Ebook - Saberes e Vivencias em Ciencias Da Natureza No Ensino Medio Com Capa
Ebook - Saberes e Vivencias em Ciencias Da Natureza No Ensino Medio Com Capa
Ebook - Saberes e Vivencias em Ciencias Da Natureza No Ensino Medio Com Capa
net/publication/350214327
CITATIONS READS
0 2,512
2 authors, including:
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Angélica Ramos da Luz on 20 March 2021.
Saberes e vivências em
Ciências da Natureza
E VIVÊNCIAS
EM CIÊNCIAS DA NATUREZA
NO ENSINO MÉDIO
Wender Faleiro
Cinthia Maria Felicio
Dayane Graciele dos Santos
(organizadores)
Saberes e vivências em
Ciências da Natureza
no Ensino Médio
Copyright © 2020 by Cinthia Maria Felicio / Dayane Graciele dos Santos / Wender Faleiro (org.).
Editora Kelps
Rua 19 nº 100 - St. Marechal Rondon
CEP 74.560-460 - Goiânia-GO
Fone: (62) 3211-1616
E-mail: [email protected]
homepage: www.kelps.com.br
Comissão Técnica
Tatiana Lima
Projeto gráfico
S115
Saberes e vivências em Ciências da natureza do ensino médio. /
Cinthia Maria Felicio, Dayane Graciele dos Santos,
Wender Faleiro (org.). – Goiânia:.Kelps,2020.
290p.
ISBN: 978-65-5859-057-6
CDU: 37 (075.3)
DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorização
prévia e por escrito dos autores. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2020
Prefácio
E
ssa é uma obra financiada pela Capes (Processo 88887.290496/2018-00
Edital 29/2018) e pelo CNPq (Processo: 403787/2018-1 Chamada ARC
nº 06/2018 L2) por meio do por meio Grupo de Pesquisa e Extensão em
Ensino de Ciências e Formação de Professores – GEPEEC – UFCAT e, com a
colaboração de todos organizadores e autores que abdicaram de seus direitos
autorais pudemos disponibilizar de forma totalmente gratuita o download
completo da obra.
Este livro conta com 14 capítulos. No Capítulo 1, Rivaldo Lopes da
Silva e Mauricio dos Santos Matos, a partir das contribuições de Bourdieu,
Maton e Bernstein nos trazem reflexões sobre os processos de acumulação
do conhecimento e mudanças sociais a partir do ensino-aprendizagem
em ciências, por meio de um delineamento teórico e nos fazem pensar as
contribuições de cada um desses autores na caracterização e compreensão das
relações entre o “social” e o Ensino de Ciências.
No segundo capítulo, as autoras Cinthia Maria Felicio, Elciane Arantes
Peixoto Lunarti, Patrícia Arantes Peixoto Borges e Patrícia Garcia Souza
Padovani nos apresentam situações de ensino intersdiplinares em que o uso de
metodologias ativas permite desenvolver e avaliar diferentes perspectivas deste
assunto. O trabalho envolveu alunos de uma turma de primeiro ano do ensino
médio, em uma escola estadual no sul do estado de Goiás e com problemas
de aprendizagem, estimulando-os a se engajarem nas propostas de atividades,
compreendendo aspectos geográficos, matemáticos e biológicos/bioquímicos
sobre a temática água.
Olma Karoline Cruz de Medeiros e Alessandra Riposati Arantes, da
Universidade Federal de Uberlândia nos apresentam no Capítulo 3 propostas
de atividades práticas para o ensino e aprendizagem de ciências da natureza
com ênfase na Biologia. A partir de abordagem sociocultural de Vygotsky
e abordagens investigativas, as autoras nos apresentam três possibilidades
presentes no cotidiano dos alunos da educação básica, para realização de
experimentação.
Os autores do Instituto Federal do Triangulo Mineiro, Carla Regina
Amorim dos Anjos Queiroz, Tatiana Boff e Edson Marques da Costa Júnior,
trazem no Capítulo 4, sua experiência no desenvolvimento de oficinas de
aprendizagem e pesquisa no Ensino Médio e profissionalizante, por meio
de projetos, nos anos de 2017 e 2018, para auxiliarem a aprendizagem de
conceitos e o estudo de forma autônoma para o desenvolvimento profissional
e tecnológico.
As Feiras de Ciências realizadas na Universidade Federal de Catalão
(UFCAT) são descritadas e apresentadas como espaços que auxiliam o processo
de ensino-aprendizagem de conceitos científicos no Capítulo 5. Os autores,
Leonardo Oliveira Costa e Simara Maria Tavares Nunes trazem o relato da
7ª Feira de Ciências da UFCAT onde os envolvidos aprendem a trabalhar em
equipe e socializam seus saberes de forma crítica e prazerosa.
No sexto capítulo, os autores Wesley Amaral Vieira, Camila Nunes Duarte
Silveira e Arlete Ramos dos Santos nos apresentam as dificuldades e estratégias
para atrair alunos para os cursos de licenciatura em ciências da natureza na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Itapetinga. Assim,
buscando conhecer melhor as percepções e visões sobre as áreas de Química,
Física e Biologia aplicaram um questionário a 66 alunos do 2º e 3º ano do
Ensino Médio em duas unidades escolares no sudoeste da Bahia e observaram
que com relação a questões ambientais estes relacionavam melhor aspectos
do conhecimento químico e biológico, mas tinham dificuldades em relacionar
tais aspectos aos conhecimentos de Física Básica.
O Capítulo 7 trata do alisamento capilar em que os autores Thaís de
Souza Lima, Thalles Yuri Silva Oliveira, Brunno André Ruela, Anna Maria
Canavarro Benite e Claudio Roberto Machado Benite, discutem a partir de
uma pesquisa participante a aplicação de um objeto virtual de aprendizagem
(OVA) intitulado “Alisamento Capilar: sob o olhar microscópico” abordando
dados experimentais obtidos pela técnica de Microscopia Eletrônica de
Varredura (MEV). Faz-se importante refletir sobre práticas sociais e o uso
do formaldeído, por exemplo, para se pensar aproximações entre a Ciência
e os sujeitos sociais. O contexto tecnológico apresentado parece auxiliar na
formação crítico – reflexiva ao buscar a compreensão dos dados fornecidos e
suas implicações no meio social.
No Capítulo 8, Deividi Marcio Marques e Vanessa Freitas Santos,
trazem propostas experimentais, utilizando como tema gerador sabão na
Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma escola de Ensino Médio situada
no sudeste Goiano. A realização de uma entrevista com os sujeitos da pesquisa
e desenvolvimento de uma sequência didática para produção de sabão a partir
de óleo vegetal usado favoreceu o interesse e pode motivar alunos da EJA a
participarem de atividades experimentais a partir de temáticas presentes em
seus cotidianos.
Fernanda Welter Adams, Ângela Claudia Domingues e Raquel Martins,
no Capítulo 9, apresentam um relato de uma experiência interdisciplinar
com o desenvolvimento de um projeto de ensino intitulado: “Valentine’s Day:
Valorize quem te faz bem”. A partir do diálogo com seus alunos as autoras
buscavam a motivação e desenvolvimento do pensamento reflexivo frente às
relações interpessoais, bem como sobre o consumismo desenfreado, sendo o
projeto realizado nos meses de maio e junho de 2018. A proposta possibilitou
trabalhar a relação entre a Química e a linguagem, por meio da elaboração de
textos em português, espanhol e inglês, cartazes e apresentações. Além disso,
trouxe possibilidades para tentar superar a alienação motivada pelo consumo
desenfreado, proporcionando aos estudantes a reflexão e a valorização dos
sujeitos.
No Capítulo 10, os autores Maria Aparecida da Costa, Renato Gomes
Santos e Karla Amâncio Pinto Field´s, relatam uma experiência desenvolvida
em uma scola da rede estadual de ensino em uma cidade da região Sul de Goiás
por meio do Estágio Supervisionado em Química. Neste relato envolvendo o
estudo temático de pragas na horta e experimentação, eles discutem a formação
de professores e a importância da contextualização no ensino de Química.
Corantes têxteis surgem como tema para uma abordagem em Ciência,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente no Capítulo 11. Nele, as autoras Angélica
Ramos da Luz e Sandra Regina Longhin analisam as concepções socioeconômicas
e ambientais de alunos do Ensino Médio por meio do desenvolvimento de uma
sequência didática (SD). Esta SD envolveu experimentação, roda de conversa,
exibição de vídeos e reportagens com alunos do segundo ano do curso Técnico
Integrado de nível médio em Controle Ambiental. Segunda as autoras esta
abordagem serviu para evidenciar a necessidade de aprofundamento da
abordagem proposta para ampliar o campo de visão dos alunos participantes.
O uso do celular como recurso didático é discutido por professores da
educação básica que trabalham com o ensino de Química em uma instituição
escolar estadual, no sul de Goiás. Assim no Capítulo 12, Denise Medeiros
Faria, Giselle Carvalho Bernardes, Daiana Paula Duarte Teixeira e Rogério
Pacheco Rodrigues apresentam uma proposta desenvolvida em três etapas com
aplicação de questionário, utilização de buscas por meio de celulares em três
aulas e, posteriormente, aplicação de um segundo questionário para avaliar o
aprendizado mediante o uso desse recurso que serviu como instrumento de
aprendizagem para a maioria dos estudantes.
No Capítulo 13, os autores, Alexandre Leite dos Santos Silva, Suzana
Gomes Lopes e Vaneilson José dos Santos discutem as possíveis contribuições
de um jogo didático denominado Trilha de Física, para o ensino de Cinemática.
Os autores descrevem os resultados da aplicação desse jogo em uma turma do
primeiro ano do Ensino Médio em uma escola pública no interior do Piauí,
no primeiro semestre de 2018. O jogo promoveu a socialização e favoreceu a
aprendizagem dos conceitos físicos propostos.
Carlos Henrique Moreira Sales, Marina Valentim e Mauro Antonio
Andreata fecham o livro apresentando um ensaio de aplicação dos centros de
interesse no estudo de Física quântica no Ensino Médio, desenvolvido com
61 alunos, em duas turmas do terceiro ano do Ensino Médio em uma escola
estadual localizada em Goiânia-GO. Os centros de interesse, desenvolvidos
por Decroly (1871-1932), foram escolhidos na intenção de que seriam uma
estratégia eficiente e adequada para o ensino-aprendizagem de Física quântica.
O professor desenvolveu a atividade utilizando abordagens diferentes nas duas
turmas: em uma das turmas utilizou a a abordagem de Decroly, enquanto na
outra, utilizou aula expositiva. Os melhores resultados de aprendizagem foram
alcançados na turma com abordagem nos centros de interesse.
Boa leitura
Wender Faleiro
Cinthia Maria Felicio
Dayane Graciele dos Santos
Sumário
INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAÇÃO NO
ENSINO DE QUÍMICA E LÍNGUAS
Fernanda Welter Adams / Ângela Claudia Domingues / Raquel Martins......176
1
Possui graduação em Química-Licenciatura e mestrado em Educação Científica e Matemática
e Formação de Professores (2019) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Atualmen-
te cursa doutorado em Ensino de Ciências (Modalidades Física, Química e Biologia) pelo Pro-
grama de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências (IF/IQ/IB/FE) da Universidade
de São Paulo (USP). E-mail: [email protected]
2
Professor Livre-docente da FFCLRP-USP, com Pós-Doutorado em Educação pelo Departa-
ment de Didàctica de la Matemática i les Ciències Experimentals da Universitat Autònoma de
Barcelona- Espanha, Doutorado em Ciências pela Katholieke Universiteit Leuven (Bélgica/
USP) e Mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
- 15 -
Os conhecimentos específicos das Ciências Naturais são parte de
uma língua específica, não sendo possível que sejam transmitidos como um
produto pronto e estático. Necessita-se que se estabeleçam relações entre essa
linguagem científica e o saber cotidiano dos estudantes, para que possa ocorrer
uma apropriação conceitual. Concordamos com Mortimer (2000), quando
afirma que não é preciso que ocorra a rejeição de concepções do senso comum
para que ocorra uma aprendizagem do conceito. Pode-se pensar o mundo a
partir de diferentes concepções, sejam elas espontâneas ou científicas, cada
uma mantendo um vínculo com contextos específicos que creditam significado
aos conceitos. Os alunos têm diferentes ideias para interpretar e explicar
vários fatos com que se deparam, e essas ideias não podem ser simplesmente
desprezadas ou substituídas pelo conhecimento científico, tido como o
único aceito. Esses modelos podem ser úteis ao fornecerem explicações em
determinados contextos que os alunos se deparam. (DRIVER et al., 1994).
Vygotsky (1998) considera que a linguagem tem um papel importante
na elaboração e na significação conceitual durante o processo de ensino-
aprendizagem. É nítida a relação que existe entre linguagem e conhecimento.
Mais especificamente no ensino de Ciências, entender sua linguagem é um dos
alicerces mais básicos para a compreensão do processo de apropriação de seus
saberes. Dessa forma, a linguagem também se apresenta como uma ferramenta
para o ensino de ciências e sua análise mostra-se indispensável para qualquer
ação que busque compreender processos de ensino e aprendizagem.
É, portanto, a partir da construção de significados para os conhecimentos
e conceitos das Ciências Naturais que o aluno passa a compreender a linguagem
desse tipo de Ciência e, consequentemente, aprender a própria Ciência. Como
afirmam Lorenzetti e Delizoicov (2001).
- 16 -
Atribui-se ao professor um papel de encorajador e facilitador, e
recomenda-se a intensificação de experiências cooperativas entre
parceiros. Entretanto, a atribuição de um papel de influência ao outro
e às condições contextuais apoia-se na noção de que os efeitos do
meio social apenas modulam um processo que é próprio do sujeito.
Assim, os processos intersubjetivos não são concebidos como instância
efetivamente constitutiva, pois é privilegiada a ideia de construção
individual (GÓES, 1997, p.13).
- 17 -
O CONHECIMENTO COMO PRODUTO SOCIAL
- 18 -
básico entre os três, é tido como o processo pelo qual um texto é desenvolvido
e posicionado dentro desse contexto. O conhecimento e as informações
adquiridas neste contexto são responsáveis pelo surgimento dos demais
contextos. O Contexto secundário trata da reprodução do discurso educacional
a partir dos conhecimentos criados em um contexto primário. O Contexto
de recontextualização surge a partir dos dois contextos anteriores e dos
campos estruturados neles e por eles; sua função é regular a movimentação
de discursos entre contextos diferentes, regulando o movimento de textos
entre os contextos. O campo da recontextualização atua para transformar os
discursos e incorporar outros.
- 19 -
assim, também se sentem mais aptos a assumirem atitudes de destaque nas
micro comunidades das quais fazem parte. O espaço dado aos filhos dentro
do núcleo familiar varia muito conforme a classe social dos indivíduos. Por
exemplo, segundo Morais e Neves (2013), famílias mais abastadas, na tentativa
de levar o maior grau de instrução para seus filhos, geralmente permitem que
eles participem de forma mais efetiva em discussões e tomadas de decisões
quando comparadas às famílias de classes sociais mais baixas.
Assim, é necessário que se considere a escola e a família, na
contemporaneidade, como instituições socializadoras que existem e são
responsáveis mutuamente pelo processo de socialização e de formação
educacional e instrucional dos indivíduos (ELIAS; MATOS, 1993), o que nos
remete ao conceito de habitus.
Para Bourdieu, o habitus pode ser considerado como
- 20 -
assumidos que conferem ao mundo social seu caráter de evidência e
natural [...] Enfim, o conhecimento que podemos chamar de praxiológico
(que) tem como objeto não somente o sistema das relações objetivas que
o modo de conhecimento objetivista constrói, mas também as relações
dialéticas entre essas estruturas e as disposições estruturadas nas quais
elas se atualizam e que tendem a reproduzi-las, isto é, o duplo processo
de interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade.
(BOURDIEU, 1983, p. 46-47).
Na verdade, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas
que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de
valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui
para definir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural e
à instituição escolar. A herança cultural, que difere, sob dois aspectos,
segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das
crianças da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de
êxito (BOURDIEU, 1998, p. 42).
- 21 -
Um espaço social estruturado, um campo de forças – há dominantes
e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade,
que se exercem no interior desse espaço - que é também um campo de
lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um, no
interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros
a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em
consequência, suas estratégias (p. 57).
- 22 -
Um princípio que se apropria seletivamente, reloca, refoca e relaciona
outros discursos para constituir sua própria ordem e ordenamentos.
Nesse sentido, o discurso pedagógico não pode ser identificado com
nenhum dos discursos que recontextualizou. Nesse sentido, não tem
discurso próprio, a não ser um discurso recontextualizador (p. 159).
- 23 -
as classes mais populares. Essa característica do ensino evidencia e impulsiona
ainda mais a imagem excludente da instituição escola.
- 24 -
É preciso, pois, construir o sistema das relações entre o sistema de
ensino e os outros subsistemas, sem deixar de especificar essas relações
por referência à estrutura das relações de classe, a fim de perceber que
a autonomia relativa do sistema de ensino é sempre a contrapartida
de uma dependência mais ou menos completamente oculta pela
especificidade das práticas e da ideologia permitidas por essa autonomia
(BOURDIEU; PASSERON, 1982, p. 206-207).
- 25 -
no nível estrutural, e diz respeito à variante em que o léxico do discurso é
totalmente previsível, não levando em consideração o grau de complexidade
(BERNSTEIN, 1973). Já o código elaborado é caracterizado por ser léxica e
sintaticamente mais complexo e organizado que o código restrito. Sujeitos que
têm domínio dessa variante do código pedagógico fazem uso de forma mais
completa dos recursos gramaticais (BERNSTEIN, 1973).
O código elaborado favorece as trocas de símbolos individualizados,
assim como aumenta a possibilidade de percepção da abstração. Essas
características do código elaborado permitem a modificação do discurso
original de apropriação quando se depara com contextos e exigências
específicos, e isso que se dará com diferenciação mais afinada dos significados
dentro de uma sequência (BERNSTEIN, 1973, p. 60). O código restrito, por
sua vez, favorece a troca de símbolos sociais e seu uso está ligado unicamente
às características de relacionamentos sociais comuns a qualquer contexto,
podendo ser acessado por todas as pessoas (BERNSTEIN, 1973, p. 59).
A prática oficial da sala de aula, em seu discurso, caracteriza-se por
seguir uma codificação elaborada.
- 26 -
É importante ressaltar que a apropriação de determinado código não
depende exclusivamente da classe à qual os indivíduos fazem parte. Sujeitos
de todas as classes podem se apropriar das duas variantes do código. Em todas
as classes e extratos sociais podem existir sujeitos que tenham relação muito
próxima com a base material, o que favorece a apropriação de um código ligado
a significados concretos, ou seja, um código restrito, assim como também
podem existir sujeitos ligados a uma base em que os significados se liguem
à base material de forma mais indireta, possuindo uma maior capacidade de
abstração, o que leva à apropriação de um código elaborado.
Os indivíduos podem mudar de um código para outro e isso é possível
por meio das relações sociais e interações estabelecidas. Esse processo de
mudança não se vincula também às características de personalidade ou às
capacidades cognitivas dos sujeitos. Bernstein afirma, ainda, que por não se
tratar de enunciados abstratos, não é possível analisar o código com base em
um contexto único, mas sim por meio das relações entre contextos distintos
(BERNSTEIN, 1990, p. 12).
- 27 -
(substituindo-os uns pelos outros na sucessão); permite também
estabelecer taxas de convertibilidade entre o capital cultural e o capital
econômico, garantindo o valor em dinheiro de determinado capital
escolar (BOURDIEU, 1998, p. 79).
CONCLUSÃO
- 28 -
funcionamento dos processos de ensino-aprendizagem numa determinada
área, mas também para perceber a sua relevância nesses processos,
possibilitando-nos reconhecer a escola e o ensino de Ciências como possíveis
andaimes sociais na formação dos sujeitos.
O foco na dimensão social também nos força lembrar que o sistema
educacional não está imerso em uma bolha de isolamento, sofrendo influência
tanto dos fatores políticos, econômicos e mercadológicos, quanto de fatores
associados ao meio social em que vivem os estudantes. Portanto, não
considerar o contexto social da escola e dos alunos, bem como a interação
entre os aspectos epistêmicos e sociológicos limita a nossa compreensão sobre
todos os processos formativos que ocorrem nas escolas e nas aulas de ciências,
legitimando e reforçando concepções que assumem as instituições escolares, e
também as aulas de ciências, apenas como agências de reprodução social e de
manutenção de classes.
REFERÊNCIAS
- 29 -
DRIVER, Rosalind et al. Constructing scientific knowledge in the classroom.
Educational researcher, v. 23, n. 7, p. 5-12, 1994.
ELIAS, Norbert; MATOS, Mário. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar,
1993.
FONTANA, Roseli A. Cação. A mediação pedagógica na sala de aula. Campinas:
Autores associados, p.176, 1996.
GÓES, Maria Cecília Rafael. As relações intersubjetivas na construção de
conhecimentos. A significação nos espaços educacionais: interação social e
subjetivação. Campinas: Papirus, p. 11-28, 1997.
DELIZOICOV, Demétrio; LORENZETTI, Leonir. Alfabetização científica no contexto
das séries iniciais, Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, 37-50,
2001.
MAINARDES, Jefferson; STREMEL, Silvana. A teoria de Basil Bernstein e algumas
de suas contribuições para as pesquisas sobre políticas educacionais e curriculares.
Revista Teias, v. 11, n. 22, p.31-54, 2010.
MORAIS, Ana Maria; NEVES, Isabel Pestana. Estudo do posicionamento dos alunos
na sua relação com o sucesso escolar. Educação & Realidade, v. 38, n.1, p. 293-318,
2013.
MATON, Karl. Knowledge-knower structures in intellectual and educational fields.
In: CHRISTIE, Frances;
MARTIN, James Robert (Ed.). Language, Knowledge and Pedagogy: Functional
Linguistic and Sociological. London: Continuum, p. 87-108, 2007.
______. Languages of legitimation: the structuring significance for intelectual fields
of strategic knowledge claims. British Journal of Sociology of Education, v. 21, n. 2,
147-167, 2000. http://doi.org/10.1080/713655351
______. Segmentalism: The problem of building knowledge and creating knowers.
In FRANDJI, Daniel; VITALE, Philippe (Ed.) Knowledge, pedagogy and society.
International Perspective on Basil Bernstein´s sociology of education. New York,
United States of America: Routledge. p.126-139, 2011.
MORTIMER, Eduardo Fleury. Linguagem e Formação de Conceitos no Ensino de
Ciências. 1.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
SILVA, Ana. Carolina Araújo. A dialogia no ensino de ciências: um estudo do
desenvolvimento do discurso em sala de aula. Teses de Doutorado, UFMG, Belo
Horizonte, Minas Gerais, MG, Brasil, 2015.
VYGOTSKY, Lev Semionovic. A formação Social da mente. (Trad.) São Paulo. 1998.
- 30 -
Capítulo 2
- 31 -
intencionalmente organizadas, nas quais o aluno, por meio da contextualização
dos conteúdos no seu cotidiano e mediante abordagens mais dinâmicas, será
ativo na assimilação dos conceitos (AMANTES & COELHO, 2013) e assim
poderá desenvolver uma aprendizagem mais significativa.
Moreira (2018), amparado nos estudos de Ausubel, destaca que a
aprendizagem significativa apresenta relação substantiva a um aspecto da
estrutura cognitiva, utilizando organizadores prévios que servem de base para
novas aprendizagens. O autor destaca ainda que os organizadores prévios
são todos os materiais introdutórios apresentados antes do material a ser
aprendido em si e, de acordo com Ausubel, eles servem de ponte cognitiva
entre o que o aprendiz já sabe e os novos conhecimentos. Isso nos faz refletir
sobre a importância de o professor conhecer o que o aluno já sabe sobre um
determinado assunto, o que lhe permitirá organizar atividades que contenham
os organizadores prévios mais adequados e apresentar abordagens que possam
envolver a participação dos alunos.
A contextualização dos conteúdos com o cotidiano dos estudantes
e a interdisciplinaridade são estratégias que podem contribuir para uma
aprendizagem mais significativa, à medida que estimulam a dialogicidade
e integração das ciências e do conhecimento, reduzindo a fragmentação
dos saberes e assim possibilitando o entendimento da relação entre o todo
e as partes que o constituem. O desenvolvimento ativo do aluno, a partir
de situações que fazem parte de sua vida, pode despertar a curiosidade e o
protagonismo na busca por solução de situações que são intencionalmente
levantadas em sala de aula.
Portanto, abordagens de conceitos em perspectivas interdisciplinares
e contextualizadas podem auxiliar o processo de ensino-aprendizagem dos
alunos, favorecendo maior participação nas atividades e propostas de ensino
e, assim, a busca de conceitos científicos e modelos explicativos para entender
melhor o contexto em que vivem como, por exemplo, o custo da água tratada
nos ambientes urbanos e/ou rurais. A intencionalidade do professor para
trazer situações relevantes, reportagens, vídeos etc. pode ser uma forma
integradora de conhecimentos em diferentes áreas que poderão ser trabalhados
e possibilitar maior interesse e aprendizado de conceitos.
Neste trabalho focalizamos a aplicação de uma sequência didática visando
investigar a viabilidade de tal proposta do ponto de vista didático-pedagógico para
o Ensino Médio. Especificamente, no caso tratado, objetivamos analisar o processo
de ensino-aprendizagem de forma interdisciplinar e contextualizada, através de
atividades que auxiliassem os estudantes a refletir não só sobre a importância da
água para a manutenção da vida e do equilíbrio natural do espaço geográfico,
- 32 -
como também sobre o consumo de água nas mais diversas atividades e sobre
possíveis consequências de desperdícios, tanto do ponto de vista econômico
quanto do climático e ambiental. Abordamos o tema a água como um recurso
natural essencial à vida, ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar social.
Além disso, procuramos trabalhar situações contextualizadas reais,
para que os alunos pudessem interpretar situações econômicas, sociais e das
ciências da natureza que envolvem a variação de grandeza e suas implicações
para a vida e o meio ambiente, o uso racional da água, o combate ao
desperdício e promoção de consciência quanto à importância dos recursos
hídricos para a sociedade. Ampliando e aprofundando os conhecimentos
sobre as características e utilização da água, além de sua importância ao
longo da história da humanidade, buscamos provocar a reflexão sobre o uso
racional desse recurso, a preservação da sua qualidade e adoção de ações que
contribuam para manutenção do abastecimento. Com isso, nosso propósito
passou a ser o de avaliar os principais aspectos referentes à estruturação
das atividades elaboradas para o desenvolvimento do tema proposto, com o
intuito de avaliar se as discussões propostas proporcionaram aos alunos uma
aprendizagem mais significativa dos conceitos envolvidos.
Na sequência da apresentação do trabalho, apresentaremos as
considerações teóricas que o fundamentaram e, obviamente, também
fundamentaram as atividades planejadas e desenvolvidas, relacionadas
à interdisciplinaridade, aos processos de ensino-aprendizagem e à
contextualização, enquanto proposta pedagógica que busca melhorias na
participação dos alunos e na aprendizagem. Em seguida, abordaremos os
aspectos metodológicos do estudo, descrevendo as ações desenvolvidas em
cada etapa. Por fim, analisaremos a prática pedagógica realizada e a proposta
de sequência didática utilizada para a discussão de alguns resultados e as
reflexões desencadeadas a partir dessa prática.
- 33 -
Nesse sentido, Gadotti (2003) destaca que a interdisciplinaridade visa
garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com
as fronteiras disciplinares. Assim, não é suficiente integrar os conteúdos,
é necessário adotar uma atitude interdisciplinar, como enfatizam Fazenda
& Godoy (2016), de forma que o compromisso profissional do educador,
seu envolvimento com os projetos de trabalho, sua busca constante de
aprofundamento teórico e postura ética diante das questões e dos problemas
que envolvem o conhecimento estejam sempre presentes no processo de
ensino-aprendizagem. A atitude de abertura ao outro na construção do
conhecimento que se faz em conexão com aspectos objetivos e subjetivos que
constituem o ser humano em todas as suas dimensões.
Thiesen (2008) discute o processo de articulação entre a prática
interdisciplinar e a elaboração do conhecimento, seja considerando os
aspectos epistemológicos, seja a partir de aspectos pedagógicos que podem
ser associados ao trabalho interdisciplinar, sendo que cada um desses poderia
contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem. O autor acredita ser
necessário ao ambiente escolar, cada vez mais, a instituição de práticas que
possam ser integradas de forma interdisciplinar.
Paulo Freire (2006), mesmo não se referindo explicitamente o termo
interdisciplinaridade, também nos ajuda a pensar sobre sua importância, ao
destacar o processo metodológico de construção do conhecimento pelo sujeito
com base em sua relação com o contexto, com a realidade, com sua cultura.
Partindo de dois movimentos dialéticos – a problematização da situação, pela
qual se desvela a realidade, e a sistematização dos conhecimentos de forma
integrada – podemos associar seu processo de ensino com a utilização da
interdisciplinaridade por meio da proposta de investigação envolvendo temas
geradores, a reflexão temática e a interação dialógica, aspectos que vão subsidiar
também discussões interdisciplinares por meio das discussões apresentadas na
pedagogia do oprimido.
Santomé (1998) nos traz também importantes considerações sobre a
interdisciplinaridade quando defende que o ensino nela pautado tem poder
estruturador, ao estabelecer a contextualização de conteúdos e possibilitar o
diálogo e a relação entre as diferentes disciplinas. De acordo com o autor, o
ensino interdisciplinar possibilita preparar os jovens para enfrentar as situações
reais, instigando-os a identificar, analisar e se posicionar criticamente diante
de situações da realidade.
Para que exista a interdisciplinaridade, é necessário que exista interação
entre as disciplinas: “a própria riqueza da interdisciplinaridade depende do
grau de desenvolvimento atingido pelas disciplinas e estas, por sua vez, serão
- 34 -
afetadas positivamente pelos seus contatos e colaborações interdisciplinares”
(SANTOMÉ, 1998, p. 61).
A interdisciplinaridade possibilitaria reunir saberes de diversos
especialistas, através da interação entre as disciplinas, do diálogo e da vontade
de se elaborar um contexto mais geral, que enriquecerá os envolvidos no
processo, sabendo-se que esse movimento é uma busca constante.
No entanto, conforme Luck (2001) e Fazenda (2011), podemos
perceber alguns desafios com relação à prática interdisciplinar, dentre eles: a
insegurança quanto a tratar de um conteúdo que abrange outra disciplina, a
falta de tempo para estudo pessoal e com os colegas de outras disciplinas para
que sejam realizadas estratégias interdisciplinares. Augusto e Caldeira (2007)
complementam esses desafios com a carga horária exaustiva, falta de tempo
para realização de pesquisas, leituras e planejamento conjunto, dificuldade
de relacionamento com a administração escolar e ausência de coordenação
pedagógica entre as ações docentes.
Guedes, Porto & Guedes (2016) destacam ainda a falta, por
parte das instituições de ensino, de ações de capacitação que tratem da
interdisciplinaridade, o que acentua ainda mais as dificuldades na adoção dessa
perspectiva de abordagem na prática educativa. Além desses fatores, existe
também a dificuldade em relacionar o ensino de duas ou mais disciplinas de
forma simultânea, visto que não é uma prática comum nos currículos escolares.
Retomando as contribuições de Ivani Fazenda (1994), destacamos que
a autora discute a existência de uma grande lacuna entre as disciplinas do
currículo dito “normal” e ela se transfere para a atuação do professor, o qual
se individualiza e se isola em sua área de atuação e, assim, se distância dos
demais professores, persistindo em práticas disciplinares e individualizadas, o
que torna a prática interdisciplinar cada vez mais distante da prática educativa
da maioria dos docentes.
Vale ressaltar ainda que, apesar de ser na escola que a interdisciplinaridade
pode ocorrer na prática, seria necessário também que esse tema fizesse
parte, desde o início da formação dos professores, das discussões e ações de
capacitação, e se perpetuasse nas reflexões sobre a prática docente, para se
propagar ao longo da atuação profissional. Porém, existe uma lacuna também
entre a formação dos professores na universidade, a escola e a sociedade, pois
ainda há na universidade uma prática que individualizada a partir das unidades
curriculares que são desenvolvidas de maneira disciplinar, fragmentando o
ensino e muitas vezes valorizando apenas o conteúdo.
Porém, mesmo existindo essa lacuna entre a formação inicial dos
professores de ciências e outras áreas em geral quanto à prática interdisciplinar,
- 35 -
é importante destacar, conforme os estudos de Hartmann (2007), que, partindo
da constatação de que o trabalho interdisciplinar é uma prática coletiva e de
que os professores são sujeitos-aprendizes ao longo de sua vida profissional,
é natural que eles desenvolvam saberes específicos ao promover um trabalho
interdisciplinar, aspecto importante a ser pensado e discutido, seja na escola
ou no meio acadêmico. Esses saberes, segundo o autor, baseiam-se em três
linhas gerais: o saber ser interdisciplinar, o saber conhecer interdisciplinar e o
saber fazer interdisciplinar.
- 36 -
exemplo, fazendo-os perceber que todos os conhecimentos vivenciados na
escola são indissociáveis, expressam uma única realidade e estão presentes nas
diversas situações vivenciadas em seus cotidianos.
Nesse sentido, Silva (2007) destaca que “[...] a contextualização se
apresenta como um modo de ensinar conceitos das ciências ligados à vivência
dos alunos, seja ela pensada como recurso pedagógico ou como princípio
norteador do processo de ensino”. A contextualização, enquanto princípio
orientador do processo de ensino-aprendizagem, é caracterizada pela relação
entre o que o aluno sabe sobre o contexto a ser estudado e os conteúdos
específicos de que necessita para explicar e entender esse contexto.
Dessa forma, o professor pode auxiliar seus alunos a fazer a
contextualização daquilo que está sendo ensinado, portanto o ensino pode
ser associado e incorporar vivências concretas e diversificadas, ampliando
o desenvolvimento cognitivo e o aprendizado em novas vivências. Mello
(2000) destaca que “contextualizar é uma postura frente ao ensino o tempo
todo, não é simplesmente exemplificar, [...] é necessário seduzir o aluno
para a importância de compreender e construir significados”. Para Hansen
(2006), “[...] dificilmente conseguiremos alcançar um ensino que relacione
os conhecimentos científicos como cotidiano se nossa prática docente estiver
baseada no ensino tradicional”, sendo, então, necessário repensar essas
práticas pedagógicas e visualizar a contextualização como um princípio de
organização curricular de qualquer disciplina, para possibilitar a aproximação
dos conteúdos ao cotidiano dos estudantes.
Para realização do trabalho buscamos inicialmente fundamentação
teórica a partir de uma revisão bibliográfica com autores referenciais da
temática da interdisciplinaridade e da contextualização da aprendizagem. Para
Marconi & Lakatos (2003), a efetividade da pesquisa bibliográfica é essencial
para compreender, analisar e discutir as principais contribuições teóricas sobre
um tema ou objeto de estudo. Gil (2002) também reconhece que as pesquisas
bibliográficas são desenvolvidas e fundamentadas a partir de material já
produzido em forma de livros e artigos científicos.
Dessa forma, este relato está fundamentado em distintas concepções
que envolvem a temática da interdisciplinaridade como possibilidade de
superação do ensino fragmentado do conhecimento, da compartimentalização
dos conteúdos, na busca da integração entre as diferentes disciplinas,
sejam científicas ou de caráter mais social, e seus conceitos, e também da
contextualização da aprendizagem como um grande facilitador nos processos
de ensinar e aprender.
- 37 -
Buscando atender aos objetivos pretendidos, essa prática educativa
insere-se numa abordagem qualitativa de pesquisa, seguindo os pressupostos
de um estudo de caso. Este, segundo Ludke e André (1986), apresenta as
seguintes peculiaridades: enfatiza a interpretação em contexto, almeja retratar
a realidade de informação, mostra de maneira descritiva as experiências, faz
uso de uma linguagem mais compreensível que pode ser retratada por meio
de ilustrações, fotografias, colagens e discussões. Já Minayo (2001) descreve
a pesquisa qualitativa como sendo uma abordagem que se preocupa com
uma realidade que não pode ser quantificada, operando com o universo de
acepções, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes.
O planejamento dessa prática educativa se deu a partir da construção
de uma sequência didática interdisciplinar para o ensino da temática água e
foi elaborado seguindo a abordagem descrita anteriormente. Foram realizadas
pelas autoras reuniões de planejamento e alinhamento da proposta, discussões
e busca de orientação. Tais reuniões foram imprescindíveis para a efetivação
das ações e atividades planejadas. A realização da prática foi possível
considerando o interesse e a prontidão da equipe gestora da unidade escolar,
uma escola estadual, localizada na cidade de Itumbiara-GO, que atende 420
alunos, em três turnos, no Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação
de Jovens e Adultos. Participaram da atividade 25 alunos da primeira série
do Ensino Médio, do turno matutino. A escolha da turma deveu-se ao fato
de ser um grupo que apresenta algumas dificuldades de aprendizagem e
pouca participação nas atividades que os professores regentes desenvolvem no
cotidiano. Além disso, é importante destacar o fato de que duas pesquisadoras
atuam nessa instituição de ensino exercendo funções de coordenação.
Com o objetivo de contextualizar os conteúdos de forma interdisciplinar,
foi utilizada uma sequência didática envolvendo as disciplinas de Biologia,
Geografia e Matemática, abordando o tema “Água: uso consciente = benefício
permanente”. Para Zabala (1998, p.18), as sequências didáticas são ações
sistematizadas para a concretização de determinados propósitos didáticos
“[...] que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como
pelos estudantes”. Andrade e Sartori (2018) afirmam que a construção de
uma sequência é uma condição importante para o trabalho docente, sendo
uma forma simples de estruturar a coerência entre o que se espera ensinar
e os princípios da aprendizagem significativa para o aluno, possibilitando
ações interdisciplinares, contextualizadas e minimizando a fragmentação do
conhecimento.
- 38 -
DESENVOLVIMENTO
- 39 -
5 – Qual é o percentual de água no corpo humano?
6 – Quais atividades mais gastam ou desperdiçam água?
7 – Qual o valor da água em várias nações mundiais?
8 – Qual a quantidade de água consumida em uma casa, por um dia?
9 – Quanto de água é consumida na minha casa?
10 - É necessário usar racionalmente a água? Por quê?
- 40 -
alcançar uma posição mais clara em termos de juízo de valor. A participação
ativa dos estudantes no processo de aprendizagem pode contribuir para a
apropriação do que está sendo estudado, possibilitando o desenvolvimento de
habilidades que colaboram para a atuação deles na sociedade.
Na segunda etapa da prática educativa, iniciamos a investigação do
assunto, por meio de diferentes estratégias, a fim de contribuir na elaboração
das respostas para os problemas apresentados na etapa anterior. Iniciamos
as atividades com a apresentação do vídeo “Porque falta água no Brasil”, que
aborda questões relacionadas ao ciclo da água, distribuição de água doce no
planeta, utilização do recurso em diferentes atividades, problemas gerados
pelo mau uso desse recurso, dentre outros.
A apresentação do vídeo proporcionou o confronto dos conhecimentos
já construídos pelos estudantes com a formalização de conceitos científicos
referentes ao ciclo da água, a distribuição de água no mundo e no Brasil na
perspectiva de que é um recurso natural essencial à vida, ao desenvolvimento
econômico e ao bem-estar social, porém um recurso limitado. Após
a apresentação do vídeo, ocorreu um debate entre alguns alunos, que
questionavam a fala do aluno 17, já transcrita, sobre sua despreocupação com
relação ao consumo da água, já que possuía uma cisterna em casa.
Nesse momento interviemos e propusemos uma reflexão sobre o
ciclo da água, analisado anteriormente, e que, após a resposta sobre o uso da
cisterna, precisava ser aprofundada, evidenciando os comentários de alguns
alunos que se haviam posicionado contra o consumo indiscriminado de água.
Após o vídeo e as explicações, ficou claro que “... a água que sai da cisterna ou
do poço artesiano é uma água que depende da chuva, das árvores, e quando
retirada sem cuidado pode fazer algum córrego secar, pois não vai ter mais a
mina d’água que tinha antes” (Aluno 05). A contribuição do aluno demonstrou
que os conhecimentos científicos foram apreendidos e que a relação entre esse
conhecimento e a realidade pode alterar diretamente a vida cotidiana das
pessoas e mudar suas hábitos e atitudes.
Evidenciamos ainda a reflexão da aluna 09 sobre a escassez da água
em algumas regiões: “As árvores, matas e florestas protegem os rios, sem
elas perderemos toda água disponível para nosso consumo e também o
desmatamento contribui diretamente na escassez de água”. Foi possível
perceber, pela fala da aluna, que a relação entre a vegetação e a oferta de água
é direta, e que “...o ser humano precisa acordar para a questão da água e da
vegetação, senão vamos pagar um preço muito alto, não só de conta de água,
mas da falta de água limpa para nossa vida”.
- 41 -
Apresentamos também nessa etapa gráficos que demonstravam
a distribuição de água doce no planeta, consumo de água por atividade,
disponibilidade de água no mundo e no Brasil, relacionando a área de cada
região e sua população. Com a intenção de ilustrar uma das informações do
gráfico sobre a quantidade de água doce no mundo, preparamos uma situação
de vivência para visualizarem a partir de uma atividade simples, em que
colocamos 10 litros de água reutilizada em um balde e pedimos para os alunos
imaginarem que ali estava representada toda a água do mundo. Em seguida
solicitamos que calculassem, a partir das informações dadas pelo gráfico, o
percentual de água doce do mundo. A partir dos resultados apresentados
pelos estudantes realizamos a conversão da resposta em litros para mililitros e
solicitamos a um aluno que retirasse desse balde a quantidade de água indicada
pela conversão da unidade de medida.
A realização dessa atividade propiciou a visualização e a comparação
proporcional entre a quantidade total de água do planeta e a quantidade
de água doce, ou seja, água que pode ser utilizada em diferentes atividades
essenciais à vida humana. Ao finalizar a atividade observamos que o resultado
da comparação ocasionou inquietação e questionamentos sobre de que forma
estamos utilizando esse recurso natural e tivemos o comentário do aluno 18,
que vale evidenciar: “Gente, é o seguinte: a água potável do mundo pode, sim,
acabar, se não tomarmos medidas drásticas... Já está faltando água em vários
lugares e a situação só vai piorar se a gente continuar desperdiçando água.”
O desenvolvimento da segunda etapa contribuiu para uma reflexão
por parte das pesquisadoras, que perceberam a necessidade de replanejar a
prática desenvolvida, reservando um momento antes de iniciar as atividades
para que os próprios alunos trouxessem para a sala de aula os assuntos
referentes aos conceitos que seriam trabalhados. Dessa forma, a pesquisa
seria realizada inicialmente pelos alunos, para depois ser orientada pelas
professoras pesquisadoras, o que, certamente, estimularia o desenvolvimento
do protagonismo daqueles em seu próprio aprendizado.
A terceira etapa da atividade, que representa a resolução de problemas,
foi desenvolvida a partir da leitura e análise de duas reportagens sobre a
questão da água no Rio de Janeiro e o cálculo do consumo diário de água
em uma residência. A análise das reportagens possibilitou a discussão sobre
o tema, com a participação efetiva dos alunos, e em especial de uma aluna
que estivera na cidade do Rio de Janeiro no período referente às reportagens e
partilhou com a turma os efeitos que o consumo da água na cidade trouxe para
a população, inclusive para ela própria, que apresentou problemas de saúde
e precisou de atendimento médico. Esse relato possibilitou uma discussão
- 42 -
importante entre os estudantes, pois a maioria não tinha enfrentado situação
semelhante e julgava que nunca teria contato com alguma pessoa que tivesse
enfrentado uma situação similar à que estavam discutindo.
Outro problema proposto foi a percepção do cálculo do consumo diário
de água em diferentes atividades domésticas, e o que cada atividade representa
no consumo total da residência. Foi utilizada uma conta doméstica de água,
com o valor total mensal, e entregue uma tabela com a quantidade de litros
de água gastos em cada atividade, por pessoa. Os alunos fizeram o cálculo
do consumo utilizando os dados dessa residência e posteriormente cada um
realizou o cálculo na sua.
A quarta e última etapa da metodologia utilizada foi a avaliação,
almejando alcançar evidências da aprendizagem, quando os estudantes
puderam perceber o quanto aprenderam e se reconhecer como produtores
do próprio conhecimento. Nessa etapa utilizamos as informações referentes
à avaliação diagnóstica inicial e relatórios dos alunos a respeito dos
procedimentos utilizados no desenvolvimento das atividades com a estratégia
“Paper de 1 minuto”. Além disso, combinamos as anotações das observações
com o material transcrito das gravações.
A técnica foi utilizada com o intuito de realizar uma avaliação
formativa mais focada e sistematizada. A proposta visou coletar dados sobre
a aprendizagem dos estudantes, servindo de instrumento para um feedback,
possibilitando às professoras planejar outros caminhos na busca de novas
aprendizagens, com maior clareza quanto aos objetivos alcançados até o
momento, e para traçar novos planejamentos em relação à aprendizagem e
possíveis dúvidas que fossem apresentadas e pudessem ser resolvidas ou rever
algum conceito equivocado por parte de alguns integrantes da turma.
Foram propostas aos alunos ao final da sequência duas questões para
reflexão. Em pouco tempo deveriam escrever: Qual foi a coisa mais importante
que você aprendeu hoje? Que questões ficaram na sua mente quando
concluímos a aula?
Analisando as respostas dos alunos às questões, algumas pontuações
são importantes: ficou evidenciada a apropriação de conhecimento por parte
deles no tocante ao desmatamento e seus impactos no problema que o planeta
enfrenta quanto à água.
Após as atividades desenvolvidas, os aspectos destacados pelos alunos
evidenciaram que as preocupações com as questões ambientais precisavam
estar presentes no cotidiano da sociedade, que a vegetação precisa ser
preservada para se alcançar a preservação dos recursos hídricos, como
demonstra o aluno 11 ao dizer: “...as árvores, matas e florestas protegem os
- 43 -
rios, sem elas perderemos toda água disponível para nosso consumo”, e ainda
o aluno 22: “...o desmatamento está acabando com os rios... O que fazer?”, ou:
“O desmatamento contribui diretamente na escassez de água” (aluno 06).
Foi possível perceber a ampliação do conhecimento a partir da resposta
do aluno 17, que destacou: “...a água potável pode acabar sim, se não tomarmos
medidas drásticas quanto ao desmatamento das florestas, o que vai sobrar é
água poluída ou água salgada, e o custo para transformar esta água em água
própria para o consumo dos seres vivos será muito alto.” A compreensão e
ampliação dos conceitos estudados se fez presente à medida que os próprios
alunos compararam suas opiniões iniciais e após algumas discussões, como
relata o aluno 13, “...eu nunca tinha pensado em quantidade de água disponível
e quantidade de vegetação, não pensava que o desmatamento da Amazônia
poderia afetar as chuvas de lugares distantes.”
Sobre a utilização individual e coletiva, os alunos expuseram
preocupação, já que, culturalmente, a utilização racional da água não se faz
presente na maioria das famílias, como relatou o aluno 21: “...usamos a água
sem pensar de onde vem e se pode acabar, só sentimos falta quando ficamos
sem, culpamos somente os governantes e esquecemos de fazer nossa parte”,
o que é ratificado pelas conclusões do aluno 12, ao dizer: “Só pensamos em
economizar quando chega a conta que temos que pagar, sem preocupar que
ela pode acabar pela falta de consciência.”. O desenvolvimento do pensamento
crítico sobre a situação vivenciada foi destacada pelo aluno 04, que, participando
das discussões, inferiu: “...deveríamos aprender desde crianças como utilizar
corretamente a água disponível na nossa casa”, sendo complementado pelo
aluno 02, que destacou a necessidade de a população “ter consciência sempre
que estiver usando água. Em alguns momentos, no nosso bairro, já ficamos
sem e não é nada fácil”.
As respostas que obtivemos dos alunos por meio da avaliação final
serviram de base para reflexão e caminho para uma nova intervenção, onde
propomos trabalhar novamente a importância de se buscar a cada dia novas
informações e principalmente apresentar tais discussões e compartilhar os
conhecimentos apreendidos em sala de aula no ambiente familiar, buscando
mudança de atitudes e repensando sobre a importância da água potável para a
manutenção de uma vida mais saudável.
Foi proposto aos estudantes que fizessem uma entrevista com dois
membros de sua família, com questões que evidenciassem o comportamento
de cada um em relação à utilização da água. Com os conhecimentos adquiridos,
trabalharam em família mudança de atitudes quando evidenciadas situações
de desperdício. Um relatório da entrevista e da intervenção foi feito por
- 44 -
cada estudante e compartilhado em sala com os colegas uma semana após o
desenvolvimento da prática.
Os relatórios apresentados pelos alunos destacaram situações de
consumo consciente e uso inadequado da água em suas residências. A
discussão foi realizada em uma roda de conversa, onde alguns alunos
apresentaram o texto produzido, provocando a participação dos colegas nas
situações vivenciadas. Destacamos que, dos 25 alunos que participaram da
prática pedagógica, três faltaram no dia da apresentação do relatório e cinco
não realizaram a atividade proposta.
Consideramos que a participação dos alunos durante o momento
de apresentação das situações vivenciadas em suas residências foi bastante
proveitosa, pois identificamos que os conhecimentos construídos na sala de
aula foram aplicados no momento das entrevistas com seus familiares. Além
disso, durante a discussão percebemos o interesse por parte dos alunos em se
posicionarem nas questões apresentadas pelos colegas, como destacou o aluno
16: “...na minha casa já utilizamos pouca água, minha mãe reaproveita a água
do tanque para lavar o quintal, mas não é por preocupação ambiental e sim
por conta do preço da água.”, o que é ratificado pelo comentário do aluno 14:
“...além de preocupar com a economia de água, precisamos também pensar no
consumo de energia elétrica, pois esta também depende de água e na época de
seca as contas de energia ficam mais caras.”
Mesmo os alunos que não desenvolveram a entrevista com os familiares
participaram da roda de conversa pontuando os principais hábitos do consumo
inadequado ou desperdício da água em suas próprias residências, como relata o
aluno 09 ao complementar a fala de um colega com relação ao tempo gasto no
banho: “...minha avó sempre chama a minha atenção sobre o tempo que eu fico
no chuveiro, agora entendo o que ela está querendo me dizer.” Inferimos das
discussões proporcionadas pela roda de conversa que os alunos se convenceram
do valor da água para a manutenção da vida e o equilíbrio natural do espaço
geográfico. Também foi relevante pensar sobre ser indispensável refletir sobre
essa temática, pois todos precisam estar conscientizados sobre uso racional e
ético da água.
CONCLUINDO A PESQUISA
- 45 -
conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula e despertar os alunos para
a importância da atuação crítica na sociedade.
No desenvolvimento das atividades, buscamos analisar os fundamentos
que constituem a concepção de interdisciplinaridade e contextualização das
aprendizagens, como também apresentamos desafios e possibilidades para sua
concretização. A construção e efetivação de práticas educativas que promovam
a formação integrada, que contribuam para a formação crítica e cidadã dos
estudantes, por meio de conexões com diferentes áreas e objetos de estudo,
pode ser importante para a formação do ser humano, inserido na sociedade,
atuando/transformando sua realidade.
O trabalho interdisciplinar e contextualizado foi realizado de forma a
envolver a participação e mobilização dos alunos e, à medida que foi possível
perceber a participação deles na construção do conhecimento, refletindo
e apresentando ideias críticas, passou-se a relacionar as diversas áreas do
conhecimento envolvidas, repensando alguns contextos e necessidades de
mudanças de hábitos. Os objetivos foram alcançados a partir do planejamento
em conjunto e organização de uma atividade educativa estruturada em
quatro etapas: exploração, investigação, resolução de problemas e avaliação.
Consideramos importante aqui ressaltar que a pesquisa propiciou analisar e
perceber a necessidade de estimular o protagonismo estudantil, colocando o
aluno como promotor de seu próprio conhecimento, estimulando o interesse
investigativo para se promover a aprendizagem.
Quanto às dificuldades enfrentadas, destacamos, principalmente,
aquela referente à percepção dos estudantes enquanto participantes ativos da
construção do conhecimento e o professor como mediador dessa construção.
Assim, entendemos que não é fácil mudar a tradição do processo de ensino-
aprendizagem, com ações centradas quase sempre no professor, no entanto
é possível e necessário que professores busquem a melhoria de suas práticas
pedagógicas explorando metodologias que proporcionem o protagonismo
do estudante e parcerias que promovam uma atitude interdisciplinar
(FAZENDA,2004).
Portanto, nesta pesquisa, verificamos que práticas educativas tais
como as que tratamos aqui podem favorecer uma aprendizagem mais
significativa dos alunos, a participação ativa por meio do diálogo e busca de
maior compreensão conceitual. Desse modo, entendemos que este estudo
apresenta indícios de que o desenvolvimento de práticas educativas na
perspectiva da contextualização e da interdisciplinaridade pode ser uma
abordagem estratégica para a melhoria da aprendizagem de conceitos
científicos no ensino de biologia/ciências e outras áreas do conhecimento,
- 46 -
de forma a se trabalhar suas interconexões e inter-relações, o que favorece
a integração de saberes e pode romper com a fragmentação do ensino para
melhor compreensão dos significados estudados, sendo, ao mesmo tempo,
desafiadora, tanto para os discentes, quanto para os docentes.
REFERÊNCIAS
- 47 -
CONEDU (Congresso Nacional de Educação), 2016. Disponível em: http://www.
editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA4_
ID269_04082016093000.pdf Acesso em 04 de jan. 2020.
FRANCO, Maria Amélia Santoro. Práticas pedagógicas de ensinar-aprender: por
entre resistências e resignações. Educação e Pesquisa, v. 41, n. 3, p. 601-614, 1 set.
2015.
HANSEN, Michele Facin. Projeto de trabalho e o ensino de ciências: uma relação entre
conhecimentos e situações cotidianas. Dissertação (Mestrado em Educação Científica
e Tecnológica) - Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2006. Disponível
em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/89072/232095.
pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em 09 de dez. 2019.
HARTMANN, Ângela Maria. Desafios e possibilidades da interdisciplinaridade
no Ensino Médio. 2007. 229 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Disponível em: https://repositorio.
unb.br/bitstream/10482/2591/1/2007_AngelaMariaHartmann.PDF Acesso em 02 de
fev. de 2020.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago,
1976.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. 5.
ed. São Paulo: Atlas, 2003.
LUCK, Heloísa. Pedagogia da interdisciplinaridade. Fundamentos teórico-
metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2001.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza DalmazoAfonso. Pesquisa em educação:
abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1986.
MELLO, Guiomar Namo de. Transposição didática, interdisciplinaridade e
contextualização. São Paulo: 2004. Disponível em: https://ledum.ufc.br/arquivos/
didatica/3/Transposicao_Didatica_Interdisciplinaridade_Contextualizacao.pdf
Acesso em 18 de jan. de 2020.
MINAYO, Maria Cecília de Souza C. Ciência, técnica e arte: o desafio da Pesquisa
Social. In: ______. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 2001, p. 09-30.
MOREIRA, Marco Antônio. Teorias da aprendizagem. 2 ed. ampl. São Paulo: Editora
Pedagógica e Universitária, 2018.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo
integrado. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SILVA, Erivanildo Lopes da. Contextualização no ensino de Química: ideias e
proposições de um grupo de professores. 2007. 143 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
- 48 -
WESCHSLER, Solange Muglia. Avaliação da criatividade: possibilidades e desafios.
In C. Hutz (Org.), Avanços e polêmicas em avaliação psicológica (pp. 93-127). São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.
THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador
no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.
13, n. 39, p. 545-554, Dec. 2008.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, Artmed, 1998.
- 49 -
Capítulo 3
- 50 -
conhecimentos científicos se efetiva por práticas experimentais, com
contextualização que relacione os conhecimentos com a vida, em
oposição a metodologias pouco ou nada ativas e sem significado para os
estudantes. (BRASIL, 2013, p.167).
- 51 -
MASSABNI, 2011). Essas atividades são formadas por uma diversidade de
possibilidades, que incluem a experimentação, atividades laboratoriais, jogos
e pesquisas de campo assim como observado por Marandino, Selles e Ferreira
(2009), que sugerem que as atividades práticas têm um caráter polissêmico,
porque se referem a diferentes trabalhos com o objetivo de produzir
conhecimento. Berezuki, Tiyomi e Silva (2009) também definem trabalho
prático como tendo um conceito amplo e caracterizado como atividades
em que os estudantes praticam domínio psicomotor, cognitivo e afetivo. Na
presente pesquisa, em igualdade de ideias com os autores, foi adotada essa
designação mais ampla para as atividades práticas.
Em contrapartida, em relação aos possíveis benefícios das atividades
práticas é fundamental reiterar que as possibilidades de aprendizagem
dependem do direcionamento dado pelo professor, assim como as propostas
e desenvolvimento dessas atividades, buscando favorecer modos de pensar,
atitudes e relações entre tecnologia, ambiente e sociedade, incentivando o gosto
pela área e a satisfação dos estudantes, que demonstram interesse em realizá-
las sinalizando uma alfabetização científica, que se preocupa com a formação
cidadã dos estudantes para ação e atuação em sociedade (SASSERON;
CARVALHO, 2011).
O laboratório escolar ou de Ciências é o espaço apropriado para
a realização de atividades práticas, entretanto houve uma fragilidade na
implantação e permanência do laboratório nas escolas da Educação Básica.
Tavares Júnior (2002) aponta alguns dos motivos que levaram o laboratório a
ir aos poucos desaparecendo do cenário escolar, como a falta de manutenção,
ausência de auxiliares, currículo extenso, ensino voltado para o ingresso no
ensino superior, assim como adequação de roteiros que objetivavam dar
suporte ao trabalho do professor, com propostas que não se encaixam em aulas
de 50 minutos, atividades que não atingiam o resultado esperado, ausência de
reflexão e investigação nas práticas.
Soma-se a essas implicações que não há regras sobre a estruturação
de laboratórios de Ciências ou normas estaduais apresentando uma maneira
eficiente de construir e planejar dentro de padrões de segurança. Conforme
proposto por Krasilchik (2016), há determinadas premissas em relação a como
deve ser esse ambiente do laboratório para a realização de atividades práticas.
Por questões de segurança, as dependências devem situar-se no andar térreo
com saídas para o exterior; apresentar área para preparação do material a ser
usado nas aulas, local de armazenamento como: aquários, terrários, vasos de
plantas e outros. As paredes devem ser laváveis, o assoalho não pode manchar
em contato com substâncias Químicas e não deve ser liso e escorregadio. Deve
- 52 -
ainda dispor de prateleiras, material e experiências em execução, mesa para
professor, quadro-negro, quadro para avisos, pias, tanque, vidrarias, geladeira e
capela. Moreira e Diniz (2003) acrescentam que o laboratório deve idealmente
ser bem iluminado, ventilado, possuir equipamentos de proteção e segurança
individual e coletiva.
Berezuki e Inada (2010), após um trabalho sobre a avaliação dos
laboratórios de Ciências e Biologia, puderam constatar que, nas escolas que o
possuem, o mesmo é utilizado para várias atividades, como palestras, encontro
dos professores, reuniões, aulas de Educação Física, realização de bazares ou
como depósito, sendo baixo o índice de frequência de uso dos laboratórios
por disciplinas científicas. Também não há concursos públicos específicos para
cargos que selecionem pessoal qualificado para trabalhar no laboratório, o que
ocasiona deficiências no campo físico e intelectual. Outro fator existente é a
ausência de recursos fornecidos pelo Estado, específicos para a manutenção
de reagentes, reposição de materiais e vistorias. Cabendo então ao professor se
disponibilizar a realizar sozinho todas as etapas de aplicação de uma aula no
laboratório, desde a compra de material a organização e realização da atividade.
Ademais, é preciso considerar que o professor pode se sentir inseguro
e desmotivado para realização de atividades práticas por falta de um local
adequado e materiais, visto que essas aulas requerem tempo, materiais, execução
e análise de resultados. Pode ainda haver um despreparo do professor em sua
formação pedagógica com relação à experimentação. Tal deficiência poderia
ser trabalhada com o incentivo da participação dos professores em cursos
de formação continuada, que trouxessem reflexões sobre a articulação entre
teoria e prática. Sendo também importante avaliar e refletir sobre a formação
inicial oferecida pelos institutos de formação superior, sobre a natureza da
ciência e o papel da experimentação na educação básica no desenvolvimento
das capacidades dos seus estudantes (THOMAZ, 2000).
No Ensino Médio, os estudantes muitas vezes demonstram maior
preocupação para ingresso no ensino superior e para tanto memorizam
fatos e informações e não os transformam em conhecimento consolidado
(ALMEIDA, 2001). A passividade que os estudantes apresentam nas aulas
somente expositivas pode representar uma desvantagem, com uma retenção
pequena de informações, desinteresse e decréscimo na atenção dos ouvintes.
Há evidências de que é preciso ser criativo na sala de aula, permitindo o
diálogo e trabalhando os saberes escolares a partir de múltiplas possibilidades
de interesses sobre os conteúdos trabalhados, despertando no jovem o gosto
pela investigação (PENTEADO; KOVALICZN, 2008).
- 53 -
Apesar dos muitos contratempos que o professor pode encontrar para
trabalhar atividades práticas, entendemos a sua relevância para o processo de
ensino e aprendizagem, assim como o papel do docente na busca por roteiros
investigativos que propiciem criticidade sobre o conteúdo trabalhado. Dentro
dessa perspectiva, esse trabalho apresenta três atividades experimentais com
o intuito de desenvolver habilidades e competências e trazer encantamento
pelo desconhecido.
- 54 -
o experimento, questiona os alunos, executa os procedimentos, destaca o que
deve ser observado e fornece explicações (OLIVEIRA, 2010b).
As demonstrações abertas ou investigativas abrem possibilidade de
levantamento de hipóteses e reflexão crítica, de modo que a demonstração
explora mais profundamente o tema estudado. É interessante que as atividades
de demonstrações devem levar o aluno a refletir e discutir, para que a atividade
não seja simplesmente uma forma de ilustrar a teoria (AZEVEDO, 2004, p.26).
As atividades de verificação buscam conferir a validade de alguma
lei, uma teoria com resultados previsíveis e explicações para os fenômenos
geralmente conhecidos. Estas atividades podem desenvolver as habilidades
de realizar reflexões e generalizações, assim como o trabalho com dados
estatísticos, oportunizando visualizar fenômenos que obedecem à lógica da
teoria. Os experimentos de verificação requerem, na maioria das vezes, pouco
tempo de preparação e execução.
Por fim, dentro desta classificação, as atividades de investigação se
caracterizam como práticas que exigem uma postura ativa do estudante
durante a execução. Implicam no uso da experimentação baseada em um
modelo estruturado em etapas, desenvolvendo-se a capacidade de elaboração
de hipóteses, observação e explicações que proporcionam a reflexão. Essas
atividades podem exigir um esforço maior por parte do estudante para que
ele se inteire dos conceitos, etapas de execução e as conclusões requerem mais
tempo. Nessas atividades, o professor atua como mediador ou facilitador do
processo, proporcionando uma maior participação dos alunos em todas as
etapas da investigação (CAMPOS; NIGRO, 1999).
Oliveira (2010b) sintetizou em uma tabela (Quadro 1) as principais
características destas três modalidades de atividades: demonstração,
verificação e investigação, explicitando ainda o papel do professor, do aluno,
os tipos de roteiros, a posição ocupada na aula, vantagens e desvantagens de
cada modalidade.
Executar o Fiscalizar,
Orientar as atividades;
Papel do experimento; fornecer diagnosticar e
incentivar e questionar as
professor explicações para os corrigir a atividade
decisões dos alunos
fenômenos dos alunos
- 55 -
Executar o
Observar o
experimento; Pesquisar, planejar e
Papel do experimento; em
explicar os executar a atividade;
aluno alguns casos, sugerir
fenômenos discutir explicações
explicações
observados
Fechado,
Ausente ou, quando
Roteiro de estruturado e de Fechado e
presente, aberto ou não
atividade posse exclusiva do estruturado
estruturado
professor
Os alunos têm
mais facilidade
Demandam pouco na elaboração de
Os alunos ocupam uma
tempo; podem ser explicações para
posição mais ativa; há
integrados à aula os fenômenos;
espaço para criatividade
expositiva; úteis é possível
e abordagem de temas
Vantagens quando não há verificar através
socialmente relevantes;
recursos ou espaço das explicações
o “erro” é mais aceito
físico suficiente para dos alunos se
e contribui para o
todos os alunos os conceitos
aprendizado
realizarem a prática abordados
foram bem
compreendidos
Pouca
A simples
contribuição do
observação do
ponto de vista
experimento pode
da aprendizagem Requer maior tempo
ser um fator de
de conceitos; para sua realização.
desmotivação; é
o fato dos Exige um pouco de
Desvantagens mais difícil para
resultados serem experiência dos alunos
manter a atenção
relativamente na prática de atividades
dos alunos; não
previsíveis experimentais
há garantia de
não estimula a
que todos estarão
curiosidade dos
envolvidos
alunos
Fonte: OLIVEIRA (2010b, p.151).
- 56 -
estratégias de aprendizagem, considerando que o processo de construção
pessoal do conhecimento é modelado e determinado por fatores cognitivos
e não cognitivos, que podem funcionar como ativadores ou inibidores do
desenvolvimento. A experimentação merece reflexão, pois de forma tão
prejudicial como não dar aulas práticas é fazê-lo de forma desorganizada, sem
orientação, deixando uma visão deformada do significado da experimentação
no trabalho científico.
Podemos constatar entre os professores, pesquisadores e estudantes
que atividades práticas que envolvem apenas problemas nos quais o objetivo
é chegar na “resposta certa” são pouco efetivos nas mudanças das concepções
prévias. Caminhando nessa direção, Borges (2002) questiona os seguintes
tópicos: verificar/comprovar leis; ensinar o método científico; facilitar a
aprendizagem e ensinar habilidades práticas. Ele afirma que o estudante.
- 57 -
Bassoli (2014) menciona três pontos que devem ser analisados no uso
das atividades práticas. O primeiro é que os estudantes aprendem fazendo
e o segundo é que a realização de atividades práticas garante a motivação
dos estudantes. A autora acrescenta que os laboratórios não são os únicos
locais propícios para a realização de atividades experimentais, o seu uso
não é imprescindível, à medida que essas mesmas atividades podem ser
realizadas em locais improvisados com materiais de baixo custo ou com
ações colaborativas em espaços formais ou não formais. Entendemos que
as atividades experimentais precisam enriquecer as teorias pessoais sobre a
natureza da ciência, tentando superar visões simplistas de que pela observação
e experimentação se chega à teoria, de que essas práticas são motivadoras e
tem a capacidade de captar novos “cientistas”.
Nesse sentido é importante se discutir as atividades práticas em contextos
reais, infraestrutura escolar, os laboratórios ociosos, a falta de formação e
experiência dos professores em relação às atividades práticas, o tempo escasso,
a exigência curricular referente aos conteúdos, a formação exclusiva para o
ingresso no ensino superior são a realidade da escola pública que devem servir
de embasamento para ideias e soluções para a educação. Todos as dificuldades
apontadas para o trabalho com atividades práticas e uso do laboratório são
essenciais para que correções e ajustes possam ser feitos com o objetivo de
minimizar as consequências de um trabalho não produtivo, buscando refletir
sobre alternativas possíveis e cabíveis.
- 58 -
fabricação dos objetos do conhecimento. Esses objetos são nomeados por
signos que, como uma construção do homem e uma representação da
realidade, têm a finalidade de proporcionar a comunicação entre os sujeitos.
Os sujeitos se apropriam de diferentes atividades e signos e as internalizam
para posteriormente os transformarem em modos de ação (GEHLEN;
DELIZOICOV, 2016).
Diante desses argumentos, as atividades práticas e os objetos ou signos
associados a elas, contribuiriam para a produção de conhecimento. Associando
essa premissa de que os signos podem proporcionar conhecimentos surge o
questionamento em relação ao ensino de Ciências e como facilitar o aprendizado
dessas disciplinas. Uma resposta seria possibilitar ao estudante o contato com
o universo dessa disciplina, os objetos que dão significado a mesma, ou seja,
interação com as diferentes formas de vida que a Biologia estuda e entre os
participantes do processo, professor e estudante, possibilitando entrar em
contato com o método científico que é a base dos estudos e direcionamentos
dentro da Ciência.
Com base nessa percepção, podemos inferir a importância da tentativa de
sair da abstração do pensamento para tornar mais concretos alguns conceitos da
área das Ciências e Biologia por meio das atividades práticas e materiais didáticos,
que ilustram e explicam determinados conceitos. Oliveira (2010a) aponta nos
trabalhos de Vygotsky a relação do desenvolvimento individual, mediado pelos
objetos e signos e a importância das funções psicológicas, que têm origem e se
desenvolvem em um contexto social regulado pela interação entre as pessoas.
Assim que o indivíduo se desenvolve, ele regula suas ações psicológicas, que
são internas, sendo essa regulação uma constante construção e reconstrução a
partir de uma operação externa, ou seja, os processos interpessoais passam a ser
processos intrapessoais, existindo uma apropriação cultural à medida que há
interação social. Dentro desse contexto, os apontamentos de Vygotsky coincidem
com a ideia de que, quando os indivíduos se apropriam das diferentes atividades
práticas e objetos compartilhados socialmente e as internalizam, elas podem
se tornar modos de ação própria, as atividades práticas e o uso do laboratório
geram essa possibilidade.
Para reelaborar e internalizar o objeto do conhecimento, que era
antes externo e social, as funções psicológicas se constituem a partir das
relações sociais interiorizadas. Após a internalização, o indivíduo deve ter a
capacidade de realizar determinadas tarefas, demonstrando um avanço no seu
desenvolvimento. No caso dos estudantes os termos e conceitos anteriormente
desconhecidos passam a fazer parte do seu cotidiano, fazendo com que o
aluno internalize mais, aumentando seu conhecimento, neste caso específico
- 59 -
sobre os signos e vocabulário biológico. Já em relação ao desenvolvimento do
estudante Vygotsky aborda três níveis: o real, potencial e proximal. O nível de
desenvolvimento real é a capacidade de realizar tarefas independentes e com
autonomia, referindo-se as etapas já alcançadas e conquistadas pelo indivíduo,
são processos de desenvolvimento já completos e consolidados. Já a capacidade
de desempenhar tarefas com ajuda de adultos ou instrutores mais capacitados,
trata-se do nível de desenvolvimento potencial, quando há necessidade de
instruções, demonstrações e assistência para realizar uma tarefa.
O nível de desenvolvimento proximal seria o caminho que o indivíduo vai
percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento
e que se tornarão consolidadas, sendo esse nível um domínio psicológico em
constante transformação, no qual a interferência de outros indivíduos é mais
significativa. (OLIVEIRA, 2010a). No nível de desenvolvimento proximal a
atuação do professor é essencial, para provocar e fazer com que seus estudantes
avancem no seu desenvolvimento. O professor deve tomar como ponto de
partida o nível de desenvolvimento real dos alunos, buscando atuar no nível
de desenvolvimento proximal, fazendo o aluno avançar sua compreensão de
mundo que não ocorreria espontaneamente, trazendo a maior quantidade
de experiências e vivências possíveis dentro do currículo escolar e que se
aproximam do universo de cada disciplina específica.
Outro elemento mediador citado por Vygotsky é a linguagem, que media
a comunicação entre os indivíduos, a organização do pensamento e a elaboração
de conceitos. Por meio da linguagem é possível pensar em objetos ausentes,
abstrair, fazer associações, generalizar e memorizar, fato importantíssimo
dentro das atividades práticas, em especial as de demonstração. Portanto, na
perspectiva vygotskiana, o pensamento é determinado pela linguagem, meio
que o indivíduo desenvolve os modos mais sofisticados de funcionamento
psicológico. O papel do professor é fazer com que o estudante compreenda os
conteúdos abordados e o significado dos conceitos que cada palavra encerra,
sendo o vocabulário biológico muito específico, contextualiza-lo o torna
mais acessível. Por exemplo, apresentado para o aluno o microscópio e como
são realizados os exames laboratoriais: urina, sangue, gravidez e tipagem
sanguínea; a localização de determinado órgão, a importância da dor e o que
ela indica ou relacionar a dieta dos insetos e como eles são atraídos para nossas
casas. As atividades práticas podem clarificar muitos termos e com a atenção
e direcionamento do professor a compreensão pode se aproximar da vida
cotidiana, para que se possa associar os conteúdos escolares ao dia-a-dia. Cabe
ao professor trabalhar dentro do desenvolvimento real e potencial do aluno,
assim os conceitos cotidianos trazidos pelos alunos servem de suporte para
que os conceitos científicos sejam desenvolvidos.
- 60 -
Outro ponto a ser destacado é a motivação no processo de
aprendizagem. A motivação aqui tratada refere-se aos aspectos afetivos que
não devem ser dissociados da compreensão dos processos psicológicos, pois
o desenvolvimento dos conceitos é influenciado pelas emoções ao longo da
nossa história de vida. “A mente do aluno, desde que suficientemente motivada,
tende a construir as novas estruturas de pensamento que, com o tempo, vão
torná-lo capaz de resolver o novo tipo de problema” (GASPAR, 2014, p.190).
As atividades práticas e as vivências no laboratório escolar trazem esse fundo
emocional para os conteúdos, elas motivam e tentam abstrair os conceitos
apresentados pelos professores e encontrados nos livros didáticos.
- 61 -
Em conexão com todas as considerações apresentadas e de acordo com
a teoria sociocultural, as atividades práticas e as relações estabelecidas por elas
podem então despertar no estudante o desenvolvimento de várias habilidades,
considerando a linguagem apropriada, imitação, motivação mediada pelo
professor e interação social dentro de um contexto específico.
Atividade de Demonstração
2. Vamos refletir
O que é halitose e quais as suas causas? Como o creme dental age para evitar
as cáries?
- 62 -
Mentol - 1 gota
Salicilato de metila - 2 gotas
Água destilada - sem quantidade específica
Anilina comestível - 3 gotas (várias cores)
Pratos descartáveis e palitos de picolé (para misturar)
Escova de dente descartável
É hora de explicar
1. O que é halitose?
Doença bucal causada por vários motivos, mas principalmente pela ausência de
higiene bucal e sua consequência direta é o mau hálito.
- 63 -
fazem fermentação para obtenção de energia e liberam produtos que causam o
mau hálito.
3. Que outros problemas bucais uma má higienização dos dentes pode causar?
Cáries, gengivite, inflamações e tártaro.
Atividade de Verificação
TROCANDO FLUIDOS
2. Vamos refletir
Como a troca de fluidos corporais pode transmitir doenças? Quais as formas
de prevenção de doenças transmissíveis? Quais são os indícios de um indivíduo
infectado?
- 64 -
3. O que vamos usar
Solução de Fenoftaleína (C20H14O4)
Solução de Bicarbonato de Sódio (NaHCO3)
1 copo plástico numerado por aluno
TRAJETÓRIA DO VÍRUS
Número do meu copo ______
1ª Troca com copo n° ______
2ª Troca com copo n° ______
3ª Troca com copo n° ______
Depois do teste com a fenolftaleína, como ficou a aparência da solução? ___________
Lembre-se: Colorido- você está infectado!
Permanece incolor- você está saudável! (por enquanto)
ANÁLISE
1.Número do copo do infectado original ______
2.Calcule a porcentagem de alunos infectados na sua turma.
Nº de alunos infectado x 100 =_______%
Nº total de alunos na turma
3.Como os resultados variariam se você tivesse trocado fluidos com mais/menos pessoas?
4.Como os resultados variariam se a pessoa infectada apresentasse sintomas da doença?
5.Explique por que é tão difícil rastrear o início de uma doença infecciosa?
6.Você conseguiria se proteger contra todas as doenças da mesma forma? Explique.
- 65 -
É hora de explicar
1. O que é um indicador e qual sua função?
Indicadores são substâncias especializadas em detectar certos compostos
químicos ou moléculas. Adiciona-se o indicador a uma solução e ele muda de cor
na presença do elemento em questão. Nessa simulação, o indicador torna-se rosa
na presença de bases.
Atividade de Investigação
2. Vamos refletir
Todos os preservativos são iguais? Que diferenças eles apresentam? Os
preservativos mais caros são melhores? Que características são importantes de
se observar antes de escolher e comprar um preservativo?
- 66 -
Essa atividade usará água, o ideal é ser realizada em laboratório.
Propriedades do Preservativo
Marca do preservativo
Informações da embalagem
Comprimento
Largura
Massa
Validade
Fabricação
Aprovado pelo Inmetro
Modo de usar
É hora de explicar
1. Segundo o INMETRO, Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial, o preservativo brasileiro deve ter no mínimo, 16 cm de
comprimento, 5 a 5,4 cm de largura. De acordo com os testes que seu grupo
realizou o material testado está aprovado? Explique.
- 67 -
2. Sendo submetido à tração, o preservativo não pode se romper antes de ser
acrescido 6,25 vezes o comprimento inicial. Compare isto com os dados dos
preservativos testados por seu grupo.
- Resultado do teste de vazamento
- Qual a capacidade volumétrica
CONSIDERAÇÕES DA PESQUISA
- 68 -
Concluímos que tanto os materiais didáticos como as atividades práticas
são possibilidades viáveis para os trabalhos a serem desenvolvidos na escola.
Insistimos em propor que há necessidade do desenvolvimento de um trabalho
de auxílio para os professores em início de carreira, assim como um suporte
didático por parte da direção, coordenação e incentivo de momentos de troca
de informações e experiência. Sugere-se ainda montar grupos virtuais de
interação e divulgação de materiais nas redes sociais, blogs e sites, permitindo
uma comunicação entre os professores, organizado por gestores, buscando
reunir professores da área de diferentes escolas. Se faz útil relembrar que o
Estado deve além de cobrar resultados incentivá-los, dando aporte físico,
material e financeiro para o trabalho docente.
REFERÊNCIAS
- 69 -
br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acesso:
09/03/2017.
CAMPOS, Maria Cristina da Cunha; NIGRO, Rogerio Goncalves. Didática de
ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. FTD, 1999.
DOURADO, L. Trabalho Prático (TP), Trabalho Laboratorial (TL), Trabalho de
Campo (TC) e Trabalho Experimental (TE) no Ensino das Ciências–contributo para
uma clarificação de termos. In: (Eds.). VERÍSSIMO, A.; PEDROSA, A. & RIBEIRO,
R. Ensino Experimental de Ciências Ensino experimental das ciências, p. 13-18, 2001.
GALIAZZI, M. C.; GONÇALVES, F. P. A natureza pedagógica da experimentação:
uma pesquisa na licenciatura em Química. Química Nova, v. 27, n.2, p. 326-331, 2004.
GASPAR, Alberto. Atividades experimentais no ensino de Física: uma nova visão
baseada na teoria de Vigotski. São Paulo: Livraria da Física, 2014.
GEHLEN, Simoni Tormöhlen; DELIZOICOV, Demétrio. A dimensão epistemológica
da noção de problema na obra de Vygotsky: implicações no ensino de
ciências. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, n. 1, p. 59-79, 2016.
GIORDAN, Marcelo. O papel da experimentação no ensino de ciências. Química
nova na escola, v. 10, n. 10, p. 43-49, 1999.
GONÇALVES, F. P.; MARQUES, C. A. Contribuições pedagógicas e epistemológicas
em textos de experimentação no ensino de Química. Investigações em Ensino de
Ciências, v. 11, n. 2, p. 219-238, 2006.
GUIA DO LIVRO DIDÁTICO PNLD 2017. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/
pnld-2017/. Acesso em: 15/03/17 Páginas: 295-305
KRASILCHIK, M. Práticas de Ensino de Biologia. 4ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2016.196 p.
MARANDINO, M.; SELLES, S.E.; FERREIRA, M.S. Ensino de Biologia: histórias
e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009. 215 p.
MEDEIROS, C. K. O. Reflexões sobre a revitalização de um laboratório de Ciências:
Materiais Didáticos e Roteiros Práticos. 2018. Dissertação (Mestrado em Esnino
de Ciências e Matemática) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.
MOREIRA, M. L.; DINIZ, R. E. S. O laboratório de Biologia no Ensino Médio:
infraestrutura e outros aspectos relevantes. Universidade Estadual Paulista–Pró-
Reitoria de Graduação. (org.), Núcleos de Ensino. São Paulo: Editora da UNESP, 2003.
OLIVEIRA, J. R. S. A perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e suas relações com a
prática da experimentação no ensino de Química. Alexandria: Revista de Educação
em Ciência e Tecnologia, v. 3, n. 3, p. 25-45, 2010 a.
OLIVEIRA, J. R. S. Contribuições e abordagens das atividades experimentais no
ensino de ciências: reunindo elementos para a prática docente. Acta Scientiae, v. 12,
n. 1, p. 139-153, 2010 b.
- 70 -
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento-um processo
sócio-histórico. In: Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento-um processo sócio-
histórico. 1993.
PENTEADO, R. M.; KOVALICZN, R. A. Importância de materiais de laboratório
para ensinar Ciências. Universidade Estadual de Ponta Grossa, p. 22-4, 2008.
REIS, Pedro. As narrativas na formação de professores e na investigação em
educação. NUANCES: estudos sobre Educação, p. 17p.-34p., 2008.
SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Alfabetização
científica: uma revisão bibliográfica. Investigações em ensino de ciências, v. 16, n.
1, p. 59-77, 2011.
TAVARES JÚNIOR, Melchior José. Repensando o Laboratório de Ciências. Guaiás –
Caldas Novas, vol II, nº2 e 3, 2002.
THOMAZ, M. F. A experimentação e a formação de professores de ciências: uma
reflexão. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 17, n. 3, p. 360-369, 2000.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA. Sistemas de Bibliotecas. Guia do
usuário. Uberlândia, 2018.
VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 2001
- 71 -
Capítulo 4
1
Licenciada e Bacharel em Química, Mestre em Química (Orgânica) pela UFU. Doutora em
Agronomia (Ciência do Solo) pela UNESP – Jaboticabal. Atualmente é docente da área de Quí-
mica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – campus
Uberlândia.Email: [email protected]
2
Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Mestre em Zootecnia e Doutora em Ciências (Biologia Celular e Molecular) pela mesma
universidade. Atualmente é docente da área de Biologia no Instituto Federal de Educação, Ci-
ência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – campus Uberlândia.Email: [email protected]
3
Licenciado em Matemática pela Universidade Federal de Uberlândia UFU e mestre em Mate-
mática (Criptografia) pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – Uberaba. Atualmente
é docente da área de Matemática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Triângulo Mineiro – campus Uberlândia.Email: [email protected]
- 72 -
Neste relato, mostraremos uma experiência exitosa no atendimento
a uma mudança curricular, a criação de uma unidade curricular chamada
“Oficinas de Aprendizagem”, que surgiu para uma nova proposta de implementar
trabalhos interdisciplinares, aumentar a integração entre disciplinas, ampliar a
possibilidade de contextualização na área de formação técnica pela aplicação
dos conceitos estudados, seja nas disciplinas técnicas ou nas da área básica
(BUENO, 2012).
