Resolução Das Questões Sobre A Pane de FRIEDRICH DÜRRENMATT

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QUESTÃO 01 - Os conflitos do âmbito jurídico exigem bastante cautela,

sobretudo os de repercussão criminal, uma vez que têm o potencial de afetar


um importantíssimo bem jurídico: a liberdade de locomoção, implicando na
pena de prisão em caso de condenação por um crime. Na obra A pane, de
Dürrenmatt, coloca-se um problema bastante conhecido e polêmico da área
jurídica: a inocência de alguém é vinculada a uma verdade que é encontrada
ou só depende de táticas sem compromisso com possíveis situações
verdadeiras que a defesa utiliza? Posto isto, cite e comente uma passagem da
obra em que essa problemática aparece. (1,0)

RESPOSTA: A inocência de alguém é vinculada a uma verdade que é


encontrada. No direito processual brasileiro é usado o princípio da verdade
real, na qual o juiz deve buscar a verdade, procurar conhecer os fatos tão
como, efetivamente, ocorreram, sempre devendo buscar estar mais próximo
possível das verdades ocorridas no fato, devendo existir sempre um sentimento
de busca verdadeira. No texto, do livro a pane, destaca-se algumas partes
como o julgador faz esta busca da verdade e de um crime, sendo através de
um interrogatório, buscando conhecimentos sobre a vida pessoal, mesmo que
o caixeiro-viajante, chamado Traps, afirmava que não cometera nenhuma
infração.
Trecho do livro: - Temos de investigar - conteve-se o promotor finalmente. - O
que não existe, não existe.
- Ora, vamos logo! - riu Traps - Estou à disposição!
Para acompanhar o peixe, havia vinho, um Neuchâteller leve e espumante.
- Pois então - disse o promotor enquanto partia sua truta -, vejamos... Casado?
- Há onze anos.
- Filhinhos?
- Quatro.
- Profissão?
- Do ramo têxtil.
- Caixeiro-viajante, portanto, caro senhor Traps?
- Representante geral.
- Muito bem. Enfrentou uma Pane?
- Por um acaso, pela primeira vez em um ano.
- 4h... E antes disso?
- Bem, eu ainda dirigia o carro antigo - esclareceu Traps'.
E após muita indagação o caixeiro-viajante acabou confessando mesmo
que sua defesa contraria a fala do promotor:
O réu estava confessando mais uma vez, gralhou com força o promotor
pela sala, agora sentado no espaldar de sua cadeira, não havia mais como
elogiar o querido convidado, ele estava jogando magnificamente. - O caso é
claro, a última evidência se confirma - continuou ele, sobre a cadeira bamba
como um monumento barroco em decomposição.

QUESTÃO 02 – O Direito é um fenômeno social de alta complexidade por


diversas razões, podendo-se citar a constante mudança das leis e a grande
quantidade destas que acaba por impossibilitar conhecê-las na integralidade.
No caso de Traps, em A pane, é possível perceber a não observância do
cumprimento das leis comuns que devem ser utilizadas em julgamentos. Com
base nisso, cite uma passagem da obra em que é possível observar o
desprezo pela legislação e comente se existiriam consequências positivas ou
negativas de tal atitude. (1,0)

