Crimes Contra Reserva Da Vida Privada

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

EXTENSÃO DE MAPUTO

Licenciatura em Direito

Discentes:

Ailton Xavier Lucas

Cristiano Lino

Carla José Húo

Francisco Oscar Itái Meque

Florência Nuvunga

Jorge Flora Mboene

José Castigo Durbeque

Recildo Alberto Mathe

CRIMES CONTRA HONRA E RESERVA DA VIDA PRIVADA

Maputo, Maio de 2023


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

EXTENSÃO DE MAPUTO

Licenciatura em Direito

Discentes:

Ailton Xavier Lucas

Carla José Húo

Cristiano Lino

Francisco Oscar Itái Meque

Florência Nuvunga

Jorge Flora Mboene

José Castigo Durbeque

Recildo Alberto Mathe

CRIMES CONTRA Trabalho de Direito Penal Especial, Como


HONRA E RESERVA DA requisito parcial para obtenção da aprovação da
VIDA PRIVADA disciplina, lecionada pelo docente, Dr.Zélio Ivan
Banze, phd.

Docente‫ ׃‬Dr.Zélio Ivan Banze.

Maputo, Maio de 2023


“Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas
o bem só é temporário; o mal que faz é que é
permanente.”

Mahatma Gandhi

Resumo

O direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar é um dos direitos, liberdades


e garantias consagrados na Constituição e recebe protecção em vários instrumentos
internacionais. No direito penal moçambicano, há um conjunto de «crimes contra a
reserva da vida privada», onde se integram os crimes de violação de domicílio ou
perturbação da vida privada, introdução em lugar vedado ao público, devassa da vida
privada, devassa por meio de informática, violação de correspondência ou de
telecomunicações e violação ou aproveitamento indevido de segredo.
Cada pessoa pode dispor livremente da informação sobre a sua vida privada, revelando
e ocultando o que bem entender. Por isso, na generalidade dos casos, a instauração de
um processo penal por crime contra a vida privada depende da apresentação de queixa
ou participação por parte de um particular (normalmente o ofendido). Uma vez
instaurado o processo — e sem prejuízo da possibilidade de o queixoso desistir da
queixa mediante certas condições —, pertence ao Ministério Público a decisão de acusar
ou não o arguido.

Dentre aqueles crimes, o único que é público, quer dizer, cuja investigação não depende
da vontade dos particulares — devendo ser instaurado procedimento criminal pelo
Ministério Público assim que tiver notícia da sua prática — é o de base de dados
automatizada. Este crime consiste em criar, manter ou utilizar ficheiro automatizado de
dados individualmente identificáveis e referentes a convicções políticas, religiosas ou
filosóficas, à filiação partidária ou sindical, à vida privada ou a origem étnica de outra
pessoa, e é punível com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa
correspondente. A natureza pública deste crime explica-se, por um lado, porque as
informações em causa são particularmente sensíveis e, por outro, porque o meio
utilizado é particularmente perigoso.

Palavra-chave: Crimes contra honra; Crimes contra a dignidade das pessoas.

