Afinal, Uma Semana Sem Kung-Fu, Mas Com Muito Palavrão e Mulher Pelada - Pornochanchadas e Recepção No Recife (1975-1980) - 1
Afinal, Uma Semana Sem Kung-Fu, Mas Com Muito Palavrão e Mulher Pelada - Pornochanchadas e Recepção No Recife (1975-1980) - 1
Afinal, Uma Semana Sem Kung-Fu, Mas Com Muito Palavrão e Mulher Pelada - Pornochanchadas e Recepção No Recife (1975-1980) - 1
RECIFE
2021
KATHARINE NATALY TRAJANO SANTOS
RECIFE
2021
KATHARINE NATALY TRAJANO SANTOS
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dra. Alcileide Cabral do Nascimento
Universidade Federal Rural de Pernambuco - Orientadora
________________________________________
Prof. Dr. Natanael Duarte de Azevedo
Universidade Federal Rural de Pernambuco – Examinador interno
________________________________________
Prof. Dr. Alberto da Silva
Université Paris IV - Sorbonne – Examinador externo
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 12
1. HISTÓRIA, CINEMA & RECEPÇÃO ............................................................................................... 17
1.1 Os estudos sobre recepção e contexto ....................................................................................... 21
1.2 Fronteiras entre práticas sexuais e a história do cinema .......................................................... 31
2. PORNOCHANCHANDO ............................................................................................................... 51
2.1 A Pornochanchada fragmentada no Diário da Manhã ............................................................... 63
2.2 Intersecções gênero, raça e classe nas pornochanchadas .......................................................... 75
INTRODUÇÃO
1
Compreendemos as pornochanchadas como um dos ciclos cinematográficos existentes e pulsantes
durante a década de 1970 – especialmente – no Brasil. As obras que se inserem nesta categoria e/ou
são lidas pela mídia tradicional (que é um dos nossos sujeitos aqui) como tal possuem arranjos
específicos sobre a temática da sexualidade e as suas práticas em ambiência com o drama, o horror, a
comédia e outros subgêneros em meio às restrições e permissividades do período ditatorial brasileiro.
Retomaremos essa discussão mais detalhadamente nos capítulos a seguir.
13
2
A utilização deste termo se refere à revisão proposta pelo historiador Enrique Serra Padrós (2009, p.
31-32) que define assim: “[...] os regimes autoritários que se estabeleceram, desde o início dos anos 60,
na América Latina, particularmente na região do Cone Sul”; ainde segundo o autor, estas ditaduras
tinham “aspectos gerais comuns como, principalmente, a Doutrina de Segurança Nacional, o
alinhamento militante junto aos Estados Unidos na política de contenção do comunismo”, assim como a
“defesa dos cânones do capitalismo bem como na concepção de guerra contra-insurgente contra todo
questionamento às estruturas nacionais de dominação, o que redundou em uma guerra suja.” Tal uso
implica no reconhecimento que o regime autoritário no Brasil está além de uma atuação só “militar” ou
ainda “civil-militar”, devendo ser compreendido como um pacto político, institucional, empresarial, com
poderoso agenciamento e estratagema em diversos fronts.
14
A relação dos filmes com o público não pode ser medida somente
através da imagem, já que estas mesmas representações perpassam
contextos socioculturais e históricos, além dos arranjos que englobam a
publicização, as ações promocionais, os locais de exibição e as companhias de
distribuição. As avaliações traçadas a partir daí, podem (ainda que não
garantam) fazer com que a película obtenha uma significativa bilheteria; mas, é
21
e Paulo Emílio Salles Gomes (1966) acerca das que eram feitas no Brasil, se
somam àquilo que é proposto por Graeme Turner (1997) sobre as dinâmicas
socioculturais da sétima arte: localizam o cinema dentro do quadro fecundo dos
estudos culturais e passa a entendê-lo como uma prática social pertencente a
um complexo multimidiático que se desdobra para além de seu intradiscurso.
3 O “problema da screentheory era que o tema das audiências reais era ou descartado como
visando atingir e cativar o público numa lógica de consumo industrial onde tais ‘astros’ passam
a ser encarados como mercadorias ou adquirem um papel mitológico. Surgiu na década de 10
do século passado e continua atuante. Cf. MORIN, E. As estrelas de cinema. Lisboa: Livros
Horizonte, 1980.
25
perhaps, but united by their capacity for active perception. The “spectator” as defined in
apparatus theory is the ideal spectator of motion pictures, a horizon—indeed, as Bordwellsays,
a position—and not a real person. I have already suggested that despite the insistence of film
theorists that the “subject” of the cinema is not the same as the “viewer,” some relationship
between the two supposedly incommensurate term nonetheless exists”.
6 “(...) in turn semiosis (coded expectations, patterns of response, assumptions, inferences,
predictions, and, I would add, fantasy) isatwork in sensory perception, inscribed in the body—
the human body and film body”.
27
7 As passagens dos críticos e cineastas pelos jornais em Pernambuco, por exemplo, podem
ser observadas nas dissertações de Luiz Joaquim da Silva Jr. sobre as críticas
cinematográficas na Retomada (2004) e o de Rodrigo Carreiro sobre a crítica de cinema, o
consumo e a cultura pop na internet (2003), ambos da Universidade Federal de Pernambuco.
Cf: SILVA Jr, L.; Teixeira, C. Cinema brasileiro nos jornais: uma análise da crítica
cinematográfica na Retomada. 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação
em Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004; CARREIRO,
Rodrigo; PRYSTHON, Angela. O gosto dos outros: consumo, cultura pop e internet na crítica
de cinema de Pernambuco. 2003. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.
28
9 “A common refrain in historical studies of spectatorship is that 1970s film theory sacrificed
acknowledgement of the social for the psychic. Indeed, one of the problems with historical
models of spectatorship is a persistent dualism. Theories of the subject are assumed to be
‘psychoanalytic’, not ‘social’, thereby implicitly equating the ‘social’ with the sociological, which
is not the same thing. At the same time, of course, thos every theorists of the subject have
usually ignored attempts to account for the historical constitution of the film audience, which
only perpetuates the dualism. Toputthis in the baldest—and admittedly just as dualistic—terms,
the question which underscores the drive toward historicizing spectatorship is whether those
theories of the cinematic institution can have any compatibility whatsoever with specific, local
studies of spectatorship. And beneath that question is another, which has preoccupied film
studies from the outset — whether and how psychoanalysis can function in relation to
ideological (to use the terminology of the 1970s) or cultural (to use the terminology of the
1980s) determinations”.
31
Entre o final dos anos 1920 e durante 1930, o cinema enquanto indústria
toma maior corpo no Brasil com a Cinédia (Adhemar Gonzaga), a Brasil-Vita
Filmes (Carmem Santos) e a Sonofilmes (Wallace Downey); estes começam a
produzir lentamente cópias que, sob as imposições do governo Vargas,
exaltavam largamente as “belezas” brasileiras. Em comum, as produtoras
seguiam os modelos estadunidenses clássicos, tanto em narrativa quanto em
estética. O advento sonoro faz com que a popularidade do rádio chegasse às
salas de cinema - crescem os filmes musicais e as comédias; Acabaram-se os
otários (1929) de Luiz 'LuLu' de Barros é o primeiro a traçar tal percurso.
No final dos anos 1930 até meados de 1950, com origem carioca e
paulista, surgiram as chanchadas – gênero cinematográfico que engloba
versões paródicas, comédias e musicais. Ocupando largamente as salas de
cinema brasileiras em confluência com as movimentações na música, nas
rádios e no teatro. Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo, Carmem Miranda e
Dercy Gonçalves foram figuras presentes nessas produções que apostam em
arquétipos da sociedade brasileira, na promoção de canções carnavalescas e
aproximações circenses.
palavra ‘alô’ era uma saudação típica dos locutores de rádio quando
iniciavam as suas transmissões.
12 Utilizamos a definição de chanchada proposta por Gilmar Rocha (2011, p. 391) que se
intercala ao baixo corporal bakthiniano: “Herdeira do teatro de revista da Praça Tiradentes, a
chanchada – cujo significado etimológico remete à ideia de ‘porcaria’, ‘peça teatral ou filme de
valor duvidoso’, ‘pornografia’ – na verdade traduz uma visão de mundo carnavalesca, cômica,
burlesca, bufa.”
41
13 Ramos (1983) elucida o financiamento de obras no contexto paulista através da Brasil Filmes
- ligada à Columbia Pictures - com o apoio do Banco do Estado que, entre financiamentos e
premiações, de 1956 até 1966, possibilitou obras de Nelson Pereira dos Santos, Roberto
Santos, Walter Hugo Khouri, Rubem Biáfora, dentre outros realizadores. As movimentações da
CAIC, no Rio de Janeiro, premiou Vidas Secas (Nelson Pereira, 1963) com 20 milhões de
cruzeiros e Garrincha, alegria do povo (Joaquim Pedro de Andrade, 1964) com 15 milhões,
valores superiores ao de realização; o CAIC também fomentou a produção de outros filmes.
43
1953), filmado pela Vera Cruz e que ganhou, no mesmo ano, o prêmio melhor
filme de aventura no Festival de Cannes. Tornou-se o primeiro filme brasileiro a
alçar tal prêmio.
pobreza intelectual brasileira, imprimindo uma visão causal, quase fatalista, aos
consumidores cinematográficos no período.
Todavia, como José Mario Ortiz Ramos (1983, p. 45) pontua ao retomar
as idéias cinemanovistas de Glauber Rocha, é preciso ter em consideração que
concomitantemente se pensava no cinema ‘independente’ “como uma forma
específica de industrialização cinematográfica” (com respaldo político e
econômico estatal), e no cinema ‘de autor’, “um ponto constante do cineasta e
marca registrada do Cinema Novo”. A influência cultural estrangeira, para
Glauber, deveria ser superada, assim como as obras oriundas dos grandes
estúdios:
14
Sobre a noção de trauma coletivo e a ditadura em nosso país, recomendamos o trabalho de
Patrícia Bandeira de Melo (2010) que correlaciona à experiência do trauma coletivo à
intervenção cultural desta no discurso cinematográfico.
46
17A esse respeito, ver: SANTIAGO Jr., Francisco. Imagem, raça e humilhação no espelho
negro da nação: cultura visual, política e "pensamento negro" brasileiro durante a ditadura
militar. Topoi (Rio de Janeiro), v. 13, p. 94-110, 2012; SANTIAGO Jr., Francisco das Chagas
Fernandes. Reações na (à) cultura visual: racialização e humilhação no Brasil dos anos 1970.
São Paulo: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, jul/2011.
49
18Termo retomado por alguns cineastas brasileiros para demarcar as suas apropriações de
ocupação do underground - filmes marginalizados dos circuitos padrões - com diversas
abordagens, mas algumas características em comum, tais como: reivindicar a marginalidade
para se colocar 'fora' da ordem econômica e pautar temáticas e modos de vidas minoritários,
50
Nos anos 1970, auge da ditadura brasileira, tais filmes formarão outra
Hollywood doméstica, localizando-se no eixo paulista e correspondendo a 40%
do mercado nacional cinematográfico; neste momento, “gemidos e sussurros:
nos porões da ditadura, os dos presos políticos. No escurinho das salas de
cinema, os dos amantes” (del PRIORI, 2011, p. 186).
(apelidada assim desde a década de 1950 pela polícia) também era intensa e o
escoamento da produção cinematográfica facilitada. O nome sensacionalista
advém das investidas policiais que ali aconteciam, marcando esse território
como um ‘submundo’ urbano de crimes, vícios, sujeira, imoralidade e tragédias.
Estamos fazendo filmes únicos - diz Antônio Lima. - Não se pode dizer
que existe um movimento denominado Cinema da Boca do Lixo. é
mais um estado de espírito, um ato de rebeldia contra os padrões
tradicionais da produção cinematográfica, que persistem em São
Paulo desde 1958, ano da graça do fechamento da Vera Cruz. Dessa
época até 1967, o verdadeiro cinema brasileiro passou a ser feito no
Rio [de Janeiro], nas águas do Ipiranga do cinema nôvo. (...) A boca
do Lixo começou a se movimentar: o cinema paulista renascia das
cinzas, ou melhor, começava tudo de nôvo. Inventamos esquemas,
criamos nossas próprias condições para filmar, sem verbas do INC,
sem vínculos com os produtores tradicionais; e, por mais incrível que
pareça, 13 filmes foram feitos, em menos de um ano, na Bôca do Lixo.
(SPENCER, Fernando. Bôca do Lixo. Recife, Diário de Pernambuco,
22/07/1970).
19
Alguns trabalhos apreendem que as tentativas de atrações turísticas não obtiveram grande
sucesso, realocando-se para outros espaços no estado de Pernambuco. Cf. ALVES, L.;
DANTAS, E. Decurso histórico do turismo em Pernambuco: II PND, ditadura militar e o
retrocesso da atividade no estado. Boletim Goiano de Geografia, v. 33, n. 3, p. 81-94, 2013.
58
Pessoa assassinado após sair de uma das reuniões) teve sua circulação
bloqueada e, apenas com a ascensão do populista que colocou Carlos de Lima
Cavalcanti como governador provisório, voltou às bancas pernambucanas
deixando de ser oposicionista.
Tal mal-estar por alguns exibidores pode ser ocasionado por inúmeras
questões, tais como a descentralização - no caso do centro do Recife - de
áreas de lazer e o afastamento desses cinemas, a rotatividade dos filmes, a
questão da audiência e os marcadores sociais que estavam na sua recepção e
o gênero, per si. As leis de obrigatoriedade criadas pela ditadura faziam com
que as películas nacionais fossem obrigatoriamente projetadas - também os
curtas-metragens, como explicitado anteriormente, caso contrário, as casas
seriam fechadas.
PÚBLICO
ESTADO SALAS PÚBLICO PÚBLICO PÚBLICO
(ANO)
(ANO) (ANO) (ANO)
Para o sociólogo José Ortiz Ramos (1983, p. 165), tal ideal de Dahl se
relaciona, não metaforicamente, com a representação de uma nação unida,
integrada, que se anteriormente via a correspondência cultural nacional-
popular, passa a substitui-la por outra, a da "cultura- mercado-consumo". Nesse
cenário a tragédia de Ovídio parece tomar também outros contornos – a
Embrafilme é considerada, nos anos 1970, uma das maiores distribuidoras da
América Latina e entre 1974-1979 a venda de ingressos para filmes nacionais
tem um salto de 16% (GATTI, 2007).
62
20
“(...) do total de 673.498 pessoas ocupadas, quase metade, ou seja, 311.698 (46,3%) recebiam até 1
salário mínimo, 179.211 (26,6%) recebiam de 1 a 2 salários mínimos, enquanto apenas 16,1% recebiam
mais de 2 até 5 salários mínimos 10,1% recebiam mais de 5 salários mínimos, ficando os restantes na
categoria dos sem rendimentos (0,7%) ou sem declaração (0,2%).” (CEBRAP, 1981).
63
chefes – logo, podemos compreender que tenha sido o enredo uma das razões
pelas quais a obra de Pieralisi foi relacionada à pornochanchada, juntamente à
sua classificação indicativa de 18 anos. E, não apenas uma pornochanchada,
mas uma de má qualidade, evidenciando novamente uma divisão binária,
relacional e hierárquica dentro do mesmo gênero.
21
Não foi possível encontrar/assistir ao filme durante a realização desta pesquisa. As cópias não foram
localizadas e utilizamos aqui informações baseadas nos dados dispostos no site da Cinemateca
Brasileira. Acreditamos que a menção ao filho ‘anormal’ colocada na sinopse do filme se interliga a um
portador de doença mental, estigmatizado socialmente pela loucura, em termos foucaultianos. No
Brasil, tal prática de marginalização pela dita loucura teve início no final do século XIX e início do XX, se
perpetuando em escritos médicos psiquiátricos e intervencionistas cujos trabalhos estavam voltados ao
controle social da população. Durante o período da Ditadura Militar inúmeras pessoas – principalmente
militantes da esquerda – foram taxados como loucos/as pelo regime. Cf. ENGEL, M. As fronteiras da
“anormalidade”: psiquiatria e controle social. Rio de Janeiro: Revista Hist. cienc. saude-Manguinhos, v.
5, n. 3, fev/ 1999. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59701999000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 05 jul. 2020; KUPERMANN, D.; BULAMAH, L. C.;
MOREIRA, L. E. V. Entre barões e porões: Amílcar Lobo e a psicanálise no Rio de Janeiro durante a
ditadura militar. São João del-Rei: Analytica, Revista de Psicanálise, v.3, n.4, p.173-200, jan.-jun. 2014.
67
É apenas ao final dos anos 1970 e início da década seguinte que tal
relação estabelecida entre as relações de gênero dentro das pornochanchadas
é pautada no que seria até mesmo uma autocrítica (tendo como pilar a
estrutura e as narrativas fornecidas pelo horror). Laura Canépa, jornalista e
pesquisadora do cinema de horror nacional, explica que tais aproximações
sugerem que o “sexploitation brasileiro não apenas ‘evoluiu’ da nudez em
direção à violência explicita, mas também em direção a reflexão sobre a
representação e sobre o próprio uso do corpo da mulher pelo cinema.”
(CANÉPA, 2009, p. 10). Assim, é possível imaginarmos que os diretores já
compreendiam o argumento que as críticas midiáticas, dos intelectuais, dos
movimentos sociais e conservadores faziam, estabelecendo, às suas próprias
maneiras e circunstâncias, um diálogo.
Seguindo tal publicação, dias depois se publica outra matéria sob o título
de Comece hoje a agarrar sua vizinha na mesma tônica dos comentários
anteriores:
José Carlos Avellar, nos anos 1980, tece uma crítica sobre a
pornochanchada ser a irmã siamesa - “xifópaga” - da censura no país: ambas
não sobreviveriam sozinhas, sendo as leis de fomento à exibição nacional e a
sua condição conservadora essenciais a existência da primeira, assim como o
poder de veto ou cortes de censores à segunda. Entretanto, identificamos que
o sexploitation por si só faz com que as pornochanchadas ascendam –
inclusive quando a Embrafilme, que até meados dos anos 1970 se voltavam à
obras ufanistas, passa a utilizar mais o elemento das práticas sexuais.
DALMA - Eu acho que sendo com arte é válida. Eu tirei a roupa pela
primeira vez em 'Pra Ficar Nua, Cachê Dobrado' pela exigência do
papel; Teria tirado antes se os papéis exigissem.
DEIZE - Não posso dizer nada. Realmente não fiz uma aferição da
questão.
o contexto, admitimos que este faz parte do mesmo processo histórico nos
quais os filmes se incluem, como Mayne (1993) nos indica e hooks (2019)
intercala, estamos nos referindo a esquemas ideológicos e culturais que
guiaram por séculos visões estereotipadas e estreitas que perpetuaram normas
sociais sistemicamente.
22
“There is indeed reason to question the theoretical paradigm of a subject-object, wether
Hegelian ou Lacanian, that subtends both the aesthetic and scientific discourses of Western
culture; for what that paradigm contains, what those discourses rest on, is the
unacknowledgment assumption of sexual difference: that the human subject, Man, is the male.”
76
23
É interessante pontuar que o exploitation norte-americano conseguiu prover um espaço de
heróis e heroínas pretos/as, com filmes de autoria do mesmo grupo, nos anos 1970: eram os
filmes de Blaxploitation, oriundos do levante dos movimentos negros no país pelos direitos
civis, resultando num grande público que queria se sentir retratado no cinema comercial -
pressão que recaia na indústria cinematográfica (em Hollywood ou em espaços marginais) para
realizar obras orientadas para a negritude, com o intuito de aliviar a tensão política e financeira
da indústria cinematográfica no período. Cf. SIMS, Y. Women of blaxploitation: how the black
action film heroine changed American Popular Culture. North Carolina: McFarland & Company,
Inc., 2006.
79
Tal prática era recorrente entre jornais e revistas que podiam ser
apreendidas/recolhidas, já que debater racismo podia ser interpretado como
incitação ao ódio ou discriminação racial, portanto, era contra a Lei de
Segurança Nacional e o AI-5; no caso do DM, como jornal apoiador do golpe,
as perseguições eram menores, em comparação a imprensa independente ou
materiais organizados pelo movimento estudantil pela mobilização contra o
regime em Pernambuco.
24
O período de gestão Geisel (1974-1979) é um dos mais complexos, em termos econômicos,
da ditadura brasileira. Isso se dá pelas relações políticas e econômicas internacionais - entre a
diversificação nas relações com outros países da América Latina, de África e do Leste
Europeu; entretanto, a má execução do II Plano Nacional de Desenvolvimento (anunciado em
1974) acabou por aumentar a vulnerabilidade e a dependência do mercado externo, gerando
maiores dívidas do que melhorias ao país. Para maiores informações, ver: CUNHA, Raphael
Coutinho da; FARIAS, Rogério de Souza. As relações econômicas internacionais do governo
Geisel (1974-1979). Revista brasileira de política internacional, v. 54, p. 46-69, 2011.
25
Carlos Fico indica que existiam limitações técnicas na DCDP, tanto em tecnologia, quanto em
pessoal: Segundo seus dados, em 1973, estavam em atuação de 34 censores, 45 censores em
1978 e o máximo de 59, em 1981 (FICO, 2002, p. 265). Como se colocavam enquanto
importantes intelectuais, os ataques à censura criavam grande ressentimento entre os
censores, gerando uma forte tensão e desistências. Além disso, muito dos antigos censores
começaram a ser substituídos em meados dos anos 70 e 80 já que não conseguiam crescer
nos processos seletivos internos.
26
A esse respeito, Ana Carneiro (2013, p. 60-61) comenta: “(...) embora a censura de cunho
político-ideológico tenha sido praticada durante o regime militar, a censura de costumes
permanecia sendo o campo habitual de atuação da DCDP, como evidencia a natureza
erótica/pornográfica da maioria das obras censuradas nesse período. Quando examinamos,
mesmo superficialmente, a lista de filmes e publicações vetadas, percebe-se facilmente a
prevalência das publicações de Cassandra Rios, Brigitte Bijou e Adelaide Carraro,
consideradas pela censura autoras de obras pornográficas.”
82
27
Definição de bas-fond [bɑfɔ̃]: 1. Camada degradada da sociedade; escória social, ralé; 2. POR EXT. Local
onde vive essa gente e que apresenta alto índice de prostituição. Dicionário [online] Michaelis: Editora
Melhoramentos, 2015. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/busca?id=V8BY >. Acesso em 10 de
jun. 2021.
84
Gilvan Pereira dirige, argumenta e lança tal filme por sua própria
produtora (Gilvan Pereira Filmes), tendo a Atlântida Cinematográfica na
coprodução. Um Grilo Na Cama é distribuído pela U.C.B. - União
Cinematográfica Brasileira S.A., registrando bilheteria de 580.971
espectadores, segundo a Ancine (2018). Por se tratar de uma comédia que gira
em torno da virgindade, as comparações inevitavelmente viriam – dessa forma,
traçar a carreira de Gilvan Pereira como um colaborador de cineastas mais
famosos, ligados a Embrafilme, serviu para dar um peso positivado à produção
realizada “por um filho da terra”. 28
É possível encontrar todas as produções que Pereira participou, desde os anos 1950, na base de dados
28
29
Assim eram chamadas as pessoas integrantes do Vivencial Diversiones, grupo de teatro olindense que
mesclava as temáticas do cabaré com críticas políticas expressas em corpos dissidentes de gênero e
sexo.
30
Há diferenças entre a constituição destes dois gêneros. Cf: GARCIA, Demian. O som do
Chanbara.Paraná: Revista HATARI!, v.3, n. 3, 2016.
87
o ‘sexo’ não apenas funciona como uma norma, mas é parte de uma
prática regulatória que produz os corpos que governa, isto é, toda
força regulatória manifesta-se como uma espécie de poder produtivo,
o poder de produzir – demarcar, fazer, circular, diferenciar – os
corpos que ela controla. Assim, o ‘sexo’ é um ideal regulatório cuja
materialização é imposta: esta materialização ocorre (ou deixa de
ocorrer) através de certas práticas altamente reguladas. Em outras
palavras, o ‘sexo’ é um constructo ideal que é forçosamente
materializado através do tempo. Ele não é um simples fato ou a
condição estática de um corpo, mas um processo pelo qual as
normas regulatórias materializam o ‘sexo’ e produzem essa
materialização através de uma reiteração forçada destas normas.
Nos anos 1960-70, a dita revolução sexual era colocada nas produções
cinematográficas apropriando-se das problemáticas dos beatnicks, junkies,
punks, hippies, e os blues no jogo do rock’n’roll. Entretanto, o orgasmo
enquanto catarse ainda era majoritariamente masculino e ferozmente
conservador. Segundo Gubernikoff (2016, p. 69),
curtas que, a partir das leis de exibição compulsórias impostas pelo regime,
deveriam ser exibidos anteriormente às películas estrangeiras – estabelecendo
assim uma relação de dependência financeira paradoxal (BERNADET, 2006, p.
176). Tais ações, posteriormente, iriam se consubstanciar com a criação da
Empresa Brasileira de Filmes S.A., a Embrafilme (ABREU, 2006, p. 17-18).
1970 74 - - - -
1971 76 53,4 28,1 13,8 10,1
1972 68 74,3 31,0 16,2 15,0
1973 57 81,3 30,8 15,9 8,4
1974 74 89,8 30,7 15,2 22,2
1975 79 174,8 48,9 17,7 12,09
1976 87 252,9 52,0 20,8 26,8
1977 73 453,3 50,9 24,5 29,9
1978 81 775,7 61,8 29,2 35,2
1979 104 1 016,4 55,8 29,0 -
1980 93 1 876,6 50,7 30,7 -
Fonte: Embrafilme (Cinejornal 1980;1981;1982 apud Ramos, 1983).
97
32
Estudos locais podem facilitar a apreensão do circuito exibidor de algumas cidades. O trabalho de
Freire e Zapata (2017) debate algumas diferenças entre os números oficiais e apresentados em
trabalhos consagrados da esteira dos estudos de cinema nacionais, focalizando ao final na cidade de
Niterói (Rio de Janeiro). Fora do eixo urbano e indo para as cidades rurais o quadro ainda piora – por
meio de iniciativas como o Festival de Cinema de Triunfo (cidade do sertão pernambucano) e o Cinema
no Interior (mostra itinerante que adentra alguns estados brasileiros, tendo apoio de editais públicos e
iniciativas privadas) vemos o quadro se alterar no que tange espaços de lazer disponíveis atualmente,
mas são escassos dados históricos sobre as salas. Os cinemas voltados ao consumo apenas de produtos
pornográficos também são mais difíceis de identificar entre os dados oficiais, algo que vêm se
alternando por meio de pesquisas etnográficas. A respeito do último, ver: VALE, Alexandre. No
escurinho do cinema: cenas de um público implícito. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2012.
99
inclusive, a cortesã que dá o título principal ao filme é cortejada por Paulo, que
acabava de chegar ao Rio de Janeiro vindo de Recife.
1975 89 25 24
1976 84 23 37
1977 73 12 21
1978 100 22 40
1979 96 19 44
1980 103 13 39
33
Cf.VEIGA, Ana. Cineastas brasileiras em tempos de ditadura: cruzamentos, fugas, especificidades. Tese
(doutorado). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas.Programa de Pós-graduação em História, 2013.
100
34
Cf. GALVÃO, Yanara. Cinema com mulheres em Pernambuco: trajetórias, políticas, estéticas.
Dissertação (mestrado). São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2018.
35
Para mais informações, ver: ABD/Apeci – apresentação. Disponível em: http://abd-
apeci.blogspot.com/p/apresentacao.html. Acesso em 05 de jul. de 2021.
101
36Em 2020, André Dib e Gabi Saegesser publicaram uma coletânea pela Editora Cepe acerca
dos discursos sobre o cinema na crítica pernambucana entre os anos de 1924-1948.
102
(...) nos anos 1970 e 1980, ao lado do jornalista Celso Marconi, foi
programador das sessões do Cinema de Arte do Recife; e nas
décadas de 1980 e 1990 foi diretor da Cinemateca da Fundação
Joaquim Nabuco. Como cineasta, Spencer foi autor de uma vasta
ilmograia dedicada sobretudo ao cinema documentário e realizada
em 16mm, 35mm e super 8 com ilmes reconhecidos e premiados
como Valente É o Galo (1974), Adão Foi Feito de Barro (1978) e
Estrelas de Celulóide (1986), entre outros.
37 Celso Marconi assinava no periódico como João do Cine, depois migrou para o Jornal
Pequeno e, em seguida, para o Diário de Pernambuco e o carioca Último Hora. Marconi ficou
três meses encarcerado pelo regime militar e não poderia ser contratado por outros jornais
devido à determinação dos militares contra o re-estabelecimento de jornalistas vindos do
Último Hora - fechado no mesmo ano do golpe. (DIB; JOAQUIM, 2019).
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38Seriam exibidos: O pornógrafo (João Callegaro, 1970); Gamal, O Delírio do Sexo (João
Batista de Andrade); e o Em cada coração um punhal: três histórias que não fundem a cuca de
ninguém (Sebastião de Siqueira, J. Rubens Siqueira, João Batista de Andrade, 1969).
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39 Johann Moritz Rugendas fez parte da Expedição Langsdorff - incursão pelo Brasil chefiada
pelo médico e naturalista George Heinrich von Langsdorff, cônsul-geral da Rússia residente no
Rio de Janeiro desde 1813. Com financiamento do governo russo, George contratou Rugendas
e outros profissionais para adentrar ao território brasileiro, mas por desentendimentos, o
segundo não chega até o final da viagem. Os desenhos que Rugendas produziu durante sua
estadia foram publicados em Voyage Pittoresque dans le Brésil entre 1827 a 1835. Nas obras,
há um reforço da visão eurocêntrica sobre os corpos de pessoas não-brancas, espacialmente,
indígenas e negras.
40 O filme pode ser consultado no acervo da Cinemateca Pernambucana (Fundação Joaquim
Nabuco).
107
41 Umas das ferramentas para a realização das obras de Cardoso era o apoio do governo local
- em troca, eram exibidas belas imagens da locação ou outras maneiras de apoiar/valorizar
pontos turísticos e o comércio local em filmes de projeção nacional.
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Dinastia está no Art Palácio. Com óculos especiais para ver karaté
em 3ª Dimensão, o público envolve-se na vulgaridade do filme. Para o
produtor, descobriu a galinha dos ovos de ouro. Se o filme vai
compensar financeiramente é uma incógnita. Essa estória de 3ª
Dimensão é uma farsa. Até hoje não tivemos filme de importância
com essa técnica. (SPENCER, Fernando. Diário de Pernambuco,
Recife, 14/07/1979).
Não faço um cinema submisso, mas filmes que depois possam ser
adquiridos por instituições culturais e compensar de algum modo, o
investimento feito. Qualquer artista, qualquer brasileiro, não pode
ignorar a censura ao fazer uma obra, não pode desprezá-la.
(SPENCER, Fernando, 1978, apud RÊGO, Luzanira, Diário de
Pernambuco, Recife, 07/09/1978).
Ali, a jovem jornalista subverteu, mais uma vez, o discurso público sobre
temas periféricos, no uso furcaz desta mesma mídia impressa que apoiava a
ditadura, assim como o questionar de figuras centrais como Spencer nas
narrativas sobre o cinema, para pensar que as suas maneiras de produzir
certas verdades e repetí-las à saturação como um exercício memorialístico
ocultava propositalmente suas incongruências e hipocrisias no âmbito social.
Nesse sentido, a partir da matéria sobre o movimento superoitista, localizamos
tal produção como extremamente sagaz. Pela impossibilidade de negar às
suas colocações, Spencer acolheu o criticismo da reportagem enquanto ataque
e, como forma de defesa, seu único reconhecimento, quase implícito ao falar
das divisões internas do Grupo 8 e os superoitistas, era também o de seu papel
como mediador cultural e sua posição privilegiada entre as normas sociais: ele
continuaria a fazer o cinema que gostava, “sem compromisso com ninguém”.
No mesmo texto, notamos não haver menção aos nomes das figuras de
projeção nacional convidadas. A mesa julgadora foi composta por críticos,
cineastas, realizadores e fótografo, a saber: Pola Vartuk (O Estado de São
Paulo), Celso Marconi (Jornal do Commercio), José Carlos Targino (Jornal
Universitário), Abrão Berman (Centro de Estudos de Cinema Super 8 de São
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44A título de exemplo, entre os anos de 1962-1964, Spencer editou obras de Jota Soares
publicadas na seção de Cinema do Diário de Pernambuco. Tratava-se de uma série de 59
textos de Soares intitulada “Relembrando o Cinema Pernambucano” (DIB; JOAQUIM, 2019).
Além disso, vasta parte de suas produções cinematográficas feitas a respeito do nosso estado
estão dispostas na Cinemateca Pernambucana.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
o Livros
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