Livro Desafios Contemporaneos o Direito A Moradia
Livro Desafios Contemporaneos o Direito A Moradia
Livro Desafios Contemporaneos o Direito A Moradia
Direito à moradia:
desafios contemporâneos quanto à sua conceituação
e concretização à luz do direito à cidade
Todas as obras publicadas pela Editora Fundação Fênix estão sob os direitos da
Creative Commons 4.0 –
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
Série Direito – 36
209p.
ISBN – 978-65-81110-34-5
https://doi.org/10.36592/9786581110345
CDD – 340
_______________________________________________________________
1. Direito à Moradia. 2. Direito à Cidade. 3. Direitos Fundamentais.
4. Programas Habitacionais.
Entendo a vida como composta por sucessivas viagens de avião, sendo cada
viagem única – seja em razão do destino, da previsão do tempo ou dos passageiros
com quem se compartilha a experiência. Há viagens em que você precisa ser o piloto
e garantir uma boa viagem para todos os tripulantes, noutras, você pode se dar ao
luxo de apenas se sentar na poltrona da janela e apreciar toda a beleza e perspectiva
que só uma viagem de avião pode proporcionar. Na viagem com destino à obtenção
do título de Mestre em Direito, tive a convicção de que precisaria assumir o controle
da aeronave e garantir um pouso em segurança.
Executada com imensa satisfação, a decolagem deu início à jornada, e,
rapidamente, atingi o voo de cruzeiro. Contudo, embora tudo parecesse seguir o
plano de voo, fui surpreendida pela pior turbulência que já tive que enfrentar em toda
a minha vida. Nesse momento de desespero – em que, inclusive, duvidei das minhas
habilidades para seguir comandando o voo – contei com o amor, apoio, carinho e
acolhimento de todos que acreditavam que o destino ainda era possível de ser
alcançado.
Meu agradecimento, portanto, se dirige a todos os comissários de bordo que
tentaram – cada um à sua maneira – me oferecer acolhimento e amor para que
enfrentasse a zona de instabilidade. Na tentativa de me incentivar e de me convencer
de que eu era capaz de superar tais adversidades, os comissários performaram as
mais diversas habilidades. Assim, agradeço imensamente à minha mãe, Rovani, pelo
amor incondicional, pela cumplicidade e por, além de ter me permitido voar, ter
acreditado na minha capacidade. Agradeço à Pablo, meu companheiro de
praticamente todas as viagens dos últimos seis anos, pelo amor, cuidado e
dedicação. Agradeço também à Larissa pela amizade verdadeira e pelos momentos
em que me arrancou fortes gargalhadas, me distraindo da turbulência. Meu
agradecimento também se direciona a todos que se dedicaram a fazer com que eu
me sentisse amada e capaz. Dessa forma agradeço à João Vítor, Tarsila e Vicente
pelo amor, admiração e por muitas vezes terem que escutar meus relatos de bordo;
à Panaiota, pelo acolhimento e carinho maternal que nutre por mim; à Geruza, por
muitas coisas, mas, principalmente, pelas palavras de incentivo e motivação e à
Rovânio, que, além de se fazer presente, mesmo estando em outro hemisfério,
tentou me confortar com um plano de pouso de emergência – que, felizmente, não
se fez necessário.
Expresso, ainda, minha gratidão à equipe técnica da torre de controle que me
acolheu e me direcionou na execução desse voo; assim, agradeço ao Prof. Dr. Ingo
Sarlet, à Prof.ª. Drª. Vanêsca Prestes, ao Prof. Dr. Adalberto Pasqualotto e à
secretária do PPDG, Caren Klinger. Agradeço também à CAPES pelo financiamento
dessa jornada.
A finalização dessa viagem não seria possível sem o auxílio de todos os
anteriormente citados. Contudo, se fôssemos analisar a caixa preta desse avião,
identificaríamos inúmeras mensagens de pessoas, que, apesar da distância, sempre
que podiam, tentavam me transmitir o carinho que sentiam por mim. As mensagens
dessas pessoas me traziam a esperança de que as condições meteorológicas se
estabilizariam. Assim, agradeço a Grazieli, Michele, Edivane, Leônidas, Marianna,
Eduarda, Raphaela, Andressa, Tomlyta, Flávia, Mérilan, Lays, Thaís e Gabriela. Sei que
vocês torcem muito por mim e vibraram com cada acrobacia aérea que executei
nesses últimos meses. E por isso eu sou muito grata. Obrigada.
Enfim, pousei em segurança. Touchdown. A todos, muito obrigada.
SUMÁRIO
PREFÁCIO
Ingo Wolfgang Sarlet; Vanêsca Buzelato Prestes ................................................... 17
APRESENTAÇÃO
Adalberto Pasqualotto .............................................................................................. 21
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 25
É por todo o exposto que temos a convicção de que a obra que ora chega
às mãos dos leitores contribui sobremaneira para explicar os motivos jurídicos
pelos quais há necessidade da ressignificação do direito à moradia, na perspectiva
do direito à cidade. Além disso, o texto apresenta potencial concreto para servir
de referência para a reflexão e ação tanto dos profissionais da seara jurídica,
quanto gestores públicos e todos os que se dedicam à efetivação do direito
fundamental à moradia no contexto de uma cidade sustentável, condição também
para a diminuição das desigualdades sociais e erradicação da pobreza, na forma
estabelecida pela Constituição Federal de 1988.
Assim, nos resta parabenizar ELOÍSA pelo seu belo texto e almejar que
tenham a receptividade e sucesso merecidos.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Porto Alegre, novembro de 2021.
Adalberto Pasqualotto
Adalberto Pasqualotto.
Professor Titular de Direito do Consumidor no Programa de Pós-Graduação em Direito.
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS.
INTRODUÇÃO
1
SOUZA, Sergio Iglesias Nunes de. O Direito Humano da moradia após a emenda constitucional n.
26, de 2000 e sua análise com o direito de habitação no direito civil. Revista Argumentum – RA,
Marília/SP, v. 16, pp.73-98, jan./dez. 2015, p. 92.
2
BRASIL. Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. Brasília: DF:
Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 12 mar. 2020.
32 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
3
BRASIL. [Constituição (1998)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto compilado
até a Emenda Constitucional nº 107 de 02/07/2020, Brasília, DF: Senado Federal, 1988. (165p.).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
12 jan. 2020.
4
Ibidem.
5
BRASIL, op. cit., 1988.
6
SILVA, José Robson da. Paradigma biocêntrico: do patrimônio privado ao patrimônio ambiental.
Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
7
SAULE JUNIOR, Nelson. A proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares. Porto
Alegre: SAFE, 2004. p. 133.
Eloísa Assis | 33
8
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 13. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018, p. 211.
9
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Editora Campus: Rio
de Janeiro, 2004.
10
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros,
2006.
11
SARLET, op. cit., 2018, p. 45.
12
SARLET, op. cit., 2018, p. 46.
13
Ibidem, p. 47.
14
Ibidem.
34 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
15
SARLET, op. cit., 2018, p. 47.
16
Ibidem.
17
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente
Humano. Anais Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Estocolmo, 6p.,
1972.
18
SARLET, op. cit., 2018, p. 49.
19
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 586.
Eloísa Assis | 35
pela doutrina como integrante de uma categoria própria, o que, para Bonavides,
“configura um dos mais notáveis progressos já alcançados pela teoria dos direitos
20
fundamentais” . Segundo Sarlet 21 , essas diversas dimensões dos direitos
fundamentais são resultado da evolução do processo de seu reconhecimento e
apontam para a característica de abertura e mutabilidade de tais direitos ao longo
do tempo, em que pese se reconheça a existência de estabilidade em relação a
determinados direitos, a exemplo dos direitos à vida, à liberdade de locomoção e
de expressão, dentre outros. O que fica claro com essa sobreposição de
dimensões dos direitos fundamentais é que cada dimensão imediatamente
seguinte se funde à anterior, numa incessante busca de efetivação de todos esses
direitos, o que, infelizmente, ainda tem sido um desafio a ser superado.
Tal como preconizado por Bobbio, as diferentes gerações dos direitos
fundamentais direcionam para a mutabilidade destes – a partir da maneira como
se modificaram (e ainda se modificam) as urgências humanas ao longo do tempo;
basta ver a propriedade, que surge como decorrência de uma lógica liberal, de
cunho marcadamente individualista, não subsistindo ônus aos proprietários, e,
com a sobrelevação de um Estado Social, que tem na solidariedade seu vetor, o
direito à propriedade passa a ser condicionado à observância de sua função social,
demonstrando que “o que parece fundamental numa época histórica e numa
determinada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras
culturas”22, ou pelo menos não apresenta a mesma conformação a depender da
dinâmica social assentada.
O reconhecimento do direito à moradia enquanto um direito fundamental,
no cenário jurídico pátrio, fora indiscutivelmente influenciado pelos compromissos
firmados pela comunidade internacional em diversos documentos para a
concretização da moradia – entendida internacionalmente como um direito
humano – o que confirma o posicionamento de Bobbio no sentido de que os
direitos fundamentais resultam de uma compreensão social e culturalmente
contextualizada. A Constituição Brasileira, por meio da Emenda Constitucional nº
20
Ibidem, p. 587.
21
SARLET, op. cit., 2018, p. 53.
22
BOBBIO, op. cit., 2004, p. 18.
36 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
23
BRASIL. Emenda constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000. Altera a redação do art. 6o da
Constituição Federal. 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc26.htm. Acesso em: 12 fev.
2020.
24
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentários ao art. 5º, caput. In: CANOTILHO, J. J. Gomes et al.
(Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 547.
25
BRASIL, op. cit., 2000.
26
BRASIL. Senado Federal. Justificação à Proposta de Emenda à Constituição nº 28, de 1996. 1996.
Disponível
em:http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=5C81209593D6
C94DFB92B55C16A6FCFD.proposicoesWebExterno2?codteor=1234598&filename=Do ssie+-
PEC+601/1998. Acesso em: 12 mai. 2020.
27
UNITED NATIONS. United Nations conference on human settlements (Habitat II). 1996.
Disponível em: https://www.un.org/ruleoflaw/wp-content/uploads/2015/10/istanbul-
declaration.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020.
Eloísa Assis | 37
28
As primeiras leis da Idade Média foram projetadas para proteger os indivíduos do poder arbitrário
dos governantes. Nesse cenário, desponta a Magna Charta Libertatum (Grande Carta das
Liberdades), que, em 1215, se direcionou a proteger os nobres e clérigos – e em alguns casos
também os camponeses – contra impostos excessivos fixados pela Corte Inglesa. Esse documento
se traduz em pacto firmado pelo Rei João Sem-Terra e pelos bispos e barões ingleses, sendo que,
em que pese a menção de se tratar de garantia aos nobres ingleses a privilégios feudais, representa
ponto de referência para direitos e liberdades civis, tornando-se a base mais importante para o
direito constitucional inglês. Importa consignar que inspirados na Magna Carta surgem outros
documentos que expressam direitos e enunciam liberdades gerais, como o Bill of Rights, de 1689
– instrumento contrário às arbitrariedades efetuadas durante o Reinado de Jaime II.
Posteriormente a isso, com a Declaração de Direitos do Povo da Virgínia, de 1776, e a Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, inaugura-se, verdadeiramente, o
reconhecimento de direitos do homem, eis que restou consagrado o caráter universal dos direitos,
não mais restritos a membros de determinada casta ou classe social, como na Magna Charta. Aqui,
os direitos fundamentais baseiam-se em pressupostos jusnaturalistas e individualistas,
apresentando-se, em verdade, como direitos dos indivíduos perante o Estado, direitos que
demarcam a zona de não intervenção do Estado em razão da autonomia dos cidadãos; são os
chamados direitos de primeira geração, que denotam um caráter negativo, vez que exigem do
Estado uma abstenção frente à liberdade e autonomia dos indivíduos.
29
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/. Acesso em 10 fev. 2020.
30
Mesmo que de maneira vaga e enunciativa, tal instrumento desempenhou papel decisivo para
que a ONU concentrasse esforços nessa questão que, atualmente, afeta mais de 1,2 bilhões de
pessoas – que sobrevivem em condições precárias de moradia dentro do contexto urbano.
38 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
31
BRASIL. Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961. Promulga a Convenção relativa ao Estatuto
dos Refugiados, concluída em Genebra em 28 de julho de 1951. Brasília, DF: Presidência da
República, 1961. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-
1969/decreto-50215-28-janeiro-1961-389887-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 12 mar.
2020.
32
BRASIL. Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969. Promulga a Convenção Internacional
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial. 1969. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D65810.html. Acesso em: 12 abr. 2020
33
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos, adotados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 16 de
dezembro de 1966, foram aprovados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº
226, de 12 de dezembro de 1991, entraram em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na forma
dos seus arts. 27, § 2º e 49, § 2º, e foram promulgados pelos Decretos nºs 591 e 592, de 6 de julho
de 1992, publicados no Diário Oficial da União do dia 7 subsequente, respectivamente.
34
No Brasil, a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais foi depositada em 24 de janeiro de 1992.
Eloísa Assis | 39
35
UNITED NATIONS. The Vancouver Declaration on Human Settlements. 1976. Disponível em:
https://mirror.unhabitat.org/downloads/docs/TheVancouverDeclarationOnHumanSettlements.pd
f. Acesso em: 20 jul. 2020.
36
UNITED NATIONS. United Nations Conference on Human Settlements (Habitat). 1976. Disponível
em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/moradia-
adequada/declaracoes/declaracao-sobre-assentamentos-humanos-de-vancouver. Acesso em:
15 fev. 2020.
40 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
37
UNITED NATIONS. International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers
and Members of Their Families. 1977. Artigo 43. Disponível em:
https://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CMW.aspx. Acesso em: 13 mar. 2020.
[Adotada pela Resolução 45/158 da Assembleia Geral da ONU em 18 de dezembro de 1990. Brasil
não assinou e ainda não aderiu. Seu texto está em análise pelos órgãos governamentais
competentes].
38
UNITED NATIONS. International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers
and Members of Their Families. 1977. Artigo 14. Disponível em:
https://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CMW.aspx. Acesso em: 13 mar. 2020.
[Adotada pela Resolução 45/158 da Assembleia Geral da ONU em 18 de dezembro de 1990. Brasil
não assinou e ainda não aderiu. Seu texto está em análise pelos órgãos governamentais
competentes].
39
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Protocolo adicional à Convenção Americana sobre direitos humanos em matéria de direitos
econômicos, sociais e Culturais, “Protocolo de San Salvador”. Disponível em:
http://www.cidh.org/basicos/portugues/e.protocolo_de_san_salvador.htm. Acesso em: 20 jun.
2020.
40
BRASIL. Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990. Promulga a Convenção sobre os Direitos
da Criança. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm.
Acesso em: 20 jun. 2020.
41
O Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi instituído em 1985 pelo Conselho
Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas a fim de controlar a aplicação, pelos Estados
Partes, das disposições do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Para este efeito
os Estados Partes apresentam relatórios ao Comitê onde enunciam as medidas adotadas para
tornar efetivas as disposições do Pacto. Os relatórios são analisados pelo Comitê e discutidos
entre este e representantes do Estado Parte em causa, após o que o Comitê emite as suas
observações finais sobre cada relatório: salientando os aspectos positivos bem como os
problemas detectados, para os quais recomenda as soluções que lhe pareçam adequadas. O
Comitê dispõe ainda de competência para formular comentários gerais relativos a determinados
Eloísa Assis | 41
artigos ou disposições do Pacto e organizar debates temáticos sobre matérias cobertas pelo
mesmo. Atualmente, encontra-se em discussão a instituição de um grupo de trabalho encarregado
de elaborar um Protocolo Facultativo ao Pacto sobre os Direitos Civis e Políticos, com o objetivo
de dotar o Comitê de competência para o exame de queixas individuais.
