Direito Do Urbanismo: Rodrigo Luís
Direito Do Urbanismo: Rodrigo Luís
Direito Do Urbanismo: Rodrigo Luís
~ \ DIREITO DO URBANISMO
OBSERVAÇOES A LEI DE ZONEAMENTO URBANO DE CURITIBA
Curitiba
2.001
i
TERMO DE APROVAÇÃO
~ \ DIREITO DO URBANISMO
OBSERVAÇOES A LEI DE zoNEAMENTo URBANO DE CURITIBA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito
Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná.
Banca examinadora:
Presidente
Examinador
Examinador
ll
Para meu avô, Kiyossi, pelos livros.
Para meu pai, Renato, pelo auxílio jurídico e
literário.
Para minha mãe, Regina, pela paciência.
iii
“Para as nossas cidades metálicas, que melhor
ornamentação que os cactos? Se não por outros
motivos, já bastava o seu próprio nome - cacto
tão adequadamente cacofônico.”
(Mário Quintana)
Sumário
\
Introdução ....... ..
1. Noções ...................................................... ..
1.1. Conceito de urbanismo ............................. ..
1.2. Um ramo novo: Direito do Urbanismo .............. .................... . ..
1.2.1. Conceito de direito do urbanismo ..........................................
1.2.2. Relações do direito do urbanismo com outras disciplinas ........
2. Intervenção do Poder Público na propriedade privada ............. ..
2.1. Poder de polícia _............._......__.......................... ....... .....
2.2. Limitações administrativas .................................
2.3. Diferença entre limitação e restrição ........................................... .....
2.4. Direito de construir, direito de propriedade e função social ........ ......
2.5. Licença para construir ............................................................... ......
3. Os princípios constitucionais urbanísticos ......... ......
3.1. Normas e competências ............................ .....
4. O plano .................................... ....... . .... .
4.1. O plano urbanístico ......................... ......
4.1.1. Natureza do plano urbanístico ......... .....
4.1.2.
4. 1 .2.Tipos de planos
1. Plano urbanísticourbanísticos ........ ......
federal .......... ......
4.1.2.2. Plano urbanístico municipal ......... ......
4. 1.2.3. Planos específicos ..................... .....
5. Zoneamento ................................. ......
5.1. Tipos de zonas de uso .................. ....... .....
5.2. Vícios na Lei de Zoneamento .......................................... .....
5.3. Alterações na Lei de Zoneamento - causas e efeitos ......... ......
5.4. Medidas preventivas no direito comparado .................... .....
Conclusão ............................................................ ......
Bibliografia .............. ..............................................................................................................
V
Resumo
\
vi
1
z.. Introdução..
O zoneamento urbano é um instrumento indispensável para perfeita harmonia
dos centros urbanos, que atualmente sofrem com o caos. É um dos pontos mais importantes
do urbanismo, que é uma das disciplinas que mais cresce no mundo. Os problemas sociais nos
grandes centros urbanos não param de crescer e é imprescindível um planejamento detalhado,
que procure sempre diminuir as desigualdades.
Atualmente, o ordenamento brasileiro já prevê, desde o âmbito constitucional,
a necessidade de planejamento em todos os atos da Administração Pública. Sem o plano, não
conseguir-se-á um desenvolvimento adequado da sociedade.
O planejamento urbano, inédito numa Constituição brasileira, vem ordenar o
crescimento das cidades, já que isso é inevitável. Para tanto, existem muitas ferramentas
legais que, se forem utilizadas adequadamente, poderão trazer melhorias consideráveis, tendo
como fim sempre os princípios constitucionais, como o bem-estar, a dignidade da pessoa
humana, a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais.
O direito do urbanismo, mesmo sendo um ramo ainda novo e pouco
desenvolvido, tomou-se rapidamente um instrumento eficiente e indispensável, sem dúvida
um dos mais importantes para o alcance das normas programáticas constitucionais.
Inicialmente, antes de adentrarmos no objeto do trabalho, veremos como surgiu o
urbanismo e como a disciplina ganha um ramo próprio no direito. São noções introdutórias,
que facilitarão o entendimento dos capítulos subseqüentes.
Após, observaremos a necessidade da intervenção estatal para que sejam
alcançados os princípios urbanísticos constitucionais e para posteriormente analisarmos como
essa intervenção é imprescindível à sociedade moderna. É um tema de importância
indiscutível, pois todos os planos urbanísticos são atuações do poder de polícia estatal, que se
manifesta em forma de limitações administrativas.
E, por último, estudaremos os planos urbanísticos e a lei de zoneamento de
Curitiba (Lei 9.800/2.000).
Como veremos, o zoneamento urbano da capital paranaense foi bem planejado.
No entanto, ignorou-se, em muitos artigos, o cumprimento do ordenamento jurídico brasileiro.
Por isso, contém muitos vícios, acarretando inseguranças e possíveis prejuízos ao particulares.
Há muitos pontos que devem ser corrigidos, já que o Poder Público está atuando, em
2
~›,, 1. Noções
Inicialmente é necessário situar o tema, haja vista ser o zoneamento
pertencente à disciplina urbanística.
1 Idem. p. 20.
4
começa a se adesvencilhar da cidade, pois preocupa-se com alguma coisa a mais do que apenas
os aspectos fisicos do território.
“A urbanização criou problemas urbanos que precisavam ser corrigidos pela
urbanificação, mediante a ordenação dos espaços habitáveis, de onde se originou o urbanismo
como técnica e ciência”.2
O conceito de urbanismo alterou-se bastante. No início, era bastante
restringido, pois era simplesmente uma disciplina da cidade. Dizia-se, limitadamente, que
urbanismo se referia unicamente a alinhamentos, pavimentações. Passa a ser, assim, “uma
série de técnicas e conhecimentos relacionados com construção, reforma e extensão das
cidades, para projetos de estruturação regional e, posteriormente, a planos mais ambiciosos
que abarcam a ordenação de todo o território de um país”.3 A preocupação não se esgota nesse
ponto, pois atualmente observa-se que o urbanismo é imprescindível também para que o
homem tenha uma vida digna.
