Aulas de Estudos Pessoanos
Aulas de Estudos Pessoanos
Aulas de Estudos Pessoanos
25/01/2021:
29/01/2021:
01/02/2021:
Muitos dos documentos apresentam dois momentos de escrita: duas campanhas (materiais
diferentes – ex. tinta e lápis).
Compulsão para a reescrita: tem-se a consciência de que a obra é imperfeita (no sentido de
inacabada).
05/02/2021:
A tradição editorial Pessoana: tem um forte peso naquilo que é a constituição da figura do
autor.
Presença foi muito importante para a publicação da obra: Pessoa começa a ver-se
consagrado como autor para a geração seguinte. Número 48 da revista, após a morte de Pessoa,
é-lhe dedicado.
Páginas de Doutrina Estética – Prefácio e Selecção de Jorge de Sena: tanto é preciso dar a
conhecer o poeta como o pensador “uma figura sem par no pensamento português”. Porém, é
uma imagem pálida: uma grande parte da obra ensaística em 46 está por publicar.
Jacinto do Prado Coelho, Estudo de 1950 – Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa:
inovador para a época, sobretudo porque não faz uma leitura biografista da obra de um autor
recente para o momento. Procura nos heterónimos o que difere e o que há em comum.
08/02/2021:
Definição de Heterónimo: “[um nome de autor] que exerce, relativamente aos textos, um
certo papel: assegura uma função classificativa”. Focault
12/02/2021:
Carta sobre a génese dos heterónimos (Janeiro de 1935): testamento literário – como quer ser
lido.
Tendência para criar um mundo fictício: infância – criar entidades que não existem.
Constitui um antecedente dos heterónimos (prática de assinar com outros nomes é precoce
em Pessoa). Há também já a ideia de que se é “toda uma Literatura”: com vários géneros –
tradução, poesia, ensaio, sátira - e várias línguas – português, inglês e francês.
Carta sobre a génese dos Heterónimos - 1935: Coterie – conjunto de personagens que
interagem umas com as outras. Existe um investimento na descrição das personagens, de forma
a moldá-las aos olhos dos leitores (sempre comparativamente).
Bernardo Soares: semi-heterónimo – é Pessoa menos o raciocínio e a afectividade (um Pessoa
mutilado). Ambos se movem nos mesmos espaços profissionais.
Ideia já presente na tábua bibliográfica de 1928: a apresentação dos heterónimos deve ser
acompanhada de um aparato narrativo.
19/02/2021:
O Hiper-Autor:
Autor Textual: entidade cujo referente são os seus textos e não referentes empíricos ou
biografáveis. O nome do autor não é neutro: é uma moldura que nos permite destacar um
conjunto de textos em relação a outros.
Pessoa - Heróstrato e a busca da imortalidade: se não houver um nome que garanta a moldura
da atenção, o tipo de atenção dedicada aos textos é diferente. Se o leitor entender que o texto é
do autor x, vai lê-lo com determinadas expectativas.
Por ser uma faceta secundária da sua obra, Pessoa considera que a Mensagem teria que
ser a sua estreia em português – livro surge no domínio do episódico e do circunstancial
ao público, surge por desígnio divino (momento da remodelação da consciência
nacional). Pessoa coloca-se como autor a nível cósmico – como se Deus comandasse a
sua obra. Pessoa como autor constrói-se como emissário dos Deuses.
Pessoa teve sempre a preocupação de ser reconhecido como autor Inglaterra: como
porta para a e
Europa que sempre teve como horizonte. Pessoa projectou-se sempre como o grande
poeta da Europa.
Em 1935: Pessoa não concebe a publicação dos heterónimos e sim do ortónimo –
“impuro e simples”. A poesia heteronímica estaria num plano superior – objectos da
deliberação e da criação do autor Fernando Pessoa.
22/02/2021:
Hiper-autor: está ao serviço de ordens cósmicas – tenta controlar a sua obra e todas as
instâncias de consagração e divulgação da mesma.
26/02/2021:
Pessoa olha para si como alguém que tem uma missão: um autor que se projecta e que
intervém na história para a posteridade.
01/03/2021:
Shakespeare: maior génio – cuja obra não reflecte a sua genialidade, sendo, por isso, o maior
fracasso – Pessoa quer ser o poeta supremo de toda a Europa, logo, mais que um supra-Camões,
um supra-Shakespeare.
Carta de Pessoa a João Gaspar Simões: defende que o crítico deve analisar o artista-obra e
não a pessoa: Pessoa declara-se um poeta essencialmente dramático.
