Bases Neurobiologicas

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BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

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BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino

3
Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
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outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-


ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professor: Mauro C. Rezende


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Nesta unidade serão discutidos aspectos ligados à neurobio-
logia da aprendizagem, focando especificamente: a) a neurobiologia
da aprendizagem, b) a genética da aprendizagem, c) semiologia neu-
ropsiquiátrica. Trata-se, aqui, de um trabalho que apresenta os fenô-
menos envolvidos no processo de assimilação de dados, a sua ela-
boração cognitiva para compor informações e, finalmente, apresentar
as estruturas mentais da capacidade de aprendizagem dos conceitos
mais elaborados e a formação da inteligência. Muito já se discute so-
bre os aspectos genéticos no desenvolvimento humano e sua preva-
lência sobre o comportamento normal ou patológico, o entendimento
das questões semiológicas – estudo dos sinais – possibilitam ao pro-
fissional ampliar sua percepção dos inúmeros processos que o siste-
ma nervoso utiliza para realizar a função primordial para o homem,
garantir a adaptação adequada aos contextos, à sobrevivência e à
reprodução da espécie. Mesmo que os processos de leitura e escrita
não tenham relação direta com a sobrevivência humana, existe uma
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importante ligação delas com as atuais exigências sociais. Portanto, a


avaliação dessas habilidades, bem como dos quadros patológicos, é
relevante para o estabelecimento das intervenções mais adequadas,
a fim de tornar as crianças adaptadas a lidar com as variadas deman-
das, e poderem executar comportamentos promotores de interação,
desenvolvimento e aprendizagem.

Neurobiologia da Aprendizagem. Neurônios. Genética. Semiologia.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
NEUROBIOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Anatomia da Aprendizagem ___________________________________ 13

As Células do Aprendizado ______________________________________ 16

Neurônios _____________________________________________________ 20

Neurotransmissores _____________________________________________ 24

O Custo do não Conhecimento do Sistema Nervoso _____________ 27

Recapitulando ________________________________________________ 29

CAPÍTULO 02
GENÉTICA DA APRENDIZAGEM

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Genética e Aprendizagem Aspectos Introdutórios _______________ 32

Funções Executivas, Estruturação e Participação no Processo de


Aprendizagem _________________________________________________ 42

Recapitulando _________________________________________________ 48

CAPÍTULO 03
PRINCÍPIOS GERAIS E DOMÍNIOS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM

Aprendizagem da Leitura e Escrita: Dificuldades Específicas ___ 52

Epilepsia e Aprendizagem ____________________________________ 58


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Deficiência Mental e Aprendizagem _____________________________ 64

Recapitulando __________________________________________________ 68

Considerações Finais ____________________________________________ 73

Fechando a Unidade ____________________________________________ 74

Referências _____________________________________________________ 80
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Os aspectos que envolvem o processo da aprendizagem no
ser humano são ricos em detalhes, em desdobramentos de perspecti-
vas nas áreas científicas que, ao se juntarem, principiam a criação de
um esboço para o entendimento a respeito de como se dá tais proces-
sos de extrema importância para o desenvolvimento humano.
Conhecer os componentes estruturantes dos fenômenos cog-
nitivos que promovem a “tradução” dos estímulos nas mais variadas
formas e magnitudes, abre uma importante janela para que os profis-
sionais envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem dominem
os pressupostos que embasam as ferramentas que o sistema nervoso
central lança mão para construir a ideia de ser humano.
Nesse processo de busca por compreender o mundo e suas
particularidades, conhecer a ação das moléculas mensageiras, que são
responsáveis pela ativação do sistema nervoso em sua constante tenta-
tiva de vincular estímulos, gerar comunicação com os mundos externos
e interno do homem, permitir a interação social e o aprendizado, são
muito importantes.
Ter noções sobre como a circuitaria neuronal é ativada quando
palavras, signos, conceitos e ideias são processadas em um córtex in-
fantil com inúmeras possibilidades para aprendizado, é importante para
que as capacidades cognitivas sejam empregadas da forma mais ade-
quada ao desenvolvimento cortical infantil. Entretanto, é preciso manter
em mente que, infelizmente, o funcionamento dos processos cognitivos
permanecem um grande mistério para a ciência, o que torna mais com-

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plexa a compreensão das disfunções ligadas à aprendizagem.
Com isso, não se pretende desanimar o pesquisador, mas sim,
despertá-lo para a necessidade de se debruçar sobre esse desconhe-
cido, utilizando os códigos científicos, para somar forças com várias
outras áreas do saber que estão voltadas para compreender o homem.
Por certo, entender as questões neuronais envolve um grande custo fi-
nanceiro, todavia, o preço da ignorância quanto ao funcionamento cere-
bral é muito mais alto e com consequências muito danosas; pois profis-
sionais podem estar, mesmo que de forma não intencional, dificultando
o processo de aprendizagem.
Os homens da ciência que estudam o próprio ser humano, têm
uma dívida, talvez impagável, com os seus pacientes com patologias, que
foram os norteadores nessa jornada de exploração e entendimento do cé-
rebro e da mente humana. Eles ensinaram por meio de suas incapacida-
des, limitações e distúrbios, como algumas partes cerebrais funcionam.
Dessa forma, ao lapidar o olhar dos profissionais para a inves-
tigação do processo desenvolvimental infantil, permite aguçar sua sen-
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sibilidade para perceber sutilezas e alterações cognitivas, que emergem
constantemente nos ambientes que abrigam as “máquinas” de aprendi-
zado mais extraordinários do universo, as crianças.
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NEUROBIOLOGIA DA APRENDIZAGEM

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ANATOMIA DA APRENDIZAGEM

No homem, o aprendizado ocorre por meio do sistema nervoso


central, mais precisamente, no cérebro. Partindo de um ponto de vista
neurológico – ramo da medicina que estuda os sistema nervoso –, será
colocado em destaque o período infantil, mais especificamente, sobre os
aspectos neurodesenvolvimentais na infância, o que abriu, mais recente-
mente, espaço para o desenvolvimento da especialidade neuropediatria.
Por certo, existem outros atores envolvidos no processo do en-
tendimento da relação entre sistema nervoso e ensino-aprendizagem
infantil, bem como, a presença de aspectos que contribuem ou interfe-
rem no funcionamento geral do organismo, na manutenção, na adapta-
ção e na garantia da sobrevivência do ser humano. Dentre outros fato-
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res que mobilizam o sistema nervoso, podemos citar o ambiente social,
o professor, o aprendiz e estados emocionais, entre outros.
Todavia, é convencional entender que o aprendizado ocorre no
Sistema Nervoso Central – SNC – da criança que engloba: cérebro, cere-
belo e medula espinhal. Portanto, conhecer a neuroanatomia é importan-
te para que se entenda a neurobiologia da aprendizagem (Riesgo, 2015).
Na tentativa de definir aprendizagem e suas relações com a
inteligência, Ohlweiler (2015) traz uma interessante contribuição para o
entendimento desse fenômeno, pois segundo ele:

A aprendizagem consiste em um processo de aquisição, conservação e evo-


cação do conhecimento e ocorre a partir de modificações do SNC mais ou
menos permanentes quando o indivíduo é submetido a estímulos e ou expe-
riências que se traduzem por modificações cerebrais. A memória é essencial
para que a aprendizagem ocorra; é a habilidade de reter e evocar informa-
ções. A compreensão da natureza das mudanças estruturais do encéfalo no
processo da aprendizagem passa pelo conhecimento das características bio-
químicas e funcionais dos neurônios, das sinapses e dos circuitos formados
por eles. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida referência
bibliográfica, com o número de página).

Ao apresentar a temática sobre competência/inteligência, por


certo, nos remete a conceitos estruturantes, como citado anteriormen-
te, a memória e o aprendizado que, como bem aponta Riesgo (2015),
quando um estímulo é captado ele:

[...] chega ao SNC uma informação conhecida, essa gera uma lembrança,
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que nada mais é do que uma memória; quando chega ao SNC uma infor-
mação inteiramente nova, ela nada evoca, mas produz uma mudança na
estrutura e/ou na função do SNC – isto é aprendizado (grifo nosso), do ponto
de vista estritamente neurobiológico. (Colocar entre parênteses, após esta
citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Ao ter em mente a neurobiologia do aprendizado é possível tra-


çar uma interface entre duas importantes áreas de atuação profissional,
as áreas da Saúde (pediatras, neurologistas, neuropediatras, psicólogos,
psiquiatras da infância e adolescência, fonoaudiólogos, psicomotricistas,
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais) e da Educação (educadores,
orientadores educacionais, pedagogos, psicopedagogos) onde, cada um
tem uma parcela de contribuição importante para compor o todo da apren-
dizagem. Vendo esse contingente enorme de profissionais, pode-se con-
cluir que não apenas os profissionais da área da saúde precisam ter noções
básicas do funcionamento normal e patológico do SNC (Riesgo, 2015).
De acordo com Riesgo (2015), o entendimento do SNC pode
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se dar por diferentes formas e níveis, começando do aspecto macro
(nível anatômico) para o micro, passando pela organização dos tecidos
(nível histológico), das células até estruturas bem menores como as
moléculas (molecular e bioquímico). Ou seja, é importante abordar o
SNC de um modo holístico e multinível sem predeterminar uma hierar-
quização entre as partes.
Para entender sobre o processo de aprendizagem é necessá-
rio ter em mente os aspectos multifocais de desenvolvimento, principal-
mente em relação ao processo de desenvolvimento cognitivo, quando
se trata de lidar com o SNC, o nível maturacional ou ontogenético do
córtex. Sendo assim, ter noções sobre maturação neuronal é funda-
mental para quem trabalha com crianças e, portanto, com cérebros em
evolução e ricos em possibilidades. Uma das áreas que mais tem revo-
lucionado a ciência neuronal é a Neuropediatria (Riesgo, 2015).
O profissional da neuropediatria tem em seu processo de for-
mação um contato sólido com os processos maturacionais da criança.
Conforme Riesgo (2015) ressalta:

Para que se entenda o processo do aprendizado, é também imprescindível


dominar a sequência em que ocorrem os eventos neuromaturacionais da
criança enquanto ela cresce, se desenvolve e também aprende. (Colocar
entre parênteses, após esta citação, a devida referência bibliográfica, com o
número de página).

A seguir serão descritas as bases anatômicas gerais do SNC e


sua relação com a aprendizagem normal. Partindo da apresentação das

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células neurais e passando pelas questões de embriologia para, poste-
riormente, seguir uma ordem lógica, focar em aspectos neuroanatômicos
e nas suas relações com a aprendizagem das crianças (Riego, 2015).

A aprendizagem consiste em um processo de aquisição,


conservação e evocação do conhecimento e ocorre a partir de
modificações do SNC mais ou menos permanentes quando o in-
divíduo é submetido a estímulos e ou experiências que se tradu-
zem por modificações cerebrais. A memória é essencial para que
a aprendizagem ocorra; é a habilidade de reter e evocar informa-
ções. A compreensão da natureza das mudanças estruturais do
encéfalo no processo da aprendizagem passa pelo conhecimento
das características bioquímicas e funcionais dos neurônios, das
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sinapses e dos circuitos formados por eles.

AS CÉLULAS DO APRENDIZADO

Não é uma estratégia interessante estudar a aprendizagem


partindo dos dados macroscópicos do sistema nervoso, para compre-
ensão da organização do SNC, por isso, faz-se necessário estudar a
neuro-histologia. Estudos nessa área foram realizados com maior rigor
em meados do séc. XIX. Nessa época, foram descritos dois tipos de cé-
lulas nervosas que compõem a unidade estrutural e funcional do SNC,
que são os neurônios e as células da Glia ou neuróglia (Riesgo,2015).
A princípio, apenas o neurônio era considerado como unidade
funcional no SNC, enquanto que as células da glía desempenhavam um
papel de células suporte. Dessa forma, entendia-se que apenas o neurô-
nio era capaz de assimilar e transmitir informação cortical. Entretanto,
essa não é mais uma informação totalmente correta. A atual ciência sobre
a estrutura funcional do SNC tem novas proposições, entendendo o pro-
cesso de neurotransmissão como uma abordagem também “neuroglial”,
ou seja as células da glía também interagem no cérebro para permitir a
assimilação de estímulos e sua compreensão (Riesgo, 2015).

Células da Glía

Em relação as células da Glia é importante ressaltar que elas


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estão envolvidas em diversas funcionalidades no SN. Conhecê-la em


profundidade é de extrema importância para que o profissional que lida
com ensino-aprendizagem, possa compreender como é constituído o
SNC. De acordo com Riesgo (2015) as células da Glia tem função de:

orientação do crescimento e ajuda na migração dos neurônios durante o


desenvolvimento, de comunicação neural, de defesa e reconhecimento na
vigência de situações patológicas e de limitação das descargas neurais anor-
mais, principalmente nos casos de epilepsia. (Colocar entre parênteses, após
esta citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

O termo célula glía tem origem do ingês glue (cola). No início


das pesquisas para desvendar o SNC, essas células recebiam pouca
atenção, pois acreditava-se que já era compreendida completamente a
sua funcionalidade no SNC. Até então, acreditava-se que elas tinham
a única função de colar os neurônios e manter sua sustentação. No
entanto, agora abriu-se um grande leque de novas possibilidades de
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assimilação de dados via SNC.
As células glía são de 10 a 15 vezes mais numerosas que os
neurônios; podem modificar-se com a entrada de novas informações
no SNC; também participam da neurotransmissão e dos mecanismos
celulares de aprendizado.
Atualmente entende-se que as conexões entre os neurônios
(sinapses) ocorrem em três partes que envolvem neurônios:

Figura 01- Comunicação sináptica

Fonte: nosso, 2019

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Comunicação entre células nervosas. Disponível em:
http://www.cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotransmis-
sores/neurotransmitters2_p.html
Acesso em: 25/02/2019

De acordo com Lopes et al (1999) um neurônio pode ser ati-


vado, simultaneamente, por estímulos excitatórios ou inibitórios de axô-
nios de vários neurônios. De certa forma, cada neurônio é como um
computador individual que faz um média, dentre todas as ativações
elétricas ou químicas que recebe nas sinapses e promove o disparo e
ativação neuronal ou inibição de ativações.
A transmissão química entre neurônios engloba dois tipos distin-
tos de especializações neuronais: os terminais pré e pós sináptico. Boa
parte dos mecanismos de liberação pré-sináptica dos neurotransmisso-
res ainda existem muitos pontos a serem esclarecidos. De forma bem ru-
dimentar o processo acontece da seguinte maneira: no final do neurônio,
existem os terminais axonais que, ao fazer contato com outros neurônios
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promove a liberação de neurotransmissores no terminal pré-sináptico e
que, uma vez liberados na fenda sináptica, será captado pelo dendrito, o
axônio, corpo celular ou células glandulares nos terminais pós-sinápticos.
A área de contato entre as membranas dendríticas ou axônais
foi denominada de sinapse; ele é, na verdade, um espaço vazio que
deixa os neurônios independentes. Existe sinapse entre neurônios /
neurônios e entre neurônios / tecidos. As sinapses podem ser elétricas
ou químicas (ver neurônios)

Figura 02 – Tipos de Células da Glia

Existem vários tipos de células da Glía (Fig 02), cada uma com
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sua função e com particularidades. Veja abaixo:

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Passos da Evolução das Células Nervosas

Estudar embriologia das células e dos tecidos é um tema al-


tamente complexo. Durante o desenvolvimento das células nervosas,
acontecem fenômenos do tipo: progressivos (os mais frequentes) e re-
gressivos (ligado a morte neuronal programada), que são importantes
para o processo de neuromaturação no SNC. As maiores alterações
morfogenéticas do SNC nos humanos, ocorrem entre o terceiro e o
quarto mês de gestação, devido a constante proliferação e deslocamen-
tos celulares nas estruturas embrionárias. Assim sendo, é no primei-
ro trimestre de gravidez que ocorre a organização genética do SN, de
modo que, a presença de insultos orgânicos nessa fase, podem gerar
como consequência graves a má formações no feto (Riesco, 2015).
Um importante aspecto relacionado ao desenvolvimento em-
brionário durante o desenvolvimento do SNC é a chamada clivagem;

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processo pelo qual o número de células vai aumentar e promover a
diminuição do tamanho de cada célula; pois o aumento celular se dife-
rencia e permite que haja uma especialização de cada célula.
Em todo o SNC ocorrem segundo Riesco (2015) “sete etapas”
para o desenvolvimento embrionário, que são:
(i) neurulação
(ii) proliferação celular controlada
(iii) migração das células percussoras (a seus alvos determina-
dos geneticamente)
(iv) diferenciação celular para a forma e as propriedades ma-
duras
(v) sinaptogênese (formação dos circuitos neurais)
(vi) apoptose (eliminação de células e circuitos redundantes)
(vii) mielinização.
A proliferação celular é considerada um dos fenômenos mais
extraordinários, pois nesse processo, as células vão adquirindo suas
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especializações e compondo funções que visam a homeostase do cor-
po. No ser humano todos os neurônios podem ser classificados em três
grandes grupos:
a) neurônio aferente (neurônio sensitivo), ele recebe as infor-
mações;
b) neurônio eferente (neurônio motor), responsável por enviar
informações ao meio externo;
c) neurônio de associação , fica dentro do SNC.
Riesco (2015) ressalta que, de forma bem simplificada, as in-
formações sensitivas entram pelos gânglios sensitivos, e são decodifi-
cadas (por exemplo, dor, sabor, calor) na parte posterior do SNC. Essas
informações são processadas pelos neurônios de associação e saem
do SNC pela parte anterior (área motora). Durante a filogênese houve
uma maior tendência por centralizar neurônios aferentes, para prote-
ção, e permanecer com os neurônios eferentes e de associação no in-
terior do SNC (Riesco,2015).

NEURÔNIOS

Os neurônios (Fig. 02) foram, durante muito tempo, como fa-


lamos anteriormente, o ponto mais importante e estruturante do SNC.
Estimava-se que existiam cerca de 100 bilhões de neurônios no cére-
bro, com diferentes funções e formas. Eles eram dotados, como aponta
Riesgo (2015) de “uma capacidade especial e específica, quase que
exclusiva dos neurônios: a capacidade de ‘aprender’” (Colocar entre
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parênteses, após esta citação, a devida referência bibliográfica, com o


número de página). Estimativas mais atuais apontam que, na realidade,
o número neurônios pode ser ligeiramente menor do que 100 bilhões,
novas estimativas giram em torno de 80 bilhões de neurônios.
De acordo com Ohlweiler (2015) “o neurônio, em si, tem pouca
capacidade de divisão”, possuindo características semelhantes a outras
células do corpo humano, exceto pela presença de prolongamentos de-
nominadas de dendritos e axônios (Fig. 03).

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Figura 03 – Neurônio

Fonte: MARTINS (s/d)

De acordo com Ohlweiler (2015), a maioria dos neurônios pos-


sui três regiões responsáveis por funções bem caracterizadas que são:
- corpo celular (soma) responsável pela manutenção do neurônio.
- dendritos (do grego dendron árvore) que possui os terminais
de recepção.
- axônio (do grego axon eixo) que possui os terminais de trans-
missão.
O axônio é encontrado apenas nos neurônios, eles são alta-

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mente especializados para fazer a transferência de informação entre
pontos distantes do SN. O comprimento de um axônio é bem variável e
depende do tipo de neurônio, alguns podem ter milímetros até metros
de distância. Na parte final do axônio existem os terminais axonais ou
botão terminal, neste local é que ocorre o contato com outros neurônios
para fazer a sinapse (Ohlweiler, 2015).

O axônio é encontrado apenas nos neurônios, eles são al-


tamente especializados para fazer a transferência de informação
entre pontos distantes do SN. O comprimento de um axônio é bem
variável e depende do tipo de neurônio, pode ter milímetros até
metros de distância.

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No prolongamento do axônio, alguns possuem um envoltório li-
pídico, tipos de gordura, de proteínas, que funcionam como um isolante
elétrico – chamado de bainha de mielina –, e que promovem uma maior
rapidez na passagem de informação até os terminais axonais. Essas in-
formações são realizadas como que de forma “saltatória” nos axônios e
passam entre os Nódulos de Ranvier, chegando até os terminais axonais.
De forma, em uma fibra do axônio com bainha de mielina, a velocidade de
transmissão é muito superior as fibras sem mielinização (Ohlweiler, 2015).
Os dendritos geralmente são mais curtos. Eles são especiali-
zados em receber estímulos, traduzidos em potencial de ação para o
corpo do neurônio (Ohlweiler, 2015).

POTENCIAL DE AÇÃO NEURONAL


Segundo Krueger-Beck et al. (2017) as fibras nervosas são
classificadas segundo seu diâmetro e velocidade. Ou seja, quanto
maior o diâmetro da fibra nervosa, maior é a velocidade de condu-
ção das informações. Essa condução se dá por meio da ativação
do potencial de ação celular. O potencial de ação pode propagar em
dois sentidos: para fora do SNC em direção ao SNC (aferente) e vice-
-versa (eferente) via membrana celular. As membranas celulares são
semipermeáveis, o que possibilita a passagem de algumas substân-
cias como o sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca). Cada uma dessas
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substâncias apresenta uma diferença de potencial graças a concen-


tração entre os meios positivos e negativos na membrana celular.
Fonte: KRUEGER-BECK, Eddy et al. Potencial de ação: do
estímulo à adaptação neural. Fisioterapia em Movimento, v. 24, n.
3, 2017

Um destaque importante que Riego (2015) apresenta, diz res-


peito a questão da noção de individualidade neuronal. Partindo da ob-
servação das novas pesquisas envolvendo os neurônios e com suas
capacidades. A ciência aponta que:

cada neurônio tem potencial para fazer em torno de 60 mil sinapses. Por seu
turno, cada sinapse pode receber até́ 100 mil impulsos por segundo, o que
dá́ uma ideia da complexidade da estrutura e do funcionamento das redes
neurais. A partir dessas informações, fica fácil entender por que não há a
menor possibilidade de haver dois cérebros absolutamente iguais, nem do
ponto de vista neuroanatômico, nem do ponto de vista neurofuncional. (Co-

22
locar entre parênteses, após esta citação, a devida referência bibliográfica,
com o número de página).

Ainda segundo Riesgo (2015), vale ressaltar que no SNC tam-


bém está incluído o cerebelo (cérebro pequeno), que em tese, deveria
ter as mesmas capacidades de recepção e envio de mensagem que o
cérebro. Todavia, isso não ocorre, pois algumas diferenças importantes
são percebidas. Leia a descrição abaixo:

- a citoarquitetura da célula cerebelar é bem mais simplifi-


cada que a cerebral;
- a capacidade do cerebelo de fazer conexões é ligeiramen-
te diferente no SN.
- a sinaptogênese é muito mais intensa que a do cérebro
[geração de novas conexões com simultâneo crescimento dos
dendritos e das terminações axonais, em conjunto com maior mie-
linização na substância branca subcortical (Black et al., 1999)]
- neurônios cerebelares podem fazer até 150 mil sinapses
cada um, portanto mais que o dobro que o neurônio córtex cerebral.
- cerebelo é portanto muito mais neuroplástico que o cérebro.
Fonte: Riego, 2015

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Riesco (2015) aponta que a comunicação entre neurônios é
basicamente feita utilizando uma forma de linguagem elétrica, devido a
ativação do potencial de ação dentro da membrana da célula. Na rea-
lidade, existem dois tipos de formas de neurotransmissão de informa-
ções no SNC: a elétrica e a química. Ambas atuam ao mesmo tempo,
praticamente, mas apresentam sutilezas em relação a sua constituição:
- elétrica: está ligada mais no processo de desenvolvimento
neuropsicomotor – DNPM.
- química: mais ligada ao aprendizado em si.
De acordo com Krueger-Beck et al (2017), as primeiras desco-
bertas sobre o Potencial de Ação – PA –, efetivamente se deram pela
pesquisa de Luigi Galvani, que demonstrou a propagação do PA por ati-
vação elétrica observadas em patas traseiras de rãs abatidas. Estudos
revelaram que o PA se move no sentido do corpo (soma) do neurônio
para a extremidade do axônio (terminal-pré-sinaptico), presente na ati-
vação eferente de fibras motoras e das glândulas.
23
Porém, ao analisarmos mais profundamente o PA, entende que
ele pode acontecer em dois sentidos: para fora do SNC em direção a ele
(aferente) e vice versa (eferente). Existem vários estímulos que podem
produzir PA, captados por células de vários tipos, que irão levar a infor-
mação, por exemplo, auditiva, tátil, gustativa e visual ao SNC.
Para Riesgo (2015) a neurotransmissão elétrica é muito impor-
tante para os primeiros processo de neuromaturação; pois é em virtude
dela que:

grandes populações neuronais entram em atividade concomitante, o que forne-


ce o suporte neurobiológico para cada um dos degraus do DNPM, que são pré-
-programados e inexoráveis, como se fossem timers prontos para ligar e desligar
certas redes neurais, a menos que surja um insulto ao SNC da criança. A neuro-
transmissão elétrica também pode explicar a enorme semelhança na sequência
temporal dos marcos maturacionais, quando o desenvolvimento de criança de
diferentes origens e etnias é comparado. (Colocar entre parênteses, após esta
citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Já na neurotransmissão química, dentro da visão ontogenética


é unidirecional, sendo bem mais lenta que a elétrica. Ela, como disse-
mos anteriormente, está mais relacionada com o aprendizado e abarca
vários eventos, além de diversos neurotransmissores (Riesgo, 2015).
Cada neurônio comporta como se fosse uma bateria elétri-
ca envolta em uma membrana celular. Essa membrana delimita cada
neurônio e tem a importante função de manter o funcionamento ade-
quado do neurônio. Portanto, é considerado um grande desafio separar
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

a neuroanatomia dos eventos químicos e fisiológicos envolvidos no pro-


cesso de sinapses que irão resultar na aprendizagem. Entender o con-
ceito de transmissão sináptica é fundamental para entender as bases
neurais da memória e do aprendizado. Esses fenômenos, se dão por
modificações nas sinapses químicas do encéfalo, no caso pela libera-
ção de neurotransmissores (Ohlweiler, 2015; Riesgo, 2015).

NEUROTRANSMISSORES

De acordo com Martins (2014), as informações processadas


ao longo dos neurônios ocorrem da seguinte forma, os dendritos e o
corpo celular recebem e assimilam informações sensitivas que são
transmitidas ao longo dos axônios até as terminações axonais e libera-
dos na fenda sináptica. Para enviar uma mensagem entre neurônios, o
neurônio pré-ganglionar libera neurotransmissores na fenda sináptica.
Os neurotransmissores se formam a partir de substâncias me-
24
tabolizadas como, glicose, aminoácidos essenciais, ácidos graxos dentre
outros. Elas, após serem criadas, ficam armazenadas nas vesículas neu-
ronais nos terminais axonais e uma vez que ocorre a liberação na fenda
sináptica, causam uma reação na membrana do neurônio seguinte. Após
essa liberação, parte dos neurotransmissores podem ser receptados pelo
próprio neurônio que o liberou; ser captado pelo neurônio pós-sináptico,
ou metabolizado na fenda sináptica. Os neurônios carecem de sempre ter
a disposição os neurotransmissores para que a comunicação neuronal
possa se processar. Alterações no metabolismo dos neurotransmissores
são a causa de vários transtornos neurológicos, psicológicos, psiquiátri-
cos, entre outros (De Andrade, 2003; Ohlweiler, 2015).
Cientistas já catalogaram mais de 50 tipos de neurotransmis-
sores; fisiologias, psicólogos e neurocientistas trabalham arduamente
no entendimento e no esclarecimento de suas relações com drogas,
com o humor, com habilidades e com a percepção; todas competências
diretamente ligadas ao aprendizado (Sternberg, 2008).
O processo de neurotransmissão, de acordo com Sternberg
(2008) ocorre por três tipos de substâncias:
a) monoaminas: são substâncias bioquímicas derivadas de
aminoácidos e sintetizado pelo SN por ações enzimáticas;
b) aminoácidos: substâncias orgânicas obtidas diretamente da
alimentação sem nenhuma síntese.
c) neuropeptídeos: peptídeos usados na comunicação inter-
celular, eles podem funcionar tanto como neurotransmissores quanto
como hormônios.
Sternberg (2008) apresenta alguns neurotransmissores, bem

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


como suas funções, no SN e seu impacto no funcionamento cognitivo,
veja quadro abaixo:

Quadro 01- Neurotransmissores

25
Fonte: Sternberg, 2008

Segundo Ohlweiler (2015), “o glutamato, o GABA, a dopamina, a


noradrenalina, a serotonina e a acetilcolina são os principais NT envolvi-
dos com a aprendizagem e a memória”. (Colocar entre parênteses, após
esta citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).
Segundo Bear (2017) os neurônios cerebrais quase nunca se re-
generam, desta forma, cada neurônio que perde sua funcionalidade é um
recurso a menos que temos para processar informações. Uma fascinante
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

ironia da vida diz respeito à morte de neurônios; o glutamato é o mais abun-


dante do SN e também o principal neurotransmissor no SNC. Todavia, ele
é um potente indutor de morte neuronal. Um grande número de sinapses
liberam o glutamato que é estocado em grande quantidade na célula.
Assim sendo, um excesso de glutamato liberado no lado externo
de neurônios, causa sua morte em poucos minutos. Mae West como ci-
tado por Bear (2017), certa vez disse que “muito de uma coisa boa pode
ser maravilhoso”, mas ela provavelmente não tinha ciência do impacto do
glutamato nos neurônios. Estados patológicos, como a parada cardior-
respiratória, acidentes vasculares cerebral, trauma cerebral, convulsões
e deficiência de oxigênio, podem iniciar um ciclo vicioso de liberação ex-
cessiva de glutamato e gerar graves comprometimentos no SNC.
Bear (2017) apresenta um extraordinário ensaio sobre o im-
pacto do glutamato e suas concentrações, de acordo com ele:

O glutamato promove morte neuronal por superexcitação, um processo cha-


mado de excito toxicidade. O glutamato simplesmente ativa seus diferentes

26
tipos de receptores, permitindo, assim, o fluxo de grandes quantidades de
Na+, K+ e Ca2+ através da membrana. [...]. O dano ou a morte neuronal
ocorrem devido ao inchaço resultante da absorção de água e pela estimu-
lação pelo Ca²+ de enzimas intracelulares que degradam proteínas, lipíde-
os e ácidos nucleicos. Os neurônios literalmente se auto digerem. A excito
toxicidade tem sido relacionada com várias doenças humanas neurodege-
nerativas progressivas, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA, também
conhecida como doença de Lou Gehrig), em que os neurônios motores es-
pinhais morrem lentamente, e a doença de Alzheimer, em que os neurônios
do encéfalo morrem lentamente. Os efeitos de várias toxinas ambientais mi-
metizam alguns aspectos dessas doenças [...]. A ervilha contém uma excito
toxina, chamada de β-oxalilaminoalanina, que ativa os receptores de glu-
tamato. Uma toxina chamada de ácido domoico, encontrada em moluscos
contaminados, também é agonista do receptor de glutamato. A ingestão de
pequenas quantidades de ácido domoico causa convulsões e dano cerebral.
E uma outra excito toxina vegetal, a β-metilaminoalanina, pode causar uma
condição terrível, a qual combina sinais de ELA, doença de Alzheimer e do-
ença de Parkinson. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida
referência bibliográfica, com o número de página).

