Processo Legislativo
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Processo Legislativo
Freitas
Fascículo 11:
DO PROCESSO LEGISLATIVO
(Arts. 59 a 69, CF88)
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FICHA TÉCNICA
Revisão Geral
Emerson Bruno Oliveira Freitas
Atualizações
Emerson Bruno Oliveira Freitas
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11.1 - Conceito
A Constituição Federal estabelece na Seção VIII do Capítulo destinado ao Poder Legislativo a regu-
lamentação do “Processo Legislativo”. Diversos doutrinadores buscaram desenvolver conceitos acerca do
tema. Transcrevemos abaixo os mais utilizados pelos concursos públicos de uma maneira geral.
Processo “compreende uma sucessão de atos e fases realizados pelos órgãos com funções legislativas,
Legislativo imprescindíveis à criação das respectivas espécies normativas. (Sérgio Valladão Ferraz)
“conjunto de atos pré-ordenados visando à criação de normas de direito. Estes atos são: a)
iniciativa; b) emendas; c) votação; d) sanção e veto; e) promulgação e publicação”. (José
Afonso da Silva)
Assim, pode-se dizer que o processo legislativo é um conjunto concatenado de atos que objetivam a ela-
boração de atos normativos primários (atos que tem por fonte normativa direta o próprio texto constitucional
e são capazes de criar direitos e obrigações). De acordo com o art. 59 da Constituição o processo legislativo
compreende a elaboração dos seguintes atos:
• Emendas à Constituição;
• Leis Complementares;
• Leis Ordinárias;
• Leis Delegadas;
• Medidas Provisórias;
• Decretos Legislativos;
• Resoluções.
Entretanto, cumpre ressaltar que o art. 59 não arrola todos os atos normativos primários existentes em nosso
ordenamento jurídico. Determinadas normas de caráter interno do Poder Judiciário e do Ministério Público bus-
cam o seu fundamento diretamente na Constituição. É o caso de certas normas regimentais dos Tribunais e dos
órgãos do Ministério Público, resoluções do Conselho Nacional de Justiça, do Conselho Nacional do Ministério
Público e as sentenças trabalhistas sobre dissídios coletivos de natureza econômica. Diferem os atos normativos
primários dos atos normativos secundários. Estes retiram suas forças dos atos normativos primários e não direta-
mente do texto constitucional. Fundamentam-se primeiramente nos primários e indiretamente ou de forma reflexa
na Constituição. Tais atos não são elaborados através do processo legislativo, visto que este abrange apenas a
produção dos atos normativos primários.
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Contudo, outra classificação a ser observada é quanto ao rito a ser adotado. Nesse sentido o processo legis-
lativo pode ser:
• Ordinário = aquele destinado à elaboração das leis ordinárias. Inexistência de prazos pré-
-fixados para o término do processo legislativo ordinário. Como o próprio nome indica é o
processo legislativo comum.Direto = elaboração das leis é feita diretamente pelos cidadãos.
Processo Não existem representantes.
Legislativo • Sumário = detém as mesmas fases do processo legislativo ordinário. Entretanto, seu tér-
mino está condicionado à existência de prazos pré-determinados. Ou seja, existe um prazo
para que o Poder Legislativo exerça sua função legislativa.
• Especial = aquele que segue um rito diferenciado e distinto dos demais. Ex. elaboração de
leis delegadas, medidas provisórias, emendas à Constituição.
Comissões
Sanção
ou
Deliberação Deliberação Promulgação e Publicação
Iniciativa
Veto
Plenário
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A iniciativa marca o início do processo legislativo, estabelecendo uma faculdade para determinadas au-
toridades e órgãos provocarem o Poder Legislativo para o início da elaboração de uma espécie normativa
(emenda à constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos
legislativos e resoluções). A iniciativa pode ser classificada em:
• Geral = aquela facultada a determinadas autoridades ou órgãos para proposição dos mais
diversos e variados projetos de lei.
• Concorrente = aquela que pertence de forma simultânea a mais de uma autoridade ou órgão.
• Privativa = também chamada de exclusiva ou reservada, ocorre quando a faculdade de pro-
por um determinado projeto é de apenas uma autoridade ou órgão.
• Popular = representa um meio de participação direta da população no processo de formação
das leis. Trata-se da faculdade atribuída aos cidadãos para provocar o início do processo
Iniciativa
legislativo
• Conjunta = aquela que precisa ser realizada conjuntamente por duas ou mais autoridades ou
órgãos, caso contrário não poderá ser deflagrado o processo legislativo.
• Parlamentar = aquela realizada por órgãos e autoridades integrantes do Poder Legislativo.
• Extra-parlamentar = aquela concedida a autoridades e órgãos estranhos ao Poder Legislativo.
