Design de Superfície Têxtil

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SSN 2179-7374

ISSN 2179-7374
Volume 21 – Número 01
Abril de 2017
Págs. 146 - 158

DESIGN DE SUPERFÍCIE TÊXTIL: TÉCNICA DE ENSINO DE ESTRUTURAS


TÊXTEIS PLANAS

TEXTILE SURFACE DESIGN: TEACHING TECHNIQUE FOR FLAT TEXTILE


STRUCTURES

Wadson Gomes Amorim1


Maria Regina Álvares Correia Dias2

Resumo
Os tecidos são classificados a partir da configuração estrutural de seus fios. O estudo dessas
estruturas é de fundamental importância para o campo do Design de Superfície Têxtil. Este
artigo tem como objetivo documentar a criação de uma técnica criada partir das experiências
de ensino e práticas pedagógicas elaboradas para disciplina “Design têxtil e de superfície
aplicados a moda”, ministrada pelos autores. Como recorte a ser estudado no campo da
metodologia de ensino e foram selecionadas as estruturas planas para criação de meios
facilitadores da aprendizagem de um conteúdo técnico e teórico. Com a técnica apresentada
no trabalho foi possível dinamizar o processo de aprendizagem de estruturas têxteis planas a
partir de uma atividade elaborada pelos alunos em sala de aula. Através de suportes materiais
como papéis e fitas, foram criadas estratégias que facilitaram a compreensão do conteúdo
lecionado e favoreceram o sucesso do ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: técnica de ensino; estruturas têxteis planas; design de superfície têxtil

Abstract
Textiles are classified from the structural strand configuration. The study of these structures is
of fundamental importance for the Design of Textile Surface field. This article aims to document
the creation of a technique created from teaching experience and pedagogical practices
designed to discipline "Textile design and surface applied to fashion," given by the authors. As
crop to be studied in the field of teaching methodology, the flat structures to create facilitating
means of learning a technical and theoretical content selected. With the technique presented in
the work it was possible to streamline the learning process of flat textile structures from an
activity designed by the students in the classroom. Through material media such as paper and
ribbons, strategies were created that facilitated the understanding of the content taught and
favored the success of teaching and learning.
Keywords: teaching technique; flat textile structures; textile surface design.

1 Professor, MSc da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, [email protected]


2 Professora, Doutora da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, [email protected]
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Design de Superfície Têxtil: Técnica de Ensino de Estruturas Têxteis Planas

1. Introdução
O termo ‘têxtil’ é utilizado para descrever uma ampla variedade de produtos concebidos
através de materiais naturais e/ou sintéticos. Os tecidos são formados por fibras unidas
mecanicamente, à mão ou naturalmente, e sua fabricação é um ofício antigo, com uma
história quase tão antiga quanto a própria humanidade. Arqueólogos e historiadores sociais
conseguem medir a sofisticação técnica das culturas do passado a partir dos tipos de têxteis
que elas produziram e os antropólogos estudam a sua utilização na vida cotidiana em
diferentes culturas. Para os historiadores de design, os têxteis são um meio de difusão de
influências estéticas, culturais e simbólicas (PEZZOLO, 2007).
A portabilidade dos tecidos os categorizam como uma das commodities mais
importantes na história, sendo que o vestuário confeccionado a partir dele contribui para o
desenvolvimento econômico dos territórios. Atualmente, as indústrias têxteis e de vestuário,
juntas, constituem a quarta maior atividade econômica global concentram 5,7% da produção
manufatureira e mais de 14% do emprego mundial (UNIETHOS, 2013). Todos esses fatores
garantem um lugar significativo aos têxteis no estudo do passado, do presente e na
prospecção de possibilidades futuras.
O Design de Superfície Têxtil pode ser aplicado a produtos de diferentes segmentos da
indústria como móveis, tapetes, têxteis de cama, mesa e banho, e outros; mas nesse estudo
são tratadas as superfícies têxteis relacionadas ao vestuário. O termo refere-se ao conjunto de
métodos e processos destinados a criação e ornamentação de tecidos por meio de técnicas
artesanais, industriais ou tecnológicas para confecção de peças de vestuário. As técnicas
aplicáveis na elaboração superfícies têxteis possibilitam melhorar o desempenho mecânico,
agregar valor, proporcionar exclusividade e criar estímulos (RUTHSCHILLING, 2008). Desta
forma, o Design de Superfície Têxtil é percebido como a atividade técnica e criativa, que visa à
elaboração de imagens bi ou tridimensionais reproduzidas por meio dos tecidos, fornecendo
características perceptivas expressivas à aparência do vestuário.
Os tecidos são classificados a partir da configuração estrutural de seus fios. Os tipos de
fibras e fios utilizados em uma estrutura têxtil oferecem resultados diferentes em relação a
propriedades mecânicas, aparência e caimento. As principais estruturas têxteis são o tecido
plano, a malha e o não tecido. A opção por alguma dessas estruturas, ao confeccionar uma
roupa, deve levar em consideração o efeito desejado com técnica em relação a sua
estabilidade, elasticidade e dimensão.
Uma das competências esperadas do designer de superfície têxteis é conhecer
materiais, técnicas, tecnologias e modos de fabrico, produção e das ciências correspondentes.
É a partir desse conhecimento específico que se pode materializar os conceitos da técnica e do
modo de fazer específicos. O trabalho foi realizado a partir das experiências de ensino e
práticas pedagógicas elaboradas para disciplina “Design Têxtil e de Superfície aplicada a
Moda”, ministrada pelos autores, durante o segundo semestre de 2015.
A finalidade do processo de ensino é proporcionar aos alunos os meios para que
assimilem ativamente os conhecimentos. Esse processo passa pela relação cognoscitiva do
aluno, cabendo ao professor criar estratégias para dinamizar o processo de aprendizagem.
Nesse contexto a metodologia pode ser encarada como a estratégia escolhida para fazer
chegar o conhecimento até o aluno, articulando e direcionando o que ele precisa saber.
Segundo Libâneo (1994):
[...] a metodologia compreende o estudo dos métodos, e o conjunto
dos procedimentos de investigação das diferentes ciências quanto
aos seus fundamentos e validade, distinguindo-se das técnicas que
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são a aplicação específica dos métodos. No campo da didática, há


uma relação entre os métodos próprios da ciência que dá suporte à
matéria de ensino e os métodos de ensino. A metodologia pode ser
geral (por ex., métodos tradicionais, métodos ativos, método da
descoberta, método de solução de problemas etc.) ou especifica, seja
a que se refere aos procedimentos de ensino e estudo das disciplinas
do currículo (alfabetização, matemática, história, etc.), seja a que se
refere a setores da educação escolar ou extra-escolar (educação de
adultos, educação especial, educação sindical etc.). Técnicas,
recursos ou meios de ensino são complementos da metodologia,
colocados à disposição do professor para o enriquecimento do
processo de ensino (LIBÂNEO, 1994, p. 53).
Para mediar o processo de aprendizagem é necessário que o professor disponha de
conhecimentos técnicos, com visão de futuro capaz de organizar e dirigir situações. Essa
mediação requer planejamento, envolvendo a delimitação de objetivos ou metas para a
organização; além do estabelecimento de uma estratégia para atingir essas metas e o
desenvolvimento de integração e coordenação das atividades decorrentes. Portanto, uma vez
que no planejamento a preocupação se estende a fins (o que deve ser feito) e meios (como
deve ser feito), ele indica a atividade direcional, metódica e sistematizada que será
empreendida pelo professor junto a seus alunos, em busca de propósitos definidos.
Como artifício para mediar o ensino de sobre a compreensão dos diferentes tipos de
estruturas planas dos tecidos, foi criada uma técnica com objetivo de facilitar a o processo de
aprendizagem. A partir de uma fundamentação teórica e da seleção de recursos pertinentes,
foi elaborada uma atividade prática na intenção criar uma metáfora de um tecido real,
ilustrando de forma lógica como os fios de um tecido são entrelaçados.
Nesta perspectiva, o trabalho foi norteado pelas seguintes questões:
 Como dinamizar o processo de aprendizagem de estruturas têxteis planas a partir de
uma atividade prática?
 Quais seriam os suportes materiais necessários que facilitariam a compreensão do
conteúdo lecionado e favoreceriam o sucesso do ensino-aprendizagem?

2. Materiais e Processos Têxteis


As diferentes características dos tecidos são compatíveis com as demandas dos segmentos da
indústria de confecção de vestuário. O mercado de vestuário pode ser divididos em três grupos
principais: (i) técnicos, (ii) regulares e (iii) de moda. (i) Na confecção de roupas técnicas, os
produtos possuem funcionalidades específicas e são utilizados para o desempenho de um
trabalho. Eles se destinam a garantia de proteção e preservação da saúde do usuário na
execução de uma determinada atividade. (ii) Os produtos regulares são roupas básicas
produzidas em larga escala. Devido a essa produção, possuem preços baixos e distribuição
extensiva. (iii) Nos produtos de moda, os lotes de produção são pequenos, os preços dos
produtos são considerados altos e a distribuição é seletiva. Os principais segmentos destinados
à confecção do vestuário de moda são: feminino, masculino, infantil, esportivo, praia e festa.
No projeto de têxteis para o vestuário de moda, decisões de design são feitas em todas
as fases do processo de fabricação. Essas decisões determinam: qual fibra deve ser utilizada
em um fio, de quais fios deve ser feito o tecido, o peso do tecido a ser produzido, quais as
cores dos fios, qual estrutura o tecido deve ter, quais acabamentos de superfície serão
aplicados e a forma pelo qual o vestuário será fabricado. Os designers nas indústrias têxteis e
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de vestuário são envolvidos em todo o processo de desenvolvimento, desde a identificação


inicial de uma necessidade até a designação do produto final. A indústria de vestuário em todo
o mundo caracteriza-se por um alto grau de diferenciação em relação às matérias-primas
utilizadas, processos produtivos, padrões de concorrência e estratégias empresariais. A
classificação das diferentes tipologias têxteis acontece principalmente a partir da configuração
estrutural de seus fios. As principais estruturas têxteis são o tecido plano, a malha e o não
tecido (Figura 1). A opção por alguma dessas estruturas, ao confeccionar uma roupa, deve
levar em consideração o efeito desejado com técnica em relação a sua estabilidade,
elasticidade e dimensão.

Figura 1: Estruturas têxteis

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

Os não tecidos são estruturas planas, flexíveis e porosas térmicas (ABNT NBR-13370,
2002). Eles são constituídos a partir do acúmulo direto de camadas de fibras ou filamentos
têxteis (naturais, artificiais ou sintéticos) sobre a forma de véus ou mantas. Essas camadas são
aglutinadas umas às outras através de um, ou da combinação, de processos mecânicos
(fricção), químicos (adesão) e térmicos (coesão) (LASCHUK, 2009). Diferente dos tecidos planos
e das malhas, os não tecidos não possuem uma ordenação de sentido e direção (PEZZOLO,
2013). Eles são classificados a partir dos processos de fabricação, das matérias primas, da
gramatura ou associação desses elementos.
As malhas são constituídas a partir do entrelaçamento de fios em séries contínuas de
laçadas. As laçadas são elementos fundamentais nesse tipo de estrutura. Através delas os fios
se interpenetram e se apóiam lateral ou verticalmente por meio de um sistema de agulhas
(SPENCER, 2001). Em detrimento dessa estrutura, as malhas são mais elásticas e flexíveis, se
comparadas com os tecidos planos, pois os pontos de ligação dos fios são móveis (LASCHUK,
2009). Isso porque nas malhas, as laçadas podem deslizar umas sobre as outras quando
tensionadas. A estrutura das malhas possuem dimensões instáveis e pouco rígidas,
deformando-se facilmente quando submetida a tensões.
Na tecelagem são produzidos os tecidos planos elaborados através do entrelaçamento
perpendicular de dois conjuntos de fios têxteis, um na vertical – urdume e um na horizontal -
trama (ABNT NBR-12546, 1991).
O urdume se constitui de fios presos ao tear, no sentido longitudinal, que estruturam e
determinam o comprimento dos tecidos. A trama determina a largura do tecido através do
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entrelaçamento transversal dos fios, que por sua vez, formam as bordas do tecido chamadas
de ourelas. A ourela é uma faixa estreitas de fios de maior densidade, colocados
paralelamente ao urdume, tendo como finalidade reforçar as laterais do tecido e garantir uma
largura uniforme, conforme mostra a Figura 2.
Portanto, o tecido plano é formado pelo entrelaçamento de urdumes e tramas em um
ângulo de 900. Esses tecidos são processados em máquinas chamadas de teares.

Figura 2: Esquema da trama, urdume e ourela

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

Os principais componentes de um tear são: (1) rolo de urdume, que contém os fios de
urdimento; (2) quadros de liços - o urdimento passa pelo olhal dos liços que se acham
dispostos em quadros responsáveis pela formação da cala, uma abertura formada por duas
camadas de fios de urdume; (3) pente - depois dos quadros de liços, os fios passam por um
pente que é responsável pelo remate da trama e que nos teares de lançadeira servem como
guia para a mesma; e (4) rolo de tecido - para enrolar o tecido pronto. A Figura 3 ilustra os
componentes básicos de um tear.

Figura 3: Desenho esquemático de um tear

Fonte: Pereira (2012)


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A conformação de um tecido plano acontece a partir de três operações básicas


mostradas na Figura 4: (1) formação da cala, (2) inserção da trama e (3) batimento do pente. O
espaço formado quando o urdume é levantado para a passagem da trama chama-se cala. Na
formação da cala acontece uma abertura triangular de duas camadas de fios de urdume com
auxílio de alavancas e cordéis amarrados aos quadros de liços onde os fios estão inseridos. A
introdução dos fios de trama é feita por meio de lançadeira, pinças, projétil, jato de ar ou jato
de água. O pente está preso à frente e tem movimento de vaivém. Quando ele vem à frente,
encosta a última trama inserida no remate e quando recua propicia a inserção da trama
seguinte.

Figura 4: Formação da cala, inserção da trama e batimento do pente

Fonte: Pereira (2012)

A maneira pela qual os fios de urdume entrelaçam-se com os de trama determina o


padrão ou ligamento do tecido e, em larga escala, o tipo de tecido produzido. Os padrões são
desenvolvidos conforme a aparência, a finalidade e também o grau de durabilidade desejado.
Uma construção simples necessita de apenas dois quadros de liços, uma vez que a trama
entrelaça-se com o urdume cruzando-o um fio por cima e um fio por baixo, sucessivamente.
Através das variações no entrelaçamento dos fios da trama e do urdume é possível classificar
os tecidos. Essas variações são chamadas de pontos, ligamentos ou amarrações.
Os três tipos principais de entrelaçamento são: (1) tela ou tafetá, (2) sarja e (3) cetim,
como ilustrados na Figura 5. A partir dessas estruturas básicas é possível gerar uma ampla
gama de variações.
1. Tela ou tafetá: o ponto de tela ou tafetá é estrutura mais simples de um tecido plano.
Os fios da trama são entrelaçados com os fios do urdume em dimensão semelhante.
Nesse ligamento, os fios da trama passam alternadamente por cima dos fios do
urdume e vice-versa. O entrelaçamento resulta em uma tela em que a representação
gráfica lembra um tabuleiro de xadrez. Cerca de 70% dos tecidos ofertados no
mercado são construídos a partir desta estrutura (PEZZOLO, 2013), como por
exemplo, a lona, cambraia, chiffon, organza e voal.
2. Sarja: o ponto de sarja caracteriza-se pela formação de linhas diagonais. Se a
densidade da trama for a mesma do urdume, com a mesma quantidade de fios,
essas linhas diagonais terão uma inclinação de 45° (LASCHUK, 2009). As linhas
diagonais podem aparecer em ambos as direções do tecido. Nessa estrutura, cada
fio da trama é tecido por cima de no mínimo dois fios do urdume. O
entrelaçamento dos fios cria um efeito oposto no lado direito, se comparado ao

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avesso do tecido. Os tecidos com ligamento de sarja são geralmente estruturas


fortes e resistentes (UDALE, 2009), como por exemplo, o brim, jeans e tweed.

Figura 5: Estruturas básicas

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

3. Cetim: o ponto cetim possui trama fechada e de maiores intervalos entre os


entrelaçamentos. O fio do urdume passa por um maior número de fios da trama (ou
vice-versa) criando folgas do lado da face do tecido dando brilho e suavidade a ele
(FRINGS, 2012). Portanto, nessa estrutura os tecidos possuem aparência brilhante e
sedosa em um dos lados (UDALE, 2009). Isso se deve a maior concentração dos fios
da trama ou do urdume na superfície dos tecidos. Os intervalos entre os
entrelaçamentos classificam esse tipo de ligamento. Em um cetim de cinco, por
exemplo, acontece um entrelaçamento a cada cinco fios. Por produzirem tecidos
mais leves, as estruturas mais utilizadas são o cetim de cinco, de sete e de oito
(LASCHUK, 2009), como por exemplo, os tecidos de cetim, duchese, zibeline e
damascado.
A representação gráfica das estruturas é convencionalmente criada a partir da
simulação dos entrelaçamentos com desenhos quadriculados. Para representar os ligamentos
deve-se utilizar papel quadriculado e obedecer às seguintes convenções: (1) cada espaço entre
duas linhas representa um fio: na vertical, fios de urdume, na horizontal, fios de trama; (2)
cada quadradinho representa um ponto de ligação: ponto tomado, quadradinho cheio, ponto
deixado quadradinho vazio. Segundo Laschuk (2009), a estrutura pode ser interpretada da
seguinte forma: no primeiro esquema, o fio do urdume passa sobre a trama (colorido), no
segundo, onde está sem colorir, a trama passa por cima do fio de urdume (sem cor), conforme
na Figura 6.

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Figura 6: Representação dos ligamentos

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

3. Desenvolvimento da Técnica
Uma vez exposto o conteúdo teórico, foi elaborada uma técnica de ensino a partir das
especificidades dos tecidos planos. O primeiro passo foi criação uma apostila contemplando a
fundamentação teórica acerca das três principais estruturas têxteis planas e suas variações.
Essa apostila teve como objetivo servir de material de consulta para realização de uma
atividade prática. O segundo passo foi a elaboração da atividade prática, que consistiu em um
trabalho em dupla de alunos, iniciado em sala de aula e terminado em casa. Essa dinâmica
possibilitou o esclarecimento de dúvidas que ocorreram durante a execução da atividade.
Para a atividade foi determinada a entrega, por dupla, de um conjunto de 16
diferentes representações de estruturas têxteis planas devidamente identificadas. A
representação foi orientada a ser realizada utilizando papel cartão e fita de cetim. Como
critério para avaliação definiu-se pela exatidão na representação das estruturas e a
correspondência da entrega solicitada.
Da tela ou tafetá foram desenvolvidas cinco estruturas têxteis (Figura 7):
1. Tafetá: o fio da trama passa sobre 1 urdume e por baixo do que se segue. Na fileira
seguinte, a trama deve ocupar posição alternada
2. Louisine: uma variação do tafetá, ampliado à trama de forma regular: passa por cima
e por baixo de dois urdumes, alternando a fileira
3. Canelado: outra variante do Tafetá. Forma listras de urdume e trama, podendo variar
sua disposição. Neste caso, é classificado como a ampliação do urdume de forma
regular
4. Canelado irregular: urdume ampliado de forma irregular. Variação do canelado, é
intercalado por uma fileira de tafetá
5. Panamá: variação do tafetá, a trama e urdume são alternados de 2 em 2. Pode-se
trabalhar com 2 fios de trama de cada vez

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Figura 7: Modelos das representações da tela ou tafetá

TAFETÁ LOUSINE CANELADO

CANELADO IRREGULAR PANAMÁ

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

Da sarja foram desenvolvidas oito estruturas têxteis (Figura 8):


6. Sarja leve: possui maior número de pontos de trama: 2 tramas por 1 urdume
7. Sarja pesada: produz um tecido encorpado. Uma passagem começa sempre sobre o
ultimo urdume da fileira anterior, formando uma diagonal. Possui um maior pontos
de urdume
8. Sarja batávia ou neutra: mesmo número de pontos no urdume e na trama. Uma
passagem começa sempre sobre o último urdume da fileira anterior, formando uma
diagonal
9. Sarja de espinha de peixe: passando sobre dois urdumes e por baixo de um, sua
armação forma uma grega no sentido horizontal
10. Espinha quebrada (Sarja Tweed diagonal): estrutura de 4 liços que fazem a
movimentação do urdume para a passagem da trama
11. Sarja losango de ponta simples
12. Sarja interrompida
13. Sarja cetinada: possui o mesmo número de fios no urdume e na trama, mas pode ter
alinhavos diferentes. Recebe este nome por ter efeito semelhante ao cetim

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Figura 8: Modelos das representações da sarja

SARJA ESPINHA DE
SARJA LEVE SARJA PESADA SARJA BATÁVIA
PEIXE

SARJA ESPINHA SARJA LOSANGO SARJA INTERROMIDA SARJA CETINADA


QUEBRADA

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

Do cetim foram desenvolvidas três estruturas têxteis e acrescido um padrão elaborado


ao exercício proposto (Figura 9). O cetim é semelhante à sarja, mas a diagonal não é
claramente visível, sendo “intencionalmente interrompida de forma a construir uma superfície
lisa e lustrosa, podendo variar a intensidade do brilho, dependendo da matéria–prima, torção
do fio, e do tratamento do mesmo” (Laschuk, 2009, p. 53). Pode ter inúmeras variações.
Quanto maior o número de alinhavos, maior o peso do tecido. Os mais usados são os de
cinco, sete e oito. O número de fios da trama que flutuam no intervalo entre um urdume e
outro se chama avanço.
14. Cetim 5:1
15. Cetim 7:1: para a direita
16. Padrões elaborados: dependendo da complexidade do projeto do entrelaçamento
dos fios podem ser formados padrões mais elaborados. Esses padrões podem conter
motivos gráficos incônicos ou geométricos. Foi proposto o Pie de poule (simplificado).

Figura 9: Modelos das representações do cetim

CETIM 5:1 CETIM 7:1 PIE DE POULE

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

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Os materiais para execução da atividade foram: (1) quadrados de papel cartão preto
de 20 x 20 centímetros, (2) fita de cetim colorida de 1 centímetro, (3) fita crepe, (4) papel
quadriculado, (5) estilete e tesoura, (6) régua milimetrada e esquadro e (7) suporte para cortar
o papel.
As instruções para execução da atividade também vieram descritas na apostila
entregue aos alunos. Na intenção de esclarecer sobre passo-a-passo (Figura 10) para execução
da atividade, as etapas foram descritas e ilustradas da seguinte forma: (1) recorte quadrados
de 20 x 20 cm em papel cartão preto; (2) considere margens de 2 cm de cada lado formando
um quadrado de 16 x 16 cm no interior do quadrado recortado; (3) considerando as margens,
trace linhas paralelas com 1 cm de distância e recorte-as com a ajuda de um estilete; (4)
considere o papel como o urdume e a fita de cetim como a trama; (5) entrelace a fita da trama
pelos recortes de papel usando como referência a estrutura que deseja representar; (6) corte
os excessos da fita e repita a operação até que toda estrutura seja representada; (7) no verso
no papel cartão, depois que a base for completamente preenchida, fixe as pontas das fitas com
auxílio de fita crepe; (8) escreva no verso do papel cartão o nome a estrutura representada.

Figura 10: Ilustrações do passo-a-passo (a) etapas de 1 a 4, (b) etapas 5 e 6, (c) etapa 8

(a) (b) (c)

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

A atividade foi realizada com sucesso pelos alunos, dada a precisão das informações
descritas na apostila e a resolução de dúvidas durante o início da execução em sala de aula.
A Figura 11 mostra uma seleção de imagens do processo de execução da atividade em
sala de aula.

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Figura 11: Execução da atividade em sala de aula

Fonte: Elaborado por Amorim e Dias (2015)

4. Considerações Finais
Considerando que o Design de Superfície Têxtil é um processo que busca sempre a inovação e
a diferenciação por meio da criação e ornamentação de tecidos, é de fundamental importância
para designers em formação compreendam a configuração estrutural dos têxteis em seus
aspectos práticos e teóricos. Por isso, no campo da docência do ensino superior, é necessário
que se criem técnicas e métodos de ensino que fomentem o ensino-aprendizagem de maneira
eficaz. Repensar como formar profissionais de acordo com o que o mercado exige hoje é uma
solução para a atual lacuna entre o mercado e a academia.
As técnicas de ensino são elementos que compõem o processo pedagógico,
estabelecendo relação com o social, dispondo de uma autonomia relativa e subordinada a
outros aspectos componentes do processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto o
planejamento de ensino indica a atividade direcional, metódica e sistematizada que será
empreendida pelo professor junto a seus alunos, em busca de propósitos definidos. A
experiência didática apresentada é um exemplo simples de como os docentes podem explorar
estratégias para auxiliar na compreensão de elementos, aparentemente complexos, de um
conteúdo considerado “duro” como as diversas variações das estruturas dos tecidos em geral,
favorecendo o sucesso do ensino-aprendizagem.
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Agradecimentos
Os autores agradecem aos alunos da disciplina optativa “Design Têxtil e de Superfície Aplicado
a Moda” oferecida na escola de Design da UEMG no segundo semestre de 2015, e em especial
a aluna monitora Paula de Oliveira Silva.

Referências
AMORIM, Wadson Gomes. Moda ornamento: singularidades do Design de Superfície Têxtil
em Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Design) – Escola de Design, Universidade do
Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
ARAÚJO, José Carlos Souza. Para uma análise das representações sobre as técnicas de ensino.
In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Técnicas de ensino: por que não? Coleção magistério:
formação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 1991.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12546: Materiais têxteis - Ligamentos
fundamentais de tecidos planos - Terminologia. Rio de Janeiro, 1991.
LASCHUK, T. Design têxtil: da estrutura à superfície. Porto Alegre: Uniritter, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
PEREIRA, G. S. Introdução à tecnologia têxtil. Apostila do curso têxtil em malharia e confecção
(módulo 2). Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. Araranguá: CEFET/SC
2012.
PEZZOLO, D. B. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo: Senac São Paulo, 2007.
RÜTHSCHILLING, E. A. Design de Superfície. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
UDALE, Jenny. Tecidos e moda. Coleção Fundamentos de Design de Moda. Porto Alegre:
Bookman, 2010.
UNIETHOS. Série de estudos setoriais: sustentabilidade e competitividade na cadeia da
moda. São Paulo: UNIETHOS, 2013.

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