O CUSTO DO NÃO CONHECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO

Pesquisas envolvendo o SNC, dentro das neurociências, por


certo, tem um alto custo monetário, são necessários aparatos tecnoló-
gicos de ponta, procedimentos experimentais usando inteligência artifi-
cial, microscópios cada vez mais potentes, o que exige grandes inves-
timentos. Entretanto, cabe ressaltar que o custo da ignorância sobre o

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


SNC pode ser muito mais caro que o investimento em pesquisa.
A degeneração progressiva de neurônios de alguns neurônios
do SNC leva a quadros graves de Demências de Alzheimer e doença
de Parkinson. Como o homem tem aumentado a expectativa de vida,
aumentam também as chances de que tais moléstias atinjam cada vez
mais pessoas. O Mal de Parkinson, por exemplo, leva a uma incapaci-
dade de controlar os movimentos voluntários, de certa forma suas le-
sões acontecem da parte mais central do cérebro – regiões do tronco
cerebral – e vai evoluindo para as periferias corticais.
Já nos últimos estágios do Parkinson existe também perda de
memória. Na Demência de Alzheimer acontece efeito contrário, existe
uma perda acentuada da capacidade de aprender novas informações
e recordar acontecimentos recentes. Esse tipo de demência já atinge o
córtex cerebral (área onde ficam os corpos dos neurônios) e vai causan-
do morte de neurônio, acúmulo de proteína beta amilase, aumento de
emaranhados neurofibrilares, bem como a proteína fosfo tau, causando
27
diminuição da massa encefálica (Bear, 2017).
Bear (2017) deixa um importante recado para a sociedade de um
modo geral intrigante mais ao mesmo tempo provocativo, afirmando que:

Os custos econômicos das disfunções encefálicas são enormes, mas perdem


importância se comparados com o custo emocional que atinge as vítimas e suas
famílias. A prevenção e o tratamento das doenças mentais requerem a compre-
ensão da função normal do encéfalo, e esse conhecimento básico é o escopo
das neurociências. A pesquisa em neurociências já́ contribuiu para o desenvolvi-
mento de tratamentos efetivamente melhores para a doença de Parkinson, para
a depressão e para a esquizofrenia. Novas estratégias estão sendo testadas
para se recuperar neurônios que estão morrendo em pacientes com a doença
de Alzheimer e naqueles que sofreram AVE. Grande progresso tem sido alcan-
çado na compreensão de como as drogas e o álcool afetam o encéfalo e como
levam à dependência. O material deste livro demonstra que se sabe muito sobre
a função do encéfalo. No entanto, o que sabemos é insignificante se comparado
aquilo que ainda temos de aprender. (Colocar entre parênteses, após esta cita-
ção, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Os custos econômicos das disfunções encefálicas são enor-


mes, mas perdem importância se comparados com o custo emocio-
nal que atinge as vítimas e suas famílias. A prevenção e o tratamento
das doenças mentais requerem a compreensão da função normal do
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encéfalo, e esse conhecimento básico é o escopo das neurociências.

28
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 01
Ano: 2016 Banca UFF Órgão UFFS Função Professor de biologia
geral, biologia celular, histologia
Sobre o processo da clivagem durante o desenvolvimento embrio-
nário humano, é correto afirmar:
(A) Ocorre perda de aderência entre os blastômetros.
(B) O número de células aumenta e o tamanho de cada uma diminui. Os
blastômeros secretam proteína para formação da blastocele.
(C) As divisões celulares são sincrônicas e sempre são observados nú-
meros pares de blastômeros
(D) A clivagem acontece logo no início da fecundação e dura 48 horas.

QUESTÃO 02
Ano: 2005 Banca NCE Órgão NCE Prova Médico Neurologia pediátrica
É razoável pensar que ao nascer as estruturas neurológicas espe-
cializadas no processamento linguístico se encontram:
(A) no hemisfério que oportunamente será o não dominante;
(B) no hemisfério esquerdo;
(C) no hemisfério esquerdo se o direito está comprometido;
(D) nos núcleos da substância cinzenta da base do cérebro;
(E) em estruturas relacionadas com a topografia óptica.

QUESTÃO 03

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Ano: 2005 Banca NCE Órgão NCE Prova Médico Neurologia pediátrica
Com relação as comorbidades associadas ao transtorno do déficit
de atenção e hiperatividade, NÃO é correto afirmar:
(A) atitude oposicional desafiante;
(B) crise convulsiva;
(C) alterações da aprendizagem;
(D) distúrbios da linguagem;
(E) comportamento anti-social.

QUESTÃO 04
Ano: 2005 Banca NCE Órgão NCE Prova Médico Neurologia pe-
diátrica
Os anestésicos, largamente usados pela Medicina, tornam regiões
ou todo o organismo insensível à dor porque atuam:
(A) nos axônios, aumentando a polarização das células.
(B) nas sinapses, impedindo a transmissão do impulso nervoso.
(C) nos dendritos, invertendo o sentido do impulso nervoso.
29
(D) no corpo celular dos neurônios, bloqueando o metabolismo.
(E) na membrana das células, aumentando a bomba de sódio.

QUESTÃO 05
2016 Banca UFF Órgão UFFS Função Professor de biologia geral,
biologia celular, histologia
Qual dos seguintes comportamentos envolve maior número de ór-
gãos do sistema nervoso?
(A) Salivar ao sentir o aroma de comida gostosa.
(B) Levantar a perna quando o médico toca com martelo no joelho do
paciente.
(C) Piscar com a aproximação brusca de um objeto.
(D) Retirar bruscamente a mão ao tocar um objeto muito quente.
(E) Preencher uma ficha de identificação e um curriculum.

QUESTÃO DISSSERTATIVA- DISSERTANDO A UNIDADE


Ao pensar na relação entre memória e aprendizagem e o entendimento
do sistema nervoso central e os altos custos em realizar pesquisas em
neurociências, é viável investir tanto em uma ciência nova e que lida
com o cérebro humano, o órgão mais complexo que existe?

TREINO INÉDITO
Qual o nome da parte do cérebro que liga o hemisfério esquerdo
ao direito?
(A) hipotálamo
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(B) sulco central


(C) temporal
(D) corpo caloso
(E) medula espinhal

NA MÍDIA
TECNOLOGIA. NEUROCIÊNCIAS E O FUTURO DA HUMANIDADE
Nunca antes na história do homem houve tantos avanços na ciências,
principalmente em se tratando das neurociências, inteligência artificial e
computação cognitiva. Áreas que vão em um curto espaço de tempo rea-
lizando proezas que sequer podemos nos perceber que estamos lidando
com um inteligência artificial, e que estamos abrindo todo nossas gostas,
predileções e desejos a tecnologias que podem ser usadas contra nós.
Longe de queremos pintar um cenário apocalíptico futurista, estamos
apenas chamando a atenção para que acompanhemos de perto e seja-
mos protagonistas quanto ao desenvolvimento pessoal, social e mundial.
Fonte: Gazeta do povo
30
Data: 26/03/2019
Ler na integra: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-mi-
dia/tecnologia-neurociencia-e-o-futuro-da-humanidade/

PARA SABER MAIS


ACESSE LINK: https://ufmg.br/comunicacao/eventos/semana-do-cere-
bro

NA PRÁTICA
TEMPO DE CÉREBRO
Em meados de 1990 os EUA levantaram os patamares para o estudo do
cérebro, com o investimento alcançando cifras inéditas; tudo para com-
preender melhor como o cérebro é capaz de estruturar a mente humana
e entender o funcionamento das funções cognitivas superiores.
Com isso as pesquisas evidenciaram que é importante a ampliação do
campo de investigação sobre o cérebro, pois questões externas a ele,
podem ter grande impacto sobre seu funcionamento. Os dados mostra-
ram que o cérebro para funcionar adequadamente consome glicose, ele
é o que mais consome glicose no corpo. Mas infelizmente vemos ainda
várias crianças indo as escolas sem receberem os nutrientes –glicose,
minerais e outros- necessários que o processo aprendizagem ocorra. A
criança pode ter uma boa aptidão ou interesse para o estudo, mas não
terá subsídio para que o cérebro realize suas atividades com maestria.
Um outro fator externo que traz impacto sobre o cérebro e a aprendiza-
gem, dia respeito aos mecanismos de incentivo e recompensa oferecido
as crianças. Sabe-se que receber elogios, aumentam as chances de um

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comportamento ser realizado mais vezes; e que receber punição irá ge-
rar fuga ou esquivo. Portanto é importante que essas questões externas
possam ser melhor trabalhadas para que as funções cognitivas possam
funcionar da melhor forma propiciando assim o aprendizado eficiente.
Fonte: RIBEIRO, S. Tempo de cérebro. Estudos avançados 27 (77), 2013

31
GENÉTICA DA APRENDIZAGEM
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A GENÉTICA E APRENDIZAGEM ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Bau e Da Silva (2015) trazem à tona questões muito intrigantes


quando se observa mais atentamente as crianças no ambiente escolar.
Imaginar que existem várias crianças que diuturnamente saem de suas
casas em direção a este ambiente, e pensar o quanto os profissionais
envolvidos no ensino-aprendizagem estão, ou não, atentos à questões
que vão além da breve história de vida das crianças em sua sala de
aula, nos faz refletir sobre o papel das questões genéticas e sua influ-
ência no processo de aprendizagem das crianças.
Tornar-se um agente de disseminação de informação, ou seja,
ser um cientista que anda de mãos dadas com os pesquisadores do
sistema nervoso central – SNC – e buscar entender os processos neu-
3232
ronais é ponto fulcral na atualidade, e em conjunto, tentar responder a
vários questionamentos, dentre os quais com destaque para o que Bau
e Da Silva (2015) ressaltam:

Por que algumas crianças aprendem a ler e a escrever com mais facilidade
do que outras? E por que algumas apresentam dificuldades no aprendizado,
em diferentes áreas, mesmo que tenham, por vezes, uma inteligência acima
da média? (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida referência
bibliográfica, com o número de página).

Não é pretensão, neste trabalho, responder completamente a


tais questionamentos ou apresentar uma ambrosia (Aqui é esta palavra
mesmo a ser empregada?) que possa desvelar todos os mistérios da
aprendizagem em crianças. O convite, portanto, é para pensar e des-
pertar a consciência para alguns aspectos de extrema relevância sobre
desenvolvimento genético, que podem, inicialmente, passar desperce-
bido na tentativa de identificar e analisar problemas de aprendizagem.
As perguntas anteriores nos levam a pensar a respeito da
complexidade envolvida no processo de aprendizagem e dos aspectos
determinantes de suas variações. Talvez, no ser humano, a mais extra-
ordinárias das habilidades cognitivas seja a de ser capaz de comunicar
por meio da leitura e a escrita (muitas vezes uma habilidade banaliza-
da). Elas se tornaram, há milhares de anos, um dos nossos maiores
desafios para o entendimento. Durante o processo evolutivo do homem,
essas demandas não existiam e, com surgimento da habilidade de ler e
escrever, essas competências ficaram, por muito tempo, restritas a um

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grupo de pessoas (Bau & Da Silva, 2015).
Um dos fatores determinantes para que a evolução se desen-
volvesse foi o refinamento de comportamentos que possibilitaram a so-
brevivência do homem, e como consequência, o novo comportamento
mais adaptativo era passado de geração para geração. Entretanto, ler
e escrever não eram, e não são fatores que impactam diretamente a
sobrevivência e a reprodução humana.
O homem pode sobreviver e reproduzir sem dominar nenhu-
ma dessas habilidades. Então, antes mesmo de saber ler e escrever, é
possível intuir que o homem já possui os substratos neuronais necessá-
rios para desenvolver tais habilidades. Eles são, dessa forma, traços de
uma variabilidade genética em potencial e exclusiva do cérebro humano
(Bau & Da Silva, 2015).
De acordo com Bau e Da Silva (2015) no processo civilizató-
rio, a tolerância com indivíduos que demonstrassem comportamentos
muito destoantes da média da população, sempre foi de uma minoria,
tanto para os que possuem altas habilidades quanto baixas habilidades
33
cognitivas. Esse característica é bem expressa por meio da curva de in-
teligência de Bell (ver fig 04), por ela é possível observar que dentro da
distribuição da população em relação a inteligência, existe um número
reduzido da população com poor performence – baixa performance –
quando comparado com a população com média performance.
Nessa pequena parte desviante, a ciência já buscava uma ex-
plicação pertinente para responder às razões causais dessa discrepân-
cia, e seu significado, ou resposta cabal, era modificado constantemen-
te sendo considerado válido um conceito, uma justificativa ou resposta
dependendo da época histórica do homem. Na idade média, por exem-
plo, o entendimento das características ligadas às inabilidades para
aprendizado tinham caráter demoníaco, e tido como verdade. O curioso
é que, nos dias atuais, séc XXI, ainda é percebido traços desse tipo de
crença, atribuir desvios da norma à presença de entidades demoníacas
ou entidades divinas. Já no séc. XX, emergiu um movimento denomina-
do de eugenia e tomou força no mundo todo.

Figura 04- Curva de inteligência de Bell Distribuição normal de QI


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Fonte: Jensen, 1969

Segundo Bau e Da Silva (2015) na eugenia, o foco das obser-


vações tiveram um outro escopo, o objetivo era estudar a população
com High performance (fig. 04) – alta performance – nesse caso, a ten-
tativa era investigar as pessoas que estavam do lado direito da curva
de Bell; aqueles com habilidades e competências mais elaboradas que
a média da população. Todavia, esse movimento, como bem apontam
Bau e Da Silva (2015), possuíam nuances bem peculiares; para os au-
34
tores as proposições iniciais eram:

[...] repleta de preconceitos, e os seus participantes, munidos de um conhe-


cimento pseudocientífico, propunham até́ a esterilização de pessoas com
certos transtornos para que não os transmitissem para as gerações futu-
ras. Para eles, algumas características que, na realidade, são extremamen-
te complexas podiam ser reduzidas a uma herança simples. Embora essas
ideias possam parecer estranhas às práticas atuais que visam à inclusão, as
ideias eugênicas tinham o respaldo de considerável literatura daquela época.
(Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida referência bibliográfi-
ca, com o número de página).

Somente a partir da segunda metade do séc. XX é que houve


uma grande virada nas ciências humanas e saúde sobre os estudos
iniciais da Eugenia (Bau & Da Silva, 2015).

O Movimento Eugênico

De acordo com Guerra (2006), quando Charles Darwin escre-


veu the origen of species – origem das espécies – ele propôs que o pro-
cesso de seleção natural se dava por questões ligadas à necessidade
de sobrevivência, era uma condição universal a todas as espécies. Ou
seja, tinham garantido os privilégios da sobrevivência e reprodução, as
espécies que apresentassem as melhores aptidões para se adaptar às
intempéries da vida.
Estas concepções trouxeram grande preocupação para os

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mais abastados na sociedade do início do séc. XX, na Inglaterra. Pois,
segundo essas ideias, apenas os homens mais adaptados teriam chan-
ce de sobreviver. Nessa época, no entanto, houve uma grande dimi-
nuição do número de nascimentos em famílias de classes mais altas
e médias, e inversamente, um aumento de nascimento de pessoas de
classe baixa, o que preocupou a muitos na Europa.
Dessa forma, pareceu lógica a ideia de um eminente pesqui-
sador chamado Francis Galton , que preconizava a necessidade em
realizar uma melhoria da raça humana por meio da ciências da “eu-
genia” – o bem nascido –, ou seja, seria permitido ou estimulado que
apenas boas uniões de casais se estabelecessem e assim, realizar uma
“higienização social”. Para muitos daquela época, parecia ideal, realizar
proibição de uniões indesejadas (casamentos com pessoas de baixa
intelectualidade) e a promoção de união entre parceiros bem nascidos.
Surge então a chamada “eugenia positiva” na Europa (Guerra, 2006).
Nos EUA, no entanto, foi realizado um movimento inverso, a
35
eugenia “negativa”, pretendia-se, com isso, eliminar o nascimento dos
filhos de pessoas “geneticamente incapazes”, como, por exemplo,
aquelas com enfermidades recorrentes, os socialmente indesejáveis
e economicamente menos abastados. Dentre as estratégias adotadas
estava a proibição de casamentos, esterilização compulsória, eutaná-
sia passiva, em outras palavras, extermínio. Isso tudo ocorrendo sob a
luz de argumentos científicos, portanto, considerado o comportamento
mais adaptativo para promover a melhoria da espécie e garantir a dimi-
nuição de doentes e de doenças (Guerra, 2006).
O grande aumento no número de imigrantes indo para os EUA,
fez com que grupos dominantes buscassem meios e justificativas com
argumentos científicos para promover a exclusão social. Esses grupos
encontraram um terreno bem fértil na pseudociência da eugenia (Guer-
ra. 2006; Bau & Da Silva, 2015).
Os eugenistas utilizavam os conhecimentos científicos para
atestar que a hereditariedade possuía um papel-chave para promover
patologias sociais e doenças. Isso tornou os imigrantes um alvo fácil para
os defensores dessa nova pseudociência. De acordo com Guerra (2006):

O racismo dos primeiros eugenistas norte-americanos não era contra não-


-brancos, mas contra não-nórdicos, e as doutrinas de pureza e supremacia
raciais eram elaboradas por figuras públicas cultas e respeitadas. Quando as
teorias de Mendel - com suas ideias gerou o movimento mendeliano (nos-
so)-, chegaram aos EUA, esses pensadores influentes acrescentaram um
verniz científico ao ódio racial e social.
O líder do movimento eugenista dos EUA foi Charles Davenport, que dirigia
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

o laboratório de biologia do Brooklin Institute of Arts and Science, em Long


Island, instalado em Cold Spring Harbor. Em 1903, obteve da Carnegie Ins-
titution o estabelecimento de uma Estação Biológica Experimental no local,
onde a eugenia seria abordada como ciência genuína. Em seguida, juntou-se
aos criadores de animais e especialistas em sementes da American Breeders
Association, muitos deles convencidos de que o conhecimento mendeliano so-
bre gado e plantas era aplicável a seres humanos. (Colocar entre parênteses,
após esta citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Com o passar do tempo, a eugenia ganhava cada vez mais


status de ciência revolucionária, prestigiada e considerada um conceito
médico legítimo. Ela atingiu de tal forma a sociedade que foi promovido
congressos sobre o tema, como o Congresso Internacional de Eugenia,
realizado em 1912. O Estado de Indiana nos EUA, foi o primeiro estado
do mundo a introduzir a lei de esterilização coercitiva; lei que foi seguida
por vários outros estados e países do mundo. Nessa época já se discutia
o uso de câmaras de gás para eliminar os “indesejados” (Guerra, 2006).
Conforme Gerra (2006) aponta:
36
Na Alemanha, a eugenia norte-americana inspirou nacionalistas defenso-
res da supremacia racial, entre os quais Hitler, que nunca se afastou das
doutrinas eugenistas de identificação, segregação, esterilização, eutanásia
e extermínio em massa dos indesejáveis, e legitimou seu ódio fanático pelos
judeus envolvendo-o numa fachada médica e pseudocientífica.
Não houve apenas extermínio em massa de judeus e outros grupos étnicos.
Em julho de 1933, foi decretada lei de esterilização compulsória de diversas
categorias de "defeituosos" e, com o início da Segunda Guerra Mundial, os
alemães considerados mentalmente deficientes passaram a ser mortos em
câmaras de gás. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida refe-
rência bibliográfica, com o número de página).