Para Pessoa, Shakespeare não alcança o último passo apoteótico: cria personagens, mas não
abdica do drama. É o puro génio, mas também o maior fracasso da Literatura: cheio de
potencialidades, mas uma obra que não as honra: “o feito nunca está à altura do imaginado” –
um excesso que não encontra forma num mundo tangível (a única grande obra é aquela que
nunca se fez – a perfeição nas coisas terrenas não existe).
Pessoa acredita que a sua obra é algo velado: de múltiplas fechaduras, para as quais fornece
chaves de interpretação aos seus leitores.
06/03/2021:
Shakespeare como um espelho: descrição de um puro génio incapaz de construir. Os Deuses
deram-lhe todas as faculdades menos a de construir.
Tensão entre: privilegiar a ideia da grande arte como decorrente do génio ou a defesa que
aquilo que garante que esse génio encontre forma é o talento ou a capacidade de construir a
partir daí. Poeta como construtor ou como o génio inspirado.
Processo criativo: qualquer coisa que o poeta ouve e intui – uma pura energia criativa, um todo
orgânico, sem falhas: e quando transposta para palavras vai ser sempre uma sombra daquilo que
podia ter sido.
“Poder construir, erguer um Todo, compor uma coisa que seja como um corpo humano,
com perfeita correspondência nas suas partes, e com uma vida, uma vida de unidade e
congruência, unificando a dispersão de feitios das suas partes!” – ideal criativo de Pessoa: o
que está aqui em causa é a metáfora Aristotélica – ser o poema como um animal / um organismo
(uma unidade que submete todas as suas partes a um Todo – a uma lógica comum, um princípio
vital). O grande problema é: ainda que tenhamos partes perfeitas, a lógica do todo falha e a obra
é imperfeita. Essa noção da falha: é o que motiva precisamente a reescrita dos seus poemas –
“para mim a grande tortura é a da composição”. O que resta é sempre a tentativa de traduzir a
ideia.
Introdução à Estética: a ideia da unidade na obra de arte – tudo deve convergir para o mesmo
efeito (Edgar Allan Poe – A filosofia da composição). O poeta deve eleger o fim para o seu
poema e depois tudo deve contribuir para esse fim, tudo o que for necessário deve estar lá, o que
não for, deve ser excluído.
“As frases que nunca escreverei” – Livro do Desassossego: a coisa perfeita é a que nunca
escreverá, aquilo que no espaço do sonho tem esse nexo e é talhado, quando passa para a
escrita, desagrega-se. Tragédia: tem em si todos os dons menos o talento de os usar. Em sonho:
é mais do que todos, mais do que Homero, Vergílio, Milton.
08/03/2021:
Carta a Adolfo Casais Monteiro: descrição de Caeiro – um êxtase, um título, uma figura.
As provas de que a escrita do Guardador de Rebanhos não foi a fio: materiais, suportes
diferentes, tintas diferentes, versões com diferentes revisões. Há várias fases de campanha que
se sobrepõem; a ordenação dos poemas é alterada de forma consciente, não temos apenas uma
justaposição.
Entrevista a Caeiro
Artigo sobre Caeiro
Traduções / Internacionalização do autor
Caeiro: põe em causa toda a relação com a realidade: o de maior sinceridade intelectual.
O Guardador de Rebanhos:
Poema I:
Poema V:
15/03/2021:
Poema II:
“eu não tenho – eu tenho” – ligados pela pontuação “:” - explicação ou causalidade?
Como falar da Natureza que é suposto ser sentida e não pensada: recusa obsidiante do
pensamento – todo o projecto de Caeiro sintetiza a aporia – uma contradição que não se resolve.
Proclamar que não se pensa e só se sente é em si uma filosofia.
Poemas V / IX: poesia de Caeiro parte de um pressuposto ocidental – atrás de todas as coisas
está um mistério: base cristã – esta vida é uma passagem para a vida eterna; ideia Platónica: este
mundo é a sombra de um outro mundo mais verdadeiro. A poesia de Caeiro pretende suspender
esse mesmo mistério – “mistério das cousas? Sei lá o que é o mistério” (poema V).
Estrofes com estruturas quase prosaicas: pausas entre estrofes – indicam blocos de sentido.
Poema IX: enumeração – procedimento retórico recorrente em Caeiro. Tenta definir a coisa
em vários aspectos porque ela não pode ser um todo – impossibilidade de sintetizar partes
diferentes de uma coisa.
1ª estrofe: metáfora
2ª estrofe: quiasmo entre os conceitos de pensamento e sensação (3ª pessoa – anuncia
um programa) – impossibilidade de fuga
3ª estrofe: marcação lógica / conclusão - “por isso”: dia de calor = sol (proporciona que
não se pense – felicidade). Antítese: sinto triste vs. Sou feliz.
O único em que Caeiro toca a Natureza – na maioria das vezes apenas a vê – a visão é o
mais intelectual dos sentidos – ver é como compreender e pressupõe uma distância
maior entre sujeito e objecto.
Saber a verdade: é ser-se feliz – visão de morte: fechar os olhos, deitar-se imóvel na
terra – momento de abandono.
Base da Poesia de Caeiro assenta nesta antítese: a consciência da sensação de felicidade
causa tristeza.
Aspas na obra de Caeiro: citações – contrariar posições enunciadas – ex. pensar no sentido
íntimo das coisas é postiço.
Poema V:
Parenteses – Caeiro qualifica o modo como fala – aprendeu-o a olhar para as coisas –
modo de falar próprio e especial – a grande questão do G.R. é encontrar a dicção certa
para transmitir a lição do mestre.
Deus = Natureza – mas não é assim que aparece definido: é através de uma
enumeração: árvores, flores, montes, etc, porque a natureza é parte sem todo.
Visão panteísta: “Deus é tudo isto” – relação com o mundo está presente na linguagem
(o que se chama a Deus).
Definição Tautológica: uma pedra é uma pedra. Em pedra temos a coisa a ser definida. Em
pedra temos a definição (restrição ou parte do que se queria definir).
Poema XXIV:
Impossibilidade do projecto de Caeiro: para ter essa visão pura e directa sobre as coisas, é
necessário um estudo profundo – contradição.
Poema XXVI: suspensão momentânea do princípio de ver sem pensar. Luz – permite ver a
verdade, mas Caeiro nesses momentos encontra a falibilidade do seu projecto: ninguém
consegue desaprender por completo e abandonar as condicionantes da linguagem e da tradição.
G.R. – não temos rimas e temos verso livre: quase passa por prosa. Para Caeiro, a ausência
de rimas no poema reflecte a diversidade da natureza. Escrita vem depois do pensamento –
“penso e escrevo como as flores têm cor” – mas, se o poema não pode ser pensado, regista-se a
falibilidade poemática – pensar não é natural.
19/03/2021:
Dificuldades e aporias no projecto do Guardador de Rebanhos: desaprender para ter a visão
pura – ver sem se ter consciência do que se está a ver. Despir a alma da tradição judaico-cristã:
sair da prisão da linguagem, da visão metafórica do mundo.
Linguagem que parece mimetizar um discurso em voz alta: daí repetições, pausas, etc. No
próprio discurso assistimos ao sujeito a decidir como quer dizer o seu poema.
Caeiro é o poeta que tenta aproximar a palavra da coisa vista: por isso, a sua poesia não
obedece a esquemas prévios (poema XIV). Pensamento é sempre esta mácula que existe entre o
sujeito e a coisa.
Poema XXVII: poema constrói-se através desse dilema com a linguagem. O poema parte
desta contradição: só a natureza é divina e ela não é divina (maiúscula da natureza – um todo
que não é comum). Como é que se fala sobre a Natureza: verso isolado funciona como mote e a
segunda estrofe vai desenvolver-se reflectindo sobre a forma como o sujeito encara essa antítese
– como um comentário. A linguagem dos homens traz para Caeiro uma série de vícios (impor
nomes e personalidades às coisas). Imagem de estar ao sol: saber a verdade e ser feliz.
Poema XXXI: a partir do momento em que Caeiro é poeta, tem que usar a linguagem dos
homens e acaba por se trair.
Poema XLV: o sujeito vai interrogar-se a propósito da linguagem que está a usar.
Poema XLVI: poema sobre como fazer poesia – procuro encostar as palavras à ideia. Poema de
sagração de si. Caeiro traz um fato que não consegue despir, pesando tudo aquilo que é
aprendido. Vontade de não ser ele Alberto Caeiro, mas um animal humano: ser a sensação pura
da Natureza.
22/03/2021:
Poema XLVI: fundamental reflexão sobre a poesia – componente metapoética. Escrita como
uma procura. Impossibilidade de concretização do desejo de ser-se só Natureza e mais nada: por
isso é que os versos de autocomplacência surgem com uma concessiva.