Para Hely Lopes Meirelles4, “Urbanismo é o conjunto de medidas estatais
destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida
ao homem na comunidade. Entendam-se por espaços habitáveis todas as áreas em que o
homem exerce coletivamente qualquer das quatro fimções sociais: habitação, trabalho,
circulação, recreação”.
Fernando Alves Correias ensina que o conceito de urbanismo tem três
acepções: urbanismo como fato social, como técnica e como ciência. O urbanismo como fato
social seria o estudo do movimento populacional das áreas rurais para as urbanas. O
urbanismo como técnica abrangeria as diversas tbrmas de construção, reforma e
desenvolvimento das cidades, como o alinhamento, o zoneamento, os planos urbanísticos. E
por último, o urbanismo entendido como ciência, que tem por objeto a investigação e o
ordenamento dos aglomerados urbanos, possibilitando desenvolvimento harmonioso e
racional, havendo, necessariamente, a interdisciplinariedade.
O urbanismo vem se modemizando, tomando a interdisciplinariedade
indispensável. Atualmente, é preciso o contato com outras ciências de modo a servir melhor o
cidadão. Sendo assim, o urbanismo recebe uma conotação social, sendo necessários os
conceitos provenientes da sociologia, da geografia, do direito, da medicina. Ainda, como nos
2 Idem. p. 22.
3 JARDI, Enrique. In MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil. p. 4.
4 Direito Municipal. p. 376.
5
lembra Toshio Mukaió, o urbanismo também tem relação com a política, pois todas as
decisões, democráticas, serão tomadas por representante do povo.
. António Cordeiro” diz que não há efetivamente uma relação entre os vários
ramos do direito, mas existem pontos de contato entre eles. Podemos ver, assim, desde o
direito do ambiente (que já foi visto como apenas um ramo do direito urbanístico), até o
direito do ordenamento do território, junto com o direito do planejamento urbano e com o
direito de construção. O autor lembra que não podemos reconduzir o direito urbanístico ao
direito de propriedade, mas também é imprescindível relacioná-los.
Procura-se também, é claro, atualmente, a especialização dos ramos do direito,
cujo número de normas e definições vem se alastrando. Mas é imprescindível que tais ramos
não se isolem uns dos outros. A separação, vale ressaltar, é meramente didática. Devemos
respeitar a unidade do direito, e dizer que o ramo do direito do urbanismo é autônomo é
desrespeitar o próprio ordenamento jurídico.
Portanto, observamos uma relação direta, no ordenamento brasileiro, com o
Direito Constitucional, no Direito Civil (direito de propriedade), com o Direito
Administrativo (direito de construir, poder de polícia, por exemplo), entre outros.
14
15
DI PIETRO, Mana. Direito Admrzúsuaúvo. p. 117.
FACI~I1N, Luiz Edson. A função social da posse e a propriedade contemporânea. p. 95.
16 Temas de Direito Urbanístico. v. 1. p. 163.
9
Nacional, art. 78: “poder de polícia é a atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concemente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, (...) à
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.
Hely Lopes Meirelles” diz que não se tem qualquer dúvida a respeito da
faculdade da Administração Pública de editar e executar medidas restritivas do direito
individual, em beneficio da coletividade”. Pode, assim, haver normas gerais e abstratas de
conduta (atos legislativos) e providências executivas especiais e concretas (atos
administrativos), de caráter preventivo ou repressivo.
Há duas formas de atuação do poder de polícia, segundo Maria Sylvia Zanella
Di Pietro24: a primeira: pela limitação administrativa (mediante lei), que são limitações “ao
exercício dos direitos e das atividades individuais, estabelecendo-se normas gerais e abstratas
dirigidas indistintamente às pessoas que estejam em idêntica situação; disciplinando a
aplicação da lei aos casos concretos, pode o Executivo baixar decretos, resoluções, portarias,
instruções. A segunda: “pelos atos administrativos e operações materiais de aplicação da lei
ao caso concreto, compreendendo medidas preventivas (fiscalização, vistoria, ordem,
notificação, autorização, licença), com o objetivo de adequar o comportamento individual à
lei, e medidas repressivas (dissolução de reunião, interdição de atividade, apreensão de
mercadorias deterioradas, intemação de pessoa com doença contagiosa), com a finalidade de
coagir o infrator a cumprir a lei”.
Para Celso Bastos”, poderá exercer o poder de polícia o ente público
competente para legislar sobre a matéria, não se excluindo Município, cuja competência
também inclui tal poder. Dessa fonna, “o poder de polícia federal manifesta-se no campo do
direito de construir (...). É no nível municipal (...) que se desenvolve, ordinariamente, o poder
de polícia das construções ou edilícia e urbanística em geral (...)”.26
Segundo Odete Medauar27, o poder de polícia pode se manifestar, com
respaldo legal, decretos(ato administrativo da competência do Executivo), resoluções,
28 A lei prevê os requisitos, sendo que a análise pela Administração é objetiva, ou seja, resta apenas verificar a
gresença dos requisitos. Se estiverem presentes, não poderá a Administração negar a concessão da licença.
AGUIAR, Joaquim Castro. Ob. cit. p. 147.
3° Direito Administrativo. p. 116.
31 Curso de Direito Administrativo. p. 569.
12
32
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de Construir. p. 74.
33 Idem. p. 94.
34 In OLIVEIRA, Femando Andrade. Limitações Administrativas à Propriedade Privada Imobiliária. p. 218.
35 BIELSA, Rafael. Dcrccho Adirrirúsrraúve. in DI PIETRO, Maria. Direiie Administrativo. p. 125.
36 Curso de Direito Administrativo. p. 186.
13
somente poderão ser instituídas por lei (por isso são gerais e abstratas).
37
Direito Administrativo Modemo. p. 359;
38 O Direito de Propriedade e as Limitações e Ingerências Administrativas. p. 12.
39 Curso de Direito Administrativo. p. 193.
4° Curso de Direito Administrativo. p. 235.
