Oliveira, 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
MESTRADO ACADÊMICO
EM CONTABILIDADE

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRESTAÇÃO DE


CONTAS DAS ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR
BRASILEIRO

IRANI MARIA DA SILVA OLIVEIRA

Orientador: Professor Luis Carlos de Miranda, Ph.D.

Dissertação de Mestrado

Recife, 2009
IRANI MARIA DA SILVA OLIVEIRA

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRESTAÇÃO DE CONTAS DAS


ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR BRASILEIRO

Dissertação de Mestrado, apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Ciências
Contábeis da Universidade Federal de
Pernambuco, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Contábeis, na área de concentração
informações contábeis para os usuários
internos e externos.

Orientador: Professor Luis Carlos de


Miranda, Ph.D.

Recife
2009
Oliveira, Irani Maria da Silva
Uma investigação sobre a prestação de contas das
entidades do Terceiro Setor brasileiro / Irani Maria da Silva
Oliveira. - Recife : O Autor, 2009.

106 folhas : fig., tab. e quadros.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de


Pernambuco. CCSA. Ciências Contábeis, 2009.

Inclui bibliografia e apêndice.

1. Contabilidade. 2. Associações sem fins lucrativos.


3. Ação de prestação de contas. I. Título.

657.4 CDU (1997) UFPE


657 CDD (22.ed.) CSA2009-063
DEDICATÓRIA

Dedico a Deus, pai eterno,


presente em todos
os meus dias.
AGRADECIMENTOS

Existem professores que passam pela nossa vida tornando-se uma marca indelével em nosso
caráter, em nossa forma de enxergar a vida. Sem dúvida, o professor Miranda é um desses
homens dedicados ao ensino e a desabrochar o melhor que há em nós. Este trabalho só foi
possível pela dedicação deste professor, que tão bem soube conduzi-lo, fazendo as necessárias
e imprescindíveis admoestações à autora desta pesquisa. Agradeço sua dedicação, seu
estímulo e sua constante presença.

Deus é muito generoso em colocar, em nossas vidas, pessoas para nos ajudar. Talma Miranda
é uma dessas pessoas que tive o privilégio de convívio, a quem fico eterna devedora das
gentilezas que a mesma me concedeu.

Agradeço aos professores do mestrado pela dedicação e generosidade em compartilhar seus


saberes.

Agradeço aos colegas do mestrado pela companhia, força, união e amizade.

Agradeço aos meus familiares e amigos que abriram mão da minha companhia para que eu
pudesse realizar este sonho.

Agradeço à bibliotecária Ana Maria Santos e Silva, pela revisão da normalização da ABNT e
à professora Veridiana Rocha Monteiro de Melo, pela revisão de texto científico realizada
nesta dissertação de mestrado.

Agradeço a Todos que fazem a UFPE pela oportunidade dada aos alunos do mestrado.

Agradeço às ONGs e aos respondentes dos questionários que disponibilizaram seu tempo para
tornar possível essa pesquisa.

Agradeço aos meus filhos Manoel e Juliana, pelo apoio incondicional, além das traduções de
grande parte dos textos na língua inglesa, que enriqueceram esta pesquisa.

Agradeço, por fim, ao meu amado esposo Pereira cujo apoio foi determinante para o término
deste trabalho.
A boa reputação vale mais que grandes riquezas, desfrutar de boa estima vale
mais que prata e ouro.

Provérbio 22:1

“Não há nenhum respeito possível para a dignidade humana, sem luta coletiva
contra a pobreza e, em última instância, não há esperanças de encontros –
mesmo efêmeros - com a felicidade pessoal, sem um compromisso coletivo com o
destino da Humanidade”
CUNILL GRAU, Nuria.
Repensando o público através da sociedade. Caracas: CLAD, 1998
in Hironobu, 2003.
RESUMO

OLIVEIRA, Irani Maria da Silva. Uma Investigação sobre a Prestação de Contas das
Entidades do Terceiro Setor Brasileiro. Recife, 2009, 7p.
Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade
Federal de Pernambuco.

O presente trabalho buscou verificar como as Organizações Não Governamentais (ONGs)


prestam contas de suas atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração dessa
prestação de contas. Para tanto, foi realizado o método indutivo, com a realização de pesquisa
bibliográfica e pesquisa de campo. Na pesquisa bibliográfica, identificou-se trabalho realizado
por Rawsthorne (2008) do qual foram replicadas algumas perguntas com adaptações à
realidade brasileira. A pesquisa bibliográfica permitiu também a elaboração de check list, que
foi utilizado para análise de 205 sítios eletrônicos na internet os quais foram considerados
válidos para a pesquisa, com o objetivo de caracterizar as ONGs e verificar como estas
realizavam suas prestações de contas. A pesquisa bibliográfica também contribuiu para
elaboração de um questionário com 19 perguntas que foram aplicados a gestores de 29 ONGs.
As análises descritivas e os testes estatísticos foram efetuados com a utilização do software
Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, versão 15.0. A pesquisa concluiu que as
ONGs apresentam 2 tipos de prestação de contas: prestação de contas financeira e prestação
de contas não financeira. As prestações de contas não financeiras são relatórios que
descrevem suas atividades fim; e as prestações de contas financeiras relatam sua
movimentação econômico-financeira. Da análise dos 205 sítios eletrônicos, concluiu-se que
153 ONGs (73%) não apresentam nenhum tipo de prestação de contas, 52 ONGs (27%)
apresentam algum tipo de prestação de contas, sendo que 27 apresentam tanto prestação de
contas de contas financeira, como a não financeira, 10 apresentam apenas prestação de contas
financeira e 15 apenas prestação de contas não financeira. A análise das prestações de contas
financeiras identificou erros nas demonstrações financeiras e ausência de algumas
demonstrações obrigatórias. Da análise dos questionários aplicados aos gestores, concluiu-se
que a contabilidade não tem papel relevante na prestação de contas das ONGs em virtude dela
provocar poucas alterações na organização em relação à sua administração e
operacionalidade.

PALAVRAS-CHAVE: Terceiro Setor, Organizações Não Governamentais, OSCIP, prestação


de contas das ONGs.
ABSTRACT

This paper aimed to verify how the non-government organizations (NOGs) account for their
activities and what’s the role of accountancy in the elaboration of such account, for such was
utilized the inductive method, with the use bibliographic and field researches. In the
bibliographic research the research made by Rawsthorne (2008) from which were replicated
some questions with adaptations to the Brazilian reality was identified, the bibliographic
research allowed as well the elaboration of a check list that was utilized on the analysis of 205
websites on the internet that were considered valid for the research, with the objective of
characterizing the NGOs and verifying how those accounted for their activities, the
bibliographic research also contributed for the elaboration of a questionnaire with 19
questions that were applied to 29 NGO managers. The descriptive analysis and statistic tests
were applied with the use of the software Statistical Package For the Social Sciences – SPSS,
version 15.0. The research concluded that NGOs account for 2 different types of accountance:
the financial accountance and the non-financial accountance. The non financial accoutances
are reports that report it FIM activities and the financial accountance report their economic-
financial movement. From the analysis of the 205 websites it was concluded that 153
NOGs(73%) do not present any type of accountance, 52 NOGs (27%) present some sort of
accountance, but 27 present both financial and non-financial accountance, as 10 present only
financial accountance and 15 present only non financial accountance. The analysis of the
financial accountance presented errors on the financial demonstrations and the absence of
some obligatory demonstrations. On the analysis of the questionnaires applied to the
managaers it was concluded that the accountancy has no relevant paper on the NOGs
accountance in virtue of the same provoking few changes in the origination in terms of its
management and operationality.

KEYWORDS: Third Sector, Non-Government Organizations, OSCIP, Accountances of the


NGOs.
LISTA DE TABELAS

Tabela Descrição Páginas


Tabela 1 Entidades qualificadas como OSCIP até setembro/2007.......................... 33
Tabela 2 Entidades declaradas de Utilidade Pública Federal até setembro/2007.... 36
Tabela 3 Se o Terceiro Setor fosse uma economia seu PIB seria............................ 38
Tabela 4 Número de entidades sem fins lucrativos, segundo a COPNI ampliada.
Brasil – 2002 e 2005................................................................................. 42
Tabela 5 Número de Fundações provadas e associações sem fins lucrativos,
segundo classificação das entidades sem fins lucrativos. Brasil – 2002 e
2005........................................................................................................... 43
Tabela 6 Distribuição absoluta e relativa das fundações privadas e associações
sem fins lucrativos e do pessoal ocupado assalariado, segundo Grandes
Regiões. Brasil 2005................................................................................. 44
Tabela 7 Distribuição das fundações privadas e associações sem fins lucrativos e
do pessoal assalariado, segundo faixas de ano de fundação. Brasil......... 45
Tabela 8 Organizações pesquisadas na meso-região metropolitana do Belém-PA. 46
Tabela 9 Tamanho das organizações na meso-região metropolitana de Belém-PA 46
Tabela 10 Fonte e valor das receitas movimentadas pelas organizações da meso- 46
região metropolitana de Belém-PA...........................................................
Tabela 11 Aplicação de recursos do terceiro setor na meso-região do Pará. 2004.... 47
Tabela 12 Distribuição das fundações privadas e associações sem fins lucrativos e
do pessoal ocupado assalariado, segundo faixas de ano de fundação...... 70
Tabela 13 Quanto à qualificação (OSCIP, Utilidade Pública ou ONG).................... 71
Tabela 14 Apresentação de endereço físico no sítio eletrônico................................ 71
Tabela 15 Sítio eletrônico da ONG possui link pedindo doações?............................ 71
Tabela 16 Apresentação de prestação de contas nos sítios eletrônicos das ONGs.... 73
Tabela 17 Frequencia dos sítios que apresentam prestação de contas....................... 73
Tabela 18 Qualificação das ONGs que apresentam algum tipo de prestação de
contas......................................................................................................... 74
Tabela 19 Sítio possui link sobre transparência ou prestação de contas.................... 74
Tabela 20 Data da Fundação das ONGs X Aba de Transparência no sítio
eletrônico................................................................................................... 75
Tabela 21 Data da Fundação das ONGs X ONG que apresenta endereço físico no
sítio eletrônico........................................................................................... 76
Tabela 22 Qualificação das ONGs X ONGs que pedem doação............................... 77
Tabela 23 Qualificação das ONGs X ONGs que tem endereço físico no sítio
eletrônico................................................................................................... 77
Tabela 24 Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos segundo faixas de ano de fundação........................................ 78
Tabela 25 Qualificação das ONGs respondentes...................................................... 79
Tabela 26 ONGs possui no sítio aba de prestação de contas?.................................. 79
Tabela 27 Idade dos respondentes............................................................................. 80
Tabela 28 Grau de instrução dos respondentes.......................................................... 80
Tabela 29 Cargo que o respondente ocupa na ONG.................................................. 81
Tabela 30 Tempo de atuação dos respondentes na ONG........................................... 81
Tabela 31 Tempo de existência da ONG................................................................... 82
Tabela 32 Atividade principal das ONGs respondentes............................................ 82
Tabela 33 Número de funcionários e voluntários nas ONGs..................................... 83
Tabela 34 Origem de receita...................................................................................... 84
Tabela 35 Profissionais ligados à prestação de contas que a organização mantém
em seu quadro de funcionários.................................................................. 85
Tabela 36 Quem elabora a prestação de contas......................................................... 85
Tabela 37 Opinião sobre regras e normas contábeis.................................................. 86
Tabela 38 A quem se destina a prestação de contas.................................................. 86
Tabela 39 Aspectos importantes para atender os requisitos de relatórios e
prestação de contas de forma eficiente..................................................... 86
Tabela 40 O que gera maior dificuldade para elaboração da prestação de contas.... 87
Tabela 41 Informação requerida pelos financiadores/doadores de recursos das
ONGs........................................................................................................ 87
Tabela 42 Exigência de tempo para elaboração da prestação de contas, em relação
ao passado................................................................................................. 87
Tabela 43 Qual o efeito que as exigências de prestação de contas e relatórios de
agências financiadoras (incluindo Governo) têm em sua organização,
em relação aos seguintes aspectos:............................................................ 88
Tabela 44 Mudanças ocorridas na organização por conta de dados extraídos da
contabilidade (pode marcar mais de uma)................................................. 88
Tabela 45 ONG com receita própria X Mantém contador com vínculo.................. 89
Tabela 46 Prestação de contas destinada ao Governo X Mantém contador com
vínculo....................................................................................................... 90
Tabela 47 Prestação de contas destinada órgãos do Governo que liberam verbas
X Mantém contador com vínculo............................................................. 90
Tabela 48 Qualificação das ONGs nos sítios visitados e das que apresentam algum
tipo de prestação de contas........................................................................ 92

LISTA DE QUADROS

Quadro Descrição Páginas


Quadro 1 Grupos e sub-grupos da Classificação Internacional das Organizações
sem Fins Lucrativos (ICNPO)................................................................. 29
Quadro 2 Países cobertos pela II fase do Projeto de Estudo Comparativo do
Terceiro Setor da Universidade Johns Hopkins...................................... 32
Quadro 3 Partes interessadas internas e externas cujos relatórios devem ser
focados.................................................................................................... 56

LISTA DE FIGURAS
Figuras Descrição Páginas
Figura 1 Percentual da participação do terceiro setor no PIB dos países.............. 38
Figura 2 Emprego do terceiro setor em comparação com outros setores.............. 39
Figura 3 Fontes de ingressos do terceiro setor, 1995 (média 21 países)............... 39
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………. 13
1.1 Considerações iniciais ………………………………………………… 13
1.2 Caracterização do Problema …………………………………………… 15
1.3 Objetivos gerais e específicos …………………………………………... 16
1.3.1 Objetivo geral 16
1.3.2 Objetivos específicos 17
1.4 Questões da pesquisa …………………………………………………… 17
1.4.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos ................... 17
1.4.2 Questões relativas à aplicação do questionário .......................... 19
1.5 Relevância da pesquisa............................................................................. 20
1.6 Delimitação do estudo .............................................................................. 22
1.7 Estrutura do estudo................................................................................... 23
24
2 TERCEIRO SETOR E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS
24
2.1 Terceiro setor.............................................................................................
2.1.1 Entidades sem fins lucrativos ........................................................ 26
2.1.2 Classificação de organizações do terceiro setor ........................... 27
2.2 Organizações do terceiro setor e principais certificações disponíveis ... 29
2.2.1 Associações e fundações …………………………………………. 30
2.2.2 Organizações sociais (OS)………………………………………... 30
2.2.3 Organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP)... 31
2.2.4 Certificação de utilidade pública federal .................................... 34
2.3 Cadastro nacional de entidades de utilidade pública do Ministério da
Justiça (CNEs/MJ)......................................................................................... 35
2.4 Dimensões do terceiro setor...................................................................... 36
37
2.4.1 Terceiro setor no mundo.................................................................
40
2.4.2 O terceiro setor no Brasil ...............................................................
2.5 Estudos similares realizados .................................................................... 47
2.6 Prestação de contas ……………………………………………………. 51
2.6.1 Prestação de Contas Não Financeiras.......................................... 52
2.6.2 Prestação de contas financeiras………………………………… 53
2.6.3 Prestação de contas financeiras e não financeiras
(Accountability).............................................................................................. 54
2.6.4 Controle externo das organizações do terceiro setor................... 56
2.7 A contabilidade do terceiro setor ............................................................ 59
2.7.1 Sistema de Contabilidade por Fundos.......................................... 60

3 METODOLOGIA DA PESQUISA.............................................................. 61
3.1 População e características da amostra................................................... 62
3.2 Análises dos sítios eletrônicos .................................................................. 63
3.3 Construção do questionário.................................................................... 64
3.4 Tratamento estatístico............................................................................... 66
4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS...................................................... 69
4.1. Análise das ONGs com sítios eletrônicos ............................................... 69
4.1.1 Informações sobre as instituições ………………………………. 69
4.1.2 Prestação de contas divulgadas ………………………………… 72
4.2 Caracterização da análise descritiva dos questionários ......................... 77
4.2.1 Análise descritiva dos respondentes ……………………………. 79
4.2.2 Análise descritiva das organizações ……………………………. 81
4.2.3 Análise descritiva do pessoal da área financeira/contabilidade . 84
4.2.4 Aspectos importantes para elaboração da prestação de contas .. 85
4.2.5 Testes estatísticos ………………………………………………... 89
5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS
PESQUISAS.................................................................................................... 91
5.1 Conclusões…………………………………………………………... 91
5.1.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos .................... 91
5.1.2 Questões relativas à aplicação do questionário ........................... 93
5.2 Limitações e sugestões para futuras pesquisas....................................... 96
REFERENCIAS................................................................................................... 97
APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GESTORES DAS
ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS..................................................... 103
13

1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, serão discutidos: os aspectos preliminares que motivaram este estudo,
o problema da pesquisa, os objetivos geral e específicos e a justificativa.

1.1 Considerações iniciais

O Brasil sediou, em junho de 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações


Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que ficou conhecida como
Rio 92 ou Eco 92. Foi nesta conferência que a expressão Organização Não Governamental
(ONG) passou a frequentar os meios de comunicação e, desde então, o Brasil tem se
mobilizado em campanhas a favor de temas, como a erradicação da fome e miséria, a luta
contra a corrupção e a redução da violência urbana, lideradas por ‘organizações não-
governamentais’, em nome dos direitos da cidadania (FALCONER, 1999, p. 6).

Olak e Nascimento (2006) afirmam, em contrapartida, que não é fácil encontrar uma
definição clara e objetiva para as Entidades Sem Fins Lucrativos (ESFL), pois, para eles, a
expressão sem fins lucrativos não reflete, por si só, o que são e qual o efetivo papel que
desempenham no contexto social, econômico e político contemporâneo.

Organizações Não Governamentais (ONGs) são instituições privadas sem fins


lucrativos, cujos objetivos sejam de interesse público, e atuam nas mais diversas áreas,
incluindo regulamentação de profissões, entidades religiosas, recreação e educação, muitas
vezes substituindo ou complementando o papel do Estado.

O Código Civil Brasileiro (CCB) (Lei no. 10.406/2002), alterado pela Lei
10.825/2003, determina, em seu artigo 44, que as pessoas jurídicas de direito privado são: I -
as associações; II – as sociedades; III – as fundações; IV – as organizações religiosas; V – os
partidos políticos. Em seu artigo 53, o CCB dispõe expressamente: “constituem as
associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Para Oliveira
e Romão (2006), as associações são entidades de direito privado, formada pela união de
indivíduos com o propósito de realizarem fins não econômicos. Estas associações compõem
14

com outras organizações o chamado Terceiro Setor. Por reconhecer a relevância dessas
instituições, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) definiu normas técnicas específicas
para a apresentação das demonstrações financeiras do desse setor.

Afirma Falconer (1999) que Terceiro Setor é o termo que vem encontrando maior
aceitação para designar o conjunto de iniciativas provenientes da sociedade que atua na
execução de projetos e programas de interesse social voltados para múltiplas realidades locais.
Isso mobiliza a participação popular, pois há a articulação com empresas privadas,
comunidades locais, organismos internacionais e com o próprio Estado. O autor destaca,
ainda, que esta expressão divide palco com "uma dezena de outros: não-governamental,
sociedade civil, sem fins lucrativos, filantrópicas, sociais, solidárias, independentes, caridosas,
de base, associativas etc." (FALCONER, 1999, p. 13).

O Terceiro Setor vem despertando amplo interesse da sociedade, no entanto muitos


dos seus aspectos são desconhecidos. A notoriedade do Terceiro Setor surge não apenas pelo
seu trabalho no interesse da população, mas também por vários escândalos de repasse de
dinheiro público que resultaram na criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das
ONGs, em outubro/2007 pelo Senado Brasileiro.
Conforme afirma o plano de trabalho (2007) desta CPI, no período de 1999 a 2006,
foram noticiados inúmeros casos de irregularidades e fraudes perpetradas por ONGs que
recebem recursos públicos. A CPI foi constituída para no prazo de 120 dias apresentar parecer
sobre o assunto; no entanto, segundo documentos do Senado Federal, esta CPI ainda
encontrava-se em atividade em 06 de agosto de 2008, quando senador João Pedro foi
designado para a CPI em substituição ao Senador Flávio Arns (Oficio no. 080/2008 -
GLDBAG). Segundo Lambranho e Militão (2007), em matéria publicada no sítio eletrônico
jornalístico Congresso em Foco, no período de 1999 e 2006, o Governo Federal repassou R$
13,13 bilhões para 9.258 entidades não governamentais e vinte delas ficaram com 30% dos
recursos. De acordo com estes jornalistas, os dados foram obtidos no Sistema Integrado de
Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI).
Dados divulgados pelo IBGE (2005) relatam que existiam, no Brasil, 338.162
Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos. Esse Instituto destaca que quase a
metade dessas organizações está concentrada na região Nordeste. Por isso é bastante
justificável o interesse em conhecer melhor as organizações que fazem parte do Terceiro
Setor.
15

Em relação a esse assunto, no segundo semestre de 2007, a autora deste projeto teve a
oportunidade de co-orientar a monografia de conclusão do curso de graduação em Ciências
Contábeis, da aluna Amanda Batista Feitosa, sob orientação do Professor Luiz Carlos de
Miranda, Ph.D. Este trabalho consistiu em investigar qual a terminologia contábil utilizada
nas demonstrações contábeis da ONGs publicadas em seus sítios eletrônicos. Para isso,
procurou-se, especificamente, identificar se a terminologia adotada era a determinada pela Lei
6.404/76 ou era a das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) específicas para as ONGs,
neste caso, as NBC Técnica (NBCT) 10.19. Neste estudo, foram analisados 269 sítios
eletrônicos de ONGs na internet e, como resultado, verificou-se que apenas 11% das ONGs
deste grupo divulgavam demonstrações contábeis. Começaram, então, a surgir inquietações
sobre outros aspectos, tais como: quais as qualificações destas ONGs? Há quanto tempo
estão operando? O que são prestações de contas para estas organizações? Surge, assim, o tema
deste estudo que é as prestações de contas das ONGs.

1.2 Caracterização do Problema

As ONGs surgiram no final de 1950, como organizações de natureza político-


social constituídas por iniciativa de grupos de profissionais e técnicos, caracterizados pela
militância social, ou de grupos pastorais da Igreja Católica. A partir da Convenção Rio 92, a
mídia passa a reconhecer as ONGs e estas organizações denunciavam os modelos vigentes de
tratamento dos ecossistemas e apresentavam propostas alternativas concretas para o
desenvolvimento auto-sustentado. (MENDES, 1999; FALCONER, 1999; OLAK e
NASCIMENTO, 2006).