42
BRASIL. Comentário geral nº 4 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. In: ______.
Direito à moradia adequada. (pp. 34-39). Brasília: Secretaria dos Direitos Humanos, 2013.
Disponível em: http://www.urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/DH_moradia_final_internet.pdf.
Acesso em: 14 mar. 2020.
42 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
43
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Agenda 21. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em:
http://www.ecologiaintegral.org.br/Agenda21.pdf. Acesso em: 25 jan. 2021.
44
UNITED NATIONS. United Nations conference on human settlements (Habitat II). 1996.
Disponível em: https://www.un.org/ruleoflaw/wp-content/uploads/2015/10/istanbul-
declaration.pdf. Acesso em: 12 mar. 2020
45
Na verdade, a inovação não se deu propriamente nesta conferência, eis que o que houve foi a
consagração da inovação trazida pela Agenda 21. Válido assinalar, nesse rumo, que o Habitat II
possibilitou a superação da crença de que somente um governo central forte era capaz de dar
resposta contundente e adequada de forma a enfrentar os problemas urbanos que despontavam à
época. E a superação desse paradigma é relevante em razão da necessidade de reconhecimento
de que a problemática da moradia é temática que exige a atuação conjunta de diversos setores e
atores.
Eloísa Assis | 43
46
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20. 2012. Disponível em: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20.html.
Acesso em: 04 jun. 2020.
44 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
47
Idem. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. 2015.
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/Agenda2030-completo-
site.pdf. Acesso em 05 jun. 2020.
48
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Habitat III Conference: Nova Agenda Urbana. 2016.
Disponível em:https://www2.habitat3.org. Acesso em: 16 abr. 2020.
Eloísa Assis | 45
49
Documento internacional em que a Assembleia Geral das Nações Unidas, por reconhecer que o
desenvolvimento é um processo de cunho econômico, social, cultural e político, estabelece
diretrizes direcionadas a garantir o bem-estar da população e identifica o direito ao
desenvolvimento enquanto direito humano inalienável.
48 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
funcionais adjacentes”50.
Para conferir maior visibilidade às questões urbanas e habitacionais, o
ONU-Habitat instituiu o Outubro Urbano, que se direciona a apoiar debates que
visam abordar temas importantes para o Programa, tendo início no Dia Mundial do
Habitat (na primeira segunda-feira do mês de outubro) se encerrando com o Dia
Mundial das Cidades (31 de outubro). Em 2018, o escritório da ONU-Habitat no
Brasil criou o Circuito Urbano – uma convocatória para apoiar institucionalmente
e dar visibilidade aos eventos durante o Outubro Urbano. Sob o tema “Cidades
Pós-Covid-19: Diálogos entre o Brasil e a África Lusófona”, em outubro de 2020,
ocorreu a terceira edição do Circuito Urbano em parceria com os escritórios do
ONU-Habitat dos países africanos lusófonos, oportunidade em que foram
realizados cerca de 186 eventos virtuais com a temática do desenvolvimento
sustentável das cidades51.
Via de regra, os instrumentos oriundos de eventos da Organização das
Nações Unidas resultam de difíceis consensos entre as nações, motivo pelo qual
os temas, na maioria das vezes, são generalizados ao efeito de evitar debates mais
espinhosos e atrasos nas tratativas. As diferenças que compõem o mundo
deveriam ser contempladas dentro do discurso de desenvolvimento sustentável
das cidades; nesse sentido, aspectos como gênero, idade, raça, etnicidade e renda
(que são ícones da desigualdade social) bem como a luta pela diferenciação das
moradias para determinadas minorias – (anões, pessoas com deficiência,
quilombolas, índios etc.), muitas vezes sub-representadas, desconsiderando a sua
expressividade quantitativa – merecem ênfase, todavia, nem sempre concedida.
Na Nova Agenda Urbana, percebe-se mínima e genérica referência a certas
coletividades encontradas em situação de vulnerabilidade. Muitos grupos, como a
população LGBTQIA+, sequer são citados, sendo relegados à invisibilidade. Há
muito a comunidade LGBTQIA+ reivindica direitos urbanos, como a questão do
acesso à moradia, vez que se noticiam casos de discriminação a casais formados
50
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Habitat III Conference: Nova Agenda Urbana, Quito, 2016.
Disponível em:<https://www2.habitat3.org>. Acesso em 16 abr. 2020.
51
ONU-HABITAT: POR UM FUTURO MELHOR. Circuito Urbano 2020, 2021. Página inicial. Disponível
em: http://www.circuitourbano.org/. Acesso em: 29 jan. 2021.
Eloísa Assis | 49
por pessoas do mesmo sexo no acesso à moradia52. Dessa forma, entende-se que
as políticas sociais conduzidas e incentivadas por acordos e organismos globais
precisam se atentar às minúcias da democratização do acesso à moradia e à
cidade e suas consequências, embora se compreenda que a existência de nações
com concepções tão diversas obstaculize tal diligência pluralista. Conquanto
silente a respeito de determinadas minorias, válido assinalar que a Nova Agenda
Urbana contempla as questões de gênero, existindo dezenas de disposições sobre
os direitos específicos de meninas e mulheres no contexto das cidades.
Embora não ostentem caráter impositivo, as recomendações emitidas pela
ONU, através de seus comitês e agências, e os compromissos assumidos pelos
Estados nos documentos internacionais delimitam os parâmetros do que se
considera adequado ou suficiente para a garantia de direitos aos indivíduos; nesse
rumo, estabelecidos internacionalmente os padrões mínimos, cria-se um
ambiente favorável à pressão aos Estados pelo cumprimento das exigências
postas. Isso porque, embora os documentos internacionais, como é o caso da
Nova Agenda Urbana, não sejam dotados de cogência – denominados pelos
doutrinadores de Direito Internacional Público como soft law – em contrapartida,
exercem pressão política sobre os Estados, de sorte que conduzem ao
reconhecimento no sentido de que existe obrigação jurídica à efetivação dos
compromissos assumidos junto à comunidade internacional 53. De fato, ao que se
verifica, a experiência internacional exerceu pressão política sobre o Brasil, de
sorte que o constrangimento diante da percepção do descompasso do país com
as demais constituições estrangeiras em que havia proteção à moradia conduziu
à tutela constitucional do direito à moradia.
52
Para aprofundamento ver: GOUVEIA, Filipe; NILSSON, Therese; BERGGREN, Niclas. “Two
gentlemen sharing’: Rental discrimination of same-sex couples in Portugal”. INF Working Paper, n.
1318, 2020 – estudo onde são apresentados os resultados de uma pesquisa acerca da
discriminação de casais homossexuais nas contratações de aluguéis de imóveis residenciais em
Portugal.
53
ACCIOLY, Hildebrando et al. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009,
p.171.
50 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
54
BRASIL, op. cit., 1988.
55
BRASIL, op. cit., 2000.
56
BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório da Comissão Especial destinada a proferir parecer à
Proposta de Emenda à Constituição nº 601-A, de 1998, do Senado Federal, que "Altera a redação
do art. 6º da Constituição Federal". Relatora Deputada Almerinda de Carvalho. 1999. Disponível
em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=012EC6E2F598B9C
637EB50EFE7B0C36B.node1?codteor=1234598&filename=Avulso+-PEC+601/1998. Acesso em:
17 abr. 2020
Eloísa Assis | 51
57
De acordo com o parecer, as considerações da relatora, in verbis: “Qual a diferença básica entre
um determinado direito estar inserido no art. 5º ou no art. 6º da Constituição Federal? Há um rol de
direitos que não podem ser negados ou obstaculizados ao ser humano, sob pena de comprometer-
se a fruição destes mesmos direitos pelo restante da humanidade. Esses seriam os direitos
fundamentais, disciplinados pelo art. 5º de nossa Carta Política. O direito à moradia surgiria nesse
campo como um dos componentes do direito à vida, aos moldes da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, ou mesmo como decorrência do direito à igualdade. Não teria o status de um
direito fundamental autônomo. Os direitos sociais dispostos no art. 6º apresentam outro
significado. Segundo José Afonso da Silva, eles ligam-se a “prestações positivas estatais”. Em
outras palavras, impõem políticas públicas e legislação que assegurem a sua fruição por todos os
cidadãos. Vale notar que, não obstante a Constituição tenha optado pela expressão direitos sociais,
alguns autores classificam esses direitos de prestações como econômicos, sociais e culturais. O
direito à moradia adequa-se bem à classificação como direito social. A própria Agenda Habitat
caminha nessa linha, ao definir o direito à moradia adequada como um direito que deve ser
progressivamente assegurado, a partir de medidas concretas dos governos e da sociedade como
um todo.”
58
Outra importante contribuição do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais na temática
da moradia foi a elaboração do Comentário Geral número 7, a partir do qual, em 1997, o Comitê se
posicionou no sentido de considerar a desocupação e o despejo forçados como hipóteses de
violações aos direitos humanos. Nesse sentido, a expectativa pela ausência de atuação do Estado
direcionada às desocupações forçadas contornam a dimensão negativa do direito à moradia, a sua
faceta de direito de defesa.
59
SARLET, op. cit., 2018, p. 167.
60
BRASIL, op. cit., 1988.
52 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
que ‘permaneçam letra morta no texto da Constituição’” 61. Ainda, Sarlet afirma que
a norma contida no artigo 5º, §1º deve ser considerada um mandado de
otimização, ou seja, que ela determina que os órgãos estatais reconheçam a maior
eficácia possível aos direitos fundamentais62. A consignação da eficácia imediata
dos direitos sociais é extremamente relevante e contundente, sobretudo quando
se leva em consideração que os direitos sociais estão intrinsicamente
relacionados com o provimento das condições materiais mínimas para uma vida
com dignidade.
Aqui, válido salientar que, no que tange especificamente ao direito social à
moradia, antes mesmo de sua positivação, já se fazia referência à sua imbricação
com a garantia da proteção à dignidade humana. Assim, em que pese a
compreensão no sentido de que o direito à moradia se integrou ao sistema
constitucional brasileiro por ocasião da edição da Emenda Constitucional nº 26,
de 2000 63 , seria desarrazoado desconsiderar o reconhecimento de um direito
fundamental à moradia no âmbito interno – que demonstrava se relacionar com
diversos direitos e garantias já positivados – antes mesmo de sua incorporação
expressa em fevereiro de 2000. A diferenciação que se faz, contudo, entre a
concepção do direito à moradia antes e depois da edição da Emenda
Constitucional nº 26 diz respeito ao fato de que, a despeito de doutrinas que
negam a atribuição de fundamentalidade aos direitos sociais 64, somente após a
edição da emenda constitucional supramencionada que o direito à moradia foi
elevado à categoria de direito fundamental – já que incluído no Título II da
Constituição Federal, que versa, justamente, sobre os direitos e garantias
fundamentais.
Ao analisar o conjunto de normas institucionais, Saule Júnior 65 assevera
que é possível demonstrar que o direito à moradia era deduzido em nosso
61
SARLET, op. cit., 2018, p. 272.
62
Ibidem, p. 278.
63
BRASIL, op. cit., 2000.
64
Subsiste doutrina no sentido de não reconhecer a fundamentalidade do direito à moradia, sendo
relevante, ao efeito de entender o sustentáculo jurídico de tal posicionamento, a leitura da obra
ATRIA, Fernando. Existem Direitos Sociais? In: MELLO, Claudio Ari (Coord.). Os Desafios dos
Direitos Sociais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
65
SAULE JÚNIOR, Nelson; CARDOSO, Patrícia de Menezes. O Direito à Moradia no Brasil: Violações,
práticas positivas e recomendações ao governo brasileiro. São Paulo: Instituto Pólis, 2005. 160p.
Eloísa Assis | 53
66
BRASIL, op. cit., 1988.
67
BRASIL. Estatuto da cidade. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e
183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras
providências. 2001. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 01 mar. 2020.
68
BRASIL, op. cit., 2002.
54 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
69
BRASIL, op. cit., 1988.
70
Ibidem.
71
Concebido no Texas por ocasião da crise financeira ocorrida nos anos de 1839, nos Estados
Unidos, o bem de família expandiu-se pelos demais estados do país tendo adquirido tratamento
jurídico específico inclusive ao redor do mundo. No Brasil, em razão da Lei nº 8.009/1990, fora
Eloísa Assis | 55
76
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário: RE 605709 SP. Relator: Ministro Dias
Toffoli. Redatora: Ministra Rosa Weber. DJ: 12/06/2018. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15339527780&ext=.pdf. Acesso em: 25
jun. 2020.
77
BRASIL, op. cit., 1990.
78
BRASIL, op. cit., 2000.
79
BRASIL, op. cit., 2018.
Eloísa Assis | 57
80
A regularização fundiária urbana consiste no reconhecimento, pelo Poder Público, dos direitos
reais daqueles que ocupam imóveis urbanos, se constituindo enquanto instrumento de conceito
amplo, vez que contempla todas as ferramentas que viabilizam a conformação de um
empreendimento imobiliário ao regramento urbanístico vigente. A regularização fundiária,
portanto, é o conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, econômicas, ambientais e sociais que se
direcionam à regularização de assentamentos irregulares bem como à titulação dos ocupantes, a
fim de assegurar o direito social à moradia e a fruição da dignidade da pessoa humana. Atualmente,
a regularização fundiária está disciplinada na Lei nº 13.465, de 2017.
81
O aluguel social se constitui enquanto recurso assistencial governamental, por período de tempo
determinado, direcionado a atender, em caráter de urgência, famílias desabrigadas, que passam a
receber uma quantia mensal equivalente ao custo de um aluguel popular. O aluguel social tem
como base legal a Lei Orgânica da Assistência Social, Lei nº 8.742, de 1993, regulamentada pelo
Decreto nº 6.307, de 2007.
82
A compra assistida equivale a uma carta de crédito para aquisição de moradia com condições
adequadas de habitabilidade. Em Porto Alegre, a compra assistida, também chamada de bônus-
moradia, é adotada como instrumento de indenização das famílias que habitam em áreas de risco
ou que foram afetadas por projetos estruturadores da cidade que demandam o reassentamento
dos indivíduos em outras áreas. A compra assistida é uma indenização que corresponde à
aquisição de um imóvel – apontado pelo indenizado – pelo Poder Público, a fim de que
determinadas famílias saiam do local onde habitam. Por meio de tal instrumento, confere-se
autonomia aos indivíduos, que podem optar por imóveis inclusive em outras cidades, desde que
observada a certificação de habitabilidade, a fim de evitar a repetição das condições de risco.
58 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
83
A densidade revela o grau de precisão do texto constitucional, assim, diz-se que o direito à
moradia, por ser um direito social, se constitui enquanto comando com menor densidade, ou seja,
com baixo grau de determinação; e, por assim ser, sofre reflexos em sua vinculação, aplicabilidade
e justiciabilidade – LINS, Liana Cirne. A justiciabilidade dos direitos fundamentais sociais: uma
avaliação crítica do tripé denegatório de sua exigibilidade e da concretização constitucional
seletiva. Revista de Informação Legislativa, v. 46, n. 182, abr./jun. 2009, p. 54.
84
LINS, Liana Cirne. A justiciabilidade dos direitos fundamentais sociais: uma avaliação crítica do
tripé denegatório de sua exigibilidade e da concretização constitucional seletiva. Revista de
Informação Legislativa, v. 46, n. 182, abr./jun. 2009, p.60.