Vários médicos nazistas realizavam experimentos em prisio-


neiros com objetivo de estudar aspectos genéticos. Josef Mengele , um
renomado médico alemão, dedicou-se intensamente ao estudo dos gê-
meos monozigóticos para investigar as contribuições genéticas para o
desenvolvimento de características normais ou patológicas. Seu fascí-
nio sobre a purificação das raças foi impressionante.
Todavia ele também realizava experimentos para “salvar” Ju-
deus, ou outros com boa carga genética, por exemplo, ele injetava co-
rantes azuis ou verdes nos olhos dos prisioneiros para estudar a viabili-
dade para mudança na cor dos olhos, tais cores eram para mimetizar a
expressão gênica dos povos arianos, que têm os olhos predominante-
mente azuis ou verdes. Seu objetivo era fazer com que a cor dos olhos
pudesse ser modificada; para resguardar uma evidência empírica de
ser um homem ou mulher ariano.
Os Judeus por exemplo, possuem cor dos olhos castanhos a

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


preto, na perspectiva de Mengele, judeus com altas habilidades cogni-
tivas, artísticas dentre outros, que tivessem a cor dos olhos modificada,
poderiam sobreviver e continuar repassando suas boas habilidades cog-
nitivas, artísticas e etc. para a purificação da raça ariana (Guerra, 2006).

Assistir o documentário Blue Eyed


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0M_
JtUjxtmY
Acesso: 03/19

Bau e Da Silva (2015) mostram que os avanços na bioestatís-


tica possibilitaram o desenvolvimento de uma genética com evidências
37
empíricas quantitativa, agora não mais como pseudociência, que é a
base para o entendimento da variabilidade nos traços mais comuns do
desenvolvimento humano. Durante muito tempo o estudo da genética
do comportamento humano foi visto com muito temor e cautela, por
motivos óbvios como os apresentados anteriormente; a utilização de
argumentos escusos, expressos por meio de discurso científico para
justificar ou desconectar racismo e preconceito.

Os avanços na bioestatística possibilitaram o desenvolvi-


mento da genética quantitativa, que é a base para o entendimento da
variabilidade nos traços mais comuns do comportamento humano.

Ainda de acordo com Bau e Da Silva (2015):

as tentativas de aplicações antiéticas e cientificamente infundadas da genética


por esses indivíduos (influenciando até mesmo o nazismo) geraram uma som-
bra com a qual a genética do comportamento teve de conviver durante muito
tempo. Devido a esse contexto, alguns consideram difícil separar a genética de
conceitos como determinismo, imutabilidade e até́ preconceito racial. No en-
tanto, se é verdade que ideias equivocadas sobre a genética podem sustentar
preconceitos, também é verdade que a ignorância total sobre a genética leva
à busca de explicações místicas e ideias equivocadas. Mais especificamente,
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

a ausência de informação sobre a base genética de transtornos da aprendiza-


gem tende a alimentar mitos, culpas e preconceitos, que podem gerar ainda
mais problemas para uma criança ou um adulto com dificuldades de leitura ou
em outra área. Por tudo isso, o estudo dos aspectos genéticos da aprendiza-
gem não é relevante apenas porque de fato existe um importante componen-
te genético na aprendizagem, mas também porque fornece informações que
auxiliam os profissionais da educação e da saúde no atendimento a pessoas
com esses transtornos. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida
referência bibliográfica, com o número de página).

A ausência de informação sobre a base genética de trans-


tornos da aprendizagem tende a alimentar mitos, culpas e precon-
ceitos, que podem gerar ainda mais problemas para uma criança
ou um adulto com dificuldades de leitura ou em outra área. Por
38
tudo isso, o estudo dos aspectos genéticos da aprendizagem não é
relevante apenas porque de fato existe um importante componen-
te genético na aprendizagem, mas também porque fornece infor-
mações que auxiliam os profissionais da educação e da saúde no
atendimento a pessoas com esses transtornos.

O entendimento de que existe um componente genético na


aprendizagem eclodiu muito antes dos estudos sobre material genético
propriamente dito. A descoberta do ácido desoxirribonucleico – DNA –
celular, foi um divisor de águas quando o assunto era desenvolvimento
e aprendizagem. Nas palavras de Bau e Da Silva (2015):

muitas informações puderam ser obtidas pelos métodos clássicos da pesquisa


em genética humana, voltados para os gêmeos, genealogias e adotados. As pri-
meiras pesquisas verificaram que os transtornos da aprendizagem apresentam
uma concentração familiar significativa. Por exemplo, irmãos e pais de crianças
com dislexia apresentam um desempenho em testes de leitura significativamen-
te inferior ao de irmãos e pais de crianças sem dislexia [...] essa recorrência po-
deria ser também devido a fatores ambientais. (Colocar entre parênteses, após
esta citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

De acordo com Ito e Guzzo (2002), os melhores modelos para


estudar genética são os gêmeos monozigóticos (GMZ), os chamados
gêmeos idênticos, ou seja, eles possuem 100% de material genético
comum. Com estudos nessa população é possível investigar aspectos
hereditários e ambientais que impactam sobre as diferenças individuais
de comportamento e de características da personalidade. O método de

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


investigação mais comuns com esses gêmeos são avaliar os que vivem
juntos ou separados pois, semelhanças em algumas características de
personalidade entre os monozigóticos criados separados pode ser dire-
tamente atribuídos aos genes.
Em segundo lugar vem os gêmeos dizigóticos (GDZ), pois
compartilham 50% de material genético. A prevalência hoje em ciência
implica que “se houver semelhança maior entre os pares monozigóticos
do que ente os dizigóticos”, essa variação é devida a questão genética.
Os pressupostos hipotéticos com maior destaque na ciência são que:
a variação em características comportamentais em GDZ pode estar li-
gada a ambos os efeitos, ambientais e genéticos; não existir diferenças
de efeitos ambientais entre GMZ e GDZ criados juntos e que diferenças
percebidos no comportamento são determinados pela hereditariedade
(Ito e Guzzo, 2002; Bau & Da Silva, 2015)

39
O DNA (ácido desoxirribonucléico) é o material genético
da célula. Ele carrega as informações que serão transmitidas na
reprodução celular e na formação de novos indivíduos. Regiões
específicas de DNA são transcritos para produção dos diferentes
tipos de RNA (ácido ribonucléico), os quais participam da síntese
das cadeias polipeptídicas. Brandão, Acedo (2000) defendem a uti-
lização de modelos didáticos no ensino de genética nas escolas
básicas como facilitadores da compreensão da genética. A impor-
tância da construção de modelos para o ensino, de acordo com
Giordan, Vecchi (1996), é para facilitar uma construção, uma estru-
tura que pode ser utilizada como referência, uma imagem analó-
gica que permite materializar uma ideia ou um conceito, tornados
assim, diretamente assimiláveis, pavimentando o entendimento
para um posterior aprofundamento sobre o tema nas escolas e nos
centros de pesquisa (DELLA JUSTINA & FERLA, 2013).

Estudos com gêmeos e sua grande capacidade comparativa do


ponto de vista genético abrem um importante espaço para os cálculos
de herdabilidade. Esta característica, que diz respeito à parcela total de
uma variação em uma caraterística (fenótipo) que acontece em razão
de questões genéticas, ou seja, ela “mede a proporção dos fatores que
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fazem a diferença de suscetibilidade a algumas características entre as


pessoas que é atribuível ao genes”. Esta característica, suscetibilidade,
entretanto, não deve ser vista como um valor absoluto, mas sim como
um importante indicador da importância das questões genéticas e do
ambiente para o desenvolvimento ou aparecimento de transtornos de
aprendizagem dos mais variados (Bau & Da Silva, 2015).

O cálculo de herdabilidade, diz respeito a parcela total de


uma variação em uma caraterística (fenótipo) que acontece em ra-
zão de questões genéticas, ou seja, “mede a proporção dos fatores
que fazem a diferença de suscetibilidade entre as pessoas que é
atribuível ao genes”.

40
Ao pensar sobre os transtornos de aprendizagem e as ques-
tões genéticas, Bau e Da Silva (2015), salientam que existe um grau
significativo de herdabilidade para os transtornos de aprendizagem,
mas que, ainda assim, é inegável que existem variações que podem ser
atribuídas ao ambiente compartilhado entre os gêmeos como eventos
da vida, fatores sócio econômicos ou o ambiente não compartilhado por
eles que vão possibilitar a expressão ou não, de alguns genes “defeitu-
osos” ou que comprometem o processo de assimilação de conhecimen-
tos compartilhados. Como eles mesmo apresentam:

os estudos com gêmeos indicam que as variações individuais na aprendiza-


gem tem etiologia multifatorial, ou seja, resultam da ação conjunta de fatores
genéticos e ambientais. Embora alguns estudos3 tenham sugerido um efeito
de gene principal, com transmissão dominante para o transtorno da leitura,
a maior parte dos dados sugere que cada um dos genes com influência no
fenótipo apresenta um efeito muito pequeno, dificilmente superior a 2% da
variância. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida referência
bibliográfica, com o número de página).

O DNA (ácido desoxirribonucléico) é o material genético


da célula. Ele carrega as informações que serão transmitidas na
reprodução celular e na formação de novos indivíduos. Regiões
específicas de DNA são transcritas para produção dos diferentes

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


tipos de RNA (ácido ribonucléico), os quais participam da síntese
das cadeias polipeptídicas.

Uma habilidade importante para a aprendizagem é a aptidão


para reconhecimento de palavras. Foi realizado um estudo muito inte-
ressante com adultos de meia idade e com seus filhos. O mais relevante
descoberto por meio dos dados foi a constatação de que o nível de es-
colaridade dos pais dos sujeitos de pesquisa, moderava a herdabilidade
de características promotoras da inteligência, quando os pais e mães
eram menos instruídos o desenvolvimento intelectual do filhos era infe-
rior quando comparado com crianças que os pais eram mais instruídos.
Os autores ressaltam ainda que estudos mostraram como a escolarida-
de dos pais tem efeitos de longo prazo sobre o desempenho dos filhos,
influenciando até́ mesmo na idade adulta (Bau & Da Silva, 2015).

41
FUNÇÕES EXECUTIVAS E ESTRUTURAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Para que tenhamos comportamentos que nos permitam inte-


ragir com o mundo de forma intencional, devemos formular planos de
ação tendo como base experiências passadas e as demandas prévias
do ambiente. Tais ações precisam ter flexibilidade e serem adaptativas,
pois o que deu certo ou errado em um contexto, pode não dar em ou-
tro, carecendo, portanto, que façamos adaptações viáveis e funcionais
para que o objetivo principal seja alcançado, viver em harmonia. Essas
ações de regulação e adaptação ao ambiente, são processamentos de
informações que se dão no cérebro, fruto de regulações adaptativas e
são chamadas de Funções Executivas -FE- (Santos, 2006).
Ao estarmos frente a uma situação com múltiplas possibilidades,
o indivíduo precisa ter a competência de fazer a seleção do que deseja,
percebendo as possibilidades de concretude, e assim, realizar o compor-
tamento dirigido ao que foi desejado. Tal ação é possível pela utilização
do potencial cognitivo executivo e a empregabilidade de habilidades como
pensar de forma eficaz, ter flexibilidade cognitiva frente a impedimentos, e
assim, realizar os comportamentos que possibilitem a realização do desejo
sem causar prejuízos ou imprevistos desagradáveis (Cypel, 2015).
Segundo Santos (2006), mesmo existindo um número expres-
sivo de pesquisas envolvendo as habilidades para realizar tarefas de
forma eficiente e eficaz, ainda não existe um consenso quanto aos ter-
mos mais adequados ou quais atribuições estão envolvidas no proces-
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so de escolha. Entretanto, algumas características já estão bem claras


sobre as funções executivas, que são:
(i) o homem possui a habilidade de manter um controle volun-
tário e consciente sobre o ambiente circundante e sobre os comporta-
mentos necessários para administrar contingências em função de um
alvo específico.
(ii) A expressão do senso de utilidade ou não, acontece pela
relação entre percepção, cognição e ação.
(iii) O controle sobre os comportamentos não é uma entidade úni-
ca, mas envolve a associação de várias outras funções cognitivas distintas.
(iv) As FE envolvem as esferas cognitivo, emocional e social.
As FE vão se organizando no decurso da vida, seguindo uma
sequência lógica de complexidade, ou seja, partindo na criança do menos
complexo para o mais complexo. Portanto, o homem não nasce com essa
capacidade pronta, ela também não vai se estruturando automaticamen-
te, mas sim devido o desenvolvimento da aptidão em organizar informa-
42
ções relevantes durante o processo de desenvolvimento. (Cypel,2015)
Um outro impedimento para a compreensão das FE, de acor-
do com Santos (2006), é quanto a tentativa de correlacionar aspectos
neuroanatômicos puramente às FE. Alexander Lúria como citado por
Santos (2006, pg. 126) “coligou o lobo frontal à função de programação,
verificação, controle e execução de comportamento e ainda supervisão,
controle, integração das demais atividades cerebrais”.
Cabe, no entanto, ressaltar que os lobos frontais ocupam uma
grande área cortical. Sabe-se disso pela vasta gama de habilidades afe-
tadas em pacientes com alterações nessa área. Portanto, é improvável
que o lobo frontal seja o único responsável pelas FEs. Janowski et al.
como citado por Santos (2006), realizaram vários experimentos com
pacientes com lesões (uni e bilaterais) no lobo frontal. Esses pacien-
tes apresentavam tanto desordens cognitivas quanto déficit de memó-
ria prospectiva e operacional. Esses conjuntos de desordens cognitivas
apresentadas pelos pacientes com alterações no lobo frontal, foi deno-
minado dysexcutive syndrome (síndrome disexecutiva).
De acordo com Santos (2006), nessa síndrome os pacientes
demonstram inabilidade para julgar, de um ponto de vista temporal as
informações em ordem cronológica; ou seja, a criança nesse caso terá
dificuldade para organizar e isolar eventos no tempo e espaço. Falare-
mos disso logo abaixo (Santos, 2006; Cypel, 2015).
De acordo com Cypel (2015):

o aprendizado escolar, etapa do processo evolutivo de desenvolvimento da

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criança e do jovem, está incluído entre as aquisições mais complexas que
necessita da participação concomitante e simultânea de um conjunto de sis-
temas funcionais neuropsicológicos para que se obtenha o objetivo planeja-
do. Entre os sistemas funcionais implicados nesse processo, destaca-se de
forma especial o papel das FE, cuja estruturação, organização e adaptação
na atividade cotidiana individual promoverão repercussões significativas no
aprendizado como um todo. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a
devida referência bibliográfica, com o número de página).