A Constituição Brasileira (1998), em seu art. 70, torna obrigatória a publicação e


prestação de contas de qualquer organização que receba verbas do governo. Logo, as ONGs
podem receber qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)
e de Utilidade Pública (UP), seja no âmbito Federal, Estadual ou Municipal. A obtenção
destas qualificações permite às ONGs acesso a recursos públicos, seja através de convênios;
verbas de subvenções ou termos de parceria público-privada.
16

A obtenção dessas qualificações traz, em seu bojo, o compromisso de atender aos


princípios da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
economicidade e da eficiência. O principio da publicidade relaciona-se à transparência de seus
atos e prestação de contas deles, é de se esperar, portanto, que as ONGs que tenham tais
qualificações facilitem o acesso de suas prestações de contas à comunidade em geral.
A contabilidade tem sido utilizada como uma ferramenta de gestão, pois a partir de
informação, por ela fornecida, é tomada decisões e caminhos seguidos. Para se obter e manter
as qualificações, como OSCIP ou Utilidade Pública, é necessário manter uma contabilidade
regular e, dela, extrair dados solicitados pelo Ministério da Justiça. Portanto, é importante
conhecer como a contabilidade influencia a administração dessas organizações.
Mediante esse contexto, surgem os problemas a serem pesquisados: como as ONGs
prestam contas de suas atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração dessas
prestações de contas?

1.3 Objetivos

Para facilitar o entendimento, os objetivos desse estudo foram classificados em


objetivos geral e específicos.

1.3.1 Objetivo geral

Esta dissertação tem o propósito de investigar como as ONGs prestam contas de suas
atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas dessas
entidades.
17

1.3.2 Objetivos específicos

Com intuito de alcançar seu objetivo geral, esta dissertação tem como objetivos
específicos:
Investigar as características diferenciadoras das ONGs;
Investigar a literatura existente sobre prestação de contas pelas ONGs;
Verificar se as ONGs disponibilizam prestações de contas em seus sítios eletrônicos
na internet;
Investigar se características específicas das ONGs influenciam a política de
divulgação da prestação de contas em sítios eletrônicos da internet;
Investigar se as ONGs que possuem sítio eletrônico próprio na internet utilizam-se
dele para pedir doações.
Investigar o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas das ONGs;
Verificar a quem as ONGs destinam suas prestações de contas.

1.4 Questões da pesquisa

Buscando contemplar os objetivos deste estudo, foram investigadas algumas questões


relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos e outras questões relativas à aplicação de
questionário seguem abaixo algumas das questões:

1.4.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos

Para nortear a pesquisa nos sítios eletrônicos, foram realizadas as seguintes questões:

1ª. Questão: As ONGs que possuem sítio eletrônico na internet disponibilizam nestes as suas
prestações de contas? Se disponibilizam, quais as características dessas prestações de contas
(financeiras ou não financeiras)?
18

Esta questão tem o propósito de investigar se as ONGs utilizam seu sítio eletrônico
para prestar contas à comunidade, sejam elas prestação de contas financeiras ou de sua
atuação na sociedade.

2ª. Questão: A disponibilização de prestação de contas nos sítios eletrônicos na internet é


influenciada pela qualificação da ONG?

Esta questão tem o propósito de verificar se as OSCIPS ou as ONGs de Utilidade


Pública com sítios eletrônicos divulgam mais suas prestações de contas nos sítios eletrônicos,
visto que possuir estas qualificações denotam mais obrigações para essas organizações por
terem maior acesso ao dinheiro público.

3ª. Questão: A política de prestação de contas na internet é influenciada pela qualificação das
ONGs?

Esta questão tem o propósito de investigar se há alguma relação entre as certificações


das ONGs e seu comportamento em relação à prestação de contas financeiras ou não
financeiras.

4ª. Questão: As ONGs se utilizam da internet para solicitar doações?

Esta pergunta surgiu durante a pesquisa nos sítios eletrônicos. Observou-se que poucas
ONGs disponibilizavam alguma prestação de contas financeira. Procurou-se, então, verificar
se essas organizações utilizavam a internet como um meio de obtenção de recursos.
Foram ainda investigadas se algumas características das ONGs influenciam na decisão de
prestar contas na internet entre as características este estudo testou:
A) Tempo de existência da ONG: será que a idade da ONG influencia a política de
prestação de contas na internet?
B) Prestação de Contas: será que a prestação de contas merece destaque nos sítios
eletrônicos das ONGs que divulgam suas prestações de contas por esse meio?
C) Localidade: será que as ONGs as quais possuem sítio eletrônico na internet
disponibilizam ao internauta o endereço físico?
19

1.4.2 Questões relativas à aplicação do questionário

O questionário foi dirigido, preferencialmente, aos gestores do departamento


financeiro ou da contabilidade. As questões foram divididas em quatro blocos: no primeiro
bloco as perguntas estão direcionadas a qualificar o respondente; no segundo bloco, buscou-se
qualificar a organização; no terceiro bloco, investigou aspectos da prestação de contas, como
a quem ela é dirigida, dificuldade, periodicidade etc. Por fim, o quarto bloco procurou
investigar que efeito as exigências nas prestações efetuou na organização e que mudanças
foram decorrentes de dados extraídos da contabilidade. Seguem abaixo um breve relato dessas
questões:

1º. Bloco: Qualificação do respondente


Foi perguntado idade, grau de instrução, cargo e há quanto tempo o respondente
trabalha na organização. O propósito desta questão é estabelecer o grau de influência do
respondente na organização e investigar e explorar o perfil dele.

2º. Bloco: Qualificação da Organização


Foi perguntado há quanto tempo a organização existe, sua atividade principal,
quantidade de funcionários e voluntários. Resolveu-se investigar qual a origem de suas
receitas e perguntou-se também quais profissionais da área contábil-financeira ela mantém em
seus quadros. O propósito dessa questão é o de verificar se há diferentes comportamentos
entre as organizações que terceirizam os serviços e aquelas que mantêm este pessoal em seu
quadro funcional.

3º. Bloco: Prestação de contas


Foram explorados os aspectos das normas e regras de contabilidade se eram difíceis de
entender, se atrapalhavam ou ajudavam a prestação de contas. Também se perguntou a quem
as prestações de contas são destinadas, quais informações exigidas pelos
financiadores/doadores, como também quais aspectos são relevantes para atender essas
exigências. O propósito desta parte da investigação foi o de verificar a influência das normas
contábeis na prestação de contas, como também investigar, através de testes estatísticos, se as
exigências dos doadores influenciavam na contratação de contador interno.
20

4º. Bloco: Efeito das exigências dos doadores/investidores e dados extraídos da


contabilidade provocaram na organização.
Foi ratificado que a contabilidade registra todos os gastos realizados pela organização,
sumarizando-os de acordo com sua natureza (investimentos, receitas, despesas e custos) de tal
forma que transmita ao usuário um retrato do seu patrimônio em determinado momento. O
propósito deste bloco de perguntas teve a intenção de verificar se dados extraídos da
contabilidade provocaram mudanças na organização ou se houveram mudanças na
organização por exigências de seus investidores/doadores.

1.5 Relevância da pesquisa

O Terceiro Setor tem relevância social e política na sociedade, assistindo segmentos


da população carente nos mais diversos aspectos da necessidade humana, complementando as
atividades típicas do Estado. A prestação de contas dessas organizações exige dos
contabilistas serviços mais qualificados, abrangentes e em muitos casos, específicos (CFC,
2004).

Até o início dos anos 90, o Terceiro Setor encontrava-se camuflado nos índices
macroeconômicos das Nações. No dizer de Salamon e Anheier (1999), o terceiro setor é um
continente perdido dentro do panorama social da sociedade moderna e invisível para os
políticos, empresários e imprensa e até mesmo para alguns do próprio setor. Pode-se atribuir
esta invisibilidade do Terceiro Setor à metodologia aplicada às Contas Nacionais que foi
adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) após a grande depressão de 1929,
quando se sentiu a necessidade de parametrizar as informações sobre as economias no mundo
para estabelecer uma metodologia única de mensurar a força econômica de cada País. Ocorre
que estas contas nacionais estão divididas em atividades agrícolas, indústria e serviços, não
especificando as organizações da sociedade civil que desenvolvem estas atividades.

A relevância do Terceiro Setor é reconhecida pelo governo federal brasileiro que


distingue várias formas de suas influências e afirma ser relevante a necessidade de
desenvolver parcerias com organizações e atores do segmento (Mendes, 1999). Naquela
ocasião, o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), ao apresentar
21

as organizações sociais como parte da estratégia central do Plano Diretor do Aparelho do


Estado, identifica essa importância:

“[...] a crescente absorção de atividades sociais pelo denominado


Terceiro Setor (de serviços não-lucrativos) tem sido uma marca recorrente
em processos de reforma do Estado nas democracias contemporâneas. Trata-
se de um movimento que é portador de um novo modelo de administração
pública, baseado no estabelecimento de alianças estratégicas entre Estado e
sociedade, quer para atenuar disfunções operacionais daquele, quer para
maximizar os resultados da ação social em geral. Assim, o propósito central
do Projeto de Organizações Sociais é proporcionar um marco institucional
de transição de atividades estatais para o Terceiro Setor e, com isso,
contribuir para o aprimoramento da gestão pública estatal e não estatal.
(MARE, 1997, p.2 in Mendes, 1999, p. 8)

No entanto, parece que os prognósticos acima do Ministério de Administração e


Reforma do Estado não se concretizaram. Dados de pesquisa do IBGE, em 2005, levaram este
instituto a concluir que as atividades desenvolvidas pelas organizações do Terceiro Setor não
estão voltadas para assumir funções típicas de Estado, e sim defender direitos e interesses dos
cidadãos e difundir preceitos religiosos. Mais de um terço das Fundações privadas e
associações sem fins lucrativos (FASFIL) em 2005 é composto pelos subgrupos: associações
de moradores, centro e associações comunitárias, defesa de direitos e grupos de minorias,
desenvolvimento rural, emprego e treinamento, associações empresariais e patronais,
associações profissionais e associações de produtores rurais.
O Terceiro Setor tomou grande dimensão e, segundo dados do IBGE, em 2005
existiam no Brasil 338 mil FASFIL e representavam 5,6% do total de entidades pública e
privada de todo País. Empregavam 5,35 dos trabalhadores brasileiros que ganhavam em
média R$ 1.094,44. Este valor correspondia a 3,8 salários mínimos daquele ano e esta média é
ligeiramente superior à média nacional que era de 3,7 salários mínimos mensais no mesmo
ano.
Os procedimentos de escrituração das transações praticadas pelas organizações do
Terceiro Setor diferem dos utilizados pelas demais entidades jurídicas. Tal fato foi
disciplinado pelas Normas Brasileira de Contabilidade (NBC T 10.4 - Fundações e NBC T
10.19 - Entidade sem finalidades de lucros). Conforme o CFC (2004), as Demonstrações
Contábeis preparadas para as Entidades de Interesse Social devem: fornecer informações de
forma regular e tempestiva; possibilitar o acesso do usuário da informação aos objetivos, à
estrutura e às atividades executadas pelas entidades; e possibilitar ao usuário uma apreciação
22

das transações realizadas durante o exercício social das Entidades de Interesse Social, bem
como uma posição contábil ao final do exercício contábil.
No pensamento de Hendriksen e Van Breda (2007), num mundo ideal, as decisões
sobre o nível de divulgação das organizações seriam baseadas no aumento do bem-estar social
que ela produzisse. Afinal, é de se esperar que as organizações sem fins lucrativos tenham,
por interesse, o bem-estar daqueles que de alguma forma interaja com a mesma e assim
divulgue amplamente suas prestações de contas.
Investigar a forma como as organizações sem fins lucrativos divulgam suas prestações
de contas é uma pequena contribuição para deslindar esse setor que vem recebendo
sistematicamente dinheiro público. Afinal, aprender e entender como os gestores do Terceiro
Setor fazem uso da contabilidade em suas administrações é útil para a contabilidade como
ciência porque estará compreendendo as necessidades deste usuário e assim poderá melhor
atende-los.

1.6 Delimitação do estudo

O estudo realizou-se em organizações do Terceiro Setor que possuem sítio eletrônico


na internet. Para identificar estas organizações, foi utilizado o banco de dados da pesquisa de
Feitosa (2007); para ampliar a amostra, fez-se busca no Google com as palavras-chave:
terceiro setor, ONG, organizações sem fins lucrativos e organizações não governamentais.
Procurando ampliar a amostra dos respondentes dos questionários, este estudo localizou, no
sítio eletrônico da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (ABONG) ,
suas afiliadas em Pernambuco e entrou em contato, por telefone, obtendo assim resposta de
alguns questionários.

Sob o guarda chuva do Terceiro Setor, estão muitas organizações sem fins lucrativos;
logo, este estudo utilizou-se da definição de Salamon e Anheier (1999) para estabelecer a
delimitação do estudo, ou seja, para ser considerada uma ONG objeto deste estudo, a
organização deveria possuir as seguintes características: não ter fim lucrativo, não distribuir
qualquer excedente que possa ser gerado aos seus associados, donos ou controladores; sejam
separadas do governo; que sejam autogeridas e não compulsória. Baseados neste corte, foram
excluídos as federações, confederações, sindicatos e fundações.
23

1.7 Estrutura do estudo

Além do primeiro capítulo, que trata da Introdução, esta dissertação está estruturada
em cinco capítulos. O segundo capítulo apresenta o referencial teórico, que se aborda o
surgimento do Terceiro Setor, as organizações que o compõem, as qualificações possíveis
para estas organizações, as dimensões do terceiro setor e, sem a pretensão de esgotar o
assunto, um breve resumo de alguns estudos similares realizados. O capítulo terceiro tem, por
temática, a metodologia da pesquisa, apresentando todas as etapas da pesquisa e quais suas
premissas para que os objetivos deste estudo fossem alcançados. O quarto capítulo apresenta a
análise e discussão dos resultados obtidos por meio da análise dos sítios eletrônicos e da
aplicação dos questionários. O quinto capítulo apresenta as considerações finais do estudo,
das limitações e das sugestões para futuros estudos ligados ao tema. Além dos capítulos,
também compõem este estudo as referências bibliográficas e o apêndice composto pelo
questionário aplicado e pela lista dos sítios eletrônicos analisados.
24

2 TERCEIRO SETOR E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS

Neste capítulo, serão abordados aspectos teóricos relativos ao terceiro setor,


organizações não governamentais (ONGs), qualificação das ONGs como OSCIP e de
Utilidade Pública e Cadastro Nacional das Entidades de Utilidade Pública do Ministério da
Justiça.

2.1 Terceiro Setor

As organizações não governamentais fazem parte de um grupo de organização, cujo


setor vem se consolidando ao longo do tempo. Na opinião de Araújo (2005) , pode-se afirmar
que, no panorama econômico mundial, existem três setores distintos, que de formas
diversificadas movimentam a economia e trabalham para a evolução da sociedade.
Situado no Primeiro Setor, está o Estado, que por meio de seus órgãos e entidades,
exerce suas múltiplas atividades (política, administrativa, econômica e financeira). No
Segundo Setor, situam-se as empresas privadas, que exercem suas atividades com o fim de
obter lucros a serem distribuídos aos investidores, como remuneração ao capital aplicado.
Afirma ainda Araújo (2005) que a existência de um Terceiro Setor pode ser determinada
como certa, mas que são polêmicas sua classificação e definição. Dessa forma, o autor
apresenta, dentre outras, as seguintes afirmações sobre Terceiro Setor: Ioschpe et al (2000, p.
26) in Araújo (2005, p. 2) afirma que o Terceiro Setor é um conceito que vem sendo utilizado
no Brasil e em outros países, principalmente nos Estados Unidos da América, para designar o
conjunto composto de organizações sem fins lucrativos, cujo papel principal é a participação
voluntária, fora do âmbito governamental, que dá suporte às práticas de caridade, da
filantropia e do mecenato, voltadas para a garantia do direito e de cidadania da sociedade.
Fonseca (2000, p. 4) apud Araújo (2005) afirma que “as organizações do Terceiro
Setor são aqueles agentes não econômicos (sic) e não estatais que procuram atuar, coletiva e
formalmente, para o bem-estar de uma comunidade ou sociedade (...)”. Já Olak (2000, p. 23)
apud Araújo (2005, p. 4) afirma que “ser do Terceiro Setor significa participar de um terceiro
segmento, além do Estado e do mercado”. Dessa forma, mais uma vez, Araújo (2005) afirma
25

que são organizações do Terceiro Setor quaisquer organizações que fazem contraponto ao
capital, que não distribuam seu patrimônio aos associados, que ajam independentemente do
Estado e de forma autônoma em relação a este, sejam, sindicatos, associações, igrejas,
cooperativas entre outras.
Mendes (1999, p. 2) afirma que o Ministério de Administração Federal e Reforma do
Estado (MARE) , em 1997, reconhece a importância dessas organizações ao apresentá-las
como parte da estratégia central do Plano Diretor do Aparelho do Estado:
(...) a crescente absorção de atividades sociais pelo denominado Terceiro
Setor (de serviços não-lucrativos) tem sido uma marca recorrente em
processos de reformado Estado nas democracias contemporâneas. Trata-se
de um movimento que é portador de um novo modelo de administração
pública, baseado no estabelecimento de alianças estratégicas entre Estado e
sociedade, quer para atenuar disfunções operacionais daquele, quer para
maximizar os resultados da ação social em geral. Assim, o propósito central
do Projeto de Organizações Sociais é proporcionar um marco institucional
de transição de atividades estatais para o Terceiro Setor e, com isso,
contribuir para o aprimoramento da gestão pública estatal e não estatal. (p.2)

Para melhor entender as organizações que compõem o Terceiro Setor, é necessário


buscar no Código Civil Brasileiro (Lei 10.406/02) quais os tipos de pessoas jurídicas de
direito privado por ele estabelecido. Seu artigo 44 define que são pessoas jurídicas de direito
privado: as associações; as sociedades; as fundações; as organizações religiosas e os partidos
políticos e, em seu art. 53, que as associações são constituídas pela união de pessoas que se
organizam para fins não econômicos. Assim sob a égide de entidade sem fins lucrativos estão
agrupadas entidades que podem ter os mais diversificados fins e interesses.
O MARE (1997) apud Mendes (1999) reconhece que o Terceiro Setor é bastante
abrangente, incluindo o amplo espectro das instituições filantrópicas dedicadas à prestação de
serviços nas áreas de saúde, educação e bem-estar social, como também as organizações
voltadas para a defesa dos direitos de grupos específicos da população, como mulheres,
negros e povos indígenas, ou de proteção ao meio ambiente, promoção do esporte, cultura e
lazer, além de experiências de trabalho voluntário por meio da doação de tempo, trabalho e
talento para as causas sociais.
Até 1994, o Terceiro Setor não tinha visibilidade, e, neste ano, os cientistas Salomon e
Anheier, juntamente aos técnicos da ONU produziram o Projeto Comparativo do Setor Não
Lucrativo da Johns Hopkins University (JHU) que resultou numa proposta de agregação das
informações deste setor. Esta primeira pesquisa apresenta informações agregadas do setor nos
seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Suécia, Hungria e
Japão. Publicadas no clássico livro "The Emergin Sector - An Overview" (Merege, 2005). A
26

partir de então a JHU criou um departamento voltado ao estudo do Terceiro Setor e hoje é
referência mundial no assunto.
Mendes (1999) escreveu o texto de discussão no 647 do IPEA sob o título “Visitando
o Terceiro Setor (ou parte dele)”, no qual consolidou três artigos que havia escrito em 1997,
que versavam sobre a conformação do Terceiro Setor no Brasil, sobre as estratégias das
ONGs para a virada do milênio e sobre a evolução sociopolítica das ONGs no Brasil e as
relações do Estado com o Terceiro Setor. Este texto tem sido referência para vários
estudiosos. Nele, o pesquisador afirma que a dinâmica de atuação e orientação das ONGs são
diferentes, desde sua concepção, campos ou áreas de atuação e especialmente na forma de
processar suas ações. Em consequência, os resultados nem sempre são de fácil mensuração e
estes têm sido questionados ou censurados porque não estão explicitados em modelos
estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.

2.1.1 Entidades sem fins lucrativos

Caracterizar as entidades sem fins lucrativos pode apresentar várias dificuldades. Olak
e Nascimento (2006) afirmam que buscar uma definição para Entidades Sem Fins Lucrativos
não é uma tarefa fácil, estes autores citam Peter F. Drucker (1994) que afirma que as
instituições sem fins lucrativos têm, em comum, o objetivo de realizar mudanças nas pessoas.
Seu produto é um paciente curado, é uma criança que aprende, é um jovem que se transforma
em adulto com respeito próprio, ou seja, é uma vida transformada.
Para Mendes (1999, p. 12), a dificuldade inicial para a caracterização e escolha das
ONGs é que não existe uma classificação oficial que diferencie e estratifique os diversos
segmentos formados por entidades sem fins lucrativos no Brasil. Segundo o autor, usa-se
como referência, classificação e caracterização a legislação vigente e as terminologias
adotadas por estudos do tema como "Landim e Fernandes e por instituições associativas de
reconhecimento nacional, como o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), e a
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG), entre outros."

A Classificação Internacional das Organizações Não-Lucrativas (ICNPO -


International Classification of Nonprofit Organizations) é um produto resultante do trabalho
conduzido pela Universidade Johns Hopkins (SALAMON e ANHEIER, 1999). Esta
27

classificação foi adotada pela ONU. A definição de organização sem fins lucrativos aceita
internacionalmente é a seguinte:

“O setor não-lucrativo é definido como formado por (a) organizações que


(b) são sem fins lucrativos e que, por lei ou costume, não distribuem
qualquer excedente, que possa ser gerado para seus donos ou controladores;
(c) são institucionalmente separadas do governo, (d) são auto-geridas; e (e)
não-compulsórias”(SALAMON e ANHEIER, 1999, p.3)
Olak e Nascimento (2006, p. 6) identificam como principais as seguintes
características fundamentais e específicas das entidades sem fins lucrativos:
O lucro não é sua razão principal de ser, mas um meio necessário para
garantir a continuidade e o cumprimento de seus propósitos
institucionais;
Seus propósitos institucionais, quaisquer que sejam suas preocupações
específicas, objetivam provocar mudanças sociais;
O patrimônio pertence à sociedade como um todo ou segmento dela, não
cabendo aos seus membros ou mantenedores quaisquer parcelas de
participação econômica no mesmo;
As contribuições, doações e subvenções constituem-se, normalmente,
nas principais fontes de recursos financeiros, econômicos e materiais
dessas entidades.

Estes pesquisadores definem Entidades Sem Fins Lucrativos como instituições


privadas com propósitos específicos de provocar mudanças sociais, que seria o ato fim e cujo
patrimônio (ato meio) é constituído, mantido e ampliado a partir de contribuições, doações e
subvenções e que, de modo algum, se reverte para seus membros ou mantenedores.
No entanto, deve-se levar em consideração que pesquisas empíricas têm demonstrado
que parte das receitas dessas organizações são originadas através de prestação de serviços
(Salamon e Anheier, (1999); Merege, 2005) criando receitas próprias.

2.1.2 Classificação de organizações do terceiro setor

As organizações que compõem o Terceiro Setor podem ser classificadas sob várias
abordagens: sob a ótica jurídica (aspectos legais); sob o acordo com as atividades que
desempenham; sob o resultado de benefícios sociais; sob a origem de recursos financeiros e
econômicos, entre outras. Olak e Nascimento (2006) destacam que há pouquíssimos estudos e
estatísticas sobre esse setor, dificultando, ainda mais, a busca de respostas precisas e
consistentes. Este problema já havia sido apontado por Mendes (1999), quando afirmou que
28

os resultados apresentados pelas organizações do Terceiro Setor nem sempre são de fácil
mensuração e estes têm sido questionados ou censurados porque não estão explicitados em
modelos estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.