Lista de abreviaturas

al. alínea

art./arts- Artigo/artigos

Cfr. Confrontar

CP - Código Penal

CPC Código de Processo Civil


CPP Código de Processo Penal

CRM Constituição da República Moçmbique

ed. edição

n.º/n.ºs - número/números

Org. Organização

p./pp - página/páginas

Proc - Processo

rev. revista

ss. seguintes

Trad. Tradução

V. Vide

Vol. Volum

INDÍCE
CAPÍTULO I.....................................................................................................................1
Introdução..........................................................................................................................1
CAPITULO II....................................................................................................................2
Objetivos............................................................................................................................2
Objetivo Geral................................................................................................................2
Objetivo Específico........................................................................................................2
Metodologia.......................................................................................................................2
CAPITULO III..................................................................................................................3
1.1. Direito à honra............................................................................................................3
1.2. Os Crimes de Difamação e de Injúria.....................................................................4
a) Difamação..............................................................................................................4
b) Injúria.....................................................................................................................4
c) Distinção entre a difamação e Injúria....................................................................4
1.2.1. Ofensa à honra do Presidente da República e de outras entidades......................5
1.2.1.1. Difamação ou injúria contra ascendente...........................................................5
1.3. Difamação ou injúria contra pessoa falecida..........................................................5
1.3.1. Ofensa a organismo, serviço ou pessoa colectiva................................................6
1.3.2. CRIMES CONTRA RESERVA DA VIDA PRIVADA.........................................6
1.3.3. Noção...................................................................................................................6
1.3.3.1. Tutela da reserva da vida privada.........................................................................7
1.4. Crimes em espécie......................................................................................................7
1.4.0. Violação de domicílio..........................................................................................7
1.4.1. Introdução em lugar vedado ao público...............................................................7
1.4.2. Devassa da vida privada......................................................................................8
1.4.3. Violação de correspondência ou de comunicações..............................................8
1.4.4.1. DEVASSA DE OUTROS BENS JURÍDICOS....................................................9
1.5. Acesso ilegítimo.....................................................................................................9
1.5.1. Gravações ilícitas.................................................................................................9
1.5.2. Violação e aproveitamento indevido de segredo.................................................9
CAPÍTULO IV................................................................................................................10
Conclusão........................................................................................................................10
Referências Bibliográficas...............................................................................................11
CAPÍTULO I

Introdução
O presente trabalho visa abordar sobre os crimes contra honra e crimes contra a reserva
da vida privada, onde iremos abordar acerca de cada tipo legal de crime bem como a sua
moldura penal, e também da sua natureza semi-publica.

O trabalho será dividido em capítulos, tal que o desenvolvimento começa apartir do


capítulo III. E por fim far-se-á conclusão. Para tal optou-se como metodologia de
pesquisa a revisão de literatura obtida em livros, e o uso das legislações moçambicanas
em especial o código penal, lei nº 24/2019 de 24 de Dezembro.

“bom nome vale mais que grandes riquezas; a boa reputação vale mais que a prata e o
ouro” 1

1
Cfr. PROVÉRBIOS (PV 22,1)

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CAPITULO II

Objetivos
Objetivo Geral
 Debruçar sobre Crimes Contra a Dignidade das Pessoas.

Objetivo Específico
 Abordar sobre os crimes contra a honra;
 Compreender a difamação;
 Compreender a injúria;
 Debruçar em torno da violação de domicilio;
 Compreender a devassa da vida privada.

Metodologia
Segundo Gill (1999), o método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos utilizados para atingir o conhecimento. Para que seja considerado
conhecimento científico, é necessária a identificação dos passos para a sua verificação,
ou seja, determinar o método que possibilitou chegar ao conhecimento.

O presente trabalho será feito com base no Código Penal Moçambicano, nos manuais e
pdfs, bem como fundamentação própria, apoiando-se na Hermenêutica Jurídica.
portanto optou-se como metodologia de pesquisa a revisão de literatura obtida em
livros, e o uso das legislações moçambicanas em especial o código penal,lei nº 24/2019
de 24 de Dezembro.

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CAPITULO III

1.1. Direito à honra


A Constituição da República Moçambicana , o Código Civil e o Código Penal se
preocupam em tutelar os direitos de personalidade. Com isso, o código penal estabelece
sanções às condutas tipicamente previstas, que quando praticadas acabam por ocasionar
lesões aos bens fundamentais de personalidade.

O Direito Penal é considerado ultima ratio e tem como escopo principal a imposição de
punições a todos que violarem “bens, valores e interesses maissignificativos da
sociedade”2. Evidentemente, que não deixa de ser um direito fundamental para as
vítimas e para a sociedade, saber que aqueles que cometeram o crime foram
devidamente punidos nos moldes legais, pois “o jus puniendi é um dever e não uma
mera opção do Estado”.3

Cabe levar em consideração que o direito à honra é considerado um dos mais


importantes direitos de personalidade como diz o ADRIANO DE CUPIS. A justificativa
para isso é baseada na dignidade da pessoa humana, uma vez que a honra constitui um
bem extremamente precioso, porque diz respeito ao reconhecimento de uma valoração
intrínseca de cada indivíduo.