O desprezo pelas leis fica claro no trecho em que o juiz diz a traps: "somos
aposentados e nos libertamos da imensidão desnecessária de fórmulas,
protocolos, escrevirúrações, leis e toda a parufernâlia que costuma lotar nossos
tribunais". "Fazemos nossos julgamentos sem considerar os miseráveis
códigos de leis e seus parágrafos". (Friedrich Dürrenrnatt, 1959, p.19 –
conforme disposto em PDF)
O desprezo as leis trazem vários aspectos negativos, entre esses, esse
desrespeito gera uma sensação de insegurança no cidadão uma vez que a lei
como imperativo de comportamento é elemento pacificador das relações
humanas. A lei neste sentido é a materialização do direito como instrumento
imprescindível para se manter a paz social. A medida que essa lei é violada
então o cidadão passa a desacreditar nesse instrumento e também põe em
xeque a capacidade das instituições de impor a necessária ordem social.
Outro aspecto importante é que o desrespeito à lei faz com que os
comandos de poder exaradas pelas diversas esferas estatais passem a serem
guiados por interesses particulares e as situações e conflitos a serem decididos
segundo julgamentos subjetivos. Também é importante destacar que o
subjetivismo acima posto também significa abrir a sociedade aos perigos do
relativismo em que comportamentos antissociais podem passar a serem
admitidos por falta de respeito às leis. E por fim, sem esgotar os ângulos de
estudo desse problema a desobediência as leis é um ato que compromete a
democracia a medida que a lei é um instrumento de controle social,
normatização de comportamentos, mas principalmente a expressão
democrática tendo em vista que o processo legislativo é conduzido pelos
representantes do povo, o que significa dizer que em última análise a lei
representa a vontade do povo de um estado. Desprezar a lei é contrariar a
vontade do povo, o que pode ser compreendido como então ato
antidemocrático.

QUESTÃO 03 - A participação de Traps no julgamento fictício, talvez tenha


sido motivada pelo desejo de ser um bom hóspede, contribuindo para o
entretenimento daqueles anciãos que buscavam reviver, ainda que de forma
simulada, suas antigas funções na área jurídica. Dürrenmatt, utiliza A pane,
para criticar a noção de justiça, geralmente, concretizada pelos tribunais,
mostrando que a realidade pode ser distorcida ou alterada drasticamente,
representada pelo resultado trágico de toda a construção narrativa do
julgamento até ao veredito condenatório contra Traps. Desse modo, cite uma
passagem que mostra esse desfecho trágico ocorrido.

RESPOSTA:
No Tribunal encenado na qual Traps, o caixeiro-viajante, ocupa a figura
de réu é nítido que, a apuração de provas para a concretização de um caso
para se levar a juízo do jogo é feita de maneira ardilosa e incompatível às leis,
pois, se faz uso do dolo no qual, o promotor de justiça senhor Zorn, usa de
manobras ardilosas e pensadas para conseguir do réu afirmações para
incriminá-lo. Certamente, sem a imparcialidade e a formalidade necessária
para tal ação, colhendo assim, informações do réu como um amigo íntimo,
informações essas que por vezes se mostram alegóricas e fantasiosas,
induzindo assim, o réu ao erro.
A razão pela qual Alfredo Traps foi considerado culpado e também
sentenciado pelo assassinato de seu ex-chefe, Gygax, se deu pela narrativa
distorcida dos fatos que o promotor em questão fez. Mesmo sem acusação,
sem provas e sem testemunhas, o promotor conduziu o caso de forma
totalmente maldosa, para incriminar Traps, o convencendo que não havia
inocência em seus atos, ou seja, que ele era culpado.
“Aquele homem comum caíra totalmente desprevenido nas mãos de um
promotor astuto. Seu modo despreocupado e instintivo de agir no ramo têxtil,
sua vida privada, todas as aventuras de seu ser, que se compunha de viagens
a trabalho, da luta pelo pão de cada dia e de divertimentos mais ou menos
inofensivos, foram então examinados à luz, investigados, dissecados; fatos
desconexos foram amarrados, um plano lógico foi fraudulentamente inserido no
conjunto dos fatos, incidentes apresentados como causas de ações que bem
ou mal poderiam ter acontecido também de outra maneira, o casual revertido
em intencional, o impensado transformado em propositado, de tal modo que,
ao final, só haveria de sair mesmo um assassino do interrogatório, como um
coelhinho sai da cartola de um mágico.”
Ademais, o desfecho trágico de Traps também se dá pela sua
autodefesa, a desconfiança no advogado de defesa contribuiu para sua
incriminação. Devido à ludibriação que sofrera por parte do promotor, Traps,
um homem que se orgulha de suas aventuras de sua vida de pequeno-
burguês, é levado pela emoção da fantasia “de um perfeito de um belo
assassinato”, acreditando cegamente e vendo-se como protagonista.
(Friedrich Dürrenrnatt, 1959, p.32 – conforme disposto em PDF)

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