TCC Programa Tracker 2
TCC Programa Tracker 2
TCC Programa Tracker 2
Trabalho de Conclusão
EDVANDRO MENDES
Florianópolis/SC
2017
EDVANDRO MENDES
Florianópolis/SC
2017
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada a fonte.
EDVANDRO MENDES
.................................................................
Prof. Nilo Otani, Dr.
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
.................................................................
Prof. João Henrique Ávila de Barros, MSc. - Orientador
.................................................................
Prof. Adilson Briguenti Dalperio, Mestre
...................................................................
Prof. Douglas Juliani, Doutor
Dedicações
Dedico este trabalho а Deus, pois sem Ele nada pode acontecer.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meus pais, a minha filha Emily Hahn Mendes, a minha amada
Jaqueline Melchioretto Pereira, os quais não mediram esforços para qυе еυ
vencesse mais essa etapa.
Traffic accidents have become one of the leading causes of deaths in the country
and the world. The speed developed by the vehicles involved in accidents is a
worrying factor as it aggravates damages, injuries and deaths. The expert's report
must identify the speed of the vehicles, giving support to hold the excesses of the
drivers in the judicial phase. In a traffic accident, in addition to traditional forms,
the expert can make use of video images to determine the speed of vehicles. This
possibility stems from the frequency with which accidents are recorded through
images, resulting from the advance of traffic monitoring in large cities and
highways. This work presents the free Tracker software as a support tool for the
expert, assisting in the calculation of the speed of vehicles involved in accidents,
from the video image.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14
4 CONCLUSÕES ............................................................................................. 55
14
e guerras, posição de destaque no cenário mundial.
Identificar as principais causas dos acidentes de trânsito, atuar na
elaboração de campanhas de prevenção e conscientização, implantar melhorias
nas condições de tráfego das vias, projetar veículos com dispositivos de
segurança mais eficazes, aperfeiçoar as leis de trânsito endurecendo a punição
para aqueles que cometem crimes no trânsito são exemplos de ações que
buscam minimizar a ocorrência de acidentes no país.
Conceitualmente, acidente de trânsito é qualquer acontecimento
inesperado, casual, por ação ou omissão, imperícia, imprudência, negligência,
caso fortuito ou força maior, e que foge ao curso normal, do qual advêm danos
à pessoa e/ou ao patrimônio (ARAGÃO, 2003).
Para Aragão (2016) um acidente é delimitado pela participação da trilogia:
homem, veículo e estrada – na qual o homem (fator humano) aparece como
maior responsável individual pelos acidentes, sendo responsável por grande
parte das ocorrências.
A figura 1 apresenta a relevância da participação do homem (fator
humano) na ocorrência de acidentes.
15
comportamento do condutor (fator humano), representado na figura 1 como
maior causador de acidentes de trânsito.
Imprudência e velocidade incompatível são fatores contribuintes de
acidentes, decorrentes da ação do homem, fato observado no quadro 1, sendo
imprudente o condutor que transita com excesso de velocidade, porque a
imprudência é, segundo a visão de CAPEZ (2011, p.233):
Gráfico 1: Causa associada aos acidentes com mortes nas rodovias federais (2014) em %
17
Figura 2 – Probabilidade de lesão fatal para um pedestre em um atropelamento
Fonte: Protocolo PRF nº 17035457B01 - acidente BR 116 km 10,5 – com adaptações do autor
19
pode ser alcançada através de outros indícios e provas coletados no local do
evento, tais como, marcas no pavimento (derrapagem, sulcagem, arrastamento),
danos no para-brisa, deformações no veículo, sendo possível ainda apurar a
velocidade através do disco ou fita diagrama do tacógrafo (figura 3), bem como
pela projeção do pedestre nos casos de atropelamento.