A disciplina ofereceria um espaço para discussões e para uma
aprendizagem diferenciada, por contar com a pesquisa para desenvolver
trabalhos em várias áreas do conhecimento. Para apresentarmos o “pano
de fundo” deste trabalho, nos remetemos a dois trabalhos elaborados por
servidores do IFTM. O primeiro, da pedagoga Eliane de Souza Silva Bueno,
que fez do estudo e reformulação do Plano Pedagógico do Curso Técnico em
Agropecuária ocorrido em 2011, sua dissertação de mestrado. O segundo, do
professor Ednaldo Gonçalves Coutinho, que elucida a história envolvendo
as implicações políticas e sociais de três unidades de Instituto Federal no
Estado de Minas Gerais em sua tese de doutoramento (incluindo o atual
IFTM) (COUTINHO, 2012). A partir dos relatos e fundamentos didático-
pedagógicos, dos aspectos legais apresentados, e da vivência dos docentes
como atores participantes no dia-dia escolar, mostramos esse relato como um
exemplo de superação de um desafio prático que nos tem sido apresentado:
a integração de pessoas (docentes) que possibilita a integração de conteúdos
(vários), acreditando no papel ativo do professor como design de caminhos,
de atividades cada vez mais um gestor e orientador de caminhos coletivos
e individuais, previsíveis e imprevisíveis, em uma construção mais aberta,
criativa e empreendedora (MORAN, 2015).
O PANO DE FUNDO
- 73 -
partir de 2008, ano da criação dos Institutos Federais, pela Lei 11.892 de 28
de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008). Aquele ano, foi um ano de discussões
e atualização do plano pedagógico do curso Técnico em Agropecuária (TA).
A principal mudança, institucionalizada partir 2009, foi na forma de
oferta dos cursos, que passou a ser a modalidade Integrada ao Ensino Médio,
atendendo o Decreto n. 5.154/2004 (BRASIL, 2004), e alterando a forma de
oferta até aquele momento (Concomitante) (BUENO, 2012).
Segundo BUENO (2012), a mudança para a forma de ensino Integrado
ocorreu sem que houvesse discussões do seu real significado, uma vez que a
mudança
- 74 -
mecanismos efetivos de interdisciplinaridade, contextualização e integração para a
construção de conhecimentos e competências desejados...”.
Muito embora a proposta das “Oficinas de Aprendizagem” contemplasse
horários semelhantes e geminados para que várias turmas e professores
pudessem trabalhar coletivamente, isso não ocorreu na prática e ela foi
instituída na grade horária como uma disciplina de um único horário, não
sendo semelhante entre turmas.
A nova matriz curricular vigora desde 20124, com a disciplina de
Oficinas de Aprendizagem sendo ofertada para os segundos e terceiros anos.
Desde então, muitas propostas de atividades, desde as mais isoladas em um
único campo de conhecimento, fracionadas entre os docentes de várias áreas,
até tentativas de integração ocorreram. Nesse contexto, apresentaremos um
recorte do trabalho conducido nos anos de 2017 e 2018, resultado de uma ação
proposta de forma interdisciplinar, conduzida coletiva e simultaneamente por
três docentes.
A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
- 75 -
de condução. Ela foi acordada entre estudantes e docentes, trazendo um
favorecimento inicial ao desenvolvimento das atividades, pois a aprendizagem
seria mais significativa a medida que os estudantes percebessem sentido
nas atividades propostas, quando as suas motivações fossem consultadas,
quando os projetos trouxessem contribuições e quando houvesse diálogo
sobre as atividades e as maneiras de conduzi-las (MORAN, 2008). Neste
sentido, apresentamos também como fundamento o modelo de Gowin
(1981), o qual entende o processo de ensino-aprendizagem como uma relação
triádica, que ocorre dentro de um contexto e que relaciona professor-aluno-
materiais educativos (Figura 1). Segundo este modelo, as situações de ensino-
aprendizagem se caracterizam pelo compartilhamento de significados entre
o aluno e professor a respeito dos conhecimentos veiculados pelos materiais
educativos do currículo. É esse compartilhar de significados que pode favorecer
o alcance de uma aprendizagem mais significativa (MOREIRA, 2008).
- 76 -
no processo ensino-aprendizagem de novos conceitos, por trazer novas
possibilidades de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa
(MOREIRA, 2008). É uma forma de ampliação dos conhecimentos na estrutura
cognitiva dos envueltos em propostas de ensino que estejam fundamentadas e
planejadas de forma intencional para uma aprendizagem significativa.
A partir das ideias apresentadas, vamos tecer considerações em
que, a partir de projetos de pesquisa, e considerando o contexto educativo
envolvido, levem a pensar questões pedagógicas que possam contribuir para o
desenvolvimento da aprendizagem.
- 77 -
e teorias, modelos e realidade, hipóteses e meios para testá-las, o Instituto Federal
do Triângulo Mineiro – campus Uberlândia, realiza a Feira de Conhecimentos
(FEICON), anualmente, desde 2000. A partir de 2004, foi instituída a Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) pelo Governo Federal e desde
então, anualmente, temos ações no Brasil inteiro, objetivando aproximação da
população em geral e especialmente dos jovens aos temas relacionados à Ciência
e Tecnologia, à valorização da criatividade, da atitude científica e da inovação, à
valorização das discussões dos impactos das pesquisas científico-tecnológicas e
suas aplicações (BRASIL, 2019). Já a partir de 2014, a Feira de Conhecimentos
juntamente com Feira de Novos Produtos (FNP) passaram a fazer parte da
Semana Multidisciplinar do IFTM – campus Uberlândia, e a serem realizadas
em consonância com a SNCT, em parceria coma Universidade Federal de
Uberlândia e Prefeitura Municipal de Uberlândia.
A FEICON e a FNP são a oportunidade para todos os estudantes
dos cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio participarem de trabalhos
de pesquisa e vivenciarem a experiência do desenvolvimento de trabalhos
baseados em metodologia científica. Anualmente formam-se grupos de
estudantes que se propõem a investigar temas de seu interesse, desenvolvendo
suas pesquisas e apresentando seus resultados nas Feiras, durante a SNCT.
Da experiência vivenciada ao longo dos anos, com envolvimento na
organização e acompanhamento do evento no IFTM, nós, docentes, tínhamos
a percepção de que havia lacunas na preparação dos estudantes para o evento.
Dessa percepção, surgiu a oportunidade de trabalhar com duas turmas, por
dois anos consecutivos, de forma a melhor prepará-los para a participação
nessas Feiras. É esse trabalho de preparação, contextualizado e interdisciplinar
que relataremos a seguir.
A ESTRATÉGIA DO TRABALHO
- 78 -
A disciplina Oficina de Aprendizagem tinha 48 minutos de aula por
semana, ao longo de cada ano letivo. A proposta foi desenvolvida em etapas
(Quadro 1).
- 79 -
os dados numéricos para constituir material para próxima etapa (número de
respostas sim e não, por turma A/B e por sexo feminino/masculino). Com os
dados, os estudantes passaram a trabalhar com a apresentação dos resultados
em forma percentual, gráficos diversos e o que cada um dos resultados
representava. O fechamento foi feito na forma de feedback individual,
discutindo erros e acertos obtidos na etapa, além das possibilidades de
apresentação dos resultados em gráficos ou tabelas. Essa etapa per se já foi
importante para a formação dos estudantes, tendo em vista que, mesmo eles
tendo na grade curricular a disciplina de informática, era a primeira vez que
a maioria tinha a oportunidade de trabalhar com dados por eles coletados,
analisá-los e a extrair resultados passíveis de serem discutidos.
- 80 -
Colocando em prática...
- 81 -
Tabela 1. Lista de trabalhos apresentados na Feira de Conhecimentos e de
Novos Produtos, por área de conhecimento e premiação obtida.
Número de
Ano Área Título do Trabalho Premiação
estudantes
FEICON
1
FEICON – Feira de Conhecimentos;2FNP – Feira de Novos Produtos; 3CAA – Ciências Agrárias Animal;
1
CAV - Ciências Agrárias Vegetal; 5CB – Ciências Biológicas; 6CE – Ciências Extas; 7CAAl - Ciências
4
Agrárias Alimentos; 8CA - Ciências Agrárias; 9CH Ciências Humanas; 10INF – Informática.
- 82 -
NOSSOS RESULTADOS
…Sem interesse real por aquilo que o outro tem para dizer não se faz
interdisciplinaridade. Só há interdisciplinaridade se somos capazes
de partilhar o nosso pequeno domínio do saber, se temos a coragem
necessária para abandonar o conforto da nossa linguagem técnica e
para nos aventurarmos num domínio que é detodos e de que ninguém é
proprietário exclusivo (POMBO, 2005, p. 13).
- 83 -
O trabalho desenvolvido foi uma ação interdisciplinar, pois envolveu a
participação de várias áreas do conhecimento; integrada e concomitante entre
professores que estavam conduzindo as turmas; que, associada a proposta de
aprendizagem por investigação, com boa orientação, apontando caminhos
e interagindo com os estudantes, reuniu elementos elencados por Pereira e
Queiroz (2017) para alcançar melhores resultados no processo de ensino e
aprendizagem.
- 84 -
As percepções sob o ponto de vista dos estudantes....
Para nossa surpresa, a grande maioria dos estudantes respondeu que não, bem
como também não sentiram acuados. Associamos essa aceitação da presença
Respostas/
dos docentes ao fato de que os mesmos docentes eram professores em outras
análise
disciplinas e assim existiam outros momentos em que docentes e estudantes
estavam juntos durante a semana o que proporcionava uma maior proximidade.
9
https://docs.google.com/forms/d/1h2EqtisiLaFxRUm7mnnpG_0orz2YeExZL1EgSURHU
OU/prefill
- 85 -
Sobre a contribuição das Oficinas de Aprendizagem do 3º ano para
compreensão quanto ao desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e quanto
aimportância dos trabalhos em equipe, tanto para os estudantes de 2017
quanto de 2018, a contribuição do trabalho desenvolvido em Oficinas de
Aprendizagem foi significativa ou muito significativa, para 83 e 77% dos
estudantes, respectivamente. O mesmo perfil foi apresentado quanto à
importância dos trabalhos em equipes, englobando 88 e 82% dos estudantes
(2017 e 2018, respectivamente).
Quando perguntados sobre a importância dos registros durante um trabalho
de pesquisa (diário de bordo), a maioria dos estudantes de 2017 considerou a
importância do diário de bordo significativa ou muito significativa (89%), mas
entre os estudantes de 2018, esse percentual foi de 63%. Esses resultados apontam,
possivelmente, para uma certa resistência quanto à necessidade de registros
durante a condução de um trabalho de pesquisa. Além disso, percebemos perfis
diferentes nas turmas 2017/2018. Na turma de 2017, houve maior estranheza no
início das aulas, no entanto, compreenderam e absorveram mais rapidamente a
proposta e se mostraram mais interativos e engajados na proposta. Já a turma de
2018, apresentou um comportamento diferente, com maior resistência ao trabalho
proposto. Assim, a necessidade de registrar todos os passos do projeto de pesquisa
era considerado uma tarefa a mais a ser feita.
Quanto à percepção de que a aprendizagem pode ocorrer a partir de
projetos de pesquisa, como proposto pelas Oficinas de Aprendizagem do 3º
ano, a totalidade dos estudantes acredita que sim, no entanto, divergem se
poderia ocorrer totalmente ou apenas parcialmente.
Considerando que uma das propostas das Oficinas de Aprendizagem do
3º ano era melhorar a qualidade dos trabalhos apresentados na FEICON/FNP,
você se sentiu a grande maioria apontou que se sentiu mais confiante, mais
preparado, com o trabalho mais bem estruturado, com mais estratégias de
interação com o público (dados numéricos não apresentados). Essa percepção
relatada pelos estudantes está vinculada a presença constante de docente
acompanhando seus trabalhos, mesmo que não fossem seus orientadores
da área técnica. Além disso, como a atividade valia nota para disciplina no
trimestre, havia uma preocupação também em fazer o trabalho proposto e
garantir a aprovação na disciplina.
Em seus depoimentos, registrados a partir da solicitação “relate sua
experiência com as Oficinas de Aprendizagem, enfatizando aquilo que foi mais
relevante para você” pudemos observar o reforço a positividade do resultado
obtido com o desenvolvimento do trabalho, como os transcritos abaixo10:
10
Transcrição literal.
- 86 -
Através da experiência é possível verificar como a integração de
conhecimentos permite a interpretação multidisciplinar do conteúdo,
integralizando a experiência de ensino até então! (Estudante 1, 2017).
- 87 -
A matéria de oficinas me proporcionou ter uma ideia, um parâmetro
de selecionar técnicas para elaborar um trabalho de pesquisa/projeto,
contribuindo para um desenvolvimento extracurricular de grande auxílio
na projeção da minha caminhada acadêmica e de desenvolvimento
intelectual (Estudante 3, 2018).
PALAVRAS FINAIS
- 88 -
nós professores, trabalharmos como auxiliadores nos projetos dos estudantes
em quemuitas vezes tínhamos que pesquisar e conversar com colegas da área
para realizarem a orientação do conteúdo específico, conforme trabalhado por
cada grupo, foi desafiador, mas muito gratificante.
A forma como foram conduzidas as atividades permitiu aos estudantes
repensarem sobre o papel da ciência e trouxe possibilidades de agirem como
atores na construção de novos conhecimentos, o que de certa forma pode
desmistificar o fazer científico, e pensar a ciência como uma construção
humana. A forma interdisciplinar de condução da disciplina, associada a
área de formação profissional dos estudantes, permitiutrabalhar além de
conhecimentos conceituais, atitudes e valores. E nos permitiu vislumbrar
o potencial pedagógico da realização de projetos, tendo a pesquisa como
princípio educativo.
Durante todo desenvolvimento da disciplina, nossa função era muito
mais perguntar e questionar que propriamente responder. Plantar a curiosidade
nos grupos era muitas vezes o caminho e a solução para seus anseios quanto aos
projetos. Aprendemos muito com a presença e colaboração de cada colega. Dividir
o espaço, o tempo e a proposta de trabalho, nesse caso, foi multiplicar nossa
experiência, ampliando nossa visão do alcance que o trabalho coletivo pode ter e
de como ele pode contribuir efetivamente para oprocesso ensino-aprendizagem,
no crescimento pessoal, acadêmico e profissional dos nossos estudantes.
REFERÊNCIAS
- 89 -
BRASIL. Semana Nacional de Ciência e Tecnologia: 15 anos: edição comemorativa.
Organizadores: Tatiana de Pino Albuquerque Maranhão, Gerson de Jesus Martins,
Eliezo Alves de Sousa, Zeily Teles de Carvalho. Brasília: MCTIC, 2019. 20 p.
COUTINHO, Ednaldo Gonçalves. Capitalismo tardio e educação profissional: As
escolas Agrotécnicas federais mineiras de Barbacena, Rio Pomba e Uberlândia (1940-
1970). 2012. 377f. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, São Paulo, 2012.
DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção de Conhecimento: Metodologia Científica no
caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro. 2012. 125p.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed.-SãoPaulo: Atlas,
2002. 57p.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
TRIÂNGULO MINEIRO (IFTM). Resolução “AD REFERENDUM” nº 06/2011, de 14
de março de 2011. Dispõe sobre o Regulamento da Organização Didático pedagógica
dos Cursos de Educação Profissional Técnica de Nível médio do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – IFTM. Uberaba, Minas
Gerais. Disponível em <https://iftm.edu.br/conselho-superior/resolucoes/#>. Acesso
em: 14 jul. 2019.
MORAN, José. Mudando a educação com metodologias ativas. Coleção Mídias
Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações
jovens. Vol. II. Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). PG:
Foca Foto-PROEX/UEPG, 2015. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2013/12/mudando_moran.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2020.
MORAM, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. Texto
publicado blog pessoal do autor <http://www2.eca.usp.br/moran/>, 2013. Disponível
em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/metodologias_
moran1.pdf. Acesso em: 17 mar. 2020.
MOREIRA, Marco Antônio. Aprendizagem significativa: da visão clássica à visão
crítica. Apresentação na Conferência de encerramento do V Encontro Internacional
sobre Aprendizagem Significativa, Madrid, Espanha, setembro de 2006 e do I
Encuentro Nacional sobre Enseñanza de la Matemática, Tandil, Argentina, abril de
2007. Disponível em: http://moreira.if.ufrgs.br/visaoclasicavisaocritica.pdf. Acesso
em: 20.fev.2020.
MOREIRA, Marco Antônio. Negociação de significados e aprendizagem significativa.
Ensino, Saúde e Ambiente, v. 1, n. 2, p. 2-13, 2008.
PEREIRA, Paulo Roberto Barbosa; QUEIROZ, Waléria Ferraz Dantas. A influência
do projeto de pesquisa, como prática pedagógica, na aprendizagem dos estudantes de
graduação das instituições de ensino superior.
Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – v. 03, n.1, p. 284-
300, Jan./Jul., 2017.
- 90 -
POMBO, OLGA. Interdisciplinaridade e Integração dos Saberes. Liinc em Revista,
v.1, n.1, março 2005, p. 3 -15. http://www.ibict.br/liinc.
THIOLLENT, Michell. Metodologia da Pesquisa – Ação. São Paulo: Editora Cortez
Autores Associados, 1986. 107p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar). Secretaria de Educação
à distância – SEaDEAD UFSCar – Vídeo sobre Metodologia Científica. Módulo 7.
Professora Helena Caseli. Produção João TelarolliTerezani. Direção: Ian R. Mazzeu
e Marcos Botelho Júnior. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=jJ87B0UFy9s>. Acesso em: 20 mar. 2017.
- 91 -
Capítulo 5
- 92 -
baseada na pesquisa, em que o aluno irá pesquisar e colocar em prática o que
aprendeu na teoria e em suas observações e reflexões pessoais. De acordo com
os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, espera-se que o
estudante consiga, no futuro, mesmo não sendo um cientista, visualizar uma
situação desafiante, refletir e tirar suas conclusões (BRASIL, 2006).
Segundo Mancuso (2000), foi a partir dos anos 1960 que os eventos
científicos, denominados Feiras de Ciências e Mostras Científicas, começaram
a se tornar mais populares nas escolas brasileiras, proporcionando uma maior
divulgação científica e motivação que permitindo aos alunos e professores
vivenciarem processos criativos, investigativos e de troca de conhecimentos
que qualificam significativamente suas aprendizagens. Esses eventos científicos
e culturais foram se tornando cada vez mais indispensáveis na vida escolar
dos alunos, pois os mesmos ocasionam numa maior inserção dos jovens no
mundo científico através de inúmeras atividades práticas e contextualizadas
(MANCUSO, 2000). Porém, nesse período, as práticas pedagógicas voltadas
para as Feiras de Ciências, além de serem ainda em um número reduzido,
eram direcionadas para a familiarização dos alunos e comunidades escolares
com alguns materiais laboratoriais existentes (MACEDO, 2017).
- 93 -
a conduta de cada professor, ao longo dos bimestres, sem a preocupação
de que sejam trabalhos produzidos apenas para um evento específico (a
Feira de Ciências ou Mostra Científica), mas fazendo parte, efetivamente,
da rotina docente (MORAES E MANCUSO 2004).
- 94 -
É nesse sentido que, na atualidade professores e alunos se propõem
ao trabalho com a ideia das Feiras de Ciências. Nesse caso, elas podem ser
momento privilegiado de promover a troca e o intercâmbio de experiências
múltiplas das várias áreas do conhecimento. Muito mais que reproduzir,
repetir ou apenas informar sobre as ciências e suas inovações, sejam estas
quais forem, a função dessas Feiras se ampliou, podendo dar a alunos e
professores a oportunidade de mostrarem suas concepções de mundo, de
ciências e de educação.
De acordo com Barcelos (2010), o ensino através de projetos proporciona
ao docente uma visão diferenciada em relação aos alunos, ao seu trabalho e
também ao rendimento escolar. Dessa forma, as Feiras de Ciências surgem
como uma oportunidade para o desenvolvimento de metodologias que
favoreçam o ato de planejar, desenvolver e avaliar. E para os alunos, as Feiras
de Ciências são capazes de proporcionar o desenvolvimento dos mesmos para
ações democráticas de participação coletiva. Consequentemente, permitem
a troca de experiências, induzem ao pensar de forma criativa e exercer a
capacidade de comunicação. Posto assim, após atuarem em uma Feira de
Ciências, os alunos retornarão à sala de aula com maior capacidade de decisão
em relação aos problemas do próprio cotidiano (BORBA, 1996).
Segundo Nunes et al. (2016), a participação dos alunos nas Feiras
de Ciências os ajuda a construir o conhecimento de forma efetiva e ativa,
possibilitando aos mesmos relacionar estes conhecimentos com suas
relativas aplicações no cotidiano. Sendo assim, são instigados à construção
de conhecimento de forma lúdica e prazerosa, pois se acredita que é possível
classificar as Feiras de Ciências como uma atividade lúdica, desde que a
mesma esteja relacionada com a diversão e a liberdade de aprender por prazer
(NUNES, 2016).
Neste contexto, a fim de se motivar a construção do conhecimento de
forma ativa, reflexiva e prazerosa, tem-se realizado Feiras de Ciências a nível
regional, as quais são denominadas de Feiras de Ciências da Universidade
Federal de Catalão (UFCAT). Estas acontecem desde o ano 2012, 2018, a
sua sétima edição. Sendo assim, este trabalho visa divulgar e analisar o papel
destas Feiras de Ciências da UFCAT, com enfoque na sétima edição do evento,
bem como avaliar se esta propicia a construção do conhecimento construído
de forma a garantir um processo de ensino e aprendizagem contextualizado,
problematizado, socialmente relevante e de forma interativa, interdisciplinar,
ativa e, principalmente, prazerosa. Para isso, foi proposta uma avaliação de
caráter qualitativo, utilizando-se questionários como instrumento de coleta de
- 95 -
dados. Estes foram respondidos por alunos do Ensino Médio participantes da
7ª Feira de Ciências da UFCAT.
METODOLOGIA
- 96 -
folders e regulamentos do evento, que foram fixados nos murais de recados
das escolas e entregues à direção, coordenação, professores e alunos da
Educação Básica, ao mesmo tempo em que foram expostos os objetivos da
sétima edição do evento e sua temática.
A participação nas Feiras de Ciências da UFCAT se dá através da
inscrição e seleção de projetos em grupo (no mínimo dois e no máximo três
estudantes e um professor orientador), privilegiando-se assim o trabalho em
grupo e a troca de ideias e experiências entre os integrantes dos grupos e entre o
professor orientador do trabalho e os alunos. Na edição em estudos, os trabalhos
deveriam estar inseridos nas diversas áreas de conhecimento ou serem uma
associação multidisciplinar entre elas, sendo divididos e avaliados em níveis
de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental 1, Ensino Fundamental 2,
Ensino Médio, Ensino Profissional ou Técnico). Foram 54 trabalhos inscritos
nesta 7ª edição, distribuídos entre: Educação Infantil (4 trabalhos); Ensino
Fundamental 1 (7 trabalhos); Ensino Fundamental 2 (24 trabalhos) e Ensino
Médio (19 trabalhos), envolvendo 140 alunos e 54 professores orientadores.
Participaram do evento 30 escolas de Catalão e Região. Destaca-se dentre
as escolas participantes, o Centro de Ensino em Período Integral Argemiro
Antônio de Araújo, da Cidade de Posse-GO, os quais não se importou com a
distância (598 Km) e veio enriquecer ainda mais o evento com seu trabalho.
A inscrição dos projetos foi realizada nas próprias escolas ou via
internet (site do evento: http//www.feiraciencias.catalao.ufg.br) através de
um formulário que foi preenchido com informações sobre o projeto como
título, escola, professor orientador (e seus respectivos contatos como e-mail
e telefone), alunos participantes e um Resumo do Projeto, onde deveria ser
apresentada uma Introdução (como surgiu a ideia do trabalho), Justificativa
(por que decidiu realizar tal trabalho), Objetivo geral (qual pergunta o
trabalho tentaria responder), Metodologia (como investigaram a pergunta),
Resultados obtidos (quais as respostas obtiveram) e Conclusões. Tal resumo
deveria ter entre 300 e 600 palavras e os trabalhos inscritos foram avaliados por
uma Comissão Científica que analisou docentes da Comissão Organizadora
(docentes da UFCAT), que avaliaram a relação do trabalho proposto pelos
grupos com a temática do evento e a adequação do resumo aos caracteres
solicitados e citados anteriormente. A lista dos trabalhos aceitos foi divulgada
no sítio do evento e os projetos aprovados foram apresentados na 7ª Feira de
Ciências da UFCAT.
No dia em que foi realizada a apresentação dos trabalhos da 7ª Feira de
Ciências da UFCAT os expositores mostraram seus trabalhos e dialogaram
- 97 -
com o público entre 8h e 12h. No período da tarde os alunos participaram de
oficinas e realizaram visitas monitoradas aos Laboratórios da Instituição. No
final do dia (às 17h), foi realizada a cerimônia de premiação e encerramento
do evento.
Os trabalhos apresentados foram avaliados por uma Comissão de
Avaliação composta por membros da UFCAT (esse grupo é composto por
professores, mestrandos e egressos ligados aos programas de pós-graduação
da Universidade), além de professores da Educação Básica cujas escolas não
estavam participando do evento neste ano. Para a avaliação da Exposição
oral dos alunos consideraram-se critérios como originalidade, criatividade,
inovação do trabalho, clareza e objetividade na apresentação, qualidade da
apresentação oral, uso adequado dos materiais, desenvoltura e clareza nas
definições e nos conceitos essenciais apresentados, aplicação do trabalho na
sociedade/cotidiano, qualidade do trabalho, dentre outros. A nota final dos
trabalhos avaliados foi o somatório das notas designadas à exposição dos
alunos por três membros da Comissão Avaliadora. Todos os expositores
(alunos e professores orientadores) receberam Certificados de participação
na 7ª Feira de Ciências da UFCAT. Os três melhores trabalhos de cada nível
de ensino foram condecorados / contemplados com medalhas de honra ao
mérito e a escola recebeu um Troféu para os trabalhos em destaque. Devidos
a patrocínios recebidos no comércio local, os melhores trabalhos receberam
outros tipos de premiações. O evento contou com o apoio da Secretaria
Municipal de Educação e Cultura de Catalão e da Subsecretaria Regional de
Educação do Estado de Goiás, que permitiram a divulgação do evento em suas
Unidades Escolares e liberaram seus professores para acompanhar seus alunos
durante a apresentação dos trabalhos.
Com o objetivo de avaliar os resultados alcançados pelos alunos da
Educação Básica por meio de sua participação na 7ª Feira de Ciências da UFCAT,
foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo/quantitativo, onde, além de
se mensurar, se “[...] enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada
e o estudo das percepções pessoais” (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Segundo
Gil (2009), um questionário é uma técnica de investigação com questões que
possuem o propósito de obter informações. Para Parasuraman (1991), é um
conjunto de questões feito com o fim de gerar os dados necessários para se
atingirem os objetivos de um projeto, sendo muito importante na pesquisa
científica, especialmente nas Ciências Sociais.
Após as considerações anteriores este trabalho irá apresentar os dados
obtidos mediante as análises das respostas logradas por questionários aplicados
- 98 -
aos alunos do Ensino Médio que apresentaram seus trabalhos na 7ª edição do
evento, em que se investigou o processo de ensino/aprendizagem. Para tanto,
os questionários foram transcritos e as respostas dos alunos foram analisadas
e serão discutidas a seguir. As mesmas foram citadas ao longo do texto como
excertos 1, 2 3..., ou seja, o texto apresenta alguns fragmentos das respostas dos
estudantes que foram entrevistados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 99 -
GATTI (2003) afirma que em alguns estados brasileiros a estratégia das
Feiras de Ciências e Mostras Científicas já faz parte do cotidiano das escolas,
que definem suas temáticas de forma coletiva, em geral, durante as “semanas
pedagógicas”, momento em que a comunidade escolar faz a avaliação do ano
letivo anterior, discute ações e faz o planejamento para o ano letivo seguinte.
- 100 -
os quais mostraram total interesse e motivação em terem sido os protagonistas
do conhecimento construído através da 7ª Feira de Ciências da UFCAT:
- 101 -
como pode ser visto em alguns dos temas: Do renascimento do photoshop
à evolução da imagem real; Mulheres na Ciência; Impactos ambientais,
exploração e noções de sustentabilidade; dentre outros.
Através dos temas escolhidos pelos grupos, os professores e os alunos
participantes puderam aprofundar mais sobre cada assunto, permitindo assim
que os que os estudantes fossem capazes de construir um maior aprendizado
sobre o assunto abordado em sala de aula. Percebe-se ainda nas temáticas
escolhidas algumas preocupações com questões sociais e ambientais, ou seja,
um comprometimento dos alunos com o contexto em que vivem.
A participação dos alunos na 7ª Feira de Ciências da UFCAT
demonstrou o interesse pelo conhecimento, independentemente de haver ou
não premiação. Pela análise dos questionários respondidos pelos alunos, 90%
dos mesmos afirmaram que se não houvesse competição e premiação, ainda
assim participariam da Feira de Ciências:
Excerto 9- “Sim, porque vim aqui passar o que sei, aprendi com minhas
pesquisas e também para aprender através de outros projetos”.
Excerto 10- “Sim, pois continua sendo uma coisa muito interessante, pois
podemos aprender muito, é ver coisas diferentes”.
Excerto 11- “Sim, independente da premiação o importante foi o
conhecimento adquirido”.
Apenas 10% dos alunos responderam que não teriam participado sem
premiação: “Não, porque eu gosto de competição e premiação é um ótimo
incentivo”. Sendo assim, é possível observar que a busca pelo conhecimento
foi predominante e a premiação foi vista apenas como um reconhecimento
pelo esforço despendido na participação e construção do projeto desenvolvido
durante a 7ª Feira de Ciências da UFCAT.
Com relação à opinião dos alunos sobre os pontos negativos e positivos
que a Feira de Ciências proporcionou, tem-se:
- 102 -
Dentre as respostas obtidas, os pontos positivos que mais se destacaram
para os alunos foram a construção do conhecimento, tanto teórico quanto
prático, o que mais uma vez demonstra a importância do evento para uma
efetiva construção de conhecimentos. Com relação aos pontos negativos, o
que mais se destacou foi o espaço apertado. Todavia, para a maioria, os pontos
negativos não se sobrepuseram os positivos. Sendo assim, torna-se necessária
uma maior introdução de Feiras de Ciências no cotidiano dos alunos, visto
que a construção do conhecimento, bem como a troca de aprendizagem
proporcionada pela participação na 7ª Feira de Ciências da UFCAT foram
bastante promissoras e enriquecedoras para os mesmos.
Para Santos (2012), as interpretações distintas sobre Feiras de Ciências
acarretam dificuldades em interpretar a Ciência como integradora do nosso dia
a dia, além disso, implica falta de motivação dos alunos, fazendo com que eles
não consigam relacionar o que aprendem na escola com a Ciência e a Tecnologia
presente no dia a dia. Dessa forma, ao salientar para os professores e alunos
o papel da Feira de Ciências, pode-se motivá-los, de forma que desenvolvam
o interesse por diferentes assuntos, das mais variadas áreas do conhecimento,
e propiciando a construção de habilidades para que busquem assim novas
informações que auxiliem na aprendizagem contínua e possam proporcionar a
formação de novos conceitos ou até mesmo a reestruturação do conhecimento.
Ainda para Santos (2012), esse processo permite uma melhoria na
cultura científica e tecnológica dos estudantes, de forma a capacitar discussões
em um mundo cada vez mais dependente de ciência e tecnologia. Além disso,
ao se ajustarem às novas demandas do processo de ensino-aprendizagem,
as Feiras de Ciências proporcionam uma maior interação entre alunos e
professores, desenvolvem a linguagem científica, estimulam o trabalho
escolar e ainda têm caráter multidisciplinar. Portanto, desenvolver projetos
e apresentá-los em Feiras de Ciências contribui para a formação do aluno e
aumenta a participação mesmo nos debates sobre os problemas atuais, o que o
torna mais crítico e potencializa sua maior participação na sociedade.
CONCLUSÃO
- 103 -
comunidade escolar como promotoras da mesma, da integração de conteúdos
de diferentes componentes curriculares, abrindo a possibilidade do exercício
da interdisciplinaridade e da transversalidade, além de proporcionarem o
estudo e a construção do aprendizado em diversos assuntos que não estão
incluídos de forma explícita no currículo escolar, como a questão ambiental e
o desenvolvimento de valores morais e éticos.
A preocupação dos alunos juntamente com seus professores orientadores
com o resgate cultural e com a busca por assuntos contextualizados de
forma autônoma e crítica vem se destacando em cada edição das Feiras de
Ciências da Universidade Federal de Catalão, fazendo-se necessário que as
escolas desenvolvam o papel de preparar seus alunos para diversas situações
da vida. Para isso, é de grande importância o uso de estratégias e métodos
diferenciados. Diante disso, o professor tem a importante função de planejar
atividades práticas para facilitar a compreensão dos conteúdos teóricos aos
alunos, estimulando-os a questionar, responder, observar, explorar, analisar,
comparar e compreender a situação-problema, levando ao desenvolvimento
de novos conhecimentos, uma vez que o acesso a um conhecimento novo
ocorre a partir do pré-existente.
REFERÊNCIAS
- 104 -
HARTMANN, A. M., ZIMMERMANN, E. Feira de Ciências: a interdisciplinaridade
e a contextualização em produções de estudantes de ensino médio. Encontro Nacional
de Pesquisa em Educação em Ciência – VII ENPEC – ANAIS, 12p. 2009.
MANCUSO, R. Feira de Ciências: produção estudantil, avaliação, consequências.
Contexto Educativo Revista Digital de Educación y Nuevas Tecnologías, Buenos
Aires, v. 6, n. 1, p. 15, 2000.
MACEDO, K. O. A Feira de Ciências Como Estratégia de Ensino. In: Anais do IV
Congresso Nacional de Educação, João Pessoa - PB: CONEDU, 2017.
MORAES, R., MANCUSO, R. Educação em ciências: produção de currículos e
formação de professores. Ijuí: Editora Unijuí, 2004.
MORIN, Edgar. Os Setes Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo.
Cortez. Brasília, DF:UNESCO, 2007.
MOURA, D. G. Feira de Ciências: necessidade de novas diretrizes. Revista Presença
Pedagógica, Ano I, n.6, p. 12 -18, 1995.
NUNES, S. M. T.; LOBATO, D. F.; ADAMS, F. W. As Feiras de Ciências da UFG/RC:
Construindo Conhecimentos Interdisciplinares de Forma Prazerosa. REDEQUIM,
v.2, n.2 (ESP), Set, 2016.
PARASURAMAN, A. Marketing research, 2ª ed. New York: Addison-Wesley
Publishing Company, 1991.
SANTOS, A. B. Feiras de Ciência: Um incentivo para desenvolvimento da cultura
científica. Revista Ciência e Extensão. v.8, n.2, p.155, 2012.
SOBREIRA JÚNIOR; O. V., CAVALCANTE, F. H. B.; BESSA, R. R. S. Educação
Científica: as Feiras de Ciências como estratégia de ensino nas escolas públicas. In:
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 3., 2016, Natal. Anais do III Congresso
Nacional de Educação Natal: CONEDU, 2016.
STENHOUSE, L. La investigación como base de la enseñanza. Madrid: Ediciones
Morata, 1993.
- 105 -
Capítulo 6
- 106 -
Os representantes dos municípios componentes do TIMS precisam
oferecer respostas às questões ambientais, econômicas e sociais locais. Para tal,
é necessário investir na formação de jovens trabalhadoras e trabalhadores com
qualificação, tanto para a pesquisa visando o desenvolvimento de programas,
projetos e ações em parceria com a sociedade organizada local, quanto para
os docentes no intuito de promover conhecimento e sedimentar uma cultura
de respeito, conservação dos recursos naturais e consumo ambientalmente
responsável com base nas limitações e potencialidades locais.
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) possui três
Campi: um em Vitória da Conquista, outro em Jequié, e desde o início da
década de 1980, um campus em Itapetinga, o qual foi criado com o objetivo
de atender a demanda deste e dos outros 12 municípios do TIMS. Em
2011, a UESB adotou o Sistema de Seleção Unificada – SISU, como sistema
complementar de acesso a seus cursos. Fora estabelecido que 50% das vagas dos
seus cursos seriam reservadas para candidatos aprovados no Exame Nacional
do Ensino Médio - ENEM, enquanto a outra metade seria preenchida por
aprovados no Vestibular UESB. A inserção dessa nova modalidade de ingresso
na universidade propunha sua maior integração com alunos de outros estados
e regiões brasileiras. Atualmente, percebe-se pela divulgação de sucessivas
listas de chamada, que nem sempre a aprovação de novos alunos para vagas do
SISU implica preenchimento efetivo das mesmas. Paralelamente, após análise
da Tabela 1 depreende-se que desde 2015 o número de inscritos no Vestibular
UESB para os cursos da área de ciências naturais (Ciências Biológicas, Física e
Química) no Campus de Itapetinga tem oscilado negativamente.
Tabela 1 – Concorrência dos cursos da área de Ciências Naturais por vaga nos últimos
06 vestibulares da UESB
- 107 -
da licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas podem contribuir
diretamente com a preservação e uso sustentável da fauna e flora locais, com o
licenciamento de obras e implantação de parques industriais, implementação
de práticas agroecológicas e educação ambiental. Professores formados
no curso de Licenciatura em Física são desafiados a superar a excessiva
matematização e o demasiado uso de fórmulas descontextualizadas da vida
dos alunos, além de facilitarem o entendimento das tecnologias e compreensão
dos fenômenos físicos no cotidiano. Quanto aos profissionais habilitados na
Licenciatura e Bacharelado em Química, estes podem atuar na avaliação da
água consumida nos municípios do TIMS, estudos sobre uso e descarte de
agrotóxicos, e soluções para problemas de descarte ou reaproveitamento de
resíduos de indústrias e hospitais.
A execução desta pesquisa justificou-se pelo reconhecimento da
importância dos cursos da área de ciências naturais para a democratização do
acesso ao ensino superior; dado o potencial dessa área como vetor de ascensão
social; e pela manutenção da hegemonia da UESB enquanto principal formadora
de profissionais da Biologia, Física e Química que atuarão na administração
pública, iniciativa privada e especialmente nas instituições de ensino do
TIMS. Assim, almeja-se contribuir para o crescimento e desenvolvimento
socioeconômico desta região através da oferta de ensino, pesquisa e extensão,
funções prioritárias de uma universidade. O problema que inquieta e encoraja
a realização desta pesquisa é: quais fatores têm influenciado a busca pelos
cursos da área de ciências naturais no Campus da UESB em Itapetinga, e
consequentemente a formação de pesquisadores e docentes nessa área no
Território de Identidade Médio Sudoeste?
- 108 -
todos os pontos discutidos abaixo são aqui apresentados como um recorte da
influência da UESB sobre a comunidade local.
O primeiro dado sobre a perspectiva de inserção social que a UESB oferece
para estudantes do curso de Licenciatura em Física do Campus de Itapetinga
é que 78,2% dos mesmos são oriundos da periferia da cidade, contrastando
com 20% residentes no centro, e 1,8% na zona rural. Entre os discentes 14,5%
moram em imóveis alugados; 12,7% residem em outro município (do TIMS);
3,6% vivem com parentes; outros 3,6% em pensões, pensionatos ou repúblicas.
Estes dados demonstram a importante contribuição do curso para a formação
de quadros no TIMS, haja vista que segundo Lunkes e Rocha Filho (2011),
no Brasil apenas 9% dos professores de Física possuem formação na área.
Outro ponto que tangencia essa inserção social é o fator econômico, dado que
a presença de alunos de outras cidades auxilia no dinamismo econômico no
comércio, transportes e setor imobiliário local.
Em contraposição a um discurso que se espraia pela sociedade de que a
universidade pública permanece como um reduto elitista, cumpre destacar que
os dados da pesquisa evidenciaram que 90,9% dos discentes do curso de Física
da UESB em Itapetinga cursaram todo o Ensino Médio em colégios públicos,
e apenas 7,3% em colégios privados. Da totalidade dos alunos deste curso
27,3% já foram beneficiados pelo programa Bolsa Família; 3,6% pelo Minha
Casa, Minha Vida; 1,8% pelo Benefício de Prestação Continuada da assistência
social; e 5,5% por outros programas sociais dos Governos estadual e federal.
Em relação à renda total familiar dos discentes 76,4% declararam valor até R$
1.500,00; e 12,7% tem renda familiar de R$ 1.500,00 até R$ 3.000,00. Este dado
representa o acesso da classe trabalhadora do TIMS à universidade pública
representada pela UESB, e que apresenta consonância com dados encontrados
por Girotto (2017) quando da avaliação do acesso deste mesmo grupo ao curso
de Geografia da USP-SP.
Entre os discentes 69,1% declararam não estarem trabalhando, dado que
contrasta com 21,8% que declararam trabalhar 40 horas ou mais por semana.
Em relação à situação financeira dos mesmos, 43,6% declararam não terem
renda e serem financiados pela família ou outras pessoas; enquanto 21,8%
são financiados exclusivamente por programas do Governo Federal (MAIS
FUTURO e auxílios moradia, alimentação, transporte da UESB, e outros).
Entre os beneficiados por algum tipo de bolsa acadêmica 14,5% declararam
receber a Bolsa PIBID, programa que fomenta a iniciação à docência; 7,3%
bolsas de monitoria para auxiliarem os colegas em disciplinas específicas; e
outros 7,3% usufruem outros tipos de bolsas acadêmicas.
- 109 -
No que se refere à razão para escolha da UESB, 30,9% consideram que
esta oferece o melhor curso de sua opção na região, e destes, 23,6% justificam
que a escolha acontece por conta do ensino gratuito; e 20% pela proximidade
da residência. Especificamente sobre a escolha do curso, 43,6% objetivam a
formação profissional para o futuro emprego; enquanto 38,2% demonstraram
vocação pessoal. Um dado relevante é que na percepção de 90,9% dos discentes
os componentes curriculares de sua graduação contribuem para sua formação
integral. Entre os discentes 69,1% afirmaram que as metodologias utilizadas
pelos professores os desafiam a aprofundar conhecimentos e desenvolver
competências reflexivas e críticas; e 65,5% avaliam o nível de exigência do
curso como adequado.