41
Curso de Direito Administrativo. p. 194.
42 Terceiros também poderão exigir de seu vizinhos o curnprimento à legislação municipal urbanística. Isso está
previsto no art. 50, § 2°, Lei 9.800/00 (Lei de Zoneamento de Curitiba).
14
admite, a retirada do direito de construir da esfera privada para a esfera pública é, no direito
pátrio, inconstitucional, já que a Constituição garante o direito à propriedade.
Também não podemos esquecer que o Código Civil também disciplina o
direito de construir relacionado ao direito de propriedade. Destarte, vem o Código Civil, art.
572: “o proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o
direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos”. Considera-se mau uso quando não é
observada tal nonna.
Destarte, o direito de construir jamais será separado do direito de propriedade,
sendo que a existência de um pressupõe a existência do outro.
O direito de construir, portanto, é bastante amplo, porém não é absoluto. Há,
para serem respeitadas, as relações de vizinhança, a função social da propriedade, enfim, o
bem-estar coletivo. Portanto, o direito de construir é um direito condicionado.
Como ensina Hely Lopes Meirelles”, “a liberdade de construir é a regra. As
restrições e limitações ao direito de construir formam exceções”.
Concluindo, o direito de construir é inerente ao direito de propriedade, sendo
que o direito de construir existe na medida do direito de propriedade. Assim, quando a Lei de
Zoneamento define os contomos da propriedade, limitando o seu uso, está, ao mesmo tempo,
limitando o direito de construir. Completando, como ensina Celso Antônio Bandeira de
Mello, o direito de propriedade terá o contomo que cada ordenamento jurídico lhe der.”
Como diz Lúcia Valle Figueiredo”, “a licença para construir não inova no
mundo jurídico, na medida em que o direito à construção já se encontra ínsito no direito de
propriedade”.
Não devemos confundir a licença com a autorização, pois esta é um ato
48 C já C
discricionário da Administração (por isso, é precário), enquanto aquela é um ato vinculado (há
aparência de definitividade). Como diz Joaquim Castro Aguiar”, “licença e autorização são
conceitos distintos, inconfundíveis”.
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles54, “o alvará pode ser de licença ou de
autorização para construir ou lotear. O de licença traz presunção de definitividade; o de
autorização, de precariedade. (...) O alvará de autorização é sempre revogável pela Prefeitura,
sumariamente e sem qualquer indenização, ao passo que o alvará de licença nem sempre o
é,, ss
Dar-se-á alvará para construir ou para exercer de certas atividades. Diz o artigo
4° da Lei de Zoneamento de Curitiba: “as disposições desta lei deverão ser observadas
obrigatoriamente:
I- na concessão de alvarás de construção.
II- na concessão de alvarás de localização de usos e atividades urbanas”.56
Assim, todas as disposições presentes na Lei 9.800 deverão ser seguidas para
que sejam concedidas licenças ou autorizações;
Para que seja concedida a licença, basta que sejam verificados os pressupostos
previstos na lei, não apenas na Lei de Zoneamento, mas também, por exemplo, no Código
Civil, como visto anteriormente. Assim, sendo um ato vinculado, à Administração Pública
somente caberá analisar objetivamente, não podendo se recusar à concessão.
Na Lei de Zoneamento curitibana, levanta-se uma questão acerca da natureza
dos alvarás para atividades permissíveis (art. 38, III, Lei 9.800), ou seja, se é autorização ou
licença (vale lembrar que o instrumento para se conferir a autorização e a licença é o alvará).
No caso das atividades permitidas e toleráveis, dar-se-á licença, pois basta verificar se os
requisitos legais estão presentes, ou seja, é um ato vinculado.
Contudo, no caso das atividades urbanas permissíveis, diz o § 1° do mesmo
artigo (art. 38): “as atividades perrnissíveis serão apreciadas pelo Conselho Municipal de
Urbanismo - CMU, que quando for o caso, poderá indicar parâmetros de ocupação mais
restritivos que aqueles estabelecidos nesta lei (...)”. Em vista disso, é claro que a natureza é de
autorização, não de licença, pois o ato da Administração será discricionário. À Administração
caberá dizer se pode ou não tal atividade em determinado local. O efeito mais importante da
53
54
Ob. cit. p. 67.
Direito de Construir. p. 178.
55 A revogação sumária não é mais possível no ordenamento constitucional brasileiro, pois é preciso o devido
processo legal e o contraditório. Apesar de ser um ato discricionário, a Constituição em seu art. 5°, XXXV:
“a lci não cxcluirá da apreciação do Podcr Judiciário lcsão ou ameaça a dircito”.
18
56 importante lembrar quc alvarás dc construção têm vigência lirnitada. Passado o prazo, a liccnça caduca.
57 E irnportante mostrar que a segunda parte desse parágrafo vai contra o princípio da legalidade, sendo
grconstitucional (art. 37, Constituição Federal).
p. 117.
59 SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. p. 268.
19
A Constituição traz em seu bojo a idéia de que a propriedade perde seu caráter
absoluto, ou seja, valoriza-se a propriedade, mas procurando sempre a justiça social.
Atualmente, não poderá o proprietário deixar de utilizar a sua propriedade argumentando que
ele tem direito de não usufrui-la, já que poderia gozá-la da forma como desejar. Deverá cada
indivíduo cumprir a sua função na sociedade, não impedindo que outros possam cumpri-la.
Quando a Constituição estabelece que a propriedade atenderá a sua função
social, de acordo com José Afonso da Silva64, “não estava simplesmente preordenando
fimdamentos às limitações, obrigações e ônus relativamente à propriedade privada, mas
adotando um princípio de transformação da propriedade capitalista, sem socializá-la, um
princípio que condiciona a propriedade como um todo, não apenas seu exercício (...)”. e
continua: “o direito de propriedade não pode mais ser tido como um direito individual. (...)
Mas é certo que o princípio da fimção social não autoriza a suprimir, por via legislativa, a
instituição da propriedade privada”.
