Oliveira, 2009
Oliveira, 2009
Oliveira, 2009
Dissertação de Mestrado
Recife, 2009
IRANI MARIA DA SILVA OLIVEIRA
Recife
2009
Oliveira, Irani Maria da Silva
Uma investigação sobre a prestação de contas das
entidades do Terceiro Setor brasileiro / Irani Maria da Silva
Oliveira. - Recife : O Autor, 2009.
Existem professores que passam pela nossa vida tornando-se uma marca indelével em nosso
caráter, em nossa forma de enxergar a vida. Sem dúvida, o professor Miranda é um desses
homens dedicados ao ensino e a desabrochar o melhor que há em nós. Este trabalho só foi
possível pela dedicação deste professor, que tão bem soube conduzi-lo, fazendo as necessárias
e imprescindíveis admoestações à autora desta pesquisa. Agradeço sua dedicação, seu
estímulo e sua constante presença.
Deus é muito generoso em colocar, em nossas vidas, pessoas para nos ajudar. Talma Miranda
é uma dessas pessoas que tive o privilégio de convívio, a quem fico eterna devedora das
gentilezas que a mesma me concedeu.
Agradeço aos meus familiares e amigos que abriram mão da minha companhia para que eu
pudesse realizar este sonho.
Agradeço à bibliotecária Ana Maria Santos e Silva, pela revisão da normalização da ABNT e
à professora Veridiana Rocha Monteiro de Melo, pela revisão de texto científico realizada
nesta dissertação de mestrado.
Agradeço a Todos que fazem a UFPE pela oportunidade dada aos alunos do mestrado.
Agradeço às ONGs e aos respondentes dos questionários que disponibilizaram seu tempo para
tornar possível essa pesquisa.
Agradeço aos meus filhos Manoel e Juliana, pelo apoio incondicional, além das traduções de
grande parte dos textos na língua inglesa, que enriqueceram esta pesquisa.
Agradeço, por fim, ao meu amado esposo Pereira cujo apoio foi determinante para o término
deste trabalho.
A boa reputação vale mais que grandes riquezas, desfrutar de boa estima vale
mais que prata e ouro.
Provérbio 22:1
“Não há nenhum respeito possível para a dignidade humana, sem luta coletiva
contra a pobreza e, em última instância, não há esperanças de encontros –
mesmo efêmeros - com a felicidade pessoal, sem um compromisso coletivo com o
destino da Humanidade”
CUNILL GRAU, Nuria.
Repensando o público através da sociedade. Caracas: CLAD, 1998
in Hironobu, 2003.
RESUMO
OLIVEIRA, Irani Maria da Silva. Uma Investigação sobre a Prestação de Contas das
Entidades do Terceiro Setor Brasileiro. Recife, 2009, 7p.
Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade
Federal de Pernambuco.
This paper aimed to verify how the non-government organizations (NOGs) account for their
activities and what’s the role of accountancy in the elaboration of such account, for such was
utilized the inductive method, with the use bibliographic and field researches. In the
bibliographic research the research made by Rawsthorne (2008) from which were replicated
some questions with adaptations to the Brazilian reality was identified, the bibliographic
research allowed as well the elaboration of a check list that was utilized on the analysis of 205
websites on the internet that were considered valid for the research, with the objective of
characterizing the NGOs and verifying how those accounted for their activities, the
bibliographic research also contributed for the elaboration of a questionnaire with 19
questions that were applied to 29 NGO managers. The descriptive analysis and statistic tests
were applied with the use of the software Statistical Package For the Social Sciences – SPSS,
version 15.0. The research concluded that NGOs account for 2 different types of accountance:
the financial accountance and the non-financial accountance. The non financial accoutances
are reports that report it FIM activities and the financial accountance report their economic-
financial movement. From the analysis of the 205 websites it was concluded that 153
NOGs(73%) do not present any type of accountance, 52 NOGs (27%) present some sort of
accountance, but 27 present both financial and non-financial accountance, as 10 present only
financial accountance and 15 present only non financial accountance. The analysis of the
financial accountance presented errors on the financial demonstrations and the absence of
some obligatory demonstrations. On the analysis of the questionnaires applied to the
managaers it was concluded that the accountancy has no relevant paper on the NOGs
accountance in virtue of the same provoking few changes in the origination in terms of its
management and operationality.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
Figuras Descrição Páginas
Figura 1 Percentual da participação do terceiro setor no PIB dos países.............. 38
Figura 2 Emprego do terceiro setor em comparação com outros setores.............. 39
Figura 3 Fontes de ingressos do terceiro setor, 1995 (média 21 países)............... 39
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………. 13
1.1 Considerações iniciais ………………………………………………… 13
1.2 Caracterização do Problema …………………………………………… 15
1.3 Objetivos gerais e específicos …………………………………………... 16
1.3.1 Objetivo geral 16
1.3.2 Objetivos específicos 17
1.4 Questões da pesquisa …………………………………………………… 17
1.4.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos ................... 17
1.4.2 Questões relativas à aplicação do questionário .......................... 19
1.5 Relevância da pesquisa............................................................................. 20
1.6 Delimitação do estudo .............................................................................. 22
1.7 Estrutura do estudo................................................................................... 23
24
2 TERCEIRO SETOR E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS
24
2.1 Terceiro setor.............................................................................................
2.1.1 Entidades sem fins lucrativos ........................................................ 26
2.1.2 Classificação de organizações do terceiro setor ........................... 27
2.2 Organizações do terceiro setor e principais certificações disponíveis ... 29
2.2.1 Associações e fundações …………………………………………. 30
2.2.2 Organizações sociais (OS)………………………………………... 30
2.2.3 Organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP)... 31
2.2.4 Certificação de utilidade pública federal .................................... 34
2.3 Cadastro nacional de entidades de utilidade pública do Ministério da
Justiça (CNEs/MJ)......................................................................................... 35
2.4 Dimensões do terceiro setor...................................................................... 36
37
2.4.1 Terceiro setor no mundo.................................................................
40
2.4.2 O terceiro setor no Brasil ...............................................................
2.5 Estudos similares realizados .................................................................... 47
2.6 Prestação de contas ……………………………………………………. 51
2.6.1 Prestação de Contas Não Financeiras.......................................... 52
2.6.2 Prestação de contas financeiras………………………………… 53
2.6.3 Prestação de contas financeiras e não financeiras
(Accountability).............................................................................................. 54
2.6.4 Controle externo das organizações do terceiro setor................... 56
2.7 A contabilidade do terceiro setor ............................................................ 59
2.7.1 Sistema de Contabilidade por Fundos.......................................... 60
3 METODOLOGIA DA PESQUISA.............................................................. 61
3.1 População e características da amostra................................................... 62
3.2 Análises dos sítios eletrônicos .................................................................. 63
3.3 Construção do questionário.................................................................... 64
3.4 Tratamento estatístico............................................................................... 66
4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS...................................................... 69
4.1. Análise das ONGs com sítios eletrônicos ............................................... 69
4.1.1 Informações sobre as instituições ………………………………. 69
4.1.2 Prestação de contas divulgadas ………………………………… 72
4.2 Caracterização da análise descritiva dos questionários ......................... 77
4.2.1 Análise descritiva dos respondentes ……………………………. 79
4.2.2 Análise descritiva das organizações ……………………………. 81
4.2.3 Análise descritiva do pessoal da área financeira/contabilidade . 84
4.2.4 Aspectos importantes para elaboração da prestação de contas .. 85
4.2.5 Testes estatísticos ………………………………………………... 89
5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS
PESQUISAS.................................................................................................... 91
5.1 Conclusões…………………………………………………………... 91
5.1.1 Questões relativas à pesquisa nos sítios eletrônicos .................... 91
5.1.2 Questões relativas à aplicação do questionário ........................... 93
5.2 Limitações e sugestões para futuras pesquisas....................................... 96
REFERENCIAS................................................................................................... 97
APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GESTORES DAS
ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS..................................................... 103
13
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, serão discutidos: os aspectos preliminares que motivaram este estudo,
o problema da pesquisa, os objetivos geral e específicos e a justificativa.
Olak e Nascimento (2006) afirmam, em contrapartida, que não é fácil encontrar uma
definição clara e objetiva para as Entidades Sem Fins Lucrativos (ESFL), pois, para eles, a
expressão sem fins lucrativos não reflete, por si só, o que são e qual o efetivo papel que
desempenham no contexto social, econômico e político contemporâneo.
O Código Civil Brasileiro (CCB) (Lei no. 10.406/2002), alterado pela Lei
10.825/2003, determina, em seu artigo 44, que as pessoas jurídicas de direito privado são: I -
as associações; II – as sociedades; III – as fundações; IV – as organizações religiosas; V – os
partidos políticos. Em seu artigo 53, o CCB dispõe expressamente: “constituem as
associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Para Oliveira
e Romão (2006), as associações são entidades de direito privado, formada pela união de
indivíduos com o propósito de realizarem fins não econômicos. Estas associações compõem
14
com outras organizações o chamado Terceiro Setor. Por reconhecer a relevância dessas
instituições, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) definiu normas técnicas específicas
para a apresentação das demonstrações financeiras do desse setor.
Afirma Falconer (1999) que Terceiro Setor é o termo que vem encontrando maior
aceitação para designar o conjunto de iniciativas provenientes da sociedade que atua na
execução de projetos e programas de interesse social voltados para múltiplas realidades locais.
Isso mobiliza a participação popular, pois há a articulação com empresas privadas,
comunidades locais, organismos internacionais e com o próprio Estado. O autor destaca,
ainda, que esta expressão divide palco com "uma dezena de outros: não-governamental,
sociedade civil, sem fins lucrativos, filantrópicas, sociais, solidárias, independentes, caridosas,
de base, associativas etc." (FALCONER, 1999, p. 13).
Em relação a esse assunto, no segundo semestre de 2007, a autora deste projeto teve a
oportunidade de co-orientar a monografia de conclusão do curso de graduação em Ciências
Contábeis, da aluna Amanda Batista Feitosa, sob orientação do Professor Luiz Carlos de
Miranda, Ph.D. Este trabalho consistiu em investigar qual a terminologia contábil utilizada
nas demonstrações contábeis da ONGs publicadas em seus sítios eletrônicos. Para isso,
procurou-se, especificamente, identificar se a terminologia adotada era a determinada pela Lei
6.404/76 ou era a das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) específicas para as ONGs,
neste caso, as NBC Técnica (NBCT) 10.19. Neste estudo, foram analisados 269 sítios
eletrônicos de ONGs na internet e, como resultado, verificou-se que apenas 11% das ONGs
deste grupo divulgavam demonstrações contábeis. Começaram, então, a surgir inquietações
sobre outros aspectos, tais como: quais as qualificações destas ONGs? Há quanto tempo
estão operando? O que são prestações de contas para estas organizações? Surge, assim, o tema
deste estudo que é as prestações de contas das ONGs.
1.3 Objetivos
Esta dissertação tem o propósito de investigar como as ONGs prestam contas de suas
atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas dessas
entidades.
17
Com intuito de alcançar seu objetivo geral, esta dissertação tem como objetivos
específicos:
Investigar as características diferenciadoras das ONGs;
Investigar a literatura existente sobre prestação de contas pelas ONGs;
Verificar se as ONGs disponibilizam prestações de contas em seus sítios eletrônicos
na internet;
Investigar se características específicas das ONGs influenciam a política de
divulgação da prestação de contas em sítios eletrônicos da internet;
Investigar se as ONGs que possuem sítio eletrônico próprio na internet utilizam-se
dele para pedir doações.
Investigar o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas das ONGs;
Verificar a quem as ONGs destinam suas prestações de contas.
Para nortear a pesquisa nos sítios eletrônicos, foram realizadas as seguintes questões:
1ª. Questão: As ONGs que possuem sítio eletrônico na internet disponibilizam nestes as suas
prestações de contas? Se disponibilizam, quais as características dessas prestações de contas
(financeiras ou não financeiras)?
18
Esta questão tem o propósito de investigar se as ONGs utilizam seu sítio eletrônico
para prestar contas à comunidade, sejam elas prestação de contas financeiras ou de sua
atuação na sociedade.
3ª. Questão: A política de prestação de contas na internet é influenciada pela qualificação das
ONGs?
Esta pergunta surgiu durante a pesquisa nos sítios eletrônicos. Observou-se que poucas
ONGs disponibilizavam alguma prestação de contas financeira. Procurou-se, então, verificar
se essas organizações utilizavam a internet como um meio de obtenção de recursos.
Foram ainda investigadas se algumas características das ONGs influenciam na decisão de
prestar contas na internet entre as características este estudo testou:
A) Tempo de existência da ONG: será que a idade da ONG influencia a política de
prestação de contas na internet?
B) Prestação de Contas: será que a prestação de contas merece destaque nos sítios
eletrônicos das ONGs que divulgam suas prestações de contas por esse meio?
C) Localidade: será que as ONGs as quais possuem sítio eletrônico na internet
disponibilizam ao internauta o endereço físico?
19
Até o início dos anos 90, o Terceiro Setor encontrava-se camuflado nos índices
macroeconômicos das Nações. No dizer de Salamon e Anheier (1999), o terceiro setor é um
continente perdido dentro do panorama social da sociedade moderna e invisível para os
políticos, empresários e imprensa e até mesmo para alguns do próprio setor. Pode-se atribuir
esta invisibilidade do Terceiro Setor à metodologia aplicada às Contas Nacionais que foi
adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) após a grande depressão de 1929,
quando se sentiu a necessidade de parametrizar as informações sobre as economias no mundo
para estabelecer uma metodologia única de mensurar a força econômica de cada País. Ocorre
que estas contas nacionais estão divididas em atividades agrícolas, indústria e serviços, não
especificando as organizações da sociedade civil que desenvolvem estas atividades.
das transações realizadas durante o exercício social das Entidades de Interesse Social, bem
como uma posição contábil ao final do exercício contábil.
No pensamento de Hendriksen e Van Breda (2007), num mundo ideal, as decisões
sobre o nível de divulgação das organizações seriam baseadas no aumento do bem-estar social
que ela produzisse. Afinal, é de se esperar que as organizações sem fins lucrativos tenham,
por interesse, o bem-estar daqueles que de alguma forma interaja com a mesma e assim
divulgue amplamente suas prestações de contas.
Investigar a forma como as organizações sem fins lucrativos divulgam suas prestações
de contas é uma pequena contribuição para deslindar esse setor que vem recebendo
sistematicamente dinheiro público. Afinal, aprender e entender como os gestores do Terceiro
Setor fazem uso da contabilidade em suas administrações é útil para a contabilidade como
ciência porque estará compreendendo as necessidades deste usuário e assim poderá melhor
atende-los.
Sob o guarda chuva do Terceiro Setor, estão muitas organizações sem fins lucrativos;
logo, este estudo utilizou-se da definição de Salamon e Anheier (1999) para estabelecer a
delimitação do estudo, ou seja, para ser considerada uma ONG objeto deste estudo, a
organização deveria possuir as seguintes características: não ter fim lucrativo, não distribuir
qualquer excedente que possa ser gerado aos seus associados, donos ou controladores; sejam
separadas do governo; que sejam autogeridas e não compulsória. Baseados neste corte, foram
excluídos as federações, confederações, sindicatos e fundações.
23
Além do primeiro capítulo, que trata da Introdução, esta dissertação está estruturada
em cinco capítulos. O segundo capítulo apresenta o referencial teórico, que se aborda o
surgimento do Terceiro Setor, as organizações que o compõem, as qualificações possíveis
para estas organizações, as dimensões do terceiro setor e, sem a pretensão de esgotar o
assunto, um breve resumo de alguns estudos similares realizados. O capítulo terceiro tem, por
temática, a metodologia da pesquisa, apresentando todas as etapas da pesquisa e quais suas
premissas para que os objetivos deste estudo fossem alcançados. O quarto capítulo apresenta a
análise e discussão dos resultados obtidos por meio da análise dos sítios eletrônicos e da
aplicação dos questionários. O quinto capítulo apresenta as considerações finais do estudo,
das limitações e das sugestões para futuros estudos ligados ao tema. Além dos capítulos,
também compõem este estudo as referências bibliográficas e o apêndice composto pelo
questionário aplicado e pela lista dos sítios eletrônicos analisados.
24
que são organizações do Terceiro Setor quaisquer organizações que fazem contraponto ao
capital, que não distribuam seu patrimônio aos associados, que ajam independentemente do
Estado e de forma autônoma em relação a este, sejam, sindicatos, associações, igrejas,
cooperativas entre outras.
Mendes (1999, p. 2) afirma que o Ministério de Administração Federal e Reforma do
Estado (MARE) , em 1997, reconhece a importância dessas organizações ao apresentá-las
como parte da estratégia central do Plano Diretor do Aparelho do Estado:
(...) a crescente absorção de atividades sociais pelo denominado Terceiro
Setor (de serviços não-lucrativos) tem sido uma marca recorrente em
processos de reformado Estado nas democracias contemporâneas. Trata-se
de um movimento que é portador de um novo modelo de administração
pública, baseado no estabelecimento de alianças estratégicas entre Estado e
sociedade, quer para atenuar disfunções operacionais daquele, quer para
maximizar os resultados da ação social em geral. Assim, o propósito central
do Projeto de Organizações Sociais é proporcionar um marco institucional
de transição de atividades estatais para o Terceiro Setor e, com isso,
contribuir para o aprimoramento da gestão pública estatal e não estatal. (p.2)
partir de então a JHU criou um departamento voltado ao estudo do Terceiro Setor e hoje é
referência mundial no assunto.
