Determinação de Tensões Residuais em Materiais
Determinação de Tensões Residuais em Materiais
Determinação de Tensões Residuais em Materiais
ENGENHARIA MECÂNICA
Autor
Marco António Ferreira Ferraz
Orientador
Professor Doutor João Paulo da Silva Gil Nobre
Júri
Professora Doutora Ana Paula Bettencourt Martins Amaro
Presidente
Professora Auxiliar da Universidade de Coimbra
Agradecimentos
O trabalho presente nesta tese, só foi possível com a colaboração, incentivo e
apoio de algumas pessoas, as quais presto a minha sincera gratidão, nomeadamente:
Ao meu orientador, Professor Doutor João Paulo da Silva Gil Nobre, pela sua
dedicação, disponibilidade, orientação, ensino, compreensão e mais importante
de tudo, por me ter presenteado com a sua amizade.
Ao meu irmão pela sua amizade, ajuda e apoio quando foi necessário.
Resumo
No presente trabalho foi utilizada uma metodologia para quantificar o efeito da
furação durante a aplicação da técnica do furo incremental (IHD) para a determinação de
tensões residuais em compósitos laminados, em particular, nos compósitos de matriz
polimérica (PMC) reforçada com fibras de carbono (CFRP). A metodologia aplicada,
permitindo quantificar as deformações induzidas pela operação de furação, visa a
otimização destas operações pela minimização daquelas deformações. Deste modo, tendo
em consideração as dificuldades inerentes às operações de corte neste tipo de materiais, as
operações de furação poderão ser melhoradas, não só para a aplicação da técnica do furo,
mas também para os processos de furação industriais em geral.
A metodologia utilizada no presente estudo é baseada num procedimento de
calibração experimental seguido de uma simulação numérica de todo o processo. A
comparação direta dos resultados experimentais e numéricos permite avaliar a deformação
induzida pelo processo de furação no compósito.
A metodologia foi aplicada no estudo do processo de furação a alta velocidade
de dois tipos de laminados carbono/epóxido: Laminado unidirecional “single-ply” (0º)4 e
laminado multidirecional “cross-ply” (0º2/90º2)2s. Nos dois provetes foi estudado o efeito
da velocidade de corte, mantendo-se todos os outros parâmetros de furação inalterados,
incluindo a geometria da ferramenta. O processo de furação utilizado foi a fresagem a alta
velocidade usando ar comprimido, um processo normalmente utilizado com a técnica do
furo. A variação da velocidade de corte foi conseguida através da alteração da pressão do
ar à saída do compressor, sendo regulada a pressão entre 2,7 bar e 4 bar.
A comparação dos resultados obtidos na calibração experimental e na
simulação numérica, permitiram concluir que as deformações parasitas induzidas pela
furação diminuem com o aumento da velocidade de corte. Além disso, os resultados
obtidos permitem concluir que a técnica do furo poderá ser desenvolvida no futuro para ser
aplicada na determinação de tensões residuais neste tipo de materiais.
Abstract
A methodology to quantify the effect of drilling during the application of the
incremental hole drilling technique (IHD), for determining residual stresses in composite
laminates, particularly the carbon-fibres reinforced polymers (CFRP), was used in the
present study. This methodology, allowing quantifying the deformation induced by the
drilling operation, seeks to optimize these operations by minimizing those deformations.
Thus, taking into account the difficulties inherent to this type of cutting materials, drilling
operations can be improved, not only for the application of the hole-drilling technique, but
also for industrial processes in general.
The methodology used in this study is based on experimental calibration
procedure followed by a numerical simulation of the entire process. Direct comparison of
experimental and numerical results allows us to evaluate the deformation induced by the
process of drilling in the composite.
The methodology was applied to study the process of high speed drilling of
two types of composite laminates carbon/epoxy. Unidirectional laminate "single-ply" (0°)4
and multidirectional laminate "cross-ply"(0º2/90º2)2s. In both cases we have examined the
effect of cutting speed, keeping all other parameters of drilling, including the geometry of
the tool. The drilling process was used to high speed machining using compressed air, a
process normally used with the incremental hole-drilling technique. The variation of
cutting speed was achieved by changing the air pressure outside the compressor, the
pressure is regulated between 2.7 bars and 4 bars.