- 110 -
do desenvolvimento da oralidade e escrita dos mesmos. Desta feita, visualiza-
se outra aplicabilidade para a divulgação científica, pois observa-se que seus
materiais podem ser utilizados não só para a divulgação científica em si, mas
como instrumento no processo de ensino.
- 111 -
ciências naturais (Biologia, Física e Química) envolve o esforço de despertar o
interesse dos estudantes, o que se opõe a manutenção de práticas incorporadas
à educação tradicional como a matematização excessiva, apego à memorização
de fórmulas, conceitos desconectados do cotidiano dos alunos, barreira ao
uso de recursos tecnológicos, e falta de aulas práticas em laboratórios ou que
envolvam materiais de baixo custo (MENDES; BATISTA, 2016). A superação
destes desafios é fundamental para que a educação, em especial a básica,
possa cumprir sua função social de promover a formação cidadã do indivíduo
habilitando-o para o convívio em coletividade; para o mundo do trabalho em
sua complexidade, inclusive nas relações de poder; e desenvolver no aluno a
capacidade de manusear recursos tecnológicos identificando a relação entre
sua aplicação no cotidiano e os fenômenos estudados na escola.
Parte deste esforço concentra-se em motivar o aluno a desenvolver o
interesse pela ciência, o que invariavelmente envolve a leitura e produção textual
científica, conhecimento sem o qual torna-se impedida a compreensão dos
objetos de estudo (SANTOS; FIGUEIREDO, 2016). A interdisciplinaridade,
ferramenta que proporciona o diálogo entre áreas distintas do conhecimento,
promove uma educação mais próxima do cotidiano, bem como uma formação
crítica e participativa que visa se converter na compreensão da sociedade pelo
cidadão (BRASIL, 1997). Contudo, na contramão das Diretrizes Curriculares
Nacionais que promovem a liberdade das escolas para formação de currículo
que favoreça a formação crítica e emancipatória, a nova Base Nacional Comum
Curricular propõe a homogeneização do ensino e perspectivas de controle
(ALMEIDA, 2019).
Promover uma nova forma de ler e interpretar a realidade pode, segundo
Freire (1987), dar-se pelo esforço de fomentar a compreensão da conjuntura e
estrutura social na qual o aluno está inserido e, deste modo, despertar a evolução
da consciência ingênua para a consciência crítica, combativa às situações-limite
e fundamental no processo humanizador. Na Abordagem Temática Freiriana
o tema gerador é a unidade central para a organização do currículo escolar,
e a partir do qual são selecionados os currículos científicos destinados à sua
compreensão e superação das situações-limite (FREIRE, 1987).
Delizoicov (1991) propõe cinco etapas para a dinâmica de momentos
pedagógicos, sendo estes: a) levantamento preliminar, no qual ocorre o
contato inicial e o reconhecimento da comunidade onde será desenvolvido o
estudo; b) codificação, dada pela análise das contradições sociais, econômicas
e ambientais vivenciadas pelos indivíduos e assimiladas como questões
orgânicas; c) decodificação, quando ocorre a legitimação dessas situações, sua
compreensão enquanto situações-limite e sintetização das mesmas em temas
- 112 -
geradores; d) redução temática, seleção de conceitos científicos visando a
compreensão do tema e planejamento de atividades de ensino; e por fim, e)
desenvolvimento em sala de aula, quando as atividades previamente planejadas
são de fato implementadas.
Um exemplo de estudo que se utiliza da Investigação Temática Freiriana
voltado ao ensino de ciências foi desenvolvido por Solino (2013), quando
abordou o tema “Rio cachoeira: que água é essa?” com alunos das series
iniciais, frisando a questão da poluição de um rio localizado em Itabuna-BA.
Neste contexto, a divulgação científica entendida como instrumento para a
apresentação da ciência, e motivação pelo interesse pelas ciências naturais,
pode ser aliada à aplicação da Investigação Temática Freireana. Duarte et al.
(2018), na perspectiva de buscar um ensino de Química mais significativo,
trouxe para os alunos de educação do campo uma abordagem contextualizada
à sua realidade, e para tal discutiu com os mesmos a questão dos agrotóxicos
enquanto tema gerador para reflexões socioambientais. Sequências didáticas
de ensino podem utilizar a divulgação científica como base para fundamentar
as discussões e estabelecer ligações entre o texto e a vida dos estudantes
corroborando assim para a uma aprendizagem mais significativa para os
alunos. Esta proposta responde a desafios abordados por Garcia e Pozo
(2017) ao afirmarem que, por vezes, apesar de os professores demonstrarem
o domínio teórico, não parecem conseguir transpor esse conhecimento para
uma reflexão mais prática, o que contribui para a manutenção de um ensino
estéril de realidade e criticidade.
METODOLOGIA
- 113 -
Química da UESB. Nesta etapa foram abordadas as principais áreas de cada
um destes cursos; mercado de trabalho para bacharéis e licenciados em seus
respectivos campos; pesquisas e projetos de extensão desenvolvidos no Campus
da UESB em Itapetinga, e perspectiva de trabalho para os profissionais dessas
áreas. Em seguida, foram aplicados cerca de 22 questionários por unidade
escolar visitada, totalizando 66 questionários aplicados.
Cada um destes continha cinco questões abertas em que buscou-se
apreender: qual dos componentes curriculares da área de ciências naturais mais
despertavam o interesse dos alunos e justificativa para tal; quais componentes
curriculares menos lhes interessavam, e porque; de quais conteúdos na área
de ciências naturais mais gostavam; identificar tecnologias do cotidiano com
princípios de funcionamento relacionados à Biologia, Física ou Química; e por
fim, apresentar um problema ambiental de sua cidade e como os componentes
curriculares das ciências naturais poderiam ajudar a solucionar esta situação.
A partir deste conjunto de informações pretende-se disponibilizar
dados para que políticas administrativas internas à UESB sejam planejadas
com o propósito de reverter a queda no número de inscritos no vestibular
para a área de ciências naturais. Estes dados podem subsidiar políticas
educacionais a serem implementadas tanto na educação básica, através de
abordagens didáticas que motivem o interesse dos estudantes, quanto na
educação superior ajustando à formação de professores à realidade com que
irão se deparar na docência.
- 114 -
na Base Nacional Comum Curricular, especialmente para o Ensino médio, é
que a educação deve preparar para o mundo do trabalho. Tal ideia objetiva-se
através da sexta competência geral, entre as dez, que a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) define, que devem ser desenvolvidas na Educação Básica.
Sendo esta:
- 115 -
pelo investimento público como elemento desencadeador de ações de
aquecimento econômico, são impedidas inclusive com manobras legislativas
como a Emenda Constitucional 95/20166. Neste cenário, porque investir em
educação pública? Como a educação pública se encaixa no projeto de poder
da sociedade brasileira?
Feitas estas observações iniciaremos a análise dos dados coletados a
partir da aplicação dos questionários. Para tanto, nos debruçaremos sobre as
respostas a cada uma das 05 questões contidas neste instrumento de coleta de
dados.
1 - Qual área desperta maior interesse dos alunos pelas ciências naturais?
- 116 -
identificação com os conteúdos da Biologia foi o principal fator motivacional
do interesse dos alunos por este campo, seguido pela fácil compreensão dos
conteúdos, a identificação com temas associados à ecologia, e estudos dos seres
vivos, o que tende a reforçar a tese de Rosa; Perez e Drum. Entre os alunos que
optaram pela Física, a identificação pessoal também obteve lugar de destaque
nas respostas; além do uso de experimentação, cálculos e associação com a
carreira acadêmica. A escolha pelo campo da Química entre os entrevistados
envolveu também a identificação pessoal com os conteúdos abordados neste
componente curricular, além da utilização de experimentos, influência
familiar e surpreendentemente, como mencionado por um dos entrevistados,
à produção de bombas caseiras e drogas. Em relação a bombas caseiras e drogas
há que se ressaltar a influência cultural, especialmente de séries famosas como
Breaking Bad ou CSI que abordam a produção de metafetaminas ou a rotina
em laboratórios de polícias científicas, sobre os jovens alunos.
Este dado sobre bombas caseiras e drogas associadas ao interesse pela
área de Química carece de um olhar analítico. Mediante a frustação dos jovens
com a falta de expectativa em um futuro melhor (PAIS, 2012); ou a própria
convivência em áreas de risco, submersos na base das últimas classes sociais,
não parece estranho que para os jovens, instrumentos ou produtos do crime
lhes soem familiar. Castro e Abramovay (2002) apontam várias mediações que
compõe o cenário a que são submetidos os jovens em situação de pobreza,
ausência de trabalho, falta de lazer e racismo institucionalizado.
Contudo, essas associações podem representar inclusive concepções
alternativas, segundo Leão e Kalhil (2015, p. 4601-3), “...chamadas às vezes como
senso comum estão presentes no dia a dia de alunos e professores, precisando
de uma mudança conceitual para que se converta em conhecimento cientifico”.
Deste modo, é importante destacar neste dado eventuais associações com a
Química, inclusive pelo consumo de bens culturais, e a partir delas fomentar o
interesse do aluno pela área.
2 - Qual área desperta menor interesse dos alunos pelas ciências naturais?
Embora fosse possível deduzir a resposta para esta questão com base
nas respostas à questão anterior, optou-se neste estudo por investigar com
maior atenção quais fatores podem indispor a busca pela área das ciências
naturais entre os entrevistados. Para atender este objetivo, também se utilizou
uma questão semiaberta: “Qual dessas áreas lhe desperta menor interesse?
Justifique”. Os dados coletados apontam que 15,6% dos entrevistados não se
interessavam pela Biologia, 48,5% se indispunham em relação à Física, e 25,8%
- 117 -
pela Química, restando 10,1% que não souberam responder.
Os principais fatores que justificaram o desinteresse dos alunos
entrevistados em relação à Biologia foram ausência de identificação pessoal,
quantidade de termos técnicos e complexidade dos conteúdos. Na Física foi
destacada com ênfase a incompreensão dos conteúdos e ausência de relação
com o cotidiano. Por fim, na Química foram apresentadas as seguintes
justificativas: incompreensão dos conteúdos, ausência de identificação pessoal
com este campo do saber, e falta de relação da Química com a área de maior
aptidão.
Percebe-se que nos três componentes curriculares são destacadas a
incompreensão dos conteúdos e ausência de identificação pessoal. Em adição,
a memorização de termos técnicos na Biologia, a excessiva matematização
no ensino de Física, bem como a distância entre a Química e o cotidiano
dos alunos demonstram a falha da aplicação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais na escola, uma vez que segundo este documento:
- 118 -
Neste contexto, ao estabelecer a assertiva: “Identifique conteúdos (assuntos)
da área (Ciências Biológicas, Física, Química) que você mais gosta”,
objetivou-se conferir aos alunos autonomia para opinarem sobre suas opções
neste amplo espectro das ciências naturais.
Desta feita descaram-se na área de Biologia os conteúdos referentes
à: genética, botânica, estudo dos seres vivos, desenvolvimento celular, corpo
humano e reprodução, e alimentação. Na Física foram mais apreciados os
conteúdos: energia, eletricidade, velocidade, Física atômica e calorimetria. Por
fim, em relação à Química, foram escolhidos pelos alunos os conteúdos: Química
orgânica, estudo das moléculas, distribuição eletrônica, e elementos químicos.
- 119 -
a capacidade de relacionar o conteúdo apreendido com a sua realidade
manifestada em sua cultura e modo de vida, expressos em seus bens de consumo.
Neste contexto, após abordagem do conteúdo, e exemplificação de sua aplicação
no mecanismo de funcionamento de um aparelho doméstico, por exemplo,
jogos de associação entre os conteúdos curriculares e tecnologias do cotidiano
podem ser utilizados como instrumentos de avaliação da aprendizagem.
Esta forma de avaliação, que objetivamente extrapola a mecanicidade da
memorização e anotação de respostas numa prova tradicional, proporciona ao
aluno desenvolver sua compreensão de mundo e percepção da realidade. Neste
sentido, o Quadro 01 apresenta a relação entre uma das disciplinas da área
de ciências naturais, seu respectivo conteúdo curricular, e alguma tecnologia
do cotidiano, conforme respostas dos entrevistados. Deste quadro depreende-
se que os alunos entrevistados conseguiram estabelecer relações entre os
parâmetros neles contidos.
- 120 -
ambiental de sua cidade. De que forma as Ciências Biológicas, Física e
Química poderiam ajudar a solucionar esta situação?”.
Os entrevistados associaram à Biologia problemas como: poluição dos rios
e deterioração das matas ciliares, manejo de resíduos sólidos e reciclagem, aterros
sanitários, desmatamento e queimadas. Um dado alarmante foi a generalizada
incapacidade dos alunos de relacionarem soluções para problemas ambientais à
Física. Em relação à Química foram demonstrados problemas como saneamento
básico, poluição dos rios e tratamento para tornar água potável.
Para que se associe uma solução derivada de um campo do saber a um
problema ambiental, é preciso antes de tudo, conhecer a realidade do local
onde se vive. Contudo, o trabalho atomizado onde indivíduos produzem ou
prestam serviços sozinhos, somado à destinação excessiva de tempo às redes
sociais e jogos eletrônicos acabam isolando os indivíduos em um mundo
alienado da realidade (ANTUNES, 2018).
É significativo o isolamento e distância entre a aprovação na avaliação
de conhecimento sobre os conteúdos de Física, e o entendimento da aplicação
destes mesmos conteúdos à problemas locais. Aparentemente, não há para
os alunos entrevistados proximidade entre a Física e problemas ambientais.
Quando na verdade, lâmpadas com luz ultravioleta podem ser utilizadas na
etapa de tratamento terciário de esgoto, e numa associação entre utilização de
radiações não ionizantes com danos ao DNA de células atingidas, viabilizar
inclusive uma discussão interdisciplinar entre Física e Biologia (BILOTTA;
DANIEL, 2012).
Esta realidade no âmbito do ensino de Física entre os alunos
amostrados, apresenta-se como um desafio que pode ser enfrentado com base
na investigação temática. Segundo Freire (1987), o tema gerador figura como
unidade central, a partir do qual são selecionados e orientados os conteúdos
destinados à compreensão e superação da situações-limite, sempre numa
perspectiva de avanço da consciência ingênua para a crítica, humanização dos
sujeitos da educação e trabalho coletivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 121 -
a cada semestre, ou é necessário também promover formação continuada
daqueles já ingressos no mercado de trabalho? Qual a sua relação com a
comunidade? A UESB tem perdido espaço para faculdades semipresenciais,
ou de ensino à distância? A UESB tem se aproximado das unidades escolares
da rede pública para divulgar seus cursos de graduação e atividades? Estas e
outras questões devem fundamentar uma ampla e emergencial reflexão por
parte dos professores, colegiados, departamentos, gerência e pró-reitoria de
graduação.
Consideramos que cumpre à Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, enquanto principal centro formador de profissionais no TIMS avaliar
de que modo as determinações do capitalismo dependente, forma expressa
de nosso sistema socioeconômico, têm se materializado em nosso território.
Qual sua influência na economia, na relação com o ambiente, na expectativa
e geração efetiva de emprego e renda? Sobretudo, considerando nosso objeto
de estudo, como as reformas neoliberais da educação tem afetado nossa oferta
de educação básica e superior. A partir desta reflexão podemos compreender
os efeitos no senso comum, no entendimento mais geral que se estabelece em
nossa comunidade, e consequentemente sobre nossos estudantes.
Dessa forma, compreendemos que a UESB pode atuar num processo
de irradiação das ciências naturais a partir das séries iniciais de ensino. Para
tanto, é fundamental dialogar com o curso de Pedagogia, estabelecer projetos
de intervenção junto às SME para que desde cedo os estudantes possam
gradativamente compreender fenômenos físicos, químicos e biológicos.
Assim, ao promover uma diversificação dos conteúdos abordados no currículo
real das escolas infantis, e do Ensino Fundamental ofereceremos aos nossos
alunos, uma melhor compreensão sobre as ciências naturais e, possivelmente,
fomentaremos maior interesse pelos campos da Biologia, Física e Química.
Para que a UESB efetivamente contribua para o desenvolvimento regional
do Território de Identidade Médio Sudoeste precisa cumprir duas principais
funções já citadas neste estudo. Seriam estas: proporcionar a formação de
professores para atuar na rede escolar local; e preparação de quadros técnicos
para enfrentar demandas sociais, ambientais e econômicas locais. Entretanto,
no que tange ao ensino de ciências naturais, esta tarefa, como já demonstrado
neste estudo demanda o enfrentamento e superação de dois importantes
desafios: a incompreensão dos conteúdos que paulatinamente poda o interesse
dos estudantes pela área, e gera o segundo fator, a ausência de identificação
pessoal, dada a incapacidade de ligar os conhecimentos já estabelecidos na
estrutura cognitiva aos ensinados nas aulas (AUSUBEL, 1982).
- 122 -
Também foi constatado que a concepção dos estudantes sobre
tecnologia é ampla e coerente quando associada aos conteúdos que
consideram mais relevantes nas ciências naturais. Esta caracteriza-se como
uma janela de oportunidades para o desenvolvimento de projetos de ensino
em Biologia, Física e Química que oportunizem a identificação dos estudantes
com sua realidade local. Para tanto, metodologias de aprendizagem por
problematização, e utilização de princípios da educação do campo associada à
práticas agroecológicas podem viabilizar a construção de uma práxis reflexiva
do fazer docente, e do processo ensino aprendizagem. Estas ações podem
ser construídas em colaboração com toda comunidade escolar e aplicadas
para mediar a interdisciplinaridade entre as ciências naturais nos contextos
econômico, social e ambiental locais. Neste sentido, estudos mais amplos
podem oferecer um quadro mais abrangente e delineador em relação aos
fatores que influenciam a escolha dos alunos pelos cursos da área de ciências
naturais por todo o TIMS.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Naiane. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): O que trata? A quem
serve? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019. Disponível em: http://
humanas.blog.scielo.org/blog/2019/01/08/base-nacional-comum-curricular-bncc-o-
que-trata-a-quem-serve. Acesso em: 15 Mai. 2019.
ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da Servidão: o novo proletariado de serviços na
era digital. Ed. Boitempo. 2018.
AUSUBEL, David. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São
Paulo: Moraes, 1982.
BAHIA. Perfil dos Territórios de Identidade da Bahia. Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia. SEI, Salvador-Ba, 2016.
BILOTTA, Patrícia.; DANIEL, Luiz Antônio. Utilização de lâmpadas germicidas na
desinfecção de esgoto sanitário. Revista Ambiente & Água, Taubaté, v. 7, n. 1, p. 120-
129, 2012.
BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Aldair Martins. Estratégias de ensino
aprendizagem. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1989.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
- 123 -
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNC C_20dez_site.pdf. Acesso em: 22
Mar. 2020.
CAJUEIRO, Roberta Liana Pimentel. Manual para elaboração de trabalhos
acadêmicos - Guia prático do estudante. Petrópolis: Vozes. 2012.
CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. Jovens em situação de pobreza,
vulnerabilidades sociais e violências. Cad. Pesqui., São Paulo, n. 116, p. 143-
176, July 2002 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-15742002000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 Feb.
2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742002000200007
CONCEIÇÃO Cristina Palma et al. Promoção de Cultura Científica: experiências da
sociologia. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 57, p. 51-81. 2008.
CORREIA, Daniele; DECIAN, Emanoela; SAUERWEIN Inês Pietro Schmidt. Leitura
e argumentação: potencialidades do uso de textos de divulgação científica em aulas de
Física do ensino médio. Ciência Educacional, Bauru, v. 23, n.4, p. 1017-1034. 2017.
DELIZOICOV, Demetrio. Conhecimento, tensões e transições. Orientador: Luis
Carlos de Meneses. 1991. 219 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, USP, São Paulo, 1991.
DUARTE, Thiago Santos; OLIVEIRA, Adriana Marques de; DOMINGOS, Diane
Araújo. A RESSIGNIFICAÇÃO CURRICULAR POSSIBILITADA POR MEIO DA
TEMÁTICA DOS AGROTÓXICOS: um processo de compreensão do contexto para a
educação do campo. Currículo Sem Fronteiras, v. 18, n. 2, p. 691-718. 2018.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GARCIA, Isabel Krey; POZO, Juan Ignácio. CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE
FÍSICA SOBRE ENSINO-APRENDIZAGEM E SEU PROCESSO DE FORMAÇÃO:
um estudo de caso. Investigações em Ensino de Ciências, v. 22, n. 2, p. 96-119. 2017.
GIROTTO, Eduardo Donizeti. A classe trabalhadora vai a universidade: análise das
implicações político-pedagógicas a partir dos dados do departamento de Geografia
– USP. Revista da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia
(ANPEGE). V. 13, n. 20, p. 209-235, 2017.
INEP. Conceitos dos cursos de graduação e das Instituições de Educação Superior
estão disponíveis para consulta. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/artigo/-/
asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/conceitos-dos-cursos-de-graduacao-e-das-
instituicoes-de-educacao-superior-estao-disponiveis-para-consulta/21206>. Acesso
em: 10 Jan. 2019.
LIMA, Guilherme da Silva.; GIORDAM, Marcelo. Propósitos da divulgação científica
no planejamento de ensino. Revista Ensaio, v. 19, p. 1-23. 2017.
LUNKES, Mércio José; ROCHA FILHO, João Berrnardes da. A baixa procura pela
licenciatura em Física, com base em depoimentos de estudantes do Ensino Médio
- 124 -
público do oeste catarinense. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru, v. 17, n. 1, p. 21-34. 2011.
MARQUES, Ana Rita; REIS, Pedro. Ativismo coletivo fundamentado em investigação
através da produção e divulgação de vodcasts sobre poluição ambiental no 8.º ano de
escolaridade. Da Investigação às Práticas, v. 7, n. 2, p. 5-21. 2015.
MENDES, Gabriela Helena Geraldo Issa; BATISTA, Irinéa de Lourdes. Matematização
e ensino de Física: uma discussão de noções docentes. Ciência & Educação. (Bauru),
Bauru, v. 22, n. 3, p. 757-771. 2016.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo:
Hucitec, 2008.
MOLINA, Mônica Castagna; SANTOS, Clarice Aparecida; MICHELOTTI, Fernando.;
Sousa, R.P. (2014). Práticas contra-hegemônicas na formação dos profissionais das
ciências agrárias: reflexões sobre agroecologia e educação do campo nos cursos do
Pronera. (orgs). — Brasília: MDA, 2014. 292 p. (Série Nead Debate; 22).
LEÃO, Nubia Maria de Menezes; KALHIL, Josefina Barreira. Concepções alternativas
e os conceitos científicos: uma contribuição para o ensino de ciências. Latin American
Journal. Physic Educacion. v. 9, nº. 4, 2015. 4601-1 a 3.
PAIS, José Machado. A esperança em gerações de futuro sombrio. Estudos Avançados.
São Paulo. v. 26, n. 75. p. 267-280. 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142012000200018&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 13 Feb. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142012000200018.
ROSA, Cleci Werner da; PEREZ, Carlos Ariel Samudio; DRUM, Carla. Ensino de
Física nas Séries Iniciais: Concepções da Prática Docente. Investigações em Ensino
de Ciências. v. 12, n.3. 357-368. 2007.
SANTOS, Maria Odete Martins; FIGUEIREDO, Josiane Aaparecida Gomes. Gêneros
textuais e as ciências naturais. Cadernos PDE. Curitiba, v. I, p. 1-17. 2016.
SEVILLA GUZMÁN, Eduardo.; OTTMANN, Graciela. Las dimensiones de la
Agroecología. In: INSTITUTO DE SOCIOLOGÍA Y ESTUDIOS CAMPESINOS.
Manual de olivicultura ecológica. Córdoba: Universidad de Córdoba, 2004. p. 11-26.
SOLINO, Ana Paula. Abordagem temática freireana e o ensino de ciências por
investigação: Contribuição para o ensino de ciências/ Física nos anos iniciais.
Dissertação de mestrado. Jequié. 2013.
UESB. Concorrência do Vestibular. Disponível em: <http:// http://www2.uesb.br/
noticias/vestibular-2019-concorrencia/>. Acesso em: 10 Jan. 2019.
- 125 -
Capítulo 7
1
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática e Licen-
ciada em Química (UFG). Aluna do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão
(LPEQI) E-mail: [email protected]
2
Aluno do curso de Química Licenciatura e do Laboratório de Pesquisas em Educação Química
e Inclusão (LPEQI-UFG). E-mail: [email protected]
3
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática e Licen-
ciado em Química (UFG). Aluno do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão
(LPEQI) E-mail: [email protected]
4
Doutora, Mestre e Licenciada em Ciências (UFRJ). Coordenadora do Laboratório de Pesquisas
em Educação Química e Inclusão (LPEQI) e do Grupo de Estudos sobre a Descolonização do
Currículo de Ciências (Coletivo CIATA). E-mail: [email protected]
5
Doutor em Química com ênfase em Ensino de Química e Mestre em Educação em Ciências
e Matemática (UFG). Especialista em Ensino de Ciências (UERJ) e Licenciado em Química.
Coordenador do Núcleo de Tecnologia Assistiva para a Experimentação no Ensino de Ciências
do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI) e atual coordenador do
curso de Licenciatura em Química. E-mail: [email protected]
- 126 -
Na área de Ciências da Natureza, discutir temas sociais a partir da
experimentação é uma alternativa do indivíduo compreender o mundo que o
cerca se tornando capaz de refleti-lo por meio do conhecimento apreendido.
Nesse sentido, o ensino de Ciências pode promover respostas e até soluções
para problemas sociais a partir da inter-relação entre planejamento e ação
(experimental/tecnológica) e suas interpretações científicas com vistas ao
letramento científico e tomadas de decisões mais conscientes.
Nessa conjuntura, concordamos com München (2012) que os
“Cosméticos” são produtos tecnológicos presentes no cotidiano e que podem
ser considerados como tema de estudo por envolver uma série de conteúdos
científicos que podem ser discutidos a partir de dados empíricos experimentais.
Diante da variedade de cosméticos comercializados, os produtos para
alisamento capilar são muito procurados devido à ‘necessidade’ da obtenção de
cabelos permanentemente lisos. Segundo Abraham e colaboradores (2009a),
“mudanças na forma e cor dos cabelos têm sido, desde o início das civilizações,
um dos indicadores de beleza. A moda não se restringe às vestimentas, mas
se expande aos cabelos, gerando uma busca incessante por uma aparência
diferenciada” (p.130).
Atualmente, são usados nessa prática capilar cosméticos contendo
em sua composição tioglicolato de amônio, hidróxido de sódio, hidróxido
de guanidina e hidróxido de lítio que são substâncias liberadas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em concentrações específicas para
o alisamento (ALONSO e RENOVATO, 2015). Contudo, apesar da variedade
de produtos muitos salões de beleza ainda usam formaldeído com esse objetivo,
“pois além de mais barato é um processo rápido e que deixa os fios com brilho
intenso” (ABRAHAM et al., 2009b, p.179).
O controle da venda de cosméticos para alisamento capilar contendo
formaldeído tem sido regulamentado devido aos danos causados pela
exposição contínua, tanto das(os) clientes que procuram por esse tipo de
procedimento quanto para os profissionais que os manipulam. No Brasil, a
popularidade do formaldeído com a finalidade de alisamento capilar cresceu
devido à facilidade de sua comercialização e manipulação do serviço, sem
exigência técnica ou necessidade de maiores conhecimentos e habilidades
profissionais (HALAL, 2017a).
Contudo, mesmo sendo controlado pela ANVISA por meio da
Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 162 de 2001 para atuar apenas como
conservante em produtos para alisamento capilar na concentração máxima
de 0,2%, o formaldeído ainda permanece presente nessa prática de maneira
negligenciada em concentrações acima da permitida. Importa ressaltar que
- 127 -
de acordo com a RDC nº 36 de 2009, o formaldeído nesse percentual de
concentração atua como conservante evitando proliferações fúngicas e não
promove o alisamento.
Diante do exposto, surgem os seguintes questionamentos: se o uso
do formaldeído é regulamentado pela ANVISA, como a substância ainda
é usada nos salões de beleza em concentrações acima da permitida? Quais
as consequências causadas pelo uso constante e indevido dessa substância?
Quais os conhecimentos necessários à sociedade acerca do uso dessa prática
de embelezamento?
Apesar do retorno financeiro trazido ao profissional cabeleireiro devido
à grande procura por essa prática de embelezamento e a satisfação dada
aos clientes pelos resultados alcançados, como alisamento e brilho intenso
dos cabelos, o uso constante de produtos contendo formaldeído pode gerar
consequências graves à saúde dos cabelos e das pessoas que estão expostas à
sua manipulação.
De acordo com Halal (2017), a inalação dos gases liberados contendo
formaldeído durante o aquecimento acarreta danos graduais no tecido do
trato respiratório superior e na parte interna do nariz, além de provocar
asma, pneumonia e bronquite. Para o contato direto com o produto há o
risco do desenvolvimento de dermatites acarretando lesões nas mãos e
hipersensibilidade da pele do profissional cabeleireiro e descamação intensa
do couro cabeludo das(os) clientes.
Pautados no pressuposto de que a formação cidadã é necessária para
a compreensão do uso adequado de produtos cosméticos em práticas de
embelezamento, destacamos a importância do uso desta temática no Ensino
de Química, considerando que contextualizar não é apenas exemplificar, mas
compreender fenômenos presentes no cotidiano a partir de sua significação
crítica e conceitual (WARTHA et al., 2013).
Partindo deste pressuposto, esta investigação versa sobre o design e
aplicação de um objeto virtual de aprendizagem (OVA) intitulado “Alisamento
Capilar: sob o olhar microscópico” abordando dados experimentais obtidos
pela técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). Como ferramenta
da ação mediada, o OVA foi elaborado com base na reflexão teórica de um
diálogo ocorrido em um salão de beleza e visa discutir em turmas de educação
básica e superior os efeitos causados pelo uso constante dessa prática capilar
devido a possibilidade de presença de formaldeído na composição dos
produtos comercializados.
- 128 -
O CAMINHO DA INVESTIGAÇÃO
- 129 -
um assunto específico e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele.
Esse confronto surge do problema de pesquisa que deriva das curiosidades,
inquietações e questionamentos por parte do pesquisador, neste caso, o uso
constante e inconsciente da prática de alisamento capilar.
A realidade dos fenômenos sociais é complexa e para o entendimento
dela o pesquisador, embasado no enfoque qualitativo, consegue realizar seu
estudo de maneira mais profunda para compreender e propor respostas à
problemática da pesquisa (TRIVIÑOS, 2008). Aqui, amostras de cabelo cedidas
por uma cliente foram preparadas pelos autores com produto comercializado
e a adição de formaldeído possibilitando a obtenção de dados macroscópicos
pela técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) para a elaboração
de um OVA, contendo relatos de clientes e embasamento teórico, objetivando
discussões em sala de aula acerca da ação do formaldeído e os possíveis danos
causados a saúde daqueles que constantemente realizam o procedimento e,
consequentemente, divulgação científica para as clientes do salão de beleza.
Importa ressaltar que os dados desta investigação foram coletados
por meio de bate papo das clientes e com uma intervenção pedagógica (IP)
realizada numa turma de segundo ano do Ensino Médio de escola pública de
Goiânia, mediados pela professora, pesquisadora e também profissional do
salão de beleza, ambos gravados em áudio e vídeo para posterior transcrição
e análise teórica.
- 130 -
Nesse contexto, a estética é um aspecto essencial na sociedade e o
consumo dos produtos e serviços são oferecidos envoltos de rituais, como
apontado no diálogo do extrato 1 entre as clientes 1 e 2 (turnos 5, 6 e 7) sobre
a prática constante de alisamento capilar.
Extrato 1
TURNO FALAS
5 Cliente 2: Porque você não faz logo um alisamento capilar?
6 Cliente 1: Eu já usei durante cinco anos. Mas agora prefiro crespo.
Cliente 2: Minha vida é muito ativa, eu trabalho muito. Eu tenho que levantar
7 todos os dias, arrumar o cabelo para trabalhar, para ficar com a aparência
bonita lá no local de trabalho.
8 Cliente 3: Eu não faço mais isso em meu cabelo.
9 Cliente 2: Você fala isso porque seu cabelo é fácil de cuidar.
Cliente 3: Não mesmo. Quando eu fazia não aguentava o cheiro, minha cabeça
ficava repuxando, me sentia muito mal, muita tontura e muita dor de cabeça. E
10
eu tenho uma tia que trabalha na ANVISA e ela já me esclareceu muitas coisas
sobre alisamentos.
11 Pesquisadora: O que sua tia fala sobre o alisamento capilar?
Cliente 3: Não sei explicar da forma que ela explica, mas sei que faz mal para
12
a minha saúde.
Fonte: (LIMA; BENITE, 2017).
- 131 -
A utilização inadequada do formaldeído é avaliada em grau de toxicidade
e carcinogenicidade em seres humanos por instituições de pesquisas como a
International Agency for Research on Cancer – IARC, o Instituto Nacional de
Câncer – INCA – e a Occupational Safety and Health Administration of EUA –
OSHA (HALAL, 2017b). Segundo o INCA:
- 132 -
SOBRE O OBJETO DE ESTUDO: O PREPARO DAS AMOSTRAS
DE CABELO
1 2 3 4 5 6
Fonte: LPEQI
- 133 -
desse tipo de estabelecimento comercial. Isso justifica a necessidade de
abordagem desta prática cotidiana de embelezamento em aulas de Química,
uma vez que a contextualização parte da criação de significados que refletem
no cotidiano dos alunos de forma a entenderem os problemas envolvidos na
cultura e na sociedade (LOPES, 2009).
- 134 -
Figura 2: Frame inicial apresentando as oito áreas de estudo.
Fonte: LPEQI
- 135 -
Figura 3: Frame contendo categorização das substâncias e suas representações:
formaldeído,tioglicolato de amônia, hidróxido de sódio e hidróxido de
guanidina.
Fonte: LPEQI
Fonte: LPEQI
- 136 -
Durante o século XX os produtos de alisamento foram aperfeiçoados e a
utilização do hidróxido de sódio, do tioglicolato de amônia, ambos na década
de 1940 a 1950, e do hidróxido de guanidinaem 1978, se tornou comum (DIAS
et al., 2007). Essas substâncias estão entre as permitidas pela ANVISA para a
finalidade de alisamento capilar em concentrações específicas. De acordo com
a agência, todos os alisantes, inclusive os importados, precisam ser registrados,
do contrário são considerados irregulares podendo causar queimaduras graves
no couro cabeludo, danos à córnea, quebra e queda dos fios de cabelo (BRASIL,
2020), assunto tratado na área “Como fica a saúde capilar após o alisamento?”.
Popularmente conhecido como formol, essa substância é comercializada
em solução numa concentração de 37% de formaldeído (CH2O), com elevado
poder carcinogênico e atualmente proibida de ser vendida em farmácias,
supermercados, armazéns e lojas de conveniência. A exposição diária ao
formol provoca sérios danos ao organismo, como reações alérgicas, dermatites,
aumenta o risco de leucemias e pode levar à morte.
De acordo com Halal (2017), a inalação dos gases liberados pelo formol
durante o processo de alisamento acarreta danos graduais do tecido do trato
respiratório superior e na parte interna do nariz, além de provocar asma,
pneumonia e bronquite. Outro risco ocupacional citado por Halal (2017) é a
dermatite de contato, acarretando lesões nas mãos, hipersensibilidade da pele
do profissional cabeleireiro e descamação intensa do couro cabeludo da cliente.
Fonte: LPEQI
- 137 -
Vale destacar que esta área de estudo tem como objetivo o professor
realizar discussões sobre como o formaldeído age na fibra capilar, abordando
conteúdos de aminoácidos, ligações químicas, ligações peptídicas e proteínas.
Mesmo com a sensação de dor, queima do couro cabeludo, ardência nos
olhos, enfraquecimento, queda e formação de dupla ponta dos fios de cabelo, o
extrato 1 mostra que o procedimento ainda continua sendo muito consumido
por pessoas que justificam proporcionar beleza (ausência de cachos e redução
de volume), praticidade no dia-a-dia e, principalmente, adequação ao espaço
ocupado no mercado de trabalho. Diante deste cenário, nossos resultados
atestam quanto o modo de produção comercializa a objetificação do corpo
e do cabelo para adquirir padrões de beleza exigidos por um recorte social
subserviente a ele (BELK,1988; SILVA e FARIAS, 2018). A área “Como funciona
a legislação para o alisamento capilar?” visa divulgar as regulamentações da
ANVISA acerca da comercialização e uso do formaldeído (Figura 6).
A suspensão do uso de produtos para alisamento capilar à base de formol
tem sido cada vez mais divulgada e regulamentada devido aos danos causados
pelo seu uso contínuo. O formaldeído (CH2O) é usado em cosméticos para
atuar como conservante na concentração máxima de 0,2%, e em esmaltes
(endurecedor de unhas) na concentração máxima de 5%, segundo a RDC nº
15 de 2013 (BRASIL, 2013).
Fonte: LPEQI
- 138 -
De acordo com a ANVISA a concentração de 0,2% de formaldeído não
promove alisamento e o mesmo não pode ser utilizado para essa finalidade
de acordo com a RDC nº 36, de 2009. A agência ressalta ainda que adicionar
formaldeído em produtos prontos e acabados é uma infração sanitária e
crime hediondo, de acordo com o art. 273 do Código Penal (BRASIL, 2001;
BRASIL, 2009).
Pautados neste pressuposto, a ANVISA afirma existir um desafio:
a necessidade de promoção de medidas educativas devido ao número
elevado de estabelecimentos comerciais que tratam da beleza e estética no
Brasil (BRASIL, 2019). Contudo, defendemos nesta investigação que essas
medidas educativas não devem ficar restritas aos profissionais (proprietários
e cabeleireiros), mas que se estendam para dentro das instituições de ensino,
seja na educação básica ou superior, visto que dessa forma é possível a
promoção de uma formação crítica e reflexiva quanto às escolhas dos
produtos e serviços consumidos diariamente.
Pensado sobre isso, a área de estudo “Como funciona um Microscópio
Eletrônico de Varredura?” objetiva aproximar os alunos de técnicas avançadas
e conteúdos da Ciência experimental que os auxiliem na capacidade de
abstração e apropriação de conhecimentos submicroscópicos presentes em
questões sociais tão comuns no dia-a-dia.
A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) “fornece rapidamente
informações sobre a morfologia e identificação de elementos químicos de uma
amostra sólida. Sua utilização é comum em biologia, odontologia, farmácia,
engenharia, Química, metalurgia, Física, medicina e geologia” (DEDAVID,
GOMES e MACHADO, 2007). Para os autores,
- 139 -
Assim, as imagens provenientes da MEV possuem característica
tridimensional permitindo “o exame em pequenos aumentos e com grande
profundidade de foco, o que é extremamente útil, pois a imagem eletrônica
complementa a informação dada pela imagem óptica” (DEDAVID, GOMES e
MACHADO, 2007, p.10).
Fonte: LPEQI
- 140 -
REFLETINDO A AÇÃO: DISCUTINDO OS RISCOS DO
ALISAMENTO CAPILAR A PARTIR DA MICROSCOPIA
ELETRÔNICA DE VARREDURA – MEV
- 141 -
Gráfico 1: Resultado da pergunta “Quantos de vocês conhecem ou já fizeram
alisamento capilar?”.
38%
62%
Extrato 2
Turno Falas
PFC: O formaldeído não é permitido para alisamento. De acordo com a vigilância
sanitária ele não tem liberação para essa finalidade. Então, o que acontece quando se faz
o procedimento? Além de ardência nos olhos, ele pode acarretar reações alérgicas. Você
respira o produto, que vai entrar nas vias respiratórias, podendo causar queimaduras na
149
laringe, no pulmão e na traqueia. De acordo com a ANVISA e o Instituto Nacional de
Câncer, esse produto quando utilizado acima do padrão permitido se torna agressivo ao
nosso organismo e pode ser cancerígeno. Tem gente que reclama de dor de cabeça, tosse,
falta de ar...
151 A7: Ele é prejudicial tanto para a pessoa que faz quanto para o cabeleireiro!?
152 PFC: Sim! Agora, mais prejudicial para a cliente que está no salão ou para a cabeleireira?
153 Todos: Para a cabeleireira!
A7: A cliente pode se proteger pondo uma toalha no rosto, por exemplo, ajuda a não
154 inalar. A cabeleireira não, ela tem que estar com as duas mãos no cabelo, não tem como
segurar a toalha.
- 142 -
Segundo Wertsch (1999), a construção conceitual ocorre por meio da
ação mediada num processo de interação (professor-aluno e aluno-aluno)
com a predominância dos contextos. Para ele, embora exista uma dimensão
psicológica individual na ação humana, ela não é independente e está sempre
acompanhada de sua relação com o contexto sociocultural (TRAZZI e
OLIVEIRA, 2016).
Nesta investigação, podemos caracterizar a ação mediada pela
relação existente entre os múltiplos movimentos estabelecidos pelo OVA
(discussões acerca dos serviços oferecidos pelos salões de beleza, o controle
dos organismos legais, o auxílio das técnicas específicas da Ciência, dentre
outros) que viabilizaram a constituição do processo de interação conteúdo-
professor-alunos no contexto de sala de aula, auxiliando-os na apropriação de
conhecimentos essenciais para a tomada de decisões quanto ao consumo desse
tipo de serviço, evidenciada tanto no questionamento (turno 151) quanto na
conclusão de A7 (turno 154), ambos mediados pelas falas de PFC (turnos 149
e 152).
