Apostila de Direito Penal CFS 2021

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 151

APOSTILA DA DISCIPLINA DE DIREITO PENAL

COMUM - CEFS 2021

Organizador e coordenador da disciplina: 1º Ten PM


Rodrigo Costa

Qualquer erro ou contradição no conteúdo desta


apostila, deverá ser informado ao coordenador para
correção e esclarecimentos.
FUNÇÃO DO DIREITO PENAL

Um importante aspecto do estudo do Direito Penal é a função deste ramo do Direito para a sociedade. De
início, podemos imaginar sua função preventiva. O Direito Penal serve para coibir e reprimir
os comportamentos mais danosos para a sociedade, utilizando a ameaça de suas sanções, que são
graves. Entretanto, a função do Direito Penal é mais ampla que seu aspecto repressivo. Com tal enfoque,
surge o pensamento denominada Funcionalismo, que compreende o Direito Penal a partir da função
de suas normas. Há duas subdivisões do funcionalismo:
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

CONCEITO E OBJETO
 CONCEITO: Direito Penal é o conjunto de normas (princípios e regras) que regulam a
determinação das infrações penais (crimes e contravenções penais) e as suas respectivas sanções
(penas e medidas de segurança).

 OBJETO: Direito Penal tem por objeto o estudo das infrações penais e das suas sanções (penas
e medidas de segurança).

 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA DISCIPLINA: ramo do Direito Público; possui institutos e


normatividade próprios; disciplina os crimes e contravenções penais; regulamenta as penas e as medidas de
segurança.

 CARACTERÍSTICAS: Ciência Cultural; Ciência Normativa; Ciência Valorativa; Ciência de caráter finalista;
Ciência com natureza ético-social; Ciência que tem como objeto da conduta humana voluntária.

FONTES

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
 REGRA: a competência legislativa em matéria penal é privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF.

 EXCEÇÃO: O art. 22, parágrafo único, da CF, prevê uma exceção. Lei complementar da União pode
autorizar os Estados a legislarem sobre questões específicas das matérias relacionadas no artigo, dentre as
quais está previsto o direito penal. A doutrina aponta que a delegação também é possível para o DF.

 LEI DELEGADA PENAL: a doutrina aponta vedação no art. 68, § 1º e inciso II, da Constituição Federal.

 MEDIDA PROVISÓRIA PENAL: O art. 62, § 1º, I, b, da CF, proíbe expressamente a edição de medida
provisória sobre matéria relativa a direito penal.
CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS PENAIS

LEI PENAL INCRIMINADORA: é aquela que prevê uma infração penal, seja um crime ou uma contravenção.
Também chamada de lei penal em sentido estrito, ela estabelece os tipos penais e as sanções penais a eles
cominadas.

LEI PENAL NÃO INCRIMINADORA: são as que não criminalizam condutas e se subdividem em:

Permissivas: São as normas que veiculam uma permissão daquilo que, sem elas, seria considerado
uma infração penal e sujeitaria seu autor a uma sanção penal. Dividem-se, ainda, em exculpantes e
justificantes.

Explicativas ou interpretativas: são aquelas que trazem uma explicitação de conceitos, uma
explicação para se melhor compreender as demais normas e permitir sua correta aplicação.

Complementares: são aquelas que possibilitam a aplicação das demais, possuindo a função de
suplementá-las, permitindo a sua compreensão para utilização nos casos concretos.

De extensão ou integrativas: são aquelas que aumentam a abrangência das demais. Ao se
integrarem às normas penais incriminadoras, elas aumentam seu campo de incidência, tornando
crimes condutas que, por si sós, seriam atípicas, ou seja, indiferentes para o Direito Penal. Ex: art.
14, II, do CP.

LEI PENAL NO TEMPO


TEMPO DO CRIME: O Código Penal adotou a teoria da atividade, considerando o crime praticado ao tempo
da ação ou da omissão.

Importância: São duas as principais aplicações práticas do tempo do crime no Direito Penal: o
princípio da coincidência, que determina que os elementos do crime devem estar todos presentes à
época da prática da infração penal; e a definição da lei vigente à época em que ele é praticado.

IRRETROATIVIDADE DAS LEIS PENAIS: Vige no Direito Penal o princípio da irretroatividade das leis penais,
salvo para se beneficiar o réu.

Abolitio Criminis: a lei que deixa de prever determinada conduta como infração penal possui
efeitos imediatos sobre os réus que estão sendo processados e aqueles já condenados, inclusive com
trânsito em julgado.

Novatio legis in mellius: qualquer lei nova que beneficie o agente lhe deve ser aplicada, mesmo
que já condenado definitivamente.

LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA


LEI TEMPORÁRIA EM SENTIDO ESTRITO: é aquela produzida para durar por um determinado período de
tempo, previsto em si mesma. Tem um termo final, uma data.
LEI PENAL NO ESPAÇO
LUGAR DO CRIME: o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade para se definir o lugar do crime. Assim,
considera-se praticado o crime tanto no lugar da conduta (ação ou omissão) quanto no lugar do resultado.

Importância: A teoria da ubiquidade para definição do lugar do crime se aplica aos crimes à
distância, também chamados de crimes de espaço máximos. São as infrações penais cujo iter criminis
(caminho do crime, com suas fases de cogitação, preparação, execução, consumação e, ao final, pode
haver o exaurimento) abrange mais de um país.

TERRITORIALIDADE: é a regra sobre a aplicação da lei brasileira no espaço, ou seja, a lei nacional é aplicável
ao território nacional.

Territorialidade absoluta: somente a lei brasileira pode ser adotada no território brasileiro.

Territorialidade temperada: aplica-se aos crimes cometidos no território brasileiro a lei brasileira,
mas há aplicação excepcional da lei estrangeira em casos previstos em Tratados Internacionais. É a
adotada no Brasil.

EXTRATERRITORIALIDADE: consiste na aplicação excepcional da lei brasileira a crimes cometidos


exclusivamente no estrangeiro.

Incondicionada: a aplicação da lei brasileira não depende do preenchimento de nenhuma


condição. As hipóteses estão previstas no artigo 7º, inciso I, do CP.

Condicionada: a aplicação da lei brasileira depende de requisitos. Há as hipóteses do artigo 7º,


inciso II, do CP, além dos casos arrolados no § 3º do artigo, 7º, também do CP, estes últimos chamados
por parte da doutrina de extraterritorialidade hipercondicionada.

PRINCÍPIOS SOBRE EXTRATERRITORIALIDADE: O território nacional é composto do território físico e do


território jurídico.

Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa busca a punição do crime em razão do sujeito


ativo do crime.

Princípio da nacionalidade ou personalidade passiva: almeja punir o crime em consideração


àquele que foi a sua vítima.

Princípio real, da defesa ou da proteção determina a punição do crime cometido no exterior pela
lei nacional em virtude do bem jurídico atingido, do interesse nacional.

Princípio da justiça universal ou cosmopolita: busca a punição do crime em virtude da necessidade


de cooperação entre os Estados, no plano das relações internacionais, para se evitar a impunidade.

Princípio do pavilhão, da bandeira ou da representação: a aplicação da lei penal é determinada


pela nacionalidade do navio ou da embarcação.
IMUNIDADES E CONFLITO APARENTE DE NORMAS

IMUNIDADES
✓ Imunidade diplomática: prerrogativa dos representantes dos Estados, para garantir o
livre exercício de representação internacional, consistindo em prerrogativa em razão da função
e não do indivíduo.

Embaixador → imunidade absoluta

Cônsul → imunidade funcional relativa

✓ Imunidade parlamentar: trata-se de prerrogativa conferida aos parlamentares como forma de


garantia do exercício do mandato. Subdivide-se em imunidade material e imunidade formal.

→ Imunidade formal: relativas ao processo, à prisão, à prerrogativa de foro e ao dever de testemunhar

→ Imunidade material: inviolabilidade, civil e criminal, quanto a manifestações proferidas pelo parlamentar
no exercício ou desempenho das funções, conferindo a ele liberdade para se manifestar sem o temor de
represálias.

Manifestação na Casa Legislativa implica em presunção absoluta de nexo com a função parlamentar,
entendimento que tem sido questionado em recentes decisões do STF.

Manifestação fora da Casa Legislativa implica na necessidade de comprovação do nexo com a função
parlamentar.

✓ Senadores, Deputados Federais e Deputados estaduais possuem tanto imunidade formal quanto
imunidade material, enquanto os Vereadores detêm apenas imunidade material.
✓ Inviolabilidade do advogado: possui inviolabilidade sobre suas manifestações no exercício de suas
funções, garantido a defesa de seus representados em juízo.
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE
 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: preconiza que haja um tratamento à pessoa que
não lhe prive do mínimo necessário para quer possa exercer sua capacidade de autodeterminação. Trata-
se um princípio fundamental da República Federativa do Brasil.

 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: A doutrina tem o costume de fazer referência ao princípio da dignidade da


pessoa humana no Direito Penal como princípio da humanidade. Esse princípio consiste na vedação a que
o legislador adote sanções penais violadoras da dignidade da pessoa humana, atingindo de forma
desnecessária a incolumidade física-psíquica do agente.

 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: reza ser necessário que se respeite todo o procedimento
previsto nas leis para que, ao final de um processo condenatório, possa haver a justa punição do acusado. O
princípio do devido processo legal possui duas vertentes:

 o devido processo legal substancial: se refre à limitação do exercício do poder, que deve se amoldar ao
que determina a Constituição e, além disso, atender o princípio da proporcionalidade.

 o devido processo legal formal: vincula-se ao respeito das normas processuais, isto é, regras e princípios
que orientam e determinam o procedimento penal.

 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: consiste no reconhecimento da legalidade como meio para se limitar direitos
dos cidadãos, já que a lei representa, em último caso a vontade do povo. Decorrem da legalidade os seguintes
princípios:

 Princípio da anterioridade: preconiza que a lei penal deve ser anterior para incidir sobre o fato.

 Princípio da reserva legal: determina que deve haver lei formal para a previsão de crimes e contravenções
penais.

 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (ultima ratio): preconiza que só se deve criminalizar uma conduta
se houver necessidade para a proteção do bem jurídico. O Direito Penal só deve atuar se os outros meios de
controle social forem insuficientes, possuindo, portanto, caráter subsidiário, de ultima ratio. Desse princípio,
decorrem:

 Princípio da fragmentariedade: segundo essa diretriz, o Direito Penal só deve criminalizar as condutas
mais graves que sejam praticadas contra os bens jurídicos mais importantes.

 Princípio da subsidiariedade: o Direito Penal somente deve atuar como ultima ratio, quando os demais
ramos não forem suficientes para coibir condutas indesejadas.
 PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL: determina que o Direito Penal só deve considerar criminoso um fato
que contrarie o sentimento de justiça da comunidade.

 PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: preconiza não haver crime sem culpabilidade. Isto é, não haver
responsabilidade penal sem dolo ou culpa. Também é denominado princípio da responsabilidade subjetiva.

 PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE: consiste na proibição de haver crime sem que haja conteúdo ofensivo a
bens jurídicos. Desse princípio decorrem dois subprincípios:

 Princípio do Fato ou da Responsabilidade pelo Fato: o Direito Penal não pode se ocupar dos
pensamentos ou intenções.

 Princípio da Exclusiva Lesão ao Bem Jurídico: não compete ao Direito Penal tutelar valores
puramente morais, éticos ou religiosos.

 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: consiste na exigência de se respeitar a proporção entre a


conduta praticada e a pessoa do autor. Veda-se, assim, a padronização de punições.

 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA: funda-se na legítima expectativa de que os demais indivíduos da sociedade


agirão em conformidade com as regras sociais.

 PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE OU DA PERSONALIDADE: determina que a pena não pode passar da pessoa
do condenado. Também denominado Princípio da Intranscendência da Pena, segundo o qual a pena não
pode passar da pessoa do agente, ou Princípio da Responsabilidade Pessoal, a acusação e a pena devem ser
individualizadas, dizendo respeito especificamente ao agente a quem se imputa a conduta.

 PRINCÍPIO DA ALTERIDADE OU DA TRANSCENDENTALIDADE: determina que o Direito Penal não deve se


ocupar de atitudes meramente internas, que não apresentem potencial de lesionar o bem jurídico.

 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: consiste na limitação da ação estatal, com base nos critérios da
necessidade e da adequação, ponderando-se os meios utilizados e os fins pretendidos. O princípio pode se
desdobrar em cinco elementos: necessidade, adequação, legitimidade do meio, legitimidade do fim
(objetivo) e proporcionalidade em sentido estrito/ponderação. Ademais, o princípio possui as seguintes
balizas: proibição do excesso e proibição da proteção deficiente.

 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (OU DA NÃO CULPA): orienta que nenhuma pessoa deve ser
considerada culpada, senão após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DUPLA PUNIÇÃO PELO MESMO FATO: é o princípio que veda a dupla punição
pelo mesmo fato, bem como a dupla valoração de um mesmo fato para agravamento da pena. Também se
proíbe a execução em dobro de uma pena, bem como que o indivíduo seja processado duas vezes pelo
mesmo crime. Também denominado Princípio da Proibição do Bis in Idem.

 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE: estabelece que a lei não pode retroagir, atingindo fatos anteriores a
ela, salvo se para beneficiar o réu.
 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: também chamado de bagatela, preconiza que o Direito Penal não deve
se preocupar com bagatelas, isto é, a configuração de uma infração penal exige que haja uma ofensa de
alguma gravidade ao bem jurídico protegido.

 Existem alguns requisitos exigidos pelo STF para a incidência desse princípio:

• Mínima ofensividade da conduta do agente;


• Ausência de periculosidade social da ação;
• Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
• Inexpressividade da lesão jurídica causada.

 Não confundir: BAGATELA IMPRÓPRIA: reservada para os casos em que, ainda que a lesão ou ameaça de
lesão se mostrem relevantes, incida o princípio da desnecessidade da pena.

TEORIA GERAL DO CRIME – NOÇÕES GERAIS E CONDUTA

CONCEITO DE CRIME

O sistema adotado no Brasil foi o dualista ou binário, com previsão de duas espécies de infração penal, o
crime (ou delito) e a contravenção penal (delito liliputiano, crime vagabundo ou crime-anão). A diferença
entre ambas é de grau, ou seja, de escolha do legislador quanto à gravidade da conduta, de juízo de valor
(axiológica).

SUJEITOS DO CRIME
O estudo dos sujeitos do crime abrange o estudo de quem sofre a ação ou omissão criminosa.

 SUJEITO ATIVO: Sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta prevista na norma penal. Entretanto, cabe
enfatizar que o sujeito pode atuar de forma isolada ou em concurso com outros agentes.
 PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO: Da redação do seu artigo 225, § 3º da Constituição de 1988,
parte dos doutrinadores passou a entender que a pessoa jurídica deve responder pelos crimes que praticar,
por outro lado, parte da doutrina continuou entendendo inconciliável a teoria do crime com a pessoa jurídica
como sujeito ativo. Vamos analisar as teorias sobre a pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes:

Com relação ao STJ, o entendimento que foi adotado anteriormente era de que só era possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crime de forma conjunta com uma pessoa física.
Posteriormente, o STJ passou a entender possível a punição da pessoa jurídica, no âmbito penal, por crimes
ambientais, independentemente da responsabilização da pessoa jurídica. Este é também o entendimento do
Supremo Tribunal Federal.
 SUJEITO PASSIVO: é aquele que sofre as consequências do delito, aquele sobre o qual recai a ação
criminosa. A doutrina divide o sujeito passivo em duas categorias:

 Formal, corrente, constante ou geral: o Estado.

 Material, eventual, acidental ou particular: é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão.

Caso não se exija qualidade específica do sujeito passivo material, a doutrina o classifica como comum. Se
for exigida qualidade específica do sujeito passivo material, diz-se que ele é próprio. Quanto à possibilidade
de alguém figurar como sujeito ativo e passivo do delito ao mesmo tempo, existem duas posições:

 1ª posição: é possível que o indivíduo seja, concomitantemente, sujeito ativo e passivo do delito. O
exemplo seria o crime de rixa.

 2ª posição: não é possível que o indivíduo seja sujeito passivo e ativo o crime.

OBJETO DO CRIME
É qualquer coisa, pessoa ou bem jurídico sobre o qual recai a atividade criminosa e que sofre seus efeitos.

 Objeto material: é a pessoa ou coisa contra a qual é praticada a infração penal.

 Objeto jurídico: é o bem jurídico tutelado pela norma penal.


É impossível que haja crime sem objeto jurídico. Com relação ao objeto material, é possível que haja crime
sem ele. Se o crime apresentar objeto material e, no caso concreto, houver sua impropriedade absoluta,
teremos a hipótese de crime impossível ou quase-crime.

FATO TÍPICO
É a ação ou omissão humana que se amolda à conduta prevista na norma como infração penal. São
elementos do fato típico:

 Conduta: é a ação ou omissão humana, voluntária e consciente, dotada de finalidade, cujo elemento
subjetivo é o dolo ou a culpa.

 Nexo Causal: é o vínculo etiológico, ou seja, de causa de efeito, entre a conduta e o resultado praticado.

 Resultado: subdivide-se em normativo e naturalístico. O resultado normativo é a lesão ou ameaça de


lesão ao bem jurídico tutelado. Resultado naturalístico, por sua vez, é a modificação realizada na realidade,
no mundo exterior, sendo que não está presente em todos os delitos.

 Tipicidade: é a correspondência entre a conduta praticada pelo sujeito ativo e a hipótese normativa da lei
penal incriminadora, ou seja, o encaixe entre os fatos e a previsão da infração penal pela lei.
CONDUTA
Conduta (ou ação) é o comportamento humano voluntário, exteriorizado por uma ação ou omissão, dirigido
a um fim. A discussão sobre o que é a conduta deu origem às chamadas teorias da conduta:

 TEORIA CAUSALISTA, CAUSAL-NATURALISTA, NATURALÍSTICA OU CLÁSSICA: Para o causalismo, a conduta


não possui conteúdo de vontade, é desprovida de finalidade e não abarca o dolo ou a culpa. O elemento
subjetivo, a culpa sem sentido amplo, é parte da culpabilidade, devendo ser analisado neste substrato do
conceito de crime. Como o elemento subjetivo é considerado parte da culpabilidade, o dolo possui como
elemento a consciência da ilicitude e é considerado normativo. Foi defendida, dentre outros, pelos juristas
Franz Von Liszt, Gustav Radbruch e Ernst Von Beling.

 TEORIA NEOKANTISTA OU CAUSAL-VALORATIVA: Esta teoria possui base causalista. Isto quer dizer que,
assim como no causalismo, o elemento subjetivo é analisado na culpabilidade, de modo que o dolo possui
como elemento da consciência atual da ilicitude. É, portanto, normativo. Como diferença em relação à teoria
causal, deve-se destacar que a culpabilidade passa a conter como elemento a inexigibilidade de conduta
diversa. Cuida-se de teoria defendida por Mezger.

 TEORIA FINALISTA: Para a teoria finalista, a “ação humana é o exercício de atividade final”. Sob essa
concepção, faz parte da conduta o próprio elemento subjetivo do tipo. Note-se que a vontade e a finalidade
se fundam na conduta. Por isso, o dolo, para o finalismo, é natural, chamado, na expressão latina, de dolus
bonus. Seu grande teórico, como se nota acima, foi Hans Welzel.

 TEORIA SOCIAL DA AÇÃO: Para a teoria social da ação, a ação ou a conduta é o comportamento humano
socialmente relevante. A adequação social, portanto, integra o fato típico. No conceito de crime, há a
incorporação de um elemento sociológico de interpretação. Aponta-se como seu formulador o jurista
Eberhard Shmidt.

 TEORIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO PENAL: A teoria preconiza que deve haver controle do Poder
Judiciário sobre as leis penais, sob a ótica da Constituição. O Estado Democrático de Direito exige mais que
previsão legal, devendo haver compatibilidade das leis formais com seu fundamento de validade, as normas
constitucionais.

 ELEMENTOS DA CONDUTA: são elementos da conduta: a vontade, a exteriorização, a consciência e a


finalidade.

 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA:


 Coação física irresistível, também denominada vis absoluta, representa o impedimento de o sujeito
orientar sua conduta livremente.

 Caso fortuito ou força maior: são dois institutos que a doutrina não consegue diferenciar de forma
unânime, razão pela qual devem ser analisados em conjunto. Representam tanto as forças da natureza
quanto algum evento decorrente de conduta humana e que seja imprevisível e inevitável.

 Estado de inconsciência completa: caso o sujeito não esteja consciente, não há que se falar em conduta,
já que um de seus elementos é a vontade. Deste modo, excluída a conduta, para o Direito Penal, do indivíduo
sujeito à hipnose ou ao sonambulismo.

 Movimentos reflexos: os movimentos reflexos do corpo, involuntários, dos quais tomamos consciência
após sua ocorrência.
 FORMAS DA CONDUTA: AÇÃO E OMISSÃO: A ação representa um comportamento comissivo, positivo,
um facere. Para ser penalmente relevante, é necessário que haja a violação de um tipo proibitivo, que
preveja uma conduta desvaliosa a ser evitada. Por sua vez, a omissão representa um comportamento
negativo, omissivo, um non facere. Enseja a responsabilização criminal quando representa a desobediência
a um tipo mandamental, ou seja, de um tipo que determina, de forma imperativa, a realização de uma
conduta valiosa.

 ESPÉCIES DA CONDUTA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO: Quanto ao elemento subjetivo, a conduta


pode ser:

 Dolosa: é considerada dolosa a conduta do sujeito que age com vontade livre e consciente de praticar ou,
prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo.

 Culposa: é culposa a conduta do agente que quebra o dever objetivo de cuidado que deve manter em sua
vida em sociedade. Age assim o sujeito que é negligente, imprudente ou imperito.

 Preterdolosa: a conduta preterdolosa envolve o dolo e a culpa. Na conduta inicial, chamada antecedente,
sujeito atua com dolo, mas, com relação à conduta subsequente, age com culpa (em sentido estrito).

TIPO DOLOSO
É aquele em que o elemento subjetivo do tipo é o dolo. Podemos definir o dolo como a vontade livre
e consciente de praticar a conduta prevista no tipo penal. Elementos do dolo:

Volitivo: é a vontade livre do agente em relação à conduta por ele praticada.

 Intelectivo: é a consciência do agente quanto a sua ação ou omissão.

TIPO CULPOSO
É aquele cujo elemento subjetivo é a culpa stricto sensu, ou seja, em sentido estrito. A culpa, portanto, é a
vontade de praticar uma conduta, a qual, por sua vez, causa um resultado não querido nem aceito pelo
agente, mas que lhe era previsível ou até mesmo previsto.

 ELEMENTOS DO CRIME CULPOSO:

 Conduta humana voluntária: só possui importância para o Direito Penal.

 Resultado naturalístico involuntário e previsível: é necessário que o resultado seja ao menos previsível.

 Nexo Causal: é o vínculo de causa e efeito entre a conduta praticada e o resultado causado.

 Tipicidade: é a adequação entre a conduta praticada e a lei penal incriminadora.

 Violação de um dever objetivo de cuidado: necessária nos crimes culposos, a violação de um dever
objetivo de cuidado é o que caracteriza a culpa em sentido estrito.
 MODALIDADES DE CULPA:

 Imprudência: é ação descuidada, que se manifesta por meio de um comportamento positivo.

 Negligência: é a ausência de precaução, caracterizada por um comportamento negativo, uma omissão.

 Imperícia: é a falta de aptidão técnica para o exercício da profissão ou atividade.

 ESPÉCIES DE CULPA:

 Com relação à previsibilidade do resultado:

Consciente, com previsão ou ex lascivia: o agente prevê o resultado, mas não o aceita, espera que ele não
ocorra.

Inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia: o agente não prevê o resultado, mas este era objetivamente
previsível.

 Com relação à vontade do agente:

Própria ou propriamente dita: o agente pratica a conduta, mas, mesmo sendo previsível o resultado, não o
aceita, espera que ele não ocorra.

Imprópria, por equiparação, por assimilação ou por extensão: o agente, pensando estar acobertado por
uma causa excludente da ilicitude, por erro de tipo inescusável, prova intencionalmente determinada
conduta típica.

 CRIME PRETERDOLOSO: é aquele composto de um fato antecedente, praticado a título de dolo, com um
resultado culposo, o qual possui o efeito de tornar a sanção penal mais gravosa. Em razão de o resultado não
ser desejado pelo agente, já que é provocado a título de culpa, não se admite tentativa de crime
preterdoloso, segundo entendimento majoritário.

TIPO OMISSIVO

É aquele cuja conduta consiste em um não fazer, ou um non facere.

 TEORIAS DA OMISSÃO:

 Teoria naturalística – entende que quem omite faz algo, diverso do que deveria fazer. Por ser uma ação
diversa do que deveria ser, a omissão pode provocar mudança no mundo exterior, ou seja, pode causar um
resultado naturalístico.

 Teoria normativa – a omissão é um nada e, por isso, nada causa. Não há como se imputar um resultado
naturalístico de forma direta a uma conduta omissiva, já que ela não pode causá-lo, por não ser nada.

 Portanto, a fórmula da teoria normativa da omissão é a seguinte: Non facere (comportamento) + quod
debetur (dever jurídico de agir).
 ESPÉCIES DE CRIME OMISSIVO:

 Próprio ou puro: é o crime cometido em virtude do descumprimento de norma imperativa. O dever


jurídico de agir não existe, aqui, de forma genérica, mas decorre da expressa previsão de um tipo penal, de
natureza mandamental, que determina a punição por omissão em determinados casos. É o caso do crime de
omissão de socorro.

 Impróprio, impuro ou comissivo por omissão: é aquele cujo dever jurídico de agir decorre de uma cláusula
geral, que, no Código Penal Brasileiro, está previsto em seu artigo 13, parágrafo segundo. O dever jurídico
abrange determinadas situações jurídicas e se refere a qualquer crime comissivo. Nestes casos, portanto, o
agente possui um dever específico de agir, que se enquadram nas seguintes hipóteses:

o tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (dever legal);


o de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (dever de garantidor);
o com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (dever por ingerência na
norma).

 Omissivo por comissão: cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há uma ação, um comportamento
comissivo, que provoca a omissão. Só parte da doutrina usa tal classificação.

 REQUISITOS DA OMISSÃO:

 Conhecimento da situação que causa perigo: é imprescindível, sob pena de se admitir a responsabilidade
objetiva, que o sujeito tenha consciência da situação de risco ao bem jurídico.

 Consciência de sua posição de garante: também como decorrência do próprio princípio da culpabilidade,
é imprescindível que o sujeito tenha consciência da sua situação, a qual leva a um dever jurídico de agir, seja
ele genérico ou específico.

 Possibilidade real, física, de impedir que o resultado aconteça, de executar a ação exigida: por fim, a
responsabilidade penal só pode ocorrer caso se demonstre que o agente poderia evitar o resultado.

 CRIMES DE CONDUTA MISTA: consistente no tipo penal em que se prevê uma ação, seguida de uma
omissão, sendo que ambos os comportamentos são necessários para a sua configuração.

ERRO DE TIPO
É a falsa percepção, pelo agente, da realidade que o cerca. Ocorre, portanto, quando o sujeito ativo se
equivoca quanto ao mundo exterior, interpretando-o de forma incorreta. O erro de tipo recai sobre
elementares ou circunstâncias do tipo ou outros dados acessórios. Trata-se de erro sobre uma situação da
realidade que está descrita em um tipo penal.

 ESPÉCIES:

 Erro de tipo essencial: recai sobre os elementos principais do tipo penal (elementares e circunstâncias).
O erro impede o agente de saber que está cometendo um crime.
o Erro de tipo essencial invencível, inevitável, desculpável ou escusável: trata-se do erro imprevisível,
aquele que não poderia ter sido evitado pelo agente.
o Erro de tipo essencial vencível, evitável, indesculpável ou inescusável: é o erro previsível, que
poderia ter sido evitado pelo agente com emprego de certa diligência. Neste caso, pune-se a culpa,
caso haja previsão da figura culposa.

 Erro de tipo acidental: recai sobre dados da figura típica que são irrelevantes para a configuração ou não
do delito.

o Erro de tipo sobre o objeto (error in objecto): é aquele em que o agente confunde o objeto material,
atingindo um que é diverso daquele pretendido. Não há previsão legal, sendo tratado pela doutrina.
o Erro de tipo sobre a pessoa (error in persona): é aquele em que o agente queria atingir determinada
pessoa, denominada vítima virtual, mas vem a atingir outra, chamada de vítima real. Há um erro na
representação, ou seja, o agente vê alguém e pensa se tratar de pessoa diversa.
o Erro de tipo sobre a execução (aberratio ictus): é aquele em que o agente não erra na representação,
sabendo exatamente quem quer atingir com sua conduta delituosa. Entretanto, ele falha na execução
do crime, por acidente ou erro relacionado ao meio de execução.
o Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis ou aberratio delicti): é aquele em que o agente,
por erro na execução, provoca lesão em bem jurídico diverso do pretendido.
o Erro sobre o nexo causal: é aquele em que o agente pratica o resultado pretendido, mas com outro
nexo de causalidade. O sujeito ativo pratica uma conduta visando à produção do resultado, mas não
o atinge como imaginava. A doutrina aponta duas hipóteses:
o Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: o agente só pratica um ato, mas atinge o resultado por
causa diversa da que pretendia.
o Dolo geral ou aberratio causae: há uma pluralidade de atos. O agente imagina que atingiu o resultado
com sua conduta, sendo que, após, pratica outra conduta e somente assim atinge o resultado.
Responde pelo resultado da mesma forma, pois se entende que o dolo é geral, isto é, abrange
qualquer conduta praticada pelo sujeito que está imbuído do animus da prática do delito, da intenção
livre e consciente de praticar o resultado.

 DESCRIMINANTES PUTATIVAS: pode ser conceituada como uma imaginação do agente que existe uma
causa que exclui a ilicitude do seu comportamento.

 A descriminante putativa por erro de tipo ocorre quando o agente imagina um fato que lhe permitir agir
sob uma excludente de ilicitude. Se inevitável, afastam-se o dolo e a culpa, não sendo punido o agente. Se
evitável, o agente responde pela modalidade culposa do delito, se houver.

 A descriminante putativa por erro de proibição, que ocorre quando o agente interpreta a norma de forma
errada, pensando que está acobertado, sem efetivamente estar. Se inevitável, não responde; se evitável,
pena diminuída de um sexto a um terço.

 ERRO DE TIPO CAUSADO POR TERCEIRO: Neste caso, o agente percebe a realidade de forma equivocada
por causa de um agente provocador, que o induz a erro. O agente provocador é considerado o autor mediato,
figura que estudaremos adiante, mas que é aquele que se usa de outrem para a prática do delito. O agente
provocado só responderá se tiver agido com dolo ou culpa.
TEORIA GERAL DO CRIME – FATO TÍPICO E ILICITUDE

RESULTADO
Resultado é o que o comportamento típico produz. A doutrina possui duas teorias sobre o resultado:

 Teoria naturalística: o resultado é a modificação realizada no mundo exterior pela conduta, comissiva
ou omissiva, do agente.

 Teoria jurídica ou normativa: o resultado é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pelo
Direito Penal. Com a leitura do art. 13 do Código Penal vislumbra-se que somente se compatibiliza
perfeitamente com a legislação em vigor a teoria normativa, por preconizar que todo crime possui resultado.

Em decorrência da teoria naturalística, classificaram-se as infrações penais em:

o Crime material: é aquele que prevê a produção de resultado naturalístico, sem o qual o crime não se
consuma.
o Crime formal: é o que possui a previsão de resultado naturalístico, mas cuja produção é irrelevante
para a consumação do delito.
o Crime de mera conduta: é aquele em que não se prevê a produção de resultado naturalístico.

Sob o critério da teoria normativa ou jurídica, os crimes são classificados segundo o resultado que
produzem:

o Crime de dano: é aquele que produz um resultado consistente na lesão ao bem jurídico.
o Crime de perigo: é aquele cuja ocorrência se verifica com a exposição do bem jurídico a um perigo ou
risco. Os crimes de perigo se subdividem, conforme a necessidade ou não de se provar a efetiva
exposição do bem jurídico a um risco de dano:
o Crime de perigo abstrato: é aquele em que o legislador presumiu de modo absoluto a ocorrência de
perigo ao bem jurídico em determinada situação.
o Crime de perigo concreto: é aquele que, para se configurar, exige a demonstração de efetivo risco de
dano ao bem jurídico.

NEXO CAUSAL
É a relação de causalidade entre a conduta e o resultado. Nos crimes omissivos, o nexo causal é normativo,
isto é, realizado com o intermédio de uma norma que liga o resultado à conduta do agente, aquela que prevê
o dever jurídico de agir. No caso de crime omissivo qualificado pelo resultado, como ocorre na omissão de
socorro, é imprescindível, entretanto, que se demonstre o nexo de causalidade entre a omissão e referido
resultado.
TIPICIDADE
É o enquadramento ou a sobreposição total de uma conduta praticada no mundo dos fatos ao tipo legal,
molde descritivo da lei penal. Parte da doutrina diferencia tipicidade e adequação típica. Vejamos as
correntes sobre o assunto:

ILICITUDE
É a análise de conformidade ou não com o ordenamento jurídico. Adotada a teoria da ratio cognossendi ou
a fase do caráter indiciário do tipo, vimos que há uma presunção de que o fato típico é ilícito. Praticado um
fato típico, presume-se que ele contraria o ordenamento jurídico, a não ser que haja uma causa excludente
de ilicitude.

Causas excludentes de ilicitudes: As causas excludentes de ilicitude também podem ser denominadas de
descriminantes ou de justificantes. O artigo 23 do Código Penal elenca as causas excludentes da ilicitude.
Essas causas excludentes de ilicitude, por possuírem previsão expressa no Código Penal, são chamadas de
causas legais. Cabe ressaltar, entretanto, que a presença de uma causa excludente da ilicitude não permite
o abuso, como se nota do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal: “o agente, em qualquer das
hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.”

 Estado de necessidade é a causa excludente de ilicitude que se manifesta na colisão entre dois interesses
jurídicos colocados em perigo, sendo necessário o sacrifício de um para salvar o outro, por quem não
provocou a situação de perigo nem tenha o dever legal de enfrentá-lo. São dois bens jurídicos em perigo,
sendo que um deles precisa ser sacrificado.

 São requisitos do estado de necessidade:

o Perigo atual e inevitável;


o Não provocação voluntária do perigo;
o O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio;
o Inevitabilidade do comportamento lesivo;
o Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;
o Finalidade de salvar o bem do perigo, conhecimento da situação de fato exculpante (elemento
subjetivo);
o Ausência do dever legal de enfrentar o perigo.

 Cabe estado de necessidade contra estado de necessidade? A doutrina reconhece o estado de


necessidade recíproco, em que duas pessoas estão em situação de estado de necessidade e buscam o
sacrifício do bem jurídico, um do outro, para salvar outro.

 Furto famélico configura estado de necessidade? O furto famélico é aquele realizado por quem busca se
alimentar ou alimentar outrem. É a subtração de algo por aquele que possui fome. Pode sim configurar
estado de necessidade.

 Admite-se estado de necessidade nos crimes habituais e permanentes? E no caso de reiteração? Não se
admite a configuração do estado de necessidade nesses casos, dada a exigência de perigo atual, devendo ser
analisado se era exigível conduta diversa. Parte da doutrina admite em situações extremas.
• defensivo: quando o agente sacrifica um bem jurídico de sua própria titularidade para proteção de
um interesse jurídico em perigo.
• agressivo: ocorre quando o agente sacrifica um bem jurídico alheio para salvar outro bem jurídico
que está em risco.

 Legítima defesa é a causa excludente de ilicitude que acoberta a conduta de repelir, de si mesmo ou de
outrem, uma injusta agressão, atual ou iminente. Para configuração da legítima defesa, excludente da
ilicitude, são necessários os seguintes requisitos:

• Agressão injusta;
• Agressão atual ou iminente;
• Proteção de direito próprio ou alheio;
• Uso moderado dos meios necessários;
• Conhecimento da situação de fato justificante, denominado de animus defendendi.

 Classificações de legítima defesa

• Legítima defesa real ou própria: é a legítima defesa com todos os pressupostos preenchidos.
• Legítima defesa putativa: é aquela suposta, imaginada pelo agente. O agente supõe, por erro de tipo
ou de proibição, estar acobertado por legítima defesa.
• Legítima defesa sucessiva: é a causa de excludente que acoberta o agente que, após provocar a
injusta agressão, busca repelir o excesso.
• Legítima defesa subjetiva: é o excesso derivado de erro de tipo escusável ou inevitável. Neste caso, a
vítima se excede, ao se defender de uma injusta agressão, por interpretar a realidade de forma
equivocada, pensando necessitar de meios mais gravosos do que realmente necessita.

 E se houver erro de execução (aberratio ictus) na legítima defesa? O agente responde como se tivesse
atuado contra o agressor, nos termos do artigo 73 do Código Penal. Deste modo, considera-se como tendo
efetivamente agido em legítima defesa.

 Cabe legítima defesa recíproca? A doutrina afasta a hipótese, por ser seu requisito a agressão injusta. São
cabíveis, entretanto, a legítima defesa sucessiva e a legítima defesa putativa recíproca. Deste modo, é
possível que a agressão de dois sujeitos seja injusta ao mesmo tempo, sendo que ambos imaginam que está
em legítima defesa.

 É possível a ocorrência conjunta de estado de necessidade e legítima defesa? Sim. Um exemplo dado pela
doutrina é a do agente que, para se defender de um assaltante, subtrai a arma de fogo do vigilante do banco,
deixada no chão, sem autorização. Portanto, age em estado de necessidade para a subtração da arma e,
quanto ao assaltante armado, age em legítima defesa ao atirar nele para se defender.

 Em algumas situações, não é cabível a invocação da legítima defesa: Legítima defesa real; Estado de
necessidade real; Exercício regular do direito e Estrito cumprimento do dever legal.

 Estrito cumprimento do dever legal é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta de alguém
que realiza um fato típico no cumprimento do estrito de um dever previsto em lei. O dever legal é aquele
imposto pela lei. O cumprimento de tal dever deve ser estrito, isto é, não abrange excessos ou desvios. Como
as demais causas excludentes de ilicitude, já estudadas, é imprescindível que esteja presente o elemento
subjetivo.

 O estrito cumprimento do dever legal abrange o particular ou apenas o funcionário público? A doutrina
diverge a respeito da possibilidade de um particular invocar o estrito cumprimento do dever legal. Para a
maioria, o particular pode sim invocar esta excludente da ilicitude.

 Exercício Regular de um Direito: é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta de qualquer
cidadão que é autorizada por lei, que constitui uma prerrogativa legal, desde que exercido com regularidade.
São requisitos do exercício regular de um direito:

• Proporcionalidade
• Indispensabilidade
• Elemento subjetivo (conhecimento da situação)

 Os ofendículos são o aparato predisposto, que deve estar visível, destinado à proteção de bens jurídicos,
como a vida e a propriedade. Note-se que o obstáculo deve ser perceptível, não devendo estar oculto ou
articulado para agir de surpresa. Há discussão na doutrina, sobre se tratar de exercício regular de um direito
ou legítima defesa, que seria preordenada.

 Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude. Há discussão doutrinária sobre a possibilidade de se


reconhecerem causas supralegais de exclusão da ilicitude. A discussão envolve, por exemplo, a discussão
sobre o consentimento do ofendido e sua natureza jurídica. Se o consentimento do ofendido não for
elementar do crime, pode-se analisar se a hipótese é de exclusão da ilicitude. Cuida-se de matéria doutrinária
e, por isso, não há consenso sobre sua aplicação. Para que o consentimento do ofendido seja considerado
causa supralegal de exclusão de ilicitude, apontam-se os seguintes requisitos:

• Capacidade do ofendido;
• Validade do consentimento;
• Disponibilidade do bem (objeto jurídico);
• Titularidade do bem (o ofendido deve ser o titular);
• Antecedência ou simultaneidade do consentimento;
• Forma expressa do consentimento;
• Ciência da situação fática que exclui a ilicitude.

 Excesso punível: A conduta acobertada por uma excludente da ilicitude deve ser praticada com
razoabilidade, dentro dos limites da lei. O excesso punível pode ser intensivo ou extensivo:

• Excesso intensivo é aquele que se relaciona com os meios utilizados para repelir a agressão ou ao
grau de sua utilização. O excesso é chamado intensivo devido à intensidade da conduta do agente.
• Excesso extensivo, por sua vez, se configura quando a conduta para repelir a agressão se prolonga no
tempo em período superior ao da própria agressão.

Por fim, cumpre destacar que o excesso pode ser doloso ou culposo.

 Descriminantes putativas é a suposição do agente sobre a configuração de uma causa que exclui a ilicitude
do seu comportamento.

Por erro de tipo: configura-se quando há equívoco do agente quanto à percepção da realidade. Ele interpreta
de forma equivocada um pressuposto fático de uma excludente de ilicitude. Se o erro de tipo for inevitável,
não há que se falar em fato típico e, portanto, não há responsabilização. Se for evitável, pune-se a culpa, se
prevista a possibilidade na lei.

Por erro de proibição: consiste na incorreta interpretação da lei penal permissiva pelo agente. Cuida-se de
equívoco sobre a interpretação da norma que prevê uma excludente de ilicitude, levando o agente a imaginar
que sua abrangência é diversa da que efetivamente é. Se o erro de proibição for inevitável, há isenção de
pena, com exclusão da culpabilidade do agente. Se for evitável, diminui-se a pena de um sexto a dois terços.

TEORIA GERAL DO CRIME - CULPABILIDADE

CONCEITO DE CULPABILIDADE
 Culpabilidade é o juízo de reprovação ou censura, consistindo no terceiro substrato do conceito
analítico de crime, consoante preconiza a teoria tripartida. Por ser compreendida nos seguintes aspectos:
 Culpabilidade do autor: juízo de reprovação que recai sobre o autor, em virtude de sua conduta e com
base em sua capacidade de se autodeterminar.

 Culpabilidade do fato: é o juízo de reprovação do homem por aquilo que ele fez, a censura recai sobre a
conduta praticada pelo agente. Adotada pela doutrina majoritária.

ELEMENTOS DA CULPABILIDADE
 IMPUTABILIDADE: A imputabilidade é a capacidade de se atribuir a alguém a responsabilidade por uma
conduta típica e ilícita. Podemos denominá-la de capacidade de culpabilidade, pois significa que o agente
que praticou determinada conduta pode ser responsabilizado por ela. Hans Welzel entende que a
imputabilidade é composta de dois momentos, o momento cognoscitivo ou intelectual e o momento volitivo:

 Momento cognoscitivo: é a compreensão do agente acerca da conduta que pratica, da sua tipicidade e
da sua ilicitude. É a capacidade de entender;

 Momento volitivo: é a determinação da sua vontade, orientando sua conduta conforme sua finalidade e
compreensão. É a capacidade de querer.
A imputabilidade é presumida em relação a todos os sujeitos, sendo excluída se demonstrada uma causa
excludente da culpabilidade. Então, em regra, todo agente é imputável
 POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE: A potencial consciência da ilicitude é a capacidade do agente
de compreender que sua conduta é reprovável. Exige-se que o agente seja capaz de entender, ao tempo da
sua ação ou omissão, que sua conduta viola a norma jurídica, sendo censurável pela sociedade em que vive.
Não é necessário o conhecimento técnico pelo agente. Basta, portanto, a chamada valoração paralela na
esfera do profano, conforme expressão usada por Mezger. Essa valoração paralela é aquela realizada pelo
leigo que, mesmo sem conhecimento técnico-jurídico, possui capacidade de entender o que é lícito e aquilo
que não é, em decorrência da sua convivência social. A valoração é paralela pois é feita ao lado do juízo
eminentemente jurídico. Sua esfera é a do profano, pois não é a do Direito. É o âmbito do leigo, com recurso
a aspectos morais, sociais, escolares, culturais, religiosos, dentre outros. Por isso, consideram-se essas
condições do sujeito para valorar se ele possuía ou não condições de entender a reprovabilidade daquilo que
ele praticava. Não devemos confundir a exigência de potencial consciência da ilicitude com a possibilidade
de o agente declarar que desconhecia a lei. A ignorância a respeito da existência da lei, também chamada de
erro de direito, não é causa de exclusão da culpabilidade, pois, como diz o adágio latino, ignorantia legis
neminem excusat, ou seja, a ignorância da lei não escusa ninguém. Entretanto, apenas no caso de
contravenções penais, a ignorância sobre a lei, se for escusável ou desculpável, pode ensejar a não aplicação
de pena pelo juiz. No caso dos crimes, como visto, ignorar a existência da lei não exclui a culpabilidade, pois
ninguém pode alegar o desconhecimento da lei para se eximir do seu cumprimento. Entretanto, a ignorância
sobre a lei é causa atenuante da pena.

 EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: Exige-se, para que o agente seja culpável, que ele tivesse a
possibilidade de atuar de acordo com o que o ordenamento jurídico prescreve. Só se pode reprovar a
conduta de quem tinha condições, ao tempo de sua conduta, de agir de modo diverso. Se não for possível
exigir do sujeito um comportamento diferente, sua ação ou omissão não é reprovável e, deste modo, fica
afastada a sua culpabilidade. Não se deve punir condutas que não poderiam ser evitadas. Se o sujeito não
podia agir de modo diferente, não se pode fazer um juízo de censura sobre sua conduta.
CAUSAS EXCLUDENTES DA ILICITUDE

 INIMPUTABILIDADE: é a exculpante relacionada à falta de imputabilidade. A imputabilidade pode ser


afastada em virtude das seguintes causas:

 Desenvolvimento mental incompleto: é a inimputabilidade em razão da idade. Considera-se aqui o


desenvolvimento das faculdades mentais ainda não ter se concluído, em razão da idade do sujeito. Alguns
autores também entendem que o desenvolvimento mental pode não ter se completado em razão da falta
de convívio social, o que seria o caso dos indígenas, que analisaremos adiante. A expectativa é de que o
indivíduo, ao atingir determinada idade cronológica, seja capaz de compreender o caráter ilícito de
determinados comportamentos e de conseguir direcionar seu comportamento conforme seu entendimento.
No caso da inimputabilidade em razão da idade, a Constituição da República adotou o critério exclusivamente
biológico. Não importa se o sujeito já tem capacidade de compreender e de querer, caso não tenha atingido
a idade mínima estabelecida para se atingir o grau de maturidade, que foi fixada de forma absoluta. É o que
prevê o artigo 228 da nossa Lei Fundamental.

 Embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior: a embriaguez, quando completa,
desde que decorrente de caso fortuito ou força maior, afasta a imputabilidade do agente. Neste caso,
considera-se que o agente não tinha a capacidade de entender e de querer nem no início de sua ação, quando
ingeriu a substância que o entorpeceu. Isto porque a própria embriaguez decorreu de caso fortuito ou força
maior, ou seja, foi acidental. Neste caso, o sujeito não recebe sanção penal, por não haver previsão de
imposição neste caso. Se processado, o sujeito deve ser absolvido, pois a ausência de culpabilidade impede
a configuração do crime. Em suma, para a configuração desta exculpante, são necessários os seguintes
pressupostos:

• Causal: a embriaguez deve ser origem em um caso fortuito ou força maior;


• Consequencial: a embriaguez deve retirar do agente sua capacidade de entender o caráter ilícito do
fato e se comportar de acordo com seu entendimento;
• Quantitativo: a embriaguez deve ser completa;
• Cronológico: a embriaguez deve estar presente ao tempo da prática do crime, ou seja, da ação ou da
omissão do agente.

 Embriaguez

 A embriaguez pode ser patológica, ou seja, decorrer de uma situação de dependência doentia, retirando
a capacidade do agente. Neste caso, deve ser tratada como doença mental e, deste modo, como excludente
da culpabilidade, podendo levar à absolvição imprópria, com a imposição de medida de segurança. Se for o
caso de redução da capacidade do agente de entender e de querer, será ele considerado semi-imputável. A
embriaguez pode ser acidental, ou seja, decorrer de caso fortuito ou força maior.

 Se a embriaguez acidental for completa, como vimos, o sujeito será considerado inimputável e, deste
modo, a culpabilidade será eliminada. É o que prevê o artigo 28, § 1º, do Código Penal. Por outro lado, se a
embriaguez acidental for incompleta, ainda haverá culpabilidade na conduta do indivíduo. Ou seja, sua
conduta será considerada socialmente reprovável, mas com consideração desta questão na dosimetria da
pena. Deste modo, incidirá uma causa de diminuição de pena prevista no § 2º

 Se a embriaguez for voluntária ou culposa, não sendo acidental, não implicará na inimputabilidade do
agente. É o que prevê o artigo 28, inciso II, do Código Penal.
 Por fim, a embriaguez preordenada é aquela em que o agente consome bebida alcoólica ou substância
de efeitos análogos com o escopo, com o objetivo de praticar determinada infração penal. Neste caso, além
de não excluída a imputabilidade, a conduta do sujeito é mais reprovável, razão pela qual incide uma
agravante prevista no art. 61, II, l do Código Penal.

Entretanto, como se pode punir um sujeito que, ao tempo da ação ou da omissão, estava embriagado? É
possível considera-lo imputável?

Neste ponto, há a teoria da actio libera in causa, tratada, dentre outros, pelo jurista Samuel von Pufendorf.
Segundo essa teoria, devemos considerar a consciência do agente quanto ao ato anteriormente praticado,
consistente na decisão de ingerir a substância alcoólica, seja visando ao estado de embriaguez, seja de forma
culposa. O ato posterior, de prática do delito, decorre do ato anterior, que foi praticado com consciência e
imputabilidade. Portanto, consideramos imputável o agente, estando dotado capacidade de entender o
caráter ilícito do fato e de se comportar conforme seu entendimento, porque o momento de análise é aquele
em que ele ingeriu a substância. Em razão desta desconsideração do real estado do sujeito quando da
conduta, alguns doutrinadores veem a punição do sujeito que se embriagou de forma não acidental como
resquício da responsabilidade objetiva no Direito Penal brasileiro. Isto porque, ao tempo da conduta, o
sujeito não possui efetivamente consciência da ilicitude, especialmente se o estado de embriaguez for
completa.

 A emoção e a paixão

O Código Penal é expresso ao determinar que a paixão e a emoção não tornam o sujeito inimputável.
Entretanto, a emoção pode ser utilizada como causa de diminuição de pena, nos casos de homicídio doloso
e lesões corporais dolosas. Em relação aos outros crimes, pode incidir a atenuante da pena, prevista no
artigo 65, inciso III, alínea “c”.

 Erro de proibição: é a incorreta interpretação da norma pelo agente, que o impede de entender que sua
conduta está abrangida pela vedação da norma. O erro de proibição pode ser direto ou indireto:

 O erro de proibição direto é aquele em que o agente interpreta a própria norma penal de forma incorreta,
imaginando que sua conduta não é alcançada pela lei penal incriminadora.

 O erro de proibição indireto, também denominado descriminante putativa por erro de proibição ou erro
de permissão, que ocorre quando o agente interpreta a norma que prevê uma excludente de ilicitude de
forma errada, pensando que está acobertado, sem efetivamente estar.

Com relação às consequências do erro de proibição, os efeitos dependem de ser ou não evitável.

 Se o erro for inevitável, desculpável ou escusável, o agente não responde criminalmente. Há isenção de
pena, por falta de potencial consciência de ilicitude e, por consequência, ausência da culpabilidade.

 Caso o erro seja evitável, indesculpável ou inescusável, a pena deve ser diminuída de um sexto a um terço.

 COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL: é o emprego de grave ameaça para que determinada pessoa atua, de
forma dolosa ou culposa, conforme se ordena a ela. É o emprego da chamada vis relativa, a promessa de
realizar algum mal ao sujeito, o que o leva a se submeter à vontade de outrem. A imputabilidade é do agente
coator, e não do coato, que, no caso de o agente não poder resistir à ameaça, não possuirá culpabilidade. O
coator pode responder pelo crime de tortura ou ter sua pena agravada, nos termos do artigo 62, II, do Código
Penal. No caso de coação moral resistível, não haverá exclusão da culpabilidade. Entretanto, o Código Penal
prevê a consideração da circunstância na dosimetria da pena, com a incidência de uma atenuante. No caso
de coação física, o sujeito não terá agido de forma livre e consciente. Deste modo, não há crime, por não
haver sequer fato típico.

 OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA: incide quando o agente age sob uma ordem, proferida por uma superior
hierárquico, que não seja manifestamente ilegal. A relação de hierarquia deve ser de direito público. É
necessário que haja um superior e um subordinado, ambos com vínculo com a Administração Pública e
submetidos à mesma cadeia hierárquica. Ademais, a ordem não pode ser manifestamente ilegal. Se a ordem
não tiver aparência de legalidade, o agente não terá afastada a sua responsabilidade criminal, configurando-
se a culpabilidade da sua conduta. O subordinado deve agir, em cumprimento à ordem, acreditando que ela
é legal e que age conforme o direito. Por fim, o subordina deve proceder ao estrito cumprimento da ordem.
Se ele agir além da ordem que recebeu, será responsável por seu excesso, caso ilícito. A excludente de
culpabilidade, decorrente da obediência à ordem não manifestamente ilegal, só acoberta a conduta do
agente que aja efetivamente nos limites da manifestação de vontade do seu superior hierárquico. Caso a
ordem seja considerada manifestamente ilegal, a conduta do agente será censurável e, assim, ficará
configurada a culpabilidade. O Código Penal, contudo, prevê uma atenuante da pena para o caso no art. 65,
inciso III, alínea c.

CAUSAS SUPRALEGAIS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE

Existe controvérsia na doutrina. São duas as posições:

 Rol taxativo (numerus clausus) das causas de exclusão da culpabilidade: as causas excludentes de
culpabilidade devem estar previstas expressamente em lei, por serem parte da sistemática da lei sobre o
assunto. Deste modo, não se admite analogia in bonam partem em matéria de exculpantes. Nelson Hungria
defendeu essa posição.

 Rol exemplificativo (numerus apertus) das causas de exclusão da culpabilidade: as causas de exclusão
da culpabilidade são previstas em lei por um rol exemplificativo, o que dá abertura à consideração de causas
supralegais. A exigibilidade de conduta diversa é a porte de entrada de causas supralegais, consistente em
uma espécie de cláusula geral de configuração da culpabilidade. É o entendimento que vem sendo adotado
pelo STJ. São exemplos enumerados pela doutrina:

• Desobediência Civil: é a conduta de se insurgir contra a ordem estabelecida para luta por um direito
humano ou fundamental.
• Cláusula de consciência: é a justificativa para descumprimento de determinado dever com base
religiosa, moral ou filosófica.
• Situação financeira da sociedade empresária e crimes tributários: a situação financeira de uma
determinada pessoa jurídica tem sido invocada para justificar o não recolhimento de determinados
tributos.
PUNIBILIDADE

CONCEITO DE CULPABILIDADE
É a possibilidade de o Estado aplicar a sanção penal, seja pena ou a medida de segurança, ao sujeito ativo
da infração penal. Dito de outra forma, a punibilidade é o próprio ius puniendi. Sua natureza jurídica,
segundo a teoria tripartida, é de mero pressuposto para aplicação da sanção penal.

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA PUNIBILIDADE


São hipóteses que impedem o surgimento do direito de punir do Estado. Em razão de condições pessoais do
agente, há hipóteses em que a prática de uma infração penal não implica no direito do Estado em aplicar
uma punição, por motivos de política criminal. Nem todos os doutrinadores utilizam essa nomenclatura,
sendo que muitos tratam como causas de isenção de pena, imunidades dos crimes contra o patrimônio,
imunidades absolutas ou escusas absolutórias.

• Imunidades absolutas ou escusas absolutórias: artigo 181 do Código Penal.


• Imunidades parlamentares, diplomáticas e dos advogados.

CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE

É a condição, externa ao delito, de que depende a imposição da sanção penal pela prática de um crime. As
condições objetivas de punibilidade condicionam a punibilidade, não dependendo da vontade do agente. O
direito de punir fica suspenso até o advento dessa condição. São exemplos de condições objetivas de
punibilidade (o tema comporta divergências):

• Constituição definitiva do débito nos crimes tributário.


• Sentença de falência, recuperação judicial ou extrajudicial nos crimes falimentares.
• Condições para a extraterritorialidade condicionada: artigo 7º, inciso II, do Código Penal.

CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

São as situações que, após o surgimento do direito de punir do Estado, causam sua extinção. O direito de
punir surge, mas deixa de existir por um motivo superveniente. Entretanto, há fatos ou eventos cujo advento
determina a extinção deste direito de punir, que podem ser:

• Gerais ou comuns: são as causas extintivas da punibilidade que se aplicam a todas as infrações penais.
• Especiais ou particulares: são as causas extintivas da punibilidade que se relacionam a infrações
penais determinadas.
O Código Penal traz várias causas de extinção da punibilidade em seu artigo 107. Este elenco constitui um
rol exemplificativo, ou seja, numerus apertus. Existem outras causas de extinção da punibilidade previstas
em outros dispositivos do Código Penal, como, por exemplo, o art. 312, § 2º, do CP.

É possível a existência de causa supralegal de extinção da punibilidade?

Parte da doutrina aponta que sim, apontando como exemplo o entendimento do Supremo Tribunal Federal
a respeito do crime de fraude no pagamento por meio de cheque de que, após recebida a denúncia, o
pagamento do cheque não é obstáculo ao trâmite da ação penal.

Hipóteses principais de extinção da punibilidade do rol do artigo 107 do Código Penal.

 Morte do agente: a morte do sujeito ativo do crime implica na extinção da punibilidade. Conforme a
expressão latina, mors omnia solvit, ou seja, a morte solve tudo. Ou seja, a morte apaga tudo que havia, não
havendo mais o que se solver, obrigações a serem adimplidas. Segundo o princípio da pessoalidade, a pena
não pode passar da pessoa do condenado. Deste modo, os efeitos penais da condenação se extinguem com
a morte do agente, permanecendo apenas os extrapenais. Entretanto, o princípio da intranscendência da
pena, previsto na Constituição da República, no seu artigo 5º, inciso XLV, comporta duas exceções que
permitem a extensão dos efeitos penais aos sucessores são as seguintes: obrigação de reparar o dano e
decretação de perdimento de bens. Em ambos os casos, é necessário que se observe o limite do valor do
patrimônio transferido ao sucessor.

E se a extinção da punibilidade for decretada com base em certidão de óbito falsa?

A decisão é inexistente, pois baseada em uma premissa falsa. Essa posição foi adotada pelo Supremo Tribunal
Federal em alguns precedentes, apesar de forte resistência doutrinária.

 Anistia, Graça e Indulto: são formas de renúncia do Estado ao direito de punir, configurando-se como
causas de extinção da punibilidade. Fundamentam-se em razões de política criminal, como na diminuição do
encarceramento, e de clemência.

Anistia é a causa de extinção da punibilidade, formalizada por ato legislativo, de renúncia estatal ao direito
de punir. A anistia apaga todos os efeitos penais, tanto os principais quanto secundários. Permanecem,
entretanto, os efeitos extrapenais. Seus efeitos são ex tunc. A competência exclusiva pertence à União, sendo
privativa do Congresso Nacional. A lei de anistia não pode ser revogada por lei posterior, em razão do
princípio da irretroatividade.

A graça e o indulto são causas de extinção da punibilidade, formalizadas por Decreto Presidencial, que
representam uma renúncia do Estado ao seu direito de punir, por razões de política criminal ou clemência.
Referido ato, de competência do Presidente da República, pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República e ao Advogado-Geral da União. Tal qual a anistia, a graça e o indulto apagam
os efeitos penais principais. Entretanto, no caso da graça e do indulto, permanecem os efeitos penais
secundários e os efeitos extrapenais. A previsão desta causa de extinção da punibilidade está no artigo 84,
inciso XII e parágrafo único, da Constituição.
A doutrina costuma tratar dos dois institutos conjuntamente, dada sua proximidade e em razão de a graça
em sentido amplo ser o gênero, o qual abarca o indulto e a graça em sentido estrito. Enumeradas as
semelhanças, cabe, agora, diferenciarmos os dois institutos:

✓ Graça em sentido estrito: é um benefício individual. Depende de provocação do interessado para sua
concessão e, com isso, ensejar a extinção da punibilidade.
✓ Indulto: é um benefício coletivo. Sua concessão atinge todos aqueles aos quais o decreto se destina,
não dependendo de nenhuma provocação.

Quanto aos crimes de ação penal privada, é possível a concessão de graça, indulto ou anistia? Sim, pois, nos
casos em que somente de procede mediante queixa, o direito de punir continua pertencendo ao Estado.
Apenas a iniciativa da ação penal é delegada ao particular.

Casos de vedação

A Constituição Federal impõe limites a referidos atos de renúncia ao ius puniendi, em seu artigo 5º, inciso
XLII, dispondo ser insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. A Lei 8072/90, que dispõe sobre os crimes
hediondos, dispõe em seu artigo 2º, inciso I, que os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça e
indulto. Ao contrário da Constituição, que não menciona a vedação do indulto, a lei é expressa ao proibir
sua concessão aos delitos hediondos e aos equiparados.

A previsão do artigo 2º, caput e inciso II, da Lei 8.072/90 é constitucional, ao incluir o indulto na proibição?
O STF entende que o indulto é modalidade de graça (em sentido amplo). Logo, está abrangido pela vedação
constitucional.

 Abolitio Criminis

A abolitio criminis é a causa de extinção da punibilidade que consiste na descriminalização da conduta, em


decorrência da superveniência de lei que deixa de prever aquela infração penal. A lei que revoga a previsão
da norma penal incriminadora, seja de forma expressa ou tática, provoca a extinção da sanção penal imposta,
bem como os efeitos penais da condenação. Os efeitos extrapenais permanecem. A doutrina discute a
natureza jurídica da abolitio criminis. O artigo 109 do Código Penal prevê, dentre as causas extintivas da
punibilidade, a abolitio criminis, razão pela qual, ao menos no plano legal, a discussão possui uma solução: a
natureza jurídica é de causa extintiva da punibilidade.

 Decadência

Decadência é a causa de extinção da punibilidade que consiste na perda do direito de oferecer queixa crime
(ação penal de iniciativa privada ou ação penal privada subsidiária da pública) ou de oferecer representação
(nas ações penais públicas condicionadas), em razão da inércia do titular durante determinado intervalo de
tempo. A decadência envolve, então, duas hipóteses. Primeiro, abrange a perda do direito de oferecer
queixa-crime. Em segundo lugar, a decadência também constitui a perda do direito de oferecer
representação.

A decadência está prevista no artigo 103 do Código Penal, que prevê o prazo de seis meses para o
oferecimento de queixa ou de representação, contado do dia em que a autoria do delito se torna conhecida.
No caso de ação penal privada subsidiária da pública prevê o dispositivo que o início da contagem do prazo
começa no dia em que esgota o prazo para o oferecimento da denúncia. No caso de pluralidade de agentes,
o prazo começa a correr do conhecimento da identidade do primeiro autor.

Entretanto, no caso de ação penal privada subsidiária da pública, o não oferecimento da queixa-crime no
prazo não acarreta a extinção da punibilidade. Nesta hipótese, a decadência não é causa de extinção da
punibilidade, mas apenas acarreta a perda do direito do ofendido de propor a ação penal.

A decadência, por implicar na extinção da punibilidade, tem natureza penal e, portanto, deve ser contada
nos termos do artigo 10 do CP. O prazo não se interrompe por pedido de explicações em juízo nem por
instauração de inquérito policial. Há alguns crimes que possuem regramento específico:

✓ Crime permanente: só se inicia após cessada a permanência.


✓ Crime continuado: o prazo flui de cada delito considerado de forma isolada.
✓ Crime habitual: é contado do último ato praticado pelo agente.

 Perempção

A perempção é a causa de extinção da punibilidade que representa uma sanção penal ao querelante
negligente ou inerte. Só é cabível na ação penal privada exclusiva ou personalíssima, ou, nos termos da lei,
nos casos em que se procede mediante queixa. As hipóteses estão previstas no artigo 60 do Código de
Processo Penal.

A hipótese de falta de andamento ao processo pressupõe notificação do querelante para agir, como aponta
a doutrina. Ademais, não se exige o comparecimento do querelante para atos em que sua presença não seja
indispensável. Se houver pedido de justiça e as alegações finais demostrarem que se pede a condenação,
não há perempção. Tem-se entendido, todavia, que a apresentação das alegações finais, na forma de
memorial, fora do prazo não induz perempção.

Em razão da impossibilidade de comparecer alguma pessoa para substituição, a morte do querelante na ação
penal privada personalíssima acarreta a extinção da punibilidade.

 Renúncia

Renúncia é a causa de extinção da punibilidade, que consiste em ato unilateral, do ofendido ou de seu
representante legal, de abdicação do direito de promover a ação penal privada. É cabível nos casos de ação
penal privada exclusiva ou personalíssima, pois a punição, nestas hipóteses, depende de que o ofendido ou
seu representante oferte a queixa crime. Na ação penal pública condicionada à representação, há a
possibilidade de renúncia apenas em relação aos crimes de menor potencial ofensivo.

Só cabe a renúncia antes de iniciada a ação penal, pois é pré-processual. O ato é unilateral. A renúncia pode
ser expressa ou tácita:

✓ Expressa: ocorre quando o ofendido declara, de forma explícita, que não intentará a ação penal
privada, abrindo mão do seu direito. Pode ser feita pelo ofendido, seu representante legal ou
procurador com poderes especiais, nos termos do artigo 50, caput, do Código de Processo Penal.
Consiste de declaração escrita, assinada por um dos indivíduos que podem oferecer a renúncia.
✓ Tácita: decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de oferecer queixa
contra o agente. A renúncia tácita admite qualquer meio de prova, nos termos do artigo 57 do Código
de Processo Penal.

Não é renúncia tácita o recebimento, pelo ofendido, de indenização do dano causado pelo crime, salvo nos
casos de crime de menor potencial ofensivo. No caso de morte do ofendido, o direito de queixa passa ao seu
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. A renúncia de um dos legitimados não impede que os outros
ofertem a queixa-crime. Também no caso de haver dois ou mais ofendidos, a renúncia de um não impede o
outro de oferecer queixa-crime. No caso de concurso de agentes, a renúncia em relação a um deles se
estende aos demais. É o teor do artigo 49 do CPP.

Caso o querelante ofereça queixa contra apenas um dos agentes, pode o MP aditar para inclusão dos demais?
A doutrina diverge sobre essa possibilidade, sendo que parte entende que é possível, pois o Ministério
Público deve velar pela indivisibilidade da ação penal e deve impedir que um dos agentes seja deixado de
fora pelo querelante. Outra parte da doutrina entende que, tendo sido oferecida queixa contra apenas parte
dos agentes, entender-se-á que houve renúncia em relação ao não incluído. A única solução seria a extensão
da renúncia a todos, com a extinção da punibilidade.

 Perdão do ofendido

O perdão do ofendido é a causa de extinção da punibilidade que consiste em ato pelo qual o ofendido ou
seu representante legal manifesta seu desejo de desistir da ação penal privada exclusiva ou personalíssima.
É cabível desde o oferecimento da queixa até o trânsito em julgado. Refere-se aos casos de ação penal
privada exclusiva ou personalíssima, não sendo admissível na ação penal privada subsidiária da pública. Esta
causa está prevista no artigo 105 do Código Penal. Cuida-se de ato bilateral. Por conseguinte, a aceitação do
querelado é imprescindível. Assim como a renúncia, o perdão pode ser tácito ou expresso. Pode, ainda, ser
judicial ou extrajudicial.

Quanto ao procedimento para aceitação do perdão, o artigo 58 do Código de Processo Penal prevê o
querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, no mesmo tempo, sendo cientificado que o
seu silêncio importará aceitação. Portanto, é possível a aceitação do perdão ocorrer por decurso de prazo.
O perdão é cabível nas ações penais privadas, sejam exclusivas ou personalíssimas, em razão do princípio da
disponibilidade.

 Retratação

A retratação é a causa de extinção da punibilidade consistente no ato do agente de retirar totalmente o que
disse anteriormente. Seu cabimento é restrito aos seguintes casos: calúnia e difamação; falso testemunho e
falsa perícia. Não cabe a retratação na injúria, com a qual se atinge a honra subjetiva do ofendido. Neste
caso, deve ser oferecida pelo próprio sujeito ativo até a prolação de sentença pelo juiz. A retratação, neste
caso, não se comunica aos demais agentes.

Com relação ao falso testemunha e à falsa perícia, a retratação é possível se, antes da sentença no processo
em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Nesta hipótese, a retratação pode ser
oferecida até a sentença de primeira instância. O termo final do prazo é ser proferida sentença, de primeiro
grau, no processo em cujo curso o acusado prestou falso testemunho ou elaborou falsa perícia. Esta causa
de extinção da punibilidade se estende aos demais agentes.

 Perdão judicial

É o instituto, cuja natureza é de causa de extinção da punibilidade, pelo qual o juiz deixa de aplicar a sanção
penal, em virtude de circunstâncias específicas do caso. Ocorre nos casos de bagatela imprópria, em que
incide o princípio da desnecessidade da pena. O perdão judicial independe de aceitação. É direito público
subjetivo do acusado. Deste modo, satisfeitos os requisitos, o juiz deve conceder o benefício. Sua
admissibilidade depende de previsão na lei. Quando concedido, o perdão judicial extingue os efeitos penais,
nos termos da Súmula 18 do STJ. Referido enunciado também esclarece que a natureza jurídica desta causa
extintiva da punibilidade é declaratória. Deste modo, não torna certa a obrigação de reparar o dano. O
perdão judicial deve ser concedido no curso do processo penal, pelo juiz.

Por fim, sobre a natureza jurídica, parte da doutrina defende se tratar de sentença declaratória de extinção
da punibilidade, entendimento que foi adotado pelo STJ. Sobre o perdão judicial e a reincidência, que é efeito
penal secundário da condenação, o Código Penal foi claro ao afastar este efeito em seu artigo 120.

PRESCRIÇÃO

PRESCRIÇÃO

É a causa extintiva da punibilidade decorrente da inércia estatal por determinado lapso temporal.

 São fundamentos a justificar o reconhecimento da prescrição como causa extintiva da


punibilidade: enfraquecimento do quadro probatório; inconveniência de aplicação da sanção penal muito
tempo depois da prática da infração penal; combate à ineficiência do Estado e o
próprio esquecimento do fato.

 Deve ser reconhecida de ofício pelo juiz.

 Quando um crime for pressuposto, elemento constitutivo (crime complexo) ou circunstância agravante
de outro, a extinção da punibilidade dele não influi a outra infração penal. Além disso, mesmo que um crime
já tenha prescrito, ele pode ser considerado pelo juiz para se agravar a pena de outro devido à conexão
existente entre eles.

 No caso das penas restritivas de direito, o prazo prescricional será o mesmo das penas privativas de
liberdade.

 As penas mais leves prescrevem com as mais graves.

 Se houver concurso de crimes, os prazos prescricionais deverão ser considerados de forma individualizada.
 No caso de continuidade delitiva, o aumento decorrente do reconhecimento do próprio crime continuado
não deve ser utilizado para a estipulação do prazo prescricional.

 A regra é a prescritibilidade, ou seja, todos os crimes estão sujeitos à prescrição. Existem, entretanto,
hipóteses de imprescritibilidade.

 São, portanto, crimes imprescritíveis (e inafiançáveis):

✓ Crime de racismo;
✓ Crimes praticados por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
democrático.

 O advento deste crime fez grande parte da doutrina diferenciar o racismo da injúria racial:

✓ O racismo é o crime imprescritível. São condutas que promovem o tratamento discriminatório por
motivos abjetos, como a origem étnica do indivíduo.
✓ A injúria racial, por sua vez, passou a ser compreendida como a conduta do sujeito que imputa uma
qualidade negativa à vítima, desde que haja emprego de elementos referentes à raça, cor, étnica,
origem, religião ou condição de pessoa com deficiência.

 O STF possui precedente em que diferencia racismo de injúria racial, considerando este prescritível.

 O STJ considera injúria racial uma modalidade de racismo e, portanto, imprescritível.

 O crime de ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático é imprescritível. Há um mandado, na Constituição, de criminalização de referida conduta e com
o intuito de cumprir o mandamento, foi criado o Projeto de Lei 6.674. Entretanto, cuida-se apenas de projeto
de lei, ainda em tramitação no Congresso Nacional.

 No âmbito do Direito Penal Internacional, há a previsão de imprescritibilidade para todos os delitos de


competência do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, nos Países Baixos. Entretanto, alguns
doutrinadores entendem que referida previsão não encontra guarida na Constituição.

 A prescrição, causa de extinção da punibilidade por inércia do Estado, possui várias modalidades:

✓ Prescrição da pretensão punitiva: ocorre antes do trânsito em julgado da sentença, extinguindo o


direito de punir do Estado.
✓ Prescrição da pretensão executória: ocorre após o trânsito em julgado da sentença, impedindo o
Estado de executar a punição (pena ou medida de segurança).

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA


 É a causa extintiva da punibilidade que impede a própria formação do título executivo pelo Estado, dada
sua inércia por determinado período de tempo. Esta modalidade de prescrição ocorre antes do trânsito em
julgado, de forma que não há sequer a imposição definitiva de sanção penal ao acusado.
 A ocorrência da prescrição da pretensão punitiva (PPP) impede o início ou a continuidade do processo
penal.

 O reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva afasta tanto os efeitos principais quanto os efeitos
secundários da condenação.

 A prescrição da pretensão punitiva possui diferentes modalidades, conforme o termo inicial e final do seu
prazo, variando também a base de cálculo. A base para o cômputo do prazo prescricional pode ser a pena
máxima cominada abstratamente ao delito ou a pena aplicada pelo juiz no caso concreto, a depender da
espécie de PPP.

 São as modalidades de prescrição da pretensão punitiva: a PPP propriamente dita, a PPP superveniente,
a PPP retroativa e a PPP virtual.

 Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita: é a extinção da punibilidade, por decurso do prazo
em que o Estado permanece inerte, calculada com base no limite máximo da pena prevista em abstrato para
o delito.

 O artigo 109 do Código Penal se refere aos casos em que não houve o trânsito em julgado.

 O prazo mínimo de prescrição, para os crimes cuja pena máxima em abstrato é inferior a um ano, foi
alterado pela Lei 12.234, de 5 de maio de 2010. Antes desta data, o prazo mínimo era de 2 anos.

 O crime de posse de droga para consumo pessoal possui prazo próprio para cálculo da prescrição. O artigo
30 da Lei 11.343/06 estipula que a imposição e a execução das penas previstas para o delito do artigo 28 do
mesmo diploma legal prescrevem em dois anos.

 Eventual qualificadora deve ser considerada.

Qual a fração de aumento de pena deve ser considerada para fixação do prazo de prescrição da pretensão
punitiva, no caso de incidência de uma majorante?

Se o indivíduo é acusado ou investigado em relação à prática de um delito majorado, deve-se considerar o


maior aumento possível. No caso de incidir uma minorante, ou uma causa de diminuição de pena, considera-
se a menor diminuição possível. É o que determina a teoria da pior das hipóteses.

 Por sua vez, as circunstâncias judiciais, as agravantes e as atenuantes não são consideradas. Entretanto, a
chamada menoridade relativa e a senilidade são consideradas por força de lei. No caso do menor de 21 anos
de idade, ao tempo do crime, e do maior de 70 anos, à época da sentença, os prazos prescricionais devem
ser reduzidos pela metade.

 Com relação ao termo inicial do prazo da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita, o Código
Penal estipulou as regras para o início da sua fruição no art. 111 do Código Penal.

 A prescrição possui causas suspensivas. A suspensão determina que o prazo deixe de fluir, ficando
paralisado. Com o fim da suspensão, a prescrição volta a correr de onde parou. As causas suspensivas da
prescrição estão previstas no artigo 116 do Código Penal.
 A suspensão do curso do prazo prescricional não possui, na legislação, um limite expresso. A este respeito,
o Superior Tribunal de Justiça editou o enunciado 415 da sua Súmula, entendendo que se deve respeitar o
máximo da pena cominada ao delito para delimitação do período de suspensão da prescrição.

 A prescrição também pode ser interrompida. A interrupção faz com que o prazo seja reiniciado,
desprezando-se o período já escoado.

 A prescrição da pretensão punitiva interrompe-se pelo recebimento da denúncia ou queixa; pela


pronúncia, nos crimes da competência do Tribunal do Júri; pela decisão que confirma a pronúncia e, por fim,
pela publicação da sentença ou acórdão condenatório recorríveis.

 O parágrafo único do artigo 107 prescreve, ainda, que as causas interruptivas da prescrição abrangem os
crimes conexos, os quais estejam sendo tratados no mesmo processo.

 Caso o juiz de primeira instância rejeite a denúncia, a interrupção ocorrerá com a publicação do acórdão
que der provimento ao recurso a recebê-la. Entretanto, se for anulada a decisão de primeiro grau, o processo
volta à primeira instância para nova decisão do juiz sobre o recebimento ou rejeição. Neste último caso, o
acórdão não é causa interruptiva da prescrição. É o que prevê a Súmula 709 do Supremo Tribunal Federal.

 Quanto à pronúncia, esta decisão interrompe a prescrição mesmo que, posteriormente, o Conselho de
Sentença do Tribunal de Júri desclassifique o crime.

 Caso o réu seja condenado na primeira instância, a publicação da sentença condenatória interrompe a
prescrição. Se a defesa recorrer e o tribunal confirmar a sentença condenatória, o acórdão confirmatório da
condenação interrompe o prazo novamente. É o atual entendimento consolidado do Pleno do STF.

 Se, pelo contrário, o réu for absolvido pelo juiz da primeira instância, a publicação de acórdão que, dando
provimento ao recurso, condenar o acusado interrompe a prescrição. Neste caso, a prescrição não foi
interrompida na primeira instância. Ademais, a lei prevê, expressamente, que o acórdão condenatório
recorrível interrompe a prescrição.

 Com relação à publicação da sentença, que interrompe a prescrição, o Superior Tribunal de Justiça já fixou
o entendimento de que basta a publicação em cartório, ou seja, com a devolução dos autos pelo juiz ao
cartório ou secretaria do juízo.

 Para a prescrição da pretensão punitiva, da qual a PPP propriamente dita é uma das modalidades, a
reincidência não interfere no prazo.

 Prescrição da pretensão punitiva superveniente ou intercorrente:

 A prescrição da pretensão punitiva superveniente ou intercorrente é a que incide a partir do trânsito em


julgado da sentença condenatória para a acusação, levando em conta a pena efetivamente aplicada.

 A utilização da pena já aplicada na condenação como parâmetro para a fixação do prazo prescricional é
entendimento consolidado na jurisprudência.
 O trânsito em julgado para a acusação diz respeito à pena aplicada. Deste modo, se a acusação recorrer
apenas do regime inicial de cumprimento de pena, sem buscar a majoração da pena aplicada pelo juiz, o
prazo da prescrição da pretensão punitiva intercorrente começará a fluir.

 Por conseguinte, o prazo corre da sentença condenatória se a acusação não buscar o aumento da pena.
De igual modo, o prazo começa a fluir da sentença condenatória se o recurso da acusação for improvido ou
o aumento da pena não modificar o prazo prescricional.

 Prescrição da pretensão punitiva retroativa:

 Princípio do Fato ou da Responsabilidade pelo Fato: É a prescrição, reconhecida após o trânsito em


julgado, que possui termo anterior à sentença condenatória.

 A prescrição da pretensão punitiva retroativa regula-se pela pena aplicada em concreto

 O cálculo é feito de trás para frente. Após a imposição da pena, o cálculo do prazo prescricional é feito
com base na pena aplicada em concreto. Entretanto, os marcos temporais estarão no passado, entre a
sentença ou o acórdão condenatório recorrível e o recebimento da denúncia ou queixa.

 Anteriormente, a PPP retroativa era mais ampla, podendo ser verificada também no interregno entre o
recebimento da denúncia ou queixa e a data dos próprios fatos. Esta hipótese de incidência da prescrição
retroativa não é mais possível, após a alteração do Código Penal pela Lei 12.234, de 2010.

 Com o advento da Lei 12.234/2010, parte da doutrina passou a entender que não havia mais possibilidade
de reconhecimento de prescrição da pretensão punitiva retroativa. Tal entendimento foi rechaçado pela
doutrina e pela jurisprudência majoritária.

 Os marcos temporais da prescrição retroativa serão a publicação da condenação e o recebimento da


denúncia ou da queixa.

 No rito dos processos de competência do Tribunal do Júri, há marcos temporais além daquelas previstos
no processo comum. Neles, é possível calcular a prescrição retroativa ente a publicação da sentença ou
acórdão condenatório recorrível e o acórdão confirmatório da pronúncia. Também cabe a prescrição
retroativa entre o acórdão que confirmou a pronúncia e a própria decisão de pronúncia. Por fim, é possível
também que escoe o prazo da prescrição retroativa entre a pronúncia e o recebimento da queixa ou da
denúncia pelo juiz.

 Prescrição da pretensão punitiva virtual ou antecipada: é aquela calculada com base em um exercício de
prognose, com relação à probabilidade de ser aplicada determinada pena pelo juiz, antes mesmo de haver
uma sentença ou um acórdão condenatório. Isto é, trata-se da prescrição reconhecida antecipadamente,
com base na provável pena a ser aplicada pelo juiz.

 Esta modalidade não possui amparo legal, sendo uma construção doutrinária. Busca-se antecipar o
reconhecimento da prescrição, mesmo que o processo penal sequer tenha iniciado, já com base na pena que
será aplicada pelo juiz, após a realização da dosimetria.
 Consigno que, apesar da Súmula 438 do STJ, na prática há casos em que o próprio Ministério Público
promove o arquivamento do inquérito com base na prescrição virtual. No mais, muitos juristas entendem
que não há justa causa para a ação penal.

 Como visto, por mais defensável que seja o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva virtual,
que evitaria o trâmite de um processo inútil, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado de
que não é possível a extinção da punibilidade com base em pena hipotética.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA


 É a perda do poder do Estado de executar a sanção imposta, em razão de sua inércia por determinado
intervalo de tempo.

 Os prazos da prescrição da pretensão executória serão aqueles do artigo 109 do Código Penal, mas a
correspondência será feita com a pena aplicada de forma definitiva, ou, nos casos de evasão do condenado
ou de revogação do livramento condicional (LC), no que resta da pena aplicada.

 A prescrição da pretensão executória (PPE) depende do trânsito em julgado para ambas as partes, apesar
de a jurisprudência retroagir o termo inicial ao trânsito em julgado para a acusação.

 A PPE extingue a sanção penal, mas subsistem os efeitos secundários da condenação, tanto penais quanto
extrapenais.

 No caso de concurso de delitos, incide sobre cada pena isoladamente, como já ressaltado. No caso de
continuidade delitiva, desconsidera-se o aumento decorrente do crime continuado para o cálculo
prescricional, como enuncia a Súmula 497 do STF.

 A reincidência implica no aumento do prazo da prescrição da pretensão executória em um terço.

 O termo inicial para o transcurso do prazo da prescrição da pretensão executória se inicia com o trânsito
em julgado da sentença condenatória para a acusação, ou da sentença que revoga a suspensão condicional
da pena ou o livramento condicional.

 O STJ já sedimentou o entendimento de que a prescrição realmente começa a correr do trânsito em


julgado para a acusação, ainda que a pena ainda não possa ser executada.

 Com a interrupção da prescrição, o prazo começa a fluir do dia em que o prazo se interrompe, caso a
interrupção não for computada na pena como ocorre em alguns benefícios da execução penal.

 Os termos iniciais do decurso do prazo da prescrição da pretensão executória estão previstos no artigo
112 do Código Penal.

 No caso de abandono de execução, como já dito, a pena se regula pelo que resta da pena.

 Caso se trate de penas restritivas de direitos, o início do prazo se dará com o abandono do seu
cumprimento.
 Pode ocorrer a suspensão da prescrição da pretensão executória, caso o condenado seja preso por outro
motivo.

 Há, ainda, causas de interrupção da prescrição da pretensão executória previstas no artigo 117, incisos V
e VI.

 Entretanto, no caso de início ou continuação do cumprimento de pena, a prescrição não volta a correr
com todo o prazo restituído. Porém, caso haja interrupção no cumprimento da pena, o prazo será calculado
com base no tempo de pena que resta ao agente cumprir. Por isso, não se devolve o prazo integralmente.

 Ademais, interrompe-se o prazo em virtude do início ou da continuação do cumprimento da pena, bem


como em razão da reincidência.

 Conforme determina o parágrafo único do artigo 117, referidas causas interruptivas são pessoais, não se
estendendo a corréus, coautores ou partícipes.

 Com relação ao início de cumprimento de pena, cumpre salientar que não o configura a audiência
admonitória.

 A reincidência que interrompe a PPE é a posterior à condenação. Neste caso, o prazo corre da data da
prática do crime, e não do trânsito em julgado. Por outro lado, a prática de crime anterior, pela qual ele já
estava sendo processado, não interromperá o prazo prescricional.

 As causas de diminuição do prazo prescricional referentes ao menor de 21 anos de idade, ao tempo do


crime, ou maior de 70 anos, à época da sentença, aplicam-se para os prazos de extinção da pretensão
executória.

 Sobre a relação entre detração e prescrição, na sentença, o juiz já deve efetuar a detração do período de
prisão processual a que o condenado já foi submetido. O Superior Tribunal de Justiça já possui entendimento
consolidado, que determina que o período de detração não deve ser levado em conta para o
estabelecimento do prazo prescricional.

PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA


 Esta espécie de pena passou por alterações desde o advento do Estatuto, sendo a última delas a efetivada
pela Lei nº 9.268/96, que determinou o tratamento da multa como dívida de valor, ao alterar o caput do
artigo 51 do Código Penal.

 Entretanto, com relação à prescrição da pretensão executória, surge a controvérsia. Parte da doutrina
passou a defender que, mesmo com a alteração do artigo 51 do Código Penal, a prescrição da pretensão
executória continuou a obedecer ao mesmo regramento da prescrição da pretensão punitiva.

 Se a pena de multa for a única cominada ou aplicada para o crime, o prazo de prescrição é de 2 anos. Caso
a pena de multa seja cominada ou aplicada, de forma cumulativa ou alternativa, em conjunto com pena
privativa de liberdade, deve prescrever no mesmo prazo desta última.
 Entretanto, outra corrente doutrinária começou a defender a posição de que a prescrição da pretensão
executória da pena de multa deve se regular pelo mesmo prazo previsto para a prescrição da dívida ativa da
Fazenda Pública, ou seja, de 5 anos.

 O tema foi enfrentado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou que o prazo a
ser adotado deve ser o da legislação tributária. Entretanto, já um recente precedente do Superior Tribunal
de Justiça, em que o prazo de prescrição da pretensão executória foi considerado como de 2 anos, nos termos
do artigo 114 do Código Penal.

ITER CRIMINIS E CONCURSO DE PESSOAS

ITER CRIMINIS
 FASES: é o caminho percorrido pela ação criminosa, ou seja, o próprio caminho do crime. É possível,
ainda, que a ação ou omissão do agente prossiga até o chamado exaurimento da infração penal.
Vejamos cada uma das fases.

 Cogitação:

É a fase em que o agente pensa em praticar a conduta típica, em que ele planeja, cogita ou prevê. Isto não
significa que necessariamente o crime seja premeditado. Cuida-se da fase interna, psicológica, sem
exteriorização. Por isso, tal fase é indiferente para o Direito Penal, como decorrência, inclusive, do princípio
da exteriorização ou materialização do fato. O Direito Penal não se ocupa de convicções pessoais,
pensamentos ou desejos íntimos.

 Atos preparatórios

Nesta fase, o agente começa a preparar os atos necessários para a prática da conduta delitiva. Ele cria o
cenário necessário para que a infração penal seja praticada. Em regra, os atos preparatórios não são punidos.
Entretanto, existem hipóteses de punição de atos preparatórios. Isto ocorre quando o legislador prevê um
crime autônomo para a punição de conduta que, de outra forma, não seria punível como ato preparatório
de outro delito. Denomina-se de crime obstáculo.

 Atos executórios

A fase dos atos executórios compreende o início da realização da conduta típica pelo agente, momento em
que o bem jurídico é posto em perigo ou atacado. Com o início da prática, pelo sujeito, da conduta típica
prevista em norma penal incriminadora, seu comportamento passa a ser punível.

 Consumação

A consumação é a fase em que há a consumação plena da conduta tipificada em lei. Há a tipicidade formal e
material, com a realização da lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico.
 Crime consumado: é aquele em que houve a realização, pelo agente, de todos os elementos típicos da
norma penal incriminadora. É o que prevê o artigo 14, I, do Código Penal. A consumação ocorre em momento
diferente, a depender da espécie de crime:

 Crime material ou de resultado: com a produção do resultado naturalístico.

 Crime formal ou de execução antecipada: no momento da conduta, independentemente da produção do


resultado. Caso o resultado naturalístico ocorra, será considerado mero exaurimento do crime;

 Crime de mera conduta: no momento da conduta (comissiva ou omissiva) do agente;

 Crime culposo: com a produção do resultado naturalístico não desejado nem aceito pelo agente;

 Crime permanente: protrai no tempo, perdurando enquanto durar a atividade delitiva;

 Crime qualificado pelo resultado: para que incida o fator que torna a pena mais grave, é indispensável a
produção do resultado previsto pela norma penal;

 Crime habitual: com a reiteração da conduta do sujeito, uma vez que a prática de penas um ato não
configura o delito.

 Crime omissivo próprio: com a conduta omissiva do agente, ou seja, quando ele se abstém de agir;

 Crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão: com a produção do resultado naturalístico, que
deveria ter sido evitado pelo sujeito, que tinha o dever específico de agir (figura do garante).

Por fim, é possível que, após a consumação do crime, haja efeitos posteriores da conduta criminosa.
Teremos, nessas hipóteses, o chamado exaurimento do crime. É o que ocorre no caso de o resultado
naturalístico ser produzido em um crime formal. O resultado representa, assim, o exaurimento do crime.

 Crime tentado é aquele que, após o início da execução, não se consumou por circunstâncias alheias à
vontade do agente. A tentativa, também denominada conatus, é a execução de um delito sem que haja sua
consumação, por razões diversas da vontade do sujeito ativo. A definição legal do crime tentado está no
artigo 14, inciso II, do Código Penal.

 Classificações da tentativa:

• Imperfeita ou inacabada: é a tentativa em que o agente não executa todos os atos que pretendia.
• Perfeita, acabada, crime falho ou frustrado: o agente pratica todos os atos executórios que podia,
mas não consegue consumar o crime.
• Branca ou incruenta: não há efetiva lesão ao bem jurídico.
• Vermelha ou cruenta: há efetiva lesão ao bem jurídico.
• Idônea: era possível que o agente atingisse o resultado, o que não ocorre por circunstâncias alheias
a sua vontade.
• Inidônea: é outra forma de se denominar o crime impossível.

Infrações penais que não admitem tentativa:

• Contravenção penal: o Decreto-Lei nº 3.688/41 prevê expressamente que não é punível a tentativa
de contravenção penal.
• Crime culposo: no crime culposo, o agente não tem como objetivo atingir o resultado naturalístico.
Entretanto, a doutrina majoritária entende que é possível a tentativa na culpa imprópria,
• Crime preterdoloso: caso o resultado naturalístico não seja atingido, cuja punição seria produzida a
título de culpa, não se pune o crime preterdoloso na forma tentada. Aqui também é preciso fazer
uma ressalva. Parte da doutrina defende que, se ocorrer o resultado produzido a título de culpa, mas
a conduta antecedente não se consumar, é possível, excepcionalmente, a punição da forma tentada
do crime preterdoloso.
• Crime omissivos próprios: os crimes omissivos próprios se consumam com a prática da conduta
omissiva pelo agente, com o seu “não fazer”.
• Crime habitual: é aquele para o qual se exige a prática de reiterados atos para sua consumação, como
o curandeirismo.
• Crime de atentado ou de empreendimento: é aquele que já prevê no seu tipo a equiparação entre a
forma tentada e a consumada.
• Crime unissubsistente: é o delito cuja execução não pode ser desdobrada em vários atos. Entretanto,
Fernando Capez entende que em determinados casos é possível a tentativa de crime unissubsistente,
como no caso do sujeito que dispara um único projétil contra a vítima, para matá-la, e não consegue
atingi-la, por falha na pontaria.
• Crime cuja punição está condicionada à produção do resultado: o legislador pode condicionar a
punição da conduta à produção do resultado naturalístico.

E quanto ao dolo eventual, é possível a punição da tentativa? Apesar de haver divergência doutrinária, parte
da doutrina entende ser possível, pois o Código Penal equiparou o dolo eventual ao dolo direto. É a posição
de Nelson Hungria. Tem sido adotada pelo STJ.

Tentativa qualificada ou abandonada

Nestes casos o crime não se consuma pela vontade do agente, que, voluntariamente, interrompe a execução
ou, após encerrada a prática dos atos de execução, impede a produção do resultado. É a tentativa de prática
delitiva que é abandonada pelo agente. Estão previstas no artigo 15 do Código Penal. Parte da doutrina
entende que há exclusão da tipicidade, sendo que a conduta deixa de ser típica em razão do abandono da
tentativa pelo agente. Assim, ele só responde pelos atos já praticados, e não pelo crime em relação ao qual
possuía, no início, o dolo de consumação. Outra corrente defende que se trata de causa de extinção da
punibilidade, pois o abandono da tentativa pelo agente não faz desaparecer a conduta típica já praticada.
Franz Von Lizst designa as hipóteses de tentativa abandonada de Ponte de Ouro.
 Desistência voluntária: é a modalidade de tentativa qualificada em que o agente, voluntariamente,
desiste de prosseguir na execução. É o que prevê o artigo 15 do Código Penal. A lei exige a voluntariedade
da desistência, e não espontaneidade. O que a lei não aceita como desistência voluntária é que o agente seja
coagido a parar. Portanto, pode ter havido interferência externa subjetiva, o que não se admite é a
interferência objetiva. Na desistência voluntária, o agente responde pelos atos típicos já praticados.

 Arrependimento eficaz: é a tentativa qualificada consistente no impedimento, do próprio agente, da


produção do resultado. O sujeito chega a realizar os atos executórios, conforme desejava, mas, depois,
arrepende-se, e impede que o resultado, antes desejado por ele, ocorra. É cabível somente nos crimes
materiais. Está previsto no artigo 15 do Código Penal. Tal como na desistência voluntária, o legislador exige,
para o arrependimento eficaz, a voluntariedade. Deste modo, é possível a interferência subjetiva, mas não
se configura a tentativa abandonada com a interferência objetiva. A atuação do indivíduo, após ter praticado
os atos executórios que desejava, deve ser capaz de impedir a ocorrência do resultado naturalístico.

 Arrependimento posterior não é modalidade de tentativa qualificada. Cuida-se de causa de diminuição


de pena ou minorante, incidente no caso de crimes consumados quando, após a consumação do crime, o
agente repara o dano ou restitui a coisa. O crime deve ter sido cometido sem violência ou grave ameaça,
sendo que a doutrina majoritária admite excepcionalmente a incidência do arrependimento posterior no
caso de crimes culposos. Franz Von Lizst denomina situações como a do arrependimento posterior de Ponte
de Prata. No arrependimento posterior, tal como nas hipóteses de tentativa qualificada, a lei exige do agente
a voluntariedade, O termo final para a reparação do dano pelo agente ou para a restituição da coisa é o
recebimento da denúncia ou da queixa pelo juiz. Deve haver a reparação ou restituição integral. Entretanto,
a doutrina majoritária aponta que o arrependimento posterior pode se configurar com a reparação ou a
restituição parciais, no caso de concordância da vítima. A lei prevê a diminuição da pena de 1/3 a 2/3.

 Crime impossível

O crime impossível também é denominado quase-crime, crime oco, tentativa inadequada ou tentativa
inidônea. Antes de conceituarmos, vamos estudar as teorias a respeito da punibilidade do crime impossível,
o que influenciará no conceito que adotaremos:

 Teoria sintomática: ainda que o crime seja impossível, o agente almejava a prática de uma infração penal.
Deste modo, dada a periculosidade do autor, ele deve ser punido.

 Teoria subjetiva: apesar de elementos objetivos tornarem o crime impossível, o elemento subjetivo estava
presente no agente, que possuía a vontade livre e consciente de praticar o fato típico. Por isso, deve haver a
sua punição.

 Teoria objetiva: o agente não deve ser punido porque, do ponto de vista objetivo, o crime não ocorreu,
sendo que a conduta do agente consiste em tentativa inidônea. Possui duas subdivisões:

• Teoria objetiva pura: o agente não deve ser punido se a inidoneidade for relativa ou absoluta.
• Teoria objetiva temperada: a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto devem ser absolutas
para que se configure o crime impossível e o agente não seja punido.
O Código Penal adotou a teoria objetiva temperada, razão pela qual a ineficácia do meio ou a impropriedade
do objeto devem ser absolutas para que se configure o crime impossível. Há ineficácia absoluta do meio
quando o instrumento ou o meio utilizado pelo agente não possui potencialidade alguma de possibilitar a
prática da infração penal. O crime impossível também se configura com a absoluta impropriedade do objeto,
ou seja, quando o objeto material do crime, aquele sobre o qual recai a conduta delitiva, é absolutamente
impróprio. Portanto, há a tentativa inidônea quando se verifica a impossibilidade de se alcançar o resultado
pretendido. É necessário, como dito, que a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto sejam absolutas.

CONCURSO DE PESSOAS
Existem dois tipos de crimes, cuja classificação é importante para a compreensão da matéria:

 Crimes unissubjetivos (ou de concurso eventual): são os delitos que podem ser praticados apenas por um
sujeito ou por vários.

 Crimes plurrissubjetivos: são os delitos nos quais o concurso de pessoas já é elementar do tipo penal.

O concurso de pessoas consiste na reunião de mais de um agente, em que todos concorrem com unidade
de propósitos e de modo relevante para a prática de conduta típica. O concurso pode envolver a reunião
de pessoas desde a preparação até a consumação do delito. Caso a cooperação ocorra depois da
consumação, pode haver delito autônomo. Entretanto, não será o caso de responsabilização pelo sujeito
pelo crime já consumado, caso não tenha havido acordo prévio. São requisitos do concurso de pessoas a
pluralidade de agentes; a pluralidade de condutas, todas com relevância causal; o liame subjetivo
entre os agentes; a identidade do evento e a prática de conduta punível, ou seja, que seja típica, ilícita e
que pelo menos um dos agentes apresente culpabilidade.

O Código Penal adotou, como regra, a teoria monista para a punição do concurso de pessoas. Entretanto, há
a adoção excepcional da teoria pluralista, como no aborto e na corrupção.

No Direito Penal Brasileiro, há diferenciação entre autor e partícipe? O Código Penal não os conceituou nem
diferenciou. A doutrina elaborou teorias sobre a diferenciação ou não das figuras do autor e do partícipe,
sendo que as principais são as seguintes:

 Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia autor de partícipe.

 Teoria extensiva: não distingue autor de partícipe, mas reconhece a existência de diferentes graus de
autoria.

 Teoria objetiva ou dualista: distingue autor e partícipe de forma clara. A teoria objetiva ou dualista, que
distingue autor e partícipe de forma clara, pode ser subdividida em:
Teoria objetivo-formal: autor é quem realiza a conduta que se amolda diretamente no núcleo do tipo (ação
nuclear típica). Partícipe, por sua vez, quem concorre de qualquer forma para a realização da infração penal.

Teoria objetivo-material: autor é quem contribui de forma mais efetiva para a ocorrência do resultado, em
uma análise objetiva, sendo partícipe aquele cuja concorrência possui menor relevância.

 Teoria do domínio do fato: construção de Hans Welzel para diferenciar o autor do executor do crime.
Autor é quem controla finalisticamente o fato, decidindo sobre a forma de execução, seu início, sua cessação
e as condições da realização. É a figura central da conduta criminosa. Partícipe é aquele que colabora
dolosamente para o alcance do resultado, sem exercer o domínio sobre a ação.Cumpre estudar esta última
teoria, a do domínio do fato, de forma um pouco mais detida:

Teoria do domínio do fato - são sujeitos que possuem o controle final sobre o fato:

• O autor propriamente dito, que realiza o núcleo do tipo por vontade livre e consciente.
• O autor intelectual, que planeja a prática criminosa para que outrem a realiza.
• O autor mediato, que se vale de um não culpável ou alguém que atua sem dolo ou culpa como
instrumento para a execução da conduta.

O jurista Cezar Roberto Bittencourt observa que a teoria do domínio do fato, desenvolvida por Welzel, se
aplica aos crimes dolosos. Para os crimes culposos, o professor aponta que a doutrina alemã utiliza o conceito
unitário de autor.

Em conclusão, devemos observar que a doutrina majoritária aponta que a teoria mais adequada ao nosso
Direito Penal é a objetivo-formal. Entretanto, há casos de punição do autor mediato no Código Penal, que
representaria a adoção da teoria do domínio do fato.

 Autoria mediata

Autor mediato é aquele que, mesmo sem realizar a ação nuclear típica, pratica a conduta descrita no tipo
incriminador, utilizando-se de outras pessoas como seu instrumento. Na autoria mediata, o agente realiza a
conduta principal, detendo o domínio da ação. O autor mediato utiliza, como seu instrumento, um indivíduo
não culpável (inimputável, sem potencial consciência da ilicitude ou com inexigibilidade de conduta diversa).
O Código Penal prevê algumas hipóteses de responsabilização do autor mediato:

• Inimputabilidade penal;
• Coação moral irresistível;
• Obediência hierárquica;
• Erro de tipo escusável provocado por terceiro;
• Erro de proibição escusável provocado por terceiro.

Não é cabível a autoria mediata nos crimes culposos. Nos crimes próprios, admite-se a autoria mediata,
desde que o autor mediato também reúna as condições pessoais exigidas pelo tipo. Nos casos de crimes de
mão própria, o entendimento majoritário é de que não se admite a autoria mediata. Entretanto, mesmo nos
casos de crime de mão própria, parte da doutrina entende que o “homem de trás”, aquele possui o domínio
da conduta típica deve ser punido. Neste âmbito, haveria a figura do autor por determinação, conforme a
doutrina de Eugênio Zaffaroni e Pierangeli. Como o artigo 29 do Código Penal determina que todos que
concorrem para a prática delitiva sejam punidos, na medida de sua culpabilidade, não se deve deixar impune
quem possui domínio sobre o fato, em situação equiparada à da autoria. Tal entendimento seria aplicável
nos casos de domínio de terceiro em relação a um crime de mão própria ou um crime próprio, neste último
caso se o indivíduo que determina a conduta não deter a qualidade especial exigida pelo tipo para o sujeito
ativo.

 Autoria colateral

A autoria colateral ocorre quando dois agentes concorrem para a prática da realização da infração penal,
sem vínculo entre eles. Na autoria colateral, cada um dos agentes responde pelos atos que praticou.

E se, em um caso de autoria colateral, não for possível identificar quem causou o resultado?

Se não for possível identificar qual dos agentes produziu, com sua conduta, o resultado naturalístico, não é
possível que nenhuma responda sem a prova do nexo causal, caso não tenha havido ajuste entre eles. Sem
liame subjetivo entre os sujeitos, eles devem responder pela tentativa.

E se um praticar crime impossível e não se puder identificar qual?

O caso é polêmico, mas não se pode responsabilizar alguém sem demonstração do nexo entre a conduta e
o resultado naturalístico. Se não for possível descobrir qual das condutas produziu a morte e qual delas
representou uma tentativa inidônea, nenhum dos dois pode ser responsabilizado.

 Multidão delinquente

Crime multitudinário é aquele cometido por uma reunião de pessoas, no clima de tumulto ou histeria
coletiva, que torna os limites éticos dos indivíduos, temporariamente, menos rígidos. Não se pode exigir a
individualização das condutas, devendo ser demonstrada a contribuição de cada um, sem o rigor de se
demonstrar o que cada um efetivamente fez. Entretanto, é indispensável demonstrar como se deu a
participação de cada um, seja com agressão, seja com incitação da massa. Em relação ao crime
multitudinário, há a previsão de agravante para aquele que promove ou dirige a atividade dos demais,
incitando a multidão ao cometimento de delitos no art. 62, I do Código Penal. No caso do sujeito que não
possui o papel de mentor, organizador ou líder na multidão delinquente, não incitando os demais a um
linchamento, por exemplo, há a previsão de uma atenuante, como prevê o artigo 65, inciso III, alínea “e”, do
Código Penal.

 Coautoria

A coautoria ocorre quando dois ou mais indivíduos, com liame subjetivo, praticam a conduta típica. O acordo
entre os agentes não precisa ser prévio, podendo ocorrer durante a prática dos atos executórios, desde que
antes da consumação do delito. A função de cada um dos agentes deve ser determinante para a consumação
do delito. Cada um dos agentes deve responder pela prática do crime, na medida de sua culpabilidade, nos
termos do que dispõe o artigo 29 do Código Penal. A coautoria pode ser classificada em parcial e direta:

 Parcial: é aquela em que os agentes se dedicam a diferentes atos de execução que, quando somados,
configuram a infração penal.

 Direta: é a coautoria em que todos os agentes praticam a mesma conduta, que configura o tipo penal.

Cabe, então, a análise de algumas situações envolvendo a coautoria:

 Coautoria em crime próprio: é possível, bastando que um dos agentes reúna as condições pessoais
exigidas para o sujeito ativo.

 Coautoria em crime de mão própria: doutrina entende não ser possível a coautoria em crime de mão
própria, em regra. A exceção apontada para a admissão de coautoria em crime de mão própria é a falsa
perícia elaborada por dois profissionais em conluio. Deste modo, ainda que só eles possam praticar o delito,
o ato é realizado em conjunto, possibilitando a coautoria.

 Coautoria sucessiva: é aquela em que a conduta se inicia com um único autor, com aderência de um
coautor durante a execução, sem prévio acordo. Como há adesão, forma-se o vínculo subjetivo e os
indivíduos são considerados coautores.

 Executor de reserva: é o sujeito que fica de prontidão durante a execução, intervindo se necessário. Se
não intervir, atua como partícipe. Se intervir, é coautor.

 Participação

A participação não é definida no Código Penal, que não a diferencia da autoria. Sua conceituação é
doutrinária. Podemos dizer, então, que partícipe é aquele que concorre para o crime, sem realizar
diretamente a ação típica, isto é, sem que sua conduta se amolde diretamente ao núcleo do tipo. A
participação pode ser material ou moral.

 Participação Moral

A participação moral pode se dar por instigação ou induzimento.

• Instigação: o partícipe reforça ideia já existente, incentivando a prática da infração penal. Pode
ocorrer na fase de cogitação, dos atos preparatórios e na execução.
• Induzimento: o partícipe gera a ideia na mente do agente, incute-a. Ocorre na fase de cogitação.

Tanto a instigação quanto o induzimento devem se direcionar a pessoa certa. Caso sejam dirigidas ao público,
pode-se configurar o crime de incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal.

 Participação Material

A participação material ocorre por meio do auxílio. O partícipe facilita a prática da ação penal, sem executar
a ação nuclear típica. Ocorre na fase dos atos preparatórios ou da execução. Se o auxílio ocorrer após a
consumação, só configurará auxílio se tiver havido prévio ajuste. Sem o prévio ajuste, não há concurso de
pessoas e o indivíduo que prestou auxílio pode responder por crime autônomo.

 Punibilidade da participação

De início, cumpre recordar que o que possibilita a punição de todos os envolvidos na prática do crime, mesmo
que não realizem diretamente a conduta nuclear típica (os partícipes), é a norma de extensão pessoal e
espacial. A tipicidade, portanto, é mediata, pois depende da conjugação da norma penal que prevê a infração
penal com a norma de extensão, prevista no artigo 29 do Código Penal. Da mesma forma, como a
participação não envolve a prática de conduta que se amolda ao núcleo do tipo, sua punição depende de
que o autor inicie os atos executórios da infração penal. Portanto, a participação é conduta acessória,
dependendo da principal, realizada pelo autor.

Sobre a punição da conduta acessória, há teorias divergentes:

• Teoria da acessoriedade mínima: exige-se somente a prática, pelo autor, de fato típico, para que o
partícipe possa ser punido.
• Teoria da acessoriedade limitada: para que o partícipe seja punido, é necessário que o autor tenha
praticado fato típico e ilícito. Para a teoria bipartida (minoritária), seria a exigência da prática do
crime. Para a teoria tripartida (majoritária), exige-se a prática de fato típico e ilícito ou, como
preferem alguns autores, do injusto penal. É a teoria adotada pelo entendimento majoritário.
• Teoria da acessoriedade máxima: exige-se a prática de fato típico, ilícito e culpável pelo autor para
que o partícipe possa ser punido.
• Teoria da hiperacessoriedade: só se pune a participação, se for praticado fato típico, ilícito e culpável,
com a efetiva punibilidade.

 Participação em cadeia: é aquela em que alguém induz ou instiga um segundo indivíduo, para que este
induza, instigue ou auxilie um terceiro a praticar um delito.

 Participação sucessiva: é denominada sucessiva quando os partícipes intervêm sem que um saiba do
envolvimento do outro.

 Participação negativa (conivência), também chamada de conivência, consiste na situação em que alguém
testemunha a conduta criminosa e, sem ter vínculo com ela nem o dever de impedir o resultado, nada faz a
respeito. Trata-se de conduta não punível no nosso ordenamento jurídico.

 Concurso de agentes e crimes culposos


Nos crimes culposos, a doutrina majoritária admite a coautoria. O liame subjetivo entre os agentes envolve
não a obtenção do resultado naturalístico, mas a própria conduta em si. Deste modo, dois sujeitos atuam,
em acordo subjetivo, com negligência, imprudência e imperícia.

O acordo, como dito, não abrange o resultado, mesmo porque, se aceito o resultado pelos agentes, o crime
será doloso. Entretanto, não se admite a participação em crimes culposos, também de forma majoritária.

 Concurso de agentes e crimes omissivos

Sobre a coautoria em crimes omissivos próprios, como o de omissão de socorro, há divergência. Alguns
doutrinadores admitem, enquanto outros entendem que não é cabível. Quanto à participação nos crimes
omissivos próprios, admite-se seu cabimento. No que se refere aos crimes omissivos impróprios, a maioria
dos doutrinadores entende cabível tanto a coautoria quanto a participação.

 Punição e concurso de agentes

Quanto à punição dos agentes que atuam em concurso, a já citada norma de extensão pessoal e espacial,
determina que quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade. Percebam que o Código Penal não distingue a figura do autor e do partícipe,
razão pela qual, em princípio, ambos teriam a mesma pena. Entretanto, a parte final do dispositivo determina
que cada um deve incidir nas penas cominadas ao crime praticado na medida de sua culpabilidade. Deste
modo, cabe ao juiz, ao proceder à dosimetria da pena, fixá-la na medida culpabilidade de cada um dos
agentes que atuaram em concurso, mensurando a contribuição de autores e de partícipes.

 Participação de menor importância

A participação de menor importância é a conduta que, apesar de contribuir para o resultado, tem menor
relevância causal. A sua contribuição, para a prática da infração penal, é diminuta, razão pela qual o legislador
determina a diferenciação na aplicação da pena, como exceção à adoção da teoria monista. Neste caso,
aplica-se a teoria dualista, com diferenciação da pena para os autores e para os partícipes (com contribuição
de menor importância). Esta previsão restringe-se aos partícipes, não se aplicando a coautores (não há
coautoria de menor importância). Portanto, incidirá uma causa de diminuição de pena, de um sexto a dois
terços, apenas para o indivíduo (ou os indivíduos) cuja conduta representar participação de menor
importância, com pena diferenciada em relação aos autores.

 Cooperação dolosamente distinta

A cooperação ou participação dolosamente distinta é aquela dotada de elemento subjetivo diverso, de modo
que um dos agentes não se vinculou aos demais para a prática do crime mais grave, mas apenas de delito
diverso. Aplica-se tanto a coautores quanto a partícipes. A doutrina aponta como outro caso de exceção à
teoria monista e acolhimento excepcional da dualista. A cooperação dolosamente distinta está prevista no
artigo 29, § 2º, do Código Penal. Portanto, o sujeito deve responder pela pena do crime menos grave, que
almejava praticar, se a prática do crime mais grave pelos demais agentes não lhe era previsível. Se a prática
do delito mais grave lhe era previsível, também responderá pelo crime menos grave, mas com uma causa de
aumento de até metade. Evita-se, com isso, a responsabilidade objetiva. A aplicação da norma, entretanto,
pode causar injustiça, como nos crimes preterdolosos.
 Comunicabilidade das circunstâncias, condições e elementares

A questão da comunicabilidade das circunstâncias, condições e elementares está prevista no Código Penal,
em seu artigo 30. A doutrina conceitua e diferencia as circunstâncias, as condições e as elementares.
Vejamos, de todo modo, como são geralmente conceituados os termos:

 Circunstâncias: não integram o tipo penal primário, podendo acarretar aumento ou diminuição de pena:

• Objetivas: referem-se ao fato.


• Subjetivas: referem-se ao agente ou aos motivos.

 Condições: são características do indivíduo, como a relação de parentesco ou o fato de ser cônjuge.

 Elementares: são os elementos que compõem o tipo penal em sua forma primária, sendo que sua
presença é imprescindível para a configuração da infração penal. Podem ser objetivas ou subjetivas.

 Participação impunível

Existem casos de participação impunível. Como vimos, o Direito Penal Brasileiro, para a doutrina majoritária,
adotou a teoria da acessoriedade limitada, de modo que é preciso que o autor pratique fato típico e ilícito
para que o partícipe possa ser punido. A contrario sensu, se o autor não vier a praticar fato típico e ilícito,
sem chegar a fase dos atos executórios de um injusto penal (fato típico e antijurídico), não é possível a
punição do partícipe. É o que determina o artigo 31 do Código Penal.

TEORIA GERAL DA PENA

SANÇÃO PENAL
É a coação ou a resposta do Estado imposta àqueles que violam as normas penais
incriminadoras. Cuida-se de gênero, do qual são espécies:

 Pena: é a sanção imposta pelo Estado ao condenado pela prática de infração penal, que consiste na
privação ou restrição de determinados bens jurídicos do agente.

 Medida de segurança: é a sanção imposta pelo Estado ao agente não imputável, pela violação da norma
penal incriminadora, com finalidade exclusivamente preventiva.

TEORIA SOBRE A FINALIDADE DA PENA


A utilização das penas, pelo Estado, como forma de coerção no que se refere às normas penais, possui uma
finalidade. Em relação à finalidade que possuem as penas, surgiram diversas teorias que procuram
fundamentá-las e dar-lhes significado:

64
201
Teoria absoluta ou da retribuição: a finalidade da pena é a punição do agente.

Teoria relativa, finalista, utilitária ou da prevenção: a pena é um meio para se alcançar determinados
resultados, que variam conforme a vertente adotada:

• Prevenção geral negativa: a pena deve coagir toda a sociedade, psicologicamente.


• Prevenção geral positiva: a pena visa a demonstrar a todos a eficácia da lei.
• Prevenção especial negativa: a pena busca evitar que o agente volte a delinquir.
• Prevenção especial positiva: a pena visa à ressocialização do agente.

Teoria mista, eclética, intermediária ou conciliatória: a pena busca punir o agente, ao mesmo tempo em
que visa a coibir a prática de crimes, por meio da ressocialização e da intimidação.

No Brasil, hoje, a doutrina majoritária entende que a pena tem as seguintes finalidades: retributiva,
preventiva e reeducativa. Deste modo, a pena representa tanto uma resposta estatal para o caso de
descumprimento da norma, busca prevenir o cometimento de novos delitos e reeducar os condenados.

AÇÃO PENAL
A ação penal é a faculdade ou direito de exigir do Estado a intervenção penal, com a aplicação do direito
penal a um caso concreto. Para a imposição da sanção penal, a observância do devido processo penal é
conditio sine qua non, isto é, é condições necessária e inafastável. Portanto, a sanção penal só pode ser
imposta após o exercício do ius persequendi em juízo, com observância do devido processo legal.
São características do direito de ação: direito público, abstrato, subjetivo e autônomo.

AÇÃO PENAL PÚBLICA (GÊNERO)


A ação penal pública é promovida pelo Ministério Público. Sua peça inicial é a denúncia, na qual o promotor
de justiça ou o procurador da república deve narrar o fato criminoso, promover a identificação do acusado,
a classificação do delito e, se houver, o rol das testemunhas. É o que determina o artigo 41 do Código de
Processo Penal. A ação penal pública se subdivide em condicionada e incondicionada. A ação penal pública
condicionada depende de representação do ofendido (ou de seus sucessores) ou de requisição do Ministro
da Justiça. A regra é que o crime seja de ação penal pública.

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA


Dentre todas as modalidades de ação penal, a pública incondicionada é a regra para os crimes, nos termos
do que dispõe o caput do artigo 100 do Código Penal. Por isso, se não houver previsão legal de que se procede
mediante ação penal privada, a ação penal é pública. Dentre as ações penais públicas, a regra é a
incondicionada, sendo que só será condicionada se houver expressa determinação legal. A iniciativa é
privativa do Ministério Público. São princípios da ação penal pública incondicionada:
 Oficialidade: preconiza que a ação penal é promovida pelo órgão oficial, no caso, o Ministério
Público.

 Obrigatoriedade: determina que, presentes os requisitos, o Ministério Público deve promover a


ação penal para a imposição da sanção ao indivíduo que violou a lei penal incriminadora.

 Intranscendência: prevê que a ação penal deve ser promovida contra o agente, seja ele o autor,
coautor ou partícipe.

 Indivisibilidade(?): há divergência doutrinária quanto à incidência deste princípio. Diz respeito à


necessidade de o Ministério Público promover a ação penal contra todos os agentes que concorreram
para a prática delitiva, sejam eles autores, coautores ou partícipes.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA


A ação penal pública condicionada, como toda ação penal pública, é da titularidade do Ministério Público.
Sua grande diferenciação em relação à ação penal pública incondicionada é a exigência de condição
específica de procedibilidade. Referida condição, imprescindível para o recebimento da denúncia pelo juiz,
pode ser a requisição do Ministro da Justiça ou a representação do ofendido.

 Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido

A ação penal pública condicionada à representação do ofendido depende de manifestação deste que se
mostre favorável à propositura da ação penal. A representação pode ser oferecida perante a autoridade
policial, o Ministério Público ou o Poder Judiciário. Está prevista no parágrafo primeiro do artigo 100 do
Código Penal. A representação pode ser apresentada pelo ofendido ou por procurador com poderes
especiais. Deve possuir a forma escrita. Se for apresentada oralmente, deve ser reduzida a termo. Entretanto,
salvo na necessidade de ser escrita, a lei não exige forma específica para a representação. Basta que haja
demonstração de interesse do ofendido de ver o agente ser processado criminalmente, não sendo necessária
a menção ao instituto da representação, de forma expressa. Nas infrações penais de menor potencial
ofensivo, a representação seria ofertada logo após a tentativa frustrada de composição dos danos civis, na
própria audiência. Oferecida verbalmente, a representação deve ser reduzida a termo. Caso não ofertada, o
ofendido pode exercer seu direito no prazo legal, conforme determina o artigo 75 da Lei 9.099/95. Na prática,
contudo, a representação tem sido ofertada perante a autoridade policial, no próprio termo circunstanciado.
Assim, não é a praxe o seu oferecimento após a tentativa, não exitosa, de composição dos danos civis.

 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça

Esta ação exige, como condição específica de procedibilidade para a ação penal, a manifestação formal do
Ministro da Justiça. Está prevista no artigo 100, parágrafo primeiro, do Código Penal. A requisição do Ministro
da Justiça é ato de natureza política e administrativa, que será formalizado de acordo com juízo de
conveniência política, sem obrigatoriedade. Uma vez oferecida a requisição, não há obrigação de o Ministério
Público oferecer denúncia, pois pode entender não estarem preenchidas as condições da ação penal, existir
necessidade de maior investigação ou não haver justa causa para o processo penal. Para a doutrina
majoritária, não é possível a retratação da requisição pelo Ministro da Justiça. A requisição, apesar do termo
que a designa, não possui a natureza de exigência, mas sim de autorização. As hipóteses de cabimento são:

✓ crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro no exterior: artigo 7º, § 3º, alínea “b”, do CP.
✓ crimes contra a honra do Presidente da República ou de Chefe de Governo estrangeiro: o art. 141,
inciso I, do Código Penal, cc. o parágrafo único do art. 145, também do CP.

AÇÃO PENAL PRIVADA (GÊNERO)


Em algumas hipóteses previstas expressamente em lei, o Estado conserva para si o direito de punir (jus
puniendi), delegando ao particular o direito de ação (jus persequendi). São os crimes punidos por meio de
ação penal privada, seja de forma originária (exclusiva e personalíssima), seja em razão de inércia do órgão
oficial (privada subsidiária da pública). Na ação penal privada, a inicial é denominada queixa-crime. Quem
promove a ação penal, seja o ofendido ou, na sua impossibilidade, algum outro legitimado, é chamado de
querelante. O réu, ofensor, é denominado de querelado. A ação penal privada pode ser:

AÇÃO PENAL PRIVADA PROPRIAMENTE DITA OU EXCLUSIVA


O fundamento desta ação é o chamado streptus judicii, isto é, o escândalo do processo que pode atingir a
vítima. O alarde advindo do comentário de fatos íntimos que atingem o ofendido em um processo penal faz
com que, em hipóteses expressamente previstas em lei, ação penal dependa de sua iniciativa. O ofendido,
na ação penal privada, é denominado querelante, enquanto o ofendido é o querelado. A inicial é chamada
de queixa-crime, devendo observar os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, acima transcrito.
A ação penal exclusiva ou propriamente dita está prevista no artigo 100, na parte final do caput e nos §§ 2º
e 4º, do Código Penal. Aplicam-se, aqui, as mesmas regras da representação no caso de vítima menor, de
morte da vítima ou de ausência decretada. No caso de morte do ofendido, o direito de oferecer queixa ou
de prosseguir no polo ativo da ação penal passa para o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Há
doutrinadores que apontam preferência na ordem prevista no artigo 31 do Código de Processo Penal. São
princípios da ação penal privada exclusiva:

✓ Oportunidade ou conveniência: não há obrigatoriedade de o ofendido promover a ação penal.


✓ Disponibilidade: é possível a desistência do querelado com relação à ação penal privada exclusiva
por ele proposta.
✓ Indivisibilidade: a ação penal privada propriamente dita deve ser proposta contra todos os agentes
conhecidos.
✓ Intranscendência: só pode ser proposta em face do autor e partícipe. Analisando o princípio da
indivisibilidade, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, em caso de várias publicações na
internet, em que a imagem da vítima era manchada, os crimes deveriam ser considerados
autônomos.

A renúncia é tratada no artigo 104 do CP. Como pode ser tácita, a maioria da doutrina entende que, não
sendo promovida a ação penal privada exclusiva em relação a todos os ofensores, há a renúncia do ofendido
ao direito de queixa. Por conseguinte, extingue-se a punibilidade de todos os agentes. É a norma que se
extrai do artigo 49 do CPP. O prazo para oferecimento da queixa-crime é de 6 meses, possuindo como termo
inicial o dia em que se veio a saber quem foi o autor do crime (aí incluídos autores, coautores e partícipes).
Escoado este prazo, há a decadência, causa extintiva da punibilidade, por impedir que o titular da ação penal
privada ofereça queixa e, assim, seja iniciado o processo penal em face dos agentes. É o que determina o
artigo 103 do Código Penal.

AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA


Possui as mesmas características da ação penal privada propriamente dita ou exclusiva, com a peculiaridade
de a sua titularidade ser única e exclusiva da vítima. Não há substituição da titularidade, nem mesmo se
houver sua morte ou sua decretação de ausência. A morte da vítima, portanto, acarreta a extinção da
punibilidade do agente. No mais, naquilo que não contrariar esta previsão, todo o regramento da ação penal
privada exclusiva se aplica à personalíssima. A única hipótese prevista atualmente no ordenamento jurídico
brasileiro é o criem do artigo 236 do Código Penal. Como a queixa deve ser do ofendido, não se admite que
seja oferecida, no caso de sua morte ou decretação de ausência, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão.

AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


A ação penal privada subsidiária da pública é proposta nos casos de ação penal pública, se esta não for
intentada pelo Ministério Público no prazo legal. É um direito fundamental assegurado no artigo 5º, inciso
LIX, da Constituição da República. O Código Penal trata do tema no parágrafo terceiro do seu artigo 100. É
cabível, portanto, no caso de inércia do órgão oficial, do Ministério Público. Não se pode intentar ação penal
privada subsidiária da pública se houver pedido de diligências ou se o membro do Ministério Público
promover o arquivamento da investigação. Isto porque, em tais casos, não houve omissão do promotor ou
procurador, mas sim entendimento de que não era o caso de se promover a ação penal. O exercício da ação
penal privada subsidiária da pública é facultativo, mesmo porque é um direito do ofendido ou de seus
representantes legais. Como é uma ação penal privada, inicia-se com a queixa, sendo que o polo ativo é
ocupado pelo querelante e o acusado é chamado de querelado. Como os demais casos de cabimento de
queixa, o prazo é de 6 meses. Entretanto, em se tratando de ação penal privada subsidiária da pública, se
não for intentada no prazo legal, não há decadência. Isto porque o Ministério Público manterá sua
legitimidade, devendo promover a ação penal pública, em razão do princípio da obrigatoriedade. O prazo
para o promotor ou procurador oferecer a denúncia é impróprio, não impedindo a ofertar extemporânea. A
perda do prazo gerará consequências no caso de prisão processual do acusado e o início do prazo decadencial
para o ofendido oferecer a ação penal privada subsidiária da pública. Se houver o ofendido abandonar a ação
penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público deve retomar o polo ativo, prosseguindo nela. O
artigo 29 do Código de Processo Penal prevê essa possibilidade, além de regular a atuação do Ministério
Público como fiscal da lei enquanto o ofendido permanecer como querelado.
CRIMES CONTRA A VIDA

CRIMES CONTRA A PESSOA


São os crimes contra a vida o homicídio; o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, o aborto e o
infanticídio. A Constituição previu a competência do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida, o que é a competência mínima de referido órgão jurisdicional.

HOMICÍDIO
O crime de homicídio está previsto no artigo 121 do Código Penal, sendo denominado, por Nelson Hungria,
de “o crime por excelência”. É a morte de um ser humano (vida extrauterina) por outro. Em relação à vítima,
qualquer ser humano (vida extrauterina) pode ser sujeito passivo. elemento subjetivo é a intenção de matar,
denominado de animus necandi ou occidendi. O elemento subjetivo é encontrado nas circunstâncias do fato.
É possível a ocorrência da aberratio ictus ou erro sucessivo.

Sobre a consumação, é necessário o resultado naturalístico consistente na morte da vítima. Recomenda-se


a adoção do critério da morte encefálica ou cerebral, adotado pela Lei 9.434/97, a Lei de Transplantes.
Admite-se tentativa inclusive em caso de dolo eventual. A classificação geral do crime de homicídio é a
seguinte: comum; de dano; material; instantâneo de efeitos permanentes; simples (protege apenas um bem
jurídico) e plurissubsistente. Pode ser doloso ou culposo. Crime de ação penal pública incondicionada.

Homicídio simples: homicídio, em sua forma simples, está previsto no caput do artigo 121 do Código Penal.
Como já mencionado, o núcleo do tipo é o verbo “matar”. Como elementar do crime, há ainda o termo
“alguém”, que se refere a uma pessoa viva. Refere-se à vida extrauterina, não abrangendo o feto. O elemento
subjetivo do tipo é o dolo, a intenção de matar. A pena prevista no preceito secundário do tipo penal é de
reclusão, de seis a vinte anos. O crime de homicídio simples é hediondo se praticado em atividade de grupo
de extermínio, nos termos da primeira parte do inciso I do artigo 11º da Lei 8.072/90.

Homicídio privilegiado: homicídio privilegiado consiste em uma causa de diminuição de pena ou


minorante, no caso de o agente ter cometido o crime orientado por motivo de relevante valor social ou moral
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz, na
terceira fase da dosimetria, deve proceder à diminuição da pena, utilizando a fração de um sexto a um terço.
Sobre a escolha da fração, o juiz deve se guiar pela influência que o motivo teve, a própria relevância do
motivo para o autor ou, ainda, a intensidade da injusta provocação da vítima, e o grau de abalo emocional
causado no réu. O motivo de relevante valor social consiste no interesse coletivo, naquela causa que diz
respeito a toda a comunidade. O motivo de relevante valor moral, por sua vez, é o interesse individual do
agente, como a compaixão. Já o chamado homicídio emocional é aquele cometido sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida de injusta provocação da vítima.
É possível que o homicídio seja privilegiado e qualificado, desde que a qualificadora seja objetiva. O
homicídio qualificado-privilegiado não é considerado hediondo, não se submetendo às disposições da Lei
8.072/90.

Homicídio qualificado: a qualificadora é a forma do tipo penal em que se comina uma diferente pena em
abstrato, com novos limites mínimos e máximos. O homicídio qualificado está previsto no § 2º do artigo 121.
As qualificadoras são causas especiais que determinam uma pena maior, mais gravosa. Referem-se aos
motivos determinantes do crime e aos meios e modos de sua execução. A qualificadora implica em um novo
limite mínimo e um novo teto para a pena abstratamente prevista, sendo que no caso a pena será de reclusão
é de doze a trinta anos. O homicídio qualificado é crime hediondo, tanto em sua forma tentada quanto na
consumada, conforme determina o artigo 1º, inciso I, da Lei 8.072/90.

I - Mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe. O artigo 121, § 2º, I, do CP trata
do homicídio mercenário ou por mandato remunerado. É o crime cometido mediante paga, recompensa ou
por outro motivo torpe. O legislador previu a chamada interpretação analógica, ao, após enumerar as
hipóteses de paga ou promessa de recompensa, mencionar “outro motivo torpe”.

II – Motivo fútil. É o motivo que demonstra desproporção em relação ao crime praticado. Caracteriza-se
quando o delito consubstancie razão frívola, mesquinha, insignificante. Se o crime for praticado com
ausência de motivo, o STJ entende não ser admissível a configuração como motivo torpe.

III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
possa resultar perigo comum: O artigo 121, § 2º, inciso III, traz alguns meios de se praticar o homicídio que
qualificam o crime. Emprego de veneno: uso de substância tóxica ao ser humano. Meio insidioso: é o
dissimulado, realizado de forma sorrateira. Meio de que possa resultar perigo comum: é aquele pode atingir
um número indeterminado de pessoas. Emprego de tortura: é o grande tormento ou suplício causado à
vítima. Meio cruel: é a forma de se praticar o delito que aumenta o sofrimento da vítima sem necessidade.

IV – À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
a defesa do ofendido: Traição: é o ataque súbito, inesperado e desleal. Esta circunstância pressupõe uma
relação de confiança entre autor e vítima. Emboscada: é a tocaia, a ocultação do agente para a prática do
crime. Dissimulação: é o fingimento, é a ocultação do desígnio do autor. Outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa da vítima: surpresa, por exemplo.

V – Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Conexão


teleológica: é o crime que é praticado para assegurar a execução de outro crime. Conexão consequencial:
praticado para assegurar a ocultação, vantagem ou impunidade de outro crime.

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
Busca-se punir de forma mais rígida o crime cometido contra um agente de segurança pública ou um familiar
próprio, se o móvel do delito envolver referida função pública. O que se protege é a própria função pública,
e não a pessoa do agente ou da autoridade. Pode-se denominar este crime qualificado de homicídio
qualificado funcional. Vale destacar, se o crime for cometido contra um dos agentes citados no inciso VII do
parágrafo segundo do artigo 121, mas sem qualquer conexão com sua função pública, o crime será simples.
O crime será qualificado se for cometido contra as seguintes pessoas:

✓ Militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica (Forças Armadas);


✓ Agentes e Autoridades da Polícia Federal;
✓ Agentes e Autoridades da Polícia Rodoviária Federal;
✓ Agentes e Autoridades da Polícia Ferroviária Federal;
✓ Agentes e Autoridades das Polícias Civis;
✓ Agentes e Autoridades das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares;
✓ Agentes e Autoridades das Guardas Municipais;
✓ Agentes de trânsito;

Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau de qualquer dos agentes ou autoridades
acima descritos. Não estão incluídos no texto legal os parentes por afinidade (sogro, sogra e cunhados) nem
o parentesco civil (como o filho adotivo).

Homicídio qualificado: feminicídio. O feminicídio é uma modalidade do crime de homicídio qualificado


que possui nomen iuris específico, isto é, uma nomenclatura própria trazida pela própria lei. Está previsto no
artigo 121, § 2° do Código Penal. Percebam que a qualificadora exige que o crime tenha sido cometido por
razões da condição de sexo feminino. Por isso, a doutrina aponta que não se trata de femicídio, ou seja, de
crime específico em que a mulher é a vítima. É imprescindível que haja motivo ligado à condição de sexo
feminino, o que é tratado pelo § 2º-A do artigo 121. Portanto, teremos o crime denominado feminicídio
quando for cometido por razões de condição de sexo feminino, ou seja, por razão de gênero. Referidas razões
estarão presentes nos seguintes casos:

I - violência doméstica e familiar: A interpretação de “violência doméstica e familiar” deve ser feita de forma
sistemática, considerando a a Lei Maria da Penha.

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher: Discriminação contra a mulher é “toda distinção,


exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na
igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo” (CEDAW),

Homicídio doloso majorado: há causas de aumento de pena, ou majorantes, referentes aos crimes de
homicídio doloso. Estão previstas na parte final do parágrafo quarto e no parágrafo sexto do artigo 121 do
Código Penal. São duas, portanto, as majorantes do crime de homicídio doloso:

✓ Homicídio praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de sessenta anos: O crime se
considera praticado ao tempo da ação ou da omissão típica, em razão de o Código Penal ter adotado
a teoria da atividade.
✓ Homicídio praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou
por grupo de extermínio: Milícia privada é a reunião de pessoas, sejam civis ou militares, que buscam
atuar com violência ou grave ameaça e pretexto de devolver a paz pública, mormente em
comunidades carentes. Visam a atuar na área de segurança pública, utilizando-se da força, que é
monopólio do Estado. Grupo de extermínio é a reunião de pessoas que praticam assassinatos, tendo
como vítimas as pessoas marginalizadas ou consideradas indesejadas pela sociedade. Consideram-se
justiceiros, podendo também ser civis ou militares.

Homicídio culposo: O homicídio também é punível se praticado a título de culpa, isto é, imprudência,
negligência ou imperícia. Está previsto no parágrafo terceiro do artigo 121 do Código Penal. Há hipóteses de
homicídio culposo majorado, ou seja, com causa de aumento de pena. Estão previstas na primeira parte do
parágrafo quarto do artigo 121 do CP. As causas de aumento de pena, incidentes no caso de homicídio
culposo, são as seguintes:

Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício

O homicídio culposo é majorado quando há inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. É a
hipótese denominada de culpa profissional. No caso da majorante, o agente possui o conhecimento da
técnica, mas a ignora de forma deliberada. Portanto, só incide em caso de o agente ser habilitado para a
profissão, conforme entende a doutrina majoritária.

Existe bis in idem em relação ao elemento subjetivo (imperícia) e a majorante (inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício? O STJ vem apontando ser possível delinear diferença entre a culpa,
como elemento subjetivo, e a inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, como circunstância
majorante. O STF também possui precedente no sentido de que não há bis in idem no caso de homicídio
culposo majorado por inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.

Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: Para configuração da majorante, a doutrina aponta
a necessidade de o agente poder prestar o socorro sem que isso implique em risco pessoal a ele.

se o agente não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante: o
dispositivo trata de omissão de socorro, apenas com outras palavras.

se o agente foge para evitar prisão em flagrante: alguns entendem inconstitucional.

Perdão Judicial: O artigo 121, § 5º, do Código Penal prevê a possibilidade de concessão de perdão judicial
no crime culposo. Como visto, o perdão judicial é causa de extinção da punibilidade, vinculada ao princípio
da desnecessidade da pena. Portanto, se o agente sofre as consequências da sua conduta culposa de forma
tão gravosa que a sanção se torne desnecessária, o juiz pode deixar de aplicar a pena. A hipótese é
denominada de bagatela imprópria. Sua natureza é de direito público subjetivo do réu.

INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU A


AUTOMUTILAÇÃO

Com a Lei 13.968/2019, o artigo 122 passou a ter a seguinte redação: “Induzimento, instigação ou auxílio a
suicídio ou a automutilação Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou
prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.” A principal
modificação operada, no preceito primário, foi a inclusão da participação em automutilação. Isto é, também
passa a ser típica a conduta de instigar, induzir ou auxiliar alguém a praticar a automutilação. Suicídio é a
conduta de pôr fim à própria vida. Automutilação é a conduta de causar lesões em si próprio. Vale recordar,
até mesmo pelo princípio da transcendentalidade ou da alteridade, que veda a punição de condutas que não
ultrapassem o âmbito de disponibilidade do agente, a autolesão, por si só, não é punida. Como o suicídio ou
a automutilação não são punidos por si só, o que o legislador veda é o induzimento, a instigação ou o auxílio
material a que alguém suicide ou que se mutile. Admite-se, assim, a modalidade tentada, já que o óbice
apresentado pela doutrina majoritária, na redação anterior do dispositivo, era a necessidade do resultado
morte ou lesão corporal de natureza grave para a imposição de pena. Atualmente, se alguém tenta auxiliar,
mas é impedido, há tentativa. Entretanto, Luiz Régis Prado entende não ser possível o conatus.

Forma qualificada: O resultado lesão grave tornará a conduta punível com a pena de reclusão, de 1 a 3 anos.
Se o resultado for a morte, a pena será de reclusão, de 2 a 6 anos.

Formas majoradas: O parágrafo terceiro do artigo 122, inserido pela Lei 13.968/2019, passou a abrigar as
mesmas causas de aumento de pena que já estavam previstas no antigo parágrafo único, acrescentando as
hipóteses de motivo torpe e de motivo fútil: “§ 3º A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo
egoístico, torpe ou fútil; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência.” Quanto à vítima menor de idade, como vimos, não pode se tratar de pessoa sem capacidade de
compreender aquilo que faz, como uma criança. A doutrina, antes da Lei 13.968/2019, apontava algumas
sugestões, como a faixa etária de 14 a 18 anos, que era mencionada no revogado artigo 224, “a”, do Código
penal, atualmente adotada no crime de estupro de vulnerável. Outra possibilidade era analisar caso a caso
se a vítima possuía maturidade suficiente, de acordo com a idade, para não ser facilmente influenciada em
relação à eliminação da sua própria vida. A primeira corrente foi prestigiada pela Lei 13.968/2019, como
analisaremos abaixo, com a inclusão dos parágrafos 6º e 7º ao artigo 122 do CP.

Novas formas majoradas: A Lei 13.968/2019 trouxe novas majorantes ao crime do artigo 122 do CP, com a
inserção dos parágrafos terceiro e quarto: “§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada
por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. § 5º Aumenta-se a pena
em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.”

Hipóteses de configuração de crime mais grave: Foram inseridos, pela Lei 13.968/2019, os parágrafos sexto
e sétimo, com previsão de hipóteses de não configuração do delito, mas de crime mais grave: “§ 6º Se o
crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. § 7º Se o crime de que trata o § 2º
deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.”

INFANTICÍDIO
O crime de infanticídio está previsto no artigo 123 do Código Penal. É uma modalidade de homicídio doloso
privilegiado. A aplicação do infanticídio, em detrimento do homicídio, dá-se por determinação do princípio
da especialidade, estudado no concurso aparente de normas. O crime é material, de modo que o resultado
naturalístico é imprescindível para a sua consumação. Também é classificado como plurissubsistente, razão
pela qual a conduta necessária para sua tipificação pode ser desdobrada em mais de um ato, possibilitando
a punição pela tentativa.

O infanticídio consiste na morte do neonato ou daquele que está nascendo pela própria mãe, em estado
puerperal. O estado puerperal é o período que vai do deslocamento e expulsão da placenta à volta do
organismo materno às condições anteriores à gravidez, situação que pode levar a mulher a distúrbios
psíquicos. Cuida-se de elemento psicofisiológico. Não se trata de elemento psicológico, como é o caso de
honoris causa, ou seja, da mãe que quer por fim à vida do próprio filho, recém-nascido ou durante o parto,
para ocultar a desonra de ser mãe de filho concebido por relação extraconjugal, por exemplo.

O objeto jurídico é a vida humana extrauterina, sendo que a vida intrauterina é tutelada pelo crime de
aborto. O crime é de forma livre, o que significa que a lei não prevê uma forma específica para o agente
efetuar a realização típica, com a prática da conduta nuclear. O crime é próprio, pois só a mãe pode praticá-
lo. Relembre-se que a condição pessoal, quando elementar do crime, comunica-se aos demais agentes, nos
termos do que determina o artigo 30 do Código Penal. Há, entretanto, doutrina minoritária que entende ser
a condição de mãe personalíssima, o que impediria a comunicabilidade.

A genitora como autora ou partícipe responde pelo infanticídio, se presentes as circunstâncias do seu tipo
penal. A dúvida surge em relação ao autor, no caso de a mãe ser partícipe. Parte dos penalistas entende que
ele responder por homicídio, enquanto outros defendem que deve também responde por infanticídio, como
a mãe da vítima. O delito deve ser praticado durante o parto ou logo após para que se configura o infanticídio,
sendo que, nos demais casos, configurar-se-á o homicídio. Para tanto, é preciso definir quando se dá o início
do parto. Para Noronha, o início do parto ocorre com o período de dilatação. Segundo Nelson Hungria: o
início do parto coincide com o período de expulsão. A referência ao período “logo após” o parto, refere-se à
duração do estado puerperal.

ABORTO
O aborto é o crime que tutela a vida humana intrauterina, possuindo mais de uma modalidade, sendo
possível que também haja a tutela da vida ou da incolumidade física da gestante.

Autoaborto e aborto consentido: o aborto provado pela gestante, também chamado autoaborto, ou o
realizado com seu consentimento, está previsto no artigo 124 do Código Penal. É a interrupção da gravidez,
com a eliminação do produto da concepção. O autoaborto e o aborto consentido são considerados crimes
de mão própria. Só responde por esse crime a própria gestante, não sendo possível a participação ou a
coautoria. Não configura o crime a utilização da pílula do dia seguinte, nem o uso do método contraceptivo
chamado de DIU, o qual impede a fixação do óvulo fecundado no útero. O crime é material, consumando-se
com a extinção da vida intrauterina. É classificado como plurissubsistente, razão pela qual admite a tentativa.

Aborto sem consentimento da gestante: O aborto provocado por terceiro, sem que a gestante consinta
com essa prática, está previsto no artigo 125 do Código Penal. Neste caso, o delito é de dupla subjetividade
passiva. São vítimas tanto a gestante quanto o produto da concepção.

Aborto com consentimento da gestante: o aborto provocado por terceiro, com o consentimento da
gestante, está previsto no artigo 126 do Código Penal.
✓ Consentimento válido: pressupõe capacidade para consentir, não se aplicando as regras da
capacidade civil.
✓ Consentimento inválido: é inválido o consentimento nos casos de dissentimento real ou presumido.
Nessas hipóteses, aplica-se o crime de aborto sem o consentimento da gestante.

No caso de gravidez de menor de 14 anos, o consentimento deve ser dado pelos pais ou responsável, se a
gestante tiver sido vítima de crime sexual. Nesta hipótese, é possível a realização do aborto. Em qualquer
caso, o consentimento deve perdurar até a consumação do crime. Considera-se haver ausência de
consentimento nos casos de dissentimento real (consentimento obtido por meio de fraude, grave ameaça
contra a gestante ou violência) e de dissentimento presumido (consentimento dado por vítima menor de 14
anos, alienada ou débil mental).

Aborto Majorado: o artigo 127 do Código Penal prevê situações de aborto majorado pelo resultado,
aplicáveis tanto ao aborto realizado com consentimento da gestante, quanto ao realizado sem o seu
consentimento. O delito será majorado no caso de haver o resultado de lesão corporal de natureza grave ou
morte da gestante. São figuras preterdolosas.

Aborto Legal: aborto legal é a denominação que se dá às hipóteses de exclusão do crime, por ausência de
crime. O entendimento majoritário é de que sua natureza é de causa de exclusão da ilicitude. A previsão está
no artigo 128 do Código Penal.

Aborto necessário ou terapêutico: O aborto necessário ou terapêutico torna permitida a interrupção de


gravidez se não houver outro modo de se salvar a vida da gestante. Constitui um estado de necessidade sem
exigência da atualidade do perigo. A previsão legal é para aborto praticado por médico, como previsto
expressamente no caput do artigo 128 do Código Penal.

Aborto sentimental, humanitário ou ético: A hipótese de gravidez resultante de estupro também possibilita
a interrupção da gravidez sem a configuração de ilícito penal. Exige-se, entretanto, prévio consentimento
válido da gestante ou de seu representante legal, se ela for incapaz. Exige prova idônea do atentado sexual,
mas não a condenação criminal do estuprador.

O STF entendeu que não se configura o crime de aborto quando realizada pesquisa com célula-tronco, bem
como se o feto for anencéfalo. Houve decisão isolada da 1ª Turma do STF de considerar não tipificado o
crime se a interrupção ocorrer nos três primeiros meses de gravidez.
LESÕES CORPORAIS E CRIMES CONTRA A HONRA

LESÃO CORPORAL
A lesão corporal é o crime que consiste na ofensa à integridade corporal ou à saúde, no âmbito anatômico,
fisiológico ou mental. Está previsto no artigo 129 do Código Penal. O crime de lesão corporal é de forma
livre, de crime comum e de dano. Cuida-se de crime plurissubsistente, de acordo com o entendimento
majoritário. A conduta típica é ofender, de forma direta ou indireta, a integridade corporal ou a saúde
de outra pessoa, aqui compreendido um ser humano vivo. Pode haver mais de um ferimento na vítima, o
que não prejudica a unidade do delito. Cuida-se de infração penal classificada como material. Não se
pune, por si só, a autolesão.
Entretanto, a autolesão pode ser punida se for se praticada para se perpetrar uma fraude, como no caso do
artigo 171, inciso V, § 2º, do Código Penal. O elemento subjetivo do delito é o denominado animus nocendi
ou animus laedendi, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão ou um dano à integridade
corporal ou de prejudicar a saúde de outrem. A lesão corporal de natureza leve se diferencia da contravenção
de vias de fato em uma relação de subsidiariedade, de modo que, se não se configurar o crime, haverá a
prática da contravenção penal. O delito de lesão corporal exige que haja ofensa à integridade física ou mental
do indivíduo ou à saúde da vítima, como no caso de serem provocados hematomas e equimoses. A mera
provocação de dor ou de uma mancha avermelhada não implicam na configuração do crime.

Lesão corporal de natureza leve: o tipo penal básico ou simples da lesão corporal é denominado pela
doutrina de lesão corporal de natureza leve, estando prevista no artigo 129 do Código Penal. A modalidade
simples não permite a imposição da perda do poder familiar como efeito extrapenal específico da
condenação, além de que o regime inicial de pena deve ser o aberto ou o semiaberto.

Lesão corporal de natureza grave: o artigo 129, § 1º, do CP. Vejamos as hipóteses:

i. se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: Esta forma qualificada
implica no resultado de o ofendido ficar incapaz para as ocupações habituais pelo período de mais
de trinta dias. Crime a prazo: exige-se um lapso temporal determinado para sua configuração. A lei
não exige que se trate de ocupação lucrativa ou laborativa, mas sim habitual.
ii. se resulta perigo de vida: O crime de lesão corporal também será qualificado, com novos limites
mínimo e máximo de pena abstratamente cominada, se o resultar perigo de morte à vítima. O
resultado só pode ser provocado a título de culpa, ou seja, esta modalidade é preterdolosa.
iii. se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função: A debilidade consiste no
enfraquecimento ou redução.
iv. se resulta aceleração de parto: Também qualifica o delito a aceleração do parto, ensejando a
prematuridade do recém-nascido. No caso de morte do feto ou do recém-nascido, como decorrência
das lesões corporais recebidas pela grávida, haverá lesão corporal gravíssima.

Lesão corporal de natureza gravíssima: o artigo 129, § 2º, do CP:


i. se resulta incapacidade permanente para o trabalho: A incapacidade deve ser permanente e para o
exercício de atividade laborativa. Não há a amplitude do resultado de incapacidade temporária, que
configura lesão corporal de natureza grave.
ii. se resulta enfermidade incurável: Há crime qualificado pelo resultado se da lesão corporal resulta
enfermidade incurável. A doença é considerada incurável se, ao tempo em que o réu for sentenciado,
não houver recursos médicos que possibilitem a reversão do quadro de saúde da vítima.
iii. se resulta perda ou inutilização do membro, sentido ou função: A destruição de um órgão duplo,
segundo a doutrina, implica em debilidade (lesão corporal de natureza grave). A lesão corporal de
natureza gravíssima pressupõe a perda ou inutilização: ambos os órgãos afetados.
iv. se resulta deformidade permanente: A deformidade permanente é o dano estético, que cause uma
impressão desconfortável para o convívio social. Levam-se em conta as condições da vítima, como a
idade, o sexo e o meio social que frequenta.
v. se resulta aborto: Esta hipótese de crime qualificado pelo resultado se classifica como preterdoloso.
Para sua configuração, a lesão corporal deve ter sido praticada de forma dolosa, com o resultado do
abortamento advindo de culpa.

Lesão corporal seguida de morte: A lesão corporal seguida de morte também pode ser chamada de
homicídio preterdoloso. Constitui-se no crime de lesão corporal, praticado com dolo direto ou eventual, com
o resultado, advindo de culpa, de morte da vítima. Ou seja, há dolo no antecedente e culpa no consequente.
A pena prevista é de reclusão, de quatro a doze anos.

Lesão corporal privilegiada: o agente comete o crime por motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima.

Substituição da pena

Ademais, se as lesões corporais forem leves, pode haver substituição de pena, pelo juiz: no caso de estarem
presentes as circunstâncias da lesão corporal privilegiada ou, mesmo não sendo a lesão corporal privilegiada,
tiver havido lesões recíprocas entre o sujeito ativo e o passivo.

Lesão corporal culposa: a lesão corporal também é punida se pratica por negligência, imprudência ou
imperícia. A previsão da modalidade culposa está no artigo 129, § 6º, do CP. Eventuais resultados que
qualificam a lesão corporal dolosa aqui não possuem a natureza de qualificadora.

Lesão corporal majorada: se há inobservância de regra técnica da profissão, arte ou ofício; se o agente
deixa de prestar socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou foge para evitar
prisão; bem como se a vítima menor de 14 anos ou maior de 60 anos. Há também a majorante se crime for
cometido por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

Perdão Judicial: o parágrafo oitavo do artigo 129 determina a aplicação, ao crime de lesão corporal, do
disposto no parágrafo quinto do artigo 121. É a hipótese do perdão judicial.

Lesão corporal com violência doméstica e familiar: há também qualificadora para o caso de a lesão
corporal ser praticada em contexto de violência doméstica e familiar, caso em que a pena será de três meses
a três anos de detenção, se a lesão for leve, nos termos do parágrafo nono do artigo 129. Deve-se atentar
que o caso é de violência doméstica e familiar, o que se configura se a vítima for ascendente, descendente,
irmã, cônjuge ou companheira do agente. Configura-se, ainda, se o agente se valer das relações domésticas,
de coabitação ou de hospitalidade do ofendido. Registre-se, por relevante, que o ofendido pode ser homem
ou mulher, não se limitando ao último gênero mencionado. A qualificadora do parágrafo nono se limita à
hipótese de lesão corporal de natureza leve, como veremos.

Lesão corporal funcional: a Lei 13.142/2015 trouxe nova forma majorada do crime de lesão corporal,
referente à prática do crime contra agentes das Forças Armadas ou do sistema de Segurança Pública, bem
como a seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau. Sua previsão está no
parágrafo décimo segundo do artigo 129. As circunstâncias são as mesmas do chamado homicídio funcional.

Lesão corporal e ação penal: a regra da ação penal cabível para o crime de lesão corporal é a pública
incondicionada, já que a lei nada prevê a respeito. Entretanto, o artigo 88 da Lei 9.099/95 trouxe a
determinação de que há exigência de representação nos casos de lesão corporal de natureza leve e de lesão
corporal culposa. .O Supremo Tribunal Federal entendeu que, em qualquer caso de lesão corporal, a ação
penal é pública incondicionada se envolver violência doméstica e familiar contra a mulher. O Superior
Tribunal de Justiça consolidou igual entendimento, ao aprovar a Súmula 642.

PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE


Os crimes de periclitação da vida e da saúde são classificados como de perigo, ou seja, configuram-se com o
fato de o bem jurídico ter sido colocado em risco, não sendo necessária a ocorrência de dano.

Perigo de Contágio Venéreo: o crime de perigo de contágio venéreo está previsto no artigo 130 do Código
Penal. O bem jurídico é a incolumidade física e saúde da pessoa. É comissivo, dependendo de um
comportamento ativo do agente. O crime é classificado como comum pela doutrina majoritária, mas o
penalista Rogério Sanches Cunha entende que é próprio. Para sua configuração, é irrelevante o
consentimento da vítima. Há crime inclusive se o contágio ocorrer entre cônjuges ou companheiros. É
classificado como delito de forma vinculada, já que o tipo penal prevê que a exposição deve se dar “por meio
de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso”. A moléstia venérea é aquela transmitida sexualmente.
Cuida-se de normal penal em branco, pois as doenças venéreas são aquelas assim definidas pelo Ministério
da Saúde. Por não ser transmitida apenas por via sexual, a doutrina e a jurisprudência afastam a AIDS como
doença venérea. Para a doutrina clássica, a expressão “de que sabe que está contaminado” se refere ao dolo
direto (de perigo), enquanto o termo “de que deve saber que está contaminado” diria respeito ao dolo
eventual (de perigo). O crime é formal. Se há uso de preservativos não danificados pelo agente, não há
elemento subjetivo. Prevalece se tratar de crime plurissubsistente, sendo, portanto, admissível a tentativa.
A ação penal é pública condicionada.

Perigo de Contágio de Moléstia Grave: o crime de perigo de contágio de moléstia grave está previsto no
artigo 131 do Código Penal. O bem jurídico tutelado é a incolumidade física e saúde da pessoa. Para a
doutrina majoritária, cuida-se de crime comum, sendo que há entendimento minoritário, defendido por
Rogério Sanches Cunha, de que se trata de crime próprio (só pode praticá-lo aquele que está contaminado
com moléstia grave). O crime é de ação livre e plurissubsistente, admitindo a tentativa. A doença grave e
contagiosa deve ser a prevista como tal pelo Ministério da Saúde, o que torna o artigo 131 do Código Penal
uma norma penal em branco. Pierangeli, entretanto, entende de forma diversa. Exige-se dolo direto de dano,
com elemento subjetivo especial consistente no “fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado”. Bittencourt defende ser admissível a forma omissiva. O delito é ainda classificado como
instantâneo, doloso e formal. A ação penal é pública incondicionada.