The comparison of experimental results obtained in the calibration and
numerical simulation seems to show that the parasite drilling-induced strain decreases
when cutting speed increases. In addition, the results show that the hole-drilling technique
could be developed in the future to be applied for residual stress determination in this kind
of materials.
Índice
Índice de Figuras ................................................................................................................... v
Índice de Tabelas ................................................................................................................. vii
Simbologia e Siglas ............................................................................................................ viii
Simbologia ...................................................................................................................... viii
Siglas ................................................................................................................................. x
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1. Objetivos ................................................................................................................. 2
1.2. Estrutura da tese ...................................................................................................... 3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 5
2.1. Polímeros reforçados com fibras de carbono (CFRP) ............................................ 5
2.1.1. Matriz Polimérica ............................................................................................ 6
2.1.2. Fibras de Reforço ............................................................................................ 8
2.1.3. Disposição das Fibras nos Laminados ........................................................... 10
2.2. Tensão-Deformação em Materiais Ortotrópicos ................................................... 12
2.2.1. Teoria Clássica dos Compósitos .................................................................... 12
2.2.2. Concentração de Tensão em torno do Furo ................................................... 13
2.3. Tensão Residual em Materiais Compósitos .......................................................... 14
2.4. Técnica do Furo Incremental ................................................................................ 16
2.4.1. Aplicação aos Materiais Compósitos ............................................................ 16
2.4.2. Determinação da Tensão Residual em Materiais Compósitos ...................... 18
3. MATERIAIS E PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ............................................ 21
3.1. Material Carbono/epóxido .................................................................................... 21
3.2. Procedimento Experimental .................................................................................. 22
3.2.1. Máquina de tração e Sistema de Medida ....................................................... 22
3.2.2. Parâmetros da Furação................................................................................... 24
3.3. Princípio e Calibração Experimental .................................................................... 26
3.3.1. Aplicação ao caso em estudo ......................................................................... 29
4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS .......................................................................... 30
4.1. Provete unidirecional (0°)4.................................................................................... 30
4.1.1. Comportamento Elástico ............................................................................... 30
4.1.2. Relaxação da deformação .............................................................................. 31
4.2. Provete multidirecional (0°2/90°2)2s ...................................................................... 32
4.2.1. Comportamento Elástico ............................................................................... 32
4.2.2. Relaxação da deformação .............................................................................. 33
5. SIMULAÇÃO NUMÉRICA E DISCUSSÃO ............................................................ 34
5.1. Modelo Numérico ................................................................................................. 34
5.2. Carbono/epóxido (0°)4 .......................................................................................... 36
5.2.1. Comportamento Elástico ............................................................................... 36
5.2.2. Relaxação da deformação .............................................................................. 37
5.3. Carbono /epóxido (0°2/90°2)2s............................................................................... 42
5.3.1. Comportamento Elástico ............................................................................... 42
5.3.2. Relaxação de deformação .............................................................................. 43
6. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 47
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 49
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Avião orbital X-34 da NASA
(http://www.nasa.gov/centers/marshall/news/background/facts/x-34.html) ......................... 1
Figura 2. Cross-ply CFRP (Nobre 2010). .............................................................................. 5
Figura 3. Distribuição da tensão na matriz e na fibra (Soung,2009). .................................... 6
Figura 4. Representação esquemática, A) linear, B) ramificada, C) reticulada, dos
polímeros. (http://energy-in-industry.joanneum.at)............................................................... 7
Figura 5. Estrutura cristalina da grafite (Berthelot,1999). ..................................................... 9