São métodos usuais através dos quais o perito aponta estimativas de
velocidades, pois nenhum método pode apontar resultados com plena exatidão,
porém, não raramente, há situações nas quais o trabalho pericial é prejudicado,
não sendo possível identificar vestígios suficientes no local do acidente que
auxiliem na apuração da velocidade dos veículos (ausência de reação do
condutor, não preservação do local, chuva, derramamento de carga, dano no
tacógrafo decorrente do acidente).
A publicação da Resolução nº 471 do CONTRAN em dezembro de 2013
regulamentando o uso de sistemas de videomonitoramento para policiar vias
públicas e operar o trânsito, vem impulsionar o crescimento da instalação de
câmeras nas rodovias e áreas urbanas.
Indiretamente, essa expansão tecnológica cria, também, meios para que
o perito tenha à disposição nova metodologia para estimar a velocidade através
de imagens de vídeos, sendo cada vez mais comum ter-se o registro de
acidentes através de vídeos, prova material irrefutável que não deve ser
descartada.
O presente trabalho apresenta um estudo fundamentado em análise de
vídeo através de tecnologias baseadas em software livre para obtenção da
velocidade de veículos envolvidos em cenas de acidentes de trânsito, buscando
complementar as metodologias usualmente já adotadas na área pericial para
estimar velocidades em cenas de acidentes.
20
destinada aos cálculos sugere a apuração da velocidade dos veículos envolvidos
na cena de acidente, usualmente baseada em vestígios, bem como em provas
materiais coletados durante a fase de levantamento do local do acidente.
O tema do uso de vídeos surge quando o perito não adota os meios usuais
para alcançar esse objetivo e dispõe de imagens de vídeos pelas quais busca
obter as velocidades dos veículos envolvidos, seja pela dificuldade de identificar
vestígios e provas materiais consistentes que suportem os cálculos, ou para
complementação do laudo pericial, realizando a confrontação das velocidades
obtidas através de imagem de vídeos com àquelas obtidas pela investigação
tradicional.
Ante o tema, apresenta-se o problema: como auxiliar a análise pericial, na
figura do perito, a calcular as velocidades dos veículos envolvidos em eventos
de acidentes de trânsito baseando-se em imagens de vídeo?
O problema delimita a pesquisa que busca apresentar como solução um
software gratuito, através do qual o perito possa utilizar imagem de vídeo para,
através da análise quadro a quadro do vídeo, estimar a velocidade dos veículos
no caso de acidentes de trânsito.
A pesquisa elabora um roteiro para utilização de uma ferramenta
tecnológica (software de vídeo análise), baseando-se inicialmente num estudo
de caso prático, demonstrando a viabilidade do uso da ferramenta.
Num segundo momento, a pesquisa é complementada ao realizar análise
de um estudo real, sem deixar de apontar possíveis limitações do uso da
ferramenta que porventura sejam identificadas durante a pesquisa e ensaios.
1.2 Objetivos
21
1.2.2 Objetivos Específicos
22
O item 2.2 descreve princípios fundamentais da física do cálculo da
velocidade média e posteriormente, graficamente demonstra-se como esses
princípios podem ser utilizados na análise de vídeo, quadro a quadro.
Nos itens 3.1 e 3.2 as funcionalidades do software de vídeo análise são
testados através de cenários distintos, respectivamente através de ensaio
experimental e de um caso real de acidente e os resultados obtidos são
apresentados graficamente e quantitativamente por meio das funcionalidades da
ferramenta de análise de dados, disponível no software de vídeo análise.
23
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1 Considerações
24
câmera profissional ou mesmo uma câmera de monitoramento de trânsito e
usualmente as câmeras fotográficas digitais filmam a uma taxa de 15, 25 ou 30
quadros por segundo (frames por segundo ou fps) para compor um vídeo digital,
indicando o número de imagens (fotogramas) que tal dispositivo digital consegue
registrar durante determinado intervalo de tempo.
1
Digital Versatile Disc, ou Disco Digital Versátil. DVD é um disco com capacidade de gravar dados em
um formato digital.
25
incluir ainda os arquivos .WMV (Windows Media Video) e .FLV (abreviação de
Flash Video).