Mendes (1999) escreveu o texto de discussão no 647 do IPEA sob o título “Visitando
o Terceiro Setor (ou parte dele)”, no qual consolidou três artigos que havia escrito em 1997,
que versavam sobre a conformação do Terceiro Setor no Brasil, sobre as estratégias das
ONGs para a virada do milênio e sobre a evolução sociopolítica das ONGs no Brasil e as
relações do Estado com o Terceiro Setor. Este texto tem sido referência para vários
estudiosos. Nele, o pesquisador afirma que a dinâmica de atuação e orientação das ONGs são
diferentes, desde sua concepção, campos ou áreas de atuação e especialmente na forma de
processar suas ações. Em consequência, os resultados nem sempre são de fácil mensuração e
estes têm sido questionados ou censurados porque não estão explicitados em modelos
estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.
Caracterizar as entidades sem fins lucrativos pode apresentar várias dificuldades. Olak
e Nascimento (2006) afirmam que buscar uma definição para Entidades Sem Fins Lucrativos
não é uma tarefa fácil, estes autores citam Peter F. Drucker (1994) que afirma que as
instituições sem fins lucrativos têm, em comum, o objetivo de realizar mudanças nas pessoas.
Seu produto é um paciente curado, é uma criança que aprende, é um jovem que se transforma
em adulto com respeito próprio, ou seja, é uma vida transformada.
Para Mendes (1999, p. 12), a dificuldade inicial para a caracterização e escolha das
ONGs é que não existe uma classificação oficial que diferencie e estratifique os diversos
segmentos formados por entidades sem fins lucrativos no Brasil. Segundo o autor, usa-se
como referência, classificação e caracterização a legislação vigente e as terminologias
adotadas por estudos do tema como "Landim e Fernandes e por instituições associativas de
reconhecimento nacional, como o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), e a
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG), entre outros."
classificação foi adotada pela ONU. A definição de organização sem fins lucrativos aceita
internacionalmente é a seguinte:
As organizações que compõem o Terceiro Setor podem ser classificadas sob várias
abordagens: sob a ótica jurídica (aspectos legais); sob o acordo com as atividades que
desempenham; sob o resultado de benefícios sociais; sob a origem de recursos financeiros e
econômicos, entre outras. Olak e Nascimento (2006) destacam que há pouquíssimos estudos e
estatísticas sobre esse setor, dificultando, ainda mais, a busca de respostas precisas e
consistentes. Este problema já havia sido apontado por Mendes (1999), quando afirmou que
28
os resultados apresentados pelas organizações do Terceiro Setor nem sempre são de fácil
mensuração e estes têm sido questionados ou censurados porque não estão explicitados em
modelos estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.
QUADRO 1: Grupos e subgrupos da Classificação Internacional das Organizações sem Fins Lucrativos
(ICNPO)
Esta classificação tem sido adotada em diversos estudos com o propósito de gerar
dados comparáveis (Salamon e Anheier, 1999; Merege, 2005; IBGE, 2002; IBGE, 2005 e
estudos produzidos pela Johns Hoppinks University).
Organização Social (OS) é uma qualificação dada às entidades privadas sem fins
lucrativos (associações, fundações ou sociedades civis), que exercem atividades de interesse
público. Esse título permite que a organização receba recursos orçamentários e administre
serviços, instalações e equipamentos do Poder Público, após ser firmado um Contrato de
Gestão com o Governo Federal. Segundo Araújo (2005), com a reforma do Estado, iniciada
no governo Collor, no início da década de 1990, e continuada no governo Fernando Henrique,
o tamanho do Estado diminuiu, surgindo a necessidade de que a sociedade ocupasse
atividades que competiam ao Estado. Para Olak e Nascimento (2006) , a implementação das
Organizações Sociais (OSs) foi uma estratégia central do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado.
Seu objetivo principal foi permitir e incentivar a ´publicização’, ou seja, a
produção não lucrativa pela sociedade de bens e serviços não exclusivos do
Estado. Pela lei das OSs (Lei 9.637/98), podem ser qualificadas como
organizações sociais as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica,
ao desenvolvimento tecnológico, à preservação do meio ambiente, à cultura
e à saúde. (OLAK e NASCIMENTO, 2006, P. 17)
sociedade civil parte da prestação desses serviços. Termo OS não designa uma espécie de
ONG, mas tão somente uma qualificação concedida pelo Estado.
Até setembro de 2007, o Brasil possuía 3.599 ONGs qualificadas como OSCIPs (ver
tabela 1) apresentando forte concentração na região sudeste (47,7%), e menor concentração na
região norte.
34
Este tópico irá apresentar alguns dados estatísticos do Terceiro Setor, delineando suas
dimensões no Brasil e no mundo.
37
Quadro 2 – Países cobertos pela II fase do Projeto de Estudo Comparativo do Terceiro Setor da
Universidade Johns Hopkins
REGIÕES
Europa Ocidental Europa Central e do Outros Países América Latina
Leste desenvolvidos
Países Baixos República Tcheca Austrália Argentina
Irlanda Hungria Estados Unidos Peru
Bélgica Eslováquia Israel Brasil
França Romênia Japão Colômbia
Reino Unido México
Alemanha
Espanha
Áustria
Finlândia
Fonte: Salamon e Anheier, 1999
Hungria; 1,2
Itália; 2
Japão; 3,2
França; 3,3
1
Média; 3,5
Alemanha;
3,6 Reino
Unido; 4,8
E.U.A.; 6,3
0 2 4 6 8
Fonte: Projeto de Estudo Comparativo do Setor não Lucrativo da Universidade Johns Hopkins, 1994,
apud Merege, 2005
O Terceiro Setor empregava, nos países pesquisados, mais que as maiores empresas
privadas estabelecidas neles, conforme pode ser observado na figura 2. Além disso, este setor
tem atraído em média 28% da população para o trabalho voluntário que equivale a 10,6
milhões de emprego, totalizando 29 milhões postos de trabalho no terceiro setor.
39
25 22,5
19
20
15
10
4,6 5,5
3,4 4,3
5
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Se
iç
Te
rv
Se
Doações
11% Setor
público
41%
Venda de
produtos e
serviços
48%
Para melhor entender os dados levantados das FASFIL, é necessário entender a forma
como os dados do CEMPRE foram tratados para o estudo em questão. Segundo o IBGE
(2002), os dados no CEMPRE contêm a razão social, o código da natureza jurídica, a
classificação da atividade principal, o endereço completo, o nome de fantasia e o ano de
fundação (quando é o caso). O âmbito da pesquisa foi definido a partir do código da natureza
jurídica.
A Natureza jurídica é composta por uma estrutura de códigos formada por quatro
dígitos, e o primeiro identifica a natureza das organizações, que são: 1 para administração
pública; 2 para entidades empresariais e 3 para entidades sem fins lucrativos. Dessa forma, a
base para seleção das instituições a serem incluídas no estudo foram as organizações iniciadas
com o dígito 3 que são as entidades sem fins lucrativos.
Fins Lucrativos ao Serviço das Famílias), que define uma classificação reconhecida pela
Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (IBGE, 2002).
(ii) sem fins lucrativos, isto é, organizações que não distribuem eventuais excedentes
entre os proprietários ou diretores e que não possuem, como razão primeira de existência, a
geração de lucros – podem até gerá-los desde que aplicados nas atividades fins;
(v) voluntárias, na medida em que podem ser constituídas livremente por qualquer
grupo de pessoas, isto é, a atividade de associação ou de fundação da entidade é livremente
decidida pelos sócios ou fundadores. No caso brasileiro, esses critérios correspondem a três
figuras jurídicas dentro do novo Código Civil: associações, fundações e organizações
religiosas (IBGE, 2002).
2002 2005
Para a elaboração do estudo das FASFIL, foram excluídas as seguintes entidades: 303-
4: Serviço Notarial e Registros (Cartório); 307-7: Serviço Social Autônomo; 308-5:
Condomínio em Edifícios; 309-3: Unidade Executora (Programa Dinheiro Direto na Escola);
310-7: Comissão de Conciliação Prévia; 311-5: Entidade de Mediação e Arbitragem; 312-3:
Partido Político; 313-1: Entidade Sindical; 321-2: Fundação ou Associação Domiciliada no
Exterior. O resultado apresentado na Tabela 3 reflete o número de FASFIL em 2002 segundo
o IBGE.
No ano de 2005, existiam 338.162 FASFIL que representam uma parcela significativa
das 6 milhões de entidades pública e privada, lucrativa e não-lucrativa que compunham o
Cadastro Central de Empresas (CEMPRE).
43
Tabela 5 – Número de Fundações privadas e associações sem fins lucrativos (FASFIL), segundo
classificação das entidades sem fins lucrativos. Brasil – 2002 e 2005
2002 2005
Este estudo revelou que 62% das FASFIL existentes em 2002 foram criadas a partir
dos anos 1990 e que, a cada década, acelera o ritmo de crescimento; logo, as que foram
criadas nos anos de 1980 são 88% mais numerosas do que as que foram criadas nos anos de
1970. Esse percentual é de 124% para as que nasceram na década de 1990 em relação à
década anterior (IBGE, 2002).
Mais da metade do pessoal ocupado assalariado das FASFIL (57,1%), o que equivale a
quase um milhão de pessoas, está em instituições localizadas no Sudeste e, em especial, no
Estado de São Paulo que reúne, sozinho, 553,7 mil desses trabalhadores (32,4%). Tal
distribuição, entretanto, não acompanha a estrutura da ocupação no mercado de trabalho no
Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2005,
realizada pelo IBGE, do total de pessoas ocupadas no País 42,2% estão no Sudeste e 21,8%
em São Paulo, ou seja, o mercado de trabalho concentra nesses territórios proporções
inferiores às das FASFIL (IBGE, 2005).
Tabela 6 - Distribuição, absoluta e relativa das fundações privadas e associações sem fins lucrativos e
do pessoal ocupado assalariado, segundo Grandes Regiões Brasil – 2005
Grandes Distribuição
Regiões/Brasil
Fundações privadas e associações sem Pessoal ocupado e assalariado
fins lucrativos
Segundo o IBGE (2005), pouco mais de um quarto das FASFIL (26,3%) são muito
novas e foram criadas, nos cinco primeiros anos desta década. Porém, das 89,2 mil entidades
nascidas no período, a maior parte (42,6%) surgiu nos dois primeiros anos (2001 e 2002). A
participação das entidades criadas nos anos subsequentes vem decaindo progressivamente,
45
provocando uma redução para 40,2% a proporção de entidades do biênio 2003/2004 e para
17,2% aquelas criadas no próprio ano 2005. Os dados do período 2003 a 2005 podem estar
sinalizando uma desaceleração no crescimento das entidades sem fins lucrativos no País
(Tabela 7).
Tabela 7 - Distribuição das fundações privadas e associações sem fins e do pessoal ocupado assalariado,
segundo faixas de ano de fundação. Brasil.
Até 1994, o Terceiro Setor não tinha visibilidade; então, neste ano, os cientistas
Salomon e Anheier, juntamente aos técnicos da ONU, produziram o Projeto Comparativo do
Setor Não Lucrativo da Johns Hopkins University (JHU) que resultou numa proposta de
agregação das informações deste setor. Esta primeira pesquisa apresenta informações
agregadas do setor nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha,
Itália, Suécia, Hungria e Japão, que foram Publicadas no clássico livro "The Emergin Sector -
An Overview" (Merege, 2005). A partir de então, a JHU criou um departamento voltado ao
estudo do Terceiro Setor e hoje é referência mundial no assunto.
48
Mendes (1999) escreveu o texto de discussão no 647 do IPEA sob o título “Visitando
o Terceiro Setor (ou parte dele)”. Nele, o pesquisador afirma que a dinâmica de atuação e
orientação das ONGs são diferentes, desde sua concepção, campos ou áreas de atuação e
especialmente na forma de processar suas ações. Em consequência, os resultados nem sempre
são de fácil mensuração e estes têm sido questionados ou censurados porque não estão
explicitados em modelos estatísticos e nem fazem parte dos documentos oficiais.
Falconer (1999), em sua tese de dissertação, escreveu sobre o posicionamento do
campo da Administração para o Terceiro Setor, indicando as potencialidades e limitações,
descrevendo, detalhadamente, o Terceiro Setor, os conceitos fundamentais relacionados ao
mesmo, como também explora as razões históricas que levaram à formação do conceito do
terceiro setor. Afirma o pesquisador que a agenda de pesquisa do Terceiro Setor tem
desempenhado uma importante influência em todo o mundo e que é um campo onde as
Ciências Sociais têm um grande potencial de contribuição da pesquisa à sociedade.
Olak (2000) escreveu sua dissertação de mestrado com o título "Bases para a Eficácia
na Aplicação do Contrato de Gestão nas Organizações Sociais Brasileiras”. Esse pesquisador
estudou as Organizações Sociais, modelo de entidade sem fins lucrativos proposta pelo Plano
Diretor da Reforma do Aparelho Administrativo do Estado Brasileiro, oriundo do Poder
Executivo em 1995. Nesta pesquisa, o autor procura definir o perfil das entidades sem fins
lucrativos, suas características, legislações pertinentes, seu marco legal etc. O estudioso
concluiu que as Organizações Sociais (criadas a partir da Reforma do Aparelho Administrado
do Estado Brasileiro) não possuem instrumentos contábeis adequados para avaliar seus
desempenhos, quer no âmbito dos contratos de gestão negociados com o Poder Público, ou
mesmo fora dele. Dando continuidade às suas pesquisas e estudos, Olak em 2006 escreveu o
livro Contabilidade para Entidades sem Fins Lucrativos, juntamente com o orientador da sua
dissertação o Professor Diogo Toledo do Nascimento.
Em 2002, o IBGE produziu as primeiras estatísticas oficiais do Terceiro Setor
Brasileiro a partir de dados secundários, com apoio da ABONG (Associação Brasileira de
Organizações Não Governamentais e do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas)
cujos resultados são mostrados no próximo tópico.
No ano de 2003, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) editou o livro Manual de
Procedimentos Contábeis para Fundações e Entidades de Interesse Social, nele o CFC
reconhece a importância e crescimento deste setor e da necessidade de divulgação dos
procedimentos específicos a serem adotados na contabilidade destas organizações.
49
Numa pesquisa rápida, no banco de teses da Universidade de São Paulo (USP), foi
possível encontrar 10 teses e/ou dissertações de mestrado relacionadas de forma direta ao
tema, Terceiro Setor, versando sobre os mais variados aspectos como: governança
corporativa, gestão de pessoas, transferência de conhecimento, formação e destinação de
resultados. Destaque-se também a dissertação de Alcides Bettiol Junior (2005) que estudou a
percepção dos administradores/diretores da organização estudada em relação à formação de
resultados. Sua pesquisa concluiu que, para um grupo, a formação de resultado está
relacionada à confrontação receitas e despesas dando-se ênfase ao lucro e, para outro grupo,
está preocupado em demonstrar os resultados para as atividades-fins da organização. Por fim,
o pesquisador sugeriu a utilização do Demonstrativo do Valor Adicionado (DVA) para
atender as especificidades do Terceiro Setor.
Feitosa (2007) realizou pesquisa em 269 sítios eletrônicos da internet com o propósito
de investigar o grau de aderência às Normas Brasileira de Contabilidade – Técnicas (NBCT):
NBCT 10.4 e NBCT 10.19 do CFC que determinam normas específicas para tratamento de
dados e demonstrações contábeis para as Fundações (NBCT 10.4) e para as Organizações sem
fins lucrativos de interesse social que desejam obter o Certificado de Entidade de Fins
Filantrópicos pelo CNAS (NBCT 10.19). Concluiu que 89% das ONGs que possuem sítio
eletrônico próprio não publicaram ou era de difícil acesso quaisquer demonstrações
contábil/financeira, visto que apenas 31 das organizações visitadas na internet publicaram
pelo menos uma demonstração contábil/financeira.
RAWSTHORNE e SHAVER (2008) conduziram uma pesquisa promovida pelo
Governo da Austrália, através do Centro de Pesquisa de Políticas Sociais da Universidade de
New South Wales, que teve o propósito de investigar o impacto das exigências contratuais e
contábeis de departamentos dos Serviços à Família e comunidade. Esta pesquisa permitiu a
coleta de dados em que envolveu mais de 600 organizações. Além do impacto das normas de
contabilidade e relatório de contratos, investigou o tipo, a frequência, o número de horas de
trabalho de pessoal alocado para sua elaboração, destacando a complexidade das relações
entre o governo e as organizações. Concluíram que o governo, em parceria a com outros
investidores/financiadores, tem trabalho a fazer nas áreas de desenvolvimento e acordos de
serviços.
51
Prestação de contas é uma expressão que se tornou corriqueira no dia a dia, através da
mídia, exigências do trabalho ou até mesmo no núcleo familiar. É comum uma mãe,
preocupada com a educação dos seus filhos, exigir que estes prestem contas de suas atitudes.
Segundo o dicionário eletrônico Michaelis (2009), o termo prestação é o ato de dar ou fazer o
que se ajustou em um contrato, e que é um dos modos de este se encerrar ou se resolver e o
termo conta é o registro de confrontação dos débitos e créditos ou de receita e despesa ou
ainda atribuição, cuidado, encargo, responsabilidade, justificação, atribuições.
O ato de prestação de contas das organizações sem fins lucrativos pode ser entendido
como o ato da organização demonstrar que cumpriu sua missão, ou seja, fez aquilo que se
propôs, aplicando corretamente os recursos a ela destinados, comprovando que realizou os
encargos aos quais estavam sob sua responsabilidade, justificando o uso dos recursos obtidos
através da confrontação de suas receitas e despesas, atendendo às exigências morais, legais e
contábeis.
A prestação de contas seria a justificação de que cumpriu com suas responsabilidades
e atribuições. Portanto, prestação de contas é muito mais do que mera demonstração
econômico-financeira das origens e aplicações. A prestação de contas expande-se à
necessidade de demonstrar que se alcançou o objeto fim para o qual a organização foi criada.
A movimentação dos recursos financeiros colocados à disposição da organização são apenas
os meios para se obter êxito no objeto fim dela. Os recursos são escassos e, por este motivo,
devem ser bem aplicados para que se maximizem os bons frutos esperados. Portanto, a
prestação de contas destes recursos é fundamental para que a ONG possa ter credibilidade,
desenvolvendo com isso uma maior capacidade de captação de recursos.
Bettiol Júnior (2005) afirma que, nas empresas com fins lucrativos, os investidores
voltam suas preocupações ao retorno do investimento e nas entidades sem fins lucrativos eles
se voltam aos aspectos relativos de alocação dos recursos fornecidos entre as atividades
desenvolvidas pela entidade. As empresas com fins lucrativos distribuem seus resultados
(Lucros ou Prejuízos) aos seus investidores. Já, nas ONGs espera-se que estas atendam de
forma eficiente aos fins para o qual foi criada.
Basicamente, existem dois tipos de prestação de contas: a prestação de contas
financeira e a prestação de contas não financeira. A primeira se refere à forma, ao destino, à
distribuição e ao uso dos recursos financeiros e a segunda tem seu foco nos resultados obtidos
52
Os relatórios de prestação de contas não financeira são relatórios em que são relatados
o desenvolvimento das atividades realizadas pelas ONGs. Nestes relatórios, as organizações
descrevem como e o que foi realizado e para quem foram realizadas suas atividades. Este
53
relatório pode ser elaborado por qualquer pessoa da organização que tenha qualificação e
conhecimento suficiente das atividades que foram desenvolvidas pela organização. É
necessário, então, que a entidade mantenha registros mínimos de suas atividades, sendo ideal
que alta administração da organização esteja envolvida em sua elaboração.
Para que a prestação de contas de uma organização tenha maior credibilidade, ela deve
ser elaborada por um profissional da área contábil, seguindo as normas definidas para tal. No
Brasil, existem normas específicas para as prestações de contas de entidades do Terceiro
Setor, emitidas pelo CFC tais como a NBC T 10.19, 10.18 e 19.4 que tratam, especificamente,
das organizações do terceiro setor, além das demais normas e princípios que regem a
contabilidade das organizações as quais também são aplicáveis às ONGs, tais como a NBCT 3
que trata das demonstrações contábeis obrigatórias e o Princípios Contábeis Geralmente
Aceitos. A contabilidade é a ciência que analisa, registra, sumariza e controla as alterações
sofridas pelo patrimônio de qualquer organização ou pessoa física. Os relatórios contábeis
devem atender a uma série de princípios, regras, normas, determinações fiscais, etc., que os
tornam mais confiáveis e permitem comparabilidade, ou seja, as regras que determinarão a
forma de registro de uma doação recebida pela ONG “A” será registrada igualmente sob os
mesmos parâmetros na ONG “B”. Além disso, o profissional de contabilidade é obrigado a
produzir demonstrativos padronizados pelo órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização
da atividade de registro das mutações do patrimônio líquido, tais como o Conselho Federal de
Contabilidade (CFC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central, o Comitê
de Pronunciamento Contábil (CPC) entre outros.
Quadro 3 – Partes interessadas internas e externas cujos relatórios devem ser focados
Setor Partes Interessadas (stakeholders)
Internos Externos
Organizações Membros do Estado e Sociedades civil relevante e
intergovernamental internacional empregados público em geral
(IGOs) *
Organização sem fins lucrativos Afiliadas nacional, membros e Comunidades afetadas, parceiros
(NGOs) ** empregados e público em geral
Empresas Multinacionais Acionistas e empregados
(TNCs) ***
Fonte: Lloyde, Warren e Hammer (2008, p. 23), tradução livre.
*Intergovernmental organisations (IGOs)
Organizações intergovernamentais, internacional cujos membros são dois ou mais governos, agências
estaduais.
**Non-governmental organisations (NGOs)
Organizações não governamentais, sem fins lucrativos, recebem contribuições voluntárias e regidas por
um conselho.
***Transnational corporations (TNCs)
Empresas multinacionais com operações em mais de um país
pode ser outro instrumento, a não ser a contabilidade, em virtude de a mesma possuir como
objeto o patrimônio e segundo a NBCT 1, busca,
Para os pesquisadores Olak e Nascimento (2006, p.56), “no Brasil, ainda são
embrionárias, as normas e práticas contábeis que contemplam particularmente as entidades
sem fins lucrativos”. Afirmam ainda os pesquisadores que, em linhas gerais, muitas entidades
elaboram e publicam suas demonstrações contábeis nos mesmos moldes usados pelas
empresas. Esta afirmativa é corroborada pela pesquisa de Feitosa, Miranda, Oliveira e
Rodrigues (2009) cujos resultados indicam alto grau de aderência à Lei 6.404/76 e grau baixo
de aderência às normas específicas do CFC. A FIPECAFI; Arthur Andersen (1991, p. 4)
apud Olak e Nascimento (2006, p.56) sugerem que “desejavelmente, e naquilo que for
aplicável, as demonstrações financeiras de entidades sem fins lucrativos devem ser elaboradas
e publicadas dentro dos mesmos critérios usados por entidades de fins lucrativos.
As entidades do Terceiro Setor estão sujeitas aos Princípios Fundamentais da
Contabilidade e às normas criadas pelo CFC para o setor: NBCT 10.4 – Fundações
(Resolução CFC no. 837/99 de 22/02/1999; NBC T 10.19). Tratam da contabilidade das
entidades sem fins lucrativos, foram aprovadas em 18 de abril de 2000, alteradas em 16 de
maio de 2003. Nesta ocasião, foi determinado a evidenciação de suas receitas, com e sem
gratuidade, como também que as notas explicativas devem evidenciar tais receitas. A NBC T
10.16 - trata dos aspectos contábeis das Entidades que recebem subvenções, contribuições,
auxílios e doações foi aprovada em 13 de dezembro de 2001, alterada em 09 de maio de 2005
e revogada pela NBC T 19.4. NBC T 10.18. Trata dos aspectos contábeis das entidades
sindicais, foi aprovada em 02 de março 1999 e continua em vigor.
60
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Este estudo tem um caráter de pesquisa exploratória no que tange prestação de contas
das ONGs, que, no entendimento de Gil (2007), é desenvolvida com o objetivo de
proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado. Foram
replicadas algumas perguntas, com adaptações à realidade brasileira, de pesquisa realizada por
Rawsthorne (2008).
A partir do banco de dados de Feitosa (2007), composto por 269 endereços de sítios
eletrônicos na internet, foram acrescentados mais 3 sítios eletrônicos cujos endereços foram
obtidos na mídia, totalizando 272 sítios eletrônicos a serem investigados. No decorrer da
pesquisa, 67 sítios eletrônicos foram descartados, ou por estarem fora do escopo da pesquisa,
ou por re-direcionarem para outro link ou simplesmente porque não abriram, totalizando 205
sítios eletrônicos válidos para pesquisa.
Das 205 ONGs com sítios eletrônicos na internet, foram selecionadas 131
organizações para responderem ao questionário. A seleção orientou-se pela disponibilização
de endereço ou e-mail para contato. As 131 organizações foram contatadas por carta (40) e
por email (91), solicitando que respondessem ao questionário da pesquisa. Em alguns casos,
foram necessários quatro e-mails para receber confirmação positiva de participação na
pesquisa.
financeiras em seus sítios eletrônicos, criando uma carta/e-mail mais pessoal, criando um laço
com o possível respondente. Essa estratégia mostrou-se produtiva. Dos 29 questionários
respondidos, 21 são de ONGs cujos sítios eletrônicos foram analisados e estão no grupo de 39
organizações que apresentavam prestação de contas financeiras.
Resumindo, foram analisados 205 sítios na internet de ONGs que atendiam aos
critérios da pesquisa e enviados questionários a 151 ONGs (54 por carta, 91 por e-mail e 3
através de amigos), dos quais apenas 29 foram respondidos (11 dos contatados por carta, 16
dos contatados por e-mail (incluso 2 dos amigos da pesquisadora) e 2 entregue em mãos por
amigos da pesquisadora.
O banco de dados obtido conforme descrito acima continha 272 endereços de sítios
eletrônicos na internet. Todos foram visitados; no entanto, 67 deles foram descartados,
ficando amostra restrita a 205 sítios eletrônicos.
Também para receber um “sim” neste aspecto, era necessário que a existência de uma
aba ou link logo na primeira página com uma das seguintes expressões: doações, ajude,
colabore.
O questionário foi elaborado com a maioria das questões do tipo fechado, o que
apresenta a vantagem de se poder comparar respostas em virtude da sua pouca variabilidade;
além disso, são de mais fácil resposta e produzem respostas mais facilmente analisáveis,
codificáveis e de fácil tratamento estatístico (LAKATOS e MARCONI, 2003; BARROS e
LEHFELD, 1990). O questionário de pesquisa foi aplicado aos gestores das ONGs para
investigar a percepção deles em relação às dificuldades de elaboração das prestações de
contas, como também quem são os usuários destas prestações de contas. As informações
contábeis, na opinião do gestor.
Quando 20 N 40, o teste Qui-Quadrado pode ser empregado, desde que nenhuma
das freqüências esperadas seja inferior a 5. Se a menor freqüência esperada for inferior a
5, recomenda-se teste Exato de Fisher.
Quando N < 20, utilizar o teste Exato de Fisher em qualquer caso.
68
Para as análises cuja confiabilidade dos resultados dos testes Qui-quadrado possa estar
comprometida (mais de 20,0% de células com freqüência mínima esperada inferior a 5
observações), foi utilizado o teste Exato de Fisher, para análises cujas respostas se apresentem
em tabelas 2 x 2.
O teste Exato de Fisher para tabelas 2x2 é um teste extremamente útil para analisar
dados discretos, nominais ou ordinais, quando as duas amostras independentes são pequenas e
as premissas para aplicação do teste Qui-quadrado não são atendidas (SIEGEL e
CASTELLAN Jr., 2006; VIEIRA, 2004). É utilizado quando os escores de duas amostras
aleatórias independentes caem em uma ou outra classe, de duas classes mutuamente
excludentes. Segundo Siegel e Castellan Jr. (2006), trata-se de um dos mais poderosos testes
unilaterais para dados do tipo para os quais ele é apropriado: de variáveis dicotômicas e em
escala nominal.
Para este trabalho, o nível de significância mínimo considerado para se rejeitar a
hipótese nula (H0) é de 5,0% (a = 0,05). De acordo com Siegel (1975), é usual a adoção de
níveis de significância de 1,0% ou 5,0% para rejeitar hipóteses nulas, embora possam ser
utilizados outros valores. O nível de significância de 5% indica a existência de uma confiança
de 95% de se tomar uma decisão acertada.
Informações mais detalhadas sobre o funcionamento e aplicabilidade dos testes
estatísticos, utilizados neste trabalho de pesquisa, podem ser obtidas nas obras de Fonseca e
Martins, (1996), Martins (2005), Martins e Theóphilo (2007), Siegel (1975), Siegel e
Castellan Jr. (2006), Stevenson (2001) e Vieira (2004). Detalhes sobre o funcionamento do
pacote estatístico Statistical Package for Social Sciences – SPSS 15.0 podem ser obtidos nas
obras de Pereira (2006) e Wagner, Mota e Dornelles (2004).
69
Neste capítulo, serão realizadas discussão e análise dos dados obtidos na pesquisa dos
sítios eletrônicos e na pesquisa de campo através dos questionários. Na leitura dos resultados,
deve-se levar em considerações as restrições impostas à pesquisa, tais como a obtenção dos
sítios eletrônicos através do Google; falta de informações nos próprios sítios eletrônico e a
amostra dos respondentes dos questionários é pequena em relação aos sítios estudados.
Neste tópico, será realizada análise dos sítios eletrônicos das ONGs, serão abordados
aspectos relativos à data de fundação, a possível solicitação das doações em seus sítios
eletrônicos, a qualificação delas, como também serão apresentados testes estatísticos com os
dados obtidos.
A pesquisa de campo foi dividida em duas etapas: análise dos sítios eletrônicos na
internet e aplicação de questionários. Após a coleta dos dados, foi realizada a análise dos
sítios eletrônicos e em seguida a analise dos questionários.
Conforme mencionado anteriormente na metodologia, foram obtidos 272 endereços de
sítios eletrônicos. Destes, 67 precisaram ser excluídos da amostra, uma vez que fugiam ao
objeto da pesquisa ou apresentavam algum tipo de erro em sua página que impossibilitava a
análise. Com isso, a amostra final obtida foi de 205 sítios eletrônicos.
A fim de identificar o período de existência e atuação das organizações, bem como se
este é um fator determinante em sua gestão, buscou-se identificar a data de fundação das
ONGs. Este estudo optou em adotar as mesmas faixas de tempo utilizado pelo IBGE (2005)
70
para agrupar as ONGs por data de fundação a fim de gerar comparabilidade com o estudo
deste instituto.
Observou-se que as ONGs da amostra apresentam a mesma tendência de
desaceleração de criação de ONGs a partir do ano de 2001, apontada nos estudos do IBGE
(2005). A forte concentração de ONGs, criadas no período 1991-2000, pode ser explicada
pela força e visibilidade das ONGs a partir da década de 1990 ( Mendes, 1997; Falconer
(1999); Olak e Nascimento (2006). Para o IBGE (2005), trata-se do fortalecimento da
democracia no País e participação da sociedade civil na vida nacional (ver tabela 12).
Tabela 12 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos segundo
faixas de ano de fundação
Não localizado† - - 38 -
Quanto à qualificação das ONGs objeto deste estudo, observou-se que apenas 18,0%
possuem qualificação de OSCIP ou Utilidade Pública de qualquer esfera governamental,
54,1% declaram-se como apenas ONG e 27,8% não declararam o tipo de qualificação,
conforme pode ser visto na tabela 13. Esta tendência de pequena aderência à qualificação foi
71
percebida por Romão (2007) no Manual de Entidades de Utilidade Pública, afirmando que,
apesar da Lei do Terceiro Setor que criou a OSCIP ser considerada um Marco Legal, não
houve grande aderência a este tipo de qualificação. Afirma ainda o autor que grande parte das
qualificadas como OSCIP são organizações criadas recentemente, que não poderiam solicitar
a qualificação como de utilidade pública federal.
Tabela 13– Quanto à qualificação (OSCIP, Utilidade Publica ou ONG)
Freqüência Percentual
ONG 111 54,1
OSCIP 14 6,8
UTILIDADE PÚBLICA 23 11,2
Não declarado 57 27,8
Total 205 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009
Das 52 ONGs que divulgam algum tipo de prestação de contas (ver tabela 18), apenas
15 são qualificadas como OSCIP ou de Utilidade Pública, não sendo relevante, nesta amostra,
a qualificação da ONG para a política de apresentação de prestação de contas. Observa-se, na
tabela 18, que 9 têm qualificação de Utilidade Pública; 6 como OSCIPs; 25 declaram-se
como ONGs sem especificar alguma qualificação, e 12 não declaram ou não foram
localizadas suas forma jurídica. Silva (2005) encontrou um resultado inverso (no seu estudo,
as OSCIPs prestavam mais contas que as demais qualificações); no entanto, há de se observar
74
que mesma teve contato direto com as 21 ONGs pesquisadas por ela. O presente estudo tem
uma amostra mais extensa e tem um viés do usuário externo de contabilidade, não tendo
acesso, portanto, às práticas adotadas pelas ONGs.
Tabela 18 – Qualificação das ONGs que apresentam algum tipo de prestação de contas
Freqüência Percentual
OSCIP 6 11%
Utilidade Pública 9 16%
ONG 25 48%
Não declarado ou não localizado 12 25%
Total 52 100%
Fonte: Elaboração própria, 2009
Por não terem fins lucrativos, as organizações que fazem parte do Terceiro Setor
necessitam, para sua manutenção, receber recursos de terceiros. Dessa forma, espera-se que a
prestação de contas auxilie nesse processo. Assim, é de se esperar que elas chamem atenção
dos que acessam seus sítios eletrônicos para a prestação de contas. Para avaliar essa premissa,
na análise dos sítios eletrônicos, buscou-se verificar se existiam link ou abas nos mesmos
convidando o visitante a verem suas prestações de contas. Especificamente, buscou-se
identificar abas com chamadas do tipo: prestação de contas, transparência, governança, ações
realizadas, etc. Os dados da tabela 19 revelam que apenas 13% dos sítios eletrônicos fazem
essa chamada, num total de 27 ONGs. Das 52 ONGs que prestam algum tipo de conta, 22
chamam a atenção do usuário do sítio eletrônico para a prestação de contas; ou seja, há 5
ONGs que possuem a aba, mas sua prestação de contas não foi considerada para este estudo
por não está dentro do escopo (ter explicito o período a que se refere).
premissa é a de que instituições mais novas precisam chamar mais a atenção dos doadores,
portanto, chamam mais a atenção para suas prestações de contas e estão mais dispostas a
prestar contas. Criaram-se dois grupos de instituições, tendo, como marco, o ano de 1992,
quando ocorreu a Rio 92. Essa data foi escolhida, porque nesta Convenção foi assinada entre
outros documentos a Agenda 21 na qual os governos comprometem-se a proteger as pessoas e
meio ambiente, e partir deste ano as ONGs passaram a ganhar visibilidade na mídia
(MENDES, 1999, p.7; FALCONER, 1999; OLAK e NASCIMENTO, 2006).
Dos 205 sítios eletrônicos analisados, 167 informam a data da fundação, sendo que 92
ONGs foram fundadas até 1992 e 75 após o ano de 1992. Foi encontrada relação
estatisticamente significativa entre a data de fundação e as que chamam atenção do visitante
para verificar suas prestações de contas, disponibilizando uma aba ou link para a prestação de
contas. Observou-se que as ONGs mais novas utilizam-se mais do expediente de chamar a
atenção ou disponibilizar ao visitante um caminho para a prestação de contas, conforme pode
ser observado na tabela 20. Este resultado também foi encontrado por Silva (2005) que, em
sua dissertação de mestrado, afirma que existe relação entre a idade da organização e a
prestação de contas à comunidade, demonstrando que as organizações mais novas prestam
mais contas à comunidade do que as mais antigas.
Tabela 21 – Data da Fundação das ONGs X ONG que apresenta endereço físico no sitio eletrônico
Apresenta endereço Data de Fundação (Análise) Total
físico no sítio Antes de 1992 De 1992 em diante
eletrônico
Endereço: não 7 19 26
Endereço: Sim 85 56 141
Total 92 75 167
Qui-quadrado: 0,2% 0,2%
Fonte: Elaboração própria, 2009
Realizou-se teste observando se quem presta contas indica um caminho claro, via aba
ou link, para o visitante acessar a prestação de contas. Confirmando a hipótese definida,
verifica-se que há uma forte relação entre as que prestam contas (financeira e não financeira)
e a disposição de chamar a atenção do usuário para a mesma, seja através de uma “aba” ou de
um “link”. Chamou a atenção o fato de que algumas organizações não apresentarem prestação
de contas, mas possuírem o link chamando a atenção do leitor para a mesma. Nestes casos,
estas organizações consideravam prestação de contas apenas dizer os tipos de serviços e/ou
assistência provida pela mesma, sem efetivamente prestar contas de suas ações (seja de forma
financeira ou não financeira).
Foram realizados alguns testes para saber se a qualificação, como OSCIP ou de
Utilidade Pública, teria alguma influência sobre as variáveis estudadas. Neste caso, a amostra
cai para 37, porque esta é a quantidade de ONGs que disponibilizam prestação de contas
financeiras por este motivo esta pesquisa passou a utilizar o Teste Exato de Fischer por ser
mais apropriado para amostras pequenas.
Observou-se, pelos testes realizados, que a qualificação como OSCIP ou de Utilidade
Pública não influencia na decisão de apresentar prestação de contas financeira. O mesmo foi
observado em relação a chamar a atenção do usuário do sítio eletrônico para a prestação de
contas, através de uma aba ou link.
Observou-se que há uma forte relação entre a qualificação da ONG e utilização do
sítio eletrônico para pedir doações e disponibilizar o endereço físico. Conforme pode ser
observado na tabela 22, das 23 ONGs qualificadas como de Utilidade Pública, que apresentam
prestação de contas financeiras, 11 delas pedem doação. Entre as 14 OSCIPs, apenas uma
pede doação. O Teste Exato de Fischer foi de 1,1%, indicando relação estatística significante
entre as ONGs qualificadas de Utilidade Pública e a solicitação de doação.
77
Conforme pode ser observado na tabela 23, a disponibilização do endereço físico entre
as que disponibilizam prestação de contas financeiras também é influenciada pela qualificação
da ONG. Apenas 8 ONGs não apresentam endereço físico, sendo 6 qualificadas como
OSCIP. O Teste Exato de Fischer foi de 2,2%, indicando relação estatística significante entre
as ONGs qualificadas como Utilidade Pública e a apresentação do endereço físico dela. É
possível que este fenômeno seja explicado porque, para obter a qualificação de Utilidade
Pública, é necessário que sejam mais bem estruturadas para atender mais requisitos de
qualificação.
Tabela 23 – Qualificação das ONGs X ONGs que tem endereço físico no sítio eletrônico
Qualificação Total
OSCIP Utilidade Pública
Não apresenta endereço 6 2 8
Apresenta endereço 8 21 29
Total 14 23 37
Teste Exato de Fischer: 2,2%
Fonte: Elaboração própria
Neste tópico, será realizada análise descritiva dos questionários respondidos por 29
ONGs, destas ONGs 21 tiveram seus sítios eletrônicos investigados neste estudo e mais 8
78
questionários respondidos por ONGs contatada de outra forma, as quais não foi possível
identificar se tinham sítio eletrônico.
A tabela 24 apresenta o ano de fundação das ONGs respondentes dos questionários,
como também os dados relativos à data de fundação encontrada nos sítios eletrônicos
analisados. Da mesma forma que observado nos sítios eletrônicos, as ONGs pesquisadas são
jovens, a maioria criada a partir da década de 1980, apresentando forte concentração no
período 1981 a 1990 no grupo respondente aos questionários. Ressalta-se que apenas 20
apresentaram data de fundação, obtida no sítio eletrônico, visto que esta questão não foi
incluída no questionário.
Distribuição
† Não localizado no sítio eletrônico e/ou não foi objeto de pesquisa no questionário
Fonte: Elaboração própria, 2009
Também foi verificado que, das 21 respondentes que tiveram o sítio eletrônico
analisado, apenas uma não apresentava endereço físico no sítio e, dentre estas 21
respondentes, foi observado que todas apresentam prestação de contas financeiras e 71,4%
prestação de contas não financeiras. Isto é resultado da estratégia da pesquisa em concentrar
esforços para obter questionários das organizações que disponibilizam alguma prestação de
79
contas no sítio eletrônico, porque, no início das pesquisas, estas eram as que respondiam mais
prontamente à pesquisa.
Conforme pode ser observado na tabela 25, apenas 9,6% da amostra possui
qualificação/certificação, 4 não foi localizado no sítio eletrônico e 8 ONGs, por não terem
sítio eletrônico, apenas responderam o questionário. Observa-se que as ONGs sem
qualificação são maioria também dentre as que responderam ao questionário.
Conforme pode ser visto na tabela 26, foi observado que, das 21 ONGs respondentes,
12 delas apresentam aba ou destaca no sítio eletrônico suas prestação contas, ou seja, mais de
50%. Observou-se também que 85% delas não solicitam doação através do sítio eletrônico.
pode ser visto na tabela 27. Na tabela 28, têm-se o grau de instrução dos respondentes e
observou-se que a maioria possui superior completo (82%), sendo que 3 deles possui
mestrado.
Os dados acima demonstram que as ONGs são administradas por jovens executivos,
têm nível superior completo e atuam em média há 8 anos na organização.
Conforme pode ser visto na tabela 31, as organizações respondentes formam um grupo
de ONGs já consolidadas, visto que 75% delas possuem mais de 10 anos e apenas 10% delas
têm menos de 5 anos. Destaque para duas organizações com 48 anos e outra com 71 anos de
existência.
82
As organizações respondentes têm, em média, 38 funcionários, sendo que 48% têm até
40 funcionários. Duas têm mais de 100 empregados e 3 não possuem empregados (ver tabela
33). Observa-se ainda que 34,5% das ONGs não contam com o trabalho voluntário, pouco
83
mais de 40% contam com até 20 voluntários. Destaca-se para a máxima nesta série que é 3780
voluntários.
Quanto à origem das receitas, observa-se que, das 29 respondentes, 38% delas têm
mais da metade de suas receitas originadas no exterior. Esse percentual é de 27,5% para as
doações nacionais. A dependência do governo, nas ONGs da amostra, é baixa, pois 59% delas
não recebem nada do governo. Quase 14% das ONGs pesquisadas têm mais de 50% de suas
receitas, dependendo da geração de receitas próprias (ver tabela 34). Os resultados
encontrados por Merege (2005) também apontam a relevância da geração de receitas próprias
pelas ONGs.
84
Frequencia
DOAÇÕES NACIONAIS 9 9 3 5 3 29
DOAÇÕES DO EXTERIOR 6 7 5 4 7 29
DO GOVERNO 17 9 2 0 1 29
RECEITA PRÓPRIA 12 10 3 2 2 29
OUTRAS ORIGENS 26 1 1 0 1 29
%
DOAÇÕES NACIONAIS 31,0% 31,0% 10,3% 17,2% 10,3% 100,0%
DOAÇÕES DO EXTERIOR 20,7% 24,1% 17,2% 13,8% 24,1% 100,0%
DO GOVERNO 58,6% 31,0% 6,9% 0,0% 3,4% 100,0%
RECEITA PRÓPRIA 41,4% 34,5% 10,3% 6,9% 6,9% 100,0%
OUTRAS ORIGENS 89,7% 3,4% 3,4% 0,0% 3,4% 100,0%
Fonte: Elaboração própria 2009
Observa-se, na tabela 37, que para a maioria (83%) dos respondentes as regras de
contabilidade são claras e disponíveis. Na tabela 38, tem-se respostas à pergunta a quem se
86
destinam as prestações de contas e um dado importante é que 93% dos respondentes declaram
que produzem as prestações de contas para o público interno, indicando referência à
importância da contabilidade na tomada de decisão.
Tabela 39– Aspectos importantes para atender os requisitos de relatórios e prestação de contas de forma
eficiente
Muito Importante Não Total
Aspectos importante % % Importante % válido
Infra-estrutura de informática 22 75,9 7 24,1 0 0 29
Treinamento do pessoal 20 69,0 9 31,0 0 0 29
Softwares adequados 15 51,7 13 44,8 1 3,4 29
Dificuldade de produzir informação para
Governo 8 29,6 18 66,7 1 3,7 27
Compatibilidade com o seu sistema
contábil 13 44,8 15 51,7 1 3,4 29
Fonte: Elaboração própria, 2009
87
Tabela 42– Exigência de tempo para a elaboração da prestação de contas, em relação ao passado
A solicitação de prestação de contas pelos Freqüência Percentual % Percentual Acumulado
financiadores e doadores mudou nos
últimos anos?
Sim, requer muito mais tempo 18 62,1 62,1
Sim, requer mais tempo 8 27,6 89,7
Não, requer o mesmo tempo 3 10,3 100,0
Sim, requer menos tempo - - -
Sim, requer muito menos tempo - - -
Total 29 100
Fonte: Elaboração própria, 2009
88
Tabela 43 – Qual o efeito que as exigências de prestação de contas e relatórios das agências financiadoras
(incluindo governo) têm na sua organização, em relação aos seguintes aspectos:
Frequência / Percentual Total
Efeito Melhora % Indiferente % Atrapalha % válido
Planejamento/definição de metas de
entrega dos serviços 22 75,9 5 17,2 2 6,9 29
Foco nos serviços prestados 16 55,2 10 34,5 3 10,3 29
Transparência e prestação de contas ao
publico 24 82,8 4 13,8 1 3,4 29
Qualidade da documentação da
organização 25 86,2 4 13,8 0 0,0 29
Avaliação da efetividade dos serviços 15 51,7 12 41,4 1 3,4 28
Apoio no gerenciamento financeiro 16 55,2 8 27,6 4 13,8 28
Funcionamento do conselho gestor 12 44,4 15 55,6 0 0,0 27
Identificação de problemas potenciais 18 64,3 10 35,7 0 0,0 28
Prevenção de fraude 20 71,4 8 28,6 0 0,0 28
Desenvolvimento de novos serviços 9 32,1 16 57,1 3 10,7 28
Fonte: elaboração própria, 2009
Tabela 47 – Prestação de contas destinada órgãos do governo que liberam verba X Mantém contador
com vínculo
Contador com Vínculo Total
Possui Não possui
Prestação de contas ao governo: Não 0 7 7
Prestação de contas ao governo: Sim 10 8 18
Total 10 15 25
Teste Exato de Fischer: 1,3%
Fonte: Elaboração própria
5.2 Conclusões
Este estudo teve, como tema, a prestação de contas das organizações não
governamentais, tendo, como objetivo geral, investigar como as ONGs prestam contas de suas
atividades e o papel da contabilidade na elaboração das prestações de contas dessas entidades.
Para alcançar este propósito, foi realizada revisão bibliográfica do assunto em questão, em
seguida uma pesquisa de campo com aplicação de questionários junto aos gestores das ONGs
e foi realizada análise de sítios eletrônicos das ONGs disponíveis na internet.
O problema da pesquisa que se pretendeu responder era: como as ONGs prestam
contas de suas atividades e qual o papel da contabilidade na elaboração dessas prestações de
contas?
Para responder às perguntas, a pesquisa empírica foi dividida em duas etapas.
Inicialmente, foi realizada pesquisa nos sítios eletrônicos das ONGs e, numa segunda etapa,
foi aplicado um questionário aos gestores das ONGs. Foram realizadas questões específicas
para cada uma das etapas, conforme segue abaixo com resultados encontrados.
Tabela 48– Qualificação das ONGs nos sítios visitados e das que apresentam alguma prestação de contas
Qualificação das ONGs amostra Qualificação das ONGs que
total apresentam alguma prestação de
contas
Freqüência Percentual Freqüência Percentual
ONG 111 54,1 25 48%
OSCIP 14 6,8 6 11%
UTILIDADE PÚBLICA 23 11,2 9 16%
Não declarado 57 27,8 12 25%
Total 205 100% 52 100%
Fonte: elaboração própria, 2009
Observou-se que a idade média dos respondentes é de 40 anos, 82% possuem pelo
menos curso superior completo, sendo que 03 possuem mestrado. Trabalham, em média, há 8
anos na organização, o que trabalha menos tempo tem 2 anos e o que está há mais tempo na
organização trabalha há 23 anos.
Quanto às ONGs respondentes, apenas 10% delas têm menos de 5 anos de existência,
uma possui 48 anos e outra 71 anos. Talvez este fator tenha influenciado estas organizações a
participarem respondendo os questionários. Dentre as respondentes, cerca de 47% se
envolvem com atividades relacionadas à defesa dos direitos civis, meio ambiente e
desenvolvimento econômico e social.
94
REFERÊNCIAS
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VIEIRA, Sonia. Bioestatística: tópicos avançados. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
APÊNDICE A:
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GESTORES DAS ORGANIZAÇÕES
SEM FINS LUCRATIVOS
QUESTIONÁRIO
( ) Diretor
( ) Contador
( ) Gerente
6. A sua Organização está envolvida principalmente com (escolha apenas a alternativa que melhor define a sua
ONG):
( ) Cultura e recreação
( ) Educação e pesquisa
( ) Saúde
( ) Assistência social
( ) Meio ambiente
( ) Atividades Internacionais
( ) Religião
Origem da receita %
Doações nacionais
Doações do exterior
Governo
Venda de serviços ou produtos
Outro. Especifique
10. Dos profissionais abaixo listados, qual(is) a instituição mantém em seu quadro de funcionários?
( ) Contador
( ) Auditor interno
( ) Controller
( ) Contador interno
( ) Contador externo
( ) Gerente
( ) Administrador
12. Na sua opinião, as normas e regras para elaboração da contabilidade da sua organização:
( ) Não sei.
14. Qual a importância que você atribui aos seguintes aspectos para atender os requisitos de relatórios e prestação de
contas de forma eficiente:
importante
Infra-estrutura de informática
Treinamento do pessoal
Softwares adequados
Dificuldade de produzir informação para
atender exigências governamentais.
Compatibilidade com o seu sistema contábil.
16. Quais das seguintes informações são exigidas dos financiadores/doadores de recursos da sua
ONG, por período:
17. As solicitações de prestação de contas e relatórios, por parte dos financiadores ou doadores de
recursos, mudou nos últimos anos?
18. Qual o efeito que as exigências de prestação de contas e relatórios das agências financiadores
(incluindo o governo) têm na sua organização, em relação aos seguintes aspectos:
19. Dados extraídos da contabilidade fizeram com que sua organização sofresse as seguintes
mudanças: (você pode selecionar mais de uma opção)
( ) Mudanças de habilidades