BRIGIDO
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RESUMO
O propósito desta pesquisa consiste em demonstrar de que modo o filósofo Jürgen Habermas
propõe uma nova abordagem ética pautada pelo discurso. Inicialmente, investigaremos a
filosofia da linguagem, percorrendo os aspectos centrais do novo paradigma filosófico
contemporâneo. Posteriormente, a atenção se volta para a análise da teoria desenvolvida por
Habermas a respeito do agir comunicativo e, finalmente, a partir de uma ideia da
argumentação que envolve o discurso, pretendemos destacar a conexão existente entre os
discursos e as ações, conceitos que servem de base fundamental para a defesa da ética do
discurso e para a promoção da democracia.
RÉSUMÉ
Le propos de cette pesquise sera démontrer de quelle façon J. Habermas analyse l’éthique de
discours. Premièrement, nous analyserons la philosophie du langage, en suivant l’attention
vers pour l’analyse de la théorie déployée par lui sur l’agir communicatif et, finalement, à
travers d’une idée de l’argumentation que recouvre le discours, nous prétendons démontrer la
conexion existente entre les discours et les actions.Ainsi, l’objetif de ce travaile consite
analyser de manière que ce philosophe contemporain examine l’éthique dans la perspective de
discours.
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UNICURITIBA
ISSN 1984-3879, SABERES, Natal RN, v. 1, n. 15, Maio, 2017, 134-150.
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INTRODUÇÃO
1 A FILOSOFIA DA LINGUAGEM
Algumas das principais teorias desenvolvidas nesse contexto buscam uma forma de
tratamento da linguagem enquanto estrutura lógica ou sistema de signos com regras
internas, independentes do sujeito linguístico, tal como encontramos, por exemplo,
embora em perspectivas muito diferentes, tanto em Frege quanto em Saussure.
Entre os antigos, por exemplo, destaca-se o pensamento dos filósofos na busca por
uma ontologia, ou seja, buscava-se o conhecimento do ser. No medievo a ênfase dos estudos
filosóficos está voltada às explicações a respeito do ser divino. Com a modernidade a filosofia
concentra seus esforços na análise antropocêntrica, de forma que o homem se descobre como
ser pensante, dando origem ao racionalismo e, por outro lado, ao empirismo.
Durante estes períodos é possível percebe que em alguns aspectos as teses estruturadas
sustentaram e solucionaram por tempo a problemática da relação do homem com o
pensamento e a natureza (physis). Contudo, é na contemporaneidade que o homem se depara
com um novo paradigma filosófico, na busca de novas explicações acerca do mundo, porque
as explicações e temas filosóficos até então apresentados parecem não responder aos
questionamentos do homem contemporâneo. O sujeito do conhecimento passa, então, a
desconfiar que o mundo é, na verdade, um “produto da linguagem” e que, em virtude disso, a
verdade não deveria mais ser procurada na ontologia, nem em Deus ou na razão, mas na
própria linguagem.
Desde a filosofia antiga, a linguagem está presente no bojo das discussões filosóficas.
Platão, na obra Crátilo, inaugura e aborda a relação entre os nomes e as coisas designadas por
eles. No centro das indagações platônicas aparecem dois personagens: Crátilo e Hermógenes.
Este último representa a posição que defende que a relação entre signo linguístico e objeto é
meramente convencional, resultante do arbítrio e dos acordos humanos. Crátilo, por sua vez,
acredita em uma relação natural entre as palavras e as coisas, independente das preferências
pessoais de cada um. Disso resulta que, em Platão, encontram-se dois problemas de
linguagem: o convencionalismo e o naturalismo, diante dos quais, Platão conclui que a
solução consiste em ir além das palavras, porque sozinhas elas não contribuem para o
conhecimento da verdade.
É certo que desde a Antiguidade Clássica até os dias atuais muita coisa mudou. Muitos
foram os filósofos que se ocuparam com o tema da linguagem, ainda que em uma perspectiva
bastante limitada. Ao que tudo indica, o posicionamento platônico frente a incapacidade das
palavras parece ter influenciado boa parte da tradição ocidental.
Contudo, é no período contemporâneo que as preocupações antigas, medievais e
modernas deixam de procurar resolver as questões acerca do conhecimento, passando a
análise do modo como a linguagem descreve os fatos do mundo. Sendo assim, a linguagem se
torna o eixo central da filosofia, conforme destaca Oliveira (2001, p. 11): “Com razão se pode
afirmar, com K.-O. Apel, que a linguagem se transformou em interesse comum a todas as
escolas e disciplinas filosóficas da atualidade”.
Desde então, a linguagem é abordada a partir de um novo paradigma, no qual destaca
a filosofia da linguagem como estrutura lógica ou sistema de regras, que conquista de vez seu
espaço na filosofia e passa a ser o objeto da reflexão filosófica que perdura até os dias de hoje.
A linguagem deixa de estar em segundo plano na filosofia, e entre os filósofos atuais ganha
destaque no limiar do pensamento contemporâneo, passando a ser a preocupação primeira
destes. A partir da linguagem é possível estabelecer novos paradigmas, estes que permitem
uma nova interpretação a respeito da filosofia. Uma vez que este modo de filosofia “veio para
ficar” é de grande interesse entender o contexto do que se pode entender por linguagem. De
acordo Costa (2002, p. 7):
fala estabelecidos por ele, que tem a pretensão de esclarecer as ações comunicativas na
linguagem, bem como o impacto disso nas sociedades em geral.
O livro O agir comunicativo e razão destranscendentalizada, do filósofo alemão,
relata os discursos e as questões fundamentais abordadas por ele. A obra poderia ser resumida
em uma única pergunta, como bem destacou Aragão (2002, p. 8): “como equacionar o sentido
normativo e o sentido crítico e criador da linguagem?”. De fato, há uma análise quanto ao
sentido das expressões linguísticas que permitem não só mudar o mundo e sua imagem, como
intervir e criar novas formas de vida social. A linguagem é dinâmica e viva, assim, pode
produzir vida e dinamismo, mas também pode produzir conflitos e dominação. Sobre a teoria
apresentada, pode-se considerar que
fazer uma filosofia linguística baseada somente na análise formal das frases, sem considerar a
relação intersubjetiva, entre os sujeitos. Ele apresenta a linguagem como meio de integração
social que fornece a chave da possibilidade da emancipação e da autonomia. Disso resulta o
rompimento com a visão semântica introduzida pela modernidade. Conforme Tesser (2004. p.
98),
Na vida social, de acordo com Habermas, a ação humana sempre deve estar voltada
para o entendimento, na qual exista a compreensão dos sujeitos que buscam um consenso de
validez e que agrade a todos, ouvintes e falantes.
elaborada teoria dos atos de fala que serviu para seu projeto futuro, criando uma pragmática
universal. “Para Austin, a função da linguagem não é descrever reflexivamente o mundo, mas
comunicar” (COSTA, 2002, p. 43). Deste ponto de vista é possível ver claramente de onde
originou o pensamento de Habermas, do qual ele parte de uma construção essencialmente
ligada a teoria dos atos de fala. Contudo, são os atos de fala descritos por Habermas que se
responsabilizam pelas pretensões de validade. Ao avaliar uma pretensão de verdade, em
Habermas, é possível concluir que ele propõe o agir comunicativo como pretensão de
liberdade que se dá efetivamente através do discurso (Diskurs).
É através de Habermas que a razão ganha uma nova forma, ou como pode ser dito,
uma nova consciência a partir da ação comunicativa, em que ele substituiu a razão
instrumental por uma razão comunicativa. A razão instrumental pode ser caracterizada por
uma razão baseada na ciência experimental, ao contrário da razão comunicativa, que pode ser
representada pela relação entre os homens, pelo entendimento que regularia o processo de
vida social. Habermas afirma que a razão poderia ter outras funções, como servir para criticar,
aproximar e libertar, sendo assim, ele se diferencia da visão dos grandes mestres de Frankfurt,
que segundo ele, haviam se afastado da visão original da Escola.
Sendo o agir comunicativo de Habermas a convenção entre os homens que exclui
qualquer forma de coerção, sem ideologias e sem dominação, ele acredita que é no discurso
(Diskurs) que se encontra a forma certa da sociedade encontrar a sua liberdade, longe das
forças de dominação repressivas, e, por fim, sem a coerção de naturezas externas.
É no discurso que Habermas resgata a pretensão de verdade que visa a ação
comunicativa. No entanto, para que consigam elaborar uma forma racional de pensar, com
pretensão de que seja válido, o filósofo precisa fundamentar o discurso utilizando-se da ética,
conforme trataremos a seguir.
A filosofia sempre se preocupou com agir do homem, sendo uma busca por respostas
acerca da natureza humana. É do campo da filosofia compreender as relações entre as
pessoas, as relações com o mundo, a relação entre os indivíduos na vida social, em especial no
âmbito que envolve o agir e a moral. No entanto, há uma mudança de concepção da ética no
mundo contemporâneo, que quer fundamentá-la na argumentação que envolve uma conexão
entre a fala e a ação.
A ética permite compreender os critérios que orientam os valores e as ações humanas.
De acordo com Abbagnano (2007, p. 442) “a ética questiona os valores do modo de agir de
um determinado povo e a sua cultura. O seu conceito está intimamente ligado à busca do bem
e da felicidade”.
Segundo o Dicionário de filosofia de Abbagnano, (2007, p. 443), existem duas
concepções fundamentais desta ciência:
1ª a que a considera como ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve ser
orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo tanto o fim quanto os meios da
natureza do homem; 2ª a que considera como a ciência do móvel da conduta humana e
procura determinar tal móvel com vistas a dirigir ou disciplinar essa conduta. Essas
duas concepções, se entrelaçam de várias maneiras na Antiguidade e no mundo
moderno, são profundamente diferentes e falam duas línguas diversas.
Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e da areté (da
virtude). Em Platão, a Ética ganha fôlego na política a partir de uma concepção
metafísica e da sua doutrina da alma. Assim como Platão, Aristóteles fala do homem
político, social, condenado a viver na pólis. Para o estagirita, o homem deve cultivar a
“justa medida”, que é o compêndio das virtudes éticas, pela qual são administrados os
impulsos e as paixões. A justa medida “se traduz em um habitus e, portanto, constitui a
personalidade moral do indivíduo.
No período da Idade Média, a ética está pautada nos princípios cristãos impostos pela
Igreja. É Deus quem revela a verdade. O agir dos homens estão direcionados e submissos à
vontade divina. Inaugura-se, neste período, uma nova visão do agir moral do homem e
transfere as condições de sua ação para um ser transcendente. Nos estudos da filosofia
moderna, a ética está direcionada para os aspectos racionalistas. Neste período, destaca-se o
caráter inato das ideias morais. Primeiramente, a ética moderna recupera as escolas éticas da
Antiguidade, posteriormente destaca-se a ética renascentista que promove a ascensão do
indivíduo, e por consequente, a tentativa kantiana de instauração de uma ética da razão pura
prática.
Na filosofia contemporânea há uma virada linguística, onde é possível observar o
surgimento de uma filosofia da linguagem, que exibe uma relação de poder presente no
discurso, esse mesmo influencia o agir do outro, direcionando o homem a criar uma ética do
discurso, pautada em um agir comunicativo, conforme escreve Habermas. É neste sentido que
o objetivo desta pesquisa consiste: analisar de que forma Habermas compreende a ética na
perspectiva do discurso. Segundo Vaz (1999, p. 448):
pragmática do uso da linguagem. Para Habermas, não é possível uma ética do discurso sem
levar em consideração a relação intersubjetiva, ou seja, não é viável uma análise do discurso
que seja independente dos falantes. Tesser (2004, p. 17) afirma que “[...] a linguagem é o meio
natural de todos os entendimentos recíprocos, com pretensão de validez, pela qual os falantes
e ouvintes passam a fazer parte como membros de sua comunidade linguística compartilhando
intersubjetivamente.”
A teoria de Habermas, de uma ética do discurso, é relevante para o período
contemporâneo. Há uma exigência que pretende estabelecer uma interação do discurso
intersubjetivo argumentativo linguístico dentro da comunidade, em que seja possível a
existência de sujeitos com capacidades de compreensão, de verdade, de veracidade e a
pretensão de validade como elemento constitutivo do ato de fala.
A ética habermasiana abrange tanto o campo ético quanto o social, o político e o moral
propriamente dito, em que se encontram inerentes as condições da ação humana manifestada
através da linguagem.
A primeira tarefa é mostrar que o agir social apropriadamente concebido como uma
interação estratégica, mas como um agir orientado por pretensões de validade, ou
seja, que as pretensões de validades normativas estão implícitas nas ações sociais e
necessariamente apontam para uma resolução discursiva. (VELASCO, 2001, p. 71)
comunicação. Pois, “é necessário provar que a coerção ao falar e no agir sob pressupostos
idealizadores não é uma coerção exercida apenas no discurso: é preciso provar a conexão
necessária entre o discurso e as ações não-discursivas” (VELASCO, 2001, p. 99).
Habermas parte da atitude dos sujeitos que falam e agem diante de outros sujeitos.
Para demonstrar teoricamente uma conexão entre o discurso (Diskurs) e a ação comunicativa,
Habermas utiliza-se de dois tipos de atitudes: uma voltada para o sucesso que se orienta pela
atitude de “ação racional meio-fim” e pode ser orientada tanto para o instrumental ou para a
estratégia. E, a outra atitude consiste em uma atitude voltada para o entendimento que
também se direciona para uma ação comunicativa. As ações sociais se apresentam de duas
formas: entre a ação orientada para o sucesso no âmbito da estratégia e da ação orientada para
o entendimento no âmbito do agir comunicativo.
[...] a verdadeira orientação para o agir que a ética discursiva pode oferecer não é
imediatamente prescritiva. Sua relevância política passa pelo oferecimento de um
fundamento prático-moral ao sistema jurídico pela via indireta de uma teoria crítica
da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o advento das novas tecnologias e os desafios inerentes a este novo patamar
sociológico que se apresenta, uma das atividades mais exclusivas do ser humano, a
linguagem, precisa ser reinterpretada. Na era da pós-verdade, na qual os discursos possuem
maior força que os fatos, podendo inclusive alterar a realidade circunstancial e mundial, o
fenômeno da linguagem passa a ser objeto de investigação filosófica.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho consistiu em avaliar as relações que
fundamentam a ética do discurso de J. Habermas. Na primeira parte foi preciso apresentar os
aspectos a respeito da filosofia da linguagem e como ela se desenvolveu ao longo da história
até chegar ao período contemporâneo. Em um segundo momento, chamamos a atenção para a
teoria da ação comunicativa desenvolvida por Habermas. Este agir proposto pelo filósofo
encontra seu fundamento na linguagem. Deste modo, a linguagem em Habermas está dirigida
e orientada ao entendimento intersubjetivo através da argumentação e do discurso.
Habermas tem a intenção de demostrar uma nova visão da realidade em que a razão
passa a operar na prática comunicativa buscando estabelecer um consenso intersubjetivo,
promovendo a interação linguística em vista do entendimento entre falantes e ouvintes. Um
dos resultados desta pesquisa consiste na ênfase do consenso, pois ele é quem presta a função
de interação, à medida que satisfaz os planos de todos os sujeitos e promove, deste modo, a
verdadeira democracia por meio do diálogo.
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