• Vinculada = aquela na qual o legitimado a iniciar o projeto é obrigado a iniciá-lo em determi-
nado momento, estando vinculado ao mandamento exposto na própria Constituição.
a) Iniciativa Geral:
Importante ressaltar que a iniciativa geral não abrange todo e qualquer assunto. Tudo que não for matéria
destinada à iniciativa privativa de alguém ou de determinado órgão é que será chamada de iniciativa geral.
Dessa forma, quando o art. 93 da Constituição Federal estabelece ao STF a competência privativa para pro-
posição do projeto de lei sobre o Estatuto da Magistratura, estamos diante de uma iniciativa privativa do STF.
Portanto, não poderá ser objeto de proposição daqueles que se inserem na chamada iniciativa geral.
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b) Iniciativa Concorrente:
A iniciativa concorrente, conforme dito, é aquela que pertence de forma simultânea a mais de uma auto-
ridade ou órgão. Nesse sentido vale ressaltar o exemplo de Pedro Lenza ao dizer:
“A iniciativa concorrente é aquela em que a Constituição atribui competência a mais de uma pessoa
ou órgão para deflagrar o processo legislativo. Como exemplo podemos lembrar a iniciativa para dar
início às leis complementares e ordinárias, quais sejam, qualquer membro ou Comissão da Câmara,
Senado ou Congresso, ao Presidente da República e aos cidadãos”.1
c) Iniciativa Privativa:
A iniciativa privativa, reservada ou exclusiva, na qual propositura do projeto está concentrada em de-
terminada pessoa ou órgão e será atribuição:
Estabelece o art. 61 § 1º :
II - disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade
e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais
para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilida-
de, remuneração, reforma e transferência para a reserva.
Contudo, é importante ressaltar a interpretação dada pelo STF à “d)”. Com relação à organização do Mi-
nistério Público da União e dos Ministérios Públicos dos Estados a iniciativa é concorrente com os respecti-
vos Procuradores-Gerais, e não privativa do Presidente da República. É o que se depreende da leitura do art.
128, § 5º da Constituição Federal, que estabelece:
“§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros (...)”.
1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado – 10ª. Ed. – São Paulo: Editora Método, 2006, p.268.
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“Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto
da Magistratura, observados os seguintes princípios”:
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem
vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
“Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organi-
zação judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça”.
“É de iniciativa privativa:
a) da Câmara dos Deputados – da lei para fixação da remuneração dos cargos, empregos e funções
de seus serviços internos (art. 51, IV, parte final);
b) do Senado Federal – da lei para fixação da remuneração dos cargos, empregos e funções de seus
internos (art. 52, XIII, parte final)”.2
d) Iniciativa Vinculada:
Na iniciativa vinculada, a autoridade ou órgão responsável por iniciar a tramitação do projeto junto ao
respectivo órgão legislativo não pode deixar de observar o prazo determinado pela Constituição para que
exerça a iniciativa. No Brasil, os únicos casos de iniciativa vinculada ocorrerão na iniciativa das leis de caráter
orçamentário: Lei do Plano Plurianual (PPA); Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); Lei do Orçamento Anual
(LOA). Nelas a iniciativa compete ao Presidente da República que deverá encaminhar os respectivos projetos
de lei dentro do prazo determinado por lei complementar (art. 166, § 6º, da CF).
e) Iniciativa Popular:
Clássico instituto da democracia participativa, que permite ao cidadão propor diretamente ao Poder Le-
gislativo projetos de lei de iniciativa geral, ou seja, aqueles que não estão arrolados como competência priva-
tiva de ninguém.
2 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 83.
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No âmbito da União, a iniciativa popular será exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de
projeto de lei subscrito por no mínimo:
• 1% (um por cento) do eleitorado nacional, distribuído, pelo menos, por cinco Estados, e com;
• não menos do que de 0,3% (três décimos por cento) dos eleitores dos Estados referidos no requisito
anterior.
“os legitimados a apresentar projeto de lei não escolhem em qual Casa irão apresentá-lo. Ao con-
trário, de acordo com quem esteja iniciando o processo legislativo, já se sabe, vinculadamente, com
antecedência, qual será a Casa iniciadora”.3
Casa Iniciadora
Autoridade / Órgão Câmara dos Deputados Senado Federal
• Presidente da República X
Entretanto, as regras colocadas acima não são absolutas. As iniciativas “da Lei do Plano Plurianual, da Lei
de Diretrizes Orçamentárias e da Lei do Orçamento Anual serão privativas do Presidente da República, cujas
mensagens encaminhando os respectivos projetos de lei serão recebidas e lidas em sessão conjunta, especial-
mente convocada para este fim, realizadas em até 48 horas da sua entrega ao Presidente do Senado”. (Sergio
Valladão Ferraz, p.85).4
3 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 85.
