter predominante voltado ao ensino.
Todavia, houve uma tentativa de articulação da pesquisa no estatuto dessa
universidade, especificamente nos objetivos. Para Fávero (2000) essa foi uma das primeiras
87
42
A trajetória e atuação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em defesa de políticas
científicas para o desenvolvimento do país e da liberdade de pesquisa foram uma inegável influência nas
transformações da universidade. Junta-se a esse, outros eventos de igual importância, tais como: a criação do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da CAPES, e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (FRANCO, 2009).
88
Então, a partir dos anos 90, a universidade brasileira recebeu influência das políticas
neoliberais e dos organismos internacionais, do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
BM, da OMC, entre outros, e sofre pressões transnacionais num cenário de globalização
excludente. Essas pressões são chamadas de regulação, conceito passível de diferentes
significados, porém há dois fenômenos interdependentes: os modos como são produzidas e
aplicadas às regras que orientam a ação dos atores e os modos como esses se apropriam e as
43
Constitui-se num projeto hegemônico, sendo uma alternativa para a crise do capitalismo, que objetiva um
processo de reestruturação material e simbólica das sociedades. É um projeto de classe que se orienta de forma
articulada, com um conjunto de reformas radicais no plano político, econômico, jurídico e cultural. O que
caracteriza o uso do prefixo “neo” é sua forma histórica que reorganiza as características já existentes e as
originalmente criadas por esse modo de dominação (GENTILI, 1995).
89
44
Os outros tipos de regulação serão conceituados em discussões a posteriori nesse capítulo.
45
Alterada em dois artigos pela medida provisória de Nº 495 de 2010 (BRASIL, 2012b).
90
E a segunda lei foi a de nº. 11.079/2004 que institui normas para licitação e
contratação de parceria público-privada (PPP) que permite parcerias com empresas privadas
na produção, comércio de bens e serviços (inclusive na pesquisa), além do desenvolvimento
tecnológico, meio ambiente, patrimônio histórico e cultural (BRASIL, 2012a).
Com reflexos dos marcos regulatórios das leis, a reforma universitária encaminhada
pelo projeto de lei nº. 7.200/2006, no Governo Lula atende as seguintes proposições: modelo
de financiamento universitário; regulação da transnacionalização das IES privadas; princípio
da responsabilidade social a ser aplicado nas universidades; regulação das fundações; e por
fim, avaliação e acreditação das IES com ênfase na qualidade (FRANCO e MOROSINI,
2010).
Do Estado, não se poderia esperar outra atitude se não a de assumir a avaliação como
uma de suas formas regulatórias, de controle, supervisão e fiscalização das estruturas
educacionais. Aqui cabe a discussão do conceito de regulação nacional que é o modo como às
autoridades exercem a coordenação, o controle e a influência no sistema educativo através de
normas (BARROSO, 2006). Pratica-se através das leis brasileiras, a regulação nacional.
Sguissardi (2006b) comenta que à medida que avançam as reformas em diferentes
países, as universidades tendem a se assemelhar entre si, porque são cada vez mais
subsumidas pela economia e pela competitividade econômica do mercado. Essas são também
as características predominantes do modelo brasileiro. Assim, com o passar dos anos, no
caudal da globalização e dos atuais arranjos político-ideológicos surgiram outras modalidades
de IES, que tem sua prática instituída na sociedade do conhecimento orientada para o
mercado. Para Franco (2009) a universidade corporativa, de massa, que se vinculam aos
parques tecnológicos, a virtual e as que emergem no entorno do Processo de Bolonha são
alguns dos modelos emergentes.
91
Delanty (2001) destaca que de uma instituição voltada à elite dominante, com ênfase
bacharelesca e com base nos modelos neonapoleônico e humboldtiano, a universidade
contemporânea embrenhou-se na internacionalização, que apresenta uma tendência à
coexistência de lógicas que permitem prever modificações nos modelos institucionais da
Educação Superior. Franco (2009) considera ainda que atualmente vislumbra-se que a
universidade global responde ao mercado e ganha espaço nas suas denominações de
neoprofissional, neonapoleônica liberal-híbrida (pesquisa incipiente e foco na formação de
profissionais), neohumboldtianas (orientação para a produção científico-tecnológica).
Os argumentos sobre essa diversificação de modelos da Educação Superior brasileira
têm crescido, o qual faz parte da atual política. Leite (2006) considera que o modelo liberal
híbrido, é uma instituição autônoma do mercado, que passou a sobrepor critérios de
mercadorização aos seus tradicionais papéis, com “processos de avaliação homogeneizadores
que produziram o redesenho de suas prioridades, atividades e funções” (p. 179).
Em termos internacionais, Leite (2006) também acrescenta que elementos novos
surgem na conceituação das universidades globais: caracterizadas como instituições que
oferecem programas à distância; buscando consumidores de produtos; oferecendo títulos em
conjunto com instituições de prestígio; contudo, cobram taxas e aceitam regulação da OMC e
GATS. Nunes (2012) salienta que essa regulação é a intervenção do Estado, organizando sua
atuação, ajusta e modifica condutas com vistas à correta atuação no campo da Educação
Superior. “Regulação e controle são, por assim dizer, funções associadas e típicas do Estado”
(p. 422). Dessa forma, essa tese compreende que a OMC e o GATS são formas de regulação
transnacional, pois tem origem nos países centrais e fazem parte do sistema de dependência
em que se encontram os países periféricos, no quadro de constrangimentos estruturais de
natureza política e econômica que integram os efeitos da globalização. A regulação se
expressa por esse conjunto de leis e valores.
Há ainda modelos ampliados derivados dessas propostas, destacam-se as universidades
empreendedoras de Clark (1998) que tem como característica principal a ação coletiva e
convivem com o risco de empreender as inovações em busca de uma transformação
planejada. Segundo Morosini (2006a) essas instituições tonificam características
mantenedoras da transformação junto com as mudanças, tais como: diversificação da base
financeira; fortificação do centro diretivo; expansão periférica; estímulo à comunidade
acadêmica e consolidação da cultura empreendedora integrada.
Nesse contexto, é que se encontra a universidade brasileira, no predomínio da
transnacionalização. Altbach (2004) entende isso como uma nova forma de poder, na qual
92
Acredita-se ser a pesquisa histórica não uma atividade-fim dessa tese, mas um meio
necessário para evidenciar a concepção de conhecimento como um fazer permanente, sujeito a
múltiplas interpretações e olhares. O contexto procurou deixar claro que nenhum modelo de
universidade poderá ser efetivado se não for visualizado na realidade concreta, orientada por
uma política educacional coerente com o projeto político de um país. Essa síntese das
características dos modelos universitários foi fundamental para a discussão sobre a pesquisa e
a Pós-graduação e orientam as discussões a serem realizadas nesse estudo.
46
Agência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da pesquisa científica e
tecnológica e à formação de recursos humanos. Seus investimentos são oferecidos diretamente aos
pesquisadores, concedendo bolsas de mestrado e doutorado aos Programas e apoiando projetos (Disponível em:
http://www.cnpq.br/. Acesso em: 26 fev. 2013).
47
Hoje, é uma agência vinculada ao MEC, com relação direta no SNPG. Sua atuação envolve atividades que se
agrupam em quatro linhas de ação: avaliação da Pós-graduação Stricto Sensu; acesso e divulgação da produção
científica; promoção da cooperação internacional e investimentos na formação de recursos de alto nível no país e
no exterior. Para detalhamento da agência, verificar: http://www.capes.gov.br/.
95
nº. 4.024/1961, que em seu artigo 69, definia genericamente que cursos de Pós-graduação
poderiam ser ministrados em IES.
Com a finalidade de esclarecimentos, o Ministro da Educação solicitou ao Conselho
Federal de Educação (CFE) conceituar e caracterizar a Pós-graduação. Isso foi realizado no
parecer nº. 977/65 de Newton Sucupira que fixou normas para sua organização e seu
funcionamento, estruturando-a nos moldes do sistema americano48. O parecer delimitou a
Pós-graduação Lato Sensu aos cursos de especialização e aperfeiçoamento e no Stricto Sensu
o mestrado e o doutorado, e assim, o compromisso com a formação do pesquisador e do
professor (BRASIL, 2013a).
Para Saviani (2002) os cursos de Pós-graduação são entendidos, literalmente, como
aqueles que se realizam após a graduação. O Lato Sensu assume a forma de aperfeiçoamento
e especialização, constitui-se um prolongamento da graduação e visam a um aprimoramento
ou aprofundamento da formação básica. Já o Stricto Sensu possui objetivo da formação
acadêmica dos pesquisadores. Dessa forma, essa tese está fundamentada na declaração de que
a Pós-graduação Stricto Sensu define os cursos que se sobrepõem a graduação, tendo forte
componente acadêmico. Em vista do exposto, torna-se necessário deixar claro, que o objeto
deste estudo detalhado é este tipo de Pós-graduação, que tem como uma de suas finalidades a
pesquisa.
Outro marco regulatório histórico a ser ressaltado foi o decreto nº. 62.937/68, que
constituiu o grupo de trabalho para a Reforma Universitária (GTRU) que elaborou um
relatório sobre a organização, o funcionamento e o financiamento da Educação Superior, o
qual circunstanciou a lei nº. 5.540/68. Oliveira (1995) destaca que o relatório se referia
especificamente à implantação da Pós-graduação como condição fundamental para
transformar a universidade brasileira em centro criador de ciência.
O GTRU ciente das dificuldades sugeriu a instalação de centros regionais (decreto nº.
63.343), sob a coordenação de uma comissão nacional subordinada ao departamento de
assuntos universitários (DAU). Esses centros deveriam ser instalados em universidades que
tivesse condições de desenvolver pesquisa. Foi, então, depois da reforma universitária (lei nº.
5.540/68) e da regulamentação do credenciamento que teve início a expansão da Pós-
graduação. Segundo Oliveira (1995) depois de implantada, programas começaram a se
instalar em diferentes regiões do país, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoavam seus
48
Segundo Santos e Azevedo (2009) esse parecer também teve influências do modelo francês.
96
49
Em nota antecedente foi informado que na década de 60, houve a implementação da FAPESP em São Paulo.
Closs (2002) destaca em seguida criou-se a fundação de amparo à pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(FAPERGS), posteriormente, na maioria dos Estados foram criadas agências com finalidades similares e as
fundações estaduais de ciência e tecnologia multiplicaram-se.
50
Closs (2002) comenta que introduziu-se no banco nacional de desenvolvimento econômico e social (BNDES)
um dispositivo de apoio para a implantação da Pós-graduação e pesquisa, por meio do programa Funtec, depois
transformado na agência financiadora de estudos e projetos (FINEP). Ambos tiveram papel fundamental na
consolidação dos grupos de pesquisa e Programas das universidades brasileiras.
97
Nota:
* Morosini (2009) esclarece que inúmeras foram as discussões, entretanto, o documento final não foi formalizado. A
justificativa desta falha contempla várias circunstâncias, envolvendo restrições orçamentárias e falta de articulação entre as
agências de fomento. Numa análise detalhada, o que pode ter colaborado para a sua inconclusão foi um momento inquietante
(término da ditadura), instigante (início das práticas democráticas) e de certa forma contraditório e complexo.
51
O CNPq concede bolsas de produtividade para pesquisadores brasileiros que são enquadrados nas categorias:
2, 1A, 1B, 1C, 1D e sênior (CNPq, 2013).
52
Destinado a melhoria das condições físicas dos núcleos, sendo desenvolvido em parceria com as FAPs
estaduais. Seu objetivo é atender todas as regiões, no incremento da ciência e tecnologia. Suas metas são: manter
a excelência e atrair jovens pesquisadores (CNPq, 2013).
101
53
É uma iniciativa do MCT, executada pelo CNPq com objetivo de ampliar as opções de financiamento de
projetos. Indica a formação de redes, buscando a excelência científica, ampliando seus padrões em instituições
em diferentes regiões do país (INSTITUTO, 2013).
54
Mais informações sobre o modelo universitário predominante no período correspondente ao final da década de
90 consultar Sguissardi (2006a).
102
classificar cada programa. Com o passar dos anos, se transformaram em fóruns para a fixação
dos padrões de qualidade e da carreira acadêmica. Para Arruda (1999) a centralidade
adquirida pela avaliação da Pós-graduação no Brasil explicitava-se de modo inconteste. Por
isso, consolidavam-se e rotinizavam-se os procedimentos e as regras de legitimação do
trabalho acadêmico. Mas, foi necessária uma reformulação.
Então, na década de 90, a CAPES reorganizou o sistema e um modelo mais rígido foi
colocado em prática, preservando a autoridade dos comitês de avaliação por pares.
Balbachevsky (2005) comenta que as regras reforçaram a adoção de padrões de qualidade
internacional e impuseram parâmetros para avaliação do desempenho docente, dando ênfase
para sua produção acadêmica. Detalhando esse processo, Severino (2010) explica que a
agência procede a um acompanhamento do desempenho dos programas e trienalmente atribui
um conceito. Atualmente, a ordenação da avaliação adotou uma escala de sete pontos (no
lugar de cinco do sistema anterior) de classificação, onde os maiores níveis (seis e sete)
correspondem aos que oferecem doutorado e que possuem padrões internacionais. A nota três
é o mínimo exigido para que um programa possa continuar credenciado.
Um dos elementos de avaliação do corpo docente é a produção intelectual
institucionalizada, a portaria do CNE/CES nº. 02/199855 estabelecia indicadores e ainda
sinalizava a obrigatoriedade de demonstrar a participação dos docentes em congressos, bem
como, a publicação dos resultados das pesquisas em revistas indexadas (BRASIL, 2013d). No
que diz respeito a essa produção, notou-se ao longo dos anos a efetivação de diligências
operacionais, por intermédio do aprimoramento da coleta e do tratamento dos dados (coleta de
dados CAPES56), além da definição de indicadores precisos da produtividade dos programas
(qualis periódico57). Isto quer dizer que se intensificou a eficiência dos instrumentos de
aferição, tendo em vista, o dimensionamento da produção docente.
Kuenzer e Moraes (2009) qualificam essa tendência, impressa pela agência reguladora
da Pós-graduação de “surto produtivista” e fazem alusão que a quantidade instituiu-se em
meta. Nos últimos anos, o tempo tem pesado mais do que qualquer outro fator quando se trata
55
Essa portaria foi revogada e passou a valer a resolução CNE/CES Nº 3/2010 que regulamenta o artigo 52 da
LDB, dispondo sobre as normas para credenciamento e recredenciamento de universidades (BRASIL, 2013e).
Porém, nessa normativa não há mais nenhuma referência sobre a produção intelectual institucionalizada
conforme a anterior sugeria.
56
Sistema informatizado que tem como objetivo tributar informações sobre os programas de Pós-graduação
Stricto Sensu do país, subsidiando o processo de avaliação, bem como o fomento e o delineamento de políticas
institucionais (CAPES, 2013).
57
Conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção intelectual
dos programas de Pós-graduação. O resultado é disponibilizado numa lista com a classificação dos veículos
utilizados para a divulgação do conhecimento (CAPES, 2013).
104
a quantidade de publicações precisa ser tomada cum grano salis, [com moderação e
parcimônia] pois sabemos que essa quantidade pode exprimir pouca qualidade e
pouca inovação porque: a) os chamados processos de avaliação da produção
acadêmica, dos quais dependem a conservação do emprego, a ascensão na carreira e
a obtenção de financiamento de pesquisas, são baseados na quantidade de
publicação de artigos e do comparecimento a congressos e simpósios; b) a
quantidade de “pontos” obtidos por um pesquisador também depende de que consiga
publicar seus artigos nos periódicos científicos definidos hierarquicamente pelo
ranking; [...] isso se refere a um problema de fundo, qual seja, a mudança imposta ao
tempo do trabalho intelectual e científico (p. 10 – grifos da autora e comentários
meus).
58
Aplicativo para propostas de cursos novos de Pós-Graduação (APCN) que compõem com a avaliação trienal
dos programas os processos do sistema avaliativo (CAPES, 2013).
105
Nesse sentido, perceberam-se nos dados dessa configuração histórica, que as IES
trazem em seu bojo uma descrição sócio-política inserida numa realidade concreta, e que se
organiza a partir de fortes relações com o Estado, com a sociedade e/ou com a estrutura de
poder vigente, que foi sua condição naquele momento. Em alguns momentos, a pesquisa
viveu forte tensão com o controle exercido pelo governo ou por grupos ligados ao poder
(agências).
O ocorrido com a universidade e a Pós-graduação ao longo dos anos retratada nesse
capítulo tem sentido e significado na trama constitutiva da Unemat, que é o levantamento
historiográfico que será apresentado a seguir. Haverá, pois, um desvelamento do quanto os
processos históricos se interpenetram na complexa tessitura que é a RedSig da IES.
limitações que poderão ser complementadas, pois há aspectos que devem ser abordados em
momentos oportunos.
Essa trama contextual insurge de um dos maiores estados brasileiros em extensão
territorial com 906.806,9 km², que fica na região centro-oeste, e faz divisa com Amazonas,
Pará, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Goiás, além da Bolívia. Mato Grosso tem seu relevo
constituído de planaltos e chapadas no centro, planície com pântanos a oeste e depressões e
planaltos ao norte. Apresenta três biomas59: Amazônia (53,6%); cerrado (39,6%); e pantanal
(6,8%). Sua economia se baseia na indústria extrativista; na agricultura (cana-de-açúcar, soja,
arroz, milho); na pecuária; na mineração e na indústria (MATO GROSSO, 2011).
Até a década de 70, era o segundo maior estado brasileiro e foi desmembrado com a
criação do Mato Grosso do Sul, ocupa hoje o terceiro lugar. O principal argumento utilizado
pelo presidente Ernesto Geisel para a divisão do Estado foi à dificuldade de desenvolvimento
da região diante da grande extensão territorial e de sua diversidade. Para Bittar (2003) havia
outros motivos, pois que o Estado estava marcado por disputas acirradas pela hegemonia do
poder político e econômico. Siqueira (2002) esclarece que a assinatura do Decreto que
estabeleceu a divisão aconteceu em 1977. No entanto, a criação do novo Estado ocorreu
efetivamente apenas dois anos depois.
No que diz respeito à oferta de Educação Superior, até o final dos anos 60, Mato
Grosso era o único Estado do Brasil que não possuía nenhuma universidade embora tivessem
ocorrido várias iniciativas. Segundo Gianezini (2009) o primeiro sinal de curso superior
surgiu em 1808, numa aula prática em Vila Bela da Santíssima Trindade, que depois se
transformou em curso prático de anatomia e cirurgia. Essa atividade foi determinante, pois
demonstrou a necessidade da região de formação especializada. Na divisão do Estado, a
Educação Superior ficou centralizada em Campo Grande. E um embrião de uma universidade
pública estadual nasceu em Cáceres a partir do estímulo da instalação do Projeto Rondon que
posteriormente se tornou a Unemat.
Entre as décadas de 60 e 70, houve uma profusão de iniciativas de criação de
faculdades que mais tarde seriam cooptadas para a institucionalização das universidades
públicas de Mato Grosso. Esse movimento estadual acompanhou o nacional, quando da
abertura de inúmeras faculdades no país, até a congregação de várias para o nascimento das
universidades, inicialmente federais. Veloso (2000) considera que a primeira instituição
59
Conjunto de ecossistemas constituído por características (fauna e flora) fisionômicas de vegetação semelhantes
em determinada região. No Brasil, os biomas conhecidos são: mata atlântica, amazônico, caatinga, cerrado,
pantanal e pampa (MATO GROSSO, 2011).
107
criada no Estado foi a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em 1970, e representou
a conquista de uma antiga reivindicação da população mato-grossense.
A UFMT deu início ao processo de interiorização, ainda na fase que Beraldo (2007)
indica de “fazejamento”, ou seja, quando os projetos acadêmicos foram sendo definidos ao
mesmo tempo em que se construía sua estrutura física. A consolidação desse processo se
efetivou no final da década de 70, com a publicação de um documento que tinha força política
para democratizar a Educação Superior no Estado. Já a Educação Superior privada surgiu no
final da década de 80. Nos anos 90, Gianezini (2009) enfatiza que houve uma concentração de
IES privadas em Cuiabá. Desde então, se expandiu num ritmo vertiginoso, fenômeno também
observado nas demais regiões do país.
Na mesma linha da UFMT com ênfase na regionalização, o espaço de reflexão dessa
tese é a Unemat, que está inserida neste Estado há trinta e cinco anos, com sede em Cáceres,
de onde se alavancou para todas as regiões e teve uma trajetória dedicada à formação de
professores da Educação Básica (ZATTAR, 2008). A instituição está distribuída
geograficamente nas doze macrorregiões do Estado definidas na Política MT+2060, onde leva
aos mais longínquos lugares, oportunidade de acesso ao conhecimento. Institucionalmente
está vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Secitec), e legalmente
credenciada pelo CEE/MT.
Na AC realizada no documento MT+20 que tem “força legal” em Mato Grosso, nas
descrições do eixo 2 (conhecimento e inovação tecnológica) que destaca as especificidades do
programa de ampliação da pesquisa e desenvolvimento científico-tecnológico, priorizam-se as
seguintes áreas: biodiversidade ambiental, tecnologias, informação genética, biocombustível,
e agricultura (PLANO, 2013). Ressalta-se, que se desdobra nos seguintes projetos: formação e
qualificação de recursos humanos; criação de centros de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico nas áreas prioritárias; fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico em
entidades públicas; e, implantação de sistema de comunicação e informação entre os órgãos
de pesquisa, os quais constituem redes nas áreas indicadas.
Essa busca da caracterização da pesquisa no referido documento, foi incitada por um
dos LGs da área das Ciências Humanas que sinalizou em sua entrevista: “não há
financiamento para Educação, tem para tecnologia tem para descobrir novas áreas, para terra,
para solo, para tudo, para educação não!”. O depoente ainda comenta que: “eu acho que nós
60
Plano de desenvolvimento de Mato Grosso, que aponta conceitos básicos para o incremento sustentável e o
planejamento participativo, com vistas aos cenários de sua atuação. Define as prioridades estratégicas para os
próximos vinte anos, que preparam o Estado para os desafios futuros (PLANO, 2013).
108
temos que ganhar consciência para estar buscando mostrar qual é o nosso papel para o
Estado” (LG42).
As reflexões dessa tese indicam que o plano faz referência insistente à pesquisa em
áreas prioritárias que são circunscritas aos interesses do Estado. Um complicador que emerge
é o incentivo às redes apenas para essas áreas e não outras que também são importantes para o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Nesse sentido, o comentário do entrevistado é
salutar, pois destaca a consciência que os docentes da IES analisada deveriam ter.
Mesmo com esse pano de fundo, a Unemat precisa consolidar-se como uma referência
para a sociedade na pesquisa, isso garante levar às regiões o crescimento focado no
desenvolvimento local e regional, pautados na resolução de questões sociais, culturais,
econômicas e ambientais. Tal condição faria dessa instituição a promotora de
interconectividade e interdependência dos mato-grossenses na construção, na sistematização e
socialização do saber.
Frente a esses elementos, percebe-se que para abranger essa IES foi necessário não só
compreender a proposta daqueles que a fundaram e a dirigiram, mas, além disso, compreender
o porquê, a estrutura da realidade em que se manifestaram e o que procuraram ocultar os
fatos. Assim, o histórico aqui oferecido teve como base de dados os inúmeros estudos
realizados por Zattar (2008), que é a fonte principal de registro da reitoria e o histórico
veiculado no site da IES. Esses documentos apresentam um “olhar” de outros que puderam
ser observados a partir dos LGs. Destarte, todo esforço para compreender a RedSig da
problemática dessa instituição, esse não consiste apenas nos escritos a respeito dela nos
documentos oficiais, mas, sobretudo e também, nas ações dos grupos que a constituíram.
Inicialmente, para se compreender o processo de constituição da Unemat, organizou-se
um quadro, buscando demonstrar o movimento regulatório das leis e decretos de
institucionalização. Tem-se como fio norteador das análises o conceito de regulação de
Barroso (2006), pois esse histórico legal representa o movimento regulatório na IES. Inicia-se
depois uma descrição detalhada de alguns condicionantes a serem enfatizados separadamente.
Como pode ser observado no quadro a seguir, a estrutura da Unemat teve sua origem
no IESC, como instituição municipal. Zattar (2008) considera que foi concebido a partir da
necessidade de oferecer qualidade de vida à população, trazendo em sua história a marca de
ter nascido no interior do Estado. Era vinculado à Secretaria Municipal de Educação e à
Assistência Social, e tinha como meta a promoção da Educação Superior. Analiticamente,
pode-se comentar que a ênfase na pesquisa aparece desde a primeira lei municipal e se vincula
a lei estadual.
Quadro 04 – Histórico legislativo institucional
Nota:
* Em outros documentos históricos, encontra-se também a sigla Fucuc para designar a mesma Fundação.
Vale ressaltar aqui que a história da IES está ligada à Cáceres. Segundo o LG15 a
instituição “começa com campus avançado aqui do Projeto Rondon, das universidades lá dos
gaúchos [...]”. Gianezini (2009) esclarece que as operações deste projeto na região ocorreram
em 1978. Um dos programas criados foi o Campi Avançados que tinham caráter permanente e
execução continuada de atividades em comunidades distantes. Esse Projeto não teve
importância apenas no momento da criação da Unemat. Zattar, Teixeira e Artioli (2008)
destacam que subsidiou várias ações posteriores, entre elas, cursos de extensão, seminário de
estudos integrados regionais, entre outras.
Ainda a respeito do nascimento da Unemat, Zattar (2008) comenta que em 1978, ano
do bicentenário de fundação de Cáceres, o prefeito Ernani Martins, junto com representantes
da classe religiosa, tomou a iniciativa de apresentar um projeto para a criação de uma IES.
Segundo o LG43 a IES foi gerida em razão da necessidade dos professores das glebas, em
projetos de colonização agrícola, que surgiram em torno do município. Os professores
buscavam formação qualificada, surge, então, esse centro de estudos que foi crescendo. Nos
documentos oficiais da Unemat não há nenhum tipo de menção desse detalhe histórico.
Cumpridas as determinações legais e estruturais, Zattar (2008) esclarece que o IESC
começou suas atividades acadêmicas com um quadro constituído de professores e
profissionais liberais estabelecidos na cidade. Entre 1983/85, houve um movimento
solicitando a encampação do IESC pela UFMT, inúmeros atos políticos e encaminhamento de
ofícios. Isso perdurou até a recusa do governo federal em detrimento de um decreto-lei que
proibia na época a criação de novas faculdades.
Assim, o IESC foi estadualizado, após anos de funcionamento e de sucessivas
tentativas de federalização. O governador Julio Campos, instituiu a FCUC, entidade
fundacional, autônoma, vinculada à Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato
Grosso, que visava promover a pesquisa e o estudo dos diferentes ramos do saber e a
divulgação científica, técnica e cultural (HISTÓRICO, 2011).
Deve-se é claro, compreender que todo esse processo vanguardista de Mato Grosso na
universidade (mobilizações e estadualização), foi cópia-fiel do retrato que estava acontecendo
no país nesse período. Foi o resultado da valorização da pluralidade de vozes na IES, depois
da saída do período militar e autoritário que não permitia nenhum tipo de manifestação. Zattar
(2008) comenta que
[...] institucionalmente, a não encampação do IES pela UFMT foi providencial, sob
o ponto de vista das conquistas obtidas com a absorção do IESC pelo Estado e,
posteriormente, com a sua transformação em Universidade do Estado de Mato
Grosso, tornando-se a única universidade estadual com sede em Cáceres, fora do
111
61
Consultar detalhamento do exercício financeiro da Unemat no período de 1995 a 2004 em Sampaio (2001) e
de 2008 a 2011 nos anuários.
112
alguns estados brasileiros e noutros está em processo de análise62. O LG21 indica que “com
isso a gente tem a perspectiva de termos de fato a questão que é fundamental na universidade,
a sua gestão. Pois, agora você ainda é dependente de uma política de governo63”. Assim,
considera que: “passa a ser uma política não de governo, mais de estado, por estar vinculada a
receita líquida ao repasse para a instituição. Então, não tem como você cancelar o fluxo”.
Na retomada do histórico institucional, recorda-se que a partir do impulso financeiro
advindo do primeiro orçamento na década de 90, instaurou-se uma política expansionista. A
coordenação entendendo que a ação político-pedagógica não deveria estar circundada apenas
a uma região, organizou um projeto em parceria com as prefeituras, que tinha como escopo
estender a oferta de Educação Superior. Esse processo culminou na criação do núcleo regional
em Sinop, no norte do Estado. Essa política tinha ênfase na interiorização, para isso foi
proposto em 1990, o I seminário de expansão do ensino superior público estadual, que tinha o
objetivo de estabelecer critérios para a criação de outros núcleos (HISTÓRICO, 2011).
O resultado dessa experiência transpôs o isolamento regional de Cáceres, e estendeu a
Educação Superior pública aos municípios de Alta Floresta, Alto Araguaia, Nova Xavantina,
Pontes e Lacerda e Luciara, regiões estratégicas no Estado. Esse modelo expansionista para o
interior determinou a mudança nominal da instituição que passou a denominar-se então
Fesmat. Sobre a interiorização, Gentil (2002) informa que a regionalização tinha como
objetivo estender às regiões geoeducacionais do Estado, o ensino público superior,
comprometido com a formação de professores e o desenvolvimento científico-tecnológico.
Com a inclinação “do interior voltada para o interior”, a IES direcionou suas
atividades para todas as áreas do conhecimento. Apresentou ênfase nas licenciaturas pela
necessidade de formação de professores e na área ambiental, por conta de sua posição
estratégica no país e da produção agrícola e sua presença garantida no espaço de três biomas.
Ainda sobre o seminário de expansão, um dos entrevistados salienta que foi vislumbrado para
o desenvolvimento da pesquisa, do ensino e da extensão de forma integrada.
62
Sobre o financiamento no Estado de Goiás consultar UEG (2013), no Rio Grande do Sul verificar em
http://www.noroestenoticias.com.br/publicacao-2558-Recuperacao_da_UERGS_e_consenso.fire, no Rio de
Janeiro em http://www.alerj.rj.gov.br/escolha_legenda.asp?codigo=42620 e noutras instituições estaduais
examinar Protti, Luque e Cruz (2012).
63
Sobre a diferença entre política de estado e de governo, Bianchetti (2009) esclarece que o governo quando
assume sabe que o seu período de permanência tem duração limitada e assenta suas ações em políticas “[...] que
desejaria ver implementadas, denominando-as de ‘políticas do meu governo” (p. 36 – grifo do autor). Porém,
quando vê que seu governo está se extinguindo, busca de todas as formas desencadear estratégias para garantir
que “[...] aquela que era uma política de governo, limitada portanto no tempo ao seu governo, se torne uma
política de Estado, isto é, ganhe caráter de política permanente (p. 37 – grifo do autor).
113
A estrutura dos campi começou a ser implantada a partir da década de 90, e a ideia de
uma universidade foi se concretizando. Zattar (2008) comenta que a expansão intensificou-se
com a criação das unidades em Barra do Bugres, Tangará da Serra, Colider e Juara. Quanto a
esse processo no interior, pode ser visualizado no quadro que segue:
ANO* CAMPUS
1978 Cáceres
1990 Sinop
1991/1992** Alta Floresta
Alto Araguaia
Luciara
Nova Xavantina
Pontes e Lacerda
1994 Barra do Bugres
Colider
1995 Tangará da Serra
1999/2003*** Juara
2013**** Diamantino
Nova Mutum
Notas:
* É necessário ressaltar que informações divergentes foram coletadas nos documentos oficiais e no histórico da
IES com relação ao início das atividades e a regulamentação dos campi.
** Alguns desses campi universitários foram criados em 1991, mas começaram a funcionar no ano seguinte, por
isso o quadro apresenta essa indicação temporal complementar.
*** Esse campus aparece no anuário (2012) com a indicação de implantação no ano de 1999, mas na resolução
nº. 14 do Conselho Universitário (Consuni) evidencia-se a data de 2003.
**** Em processo de implantação.
65
Tem validade de 2008 a 2014 e foi elaborado por meio da sistematização de material coletado durante
encontros com a comunidade interna e externa nas diferentes regiões do Estado. O plano se organiza a partir de
quatro aspectos fundamentais: o acadêmico, o físico, o ambiental e o organizacional (PLANO, 2008).
115
Essa maneira de pesquisa para mim tem na universidade uma grande relação com as
ações da extensão e do ensino. Então, nunca fiz pesquisa que não tivesse articulação
com a extensão e com ensino. Assim, a minha área da atuação de pesquisa esta nessa
articulação (LG54).
Considero pesquisa inerente à atividade universitária, se considerarmos um tripé em
pesquisa e extensão, a pesquisa é um núcleo estimulador tanto do ensino, quanto da
extensão, ou deve ser ou é! (LG 57).
Para você ensinar você tem que pesquisar. Então ensino e pesquisa são
indissociáveis nesse caso, e ao mesmo tempo para você ensinar bem, a pesquisa tem
que ser realmente bem feita. Agora no trabalho de extensão, a gente está percebendo
que existe relação entre trabalho de extensão e pesquisa (LG 70).
Então, todas as outras esferas de ensino e extensão é decorrente do primeiro fato que
é o pesquisador [...] É mais ou menos assim que é a minha condição, minha
experiência de vida e mais a experiência dentro da universidade me permite entender
(LG 82).
Com relação à pesquisa, pode-se perceber nesse documento, uma ênfase em primeira
instância (finalidade I) para as investigações realizadas na instituição, que foram dispostas em
outras quatro finalidades (IX, XI, XII e XV). Também se evidencia que a perspectiva
tecnológica (finalidade XV) e a interligação com o mundo do trabalho que está evidente no
item IX do plano, demonstram que tipo de investigação é delimitada.
A entrevista com um pesquisador do campus de Barra do Bugres é esclarecedora dessa
situação. Nas proximidades do município há uma usina de produção de álcool, biodiesel e
açúcar, o LG04 destaca que seu projeto de pesquisa se articula a essa instituição,
desenvolvendo trabalhos científicos com acadêmicos do curso de Engenharia de Alimentos.
Essa atividade contrapõe-se ao que está destacado nos princípios norteadores institucionais
“que corresponda ao que a sociedade deseja de uma universidade pública”. A venda de
serviços de pesquisas acadêmicas através da parceria com o capital privado gera receitas,
prejudicando a produção do conhecimento e provocando a privatização, que Sousa Santos
(2005) intitula de comercialização do conhecimento científico. Ressalta-se que esse
procedimento mercantil nas instituições públicas vem acontecendo paulatinamente nas
últimas décadas, Vessuri (1994) apresentou em meados de 1990, um estudo detalhado de treze
experiências de vinculação de pesquisas realizadas em IES brasileiras e venezuelanas em
parceria com o setor produtivo.
Por fim, enquanto elemento analítico do PDI é preciso comentar ainda sobre a
aplicabilidade social da pesquisa (finalidade XIII), destacando que não podem e não devem
ficar delimitadas “apenas” a algumas áreas, em detrimento de outras. Essa preocupação está
presente na finalidade XI do plano que explicita que deverá acontecer em “todas as áreas do
conhecimento”. Os dados trazidos ao longo dessa tese corroboram para se validar uma
necessidade de ampliação das áreas que hoje, na pesquisa e na Pós-graduação da Unemat,
estão centralizadas nas Ciências Ambientais e na Linguística. Para ilustrar elencam-se alguns
fragmentos de entrevistas:
117
[...] nós que tínhamos que batalhar. Enquanto que Letras era assessorado, o das
Ciências Ambientais era assessorado. Nós não! Então eu vejo que nossa organização
institucional deixa a desejar (LG 42).
Em sua maior parte somente é valorado o financiamento para as áreas que possam
vir a desenvolver o agronegócio. A Educação quase nunca é contemplada (LG55).
[...] as outras áreas mais privilegiadas como o pessoal da Biodiversidade e das
Engenharias ainda conseguem o Finep da vida (LG 67).
Em se tratando da área de Biológicas e Agrárias as políticas existem e são
protecionistas (LG78).
Na retomada das discussões teórica, não se pode deixar de notar que as problemáticas
que envolvem o financiamento são um entrave para a sua consolidação. Como será
apresentado oportunamente, a pesquisa universitária é financiada na Unemat, sobretudo por
recursos externos à instituição (98,2%), o que traz consequências para suas ações, tais como a
relatada pelo LG04, onde o capital externo (Fapemat, CAPES, CNPq, entre outros) acaba
determinando que tipo de pesquisa será realizado numa instituição “pública” estadual.
Figueiredo e Sobral (1999) destacam que essa realidade traz problemas diversos para as IES.
Entre os mais significativos estão à interferência na escolha dos temas de pesquisa (o que
reduz a autonomia do pesquisador) e a seletividade (algumas áreas são consideradas
“arbitrariamente” prioritárias).
Não existe possibilidade de continuar as análises nessa parte histórica da tese, sem se
discutir o campo científico de Bourdieu (1983). A justificativa dessa inserção é que a
legitimação do financiamento da pesquisa se processa por meio de uma série de práticas que
passam pela percepção da importância e do interesse daquilo que se investiga, não apenas
para o pesquisador, mas também para a academia, os pareceristas, os pares da comunidade
científica, as agências, entre outros partícipes do processo.
Nesse sentido, a Pós-graduação lócus da produção do conhecimento na Unemat, é um
dos domínios em que a universidade se sente soberana. No entanto, não se pode ignorar que
neste espaço existem disputas políticas, econômicas e de poder, que ocorrem no campo
científico. O poder é um conceito que tem sido amplamente discutido nas Ciências Humanas e
nas Sociais.
A opção de se trabalhar com o conceito de Bourdieu (1989) se apresenta, pois o poder
é articulado a partir da noção de campo, considerado um "campo de forças" definido em sua
estrutura, pelo estado de relação de forças entre as formas de poder. Há um poder simbólico,
onde as classes dominantes são beneficiárias de um capital simbólico, disseminado e
reproduzido por meio de instituições e práticas sociais, que lhes possibilita o exercício do
poder. Esse poder é invisível e só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não
118
querem saber que estão sujeitos. Os excertos das entrevistas evidenciam que esse exercício de
poder é de algumas áreas sobre outras.
O campo do poder é uma espécie de “metacampo” que regula as lutas em todos os
campos. A sua configuração determina a estrutura de alianças e oposições, tanto internas
quanto externas entre agentes e instituições (THIRY-CHERQUES, 2006). Demonstra-se,
desta forma, ser inquestionável que a produção da pesquisa, é decorrente de um arcabouço da
estrutura de poder presente na universidade, reflexo da sociedade hipermoderna em rede.
Esse espaço acadêmico, como local em que se produz ciência, é um campo social e
envolve relações de força, com lutas e estratégias de interesses. Thiry-Cherques (2006)
descreve que o campo para Bourdieu pode ser considerado tanto um “campo de forças”, uma
estrutura que constrange os agentes66 nele envolvidos, quanto um “campo de lutas”, em que
os indivíduos atuam conforme suas posições, conservando e/ou transformando a estrutura.
Para Bourdieu (2004), os campos não são estruturas fixas, são produtos da história das
posições constitutivas e das disposições que são privilegiadas. Em cada instituição, o campo
tem organizações diferentes e se modifica constantemente. Os campos resultam de processos
de diferenciação social, da forma de ser e do conhecimento do mundo, são, pois, espaços
estruturados de posições hierarquicamente organizados. Especificamente nesta tese na Pós-
graduação e na pesquisa, o que está em jogo é a autoridade traduzida pela competência
científica dos pesquisadores.
A noção de campo é aqui discutida para designar esse espaço relativamente autônomo,
um microcosmo dotado de leis próprias do financiamento da pesquisa na Unemat. O campo
científico é um mundo que faz imposições, solicitações e encaminhamentos que são
interdependentes da sociedade em rede e do conhecimento que o envolve. Segundo Bourdieu
(1983) uma das manifestações mais visíveis da autonomia do campo é sua capacidade de
refratar, retraduzindo sob uma forma específica as pressões ou as demandas externas. Na
situação da produção da pesquisa nas universidades, o caso da mercadorização é um
sinalizador dessa capacidade. Assim, o campo social é um “espaço multidimensional de
posições tal que qualquer posição atual pode ser definida em função de um sistema
multidimensional de coordenadas cujos valores correspondem aos valores das diferentes
variáveis pertinentes [...]” (p. 135).
66
Bourdieu (2004) prefere utilizar o conceito de agente, que são indivíduos que atuam e que são dotados de
senso prático e de um sistema de preferências, de classificações e de percepção. “[...] Os agentes sociais,
indivíduos ou grupos, incorporam um habitus gerador (disposições adquiridas pela experiência) que variam no
tempo e no espaço” (p. 34).
119
A compreensão nessa tese é deste campo como um lugar de lutas desiguais entre
vários protagonistas (pesquisadores iniciantes ou seniores, docentes ou não de programas de
Pós-graduação) que são ou não agentes portadores de capital acumulado e, por isso, capazes
de se apropriarem dos bens simbólicos, necessários para a perpetuação do que lhe interessa.
Necessariamente, o financiamento da pesquisa está regulado por uma lógica no âmbito
interno (de poder e de autoridade) e no externo (do mercado do conhecimento e dos interesses
do Estado). A universidade é uma instituição que organiza e reflete os campos científicos,
nesse sentido, não se pode perder de perspectiva o que Bourdieu (1983) sugere para o campo
da pesquisa que está marcado por escolhas que configuram a existência e as formas de
organização de um determinado campo e trazem marcas das relações de força e de poder.
Assim, a luta científica é armada entre adversários que possuem artilharia potente e eficaz,
evidentemente no capital científico coletivo acumulado “no” e “pelo” campo.
Nas reflexões analíticas organizacionais sobre a Unemat, atualmente no PDI,
encontram-se os seguintes objetivos:
Os relatos vão desde a desresponsabilização da IES, até a sua total ausência para
alguns entrevistados. Em contrapartida para outros, cabe à mesma estruturar fisicamente os
centros de pesquisa (condições básicas), e por fim, para alguns líderes, a responsabilidade de
captação de recursos deve ser dos doutores.
Com relação ao Conepe é o órgão colegiado com funções normativas, consultivas e
deliberativas sobre matéria didático-científica e pedagógica. Nesse conselho há ênfase na
pesquisa e na Pós-graduação, pois que são inerentes às suas atribuições. Esse conselho
mantém a câmara setorial que tem como competências: apreciar políticas relativas aos cursos
e programas de pesquisa e normas para elaboração, aprovação e acompanhamento de projetos.
121
Numa situação de extrema competitividade como a que se vive, Santos (2001) considera que
os lugares repercutem os embates entre os diversos atores e o território revelando os
movimentos de fundo da sociedade. Assim nesse contexto, implica trazer à tona alguns
conceitos necessários para o processo analítico, um deles é a conceituação de território. A
linguagem cotidiana frequentemente confunde território e espaço. Para alguns, o território
viria antes do espaço; para outros, o contrário que é verdadeiro.
Segundo Santos (1996) a palavra espaço abriga uma multiplicidade de sentidos e é
utilizada em dezenas de acepções. Assim,
conhecimento. Essa evidência permeará a descrição analítica sobre a região da qual os campi
faz parte e sobre as relações de poder dos espaços que se sobrepõem. Poder esse que Bourdieu
(1989) grifa no campo científico, mas que nessa tese se espraia na questão multicampi.
Segundo discussão histórica da Unemat, no período expansionista da década de 90, os
núcleos de ensino superior passaram a denominarem-se campi universitários, com seus
respectivos órgãos de administração (ZATTAR, 2008). Visualizar o Anexo I que apresenta o
organograma e a estrutura organizacional de cada um dos campi.
Atualmente, segundo o Anuário Estatístico (2012), a Unemat está presente em cento e
dezenove dos cento e quarenta e um municípios mato-grossenses, com treze campi, dez
núcleos pedagógicos e seis pólos de ensino a distância. Os campi universitários são: Cáceres
(sede), Alta Floresta, Alto Araguaia, Barra do Bugres, Colider, Juara, Luciara, Nova
Xavantina, Pontes e Lacerda, Sinop e Tangará da Serra, e atendem a todas as regiões do
Estado, que podem ser visualizadas na figura a seguir. Em 2013, foram criados os campi de
Nova Mutum e Diamantino (que ainda não estão dispostos no mapa) viabilizando
atendimento para a região central do Estado67.
67
As fotos demonstrativas de cada campi podem ser visualizadas no software UNIREDES, com exceção das
duas últimas unidades acadêmicas que ainda estão em processo de implantação e estruturação.
127
adaptadas às necessidades propostas por convênios com prefeituras. A quantidade varia a cada
ano, porque depende do funcionamento das turmas, existiram entre dezessete e quinze núcleos
nos últimos dez anos. Hoje, os núcleos pedagógicos em funcionamento estão em Aripuanã,
Confresa, Jauru, Juína, Lucas do Rio Verde, Mirassol D’Oeste, Poconé, São Félix do
Araguaia, Tapurah e Vila Rica. Ver distribuição atual na figura 01.
Sobre a oferta de vagas, o Anuário Estatístico (2012) informa que cerca de treze mil e
setecentos acadêmicos são atendidos em sessenta e nove cursos de graduação, quarenta e
quatro regulares e os demais em modalidades diferenciadas por meio de programas como
licenciaturas plenas parceladas68, Universidade Aberta do Brasil (UAB), educação do campo,
terceiro grau indígena69 e turmas fora de sede70. Essas são ações pioneiras do Estado para
atender às demandas regionais específicas e constituem frentes de trabalho que fazem do
ensino uma atividade que possibilita o cumprimento de sua função social.
Para vencer as barreiras da extensão territorial, a IES se utiliza de uma estrutura
multicampi. Etimologicamente, a palavra multicampi se compõe da partícula multi (latim
multus) que corresponde a muito ou numeroso; adicionada a campus (latim) palavra
masculina da segunda declinação, que significa o conjunto de edifícios e terrenos de uma
instituição. Na perspectiva vernácula, a definição de multi (do adjetivo multum) significa
abundância, isto quer dizer, relativo à quantidade; e o segundo termo não difere do significado
etimológico. Multicampi resulta, então, do normativo plural da palavra campus associada ao
adjetivo para designar o termo “muitos campos” que representa a diversidade de espaços
(HOUAISS e VILLAR, 2009).
Num sentido restrito, campus é um espaço delimitado e exclusivo, onde se reúnem os
edifícios de uma universidade, podendo estar situado em qualquer lugar dentro ou fora dela.
Para Cunha (1998) a ideia-limite consiste no território que reúne todas as instalações de uma
IES. Mas o conceito comporta outra significação ampliada, o sentido acadêmico: lócus da
produção intelectual. Com o tempo, a palavra perdeu este significado em substituição a ideia
de localização geográfica. A partir dos anos 60, ganha no Brasil o significado de
distanciamento em relação aos centros urbanos.
Buarque (1994) discute que há outros elementos implícitos no lócus da produção
intelectual no sentido original do termo. Manifestam-se duas acepções: física-espacial
68
São cursos de formação em serviço e continuada que são ofertados no interior do Estado, exclusivamente para
professores em exercício do magistério (ZATTAR, 2008).
69
Tem como objetivo a formação de professores indígenas para o exercício docente no Ensino Fundamental e
Médio, nas escolas das aldeias (ZATTAR, TAVARES e ARTIOLI, 2010).
70
Cursos regulares que são ofertados para atender às demandas específicas nos municípios que não possuem
Educação Superior (ZATTAR, TAVARES e ARTIOLI, 2010).
128
complexa, com uma sede, interligando-se com os vários campi, sem esquecer-se de suas
dimensões regionais.
As IES multicampi apresentam ampla cobertura no território estadual mediante a sua
presença em um significativo número de municípios. Contudo, há ainda um complemento
Concluí-se, então, que ser multicampi, não é ter apenas uma estrutura diferenciada, ou
seja, não se caracteriza, exclusivamente, pelo seu aspecto organizacional. Identificar esse
modelo só por uma desconcentração de espaço físico é usar um indicador frágil, é necessário
ampliar essa definição ao considerar a riqueza que se configura nas particularidades das
dimensões funcionais, espaço-temporais e regionais.
Nesse momento, para dar continuidade à escritura da tese, é imprescindível esclarecer
que em seu projeto, a apresentação dos campi foi realizada do norte do Estado até a sede da
IES, deixando visível a questão da distância territorial e distribuição espacial. Porém, a
exposição a partir da cronologia institucional parece procedente porque configura a
compreensão do seu processo expansionista. Em sendo assim, é essa a opção aqui praticada71.
O primeiro campus a ser apresentado é Cáceres, pelo motivo de que também é a sede
administrativa da Unemat, localizada no interior a 200 Km de Cuiabá. Encontra-se
geograficamente na microrregião do Alto Pantanal no sudoeste do Estado (MATO GROSSO,
2011). Em 1999, para melhor atender as atividades pedagógicas e descentralizar a gestão, o
campus foi desmembrado da reitoria. Até então, as ações estavam reunidas num mesmo
espaço físico, nesse momento criou-se uma assessoria para coordenação da unidade, que
passou a denominar-se Jane Vanini72 (Unemat, 2013).
Hoje, pelo edital do vestibular (2013/2) oferece treze cursos de graduação
(Agronomia, Ciências Contábeis, Direito, Enfermagem e Medicina, além das Licenciaturas
em Letras, Pedagogia, História, Geografia, Matemática, Ciências Biológicas, Computação e
Educação Física). Através das observações in loco e nas entrevistas com os CPs, pode-se
destacar que esse campus conta com três mestrados (Educação, Ciências Ambientais e
71
Essa preferência foi sugestão da banca de avaliação do projeto de tese.
72
Guerrilheira mato-grossense conhecida fora do Estado e também em outros países, estava exilada no Chile
quando foi assassinada. Identificar esse campus com o seu nome foi uma homenagem do governador Dante de
Oliveira, visto não ter o reconhecimento merecido (GAZETA, 2012).
130
73
Resultados detalhados sobre essa parte do estudo podem ser consultados no software que acompanha a tese e
nas análises no último capítulo.
74
Compõem parte do sistema de proteção da Amazônia que desenvolve atividades de monitoramento de
queimadas e qualidade das águas. Além disso, controla o tráfego e a defesa aérea (Disponível em:
http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/sivam.htm. Acesso em: 28 abr. 2013).
131
precisa da pesquisa para compreender a realidade local para desenvolvê-la (Unemat Sinop,
2013). Desvela-se que a pesquisa seria o caminho para a instrumentalização de uma proposta
não-ingênua de conhecimento da realidade e da regionalidade do Estado, a partir de sua
demanda ambiental.
Outra observação pertinente é a questão ambiental que está presente na percepção de
que a universidade serve para quebrar os vínculos com o “pensamento imediatista e
predatório” em busca de potencialidades de desenvolvimento auto-sustentado, “fugindo da
despreocupação com o meio-ambiente”. Com essa inquietação ambiental, o campus almeja
formar profissionais que atuem de maneira integrada com os recursos naturais de modo
sustentável e eficiente. Procurando, criar meios de desenvolvimento, preocupa-se com o
social a partir do educacional e econômico da região, assume que seu papel é uma formação
oriunda da realidade e voltada à sociedade em todos os seus aspectos econômicos, sociais e
humanos (Unemat Sinop, 2013).
Dado o passo inicial no processo de interiorização da Unemat, depois da inclusão de
Sinop no início da década de 90, foi tomando forma à estrutura multicampi, e vários outros
campi foram criados. Um deles foi Alta Floresta, acompanhando no mapa da Figura 01, esse é
o primeiro campus localizado no bioma amazônico, distando 830 km de Cuiabá e 1.030 km
de Cáceres. Esse campus nasceu de uma proposta coletiva da prefeitura em parceira com a
Unemat. Zattar, Teixeira e Artioli (2008) destacam que o acordo realizado tinha como
objetivo “habilitar e capacitar em nível de 3º grau os interessados, dar suporte pedagógico às
ações educacionais dos docentes de 1º e 2º graus da rede pública” (p. 39).
O primeiro curso oferecido foi escolhido através de uma reunião com a presença de
autoridades, diretores, alunos, professores e comunidade em geral e a plenária decidiu por
Ciências Biológicas (ZATTAR, TEIXEIRA e ARTIOLI, 2008). Conta, hoje, com quatro
cursos (Bacharelado em Agronomia, Direito e Engenharia Florestal, além da Licenciatura)
que têm como finalidade atender os anseios e demandas da sociedade e a contextualização da
problemática geo-ambiental-econômica-social de Mato Grosso (Unemat, 2013).
Alta Floresta ofereceu ao longo dos seus vinte e um anos de existência, vários cursos
de especialização voltados à questão ambiental que sinalizam uma distinção desse campus.
Em 2010, ofertou a Pós-graduação Lato Sensu sobre Gestão colaborativa de sistemas sócio-
ecológicos-econômicos na Amazônia brasileira, em parceria com a Universidade da Flórida,
que também contou com a colaboração do Instituto Centro de Vida e da Secretaria de Estado
do Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA/MT) (Unemat, 2013).
132
Esse campus possui projetos de pesquisa financiados por várias agências, uma delas é
a Companhia Paranaense de Energia, que ofereceu suporte financeiro para as ações
desenvolvidas em parceira com a Usina Hidrelétrica Teles Pires no que diz respeito ao resgate
dos animais, da fauna e da flora (dados coletados em entrevista com o LG25). Essas
informações evidenciam o tipo de articulação que o campus possui tanto em nível estadual
quanto internacional, assim como sua preocupação ambiental, visto que está imerso num dos
principais biomas brasileiros (Amazônia), que desperta grande interesse em pesquisas.
Haesbaert (2010) comenta que o fortalecimento das questões ambientais e do
biopoder75, insere nas discussões temporais um discurso regionalista que elenca dilemas. Um
deles é a regionalização como instrumento da prática que corresponde à construção e ao uso
concreto que os sujeitos fazem de sua região, os quais produzem mobilizações em torno de
fenômenos que geram identidade. Outro é a regionalização como processo teórico e prático,
que responde a questões com diferentes articulações sociedade-espaço em suas múltiplas
dimensões, tanto da prática quanto das representações geo-historicamente contextualizadas.
Pode-se considerar analiticamente que a intensa inclinação para os estudos ambientais
em Alta Floresta tem seu auge na oferta do Mestrado em Biodiversidade e Agroecossistemas
Amazônicos. Para implementar as atividades de pesquisa possui um centro76, que caracteriza
a infraestrutura adequada para o desenvolvimento de seus projetos.
O próximo campus é Alto Araguaia, localizado na região sudeste e faz fronteira com
Mato Grosso do Sul e Goiás, tem forte influência cultural da população goiana, fica distante
cerca de 420 km da capital e 620 km de Cáceres. Surgiu com o objetivo de suprir a demanda
de Educação Superior no interior do Estado, priorizando as regiões de difícil acesso (Unemat
Alto Araguaia, 2013). Zattar, Teixeira e Artioli (2008) enfatizam que o prédio onde a Unemat
está instalada foi adquirido em parceira com a prefeitura municipal. O campus oferece à
comunidade três cursos: Licenciatura em Letras, Bacharelado em Ciência da Computação e
Comunicação Social (Jornalismo). Não há grande representatividade de atividades
relacionadas a pesquisas ou grupos nesse campus.
Luciara é a próxima unidade da Unemat a ser descrita e está localizada na região do
Médio Araguaia, por isso, também se chama Campus Universitário do Médio Araguaia, e está
75
Termo criado originalmente por Foucault para se referir à prática dos estados modernos de regulação dos que
estão sujeitos, por meio de técnicas diversas ao controle. Caracteriza-se e é comparado ao poder disciplinar,
consultar mais informações em Braga (2004).
76
Estrutura física e organizacional, compreendendo recursos humanos, espaço físico, instalações, equipamentos
e laboratórios, para agregar núcleos, grupos e pesquisadores, tendo como objetivo criar ambiência para a
pesquisa. Sua criação resulta de políticas institucionais, articuladas pela PRPPG e visa atender as demandas
internas (CONEPE, 2009a).
133
no nordeste do Estado, próximo a Tocantins (verificar figura 01). Foi criado no momento da
expansão quantitativa em 1991 e desenvolve parcerias com diversos municípios da região e
com a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc/MT) (Unemat, 2013).
Segundo dados coletados no Anuário (2012), é o campus com menor área edificada, e
há poucos docentes efetivos (informação concedida pela Pró-reitoria de Administração -
Prad). Isso quase inviabiliza qualquer atividade diferenciada, visto que o trabalho de gestão
deve ser organizado, talvez esse seja um dos motivos explicitador da ausência de grupo de
pesquisa. Funciona no Sistema Parceladas77 e suas demandas são atendidas em editais
específicos que acontecem oportunamente. Atualmente oferta Licenciatura em Química,
Ciências Biológicas, Letras e Pedagogia do Campo. Além disso, tem a maior quantidade de
núcleos caracterizando o objetivo de atendimento interiorizado que é o mote da Unemat
(REVISTA, 2013).
Não há muito a acrescentar nas análises descritivas sobre Luciara no que diz respeito à
questão dessa tese que é a pesquisa e a Pós-graduação, pois é um campus pequeno, sem muita
visibilidade que envolva essa temática. É imprescindível salientar que atende a uma região do
Estado de Mato Grosso “quase esquecida”, com enorme dificuldade de acesso, são 1.160 km
até Cuiabá, e 1.360 km até Cáceres. É o campus mais distante da reitoria, relembram-se aqui
os estudos de Fialho (2005) que indica que a distância geográfica é uma das problemáticas da
estrutura multicampi. Isso quer dizer que a dispersão geográfica de unidades institucionais
cria dificuldades de natureza administrativa e de gestão acadêmica. “Emergem problemas
referentes à construção de uma identidade orgânica da instituição, com reflexos negativos no
seu desempenho” (p. 13), dessa forma, “[...] consolida-se, através da dispersão geográfica e da
própria interiorização do ensino, o quadro de desigualdades” (p. 71) dentro de uma IES.
O campus de Nova Xavantina também nasceu no mesmo período dos que o precedem
nessa descrição. O município está localizado a 635 km da capital de Mato Grosso e a 835 km
de Cáceres. Está no caminho para o campus de Luciara, na depressão do Araguaia próximo da
Serra do Roncador (Unemat, 2013). Com relação à estrutura física edificada, o Anuário
(2012) informa que possui relativamente bom espaço com possibilidade de ampliação. O
campus é um local que integra a universidade à natureza, funciona nas instalações da antiga
base da Força Aérea Brasileira, na Unidade de Conservação denominada Parque Mário Viana
conhecido como “Parque Municipal do Bacaba”. Segundo Weihs (2008), o campus está
77
Os tempos curriculares nas Parceladas são distribuídos separadamente nos meses de janeiro, fevereiro e julho
(férias escolares) acontecendo de forma intensiva, e também continuada abrangendo os períodos do trabalho
escolar (REVISTA, 2013).
134
78
Weihs (2008) destaca no Brasil a USP e de outros países a Universidade de Oxford.
136
79
São os professores que são chamados em outras IES de substitutos, temporários ou contratados.
139
Notas:
* O início e término de mandato foram organizados a partir das portarias individuais de cada pró-reitor, que
foram consultadas na seção de recursos humanos, além de confirmadas nos currículos.
** Período de substituição de licença-maternidade.
143
microrregulação local (BARROSO, 2006). Para o LG38, “infelizmente você vive de poderes e
os poderes são constituídos, então às vezes você tem os poderes certos e às vezes não”.
Segundo o LG43, o poder das ações da PRPPG tem “sentido de política estratégica”. O LG59
comentou que “aos seus olhos” a agenda de políticas de pesquisa depende muito de quem que
está no poder no momento. Então, “acaba sendo uma agenda das Ciências Ambientais, uma
agenda da Educação. Uma agenda de um determinado grupo não de uma universidade”. Para
Bourdieu (2004) as disputas entre grupos não visam destruir a estrutura do campo científico,
mas modificar a sua configuração. Assim, os campos são lugares de formas de poder que
correspondem a duas espécies de capital científico:
de um lado, um poder que se pode chamar temporal (ou político), poder institucional
e institucionalizado que está ligado à ocupação de posições importantes nas
instituições científicas, direção de laboratórios ou departamento, pertencimento a
comissões, comitês de avaliação, etc., e ao poder sobre os meios de produção
(contratos, créditos, postos, etc.) e de reprodução (poder de nomear e de fazer as
carreiras) que ela assegura. De outro, um poder específico, “prestígio” pessoal que é
mais ou menos independente do precedente, segundo os campos e sobre o
reconhecimento [...] (BOURDIEU, 2004, p. 35 – grifo do autor).
A PRPPG é, pois, essa instância de poder institucional, pois permite ao seu pró-reitor
seu exercício seja temporal ou específico, conforme destacado nos fragmentos dos
entrevistados. Além disso, também confere ao gestor, o prestígio pessoal de estar integrado à
reitoria, órgão máximo da universidade, o que para muitos garante status. Em qualquer forma
de organização há relações de poder. Silveira (2003) destaca que “Em certas circunstâncias, a
própria organização significa poder. Em outras, organização e poder são elementos distintos
que se encontram inter-relacionados. Em outras, ainda, são elementos distintos entrelaçados,
que dependem um do outro” (p. 9). Há, pois, várias caracterizações de instituições,
considerando-as inseridas num espaço com uma estrutura produtora de poder.
Sobre a equipe de trabalho desta arena de poder, atualmente é composta de três
assessorias com suas respectivas diretorias e supervisões. Com relação à função de cada uma,
pode-se indicar que as direções de gestão de pesquisa, de Pós-graduação e de iniciação
científica têm suas finalidades explicitadas. E a gestão de núcleo de inovação tecnológica não
possui as explicações acerca de suas atividades no site da PRPPG. Acerca das funções
desempenhadas, percebe-se que são extremamente burocráticas e regulatórias, especialmente
as que se referem a relatórios, acompanhamento de desempenho de atividades, entre outras.
Essa tese não tem a especificidade de compreender os processos burocráticos da
Unemat, porém não se pode deixar de evocar Weber (1974) nessa parte do estudo para
evidenciar que uma organização formalmente estruturada é burocrática no sentido clássico de
145
Todos esses elementos são visíveis visto que a PRPPG tem o poder e o aparato
sistêmico para organizar os campi universitários e seus pesquisadores em redes e construir
uma cultura de pesquisa. Porém, a delimitação de territórios do saber e a ênfase excessiva de
atenção em algumas unidades acadêmicas é a marca de suas atividades, conforme identificado
nos fragmentos das entrevistas dos LGs em discussão anterior.
Numa tentativa de síntese das principais ações desenvolvidas pela PRPPG nos seus
dezenove anos de existência, pode ser elencada a atuação na qualificação docente. Segundo
Zattar, Tavares e Artioli (2010) “com a missão de consolidar a política de pesquisa, a Unemat
investe fortemente na qualificação do corpo docente e na implantação e funcionamento de
Programas de Pós-graduação Stricto Sensu, em nível de mestrado” (p. 42).
Segundo o Catálogo de Cursos (2010a), a qualificação docente tem sido executada por
meio de diversas modalidades de convênios e cooperações, com a CAPES, através do
Programa de Qualificação Institucional (PQI), e do Programa Institucional de Capacitação
Docente e Técnica (PICDT) e os programas de Minter e Dinter, com o apoio da Fapemat e
Secitec. Esse investimento vem possibilitando um crescimento no número de doutores e de
mestres, e isso pode contribuir para a ampliação da oferta de programas de Pós-graduação.
Registra-se através da AC das entrevistas com os PRs que o movimento de maiores
ações para a qualificação docente fundamentou-se a partir das ações do Prof. Dr. Laudemir,
porém, seus frutos foram colhidos posteriormente na gestão da Profa. Dra. Carolina Joana e
da Profa. Dra. Áurea. Segundo dados atualizados coletados na PRPPG, a IES possui dois
Minters (Direito e Ciências Contábeis) e seis Dinters (Administração, Linguística, Educação,
Engenharia Elétrica, Geografia e Zootecnia). Além disso, conta com dois doutorados
ofertados em rede: Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Bionorte)80 e Rede
Amazônica de Educação em Ciência e Matemática (Reamec)81.
Zattar (2008) indica que a política de qualificação docente pode ser resumida em fases
que marcaram a trajetória da PRPPG: cursos de Minters; afastamento contínuo de docentes
para qualificação em programas diversos; organização de políticas de Pós-graduação pelos
80
Criada pelo MCT tem como objetivo integrar competências para o desenvolvimento de projetos de pesquisa,
inovação e formação de doutores, visando gerar conhecimentos, processos e produtos que contribuam para o
desenvolvimento sustentável da Amazônia, nas áreas da biodiversidade e da biotecnologia. É um esforço
interinstitucional dos doutores da região norte, com essência regional, multinstitucional e interdisciplinar,
objetivando a conservação do bioma (Bionorte, 2013).
81
É formada por vinte e seis IES de nove estados da Amazônia Legal e tem como meta formar doutores, por
meio de ação colaborativa, visando a formação de pesquisadores e professores para o Ensino de Ciências e
Matemática. Seu propósito é fortalecer a pesquisa na região amazônica, especialmente no âmbito das
licenciaturas (UFMT, 2012).
147
desempenho das atividades de pesquisa na instituição que até então, inexistia. Vale ressaltar
que a partir de 2007, o financiamento ocorreu por órgãos externos à instituição, como poderá
ser identificado nas análises estatísticas no próximo capítulo. Todavia, é aceitável ainda,
realizar algumas reflexões com relação aos projetos de pesquisa desenvolvidos atualmente,
enfatizando as áreas do conhecimento. Verificar especificação na tabela:
Nota:
* Primeiro doutorado institucional que será realizado em parceria com a USP até 2018. Recebeu autorização de
funcionamento em outubro de 2013, e o corpo docente será composto por professores das IES envolvidas e darão
sustentação às atividades do curso.
Já sobre o segundo elemento analítico enfatiza-se que há programas que têm docentes
de outros campi para aulas e orientação. Um exemplo é o mestrado 04, que segundo dados
coletados nas entrevistas com os LGs e com o CP, possui docentes dos Campi de Cáceres,
Pontes e Lacerda, Alto Araguaia e Sinop. Isso concretiza a possibilidade de construção de
uma proposta de integração territorial a partir da ligação dos campi que estão geograficamente
isolados.
Outro balizador de análises é o mestrado 07 que tem como espaço institucionalizado
de suas atividades três campi da instituição. Essa proposta interdisciplinar atende a integração
e caracterização da interiorização de Mato Grosso, e uma postura pró-ativa para a
interdisciplinaridade e para as redes. O programa está indicado como multicampi na proposta
que foi enviada e aceita pela CAPES e recebeu a melhor avaliação de todos os mestrados,
conforme pode ser percebido no quadro 07. Talvez essa integração possa ser um dos
elementos definidores dessa avaliação. Esse tipo de mestrado com característica multicampi
poderia ser propulsor para organizar outros programas que tivessem essa mesma característica
e pudessem ampliar o atendimento para outras regiões do Estado.
Ressalta-se que a Pós-graduação na Unemat é fruto de uma longa caminhada, desde
seu processo de credenciamento, passando pela organização até as ações atuais da IES.
Outrossim, a atividade regulatória da PRPPG foram as resoluções. Nesse sentido, foi preciso
organizar um quadro sinóptico com aos atos normativos que estão diretamente ligados à
temática da pesquisa.
Conforme análises preliminares foi somente a partir de 2001 que se iniciaram os atos
normativos da pesquisa na Unemat, e em 2003, houve uma profunda sistematização dessas
atividades (oito resoluções). Isso acontece no período da gestão do Prof. Dr. Laudemir Luiz
Zart que implementou um número extremamente significativo de ações para que a pesquisa
“deslanchasse” na IES, entre elas há um esforço na construção do espírito científico e da
concepção institucional de pesquisa (resoluções nºs. 112 e 113/2003).
Depois disso, apenas em 2007, houve novo adensamento de atos normativos, com o
acréscimo de mais seis resoluções. Todas tratam das normas disciplinares da pesquisa, e isso
se efetivou na gestão da Profa. Dra. Carolina Joana da Silva, que sucedeu o Prof. Dr.
Laudemir, dando continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido. Segue as principais
providências tomadas pela pró-reitoria no quadro:
152
Notas:
* Um quadro semelhante pode ser consultado em Silva (2013), porém apresenta informações diferentes. Aqui
foram trazidas apenas as resoluções que envolvem diretamente a pesquisa e a Pós-graduação na IES.
** Resoluções revogadas.
No total têm-se dezenove resoluções, sendo que três foram revogadas e substituídas, e
uma instrução normativa que consiste no aparato legal regulatório da pesquisa. Não foi
possível listar todas as resoluções que emanaram da PRPPG que eram muitas. Acrescentam-se
duas que tem como foco a Pós-graduação, que é de interesse dessa tese e não estão incluídas
na síntese. Ambas são do Conepe: a resolução nº. 134/2003 que acata o regimento da Pós-
Graduação Stricto Sensu e a nº. 003/2007 que aprova o regimento dos cursos de Pós-
graduação Lato Sensu (Conepe, 2012). Ressalta-se que o expressivo fomento de programas a
partir desse período coincidiu com a definição e implementação de políticas para a pesquisa
153
em 2003. Neste ano, a partir de estudos com diversas instâncias envolvidas elaboraram-se
várias resoluções que imprimiram as diretrizes iniciais para a Pós-graduação na Unemat, que
resulta na aprovação do primeiro mestrado na IES dois anos depois.
Numa análise final dos dados com relação às categorias adensamento e densidade das
atividades da PRPPG, tanto na descrição de suas diretorias quanto na legislação, há ênfase no
adensamento (processo) com relação à quantidade, e ainda não é possível perceber densidade
(produto) nas suas ações. É notório que a burocracia e a regulação ainda tomam conta da
maior parte das atividades da pró-reitoria. Enquanto se estiver nesse patamar é provável que
não seja possível angariar tempo e/ou disposição para fomentar redes entre os campi.
Na linha do tempo das ações da PRPPG, destaca-se que desde 2008 vem realizando o
Workshop dos grupos de pesquisa e da Pós-graduação que tem como objetivo fortalecer e
integrar as pesquisas desenvolvidas pelos grupos, por meio de uma mostra científica e
tecnológica. Com isso, buscou-se estimular a discussão para o progresso da ciência e
tecnologia, com forte atuação e desempenho no interior.
Nesse momento de interlocução entre os campi, necessitam serem realizadas mesas
redondas e conferências que discutissem a organização dos grupos de pesquisa em áreas
temáticas de acordo com a posição geopolítica, ecológica e sócio-econômica dos
pesquisadores da Unemat. Segundo notícia divulgada sobre o workshop, dever-se-iam ser
apresentadas estratégias de propostas potenciais para o desenvolvimento do programa de
interiorização da Pós Graduação Stricto Sensu em Mato Grosso. Funções essas que a PRPPG
deveria desenvolver saindo da perspectiva regulatória e alcançando posições de integração
dos pesquisadores e implementação de redes.
Porém, não foi exatamente dessa forma que aconteceu segundo observação realizada
in loco em 2010 durante o III Workshop em Cáceres, verificou-se que as ações relativas às
proposições e prospecções foram substituídas por palestras de temáticas que envolvem em sua
maioria a grande área de pesquisa da Unemat (Ciências Biológicas). Houve poucas atividades
que serviram para a articulação dos grupos e das redes. Em 2011, a situação detectada
persistiu, segundo relatos do LG07 e do LG59. Já em 2012 e 2013, o workshop não ocorreu.
