Direitos Humanos e Saúde Mental
Direitos Humanos e Saúde Mental
Direitos Humanos e Saúde Mental
Direitos Humanos
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conteudista/s
Ana Raquel Torres Menezes (Conteudista, 2023).
Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – Introdução ao Direito Internacional dos Direitos
Humanos
1. Direitos humanos................................................................................................. 6
1.1. Conceito de direitos humanos ................................................................................. 6
1.2. Histórico dos direitos humanos ............................................................................ 13
1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais .......................................................... 21
2. Direito à saúde.................................................................................................... 77
2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento................................... 77
2.2. Direito à saúde mental............................................................................................ 87
Referências............................................................................................................ 185
Glossário................................................................................................................ 196
Olá, estudante!
1. Direitos humanos
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os direitos
humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres
humanos.
Fonte: https://www.flaticon.com/br
Uma característica importante dos direitos humanos é a sua essência ética. Além
desse aspecto, esses direitos são normas jurídicas estabelecidas em diferentes
fontes de direito internacional.
Assim, pode dizer que os direitos em questão são demandas sociais que buscam
realizar bens éticos que permitem que os indivíduos desfrutem de uma vida digna,
e que sejam reconhecidos pela sociedade. Os direitos humanos desempenham
a função de concretizar a dignidade humana para que todos os seres humanos
possam desenvolver suas capacidades pessoais.
Fonte: “A young patient has his vital signs checked” by World Bank Photo
Collection is licensed under CC BY-NC-ND 2.0. To view a copy of this license, visit
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse.
Sobre isso, é importante destacar que apenas fontes de direito internacional podem
originar direitos humanos: normas constitucionais ou leis nacionais não geram
direitos humanos.
O Estado é o sujeito que tem obrigações para com os indivíduos no plano do Direito
Internacional dos Direitos Humanos. Por esse motivo, a relação de direitos humanos
se estabelece exclusivamente entre o Estado e os indivíduos.
Sobre isso, citamos o seguinte trecho do livro “Direitos Humanos dos Pacientes”, da
especialista e pós-doutora em Direitos Humanos Aline Albuquerque:
Nesse ponto, é importante que você entenda que os direitos humanos surgiram
com base em uma teoria de direitos naturais.
É importante destacar que, embora tenha havido grande avanço em prol dos
direitos humanos no século XVIII, a afirmação de direitos inatos não abrangeu
todas as pessoas: mulheres, escravos, minorias religiosas, crianças, pessoas com
deficiência e privadas de liberdade não foram abarcados. Esse progresso somente
seria alcançado nos séculos seguintes.
Assim, algumas das principais inovações trazidas pela Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão são:
- atribuição da soberania aos indivíduos, e não ao rei;
- rechaço à ideia de privilégios para a ocupação de cargos públicos; e
- introdução da meritocracia, na medida em que estabelecia que “todos são
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos,
segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes
e dos seus talentos”.
Em termos de direitos humanos, o século XIX foi marcado pela busca por direitos no
trabalho, acesso universal à educação, abolição da escravidão e maior expansão
do direito ao voto. Vamos agora falar sobre os movimentos sociais que aconteceram
na Europa nesse século e que foram fundamentais para o reconhecimento de novos
direitos humanos.
Durante o século XIX, a abolição da escravatura foi uma das questões mais importantes
dos direitos humanos. Portugal aboliu a escravatura, em 1761, apenas na Metrópole
e em suas colônias nas Índias. A Grã-Bretanha proibiu o tráfico de escravos em
suas colônias, em 1807, e aprovou a Lei da Abolição, em 1833. A lei britânica teve
impacto na América Latina, onde a escravidão foi abolida em vários países, como:
Venezuela, em 1810; Argentina, em 1812; Chile, em 1823; México, em 1829; Peru,
em 1854; Cuba, em 1880; e Brasil, em 1888. Nos Estados Unidos, a escravidão foi
mantida na Constituição, em razão dos interesses dos proprietários de fazendas
do sul. Um tribunal na Carolina do Sul decidiu que as escravas não tinham direitos
legais sobre seus filhos, o que permitia que as crianças fossem vendidas e separadas
de suas mães a qualquer momento. Organizações internacionais, como a Sociedade
Contra Escravidão, empreenderam esforços para obstruir o comércio de escravos
no Atlântico e proibir a escravidão nas colônias europeias e nos Estados Unidos. A
Declaração Universal da Abolição do Comércio de Escravos, de 1815, foi o primeiro
documento internacional contra a escravidão. Acordos bilaterais e multilaterais
entre países também passaram a proibir o comércio de escravos e a escravidão.
É importante destacar que o direito ao voto, conquistado no século anterior, era
restrito ao homem branco proprietário ou detentor de determinada renda.
No século XIX, a França foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal para homens,
mas depois retomou os requisitos referentes à propriedade para o voto. Os socialistas
defendiam a educação pública para todos como um direito social dos cidadãos e,
no final do século XIX, acreditava-se que a educação pública seria importante para
formar um eleitorado educado e mão de obra qualificada. O século XIX apresentou
Nas últimas décadas do século XIX, a visão do Estado como violador dos direitos
humanos ganhou ênfase. No século XXI, porém, passa-se a focar no papel do
Estado como garantidor e protetor dos direitos humanos.
+ A revolução digital
A tecnologia digital pode gerar diversos benefícios para o avanço dos direitos
humanos. Alguns desses benefícios são o empoderamento e a informação de
grupos vulneráveis e a visibilidade dada a violações de direitos humanos.
Para saber mais sobre a questão dos refugiados, você pode acessar
o sítio eletrônico da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR):
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/.
Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos últimos séculos, ainda há um
longo caminho a ser percorrido até que todas as pessoas tenham acesso a uma vida
digna nos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Direitos
Direitos Humanos (DH)
Fundamentais (DF)
Tratados e declarações
Órgão criador da norma de organismos Constituições dos Estados
internacionais
Jurisprudência
Demarcação de conceito internacional – decisões Tribunais nacionais
(concretização da norma) de órgãos judiciais, quase (jurisprudência nacional)
judiciais e políticos
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes: [...]
Direito à Saúde
Enquanto direito Enquanto direito
humano fundamental
Direito de toda pessoa
Direito fundamental
de desfrutar o mais
Nome do direito à saúde
elevado nível de saúde
física e mental
Pacto Internacional
Em que norma está sobre os Direitos Constituição Federal
disposto esse direito? Econômicos, Sociais (Arts. 6º e 196)
e Culturais (Art. 12)
Comentário Geral nº
Quem concretiza o 14, produzido pelo
conceito e as obrigações Comitê sobre os Direitos Supremo Tribunal Federal
que esse direito gera? Econômicos, Sociais
e Culturais da ONU
Quem monitora
Sistema ONU de
o cumprimento ADPF
Direitos Humanos
desse direito?
[...]
[...]
[...]
Ainda, a Corte IDH tem a autoridade para emitir pareceres consultivos sobre questões
relacionadas aos direitos humanos que são protegidos pelo Sistema Interamericano
de Direitos Humanos, bem como para avaliar a conformidade das leis nacionais dos
Estados com esses mesmos direitos.
Esta unidade irá tratar apenas dos direitos de primeira e de segunda dimensão, pois
os chamados direitos de terceira dimensão não estão estabelecidos de forma sólida
nas normas dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.
Assim, percebemos que os direitos humanos que são atualmente reconhecidos nas
normas internacionais apresentam características de grupos distintos. Eles derivam
de um longo processo de lutas sociais e avanços nas sociedades e na comunidade
internacional.
Alguns dos valores adotados pela perspectiva liberal política são as liberdades de:
Fonte: https://www.flaticon.com
Os direitos civis e políticos possuem aplicação imediata. Isso quer dizer que, uma
vez ratificada a normativa que prevê esses direitos, os Estados são obrigados a
aplicá-los. Por exemplo, uma vez que o Brasil se comprometeu, por meio do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos adotado pela ONU em 1966, a não
prender um indivíduo arbitrariamente, ele se torna imediatamente obrigado a
cumprir essa determinação.
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) estabelece, no Artigo 2.1,
a aplicação imediata de todos os direitos nele previstos:
ARTIGO 2º
ARTIGO 6º
2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar
o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica
e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para
assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno
emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das
liberdades políticas e econômicas fundamentais.
ARTIGO 12
Diferentemente dos direitos civis e políticos, que são normas de aplicação imediata,
os direitos econômicos, sociais e culturais são normas de realização progressiva.
Esses direitos são garantidos pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, adotado pela ONU em 1966. Esse documento estabelece que o
Estado se compromete a adotar medidas para o pleno exercício dos direitos neles
reconhecidos. Nesse sentido:
Os Estados deverão, assim, fazer uso dos meios apropriados, incluindo medidas
legislativas, administrativas, judiciais, econômicas, sociais e educacionais,
consistentes com a natureza dos direitos, a fim de realizá-los. Ainda no que diz
respeito aos recursos, os Princípios de Limburg preceituam que os Estados devem
prever recursos efetivos, e que é esse mesmo Estado parte quem avalia a adequação
dos meios a serem aplicados por ele.
22. O artigo 12º, n.º 2 alínea a) descreve a necessidade de adotar medidas para
reduzir a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento saudável de bebés
e crianças. Em subsequentes instrumentos internacionais de direitos humanos é
reconhecido que crianças e adolescentes têm o direito de gozar o melhor estado
de saúde possível e o acesso a centros de tratamento de doenças. Uma atribuição
inapropriada de recursos de saúde pode dar lugar a uma discriminação que
poderá não ser manifesta. Por exemplo, os investimentos não devem favorecer
desproporcionadamente os serviços curativos caros que muitas vezes são apenas
acessíveis a uma pequena fração privilegiada da população, em detrimento
da atenção primária e preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da
população.
Isso quer dizer que, se o Estado limitar os recursos com gastos sociais, ele pode
ser responsabilizado internacionalmente por violar direitos humanos.
As medidas que retroagem em termos de direitos sociais são aquelas que fazem
com que os Estados abandonem políticas e programas destinados a assegurar os
direitos sociais. Além disso, as restrições causadas por essas medidas repercutem
Como vimos, nosso estudo não aborda os chamados direitos humanos de terceira
dimensão, visto que esta classificação não apresenta significativa relevância. Isso
acontece porque esses direitos não são usualmente objeto de peticionamento e
monitoramento dos órgãos internacionais de direitos humanos, ou seja: não é
comum que se denuncie a violação desses direitos aos sistemas de direitos humanos
e nem que esses sistemas possuam mecanismos para acompanhar o cumprimento
de tais direitos.
As autoras explicam que “os direitos humanos não são uma mera ideia ou discurso,
são direitos que acarretam obrigações para os Estados”. Nesse sentido, “se o mundo
conseguir assegurar os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais para
todas as pessoas, não se vislumbra a utilidade de se lançar novos catálogos de
direitos” (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 119).
• Normas
• Órgãos
• Mecanismos
Para que uma região do planeta possa contar com um Sistema Internacional de DH,
esses três elementos precisam estar presentes.
Não recebem
Processam petições e
comunicações e
comunicações individuais,
petições individuais e,
e desse processamento
portanto, não expedem Detêm o poder
resulta uma decisão
recomendações jurisdicional, logo,
que serve de base
destinadas a casos proferem sentenças
para recomendações
específicos e assim internacionais.
que ensejam a
não responsabilizam
responsabilização
o Estado por violação
internacional do Estado.
de direitos humanos.
Assim, você pode perceber que os Estados devem cumprir tanto as sentenças
quanto as recomendações dos relatórios, porque ambos derivam da ratificação de
tratados, não importando se a decisão é proveniente de órgão judicial ou quase
judicial. Ou seja:
Assim, perceba que o primeiro responsável pela observância dos direitos humanos é
o Estado, e os próprios tratados de direitos humanos atribuem importantes funções
de proteção aos órgãos dos Estados. Quando os Estados ratificam esses tratados,
passam a ter a obrigação geral de adequar o seu ordenamento jurídico interno às
diretrizes de proteção dos direitos humanos estabelecidas no instrumento que
ratificaram.
Além disso o Sistema ONU conta com sete Convenções Temáticas que incluem:
Veja, a seguir, mais algumas informações acerca das duas Convenções mais
relevantes para o escopo desta unidade: a Convenção contra a Tortura e Outras
Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:
De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma
pessoa, a fim de:
• Física
• Mental
• Intelectual
• Sensorial
Mecanismos Funções
A proposta é realizar revisões periódicas universais baseadas
em informações objetivas e confiáveis sobre o cumprimento
das obrigações e compromissos de direitos humanos de
cada Estado, garantindo a universalidade e igualdade de
Revisão
tratamento para todos os Estados membros da ONU.
Periódica
Os Estados avaliam mutuamente a situação de direitos
Universal
humanos em seus respectivos países e têm a oportunidade
de demonstrar as ações desenvolvidas para melhorar essa
situação. O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos
47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos.
Qualquer pessoa, grupo ou organização pode apresentar
uma comunicação confidencial sobre violações graves e
sistemáticas de direitos humanos em qualquer parte do
Procedimento mundo. Um grupo de trabalho verifica se a queixa preenche
de Queixa os requisitos necessários para prosseguir e, em seguida,
um outro grupo analisa a comunicação e a resposta do
Estado denunciado, apresentando um relatório com
recomendações ao Conselho de Direitos Humanos.
Os procedimentos especiais consistem em especialistas
independentes que elaboram relatórios e orientações sobre
direitos humanos, seja a partir de uma perspectiva temática
Procedimentos
ou de um país específico. Eles monitoram e informam sobre
Especiais
violações de direitos humanos, recomendando soluções e
realizando missões para avaliar a situação em um país e
apresentando relatórios ao Conselho de Direitos Humanos.
+ Relatórios
Os relatórios são enviados dentro de um ou dois anos após o tratado entrar em
vigor e, depois, seguem a periodicidade de quatro ou cinco anos, a depender do
tratado.
Nos relatórios, os Estados informam as medidas, em particular, legislativas,
judiciais e administrativas adotadas para assegurar a fruição dos direitos
constantes do tratado, bem como os fatores e as dificuldades que influenciam a
efetivação dos direitos humanos em seu território.
+ Comunicações Individuais
Os órgãos dos tratados podem também receber comunicações de indivíduos
que aleguem ter sofrido violações de direitos humanos. Para que a comunicação
seja aceita, alguns requisitos precisam ser atendidos:
• Competência contenciosa
• Competência consultiva
A Corte IDH é composta por sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA,
eleitos pela Assembleia Geral da OEA a título pessoal para um período de seis anos,
e que só podem ser reeleitos uma vez. As audiências da Corte IDH são, geralmente,
públicas e podem ocorrer em qualquer Estado membro da OEA, se assim for
decidido.
Fonte: https://www.flickr.com/photos/65759046@N07/39665090455
Além disso, ressalta-se que não é necessário ser representado por um advogado
para apresentar petição ao Sistema.
O peticionário apresenta a
Apresentação da petição
petição perante a CIDH.
A CIDH analisa a petição e solicita
Análise da petição
informações ao Estado envolvido.
É importante lembrar que o processo perante a CIDH pode variar de acordo com o
caso e as circunstâncias específicas envolvidas. As fases apresentadas na tabela são
uma síntese geral do processo.
A CIDH submeterá um caso à Corte IDH por meio de relatório que contenha todos
os fatos supostamente violadores dos direitos humanos, inclusive a identificação
das supostas vítimas. Um Estado parte também poderá submeter um caso à Corte,
A Corte irá, então, deliberar privadamente e aprovar a sentença, que será notificada
às partes.
A Corte IDH pode, quando entender conveniente, convocar as partes para uma
audiência de supervisão da sentença. A Corte IDH apontará à Assembleia Geral da
OEA os casos em que o Estado não tenha dado cumprimento à sua sentença com
as recomendações correlatas.
Sobre isso, veja a seguir trechos da sentença do caso Ximenes Lopes vs. Brasil, de
2006. Na sentença, a Corte dispõe que:
Nesse ponto resolutivo, a Corte exige que o Estado publique no Diário Oficial da
União e em outro jornal trechos da sentença, visando dar publicidade ao caso.
10. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes
e Irene Ximenes Lopes Miranda e para os senhores Francisco Leopoldino Lopes
e Cosme Ximenes Lopes, no prazo de um ano, a título de indenização por dano
imaterial, a quantia fixada no parágrafo 238, nos termos dos parágrafos 237 a
239 da presente Sentença. (CORTE IDH, 2006, p. 84)
Instrumentos gerais:
• Convenção Europeia de Direitos Humanos
• Carta Social Europeia de Direitos Humanos
Instrumentos Temáticos:
• Convenção Europeia sobre o Status Legal dos Trabalhadores Migrantes
(1977)
• Convenção para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos
Desumanos ou Degradantes (1987)
• Convenção sobre a Participação de Estrangeiros na Vida Pública (1992)
• Convenção Quadro para a Proteção das Minorias Nacionais (1994)
• Convenção de Oviedo (Convenção para a Proteção dos Direitos
Humanos e Dignidade do Ser Humano em Relação à Aplicação na
Biologia e Medicina) (1997)
• Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos das Crianças (2000)
• Convenção Europeia sobre Nacionalidade (2000)
• Convenção sobre o Cibercrime (2001) e seu Protocolo sobre Xenofobia e
Racismo (2003)
• Convenção sobre a Ação Contra o Tráfico de Pessoas (2005)
• Convenção do Conselho da Europa para a Proteção da Criança Contra a
Exploração Sexual e Abuso Sexual (Convenção Lanzarote) (2007)
• Convenção sobre a Prevenção e Combate à Violência Contra a Mulher e
Violência Doméstica (Convenção de Istambul) (2011)
3.5. Conclusão
Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos são responsáveis por promover a
proteção dos direitos humanos em todo o globo. Esses Sistemas são formados por
normas, que os conduzem; órgãos, que monitoram o cumprimento das normas; e
mecanismos, que são as ferramentas usadas pelos órgãos no monitoramento.
Nesse contexto, o caso Ximenes Lopes vs. Brasil consistiu em uma demanda
apresentada à Corte IDH contra o Estado brasileiro pela violação aos artigos 4 (Direito
à Vida), 5 (Direito à Integridade Pessoal), 8 (Garantias Judiciais) e 25 (Proteção Judicial)
da Convenção Americana. O Estado brasileiro foi condenado, em 2006, pela violação
desses artigos e vem desde então adotando medidas para cumprir o disposto na
sentença. Uma dessas medidas é o desenvolvimento de:
Olá, estudante!
Os direitos humanos são universais. Eles foram criados com a finalidade de proteger
a dignidade e o inerente e igual valor de todas as pessoas. Esses direitos são
inalienáveis, interdependentes e se relacionam entre si.
Para fins didáticos, os direitos humanos foram divididos em direitos civis, culturais,
econômicos, políticos e sociais.
Alguns direitos humanos estão relacionados à saúde de forma indireta, o que nos
mostra que há um relacionamento complexo entre a saúde e o campo dos direitos
humanos. Para ilustrar essa ligação, as conexões entre saúde e direitos humanos
são muitas vezes descritas como os três campos de interação entre direitos
humanos e saúde, que compreendem:
Fonte: Elaborada pela autora, com base em ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Direitos
humanos e saúde. [S.l.]: OMS, 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/
fact-sheets/detail/human-rights-and-health#:~:text=The%20right%20to%20health%2C%20
as,consensual%20medical%20treatment%20and%20experimentation). Acesso em: 17 mar. 2023.
+ Tortura
Há diversas normativas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU)
sobre o tema da tortura e de outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes. A Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos
Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi adotada em 1984.
De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma
pessoa a fim de:
• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões;
• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou
seja suspeita de ter cometido;
• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas ou por qualquer
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza.
Sobre esse assunto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que
“ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).
Em alguns países, o estigma associado ao tráfico sexual pode ser reforçado por
sistemas legais que criminalizam a prostituição. O tráfico sexual pode também
levar a consequências em saúde, como HIV/AIDS, e ao abuso de substâncias,
que estão associados a mais estigma. É importante perceber que fatores gerais
de risco de estresse pós-traumático incluem condições da vítima, como ser
do sexo feminino, ter baixo nível educacional e transtornos de saúde mental
preexistentes, que são fatores comumente percebidos em vítimas de tráfico.
No que diz respeito às crianças, formas de trabalho infantil, como a servidão
doméstica, constituem formas contemporâneas de escravidão. As crianças
submetidas a essas violações normalmente não têm acesso efetivo à educação e
a serviços básicos de saúde.
A Resolução das Nações Unidas A/RES/64/292 declarou que a água limpa e segura,
bem como o saneamento, são direitos humanos essenciais para que se possa gozar
plenamente a vida e todos os outros direitos humanos. O respeito ao direito à água
reduz a vulnerabilidade a diversos problemas de saúde:
Segundo Almeida, o racismo estrutural é um tipo de racismo que está presente nas
estruturas e instituições da sociedade, perpetuando a desigualdade racial. Essas
desigualdades não são resultado de ações individuais, mas sim de uma estrutura
social que perpetua o racismo e a exclusão. No que diz respeito à saúde mental,
o racismo estrutural se manifesta, por exemplo, na falta de acesso equitativo a
serviços de saúde mental para grupos raciais historicamente marginalizados: a
falta de recursos para tratamentos em áreas de baixa renda, a falta de profissionais
de saúde mental em comunidades negras e a estigmatização da saúde mental em
algumas comunidades.
Art. 25. Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas
de discriminação mencionadas no artigo 2 e sem restrições infundadas:
a) De participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de
representantes livremente escolhidos;
(PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, 1966, Art. 25)
ARTIGO 17
Em respeito a esse direito, os dados pessoais de saúde devem ser tratados com
confidencialidade:
Embora saibamos que os direitos humanos são muitas vezes violados por políticas e
medidas de saúde, alguns direitos humanos não podem ser restritos em nenhuma
circunstância, como o direito a não ser torturado e a não ser escravizado, e a
liberdade de pensamento, de consciência e de religião. As cláusulas de limitação e
de derrogação nos instrumentos de direitos humanos reconhecem a necessidade
de limitar direitos humanos em algumas situações. A saúde pública é, muitas vezes,
usada pelos Estados como base para limitar o exercício de direitos humanos.
O direito à saúde é um direito humano. Sendo assim, ele está protegido em diversos
documentos, como o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, no artigo 12:
ARTIGO 12
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim
de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam
necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o
desenvolvimento são das crianças;
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais
e outras, bem como a luta contra essas doenças;
d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços
médicos em caso de enfermidade.
• Bens
• Serviços
Para que se possa alcançar o mais alto nível possível de saúde física e mental.
1. Igualdade
2. Não discriminação
3. Accountability
4. Participação
5. Proteção dos vulneráveis
65. O papel da OMS, do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados, do Comité Internacional da Cruz Vermelha/Crescente Vermelho e do
UNICEF, bem como de organizações não governamentais e associações médicas
nacionais, é de particular importância no que respeita à prestação de auxílio
em casos de desastre e de assistência humanitária em casos de emergência,
incluindo assistência a refugiados e a deslocados internos. Ao proporcionar
ajuda médica internacional e ao distribuir e gerir recursos como água limpa e
potável, alimentos e equipamento médico, bem como ajuda financeira, há que
dar prioridade aos grupos mais vulneráveis ou marginalizados da população.
• Disponibilidade
• Acessibilidade
• Qualidade
• Aceitabilidade
+ Acessibilidade
Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de ser acessíveis a todos,
sem discriminação, no âmbito do Estado parte. A acessibilidade consta de quatro
dimensões sobrepostas:
(iv) Acesso à informação: Este acesso inclui o direito de solicitar, receber e difundir
informações e ideias relativas a questões de saúde. No entanto, o acesso à
informação não deve comprometer o direito de que os dados pessoais relativos
à saúde sejam tratados com confidencialidade.
+ Qualidade e Aceitabilidade
A qualidade dos cuidados em saúde impacta diretamente no gozo dos outros
direitos humanos, como o direito à vida e o direito ao respeito pela vida privada,
pois cuidados em saúde sem qualidade, como os providos por profissionais de
saúde e peritos, baseados em tecnologia insegura ou não centrados na pessoa
sob cuidados em saúde podem causar danos à pessoa sob cuidados em saúde e
desrespeitar seus valores e crenças privadas. (ALBUQUERQUE, 2016, p.174)
A aceitabilidade, por sua vez, pode ser definida como o respeito pela ética
médica e pelos padrões culturais por parte dos serviços de saúde.
1. Obrigação de respeitar
A obrigação de respeitar corresponde à chamada obrigação negativa, que é
a obrigação de deixar de fazer algo. Nesse caso, os Estados devem abster-se
de negar ou limitar o acesso de todas as pessoas a bens e serviços de saúde.
Além disso, devem deixar de impor práticas discriminatórias.
2. Obrigação de proteger
A obrigação de proteger envolve uma atuação do Estado. Essa atuação deve
acontecer no sentido de evitar que terceiros violem o direito à saúde dos seus
jurisdicionados. Por exemplo, o Estado deve estabelecer requisitos para a
formação de profissionais de saúde e controlar a produção, distribuição e
venda de medicamentos para garantir que o atendimento em saúde e os
medicamentos ofertados sejam aceitáveis e de qualidade.
3. Obrigação de realizar
A obrigação de realizar está relacionada a ações de “garantir” por parte
do Estado. Um status deve garantir os cuidados em saúde, bem como os
serviços de promoção e a prevenção em saúde.
O Estado possui, ainda, de acordo com o Comitê sobre os Direitos Econômicos Sociais
e Culturais da ONU, as chamadas obrigações básicas, que dizem respeito ao mínimo
de cumprimento do direito à saúde. Algumas dessas obrigações básicas são:
O parágrafo 1 desse documento afirma que “todas as pessoas têm direito aos
melhores cuidados de saúde mental disponíveis, que devem fazer parte do sistema
de saúde e assistência social” (GENERAL ASSEMBLY, 1991, tradução nossa).
Para que o direito à saúde mental seja atendido, deve haver cuidados e instalações
de apoio e bens e serviços disponíveis, acessíveis, aceitáveis e de boa qualidade.
Conforme o parágrafo 1 dos Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno
Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde da ONU, que mencionamos
anteriormente, “todas as pessoas têm direito aos melhores cuidados de saúde
mental disponíveis” (GENERAL ASSEMBLY, 1991 - tradução nossa). Nesse sentido,
veja, no Quadro a seguir, o que o relatório A/HRC/35/21 de 2017 afirma sobre a
qualidade e a disponibilidade dos serviços de saúde mental:
Tema Conteúdo
Devem abranger um amplo pacote de serviços integrados e
coordenados de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação,
Serviços de atenção e recuperação, incluindo serviços de saúde mental
saúde mental integrados aos cuidados de saúde primários e gerais. Os
adequados serviços devem apoiar os direitos das pessoas com deficiência
intelectual, cognitiva e psicossocial e com autismo a viver de
forma independente e serem incluídas na comunidade.
Requer o uso de práticas baseadas em evidências para
apoiar a prevenção, promoção, tratamento e recuperação.
A colaboração eficaz entre os diferentes prestadores de
Qualidade serviços e as pessoas que utilizam os serviços e suas famílias
dos serviços e parceiros de cuidados também promove a melhoria
da qualidade dos cuidados. O abuso de intervenções
biomédicas e o uso de coerção e internações forçadas
comprometem o direito à assistência de qualidade.
Os Estados devem repensar a forma como prestam assistência
e apoio à saúde mental, considerando os usuários como
Usuários como
titulares ativos de direitos. É necessário acabar com as
titulares ativos
práticas discriminatórias e priorizar a ampliação dos serviços
de direitos
psicossociais baseados na comunidade e a mobilização de
recursos sociais que possam apoiar todos ao longo de sua vida.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2017, p. 13-14.
A saúde mental, assim como a saúde de forma geral, possui
estreita relação com os direitos humanos: essa é uma relação
integral e interdependente.
O direito ao mais alto padrão possível de saúde mental está protegido pelo Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Por estar previsto nesse
documento, o respeito a esse direito é obrigatório pelos Estados partes. Padrões legais
complementares são estabelecidos em outros instrumentos de direitos humanos,
como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Convenção para
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e a Convenção
sobre os Direitos da Criança. Ainda, os Estados partes têm a obrigação de respeitar,
proteger e cumprir o direito à saúde mental nas leis, nos regulamentos, nas políticas,
nas medidas orçamentárias, nos programas e em outras iniciativas nacionais.
Podemos perceber que o direito à saúde e o direito à saúde mental são direitos
humanos, sendo o segundo parte importante do primeiro. Afinal, aprendemos
Os Estados possuem, com relação aos direitos à saúde e à saúde mental, três
tipos de obrigações: de respeitar, de proteger e de cumprir esses direitos. Para
monitorar o comportamento dos Estados com relação ao direito à saúde, a ONU
usa o mecanismo de Procedimentos Especiais do Comitê sobre os Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Esse mecanismo se materializa na figura de uma
pessoa, a Relatora sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais Alto Padrão de
Saúde Física e Mental.
Ademais, você verá a aplicação desses direitos em uma ou mais temáticas relevantes
na atualidade e, ao final de cada tópico, uma tabela contendo direitos da pessoa sob
cuidados em saúde decorrentes do direito humano que foi analisado.
O direito ao respeito da vida privada designa que a pessoa sob cuidados em saúde
tem o direito de conduzir a sua própria vida sem interferência:
• Em seu corpo;
• Em suas escolhas pessoais;
O direito à vida privada é um direito relativo, ou seja, ele pode ser restringido
(diferentemente do direito de não ser submetido à tortura ou a tratamento desumano
ou degradante, que é um direito absoluto e, por isso, não pode ser restringido).
Para que o direito à vida privada seja restringido, é necessário que alguns critérios
estejam presentes:
a) Lei
b) Necessidade de prevenção da ocorrência de crime, a proteção da saúde
ou da moral ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros,
entre outros
c) Proporcionalidade da medida
Nesse caso, o Sr. Stanev, que sofria de esquizofrenia e outras doenças mentais,
foi mantido em instituições psiquiátricas pelo governo da Bulgária por mais de dez
anos, sem nenhuma perspectiva de ser libertado. Ele argumentou que sua detenção
prolongada e a falta de medidas alternativas violavam seus direitos à liberdade e a
não discriminação.
Também pode-se dizer que há tratamento desumano quando ocorre uma falha em
prover cuidados em saúde, por meio da negativa desses cuidados ou da demora
em fazê-lo, ou na sua supressão, quando a pessoa sob cuidados em saúde vem
recebendo determinado tratamento e este é interrompido.
Sobre isso, vejamos o que diz a Corte Europeia de Direitos Humanos em um caso
concreto.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU pede que os Estados revejam suas legislações
sobre saúde mental para evitar detenções arbitrárias. Para o Comitê, a privação
de liberdade é, em si, um ato gravoso e, por esse motivo, medidas alternativas que
sejam menos restritivas devem ser implementadas mediante políticas e programas
estatais de forma permanente.
• Ser necessária
• Ser proporcional
Ainda, é importante ressaltar que a pessoa sob cuidados em saúde tem o direito de
ser internada em unidade de saúde apropriada. Se isso não ocorrer, o objetivo da
sua admissão ou retenção involuntária não será cumprido, o que atinge a legalidade
da medida restritiva de liberdade do paciente.
[...] qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito anular ou
prejudicar o gozo igualitário de direitos. Medidas especiais exclusivamente para
proteger os direitos ou garantir o progresso de pessoas com doença mental não
devem ser consideradas discriminatórias. A discriminação não inclui qualquer
distinção, exclusão ou preferência realizada de acordo com as disposições destes
Princípios e necessária para proteger os direitos humanos de uma pessoa com
doença mental ou de outros indivíduos. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991,
Princípio 1.4, tradução nossa)
É garantido, ainda, a toda pessoa com transtorno mental, o direito de exercer todos
os direitos civis políticos, econômicos, sociais e culturais reconhecidos nos seguintes
documentos, bem como em outros instrumentos relevantes (Princípio 1.5):
Quando um tribunal competente considerar que uma pessoa com doença mental é
incapaz de administrar seus próprios assuntos, medidas serão tomadas, na medida
do necessário e apropriado à condição dessa pessoa, para garantir a sua proteção
ou o seu interesse (Princípio 1.7).