85
O conceito de reserva do possível é decorrente da paradigmática decisão do Tribunal
Constitucional Federal da Alemanha sobre o acesso à universidade de medicina diante da limitação
de vagas oferecidas pelo Estado. Na decisão ficou estabelecido que as pretensões dos indivíduos
devem corresponder ao que, razoavelmente, se pode exigir da sociedade, assim, ainda que o Estado
disponha de recursos, entende-se que deve ser respeitado o limite do razoável. No Brasil, todavia,
o que se verifica é a invocação da cláusula da reserva do possível com o intuito de exoneração do
cumprimento das obrigações constitucionais. SARLET, op. cit., 1988, p. 295.
86
SARLET Ingo; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 10
ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 284
Eloísa Assis | 59
87
destinatário o Estado. Nesse sentido, Sarlet adverte que não se pode
desconsiderar a existência de direitos subjetivos a prestações positivas,
reconhecimento este que contorna a autorização pela formalização da exigência
da prestação – fática e normativa – pelos titulares dos direitos sociais.
Com o assentamento da dimensão subjetiva dos direitos sociais,
consequentemente, se afasta o entendimento no sentido de que os direitos sociais
se constituem enquanto meros programas de ação governamental –
posicionamento que se desenvolveu em razão da compreensão de uma certa
abertura semântica (indeterminação do conteúdo) do dispositivo constitucional
que disciplina os direitos sociais 88 ; assim, considerando que não se definiu
concretamente o que se espera com a devida prestação do direito tutelado,
sustentava-se que sem a atuação do Legislador os direitos sociais eram
inexigíveis, e, portanto, sem plena eficácia. Contudo, como bem sinaliza Sarlet, a
forma genérica com a qual foram dispostos os direitos sociais (diante da ausência
de adjetivação, também chamada de abertura semântica e imprecisão do teor) não
autoriza que se esvazie o conteúdo de tais direitos e não afasta a atribuição de
máxima eficácia e efetividade às normas de direitos sociais89.
Assinalada a compreensão de que o direito à moradia se constitui enquanto
um direito subjetivo a prestações positivas, demonstra-se oportuno, aqui, salientar
sua dimensão objetiva, que, em verdade, se refere à sua eficácia irradiante. É em
sua perspectiva objetiva que o direito à moradia é identificado como parâmetro de
aplicação e interpretação dos dispositivos infraconstitucionais, reforçando o
inafastável dever do Estado pela realização dos direitos fundamentais, vinculando
e exigindo a atuação dos órgãos estatais. Ainda que assim não fosse, no que tange
especificamente ao direito à moradia, não se pode ignorar a determinação
constitucional no sentido de que cabe aos entes federativos a promoção de
programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais e
de saneamento básico, a teor do que determina o artigo 23, IX90.
87
Ibidem.
88
Ibidem, p. 280.
89
SARLET, op. cit., 2021.
90
BRASIL, op. cit., 1988.
60 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
91
SARLET, op. cit., 2021.
92
SARLET, op. cit., 2021.
Eloísa Assis | 61
93
Ibidem.
94
MARQUES, Alessandra Garcia. Inovação e direitos fundamentais: o impacto do aplicativo Uber
no mercado consumidor brasileiro. RDC, v. 107, 2016, p. 4.
62 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
95
BRASIL. Lei no 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos
e os procedimentos a elas pertinentes. 1991. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htm>. Acesso em: 16 maio 2020.
96
SARLET, op. cit., 2018, p. 222.
Eloísa Assis | 63
97
Ibidem. p. 225.
98
SARLET, op. cit., 2018, p. 223.
99
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Diretoria de Estatística e Informações. Déficit habitacional no
Brasil: 2016-2019. Belo Horizonte: FJP, 2021, 140p. Relatório. Disponível em:
https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/habitacao/RelatrioDeficithabitacionalnoBrasil20162019v1.2.pdf. Acesso em: 05 mar.
2021.
100
Ibidem.
64 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
101
Brasil. Lei no 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano
e dá outras Providências. 1979. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm>. Acesso em: 29 mar. 2020.
102
BRASIL. Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida
– PMCMV [...] e dá outras providências. 2009. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11977.htm. Acesso em: 24 maio
2020.
Eloísa Assis | 65
103
SARLET, op. cit., 2021, p. 290.
104
SARLET, op. cit., 2021.
105
SARLET, op. cit., 2021.
66 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
1
MUMFORD, Lewis. A Cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas, 4. Ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 28.
2
MUMFORD, op. cit., 1998, p. 28.
3
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. São Paulo: HEMUS, 1975, p. 93
4
Ibidem, p. 93
5
Ibidem, p. 93
Eloísa Assis | 69
fratrias a tribo, e diversas tribos a cidade. Família, fratria, tribo, cidade, são,
portanto, sociedades perfeitamente análogas nascidas umas das outras por uma
série de confederações” 6.
A cidade nasce como uma confederação, isso porque embora os grupos,
paulatinamente, se associassem entre si, nenhum deles perdia sua individualidade
ou independência, razão pela qual registra o autor que a cidade não é um
ajuntamento de indivíduos, antes uma confederação de vários grupos,
constituídos antes dela e que ela deixa subsistir7. Destaca Coulanges que a cidade
se desenvolveu paralelamente à religião, de forma que resta dificultoso afirmar,
para o autor, se foi o progresso religioso que causou o progresso social ou o
contrário8. No mesmo sentido, Raquel Rolnik, ao definir a cidade enquanto ímã,
refere que “o templo era o ímã que reunia o grupo” 9 , reforçando a ideia de
imbricação entre formação da cidade e religião.
Antes de obter conteúdo jurídico, a cidade, enquanto conceito, é explorada
por estudiosos de diversas áreas do conhecimento, como arquitetura e urbanismo,
geografia, filosofia, sociologia, entre outras. Nesse sentido, Freitag se debruça
sobre o que denomina teorias da cidade, apresentando teóricos que detiveram
seus estudos no fenômeno urbano. Adverte a autora que “não há notícia de um
pensamento consolidado, que buscasse formular uma ‘teoria’ das cidades, mesmo
que arquitetos e urbanistas tenham elaborado as suas”10, razão pela qual entende
que uma explicitação das teorias da cidade e do fenômeno urbano precisa ser
necessariamente interdisciplinar11. Para ordenar a apresentação, a autora, abrindo
mão de seguir um critério cronológico, diferentemente do seguido por
Vasconcelos 12 , organizou-a em Escolas, ou seja, em grupos que possuem
afinidades de pensamento.
6
Ibidem, p. 101
7
COULANGES, op. cit., 1975, p. 102
8
Ibidem, p. 104
9
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 14.
10
FREITAG, Barbara. Teorias da cidade. 4. Ed. São Paulo: Papirus, 2012, p. 10.
11
Ibidem, p. 11
12
VASCONCELOS, Pedro A. As metamorfoses do conceito de cidade. Mercator, Fortaleza, v. 14, n.
4, Número Especial, p. 17-23, dez. 2015.
70 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
13
FREITAG, op. cit., 2012, p. 21
14
Ibidem, p. 41
15
FREITAG, op. cit., p. 59
Eloísa Assis | 71
16
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001, p. 62.
17
Ibidem, p. 123.
18
LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019, p. 55.
19
Ibidem, p. 60.
20
Ibidem, p. 56.
72 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
21
FREITAG, op. cit., p. 107
22
Ibidem, p. 108
23
Ibidem, p. 109
Eloísa Assis | 73
24
MOURA, Rosa. Arranjos urbano-regionais no Brasil: especificidades e reprodução de padrões.
Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, v. 7, n. 923, 2011, p. 3.
25
Ibidem.
26
“Como, nas cidades, vive a maioria dos brasileiros? Quais as suas condições de trabalho e não-
trabalho? Qual a sua renda? Que acesso têm aos benefícios da maternidade? Quais as suas
carências principais? Como se distribuem, na cidade, as pessoas, segundo as classes e os níveis
de renda? Quais as consequências da marginalização e da segregação? Quais os problemas da
habitação e da mobilidade, da educação e da saúde, do lazer e da seguridade social? Como definir
74 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
28
Cortiço é uma peça feita de cortiça, ou de qualquer outra casca de árvore, com a finalidade de
alojar colônias de abelhas. Acredita-se que o uso do termo cortiço para designar habitações
coletivas deriva da associação que se fazia entre as habitações e as colmeias, que eram formadas
por casulos minúsculos que abrigavam as abelhas tal qual as habitações coletivas que
hospedavam inúmeras pessoas em um mesmo cômodo.
29
VAZ, Lilian Fessler. Dos cortiços aos edifícios de apartamentos – A modernização da moradia no
Rio de Janeiro. Análise social, v. xxix, 1994, p. 581-597.
30
VAZ, op. cit., 1994, p. 583.
31
Ibidem, p. 584.
76 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
32
Ibidem, p. 585.
33
Ibidem, pp. 587-590.
34
BONDUKI, Nabil G. Origens da Habitação Social no Brasil. Análise social, vol xxix, 1994, p. 713.
Eloísa Assis | 77
35
BRASIL. Decreto 4.403 de 22 de dezembro de 1921. Regula a locação dos prédios urbanos e dá
outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-
1929/decreto-4403-22-dezembro-1921-569624-publicacaooriginal-92854-pl.html. Acesso em
29 jan. 2021.
36
BONDUKI, op. cit, 1994, p. 714.
37
Ibidem.
38
Ibidem, p. 715.
39
Ibidem.
78 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
40
BONDUKI, op. cit., 1994.
41
Bonduki registra que pesquisas realizadas entre 1930 e 1940 apontavam que cerca de 20% dos
orçamentos familiares eram comprometidos com o aluguel. (BONDUKI, op. cit, 1994, p. 717).
42
Válido referir que as primeiras entidades previdenciárias organizadas pelo Governo brasileiro
surgiram a partir da Lei Elói Chaves – Decreto nº 4.682 de 1923. Com a promulgação do Decreto
nº 19.496, de 1930, a estrutura das CAPs fora modificada, restando estabelecida a possibilidade de
se utilizar parte dos recursos dessas entidades previdenciárias para programas habitacionais. A
preocupação principal das entidades previdenciárias, no entanto, não era a crise habitacional, vez
que o objetivo da regulamentação da aquisição e construção de casas com os recursos
previdenciários tinha nítida intenção de proporcionar estabilidade econômico-financeira às
instituições previdenciárias. Corrobora tal percepção a inexistência de qualquer menção expressa
no sentido de que o aluguel deveria ser social, ou seja, de que deveriam ser cobrados valores
inferiores aos cobrados regularmente, o que evidencia o fato de que o propósito da medida era
preservar a solidez patrimonial das entidades previdenciárias, sendo a assistência dos associados
apenas uma consequência. (TRIANA FILHO, Antônio. Habitação Popular no Brasil: Análise do
modelo operacional de financiamento pelas agências oficiais. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília. Brasília,
154 f., 2006, p. 46).
Eloísa Assis | 79
43
BONDUKI, op. cit., 1994.
44
BRASIL. Decreto-Lei 4.598 de 20 de agosto de 1942. Dispõe sobre aluguéis de residências e dá
outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-4598-20-agosto-1942-414411-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 29
jan. 2021.
45
BONDUKI, op. cit., 1994, p. 721.
46
BRASIL. Decreto-Lei 58 de 10 de dezembro de 1937. Dispõe sobre o loteamento e a venda de
terrenos para pagamento em prestações. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/del058.htm. Acesso em 30 jan. 2021.
80 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
47
BONDUKI, op. cit., 1994, p. 730.
48
BRASIL. Decreto-Lei 9.218 de 1º de maio de 1946. Autoriza a instituição da “Fundação Casa
Popular”. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-
9218-1-maio-1946-417087-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 30 jan. 2021.
49
BONDUKI, op. cit., 1994, p. 717.
50
Ibidem, p. 726.
51
BONDUKI, op. cit., 1994, p. 728.
Eloísa Assis | 81
52
MARTINS, Marcela R.. Habitação e desastre: o conjunto habitacional Cidade de Deus e a “grande
enchente” de 1966. In: XVI Encontro Regional de História da ANPUH-Rio. Anais Eletrônicos. 2014.
Disponível em:
http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400466476_ARQUIVO_HABITACAOE
DESASTRE-Martins-2014.pdf. Acesso em 31 jan. 2021.
82 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
53
MARTINS, op. cit., 2014.
54
GAMALHO, Nola Patrícia. Malocas e Periferia: a produção do bairro Restinga. Revista Eletrônica
Ateliê Geográfico, v. 4, n. 2, abr. 2010, p. 122-141.
55
Nesse sentido, é válido colacionar o que Faillace descreveu em “Restinga, uma vila ao abandono”,
em 1967, no jornal Zero Hora: “a água é fornecida de oito em oito dias por carros-tanques, que
enchem as pipas públicas e as três ou quatro caixas d’água que existem...Água exposta a todas as
contaminações. E quando o carro atrasa mais de quinze dias, eles bebem água da sanga...Em
desespero de causa, os moradores tentaram perfurar poços por conta própria... só encontraram
barro.... A escola fica a mais de três quilômetros de distância e os pequenos que não podem
caminhar tanto perderam o ano...Os grandes perderam os empregos... (FAILLACE, Tânia. Zera Hora,
18 maio. 1967, p. 12-3).
Eloísa Assis | 83
56
BRASIL, op. cit., 1988.
57
MARICATO, E. Por um novo enfoque teórico na pesquisa sobre habitação. Cadernos Metrópole, v.
21, p. 33-52, 2009.
58
BRASIL, op. cit., 2000.
59
BRASIL, op. cit., 2001.
84 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
60
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Avanços e Desafios: Política
Nacional de Habitação – Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação, Brasília, 2010,
p. 10.
61
BRASIL, op. cit., 2010, p. 14.
62
Ibidem, p. 23.
Eloísa Assis | 85
63
BRASIL. Lei 11.124 de 16 de junho de 2005. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de
Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui
o Conselho Gestor do FNHI. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Lei/L11124.htm>. Acesso em: 22 ago. 2020.
64
Ibidem, p. 30.
65
BRASIL, op. cit., 2009.
86 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
rurais para famílias com renda mensal de até dez salários mínimos. Dessa forma,
o governo pretendia garantir que a população de baixa renda tivesse acesso à casa
própria, e, concomitantemente, acelerar o crescimento econômico com a geração
de novos empregos. Contudo, para que o PMCMV se tornasse real, e o projeto
tramitasse em regime de urgência, foi necessário que o governo barganhasse e
articulasse politicamente, resultando no fato de que o programa restou subjugado
às negociações do mercado66.
Atualmente, a política habitacional, no âmbito federal, é estruturada pelo
Ministério do Desenvolvimento Regional, que lida com ações referentes ao
desenvolvimento regional e urbano, à mobilidade e serviços urbanos, ao
saneamento, à proteção e defesa civil, à habitação e à irrigação, tendo como
principais projetos o Projeto de Integração do Rio São Francisco e o Programa
Casa Verde e Amarela. Visando facilitar o acesso da população a uma moradia
digna, o Programa Casa Verde e Amarela pretende alcançar 1,6 milhão de famílias
de baixa renda com o financiamento habitacional até 2024. Além do financiamento
habitacional, o programa se direciona à regularização fundiária e melhoria de
residências, dando resposta aos problemas de inadequações construtivas, como
a ausência de banheiros.
