Tarefa No Ensino Da Matemática
Tarefa No Ensino Da Matemática
Tarefa No Ensino Da Matemática
Em Portugal, o Currículo Nacional do Ensino Básico (ME, 2001, p. 68) defende que
“todos os alunos devem ter oportunidades de se envolver em diversos tipos
de experiências de aprendizagem”, tais como resolução de problemas,
atividades de investigação, projetos e jogos, pressupondo o contacto e trabalho
dos alunos com um conjunto de tarefas de natureza muito diversa. Mais
recentemente, o Programa de Matemática do Ensino Básico (ME, 2007), para além
das experiências de aprendizagem enunciadas no documento anterior, acrescenta
“exercícios que proporcionem uma prática compreensiva de procedimentos”
(p.8). Neste programa existe um forte apelo ao professor para que utilize tarefas de
diversos tipos na sala de aula, e que estas ajudem a cumprir uma multiplicidade de
objetivos de aprendizagem: a construção de conceitos; a compreensão dos
procedimentos matemáticos; o domínio das linguagem matemática e das
representações relevantes; e o estabelecimento de conexões dentro da Matemática
e entre esta e outros domínios:
No seu trabalho de preparação letiva, o professor tem como uma das suas
principais funções selecionar as tarefas que pretende levar para a sua sala de aula.
Até há uns anos, esta seleção constituía um trabalho muito menos complexo do que
atualmente. Por um lado, hoje em dia são inúmeros os mediadores curriculares que
proporcionam ao professor um amplíssimo leque de tarefas (Stein & Kim, 2009), às
quais o acesso é facilitado por via da internet. Por outro lado, as tarefas devem
procurar contribuir para dar cumprimento às exigências curriculares atualmente
defendidas, pelo que precisam de ser criteriosamente escolhidas consoante a sua
orientação para propósitos específicos diferentes. Apesar de a tarefa só por si não
dizer tudo, ela encerra muito daquilo que os alunos podem aprender e é
reconhecido que as tarefas, pelas suas características próprias, ocasionam
diferentes oportunidades para a aprendizagem dos alunos (Boston & Smith,
2009). Por exemplo, se se pretende desenvolver a capacidade de raciocinar e
resolver problemas dos alunos, é necessário investir em tarefas com elevado nível
de complexidade cognitiva (Stein & Lane, 1996; Stein & Smith, 2009).
A análise das características das tarefas é, pois, um aspeto essencial para a sua
seleção. Nesta secção desta revista, alguns textos reportam-se a este aspeto.
Claúdia Oliveira e Hélia Oliveira analisam as características das tarefas de
modelação, Ana Patrícia Gafanhoto e Ana Paula Canavarro analisam as
características das tarefas que promovem o uso de representações múltiplas
de funções em ambientes com recurso ao computador, Catarina Delgado,
Joana Brocardo e Hélia Oliveira analisam as características de tarefas que
promovem o desenvolvimento do sentido de número nos alunos. Ressalta destes
estudos a importância de o professor reconhecer nas tarefas as características
essenciais que contribuem para proporcionar aos alunos as aprendizagens
específicas que pretende, nomeadamemente aspetos como a estrutura da
tarefa, a formulação das questões e a sequência pela qual surgem. O
conhecimento da influência destes aspetos contribui para que o professor esteja
mais preparado para adaptar da melhor forma as tarefas que deseja usar com os
seus alunos.
É na relação com os alunos que as tarefas revelam o seu potencial, sendo aqui
determinante o papel do professor na sua exploração. As formas de trabalho que
escolher, os recursos que proporcionar, a gestão que fizer do tempo e das
interações na sala de aula, o papel que se reservar a si mesmo e aos alunos, vão
limitar ou potenciar as oportunidades de aprendizagem criadas a partir das tarefas
(Smith & Stein, 1998).
Nesta secção desta revista, são vários os textos que se focam no desenvolvimento
das tarefas matemáticas na aula com os alunos. Ricardo Gonçalves e Cecília Costa
estudam o papel de mediador do professor na exploração de uma atividade de
modelação matemática; Margarida Nunes Silva, Ana Maria Boavida e Hélia
Oliveira analisam as práticas de uma professora associadas à realização de
uma das tarefas da trajetória de aprendizagem planeada para ensinar
números racionais; Marisa Quaresma e João Pedro da Ponte analisam as
práticas letivas de uma professora com vista ao desenvolvimento da
compreensão da noção de número racional e da capacidade de resolução de
problemas; Paulo Dias e Leonor Santos analisam a prática do questionamento
oral de um professor com intenção avaliativa; Fátima Delgado, Rosa Antónia
Ferreira e José Manuel Fernandes analisam as práticas de duas professoras
relacionadas com a exploração de tarefas na aula de Matemática e na de Estudo
Acompanhado. Ana Paula Canavarro, Hélia Oliveira e Luís Menezes analisam
as práticas de ensino exploratório de uma professora e identificam as suas
ações e intenções que estão subjacentes.
Em jeito de conclusão
Que recursos adotam os professores para selecionar tarefas para a aula? Quais as
suas fontes de inspiração? Qual o papel dos manuais escolares? Que outros
mediadores curriculares se destacam?