Além disso, o apreço e consideração da sociedade para com essas pessoas também é
relevante, pois se considera um pressuposto essencial para que o ser humano consiga
relacionar-se com outras pessoas e sinta que possui um certo prestígio no terreno em
que convive.

Valem aos direito á honra os individuos e as pessoas coletivas que posteriormente


abordaremos.

O Código Penal, no Título I da Parte Especial (Crimes Contra as Pessoas), trata no


Capítulo IX, seccão I dos Crimes Contra a Honra que, tipificando nos artigos 233º e ss.

2
ANDRÉ GUILHERME TAVARES DE FREITAS, Tutela Penal dos Direitos Humanos: a proteção da vida e da integridade
física, Curitiba: Juruá Editora, 2015, p. 123. No mesmo sentido, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito
Civil IV, cit., p. 136, afirma que “de um modo geral e no domínio dos direitos de personalidade, podemos considerar
que o Direito penal assegura a tutela dos bens mais significativos”.
3
AMÉRICO BEDE JUNIOR, A retórica do Direito Fundamental à privacidade: a validade da prova obtida mediante
filmagens nos ambientes público e privado, Salvador: Juspodium, 2015, pp. 105- 106 .

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1.2. Os Crimes de Difamação e de Injúria
a) Difamação
O artigo 233o n.o 1 do CP estabelece que “Quem difamar outrem publicamente, de viva
voz, por escrito ou desenho publicado ou por qualquer outro meio de publicação,
imputando-lhe um facto ofensivo da sua honra e consideração, reencaminhando ou
reproduzindo a imputação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa
correspondente”

Cometerá tal ato toda e qualquer pessoa que imputar ou levantar suspeita de fatos
ofensivos a terceiros que acabem por denegrir a honra ou consideraçãode quem foi
difamado. Em outras palavras, o ato de difamar alguém, significa uma ofensa à
reputação de outrem que consequentemente atingirá a sua honra, colocando a pessoa
ofendida numa situação de descrédito perante os demais membros da sociedade. Com
isso, compreende-se que na difamação há uma violação à reputação de outrem, que
acarreta ao ofendido uma reprovação ética e social em virtude das acusações levantadas.
Nessa conjuntura, não restam dúvidas de que o bem jurídico protegido contra os atos de
difamação é a honra pessoal do ofendido4.

b) Injúria
O artigo 234o n.o 1 do CP prevê que“o crime de injúria, não se imputando facto algum
determinado, se for cometido contra qualquer pessoa publicamente, por gestos, de viva
voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou por qualquer meio de publicação, é punido
com pena de prisão até 6 meses e multa correspondente”.

Portanto aquele que ao dirigir palavras para alguém em específico, atribuir ou levantar
suspeita de fatos ofensivos à sua honra ou consideração, incorre no referido tipo penal.

c) Distinção entre a difamação e Injúria


Embora se tratem de crimes diferentes, os elementos típicos de ambos são
essencialmente os mesmos: imputar factos ofensivos da honra; ou formular
juízosofensivos da honra; ou reproduzir tais imputações ou formulações5.

Notemos que no art. 234º, n.º 1 do CP há um requisito, no crime por injúria, que o
diferencia da difamação, pois enquanto na difamação a ofensa é destinada a um terceiro,
na injúria a ofensa é cometida diretamente para o ofendido ou na sua presença.
4
GISELE, AMARAL, Defesa de Personalide e o Direito ao Esquecimento, fdul, p. 72.
5
ANTÓNIO JORGE FERNANDES DE OLIVEIRA, in O Direito à Honra e a sua Tutela Penal..., p. 33

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Reparemos a maneira que o legislador moçambicano encontrou para averiguar a
distinção entre a difamação e a injúria, foi por meio da “imputação directa ou indirecta
dos factos ou juízos desonrosos”6. Outra característica que as distinguem é a forma
como as condutas são puníveis, pois enquanto a difamação prevê pena de prisão de até 1
ano, o crime de injúria estabelece pena de prisão de até 6 meses7.