Os chamados arquivos de vídeo HD2 podem fornecer imagens de alta
resolução, contudo, exigem espaço de armazenamento muito superior aos
arquivos de vídeo convencionais.
Independente da variedade de tipos de arquivos de vídeos disponíveis é
importante ressaltar que a qualidade da imagem está diretamente relacionada
ao formato adotado e ao tamanho do arquivo criado: quanto melhor a qualidade,
maior o tamanho do arquivo, melhor a precisão na análise.
O arquivo de vídeo original deve ser o objeto de estudo, evitando-se
conversões para outros formatos de vídeo, pois o processo de conversão pode
modificar a cadência de gravação dos quadros. A conversão do formato original
do vídeo pode gerar duplicidade ou supressão de quadros, interferindo na
análise dos movimentos. Ainda que seja necessária a conversão do formato do
arquivo de vídeo, deve-se manter a mesma cadência de gravação (fps) do
arquivo original.
2
HD é uma sigla cujo significado pode se referir a “High Definition”. A expressão “High Definition”
significa “Alta Definição”.
26
relação ao tempo (𝑡).
O gráfico 2 ilustra a posição de um corpo em função do tempo, expresso
num plano cartesiano, no qual o ponto A indica a posição 𝑥0 do corpo no instante
de tempo 𝑡0, e o ponto B indica a posição 𝑥 do corpo no instante de tempo 𝑡.
Δ𝑥 𝑥 − 𝑥0 (1)
𝑎 = =
Δ𝑡 𝑡 − 𝑡0
𝑥 − 𝑥0 (2)
𝑎 =
𝑡 − 𝑡0
27
𝑎(𝑥 − 𝑥0) = 𝑡 − 𝑡0 (3)
𝑡 = 𝑎𝑥 − 𝑎𝑥0 + 𝑡0 (4)
𝑥 =𝑎·𝑡+ 𝑏 (5)
28
operacional.
A figura 5 apresenta as propriedades de um arquivo de vídeo, indicando
tempo de duração, assim como a taxa de gravação de quadros por segundo.
1.90 (6)
𝑉𝑎 = = 38 𝑚/𝑠 ≡ 136,8 𝑘𝑚/ℎ
0,05
1,70 (7)
𝑉𝑏 = = 34 𝑚/𝑠 ≡ 122,4 𝑘𝑚/ℎ
0,05
1,10 (8)
𝑉𝑐 = = 22 𝑚/𝑠 ≡ 79,2 𝑘𝑚/ℎ
0,05
Δ𝑥 4.70 (9)
𝑉𝑚 = = = 31.33 𝑚/𝑠 ≡ 112,8 𝑘𝑚/ℎ
Δ𝑡 0.15
31
2.2.3 Medidas de referência (calibração da cena)
Supondo que uma colisão entre veículos tenha sido registrada através de
imagem de vídeo na área da rodovia representada na figura 7, o perito poderá
adotar como medidas de referência, os locais indicados pelas setas (distância
32
entre os postes de fixação barreiras e divisores de pista, largura de
acostamentos, largura de placas de sinalização, altura de postes). São
informações presentes na cena que não se alteram com o decorrer do tempo e
podem ser coletadas posteriormente.
Para minimizar distorções, recomenda-se realizar a calibração da cena,
indicando referenciais que tenham mesma orientação do eixo de deslocamento
dos veículos, exatamente como os referenciais 1, 2 e 3 mostrados na figura 7.
Num cenário urbano, pode-se utilizar medidas de espaçamento entre
veículos estacionados na via, largura da fachada de um prédio, comprimento de
paradas de ônibus, largura de portões de residência, marcas de sinalização
horizontal dispostas no pavimento, dando prioridade para aqueles que se tenha
maior exatidão do tamanho.
Além dos pontos fixos indicados anteriormente, pode-se utilizar as
próprias medidas do veículo, como por exemplo a distância entre os eixos
dianteiro e traseiro. Essa informação pode ser rapidamente obtida através de
consulta no site do fabricante, ou mesmo no manual veicular.
No capítulo 3 serão apresentados experimentos, nos quais, para o
processo de calibração do cenário, utilizou-se técnicas diferenciadas.
No primeiro experimento utilizou-se referenciais fixos presentes na cena.
Para o segundo evento, por tratar-se de cena real de acidente, na qual não foi
possível identificar pontos referenciais, calibrou-se a cena usando o
comprimento do próprio veículo envolvido no acidente.
33
Estudar um determinado movimento é saber utilizar um sistema
de coordenadas para localizar o objeto a partir de um referencial
pré-determinado e comparar com a nova posição assumida em
relação ao mesmo referencial durante a passagem do tempo.
34
através do software gratuito VirtualDub3 versão 10.1.4 (64 bits), pelo qual foi
selecionado apenas parte da cena para o experimento, extraindo-se as imagens
sequenciais dos quadros.
Por fim, utilizou-se o software gratuito ImageJ4 pelo qual criou-se a
fotografia estroboscópica, reunindo-se todos os quadros individuais do vídeo
numa única imagem para observar o trajeto do corpo do corredor durante a
exibição dos quadros. O efeito estroboscópico do movimento é perfeitamente
visível.
O experimento retrata, na imagem 8, o movimento do corpo em cada
quadro na mesma imagem estática e o referencial, propositalmente disposto na
cena (cones), serve para criar uma escala e medir a distância percorrida entre
dois quadros, no decorrer do tempo, possibilitando o cálculo da velocidade média
no trecho correspondente.
O software VirtualDub permite analisar os frames isolados do vídeo,
apurando-se que o deslocamento foi registrado em 120 frames, dessa forma,
tomando por referência a taxa de cadência de gravação de 59 frames por
segundo, deslocamento (Δ𝑥) de 5 (cinco) metros, infere-se que o tempo de
duração de cada quadro, o tempo total do deslocamento e velocidade média são
respectivamente iguais aos resultados das equações (11), (12) e (13):
1 1
𝑡= = ≡ 0,0169 𝑠 (11)
𝑓𝑝𝑠 59
Δ𝑥 5
𝑉𝑚 = = ≡ 2,46 𝑚/𝑠 ≡ 8,85 𝑘𝑚/ℎ (13)
Δ𝑡 2,03
Ainda que essa técnica não seja utilizada para estimar a velocidade dos
veículos envolvidos em acidentes, ela fornece meios de se apresentar como se
deu o movimento dos veículos durante toda a trajetória, tanto enriquecimento o
3
Disponível em <http://www.virtualdub.org/download.html>
4
Disponível em <http://wsr.imagej.net/distros/win/ij150-win-jre6.zip>
35
laudo pericial com ilustrações técnicas, quanto facilitando o entendimento e a
compreensão da dinâmica dos fatos.
2.3.1 Considerações
5
Disponível para download em <http://physlets.org/tracker/>
36
apenas da máquina virtual Java6 instalada.
O Tracker analisa arquivos de vídeos em diversos formatos: AVI, MOV e
MP4. Para melhor entendimento da utilização prática da ferramenta bem como
das suas funcionalidades, sugere-se a consulta ao ANEXO A deste trabalho.
Numa visão geral, metodologia de análise adotada pelo software Tracker
aproxima-se da descrita no item 2.2.2, porém será pormenorizada no item 2.3.2.
6
Java é uma linguagem de programação orientada a objetos e suas instruções são executadas através de
uma Máquina Virtual Java (JVM).
37
inicial de calibração. Nesse processo, o software Tracker exige que um
referencial mensurável presente na cena tenha seu tamanho indicado (ver item
2.2.3). Desse modo, a ferramenta consegue calcular, a partir das coordenadas
do plano cartesiano do quadro, as posições correspondentes na cena real.