Importa salientar que a aprendizagem está relacionada aos meios
cultural e social no qual o sujeito está inserido. Nossos resultados apontam
a necessidade de o professor como mediador desse processo considerar o
entorno social dos alunos para a abordagem dos conteúdos, pois do contrário
ele terá dificuldades de alcançar seu objetivo, visto que sua fala não fará sentido
para eles (MARTINS e MOSER, 2012).
Sobre as propriedades do formaldeído seu ponto de ebulição é de
-19,3°C, o que o torna muito volátil à temperatura ambiente e mais volátil ainda
quando submetido à temperatura mais elevada, como as de secadores de cabelo
e pranchas (180°C e 230°C, respectivamente), espalhando-se rapidamente pelo
ar do estabelecimento, sendo inalado pelos presentes.
Quanto à ação no cabelo, por meio do OVA foram apresentadas aos
alunos imagens ampliadas pela MEV do cabelo natural à esquerda e do cabelo
tratado com formaldeído à direita (Figura 8).
- 143 -
Figura 8: Frame com imagens de MEV mostrando alterações na fibra capilar
com o uso de produto contendo formaldeído.
Fonte: LPEQI
Extrato 3
TURNO FALAS
185 PFC: Aqui para vocês qual é o cabelo natural e qual é o que tem formol?
186 A3: Esse é o natural e esse é o formol.
187 A7: O da esquerda é natural e o da direita tem formol.
188 PFC: Então, quando você faz a progressiva você tem a sensação de um cabelo?
189 A3: Liso, maravilhoso, brilhoso e escorrido!
190 PFC: Isso a olho nu! Mas quando a gente vai para o microscópio?
191 A3: Todo estranho...
192 A4: Todo detonado!
- 144 -
Quando submetido ao alisamento capilar, o resultado do cabelo alisado
com formaldeído se mostra com duas características. A primeira se deve a
sensação de que há uma camada cobrindo as cutículas do fio de cabelo e que
isso se deve ao fato de o formaldeído formar ligações cruzadas com a queratina
e os aminoácidos – arginina, lisina, tirosina, histidina e os derivados de amido
de aspartato e glutamato (figura 5). Portanto, essa camada nada mais é do
que o formaldeído aderido à superfície do fio de cabelo (WEATHERSBY;
MCMICHAEL, 2012).
Observou-se, também, uma região com porosidade elevada quando
comparada ao cabelo natural. O cabelo alisado com formaldeído, no aspecto
visual promovido pela MEV por meio do OVA, apresenta-se com brilho
extremo, como relatado por A3 (turno 189), contudo microscopicamente
observamos uma região onde as cutículas se apresentam lixiviadas, isso ocorre
porque o pH do produto é extremamente ácido quando comparado ao pH
natural do fio de cabelo.
Esse dano causado à fibra capilar está diretamente associado ao desgaste
da camada F, camada da epicutícula- 18MEA, responsável por conferir maciez
e penteabilidade aos cabelos. Segundo Halal (2017),
- 145 -
para causar impacto no ambiente de ensino, como foi o caso da coordenadora
(C) da escola que relatou sua experiência (turnos 81e 83) ainda quando criança
despertando a atenção dos presentes (extrato 4).
Extrato 4
TURNO FALAS
C: Antigamente tinha um alisamento que a minha mãe fazia, mas hoje em dia as
81
coisas melhoraram muito era um alisamento feito com soda cáustica.
82 A9: Nossa!
C: Eu ficava correndo no quintal gritando, mas como o resultado era muito bom a
83 gente fazia mesmo assim!Mas queimava feito fogo, inclusive dava uns machucados
na cabeça.
84 PFC: A soda cáustica é o quê?
85 A1: Produto químico.
86 PFC: O que mais?
87 A12: Tóxica.
88 A8: Ácido.
89 PFC: É um ácido?
90 A10: Não, não é um ácido.
91 PFC: Não é ácido? É o quê?
92 A2: É uma base professora.
PFC: É o hidróxido de sódio, NaOH. Quando ela fala que corria no quintal é
porquequeima. Esses produtos para alisamento têm um pH que distância muito do
95
pH fisiológico do couro cabeludo e do fio de cabelo. Porque quem vai romper as
ligações iônicas e as ligações de dissulfeto é a influência de quê?
96 A1: Do pH!
- 146 -
até duas vezes seu diâmetro original, uma vez que a concentração de íons
hidroxônio (OH-) é bastante elevada tornando o seu pH extremamente elevado
(12-13) e caracterizando essa substância Química como altamente corrosiva,
o que justifica a sensação de ardência e coceira citada pela coordenadora no
extrato 4.
Sendo assim, nossos resultados ressaltam o papel fundamental dos
agentes (professora e estudantes), com destaque para PFC que pôde mediar a
discussão a partir de suas experiências como profissional do salão de belezas e
representante legítima da comunidade científica de químicos, e do OVA como
ferramenta da ação mediada promovendo a relação entre as representações
simbólicas culturais da Ciências/Química e questões sociais acerca do uso
de procedimento para alisamento capilar possibilitando o desenvolvimento
das funções psicológicas superiores dos envolvidos bem como a formação
crítica necessária para a tomada de decisão quanto ao consumo desse tipo de
procedimento (OLIVEIRA, 1993; WERTSCH, 1999).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq
- 147 -
REFERÊNCIAS
- 148 -
LEVY, P. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Ed. 34, 1997. 153
LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
LIMA, T. de S.; BENITE, C. R. M. Alisamento Capilar- uma proposta para o Ensino de
Química. In: Anais da XIV
Semana de Licenciatura -V Seminário da Pós-Graduação em Educação para Ciências
e Matemática, 2017.
LÜDKE, M. e ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
MUNCHEN, S. Cosméticos: uma possibilidade de abordagem para o ensino de
Química (Dissertação de Mestrado) Programa de Pós-graduação em Educação em
Ciências - Universidade Federal de Santa Maria,2012.
NAGATANI, T.; SAITO S.; SATO, M. and YAMADA, M. Development of an ultra-
high resolution scanning electron microscope by means of a field emission source and
in-lens system. ScanningMicroscopy, v.11, p.901-909, 1987.
PEIXOTO, J. e ARAÚJO, C. H. S. Tecnologia e educação: algumas considerações sobre
o discurso pedagógico contemporâneo. Educação & Sociedade, v.33, n.118, p.253-268,
2012.
POSTMAN, N. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nobel, 1994.
POZO. J. I. e CRESPO. M. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento
cotidiano ao conhecimento científico. Porto Alegre: Artemed, 2009.
SANTOS, W. L. P. e MORTIMER, E. F. Uma Análise de Pressupostos Teóricos
da Abordagem C-T-S (Ciência-Tecnologia-Sociedade) no Contexto da Educação
Brasileira. Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v.2, n.2, p.01-23, 2000.
SANTOS, W. L. P. Educação científica humanística em uma perspectiva freireana:
resgatando a função do ensino de CTS. Alexandria Revista de Educação em Ciência e
Tecnologia, v.1, n.1, p.109-131, 2008.
SANTOS, W.P. e MORTIMER, E.F. Uma Análise de Pressupostos Teóricos da
Abordagem CTS (Ciência - Tecnologia - Sociedade) no Contexto da Educação
Brasileira. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v.2, n.2, p.110-132, 2002.
SCHMIDT, M.L.S. Pesquisa Participante: alteridade e comunidades interpretativas.
Psicologia USP, v.17, n.2, p.11-41,2006.
SILVA, J.L.; SANTOS, A.W. e RODRIGUES, G.S. O conhecimento científico e
o conhecimento cotidiano na perspectiva de professores de Física e de Química
em Itabaiana/SE. Colóquio internacional de educação e contemporaneidade, São
Cristóvão/SE, 2012.
SILVA, M.L.A.; TAQUETTE, S.R. e COUTINHO, E.S.F. Sentidos da imagem corporal
de adolescentes no ensino fundamental. RevistaSaúdePública, v.48, n.3, p.438-444,
2014.
- 149 -
TOMES, C.; JONES, J.T.; CARR, C.M. and JONES, D. Three-dimensional imaging
and analysis of the surface of hair fibers using scanning electron microscopy.
InternationalJournalofCosmetic Science, v.29, n.3, p.293-299, 2007.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo: Atlas, 2008.
WARTHA, E. J.; SILVA, E. L. e BEJARANO, N. R. R. Cotidiano e contextualização no
ensino de Química. Química Nova na Escola, v.35, n.2, p.84-91, 2013.
WERTSCH, J. V. La mente enacción. Buenos Aires, AR: Aique, 1999.
WERTSCH, J. V. Voices of the mind: a sociocultural approach to mediated action.
Cambridge: Harvard University Press, 1991.
WERTSCH, J. V. Vygotsky and the social formation of mind. Cambridge. Harvard
University Press, 1985.
- 150 -
Capítulo 8
- 151 -
foi criado o Fundo Nacional de Ensino Primário, em 1942, o Serviço de
Educação de Adultos e a Campanha de Educação de Adultos, ambos em 1947,
a Campanha de Educação Rural iniciada em 1952 e a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo em 1958 (RIBEIRO; PIERRO; JOIA, 2001).
Ainda de acordo com Ribeiro; Pierro e Joia (2001), essas campanhas
ocasionaram reflexões e indagações pedagógicas por parte de muitos estudiosos
acerca do analfabetismo, suas consequências sociais e de como estavam sendo
realizadas as metodologias de ensino para esse público. Porém, mesmo com
essas reflexões e indagações, somente nos anos 60, diversas experiências de
educação de adultos foram apresentadas por Paulo Freire, e incentivaram a
busca por uma melhoria nas condições educacionais.
Esses programas com o passar dos anos foram se modificando
e começaram a surgir etapas posteriores à alfabetização, denominados
supletivos. Apesar de ser destinado a adultos, problemas como a deficiência do
sistema escolar regular público, necessidade precoce de inserção no mercado
de trabalho, vulnerabilidade e outros fatores levaram adolescentes e jovens que
estavam atrasados no ensino regular a se inserirem nos supletivos, alterando
assim as características iniciais do programa devido às diferentes faixas etárias,
experiências e expectativas desses alunos (RIBEIRO; PIERRO; JOIA, 2001).
Essa modalidade de ensino que incluem jovens e adultos é conhecida
como EJA, os alunos inseridos nessa modalidade têm a oportunidade de obter
o certificado de conclusão da Educação Básica em um tempo reduzido e tendo
acesso a todos os componentes curriculares da Educação Básica regular.
Além disso, deve ser considerado a formação desses professores que
atuam no EJA. Alguns conteúdos pedagógicos são abordados nas licenciaturas
de forma superficial e o professor, por sua vez, quando se depara com
determinadas realidades nas salas de aula, utilizam como único recurso de
ensino o livro didático que comumente são escolhidos pela melhor oferta e
melhor preço, mas infelizmente nem sempre é o melhor em termos conceituais
(FRANCISCO JÚNIOR, 2008).
Dessa forma, este trabalho traz alguns resultados obtidos de uma
pesquisa de mestrado - modalidade profissional, que tinha ponto de partida
a seguinte questão: Como alinhar as experiências cotidianas aos saberes
Químicos a partir da utilização de experimentos que contemplem os conceitos
de químicos na Educação de Jovens e Adultos? Com isso, o objetivo foi de
desenvolver em grupo de alunos de EJA a ampliação de conhecimentos
científicos a partir das suas experiências cotidianas, tendo como plano de
fundo, uma atividade que era desenvolvida por um dos sujeitos da pesquisa.
- 152 -
Para alcançar esse objetivo foi necessário conhecer esses sujeitos,
observar suas dificuldades, suas experiências e seus interesses, por meio de
entrevistas semiestruturadas. Após essa etapa, foram analisadas as falas desses
alunos e, em seguida, a aplicação de uma sequencia didática que contemplassem
temas a partir da realização de atividades experimentais. Para verificar o nível
de (re)construção de conhecimento e aprendizagem e, indiretamente, o quão
importante foram as aulas experimentais, foi utilizado o método do diário de
bordo individual, cujo conteúdo foi analisado e discutido.
- 153 -
(STRELHOW, 2010). De acordo com Haddad e Di Pierro (2000) o estado
trazia a promessa de que o MOBRAL acabaria com o analfabetismo em dez
anos. Naquele período, devido ao controle dos meios de comunicação, muitas
campanhas publicitarias foram feitas defendendo o programa e oportunizando
seu crescimento. No entanto, mesmo com tantas promessas e publicidades, o
programa foi duramente criticado e colocado em questionamento.
- 154 -
para o trabalho (Senai- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e
Senac- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e a Qualificação que
visava apenas a profissionalização, sem a preocupação com a educação geral
e se propunha apenas a formação de recursos humanos para o trabalho. Em
síntese, HADDAD e DI PIERRO (2000) fazem um apanhado geral referente a
educação no período militar:
- 155 -
era a prevenção do analfabetismo, novamente, observa-se a preocupação do
estado com dados quantitativos.
- 156 -
economicamente ativas, e não tinha o objetivo de substituir a Educação Básica,
mas de complementar e qualificar profissionalmente.
Muitas discussões foram realizadas e muitas lutas de movimentos
sociais e outras instituições levaram em 2007 a inclusão da EJA no Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação - FUNDEB pela Emenda Constitucional nº
53/06 que se estenderá até 2020, e tem como meta elevar e redistribuir os
investimentos na educação em todas as modalidades. No entender, os valores
disponibilizados para EJA em relação a outras modalidades ainda são baixos.
Os atores do EJA
- 157 -
A Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio
na idade própria. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas
as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996. p.13).
Grande parte dos adultos que frequentam as salas de aula da EJA são
trabalhadores, pais e mães que retornam às carteiras escolares por motivos
diversos como a qualificação profissional, expectativas em ingressar em
um curso técnico ou mesmo superior, ou simplesmente, para se realizarem
pessoalmente resgatando a oportunidade de estudo perdida quando
crianças, adolescentes ou jovens devido as dificuldades enfrentadas na época
(LOMBARDI, 2003). Nessas salas encontramos uma heterogeneidade de
estudantes da EJA, sendo constituído por jovens que por diversos problemas,
econômicos, sociais e culturais, tiveram reprovações, ficaram retidos por
muito tempo em um nível ou saíram da escola por algum período e foram
inseridos nessa modalidade. Reforçando as informações anteriores, Haddad e
Di Pierro (2000) relatam em seu artigo que a partir dos anos 80 o público da
EJA que antes eram pessoas adultas ou idosas oriundas da zona rural, passou
a abranger também jovens da cidade, com a trajetória escolar malsucedida.
Esses jovens são reconhecidos como “alunos - problemas” que não tiveram
sucesso no ensino regular e, agora, buscam aceleração nos estudos. Esse fato
pode ser verificado no trecho que segue, retirado de Brasil (2007):
- 158 -
muitas desigualdades. Esses jovens, compõe um quarto da população nacional,
sendo que 80% deles têm entre 18 e 29 anos de idade, quanto ao gênero o
percentual é equiparado a maioria e se declara parda e preta, se enquadrando
nas classes sociais média e baixa (BRASIL, 2013). Ainda de acordo com a
mesma pesquisa, a educação desses jovens tem melhorado se comparada com
a geração passada. No entanto, os números de defasagem educacional ainda
são altos, cerca de 16% não concluíram o Ensino Fundamental e 20 % não
concluíram o Ensino Médio.
Os alunos que retornam as salas de aula e ingressam na Educação de
Jovens e Adultos se deparam com muitas dificuldades, físicas ou psicológicas,
que prejudicam o aprendizado. Seja pela insegurança devido ao longo
período que ficaram sem estudar, pela vergonha por não estar no nível escolar
correspondente a idade, ou por outros fatores como o cansaço pela excessiva
jornada de trabalho a que são submetidos, que atrapalha a concentração e
consequentemente a construção do saber.
Algumas das dificuldades vivenciadas pelos alunos da EJA, segundo
Lombardi (2003), são ocasionadas principalmente por causas psicológicas,
pois esses alunos se culpam pela evasão, repetência e fracasso escolar por não
conhecerem a máquina ideológica do estado, que os exclui na oportunidade
de estudar. Peluso (2003) também corrobora com as ideias acima, como
podemos perceber:
- 159 -
dificuldades pois, na maioria das vezes, não estão e não são preparados para
atuar com as especificidades desses estudantes.
O papel do professor na educação é fundamental, tendo em vista que ele
ocupa a função de mediador do conhecimento do aluno. Isso significa que nessa
concepção o professor é o responsável por “abrir os olhos” do aluno e chamar
sua atenção para a verdadeira constituição da aprendizagem, é responsável por
transformar o saber comum em saber científico, auxiliando o aluno a construir
um pensamento crítico acerca do seu cotidiano e seu papel social.
Freire (2013) destaca em alguns trechos o que é ensinar, confirmando a
ideia acima, a respeito de mediar, provocar o aprendizado:
- 160 -
universidades, em ampliar as discussões e promover a formação desses
profissionais, seja nos cursos de formação, de pós-graduação ou extensão,
considerando os problemas expostos nas diversas produções existentes
(ALVES, 2010).
- 161 -
oriunda das concepções freireanas como cita Araújo (2015) em sua pesquisa
de mestrado:
- 162 -
No primeiro encontro com a turma, antes da entrega dos cadernos, foi
explicado o que era um diário de aula, e que após cada registro os diários seriam
recolhidos para análise e adequação das próximas aulas, pois eles seriam usados
como dados para a pesquisa. Para não gerar constrangimento e evitar a falta de
produção textual pelos alunos, cada um recebeu um número, de acordo com a
numeração utilizada também na entrevista, esse número foi registrado em cada
diário e usado como identidade dos alunos participantes da pesquisa.
Após o desenvolvimento de cada aula, os alunos eram incentivados
a escrever no diário, a respeito de suas concepções, sugestões e aprendizado
durante as aulas aplicadas. O diário dessa forma foi um dos instrumentos de
cunho avaliativo e reflexivo, no sentido de observar a construção de aprendizado
do aluno e repensar a metodologia e planejamentos das aulas posteriores.
A sequência didática, bem como as atividades desenvolvidas e os meios
de avaliação estão descritas no quadro 1.
Fonte: os autores
- 163 -
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 164 -
empregos e promoções profissionais e até mesmo a busca pelo diploma
de curso superior. No entanto, além das diferenças nas perspectivas de
cada aluno, essas estão presentes tambem no modo como concebem o
aprendizado (LOMBARDI, 2003).
Em relação a profissão, grande parte dos homens trabalhavam em
empresas da cidade sendo as alimentícias ou sucroalcooleiras como principais.
Já entre as mulheres, a maior parte é desempregada e buscam com a ascensão
escolar se inserir no mercado de trabalho.
- 165 -
disponível para os empregos de baixa qualificação, trazem novamente
este sujeito ao universo escolar. Em outras palavras, a dimensão social
do trabalho tanto leva os jovens e adultos a largarem a escola quanto a
retornarem à mesma (NAIFF; NAIFF, 2008, p. 404).
- 166 -
não percebe que tá usando né, igual, quando vai plantar pra fertilizar, tipo
assim, as vezes tem até alguma reação Química do esterco com alguma
coisa a gente nem percebe, porque a gente não entende muito, mas tem”.
IRÍS: “ah, hoje em dia em muita coisa né, amaciante, sabão em pó,
produto de cabelo”.
HORTÊNCIA: “É, assim, não é uma matéria fácil, tem que ter um pouco
de atenção, mas eu sou mais a Química do que a Matemática, to saindo
até bem”.
CRAVO: “É bom, conhecer coisas a mais, pra melhorar na profissão é muito
bom...igual, pra saber da preparação da cana, é bom saber Química”.
VIOLETA: “Gosto, não tenho nada contra não, é uma matéria
interessante...porque se torna, assim, depois que eu voltei a estudar do ano
passado pra cá, os professores de Química fazem aulas diferentes, levam
experiências pra dentro da sala, então parece que fica um atrativo sabe,
atrai a atenção da gente”.
- 167 -
LÍRIO: “Porque ela é, vamos dizer assim, ela é geral, tem interpretação de
texto, sempre tem uma novidade, Química não é uma matéria que cansa,
sempre tem uma novidade, é que nem uma porta, toda hora abre um novo
ambiente dentro dela, é uma matéria que te envolve”.
Na maior parte das falas registradas foi possível perceber que o gostar de
Química tem relação com o significado do conteúdo que eles estão estudando,
da relação que eles conseguem fazer com suas experiências ou situações
vivenciadas individualmente. De acordo com Freire (2013), a significação da
aprendizagem depende muito da forma como se ensina. Nesse sentido, ensinar
é buscar, indagar, constatar, intervir, exige conhecimento, troca de saberes,
troca de experiências. A partir dessas relações pode ocorrer à verdadeira
aprendizagem, aquela que transforma o sujeito, fazendo com que ele se torne
autônomo, emancipado e parte da sociedade.
- 168 -
uma explicação eu queria saber, a gente faz porque alguém ensinou né,
mas eu não sei porque acontece, aí vai virando aquela pasta, cê tem que
mexendo até parar a fervura, aí vira o sabão.
Pesquisadora: é o que você falou, é uma reação Química, isso que acontece
é uma reação exotérmica, que é uma reação que libera muito calor, por
isso você vê a mistura “fervendo”.
HORTÊNCIA: porque a soda é quente e o álcool também
Pesquisadora: na verdade os dois quando colocados juntos eles reagem
e libera muito calor, é uma questão energética, de liberação de calor na
reação, (...) ali pra acontecer aquela reação tem uma energia ali, e a
energia liberada é muito alta por isso que esquenta, são reações Químicas.
Talvez a gente possa trabalhar com isso, você traz a sua receita de sabão
e a gente faz aqui
HORTÊNCIA: é bom, interessante, eu gosto de fazer, é muito interessante
ver o óleo que suja, fazer sabão.
- 169 -
obtenção do sabão. Durante todo momento eles questionavam sobre diferentes
pontos, compartilhando as experiências que já tinham vivenciado.
Quase todos os alunos mostraram saber o processo de fabricação de
sabão, com receitas variadas e perguntas sobre essas diferenças foram surgindo.
Uma das alunas disse colocar fubá de milho na mistura, outra contou sobre a
experiência de fazer sabão líquido. Para as perguntas específicas do conteúdo,
pedimos aos alunos que refletissem sobre elas para que pudéssemos conversar
nas próximas aulas e foram instruídos a anotar tudo no diário.
Além disso, os alunos apresentaram conceitos e ideias sobre
sustentabilidade e reaproveitamento do óleo:
- 170 -
Figura 1: Reação de Saponificação
Essa aula foi registrada pelos alunos e foi possível perceber pelos relatos
em diário a construção do conhecimento e a referência a cada um dos conceitos
químicos abordados.
TULIPA: Hoje eu aprendi que o sabão limpa porque o apolar, junta com a
sujeira e o polar que fica para cima junta com a água que também é polar
e assim quando vamos lavar sai toda a sujeira.
DÁLIA: Aprendemos um pouco de como fazer sabão de álcool. Também
foi falado sobre os cerídeos, glicerídeos, esteroides. Aprendemos sobre
gorduras e lipídeos, o que é bom para o nosso corpo e o que é ruim.
ROSA BRANCA: Aprendi que quando mistura sabão e ácido sulfúrico
separa, igual na reação.
LÍRIO: Aprendi a origem do sabão como é a sua estrutura e no que ele é
aplicado, na sujeira e do que ele é composto, também sobre os lipídeos e o
glicerídeo que é uma classe dos lipídeos, formado por ácidos graxos superiores
e sua reação com um álcool graxo. Conheci a fórmula estrutural a cadeia
estrutural e todas as composições necessárias para a fabricação do sabão
e seus componentes, glicerina. E como a sua composição Química limpa a
sujeira devido ele ser polar e apolar e a reação de um em contato com o outro.
FLOR DE LARANJEIRA: Que o chocolate tem gordura e gordura vem do
lipídeo e que a sujeira é formada por óleos e gorduras e os óleos e gorduras
constituem a sujeira que é a mesma base para produção do sabão e a
mistura de sabão líquido com ácido sulfúrico.
HORTÊNCIA: Os esteroides são tipos de lipídeos que estão ligados aos
hormônios. A origem do sabão muito diferente da atualidade, e também
aprendi como separa a glicerina. Só a gordura e a água juntas não vai
haver nenhuma reação Química, mas se usarmos o sabão daí vai haver
uma reação que é a parte polar com a apolar.
- 171 -
Foi possível perceber a interação dos alunos durante a explicação, já
que era um assunto comum e conhecido por eles. Muitos relatos durante a
participação demonstravam os saberes comuns pelas experiências diárias e
todas essas experiências foram consideradas, pois de acordo com Brasil (2013)
é importante considerar o conhecimento dos alunos para que a partir deles
outros saberes sejam construídos:
CONCLUINDO A PESQUISA
- 172 -
Por meio dos estudos mencionados neste trabalho, observamos que
o país em seu contexto histórico, social e econômico passou por diversas
situações que, infelizmente, promoveram a desigualdade e, consequentemente,
a falta de oportunidade entre seu povo. Entre elas a exclusão de muitos do
sistema educacional.
Muitos, por dificuldades financeiras, necessitaram abandonar ou
até mesmo nunca iniciar seus estudos, pois ao contrário da dedicação e ao
enriquecimento intelectual, foram forçados a servirem como mão de obra
para o crescimento do país, que agora exige a qualificação por meio de estudos
para que possam ocupar posições e se enquadrarem novamente ao mercado
de trabalho.
Para despertar o interesse e motivação dos alunos nesse retorno as
cadeiras escolares, a escola e os professores podem contribuir com a realização
de atividades que sejam interessantes e façam parte do cotidiano desses sujeitos.
Daí a importância da realização de estudos, cursos e pesquisas que alcancem a
comunidade escolar e auxilie nesse processo de reinserção dos alunos.
Observamos nesses alunos por meio dos seus registros, das suas
falas e interações durante as aulas a busca pelo resgate de oportunidades e a
consciência da necessidade de transformação pessoal e de todas as dificuldades
que enfrentam diariamente para esse fim.
Os conceitos e conteúdos Químicos presentes na temática “sabão” foi
importante para esses alunos e promoveu uma rica discussão que proporcionou
a (re)construção deste conhecimento e serviram de acesso a outros e próximos
saberes.
Sabemos que trabalhar com um conteúdo como o abordado neste
trabalho não vai sanar todos os problemas da educação, em específico do
ensino de Química e na EJA, mas acreditamos que estamos contribuindo com
um passo em uma longa caminhada. Além disso, nos enriquecemos como
pessoas e como profissionais, pois, é gratificante e engrandecedor trabalhar
com os alunos da EJA.
REFERÊNCIAS
- 173 -
BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diretrizes e Bases para o ensino de 1º
e 2º Graus. Brasília, 11 ago. 1971.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, 20 dez. 1996.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 11/2001 e Resolução
CNE/CBE nº 1/2000. Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos.
Brasília: MEC, maio 2000.
BRASIL. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/
MEC) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). Educação de Jovens e Adultos: Uma memória contemporânea, 1996-
2004. Brasília, 2007.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Básica: diversidade e inclusão. Brasília, 2013.
DELIZOICOV, D. Conhecimento, tensões e transições. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Educação de São Paulo, São Paulo, 1991.
FARIAS, A. F. A diversidade das identidades dos sujeitos da EJA: Uma relação dos
sujeitos de Água Boa- MG e Presidente Prudente-SP. In: Congresso de extensão
universitária da UNESP, 2009, Anais do V congresso de extensão universitária da
UNESP. Águas de Lindoia, SP, 2009.
FRANCISCO JÚNIOR, W. E. Carboidratos: Estrutura, Propriedades e Funções.
Química Nova Na Escola, São Paulo, SP, n. 29, p. 8-13. 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 47. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
GIORDAN, M. O Papel da experimentação no ensino de ciências. Química Nova na
Escola, São Paulo, SP, n.10, p. 43-49. 1999.
HADDAD, S.; DI PIERRO, M. C. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira
de Educação, Rio de Janeiro, RJ, n. 14, p. 108- 130. 2000.
LOMBARDI, S. M. Educação de Jovens e Adultos: Reflexões sobre o momento atual.
Monografia (Especialização) – Pós-Graduação Lato-Sensu Projeto a Vez do Mestre,
Rio de Janeiro, 2003.
MALAFAIA, G.; RODRIGUES, A. S. L. Uma reflexão sobre o ensino de ciências no
nível fundamental da educação. Ciência e Ensino, n.2, p.1-9. 2008.
MENDES, R. M. et al. O ensino de Química na educação de jovens e adultos: um olhar
para os sujeitos da aprendizagem. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em
Ciências, Anais do VIII Enpec, 2011.
MENDES, R. M. O Ensino de Química na Educação de Jovens e Adultos: em foco os
sujeitos da aprendizagem. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação Em
Química da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2013.
- 174 -
MOURA, T. M. M. Formação de educadores de jovens e adultos: realidade, desafios e
perspectivas atuais. Práxis Educacional, Vitória da Conquista, BA, n.7, p. 45-72. 2009.
NAIFF, L. A. M.; NAIFF, D. G. M. Educação de jovens e adultos em uma análise
psicossocial: representações e práticas sociais. Psicologia e Sociedade, n. 3, p. 402-
407. 2008.
NASCIMENTO, R. L. O Ensino de Química na Modalidade educação de jovens
e Adultos e o cotidiano como estratégia de ensino/aprendizagem. Monografia
(Licenciatura em Química) – Setor de Ciências Exatas, Faculdade Integrada da Grande
Fortaleza, Peabiru, 2012.
PELUSO, T. C. L. Diálogo e conscientização: alternativas pedagógicas nas políticas
públicas de Educação de Jovens e Adultos. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-
Graduação Em Educação da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.
RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira: a organização escolar. Campinas:
Autores Associados, 2007.
RIBEIRO, V. M.; DI PIERRO, M. C.; JOIA, O. Visões da educação de jovens e adultos
no Brasil. Caderno Cedes, Campinas, SP, n. 55, p. 58-77. 2001.
SOLOMONS, T.W. Química Orgânica 2. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,1996.
STRELHOW, T. B. Breve história sobre a Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
HISTEDBR On-Line, Campinas, SP, n. 38, p. 49-59. 2010.
ZABALZA, M. A. Diários de Aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento
profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.
- 175 -
Capítulo 9
INTERDISCIPLINARIDADE E
CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO
DE QUÍMICA E LÍNGUAS
- 176 -
diversificação dos recursos didáticos e das metodologias de ensino, fazendo
uso, por exemplo, de temas relevantes ao desenvolvimento dos discentes
como cidadãos.
Para Saviani (2007), a educação é capaz de instrumentalizar os sujeitos
de forma que eles se tornem hábeis a agir sobre a realidade. Um trabalho
educativo eficiente, o qual discuta temas relacionados com as relações pessoais,
permite conectar a teoria com a prática. Dessa maneira, provoca a reflexão e
encoraja no aluno a capacidade de interferir em sua própria realidade a fim
de transformá-la. Temas dessa natureza mostram-se como uma alternativa
com amplo potencial para a implementação de um processo de ensino e
aprendizagem em sintonia com o que propõem os documentos oficiais,
conforme discutem diversos autores (COELHO; MARQUES, 2007; SANTOS;
MORTIMER, 2009; SANTOS; SCHNETZLER, 1997).
Nessa perspectiva, buscou-se trabalhar com os alunos o projeto de
ensino denominado: “Valentine’s Day: Valorize quem te faz bem”, uma
vez que o indivíduo do século 21, imerso no sentimento de liberdade e
autorrealização promovido pela sociedade contemporânea, reflete em
suas atitudes o que Bauman (2001) definiu como “modernidade líquida”.
Em outras palavras, o indivíduo acredita que pode tomar decisões e seguir
seus caminhos independente do que governos e sociedade estabelecem. Em
uma individualidade cada vez mais aparente, o sujeito aproveita a vida sem
se preocupar com o dia de amanhã; um novo carpe diem surge. E com ele a
sociedade de consumo se deixa convencer, pelas campanhas midiáticas, de que
é preciso comprar para ser feliz ou para levar felicidade a outrem.
Tendo em vista os pontos até aqui discutidos, o projeto de ensino foi
desenvolvido a fim de buscar a contextualização e interdisciplinaridade
do conhecimento em uma representação do mundo para que o aluno
compreendessea si mesmo e a sua subjetividade.Tal projeto levou em conta
as expectativas, potencialidades e necessidades dos alunos, bem como
premiou o desenvolvimento da reciprocidade, sentimento hoje fundamental
para o convívio em sociedade, uma vez que as relações mútuas contribuem
para a conservação de normas sociais. Destaca-se que a presente pesquisa
parte da seguinte problemática: Um projeto interdisciplinar pode promover
potencialidades e aprendizagem científicas e de cunho emocional em alunos
do Ensino Médio integrado com o técnico?Dessa forma, objetiva-se, com
o presente artigo, relatar as potencialidades e aprendizagem científicas
desenvolvidas por meio do projeto de ensino “Valentine’s Day: Valorize quem
te faz bem”.
- 177 -
Por conseguinte, a escrita do presente trabalho organiza-se em três
etapas. A primeira consiste no referencial teórico, no qual apresenta-se
autores os quais corroboram com a importância da interdisciplinaridade e da
contextualizaçãono Ensino Médio. De igual forma, elucida-se, nessa seção, o
posicionamentoque documentos como Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) (BRASIL, 2000; 2002), as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2013) eBase Nacional Comum Curricular
(BNCC) (BRASIL, 2017) apontam frente a projetos dessa natureza. Em seguida,
apresenta-se o percurso metodológico de desenvolvimento da pesquisa e os
resultados e discussões por meio de categorias, sendo elas:“A Química do
Amor”; Línguas e Literatura; Das leituras e discussões realizadas; Explorando
a capacidade de produzir textos bilíngues.Por fim, expõem-se as considerações
finais com base em todo o trajeto percorrido ao longo do trabalho.
REFERENCIAL TEÓRICO
- 178 -
a subjetividade do sujeito, como o tema apresentado no presente artigo, que
problematiza as relações entre os sujeitos, que visa garantir tanto o aprendizado
cognitivo quanto o aprendizado emocional. Para tanto, escolhe-se, como
metodologia, a contextualização e a interdisciplinaridade dos conhecimentos.
Thiesen (2008) recorre aos apontamentos de Paulo Freire, o qual destaca
a interdisciplinaridade enquanto processo metodológico de construção do
conhecimento pelo sujeito com base em sua relação com o contexto, com a
realidade, com sua cultura, tudoisso por meio da reflexão de cada elemento.
Busca-se sua expressão pela caracterização de dois movimentos dialéticos: a
problematização da situação, pela qual se desvela a realidade, e a sistematização
dos conhecimentos de forma integrada.
De acordo com Mittitier e Lourençon (2017) a interdisciplinaridade é
um fator de extrema importância para superar a fragmentação dos conteúdos
e dos currículos não só na escola, mas no entendimento do conhecimento
como um todo. Os autores ainda citam que tal temática tem sido estudada por
diferentes expoentes. Este trabalho tem aporte nos estudos de Fazenda (1979),
que aponta a interdisciplinaridade como articuladora no processo de ensino
aprendizagem na medida em que se produz como ação conjunta, de atitude
em sala de aula; nos apontamentos de Morin (2005), entendendo-a como
modo de pensar; e de Japiassu (1976), que a coloca como eixo fundamental na
organização curricular.
Com relação à contextualização, as Orientações Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio (OCN) (BRASIL, 2006, p. 117) sugerem a “relação de
temas socialmente relevantes para o ensino, defendendo uma abordagem de
temas sociais (do cotidiano) que não sejam pretensos ou meros elementos de
motivação ou de ilustração, mas efetivas possibilidades de contextualização
dos conhecimentos, tornando-os socialmente mais relevantes”.
Segundo Vidal e Melo (2013), ensinar com contextualização não
é citar exemplos de eventos no cotidiano, mas sim vincular esses eventos
ao conhecimento científico de forma a facilitar a aprendizagem e atrair o
aprendiz às reflexões sobre o assunto em debate. Também consiste em criar
uma atmosfera de discussão em sala, dando significância ao papel do aluno,
de que ele é capaz de pensar, de formular teorias e de se sentir bem na escola e
fora dela. É incentivar o aluno a se tornar importante, fazendo com que surja
dentro dele interesse pelo conhecimento.
Nessa perspectiva, Santos (2007), acredita que a contextualização no
currículo poderá ser constituída por meio da abordagem de temas sociais e
situações reais de forma dinamicamente articulada que possibilite a discussão,
transversalmente aos conteúdos e aos conceitos científicos, de aspectos
- 179 -
sociocientíficos concernentes a questões ambientais, econômicas, sociais,
políticas, culturais e éticas. A abordagem de temas sociais proporciona um
ensino contextualizado e permite ao aluno aprender com a integração de
diferentes saberes, por meio da interdisciplinaridade (BRASIL, 2000; LIMA et.
al., 2000; PEREIRA et. al., 2008; SILVA, 2007).
Assim, por meio da análise dos documentos que norteiam o Ensino Médio
Brasileiro, podemos observar que a contextualização e a interdisciplinaridade
são consideradas princípios curriculares centrais, permanecendo, inclusive, na
atual proposta de Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
METODOLOGIA
- 180 -
frente ao projeto desenvolvido, o mesmo apresenta conclusões das professoras
envolvidas, não citando, assim, falas dos alunos envolvidos.
Sendo assim, serão relatadas as experiências da realização do projeto
de ensino “Valentine’s Day: valorize quem te faz bem”, desenvolvido entre os
meses de maio e junho de 2018. Os objetivos deste projeto eram: motivar a
comunidade escolar a demonstrar afeto e gratidão pelo outro; conscientizar os
discentes do Ensino Médio Técnico do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia Goiano/Campus Morrinhos sobre o consumismo, permitindo aos
sujeitos a tomada de consciência frente a essa prática; motivar a demonstração
de sentimentos como amizade e gratidão a partir dos referidos discentes;
incentivar a produção de mensagens de gratidão e afeto como forma de
presentear o próximo; incentivar o pensamento crítico a respeito dos vários
tipos de amor; motivar os alunos a demonstrarem amor e gratidão por seus
pais/responsáveis.
O público-alvo foram os alunos dos primeiros, segundos e terceiros
anos do Ensino Médio Integrado (Técnico em Agropecuária, Alimentos e
Informática), totalizando em média 300 alunos envolvidos. As atividades
propostas foram desenvolvidas durante as aulas, uma vez que englobavam
uma questão social, o consumismo, mas também questões relacionadas
aos conteúdos científicos das disciplinas envolvidas (inglês, espanhol,
português, Matemática e Química) portanto, uma prática contextualizada e
interdisciplinar. Para este trabalho, serão relatadas as atividades desenvolvidas
pelas professoras que atuam nas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua
Espanhola, Língua Inglesa e Química.
Após o desenvolvimento do projeto, os dados foram transcritos e
iniciou-se o processo de apropriação das informações. Para tanto, foi realizada
uma leitura sistematizada. Tendo em vista a Análise Textual Discursiva.
Essas informações foram organizadas em categorias e a interpretação dos
sentidos foi realizada à luz do referencial teórico adotado. Como categorias
discutidas apresentamos: “A Química do Amor”; Línguas e Literatura; Das
leituras e discussões realizadas; Explorando a capacidade de produzir textos
bilíngues. Moraes e Galiazzi (2007, p. 7) definem essa abordagem como “uma
metodologia de análise de dados e informações de natureza qualitativa com a
finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos”,
sendo um processo auto organizado constituído de três etapas: unitarização,
categorização e comunicação. A unitarização, consiste em uma etapa em que
os textos são separados em unidades de significado; depois da realização desta
unitarização, passa-se a fazer a articulação de significados semelhantes em um
processo denominado de categorização; neste processo reúnem-se as unidades
- 181 -
de significado semelhantes, podendo gerar vários níveis de categorias de
análise; este processo todo gera meta-textos analíticos que irão compor textos
interpretativos (MORAES E GALIAZZI, 2007).
As categorias criadas constituem os elementos de organização do texto
a ser escrito, ou seja, é a partir delas que serão produzidas as descrições e
interpretações das compreensões surgidas durante a análise. Existem diferentes
formas de produzir as categorias. No método dedutivo as categorias são
construídas antes mesmo da unitarização. No método indutivo, as categorias
são produzidas a partir das unidades de significados obtidas na etapa de
unitarização (MORAES E GALIAZZI, 2007). Destaca-se que, neste trabalho,
utilizou-se o método indutivo, pois por mais que partíssemos de pressupostos
teóricos iniciais, as categorias foram organizadas por meio da comparação
entre as unidades de significado as quais surgiram durante a desmontagem
dos textos. Dessa forma, as categorias elaboradas serão apresentadas a seguir.
- 182 -
ela, não se podem imaginar outras realidades, construir utopias e sonhos. Sem
ela não se pode falar do que é nem do que poderia ser.
Por meio da fala de Fiorin podemos ver a importância da linguagem
para o desenvolvimento do homem assim como pelas falas de Chassot vemos
a importância da Química para tal compreensão. Dessa forma, acreditamos na
necessidade de interface entre a Química e as Línguas de forma a garantir o
processo de ensino e aprendizagem dos sujeitos.
Uma vez que, para aprender Química, você terá de ser alfabetizado e
essa ciência também exige que o sujeito construa-se em uma nova linguagem,
em um tipo de escrita próprio dessa ciência, terá de aprender a raciocinar
utilizando conceitos químicos. Posso de antemão garantindo-lhe que, ao lado
do prazer de fazer isso, haverá dificuldades, uma vez que essa ciência teoriza
sobre algo que é invisível, que se vale de modelos abstratos. Daí a importância
cuidadosa nesse estudo, de modo que novos termos e conceitos possam ir
adquirindo significado cada vez mais amplo (NOVAIS, 1999, p.1).