1.2.1. Ofensa à honra do Presidente da República e de outras entidades


O artigo 237o do CP estabelece quequem injuriar ou difamar o Presidente da República
ou aquele que constitucionalmente o substitua nessa qualidade, é punido com pena de
prisão de 1 a 2 anos, Os e quando cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania
e membros de organismos de administração da justiça são punidos com prisão até 2
anos.

Cometerá este ato toda e qualquer pessoa que imputar ou levantar suspeita de fatos
ofensivos a Ofensa à honra do Presidente da República e de outras entidades que
acabem por denegrir a honra ou consideração dos mesmos.

1.2.1.1. Difamação ou injúria contra ascendente


Caso os crimes de difamação e injúria forem cometidos contra o pai ou mãe, ou algum
dos ascendentes, são sempre punidos com o máximo da pena, arti. 238o do CP. Portanto,
este artigo maximiza a pena em relação aos ascendestes

1.3. Difamação ou injúria contra pessoa falecida


Previsto no artigo 239.º, n.º 1 do Código Penal estabelece que o crime de difamação ou
injúria, cometido contra uma pessoa já falecida, é punido com pena de prisão até 6
meses e multa correspondente, se houver participação do ascendente ou descendente, ou
cônjuge, ou irmão ou herdeiro desta pessoa. E a ofensa não é punível quando tiverem
decorrido mais de cinquenta anos sobre o falecimento.

Este artigo protege um bem jurídico muito específico, um legado que permanece após a
morte da pessoa, fruto da sua obra em vida e dos feitos que a tenham distinguido e ainda
a distinguam entre os Homens. Da mesma maneira que uma pessoa constrói a sua
consideração social, projetando uma imagem sua na comunidade para gozarde um

6
Cfr. JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, Comentário Conimbricense do Código Penal: parte especial, tomo I,
artigos 131º a 201º, 2.a ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2012, p. 911.
7
E a relação quanto as penas pode ser encontrada no artigo 235, que a pena de 3 meses, caso os crimes
forem cometidos sem publicidade.

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determinado status em vida, também o faz na expectativa de não ter essa imagem
atacada após a sua morte.

1.3.1. Ofensa a organismo, serviço ou pessoa colectiva


Previsto no artigo 240.ºdo Código Penal estabelece que “Quem, sem ter fundamento
para, em boa-fé, os reputar verdadeiros, afirmar ou propalar factos inverídicos, capazes
de ofender a credibilidade, o prestígio, a confiança ou o bom nome que sejam devidos a
organismo ou serviço que exerçam autoridade pública ou não, instituição ou corporação,
pessoa colectiva, sociedade ou ente equiparado, é punido com pena de prisão até 6
meses e multa correspondente.”

Ofende-se, portanto, a credibilidade, prestígio ou confiança de entidades coletivas e ao


bom nome.

1.3.2. CRIMES CONTRA RESERVA DA VIDA PRIVADA


1.3.3. Noção
Tendo por objecto de proteção o bem jurídico «reserva da intimidade da vida privada»,
protegido nos termos do artigo 41.º da Constituição, o crime de devassa da vida privada
encontra-se previsto no artigo 250.º do Código Penal. O tipo criminal em questão
envolve a conduta de, sem consentimento e com intenção de devassar a vida das
pessoas, designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual, por exemplo, captar,
fotografar, filmar, registar ou divulgar imagem das pessoas ou de objectos ou espaços
íntimos. É em geral punido com pena de prisão até dois anos e multa correspondente,
sendo passíveis de agravação, por exemplo, se os factos forem praticados para obter
recompensa ou enriquecimento, para o agente, ou para causar prejuízo para o Estado, ou
através de meios de difusão generalizada. Trata-se de um crime semipúblico, ou seja, o
respectivo procedimento criminal depende da apresentação de queixa, art. 255 do CP.