Os resultados cinemáticos obtidos são apresentados através de gráficos
e tabelas, pelos quais se pode estimar a velocidade. O gráfico da posição em
função do tempo, semelhante ao indicado na figura N, facilita a análise dos
movimentos. O software Tracker representa graficamente a reta que melhor
representa o deslocamento do objeto analisado, fornecendo a função de ajuste
𝑥 = 𝑎 ∗ 𝑡 + 𝑏.
A velocidade média é obtida aplicando-se as devidas conversões de
unidades de medidas ao valor do coeficiente angular (A) calculado, exatamente
como ensina Corradi et al (2010). O capítulo 3 apresenta detalhadamente esse
procedimento.
38
3 RESULTADOS DE PESQUISA
39
Para fins de melhor visualização na figura 9 é apresentada uma régua
graduando o espaço por onde a motocicleta realiza o movimento.
Na figura 10 observa-se, além da barra de calibração do Tracker,
graduada com 5 (cinco) metros de espaçamento entre os cones (linha cor azul
entre os cones 2 e 3), o eixo horizontal e vertical com ponto de origem
posicionado no lado inferior esquerdo (cruzamento de eixos vertical e horizontal).
7
Megapixel designa um valor equivalente a um milhão de pixels. É utilizado nas câmeras digitais para
determinar o grau de resolução, ou definição de uma imagem.
8
Disponível em <https://drive.google.com/open?id=0B-ExSriCZ9iMNXJhbDJaNHV6TWM.>
40
ilustrado na figura 9.
Limitou-se o estudo do movimento a partir do momento em que a
motocicleta passa com o eixo da roda dianteira pelo início do marco referencial
(cone 5 identificado na figura 9) até o momento em que a motocicleta passa com
o eixo da roda dianteira pelo fim marco referencial (cone 1 identificado na figura
9), ou seja, entre os quadros 442 e 523.
Essa delimitação é útil nos casos em que o arquivo de vídeo tenha uma
duração maior que a duração do evento do acidente, não havendo necessidade,
por exemplo, da análise completa de um vídeo de 10 (dez) minutos de duração,
no qual o acidente ocorre num intervalo de poucos segundos.
41
Figura 12: Ponto referencial da motocicleta (centro da roda dianteira) sendo analisado
Fonte: Imagem gerada pelo software Tracker durante análise de vídeo – close roda dianteira
42
e os dados (posição, tempo e velocidade) em cada quadro são processados e
armazenados.
O gráfico 3 apresenta o resultado da análise através da representação da
posição (𝑥), eixo das ordenadas (metros), em função do tempo (𝑡), eixo das
abcissas (segundos). A unidade de medida é a mesma indicada na calibração
da cena (figura 10).
(𝐴) recebe o valor que melhor representa a inclinação da reta. Para o caso em
estudo, o software Tracker apurou-se o valor do coeficiente angular (𝐴) é igual:
9
: Instrumento direcionado manualmente para o veículo alvo por operador.
10
Equipamento aprovado pela Portaria Inmetro/Dimel nº 348, de 17 de setembro de 2009 como medidor
de velocidade de veículos automotores.
44
A diferença entre a velocidade apurada através da metodologia de
aplicação do software Tracker e a velocidade aferida por radar portátil figura na
ordem de 3,45%, ficando abaixo do índice máximo permitido e regulamentado.
Ainda observando os dados fornecidos no gráfico 4 (destaque 2), pode-
se observar os valores de posição (𝑥), tempo (𝑡) e velocidade (𝑣𝑥), coletados
a cada quadro. A velocidade (𝑉𝑖) em cada quadro (𝑖) é calculada pelo software
45
dá unicamente em razão do movimento da motocicleta no vídeo, ocorrer da
direita para esquerda, isto é, negativamente em relação ao eixo das abcissas.
Isso é observado na figura 9, na qual a motocicleta desloca-se no sentido
de direção do marco 20 m para o marco 0 m (cone 5 para o cone 1), contudo
não há qualquer implicância no resultado do experimento. Além disso, seria
possível adotar outra orientação para os eixos.