Ligação de Caeiro a Cesário: descobriu um ponto de vista mas que recai sobre a cidade:
Caeiro desloca esse olhar para o campo. Poema III: “ler até arderem os olhos o livro de Cesário
Verde”. O modo de olhar de Cesário estava certo mas provocava uma profunda tristeza - coisas
artificiais da cidade que afastavam o homem da pura Natureza.
Análise da
Ceifeira:
Contraste
entre a
Animais e crianças – Alegre inconsciência. O problema do ortónimo é que se quer isto sem se
abandonar o pensamento e a consciência e isso é uma impossibilidade. Ser-se um outro
inconsciente sem deixar de ser um eu consciente.
26/03/2021:
Tópico de “não se saber ser” – por oposição a Caeiro, cuja lição é sobre como devemos
ser, num discurso pedagógico.
Flor é usada como cumprimento do destino natural – no ortónimo, tão natural é a flor
florir como no sujeito pensar. Por oposição a Caeiro: florir é natural e o oposto de
pensar.
Presença obsidiante do pensamento – que, no ortónimo, não é recusada. Por oposição a
Caeiro, que quer sentir e não pensar.
12/04/2021:
Continuação da análise do poema “Tabacaria”:
Oposição entre “nada” e “tudo”. O sujeito que no seu espaço interior ambiciona
ser tudo, mas, na realidade, confronta-se com ser nada.
Recorrência de elementos do lixo, do escatológico.
Figura que se metaforiza: que ao longo do tempo possibilita a reabilitação.
Se olhar para dentro de mim – encontro nada; se olhar para fora – tudo é
estrangeiro, logo nada.
Em Campos, a sensação de ver tudo causa peso e condenação.
Máscara colada ao rosto – Pessoa, Sá-Carneiro, Régio.
Toda a Humanidade é inacessível ao pensamento.
Dualidade: sujeito dentro de uma moldura vs. Homem exterior, na moldura da
porta da tabacaria.
Entender cada coisa como partícula do universo – movimento de expansão até
ao cosmos.
Momento final de deambulação: universo não tem ideal nem esperança.
16/04/2021:
Poema final: começa com notação meteorológica: a nitidez – dia excessivamente nítido
– o excesso não parece compatível com a nitidez.
Obra perfeita – depois implica o descanso: “ter trabalhado muito para depois não
trabalhar nada” – momento de descanso do criador que consuma a obra perfeita.
Primeira estrofe dá conta da marcação de um dia: sob excesso – luz superlativa.
Mecanismo do “como se” – o dia continha a possibilidade de criação da obra, mas isso
não significa que tal tenha acontecido: o poeta da visão constante, no seu momento da
revelação, vai começar por “entrever” – verbo é significativo - “uma estrada por entre
as árvores” – ver algo entrecortado, ou seja, ver algo fraccionado e não por inteiro – fica
também sugerido o sentido de adivinhar através de indícios; “talvez” – intensificar a
experiência de suposição - a revelação que vai ser dita é a lição máxima de Caeiro (a
ausência de mistério das coisas).
O elenco das coisas percepcionadas indica a anulação do conceito de Natureza (até aqui
essencial em Caeiro, como conceito abstracto) – esta não existe, aquilo que a
experiência prova é que apenas existem montes, vales, rios, etc, enquanto coisas
individuais que são diferentes umas das outras. Não existe um todo, porque não há um
denominador comum nestas coisas que o sujeito só conhece porque são diferenças. A
tentativa de achar esse todo é uma doença intelectual.
Na tensão entre a segunda estrofe e a terceira, temos o anúncio de uma libertação dessa
doença das nossas ideias e a persistência do conceito de Natureza com a definição que é
dada. Ao definir a natureza, Caeiro está a dar-lhe uma existência. A terceira estrofe
nega e problematiza a segunda. O mistério é o reconhecimento da diferença individual
entre as coisas.
O todo só permanece na Natureza: que é composta por estas individualidades
estilhaçadas.
Universo Pessoano: tensão entre fragmentariedade e unidade de sentido que podemos
chamar Deus ou Perfeição. Todos os indivíduos são partes sem todo.
“Ode Triunfal”:
“A Partida”:
Tensão entre aquilo que se desvanece e aquilo que ao desvanecer é morte ou é vida
Questão da passagem ou daquilo que fica.
19/04/2021:
Análise do texto de Reis sobre Caeiro:
Prefácio a Caeiro:
Notação da falha;
No Guardador de Rebanhos, tem quatro poemas contrários;
No Pastor Amoroso, deixa falar o coração e não os sentidos;
Nos Poemas Inconjuntos, existe a perturbação da doença.
Epitáfio de Caeiro: