Ediney Junior
Ediney Junior
Ediney Junior
CUIABÁ-MT
2018
RESUMO
The present paper brings together the results of the first year of field research, during the 2017
school year, obtained in the classroom after the change in teacher methodology, by choosing
the problematization of learning in history as a key element of its work and as from this change
has given rise to new relationships between the students / teacher with the discipline of History.
We start from the hypothesis / experience that the students learn history using as reference the
teacher through dialogue classes and the interpretation of text as the main or only form of
historical learning. The result of this equation is a little meaningful learning, besides solidifying
the school as the only space of historical learning and didactic material as the only source of
this space. The first evidence shows that when introducing the new methodology, students
developed a taste for historical research, resulting in a re-signification of their connections with
the discipline itself and, on the other hand, the teacher started to feel part of this process,
experiencing their role as a teacher / researcher. As a theoretical reference, we align ourselves
with the research, studies and research in the field of Historical Education regarding the process
of historical cognition and the origin of this "movement" in Germany and the ideas of the
researcher and historian Jörn Rüsen. We have as methodological presupposition the concept of
the workshop class in the perspective of Historical Education, which is based on Barca
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 11
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, a profissão de professor enfrenta desafios dentro e fora da sala
de aula. Estamos na sociedade da informação, aonde com um simples toque temos
notícias de qualquer canto da nossa aldeia global. O profissional da educação então se
vê compelido a buscar – as vezes de maneira heroica – informação e conhecimento
através de cursos de capacitação, qualificação acadêmica, além de dar conta dos seus
afazeres diários: preparar aulas, avaliações, correção de simulados, blocos de atividades,
participar de reuniões pedagógicas e/ou administrativas, etc.
Ao adentrar o mercado de trabalho, o professor de história se vê imerso no
abismo entre o que é produzido nas universidades e o que é transmitido nas salas de
aulas. Este abismo, em partes, se deve muito ao academicismo do século XIX. No caso
especifico da História, Rüsen aponta para o processo de cientificação da história
... que acarretou um estreitamento consciente de perspectiva, um
limitador das finalidades e dos propósitos da história1
1
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectiva a partir do caso alemão. Práxis Educativa,
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 7 – 16, julho-dezembro 2006. Pag. 09.
2
______, Pag. 10.
12
3
RÜSEN, Jörn. Didática da história: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, Página 10. 2006.
4
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta
Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140.
13
5
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta
Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140.
14
consonância com a ciência da história para que os agentes históricos em sala de aula
possam praticar seus ofícios de historiadores. Ainda neste capitulo, abordaremos o
estágio atual da pesquisa – neste caso a 2ª etapa de um total de 4 – juntamente com as
primeiras impressões e pesquisa de campo. Nesta etapa do projeto faremos uso das mais
diversas fontes de pesquisa visando o fortalecimento do apreço pela pesquisa histórica
por parte dos agentes em sala de aula.
No quinto e último capítulo, traremos as conclusões finais para esta etapa da
pesquisa, que se encontra na metade do seu caminhar. Os dados já levantados apontam
para a necessidade da continuidade da pesquisa pois segundo Isabel Barca, o
levantamento do conhecimento prévio dos sujeitos escolares apenas é importante se o
objetivo último é prospectivo, ou seja, a reflexão e a ação a partir dos dados
investigados, − então categorizados e analisados −, servirem ao propósito da reflexão e
da ação, no sentido de empreender mudanças significativas no ensino/aprendizado
histórico visando a “qualidade”.
15
6
http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/estudo-mostra-situacao-do-
professor-brasileiro/21206
7
http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/estudo-mostra-situacao-do-
professor-brasileiro/21206
16
8
https://www.ensinabrasil.org/nossoprograma
17
professores brasileiros aponta para uma pratica formativa que preconizava como
primeiro passo o aprender o que ensinar e depois aprender como se ensinar.
(...) a docência se aprendia na própria sala de aula, num contexto em
que a autoridade do professor e a obediência do aluno eram dados que
derivavam naturalmente das relações familiares e sociais de então.
Quando aparecem os primeiros cursos superiores de formação docente
(licenciaturas), não é surpreendente que o desenho curricular preveja
um período inicial de estudos específicos na área escolhida e um
período posterior, de estudos pedagógicos e prática de ensino (estágios
ou residência).9
9
CERRI, Luis Fernando. A Formação de professores de História no Brasil: antecedentes e panorama atual. história,
histórias. Brasília, vol. 1, n. 2, 2013. ISSN 2318-1729 Pagina 170.
10
______, Pagina 168.
18
A ideia trazida por CERRI (2013) de “dom” para o oficio do professor, edifica
o discurso tendencioso de que a profissão de professor é uma ação antes de tudo altruísta,
que a docência está ligada ao amor ao próprio labor. O professor trabalha por amor a
profissão e não buscando prestigio e reconhecimento. O impacto direto deste cenário é
a questão da baixa remuneração salarial para os educadores e a pouca valorização deste
profissional.
Outro ponto importante dentro do cenário da educação brasileira é a questão da
própria formação do professor. Não podemos pensar em qualidade da educação se não
investirmos na qualidade da formação dos futuros professores. Como diz a Professora
Soraiha Miranda de Lima
Não se pode pensar numa escola capaz de proporcionar a aprendizagem
de conhecimentos socialmente validos e relevantes e, simultaneamente,
de favorecer a formação de habilidade de pensamento dos alunos, sem
professores preparados.11
11
LIMA, Soraiha Miranda de. Ação e Reflexão no Trabalho Docente: possibilidades e limites de um projeto de
formação continua na escola. cuiabá: EdUFMT, 2005. Pagina 35.
12
_____, Pagina 19.
19
13
https://profhistoria.ufrj.br
20
14
https://profhistoria.ufrj.br/sobre_curso
15
CÉLIA, Maria Borges; FERNÁNDEZ, Orlando Aquino & VALDÉS, Roberto Puentes. Revista HISTEDBR
On-line, Campinas, n.42, p.94-112, jun2011 - ISSN: 1676-2584. Pagina 99.
21
16
RÜSEN, Jörn. Didática da História: Passado, Presente e Perspectiva a partir do caso Alemão. Práxis Educativa.
PR. V.1, N 2. Pagina 07 – 16. Jul. Dez. 2006. Pagina 08.
17
CERRI, Luis Fernando. A formação de professores de história no Brasil: antecedentes e panorama atual história,
histórias. Brasília, vol. 1, n. 2, 2013. ISSN 2318-1729. Pagina 170.
22
pensamento concreto das crianças limitaria a sua capacidade de entender a história. Por
esta teoria as crianças de 0 a 2 anos estariam no estágio ou fase do sensório-motor; as
crianças de 2 a 7 anos estariam no estágio ou fase pré-operatório; as crianças de 7 a 12
anos estariam no estágio ou fase de operações concretas e as crianças a partir de 12 anos
estariam no estágio ou fase de operações formais. Isso acarretou um discurso que a
história só poderia ser trabalhada com as crianças a partir dos 12 anos já que estas, por
estarem na fase das operações formais conseguiram entender a história devido seu alto
grau de complexidade, resultando na entrada da História a partir do atual 6° ano do
ensino fundamental II.
Já dentro do próprio curso de história, o esquema “3 + 1” consolidava a
fragmentação da formação do professor ao separar a ciência da história da didática da
história. Por este distanciamento, o abismo entre o que era produzido nas universidades
e o que era produzido – neste caso replicado – nos interiores das salas de aula pelo Brasil
a fora ganhou dimensões gigantescas.
Primeiro ao cristalizar a ideia de o trabalho do professor ser algo intrínseco ao
profissional – “Dom” – quando se minimiza a importância do estudo das relações
pedagógicas em sala – leia-se pedagogia como ciência da educação – na formação do
professor.
Segundo, ao gerar uma crise entre a Didática da História e a Ciência da História,
ao se colocar o professor do ensino fundamental como mero replicador do que era
produzido nas universidades. Ao se eleger a cientificidade da história como única
justificativa da própria disciplina de História nos currículos, foi gerado um sentimento
de vazio em relação a praticidade ou utilidade da mesma no dia a dia dos discentes.
Tornou-se a História como disciplina associado a algo intelectual, porém de pouca
conexão com o hoje. Precisávamos encontrar novas ações metodológicas que pudessem
auxiliar o professor de História em seu labor. Necessitávamos de novas concepções de
ensino que pudesse acrescentar ao Know-how do professor, resultando em novas
estratégias de ensino. A Educação Histórica estava por chegar.
23
Não se pode falar de uma escola de qualidade sem que haja a preocupação e
engajamento de todos para o aumento do investimento na educação, seja ela através de
condições de trabalho – estrutura – além do próprio ganho salarial do professor. A escola
tem que evoluir para um centro de ensino e pesquisa.
Os cursos de formação de professores devem contribuir para o alinhamento entre
a pesquisa e a didática em sala, promovendo a própria valorização da educação perante
a opinião pública e seu próprio público – alunos. Isso só será alcançado quando a
comunidade escolar – pais, mestres, alunos etc. – se unirem para uma mudança de
paradigma exigido um envolvimento da sociedade como um todo nesta problemática.
Os desafios da sala de aula começam na formação do próprio professor. A
primeira coisa, que nos chama a atenção, no que tange a formação do professor, diz
respeito à questão pedagógica. No início, era ausente, porém, o tema foi penetrando
lentamente até ocupar posição central nos ensaios de reformas da década de 1930. Hoje
está presente nas políticas e discussões atuais sobre formação de professores, sem
encontrar, ainda, um encaminhamento satisfatório e coerente entre o conteúdo dos
discursos e a sua efetivação prática. Apesar das políticas formativas evidenciarem
sucessivas mudanças, contudo ainda não estabeleceram um padrão minimamente
18
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortes, 2013 página 23.
24
19
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Cognição histórica situada: que aprendizagem histórica é esta? ANPUH – XXV
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Pagina 2.
25
20
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Cognição histórica situada: que aprendizagem histórica é esta? ANPUH – XXV
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Pagina 3.
26
21
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Cultura Histórica e aprendizagem Histórica. Revista
NUPEM, Campo Mourão, v, 6, n. 10, janeiro/junho. 2014. Pagina 34.
22
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortes, 2013. Página 13
28
ensinar tinha sido aprendido no próprio curso de história. O professor de história, era
então formado como um especialista em conteúdos históricos que deveria ser forjado
nas teorias pedagógicas/psicológicas a serem os norteadores do fazer em sala de aula no
que tange o aprendizado do aluno. O papel da Didática da História seria de apresentar e
tratar de assuntos concernentes ao universo da sala de aula. Rüsen coloca que antes na
Alemanha, o papel da Didática da História era de ser
uma disciplina que faz a mediação entre a história como disciplina
acadêmica e o aprendizado histórico e a educação escolar. assim ela não
tem nada a ver com o trabalho dos historiadores em sua própria
disciplina. A didática da história serve como uma ferramenta que
transporta conhecimento histórico dos recipientes cheios de pesquisa
acadêmica para as cabeças vazias dos alunos.23
E continua
Ela se ocuparia da aplicação e da intermediação do saber histórico,
produzido pela história como ciência, em setores do aprendizado
histórico fora da ciência. Os didáticos seriam transportadores,
tradutores, encarregados de fornecer ao cliente ou à cliente –
comumente chamados de “aluno” ou “aluna” – os produtos científicos.
A didática relacionara-se com o saber histórico produzido
cientificamente como o marketing se relaciona com a produção de
mercadorias24
23
RÜSEN, Jörn. Didática da História: Passado, Presente e Perspectiva a partir do caso Alemão. Práxis Educativa.
PR. V.1, N 2. Pagina 07 – 16. Jul. Dez. 2006. Pagina 08.
24
RÜSEN, Jörn. História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Trad. Estevão
de Rezende Martins. Brasília: EdUnB, 2007. Página 89.
29
25
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 07 – 16, jul.-dez. 2006. Pagina 09.
30
26
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 07 – 16, jul.-dez. 2006. Pagina 09.
27
___________, Pagina 08.
31
Uma das inquietações da sociedade alemã que incidia sobre a ciência da história
e didática da história e que deveria ser respondida pela nova didática da história, era a
questão do nazismo. Os historiadores Prof Dr. Rafael Saddi Teixeira e Prof Dr. Marcelo
Fronza comungam da ideia que os nascidos no pós-guerra, principalmente os mais
novos, não queriam mais ser julgados pelos erros do passado. Outra crítica da sociedade,
era sobre a história ensinada e aprendida nas escolas e fora dela. Críticas essas,
fundamentadas na ideia de que a história não abordava o tema nazismo como deveria,
pois, na visão de alguns, a história tratava o nazismo como um erro de percurso e nada
mais, já para outros, a história continua a criar os mesmos elementos de um passado não
muito longínquo.
Esta crise levou a didática da história a uma mudança radical. Deixou de ser uma
mera mediadora entre o saber cientifico e o saber escolar para se constituir como uma
disciplina que tinha por objetivo estudar a ligação da ciência da história coma vida
pratica na sociedade. Klaus Bergmann, definiu assim a didática da história:
“ela é a disciplina que examina a importância da história – todas as
espécies de história e todos os seus elementos constitutivos – para o
sujeito receptivo e reflexivo”. Ele considerava emancipação e
identidade pessoal como as duas principais ideias dessa reflexão
didática.30
28
RÜSEN, Jörn. História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Trad. Estevão
de Rezende Martins. Brasília: EdUnB, 2007. Página 87.
29
___________, Página 87.
30
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 07 – 16, jul.-dez. 2006. Pagina 11.
32
ensino e aprendizagem em sala de aula com uma percepção teórica dos processos e
funções da consciência histórica em geral.
Dadas estas orientações, as perspectivas da didática da história foram
grandemente expandidas, indo além de considerar apenas os problemas
de ensino e aprendizado na escola. A didática da história agora analisa
todas as formas e funções do raciocínio e conhecimento histórico na
vida cotidiana, prática. Isso inclui o papel da história na opinião pública
e as representações os meios de comunicação de massa; ela considera
as possibilidades e limites das representações históricas visuais em
museus e explora diversos campos onde os historiadores equipados com
essa visão podem trabalhar.31
31
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 07 – 16, jul.-dez. 2006. Pagina 12.
32
Aula gravada do professor Rafael Saddi https://www.youtube.com/watch?v=nBG8bTtXdzU
33
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Cultura Histórica e aprendizagem Histórica. Revista
NUPEM, Campo Mourão, v, 6, n. 10, janeiro/junho. 2014. Pagina 32
34
BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras, Porto III
serie, v, 2. 2001, pp 013-021. Pagina 13.
33
Além disso, torna a história uma “ciência moderna” ao dar a mesma a utilização
de outras ciências na vida cotidiana das pessoas. A Educação Histórica presta um
enorme favor ao unir novamente a Ciência da História e a Didática da História na visão
de RÜSEN
“A ciência da história não tem como dispersar-se, em sua
especialização, dos impulsos advindos do ensino e do aprendizado de
história”36
35
Ensinar e aprender História: histórias em quadrinhos e canções: metodologia, ensino médio/Adriane de Quadros
Sobanski...[etal]. Curitiba: Base Editorial, 2010. Página 11.
36
RÜSEN, Jörn. História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Trad. Estevão
de Rezende Martins. Brasília: EdUnB, 2007. Página 91.
37
RENILSON. Rosa Ribeiro, Fato e Versões, Coxim: MS, v. 09, n. 16, PP 129-144. Set-Dez 2016
34
A Educação Histórica nos permite discutir entre outros temas a própria ideia que
temos de educação e processo cognitivo chegando até a formação do próprio
profissional de história além de trazer novos elementos ao cenário da pesquisa sobre a
cognição histórica. Primeiro ao eleger, entre outros temas de pesquisa, a consciência
histórica que deriva de um novo papel protagonizado pelo professor e aluno em sala de
aula. Segundo que sob sua ótica, o como se aprende é muito mais importante do que o
que se ensina, resultando em elementos para se discutir entre outros temas o pensamento
histórico. Assim, a educação histórica legitima o estudo da didática da história como
elemento da própria história.
Esta nova corrente tem marcos iniciais na Inglaterra e na Alemanha além de
outros países como Canadá, Estados Unidos e Portugal. No Brasil as produções
cientificas vão ao encontro dos sujeitos da história em sala de aula (professor e
aluno). Segundo BARCA:
Nestes estudos, os investigadores têm centrado a sua atenção nos
princípios, fontes, tipologias e estratégias de aprendizagem em História,
sob o pressuposto de que a intervenção na qualidade das aprendizagens
exige um conhecimento sistemático das ideias históricas dos alunos, por
parte de quem ensina (e exige também um conhecimento das ideias
históricas destes últimos). A análise destas ideias implica um
enquadramento teórico que respeite a natureza do saber histórico e que
deve refletir-se, do mesmo modo, na aula de História.38
38
BARCA, Isabel Educação Histórica: Uma nova área de investigação. In. ARIAS NETO,José Miguel (org.). Dez
anos de pesquisa em ensino de História. Londrina: AtritoArt, 2005, p.15-25. Página 15.
39
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1987. Pagina 48.
35
De modo geral essa nova prática, busca reequilibrar o papel dos agentes em sala
de aula – aluno e professor. Digo reequilibrar, pois, deslocamos o papel canônico de
fonte do professor, para agora dividirmos entre os iguais desta relação; ou seja, ambos
são fontes de produção de conhecimento histórico pois produzem e vivem a história.
BARCA
O professor de história tem de desenvolver uma atividade questionadora
para conhecer o aparato intelectual dos alunos de modo a desafia-lo na
construção de sua aprendizagem.42
40
BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras. Porto, III
Série, v. 2, 2001, pagina. 13.
41
_______ pagina 16.
42
Ensinar e aprender História: histórias em quadrinhos e canções: metodologia, ensino médio/Adriane de Quadros
Sobanski...[etal]. Curitiba: Base Editorial, 2010. Página 13.
36
43
BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras. Porto, III
Série, v. 2, 2001, página. 15.
44
______ página 14.
45
Professor Dr. Marcelo Fronza, via trocas de mensagens no celular ocorrido no dia 30/01/2018 as 09:26.
46
BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras. Porto, III
Série, v. 2, 2001, p. 14.
37
pela revista para entendermos uma parte da produção cientifica deste novo campo de
pesquisa.
Figura 02: Quadro do dossiê da REDUH
Número / DOSSIÊ: TEMATICA Trabalhos
Ano publicados
N° 01/2012 “Educação Histórica: Teoria, Pesquisa e Pratica” 14
E com a missão
Ser uma Revista produzida por professores e destinada a professores
de História. Ter como referência o diálogo respeitoso e compartilhado
entre a Universidade e a Escola Básica. Colaborar na produção,
distribuição e consumo do conhecimento na área da Educação
Histórica, pautada na construção de uma sociedade mais justa e
igualitária
47
Revista de Educação Histórica – REDUH – LAPEDUH – UFPR Número 01/ Julh. – Nov. 2012. Pagina 07
40
A revista REDUH, neste curto espaço de tempo, 05 anos desde a sua fundação,
está realizando um notório trabalho a comunidade cientifica, ao se estabelecer como
espaço de construção e disseminação do conhecimento científico objetivando melhorias
no processo de ensino de história em sala de aula. Os trabalhos apresentados durantes
as 14 edições da revista, servem como balizadores para a nossa atual pesquisa e como
fonte de pesquisa e também como fundamentação teórica.
Na primeira edição da revista REDUH – Educação Histórica: Teoria, Pesquisa e
Pratica – os trabalhos são pautados na e sobre a aprendizagem histórica. O professor e
pesquisador alemão, Bodo Von Borries, no texto Competência do pensamento histórico,
domínio de um panorama histórico, ou conhecimento do cânone histórico? traduzido
por Éder C. Sousa afirma que a História é um assunto complexo e que deve ser pensada
como um “modelo de pensamento” e não estritamente como uma narrativa cronológica
ou cânone histórico. Defende também que o ensino de História deve constituir
competências do pensamento histórico em um contexto de multiperspectividade. Essa
visão, coloca em xeque, o pensamento quase que hegemônico, que coloca a disciplina
de história e seu processo de cognição como algo ligado a técnicas linguística –
reconhecer, explicar, analisar – e não a própria ciência da história. Identificamos essa
forma de pensar, em nossa pesquisa, ao identificarmos que os alunos do 6° ano do ensino
fundamental II, chegam acreditando que basta saber ler, escrever e interpretar para se
obter o conhecimento histórico – neste caso, sucesso na disciplina de história ao
conseguirem boas notas.
A segunda edição da revista REDUH – Aprendizagem Histórica de Jovens e
Crianças – apresenta resultados de pesquisas realizadas, por professores e pesquisadores
brasileiros e portugueses, que tomaram como foco de pesquisa a aprendizagem histórica
de jovens e crianças, alunos em ambiente de escolarização. Nesta edição o pesquisador
Tiago Costa Sanches e a professora e pesquisadora Maria Auxiliadora Moreira dos
Santos Schmidt divulgam no trabalho Educação Histórica no Ensino Fundamental:
Reflexões teórico-metodológicas a partir do uso de fontes históricas em sala de aula, os
resultados empíricos de um processo de intervenção didática realizada em sala de aula
42
com alunos do ensino fundamental de uma escola municipal, a partir do uso de fontes
documentais divergentes sobre o imperialismo. Em nossa pesquisa, as partes operantes
do processo de cognição histórica em sala, tem seus papeis ressignificados através da
mudança pedagógica do professor ao se eleger a problematização como mola mestra nas
aulas de história. Nossos primeiros resultados, apontam para uma melhora exponencial
na participação dos alunos em sala e nos resultados das avaliações institucionais.
Na terceira edição da revista REDUH – Espaço, Lugares, sujeitos – destacamos
o trabalho – resenha – da professora Solange Maria do Nascimento, “Ensino de História
na Educação Infantil e Anos Iniciais: um guia para professores”, da pesquisadora
inglesa Hilary Cooper, que crianças, quando expostas a fontes históricas e estimuladas
à realização de pesquisas acabam por desenvolver o mesmo tipo de raciocínio dos
historiadores. Em nossas pesquisas, a grande resistência por aceitar a ideia de jovens
historiadores em sala produzindo e realizando a produção científica histórica é por parte
dos próprios colegas de profissão – historiadores além dos próprios pais.
Na quinta edição da revista REDUH – Educação histórica e a prática da sala de
aula – o professor britânico Arthur Chapman em seu artigo “Levando a sério a
perspectiva do outro: compreendendo a argumentação histórica”, apresenta a
importância das argumentações de estudantes durante as aulas de História. Chapman
descreve estratégias pedagógicas para que os estudantes compreendam o papel de sua
argumentação e a forma como podem construí-la. Em nossa produção, o momento da
socialização das respostas as perguntas históricas, se evidencia ainda de maneira básica
o poder da argumentação dos alunos porem evidenciamos a utilização de conceitos
técnicos como anacronismo e a questão dos conceitos históricos quando os alunos fazem
a defesa de suas hipóteses.
A sua hipótese não pode ser válida pois não existia essa coisa neste
período48
48
Alunos do 6 ano A – matutino – refutando a hipótese de seu colega de que os primeiros homens migraram da
África para os outros continentes em busca de emprego.
43
49
REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA - REDUH - LAPEDUH Número 05/ Janeiro 2014 - Abril 2014.
Pagina 12.
50
__________, Página 12.
44
Ao colocar o holofote no aluno como sujeito faz com que este seja protagonista
do seu aprender e renove a sua ligação com a história e seus componentes. Para o
professor, o grande legado está na inclusão do mesmo como pesquisador e por
consequência, como produtor de conhecimento histórico. O professor Renilson Rosa
Ribeiro, corrobora nesta linha de pensamento ao dizer
É necessário tomar também o professor (de História) como sujeito
histórico. Para se formar cidadãos críticos precisa-se de profissionais
que se pensem como produtores do saber e não meros aplicadores de
fórmulas prontas, produzidas em outros lugares institucionais52.
Para que o professor e aluno possam construir este novo cenário, aonde ambos
passem a ser pesquisadores, se faz necessário reconstruir e descontruir certas práticas e
relações existente no universo escolar. A pesquisadora Marlene Terezinha Grendel em
sua tese de Doutorado – De como a didatização separa a aprendizagem histórica de seu
objeto – aponta para a problemática do não desenvolvimento do pensamento histórico
das crianças ao não se considerar como elemento do processo de cognição histórica as
formas de pensar com e a partir da história dos próprios alunos.
Outro fator que abordaremos nesta pesquisa e que já foi estudado por outros
pesquisadores é o material didático. Em nossa pesquisa, ficou claro desde o princípio
que nosso maior desafio durante a pesquisa seria de descontruir o material como
documento monumento por parte dos alunos, professores e comunidade escolar
inclusive os pais. Tomamos o material didático como uma fonte de pesquisa.
Comungamos da ideia do pesquisador Daniel Hortência de Medeiros, que desenvolve
em sua tese de doutorado – A formação da consciência histórica como objetivo do
ensino de história no ensino médio: o lugar do material didático – a dificuldade do
material didático em se manter atualizado com as novas descobertas e discussões no que
tange ao processo de cognição histórica e como isso afeta o desenvolvimento dos alunos.
51
Artigo O Ensino da História a Partir da Teoria de Jörn Rüsen. Seminário de pesquisa. Universidade Estadual de
Maringá. BAROM, Wilian Carlos Cipriani (UEPG) CERRI, Luis Fernando (Orientador/UEPG) pagina 06
52
RENILSON. Rosa Ribeiro, Fato e Versões, Coxim: MS, v. 09, n. 16, PP 129-144. Set-Dez 2016
45
vividos e repetidos na história. Nesse sentido a história acaba por assumir um ‘sentido
terapêutico’ na intencionalidade de gerar a compreensão/assimilação do processo
histórico, mas essa compreensão científica do processo formal da história, não pode
deixar de se aperceber da condição humana, do sofrimento, dor e perda que na própria
história ou a respeito dela surgem e são criados. A permanência de experiências
violentas e do trauma na história, reflete a própria dinâmica do humano que por vezes
escapa a definição historiográfica. O autor busca apresentar e criticar, diferentes
concepções sobre a narrativa do trauma e experiências de extrema violência num
paradigma entre a eventual ruptura com o passado ou a rememoração do episódio, que
servem de subsídio para a pesquisa e o ensino de assuntos de difícil tratativa na sala de
aula.
“Usos do passado e educação Histórica: temas sobre a antiguidade em evidencia”
no texto de Leandro Hecko, refletem e discutem a apropriação de diversas simbologias
do passado, em uma variedade e anacronia sem precedentes. Entretanto, para o autor,
essa apropriação do passado pode e deve ser recuperada de forma crítica, histórica e
contextualizada, em benefício do conhecimento histórico. Notadamente percebe o autor
que esse processo tem uma dupla significação, a primeira é uma relativa carência de
orientação temporal que ultrapassa a ciência da história, por outro, a apropriação
descontextualizada de símbolos do passado, aponta uma demanda presente na sociedade
moderna em sua relação com o passado. Essa carência evidentemente ampliada pelo
cinema e as artes em geral, exige e reclama a história um sentido, uma significação. O
autor também apresenta uma serie de exemplos de possibilidades temáticas de trabalho
sobre a Antiguidade, que podem ser utilizadas na educação básica ou na formação de
professores de história, num rico, diverso e distante debate.
Alexandra Ferreira Martins Ribeiro e Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira
no artigo “O ciclo de vida profissional e a formação continuada dos professores das
instituições privadas de ensino superior em Curitiba” apontam com muita clareza o
processo de constituição e as fases profissionais de docentes do nível superior, vários
estágios da vida profissional são apresentados e contextualizados a partir das
experiências profissionais de matemáticos em carreiras de longa duração. O artigo
instrui os ciclos de vida profissional em etapas distintas que vão da ‘sobrevivência’ até
a fase do ‘distanciamento afetivo’ ou uma maturidade profissional e pessoal. As autoras
51
Para o primeiro ano da pesquisa que se desenvolveu no ano letivo de 2017, é que
está materializado nesta dissertação, tínhamos como ideia central o despertar dos alunos
e professor pelo apreço à pesquisa histórica em sala de aula. Analisar as mudanças nos
pares em exercícios em sala de aula através de uma nova metodologia que tem na
problematização do ensinar a história seu carro chefe. Essa problematização busca criar
uma atmosfera de desafios que permita o aluno e o professor se identificarem como
pesquisadores e sujeitos da história. Para isso, convidamos os alunos, a se sentirem
desafiados a solucionar situações problemas trazidas pelas perguntas históricas com o
objetivo de evidenciar as formas dos mesmos de pensar a história, conceitos históricos
e o seu próprio pensamento histórico. Definimos como perguntas históricas, algumas
questões trazidas pelo próprio material do aluno e aplicamos antes de cada unidade
temática. Adotamos a categorização e classificação das perguntas por serie e um roteiro
que deveria ser seguido pelos alunos para responder cada pergunta histórica. Este roteiro
estava dividido em 04 etapas: interpretação da pergunta histórica; criação da hipótese;
56
2018 Janeiro a Dezembro introdução das outras fontes de pesquisas com 7° anos
o objetivo de enriquecer as aulas e da 8° anos
desconstrução do livro didático como única 9° anos
fonte histórica.
2019 Janeiro a Dezembro Com base nos dados levantados nas 8° anos
duas etapas anteriores faremos 9° anos
intervenções individuais junto aos alunos
além de adotarmos questões que os
alunos gostariam de conhecer sobre os
módulos ou capítulos a serem
trabalhados
2020 Janeiro a Dezembro Com base nos dados levantados nas 8° anos
duas etapas anteriores faremos
intervenções individuais junto aos alunos
além de adotarmos questões que os
alunos gostariam de conhecer sobre os
módulos ou capítulos a serem
trabalhados
A última etapa do projeto, previsto para ocorrer durante todo o ano letivo de
2020, é a mais importante, pois encerra um ciclo de 04 anos. Neste caso as turmas
do 6° A e B ano iniciadas no ano passado – 2017 – terminariam suas passagens no
ensino fundamental II. Nesta etapa do projeto os alunos e professores deverão no
59
início do ano letivo criar uma pergunta histórica, hipótese e ao termino do ano letivo
apresentar suas conclusões finais em formato de um artigo científico.
Está etapa se difere da anterior, no que tange a complexidade da pergunta
histórica. Para esta etapa o aluno e o professor terão acesso a todo o conteúdo
programático do ano letivo e não mais somente o bimestral. Nesta etapa,
utilizaremos os conceitos de Rüsen sobre a pesquisa histórica como fundamentação
teórica. Desejamos obter resultados que comprovem o desenvolvimento da
consciência histórica dos alunos.
53
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Pagina 36.
54
READ, Herbert. A Redenção do Robô. São Paulo: Summus Editorial, 1986. In: A Educação pela Arte, São
Paulo, Martins Fontes, 1982. Pagina 18.
55
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta
Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140.
60
Ela nos coloca que o conhecimento histórico, amplamente discutido nos dias
atuais, deva passar por uma compreensão contextualizada do passado, com base na
evidência disponível, e pelo desenvolvimento de uma orientação temporal que se
traduza na interiorização de relações entre o passado compreendido, o presente
problematizado e o futuro perspectivado.58 Os professores e alunos, instrumentalizados
em história, devem estar aptos para:
I Interpretação de fontes – ‘ler” fontes históricas diversas – com
suportes diversos, com mensagens diversas; cruzar as fontes nas suas
mensagens, nas suas intenções, na sua validade; selecionar as fontes
com critérios de objetividade metodológica, para confirmação ou
refutação de hipóteses descritivas e explicativas.
II Compreensão contextualizada – entender – ou procurar entender –
situações humanas e sociais em diferentes tempos, em diferentes
espaços; relacionar os sentidos do passado com as suas próprias atitudes
56
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta
Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140. Página 131.
57
_______, página 133.
58
_______, página 133.
61
Nesse cenário, o aluno é entendido como agente de sua própria formação com
ideias prévias e experiências diversas e o professor como pesquisador ou investigador
social e organizador de atividades problematizadoras; o conhecimento histórico é visto
a partir de sua natureza multiperspectivada e nos seus vários níveis: senso comum,
ciência e epistemologia; as estratégias e recursos são múltiplos e intervenientes; a
avaliação é feita a partir de todo o material produzido pelo aluno; e os efeitos sociais
são focados nos agentes sociais.
Este conceito coloca o aluno como ator histórico por ter nas suas ideias e
experiências da história o ponto de partida do planejamento do professor e proporciona
a este o papel de investigador social e orientador/criador de situações problemas para o
desenvolvimento do processo de cognição histórica em sala de aula.
Este processo cognitivo histórico está baseado nas atuais propostas curriculares
como demostra BARCA:
passa por uma compreensão contextualizada do passado, com base na
evidência disponível, e pelo desenvolvimento de uma orientação
temporal que se traduza na interiorização de relações entre o passado
compreendido, o presente problematizado e o futuro perspectivado.60
59
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta
Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140. Página 133.
60
_______, página 133.
61
_______, página 140.
62
O desafio foi lançado pela minha própria coordenadora em uma das nossas
reuniões. Aceitei, pois, existe um discurso sobre a área privada, de que o professor
teria seu trabalho limitado ao material didático, que no nosso caso seria a apostila
63
do grupo SER que foi adquirido recentemente pelo grupo Kroton Educacional por
R$ 4,6 bilhões 62.
Essa limitação seria fruto de uma cultura escolar e teria como resultado uma
pressão insuportável da comunidade – pais e gestão – para que o material didático
fosse trabalhado em sua totalidade, seguindo as orientações de seu fabricante o que
tornaria o trabalho do professor em um mero vendedor e aplicador do material
didático. A pesquisa cumpriria também o papel de desnudar o trabalho do professor
com relação ao material didático e a relação do professor e do aluno com este
documento.
Em resumo, já que não é foco de nosso trabalho fazer uma discussão
aprofundada sobre o material didático, mas sim, fazer uso do mesmo como fonte de
pesquisa em sala, o material é composto por 05 apostilas. Cada bimestre o aluno
recebe uma apostila, exceto no 3° bimestre que o mesmo fará uso de 02(duas). Elas
são divididas por módulos como demostra o quadro abaixo
62
https://g1.globo.com/economia/noticia/kroton-fecha-compra-da-somos-educacao-por-r-46-bilhoes.ghtml
64
Autor: Azevedo, Gislane. Sistema de ensino ser : ensino fundamental II, 6° ano : caderno 1 : história:
PR 1. ed. -- São Paulo : 2016.
65
No interior das escolas, quando estávamos para fazer a escolha dos livros
didáticos ou quando éramos convidados para darmos nossos pareceres sobre as
coleções, fazíamos debates sobre obras e autores de livro didático e me ocorreu que
estas discussões chegavam as salas de aula como opiniões do próprio professor que
a turma as vezes acabava por adotar como sendo ideias próprias sobre o material.
Nascia aí o documento monumento em sala de aula em forma de professor e do
material a ser trabalhado(esta discussão será retomada mais a frente). Não é nosso
objetivo fazer uma discussão sobre a importância ou não do material didático e nem
como é caracterizada a mesma nesta etapa da pesquisa. Nosso real interesse é como
ressignificar este instrumento pedagógico nas aulas de história.
Definido a metodologia e o local de pesquisa, ficaria restando definir a
sistematização desta etapa do projeto de pesquisa. Para isso, estabelecemos como
marco zero, a pergunta histórica; e a partir desta as possibilidades de desenvolvimento
do pensamento histórico das crianças partindo do conhecimento prévio das mesmas.
Para isso, convidamos os alunos, a se sentirem desafiados a solucionar situações
problemas trazidas pelas perguntas históricas com o objetivo de evidenciar as formas
dos mesmos de pensar a história, conceitos históricos e o seu próprio pensamento
histórico. Definimos como perguntas históricas, algumas questões trazidas pelo próprio
material do aluno e aplicamos antes de cada unidade temática. Além disso,
identificamos que a pergunta histórica poderia nos oferecer bem mais que ideias sobre
o que os alunos pensam acerca da história. Poderia ser a base inicial para a identificação
e construção do pensamento histórico das crianças. Adotamos a categorização e
classificação das perguntas por serie e um roteiro que deveria ser seguido pelos alunos
para responder cada pergunta histórica. Este roteiro estava dividido em 04 etapas:
interpretação da pergunta histórica; criação da hipótese; validação ou refutação da
hipótese ao se confrontar a fonte e por último a socialização do processo de construção
do saber histórico.
63
Renilson Rosa Ribeiro, Fato e Versões, Coxim: MS, v. 09, n. 16, PP 129-144. Set-Dez 2016
67
Ao adentramos a sala, foi dito aos alunos, que nesta aula não seria necessário
a utilização do material didático. Que o mesmo deveria ser guardado dentro das
mochilas e só ficando sobre a mesa caneta e borracha. As perguntas então tiveram
início:
Primeiro: é prova? Pois ninguém avisou que era prova.64
Segundo: como vou fazer alguma atividade se não vou poder usar a
postila.
Terceiro: como vou aprender história sem a apostila.
64
Fala em sua grande maioria oriunda do 6° do ensino fundamental II
68
Eis alguns exemplos das perguntas trazidas pelo material didático e adotadas
pela pesquisa histórica:
A – Marc Bloch, importante historiador francês que viveu na primeira metade do século
XX, explicou, em sua obra Apologia da História ou o ofício do historiador (editora
Zahar, 2002), que pensar que a “História é a ciência do passado” é uma forma errada de
entender o conhecimento histórico. A partir dos seus conhecimentos e da leitura do
intertítulo Experiências do passado (página 8), justifique por que não é certo dizer que
História é apenas a ciência que estuda o passado.
B – Para conhecer os ancestrais dos seres humanos, os cientistas baseiam-se na análise
dos mais variados tipos de vestígios. Cite alguns dos vestígios apontados no capítulo.
C – O corpo da múmia batizada com o nome de otzi foi analisado por diferentes
cientistas. Considerando as informações da seção Olho vivo (p. 32 e 33), explique
algumas descobertas feitas por essas pesquisas cientificas.
D – Releia na seção Olho vivo a descrição de como estavam organizados os povos que,
entre 1200 e 1600, viviam na região do Alto Xingu. Com base no texto, faça um desenho
de como seriam suas aldeias.
Logo que a pergunta foi exposta na lousa – por meio de um data show – tivemos
uma explosão de ideias, vozes, e mãos acenando pedindo a palavra querendo responder.
O barulho e agitação das crianças eram incríveis. Muitos não se contentavam e
levantavam dos seus lugares querendo ter o direito de responder. Passada a agitação
pedimos que os alunos respondessem em uma folha e classificasse suas respostas em
nível fácil e difícil.
No segundo momento pedimos que todos fizessem a leitura das respostas que os
mesmos classificaram como de nível fácil. A medida que começaram a ler, pedia para
sala reclassificar a resposta em comparação com a resposta anterior e o resultado foi
fantástico. Os alunos que pouco de expressavam em sala eram os mais entusiasmados
com a atividade. No final da primeira etapa, duas respostas figuravam entre as mais
recorrentes:
Resposta 01: por que ela quis.
Resposta 02: estava mais barato.
70
Durante a primeira etapa, foi pedido que todos os alunos ao ouvirem a primeira
resposta e as seguintes, fizessem a reclassificação das mesmas. Desejávamos que
pudessem perceber que a comparação é uma forma de classificação e uma etapa da
pesquisa cientifica além de trabalhar a questão da autoestima dos alunos. Os mesmos
ficaram surpresos ao identificar respostas que inicialmente foi classificada como
simples e ao final do processo ser reclassificada como difícil. Como no exemplo abaixo:
Resposta inicialmente classificada como fácil e reclassificada pela turma como
difícil: a Eduarda estava à procura de novas experiencias para enriquecer o
cardápio da família.
Resposta difícil refutada 02: comprou a outra marca pois não tinha a de sua
preferência. Os alunos questionaram, com base na contra resposta anterior, que
o fato de a personagem ser empresária, ela não se limitaria a trocar algo de uso
frequente, pela questão da simples oferta. Ela iria no supermercado de sua
preferência pois já saberia que lá encontraria o produto.
Não tivemos por objetivo a procura pela resposta certa ou errada. Nosso
proposito maior, era de construir um ambiente aonde os alunos pudessem se
expressar e criar hipótese e construir ideias sem cair nas grades da escola entre
resposta certa ou resposta errada. Ao confrontarem suas ideias – respostas – estão
construindo as bases para pesquisa científica em sala. Estão alicerçando uma nova
maneira de se aprender a história dentro do universo escolar. O caminho estava
pronto. Agora era hora de trilha-lo.
71
Dentro do conceito da Aula Oficina, pede-se para que o professor faça uma
averiguação sobre os conhecimentos prévios dos alunos como primeiro passo. Na
Instituição aonde trabalho fazemos isso no início do ano letivo através de uma
avaliação denominada – avaliação diagnostica – que tem como parametrização o
conhecimento histórico a partir de conceitos que já deveriam ter sido apropriados
pelos alunos no ano anterior. O nosso maior receio, era de seguir nesta etapa a
metodologia como pede a Aula Oficina, e obter o mesmo resultado do começo do
ano. Outra possibilidade, seria que os alunos interiorizassem esta etapa da pesquisa
como mais uma avaliação institucional levando a criação de um bloqueio ou
buscarem de maneira superficial e nada significativo, a mera lembrança do que o
professor tinha ensinado ou “passado” no ano anterior.
A capacidade de recordar relatos, sem qualquer compreensão dos
problemas envolvidos na construção deles ou dos critérios envolvidos
na sua avaliação, nada tem de histórico. Sem uma compreensão do que
faz um relato ser histórico, não há nada para distinguir a capacidade de
recordar os relatos do passado da capacidade de recitar sagas, lendas
(...). Na verdade, para alguns alunos todas serão simplesmente
“histórias”.65
65
LEE, Peter. Literacia histórica e história transformativa. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 60, p. 107-146,
abr./jun. 2016. Página 122.
72
Fonte:https://plugadoeducacao.blogspot.com/2013/01/metodologia-lego.html
73
Fonte:https://www.slideserve.com/jera/zoom-education-for-life
Porém, o que chamou mais a minha atenção, era o quanto os alunos discutiam
as possíveis soluções dos problemas que eram colocados diariamente para os
alunos. A aula funcionava em torno de uma situação problema e isso mexia com as
crianças. O surgimento da Educação Histórica no contexto Inglês é similar pois
(...) compreendida como uma linha de investigação que surgiu na
Inglaterra nos anos 1970 e 1980 para resolver uma problemática
específica do ensino da disciplina de História no Reino Unido. Naquele
período, o ensino permitia aos alunos escolherem qual disciplina cursar
e, assim, os professores e historiadores perceberam que as aulas de
História permaneciam vazias, enquanto as de Matemática estavam
sempre lotadas de alunos.66
66
PINA, Max Lanio e SILVA, Janaina Bernardes. As Concepções de Professores do Ensino Fundamental II sobre
a Idade Média: uma análise sob a ótica da Educação Histórica. História & Ensino, Londrina, v. 23, n. 2, p. 109-
131, jul./dez. 2017. Página 111.
77
Voltando nossa atenção para a questão do material didático, ficou claro que
a solução para nosso problema passaria pela ressignificação do mesmo: transforma-
lo em documento. Partindo da ideia que o material didático preconiza a linguagem
e a interpretação como elementos chaves para o aprendizado histórico, mesmo que
esta interpretação seja de texto e não histórica, tomamos a liberdade de nos
apropriar das questões trazidas no final de cada capitulo e transforma-las em
perguntas históricas. Nosso objetivo com a adoção desta terminologia é a
construção de uma identidade de historiador por parte dos alunos.
O que é fonte depende, pura e simplesmente, do quero saber. E o que
eu quero saber depende, por sua vez, de minhas perguntas.68
67
RÜSEN, Jörn. Teoria da história: uma teoria da história como ciência / tradução de Estevão C. de Rezende
Martins. Curitiba: Editora UFPR, 2015. 324 p.: il. - (Série Pesquisa; 270) Página 177. Pagina 171.
68
______, Página 177.
69
______, Pagina 171.
78
conhecimento prévio dos alunos acerca dos assuntos e temas abordados nas
questões.
A próxima decisão a ser tomada para o prosseguimento da pesquisa seria o
formato da partilha das questões para os grupos e alunos. Como adotamos as
questões trazidas pelo material didático como as perguntas históricas, ficamos em
dúvidas se deveríamos primeiro classifica-las em níveis para iniciarmos das mais
fáceis para a mais complexas.
Chegamos à conclusão que desta forma estaríamos limitando o
desenvolvimento dos alunos e incorrendo na mesma ação que hoje a Educação
Histórica crítica que é a questão das fases do desenvolvimento das crianças – Piaget
– que foi um dos alicerces no discurso que os professores de história deveriam
começar seus trabalhos somente a partir do fundamental II. Decidimos então, dividir
as perguntas em dois grupos: A – para as ideias substantivas e B – para as de
segunda ordem, trazidas pelo historiador Peter Lee.
Os conceitos substantivos são as ideias relacionadas aos conteúdos da
história – Renascimento, Escravidão, Reforma, por exemplo. Já os
conceitos de segunda ordem são aqueles que se remetem as ideias
epistemológicas da História, ou seja, aqueles conceitos que fazem parte
da natureza do conhecimento – tais como temporalidade, explicação,
significância, inferência, evidencia e narrativas históricas por
exemplo.70
70
Ensinar e aprender História: histórias em quadrinhos e canções: metodologia, ensino médio/Adriane de Quadros
Sobanski...[etal]. Curitiba: Base Editorial, 2010. Página 25.
79
Figura 17: Tabela com exemplos de questões trazidas pelo material didático da SER
Exemplos de classificação das perguntas trazidas pela apostila
Serie Pergunta A B
6° ano 01 – Com base no que você aprendeu neste capítulo, explique como era X
a organização política e geográfica das pólis.
6° ano 02 – Explique o funcionamento da democracia em Atenas. X
03 – A influência da sociedade grega chega até o presente, já que X
inúmeras práticas sociais, culturais e políticas inventadas pelos
6° ano gregos continuam se manifestando nas sociedades contemporâneas.
Podemos chamar isso de permanências históricas. Identifique um
exemplo de permanência histórica grega no plano cultural e outra no
plano esportivo.
Autor: BRITO, Ediney (2018)
Figura 18: Modelo de ficha utilizada para a coleta dos dados históricos
Data: ....../..../2017 Professor: Ediney de Brito Junior – O FENÔMENO
GRUPO INTEGRANTE
71
ARÓSTEGUI, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método. Tradução Andréa Dore; revisão técnica José Jobson
de Andrade Arruda. Bauru SP: Edusc, 2006. Página 478.
83
A hipótese dos alunos parte também das suas ideias iniciais. O trabalho do
professor é valorizar o processo e não o resultado. Foi possibilitado, a partir da adoção
desta metodologia, a exclusão do conceito de certo ou errado em sala, passando a ser
substituído pelo quesito interpretação. Sobre este item, trago mais detalhes na 4 (quarta)
etapa quando apresentaremos o processo de socialização dos grupos e alunos.
Os alunos, após a familiarização com a metodologia, começam a construir
hipóteses mais complexas, resultando na importância do papel de pesquisador do
professor. Valorizar o professor, dento da perspectiva da Educação Histórica, é
transforma-lo em uma figura atuante no processo em conjunto com o aluno. Não se
separa as partes em sala. Unisse em busca da descoberta do prazer pela pesquisa
histórica. Exemplifico através de uma situação em sala.
Na sala do 7° ano B vespertino, quando estávamos pesquisando a
ruptura histórica na sociedade islâmica em relação a adoção do sistema
monoteísta, uma aluna levantou a hipótese de que Maomé poderia ter
escolhido um Deus – Alá – dentre os deuses já existente para ser o
único. A hipótese foi de tamanha complexidade que acabou se
72
RÜSEN, Jörn. DIDÁTICA DA HISTÓRIA: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa. Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2. 2006, pág. 11
84
A situação acima, em outros tempos não muito distante, seria tomando como
incompetência do professor. Hoje é tido como um processo de pesquisa constante criado
a partir das demandas dos alunos. O professor se transforma
pois o ensino de História não é uma construção individual, mas
composta por interlocutores que constroem sentidos e se sentem
inseridos no processo histórico, é preciso que o professor faça a
diferença, pois se procura sair do tradicional, dar ao aluno condições de
participar do processo do fazer, do construir a História.74
A terceira parte da pesquisa é o confronto das hipóteses criadas pelos alunos com
a fonte adotada para esta etapa da pesquisa – material didático. É neste momento que os
alunos vão dialogar com o documento para verificar a veracidade de suas hipóteses. No
primeiro momento o resultado será uma ação de decodificação de palavras – leitura e
interpretação. Isso acontece em partes, devido a cultura escolar operante na cognição
histórica na forma da “pedagogização” que cristaliza a ideia de que basta saber ler e
interpretar que você entenderá a história. Diante deste cenário, se acrescenta ainda, a
ideia de certo ou errado como única forma de edificar relações de aprendizagem entre o
objeto de estudo e o pesquisador – neste caso aluno. Isso transforma o aprender em sala
73
Ideia para uma hipótese criada pela aluna Maria do 7° ano B.
74
BARCA, Isabel. Revista da Faculdade de Letras. Porto, III Série, v. 2, 2001, p. 16.
85
75
Le Goff, Jacques, 1924. História e memória; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da
UNICAMP, 1990. Página 110.
86
tomado como referência e não como um documento monumento. Não devemos tratar
todo material didático como nocivo a produção histórica e/ou limitante ao trabalho do
professor. Desejamos neste momento desconstruir e ressignificar a fonte que utilizamos
todos os dias em sala. Traremos exemplos deste processo na quarta etapa a ser descrita
logo a seguir e no capitulo 03 aonde apresentaremos as primeiras conclusões e o estágio
atual da pesquisa. A pesquisa adota o material didático como fonte secundaria de
pesquisa já que a primeira é o próprio conhecimento trazido pelos alunos.
Nesta etapa da pesquisa, que ocorre no interior da sala de aula, os alunos e grupos
veem a frente e socialização as suas construções. Não respostas e sim construções. Para
isso, apresentam como através de seus conhecimentos prévios interpretaram a pergunta,
encontraram as hipóteses e confrontaram as mesmas com o documento – material
didático. Todos os alunos e grupos tem o direito de participar nesta fase fazendo
inferências sobre o processo do grupo que está com a palavra. Fazer inferência é
compreendido e acordado por todos, como o processo de contribuição para o
crescimento e desenvolvimento da pesquisa histórica em sala, por isso, o olhar deve
estar voltado para a interpretação e hipótese e não para a resposta final. O processo de
construção é mais importante para este estágio da pesquisa do que o resultado
propriamente dito. Os alunos podem perguntar como eles chegaram a interpretação da
pergunta histórica, porque escolheram determinado caminho, podem sugerir outras
interpretações além de outros possíveis caminhos a partir da última. No geral, a
participação nesta etapa da pesquisa foi extremante positiva. Um dos motivos, foi o
início da superação das ideias de certo ou errado. Alguns alunos e grupos faziam
interferências quando alguém colocava que suas respostas estavam erradas, alegando
que não existia mais nas aulas de história este tipo de colocação, sendo substituído pela
interpretação da pergunta histórica que conduz a um determinado caminho e hipótese.
Nesta fase da pesquisa os alunos já se sentem mais à vontade e a participação se
torna frenética. Todos opinam sobre tudo. As hipóteses são destruídas e melhoradas. As
respostas são criticadas e complementadas. Os alunos neste momento praticam o habito
de aprender a ouvir e respeitar a opinião do outro. As discussões são norteadas no campo
das ideias e não mais no achismo ou no pessoal. Praticam e ressignificam o ato de
levantar a mão para solicitar o direito de falar. Voltando ao conceito de cognição
histórica, é neste momento que identificamos a ação, pois os alunos percebem aonde e
como foram “levados” através da interpretação a uma hipótese tão distante do que
consideram ser uma resposta plausível. Observamos também que isso não se manifesta
de forma homogenia entre as diferentes turmas. Os alunos do 6 ano, ainda continuaram
durante quase todo o 3 bimestre na perspectiva de certo ou errado ou mais próximo e
menos próximo do que está escrito no material didático. Porém, isso já era um resultado
esperado devido a ser recente seu ingresso nas series inicias do ciclo de formação
humana. O ano que mais trouxe boas surpresas foram os 7° anos A e B. As discussões
88
homens saem para a caça e as mulheres ficam em casa cuidando das crianças. Os
homens podem e as mulheres não. Agora como pode uma sociedade que trata a terra
como mãe tratar as mulheres como inferiores. Finalizou repetindo que algo não fazia
sentido. Nos voltamos para a sala e questionamos se alguém poderia ajudar. Neste
momento o grupo 07 pediu para ir a frente e trouxeram como conceito final que o
eurocentrismo era a forma de ver o mundo como sendo inferior a Europa. A sala
continuava a indagar a aluna desejando a finalização de sua ideia que ainda
continuava aberta. Ela então, pediu a palavra novamente e tirando a mão do queixo
concluiu seu raciocínio: os indígenas da apostila não eram totalmente reais. No caso
da divisão do trabalho eram os próprios portugueses falando deles mesmos como
indígenas.
Entendemos que esta discussão é de caráter historiográfico. Não desejamos
criar falsas polemicas ao dizer que isso nunca foi feito ou que esse resultado, nunca
foi alcançado por outro professor. Como professor de chão de sala, já havíamos
feito esta discussão com nossos alunos em anos anteriores. A diferença desta vez, é
que os alunos não tiveram a condução do professor. Eles a partir dos seus
conhecimentos construíram interpretações para as perguntas históricas e criaram
hipóteses para a solução destas ultimas além de confrontar seus conhecimentos com
a ciência histórica buscando validar ou refutar suas hipóteses. Ao entenderem que
a história é produzida pelos mesmos nesta relação entre a ciência da história e o
conhecimento prévio sob a chancela da cultura escolar, conseguiram dar vida a esta
metodologia desenvolvendo seu pensamento histórico. Conseguiram desconstruir o
documento monumento – para alguns professores e alunos o material didático se
encaixa perfeitamente nesta definição – utilizando uma linguagem cientifica e de
distanciando cada vez mais do senso comum. Isso aos olhos da pesquisa se
conjectura em fazer história em sala de aula e não mais retransmitir conhecimento
de outros lugares de saberes.
Este momento é muito importante para a construção da identidade do aluno
como pesquisador em sala. No início o que mais nos chamava a atenção era o eterno
apagar das borrachas nas hipóteses dos grupos quando se tratava de uma questão
para todos os grupos, pois alegavam que suas respostas estavam erradas. Partimos
desta realidade para no decorrer do ano letivo o aluno entender que o erro é uma
90
possibilidade/hipótese que não pode ser sustentada mais que através dela o aluno
consegue traçar seu caminhar e ressignificar seu aprendizado, conseguindo explicar
e entender como ele chegou até ela e porque a mesma não pode se validada além de
compreender a hipótese que mais se aproxima da pergunta histórica – situação
problema – desde sua criação até o ponto de chegada através da socialização dos
grupos. Como consequência na formação de uma sociedade mais humana temos os
alunos aprendendo que errar é uma etapa do aprendizado e que a construção do
conhecimento pode ser feita a partir dos seus próprios conhecimento, não
conhecimentos e dúvidas. Ele é o detentor do seu processo de cognição histórica.
Esta era a fala quase que unanime dos alunos do 7° ano B ao final da nossa aula
no dia da avaliação dos resultados após um bimestre da introdução da nova metodologia.
Na perspectiva da Educação Histórica fica evidente uma grande preocupação
com a forma com que crianças e jovens em idade escolar fazem a leitura histórica do
mundo, bem como se torna muito significativo o conhecimento das concepções dos
professores sobre a natureza da sua disciplina e sobre seu ensino.
Dentro do ambiente escolar, as mudanças são sempre lentas e gradativas. Uma
mudança na metodologia do professor, que juntamente com sua disciplina, já gozava de
boa aceitação perante a comunidade escolar, não é nada fácil. Os primeiros resultados
nas avaliações seriam cruciais para a manutenção da pesquisa.
Iniciamos a pesquisa em 07 salas. 04 no período vespertino e 03 no período
matutino. São turmas que possuem em medias 30 alunos por sala. A nossa média de
alunos de recuperação sempre estava em torno de 20% da sala. Logo após a mudança
metodológica, nas primeiras avaliações institucionais, os alunos começaram a adotar a
prática da investigação histórica nas avaliações de história e de outras disciplinas. O
resultado foi animador, como demonstra a tabela a seguir.
76
Fala dos alunos do 7° ano B ao final da aula de socialização.
92
Figura 22: Gráfico com as respostas dos alunos sobre a mudança na metodologia
As mudanças na metodologia
Foi Prejudicial a
Mudança
Foi Benéfica a
Mudança
1 2
77
Fala por parte da grande parte dos alunos após a realização da avalição de reação passado um bimestre no
projeto.
94
Exaltam a possibilidade de pensarem por conta própria e que suas ideias e não mais
opiniões são levadas em consideração nas aulas.
Não podemos excluir as opiniões contrarias, pois isso seria um crime, além de
descaracterizar a pesquisa cientifica. Os alunos que preferem o modelo de aula anterior
a introdução da metodologia – aula expositiva aonde os alunos são conduzidos por uma
narrativa histórica de dados e acontecimentos tendo como fonte os textos do material
didático – não chegam a 1% do total. Porém, trazem indícios que merecem nossa análise.
Esse grupo relata, através das análises de suas respostas, que o novo método é mais
difícil pois, primeiro que o professor não explica mais o conteúdo e nem faz resumo do
capitulo o que dificulta na hora de estudar para as avaliações. Outro ponto, diz respeito,
a necessidade de possuir mais imaginação para responder as perguntas sem o auxílio do
texto. Vemos claramente nas falas dos alunos, a cristalização da ciência comum no que
diz respeito ao processo de cognição ao afirmar que as habilidades requeridas para ser
um bom aluno de história é saber ler e escrever.
Com relação a segunda pergunta do questionário, conseguimos sistematizar e
agrupar as respostas em 03 linhas gerais de raciocino dos alunos. São elas:
Figura 23: Gráfico com as respostas dos alunos sobre documento monumento
40
35
30
Título do Eixo
25
20
15
10
0
1 2 3
Título do Eixo
Por ser a primeira avalição de reação e também por acreditarmos que o processo
é mais importante do que o resultado, temos que os alunos identificam conceitos
históricos e ideias de segunda ordem. O conceito de que a história é uma disciplina que
estuda o passado fica claro nessas repostas ao associar que um documento tem que ser
antigo. Isso vai se repetir ao longo de toda a pesquisa.
A terceira pergunta, ao trazer dois elementos, sendo um de uso continuo e outro
de conhecimento científico, trouxe um grau de complexidade até então nunca
vislumbrado por eles. As perguntas mais frequentes eram sobre a definição de
documento monumento e como o material didático poderia ter ligação com o anterior.
Novamente a questão do tempo, ficou evidente. Analisamos que, essa questão do tempo,
seja fruto do pouco diálogo entre os pedagogos e os professores de história. Surgiu
também a questão da complexidade da história – neste caso do documento – o que
acreditamos ser fruto da pesquisa cientifica contra a ciência comum. Os resultados
convergem para 03 linhas de raciocínio:
1) Poderia vir a ser daqui a 30 anos.
2) Não era, pois se tratava de um documento simples
3)Sim, pois tudo na história é um tipo de documento.
78
Le Goff, Jacques, 1924. História e memória; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da
UNICAMP, 1990. Página 545.
96
79
ARÓSTEGUI, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método. Tradução Andréa Dore; revisão técnica José Jobson
de Andrade Arruda. Bauru SP: Edusc, 2006. Página 491.
97
80
http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/view/556
99
para a pesquisa pois força o aluno e professor buscar outras ligações que não sejam
apenas com o conteúdo atual a ser ministrado.
As discussões do 7° ano incluíram o porquê não se tem avatares indígenas e
apontaram como possível ligação o eurocentrismo. A fonte de pesquisa – jogo eletrônico
– conduziu os alunos a questionarem o papel da mulher na época das grandes
navegações e o porquê da história trazida pelo material didático, não comtemplarem a
figura feminina. A partir da introdução da nova fonte de pesquisa – artigo da professora
Ana Maria – o machismo e a força – poder – da igreja foi apontado como possível
resposta.
As discussões no 8° ano iniciaram com a celebre frase da revolução francesa:
liberdade, igualdade e fraternidade, pois ao introduzirmos a fonte de pesquisa – jogo
eletrônico – as meninas em sua grande maioria, começaram a questionar se não havia
mulheres em papel de destaque na revolução francesa. Ao apresentar a nova fonte de
pesquisa – artigo da professora Ana Maria – a turma se dividiu entre os que acreditavam
ser mais importante o direito ao voto e a busca pela cidadania e o grupo que elegeu o
caso da antropóloga e psiquiatra Medeleine Pelletier. As discussões ficaram bem
acaloradas, principalmente quando um grupo de alunos e alunas, levantaram o
machismo ao incluírem nas discussões as lojas de brinquedos na atualidade, já que o
departamento masculino das mesmas, possuía mais opções enquanto que a seção
feminina está impregnada de artigos relacionados a tarefas de casa: limpar, cozinhar,
passar etc. Depois de muita discussão, chegaram à conclusão que o caso da Medeleine
Pelletier é mais próximo da resposta à pergunta histórica pois exemplifica a sociedade
machista mesmo durante a Revolução Francesa
Já no 9° ano as discussões tomaram um rumo surpreendente. O conteúdo era o
período de Vargas – 1930 a 1945 – e depois da introdução da fonte – jogo eletrônico –
as alunas buscaram problematizar as questões das mídias sociais ao relatarem um caso
de estupro, no qual a vítima por estar usando uma roupa curta e estar sob o efeito de
álcool, foi acusada de ser a culpada. Logo após a apresentação da nova fonte de pesquisa
– artigo da professora Ana Maria – tomaram como como referência a 1ª onda do
movimento feminista também chamado de sufragista, devido a proximidade com o
conteúdo. Porém, o que nos chamou a atenção, foi que a ideia do direito ao voto ficou
em segundo plano, já que o foco passou a ser a cidadania e os direitos iguais. Alegavam
100
que o voto era um item dentro de algo muito maior. Este material será esmiuçado de
forma mais significativa em um futuro próximo pois ainda estamos fechando esta etapa
da pesquisa.
Como ponto a ser evidenciado, está a possibilidade dos alunos do fundamental
II darem sentido a materiais de pós-graduação. Isso põe, definitivamente por terra, as
teorias que versam sobre as etapas e fases do aprender das crianças além das que
contestavam a possibilidade de se fazer ciência histórica nas salas de aula.
101
não é objetivado como resposta mais sim como o norteador do processo que o mesmo
desenvolverá para solucionar as perguntas históricas.
Desta forma, segundo Isabel Barca, o levantamento do conhecimento prévio dos
sujeitos escolares apenas é importante se o objetivo último é prospectivo, ou seja, a
reflexão e a ação a partir dos dados investigados, − então categorizados e analisados −,
servirem ao propósito da reflexão e da ação, no sentido de empreender mudanças
significativas no ensino/aprendizado histórico visando a “qualidade”.
O aluno se sente valorizado e como consequência temos uma maior participação
dos mesmos em sala. A questão da indisciplina se torna casos isolados. O respeito pela
opinião da outra passa a reger o ambiente de sala de aula. Os alunos, sentem que durante
as aulas, podem criar as suas hipótese e ideias sem o medo de estarem certo ou errado.
O mestrado profissional mudou a minha vida. Não posso me imaginar
trabalhando como antes. O mundo se abriu e nada pode fazê-lo retornar a forma inicial.
Como retribuição aos meus colegas e professores, devemos mostrar não o título de
mestre, mais sim, nossas produções e descobertas para que possamos inspirar novos
historiadores a se reinventarem na busca por melhorias para sua prática. Digo sempre
para meus alunos que não fui eu quem escolheu a educação, foi ao contrário.
104
REFERÊNCIAS
ALVES, Manoel. A histórica contribuição do ensino privado no Brasil Educação, Porto Alegre,
v. 32, n. 1, p. 71-78, jan./abr. 2009.
ARÓSTEGUI, Júlio. A pesquisa histórica: teoria e método. Tradução Andréa Dore; revisão
técnica José Jobson de Andrade Arruda. Bauru SP: Edusc, 2006.
BARCA, Isabel. Educação Histórica: Uma nova área de investigação. In. ARIAS NETO,José
Miguel (org.). Dez anos de pesquisa em ensino de História. Londrina: AtritoArt, 2005, p.15-
25.
________Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da
Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/
Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 140.
CABRINI, Conceição. O ensino de história: revisão urgente. 5 ed. Editora Brasiliense, 1994.
CÉLIA, Maria Borges; FERNÁNDEZ, Orlando Aquino & VALDÉS, Roberto Puentes. Revista
HISTEDBR On-line, Campinas, n.42, p.94-112, jun2011 - ISSN: 1676-2584.
DOMINIQUE, Julia. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Tradução de Gizele de Souza.
Revista brasileira de história da educação n°1 jan./jun. 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1987.
LEE, Peter. Progressão da compreensão dos alunos em história. In: BARCA, I. (Org.)
Perspectivas em educação histórica. Actas das Primeiras Jornadas Internacionais de
Educação Histórica. Braga: Centro de Estudos em Educação e Psicologia, Universidade do
Minho, 2001. p.13-27.
LE GOFF, Jacques, 1924. História e memória; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas,
SP Editora da UNICAMP, 1990.
LIMA, Soraiha Miranda de. Ação e Reflexão no Trabalho Docente: possibilidades e limites de
um projeto de formação continua na escola. cuiabá: EdUFMT, 2005.
RENILSON. Rosa Ribeiro, Fato e Versões, Coxim: MS, v. 09, n. 16, PP 129-144. Set-Dez 2016
READ, Herbert. A Redenção do Robô. São Paulo: Summus Editorial, 1986. In: A Educação
pela Arte, São Paulo, Martins Fontes, 1982.
RÜSEN, Jörn. História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento
histórico. Trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília: EdUnB, 2007.
_______, Didática da história: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa. Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, Página 10. 2006.
_______, Razão Histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Brasília: editora
da Unb. 2001.
https://g1.globo.com/economia/noticia/kroton-fecha-compra-da-somos-educacao-por-r-46-
bilhoes.ghtml
http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/view/556
https://profhistoria.ufrj.br/
http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/estudo-mostra-
situacao-do-professor-brasileiro/21206
https://www.ensinabrasil.org/nossoprograma