Figura 6. a) Laminado unidirecional (0°); b) Construção laminado [0/+45/-45/90]s
laminado simétrico (Staab,1999). ........................................................................................ 11
Figura 7. Metade de uma camada (0 °/ 90 °) s indicando a tensão residual existente
(Datoo,1991). ....................................................................................................................... 15
Figura 8. Interpretação física dos coeficientes de calibração, para cada incremento (Sicot et
al., 2003). ............................................................................................................................. 19
Figura 9. Modelo de calibração com extensómetros nas direções principais (Sicot et
al.,2003). .............................................................................................................................. 20
Figura 10. Máquina de tração e sistema de medida. ............................................................ 23
Figura 11. Sistema anti flexão. ............................................................................................ 23
Figura 12. Vishay RS-200. .................................................................................................. 24
Figura 13. Broca apoiada no equipamento. ......................................................................... 24
Figura 14. Exemplo da disposição do extensómetro no provete. ........................................ 25
Figura 15. Furo no centro da roseta. .................................................................................... 25
Figura 16. Provete com extensómetros todos colados (Nobre 2010). ................................. 25
Figura 17. Fluxograma do método aplicado (Nobre 2010). ................................................ 26
Figura 18. Princípio de calibração (Nobre 2010). ............................................................... 27
Figura 19. Carregamento cíclico do provete na furação (Stiffel,2010). .............................. 29
Figura 20. Ensaio de tração provete unidirecional. ............................................................. 30
Figura 21. Relaxação da deformação a 2.7 bar.................................................................... 31
Figura 22. Relaxação da deformação a 4 bar....................................................................... 31
Figura 23. Ensaio de tração provete multiderecional “cross-ply”. ..................................... 32
Figura 24. Relaxação da deformação no provete “cross-ply” a 4 bar. ................................ 33
Figura 25. Elemento quadrático 3D com 20 nós
(http://web.mit.edu/calculix_v2.0/CalculiX/ccx_2.0/doc/ccx/node16.html) ...................... 34
Figura 26. Malhagem do modelo numérico para o provete (0°)4 ........................................ 35
Figura 27. Malhagem do modelo numérico para o provete (0°2/90°2)2s. ............................. 35
Figura 28. Comparação dos valores experimentais e numéricos do ensaio de tração. ........ 36
Figura 29. Relaxação da deformação a 0°. .......................................................................... 38
Figura 30. Relaxação da deformação a 90°. ........................................................................ 39
Figura 31. Relaxação da deformação a 45°. ........................................................................ 40
Figura 32. Distribuição da tensão Sigma X, tensão normal segundo X, em torno do furo. 41
Figura 33. Distribuição da deformação segundo X em torno do furo. ................................ 41
Figura 34. Distribuição da tensão Sigma Y, tensão normal segundo Y, em torno do furo. 41
Figura 35.Distribuição da deformação segundo Y em torno do furo. ................................. 41
Figura 36. Ensaio de tração provete (0°2/90°2)2s. ................................................................ 42
Figura 37. Relaxação da deformação a 0°. .......................................................................... 44
Figura 38. Relaxação da deformação a 90°. ........................................................................ 44
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Propriedades do compósito carbono/epóxido (Van Paepegem et al., 2010). ...... 21
Tabela 2. Propriedades das fibras do carbono/epóxido (Van Paepegem et al.,2008).......... 22
Tabela 3. Determinação da profundidade dos incrementos. ................................................ 29
Tabela 4. Valores experimentais e teóricos do ensaio de tração do provete (0°)4............... 37
Tabela 5. Valores experimentais e teóricos do ensaio de tração do provete (0°2/90°2)2s .... 43
SIMBOLOGIA E SIGLAS
Simbologia
Siglas
ABS – Poli-acrilonitrilo-butadieno-estireno
ASTM – American Society for Testing and Materials
CFRP– Carbon fiber reinforcement polymer
CTE – Coeficiente de expansão térmica
DEM – Departamento de Engenharia Mecânica
FCTUC – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
FRP– Fiber reinforcement polymer
IHD– Incremental hole-drilling
MFI – Método do furo incremental
MIT – Massachusetts Institute of Technology
PA – Poliamida
PAI – Poliamida-imida
PC – Policarbonato
PE – Polietileno
PEEK – Poliéster-éter cetona
PEI – Poliéster-imida
PET – Politereftalato de etileno
PMC– Polymer matrix composite
PMMA – Polimetacrilato de metil
POM – Poliacetal ou óxido de polifenileno
PP – Polipropileno
PPS – Sulfureto de polifenileno
PS – Poliestireno
PSU – Polissulfona
PVC – Policloreto de vinil
1. INTRODUÇÃO
Com a evolução dos tempos e das tecnologias, os materiais compósitos de
matriz polimérica, devido à sua excelente razão resistência/peso, associada à sua boa
resistência à fadiga e corrosão (Piloto e Michino,1994), são cada vez mais utilizados em
diferentes tipos de indústria, principalmente a indústria aeroespacial (figura 1),
aeronáutica, automóvel e mais recentemente em aplicações na construção civil, como
elementos de reforço (Soung,2009).