Merece destaque, ainda, a formação da Secretaria Nacional de Mobilidade
e Desenvolvimento Regional e Urbano, resultado da fusão das antigas Secretaria
Nacional de Desenvolvimento Regional e Urbano e Secretaria de Mobilidade e
Serviços Urbanos. A nova Secretaria é responsável por promover o
desenvolvimento regional e urbano ao efeito de assegurar o acesso universal à
cidade de forma socialmente inclusiva e ambientalmente sustentável. Em 2019, a
Secretaria iniciou a elaboração da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano,
PNDU, que propõe a adoção de uma perspectiva sistêmica, com abordagem
multinível, no enfrentamento dos desafios para o desenvolvimento econômico. A
PNDU objetiva reduzir as desigualdades socioespaciais nas cidades, de forma a
equilibrar os benefícios e os ônus da urbanização, com diretrizes que comporão o
66
FERREIRA, G. G et al. Política habitacional no Brasil: uma análise das coalizões de defesa do
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social versus o Programa Minha Casa, Minha Vida.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 2019.
Eloísa Assis | 87
67
BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Regional. Manual – Programa de Desenvolvimento
Urbano: Pró-Cidades. 2019. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/desenvolvimento-regional/MANUAL_DO_PROGRAMA_PR_CIDADES_00000002.pdf.
Acesso em: 02 fev. 2021.
88 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
68
LEFEBVRE, op. cit, 2001, p. 26.
69
As Jornadas de Junho representam o conjunto de manifestações populares iniciadas
especialmente como contestação em razão do aumento nas tarifas dos transportes públicos. Fala
que explicita claramente a utilização do direito à cidade enquanto fundamento reivincatório pode
ser visualizada na Carta que o Movimento Passe Livre Salvador entregou, em 2014, ao Prefeito ACM
Neto, onde constava a seguinte frase: “Lutamos por uma vida sem catracas, onde cidadãos terão
direito à cidade e aos serviços públicos de forma universal”. (NASCIMENTO, Luciano. Salvador: Por
redução na tarifa de transporte, manifestantes ocupam a Câmara de Vereadores. Revista Fórum,
2013. Disponível em: https://revistaforum.com.br/noticias/salvador-por-reducao-na-tarifa-de-
transporte-manifestantes-ocupam-camara-de-vereadores/. Acesso em: 20 maio. 2020). Válido
assinalar que, atualmente, discute-se as arranjo político conduzido a partir das Jornadas de Junho,
que, ao que se verifica, conduziram ao Impeachment da Presidente Dilma, em 2016, e à força na
eleição de Jair Bolsonaro, 2018 (sobre o assunto, ver: SOLANO, Esther, ROCHA, Camila. A direita
nas redes e nas ruas: a crise política no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2019).
Eloísa Assis | 89
70
Evidenciada sobretudo diante da fala emblemática dos representantes do MPL, a saber: “Cada
vez que a tarifa sobe, aumenta o número de pessoas excluídas do transporte coletivo. Com menos
gente circulando, novos aumentos serão necessários, numa espiral que diminui cada vez mais o
direito à cidade da população”. (LEONEL. Flávio. Movimento Passe Livre marca protesto contra
tarifa em SP. Revista Exame, 2014. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/movimento-
passe-livre-fara-protesto-em-sp-dia-9-contra-alta-nas-tarifas/. Acesso em: 16 maio. 2020).
71
Os chamados rolezinhos foram episódios de amplitude nacional, ocorridos em São Paulo, em
2014; tratava-se de encontros de jovens da periferia de São Paulo em Shoppings, que, apesar de
não possuir como finalidade a execução de protestos, mas, sim, o simples lazer, o efeito colateral
gerado com a presença dos jovens periféricos em espaços predominantemente elitizados
provocou uma discussão quanto à extensão do direito à cidade nos espaços privados. Ao
resistirem pela fruição do espaço recreativo dos Shoppings, os jovens, mesmo sem tal intenção
inicial, impulsionaram calorosos debates quanto ao direito à cidade, ao direito a se divertir na
cidade.
90 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
72
“Devemos derrubar e substituir todo o sistema capitalista de acumulação perpétua, juntamente
com suas estruturas associadas de exploração de classe e do poder estatal. A reivindicação do
direito à cidade é uma estação intermediária no caminho em direção a esse objetivo”. (HARVEY,
David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014,
p. 16).
73
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001, p. 54
74
LEFEBVRE, op. cit., 2001, p. 134.
75
LEFEBVRE, op. cit., 2001, p. 11.
76
Ibidem, p. 11.
Eloísa Assis | 91
77
Ibidem, p. 28.
78
LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019, p. 17.
79
Ibidem, p 21.
80
LEFEBVRE, op. cit,, 2001, p. 22-24
81
ALFONSIN, Betânia de Moraes. Direito à cidade sustentável na nova ordem jurídico-urbanística
brasileira: emergência, internacionalização e efetividade em uma perspectiva multicultural. In:
WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (org.). Os “novos” direitos no Brasil:
92 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
como nascedouro o artigo 182 da Constituição Federal, vez que, em tal dispositivo,
restou disciplinada a noção de função social das cidades e a relevância da garantia
de bem-estar de seus habitantes.
Ingo Sarlet sustenta que o direito à cidade adquiriu relevo quando passou a
ser entendido enquanto viabilizador da efetivação do direito à moradia, ao afirmar
que “em termos de efetivação da dimensão prestacional do direito à moradia,
importa mencionar o Estatuto da Cidade, cuja principal meta é dar efetividade às
diretrizes constitucionais sobre política urbana, estando a contribuir para a difusão
de um verdadeiro direito à cidade” 82.
Por sua vez, Cláudio Ari Mello 83 identifica a existência de uma tutela
normativa à cidade já na Lei nº 7.347/198584, eis que tal lei, ao explicitar a lesão à
ordem urbanística enquanto situação que enseja a utilização da ação civil pública,
evidencia a cidade enquanto bem jurídico merecedor de proteção legal, porquanto
o termo “ordem urbanística”, em verdade, representa metonímia para cidade.
Nessa ordem de coisas, Ari Mello85 defende a existência de um direito coletivo à
cidade.
Nascido dos movimentos urbanos, o direito à cidade é erguido como um
direito no âmago dos direitos humanos e fundamentais, tornando-se um direito
manifesto em documentos das instâncias internacionais, a exemplo da Habitat III,
e das legislações nacionais, como o Estatuto da Cidade, que foi um marco dentro
da legislação urbanística brasileira, contemplando, além da incumbência de
regular a política urbana da Constituição Federal, a aproximação do cidadão com
natureza e perspectivas uma visão básica das novas conflituosidades jurídicas. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 323.
82
SARLET, Ingo Wolfgang. Comentários ao artigo 6º. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes et al.
(Coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 1168.
83
MELLO, Cláudio Ari. Elementos para uma Teoria Jurídica do Direito à Cidade. Revista de Direito
da Cidade, Rio de Janeiro. v. 9, n. 2, p. 444, 2017.
84
BRASIL. Lei 7.347 de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico (vetado) e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm#:~:text=LEI%20No%207.347%2C%20DE%
2024%20DE%20JULHO%20DE%201985.&text=Disciplina%20a%20a%C3%A7%C3%A3o%20civil%20
p%C3%BAblica,VETADO)%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 20
set. 2020.
85
MELLO, op. cit., 2017, p. 444.
Eloísa Assis | 93
86
PRESTES, Vanêsca Buzelato. Dimensão Constitucional do Direito à Cidade no Brasil. Revista
Bimestral Interesse Público, ano 18, n. 99, Belo Horizonte, set./out. 2016, p 17.
87
FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da
dignidade humana no marco jurídico constitucional do estado socioambiental de direito. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 94.
94 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
88
PRESTES, op. cit., 2016, p. 7.
89
Ibidem.
90
PRESTES, op. cit., 2016.
91
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente
Humano. In: Anais Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Estocolmo, 6p.,
1972.
Eloísa Assis | 95
92
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Carta Mundial pelo Direito à Cidade. 2005. Disponível em:
https://www.suelourbano.org/wp-content/uploads/2017/08/Carta-Mundial-pelo-Direito-
%C3%A0-Cidade.pdf. Acesso em: 19 jan. 2021.
93
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, op. cit., 2005.
96 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
94
SARLET, op. cit., 2018, p. 87.
95
Ibidem, p. 95.
96
PRESTES, op. cit., 2016, p. 11.
Eloísa Assis | 97
97
BRASIL, op. cit., 2001.
98
Ibidem.
99
BRASIL, op. cit., 1988.
100
Ibidem.
98 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
101
Ibidem.
102
O Ministério das Cidades foi extinto em 2019, pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro. Para
as entidades, organizações e movimentos populares, a extinção do Ministério representou o
desmonte de políticas de desenvolvimento urbano em flagrante descompasso com os
compromissos assumidos na Nova Agenda Urbana e na Agenda 2030. As questões referentes ao
desenvolvimento urbano, desde então são contempladas no Ministério do Desenvolvimento
Regional, que abrange temas como: irrigação, segurança hídrica, saneamento, proteção e defesa
civil, habitação, mobilidade e serviços urbanos, desenvolvimento regional, desenvolvimento urbano
e fundos regionais e incentivos fiscais.
103
BRASIL. Ministério das Cidades. Conselho das Cidades. Resolução nº 34 do Conselho das
Cidades, de 1º de julho de 2005. Disponível em:
http://planodiretor.mprs.mp.br/arquivos/resolucao34.pdf. Acesso em 19 jan. 2021.
Eloísa Assis | 99
104
É importante assinalar que a pesquisa avaliou 526 Planos Diretores municipais, o que
corresponde a aproximadamente um terço do total de municípios onde recai a obrigatoriedade de
elaboração de Planos Diretores estabelecida pelo Estatuto da Cidade. A seleção dos municípios
que tiveram seus planos analisados obedeceu a três critérios: i) aprovação do plano diretor ter
ocorrido após a promulgação do Estatuto da Cidade; ii) a distribuição populacional dos municípios,
para preservar a diversidade de municípios em relação à tipologia de municípios estabelecida no
Plano Nacional de Habitação (PlanHab); e iii) as escolhas de pesquisadores e representantes das
organizações sociais e das prefeituras municipais discutidas em oficinas realizadas nos
respectivos estados.
100 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
105
SANTOS JÚNIOR, Orlando Alves dos; MONTANDON, Daniel Todtmann (orgs.). Os planos
diretores municipais pós-estatuto da cidade: balanço crítico e perspectivas. Rio de Janeiro: Letra
Capital: Observatório das Cidades: IPPUR/UFRJ, 2011, p. 111.
106
BRASIL. Resolução 34 de 01 de março de 2007. Propõe orientações e diretrizes para a Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano e a implementação do programa de Aceleração do
Crescimento – PAC, de forma a alcançar os objetivos e promover crescimento com inclusão
territorial, estimulando a ação federativa e compartilhada entre o Governo Federal, Governos
Estaduais, Distrito Federal e Governos Municipais. Disponível em:
https://www.normasbrasil.com.br/norma/resolucao-34-2007_106490.html. Acesso em: 20 jan.
2021.
Eloísa Assis | 101
107
SANTOS JÚNIOR; MONTANDON, op. cit., 2011, p. 113.
108
Ibidem, pp. 115-116.
102 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
109
SANTOS JÚNIOR; MONTANDON, op. cit., 2011, p. 117.
110
Ibidem.
111
Ibidem.
Eloísa Assis | 103
112
PREFEITURA DE SALVADOR. Lei nº 9.069, de 30 de junho de 2016. Dispõe sobre o Plano Diretor
de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador – PDDU 2016 e dá outras providências.
Disponível em: http://www.sucom.ba.gov.br/wp-content/uploads/2016/07/LEI-n.-9.069-PDDU-
2016.pdf. Acesso em: 22 fev. 2021.
113
PREFEITURA DE SALVADOR, op. cit., 2016.
114
Ibidem.
115
GOMES, Hortênsia; SERRA, Ordep; NUNES, Débora (Org.). Salvador e os descaminhos do plano
diretor de desenvolvimento urbano – construindo novas possibilidades. Salvador: EDUFBA, 2019.
Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/30600/1/salvador-e-os-descaminhos-
do-PDDU-RI-.pdf. Acesso em: 22 fev. 2021.
116
Ibidem.
3. O DIREITO À CIDADE E SEUS PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES –
QUE EVIDENCIAM A EXTENSÃO DO SEU CONTEÚDO
1
COSTA, Beatriz S.; VENÂNCIO, Stephanie R.. A função social da cidade e o direito à moradia digna
como pressupostos do desenvolvimento urbano sustentável. Revista Direito Ambiental e
sociedade, v. 6, n. 2, p. 106-136, 2016.
2
RODRIGUES, Arlete Moysés. Estatuto da Cidade: função social da cidade e da propriedade. Alguns
aspectos sobre população urbana e espaço. Cadernos Metrópole, n. 12, p 9-25, 2004.
3
LEFEBVRE, op. cit., 2001, p. 118.
4
Ibidem.
5
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, op. cit., 2005.
6
ALEXY, Robert. A Theory of Constitutional Rights. Julian Rivers (trad.). Oxford: Oxford University
Press, 2002, p. 47.
Eloísa Assis | 107
7
BRASIL, op. cit., 1988.
8
A compreensão do significado de ser à imagem e semelhança de Deus passou por diversos
momentos de desenvolvimento de sua conceituação, nos quais a noção de atribuição de dignidade
ao ser humano adquiriu estruturas diferenciadas. Pode-se visualizar as concepções do homem
digno enquanto i) objeto; ii) sujeito; e c) ser intersubjetivo. A noção do ser humano enquanto objeto
corresponde aos pensamentos antigo e medieval a partir dos quais o homem, apesar de ter sido
formado à imagem e semelhança de Deus, é dotado de falibilidade, sendo que seus erros
precisavam ser corrigidos. Essa acepção do homem enquanto objeto talvez explique o motivo pelo
108 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
qual a Santa Inquisição tenha praticado tamanhas crueldades para corrigir a falibilidade humana.
A abordagem do ser humano enquanto sujeito repousa no entendimento do homem enquanto
indivíduo dotado de autonomia; tal concepção se inicia da modernidade, sobretudo a partir da
Reforma Protestante. A subjetividade do homem conduziu ao reconhecimento quanto à proibição
de instrumentalização do ser humano, ou seja, que os indivíduos não poderiam ser considerados
meios para atingir determinado fim. A problemática da abordagem do homem enquanto sujeito
repousa na constatação de potencialização dos egos e na degradação da natureza fundamentada
numa suposta necessidade humana. A abordagem intersubjetiva da dignidade destaca o homem
enquanto sujeito que compõe uma coletividade formada por outros sujeitos e objetos – seres
humanos, animais e meio ambiente.
9
HÄBERLE, Peter. El Estado Constitucional. Héctor Fix-Fierro (trad.). México: Universidad Nacional
Autónoma de México, 2003, p. 169.
10
SARLET, Ingo. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 10. Ed. rev. atual. e ampl. 3. tir. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019, p. 39.
11
SARMENTO, Daniel. Dignidade da Pessoa Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo
Horizonte: Fórum, 2016, p. 36.
12
SARLET, op. cit., 2019, p. 27-8.
Eloísa Assis | 109
exterior, é titular de direitos que devem ser reconhecidos e observados pelos seus
semelhantes e pelo Estado13.
A dignidade é concebida como qualidade inerente e irrenunciável da
condição humana14, motivo pelo qual não deve ser entendida enquanto atributo
que pode ser concedido ou retirado – embora se reconheça que pode ser violado
– de sorte que a extensão do seu conteúdo deve ser reconhecida, respeitada,
protegida e promovida15. Reforçando esse entendimento despontam a Carta das
Nações Unidas16, de 1945, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos17, de
1948, da ONU18, que proclamam os seres humanos enquanto indivíduos livres e
iguais em dignidade e direitos. O preâmbulo da Declaração já explicitava a
dignidade como atributo inerente a todos os seres humanos, indicando, ainda, a
inalienabilidade dos direitos como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
mundo.
Sarlet assenta sua definição de dignidade da pessoa humana como sendo
a qualidade intrínseca a cada ser humano, que o faz merecedor de respeito e
consideração pelos seus semelhantes e pelo Estado, e da qual decorrem direitos e
deveres fundamentais que se direcionam a proteger os indivíduos contra atos
degradantes ou desumanos e a garantir condições mínimas para uma vida
saudável (ou, segundo os ensinamentos de Juarez Freitas, uma vida
multidimensionalmente sustentável), para além da promoção da participação
ativa que confira corresponsabilidade quanto aos destinos da própria existência e
da vida em comunidade, tudo isso mediante o respeito aos demais seres que
integram o sistema da vida19. Para Cármen Lúcia Antunes Rocha, a dignidade da
13
Ibidem, p. 47.
14
Ibidem, p, 51.
15
Ibidem.
16
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Carta das Nações Unidas. 1945. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm. Acesso em: 15 fev. 2021. A
Carta das Nações Unidas foi promulgada pelo Brasil em 22 de outubro de 1945.
17
Em verdade, o termo dignidade foi mencionado – em seu plural dignidades – na Declaração Dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, contudo, conforme alerta Cármen Lúcia Antunes Rocha,
não possuía a mesma acepção que a explicitada na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
motivo pelo qual destaca-se esse último documento.
18
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, op. cit., 1948.
19
SARLET, op. cit., 2019, p. 77.
110 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
20
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a Exclusão Social.
Jurisprudência Catarinense, Florianópolis, v. 35, n. 117, abr./jun., 2009, p. 79.
21
Ibidem.
22
Ibidem.
23
Ibidem, p. 80.
24
Ibidem, p. 82.
25
Ibidem, p. 83.
26
Ibidem, p. 85.
27
Ibidem, p. 85.
28
Ibidem, p. 91.
29
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019, p. 77.
Eloísa Assis | 111
30
SARMENTO, op. cit., 2016, p. 41.
31
No ponto, Jessé Souza entende que a dinâmica social que performamos atualmente tem sua
gênese na escravidão. Para o sociólogo, “nossa forma de família, de economia, de política e de
justiça foi toda baseada na escravidão”, de forma que a atual divisão de classes sociais repete os
padrões forjados durante o período escravocrata – de superexploração de populações já
fragilizadas, que, embora compostas por indivíduos de todas as cores, são majoritariamente
negros e mestiços. SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: Da escravidão à lava jato. Rio de Janeiro: Leya,
2017, p. 28.
32
SARMENTO, op. cit., 2016, p. 191.
33
PONTES DE MIRANDA. Direitos à subsistência e direito ao trabalho. Rio de Janeiro: Alba Limitada,
1933, p. 28.
112 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
34
SARMENTO, op. cit., p. 191-2.
35
PEREIRA, Potyara A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. São
Paulo: Cortez, 2020.
36
SARMENTO, op. cit., 2016, p. 210.
Eloísa Assis | 113
37
BOSSELMANN, Klaus. O Princípio da Sustentabilidade: transformando direito e governança
Tradução de Philip Gil França. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 25.
38
Ibidem.
39
BOSSELMANN, op. cit., 2015, p. 28.
40
Para Bosselmann, embora as práticas sustentáveis fossem incentivadas desde o século XIV, o
termo sustentabilidade apenas foi formulado durante o Iluminismo, pelo engenheiro e cientista
florestal Hans Carl Von Carlowitz, diante de uma nova experiência de crise ecológica resultante do
desenfreado aumento da demanda econômica. BOSSELMANN, op. cit., 2015, p. 36.
41
Ibidem, p. 31
114 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
42
UNITED NATIONS. World Commission on Environment and Development. Our Common Future.
1987. Disponível em: https://ambiente.files.wordpress.com/2011/03/brundtland-report-our-
common-future.pdf. Acesso em 11 fev. 2021.
43
BOSSELMANN, op. cit., 2015, p. 34.
44
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: Direito ao Futuro. 4. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 44.
45
BOSSELMANN, op. cit., 2015, p. 45.
46
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, op. cit., 1972.
47
UNITED NATIONS. World Charter for Nature. 1982. Disponível em: https://www.dh-
cii.eu/0_content/investigao/files_CRDTLA/convencoes_tratados_etc/carta_mundial_da_natureza_
de_28_de_outubro_de_1982.pdf. Acesso em 08 fev. 2021.
48
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – ECO-92. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf. Acesso em: 12 fev. 2021.
49
Idem – Agenda 21. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em:
http://www.ecologiaintegral.org.br/Agenda21.pdf. Acesso em: 12 fev. 2021.
50
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA. Carta da Terra.
Paris, 2000. Disponível em:
https://leonardoboff.files.wordpress.com/2020/05/folder_carta_da_terra.pdf. Acesso: 12 fev.
2021.
51
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Johanesburgo sobre Desenvolvimento
Sustentável. Johanesburgo, 2002. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-
content/uploads/sites/36/2013/12/decpol.pdf. Acesso em: 13 fev. 2021.
Eloísa Assis | 115
52
BOSSELMANN, op. cit., 2015, pp. 53-4.
53
FREITAS, op. cit., 2019, p. 39.
54
Ibidem.
55
Ibidem.
116 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
56
FREITAS, op. cit., 2019, p. 46-7.
57
Ibidem, p. 45.
58
Ibidem.
59
Ibidem, p. 74.
60
Ibidem, p. 75.
Eloísa Assis | 117
61
Ibidem, p. 82.
62
FREITAS, op. cit., 2019, p. 80.
63
Ibidem, pp. 85-86.
118 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
64
BRASIL, op. cit., 2001.
65
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, op. cit., 2005.
66
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, op. cit., 2015.
67
WEDY, Gabriel. Marcos Recentes do Desenvolvimento Sustentável. In: RODRIGUES, Nina;
SPAREMBERGER, Raquel; CALGARO, Cleide (Org.). Direito Constitucional Ecológico. Porto Alegre:
Editora Fi, 2017.
68
Ibidem.
69
WEDY, Gabriel. Desenvolvimento sustentável como direito fundamental e o princípio da
dignidade da pessoa humana. Direitos Fundamentais & Justiça. Belo Horizonte, ano 12, n. 38, p.
195-224, jan./jun. 2018.
Eloísa Assis | 119
70
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Princípios do Direito Ambiental. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
71
Ibidem.
72
O princípio da integração é resultado da assimilação de que a abordagem ambiental não deve
figurar apenas como política setorial, integrando-se, em verdade, às demais políticas públicas
estatais, das quais se passa a exigir a inclusão de estratégias voltadas à preservação do ambiente
natural e construído bem como o desenvolvimento sustentável multidimensional.
73
O princípio da cooperação exprime um dos elementos da sustentabilidade destacados por
Freitas, qual seja, a responsabilidade do Estado e da sociedade pelo cumprimento de tal dever
constitucional. Nesse sentido, depreende-se que a sustentabilidade contempla o princípio da
cooperação ao exigir mútua cooperação na proteção do meio ambiente, em consonância com o
que determina o artigo 225 da Constituição Federal.
74
Ainda segundo a explanação de Juarez Freitas, a implementação de medidas necessárias à
proteção do meio ambiente em face de risco de perigo abstrato – ou seja, a implementação de
medida de precaução – se insere no âmbito do conceito de sustentabilidade.
75
Na mesma linha de raciocínio, a adoção de providências frente a perigo de dano provável – a
adoção de medidas preventivas – está agregada à noção de sustentabilidade e integra sua
acepção.
120 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
76
SILVA, José Afonso da. Curso Constitucional de Direito Positivo. 25. ed. rev. atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2005, p. 125-6.
77
Ibidem.
78
SILVA, op. cit., 2005, p. 126.
79
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Marco Aurélio
Nogueira (trad.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 9.
80
Ibidem, p. 18.
Eloísa Assis | 121
81
BOVERO, Michelangelo. Para uma Teoria Neobobbiana da Democracia. Marcelo de Azevedo
Granato (trad.). São Paulo: FGV Direito SP, 2015, p. 19.
82
SILVA, op. cit., 2005, p. 129. [Silva sinaliza, ainda, a identificação de um princípio secundário: o
da representação, quando a participação do povo é indireta].
83
DWORKIN, Ronald. Constitucionalismo e Democracia. Emílio Peluso Neder Meyer (trad.).
European Journal of Philosophy, nº 3:1, 1995, p. 2.
84
Ibidem.
85
Ibidem.
86
DWORKIN, op. cit., 1995, p. 2-3.
122 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
87
Ibidem, p. 3.
88
SILVA, op. cit., 2005, p.1 36.
89
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997, v. 1.
90
Ibidem.
91
Ibidem.
92
HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo: racionalidade da ação e racionalização social,
v.1. Paulo Soethe (trad.). São Paulo: Martins Fontes, 2012.
Eloísa Assis | 123
93
HABERMAS, op. cit., 2012, p. 289.
94
No que se refere à sociedade, identifica-se que, no Estado moderno, a esfera política se
desacoplou da abordagem e justificação religiosa, sobretudo a partir das ideias Iluministas e da
Revolução Francesa; no que tange à cultura, observa-se que, se antes as expressões artísticas se
vinculavam diretamente ao culto religioso, na decoração do templo, na dança, canto ou até mesmo
na encenação de episódios significativos e narrativas sagradas, com a racionalização, sob a lógica
moderna burguesa-capitalista, a cultura adquire valores próprios e autônomos, exprimidos de
forma cada vez mais consciente e fundados numa razão estética; por fim, quanto à personalidade,
Habermas aponta que o surgimento da contracultura representa o desvio comportamental dos
preceitos religiosos. HABERMAS, op. cit., 2012, p. 293-6.
95
HABERMAS, op. cit., 2012.
96
Ibidem.
97
Ibidem.
124 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
98
BRASIL, op. cit., Artigo 40, §4º, I. 2001.
99
BRASIL, op. cit., 2001.
Eloísa Assis | 125
100
PLATÃO, A República. Leonel Vallandro (trad.). Rio de Janeiro: Ediouro. [2001?], p. 44.
101
Ibidem, p. 17.
102
Ibidem, p. 46.
103
PLATÃO, op. cit., 2001, p. 174.
104
Ibidem, p. 171.
105
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Leonel Vallandro (trad.). São Paulo: Nova Cultural, 1991, p.
96.
106
Ibidem, p. 95.
107
Ibidem, p. 97.
126 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
de forma que o cidadão que respeita a lei contribui para o alcance da felicidade da
comunidade, e é, portanto, justo108.
Das reflexões de Aristóteles é possível destacar duas formas de justiça: a
justiça distributiva e a justiça comutativa. A ideia de justiça distributiva contempla
as noções de igualdade e proporcionalidade na determinação da distribuição dos
benefícios da vida em sociedade 109 , sendo que também é chamada de justiça
geométrica, pois tem como vetor o tratamento baseado não em uma igualdade
real, mas, sim, em uma igualdade proporcional. A justiça comutativa, por sua vez,
se relaciona com a recomposição da igualdade entre os envolvidos,
reestabelecendo o equilíbrio nas relações privadas110.
Saltando da Grécia Antiga para a Idade Contemporânea, nota-se que, para
John Rawls, a justiça é a primeira virtude das instituições sociais, sendo que, para
o autor, mais que eficientes e organizadas, as instituições precisam ser justas111,
ou seja, precisam estar ordenadas em um esquema de cooperação com atribuição
de direitos e deveres e distribuição adequada dos benefícios e encargos da vida
social 112 . Apresentando a justiça como equidade, Rawls indica que essa seria
visualizada em uma sociedade que se entende como empreendimento cooperativo
que objetiva a vantagem de todos113. Segundo o filósofo, a justiça como equidade
fornece base filosófica e moral para as instituições democráticas, viabilizando o
entendimento quanto às exigências da liberdade e da igualdade114.
Conforme acentua Rawls, a justiça como equidade resulta de uma visão
igualitária 115 , voltada, portanto, à superação das desigualdades econômicas e
sociais. Nesse rumo, o jurista pondera as razões que justificam a preocupação
com a extinção das desigualdades, sendo elas: i) a plausibilidade de que todos
tenham acesso pelo menos ao suficiente para satisfazer as necessidades básicas,
108
Ibidem, p. 96.
109
Ibidem, p. 101.
110
Ibidem, p. 102.
111
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Almiro Pisetta (trad.). São Paulo: Martins Fontes, 2000,
p. 3-4
112
Ibidem, p. 57.
113
RAWLS, op. cit. 2000, p. 90.
114
RAWLS, John. Justiça como Equidade: uma reformulação. Cláudia Berliner (trad.). São Paulo:
Martins Fontes, 2003, p. 6
115
Ibidem, p. 183.
Eloísa Assis | 127
desde que não se verifique uma real escassez; ii) a compreensão de que o controle
das desigualdades impede que uma parcela da sociedade domine o restante; iii) o
entendimento de que as desigualdades políticas e econômicas, comumente, se
relacionam com as desigualdades sociais, provocando que aqueles que possuem
um status menor sejam considerados, por si mesmos e pelos outros, como
inferiores; iv) o reconhecimento de que a desigualdade pode ser injusta em si
mesma ainda que a sociedade utilize procedimentos equitativos116. Assim é que o
jurista estabelece que, em uma sociedade bem-ordenada pelos princípios da
justiça como equidade, o vínculo social entre os cidadãos é constituído pelo
compromisso de preservar as condições que a relação igualitária entre cidadãos
demanda117.
A ideia de equidade, em Rawls, se baseia em uma abstração da posição
original, onde os indivíduos estariam cobertos pelo denominado véu da ignorância
– por meio do qual desconheceriam seus status sociais e suas posições de classe
– para pactuar as ideias de justiça. Cobertos pelo véu da ignorância, acredita
Rawls que ninguém ousaria propor um valor de justiça que contemplasse
vantagens para determinados indivíduos em detrimento de outros 118 . Assim, a
concepção de justiça elaborada por Rawls consiste na distribuição igualitária de
bens primários 119 – como a liberdade, renda e riqueza – admitindo-se uma
distribuição desigual apenas para favorecer os desfavorecidos120.
Semelhantemente à abordagem dualista de Aristóteles – que analisa a
justiça a partir da injustiça – as concepções contemporâneas de justiça social se
relacionam com as injustiças e desigualdades sociais bem como com as ações
direcionadas à resolução dessa problemática. Contudo, oportuno referir que,
diferentemente do que acreditava Aristóteles, atualmente, compreende-se que
todo e qualquer indivíduo deve ser tratado com igualdade, não subsistindo
fundamento para sustentar a existência de uma desigualdade natural entre
116
Ibidem, p. 184-5.
117
Ibidem, p. 186.
118
RAWLS, op. cit., 2000, p. 146-7.
119
Para Rawls, bens primários consistem em condições sociais necessárias para que os cidadãos
possam se desenvolver adequadamente.
120
RAWLS, op. cit., 2003, p. 82
128 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
121
BRASIL, op. cit., 2001.
Eloísa Assis | 129
122
BRASIL, op. cit., 1988.
123
CANOTILHO, J.J. Gomes, et. al. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:
Saraiva/Almedina, 2013, p. 313.
124
Ibidem, p. 314.
130 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
125
ALEMANHA. Weimar Constitution. The Constitution of the German Reich, de 11 de Agosto de
1919. Disponível em:
http://hydraprod.library.cornell.edu/fedora/objects/nur:01840/datastreams/pdf/content. Acesso
em: 20 mai. 2020.
126
CANOTILHO, op. cit., 2013, p. 315.
127
BRASIL. [Constituição (1934)]. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, Rio de
Janeiro, 1934. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em: 02 out. 2020.
128
BRASIL. [Constituição (1937)]. Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1937.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm. Acesso
em: 02. out. 2020.
129
BRASIL. Decreto nº 10.358, de 31 de agosto de 1942. Declara o estado de guerra em todo o
território nacional. Rio de Janeiro, 1942. Disponível em:
Eloísa Assis | 131
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-
1949/d10358.htm#:~:text=Declara%20o%20estado%20de%20guerra,Art.. Acesso em: 02. out.
2020.
130
BRASIL. [Constituição (1946)]. Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1946.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em:
03 out. 2020.
131
BRASIL. Decreto nº 59.456, de 4 de novembro de 1966. Aprova os planos Nacional e Regionais
de Reforma Agrária e dá outras providências. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-59456-4-novembro-1966-
399970-publicacaooriginal-38471-pe.html. Acesso em: 03 out. 2020.
132
BRASIL, op. cit., 1946, artigo 147.
133
BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra e dá outras
providências. Brasília: DF, 1964. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm. Acesso em: 15 fev. 2021.
132 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
134
Em discurso na cidade de Recife, Castello Branco, à época Presidente da República, em 05 de
maio de 1964, afirmou que “(...)o comunismo brasileiro não quer dar de comer a ninguém: nem
pretende dar terra a pessoa algumas. O que quer é destruir as nossas instituições políticas
democráticas, desbaratar as Forças Armadas e levar ao caos a economia brasileira, a fim de poder
implantar a ditadura já instalada em outros países (...) o meu anticomunismo admite que a
evolução política e social do Brasil deve incorporar também ideias e propósitos da esquerda
democrática, sem o que não estaríamos presentes na segunda metade deste século.”. A declaração
de Castello Branco indica claramente a intenção de desmobilizar os movimentos sociais de
esquerda com a elaboração e promulgação do Estatuto da Terra. Oportuno assinalar, contudo, que
o entendimento de Castello Branco foi recebido com duras oposições daqueles que entendiam que
as intenções do presidente se desviavam dos ideais da dita “Revolução” e apontavam a
continuidade do esquerdismo no Brasil. (CASTELLO BRANCO, H. A. Discursos. 05 de maio de 1964.
Secretaria de Imprensa. Disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-
presidentes/castello-branco/discursos/1964-1/07.pdf/view. Acesso em: 17 fev. 2021.)
135
DE SALIS, Carmem Lúcia Gomes. Estatuto da terra: origem e (des) caminhos da proposta de
reforma agrária nos governos militares. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências e
Letras, UNESP. Assis, 230f., 2008.
136
Simone Dickel aponta que as desapropriações de terra realizadas nas décadas de 1960 e 1970
contabilizam um pequeno número, sobretudo se comparado à década de 1980, quando,
exatamente em razão de o Estatuto da Terra não ter sido implementado plenamente, houve o
fortalecimento dos movimentos sociais de luta pela terra, impulsionados pela aproximação de um
período de redemocratização. (DICKEL, Simone Lopes. O princípio da função social no estatuto da
terra e o processo de desapropriação da Fazenda Annoni, no norte sul rio-grandense.
Manduarisawa – Revista Eletrônica Discente do Curso de História – UFAM, vol. 3, nº 2. 2010.)
137
DE SALIS, op. cit., 2008.
Eloísa Assis | 133
alterar não apenas a estrutura fundiária, mas, sim, toda a estrutura econômico-
política138.
Por ocasião da Constituição de 1967, a função social da propriedade foi
designada enquanto princípio orientador da ordem econômica e social, que tem
por fim a realização da justiça social, nos termos do artigo 157, inciso III139, sendo
que a disposição quanto às desapropriações contemplava apenas as propriedades
privadas localizadas na zona rural, a teor do que determina o §1º, do artigo
supramencionado.
Inaugurando o período democrático, após amargos anos de ditadura militar,
a Constituição de 1988 enuncia a função social da propriedade enquanto um dos
princípios reguladores da ordem econômica, a teor do que dispõe o inciso III, do
artigo 170140. Contudo, a Constituição Cidadã se diferencia das Constituições que
a precederam sobretudo em razão de tal princípio ser elevado ao nível de garantia
fundamental do cidadão, vez que, após consagrar o direito de propriedade
enquanto garantia fundamental, a vigente Constituição anunciou a exigibilidade de
atendimento à sua função social, nos termos dos incisos XXII e XXIII, do artigo
5º 141 , dispositivo localizado no título correspondente aos direitos e garantias
fundamentais. Para além disso, a Constituição de 1988 estabeleceu a função
social da propriedade não apenas rural (artigo 186 142 ) como também urbana
(artigo 182, §2º143), prevendo a possibilidade de desapropriação do imóvel que não
cumprir sua função social (artigo 182, §2º 144 e artigo 184 145 ), ou onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo (artigo 243146), impondo, ainda, efeitos tributários gravosos em razão de
descumprimento da função social da propriedade (artigo 153, §4º, I147; artigo 156,
138
Ibidem.
139
BRASIL. [Constituição (1967)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1967.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. Acesso em:
03 out. 2020.
140
BRASIL, op. cit., 1988.
141
CANOTILHO, op. cit., 2013, p. 315.
142
BRASIL, op. cit., 1988.
143
Ibidem.
144
Ibidem.
145
Ibidem.
146
Ibidem.
147
BRASIL, op. cit., 1988.
134 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
148
Ibidem.
149
Ibidem.
Eloísa Assis | 135
150
SUNDFELD, Carlos Ari. O Estatuto da Cidade e suas diretrizes gerais. In: DALLARI, Adilson;
FERRAZ, Sergio (Coord.) Estatuto da Cidade: Comentários à Lei Federal nº 10.257/2011. São Paulo:
Malheiros, 2002.
151
BRASIL. Senado Federal. Proposta de Emenda à Constituição nº 80, de 2019. 2019. Disponível
em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/136894. Acesso em: 20 jan.
2021.
136 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
152
IBDU. Nota Técnica sobre a PEC 80/2019 – retrocesso na política urbana brasileira. 2019.
Disponível em: https://ibdu.org.br/api/wp-content/uploads/2019/06/Nota-T%C3%A9cnica-IBDU-
PEC-80.pdf. Acesso em: 21 jan. 2021.
153
IBDU, op. cit., 2019.
154
BRASIL, op. cit., 1988.
155
BRASIL, op. cit., 2001.
156
IBDU, op. cit., 2019.
Eloísa Assis | 137
157
BRASIL, op. cit., 1988.
158
BRASIL. Senado Federal. Proposta de Emenda à Constituição nº 80, de 2019. 2019. Disponível
em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7955908&ts=15940. Acesso em: 21
jan. 2021.
159
IBDU, op. cit., 2019.
160
BRASIL, op. cit., 2001.
138 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
deixou de aclarar quais seriam as funções que devem ser observadas para que
sejam promovidas efetivas melhorias na qualidade de vida dos habitantes das
cidades. O Estatuto da Cidade, a seu turno, identificou as diretrizes gerais que
devem ser respeitadas ao efeito de que seja ordenado o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade, enunciando, dentre elas, a garantia do direito a
cidades sustentáveis, conceito que contempla os direitos à terra urbana, à
moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para além do direito à participação
política.
As funções sociais da cidade foram enunciadas pela primeira vez na Carta
de Atenas, que baseava suas compreensões acerca do espaço urbano no ideal de
cidade modernista. A Carta de Atenas161, como é chamado o documento resultante
do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado em Atenas, na
Grécia, em 1933, analisa, de forma ampla, o estado crítico das cidades,
intencionando a melhoria da estrutura urbana. Questões relacionadas à habitação,
ao lazer, ao trabalho e ao patrimônio histórico são algumas das temáticas
abordadas pela Carta, oferecendo como resposta a proposta de setorização das
áreas urbanas e o uso da terra de forma planejada. Com a contribuição de
arquitetos de diversos países, a Carta determina que são necessários limites
quanto à densidade urbana, com o intuito de prevenir problemas sociais. Além da
preocupação com a preservação dos patrimônios históricos das cidades – que se
justificava sobretudo em razão de o período em que a Carta fora elaborada se
situar após a realização da Primeira Guerra Mundial – um dos itens de maior
destaque é a melhoria da qualidade de vida, de forma que se estabelece o
compromisso de que as moradias devem estar localizadas em condições salubres
quanto à insolação, poeira, gases tóxicos e ruídos.
Outro ponto essencial assinalado pela Carta de Atenas afirma que a cidade
deve se organizar ao efeito de satisfazer quatro funções básicas: habitar, trabalhar,
recrear e circular – funções essas que devem ser observadas dentro do escopo do
161
CONSEJO EUROPEO DE URBANISTAS (CEU). Carta de Atenas. 1933. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Atenas%201933.pdf>.
Acesso em: 20 maio 2020.
Eloísa Assis | 139
162
CONSEJO EUROPEO DE URBANISTAS (CEU). Nueva Carta de Atenas. 1998. Disponível em:
http://www.patrimonio.go.cr/quienes_somos/legislacion/leyes_reglamentos/Carta%20de%20Ate
nas%201998.pdf. Acesso em 17 fev. 2021.
163
É válido referir que as diretrizes assentadas na Nova Carta de Atenas de 1998 foram revisadas
e reorganizadas numa nova carta datada de 2003.
164
KANASHIRO, Milena. Da antiga à nova Carta de Atenas − em busca de um paradigma espacial
de sustentabilidade. DMA, n. 9, p. 33-37, 2004.
140 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
165
Guimarães explica que atrocidades históricas foram cometidas fundamentadas em critérios
raciais, como a escravidão, o holocausto e as torturas disfarçadas de pesquisas médicas, sendo
que, após a Segunda Guerra Mundial, identifica-se um esforço dos cientistas para sepultar a noção
de raças humanas, rechaçando o uso de raça como categoria científica, embora o próprio termo
tenha sido concebido por cientistas eugenistas. (GUIMARÃES, Antônio Sergio. Cor e Raça. In:
SANSORE, Livio; PINHO, Osmundo (Orgs.) Raça: novas perspectivas antropológicas. 2. ed. rev.
Salvador: Associação Brasileira de Antropologia, EDUFBA, 2008).
166
GUIMARÃES, op. cit., 2008.
167
IPEA. [Perfil – Abdias Nascimento]. Rio de Janeiro, [2011]. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2672:catid=2
8&Itemid=23. Acesso em: 20 fev. 2021.
168
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes – o legado da “raça
branca”. 5. ed. São Paulo: Globo, 2008.
142 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
169
Ibidem.
170
ROLNIK, Raquel. Territórios negros nas cidades brasileiras: etnicidade e cidade em São Paulo e
Rio de Janeiro, 1989. Disponível em:
https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros.pdf. Acesso em 22 fev.
2021.
171
Teixeira de Freitas, na enunciação do seu critério de classificação das coisas, referia que os
escravos, como artigos de propriedade, eram equiparados aos semoventes. (FREITAS, Augusto
Teixeira de. Consolidação das leis civis. Ed fac. sim. de Rio de Janeiro, Garnier, 1876. Brasília:
Senado Federal, Conselho Editorial, 2003).
172
VIEIRA JÚNIOR, Ronaldo Jorge A. Rumo ao multiculturalismo: a adoção compulsória de ações
afirmativas pelo estado brasileiro como reparação dos danos atuais sofridos pela população negra.
In: SALES, Augusto dos Santos (Org.). Ações Afirmativas e Combate ao Racismo nas Américas.
Brasília: Ministério da Educação: UNESCO, 2005.
Eloísa Assis | 143
173
ROLNIK, op. cit., 1989.
174
MONSMA, Karl. Vantagens de imigrantes e desvantagens de negros: emprego, propriedade,
estrutura familiar e alfabetização depois da abolição no oeste paulista. Revista de Ciências Sociais,
Rio de Janeiro, vol. 53, n. 3, 2010, p. 509-543.
175
PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia – estudo de contacto racial. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1945. Disponível em:
https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/doc/327/1/241%20PDF%20-%20OCR%20-%20RED.pdf. Acesso
em: 23 fev. 2021.
176
COSTA PINTO, Luiz Aguiar. O Negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade em
mudanças. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.
144 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
177
ROLNIK, op. cit., 1989.
178
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Desigualdades sociais por cor ou raça
no Brasil. Estudos e Pesquisas – informação demográfica e socioeconômica, n. 41. 2019.
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.
Acesso em: 19 fev. 2021.
179
Programa aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2013, que te como objetivo
a promoção de respeito, proteção a esse contingente populacional, cumprindo os compromissos
voltados ao alcance dos direitos fundamentais e humanos à comunidade negra.
Eloísa Assis | 145
180
Segundo o IBGE, aglomerados subnormais são formas de ocupação irregular de terrenos,
públicos ou privados, marcados pela carência de serviços públicos essenciais, sendo que as
populações dos aglomerados subnormais restam submetidas a condições socioeconômicas,
habitacionais e de saneamento precárias. São exemplos de aglomerados subnormais as favelas,
grotas, palafitas, mocambos etc.
181
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, op. cit., 2019.
182
Censo ainda utilizado como parâmetro considerando que, em razão do avanço da pandemia do
coronavírus, no censo demográfico que seria realizado no ano de 2020, foi adiado para 2021.
183
IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-
demografico/demografico-2010/inicial. Acesso em: 23 fev. 2021.
146 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
184
CARVALHO, IMM; BARRETO, VS. Segregação residencial, condição social e raça em Salvador.
Caderno Metrópole. São Paulo: EDUC. n. 18, 2º semestre de 2007, p. 251-273.
185
CARVALHO, IMM; BARRETO, VS., op. cit., 2007.
186
Ibidem.
187
Gentrificação é um fenômeno urbano que se caracteriza pelo enobrecimento e elitização de uma
área urbana.
Eloísa Assis | 147
habitacionais188.
Nesse rumo, constata-se que a garantia de cidades inclusivas ultrapassa
as reivindicações de cunho político-partidário e ideológico, refletindo
consequências multidimensionais. É nesse sentido, portanto, que se reforça o
entendimento de que a promoção de um espaço urbano inclusivo é uma das
funções da cidade, que se assenta, inclusive, em consonância com os objetivos
fundamentais – consagrados pela Constituição Federal, nos termos do seu artigo
3º189 – de redução das desigualdades sociais e regionais bem como de promoção
do bem-estar de todos, independentemente de fatores como origem, raça, sexo,
idade ou qualquer outra distinção que implique discriminação.
188
CARRIÓN, Fernando; DAMMERT-GUARDIA; Manuel (Orgs.). Derecho a la ciudad: una evocación
de las transformaciones urbanas en América Latina. Lima: CLACSO, IFEA, 2019. Disponível em:
https://biblio.flacsoandes.edu.ec/libros/151182-opac. Acesso em: 09 mar. 2021.
189
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
(BRASIL, op. cit., 1988).
190
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on road safety 2018. Disponível em:
https://www.who.int/publications/i/item/9789241565684. Acesso em: 22 fev. 2021.
148 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
191
Válido referir que os acidentes de trânsito, ainda quando não resultam em morte, provocam
graves consequências, vez que, por um lado, provocam uma grande carga econômica,
considerando a estimava de que os acidentes de trânsito custam aos governos cercam de 3% do
PIB (com esse valor, poderiam ser construídos vinte e dois mil novos hospitais, com 250 leitos de
UTI; 570 mil novas escolas; 105 quilômetros de novas rodovias etc.) e, por outro lado, os acidentes
de trânsito podem significar abalo emocional e perda da renda familiar. (OPAS. Segurança no
trânsito nas Américas. Washington, DC: OPAS, 2016. Disponível em:
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/31315/9789275719121-
por.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 23 fev. 2021.)