A partir do apontamento citado vemos mais uma vez a necessidade
da interface entre as áreas de conhecimento, interface essa que acontece por
meio, de uma aula planejada por meio da interdisciplinaridade que pressupõe
uma convergência, uma complementaridade, o que significa, de um lado, a
transferência de conceitos teóricos e de metodologias e, de outro, a combinação
de áreas.
Examinemos mais detidamente a interdisciplinaridade, que é uma das
formas mais interessantes e produtivas de trabalho científico de nossa época.
Poderíamos dizer que temos, basicamente, duas práticas interdisciplinares:
a) transferência, que é a passagem de conceitos, metodologias e técnicas
desenvolvidos numa ciência para outra; b) intersecção, em que duas ou mais
disciplinas se cruzam para tratar de determinados problemas. Como se vê,
a interdisciplinaridade não pressupõe a diluição das fronteiras disciplinares
num ecletismo frouxo. Assim, a interdisciplinaridade da linguística com
outras ciências não é o apagamento dos contornos da ciência da linguagem e
sua transformação em outros campos do conhecimento (FIORIN, 2008).
Buscamos na atualidade uma educação que garanta tanto a formação
cognitiva quanto uma formação emocional dos educandos, ou seja, uma
educação como prática da liberdade que propõe a tomada de consciência:
enxergar a realidade para ter chances de mudá-la. Por isso é importante
que “[...] o aprendizado das técnicas de ler e escrever ou o das técnicas de
manejar o arado ou usar fertilizantes (bem como o aprendizado das ideias
de um programa de ação), — enfim, todo aprendizado deve encontrar-se
- 183 -
intimamente associado à tomada de consciência da situação real vivida pelo
educando” (FREIRE, 1967, p.6).
Sendo assim, é necessária uma tomada de consciência crítica por parte
dos indivíduos dessa realidade opressora a qual estão submetidos desde muito
cedo para que, dessa forma, não coloquem nos objetos a serem consumidos a
sua procura pela felicidade. De igual maneira, que não tenham como desejos
principais de suas vidas o “ter”, possuir mercadorias e bens de consumo, mas
sim que seja o “ser” (ANDRADE, ZECCHIN, 2017). Para tanto, desenvolve-se
o projeto “Valentine’s Day: valorize quem te faz bem”, de forma contextualizada
e interdisciplinar. Onde busca-se na Língua elementos para que os alunos
foçam uso do conhecimento científico para interpretar o mundo, mais
especificamente possam repensar as atitudes consumistas.
Na disciplina de Química trabalhou-se com a parte biológica do
sentimento amor. Foi discutido com os alunos o que acontece com o corpo
humano Químicamente quando estamos apaixonados ou amando alguém,
focando em hormônios como a dopamina, norepinefriana, serotonina, entre
outros. Sendo a felicidade o sentimento mais relacionado ao amor, debateu-
se com os alunos as questões de que a mesma impulsiona os enamorados a
trocarem presentes, o que acaba por levar ao consumismo.
Para dar início às discussões do projeto com os alunos de primeiro e
segundos anos do Ensino Médio Integrado com o Técnico, apresentou-se aos
alunos a música “a fórmula do Amor” de autoria de Leo Jaime. A partir dela, os
alunos foram questionados primeiramente se realmente existe uma fórmula para
o amor, uma vez que a Química é uma disciplina que possui linguagem própria
e lida constantemente com a aplicação de fórmulas. Observou-se que os alunos
ficaram divididos com relação à existência ou não de uma fórmula para o amor.
Questionou-se ainda os alunos sobre a melhor forma de demonstração do amor
ou afeto que sentimos pelo outro. Notou-se que grande parte dos alunos citaram
que os presentes são boas formas de demonstrar esse sentimento. Essa declaração
abriu precedente para a discussão sobre o consumismo, sobre a valorização do
“ter” em função do “ser”, na qual quem consome em maior quantidade ou o
item mais caro é aquele que possui mais valor. Esse momento levou os alunos
a refletirem sobre o modo e o motivo pelo qual se mantém diversas relações na
sociedade sejam elas de amizade ou românticas.
Ou seja, buscou-se contextualizar o tema do projeto valorize quem
te faz bem, a partir de uma problemática de relevância para os alunos, as
demonstrações de sentimentos como amor, amizade, etc, pautadas em bens
de consumo. Adams et al (2020, p. 5) em seu trabalho denominado “O projeto
temático “Química e Energia em Prol de um Desenvolvimento Sustentável”:
- 184 -
apontamentos iniciais” discute a contextualização no ensino de Química e
ponta que:
- 185 -
Em seguida apresentou-se o vídeo “A Química do Amor”, presente no site “A
Química das coisas” para complementar as discussões.
Nesse vídeo, os hormônios responsáveis pelos indícios de amor foram
apresentados aos alunos, sendo eles testosterona, estrogênio, dopamina,
noradrenalina, serotonina, oxitocina, vasopressina, fenietilamina e endorfina.
Após assistirem ao vídeo, propôs-se que os discentes se dividissem em grupos
de três pessoas para que realizassem uma pesquisa mais aprofundada sobre
quais as importâncias dos hormônios citados para o corpo humano, bem como
de sua estrutura Química. Após a pesquisa, os grupos deveriam apresentar as
funções dos hormônios. Para essa apresentação, solicitou-se a elaboração de
cartazes, os qais ficariam expostos no dia da culminância do projeto.
Durante as apresentações dos grupos, observou-se que os alunos
demonstravam certo interesse por aqueles hormônios relacionados aos desejos
sexuais. Durante as apresentações, murmúrios sobre o tema aconteceram em
sala. Dessa forma, ao final das apresentações, a professora de Química destinou
um momento para tirar dúvidas dos alunos frente às questões sexuais. O fato
mostrou a necessidade de mais espaços para que a discussão de temas como
esse fossem discutidos com os alunos, discussões que vão para além das
teoriasde como funcionam os órgãos sexuais ou métodos contraceptivos, mas
que envolvam também sentimentos e crenças peculiares a cada ser humano.
Segundo Nunes (2005), o ambiente em que vivemos é sexualizado e os
discursos sobre a sexualidade atravessam todos os âmbitos da nossa vida. Desse
modo, percebemos que a sexualidade é inerente aos seres humanos, ou seja,
perpassa por diversos âmbitos da vida de uma pessoa. Torna-se fundamental
que possamos falar sobre a temática, a fim de desconstruir a ideia de que a
sexualidade é algo que não se deve ser debatido por jovens e adolescentes,
principalmente no espaço escolar.
Sendo assim, acredita-se que a apresentação proposta aos alunos, além
de promover o aprendizado de conceitos científicos, permitiu que os sujeitos
expressassem seus sentidos, relacionando-os com a realidade. Segundo Scafi
(2010), a contextualização favorece o despertar do interesse pelo conhecimento
com aproximações entre conceitos químicos e a realidade social do indivíduo. E
especificamente no desenvolvimento deste projeto, ressaltamos a importância
da contextualização e também da interdisciplinaridade. Por meio delas, foi
possível superar a ideia de visão disciplinar e de que na Química não se faz
necessária a interpretação de dados e informações.
Outros autores, como Santos e Mortimer (2002) e Coelho e Marques
(2007), corroboram e afirmam que a abordagem de situações socialmente
relevantes para o aluno em sala de aula contribui não somente para motivá-lo,
- 186 -
mas, principalmente, porque contribui para o estudo de conteúdos escolares
que não se limitam à conceituação científica. Por fim, acredita-se que, por
meio das discussões dos hormônios envolvidos no ato de amar, foi possível
levar os alunos a refletir sobre a relação deste sentimento com o consumo
desenfreado e principalmente, levar estes sujeitos a pensarem em algo posto
pela sociedade, permitindo que estes se vissem como sujeitos alienados, dando
então a oportunidade de tomada de consciência aos mesmos.
- 187 -
deixa em segundo plano as questões inerentes às demonstrações genuínas de
afeto entre as pessoas.
Concomitantemente, nas turmas de segundos anos, foi proposta como
atividade extraclasse a leitura do romance “A amiga Genial” de Elena Ferrante.
Essa obra vem de encontro às discussões da temática do projeto. Em suma,
a obra trata da história de duas meninas que apoiam-se mutuamenteem um
ambiente hostil e machista da década de 50, na Itália pós-guerra. Desse modo,
procurou-se fazer com que os alunos tivessem a oportunidade de refletir
sobre a verossimilhança nessa obra, uma vez que as personagens principais
da obra apresentavam condições socioeconômicas diferentes. Os conflitos
apresentados nessa obra também foram pontos de discussão e feito a todo
momento comparação com a vida real. Foi realizada uma gincana literária para
discussão mais aprofundada da obra. A gincana, realizada em sala, consistiu
na divisão da turma em dois grupos. Em cada rodada, um componente do
grupo sorteava um número, o qual correspondia a uma questão sobre o livro.
Ele teria a chance de responder ou, caso não soubesse a resposta, escolheria
um colega do time adversário para responder a questão. Esse momento de
integração entre os alunos foi fundamental para que todos compreendessem a
narrativa e comparassem a história das amigas com sua realidade.
Para a autora de crítica literária, Leyla Perrone-Moisés (PERRONE-
MOISÉS, 2013, p. 90) “os jovens de ensino secundário gostam de saber como
as coisas são feitas e como funcionam, e um texto literário é um artefato que
pode ser examinado como tal.” Pensando no trabalho pedagógico voltado para
a leitura é importante que se dê a devida atenção aos textos literários, pois
os mesmos além de ser considerados arte de palavra escrita, podem também
contribuir para a aprendizagem ou reflexão de tantos outros conceitos. E é
justamente nesse viés que podemos inserir uma dentre tantas discussões a
respeito dessa obra. Os alunos perceberam, nos conflitos da referida obra,
questões presentes na modernidade, como, por exemplo, os conflitos e tensões
familiares, a importância da amizade, os valores humanos, os problemas
existenciais, dentre outros.
No ensino de Língua Inglesa, a estratégia utilizada para promover as
discussões nos terceiros anos foi a exibição do filme Os delírios de consumo
de Becky Bloom. Em seguida, ocorreu uma discussão sobre o filme, na qual os
alunos concluíram que: a) o filme é uma crítica ao consumo desnecessário; b)
a personagem principal, Rebecca Bloomwood, é um retrato do indivíduo que
integra a sociedade capitalista, ou seja, que se deixa seduzir pelas estratégias de
marketing e compra, na maioria das vezes, pelo desejo e não pela necessidade.
- 188 -
Dando sequência às atividades, os alunos dos terceiros anos foram
divididos em duplas e trios. Na sequência, 18 questões relacionadas ao Dia
dos Namorados foram expostas no quadro através de datashow. Os grupos
deveriam escolher 6 perguntas e discuti-las em cerca de 20 minutos com os
colegas. As perguntas foram divididas em três categorias: contexto histórico
da data; como as pessoas celebram o evento e reflexões a respeito do incentivo
ao consumismo tendo a data como pretexto. Findado o tempo estipulado para
as discussões, foi entregue um texto informativo em inglês expondo as origens
possíveis da celebração do Valentine’s Day para leitura individual.
Esse texto responde de maneira indireta às questões dadas no primeiro
momento da aula. Por fim, foi feita a verificação da leitura do texto através de
uma discussão coletiva, na qual os alunos expuseram suas conclusões sobre
o que mudou entre os motivos que levaram à celebração do Valentine’s Day e
a forma com que comemoramos a data na atualidade. Além disso, os alunos
tiveram a oportunidade de dizer quais questões acharam mais fáceis e mais
difíceis de serem respondidas.
Após esse trabalho com leituras e discussões de textos informativos, do
filme Os delírios de consumo de Becky Bloom e também da obra A Amiga
Genial, os alunos foram motivados a produzir textos variados com mensagens
de gratidão e afeto, em português, inglês e espanhol. Algumas dessas produções
foram expostas nas dependências da Instituição de Ensino ao longo do mês de
junho, outras, a pedido dos alunos, foram entregues às pessoas próximas a
eles com a intenção de mostrar gratidão e respeito. Nesse sentido, percebe-se
a importânciada elaboração de metodologias que envolvam a sequência do
trabalho com a escrita, bem como uma reflexão acerca da interatividade entre
as disciplinas, como será discutido a seguir.
- 189 -
tratando dessa área, “não se trata mais de conceber a linguagem, a cultura e
o conhecimento como totalidades estanques e isoladas, e sim como conjuntos
abertos e dinâmicos, esse processo de recontextualização e transformação é
constante (BRASIL, 2008 p. 110).”
Partindo dessas ideias, o trabalho desenvolvido com os alunos a partir
do projeto de ensino “Valentine’s Day: Valorize quem te faz bem”, procurou
instigar tanto a leitura crítica como a produção de textos com linguagem de
uso real dos alunos, mesmo que esta esteja fora dos padrões requeridos na
linguagem formal. Se a intenção era justamente fazer com que se criasse uma
consciência reflexiva sobre o uso real da língua, não há motivos para não
utilizá-la das mais variadas formas possíveis. A questão é ter a consciência
sobre a adequação de seu uso. Assim, o trabalho foi organizado como descrito
nos parágrafos a seguir.
As turmas de primeiros anos, organizados em grupos de 3 ou 4
componentes, produziram cartazes com frases de gratidão, sendo elaboradas
em língua portuguesa, inglesa e espanhola. Essas frases continham mensagens
de afeto e gratidão para com o próximo. Essa atividade foi muito produtiva,
pois ao elaborar o cartaz, cada grupo teria que buscar muitas informações,
principalmente no momento de traduzir do português para o espanhol e para
o inglês.
Nas turmas de segundos anos, os alunos produziram individualmente
um cartão denominado por eles de Cartão gigante, utilizando para isso uma
cartolina dobrada ao meio. Nesse cartão, o aluno teria que registrar uma
mensagem de gratidão, com texto original e/ou inspirado em algum previamente
selecionado e avaliado pelas professoras de línguas. Essa mensagem deveria
ser bilíngue, com opção de ser português-inglês ou português-espanhol. O
aluno deveria escolher alguém para ser homenageado ou simplesmente para
entregar o cartão no sentido de demonstrar gratidão. Trabalhos como estes
são excelentes oportunidades para que o educando perceba que “a escrita é
tão interativa, tão dialógica, dinâmica e negociável quanto a fala (ANTUNES,
2003, p. 45).” Já que, pela escrita, foi possível demonstrar a gratidão de forma
tão ou mais significativa à verbalização desse sentimento. Muitos alunos
escolheram homenagear servidores da limpeza e infraestrutura, bem como
professores. Outros optaram por homenagear os pais/responsáveis, parentes
ou amigos. Mas todos vivenciaram um momento de valorização do outro.
Nas turmas de terceiros anos, a proposta foi a produção de plaquinhas
elaboradas com papel cartão ou similar e suporte para serem fixadas em vários
locais da instituição, com mensagens bilíngues de afeto e carinho, contendo
abaixo da mensagem a hashtag #valorize quem te faz bem#. Essas plaquinhas
- 190 -
foram utilizadas para ornamentar o ambiente onde foi realizado o evento de
encerramento do projeto.
Nesse aspecto, os alunos tiveram que mobilizar seus conhecimentos
tanto da Língua Portuguesa, como também da Língua Espanhola e da Língua
Inglesa. Conhecimentos como o uso correto da pontuação, a utilização dos
pronomes pessoais, dos verbos em tempos e modos variados e do léxico.
Lembrando que as práticas de linguagem contextualizadas podem e devem
valorizar as novas práticas comunicativas que, por sua vez, podem propiciar
novas regras de interação e que muitas vezes vão além das regras gramaticais.
Por isso, valorizou-se as capacidades criativas dos grupos de produção, ainda
que estas nem sempre seguiram ao padrão exigido pela linguagem formal.
Porém, vale ressaltar que os alunos, ao realizarem essas atividades, o faziam
com orientações das professoras. Nesse movimento, eles estavam a todo
instante realizando reflexões sobre o uso da língua. Tudo isso foi possível
porque houve um planejamento intencional com a organização de um projeto
com um tema norteador.
A proposição de um projeto com temas transversais viabiliza o ensino
significativo e contextualizado dos conteúdos que são propostos no plano
de ensino e viabiliza a apreensão, por parte do educando, de que a escrita é
significativa a partir do momento em que “alguém seleciona alguma coisa a ser
dita a um outro alguém, com quem pretende interagir, em vista de um objetivo
(ANTUNES, 2003 p. 45).”
Por isso, a escola deve pensar em trabalhos interdisciplinares com
proposição de leituras e produções de situações reais, com sujeitos reais, pois
é “por meio das atividades de compreensão e produção de textos que o sujeito
desenvolve uma relação íntima com a leitura-escrita-fala de si mesmo e do
mundo que o rodeia” (BRASIL, 2008, p. 24).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 191 -
dos planos de ensino. Além disso, os temas transversais são excelentes eixos
norteadores, os quais possibilitam a interação entre as disciplinas, professores
e alunos.
O projeto de ensino desenvolvido permitiu aos alunos a vivência
de aulas contextualizadas e interdisciplinares e fez com que os professores
envolvidos conseguissem realizar pontes, mesmo que timidamente, entre suas
disciplinas. Assim, foi possível que o conhecimento ultrapassasse os limites da
disciplinaridade, sendo este então um ganho aos alunos envolvidos, os quais
desenvolveram-se cognitiva e emocionalmente.
Como eixo central das discussões das disciplinas estava o consumismo
e as reflexões sobre como ele afeta a vida e as relações sociais dos alunos,
levando-os a perceber que o consumismo orienta todo o desenvolvimento
histórico, social e cultural do ser humano, sendo algo alienante. Desse modo,
o ser humano que não reflete sobre a necessidade da aquisição do produto,
apenas o consome, se torna refém do modo de produção capitalista.
Após término do projeto pode-se observar que os alunos envolvidos
perceberam a necessidade de serem gratos aos pais/responsáveis, equipe
escolar, amigos e outras pessoas que de alguma forma colaboram para seu
crescimento como ser humano e futuro profissional. Também foi possível
notar que os discentes perceberam a necessidade de refletir antes de consumir,
especialmente no que diz respeito ao consumo desordenado e desnecessário.
Em outras palavras, o projeto permitiu um início da superação da alienação
proporcionada pelo consumo desenfreado, pois proporcionou aos estudantes
um espaço de reflexão e valorização do sujeito.
Por meio de ações realizadas pelos alunos, os quais tiveram a iniciativa
de produzir cartões e entregar a todos os funcionários da Instituição, foi
observado o empenho dos estudantes em demostrar sua gratidão, ou seja,
os alunos dedicaram tempo para confeccionar os cartões em vez de comprar
algo pronto. A preocupação com a escolha e elaboração das mensagens, bem
como as constantes consultas às professoras para sanar dúvidas relacionadas
à produção dos textos bilíngues e o empenho em produzir trabalhos
esteticamente criativos e chamativos demonstrou que trabalhos dessa
natureza motivam a curiosidade, a pesquisa e o desenvolvimento cognitivo e
emocional, relacionados tanto aos aspectos das disciplinas formais quanto ao
relacionamento do aluno consigo e com a sociedade que o cerca.
- 192 -
REFERÊNCIAS
- 193 -
MARTINS, Heloisa. Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago. 2004.
MORIN, Edgar. Educação e complexidade, os sete saberes e outros ensaios. São Paulo:
Cortez, 2005.
NUNES, César. Aparecido. Desvendando a sexualidade. 7. Ed. Campinas, SP: Papirus,
2005.
PERRONE-MOISÉS, L. Mutações da literatura no século XXI. 1ª edição – São Paulo:
Companhia da Letras, 2016.
SAVIANI, Dermeval. Educação do senso comum à consciência filosófica. Autores
Associados, 2007.
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; MORTIMER. Eduardo. Fleury. Abordagem
de aspectos sociocientíficos em aulas de ciências: possibilidades e limitações.
Investigações em Ensino de Ciências, v. 14, n. 2, p. 191-218, 2009.
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; SCHNETZLER, Roseli. Pacheco. Educação em
Química: compromisso com a cidadania. Ijuí: Editora da UNIJUÍ, 1997.
SILVA, Erivanildo Lopes da. Contextualização no Ensino de Química: ideias e
proposições de um grupo de professores, 2007. 144 f. Dissertação (mestrado em
Ensino de Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
SPRADLEY, J. P. Participantobservation. New York: Holt, Rinehart& Winston, INC,
1980.
THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador
no processo ensino aprendizagem. Revista Brasileira de Educação. V.13, n. 39, set/
dez. 2008.
ZAGO, Nadir. (Org.). Itinerários de Pesquisa – perspectivas qualitativas em Sociologia
da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
- 194 -
Capítulo 10
EXPERIMENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO
NO ENSINO DE QUÍMICA:
preparação de solução para combate de
pragas em hortas
- 195 -
que contribuem para a rejeição desta disciplina, fato que acaba prejudicando o
processo de ensino e aprendizagem (ZANON; PALHARINI, 1995).
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM)
vem descrito que a contextualização contribui para que o aluno compreenda
a ciência como elemento de interferência na sociedade, desenvolvendo assim,
competências e habilidades, tais como: interpretar situações cotidianas a partir
do conhecimento obtido, exigindo deste posicionamento para solucioná-lo,
associar o conhecimento científico com a tecnologia relacionando-a com o
desenvolvimento da sociedade e entender o impacto da tecnologia na vida
pessoal, nos processos de produção, na vida social e no desenvolvimento do
conhecimento (BRASIL, 1999).
No ensino de ciências, a experimentação torna-se uma estratégia
bastante eficaz para ilustração dos conteúdos abordados e para a resolução
de problemas reais que permitam um ensino contextualizado. É importante
ressaltar que a experimentação é uma forma necessária de relacionar a
teoria com a prática no processo de construção do conhecimento (SILVA;
ZANON, 2000). A relação entre experimentação e contextualização também
é defendida nas Orientações Curriculares do Ensino Médio, ao destacar que a
contextualização deve efetuar-se em qualquer modelo de aula, podendo esta
estar presente tanto em aulas convencionais, expositivas, quanto em aulas
de estudo do meio, de experimentação ou durante a realização de projetos
(BRASIL, 2006).
Hodson (1994), por sua vez, ressalta que o ensino a partir de uma
atividade experimental só é válido se vier acompanhado de reflexão. Schnetzler
(2002) afirma que aulas experimentais são muito importantes quando
assumem funções investigativa e pedagógica, as quais ajudam o aluno no
entendimento dos fenômenos e na criação de situações reais que possibilitem
a contextualização. Ademais, de acordo com Guimarães et al. (2009), o uso
da experimentação de maneira contextualizada torna-se um método eficaz
para que o aluno deixe de ser apenas um ouvinte memorizador de conteúdo,
passando a compreender e associar os conceitos químicos ao seu dia a dia.
Segundo Galiazzi e Gonçalves (2004) os alunos se sentem motivados durante
abordagens experimentais, cabendo ao professor, partir do conhecimento
inicial para problematizá-las, o que acaba contribuindo para a construção de
conhecimentos mais consistentes.
Dessa forma, faz-se imprescindível planejar e executar abordagens
experimentais que colaborem para a proposição de hipóteses pelos próprios
alunos. Visto que abordagens em que os alunos participem de forma ativa
de todo o processo são indispensáveis para o desenvolvimento do raciocínio
- 196 -
lógico, pois quando eles mesmos realizam, por exemplo, coleta de dados,
discussões, proposição de hipóteses, análises e exploram habilidades cognitivas,
tais processos colaboram para um aprendizado mais efetivo (GIANI, 2010).
Giani (2010) ainda ressalta que, para que se tenha um ensino
contextualizado e problematizado é necessário trazer para a sala de aula
questões e dúvidas que estão presentes no cotidiano do aluno, buscando
resolvê-las com base nos conhecimentos científicos. Dessa forma, o aluno
poderá reconstruir estes conceitos relacionando-os a situações que fazem
parte de sua vida na sociedade, deixando de ver os conhecimentos científicos
como algo complexo ou totalmente exclusivo dos cientistas.
Mortimer, Machado e Romanelli (2000) ressaltam que de nada adianta
a realização de atividades práticas em sala de aula se estas não proporcionarem
aos alunos um momento de discussão teórico e prático que transcenda o
conhecimento de nível fenomenológico e os saberes cotidianos desses alunos.
Nessa perspectiva, objetivou-se com este trabalho promover a
experimentação e contextualização no ensino de Química por meio da
preparação de uma solução para combate de pragas em hortas, denominada
calda bordalesa. E por meio desta temática tratar de assuntos como o uso
e implicações dos agrotóxicos utilizados no combate de pragas, técnicas
alternativas que podem ser utilizadas no cultivo de hortas, e conceitos químicos,
tais como: relações numéricas na Química, soluções e concentrações.
METODOLOGIA
- 197 -
(CTS) e a partir de subsídios da história e filosofia das ciências, destaca-se
que esta abordagem fundamentou-se na perspectiva de uma abordagem
contextualizada não redutiva, visto que o ponto de partida foi o cotidiano dos
alunos por meio da utilização do tema pragas em hortas.
A aula pautou-se na discussão sobre o uso de agrotóxicos nas lavouras,
sua influência no contexto social, ambiental e econômico, sendo discutido ainda
com os alunos aspectos relacionados à importância dos cidadãos se atentarem
ao cultivo de hortas em suas residências, apresentando-se suas vantagens.
A referida aula contou com três momentos pedagógicos apresentados por
Delizoicov e Angotti (1990), sendo eles: problematização inicial, organização
do conhecimento e aplicação do conhecimento.
1º momento pedagógico – Problematização inicial: nesse primeiro
momento foi realizada uma discussão onde solicitou-se que os alunos
relatassem o que eles entendiam por pragas em hortas, ou seja, o que eram
e, se possível, dar exemplos. Pediu-se ainda que escrevessem em uma folha,
para ser entregue, o que eles entendiam por agrotóxicos e a influência destes
na sociedade.
2º momento pedagógico – Organização do conhecimento: nesse
segundo momento, apresentou-se aos alunos um quadro com informações
e figuras sobre algumas pragas mais comuns que aparecem nas hortas, para
que assim pudessem começar a compreender suas implicações nesse tipo de
cultivo. Também discorreu-se sobre a utilização de agrotóxicos nas lavouras e
o porquê de utilizá-los, bem como a influência destes para o contexto social,
ambiental e econômico.
3º momento pedagógico – Aplicação do conhecimento: este momento
ocorreu em duas etapas, na primeira os alunos deveriam propor métodos para
o combate de pragas em hortas que não fossem prejudiciais ao meio ambiente,
e a segunda etapa, uma atividade experimental em que os alunos deveriam
preparar a calda bordalesa, solução pouco tóxica usada no controle de pragas
em hortas. Ressalta-se, entretanto, que precedente à atividade experimental, a
fim de que os alunos a compreendessem melhor, abordou-se com os mesmos,
conceitos químicos inerentes aos conteúdos de solução, soluto e solvente;
unidade de massa atômica, massa molecular, quantidade de matéria (mol) e
massa molar; concentração comum e concentração em quantidade de matéria
(molaridade).
- 198 -
RESULTADOS E DISCUSSÕES
- 199 -
da sua espécie e da busca por espaço e alimento (BRAIBANTE e ZAPPE,
2012). Notou-se então, a partir do relato dos alunos, que estes trazem em si
o conhecimento de que os agrotóxicos são utilizados nas grandes lavouras de
alimentos, e que, mesmo que esses agrotóxicos tragam benefícios à qualidade
dos alimentos eles podem causar prejuízos ao meio ambiente e ao homem.
Dando início ao segundo momento pedagógico, organização do
conhecimento, para melhor elucidar a relação das pragas, agrotóxicos e cultivo
de hortas, apresentou-se aos alunos algumas das pragas mais comuns, as quais
seguem apresentadas no Quadro 1.
Quadro
PRAGA1: Pragas maisIMAGEM
comuns encontradas em hortas CARACTERÍSTICAS
e suas características.
Apresenta coloração parda, enrola-se para se proteger
PRAGA
Lagarta IMAGEM CARACTERÍSTICAS
corta as plantas rente ao solo, sendo encontrada
PRAGA
Rosca
IMAGEM quando
CARACTERÍSTICAS
se cava coloração
o solo, ao redorparda,
das plantas acerca de
Apresenta
enrola-se para se proteger, corta para se prot
Apresenta
10 cm de coloração
profundidade. parda, enrola-se
Lagarta
Lagarta corta as plantas rente ao solo, sendo encontr
as plantas rente
Pequeno inseto de ao solo, sendo
coloração variada que ataca de
Rosca
Rosca quando se
encontrada, cava o
quando solo,
se ao redor
cava
preferência brotações novas,
das plantas acerc
o solo,
face dorsal das folhas
Pulgão ao
10 redor
cm de das plantas acerca de 10
profundidade.
caules novos e tenros, produzindo substâncias
cm de profundidade.
açucaradas.
Pequeno inseto dedecoloração
Pequeno inseto coloração
variada que atac
variada que brotações
preferência ataca de preferência
novas, face dorsal das fo
Pulgão brotações novas, face dorsal
Pulgão caules novos e tenros,
Inseto de cor verde com listras produzindo substân
amarelas. Come as
Vaquinha das folhas, caules novos e
açucaradas.
folhas prejudicando o crescimento
tenros, produzindo substâncias da planta.
açucaradas.
Insetoo de
Possui
Inseto de cormole,
corpo verde com
e por onde
com listras
passaamarelas.
listras Com
deixa um rastro
Lesma,
Vaquinha
amarelas.
brilhante. Comeo odiacrescimento
Durante
folhas prejudicando asé encontrado
folhas da planta.
debaixo de
Vaquinha
caracol e prejudicando
tábuas, o crescimento
tijolos, latas da deixados na
e outros entulhos
tatuzinho planta.
horta.
Possui o corpo mole, e por onde passa deixa um ra
Lesma, Possui o corpo mole, e por onde
brilhante. Durante
Causa o dia é encontrado debaixo
amarelecimento,
Lesma,e
caracol passa deixa um rastro brilhante. deformação
Víruse
caracol tábuas, tijolos,
o dialatas
engruvinhamento,
Durante é eencontrado
mau outros entulhos
crescimento deixadoe
das folhas
tatuzinho
tatuzinho horta.
consequentemente, mau desenvolvimento
debaixo de tábuas, tijolos, latas e das plantas
outros entulhos deixados na horta.
Inseto
Causaalado, istoamarelecimento,
Causa é, que possui asas, de coloração
amarelecimento, deforma
Vírus branca bastante característica.
deformação,
engruvinhamento, engruvinhamento, É um inseto
mau crescimento dassugador
folha
Mosca
Vírus mau
que crescimento
ataca a seiva das das folhas
plantas, podendo
consequentemente, mau desenvolvimento das pla transmitir
branca
e,
viroses consequentemente, mau sadias. Vive em
de plantas doentes para plantas
desenvolvimento
colônias
Inseto com muitos
alado, das plantas.
isto indivíduos.
é, que possui asas, de color
branca bastante característica. É um inseto sug
Mosca
que ataca a seiva das plantas, podendo transm
branca
- 200 - viroses de plantas doentes para plantas sadias. Viv
colônias com muitos indivíduos.
Inseto alado, isto é, que possui
asas, de coloração branca
bastante característica. É um
Mosca inseto sugador que ataca a seiva
branca das plantas, podendo transmitir
viroses de plantas doentes para
plantas sadias. Vive em colônias
com muitos indivíduos.
Fonte: Adaptado de Embrapa, 2006.
- 201 -
A18: As pragas que afetam as plantações devem ser detidas de um modo
que não afete o solo e nem o ser humano.
A5: Usar agrotóxicos em pouca quantidade, mas desenvolver técnicas
naturais para não prejudicar a planta e nem o ser humano que irá
consumi-la.
- 202 -
o óxido de cálcio (CaO), também conhecido como cal virgem. Após, discorreu-
se sobre massa molecular, explicando-se que esta é uma consequência da soma
de todas as massas atômicas dos átomos que constituem uma dada fórmula
Química molecular ou iônica, não se esquecendo de levar em consideração a
quantidade de cada átomo presente na fórmula.
Para elucidação desta definição, (assumindo-se que os valores
arredondados das massas atômicas são iguais aos números de massa (A) dos
átomos) calculou-se com os alunos a massa molecular do sulfato de alumínio,
representado pela fórmula Al2(SO4)3, cuja soma total das massas atômicas
de todos os átomos resulta no total de 342 u. Neste momento, enfatizou-
se que tanto a massa atômica, quanto a massa molecular dos elementos e
substâncias, respectivamente, são expressas em unidade de massa atômica,
sendo representada pela letra u, de unidade.
Tendo-se discutido os conceitos supracitados, o próximo a ser
trabalhado foi o conceito de massa molar. Para tal, explicou-se aos alunos que
a massa molar é representada pelo mesmo valor numérico da massa atômica
ou molecular, entretanto, expressa em gramas. Como exemplo, mencionou-
se que se a massa molecular do Al2(SO4)3 é 342 u, sua massa molar é de 342
g, sendo também comumente expressa como 342 g/mol, representando,
portanto, que para se ter 1 mol de Al2(SO4)3, macroscopicamente necessita-se
de uma quantidade em massa de 342 g dessa mesma substância.
Posteriormente, trabalhou-se com os alunos o conceito de concentração
comum, explicando-se que é utilizada para representar a concentração em
gramas por litro (g/L) de um dado soluto em uma dada quantidade de solução,
sendo mais comumente utilizada a água como solvente. Para o entendimento
da definição, foi proposta uma solução hipotética produzida pela adição de
150 g de Al2(SO4)3 em 3 litros de água. Objetivando que os próprios alunos
calculassem a concentração comum desta solução foi fornecido aos mesmos
a Equação 1. Após algum tempo dado para o cálculo da concentração de
Al2(SO4)3, observou-se que a maioria dos alunos fez os cálculos corretamente,
resultando em uma concentração de 50 g/L.
- 203 -
e nas próximas que seguem. Tendo como referência a massa de Al2(SO4)3 usada
no exemplo anterior, 150 g, foi explicado aos alunos que para se realizar o
cálculo da molaridade, neste caso a concentração deveria ser expressa em mol
por litro (mol/L), fazendo-se necessário que o valor em gramas utilizado fosse
convertido para mol, procedimento que poderia ser realizado por meio de
cálculos simples envolvendo “regra de três”, tendo como referência a massa
molar do Al2(SO4)3 anteriormente calculada, 342 g/mol. Tais cálculos foram
então elucidados para os alunos, conforme observado no Quadro 2.
Fonte: os autores
- 204 -
vegetais. Mas, que perde a sua eficácia com o passar do tempo, devendo por
isso, ser utilizada em no máximo, três dias depois de pronta.
Em relação à discussão com os alunos sobre a calda bordalesa,
explicitou-se, agora pautado nas definições da EMBRAPA (2008), que esta
solução é um insumo muito utilizado em hortas e pomares orgânicos, devido
a sua alta eficiência no controle de várias doenças causadas por fungos (míldio,
ferrugem, requeima, pinta preta, cercosporiose, antracnose, manchas foliares,
podridões, entre outras) em diversas culturas, tendo efeito secundário contra
bacterioses. Tendo também efeito repelente contra alguns insetos, tais como:
cigarrinha verde, cochonilhas, trips e pulgões. E que seu uso é permitido na
agricultura orgânica, devido seus componentes, sulfato de cobre e cal, serem
poucos tóxicos, além de contribuírem para o equilíbrio nutricional das plantas,
fornecendo cálcio e cobre.
O procedimento inicial para a preparação da solução da calda bordalesa
consistiu na pesagem das substâncias que seriam utilizadas, sendo os sais
CuSO4.5H2O e CaO. Para isso, utilizou-se uma balança, a qual após ser colocado
um béquer sobre a mesma, foi tarada, para que então se acrescentasse as
quantidades em gramas das substâncias de interesse, conforme demonstrado
na Figura 1.
Figura 1: Procedimentos realizados para pesagem dos sais, sendo (A) balança
após ser tarada, (B) massa de uma espátula de CuSO4.5H2O e (C), massa de
uma espátula de CaO.
Fonte: os autores
- 205 -
Desataca-se que foram utilizadas quatro espátulas de cada substância,
perfazendo um total de 2,06 g de CuSO4.5H2O e 1,5 g de CaO. Após a pesagem
das substâncias e anotação de seus valores expressos pela balança, foi dito
aos alunos que deste momento em diante fariam uso dos conceitos químicos
trabalhados anteriormente, o que se iniciou ao solicitar aos mesmos que
convertessem as massas das substâncias (2,06 g de CuSO4.5H2O e 1,5 g de
CaO) de gramas para mol.
Sendo assim, primeiramente fez-se necessário que os alunos, utilizando
a tabela periódica e tendo como referência a massa atômica dos elementos
químicos e suas quantidades representadas pelas fórmulas unitárias de cada
substância, encontrassem suas massas moleculares para posteriormente
atribuírem suas massas molares, tais conversões foram então realizadas.
Em posse das massas molares de ambas as substâncias, 249,6 g/
mol para o CuSO4.5H2O e 56,07 g/mol para o CaO, os alunos foram então
solicitados a converterem as massas em gramas anteriormente citadas (2,06 g
de CuSO4.5H2O e 1,5 g de CaO) para mol. Sendo explicado que essa conversão
fazia-se necessária pelo fato de que posteriormente seriam solicitados a
calcularem as concentrações da solução de calda bordalesa, sendo estas, a
concentração comum e a molaridade. Tais cálculos foram então realizados
utilizando-se “regra de três”.
Ao término dos cálculos foram encontradas as seguintes quantidades
de matéria para cada substância, 0,008 mol de CuSO4.5H2O e 0,027 mol de
CaO. Como os alunos já tinham os valores em gramas e em quantidade de
matéria, o próximo passo foi solicitar aos mesmos que adicionassem 25 mL
de água aos béqueres contendo CuSO4.5H2O e CaO, e utilizando as Equações
1 e 2, que calculassem a concentração comum e a molaridade das soluções
recém preparadas. Entretanto, antes que realizassem esses procedimentos,
foram questionados sobre qual substância seria o soluto e o solvente em
cada solução, como esses conceitos já haviam sido trabalhados, não notou-
se dificuldade alguma na atribuição dos sais como sendo solutos e da água
como sendo o solvente.
Antes que realizassem os cálculos, explicitou-se que deveriam
primeiramente converter o volume de 25 mL para litro, visto que tanto a
concentração comum quanto a molaridade são comumente expressas em g/L
e mol/L, respectivamente, tal conversão foi facilmente realizada ao explicar aos
alunos que um litro contém 1000 mL, sendo necessário, para se encontrar o
valor em litro, a divisão de 25 mL por 1000mL, obtendo-se o valor de 0,025 L.
Em relação aos cálculos da concentração comum e da molaridade,
como exemplos anteriores já haviam sido trabalhados, os alunos conseguiram,
- 206 -
em sua maioria, encontrar as concentrações desejadas (82,4 g/L e 0,32 mol/L
de CuSO4.5H2O; 60 g/L e 1,08 mol/L de CaO). Aqueles que demonstraram
maiores dificuldades tiveram suas dúvidas sanadas individualmente. Para
finalizar a preparação da solução da calda bordalesa, pedimos aos alunos para
misturarem as duas soluções.
Por fim, destaca-se que todos os cálculos e concentrações resultantes
de todo o processo de preparação da solução de calda bordalesa pelos alunos
encontram-se elucidados no Quadro 3.
Como a solução preparada não seria utilizada, e o objetivo da referida
aula seria apresentar aos alunos a importância da utilização de soluções
caseiras para o combate de pragas em hortas e a realização dos cálculos, não
foram utilizados valores reais das substâncias e nem o volume de água que
é recomendado pela Embrapa (2008), aspecto esse apresentado aos alunos
durante o procedimento da aula experimental.
Fonte: os autores
- 207 -
Quadro 3: Cálculos realizados na preparação da solução da calda bordalesa.
Fonte: os autores
A7: A aula foi muito interessante, pois aprendemos como matar algumas
larvas das plantações sem prejudicar a planta. Tivemos um grande
proveito, pois o agrotóxico prejudica muito.
A3: A aula foi muito boa, diferente das aulas do dia a dia. Aprendi como
matar os bichos que aparecem nas plantações de um jeito mais eficaz,
misturando o sulfato de cobre e a cal virgem para matar os bichos sem
prejudicar a plantação.
A13: A aula foi ótima, adquirimos conhecimentos e foi muito
- 208 -
interessante pelo fato de fazermos experimentos.
A10: A aula foi bem divertida, fizemos experimentos e aprendemos
mais sobre Química na horta.
CONCLUSÕES
- 209 -
Ressalta-se, também, que o momento que os alunos relataram de
maneira escrita as suas concepções sobre a aula representou um diálogo
bastante importante da comunicação entre o estagiário e o aluno, pois por
meio destes relatos, pôde-se avaliar a prática docente adotada na referida
abordagem, determinando assim o quanto a mesma favoreceu para uma
aprendizagem contextualizada e efetiva, sendo os alunos os agentes principais
da construção do conhecimento.
Por fim, acredita-se que, para que o ensino seja de qualidade de modo
a contribuir para a formação do aluno enquanto cidadão, faz-se necessário
que o professor esteja aberto a refletir constantemente sobre o seu trabalho
pedagógico, buscando, a partir das dificuldades encontradas, meios para
superá-las e a inserção de práticas pedagógicas que visam a inclusão do aluno
como agente principal no processo ensino e aprendizagem, assim como
proposto por este trabalho.
REFERÊNCIAS
- 210 -
EMBRAPA. Controle biológico de pragas em hortaliças. Jaguariúna, 2006. Dispo-
nível em:http://docsagencia.cnptia.embrapa.br/agriculturaMeioAmbiente/CONTRO-
LE_BIOLOGICO_DE_PRAGAS.pdfAcesso em:12 Set. 2015.