1.1. Objetivos
A realização da presente tese tem como objetivo a aplicação e desenvolvimento
de uma metodologia, utilizada para a verificação e validação da técnica do furo
incremental na determinação de tensões residuais em materiais compósitos laminados, no
que concerne ao efeito da operação de furação no material. Neste tipo de materiais é bem
conhecida a dificuldade de maquinagem como demonstrado por Durão et al. (2004). Por
esse motivo, antes do desenvolvimento de teorias que permitam determinar as tensões
residuais instaladas, a partir de um conjunto de curvas de relaxação de deformação
superficial vs profundidade do furo, obtidas durante a aplicação da técnica do furo
incremental, é necessário avaliar a influência que o próprio processo de furação tem no
estado de tensão residual inicial que se pretende determinar. Este é um estudo inicial
absolutamente decisivo para a validação da aplicação da IHD aos PMC’s.
A metodologia utilizada baseia-se em dois métodos complementares:
Numa primeira fase é efetuada uma calibração experimental, usando
dispositivos de tração que permitem impor uma tensão de tração uniaxial bem conhecida
ao material, determinando-se assim as curvas de relaxação versus profundidade do furo,
correspondentes ao estado de tensão aplicado.
Numa segunda fase, através da criação de um modelo numérico usando o
método dos elementos finitos, é feita uma simulação do processo de furação em condições
que se podem considerar ideais.
Capítulo 6: Conclusões.
Neste capítulo, são apresentadas as principais conclusões da tese e uma
proposta de trabalho futuro para otimização e desenvolvimento da metodologia utilizada.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
desvantagens das fibras de carbono é possuírem uma resistência ao impacto baixa e alta
condutividade elétrica, que pode ser perigoso em equipamentos elétricos.
A estrutura da fibra contém uma combinação de uma mistura amorfa de
grafite. A razão para o seu módulo de elasticidade ser elevado é devido à organização
estrutural da grafite, na qual, os átomos de carbonos estão dispostos em planos
cristalograficamente paralelos de hexágonos regulares (figura. 5). A distância entre os
planos é maior do que a distância entre os átomos no próprio plano.
Os planos de carbono na grafite são empilhados em uma sequência AB, de
modo a aumentar a sua rigidez na malha através de uma configuração estrutural bastante
forte. Estes átomos de carbono no plano são conectados por ligações fortes covalentes, no
entanto os planos são conectados entre si por ligações fracas, ligações do tipo Van der
Waals. Como consequência as fibras carbono apresentam propriedades físicas e mecânicas
anisotrópicas.
Os cristais de grafite nos planos estão alinhados ao longo do eixo das fibras, de
modo que o alinhamento possa ser circunferencial, radial, ou uma combinação aleatória
como radial-circunferencial (Huang,2009; Berthelot,1999).
̃( ) (2)
̃( ) (3)
4)
* ( ) +
(5)
* ( ) +
(6)
* ( ) +
[ ( ) ] (7)
Poisson segundo a direção (1,2). Os símbolos EL , ET, GLT, νLT significam o módulo de
Young segundo a longitudinal e transversal, módulo de elasticidade transversal e
coeficiente de Poisson, para a fibra.