Ainda com relação à linha do tempo e as ações da PRPPG, há um informe que pode
ser considerado um avanço sistemático na organização da pesquisa na IES. Na gestão da
Profa. Dra. Carolina Joana (2010) foi implantado um sistema chamado Gestão de Pesquisa On
Line (GPO)82 que funciona como uma ferramentas de gerenciamento de projetos,
82
Para mais detalhes consultar: http://gpo.unemat.br/.
154
VILLAR, 2009) tem seu significado expandido nessa tese quando se articulam a
territorialidade. Assim, explicitam um exercício para se refletir sobre a intersecção de
inúmeros planos regionais dos campi da instituição estudada.
O primeiro ângulo incide na política expansionista da IES (1999), quando foi
elaborado o programa de atendimento às demandas da Educação Superior, com o objetivo de
promover a ampliação de cursos a partir das demandas sociais nos diversos setores da
economia do Estado. Foram identificados dez pólos que apontaram áreas prioritárias e
criaram-se a partir de 2001 cursos de bacharelados (ZATTAR, 2008). Com esse programa, a
Unemat alinhou-se às outras IES públicas e privadas de Mato Grosso, no oferecimento de
cursos planejados para as áreas produtivas o que gerou a descaracterização das licenciaturas
como foco principal de atuação. Isso contribuiu decisivamente no desenho de territórios de
áreas do conhecimento atendidas em regiões específicas pelos campi.
O segundo ângulo é decorrente do primeiro e trata da estrutura multicampi da Unemat
(treze campi e dez núcleos que atendem todo o Estado), o qual identifica relações entre a
configuração organizacional, espacial e as condições, favoráveis ou não, para o
desenvolvimento da pesquisa nesses espaços acadêmicos. As reflexões ao longo do constructo
teórico foram enriquecidas buscando ilustrar várias características da estrutura multicampi
como fruto do diálogo da concepção e do modelo de universidade que foi construído.
A categorização da Unemat enquanto IES multicampi construiu uma abordagem
diferencial que reconheceu implicações de ordem sistêmica e estrutural. As configurações
espaço-temporais e funcionais objetivaram-se, concretamente, na sua estrutura organizacional
desconcentrada e na sua dispersão físico-geográfica em Mato Grosso. Essas características
indicaram delineamentos relativos a esse modelo e à regionalidade.
O terceiro ângulo considera que a função da universidade encontra-se, implicada
nessas dimensões históricas, políticas, geográficas e sociais dos processos de organização da
sociedade mato-grossense. Como consequência, houve evidente entrelaçamento entre a
expansão dos campi e a interiorização da IES, isso significa dizer, relações entre a ocupação
do espaço territorial e a oferta da Educação Superior, conforme evidenciado em seu histórico.
Para Machado Cunha (2010) esse processo representou um movimento em duplo
sentido. Primeiramente, através de suas unidades, ampliando vagas e criando novos cursos, na
tentativa de instituir uma base organizacional mais abrangente no Estado; e depois, num
segundo sentido, enquanto universidade, no formato multicampi, refletindo interesses
específicos dos contextos de cada região.
156
retomando o ano fundacional, além de indicar se possui ou não centro de pesquisa, que pode
ser determinante nas práticas do pesquisador na IES.
Nota:
* Não dispõem de estrutura física específica para os pesquisadores, apenas laboratórios que são utilizados para as
atividades de ensino e de extensão universitária.
Esse quadro representa um dos resultados da pesquisa que consegue tanto sistematizar
e articular os conhecimentos teóricos trazidos até o momento como congregar elementos
analíticos na construção dessa tese. Objetivou-se identificar os campi em níveis de produção
de pesquisa (avançado, intermediário ou inicial) que foram detectados a partir das entrevistas
e das visitas realizadas, além de se aprofundar a reflexão sobre a identidade de cada um deles.
Na análise para a construção do quadro levou-se em consideração vários critérios, tais
como: a identidade de cada campi, a inserção local e global, as redes e os grupos de pesquisa,
a existência de programas, as áreas do conhecimento em relevo, dentre muitos outros. Isso
revelou as assimetrias estaduais com relação à atuação da Unemat na pesquisa e na Pós-
graduação, além dos dilemas e desafios a serem enfrentados.
A decisão de se apresentar os níveis da pesquisa distribuídos nessa classificação
(avançado, intermediário ou inicial) impôs como necessidade relembrar o ano da implantação
de cada campi. Assim foi possível evidenciar que os que se integram ao nível avançado não
necessariamente foram às primeiras unidades acadêmicas a existirem na IES. Toma-se como
ilustração Tangará da Serra, que foi o penúltimo campus criado e hoje sustenta a maior
quantidade de projetos executados na Unemat (tabela 01), com posição estratégica de nível
avançado na produção da pesquisa.
Analiticamente, é necessário relembrar que a sede (Cáceres) é um dos campi que
possui maiores possibilidades estruturais, políticas e físicas, além de quantidade de docentes
para o desenvolvimento da pesquisa. Por esses motivos, foi categorizado no nível avançado,
juntamente com Nova Xavantina, Tangará da Serra e Sinop, que também possuem condições
semelhantes, guardadas as devidas proporções. Desses, apenas Xavantina ainda não dispõe de
158
centro de pesquisa, o que perpetua um cenário de necessidade eminente, visto que é um dos
campi que tem destaque na produtividade docente e inserção em pesquisas.
Num nível intermediário estão Alta Floresta e Barra do Bugres. O nível inicial de
produção de pesquisa é representado pelos campi de Pontes e Lacerda, Alto Araguaia,
Colider, Juara e Luciara que dispõem de baixa produtividade, ausência de docentes efetivos,
entre outros motivos que explicam sua posição nesse quadro. Se for retomada a dispersão
geográfica demonstrada na figura 01, pode-se perceber que os quatro campi que apresentam
maior densidade e/ou adensamento de atividades de pesquisa na IES atendem uma região
específica (na ordem citada no quadro 09: oeste, leste, centro do Estado e norte). Também,
faz-se necessário esclarecer que a maior quantidade de campi, estão alocados no nível inicial,
por isso a tese é relevante, para que se possa ampliar as discussões sobre a identificação da
distribuição geopolítica e fortalecer a produção do conhecimento nessas unidades acadêmicas.
Outro destaque angular para a compreensão da geopolítica da produção da pesquisa na
Unemat é Nova Xavantina, que desde o início construiu uma sólida cultura institucional local.
Há campi que nasceram no mesmo período (Alta Floresta, Alto Araguaia, Luciara, Pontes e
Lacerda) que não tiveram o mesmo desempenho, por inúmeros motivos indicados
anteriormente, relembrando que em dois deles a pesquisa quase inexiste.
Esse panorama gera implicações quando considerados os critérios estabelecidos para a
qualificação de uma universidade multicampi, as quais tendem a apresentar enormes
dificuldades para atender aos parâmetros de titulação docente, produção acadêmica
institucionalizada e oferta de cursos Stricto Sensu, nos seus vários campi. Tais dificuldades
refletem problemas como a fixação de docentes nas regiões, condições infraestruturais para a
realização de pesquisas, além do apoio institucional. Por sua vez, com relação aos campi, as
assimetrias manifestam os efeitos desses processos. A universidade multicampi traduz em seu
espaço de ocupação territorial, configurações específicas que se relacionam ao fato de ser uma
IES presente em diferentes regiões do Estado, uma vez que convive com realidades e graus de
desenvolvimento diversos que são característicos de cada um desses espaços.
O resultado desse processo articula-se segundo lógicas: por sua sede longínqua quanto
ao espaço da ação e pela sua inconformidade com o sentido preexistente da região em que se
encontra. Desse modo, produz-se alienação territorial à qual correspondem outras formas de
alienação para Fialho, que também se relacionam aos espaços de poder de Bourdieu e dos
territórios de regência de Santos. Esse ângulo analítico permite enfatizar que dentro de um
mesmo Estado e numa mesma IES, se criaram formas e ritmos diferentes de evolução,
159
Relembra-se que a IES atende a uma grande faixa territorial, demonstrado no mapa da
figura 01. Já se evidencia de antemão a dificuldade relativa às distâncias geográficas entre a
sede e os campi. Conforme salientado foram entrevistados no total oitenta e três LGs, sua
distribuição por unidade academica pode ser visualizada na tabela.
Nota:
* Como a entrevista possibilitava mais de uma resposta, os LGs informaram suas opiniões que foram
condensadas em categorias, gerando uma quantidade maior de indicações do que o número total de respondentes.
Quanto aos desafios espaciais, que envolvem as distâncias entre as unidades, os LGs
rememoram que “A nossa localização geográfica em relação à pesquisa tem grande fator
limitante” (LG06). Segundo outro entrevistado “Cria muitas dificuldades materiais e de
locomoção, de intercâmbio também. Enfim, por outro lado, as possibilidades que essa
estrutura multicampi pode criar para a pequisa, principalmente em algumas áreas, é enorme”
(LG09). Para o LG11/CP07 “de certa forma, em minha área de pesquisa, eu até preciso dessa
divergência geográfica, de condições climáticas e tudo mais. Então, eu vejo isso como ponto
favorável” para o desenvolvimento da Pós-graduação e da pesquisa na Unemat.
Analiticamente isso retoma a categoria destaque, no ponto específico que trata da
regionalização e da diversidade e gera dicotomias com posicionamentos diversos.
Num comparativo entre as primeiras categorias da tabela, pode-se dizer que o
percentual para os problemas da estrutura multicampi é de 12,5%, enquanto que os destaques
tem 11,9%. Há, assim, um pequena diferença entre as posições, o que indica que os LGs, não
se polarizam em pontos positivos ou negativos, conseguem, enxergar a estrutura multicampi a
partir das duas perspectivas. Isso demonstra clareza na compreensão da universidade e de seu
papel na interiorização do Estado, através dos campi para o atendimento da população mato-
grossense, mesmo que com uma grande dispersão territorial.
Com relação à última categoria elencada, das estratégias para as adversidades das IES
multicampi (75,6% das respostas - o maior percentual). Dezenove pesquisadores indicaram a
utilização das tecnologias enquanto alternativa para superação das fronteiras. Segundo os
respondentes isso pode acontecer através de tele e/ou vídeoconferência, encontros e reuniões
on line, tanto os relativos à gestão administrativa, quanto à parte pedagógica. Os
encaminhamentos dos LGs para a solução das dificuldades multicampi apontam para o uso de
tecnologias. Também sugestionam a proposição de políticas reservadas para a integração dos
campi (dezoito indicações), que se solidariza com as redes (vinte e três sinalizações),
totalizando quarenta e uma respostas (24%), que é extremamente representativo.
Ressalta-se que as redes proporcionam qualidade à Educação Superior, e os maiores
beneficiados são os docentes e os acadêmicos ressoando na sociedade em geral. A melhoria se
dá efetivamente no fortalecimento dos grupos de pesquisa e na socialização do conhecimento,
bem como, na construção de novas parcerias, pois que as redes privilegiam uma articulação
coletiva e a integração. Para tanto, de acordo com o LG10, é preciso uma política voltada para
a aproximação dos campi “[...] isso pode aproximar os pesquisadores e professores para
discutirem ideias e inclusive até parte de projetos de pesquisa”. Para os respondentes, os
163
desdobramentos da integração se dão nos seguintes termos: dos líderes, dos grupos, dos
campi, dos projetos e integração institucional.
Complementando a indicação da utilização das tecnologias e diretamente envolvida
com esse elemento norteador se localiza a subcategoria infraestrutura (vinte e três
posicionamentos) que segundo os entrevistados deve ser ampliada. É imprescindível
relembrar que para se garantir qualidade na IES, além do salário, é fundamental ter condições
de trabalho, inclusive em termos de laboratório, salas de pesquisa, materiais, entre outros
elementos estruturais. Assim, é necessário recurso orçamentário para a instalação e
manutenção da estrutura universitária para o desenvolvimento da pesquisa.
Seguem-se também na categoria soluções, a divisão da instituição, a cultura de
pesquisa, as parcerias (privadas e com o Estado), a autonomia financeira de cada campi, o
amadurecimento seja dos docentes quanto da instituição, a descentralização (financeira, da
IES, dos campi e do poder), e a isonomia dos espaços acadêmicos.
Tanto a questão da isonomia, quanto a descentralização e a autonomia são
subcategorias correlacionadas direta ou indiretamente ao poder, pois como analisado existe
em qualquer espaço/local, gerando regras e estruturando relações sejam burocráticas ou não.
O poder, a hierarquia e a autoridade podem ser considerados imperativos técnicos no
funcionamento das organizações que Chauí explicitou e se aplicam diretamente neste espaço
de reflexão, que é uma universidade regionalizada. A Unemat é composta de indivíduos
isolados e conjuntos heterogêneos que disputam os espaços de poder, que nesse estudo de
caso são a sede (lugar de reger) e os campi (espaço de fazer), além da PRPPG.
É necessário ainda, fazer uma inferência especial sobre a subcategoria planejamento
que totaliza nove indicações na tabela 03. Os tipos elencados pelos LGs foram: planejamento
institucional, por área do conhecimento, estratégico, participativo e macro. Todos se
relacionam diretamente à pesquisa, e serão detalhados no próximo capítulo, onde se
apresentarão os cenários propositivos para a consolidação da Pós-graduação na Unemat.
A título de fechamento teórico-analítico, considera-se que existem prerrogativas no
modelo multicampi, entretanto, a dispersão geográfica das unidades acadêmicas cria impasses
de natureza administrativa e pedagógica, além da dificuldade percebida de comunicação entre
os campi, que se torna o nó da questão em detrimento das grandes extensões territoriais
envolvidas. Para a LG45, a estrutura multicampi foi criada dentro de uma política de Estado.
“A universidade como órgão do Estado! Foi gestado dentro da política do Estado, e tinha uma
política clara para cumprir”. Hoje, acredita que a estrutura multicampi “[...] não tem mais
política institucional. Então essa multiplicação de cursos novos é uma defesa de território”. E
164
ainda propõe em suas reflexões, “[...] pensar num planejamento de onde quero chegar como
instituição. Traço um plano de ação pra atingir esse objetivo institucional mais amplo que tem
a ver diretamente com papel da instituição para a sociedade”.
É possível esclarecer que existem inúmeras vantagens na utilização da estruturação
multicampi, porém o grande desafio é a superação das distâncias geográficas com o uso das
tecnologias para o avanço da articulação dos campi. A Unemat está trabalhando incisivamente
para que isso possa ocorrer concretizando ações de suporte de rede para as teleconferências e
demais aplicativos necessários.
Apesar de todas as alterações vivenciadas pela Unemat de ordem jurídica, estatutária,
de gestão, de deliberação e do papel de cada unidade administrativa e pedagógica no conjunto
das ações institucionais, a IES ainda mantém relativa autonomia. Os avanços no aporte
orçamentário representam uma conquista expressiva, tanto na implantação como no resultado
de ações, que a colocariam em sintonia com as políticas educacionais brasileiras em curso e à
reestruturação necessária para seu funcionamento.
No próximo capítulo seguem-se os dados recolhidos ao longo da exaustiva pesquisa de
campo com relevo para o perfil dos pesquisadores da Unemat, suas concepções e
experiências, além das políticas institucionais, para se desenhar os cenários propositivos para
a pesquisa e a Pós-graduação na instituição.
165
4 O CENÁRIO CONSTITUINTE
Esta parte da tese é fruto do processo investigativo e categorial que se formou desde o
primeiro capítulo quando foi traçado o mapa da pesquisa e informou-se qual o lócus do estudo
e a problematização para compreender com profundidade o seu constructo teórico-analítico.
Posteriormente, ao se evidenciar a rede conceitual, ratificou-se nas sínteses apresentadas cada
elemento inscrito nessa discussão. Essa estruturação intencional acompanhou a descrição da
IES analisada e ajustou o cenário constituído.
Como informado, a tese objetiva identificar e analisar as políticas e as práticas de
pesquisa da Unemat, buscando desenhar cenários propositivos para a consolidação da
pesquisa e da Pós-graduação. Assim, neste capítulo são realizadas interpretações analíticas
aprofundadas dos resultados alcançados a partir da rede teórico-metodológica estabelecida,
relativos às características da universidade em questão.
A discussão dos dados é desenvolvida não somente em relação à questão investigadora
do estudo, mas, leva em consideração análises adicionais empreendidas ao longo de toda a
investigação. Esse capítulo está dividido em cinco partes; em primeiro lugar, apresenta-se o
perfil do pesquisador com destaques para os LGs entrevistados, posteriormente indicam-se as
concepções e experiências dos respondentes, que compõem a RedSig de sua formação.
Em seguida, aprofundam-se análises enfatizando a ambiência da pesquisa e o aparato
operacional institucional necessário para o seu desenvolvimento. Noutro momento,
acrescenta-se o movimento de ação sobre o ato de pesquisar, relatando a importância da
articulação dos grupos e das redes. Para cada uma dessas partes, evidencia-se um cenário
propositivo da tese abordando qualitativamente os dados quantitativos.
Essa circularidade metodológica integrada à perspectiva da RedSig ressalta um dos
pontos da originalidade desta investigação sendo caracterizada como um estudo descritivo-
propositivo. O procedimento utilizado no delineamento do cenário constituinte é fruto de uma
abordagem multimetodológica da realidade da Educação Superior mato-grossense. Esse foi o
artifício de construção desse capítulo, considerando que seu ápice está nos cenários que
apresentam as categorias e subcategorias elencadas (figuras 02, 03 e 04) no fortalecimento da
pesquisa e da Pós-graduação na Unemat.
Por fim, busca-se o movimento do constituído para a edificação do cenário
constituinte da consolidação da pesquisa na Unemat, realiza-se um fechamento analítico
assentado na síntese enriquecida e traz à tona os enlaces necessários e as possibilidades de
construção das redes na instituição multicampi regionalizada deste estudo de caso.
166
83
Maiores informações sobre a evolução de servidores por unidade administrativa no período de 2002 a 2011,
podem ser consultados no anuário (2012).
167
Para fins das análises estatísticas, foi realizado um agrupamento das áreas com a
justificativa de que foi baixa a quantidade de LGs entrevistados na Engenharia (um) e nas
Ciências da Saúde (dois). Assim, incorporaram-se as áreas com interesses mais próximos: a
de Ciências Biológicas foi coligada com a área da Saúde; e a área de Engenharia com as
Ciências Exatas e da Terra. Para esclarecer os dados da tabela, é preciso relembrar a
informação evidenciada anteriormente no quadro 01 que o total de grupos existentes é de
oitenta e seis, e o número utilizado para fins de análises é de oitenta e três, visto que há líderes
que possuem duplicidade de grupos de pesquisa.
Ainda com relação à amostra, apresenta-se a correlação entre a quantidade de grupos
respondentes e aqueles que não responderam. Vale ressaltar que para essa análise quantitativa
foi necessário computar o percentual em cada área e a partir dela calcular a porcentagem dos
respondentes e não respondentes. Observam-se mais detalhes no gráfico seguinte.
Considerando as informações contidas na Tabela 04 e no Gráfico 03, salienta-se que as
Ciências Humanas juntamente com as Ciências Agrárias, seguida da área das Ciências
Biológicas e da Saúde foram as que tiveram maior expressividade na quantidade de LGs
entrevistados. Isto é, houve um número de entrevistados próximo do total de grupos
existentes, exemplifica-se com as Ciências Agrárias, que faltou a entrevista de apenas um LG.
169
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Ciências Ciências Engenharias Linguística, Ciências Ciências
Humanas Biológicas e e Ciências Letras e Agrárias Sociais
da Saúde Exatas e da Artes Aplicadas
Terra
Quantidade de grupos não respondentes
Quantidade de grupos respondentes
Ciências Humanas 36
Ciências Biológicas e da Saúde 16
Engenharia e Ciências Exatas e da Terra 16
Linguística, Letras e Artes 14
Ciências Agrárias 12
Ciências Sociais Aplicadas 6
Total ∑100
está na Área das Ciências Humanas e das Biológicas. O restante (49%) está distribuído nas
outras áreas do conhecimento.
Ressalta-se, finalmente, em busca de análises longitudinais entre o quadro 07 e a
tabela 05 que a área das Ciências Humanas (36% de grupos existentes na IES) possui apenas
um programa de Pós-graduação. Enquanto que a segunda área (Ciências Biológicas e da
Saúde) possui cinco cursos espalhados em vários campi. Isso implicar considerar que mesmo
com um adensamento menor de grupos consolidou uma maior quantidade de Pós-graduação.
A existência dos espaços coletivos são impulsionadores da pesquisa no seio das IES.
Franco e Morosini (2001) indicam que os grupos de pesquisa são uma realidade materializada
em algumas universidades brasileiras que possibilitam a construção do conhecimento
institucionalizado. A Unemat ainda tem um longo caminho a percorrer para a consolidação
dos seus grupos e de suas atividades de pesquisa.
Aprofundando a caracterização e a identificação da amostra desta pesquisa de campo
que são os LGs apresentam-se as informações relativas à titulação e sexo dos respondentes
(oitenta e três participantes). A maior parte da amostra foram os doutores totalizando 67,5%,
seguidos dos pós-doutores com 19,2% e 13,3% de mestres. Com relação ao sexo, 50,7% é do
sexo feminino e 49,3% masculino, minúscula tendência para respondentes mulheres. Destaca-
se que há predominância de homens apenas na categoria dos doutores (53,7%), e o sexo
feminino distingue-se na titulação de mestres (54,5%) e pós-doutores (62,5%).
A idade dos LGs variou entre trinta e um e sessenta e seis anos, sendo que a maior
parcela tem entre quarenta e quarenta e nove anos, totalizando 44,5%. Acrescentam-se outros
26,5% que estão alocados entre trinta e trinta e nove anos, isso quer dizer que grande parte da
amostra (71%) é jovem e possuem tempo de vida útil como pesquisador relativamente longo
até a aposentadoria, em média pelo menos vinte anos de atividades.
Para compreender a RedSig dos LGs da Unemat no que diz respeito à sua formação,
foram levantadas as seguintes informações: graduação, especialização, mestrado, doutorado e
pós-doutorado com ano de conclusão de cada um deles e a IES. No cruzamento desses
elementos e para desvelar a rede de formação acadêmica dos respondentes foi utilizado o
SPSS para tratamento estatístico dos dados. A opção foi trabalhar com a análise fatorial
também chamada de análise multivariada que permitiu verificar a correlação e a afinidade
entre o conjunto de informações, verificando tendências e representatividades muitas
vezes implícitas. Utilizou-se o teste qui-quadrado para verificar se a associação entre as
variáveis de uma tabela cruzada estavam relacionadas. Nos dados analisados não foram
encontradas associações significantes (<0,05).
171
84
Foram indicadas no total mais de vinte universidades brasileiras.
172
aparecem três instituições privadas (Estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso) e
uma fundação de pesquisa do Rio de Janeiro. As instituições com maior quantidade de
respondentes são públicas (federais e estaduais). A tabela enfatiza que as duas regiões mais
importantes em termos de pesquisa (Sul e Sudeste) foram os locais escolhidos pelos docentes
para buscar qualificação. Como resultado pode ser colocado em realce à articulação desses
LGs, buscando representatividade da Unemat nesses lócus de produção de pesquisa
qualificada, disponibilizado na Pós-graduação.
Lima e Maranhão (2009) destacam que nos critérios de natureza acadêmica de
instituições de sucesso, as que conquistaram notório prestígio internacional em pesquisas são
as mais procuradas por se revelarem qualitativamente superior. Essa escolha acontece por
todo tipo de acadêmico, brasileiro ou estrangeiro, seja na graduação ou na Pós-graduação, que
acabam fazendo a opção por instituições que possuem referência internacional85, tais como as
citadas: UFRGS, Unesp, Unicamp, entre outras.
A IES que possui essa categorização recebe maior financiamento da CAPES e do
CNPq. Esse é um movimento nacional que também pode ser observado noutros países, para
Litwin (2009) quem recebe uma maior cota de investimento, atinge uma taxa de crescimento
que supera as demais e a pesquisa é fundamental na determinação do prestígio e porte das
IES86. Altbach (2009) constata que a pesquisa passou a ser o valor central das universidades,
“[...] Premiações e prestígio institucional para membros do corpo docente são outorgados
principalmente com base em produtividade de pesquisa” (p. 31).
Na identificação dos LGs foi solicitado se foram bolsistas em algum momento durante
sua formação acadêmica. Infere-se que sessenta entrevistados foram bolsistas. As bolsas
contribuem na formação do pesquisador, visto que possibilita dedicar-se aos estudos, sem
preocupações de ordem financeira pessoal e profissional, produzindo credibilidade e garantia
de dedicação exclusiva.
A formação realizada através de Minters e/ou Dinters, opção praticada pela Unemat,
não oferece essa exclusividade. Esses projetos caracterizam-se pelo atendimento em caráter
temporário e sob condições especiais, distinguindo-se pelo fato de que partes das atividades
são desenvolvidas no campus de origem dos estudos (CAPES, 2013). Assim, os docentes
trabalham alguns períodos e noutros são afastados para a conclusão das dissertações e/ou
85
Acesso aos dados sobre as melhores instituições de Educação Superior na América Latina e no Brasil podem
ser consultadas em Ranking Web of World Universities – Top 12000 Webometrics (RANKING, 2013) ou em
Academic Ranking of World Universities (ARWU) – Shanghai (ACADEMIC, 2013).
86
Estudos sobre reputação institucional e prestígio acadêmico como determinantes no reconhecimento do
sucesso das IES podem ser consultados também em Clark (1992).
173
teses. Somente nas situações de estágio obrigatório, os docentes recebem bolsas, dependendo
da previsão orçamentária do projeto.
A partir dessa caracterização, pode-se vislumbrar o desenho dos grupos de pesquisa na
IES e da amostra dos líderes que foram entrevistados neste estudo de caso. Depois desse
delineamento, as análises se debruçam em questões pontuais de ordem conceitual e
experiencial dos respondentes com relação a pesquisa e a Pós-graduação.
próximo à metade do total de respondentes. A segunda opção mais citada (20,5%) foi em
diferentes situações identificadas como: cursos, especializações, projetos, entre outras nem
sempre correlacionadas ao espaço acadêmico. Por fim, observa-se que 10,8% dos LGs
tiveram seu primeiro contato com a pesquisa como docente. Isso quer dizer que essa parte da
amostra não teve acesso à iniciação científica nas IES onde cursou a graduação, muito menos
estavam se qualificando (mestrado) quando tiveram seu passaporte acadêmico de pesquisador
iniciado, esses pesquisadores não tiveram uma bagagem relacionada à vivência.
Na segunda questão dessa parte da entrevista, abordou-se qual a concepção de
pesquisa do LG, as respostas foram abertas gerando uma infinidade de possíveis elementos a
serem considerados analiticamente. Para melhor visualização na tabela que segue,
apresentam-se as principais categorias.
Nota:
* Conforme ilustrado, a entrevista possibilitava respostas abertas, o que gerou uma quantidade maior de
indicações do que o número total de respondentes. Essa particularidade estará disposta noutras tabelas à frente.
Vale trazer nesse momento analítico alguns pressupostos teóricos que ainda não foram
abarcados para conduzir as reflexões sobre as concepções de pesquisa. Entre eles, a resolução
nº. 085/2007 que caracteriza a pesquisa neste espaço universitário como:
tem seu aporte teórico em Alves (1996) e Calderón (2007) no tocante à necessidade da
indissociabilidade das atividades do ensino e da pesquisa.
Porém, nas respostas sugeridas pelos LGs nem se ventila essa possibilidade, visto que
demonstram preocupação com a produção do conhecimento (50%) enquanto descoberta
científica (22%) e sua publicização (12,7%). Nessa questão, em nenhuma situação, foi
correlacionado o tripé (ensino, pesquisa e extensão). Para a amostra dos LGs a concepção do
ato de pesquisar está hibridamente relacionada com a produção do conhecimento e não
demonstra indícios de preocupação com o ensino. Dessa forma, Isabel Cunha (2001) orienta
que é importante encontrar soluções para superar as dificuldades que se tem vivenciado na
utilização da pesquisa, tanto como produção científica quanto como processo de ensino.
Leite (2006) destaca que com na reforma universitária de 68, foram conhecidas,
referendadas e difundidas as atividades-fins da universidade. A tendência dessa lei era
acentuar o binômio ensino-pesquisa, convertendo a pesquisa numa atividade nuclear, de
forma que o ensino dela decorresse. Mas, isso ainda não aconteceu dessa forma em todas as
IES brasileiras, apenas em algumas teve efetividade.
Incrementando uma análise mais pontual com relação à resolução do Conepe que
define e indica o objetivo da pesquisa na Unemat, percebe-se que as respostas dos LGs se
solidarizam com a resolução. A categoria produção do conhecimento que teve a maior
quantidade de respondentes (50%) está presente na referida resolução no excerto “produz o
conhecimento nas múltiplas características”.
Com relação à categoria publicar/socializar resultados (12,7%) se consubstancia no
fragmento da resolução “a socialização do conhecimento filosófico, científico, artístico,
tecnológico e cultural”. A categoria descoberta/inovação não aparece referendada na
legislação. Relembrando Bourdieu (1989) a pesquisa é um ato criador, no sentido de permitir
acesso à produção do saber. Ainda sobre a divulgação dos resultados alcançados pela
pesquisa, cada vez é mais vital que o pesquisador socialize a sua pesquisa, para conseguir
alavancar sua carreira acadêmica, sendo reconhecido como pesquisador na área, e para obter
recursos financeiros para projetos vindouros, além de outros motivos tão importantes quanto.
O que ainda explana-se é a categoria resposta complexa/difícil que aparece com um
percentual expressivo de 15,3%. Esses dados revelam a complexidade da pergunta de uma
ação realizada cotidianamente pelos LGs. Muitos respondentes divagaram e ao final de algum
tempo, conseguiram formular um conceito do que na sua percepção seria o ato de pesquisar.
176
Para realizar a análise fatorial nesta parte do estudo, foram cruzadas as concepções
com as áreas do conhecimento, a formação dos LGs (titulação e região de origem) e contato
inicial com a pesquisa. O resultado estatístico pode ser observado na tabela que segue:
Nota:
* Resultado da correlação das concepções de pesquisa com a coluna um (área do conhecimento, titulação, região
ou contato inicial com a pesquisa).
Bom, pesquisar pra mim é... Puxa vida! Essa pergunta tão vasta, não dá para
delirar...[risos] (LG53).
É até difícil você fazer um conceito de pesquisa [...] (LG57).
Pesquisar?!!! Xiiiii [sorriu] (LG61).
Hum, essa perguntinha é uma tese né [sorriu] (LG64).
A gente faz! Aí, você nunca pará “prá” pensar num conceito de pesquisa. E para
falar, é meio complicado! (LG65).
Então, eu acho difícil te dizer assim, pesquisa é para mim uma coisa [...] (LG69).
Complicado, são muitas coisas que eu acho (LG70).
Para as outras áreas (Exatas, Agrárias e Linguística) a resposta foi simples e objetiva,
levando à primeira e à segunda categoria demonstradas na tabela. Na área das Ciências
Sociais Aplicadas não houve respondentes que sinalizaram a concepção resposta complexa. E
nas Ciências Biológicas a dificuldade pode ser considerada razoável, com 22,2% do total de
entrevistados desta área. O que prevaleceu foi uma preocupação constante das Humanidades
com a concepção do ato de pesquisar. Acredita-se que esse indício tenha imperado pelo
motivo de que esses pesquisadores têm forte formação pedagógica e são responsáveis pela
disciplina de Metodologia Científica. Em sendo desta forma, tem clareza desse universo com
relação à importância da pesquisa, visto que o trabalho diário com os acadêmicos em sala de
aula permite essas reflexões.
Em segundo lugar, comenta-se que na categoria relacionada à concepção de pesquisa
como publicação dos resultados, as áreas que se sobressaíram foram as Ciências Biológicas,
Engenharias e Ciências Sociais Aplicadas. As Ciências Humanas obteve o menor resultado
(20%) e demonstra que sua concepção tem outro princípio basilar que não a preocupação em
socializar os resultados. A área das Agrárias teve preocupação mediana com relação à
concepção de pesquisa como uma forma de divulgação do conhecimento (13,3%) e na
Linguística não houve respostas que indicassem essa categoria. É extremamente preocupante,
e no mínimo intrigante, uma área que tem como fundamento a língua (oral ou escrita) não
exibir nenhuma conceituação relacionada à publicação dos resultados das pesquisas. Seus
respondentes se concentraram na concepção de pesquisa como descoberta (15,4%),
juntamente com a Engenharia (26,9%).
Em terceiro lugar, reconhece-se que na concepção de pesquisa categorizada na tabela
como responder perguntas, as Ciências Agrárias ocupou a maior representatividade (15,3%),
apontando o aspecto instrumental de suas atividades de pesquisa, principalmente as que se
relacionam ao agronegócio no Estado de Mato Grosso. Em suma, enquanto as Ciências
Humanas demonstram preocupação com a concepção do ato de pesquisar; outras áreas
sinalizam a necessidade de responder perguntas; e outras ainda em descobrir algo que possa
178
solucionar problemas da sociedade; por fim, há as que têm como concepção eminente a
socialização do conhecimento produzido.
Analiticamente é possível dizer que esse resultado tem relação direta com o
capitalismo acadêmico (SLAUGHTER e LESLIE, 1997) quando converte pesquisa em
produção, enfatizando a pressa e o predomínio do tempo. Lipovetsky (2004) esclarece que o
tempo é cada vez mais visto com preocupação e exerce pressão crescente e constante. A
quantificação da produção do conhecimento87 adaptou-se as permanentes mudanças
promovidas pela inovação seguindo o nexo do lucro empresarial.
Assim, a lógica da produção acadêmica é fruto do sistema capitalista, onde a estrutura
da sociedade competitiva impele os pesquisadores ao produtivismo. A ciência deixa de ser um
constructo refletido a partir de uma real lacuna da sociedade para se tornar a medida de
sucesso, refletida pública e explicitamente no lattes. Não importa o caminho ou o percurso
para chegar à determinada descoberta ou contribuição científica, o que prevalece é a
quantidade de publicações num determinado tempo. Esse é o dilema hipermoderno é o
paradoxo vivenciado pelos docentes.
Reconsidera-se a tabela 08 que demonstra que 50% do total dos respondentes
colocaram em evidência que pesquisar é responder perguntas e/ou produzir conhecimento e
retornando à fundamentação teórica, pode-se compreender que os LGs deste estudo de caso
possuem a preocupação da socialização dos resultados (12,7%), mas não perderam o foco da
função da pesquisa na universidade. Para Enricone (1996, p. 22): “O processo de divulgação
do que foi pesquisado é importante para estimular o aumento da produção”. Porém, “A
pesquisa se orienta para as descobertas, e o ensino não visa somente a transmissão de um
saber estabelecido, mas também a aprendizagem e a atualização de novos saberes” (p. 47).
Retomam-se as reflexões de Chauí (2001) que expôs a ambiguidade da universidade
enquanto organização/instituição social destaca-se que: como organização, o interesse da
pesquisa, é algumas vezes deixado de lado, dando lugar a produção com objetivo direcionado
a interesses particulares. Com relação à instituição, a pesquisa deveria ser, um meio fecundo
para a produção do conhecimento, concordando com os LGs da Unemat.
Nas considerações sobre a tabela 09, destacou-se ainda que quanto maior a titulação
dos LGs, mais clara é a concepção de pesquisa, sendo que apenas 5,5% dos pós-doutores
consideram uma resposta complexa. A indicação da concepção publicação dos resultados
também se faz presente (26,7%), em contrapartida somando-se as duas primeiras categorias
87
Já explicitada anteriormente através da Coleta CAPES e da APCN como instrumentos de medida da
produtividade docente na Pós-graduação brasileira.
179
88
Informação coletada em tabelas e gráficos complementares da análise fatorial que não estão dispostas na tese.
89
Verificar mais informações no estudo de Mendes et all (2010).
180
90
Maiores esclarecimentos consultar Bridi (2010), bem como os estudos de Altbach (2009) que destaca que:
“Universidades de pesquisa constituem o cume do sistema acadêmico, servindo apenas aos estudantes mais
capazes; essas correspondem a um número modesto de instituições” (p. 33).
182
Nota:
* Não há especificações com relação à distribuição das bolsas de pesquisa, indicou-se apenas a quantidade total
do período. Reforça-se então, que eram divididas entre: pesquisa, extensão, apoio e outras.
91
Verificar informações da diminuição das bolsas e do orçamento institucional nos anuários correspondentes.
183
Na AC realizada nas respostas dos LGs, a iniciação científica foi categorizada como
condição impulsionadora da pesquisa na IES (incidência de dezesseis vezes). Sete dos
dezesseis entrevistados enfatizaram a importância dos bolsistas para suas atividades de
pesquisa, seguem alguns relatos:
[...] é uma forma de poder fazer pesquisa, é um incentivo muito grande na relação de
bolsas para os discentes [...] Pois, você consegue fazer porque aí você tem bolsista.
Você tem como fazer suas pesquisas, tem instrumentos para isso (LG10).
A iniciação científica acho que está mais próxima, até mesmo porque o contato mais
intenso entre orientado e orientador é diário. Meu bolsista fica comigo oito horas por
dia (LG13).
Nós tivemos cem bolsas da Unemat para pesquisa. Eu acho que melhorou muito
porque no ano passado não tinha! (LG48).
Bom, eu acho que a Unemat deve financiar iniciação científica, fortemente, porque
pela qualidade dos nossos alunos não dá para contar só com órgãos externos, como
CNPq, para dar suporte e manutenção desse aluno na graduação. Então, eu acho
assim: que tem que fazer um programa forte, dispondo 100% dos recursos de apoio
ao aluno. A iniciação científica tem que crescer muito e rapidamente na Unemat,
porque esse aluno precisa melhorar. Senão, nós vamos ter um vácuo lá nas Pós-
graduações em 2013 e 2014. Nós vamos sentir esse vácuo! (LG22).
O que eu acho legal e tem que continuar pelo menos é a política de bolsas. Tem que
ter recurso interno para projeto de pesquisa, para bolsas de mestrado, além da
inicialização científica [...] (LG28).
E nós pensamos também em começar a preparar alunos de graduação de uma forma
mais sistemática para a pesquisa com a iniciação científica (LG46).
A iniciação científica deve ser reforçada na Unemat, porque um bom programa pode
compensar parcialmente algumas das carências de formação. O Programa Institucional de
184
Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) apoiado e liderado pelo CNPq é também estimulador
dessas práticas. A produção científica dos estudantes que se integram à pesquisa e a
aceleração das carreiras são salientadas por Palatnik (1998).
O estímulo a co-autoria em artigos e comunicações em congresso, além de missões de
pesquisa, onde se podem apreender técnicas ou tornar-se parte de expedições científicas,
devem ser ampliadas aos acadêmicos. Para isso, a articulação em redes que contemplem essas
possibilidades tanto no Brasil como fora dele são imprescindíveis, colabora no desenho do
cenário para a estabilidade e maturidade da Pós-graduação. O que falta hoje na IES são
práticas que garantam isso através de incentivos financeiros. Fialho (2005) considera que
Esse desenho prospectivo contribui para que a IES possa viabilizar as condições de
pesquisa angariando um número maior de bolsas dos órgãos de fomento nacionais. Assim, se
conseguir ensejar uma política interna coerente de incentivo à distribuição de bolsas na
graduação, consecutivamente a Pós-graduação será potencializada com pesquisas arrojadas.
Toda essa movimentação de inicialização científica desemboca na segunda categoria
para o desenho de um cenário para a consolidação da pesquisa, que são os projetos de
pesquisa com interface no ensino e na extensão. Considera-se a vasta discussão teórica
apresentada anteriormente do divórcio entre as três funções da universidade, aponta-se essa
saída como complemento a distribuição permanente das bolsas. Cury (2004) colabora com
essa circularidade e capilaridade quando expõe que um campo que apresenta avanços com
resultados palpáveis de integração entre pesquisa e ensino é o da iniciação científica. “Tal
programa introduz, sob orientação docente, o estudante à pesquisa desde a graduação e
possibilita maior circulação entre a graduação e a pós-graduação” (p. 788).
Esse cenário composto por projetos de pesquisa com interface no ensino e na extensão
é um movimento inverso ao que existe na Fapemat que são os projetos de extensão com
interface na pesquisa. A proposta é uma ampliação e reversão destes, advogando em favor da
causa da indissociabilidade do tripé, é evidente que nem todos os projetos terão essa
obrigatoriedade, mas pode-se garantir que alguns deles a possuam. “Há, ainda, a necessidade
185
92
O fomento dos projetos de pesquisa na Unemat será detalhado no próximo item deste capítulo.
186
intelectual que, por sua vez, ocupa uma posição determinada na estrutura [...] (p.
191).
CENÁRIO A
Projetos de pesquisa
Bolsas de
com interface
iniciação científica
(ensino e extensão)
HABITUS
As discussões que serão travadas no próximo item trazem os dados analíticos dos
respondentes sobre a IES deste estudo de caso, compreendendo a operacionalidade e a
ambiência do ato de pesquisar, nos vários campi da Unemat. Essas reflexões permearão o
desenho do próximo cenário para a consolidação da pesquisa e da Pós-graduação, com vistas
à uma cultura institucional para o refinamento do habitus do pesquisador.
parcial que poderia ser considerada uma decifração mutilante. Nessa parte da tese trazem-se
para análises as informações específicas relacionadas aos projetos de pesquisa e seus agentes
financiadores. A característica chave desse momento é “olhar” sobre a operacionalidade da
IES, vislumbrando compreender a ambiência da pesquisa a partir da percepção dos
entrevistados.
Para conseguir identificar as linhas e os nós pertinentes a essa malha foram realizadas
várias questões que nortearam a tessitura da trama. Um dos questionamentos era sobre a
quantidade de participações em projetos de pesquisa. Observar resultados na tabela que segue:
É salutar destacar que as participações podem ser como equipe executora do projeto
ou numa atividade eventual, como explicitado pelo Diretório de grupos de pesquisa do Brasil
(DGPB)93. Uma situação exemplificadora foi o comentário da LG10 que informou ter
oferecido auxílio estatístico num determinado projeto noutra área do conhecimento. Vale-se
aqui nesse momento da observação de que a inserção num projeto deve ser exclusiva para
pesquisar, proporcionando avanço e busca da qualidade científica. Conforme disposto na
resolução nº. 014/2011: “Entende-se por projeto de pesquisa toda proposta de atividade
formulada com vistas a produzir informações que complementam ou superam o conhecimento
já produzido e que buscam a solução de um problema considerado de relevância social”
(Conepe, 2013, p. 01).
Na tabela verifica-se que o maior percentual da amostra (50,6%) tem participação em
um projeto e 21,7% dos entrevistados estão inseridos em dois, muitos LGs categorizam sua
93
Projeto desenvolvido pelo CNPq em ação conjunta com o MCT que constitui-se numa base de dados que
contêm informações sobre os grupos de pesquisa do País. Os dados dizem respeito aos pesquisadores, estudantes
e técnicos, às linhas de pesquisa e à produção científica e tecnológica. Além disso, cada grupo é situado no
espaço (estado e instituição) e no tempo (DIRETÓRIO, 2013).
189
participação como efetiva e determinante nas atividades do projeto que participam. Mesmo
com a obrigatoriedade no regime de trabalho de dedicação exclusiva da Unemat de vinculação
num projeto, há dois líderes que não estavam articulados a nenhum no momento da entrevista.
Em contrapartida, há um índice extremamente relevante (25,3%) que estão alocados em mais
de três projetos. Há também um docente que participa de dez projetos. Porém, estar vinculado
em inúmeros projetos não significa que o desempenho seja satisfatório e que consiga alcançar
seu objetivo.
Não foi possível compreender os motivos que levaram os LGs a participar de mais de
quatro projetos (13,3%). Mas, é perceptível que há entrevistados que possuem currículos
produtivos e boa performance e que estão inseridos em vários projetos e grupos para garantir
algumas das condições necessárias para aprovação de financiamento. Isso foi detectado
através do arrolamento da produção científica94 no lattes dos docentes de todos os programas
de Pós-graduação da Unemat, com objetivo de analisar o adensamento e a densidade da
produtividade. Percebeu-se que alguns docentes se repetiam em vários programas, assim,
disponibiliza sua produção para “contagem” naquele grupo.
Com os elementos indicados, é possível travar uma discussão sobre a questão do
fomento da pesquisa, Zattar (2008) esclarece inicialmente que os projetos executados na
universidade são resultados da participação dos pesquisadores em editais externos, entre eles:
CNPq, Finep, e Fapemat. Porém, mesmo com a resolução nº. 085/2007 que determina como a
pesquisa deve ser executada na Unemat, nem todos têm a possibilidade de desenvolvê-la
igualmente. Percebeu-se isso nas entrevistas com os LGs, quando apresentaram seus
posicionamentos sobre os recursos. Acompanha-se a seguir alguns fragmentos onde se
destaca essa dificuldade.
94
Esse levantamento foi ancorado numa abordagem quantitativa para comparações da produção docente, as
categorias do currículo lattes elencadas foram: livros/capítulo, periódicos, anais de evento, apresentação de
trabalhos, e, trabalhos técnicos. Os dados analíticos não estão presentes nesta tese, pois se compõem de uma
série de tabelas e gráficos, mas que permitem fazer algumas considerações que estão dispostas nesse capítulo.
190
foi aprovado, mas de tecnologia aí eles aprovam. Mas, se eu mando um projeto, por
exemplo, querendo compreender o discurso do ribeirinho, não tem interesse para
eles. Então é muito complicado esse entendimento de pesquisa que os órgãos de
fomento no Brasil de modo geral tem “né” (LG80 – grifos meu).
14%
2% Fapemat
2%
CNPq
6%
46% CAPES
Finep
8% FIDPEx
MCT
OUTRAS
22%
E o grande parceiro mesmo aqui é a minha família, que fomenta grande parte das
coisas que tem aqui, porque quando quebra, pensa que a Unemat vem socorrer?
Não. Então, o recurso aqui, do pesado mesmo é do dinheiro do salário do professor.
Eu andei fazendo uns cálculos, e não é barato não! Tem equipamento aqui dentro
que eu gastei R$ 1.000,00 do bolso. Esse aqui mesmo! Eu gastei para fazer esse
equipamento, eu fui lá e eu mesmo fiz o projeto, compramos ferro velho e esse
motor. “Tá” aí fazendo pesquisa. Então, essa é a realidade da Unemat (LG27 –
grifos meus).
Enfim, mas o que a gente precisa também é incentivo financeiro. Eu sei que existem
os editais, mas eles não são para todos [...] Eu acho que as áreas elas são
priorizadas até pelo próprio desenvolvimento do país, hoje o que está em alta é a
questão da Biotecnologia, as Engenharia, até as Exatas. Eu vejo muitos colegas, por
exemplo, de Letras que reclamam muito. Enfim, muitas vezes, há privilégios de
algumas áreas [...] (LG10 – grifos meus).
95
Informação coletada em tabelas complementares da análise fatorial.
96
Os financiadores externos são: Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguêz de Mello,
Fundação de Amparo à Pesquisa de vários Estados, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Ministério
Público, entre outros. No total, foram informadas dezesseis agências de fomento diferentes.
194
Segundo o depoente LG39, “Se a gente pudesse concorrer de igual para igual aqui
dentro com financiamento interno. Porque o externo é complicado para nós que não temos
titulação, é muito complicado, primeiro que os editais eles não privilegiam a nossa área
[Ciências Sociais Aplicadas], e depois a gente como eu falei já sai em desigualdade” (grifos e
comentários meus). Outro relato enfatiza que:
Nota:
* Termo retirado das entrevistas.
das bolsas de iniciação científica, porém aqui, a referência são as bolsas para os pesquisadores
(sejam de fundações de apoio ou do CNPq). Esta dimensão é caracterizada visto que as
agências de fomento financiam preferencialmente grupos e/ou pesquisadores que possuam
prestígio, além da produtividade docente.
