Design de Superfície Têxtil
Design de Superfície Têxtil
Design de Superfície Têxtil
ISSN 2179-7374
Volume 21 – Número 01
Abril de 2017
Págs. 146 - 158
Resumo
Os tecidos são classificados a partir da configuração estrutural de seus fios. O estudo dessas
estruturas é de fundamental importância para o campo do Design de Superfície Têxtil. Este
artigo tem como objetivo documentar a criação de uma técnica criada partir das experiências
de ensino e práticas pedagógicas elaboradas para disciplina “Design têxtil e de superfície
aplicados a moda”, ministrada pelos autores. Como recorte a ser estudado no campo da
metodologia de ensino e foram selecionadas as estruturas planas para criação de meios
facilitadores da aprendizagem de um conteúdo técnico e teórico. Com a técnica apresentada
no trabalho foi possível dinamizar o processo de aprendizagem de estruturas têxteis planas a
partir de uma atividade elaborada pelos alunos em sala de aula. Através de suportes materiais
como papéis e fitas, foram criadas estratégias que facilitaram a compreensão do conteúdo
lecionado e favoreceram o sucesso do ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: técnica de ensino; estruturas têxteis planas; design de superfície têxtil
Abstract
Textiles are classified from the structural strand configuration. The study of these structures is
of fundamental importance for the Design of Textile Surface field. This article aims to document
the creation of a technique created from teaching experience and pedagogical practices
designed to discipline "Textile design and surface applied to fashion," given by the authors. As
crop to be studied in the field of teaching methodology, the flat structures to create facilitating
means of learning a technical and theoretical content selected. With the technique presented in
the work it was possible to streamline the learning process of flat textile structures from an
activity designed by the students in the classroom. Through material media such as paper and
ribbons, strategies were created that facilitated the understanding of the content taught and
favored the success of teaching and learning.
Keywords: teaching technique; flat textile structures; textile surface design.
1. Introdução
O termo ‘têxtil’ é utilizado para descrever uma ampla variedade de produtos concebidos
através de materiais naturais e/ou sintéticos. Os tecidos são formados por fibras unidas
mecanicamente, à mão ou naturalmente, e sua fabricação é um ofício antigo, com uma
história quase tão antiga quanto a própria humanidade. Arqueólogos e historiadores sociais
conseguem medir a sofisticação técnica das culturas do passado a partir dos tipos de têxteis
que elas produziram e os antropólogos estudam a sua utilização na vida cotidiana em
diferentes culturas. Para os historiadores de design, os têxteis são um meio de difusão de
influências estéticas, culturais e simbólicas (PEZZOLO, 2007).
A portabilidade dos tecidos os categorizam como uma das commodities mais
importantes na história, sendo que o vestuário confeccionado a partir dele contribui para o
desenvolvimento econômico dos territórios. Atualmente, as indústrias têxteis e de vestuário,
juntas, constituem a quarta maior atividade econômica global concentram 5,7% da produção
manufatureira e mais de 14% do emprego mundial (UNIETHOS, 2013). Todos esses fatores
garantem um lugar significativo aos têxteis no estudo do passado, do presente e na
prospecção de possibilidades futuras.
O Design de Superfície Têxtil pode ser aplicado a produtos de diferentes segmentos da
indústria como móveis, tapetes, têxteis de cama, mesa e banho, e outros; mas nesse estudo
são tratadas as superfícies têxteis relacionadas ao vestuário. O termo refere-se ao conjunto de
métodos e processos destinados a criação e ornamentação de tecidos por meio de técnicas
artesanais, industriais ou tecnológicas para confecção de peças de vestuário. As técnicas
aplicáveis na elaboração superfícies têxteis possibilitam melhorar o desempenho mecânico,
agregar valor, proporcionar exclusividade e criar estímulos (RUTHSCHILLING, 2008). Desta
forma, o Design de Superfície Têxtil é percebido como a atividade técnica e criativa, que visa à
elaboração de imagens bi ou tridimensionais reproduzidas por meio dos tecidos, fornecendo
características perceptivas expressivas à aparência do vestuário.
Os tecidos são classificados a partir da configuração estrutural de seus fios. Os tipos de
fibras e fios utilizados em uma estrutura têxtil oferecem resultados diferentes em relação a
propriedades mecânicas, aparência e caimento. As principais estruturas têxteis são o tecido
plano, a malha e o não tecido. A opção por alguma dessas estruturas, ao confeccionar uma
roupa, deve levar em consideração o efeito desejado com técnica em relação a sua
estabilidade, elasticidade e dimensão.
Uma das competências esperadas do designer de superfície têxteis é conhecer
materiais, técnicas, tecnologias e modos de fabrico, produção e das ciências correspondentes.
É a partir desse conhecimento específico que se pode materializar os conceitos da técnica e do
modo de fazer específicos. O trabalho foi realizado a partir das experiências de ensino e
práticas pedagógicas elaboradas para disciplina “Design Têxtil e de Superfície aplicada a
Moda”, ministrada pelos autores, durante o segundo semestre de 2015.
A finalidade do processo de ensino é proporcionar aos alunos os meios para que
assimilem ativamente os conhecimentos. Esse processo passa pela relação cognoscitiva do
aluno, cabendo ao professor criar estratégias para dinamizar o processo de aprendizagem.
Nesse contexto a metodologia pode ser encarada como a estratégia escolhida para fazer
chegar o conhecimento até o aluno, articulando e direcionando o que ele precisa saber.
Segundo Libâneo (1994):
[...] a metodologia compreende o estudo dos métodos, e o conjunto
dos procedimentos de investigação das diferentes ciências quanto
aos seus fundamentos e validade, distinguindo-se das técnicas que
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Os não tecidos são estruturas planas, flexíveis e porosas térmicas (ABNT NBR-13370,
2002). Eles são constituídos a partir do acúmulo direto de camadas de fibras ou filamentos
têxteis (naturais, artificiais ou sintéticos) sobre a forma de véus ou mantas. Essas camadas são
aglutinadas umas às outras através de um, ou da combinação, de processos mecânicos
(fricção), químicos (adesão) e térmicos (coesão) (LASCHUK, 2009). Diferente dos tecidos planos
e das malhas, os não tecidos não possuem uma ordenação de sentido e direção (PEZZOLO,
2013). Eles são classificados a partir dos processos de fabricação, das matérias primas, da
gramatura ou associação desses elementos.
As malhas são constituídas a partir do entrelaçamento de fios em séries contínuas de
laçadas. As laçadas são elementos fundamentais nesse tipo de estrutura. Através delas os fios
se interpenetram e se apóiam lateral ou verticalmente por meio de um sistema de agulhas
(SPENCER, 2001). Em detrimento dessa estrutura, as malhas são mais elásticas e flexíveis, se
comparadas com os tecidos planos, pois os pontos de ligação dos fios são móveis (LASCHUK,
2009). Isso porque nas malhas, as laçadas podem deslizar umas sobre as outras quando
tensionadas. A estrutura das malhas possuem dimensões instáveis e pouco rígidas,
deformando-se facilmente quando submetida a tensões.
Na tecelagem são produzidos os tecidos planos elaborados através do entrelaçamento
perpendicular de dois conjuntos de fios têxteis, um na vertical – urdume e um na horizontal -
trama (ABNT NBR-12546, 1991).
O urdume se constitui de fios presos ao tear, no sentido longitudinal, que estruturam e
determinam o comprimento dos tecidos. A trama determina a largura do tecido através do
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entrelaçamento transversal dos fios, que por sua vez, formam as bordas do tecido chamadas
de ourelas. A ourela é uma faixa estreitas de fios de maior densidade, colocados
paralelamente ao urdume, tendo como finalidade reforçar as laterais do tecido e garantir uma
largura uniforme, conforme mostra a Figura 2.
Portanto, o tecido plano é formado pelo entrelaçamento de urdumes e tramas em um
ângulo de 900. Esses tecidos são processados em máquinas chamadas de teares.
Os principais componentes de um tear são: (1) rolo de urdume, que contém os fios de
urdimento; (2) quadros de liços - o urdimento passa pelo olhal dos liços que se acham
dispostos em quadros responsáveis pela formação da cala, uma abertura formada por duas
camadas de fios de urdume; (3) pente - depois dos quadros de liços, os fios passam por um
pente que é responsável pelo remate da trama e que nos teares de lançadeira servem como
guia para a mesma; e (4) rolo de tecido - para enrolar o tecido pronto. A Figura 3 ilustra os
componentes básicos de um tear.
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3. Desenvolvimento da Técnica
Uma vez exposto o conteúdo teórico, foi elaborada uma técnica de ensino a partir das
especificidades dos tecidos planos. O primeiro passo foi criação uma apostila contemplando a
fundamentação teórica acerca das três principais estruturas têxteis planas e suas variações.
Essa apostila teve como objetivo servir de material de consulta para realização de uma
atividade prática. O segundo passo foi a elaboração da atividade prática, que consistiu em um
trabalho em dupla de alunos, iniciado em sala de aula e terminado em casa. Essa dinâmica
possibilitou o esclarecimento de dúvidas que ocorreram durante a execução da atividade.
Para a atividade foi determinada a entrega, por dupla, de um conjunto de 16
diferentes representações de estruturas têxteis planas devidamente identificadas. A
representação foi orientada a ser realizada utilizando papel cartão e fita de cetim. Como
critério para avaliação definiu-se pela exatidão na representação das estruturas e a
correspondência da entrega solicitada.
Da tela ou tafetá foram desenvolvidas cinco estruturas têxteis (Figura 7):
1. Tafetá: o fio da trama passa sobre 1 urdume e por baixo do que se segue. Na fileira
seguinte, a trama deve ocupar posição alternada
2. Louisine: uma variação do tafetá, ampliado à trama de forma regular: passa por cima
e por baixo de dois urdumes, alternando a fileira
3. Canelado: outra variante do Tafetá. Forma listras de urdume e trama, podendo variar
sua disposição. Neste caso, é classificado como a ampliação do urdume de forma
regular
4. Canelado irregular: urdume ampliado de forma irregular. Variação do canelado, é
intercalado por uma fileira de tafetá
5. Panamá: variação do tafetá, a trama e urdume são alternados de 2 em 2. Pode-se
trabalhar com 2 fios de trama de cada vez
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SARJA ESPINHA DE
SARJA LEVE SARJA PESADA SARJA BATÁVIA
PEIXE
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Os materiais para execução da atividade foram: (1) quadrados de papel cartão preto
de 20 x 20 centímetros, (2) fita de cetim colorida de 1 centímetro, (3) fita crepe, (4) papel
quadriculado, (5) estilete e tesoura, (6) régua milimetrada e esquadro e (7) suporte para cortar
o papel.
As instruções para execução da atividade também vieram descritas na apostila
entregue aos alunos. Na intenção de esclarecer sobre passo-a-passo (Figura 10) para execução
da atividade, as etapas foram descritas e ilustradas da seguinte forma: (1) recorte quadrados
de 20 x 20 cm em papel cartão preto; (2) considere margens de 2 cm de cada lado formando
um quadrado de 16 x 16 cm no interior do quadrado recortado; (3) considerando as margens,
trace linhas paralelas com 1 cm de distância e recorte-as com a ajuda de um estilete; (4)
considere o papel como o urdume e a fita de cetim como a trama; (5) entrelace a fita da trama
pelos recortes de papel usando como referência a estrutura que deseja representar; (6) corte
os excessos da fita e repita a operação até que toda estrutura seja representada; (7) no verso
no papel cartão, depois que a base for completamente preenchida, fixe as pontas das fitas com
auxílio de fita crepe; (8) escreva no verso do papel cartão o nome a estrutura representada.
Figura 10: Ilustrações do passo-a-passo (a) etapas de 1 a 4, (b) etapas 5 e 6, (c) etapa 8
A atividade foi realizada com sucesso pelos alunos, dada a precisão das informações
descritas na apostila e a resolução de dúvidas durante o início da execução em sala de aula.
A Figura 11 mostra uma seleção de imagens do processo de execução da atividade em
sala de aula.
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4. Considerações Finais
Considerando que o Design de Superfície Têxtil é um processo que busca sempre a inovação e
a diferenciação por meio da criação e ornamentação de tecidos, é de fundamental importância
para designers em formação compreendam a configuração estrutural dos têxteis em seus
aspectos práticos e teóricos. Por isso, no campo da docência do ensino superior, é necessário
que se criem técnicas e métodos de ensino que fomentem o ensino-aprendizagem de maneira
eficaz. Repensar como formar profissionais de acordo com o que o mercado exige hoje é uma
solução para a atual lacuna entre o mercado e a academia.
As técnicas de ensino são elementos que compõem o processo pedagógico,
estabelecendo relação com o social, dispondo de uma autonomia relativa e subordinada a
outros aspectos componentes do processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto o
planejamento de ensino indica a atividade direcional, metódica e sistematizada que será
empreendida pelo professor junto a seus alunos, em busca de propósitos definidos. A
experiência didática apresentada é um exemplo simples de como os docentes podem explorar
estratégias para auxiliar na compreensão de elementos, aparentemente complexos, de um
conteúdo considerado “duro” como as diversas variações das estruturas dos tecidos em geral,
favorecendo o sucesso do ensino-aprendizagem.
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Agradecimentos
Os autores agradecem aos alunos da disciplina optativa “Design Têxtil e de Superfície Aplicado
a Moda” oferecida na escola de Design da UEMG no segundo semestre de 2015, e em especial
a aluna monitora Paula de Oliveira Silva.
Referências
AMORIM, Wadson Gomes. Moda ornamento: singularidades do Design de Superfície Têxtil
em Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Design) – Escola de Design, Universidade do
Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
ARAÚJO, José Carlos Souza. Para uma análise das representações sobre as técnicas de ensino.
In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Técnicas de ensino: por que não? Coleção magistério:
formação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 1991.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12546: Materiais têxteis - Ligamentos
fundamentais de tecidos planos - Terminologia. Rio de Janeiro, 1991.
LASCHUK, T. Design têxtil: da estrutura à superfície. Porto Alegre: Uniritter, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
PEREIRA, G. S. Introdução à tecnologia têxtil. Apostila do curso têxtil em malharia e confecção
(módulo 2). Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. Araranguá: CEFET/SC
2012.
PEZZOLO, D. B. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo: Senac São Paulo, 2007.
RÜTHSCHILLING, E. A. Design de Superfície. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
UDALE, Jenny. Tecidos e moda. Coleção Fundamentos de Design de Moda. Porto Alegre:
Bookman, 2010.
UNIETHOS. Série de estudos setoriais: sustentabilidade e competitividade na cadeia da
moda. São Paulo: UNIETHOS, 2013.
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