No caso de o material ter N camadas diferentes de fibras e mais do que uma
orientação das mesmas, aplica-se a regra das misturas devido ao compósito ser
multidirecional, nesse caso as constantes elásticas do material (̅̅̅̅ ̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅) são
expressas através das equações 8 até 11, para cada orientação das fibras existente no
material ( ).
̅̅̅ ∑ ( ) (8)
̅̅̅ ∑ ( ) (9)
̅̅̅̅̅ ∑ ( ) (10)
̅̅̅̅ ∑ ( ) (11)
(2.13)
* ( ) +
√ (2.14)
√ ( ) (2.15)
O método do furo incremental (IHM) é uma das técnicas das mais usadas para
determinar tensões residuais. A técnica do furo incremental é classificada como uma
técnica mecânica semidestrutiva segundo a ASTM E 837 (1994). A técnica consiste em
fazer um pequeno furo na superfície do material onde se pretendem determinar as tensões
residuais, de forma incremental, e medir a relaxação de deformação, devido ao efeito que
os sucessivos incrementos do furo provocam no campo de tensão residual instalado no
material, por meio de extensómetros elétricos, por exemplo.
Nos subcapítulos descreve-se o desenvolvimento e o princípio da aplicação do
método do furo incremental na medição da relaxação de deformações e cálculo de tensões.
mas por outro lado, quanto maior o número de incrementos, maiores erros podem surgir
devido ao efeito de propagação do erro, durante o cálculo de tensões residuais.
A seleção do número de incrementos é muito significativa, por exemplo, um
incremento por camada, pode causar sobrestimação ligeira da tensão, o que parece ser feita
por um relaxamento de tensão muito significativa, durante e após a furação. Para um tempo
maior de furação, e dependendo da profundidade do incremento, ocorre um maior o
contato entre a broca e o material, criando assim um aquecimento nessa zona. É necessário
considerar também o efeito de delaminação provocado pelo processo de corte no material.
Esses efeitos podem surgir como fissurações microscópicas parasitas que provocam um
relaxamento, que vem sobreposto ao relaxamento total das tensões residuais.
É possível que a relação entre a profundidade do incremento e a espessura do
laminado tem grande influência de sobre a relaxação total determinada. Se a profundidade
do incremento for reduzida, observa-se que a sensibilidade do método para obter a
distribuição de tensões residuais em profundidade no laminado pode ser aumentada,
especialmente nas camadas individuais do compósito laminado.
Pagliaro e Zuccarello (2007) estudaram as tensões residuais em materiais
ortotrópicos por meio furos passantes. Teoricamente, o estudo comprova a sensibilidade da
técnica do furo incremental, pois com o aumento das tensões residuais na direção
longitudinal do material a anisotropia também aumenta, mas em contra partida com a
anisotropia, a sensibilidade ao corte transversal e as tensões residuais são reduzidas. Os
mesmos autores (Pagliaro e Zuccarello,2007) afirmaram ainda que para compósitos de
ângulo e multicamada com um número de camadas superior a 16, bem como, a relação
entre a espessura total e o raio médio da roseta for inferior a 0,25, os coeficientes de
influência podiam ser alterados por erros menores entre 5 a 7%.
A aplicação do método foi corroborada por experiências, com a realização de
ensaios para uma tensão planar com um carregamento inicial, obtendo os resultados e
fazendo a comparação com a simulação numérica. A incerteza da tensão residual em
materiais ortotrópicos homogénea é, em geral, inferior a 10%, o que permite uma
comparação do método de determinação com a dos materiais isotrópicos.
(17)
(18)
(19)
σ
σ
σ
σ
Figura 8. Interpretação física dos coeficientes de calibração, para cada incremento (Sicot et al., 2003).
Figura 9. Modelo de calibração com extensómetros nas direções principais (Sicot et al.,2003).