Merege (2005) afirma que se deve ao esforço do Centro de Estudos da Sociedade


Civil, da Johns Hopkins University, o primeiro empenho para conceituar e parametrizar o
Terceiro Setor, que, em 1994, junto aos técnicos da ONU, produziram o “Projeto
Comparativo do Setor Não Lucrativo da Johns Hopkins University”, sob a coordenação de
Lester M. Salamon e Helmut K. Anheier. Esta primeira pesquisa apresenta informações
agregadas do setor nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha,
Itália, Suécia, Hungria e Japão. Os resultados desta pesquisa foram publicadas no clássico
livro "The Emerging Sector - An Overview" ( MEREGE, 2005).

A partir desta pesquisa, surgiu uma classificação utilizada internacionalmente


estabelecendo que o setor fosse dividido em 12 grandes grupos que são subdivididos em 30
subgrupos e estes em atividades. O nível de atividades não foi definido pela ICNPO, por levar
em consideração a grande diversificação de atividades. No quadro 1 tem-se os grupos e
subgrupos. Esta classificação é utilizada internacionalmente e será utilizada neste estudo.
29

QUADRO 1: Grupos e subgrupos da Classificação Internacional das Organizações sem Fins Lucrativos
(ICNPO)

GRUPO 1: CULTURA E RECREAÇÃO GRUPO 7: SERVIÇOS LEGAIS, DEFESA DE


1100 Cultura e artes DIREITOS CIVIS E ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS
1200 Esportes 7100 Organizações cívicas e de defesa de direitos civis
1300 Outras em recreação e clubes sociais 7200 Serviços legais
GRUPO 2: EDUCAÇÃO E PESQUISA 7300 Organizações políticas
2100 Educação fundamental e média
2200 Educação superior GRUPO 8: INTERMEDIÁRIAS FILANTRÓPICAS E
2300 Outras em educação DE PROMOÇÃO DE AÇÕES VOLUNTÁRIAS
2400 Pesquisa 8100 Fundações financiadoras
GRUPO 3: SAÚDE 8200 Outras intermediárias e de promoção do
3100 Hospitais e clínicas de reabilitação voluntariado
3200 Casas de saúde
3300 Saúde mental e intervenção em crises GRUPO 9: INTERNACIONAL
3400 Outras em saúde 9100 Atividades internacionais
4100 Assistência social
4200 Emergência e amparo GRUPO 10: RELIGIÃO
4300 Auxilio à renda e sustento 10100 Associações e congregações religiosas
GRUPO 5: MEIO AMBIENTE
5100 Meio ambiente GRUPO 11: ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS DE
5200 Proteção à vida animal CLASSES E SINDICATOS
GRUPO 6: DESENVOLVIMENTO E MORADIA 11100 Organizações empresariais e patronais
6100 Desenvolvimento social, Econômico e 11200 Associações profissionais
comunitário 11300 Organizações sindicais
6200 Moradia
6300 Emprego e treinamento GRUPO 12: NÃO CLASSIFICADO EM OUTRO
GRUPO
12 Não classificada anteriormente
Fonte: SALAMON e ANHEIER, 1999.

Esta classificação tem sido adotada em diversos estudos com o propósito de gerar
dados comparáveis (Salamon e Anheier, 1999; Merege, 2005; IBGE, 2002; IBGE, 2005 e
estudos produzidos pela Johns Hoppinks University).

2.2 Organizações do terceiro setor e principais certificações disponíveis

As organizações do Terceiro Setor são pessoas jurídicas de direito privado e podem


ser constituídas como Associações ou como Fundações, conforme pode ser observado no art.
44 do Código Civil Brasileiro/2002, alterado pela Lei 10.825/03: são pessoas jurídicas de
direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações; IV – as organizações
religiosas; V – os partidos políticos”. Define-se, abaixo, as associações e fundações como
também as principais qualificações/certificações disponíveis.
30

2.2.1 Associações e fundações

O Código Civil Brasileiro (CCB) estabelece que se constituem as associações pela


união de pessoas que se organizam para fins não econômicos e que não há entre os
associados, direitos e obrigações recíprocos. Quanto às fundações, o CCB estabelece que,
para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a
maneira de administrá-la. Afirma ainda que a fundação somente poderá constituir-se para fins
religiosos, morais, culturais ou de assistência.

2.2.2 Organizações sociais (OS)

Organização Social (OS) é uma qualificação dada às entidades privadas sem fins
lucrativos (associações, fundações ou sociedades civis), que exercem atividades de interesse
público. Esse título permite que a organização receba recursos orçamentários e administre
serviços, instalações e equipamentos do Poder Público, após ser firmado um Contrato de
Gestão com o Governo Federal. Segundo Araújo (2005), com a reforma do Estado, iniciada
no governo Collor, no início da década de 1990, e continuada no governo Fernando Henrique,
o tamanho do Estado diminuiu, surgindo a necessidade de que a sociedade ocupasse
atividades que competiam ao Estado. Para Olak e Nascimento (2006) , a implementação das
Organizações Sociais (OSs) foi uma estratégia central do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado.
Seu objetivo principal foi permitir e incentivar a ´publicização’, ou seja, a
produção não lucrativa pela sociedade de bens e serviços não exclusivos do
Estado. Pela lei das OSs (Lei 9.637/98), podem ser qualificadas como
organizações sociais as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica,
ao desenvolvimento tecnológico, à preservação do meio ambiente, à cultura
e à saúde. (OLAK e NASCIMENTO, 2006, P. 17)

Pode-se, portanto inferir que o crescimento do Terceiro Setor deveu-se em parte à


saída do Estado de atividades que lhes são próprias, mas não exclusiva, repassando à
31

sociedade civil parte da prestação desses serviços. Termo OS não designa uma espécie de
ONG, mas tão somente uma qualificação concedida pelo Estado.

2.2.3 Organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP)

A Lei 9.790/99 que instituiu as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público


(OSCIP) é considerada um marco legal para os estudiosos do Terceiro Setor e ficou conhecida
como Lei do Terceiro Setor.
No entanto, convém lembrar Romão (2007): essa Lei Federal é apenas parte do
emaranhado de normas infraconstitucionais e regulamentares que pretende disciplinar um
amplo leque de operações que vai da constituição jurídica de entidades sociais até a
fiscalização de recursos públicos utilizados.
O termo OSCIP não designa um tipo de organização, mas tão somente uma
qualificação concedida pelo Ministério da Justiça que concederá à organização algumas
vantagens vistas adiante. Os requisitos para a qualificação como OSCIP de uma associação
sem fins lucrativos estão expressos na Lei do Terceiro Setor foi regulamentada pelo Decreto
Lei 3.100/99.
A primeira condição é que não deve ter fins lucrativos conforme reza o art. 1º. da Lei
9.790/99:
Art. 1o Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias
atendam aos requisitos instituídos por esta Lei.
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a
pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais
excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações,
participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício
de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do
respectivo objeto social.

Ainda de conformidade com a referida Lei, existem restrições quanto ao tipo de


atividade, pois, conforme art. 3º, as OSCIPs devem desenvolver atividades de promoção: da
assistência social, da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, da
educação gratuita, segurança alimentar e nutricional, defesa e preservação do meio ambiente e
32

desenvolvimento sustentável, promoção do voluntariado, desenvolvimento econômico e


social e combate à pobreza, entre outras atividades.
É importante ressaltar, além das exigências contidas no art. 3º. da Lei do Terceiro
Setor, que seu art. 4º obriga estas organizações a se submeterem aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência, tal como está
disposto no art. 37 da Constituição Brasileira que determina a observância destes princípios à
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.
O princípio da legalidade determina que todos os atos da administração pública devem
ser submissos à Lei, já o da impessoalidade estão relacionados aos interesses públicos, ou
seja, os agentes públicos devem tomar decisões para o bem e interesse público e não em seus
interesses pessoais, logo devem ser impessoais.
O princípio da moralidade preceitua que o agente público deve pautar seus atos além
da legalidade, deve observar o que é moralmente correto. O princípio da publicidade
determina que se dê publicidade de todos os atos, contratos ou instrumentos jurídicos como
um todo, uma vez que se trata de dar transparência e conceder controle à sociedade. É de se
esperar, portanto, que as ONGs qualificadas como OSCIPs deem publicidade de seus atos e
contratos conforme é determinado em Lei.
Quanto aos princípios de economicidade e eficiência, há a determinação que o agente
público deva obter a melhor equação de custos versus benefícios proporcionando melhor
resultado na aplicação de recursos públicos.
Continuando as exigências para obtenção da qualificação, como OSCIP, segue
continuação do art. 4º. da Lei do Terceiro Setor. O artigo determina, entre outras, a
obrigatoriedade de auditoria externa, constituição de conselho fiscal, possibilidade de
remunerar dirigentes da entidade e que suas prestações de contas devem estar submetidas aos
princípios fundamentais de contabilidade e normas brasileiras de contabilidade. As OSCIPS
devem dar publicidade aos demonstrativos financeiros previstos nas Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC) e dar publicidade às certidões negativas de débitos emitidas pelo
Instituto Nacional de Serviço Social (INSS) e pelo gestor do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS).
A certificação como OSCIP traz, em seu bojo, algumas vantagens para as ONGs e
podem-se citar as seguintes: as empresas que realizam doações às OSCIPs podem deduzi-las
do imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido; podem remunerar seus
dirigentes e, ainda assim, continuar isenta do imposto de renda, conforme prevê o art. 34 da
33

Lei nº 10.637/2002, que estende às OSCIPs o benefício do § 2º do art. 13 da Lei nº 9.249/95;


possibilidade de firmar Termo de Parceria com o Poder Público (instrumento público que
permite firmar parceria entre as OSCIPs e o Poder Público para execução de projetos); e a
possibilidade de receber bens apreendidos, abandonados ou disponíveis administrado pela
Receita Federal do Brasil (ROMAO, 2007).
Ressalte-se ainda opinião de Romão (2007) quanto:

Parece evidente, que a Lei 9.790/99, que instituiu as OSCIPs e o


Termo de Parceria, não teve o impacto pretendido no setor público não
estatal. A experiência tem mostrado que a Lei das OSCIPs não se converteu
em um marco regulatório único e amplo, que satisfaça a todos interessados,
pois a transição das entidades antigas para o novo marco mais transparente,
conforme intenção do Programa Comunidade Solidária, não se concretizou.
Isto explica o fato de que a imensa maioria das 4251 entidades qualificadas
constitui-se de associações ou fundações recém-criadas, ou melhor, que não
poderiam candidatar-se ao título de utilidade pública federal. (p.58)

Este é um importante dado tendo em vista que a solicitação da qualificação como


OSCIP é um processo relativamente simples, não havendo necessidade de a entidade ter uma
existência passada de prestação de serviços à comunidade. Ao Ministério da Justiça cabe
apenas verificar através dos documentos entregues na solicitação se atende todos os requisitos
previstos na Lei.
Tabela 1– Entidades qualificadas como OSCIP até setembro/2007
REGIÃO QUANTIDADE PERCENTUAL %
NORTE 172 4,8
NORDESTE 538 15,0
CENTRO-OESTE 444 12,3
SUDESTE 1.717 47,7
SUL 728 20,2
Total 3.599 100
Fonte: Romão, 2007

Até setembro de 2007, o Brasil possuía 3.599 ONGs qualificadas como OSCIPs (ver
tabela 1) apresentando forte concentração na região sudeste (47,7%), e menor concentração na
região norte.
34

2.2.4 Certificação de utilidade pública federal

O Título de Utilidade Pública Federal pode ser concedido às associações ou fundações


e foi instituído pela Lei 91/35 (regulamentada pelo Decreto-Lei 50.617/61) e dispõe, em seu
art. 3º, que nenhum favor do Estado decorrerá do título de utilidade pública, salvo a garantia
do uso exclusivo, pela sociedade, associação ou fundação, de emblemas, flâmulas, bandeiras
ou distintivos próprios, devidamente registrados no Ministério da Justiça e a da menção do
titulo concedido.
Entretanto, o título serve, em muitos casos, como pré-requisito exigido pelos órgãos
concessores de benefícios e/ou vantagens, tais como: INSS (isenção da cota patronal); Receita
Federal (doação de bens apreendidos, deduções do Imposto de Renda para quem lhe fizer
doações), etc.
Os pré-requisitos exigidos para obtenção desta certificação estão expressa no art. 2º.
do Decreto-Lei 50.617/61:

Art. 2º O pedido de declaração de utilidade pública será dirigido ao


Presidente da República, por intermédio do Ministério da Justiça, provados
pelo requerente os seguintes requisitos:
a) que se constituiu no país;
b) que tem personalidade jurídica;
c) que esteve em efetivo e contínuo funcionamento, nos três
anos imediatamente anteriores, com a exata observância dos estatutos;
d) que não são remunerados, por qualquer forma, os cargos de
diretoria e que não distribui lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes,
mantenedores ou associados, sob nenhuma forma ou pretextos;
e) que, comprovadamente, mediante a apresentação de
relatórios circunstanciados dos três anos de exercício anteriores à formulação
do pedido, promove a educação ou exerce atividades de pesquisas
científicas, de cultura, inclusive artísticas, ou filantrópicas, estas de caráter
geral ou indiscriminado, predominantemente.
f) que seus diretores possuem folha corrida e moralidade
comprovada;
g) que se obriga a publicar, semestralmente, a demonstração da
receita obtida e da despesa realizada no período anterior.
g) Que se obriga a publicar, anualmente, a demonstração da
receita e despesa realizadas no período anterior, desde que contemplada com
subvenção por parte da União, neste mesmo período. (Redação dada pelo
Decreto nº 60.931, de 4.7.1967)
Parágrafo único. A falta de qualquer dos documentos
enumerados neste artigo importará no arquivamento do processo.

Observa-se que a obtenção da Certificação de Utilidade Pública apresenta restrições


quanto às suas atividades, devem estas promover a educação, pesquisa científica, cultura,
35

artísticas ou filantrópicas; como também se obriga a publicar semestralmente e anualmente


demonstrativo da receita e despesa. Na realidade, esta obrigação, hoje, é mais extensa com a
implementação em 2007 do Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública que tem o
propósito de proporcionar maior transparência na prestação de contas das entidades sem fins
lucrativos com certificação de OSCIP ou de Utilidade Pública.
Dentre outras, podem-se citar as seguintes vantagens decorrentes da certificação de
Utilidade Pública Federal: isenção da cota patronal pelo INSS; doação de bens aprendidos
pela Receita Federal do Brasil; deduções do Imposto de Renda para quem lhe fizer doações; a
Lei de Diretrizes Orçamentária permite que lhes sejam destinados recursos a título de
subvenções sociais; como também a título de auxílio.

2.3 Cadastro nacional de entidades de utilidade pública do Ministério da Justiça


(CNEs/MJ)

Com o propósito de atribuir maior transparência à gestão pública, como também


combater à corrupção e à lavagem de dinheiro, o Ministério da Justiça instituiu, em 15 de
outubro de 2007, o Cadastro Nacional de Entidades de utilidade Pública (CNEs/MJ). O
CNEs/MJ destina-se não apenas às organizações qualificadas pelo Ministério da Justiça (MJ),
mas a todas as Organizações Não Governamentais sem fins lucrativos que possuam interesse
na captação de recursos públicos. O CNEs/MJ constitui-se em um conjunto de mecanismos
eletrônicos de coleta, processamento, análise e transmissão de dados destinados à integração
dos procedimentos administrativos de reconhecimento, de prestação de contas e de renovação
correspondentes à outorga e à manutenção de qualificações federais, bem como dos recursos
públicos repassados às entidades sociais. Além disso, terá capacidade de gerar dados
estatísticos padronizados, inclusive em consonância com Classificação dos Objetivos das
Instituições sem Fins Lucrativos ao Serviço da Família (Classification on the Purpose of Non-
Profit Institutions Serving Households – COPNI), que integra a família de classificações
reconhecidas pela Divisão de Estatísticas das Nações Unidas.
Segundo o Manual de Entidades Sociais do Ministério da Justiça, o CNE Público está
à disposição de qualquer cidadão que podem acessá-lo no seguinte endereço
www.mj.gov.br/cnes, sem necessidade de senha ou prévio cadastramento, as informações
enviadas eletronicamente, tais como:
36

• Fontes e modo de utilização de recursos públicos e privados;


• Atividades desenvolvidas;
• Qualificação de seus dirigentes;
• Avaliação da sua inserção social na comunidade onde atua.
Entretanto, observou-se que estes dados não são de fácil acesso tendo em vista que,
para acessar tais dados, é necessário preencher cadastro de busca contendo os seguintes dados
da organização que se deseja pesquisar: CNPJ, razão social, qualificação, ano da qualificação
e atividade. Para ter acesso ao banco de dados do CNE Público, o cidadão tem de ter, em
mãos, os dados supracitados e estes não são de fácil acesso.

Tabela 2– Entidades declaradas de Utilidade Pública Federal até setembro/2007


REGIÃO QUANTIDADE PERCENTUAL %
NORTE 211 1,8
NORDESTE 1.368 11,4
CENTRO-OESTE 844 7,0
SUDESTE 6.837 57,0
SUL 2.726 22,8
Total 11.986 100
Fonte: Romão, 2007

De acordo com o Ministério da Justiça, a quantidade total de entidades declaradas de


Utilidade Pública Federal no Brasil até setembro/2007 era 11.986, havendo uma grande
concentração dela na região sudeste com 57%. (ver tabela 2).

2.4 Dimensões do terceiro setor

Este tópico irá apresentar alguns dados estatísticos do Terceiro Setor, delineando suas
dimensões no Brasil e no mundo.
37

2.4.1 Terceiro setor no mundo

Como visto anteriormente, o primeiro esforço para obtenção de dados e


parametrização do Terceiro Setor deve-se ao Centro de Estudos da Sociedade Civil, da Johns
Hopkins University. Devido a isso, Merege (2005) credita o primeiro empenho para
conceituar e parametrizar o Terceiro Setor a Lester M. Salamon e Helmut K. Anheier, que em
1994, em parceria com técnicos da ONU produziram o “Projeto Comparativo do Setor Não
Lucrativo da Johns Hopkins University.” Esta primeira pesquisa apresenta informações
agregadas do setor nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha,
Itália, Suécia, Hungria e Japão. Os resultados desta pesquisa foram publicadas no clássico
livro "The Emerging Sector - An Overview" ( MEREGE, 2005).

Em 1999, elaboraram uma edição revisada e ampliada na qual se acrescentou mais 14


países, totalizando nove países da Europa Ocidental, quatro países desenvolvidos, quatro da
Europa Central e do Leste e cinco países da América Latina (ver quadro 2).

Quadro 2 – Países cobertos pela II fase do Projeto de Estudo Comparativo do Terceiro Setor da
Universidade Johns Hopkins
REGIÕES
Europa Ocidental Europa Central e do Outros Países América Latina
Leste desenvolvidos
Países Baixos República Tcheca Austrália Argentina
Irlanda Hungria Estados Unidos Peru
Bélgica Eslováquia Israel Brasil
França Romênia Japão Colômbia
Reino Unido México
Alemanha
Espanha
Áustria
Finlândia
Fonte: Salamon e Anheier, 1999

De acordo com Salamon e Anheier (1999) , nestes 22 países, em 1995, o Terceiro


Setor movimentou 1,1 bilhão de dólares americanos e seus gastos representaram, em média,
4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) destes países. O setor empregava mais de 18,5 milhões
de trabalhadores com jornada de trabalho completa, excluindo as instituições religiosas, e o
emprego deste setor é de 5% no setor agrícola, 9,2% no setor de serviços e 30% no setor
público.
38

A fase I do Projeto de Estudo Comparativo do Setor não Lucrativo, da Universidade


Johns Hopkins, apresentava a força econômica do Terceiro Setor com participação deste nas
economias dos países pesquisados, conforme observado na figura 1 os Estados Unidos da
América (EUA) se destaca com 6,3% do PIB, apresentando uma média de 3,5%.

Figura 1 – Percentual da participação do Terceiro Setor no PIB dos países

Hungria; 1,2
Itália; 2
Japão; 3,2
França; 3,3
1
Média; 3,5
Alemanha;
3,6 Reino
Unido; 4,8
E.U.A.; 6,3

0 2 4 6 8

E.U.A. Reino Unido Alemanha Média


França Japão Itália Hungria

Fonte: Projeto de Estudo Comparativo do Setor não Lucrativo da Universidade Johns Hopkins, 1994,
apud Merege, 2005

Se o Terceiro Setor formasse uma economia independente, seria a oitava economia do


mundo, ficando à frente do Brasil, Rússia, Canadá e Espanha conforme observa-se na tabela 3
os valores movimentado pelo setor em seus respectivos países.

Tabela 3 – Se o terceiro setor fosse uma economia seu PIB seria...


PAIS PIB EM BILHÕES DE DOLÁRES
E.U.A. 7,2
Japão 5,1
China (sic) 2,8
Alemanha 2,2
França 1,5
Reino Unido 1,1
Itália 1,0
Fonte: Salamon e Anheier (1999)

O Terceiro Setor empregava, nos países pesquisados, mais que as maiores empresas
privadas estabelecidas neles, conforme pode ser observado na figura 2. Além disso, este setor
tem atraído em média 28% da população para o trabalho voluntário que equivale a 10,6
milhões de emprego, totalizando 29 milhões postos de trabalho no terceiro setor.
39

Figura 2 – Emprego no terceiro setor em comparação com outros setores

Emprego nas ONGs em relação a outros setores

25 22,5
19
20

15

10
4,6 5,5
3,4 4,3
5

o
ti l
os

s
o
r

ic
to

te
fi c
ex
ic

m
se

or

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sp
rg
ro

to

rq

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ei

Se

to

to
os
rc

Tr
Se

Se

Te

rv
Se

Fonte: Salamon e Anheier, 1999.

Ainda segundo a pesquisa, os ingressos de recursos provêm 11% de doações


procedentes de pessoa física, empresas e fundações, 41% são oriundas de fundos públicos e
48% procedentes da venda de produtos e serviços, conforme se observa na figura abaixo:

Figura 3 – Fontes de ingressos do terceiro setor, 1995 (média 21 países)

Doações
11% Setor
público
41%

Venda de
produtos e
serviços
48%

Setor público Venda de produtos e serviços Doações

Fonte: Salamon e Anheier, 1999.


40

2.4.2 O terceiro setor no Brasil

Em 2002, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em conjunto com o


IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ABONG (Associação Brasileira de
Organizações Não Governamentais) e o GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas),
reuniram esforços para produzir as primeiras estatísticas oficiais do Terceiro Setor Brasileiro.
No ano de 2008, foram apresentados dados desta mesma pesquisa referente ao ano de 2005
cujos resultados estão abaixo.

A partir de dados do CEMPRE (Cadastro Central de Empresas), dados da RAIS


(Relação Anual e Informações Sociais); CAGED (Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados); pesquisas anuais promovidas pelo IBGE sobre o comércio, indústria e
serviços, foi elaborado o Perfil das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos
(FASFIL) em 2002 e 2005.

Para melhor entender os dados levantados das FASFIL, é necessário entender a forma
como os dados do CEMPRE foram tratados para o estudo em questão. Segundo o IBGE
(2002), os dados no CEMPRE contêm a razão social, o código da natureza jurídica, a
classificação da atividade principal, o endereço completo, o nome de fantasia e o ano de
fundação (quando é o caso). O âmbito da pesquisa foi definido a partir do código da natureza
jurídica.

A Natureza jurídica é composta por uma estrutura de códigos formada por quatro
dígitos, e o primeiro identifica a natureza das organizações, que são: 1 para administração
pública; 2 para entidades empresariais e 3 para entidades sem fins lucrativos. Dessa forma, a
base para seleção das instituições a serem incluídas no estudo foram as organizações iniciadas
com o dígito 3 que são as entidades sem fins lucrativos.

Como a intenção era construir estatísticas comparáveis internacionalmente (IBGE,


2002), foi adotada como referência para definição das FASFIL a metodologia do “Handbook
on Nonprofit Institutions in the System of National Accounts” (Manual sobre as Instituições
sem Fins Lucrativos no Sistema de Contas Nacionais), documento produzido pela Divisão de
Estatísticas das Nações Unidas, em conjunto com a Universidade Johns Hopkins, em 2002.
Esse estudo foi ampliado e gerou o documento “Classification of the Purpose of Non-Profit
Institutions Serving Households – COPNI” (Classificação dos Objetivos das Instituições sem
41

Fins Lucrativos ao Serviço das Famílias), que define uma classificação reconhecida pela
Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (IBGE, 2002).

Além disso, era necessário que as instituições se enquadrassem no seguinte:

(i) privadas, não integrantes, portanto, do aparelho de Estado;

(ii) sem fins lucrativos, isto é, organizações que não distribuem eventuais excedentes
entre os proprietários ou diretores e que não possuem, como razão primeira de existência, a
geração de lucros – podem até gerá-los desde que aplicados nas atividades fins;

(iii) institucionalizadas, isto é, legalmente constituídas;

(iv) auto-administradas ou capazes de gerenciar suas próprias atividades; e

(v) voluntárias, na medida em que podem ser constituídas livremente por qualquer
grupo de pessoas, isto é, a atividade de associação ou de fundação da entidade é livremente
decidida pelos sócios ou fundadores. No caso brasileiro, esses critérios correspondem a três
figuras jurídicas dentro do novo Código Civil: associações, fundações e organizações
religiosas (IBGE, 2002).

Tem-se, na tabela 4, o número de entidades sem fins lucrativos, segundo a COPNI,


ampliada no ano de 2002 e no ano 2005, na qual se observa um crescimento de 20,3% no
período 2002-2005. Na tabela 5, tem-se o número de entidades classificadas como FASFIL,
com variação de 22,5% para o mesmo período.
42

Tabela 4 – Número de entidades sem fins lucrativos, segundo a COPNI ampliada.


Brasil – 2002 e 2005.

COPNI ampliada Número de entidades

2002 2005

Total 500.157 601.611

Grupo 01 – Habitação 322 456

Grupo 02 – Saúde 3.798 4.464

Grupo 03 – Cultura e recreação 37.539 46.999

Grupo 04 – Educação e pesquisa 79.931 95.220

Grupo 05 – Assistência social 32.249 39.395

Grupo 06 – Religião 70.446 83.775

Grupo 07 – Partidos políticos, Associações Patronais e 73.783 95.497


Profissionais

Grupo 08 – Meio ambiente e proteção animal 1.591 2.562

Grupo 09 – Desenvolvimento e defesa de direitos 45.161 60.259

Grupo 10 – Outras instituições privadas sem fins 155.337 172.984


lucrativos

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Cadastro Central de Empresas, 2002 e 2005

Para a elaboração do estudo das FASFIL, foram excluídas as seguintes entidades: 303-
4: Serviço Notarial e Registros (Cartório); 307-7: Serviço Social Autônomo; 308-5:
Condomínio em Edifícios; 309-3: Unidade Executora (Programa Dinheiro Direto na Escola);
310-7: Comissão de Conciliação Prévia; 311-5: Entidade de Mediação e Arbitragem; 312-3:
Partido Político; 313-1: Entidade Sindical; 321-2: Fundação ou Associação Domiciliada no
Exterior. O resultado apresentado na Tabela 3 reflete o número de FASFIL em 2002 segundo
o IBGE.

No ano de 2005, existiam 338.162 FASFIL que representam uma parcela significativa
das 6 milhões de entidades pública e privada, lucrativa e não-lucrativa que compunham o
Cadastro Central de Empresas (CEMPRE).
43

Tabela 5 – Número de Fundações privadas e associações sem fins lucrativos (FASFIL), segundo
classificação das entidades sem fins lucrativos. Brasil – 2002 e 2005

COPNI ampliada (FASFIL) Número de entidades

2002 2005

Total 275.895 338.162

Grupo 01 – Habitação 322 456

Grupo 02 – Saúde 3.798 4.464

Grupo 03 – Cultura e recreação 37.539 46.999

Grupo 04 – Educação e pesquisa 17.493 19.940

Grupo 05 – Assistência social 32.249 39.395

Grupo 06 – Religião 70.446 83.775

Grupo 07 – Associações Patronais e Profissionais 44.581 58.796

Grupo 08 – Meio ambiente e proteção animal 1.591 2.562

Grupo 09 – Desenvolvimento e defesa de direitos 45.161 60.259

Grupo 10 – Outras instituições privadas sem fins 22.715 21.516


lucrativos

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Cadastro Central de Empresas, 2002 e 2005

Este estudo revelou que 62% das FASFIL existentes em 2002 foram criadas a partir
dos anos 1990 e que, a cada década, acelera o ritmo de crescimento; logo, as que foram
criadas nos anos de 1980 são 88% mais numerosas do que as que foram criadas nos anos de
1970. Esse percentual é de 124% para as que nasceram na década de 1990 em relação à
década anterior (IBGE, 2002).

A pesquisa do IBGE apontou que a distribuição das FASFIL, no Território Nacional,


tende a acompanhar a distribuição da população. A região Sudeste concentra 42,6% da
população brasileira e 42,4 das FASFIL. A Região Nordeste vem em segundo lugar com 23,7
das FASFIL, a Região Sul com 22,7 e na Região Norte com 4,8% das FASFIL.

Em 2002, as FASFIL empregavam mais de 1,5 de empregados assalariado. Em geral,


o conjunto de FASFIL é formado por milhares de organizações muito pequenas e que a
absoluta maioria, isto é 77%, não têm qualquer empregado. Podendo-se levantar a hipótese
segundo o IBGE de que parcela significativa dos serviços prestados por estas organizações é
44

realizada por meio de trabalho não-remunerado ou informal. No entanto, é enfatizado que se


faz necessário estudo mais detalhados para verificação desta hipótese (IBGE, 2002).

Em relação ao ano de 2005, um contingente de 1,7 milhões de pessoas está registrado


como trabalhadores assalariados nas 338,2 mil FASFIL do País (Tabela 6). Esse contingente
representa 22,1% do total dos empregados na administração pública do País e 70,6% do total
do emprego formal no universo das 601,6 mil entidades sem fins lucrativos existentes no
CEMPRE 2005.

Mais da metade do pessoal ocupado assalariado das FASFIL (57,1%), o que equivale a
quase um milhão de pessoas, está em instituições localizadas no Sudeste e, em especial, no
Estado de São Paulo que reúne, sozinho, 553,7 mil desses trabalhadores (32,4%). Tal
distribuição, entretanto, não acompanha a estrutura da ocupação no mercado de trabalho no
Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2005,
realizada pelo IBGE, do total de pessoas ocupadas no País 42,2% estão no Sudeste e 21,8%
em São Paulo, ou seja, o mercado de trabalho concentra nesses territórios proporções
inferiores às das FASFIL (IBGE, 2005).

Tabela 6 - Distribuição, absoluta e relativa das fundações privadas e associações sem fins lucrativos e
do pessoal ocupado assalariado, segundo Grandes Regiões Brasil – 2005

Grandes Distribuição
Regiões/Brasil
Fundações privadas e associações sem Pessoal ocupado e assalariado
fins lucrativos

Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%)

Brasil 338.162 100 1.709.156 100

Norte 16.164 4,8 54.370 3,2

Nordeste 79.998 23,7 230.371 13,5

Sudeste 143.444 42,4 975.158 57,1

Sul 76.888 22,7 324.896 19,0

Centro-Oeste 21.668 6,4 124.361 7,3

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2005.

Segundo o IBGE (2005), pouco mais de um quarto das FASFIL (26,3%) são muito
novas e foram criadas, nos cinco primeiros anos desta década. Porém, das 89,2 mil entidades
nascidas no período, a maior parte (42,6%) surgiu nos dois primeiros anos (2001 e 2002). A
participação das entidades criadas nos anos subsequentes vem decaindo progressivamente,
45

provocando uma redução para 40,2% a proporção de entidades do biênio 2003/2004 e para
17,2% aquelas criadas no próprio ano 2005. Os dados do período 2003 a 2005 podem estar
sinalizando uma desaceleração no crescimento das entidades sem fins lucrativos no País
(Tabela 7).

Tabela 7 - Distribuição das fundações privadas e associações sem fins e do pessoal ocupado assalariado,
segundo faixas de ano de fundação. Brasil.

Faixas do ano de Distribuição


fundação
Fundações privadas e associações sem Pessoal ocupado e assalariado
fins lucrativos

Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%)

Total 338.162 100 1.709.156 100

Até 1970 10.939 3,2 548.900 32,1

De 1971 a 1980 33.308 9,9 396.830 23,2

De 1981 a 1990 64.388 19,9 280.296 16,4

De 1991 a 2000 140.261 41,5 356.099 20,8

De 2001 a 2002 38.007 11,2 69.507 4,1

De 2003 a 2004 35.840 10,6 48.361 2,8

2005 15.319 4,5 9.163 0,5

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2005.

Outro estudo censitário que adotou a metodologia preconizada pelo estudo


comparativo da Universidade Johns Hopkins é o Censo do Terceiro Setor do Pará que teve a
coordenação geral do Professor Luis Carlos Merege (2005).

Foram pesquisadas 2.180 organizações na mesorregião metropolitana de Belém e,


segundo este documento, este número causou surpresa a todos, pois se imaginava que o setor
fosse muito menor. Logo, tendo em vista que a metodologia desenvolvida pela Universidade
Johns Hopkins, sob a coordenação de Salamon e Anheier, leva em conta as organizações
formais ou não, na tabela 8, tem-se os números das instituições formais e informais,
observou-se que 77% das instituições não são formalizadas.
46

Tabela 8 – Organizações pesquisadas na meso-região metropolitana de


Belém-PA
Organizações Número Percentual
Formais 484 22,2%
Informais 1.696 77,8%
Total 2.180 100,0%
Fonte: Merege, 2005.

As organizações pesquisadas empregavam 2.177 pessoas, sendo 1.699 empregos


formais com registro de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), conforme
tabela 9.

Tabela 9 – Tamanho das organizações na mesorregião metropolitana de Belém-PA


Funcionários Quantidade Relativa (%) Formais Relativa (%)
0-10 1.781 81,8 1.346 79,2
11-100 395 18,1 352 20,7
101-500 1 0,0 1 0,1
501-1000 0 0 0 0
Total 2.177 100 1.699 100
Fonte: Merege, 2005.

O volume total de recursos movimentados pelas organizações foi de,


aproximadamente, R$ 168 milhões, o que surpreendeu os pesquisadores. Deles,
aproximadamente R$ 4 milhões são recursos internacionais, e a maior fonte provém de
recursos próprios no valor de R$ 112 milhões, ou seja, 67% do total. O destaque, então, para
duas fontes como as maiores responsáveis por esta performance: a venda de produtos e
serviços responde por 63%, enquanto associados respondem por 27% daquele valor. A tabela
10 apresenta o resumo destes dados.

Tabela 10 – Fonte e valor das receitas movimentos pelas organizações da meso-região


metropolitana de Belém-PA
Fonte dos recursos Valor R$ Relativa (%)
Públicos 16.379.268,92 9,8
Doações 30.179.323,39 18,0
Outros 9.026.706,47 5,4
Receitas Próprias 112.198.507,26 66,9
Total 167.783.806,04 100,0
Fonte: Merege, 2005
Um importante dado revelado pelo Censo do Terceiro Setor no Pará diz respeito ao
uso de recursos. Observa-se que o setor aplica, majoritariamente, os seus recursos em quatro
áreas, sendo capital a principal, que inclui a construção e aquisição de instalações, refletindo o
ritmo de crescimento do setor nas últimas décadas. Em segundo plano, observa-se que 20,7%
dos seus recursos destina-se ao pagamento de pessoal, conforme tabela 11.
47

Tabela 11 – Aplicação de recursos do terceiro setor na meso região do Pará. 2004.

Alocação de recursos Percentual

Projetos/Programas Sociais (excluindo pessoal) 12,1

Pessoal (salários, encargos e benefícios) 20,7

Treinamento de colaboradores 0,9

Eventos, divulgação e captação de recursos 10,6

Operacionais (aluguel, luz, água, telefone, combustível, etc.) 11,9

Capital (construção, aquisição de instalações, máquinas e equipamentos) 37,9

Impostos e taxas 0,7

Financeiras (juros e despesas bancárias) 0,6

Doações para outras organizações 0,4

Outras despesas 4,5


Fonte: Merege, 2005.

Os dados revelados nesta pesquisa mostram a importância deste setor para a


economia, havendo necessidade de realizar pesquisa para melhor conhecê-lo.

2.5 Estudos similares realizados

Até 1994, o Terceiro Setor não tinha visibilidade; então, neste ano, os cientistas
Salomon e Anheier, juntamente aos técnicos da ONU, produziram o Projeto Comparativo do
Setor Não Lucrativo da Johns Hopkins University (JHU) que resultou numa proposta de
agregação das informações deste setor. Esta primeira pesquisa apresenta informações
agregadas do setor nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha,
Itália, Suécia, Hungria e Japão, que foram Publicadas no clássico livro "The Emergin Sector -
An Overview" (Merege, 2005). A partir de então, a JHU criou um departamento voltado ao
estudo do Terceiro Setor e hoje é referência mundial no assunto.
48

Mendes (1999) escreveu o texto de discussão no 647 do IPEA sob o título “Visitando
o Terceiro Setor (ou parte dele)”. Nele, o pesquisador afirma que a dinâmica de atuação e
orientação das ONGs são diferentes, desde sua concepção, campos ou áreas de atuação e
especialmente na forma de processar suas ações. Em consequência, os resultados nem sempre
são de fácil mensuração e estes têm sido questionados ou censurados porque não estão
explicitados em modelos estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.
Falconer (1999), em sua tese de dissertação, escreveu sobre o posicionamento do
campo da Administração para o Terceiro Setor, indicando as potencialidades e limitações,
descrevendo, detalhadamente, o Terceiro Setor, os conceitos fundamentais relacionados ao
mesmo, como também explora as razões históricas que levaram à formação do conceito do
terceiro setor. Afirma o pesquisador que a agenda de pesquisa do Terceiro Setor tem
desempenhado uma importante influência em todo o mundo e que é um campo onde as
Ciências Sociais têm um grande potencial de contribuição da pesquisa à sociedade.
Olak (2000) escreveu sua dissertação de mestrado com o título "Bases para a Eficácia
na Aplicação do Contrato de Gestão nas Organizações Sociais Brasileiras”. Esse pesquisador
estudou as Organizações Sociais, modelo de entidade sem fins lucrativos proposta pelo Plano
Diretor da Reforma do Aparelho Administrativo do Estado Brasileiro, oriundo do Poder
Executivo em 1995. Nesta pesquisa, o autor procura definir o perfil das entidades sem fins
lucrativos, suas características, legislações pertinentes, seu marco legal etc. O estudioso
concluiu que as Organizações Sociais (criadas a partir da Reforma do Aparelho Administrado
do Estado Brasileiro) não possuem instrumentos contábeis adequados para avaliar seus
desempenhos, quer no âmbito dos contratos de gestão negociados com o Poder Público, ou
mesmo fora dele. Dando continuidade às suas pesquisas e estudos, Olak em 2006 escreveu o
livro Contabilidade para Entidades sem Fins Lucrativos, juntamente com o orientador da sua
dissertação o Professor Diogo Toledo do Nascimento.
Em 2002, o IBGE produziu as primeiras estatísticas oficiais do Terceiro Setor
Brasileiro a partir de dados secundários, com apoio da ABONG (Associação Brasileira de
Organizações Não Governamentais e do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas)
cujos resultados são mostrados no próximo tópico.
No ano de 2003, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) editou o livro Manual de
Procedimentos Contábeis para Fundações e Entidades de Interesse Social, nele o CFC
reconhece a importância e crescimento deste setor e da necessidade de divulgação dos
procedimentos específicos a serem adotados na contabilidade destas organizações.
49

Silva (2005), em sua dissertação de mestrado, investigou se as organizações do


Terceiro Setor utilizavam práticas de contabilidade gerencial, investigando também se existia
relação entre as características dos gestores e as práticas de contabilidade gerencial adotadas.
Essa pesquisa foi realizada junto a vinte e uma organizações da cidade do Recife-PE e uma
importante evidenciação encontrada pela pesquisadora é que as Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público (Oscip) adotam práticas de contabilidade gerencial superiores às
das demais Organizações do Terceiro Setor.
Wing, Gordon, Hager, Pollak e Rooneu (2006) realizaram um extenso trabalho sobre
as demonstrações de 1500 ONGs dos Estados Unidos da América (EUA), os autores afirmam
estarem convictos de que este setor pode vir a ser o próximo grande escândalo da
contabilidade, fazendo clara referência aos escândalos corporativos ocorridos naquele país em
passado recente e concluíram que as ONGs estudadas não utilizam métodos adequados de
contabilidade. Suas pesquisas indicaram que muitas destas organizações não utilizam pessoal
de contabilidade capacitado, os autores responsabilizam claramente os contadores pela
situação em que se encontram as demonstrações das ONGs em virtude da tolerância destes
aos erros apresentados.
Krishnan, Yetman e Yetman (2006) investigaram se as organizações sem fins
lucrativos omitiam as despesas de obtenção de verba em suas demonstrações contábeis e
concluíram que, inexplicavelmente, um grande número destas organizações não apresenta este
tipo de despesa. Seus estudos sugerem que o uso de um contador externo pode reduzir a
probabilidade de omissão destas despesas.
Soares (2006) investigou quais as medidas de desempenho são utilizadas pelas
Entidades Beneficentes de Assistência Social Educacionais, investigação empírica que
abrangeu oito destas organizações, com sede em Recife-PE e portadoras do Certificado de
Entidade Beneficente de Assistência Social (CEAS). O resultado obtido, nesta pesquisa,
revelou que as instituições pesquisadas possuem sistemas de avaliação de desempenho
simples e não estruturados, houve a percepção de que o uso de indicadores de desempenho
está mais relacionado com o tempo de existência das instituições.
Oliveira e Romão (2007) escreveram o livro Manual do Terceiro Setor e Instituições
Religiosas que se trata de um estudo que trata do histórico das ONGs, sua conformação
jurídica, trata da gestão e obrigações destas organizações, trazendo dados práticos quanto às
suas obrigações tributárias principal e acessórias, suas responsabilidades jurídica etc. Esse
livro é voltado principalmente às Entidades Religiosas.
50

Numa pesquisa rápida, no banco de teses da Universidade de São Paulo (USP), foi
possível encontrar 10 teses e/ou dissertações de mestrado relacionadas de forma direta ao
tema, Terceiro Setor, versando sobre os mais variados aspectos como: governança
corporativa, gestão de pessoas, transferência de conhecimento, formação e destinação de
resultados. Destaque-se também a dissertação de Alcides Bettiol Junior (2005) que estudou a
percepção dos administradores/diretores da organização estudada em relação à formação de
resultados. Sua pesquisa concluiu que, para um grupo, a formação de resultado está
relacionada à confrontação receitas e despesas dando-se ênfase ao lucro e, para outro grupo,
está preocupado em demonstrar os resultados para as atividades-fins da organização. Por fim,
o pesquisador sugeriu a utilização do Demonstrativo do Valor Adicionado (DVA) para
atender as especificidades do Terceiro Setor.
Feitosa (2007) realizou pesquisa em 269 sítios eletrônicos da internet com o propósito
de investigar o grau de aderência às Normas Brasileira de Contabilidade – Técnicas (NBCT):
NBCT 10.4 e NBCT 10.19 do CFC que determinam normas específicas para tratamento de
dados e demonstrações contábeis para as Fundações (NBCT 10.4) e para as Organizações sem
fins lucrativos de interesse social que desejam obter o Certificado de Entidade de Fins
Filantrópicos pelo CNAS (NBCT 10.19). Concluiu que 89% das ONGs que possuem sítio
eletrônico próprio não publicaram ou era de difícil acesso quaisquer demonstrações
contábil/financeira, visto que apenas 31 das organizações visitadas na internet publicaram
pelo menos uma demonstração contábil/financeira.
RAWSTHORNE e SHAVER (2008) conduziram uma pesquisa promovida pelo
Governo da Austrália, através do Centro de Pesquisa de Políticas Sociais da Universidade de
New South Wales, que teve o propósito de investigar o impacto das exigências contratuais e
contábeis de departamentos dos Serviços à Família e comunidade. Esta pesquisa permitiu a
coleta de dados em que envolveu mais de 600 organizações. Além do impacto das normas de
contabilidade e relatório de contratos, investigou o tipo, a frequência, o número de horas de
trabalho de pessoal alocado para sua elaboração, destacando a complexidade das relações
entre o governo e as organizações. Concluíram que o governo, em parceria a com outros
investidores/financiadores, tem trabalho a fazer nas áreas de desenvolvimento e acordos de
serviços.
51

2.6 Prestação de contas

Prestação de contas é uma expressão que se tornou corriqueira no dia a dia, através da
mídia, exigências do trabalho ou até mesmo no núcleo familiar. É comum uma mãe,
preocupada com a educação dos seus filhos, exigir que estes prestem contas de suas atitudes.
Segundo o dicionário eletrônico Michaelis (2009), o termo prestação é o ato de dar ou fazer o
que se ajustou em um contrato, e que é um dos modos de este se encerrar ou se resolver e o
termo conta é o registro de confrontação dos débitos e créditos ou de receita e despesa ou
ainda atribuição, cuidado, encargo, responsabilidade, justificação, atribuições.
O ato de prestação de contas das organizações sem fins lucrativos pode ser entendido
como o ato da organização demonstrar que cumpriu sua missão, ou seja, fez aquilo que se
propôs, aplicando corretamente os recursos a ela destinados, comprovando que realizou os
encargos aos quais estavam sob sua responsabilidade, justificando o uso dos recursos obtidos
através da confrontação de suas receitas e despesas, atendendo às exigências morais, legais e
contábeis.
A prestação de contas seria a justificação de que cumpriu com suas responsabilidades
e atribuições. Portanto, prestação de contas é muito mais do que mera demonstração
econômico-financeira das origens e aplicações. A prestação de contas expande-se à
necessidade de demonstrar que se alcançou o objeto fim para o qual a organização foi criada.
A movimentação dos recursos financeiros colocados à disposição da organização são apenas
os meios para se obter êxito no objeto fim dela. Os recursos são escassos e, por este motivo,
devem ser bem aplicados para que se maximizem os bons frutos esperados. Portanto, a
prestação de contas destes recursos é fundamental para que a ONG possa ter credibilidade,
desenvolvendo com isso uma maior capacidade de captação de recursos.
Bettiol Júnior (2005) afirma que, nas empresas com fins lucrativos, os investidores
voltam suas preocupações ao retorno do investimento e nas entidades sem fins lucrativos eles
se voltam aos aspectos relativos de alocação dos recursos fornecidos entre as atividades
desenvolvidas pela entidade. As empresas com fins lucrativos distribuem seus resultados
(Lucros ou Prejuízos) aos seus investidores. Já, nas ONGs espera-se que estas atendam de
forma eficiente aos fins para o qual foi criada.
Basicamente, existem dois tipos de prestação de contas: a prestação de contas
financeira e a prestação de contas não financeira. A primeira se refere à forma, ao destino, à
distribuição e ao uso dos recursos financeiros e a segunda tem seu foco nos resultados obtidos
52

com a aplicação destes recursos, ou seja, os resultados obtidos em relação à missão da


organização, da sua atividade fim.
É ideal que as prestações de contas sejam elaboradas de modo a permitir
comparabilidade com outros períodos e com outras organizações similares, de modo a
permitir avaliar a gestão dos seus administradores. Para tal, elas devem precisar o período a
que se referem. Por exemplo, supõe-se que uma organização qualquer seja criada com o
objetivo de realizar atendimento médico a comunidades carentes e que, em seu relatório de
prestação de contas das atividades, essa instituição relate que realizou mil atendimentos
médicos, sem, no entanto, precisar o período em que esses atendimentos foram realizados.
Esta omissão prejudica a análise e aferição do desempenho da organização.
Para Niyama e Silva (2008), a contabilidade deveria mostrar a preocupação com o
trabalho social das entidades do terceiro setor, incluindo os atendimentos aos mais carentes e
os benefícios à parcela menos favorecida. Afirmam ainda os pesquisadores que a
contabilidade seria um importante parâmetro para que o doador de recursos pudesse avaliar o
impacto social promovido pela organização. Para Yjiri (s.d.) apud Nakagawa ( 2007), a
accountability é a razão de ser da contabilidade.
Accountability é um termo da língua inglesa, sem tradução exata para o português,
mas que pode ser entendido como prestação de contas. Prado (2006) afirma que a OCDE
define accountability como a obrigação de demonstrar que determinada ação está sendo
conduzida de acordo com as regras e padrões acordados, ou que seus resultados estejam sendo
reportados honesta e apuradamente pelos programas ou ao longo dos mandatos. Esse termo
está associado ao desempenho de atividades com responsabilidade e de forma responsiva, e,
ao mesmo tempo, espera-se que a organização explique suas decisões e ações, a forma de
utilização dos recursos, de uma maneira ampla e de forma transparente. Nakagawa (2007)
destaca que etimologicamente accountability tem o significado de confiança,
epistemologicamente, surge como o resultado de um adequado nível de evidenciação.

2.6.1 Prestação de Contas Não Financeiras

Os relatórios de prestação de contas não financeira são relatórios em que são relatados
o desenvolvimento das atividades realizadas pelas ONGs. Nestes relatórios, as organizações
descrevem como e o que foi realizado e para quem foram realizadas suas atividades. Este
53

relatório pode ser elaborado por qualquer pessoa da organização que tenha qualificação e
conhecimento suficiente das atividades que foram desenvolvidas pela organização. É
necessário, então, que a entidade mantenha registros mínimos de suas atividades, sendo ideal
que alta administração da organização esteja envolvida em sua elaboração.

2.6.2 Prestação de contas financeiras

As prestações de contas financeiras podem apresentar um formato simples, cuja


elaboração não requer conhecimentos técnicos contábeis. Seria meramente um checklist dos
recebimentos e gastos realizados pela organização, não se revestindo, portanto, de
formalidade na sua elaboração ou divulgação. Tais prestações de contas, a priori, podem
carecer de credibilidade em virtude da ausência de um profissional técnico responsável. O
elaborador deste tipo de prestação de contas não está sujeito às normas e princípios contábeis
geralmente aceitos, podendo dar ao relatório o formato, dimensão e conteúdo que desejar sem
maiores preocupações em gerar comparabilidade com as demais entidades do seu setor.
Tais prestações de contas podem incorrer em erros que são despercebidos pelos
usuários que não possuam conhecimento de contabilidade e levar esses usuários a terem uma
idéia falseada de que aquela prestação de contas é a expressão da verdade. Então, seguir os
parâmetros e orientações da contabilidade, na prestação de contas financeiras, traz um rigor
técnico necessário ao estabelecimento da verdade, da comparabilidade, evidenciação e
transparência. A pesquisa conduzida Miranda, Oliveira, Feitosa e Rodrigues (2009)
identificou que as prestações de contas financeiras das ONGs apresentam baixo grau de
aderência às normas do CFC, que, dentre as demonstrações financeira analisadas, uma das
organizações apresentava passivo a descoberto, duas apresentavam erros de soma na
demonstração de superávit ou déficit e outra misturou contas da demonstração do fluxo de
caixa (desempenho financeiro) com contas da demonstração do superávit ou déficit
(desempenho econômico), afirmam os autores que tais erros demonstram que as ONGs
carecem de melhor assessoria econômico-financeira e contábil. Feitosa (2007) afirma que não
é prática comum das ONGs a utilização dos sítios na internet para divulgar suas
demonstrações contábeis, visto que das 269 organizações estudadas por ela apenas 11%
publicaram algum tipo de prestação de contas contábil/financeira e que as ONGs apresentam
maior aderência à lei 6.404/76, que às normas do CFC.
54

Para que a prestação de contas de uma organização tenha maior credibilidade, ela deve
ser elaborada por um profissional da área contábil, seguindo as normas definidas para tal. No
Brasil, existem normas específicas para as prestações de contas de entidades do Terceiro
Setor, emitidas pelo CFC tais como a NBC T 10.19, 10.18 e 19.4 que tratam, especificamente,
das organizações do terceiro setor, além das demais normas e princípios que regem a
contabilidade das organizações as quais também são aplicáveis às ONGs, tais como a NBCT 3
que trata das demonstrações contábeis obrigatórias e o Princípios Contábeis Geralmente
Aceitos. A contabilidade é a ciência que analisa, registra, sumariza e controla as alterações
sofridas pelo patrimônio de qualquer organização ou pessoa física. Os relatórios contábeis
devem atender a uma série de princípios, regras, normas, determinações fiscais, etc., que os
tornam mais confiáveis e permitem comparabilidade, ou seja, as regras que determinarão a
forma de registro de uma doação recebida pela ONG “A” será registrada igualmente sob os
mesmos parâmetros na ONG “B”. Além disso, o profissional de contabilidade é obrigado a
produzir demonstrativos padronizados pelo órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização
da atividade de registro das mutações do patrimônio líquido, tais como o Conselho Federal de
Contabilidade (CFC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central, o Comitê
de Pronunciamento Contábil (CPC) entre outros.

2.6.3 Prestação de contas financeiras e não financeiras (Accountability)

Trow (1996) destaca duas dimensões do ato de prestação de contas (accountability),


que merecem ser consideradas: a primeira é a distinção entre interna e externa e a segunda é a
distinção entre legal e financeira, de um lado, e a moral de outro. A prestação de contas
externa refere-se à obrigação de garantir a quem está dando suporte à instituição e à
comunidade, de analisar se a organização está seguindo sua missão de maneira crível, se os
recursos estão sendo usados honestamente e responsavelmente e se está atingindo
legitimamente as expectativas. A prestação de contas externas é como uma auditoria, dando
motivos de confiança e contínuo apoio às atividades. Prestação de contas interna, no entanto,
seria a responsabilidade das pessoas dentro da organização, umas com as outras, de informar
como as várias partes estão levando a cabo sua missão, como estão agindo para a melhoria da
organização. É uma análise feita pela organização sobre as suas próprias operações.
55

Quanto à outra dimensão (legal e financeira x moral), o aspecto legal e financeiro da


prestação de contas refere-se à obrigação de informar como os recursos estão sendo usados, se
a instituição está fazendo o que é determinado pela lei ou seus estatutos e se os recursos estão
sendo utilizados para os propósitos para os quais eles foram designados. A elaboração de
relatórios contábeis e financeiros atende a essa dimensão. A auditoria contábil é usada para
garantir que a prestação de contas atendeu às normas legais e financeiras. Assim, é mais fácil
verificar o atendimento dos aspectos legais e financeiros. Já o aspecto moral da prestação de
contas é mais difícil e controverso, pois é difícil apreciar e avaliar os resultados da
organização, ou seja, se ela realmente está cumprindo sua missão. Se, de um lado, há mais
facilidade na avaliação dos insumos consumidos pela organização, nem sempre é fácil avaliar
os resultados das ações da organização. Há maior facilidade de avaliar um dos lados dessa
dimensão - através dos relatórios financeiros e pareceres dos auditores, que certificam o
atendimento das normas contábeis e exigências legais, na maneira como a organização
consumiu os recursos a ela confiados – do que o aspecto moral. É difícil certificar, através de
uma auditoria, ou procedimento similar, que a organização está atingindo os resultados a que
se propôs. Muitos resultados são difíceis de medir e de avaliar (TROW, 1996).
Carneiro (2004) afirma que a necessidade por accountability se origina da opacidade
do poder, de um contexto de informação imperfeita, e tem como eixo básico o princípio da
publicização. Afirma ainda a autora que o exercício da accountability só tem sentido se
remete ao espaço público, de forma a preservar as suas três dimensões: informação,
justificação, punição.
Lloyde, Warren e Hammer (2008) utilizaram quatro dimensões para medir grau de
aderência aos princípios de accountability:
a) Transparência: este item é avaliado verificando-se se no website da organização
existem aba ou chamada para as partes interessadas contatar a organização.
b) Participação: este item é verificado se existe a institucionalização de instrumento
que permita a participação de partes interessadas na tomada de decisão da
organização, permitindo aos mesmos participarem da alta administração.
c) Avaliação: este item é verificado se as organizações mantêm mecanismos de
aprendizagem através da difusão de lições aprendidas a partir de avaliações de toda
a organização.
d) Reclamação e capacidade de resposta: este item é verificado se existe mecanismo
que permite aos interessados externos fazer reclamações contra políticas ou
tomada de decisão das organizações.
56

Accountability interessa à comunidade de forma geral. Para ratificar, os pesquisadores


Lloyde, Warren e Hammer (2008) afirmam que os interessados podem ser aqueles que estão
dentro das organizações, como também os que estão de fora dela, conforme pode ser
observado no quadro 3.

Quadro 3 – Partes interessadas internas e externas cujos relatórios devem ser focados
Setor Partes Interessadas (stakeholders)
Internos Externos
Organizações Membros do Estado e Sociedades civil relevante e
intergovernamental internacional empregados público em geral
(IGOs) *
Organização sem fins lucrativos Afiliadas nacional, membros e Comunidades afetadas, parceiros
(NGOs) ** empregados e público em geral
Empresas Multinacionais Acionistas e empregados
(TNCs) ***
Fonte: Lloyde, Warren e Hammer (2008, p. 23), tradução livre.
*Intergovernmental organisations (IGOs)
Organizações intergovernamentais, internacional cujos membros são dois ou mais governos, agências
estaduais.
**Non-governmental organisations (NGOs)
Organizações não governamentais, sem fins lucrativos, recebem contribuições voluntárias e regidas por
um conselho.
***Transnational corporations (TNCs)
Empresas multinacionais com operações em mais de um país

Existe ainda outra dimensão de accountability que está relacionada à prestação de


contas do governo e esta dimensão está associada à democracia. Para Sano (2003), a
dimensão vertical da accountability tem nas eleições seu principal representante e traz para a
cena o mecanismo tradicional de premiação e castigo. O prêmio para um bom governante é
sua própria reeleição ou eleição do candidato que recebe seu apoio; o castigo seria exatamente
o oposto. Esse processo é chamado por Behn (1998) in Sano (2003) de accountability política
ou accountability democrática. A accountability horizontal corresponde a mecanismos de
controles horizontais entre os poderes, ou o "velho tema da divisão dos poderes e dos
controles e equilíbrios entre eles" ( O´Donnell, 1998, p. 38 in Sano (2003, p. 38).

2.6.4 Controle externo das organizações do terceiro setor

O processo de controle de prestação de contas das entidades do Terceiro Setor possui


vários aspectos. O detector de informações sobre o que está acontecendo na organização não
57

pode ser outro instrumento, a não ser a contabilidade, em virtude de a mesma possuir como
objeto o patrimônio e segundo a NBCT 1, busca,

por meio da apreensão, da quantificação, da classificação, do registro, da


eventual sumarização, da demonstração, da análise e relato das mutações
sofridas pelo patrimônio da entidade particularizada, a geração de
informações quantitativas e qualitativas sobre ela, expressas tanto em termos
físicos, quanto monetários.

É necessário que a contabilidade e os profissionais de contabilidade se adéquem às


necessidades dos diferentes usuários das informações contábeis das entidades do Terceiros
Setor que, neste sistema de controle, seriam os avaliadores de suas performances,
representado pelos mantenedores destas organizações, pelos usuários de seus serviços e pelo
governo.
Nos Estados Unidos da América, a necessidade de ter um maior controle sobre as
organizações surgiu após os escândalos corporativos que resultou na implementação da Lei
Sarbanes-Oxley, aprovada após o caso Eron. Esta Lei é aplicável às organizações com fins
lucrativos; no entanto, Ostrower (2007) destaca que as entidades sem fins lucrativos também
apresentaram escândalos suscitando, na sociedade, a necessidade de regulação para maior
controle destas entidades, conjecturando se elas não deveriam cumprir com as determinações
de governança imposta pela Sarbanes-Oxley. Tais anseios resultaram em alterações do
formulário 990, introduzindo questões específicas ao setor, tais como: exigências de que estas
entidades declarem se existem conflitos de interesses políticos e a obrigatoriedade da
auditoria independente. Afirma o pesquisador que as organizações sem fins lucrativos estão
submetidas a um maior escrutínio e que devem demonstrar sua responsabilidade pública.
Em virtude de a contabilidade ter, como objetivo, o fornecimento de informações
através do registro das alterações patrimoniais, ela deve participar ativamente destas
prestações de contas. Caso uma organização não governamental receba recursos públicos
nacionais, por meio de convênios, a prestação de contas deve ser pormenorizada devendo ser
demonstrado a aplicação efetiva dos recursos recebidos através da apresentação de relatórios
que serão analisados pelo Tribunal de Contas. Dentre os órgãos fiscalizadores e controladores
das organizações do terceiro setor pode-se citar:

a) Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) foi instituído em 1993 e está


vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal, ligado ao
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tem competência
58

para aprovar a política nacional de assistência social, normatizar ações e


regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da
assistência social, além de fixar normas e conceder registro e Certificado de
Entidade Beneficente de Assistência Social, entre outras.
b) Ministério de Previdência e Assistência Social (MPAS). A ONG portadora do
Certificado de Entidade Publica Federal está dispensada de recolher a parte do
empregador à previdência social e sujeitando-se à fiscalização do órgão.
c) Ministério Público. O Ministério Público tem o propósito de zelar pela ordem
jurídica, ou seja, pela observância e pelo cumprimento da lei, realizada defesa
do patrimônio nacional, defende os interesses sociais e individuais, além de
controle externo da atividade policial. É um defensor do povo e, como tal, é
um importante instrumento de controle das organizações do terceiro setor,
visto que pode a qualquer momento investigar denúncias de mal utilização e
desvios do dinheiro público.
d) Ministério da Justiça. É o órgão administrador do Cadastro Nacional de
Entidades de Utilidade Pública (CNES) que é um sistema eletrônico que tem
como objetivo principal padronizar e dá transparência aos processos referentes
às qualificações federais das ONGs. É através deste sistema que as ONGs
prestam contas de suas atividades anualmente.
e) Tribunal de Contas. Os tribunais de contas da União ou das Unidades
Federativas têm a atribuição de proceder ao acompanhamento da execução
orçamentária, julgar as contas dos responsáveis por bens e dinheiro público,
entre outras atribuições. Dessa forma, as ONGs que recebem dinheiro público
sujeitam-se às fiscalizações dos Tribunais de Contas.
f) Receita Federal do Brasil. A Receita Federal do Brasil dentre suas várias
competências destaca-se: administração dos tributos internos e do comércio
exterior. Gestão e execução das atividades de arrecadação, lançamento,
cobrança administrativa, fiscalização, pesquisa e investigação fiscal e controle
da arrecadação administrada. As ONGs submetem-se à fiscalização da Receita
Federal como qualquer outra organização legalmente instituída no país com ou
sem fim lucrativo. Em virtude de sua imunidade e/ou isenção tributária, as
ONGs devem prestar contas de suas atividades à Receita Federal do Brasil.
59

g) Órgãos Estaduais e Municipais que, de alguma forma, proporcionem


benefícios às ONGs, tais como os Conselhos Municipais, tribunais de contas
estaduais etc.

2.7 A contabilidade do terceiro setor

Para os pesquisadores Olak e Nascimento (2006, p.56), “no Brasil, ainda são
embrionárias, as normas e práticas contábeis que contemplam particularmente as entidades
sem fins lucrativos”. Afirmam ainda os pesquisadores que, em linhas gerais, muitas entidades
elaboram e publicam suas demonstrações contábeis nos mesmos moldes usados pelas
empresas. Esta afirmativa é corroborada pela pesquisa de Feitosa, Miranda, Oliveira e
Rodrigues (2009) cujos resultados indicam alto grau de aderência à Lei 6.404/76 e grau baixo
de aderência às normas específicas do CFC. A FIPECAFI; Arthur Andersen (1991, p. 4)
apud Olak e Nascimento (2006, p.56) sugerem que “desejavelmente, e naquilo que for
aplicável, as demonstrações financeiras de entidades sem fins lucrativos devem ser elaboradas
e publicadas dentro dos mesmos critérios usados por entidades de fins lucrativos.
As entidades do Terceiro Setor estão sujeitas aos Princípios Fundamentais da
Contabilidade e às normas criadas pelo CFC para o setor: NBCT 10.4 – Fundações
(Resolução CFC no. 837/99 de 22/02/1999; NBC T 10.19). Tratam da contabilidade das
entidades sem fins lucrativos, foram aprovadas em 18 de abril de 2000, alteradas em 16 de
maio de 2003. Nesta ocasião, foi determinado a evidenciação de suas receitas, com e sem
gratuidade, como também que as notas explicativas devem evidenciar tais receitas. A NBC T
10.16 - trata dos aspectos contábeis das Entidades que recebem subvenções, contribuições,
auxílios e doações foi aprovada em 13 de dezembro de 2001, alterada em 09 de maio de 2005
e revogada pela NBC T 19.4. NBC T 10.18. Trata dos aspectos contábeis das entidades
sindicais, foi aprovada em 02 de março 1999 e continua em vigor.
60

2.7.1 Sistema de Contabilidade por Fundos

Segundo Olak e Nascimento (2006), o termo fundo é comumente empregado para


designar a concentração de recursos de várias procedências para a obtenção de determinado
fim. Araújo (2005) afirma que a contabilidade por fundos proporciona maior qualidade à
informação contábil [...] as demonstrações contábeis por essa sistemática devem se
apresentadas de forma que possam visualizar os fundos individualmente, separando-se seus
ativos e resultados [...] de modo a se poderem conhecer os saldos e resultados de cada um
desses fundos. Para Summers (1991, p. 58) apud Olak e Nascimento (2006),

um fundo – a unidade básica da Contabilidade por Fundos – é um conjunto


de recursos comprometidos para propósitos específicos. Para fins contábeis,
um Fundo é uma entidade muito semelhante a uma empresa e pode ter
contas registrando caixa e outros recursos financeiros, bem como dívidas e
patrimônio líquidos.

Enfatizam Olak e Nascimento (2006) que a Contabilidade por Fundos abarca os


mesmos conceitos da Contabilidade Convencional, ou seja, o da entidade contábil, em que a
segregação patrimonial é enfatizada e defendida. Logo, o fundo é visto como um patrimônio
compostos de ativos, passivos e patrimônio líquido, e, ainda, suas receitas e ganhos e,
despesas e perdas que provocam acréscimos ou decréscimos em seu patrimônio.
61

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Segundo Lakatos (2003), método é o conjunto de atividades sistemáticas e


racionais utilizadas pelo cientista para obtenção de dados válidos e verdadeiros, traçando um
caminho a ser seguido. Neste capítulo, será descrito a metodologia adotada para este estudo.

A realização deste estudo foi dividida em três etapas. Inicialmente, desenvolveu-se


uma pesquisa bibliográfica, com vistas a identificar aspectos teóricos, regulamentais e
operacionais relacionados com as ONGs. Num segundo momento, a partir da pesquisa
bibliográfica, foi realizada a coleta dos dados, nos sítios eletrônicos e por meio de
questionários enviados aos gestores das ONGs. Na terceira etapa, após a coleta dos dados
junto às instituições selecionadas e aplicação dos questionários, procedeu-se à análise
estatística dos dados obtidos.

Este estudo tem um caráter de pesquisa exploratória no que tange prestação de contas
das ONGs, que, no entendimento de Gil (2007), é desenvolvida com o objetivo de
proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado. Foram
replicadas algumas perguntas, com adaptações à realidade brasileira, de pesquisa realizada por
Rawsthorne (2008).

Para atingir seus objetivos, a pesquisa utilizou-se de duas metodologias:


a) analisar os sítios na internet das ONGs alvo do estudo, para investigar se estas
apresentam prestações de conta financeiras ou não financeiras, se pediam doações,
data de fundação, qualificação ou certificações destas e se possuíam aba
facilitando o acesso à prestação de contas.
b) obter informações dessas ONGs, por meio de questionário, para identificar a
influência da contabilidade e das exigências das prestações de contas exerciam
sobre as ONGs.
62

3.1 População e características da amostra

Esta pesquisa teve, como ponto de partida, as ONGs analisadas no estudo


desenvolvido por Feitosa (2007), monografia realizada sob a orientação do Prof. Luiz Carlos
Miranda e co-orientação da autora deste estudo. O objetivo daquele estudo era investigar a
terminologia utilizada pelas ONGs nas prestações de contas de suas atividades e o grau de
aderência de suas demonstrações contábeis em relação às normas definidas pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC). Feitosa (2007) analisou 269 sítios eletrônicos de ONGs na
internet, sendo que 171 endereços eletrônicos foram obtidos através do sítio eletrônico da
Associação Brasileira de Organizações Não Governamental (ABONG) os demais foram
obtidos no sítio eletrônico de busca Google.

A população do presente estudo é formada pelas ONGs que apresentam as


características propostas por Olak e Nascimento (2006), que definiram Entidades Sem Fins
Lucrativos como instituições privadas com propósitos específicos de provocar mudanças
sociais e cujo patrimônio é constituído, mantido e ampliado a partir de contribuições, doações
e subvenções e que, de modo algum, se reverte para seus membros ou mantenedores. Dentre
essas, foram excluídas as ONGs representativas de classe, fundações.