Joaquim Castro Aguiar65 observa “que hoje já não se fala apenas em função
social da propriedade, mas, muito mais do que isso, em função social da cidade. E é em
resguardo de tais princípios constitucionais que se editam regramentos jurídicos pertinentes ao
solo urbano”. Dá-se, portanto, uma interpretação muito ampla do princípio constitucional.
É importante ressaltar que o princípio da função social não é o fundamento das
clássicas limitações administrativas à propriedade (Poder de Polícia).66 Assim sendo, não se
está suprimindo o direito de propriedade, mas apenas se espera que a justiça social possa ser
alcançada.
É explicito, portanto, a presença do urbanismo no Direito Constitucional
brasileiro. Tornou-se, atualmente, um quesito indispensável para que se possa alcançar os
objetivos elencados na Constituição.
A Constituição, pela primeira vez na história, define um conjunto de normas
urbanísticas para o pleno desenvolvimento social. É uma exigência, portanto, que União,
Estados, Distrito Federal e Municípios legislem sobre direito do urbanismo, no âmbito de suas
competências.
O direito urbanístico está presente em muitos trechos da Constituição.
Podemos observá-lo entre os princípios fundamentais, os direitos e garantias fundamentais, na
jurídicos apenas após sua aprovação na forma de lei: “enquanto simples processo, (...) o
planejamento não opera transformação da realidade existente, não surte efeitos inovadores da
realidade urbana, não passando de propostas técnicas e, às vezes, apenas administrativas. SÓ
quando o processo de planejamento elabora e executa planos é que ingressa no ordenamento
jurídico por seu caráter transformador e inovativo”.69
A União tem competência para: lei federal de desenvolvimento urbano (normas
gerais); diretrizes sobre o desenvolvimento urbano (habitação, saneamento, transporte).
Observa-se, pois, o art. 21, XX, da Constituição Federal, que diz competir à União “instituir
diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos”.
O Estado tem, em sua Constituição Estadual, competência para definir as
normas urbanísticas estaduais. Deve, também, promulgar lei estadual de política urbana (alt.
24, I, Constituição' Federal) e leis estaduais sobre áreas metropolitanas (art. 25, §3°,
Constituição Federal). Portanto, sobre direito urbanístico, os Estados (e Distrito Federal) e a
União têm competência concorrente. Ao redigir tais normas, deverá o Estado estar atento às
normas federais, sob pena de suspensão da efieáeia (art. 24, §4° da Carta Constitucional).
E o Município deverá elaborar Lei Orgânica municipal, Plano Diretor (para
Municípios com mais de vinte mil habitantes), lei de uso do solo urbano (para Municípios
com menos de vinte mil habitantes), demais legislações urbanísticas complementares. Deverá,
assim, legislar acerca de assuntos de interesse loeal7° e de suplementar a legislação federal e
estadual no que couber. Portanto, com base no artigo 30, inciso I, e artigo 182, ambos da
Constituição, é o Município o principal responsável por promover a política urbanística
constitucional, especialmente pelo Plano Diretor.
O Município, pois, deve legislar sobre assuntos de interesse local, exceto
assuntos exteriores à sua competência, tais como direito civil, penal. Interesse local, segundo
Cretella Júnior", é aquele que se refere, primária e diretamente, ao grupamento humano local.
Não estamos dizendo que a matéria será exclusiva do município, mas o que “define e
caracteriza o interesse local é a predominância do interesse do Município sobre o interesse da
68 Ressalta-se que a classifieação dos ramos do direito tem caráter unicamente didático, como visto
anteriormente.
69 Smvpn José Afonso. O Municipio na Constituição de 1988. p. 63.
7° Art. 30, I, Constituição Federal.
71 Direito Municipal. p. 93.
23
União ou do Estado”.72 A Lei Orgânica do Município de Curitiba já previa essa hipótese antes
da Constituição de 1988, por seu artigo 4° (Lei 5.700/77).73
Analisando a competência da União, do Estados, Distrito Federal e Municípios,
podemos dizer que as normas mais importantes para alcançar as determinações
constitucionais são de competência municipal, pois é o Município que pode legislar de forma
concreta, observando diretamente os problemas e necessidades dos habitantes. Atualmente,
temos, no Município de Curitiba, a Lei 2.828/66, que institui o Plano Diretor e a Lei
9.800/2000, que institui a Lei de Zoneamento, objeto do presente trabalho.
72
A AGUIAR, Joaquim Castro. Ob. cit. p. 29.
73 Diz o art. 4° : “Ao Município de Curitiba compete prover a tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse e ao
bem estar de sua população”.
24
4. O Plano
Atualmente, é essencial e obrigatório o planejamento para qualquer atividade
administrativa. Inexistindo o planejamento, que, aliás, é uma atividade constante determinada
pela Constituição, não se atingirá a satisfação das finalidades. “A actividade de planificação
sofreu (...) um impulso considerável nas últimas décadas, devido essencialmente ao grau de
intervenção da Administração Pública no tecido social”.74
Planejar, sendo assim, é “estabelecer objetivos, indicar diretrizes, estudar
programas, escolher os meios mais adequados a uma realização e traçar a atuação do govemo,
consideradas as alternativas possíveis”.75
José Afonso da Silva diz: “É um processo técnico instrumentado para
transformar a realidade existente no sentido de objetivos previamente estabelecidos”.76
Completa Alaôr Caffé Alves: “O plano é a estratificação de certos momentos
do processo de planejamento. O processo é dinâmico, fluente e sinuoso; o plano, produto
daquele processo, é estável, embora não imutável, e exprime uma tentativa de imprimir
coerência, consistência e certeza em relação às medidas propugnadas durante o referido
processo”.77
Encontra-se planos em tudo aquilo que a Administração Pública atua, como,
por exemplo, nas finanças, orçamento, urbanismo.
propriedade do solo tem relação com o direito de propriedade e com a Lei de Zoneamento,
pois com ela determina-se os parâmetros de ocupação, uso e transformação. E pela última,
gestão do território, define-se os princípios de coordenação e de compatibilização das
iniciativas públicas e privadas no espaço municipal.
entende-se que a natureza dessa lei é programática, ou seja, definem um programa a ser
seguido para se alcançar um objetivo. Como ensina a Professora Regina Ferrari”, “o que
caracteriza uma norma como programática não é só o fato de conter uma linha de
desenvolvimento, um programa, mas ainda, sua capacidade de aplicação. As normas
programáticas, mesmo não sendo diretamente aplicáveis, podem cumprir a filnção de meio de
atuação política e alargamento da base de participação e consenso. Desenvolvem o papel de
reduzir o espaço da controvérsia ou confronto político (...)”. Portanto, como continua a autora,
o conteúdo das normas programáticas deve ser perseguido.
