Fichamento 08 Agroecologia Hansmüller Salomé
Fichamento 08 Agroecologia Hansmüller Salomé
Fichamento 08 Agroecologia Hansmüller Salomé
SANTILLI, Juliana. A Lei de Sementes brasileira e os seus impactos sobre a agrobiodiversidade e os sistemas
agrícolas locais e tradicionais. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 7, n. 2, p.
457-475, maio-ago. 2012.
Disciplina: AGROECOLOGIA
Docentes:
Profa. Dra. Anne Geraldi Pimentel
Profa. Dra. Flávia Donini Rossito
Profa. Dra. Maria Cristina Vidotte Blanco Tarrega
CITAÇÕES
(p. 458).
(p. 465).
(p. 473).
O processo de mercantilização, apropriação e controle da cadeia agroalimentar tem limitado
agricultores familiares, camponeses, povos indígenas e comunidades tradicionais na prática
de seleção das plantas, favorecendo as pesquisas de “melhoristas” de laboratório, que
privilegiam homogeneidade, distinguibilidade e estabilidade das cultivares. Assim, os
sistemas agrícolas são inseridos paulatinamente no mercado internacional e guiados a partir
da circulação de mercadorias. Tanto é que, garantidoras das lógicas mercadológicas, as
relações jurídicas incidem sobre as sementes: regulando-as, classificando-as, travestindo-as
sob o manto proprietário (especialmente da propriedade intelectual) e atribuindo-lhes valor
monetário e controle normativo. Existem exceções relativas aos agricultores familiares,
assentados da reforma agrária e povos indígenas na legislação, isentando-os de inscrição no
Renasem15 e também autorizando a comercialização de sementes locais, tradicionais ou
crioulas pelos agricultores familiares e empreendimentos familiares no âmbito do Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA). Tais exceções são decorrentes da organização da classe
camponesa por meio de movimentos, associações, sindicatos e entidades representativas. O
que se percebe dessas exceções ou isenções é que afastam a regulação das sementes crioulas
e dos agricultores familiares e camponeses no sistema formal, mas não há nada
especificamente que garanta a proteção das sementes crioulas e variedades locais como
estratégicas para a reprodução das comunidades rurais, do patrimônio genético
agrobiodiverso brasileiro. Assim, a lei estabelece um impasse: de um lado, exclui as
sementes crioulas do mercado formal, permitindo apenas o uso, troca e comercialização entre
agricultores; e, de outro lado, exclui a venda no mercado amplo sem os devidos registros e
atendimentos dos requisitos mencionados. A exceção colocada pela lei às sementes crioulas é
ao mesmo tempo um entrave que não permite que a partir delas se possa gerar um
significativo crescimento econômico, pois a preocupação legislativa centra-se no mercado
formal, do qual elas estão excluídas.
(p. 459).
O setor sementeiro começou a se organizar no Brasil com a edição da Lei de nº 6.507, de 19
de dezembro de 1977, a qual trouxe as primeiras disposições normativas para produção de
sementes no País. Essa lei normatizava a produção, as inspeções de campo e a fiscalização do
comércio de sementes e mudas. Essa legislação perdurou até a Lei nº 10.711, de 5 de agosto
de 2003, regulamentada pelo Decreto nº 5.153, de 23 de julho de 2004, que instituiu o
Sistema Nacional de Sementes e Mudas, cujo objetivo é garantir a identidade e a qualidade
do material de multiplicação e de reprodução vegetal produzido e comercializado no
território nacional. Entre os destaques da lei estão as disposições preliminares e as
atribuições do Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) e do Registro Nacional de
Cultivares (RNC).
O Renasem tem por objetivo inscrever e cadastrar as pessoas físicas e jurídicas que exerçam
as atividades previstas no Sistema Nacional de Sementes e Mudas, que foram instituídas pela
Lei nº 10.711 e posteriormente regulamentadas por decretos e instruções normativas.
Portanto, atendendo à legislação, todas as pessoas físicas e jurídicas que exerçam as
atividades de produção, beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio,
exportação e importação de sementes e mudas são obrigadas à inscrição no Renasem.
O RNC é o cadastro das cultivares prontas para a sua utilização e tem por finalidade habilitar
previamente as cultivares para produção, beneficiamento e comercialização de sementes e
mudas no País. Visa proteger o agricultor da venda indiscriminada de sementes e mudas não
testadas, sem o devido registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com
penalidades previstas em lei federal para quem comercializa ou cultiva sementes sem prévia
inscrição da respectiva cultivar. Também determinou critérios, de acordo com a legislação
específica para organização e funcionamento do Sistema de Registro Nacional de Cultivares
(SRNC) em conjunto com as instituições públicas e privadas. Ficou também instituído o
Cadastro Nacional de Cultivares Registradas (CNCR) e de seus mantenedores. Não é
obrigatória a inscrição no RNC de cultivar local, tradicional ou crioula, utilizada por
agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas.