Microtomografia Computadorizada de Raios X para A Caracterização Da Macroporosidade de Concreto Permeável
Microtomografia Computadorizada de Raios X para A Caracterização Da Macroporosidade de Concreto Permeável
Microtomografia Computadorizada de Raios X para A Caracterização Da Macroporosidade de Concreto Permeável
Desireé Cardoso Rezende do Nascimento (1); Janine Domingos Vieira (2); Camila Aparecida
Abelha Rocha (2)
Abstract
This study aimed to verify the feasibility of characterizing the porosity of pervious concrete from the images
generated with X-ray computed microtomography, to compare the results with those obtained using another
technique and to define the main factors that caused differences between them. Pervious concrete is a material
whose most striking feature is the presence of a interconnected pores network that allows water infiltration,
which enables the reduction of flooding in large urban centers, when used in pavements. However, there are
a limited number of studies that explore its properties. Thus, in addition to using the micro-CT technique to
characterize the porosity of this type of material, the limitations and advantages of the technique in relation to
the others usually used were studied. For this purpose, microtomography of both the intact specimen and a
sample formed by coarse aggregate and cement paste were performed. Through digital processing of the
images generated with different acquisition parameters, the total porosity of the specimen and sample was
defined, contrasting the results with those through different tests. With the values found, it was possible to
conclude that the total porosity of the coarse aggregate and of the cement paste was not captured by
microtomography, which represents the reason why the porosity results obtained through micro-CT were lower
than the others. However, the technique is capable of capturing pores with dimensions between 2 and 8 mm,
which are those that effectively contribute to the rapid percolation of water in permeable pavements.
Keywords: Pervious Concrete; X-ray computed microtomography; Porosity.
A busca contínua por melhores infraestruturas de drenagem das cidades e o aumento das
pesquisas na área culminaram na ampliação do leque de soluções técnicas viáveis. Surge,
nesse contexto, o chamado concreto permeável. O concreto é o material estrutural mais
utilizado no Brasil (MEHTA e MONTEIRO, 2008) e foi visto, durante muitos anos, como um
material utilizado substancialmente em construções. Sua versatilidade, entretanto, tornou
possível a alteração de algumas características da sua composição e a extensão do seu
campo de aplicação, favorecendo a sua utilização em pavimentos permeáveis. Nos
pavimentos impermeáveis convencionais utilizados nas vias urbanas, a chuva incide sobre
o pavimento e escoa rapidamente, possibilitando a ocorrência de erosões e elevando as
chances de alagamentos. O concreto permeável reduz esses efeitos ao permitir que a água
infiltre no solo.
Conforme exposto por Magalhães (2010) em seu estudo, é possível classificar os poros
presentes em diferentes materiais, incluindo o concreto, em três categorias distintas,
segundo a proposta da IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry. De
acordo com esta classificação, os poros com dimensões superiores à 50 nm (ou 0,05 µm)
são considerados macroporos, àqueles com dimensões entre 50 nm e 2 nm (0,002µm) são
mesoporos e, por fim, os poros cujos diâmetros são menores que 2 nm referem-se aos
microporos.
2 Materiais
O concreto permeável utilizado neste trabalho foi produzido por Coelho (2019). Trata-se do
mesmo material apresentado pelo autor em seu Projeto de Conclusão de Curso e no artigo
“Influência do tamanho do agregado na permeabilidade e na resistência do concreto
permeável”, publicado pelo Ibracon em 2019 (Coelho e Rocha, 2019). Os materiais
utilizados para a confecção do concreto foram agregado graúdo (brita), cimento Portland
CP V-ARI, água e pigmento inorgânico vermelho.
*Valor estimado.
Por fim, a Tabela 5 apresenta o resumo das propriedades do concreto permeável analisado,
obtidos por meio de ensaios de massa específica do concreto no estado endurecido, índice
de vazios (executado conforme a ASTM C1754/C1754M), índice de vazios comunicantes e
coeficiente de permeabilidade à água. Estes ensaios foram realizados por Coelho (2019)
na idade de 28 dias. As dimensões dos corpos de prova cilíndricos originais eram iguais a
10 cm de diâmetro e cerca de 7 cm de altura.
Tabela 5 - Resumo das propriedades definidas em laboratório referentes a fatia de fundo do corpo de prova
nº 10 confeccionado com a mistura M3.
Grandeza Valor
Massa específica no estado endurecido (kg/dm³) 2,32
Índice de vazios (%) 32,70
Vazios comunicantes (%) 31,78
Coeficiente de permeabilidade (cm/s) 0,455
3 Metodologia
As práticas experimentais deste estudo foram executadas em duas fases distintas.
A segunda fase buscou identificar os fatores que causaram diferenças entre os resultados
das primeiras tomografias e os resultados dos ensaios realizados por Coelho (2019), de
modo a reduzi-las. Objetivou-se determinar a porosidade da amostra segundo os preceitos
da norma ASTM C1754/C1754M, executar uma nova microtomografia do concreto
permeável e, consequentemente, uma nova segmentação.
Inicialmente o corte foi feito à seco, mas houve produção excessiva de pó que dificultou a
retirada do corpo de prova do equipamento, culminando na quebra da amostra. Desta
maneira, optou-se por executar todo o processo com o auxílio de água, de modo a reduzir
a quantidade de pó e facilitar a retirada do elemento. Foram necessárias quatro tentativas
até a obtenção da amostra íntegra. A amostra escolhida para a execução das
microtomografias é mostrada na Figura 2.
Após extração do corpo de prova pela carotadora, o mesmo foi lavado em água corrente,
para a retirada de material residual do corte e, em seguida, utilizou-se uma estufa para a
retirada da umidade presente no mesmo, antes da execução das microtomografias.
A porosidade total do corpo de prova foi determinada por meio da Equação 1, apresentada
abaixo.
𝑊2 − 𝑊1
φ (%) = 1 − ( 𝑃 ) × 100 (Equação 1)
𝑤 × 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒
A segmentação das fases minerais das fatias também foi realizada por meio da ferramenta
Trainable Weka Segmentation, sendo consideradas cinco fases distintas. O processo de
segmentação resultou na análise de 891 fatias.
4 Resultados
4.1 Primeira Fase Experimental
As Figuras 4 e 5 apresentam as versões originais e as versões pré-processadas das fatias
nº 1, nº 500 e nº 954 do corpo de prova estudado. As fatias foram escolhidas de maneira
aleatória e são exemplos de fatias obtidas no começo, meio e fim do processo de aquisição.
Figura 4 - Fatias originais do corpo de prova cilíndrico obtidas após a reconstrução tomográfica.
Figura 5 - Fatias da amostra cilíndrica após a realização da normalização e aplicação dos filtros.
As fatias devidamente tratadas foram segmentadas com o auxílio do Fiji Image J, após o
treinamento do classificador (Figuras 6 e 7). Ressalta-se que, na etapa de treinamento do
classificador, são identificadas as fases minerais existentes com base nos diferentes tons
de cinza presentes nas imagens. No exemplo em questão, foram identificadas quatro fases
minerais, com foco na fase porosa.
ANAIS DO JUBILEU DE OURO IBRACON - 2022 9
Figura 6 - Treinamento do classificador responsável pela segmentação.
A porosidade obtida após a realização da segmentação das fases minerais foi de 25,49%.
Após a segunda tentativa para a determinação do volume, desta vez pelo princípio de
Arquimedes, foi possível chegar a uma porosidade de 32,70%, considerando as Equações
1 e 2. Coelho (2019) encontrou o mesmo teor de porosidade em seu estudo.
A análise quantitativa das fases da amostra foi realizada após o processamento das
imagens segmentadas. A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos bem como os valores
resultantes dos ensaios físicos executados.
Inicialmente, como uma primeira tentativa para a determinação da porosidade, foi feita a
microtomografia da amostra extraída. Uma vez que os poros de interesse eram poros de
dimensões muito reduzidas, tornou-se imprescindível a utilização de um voxel size
pequeno, igual a 3 µm. A redução expressiva no parâmetro de aquisição justifica-se pelo
fato de que quanto maior o voxel size, menor a riqueza de detalhes captada pelas
radiografias.
Destaca-se que os passos seguidos foram os mesmos que àqueles descritos no item 3.1,
no que diz respeito à fixação da amostra, ao recorte e à aplicação dos filtros, sendo
empregado o processo de normalização (Figura 8). A segmentação das fatias foi realizada
considerando-se a existência de quatro fases minerais, de acordo com os diferentes tons
de cinza presentes nas imagens. Ao fim do processo, foram analisadas 974 fatias.
Houve a suspeita de que a aplicação do filtro Non Local Means tenha interferido na
visibilidade de certos poros, justificando um novo pré-processamento e uma nova
segmentação para efeitos comparativos, sem a utilização do respectivo filtro. Também
foram analisadas 974 fatias ao fim desta segmentação, considerando-se apenas a
existência de duas fases, incluindo a fase poros.
Após a análise quantitativa das 974 fatias segmentadas, foi possível determinar a
porosidade total da amostra de agregado graúdo envolvido por pasta de cimento analisada,
conforme Tabela 7 abaixo.
Tabela 7 - Análise comparativa dos resultados das duas segmentações da amostra de agregado e pasta.
Agregado + Pasta de cimento
0,44% 0,54%
A absorção de água do material pôde ser determinada através da equação 03, mostrada a
seguir:
𝑚𝑠𝑠 − 𝑚
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 = ( ) (Equação 3)
𝑚
Onde mss refere-se à massa da amostra saturada com superfície seca e m refere-se à
massa seca.
Além da absorção de água em massa, foi possível definir, por meio da Equação 04,
apresentada por Liu et al. (2015) em seu estudo, a porosidade (volumétrica) total acessível
à água. Tal determinação fez-se necessária pois os resultados obtidos por meio da técnica
da micro-CT também estão relacionados ao volume total da amostra, permitindo a
realização de comparação direta.
(𝑚 − 𝑚) / 𝜌
𝑃 = (𝑚 𝑠𝑠− 𝑚 × 100 (Equação 4)
𝑠𝑠 𝑎 )/ 𝜌
Onde mss refere-se à massa da amostra saturada com superfície seca, m refere-se à massa
seca e 𝑚𝑎 refere-se à massa submersa.
Foi possível inferir, a partir dos resultados obtidos, que a microtomografia, de fato, não
conseguiu capturar toda a porosidade do agregado graúdo e da pasta de cimento do
concreto permeável, dada a diferença entre os valores de 0,54% e 8,30%. Isto se deve ao
fato de que o voxel size de 3 µm considerado para os ensaios estava na ordem dos
micrômetros, enquanto que os poros dos agregados e da pasta de cimento podem estar na
faixa dos nanômetros ou até mesmo angstrons, como é o caso do espaço interlamelar do
CSH e dos vazios capilares contidos na pasta de cimento. Além disso, ressalta-se que a
água é capaz de ocupar e percolar vazios muito finos, da ordem de angstrons (equivalente
a 0,1 nm), o que justifica o fato de o ensaio de absorção ter possibilitado a captura de uma
extensa faixa de poros.
5 Conclusão
Este trabalho teve como propósito verificar a viabilidade da utilização da técnica da
microtomografia computadorizada de raios X para a caracterização da porosidade do
concreto permeável e comparar os resultados obtidos com àqueles resultantes do ensaio
preconizado pela norma americana ASTM C1754/C1754M, identificando os fatores que
causaram as diferenças entre ambos os resultados.
Para tanto, além das microtomografias realizadas, fez-se necessário executar realizar um
novo ensaio para a determinação da porosidade total do corpo de prova (conforme a norma
americana ASTM C1754/C1754M) e estudar a porosidade do agregado graúdo e da pasta
de cimento, sendo este último estudo composto de microtomografia de uma amostra do
agregado envolvido pela pasta, ensaios de absorção de água e determinação da
porosidade total acessível à água. Assim, tem-se as seguintes conclusões:
Foi possível observar que os resultados da porosidade total do corpo de prova, obtidos por
meio da primeira e segunda microtomografias realizadas, apresentaram diferença inferior à
0,5%, validando o processo de segmentação das fases minerais executado. O ensaio
realizado em laboratório, segundo as recomendações da norma ASTM C1754/C1754M,
resultou na mesma porosidade encontrada por Coelho (2019);
Desta forma, é possível concluir que a técnica da microtomografia pode ser utilizada para
a caracterização da macroporosidade do concreto permeável, destacando-se que, em
situações de alagamentos, são os poros de dimensões entre 2 e 8 mm que são eficientes
para o escoamento da água. A caracterização da porosidade total deste tipo de concreto,
entretanto, deve ser feita em conjunto com outras técnicas existentes, visto que a
microtomografia não é capaz de captar os mesoporos e microporos presentes na pasta de
cimento e no agregado.
6 Referências
LIU, Xuemei; DU, Hongjian; ZHANG, Min-Hong. A model to estimate the durability
performance of both normal and light-weight concrete. Construction and Building
Materials, [s. l.], v. 80, p. 255-261, 2015.