1.3.3.1. Tutela da reserva da vida privada


A privacidade humana é tutelada por vários diplomas legais, internacionais e internos,
que são respectivamente os seguintes:

 Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 12.º


 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, artigo 17.º
 Convenção Europeia dos Direitos Humanos, artigo 8.º

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 Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, artigo 7.º
 Constituição da República Moçambicana, artigo 41.º
 Código Penal, artigos 250.º e seguintes.

1.4. Crimes em espécie


1.4.0. Violação de domicílio
Este crime consiste em um agente, sem o consentimento, se introduzir na habitação de
outra pessoa ou nela permanecer depois de intimado a retirar-se. A moldura penal é de
até 1 ano de prisão e multa correspondente, nos termos do art. 250 do CP.

QUANDO É QUE HÁ VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO?

1 – É necessário entrar em casa de outra pessoa sem o seu consentimento;

2 – É necessário permanecer em casa de outra pessoa sem o consentimento deste.

1.4.1. Introdução em lugar vedado ao público


Este crime consiste em o agente, sem consentimento ou autorização de quem de direito,
entrar ou permanecer em pátios, jardins ou espaços vedados anexos a habitação, em
barcos ou outros meios de transporte, em lugar vedado e destinado a serviço ou a
empresa públicos, a serviço de transporte ou ao exercício de profissões ou actividades,
ou em qualquer outro lugar vedado e não livremente acessível ao público, é punido
com pena de prisão até 3 meses e multa correspondente, nos termos do art. 251.º do CP.

pune-se a introdução em lugares vedados ao público, como jardins, pátios, anexos a


habitação, mas tem que existir vedação. Este artigo protege outros lugares que não seja
só o domicílio. Tem sempre que existir uma barreira (vedação) física (portão, muro,
arame, etc.), não se abrangendo, por exemplo, as situações de reserva de
estacionamento (sem vedação).

1.4.2. Devassa da vida privada


Esse crime consiste em o agente, sem consentimento e com intenção de devassar a vida
privada das pessoas, designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual: (Exige
um dolo específico – intenção de devassar a vida privada das pessoas)

 Interceptar, gravar, registar, utilizar, transmitir ou divulgar conversa,


comunicação telefónica, mensagens de correio electrónico ou facturação
detalhada;
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 Captar, fotografar, filmar, registar ou divulgar imagem das pessoas ou de
objectos ou espaços íntimos; (Captar/fotografar/filmar – é captar imagens
sobre uma pessoa, mas só em lugares privados. Não é crime se for nos jardins
ou outros lugares públicos.)
 Observar ou escutar às ocultas pessoas que se encontrem em lugar privado; ou
 Divulgar factos relativos à vida privada ou a doença grave de outra pessoa;
(médico que divulga doença grave, de que uma pessoa padeça). É punido com
uma moldura penal até 1 ano e multa correspondente.
 O facto previsto na alínea no número anterior não é punível quando for
praticado como meio adequado para realizar um interesse público legítimo e
relevante. (Se o interesse público prevalecer sobre a vida privada, nos termos
do artigo 252 do CP.

1.4.3. Violação de correspondência ou de comunicações


Este crime consiste em o agente, sem consentimento, abrir encomenda, carta ou
qualquer outro escrito que se encontre fechado e lhe não seja dirigido, ou tomar
conhecimento, por processos técnicos, do seu conteúdo, ou impedir, por qualquer modo,
que seja recebido pelo destinatário, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa
correspondente. Na mesma pena incorre quem, sem consentimento, se intrometer no
conteúdo de telecomunicação ou dele tomar conhecimento. (Telex, telefax, etc.).
Quem, sem consentimento, divulgar o conteúdo de cartas, encomendas, escritos
fechados, ou telecomunicações a que se referem os números anteriores, é punido com
pena de prisão de 6 meses até 1 e multa correspondente. (Pune quem divulga o
conteúdo, nos termos do art. 253 do CP.