EMPRABA. Projeto Horta Solidária. Cultivo de Hortaliças. Jaguariúna, 2005. Dis-
ponívelem:http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/MakishimaMeloCou-
tinhoRosa_CultivoHortalicas_000fdrov49v02wx5eo0a2ndxygn7d1ln.pdf. Acesso em:
10 Set. 2015.
FERREIRA, L. H.; HARTWING, D. R.; OLIVEIRA, R. C. Ensino experimental de
Química: uma abordagem investigativa contextualizada. Química Nova na Escola.
v.32, n. 2, p. 101-106, 2010.
GALIAZZI, M. C.; GONÇALVES, F. P. A natureza pedagógica da experimentação:
uma pesquisa na licenciatura em Química. Química Nova. v. 27, n. 2, p. 326-331, 2004.
GIANI, K. A experimentação no Ensino de Ciências: possibilidades e limites na
busca de uma Aprendizagem Significativa. Dissertação Programa de Pós Graduação
em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília. Brasília-DF, 190p. 2010.
GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos
Rumo à Aprendizagem Significativa. Química Nova na Escola. v. 31, n° 3, p.198-202,
2009.
HODSON, D. Haciaun enfoque más critico Del trabajo de laboratorio. Enseñanza de
lãs Ciencias, Barcelona, v. 12, n. 3, p. 299-313, 1994.
LIMA, J. F. L.; PINA, M. S. L; BARBOSA, R. M. N.; JOFILI, Z. M. S. A contextualização
no ensino de cinética Química. Química nova naescola. v. 11, p. 26-29, 2000.
MORTIMER, E.F.; MACHADO, A.H.; ROMANELLI, L.I.A. Proposta Curricular de
Química do Estado de Minas Gerais: Fundamentos e Pressupostos. Química Nova. v.
23, n.2, p.273-283, 2000.
OLIVEIRA, C.N.A.L.; A Experimentação como Elo Entre o Conhecimento e o
Aprendizado no Ensino de Ciências e Biologia. 2013. p. 15. Monografia (Graduação
em Ciências Biológicas). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da
Conquista, 2013.
PAULUS, G.; MÜLLER, A. M.; BARCELLOS, L. A. R. Agroecologia aplicada: prática
e métodos para uma agricultura de base ecológica. Porto Alegre:EMATER-RS, 2001.
PERES, F.; MOREIRA, J. C. É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
PERES, F. Saúde, trabalho e ambiente no meio rural brasileiro. Ciência & Saúde
coletiva, v. 14, n. 6, p. 1995-2004, 2009.
SCHNETZLER, R. P.; A pesquisa em ensino de Química no Brasil: conquistas e
perspectivas. Química Nova. v. 25, p. 14-24, 2002.
- 211 -
SILVA, L. H. A; ZANON, L. B. Experimentação no ensino de ciências. In:, Roseli
P.;ARAGÃO, R. M. R. (Orgs.) Ensino de Ciências: fundamentos e abordagens.
Campinas: VGráfica, 2000. p. 120-153.
ZANON, L.B.; PALHARINI, E.M.A Química no ensino fundamental de ciências.
Química Nova naEscola.v. 2, p. 15-18, 1995.
WARTHA, E.J.; SILVA, E.L.; BEJARANO, N.R.R. Cotidiano e contextualização no
ensino de Química. Química Nova na Escola. v. 35, p. 84-91, 2013.
- 212 -
Capítulo 11
- 213 -
construtivista de caráter social que prima pela decisão consciente de preparar
os alunos para assumirem um papel mais dinâmico e ativo na sociedade”.
Assim, a orientação para o ensino das ciências corresponde à ideia
- 214 -
conteúdos, mas que seja uma concepção transformadora e progressista de
educação na formação de professores e na aprendizagem dos alunos. As
mudanças devem atender os encaminhamentos CTSA de forma a estruturá-
lo em torno de temas, problemas reais, controvérsias como nas propostas
para um currículo democrático, estruturado a partir do que Paulo Freire
denomina de temas geradores.
Segundo Martins (2002), os currículos com enfoque CTSA priorizam
no ensino, o caminho de chegada à resposta, em que os conteúdos e os
conceitos passam a ser referência ao conhecimento que se deseja construir. O
autor também propõe que a alfabetização científica envolve a compreensão da
C&T, assim como as ações do indivíduo em sociedade.
Para Santos e Mortimer (2000), a definição de um currículo com
ênfase em CTSA se configura nas inter-relações entre explicação científica,
planejamento tecnológico, solução de problemas e tomada de decisão sobre
temas práticos de importância social.
Os objetivos propostos pelo enfoque CTSA, incorporam o
desenvolvimento de valores vinculados aos interesses coletivos como:
solidariedade, fraternidade, consciência do compromisso social, reciprocidade,
respeito ao próximo e generosidade. Santos (2007), explica que esses valores se
relacionam às necessidades humanas, em uma perspectiva de questionamento
à ordem capitalista, na qual os valores econômicos se impõem aos demais.
De acordo com Fagundes et al., (2009, p. 06) o conteúdo do ensino
CTSA deve estar
- 215 -
O TEMA CORANTE TÊXTIL NO ENSINO DE QUÍMICA
- 216 -
Os autores München et al., (2015), explicam que as reações orgânicas estão
presentes especialmente no desbotamento de calças jeans pelo uso de agentes
oxidantes como cloro, ozônio e permanganato e os polímeros tem relação
direta no modo de formação da fibra de algodão.
Compreendemos que a integração entre conceitos químicos e ações
do cotidiano promove uma dinamização de temas relevantes, como corantes
têxteis e o processo de fabricação do tecido jeans, observado na dimensão em
que esses assuntos afetam diretamente a sociedade. Logo, desenvolvemos a
pesquisa a partir dos procedimentos descritos na próxima seção.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
- 217 -
Desse modo, foram utilizadas as seguintes estratégias: atividades
experimentais realizadas pelos alunos em laboratório de Ensino de Química,
exibição de documentário e reportagem investigativa com foco na obtenção
e descarte de resíduos provenientes das indústrias têxteis e roda de conversa
com os participantes. As etapas de desenvolvimento desta pesquisa estão
representadas na Figura 1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 218 -
CTSA que expressavam. O Quadro 1 a seguir apresenta as categorias e as
palavras-chave consideradas em cada resposta identificadas a partir dos
questionários realizados durante o desenvolvimento das atividades da pesquisa.
Aspectos Palavras-chave
Economia
Lucro
Econômicos (AE) Geração de emprego
Produção
Custo
Empregabilidade
Sociais (AS) Qualidade de vida
Educação
Impactos ambientais
Descarte de resíduos
Ambientais (AA)
Poluição
Degradação
Interação molecular
Ligações Químicas
Científicos (AC)
Reatividade
Funções orgânicas
Desenvolvimento de práticas sustentáveis
Tecnológicos (AT) Padronização industrial de produção
Equipamentos avançados
Fonte: adaptado de Santos (2002, p. 203).
- 219 -
Figura 2: Indicação de produtos associados ao uso de corantes têxteis.
015%
Tecidos em geral
023% (roupas)
Sapato/tênis
085%
023%
Jeans
Sofá/estofados
054%
Bolsas
077%
Artigos de
decoração/acessórios
- 220 -
Quadro 2: Respostas referente à questão 2 do questionário prévio.
As roupas em geral precisam ser tingidas para ganhar cores, o exemplo é o jeans
A2
que precisa da cor e as tintas são jogadas em locais inadequados.
A9 Os corantes têxteis reagem na roupa, a colorindo.
A11 Extração de produtos de origem vegetal e adição de produtos químicos.
A12 É extraída ou criada uma cor e aplicada aos produtos têxteis.
Em relação a roupa já tive uma experiência, ao comprar potinhos de corantes e
A13 pintar calças jeans. Para colorir só fervi uma água coloquei o corante e a calça, por
alguns minutos no varal.
Fonte: Autoria Própria.
- 221 -
terem contato com o processo de fabricação dos corantes têxteis, torna-se
improvável que façam relação com o conteúdo químico.
Na última questão, os participantes tinham que relacionar a produção
têxtil com os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Discriminamos as
respostas de acordo com os aspectos econômicos (AE), aspectos sociais (AS) e
aspectos ambientais (AA) definidas no Quadro 1. Os extratos representativos
para a questão 3 estão expostos no Quadro 3.
Na análise identificamos que os alunos compreendem a relação existente
entre a produção têxtil e os aspectos socioeconômicos e ambientais, porém
não se observa a indicação de exemplos que justificam esse contexto.
(AE) Usam corantes em sua constituição gerando um lucro muito grande anual.
(AS) No meio social os produtos têxteis tem uma importância social, importância,
A1 pois nos dias atuais é fundamental ter roupas.
(AA) Ambientalmente as fábricas de produtos têxteis gera uma degradação
assustadora com os corantes descartados de forma irresponsável nos rios.
(AE) A sua relevante importância econômica no mundo da moda.
(AS) A sua relevante importância social.
A7 (AA) Abafa os prejuízos que a fabricação deste produto traz ao nosso planeta, desde
sua fabricação até o seu descarte. A produção têxtil vem desde o seu princípio,
causando inúmeros impactos negativos ao meio ambiente.
(AE) A produção têxtil é uma das maiores do mundo.
(AS) ----------
A9
(AA) Por conta dos corantes, essa produção causa um grande impacto no meio
ambiente como a poluição de rios.
(AE) Produz muito dinheiro, nos envolve totalmente.
(AS) Mas o nosso envolvimento é a partir da compra já que não sabemos como é
A10
fabricado.
(AA) ----------
(AE) A produção têxtil é um mercado que movimenta muito o meio econômico.
A12 (AS) É necessário a fabricação têxtil para que a sociedade tenha como se vestir.
(AA) Mas em contra partida, são gerados muitos impactos ambientais.
Fonte: Autoria Própria.
- 222 -
exemplo, o participante A12, não relaciona com questões comuns do cotidiano
direcionadas a empregabilidade, qualidade de vida, educação.
No que se referem aos aspectos ambientais, as respostas dos estudantes
contemplam assuntos sobre o “descarte de forma irresponsável nos rios”,
“agressão ao meio ambiente especialmente aquático” e “poluição”. Os exemplos
apresentam interpretações relacionadas às ações humanas que afetam a
população e o meio ambiente. Nesse sentido, Santos e Mortimer (2000)
destacam a importância do ensino de inter-relações com o enfoque CTSA para
viabiliza o questionamento à ordem capitalista que afeta os valores humanistas.
As respostas analisadas no questionário prévio indicam a necessária
inserção do enfoque CTSA diretamente relacionadas a uma ação social que
integra diferentes campos do saber. Pois, não observamos o desenvolvimento
do pensamento crítico, que requer uma abordagem reflexiva pautada na
contextualização da teoria à prática, o que demanda tempo, disponibilidade
do professor e do aluno.
Assim, como salienta Perez e Sierra (2014) os caminhos para a formação
docente não consistem em reproduzir teorias ou desenvolver práticas mais
eficazes, mas sim fazer da prática um processo crítico que permite ao aluno
compreender e transformar o conhecimento.
Em um segundo movimento de caracterização dos resultados, posterior
à aplicação da SD, os participantes responderam o questionário final e,
assim como no primeiro instrumento de coleta, utilizamos o Quadro 1 para
identificar as categorias e palavras-chave.
Para a primeira questão, os participantes tinham que relacionar os
conceitos químicos envolvidos no processo de tingimento e desbotamento
do jeans.
Ambos os processos mencionados são de escala industrial e foram
apresentados e discutidos a partir da realização de experimentos em laboratório,
exibição de vídeos e reportagens de curta duração, em que descreve o passo a
passo do tingimento de um tecido e as interferências que afetam o contexto
socioeconômico e ambiental. Os conteúdos químicos abordados nas atividades
foram: interações moleculares, ligações Químicas e reatividade Química.
Destacamos no Quadro 4, respostas que indicam a aprendizagem de
conceitos químicos abordados nas aulas expositivas, possibilitando o
desenvolvimento da escrita e a compreensão conceitual. Compreende-
se que a partir do momento em que o ensino de Ciências apresenta uma
linguagem facilitada, contribui para a compreensão do aluno, permitindo a
ele atribuir significados aos conceitos científicos ensinados em sala de aula
(CHASSOT, 2016).
- 223 -
Quadro 4: Respostas referente à questão 1 do questionário final.
- 224 -
Quadro 5: Respostas referente à questão 1 do questionário final.
- 225 -
Quadro 6: Respostas referente a questão 2 do questionário final.
- 226 -
(A5): “Essa produção é de modo muito grande gera lucros financeiros,
mas os danos ambientais com a produção e descarte inapropriado têm
gerado riscos aos mananciais de água, rios e lagos e à saúde da população.
Como foi relatado em aula no documentário e reportagem, muitas
lavanderias funcionam fora dos padrões ambientais para os dono dessas
tais lavanderias isso seria uma economia já que não teriam que gastar
para recuperar p padrão de potabilidade da água”.
(A7): “Em um país que o desemprego vem crescendo acentuadamente,
podemos dizer que as fabricas que produzem jeans vem de forma social
e econômica ajudando o cidadão brasileiro. Mas não podemos falar tão
bem assim dessas indústrias olhando de um ponto de vista ambiental,
pois a empresa que tem tal seguimento em sua maioria não tem alvará de
funcionamento e muito menos licença pelo ministério do meio ambiente.
Assim tais fábricas têm poluído cada vez mais nossos rios e nossos solos,
com seus inúmeros resíduos produzidos em uma escala absurda”.
- 227 -
Ademais, identificamos respostas que vão além das interpretações e
inter-relação dos aspectos econômicos, sociais e ambientais, porque abordam
os aspectos científicos (AC) – interações moleculares, ligações Químicas,
reatividade, funções orgânicas – e os aspectos tecnológicos (AT) – práticas
sustentáveis, padronização industrial de produção, equipamentos avançados –
como representado pelos exemplos:
- 228 -
Figura 2: Desenvolvimento da argumentação.
100,00
80,00
Porcentagem (%)
69,23
61,54
60,00
46,15
40,00
20,00
0,00
Econômico Social Ambiental
Prévio (%) Final (%)
CONCLUINDO A PESQUISA
- 229 -
REFERÊNCIAS
- 230 -
D. (Org.). CTS e educação científica: desafios, tendências e resultados de pesquisa.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011.
MÜNCHEN, S.; ADAIME, M. B.; PERAZOLLI, L. A.; AMANTÉA, B. E.; ZAGHETE,
M. A. Jeans: a relação entre aspectos científicos, tecnológicos e sociais para o ensino de
Química. Química Nova na Escola, v. 37, n. 3, p. 172-179, 2015.
PEREIRA, C. L. A história da ciência e a experimentação no ensino de Química
orgânica. 2008. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Universidade de
Brasília, Brasília, 2008. Disponível em: <http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_
busca/arquivo.php?codArquivo=3709>. Acesso em: 10 ago. 2019.
PEREZ, L. F. M.; SIERRA, D. F. M. Perspectiva teórica e metodológica crítica
para a formação de professores de ciências sob o enfoque CTSA. In: NERY, B. K.;
MALDANER, O. A. (Org.). Formação de professores: compreensões em novos
programas e ações. Ijuí: Unijuí, 2014, p. 159-180.
RAPOSO, P. N.; MÓL, G. S. A diversidade para aprender conceitos científicos: a
ressignificação do ensino de ciências a partir do trabalho pedagógico com alunos
cegos. In: SANTOS, W.L.P.; MALDANER, O. A. (Org.). Ensino de Química em Foco.
Ijuí: Unijuí, 2011. p. 287-311.
SANTOS, W. L. P. Aspectos sócio-científicos em aulas de Química. 2002. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2002. Disponível em: < http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/
handle/1843/IOMS-5KZJL9/2000000035.pdf?sequence=1> Acesso em 08 ago. 2019.
SANTOS, W. L. P. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em
uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v. 1, número especial, 2007.
SANTOS, W. L. P.; GALIAZZI, M. C.; PINHEIRO JUNIOR, E. M.; SOUZA, M.
L.; PORTUGAL, S. O enfoque CTS e a educação ambiental: possibilidade de
“ambientalização” da sala de ciências. In: SANTOS, W.L.P.; MALDANER, O. A. (Org.).
Ensino de Química em Foco. Ijuí: Unijuí, 2011. p. 131-157.
SANTOS, W.L.P.; MORTIMER, E. F. Uma análise de pressupostos teóricos da
abordagem CTS no contexto da educação brasileira. Revista Ensaio Pesquisa em
Educação em Ciências, v. 2, n. 2, 2000.
SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação Química: compromisso com a
cidadania. 3 ed. Ijuí: Unijuí, 2003.
SILVA, F. M.; WOUTERS, A. D.; CAMILO, S. B. A. Visualização prática de Química
envolvida nas cores e sua relação com a estrutura de corantes. Química Nova na
Escola, n. 29, p. 46-48, 2008.
- 231 -
Capítulo 12
1
Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura em Química do Instituto Federal de Goiás
– Câmpus Itumbiara.
2
Pós-Graduanda em Libras e Educação Especial pela Faculdade Única de Ipatinga (FUNIP). Li-
cenciada em Química pelo Instituto Federal de Goiás (IFG-Itumbiara). E-mail: denisefaria_14@
hotmail.com
3
Professora do Instituto Federal de Goiás (IFG-Itumbiara). Doutoranda em Educação pela Uni-
versidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Psicologia Aplicada e Graduada em Psicologia
pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail: [email protected]
4
Professora da Secretaria Estadual de Educação e Cultura de Goiás, lotada no Colégio Estadu-
al da Polícia Militar de Goiás – Unidade Dionária Rocha (Itumbiara-GO). Pós-Graduada em
Ensino de Química pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Química pelo
ILES/ULBRA (Itumbiara-GO). E-mail: [email protected]
5
Instrutor de Educação Profissional e Tecnológica em Química no Serviço Nacional de Apren-
dizagem Industrial (SENAI) na unidade escolar de Itumbiara/GO. Mestrando em Ensino de
Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Licenciado em Quí-
mica pelo Instituto Federal de Goiás (IFG-Itumbiara). E-mail: [email protected].
- 232 -
O celular é uma tecnologia com diversas utilidades e de fácil acesso. O
diálogo sobre o seu usoem sala de aula como uma ferramenta para auxiliar no
processo de ensino é uma questão presenteem diversos espaços ligados aos
processos educativos. Diante dessa temática, buscou-se responder o seguinte
problema: Qual a percepção dos alunos sobre o uso do celular como recurso
didático em sala de aula?
Partindo desse questionamento, este trabalho teve como objetivo geral
investigar a percepção dos alunos de uma escola pública de Itumbiara-GO
sobre o uso do celular como recurso didático em sala de aula para pesquisa
online no ensino de Química. Além do mais, buscou-se investigar quais os usos
que o aluno faz com o celular, se usa para o lazer e/ou para fins pedagógicos,
bem como levantar as possíveis vantagens e desvantagens do uso do celular
em sala de aula; e utilizar o celular como ferramenta de pesquisa online. Para a
realização da pesquisa foi feito um estudo bibliográfico e a pesquisa de campo
realizada em três etapas, sendo que na primeira foi aplicado o Questionário
1, na segunda foram desenvolvidas três aulas, nas quais os alunos puderam
utilizar a internet dos seus celulares para fazer as atividades propostas e na
terceira e última etapa foi aplicado o Questionário 2.
O trabalho apresenta aos alunos, professores e pesquisadores do ensino
de Química um estudo teórico e relato de uma prática na qual foi possível criar
um espaço de reflexão e experiência usando o celular em sala de aula no ensino
de Química. Além do mais, o uso dessas novas tecnologias e a discussão sobre
seu uso nos processos de ensino e de aprendizagem, permite repensar o modo
de relacionamento com essas tecnologias no cotidiano.
O uso do celular como recurso didático no ensino de Química é uma
questão importante e deve atentar-se ao fato de que é uma tecnologia que
possui diversos aplicativos e utilidades e que o professor precisa estar preparado
para lidar com essa tecnologia em sala de aula e orientar os alunos,evitando a
dispersão durante a aula. Sendo assim, o planejamento docente é indispensável
em toda e qualquer prática pedagógica, principalmente aquelas que envolvam
o uso de tecnologias. Um planejamento docente bem elaborado orienta
o professor na sua ação em sala de aula e permite a criação de um espaço
favorável ao desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem.
- 233 -
A tecnologia torna-se cada vez mais essencial e indispensável na vida das
pessoas, facilitando a comunicação, promovendo o acesso rápido às informações,
e globalizando o mundo de modo geral. Segundo Grinspun (1999, p.49) "a
tecnologia envolve um conjunto organizado e sistematizado de diferentes
conhecimentos, científicos, empíricos e até intuitivos voltados para um processo
de aplicação na produção e na comercialização de bens e serviços”.
Nesse sentido, a tecnologia é um instrumento que permite ao homem
agir sobre a natureza para extrair recursos para sua subsistência e transformar
o meio em que vive, auxiliando e facilitando nas atividades diárias das pessoas.
Embora o objetivo da tecnologia seja facilitar a vida das pessoas, mesmo com
diversos pontos positivos, seu uso também apresenta alguns desafios.
De acordo com o que diz Gonçalves e Silva (2013) o sedentarismo
está entre alguns dos problemas agravados pelo avanço tecnológico, visto
que as pessoas ficam várias horas “conectadas” em seus aparelhos e isso pode
prejudicar a sua saúde. Além disso, há uma falta de comunicação interpessoal, o
trabalho humano vem sendo substituído por máquinas que operam em menor
tempo e com menor custo financeiro. É bom acrescentar ainda que ocorrea
poluição do meio ambiente, devido à grande geração e descarte incorreto de
lixo eletrônico.
As Tecnologias da Informação e Comunicação, também conhecidas como
TIC’s, são meios de interagir, informar e comunicar. Na concepção de Mendes
(2008), as TIC’s são uma fusão de tecnologias que tem inúmeras utilidades,
como por exemplo, reunir, distribuir e até mesmo compartilhar informações.
Sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação em salas
de aula, os autores Oliveira e Moura (2015) afirmam que o docente deve dar
o suporte necessário aos seus alunos quanto ao uso adequado e responsável
dessas tecnologias. Para que isso ocorra, o professor deve atualizar-se durante
a sua formação inicial e continuada, dentro de sua especialidade e também
deve buscar aquelas tecnologias que contribuam para a sua prática pedagógica.
Dentre as TIC’s, temos o celular que é uma tecnologia que a indústria inova a
cada dia, um meio de comunicação e informação que se faz presente na vida
de milhares de pessoas.
Moran (2007) considera que o celular é uma tecnologia inovadora por
ser wireless, por possibilitar a conexão à internet, programas de comunicação
e outros serviços sem utilizar cabos. O celular pode ser considerado uma
multimídia que possui outras utilidades e ferramentas que podem auxiliar e
simplificar o cotidiano das pessoas, tais como: calculadora, agenda e aplicativos
diversos.
- 234 -
O uso dessa ferramenta no espaço escolar possibilita dinamizar as aulas,
pois o celular é um dispositivo móvelque abre um amplo leque de possibilidades
para o ensino em geral e de ciências em particular (MATEUS; DIAS, 2015).
O celular é um aparato que tem custo financeiro zero para a escola e
a maioria dos alunos possui pelo menos um aparelho com acesso a internet.
Como grande parte dos alunos já possui celular, de acordo com uma pesquisa
realizada pela Kantar Worldpanel (2016) e publicada no site da mesma, a
cada dez brasileiros, nove possuem celular. A manutenção e cuidados com o
aparelho é responsabilidade do proprietário, a escola não precisa custear esse
recurso, por isso considera-se custo financeiro zero para a instituição.
Segundo Torelli (2016) o celular engloba todos os níveis econômicos
e idades da população brasileira, tornando-o uma tecnologia que está em
todos os lugares. Desse modo, pode-se dizer que o celular é um objeto de uso
pessoal, que está inserido na rotina das pessoas, e que já ultrapassou os muros
da escola adentro.
Utilizar esse aparelho em sala de aula é um desafio para os professores, e
se planejado de acordo com os objetivos pedagógicos pode enriquecer a aula e
propiciar mais debates acerca do tema. Assim, a escola também tem uma função
social e educativa de orientar o uso dessa ferramenta nesse contexto atual, no
qual o aparelho pode auxiliar no ensino e aprendizado de diversas disciplinas,
inclusive a Química. Desse modo, Mateus e Dias (2015, p. 97) afirmam que
“podemos pensar em maneiras de engajar os alunos em atividades com os seus
telefones durante as aulas de uma maneira produtiva”.
O uso do celular em sala de aula com acesso à internet como material
de apoio para pesquisas é uma opção para envolver os alunos nas aulas,
tornando-os ativos no processo de ensino e aprendizagem, pesquisadores e
interessados pelo conteúdo ou situação que está sendo estudada, aumentando
assim a participação deles durante as aulas.
Considerando esse contexto, Rodrigues (2015) comenta que a internet
facilita na pesquisa em sala de aula, pois não há a necessidade do deslocamento
para outro ambiente. Além disso, a autora também ressalta que ela está
disponível em muitos aparelhos.
A internet é um recurso atraente, pois oferece facilidade no acesso e
pode possibilitar um número ilimitado de informações. É importante que o
docente oriente os seus alunos quanto ao uso desse recurso em atividades de
pesquisa, para evitar que façam as cópias de textos ou realizem pesquisas em
sites não confiáveis (MORAN; MASSETO; BEHRENS, 2000).
Segundo Paula (2015, p. 187) “as TIC’s podem ser usadas para sustentar
atividades investigativas”. No campo das ciências, uma pesquisa ou investigação
- 235 -
geralmente é feita por meio de uma pergunta, na qual a resposta não é obtida
pronta e acabada. Trata-se de uma atividade extensa na busca pela resposta da
pergunta que norteia o motivo da investigação.
- 236 -
para a condição de protagonista, utilizando a tecnologia como aliada. Dessa
maneira, o aluno deixa de ser o receptor de informações, como no modelo de
ensino tradicional, no qual o professor detém todo o conhecimento e transfere
este para o aluno (FREIRE, 2011). Considerando esse contexto, o aluno passa
a ser o protagonista da sua aprendizagem, buscando o esclarecimento de suas
dúvidas e questionando o professor sobre aquilo que não concorda.
Embora as Tecnologias da Informação e Comunicação estejam inseridas
no contexto escolar e os alunos saberem manuseá-las, ainda é necessário
investir na formação continuada dos docentes para utilizar esses recursos em
sala de aula.
- 237 -
traçar os objetivos das atividades e fazer um planejamento com foco, além de
ser necessária uma conversa com os alunos explicando quais dispositivos serão
usados, os serviços e os devidos momentos, para que eles mantenham-se atentos
a aula e não utilizem o aparelho em momentos impróprios (NOGUEIRA, 2014).
A especialista enfatiza que é possível utilizar o celular para fazer exercícios com
fotos, vídeos, e também recursos do aparelho, como a calculadora, assim será
despertada a atenção, curiosidade e conhecimentos dos discentes.
O professor também deve valorizar o conhecimento que os seus discentes
têm sobre o uso desses recursos para que se tenha uma interação aluno-professor
com mais eficiência, proporcionando uma troca de informações, comunicação e
aprendizado. Sendo assim, Mazzoco e Camilo (2015) mencionam que o professor
não deve intimidar-se com a familiaridade dos alunos com os dispositivos
digitas e que os usos desses recursos em sala de aula podem somar-se com os
conhecimentos e experiência que o professor possui.
Em entrevista ao Jornal Tribuna, o professor de História Deivid
Aparecido Costubra, de 32 anos, de São Vicente, município localizado no
estado de São Paulo disse que utiliza o celular em suas aulas e tem visto
resultados positivos. O professor argumenta que os alunos vão para escola com
uma bagagem grande e que os professores atuam como mediadores. Ele utiliza
as redes sociais para receber as atividades dos alunos e argumenta que o que
importa é o aprendizado dos seus discentes (A TRIBUNA JORNAL, 2017).
Sendo assim, a reflexão sobre o uso das tecnologias e de novas práticas
pedagógicas é importante para o desenvolvimento da educação. O celular é
uma ferramenta que pode auxiliar o professor no desenvolvimento do seu
trabalho como educador e mediador do conhecimento.
- 238 -
auxiliar no desenvolvimento de práticas pedagógicas dinâmicas e coletivas,
promovendo o conhecimento em ambientes educacionais.
O uso de tecnologias como recurso didático vem inovando os
planejamentos pedagógicos, contribuindo para que os professores façam a
mediação entre o conteúdo a ser ensinado e ao aluno a adquirir o conhecimento
de forma contextualizada e significativa. Pesquisas recentes apontam que o uso
do celular em sala de aula como material de pesquisa ou a permissão do seu
uso por meio de outros aplicativos tem sido satisfatória e tem contribuído para
uma aprendizagem significativa (A TRIBUNA JORNAL, 2017).
Em uma entrevista publicada pelo Jornal Tribuna, alunos que utilizam
o celular em sala de aula como recurso didático disseram que ficam mais
interessados pelas aulas com o uso do celular (A TRIBUNA JORNAL, 2017).
Nesse sentido, a aluna Letícia Bastos de 17 anos afirma que
Antes era difícil a gente pegar um livro. Com o uso do celular, a gente
começou a aprender melhor e ele está propondo coisas diferentes que a
gente se interessa mais. Os temas escolhidos para serem trabalhados em
sala de aula, muitas vezes, acabam mexendo com nossos sentimentos.
Ele nos fez refletir muito. (A TRIBUNA JORNAL, 15 nov. 2017).
- 239 -
O uso de dispositivos tecnológicos deve se coadunar com práticas de
ensino-aprendizagem que privilegiam as habilidades e competências,
tendo o mundo como perspectiva de atuação. Antes de discutir que
dispositivo tecnológico usar em sala, será preciso discutir, com a
criticidade necessária, que tipo de escola queremos. Trata-se, portanto,
de discutir tecnologias educacionais.
Ainda de acordo com essa ideia, Silva (2015) aponta que incluir o uso
do celular no cotidiano escolar do aluno pode romper barreiras e diminuir a
distância entre a vida pessoal e a escolar, valorizando a bagagem cultural do
discente.
Em contrapartida, atualmente nas escolas estaduais de Goiás é proibido
dentro da sala de aula o uso do aparelho celular, com base na Lei Nº 16.993,
de 10 de maio de 2010. Desta forma, uma reportagem publicada no portal de
notícias G1/Goiás em 2018, mostra que estava em tramitação um projeto de lei
que permitia os alunos utilizar os celulares na sala de aula nas escolas estaduais
de Goiás para fins educativos. Porém, segundo informações da Assembleia e
publicado no portal da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (ALEGO)
tal projeto de lei foi vetado integralmente (2019). Sendo assim, o uso do celular
em sala de aula continua sendo proibido.
De acordo com a reportagem, Sara Christine de Souza Portes, de 17
anos, e Gustavo Dias Santana Soares, de 18, são discentes e estudam juntos no
Colégio Estadual Jardim América, em Goiânia. Ambos utilizam o celular para
se comunicar e também como ferramenta de pesquisa. Em relação ao uso do
celular em sala de aula, Sara afirma que “Eu vejo que algumas horas pode ser
importante, para a gente entrar em algum site, para ler juntos, mas precisamos
ter um padrão, para não usar enquanto o professor estiver explicando, por
exemplo”. Já Gustavo, aponta que “As pessoas só ficam nas redes sociais, tirando
foto, ouvindo música. Isso enquanto o professor explica o conteúdo, então, a gente
entende que atrapalha bastante desse jeito” (VELASCO, 2018).
A fala dos dois estudantes na reportagem citada reforça que é necessário,
antes de utilizar o celular em atividades de ensino, o professor ter um
planejamento bem elaborado para usar essa ferramenta como pesquisa online,
pois se usado sem uma metodologia eficiente e sem objetivos delimitados o
momento de estudo e conhecimento torna-se irrelevante.
Em suma, o uso do celular como material de pesquisa divide opiniões
até mesmo entre os alunos. Faz-se necessário orientar os estudantes antes
de qualquer atividade envolvendo tecnologia. Quando usado de maneira
adequada dentro da sala de aula, o celular pode permitir uma experiência
- 240 -
enriquecedora aos alunos e professores envolvidos no processo de ensino
e aprendizagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 241 -
também foi aplicado em uma aula e recolhido após todos responderem.
Obteve-se um quantitativo de 16 questionários entregues e respondidos.
Os questionários apresentavam questões objetivas e discursivas. O
questionário 1 possuía sete questões e buscou identificar as opiniões dos
estudantes sobre TIC’s, o conhecimento sobre esse tipo de tecnologia, se os
professores utilizaram esse tipo de recurso em suas aulas, sobre o interesse pelo
conteúdo quando é utilizado algum recurso tecnológico na aula, sobre o uso
do celular como material de pesquisa e se eles gostariam de usar o celular em
aulas de Química. Já o questionário 2, foi elaborado com 6 questões e buscou
avaliar a opinião dos alunos sobre o uso de TIC’s no ensino de Química,
procurando entender se elas são ferramentas facilitadoras de aprendizagem ou
apenas objeto de distração para o ensino.
Nos registros das três aulas práticas no diário de bordo, descritos logo
após a aula, observou-se o comportamento dos alunos e a desenvoltura deles
durante as aulas com o uso do celular para a realização das atividades propostas.
Foram respondidos 22 questionários 1 e 16 questionários 2. As respostas
elencadas nos questionários 1 e 2 e as observações da aluna pesquisadora e
professora regente, possibilitou identificar e analisar os discursos apresentados
pelos alunos pesquisados e separá-los devidamente nas seguintes categorias:
O uso das TIC’s em sala de aula como recurso didático; O uso do celular pelos
alunos; O uso do celular no ensino de Química; Facilidades e dificuldades
encontradas ao usar o celular no ensino de Química.
- 242 -
mesmos autores argumentam que é necessário conhecer essas tecnologias e
adequá-las a cada realidade e prática.
Para inserir as tecnologias em sala de aula deve-se ir além do uso de
equipamentos eletrônicos. Portanto, cabe ao professor buscar em sua formação
inicial e continuada o seu aperfeiçoamento e novos conhecimentos para
potencializar a sua prática docente e envolver os seus alunos em suas aulas,
criando um espaço educacional para que o aluno seja ativo, pesquisador e o
centro da educação. Além disso, o professor pode ensinar e aprender nessa busca
por novos horizontes e novas ferramentas para aprimorar a sua metodologia.
As TIC’s são ferramentas importantes para comunicação,
compartilhamento e distribuição de informações. Dessa forma, percebe-se
por meio dos discursos dos alunos, que a maioria considera que os aplicativos,
softwares, filmes, o celular e outras mídias podem contribuir para o seu
aprendizado e aumentar a interação com o conteúdo científico e o desempenho
nas aulas. Diante desse fato, quando foram perguntados sobre a contribuição
das TIC’s para o seu aprendizado alguns alunos relataram o seguinte:
- 243 -
dos alunos, trazem as informações de um modo dinâmico utilizando uma
linguagem acessível e atraente.
Desse modo, percebe-se que quando o professor utiliza as TIC’s como
recurso didático em suas aulas, os alunos demonstram maior envolvimento
no momento de estudo, pois é uma maneira diferente e interativa de aprender.
De acordo com os registros das observações no diário de bordo da aluna
pesquisadora durante a atividade com o uso do celular, os alunos ficaram
interessados pelo tema e pela pesquisa. A professora regente orientou os alunos
no momento da pesquisa falando algumas dicas de como pesquisar em sites
confiáveis, como por exemplo, observar as fontes, e usando a palavra-chave:
petróleo, digitando-a no Google. Além disso, quando os alunos tinham dúvidas
eles perguntavam a professora regente, a qual andava pela sala acompanhando
a realização da atividade.
A atividade de pesquisa online propiciou um momento de estudo no
qual os alunos tiveram a oportunidade de ler e interpretar informações sobre
o conteúdo que estava sendo pesquisado. No início da atividade eles tiveram
dificuldade para pesquisar, digitavam o enunciado da questão esperando
encontrar uma resposta pronta.
Ao utilizar instrumentos que fazem parte do cotidiano dos alunos, o
professor consegue contextualizar o conteúdo e assim o aproxima da realidade
do discente. Apesar do uso das TIC’s serem recomendadas, é preciso usá-las
com cautela e com objetivos educacionais. As TIC’s devem ser utilizadas para
aprimorar o trabalho docente em sala de aula e facilitar a compreensão do
aluno sobre o conteúdo estudado.
- 244 -
Brasil. Em 2016, o eletrônico era usado por 94,6% dos internautas, à frente de
computadores (63,7%), tablets (16,4%) e televisões (11,3%)” (GOMES 2018).
Os dados demonstram que o celular é o aparelho pelo qual o brasileiro mais
acessa a internet.
Além de apontar o uso do celular para pesquisas na internet, os alunos
também afirmaram que utilizam outras funções do celular, tais como: fazer
e receber ligações, como despertador, a calculadora para realizar operações
Matemáticas e a agenda.
Um fato interessante apontado no questionário 1, é que dos 22 alunos
que o responderam, 20 sustentaram que utilizam o celular para o lazer e como
material de pesquisa.
Por meio dos dados do IBGE e das respostas dos alunos, constata-se que
o aparelho faz parte da vida das pessoas e envolve todas as faixas etárias.
O uso do celular dentro das escolas e nas salas de aulas como uma
ferramenta pedagógica divide opiniões entre os sujeitos pesquisados. A maioria
dos alunos que participaram das atividades acredita que o celular pode ser
utilizado como material de pesquisa, pois ele facilita o aprendizado, auxilia nas
pesquisas rápidas, ajuda no desenvolvimento do aluno e pode também facilitar
o trabalho do professor quando os alunos tiverem dúvidas.
Em contrapartida, um aluno apontou que o celular não pode ser usado
como instrumento de pesquisa. Segundo o discente:
Porque muitas pessoas vão aproveitar para acessar outras redes sociais.
(Aluno I)
- 245 -
o aluno pode conversar com outros colegas usando mensagens de texto, ou
mesmo acessar redes sociais ou jogos durante as aulas.” Ainda de acordo com
os autores usar o celular com outras intenções e fora do planejado para a
atividade proposta, torna-se indesejável.
Nesta perspectiva, Zani (2017) afirma que é necessário orientar os
alunos sobre como fazer pesquisas acadêmicas ao usar o celular como recurso
didático, como uma ferramenta de suporte para o ensino. Com outras palavras,
as autoras Faria, Silveira e Bernardes (2018, p. 87) reforçam essa argumentação
ao dizer que:
- 246 -
forma de manter a organização da sala para o momento de estudo, utilizando
o celular ou outra tecnologia como ferramenta pedagógica. Nos momentos
em que os alunos ficaram confusos durante a pesquisa online com o celular,
a professora os orientou na busca indicando alguns sites, tal como Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Petrobras,
Brasil Escola, entre outros e pediu que evitassem sites editáveis como Yahoo e
Wikipédia.
O smartphone está cada vez mais acessível aos alunos e, em razão disso,
além de trazer as tecnologias digitais para a sala de aula, seu uso facilita
as atividades pedagógicas devido aos diversos recursos disponíveis,
tais como: câmera fotográfica, e filmadora, gravador de voz, navegador
web e aplicativos. Esses mecanismos podem ser de grande utilidade em
sala de aula tanto para sanar a escassez de recurso tecnológico para o
desenvolvimento de planos de ensino, como para a sua complementação
através da pesquisa de materiais na internet,
[...]
- 247 -
registradas no diário de bordo, constatou-se que os alunos visualizaram
imagens e acessaram vídeos que melhoraram a sua percepção do conteúdo e
favoreceu a compreensão da atividade e do conteúdo estudado.
Para corroborar esse raciocínio, Mateus e Dias (2015, p. 135)
mencionam que “Mas mais do que apenas as facilidades que esses dispositivos
trazem, acreditamos que é interessante planejar atividades que usem a sua
portabilidade e conectividade, e que permitam aos alunos trabalharem de
forma ativa e colaborativa”.
Em relação às dificuldades encontradas nesse processo, alguns
alunos relataram que os usos do celular distraíram-nos quando chegavam
notificações de outros aplicativos, além disso, também se distraíram com
outras funcionalidades do celular. A maioria dos alunos disse ter acessado
outros aplicativos durante a aula. Um aluno relatou o seguinte:
Sim, quase impossível não ceder à tentação, porém não deixei afetar o
desempenho. (Aluno J)
- 248 -
prontas, após orientação da professora regente e aluna pesquisadora os alunos
ficaram mais atentos, entenderam como se faz uma pesquisa online e como
pesquisar em sites confiáveis.
De acordo com os relatos dos alunos da escola pesquisada em Itumbiara-
GO e as observações da aluna pesquisadora e professora regente pode-se
perceber que apesar dos alunos estarem habituados com o celular, ainda
possuem muitas dúvidas ao utilizar essa ferramenta para o seu aprendizado
na escola, isso mostra que antes de utilizar as tecnologias em sala de aula é
necessário apresentar ao aluno um plano de estudos e fazer um acordo com a
sala para que a atividade saia como o planejado e os alunos não se dispersem.
Diante das dificuldades e facilidades descritas pelos alunos da pesquisa
realizada em Itumbiara-GO, os mesmos citaram algumas palavras que
descreveram a opinião deles sobre o uso do celular nas aulas de Química. As
palavras mais citadas foram: “Prático, bom, complicado, diferente, dinâmica,
facilita, interessante, ruim, dispersivo, participativo, proveitoso, legal, maleável,
diversificado, maravilhoso, complexo, excelente, agradável, seguro, ferramenta
de pesquisa, ferramenta de trabalho, interativo, continue, ótimo, praticidade,
consciência, prático, avançado, gostei e confuso”. Durante a realização da atividade
prática, os alunos falaram sobre as dificuldades que estavam enfrentando para
pesquisar, como o fato do acesso à internet estar lento e sobre as diversas fontes
encontradas. Todavia, mesmo com algumas dificuldades, eles demonstraram
interesse pela pesquisa e pelo conteúdo estudado.