Perigo para a Vida ou a Saúde de Outrem: o delito de perigo para a vida ou a saúde de outrem está previsto
no artigo 132 do Código Penal. O bem jurídico tutelado é a incolumidade física e saúde da pessoa. O crime é
classificado como comum, subsidiário e de ação livre, comportando as formas comissiva e omissiva. O dolo
é de perigo e é formal, sendo que o resultado naturalístico não é necessário para a sua consumação. É
classificado como instantâneo e, na sua forma comissiva, como plurissubsistente, o que enseja o cabimento
do conatus em tal hipótese. A ação penal é pública incondicionada. O parágrafo único do artigo 132 prevê a
forma majorada, com aumento da pena de um sexto a um terço. Incide quando o delito decorre do
transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em
desacordo com as normas legais. Busca-se a proteção, dentre outros, dos trabalhadores rurais, notadamente
os denominados de boias-frias.

Abandono de Incapaz: o delito de abandono de incapaz está previsto no artigo 133 do Código Penal. Os
bens jurídicos protegidos são a segurança e a vida daquele que não pode se proteger por si só. O crime é
próprio, pois só pode ser praticado por quem tem outrem sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade.
A pena é de detenção, de seis meses a três anos. O núcleo do tipo, “abandonar”, pode ser praticado por
conduta comissiva ou omissiva. É necessário que a pessoa seja incapaz de se defender dos riscos resultantes
do abandono, o que leva a classificação do delito como sendo de perigo concreto, ou seja, é necessária a
prova de que o bem jurídico foi colocado em risco. O sujeito passivo, maior ou menor, deve ser incapaz de
se proteger. É plurissubsistente na forma comissiva, o que leva à admissão da tentativa. Cuida-se de crime
instantâneo com efeitos permanentes. O elemento subjetivo é o dolo, não se admitindo a forma culposa. O
crime é formal, independendo de qualquer resultado naturalístico para sua consumação. Se sobrevier
resultado, aliás, pode se configurar a sua forma qualificada. A ação penal é pública incondicionada.

Formas qualificadas: o crime é qualificado se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave ou
morte. São formas preterdolosas.

Formas majoradas: há previsão de incidência da causa de aumento de um terço se o abandono ocorre em


lugar ermo; se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima, ou se a
vítima é maior de 60 (sessenta) anos. Na hipótese de lugar ermo, o local deve ser habitualmente isolado e
estar assim naquele momento.

Exposição ou Abandono de Recém-Nascido: o delito de exposição ou abandono de recém-nascido está


previsto no artigo 134 do Código Penal. Os bens jurídicos tutelados são a incolumidade físico-psíquica e a
vida. A pena é de detenção, de seis meses a dois anos. Cuida-se de forma privilegiada do abandono de
incapaz. O crime do artigo 134 do CP é especial em relação ao previsto no artigo 133 do referido diploma.
Para a doutrina majoritária, cuida-se de crime próprio, pois só o pai ou a mãe podem praticar. Em razão da
motivação de ocultar desonra própria, só se pode pensar nos próprios genitores. Como crime próprio, é
possível o concurso de pessoas, tanto na modalidade de coautoria como na de participação. O elemento
subjetivo é o dolo, além de se exigir uma finalidade específica, denominada de elemento subjetivo especial,
que é o fim de se ocultar desonra própria. Admite as formas comissiva e omissiva. Na forma comissiva, é
plurissubsistente. Cuida-se de crime de perigo concreto.
Formas qualificadas: Há a qualificadora se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, passando a pena
a ser de detenção, de um a três anos. Qualifica também o crime o resultado morte, hipótese em que a pena
será de detenção, de dois a seis anos. São crimes preterdolosos.

Omissão de Socorro: é típico exemplo de crime omissivo próprio, previsto em norma mandamental, e
tratado pelo artigo 135 do Código Penal. O crime é classificado como mera conduta, não havendo previsão
de resultado naturalístico no tipo básico. O resultado naturalístico, se ocorrer, pode qualificar o crime. O
crime é comum. São pessoas que devem ser socorridas:

Criança abandonada ou extraviada: é aquela situada em situação de desamparo.

Pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo: aquela sem vigor físico ou psíquico,
que está indefesa; a que sofreu algum com dano ou lesão em sua integridade física e a que está em risco,
sob probabilidade efetiva de perigo de grandes proporções.

São formas de praticar o crime: deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal
(assistência imediata) e não pedir o socorro da autoridade pública (assistência mediata).

A assistência imediata deve ser realizada se não houver risco pessoal (físico, concreto e iminente) ao agente,
sendo que a mediata é subsidiária. Deste modo, só pode o agente optar pela comunicação à autoridade se
não for possível que ele mesmo preste o socorro. O crime é classificado como doloso, unissubsistente (não
se admitindo a tentativa), instantâneo e de perigo.

Formas majoradas: Incide causa de aumento de pena se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave.
Cuida-se de figuras preterdolosas.

Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar Emergencial: o crime de condicionamento de


atendimento médico-hospitalar emergencial foi tratado pela lei n. 12.653, de 2012, que inseriu o artigo 135-
A no Código Penal. São bens jurídicos tutelados a incolumidade físico-psíquica e a vida. É uma nova forma de
se punir a omissão de socorro. Consubstancia um crime próprio, por só poder ser cometido pelo
administrador ou funcionário do hospital. A doutrina majoritária defende que se configura o delito caso o
agente exija cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia ou preenchimento prévio de formulários
administrativos. Nucci, entretanto, defende ser necessário que o sujeito ativo exija cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia e preenchimento prévio de formulários administrativos. É preciso que o
atendimento fique condicionado à exigência do agente.

O crime é doloso e plurissubsistente, admitindo a punição da tentativa. Há figura típica específica no artigo
103 do Estatuto do Idoso. A ação penal é pública incondicionada.

Forma majorada: Se resulta lesão corporal de natureza grave, a pena deve sofrer o aumento até o dobro.
Havendo resultado morte, a pena pode ser aumentada até o triplo. São figuras preterdolosas.

 Maus Tratos: o delito de maus tratos está previsto no artigo 136 do Código Penal. O bem jurídico tutelado
pela norma é a incolumidade físico-psíquica. O crime próprio: só pode ser sujeito ativo aquele que tenha o
sujeito passivo sob sua autoridade, guarda ou vigilância. O crime é doloso e de perigo concreto. Apesar de
possuir apenas um núcleo do tipo, grande parte da doutrina o classifica como crime de ação múltipla ou de
conteúdo variado. São formas de praticá-lo: privando de alimentação ou cuidados indispensáveis (crime
omissivo e habitual); sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado (crime comissivo e plurissubsistente);
abusando de meios de correção e disciplina (crime comissivo e plurissubsistente). Configura-se, neste último
caso, com o abuso do direito de correção.

Formas qualificadas: Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena será de reclusão de um a quatro anos.
Havendo resultado morte, a pena será de reclusão, de quatro e doze anos. Figuras preterdolosas.

Forma majorada: Há a modalidade majorada do delito, se a vítima possuir menos de 14 anos de idade.

RIXA
O crime de rixa está previsto no artigo 137 do Código Penal. O bem jurídico tutelado é a incolumidade físico-
psicológica. O crime é comum, não se exigindo qualquer qualidade específica do sujeito ativo. Crime
plurissubjetivo de condutas contrapostas. Os participantes, no mínimo 3, são, ao mesmo tempo, sujeitos
ativos e passivos, uns em relação aos outros. Ou seja, o indivíduo não é ao mesmo tempo sujeito ativo e
passivo da mesma conduta, mas cada um pode ser o agente que praticou determinadas agressões e que
sofreram determinados danos em razão da agressão de outrem. Parte da doutrina considera o crime
unissubsistente e, por isso, não admite a tentativa. Entretanto, há quem admita a tentativa, por exemplo, no
caso de a conduta ser previamente agendada. A conduta punida é participar do tumulto, tratando-se de
crime comissivo. O crime, ainda, é doloso e de perigo abstrato. O crime é instantâneo. A legítima defesa é
admitida para quem vai separar os rixosos. Há, entretanto, divergência em relação aos próprios rixosos.

Formas qualificadas

Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, todos respondem, inclusive eventual desistente. No
caso de qualquer um dos dois resultados, a pena passa a ser de detenção, de seis meses a dois anos. Há
diferentes sistemas de punição no caso de ocorrência de resultado agravador, ou seja, aquele que qualifica
o delito:

✓ Solidariedade absoluta: todos respondem pelos eventos.


✓ Cumplicidade correspectiva: todos respondem por uma sanção média.
✓ Autonomia: o resultado qualifica o crime, sendo que o agente causador, se identificado, responde
pela lesão corporal grave ou pela morte. É a opção adotado pelo nosso Código Penal.

CRIMES CONTRA A HONRA


Os crimes contra a honra são aqueles que atingem a honra do indivíduo, seja ela objetiva, seja ela subjetiva.
São os crimes de calúnia, injúria e difamação. Conforme entendimento majoritário, são crimes de dano, mas
de natureza formal, ou seja, não dependem do resultado naturalístico para a sua consumação.

Calúnia: o crime de calúnia está previsto no artigo 138 do Código Penal. O bem jurídico tutelado é a honra
objetiva, que consiste na boa fama do ofendido na sociedade. O crime é comissivo. Pelo entendimento
majoritário, o crime é de dano e formal. Cuida-se de crime comum, não exigindo nenhuma qualidade
específica do sujeito ativo para a sua configuração. É possível a calúnia contra os mortos, em virtude da
previsão do parágrafo segundo do artigo 138 do CP. Neste caso, os sujeitos passivos são os familiares,
notadamente o cônjuge, ascendente, descendente e irmão, que são as mesmas pessoas que possuem
legitimidade para a ação penal privada no caso de morte da vítima. Não é possível a autocalúnia, podendo,
entretanto, configurar o crime de autoacusação falsa. A doutrina aponta que o consentimento do ofendido
exclui o crime. Configura-se o crime pela conduta de caluniar e de, sabendo falsa a imputação, propalá-la ou
divulgá-la. A calúnia consiste na imputação falsa, ou na propalação ou divulgação de tal imputação, a respeito
da prática de crime pela vítima. É importante observar que o tipo penal não abrange a falsa acusação de
contravenção penal, mas apenas a de crime. O dolo é de dano. Entretanto, só há crime se houver o animus
caluniandi, animus offendendi. É plurissubsistente apenas quando praticado por escrito. Se for verbal, é
unissubsistente e não admite a tentativa.

Pode a pessoa jurídica ser vítima dos crimes contra a honra? O STJ possui precedentes em sentido negativo.
O Supremo Tribunal Federal, entretanto, possui precedente fazendo diferenciação entre os crimes contra a
honra, não admitindo a injúria e a calúnia, mas aceitando a difamação.

Exceção da verdade: é o incidente processual que visa a provar que a imputação feita é verdadeira. Em regra,
cabe a exceção da verdade pelo réu no caso de calúnia. Não se admite a exceção da verdade se o ofendido
não foi condenado por sentença irrecorrível e o crime for de ação penal privada. Ademais, não se admite se
o fato for imputado ao Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro. Por fim, também
não é cabível se o ofendido foi absolvido por sentença penal definitiva.

Difamação: a difamação está prevista no artigo 139 do Código Penal. O bem jurídico protegido é a honra
objetiva, a boa fama do indivíduo na sociedade. O crime é comum. A conduta típica é a imputação de fato
determinado que, não constituindo crime, é ofensivo para a vítima. O crime é doloso, exigindo-se, ainda, o
animus diffamandi. O crime é formal, sendo plurissubsistente apenas na forma escrita, conforme
entendimento majoritário. Em caso de difamação verbal, não é cabível a tentativa. Classifica-se, ainda, como
instantâneo e comissivo.

Exceção da verdade: Também há previsão de exceção da verdade para o caso de difamação. Entretanto, tal
como prevê o parágrafo único do artigo 139, só é admitida se a vítima for funcionária pública e o fato
imputado se relacionar com as funções por ela exercidas.

Injúria: o delito de injúria, o único que se volta contra a honra subjetiva, está previsto no artigo 140 do
Código Penal. O bem jurídico tutelado pela norma é a honra subjetiva, que envolve a dignidade e o decoro
da pessoa. O sujeito passivo deve compreender a ofensa, já que a conduta se volta contra a honra subjetiva
dele, e não contra a sua reputação. A conduta típica é ofender a dignidade ou o decoro de alguém, emitindo-
se conceito negativo sobre o ofendido. O crime é doloso, exigindo-se o animus injuriandi. Se o ânimo do
agente for outro, que não o de injuriar a vítima, o crime não se configura. O crime é formal, sendo
plurissubsistente somente na forma escrita, conforme entendimento que prevalece na doutrina. Na forma
verbal, é unissubsistente e não admite tentativa. É classificado como comum, comissivo e instantâneo. Não
se admite exceção da verdade.

Perdão judicial: O parágrafo primeiro do artigo 140 prevê hipóteses em que o juiz “pode” deixar de aplicar
a pena. Trata-se do chamado perdão judicial:

• Provocação reprovável. Só abrange quem respondeu à provocação.


• Retorsão imediata. É a injúria em reposta a outra injúria. Sobre os efeitos neste caso, Sanches
Cunha defende que abrange todos os envolvidos, Bitencourt entende alcançar só aquele que
respondeu.

Injúria real (qualificadora): a injúria consiste em violência ou vias de fato aviltantes.

Injúria por preconceito ou injúria racial (qualificadora): A Lei 9.459/2003 incluiu o parágrafo terceiro ao
artigo 140 do Código Penal, criando mais uma modalidade de injúria qualificada. Cuida-se da injúria por
preconceito, que envolve a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. A doutrina defende que, neste caso, não cabe o
perdão judicial.

Disposições Comuns aos Crimes Contra a Honra: artigos 141 a 145 do Código Penal:

• Formas majoradas: Os crimes de calúnia, injúria e difamação terão a causa de aumento de pena
de um terço se forem praticados contra o Presidente da República, contra chefe de governo
estrangeiro ou contra funcionário público, este último se o delito for praticado em razão de
suas funções. Há também a forma majorada no caso de o delito ser praticado na presença de
várias pessoas ou por meio de facilite a sua divulgação, como é o caso de uma rede social, em
perfil com conteúdo aberto ou com vários usuários conectados (amigos ou seguidores). O delito
de calúnia e o de difamação possuem também a forma majorada se a vítima for maior de
sessenta anos ou deficiente. Por fim, em caso de crime mercenário, aquele praticado mediante
paga ou promessa de recompensa, o crime contra a honra será majorado, de modo que a pena
será dobrada.
• Exclusão do crime: O artigo 142 do Código Penal prevê algumas hipóteses em que não se
configuram os crimes de injúria e difamação. Atenção, o dispositivo não se refere à calúnia. A
primeira hipótese é a da ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador. A segunda hipótese é denominada de imunidade artística, científica ou literária.
Essa imunidade abrange aquele que a divulga ou propala, desde que presente o mesmo intuito
de crítica relacionada às artes, à literatura ou à ciência. A última hipótese de exclusão dos
crimes de injúria e difamação se refere à chamada imunidade funcional. Abrange o conceito
desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
• Retratação: O artigo 143 do Código Penal trata da retratação. A retratação é o ato de desdizer,
escusar-se, retirar o que disse. É cabível até a prolação da sentença, implicando na isenção de
pena ou, como reconhece a doutrina a extinção da punibilidade. Só possui efeito nos casos de
calúnia ou difamação, ou seja, quando atingida a honra objetiva da vítima. Trata-se de causa de
extinção da punibilidade de caráter subjetivo ou, conforme o entendimento, causa pessoal de
isenção de pena.
• Pedido de explicações: O artigo 144 do Código Penal. O pedido de explicações é a interpelação
judicial, consistente em procedimento de caráter cautelar, que pode ser proposta em caso de
ofensas equívocas ou duvidosas.
• Ação Penal: o artigo 145 trata da ação penal nos casos dos crimes contra a honra:
▪ No caso de injúria real com resultado lesão corporal, a ação penal é pública
incondicionada.
▪ No caso de ser vítima o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, a
ação penal é publica condicionada à requisição do Ministro da Justiça.
▪ No caso de injúria por preconceito, a ação penal é pública condicionada à
representação.
▪ Por fim, se o delito contra a honra for praticado contra funcionário público, no
exercício de suas funções, há legitimidade concorrente do ofendido e do Ministério
Público, conforme Súmula 714 do STF.

CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL


Os crimes contra a liberdade pessoal, que são uma parte dos crimes contra a liberdade individual, se
ligam àquele conceito de liberdade de ir e vir e de não sermos obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei, o que nos é garantido pelo artigo 5º, incisos II e XV, da Constituição da
República.
 Constrangimento ilegal: o crime de constrangimento ilegal está previsto no artigo 146 do Código Penal.
A conduta incriminada é a de a constranger, de praticar coação contra outrem,
utilizando-se de violência ou grave ameaça ou reduzindo sua capacidade de resistência, a não fazer algo que
a lei permite ou a fazer o que a lei não obriga. Cuida-se, portanto, de crime contra a liberdade que a
Constituição outorga a todos, consagrando que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, salvo
se determinado por lei. Não se exige nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. Entretanto, cabe a
ressalva que, se o funcionário público for o agente, o crime pode ser o de abuso de autoridade. O crime é
material. O delito é plurissubsistente, razão pela qual é possível a punição do agente pelo conatus. Assim,
havendo a coação contra vítima, mas não deixando ela de fazer o que lhe é permitido ou não se abstendo
de fazer o que a lei lhe permite, o crime foi cometido na sua forma tentada. O elemento subjetivo é o dolo,
consistente na vontade libre e consciente de constranger a vítima a fazer algo a que não é obrigada ou a não
fazer aquilo que lhe é permitido. Não se pune a modalidade culposa. Cuida-se de crime geralmente
subsidiário, já que só se configura se outro delito mais grave não tiver sido praticado. São formas de execução
do crime:

• Violência (vis corporalis).


• Grave ameaça (vis compulsiva).
• Outros meios de redução da capacidade de resistência da vítima.
 Ameaça: o Código Penal tipifica a conduta da ameaça em seu artigo 147. A conduta incriminada é a de
fazer uma promessa a outra pessoa de lhe causar algo ruim, um mal. O mal deve ser injusto, ou seja, contrário
ao Direito, além de ser grave, isto é, possuir determinada relevância. O dano prometido pode ser físico, moral
ou econômico, mas deve ser grave. Além disso, deve ser possível. A gravidade da ameaça deve ser verificada
em cada caso, segundo a condição da vítima. As formas de prática da conduta de intimidação são: mediante
palavras, por escrito, por gestos ou, o que amplia as formas de cometimento do crime, por qualquer outro
meio simbólico. A ameaça pode ser direta ou indireta; podendo ser, ainda, incondicional ou condicional. O
crime é comum. A ameaça deve se direcionar a alguém com capacidade de compreensão do mal injusto e
grave proferido pelo agente. Ademais, deve ser uma pessoa determinada, que possa ser intimidada pelo
sujeito ativo. O crime é classificado como formal, ou seja, a efetiva prática do mal injusto e grave contra a
vítima não é necessária para a consumação do delito. Possui natureza subsidiária, só se responsabilizando o
agente por ele se a intimidação não integrar crime mais grave. O elemento subjetivo é o dolo, não havendo
previsão da modalidade culposa. Parte da doutrina entende ser o crime plurissubsistente na forma escrita,
razão pela qual se admitiria a tentativa. Se praticado verbalmente, não é possível o conatus. A ação penal é
pública condicionada à representação do ofendido.

 Sequestro e cárcere privado: o crime está previsto no artigo 148 do Código Penal. O núcleo do tipo é o
verbo privar, que significa destituir ou tolher. É a conduta de impedir de liberdade de locomoção de alguém.
A conduta pode ser realizada mediante sequestro ou cárcere privado. O bem jurídico tutelado, deste modo,
é a liberdade de ir e vir. Sequestro, segundo a doutrina, é a privação de liberdade, sem necessidade de haver
confinamento. O cárcere privado, por sua vez, seria espécie do gênero sequestro, implicando em restrição
da liberdade dela em um local fechado, como um cômodo de uma casa. O consentimento do ofendido afasta
a prática do crime, mesmo porque a locomoção é direito disponível. A conduta é dolosa, não havendo
previsão para punição a título de culpa. Pode se dar tanto por ação quanto por omissão. O crime é comum,
não exigindo nenhuma condição específica do sujeito ativo. Entretanto, no caso do funcionário público, pode
configurar abuso de autoridade a sua conduta de privar alguém da liberdade, caso haja relação com as
funções públicas por ele exercidas. Classifica-se como crime permanente, sendo que a liberação da vítima
não impede a consumação do crime, que já se deu com a restrição à liberdade dela. O crime, na sua forma
comissiva, é plurissubsistente, possibilitando a punição da tentativa.

Formas qualificadas do parágrafo primeiro: o artigo 148 do Código Penal, em seu parágrafo primeiro, prevê
algumas modalidades qualificadas do crime de sequestro e cárcere privado. Nestes casos, a pena passa a ser
de reclusão, de dois a cinco anos:
i. se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
(sessenta) anos
ii. se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital
iii. se a privação da liberdade dura mais de quinze dias
iv. se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos: Se a vítima completar 18 anos no cárcere,
a qualificadora já se havia configurado, configurando-se o crime qualificado.
v. se o crime é praticado com fins libidinosos: Pode haver concurso de crimes de sequestro e cárcere
privado e de um delito contra a dignidade sexual.

Forma qualificada pelo resultado (§ 2º): incide a qualificadora se, em razão de maus-tratos ou da natureza
da detenção, resulta à vítima grave sofrimento físico ou moral. A pena passa a ser de reclusão, de dois a oito
anos.

 Redução à Condição Análoga à de Escravo: o crime de redução à condição análoga à de escravo está
previsto no artigo 149 do Código Penal. É denominado por parte da doutrina de plágio (não confundir com
o crime por violação de direito autoral) ou plágio escravo, também chamado por plagium. Pune-se, aqui, a
violação do direito à liberdade, sendo punida a escravização ou a servidão de qualquer pessoa. A conduta
punível é a redução de alguém à condição análoga de escravo, que é a situação em que o ser humano tem
sua personalidade desconsiderada para ser tratado como coisa. Pode ser praticado das seguintes formas:

• submissão da vítima a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva: trabalho forçado é aquele


em que se obriga a vítima por meio de violência, grave ameaça ou fraude
• sujeição da vítima a condições degradantes de trabalho: afeta a dignidade do trabalho.
• restrição, por qualquer meio, da locomoção da vítima em razão de dívida por ela contraída
com o empregador ou preposto: a restrição de locomoção da vítima é empregada como meio
para a prestação da atividade, privando-a de seu direito de ir e vir.
• Formas equiparadas: o artigo 149, parágrafo primeiro, prevê as formas equiparadas ao caput:
• cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho: Configura-se se o local de trabalho é ermo e só os gerentes
podem se utilizar dos veículos do empregador para se locomoverem ao centro urbano.
• Manutenção de vigilância ostensiva no local de trabalho ou apropriação de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

O crime é classificado como comum. Sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa. É material, pois se
consuma com a efetiva redução do ofendido à condição análoga a de escravo. Cuida-se de crime, em regra,
comissivo, podendo se configurar na forma omissiva se o empregador simplesmente, por exemplo, deixa de
oferecer transporte para trabalhadores literalmente ilhados em uma gleba de terras no meio rural, cercada
por rios. É permanente, razão pela qual é possível a prisão em flagrante enquanto houver trabalhador sendo
reduzido à condição servil. Sua consumação se prolonga no tempo, durando enquanto o agente mantiver a
vítima em tal condição. Considera-se plurissubsistente, sendo possível sua tentativa na modalidade tentada.
É de forma vinculada. O elemento subjetivo é o dolo. Nas formas equiparadas há a exigência de elemento
subjetivo especial, consistente na finalidade de reter o ofendido no local de trabalho. O STF tem considerado
que a competência é da Justiça Federal. A restrição à liberdade do trabalhador é uma das formas de se
cometer o crime, não sendo imprescindível para a sua configuração, como já decidiu o STJ..
 Tráfico de Pessoas: está previsto no artigo 149-A do Código Penal. Referido delito foi inserido no Código
Penal pela Lei n. 13.344, de 6 de outubro de 2016, que trata sobre a prevenção e a repressão ao tráfico
interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas. Já havia previsão de crime de
tráfico de pessoas nos artigos 231 e 231-A do Código Penal, revogados pela mesma lei acima mencionada.
Deste modo, há continuidade normativo-típica, mas esta é parcial. Isto porque, atualmente, só haverá crime
se o agente agir mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de exploração
sexual. Cuida-se de tipo penal misto ou de conteúdo variado, sendo puníveis as condutas de agenciar, aliciar,
recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher o ofendido. O crime é doloso, exigindo o
elemento subjetivo especial do tipo, consistente na intenção de remover da vítima órgãos, tecidos ou partes
do corpo; submeter a vítima a trabalho em condições análogas à de escravo; submeter a vítima a qualquer
tipo de servidão; adoção ilegal ou exploração sexual.

Não há previsão de punição da modalidade culposa. O crime é comum, não exigindo qualquer qualidade do
sujeito passivo. Cuida-se de crime formal, partindo-se do ponto de vista de que a finalidade especial, que
deve ser o elemento subjetivo do agente, não precisa se concretizar, como resultado naturalístico, para sua
consumação. Basta que o agente realize um dos núcleos do tipo para que o delito se consume, sendo
prescindível, por exemplo, que se efetive a adoção ilegal da criança ou a remoção de órgãos da vítima. Cuida-
se de crime plurissubsistente, sendo possível a tentativa. A ação penal é pública incondicionada.

Formas majoradas: art. 149-A, § 1º, do CP , de um terço até a metade:

i. o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las: O uso de suas funções ou sua conduta a pretexto de exercê-las torna o crime mais reprovável,
por envolver quem deveria servir a população.
ii. o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência: A criança é
quem possui até 12 anos incompletos, enquanto adolescente, é quem possui idade de 12 anos até
18 anos incompletos. Idosos é aquele que possui idade igual ou superior a 60 anos de idade. Pessoa
com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
iii. o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargo ou função; Majora o crime o agente prevalecer de relações de parentesco (por
consanguinidade ou por afinidade), de relações domésticas, de coabitação, de hospitalidade (quando
o sujeito ativo é recebido como hóspede ou hospeda o ofendido), de dependência econômica (de
qualquer espécie, como de companheiros ou cônjuges), de autoridade (relação de direito público) ou
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função (conceitos do Direito
Administrativo).
iv. a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional: Neste caso, temos o tráfico
internacional de pessoas, circunstância que também torna majorado o crime. O legislador não incluiu
nesta causa de aumento de pena a retirada de pessoas do exterior para trazê-las ao Brasil. A
internacionalidade atrai a competência da Justiça Federal.
v. Forma privilegiada: causa de diminuição de pena, de um a dois terços, se o agente for primário e não
integrar organização criminosa. Os dois requisitos são exigidos de forma cumulativa.
 Violação de Domicílio: o crime de violação de domicílio está previsto no artigo 150 do Código Penal. As
condutas puníveis, de forma alternativa, são punir ou permanecer. A ação nuclear “entrar” traduz um crime
instantâneo, enquanto o núcleo do tipo “permanecer” revela um crime permanente. A entrada ou a
permanência podem se dar de duas formas: clandestina ou astuciosa ou contra a vontade expressa ou tácita
de quem de direito. Clandestina é a conduta praticada de forma sorrateira ou escondida. Astuciosa é a
realização da entrada ou permanência mediante fraude ou ardil. Ostensiva é a entrada ou permanência
contra a vontade expressa ou tácita do dono da casa. A discordância pode ser expressa, como de quem
proíbe o agente de lá ingressar, ou tácita, como de um sujeito que está debilitado, sem poder falar, e fica
assustado e agitado, sem poder pedir que o sujeito lhe retire, mesmo sendo claro que não autorizou sua
entrada. A entrada ou permanência deve ocorrer em casa alheia ou em suas dependências, incluído o quintal.
O crime é comum. Pode ser comissivo ou omissivo, já que pode ser praticado pela entrada ou pela
permanência desautorizadas. O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de
entrar ou permanecer na casa alheia ou em suas dependências sem autorização, violando o domicílio alheio.
Não há previsão da modalidade culposa. A doutrina apontar ser o crime plurissubsistente, apesar de
considerar que a tentativa é de difícil configuração.

Forma qualificada: O artigo 150, § 1º, do Código Penal - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena
correspondente à violência:

• Se o crime é cometido durante a noite: há doutrinadores que entendem que noite é o período
de ausência de luz solar, o que parece prevalecer. Entretanto, há quem defenda que é o período
entre as 18 horas e as 6 horas do dia seguinte.
• Se o crime é praticado em lugar ermo: é o local despovoado ou deserto. Alguns entendem que
deve ser assim habitualmente, enquanto outros admitem sua ocorrência eventual. A ausência
de pessoas próximas facilita o crime e dificulta o socorro.
• Se o crime é praticado com o emprego de violência ou de arma: a violência é a vis absoluta,
sendo que a lei não restringe à violência contra a pessoa, razão pela qual também configura a
qualificadora o emprego de violência contra a coisa. O emprego de arma abrange qualquer
delas, seja de fogo, própria e até mesmo a imprópria.
• Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas: a qualificadora do concurso de agentes se
limita à coautoria, podendo ser computados indivíduos não imputáveis e não identificados pela
investigação.
• Forma majorada: O artigo 150, § 2º, do CP: revogado pela atual Lei de Abuso de Autoridade.
• Exclusão do crime:
i. durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência: Durante o dia, qualquer autoridade, agentes policiais ou outros servidores
públicos podem ingressar na residência para efetuar prisão, seja ela definitiva, após o
trânsito em julgado, ou processual, como a preventiva. Não é possível o ingresso na
residência durante a noite, nem por ordem judicial.
ii. a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na
iminência de o ser: durante o dia e durante a noite, é permitido o ingresso de agentes A
Constituição da República também permite o ingresso sem autorização, mesmo durante
à noite, no caso de desastre ou para prestar socorro.
Conceito de casa: art. 150, § 4º, do CP: a expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento
habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde
alguém exerce profissão ou atividade:

Não se compreendem na expressão "casa", art. 150, § 5º, do CP: I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra
habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II - taverna, casa de
jogo e outras do mesmo gênero: os locais abertos ao público estão excluídos da proteção legal de referido
crime, como os restaurantes, bares, saguões de hotel, pista de dança da danceteria, etc.

 Violação de Correspondência: está tipificado no artigo 151 do Código Penal. Foi revogado tacitamente
pela previsão do artigo 40 da Lei 6.538/78. A conduta incriminada é devassar, de forma indevida, o conteúdo
de correspondência fechada que se dirija a outrem. Devassar é abrir, corromper ou conhecer o conteúdo. A
correspondência deve ser fechada, conforme redação do tipo penal. Caso se trate de carta aberta, não se
configura o objeto material do delito de violação de correspondência. O crime é comum, não exigindo
qualidade especial do sujeito ativo. Por outro lado, é de dupla subjetividade passiva, pois são sujeitos
passivos imediatos tanto o remetente quando o destinatário. O elemento subjetivo é o dolo, consistente na
vontade livre e consciente de devassar a correspondência fechada destinada a terceira pessoa. Não há
previsão da modalidade culposa. O delito é instantâneo, consumando-se com o conhecimento, mesmo que
parcial, do conteúdo da correspondência pelo agente. Por ser plurissubsistente, admite a tentativa. É
comissivo, já que a conduta de devassar pressupõe um comportamento ativo do sujeito, um fazer. Sobre o
crime, o STJ já decidiu que, tendo já sido entregue a correspondência pela Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos, a sua violação posterior não atrai a competência da Justiça Federal.

 Outros Crimes Ligados à Violação de Correspondência:

O artigo 151, em seus parágrafos, prevê outros crimes ligados à violação de correspondência. São formas
equiparadas à do caput do artigo 151 do Código Penal:

Sonegação ou destruição de correspondência:

I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte,
a sonega ou destrói; revogado tacitamente pelo artigo 40, § 1º, da Lei 6.538/78.

Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica

II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou


radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;

Os núcleos do tipo devem ser praticados em relação à comunicação telegráfica, aquela transmitida por
telégrafo; a comunicação radioelétrica; aquela realizada por meio de rádio e televisão; ou a comunicação
telefônica, efetuada mediante uso de aparelho telefônico, seja fixo ou portátil. O crime é material, doloso e
plurissubsistente, admitindo o conatus. É comum, por não se exigir qualidade específica do sujeito ativo.
Prevalece não ter sido derrogado pelo artigo 10 da Lei 9.296/96, que exige circunstâncias específicas, além
de ser crime próprio.

III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;


Refere-se ao mesmo objeto material do inciso anterior, ou seja, comunicação telegráfica ou radioelétrica
dirigida a terceiro ou conversação telefônica entre outras pessoas. O crime é comum e material, exigindo
que haja algum impedimento à conversa ou à comunicação. É plurissubsistente. A Lei 9.296/96, por sua vez,
pune a conduta de interceptar, menos abrangente que a tratada pelo artigo.

IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal:
revogação pelo artigo 70, caput, da Lei 4.117/62, o Código Brasileiro de Telecomunicações.

Forma majorada: as penas devem ser aumentadas de metade, se há dano para outrem. O dano pode ser
moral ou material.

Forma qualificado: qualificadora funcional, passando a pena a ser de detenção, de uma a três anos, se há
abuso de sua função, de serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico.

Ação penal: pública condicionada à representação. Entretanto, nos casos do § 3º, que trata do abuso de
função, a ação é pública incondicionada. Quanto aos crimes previstos no artigo 40 da Lei 6.538/78, passaram
a ser de ação penal pública incondicionada.

 Correspondência Comercial: está previsto no artigo 152 do CP. A doutrina entende haver vários núcleos
do tipo (desviar, sonegar, revelar, etc.), concluindo ser tipo de conteúdo variado. É preciso de que o agente
abuse (usar de forma imprópria, exceder-se na utilização) da sua condição de sócio ou empregado. As
condutas, consideradas ações nucleares, de desviar, sonegar, subtrair, suprimir ou revelar. já foram, em
grande parte, estudados nos crimes anteriores. Desviar é dar outro destino. Sonegar é ocultar. Subtrair é se
apropriar. Suprimir é extinguir ou cancelar. Revelar é tornar conhecido. O objeto material é a
correspondência comercial. Nelson Hungria defende a necessidade de existir possibilidade de dano,
afastando a ocorrência do crime se o conteúdo da correspondência comercial for inofensivo ou indiferente.
O crime é próprio, pois só pode ser praticado por sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou
industrial. É doloso, plurissubsistente, de ação penal pública condicionada à representação.

 Divulgação de Segredo: o artigo 153 do Código Penal tipifica a divulgação de segredo. A conduta punida
é a de divulgar, ou seja, tornar público, propalar, difundir. O fato sigiloso, objeto material do delito, pode ser
conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, da qual o agente seja destinatário
ou portador. Como elemento normativo do tipo, exige-se que a conduta seja praticada “sem justa causa”,
ou seja, a justificativa com fundamento no ordenamento jurídico afasta a configuração do crime. Além disso,
é preciso que haja potencial de cano a outrem. É crime próprio, já que somente o destinatário ou o detentor
do conteúdo do documento particular ou da correspondência confidencial pode cometê-lo. É possível,
inclusive, que o sujeito detenha o documento ou a correspondência de forma indevida, sendo que a violação
de correspondência será absorvida, por ser crime-meio. Classifica-se como delito doloso, plurissubsistente
e formal, já que basta a potencialidade do dano para sua configuração.

Forma qualificada: divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei,
contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública. A pena passa a
ser a de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Cuida-se de norma penal em branco, já que a
definição do sigilo deve ser feita por lei. No caso a previsão está na Lei 8.159/91. O crime é comum, não
exigindo a qualidade de funcionário público.
Ação penal: pública condicionada à representação. Entretanto, nos termos do parágrafo segundo, a ação
será incondicionada se houver prejuízo para a Administração Pública.

 Violação de Segredo Profissional: o artigo 154 do Código Penal cuida da violação de segredo profissional.
A conduta incriminada é a de revelar segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou
função. Aqui também se exige, tal como no crime previsto no artigo anterior, a potencialidade de dano. O
crime é próprio, pois só pode praticá-lo aquele que tem ciência do segredo por razões profissionais, como
função (múnus recebido por lei, como de curador ou de jurado); ministério (condição advinda de função
social, como a religiosa, de sacerdócio); ofício (atividade que requer técnica específica ou, para a doutrina
tradicional, a que envolve o uso da arte mecânica, manual) ou profissão (atividade laborativa voltada ao
lucro, para alguns há exigência de que seja intelectual). Cuida-se de crime doloso e plurissubsistente, exceto
na forma oral, em que não se admite o fracionamento da conduta. É formal, já que só se exige a
potencialidade do perigo para sua consumação.

 Invasão de Dispositivo de Informática: O núcleo do tipo é invadir, que significa ingressar, penetrar ou
apoderar-se. O objeto material é dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores.
Dispositivo informático é qualquer equipamento com capacidade de armazenamento e processamento de
informações, envolvendo de computadores pessoais a smartphones. Fernando Capez ressalta que, devido à
redação dúbia, é possível extrair duas interpretações quando aos núcleos do tipo. Na primeira possibilidade,
caso seja considerado núcleo do tipo o verbo invadir, as finalidades (elementos subjetivos especiais) serão
as de obter, adulterar ou destruir dados ou informações; ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita. Na segunda possibilidade, se caso se considerar como núcleos do tipo o verbo invadir e o verbo
instalar; a finalidade de invadir deverá ser a de obter, adulterar, ou destruir dados ou informações e a
finalidade de instalar deverá ser a de obter vantagem ilícita. A conduta de invasão deve ocorrer mediante
violação indevida de mecanismo de segurança. Deste modo, se a vítima fornecer a senha ou se deixar o
computador ligado e alguém se aproveitar da situação para acessar seus dados, não se configura o crime em
tela. É preciso que a invasão ocorre com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo. No caso de instalação de vulnerabilidades, exige-se
que o escopo do agente seja obter vantagem ilícita. É indiferente estar ou não o dispositivo conectado à rede
de computadores. O crime é comum, doloso, formal e plurissubsistente, admitindo o conatus.

Forma equiparada: produzir, oferecer, distribuir, vender ou difundir dispositivo ou programa de computador
com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. Pune-se, com a mesma pena, a conduta de
comercialização ou de distribuição de dispositivo (hardware) ou programa de computador (software) para a
prática das condutas incriminadas no caput.

Formas majoradas: pena majorada de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou


transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidas. Além disso, o parágrafo quinto
prevê a causa de aumento de pena aplicável tanto à forma do caput quanto à forma equiparada. Neste caso,
a fração será de um terço até metade. A majorante está atrelada à vítima ser: I - Presidente da República,
governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; III - Presidente da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal
ou de Câmara Municipal; IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual,
municipal ou do DF.
Ação penal: No crime de invasão de dispositivo informático, a ação penal é pública condicionada à
representação. Se o crime for cometido contra a administração pública direta ou indireta ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos, a ação penal é pública incondicionada.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

FURTO
O crime de furto está previsto no artigo 155 do Código Penal. A conduta incriminada é subtrair coisa alheia
móvel. Subtrair é apropriar-se, pegar de outrem ou apoderar-se. A conduta pode ser realizada direta ou
indiretamente, mediante um uso de um macaquinho adestrado, por exemplo. O objeto material é coisa
alheia móvel. Coisa é toda coisa suscetível de apropriação econômica. Em regra, estão excluídas as coisas
de uso comum, como o ar ou a água. Há, entretanto, possibilidade, se houver o seu destacamento para
uso, como no caso de furto de mil litros de água mineral no estoque da engarrafadora. O ser humano não
pode ser objeto de
furto, mas o seu cadáver, se destacado para uso científico, pode ser subtraído. Não podem ser objeto do
furto a res derelicta, a coisa abandonada, por não possuir proprietário, a res nullius, que a é a coisa de
ninguém, como o peixe no mar, nem a res desperdita, que é a coisa perdida e cuja apropriação pode
configurar o delito do artigo 169, parágrafo único, II, do Código Penal. A coisa deve ser móvel, sendo que os
penalistas não se utilizam do conceito do Direito Civil. Deste modo, são móveis todos aqueles que podem
ser transportados sem sua destruição ou desnaturação. Incluem-se os navios e aeronaves, considerados
imóveis por ficção legal na esfera cível. Também estão abrangidos os semoventes, como cavalos e bois. A
coisa também deve ser alheia. A esse respeito existem duas posições. A primeira pressupõe que a coisa deve
ser de propriedade de outrem. Deste modo, se o sujeito se apropria de coisa sua, mas em poder de terceiro,
pode cometer o delito do artigo 345 ou o previsto no artigo 346 do Código Penal. É a posição majoritária,
defendida por Nelson Hungria. A outra posição defende que a coisa pode ser do próprio sujeito ativo, pois o
termo “alheio” também pode ser referir à legítima posse de outrem. Por isso, o proprietário que se apodera
de coisa sua, que foi dada em penhor por exemplo, comete o crime de furto. É o entendimento de Magalhães
Noronha. Se a coisa for bem público ou bem particular que está em poder da Administração Pública,
subtraída pelo funcionário público, valendo-se de suas funções, configura-se o crime de peculato. Se a coisa
for comum, o crime será o previsto no artigo 156 do Código Penal. O crime é comum, não se exigindo
nenhuma qualidade especial do sujeito ativo. Para a maioria da doutrina, o artigo 155 do Código Penal tutela
a propriedade, a posse e a detenção legítima de coisa móvel. O elemento subjetivo é o dolo. É necessário o
desejo de apropriação definitiva, devido ao tipo penal exigir que a vontade livre e consciente de subtração
seja para si ou para outrem. O desejo de se apoderar definitivamente da coisa alheia móvel é denominada
de animus furandi ou animus rem sibi habendi. Em razão da exigência de referido elemento subjetivo especial
do tipo, não é punível o chamado furto de uso. Furto de uso é a apropriação realizada com a intenção de uso
meramente momentâneo, de coisa alheia móvel não consumível e que seja devolvida no mesmo estado. O
furto famélico, também chamado de furto necessitado, é aquele praticado por sujeito que está em extrema
miserabilidade e precisa saciar a fome. Pode configurar a causa excludente de ilicitude consistente no estado
de necessidade, desde que presentes os seus requisitos. Deste modo, a necessidade deve ser premente e a
ação deve se destinar diretamente a saciar a fome, não se configurando no caso de furto de coisas que não
servem diretamente a isso. Súmula 567 do STJ:
Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no
interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime
de furto.

O STF tem adotado a teoria da amotio ou aprehensio, considerando consumado o delito de furto com a
inversão da posse. Seguindo o mesmo entendimento, o Superior Tribunal de Justiça firmou a posição, ao
julgar recurso representativo da controvérsia, de que o furto se reputa consumado quando o agente tem a
posse de fato sobre o bem.

 Furto Noturno (majorado): o parágrafo primeiro do artigo 155 prevê a modalidade majorada do furto. A
causa de aumento de pena será de um terço se o crime for praticado durante o repouso noturno. A doutrina
aponta que o repouso noturno não se confunde com a noite, sendo que os costumes locais são levados em
conta para se verificar a incidência ou não da majorante no caso concreto. A maioria da doutrina compreende
não ser necessário que o local seja habitado para a configuração da majorante. Apesar da controvérsia
existente, o Superior Tribunal de Justiça possui posição consolidada de ser aplicável a majorante do furto
noturno tanto à forma simples quanto à forma qualificada do delito.

 Furto privilegiado: o artigo 155, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade privilegiada do furto, ou
seja, com causa de diminuição de pena ou substituição da pena privativa de liberdade pela de multa. A pena
deve ser diminuída pela fração de um a dois terços ou substituída por pena de multa, conforme as
circunstâncias do caso concreto, devendo haver motivação concreta pelo juiz. A incidência da causa de
diminuição de pena, caso presentes os requisitos, é direito público subjetivo do réu. Exige-se a primariedade
do agente e que a res furtiva, ou seja, a coisa furtada seja de pequeno valor. O Superior Tribunal de Justiça
tem entendido que o pequeno valor da coisa deve ser como limite um salário mínimo. Não se deve confundir
o pequeno valor, que configura o privilégio do furto, com a irrelevância do valor da coisa furtada, o que pode
ensejar o reconhecimento da insignificância, que afasta a tipicidade material do fato. Tema também
controverso na doutrina é a possibilidade de se reconhecer o privilégio no caso de furto qualificado. O STJ
considera possível, especialmente se a qualificadora for de natureza objetiva.

 Equiparação à coisa móvel: o parágrafo terceiro do artigo 155 determina que a energia elétrica ou
qualquer outra que tenha valor econômico se equipara à coisa móvel.

 Furto qualificado (§ 4º): o artigo 155, § 4º, do Código Penal prevê formas qualificadas, para as quais a
pena passa a ser reclusão de dois a oito anos, e multa. São suas hipóteses:

i. com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: A destruição ou rompimento de


obstáculo é a abertura, o desfazimento ou a inutilização de qualquer óbice, consistente em coisa,
objeto ou edificação exteriores à coisa, como quebra-vento do carro (majoritário).
ii. com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza: O abuso de confiança se
configura quando há uma especial relação de confiabilidade ou de lealdade o sujeito ativo e a vítima.
Furto mediante fraude é aquele em que o agente se utiliza de um ardil ou engodo para subtrair a
coisa sem que a vítima perceba. O crime praticado mediante escalada é aquele que envolve um modo
anormal de acesso, que exige considerável esforço por parte do agente. Por fim, o furto praticado
mediante destreza é o que envolve anormal habilidade física ou manual.
iii. com emprego de chave falsa: qualquer instrumento utilizado para a abertura de fechadura.
iv. mediante concurso de duas ou mais pessoas: Podem ser computados coautores, partícipes,
inimputáveis e até mesmo de sujeitos não identificados. Ver a Súmula 442 do STJ.

 Furto qualificado (§ 4º-A): Busca-se a punição de forma mais rígida para crimes como o de explosão de
caixas eletrônicos para furto de dinheiro. A pena desta modalidade de furto é de reclusão de 4 (quatro) a 10
(dez) anos e multa. Configura-se com o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.

 Furto qualificado (§ 5º): a pena passa a ser a de reclusão, de três a oito anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. O dispositivo não menciona
o Distrito Federal.

 Furto qualificado: abigeato (§ 6º): o parágrafo sexto do artigo 155 traz o furto qualificado que é
denominado pela doutrina de abigeato. É o furto de gado, cuja pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos, que se configura ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.

 Furto qualificado (§ 7º): Incide se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta
ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

Furto de Coisa Comum

O artigo 156 prevê o crime de furto de coisa comum, que possui especializantes em relação ao crime de furto
do artigo 155 do Código Penal. O crime é próprio, podendo ser cometido apenas pelo condômino, pelo
coerdeiro ou pelo sócio. Segundo o professor Damásio de Jesus, o sócio pode ser o de direito ou o de fato. A
coisa deve estar na posse legítima de outra pessoa, ou o crime será o de apropriação indébita, com inversão
do animus da posse sobre a coisa. O crime é doloso, exigindo-se o elemento subjetivo especial do tipo,
consiste no animus rem sibi habendi ou animus furandi. O objeto material deve ser a coisa comum. A tal
respeito o parágrafo segundo do artigo 156 prevê não ser punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente. O crime é plurissubsistente, sendo admissível o conatus.
A ação penal é pública condicionada à representação.

DO ROUBO E DA EXTORSÃO
Roubo

O crime de roubo é o crime complexo que deriva da reunião do furto e do constrangimento ilegal, do furto
e da ameaça ou do furto e do crime relativo à violência (lesão corporal, por exemplo). O núcleo do tipo é o
mesmo do furto, qual seja: “subtrair”. Cuida-se de crime comum, pois qualquer pessoa pode ser o sujeito
ativo, menos o proprietário. O sujeito passivo, por sua vez, é o proprietário, o possuidor ou o mero detentor
da coisa e a pessoa sobre a qual recai a violência, a grave ameaça ou que é reduzida à impossibilidade de
resistência. O elemento subjetivo é o dolo. Não há previsão da modalidade culposa.

Roubo próprio: o roubo próprio é aquele previsto no caput do artigo 157, com o seguinte teor: “Subtrair
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-
la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. A subtração pode ser praticada mediante
violência, grave ameaça ou outro meio de reduzir a vítima à incapacidade de resistência. Consuma-se com o
apoderamento do bem, mesmo que o agente não consiga manter a coisa consigo depois. É a posição adotada
pelo STF e pelo STJ. O crime de roubo próprio é plurissubsistente e admite a punição da tentativa.

Roubo impróprio ou por aproximação: o parágrafo primeiro do artigo 157 traz forma equiparada do crime
de roubo. O dispositivo prevê incorrer na mesma pena o agente que, logo depois de subtraída a coisa,
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro. A violência ou grave ameaça contra a pessoa não é utilizada para a subtração
da coisa. O agente usa de um desses meios para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa,
após a subtração. Crime dano, de forma livre, instantâneo e unissubjetivo.

 Roubo circunstanciado ou majorado (§ 2º): O artigo 157, no seu parágrafo segundo, prevê causas de
aumento de pena aplicáveis ao roubo, cuja fração varia de um terço até metade:

i. se há o concurso de duas ou mais pessoas: a doutrina majoritária entende cabível tanto o cômputo
de coautores como de partícipes.
ii. se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância: crime
praticado contra os funcionários que estejam atuando no transporte de valores, quando no exercício
da função.
iii. se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior: O dispositivo não menciona o Distrito Federal, razão pela qual a doutrina majoritária
entende que sua inclusão configuraria analogia in malam partem.
iv. se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade: Incide se o agente mantém
o ofendido em seu poder, restringindo sua liberdade, além do tempo necessário para a subtração.
v. se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego: inserido pela Lei 13.654/2018, que visa a dar
um tratamento mais rígido aos delitos patrimoniais, mormente aqueles praticados contra agências
bancárias.
vi. se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca: dispositivo inserido pela
Lei 13.964/2019, voltando a ser roubo majorado o crime praticado mediante emprego de arma.

 Roubo circunstanciado ou majorado (§ 2º-A): o aumento de pena será realizado pela fração de 2/3:

i. se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; inserido pela Lei nº
13.654/2018, antes o aumento era de um terço até metade em caso de emprego de arma. A alteração
mais gravosa, portanto. Não incide no caso de arma de brinquedo. O STJ consolidou o entendimento
de ser desnecessária a prova pericial, desde que outros elementos de prova demonstrassem a
utilização da arma pelo agente
ii. se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum: É o que ocorre em um assalto a banco, se os agentes usarem
dinamite para destruir a porta do cofre e obter acesso aos valores lá custodiados.

 Roubo qualificado do § 2º-B: “Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo
de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.”
Concurso de causas de aumento de pena: Súmula 443 do STJ: “o aumento na terceira fase de aplicação da
pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua
exasperação a mera indicação do número de majorantes.”.

 Formas qualificadas: O resultado, lesão grave ou morte, deve decorrer da violência, podendo ser causado
por culpa ou dolo. Tem prevalecido no STF que não incidem as causas de aumento de pena às modalidades
de roubo qualificado. São os casos de roubos qualificados pelo resultado:

I. Se resulta lesão corporal grave: O CP trata as lesões de natureza grave e gravíssima com a mesma
denominação: de natureza grave. A pena, neste caso, é de reclusão, de 7 a 18 anos, e multa.