4 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 85.
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A) DELIBERAÇÃO LEGISLATIVA:
- Perante as Comissões
A deliberação legislativa se inicia com o exame do projeto de lei por algumas das Comissões internas da
respectiva Casa Legislativa. Trata-se das comissões temáticas, também denominadas de mérito ou técnicas.
O projeto de lei apresentado pode ter pertinência temática com uma ou mais comissões, o que exige a parti-
cipação de todas aquelas cujo tema guarde correlação com o projeto apresentado. Dessa forma, todo projeto
de lei tramita pelo menos por uma comissão temática.
2º - A comissão poderá apresentar emendas: alteração do projeto inicial de acordo com o interesse
manifestado pela comissão.
Durante a fase de deliberação legislativa, além do envio à(s) respectiva(s) comissão(ões) temática(s),
todo projeto de lei precisa ser enviado para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da respectiva
Casa Legislativa. As CCJs têm competência para analisar a constitucionalidade, legalidade, juridicidade,
regimentalidade e a técnica legislativa a respeito do projeto. O parecer da CCJ, ao contrário das comis-
sões temáticas, é de caráter terminativo. Caso o projeto seja rejeitado pela CCJ será imediatamente
arquivado.
Outra comissão que detém caráter terminativo é a Comissão de Finanças e Tributação, cuja competência é
analisar os aspectos financeiro-orçamentários do projeto. O objetivo é verificar a compatibilidade do projeto com
as disposições do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei do Orçamento Anual. Em regra,
uma vez encerrada a tramitação pelas comissões, o projeto será enviado ao Plenário da respectiva Casa Legisla-
tiva para aprovação.
É importante frisar que nem sempre os projetos de lei serão remetidos à apreciação do Plenário. Isso
ocorre, pois em determinados casos compete à própria comissão votar definitivamente o projeto de lei. Será
o respectivo regimento interno que irá estabelecer em quais situações ocorrerá a dispensa de apreciação do
Plenário. Entretanto, caso exista recurso de um décimo dos membros da Casa Legislativa, o projeto que ini-
cialmente seria votado apenas pela comissão será obrigatoriamente discutido pelo plenário. É o que dispõe
o art. 58, § 2º, I, da C.F.
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- Perante o Plenário:
Uma vez encaminhado ao Plenário, o projeto será submetido a uma nova rodada de discussões, com
novos debates, estudos e possibilidades de emendas parlamentares. Encerrada a fase de discussões tem-se
a votação do projeto. Na fase de votação não é permitida qualquer emenda ou discussão do projeto.
- Emendas parlamentares:
As emendas parlamentares podem ser apresentadas durante a apreciação no interior das comissões por
qualquer dos membros que a componham e, em determinados casos previstos pelos regimentos internos, por
membros estranhos à respectiva comissão. Trata-se da fase de deliberação interna que ocorre dentro de cada
comissão. Entretanto, uma vez que o projeto é encaminhado ao plenário, qualquer parlamentar terá o direito
de apresentar emendas ao projeto de lei.
Emenda parlamentar = proposição feita por parlamentares que visa a modificar determinado projeto, de
modo a aperfeiçoá-lo.
Entretanto, cumpre observar o disposto no art. 63, que estabelece:
MAIORIA SIMPLES = maioria dos presentes a uma sessão. Corresponde ao primeiro número inteiro superior à
metade dos membros presentes em uma votação.
MAIORIA ABSOLUTA = maioria dos membros de determinado órgão. Corresponde ao primeiro número inteiro
superior à metade dos membros de determinado órgão.
Por exemplo: Atualmente existem 513 Deputados Federais. A aprovação de um projeto de lei no plenário
da Câmara dependerá:
1º - que estejam presentes à sessão no mínimo 257 Deputados, o que corresponde à maioria absoluta
da Câmara dos Deputados.
2º - que o projeto seja aprovado pela maioria dos presentes à votação, maioria simples (primeiro número
inteiro superior à metade dos presentes).
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Existem três espécies de votação nas Comissões ou no Plenário. É o que a doutrina chama de “siste-
mas de votação5”.
c) Secreto: “é aquela em que o painel eletrônico do plenário apenas revela o número de votos fa-
voráveis, contrários e abstenções. A votação em escrutínio secreto é utilizada apenas em situações
excepcionais, expressamente previstas (...). Nos processos legislativos de leis, é vedado o escrutínio
secreto, devendo ser necessariamente ostensivos e abertos, podendo ser escolhido o sistema nomi-
nal ou o simbólico, de acordo com o caso”.