Segundo dados da Assessoria da PRPPG, a IES possui apenas três bolsas
produtividade num universo de duzentos e dois doutores. Entende-se que é evidente que a IES
ainda é jovem e tem um longo caminho a percorrer para a produção de pesquisas de
qualidade, mas é necessário empenho dos docentes com relação à socialização dos estudos,
bem como a produtividade necessária para o atendimento básico da qualificação exigida para
o trabalho na Pós-graduação. Essas constatações nortearão o desenho do próximo cenário
propositivo para a pesquisa na IES, o LG02 tem o seguinte anseio:
Olha assim, meu sonho é ser uma doutora pesquisadora do CNPq, e, assim, o que a
gente sabe é que tem que estar num doutorado para ser bolsista produtividade do
CNPq. Então, a meta é estar num doutorado interdisciplinar, porque a geografia não
tem nem mestrado na Unemat. Então, seria num doutorado interdisciplinar, aí
poderia orientar pesquisa e ser bolsista do CNPq, além de fortalecer o currículo
(grifo meu).
Porque, hoje para abrir mestrado, tem que ter currículo. Se não tiver currículo, nem
adianta tentar, então, o que a gente faz é garimpar professores na universidade que
tenham potencial e que poderiam trabalhar na área. Tentamos fazer uma proposta e
enviamos, só que eu acho que não é o ideal (LG03 – grifo meu).
Um bom pesquisador deve publicar em torno da média de publicação/produção dos
docentes atuantes em áreas correspondentes, seguindo uma média nacional de
produtividade de docentes vinculados a programas de mestrado, ou buscando atingir
esse quantitativo (LG12).
É compreensível que tais indicativos sejam evidenciados pelos LGs, visto que são
atividades que fazem parte da carreira docente. Além disso, o recebimento de uma bolsa desse
porte como a referenciada do CNPq oportuniza possibilidade de crescimento acadêmico, e
também oferece uma projeção para a pesquisa e para a Unemat.
A segunda categoria que foi nominada de condições de realização envolve inúmeros
enunciados tais como: organizacionais, infraestrutura, planejamento, entre outros. O que se
pode acentuar analiticamente são os aspectos organizacionais e de infraestrutura como os
mais citados entre os respondentes. É elucidativo adentrar a perspectiva territorial da
infraestrutura da pesquisa na IES, relembrando que alguns campi possuem espaco físico para
desenvolver projetos. Isso é determinante no encaminhamento de uma proposta de
196
Eu acho que a Unemat tem que financiar infraestrutura, e acho que a infraestrutura
mínima é ter acesso a internet, enfim, coisas básicas. Entendeu! Deixando que o
pesquisador possa trazer financiamento de fora, porque fica difícil construir um
prédio. Para isso não pagam! (LG01 – grifo meu).
Existe uma fragilidade de infraestrutura para fazer pesquisa (LG26).
Às vezes a gente não tem infraestrutura para fazer isso. Igual ao que eu te falei,
gerando um desgaste (LG34/CP07).
Nós vamos até um ponto e só ele não basta! Nós precisamos de infraestrutura, no
nosso campus, por exemplo, não só na questão da pesquisa, mas em todas as
questões no ensino e na extensão, temos problemas seríssimos de infraestrutura.
Quer queria ou não acaba influenciando no nosso trabalho e resultados que os
próprios coordenadores da instituição almejam de cada campus (LG83).
97
Até 2009, os editais FINEP cobravam das universidades estaduais contrapartida com pagamento de
professores e estrutura física. A partir de 2010, começou a exigir também compensação financeira da ordem de
10% a 20% do valor total do recurso solicitado. Isso dificulta a concessão para a Unemat, principalmente pela
falta de infraestrutura e de recursos orçamentários destinados a pesquisa. Vale ressaltar ainda que existem
seleções públicas para projetos de implantação de infraestrutura, porém são exclusivos para universidades
federais (FINEP, 2013).
197
mundo, que eu acho justo, porque cada um tem que ter o seu”. Alguns campi possuem
condições para a realização de pesquisas como é o caso de Nova Xavantina.
Weihs (2008) considera que: “toda a infraestrutura para a pesquisa, iniciada desde
1995, constitui o ambiente que consideramos favorável para a produção de conhecimento, um
dos pressupostos considerados neste estudo para que o pesquisador possa realizar a pesquisa
em Biologia” (p. 59). Mas, isso acontece especificamente para esse campus que tem estudos
numa determinada área e que também recebe fomento de outras agências (6,3%) conforme
explicitado na tabela 11. Altbach (2009) esclarece a ambiguidade, pois que:
Chauí (1995) ainda provoca reflexões quando comenta sobre a “aceitação acrítica da
privatização da pesquisa (p. 01)”, destaca também que o seu financiamento externo traz perda
de autonomia da IES quanto à definição de suas prioridades, contribuindo para o desprestígio
crescente de financiamento de algumas áreas. Em muitos casos, para Fávero (1980), o suporte
institucional do desenvolvimento da pesquisa tem sido solapado nas IES; quando, ao
contrário, deveriam funcionar como um mecanismo que levasse à sua maior autonomia.
98
Segundo Fávero (1980) esse conceito pode ser usado com duplo sentido: em relação ao conjunto de posições e
funções, onde algumas classes exercem sua dominação sobre as demais; e, para indicar a ordenação sócio-
política institucionalizada no aparato jurídico administrativo (governo), tendo como finalidade precípua manter o
status quo. Nesse sentido, apresenta-se como uma entidade que reúne e cristaliza os interesses de uma classe,
regulando a ordenação sócio-política.
198
Então, essa que é minha história científica, ela mudou muito as oportunidades. Por
exemplo, uma condição que é uma coisa minha, é uma particularidade, eu fui
preparada para isso, fui preparada na minha família para essas oportunidades que
tive. Então, as pessoas, me chamaram para eu ser da Unemat e fui ficando, depois
tive que fazer o concurso (LG18/PR05).
Estamos ainda no início, falta estrutura e tradição na pesquisa. Isso leva tempo para
chegar ao nível bom (LG41).
Algumas instituições não têm essa tradição de pesquisa (LG83).
99
Como exemplo do desnível, o último edital do MCT&I com o CNPq lançou chamada universal,
disponibilizando financiamento por modalidade. A faixa A destinou-se a pesquisadores que obtiveram sua
titulação de doutor do Programa Ciência sem Fronteiras; a faixa B é voltada somente para bolsistas
produtividade; e, apenas a faixa C é livre. A Unemat não se encaixa na faixa A; tem pouca possibilidade de
concorrer na faixa B, porque possui apenas três bolsistas; e, só poderia participar efetivamente na faixa C
concorrendo com IES de todo o Brasil (CNPq, 2013).
200
Nesse sentido, isso tem me chateado bastante, sabe! Porque é a área que eu gosto de
pesquisar, mas, é muito concorrida. Então, eu estou vendo muitas dificuldades em
conseguir financiamento na FAP que eu tenho tentado nos últimos dois/três editais.
Eu acho que não é por falta de trabalhar ou por falta de vontade, porque a gente está
fazendo parte de outros grupos de pesquisa e trabalhando o tempo todo [...]. Então, a
gente está vendo, parece que está tendo algum favorecimento de uma área. Embora
eles queiram dizer que é bem distribuído [...]. Mas, eu tenho ficado desanimado com
essa falta de recurso! Falei, então, vou mandar novamente, e a gente tenta, mas
quando fala que é do Mato Grosso, se mandar para uma instituição nacional vai
concorrer com grupos consolidados e fica muito mais difícil. Estou desanimando,
mas não vou desistir... (grifos meus).
problemas da expansão da Pós-graduação que se agravam, uma vez que a abertura de novos
cursos depende, em grande parte, da fixação dos recursos humanos nas várias regiões geo-
educacionais de Mato Grosso. E algumas não são tão atrativas (distância, qualidade de vida,
estrutura) como outras que oferecem melhores condições100.
Para finalizar essa parte da tese que trata das constatações relacionadas ao operacional
e à ambiência da pesquisa, aborda-se outro momento da entrevista que se reportou a agenda
de políticas101 para a pesquisa e a Pós-graduação. Os resultados são visualizados a seguir:
sei que existe ‘tá’, mas, assim, como que funciona, essa parte estrutural eu não tenho
condições de falar que eu não conheço” (LG04). E noutra situação reveladora da falta de
disposição para compreender o planejamento da universidade, indica-se a PRPPG como a
responsável: “Isso é lá com a pró-reitoria, com a Áurea” (LG81).
A AC demonstrou que a maior incidência de respostas nas justificativas dessa questão
foi a importância do planejamento, referendado como subcategoria das condições de
realização da pesquisa na tabela 13 (24%). Para o LG09,
A Unemat hoje está pensando simplesmente em ter Pós-graduação, mas, não está
pensando num cronograma de como vai ser. Então, se está juntando professor que
tem condição, mas ninguém pensou qual é a realidade daquele campus, qual é a
missão daquela região. Com certeza, planejamento nós não temos mesmo [...] A
partir do momento que você sentar e começar a planejar aí tudo muda. Nós não
sentamos e não planejamos! Se não tivermos uma pró-reitoria de pesquisa que
realmente sente e faça um planejamento a longo e médio prazo, não vamos avançar
[...] (grifos meus).
102
Essa abordagem foi condicionada aos gráficos e tabelas analisados que faz parte da análise fatorial.
103
Essas informações serão detalhadas a seguir no item 4.4 O “agir” sobre a pesquisa: grupos e redes.
104
Um exemplo da abundância de financiamento exclusivamente para essa área é o edital da CAPES em parceria
com a National Science Foundation que consiste em projetos de cooperação internacional na área da
Biodiversidade. Mais informações consultar: http://www.capes.gov.br/cooperacao-internacional/estados-
unidos/capesnational-science-foundation-nsf.
204
questões ambientais”. Isso também se mostra evidente nas áreas contempladas com
programas de Pós-graduação na Unemat (consultar quadro 07).
Essa constatação é um assunto extremamente polêmico. Para outros representantes de
universidades mato-grossenses, em entrevista concedida a Fapemat Ciência (2013) existe uma
crença de que o agronegócio e o meio ambiente são as “vocações” do Estado e que devem
receber uma atenção diferenciada. Nesse dossiê sobre a pesquisa em Mato Grosso foi
comentado também sobre as áreas do conhecimento com menor investimento. Para os
entrevistados pelo editorial, o Estado precisa ampliar os investimentos nas áreas de Ciências
Humanas e Sociais, aumentar a oferta de editais de fomento induzidos; e, segundo os
representantes só quando o Estado fortalecer outras áreas poderá potencializar o crescimento
da pesquisa, tendo como consequência, condições de garimpar recursos frente às agências de
fomento nacionais e internacionais.
O financiamento dos projetos pode estar em consonância com as áreas prioritária do
Estado, sem esquecer-se das demais, considerando as linhas de atuação e de pesquisa105 da
Unemat. Se planejado institucionalmente e distribuído entre as diversas áreas do
conhecimento, representaria um espaço de relevância científica e política que poderia ser
utilizado, inclusive, para uma reflexão crítica e prospectiva sobre o adensamento e a
densidade das práticas de pesquisa da universidade.
Precisa-se, destacar ainda que os apontamentos sobre a questão da operacionalidade e
a ambiência da pesquisa indicam as opiniões dos LGs entrevistados, porém seria preciso
discussões com maior aprofundamento em outros campi, pois nem todos foram contemplados
nessa amostra, por isso são parcialmente passíveis de generalização. Os aspectos arrolados
envolvem diretamente a gestão e o profissionalismo docente e não depende exclusivamente de
apenas uma decisão administrativa (condições de trabalho), mas também, de uma postura
individual (cultura do pesquisador e a construção do seu habitus), além de outros elementos.
A questão do planejamento é latente tanto nas respostas dos LGs, quanto no anseio da
pesquisadora dessa tese que se acentuaram na análise da geopolítica da produção do
conhecimento na Unemat (quadro 09). Nesse sentido, os campi podem tornar-se o lócus de
um planejamento estratégico regional de onde emergem identidades, corroborando para o
planejamento institucional global.
105
Foi realizado um levantamento nas resoluções e instruções normativas dos conselhos no intuito de identificar
as linhas de pesquisa da Unemat, pois em vários documentos faz-se referência a elas, porém, não foram
encontradas. Em contato com a assessoria da PRPPG não foi demonstrado conhecimento sobre sua existência.
205
Enfim, esse foi o contorno desta parte da tese que objetivou identificar políticas
indutoras e promotoras da pesquisa estabelecidas pela IES em sua trajetória, que configura as
repercussões sobre a produção do conhecimento na busca da excelência científica. O desenho
do próximo cenário que se refere à RedSig institucional vislumbra várias frentes de apostas.
Estado, que foi esclarecido anteriormente. Chauí (1999) destaca que a autonomia é uma
palavra grega que indica: ser autor do nomos, isso significa dizer ser promotor da sua regra e
da sua lei. Buscar-se-ia, sendo assim, não só garantir que a universidade fosse regida por suas
próprias normas, mas visaria também, assegurar critérios para a independência financeira.
No caso da Unemat, a alusão é a autonomia financeira das ações diretamente
relacionadas com a pesquisa, pois a PRPPG teria condições de ultrapassar a função de
controle e regulação, e adequar-se a uma atividade pró-ativa densificando as práticas
constitutivas do planejamento. Esse incremento orçamentário institucional poderia gerar a
independência financeira das pró-reitorias e corroborar com os indicativos levantados na
tabela 03 que tratou da estrutura multicampi que apontou a autonomia financeira como uma
das categorias estratégicas do progresso da pesquisa na IES.
A implementação de um orçamento próprio para a PRPPG impulsionaria a agenda de
pesquisa. Chauí (2003) esclarece que para que haja autonomia, é preciso discussão na
universidade. Assim, “[...] a autonomia universitária só será efetiva se as universidades
recuperarem o poder e a iniciativa de definir suas próprias linhas de pesquisa e prioridades,
em lugar de deixar-se determinar externamente pelas agências financiadoras” (p. 13).
Os recursos internos poderiam ser compartilhados para áreas pouco privilegiadas no
cômputo geral dos financiamentos externos ou distribuir setorialmente os investimentos.
Esses recursos também poderiam ser direcionados para estudos regionais e para investigações
capazes de lidar com a complexidade da questão territorial imposta pelas distâncias
geográficas. Se fossem possíveis essas opções, haveria um encaminhamento efetivo para a
pesquisa em Mato Grosso. A bolsa jovem pesquisador funcionaria como um instrumento que
absorveria as demandas não financiadas pelos órgãos nacionais e que são tão importantes
quanto às áreas explicitadas para o desenvolvimento no Estado106.
Decorrente ainda dessa primeira categoria, emergem subcategorias para incentivo
financeiro da pesquisa: plano de cargos e salários diferenciado (sugestões dos respondentes)
ou abono salarial específico aos que se dedicam à pesquisa (recomendação da pesquisadora).
A segunda opção é empregada em algumas IES estaduais brasileiras, toma-se como exemplo
a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que tem na resolução n.º 228/2003 o
estabelecimento de critérios e procedimentos para a concessão do incentivo à produção
106
A Fapemat desenvolve um programa semelhante intitulado Programa Primeiros Projetos fornecendo aporte
financeiro para infraestrutura destinado aos jovens pesquisadores, possuindo outra característica de fomento.
209
científica, técnica ou artística. O valor corresponde a 10% sobre o vencimento básico, por um
período de dois anos que pode ser renovado.
Outra IES que utiliza desse artifício é a Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), que indica que o incentivo às atividades de pesquisa constitui-se em um
mecanismo de fixação de doutores e na efetivação da Pós-graduação (resolução n.º 32/2013).
A bolsa impulsiona a produção científica de forma continuada, assim como a veiculação em
meios relevantes de comunicação. Seu valor tem como referência a bolsa PQ-2 do CNPq, com
duração de até vinte e quatro meses, passível de renovação.
É óbvio que as propostas são polêmicas e suscitam posicionamentos divergentes, uma
das justificativas utilizadas para referendá-las é que segundo Ortega y Gasset citados por
Nunes (2012) o ofício do cientista é penoso e demanda “vocação”. Em sendo desta forma,
nem todos os docentes da Educação Superior desejam se dedicar a pesquisa. Para um dos
LGs, a problemática de ser pesquisador remete ainda a outros elementos:
Isso também é claro, ser doutor não é ser pesquisador [parou e pensou]. Tem muito
doutor que não é pesquisador! Então, assim, não adianta a instituição querer forçar o
“cara” que é doutor a gerar pesquisa e conhecimento. Não adianta isso, acho que a
pessoa traz uma vontade, um modo de ser, [pensou] que ela amadureceu e cresceu.
Eu vejo assim, traz do berço; ela desenvolveu, digamos assim essa [parou e pensou],
não seria o hábito, seria esse compromisso com a sociedade (LG33/CP06 – grifos
meus).
invibialização da IES para essas práticas. As especializações poderiam estar articuladas aos
grupos o que alavancaria seu desempenho, o que suscita adensamento na produção e enfim,
densidade nas/das pesquisas. O LG33/CP06 expõe que está organizando os seus grupos de
pesquisas objetivados que vão compor a Pós-graduação, com foco nos objetivos e nas linhas
de pesquisas. Assim, a tese sugere que essas especializações possam ser intercampus e
interáreas o que facilitaria a construção de redes de pesquisa na Unemat que será tratado
oportunamente no próximo cenário.
Acrescenta-se ainda nesse desenho prospectivo a categoria da Pós-graduação Stricto
Sensu em áreas interdisciplinares que pode ser estimulada, face à sua crescente importância na
Educação Superior brasileira. Conforme evidencia Rubin (2011), observa-se um movimento
em direção a interligações entre IES e países e o diálogo entre diferentes áreas e saberes.
Essas propostas têm se mostrado uma alternativa para as dificuldades em concretizar ações
em áreas que exigem docentes com formações específicas. Esse foi um dos fatores que
contribuiu, sobremaneira, para a expansão desses cursos no Brasil.
É bem verdade que o esforço de sua implantação vem acompanhado de um avanço,
porém é ainda um processo lento e há divergências teóricas com relação ao seu potencial. Isso
significa que esse novo modelo organizacional pode favorecer as pesquisas, mas também
imprime tensões. A Unemat utilizar-se-ia dessa estratégia para melhorar a composição da Pós-
graduação viabilizando a pesquisa interdisciplinar.
Essas duas categorias contribuem decisivamente para a ambiência de pesquisa, visto
que a capacidade de planejamento pode incrementar a projeção e consolidação da IES. No
jogo da figura-fundo da RedSig institucional o foco é a construção de uma cultura na Unemat.
Para conceituá-la reporta-se ao termo cultura organizacional, guardadas as devidas
divergências. Garcia (2007) comenta que a partir da segunda metade do século XX, a cultura
vem ocupando lugar de destaque nas análises desenvolvidas em diversas áreas do
conhecimento. Nas Ciências Humanas e Sociais, sua importância foi reconhecida visto que a
ação é orientada por significações compartilhadas por diferentes grupos.
Reconhece-se que os conceitos de cultura e clima organizacional estão intimamente
ligados e que se sobrepõem em algumas situações. Reitera-se, também, que não são
claramente delimitados, sendo sujeitos a múltiplas interpretações. Segundo Garcia (2007) a
cultura organizacional é um objeto de análise pluridisciplinar, que conglomera uma grande
variedade de sentidos que caracterizam as diferentes formas como o conceito é abordado.
A opção nessa tese foi trabalhar com a cultura tendo em vista a íntima relação com o
objeto de estudo e a realidade encontrada na Unemat. O termo é usado aqui no âmbito da
212
prática diária das IES como consequência de seu trabalho, e não um mero “costume” sem
maior importância. Essa posição tem como fundamento que a cultura possui um caráter mais
duradouro que o clima que é volátil (LÜCK, 2010), sendo constituída pela sequência e
abrangência de vivências que podem ser disseminadas. É exatamente isso que propõe o
desenho deste cenário.
Para Buarque (1994) a cultura é uma forma dos indivíduos se posicionarem e agirem,
considerando o conjunto do imaginário que configura a maneira como os indivíduos se
organizam. Lück (2010) indica ainda que a cultura tem um caráter denso e sistemático na
determinação de comportamentos. A enciclopédia do gestor (2007, p. 02) destaca que a
cultura implica “[...] algum grau de estabilidade estrutural no grupo [...] é algo profundo e
estável [...]” e deriva de uma aprendizagem acumulada ao longo do tempo pela coletividade,
como fruto de uma experiência e de significados.
Franco (1984) esclarece que é um conjunto de fenômenos decorrentes da atuação dos
indivíduos, é, então, grupal e não individual resultante e característico da coletividade.
Engloba tanto os fatores materiais como os abstratos resultado do convívio institucional.
Assim, é o reflexo de sua estrutura real, dos seus padrões de comportamento, individuais e
coletivos presentes na concretização funcional. Se expressa num modo de operação
institucional, que na Unemat parece ser muito mais burocrático e regulatório do que
científico, conforme demonstraram os entrevistados.
As universidades desenvolvem diferentes culturas que perpassam suas manifestações
face às políticas. Nestes contornos específicos, a cultura seria expressa pela postura da IES
para dissolver suas dificuldades. No caso da cultura de pesquisa há o envolvimento dos
interesses (individuais e coletivos) e razões que perpassam as relações institucionais. O
conhecimento é elemento básico para forjar a cultura e consolidar as parcerias nos grupos e
nos projetos. Para Franco (1984), os conhecimentos e as preferências individuais afetam os
comportamentos. Além disso, o grupo compromete as escolhas coletivas organizacionais que
afetam a ambiência da pesquisa. Num retorno cíclico, os ambientes refletem os
conhecimentos e as preferências dos indivíduos.
Acrescenta-se a essas assertivas, o desvelamento da importância da cultura
institucional que atribua devido valor a pesquisa e seu acompanhamento direto, o qual foi
destacado pelos respondentes em inúmeras respostas. Essa relação pode produzir modos
culturais organizativos (FRANCO, 1984) onde processos associativos instrumentalizariam os
docentes para densificar as pesquisas, costurando os fios das condições institucionais.
213
publicações, chega-se a uma situação que resume a celebre máxima americana publish or
perish (publiquem ou morram)!” (p. 129 – grifos do autor). Em sendo dessa forma, a
importância das publicações para a reputação de um pesquisador, é de notoriedade pública.
Com relação à densidade da produção, se for levado em consideração a produtividade
dos docentes que compõem os programas de Pós-graduação da IES107, e possível perceber que
a Unemat ainda se encontra num nível inicial, precisa ampliar e participar nas discussões
regionais, nacionais e internacionais. Para isso, é necessário estimular o trabalho coletivo das
pesquisas em redes, propositura primordial nesta tese.
A preocupação com o adensamento e posteriormente com a densidade da
produtividade docente deve ser um dos pilares de sustentação de um planejamento
institucional para alavancar a Pós-graduação na Unemat. Isto porque qualquer universidade
sabe que não consegue chegar a lugar nenhum, sem prestígio e reputação advindos da
socialização das pesquisas. É de longa data que o mérito científico mede-se pelo número de
artigos que levam o nome da IES (KOURGANOFF, 1989). As publicações representam um
dos únicos critérios do valor de uma pesquisa, e, concebem a garantia do reconhecimento.
Essa situação não é privilégio da universidade brasileira, Kourganoff (1989) esclarece
que: “[...] seja na França, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, ou noutra parte do mundo,
não se pode fazer uma carreira na Universidade sem ‘publicar’, pois o prestígio depende antes
de mais nada das publicações e a ascensão depende antes de mais nada do prestígio” (p. 132 –
grifo do autor). Neste contexto de capitalismo acadêmico sob a égide do produtivismo, o meio
mais seguro de atrair a atenção da comunidade nacional e internacional consiste em proclamar
regularmente o maior número de artigos. Também não é possível se descuidar das
apresentações dos resultados sob a forma de comunicação em colóquios e congressos.
Há uma obsessiva competição para apresentar os resultados e a relação temporal é
totalmente extrapolada. A grande preocupação é com o consumo de livros, congressos,
revistas, viagens, entre outras. Esse é o hipermercado da academia! Tudo o que é produzido é
contado, pontuado e deve estar explicitado em seu lattes. A grande crítica à produtividade é a
atribuição de um peso excessivo ao número e a frequência de artigos publicados. Nunes
(2012) comenta que certos indicadores refletem a produtividade, mas não a relevância do que
é pesquisado. Neste estudo, a AC demonstrou que dos oitenta e três LGS, 56,6 % se
reportaram à essa problemática. Seguem alguns posicionamentos:
107
Como já relatado, não é possível apresentar os dados do levantamento, pois se constituem numa série de
tabelas e gráficos demonstrativos da produtividade docente.
215
Porque sem a pesquisa não tem como você produzir o conhecimento ou dar mais
estabilidade para que a instituição ofereça curso de Pós-graduação (LG47).
Outra coisa é quando se faz a avaliação da nossa produção e publicação, nós estamos
muito aquém daquilo que deveria ter para o programa! Acho que não tinha sido
colocado no horizonte com a clareza necessária, para vários professores que quando
voltassem do doutorado tivessem essa produção (LG70).
carreira docente ou a impõe como mecanismo de estrangulamento das suas atividades. Posto
isso, acredita-se que a especificidade do trabalho do pesquisador requer estudos cuidadosos a
respeito da subsunção da produtividade ao capitalismo acadêmico, buscando entender essa
relação, principalmente acerca do controle e da regulação. Assim, não é possível continuar se
mantendo sob a tutela do capitalismo acadêmico para avaliar o desempenho dos docentes
criando searas, nichos ou feudos. Enfim, conta, soma e fragmenta o trabalho nas IES.
Diante desse quadro, há que se admitir que as mudanças recentes introduzidas nas
universidades brasileiras só agravaram o processo de intensificação e precarização do trabalho
docente. A saída possível seria pensar nas redes, concentrar-se em esforços de produção em
pesquisas de excelência acadêmica. Essa alternativa traz novos desafios, atrela-se a questão da
interdisciplinaridade dos projetos e impacta-se diretamente na carreira docente. Nesse
momento, necessário se faz romper o isolacionismo do trabalho intelectual, que favorece o
narcisismo que permeia as relações paradoxais da sociedade contemporânea.
Para finalizar essa parte da tese, numa perspectiva sintética, o cenário da RedSig
institucional ressalta as seguintes categorias e subcategorias na figura que segue:
CENÁRIO B
ABONO PARA
PESQUISA
CULTURA
Ressalta-se que o crescimento dos grupos foi gradativo. Registrou-se uma queda de
2007 a 2009 que se deu em função da sua atualização109. Além dessa justificativa, segundo a
assessoria responsável pelos grupos na PRPPG, também houve o encerramento de alguns
deles. Depois desse período de retrocesso, visualiza-se um aumento significativo, em 2010
inseriram-se vinte e quatro grupos. E novamente, no último ano de registro do anuário, um
acréscimo de vinte e seis grupos. De 2006 para 2011, o crescimento foi de 74%.
Esses dados apresentam o quantitativo de grupos relativos a 2011 (ano de vigência do
anuário), as informações atualizadas (2012) podem ser verificadas no software “UNIREDES
Unemat: grupos e redes de pesquisa”. Porém, é preciso esclarecer que a quantidade de grupos
informada nos anuários e no catálogo (2010b) difere do número oficializado no DGPB. Nos
dados do censo (2010) constata-se que a Unemat possuía cento e um grupos de pesquisa
ativos (DIRETÓRIO, 2013). Já no quadro 11 (fonte do anuário), no mesmo período informa-
se que eram noventa e sete grupos, e, por fim, o catálogo (2010b) que foi produzido na mesma
época eram noventa e seis. Os dois documentos divergem dos dados do diretório, o que
demonstra falta de conhecimento sobre a informação exata.
Assim, não é possível chegar num número exato dos grupos neste período, pois
variaram em função da institucionalização110 e da atualização. Esse não é um movimento
apenas do ano de 2010, é atemporal, se fossem tomados os dados do próximo censo do DGPB
e comparado com os documentos institucionais atuais as diferenças continuariam a existir.
Isso acontece porque os números são dinâmicos e se modificam diariamente conforme o
processo de inclusão ou retirada de grupos da plataforma. A base de dados escolhida para
nortear as entrevistas nos padrões quantitativos foi o catálogo (2010b), visto que na ocasião
apresentava o balanço dos grupos num documento oficial certificado pela IES. Essa opção
privilegiou as informações advindas da PRPPG, dessa forma, as análises que seguem tomam
por base o total de noventa e seis grupos de pesquisa na Unemat.
A resolução nº. 085/2007 que disciplina a política de pesquisa na Unemat define que
os grupos “constituem-se de pesquisadores, estudantes e pessoal de apoio técnico, de um
mesmo campus ou de diferentes campi ou instituições, organizados em torno da execução de
linhas de pesquisa, podendo compartilhar instalações e equipamentos” (Conepe, 2009a, p.
03). Legalmente, hoje, a Pós-graduação Stricto Sensu é sujeita às exigências de autorização,
reconhecimento e renovação, que são concedidas por prazo determinado, depende do parecer
109
Se não for realizado nas normas do censo do DGPB o grupo é excluído.
110
Regulamentado pela resolução nº. 085/2007 do CONEPE é relativamente simples para o LG, que preenche
um formulário, porém extremamente burocrático passando por vários setores na IES, até o parecer final e a
inclusão no DGPB.
219
essa iniciativa. Segue-se esse movimento em Mato Grosso, desde 2010, a Fapemat em
parceria com o CNPq convida com editais específicos, os pesquisadores a apresentarem
projetos para grupos de excelência em pesquisa, no âmbito do Pronex. A fundação junto com
a Secitec busca o fortalecimento de grupos de pesquisa, como forma de alavancar o
desenvolvimento regional sustentável (Fapemat, 2013).
Segundo Ramos (2009) os grupos passam cada vez mais a fazer sentido, porque “[...]
como espaços de produção de pesquisa na universidade, possibilitam a aproximação dos
indivíduos por temáticas, superando estruturas rígidas” (p. 29). Para Franco e Morosini (2001)
pensar os grupos de pesquisa como espaços de investigação implica considerar os reflexos das
atividades para formação da nova geração de pesquisadores. E, consecutivamente,
proporcionar a criação de redes que interligue os grupos. Sobre o processo de
institucionalização dos grupos na Unemat, foi realizada AC no catálogo (2010b) e
sistematizados no quadro que segue.
Conforme indicado no histórico dos campi, o primeiro grupo institucionalizado não foi
na sede da Unemat, foi em Sinop (1999) na área das Ciências Humanas. E, o segundo grupo
surgiu no campus de Alta Floresta (2001) nas Ciências Biológicas. Só no ano seguinte (2002)
a sede aparece no cenário agregando oito dos treze grupos criados nesse período. Hoje,
Cáceres aparece com a maior quantidade (ver quadro 13), devido ao fato de abranger uma
grande quantidade de docentes efetivos (duzentos e dois - informação concedida pela Prad), o
que de certa forma, viabiliza a composição de projetos coletivos.
O maior adensamento (quantidade) incide a partir de 2006. Criam-se em média doze
grupos por ano, cessando em 2009. Para compreender esse movimento, relembra-se Franco
(2009) que esclarece que a década de 90 impulsionou os grupos, sendo considerado um
221
[...] Dos professores mais antigos que entraram, nenhum professor fazia pesquisa.
Até 1986, não tinha praticamente essa preocupação com a pesquisa na Unemat, ela
era uma escola de ensino superior. Eu acho que aí, o fato da qualificação dos
professores, com a chegada de concursados que vem de centros de pesquisa trazendo
suas experiências, fica mais claro que nos teríamos que pesquisar (LG70 – grifo
meu).
111
Não há especificações sobre a distribuição entre efetivos ou interinos.
112
Esse é o regime de trabalho preferencial na Unemat. A lei complementar nº. 320/2008 determinou em seu
artigo 14, § 1º, que o docente teria as atividades distribuídas entre ensino, pesquisa, extensão e, eventualmente,
na gestão acadêmica (MATO GROSSO, 2013b). Assim, entende-se o tempo integral aquele que obriga à
prestação de quarenta horas semanais de trabalho na instituição, reservando o tempo necessário para atividades
destinadas a pesquisa, existindo, desta forma, garantia legal.
222
Deduz-se que mais da metade dos entrevistados (59%) participam de um único grupo.
Já 38,5% compartilham dois ou mais; e ainda 2,5% estão alocados em quatro grupos. O que
não é sugerido pelo DGPB que esclarece que a participação em um grupo define-se como um
trabalho permanente e profissional naquele grupo. Na ocasião do primeiro censo do diretório
(1993), observou-se que a maioria dos pesquisadores participava de apenas um grupo e uma
minoria em mais de quatro. No entanto, em 2002, o censo demonstrou um aumento
representativo de pesquisadores que apareceram mais de uma vez na base de dados. Este fato
levou o CNPq a considerar esse ato como não sugerido (DIRETÓRIO, 2013).
O que ocorre é o fato de um pesquisador colaborar eventualmente em outros grupos,
mas que não devem ser considerado como participação (conforme instrução do DGPB). Isso
não invalida o pesquisador de participar com colaborações esporádicas. É óbvio que também
não faz sentido uma limitação, pois, o pesquisador é livre para realizar suas atividades onde e
quando desejar. O que é significante é que a participação num grupo dever ser um trabalho
223
É um projeto de pesquisa que eu faço parte, só faço parte. Eu entro com alguns
tratamentos matemáticos. E, então, na verdade mesmo, a gente vem de um grupo
que não está ativo (LG10 – grifos meus).
Eu preciso participar de um grupo, então vou escolher um grupo para entrar. “Daí”,
não conversamos mais! Para se ter uma pesquisa de qualidade, precisamos ter uma
aproximação, as pessoas precisam começar a trabalhar junto (LG20 – grifo meu).
Como eu sou líder no primeiro grupo, o segundo e esse terceiro aí que eu acho que é
de Barra, só foi contato inicial. Depois nunca teve atividades desenvolvidas (LG59).
O participante do grupo não cumpre o seu efetivo papel, apenas recorre a um cadastro
burocrático para contabilizar horas. O que é manifesto nestas constatações é uma concepção
equivocada na composição de um grupo, gerando desconforto entre pesquisadores e IES.
Acima de tudo, há uma incidência na rotatividade de abertura e fechamento dos grupos. Isso
acontece rotineiramente na Unemat: “Um novo projeto gera um novo grupo. E não é assim
que funciona! Se eu sou líder de um grupo, e você é líder de outro e vai participar da pesquisa,
nós temos dois grupos. Não precisa criar um novo. Não é interessante você montar um grupo
hoje e fechar ele amanhã” (LG19). O LG09 também denuncia essa questão,
Então, se você pegar os grupos de pesquisa da Unemat, tem professores que é líder
em dois grupos de pesquisa. Na verdade, não é isso que é para acontecer! Uns
absurdos desses, isso porque a pessoa aprovava projeto e criava grupo de pesquisa
com o nome do projeto, ou seja, concepção completamente equivocada [...] Os
projetos têm início, meio e fim. O grupo de pesquisa não! (grifos meus).
Finalmente, é válido ressaltar nas análises pretendidas com os dados da tabela 15 que
os grupos são compreendidos na Unemat como ocupação dos espaços de poder. Por isso, os
LGs se articulam em inúmeros grupos conforme relatado nos fragmentos. Bourdieu (1974)
explica essa dinâmica quando expõe que cada uma das posições no campo corresponde a uma
forma de relação. Em termos mais precisos, isso quer dizer que é na relação que as categorias
de agentes vinculados a cada uma destas posições se mantêm. Através dos diferentes tipos de
gratificações correspondentes às diferentes formas desta relação que se definem o grau de
pertinência ou exclusão daquele campo. Hey (2008) concorda quando comenta que:
Nesse sentido, cada grupo equivale a uma posição, sendo que aquele espaço ocupado
restringe ou aumenta o campo de articulação. Para Bourdieu (1974) o dominante será aquele
que ocupa um lugar na estrutura e que age favoravelmente às suas ações. Segundo Hey (2008)
o pólo dominante é aquele que em duas espécies de capital determinam as posições: o político
e o prestígio intelectual. Isso permite a circulação dos agentes nos espaços sociais que
propiciam sua integração na academia e contribui decisivamente para seu sucesso; enquanto
que o pólo dominado não tem acesso e não consegue capitalizar suas ações.
A interpretação utilizada nesta tese indica que na Unemat esses pólos são arrolados
como os grupos de sucesso e os não ativos, que foram revelados no âmbito analítico desse
estudo de caso. Quando o pesquisador se encontra num grupo consolidado, tem possibilidades
diferentes de quem pertence a um grupo não ativo, entre outras situações destacadas pelos
LGs113. Assim, “As lutas no espaço são lutas pela dominação simbólica, ou melhor, pela
legitimação de uma forma de ver o mundo social” (HEY, 2008. p. 165).
Muitas elucubrações que se relacionam ao campo científico são possíveis com o
excerto, mas, em especial, referenda-se a distribuição territorial da IES. Bourdieu (2004)
esclarece que as representações dos agentes também variam segundo seu lugar e a associação
dos seus interesses. O habitus é gerador de um sentido de pertencimento a um espaço, e no
caso aqui, além do território (campus), reporta-se ao lugar de pesquisador ou de liderança.
Esse grupo é um espaço instituído de poder. Desta forma, “[...] implica não apenas um sense
of one’s place, mas também um sense of other’s place” (p. 158). Para compreender as
posições dominantes com relação aos grupos, organizou-se um quadro, ver detalhamento que
segue:
Quadro 13 – Distribuição da quantidade de grupos por campus universitário
CAMPUS NÚMERO DE
GRUPOS
Cáceres 49
Sinop 20
Tangará da Serra 17
Barra do Bugres 10
Alta Floresta 9
Pontes e Lacerda 7
Nova Xavantina 5
Alto Araguaia 4
Colider 1
Juara 1
Total 123
113
Inúmeros são os comentários externalizados pelos LGs sobre essa situação. Porém, não foi possível elencá-los
aqui nesse momento.
225
114
Maiores esclarecimentos sobre as áreas do conhecimento podem ser visualizados no software.
226
para desenvolver projetos. Poder-se-ia ter disponibilizado esse espaço para outras unidades
acadêmicas que apresentam melhor desempenho e interesse.
Colider é outro campus que não tem um número expressivo de grupos. No momento
da realização da entrevista tinha apenas um. Esse único grupo só foi institucionalizado em
2008 na área das Ciências Exatas e da Terra, quatorze anos depois do início de suas
atividades, a demora se deu pela ausência de docentes efetivos. Depois da visita à unidade
acadêmica, tomou-se conhecimento que foram criados outros dois grupos, um deles é o
GEU/Unemat (institucionalizado no último trimestre de 2012). A mesma situação de
acréscimo de grupo aconteceu em Juara. No momento da coleta de dados não havia nenhum
grupo cadastrado, descobriu-se que em 2012 registrou o primeiro grupo.
Na perspectiva de compreender os campos de poder instituídos na Unemat,
relacionou-se a distribuição dos grupos por área que pode ser observado no quadro.
ÁREA DO NÚMERO DE
CONHECIMENTO GRUPOS
Ciências Humanas 45
Linguística, Letras e Artes 20
Ciências Biológicas 15
Ciências Exatas e da Terra 15
Ciências Agrárias 14
Ciências Sociais Aplicadas 6
Engenharias 5
Ciências da Sáude 3
Total 123
financiamento que confere reconhecimento e prestígio. Há, portanto, uma hierarquia que
influencia práticas e escolhas, ainda que no interior de cada campo existam tensões.
Em tempo, são trazidos dados do anuário (2012) relativos aos núcleos. Segundo a
resolução nº. 085/2007 são compreendidos como “articulação de grupos de pesquisa e/ou
pesquisadores e técnicos, que atuam em temáticas afins, relevantes ao desenvolvimento do
Estado de Mato Grosso e do país, nos centros de um mesmo campus ou de diferentes campi”
(Conepe, 2009a, p. 03). Em 2006, havia oito núcleos, e em 2011, cinco anos depois dezoito
(crescimento de 125%), seu auge foi em 2010, quando existiam vinte espaços nucleares de
pesquisa. Porém, esse número decaiu em função da falta de financiamento para as pesquisas,
o que persiste até hoje, conforme dados da tabela 11.
Quanto aos centros de pesquisa são caracterizados como “a estrutura física e
organizacional, compreendendo os recursos humanos, espaço físico, instalações,
equipamentos e laboratórios, para agregar núcleos, grupos, pesquisadores, tendo por objetivo
criar ambiência para o desenvolvimento da pesquisa” (Conepe, 2009a, p. 03). O anuário
(2012) destaca que existiam em 2006 sete centros, hoje possui dezoito115 (aumento de 160%).
Zattar, Teixeira e Artioli (2008) esclarecem que a partir de 2005 aconteceram às primeiras
aprovações dos centros regionais que foram em Tangará da Serra, Barra do Bugres e Cáceres.
Porém, analiticamente observou-se nas visitas in loco e na AC das entrevistas que a
existência dos núcleos e centros não garante atividades “com abordagem transdisciplinar para
favorecer a pesquisa em rede e uma maior unidade do conhecimento” (Conepe, 2009a, p. 02),
conforme demarca a normativa. Também não se visualizou ações articuladas entre os campi
ou mesmo entre departamentos, isso acontece em situações esporádicas, muitas vezes
realizadas em parcerias externas. A quantidade de núcleos e centros (adensamento/processo)
parece ser mais importante do que a qualidade das ações (densidade/produto) para o
desenvolvimento da pesquisa que consolida a Pós-graduação que pode ser facilitada pelas
redes. O aporte legal permite, mas não há implementação perceptível entre os envolvidos.
Além dos grupos, núcleos e centros, outro espaço de poder nas universidades são as
redes. Para ampliar reflexões, reportou-se novamente a AC realizada nas entrevistas,
forjaram-se as subcategorias analíticas que são destaques a seguir na categoria grupos e redes.
115
Verificar denominação de cada um dos núcleos e centros de pesquisa no anuário (2012).
228
Nota-se, na compreensão baseada nas informações expressas nesta tabela que trinta e
cinco dos oitenta e três LGs (42,1%) indicaram as redes como subcategoria analítica;
somando-se o restante que correlaciona os grupos há trinta e oito incidências, que impactam
em 45,7% da amostra. Na explicitação dos indicativos perpetuaram-se as subcategorias:
fortalecimento (quatro ocorrências), organização (quatro indicações), concepção dos grupos
(seis incidências), e por fim, grupos de sucesso e não ativos com doze indicações cada uma.
Quando se apreende os elementos fundamentais que embasam a reflexão sobre os
grupos e redes, esses demonstram os sentidos delineados nas subcategorias que dão
significado à interdisciplinaridade (doze ocorrências). Somente a partir de uma interpretação
condensada que ganha sentido se revelam as interlocuções possíveis. Segundo Franco (1997)
as políticas institucionais são fundamentais para facilitarem (ou pelo menos não entravarem) a
integração, assim, sua introjeção na ambiência da pesquisa alcançará êxito na busca da
interdisciplinaridade. É no entrelaçamento dos indivíduos e de suas vontades que se
corporificam nos grupos se concretizam as redes.
No dicionário, as redes são a “tecedura de fios” (HOUAISS e VILLAR, 2009, p.
1627). Para Aguiar (2011) seu conceito tem sido formulado a partir de diferentes metáforas
que remetem a inter-relações, associações encadeadas, interações, que envolvem relações de
comunicação e/ou intercâmbio. “Os diversos padrões de formação de redes de indivíduos e
grupos sociais começaram a ser estudados a partir da década de 1940, sobretudo por
sociólogos, antropólogos e psicólogos sociais dos EUA, Inglaterra e Alemanha” (p. 02), que
utilizaram diferentes elementos metafóricos (malha, trama, rizoma, árvore, teia, entre outros)
para descrever os padrões de conexão.
Segundo Santos (2006), as redes são ao mesmo tempo concentradoras e dispersoras,
além de condutoras de forças centrípetas e centrífugas. “O fato de que a rede é global e local,
una e múltipla, estável e dinâmica, faz com que a sua realidade, vista num movimento de
229
116
Tem como finalidade estimular a cooperação acadêmica entre as diferentes instituições e organizações de
Educação Superior, tendo como objetivo fomentar o intercâmbio afim de criar alianças. É uma plataforma de
diálogo regional, que concretiza a cooperação acadêmica entre os países da América Latina (ENLACES, 2012).
117
Entre muitos exemplos dois merecem destaque: o UNIVERSITAS/Anped, que centraliza um grupo da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), que tem entre suas ações consolidar e
disseminar a produção científica sobre Educação Superior no Brasil (MOROSINI, 1999); e o GEU que é uma
rede de estudos e pesquisas que tem como finalidade analisar os sistemas de Educação Superior e suas
transformações, na perspectiva do desenvolvimento institucional (FRANCO, LONGHI e RAMOS, 2009). Tanto
um como outro grupo possuem pesquisadores da Unemat.
230
A utilização desse conceito de rede nessa tese marca a ruptura com uma visão
estruturalista e burocrática das universidades enquanto organizações, colocando em evidência
uma abordagem interdisciplinar, baseada nas conexões que alavancam a pesquisa numa IES
que tem demandas regionalizadas e atende um vasto espaço territorial em Mato Grosso. Na
AC dos atos regulatórios da pesquisa na Unemat, é ausente qualquer tipo de indicação sobre
as redes. Isso demonstra um ponto de estrangulamento legislativo e a necessidade de
informar, categorizar e sugeri-la aos pesquisadores.
A aposta desse estudo não é a ocupação de todos os espaços, mas a preocupação de
ativar pontos e linhas criam-se laços nas redes dos campi118 da Unemat. Logo, foi preciso
conhecer as redes de pesquisa que os LGs compartilham, o quadro seguinte traz as
especificações e a identificação dos campi integrantes.
118
Esse será o desenho constitutivo do último cenário proposto para a consolidação da pesquisa na IES.
231
entrevistas, indica-se a ausência de participação nas redes. Mesmo que possuam o maior
número de projetos (tabela 01), ainda não tem características cooperadas de redes.
É impossível não comentar que no nível intermediário de pesquisa apontado no quadro
09 estão Alta Floresta e Barra do Bugres, o segundo não participa de redes. Salienta-se
também que Colider tem apenas um grupo e está articulado a uma rede, o que é extremamente
promissor para um campus que é de pequeno porte. Assim, o quadro 15 perpetua a
distribuição geopolítica da pesquisa, com apenas algumas ressalvas se houverem avanços
futuros. O que é sugerido no cenário propositivo é a articulação entre os campi para
ampliação das redes de pesquisa na IES.
No total, foram informadas nas entrevistas, vinte e três redes, porém seis delas não
foram encontradas nenhuma referência, muitas são apenas grupos e não possuem o aval de
rede. Outras ainda foram categorizadas pelos respondentes como redes, mas são sistemas de
pesquisa (um), programa (dois), projeto (um) e núcleo (um). Oficialmente e subsidiadas são
apenas doze que tem formato de rede. Desse modo, as notificações são compreendidas como
organizações formais ou grupos de IES que se reúnem em torno de objetivos. Como
associações institucionais têm variados âmbitos de ação e constituem espaços adequados para
a interação e a cooperação. Por isso, possuem várias classificações e tipologias119.