3.2.1 Considerações
46
O método clássico para a determinação da velocidade de um
veículo participante de um acidente de tráfego é o que se utiliza
da extensão das marcas de frenagem – a chamada velocidade
de frenagem (ARAGÃO, 2016, p.563).
11
Disponível em <https://drive.google.com/open?id=0B8D8gEUZLvgcaVFmN2cxc0lnOFE>
47
Figura 13: Visão panorâmica da cena do acidente – BR 116, km 16,5 (sentido sul)
12
Disponível em < https://nissanbrasil.wordpress.com/2010/07/09/nova-frontier-ficha-tecnica/>
48
Figura 14: Imagem ampliada da barra de calibração disposta a frente do veículo V1
50
de observação e esse efeito ocorre similarmente com as câmeras de
monitoramento.
Câmeras de monitoramento geralmente são posicionadas há
determinadas alturas buscando sempre atingir um raio de abrangência maior se
comparado a uma fonte de gravação posicionada próximo ao eixo de
deslocamento dos veículos.
Além disso, a mobilidade da grande maioria das câmeras permite filmar
em diversos ângulos, permitindo a gravação de vídeos de um mesmo local em
várias perspectivas, assim como um observador pode perceber a realidade de
um mesmo cenário apenas mudando o ângulo de observação.
Um mesmo acidente de trânsito pode ser flagrado por câmeras ou
observadores posicionados em locais distintos, gerando perspectivas diferentes
de observação desse evento. No campo pericial, esse efeito pode implicar
distorções nas análises de vídeos.
No experimento detalhado no item 3.1 esse efeito pode ser desprezado,
porque a câmera fora posicionada com o eixo óptico perpendicular à trajetória
retilínea da motocicleta (objeto da análise).
A motocicleta aparece em todos os quadros do vídeo sem sofrer uma
grande variação das suas dimensões aparentes (largura, altura, comprimento).
No experimento demonstrado no item 3.2, é possível perceber o efeito
perspectiva atuando em decorrência do posicionamento da câmera de
monitoramento da rodovia.
Nesse caso, percebe-se no vídeo que o veículo V1 (objeto da análise),
sofre alteração das dimensões (tamanho) à medida que se aproxima da fonte de
gravação, assim como a percepção da largura da rodovia (profundidade).
Nesses casos a análise pericial precisa adotar métodos e alternativas para
minimizar distorções nos valores das velocidades estimadas.
O software Tracker trabalha num plano bidimensional e o efeito
perspectiva cria uma profundidade na cena que o software não pode ajustar
automaticamente.
A calibração no software Tracker é realizada com base em um referencial
e o bastão de calibração criado a partir do referencial destoa à medida que é
51
deslocada na cena.
A figura 15 ilustra a problemática, pois bastão de calibração gerado a partir
do comprimento do veículo V1 (cena lado esquerdo) não é coerente com a
realidade, se deslocado para o início da cena.
O comprimento do caminhão presente na cena nos quadros iniciais é
menor que o bastão de calibração gerado a partir do comprimento do veículo V1
que no mundo real é muito menor.
Ainda como solução para minimização desse efeito sobre o cálculo dos
valores estimados, nos acidentes onde a noção de profundidade do cenário
(efeito perspectiva) pode interferir nos resultados, sugere-se a formulação de
metodologia de cálculo estatístico a ser elaborada em trabalhos futuros.
53
para cada par de pontos gerados pelo software Tracker, podem ser exportados
para um editor de planilhas. Tabulados os dados, em cada linha da planilha,
calcula-se a distância entre o par de pontos em cada quadro.
Cria-se um fator de correção relacionando o tamanho do referencial de
calibração (bastão de calibração) pela distância entre os pontos em cada quadro.
Assim sendo, esse fator pode representar numericamente quanto a distância
entre os pontos analisados em cada quadro equivale em unidades do software
Tracker (m/uT13).
Corrige-se a velocidade, aplicando a média da variação do fator de
correção sobre a velocidade do quadro. Considera-se a velocidade do quadro
como sendo a média entre a velocidade sugerida pelo software Tracker e a
velocidade corrigida.
É uma metodologia que busca corrigir os valores apurados sobre
influência do efeito de perspectiva cujo aprofundamento do estudo pode ser
objeto de discussão em trabalhos futuros sobre o tema.
Também é possível, através do método de análise de dois pontos
referenciais (figura 17), estimar como velocidade do veículo a média entre a
velocidade calculada pela ferramenta em cada ponto distinto.
Como se percebe, várias são as possibilidades propostas aqui para
minimizar distorções das estimativas de cálculos influenciadas pelo efeito da
perspectiva.
Seja qual delas for adotada, são sugestões baseadas em cálculos
estatísticos que seguem uma interpretação coerente e padronizada para
refinamento dos valores sugeridos diretamente pelo software Tracker.
Vislumbra-se ainda a possibilidade de utilizar o software Tracker como
ferramenta de apoio, sem considerar os valores de velocidade obtidos
diretamente através dele e nesse caso, através da ferramenta pode-se obter o
número de quadros exibidos durante o deslocamento no trecho objeto da análise.
Com essas informações é possível estimar a velocidade aplicando as
regras de cálculo da metodologia de análise quadro a quadro, detalhada no item
2.2.2.
13
Metros por unidades Tracker, sugestão do autor para melhor compreensão.
54
4 CONCLUSÕES
55
Contudo, é importante ressaltar que o efeito perspectiva pode influenciar
nos resultados. Esse efeito decorre do ângulo de gravação do vídeo e está
presente na grande maioria dos acidentes registrados, pois as câmeras de
monitoramento de trânsito são posicionadas em locais de forma a alcançar maior
amplitude possível.
Frente ao problema, foram propostas soluções descritas no item 3.3.1,
dentre elas a possibilidade de aprofundamento desse estudo através de
trabalhos futuros. Nessa proposta, uma nova metodologia pode ser
desenvolvida, analisando a trajetória do veículo de forma diversa do modelo
proposto nesse trabalho com objetivo de corrigir possíveis distorções criadas
pelo efeito perspectiva.
O estudo pericial é cíclico e deve renovar-se buscando por novas
tecnologias dando ênfase às gratuitas e disponíveis. Essa quebra de paradigma
amplia o acesso da informação e do conhecimento, enriquecendo os laudos
periciais com informações técnicas antes obtidas apenas através de ferramentas
proprietárias de alto custo e complexidade.
Por fim, vale lembrar que o estudo buscou dar início ao tema dentro da
instituição Polícia Rodoviária Federal e de forma alguma tentou esgotar-se em
si mesmo. Tanto que deixa sugestão para trabalhos futuros a criação de novas
metodologias tendo como ferramenta de apoio o software Tracker ou outras que
porventura sejam estudadas.
56
REFERÊNCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1. 15. ed. São Paulo, 2011.
58
APÊNDICE A – INSTALAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE TRACKER
60
Calibração: acessando o menu superior [trajetória][novo][ferramenta de
calibração][bastão de calibração] ajusta-se o bastão de calibração sobre o
ponto referencial presente na cena, indicando a medida da distância;
Figura 19 – Tela com gráfico de dados e tabela de dados geradas pelo software Tracker
61
A figura 19 ilustra bem o quadro de análise dos dados, assim como
demonstra a possibilidade de alterar a exibição do gráfico, alterando entre as
grandezas físicas (velocidade, tempo e distância), bastando para isso clicar
com o botão esquerdo do mouse sobre a grandeza que se deseja alterar;
62
APÊNDICE B – INSTALAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO Fiji/ImageJ
63
no rodapé do menu superior. Importante lembrar que o efeito perspectiva
presente na imagem também pode comprometer a calibração.
64
ANEXO A – Boletim de Acidente de Transito (BAT)
65
66
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68
69
70
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74
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77