A determinação de que uma pessoa tem um transtorno mental precisa ser feita
de acordo com os padrões de saúde internacionalmente aceitos (Princípio 4). Isso
quer dizer que jamais se pode determinar um transtorno mental com base em
status político, econômico ou social, ou em pertencimento a grupo cultural racial
ou religioso, ou em qualquer outra razão que não seja diretamente relevante para
o estado de saúde mental da pessoa. Nesse sentido, nunca serão determinantes no
diagnóstico de transtorno mental de uma pessoa:
Nenhuma pessoa ou autoridade deve classificar uma pessoa como tendo transtorno
mental, ou de qualquer outra forma indicar que uma pessoa tem um transtorno
mental, exceto para fins relacionados diretamente ao transtorno mental ou às
consequências do transtorno mental. Ainda nesse sentido, os Princípios afirmam que
nenhuma pessoa será obrigada a submeter-se a exame de saúde com o objetivo de
determinar se tem ou não um transtorno mental. A obrigatoriedade só pode ocorrer
se houver procedimento autorizado pela legislação interna do país (Princípio 5).
Sobre isso, veja o texto dos Princípios da ONU com relação a alguns desses fatores:
+ Tratamento (Princípio 9)
1. Todo paciente deve ter o direito de ser tratado no ambiente
menos restritivo e com o tratamento menos restritivo ou intrusivo
adequado às necessidades de saúde do paciente e à necessidade de
proteger a segurança física de outras pessoas.
Ainda sobre esse assunto, deve ser dada atenção especial às disposições sobre o
consentimento para tratamento (Princípio 11):
O tratamento também pode ser dado a qualquer paciente sem seu consentimento
informado se um profissional de saúde mental qualificado autorizado por
lei determinar que é urgentemente necessário para prevenir dano imediato
ou iminente ao paciente ou a outras pessoas. Esse tratamento não deve ser
prolongado além do período estritamente necessário para esse fim. Porém, essa
disposição não se aplica nos seguintes casos (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991),
ou seja, é necessário que haja o consentimento do paciente, além da determinação
do profissional de saúde, se:
Além disso, o procedimento não pode consistir em esterilização, pois esta não pode
ser realizada como tratamento para transtornos mentais (Parágrafo 12).
O paciente tem o direito de solicitar que pessoas de sua escolha estejam presentes
durante o procedimento de consentimento e pode recusar ou interromper o
tratamento, recebendo as informações sobre as consequências da recusa ou
interrupção de seu tratamento. As exceções à possibilidade de recusa estão listadas
nos parágrafos de números 6, 7, 8, 13 e 15, acima descritos. Ainda nesse sentido,
um paciente nunca pode ser convidado ou induzido a renunciar ao direito de
consentimento informado. Se o paciente tentar fazê-lo, deve ser explicado a ele que
o tratamento não pode ser administrado sem consentimento informado.
Sobre isso, veja o texto original dos Princípios da ONU (1991) com relação a alguns
desses fatores:
+ Princípios de admissão
Princípio 15
1. Quando uma pessoa necessitar de tratamento em um
estabelecimento de saúde mental, todos os esforços devem ser
feitos para evitar a internação involuntária.
2. O acesso a um estabelecimento de saúde mental será administrado
da mesma forma que o acesso a qualquer outro estabelecimento
para qualquer outra doença.
3. Todo paciente não admitido involuntariamente terá o direito de
deixar o estabelecimento de saúde mental a qualquer momento, a
menos que se apliquem os critérios para sua retenção como paciente
+ Admissão involuntária
Princípio 16
1. Uma pessoa pode (a) ser internada involuntariamente em um
estabelecimento de saúde mental como paciente; ou (b) já tendo sido
admitido voluntariamente como paciente, ser retido como paciente
involuntário no estabelecimento de saúde mental se, e somente se,
um profissional de saúde mental qualificado e autorizado por lei para
esse fim determinar, de acordo com o Princípio 4, que essa pessoa
tem uma doença mental e considera:
(a) Que, por causa dessa doença mental, existe uma probabilidade
séria de dano imediato ou iminente para essa pessoa ou para outras
pessoas; ou
(b) Que, no caso de uma pessoa cuja doença mental é grave e cujo
julgamento é prejudicado, a falha em admitir ou reter essa pessoa
provavelmente levará a uma deterioração séria em sua condição
ou impedirá a administração de tratamento adequado que só pode
ser dada por admissão em um estabelecimento de saúde mental de
acordo com o princípio da alternativa menos restritiva.
No caso referido no subparágrafo (b), um segundo profissional
de saúde mental, independente do primeiro, deve ser consultado
sempre que possível. Se tal consulta ocorrer, a admissão ou retenção
involuntária não poderá ocorrer, a menos que o segundo profissional
de saúde mental concorde.
2. A admissão ou retenção involuntária será inicialmente por um
curto período, conforme especificado pela legislação nacional,
para observação e tratamento preliminar enquanto se aguarda a
revisão da admissão ou retenção pelo órgão de revisão. Os motivos
da admissão devem ser comunicados ao paciente sem demora
e o fato da admissão e os motivos da mesma também devem ser
prontamente e detalhadamente comunicados à comissão de revisão,
ao representante pessoal do paciente, se houver, e, a menos que
haja objeção do paciente, à sua família.
3. Um estabelecimento de saúde mental pode receber pacientes
admitidos involuntariamente somente se o estabelecimento tiver
sido designado para fazê-lo por uma autoridade competente
prescrita pela legislação nacional. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU,
1991, Princípio 16, tradução nossa)
O Relator Especial da ONU sobre o Direito à Saúde (2002-2008) relatou ter recebido
muitas denúncias de institucionalização inadequada de pessoas com transtorno
mental, bem como de casos em que essas pessoas foram vítimas de violações de
direitos humanos, incluindo:
Ainda no âmbito da ONU, a Declaração de Caracas, que foi adotada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 1990, trata da reestruturação da atenção psiquiátrica
nos sistemas locais de saúde. A Declaração determina que o cuidado e o tratamento
da pessoa com transtorno mental devem proteger a sua dignidade pessoal e os
seus direitos.
A Corte entendeu, nesse caso, que os cuidados de saúde para pacientes com
transtorno mental devem ter como finalidade principal o bem-estar do paciente e o
respeito à sua dignidade como ser humano. Essa finalidade se concretiza por meio
do dever do Estado de adotar o respeito à intimidade e a autonomia das pessoas
como princípios orientadores do tratamento psiquiátrico. Sendo assim, o lugar e as
condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem estar de acordo com o
respeito à dignidade humana.
Assim, podemos observar que as violações aos direitos humanos das pessoas
com transtornos mentais são recorrentes nas próprias instituições que deveriam
prestar-lhes cuidados. Por esse motivo, as disposições da Convenção Contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes devem
ser aplicadas aos serviços em saúde mental por meio de políticas, programas e
legislações elaboradas pelos Estados.
O artigo 1º da CIDPD estabelece que pessoas com deficiência são aquelas que têm
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.
Artigo 12
1.Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com deficiência têm o direito de
ser reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei.
A dignidade não pode ser compatível com práticas de tratamento forçado que
podem constituir tortura. Os Estados devem interromper esta situação com
urgência e respeitar a autonomia de cada pessoa, incluindo seu direito de
escolher ou recusar tratamento e cuidados.
[...]
O conceito de ‘necessidade médica’ por trás da colocação e tratamento não
consensuais fica aquém das evidências científicas e dos critérios sólidos. O
legado do uso da força na psiquiatria vai contra o princípio ‘ primum non nocere ‘
(primeiro não fazer mal) e não deve mais ser aceito.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência oferece uma ocasião
promissora para uma mudança de paradigma nas políticas e práticas de saúde
mental. O Dia Mundial da Saúde Mental deste ano enfatiza mais do que nunca a
necessidade de elaborar novos modelos e práticas de serviços comunitários que
respeitem a dignidade e a integridade da pessoa.
Assim, prossigamos no estudo dos dispositivos da CIDPD que podem ser aplicados
ao âmbito da saúde mental. O artigo 17 assim dispõe:
Artigo 17
Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua integridade física e mental
seja respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas. (CONVENÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, art.
17)
Ainda com relação ao artigo 17, podemos observar que a Convenção diferencia a
integridade física da integridade mental. No que diz respeito à integridade física, a
norma objetiva garantir que as pessoas com deficiência tenham os mesmos direitos
das demais pessoas quanto à preservação e utilização física de partes do seu
corpo, independentemente de sua condição física. Quanto à integridade mental,
visa proteger a pessoa com deficiência de danos morais ou intelectuais que possam
atingi-la na condição de pessoa com deficiência.