Salienta-se, que do total geral da amostra (LGs, PRs e CPs ) que somam oitenta e nove
participantes apenas trinta estão integrados em redes, o que representa 33,7%. Esse resultado
é relativamente pequeno para uma IES que busca inserção nacional, além de reconhecimento
acadêmico e prestígio. Mais da metade dos participantes das redes (dezenove entrevistados -
63,3%) estão envolvidos com a temática pertinente ao campo das Ciências Biológicas, tais
como: biodiversidade, biotecnologia, clima, protocolos, estudos ambientais, entre outras. Para
maiores esclarecimentos sobre as redes consultar software que traz suas explicitações.
A insuficiência de recursos e as estruturas burocráticas que são evocadas a maior parte
das vezes para explicitar as carências na Unemat nem são as únicas nem as mais importantes
causas. Segundo o relato de um dos LGs: “Nós não temos pesquisadores suficientes que se
interessem por estar nas redes” (LG18/PR05 – grifo meu). Uma das saídas possíveis seriam os
projetos integrados em redes. Segundo o LG59 é possível fazer com que os docentes se
conheçam e se articulem nos grupos que comecem a pesquisar juntos e, “[...] que percebam no
outro o companheiro para produzir, para potencializar essa produção. Já que é necessária para
que a gente tenha num prazo menor a Pós-graduação consolidada na Unemat”.
119
Os tipos de redes não são foco deste estudo, pode-se tomar conhecimento de algumas delas em ENLACES
(2012), Whitaker (1993) e Franco e Morosini (2001).
232
120
Enquanto num evento leva-se em média de dois a seis meses desde o envio do texto até a publicação; numa
revista científica, demora-se de um a dois anos no mínimo, tempo necessário para os tramites da revista.
60
50
40
30
20
10
0
Livros/capítulos Artigos - Artigos - Anais de Apresentações de Trabalhos Técnicos
Periódicos Evento trabalho
35
30
25
20
15
10
5
0
Livros/capítulos Artigos - Artigos - Anais de Apresentações de Trabalhos Técnicos
Periódicos Evento trabalho
121
Análises de tabelas e gráficos complementares do levantamento integral de todos os entrevistados por área do
conhecimento e por programa de Pós-graduação permitem esclarecer que o movimento é ratificado, revelando
uma tendência institucional.
235
122
Dez LGs sugeriram essa possibilidade como incremento da consolidação da pesquisa na Unemat.
236
Unemat, esse articulador estaria preocupado especificamente com as questões que envolvem a
pesquisa e seus desdobramentos.
Suas atividades na PRPPG (onde estaria lotado institucionalmente) envolveriam
articular os docentes, os grupos, os projetos, as pesquisas, as redes, entre outras
possibilidades. A organização dos grupos e dos pesquisadores pode produzir uma colaboração
contínua entre as diversas áreas do conhecimento. Tratar-se-ia, de uma forma de integração
capaz de estimular a IES. A pró-reitoria poderia estimular as atividades envolvendo os grupos,
atitude que não foi perceptível na descrição de suas atividades e nas entrevistas com os PRs e
LGs. Essa integração institucional foi um indicativo maciço dos respondentes que sugeriram
que a pró-reitoria deveria organizar workshops, eventos e encontros temáticos por áreas que
estimulassem as redes. Além disso, a pró-reitoria deveria investir em parceiras com os grupos,
entre os campi, articulação com as prefeituras, entre outras possibilidades.
Assim, a integração seria um dos passaportes para o estabelecimento de um modelo
diferenciado de cultura de pesquisa. Didriksson (2011) destaca que isso acontece quando se
tem um “[…] docente concentrado en actividades de creación intelectual (científica, técnica y
humanística), sin la puesta en marcha de redes académicas de interacción con las
comunidades académicas internacionales […] (p. 450 – grifo do autor). A abordagem do
articulador é um caminho para que os grupos e redes sejam consolidados com base num
enlace dos fios para a transformação da realidade circundante na Unemat, condição
indispensável para a qualidade das pesquisas na universidade contemporânea e hipermoderna.
Um dos elementos necessário é a colaboração e o trabalho em equipe, inclusive sendo
entendido como meta de desenvolvimento institucional. Essa cultura de pesquisa opõe-se ao
individualismo que é predominante em algumas IES e marcas de alguns pesquisadores, sendo
recomendada por meio de estratégias de gestão. Geram-se, desta forma, os cenários das redes
colaborativas que foram retratados nos desafios de acesso, expansão, inclusão e financiamento
da OCDE, marcados pelo alto grau de internacionalização e por redes inter e entre IES e a
sociedade. Para Didriksson (2008a) as redes devem possuir características específicas,
123
Sinop disponibilizou as primeiras vagas para o mestrado profissional em Letras na IES, e apresentou a
CAPES uma proposta na área da Matemática a ser ofertada em 2014.
239
Vale ressaltar que não é simplesmente a junção dos campi, e, sim uma integração das
atividades de pesquisas às redes. Cada campus foi implantado ao longo dos anos com
estrutura organizacional e autonomia, o contorno desse novo desenho absorveria as
potencialidades. Isso implicaria em conhecer e proporcionar conexões entre o local e o global
e oportunizar pesquisas que garantam a regionalidade, mas que sejam vinculadas às questões
globais, superando, desta forma, os enfrentamentos que possam vir a ocorrer.
Na ressignificação desses três eixos regionais, os campi poderiam se aproximar para
desenvolver atividades organizadas em redes, para ampliação do adensamento da produção
(processo) e consecutivamente, da densidade da pesquisa (produto). Isso geraria uma cultura
institucional de pesquisa e as redes permitiriam a um pesquisador trabalhar em qualquer um
dos campi da IES. Analiticamente, é forçoso dizer que elementos que foram se incorporando a
Nova Xavantina, potencializaram uma cultura de pesquisa, que resultou na inserção dos
pesquisadores em redes e projetos (conforme relato dos LGs deste campus). Isso poderia ser
estendido aos outros campi que possuem perfil para centros de referência da pesquisa.
A partir das observações in loco e da entrevista com o CP, além dos projetos que
caracterizam uma cultura institucional (local) em Nova Xavantina, é possível ressaltar que
será desse campus que sairá uma das propostas de doutorado institucional. Visto que tem
condições, além de estrutura física operacional para encaminhar uma APCN sustentável.
Constatou-se que é esse o objetivo dos pesquisadores desse campus.
Com essa articulação territorial, os nós das redes começam a ser amarrados e quiçá,
enlaçados para a consolidação da pesquisa na Unemat. Os eixos de integração propostos nessa
categoria da articulação territorial são acionadores e dinamizadores dos grupos e das redes na
Unemat. Possibilita-se, desta forma, a superação dos impasses e o enfrentamento dos desafios
para o desenvolvimento da pesquisa, quer seja no âmbito local, como no regional, onde essa
instituição universitária ocupa um papel fundamental.
Para Moreira (2007) a maior ou menor aproximação dos campi com a política do
poder local determina a dinâmica e o alcance das respostas da universidade aos desafios.
Exige-se um elevado grau de sociabilidade das lideranças e dos articuladores para que seja
possível aproveitar esses laços da regionalidade. É notório que são múltiplos os sentidos que
podem ser dados à regionalização. Porém, sua noção encontra na universidade um lócus
privilegiado na medida em que manifesta a intersecção do institucional com a sociedade.
Instaura-se, com a categoria da articulação territorial, a caracterização de espaços mais
propícios de produção de conhecimento. Essa integração se fortalece a partir da criação de
uma estrutura de pesquisa, para isso é necessário tomar esse cenário como um desafio.
240
Nesse contexto, insurge de forma acentuada a terceira categoria desse cenário que é a
articulação interdisciplinar, composta de esforços individuais e coletivos para o
compartilhamento das áreas e dos saberes. A interdisciplinaridade tem sido temática frequente
nas discussões de congressos e seminários, visto o papel relevante que tem na sociedade do
conhecimento e organizada em rede. É, pois, uma palavra que tem sido utilizada para
descrever a diluição das/nas fronteiras do conhecimento. Esse conceito não é unívoco e
universalmente compreendido. É, hoje, uma provocação que caracteriza uma abordagem
científica, cultural e epistemológica diferente. Para Luzzi e Philippi Junior (2011), a
interdisciplinaridade vem ocupando cada vez mais espaço nas universidades brasileiras com a
ampliação de programas de Pós-graduação Stricto Sensu.
Historicamente, a interdisciplinaridade surgiu no final do século passado, pela
necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada pela epistemologia de cunho
positivista (LUZZI e PHILIPPI JUNIOR, 2011). No Brasil, os primeiros estudos sobre a
temática foram de Japiassu (1976) que a compreende como uma troca de conhecimento, o que
permite uma real integração entre as disciplinas, com projetos de interesse coletivo.
Fazenda (2003) destaca que o primeiro passo deve ser dado na direção da pesquisa,
que proporciona a quebra de resistências entre os indivíduos e exige partir em direção ao
outro, característica fundamental do processo interdisciplinar. Exige-se uma postura e uma
atitude interdisciplinar. Assim, encerra “uma atitude de reciprocidade que impele à troca, que
impele ao diálogo [...] uma atitude de compromisso e de responsabilidade” (p. 75).
A pesquisa interdisciplinar é difícil de se instituir, porém é preciosa para a reflexão
dos pesquisadores quando estão inter-relacionados às redes. Essa pesquisa exige que se
recorram às posturas e contribuições interdisciplinares. Assim, essa postura tende a captar os
efeitos gerados pela interdependência dos elementos e compreender a elevada densidade e
adensamento dos processos organizativos. Para o LG06:
[...] é uma troca, que a gente tem que estar disposto, entendeu! Você tem que estar
disposto, estar aberto, acho que a grande questão é essa, você tem que estar aberto,
porque, às vezes, o pesquisador tem isso ele é muito na caixinha dele. Se você não
abre os horizontes, aí realmente é complicado, então essa interação quando as partes
estão dispostas é muito legal, acho que só tem ganho (grifos meus).
Los nuevos componentes sobre los cuales se organizan los conocimientos se llevan a
cabo a partir de nuevas estructuras teóricas y métodos y técnicas de investigación
que se aplican de formas diferenciadas y múltiples desde la interacción compleja de
diferentes disciplinas que adquieren una complejidad de gran impacto social (p.
410).
CENÁRIO C
INTEGRAÇÃO
243
O grande foco desse cenário é a integração, seja pelo fio da rede institucional, da
territorialidade, da regionalização, dos campi ou interdisciplinar. Esse é o arremate dos nós
que representam uma articulação possível no contexto da Unemat. Nas próximas discussões,
buscar-se-á alavancar uma síntese enriquecida dos elementos compositores da malha para a
consolidação da pesquisa e da Pós-graduação nesta IES multicampi em Mato Grosso.
lócus apropriado, inclusive pelas prerrogativas legais que detém. Porém, o fato de ser o
espaço não significa que existam condições necessárias para seu funcionamento.
As reflexões caminharam para projeções pressupondo antecipar as possibilidades de
organização política e social da IES. Reafirmou-se a compreensão que a academia não é uma
ilha de neutralidade, mas que suas alternativas estão imbricadas na macro-estrutura sócio-
politica-econômica. Na consideração da RedSig global, o estudo ora desenvolvido se situa
num território em que se entrecruzam história e realidade, na construção de versões
problematizadoras do vivido. Problematizar a Unemat na sua dimensão concreta, no resgate
do passado numa relação dialógica com o presente, permitiu revelar o cenário futurista.
Este foi um resultado percebido, pois, além de ajudar a compreender o funcionamento
da IES permitiu o cruzamento de estudos sobre cada campus e a importância das influências
regionais. De igual modo, as análises empreendidas também forneceram chaves
interpretativas das RedSig em que estão cada uma das unidades acadêmicas. Os campi
interagem continuamente com a dinâmica social determinante de significativos fenômenos
regionais. Nessa abordagem situaram-se ferramentas para a compreensão da Unemat.
Fialho (2005) considera que cada campus encontra-se sujeito a problemas diversos, e a
IES vivencia essas inúmeras situações, em decorrência da sua inserção em múltiplas
realidades. Essas características ressaltam a direta implicação da ocupação do espaço, a inter-
relação com as realidades sociais, históricas, econômicas, que constituem o contexto.
O conjunto dos desafios a serem enfrentados para a consolidação da pesquisa e da Pós-
graduação está desenhado nos cenários propositivos: do pesquisador (habitus), da instituição
(cultura) e dos laços (integração). A criatividade, a ousadia e a dinâmica dos envolvidos
podem fazer a diferença, quando as potencialidades que estão dispersas territorialmente se
uniriam para o desenvolvimento global da pesquisa. Os fios dessas proposições foram como
ramificações que se cruzaram e se entrelaçaram numa construção dinâmica que oportunizou
reconhecer nos cenários (individual, institucional e da integração) as palavras, os sentidos, os
significados e o estabelecimento das conexões, no permanente movimento da figura-fundo.
Essa síntese enriquecida realça algumas das categorias que foram delineadas, para isso
é preciso ratificá-las. Primeiro, a exigência de uma comunidade de pesquisadores, congregada
aos bolsistas que podem dar corpo à interface entre pesquisa, ensino e extensão. Essa sugestão
foi identificada no “pensar” sobre a pesquisa, especialmente no âmbito das concepções e das
experiências dos pesquisadores, elementos constitutivos do seu habitus. Em segundo lugar,
estão as recomendações para uma agenda de financiamento que leve em consideração os
elementos analíticos, além do fortalecimento da infraestrutura que contribui para uma
246
que fazem, caracterizam a conjuntura social da universidade e das suas ações seja no âmbito
nacional ou estadual.
As IES, principais gestoras do conhecimento, precisam encontrar saídas ao
desencantamento do mundo hipermoderno e individualista. Frente a essa realidade desafiante,
deve assumir papel decisivo que diverge do que lhe foi outorgado, precisa, paradoxalmente,
se engajar globalmente, sob pena de ser marginalizada e classificada como obsoleta e, ao
mesmo tempo, produzir conhecimentos que sejam de pertinência social para a população.
Desse modo, enfatiza-se que as mudanças ocorridas nas universidades transformaram
o seu significado social, sua estrutura, sua política e suas relações com a sociedade,
configurando um fenômeno social complexo e dinâmico por conta de suas crises, que são
reflexo de uma determinada sociedade vivenciada neste momento histórico. O que se percebe
é um amplo processo de redefinições das esferas políticas e sociais, no qual são oferecidos
mecanismos para recriar situações favoráveis para a sociedade do conhecimento.
A tese delineou um amplo e detalhado desenho da pesquisa numa universidade do
Estado de Mato Grosso. Considera-se, assim, que um dos pontos captados foi à estreita
vinculação entre a pesquisa, as políticas públicas e a existência de espaços e condições de
produção (viabilizados ou não pelas políticas institucionais).
Quando foi criada, a IES tinha como objetivo formar professores e ao longo dos anos,
expandiu-se com base numa estrutura multicampi e construiu sólida experiência no ensino.
Recentemente, diversificou suas atividades oferecendo Pós-graduação, que possui papel
fundamental na medida em que adensa e densifica as atividades da pesquisa. Nesse sentido, as
discussões em torno das políticas de pesquisa e da Pós-graduação devem receber atenção dos
gestores responsáveis pelo seu incremento.
Nesse trajeto percorrido para a identificação da RedSig do cenário constituído,
observou-se que os acontecimentos relatados desde o projeto fundador da Unemat, revelaram
a natureza das lutas, conflitos de interesses e conquistas na construção da pesquisa. A IES que
tem como função, a produção e socialização da pesquisa em Mato Grosso, constituiu-se em
lócus de atenção e de interesse do governo estadual, que é um dos interlocutores legitimados.
Em relação aos poderes constituídos, inicialmente do município de Cáceres e depois
em todo o Estado, foi uma IES que nem sempre encontrou eco na sociedade mato-grossense,
sua voz inúmeras vezes não ressoou, e faltou-lhe em alguns momentos articulação política,
que acabou reverberando nas dificuldades financeiras que passou. No entanto, a consolidação
da pesquisa e da Pós-graduação pode ser um caminho para o reconhecimento aos seus
249
projetivo” para o futuro da Unemat e isso significa dotá-la de condições necessárias para
desfazer emaranhados de nós (ausência de financiamento interno) e tecer malhas com outras
tonalidades para as gerações vindouras de pesquisadores (habitus, cultura e integração das
pesquisas). Esse foi o grande desafio dessa tese!
Por fim, no último nexo, são oferecidas as perspectivas para novas investigações, visto
que algumas tematizações se transformaram em mediações que são relevantes para estudos
posteriores. É cabível esclarecer que as instituições regionais, como a Unemat, têm
características próprias que devem ser aprofundadas, tais como: sua ambiência, suas ações
para a articulação de grupos e redes consolidados e emergentes, entre outros. Essas reflexões
permeiam levantamentos que expressariam até que ponto esse modelo tem sido uma tendência
da/na Educação Superior brasileira, traçando um paralelo de diferenciação dessa arquitetura
que atende à regionalidade.
Outras temáticas que poderiam ser analisadas abarcam a particularidade dos grupos de
pesquisa com questionamentos que se impõem no cenário global/local, considerando a
necessidade de compreender se são agentes de manutenção ou de renovação. Essas reflexões
se fazem extremamente importantes no contexto hipermoderno de uma sociedade organizada
geopoliticamente em rede. Noutro foco analítico, pode-se considerar que a carência de
aprofundamento teórico sobre as universidades multicampi por si só justificaria estudos nessa
área, sobretudo se considerada a magnitude do fenômeno que representa atualmente no Brasil.
Ao término dessa tese, é devido esclarecer que uma das devolutivas para a
comunidade acadêmica é a disponibilização do estudo completo. Além disso, será distribuído
e divulgado o software UNIREDES, que traz a atualização dos grupos e a identificação das
redes de pesquisa que a Unemat participa, que até então não havia sido demonstrado. A
proposta é encaminhar o programa aos campi e/ou hospedá-lo no site da IES. Essa seria uma
das sugestões conclusivas de ordem política institucional.
Na conclusão desta investigação, enfatiza-se que refletir sobre a Educação Superior
pública em Mato Grosso, e especialmente sobre a Unemat foi um exercício de percepção num
mundo globalizado em rede, marcado pelo imediatismo hipermoderno que ocupa as atenções
da sociedade e dos financiadores da produção do conhecimento. Isso exigiu pensar sobre sua
função, sua relação territorial se espraiando geopoliticamente no Estado como IES de
formação profissional com ênfase formativa e científica.
O sonho vislumbrado nas prospecções passou pela atividade inquiridora do presente e
são desafios numa abordagem projetiva. Não apenas pelo diagnóstico das dificuldades, mas,
e, sobretudo, pelas iniciativas criativas na condução de alternativas. Essa tese é um exercício
253
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ANEXOS
274
APÊNDICES
277
↓
CONTEXTO DA PROBLEMÁTICA
• A pesquisa é uma de suas funções que constituiu o tripé constitucional, sendo considerada a mais
importante para a produção do conhecimento e tem seu lócus específico na Pós-graduação.
• A prática da pesquisa contribui significativamente para a qualidade na/da Educação Superior, isso é
potencializado na constituição de grupos e redes, que geram densidade e adensamento da produção
acadêmica.
• As condições de realização da pesquisa dependem de uma série de fatores que são representados nas redes
de significações individual, institucional e de integração.
Hipermodernidade: sociedade caracterizada pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade, pela exacerbação
do tempo, pelo consumo exagerado; define a situação paradoxal geradora de tensões e crises que se divide entre o
excesso e a moderação; momento conflitante onde tudo alcançou uma velocidade que pode levar ao abuso e ao
descomedimento.
Sociedade em rede: estrutura social organizada em redes operadas por tecnologias fundamentadas em
computadores que geram, processam e distribuem informações; estrutura formal que possui um sistema de nós
interligados; novo formato da sociedade baseada no paradigma econômico-tecnológico da informação que sugere
alterações no tempo e no espaço.
Sociedade do conhecimento: signatária das tecnologias avançadas que impõem novos padrões; o conhecimento e
a centralidade da Educação Superior são objetos de destaque e se tornam valor econômico; indicação da
necessidade de constituição de uma universidade de inovação com pertinência social alinhada à sociedade do
conhecimento numa perspectiva crítica.
Pesquisa: alma geratriz da universidade e uma das funções mais específicas de sua atuação; busca de novos
conhecimentos, sendo o lugar da inovação, âmbito da socialização do saber, na medida em que divulga
conhecimentos; constitui-se no conjunto de saberes presentes na universidade, inserida na Pós-Graduação.
Pós-graduação: local onde a prática da pesquisa é fundamental, dada a natureza da sua produção; refere-se
igualmente às condições institucionais para a estruturação de um Programa que possa servir de contexto para a
produção de conhecimento; instaura a “tradição” da pesquisa nos ambientes acadêmicos, constituindo-se
historicamente como espaço privilegiado, e quase que exclusivo, para a formação de novos pesquisadores.
278
↓
QUESTÃO INVESTIGADORA
PROPOSIÇÃO DE TESE
A universidade, por meio da Pós-graduação é fonte geradora de conhecimento, na medida em que adensa e
densifica suas políticas e ações de produção da pesquisa por meio dos grupos, dos projetos e das redes. Assim,
sua consolidação, pode acontecer por meio de três cenários: individual, institucional e da integração das
atividades de pesquisa.
↓
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
↓
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
FONTE DE DADOS
CATEGORIAS *
Referentes
Pesquisa
Grupos de pesquisa
Pós-graduação
Adensamento
Densidade
Hipermodernidade
Sociedade em rede
Sociedade do conhecimento
Conceituais
Organização da pesquisa
Formas de financiamento
Consolidação da pesquisa
Políticas de pesquisa
Institucionalização dos processos
Paradoxo hipermoderno
Substantivas
Concepção de Pesquisa
Contato com a pesquisa
Formação do pesquisador
Interesse pela pesquisa
Professor pesquisador
Indivíduo
Grupo/rede
* Aqui estão dispostas algumas das categorias reveladas no momento da construção do projeto, há ainda
outras que estão identificadas ao longo da tese.
280
PARTE I
Identificação e caracterização:
Nome:
Sexo:
Idade:
Departamento:
Campus:
Projeto de pesquisa:
Financiamento/agência financiadora:
Redes de pesquisa:
PARTE II
Contato com a pesquisa:
1. Onde foi o seu primeiro contato com a pesquisa científica?
( ) Bolsista
( ) Curso de especialização
( ) Mestrado
( ) Outra situação: _____________________________________________________
Concepções de pesquisa:
4. Qual a sua concepção de pesquisar?
PARTE III
Cenários de desenvolvimento da pesquisa e da Pós-graduação:
6. Como avalia a organização da Pós-graduação, na sua área do conhecimento, na
instituição?
( ) Regular
( ) Boa
( ) Ótima
( ) Excelente
Justifique sua resposta: _____________________________________________________
9.3. Você tem alguma indicação para consolidação dos grupos de pesquisa na
UNEMAT?
PARTE I
Identificação e caracterização:
Nome:
Sexo:
Idade:
Departamento:
Campus:
Grupo de pesquisa:
Projeto de pesquisa:
Financiamento/agência financiadora:
Redes de pesquisa:
Reflexão:
O que gostaria de ter feito e não conseguiu fazer no tempo que permaneceu na Pró-reitoria:
Pesquisa:
Grupos de pesquisa:
Financiamento da pesquisa:
Pós-graduação:
283
PARTE II
Contato com a pesquisa:
1. Onde foi o seu primeiro contato com a pesquisa científica?
( ) Bolsista
( ) Curso de especialização
( ) Mestrado
( ) Outra situação: _____________________________________________________
Concepções de pesquisa:
4. Qual a sua concepção de pesquisar?
PARTE III
Cenários de desenvolvimento da pesquisa e da Pós-graduação:
6. Como avalia a organização da Pós-graduação, na sua área do conhecimento, na
instituição?
( ) Regular
( ) Boa
( ) Ótima
( ) Excelente
Justifique sua resposta: _____________________________________________________
9.3. Você tem alguma indicação para consolidação dos grupos de pesquisa na
UNEMAT?