A partir do banco de dados de Feitosa (2007), composto por 269 endereços de sítios
eletrônicos na internet, foram acrescentados mais 3 sítios eletrônicos cujos endereços foram
obtidos na mídia, totalizando 272 sítios eletrônicos a serem investigados. No decorrer da
pesquisa, 67 sítios eletrônicos foram descartados, ou por estarem fora do escopo da pesquisa,
ou por re-direcionarem para outro link ou simplesmente porque não abriram, totalizando 205
sítios eletrônicos válidos para pesquisa.

Das 205 ONGs com sítios eletrônicos na internet, foram selecionadas 131
organizações para responderem ao questionário. A seleção orientou-se pela disponibilização
de endereço ou e-mail para contato. As 131 organizações foram contatadas por carta (40) e
por email (91), solicitando que respondessem ao questionário da pesquisa. Em alguns casos,
foram necessários quatro e-mails para receber confirmação positiva de participação na
pesquisa.

Tendo em vista a demora no recebimento das respostas, decidiu-se por concentrar


esforços apenas nas organizações que apresentavam algum tipo de prestação de contas
63

financeiras em seus sítios eletrônicos, criando uma carta/e-mail mais pessoal, criando um laço
com o possível respondente. Essa estratégia mostrou-se produtiva. Dos 29 questionários
respondidos, 21 são de ONGs cujos sítios eletrônicos foram analisados e estão no grupo de 39
organizações que apresentavam prestação de contas financeiras.

Procurando ampliar o número de respondentes dos questionários, foram identificadas


ONGs afiliadas da ABONG, estabelecidas no estado de Pernambuco e que não possuíam sítio
eletrônico na internet (as que possuíam já estavam incluídas no banco de dados inicial de 269
sítios eletrônicos na internet). Foram obtidos endereço e telefone de mais 14 ONGs, às quais
foram enviadas cartas solicitando que respondessem ao questionário. Além das cartas foram
realizadas ligações telefônicas para 12 dessas organizações, obtendo-se mais 04 questionários
respondidos. Adicionalmente, mais 4 ONGs, contatadas através de amigos da pesquisadora,
responderam os questionários.

Resumindo, foram analisados 205 sítios na internet de ONGs que atendiam aos
critérios da pesquisa e enviados questionários a 151 ONGs (54 por carta, 91 por e-mail e 3
através de amigos), dos quais apenas 29 foram respondidos (11 dos contatados por carta, 16
dos contatados por e-mail (incluso 2 dos amigos da pesquisadora) e 2 entregue em mãos por
amigos da pesquisadora.

3.2 Análises dos sítios eletrônicos

O banco de dados obtido conforme descrito acima continha 272 endereços de sítios
eletrônicos na internet. Todos foram visitados; no entanto, 67 deles foram descartados,
ficando amostra restrita a 205 sítios eletrônicos.

Os sítios eletrônicos foram analisados no período de 29 de agosto de 2008 a 06 de


dezembro de 2008. Algumas questões a serem analisadas no sítio eletrônico eram bem
objetivas: data de fundação, endereço e qualificação. Para outras questões, foi necessário
estabelecer parâmetros conforme descrito abaixo.
64

Verificar a política de transparência da ONG:

Neste caso, procurou-se verificar se era facilmente encontrável as prestações de contas


da organização. Para receber um “sim” neste aspecto, era necessário que a existência de uma
aba ou link logo na primeira página com uma das seguintes expressões: prestações de contas;
transparência; governança.

Verificar se a ONG solicita doações:

Também para receber um “sim” neste aspecto, era necessário que a existência de uma
aba ou link logo na primeira página com uma das seguintes expressões: doações, ajude,
colabore.

Prestação de contas financeira

Foi estabelecido como parâmetro de prestação de contas financeira, qualquer


documento que envolvesse apresentação de numerários recebidos ou gastos e o período em
que eles ocorreram.

Prestação de contas não financeira

Foram estabelecidos, como parâmetro para prestação de contas não financeira, os


demonstrativos de atendimentos, intervenções ou realização de qualquer evento relacionado
com a atividade da organização com o propósito de realizar mudanças na sociedade. Também
era necessário constar o período em que foram realizadas.

3.3 Construção do questionário

A pesquisa bibliográfica permitiu a construção do questionário, que replica parte das


questões da pesquisa conduzida por Rawsthorne e Shaver (2008), Austrália. Esse estudo
65

proporcionou a inclusão de algumas questões relativas ao efeito produzido na organização


provocada pelas exigências de prestação de contas, relatórios e dados da contabilidade.

A maior parte das questões elaboradas para o questionário de pesquisa é do tipo


fechado, para que os respondentes escolham, dentre as alternativas apresentadas, a que melhor
representa a situação vivenciada. Algumas questões permitem que os entrevistados escolham
mais de uma resposta dentre as alternativas disponíveis.

O questionário foi elaborado com a maioria das questões do tipo fechado, o que
apresenta a vantagem de se poder comparar respostas em virtude da sua pouca variabilidade;
além disso, são de mais fácil resposta e produzem respostas mais facilmente analisáveis,
codificáveis e de fácil tratamento estatístico (LAKATOS e MARCONI, 2003; BARROS e
LEHFELD, 1990). O questionário de pesquisa foi aplicado aos gestores das ONGs para
investigar a percepção deles em relação às dificuldades de elaboração das prestações de
contas, como também quem são os usuários destas prestações de contas. As informações
contábeis, na opinião do gestor.

Após definida a primeira versão do questionário, foi realizado um pré-teste do


questionário que foi aplicado a dois acadêmicos e a dois profissionais de ONGs e estes
sugeriram algumas mudanças na forma das perguntas que, na opinião destes, não estava clara.
O questionário foi dividido em quatro blocos de questões:

1º. Bloco - Caracterização do entrevistado: inclui questões que permitem descrever


algumas características dos entrevistados: idade do respondente; grau de instrução; há
quanto tempo trabalha na organização e cargo que ocupa.
2º. Bloco – Caracterização da organização: com questões sobre as características das
organizações participantes da pesquisa, investigando os seguintes aspectos: tempo de
existência da organização; sua atividade; o número de funcionários e voluntários;
investigou-se, ainda, qual a origem das suas receitas em termos percentuais; quem
elabora a prestação de contas da organização e quais profissionais mantém em seu
quadro de empregados.
3º. Bloco – Informações relativas à prestação de contas: com questões que objetivam
obter a opinião do respondente em relação às dificuldades de elaboração das
prestações de contas; a quem as prestações de contas são dirigidas; importância de
alguns requisitos de relatórios e prestação de contas; dificuldades e periodicidade das
prestações de contas.
66

4º. Bloco – Conseqüências decorrentes das exigências de prestação de contas e da


contabilidade: neste bloco de questões, foi investigado se a contabilidade ou as
exigências de prestações de contas provocaram alguma mudança na organização.

3.4 Tratamento estatístico

O tratamento estatístico utilizado, neste trabalho de pesquisa, refere-se à análise


descritiva dos dados obtidos na pesquisa de campo, com base na utilização de medidas de
posição e dispersão, e testes estatísticos. As análises descritivas e os testes estatísticos foram
efetuados com a utilização do software Statistical Package for the Social Sciences – SPSS,
versão 15.0.
A análise dos dados obtidos com a pesquisa de campo realizada com nos sítios na
internet e com os gestores das ONGs compreenderá três etapas. Primeiramente, foi realizada a
análise descritiva dos resultados da pesquisa de campo junto aos sítios na internet. Em
seguida, foi realizada a análise descritiva dos resultados, obtidos na pesquisa de campo com
os gestores das ONGs. A partir dos resultados obtidos nessas duas primeiras etapas da análise,
pretende-se responder às questões da pesquisa, formuladas no capítulo 1 deste trabalho. Por
fim, foi realizada a análise comparada dos dados obtidos nos sítios na internet e dos gestores
da ONGs, com o objetivo de responder ao problema da pesquisa, por meio do teste da
hipótese da pesquisa, formulada no capítulo 1 deste trabalho.
Ao longo das análises descritivas, tanto dos sítios na internet como das respostas dos
gestores das ONGs, sempre que julgado necessário, foram realizadas análises de
contingências, com o objetivo de buscar explicações para determinadas respostas, tanto dos
sítios na internet como das respostas dos gestores das ONGs.
A análise de contingência consiste no estudo da associação entre duas ou mais
variáveis, por meio da observação dos dados dispostos em uma tabela de dupla entrada, ou
tabela de contingência. A tabela de contingência apresenta as frequências observadas de duas
ou mais variáveis, com as linhas correspondentes a um critério, e as colunas correspondentes
a outro critério. Sua análise, em geral, resume-se à aplicação do teste não-paramétrico Qui-
quadrado de Pearson. A hipótese em teste é de que as variáveis em análise são independentes,
ou seja, não estão associadas (MARTINS e THEÓPHILO, 2007; VIEIRA, 2004).
67

Os testes não paramétricos são particularmente úteis na análise de dados provenientes


de pesquisas na área de ciências do comportamento, por serem, prioritariamente, adaptáveis
aos estudos que envolvem variáveis de mensuração nominal e ordinal, e que correspondem à
maioria das variáveis estudadas neste trabalho. As provas não-paramétricas são também
denominadas provas de livre distribuição, pois ao aplicá-las não é necessário fazer suposições
quanto ao modelo de distribuição de probabilidade da população (MARTINS e THEÓPHILO,
2007).
O teste estatístico preferencialmente utilizado, tanto para testar a significância das
tabelas de contingência, como para testar as hipóteses levantadas na pesquisa é o teste não-
paramétrico Qui-quadrado de Pearson e, para o caso de análises cujas respostas se apresentem
em tabelas 2 x 2, o teste Qui-quadrado com correção de continuidade de Yates.
O teste Qui-quadrado de Pearson serve para testar se duas variáveis categorizadas são
independentes. O teste Qui-quadrado verifica se há adequação de ajustamento entre as
frequências observadas e as frequências esperadas dos eventos considerados. A hipótese nula
afirmará não haver discrepância entre as freqüências observadas e esperadas, enquanto que a
hipótese alternativa afirmará que as freqüências observadas e esperadas são discrepantes
(MARTINS e THEÓPHILO, 2007).
Quando os eventos observados estão dispostos em uma tabela 2x2, é recomendada a
utilização do teste Qui-quadrado com correção de continuidade, conhecido como Qui-
quadrado corrigido de Yates. De acordo com Vieira (2004), a correção de continuidade
consiste em corrigir as freqüências observadas em ½, o que significa reduzir a diferença entre
as proporções observadas e esperadas. Portanto, a correção de continuidade produz um teste
mais conservador, ou seja, um teste que tem menor probabilidade de rejeitar a hipótese de
nulidade (VIEIRA, 2004).
De acordo com Siegel (1975), na escolha do teste não-paramétrico, quando os dados em
análise se apresentam em tabelas 2 x 2, devem ser observados os seguintes critérios:

Quando N > 40 (N representa o número de observações), usar o teste Qui-quadrado com


a correção de continuidade (correção de Yates).

Quando 20 N 40, o teste Qui-Quadrado pode ser empregado, desde que nenhuma
das freqüências esperadas seja inferior a 5. Se a menor freqüência esperada for inferior a
5, recomenda-se teste Exato de Fisher.
Quando N < 20, utilizar o teste Exato de Fisher em qualquer caso.
68

Para as análises cuja confiabilidade dos resultados dos testes Qui-quadrado possa estar
comprometida (mais de 20,0% de células com freqüência mínima esperada inferior a 5
observações), foi utilizado o teste Exato de Fisher, para análises cujas respostas se apresentem
em tabelas 2 x 2.
O teste Exato de Fisher para tabelas 2x2 é um teste extremamente útil para analisar
dados discretos, nominais ou ordinais, quando as duas amostras independentes são pequenas e
as premissas para aplicação do teste Qui-quadrado não são atendidas (SIEGEL e
CASTELLAN Jr., 2006; VIEIRA, 2004). É utilizado quando os escores de duas amostras
aleatórias independentes caem em uma ou outra classe, de duas classes mutuamente
excludentes. Segundo Siegel e Castellan Jr. (2006), trata-se de um dos mais poderosos testes
unilaterais para dados do tipo para os quais ele é apropriado: de variáveis dicotômicas e em
escala nominal.
Para este trabalho, o nível de significância mínimo considerado para se rejeitar a
hipótese nula (H0) é de 5,0% (a = 0,05). De acordo com Siegel (1975), é usual a adoção de
níveis de significância de 1,0% ou 5,0% para rejeitar hipóteses nulas, embora possam ser
utilizados outros valores. O nível de significância de 5% indica a existência de uma confiança
de 95% de se tomar uma decisão acertada.
Informações mais detalhadas sobre o funcionamento e aplicabilidade dos testes
estatísticos, utilizados neste trabalho de pesquisa, podem ser obtidas nas obras de Fonseca e
Martins, (1996), Martins (2005), Martins e Theóphilo (2007), Siegel (1975), Siegel e
Castellan Jr. (2006), Stevenson (2001) e Vieira (2004). Detalhes sobre o funcionamento do
pacote estatístico Statistical Package for Social Sciences – SPSS 15.0 podem ser obtidos nas
obras de Pereira (2006) e Wagner, Mota e Dornelles (2004).
69

4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo, serão realizadas discussão e análise dos dados obtidos na pesquisa dos
sítios eletrônicos e na pesquisa de campo através dos questionários. Na leitura dos resultados,
deve-se levar em considerações as restrições impostas à pesquisa, tais como a obtenção dos
sítios eletrônicos através do Google; falta de informações nos próprios sítios eletrônico e a
amostra dos respondentes dos questionários é pequena em relação aos sítios estudados.

4.1. Análise das ONGs com sítios eletrônicos

Neste tópico, será realizada análise dos sítios eletrônicos das ONGs, serão abordados
aspectos relativos à data de fundação, a possível solicitação das doações em seus sítios
eletrônicos, a qualificação delas, como também serão apresentados testes estatísticos com os
dados obtidos.

4.1.1 Informações sobre as instituições

A pesquisa de campo foi dividida em duas etapas: análise dos sítios eletrônicos na
internet e aplicação de questionários. Após a coleta dos dados, foi realizada a análise dos
sítios eletrônicos e em seguida a analise dos questionários.
Conforme mencionado anteriormente na metodologia, foram obtidos 272 endereços de
sítios eletrônicos. Destes, 67 precisaram ser excluídos da amostra, uma vez que fugiam ao
objeto da pesquisa ou apresentavam algum tipo de erro em sua página que impossibilitava a
análise. Com isso, a amostra final obtida foi de 205 sítios eletrônicos.
A fim de identificar o período de existência e atuação das organizações, bem como se
este é um fator determinante em sua gestão, buscou-se identificar a data de fundação das
ONGs. Este estudo optou em adotar as mesmas faixas de tempo utilizado pelo IBGE (2005)
70

para agrupar as ONGs por data de fundação a fim de gerar comparabilidade com o estudo
deste instituto.
Observou-se que as ONGs da amostra apresentam a mesma tendência de
desaceleração de criação de ONGs a partir do ano de 2001, apontada nos estudos do IBGE
(2005). A forte concentração de ONGs, criadas no período 1991-2000, pode ser explicada
pela força e visibilidade das ONGs a partir da década de 1990 ( Mendes, 1997; Falconer
(1999); Olak e Nascimento (2006). Para o IBGE (2005), trata-se do fortalecimento da
democracia no País e participação da sociedade civil na vida nacional (ver tabela 12).

Tabela 12 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos segundo
faixas de ano de fundação

Faixas do ano de Distribuição


fundação
Fundações privadas e associações sem ONGs sítios eletrônicos analisados
fins lucrativos (IBGE, 2005)* 2008**

Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%)

Até 1970 10.939 3,2 11 6,6%

De 1971 a 1980 33.308 9,9 18 10,8%

De 1981 a 1990 64.388 19,9 53 31,7%

De 1991 a 2000 140.261 41,5 67 40,1%

De 2001 a 2002 38.007 11,2 6 3,6%

De 2003 a 2004 35.840 10,6 8 4,8%

2005 15.319 4,5 4 2,4%

Total válido 338.162 100% 167 100,0%

Não localizado† - - 38 -

Total 338.162 - 205 -

*Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2005.


** Elaboração própria, 2009.
† Não foi possível localizar data de fundação no sítio eletrônico

Quanto à qualificação das ONGs objeto deste estudo, observou-se que apenas 18,0%
possuem qualificação de OSCIP ou Utilidade Pública de qualquer esfera governamental,
54,1% declaram-se como apenas ONG e 27,8% não declararam o tipo de qualificação,
conforme pode ser visto na tabela 13. Esta tendência de pequena aderência à qualificação foi
71

percebida por Romão (2007) no Manual de Entidades de Utilidade Pública, afirmando que,
apesar da Lei do Terceiro Setor que criou a OSCIP ser considerada um Marco Legal, não
houve grande aderência a este tipo de qualificação. Afirma ainda o autor que grande parte das
qualificadas como OSCIP são organizações criadas recentemente, que não poderiam solicitar
a qualificação como de utilidade pública federal.
Tabela 13– Quanto à qualificação (OSCIP, Utilidade Publica ou ONG)
Freqüência Percentual
ONG 111 54,1
OSCIP 14 6,8
UTILIDADE PÚBLICA 23 11,2
Não declarado 57 27,8
Total 205 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Também se buscou analisar se as organizações apresentavam, em seu sítio eletrônico,


endereço físico, que permitisse ao visitante do sítio eletrônico um contato pessoal, se assim o
desejasse. Este dado foi considerado importante, porque apresentar o endereço físico pode
gerar confiabilidade e esta disponibilização pode indicar que a empresa existe de fato e de
direito, tendo uma sede física estabelecida podendo ser visitada por quem desejar. Observou-
se que 80,5% apresentam endereço físico (ver Tabela 14).

Tabela 14 – Apresentação de endereço físico no sítio eletrônico


Freqüência Percentual
SIM, APRESENTA ENDEREÇO FÍSICO 165 80,5
NO SÍTIO ELETRÔNICO
NÃO 40 19,5
Total 205 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Da mesma forma, houve a preocupação de identificar se as ONGs utilizam a internet


para solicitar doações, conforme pode ser visto na tabela 15, poucas são as organizações que
fazem este apelo ficando restrito a apenas 34 sítios eletrônicos dos 205 analisados.

Tabela 15 – Sítio eletrônico da ONG possui link pedindo doações?


Freqüência Percentual
SIM, POSSUI LINK PEDINDO DOAÇÕES 34 16,6
NÃO 171 83,4
Total 205 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009
72

4.1.2 Prestação de contas divulgadas

Procurou-se identificar se os sítios eletrônicos disponibilizavam prestações de contas.


O foco principal eram as prestações de contas financeiras. Considerou-se, na prestação de
contas financeira, qualquer tipo de relatório que apresentasse dados econômico-financeiros da
organização e o período a que se referissem tais dados. Se apresentasse apenas informações
sobre gastos ou investimentos, sem indicar o período, esta informação não foi considerada
como uma prestação de contas. Partindo desse princípio, conforme pode ser observado na
tabela 16, apenas 18,05% dos 205 sítios eletrônicos analisados disponibilizou algum tipo de
prestação de contas financeiras, totalizando 37 ONGs com apresentação de algum tipo de
prestação de contas econômico-financeira.
Em virtude do pequeno número de sítios eletrônicos que disponibilizou suas
prestações de contas econômico-financeiras, este estudo procurou analisar se havia qualquer
outro tipo de prestação de contas, ou seja, que indicasse realizações da organização, mesmo
sem que indicasse o valor das mesmas. No entanto, era preciso que estas apresentassem o
período a que se referiam. Considerou-se prestação de contas não financeiras aquelas que
inteiravam o visitante sobre o número de atendimentos médicos por exemplo. Procuraram-se
relatórios os quais demonstrassem a intervenção da ONG na sociedade, aquelas que
demonstrassem que as mesmas executaram as atividades para as quais foram criadas.
Conforme pode ser observado na tabela 16, dos 205 sítios eletrônicos analisados,
apenas 52 (que representa 25,37% da amostra) apresenta algum tipo de prestação de contas.
Destes, cerca de 51% apresentavam, em conjunto, prestação de contas financeira e não
financeira. Percebe-se, então: este percentual representativo denota que as ONGs que têm
política de prestação de contas levam em consideração além dos dados econômico-
financeiros, também divulgam sua atuação na comunidade.
73

Tabela 16 – Apresentação de prestação de contas nos sítios eletrônicos das ONGs


Freqüência % da ONGs que apresentam alguma
freqüência prestação de contas
em relação Freqüência % acumulado
à amostra acumulada
com sítios
eletrônicos
Apresentam prestação
de contas financeira e
não financeira 27 14,15% 27 51,9%
Apresentam apenas
prestação de contas
financeira 10 4,88% 37 71,1%
Apresenta apenas
prestação de contas não
financeira 15 7,32% 52 100%
Não apresenta nenhum
tipo de prestação de
contas 153 73,66% -
Total dos sítios 205 100% -
analisados
Fonte: elaboração própria, 2009

A tabela 17 apresenta os tipos de demonstrações financeiras apresentadas pelas ONGs


em seus sítios. Dos 37 sítios que disponibilizam demonstração financeira, 72% apresentaram
pelo menos balanço patrimonial e demonstração de resultado, 5% apresentaram apenas
demonstração de resultado e 10% apresentaram apenas o balanço patrimonial. 03 ONGs
apresentaram apenas demonstrativos de receitas e despesas.

Tabela 17 – Resumo das demonstrações financeiras encontradas


Freqüência Percentual
Balanço patrimonial e Demonstração de Resultado 28 76%
Apenas demonstração de resultado 02 5%
Apenas balanço patrimonial 04 10%
Meros demonstrativos de receitas, despesas ou parecer de 03 9%
auditoria
Total 371 100%
Fonte: elaboração própria, 2009
1
Destes, 4 apresentam DOAR, 05 apresentam demonstração das mutações do patrimônio líquido, 05
apresentam notas explicativas e 8 apresentam parecer de auditoria.

Das 52 ONGs que divulgam algum tipo de prestação de contas (ver tabela 18), apenas
15 são qualificadas como OSCIP ou de Utilidade Pública, não sendo relevante, nesta amostra,
a qualificação da ONG para a política de apresentação de prestação de contas. Observa-se, na
tabela 18, que 9 têm qualificação de Utilidade Pública; 6 como OSCIPs; 25 declaram-se
como ONGs sem especificar alguma qualificação, e 12 não declaram ou não foram
localizadas suas forma jurídica. Silva (2005) encontrou um resultado inverso (no seu estudo,
as OSCIPs prestavam mais contas que as demais qualificações); no entanto, há de se observar
74

que mesma teve contato direto com as 21 ONGs pesquisadas por ela. O presente estudo tem
uma amostra mais extensa e tem um viés do usuário externo de contabilidade, não tendo
acesso, portanto, às práticas adotadas pelas ONGs.

Tabela 18 – Qualificação das ONGs que apresentam algum tipo de prestação de contas
Freqüência Percentual
OSCIP 6 11%
Utilidade Pública 9 16%
ONG 25 48%
Não declarado ou não localizado 12 25%
Total 52 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Por não terem fins lucrativos, as organizações que fazem parte do Terceiro Setor
necessitam, para sua manutenção, receber recursos de terceiros. Dessa forma, espera-se que a
prestação de contas auxilie nesse processo. Assim, é de se esperar que elas chamem atenção
dos que acessam seus sítios eletrônicos para a prestação de contas. Para avaliar essa premissa,
na análise dos sítios eletrônicos, buscou-se verificar se existiam link ou abas nos mesmos
convidando o visitante a verem suas prestações de contas. Especificamente, buscou-se
identificar abas com chamadas do tipo: prestação de contas, transparência, governança, ações
realizadas, etc. Os dados da tabela 19 revelam que apenas 13% dos sítios eletrônicos fazem
essa chamada, num total de 27 ONGs. Das 52 ONGs que prestam algum tipo de conta, 22
chamam a atenção do usuário do sítio eletrônico para a prestação de contas; ou seja, há 5
ONGs que possuem a aba, mas sua prestação de contas não foi considerada para este estudo
por não está dentro do escopo (ter explicito o período a que se refere).

Tabela 19 – Sítio possui link ou aba sobre transparência ou prestação de contas?


Freqüência Percentual
SIM 27 13,2
NÃO 178 86,8
Total 205 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Foram realizados testes estatísticos para estabelecer se o tempo de existência das


ONGs explica a disposição e a forma de prestar contas. Duas premissas igualmente válidas
foram testadas (o que explica o teste bi-caudal). A primeira premissa é a de que ONGs com
mais tempo de atuação e, portanto, com mais experiência e reputação, são mais dispostas a
prestar contas e em maior detalhe do que aquelas com menos tempo de atuação. A outra
75

premissa é a de que instituições mais novas precisam chamar mais a atenção dos doadores,
portanto, chamam mais a atenção para suas prestações de contas e estão mais dispostas a
prestar contas. Criaram-se dois grupos de instituições, tendo, como marco, o ano de 1992,
quando ocorreu a Rio 92. Essa data foi escolhida, porque nesta Convenção foi assinada entre
outros documentos a Agenda 21 na qual os governos comprometem-se a proteger as pessoas e
meio ambiente, e partir deste ano as ONGs passaram a ganhar visibilidade na mídia
(MENDES, 1999, p.7; FALCONER, 1999; OLAK e NASCIMENTO, 2006).

Dos 205 sítios eletrônicos analisados, 167 informam a data da fundação, sendo que 92
ONGs foram fundadas até 1992 e 75 após o ano de 1992. Foi encontrada relação
estatisticamente significativa entre a data de fundação e as que chamam atenção do visitante
para verificar suas prestações de contas, disponibilizando uma aba ou link para a prestação de
contas. Observou-se que as ONGs mais novas utilizam-se mais do expediente de chamar a
atenção ou disponibilizar ao visitante um caminho para a prestação de contas, conforme pode
ser observado na tabela 20. Este resultado também foi encontrado por Silva (2005) que, em
sua dissertação de mestrado, afirma que existe relação entre a idade da organização e a
prestação de contas à comunidade, demonstrando que as organizações mais novas prestam
mais contas à comunidade do que as mais antigas.

Tabela 20– Data da Fundação das ONGs X Aba de


Transparência no sítio eletrônico
Apresenta aba/link de Data de Fundação (Análise) Total
prestação contas/transp. Antes de 1992 De 1992
em diante
Transparência Não 85 59 144
Transparência Sim 7 16 23
Total 92 75 167
Qui-quadrado: 1%
Fonte: Elaboração própria, 2009

A tabela 21 apresenta uma relação estatisticamente significante entre a data de


fundação com a apresentação de endereço físico no sítio eletrônico da internet. Quanto mais
antiga a ONG, maior a probabilidade dela apresentar endereço físico. Das 26 organizações
que não apresentam endereço físico, 19 (73%) foram constituídas após 1992. Uma possível
explicação para isso é que as organizações mais antigas são também as mais organizadas e
com mais condições de investir na criação de sítios eletrônicos para divulgar suas ações.
76

Tabela 21 – Data da Fundação das ONGs X ONG que apresenta endereço físico no sitio eletrônico
Apresenta endereço Data de Fundação (Análise) Total
físico no sítio Antes de 1992 De 1992 em diante
eletrônico
Endereço: não 7 19 26
Endereço: Sim 85 56 141
Total 92 75 167
Qui-quadrado: 0,2% 0,2%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Realizou-se teste observando se quem presta contas indica um caminho claro, via aba
ou link, para o visitante acessar a prestação de contas. Confirmando a hipótese definida,
verifica-se que há uma forte relação entre as que prestam contas (financeira e não financeira)
e a disposição de chamar a atenção do usuário para a mesma, seja através de uma “aba” ou de
um “link”. Chamou a atenção o fato de que algumas organizações não apresentarem prestação
de contas, mas possuírem o link chamando a atenção do leitor para a mesma. Nestes casos,
estas organizações consideravam prestação de contas apenas dizer os tipos de serviços e/ou
assistência provida pela mesma, sem efetivamente prestar contas de suas ações (seja de forma
financeira ou não financeira).
Foram realizados alguns testes para saber se a qualificação, como OSCIP ou de
Utilidade Pública, teria alguma influência sobre as variáveis estudadas. Neste caso, a amostra
cai para 37, porque esta é a quantidade de ONGs que disponibilizam prestação de contas
financeiras por este motivo esta pesquisa passou a utilizar o Teste Exato de Fischer por ser
mais apropriado para amostras pequenas.
Observou-se, pelos testes realizados, que a qualificação como OSCIP ou de Utilidade
Pública não influencia na decisão de apresentar prestação de contas financeira. O mesmo foi
observado em relação a chamar a atenção do usuário do sítio eletrônico para a prestação de
contas, através de uma aba ou link.
Observou-se que há uma forte relação entre a qualificação da ONG e utilização do
sítio eletrônico para pedir doações e disponibilizar o endereço físico. Conforme pode ser
observado na tabela 22, das 23 ONGs qualificadas como de Utilidade Pública, que apresentam
prestação de contas financeiras, 11 delas pedem doação. Entre as 14 OSCIPs, apenas uma
pede doação. O Teste Exato de Fischer foi de 1,1%, indicando relação estatística significante
entre as ONGs qualificadas de Utilidade Pública e a solicitação de doação.
77

Tabela 22 –Qualificação das ONGs X ONGs que pedem doação


Qualificação Total
OSCIP Utilidade Pública
Não Pede doação 13 12 25
Pede doação 1 11 12
Total 14 23 37
Teste Exato de Fischer: 1,1%
Fonte: Elaboração própria, 2009

Conforme pode ser observado na tabela 23, a disponibilização do endereço físico entre
as que disponibilizam prestação de contas financeiras também é influenciada pela qualificação
da ONG. Apenas 8 ONGs não apresentam endereço físico, sendo 6 qualificadas como
OSCIP. O Teste Exato de Fischer foi de 2,2%, indicando relação estatística significante entre
as ONGs qualificadas como Utilidade Pública e a apresentação do endereço físico dela. É
possível que este fenômeno seja explicado porque, para obter a qualificação de Utilidade
Pública, é necessário que sejam mais bem estruturadas para atender mais requisitos de
qualificação.

Tabela 23 – Qualificação das ONGs X ONGs que tem endereço físico no sítio eletrônico
Qualificação Total
OSCIP Utilidade Pública
Não apresenta endereço 6 2 8
Apresenta endereço 8 21 29
Total 14 23 37
Teste Exato de Fischer: 2,2%
Fonte: Elaboração própria

Foram realizados diversos testes em relação ao endereço físico, estudando os seguintes


aspectos: foi verificado se possuir endereço físico influencia a prestação de contas financeira e
não financeira, se influenciava o pedido de doação via internet ou se apresentava aba de
transparência ou ainda aba ou link para prestação de contas no sítio eletrônico. Nenhum destes
testes apresentou resultado estatístico relevante.

4.2 Caracterização da análise descritiva dos questionários

Neste tópico, será realizada análise descritiva dos questionários respondidos por 29
ONGs, destas ONGs 21 tiveram seus sítios eletrônicos investigados neste estudo e mais 8
78

questionários respondidos por ONGs contatada de outra forma, as quais não foi possível
identificar se tinham sítio eletrônico.
A tabela 24 apresenta o ano de fundação das ONGs respondentes dos questionários,
como também os dados relativos à data de fundação encontrada nos sítios eletrônicos
analisados. Da mesma forma que observado nos sítios eletrônicos, as ONGs pesquisadas são
jovens, a maioria criada a partir da década de 1980, apresentando forte concentração no
período 1981 a 1990 no grupo respondente aos questionários. Ressalta-se que apenas 20
apresentaram data de fundação, obtida no sítio eletrônico, visto que esta questão não foi
incluída no questionário.

Tabela 24 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos


segundo faixas de ano de fundação

Distribuição

ONGs: sítios eletrônicos ONG respondente do


Ano de fundação
analisados em 2008 questionário

Absoluto Relativo (%) Absoluto Relativo (%)

Total 205 100,0 29 100,0

Até 1970 11 5,3 1 3,4

De 1971 a 1980 18 8,8 1 3,4

De 1981 a 1990 53 25,8 15 48,5

De 1991 a 2000 67 32,7 1 3,4

De 2001 a 2002 6 3,0 1 3,4

De 2003 a 2004 8 3,9 0 -

2005 4 1,9 2 6,9

Não localizado† 38 18,6 9 31,0

† Não localizado no sítio eletrônico e/ou não foi objeto de pesquisa no questionário
Fonte: Elaboração própria, 2009

Também foi verificado que, das 21 respondentes que tiveram o sítio eletrônico
analisado, apenas uma não apresentava endereço físico no sítio e, dentre estas 21
respondentes, foi observado que todas apresentam prestação de contas financeiras e 71,4%
prestação de contas não financeiras. Isto é resultado da estratégia da pesquisa em concentrar
esforços para obter questionários das organizações que disponibilizam alguma prestação de
79

contas no sítio eletrônico, porque, no início das pesquisas, estas eram as que respondiam mais
prontamente à pesquisa.
Conforme pode ser observado na tabela 25, apenas 9,6% da amostra possui
qualificação/certificação, 4 não foi localizado no sítio eletrônico e 8 ONGs, por não terem
sítio eletrônico, apenas responderam o questionário. Observa-se que as ONGs sem
qualificação são maioria também dentre as que responderam ao questionário.

Tabela 25 – Qualificação das ONGs respondentes


Freqüência Percentual % -
Válido
OSCIP 1 4,8
Utilidade Pública 1 4,8
ONG 15 71,4
Não declarado ou não localizado 4 19,0
Sub-Total/Percentual válido 21 100,0
Perdidos (questionário ONG sem sítio eletrônico) 8 -
Total 29
Fonte: Elaboração própria, 2009

Conforme pode ser visto na tabela 26, foi observado que, das 21 ONGs respondentes,
12 delas apresentam aba ou destaca no sítio eletrônico suas prestação contas, ou seja, mais de
50%. Observou-se também que 85% delas não solicitam doação através do sítio eletrônico.

Tabela 26 –ONG possui no sitio aba de prestação de contas?


Apresenta aba prestação de PEDE DOAÇÃO
contas/transparência
Freqüência Percentual % - Freqüência Percentual %
Válido Válido
SIM 12 57,1 3 14,3
NÃO 9 42,9 18 85,7
Sub-Total/Percentual válido 21 100,0 21 100,0
Não utilizados (questionário de 8 8
ONGs sem sítio eletrônico)
Total 29 29
Fonte: Elaboração própria, 2009

4.2.1 Análise descritiva dos respondentes

Observou-se que os respondentes apresentam idade média de 40 anos, o mais jovem


com 22 anos e o mais velho com 59 anos. Pode-se, então, afirmar que as ONGs da amostra
possuem jovens executivos em seus quadros, visto que 55% deles têm até 40 anos, conforme
80

pode ser visto na tabela 27. Na tabela 28, têm-se o grau de instrução dos respondentes e
observou-se que a maioria possui superior completo (82%), sendo que 3 deles possui
mestrado.

Tabela 27 –Idade dos respondentes


Idade Freqüência Percentual % Percentual
Acumulado
Mais de 20 até 30 anos 3 10,3 10,3
Mais de 30 até 40 anos 13 44,9 55,2
Mais de 40 até 50 anos 9 31,1 86,3
Mais de 50 até 60 anos 4 13,7 100
Total 29 100
Análise Descritiva
Média 40,9
Mediana 40,0
Desvio padrão 8,3
Mínimo 22
Máximo 59
Fonte: Elaboração própria, 2009

Tabela 28 – Grau de instrução dos respondentes


Idade Freqüência Percentual % Percentual
Acumulado %
Mestrado 3 10,3 10,3
Pós-graduação 10 34,5 44,8
Superior completo 11 37,9 82,7
Superior incompleto 2 6,9 89,6
Curso técnico 1 3,4 93,0
Ensino médio 2 6,9 100
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009

Ao entrar em contato com as organizações, foi solicitado que os questionários fossem


respondidos preferencialmente pelos tomadores de decisão, pelo responsável financeiro ou
contador. Observou-se que os respondentes valorizaram a pesquisa conforme pode ser
observado na tabela 29. Dos respondentes, 30% ocupam cargo de diretor; cerca de 34%
ocupam cargo de contador e gerente. Os que responderam “outro”, ocupam cargo de assessor;
coordenador; coordenador financeiro; coordenador administrativo e superintende (ver tabela
29). Outro dado interessante é que algumas ONGs enviaram resposta do questionário em
arquivo pdf; através de carta registrada e enviaram e-mail solicitando cópia dos resultados.
Várias entraram em contato por telefone para acertar detalhes, para oferecer maiores
informações e envio de material pelo correio, além de uma que confirmou a pesquisa com o
orientador. Todos esses cuidados e contatos revelam importante interesse de colaborar com a
pesquisa acadêmica.
81

Tabela 29 – Cargo que o respondente ocupa na ONG


Idade Freqüência Percentual % Percentual
Acumulado %
Diretor 9 31,0 31,0
Contador 3 10,3 41,4
Gerente 7 24,1 65,5
Outro 9 31,0 96,6
Diretor e contador 1 3,4 100
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009

A qualificação das respostas ao questionário pode ser observada além do cargo do


respondente na organização, como também pelo tempo de trabalho dele na ONG. Conforme
pode ser observado na tabela 30, todos têm mais de 2 anos na empresa e o mais antigo na
organização trabalha há 23 anos, apresentando média de 8 anos.

Tabela 30 –Tempo de atuação dos respondentes na ONG


Idade Freqüência Percentual % Percentual
Acumulado
De 02 a 05 anos 14 48,2 48,2
Mais de 05 até 10 anos 8 27,5 75,7
Mais de 10 até 20 anos 6 20,6 96,3
Mais de 20 anos 1 3,7 100
Total 29 100
Análise Descritiva
Média 8,2
Mediana 7,0
Desvio padrão 5,4
Mínimo 2
Máximo 23
Fonte: Elaboração própria, 2009

Os dados acima demonstram que as ONGs são administradas por jovens executivos,
têm nível superior completo e atuam em média há 8 anos na organização.

4.2.2 Análise descritiva das organizações

Conforme pode ser visto na tabela 31, as organizações respondentes formam um grupo
de ONGs já consolidadas, visto que 75% delas possuem mais de 10 anos e apenas 10% delas
têm menos de 5 anos. Destaque para duas organizações com 48 anos e outra com 71 anos de
existência.
82

Tabela 31 –Tempo de existência da ONG


Idade Freqüência Percentual % Percentual
Acumulado %
De 04 a 05 anos 3 10,4 24,2
Mais de 05 até 10 anos 4 13,8 24,2
Mais de 10 até 20 anos 11 38,0 62,2
Mais de 20 até 30 anos 9 31,0 93,2
Mais de 30 até 40 anos 0 0 93,2
Com 48 anos 1 3,4 96,6
Com 71 anos 1 3,4 100
Total 29 100
Análise Descritiva
Média 19,4
Mediana 19,0
Desvio padrão 13,6
Mínimo 04
Máximo 71
Fonte: Elaboração própria, 2009

Observa-se, na tabela 32, uma dispersão de atividades entre as respondentes a que


apresenta maior quantidade de organização. Foram dois grupos: serviços legais, defesa de
direitos civis e organizações política e meio ambiente. Foi utilizada a tabela de classificação
internacional das organizações sem fins lucrativos proposta pela ONU e Universidade Johns
Hopinks, que também é utilizada pelo IBGE.

Tabela 32 – Atividade principal das ONGs respondentes


Atividade Principal Freqüência Percentual %
Cultura e recreação 2 6,9
Educação e pesquisa 4 13,8
Saúde 1 3,4
Assistência social 1 3,4
Meio ambiente 5 17,2
Desenvolvimento social, econômico e moradia 4 13,8
Serviços legais, defesa de direitos civis e organizações políticas 5 17,2
Intermediários Filantrópicos e Promotores do voluntariado 1 3,4
Atividades Internacionais 1 3,4
Religião 0 0
Sindicatos e órgãos de classe 0 0
Não classificados em Outros Grupos 4 13,8
Perdidos 1 3,4
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009

As organizações respondentes têm, em média, 38 funcionários, sendo que 48% têm até
40 funcionários. Duas têm mais de 100 empregados e 3 não possuem empregados (ver tabela
33). Observa-se ainda que 34,5% das ONGs não contam com o trabalho voluntário, pouco
83

mais de 40% contam com até 20 voluntários. Destaca-se para a máxima nesta série que é 3780
voluntários.

Tabela 33 –Números de funcionários e de voluntários nas ONGs


Funcionários Voluntários
Freqüência Percentual Percentual Freqüência Percentual Percentual
% Acumulado % Acumulado
% %
Com nenhum 3 10,3 10,3 10 34,5 34,5
De 02 a 20 9 31,0 41,3 12 41,5 76,0
Mais de 20 até 40 5 17,2 58,5 1 3,4 79,4
Mais de 40 até 60 6 20,7 79,2 1 3,4 82,8
Mais de 60 até 80 2 7,0 86,2 1 3,4 86,2
Mais de 80 até 100 2 7,0 93,2 2 7,0 93,2
Com 110 1 3,4 96,6 1 3,4 96,6
Com 140 1 3,4 100,0 1 3,4 100
Total 29 100 29 100
Análise Descritiva
Média 38 157
Mediana 23 2
Desvio padrão 36,6 698
Mínimo 0 0
Máximo 140 3780
Fonte: Elaboração própria, 2009

Quanto à origem das receitas, observa-se que, das 29 respondentes, 38% delas têm
mais da metade de suas receitas originadas no exterior. Esse percentual é de 27,5% para as
doações nacionais. A dependência do governo, nas ONGs da amostra, é baixa, pois 59% delas
não recebem nada do governo. Quase 14% das ONGs pesquisadas têm mais de 50% de suas
receitas, dependendo da geração de receitas próprias (ver tabela 34). Os resultados
encontrados por Merege (2005) também apontam a relevância da geração de receitas próprias
pelas ONGs.
84

Tabela 34 – Origem da Receita


Descrição Nada 1 a 25 26 a 50 51 a 75 76 a 100 Total

Frequencia
DOAÇÕES NACIONAIS 9 9 3 5 3 29
DOAÇÕES DO EXTERIOR 6 7 5 4 7 29
DO GOVERNO 17 9 2 0 1 29
RECEITA PRÓPRIA 12 10 3 2 2 29
OUTRAS ORIGENS 26 1 1 0 1 29
%
DOAÇÕES NACIONAIS 31,0% 31,0% 10,3% 17,2% 10,3% 100,0%
DOAÇÕES DO EXTERIOR 20,7% 24,1% 17,2% 13,8% 24,1% 100,0%
DO GOVERNO 58,6% 31,0% 6,9% 0,0% 3,4% 100,0%
RECEITA PRÓPRIA 41,4% 34,5% 10,3% 6,9% 6,9% 100,0%
OUTRAS ORIGENS 89,7% 3,4% 3,4% 0,0% 3,4% 100,0%
Fonte: Elaboração própria 2009

4.2.3 Análise descritiva do pessoal da área financeira/contabilidade

Com intuito de verificar a organização do setor contábil-financeiro da organização,


perguntou-se quais profissionais a organização mantinha em seu quadro funcional. Observou-
se, então, que 37% têm contador em seu quadro funcional. Quatro informaram que
terceirizam todas as atividades relacionadas a estas funções (ver tabela 35). Os cargos, em
negrito na tabela, são os que já constavam no questionário; os demais foram acrescentados
pelos respondentes.
85

Tabela 35- Profissionais ligados à prestação de contas que a organização mantém


em seu quadro de funcionários
Profissionais Frequência Percentual - %
Contador 7 24,1
Auditor interno 1 3,4
Controller 1 3,4
Gerente 2 6,9
Gerente Financeiro 2 6,9
Assistente administrativo 1 3,4
Administrador de empresas 2 6,9
Contador e controller 3 10,3
Gerente e Asssitente Financeiro 1 3,4
Contador, Tesour. e Assit.Tesouraria 1 3,4
Diretor, Coordenador e Contador 1 3,4
Outros 3 10,3
Nenhum (todos terceirizados) 4 13,8
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009

A pesquisa procurou investigar quem está envolvido na elaboração da prestação de


contas, conforme pode ser observado na tabela 36. Em 16 organizações, a prestação de contas
é elaborada diretamente pelo contador ou acompanhado de uma ou mais pessoas.

Tabela 36 – Quem elabora a prestação de contas da organização


Profissionais Frequência Percentual - %
Contador interno 6 20,7
Contador externo 4 13,8
Gerente 5 17,2
Administrador 4 13,8
Diretor Financeiro 2 6,9
Coordenador Financeiro 1 3,4
Diretoria 1 3,4
Contador externo e administrador 1 3,4
Contador externo e gerente 3 10,3
Contador interno e gerente 1 3,4
Contador interno, tesoureiro, assist. de
Tesouraria.e coordenador financeiro 1 3,4
Totais 29 100,0
Fonte: Elaboração própria, 2009

4.2.4 Aspectos importantes para elaboração da prestação de contas

Observa-se, na tabela 37, que para a maioria (83%) dos respondentes as regras de
contabilidade são claras e disponíveis. Na tabela 38, tem-se respostas à pergunta a quem se
86

destinam as prestações de contas e um dado importante é que 93% dos respondentes declaram
que produzem as prestações de contas para o público interno, indicando referência à
importância da contabilidade na tomada de decisão.

Tabela 37 – Opinião sobre regras e normas contábeis


Idade Freqüência Percentual %
São claras e disponíveis 24 82,8
São difíceis de entender 3 10,3
Não sabe 2 6,9
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009

Tabela 38- A quem se destina as prestações de contas


Público Alvo Frequência Percentual
Publico interno 27 93,1
Governo 21 72,4
Conselho Administrativo 25 86,2
Aos doadores 21 72,4
Órgãos do Governo que liberam dinheiro 18 62,1
Financiadores 24 82,8
Associados 22 75,9
Beneficiários 11 37,9
População em geral 17 58,6
Fonte: Elaboração própria, 2009

Quando perguntados sobre os aspectos importantes para elaborar a prestação de


contas, os respondentes indicaram que é fator relevante a infraestrutura de informática, o
treinamento de pessoal e uso de softwares adequados para a prestação de contas das ONGs
(ver tabela 39). Em relação à falta ou excesso de normas contábeis, houve certo equilíbrio
entre os respondentes (ver tabela 40), uma vez que a diferença não é estatisticamente
significativa.