Observando que existe uma divisão entre os direitos das pessoas com deficiência
e a prática clínica, a OMS desenvolveu diretrizes de melhores práticas, por meio
da iniciativa Quality Rights, incentivando os profissionais de saúde a participar da
implementação da CIDPD. A iniciativa Quality Rights será estudada a seguir.
O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS tem como objetivo apoiar os países
na avaliação e na melhoria da qualidade e no respeito aos direitos humanos nos
serviços de saúde mental e de assistência social. Ele baseia-se em uma revisão
internacional extensa realizada por pessoas com transtornos mentais e organizações
formadas por elas ou organizações que as protegem. O kit destina-se a ser aplicado
em países de baixa, média e alta renda, tendo sido testado de maneira experimental
em todos esses contextos.
O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS pode ser adotado e usado por
diversos grupos e organizações, tanto nacionais como internacionais. Ele pode ser
usado para uma única avaliação ou como parte de um programa de nível nacional
para melhorar os serviços no país. Assim, alguns dos grupos e organizações que
podem usar o kit de ferramentas são:
• Supervisionar o projeto
• Fornecer orientação ao comitê que realizará a avaliação
• Gerenciar e coordenar a avaliação
• Relatar os resultados e dar seguimento às ações
[...]
1. Resumo executivo
2. Método utilizado para a avaliação
3. Resultados da avaliação (inclusive a pontuação quantitativa e os achados
qualitativos)
4. Discussão
5. Conclusões e recomendações
No caso de mais de um serviço ter sido avaliado (por exemplo, uma avaliação
nacional ou distrital), “todos os comitês que conduzem avaliações deverão se reunir
para discutir, integrar e compilar seus resultados de cada serviço e preparar uma
avaliação global em nível nacional ou distrital” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015, p.
37). Nessa hipótese, o formulário de relatório do Direito é Qualidade da OMS para
avaliações nacionais fornece uma estrutura para consolidação das avaliações locais:
No que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência, foram considerados
para a pesquisa os relatórios e relatórios temáticos publicados pelo Relator Especial
Comitê/ Documento
Recomendação
Relatoria fonte e ano
Garantir que a prestação de serviços de Comitê das
saúde, incluindo serviços de saúde mental, Pessoas com Relatório
seja baseada no consentimento livre e Deficiência A/72/55 (2017)
informado da pessoa em questão. (CRPD)
Os Estados Partes têm a obrigação de Comitê das
não permitir que tomadores de decisão Pessoas com Relatório
substitutos forneçam consentimento em Deficiência A/72/55 (2017)
nome de pessoas com deficiência. (CRPD)
Relator Especial
da ONU sobre
Os regimes de decisão substituída devem Relatório
Tortura e Outros
ser trocados por regimes de decisões temático A/
Tratamentos
assistidas, que respeitem a autonomia, a HRC/22/53
Cruéis,
vontade e as preferências da pessoa. (2013)
Desumanos ou
Degradantes
Relator Especial
Na transmissão de informações, os da ONU sobre
Relatório
profissionais de saúde devem estar Tortura e Outros
temático A/
cientes e se adaptar às necessidades Tratamentos
HRC/22/53
específicas de pessoas lésbicas, gays, Cruéis,
(2013)
bissexuais, transgêneros e intersexuais. Desumanos ou
Degradantes
Órgão Documento
Recomendação
recomendante fonte
Assegurar a proteção especial de grupos e
indivíduos minoritários e marginalizados Relator Especial
como um componente crítico da obrigação de da ONU sobre
Relatório
prevenir a tortura e os maus-tratos, investindo Tortura e Outros
temático A/
e oferecendo aos indivíduos marginalizados Tratamentos
HRC/22/53
uma ampla gama de apoios voluntários Cruéis,
(2013)
que lhes permitam exercer sua capacidade Desumanos ou
legal e que respeitem sua autonomia, sua Degradantes
vontade e suas preferências individuais.
Os Estados devem revogar qualquer lei
que permita tratamentos intrusivos e
irreversíveis, incluindo cirurgia forçada
de normalização genital, esterilização Relator Especial
involuntária, experimentação antiética, da ONU sobre
Relatório
exibição médica, “terapias reparadoras” ou Tortura e Outros
temático A/
“terapias de conversão”, quando aplicadas Tratamentos
HRC/22/53
ou administradas sem o consentimento Cruéis,
(2013)
livre e informado da pessoa em questão. Desumanos ou
Devem, ainda, proibir a esterilização forçada Degradantes
ou coagida em todas as circunstâncias e
fornecer proteção especial a indivíduos
pertencentes a grupos marginalizados.
Órgão Documento
Recomendação ao(s) Estado(s)
recomendante fonte
Relator Especial
Adotar uma abordagem baseada em
da ONU sobre
direitos humanos para o controle de Relatório
Tortura e Outros
medicamentos como questão prioritária temático A/
Tratamentos
para prevenir as contínuas violações de HRC/22/53
Cruéis,
direitos decorrentes das abordagens atuais (2013)
Desumanos ou
de redução da oferta e da demanda.
Degradantes
Órgão Documento
Recomendação
recomendante fonte
Relator Especial
da ONU
sobre Tortura Relatório
A proibição absoluta de todas as medidas
e Outros temático A/
coercitivas e não consensuais, incluindo
Tratamentos HRC/22/53
contenção e confinamento solitário de pessoas
Cruéis, (2013);
com deficiências psicológicas ou intelectuais,
Desumanos ou Comentário
deve ser aplicada em todos os locais de
Degradantes; Geral
privação de liberdade, inclusive em instituições
Comitê das CRPD/C/5
psiquiátricas e de assistência social.
Pessoas com (2022)
Deficiência
(CRPD)
Relator Especial
Os critérios que determinam os fundamentos da ONU
pelos quais o tratamento pode ser sobre Tortura Relatório
administrado na ausência de consentimento e Outros temático A/
livre e informado devem ser esclarecidos Tratamentos HRC/22/53
na lei, e nenhuma distinção entre pessoas Cruéis, (2013)
com ou sem deficiência deve ser feita. Desumanos ou
Degradantes
Relator Especial
Somente em emergência com risco de da ONU
vida, em que não há desacordo quanto sobre Tortura Relatório
à ausência de capacidade legal, pode um e Outros temático A/
prestador de cuidados de saúde proceder Tratamentos HRC/22/53
sem consentimento informado para realizar Cruéis, (2013)
um procedimento de salvamento. Desumanos ou
Degradantes
Relator Especial
da ONU
A legislação que autoriza a institucionalização sobre Tortura Relatório
de pessoas com deficiência com base em e Outros temático A/
sua deficiência, sem seu consentimento Tratamentos HRC/22/53
livre e informado, deve ser abolida. Cruéis, (2013)
Desumanos ou
Degradantes
Comitê contra
Relatório
Iniciar reformas sociais e sistemas a Tortura (CAT);
A/64/44
alternativos de apoio comunitário Relator Especial
(2009);
em paralelo com o processo em dos Direitos
Relatório
andamento de desinstitucionalização das Pessoas
temático A/
de pessoas com deficiência. com Deficiência
HRC/40/54
da ONU
Fornecer imediatamente aos indivíduos
oportunidades de deixar as instituições,
Comentário
revogar qualquer detenção autorizada por Comitê das
Geral
disposições legislativas que não estejam Pessoas com
CRPD/C/5
em conformidade com o artigo 14 da Deficiência
(2022)
Convenção, seja sob leis de saúde mental (CRPD)
ou de outra forma, e proibir a detenção
involuntária com base na deficiência.
Órgão Documento
Recomendação ao(s) Estado(s)
recomendante fonte
Comitê das
Deficiências reais ou percebidas na capacidade Comentário
Pessoas com
mental não devem ser usadas como Geral CRPD/C/
Deficiência
justificativa para negar a capacidade legal. GC/1 (2014)
(CRPD)
O apoio ao exercício da capacidade Comitê das Comentário
legal deve continuar, se necessário, Pessoas com Geral
depois que as pessoas com deficiência Deficiência CRPD/C/5
se estabelecerem na comunidade. (CRPD) (2022)
1.1.6. Legislação
Órgão Documento
Recomendação ao(s) Estado(s)
recomendante fonte
Órgão Documento
Recomendação ao(s) Estado(s)
recomendante fonte
Relator Especial
Fornecer educação e informações da ONU sobre Relatório
adequadas sobre direitos humanos aos Tortura e Outros temático A/
profissionais de saúde sobre a proibição Tratamentos HRC/22/53
de tortura e maus-tratos e a existência, Crueis, Desumanos (2013);
extensão, gravidade e consequências ou Degradantes; Relatório
de várias situações que equivalem Relator Especial temático
a tortura e tratamento ou punição sobre os Direitos A/73/161
cruel, desumana ou degradante da Pessoa com (2018)
Deficiência
Relator Especial
da ONU sobre Relatório
Tortura e Outros temático A/
Promover uma cultura de respeito à Tratamentos HRC/22/53
integridade e à dignidade humana, o Cruéis, Desumanos (2013);
respeito à diversidade e a eliminação de ou Degradantes; Relatório
atitudes de patologização e homofobia. Relator Especial temático
sobre os Direitos A/73/161
da Pessoa com (2018)
Deficiência
Relator Especial
da ONU sobre Relatório
Tortura e Outros temático A/
Capacitar profissionais de saúde, Tratamentos HRC/22/53
juízes, promotores e policiais Cruéis, Desumanos (2013);
sobre as normas relativas ao ou Degradantes; Relatório
consentimento livre e informado. Relator Especial temático
sobre os Direitos A/73/161
da Pessoa com (2018)
Deficiência
Fortalecer a formação profissional
tanto em instituições de proteção social Comitê contra a Relatório
para pessoas com deficiência mental Tortura (CAT) A/64/44 (2009)
como em hospitais psiquiátricos.
Órgão Documento
Recomendação ao(s) Estado(s)
recomendante fonte
Relator Especial
As organizações não governamentais e
da ONU
outros órgãos de monitoramento também
sobre Tortura
devem ter acesso a instituições estatais não Recomendação
e Outros
penais que cuidam de idosos, pessoas com Geral nº 2
Tratamentos
transtornos mentais e órfãos, bem como (2011)
Cruéis,
centros de detenção para estrangeiros,
Desumanos ou
incluindo requerentes de asilo e migrantes.
Degradantes
Investigar denúncias de tortura
Relatório
ou tratamento ou punição cruel, Comitê contra
A/64/44 (2009)
desumana ou degradante de pessoas a Tortura (CAT)
com deficiência em instituições.
Os dados coletados pelos Estados Partes
devem ser desagregados de acordo com raça,
origem étnica, idade, gênero, sexo, orientação
sexual, situação socioeconômica, tipo de
deficiência, motivo da institucionalização,
data de admissão, data prevista ou real de
liberação e outros atributos. Isso inclui a
coleta de registros confiáveis, acessíveis Comitê das Comentário
e atualizados dos números e dados Pessoas com Geral CRPD/C/5
demográficos de pessoas em ambientes Deficiência (2022)
psiquiátricos ou de saúde mental, registros (CRPD)
sobre se o dever de permitir que pessoas
com deficiência deixem as instituições
foi cumprido, registros do número de
pessoas que já exerceram a opção de
desligamento, e outras informações
referentes ao planejamento para os que
ainda não saíram das instituições.
1.2.1. Informação
Quadro 27 - Informação
Assim, verificamos que a Corte IDH emitiu diversas disposições sobre os cuidados
em saúde a pessoas acometidas de transtornos mentais, e que as disposições são
compatíveis, em seu conteúdo, com as recomendações propostas pela ONU sobre a
matéria. Nesse sentido, é interessante observar as disposições do Sistema Europeu
de Direitos Humanos sobre o assunto.
Determinação Documento
Caso Resumo do caso
aos Estados fonte
O requerente tem um
histórico de doença mental
e foi declarado oficialmente
inválido em 2003.
Após um pedido apresentado Factsheet
Nos casos de
por sua mãe, os tribunais Pessoas
internação
russos o declararam com
compulsória, o
Shtukaturov legalmente incapaz em Deficiência
doente mental
vs. Rússia dezembro de 2004. Sua ea
deve ser ouvido
(2008) mãe foi posteriormente Convenção
pessoalmente ou, se
nomeada sua tutora e, em Europeia
for o caso, através
novembro de 2005, ela o dos Direitos
de qualquer forma
internou em um hospital Humanos
de representação.
psiquiátrico. O recorrente (2022)
alegou, em particular, que
tinha sido privado da sua
capacidade jurídica sem
o seu conhecimento.
A Grande Secção
observou que há
agora uma tendência
em nível europeu
no sentido de
conceder às pessoas
legalmente incapazes
acesso direto aos
tribunais para buscar
a restauração de
sua capacidade.
Instrumentos
internacionais
para a proteção
Colocado sob tutela parcial de pessoas com Factsheet
contra a sua vontade e transtornos mentais Pessoas
internado em um lar de também atribuem com
assistência social para importância Deficiência
Stanev vs.
pessoas com transtornos crescente a ea
Bulgária
mentais, o requerente conceder-lhes Convenção
(2012)
queixou-se, nomeadamente, o máximo de Europeia
de não poder recorrer a autonomia jurídica dos Direitos
um tribunal para obter a possível. Humanos
libertação da tutela parcial. (2022)
O artigo 6º, § 1º, da
Convenção deve
ser interpretado no
sentido de garantir,
em princípio, que
qualquer pessoa que
tenha sido declarada
parcialmente
incapaz, como foi o
caso do requerente,
tenha acesso direto
a um tribunal
para buscar a
restauração de sua
capacidade jurídica.
Determinação
Caso Resumo do caso Documento fonte
aos Estados
Sofrendo de
esquizofrenia, a
requerente foi
legalmente incapacitada
em 2000.
Quando uma
pessoa capaz de
Seu pai adotivo foi
se manifestar,
posteriormente
apesar de privada
nomeado seu tutor
de capacidade
legal e, a pedido deste,
jurídica, também
ela foi internada em Factsheet Pessoas
for privada de
junho de 2004. com Deficiência
DD vs. liberdade a pedido
e a Convenção
Lituânia de seu tutor, deve
Em seguida, ela foi Europeia dos
(2012) ser concedida a
colocada em uma Direitos Humanos
ela a oportunidade
casa de repouso, onde (2022)
de contestar essa
permaneceu até 2012.
detenção perante
um tribunal com
A recorrente queixou-
representação
se, nomeadamente,
legal separada.
de ter sido internada
neste lar sem o seu
consentimento e
sem possibilidade
de revisão judicial.
Determinação Documento
Caso Resumo do caso
aos Estados fonte
Neste acórdão, o Tribunal
sublinhou que a situação
do requerente resultava,
na realidade, de um
problema estrutural: por
Este caso diz respeito
um lado, o apoio prestado
ao confinamento de um
às pessoas detidas nas alas
agressor sexual com
psiquiátricas prisionais era
doença mental, que
insuficiente e, por outro Factsheet
havia sido considerado
Claes vs. lado, a sua colocação em Saúde
não responsável
Bélgica instalações fora da prisão Mental e
criminalmente, na ala
(2013) revelou-se muitas vezes Detenção
psiquiátrica de uma prisão
impossível, quer devido (2022)
comum, sem cuidados de
à escassez de vagas em
saúde apropriados, por
hospitais psiquiátricos,
mais de quinze anos.
ou porque a legislação
pertinente não permite
que as autoridades de
saúde mental ordenem
sua internação em
unidades externas.
Determinação Documento
Caso Resumo do caso
aos Estados fonte
O requerente queixou-se da sua
prisão continuada apesar dos
Os presos com graves
seus problemas psiquiátricos.
transtornos mentais
e tendências suicidas
Rivière Este havia sido diagnosticado Factsheet
requerem medidas
vs. com um distúrbio psiquiátrico Saúde
especiais adaptadas
França envolvendo tendências suicidas, e Mental e
à sua condição,
(2006) os peritos estavam preocupados Detenção
independentemente
com certos aspectos do seu (2022)
da gravidade do
comportamento, em particular
delito pelo qual
uma compulsão para o
foram condenados.
autoestrangulamento, que exigia
tratamento fora da prisão.
1.4. Conclusão
Com base nos relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu
de Direitos Humanos sobre o tema de saúde mental e direitos humanos, é evidente
que as pessoas com transtornos mentais têm direitos fundamentais que devem ser
respeitados. Os profissionais de saúde devem tratar essas pessoas com dignidade
e respeito, garantindo que seus direitos humanos sejam protegidos em todos os
momentos.
2.1.2. O caso
A sentença do caso descreve, em detalhes, as circunstâncias da morte do senhor
Damião Ximenes Lopes:
[...]
A irmã do Sr. Damião Ximenes Lopes, Irene Ximenes Lopes, apresentou a petição
contra o Estado brasileiro em novembro de 1999 à Comissão Interamericana de
O Estado foi acusado de violar os direitos a seguir, previstos nos seguintes artigos
da Convenção Americana de Direitos Humanos, ferindo a obrigação de respeitar
os direitos, estabelecida no artigo 1.1 da Convenção.
Sendo assim, a Corte determinou que o Estado deverá cumprir as medidas descritas
no Quadro seguir, que também apresenta o estado de cumprimento dos pontos
dispositivos da sentença. A situação de cumprimento de cada ponto dispositivo a
Ponto Estado de
Conteúdo
dispositivo cumprimento
Garantir, em um prazo razoável, que o
processo interno destinado a investigar e
6 sancionar os responsáveis pelos fatos do caso Descumprido
alcance seus devidos efeitos, nos termos dos
parágrafos 245 a 248 da presente Sentença.
O Estado deve publicar, no prazo de seis meses,
no Diário Oficial e em outro jornal de ampla
circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII
7 relativo aos fatos provados desta Sentença, Cumprido
sem as respectivas notas de pé de página,
bem como sua parte resolutiva, nos termos
do parágrafo 249 da presente Sentença.
O Estado deve continuar a desenvolver um
programa de formação e capacitação para o
pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de
enfermagem e auxiliares de enfermagem e para
todas as pessoas vinculadas ao atendimento de Pendente de
8
saúde mental, em especial sobre os princípios que cumprimento
devem reger o trato das pessoas com deficiência
mental, conforme os padrões internacionais sobre
a matéria e aqueles dispostos nesta Sentença, nos
termos do parágrafo 250 da presente Sentença.
O Estado deve pagar em dinheiro para as
senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes
Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título
9 de indenização por dano material, a quantia Cumprido
fixada nos parágrafos 225 (US$10.000,00) e
226 (US$1.500,00), nos termos dos parágrafos
224 a 226 da presente Sentença.
A Resolução 487/2023 reflete a evolução das normas jurídicas que buscam reconhecer
e proteger os direitos das pessoas com transtornos mentais ou deficiências
psicossociais. Ela contribui para a expansão do projeto de desinstitucionalização ao
longo do sistema de justiça criminal, fornecendo diretrizes para que juízes lidem com
o tema de acordo com as normas do Direito Internacional e da legislação vigente.
A aprovação dessa Resolução mostra que o Poder Judiciário está se engajando
na política de tratamento diferenciado para pessoas com transtornos mentais e
convidando outros profissionais da justiça a participarem desse processo, a fim de
garantir o respeito aos direitos humanos e construir uma sociedade mais justa e
democrática.
Figura 32 – Elementos
A seguir, você verá como a Corte Europeia decidiu sobre violações a cada um desses
direitos no que diz respeito a pessoas com transtorno mental no contexto de sua
detenção.
A demanda foi apresentada por meio dos pais da vítima, que era um jovem em
tratamento psiquiátrico que cometeu suicídio enquanto estava internado na seção
comum de uma prisão.
A Corte alegou estar consciente dos esforços do Estado belga para assistir o filho dos
requerentes, que teve, por exemplo, acesso a clínicas especializadas, onde recebeu
apoio e terapia adequados à sua condição. Além disso, o Tribunal reconheceu as
graves dificuldades enfrentadas diariamente pelas autoridades penitenciárias e
da equipe médica. A Corte, no entanto, concluiu que houve violação do artigo 2º
(direito à vida) da Convenção em seu aspecto substantivo, ou seja, com relação ao
seu conteúdo.
A Corte observou, em particular, que a vítima tinha sido detida com base na Lei
da Proteção Social, que previa que as pessoas a quem essa lei se aplicava não
estavam sujeitas às regras da detenção ordinária, mas sim às regras da admissão
compulsória. Por meio desta última, poderiam receber o apoio psicológico e
médico que a sua condição exigia. Além disso, a decisão do procurador-adjunto
de reconduzir o jovem à prisão especificava que ele deveria ser internado na ala
psiquiátrica. Consequentemente, o filho dos requerentes nunca deveria ter sido
mantido na seção comum de uma prisão.
Além disso, a Corte não encontrou nenhuma prova que sugerisse que a investigação
realizada no presente caso não cumpriu os requisitos de uma investigação efetiva
e, portanto, considerou que não houve violação do artigo 2º da Convenção em seu
aspecto processual.
Esse caso diz respeito à detenção praticamente contínua, entre 2004 e 2011, de um
homem com transtorno mental. O demandante foi mantido em alas psiquiátricas
de duas prisões, apesar da insistência das autoridades na necessidade de colocação
em uma estrutura adaptada à sua patologia.
A Corte considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade e
segurança) da Convenção. A decisão afirmou que as condições da detenção foram
incompatíveis com o propósito desta, visto que o demandante foi mantido por
sete anos em uma instituição prisional, apesar de todos os médicos, os pareceres
dos assistentes psiquiátricos e sociais, e as autoridades competentes concordarem
que o local era mal adaptado à sua condição e readaptação.
Esse caso diz respeito a um agressor sexual que sofria de transtornos mentais e
estava detido indefinidamente em uma ala psiquiátrica da prisão. O requerente
queixou-se de ter estado detido em ambiente prisional durante mais de nove anos,
sem qualquer tratamento adequado ao seu estado mental ou qualquer perspectiva
realista de reintegração na sociedade. O demandante também reclamou que sua
privação de liberdade e detenção contínua eram ilegais. Por fim, alegou que não
havia recurso efetivo para reclamar das condições de sua detenção.
A Corte também considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade
e segurança) da Convenção, observando que a detenção do requerente, desde 2006,
em uma instalação inadequada à sua condição havia rompido o vínculo exigido pelo
artigo 5º, § 1º, alínea “e”, entre a finalidade e as condições práticas da detenção,
e que o motivo da internação do requerente em ala psiquiátrica prisional foi a falta
estrutural de alternativas.
O Tribunal considerou, ainda, que houve uma violação do artigo 5º, § 4º, (direito a
revisão rápida da legalidade da detenção) e uma violação do artigo 13 (direito
a um recurso efetivo) da Convenção, em conjunto com o artigo 3º, declarando
que o sistema belga, tal como estava em vigor na altura dos fatos, não tinha
proporcionado ao requerente uma solução efetiva na prática relativamente
às suas queixas à Convenção. Em outras palavras, o sistema não proporcionou
um recurso capaz de compensar a situação de que era vítima e de impedir a
continuação das supostas violações.
2.3. Conclusão
A partir da análise dos casos apresentados, podemos concluir que a jurisprudência
internacional sobre os direitos humanos de pessoas com transtorno mental tem
se desenvolvido no sentido de promover o tratamento dessas pessoas em locais
adequados para tal. Quando o tratamento ocorre em instalação imprópria ou
de forma inadequada, o Estado pode até mesmo ter que responder pela vida do
paciente, caso este venha a falecer. Além disso, as decisões têm responsabilizado
o Estado por não prover os recursos efetivos para que as pessoas com transtornos
mentais possam ter acesso a meios de interromper tratamentos degradantes e de
receber a devida reparação pelas violações ocorridas. Por fim, podemos notar que
as decisões dos órgãos de direitos humanos exigem dos Estados que reparem as
vítimas por violações à sua integridade física e pessoal.
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os Direitos É o órgão da ONU responsável por monitorar
Econômicos, o cumprimento do Pacto Internacional
15
Sociais e sobre os sobre os Direitos Econômicos,
Culturais Sociais e Culturais pelos Estados.
da ONU
Comitê da ONU
É o órgão da ONU responsável por
sobre os Direitos
monitorar o cumprimento do Pacto
30 Econômicos,
Internacional sobre os Direitos Econômicos,
Sociais e
Sociais e Culturais pelos Estados.
Culturais