Uma vez aprovado o projeto, este será enviado à Casa Revisora para respectiva apreciação. Se rejeita-
do, será arquivado, podendo ser reapresentado apenas em outra Sessão Legislativa (ano seguinte), exceto
se houver requerimento da maioria absoluta dos membros de qualquer uma das Casas, fato que autoriza a
reapresentação do projeto na mesma Sessão Legislativa.
“Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão
e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora”.
Na Casa revisora, o projeto tramitará da mesma forma que na Casa iniciadora. Isso ocorre pois a Casa
revisora, como o próprio nome diz, realiza a revisão do projeto de lei através dos mesmos procedimentos ado-
tados na Casa iniciadora. O projeto na Casa revisora pode ser:
• aprovado sem emendas: hipótese em que não ocorre qualquer tipo de mudança em relação ao pro-
jeto aprovado na Casa iniciadora;
• aprovado com emendas: hipótese na qual o projeto é remetido novamente à Casa iniciadora;
• rejeitado: sendo arquivado.
Uma vez aprovado com emendas, a Casa revisora remeterá à Casa iniciadora que poderá:
5 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 94.
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Concluída a votação, seja na Casa revisora ou na Casa iniciadora (caso exista emenda feita pela Casa
revisora) o projeto será enviado ao Presidente da República para sanção ou veto.
Dessa forma, tem-se o fim da fase de deliberação legislativa onde o Poder Legislativo, através de suas
comissões e do plenário, irá se manifestar sobre determinado projeto de lei.
Portanto, o procedimento se desenrola primeiramente perante as comissões para, depois, em regra, ser
encaminhado ao Plenário da respectiva Casa Legislativa.
Importante lembrar que nem sempre será necessária a participação do Plenário. Contudo, tal procedimen-
to não é a regra e, de uma forma geral, podemos representar a fase de deliberação legislativa de acordo com
os seguinte organograma:
Aprovação
(com emendas)
Retorno à Casa Iniciadora
Aprovação
(maioria simples)
Dentro da fase constitutiva do processo legislativo ordinário, a deliberação executiva importa na realiza-
ção de dois atos por parte do Executivo: a sanção ou o veto ao projeto de lei.
“é a aquiescência que o Presidente da República apõe ao projeto de lei quando ele concorda, por
considerá-lo oportuno e conveniente, analisando os seus aspectos formais e materiais, jurídicos e
políticos” (Sérgio Valladão Ferraz, p. 98).
“adesão do chefe do Poder Executivo ao projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo” (José Afon-
so da Silva, p. 527).
“é a concordância do Chefe do Poder Executivo com o projeto de lei aprovado pelo Legislativo. É o
Sanção
ato que completa a fase constitutiva do processo legislativo de elaboração das leis” (Vicente Paulo
e Marcelo Alexandrino, p. 475).
• Sanção Expressa: nos casos em que o Presidente da República manifesta-se favoravelmente e ex-
pressamente, no prazo de 15 dias úteis, sancionando a Lei.
• Sanção Tácita: quando Presidente da República se silencia no mesmo prazo da sanção expressa.
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"é a rejeição do Presidente da República ao projeto de lei” (Sérgio Valladão Ferraz, p. 99).
Veto
"é a manifestação de discordância do Chefe do Poder Executivo com o projeto de lei aprovado pelo
Poder Legislativo” (Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, p. 476).
‘’é o modo de o Chefe do Poder Executivo exprimir sua discordância com o projeto aprovado, por
entendê-lo inconstitucional ou contrário ao interesse público”(José Afonso da Silva, p.527).
O veto pode ser total, se recair sobre todo o projeto, ou parcial, se abranger apenas parte do projeto. Entretanto,
o veto parcial somente pode ser integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. É o que dispõe o art. 66, §
2º da CF.
“§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.”
É obrigatória a fundamentação do veto por parte do Presidente da República, de modo a dizer para a so-
ciedade quais motivos o levaram a discordar da proposta constante do projeto. Em virtude desses motivos o
veto pode ser:
• Veto político: o chefe do executivo veta determinado projeto por considerá-lo contrário ao interesse
público.
• Veto jurídico: o chefe do executivo veta determinado projeto por considerá-lo inconstitucional.
Uma vez vetado, o projeto precisa ser remetido ao Congresso Nacional para ser derrubado ou mantido.
Dessa forma, conforme observa José Afonso da Silva o veto não é absoluto.
“O veto é relativo. Quer dizer, não tranca de modo absoluto o andamento do projeto. Será, mediante
mensagem fundamentada, comunicado ao Presidente do Senado Federal no prazo de quarenta e
oito horas, a fim de ser apreciado pelo Congresso, em sessão conjunta, em trinta dias a contar de
seu recebimento, reputando-se rejeitado, se a maioria absoluta dos Deputados e Senadores (isto é,
dos membros das Casas do Congresso) ... votar contra ele; em tal hipótese, o projeto se transforma
em lei (sem sanção, como se vê), que deverá ser promulgada. Se aquela maioria não for alcançada,
ficará mantido o veto, arquivando-se o projeto, que assim se tem por rejeitado” (p.528)6
- Promulgação:
“A promulgação é um ato solene que atesta a existência da lei, inovando a ordem jurídica. A pro-
mulgação incide sobre a lei pronta, com o objetivo de atestar sua existência, de declarar a sua
6 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo – 23ª. Ed. – São Paulo: Malheiros, 2006, p. 528.
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potencialidade para produzir efeitos. Por meio dela, o órgão competente verifica a adoção da lei pelo
Legislativo, atesta a sua existência e afirma sua força imperativa e executória”7
“A promulgação é o ato que atesta a existência válida da lei, é um certificado de executoriedade da
lei8”.
Assim, é importante lembrar que a promulgação é da lei e não do projeto de lei. A lei nasce com a sanção
ou, então, da derrubada do veto. Não há que se falar em promulgação de projeto de lei, uma vez que este não
existe mais.
Tal fato ocorre, pois a fase complementar do processo legislativo é a fase onde ocorrerá a integração de eficácia
da lei. Ou seja, será a promulgação e, também, a publicação que irão conferir a homologação final para que a lei entre
em vigor.
Compete ao chefe do Poder Executivo a promulgação das leis, inclusive nas hipóteses de sanção tácita
e de recebimento da lei cujo veto foi derrubado. Nesses casos, se o Presidente da República não promulgar a
lei no prazo de 48 horas, cumprirá ao Presidente do Senado fazê-lo, no mesmo prazo de 48 horas.
Caso o Presidente do Senado igualmente se recuse, a competência recai sobre o Vice-Presidente do
Senado, que terá as mesmas 48 horas para promulgar a lei.
Importante ressaltar que a não promulgação da lei por parte do Presidente da República, ou de qualquer
uma das autoridades que possam fazê-la, constitui crime de responsabilidade, segundo entendimento majori-
tário da doutrina do processo legislativo.
- Publicação:
“A publicação da lei constitui instrumento pelo qual se transmite a promulgação (que concebemos
como comunicação da feitura da lei e de seu conteúdo) aos destinatários da lei. A publicação é condi-
ção para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz. Realiza-se pela inserção da lei promulgada no jornal
oficial. Quem promulga deve determinar sua publicação”.9
Como visto pelo conceito transcrito acima, quem promulga tem a obrigação de publicar a lei. Entretanto, a
Constituição não prevê prazo para publicação, o que não autoriza o adiamento perpétuo do ato de publicação.
O entendimento da jurisprudência e da doutrina é o de que a publicação deve acontecer em prazo razoável.
Para finalizar, é importante notar que toda lei deverá ter em seu corpo de texto uma cláusula de vigência.
Isto é, um indicativo do momento em que entrará em vigor. Segundo o art. 8º da Lei Complementar nº 95/1998.
“A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que
dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação”
para as leis de pequena repercussão”.
O processo legislativo para aprovação de leis complementares é idêntico ao de aprovação das leis ordi-
nárias. A única distinção a ser observada é que a maioria necessária para a aprovação de uma lei comple-
mentar é a maioria absoluta e não a maioria simples como na aprovação da lei ordinária. É o que estabelece
o art. 69.
7 PAULO, Vicente, ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p.481
8 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 94.
9 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo – 23ª. Ed. – São Paulo: Malheiros, 2006, 529.
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Trataremos agora do regime de urgência constitucional, também chamado de processo legislativo sumá-
rio. Tal procedimento está previsto no § 1º, do art. 64 da Constituição Federal, que estabelece:
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supre-
mo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.
§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua
iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre
a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as
demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitu-
cional determinado, até que se ultime a votação.
§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo
de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
§ 4º - Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se
aplicam aos projetos de código.
Não se admite urgência constitucional em projetos de códigos, tendo em vista que um “Código” é um
trabalho complexo com a reunião de normas que pretendem regulamentar exaustivamente todo um campo
de atuação jurídica. Portanto, não seria possível sua tramitação em um curto período de tempo. Vale notar,
ainda, que o termo “solicitação” implica, na verdade, uma requisição, visto que a “solicitação” de urgência é
uma determinação que não pode ser negada pelo Congresso Nacional. No processo legislativo sumário exis-
tem as mesmas fases e procedimentos do processo legislativo ordinário. A diferença reside no prazo para a
aprovação da lei. No processo legislativo sumário o tempo de elaboração da norma é pré-determinado, já no
ordinário não existe qualquer prazo para a concretização do processo legislativo. Com relação ao desenvolvi-
mento do Processo Legislativo Sumário vale citar, mais uma vez, os ensinamentos de Sérgio Valladão Ferraz.