Tabela 39– Aspectos importantes para atender os requisitos de relatórios e prestação de contas de forma
eficiente
Muito Importante Não Total
Aspectos importante % % Importante % válido
Infra-estrutura de informática 22 75,9 7 24,1 0 0 29
Treinamento do pessoal 20 69,0 9 31,0 0 0 29
Softwares adequados 15 51,7 13 44,8 1 3,4 29
Dificuldade de produzir informação para
Governo 8 29,6 18 66,7 1 3,7 27
Compatibilidade com o seu sistema
contábil 13 44,8 15 51,7 1 3,4 29
Fonte: Elaboração própria, 2009
87

Tabela 40 – O que gera maior dificuldade para elaboração da prestação de contas


Muita dificuldade
Aspectos Pouca dificuldade
Falta de normas específicas sobre a contabilidade do
Terceiro Setor 11 15 *
Excesso de normas específicas sobre a contabilidade 14 11 **
do Terceiro Setor
* 3 não responderam ** 4 não responderam
Fonte: Elaboração própria, 2009

As tabelas 41 e 42 referem-se às exigências dos doadores/financiadores em relação às


prestações de contas. Observa-se que 50% solicitam relatórios financeiros mensalmente; a
informação sobre os beneficiários é solicitada de forma mais esparsa e os planos estratégicos
são requeridos anualmente (tabela 41). Quase 90% dos respondentes declaram que os
financiadores/doadores estão exigindo mais tempo para a preparação das prestações de contas,
o que deve refletir na demanda por contadores por parte dessas instituições (tabela 42). Nos
estudos de Rawsthorne e Shaver (2008), 41% dos respondentes também afirmaram que requer
muito mais tempo.

Tabela 41 – Informação requerida pelos financiadores/doadores de recursos das ONGs


Informação/Relatórios mensalmente trimestralmente Semestralmente anualmente
Relatórios de desempenho 5 10 10 2
relatórios financeiros 12 7 8 2
Informações sobre os beneficiários 4 8 6 9
Planos de trabalho, projetos e/ou
planos estratégicos 2 1 3 23
Totais 23 26 27 36
Fonte: Elaboração própria, 2009

Tabela 42– Exigência de tempo para a elaboração da prestação de contas, em relação ao passado
A solicitação de prestação de contas pelos Freqüência Percentual % Percentual Acumulado
financiadores e doadores mudou nos
últimos anos?
Sim, requer muito mais tempo 18 62,1 62,1
Sim, requer mais tempo 8 27,6 89,7
Não, requer o mesmo tempo 3 10,3 100,0
Sim, requer menos tempo - - -
Sim, requer muito menos tempo - - -
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009
88

As exigências de prestação de contas, por parte de financiadores/doadores, têm


provocado mudanças na organização, sendo a maior delas na transparência de prestação de
contas ao público e qualidade da documentação da organização, além do planejamento e
definição de metas de entrega dos serviços. Também é significativo o efeito que a elaboração
de prestação de contas tem na prevenção de fraude (71%), conforme pode ser visto na tabela
43.

Tabela 43 – Qual o efeito que as exigências de prestação de contas e relatórios das agências financiadoras
(incluindo governo) têm na sua organização, em relação aos seguintes aspectos:
Frequência / Percentual Total
Efeito Melhora % Indiferente % Atrapalha % válido
Planejamento/definição de metas de
entrega dos serviços 22 75,9 5 17,2 2 6,9 29
Foco nos serviços prestados 16 55,2 10 34,5 3 10,3 29
Transparência e prestação de contas ao
publico 24 82,8 4 13,8 1 3,4 29
Qualidade da documentação da
organização 25 86,2 4 13,8 0 0,0 29
Avaliação da efetividade dos serviços 15 51,7 12 41,4 1 3,4 28
Apoio no gerenciamento financeiro 16 55,2 8 27,6 4 13,8 28
Funcionamento do conselho gestor 12 44,4 15 55,6 0 0,0 27
Identificação de problemas potenciais 18 64,3 10 35,7 0 0,0 28
Prevenção de fraude 20 71,4 8 28,6 0 0,0 28
Desenvolvimento de novos serviços 9 32,1 16 57,1 3 10,7 28
Fonte: elaboração própria, 2009

Segundo a maioria dos respondentes, a contabilidade teve pouco impacto nas


mudanças ocorridas na organização. Para 54% deles, a contabilidade provocou a introdução
de novas tecnologias ou sistemas e, para pouco mais de um terço deles, a contabilidade exigiu
treinamento de pessoal. É significativo que para 43% deles, a contabilidade provocou
mudanças na atividade fim, com a introdução de novos programas ou serviços, indicando o
uso de contabilidade gerencial (tabela 44).
Tabela 44 - Mudanças ocorridas na organização por conta de dados extraídos da contabilidade
(pode marca mais de uma opção)
Frequência/Percentual Total
Mudanças Sim % Não % válidos
Mudanças de habilidades 6 21,4 22 78,6 28
Introdução de novas tecnologias ou sistemas 15 53,6 13 46,4 28
Melhor eficiência no uso dos recursos humanos 6 21,4 22 78,6 28
Maior eficiência nos serviços prestados 9 32,1 19 67,9 28
Treinamento dos funcionários 10 35,7 18 64,3 28
Suspensão/eliminação de programas ou serviços 7 25,0 21 75,0 28
Introdução de novos serviços 12 42,9 16 57,1 28
Fonte: elaboração própria, 2009
89

4.2.5 Testes estatísticos

Foram realizados teste estatísticos para saber se algumas variáveis influenciavam


outras variáveis. Para testar a significância estatística, foi utilizado o Teste Exato de Fisher em
virtude da amostra ser pequena. Foram realizados testes relacionados ao grau de instrução dos
respondentes para verificar se influenciavam na opinião quanto ao excesso ou falta de normas
contábeis para as organizações sem fins lucrativos. Não foi estabelecida nenhuma relevância
estatística.
Também foi realizado testes para saber se algumas variáveis influenciavam na
permanência do contador com vínculo no quadro das ONGs. Os testes relativos à origem das
receitas recebidas do exterior, do governo ou doações nacionais não apresentaram nenhuma
relevância estatística. No entanto, houve relação estatisticamente significativa entre ter receita
própria e ter contador externo. Talvez, as que têm receita própria dependem menos dos
financiadores externos, o que reduz a demanda por serviços contábeis (ver tabela 45).

Tabela 45 – ONGs com receita própria X Mantém contador com vínculo


Contador com Vínculo Total
Possui Não possui
Possui receita própria: Não 8 4 12
Possui receita própria: Sim 4 13 17
Total 12 17 29
Teste Exato de Fischer: 2,6%
Fonte: Elaboração própria

Também foram realizados testes em relação ao destino da prestação de contas.


Buscou-se saber se este destino influenciaria a manutenção de contador no quadro funcional
das ONGs. Não foi observada relevância estatística quando as prestações de contas são
destinadas ao público interno, ao conselho administrativo, aos financiadores em geral, aos
associados, aos beneficiários ou à população. Os testes demonstraram relevância estatística
quando as prestações de contas são destinadas ao governo ou a órgãos governamentais que
liberam verba, pois neste há relação estatisticamente significativa, o que vem corroborar o que
se encontrou no teste: entre a dependência de receita própria e a contratação de contador
externo (ver tabelas 46 e 47).
90

Tabela 46 – Prestação de contas destinada ao governo X Mantém contador com vínculo


Contador com Vínculo Total
Possui Não possui
Prestação de contas ao governo: Não 0 6 6
Prestação de contas ao governo: Sim 11 10 21
Total 11 16 27
Teste Exato de Fischer: 2,7%
Fonte: Elaboração própria

Tabela 47 – Prestação de contas destinada órgãos do governo que liberam verba X Mantém contador
com vínculo
Contador com Vínculo Total
Possui Não possui
Prestação de contas ao governo: Não 0 7 7
Prestação de contas ao governo: Sim 10 8 18
Total 10 15 25
Teste Exato de Fischer: 1,3%
Fonte: Elaboração própria

Observa-se, então, que a manutenção de contador no quadro funcional da ONG tem


maior relevância para garantir a liberação de verba governamental. As demais prestações de
contas ao governo em geral referem-se à manutenção da qualificação como ONG.
91

5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS


PESQUISAS

Neste capítulo, são apresentadas as conclusões do estudo, suas limitações e sugestões


para futuras pesquisas.

5.2 Conclusões

Este estudo teve, como tema, a prestação de contas das organizações não
governamentais, tendo, como objetivo geral, investigar como as ONGs prestam contas de suas
atividades e o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas dessas entidades.
Para alcançar este propósito, foi realizada revisão bibliográfica do assunto em questão, em
seguida uma pesquisa de campo com aplicação de questionários junto aos gestores das ONGs
e foi realizada análise de sítios eletrônicos das ONGs disponíveis na internet.
O problema da pesquisa que se pretendeu responder era: como as ONGs prestam
contas de suas atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração dessas prestações de
contas?
Para responder às perguntas, a pesquisa empírica foi dividida em duas etapas.
Inicialmente, foi realizada pesquisa nos sítios eletrônicos das ONGs e, numa segunda etapa,
foi aplicado um questionário aos gestores das ONGs. Foram realizadas questões específicas
para cada uma das etapas, conforme segue abaixo com resultados encontrados.

5.1.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos

Foram analisados 205 sítios eletrônicos na internet e, dentre os resultados relevantes,


pode-se destacar que parecer haver uma desaceleração na criação de novas ONGs a partir do
ano 2001 e forte concentração de criação no período 1991-2000. Este dado também foi
encontrado em pesquisa do IBGE (2005).
92

Em relação à 1ª. Questão: as ONGs que possuem sítio eletrônico na internet


disponibilizam nestes as suas prestações de contas? Se disponibilizam, quais as características
dessas prestações de contas (financeiras ou não financeiras)? Como respostas, observou-se
que apenas 25% delas disponibilizam algum tipo de prestação de contas, tendo como
características tanto prestações de contas financeiras como não financeiras; em algumas são
apenas demonstrativos de receitas e despesas. Observou-se também que as ONGs mais jovens
chamam mais atenção do visitante às suas prestações de contas.
Quanto à 2ª. Questão: a disponibilização de prestação de contas nos sítios eletrônicos
na internet é influenciada pela qualificação da ONG? E, em relação à 3ª. Questão: a política
de prestação de contas na internet é influenciada pela qualificação das ONGs? Como
respostas, este estudo concluiu que a qualificação não é fator determinante para apresentar
prestação de contas nos sítios eletrônicos
Observou-se que 54% das 205 ONGs analisadas não declaram nenhuma qualificação.
Dentre as 52 ONGs que apresentaram alguma prestação de contas, apenas 16% têm alguma
qualificação e 48% declararam apenas que são ONGs. Além disso, 12 não declararam se são
ONGs (ver tabela 48).

Tabela 48– Qualificação das ONGs nos sítios visitados e das que apresentam alguma prestação de contas
Qualificação das ONGs amostra Qualificação das ONGs que
total apresentam alguma prestação de
contas
Freqüência Percentual Freqüência Percentual
ONG 111 54,1 25 48%
OSCIP 14 6,8 6 11%
UTILIDADE PÚBLICA 23 11,2 9 16%
Não declarado 57 27,8 12 25%
Total 205 100% 52 100%
Fonte: elaboração própria, 2009

Também foi verificado se as ONGs que possuem sítios eletrônicos na internet


possuem política de transparência na prestação de contas. Considerou-se transparência se, no
sitio eletrônico da ONG, houvesse uma aba ou link convidando o visitante a verificar sua
prestação de contas. Observou-se, então, que apenas 13% adotam esta política. Os testes
estatísticos mostraram relevância neste item em relação à idade das ONGs, pois as mais
jovens utilizam-se deste expediente disponibilizando aba ou link para prestação de contas.
Com o propósito de verificar se as ONGs que possuem sítio eletrônico na internet
utilizam-se do ambiente virtual para pedir doações. Na análise descritiva, observou-se que
16% das ONGs pedem doações e os testes estatísticos demonstraram relevância entre as que
93

possuem qualificação. Verificou-se, então, que as que possuem qualificação de Utilidade


Pública utilizam mais desse expediente (doações) do que as OSCIPs.
Também foram realizados testes relativos à data de fundação das ONGs, verificando-
se relevância estatística entre a idade das ONGs e apresentação do endereço físico nos sítios
eletrônicos. As mais antigas apresentam mais seu endereço na internet.

5.1.2 Questões relativas à aplicação do questionário

Os questionários aplicados foram dirigidos, preferencialmente, aos gestores do


departamento financeiro ou da contabilidade e as questões foram divididas em quatro blocos:
no primeiro bloco, as perguntas estão direcionadas a qualificar o respondente; no segundo
bloco, buscou-se qualificar a organização; no terceiro bloco, investigou aspectos da prestação
de contas, como a quem ela é dirigida, dificuldade, periodicidade, dentre outros. Por fim, o
quarto bloco procurou investigar que efeito as exigências nas prestações efetuou na
organização e quais as mudanças foram decorrentes de dados extraídos da contabilidade.
Segue abaixo um breve relato dessas questões:

1º. Bloco: qualificação do respondente

Observou-se que a idade média dos respondentes é de 40 anos, 82% possuem pelo
menos curso superior completo, sendo que 03 possuem mestrado. Trabalham, em média, há 8
anos na organização, o que trabalha menos tempo tem 2 anos e o que está há mais tempo na
organização trabalha há 23 anos.

2º. Bloco: qualificação da Organização

Quanto às ONGs respondentes, apenas 10% delas têm menos de 5 anos de existência,
uma possui 48 anos e outra 71 anos. Talvez este fator tenha influenciado estas organizações a
participarem respondendo os questionários. Dentre as respondentes, cerca de 47% se
envolvem com atividades relacionadas à defesa dos direitos civis, meio ambiente e
desenvolvimento econômico e social.
94

As ONGs possuem, em média, 38 empregados. Apenas duas têm mais de 100


empregados, cerca de 40% delas possuem até 20 voluntários, 03 delas possuem mais de 100
voluntários e uma com 3780 voluntários. Verificou-se que, em 16 ONGs, os contadores estão
diretamente relacionados à elaboração das prestações de contas e 25% delas mantém contador
em seu quadro funcional. Observou-se também que há relação estatística significante entre a
manutenção de contador no quadro funcional e a prestação de contas dirigidas ao governo,
como também a órgãos governamentais que liberam verba para as ONGs.
Em relação à origem de receitas, observou-se que a dependência do governo, nas
ONGs da amostra, é baixa, pois 59% delas não recebem nenhuma verba do governo. Além
disso, quase 14% das ONGs pesquisadas têm mais de 50% de suas receitas dependendo da
geração de receitas próprias. Esse percentual é de 27,5% para as doações nacionais.

3º. Bloco: prestação de contas

Num terceiro bloco de perguntas, exploraram-se aspectos sobre as normas e regras de


contabilidade: se eram difíceis de entender e se atrapalhavam ou ajudavam a prestação de
contas. Também se perguntou a quem as prestações de contas são destinadas, quais
informações exigidas pelos financiadores/doadores, como também quais aspectos são
relevantes para atender essas exigências. Observou-se que, para os respondentes, as regras são
claras e disponíveis. Os respondentes declararam que suas prestações de contas são dirigidas
ao público interno (93%), demonstrando que a contabilidade é utilizada gerencialmente; ao
governo (72%); ao conselho administrativo (86%); aos Financiadores (82%) e aos associados
(75%) e aos órgãos do governo que liberam dinheiro (62%). Ainda em relação à prestação de
contas, declararam ser importante, para elaboração delas, as infraestruturas de informática e
de treinamento de pessoal.

4º. Bloco: os efeitos que as exigências dos doadores/investidores e os dados extraídos


da contabilidade provocaram na organização.

Em relação às exigências dos doadores e financiadores, quase 90% dos respondentes


declaram que os financiadores/doadores estão exigindo mais tempo para a preparação das
prestações de contas, o que deve refletir na demanda por contadores por parte dessas
instituições. As exigências de prestação de contas, por parte de financiadores/doadores, têm
provocado mudanças na organização, sendo a maior delas na transparência de prestação de
95

contas ao público e na qualidade da documentação da organização, além do planejamento e


definição de metas de entrega dos serviços. Também é significativo o efeito que a elaboração
de prestação de contas tem na prevenção de fraude.
Quanto aos testes estatísticos, houve relação estatisticamente significativa entre ter
receita própria e ter contador externo. Talvez, as que têm receita própria dependem menos dos
financiadores externos, o que reduz a demanda por serviços contábeis, havendo terceirização
deste serviço.
Os testes demonstraram relevância estatística, quando as prestações de contas são
destinadas ao governo ou a órgãos governamentais que liberam verba. Neste, há a relação
estatisticamente significativa, o que vem corroborar o que se encontrou no teste entre a
dependência de receita própria e a contratação de contador externo.

5.2 Limitações e sugestões para futuras pesquisas

As principais limitações do estudo que foram constatadas são que a falta de


informações nos sítios eletrônicos analisados podem provocar desvios de resultados.

As principais limitações deste trabalho de pesquisa foram:

As amostras dos sítios eletrônicos foram obtidas, principalmente, através do sítio


eletrônico Google e, portanto, podem não ser representativas das populações de estudo,
o que pode ter influenciado nos resultados da pesquisa. Em virtude do seu tamanho, 205
sítios eletrônicos, pode-se inferir que os resultados tendem a refletir o comportamento
da população estudada.
A falta de informações nos sítios eletrônicos também pode provocar desvios de
resultado.
A amostra dos respondentes dos questionários é pequena em relação aos sítios
eletrônicos analisados.
Os estudos encontrados em relação à temática desta dissertação foram poucos, o que
acabou impossibilitando a realização de um maior número de análises comparativas dos
resultados obtidos nesta dissertação.
96

Para pesquisas futuras, sugere-se a ampliação da amostra dos respondentes do


questionário e a investigação sobre o papel de liderança do gestor e/ou contador das
organizações do terceiro setor. Além disso, futuras pesquisas poderiam aprofundar as causas
de alguns dos achados desta pesquisa.
97

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103

APÊNDICE A:
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GESTORES DAS ORGANIZAÇÕES
SEM FINS LUCRATIVOS

QUESTIONÁRIO

1. Qual a sua idade? _____anos

2. QUAL O SEU NÍVEL DE ESCOLARIDADE?

completo incompleto cursando


Ensino Fundamental
Ensino médio
Curso técnico
Ensino superior
Pós-graduação (especialização)
Mestrado

3. Há quanto tempo trabalha na organização? _____ anos

4. Que cargo ocupa na organização?

( ) Diretor

( ) Contador

( ) Gerente

( ) Outro. Especifique: ____________________________

5. Há quanto tempo a organização existe? ______ anos

6. A sua Organização está envolvida principalmente com (escolha apenas a alternativa que melhor define a sua
ONG):

( ) Cultura e recreação

( ) Educação e pesquisa

( ) Saúde

( ) Assistência social

( ) Meio ambiente

( ) Desenvolvimento social, econômico e moradia

( ) Serviços legais, defesa de direitos civis e organizações políticas

( ) Intermediários Filantrópicos e Promotores do voluntariado


104

( ) Atividades Internacionais

( ) Religião

( ) Sindicatos e órgãos de classe

( ) Não classificados em Outros Grupos

7. Qual o número de funcionários (que recebem remuneração)? ______

8. Qual o número de voluntários? ______

9. Qual o percentual da origem da receita?

Origem da receita %
Doações nacionais
Doações do exterior
Governo
Venda de serviços ou produtos
Outro. Especifique

10. Dos profissionais abaixo listados, qual(is) a instituição mantém em seu quadro de funcionários?

( ) Contador

( ) Auditor interno

( ) Controller

( ) Outro. Especifique: ____________________________

11. Quem elabora as prestações de contas da organização?

( ) Contador interno

( ) Contador externo

( ) Gerente

( ) Administrador

( ) Outro. Especifique: ____________________________

12. Na sua opinião, as normas e regras para elaboração da contabilidade da sua organização:

( ) São claras e disponíveis


105

( ) São difíceis de entender

( ) Não sei.

13. À quem é dirigida a prestação de contas:

Destinatário da prestação de conta Sim Não


Público interno (para controle das atividades e outros fins, como por
exemplo: controle financeiro e controle do patrimônio.)
Para o governo, com o fim de atender legislação
Para os conselhos que controlam a organização
Para os doadores privados de recursos
Para os órgãos governamentais, que liberam recursos para a organização
Para os financiadores
Para os associados
Para os beneficiários
Para a população em geral

14. Qual a importância que você atribui aos seguintes aspectos para atender os requisitos de relatórios e prestação de
contas de forma eficiente:

Muito Importante Não importante

importante
Infra-estrutura de informática
Treinamento do pessoal
Softwares adequados
Dificuldade de produzir informação para
atender exigências governamentais.
Compatibilidade com o seu sistema contábil.

15. O que gera maior dificuldade para a elaboração da prestação de contas:

Pouca dificuldade Muita dificuldade


Falta de normas específicas sobre a contabilidade do terceiro
setor
Excesso normas específicas sobre a contabilidade do terceiro
setor

16. Quais das seguintes informações são exigidas dos financiadores/doadores de recursos da sua
ONG, por período:

Mensal Trimestre Semestre Anual


Relatórios de desempenho
Relatórios financeiros
Informações s/ os beneficiários
Planos de trabalho, projetos e/ou planos
estratégicos
106

17. As solicitações de prestação de contas e relatórios, por parte dos financiadores ou doadores de
recursos, mudou nos últimos anos?

( ) Sim, requer muito mais tempo.

( ) Sim, requer mais tempo

( ) Não, requer o mesmo tempo.

( ) Sim, requer menos tempo.

( ) Sim, requer muito menos tempo.

18. Qual o efeito que as exigências de prestação de contas e relatórios das agências financiadores
(incluindo o governo) têm na sua organização, em relação aos seguintes aspectos:

Melhora Indiferente Atrapalha


Efeito no (na)
Planejamento e definição de metas de entrega dos
serviços
Foco nos serviços prestados
Transparência e prestação de contas ao publico
Qualidade da documentação da organização
Avaliação da efetividade dos serviços
Apoio no gerenciamento financeiro
Funcionamento do conselho gestor
Identificação de problemas potenciais
Prevenção de fraude
Desenvolvimento de novos serviços

19. Dados extraídos da contabilidade fizeram com que sua organização sofresse as seguintes
mudanças: (você pode selecionar mais de uma opção)

( ) Mudanças de habilidades

( ) Introdução de novas tecnologias ou sistemas

( ) Melhor eficiência no uso dos recursos humanos

( ) Maior eficiência nos serviços prestados

( ) Treinamento dos funcionários

( ) Suspensão/eliminação de programas ou serviços

( ) Introdução de novos programas ou serviços


107
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