1.4.4.1. DEVASSA DE OUTROS BENS JURÍDICOS


1.5. Acesso ilegítimo
Este crime consiste em o agente, sem permissão legal ou sem para tanto estar autorizado
pelo proprietário, por outro titular do direito do sistema ou de parte dele, invadir um
dispositivo alheio, fixo ou móvel, ligado ou não à rede de computadores, com o fim de
obter informação não pública de correio ou comunicações electrónicas privadas, acesso
a dados privados, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas ou o acesso
remoto não autorizado do dispositivo, é punido com prisão de 1 a 2 anos e multa até 1
ano, nos termos do art. 256.º do CP.

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1.5.1. Gravações ilícitas
Este crime consiste em o agente sem consentimento:

a) Gravar palavras proferidas por outra pessoa e não destinadas ao público, mesmo que
lhe sejam dirigidas; ou (São palavras cujo contexto não se destina a fins públicos. Ex:
gravar aulas do professor sem o consentimento deste)

b) Utilizar ou permitir que se utilizem as gravações referidas na alínea anterior, mesmo


que licitamente produzidas; é punido com pena de prisão até 1 ano e multa
correspondente, nos termos do art. 257.º do CP.

1.5.2. Violação e aproveitamento indevido de segredo


Este crime consiste em o agente, sem consentimento, revelar segredo alheio de que
tenha tomado conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte
é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente. Um padre que revela a
confissão de um crente.

A pena de prisão até 2 anos é aplicável a todos aqueles que, exercendo qualquer
profissão, que requeira título, e sendo em razão dela depositários de segredo que lhes
confiarem, revelarem os que ao seu conhecimento vierem no exercício da sua
actividade. Advogado que revele segredos do seu cliente, nos termos do art. 258.º do
CP.

CAPÍTULO IV

Conclusão
O direito penal garante a tutela dos direitos fundamentais de personalidade, mais
precisamente à reserva da intimidade da vida privada, a fim de que se assegurem de
forma mais ampla os direitos à honra, à imagem, ao bom nome e à reputação

O direito a honra tratase de um valor protegido constitucionalmente e elevado a direito


fundamental. Cremos também haver necessidade de uma intervenção do direito penal na
tutela deste bem jurídico. Uma tutela exclusivamente civil da honra limitaria a sua

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proteção jurídica a interesses meramente privados. Dever-se-á garantir um núcleo
mínimo de proteção através do direito penal, para casos de ofensas mais graves e com
suficiente projeção social que justifiquem a intervenção de meios de tutela que devem
ser de ultima ratio

A honra humana encontra-se juridicamente enquadrada no âmbito da integridade moral,


beneficiando de uma tripla proteção, a nível penal civil e administrativo. Embora os
tipos legais difamação (que implica uma relação triangular entre sujeitos) e injúria (que
implica uma relação bipolar entre sujeitos) se conexionem com a proteção de bens e
interesses jurídicos similares, a sua distinção ou não coincidência absoluta conduziu o
legislador à sua autonomização legal.

Referências Bibliográficas
ANDRÉ GUILHERME TAVARES DE FREITAS, Tutela Penal dos Direitos Humanos:
a proteção da vida e da integridade física, Curitiba: Juruá Editora, 2015.

AMÉRICO BEDE JUNIOR, A retórica do Direito Fundamental à privacidade: a


validade da prova obtida mediante filmagens nos ambientes público e privado,
Salvador: Juspodium, 2015.

GISELE, AMARAL, Defesa de Personalide e o Direito ao Esquecimento, fdul.

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JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, Comentário Conimbricense do Código Penal: parte
especial, tomo I, artigos 131º a 201º, 2.a ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2012

ARAÚJO, LAURENTINO SILVA, – Crimes Contra a Honra, Coimbra: Coimbra


Editora, 1957.

Legislação

Código Penal Moçãmbicano, lei n.o 24/2019 de 24 de Dezembro.

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