Tema 5 - Educação Bilingue
Tema 5 - Educação Bilingue
Tema 5 - Educação Bilingue
INTRODUÇÃO
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a educação bilíngue –
Língua Portuguesa/LIBRAS, desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e
na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na
modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras
e Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O
atendimento educacional especializado é ofertado, tanto na modalidade oral e
escrita, quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, na medida do
possível, o aluno surdo deve estar com outros pares surdos em turmas comuns
na escola regular. (BRASIL, 2008, p. 17)
[...] elaborar o plano de atendimento individual do estudante, tendo como base seu
conhecimento prévio da Libras, da língua portuguesa e do contexto social e
familiar. Além disso, compete ao professor do AEE realizar a interface com os
demais professores e tradutores/ intérpretes, visando à estruturação da educação
bilíngue na proposta curricular, bem como propor a articulação intersetorial de
políticas públicas, a fim de garantir outras medidas de apoio necessárias à sua
escolarização. (BRASIL, 2012, p. 4)
[...] o professor não utiliza a Libras, a qual não é indicada como intermediária nesse
aprendizado. Entretanto, é previsível que o aluno utilize a interlíngua na reflexão
sobre as duas línguas, cabendo ao professor mediar o processo de modo a
conduzi-lo a diminuição gradati- vamente deste uso. [...] Como o canal de
comunicação específico para o ensino e a aprendizagem é a língua portuguesa, o
aluno pode utilizar a leitura labial (caso tenha desenvolvido habilidade) e a leitura
e a escrita. (ALVES et al., 2010, p. 20)
Como vimos no excerto acima, alguns momentos a Libras não precisaria ser
utilizada. Para Fernandes e Moreira (2014), isso ocorre devido a significados distintos
dados a língua de sinais: para uns, essa língua representa a produção histórico-cultural
de uma comunidade minoritária e, para outros, a Libras faz parte de um conjunto de
recursos físicos, técnicos e materiais que constituem as tecnologias assistivas, o que
revela um enorme distanciamento dos princípios do bilinguismo. As mesmas autoras
apontam que, no âmbito das políticas de inclusão, até se verifica um reconhecimento da
língua de sinais; no entanto, esse reconhecimento “não cria espaços efetivos para seu
uso e desenvolvimento” (FERNANDES; MOREIRA, 2014, p. 59).
A Feneis aponta que “não há intérprete para a maioria das classes ditas inclusivas”
(FENEIS, 2011b, p. 5). Sabe-se que ainda há poucos profissionais capacitados para
atender a uma grande demanda e em diferentes localidades, principalmente, em regiões
de interior. Como argumento contrário ao modelo de inclusão, o movimento surdo aponta
que “a presença de intérpretes/tradutores de português/Libras não define uma educação
bilíngue para surdos, muito menos quando a oferta se detém a serviços de tradutores e
intérpretes de Libras/língua portuguesa” (FENEIS, 2011b, p. 4).
Sabe-se que, em grande parte dos casos, as famílias de surdos passam anos
investindo na oralização das crianças surdas, negando-lhes a aquisição da língua de
sinais no contato com outros surdos. Consequentemente, o contato com a Libras acaba
ocorrendo na escola que, muitas vezes, constitui-se na primeira comunidade linguística
dos surdos. A Carta-Denúncia (2011c) da FENEIS aponta as consequências da falta de
acesso à língua de sinais:
[...] hoje muitos dos surdos brasileiros não têm língua nenhuma, muitos têm
conhecimento apenas de um restrito e pantomímico código familiar ou local,
incapaz não apenas de oferecer as condições de uma socialização mais ampla,
mas também, et pour cause, de níveis de abstração e organização complexa do
pensamento. Esses surdos ficam quase completamente à margem da vida social,
civil e cultural nacional, completamente dependentes de seus familiares e, por isso
mesmo, sujeita- dos permanentemente às vontades alheias. É-lhes negado o
direito a decidirem sobre si mesmos, negação esta com base numa suposta
inferioridade civil, que a aliena- ção linguística parece dar razão. A rigor, os surdos
sem língua não desenvolvem a possibilidade de transformar desejo em vontade
conscientemente expressa e universal- mente argumentável, experiências e
afetos em símbolos socialmente reconhecíveis. (pp. 5-6)
O movimento surdo acredita que “ações inclusivas podem ser feitas de forma que
a inclusão social aconteça sem que seja rechaçado o direito dos surdos à sua inclusão
primeira, que deve acontecer na comunidade que fala a mesma língua, no caso, a Língua
de Sinais Brasileira” (FENEIS, 2012, p. 10). No que se refere à organização da educação
de surdos no espaço da escola comum, o movimento surdo aponta que este espaço não
contempla a diferença surda:
A chamada sala de aula dita “comum” permanece assim conforme as
características gerais dos alunos cuja tipicidade é majoritária; portanto, ela não é
comum a todos os alunos, em suas diferenças e especificidades [...] isso quer
dizer que no turno principal os alunos surdos, bem como os demais que mantêm
diferença com relação a essa tipicidade majoritária, devem adequar-se a esta
última, com graves prejuízos, no caso dos surdos, para o gozo de seus direitos
humanos linguísticos e educacionais. (FENEIS, 2011c, p. 28) [grifo do autor]
Quanto à inserção do aluno surdo no ensino regular, muitos aspectos não são
contemplados nas experiências inclusivas em desenvolvimento, pois, frequentemente, “a
criança surda não é atendida em sua condição socio- linguística especial, não são feitas
alterações metodológicas que levem em conta a surdez, e o currículo não é repensado,
culminando em um desajuste socioeducacional”.. (LACERDA; LODI, 2009, p. 15)
De acordo com essas afirmações, a educação bilíngue não é tão simples de ser
alcançada, pois depende de uma estrutura que vai muito além do AEE e da presença do
TILS em sala de aula. Documentos do movimento surdo apontam a necessidade de:
[...] ambientes linguísticos para a aquisição da Libras como primeira língua (L1)
por crianças surdas, no tempo de desenvolvimento linguístico esperado e similar
ao das crianças ouvintes, e a aquisição do português como segunda língua (L2).
A Educação Bilíngue é regular, em Libras, integra as línguas envolvidas em seu
currículo e não faz parte do atendimento educacional especializado. O objetivo é
garantir a aquisição e a aprendizagem das línguas envolvidas como condição
necessária à educação do surdo, construindo sua identidade linguística e cultural
em Libras e concluir a educação básica em situação de igualdade com as crianças
ouvintes e falantes do português. (BRASIL, 2014, p. 6)
Vimos, neste capítulo, que há proposições nas formas de organização dos tempos e dos
espaços na escolarização dos surdos: a escola comum e a escola bilíngue. Essas
proposições posicionam os surdos e a língua de formas diferentes. Na política de inclusão,
muitas vezes a Libras é posicionada como um recurso de acessibilidade. Prevalece a
visão da educação especial na qual os surdos são compreendidos como deficientes. Na
escola bilíngue, na qual prevalece a visão da diferença linguística e cultural dos surdos,
estes são compreendidos como pertencentes a uma minoria linguística, sendo a língua de
sinais primordial na constituição desses sujeitos.
Não cabe aqui afirmar qual é o certo eo errado, mas é necessário compreendermos
que a maneira como entendemos o surdo e a surdez irão definir a educação que daremos
a esses sujeitos e vice-versa.
REFERÊNCIAS