Para se certificar da normalidade ou não, das FE, o profissional


habilidoso e experiente com crianças, precisa conhecer como se processa
a aprendizagem do ponto de vista maturacional, bem como entender quais
são os fatores envolvidos, as características evolutivas e as “variações de
normalidade”. Pois, observa-se que padrões de dificuldade em alguns alu-
nos, ou um processamento de informação coparativamente mais lentifica-
do, mesmo assim, podem estar dentro da normalidade, sendo apenas uma
alteração no processamento cognitivo mas com aptidão para aprendiza-
gem, cabendo ao profissional avaliar de forma mais acurada a manifesta-
43
ção do comportamento desviante da norma (Santos, 2006).

De acordo com Cypel (2015) as funções executivas (FE),


conceitualmente são consideradas como “[...] um conjunto de fun-
ções responsáveis por iniciar e desenvolver uma atividade com
objetivo final determinado”. Participam da sua consecução um es-
pectro amplo de:
- processos cognitivos,
- estado de alerta,
- atenção sustentada e seletiva,
- tempo de reação,
- fluência e
- flexibilidade do pensamento.
Elas atuam no planejamento e regulando o comportamento
adaptativo com a finalidade de atingir o objetivo determinado. Esse
conjunto de funções poderia ser considerado um sistema de ge-
renciamento dos recursos cognitivo-emocionais, cuja tarefa seria
a resolução de problemas. Estas habilidades favorecerão a busca
de soluções para novas propostas, atuando no planejamento e re-
gulando o comportamento adaptativo com a finalidade de atingir o
objetivo determinado. Esse conjunto de funções poderia ser consi-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

derado um sistema de gerenciamento dos recursos cognitivo-emo-


cionais, cuja tarefa seria a resolução de problemas (grifo nosso).

As funções executivas tem a incumbência de organizar as ca-


pacidades perceptivas, mnésicas (memória) e das praxias (ações) den-
tro de um determinado contexto com a finalidade de (Cypel, 2015):
(i) Eleger um objetivo específico;
(ii) Decidir o início ou não desta proposta;
(iii) Planejar as etapas de todo o processo;
(iv) Monitorar cada uma das etapas comparando com o modelo
proposto;
(v) Modificar o modelo, se necessário;
(vi) Dar sequencia ou interromper a proposta inicial;
(vii) Avaliar o resultado final em relação ao objetivo inicialmente
determinado.
Anteriormente, foram apresentadas as síndromes disexe-
cutivas nas FE; sendo assim, aqui será feita uma apresentação mais
44
pormenorizada das observações mais marcantes dessa síndrome. As
características mais prevalentes e seu impacto disfuncional dos proces-
sos cognitivos e da memória, podem ter relação com lesões nos lobos
frontais, conforme descrito no quadro abaixo:

Quadro 02 - Lesões lobos frontais e desordens cognitivas de memória

Fonte: Andrade et al., 2006 (pg126)

A memória diz respeito à aptidão funcional do SN para codificar,


classificar, armazenar e evocar lembranças. A memória é um elemento
básico para o aprendizado e a capacidade de concatenar ideias. Ela, no
entanto, tem relação direta com as habilidades de atenção voluntária,
concentração e estado emocional (Cypel, 2015).
Tipificação da memória:
- Memória operacional, é composta de um conjunto de sistemas
cognitivos para realizar representações mentais de informações senso-
riais e eventos externos. Ela é fundamental para realizar com sucesso
uma tarefa proposta, bem como é essencial para a compreensão de tex-

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


tos, pois na escola, a criança terá que ir assimilando os temas lidos e
simultaneamente recorrer a informações anteriores para que haja enten-
dimento do que foi lido. As dificuldades de interpretação, boa parte delas
estão relacionadas às deficiências de memória operacional (Cypel, 2015).
De acordo com Baddeley como citado por Cypel (2015), a me-
mória operacional inclui:

um sistema executivo central que ativamente regula e limita a distribuição das


fontes atencionais e coordena a informação, controlando a capacidade das
memórias visual e espacial. Desse modo, é um componente essencial da ar-
quitetura cognitiva das FE, agregado à competência para arquivar e resgatar a
informação, funcionando como um banco de dados. (Colocar entre parênteses,
após esta citação, a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Funções Executivas e Aspectos Anatômicos

Segundo Santos e Madeira (2011), no homem, a região frontal


45
é a mais desenvolvida do córtex, ela ocupa cerca de um terço de toda
a estrutura cerebral. O lobo frontal é subdividido em três partes: cór-
tex pré-frontal, córtex motor e pré-motor e córtex paralímbico, vejamos
suas particularidades. Uma das características essenciais das regiões
do lobo pré-frontal é o fato de ela estar ligada a uma rede cortical muito
volumosa que une o córtex-motor, áreas perceptivas e a região límbica.
Mesmo com os constantes avanços dos estudos sobre a neurofisiologia
e a anatomia funcional de lobo frontal, ainda existem muitas dúvidas
sobre o entendimento do seu funcionamento.

- Córtex Pré-Frontal

Mantem conexões com várias outras áreas corticais e subcor-


ticias, tem envolvimento importante para monitorar os processos cogni-
tivos e participar de sua organização. Essa região é subdividida em três
áreas (Santos, 2006; Santos & Madeira, 2011; Cypel, 2015):

Quadro 03- Área Neuroanatômica Córtex Frontal e funções.


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Fonte: Cypel, 2015


46
É muito importante que ambientes onde crianças estão inse-
ridas sejam ricos em estímulos, incentivo e imposição de limites ade-
quados. A ausência de qualquer um desses aspectos sendo mantido
por longos períodos, pode gerar na criança o chamado estresse tóxico.
Esse estresse altera toda a circuitaria neuronal causando desestrutura-
ção emocional e comportamental irreversível (Cypel, 2015)
De acordo com Cypel (2015) o exame das FE inicia com uma
anamnese, a coleta da história de vida do paciente, inclusive das ex-
periências de aprendizagem. É importante investigar como se deu o
desenvolvimento motor, a linguagem, os aspectos de compreensão e
expressão, bem como sobre o relacionamento com os familiares e com-
portamentos em ambientes sociais. Avaliar também as questões neu-
ropsicológicas buscando identificar as funções que estão funcionando
adequadamente, bem como aquelas que apresentam alteração, e ana-
lisar a dimensão de cada dificuldade (leve a grave). E também realizar
uma testagem abrangente do paciente; como por exemplo:
- Avaliar a atenção: Investigar o tempo de reação da criança
frente a estímulos e dos vários tipos de atenção: concentrada, difusa,
sustentada, seletiva, etc.;
- Avaliar a impulsividade: Analisa a aptidão para lidar com si-
tuações inesperadas
- Controle sobre o tempo de espera: verificar se a criança é
capaz de adiar recompensas, (Ver por exemplo o teste marsmellow)
- O Controle de interferência: se a criança consegue distribuir a
atenção e filtrar impulso conflitante - utilização do Stroop Test;
- Flexibilidade cognitiva: se consegue mudar planos para lidar

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com novas situações ou se mantem perseverando no plano inicial - uti-
lização do Wisconsin Card Sorting Test;
- Velocidade psicomotora, flexibilidade cognitiva: Teste das tri-
lhas A e B.

47
QUESTÃO DE CONCURSO
QUESTÃO 01
Ano 2016 Banca Vunesp Órgão UNIFESP prova Genética humana
Gregor Mendel, por meio de seus estudos, conseguiu demonstrar
os princípios básicos da hereditariedade. Apesar de ter estudado
plantas, os princípios também se aplicam à genética médica. Um
dos conceitos propostos por Mendel sobre esse tema foi
(A) Pleiotropia.
(B) Eugenia - Dominância.
(C) Expressividade variável.
(D) Penetrância.
(E) Heterogeneidade de locus.

QUESTÃO 02
Ano 2010 Banca FIOCRUZ Banca Epsjv Prova genética médica pe-
diátrica
Em relação à epidemiologia dos problemas da criança no Brasil,
assinale a afirmativa correta.
(A) Por causa do incentivo da campanhas diversas pelo país, observa-se
tendência decrescente de mortalidade e morbidade por injúrias físicas.
(B) Excetuando o primeiro ano de vida, as injúrias ou causas externas
causam mais mortes de crianças ou jovens do que o somatório das
principais outras doenças.
(C) A idade da criança não influencia na gravidade da injúria sofrida,
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outros fatores externos tem maior importância.


(D) O fator social pobreza não tem influência nas taxas de injúrias físi-
cas sofridas pelas crianças.
(E) Não se pode relacionar o gênero com as taxas de injúrias físicas
sofridas pelas crianças.

QUESTÃO 03
Ano 2010 Banca FIOCRUZ Órgão Epsjv Prova genética médica
pediátrica
De acordo com a Constituição Federal Brasileira de 1988, a saúde
deve ser entendida como:
(A) bem estar social e físico.
(B) dever do cidadão e dever do estado.
(C) atitude a ser tomada pelo cidadão e por empresários do setor.
(D) um direito do cidadão, direito este garantido por políticas sociais e
econômicas.
(E) atitudes particulares ou privadas baseadas em políticas sociais pú-
48
blicas.

QUESTÃO 04
Ano 2010 Banca FIOCRUZ Órgão Epsjv Prova genética médica
pediátrica
Assinale a alternativa que enumere os setores responsáveis pelo
financiamento do Sistema Único de Saúde:
(A) iniciativa privada e União.
(B) União e iniciativa privada.
(C) somente a União.
(D) Distrito Federal, União, Estados e Municípios.
(E) de alguns Estados e de todos os Municípios.

QUESTÃO 05
Ano 2010 Banca FIOCRUZ Órgão Epsjv Prova genética médica pe-
diátrica
Nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, o
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiên-
cia, preferencialmente na rede regular de ensino, é dever do(s)/da
(A) pais.
(B) sociedade.
(C) Estado.
(D) comunidade.
(E) senado

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QUESTÃO DISSERTATIVA- DISSERTANDO A UNIDADE
A questão dos pontos ligados à genética são importantes para o enten-
dimento mais aprofundado de alguns transtornos e doenças que afligem
a população. A eugenia sempre foi vista como uma ciência que trouxe
benefícios a sociedade?

TREINO INÉDITO
Os avanços na bioestatística possibilitaram o desenvolvimento da
genética quantitativa, que é a base para o entendimento da variabi-
lidade nos traços mais comuns do comportamento humano.
PORQUE
Memória operacional, é composta de um conjunto de sistemas
cognitivos para realizar representações mentais de informações
sensoriais e eventos externos. Ela é fundamental para realizar com
sucesso uma tarefa proposta, bem como é essencial para a com-
preensão de textos, pois a criança terá que ir assimilando os temas
lidos e simultaneamente recorrer a informações anteriores para
49
que haja entendimento do que foi lido.
Analise as afirmativas abaixo e marque a opção correta:
(A) as informações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira
(B) as informações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira
(C) a primeira afirmativa e verdadeira e a segunda e falsa.
(D) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira
(E) As duas afirmativas são falsas.

NA PRÁTICA
FUNÇÕES EXECUTIVAS
O ser humano está sempre sendo exposto a situações que careçam a
habilidade de processar informação e decidir quais as melhores formas
de lidar com cada situação de forma harmônico. Segundo Corso, Sperb,
De Jou e Salles (2013) para tal, é importante a utilização das competên-
cias das funções executivas a de metacognição, pois elas promovem
a capacidade de estabelecer um objetivo, planejar a melhor estratégia,
monitorar da ação naquele sentido, regular o comportamento com vistas
à consecução do plano, e avaliar o resultado final (Corso, et al. 2013).
Sendo assim mesmo com a necessidade de avaliar questões como o
comportamento, a cognição e as bases neurais da atividade mental e
descobrir as relações entre eles. Investigar as metacognições (psicolo-
gia cognitiva) e as funções executivas (neuropsicologia) possibilitam o
estabelecimento das relações com o processo de aprendizagem, quer
seja com a presença de patologias ou dentro da normalidade.
Ler na íntegra: CORSO, H. V.; SPERB, T. M. DE JOU, G. I.; SALLES, J.
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F. Metacognição e Funções Executivas: Relações entre os Conceitos e


Implicações para a Aprendizagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa Jan-
-Mar 2013, Vol. 29 n. 1, pp. 21-29

NA MÍDIA
Na leitura do livro a curva normal Charles Murray e Richard Herrnstein é
apresentado algumas apontamentos instigantes, os negros são menos
inteligentes do que os brancos? Segundo o livro, Sim. Para os autores,
a inteligência é mais elevada com pessoas brancas, é maior entre os
mais ricos e são imutáveis, nem se o Estado fizer vários investimentos
financeiros em educação.
Fonte: Revista Super Interessante Editora abril.
Data: 31/03/2019
Ler na integra: https://super.abril.com.br/ciencia/

PARA SABER MAIS:


Facilitando a aprendizagem de genética
50
Uso de um modelo didático e análise dos recursos presentes em livros
de biologia – Manancial – Repositório digital da UFSM

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51
PRINCÍPIOS GERAIS E DOMÍNIOS
ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA: DIFICULDADES ESPE-


CÍFICAS

De acordo com Cardoso-Martins, Corrêa e Magalhães (2010),


desde o início do Séc. XX, um grupo específico de crianças estão no
foco das pesquisas médicas, psicológicas e da pedagogia. São as
crianças com inteligência normal ou acima da média e que, de forma
inesperada, apresentam dificuldade para aprender a ler e escrever. É
interessante frisar que elas apresentam bom desempenho em outras
áreas escolares, como por exemplo, a matemática. Segundo os auto-
res: “Como explicar a sua dificuldade em aprender a ler e escrever?”
Alguns pesquisadores chamam a dificuldade específica da lei-
tura e escrita de dislexia do desenvolvimento. Esse transtorno é carac-
5252
terizado pela limitação no sucesso da aprendizagem da leitura e escri-
ta de palavras, estudos vem mostrando também a presença de algum
componente de origem neurobiológica. Sua prevalência é relativamente
alta, ela afeta em torno de 5 a 17% da população em idade escolar; é
um transtorno que frequentemente persiste até a idade adulta (Cardo-
so-Martins, Corrêa & Magalhães, 2010).
Conforme apontam Lima, Azoni e Ciasca (2013), os critérios
diagnósticos da dislexia do desenvolvimento segundo a Classificação
Internacional de Doenças na décima edição - CID-10 – são:
- Desempenho em leitura e escrita abaixo do esperado
- Nível de inteligência para a faixa etária dentro da média
- Ausência de alterações sensoriais (visão ou audição) não cor-
rigidas
- Ausência de outros problemas psiquiátricos e neurológicos
que expliquem as dificuldades.
Evidências de pesquisas com crianças mostram que a dificul-
dade é resultado de uma deficiência na recodificação fonológica, ou
seja, as crianças tem dificuldade na tradução das letras ou grupos de
letras e seus sons equivalentes. Esse condição, com frequência vem
seguida de problemas de compreensão da leitura (Cardoso-Martins,
Corrêa & Magalhães, 2010).
De acordo com Machado, Corrêa e Magalhães (2010), muito em-
bora esse transtorno tenha como eixo central a dificuldade de ler palavras
de forma fluente e correta, o diagnóstico precisa ser muitas vezes por ex-
clusão de outros fatores que podem ter impacto na aprendizagem como:

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


- condições inapropriadas de instrução;
- aspectos emocionais e condições sociais
- nível intelectual da criança
Por certo, aspectos ligados a possíveis déficits auditivos ou vi-
suais devem ser descartados por meio de triagem adequada feita por
profissionais responsáveis por essas dimensões. De modo geral, os
transtornos na leitura e escrita são caracterizados por alcançar resulta-
dos substancialmente abaixo do esperado para a idade, escolarização e
nível intelectual. A testagem precisa ser feita por meio de protocolos de
testagem padronizadas de leitura, matemática, expressão escrita (Mi-
randa, Muskat & De Melo, 2012).
Machado, Corrêa e Magalhães (2010) ressaltam que existe um
consenso que apenas um olhar interdisciplinar é suficiente para fechar
o diagnóstico do transtorno disléxicos, pois dessa forma é possível co-
locar em foco as habilidades cognitivas, fatores genéticos, sociais e am-
bientais vistos em conjunto e inter-relacionados.
A linguagem e o processamento fonológico tem recebido maior
53
atenção por parte dos pesquisadores por razões óbvias. Todavia, al-
guns outros domínios mais amplos tem recebido destaque nas pesqui-
sas internacionais como as funções executivas e atenção porque estão
ligadas as etapas cognitivas do processamento da escrita e leitura, que
são a compreensão, a decodificação e conversão letra-som (Lima, Azo-
ni & Ciasca, 2013).
As funções executivas estão envolvidas nos processos cogniti-
vos de planejamento, estratégias cognitivas, flexibilidade mental, memória
operacional, fluência e controle inibitório. Portanto, essas funções têm uma
forte ligação com os processos de aprendizagem da leitura e escrita. Já as
habilidades atencionais dizem respeito a aptidão do sujeito perceber e res-
ponder adequadamente a alguns estímulos significativos, nesse caso as
letras e os sons. Essas duas competências: funções executivas e atenção,
estão envolvidas em todas as etapas ligadas a captação de informação e
compreensão, que são: a recepção de estímulos, o processamento, pla-
nejamento e a reorganização de respostas (Lima, Azoni & Ciasca, 2013).

Os critérios diagnósticos da dislexia, segundo o CID-10,


destacam algumas características bem delimitadas, as crianças
apresentam desempenho em leitura e escrita abaixo do esperado,
mostram um nível de inteligência para a faixa etária dentro da mé-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

dia, a ausência de alterações sensoriais não corrigidas por algum


instrumento (óculos, fones e etc.) e a ausência de outros proble-
mas psiquiátricos e neurológicos que expliquem as dificuldades.

Modelo do Déficit Fonológico

Por muito tempo a dislexia do desenvolvimento era caracteri-


zada pela presença de comprometimento de natureza visual e espacial.
Todavia, pesquisas mais recentes tem entendido que o transtorno es-
pecífico da leitura e escrita está mais ligado a questões de déficit fono-
lógico. De acordo com Cardoso-Martins, Corrêa e Magalhães (2010):

As dificuldades de leitura e escrita na dislexia do desenvolvimento resultam


de representações fonológicas deficientes ou pouco especificadas, as quais
interferem de forma negativa com a apresentação da leitura através de re-
codificação fonológica, isto é, d tradução das letras ou grupos de letras em
seus sons correspondentes. (Colocar entre parênteses, após esta citação, a

54
devida referência bibliográfica, com o número de página).

Pesquisadores destacam que a limitação de recodificação fonoló-


gica é muito mais causa, do que uma consequência da dificuldade em ler
palavras de forma coerente. Essa limitação está relacionada diretamente
com dificuldades no desenvolvimento da Consciência Fonológica - CF -. A
CF está ligada a habilidade do sujeito em manter uma atenção consciente,
frente aos sons da fala. Ela pode ser estudada e mensurada por instrumen-
tos padronizados que visam detectar e manipular os seguimentos fonológi-
cos nas palavras (Cardoso-Martins, Corrêa & Magalhães, 2010).
Crianças com déficits na CF apresentam frequentemente difi-
culdade em realizar tarefas que pressupõem a manipulação e armaze-
namento de códigos fonológicos na memória de curto prazo e/ou a sua
evocação na memória de longo prazo. Estudos tem mostrado que em
alguns casos as crianças mostram dificuldades em realizar tarefas que
envolvem a percepção da fala, ou seja, a criança ouve os comandos,
mas tem limitação para interpretar o que foi solicitado para que façam
(Cardoso-Martins, Corrêa & Magalhães, 2010).
Para Lima, Azoni e Ciasca (2013), a redução na acurácia para
identificar estímulos, “pode interferir na distribuição de recursos atencio-
nais e no processamento temporal e sequencial dos grafemas durante a
leitura”, a criança tem dificuldade para direcionar a atenção para captar
a ligação entre os sons a as palavras e seus significados. Como elas
tem dificuldade em manter a atenção dirigida por tempo suficiente para
assimilar e evocar informações, o processo de aprendizagem fica gran-
demente comprometido.

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


Tentativas para explicar o fenômeno da dislexia do desenvol-
vimento tem sido destacadas na literatura científica. Dentre as quais é
destacado por Lima, Azoni e Ciasca (2013):
(i) é possível ocorrer algum nível de processamento da palavra
que cause interferência na codificação;
(ii) podem ocorrer problemas na automatização para acessar a
sintaxe, o léxico e o semântico;
(iii) a existência de possíveis alterações no controle das res-
posta (leitura ou nomeação da cor, mensuradas no teste Stroop);
(iv) as interferências no acesso ao léxico prejudicam o desem-
penho no controle inibitório.

55
Teste Stroop
Segundo Esgalhado e Pereira (2012) o teste stroop é um
instrumento de grande utilidade na investigação de vários proces-
sos psicológicos fundamentais. Ele permite analisar um conjunto
de dimensões básicas que estão associadas a flexibilidade cogni-
tiva; resistência às interferências vindas de estímulos exteriores; a
criatividade dentre outros.
Ler na integra: Efeito do gênero e escolaridade no teste
Stroop.
Referência: ESGALHADO, G.; PEREIRA, H. Efeito do género
e da escolaridade no teste stroop: da infância à adultez jovem. Inter-
national Journal of Developmental and Educational Psychology, 2012

Para Massi e De Oliveira Santana (2011), estudos mostram que


as crianças disléxicas apresentam comprometimento em tarefas de CF
antes mesmo de começar aprender e ler e escrever. A dislexia, portan-
to, não é apenas um problema biológico, mas também social, para os
autores: “a etiqueta dislexia quando aparece no início da escolaridade
marca sob a etiqueta médica um problema social”. Uma vez identifica-
do algum comprometimento no processo de ensino a aprendizagem da
leitura e escrita, profissionais podem se apressar para identificar a pato-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

logia e esquecer que a criança está envolta em um manto social que é


impactado pelos rótulos diagnósticos. Rótulos que podem comprometer
todo um histórico escolar e no futuro problemas em aspectos laborais.

Estudos tem mostrado que em alguns casos as crianças


mostram dificuldades em realizar tarefas que envolvem a percep-
ção da fala, ou seja, a criança ouve os comandos, mas tem limita-
ção para interpretar o que foi solicitado para que façam.

Aspectos Neurobiológicos da Dislexia do Desenvolvimento

De acordo com Massi e De Oliveira (2011) as maiores evidên-


56
cias das bases neurobiológicas da dislexia se deram com o desenvol-
vimento das tecnologias e o implemento dos conhecimentos da neu-
roimagem. Registros de neuroimagem evidenciaram diferenças nas
regiões corticais parieto-têmporo-occipital dos sujeitos com dislexia e
quando comparados a outros sujeitos não disléxicos.
Segundo Rodrigues e Ciasca (2103), vários circuitos cerebrais
estão envolvidos na aprendizagem da leitura e escrita. As ativações
desses circuitos do sistema nervoso nos processos de linguagem, são
processadas nos dois hemisférios cerebrais, no entanto com uma certa
especialização maior no hemisfério esquerdo na maioria da população.
Ela sé dá pela ativação de três sistemas:
(i) Sistema dorsal temporoparietal, incluindo os giros angular,
supramarginal e áreas posteriores do giro temporal superior.
(ii) Sistema anterior, situado nos giros frontais inferiores.
(iii) Sistema ventral, que compreendem as regiões posteriores
do giro temporal médio e inferior e temporo-occipital (giro fusiforme) e
áreas extraestriada do lobo occipital.

Giro Fusiforme
De acordo com Parzini et el. (2012), esta é uma área muito
importante para o desenvolvimento das relações sociais. O giro

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


fusiforme tem forte ligação por ser a área cortical ligada ao reco-
nhecimento de faces, lesões nessa área causam a patologia da
Prosopagnosia (incapacidade para reconhecer faces). Estudo de
imagem mais recentes tem revelado várias áreas funcionais locali-
zadas no giro fusiforme e evidenciado aspectos ligados as carac-
terísticas de percepção de emotividade.
Ler na integra em: PARVIZI, J. et al. Electrical stimulation
of human fusiform face-selective regions distorts face perception.
Journal of Neuroscience, v. 32, n. 43, p. 14915-14920, 2012.

Para Rodrigues e Ciasca (2013), os estudos com neuroimagem


podem contribuir com o esclarecimento do transtorno, não apenas para
definir um diagnóstico mais específico em relação a quais os domínios são
afetados na leitura e escrita mas de esclarecer sua constituição. Todavia,
a distinção das áreas afetadas tem papel de destaque, pois as correla-
ções neuropsicológicas e neurobiológicas variam conforme a natureza do
transtorno de leitura, deixando o quadro ainda mais complexo. Por meio da
57
chegada da neuroimagem no cenário de investigação da dislexia, pesqui-
sadores começaram a rever e atualizar as definições desse transtorno. A
Associação Internacional de dislexia (IDA) apresentou o seguinte conceito:

dificuldades com reconhecimento preciso e/ou fluente palavra e pela má or-


tografia e habilidades de decodificação. Essas dificuldades resultam tipica-
mente do déficit no componente fonológico da linguagem que é muitas vezes
inesperado em relação a outras habilidades cognitivas e de prestação de
ensino eficaz em sala de aula. (Colocar entre parênteses, após esta citação,
a devida referência bibliográfica, com o número de página).

Conhecer os domínios que englobam as dificuldade de leitura


e escrita são relevantes para que seja realizado um melhor entendi-
mento dos processos que vão se desenvolvendo ao longo da vida das
crianças. Sabe-se que cerca de um quinto dos sujeitos com dislexia
consegue compensar suas limitações de aprendizagem e desenvolvem
habilidades de leitura adequada; saber quais os mecanismos que estão
envolvidos nesse processo adaptativo ainda são desconhecidos (Rodri-
gues e Ciasca, 2013).
Por meio de dados obtidos via neuroimagem, pesquisadores
tem tentado identificar os correlatos neurais envolvidos na mediação
dos sistemas cognitivos. Estudos mostraram uma hiperativação no giro
inferior frontal. Essa hiperativação pode estar envolvida no processo
compensatório dos indivíduos com o transtorno, na tentativa de supe-
rar “disfunções em áreas corticais posteriores esquerdas subjacentes a
processos fonológicos” (Rodrigues & Ciasca, 2013).
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

Dificuldades com reconhecimento preciso e/ou fluente da


palavra e pela má ortografia e habilidades de decodificação. Essas di-
ficuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico
da linguagem que é muitas vezes inesperado em relação a outras ha-
bilidades cognitivas e de prestação de ensino eficaz em sala de aula.

EPILEPSIA E APRENDIZAGEM

A identificação de episódios epilépticos no homem remonta a


tempos muito antigos. O termo tem origem no Grego, que significa “sur-
presa, evento inesperado”. As manifestações epilépticas e seu impacto
58
no aprendizado geralmente estão associadas a um comprometimento
transitório da função cognitiva. Como essas alterações acontecem com
maior frequência no período de desenvolvimento embrionário, é possí-
vel que estejam ligadas à “origem” (grifo nosso) dos déficits intelectu-
ais. É importante ressaltar que existe uma diferença entre a criança ter
crises epilépticas e ter a doença epilepsia. Uma criança pode ter crise
epilépticas e não ter a epilepsia (Winckler & Melo, 2016).
As Crises epilépticas são eventos clínicos que apresentam uma
disfunção temporária de uma pequena área do cérebro, ou de várias áre-
as corticais envolvendo os dois hemisférios cerebrais. A crise pode iniciar
em uma única área e gradativamente ir se espalhando por todo o cérebro,
ou permanecer apenas em uma região específica. O episódio epilépti-
co acontece quando existe uma descarga elétrica anormal, excessiva e
transitória nos neurônios. As manifestações comportamentais e cogniti-
vas decorrentes das crises epilépticas dependem da localização da lesão
ou da disfunção cerebral, as crises podem ser motoras, sensitivas, auto-
nômicas, com ou sem alteração de consciência (Winckler & Melo, 2016).

É importante ressaltar que existe uma diferença entre a


criança ter crises epiléticas e ter a doença epilepsia. Uma criança
pode ter crise epiléticas e não ter epilepsia.

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


De acordo com Winckler e Melo (2016), a Epilepsia e a recor-
rência de crises, bem como sua predisposição, caracterizam um distúrbio
crônico do sistema nervoso central. Esta condição tem consequências
neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Estudos em modelos
animais mostraram que cérebros imaturos resistem a períodos prolonga-
dos de falta de O² (hipóxia) por mais tempo. Todavia, essa hipóxia causa-
ria nos neurônios em desenvolvimento, uma maior suscetibilidade à so-
frer modificações na divisão celular, na migração neuronal, na expressão
gênica, na formação e, possivelmente, na capacidade de gerar equilíbrio
nas sinapses entre os neurônios. Caso as crises aconteçam no período
neonatal, ocorre então uma ativação negativa constante dos receptores
N-metil-D-aspartato (NMDA), que apressam a migração neuronal antes
do ideal, o que alteraria à formação de conexões cognitivas normais.
De acordo com Winckler e Melo (2016), a prevalência da epi-
lepsia no homem varia na proporção direta da gravidade do distúrbio de
aprendizagem:
59
- de 6%, entre crianças com problemas leves (com coeficiente
de inteligência -QI- de 50 a 70 pontos)
- 24%, entre crianças com distúrbios mais graves (com QI abai-
xo de 50 pontos).
Conforme mostram Winckler e Melo (2016), grande parte dos
problemas com a epilepsia são tratados com medicamentos antiepiléticos
-MAE-. Todavia, é necessário considerar o índice de gravidade e as conse-
quências a médio e longo prazo dos MAEs no desenvolvimento do cérebro.
De acordo com Pozo Alonso e Pozo Lauzán (2013), a utilização
dos MAEs deve ser considerado a tolerabilidade, interação medicamento-
sa e eficácia terapêutica, dentre outros pois apresentam efeitos adversos
por vezes bem acentuados. Alguns dos medicamentes mais utilizados
são o Valproato de Sódio (efeito colateral aumento do apetite), carbama-
zepina (efeito colateral sonolência e vertigem), razapina (efeito colateral
aumento apetite), fenítoína, fenobarbital, lamotrigina e o topiramato.
Estudos têm mostrados que muitos pacientes epilépticos também
sofrem de algum tipo de disfunção cognitiva, mas essa associação: epilep-
sia e disfunção cognitiva, parece ser, muitas vezes, de ordem multifatorial.
Por certo, a função intelectual nos pacientes epilépticos é fortemente im-
pactada por uma combinação de vários fatores, incluindo: a idade de início
das crises, os tipos de crises, fatores etiológicos, hereditariedade, os MAEs
e os fatores psicossociais. Há evidências de uma elevada morbidade neu-
rológica em crianças com epilepsia, tendo maior impacto sobre o déficit
intelectual, os transtornos da linguagem e os transtornos específicos do
aprendizado (Pozo Alonso & Pozo Lauzán, 2013; Winckler & Melo, 2016).
Assim sendo, de acordo com Winckler e Melo (2016), o im-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

pacto individual dos MAEs na função cognitiva é variável. Muito em-


bora, alguns provoquem poucas alterações na esfera cognitiva, outros
podem promover um impacto mais acentuada nas respostas motoras
-motricidade infantil-. Os MAEs exercem seus efeitos anticonvulsivantes
algumas vezes podendo causar interferência nos processos cerebrais
que estão ligados as estruturas responsáveis pelo aprendizado, a me-
mória e o comportamento; todavia é importante pensar o custo-benefí-
cio da utilização dos medicamentos. MAEs com mecanismos gabaér-
gicos (GABA) têm maiores efeitos na função cognitiva, possivelmente
diminuindo a atenção. De forma contrária, os fármacos com efeitos nos
canais de sódio parecem ter impacto mais reduzido sobre a cognição.

60
A função intelectual nos pacientes epilépticos é fortemen-
te impactada por uma combinação de vários fatores, incluindo: a
idade de início das crises, os tipos de crises, fatores etiológicos,
hereditariedade, os MAEs e os fatores psicossociais.

MAEs podem acabar potencializando os efeitos da crise epi-


léptica parcial complexa, possivelmente por disfunção hipocampal (que
afeta a memória), e da convulsão generalizada (perda de consciência,
confusão mental pós icto, perda de memória no tocante à fenômenos
atencionais). Assim, a modulação dos canais iônicos, dos neurotrans-
missores, dentre outros processos mediados pelos MAEs, embora efi-
cazes no controle das crises, podem interferir na função cerebral normal
de maneira indesejada, podendo determinar transtornos de aprendiza-
gem estado-dependente, ou seja, o sujeito passa a aprender e a evocar
material aprendido apenas sob uso dos MAE (Winckler & Melo, 2016).

Convulsão generalizada

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


De acordo com Schefer et al. (2017), as crises epilépticas
generalizadas se originam em algum ponto do córtex e ativam rapi-
damente de forma sincronizada as redes de neurônios distribuídas
bilateralmente no cérebro. Pode incluir estruturas corticais e sub-
corticais e pode não envolver todo o cérebro.
Ler na integra: SCHEFFER I.E.; BERKOVIC, S.; CAPO-
VILLA, G. et al. ILAE classification of the epilepsies: Position paper
of the ILAE Commission for Classification and Terminology. Epilep-
sia. 2017 Apr;58(4):512-21

Segundo Winckler e Melo (2016), a detecção de déficits cogni-


tivos são comuns em pessoas com epilepsia, porém, é muito difícil fazer
a identificação precisa das causas, pois na maioria das vezes, existem
uma série de questões envolvidas como: a ocorrência de variados tipos
de crises; as fisiopatologias das epilepsias; possibilidade de ter alguma
patologia cerebral de base; os MAEs usados e seu tempo de utilização.
Somado a presença de estigma social e problemas educacionais; bem
61
como fatores genéticos; distúrbios do sono gerados por crises ou des-
cargas elétricas sincronizadas; e a presença de descargas subclínicas
que causam dano cognitivo transitório.
Em estudos randomizados foi demonstrado que as crianças
com episódios de epilepsias localizadas e generalizadas, mostravam
desempenho escolar prejudicado, por meio da interferência multivaria-
da de vários fatores. As crianças obtiveram menores escores de inteli-
gência, característica geralmente encontrada nos casos das síndromes
epilépticas (Winckler & Melo, 2016).
Por certo, o ato de aprender de forma geral, é um ato psicomo-
tor, mas também envolve atividades cognitivas, que são dependentes
das funções corticais mais superiores. Partindo de um ponto de vis-
ta anatômico, há uma continuidade das células com funções motoras,
práxicas, sensitivas, gnósicas ligada a um emaranhado de conexões e
feixes de associações entre os neurônios responsáveis pela ativação
cortical e os centros subcorticais envolvidas na afetividade e aprendiza-
gem (Winckler & Melo, 2016).
As dificuldades de aprendizagem que ocorrem durante o curso da
epilepsia podem ser classificadas em duas categorias: estado-dependen-
tes (potencialmente tratáveis e reversíveis) e os permanentes (onde existe
alguma má-formação cortical, lesão e etc.). A presença de dano cerebral ou
disfunção cerebral constante estão associados às dificuldades permanen-
tes em várias áreas da cognição e consequentemente sobre o aprendizado
adequado. Ao passo que uso de medicação e a presença de epilepsia por
si só́ estão relacionados às dificuldades estado-dependentes.
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

Para Winckler e Melo (2016), existe uma alta correlação en-


tre epilepsia do lobo temporal (uma das manifestações mais graves do
transtorno, devido a seu forte impacto nas áreas afetivas. Esses pa-
cientes podem ter graves comportamentos compulsivos, presença de
alucinações e delírios ligados a catástrofes, dentre outros) e distúrbios
afetivos e de personalidade interictais. A presença de auto ou heteroa-
gressividade foram descritas como um tipo de psicose pós-ictal . Nes-
ses estudos, a epilepsia aparece como fator etiológico especifico e não
como reação de ajustamento de uma doença crônica.

EPILEPSIA DE LOBO TEMPORAL


Estudos mostram a epilepsia de lobo temporal - ELT- reunin-
do uma tríade de grupos de sintomas representantes da aura psíqui-
62
ca; aura é a presença de sensações que antecedem crises de enxa-
queca ou convulsões, o que permite ao paciente um conhecimento
quanto a iminência de uma crise. Em alguns casos antes da crise o
paciente apresenta movimentos mastigatórios, tontura, escotomas e
etc. Segundo Amâncio, Zymberg e Chiari Pires (1994) na ELT apresen-
ta a tríade com a presença de: (a) aura com ilusão aperceptiva, sendo
comuns os déjà-vu, Já cuté ou o jame-vi; (b) aura ideativa com pensa-
mento intrusivo ou fuga de ideias; (c)aura com sintomas emocionais
de desprazer, pavor, pânico e seu oposto, a alegria e euforia.
Ler na íntegra em: AMÂNCIO, E. J.; ZYMBERG, J.; CHIARI
PIRES, M. F. Epilepsia de lobo temporal e aura com alegria e prazer.
Ver. Neuropsiquiatria, 52(2: 252-259, 1994

Na visão de Winckler e Melo (2016), a função cognitiva é uma


habilidade que o cérebro humano possui para processar múltiplas infor-
mações oriundas do mundo externo e poder programar o comportamento
mais assertivo para cada situação. Essa capacidade engloba a habilida-
de de manter-se em contato com o mundo exterior (por meio da vigilân-
cia), de selecionar e focar informações disponíveis (por meio da atenção)
e de memorizar os dados (por meio da função da memória). Assim sendo,
a função cognitiva permite ao ser humano a possibilidade de resolver pro-
blemas simples ou complexos, promovendo portanto, a autonomia – para
alguns autores essa competência têm sido denominada de inteligência.

- Avaliação Cognitiva

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


Segundo Winckler e Melo (2016), o fracasso escolar não pode
ser atribuído somente à carência de algum aspecto cognitivo na criança
com quadro de epilepsia, mas também, das experiências negativas oriun-
das do ambiente compartilhado da criança (família, escola e sociedade).
Pesquisas tem mostrado que uma atitude familiar inadequada
é um dos fatores mais relevantes que: limitam a promoção da autono-
mia dos filhos, a possibilidade de poderem vivenciar experiências lúdi-
cas grupais e de convivência social. Essa atitude, traz impacto negativo
sobre a motivação da criança e pode gerar sentimentos de baixa auto-
estima comprometendo seriamente sua maturação afetiva. Todavia é
preciso atuar nesse ponto com parcimônia, pois essas ações parentais
podem muitas vezes ter o objetivo de proteger o filho de infortúnios e do
olhar social preconceituoso (Winckler & Melo, 2016).
É muito importante, portanto, inserir nos programas de inter-
venção, práticas parentais mais assertivas e reforçadoras para a crian-
63
ça, e não focar somente no paciente ou na patologia em si. Ter uma
melhor compreensão sobre a epilepsia e especificamente, desenvolver
aptidão para identificar e acompanhar o impacto das comorbidades que
possam estar envolvidas no caso, identificar as competências cogni-
tivas preservadas e ser capaz de ensinar formas parentais assertivas
para atuar sobre os problemas de comportamento, beneficiarão muitas
famílias que vivenciam essa situação (Winckler & Melo, 2016).

DEFICIÊNCIA MENTAL E APRENDIZAGEM

O Transtorno de Deficiência Mental – DM - tem início no período


do desenvolvimento e incluí a presença de déficit nas capacidades mentais
genéricas, funcionais, intelectuais, adaptativas, em domínios conceituais,
sociais e práticos nos sujeitos. A DM tem como marca prevalente um déficit
de inteligência, que abrange variadas causas pré, peri e pós-natais. Envol-
ve também, a presença de alterações constitutivas e/ou malformações cor-
ticais, ou seja, o sujeito nasce com distúrbios de etiopatogenia ainda não
esclarecida. Do ponto de vista neuroanatômico, o transtorno se expressa
por deficiências na formação das espinhas dendríticas neuronais, levan-
do à insuficiência de formação de sinapses – o que consequentemente
promove o DM. Todavia, de forma curiosa, são crianças cujos exames de
neuroimagem e bioquímicos são considerados normais (Diament, 2016).
Com intuito de trazer um diagnóstico dimensional do DM, a Or-
ganização Mundial da Saúde -OMS- introduziu atualmente quatro níveis
de DM, que de acordo com o DSM-5 são delimitados por:
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

(i) Profunda: QI abaixo de 20 ou 25 pontos;


(ii) Grave: QI entre 20 a 25 e 35 a 40 pontos;
(iii) Moderada: QI entre 35 a 40 e 50 a 55 pontos;
(iv) Leve: QI entre 50 a 55 até́ aproximadamente 70.
No entanto, como bem aponta o DSM-5, os níveis de gravidade
do transtorno de DM são melhor definidos com base no funcionamento
adaptativo, e não pelos scores de QI. Pois, na verdade, é a tipificação
desse funcionamento que determina o nível mais adequado de apoio
necessário para a criança; comprometimentos mais severos tem neces-
sidade de maior apoio que os quadros mais leves da DM. Aqui, sendo
pensado o apoio no processo de aprendizagem.
Segundo Diament (2016), no processo de aprendizagem, o SNC
é o grande maestro das funções cognitivas, que por meio dos órgãos
do sentido, percebe, analisa, compreende, armazena, elabora e exprime
informações. Por certo que o processo de assimilação dos múltiplos estí-
mulos a que o homem é exposto, exige outras funções cognitivas, como a
64
atenção, as percepções visual, auditiva, táctil-cinestésica; além das apti-
dões para memorizar, planificar e de psicomotricidade para que tenha um
bom aproveitamento das competências cognitivas para o aprendizado.
Portanto, o processo de aprendizagem envolve comportamentos
intrinsecamente relacionados a conceitos psiconeurológicos, como: estí-
mulos, condicionamentos, discriminações, memória, e que vão depender
do nível de cognição -todos esses processos mostram na DM, uma maior
ou menor dificuldade de serem bem implementados (Diament, 2016).

Psicomotricidade
É uma ciência que estuda o processo de maturação cogni-
ção e comando voluntário organizado e integrado com os ambien-
tes que a criança está.
Veja na integras em: https://psicomotricidade.com.br/so-
bre/o-que-e-psicomotricidade/
Acesso em: 03/19

Como bem ressalta Diament (2016) a visão da DM necessita


de um olhar multiplural, que vai muito além das questões que envolvem
a aprendizagem escolar, para ele, “não se está abordando somente a
aprendizagem escolar, como também deve-se de ater aos aprendiza-

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


dos das atividades da vida diária (AVDs) e das atividades da vida prática
(AVPs)” (Colocar entre parênteses, após esta citação, a devida referên-
cia bibliográfica, com o número de página).
Diament (2016) destaca que é preciso avaliar quais as potencia-
lidades de cada indivíduo com DM, e assim determinar os limites e (im)
possibilidades de realizar a alfabetização, e em que nível ela pode se dar.
Todavia, ao constatar impedimentos na alfabetização, é relevante identi-
ficar quais as capacidades o sujeito com DM tem dentro de seus limites
para aprender e poder utilizar esse aprendizado em um cenário social.
Na visão de Toldrá, De Marque e Brunello (2010), conscientizar
profissionais que lidam com a pessoa deficiente (PD, qualquer que seja)
a respeito da inclusão social na vida societária normal é fundamental para
modificação de estigmas sociais quanto a DM. Felizmente o cenário atual
vem mostrando mudanças significativas na relação sociedade e PD.
De acordo os autores, partindo de uma proposta elaborada
pelas Nações Unidas, uma sociedade inclusiva tem como dogmas nor-
teadores, o respeito aos direitos humanos, à liberdade, à diversidade,
65
à justiça social de grupos com alguma vulnerabilidade (temporária ou
permanente) e em busca da participação democrática e do exercício
dos direitos. Assim sendo, faz-se necessário a promoção de condições
igualitárias de oportunidades e a implementação de medidas que pro-
movam a participação das PD nas mais variadas esferas da vida.
O seio familiar onde exista crianças com DM, para Cardozo
e Soares (2011), tem sido apontado como uma das únicas possibili-
dades de desenvolvimento social e emocional para uma criança. Sob
uma perspectiva social mais abrangente, é importante compreender o
processo de desenvolvimento de crianças com necessidades especiais
e as práticas parentais de cuidado, por meio da análise das variáveis
interpessoais, do processo interacional e do contexto familiar
Desde o momento em que os pais ficam sabendo da existência
de uma deficiência em seus filhos, pode emergir muita preocupação
com questões sobre como lidar com a situação no presente, e preocu-
pação com o futuro da criança, condição que pode acompanhar os pais
por toda a vida. Sem dúvida, para os pais a chegada de uma criança
portadora de DM, significa a perda do “filho idealizado” (grifo nosso),
e que alguns pais e familiares, podem ter grande dificuldade em re-
elaborar crenças sobre possibilidades e conseguirem ajustar às suas
expectativas, as representações do filho ideal. Os pais podem acumular
crenças muito fortes, geralmente negativas, e estas são as primeiras
referências para a reconstrução da visão sobre o filho portador de ne-
cessidades especiais (Cardozo & Soares, 2011).
Em alguns casos, a criança com deficiência irá necessitar de mui-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

to mais cuidados físicos, bem como de mais tempo de interação e mais si-
tuações de estímulo ou estudo compartilhado, para obter uma melhora em
competências da aprendizagem escolar. Portanto a harmonia, a qualidade
do relacionamento entre pais e a qualidade do relacionamento entre pais
e filhos são aspectos importantes que irão exercer influência direta na sua
personalidade e no seu sucesso escolar (Cardozo & Soares, 2011).
O desenvolvimento de programas de estimulação desde cedo, as
atividades de lazer e o reforço familiar, ao longo do processo de aprendiza-
gem representa, para os pais, um grande esforço pessoal. Especialmente
por parte das mães; estudos mostram que a mãe é quem mais se envolve
com as questões educativas de laser e de cuidados com os filhos.
Este fato pode ser visto de vários ângulos, as mães estão mais
ligadas nos primeiros meses de vida da criança e, portanto, têm um maior
contato com a criança; os pais têm menor tempo de licença paternidade
para estar junto aos filhos, entre outros. No entanto, foi percebido nas
pesquisas que as mães ao mesmo tempo que sentem a sobrecarga de
cuidar das múltiplas demandas do dia a dia, elas não se sentem à vonta-
66
de de deixar com que outras pessoas cuidem dos filhos; elas ao mesmo
tempo que se queixam da responsabilidade, mostram limitação para de-
legar atividades, muitas por receio que não seja feito de forma “correta”
(a forma como ele entende que precisa ser realizado). Essas mães ao
se afastarem das crianças, apresentam respostas emocionais típicas de
estados de ansiedade moderada a grave (Cardozo & Soares, 2011).
Contribuir com informações, com trabalhos bem estruturados
para dar amparo à criança, às mães e aos familiares é uma condição
muito relevante para que as crianças, mesmo com DM, possam alcan-
çar o seu melhor potencial de aprendizagem e de convivência social.

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67
QUESTÕES DE CONCURSO
QUESTÃO 01
Ano: 2013 Banca: IBFC Órgão: SEPLAG-MG Prova: IBFC - 2013 -
SEPLAG-MG - Pedagogia
Os postulados inatistas servem, para justificar práticas pedagógi-
cas espontaneístas, ou, a pedagogia do dom, do reforço das carac-
terísticas inatas. Em relação à responsabilidade do sucesso esco-
lar, é correto afirmar que essa se encontra no:
(A) Educando.
(B) Pedagogo.
(C) Educando e escola.
(D) Pedagogo e escola
(E) Escola.

QUESTÃO 02
Ano: 2018 Banca: SUGEP - UFRPE Órgão: UFRPE Prova: SUGEP -
UFRPE - 2018 - UFRPE - Pedagogo
Para que o pedagogo não se perca em inúmeras atividades sem
rumo e fique apenas resolvendo problemas emergenciais, é preciso
que ele tenha um eixo articulador da organização do trabalho peda-
gógico, ou seja, o pedagogo escolar deve tomar como referência:
(A) o Plano Diretor.
(B) o Regimento Escolar
(C) as Matrizes Curriculares.
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

(D) o Projeto Político-Pedagógico


(E) a Base Nacional Comum Curricular

QUESTÃO 03
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: EMSERH Prova: FUNCAB - 2016
- EMSERH - Psicopedagogo
De acordo com Gonçalves (2002), “as relações com o conhecimen-
to, a vinculação com a aprendizagem, as significações contidas no
ato de aprender, são estudados pela Psicopedagogia a fim de que
possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educati-
vas e para a ressignificação de atitudes subjetivas”. O psicopeda-
gogo pode atuar em diversas áreas, de forma:
(A) cognitiva e comportamental.
(B) objetiva e subjetiva.
(C) psicológica e pedagógica.
(D) lúdica e institucional.
(E) preventiva e terapêutica.
68
QUESTÃO 04
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: EMSERH Prova: FUNCAB - 2016
- EMSERH – Psicopedagogo.
Leia os textos a seguir:
Claudinei, 10 anos, cursando pela segunda vez a terceira série:
O CACHORRO
Era uma veis um menino que chamado Marco e queria um cachorro
no anessaru (aniversário) dele e neverssaru dele era de junio (ju-
nho) e chegou esse dia e corredo os ameginho dele lá no aniversá-
rio dele. O menino pesa (pensa) no callorrinho (cachorrinho) e tão
o pai deu O presete dele ele abril era tão grande que era uma bola
e bicicleta. E ele fico triste.
Marco Aurélio, 9 anos, terceira série:
NAVES NA ESTRELA
Varias maves estavão lutando ne uma guerra ne uma galagoxia
(galáxia) distante. E ne um outro planeta escau oque Luk estava em
uma base protetora, e se preparando para lutar em guanto isso na
guerra e então luk foi a guera e Luk falou – etaão se aproximando
e chegou o robô xan xam xam pof pof! – falou Luk socoro vom mi
madai (vão me matar e...) salvarão o Luk e recuarão?
ZORZI, J.L. Dislexia, distúrbios de leitura-escrita... De que estamos
falando? Revista Psicopedagogia : 17 (46), 1998, p. 17.
A análise dos textos produzidos pelos dois meninos possibilita ve-
rificar que eles
(A) apresentam graves déficits de atenção e concentração: escrevem

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


corretamente algumas palavras, logo em seguida escrevem de maneira
errada a mesma palavra e erram palavras familiares e fáceis por distra-
ção. Aulas de reforço de Língua Portuguesa são recomendáveis.
(B) apresentam dificuldades na escrita que são relativamente comuns
nas séries iniciais, mas o texto que produzem tem estrutura, seqüência
e coerência, o que revela conhecimentos sobre a língua escrita. Pode-
-se propor a eles um trabalho psicopedagógico.
(C) parecem apresentar um quadro grave de dislexia e disortografia,
devendo ser encaminhados ao neurologista e, após o tratamento ade-
quado, ao psicopedagogo, pois os problemas de aprendizagem devem
ser tratados de forma interdisciplinar.
(D) apresentam dificuldades ortográficas muito freqüentemente obser-
vadas por crianças de baixo nível socioeconômico e cultural. Indica-se
um trabalho psicopedagógico para ajudá-los a familiarizarem-se com a
língua formal.

69
QUESTÃO 05
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: EMSERH Prova: FUNCAB - 2016
- EMSERH - Psicopedagogo
A identificação de um objeto compreende duas etapas distintas,
uma de sensação e outra de interpretação. A etapa de interpreta-
ção é também denominada:
(A) Apraxia.
(B) Gnosia.
(C) Somestesia.
(D) Agonia.
(E) Anartria.

QUESTÃO 06
Ano: 2012 Banca: Quadrix Órgão: CFP Prova: Quadrix - 2012 - CFP
- Psicologia - Neuropsicologia
A atenção é composta de várias funções. A capacidade de prestar
atenção à leitura de um livro enquanto ignoramos outro estímulo,
como o barulho do rádio, mobiliza a função:
(A) Seletiva.
(B) Vigilância e detecção de sinal.
(C) Sondagem.
(D) Distribuição.
(E) Adição.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANTO A UNIDADE


BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

Há muito é feito uma tentativa de promover o senso de igualdade so-


cial como uma condição básica para um bom desenvolvimento pessoal,
social, cultural e etc. Apesar de alguns índices já mostrarem melhorias
na questão da inclusão, muito precisa ser feito a respeito desse tema,
pois os prejuízos em relação à aprendizagem escolar são significativos
e, pensando numa dimensão temporal; as dificuldades enfrentadas no
processo de escolarização infantil podem persistir por anos e prejudicar
toda uma potencialidade de desenvolvimento pessoal. Todavia, as famí-
lias não estão isentas de contribuir, mesmo que de forma inconsciente,
para o aumento das dificuldades. Assim sendo, comente sobre como os
estilos parentais podem prejudicar o desenvolvimento infantil dos filhos.

TREINO INÉDITO
Leia as afirmativas e marque V para as verdadeira e F para as afir-
mativas falsas:
____ As funções executivas são aquelas que estão envolvidas nos
processos cognitivos de planejamento, estratégias cognitivas, fle-
70
xibilidade mental, memória operacional, fluência e controle inibitó-
rio. Portanto essas funções tem uma forte ligação com os proces-
sos de aprendizagem.
____ existe uma diferença entre a criança ter crises epiléticas e ter
a doença epilepsia. Uma criança pode ter crise epiléticas e não ter
epilepsia.
____ conscientizar profissionais que lidam com a pessoa a respei-
to da inclusão social na vida societária normal é fundamental para
modificação de estigmas sociais quanto a capacidade das crian-
ças com Deficiência Mental.
Marque a opção correta:
(A) VVV
(B) FVV
(C) FFV
(D) FFF
(E) Nenhuma das Alternativas Anteriores

NA MÍDIA
A Psicomotricidade é uma importante ciência que estuda por meio do
corpo aspectos dos movimentos voluntários ou não. Tem como campo
de interesse o processo de maturação neuronal e a origem de aquisi-
ções orgânicas, afetivas e cognitivas.
Ela reúne saberes da psicologia, fisiologia, antropologia e outras áreas
relacionais. Segundo artigo “é uma ciência encruzilhada... que utiliza
as aquisições de numerosas ciências constituídas (biologia, psicologia,

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


psicanálise, sociologia, linguística...)”.
Esta ciência possui linhas de atuação educativa, terapêutica, relacional e
reeducativa. De certa forma todas vão confluir para o desenvolvimento de
uma consciência corporal mais refinada. Essa consciência corporal envol-
ve todo o sistema motor, sensório e límbico. É uma importante ciência para
atuar no desenvolvimento das habilidades mais refinadas do ser humano.
Ver na integra em: https://psicomotricidade.com.br/o-sujeito-na-pratica-
-psicomotora/
Acesso em: 03/19

NA PRÁTICA
APRENDIZAGEM E TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: POSSÍVEIS
LIGAÇÕES
Existe realmente uma relação entre transtorno psiquiátricos e transtor-
nos de aprendizagem. A possível causa é que ambas estão ligadas e
conexões neurológicas e conexões funcionais do córtex cerebral. Por
exemplo podemos imaginar um paciente que apresenta alteração nas
71
vias dopaminérgicas, o que irá promover comprometimento nas funções
executivas, na memória operacional, na atenção seletiva; todas compe-
tências essenciais para um processo formal de ensino-aprendizagem.
Para saber mais: https://neurosaber.com.br/
Indicação de filme: O primeiro da classe.
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

72
Neste trabalho o principal objetivo foi de destacar temáticas li-
gadas à neurobiologia da aprendizagem, apresentando seus substratos
neuronais estruturantes, bem como apresentação de elementos corre-
lacionados com a anatomia da aprendizagem. Com especial destaque
para papel das moléculas mensageiras de dados interneurônios, os co-
nhecidos neurotransmissores e discutir quanto ao custo do não conhe-
cimento sobre o sistema nervoso e a prática profissional.
Pesquisas na área das neurociências por certo representam
elevado custo monetário, pois são necessários aparatos tecnológicos
de ponta. Entretanto, cabe ressaltar que o custo da ignorância sobre o
SNC pode ser muito mais caro que o investimento em pesquisa.
Para consolidar ainda mais o entendimento do fenômeno da
aprendizagem é ressaltado os aspectos genéticos da aprendizagem.
Impactos dos movimentos de eugenia e sua marca inicialmente nega-
tiva é um tema que precisa cada vez mais ser debatido para que as
práticas de pesquisa estejam balizadas em preceitos éticos e morais.
A aprendizagem da leitura e escrita é um dos melhores indica-
dores de um arranjo cognitivo processual. Todavia, existem os fenôme-
nos desviantes da norma como as dislexia do desenvolvimento e suas
marcas para o diagnóstico diferencial.
Entender alguns aspectos das deficiências intelectuais a da epi-
lepsia, contribuem para que crianças, pais, professores, neuropediatras,
pedagogos, psicólogos, dentre outros, possam articular os conhecimen-
tos e contribuir com o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem.
Esses temas trabalhados visam o aprimoramento profissional

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS


para que o olhar do profissional, agora, esteja sensível às questões neu-
robiológicas que estão presentes no processo de ensino-aprendizagem.

73
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Por certo os custos econômicos para investigar as disfunções ence-


fálicas são enormes, ainda mais que muito pouco se sabe sobre esse
órgão funciona, quando pesquisas vem descobrir algo sobre esse fun-
cionamento, metaforicamente é como se ele se escondesse novamen-
te, rapidamente outros achados vem a somar com os antigos, algumas
vexes até mesmo descontruindo o antigos saberes.
Todavia tudo isso perde importância se comparados com o custo emo-
cional que atinge as vítimas e suas famílias. Seres humanos com sofri-
mento mental, físico ou emocional e sequer se sabe as causas desse
mal. Vale lembrar que as medicações que contribuem com esse alívio.
Muitas delas sabe-se que ajudam, todavia como elas fazem esses efei-
tos são completamente desconhecidos aprofundadamente.
A prevenção e o tratamento das doenças mentais requerem a com-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

preensão da função normal do encéfalo, e esse conhecimento básico é


o escopo das neurociências, e como ainda temos muito a saber, aumen-
ta ainda mais o custo com pesquisas.
Muitas pesquisas avançadas em neurociências usam como sujeito de
pesquisa modelos animais, que em nada se comparam a complexidade
do cérebro humano. A pesquisa em neurociências já́ contribuiu para o
desenvolvimento de tratamentos efetivamente melhores para a doen-
ça de Parkinson, para a depressão e para a esquizofrenia. Novas es-
tratégias estão sendo testadas para se recuperar neurônios que estão
morrendo em pacientes com a doença de Alzheimer e naqueles que
sofreram AVE. Grande progresso tem sido alcançado na compreensão
de como as drogas e o álcool afetam o encéfalo e como levam à de-
pendência. O material deste livro demonstra que se sabe muito sobre
a função do encéfalo. No entanto, o que sabemos é insignificante se
comparado aquilo que ainda temos de aprender.

74
Gabarito: C
TREINO INÉDITO

75
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Por certo que não trouxe apenas aspectos positivos. Estas concepções
na verdade trouxeram grande preocupação na Inglaterra, pois segundo
essas ideias apenas os homens mais adaptados teriam chance de sobre-
viver. Nessa época houve uma grande diminuição do número de nasci-
mentos nas pessoas de classes mais altas e médias e um aumento de
nascimento de pessoas de classe baixa. O que preocupou a muitos na
Europa. Ou seja, o movimento teorizado da origens das espécies, possi-
bilitou manipular as informações para atender uma demandas específica.
Portanto, pareceu lógico realizar uma melhoria da raça humana por
meio da ciências da “eugenia” -o bem nascido-. Para muitos parecia o
ideal, realizar a proibição de uniões indesejadas e a promoção de união
entre parceiros bem nascidos. Surge então a chamada “eugenia positi-
va” na Europa. Mas no EUA todavia houve um movimento inverso, a eu-
genia “negativa” com a eliminação das gerações dos “geneticamente in-
capazes”, os enfermos, os socialmente indesejáveis e economicamente
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

menos abastado. Dentre as estratégias adotadas estava, a proibição


de casamentos, esterilização compulsória, eutanásia passiva. Em ou-
tras palavras “Extermínio”. Todavia sob a luz de argumentos da ciência,
portanto considerado o mais adequado para ocorrer a melhoria da es-
pécie. Os eugenistas também utilizavam os conhecimentos científicos
para atestar que a hereditariedade tem um papel-chave para promover
patologias sociais e doenças. Isso tornou os imigrantes um alvo fácil
para os defensores dessa nova pseudociência.
O líder do movimento eugenista dos EUA foi Charles Davenport, que dirigia
o laboratório de biologia do Brooklin Institute of Arts and Science, em Long
Island, instalado em Cold Spring Harbor. Em 1903, obteve da Carnegie Ins-
titution o estabelecimento de uma Estação Biológica Experimental no local,
onde a eugenia seria abordada como ciência genuína. Em seguida, jun-
tou-se aos criadores de animais e especialistas em sementes da American
Breeders Association, muitos deles convencidos de que o conhecimento
mendeliano sobre gado e plantas era aplicável a seres humanos.
O racismo dos primeiros eugenistas norte-americanos não era contra
76
não-brancos, mas contra não-nórdicos, e as doutrinas de pureza e su-
premacia raciais eram elaboradas por figuras públicas cultas e respeita-
das. Quando as teorias de Mendel chegaram aos EUA, esses pensado-
res influentes acrescentaram um verniz científico ao ódio racial e social.

TREINO INÉDITO
Gabarito: B

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

77
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O seio familiar é uma das mais relevantes possibilidades de desenvolvi-


mento social e emocional para uma criança. Desde o momento em que
os pais ficam sabendo da existência de uma deficiência em seus filhos,
pode emergir muita preocupação com questões sobre como lidar com
a situação no presenta e preocupação com o futuro da criança, condi-
ção que pode acompanhar os pais por toda a vida. Sem dúvida para os
pais, a chegada de uma criança portadora de DM, significa a perda do
“filho idealizado” (grifo nosso), e que alguns pais e familiares, podem ter
grande dificuldade em reelaborar crenças sobre possibilidades e conse-
guirem ajustar às suas expectativas, as representações do filho ideal.
Os pais podem acumular crenças muito fortes geralmente negativas, e
estes são os primeiros referências para a reconstrução da visão sobre
o filho portador de necessidades especiais (Cardozo & Soares, 2011).
Em alguns casos, a criança com deficiência irá necessitar de muito mais
cuidados físicos, bem como de mais tempo de interação e mais situa-
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

ções de estímulo ou estudo compartilhado para obter uma melhora em


competências da aprendizagem escolar. Portanto a harmonia, a qua-
lidade do relacionamento entre pais e a qualidade do relacionamento
entre pais e filhos são aspectos importantes que irão exercer influência
direta na sua personalidade e no seu sucesso escolar. O desenvolvi-
mento de programas de estimulação desde precoce, as atividades de
lazer e o reforço familiar ao longo da escolarização representa, para os
pais, um grande esforço pessoal. Especialmente por parte das mães,
estudos mostram que a mãe é quem mais se envolve com as questões
educativas de laser e de cuidados com os filhos. Foi percebido nas pes-
quisas que as mães ao mesmo tempo que sentem a sobrecarga de cui-
dar das múltiplas demandas do dia a dia, elas não se sentem à vontade
de deixar com que outras pessoas cuidem dos filhos; elas ao mesmo
tempo que se queixam da responsabilidade, mostra limitação em dividir
as atividades, muitas por receio que não seja feito de forma correta. Es-
sas mães ao se afastarem apresentam respostas emocionais típicas de
estados de ansiedade moderada a grave. Contribuir com informações,
78
com trabalhos bem estruturados para dar amparo a criança, as mães
e aos familiares é uma condição muito relevante para que as crianças
mesmo com DM possam alcançar o seu melhor potencial de aprendiza-
gem e de convivência social.

TREINO INÉDITO
Gabarito: A

BASES NEUROBIOLÓGICAS DA APRENDIZAGEM - GRUPO PROMINAS

79
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