⁄ ⁄
(21)
⁄ ⁄
(22)
2 1
Apoio
[ ] (27)
4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
250
y = 2,8809x
Tensão (MPa)
200 R² = 0,987
150
y = 0,2234x e (0º)
R² = 0,9973
100
y = -0,8677x e (45º)
R² = 0,9961
50 e (90º)
0
-400 100 600 1100 1600
ε(µst)
400
Profundidade (mm)
Relaxação da deformação (µst)
200
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
-200
∆ε exp (0º) 2.7 bar
-800
400
Profundidade (mm)
Relaxação da deformação (µst)
200
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
-200
∆ε exp (0º) 4
bar
-400 ∆ε exp (45º) 4
bar
∆ε exp (90º) 4
-600 bar
-800
Através dos resultados obtidos pode-se afirmar que tanto no ensaio a 2,7 bar
como a 4 bar, os pontos de relaxação de deformação orientados a 0º têm um
comportamento bastante semelhante a medida qua a profundidade vai aumentando. Nas
orientações a 45º e 90º, verifica-se uma diferença substancial na relaxação de deformação
entre os ensaios realizados, verificando-se um comportamento mais regular no ensaio a 4
bar comparativamente ao ensaio a 2,7 bar.
100 y = 0,3156x
e (0º)
Tensão (MPa)
R² = 0,9493
80 y = 0,1581x
R² = 0,9897 e (45º)
60
e (90º)
40
20
0
-100 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
-20
ε(µst)
Figura 23. Ensaio de tração provete multiderecional “cross-ply”.
200
100
Relaxação da deformação (µst)
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
-100
-200
∆ε exp (0º) 4 bar
-300
∆ε exp (45º) 4 bar
-400
∆ε exp (90º) 4 bar
-500
Profundidade (mm)
Figura 24. Relaxação da deformação no provete “cross-ply” a 4 bar.
Figura 26. Malhagem do modelo numérico para o Figura 27. Malhagem do modelo numérico para o
provete (0°)4 provete (0°2/90°2)2s.
Provete (0°)4
300 y = 4,7x
y = -0,8677x
R² = 0,9961 R² = 1
250
y = 0,2391x
R² = 1 y = 0,2234x
Tensão (MPa)
200 R² = 0,9973
y = 2,8809x
R² = 0,987 e (0º) exp
150
e (45º) exp
e (90º) exp
100
y = -0,67x e (0º) TCL
R² = 1 e (45º) TCL
50
e (90º) TCL
0
-400 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
ε(µst)
Figura 28. Comparação dos valores experimentais e numéricos do ensaio de tração.
Os valores das constantes elásticas têm erros associados, sendo estes valores
mais elevados nas direcções a 45º e 90º. Embora o valor do erro a 90º possa ser aceitável, a
45º é exagerado sendo necessário mais estudo nesta orientação para poder reduzir esse
erro. Este facto pode ter sido originado por alguma falha no extensómetro, ou alguma
incompatibilidade entre o material e à utilização de extensómetros elétricos nestes
materiais.
Profundidade [mm]
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
0
Relaxação da Deformação [mst]
-600
-800 DF DF
1
2
3
-1000
Profundidade [mm]
300
200
100
-100 DF DF
1
2
3
-200
No caso dos resultados obtidos para a orientação a 45°, mostrado na figura 31,
os ensaios realizados indicam comportamentos completamente diferentes para
profundidades reduzidas, obtendo-se uma melhor aproximação do caso ideal para o ensaio
a 4 bar. Com o aumento da profundidade a curva de relaxação de deformação do ensaio a
2,7 bar vão aproximando-se bastante do caso ideal enquanto que, a curva do ensaio a 4 bar
vai aumentado a sua diferença do caso ideal.
O comportamento das curvas de relaxação da deformação obtidas nos ensaios
apresenta diferenças relativamente ao comportamento obtido numericamente, podem
existir várias explicações para estes resultados, sendo necessário otimizar o modelo
numérico, devido à não concordância com os declives das retas experimentais. Um outro
aspeto pode dever-se ao tipo de extensómetro utilizado, sendo melhor utilizar um
extensómetro individual para esta orientação, sendo assim necessário realizar mais estudos
para identificar a solução, de modo a melhorar a aproximação das curvas reais e numérica.
Profundidade [mm]
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
200
100
Relaxação da Deformação [mst]
-100
-200
Strain 2 (45º) - UHSM at 2.7 bar
DF DF
-400
1
2
3
-500
Figura 32. Distribuição da tensão Sigma X, tensão Figura 33. Distribuição da deformação segundo X
normal segundo X, em torno do furo. em torno do furo.
Figura 34. Distribuição da tensão Sigma Y, tensão Figura 35.Distribuição da deformação segundo Y
normal segundo Y, em torno do furo. em torno do furo.
y = 15,3x
Provete (0°2/90°2)2s
140
R² = 1
R² = 0,9493
80
e (0º) TCL
60 e (45º) TCL
e (90º) TCL
40
e (0º) exp
20 e (45º) exp
e (90º) exp
0
-10 90 190 290 390 490 590 690 790 890
ε(µst)
Figura 36. Ensaio de tração provete (0°2/90°2)2s.
O valores das constantes elástica obtidas 45º e 90º têm erros associados muito
elevados, este facto pode ter sido originado por alguma falha no extensómetro, ou um
desfasamento da centragem do extensómetro na altura da colagem ao provete. Um outro
fator que poderá estar relacionado com este desfasamento elevado, pode ser uma
desordenação da orientação das fibras a quando o seu fabrico. Sendo necessário fazer um
estudo ao microscópio para verificar essa possibilidade e com o objectivo de encontrar
uma resposta para o erro encontrado. O valor do módulo de Young (E11) e do coeficiente
de Poisson (υ12) obtido tem um erro relativamente pequeno podendo considerar-se que
existe uma boa aproximação entre os valores numéricos e experimentais.
Profundidade [mm]
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
0
Relaxação da Deformação [mst]
-400
-600 DF DF
1
2
3
-800
Profundidade [mm]
100
DF DF
1
2
3
-100
Figura 38. Relaxação da deformação a 90°.
Profundidade[mm]
-200
Figura 40. Distribuição da tensão Sigma X, tensão normal segundo X, em torno do furo.
6. CONCLUSÕES
A presente dissertação teve como objetivo o desenvolvimento e aplicação de
uma metodologia, de base experimental e numérica, para quantificar o efeito da furação
durante a aplicação da técnica do furo incremental (IHD) na determinação de tensões
residuais em compósitos laminados, em particular, nos compósitos de matriz polimérica
(PMC) reforçada com fibras de carbono (CFRP).
• De forma resumida, foram utilizados dois tipos de provete CFRP, com a
sequência de empilhamento (0º)4 e (0°2/90°2)2s.respectivamente. Os provetes foram
submetidos a ensaios de tração para determinar as propriedades do material compósito.
Além disso pretendeu-se verificar a influência da velocidade de corte durante a furação.
Para tal, procedeu-se a uma calibração experimental que consistiu em determinar as curvas
de relaxação de deformação em função da profundidade do furo correspondentes a uma
dada tensão de calibração. Nestes ensaios os furos foram realizados a alta velocidade para
duas velocidades de rotação diferentes de aproximadamente 210 000 rpm e 280 000 rpm.
Após a realização da calibração experimental foi efetuada uma simulação
numérica de todo o processo experimental, através do método dos elementos finitos,
usando o código ANSYS 11. As principais conclusões foram as seguintes.
Os seguintes paços foram efetuados.
Nos ensaios de tração efetuados sem furação, a comparação direta dos
valores experimentais e teóricos na determinação das propriedades
elásticas do material, foi razoavelmente boa. Os resultados obtidos
segundo as três orientações próximos, para o provete (0º)4, embora
com algum erro associado mas compreensível, o resultado menos
coerente ocorreu no provete (0°2/90°2)2s segundo a orientação a 90º
onde se obtiveram valores com um erro bastante elevado. Nas restantes
orientações os valores obtidos tiveram alguma diferença face aos
esperados, mas com uma aproximação razoavelmente boa.
Comparação das curvas teóricas e experimentais obtidas da relaxação
da deformação vs. profundidade, para as duas velocidades utilizadas
indicam que os resultados obtidos para essas velocidades de furação
apresentam uma tendência semelhante ao caso ideal a 0º e 90º,
Trabalho futuro
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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