De acordo com as palavras citadas pelos alunos, observa-se que o uso
do celular em sala de aula possui muitos adjetivos positivos, isso permite dizer
que o celular é uma tecnologia que possui diversas utilidades e o seu uso em
sala de aula pode abrir um leque de possibilidades educacionais, tanto para os
alunos, tanto para os professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 249 -
Avaliou-se a interatividade dos alunos com o celular durante a aula, por
meio da desenvoltura dos mesmos com o aparelho, observou-se que os alunos
sabem utilizá-lo e que eles possuem muita afinidade com ele.
O trabalho revelou que ao aliar o ensino de Química e o uso do celular
como ferramenta de pesquisa online, foi possível promover uma aula dinâmica
incentivando o uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Além
disso, pode-se investigar como o celular é utilizado pelos alunos e se é usado
para o lazer e/ou fins pedagógicos. Ainda, foi possível levantar as vantagens
e desvantagens do uso do celular em sala de aula pelos dados coletados pelos
questionários e pela literatura.
De acordo com os resultados, a utilização do celular como ferramenta
de pesquisa online auxiliou a professora regente em sua prática docente, assim
como promoveu uma reflexão sobre o uso do celular como uma possibilidade
de TIC. Os alunos puderam utilizar o seu celular com objetivos educacionais
e compreenderam que o celular pode ser um facilitador da sua aprendizagem
quando usado da maneira correta no momento de estudo.
Preparar os professores para esse tipo de prática é indispensável. Torna-
se cada vez mais relevante o investimento na formação inicial e continuada
dos docentes para que eles possam incorporar as tecnologias nas atividades
pedagógicas, pois muitos ainda sentem-se desafiados em inserir as tecnologias
em suas práticas.
É importante ressaltar mais uma vez a necessidade de um planejamento
docente bem elaborado para que o momento com o uso de tecnologias em sala
de aula, principalmente, o celular, seja uma ferramenta que complemente a
atividade proposta, enriquecendo os processos de ensino e de aprendizagem.
Apesar dos desafios encontrados durante as aulas com a utilização do
celular, como por exemplo, a lentidão da internet e os momentos de dispersão
dos alunos, acredita-se que é necessário incluir essa tecnologia no processo
de ensino e aprendizagem da disciplina de Química, pois esta é vista como
uma matéria com conteúdos difíceis de serem compreendidos pelos alunos.
Usar o celular para ensinar e aprender Química pode auxiliar em uma melhor
visualização e compreensão do conteúdo.
Conclui-se com este trabalho que o uso do celular no ensino de Química
auxiliou no aprendizado dos alunos envolvidos na pesquisa, mesmo com
alguns momentos em que eles tenham se dispersado.
De modo geral, os resultados foram satisfatórios e os objetivos da
pesquisa foram contemplados. É necessário criar esse espaço de interação entre
aluno-professor e tecnologia, diminuindo as barreiras da comunicação entre
- 250 -
os mesmos. É importante discutir sobre o papel social da escola de preparar o
aluno para a vida em sociedade e o uso da tecnologia em sala de aula.
Por fim, espera-se que o uso das tecnologias em sala de aula supere as
dificuldades e o receio que muitos docentes ainda conservam, e passe a ser
utilizada como uma ferramenta que a serviço do professor para aprimorar
cada vez mais as práticas do ensino. Sendo assim é preciso aliar a didática e
conhecimento do professor com o uso da tecnologia como uma ferramenta
do ensino. Além do mais, este estudo propiciou um espaço de reflexão sobre
o tema e abre espaço para novas pesquisas que possam contribuir para o
aprendizado sobre utilização de TIC’s na escola.
REFERÊNCIAS
- 251 -
pesquisa-mostra-que-51-dos-alunos-ja-usaram-celular-para-estudar-21661619>.
Acesso em: 06 ago. 2018
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. 254 p.
GOMES, H. S. Brasil tem 116 milhões de pessoas conectadas à internet, diz
IBGE: Brasileiros online somam 64,7% de toda a população; dados são de pesquisa
de 2016 do IBGE. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/tecnologia/
noticia/brasil-tem-116-milhoes-de-pessoas-conectadas-a-internet-diz-ibge.ghtml>.
Acesso em: 11 set. 2018.
GOMES, R. P.; OESTERREICH, F. As Novas Tecnologias e Mídias Utilizadas Pelos
Professores Do Ensino Médio Em Suas Práticas Pedagógicas. 2011. 14 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Mídias na Educação, Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/
handle/1/2099/Gomes_Ronaldo_Prestes.pdf?sequence=1>. Acesso em: 11 set. 2018.
GONÇALVES, M. O. S.; SILVA, F. I. T. Impactos da Tecnologia no Cotidiano das
Pessoas. 2013. Disponível em: <http://www.fjn.edu.br/iniciacaocientifica/anais-v-
semana/trabalhos/oral/EN0000000446.pdf>. Acesso em: 24 set. 2018.
GRISNPUN, M. P. S. Z. Educação Tecnológica. In: GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa
Zippin(org). Educação Tecnológica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
LION, C. G. Mitos e realidades na tecnologia educacional. In: LITWIN, Edith.
Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas,
1997.
MACEDO, C.; SOUZA, J. Inclusão e alfabetização digital: um panorama conceitual
às iniciativas governamentais e instituições privadas. 2017. Disponível em: <https://
pt.linkedin.com/pulse/inclus%C3%A3o-e-alfabetiza%C3%A7%C3%A3o-digital-um-
panorama-conceitual-j%C3%A9ssica-souza>. Acesso em: 06 Ago. 2017.
MATEUS, A.L.; DIAS, D. A. Educação na sua mão celulares e tablets. In: MATEUS,
Alfredo Luis. Ensino de Química mediado pelas TICs. Belo Horizonte: UFMG, 2015.
P.97-135.
MAZZOCO, B.; CAMILO, C. Um guia para escolher bem: Analisamos o potencial
didático de 13 recursos digitais. Saiba quando e como levá-los à sala de aula. Nova
Escola, São Paulo, n. 280, p.22-29, mar. 2015.
MENDES, A. TIC - Muita gente está comentando, mas você sabe o que é? Disponível
em <http://imasters.uol.com.br/artigo/8278>. Acesso em: 09 ago. 2017. Texto
publicado em 2008.
MERCADO, L. P. L. Novas tecnologias na educação: Reflexão sobre a prática.
Maceió: EDUFAL, 2002.
MONTEIRO, C. F. Celular na sala de aula como alternativa pedagógica no cotidiano
das escolas. 2006. Disponível em: <http://www.labiocomp.bio.ufba.br/twiki/pub/
GEC/TrabalhoAno2006/celular_na_sala_de_aula.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2018.
- 252 -
MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 2. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2007.
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação
pedagógica. Campinas: Papirus, 2000
NOGUEIRA, D. Celular é usado como recurso pedagógico em sala de
aula. CORREIO DE UBERLÂNDIA. Uberlândia, 28 set. 2014. Disponível em:
<http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/celular-e-usado-como-
recurso-pedagogico/>. Acesso em: 25 set. 2017.
OLIVEIRA, C.; MOURA, S. P. TIC’S na educação: A utilização das tecnologias
da informação e comunicação na aprendizagem do aluno. Portal de Periódicos
Eletrônicos, Minas Gerais, p.75-95, 2015. Disponível em: <http://periodicos.
pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/viewFile/11019/8864>. Acesso em: 24
set. 2017.
PAULA, H. F. As Tecnologias de Informação e Comunicação, o Ensino e a
Aprendizagem de Ciências Naturais. In: MATEUS, Alfredo Luis. Ensino de Química
mediado pelas TICs. Belo Horizonte: UFMG, 2015. p. 169-193.
PINTO, A. M. As Novas Tecnologias e a Educação. AM Pinto - ANPED SUL, 2004.
Disponível em < https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&q=as+novas+tecno
logias+e+a+educa%C3%A7%C3%A3o&btnG=&lr=> Acesso em: 13 ago. 2017.
ROCHA, Cleomar. Tecnologia na/da educação. 2018. Disponível em: <https://www.
medialab.ufg.br/n/108586-tecnologia-na-da-educacao>. Acesso em: 18 ago. 2018.
RODRIGUES, D. M. S. A. O Uso do Celular como Ferramenta Pedagógica. 2015.
36 f. TCC (Graduação) - Curso de Especialização em Mídias na Educação, Centro
Interdisciplinar de Tecnologias de Novas Tecnologias na Educação, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <https://www.lume.
ufrgs.br/bitstream/handle/10183/134444/000986009.pdf?sequence=1>. Acesso em:
24 set. 2017.
SILVA, L. A. O Uso Pedagógico de Mídias na Escola: Práticas Inovadoras. Revista
Eletrônica de Educação de Alagoas Volume 01. Nº 01. 1º Semestre de 2013.
SILVA, C. O. O Uso do smartphone para pesquisas em sala de aula e sua
potencialização das aprendizagens em Biologia: Um estudo de caso no primeiro
ano do ensino médio. 2015. 53 f. TCC (Graduação) - Curso de Especialização em
Mídias na Educação, Centro Interdisciplinar de Tecnologias de Novas Tecnologias na
Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível
em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/134026/000979581.
pdf?sequence=1>. Acesso em: 18 ago. 2018.
TORELLI, T. 9 em cada 10 brasileiros possuem celular. 2016. Disponível em: <https://
br.kantar.com/tecnologia/móvel/2016/janeiro-9-em-cada-10-brasileiros-possuem-
celular/>. Acesso em: 16 jun. 2018.
- 253 -
VELASCO, M. Projeto de lei quer permitir que alunos usem celular dentro da sala
de aula nas escolas estaduais de Goiás. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/
go/goias/noticia/projeto-de-lei-quer-permitir-que-alunos-usem-celular-dentro-da-
sala-de-aula-nas-escolas-estaduais-de-goias.ghtml>. Acesso em: 20 ago. 2018.
ZANI, C. Celular na sala de aula: Ferramentade aprendizagem ou distração?.2017.
Disponível em: <http://www.comerciodojahu.com.br/post/1369053/celular-na-sala-
de-aula-ferramenta-de-aprendizagem-ou-distracao>. Acesso em: 11 set. 2018.
- 254 -
Capítulo 13
- 255 -
abordando situações da vida real ou nem mesmo apresentar um tema
específico. Além de permitir momentos de descontração, eles podem
ajudar no desenvolvimento de raciocínio lógico e memória (FONTES
et al., 2016, p. 230).
- 256 -
a natureza, ele utiliza de instrumentos psicológicos, os signos, pra mediar sua
relação dialética entre o psiquismo e o meio, isto é, entre o individual e o social.
Por conseguinte, é através da apropriação dos signos que o homem passa a
ser capaz de viver em sociedade e a dominar seu próprio comportamento,
superando os determinismos biológicos e sociológicos (VIGOTYSKI, 2000).
Para Vigotski, através dos jogos as crianças, utilizando os signos,
imitam ações reais do seu cotidiano, não realizando apenas ações sobre os
objetos (VIGOTSKI, 2000). Ele valoriza o fator social, demonstrado durante
o jogo pela criança em uma situação imaginária criada a partir do seu meio
e das suas comunicações. Nessa situação, o estudante desenvolve a iniciativa,
expressa seus desejos e internaliza as regras sociais. Portanto, o jogo é de
extrema importância para o desenvolvimento da criança, sendo realizado
através das suas interações sociais epropiciando o surgimento da zona de
desenvolvimento proximal– o que uma criança é capaz de fazer com o auxílio
de adultos (VIGOTSKI, 2014).
- 257 -
Na idade escolar, o brinquedo [o jogo] não desaparece, mas permeia a
atitude em relação à realidade. Ele tem sua própria continuação interior
na instrução escolar e no trabalho (atividade compulsória baseada em
regras). A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre
o campo do significado e o campo da percepção visual – ou seja, entre
situações no pensamento e situações reais (VIGOTSKI, 2000, p. 136, 137).
2011
MELO, Marcos Gervânio de Azevedo. A Física no Ensino Fundamental:
utilizando o jogo educativo “Viajando pelo Universo”. 2011. Dissertação
T1
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação de Ensino de Ciências Exatas,
Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, Rio Grande do Sul, 2011.
2015
SOUZA, Ericarla de Jesus. O uso de jogos e simulação computacional como
instrumento de aprendizagem: campeonato de aviões de papel e o ensino de
T2 hidrodinâmica. 2015. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em
Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão,
Sergipe, 2015.
2016
CRISTINO, Cláudia Susana. O uso da Ludicidade no Ensino de Física. 2016.
T3 Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências,
Universidade Federalde Ouro Preto, Minas Gerais, 2016.
2017
FAVARETTO, Danilo Vieira. Construção e aplicação de um jogo de tabuleiro para
T4 o ensino de Física. 2017. Dissertação (Mestrado) – Mestrado Nacional Profissional
em Ensino de Física, Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, 2017.
4
A pesquisa foi realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD,
disponível em http://www.bdtd.ibict.br/.
- 258 -
MATOS, Alexandre de. O Ensino da Física através de analogias com variantes
do jogo de Xadrez: Potencializado com Realidade Aumentada. 2017. Dissertação
T5
(Mestrado) – Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, 2017.
Fonte: BDTD (2018).
- 259 -
o desenvolvimento cognitivo e do raciocínio e proporciona também a interação
de todos dentro da sala e da escola (FONTES et al., 2016).
CAMINHO METODOLÓGICO
Contexto da pesquisa
Sujeitos da pesquisa
- 260 -
dos jogos e construído com adaptações a partir do modelo elaborado por
Silva (2015). As questões do primeiro questionário, aplicado após as aulas de
Cinemática, requeriam informações gerais dos participantes (sexo, idade, área
de domicílio) e um teste com 15 questões sobre o conteúdo (Quadro 2). As
questões do segundo questionário buscavam o depoimento dos estudantes
sobre a sua experiência com o jogo didático e repetia o teste de Cinemática.
- 261 -
09 – Qual é o movimento relacionado à variação da velocidade escalar de um corpo.
a) Movimento Variado.
b) Movimento Constante.
c) Movimento Nulo.
13 – Dois carros A e B estavam parados no sinal de trânsito. Quando o sinal abriu os motoristas
arrancara. O carro A atingiu velocidade de 30m/s em 5 segundos e o carro B atingiu a mesma
velocidade em 6 segundos. Podemos armar que:
a) Os dois se locomoveram com a mesma aceleração.
b) O carro A se deslocou com aceleração maior que a do carro B.
c) O carro A se deslocou com aceleração menor que a do carro B.
d) Nada podemos afirmar sobre aceleração pois não temos nenhuma informação sobre a
velocidade.
14 – Um elevador parte do terceiro andar e vai até ao sétimo andar. Esse movimento...
a) não apresentou aceleração em nenhum momento.
b) necessariamente apresentou aceleração para cima em um trecho e para baixo em outro
trecho.
c) apresentou aceleração sempre para cima.
d) apresentou aceleração sempre para baixo.
- 262 -
As questões dos testes foram construídas com base no conteúdo presente no
planejamento curricular da escola, sendo utilizadoo livro de Física adotado pela escola
(BARRETO FILHO; SILVA, 2010) e preparadas para um jogo de tabuleiro, por ser algo
já experimentado por outros pesquisadores.
- 263 -
tabuleiro, um dado, sete tampas de garrafa PET (peões), seis folhas de rascunho
para os cálculos, uma caneta, dezoito cartas de perguntas, um suporte para as
cartas e uma caixa de pilotos.
Os materiais utilizados na confecção das peças foram: uma placa de
isopor para cada tabuleiro; uma folha de cartolina branca (para cada jogo
didático); uma folha de cartolina verde (para cada jogo didático); uma folha de
cartolina amarela (para cada jogo didático); uma folha de papel cartão vermelho
(para cada jogo didático); um piloto preto; uma folha de papel impresso com
as funções das casas do jogo e de nome largada e chegada (para cada jogo
didático); seis tampas de garrafa pet (para cada jogo didático); um papel
impresso em folha foto com smiles do WhatsApp (para cada jogo didático);
uma cola; uma tesoura; uma cola de isopor; uma tesoura e um estilete.
As questões (do Quadro 2) do jogo foram inseridas em cartões,
categorizados por cores: i. questões conceituais em cartões verdes-amarelos; ii.
questões com cálculo em cartões amarelos-vermelhos e iii. questões de lógica
em cartões vermelhos-verdes.
As regras do jogo, adaptadas de Silva (2015), podem ser assim descritas:
i. admite-se o mínimo de dois e o máximo de sete jogadores; ii. todos os
participantes ficam ao redor do tabuleiro; iii. após todos os participantes
jogarem o dado, inicia o jogo o participante que obteve o lance maior (no
caso de empate, vence-se a disputa no par ou ímpar); iv. inicia-se o jogo com
o lançamento do dado, cujo número sinalizará o número de casas a serem
avançadas; v. a sequência dos jogadores segue o sentido horário a partir do
jogador que fez o primeiro lance; vi. cada jogador tem um peão (tampinha) que
ficará na casa do tabuleiro, contada a partir de cada lance de dado; vii. algumas
casas em que o peão “cair” contém declarações com desafios ou prêmios, como
“troque de posição com o jogador que está na maior colocação”, “avance três
casas”, “fique uma rodada sem jogar” etc.; viii. se o peão se posicionar em
alguma casa que não contém declaração, deverá responder a uma pergunta
(de Cinemática) contida em um dos cartões (da respectiva casa), de forma que
poderá ser punido ou premiado, se errar ou acertar a resposta, respectivamente,
sendo a punição ou prêmio descritos no cartão; ix. a cor da casa em que o peão
parar determinará o cartão com a questão a ser respondida e as respectivas
punição e premiação; x. o monitor ou um dos jogadores deverá pegar um
dos cartões do baralho e ler a questão para o participante de cada jogada; xi.
vencerá o jogador que cruzar a linha de chegada primeiro.
- 264 -
Análise dos dados
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 265 -
Por que tinha tudo a ver com o nosso cotidiano com a matéria e os
conteúdos de Física, achei uma coisa muito criativa (Estudante30,
questionário, 2018).
- 266 -
Figura 2: Estudantes divididos em equipes durante o jogo didático Trilha de
Física (imagem editada para preservar a identidade dos sujeitos).
- 267 -
Figura 3: Comparação entre o número de acertos por questão no pré-teste e
no teste.
CONCLUSÕES
- 269 -
ser do interesse dos sujeitos da pesquisa. Os testes aplicados antes e após o jogo
constataram que houve uma modificação, a aprendizagem.
Para as áreas de pesquisa Ensino de Física e Ensino de Ciências, a
experiência corrobora com outros trabalhos em apontar o jogo didático como
um instrumento com potencial para motivar ao estudo e gerar a aprendizagem.
No tocante à docência, o trabalho mostra que o jogo didático pode ser
uma estratégia produtiva para o ensino de conceitos de Ciências, inclusive
para os conteúdos de Física, muitas vezes vistos por alunos da Educação Básica
como desinteressantes. O jogo fora feito com materiais de baixo custo e em
uma escola pública com poucos recursos, sinalizando que pode ser adotado
em qualquer contexto.
Para as discussões sobre a Educação do Campo, esta pesquisa, realizada
com estudantes do campo, aponta o jogo didático como mais uma ferramenta
propiciadora de um ensino mais interessante e com qualidade.
REFERÊNCIAS
- 270 -
2016. Dissertação (Mestrado) –Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,
PE, 2016.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de
metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MESSEDER NETO, Hélio da Silva; MORADILLO, Edilson Fortuna de. Ludicidade na
perspectiva sociocultural: contribuições para o ensino e a aprendizagem dos conceitos
científicos. Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 9, 2013, Águas
de Lindóia, SP. Atas [...] Águas de Lindóia, SP: ABRAPEC, 2013.
NASCIMENTO, Carolina Picchetti; ARAÚJO, Elaine Sampaio; MIGUÉIS, Marlene da
Rocha. O jogo como atividade: contribuições da teoria histórico-cultural. Psicologia
Escolar e Educacional, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 293-302, 2009. https://doi.org/10.1590/
S1413-85572009000200012.
RESNICK, Robert. HALLIDAY, David. Física 1. 4. ed. Tradução de Antônio Máximo
R. Luz. Rio de Janeiro: LivrosTécnicos Científicos, 1994.
SILVA, Rafael Bezerra. Ecojogo: produção de jogo didático e análise de sua contribição
para a aprendizagem em educação ambiental. 2015.Dissertação (Mestrado) -
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.
SOUZA, Ericarla de Jesus. O uso de jogos e simulação computacional como
instrumento de aprendizagem: campeonato de aviões de papel e o ensino de
hidrodinâmica. 2015. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 2015.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. Ed. Tradução de José
Cipolla Neto e Luís S. M. Barreto. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual em idade escolar. In VIGOTSKII,
Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alex N. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. 13. Ed. Tradução de Maria da Pena Villalobos. São
Paulo: Ícone, 2014, p. 103-118.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. O ensino de Ciências no Brasil e o PISA. São Paulo:
Sangari, 2009.
- 271 -
Capítulo 14
- 272 -
apud CHANEL, 1977, p. 254). Afirmam que os alunos não aprendem: “Ninguém
pode pôr em dúvida que, quando se ensina demais e o aluno permanece inativo,
a aprendizagem brilha pela ausência” (AGUAYO8, 1958, p. 26). Constatam que
os alunos são ouvintes passivos: “A gente não aprende a escrever e a pensar
escutando um homem que fala bem e pensa bem. Cumpre experimentar, fazer,
refazer, até que o ofício entre, como se diz” (ALAIN apud CHÂTEAU, 1978, p.
344). Em resumo, a tradicional aula expositiva seria dogmática, desinteressante
e desrespeitadora da liberdade do aluno. Ela é, contudo, muito usada em todo
o Brasil, em todos os níveis do ensino: “Chega a ser surpreendente que as
aulas expositivas, a despeito das novas tecnologias de comunicação aplicadas à
educação, sejam tão populares” (GIL, 2013, p. 134). Além disso, tem autor que
defende seu uso ou acha aceitável usar a técnica expositiva, principalmente no
Ensino Superior: “Gostaria, pois, de defender aqui, contra a “escola nova” e todos
os modismos pedagógicos que a sucederam, o ensino enquanto transmissão,
enquanto difusão de conhecimentos” (SAVIANI, 1985, p. 34). Naturalmente, é
importante conhecer as vantagens e desvantagens da aula expositiva, quando
e como ela deve ser usada (ANDREATA, 2019a). Devemos, contudo, buscar
estratégias educacionais alternativas, por isso adotamos um método ativo: os
centros de interesse desenvolvidos pelo educador belga Ovide Decroly (1871-
1932), os quais visam transformar a educação em autoeducação, colocar o
aluno no centro do processo educacional.
Contra a concepção mecanicista e intelectualista da educação tradicional,
surgiram diversos movimentos pedagógicos. Destacamos um movimento que
busca dar sentido ativo à educação: “O movimento mais interessante e inovador
no campo da educação atual é, certamente, o representado pela pedagogia ativa”
(LUZURIAGA9, 1951, p. 49). Recordemos que “o ponto de partida teórico do
princípio da atividade costuma ser atribuído a Rousseau10, que em seu Emílio11
não deixa de recomendá-lo incessantemente. Também se vê em Pestalozzi12 o
fundador prático dessa direção com suas gloriosas experiências escolares em
Neuhof, Stanz, Burgdorf e Iverdon” (LUZURIAGA, 1951, p. 49). Considera-se
que os primeiros trabalhos científicos dessa tendência ativa são de Dewey13
com sua obra My pedagogic creed14, de 1897, e sua experiência educativa na
University Elementary School, de Chigago, a partir de 1900 (LUZURIAGA,
8
Alfredo Miguel Aguayo (1866-1943), educador porto-riquenho.
9
Lorenzo Luzuriaga (1889-1959), pedagogista espanhol.
10
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), pedagogista e filósofo suíço.
11
Título original (em francês): Émile ou de l’éducation. Foi publicado em 1762.
12
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), pedagogista suíço.
13
John Dewey (1859-1952), filósofo, psicólogo e educador estadunidense.
14
Meu credo pedagógico (tradução nossa).
- 273 -
1951, p. 49).Com sua teoria da educação pela ação, Dewey é um dos criadores
da escola ativa, do learning by doing15: “A ideia da atividade em educação foi
uma das criações de Dewey, até o ponto em que se pode considerá-lo como o
pai da “escola ativa”” (LUZURIAGA, 1966, p. 112, tradução nossa).
O princípio da atividade em educação encontrou expressão num amplo
conjunto de métodos, planos e sistemas, os chamados métodos ativos: o
método Montessori, o método Decroly, o plano Dalton, o sistema Winnetka,
o método de projetos, o método Cousinet, o plano Jena, o sistema de Gary, o
método Mackinder, o plano Howard, o método de Profit, a técnica de Freinet,
etc (LUZURIAGA, 1951, p. 71). Dentre tantos métodos ativos, escolhemos
o método Decroly por causa da sua adaptabilidade e atualidade. O método
Decroly recebe os seguintes nomes: sistema Decroly, sistema das ideias
centrais, sistema da concentração, sistema de associação, centros de interesse,
unidades de trabalho, complexos.
No ensino ativo, como fica o papel do professor? Almeja-se diminuir
a frequência das intervenções do professor, todavia, a sua presença é
indispensável. No ensino ativo o aluno e o professor são ativos:
15
Aprender fazendo (tradução nossa).
16
Édouard Claparède (1873-1940), neurologista, psicólogo e educador suíço.
- 274 -
Cumpre que o professor tenha repensado profundamente tudo que
deve ensinar, para que disso tenha um conhecimento íntimo, vivo,
orgânico, de tal sorte que a qualquer momento esse conhecimento
esteja à sua disposição, para dar uma explicação imprevista, para de um
traço esclarecer uma perspectiva, para tentar uma inserção sólida num
espírito que ele veja, em dado momento, aparelhado a recebê-la (LEIF;
RUSTIN, 1960, p. 357).
17
Herbert Spencer (1820-1903), filósofo inglês.
18
Adolphe Ferrière (1879-1960), educador e escritor suíço.
19
Eric Mazur (1954- ), físico e educador holandês.
- 275 -
A nova geração que tem chegado às IES (Instituições de Ensino
Superior) é, informalmente, denominada Geração 5S, e caracterizada,
popularmente, pelas palavras-chave:
• Full Time: que está todo o tempo conectado.
• Foco: que se concentra apenas no que lhe interessa.
• Filtro: que vê o mundo da forma como é apresentada pela internet.
• Flexibilidade: que é capaz de fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo
(MOREIRA; ANDRADE, 2018, p. 44).
FÍSICA QUÂNTICA
- 276 -
e as previsões da Física quântica é extraordinário. É uma teoria radicalmente
diferente das anteriores. No mundo quântico, por exemplo, a observação de
um fenômeno modifica o próprio fenômeno de forma imprevisível. A Física
quântica expulsou o determinismo da ciência: as previsões se tornaram
probabilísticas. O princípio da causalidade, que era considerado o fundamento
da explicação científica no século XIX, foi colocado em discussão. Entrou em
crise o próprio conceito de realidade Física. Isso inescapavelmente nos leva
a questionar: o que significa a Física quântica? Existem várias interpretações
e, embora saibamos fazer os cálculos matemáticos (ou seja, a teoria quântica
é formalmente consistente), ainda não concordamos completamente sobre
seu significado fundamental: “Desde 1946 dei aulas sobre mecânica quântica
(teoria e aplicação) em sete universidades: Columbia, Stanford, Harvard,
Oxford, Yale, Simon Fraser e Arizona. Durante essas cinco décadas, nunca
entendi o verdadeiro significado da mecânica quântica” (LAMB JUNIOR21,
2001, p. 413, tradução nossa).
Por causa de suas previsões que desafiam o senso comum e da sua
complexidade, a Física quântica desperta a curiosidade popular de tal modo
que é mencionada nos filmes, séries e romances. Por exemplo, o autor mais
vendido em língua portuguesa de todos os tempos assim explica a experiência
da dupla fenda:
Lorens levantou-se, pegou uma folha de papel, e fez dois furos – a uma
distância de vinte centímetros um do outro. Colocou a folha na mesa,
apoiada numa garrafa de uísque, de modo que ficasse na vertical. Depois
foi até a cozinha e trouxe uma rolha. Sentou-se na cabeceira da mesa,
e empurrou o papel com a garrafa para o outro extremo. Em seguida,
colocou a rolha na sua frente.
- Venha até aqui – disse ele.
Brida levantou-se. Estava tentando esconder as mãos trêmulas, mas ele
parecia não dar a menor importância.
- Vamos fingir que esta rolha é um elétron, uma das pequenas partículas
que compõem o átomo. Entendeu?
Ela fez que sim com a cabeça.
- Pois bem, preste atenção. Se eu tivesse aqui comigo certos aparelhos
complicadíssimos que me permitem dar um tipo de “tiro de elétron”, e se
eu disparasse em direção àquela folha, ele ia passar pelos dois buracos ao
mesmo tempo, sabia? Só que ele ia passar pelos dois buracos sem se dividir.
- Não acredito disse ela. – É impossível (COELHO, 1995, p. 49).
21
Willis Eugene Lamb Junior (1913-2008), físico estadunidense. Prêmio Nobel de Física de
1955.
- 277 -
Acreditando que “uma escola autêntica é o reino do pensamento
ativo” (SUKHOMLINSKI22, 1978, p. 128), resolvemos usar os centros de
interesse nas aulas de Física quântica do Ensino Médio.
CENTROS DE INTERESSE
- 278 -
isso, a sua observação da realidade não é analítica, metódica e dirigida.
Mas agora será guiado pelo seu professor que lhe fará notar, comparar,
descrever, relacionar, etc., apresentando oportunamente o vocabulário.
A observação indireta se realiza quando a observação direta foi feita
ou quando esta não é possível. Consiste em observar transparências,
desenhos, gráficos, em recordar coisas e fatos ou imaginá-los. A etapa
da observação deve também ser guiada pelo professor. Observam-
se transparências, nomeiam-se seus elementos, descrevem-se as
situações, cultiva-se a memória e a imaginação. A observação indireta
complementa e enriquece a observação direta, ampliando o campo do
conhecimento.
A associação. Nesta segunda fase do método, o tema é expandido
em diversos conteúdos, sistematizando-os. Por meio de associações,
os alunos conseguem uma apreensão integral, vital e significativa de
cada um dos temas e realizam diversos tipos de aprendizagem. As
associações surgem dos interesses dos alunos, de suas curiosidades, de
suas experiências, de suas necessidades de atuar e compreender e de
localização no espaço e no tempo. As associações têm por finalidade
analisar, relacionar e organizar a realidade que foi observada; aperfeiçoar
e ampliar as estruturas mentais dos alunos e seu círculo cultural.
A expressão. Constitui a terceira fase do método. Isto não significa
necessariamente que ela deva realizar-se por último: enquanto se
observa ou se realizam associações continuamente se estimula a
expressão. Realiza-se por meio da linguagem oral e escrita; pelo
próprio corpo (gesto, mímica, dramatização, jogo); por meios indiretos
(marionetes, teatros de sombras); pela expressão plástica (desenho,
pintura, montagem, modelagem, etc.); pelas construções e pelos
trabalhos manuais (AMATO, 1971, p. 93-95, tradução nossa).
- 279 -
(ANDREATA; BARROS, 2017), mas aqui vamos relatar apenas o ensaio23
que fizemos nas aulas de Física quântica do Ensino Médio. Usamos o método
Decroly no ensino-aprendizagem do princípio da incerteza de Heisenberg.
Escolhemos tal tema porque é um dos principais conceitos da Física quântica.
Contamos com a participação dos alunos que estavam cursando, em 2019,
o terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Robinho Martins de
Azevedo, localizado em Goiânia/GO. Foram duas turmas: terceiro ano A,
composto por 31 alunos, e terceiro ano B, composto por 30 alunos.
O nosso objetivo era que os alunos compreendessem os conceitos físicos
envolvidos no enunciado do princípio da incerteza de Heisenberg, ou seja, que
compreendessem que a descrição do comportamento de um objeto quântico
não é como a de um objeto macroscópico, que quanto maior for a precisão
obtida na medida da posição de um objeto quântico menor será a precisão
de seu momento e vice-versa. De maneira geral, o princípio da incerteza de
Heisenberg afirma que no universo das partículas subatômicas os valores
instantâneos de certos pares de grandezas Físicas, denominadas variáveis
conjugadas, não podem ser conhecidos, simultaneamente, com precisão
ilimitada.
A seguir descrevemos os materiais utilizados, as atividades das aulas
e os livros recomendados, discutimos a verificação da aprendizagem e
apresentamos os comentários dos alunos e do professor.
MATERIAIS UTILIZADOS
23
A proposta de realização deste ensaio foi apresentada, sob forma de resumo simples (SALES;
ANDREATA; VALENTIM, 2018) e de resumo expandido (SALES; ANDREATA, 2018), em
eventos de ensino e pesquisa.
- 280 -
Resumo das aulas
Fase: Observação
1- O professor solicitou aos alunos
para descobrirem qual o formato
de uma estatueta, dentro de uma
No laboratório de Ciências, os
caixa de papel. A estatueta foi feita
alunos conversaram entre si
de bloquinhos posicionados um em
para decidir como proceder. Uma aula de 60
cima do outro, sem fixação. A caixa
minutos
tem uma abertura tampada apenas
com tecido, porém por toque não
conseguiram descobrir o formato da
estátua.
Fase: Observação
No laboratório de Ciências, os
2- Repetição do mesmo experimento
alunos jogaram luz na caixa,
da aula anterior. O esperado é que
já que a caixa é de papel, e Uma aula de 60
agora utilizassem uma solução
tentaram ver a silhueta do minutos
física plausível. O professor ouviu
objeto projetada na parede
as possíveis soluções que os alunos
oposta da caixa.
sugeriram e as aplicaram.
- 281 -
Fase: Observação Professor e discentes discutiram
4- Nesta aula os alunos conheceram o arranjo experimental
a expressão matemática do princípio imaginário que Heisenberg
da incerteza de Heisenberg, o qual usou para explicar o princípio
Uma aula de 60
mostrou que a incerteza da posição da incerteza. O professor poderá
minutos
e a incerteza do momento são incrementar o experimento
inversamente proporcionais quando com outras ideias ou ações que
medidos simultaneamente em queira para ilustrar o princípio
partículas atômicas e subatômicas. da incerteza.
Fase: Observação
5- Aplicação do programa Modellus O professor foi mediador para
(software de simulação) a uma que os alunos resolvessem
formiguinha em movimento com a questão e auxiliou aqueles
Uma aula de 60
massa e velocidade definidas. Com que não conseguirem aplicar
minutos
os dados apresentados, os alunos o princípio da incerteza na
aplicaram o princípio da incerteza. primeira tentativa.
Fase: Expressão
O professor aplicou a mesma
8- Os procedimentos de verificação
prova em duas turmas.
da aprendizagem podem ser formais
Em seguida, comparou os
ou informais. Todavia, para evitar Uma aula de 60
resultados da turma em que foi
dúvidas a respeito da eficácia minutos
usado o método Decroly com
do ensino ativo, realizamos a
o da turma em que foi usado o
verificação da aprendizagem através
tradicional método expositivo.
de prova escrita tradicional.
- 282 -
Comentários do professor que aplicou os centros de interesse24
24
Carlos Henrique Moreira Sales.
- 283 -
Leitura fundamental
VERIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM
- 284 -
Salientamos que as notas das turmas foram lançadas no site oficial da
Secretaria Estadual de Educação do Governo de Goiás e guardamos uma
cópia, impressa no dia 07 de dezembro de 2019, para efeito de comprovação e
outros fins que se fizerem necessários.
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTO
- 285 -
REFERÊNCIAS
- 286 -
24 f. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Física) – Departamento de
Física, Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão, 2010.
DUARTE, Juliana Pereira; PEREIRA, Diego Rodrigues; ANDREATA, Mauro Antonio.
Pedagogia de Decroly e o ensino-aprendizagem de termodinâmica. In: SIMPÓSIO
DE ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO E CULTURA “Produção do Conhecimento
e Cidadania: Popularização e Interiorização da Ciência no Brasil”, 5., 2009, Catalão.
Anais. Catalão: UFG, 2009. 1 CD-ROM.
GASPAR, Alberto. Compreendendo a Física. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013. v. 3:
eletromagnetismo e Física moderna. 456 p.
GIL, Antonio Carlos. Didática do Ensino Superior. 8. reimp. São Paulo: Atlas, 2013.
283 p.
LAMB JUNIOR, Willis Eugene. Super classical quantum mechanics: the best
interpretation of nonrelativistic quantum mechanics. American Journal of Physics,
Melville, v. 69, n. 4, p. 413-422, abr. 2001.
LEIF, Joseph Jacques; RUSTIN, Georges. Pedagogia geral: pelo estudo das doutrinas
pedagógicas. Tradução de Luiz Damasco Penna e João Baptista Damasco Penna. São
Paulo: Nacional, 1960. 429 p. [Título original (em francês): Pédagogie générale par
l’étude des doctrines pédagogiques, 1953.]
LUZURIAGA, Lorenzo. A pedagogia contemporânea. Tradução de Idel Becker.
São Paulo: Nacional, 1951. 174 p. [Título original (Em espanhol): La pedagogía
contemporánea, Editora Losada, 1947.]
LUZURIAGA, Lorenzo. Diccionario de pedagogía. 3. ed. Buenos Aires: Losada, 1966.
394 p.
MOREIRA, Marco Aurélio; ANDRADE, Maria Celeste de Moura. Metodologias ativas
no Ensino Superior: possibilidade ou “faz de conta”? Evidência, Araxá, v. 14, n. 15, p.
43-57, 2018. Disponível em: <https://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/
article/view/593>. Acesso em: 08 mar. 2020.
MOURA, Abner de. Os centros de interesse na escola: sugestões para lições
globalizadas, segundo o sistema Decroly, como contribuição a uma escola brasileira
renovada. São Paulo: Melhoramentos, [1931]. 96 p.
PILETTI, Claudino. Didática geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 1987. 258 p.
RABELO, Ana Paula Stoppa; ANDREATA, Mauro Antonio. Métodos ativos e
ensinagem de Física. In: SIMPÓSIO DE PEDAGOGIA “Conhecimento, Universidade
e Formação de Professores: Qual perspectiva?”, 12., 2012, Catalão. Anais. Catalão:
Departamento de Pedagogia, p. 98, 2012. 1 CD-ROM.
SALES, Carlos Henrique Moreira. Aprendizagem ativa de Física quântica no Ensino
Médio. 91 f. Dissertação (Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física)
– Unidade Acadêmica Especial de Física, Universidade Federal de Goiás, Regional
Catalão, 2020.
- 287 -
SALES, Carlos Henrique Moreira; ANDREATA, Mauro Antonio. Mecânica quântica
sob a ótica do ensino ativo. In: CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO
“Ciência para redução das desigualdades”, 4., 2018, Catalão. Anais. Catalão: UFG/
Regional Catalão, p. 552-556, 2018. Disponível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/
up/1102/o/anais_4_conpeex_completo_trabalhos_incluidos_final-compactado_
versão_2.pdf?1561642242>. Acesso em: 08 mar. 2020.
SALES, Carlos Henrique Moreira; ANDREATA, Mauro Antonio; VALENTIM,
Marina. Aprendizagem ativa de Física quântica no Ensino Médio. In: SEMINÁRIO DE
PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO, 6., 2018, Catalão. Anais. Catalão:
Coordenação de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação - UFG/Regional Catalão, p. 12-
13, 2018. Disponível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/522/o/Caderno_de_
Resumos_VI_SPPGI_-_versão_final.pdf?1536255631>. Acesso em: 08 mar. 2020.
SAVIANI, Dermeval. A universidade e o ensino. In: ______. Ensino público e
algumas falas sobre a universidade. 2. ed. São Paulo: Cortez / Autores Associados,
1985. 110 p. [A primeira edição é de 1984.]
SMOOT, Bill. Conversations with great teachers. Bloomington: Indiana University
Press, 2010. 251 p.
STUDART, Nelson.Inovando a ensinagem de Física com metodologias ativas.Revista
do Professor de Física, Brasília, v. 3, n. 3, p. 1-24, 2019.Disponível em: <https://
periodicos.unb.br/index.php/rpf/article/view/28857/24565>. Acesso em: 08 mar.
2020.
SUKHOMLINSKI, Vassili. Pensamento pedagógico. Tradução de Manuel Alberto
Valente. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. 272 p. [Título original (em espanhol):
Pensamiento pedagógico, 1975.]
VALENTIM, Marina; ANDREATA, Mauro Antonio. Metodologias ativas de
aprendizagem no ensino de Física. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA, PÓS-
GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO, 6., 2018, Catalão. Anais. Catalão: Coordenação de
Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação- UFG/Regional Catalão, p. 33, 2018. Disponível
em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/522/o/Caderno_de_Resumos_VI_
SPPGI_-_versão_final.pdf?1536255631>. Acesso em: 08 mar. 2020.
ZEILINGER, Anton. A face oculta da natureza: o novo mundo da Física quântica.
Tradução de Luiz Repa. São Paulo: Globo, 2005. 276 p. [Título original (em alemão):
Einsteins Schleier: die neue Welt der Quantenphysik, 2004.]
- 288 -
Esta obra é nanciada pela Capes (Processo
88887.290496/2018-00 Edital 29/2018) e pelo CNPq
(Processo: 403787/2018-1 Chamada ARC nº 06/2018 L2),
por meio Grupo de Pesquisa e Extensão em Ensino de
Ciências e Formação de Professores – GEPEEC – UFCAT.
Todos os autores abdicaram, de seus direitos autorais, e têm
total responsabilidade sobre os textos apresentados. O livro é
gratuito e pode ser baixado na versão e-book no site da
editora Kelps no seguinte endereço https://kelps.com.br/
9 786558 590576
ISBN: 978-65-5859-057-6