Estereótipos e Violência Contra Mulher: A Necessidade de Empoderamento para Alcançar A Igualdade de Gênero
Estereótipos e Violência Contra Mulher: A Necessidade de Empoderamento para Alcançar A Igualdade de Gênero
Estereótipos e Violência Contra Mulher: A Necessidade de Empoderamento para Alcançar A Igualdade de Gênero
Resumo: Este artigo tem como principal objetivo a desconstrução dos estereótipos
de conduta e estética que foram impostos à mulher, como meio de alcançar a
igualdade de gênero e acabar com a violência contra elas. Para isso, foram
realizadas duas pesquisas na cidade de Conselheiro Lafaiete. A primeira foi
realizada na Faculdade de Direito, com o intuito de conhecer a forma como os
discentes abordam o papel da mulher na sociedade para ser falado sobre
conscientização da igualdade de gênero, levando também ao conhecimento da
população o resultado. A segunda foi realizada em diversos pontos centrais da
cidade, em um período de maior movimentação de pessoas, onde 200 mulheres
preencheram um questionário sobre a violência contra a mulher e sobre o
conhecimento dos órgãos de proteção. O resultado foi bastante curioso, visto que
ainda há um percentual considerável de desigualdade de gênero relatado pelos
alunos da faculdade e também pela população. E das mulheres entrevistadas a
respeito da violência muitas não conhecem os órgãos de auxílio e proteção à
mulher, embora conheçam mulheres que já tenham sofrido algum tipo de violência.
Isso nos permite inferir que essas vítimas, não tiveram um apoio e um
1
Graduanda em Direito na Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete - F.D.C.L. Estagiária no Tribunal de
Justiça de Minas Gerais – Comarca de Ouro Branco. Idealizadora e pesquisadora do projeto "Dois Pesos, Uma
Medida: Igualdade de Gênero" na F.D.C.L. Diretora Social na Associação Atlética Acadêmica de Direito na
Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete A.A.A.D/F.D.C.L. Cofundadora e integrante do projeto filantrópico
"Projeto Mão Solidária". Cofundadora do "Coletivo Politiza", coletivo apartidário, voltado para conscientização
e inserção do jovem na política.E-mail: [email protected]. Curriculum lattes. Disponível em:<
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=313AB4B8CF4CCE4BF816A5282853E82B>
81
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
1INTRODUÇÃO
diversas formas por ter um comportamento contrário a esses determinados por uma
sociedade regida pelo pratriarquismo e movida pelo capitalismo.
2 OBJETIVOS
83
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
No início do século XX2, meninos usavam roupas rosa pelo fato de ser uma
cor mais próxima ao vermelho. Sendo uma cor quente, remetia a ideia de sangue,
luta, força, e também inspirava-se a várias pinturas de Jesus com mantos
vermelhos. Já as meninas utilizavam o azul, uma cor fria, supostamente mais frágil e
delicada e também remetia a imagem da Virgem Maria. Em meados dos anos 80,
com a criação do exame pré-natal foi possível saber o sexo do bebê antes mesmo
do nascimento, impulsionando a indústria a inovar e pensar em fontes de aumentar
as vendas no comércio. Para isso, se fez o inverso das cores, com forte impacto da
mídia passou-se a usar tons rosados para as meninas, pois o pensamento de
fortaleza do rosa foi trocado por delicadeza, definindo a feminilidade da menina e o
azul para os meninos.
2
(Passos, 2013)
84
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
De acordo com PLAN3, em uma pesquisa feita em 5 (cinco) estados brasileiros com
meninas entre 6 e 14 anos, cerca de 81,4% delas, arrumam a própria cama,
enquanto os irmãos, apenas 11,6% fazem o mesmo. No quesito em arrumar a
cozinha há também uma grande diferença 76,8% são meninas e 12,5% meninos.
3
A PlanInternational Brasil é uma ONG que desenvolve programas e projetos com o objetivo de capacitar e
empoderar crianças, adolescentes e suas comunidades, para que adquiram competências e habilidades que os
ajude a transformar a sua realidade.
85
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
86
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
para ela, não é charmoso os cabelos grisalhos e nem as rugas no canto dos olhos,
ao contrário, ela se torna desleixada por não cuidar do seu corpo. Dessa forma, a
mídia publica e expõe inúmeros produtos para solucionar os “problemas” em relação
à estética, se beneficiando com o corpo da mulher, devido aos estereótipos criados
ao longo do tempo.
87
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
88
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
4
Estereótipos de gênero: perspectivas legais transnacionais (COOK e CUSACK, 2010). A obra Reproductive
Health and Human Rights: Integrating Medicine, Ethics and Law (Oxford, 2003), em parceria com Bernard
Dickens e Mahmoud Fathalla, foi traduzida para a língua portuguesa.
5
(Accioly) Disponível em:
<http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1383842965_ARQUIVO_BeatrizAcciolyLins.pdf>
89
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
90
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
enquanto que em cada 10 (dez) casos de estupro, 7 (sete) são cometidos por
parentes, namorados, amigos ou conhecidos da vítima, segundo uma pesquisa feita
pelo IPEA6 (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Se o marido ou namorado
induz a mulher a praticar algum ato de natureza sexual, para certificar a provação do
seu amor, se aproveita de algum momento em que ela esteja dormindo ou qualquer
forma que ela não tenha consentido o fato, é abuso.
O abuso é algo tão banalizado pela sociedade que está arraigado na cultura
desde os desenhos infantis. Em uma analogia ao conto da Branca de Neve dentre
vários outros que são difundidospara as crianças como uma forma romântica e
delicada de ver o amor verdadeiro, o Príncipe encantado beija a Branca de Neve
que está adormecida para salvar sua vida como prova do seu amor. Entretanto,
pode-se notar quea Branca de Neve não consentiu o beijo dado pelo Príncipe, pois
estava desacordada. Esse ato, mesmo que de forma subjetiva, propaga o
relacionamento sem o consentimento da vítima, assimilando a violência sexual, e
ainda assim é visto como um ato nobre e romântico.
4 METODOLOGIA
6
(IPEA) Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/140327_notatecnicadies11.pdf>
91
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
7
Dois Pesos, Uma Medida: IGUALDADE DE GÊNERO é um projeto de pesquisa e extensão idealizado pela
aluna/pesquisadora DamiresRinarlly Oliveira Pinto e incentivado pela Faculdade de Direito de Conselheiro
Lafaiete.
92
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
mulher é em qualquer ocupação social que escolherem. Cada uma pode e deve ser
aquilo que quiser, sem taxatividade”. E também 24 frases machistas como “Lugar de
mulher é em casa cuidando dos filhos. Se ficassem em casa o mundo não estaria
assim!”. Junto às frases selecionadas, foram elaboradas frases de conscientização
como “Não queira definir o lugar de uma mulher, pois ela vai estar aonde desejar”,
que foram distribuídas de forma intercalar com as fichas preenchidas pelos alunos.
93
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
94
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
mulher ser na política, talvez influenciados pela campanha do TSE8, difundida nas
emissoras de televisão e incentivando a participação da mulher na política. Ela
também exemplifica outros lugares como pilotando avião, quebrando o estereótipo
de “pilotar fogão”, dentre outros explícitos na propaganda. O que pode ser notado é
a maneira eficiente que a mídia influencia o pensamento da sociedade, embora
muitasvezes, essas influências não são sempre positivas, como foi visto no decorrer
deste artigo.
As frases machistas tiveram 24% do total das fichas. Mesmo sendo a minoria,
o resultado ainda é considerado elevado, devido ao grau de instrução intelectual que
os participantes possuem.As frases repercutiram entre os alunos ao serem expostas
pelos corredores, onde muitas pessoas se demonstraram indignadas e outras
acharam engraçada a maneira como as fichas foram completadas, como por
exemplo: “Lugar de mulher é na cozinha, no fogão, na garagem, no quintal, onde ela
possa mostrar o amor aos seus” e “Lugar de mulher é cuidando do marido, sempre
feliz por ter encontrado um. #BelaRecatadaedoLar”. Pode-se notar, que na primeira
frase, a pessoa expressa alguns cômodos e eletrodoméstico de uma casa e sugere
que nesses lugares são onde a mulher consegue demonstrar amor aos que estão a
sua volta, restringindo a sua liberdade e até mesmo a forma como ela possa amar.
Já na segunda frase, é nítida a maneira como o machismo é levado na “brincadeira”
e como realça o estereótipo de que o principal objetivo da vida da mulher é
“encontrar” um marido, e quando ele é alcançado, sua obrigação se torna zelar pelo
mesmo e se manter constantemente feliz, pois para uma mulher, ela já conseguiu
“coisa demais”.
8
TSE – TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, campanha disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=funE0vstSn0>
95
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
da pesquisadora com um Senhor que passava pelo local. Ao ler as frases expostas,
o Senhor se expressou em concordância com uma frase de conscientização em
meio as outras, que dizia: “Não queira definir o lugar de uma mulher, pois ela vai
estar aonde desejar”. Para ele, sua esposa tende estar no melhor lugar possível e se
um dia ela o pedisse para trabalhar “fora”, ele com certeza a deixaria trabalhar.
Naquele momento foi ainda mais perceptível como o machismo é inconsciente na
sociedade e como é visto positivamente por quem o comete, pois o Senhor se sentia
um bom marido por “consentir” com o pedido que supostamente sua esposa o faria.
Dessa forma o sentimento de propriedade do homem sobre a mulher é evidente.
Entretanto, a pesquisadora de forma sugestiva, indagou aquele Senhor ao perguntar
se quando ele começou a trabalhar “fora” pediu a ela, sua esposa, permissão para
tal, ele instantaneamente, respondeu de forma negativa. Então, a pesquisadora
mostrou àquele Senhor outra frase que estava exposta: “Somente a própria mulher
pode dizer onde é o lugar dela e cada uma deseja para si um lugar diferente”,
posteriormente, o Senhor sorriu e foi-se embora.
96
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
97
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
98
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
6 CONCLUSÃO
99
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
participantes se reavaliassem para olhar sob uma nova ótica a atual posição da
mulher na sociedade, e este é o início de um grande processo de transformação
cultural. “A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma
humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que
mudar nossa cultura.” (Adichie, 2015, p. 57).
BIBLIOGRAFIA
100
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
101
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
PASSOS, B. (05 de Dezembro de 2013). Por que você não usa roupa rosa?Papo
de Homem. Disponível em:http://papodehomem.com.br/por-que-voce-nao-usa-
roupa-rosa/ Acesso em 06 de jul. de 2016.
APÊNDICES
102
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
103
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
104
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
105
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
106
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
107
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
Demonstrativo fixado nas portas das salas com texto informativo sobre a igualdade
de gênero e gráfico demonstrando o nível de feminismo e machismo de cada sala.
108
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
109
ESTEREÓTIPOS E VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A NECESSIDADE DE EMPODERAMENTO
PARA ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO
110