“a Casa iniciadora, que será sempre a Câmara dos Deputados (porque a iniciativa foi, obrigatoria-
mente, do Presidente da República), terá 45 dias para concluir sua apreciação. Tendo sido aprovado
o projeto, o Senado (Casa revisora) terá mais 45 dias para revisão. Se houver emendas no Senado,
o projeto retorna para a Câmara, que terá apenas dez dias para analisar as emendas introduzidas
pela Casa revisora”.10
10 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 111.
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Cumpre observar que caso o Congresso não exerça suas atribuições dentro do prazo estipulado ocorrerá:
“O decurso dos prazos respectivos sem votação pelas Casas respectivas importará a seguinte con-
seqüência: tranca-se a pauta da Casa que tiver extrapolado o prazo. São sobrestadas todas as de-
mais deliberações legislativas da Casa, que não poderá votar nenhuma outra matéria, até que se
delibere a respeito do projeto urgente pendente (nas palavras do texto, até que se ultime a votação),
com exceção das matérias que tenham prazo constitucionalmente determinado”.11
Como exemplo de matérias que tenham prazo constitucionalmente determinados temos as Medidas Provi-
sórias, que podem ser votadas quando o prazo para conversão em lei já se encontrar extrapolado, mesmo que
exista o pedido de urgência solicitado pelo Presidente da República.
Dessa forma, o pedido de urgência tranca a pauta para outros projetos e não para as medidas provisórias
e outras matérias que tenha prazo constitucionalmente determinado.
Na verdade, o trancamento de pauta não é exclusivo da urgência constitucional. Além dela detém a prer-
rogativa de trancar a pauta das Casas legislativas a medida provisória em tramitação urgente e a apreciação
do veto.
• Projeto de lei com "urgência constitucional" não apreciado em 45 dias (art. 64,
CR/88). Tranca a pauta da Casa Legislativa (Câmara ou Senado) em que estiver
Trancam a pauta tramitando.
da respectiva Casa • Medida Provisória em tramitação urgência não apreciada em 45 dias (art. 62, §
Legislativa 6º, CR/88). Tranca a pauta da Casa Legislativa em que estiver tramitando.
• Veto do Presidente da República não apreciado em 30 dias (art. 66, § 4º). Tranca
a pauta das Sessões Conjuntas do Congresso Nacional.
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provi-
sórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Portanto, cumpre observar que uma vez editada uma medida provisória, esta deverá ser remetida ime-
diatamente ao Congresso Nacional para que este:
• decida pela conversão da Medida Provisória em Lei com ou sem alterações no texto original;
• rejeite, determinando a perda de seus efeitos desde a sua publicação (efeito ex-tunc, retroatividade),
ou desde a data da rejeição (não-retroatividade ou efeito ex-nunc).
11 Idem, p. 112.
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Inicialmente será o próprio Presidente da República que irá analisar a conformidade da Medida Provisória
com relação à relevância e urgência requeridas pelo texto constitucional, bem como a não afronta ao § 1º do
art. 62. Entretanto, a partir do envio da Medida Provisória para o Congresso Nacional, cada uma das Casas
quando for analisar e deliberar sobre a sua conversão em lei ou rejeição, naturalmente irá observar os seus
requisitos de (sua) admissibilidade, de acordo com a determinação contida no § 5º do art. 62.
“§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas
provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais”.
- Prazo de Vigência:
O prazo de vigência da medida provisória é, em regra, de 60 dias, sendo prorrogável por mais 60, caso
não seja convertida em lei nos primeiros 60 dias de vigência. Assim, não é incorreto dizer que, em regra, o
prazo de vigência pode chegar até 120 dias, a não ser que seja apreciada pelo Congresso Nacional em tempo
menor. Sobre o prazo de vigência das medidas provisórias, temos os seguintes parágrafos do art. 62:
Cumpre notar que, conforme atesta o § 7º, a prorrogação da medida provisória que no prazo de 60 dias
ainda não tiver sua votação encerrada nas Casas do Congresso nacional é automática. Naturalmente, durante
os períodos de recesso parlamentar a contagem do prazo de duração das medidas provisórias será suspenso.
Dessa forma, o período de vigência de uma medida provisória pode extrapolar 120 dias.
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Outra hipótese de extrapolação do prazo de 120 dias é a situação que pode ocorrer em decorrência da
disposição contida no § 12 do art. 62.
Caso uma medida provisória seja aprovada no 120º dia de tramitação, sua vigência continuará até o veto
ou sanção presidencial do projeto de lei que pretende promover sua conversão em lei ordinária.
A tramitação da medida provisória será bicameral, com início sempre perante a Câmara dos Deputados.
Ao Senado caberá sempre o papel de Casa revisora.
Uma vez enviada ao Congresso Nacional a medida provisória será apreciada por uma comissão mista de
Deputados e Senadores, que irá sobre ela emitir parecer meramente opinativo. Após tramitar pela comissão
mista será encaminhada à Câmara, para discussão e respectiva deliberação e, em seguida, dirigida ao Sena-
do Federal para nova discussão e deliberação.
Como observado anteriormente, a edição da medida provisória pressupõe a existência de relevância e
urgência. O primeiro órgão legislativo a fazer essa análise será a comissão mista composta por Senadores e
Deputados Federais, que ao final dos seus trabalhos irá emitir parecer a respeito da medida provisória.
Cumpre observar, contudo, que este parecer não terá caráter terminativo, mas sim opinativo. Trata-se da
opinião da comissão mista a respeito da medida provisória, tendo o parecer o objetivo de auxiliar os futuros
trabalhos de cada Casa Legislativa.
Portanto, a existência da comissão mista não pressupõe que os requisitos de admissibilidade da Medida
Provisória serão apenas por ela observados. Internamente, o plenário de cada uma das Casas irá discutir e
deliberar sobre a medida, não estando atreladas ao parecer que já foi elaborado pela comissão mista. Nesse
sentido, tendo em vista a relevância e urgência que a tramitação da medida provisória requer, contesta-se,
com certa frequência, a necessidade de tramitação pela comissão mista.
De uma maneira esquematizada podemos representar a tramitação das medidas provisórias pelo orga-
nograma da página ao lado.
Caso a medida provisória não seja convertida em lei pelo Congresso Nacional, em 45 dias contados da
sua publicação, entrará em regime de urgência. “Esse regime de urgência significa que é trancada a pauta da
Casa onde estiver tramitando a medida provisória, ficando sobrestadas todas as demais deliberações legisla-
tivas da Casa respectiva, até que se ultime a votação da medida” .12
• Tácita: quando o Congresso não converte a medida provisória dentro do prazo de vigência (geral-
mente 120 dias).
• Expressa:quando o Congresso não aprova a conversão da medida provisória em lei.
Em qualquer dos casos é importante que se regulem os efeitos da perda de eficácia da medida provisó-
ria. Em regra, a perda de eficácia é desde a edição da MP, ou seja, a perda de eficácia é retroativa (ex-tunc).
Rejeitada a MP o Congresso Nacional deverá no prazo de 60 dias, por decreto legislativo, disciplinar as rela-
ções jurídicas realizadas durante o período de vigência da MP. Caso o Congresso Nacional não edite o De-
creto Legislativo no prazo de 60 dias, a medida provisória continuará em vigor apenas para aquelas relações
jurídicas feitas durante o período de eficácia da MP. Dessa forma, podemos concluir que: (continua no final da
próxima página)
12 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 123.
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a) Se o Congresso Nacional elabora o Decreto Legislativo, a perda de eficácia da MP terá efeito ex-
-tunc (retroage), pois as relações jurídicas ocorridas no período de vigência da MP passarão a ser
reguladas pelo Decreto Legislativo.
b) Se o Congresso Nacional não elabora o Decreto Legislativo no prazo de 60 dias, a perda de eficácia
da MP terá efeito ex-nunc (não retroage), pois apenas as relações jurídicas produzidas durante o
período de vigência da MP continuarão a ser, por esta, reguladas.
Trata-se de delegação feita pelo Congresso Nacional ao Presidente da República para legislar sobre de-
terminadas matérias sem depender da atuação do Poder Legislativo.
“É aquela criada diretamente pelo Executivo, desde que este obtenha prévia e indispensável dele-
gação do Congresso Nacional”.13
A lei delegada está normatizada em nossa Constituição no art. 68, que estabelece: “as leis delegadas
serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional”.
Solicitada a delegação, esta será apreciada em sessão conjunta do Congresso Nacional. Caso o Con-
gresso decida pela delegação, o instrumento de transmissão das matérias a serem delegadas será uma re-
solução. Trata-se de uma exceção, pois, geralmente, os atos do Congresso Nacional são transmitidos através
de decretos legislativos.
A resolução precisa especificar o conteúdo e os termos do exercício da delegação, não podendo o Pre-
sidente da República exorbitar os limites estabelecidos na resolução. Caso contrário, o Congresso Nacional
poderá sustar a lei delegada, de acordo com o art. 49, V, medida esta feita por decreto legislativo.
Segundo a doutrina, a delegação contida na lei delegada se manifesta sob duas formas:
Delegação • Atípica = em casos excepcionais a delegação feita pelo Congresso ao Executivo determina de forma
expressa a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional. Este a fará em sessão conjunta, em vota-
ção única e sem a apresentação de qualquer emenda (art. 68, § 3º da CF).
Entretanto, existem limites na delegação a ser feita pelo Congresso Nacional. De acordo com o § 1º do art.
68:
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os
de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à
lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
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inovando a ordem jurídica. São atos normativos exclusivos do Poder Legislativo sem qualquer participação do
Executivo em sua elaboração. Nas palavras de Sérgio Valladão Ferraz:
• Originário
• Reformador (2º Grau) – Emendas Constitucionais
Poder Constituinte
• Derivado
• Decorrente (3º Grau) – Constituições Estaduais
Poder Constituinte Originário é o que cria originariamente uma Constituição. Trata-se de um poder:
• Inicial: Todas as normas do ordenamento jurídico devem guardar significado com a Constituição.
Devem ser interpretadas de acordo com ela. Trata-se do ponto de partida do ordenamento jurídico,
sendo a norma fundamental de todo o ordenamento.
• Absoluto, ilimitado: Não existe preceito jurídico anterior que o oriente. Só existe direito após a ma-
nifestação do poder constituinte originário.
• Incondicionado: Segundo a lição democrática, o poder emana do povo, e este, por meio de repre-
sentantes, definirá como será convocada a Assembléia Nacional Constituinte, como será o exercício
do poder constituinte originário para a formação de uma nova Constituição.
Poder Constituinte Derivado Reformador é o que modifica o ordenamento jurídico através de Emendas
à Constituição, cujo procedimento é mais dificultoso do que o de elaboração das leis em geral. Naturalmente,
terá de ser um poder condicionado, relativo e limitado, uma vez que obedecerá às próprias normas esta-
belecidas pelo poder constituinte originário. Caso contrário, não seria poder constituinte derivado, mas sim
originário.
As emendas constitucionais são fruto da manifestação do poder constituinte derivado, visto que existem
para modificar o texto constitucional através de processo legislativo especial, mais dificultoso e que pode ser
sintetizado da seguinte maneira:
14 FERRAZ, Sérgio Valladão. Curso de Direito Legislativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 136.
15 Idem, p. 136.
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As regras pertinentes às Emendas Constitucionais são as constantes do art. 60 da Constituição Federal que
estabelece:
§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Se-
nado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Inicialmente preocupa-se o art. 60 em delinear quais as autoridades ou instituições detêm a iniciativa le-
gislativa para a proposição de um projeto de emenda constitucional (PEC), são eles:
• 1/3 (um terço), no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
• o Presidente da República;
• mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada
uma delas, pela maioria relativa (simples) de seus membros.
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Envio para o Plenário da Câmara, para Envio para o Plenário do Senado, para
deliberação e votação em 1º turno. deliberação e votação em 1º turno.
Arquivamento
Aprovação por Rejeição Rejeição Aprovação por
maioria de 3/5 maioria de 3/5
Envio para o Plenário da Câmara, para Envio para o Plenário do Senado, para
nova discussão e votação em 2º turno. nova discussão e votação em 2º turno.
Envio à Casa Revisora (Senado) onde Envio à Casa Revisora (Câmara) onde
terá a mesma tramitação. terá a mesma tramitação.
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Segundo o § 4º do art. 60, existem determinadas matérias, contidas na Constituição, que não podem ser
modificadas. Trata-se das chamadas cláusulas pétreas da Constituição.
Entretanto, não significa dizer que as cláusulas pétreas são apenas as constantes do § 4º do art. 60.
Ao contrário, o que o parágrafo estabelece são gêneros, matérias que não podem ser suprimidas pelo poder
constituinte reformador. Assim, diversos artigos dispersos pela Constituição configuram-se como cláusulas pé-
treas ao se relacionarem com as matérias dispostas genericamente no texto do § 4º. Por exemplo, o art. 127
da Constituição Federal estabelece que o “Ministério Público é uma instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis”.
Portanto, um projeto de emenda constitucional tendente a abolir o Ministério Público é claramente incons-
titucional, visto que a existência do Ministério Público é uma cláusula pétrea inserida no texto constitucional.
A existência do Ministério Público tem correlação com todos os princípios do § 4º do art. 60, pois o MP é uma
instituição permanente essencial à função jurisdicional (“separação dos Poderes”); está incumbido de defen-
der a ordem jurídica (defenderá também os “direitos e garantias individuais dos cidadãos e a forma federativa
de Estado”), o regime democrático (“voto direto, secreto, universal e periódico”).
As cláusulas pétreas constituem limitações ao poder de reforma da Constituição, mas não são as únicas
formas de limitar o poder constituinte reformador. As formas de limitação do poder reformador podem ser:
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