II. Se resulta morte: latrocínio: O latrocínio é considerado crime contra o patrimônio e, por isso, ainda que
a morte tenha sido causa por dolo, não é da competência do tribunal do júri. O latrocínio é delito que tutela
tanto o patrimônio quando a vida humana. Sua pena é de reclusão, de 20 a 30 anos, e multa. A Súmula 610
do STF dispõe que se configura o crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
o agente a subtração de bens da vítima O Supremo Tribunal Federal possui julgado de ambas as turmas em
que se reconhece a existência de crime único, mesmo que haja mais de um resultado morte. O Superior
Tribunal de Justiça, por sua vez, possui entendimento consolidado no sentido de que a pluralidade de vítimas
enseja o reconhecimento do concurso formal impróprio, caso haja diversidade de desígnios.

EXTORSÃO
Extorsão: O delito de extorsão está previsto no artigo 158 do Código Penal. A conduta incriminada é
constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa. O constrangimento aqui, que configuraria o crime de constrangimento ilegal, é o meio para a
obtenção de vantagem econômica. A Súmula 96 do STJ dispõe que o crime de extorsão se consuma
independentemente da obtenção da vantagem indevida. O crime é comum, doloso e exige o elemento
subjetivo especial do tipo, consistente no intuito do agente de obter vantagem econômica indevida. A
vantagem deve ser econômica e, além disso, deve ser indevida. O crime é plurissubsistente, admitindo a
punição em sua forma tentada.

 Forma majorada: causa de aumento de pena, de um terço até metade, se o crime é cometido:

• Por duas ou mais pessoas: exige-se que o crime seja cometido por duas ou mais pessoas, ou seja,
eventuais partícipes não podem ser computados para o reconhecimento da majorante.
• Com emprego de arma: arma própria e imprópria, de fogo ou branca.

 Formas qualificadas pelo resultado: O parágrafo segundo do artigo 158 determina a aplicação, à extorsão
praticada mediante violência, o disposto no § 3º do artigo 157 do Código Penal.

 Forma qualificada: sequestro relâmpago: O artigo 158, § 3º: forma qualificada da extorsão, denominada
pela doutrina de sequestro relâmpago, com pena de 6 a 12 anos de reclusão e multa. Configura-se se o
constrangimento, no crime de extorsão, é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica. Há, ainda, a previsão da incidência de
formas qualificadas pelo resultado: a parte final do § 3º do artigo 158 prevê que, se resulta lesão corporal
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente. Com o advento do
pacote anticrime, passou a ser considerada hedionda apenas a modalidade do artigo 158, § 3º, do CP,
havendo controvérsia sobre ser ou não necessário o resultado morte ou lesão grave.

Extorsão Indireta

A conduta incriminada no art. 159 do CP é sequestrar pessoa, ou seja, limitar, restringir ou impossibilitar o
exercício do direito de locomoção da vítima. O crime é doloso, sendo necessária a finalidade de obter, para
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate (elemento subjetivo especial do
tipo). É prescindível, todavia, que o agente efetivamente venha a obter qualquer vantagem. O crime é formal,
de tendência interna transcendente de resultado cortado ou de resultado separado. O crime é comum. O
sujeito passivo, quanto ao sequestro, deve ser pessoa. O crime é permanente e plurissubsistente, admitindo
a punição pela forma tentada.

 Formas qualificadas (§ 1º): pena de reclusão, de doze a vinte anos.

• Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas: consequências mais nefastas para a vítima
privada de sua liberdade.
• Se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos: quando a vítima possui
idade inferior a 18 anos ou superior a 60 anos, incide a qualificadora do parágrafo primeiro do artigo
159. Justifica-se pela maior fragilidade da vítima, seja pelo desenvolvimento mental e moral
incompletos, no caso das crianças e adolescentes, seja pela vulnerabilidade decorrente do
envelhecimento, no caso dos idosos.
• Se o crime é cometido por bando ou quadrilha: atualmente denominado de crime de associação
criminosa. Exige-se no mínimo o concurso de três agentes.

 Formas qualificadas pelo resultado (§§ 2º e 3º): o resultado pode decorrer de dolo ou culpa:

• Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. O
entendimento que parece prevalecer na doutrina é que a lesão corporal de natureza grave deve ser
sofrida pelo sequestrado.
• Se resulta a morte: pena de vinte e quatro a trinta anos de reclusão. O entendimento que parece
prevalecer na doutrina é que a morte deve ser do próprio sequestrado.

 Delação premiada: causa de diminuição de pena, com utilização de fração entre um terço a dois terços.
A previsão é que incide a minorante se o crime é cometido em concurso e o concorrente o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado.

Extorsão Indireta

O delito de extorsão indireta está previsto no artigo 160 do Código Penal. A conduta incriminada é exigir
(requerer, demandar, requisitar) ou receber (adquirir, obter) documento que pode dar causa a procedimento
criminal contra a vítima ou contra terceiro, como garantia de dívida, mediante abuso da situação de alguém.
Há dois núcleos do tipo: exigir e receber. O tipo penal é misto alternativo, sendo que a ocorrência das duas
ações nucleares, no mesmo contexto, configura crime único. Deve haver abuso da situação da vítima. O
documento, que tem a finalidade de garantir a dívida, é aquele que tem potencialidade para a instauração
de procedimento criminal contra a vítima, como a duplicata simulada, o cheque emitido sem provisão de
fundos ou aquele em que ele falsifica assinatura de terceiros. O crime é comum e doloso. Na forma “exigir”,
o crime é formal. Neste caso, é plurissubsistente na forma escrita, admitindo a tentativa. Se for praticado
verbalmente, não é possível o conatus. Na forma de “receber”, o crime é material e plurissubsistente.

USURPAÇÃO
Alteração de limites

O artigo 161, caput, do Código Penal, prevê o delito de usurpação de limites. A conduta incriminada é
suprimir (extinguir ou eliminar) ou deslocar (retirar do local) tapume, marco ou qualquer outro sinal
indicativo de linha divisória (interpretação analógica). O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se elemento
subjetivo especial do tipo, consistente na finalidade de “apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel
alheia”. O crime é formal, de ação múltipla ou de tipo misto alternativo, comum e plurissubsistente.

Usurpação de águas

A conduta incriminada é desviar (mudar o curso) ou represar (conter ou barrar), em proveito próprio ou de
outrem, águas alheias. Cuida-se, portanto, de crime de ação múltipla. Águas alheias são aquelas
pertencentes a terceiros e, segundo alguns doutrinadores, aquela de uso comum, que o agente não poderia
tomar para si, conforme regulamenta o Código de Águas. O elemento subjetivo é o dolo, sendo exigido
também o intuito de obtenção de proveito para si ou para outrem. É formal, comum e plurissubsistente,
admitindo a punição da forma tentada.

Esbulho possessório

O crime de esbulho possessório está previsto no inciso II, §1º, do artigo 161, como conduta equiparada à do
caput. A conduta incriminada é invadir (penetrar, usurpar, invadir) terreno ou edifício alheio para o fim de
esbulho possessório. O tipo penal pode ser realizado por meio de violência à pessoa, grave ameaça ou
mediante o concurso de mais de duas pessoas. O crime é doloso. É exigida a finalidade de cometer o esbulho
possessório, que é a retirada do proprietário ou possuidor, de forma violenta, da posse, tomando-a para si.
O crime é comum e plurissubsistente. Consuma-se com a efetiva invasão da propriedade.

Disposições comuns: Quanto aos crimes de alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório,
o art. 161, § 2º, prevê que, havendo violência de referidos crimes, deve haver cúmulo de penas com a
violência. A ação penal é pública incondicionada, salvo se o crime for cometido em propriedade particular e
não houver violência. Somente neste caso, a ação penal será privada.

Supressão ou alteração de marca em animais

O artigo 162 torna típica a conduta de supressão ou alteração de marca em animais. A conduta incriminada
é suprimir (extinguir ou eliminar) ou alterar (mudar, modificar), de forma indevida, marca ou sinal indicativo
de propriedade em gado ou rebanho alheio. O tipo é misto alternativo. A supressão ou alteração deve ser
indevida, ou seja, contrária ao direito. O gado ou o rebanho deve ser alheio. O bem jurídico tutelado consiste
na posse e na propriedade de semoventes. O crime é comum, material e plurissubsistente.
DANO
O crime de dano está previsto no artigo 162 do Código Penal. Cuida-se de crime comum, não se exigindo
nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. Tutela-se o patrimônio, público ou privado, tanto no âmbito
da propriedade quanto da posse. São núcleos do tipo: “destruir”, “inutilizar” ou “deteriorar”. O objeto
material é coisa alheia, razão pela qual a destruição, inutilização ou deterioração de coisa própria não
configura o crime do artigo 163 do Código Penal. É crime de ação múltipla e doloso. Tratando-se de crime
plurissubsistente, é possível a punição do conatus. Não há previsão de punição da modalidade culposa. Existe
controvérsia sobre a exigência de elemento subjetivo especial do tipo: o STF já decidiu que o preso, ao
danificar a cela para a sua fuga, pratica o crime do artigo 163, na sua forma qualificada. O Superior Tribunal
de Justiça, por sua vez, possui entendimento de que referida conduta praticada pelo preso não configura o
crime, dada a ausência de animus nocendi.

 Dano qualificado: o crime de dano possui a modalidade qualificada, em que a pena passa a ser de
detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. Deste modo,
configurada violência, como a lesão corporal de natureza grave, haverá concurso material de penas.

I - com violência à pessoa ou grave ameaça: A violência deve ser cometida contra a pessoa para qualificar o
crime, não se configurando a qualificadora com a violência praticada contra a coisa. São absorvidos por tal
modalidade de dano o crime de ameaça e a contravenção penal de vias de fato.

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave: A
substância inflamável ou explosiva possui maior potencial danoso, além de possuir o potencial de causar
perigo a várias pessoas.

III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos:
A Lei nº 13.531, de 2017, incluiu na modalidade qualificada como titulares do patrimônio atingido: o Distrito
Federal, a autarquia, a fundação pública e a empresa pública.

IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: O motivo egoístico que qualifica o
dano é a motivação ligada a um sentimento pessoal do agente, ligado a algum interesse seu.

Ação Penal: privada nos casos do art. 163, caput, e do inciso IV do seu parágrafo. Nos demais casos, a ação
penal é pública incondicionada.

Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade Alheia

O crime de introdução ou abandono de animais em propriedade alheia está previsto no artigo 164 do Código
Penal. A conduta incriminada é a de “introduzir” ou “deixar” animais em propriedade alheia. É imprescindível
que haja prejuízo para a vítima. Não deve haver consentimento da vítima para a configuração do crime. O
crime é de forma livre, podendo se configurar de diferentes formas. O crime é doloso. Há jurisprudência que
aponta a necessidade de intenção de causar o prejuízo, sendo que Cezar Bitencourt defende não ser
necessário. O crime é material. Em razão da necessidade do efetivo prejuízo para a configuração do delito, a
doutrina aponta não ser possível a punição da forma tentada. Cuida-se de tipo penal misto alternativo.
• Ação Penal: O artigo 167 do Código Penal dispõe sobre a ação penal no caso de crime de introdução
ou abandono de animais em propriedade alheia. Deste modo, a ação penal será privada.

Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Histórico: A doutrina aponta que houve revogação tácita
deste artigo com a entrada em vigor da Lei 9.605/98, que passou a dispor sobre o tema em seu artigo 62.

Alteração de Local Especialmente Protegido: A matéria passou a ser inteiramente regulada pelo artigo 63
da Lei 9.605/98, tendo havido sua revogação tácita.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Apropriação indébita

O delito de apropriação indébita está previsto no artigo 168 do Código Penal. Protegem-se a propriedade e
os direitos reais de garantia. Não se exige confiança ou fidúcia entre o sujeito ativo e o passivo, sendo
suficiente que haja posse justa ou mera detenção do agente sobre a coisa. A ação nuclear é apropriar-se de
coisa alheia móvel. Exige-se a anterior posse ou detenção lícita da coisa, em nome alheio, ou seja, o agente
deve ter, anteriormente à conduta típica, a posse justa ou a detenção lícita da coisa, sem que tenha a
disponibilidade jurídica da coisa. A consumação do delito se dá com a inversão do título da posse, isto é, o
agente deixa de possuir em nome alheio (alieno domine) para possuir como dono (causa dominii). A inversão
do título ou da natureza da posse pode se consubstanciar na recusa em devolvê-la, quando o agente
demonstra que a tomou para si, ou em algum ato de disponibilidade, em razão de só o proprietário poder
dispor da coisa. Ainda que haja divergências, parece prevalecer o entendimento segundo o qual é possível a
tentativa de apropriação indébita, apesar de ser difícil sua configuração. A apropriação indébita é crime
doloso, exigindo o animus rem sibi habendi. A doutrina majoritária classifica o crime em estudo como
comum. É crime material, pois exige que a coisa passe a ser possuída pelo agente a título de proprietário, o
que acarreta o resultado naturalístico de lesão ao patrimônio da vítima.

 Modalidades majoradas: O CP prevê o aumento de um terço na pena nos seguintes casos: I - em depósito
necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


O delito de apropriação indébita previdenciária está previsto no artigo 168-A do Código Penal. A ação nuclear
é “deixar de repassar”, ou seja, trata-se de crime omissivo, pois se configura quando o indivíduo não repassa.
Anteriormente, as contribuições devem ter sido recolhidas dos contribuintes, o que é um pressuposto para
a conduta típica do agente. Cuida-se de crime doloso. O repasse, para a configuração do delito, deve não ter
sido feito na forma e no prazo legal ou convencional. Como os prazos estão previstos em lei, é necessária
uma complementação normativa, o que leva à conclusão de se tratar de norma penal em branco. Por se
tratar de crime omissivo próprio, ou seja, delito que já prevê um não fazer como seu tipo penal, não se
admite a tentativa. crime é formal, ou seja, não se exige resultado naturalístico para a sua consumação.
Exige-se finalidade específica (elemento subjetivo especial do tipo)? O Supremo Tribunal Federal fixou o
entendimento sobre ser prescindível, ou seja, desnecessário o elemento subjetivo especial do tipo. Não é
outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.

 Formas equiparadas: O artigo 168, § 1º, prevê formas equiparadas, se o agente de deixar de:

I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido
descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público

II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos
relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços

III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados
à empresa pela previdência social.

Causa extintiva da punibilidade: O parágrafo segundo do artigo 168-A prevê uma causa de extinção da
punibilidade. Prevê-se que, caso o agente espontaneamente declare, confesse e efetue o pagamento das
contribuições, importâncias ou valores, termos em que se incluem juros e correção monetária, além de
prestar as informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, sua
punibilidade deve ser extinta. O termo final para referido benefício é o início da ação fiscal.

Perdão judicial ou substituição da pena por multa: Exige-se que o agente seja primário e de bons
antecedentes, devendo, ainda, preencher um dos requisitos: efetuar o pagamento da contribuição social
previdenciária e acessórios (incluídos os juros) após o início da execução fiscal e antes de oferecida a
denúncia ou que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido, pela Previdência Social, como mínimo para o ajuizamento das execuções fiscais.

Suspensão e extinção da pretensão punitiva: legislação extravagante: O Superior Tribunal de Justiça tem
considerado que a quitação do débito referente ao crédito tributário extingue a punibilidade, nos termos da
Lei 10.684/03. O Supremo Tribunal Federal possui precedente no mesmo sentido. Com relação à aplicação
do princípio da insignificância, atualmente STJ e STF negam a incidência aos crimes de apropriação de
contribuição previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária.

Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito ou Força da Natureza

O artigo 169 do Código Penal trata de diversos delitos, tratado da apropriação de coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza em seu caput. Além disso, o parágrafo único prevê formas equiparadas, cada
qual com seu nomen iuris, ou seja, com denominação diversa. Estudaremos cada um separadamente, a
começar com o do caput. O crime de apropriação de coisa havia por erro, caso fortuito ou força da natureza
possui como núcleo do tipo o verbo “apropriar-se”, sendo o objeto material a coisa alheia, que tenha
chegado ao seu poder por erro, caso fortuito ou força maior. Tutelam-se o patrimônio e a posse legítima. O
crime é comum. É material. É de forma livre, instantâneo e plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Apropriação de Tesouro

O artigo 169 prevê no seu parágrafo único, inciso I, a forma equiparada que se denomina apropriação de
tesouro. A conduta envolve o “achar” tesouro em prédio alheio e o subsequente “apropriar-se”, seja no todo
ou em parte, da cota a que tem direito o proprietário do prédio em que estava tal tesouro. Tesouro é um
conjunto de coisas valiosas ou preciosas, como moedas de ouro, que podem estar enterradas ou apenas
ocultas. O encontro deve ser causal, situação em que deverá ser dividido igualmente entre o proprietário do
terreno e aquele que o encontrar. O Código Civil trata do tema do achado de tesouro em seus artigos 1.264
a 1.266. O crime é comum, instantâneo, material, de forma livre e plurissubsistente.

Apropriação de Coisa Achada

A apropriação de coisa achada, forma equiparada ao crime de apropriação de coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza, está tipificada no inciso II do parágrafo único do artigo 169. Cuida-se de crime
de conduta mista, por envolver uma ação seguida de uma omissão, sendo ambos os comportamentos
necessários para a sua configuração. O tipo penal é o seguinte: “quem acha coisa alheia perdida e dela se
apropria, total ou parcialmente [conduta comissiva], deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor
ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias [conduta omissiva].”

Forma Privilegiada para os Crimes do Capítulo V – Da Apropriação Indébita: determina-se a aplicação do


disposto no parágrafo segundo do artigo 155, dispositivo que trata do furto privilegiado.

ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES


➢ Estelionato

O estelionato está previsto no caput do artigo 171 do Código Penal. As formas equiparadas, por possuírem
denominações próprias dadas pela própria lei, serão estudadas separadamente. O estelionato consiste na
conduta de “obter” (vir a ter, conseguir, receber), para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo
alheio. A prática da conduta se dá por meio de fraude, ou, como diz a lei, por meio de indução ou manutenção
de alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. Artifício é a astúcia ou
dissimulação utilizada para que alguém interprete os fatos de forma errada. Ardil é a sagacidade, o
estratagema, a armação ou cilada. Qualquer outro meio fraudulento representa a cláusula de interpretação
extensiva, que deve ser feita com base nos exemplos de artifício e ardil. O crime é comum. Entretanto, o
sujeito passivo deve ter capacidade de discernimento para que posse der mantida ou induzida a erro, ou
seja, ser vítima da fraude perpetrada pelo agente. A doutrina aponta haver a chamada dupla relação de causa
de efeito: de início, o agente emprega o artifício, o ardil ou outro meio fraudulento para que o sujeito passivo
seja induzido a erro ou mantido em erro; na sequência, em virtude do erro, há a obtenção de vantagem ilícita
pelo agente e o consequente prejuízo para a vítima. Cuida-se de crime material. Exige-se o duplo resultado,
consistente na vantagem ilícita e no prejuízo alheio. É crime de forma livre, doloso e plurissubsistente, razão
pela qual admite a forma tentada.

 Estelionato privilegiado: aplica-se a regra do furto privilegiado ao estelionato.

➢ Disposição de Coisa Alheia como Própria

O artigo 171, § 2º, I, do Código Penal prevê o crime de disposição de coisa alheia como própria. No crime de
disposição de coisa alheia como própria, o agente também mantém a vítima em erro ou a induz a erro para,
então, obter vantagem ilícita em prejuízo alheio. Entretanto, neste caso, a prática ocorre por meio de uma
das ações: “vender”, “permutar”; “dar em pagamento”; “dar em locação” ou dar em garantia. Em todos os
casos, o objetivo material é a coisa alheia, que o agente faz a vítima crer ser de sua propriedade. Exigem-se
a vantagem ilícita do agente e a o prejuízo da vítima. É crime comum, material, plurissubsistente e doloso.

➢ Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria

A alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria possui tipificação penal no artigo 171, § 2º, inciso II,
do Código Penal. Referida forma equiparada ao estelionato possui praticamente as mesmas ações nucleares
do tipo penal analisado anteriormente, do crime de disposição alheia como própria (a exceção é “dar em
locação”, só presente no delito já analisado). Cuida-se de tipo penal misto alternativo. O objeto material,
entretanto, é a coisa própria, mas da qual o agente não possui a disponibilidade e, mesmo assim, procede a
sua alienação ou oneração fraudulenta. Pode ser a coisa própria alguma que seja inalienável, que esteja
grava de ônus (como hipoteca), que seja litigiosa, bem como imóvel que já tenha prometido vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações. De toda forma, é imprescindível que o sujeito ativo tenha
silenciado sobre tais circunstâncias. A tentativa é possível. O crime é material e doloso.

➢ Defraudação de Penhor

O delito de defraudação de penhor está tipificado no artigo 171, § 2º, inciso III do Código Penal. O núcleo do
tipo é “defraudar” (fraudar, ludibriar, usurpar, espoliar) da coisa dada em garantia pignoratícia, da qual o
agente tem a posse. O crime é de forma livre, sendo que a defraudação pode ocorrer por meio de alienação
não consentida ou por outro modo. A defraudação de penhor ocorre com a perda do direito real de garantia
pelo credor, podendo ocorrer por meio de alienação, como visto, da coisa empenhada. Sujeito ativo é o
devedor pignoratício, enquanto o sujeito passivo é o credor pignoratício. É crime doloso, plurissubsistente e
material.

➢ Fraude na Entrega de Coisa

O artigo 171, § 2º, inciso IV, prevê o crime de fraude na entrega de coisa. A conduta é “defraudar” (fraudar,
adulterar, ludibriar, alterar) substância, qualidade ou quantidade da coisa que deve entregar a alguém. O
dever de entregar a alguém pode decorrer de um negócio jurídico, de determinação legal ou judicial. A
substância da coisa diz respeito a sua constituição, sua essência; a qualidade se refere à espécie, e, por sim,
a quantidade diz respeito à massa, ao tamanho ou ao número. Também é necessário que haja a fraude para
a configuração do delito, que é material, plurissubsistente e doloso.

➢ Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de Seguro

O delito de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro, também equiparado ao estelionato,
possui previsão no artigo 171, § 2º, inciso V. A fraude é realizada por meio da conduta de “destruir” (demolir,
arruinar ou devastar), no todo ou em parte, ou de “ocultar” (encobrir, esconder, sonegar) coisa própria.
Também pode ser realizada por meio da conduta de “lesar” (ferir, causar lesão, lesionar) ao próprio corpo
ou à saúde, bem como de “agravar” (tornar grave ou mais grave) as consequências da lesão ou a saúde. O
crime é doloso e formal, não sendo necessário que haja a efetiva obtenção da indenização ou valor do
segundo para a consumação do delito. O crime é classificado como próprio por parte da doutrina, por exigir
que o sujeito ativo seja o dono da coisa ou o indivíduo que sofre as lesões ou o agravamento das
consequências da lesão ou doença.

➢ Fraude no pagamento por meio de cheque

No artigo 171, § 2º, VI, do Código Penal, as condutas incriminadas no crime de fraude no pagamento por
meio de cheque são emitir cheque, sem suficiente provisão de fundos, ou lhe frustrar o pagamento. Emitir o
cheque, para os fins do artigo, significa colocá-lo em circulação, não bastando a sua confecção ou assinatura.
Frustar o pagamento é impedir que o beneficiário obtenha o valor indicado na cártula. O emitente tem o
direito de frustrar o pagamento em determinados casos, como de roubo ou extravio, desde que haja justo
motivo. Portanto, só configura o crime a frustração indevida do pagamento. O cheque dado em garantia,
caso posteriormente não haja fundos para sua compensação, não serve para a configuração do delito em
tela. Por ser ordem de pagamento à vista, o cheque pré-datado (ou pós-datado) não configura o crime. A
confirmar a necessidade de fraude para a configuração do delito, há o enunciado número 246 da Súmula do
Supremo Tribunal Federal, que dispõe que se não houver fraude, não se configura o crime. A Suprema Corte
também aprovou a Súmula 554, a qual preconiza que o pagamento de cheque emitido sem fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. Apesar de se tratar de matéria
processual, cumpre registrar o teor do enunciado número 244 da Súmula do STJ que fixa a competência no
foro do local da recusa.

➢ Formas majoradas do estelionato e figuras equiparadas e ação penal:

No art. 171, § 3º, do CP, há previsão de aumento de pena em um terço, na situação em que o crime é
cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência
social ou beneficência. O parágrafo quarto prevê a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. O
STJ considera que a forma majorada o parágrafo terceiro se configura quando a vítima for o INSS, conforme
sua Súmula 24. Por fim, o Pacote Anticrime inseriu o parágrafo quinto, para estabelecer que, como
regra, a ação penal será pública condicionada à representação. Entretanto, continuará sendo pública
incondicionada nos casos de o crime ter sido praticado contra: I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade
ou incapaz.

➢ Duplicata Simulada

O delito de duplicata simulada está previsto no artigo 172 do Código Penal. A conduta incriminar é “emitir”,
ou seja, colocar em circulação ou lançar fatura, duplicata ou nota de venda de forma simulada. Isto é, o
documento deve não corresponder à quantidade ou qualidade da mercadoria vendida ou ao serviço
prestado. O parágrafo único prevê a forma equiparada de “falsificar” (desvirtuar, alterar os dados) ou
“adulterar” (modificar, corromper) a escrituração do Livro de Registro das Duplicatas. O crime é comum,
doloso, formal, comissivo e plurissubsistente, ou seja, admite a forma tentada.

➢ Abuso de incapazes
O crime de abuso de incapazes está tipificado no artigo 173 do Código Penal. O sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa. O sujeito passivo deve ser o menor, o alienado ou o débil mental, ou seja, aquele que possui
alguma deficiência ou doença de ordem mental. A conduta nuclear é “abusar” (usar de maneira inadequada,
tirar vantagem de). O abuso pode ser efetuado em proveito próprio ou alheio, recaindo sobre a necessidade,
paixão ou inexperiência da vítima. O crime é formal, doloso e plurissubsistente, admitindo o conatus.

➢ Induzimento à Especulação

O artigo 174 do Código Penal está previsto no induzimento à especulação. O sujeito ativo é qualquer pessoa.
Sujeito passivo, por sua vez, deve ser alguém menor ou que seja inexperiente, simples ou ingênuo. A conduta
nuclear é “abusar” (usar de maneira inadequada, tirar vantagem de). O abuso pode ser efetuado em proveito
próprio ou alheio, recaindo sobre a inexperiência ou inferioridade mental da vítima. O sujeito passivo deve,
ainda, ser compelido à prática do jogo ou da aposta ou à especulação com títulos ou mercadorias. Exige-se
que o agente saiba ou deva saber que a conduta é ruinosa. O crime é doloso, formal, de forma livre e
plurissubsistente.

➢ Fraude no Comércio

O delito de fraude no comércio está previsto no artigo 175 do Código Penal. O núcleo do tipo é “enganar”
(induzir em erro, mentir, iludir) o adquirente ou consumidor, no exercício de atividade comercial. O engano
pode ocorrer de dois modos, sendo, portanto, crime de forma vinculada: vendendo, como verdadeira ou
perfeita, mercadoria que seja falsificada ou que esteja deteriorada; ou entregando uma mercadoria por
outra. Alguns doutrinadores entendem que houve revogação em razão do artigo 7º, IV, da Lei 8.137/90,
complementado pelo artigo 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, entende-se que não
houve a regulamentação total da matéria, sendo que o conflito aparente de normas deve ser analisado caso
a caso. O crime é doloso e plurissubsistente.

 Forma qualificada: pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. O núcleo do tipo é “alterar”
(modificar, causar alteração, mudar); “substituir” (colocar no lugar de outra coisa, trocar) ou “vender”
(efetuar a alienação mediante pagamento de preço). As condutas são de alterar, em obra que lhe é
encomendada, a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou
por outra de menor valor. Além disso, incrimina-se o ato de vender pedra falsa por verdadeira ou de vender,
como precioso, metal de outra qualidade.

 Forma privilegiada: Aplica-se à fraude no comércio as regras do furto privilegiado.

➢ Outras Fraudes

O artigo 176 prevê o tipo penal referente a outras fraudes. O tipo penal tem como núcleos do tipo “tomar”
refeição, “alojar-se” em hotel ou “utilizar-se” de meio de transporte. Refeição inclui bebidas e hotel abrange
também pensões e albergues, segundo a doutrina. Em todos os casos, exige-se que o agente não disponha
de recursos para efetuar o pagamento. Isto porque o tipo penal exige que o agente não possua o valor
necessário para efetuar o pagamento. A ação penal é privada e há possibilidade de aplicação do perdão
judicial. O crime é de dano, material, comum, doloso e plurissubsistente.
➢ Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de Sociedade por Ações

O crime de fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações está situado no artigo
177 do Código Penal. O crime é o de promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto
ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade. Também
de configura se o agente ocultar, em referidos documentos, fraudulentamente, fato relativo à constituição
da sociedade. Cuida-se de delito subsidiário, sendo que só se configura se não se configurar o crime contra
a economia popular. Há delitos do artigo 3º, incisos VII a X, da Lei 1.521/51, a Lei de Economia Popular, que
são próximas dos delitos tratados no artigo 177 do Código Penal, devendo se analisar os casos com base na
subsidiariedade expressa do crime em estudo. O parágrafo primeiro traz formas equiparadas, sendo que são
crimes próprios, que exigem qualidade específica do sujeito ativo. Em todos se protege o patrimônio
societário. O parágrafo segundo prevê o chamado crime de acionista ou de negociação de voto, que pune a
conduta do acionista que negocia o voto nas deliberações de assembleia geral, exigindo-se o elemento
subjetivo especial do tipo consistente no fim de obter vantagem para si ou para outrem. O voto é trocado
por determinado interesse do sujeito ativo. Neste caso, a pena é mais leve, consistente em detenção, de seis
meses a dois anos, e multa.

➢ Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou “Warrant”

O delito de emissão irregular de conhecimento de depósito ou warrant está tipificado no artigo 178 do
Código Penal. A emissão, no caso, significa colocar o título em circulação. O objeto material é o conhecimento
de depósito ou warrant. E emissão deve ocorrer em descordo com disposição legal, o que torna o artigo 178
do Código Penal uma norma penal em branco, devendo ser complementada por normas de Direito
Empresarial que regulam o conhecimento de depósito ou warrant. O crime é formal e doloso. A doutrina
tem entendido que o crime é unissubsistente, não admitindo a modalidade tentada do delito.

➢ Fraude à Execução

O artigo 179 do Código Penal estipula o crime de fraude à execução. A fraude à execução tem como núcleo
do tipo o verbo “fraudar” (adulterar, ludibriar, alterar), sendo que a fraude deve ocorrer de uma das
seguintes maneiras: alienando bens; desviando bens; destruindo bens ou simulando dívidas. Cuida-se de
crime material, pois se exige a efetiva fraude à execução, por meio da alienação, desvio ou destruição de
bens ou simulação de dívidas. Se ele continuar solvente, sem prejudicar a execução, não se consuma o delito.
O crime é comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É plurissubsistente,
admitindo a tentativa. Além disso, é doloso, exigindo a vontade livre e consciente de fraudar a execução,
sendo apontado pela doutrina, ainda, o elemento subjetivo especial consistente na finalidade de prejudicar
os credores. A ação penal é privada exclusiva.

RECEPTAÇÃO
 Receptação
O crime de receptação está previsto no artigo 180 do Código Penal. Os núcleos do tipo são adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
Portanto, o crime de receptação pressupõe um crime anterior, razão pela qual é denominado de crime
acessório. Também se configura o crime com a ação de influir para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba
ou oculte coisa que sabe ser produto de crime. A coisa somente pode ser bem móvel, apesar de a lei não o
exigir expressamente.

 Forma Qualificada: pena de reclusão, de 3 a 8 anos, e multa. Cuida-se de tipo penal misto alternativo,
cujos núcleos do tipo são adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar coisa que deve saber ser produto
de crime. Exige-se que a conduta seja realizada em proveito próprio ou alheio. Referida modalidade prevê o
dolo eventual como elemento subjetivo (deve saber), sendo que parte da doutrina entende que aí se deve
incluir também o dolo direto. Exige-se que a conduta do agente seja realizada no exercício de atividade
comercial ou industrial, sendo que a atividade comercial abrange o comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercício em residência. Incluem-se no caso as garagens clandestinas de desmonte.

 Forma Culposa: configura-se se o agente adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso. O tipo penal é fechado, sendo que se diferencia da maioria dos crimes culposos, descritos
no Código Penal por tipos abertos. O tipo penal prevê algumas circunstâncias que se traduzem em indícios
de que a coisa é produto de crime.

 Disposição sobre a punibilidade: O parágrafo quarto do artigo 180 prevê que a receptação é punível,
ainda que desconhecido o autor do crime antecedente, bem como se o autor de pena for isento de pena.

 Perdão judicial: se o agente for primário, o juiz pode deixar de aplicar a pena.

 Forma privilegiada: No caso de dolo, aplica-se as disposições sobre furto privilegiado.

 Forma majorada: Se a conduta recair sobre bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal,
de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos, há a majorante, que determina que a pena do caput seja aplicada em
dobro. A Lei nº 13.531, de 2017 incluiu o Distrito Federal.

➢ Receptação de animal

Todos os núcleos do tipo foram estudados na forma comum do crime de receptação. O especializante é o
objeto material, que é semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes. Exige-
se que o agente deva saber ser produto do crime. A pena deste crime é de reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Semovente é o bem que se locomove por si só, o animal. O tipo menciona semovente domesticável de
produção, que podem ser ovelhas ou bois, por exemplo. O crime é doloso, exigindo-se a finalidade de
produção ou comercialização. É plurissubsistente, possibilitando a tentativa, exceto na forma de “ocultar”,
em que é considerado omissivo.
➢ Disposições Gerais para os Crimes Contra o Patrimônio

Os artigos 181, 182 e 183 do Código Penal tratam das disposições gerais para os crimes contra o patrimônio.
As imunidades absolutas ou escusas absolutórias são hipóteses de exclusão da punibilidade em razão da
relação existente entre o sujeito ativo e o passivo do delito. Existe previsão de escusas absolutórias para
delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família. As escusas
absolutórias impedem que surja o ius puniendi. Além disso, em determinadas hipóteses de crimes contra o
patrimônio, a ação penal é condicionada à representação, como prevê o art. 182. No caso de a vítima ser o
cônjuge desquitado ou judicialmente separado ou irmão (não existe mais a diferenciação entre legítimo e
ilegítimo) somente se procede mediante queixa. Além disso, a ação penal também é privada nos casos de
crimes patrimoniais cometidos em prejuízo de tio ou sobrinho, mas neste caso exige-se a coabitação. A
incidência de ambos os artigos acima estudados, o 182 e o 183, é limitada pelo artigo 183 do Código Penal,
que exclui de sua incidência determinados casos: o crime é de roubo, de extorsão ou se envolver emprego
de grave ameaça ou violência à pessoa; em relação ao estranho que participa do crime e se a vítima é pessoa
com idade igual ou superior a 60 anos.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL E CONTRA A


FAMÍLIA

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


Os delitos abrangidos em referida divisão do Código Penal são aqueles que tutelam a dignidade sexual a que
todo ser humano tem direito.

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL


O Capítulo I do Título VI trata dos crimes contra a liberdade sexual, que tutelam a dignidade sexual na
vertente da liberdade de escolha de cada um, em relação a desenvolver ou não sua sexualidade, quando
fazê-lo e com quem.
ESTUPRO

O tipo penal do artigo 213 do CP foi alterado pela Lei 12.015/2009, sendo que sua presente redação resulta
da junção dos antigos tipos penais do estupro e do atentado violento ao pudor. A conduta incriminada é
constranger (tolher a liberdade de, obrigar, coagir) alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, a
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. O
constrangimento, que de forma isolada configura o crime de constrangimento ilegal, é o meio para a prática
de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, sem que a vítima consinta com isso. Conjunção carnal é a relação
sexual consistente na introdução do pênis na vagina. O tipo penal, na verdade, se configura com a prática de
qualquer ato libidinoso, que pode envolver a masturbação, por exemplo. Inclusive, não é necessário que seja
praticado um ato libidinoso com o envolvimento da vítima (constrangê-la a fazer algo), configurando-se
também o delito se a vítima for constrangida a tolerar a prática de algum ato libidinoso com ela, como que
o sujeito passe a mão em seus genitais para satisfazer sua lascívia. Após a alteração legislativa, passou a ser
classificado como crime bicomum. Se a vítima for menor de 14 anos ou alguém que não tem discernimento
para a prática do ato, o crime será o de estupro de vulnerável. O crime é doloso. Há divergências doutrinárias
a respeito da necessidade ou não de elemento subjetivo especial do tipo, consistente na intenção sexual, na
intenção libidinosa. Entretanto, essa intenção parece ser extraída diretamente do tipo penal. Ademais, é
plurissubsistente, admitindo a tentativa, também denominada de conatus. Parte da doutrina, inclusive
Rogério Greco, passou a entender que o tipo penal do estupro, atualmente, é misto alternativo ou de
conduta variada, o que enseja a conclusão de que, praticados dois ou mais atos no mesmo contexto, haverá
um único delito. O Professor Cleber Masson, por sua vez, o considera crime simples, já que possui um único
núcleo do tipo, mas de condutas alternativas. O efeito prático também seria o de reconhecimento de
somente um crime, se praticados diversos atos no mesmo contexto. Outros doutrinadores, como Vicente
Greco Filho, defenderam que deveria haver a análise casuística, pela alternatividade ou pela cumulatividade.
O STJ tem entendido que, com a modificação dos crimes contra a dignidade sexual, a prática de conjunção
carnal e outros atos libidinosos, no mesmo contexto, configura crime único.

 Formas qualificadas: O parágrafo primeiro do artigo 213 prevê a primeira forma qualificada do estupro,
cuja pena passa a ser de reclusão, de 8 a 12 anos. Incide se da conduta resultar lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima for menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos. Já o parágrafo segundo prevê
o resultado morte, situação em que a pena passa a ser de reclusão, de 12 a 30 anos. Ambas as modalidades
qualificadas pelo resultado constituem figuras preterdolosas. Se a vítima for maior de 14 anos e menor de
18 anos, o crime será de estupro qualificado. Caso a vítima já tenha idade igual ou superior a 18 anos, o crime
será o estupro simples.
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
O crime de violação sexual mediante fraude está previsto no artigo 215 do Código Penal. O delito é apontado
na doutrina como um estelionato sexual, ou seja, a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, com
alguém, por meio de fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.
Tal qual no estupro, a conduta típica é a prática da conjunção carnal (relação sexual consistente na
penetração do pênis na vagina, também chamada cópula vagínica) ou de outro ato libidinoso (masturbação,
sexo anal, sexo oral etc.). O crime é comum, por não exigir qualidade especial do sujeito ativo para a sua
prática. É doloso, sendo também divergente a doutrina sobre o elemento subjetivo especial do tipo. Cezar
Bitencourt entende-o necessário, classificando o crime como de tendência e exigindo o especial fim do
agente de possuir a vítima sexualmente, ludibriando-a. É plurissubsistente, admitindo a punição da forma
tentada. Referido crime já foi reconhecido pelo STJ no caso de médico que enganava as suas pacientes,
praticando atos libidinosos com elas.

 Modalidade mercenário: O parágrafo único prevê que a pena deve ser cumulada com a de multa, caso o
crime seja praticado com o especial fim de agir, consistente no intuito de obtenção de vantagem econômica.

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
A Lei 13.718/2018 acrescentou um novo tipo no Código Penal, que criminaliza a importunação sexual: “Art.
215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.”.
É necessário que seja praticado um ato libidinoso, ou seja, um ato destinado à satisfação da lascívia, que
deve ser feito contra alguém. Ademais, a ausência de consentimento da vítima é elementar do crime.
Portanto, a anuência do sujeito, se houver, funcionária como excludente da tipicidade, por haver previsão
expressa de que a sua ausência é elementar do crime. É necessário que a conduta seja praticada contra
alguém e sem sua anuência. Se alguém se masturba olhando para a vítima ou passa o órgão genital por ela
(sem emprego de força física, apenas um toque), configura-se o crime de importunação sexual. Se o sujeito
se masturba no fundo do ônibus e é surpreendido pelo cobrador, não praticou o ato contra alguém, de modo
que incorre no delito de ato obsceno. O tipo é doloso, sem precisão de modalidade culposa. Exige-se o
elemento subjetivo especial do injusto, consistente no objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
terceiro. O crime é formal, comum e plurissubsistente, admitindo a tentativa. É instantâneo, consumando-
se em determinado momento, definido no tempo. Constitui um crime de forma livre, não havendo previsão
de modo específico de realizá-lo.

ASSÉDIO SEXUAL
O crime de assédio sexual está previsto no artigo 216-A do Código Penal. A ação nuclear típica é constranger
alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual. Já se nota, portanto, a exigência do fim
especial, consistente na obtenção de vantagem ou favorecimento sexual. O professor Cezar Bitencourt
considera não ser possível adotar o mesmo significado de constranger do crime de estupro (tolher a
liberdade de, obrigar, coagir), mas entende que aqui ele significa “embaraçar, acanhar, criar uma situação
ou posição constrangedora para a vítima”. De igual modo, Rogério Sanches Cunha entende que o significado
de constrangimento, aqui, é a insistência inoportuna. O constrangimento não tem, no tipo penal, formas
fixadas, razão pela qual o crime é de forma livre. Entretanto, o agente deve se prevalecer da superioridade
hierárquica ou ascendência que sejam inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. O crime é
próprio, doloso, comissivo e instantâneo. A maior parte da doutrina entende que o crime é formal e
plurissubsistente, consumando-se com o mero constrangimento, não sendo necessária a obtenção da
finalidade específica desejada pelo agente. Deste modo, perfeitamente cabível a tentativa.

DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL


O Capítulo I-A do CP, inserido pela Lei 13.772/2018, só possui o crime do artigo 216-B do CP.

REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA INTIMIDADE SEXUAL


O crime do artigo 216-B do Código Penal busca coibir a exposição não autorizada da intimidade sexual alheia,
por meio do registro da cena, sem autorização. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato
sexual ou libidinoso de caráter íntimo.” O tipo penal é misto alternativo. A conduta incriminada é produzir,
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes. O objeto material do crime é o conteúdo com
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado. Há o elemento normativo, que
distingue justamente o que é típico e aquilo que é mera decisão da vida íntima sexual de cada um. Referido
elemento está na expressão “sem autorização dos participantes”. O consentimento do ofendido, deste
modo, afasta a tipicidade neste caso. Obviamente, só pode consentir o maior de idade que seja capaz. Do
contrário, a fotografia ou filmagem de cena sexual implicará na configuração do crime previsto no artigo 240
do Código Penal. O crime é comum. Por ser plurissubsistente, é admissível a punição da tentativa. É
importante registrar que, se o agente divulga referido conteúdo (cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso),
ele incorre no crime previsto no artigo 218-C do Código Penal. Percebam que, curiosamente, a produção do
conteúdo recebe menor punição que a sua divulgação. O legislador considerou mais grave a divulgação da
cena, com a exposição dos envolvidos, do que a gravação, que pode ter fins privados. Atenção: há condutas
que se amoldam ao que preveem os artigos 240 e 241 do Estatuo da Criança e do Adolescente.

 Formas equiparadas: o parágrafo único do artigo 216-B prevê forma equiparada ao caput, incriminando
quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa
em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. Neste caso, a vítima não participa do ato
sexual, mas é incluída pelo agente, por meio de montagem, que pode ocorrer em fotografia, áudio ou
qualquer outro registro. O que se incrimina, portanto, é a realização de montagem, que significa a
adulteração da fotografia, do vídeo, do áudio ou qualquer outro registro. O tipo é doloso, exigindo o
elemento subjetivo especial do tipo, consistente no “fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual
ou libidinoso de caráter íntimo”. Entendo, assim, que o crime é formal, porque basta a finalidade de incluir
determinada pessoa. O crime é comum, instantâneo e plurissubsistente, sendo admissível o conatus.
DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL
O Capítulo II do Título VI da Parte Especial do Código trata dos crimes sexuais contra vulnerável.

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
O delito denominado de estupro de vulnerável está previsto no artigo 217-A do Código Penal. A ação nuclear
aqui é ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso. Neste tipo penal, não se pune a conduta de
constranger, nem se exige violência ou grave ameaça. A conduta punida, em si, é a prática sexual. O que
justifica a punição apenas pelo ato sexual ou libidinoso é a idade da vítima, que deve ser menor de 14 anos.
O legislador considera que a pessoa em tal idade, dado o seu desenvolvimento mental ainda incompleto,
não possui discernimento o suficiente para o consentimento com a prática sexual. Reafirmando-se a
configuração do delito independentemente do histórico sexual da vítima, bem como seu eventual
relacionamento ou desejo, já que a lei presume sua falta de discernimento para a prática do ato, a referida
Corte Superior editou o enunciado 593 da sua Súmula. Posteriormente, a Lei 13.718/2018 inseriu o § 5º, com
o seguinte teor: “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente
do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.”

 Forma equiparada: Pune-se a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Tanto na conduta do caput quanto na forma
equiparada do parágrafo primeiro, o crime é comum, não exigindo qualquer qualidade específica do sujeito
ativo. O sujeito passivo, por sua vez, deve ser menor de 14 anos de idade ou pessoa que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não possa oferecer resistência. O crime é doloso e plurissubsistente, admitindo a forma tentada,
chamada de conatus. O crime é material e de forma livre.

 Formas qualificadas: A primeira forma qualificada é que envolve o resultado lesão corporal de natureza
grave. Está prevista no parágrafo terceiro do artigo 217-A, cuja pena é de reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte)
anos. O resultado morte também qualifica o delito, passando a pena a ser de reclusão, de 12 (doze) a 30
(trinta) anos. É a previsão do parágrafo quarto do artigo 217-A do Código Penal. Ambos os resultados devem
ter sido praticados a título de culpa, sendo, portanto, figuras preterdolosas.

Corrupção de Menores

O crime de corrupção de menores está previsto no artigo 218 do Código penal. O núcleo do tipo é induzir, o
que pode ser traduzido como inspirar, provocar, incitar ou encorajar. A conduta também se volta a quem
possui menos de quatorze anos de idade. O induzimento se volta a que a vítima, que deve ser menor de 14
anos de idade, satisfaça a lascívia alheia, ou seja, os desejos eróticos, a sensualidade ou luxúria de outrem.
Surge, aqui, uma divergência. Guilherme de Souza Nucci entende que o crime de corrupção de menores, com
a superveniência da Lei 12.015/2009, passou a ser uma exceção à teoria monista, por punir de forma
diferente a participação, na modalidade de induzimento, no crime de estupro de vulnerável. Entretanto,
Cezar Bitencourt e Rogério Sanches Cunha entendem que não se trata de exceção à teoria monista, já que o
induzimento tratado no artigo 218 não se refere à conjunção carnal ou ato libidinoso diverso. Compreendem
que o induzimento deve ser para que o menor de 14 anos efetue atos diversos, como aqueles de natureza
meramente contemplativa, como se despir de forma sensual ou se vestir com alguma fantasia para satisfação
de determinada tara. O crime é comum, doloso, plurissubsistente e material

Satisfação de Lascívia Mediante Presença de Criança ou de Adolescente

O crime de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente está previsto no artigo 218-
A do Código Penal. O crime possui dois tipos alternativos:

• Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos de idade, conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem. O agente pratica a conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, sabendo da presença do menor, seja ela querida ou desejada. A prática da conduta na
presença do menor tem por finalidade a satisfação da lascívia própria ou de outra pessoa.
• Induzir alguém menor de 14 anos de idade a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a
fim de satisfazer lascívia própria ou alheia.Aqui, o núcleo do tipo é induzir, o que pode ser traduzido
como inspirar, provocar, incitar ou encorajar. O induzimento recai sobre menor de quatorze anos de
idade, para que ele presencie a conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Também se exige a
finalidade específica do agente de satisfazer sua própria lascívia ou a luxúria de outrem.

Em ambos os casos, o menor ou a menor de 14 anos apenas presencia o ato, sem dele participar ou sem
praticar nenhum ato libidinoso com o sujeito ativo. Caso participe, a conduta configura o crime de estupro
de vulnerável, e não de satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente. O crime é
comum, doloso, e plurissubsistente, admitindo a tentativa. A maioria da doutrina parece exigir presença
física do menor, não admitindo a “presença virtual”, como, por exemplo, que o menor visualize a cena sexual
por chamada de vídeo.

Favorecimento da Prostituição ou de Outra Forma de Exploração Sexual de Criança ou Adolescente ou de


Vulnerável

O crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente


ou de vulnerável está previsto no artigo 218-B do Código Penal. A conduta típica é submeter, induzir ou atrair
à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone. Portanto, a vítima é o menor de 18 anos ou a pessoa que, seja por motivo de enfermidade
ou de deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para a decisão de se prostituir ou de se
submeter a outra forma de exploração sexual. O sujeito passivo, inclusive, pode ser garota ou garoto de
programa, caso haja o impedimento ou de imposição de dificuldades para que deixe a prostituição ou outra
forma de exploração sexual. O crime é comum, doloso e admite-se a tentativa, razão pela qual o crime é
classificado como plurissubsistente. Por exigir resultado naturalístico para sua consumação, é tido como
delito material.

 Formas equiparadas: O parágrafo segundo do artigo 218-B prevê duas formas equiparadas ao caput: “I -
quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo.” É necessário que o menor de 18 anos e maior de
14 tenha sido submetido, induzido ou atraído à prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou que
tenha tal atividade facilitada ou, por fim, que tenha sido impedido ou tenha sido dificultado o seu intento de
deixar tais atividades. “II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo”. Parte considerável da doutrina entende ser inconstitucional tal
dispositivo, já que não prevê a conduta punível que seria praticada pelo proprietário, pelo gerente ou pelo
responsável pelo local em que ocorre o favorecimento de prostituição ou outra forma de exploração sexual
de vulnerável. Neste caso, o parágrafo terceiro do artigo 218-B prevê um efeito obrigatório da condenação,
que consiste na cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia

Inserido pela Lei 13.718/2018, o tipo penal previsto no caput é misto alternativo, com a previsão dos
seguintes núcleos: “oferecer”; “trocar”; transmitir; “vender”; “expor à venda”; “distribuir”; “publicar” e
“divulgar”. O crime é de forma livre, podendo ser praticado por qualquer meio, inclusive meio de
comunicação de massa, como televisão, ou sistema de informática ou telemática. A conduta típica pode se
dar por Whatsapp, aplicativo de comunicação, ou por qualquer rede social, por exemplo.

O objeto material pode ser:

• fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável. Qualquer registro, seja de fotografia, vídeo ou algum outro que seja audiovisual, com
cena de prática de crime de estupro ou de estupro de vulnerável. Dependendo do caso, pode se
configurar o crime do artigo 241-A do ECA, com pena mais gravosa, de 3 a 6 anos de reclusão e multa.
• fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que faça apologia ou induza à prática de estupro ou
de estupro de vulnerável. A conduta nuclear típica pode recair também sobre qualquer registro, seja
de fotografia, vídeo ou algum outro que seja audiovisual, em que haja elogio, enaltecimento ou
reverência à prática dos crimes previstos no artigo 213 ou no artigo 217-A do Código Penal.
• cena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consentimento da vítima. Aqui não há necessariamente
crime. Neste caso, o consentimento da vítima, se houver, exclui a tipicidade do delito.

O preceito secundário prevê a sanção penal de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui
crime mais grave. Cuida-se, portanto, de crime expressamente subsidiário. Entendo que o delito é formal,
por não exigir a efetiva lesão à vítima. Por se tratar de crime plurissubsistente, admite-se o conatus. Trata-
se de crime instantâneo, salvo na modalidade de “expor à venda”, em que entendemos que é permanente.
É, ainda, de forma livre e comum.

 Forma majorada: causa de aumento de pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime for praticado
por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança
ou humilhação. Também há a punição de forma majorada se houver a finalidade de vingança. O legislador,
portanto, em boa hora, pune a chamada revenge porn ou pornografia de vingança.

 Exclusão de ilicitude: Já o parágrafo segundo do artigo 218-C traz uma explicitação de uma causa
excludente do crime, em caso publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica.

 Disposições Gerais
Ação Penal: é pública incondicionada, desde a Lei 13.718/2019, nos casos dos “Dos Crimes Contra a
Liberdade Sexual” e “Dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável”. Em ambos os casos, a ação penal é pública
incondicionada, desde a alteração do Código Penal pela Lei 13.718/2019.

Aumento de pena: O artigo 226, I, prevê o aumento da quarta parte no caso de concurso de duas ou mais
pessoas. Podem ser utilizados no cômputo do número mínimo de agentes sujeito inimputáveis ou não
identificados durante a investigação policial e a instrução processual. Por sua vez, o inciso II prevê o aumento
de metade se o agente for ascendente, padrasto, madrasta, tio, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima, bem como se tiver autoridade sobre o sujeito passivo a qualquer outro título. A Lei
13.718/2018 trouxe causas de aumento de pena, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), especificamente para
o crime de estupro. Incidem no caso de estupro coletivo (praticado mediante concurso de dois ou mais
agentes) ou corretivo (para controlar o comportamento social ou sexual da vítima).

Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoas para Fim de Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual

Mediação para Servir à Lascívia de Outrem

O crime de mediação para servir à lascívia de outrem está previsto no artigo 227 do Código Penal. A ação
nuclear típica é de induzir, ou seja, inspirar, provocar, incitar ou encorajar. A conduta recai sobre qualquer
pessoa, não havendo limitação a determinadas vítimas. O induzimento se volta a que alguma pessoa satisfaça
a lascívia de outra pessoa. A doutrina denomina a figura de lenocínio ou de lenocínio principal, por consistir
em tipo penal de mediação para que se satisfaça a luxúria ou o desejo sexual de outra pessoa. Há, portanto,
três figuras: o agente, que induz; a vítima, que é induzida; e o destinatário ou consumidor, cuja lascívia o
agente quer ver satisfeita. O crime é comum, doloso e plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. A
doutrina considera tal crime como sendo material, por exigir a satisfação da lascívia ou da luxúria do terceiro,
sob um aspecto objetivo (não se deve perquirir se ele realmente se deu por satisfeito).

 Formas qualificadas: O crime será qualificado se a vítima for maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, ou se o agente for seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda. O parágrafo
segundo do artigo 227 também prevê forma qualificada do crime, caso haja o emprego de violência, grave
ameaça ou fraude.

 Crime mercenário: configura-se quando o agente possuir a finalidade especial de lucro, havendo, então,
a previsão de aplicação cumulativa de multa.

Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual

O crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual está previsto no artigo 228
do Código Penal. Induzir é inspirar, provocar, incitar ou encorajar. Atrair é trazer para si, suscitar, aliciar.
Facilitar é tonar mais fácil, facultar. Impedir (que a vítima abandone a prostituição ou outra forma de
exploração) é vedar, proibir, opor-se a. Dificultar (que a vítima abandone a prostituição ou outra forma de
exploração) é obstaculizar, é complicar, estorvar, tornar difícil. A conduta que se incrimina é a de induzir ou
atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, como a produção de vídeos pornográficos
ou o turismo sexual, tal qual o serviço de acompanhante. O crime bicomum. O crime é doloso, havendo
divergência sobre a necessidade de elemento subjetivo especial do tipo consistente na vontade específica
de se satisfazer a lascívia de outrem. Por ser plurissubsistente, admite o conatus. É classificado, ainda, como
material e de forma livre.

 Formas qualificadas: O crime será qualificado se o agente for seu ascendente, padrasto, madrasta, irmão,
enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por
lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. O parágrafo segundo do artigo 228 prevê
outra forma qualificada do crime, caso haja o emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

 Crime mercenário: configura-se se houver o intuito de lucro, havendo a aplicação cumulativa de multa.

Casa de Prostituição

O delito de casa de prostituição está previsto no artigo 229 do Código Penal. Manter, núcleo do tipo, é
conservar, sustentar, fazer com que permaneça em atividade. O tipo penal, com a reforma promovida pela
Lei 12.015/2009, deixou de se referir a “casa de prostituição ou lugar destinado a encontros libidinosos” para
“estabelecimento em que ocorra exploração sexual”. O estabelecimento pode ser mantido por contra
própria ou de terceiro, não estando excluído da norma penal incriminadora, deste modo, aquele que alegar
não ser o proprietário do local. Ademais, é indiferente o intuito de lucro ou a mediação direta do proprietário
ou gerente do estabelecimento. O crime é comum, doloso e comissivo. Exige-se uma reiteração de atos, ou
seja, uma habitualidade para a sua configuração. Logo, é classificado como crime habitual. Para a maioria da
doutrina, referida espécie de infração penal não admite a tentativa. Com reforma efetuada pela Lei
12.015/2009, surgiu a discussão sobre a exploração sexual exigir o aproveitamento, pelo responsável pelo
local, da prostituição alheia, tão somente, ou se é necessário que haja a efetiva exploração contra a vontade
dos prostitutos, prostitutas ou demais explorados.

Rufianismo

Está previsto no artigo 230 do Código Penal. A conduta típica é tirar proveito da prostituição alheia, ou seja,
lucrar direta ou indiretamente dela, auferir alguma vantagem, de uma das seguintes formas:

• Participando diretamente de seus lucros. É o chamado rufianismo direto. Ocorre, por exemplo,
quando o rufião ou a rufiona recebe uma porcentagem do valor cobrado pela prostituta ou pelo
michê. Ou:
• Fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça. Denomina-se rufianismo indireto.

A maior parte da doutrina entende que o consentimento da vítima é indiferente, pois a norma visa a coibir
a conduta de se aproveitar da prostituição alheia. Enquanto esta última atividade não é vedada, o
ordenamento jurídico não aceita que terceiros dela se beneficiem. O crime é comum e doloso, sendo que
apenas parte da doutrina entende necessário o especial fim de agir, consistente na satisfação da lascívia de
outrem. É habitual e, segundo a ampla maioria da doutrina, não admite a tentativa.

 Formas qualificadas: A forma qualificada do artigo 230, parágrafo primeiro, do Código Penal, prevê a
pena de reclusão, de 3 a 6 anos. Incide se a vítima for maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos,
ou se o agente for seu ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância. O parágrafo segundo do artigo 230 prevê outra forma qualificada do crime, caso haja
o emprego de violência, grave ameaça fraude ou qualquer outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação da vítima (fórmula que permite a interpretação analógica).

Promoção de migração ilegal

A Lei 13.445/2007 introduziu no Código Penal o artigo 232-A, cuja conduta típica é promover a entrada ilegal
de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro. Trata-se de crime comum e
doloso. Quanto ao chamado tipo subjetivo, não basta o dolo genérico, é imprescindível que haja o elemento
subjetivo especial do tipo, consistente na finalidade de obtenção de vantagem econômica. Portanto, o crime
é mercenário, ou seja, deve sempre possui o intuito de vantagem econômica. Com relação às condutas
anteriormente incriminadas na revogada Lei 6.815/80, o Estatuto do Estrangeiro, houve abolitio criminis em
relação a alguma delas. De todo modo, quanto à promoção de migração ilegal, percebe-se que o atual tipo
penal sempre exige motivação econômica, o que implica na atipicidade de condutas sem tal elemento, bem
como a abolitio criminis em relação aos fatos cometidos anteriormente sem tal intuito. O crime é forma e
plurissubsistente e, por isso, admite-se a forma tentada. O caput prevê a punição para o caso em que há
promoção, por qualquer meio (crime de forma livre), de entrada ilegal de estrangeiro em território nacional
ou de brasileiro em país estrangeiro. No parágrafo primeiro, que prevê a forma equiparada, pune-se a
promoção de saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.

 Forma majorada: incide a causa de aumento de pena, de um sexto a um terço, caso o crime seja cometido
com violência, ou seja, se a vítima for submetida a condição desumana ou degradante.

 Concurso de crimes: o parágrafo terceiro, por fim, dispõe que se deve aplicar a pena do crime de
promoção de migração ilegal sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas.

DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR


Denomina-se “Do Ultraje Público ao Puder” o Capítulo VI do Título VI da Parte Especial do Código Penal.

ATO OBSCENO
O delito de ato obsceno está previsto no artigo 233 do Código Penal. Praticar ato obsceno é realizar algo que
ofenda o pudor, é realizar um ato que viole o sentimento moral da sociedade, considerada de forma coletiva.
Cuida-se de ato praticado pelo agente, como de se masturbar em público, de modo que a doutrina exclui do
tipo a mera manifestação verbal, como a de proferir palavras de baixo calão ou frases eróticas. O ato deve
ter sido realizado em local público, aberto ao público ou exposto ao público. Se for feito na garagem da
própria residência do agente, mas com cercas baixas, que permitam a visualização dos vizinhos e de qualquer
um que por ali transite, a circunstância está presente. A micção em público, para parte da doutrina, não
configura o delito a depender das circunstâncias. O caso pode, inclusive, ensejar o reconhecimento do estado
de necessidade. O crime é comum. É doloso, sendo que há o entendimento, minoritário, sobre a necessidade
do elemento subjetivo especial do tipo, consistente na vontade de ofender o pudor de outrem. É
plurissubsistente, sendo possível a tentativa, de mera conduta, por sequer prever resultado naturalístico.
Há, entretanto, que o considere formal, entendendo que o resultado, desnecessário para a sua consumação,
seria o da efetiva ofensa ao pudor alheio. É delito de forma livre, não prevendo forma específica de execução.

Escrito ou Objeto Obsceno

O crime de escrito ou objeto obsceno está tipificado no artigo 234 do Código Penal. Cuida-se de tipo penal
misto ou de conduta variada, que se configura por meio das condutas de fazer, importar, exportar, adquirir
ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho,
pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno. O crime é comum, de forma livre, formal, comissivo, doloso
e plurissubsistente.

 Forma equiparadas: O parágrafo único do artigo 234 equipara à figura do caput a conduta de quem: I -
vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo; II - realiza, em
lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno,
ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; III - realiza, em lugar público ou acessível ao
público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.

Disposições Gerais: os arts, 234-A e 234-B se aplicam a todos os crimes contra a dignidade pessoal.

 Causa de aumento de pena: O artigo 234-A trata de forma majorada dos crimes contra a dignidade sexual.
O inciso III prevê o aumento de metade da pena se da conduta do agente resultar gravidez. Já o inciso IV
prevê a fração de aumento de um sexto até metade para o caso de o agente transmitir à vítima doença
sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

 Segredo de justiça: Já o artigo 234-B trata da questão do sigilo nos processos em que se apurem os crimes
contra a dignidade sexual.

DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA


“Dos Crimes Contra a Família” é a denominação do Título VII da Parte Especial do Código Penal.

Dos Crimes Contra o Casamento: Capítulo I do Título VII do Código Penal.

Bigamia

O crime de bigamia possui previsão no artigo 235 do Código Penal. A conduta incriminada é contrair novo
casamento, ou seja, o sujeito ativo já deve ser casado. É a conduta de casar-se de novo, quando na constância
de casamento anterior. O crime é próprio, dada a exigência de qualidade do sujeito ativo, qual seja o estado
civil de casado. É doloso. Há divergência se é possível a tentativa. No caso de declaração falsa de estado civil,
por ser considerada crime-fim, é absorvida pelo crime de bigamia, consoante determina o princípio da
consunção.

Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Impedimento


O delito de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento está previsto no art. 236 do Código
Penal. A conduta incriminada é contrair casamento, induzindo o outro contraente em erro essencial. Há
também outra figura alternativa, a de contrair casamento, ocultando do outro contraente impedimento,
desde que não seja casamento anterior. Isto porque a hipótese de contrair casamento na vigência de outra
sociedade conjugal configura o crime de bigamia. O artigo 236 é norma penal em branco, necessitando da
complementação do Código Civil, especialmente dos artigos 1.521 e 1.557, que tratam, respectivamente,
dos impedimentos matrimoniais e do erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. O crime é comum,
doloso, instantâneo, comissivo, material, sendo que tentativa é juridicamente impossível, em razão da
exigência de trânsito em julgado da ação que anule o casamento.

 Ação Penal: O parágrafo único do artigo 236 prevê que a queixa deve ser oferecida pelo contraente
enganado. Deste modo, cuida-se de hipótese, atualmente a única do Código Penal, de crime de ação penal
privada personalíssima, isto é, cuja queixa-crime só pode ser oferecida pela vítima e ninguém mais.

Conhecimento Prévio de Impedimento

O crime do artigo 237 do Código Penal é denominado de conhecimento prévio de impedimento. A conduta
incriminada é contrair casamento com o conhecimento prévio de impedimento, sendo norma penal em
branco, a ser complementada pelo artigo 1.521 do Código Civil. Envolve o conhecimento prévio de
impedimento, salvo ser o nubente casado. Isto porque, como já visto, há o tipo penal específico para o caso
de o impedimento ser casamento vigente, que é o de bigamia. É crime comum, podendo, inclusive, ser
praticado por ambos os nubentes em concursos. Classifica-se como material, consumando-se com a
realização do casamento. É possível a tentativa, sendo entendimento majoritário.

Simulação de Autoridade Para Celebrar Casamento

O crime de simulação de autoridade para celebrar casamento está tipificado no artigo 238 do Código Penal.
A conduta incriminada é atribuir-se falsamente autoridade para celebrar o casamento. Atribuir-se é intitular-
se, imputar-se. Comete o crime o sujeito que finge ser a autoridade que pode efetuar a celebração do
casamento. O crime é comum e doloso. Por se consumar em determinado momento, sem prolongamento
da fase de consumação, é classificado como instantâneo. Há divergência sobre a possibilidade de tentativa,
sendo que parte da doutrina entende admissível. O crime é expressamente subsidiário.

Simulação de Casamento

O delito de simulação de casamento possui guarida no artigo 239 do Código Penal. Simular, a ação nuclear
do tipo penal, é disfarçar, fingir, representar. A conduta incriminada é simular o casamento, enganando outra
pessoa. É elementar do tipo que um dos interessados na celebração, seja um dos nubentes ou seus
representantes legais, como no caso de terem consentido para a contração do casamento. Cezar Bitencourt
entende que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, enquanto Heleno Fragoso defende só poder cometer o
crime aquele que simula se casar, apesar de ser admitida a coautoria. A maioria da doutrina parece entender
que o crime só pode ser praticado se um dos nubentes estiver envolvido na simulação. O crime seria, então,
“simular casar-se”. O crime é instantâneo, plurissubsistente, admitindo a tentativa, e doloso.
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO
Registro de Nascimento Inexistente

O crime de registro de nascimento inexistente é tratado no artigo 241 do Código Repressivo. O tipo penal é
de promover, ou seja, causar, provocar, gerar, no registro civil, a inscrição de nascimento inexistente. O crime
é doloso, sem previsão de modalidade culposa. É comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo.
Não possui forma específica de execução, sendo classificado como de forma livre. É, ainda, classificado como
plurissubsistente e como instantâneo de efeitos permanentes.

Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido

O delito de parto suporto, supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido está
previsto no artigo 242 do Código Penal. É crime próprio na forma de parto suposto, ou seja, de “dar parto
alheio como próprio”, pois só a mulher pode cometê-lo. Nas outras modalidades, de supressão ou alteração
de direito inerente ao estado civil de recém-nascido, é crime comum. É crime material, doloso e
plurissubsistente. A primeira figura incriminada, pelo tipo penal de conduta variada do artigo 242 do CP, é a
de parto suposto, consistindo em dar a mulher parto alheio como próprio. Ela atribui para si a maternidade
de criança que não gerou. Ademais, há a modalidade de supressão ou alteração de direito inerente ao estado
civil de recém-nascido, que pode se configurar dos seguintes modos, desde que resulte na supressão ou
alteração de direito inerente ao estado civil:

• Registrar como seu o filho de outrem. Conduta conhecida como adoção à brasileira, significa tomar
o filho como seu sem respeito às normas sobre adoção.
• Ocultar recém-nascido. É a conduta de encobrir, sonegar. Basta que o agente não apresente o recém-
nascido nas primeiras horas após o parto, suprimindo ou alterando o direito dele em relação ao seu
estado civil.
• Substituir recém-nascido. É a conduta de trocar o recém-nascido, colocando um bebê no lugar do
outro.

Sonegação do Estado de Filiação

O crime de sonegação de estado de filiação está previsto no artigo 243 do Código Penal. A conduta
incriminada, aqui, é de deixar, abandonar ou largar filho próprio ou alheio, em asilo de expostos ou outra
instituição de assistência. Exige-se uma das formas de execução: o ocultamento da filiação ou a atribuição
da outra. O crime é doloso, exigindo, ainda, o elemento subjetivo especial do tipo, consistente na finalidade
específica de prejudicar direito inerente ao estado civil da vítima. É crime comum, salvo na hipótese de o
filho ser próprio “deixar em asilo ou outra instituição de assistência filho próprio”, caso em que só poderão
praticar o crime os seus genitores. Em se tratando de crime envolvendo filho alheio, qualquer pessoa pode
praticar. O crime é doloso, material, de forma livre e plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada.
DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
“Dos Crimes Contra a Assistência Familiar” é como se intitula o Capítulo III do Título VII do Código Penal.

Abandono Material

A figura do caput do art. 244 consiste em deixar de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de
18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos. A conduta pode se dar
por um dos seguintes meios de execução: não lhes proporcionando os recursos necessários; ou faltando ao
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Como forma alternativa, há
a tipificação da conduta de deixar de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. Em todas
as figuras do caput, há a previsão de que a conduta se dê sem justa causa. Ou seja, havendo justo motivo, o
crime não se configura. Todas as formas se referem à conduta de deixar de fazer algo, razão pela qual
consubstanciam formas omissivas próprias, tornando impossível a modalidade tentada. O parágrafo
primeiro prevê a forma equiparada, consistente em frustrar ou ilidir, de qualquer modo, inclusive por
abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada,
fixada ou majorada. Exige-se, aqui, que o sujeito ativo seja solvente, caso contrário sua conduta será atípica.
O crime é próprio, só podendo praticá-lo quem tem o dever de assistência, envolvendo os cônjuges,
genitores, ascendentes e descendentes. O Professor Cezar Bitencourt ensina que não é crime de conteúdo
variado. Assim, a prática de mais de um crime enseja que o agente responda por todos em concurso.

Entrega de Filho Menor a Pessoa Inidônea

O crime de entrega de filho menor a pessoa inidônea está previsto no artigo 245 do Código Penal. A conduta
incriminada é entregar, desencarregar-se, deixar sob guarda. Envolve filho menor de 18 anos, que, para a
configuração do crime, deve ser entregue a pessoa em cuja companhia o pai ou a mãe saiba que o menor
fica moral ou materialmente em perigo. É crime de perigo concreto, sendo necessária a demonstração de
que o filho ficou em risco. É próprio, só podendo cometê-lo os genitores. É doloso, instantâneo e
plurissubsistente.

 Forma qualificada: O parágrafo primeiro do artigo 245 prevê a modalidade qualificada, com pena de 1
(um) a 4 (quatro) anos de reclusão. Incide se o crime for mercenário, ou seja, se o agente pratica delito para
obter lucro. Também incide no caso de crime à distância, aquele cujo iter percorre mais de uma soberania,
já que o dispositivo prevê a forma qualificada no caso de o menor ser enviado para o exterior. O art. 245, §
2º, prevê que o crime será qualificado quando, embora excluído o perigo moral ou material, o agente auxilia
a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.

Abandono Intelectual

O crime de abandono intelectual possui previsão no art. 246 do Código Penal. O tipo penal prevê a conduta
de deixar de prover à instrução primária de filho em idade escolar. É exigida, para a configuração do crime,
a falta de justa causa. Cuida-se de crime omissivo próprio, já que a conduta é de “deixar de prover”, o que
impede a configuração da tentativa. O artigo 246 é norma penal em branco, necessitando de
complementação, que neste caso advém da Lei 9394/96, notadamente do seu artigo 6º e do caput do seu
artigo 32. É crime próprio, só podendo ser cometido pelos pais ou responsáveis. É doloso, sem previsão da
modalidade culposa. O crime é de forma livre.

Abandono Moral

O crime do artigo 247 do Código Penal, que não recebeu denominação legal, é chamado pela doutrina de
abandono moral. A conduta incriminada é permitir, autorizar, consentir, que o menor de 18 anos, que esteja
sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou
conviva com pessoa viciosa ou de má vida; frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o
pudor, ou participe de representação de igual natureza; resida ou trabalhe em casa de prostituição;
mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública. Cuida-se de crime comum, já que qualquer
pessoa pode cometê-lo, mesmo que possua o menor de idade em sua vigilância por apenas uma vez. É crime
doloso, sem previsão de punição a título de culpa. Não há forma específica para sua prática, sendo crime de
forma livre. Classifica-se como plurissubsistente, admitindo a tentativa se a permissão do sujeito ativo for
anterior (o menor pode tentar frequentar a casa de jogo, autorizado por seu avô, e seu pai impedi-lo a
tempo).

DOS CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA E CURATELA


Induzimento a Fuga, Entrega Arbitrária ou Sonegação de Incapazes

O crime de induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes está previsto no artigo 248 do
Código Penal. A ação nuclear típica, induzir, significa inspirar, provocar, incitar ou encorajar. A conduta
incriminada é induzir menor de 18 anos de idade ou interdito a fugir do local em que se acha por
determinação de quem sobre ele exerce a autoridade, em virtude de lei (exemplo, genitores) ou de ordem
judicial (exemplo: curador provisório). Também se incrimina a conduta de confiar (entregar aos cuidados,
incumbir) a outrem, sem ordem do pai, do tutor ou do curador, menor de dezoito anos ou interdito. Por fim,
a última figura típica é a deixar, sem justa causa, de entregar o menor de 18 anos a quem o legitimamente
reclame. Neste caso, deixar de entregar é não entregar, conduta omissiva. Deste modo, nesta modalidade o
crime é omissivo próprio, não admitindo a tentativa. É crime comum e formal, sendo que parte da doutrina
entende que é material na primeira figura. Cuida-se de crime doloso e plurissubjetivo, admitindo a tentativa
nas formas de induzimento a fuga e entrega arbitrária, mas não na modalidade de deixar de entregar.

Subtração de Incapazes

A subtração de incapazes possui relevância penal em virtude do que dispõe o artigo 249 do Código Penal. A
conduta incriminada é subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei (como os genitores) ou de ordem judicial (caso do tutor). Cuida-se de crime expressamente
subsidiário. O crime é comum, sendo que o parágrafo primeiro prevê que o agente pode ser o próprio pai ou
tutor do menor ou curador do interdito. Referidas pessoas podem praticar o delito se tiverem sido
destituídas ou temporariamente privadas do poder familiar, tutela, curatela ou guarda. É classificado, ainda,
como doloso, de forma livre e plurissubsistente, sendo, portanto, admissível a tentativa.
 Perdão Judicial: O parágrafo segundo do artigo 249 prevê a possibilidade de perdão judicial, como
estímulo para a devolução do menor ou da pessoa que sofreu interdição, desde que não tenha sofrido maus
tratos nem privações.

CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

DOS CRIMES DE PERIGO COMUM


Incêndio

O crime de incêndio está previsto no artigo 250 do Código Penal. A conduta típica é causar (provocar)
incêndio. Para a configuração do delito é imprescindível, ainda, que haja a exposição da vida, da integridade
física ou do patrimônio de outrem a perigo. O crime se classifica em comum. É de perigo concreto. É doloso,
sem exigência de elemento subjetivo do tipo, sendo que o parágrafo segundo prevê a modalidade culposa.
É plurissubsistente, admitindo a tentativa. Houve revogação parcial do artigo 250 com a superveniência da
Lei 9.605/98, em razão do que prevê o seu artigo 41. Deste modo, se o incêndio for praticado em mata ou
floresta, seja ele doloso ou culposo, o crime será o da Lei 9.605/98. Cumpre destacar, ainda, que o crime da
lei extravagante não exige a comprovação do perigo, sendo crime de perigo abstrato. Se o intuito do agente
não for expor a vida de um número indeterminado de pessoas a perigo, pode-se configurar o crime de perigo
para a vida ou a saúde de outrem, do artigo 132 do Código Penal.

 Modalidades majoradas: o parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis
ao crime de incêndio, com a fixação da fração de aumento em um terço da pena: I - se o crime é cometido
com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio; II - se o incêndio é: a) em casa
habitada ou destinada a habitação; b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência
social ou de cultura; c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação
ferroviária ou aeródromo; e) em estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou
inflamável; g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

 Incêndio Culposo: O parágrafo segundo do artigo 250 prevê a modalidade culposa do crime de incêndio.
Caso o elemento subjetivo seja a culpa em sentido estrito, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos.

Explosão

O crime de explosão está tipificado no artigo 251 do Código Penal. O núcleo do tipo penal é “expor” (deixar
ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. A execução pode se
dar por algum dos seguintes modos: explosão; arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou
de substância de efeitos análogos. O tipo penal não exige a efetiva explosão para a configuração do crime,
mas exige que haja o efetivo risco à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, é
classificado como crime de perigo concreto. É crime comum. É doloso, na figura do caput, sendo que o
parágrafo terceiro prevê a punição a título de culpa em sentido estrito. É plurissubsistente, admitindo a
tentativa.
 Modalidades majoradas. Incidem: I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária
em proveito próprio ou alheio. II - se o incêndio é: a) em casa habitada ou destinada a habitação; b) em
edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura; c) em embarcação,
aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; d) em estação ferroviária ou aeródromo; e) em
estaleiro, fábrica ou oficina; f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; g) em poço petrolífico
ou galeria de mineração; h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

 Modalidade culposa: A pena se diferencia, sendo de detenção, de 6 meses a 2 anos, se a explosão for de
dinamite ou substância de efeitos análogos, e, nos demais casos, de detenção, de 3 meses a 1 ano.

Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante

O crime de uso de gás tóxico ou asfixiante está previsto no artigo 252 do Código Penal. O tipo penal do crime
de uso de gás tóxico ou asfixiante é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física
ou o patrimônio de outrem. A execução pode se dar por meio de uso de gás tóxico ou uso de gás asfixiante.
Não é necessário que o gás seja letal, bastando que seja tóxico, isto é, que tenha potencial de produzir efeitos
nocivos ao organismo, que é venenoso, ou que seja asfixiante, tenha o efeito de asfixiar, de privar de
oxigênio. Exige-se o efetivo risco à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, o crime
deve ser classificado como de perigo concreto. É comum, doloso e admite a tentativa.

 Modalidade culposa: O parágrafo único prevê a punição a título de culpa em sentido estrito (negligência,
imprudência ou imperícia). Em tal caso, a pena é de detenção, de três meses a um ano.

Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ou Transporte de Explosivos ou Gás Tóxico, ou Asfixiante

O crime de fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico ou asfixiante
está tipificado no artigo 253 do CP. Fabricar significa produzir, manufaturar, transformar a partir da matéria-
prima, construir. Fornecer é abastecer, prover. Adquirir é tornar-se proprietário, apossar-se, tomar para si.
Transportar é levar de um local a outro, levar, carregar, conduzir. As ações nucleares típicas, que compõe o
tipo penal misto alternativo, devem recair sobre substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante
ou material destinado à sua fabricação. O tipo penal exige, ainda, o elemento normativo do tipo consistente
na conduta ser praticada “sem licença da autoridade”. Restou parcialmente revogado pela Lei 10.826/2003
(art. 16, parágrafo único). Entretanto, há condutas que ainda são tipificadas apelas pelo Código Penal, por
não estarem abrangidas pelo dispositivo da Lei 10.826/2003 acima transcrito. É que esta última apenas se
refere a artefato explosivo ou incendiário, enquanto o Código Penal tem previsão mais abrangente, ao
mencionar substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação.
O crime é comum, doloso e sua tentativa é de difícil configuração, segundo Cezar Bitencourt, sendo que, por
outro lado, Heleno Fragoso não a admite. A doutrina majoritária entende ser o crime de perigo abstrato.

Inundação

O artigo 254 do Código Penal traz o crime de inundação, com a seguinte disposição. A ação nuclear típica é
causar, que significa provocar, motivar, dar causa a. A conduta incriminada é dar causa a inundação, que é
um grande alagamento ou um grande fluxo de água. Exige-se que haja a exposição a perigo da vida, da
integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva o crime a ser classificado como de perigo concreto,
ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é necessária para a sua configuração. Na forma dolosa,
a pena é de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa, sem exigência de elemento subjetivo especial. É crime comum.
É plurissubsistente, admitindo o conatus. É crime comissivo (ressalvada a possibilidade de ser omissivo
impróprio, se houver a figura do garante).

 Modalidade culposa: O preceito secundário do artigo 254 prevê a modalidade culposa, ao mencionar que
a pena será de detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.

Perigo de Inundação

O crime de perigo de inundação tem lugar no artigo 255 do Código Penal. O tipo penal é misto alternativo,
ou seja, prevê mais de uma conduta típica, sendo que basta uma delas para a configuração do crime, ao
tempo em que a prática de mais de uma delas enseja a punição por um único crime. Os núcleos do tipo são
“remover”, “destruir” e “inutilizar”. As condutas se volvam a obstáculo natural ou obra destinada a impedir
inundação. Portanto, configura-se o crime no caso de remoção, destruição ou inutilização de diques,
barragens, comportas, ou mesmo obstáculos naturais, como pode ser uma formação rochosa que impede
que a água de um rio atinja um vale, onde haja uma comunidade de moradores tradicionais. O tipo penal
exige que haja a exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outra pessoa ou de
outras pessoas. Com essa exigência de efetivo risco a um dos bens jurídicos tutelados pela norma, o crime é
de perigo concreto. O crime é comum, sendo que até o proprietário da barragem, por exemplo, pode
cometer o crime, se da sua conduta sobrevier a exposição da vida de alguém a perigo. É doloso e, apesar de
haver controvérsia, parte da doutrina entende admissível a tentativa.

Desabamento ou Desmoronamento

O artigo 256 do Código Penal trata do crime de desabamento ou desmoronamento. Causar, o núcleo do tipo,
é provocar, motivar, dar causa a. O tipo penal é causar desabamento ou desmoronamento. Exige-se que haja
a efetiva exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva o crime a
ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é necessária
para a sua configuração. Desmoronamento, conforme ensina a doutrina, refere-se à queda, a fazer vir abaixo
uma quantidade considerável de rocha ou solo. Já o desabamento se refere a uma queda ou de fazer vir ao
chão uma parte de uma edificação ou toda ela. É um crime comum, que pode ter como sujeito ativo qualquer
pessoa. O caput prevê a forma dolosa, em que não se exige finalidade específica do agente. É
plurissubsistente, sendo possível o conatus, ou seja, a modalidade tentada.

 Modalidade culposa: O parágrafo único do artigo 256 prevê a modalidade culposa do crime de
desabamento ou desmoronamento, com pena de detenção, de seis meses a um ano.

Subtração, Ocultação ou Inutilização de Material de Salvamento

O artigo 257 trata de um crime com nomen iuris de subtração, ocultação ou inutilização de material de
salvamento. Subtrair é assenhorear-se, apropriar-se, surrupiar. Ocultar é esconder, encobrir, sonegar.
Inutilizar é tornar inútil, danificar. O tipo penal, que é misto alternativo, conta com os três núcleos. A conduta
de subtração, ocultação ou inutilização recai sobre material ou qualquer meio destinado a serviço de
combate ao perigo, de socorro ou salvamento. Há, ainda, a figura de impedir ou dificultar serviço de combate
ao perigo, socorro ou salvamento. Em todos os casos, deve haver a seguinte circunstância: ocasião de
incêndio, inundação, naufrágio ou outro desastre (como um desmoronamento, por exemplo) ou calamidade
(como a pandemia de COVID19). Este tipo penal não exige a demonstração do perigo concreto a um bem
jurídico, presumindo-o em virtude das circunstâncias, de modo que o crime é de perigo abstrato. O crime é
comum, doloso e, por ser fracionável a conduta típica, admite a modalidade tentada.

Formas “Qualificadas” de Crime de Perigo Comum: O artigo 258 do Código Penal trata de formas majoradas
dos crimes de perigo comum:

 Majorante nos crimes dolosos: Se houver resultado de lesão corporal de natureza grave em crime doloso
de perigo comum, a pena deve ser aumenta de metade. Se o resultado for morte, a pena deve ser aplicada
em dobro. Ambas as figuras são preterdolosas.

 Majorantes nos crimes culposos: Se o crime de perigo comum for culposo e dele resultar lesão corporal
(aqui não se exige que seja grave, como no caso dos crimes dolosos), a pena deve ser aumentada de metade.
Caso o resultado seja a morte, deve-se aplicar a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço.

Difusão de Doença ou Praga

O crime de difusão de doença ou praga está previsto, formalmente, no artigo 259 do CP. Entretanto, houve
sua revogação tácita pela superveniência da Lei 9.605/98, em razão do disposto no seu artigo 61. Assim
preleciona a doutrina, como o jurista Luiz Regis Prado. Com a revogação tácita, não há mais a modalidade
culposa do crime.

DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA


Epidemia

O crime de epidemia está previsto no artigo 267 do Código Penal. O núcleo do tipo é causar, que significa
provocar, ser a causa de, motivar. Penaliza-se a conduta de causar epidemia, mediante a propagação de
germes patogênicos. Epidemia é um surto de doença, atacando um grande número de pessoas em uma
determinada região, mas de forma transitória. O crime é de forma vinculada, sendo que, para sua
configuração, a epidemia deve ser causada mediante a propagação (disseminação) de germes patogênicos,
ou seja, de microorganismos que transmitem doenças. Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa, sendo o crime
comum. O caput prevê a modalidade culposa. Se houver elemento subjetivo do tipo, consistente na intenção
de matar (animus necandi), o crime será o de homicídio. Caso a intenção seja transmitir a moléstia a pessoa
determinada ou a pessoas determinadas, pode-se configurar o crime de perigo de contágio de moléstia
grave. O crime é plurissubsistente, admitindo a tentativa.

 Forma qualificada: O parágrafo primeiro do artigo 267 prevê que a pena passa a ser de reclusão, de dez
a quinze anos, se do fato resultar morte. Cuida-se de figura preterdolosa. Caso haja o resultado morte e o
elemento subjetivo seja o dolo, o crime é hediondo, como prevê o artigo 1º, inciso VII, da Lei 8.072/90.

 Modalidades culposa e culposa qualificada pelo resultado: a pena é a de detenção, de um a dois anos.
Havendo resultado morte e sendo o delito culposo, a pena passa a ser de detenção, de dois a quatro anos.
Infração de Medida Sanitária Preventiva

O crime de infração de medida sanitária preventiva está previsto no artigo 268 do Código Penal. “Infringir”
é a ação nuclear típica, significando desobedecer, desrespeitar, violar. A conduta incriminada é infringir
determinação do poder público, destinada a impedir (obstruir, não permitir) a introdução ou a propagação
de doença contagiosa. O crime de infração de medida sanitária está previsto em norma penal em branco,
por fazer referência à determinação do poder público. O termo é abrangente, incluindo leis, decretos,
portarias e regulamentos, dentre outros. É crime comum, sendo que a qualidade especial do sujeito ativo
pode torná-lo majorado, nos termos do parágrafo único do artigo 268. É plurissubsistente, possibilitando a
punição da forma tentada. É formal, doloso, de forma livre, comissivo e de perigo abstrato.

 Forma majorada: Incide o aumento de um terço se o agente possuir uma das seguintes condições pessoas:
se for funcionário da saúde pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.

Omissão de Notificação de Doença

O crime de omissão de notificação de doença está previsto no artigo 269 do Código Penal. A conduta
incriminada é deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. O crime,
portanto, é omissivo próprio, pois prevê como ação típica um não fazer. O médico deve denunciar, aqui no
sentido de comunicar ou informar, doença cuja notificação seja compulsória. A norma penal é classificada
como em branco, por depender de complementação normativa. Caso haja prazo para a notificação, o crime
se consumará com a expiração do prazo. Se não houver prazo, dependerá das circunstâncias, como no caso
de o médico arquivar o prontuário, sem proceder à notificação. É crime próprio, pois só pode praticá-lo o
médico. Seu elemento subjetivo é dolo, sem exigência de intuito específico do agente. Por ser omissivo puro,
não admite a tentativa. É formal e instantâneo.

Envenenamento de Água Potável ou de Substância Alimentícia ou Medicinal

O envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal possui previsão no artigo 270
do Código Penal. A infração penal apresenta como ação nuclear típica o verbo “envenenar”, que significa
administrar ou colocar veneno. Veneno, por sua vez, é a substância nociva ao organismo humano, aquela
que pode destruir suas funções vitais. O tipo é envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou
substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. O crime é comum, doloso, formal, instantâneo e
plurissubsistente. Neste ponto, cumpre destacar que Luiz Regis Prado e Rogério Sanches Cunha defendem
ter havido a revogação parcial (derrogação) do artigo 270 no que se refere à água potável, de uso comum ou
particular, em razão do artigo 54 da Lei 9.605/98. Entretanto, a posição não é compartilhada por toda a
doutrina, apesar de possuir argumentos sólidos, já que poluir envolve a conduta de envenenar.

 Modalidade equiparada: Incorre na mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o
fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Na modalidade de ter em depósito, o crime é
permanente. Entretanto, também aqui os autores acima mencionados defendem ter havido a revogação
pela Lei 9.605/98, em razão do que dispõe seu artigo 56.

 Modalidade culposa: O parágrafo segundo do artigo 270 prevê a modalidade culposa, determinando a
aplicação da pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Corrupção ou Poluição de Água Potável

Formalmente, há a previsão do crime de corrupção ou poluição de água potável no artigo 271 do Código
Penal. Entretanto, neste caso a doutrina e jurisprudência apontam para a revogação total (ab-rogação) do
dispositivo, de forma tácita, em razão de a matéria estar regulada pelo artigo 54 da Lei 9.605/98.

Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Substância ou Produtos Alimentícios

O crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtor alimentícios está


previsto no artigo 272. O tipo penal é misto alternativo, possuindo os seguintes núcleos: “corromper”
(estragar, deteriorar); “adulterar” (introduzir modificação para pior, deturpar, defraudar); “falsificar”
(contrafazer, dar como verdadeiro o que não é, fazer passar o falso por verdadeiro) ou alterar (modificar,
mudar, transformar). A conduta incriminada é corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou
produto alimentício. É necessário, ainda, que haja o seguinte resultado: que a substância ou produto
alimentício se torne nocivo à saúde ou que haja redução do seu valor nutritivo. O parágrafo 1º-A prevê a
primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas penas quem fabrica (manufatura,
produz), vende (aliena, comercializa, negocia por um preço), expõe à venda (mostre ou exibe para a
negociação, a venda), importa (traz do exterior), tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de
qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo a substância alimentícia ou o
produto falsificado, corrompido ou adulterado. O parágrafo primeiro também prevê modalidade equiparada,
determinado a sujeição às mesmas penas de quem pratica as ações previstas no tipo penal do caput em
relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. Há, portanto, um alargamento do rol dos objetos materiais do
crime. É doloso, na forma do caput e dos §§ 1º-A e 1º, sem necessidade de elemento subjetivo especial do
injusto. É crime comum, plurissubsistente e de forma livre, além de ser classificado como de perigo abstrato.
Recomenda-se considerar o crime formal em todas as formas, conforme entendimento que prevalece.

 Modalidade culposa: o parágrafo segundo do artigo 272: pena de detenção, de 1 a 2 anos, e multa.

Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Substância ou Produto Destinado a Fins Terapêuticos


ou Medicinais

O delito de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou


medicinais está previsto no artigo 273 do Código Penal. O artigo 273 traz um tipo penal misto alternativo,
cujos núcleos do tipo são “falsificar”; “corromper”; “adulterar” ou “alterar”. O parágrafo primeiro prevê a
primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas penas quem importa; vende; expõe
à venda; tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto
falsificado, corrompido ou adulterado. O parágrafo 1º-A aumenta o objeto material do crime, estendendo-
o para os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes (como
álcool em gel) e os de uso em diagnóstico. Além disso, há maior ampliação na abrangência do crime em
estudo, com a introdução do parágrafo 1º-B, que determina a punição de quem pratica qualquer das
condutas previstas no parágrafo primeiro (importar, vender, expor à venda, distribuir ou entregar a
consumo) em relação a produtos nas seguintes condições:
• sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
• em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
• sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
• com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
• de procedência ignorada;
• adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.

O objeto material mencionado no caput é produto destinado a fins farmacêuticos ou medicinais, ou seja,
aqueles que buscam o tratamento ou a cura do seu consumidor, do seu usuário. O crime é comum, além de
ser de perigo abstrato, conforme entendimento majoritário. É instantâneo, formal e unissubjetivo, além de
ser plurissubsistente, admitindo a tentativa. Conforme prevê o artigo 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90, o crime
de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
é hediondo em todas as suas modalidades, salvo a culposa (prevista no seu parágrafo segundo). O Superior
Tribunal de Justiça, por meio de sua Corte Especial, declarou a inconstitucionalidade do preceito secundário
do artigo 273, § 1º-B, V, do CP, por violação da proporcionalidade.

Emprego de Processo Proibido ou de Substância não Permitida

O crime de emprego de processo proibido ou de substância não permitida está localizado no artigo 274 do
CP. Empregar é usar, utilizar. Fabrico é a fabricação, processo de transformação. A conduta incriminada é
empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação, matéria corante,
substância aromática, antisséptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela
legislação sanitária. O crime se configura se qualquer das substâncias empregadas não for expressamente
permitida pela legislação sanitária, o que faz do artigo 274 uma norma penal em branco. A lista é
exemplificativa, pois termina com uma fórmula de interpretação analógica muita ampla: “qualquer outra”.
Obviamente, toda e qualquer substância, esteja no rol (matéria corante, por exemplo) ou não (como o
fermento) não podem estar autorizadas expressamente pela legislação sanitária, ou o crime não se
configurará. Qualquer pessoa pode praticar o crime em comento, sendo comum. É de perigo abstrato, já que
a lei não exige a sua demonstração no caso concreto. É doloso, sem previsão de modalidade dolosa. Por fim,
sua conduta é fracionável, sendo plurissubsistente e admitindo a tentativa.

Invólucro ou Recipiente com Falsa Indicação

O crime de invólucro ou recipiente com falsa indicação está previsto no artigo 275 do CP. “Inculcar” é a
ação nuclear típica, que significa gravar, imprimir. A conduta incriminada é inculcar em invólucro (o que
envolve o produto, como o rótulo) ou recipiente (a embalagem do produto, como a caixa ou a lata) de
produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu
conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada. O crime é comum, pois qualquer
pessoa pode praticá-lo; é doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial nem previsão de
modalidade culposa; e é plurissubsistente, sendo possível a tentativa.
Produto ou Substância nas Condições dos Dois Artigos Anteriores

O delito de produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores tem previsão no artigo 276 do
Estatuto Repressivo. A conduta incriminada é vender; expor à venda; ter em depósito para vender ou, de
qualquer forma, entregar a consumo produto nas condições dos artigos 274 e 275. O tipo penal, que é misto
alternativo, constitui norma penal em branco, fazendo referência a produto nas condições dos artigos 274 e
275: com emprego de qualquer ou ingrediente substância não expressamente permitido pela legislação
sanitária; ou com inculcação, em seu invólucro ou recipiente, a existência de substância que não se encontra
em seu conteúdo ou que nele exista em quantidade menor que a mencionada. O crime é comum, doloso e
plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Substância Destinada à Falsificação

O tipo penal é misto alternativo, sendo seus núcleos: vender; ter em depósito ou ceder. A conduta
incriminada é vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de
produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais. Percebam que, neste caso, pune-se conduta que seria
mera fase de preparação de outros crimes contra a saúde pública. O legislador, entretanto, optou por punir
tal conduta de forma autônoma, tipificando o que seria mero ato preparatório de outro delito e, portanto,
que seria um indiferente penal. O crime é doloso, sendo que grande parte da doutrina defende a necessidade
da finalidade especial do agente, consistente na falsificação de produtos. É comum, plurissubsistente, sendo
admissível a tentativa, apesar de ser difícil a sua ocorrência.

Outras substâncias Nocivas à Saúde Pública

O artigo 278 do Código Penal prevê o crime chamado de outras substâncias nocivas à saúde pública. São
núcleos do tipo: fabricar, vender; expor à venda; ter em depósito para vender ou entregar a consumo o
produto coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou fim medicinal. O
crime pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É doloso na forma do caput, sem exigência de
elemento subjetivo especial do tipo, salvo na modalidade de ter em depósito, que se liga ao intuito de
vender. O parágrafo único prevê modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É delito de
perigo abstrato.

 Modalidade culposa: pena de detenção, de dois meses a um ano.

Medicamento em Desacordo com Receita Médica

O artigo 280 prevê o crime de medicamento em desacordo com receita médica. Fornecer é abastecer, prover.
A conduta típica, portanto, é fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica. A doutrina
aponta cometer o crime o servidor do hospital, o prático ou farmacêutico que fornecerem medicamento fora
do descrito pelo médico, que acompanha o paciente e tem a formação técnica para prescrevê-lo. Cezar
Bitencourt entende que, se o farmacêutico, que tem conhecimento técnico sobre os medicamentos,
entender que a prescrição foi equivocada, deve entrar em contato com o médico que o prescreveu para a
eventual substituição da receita, e não substituir por conta própria, o que configuraria o crime. Há quem
entenda que há o crime ainda que o medicamento dado em substituição seja melhor ou de igual qualidade,
havendo entendimento em sentido contrário. O crime é comum e de perigo abstrato. O caput prevê forma
dolosa, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
 Modalidade culposa: de detenção, de dois meses a um ano.

Exercício Ilegal da Medicina, Arte Dentária ou Farmacêutica

O crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica tem previsão no artigo 282 do
CP. O artigo 282 do Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) a profissão
de médico, dentista ou farmacêutico sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites. O crime se
configura ainda que o exercício se dê a título gratuito. São duas as figuras típicas, portanto:

• Exercer a profissão de médico, dentista ou farmacêutico sem autorização legal. O sujeito ativo não
tem a formação necessária ou não possui inscrição no conselho profissional.
• Exercer os limites da profissão de médico, dentista ou farmacêutico. Nesta modalidade, o agente
possui a formação e a inscrição regular, mas se excede. Os limites de cada profissão estão previstos
na legislação que regulamente seu exercício. Portanto, cuida-se de norma penal em branco.

O crime é comum na conduta de exercer, podendo ser praticado por qualquer pessoa, e próprio na
modalidade de exceder os limites da profissão, quando só pode ser cometido por médico, dentista ou
farmacêutico. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial. Se houver o intuito de lucro, há
aplicação cumulativa de multa. É crime habitual, razão pela qual não se admite a tentativa. Há divergência
sobre o estado de necessidade, em razão da habitualidade exigida. Existe o entendimento de que se
configuraria se não houve profissional na região, com pessoas necessitando de atendimento urgente. O STJ
já decidiu não se configurar o crime no caso de acupuntura, dada a ausência de regulamentação da profissão.

 Crime mercenário: havendo o intuito de lucro, deve haver a aplicação cumulativa da pena de multa.

Charlatanismo

O artigo 283 do CP tipifica o charlatanismo. Inculcar é imprimir algo no espírito de outrem, é repetir
seguidamente. Anunciar é dar publicidade, comunicar. O tipo penal, misto alternativo, é inculcar ou anunciar
cura por meio secreto ou infalível. Basta um ato para sua configuração, sendo que a tentativa é admissível,
pela possibilidade de seu fracionamento (crime plurissubsistente). Entretanto, cumpre registrar que Cezar
Bitencourt entende ser o crime habitual. Não é necessário o efetivo convencimento de alguma vítima para
sua configuração, sendo o crime de perigo abstrato. É crime comum, doloso e formal.

Curandeirismo

O artigo 284 traz o último dos crimes contra a saúde pública do Código, o de curandeirismo. O artigo 282 do
Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) o curandeirismo (que seria o exercício da
arte de curar por métodos não científicos, grosseiros, sem a devida autorização legal). O crime, de forma
vinculada, pode ser praticado de um dos seguintes modos:
• Prescrevendo (receitando), ministrando (dando, fornecendo) ou aplicando (injetando, utilizando,
empregado), habitualmente, qualquer substância. O agente pode se utilizar de qualquer substância,
seja ela farmacêutica, produto medicinal não autorizado ou mesmo produto sem finalidade
farmacêutica, como sangue de animais;
• Usando (utilizando, fazendo uso de) gestos, palavras ou qualquer outro meio. Crimina-se, inclusive,
o sujeito que diz curar por massagens, toque das mãos ou rituais de gesticulação. Aqui se torna mais
nítida a questão da fé, que não deve ser incluída no âmbito de abrangência de norma penal
incriminadora, salvo se exceder os limites religiosos para a promessa de cura milagrosa, como
anúncio de método de cura que busca substituir a medicina e trazer risco à saúde pública. Claro que
os limites são tênues e complicados. O juiz deve analisar na prática.
• Fazendo diagnósticos (realizando a constatação de doenças e enfermidades, é a atividade de
identificação de problemas de saúde).

O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sem exigência de elemento
subjetivo especial do tipo. É crime formal, não exigindo resultado naturalístico para a sua consumação. Por
ser crime habitual, ou seja, aquele que exige uma reiteração de atos para a sua configuração, não se admite
a tentativa. O Superior Tribunal de Justiça já entendeu cabível o concurso entre o crime de curandeirismo e

o de exercício ilegal de arte farmacêutica.

 Crime mercenário: sendo praticado mediante remuneração, há a aplicação cumulativa da pena de multa.

Forma “Qualificada”

O artigo 285 se denomina forma qualificada, fazendo remissão ao artigo 258 para determinar sua aplicação
aos crimes contra a saúde pública. Vale lembrar que o artigo 258 prevê, na verdade, causas de aumento de
pena. Entretanto, o artigo 285 ressalva o disposto no artigo 267 do Código Penal. Ou seja, não se aplicam as
suas disposições ao crime de epidemia, que já possui causa de aumento de pena e modalidade culposa
qualificada.
CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA E CONTRA A FÉ PÚBLICA

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


Incitação ao crime

A infração penal denominada de incitação ao crime possui previsão no artigo 286 do Código Penal. O núcleo
do tipo é “incitar”, que significa estimular, encorajar, incentivar. A conduta incriminada é incitar,
publicamente, a prática de crime. Como elementar do tipo, exige-se que a conduta se dê publicamente, ou
seja, na presença de várias pessoas. Notem que o tipo penal não abrange a contravenção penal. Em se
tratando de lei penal incriminadora, não se admite a extensão de sua abrangência para que se puna também
a incitação à prática de contravenção penal, sob pena de se admitir analogia in malam partem. O crime é
comum. É doloso, não se exigindo elemento subjetivo especial. Não há previsão de modalidade culposa. É
plurissubsistente, admitindo a tentativa, salvo se praticado oralmente. Cuida-se de crime de perigo abstrato.
O STJ já decidiu que o fato de a incitação ao crime ter sido praticada por meio da Internet não atrai a
competência da Justiça Federal.

Apologia de Crime ou Criminoso

O crime de apologia de crime ou criminoso está tipificado no artigo 287 do Código Penal. Fazer apologia é
enaltecer, elogiar, exaltar. A conduta incriminada é fazer, de forma pública, apologia de fato criminoso ou
de autor de crime. Exige-se que a conduta se refira a um fato criminoso ou a autor de crime. O tipo não
abrange apologia de contravenção penal nem apologia de contraventor. O tipo exige que a conduta seja
realizada publicamente, ou seja, presenciada por um número indeterminado de pessoas ou de forma a que
a mensagem possa chegar a um número indeterminado de indivíduos. O crime é comum. É crime de forma
livre, devendo apenas ser praticado em público. É crime plurissubsistente, admitindo a tentativa, exceto na
forma oral. Há divergência na doutrina se é necessário ou não o trânsito em julgado de sentença
condenatória do autor do crime a que se fez referência. O STF já decidiu que a manifestação pela liberação
de substâncias entorpecentes conhecida como “Marcha da Maconha” não configura o delito de apologia de
crime ou criminoso, por ser expressão do direito de reunião e da livre expressão de pensamento.

Associação Criminosa

O crime de associação criminosa está previsto no artigo 288 do Código Penal. A atual redação do dispositivo
foi dada pela Lei 12.850/2013, que trocou seu nomen iuris de quadrilha ou bando para associação criminosa.
Percebam que não há grande diferença prática, salvo no que se refere ao número mínimo de agentes (antes
eram necessários mais de três, agora três ou mais). Além disso, houve a alteração da causa de aumento de
pena, que era de aplicação da pena em dobro quando a quadrilha ou bando fosse armado, sendo que agora
incide a majorante de até metade da pena para o caso de haver participação de criança ou adolescente ou
de associação criminosa ser armada. Fora isso, houve alteração apenas de nomenclatura, sendo que parte
da doutrina diferenciava a quadrilha do bando ao destacar que o primeiro atuaria na zona urbana, enquanto
o segundo se voltaria à prática de crimes na zona rural. Voltando ao delito na forma prevista atualmente, o
núcleo do tipo é “associarem-se”, que se significa reunirem-se, agregarem-se. A conduta incriminada é
associarem-se, três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. A associação criminosa é
infração penal classificada como sendo de concurso necessário ou plurissubbjetiva. Isto porque se exigem
três ou mais pessoas para a configuração do crime. O tipo penal é doloso, exigindo o elemento subjetivo
especial do injusto, consistente no intuito de praticar crimes. Não se pode fazer analogia in malam partem
para incluir na norma o intuito de praticar contravenções penais. É imprescindível que haja a associação para
a prática de crimes, e não a mera reunião de pessoas para o cometimento de um delito e voltada diretamente
para a sua execução. A associação deve preceder o cometimento do(s) crime(s) para a sua consumação. O
crime é autônomo, não se exigindo que haja o efetivo cometimento de crimes pelos agentes. O crime,
portanto, é de perigo abstrato. Quanto à desnecessidade de efetiva prática de crimes para a configuração
do delito previsto no artigo 288 do CP, o STF decidiu que o delito de quadrilha subsiste autonomamente,
ainda que os crimes para os quais foi organizado o bando sequer venham a ser cometidos. Cuida-se de crime
permanente, comum, doloso e crime plurissubjetivo ou de concurso necessário. Não se admite a tentativa.

 Forma majorada: O parágrafo único do artigo 288 prevê que a pena deve ser aumentada até a metade
se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. O STJ tem entendido ser
suficiente, para a incidência da majorante, que um dos agentes porte a arma. O Supremo Tribunal Federal
possui julgado no mesmo sentido, ainda se referindo ao crime de quadrilha (antigo nomen iuris ou
denominação do crime do artigo 288 do Código Penal).

 Qualificadora do crime de associação criminosa: Artigo 8º, caput, da Lei 8.072/90.

 Delação premiada: O parágrafo único do artigo 8º da Lei 8.072/90.

 Acordo de Leniência: Art. 87 da Lei 12.529/2011, em seu artigo 87. Havendo a celebração de tal acordo,
o prazo prescricional do crime do art. 288 fica suspenso e fica impedido o oferecimento de denúncia.
Cumprido o acordo, o parágrafo único do artigo 87 prevê a extinção da punibilidade.

 Modalidade especial: associação para o tráfico de drogas: Art. 35 da Lei 11.343/2006.

Constituição de Milícia Privada

O crime de constituição de milícia privada está previsto no artigo 288-A do Código Penal. Referido delito foi
acrescentado pela Lei 12.720, de 27 de setembro de 2012. Possui como ações nucleares os seguintes verbos:
constituir; organizar; integrar; manter e custear. Cuida-se de tipo penal misto alternativo. A conduta
incriminada é constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal. Há crítica
doutrinária, como do professor Cezar Bitencourt, sobre a não definição do que constituem a organização
paramilitar, a milícia particular, o grupo e o esquadrão. Percebe-se, portanto, que o intuito do legislador era
abranger qualquer reunião de pessoas que constituam uma milícia privada, ou seja, uma organização armada
que atue de forma paralela, além de ilicitamente, com as instituições militares do Estado. O crime é comum.
É plurissubjetivo, exigindo o concurso de pessoas para sua configuração. Surge a dúvida, qual o número
mínimo de pessoas necessárias para a prática do crime de constituição de milícia privada? Há dois
entendimentos: O número de agentes deve ser o mesmo da associação criminosa ou que o parâmetro o da
organização criminosa, consistente em, no mínimo, quatro pessoas. O crime é comum, de concurso
necessário e permanente, não admitindo a tentativa. Além disso, configura-se independentemente da
efetiva prática de algum crime pela organização. O crime é doloso, exigindo o elemento subjetivo especial
do tipo, consistente no intuito de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal. Tal qual no crime
de associação criminosa, o intuito de praticar crimes previstos no Código Penal envolve as infrações criminais
dolosas. O crime dispensa a divisão de tarefas. É possível que haja, por exemplo, no caso de organização
paramilitar. Não se exige, ainda, a finalidade de obtenção de vantagem de qualquer natureza. É comum a
finalidade de obtenção da vantagem, mas, caso não haja, a configuração do crime não fica afastada por isso.

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA


Da Moeda Falsa
Moeda Falsa

O crime de moeda falsa está previsto no artigo 289 do Código Penal. O núcleo do tipo é falsificar, que significa
adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A conduta incriminada é falsificar, fabricando-a
ou adulterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro. A ação nuclear
típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:

• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.


• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.

A conduta recai sobre moeda metálica, ou papel-moeda de curso legal no país ou no exterior. Para a
configuração do crime, é imprescindível que a falsificação seja capaz de enganar, ou seja, de fazer a moeda
falsa se passar por verdadeira. O material falsificado deve apresentar imitativo veri, ou seja, ter a aparência
da moeda verdadeira, sob pena de não se configurar o crime do artigo 289 do Código Penal. Entretanto, caso
a falsificação seja grosseira, é possível que a conduta do agente, se ele buscar uma vantagem indevida,
configura o crime de estelionato, tal qual consigna o enunciado número 73 do STJ. O crime é comum,
podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sendo que a maioria da doutrina não exige elemento
subjetivo especial do tipo. É crime plurissubsistente, admitindo a tentativa. Vale consignar que se o agente
falsificar a moeda e depois a colocar em circulação, este último ato será post factum não punível. O STJ já
decidiu que, ainda que o crime de moeda falsa seja absorvido pelo peculato, a efetiva utilização das notas
falsificadas atrai o interessa da União e determina a competência da Justiça Federal.

 Forma equiparada: circulação de moeda falsa: O parágrafo primeiro do artigo 289 do Código Penal prevê
incorrer nas mesmas penas quem, por conta própria ou alheia, importar (trazer para o país) ou exportar
(fazer sair do território nacional), adquirir (comprar, adquirir, receber), vender (alienar, comercializar,
negociar por um preço), trocar (dar por outra coisa, permutar), ceder (transferir, dar a outra pessoa),
emprestar (entregar para obter de volta), guardar (ter em depósito, armazenar) ou introduzir na circulação
(repassar, transmitir a outrem como moeda verdadeira) moeda falsa. Cuida-se de forma dolosa e
plurissubsistente, além de ser um tipo misto alternativo. O agente deve saber que a moeda é falsa, sob pena
de não se configurar o delito. Além disso, ele não deve ter sido quem falsificou a moeda ou quem participou
da falsificação, ou será pós fato não punível a conduta que se subsuma ao parágrafo primeiro do artigo 289.

 Forma privilegiada: O artigo 289 prevê, em seu parágrafo segundo, a forma privilegiada do delito, em
que a pena passa a ser de detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Incide a forma privilegiada se o
agente, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação (repassar
de novo ou retransmitir a outrem como moeda verdadeira), depois de conhecer a falsidade. É crime doloso
e plurissubsistente. Neste caso, a pena é menor pois o agente não inicia a conduta de introdução da moeda
falsa em circulação, mas é vítima, em um primeiro momento, mas quer evitar o prejuízo, optando por
restituir a moeda à circulação, mesmo consciente de sua falsidade.

 Formas qualificadas: O parágrafo terceiro do artigo 289 prevê a forma qualificada do crime de moeda
falsa, cuja pena passa a ser de reclusão, de três a quinze anos, e multa. Pune-se a conduta do funcionário
público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou
emissão: de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei ou de papel-moeda em quantidade
superior à autorizada. Cuida-se de crime próprio, só podendo ser praticado por funcionário público, diretor,
gerente ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão. Atualmente,
referido banco é a Casa da Moeda. O parágrafo quarto, por sua vez, prevê incorrer na mesma pena do tipo
qualificado quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. Aqui, exige-se
para a consumação do delito o desvio e a sua efetiva circulação, sendo delito plurissubsistente, que admite
a forma tentada.

Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa

O artigo 290 do Código Penal prevê o que se denomina de crimes assimilados ao de moeda falsa. Neste caso,
há três figuras típicas diversas no caput do dispositivo:

• Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
bilhetes verdadeiros. O agente reúne fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros para
formar uma unidade nova, falsificada.
• suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo
de sua inutilização. O agente retira da cédula, nota ou bilhete o sinal que demonstra que está fora de
circulação, como uma marca de carimbo.
• restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de
inutilização. O agente reintroduz em circulação cédula, nota ou bilhete recolhidos para a inutilização,
repassando-os a outrem.

Tal como no delito de moeda falsa, é indispensável a potencialidade de enganar. Ademais, o tipo penal
abrange cédula, nota e bilhete, não havendo menção a moeda (metálica). O crime é comum. É doloso. A
segunda modalidade (suprimir) exige expressamente o elemento subjetivo especial, consistente no intuito
de restituir a cédula ou bilhete recolhidos à circulação. Cezar Bitencourt também defende ser necessária a
presença de referido elemento subjetivo na modalidade de “formar cédula”, por exigência de forma implícita
no tipo penal. O crime é plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. O crime é formal.

 Forma qualificada: O parágrafo único prevê a modalidade qualificada do delito, cuja pena é de dois a
doze anos de reclusão e multa. Configura-se se o crime for cometido por funcionário que trabalha na
repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo. É, portanto,
forma própria do crime, por exigir qualidade específica do sujeito ativo.

Petrechos para Falsificação de Moeda


O crime de petrechos para falsificação de moeda está tipificado no artigo 291 do Código Penal. Fabricar é
manufaturar, produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber. Fornecer é
abastecer, prover. Possuir é ter, deter. Guardar é ter em depósito, ter sob sua guarda. A conduta incriminada,
no tipo penal misto alternativo do artigo 291 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito,
possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à
falsificação de moeda. Trata-se de situação que configuraria mera fase de preparação do crime de falsificação
de moeda e, portanto, irrelevante penal, caso não houvesse sua previsão em tipo penal próprio. É crime
comum. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É doloso e formal.

Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal

A emissão de título ao portador sem permissão legal se configura como delito em razão do que prevê o artigo
292 do Código Penal. Emitir, para os fins do artigo, significa colocar o documento em circulação, não
bastando a sua confecção ou assinatura. A conduta incriminada é emitir, sem permissão legal, nota, bilhete,
ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte indicação
do nome da pessoa a quem deve ser pago. O crime se consuma com a entrada do documento em circulação,
sendo formal, por não exigir a ocorrência de resultado naturalístico para a sua consumação. É comum, não
exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. O crime é considerado plurissubsistente, admitindo
a tentativa. É instantâneo, sendo que sua consumação ocorre em determinado instante no tempo. É doloso,
não havendo previsão de modalidade culposa nem exigência de elemento subjetivo especial do tipo.

 Modalidade qualificada: há a pena de detenção, de quinze dias a três meses, ou multa no caso de quem
recebe ou utiliza como dinheiro qualquer dos documentos referidos no caput.

Da Falsidade de Títulos e de Outros Papéis


Falsidade de Papéis Públicos

O crime de falsificação de papéis públicos está previsto no artigo 293 do Código Penal. O núcleo do tipo é
falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A conduta incriminada é
falsificar, fabricando ou alterando, algum dos papeis públicos enumerados nos incisos do caput do artigo
293. A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas, fabricando ou alterando. O
rol de elementos que podem constituir o objeto material do referido delito é extenso: selo destinado a
controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo;
papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; vale postal; cautela de penhor, caderneta de
depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público; talão,
recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito
ou caução por que o poder público seja responsável; bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
transporte administrada pela União, por Estado ou por Município. O crime é comum, formal, de forma livre,
admite a tentativa, por ser plurissubsistente. É doloso.

 Formas equiparadas: O parágrafo primeiro do artigo 293 prevê as modalidades equiparadas ao caput.
Determina se submeter à mesma sanção penal aquele que: usa, guarda, possui ou detém qualquer dos
papéis falsificados a que se refere este artigo; importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta,
guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário; importa, exporta,
adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
produto ou mercadoria: em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado ou
sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação. O
crime é permanente nas modalidades de guardar, possuir e deter, e, quanto aos demais núcleos do tipo das
formas equiparadas, é instantâneo. O crime é comum, doloso, plurissubsistente e formal. A terceira figura,
do inciso III do § 1º do Código Penal, exige que o sujeito ativo atue na atividade industrial ou comercial, seja
ele formal ou não.

 Atividade comercial: o parágrafo quinto do artigo 293 equipara à atividade comercial, para os fins de
referida figura típica, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias,
praças ou outros logradouros públicos e em residências.

 Formas complementares: O parágrafo segundo do artigo 293 do Código Penal criminaliza a conduta de
suprimir, em qualquer dos papéis já mencionados, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização. A pena é de reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O agente deve ter a finalidade de tornar o papel novamente utilizável. Já o parágrafo terceiro de citado
dispositivo determina a imposição da mesma pena para quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis
a que se refere o parágrafo anterior.

 Forma privilegiada: O parágrafo quarto do artigo 293 prevê a forma privilegiada, com pena de detenção,
de seis meses a dois anos, ou multa. Incorre na pena quem usa ou restitui à circulação, embora recebido de
boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, depois de conhecer a falsidade ou alteração.

Petrechos de Falsificação

O artigo 294 do Código Penal criminaliza a conduta de petrechos de falsificação. Fabricar é manufaturar,
produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber. Fornecer é abastecer, prover.
Possuir é ter, deter. Guardar é ter em depósito, ter sob sua guarda. A conduta incriminada no tipo penal
misto alternativo do artigo 294 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou
guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior.
Cuida-se de norma penal em branco, sendo complementada pelo artigo 293 do Código Penal, em que há a
previsão de vários papéis públicos. É uma situação que configuraria mera fase de preparação do crime de
falsificação de moeda e, portanto, irrelevante penal, se não houvesse sua previsão em tipo penal próprio
(crime obstáculo). É crime comum, formal, doloso e plurissubsistente, admitindo a tentativa. É permanente
apenas nas modalidades de possuir e guardar.

 Forma majorada: O artigo 295 do Código Penal prevê uma causa de aumento de pena que, segundo a
doutrina, se aplica aos crimes do Capítulo II do Título X (Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos).
Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público, prevalecendo-se do seu cargo.
A majorante, de um sexto da pena, aplica-se aos crimes tratados nos artigos 293 e 294 do Código Penal.

Da Falsidade Documental

Falsidade de Selo ou Sinal Público

O crime de falsificação de selo ou sinal público está previsto no artigo 296 do Código Penal. A ação nuclear
típica consiste no verbo falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A
conduta incriminada é falsificar, fabricando ou alterando, selo público destinado a autenticar atos oficiais da
União, de Estado ou de Município, ou selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a
autoridade, ou sinal público de tabelião. A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas
formas: alterando ou fabricando selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de
Município; selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade ou sinal público de
tabelião. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Cuida-se de crime de forma livre.
Além disso, admite a tentativa, por ser plurissubsistente. É doloso, sem previsão de modalidade culposa.

 Forma equiparada: O art. 296, § 1º, prevê as modalidades equiparadas ao caput: quem faz uso do selo
ou sinal falsificado; quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em
proveito próprio ou alheio e quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou
quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.

 Modalidade majorada: Há causa de aumento de pena, de sexta parte, no parágrafo único do artigo 296
do CP, consistente em o agente ser funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo.

Falsidade de Documento Público

O delito de falsificação de documento público tem previsão no artigo 297 do Código Penal. Os núcleos do
tipo são “falsificar” e “alterar”. A conduta típica é falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou
alterar documento público verdadeiro. O parágrafo segundo torna mais abrangente o tipo penal, ao incluir
como seu objeto material o documento emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou
transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
Há divergência doutrinária se a cópia autenticada de documento público consiste em objeto material do
delito, ou seja, se sua contrafação configura o crime do artigo 297 do CP. Cuida-se de crime comum, doloso,
formal e plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. No caso de estelionato cometido mediante a
falsificação de cheque, o enunciado 48 da Súmula do STJ define como competente o juízo do local da
obtenção da vantagem ilícita (consumação do estelionato). A súmula 62 do STJ fixa a competência da Justiça
Estadual para julgar o crime de falsa anotação na CTPS, se o registro for atribuído a empresa privada. O STJ
também atribui à Justiça Estadual a competência para o julgamento de crime de falsificação de documento
relacionado a estabelecimento particular de ensino, conforme a Súmula 104. O Superior Tribunal de Justiça
possui entendimento consolidado, fixado no enunciado 107, que compete à Justiça Estadual julgar crime de
estelionato praticado por meio de falsificação de guia de recolhimento das contribuições previdenciárias,
desde que não tenha ocorrido lesão ao INSS. O Superior Tribunal de Justiça consigna em um relevante
acórdão que a falsidade documental, assim como a ideológica, consuma-se no momento da falsificação.

 Forma majorada: O 297, §1º, prevê o aumento de um sexto no caso de o agente ser funcionário público
e cometer o crime prevalecendo-se do cargo.

 Formas equiparadas: O artigo 297, § 3º, prevê as formas equiparadas, determinando a mesma sanção
penal para quem insere ou faz inserir: a folha de pagamento ou em documento de informações que seja
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório; na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; em
documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante
a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. O parágrafo quarto do artigo
297, por sua vez, prevê incorrer nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos acima elencados,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação
de serviços.

Falsificação de Documento Particular

O crime de falsificação de documento particular está previsto no artigo 298 do Código Penal. O tipo penal é
bem parecido com o do artigo 297, mas desta vez o objeto material é documento particular. Os núcleos do
tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e “alterar” (modificar,
transformar, produzir a mudança de). A conduta típica é falsificar, no todo ou em parte, documento
particular, ou alterar documento particular verdadeiro. Portanto, pune-se a falsificação total ou parcial do
documento particular, assim como a modificação de um documento particular verdadeiro, autêntico. O
crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, consumando-se independentemente
da ocorrência de resultado naturalístico. É doloso, sem exigência de qualquer elemento subjetivo especial.
Não se pune a conduta praticada por negligência, imprudência ou imperícia. O crime é plurissubsistente,
admitindo a forma tentada.

 Falsificação de cartão: O parágrafo único do artigo 298 estende a abrangência do caput, ao incluir como
seu objeto material o cartão de crédito ou débito, dando a essa figura um nomen iuris diverso, o de
falsificação de cartão.

Falsificação Ideológica

O crime de falsificação ideológica está tipificado, no Código Penal, no seu artigo 299. As condutas centrais
são “omitir declaração”; “inserir”, e “fazer inserir”, sendo que as figuras típicas são:

• omitir, em documento público ou particular, declaração que dele deveria constar.


• Inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.
• Inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser escrita.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser inscrita.

Todas as modalidades exigem o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no intuito do agente de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. O crime é comum,
doloso e formal formal, não dependendo do efetivo prejuízo a direito, da real criação de obrigação nem da
eficaz alteração da verdade para sua consumação. É crime plurissubsistente, admitindo a modalidade
tentada. Entende-se que o preenchimento de cambial emitida em branco ou com lacunas, pelo credor de
boa-fé, é lícito, o que afasta o cometimento do crime, conforme o enunciado 387 da Súmula do STF. O
Supremo Tribunal Federal possui precedente em que considera que o documento sujeito à verificação, de
forma objetiva e com confronto de seu conteúdo pela autoridade, não é apto para configuração do crime de
falsidade ideológica. O Superior Tribunal de Justiça, de forma mais recente, tem decidido neste sentido,
afastando o crime de falsidade ideológica se o documento estiver sujeito a posterior verificação, sem
indagação complexa. De igual modo, o STJ não considera configurar o crime de falsidade ideológica a
declaração de pobreza para fins de gratuidade da justiça que não se coadune com a realidade.
 Forma majorada: O parágrafo único do artigo 299 prevê uma causa de aumento de pena com patamar
de aumento de um sexto. Incide se o agente for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do
cargo. Também incide a majorante se a falsificação ou alteração for de assentamento de registro civil.

Falso Reconhecimento de Firma ou Letra

O artigo 300 do Código Penal criminaliza o falso reconhecimento de firma ou letra. O tipo penal de falso
reconhecimento de firma ou letra é funcional, ou seja, só pode ser praticado por quem está no exercício de
função pública. A função pública deve ser aquela que dá poderes ao agente para o reconhecimento da
veracidade ou autenticidade de firma ou letra, como o tabelião, o oficial de registro, os cônsules etc. A
conduta típica é reconhecer (atestar, admitir) como verdadeira firma ou letra que não o seja. Como já dito,
exige-se que o sujeito ativo esteja no exercício de função pública que lhe dê tal poder. A sanção penal varia:
se o documento for público, a pena será de reclusão, de um a cinco anos, e multa. Se o documento for
particular, a pena será de reclusão, de uma a três anos, e multa. É crime próprio, por exigir qualidade do
sujeito ativo para sua configuração. É crime de forma livre, sendo que Nucci discorda, entendendo ser crime
de forma vinculada. O crime é doloso, não havendo exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É
plurissubsistente, por ser fracionável a sua conduta. Por isso, é punível o conatus.

Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso

O artigo 301 do Código Penal prevê o crime de certidão ou atestado ideologicamente falso. Atestar é afirmar
ou provar oficialmente. Certificar é afirmar por escrito a veracidade. A conduta típica é atestar ou certificar
falsamente fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço
de caráter público ou qualquer outra vantagem. Exige-se, ainda, que o agente atue em razão de sua função
pública. Só pode praticar o crime o funcionário público, razão pela qual é classificado como próprio. É doloso,
sem previsão de modalidade culposa. Cezar Bitencourt entende indispensável o elemento subjetivo especial,
que se traduz na vontade de obter vantagem. É crime de forma livre. Além disso, é plurissubsistente, já que
sua conduta pode ser fracionada. Admite-se, então, a tentativa.

 Falsidade material de atestado ou certidão: O parágrafo primeiro do artigo 301 prevê forma qualificada
de praticar o delito. Os núcleos do tipo são “falsificar” e “alterar”. Crime comum.

 Crime mercenário: se o crime é praticado com intuito de lucro, deve-se aplicar a pena de multa.

Falsidade de Atestado Médico

O artigo 302 do Código Penal prevê o crime de falsidade de atestado médico. A conduta incriminada é dar
atestado médico falso. Dar atestado é entregar ou fornecer atestado falso, ou seja, documento médico com
informações falsas. Só o médico, no exercício da sua profissão, pode cometer o crime, razão pela qual ele é
próprio. É doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo, que, se for o de lucro, determina a
cominação cumulativa da pena de multa. É crime formal e plurissubsistente, admitindo o conatus.

 Crime mercenário: se o crime é praticado com intuito de lucro, há aplicação cumulativa da pena de multa.

Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça Filatélica


Dispõe sobre o crime de reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica o artigo 303 do Código Penal.
O tipo penal foi ab-rogado, ou seja, sofreu revogação total pelo artigo 39 da Lei 6.538/78. A conduta
incriminada na legislação penal extravagante é reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica de valor para
coleção. A pena passou a ser de detenção até dois anos, sem estipulação de pena mínima, além do
pagamento de 3 a 10 dias-multa.

 Forma equiparada: Houve sua revogação pelo artigo 39 da Lei 6.538/78. O uso de selo ou peça
reproduzidos ou alterados, para fins de comércio, continua sendo fato típico na legislação extravagante.

Uso de documento falso

O crime de uso de documento falso está previsto no artigo 304 do Código Penal. O uso de documento falso
é classificado como tipo remissivo, pois faz remissão a outros tipos penais para a complementação do seu
próprio tipo. A referência é feita aos artigos 297 a 302, que são alguns dos crimes previstos no Capítulo III do
Título X (Da Falsidade Documental). São os crimes de falsificação de documento público, falsificação de
documento particular (inclusive o de falsificação de cartão), de falsidade ideológica, de falso reconhecimento
de firma ou letra, de certidão ou atestado ideologicamente falso (incluída a falsidade material de atestado
ou certidão) e de falsidade de atestado médico. O tipo penal tem como núcleo a conduta de fazer uso, que
significa usar, utilizar. A conduta incriminada é fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados
referidos nos artigos 297 a 302 do Código Penal, que tratam dos crimes acima elencados. Cuida-se de crime
comum, doloso, formal, forma livre, havendo divergência sobre a possibilidade de tentativa do crime. O
Supremo Tribunal Federal entende não ser necessário o exame pericial no documento falso, se houver
elementos nos autos que demonstrem que o agente fez uso de tal documento, bem como que permitam a
conclusão sobre sua falsidade. A Suprema Corte também já afastou a alegação de atipicidade da conduta no
caso de que a finalidade de ocultar a situação irregular no país não afasta a ocorrência do crime de uso de
documento falso, por não ser tal fato abrangido pelo exercício da autodefesa. O STJ, no enunciado 546 da
sua Súmula, já decidiu que a competência para julgar o crime de uso de documento falso é definida em
virtude da autoridade, entidade ou órgão ao qual foi apresentado. Súmula 200-STJ: O juízo federal
competente no caso de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.

Supressão de Documento

O crime de supressão de documento está previsto no artigo 305 do Código PenalA conduta típica é destruir,
suprimir ou ocultar documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. O elemento
subjetivo é dolo, exigindo-se, ainda, o elemento subjetivo especial do tipo consistente em agir em benefício
próprio ou de outrem ou em prejuízo alheio. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
É formal, não dependendo de resultado naturalístico para sua consumação. É instantâneo de efeitos
permanentes. Por fim, admite a tentativa por ser plurissubsistente.

De outras Falsidades

Falsificação do Sinal Empregado no Contraste de Metal Precioso ou na Fiscalização Alfandegária, ou Para


Outros Fins
O artigo 306 do Código Penal torna crime a falsificação de sinal empregado no contraste de metal precioso
ou na fiscalização alfandegária ou para outros fins. Os núcleos do tipo são falsificar (adulterar, fazer passar
por verdadeiro o que não é, fraudar) e usar (utilizar, fazer uso de). As condutas incriminadas são:

• falsificar, fabricando ou alterando, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou
• usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem.

O crime é comum, formal, doloso e plurissubsistente, salvo na modalidade “usar”, a qual não admite a
tentativa.

 Forma privilegiada: O parágrafo único do artigo 306 prevê uma modalidade privilegiada do delito, em
que a pena passa a ser de reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa. Incide essa modalidade se a
marca ou sinal falsificado for o que usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou para
autenticar ou encerrar determinados objetos, ou comprovar o cumprimento de formalidade legal.

Falsa Identidade

O crime de falsa identidade tem como seus preceitos primário e secundário os seguintes. Atribuir é imputar.
A conduta incriminada é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Exige-se, portanto, o elemento subjetivo especial, que é a
finalidade do agente de obter vantagem, para si ou para outrem, ou de causar dano a outra pessoa. O crime
é comum, formal, de forma livre, subsidiário e plurissubsistente, admitindo a tentativa, salvo na forma oral.
Depois de controvérsia na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça aprovou a Súmula 522, que dispõe
que a atribuição de falsa identidade perante a autoridade policial configura o crime do artigo 307 do Código
Penal, não estando abrangida pelo exercício regular do direito de defesa.

Uso de Documento de Identidade Alheio

Prevê o artigo 308 do Código Penal a criminalização do uso de documento de identidade alheio. Usar é
utilizar, fazer uso de. Ceder é dar, transferir a posse a alguém. As condutas incriminadas são: usar, como
próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade alheia
ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro. O crime é
comum, formal, instantâneo, forma livre e doloso. É plurissubsistente na modalidade “ceder”, admitindo,
neste caso, a tentativa. Na forma de “usar”, a doutrina o considera unissubsistente, não sendo possível o
fracionamento da conduta e, por consequência, não se reconhecimento a modalidade tentada.

Fraude de Lei Sobre o Estrangeiro

O artigo 309 do Código Penal prevê o delito de fraude de lei sobre estrangeiro. No caput, tipifica-se a conduta
do estrangeiro de usar, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é seu. Cuida-se de
uma forma de atribuição de falsa identidade que somente pode ser cometida pelo estrangeiro, devendo ele
ter a finalidade de entrar ou permanecer no território nacional, o que constitui elemento subjetivo especial
do injusto. Nesta forma, o crime é próprio, pois só pode praticá-lo o estrangeiro. Nesta modalidade, não se
admite a tentativa, pois a ação nuclear não pode ser fracionada. É doloso e formal. No parágrafo único, o
núcleo do tipo é atribuir (imputar). Tipifica-se a ação de atribuir a um estrangeiro falsa qualidade com o fim
de promover sua entrada em território nacional. Há, também, elemento subjetivo especial. Ademais, tal
modalidade é classificada como comum, doloso e formal. Há divergência sobre a possibilidade de tentativa.

Fraude de Lei Sobre Propriedade por Estrangeiro

O crime de fraude de lei sobre propriedade por estrangeiro está previsto no artigo 310 do Código Penal.
Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro é atuar
falsamente, é agir como “laranja” ou “testa de ferro”. Configura-se o crime se a conduta for praticada nos
casos em que é vedada por lei ao estrangeiro a posse ou a propriedade de referidos bens, o que leva a
concluir que o artigo 310 do CP é norma penal em branco. Parte substancial da doutrina entende que o crime
é próprio, pois só pode praticá-lo o detentor da nacionalidade brasileira. É crime de forma livre. Seu elemento
subjetivo é o dolo, sem previsão de finalidade específica do agente para sua configuração. É crime
instantâneo. Classifica-se como plurissubsistente, por ser fracionável a conduta e admitir a tentativa. É
formal, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo para sua configuração.

Adulteração de Sinal de Veículo Automotor

O crime de adulteração de sinal de veículo automotor está tipificado no artigo 311 do Código Penal. Adulterar
é falsificar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. Remarcar é inserir nova marca, assinalar
novamente. A conduta incriminada é adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificar
de veículo automotor, de seu componente ou equipamento. Percebam que o tipo penal só se configura se o
agente falsificar ou remarcar o veículo ou sua peça, não havendo a previsão de criminalização de quem usa
ou compra o carro com a falsificação ou remarcação. É importante a diferenciação, pois não se admite
analogia in malam partem. O crime é doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo. Não há
modalidade culposa. É material, por exigir alteração no mundo exterior para a sua consumação. É comum,
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Sendo fracionável a conduta, é plurissubsistente e admite a
tentativa.

 Forma majorada: Incide o aumento de um terço se o crime for cometido por agente no exercício da
função pública ou em razão dela. Neste caso, o crime é próprio.

 Forma equiparada: O artigo 311, em seu parágrafo segundo, prevê incorrer nas mesmas penas o
funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado,
fornecendo indevidamente material ou informação oficial. Nesta modalidade, é crime próprio.

Das Fraudes em Certames de Interesse Público

Fraudes em Certames de Interesse Público

O crime de fraudes em certames de interesse público está previsto no artigo 311-A do Código Penal. Os
núcleos do tipo são utilizar e divulgar. A conduta incriminada é utilizar ou divulgar conteúdo sigiloso de
certame de interesse público. Exige-se o dolo, além do elemento subjetivo especial, que é a finalidade do
agente de beneficiar a si ou a outrem ou de comprometer a própria credibilidade do certame. O objeto
material, consistente no certame de interesse público, pode ser: concurso público; avaliação ou exames
públicos; processo seletivo para ingresso no ensino superior ou exame ou processo seletivo previstos em lei.
Deve-se frisar que a configuração do crime exige que o agente se utilize ou divulgue conteúdo sigiloso. O
crime é doloso, com exigência de intuito especial do agente. É formal e plurissubsistente, admitindo o
conatus.

 Modalidade qualificada: O artigo 331-A do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade
qualificada, configurando-se se da conduta resultar dano à administração pública.

 Modalidade majorada: O parágrafo terceiro do artigo 311-A prevê a causa de aumento de pena de um
terço no caso de o sujeito ativo ser cometido por funcionário público. O Supremo Tribunal Federal já
consignou, antes da introdução do artigo 311-A no Código Penal, que a conduta denominada de “cola
eletrônica” era formalmente atípica. O Superior Tribunal de Justiça possuía entendimento semelhante.
Atualmente, a “cola eletrônica” pode ou não ser fato típico, dependendo, por exemplo, de o sujeito utilizar-
se de conteúdo sigiloso. Junto com a introdução da nova figura típica, foi acrescentado ao artigo 47 do Código
Penal o inciso V, trazendo uma nova modalidade de pena de interdição temporária de direitos: proibição de
inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA EM GERAL

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Os crimes contra a Administração Pública constituem o objeto do Título XI da Parte Especial do Código
Penal. A Administração Pública, para este efeito, abrange toda a atividade do Estado na consecução dos
seus fins, que é promover o bem comum. Envolve, então, as três funções estatais, exercidas pelos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com seus órgãos e a Administração Indireta. Uma questão
que envolve todos os crimes contra a Administração Pública é a incidência ou não do princípio da
insignificância, já que os crimes tratados no Título
XI da Parte Especial envolvem interesse da sociedade como um todo. O Supremo Tribunal Federal já
reconheceu a possibilidade de incidência do princípio da insignificância em crime contra a Administração
Pública, mais especificamente no caso de peculato-furto. Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiça,
recentemente, aprovou o enunciado sumular de número 599, afastando, sem exceção, a aplicação do
princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública. Entretanto, o próprio STJ, após a
elaboração da súmula acima, tem entendido que incide a insignificância no descaminho quando o débito
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Crimes Praticados por Funcionário Público Contra a Administração em Geral

Crimes funcionais próprios: só podem ser praticados pelo funcionário público. Caso não haja tal qualidade
do sujeito ativo, a conduta é penalmente atípica. É o caso do crime de prevaricação.

Crimes funcionais impróprios: se não houver a qualidade de funcionário público, não se configuram, mas
são penalmente relevantes em virtude da criminalização em outro dispositivo. É o caso do peculato do caput
do artigo 312 do CP, correspondendo ao delito de apropriação indébita.

Peculato
O crime de peculato está previsto no artigo 312 do Código Penal. A análise do crime de peculato vai ser
subdivida pela classificação doutrinária. O caput prevê as figuras denominadas de peculato apropriação e
peculato desvio, sendo que ambas compõem o chamado peculato próprio. Há, no parágrafo primeiro, o
chamado peculato furto, que é classificado como peculato impróprio. Por fim, o parágrafo segundo traz o
chamado peculato culposo. Há outras modalidades de peculato, ainda, nos artigos subsequentes ao 312.

Peculato próprio: peculato apropriação

O peculato apropriação está previsto na primeira parte do caput do artigo 312 do Código Penal. Como no
crime de apropriação indébita, a ação nuclear é apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular. Exige-se, para a configuração do peculato apropriação, a anterior posse ou detenção
lícita da coisa, em razão do cargo, ou seja, o agente deve ter, anteriormente à conduta típica, a posse justa
do dinheiro, do valor ou de qualquer outro bem móvel, público ou particular. Deste modo, a consumação do
delito se dá com a inversão do título da posse, isto é, o agente deixa de possuir em nome alheio (alieno
domine), em razão de seu cargo, para possuir como dono (causa dominii). Portanto, é um elemento
subjetivo, que deve ser demonstrado por um ato exterior, algo que transcenda o simples elemento anímico,
a mera vontade do agente. O delito atenta contra a função pública exercida pelo agente, além de causar
dano ao patrimônio público. O crime é próprio, sendo, ainda, funcional impróprio. O peculato furto tem
como elemento subjetivo o dolo. É material, exigindo o resultado naturalístico, a inversão da posse, para sua
consumação. É crime de forma livre, sendo, ainda, plurissubsistente, por ser fracionável sua conduta,
possibilitando a tentativa. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que se o crime de peculato for praticado
por determinado agente público que deveria agir contra o crime, como polícia judiciária, e atua de forma
oposta, no exercício de suas funções, o agravamento da pena em virtude disso não configura bis in idem. Em
razão da exigência do animus rem sibi habendi, ou seja, a intenção de se apropriar da coisa definitivamente,
invertendo a natureza da posse, grande parte da doutrina e da jurisprudência entende ser atípica a conduta
de apropriação temporária, chamada de peculato de uso. Vale ressaltar que nem toda doutrina e
jurisprudência admitem a necessidade de tal elemento subjetivo especial do tipo. Vale ressaltar, por sim,
que no caso de prefeito municipal, a conduta pode configurar o crime previsto no artigo 1º, inciso II, do
Decreto-Lei 201/67, que muitas vezes é chamado pela jurisprudência de peculato de uso.

Peculato próprio: peculato desvio

O peculato desvio corresponde à segunda parte do caput do artigo 312, traduzindo-se na expressão: “ou
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”. A conduta incriminada é desviar, o funcionário público, dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, em
proveito próprio ou alheio. Cezar Bittencourt ensina que não é necessário o animus rem sibi habendi,
podendo configurar-se o crime com o uso irregular do dinheiro, valor ou bem móvel, desde que haja o
propósito do proveito próprio ou alheio. O peculato desvio tem como elemento subjetivo o dolo, além de
exigir o elemento subjetivo especial, representado pela expressão “em proveito próprio ou alheio”. É
material, exigindo o resultado naturalístico, a inversão da posse, para sua consumação. É crime de forma
livre, sendo, ainda, plurissubsistente, por ser fracionável sua conduta, possibilitando a tentativa. O STF já
entendeu, em análise sumária, ser possível a capitulação como peculato-desvio da conduta de pagamento
antecipado a contratante da Administração Pública, de forma ilegal, do valor total devido em virtude de
aditivo contratual celebrado irregularmente, antes da execução das obras.

Peculato impróprio: peculato furto


O parágrafo primeiro do artigo 312 traz uma modalidade equiparada, com o seguinte teor: “Aplica-se a
mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou
concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário”. A conduta incriminada é o funcionário público subtrair ou
concorrer para que subtraiam dinheiro, valor ou bem, em proveito próprio ou alheio, desde que ele se valha
da facilidade proporcionada pela sua qualidade de funcionário público. É essa facilidade proporcionada pela
função pública que diferencia o peculato furto do crime de fruto previsto no artigo 155 do CP. Nesta
modalidade, o agente não tem a posse do dinheiro, valor ou bem móvel, mas o seu cargo ou função lhe
proporcionam acesso mais fácil ao objeto material. O elemento subjetivo é o dolo. É necessário o desejo de
apropriação definitiva, denominado de animus rem sibi habendi.

Peculato culposo

A forma culposa do peculato tem guarida no parágrafo segundo do artigo 312, prevendo ser punida, com
pena de detenção, de três meses a um ano, a conduta de o funcionário público concorrer culposamente para
o crime de outrem. Neste caso, pune-se o funcionário público pela sua violação ao dever jurídico de cuidado,
ao permitir, com sua imprudência, negligência ou imperícia, que outra pessoa se aproprie, desvie ou subtraia
o dinheiro, o valor ou outra coisa móvel de quem tem a posse em razão do cargo, que pertença à
Administração Pública ou esteja sob sua custódia. Não se trata de participação no crime de terceiro. As
condutas são diversas, o agente público atua com culpa, deixando de atuar com o dever objetivo de cuidado,
enquanto o terceiro age com dolo, aproveitando-se da brecha ou da oportunidade gerada pelo descuido, ou
tecnicamente, pela imprudência, negligência ou imperícia do funcionário. Reparação do dano e peculato
culposo: o parágrafo terceiro do artigo 312 prevê que, no caso de peculato culposo, a reparação do dano, se
ocorre antes da sentença irrecorrível, extingue a punibilidade. Se a reparação do dano for posterior à
sentença transitada em julgado, reduz de metade a pena imposta.

Peculato Mediante Erro de Outrem

O delito denominado peculato mediante erro de outrem se encontra no artigo 313 do Código Penal. O crime
de peculato mediante o erro de outrem também é denominado peculato-estelionato. A ação nuclear típica
é apropriar-se. A conduta incriminada é apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que recebeu, no
exercício do cargo, por erro de outra pessoa. Dinheiro é a moeda correte, enquanto utilidade é qualquer
coisa com apreciação econômica. Percebam que nesta modalidade o agente não recebeu o dinheiro ou a
utilidade para sua posse ou detenção lícita, mas tal objeto material seja a suas mãos pelo erro alheio, pela
incorreta percepção da realidade de outra pessoa. A consumação do delito ocorre com a inversão do título
da posse, isto é, o agente recebe dinheiro ou outra utilidadade, no exercício do cargo, em virtude de erro de
outra pessoa, possuindo a detenção transitória em nome de outra pessoa (alieno domine), e decide possuir
como dono (causa dominii). Portanto, é um elemento subjetivo, que deve ser demonstrado por um ato
exterior, algo que transcenda o simples elemento anímico, a mera vontade do agente. Tal exigência não
criminaliza – e nem seria crível que o legislador o fizesse – a conduta de o funcionário público apenas receber
por erro de outrem algum dinheiro ou utilidade. A conduta punível é, constatado o engano da outra pessoa,
não dar a destinação legal ao dinheiro ou à utilidade, apropriando-se, tomando para si com animus rem sibi
habendi. O crime é próprio e material, exigindo a efetiva inversão da posse, com a apropriação do dinheiro
ou da utilidade, para sua configuração. É delito de forma livre e plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informações


O artigo 313-A, incluído pela Lei 9.983/2000, passou a criminalizar a inserção de dados falsos em sistema de
informações. Outra denominação do delito de inserção de dados falsos em sistema de informações é
peculato-eletrônico. O tipo misto alternativo tem como núcleos os verbos inserir, facilitar, alterar ou excluir.
As condutas incriminadas consistem em o funcionário público autorizado: inserir dados falsos; facilitar a
inserção de dados falsos; alterar indevidamente dados corretos; excluir indevidamente dados corretos.
Todas as condutas se referem aos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública,
além de exigir que o agente atue com o escopo de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou de
causar dano. O crime é próprio, só podendo cometê-lo o funcionário público autorizado. Frise-se que não
basta a qualidade de funcionário público, é necessário que ele possua autorização de acesso aos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública para a configuração do delito. É doloso, com
exigência de elemento subjetivo especial do tipo, consubstanciado na finalidade de obter vantagem para si
ou para outrem ou de causar dano. É crime formal, de forma livre, admitindo-se a forma tentada do delito.

Modificação ou Alteração não Autorizada de Sistema de Informações

A Lei 9.983/2000 também inseriu no Código Penal o delito de modificação ou alteração não autorizada de
sistema de informações. O crime de modificação ou alteração não autorizada em sistema de informações
também é considerado uma modalidade de peculato-eletrônico, tal qual o artigo 313-A do CP. Ao contrário
do artigo 313-A, não se exige que o funcionário público seja o autorizado. Os núcleos do tipo penal misto
alternativo são modificar ou alterar. A conduta incriminada é a de o funcionário público modificar ou alterar
sistema de informações ou programa de informática (software). O elemento normativo exige, para a
configuração do crime, que o agente atue “sem autorização ou solicitação de autoridade competente”. O
crime é próprio, formal, instantâneo e plurissubsistente, por ser a conduta fracionável, razão pela qual
admite a tentativa.

 Modalidade majorada: resultado danoso: prevê-se o aumento de pena, de um terço até a metade, se da
modificação ou alteração resultar dano para a Administração Pública ou para o administrado.

Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Documento

O artigo 314 do CP prevê o crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento. O tipo penal,
que é misto alternativo, prevê as seguintes formas de ser praticado:

• Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
• Sonegar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; ou
• Inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão
do cargo.

Cuida-se de crime expressamente subsidiário. No caso do extravio e da sonegação, há divergência se o crime


é permanente (já que a consumação se prolongaria enquanto o agente não revelasse o paradeiro do que
sonega ou a destinação do que foi extraviado) ou se é instantâneo (consumando-se no momento da
sonegação ou do extravio). Só pode ser objeto material do tipo o livro oficial ou qualquer documento de que
o funcionário público tenha a guarda em razão do cargo, como os autos do processo desviados pelo escrivão
judicial ou o bem penhorado extraviado pelo oficial de justiça. O crime é próprio, doloso, de forma livre e
plurissubsistente, salvo na modalidade de sonegar, em que não se admite a tentativa.
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas

O emprego irregular de verbas ou rendas públicas é o delito tratado no artigo 315 do Estatuto Repressivo. A
conduta incriminada é dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei, ou seja, dar
destinação ilícita, empregar as verbas ou rendas públicas em desacordo com a legislação. O sujeito ativo é o
funcionário público, mas somente aquele que tem a função de gestão, que tem a atribuição de gerir as verbas
ou rendas públicas. No caso do Prefeito, sua conduta possui norma especial, prevista no artigo 1º, inciso III,
do Decreto-Lei 201/67. O crime é doloso, não prevendo a necessidade de elemento subjetivo especial do
tipo. É plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. Cezar Bitencourt defende que o crime é formal, não
se consumando, entretanto, com a mera escrituração irregular, sendo necessária a efetiva aplicação ilegal
das verbas ou rendas públicas. Sobre a especialidade do crime previsto no Decreto-Lei 2017 no caso de
aplicação ilícita de dinheiro público por prefeito, bem como a inaplicabilidade da insignificância, há
precedente do STJ, que entende ser inaplicável o princípio da insignificância no caso em que há desvio de
bens públicos pelo Prefeito Municipal, que, no exercício de suas funções, deve obediência aos mandamentos
legais e constitucionais, notadamente ao princípio da moralidade pública.

Concussão e Excesso de Exação

O artigo 316 do Código Penal traz o crime de concussão. O preceito secundário do tipo foi alterado pelo
Pacote Anticrime. A ação nuclear típica é exigir, que significa impor, ordenar, obrigar. A conduta incriminada
é exigir, para si ou para outrem, de forma direta ou indireta, vantagem indevida. A exigência pode se dar no
exercício da função ou mesmo antes de o agente exercer a função, desde que exija em razão da função que
futuramente exercerá. É necessário que a conduta do agente implique em uma violência (moral), no sentido
de coagir o sujeito passivo a lhe dar a vantagem indevida. A vantagem deve ser indevida, ou seja, ilegal,
injusta, contrária ao que determina o ordenamento jurídico. A doutrina diverge se deve ser a vantagem de
natureza econômica ou patrimonial, sendo que a maioria parece defender essa posição, com respaldo
jurisprudencial. Entretanto, há o entendimento de que a vantagem não precisa ser de cunho financeiro-
econômico para a configuração do crime, mesmo porque a lei não traz tal restrição. Rogério Sanches Cunha
defende que o crime também se configura se a vantagem se destinar à própria Administração, enquanto
Cezar Bitencourt parece concluir que, no caso de vantagem destinada ao próprio ente público, o crime seria
o de excesso de exação. O crime é próprio e doloso, sendo que o elemento subjetivo especial do injusto está
presente na expressão “para si ou para outrem”. É formal e sua conduta é fracionável, razão pela qual se
admite a forma tentada. O Superior Tribunal de Justiça já julgou ser o crime formal.

 Excesso de exação:

O parágrafo primeiro do artigo 316 prevê o excesso de exação, cujo tipo penal é “Se o funcionário exige
tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança
meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa”. O
núcleo do tipo do excesso da exação também é exigir, assim como na concussão. Há, ainda, a figura do final
do tipo, em que o núcleo do tipo é empregar. São, portanto, as condutas incriminadas se praticadas pelo
funcionário público: exigir tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido; empregar na
cobrança de tributo ou contravenção social, quando devidos, meio vexatório ou gravoso, quando a lei não
autoriza. Crime próprio e doloso, exigindo, para Bitencourt, elemento subjetivo especial do injusto,
consistente na expressão “para si ou para ontem”. Rogério Sanches Cunha, com base nos ensinos de Antonio
Pagliaro e Paulo José da Costa Júnior, defende que o dolo é o genérico. Se a exigência for feita por escrito, a
conduta é plurissubsistente, admitindo a tentativa. No caso de cobrança por meio vexatório ou gravoso,
também se pune a modalidade tentada, a depender da forma de execução.

 Modalidade especial de excesso de exação: O parágrafo segundo do artigo 316 prevê a uma modalidade
diversa, com pena de reclusão, de dois a doze anos, e multa, configurando-se caso o funcionário desvie, em
proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos.

Corrupção Passiva

O crime de corrupção passiva está previsto no artigo 317 do CP. Os núcleos do tipo são solicitar, receber e
aceitar. As condutas incriminadas são as seguintes, a serem praticadas pelo funcionário público:

• Solicitar vantagem indevida, para si ou para outrem, direta ou indiretamente;


• Receber vantagem indevida, para si ou para outrem, direta ou indiretamente;
• Aceitar promessa de vantagem indevida, para si ou para outrem.

Todas as condutas devem envolver a função pública. Podem ocorrer fora da função ou antes de o funcionário
assumi-la, desde que seja em razão dela, por causa da função pública. No caso de fiscal de rendas (como
Auditor-Fiscal da Receita), há previsão específica no artigo 3º, inciso II, da Lei 8137/90. Caso o agente aceite
suborno para fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral, o crime será o
do artigo 342, § 1º, do Código Penal. Como no caso da concussão, existe a divergência sobre a natureza da
vantagem, se apenas a econômico-financeira serve para configuração do delito. O crime é próprio, sendo
formal nas modalidades “solicitar” e “aceitar promessa”. Na modalidade “receber”, é material, só se
consumando com o efetivo recebimento. Crime plurissubsistente, exceto se a solicitação ou a aceitação se
der de forma oral. A corrupção pode ser classificada como antecedente, se a vantagem se destina à prática
ou omissão futura do funcionário, ou subsequente, caso se refira a uma conduta já praticada. Pode, ainda,
ser chamada de própria, se buscar a realização de um ato ilícito, indevida. De outra forma, se o ato é legítimo,
a corrupção é denominada de imprópria.

 Modalidade majorada: A causa de aumento de pena, de um terço, deve ser aplicada se, em consequência
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional. Ele retarda (atrasa) a prática de ato de ofício, deixa de praticá-lo (omite-se, não
faz) ou, por fim, pratica (faz) o ato de ofício, mas com infração do seu dever funcional.

 Modalidade privilegiada: O parágrafo segundo prevê uma forma privilegiada da corrupção passiva, com
novos limites mínimo e máximo de pena. Esta passa a ser de três meses a um ano de reclusão. Configura-se
se o funcionário praticar, deixar de praticar ou retardar ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem. Neste caso, o agente faz um favor indevido ou cede à influência
de alguém, e, assim, pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício. Ato de ofício é o que deve ser
praticado independentemente de provocação.

Facilitação de Contrabando ou Descaminho

O crime de facilitação de contrabando ou descaminho está previsto no artigo 318 do Código Penal. A conduta
incriminada é facilitar a prática dos crimes de contrabando, atualmente previsto no artigo 334-A do CP, ou
de descaminho, tipificado no artigo 334 do referido Código. Há o elemento normativo do tipo, que exige que
haja a infração, a violação de dever funcional para que o crime se configura. O crime é próprio, formal, de
forma livre, admitindo-se a tentativa, se a conduta for comissiva (facilitação ativa).

Prevaricação

O artigo 319 do Código Penal prevê o crime de prevaricação. As condutas incriminadas são deixar de praticar
ou retardar a prática de ato de ofício, ou de praticar o ator, contra disposição expressa de lei. Para a
configuração do crime, é indispensável que o agente pratique a conduta, comissiva ou omissiva, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. O retardamento, a omissão ou a prática devem ser realizadas
indevidamente, ou seja, de forma contrário ao ordenamento jurídico. O agente prioriza seu interesse ou
sentimento pessoal em detrimento do interesse público. O interesse pessoal pode ser material ou moral,
podendo ser econômico ou não. O sentimento pessoal se refere a um estado emocional ou afetivo, como
ódio, desdém, raiva ou paixão. O ato deve ser da competência do agente. Ademais, não pode haver opção
discricionária. O elemento subjetivo é o dolo, além do intuito especial do agente, consistente na satisfação
de interesse ou sentimento pessoal. O crime é formal, próprio, de forma livre e admite a forma tentada.

Prevaricação “Imprópria”

A Lei 11.466/2007 incluiu no Código Penal o artigo 319-A, trazendo um novo crime denominado pela doutrina
de prevaricação imprópria. A conduta incriminada é deixar de cumprir o dever de vedar ao preso o acesso a
aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo. Podem praticá-la o Diretor de Penitenciária e o agente público. Deixar de cumprir o dever significar
violá-lo, seja de forma comissiva (determinando que os subordinados não fiscalizem alimentos que entram
na unidade prisional) seja de forma omissiva (ele mesmo deixando de fiscalizar o que ingressa na unidade,
como no caso de não revistar os familiares que visitam determinado preso). Se o diretor entregar o celular
ao preso, ele infringe a lei penal incriminadora? Nucci defende que sim, pois ele está deixando de vedar ao
preso o acesso ao aparelho telefônico, o que é descumprimento de seu dever. Cuida-se crime omissivo puro,
razão pela qual não admite a forma tentada. É formal, de forma livre e doloso.

Condescendência Criminosa

O crime de condescendência criminosa está previsto no artigo 320 do Código Penal. A conduta incriminar é
deixar o funcionário público, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, se não for isso da sua competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente. Pune-se a omissão do funcionário em cumprir seu dever de responsabilizar o subordinado
infrator ou de cientificar a autoridade competente da ocorrência da infração. O agente tolera a prática da
infração sem tomar as medidas cabíveis, agindo por indulgência. O sentimento é o indulgente, que se traduz
no estado emocional ou afetivo de piedade, de clemência, de compaixão ou de misericórdia. Se o motivo for
outro, poderá haver a prática de outro crime, por exemplo, de corrupção passiva se o funcionário receber
promessa de vantagem. O elemento subjetivo é dolo, sendo que há doutrina que defende ser o elemento
subjetivo especial o sentimento de indulgência, que deve mover o agente para que o crime se configura. O
delito é próprio, formal e omissivo puro, razão pela qual não se admite a tentativa.

Advocacia Administrativa
O crime de advocacia administrativa está previsto no artigo 321 do Código Penal. Patrocinar é favorecer,
amparar, financiar, defender. A conduta tipificada no artigo 321 do CP é a de patrocinar, direta ou
indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
Notem que se exige que o funcionário público se utilize da sua função pública para defesa do interesse
privado. Não se exige que o interesse defendido pelo funcionário público, que se vale do seu cargo, seja
ilegítimo ou ilícito. Pode ocorrer de o interesse privado ser legítimo, ou seja, que ele defende uma pretensão
amparada pela lei. Mesmo assim o crime se configurará, pois o que se pune é o uso do cargo público para a
defesa de interesse privado. O crime é próprio, formal e doloso, sem exigência de que o agente persiga uma
finalidade específica. É plurissubsistente, admitindo a forma tentada. Especialidade: configura-se o crime
previsto no artigo 91 da Lei 8.666/93 se o patrocínio se referir à instauração de licitação ou celebração de
contrato, posteriormente invalidada pelo Judiciário. Se o patrocínio envolver a Administração Tributária, há
o delito do artigo 3º, III, da Lei 8.137/90.

 Modalidade qualificada: pena de detenção, de três meses a um ano, além da multa. Configura-se se o
interesse for ilegítimo, ou seja, aquele que afronta o ordenamento jurídico, que é ilícito.

Violência Arbitrária

O delito de violência arbitrária está previsto no artigo 322 do Código Penal. A conduta típica é a de praticar
violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la. Pune-se aquele que age de forma violenta,
exerce a violência. A violência deve ser arbitrária, não configurando o crime a prática de violência, no
exercício das funções, de forma lícita. O preceito secundário do tipo penal traz a sanção de detenção, de
seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência. Ficará absorvida pelo tipo a prática de vias
de fato. No caso de a violência configurar lesão corporal ou morte, haverá o concurso entre as penas do
crime do artigo 322 do CP e a da relativa ao crime praticado em virtude do emprego da vis corporalis. O crime
é próprio, material e doloso, sem previsão de modalidade culposa nem de elemento subjetivo especial do
injusto. Por ser a conduta fracionável, é classificado como plurissubsistente e admite a forma tentada. O STF
já decidiu que não houve a revogação do crime de violência arbitrária pela Lei 4.898/65, a antiga lei de abuso
de autoridade. Deste modo, o crime da legislação especial deve ser aplicado se não se configurar o previsto
no Código Penal, o qual prevê pena mais grave e é mais específico que o da Lei de Abuso de Autoridade.

Abandono de Função

O crime de abandono de função encontra-se no artigo 323 do Código Penal. A lei denomina o crime de
abandono de função pública, mas trouxe no tipo penal a conduta de abandonar cargo público. Por isso, a
doutrina faz a pertinente observação de que o crime só se configura no caso de o funcionário público ocupar
cargo público e abandoná-lo ilegalmente. O núcleo do tipo é abandonar, que significar deixar, largar,
desertar. Pune-se o funcionário público que abandona o cargo de forma não permitida por lei. O crime é de
mão própria, formal, e crime omissivo próprio, razão pela qual não admitiria a tentativa. Há, entretanto,
entendimento de que é admissível, apesar de ser difícil sua configuração.

 Modalidades qualificadas: O parágrafo primeiro prevê crime qualificado pelo resultado, no caso de
resultar do abandono prejuízo público, com pena de detenção, de três meses a um ano, e multa. Já o
parágrafo segundo prevê circunstância que torna o crime qualificado, com pena de detenção, de um a três
anos, e multa. Incide se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira.
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou Prorrogado

O delito de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prorrogado está previsto no artigo 324. A conduta
incriminada é entrar o funcionário público no exercício da sua função pública antes de satisfeitas as
exigências legais. Além disso, pune-se aquele que continuar a exercer a função pública, sem autorização,
depois de saber oficialmente da sua exoneração, remoção, substituição ou suspensão. Entrar o funcionário
público na função significa ingressar nela, iniciar o seu exercício. Continuar a exercer a função público
significa não a interromper no caso de ter sido exonerado, removido, substituído ou suspenso, desde que já
tenha havido a cientificação oficial do ato. O crime é próprio, por exigir qualidade específica do sujeito ativo,
a de funcionário público, ainda que já tenha sido exonerado ou ainda não tenha cumprido as exigências para
a posse e investidura. O crime é de mão própria, doloso, formal e plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Violação de Sigilo Funcional

O crime de violação de sigilo funcional está previsto no artigo 325 do Código Penal. Revelar é expor, divulgar,
propagar, anunciar. Facilitar é tornar fácil ou mais fácil, colaborar, favorecer, desembaraçar. Há duas figuras
típicas:

• Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo;
• Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em
segredo.

De forma simples, o artigo 325 do CP prevê a punição do funcionário público que revela ou facilita a revelação
de um fato sigiloso, que é de seu conhecimento em razão do seu cargo. O crime é doloso, próprio, formal,
instantâneo, além de ser plurissubsistente na forma escrita, admitindo a tentativa.

 Modalidades equiparadas: O parágrafo primeiro do artigo 325 determina a imposição da mesma sanção
penal àquele que: I – permite (autoriza, consente) ou facilita (torna fácil ou mais fácil, colabora, favorece,
desembaraça), mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o
acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza (usa), indevidamente, do acesso restrito.

 Modalidade qualificada: O parágrafo segundo do artigo 325 prevê a incidência de forma qualificada em
caso de a ação ou a omissão causar dano à Administração Pública ou a outrem. Cuida-se de crime material,
qualificado pelo resultado, cuja pena passa a ser de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência

O crime de violação de sigilo de proposta de concorrência está formalmente inscrito no artigo 326 do Código
Penal. Entretanto, com a superveniência da Lei 8.666/93, que trata de licitação e contratos administrativos,
houve sua revogação tácita, em virtude do que prevê o seu artigo 94. A matéria foi regulada inteiramente
pela lei posterior, com previsão de pena mais grave, razão pela qual o artigo 326 foi revogado. Deste modo,
o crime passou a ser matéria da legislação penal especial, razão pela qual não serão feitos comentários a
respeito dele.

Conceito de Funcionário Público e Causa de Aumento de Pena


O artigo 327, caput e parágrafo primeiro, do Código Penal, constitui norma penal não incriminadora, da
espécie explicativa ou interpretativa. A conceituação de funcionário público para fins penais é bastante
ampla, bastando o exercício de cargo (vínculo estatutário), emprego (vínculo com base na Consolidação das
Leis do Trabalho) ou função pública (um múnus público, um conjunto de atribuições, como as de mesário
nas eleições ou de jurado). Envolve o exercício transitório (por exemplo, estagiário) ou permanente (como o
delegado ou o promotor de justiça), remunerado (caso do tabelião) ou não remunerado (serviço voluntário).
Ademais, o parágrafo primeiro ainda traz o funcionário público por equiparação, que seria todo aquele que
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para execução de atividade típica da Administração Pública, como os
funcionários terceirizados que exercem suas funções na Polícia Federal.

 Aumento de pena: Já o parágrafo segundo do artigo 327 traz uma causa de aumento de pena aplicável a
todos os crimes do Capítulo I do Título XI, ou seja, os crimes praticados por funcionário público contra a
Administração em Geral. A majorante é de um terço da pena, incidindo se o sujeito ativo de qualquer dos
crimes acima mencionados for ocupante de cargo em comissão; função de direção e função de
assessoramento. A ocupação do cargo ou função deve ocorrer em órgão da Administração direta, de
sociedade de economia mista, de empresa pública ou de fundação instituída pelo Poder Público. O STF já
decidiu que a majorante incide no caso de o sujeito ativo ser governador de Estado.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Usurpação de Função Pública

O crime de usurpação de função pública está previsto no artigo 328 do Código Penal. A ação nuclear típica é
usurpar, que significa apossar-se de, tomar algo sem direito, exercício irregular. A conduta incriminada é
usurpar o exercício de função pública. É necessário que o agente efetivamente pratique atos inerentes à
função pública, qualquer que ela seja, remunerada ou não, permanente ou transitória. O crime é comum,
por não exigir qualidade específica do sujeito ativo para sua configuração. Admite-se, inclusive, que o
funcionário público cometa o crime, caso usurpe função estranha à que ocupa. É doloso, sem previsão de
modalidade culposa. É formal, independendo sua consumação da ocorrência de resultado naturalístico. Por
fim, é plurissubsistente, já que sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte, admite a modalidade
tentada.

 Modalidade qualificada: O parágrafo único do artigo 328 prevê que, se houver o resultado consistente
na obtenção de vantagem pelo agente, a pena passa a ser de reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Resistência

O crime de resistência está tipificado no artigo 329 do Código Penal. A conduta incriminada é opor-se à
execução de um ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a
quem lhe esteja prestando auxílio. Deve haver, portanto, o emprego de violência (vis absoluta, física) e de
ameaça (vis relativa, coação moral) deve ser direcionado ao funcionário público que esteja executando o ato
ou quem lhe preste auxílio. A resistência passiva, por outro lado, não configura o crime em estudo, que exige
a violência ou ameaça. O ato a que o agente se opõe deve ser legal, ou seja conforme o ordenamento jurídico.
O crime é comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo para sua configuração. É doloso, sem
previsão de modalidade culposa. É formal, independendo sua consumação da ocorrência de resultado
naturalístico. Por fim, é plurissubsistente, já que sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte,
admite a modalidade tentada.

 Modalidade qualificada: O artigo 329, parágrafo primeiro, prevê a forma qualificada, que se configura se
o ato, em razão da resistência, não se executa, sendo que a pena passa a ser de reclusão, de um a três anos.

 Concurso com violência: O parágrafo segundo do artigo 329 prevê que as penas das formas do crime de
resistência são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

Desobediência

O artigo 330 do Código Penal trata da desobediência. A conduta incriminada é desobedecer a ordem legal
de funcionário público. A ordem deve ser emitida pelo funcionário público, de forma específica para o
agente, que deve ser obrigado a atender a ordem. Se houver cominação de sanção civil ou administrativa,
sem previsão de configuração do crime, o fato é atípico. Ou seja, não se configura o delito caso exista uma
sanção específica para o caso do descumprimento da ordem pelo seu destinatário. O crime é comum. É
doloso, formal e plurissubsistente, já que sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte, admite a
modalidade tentada. No caso de o sujeito desobedecer a uma ordem, exercendo uma atividade de que foi
suspenso ou privado por ordem judicial, configura-se o crime do artigo 359 do Código Penal.

Desacato

O crime de desacato tem previsão no artigo 331 do Código Penal. A conduta incriminada é desacatar
funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Portanto, a humilhação do funcionário deve se
dar no exercício da função ou em razão dela. O crime é comum, doloso e formal. Por fim, segundo a doutrina
majoritária, é plurissubsistente, já que sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte, admite a
modalidade tentada. Entretanto, não se admite a modalidade culpada se for praticado verbalmente. Surgiu
a discussão sobre o controle de convencionalidade do artigo 331 do Código Penal, já que o Pacto de São José
da Costa Rica tornaria incompatível com a ordem jurídica brasileira a tipificação do crime de desacato. É de
se ressaltar que há precedente da Corte Interamericana de Direitos Humanos neste sentido. Entretanto, o
Superior Tribunal de Justiça, após um julgado em sentido contrário de uma de suas Turmas, firmou o
posicionamento de que subsiste a criminalização da conduta de desacato. O Supremo Tribunal Federal, por
sua vez, provocado a se manifestar sobre a controvérsia, entendeu que o assunto é de índole
infraconstitucional, não adentrando no seu mérito.

Tráfico de Influência

O crime de tráfico de influência está situado no artigo 332 do Código Penal. A conduta incriminada é solicitar,
exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem. A justificativa usada
pelo agente é que ele conseguiria influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
Não é preciso que ele realmente tenha a influência ou que ele realmente consiga modificar a atuação do
funcionário público, basta que ele use tal pretexto para solicitação, exigência, cobrança ou recebimento de
vantagem ou promessa de vantagem. O crime é comum, de forma livre e doloso, sendo formal nas
modalidades “solicitar”, “exigir” e cobrar”, enquanto é material na forma de “obter”. É plurissubsistente.
Corrupção Ativa

O crime de corrupção ativa está previsto no artigo 333 do Código Penal. O crime é oferecer (dar de presente,
apresentar) ou prometer (comprometer-se a dar, fazer promessa de dar) vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a:

• Praticar ato de ofício;


• Omitir ato de ofício;
• Retardar ato de ofício.

Como exceção à teoria monista, no caso de corrupção, a prática da conduta pelo funcionário público e pelo
particular, mesmo que em concurso, configura crimes diferentes para cada um deles. Se o particular oferece
a vantagem e o funcionário público a aceita, o primeiro responde por corrupção ativa, enquanto o último
incorre nas penas do delito de corrupção passiva. O crime é comum, doloso, formal, instantâneo e
plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada.

 Modalidade majorada: O parágrafo único do artigo 333 prevê a causa de aumento de um terço no caso
de o funcionário retardar ou omitir ato de ofício ou praticá-lo infringindo dever funcional.

Descaminho

O artigo 334 prevê o crime de descaminho. Iludir é frustrar, deixar de cumprir. A conduta incriminada é iludir,
total ou parcialmente, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo
de mercadoria. Pune-se o agente que deixa de pagar os valores devidos, inclusive os de imposto, que deveria
ter pago por importar, exportar ou consumir mercadoria. O crime é comum, doloso, de forma livre e
instantâneo, além de ser plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada. O entendimento dos Tribunais
Superiores é de que o crime de descaminho é formal, de modo que sua consumação não depende da
constituição definitiva do crédito tributário. Sobre a aplicação do princípio da insignificância, o STJ e o STJ
adotam o limite previsto no artigo 20 da Lei nº 10.522/02, atualizado pelas Portarias 75/2012 e 130/2012,
ambas do Ministério da Fazenda. Deste modo, o fato é materialmente atípico caso o valor total dos tributos
elididos, ou seja, não pagos, não atinja o montante de R$ 20.000,00, por reconhecimento da incidência do
princípio da insignificância. Quanto à reiteração delitiva e a aplicação do princípio da insignificância, o
Supremo Tribunal Federal tem posição pela sua incompatibilidade no caso de descaminho, ainda que o valor
seja inferior ao patamar estabelecido pela sua jurisprudência.

 Formas equiparadas: O parágrafo primeiro prevê várias modalidades equiparadas, determinando a


aplicação da mesma pena se o agente: pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de
importação fraudulenta por parte de outrem; adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. Além disso, o parágrafo
segundo prevê que são equiparadas às atividades comerciais, para configuração das modalidades
equiparadas, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive
o exercido em residências, como os ambulantes e os camelôs.

 Forma majorada: Aplica-se a pena sem dobro se o crime for praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.

Contrabando

O crime de contrabando, antes previsto no mesmo tipo penal do descaminho, foi modificado pela Lei
13.008/2014, que incluiu o artigo 334-A no Código Penal para sua regulação de forma separada. A conduta
incriminada é importar ou exportar mercadoria proibida. O crime é comum, doloso e de forma livre, além
de ser instantâneo. Por fim, é plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada.

 Formas equiparadas: O parágrafo primeiro do artigo 334-A prevê formas equiparadas à do caput,
incorrendo na mesma sanção penal quem: pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; importa
ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público
competente; reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; vende, expõe à
venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; adquire, recebe ou oculta, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei
brasileira. Assim como ocorre no tipo do descaminho, o parágrafo segundo prevê que são equiparadas às
atividades comerciais, para configuração das modalidades acima elencadas, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.

 Forma majorada: aplica-se a pena em dobro se for praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

Impedimento, Perturbação ou Fraude Concorrência

O crime de impedimento, perturbação ou fraude de concorrência está previsto no artigo 335 do Código
Penal. Pune-se quem impede, perturba ou frauda concorrência pública ou venda em hasta pública; assim
como quem busca afastar ou afasta concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude
ou oferecimento de vantagem.

Ambas as condutas se referem a concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela
administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal. O preceito secundário do tipo
penal traz a sanção de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à
violência. Ficará absorvida pelo tipo a prática de vias de fato. No caso de a violência configurar lesão corporal
ou morte, haverá o concurso entre as penas do crime do artigo 322 do CP e a da relativa ao crime praticado
em virtude do emprego da vis corporalis. Com a superveniência da Lei 8.666/93, alguns passaram a defender
a ab-rogação do artigo 335 do Código Penal, especialmente em razão do que preveem os artigos 90, 93, 95,
96 e 98 de referido diploma legal. Prevalece, entretanto, que houve apenas derrogação pela Lei 8.666/93,
ou seja, sua revogação parcial. O crime é comum, doloso, formal e plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Inutilização de Edital ou de Sinal


O crime de inutilização de edital ou de sinal está previsto no artigo 336 do Código Penal. Os núcleos do tipo
são rasgar; inutilizar; conspurcar; violar ou, de novo, inutilizar. São duas as figuras típicas:

• rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital fixado por ordem de funcionário público;
• violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto.

O crime é comum, doloso, de forma livre, instantâneo e plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada.

Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento

O artigo 337 traz o crime de subtração ou inutilização de livro ou documento. A conduta incriminada é
subtrair ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de
funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público. O crime é comum, por não exigir
qualidade específica do sujeito ativo para sua configuração. Cuida-se de delito expressamente subsidiário,
como se nota da previsão do seu preceito secundário. É doloso, sendo que a maioria da doutrina entende
não ser necessário elemento subjetivo especial do injusto. É crime de forma livre, instantâneo e admite a
modalidade tentada.

Sonegação de Contribuição Previdenciária

O delito de sonegação de contribuição previdenciária tem localização no artigo 337-A do Código Penal,
incluído pela Lei n. 9.983/2000. A conduta incriminada é suprimir ou reduzir contribuição social
previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

• omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação


previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou
a este equiparado que lhe prestem serviços;
• deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
• omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias.

Cuida-se de delito de forma vinculada, por elencar as formas pelas quais as condutas de suprimir ou reduzir
a contribuição previdenciária ou seus acessórios são típicas. O artigo 337-A, caput, é norma penal em branco,
a ser complementada pela legislação previdenciária. O crime é comum, doloso, instantâneo, é
plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada. O STF e o STJ pacificaram o entendimento de que o crime
é material, só se consumando após a constituição definitiva do crédito tributário. Sobre o elemento subjetivo
do crime de sonegação de contribuição previdenciária, a jurisprudência do STJ firmou-se pela exigência
apenas do dolo genérico. Com relação à aplicação do princípio da insignificância, atualmente STJ e STF negam
a incidência aos crimes de apropriação de contribuição previdenciária e sonegação de contribuição
previdenciária. É relevante registrar que o Superior Tribunal de Justiça não admite o reconhecimento da
continuidade delitiva entre o crime de apropriação indébita previdenciária e o de sonegação de contribuição
previdenciária.
Extinção da punibilidade: STJ tem considerado que a quitação do débito referente à sonegação extingue a
punibilidade, nos termos da Lei 10.684/03. O STF possui precedente no mesmo sentido.

Causa de diminuição de pena e aplicação alternativa da pena de multa: O parágrafo terceiro do artigo 337-
A do Código Penal prevê que, se o empregador não for pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a
metade ou aplicar apenas a de multa. Ademais o parágrafo quarto determina que o valor mencionado seja
reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA


JUSTIÇA E CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


Reingresso de estrangeiro expulso

O crime de reingresso de estrangeiro expulso está previsto no artigo 338 do Código Penal. Reingressar é
entrar novamente, é ingressar de novo. A conduta tipificada é a de o estrangeiro retornar ao território
nacional após já ter sido expulso. Obviamente, exige-se que o estrangeiro tenha consciência de que houve
sua regular expulsão e não é permitido seu retorno, por não ter havido revogação da decisão. Diverge a
doutrina sobre configurar o crime a entrada no território jurídico ou por extensão, ou se apenas se satisfaz
o tipo com o ingresso no território físico. Mirabete defende a primeira posição, que, ao que parece, é a
posição também de Cezar Bitencourt. Já Damásio de Jesus defende a segunda posição. O crime é próprio, só
podendo ser praticado pelo estrangeiro expulso do território nacional. O crime é doloso e a maioria entende
ser crime material. É instantâneo, consumando-se em um dado instante no tempo, mas alguns entendem
ser crime permanente. É plurissubsistente e admite a forma tentada, de acordo com a doutrina majoritária.

Denunciação caluniosa

O delito de denunciação caluniosa está previsto no artigo 339 do Código Penal. A conduta incriminada é dar
causa à instauração de investigação policial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou
ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. Pune-se,
portanto, aquele que, sabendo que alguém é inocente, mesmo assim dá causa à instauração de um dos
seguintes procedimentos: Investigação policial; Instauração de investigação administrativa; Inquérito civil ou
Ação de improbidade administrativa. Cumpre notar que, no caso de investigação pela polícia, o tipo não
exige a instauração do inquérito, mas se contenta com o início da investigação policial em virtude da falsa
imputação do crime a alguém. O crime é comum, instantâneo, doloso e plurissubsistente.
Forma majorada: O parágrafo primeiro do artigo 339 prevê majorante de sexta parte da pena, caso o agente
se sirva de anonimato ou de nome suposto.

Forma minorada: O artigo 339, em seu parágrafo segundo, traz uma minorante da pena. Determina a
diminuição da pena pela metade, no caso de a imputação ser de prática de contravenção.

Comunicação falsa de crime ou contravenção

O artigo 340 traz a conduta típica é provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime
ou de contravenção que sabe não ter se verificado. Configura-se o crime com a prática de qualquer diligência
para elucidação da infração penal, não sendo necessária a instauração do inquérito criminal. Atenção: Na
comunicação falsa de crime ou contravenção, o agente comunica a ocorrência de uma infração penal que
sabe não ter ocorrido. Já na denunciação caluniosa, o sujeito ativo comunica a prática de um crime por
determinada pessoa, sabendo que ela é inocente. A doutrina majoritária aponta não haver crime no caso de
comunicação a um policial, dado que a expressão autoridade não pode ser objeto de analogia, pois seria em
prejuízo do réu. O crime é instantâneo, doloso e material, por ser necessária a modificação do mundo
exterior para sua consumação, ou seja, o início das providências pela autoridade. Por ser a conduta
fracionável, é possível a tentativa, sendo o crime plurissubsistente.

Autoacusação falsa

Acusar-se é atribuir uma infração a si mesmo, é apresentar-se como responsável. Tipifica-se a ação de se
acusar, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem. O agente comunica que
cometeu um crime que não ocorreu ou se arroga a autoria de crime cometido por outra pessoa. O crime é
comum, instantâneo e formal, de modo que não precisa de resultado naturalístico (prática de algum ato pela
autoridade) para a sua consumação. Existe controvérsia entre os penalistas sobre a ocorrência de concurso
material de crimes no caso de a autoacusação falsa for feita para a ocorrência do estelionato, na modalidade
de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro (artigo 171, § 2º, V, do CP). O crime é doloso,,
sendo que parte da doutrina entende ser necessário o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no
intuito de provocar a ação inútil da autoridade, com base na afirmação do agente de que ele mesmo praticou
o crime. Por ser fracionável a conduta, o crime é classificado como plurissubsistente e admite a tentativa.

Falso testemunho ou falsa perícia

O artigo 342 do CP dispõe sobre o crime de falso testemunho ou falsa perícia. As condutas incriminadas, a
serem praticadas por testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete são: fazer afirmação falsa; negar
a verdade e calar a verdade. A falsidade pode ocorrer em processo judicial (instaurado no âmbito do Poder
Judiciário, presidido por um juiz, para exercício da jurisdição), ou administrativo (procedimento instaurado
no âmbito da Administração Pública), inquérito policial (procedimento de investigação criminal, a cargo da
polícia judiciária) ou em juízo arbitral (aquele instaurado por meio da arbitragem, método de resolução de
conflitos que depende da convenção de arbitragem, ou seja, decisão das próprias partes de submeter a
controvérsia à apreciação de um árbitro ou uma turma de árbitros). Trata-se de crime de mão própria, razão
pela qual não se admite a coautoria, pois só a própria testemunha ou o próprio perito pode praticá-lo.
Entretanto, o crime em estudo é o que admite a excepcionalíssima coautoria em crime de mão própria, no
caso de falsa perícia, se forem dois os peritos e eles assinarem conjuntamente o laudo falso sobre a perícia
por eles realizada. Grande parte da doutrina ressalva a necessidade de potencialidade lesiva da conduta
praticada, apta a influenciar o julgador em relação ao seu convencimento no processo ou o curso das
investigações no inquérito. O crime é instantâneo, doloso e plurissubsistente na modalidade de falsa perícia,
admitindo a tentativa. No caso de falso testemunho, prevalece ser impossível o conatus.

Modalidades majoradas: Há a previsão de causa de aumento de pena, de um sexto a um terço, quando


praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

Retratação

O parágrafo segundo do artigo 342 do Código Penal determina que o fato deixa de ser punível se, antes da
sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Em se tratando de
crime de falso testemunho ou falsa perícia, a retratação pode ser oferecida até a sentença de primeira
instância, mas não do processo penal em que o sujeito é acusado do próprio crime de falsa perícia ou falso
testemunho. O termo final do prazo é ser proferida sentença, de primeiro grau, no processo em cujo curso
o acusado prestou falso testemunho ou elaborou falsa perícia. O Código Penal prevê que a retratação do
falso testemunho ou da falsa perícia tem como consequência a extinção da punibilidade do fato. Por isso,
esta causa de extinção da punibilidade se estende aos demais agentes, coautores ou partícipes.

Corrupção ativa de testemunha, servidor ou auxiliar da justiça

Passamos à análise do artigo 343 do CP e, portanto, sobre o crime de corrupção ativa de testemunha,
servidor ou auxiliar da Justiça. A conduta incriminada é dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra
vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete. Exige-se que o agente tenha como
finalidade que o sujeito (testemunha, servidor ou auxiliar da Justiça) faça afirmação falsa, negue ou cale a
verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação. O que se pune aqui é que o agente
dê, ofereça ou prometa dinheiro ou qualquer outra vantagem, ou seja, suborne alguém para que esta pessoa
pratique o crime de falso testemunho. O crime é comum e doloso, com exigência de finalidade especial do
tipo, consistente no intuito de obter do terceiro uma afirmação falsa. É formal, instantâneo e
plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Coação no curso do processo

O crime de coação no curso do processo está tipificado no artigo 344 do Código Penal e a conduta
incriminada é usar (utilizar, empregar) de violência (vis absoluta, coação física) ou grave ameaça (vis
compulsiva, coação moral) contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada
a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral. É necessário, ainda, que o
emprego de violência ou grave ameaça tenha o fim de favorecer interesse próprio ou alheio. O crime é
comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, instantâneo e doloso, exigindo o elemento
subjetivo especial do injusto, consistente no favorecimento de interesse próprio ou de outrem. É
plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. O preceito secundário do artigo 344
prevê a sanção penal de reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Exercício arbitrário das próprias razões

O artigo 345 do Código Penal trata do crime de exercício arbitrário das próprias razões sendo a conduta
incriminada fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite. O tipo prevê que se configura o crime nos casos em que a lei não permite que o indivíduo faça
justiça pelas próprias mãos, hipóteses em que a lei faculta que se aja em defesa de seu direito, como na
retenção dos bens e na legítima defesa. Fazer justiça pelas próprias mãos é defender a sua pretensão por via
transversa, que não a legal. Cuida-se de crime de forma livre, possibilitando diversas formas de execução, de
defesa da pretensão, mesmo que seja legítima. Existe divergência sobre a necessidade do resultado
naturalístico do crime para a consumação do delito, sendo que parte da doutrina entende necessária a
satisfação da pretensão, classificando o crime como material. É a opinião de Nelson Hungria. Por outro lado,
alguns doutrinadores defendem que o crime é formal, não dependendo de resultado naturalístico para sua
consumação. O crime é comum, instantâneo e doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do injusto,
consistente na satisfação de sua pretensão. É plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Exercício arbitrário das próprias razões: modalidade especial

O artigo 346 traz um crime que configura uma modalidade especial do crime de exercício arbitrário das
próprias razões. A conduta incriminada é tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção. Cuida-se de tipo penal sem denominação legal,
ou seja, nomen iuris. A doutrina costuma denominá-lo de modalidade especial de exercício arbitrário das
próprias razões. Só pode ser o sujeito ativo aquele que é o proprietário da coisa, o que faz com o que crime
seja classificado como próprio. É material, pois só se consuma com o resultado naturalístico. É instantâneo,
consumando-se em um instante determinado no tempo. Seu elemento subjetivo é o dolo, não havendo
previsão de modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo o conatus.

Fraude processual

A conduta incriminada é inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado


de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito. Pune-se o sujeito que busca
se utilizar de fraude, ardil ou engodo para modificar o estado de lugar, de coisa ou de pessoa. Ele tenta
enganar o juiz ou o perito por meio de uma alteração do estado de um dos objetos materiais previstos no
tipo, com uso de ardil, artifício. A modificação de estado deve ser de lugar, coisa ou pessoa, sendo vedada a
inclusão de algum outro objeto por analogia. Nesta modalidade, prevista no caput do artigo 347, exige-se
que a conduta ocorra na pendência de processo civil ou administrativo. Portanto, o início do procedimento
antes da ação do agente é condição para a configuração do tipo penal. O crime é comum, podendo ser
praticado por qualquer pessoa. É doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no
intuito de induzir o juiz ou o perito a erro.

Forma majorada: deve haver a aplicação da pena em dobro, incidindo a majorante no caso de a inovação
ocorrer para produzir efeito em processo penal. O STJ já entendeu se caracterizar referida modalidade de
crime ainda que não haja procedimento criminal instaurado.

Favorecimento pessoal

O delito de favorecimento pessoal está previsto no artigo 348 do Código Penal e a conduta incriminada é
ajudar o autor de crime punido com reclusão a subtrair-se da ação de autoridade pública. Pune-se aquele
que praticou crime, com previsão de pena de reclusão, e que busca se furtar da resposta do Estado, querendo
sair impune do que fez. A conduta do agente deve ocorrer após a consumação do crime ou, se o delito for
tentado, após o fim da prática dos atos executórios. Ademais, não pode ter havido acordo prévio entre o
agente e o sujeito que vai ajudá-lo. Caso contrário, tem-se um caso de concurso de pessoas, respondendo o
agente que auxilia uma outra pessoa a se furtar da ação da autoridade pela participação no crime cometido
por ela. O crime é comum, doloso, instantâneo, formal e plurissubsistente, admitindo a tentativa. Ademais,
o STJ já decidiu que o auxílio para que criminoso receba atendimento médico não configura o crime.

Modalidade privilegiada: Configura-se caso o crime praticado pelo indivíduo que é auxiliado pelo sujeito
ativo não tiver cominação de pena de reclusão.

É de se notar que nem a modalidade simples nem a majorada se referem ao auxílio a autor de contravenção
penal, razão pela qual se o sujeito ativo ajuda um contraventor a se subtrair da ação da autoridade, sua
conduta não se subsome ao artigo 348 do CP.

Isenção de pena: se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica
isento de pena. Como se trata de norma que limita o poder de punir do Estado, pode-se incluir no rol o
companheiro ou companheira, pois equiparado, pela ordem constitucional, ao cônjuge.

Favorecimento real

O artigo 349, por sua vez, trata do favorecimento real e a conduta incriminada é prestar auxílio a criminoso,
destinado a tornar seguro o proveito do crime, desde que não seja caso de coautoria ou de receptação.
Enquanto no artigo 348 se pune o favorecimento pessoal, consistente na busca do sujeito de se livrar impune
do que fez, no artigo 349 do CP se criminaliza a conduta de se garantir o proveito do crime. Ou seja, neste
caso o auxílio se volta à coisa, ao proveito do crime, razão pela qual se denomina o crime de favorecimento
real. A conduta do agente deve ocorrer após a consumação do crime ou, se o delito for tentado, após o fim
da prática dos atos executórios. Ademais, não pode ter havido acordo prévio entre o agente e o sujeito que
vai ajudá-lo. Caso contrário, tem-se um caso de concurso de pessoas, respondendo o agente que auxilia uma
outra pessoa a tornar seguro o proveito do crime pela participação no crime cometido por ela. Também não
pode ser o caso de receptação, o que torna o crime de favorecimento real subsidiário em relação àquele. Só
se configura o crime em tela se a conduta do agente, ao buscar assegurar o proveito do crime, não se amoldar
ao tipo penal da receptação, em qualquer de suas modalidades. A lei fala em proveito do crime, que não
pode ser entendido de modo a abarcar a contravenção penal, sob pena de analogia in malam partem. O
crime é comum, formal, instantâneo e doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do tipo, a finalidade
específica do agente de tornar seguro o proveito do crime. É plurissubsistente, admitindo a tentativa.

Introdução de aparelho telefônico móvel ou similar em estabelecimento prisional

O artigo 349-A, incluído pela Lei 12.012/2009, passou a criminalizar a introdução de aparelho telefônico
móvel ou similar em estabelecimento prisional, tipificando a conduta de ingressar, promover, intermediar,
auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar em
estabelecimento prisional, desde que não haja autorização legal. No caso de o Diretor de Penitenciário ou
agente público deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, o crime será o
do artigo 319-A do CP. Se o preso utilizar o aparelho celular dentro do estabelecimento prisional, haverá a
prática de falta grave. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, formal e
instantâneo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, conforme entendimento majoritário.

Exercício arbitrário ou abuso de poder


Referido crime foi revogado pela nova Lei de Abuso de Autoridade.

Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança

O crime de fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança tem seu tipo penal no artigo 351 do
Estatuto Repressivo. O tipo é misto alternativo. A conduta incriminada é promover ou facilitar a fuga de
alguém legalmente preso ou submetido a medida de segurança detentiva. A medida de segurança detentiva
é a internação em estabelecimento para tratamento psiquiátrico. A prisão abrange o cumprimento das penas
de prisão simples, reclusão e detenção, bem como de presos em flagrante ou por prisão processual. O crime
é comum, doloso, instantâneo e material, consumando-se com a fuga do preso ou internado. É
plurissubsistente, admitindo a tentativa. O STJ já decidiu não configurar o crime de fuga de pessoa presa ou
submetida a medida de segurança, nos casos dos menores internados (ECA).

Modalidade qualificada: O parágrafo primeiro do artigo 351 do Código Penal traz uma forma qualificada do
crime, com pena de reclusão, de dois a seis anos. Configura-se caso o crime seja praticado a mão armada, ou
por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento.

Emprego de violência: O artigo 351, em seu parágrafo primeiro, prevê a aplicação também da pena
correspondência à violência, caso esta seja praticada contra a pessoa.

Modalidade qualificada: O parágrafo terceiro do artigo 351 traz mais uma modalidade qualificada, com pena
de reclusão, de um a quatro anos. Configura-se caso o crime seja praticado por pessoa sob cuja custódia ou
guarda está o preso ou o internado.

Modalidade culposa: o crime é próprio, sendo funcional, ou seja, só pode ser praticado pelo funcionário
público. A pena é a de detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Evasão mediante violência contra a pessoa

O artigo 352 do CP traz o delito de evasão mediante violência contra a pessoa. Evadir é escapar, fugir. A
conduta incriminada é a de o preso ou o internado (por medida de segurança detentiva) evadir-se ou tentar
evadir-se, usando de violência contra a pessoa. O crime é de forma vinculada, sendo praticado por meio de
violência contra a pessoa, ou seja, utilização ou emprego de coação física contra alguém. O tipo penal
equipara a forma tentada e a forma consumado do delito, ao trazer como condutas típicas as de “evadir-se”
ou “tentar evadir-se”, sendo crime de atentado ou de empreendimento. Cuida-se de delito próprio, pois só
pode praticá-lo o preso ou o sujeito internado para tratamento psiquiátrico, por imposição de medida de
segurança. É, ainda, crime de mão própria, não admitindo a coautoria. É doloso, material e instantâneo. No
caso de o indivíduo cometer dano à cela para sua fuga, não se configura o crime do artigo 352 do CP, que
exige violência contra a pessoa, e, segundo o STJ, não se configura sequer o crime de dano.

Arrebatamento de preso

O delito de arrebatamento de peso está previsto no artigo 353 do CP. Arrebatar consiste em arrancar, tomar,
retirar com violência. A conduta incriminada é arrebatar preso do poder de quem o tenha sob custódia ou
guarda, com o escopo de maltratá-lo. É necessário que o preso seja levado por meio de violência, sob pena
de não se configurar o crime do artigo 353 do CP. Os maus tratos consistem no tratamento agressivo,
abrangendo a humilhação e a agressão física. O crime é comum, formal, instantâneo, plurissubsistente
(admite a tentativa) e doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do injusto, que se consubstancia na
finalidade do agente de maltratar o preso. O preceito secundário prevê a aplicação da pena correspondente
à violência pela regra do cúmulo material, além da pena do arrebatamento de preso.

Motim de presos

O crime de motim de presos está previsto no artigo 354 do CP. Cuida-se de crime de concurso necessário,
sendo que há doutrinadores que entendem que deve haver o número mínimo de três (Damásio de Jesus) e
os que defendem o mínimo de quatro presos (Mirabete), enquanto outros não fixam número mínimo, por
não haver tal exigência na lei (Cezar Roberto Bitencourt, Rogério Sanches Cunha). O crime é próprio, só
podendo praticá-lo o preso. É doloso e material, consumando-se com a efetiva desordem ou quebra da
disciplina da prisão. É instantâneo e plurissubsistente, admitindo a tentativa (entendimento majoritário).

Patrocínio infiel

O delito de patrocínio infiel tem previsão no artigo 355 do Código Penal. A conduta incriminada é o sujeito,
como advogado ou procurador, trair o seu dever profissional, prejudicando interesse cujo patrocínio em juízo
lhe é confiado. Ou seja, o advogado ou procurador age de forma desleal em relação ao interesse cuja defesa
em juízo era seu encargo. O crime é próprio, exigindo a qualidade de advogado ou procurador para o sujeito
ativo. É doloso, não havendo previsão de forma culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do
injusto. É material, exigindo resultado naturalístico para sua consumação. É instantâneo, consumando-se em
um dado instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, conforme entendimento majoritário.

Patrocínio Simultâneo ou Tergiversação

O parágrafo único prevê outra forma do crime, com nomen iuris próprio, chamado pela lei de patrocínio
simultâneo ou tergiversação. Prevê a lei incorrer na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que
defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.São duas as figuras previstas no
tipo penal: defender na mesma causa, simultaneamente, partes contrárias. É o patrocínio simultâneo, que
pode ocorrer inclusive por meio de outra pessoa (um sócio, por exemplo, do escritório de advocacia);
defender, na mesma causa, sucessivamente, partes contrárias. Cuida-se da tergiversação. O agente
abandona o seu cliente e, em sequência, passa a defender a parte contrária, seja diretamente ou também
por meio de interposta pessoa. O crime também é próprio, instantâneo, plurissubsistente e doloso.
Entretanto, nesta modalidade é formal, consumando-se independentemente de resultado naturalístico.

Sonegação de papel ou objeto de valor probatório

O crime de sonegação de papel ou objeto de valor probatório está previsto no artigo 356 do Código Penal. A
conduta incriminada pode se cindir em duas figuras: inutilizar, total ou parcialmente, autor, documento ou
objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador; deixar de restituir autor,
documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador. O crime é
próprio, pois se exige, para ser sujeito ativo, a qualidade de advogado ou procurador. É doloso, não havendo
previsão de forma culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. É instantâneo,
consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente apenas na modalidade de “inutilizar”,
admitindo a tentativa, conforme entendimento majoritário.

Exploração de prestígio
O delito de exploração de prestígio está localizado, no Código Penal, no seu artigo 357, sendo que a conduta
incriminada é explorar prestígio que se arroga ter sobre juiz, jurado, membro do Ministério Público,
funcionário da Justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha. O tipo penal é solicitar ou receber
dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir, de influenciar em magistrado, jurado, órgão do
Ministério Público, serventuário ou auxiliar da Justiça. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer
pessoa. É doloso, não havendo previsão de forma culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial
do injusto. É formal na modalidade de “solicitar”, sendo material no caso de o agente “receber”. É
instantâneo, consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa,
conforme entendimento majoritário, salvo se a modalidade for a solicitar na forma verbal. É forma especial
em relação ao tráfico de influência.

Violência ou fraude em arrematação judicial

O crime do artigo 358 do Código Penal é o de violência ou fraude em arrematação judicial. As condutas
incriminadas podem ser divididas em duas partes: impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial – esta
modalidade se classifica como crime material, é plurissubsistente, admitindo a tentativa, conforme
entendimento majoritário; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem, podendo a vantagem ser de qualquer natureza, sendo o
crime formal, consumando-se independentemente de resultado naturalístico. A doutrina aponta que este
crime se à arrematação judicial realizada pelo particular, por ordem judicial. Em caso de arrematação
promovida pelo Poder Público, configura-se o crime do artigo 335 do CP ou alguma das figuras delitivas da
Lei 8.666/93. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, não havendo previsão
de forma culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. É instantâneo, consumando-
se em um dado instante do tempo. O preceito secundário prevê a aplicação da pena correspondente à
violência pela regra do cúmulo material, além da pena do delito de violência ou fraude em arrematação
judicial, que é de detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito

O crime de desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito tem previsão no artigo 359
do Código Penal. A conduta incriminada é exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus,
contrariando decisão judicial que suspendeu ou privou o agente de exercê-los. O crime é próprio, segundo a
maioria da doutrina, por exigir a condição do sujeito ativo de ter sido privado ou suspenso, por decisão
judicial, do exercício de função, atividade, direito, autoridade ou múnus. É doloso, formal, instantâneo e
plurissubsistente, admitindo a tentativa, conforme entendimento majoritário. O Supremo Tribunal Federal
já decidiu que deve ser de natureza criminal a decisão judicial que suspende ou priva o agente do exercício
de função, atividade, direito, autoridade. Ademais, apesar de hoje existir crime específico para o caso de
descumprimento de medidas protetivas determinadas por violência doméstica e familiar contra a mulher,
antes da previsão desta figura delitiva o STJ já consignou não configurar o crime do artigo 359 do CP o
descumprimento de medida protetiva.

DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS


Contratação de operação de crédito
O crime de contratação de operação de crédito está previsto no artigo 359-A do CP. Os núcleos do tipo são
ordenar (dar a ordem, mandar, determinar), autorizar (permitir, assentir, aprovar) e realizar (fazer, efetivar,
efetuar). A conduta incriminada é ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, que pode ser interno
ou externo, sem prévia autorização legislativa. O crime, portanto, é a de contratação de operação de crédito
sem que a lei permita. A operação de crédito pode ser celebrada no âmbito nacional ou com entidade
estrangeira. Na modalidade realizar, o crime é material, enquanto se trata de delito formal quanto às
condutas de ordenar ou autorizar. O crime é próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público com
atribuição para ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito. Em todas as modalidades, é possível a
tentativa, apesar de haver divergência doutrinária. O crime é instantâneo, consumando-se em um dado
momento do tempo. Se o agente for prefeito, o crime será o do artigo 1º do Decreto-Lei 201/67. Se a conduta
for praticada pelo Presidente da República, configura-se o artigo 10 da Lei 1.079/50.

Formas equiparadas: Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza operação de crédito, interno
ou externo:

• com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do Senado


Federal. A lei ou resolução do Senado Federal autorizou a contratação da operação de crédito, mas o
agente a extrapola.
• quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei. Cuida-se de
autorização, também autorizada, mas por lei. Neste caso, o agente ultrapassa o limite não da
autorização, mas do montante da dívida consolidada.

Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar

O artigo 359-B do Código Penal trata do delito de inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar.
São ações nucleares típicas ordenar (dar a ordem, mandar, determinar) e autorizar (permitir, assentir,
aprovar). A conduta incriminada é a de ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar de despesa que
não tenha sido previamente empenhada (não houve o empenho da despesa) ou que exceda limite
estabelecido em lei (houve o empenho, mas a inscrição é de valor superior ao limite fixado na lei). A
possibilidade de tentativa é controvertida na doutrina. O crime é próprio, só podendo ser praticado por
agente público com atribuição de ordenar ou promover a inscrição em restos a pagar.

Assunção de obrigação no último ano de mandato ou legislatura

O crime de assunção de obrigação no último ano de mandato ou legislatura está tipificado no artigo 359-C
do Código Penal, sendo que os núcleos do tipo são ordenar (dar a ordem, mandar, determinar), autorizar
(permitir, assentir, aprovar). As condutas incriminadas são:

• ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano de
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro,
• caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, nos últimos dois últimos quadrimestres do
último ano de mandato ou legislatura, não haja contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa.

O crime é próprio, exigindo a qualidade do sujeito ativo de detentor de mandato eletivo. Há controvérsia
sobre a admissibilidade da forma tentada.
Ordenação de despesa não autorizada

O artigo 359-D do Código Penal prevê o crime de ordenação de despesa não autorizada. Os núcleos do tipo
são ordenar (dar a ordem, mandar, determinar), autorizar (permitir, assentir, aprovar). A conduta tipificada
é ordenar despesa não autorizada por lei. Ou seja, é punida a conduta de determinar a realização de despesa
pública sem que haja autorização orçamentária. Também controverte a doutrina sobre a admissibilidade do
conatus em relação a este crime. Só pode praticá-lo o funcionário público com poder de ordenar despesa. A
Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar 101/2000, trata de despesas vedadas nos seus artigos 15
a 17 e 18 a 24.

Prestação de garantia graciosa

O artigo 359-E do Código Penal trata do crime de prestação de garantia graciosa, que consiste em conceder
a garantia, é dar garantia. A conduta punível é a de prestar garantia em operação de crédito sem que tenha
sido constituída contragarantia em valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei.Por
só poder ser sujeito ativo o agente público com autoridade e poder decisório, o crime é próprio. Também há
controvérsia sobre a possibilidade da tentativa.

Não cancelamento de restos a pagar

A conduta de não cancelamento de restos a pagar tem seu tipo penal no artigo 359-F do Código, sendo que
os núcleos do tipo são deixar de ordenar (não dar a ordem, não mandar, não determinar), deixar de autorizar
(não permitir, não assentir, não aprovar) e deixar de promover (não causar, não provocar, não realizar).
Cuida-se de tipo penal omissivo. Só pode ser sujeito ativo aquele funcionário público que tem atribuição para
ordenar, autorizar ou promover o cancelamento do montante de restos a pagar. Como se trata de crime
omissivo próprio, não se admite o conatus.

Aumento de despesa total com pessoal no último ano de mandato ou legislatura

O artigo 359-G do CP trata do aumento de despesa total com pessoal no último ano de mandato ou
legislatura. A conduta típica é ordenar (dar a ordem, mandar, determinar), autorizar (permitir, assentir,
aprovar) ou executar (realizar, fazer, efetivar, concretizar) ato que acarrete aumento de despesa total com
pessoal nos 180 dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura. Só pode ser sujeito ativo a autoridade
com mandato eletivo, razão pela qual o crime é considerado próprio. O crime é doloso, sem previsão de
forma culposa. Existe divergência sobre a possibilidade da tentativa e a necessidade de resultado
naturalístico para consumação nos casos de “ordenar” e “autorizar”. Na modalidade de “executar”, a
doutrina parece convergir para a natureza de crime material, sendo admissível o conatus.

Oferta pública ou colocação de títulos no mercado

A oferta pública ou colocação de títulos no mercado tem previsão no artigo 359-H do Código Penal. Os
núcleos do tipo consistem em ordenar (dar a ordem, mandar, determinar), autorizar (permitir, assentir,
aprovar) e promover (causar, provocar, realizar). A conduta incriminada é ordenar, autorizar ou promover a
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro de título da dívida pública nos seguintes casos:
• sem que tenham sido criados por lei;
• sem que estejam registrados em sistema centralizado de liquidação e custódia.
O crime é próprio, por exigir a qualidade do sujeito ativo de ser o agente público com poder de ordenar,
autorizar ou promover oferta pública ou colocação no mercado de títulos da dívida pública. É doloso, sem
previsão de modalidade culposa. Existe divergência sobre a possibilidade da tentativa e a necessidade de
resultado naturalístico para consumação nos casos de “ordenar” e “autorizar”. Na modalidade de
“promover”, a doutrina parece convergir para a natureza de crime material, sendo admissível o conatus.

Você também pode gostar