192
OPAS BRASIL. [Folha Informativa - Acidentes de trânsito]. [2019]. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5147:acidentes-de-
transito-folha-informativa&Itemid=779. Acesso em: 23 fev. 2021.
193
PORTAL DO TRÂNSITO. [Notícias – ONU define Segunda Década para Segurança no Trânsito].
[2021]. Disponível em: https://www.portaldotransito.com.br/noticias/onu-define-segunda-
decada-para-seguranca-no-
transito/#:~:text=A%20terceira%20Confer%C3%AAncia%20Global%20da,no%20tr%C3%A2nsito%2
0no%20mundo%20inteiro. Acesso em: 24 fev. 2021.
194
11.2 - Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis,
sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da
expansão dos transportes públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em
situação de vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos. (ONU.
Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. 2015.
Disponível em: https://www.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-
Agenda2030-completo-pt-br-2016.pdf. Acesso em 24 fev. 2021).
195
BRASIL, op. cit., 2001.
196
BRASIL. Emenda Constitucional nº 90, de 15 de setembro de 2015. Dá nova redação ao art. 6º
da Constituição Federal, para introduzir o transporte como direito social. Brasília: DF, 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc90.htm.
Acesso em: 24 fev. 2021.
Eloísa Assis | 149
público coletivo urbano tem papel fundamental na estrutura das cidades, vez que
assegura aos cidadãos o acesso aos espaços e equipamentos urbanos, sendo que,
quando o transporte coletivo compõe um sistema viário desestruturado,
sobrecarregado e precário, sua atividade resulta – para além da acentuação da
segregação territorial urbana, ao limitar o acesso das populações de baixa renda
às demais áreas da cidade – em acidentes fatais. Entende-se, portanto, que, de
acordo com o primeiro eixo mencionado, uma cidade segura é aquela que
proporciona um sistema de transporte eficiente e seguro.
O segundo eixo corresponde ao acesso universal a espaços públicos
seguros, particularmente para as mulheres, crianças, pessoas idosas e pessoas
com deficiência, sendo que se aponta enquanto indicador da consistência desse
eixo a estimativa da população vítima de assédio 197 nas cidades. Dentre as
populações vulneráveis no que tange à segurança urbana, opta-se por abordar a
questão a partir de uma perspectiva de gênero, considerando que as mulheres
sofrem significativa violência em espaços públicos, conquanto não se ignore as
violências sofridas por crianças, idosos, pessoas com deficiência e até mesmo
pela não mencionada comunidade LGBTQIA+.
A cidade é uma estrutura na qual a vida social e seus conflitos se
reproduzem; assim, numa sociedade marcada por desigualdade de gênero, por
óbvio, as interações nos espaços públicos refletem essa dinâmica. Tal percepção
fora confirmada na pesquisa divulgada pela ActionAid, e realizada pelo instituto
YouGov, que, ao entrevistar mulheres das principais cidades do Brasil, constatou
que 86% das brasileiras já sofreram assédio – compreendido popularmente como
assobios, olhares insistentes, perseguições em ruas e avenidas, comentários de
cunho sexual, xingamentos e até mesmo estupro – em suas cidades 198 . Em
Montreal, no Canadá, uma pesquisa realizada nos anos 2000 revelou que cerca de
197
Relevante assinalar que assédio, em sua acepção jurídica, é crime que se configura quando o
agente constrange alguém com o intuito de obter favorecimento sexual, prevalecendo-se de sua
condição de superior hierárquico. O crime sexual que geralmente ocorre no espaço urbano, em
transportes coletivos e locais públicos, é a importunação sexual, que se traduz na realização de ato
libidinoso sem a anuência da vítima. Embora apresente conceito jurídico específico, o assédio
sexual possui outra significação no linguajar cotidiano.
198
ACTIONAID. [Mulheres e Meninas – Brasil lidera assédio de mulheres em espaço público].
[2016]. Disponível em: http://actionaid.org.br/noticia/brasil-lidera-assedio-de-mulheres-em-
espaco-publico/. Acesso em: 23 fev. 2021.
150 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
199
MICHAUD, Anne (Coord.). Pour un environment urbain sécuritaire. Guide dáménagement.
Programme Femmes et Ville de la Ville de Montreal. Montreal. 2004. Disponível em:
http://ville.montreal.qc.ca/pls/portal/docs/page/femmes_ville_fr/media/documents/Guide_forma
teurs_environnement_urbain_securitaire.pdf. Acesso em: 23 fev. 2021.
Eloísa Assis | 151
200
Dados obtidos em pesquisa realizada pela organização de sociedade civil mexicana Seguridad,
Justicia y Paz, que, em 2019, revelando dados de 2018, apresentou um ranking das cinquenta
cidades mais violentas do mundo, cuja classificação se baseou nas taxas de homicídio e no critério
de cidades com mais de trezentos mil habitantes. Os resultados e a metodologia da pesquisa
podem ser conferidos no site do Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y la Justicia Penal.
Disponível em: http://www.seguridadjusticiaypaz.org.mx. Acesso em 24 fev. 2021.
201
WORLD BANK. [Urban Violence: A challenge of epidemic proportions]. [2016]. Disponível em:
https://www.worldbank.org/pt/news/feature/2016/09/06/urban-violence-a-challenge-of-
epidemic-proportions. Acesso em: 24 fev. 2021.
202
IPEA. Atlas da Violência 2020. Brasília: Livraria Ipea, 2020. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 25
fev. 2021.
203
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. [Estatísticas]. [2018]. Disponível em:
https://forumseguranca.org.br/estatisticas/. Acesso em: 24 fev. 2021.
204
BERGAMO, Mônica. Mais da metade dos jovens, negros e de baixa renda tem medo da polícia.
Folha de São Paulo, UOL, São Paulo, 12 de abril de 2019. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2019/04/mais-da-metade-dos-jovens-
negros-e-de-baixa-renda-tem-medo-da-policia.shtml. Acesso em: 24 fev. 2021.
205
SUPERINTERESSANTE. [Sociedade – Letalidade policial no Brasil é cinco vezes maior que nos
EUA]. [2020]. Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/letalidade-policial-no-brasil-e-
cinco-vezes-maior-que-nos-eua/. Acesso em: 25 fev. 2021.
152 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
206
CARBONARI, Flávia; LIMA, Renato Sérgio de. Cidades Seguras. In: COSTA, Marco Aurélio (Org.).
O Estatuto da Cidade e a Habitat III: um balanço de quinze anos da política urbana no Brasil e a
Nova Agenda Urbana. Brasília: Ipea, 2016.
207
CARBONARI, Flávia; LIMA, Renato Sérgio de., op. cit., 2016.
208
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Carlos Rosa (trad.). São Paulo: Martins Fontes,
2014.
209
Ibidem.
Eloísa Assis | 153
210
BRASIL, op. cit., 1988.
154 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
211
ONU. Escritório das Nações unidas para Redução de Riscos de Desastres. Como construir
cidades mais resilientes: um guia para gestores públicos locais. Uma contribuição à Campanha
Global 2010-2015. Construindo cidades resilientes – minha cidade está se preparando. Genebra,
2012. Disponível em: https://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf. Acesso
em: 20 fev. 2021.
212
Ibidem.
213
ONU, op. cit., 2012.
Eloísa Assis | 155
214
ONU. Estratégia Internacional para Redução de Desastres. MAH. 2005. Disponível em:
http://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/MarcodeAcaodeHyogoCidadesResilientes20052015.
pdf. Acesso em 20 fev. 2021.
215
ONU, op. cit., 2012.
216
O programa se direciona a apoiar as cidades na incorporação de atuações resilientes, que
abrangem desastres naturais, como inundações, surtos epidemiológicos, deslizamentos de terra,
mas, também fenômenos que desgastam o tecido social urbano, como o desemprego, a violência
ou, ainda, um sistema de transporte público sobrecarregado e ineficiente.
217
PREFEITURA DE SALVADOR. Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência – SECIS.
Salvador Resiliente. Salvador, 2019. Disponível em:
http://salvadorresiliente.salvador.ba.gov.br/pdf/#p=229. Acesso em: 24 fev. 2021.
156 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
218
PREFEITURA DE SALVADOR, op. cit., 2019.
219
Ibidem.
Eloísa Assis | 157
220
PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. RioResiliente – Estratégias de resiliência da cidade do Rio de
Janeiro. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/0Bw6co0uZu4wlWGNGOGpmaHVGYnc/view. Acesso em: 25 fev.
2021.
158 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
221
PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. RioResiliente – Diagnóstico e áreas de foco. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/0Bw6co0uZu4wlREtDMW1uQ2pac3c/view. Acesso em: 25 fev.
2021.
222
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE. Coordenadoria de Inovação. Guia Porto Alegre Resiliente.
Disponível em:
http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/inovapoa/usu_doc/guia_poa_resiliente-final.pdf.
Acesso em: 24 fev. 2021.
Eloísa Assis | 159
223
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE. Estratégia de Resiliência de Porto Alegre. 2016. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/322084042_ESTRATEGIA_DE_RESILIENCIA_DE_PORTO
_ALEGRE. Acesso em: 24 fev. 2021.
224
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (BRASIL, op. cit., 1988).
160 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
225
FREITAS, Juarez. Direito à cidade sustentável: agenda positiva. Interesse Público – IP, Belo
Horizonte, ano 22, n. 119, p. 15-25, jan./fev. 2020.
Eloísa Assis | 161
226
FREITAS, op. cit., 2019.
227
A reivindicação por cidades inteligentes surgiu no final da década de 1990, quando a internet
despontava sua importância no tecido social. No início, falava-se em cidades digitais, mas o termo
foi substituído por cidades inteligentes a fim de demonstrar a amplitude da proposta de dinâmica
tecnológica nas cidades.
162 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
228
COMMUNITIES, European Innovation Partnership on Smart Cities and. Market Place of the
European Innovation Partnership on Smart Cities and Communities. Disponível em: https://eu-
smartcities.eu. Acesso em: 23 fev. 2021.
Eloísa Assis | 163
229
FANAYA, Patrícia. Cidades como ambientes cognitivos. In: SANTAELLA, Lúcia (org.). Cidades
Inteligentes: por que, para quem? São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.
230
RECK, Janriê; VANIN, Fábio. O direito e as cidades inteligentes: desafios e possibilidades na
construção de políticas públicas de planejamento, gestão e disciplina urbanística. Revista de
Direito da Cidade, vol. 12, n. 1, p. 464-492. 2020.
164 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
1
BRASIL, op. cit., 2000.
168 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
2
Programa instituído pela Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009.
Eloísa Assis | 169
3
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. [Habitação – Programa Minha Casa, Minha
Vida]. [2020]. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/habitacao/minha-casa-
minha-vida/programa-minha-casa-minha-vida-mcmv. Acesso em: 19 fev. 2021.
170 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
4
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional no Brasil 2016-2019. Belo Horizonte: FJP, 2021.
Disponível em: http://novosite.fjp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/04.03_Relatorio-
Deficit-Habitacional-no-Brasil-2016-2019-v1.0_compressed.pdf. Acesso em: 23 fev. 2021.
5
O adensamento excessivo de moradores era, até 2007, componente da inadequação de
domicílios, contudo, a partir desse mesmo ano, o adensamento excessivo de moradores em
imóveis alugados passou a compor o número de déficit habitacional enquanto o adensamento em
imóveis próprios permaneceu sendo considerado caso de inadequação de domicílios.
6
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, op. cit., 2021.
7
Ibidem.
Eloísa Assis | 171
8
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares – a colonização da terra e da moradia na era das finanças.
São Paulo: Boitempo, 2019.
9
Ibidem.
10
Ibidem.
11
Ibidem
12
Ibidem.
13
ROLNIK, op. cit., 2019.
172 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
14
RUFINO, M. et al. A produção do Programa PMCMV na Baixada Santista: habitação de interesse
social ou negócio imobiliário? In: AMORE, Caio; SHIMBO, Lúcia; RUFINO, Maria. Minha casa...e a
cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em Seis Estados Brasileiros. Rio de
Janeiro: Letra Capital, 2015.
15
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, op. cit., 2021.
16
MARTINS, Raphael; LIMA, Caroline Magalhães. Por que o Programa Minha Casa Minha Vida não
resolveu o déficit habitacional?”: reflexões sobre a questão da habitação no Brasil. Anais do 16º
Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social. Vitória, Espírito Santo, 2018, p. 2.
17
Ibidem.
Eloísa Assis | 173
18
MARTINS; LIMA, op. cit., 2018.
19
AMORE, Caio; SHIMBO, Lúcia; RUFINO, Maria. Minha casa...e a cidade? Avaliação do Programa
Minha Casa Minha Vida em Seis Estados Brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015.
20
A região Sudeste do Brasil respondeu por 41,8% do valor total contratado, seguida do Nordeste,
cujo valor de contratação foi de 22,3% do total. (FIESP. Observatório da Construção. Disponível em:
https://www.fiesp.com.br/observatoriodaconstrucao/noticias/evolucao-das-contratacoes-e-
investimentos-do-
pmcmv/#:~:text=Em%20termos%20estaduais%2C%20as%20maiores,em%20R%24%20milh%C3%B
5es%2C%20Brasil. Acesso em 27 fev. 2021).
174 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
forma equânime, motivo pelo qual há municípios com economia robusta enquanto
outros possuem uma base econômica bastante fragilizada 21 . Fato relevante
observado é a presença de uma forte segregação socioterritorial, vez que a orla da
Baixada é ocupada, quase que totalmente, por domicílios de uso ocasional
enquanto as regiões mais interiorizadas dos municípios são ocupadas
preponderantemente por residências permanentes, assim, identifica-se que
quanto maior a proximidade com a orla marítima, maior a renda e maior o preço
dos imóveis, enquanto as regiões mais interiorizadas são marcadas por
assentamentos precários da população de renda mais baixa22.
Ao examinar a implementação do PMCMV na Baixada Santista, os
pesquisadores identificaram certa discrepância na concentração das unidades
habitacionais pelo território da região. Nos municípios com menor dinâmica e
integração econômica fora constatada uma significativa concentração de
unidades habitacionais produzidas para a Faixa 1 do Programa, que contemplam
famílias com as menores rendas, sendo que o cenário fica mais preocupante
quando os dados do déficit habitacional se cruzam com o número de unidades
produzido em cada município da Baixada, eis que se revela que, nos municípios
onde o déficit habitacional é maior, as unidades do PMCMV direcionadas para a
Faixa 1 são menores ou inexistentes, enquanto que, nos municípios onde o déficit
é menor, a implantação de unidades se deu em número significativo, fatos que
demonstram que a habitação é concebida enquanto mercadoria que se condiciona
aos interesses mercadológicos23.
Conduzida aos terrenos mais baratos da região, conquanto o déficit
habitacional nessas localidades não seja significativo, as famílias da faixa 1 têm a
qualidade de vida comprometida, especialmente quando se leva em consideração
as dificuldades de acesso aos equipamentos, espaços e serviços públicos bem
como aos empregos em razão da distância e de um sistema de transporte
ineficiente e sobrecarregado24. A produção massificada de unidades habitacionais
para as faixas compostas por famílias com menores rendas evidencia a exclusão
21
RUFINO, M. et al, op. cit., 2015.
22
RUFINO, M. et al, op. cit., 2015.
23
Ibidem.
24
Ibidem.
Eloísa Assis | 175
da população mais pobre para as margens das cidades. Para além da insatisfação
com a localização da moradia, em pesquisa realizada com os beneficiários do
Programa MCMV na Baixada Santista, apurou-se o descontentamento com o
acesso aos serviços públicos em comparação com a moradia anterior. Nesse
sentido, verifica-se os moradores consideram que houve piora no serviço de
correios (85%), na telefonia pública (71%), no policiamento (61%), no transporte
público (49%) e no acesso a serviços e equipamentos sociais (43%) 25.
Da experiência do sudeste, passa-se à análise da Região Metropolitana de
Fortaleza, oportunidade em que se destaca que a capital cearense teve seu
processo de metropolização diretamente vinculado à implantação dos conjuntos
habitacionais produzidos com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH) e
operacionalizados pela Companhia Estadual de Habitação (COHAB-CE) nas
décadas de 1970 e 1980 26 . Quanto à implementação dos empreendimentos do
PMCMV, observa-se que, semelhantemente ao identificado na Baixada Santista,
os conjuntos habitacionais, geralmente, são situados em locais distantes dos
centros urbanos e com infraestrutura, pavimentação, iluminação públicas – e
outros quesitos – classificados como ruim ou muito ruim, comprometendo, por
óbvio, a qualidade de vida dos beneficiários do Programa 27.
No que se refere à opinião dos moradores dos empreendimentos do PMCMV
quanto à piora na infraestrutura comparando-se à moradia anterior, observa-se
que, em um condomínio predominantemente composto por famílias da faixa 1,
86,7% do total de famílias entrevistadas considera que houve uma piora no acesso
ao transporte público, 84,1% considera uma piora na iluminação pública, 79,6%
identifica uma piora no acesso aos postos de saúde, 78,8% no acesso ao telefone
público, 77% no acesso a comércio e serviços, 69,9% no acesso à escola, 63,7% no
acesso ao trabalho e 55,8% no acesso ao lazer 28 . Avaliando a satisfação dos
moradores com a nova residência, nos conjuntos habitacionais do PMCMV em
25
Ibidem.
26
PEQUENO, Renato; ROSA, Sara Vieira. Inserção urbana e segregação espacial: análise do
Programa Minha Casa Minha Vida em Fortaleza. In: AMORE, Caio; SHIMBO, Lúcia; RUFINO, Maria.
Minha casa...e a cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em Seis Estados
Brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015.
27
Ibidem.
28
Ibidem.
176 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
29
Ibidem.
30
Ibidem.
31
PEQUENO; ROSA, op. cit., 2015.
32
PASQUALOTTO, Adalberto; ASSIS, Eloísa. A tutela consumerista do direito à moradia. RJLB, ano
7 (2021), n. 1. p. 1-27. 2021.
Eloísa Assis | 177
33
PASQUALOTTO, Adalberto. Fundamentalidade e efetividade da defesa do consumidor. Revista
Brasileira de Direitos Fundamentais & Justiça, v. 3, n. 9, out./dez., 2009.
34
PASQUALOTTO; ASSIS, op. cit., 2021.
178 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
35
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências. 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 10 fev. 2021.
36
Ibidem.
37
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. Recurso Especial nº 738.071-SC. Relator:
Min. Luís Felipe Salomão. Julgamento: 9/8/2011.
38
Neste sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. AgInt no Recurso Especial
nº 1.592.365-PR. Relator: Min. Luís Felipe Salomão. Julgamento: 7/3/2017.
39
BRASIL, op. cit., 1990.
Eloísa Assis | 179
40
Ibidem.
41
PASQUALOTTO; ASSIS, op. cit., 2021.
42
ROLNIK, op. cit., 2019.
43
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 5 ed. São Paulo: Studio Nobel, 2000.
180 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
44
Ibidem.
45
BRASIL. Lei nº 14.118, de 12 de janeiro de 2021. Institui o Programa Casa Verde e Amarela [...]
2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.118-de-12-de-janeiro-de-
2021-298832993. Acesso em: 22 fev. 2021.
46
Ibidem.
Eloísa Assis | 181
47
Ibidem.
182 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
48
Os coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937, sendo que apenas em 1965
o vírus foi descrito como coronavírus, devido ao seu perfil identificado na microscopia, que se
assemelhava a uma coroa.
49
OLIVEIRA, Elida; ORTIZ, Brenda. Ministério da Saúde confirma primeiro caso de coronavírus no
Brasil. G1. 26 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-
saude/noticia/2020/02/26/ministerio-da-saude-fala-sobre-caso-possivel-paciente-com-
coronavirus.ghtml. Acesso em: 08 fev. 2021.
50
CORONAVÍRUS BRASIL. [Painel Coronavírus] [2021]. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/.
Acesso em: 27 fev. 2021.
Eloísa Assis | 183
casos, sendo 64 milhões já recuperados e mais de 2,5 milhões de mortes 51. Ante a
ausência de tratamento específico para as infecções causadas pelo coronavírus,
intensificaram-se as medidas preventivas, como o reforço das práticas de higiene,
a exigibilidade do uso de máscaras e o incentivo ao distanciamento social.
A pandemia da Covid-19 escancarou as condições degradantes de vida de
grande parte da população brasileira. A orientação do distanciamento social como
estratégia de combate ao coronavírus, embora se reconheça sua adequação,
parece partir da presunção de que todas as pessoas possuem um local de
residência, e, que, inclusive, essas moradias possuem condições minimamente
adequadas para um período relativamente longo de isolamento, para além da
desconsideração das inúmeras situações de coabitação familiar e adensamento
excessivo que compõem o gráfico de déficit habitacional. Em verdade, significativa
parcela da população não possui condições mínimas necessárias para realizar o
distanciamento social sem ameaçar seu próprio bem-estar, isso porque muitos
domicílios do país sequer possuem os serviços urbanos mais elementares, como
a água tratada e a disponibilização de um banheiro de uso exclusivo da família.
Em pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS) fora constatado que cerca de 16% da população – isto é, quase 35 milhões
de brasileiros – não têm acesso à água tratada, o que dificulta a realização da
orientação básica de constante higienização das mãos52.
Com efeito, estima-se que cerca de cinco milhões de domicílios se
constituem enquanto aglomerados subnormais 53 , que compreendem domicílios
em favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, mocambos, palafitas e
outros assentamentos irregulares no país, que fogem ao padrão de urbanização.
51
ISTOÉ. [Economia – Covid já causou mais de 2,5 milhões de mortes no mundo (balanço AFP)].
[2021]. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/covid-ja-causou-mais-de-25-milhoes-
de-mortes-no-mundo-balanco-afp/. Acesso em: 27 fev. 2021.
52
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria Nacional de Saneamento – SNS.
25º Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2019. Brasília: SNS/MDR, 2020. Disponível em:
http://www.snis.gov.br/downloads/diagnosticos/ae/2019/Diagn%C3%B3stico%20SNIS%20AE_20
19_Republicacao_04022021.pdf. Acesso em: 27 fev. 2021.
53
IBGE. Diretoria de Geociências. Coordenação de Geografia e Meio Ambiente. Aglomerados
subnormais 2019: classificação preliminar e informações de saúde para o enfrentamento à covid-
19. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101717_apresentacao.pdf. Acesso em: 26 fev.
2021.
184 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
54
SILVEIRA, Daniel. Cerca de 18,4 milhões de brasileiros não recebem água encanada diariamente,
aponta IBGE. G1, Rio de Janeiro, 06 de maio de 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/05/06/cerca-de-184-milhoes-de-brasileiros-nao-
recebem-agua-encanada-diariamente-aponta-ibge.ghtml. Acesso em: 26 fev. 2021.
55
IBGE. Censo Demográfico – 2010. Disponível em:
https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3155#resultado. Acesso em: 27 fev. 2021. | CORREIO DO POVO.
[Notícias – Geral]. Mais de 5,7 milhões de brasileiros não têm acesso a banheiro, diz IBGE. [2020].
Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/geral/mais-de-5-7-
milh%C3%B5es-de-brasileiros-n%C3%A3o-t%C3%AAm-acesso-a-banheiro-diz-ibge-1.526449.
Acesso em: 27 fev. 2021.
Eloísa Assis | 185
56
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. GeoCombate. Risco dos bairros de Salvador ao
espalhamento do COVID-19 decorrente da circulação de pessoas e condições socioeconômicas.
Nota Técnica de pesquisadores do grupo GeoCombate COVID-19 BA. Salvador: 2020. Disponível
em: https://drive.google.com/file/d/1MD6yRtw2HzaXob2pSV-IL-4D9gjNOxbW/view. Acesso em:
27 fev. 2021.
57
Especialmente os bairros Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia,
Boa Vista de São Caetano e Sussuarana. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, op. cit., 2020).
58
CARVALHO, IMM; BARRETO, VS, op. cit., 2007.
186 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
59
PREFEITURA DE SALVADOR. Secretaria Municipal de Saúde. Diretoria de Vigilância Sanitária.
Boletim Epidemiológico 04. 2021. Disponível em:
http://www.cievs.saude.salvador.ba.gov.br/download/boletim-04_2021-sms-cievs-ssa-covid-
19/?wpdmdl=3360&refresh=604acd1b9fb001615514907. Acesso em: 26 fev. 2021.
60
Distrito Sanitário que abrange os bairros: Água de Meninos, Aflitos, Ajuda, Alto da Esperança,
Aquidabã, Baixa dos Sapateiros, Barbalho, Barris, Barroquinha, Boulevard Suisso, Campo da
Pólvora, Campo Grande, Carmo, Centro, Comércio, Conceição da Praia, Curva Grande, Desterro,
Djalma Dutra, Faísca, Fonte Nova, Forte de São Pedro, Gamboa, Jardim Bahiano, Lapa, Largo Dois
de Julho, Loteamento Lanat, Macaúbas, Mercado do Ouro, Mercês, Misericórdia, Mouraria, Nazaré,
Paço, Palma, Pelourinho, Piedade, Pilar, Poeira, Politeama, Rosário, Santa Tereza, Santana, Santo
Antônio, São Bento, São Francisco, São Joaquim, São José, São Pedro, São Raimundo, Saúde, Sé,
Taboão, Tororó – bairros que integram a região territorial denominada Miolo soteropolitano, que,
segundo CARVALHO, IMM; BARRETO, VS, op. cit., 2007, possui, em sua maioria, residentes da
tipologia socioespacial Popular, que, em verdade, corresponde a um significativo contingente
negro.
61
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. CAS – Centro Antigo de
Salvador [livro eletrônico]: território de referência – Salvador: SEI, 2013.
62
PREFEITURA DE SALVADOR, op. cit., 2021.
63
OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES; FÓRUM NACIONAL DE REFORMA URBANA. As metrópoles
e a Covid-19: Dossiê Nacional. A pandemia da covid-19 em uma cidade pobre e periférica –
desigualdades e vulnerabilidades socioespaciais, governança e políticas de enfrentamento em
Salvador e em sua Região Metropolitana. Salvador, 2020. Disponível em:
https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-content/uploads/2020/07/Dossi%C3%AA-
N%C3%BAcleo-Salvador_An%C3%A1lise-Local_Julho-2020.pdf.pdf. Acesso em: 27 fev. 2021.
64
Ibidem.
65
Os Índices de Desenvolvimento Humano Municipais contemplam três indicadores: média de
anos de estudo do chefe de família, taxa de alfabetização e renda média do chefe de família (em
salários mínimos). Assim, quanto mais próximo da nota 1,0 mais desenvolvido é o bairro.
Eloísa Assis | 187
66
PREFEITURA DE SALVADOR. [Indicadores - Indicadores COVID-19]. [2021]. Disponível em:
http://www.saude.salvador.ba.gov.br/covid/indicadorescovid/. Acesso em: 28 fev. 2021.
67
IPEA. [População em situação de rua cresce e fica mais exposta à Covid-19]. [2020]. Disponível
em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=35811#:~:text=
Popula%C3%A7%C3%A3o%20em%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20rua,mais%20exposta%20%
C3%A0%20Covid%2D19&text=A%20popula%C3%A7%C3%A3o%20em%20situa%C3%A7%C3%A3o%
20de,pela%20pandemia%20da%20Covid%2D19.. Acesso em: 28 fev. 2021.
188 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
que encontra nos viadutos a maior proximidade com as condições, ainda que
desumanas, de habitação – da região. A Prefeitura de São Paulo, contudo, alega
que a decisão de instalar os paralelepípedos foi realizada de forma isolada por um
funcionário, que já foi exonerado68, reforçando, ainda, que as pedras nos viadutos
já foram removidas e que houve oferecimento de serviços aos moradores em
situação de rua, serviços que incluíam hospedagem de idosos em hotéis durante
a pandemia69.
Contudo, a polêmica da atuação higienista de instalação de pedras nos
viadutos não representa caso isolado, eis que outras equipes da Prefeitura da
capital paulista já se envolveram em polêmicas por medidas semelhantes voltadas
à expulsão da população de rua, como a instalação de grades e floreiras nos
viadutos do centro da cidade, inviabilizando a permanência de pessoas 70 e a
instalação de bancos antimendigos 71 , que representam o reflexo de uma
arquitetura hostil voltada à expulsão da população em situação de rua,
impossibilitando o acesso e o exercício universal do direito à cidade.
Desprovidos de moradia e privados de usufruir da cidade, as pessoas em
situação de rua se encontram potencialmente desprotegidas e vulneráveis à
infecção pelo coronavírus. Comumente, quando se fala sobre os desafios e
impactos da pandemia, aborda-se apenas o viés médico-infectológico, dos
cuidados com a saúde e a higiene; contudo, de extrema relevância ressaltar as
consequências da negação de direitos básicos, como o direito à moradia, e seus
reflexos multidimensionais. Tudo a indicar que não é exagero considerar o direito
à moradia enquanto essencial para manutenção da vida, motivo pelo qual dos
68
G1 SP. [Gestão Covas instala pedras sob viadutos na Zona Leste de SP, mas retira após
acusações de higienismo]. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2021/02/02/gestao-covas-instala-pedras-sob-viadutos-na-zona-leste-de-sp-e-
retira-apos-acusacoes-de-higienismo.ghtml. Acesso em: 28 fev. 2021.
69
Ibidem.
70
SANTIAGO, Tatiana. Prefeitura de SP instala grades e plantas em calçadas embaixo de viadutos
no Centro. G1 São Paulo. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2020/11/12/prefeitura-de-sp-instala-grades-e-plantas-em-calcadas-embaixo-
de-viadutos-no-centro.ghtml. Acesso em: 28 fev. 2021.
71
Os bancos antimendigos são projetados de forma a impossibilitar que os moradores de rua se
deitem sobre eles, limitando os espaços para apenas o suficiente para acomodar uma pessoa não-
obesa sentada. (EXTRA. O Globo online. 2007. Disponível em:
https://extra.globo.com/noticias/brasil/sp-ja-tem-tres-pracas-com-banco-antimendigo-
741168.html. Acesso em: 28 fev. 2021.
Eloísa Assis | 189
72
SALLES, Stéfano. Favelas da Região Metropolitana do RJ têm mais casos de Covid-19 que 142
países. CNN. 09 de dezembro de 2020. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/12/09/favelas-da-regiao-metropolitana-do-rj-tem-
mais-casos-de-covid-19-que-142-paises. Acesso em: 28 fev. 2021.
73
Quartos de quarentena é uma campanha de mobilização, encabeçada pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil, o Movimento Nossa BH, o Instituto Pólis, o Movimento Mineiro de Habitação, entre outros,
para que a cidade de Belo Horizonte utilize da rede hoteleira para criar abrigos dignos e seguros
para a população vulnerável, que reside em aglomerados, vilas e favelas, durante o período
pandêmico, de forma a garantir um efetivo isolamento social.
190 | Direito à moradia: desafios contemporâneos…
74
ALFONSIN, Betânia. A tutela do Direito à cidade em tempos de COVID-19. Justificando –
questões urbanas. 12 de junho de 2020. Disponível em:
http://www.justificando.com/2020/06/12/a-tutela-do-direito-a-cidade-em-tempos-de-covid-
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Eloísa Assis | 191
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