Como veremos adiante, a zoneamento parte do Plano Diretor, sendo este as
diretrizes e aquele, diretamente aplicáveis.
IPTU, podendo dobrar em um ano e chegar a 15 % do valor do imóvel em cinco anos. Após
esse período, o terreno poderá ser desapropriado com pagamento em títulos da dívida pública.
“Outra inovação importante da nova lei é o “impacto de vizinhança”, pelo qual
os moradores de um bairro participarão da aprovação de projetos em sua vizinhança que
possam afetar sua qualidade de vida.”86 É a chamada Gestão Democrática, que, por meio de
audiências, debates e consultas públicas, a população poderá opinar sobre propostas da
política urbana.
Em Curitiba, as Secretarias já estão debatendo o Estatuto da Cidade. Mas não
há muito para se preocupar, pois Curitiba já adotou a maioria das novas medidas. O Prefeito
Cassio Taniguchi comentou que irá utilizar o IPTU progressivo, previsto no Estatuto, para
taxar áreas com infra-estrutura urbana sub-utilizada. Os proprietários de áreas ociosas devem
loteá-las ou ocupá-las com construção no prazo de dois anos. Ainda, o prefeito diz que o
mecanismo do IPTU progressivo poderá ser usado nos novos eixos de adensamento da cidade
e nas vias estruturais (as “vias rápidas”).
planejamento industrial. Como diz Hely Lopes Meirelles”, “enquanto o plano diretor é
sempre uno e integral, os planos de urbanização ou de reurbanização geralmente são múltiplos
e setoriais (...). Estes procedimentos urbanísticos não se confundem com o plano diretor, pois,
embora sigam as suas diretrizes, passam a constituir atos autônomos e concretos da
administração”.
O Plano Diretor de Curitiba (Lei 2.828/66), quando criado, já previa as normas
de zoneamento em seu próprio corpo. Devido às mudanças ocorridas na cidade, foi necessária
a alteração das zonas. Veio, pois, a Lei 4.199/72, que revogava os artigos 5° a 41 da Lei
2.828, definindo o novo zoneamento. Três anos depois, surge mais uma lei, que modifica a
Lei 4.1992 Lei 5.234/75. Esta vinha sendo aplicada até a promulgação da Lei 9.800/00, que é
objeto do presente trabalho e será analisada adiante.
Devido às rápidas mudanças na cidade, é preciso que a Lei de Zoneamento siga
também a fonna dada ao Plano Diretor, ou seja, apenas sejam definidas diretrizes e princípios,
cabendo ao Poder Executivo a regulamentação específica, mediante decreto. “(...) Não é
conveniente que as normas legais de zoneamento especifiquem as áreas a que se aplicam,
porque a situação de fato pode alterar-se com rapidez, a exigir medidas que não se obtêm com
facilidade dos órgãos legislativos, devido à sua composição colegiada. As leis municipais, que
definem o regime jurídico do zoneamento urbanístico, devem atribuir ao prefeito a
competência para incluir ou excluir este ou aquele logradouro público das limitações do
°zoning°, de acordo com o progresso e do crescimento da cidade”.92 Isso não ocorreu em
Curitiba, como veremos adiante, pois quase tudo está na corpo da lei.
Ainda, “a fimção legislativa, em matéria de zoneamento, consiste em
estabelecer os princípios gerais, abstratos, que disciplinam o assunto; à função administrativa
compete aplicar tais princípios aos diversos bairros, ruas e logradouros públicos da cidade
37
(_..) .
Portanto, o zoneamento é um dos instrumentos mais importantes para se
alcançar o bem-estar e a justiça social, postulados da Constituição Federal.
5. Zoneamento
O zoneamento é uma das formas de planejamento do espaço municipal,
aplicável mediante lei. Após sua promulgação, torna-se uma limitação administrativa
urbanística, disciplinando a ocupação territorial de forma cogente. Vale lembra que o
zoneamento é apenas um plano, um ato administrativo, não podendo ser aplicado diretamente.
Somente depois de transformado em lei é que passa a viger, chamando-se “lei de
zoneamento”. É assim devido ao princípio da legalidade, em que a Administração somente
poderá atuar se pennitida por lei e o administrado só poderá ser obrigado a fazer deixar de
fazer mediante lei, como diz o art. 5°, II da Constituição Federal.
Num sentido abrangente, zoneamento “consiste na repartição do território
municipal à vista da destinação da terra, do uso do solo ou das características
arquitetônicas”.94
Segundo o art. 2° da Lei 9.800/00 (Lei de Zoneamento de Curitiba),
“zoneamento é a divisão do território do Município visando dar a cada região melhor
utilização em função do sistema viário, da topografia e da infra-estrutura existente, através da
criação de zonas e setores de uso e ocupação do solo e adensamentos diferenciados”.
Nas palavras de José Afonso da Silva”, zoneamento é um “procedimento
urbanístico destinado a fixar os usos adequados para as diversas áreas do solo municipal”.
Para Luís Alberto de Mattos Freire de Carvalhogó, o zoneamento tem como
parâmetro a destinação e a ocupação do solo. “É uma limitação administrativa imposta por
normas genéricas e abstratas, com o fito de conforrnar a propriedade à sua fimção social e
que, por não retirar do bem a sua funcionalidade, não enseja nenhum direito à indenização”.
Por funcionalidade entende-se a essência do direito de propriedade, ou seja, o uso, o gozo e a
disponibilidade.
Joaquim Castro Aguiar” diz que “zoneamento consiste na divisão do território
do Município em áreas (zonas), para fins de disciplina de sua utilização, de modo que se
compatibilize o direito de propriedade com a função social que incide sobre ela, assegurando
se a todos melhoria de qualidade de vida. Tem por objetivo regular a destinação do solo, seu
uso e as características das construções a serem levantadas nele”.
94
95
SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. p. 215.
SLLVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. p. 216.
96 Aspectos Jurídicos do Zoneamento. In DALLARI, Adilson Abreu e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Temas de
gireito Urbanístico, vol. 1, p. 140.
Direito da cidade. p. só.
32
interesse especial. Para nosso trabalho, importa-nos apenas o primeiro, já que é regulado pela
Lei de Zoneamento.
Segundo Joaquim Castro Aguiarm, “o zoneamento de uso do solo consiste na
divisão do território do Município em zonas, com a fixação, para cada uma dessas zonas, de
usos permitidos, usos tolerados e usos proibidos.(...) O zoneamento urbano vocaciona as áreas
urbanas, dando-lhes destinação adequada, estabelecendo-lhes os usos permitidos, os tolerados
e os proibidos. Conforme o zoneamento, as áreas urbanas passam a ter destinação residencial,
comercial, industrial ou de prestação de serviços, com discriminação de usos ora exclusivos,
ora tolerados e ora proibidos. A Lei de Zoneamento disciplina as atividades, sejam individuais
ou coletivas, públicas ou privadas, que afetem ou possam afetar a vida da cidade”.
A Lei de Zoneamento do Município de Curitiba, art. 38, define, se a atividade a
ser desenvolvida em determinado espaço é permitida (“clara compatibilidade”), tolerada (são
compatíveis, apesar' de incômodas ou prejudiciais), permissíveism (análise para cada caso
concreto) e proibidas (atividades nocivas, incômodas e incompatíveis com a zona).
Quando o uso está de acordo com aquilo que é estabelecido por lei, diz-se
“conforme”. Isso significa que o uso é permitido. Não há direito do proprietário em utilizar a
propriedade se a atividade a ser desenvolvida está “desconforme”.
Para José Afonso da Silvaws, as especificações dos usos permitidos são
chamadas categorias de uso. Dessa forma, por exemplo, a zona de uso residencial é dividida
em categorias, quais sejam: uso residencial unifamiliar (uma habitação por lote), multifamiliar
(mais de uma habitação por lote, seja horizontal ou vertical), uso de conjunto residencial
(mais de uma habitação, isoladas ou agrupadas, vertical ou horizontal, ocupando um ou mais
lotes, existindo espaços e instalações de uso comum). Na Lei de Zoneamento de Curitiba (Lei
9.800/OO), as categorias de uso estão presentes no art. 34 e anexo da lei, sendo divididas em:
habitacional (edificação destinada à habitação permanente ou transitória), comunitário
(espaço, estabelecimento ou instalação destinada à educação, lazer, cultura, saúde, assistência
social e cultos religiosos), comercial e de serviço (atividade caracterizada pela relação de
troca visando o lucro e estabelecendo-se a circulação de mercadorias, ou atividade
caracterizada pelo préstimo de mão-de-obra e assistência de ordem intelectual e espiritual),
industrial (atividade pela qual resulta a produção de bens pela transformação de insumos),
107
Os anexos (cm formato dc tabcla) cstão prcscntcs os parâmetros dc uso c ocupação do solo. Dividc-sc os usos
em permitidos, tolerados e pennissíveis. Estão presentes também: porte (m2), coeficiente de aproveitamento,
taxa de ocupação altura máxima (em pavimentos), recuo rnínimo de alinhamento predial (metros), taxa
de permeabilidade mínima (%), afastamento das divisas, lote mínimo. Para cada uso há especificações
diferentes.
36
1°° Diz o § 2° do art. 38:“por proposta do Instituto de Pesquisa e Planejarnento Urbano de Curitiba - IPPUC,
ouvido o Conselho Municipal de Urbanismo - CMU, através de ato do Poder executivo Municipal poderão ser
estabelecidas outras condições e parâmetros de ocupação mais restritivos para uma detemiinada atividade
classificada como de uso tolerado em determinada zona ou setor”.
Diz o §3° do art. 38: “Por proposta do Instituto de Pesquisa e Planejarnento Urbano de Curitiba - IPPUC ao
Poder Executivo Municipal, novos Setores Especiais poderão ser criados, desde que assirn exija o interesse
público”.
109
Diz o art. 59, Constituição Federal: “O processo legislativo compreende a elaboração de: III: leis ordinárias”.
Valc lembrar quc o disposto nas Constituições Estaduais c Lcis Orgânicas dcvcm cstar dc acordo com a
Constituição Federal
37
110
Uma Introdução Crítica ao Dircito. p. 294.
“I
112
Curso de Direito Constitucional Positivo. p. 427.
Essa é a opinião da maioria dos autores. Mas acreditamos que mesmo assim não seria aceitável, haja vista o
art. 5, Ilda Constituição Federal (“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”).
38
Neste caso, Hely Lopes Meirellesm diz que “devemos distinguir duas
situações: as normas de zoneamento e a fixação das zonas; aquelas são privativas de lei; esta,
de decreto. A lei estabelecerá as diretrizes, os critérios, os usos admissíveis, tolerados e
vedados nas zonas previstas; o decreto individualizará as zonas e especificará os usos
concretamente para cada local”. Destarte, não concordamos com o entendimento do autor por
ser incompatível com a Lei de Zoneamento de Curitiba. A Lei de Zoneamento não estabelece
apenas diretrizes, mas já define as zonas especificamente e concretamente, trazendo,
inclusive, o mapa municipal, com as zonas já determinadas. Sendo assim, somente é possível
a modificação e derrogação de dispositivos de lei pela promulgação de outra lei.
Situação similar, mas não menos viciada, ocorre com a segunda parte do § l°,
art. 38, que diz que o CMU poderá indicar parâmetros de ocupação mais restiitivos que
aqueles estabelecidos na Lei de Zoneamento. Isso vai contra o princípio da legalidade, sendo,
pois inconstitucional' (art. 37, Constituição Federal)! Jamais poderá a Administração (isso
compreende seus órgãos) indicar parâmetros que não estejam de acordo com a lei. É um
absurdo a própria norma legal permitir o seu desrespeito. Portanto, ao CMU cabe a análise das
autorizações, mas não pode alterar as determinações legais.
Por fim, a Lei de Zoneamento não apenas deverá ser referência obrigatória aos
administrados, mas deverá ser seguida sempre pela Administração Pública, evitando
alterações bruscas que acarretem prejuízos aos particulares. Por isso, a possibilidade do uso de
atos do Poder Executivo para alterações urbanísticas deve ser limitada, dificultando
alterações.
poder, extravasando os limites legais. Neste caso, cabe ao particular, além de opor-se à
limitação estatal, pleitear a indenização por prejuízos dela decorrentes”.
Entendemos que a mudança da Lei de Zoneamento em tese não é indenizável,
já que é limitação administrativa. Contudo, se houver danos concretos, prejuízos provados,
poderá o particular pleitear indenizações. E se houver esvaziamento ou perda da utilidade da
propriedade, a propriedade particular deverá ser desapropriada, sem prejuizo à indenização.
E o direito adquirido? O maior problema no caso de alterações de Lei de
Zoneamento é o direito adquirido dos proprietários dos imóveis atingidos. Na forrna da
Constituição, art. 5°, XXXVI: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato juridico perfeito
e coisa julgada”.
Hely Lopes Meirellesm ensina que “o zoneamento, embora seja um eficiente
instrumento urbanístico de ordenação da cidade, há que ser utilizado com prudência e respeito
aos direitos adquiridos, pois é sabido que a simples mudança de destinação de um bairro ou de
uma rua produz profundas alterações econômicas e sociais, valorizando ou desvalorizando
substancialmente as propriedades atingidas e as de suas adjacências, consoante os novos ônus
ou vantagens que acarrete para o local. (...) Toda vez que o zoneamento ofende direitos
adquiridos, expõe o Município a demandas e vultuosas indenizações. O Município só deve
impor ou alterar zoneamento quando essa medida for exigida pelo interesse público, com real
vantagem para a cidade e seus habitantes”.
Há o problema do direito adquirido em relação à renovação do alvará para
esses usos compreendidos no art. 50. Na tbrma do seu § l°: “as renovações serão concedidas
desde que a atividade não tenha demonstrado qualquer um dos inconvenientes apontados no
“caput” desse artigo”. Se, devido à mudança na Lei de Zoneamento, o “uso conforme” passa a
ser “desconforme”, sem dúvida, enquanto perdurar a licença, não poderá o Poder Público
perturbar a atividade. No entanto, quando o prazo de vigência dessa licença se esgota, diz José
Afonso da Silvam, “não tem o direito adquirido à sua continuidade, mas terá direito subjetivo
à renovação da licença se os pressupostos de sua outorga persistirem existindo, sobrevindo, ou
não, lei nova”.
Mesmo que o interesse privado jamais poderá sobrepor-se ao interesse
coletivo, mas sabendo que o particular não pode arcar com todos os prejuízos, o autor diz que
“é legítimo o direito a ser ressarcido dos prejuízos que daí lhe advenham, que, devidamente
comprovados, hão de ser compostos pela Municipalidade, mediante indenização
adequada”. 122
Entendemos, da mesma forma, que não se pode sobrepor o interesse particular
ao interesse público, já que “a superioridade do interesse público sobre o privado é uma
norma constitucional que incide no Direito Administrativo brasileiro, ora como regra, ora
como princípio. Resulta, implicitamente do sistema constitucional e produz importantes
conseqüências normativas na ordem jurídica, não se restringindo a figurar como mera causa
sócio-política de outras normas jurídicas”m. Contudo, não é possível, nem justo, deixar o
particular atingido por essa regra sofrer sozinho todos os prejuízos, destruindo a possibilidade
de recuperação de sua atividade. Por isso, é imprescindível a indenização por parte do Poder
Público.
Além' desse caso acima, pode-se enumerar várias situações diferentes, podendo
ou não ensejar indenizações, ao nosso ver, no caso de mudança na Lei de Zoneamento: no
caso de alguém tiver apenas uma pretensão de estabelecer-se em determinado local, isso não
passa de uma mera expectativa de direito, não tendo qualquer proteção jurídica. A mudança
da legislação, neste caso, não trará problemas.
José Afonso enumera quatro situações diferentes: a) edificação licenciada, mas
não iniciada; b) edificação licenciada, já iniciada; c) edificação concluída, sem “habite-se”, d)
edificação concluída, com “habite-se”.
As licenças para construir têm vigência temporal limitada para início da
construção, caducando após o termo. Para José Afonso da Silvam, se passar o prazo sem o
início da obra e a Lei de Zoneamento mudar, a nova autorização somente poderá ser dada se o
projeto estiver de acordo com a nova lei. Há outra situação: continuando, o autor pergunta se
há direito adquirido no caso de um novo zoneamento sobrevir e ainda viger o alvará. Ele
responde que não há o direito adquirido, pois prevalece o interesse público, podendo invalidar
a licença. No entanto, se houver prejuízo comprovado, José Afonso admite indenização do
particular.
Há entendimentos diversos, como o de Caio Tácito, que diz que a revogação de
licença de obra iniciada é violação do direito in abstrato. E Arnoldo Wald diz que há o direito
122 p. 269.
OSÓRIO, Fábio Medina. Supremacia do intcrcssc público sobre o privado. RDA 220/105.
Direito Urbanístico Brasileiro. p. 270.
42
adquirido já com o inicio da obra, não podendo ser atingido por legislação superveniente.
A Lei 9.800/OO, para evitar problemas dessa natureza, aceitou a vigência do
alvará, mesmo que fornecido sob a lei anterior (Lei 5.234/75). Nos termos do art. 49: “os
parâmetros de uso e ocupação do solo da legislação anterior terão 1 (um) ano de prazo de
validade contado a partir da data de vigência desta lei, renovável por uma única vez, por igual
período, para:
I - os projetos já licenciados;
ll - os projetos em tramitação, protocolados nos Órgãos competentes
anteriormente à data de vigência desta lei”. Ressalta-se, com base no § 3° , que “os projetos
licenciados perderão sua validade de as obras não forem iniciadas no prazo de l (um) ano,
contado a partir da data de licenciamento”. E ainda, diz o § 4°: “considera-se obra iniciada
aquela cujas fundações estejam concluídas até o nível da viga de baldrame”.
Para José Afonso da Silva, o problema está em determinar quando é que o
direito de construir passa a ser direito de propriedade, este definitivamente consumado. Para
ele, apenas quando conclusa a obra ou quando houver o “habite-se” é que realmente nasce o
direito de propriedade (antes seria direito adquirido, que, para o autor, não existe)l25 sobre o
produto resultante do direito de construir. No entanto, se assim mesmo a Administração quiser
cumprir a nova lei, deverá desapropriar por necessidade pública. 126
Há mais uma hipótese: se a ocupação anteceder ao novo zoneamento, constitui
“pré-ocupação com direito adquirido à sua permanência e continuidade nas condições
originárias, isto é, sem possibilidade de ampliação de atividade ou de renovação das
construções, instalação ou equipamentos descontbnnes, ou de transferência voluntária a
terceiros. Se a Prefeitura pretender a imediata cessação de qualquer atividade desconforme,
mas com pré-ocupação na zona, deverá indenizar cabalmente o seu exercente, amigavelmente
ou mediante desapropriação”.m
Assim sendo, já ocupado o imóvel, já recebido o “habite-se” ou já concluída a
construção, há o direito de propriedade (ressalta-se: não o direito adquirido). Se o Poder
Público pretender cumprir fielmente a nova legislação, diferente da antiga, deverá
desapropriar os bens, lembrando que deverá também indenizar os proprietários por qualquer
125 Note: nasce o direito de propriedade, não o direito adquirido. Só podemos falar em direito adquirido, segundo
José Afonso (Direito Urbanístico Brasileiro. p. 27 l), quando ainda não há o gozo e exercício do direito pelo
proprietário. Assim, há direito adquirido antes de surgir o efetivo direito à propriedade.
'26
127
Dircito Urbarúsiicø Brasilciro. p. 271;
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. p. 408.
43
prejuízo decorrente desse procedimento. Antes disso, não haveria direito de propriedade e
nem direito adquirido, não podendo continuar a construção. No entanto, a Lei de Zoneamento
de Curitiba admite o direito adquirido, temendo uma enxurrada de pedidos judiciais de
indenização.
128 OLIVEIRA, Femanda Paula Marques de. As Medidas Preventivas do Planos Municipais de Ordenamento do
Território - Alguns Aspectos do Seu Regime Jurídico. p. 39.
44
Conclusão
Acreditamos que o trabalho pôde revelar que o zoneamento urbano de Curitiba
ainda está aquém dos princípios Constitucionais. Há graves vícios nessa lei de planejamento
urbano.
O que se espera é que haja desenvolvimento urbano, procurando melhorias
sociais, mas evitando, sempre que possível, a intervenção na esfera privada, resultando
atitudes arbitrárias e despreparadas da Administração Pública. Ao Poder Público cabe realizar
apenas aquilo que a lei permite. Jamais pode fazer o que quiser, baseado no seu próprio juízo.
O direito urbanístico é um ramo bastante novo na esfera jurídica. Nos próximos
anos espera-se que se dê maior importância ao tema. Porém, não basta apenas legislar, é
preciso agir concretamente para que o planejamento fimcione. Legislação é indispensável,
mas, atualmente, é preciso mais atuação concreta do Poder Público.
O que não podemos aceitar é a insegurança jurídica que a lei de zoneamento de
Curitiba causa. É impossível que a lei possa ser alterada por simples ato do Poder Executivo.
É preciso que os administrados saibam e prevejam o que pode acontecer ao seus imóveis
urbanos com antecedência, mediante lei.
Esperamos que ocorra a correta utilização dos instrumentos legais à disposição
dos prefeitos, não sendo permitida a arbitrariedade, mas acima de tudo, que sejam alcançados
os objetivos presentes na Constituição.
Não podemos negar que o planejamento da cidade de Curitiba é eficiente. As
zonas foram bem definidas, procurando o bem-estar da população. E, agora, junto com o
Estatuto da Cidade, procurar-se-á melhorar ainda mais as condições de vida da população,
especialmente a de baixa renda.
Promulgou-se o Estatuto da Cidade, que tramitava há 12 anos no Congresso,
sancionado pelo Presidente da República no dia 10 de julho de 2.00l. Em Curitiba, a maioria
das providências determinadas pela nova lei federal já foram tomadas, pois os planos
urbanísticos e o planejamento estão bem atualizados.
Portanto, nota-se que o planejamento, determinação da Constituição Federal de
1988, é muito necessário para o pleno desenvolvimento das cidades, especialmente dos
grandes centros urbanos, que hoje sofrem com os efeitos da desorganização.
45
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TÁCITO, Caio. Direito Administrativo. São Paulo, Saraiva, 1.975.
48
CAPÍTULQ I
DIsPosICoEs GERAIS
Art. 1°. Esta lei dispõe sobre a divisão do tenitório do Município em zonas e setores
e estabelece critérios e parâmetros de uso e ocupação do solo, com o objetivo de orientar e
ordenar o crescimento da cidade.
Art. 2°. Zoneamento, é a divisão do território do Município visando dar a cada região
melhor utilização em função do sistema viário, da topografia e da infra-estrutura existente,
através da criação de zonas e setores de uso e ocupação do solo e adensamentos diferenciados.
Parágrafo único. As zonas e setores serão delimitados por vias, logradouros públicos,
acidentes topográficos e divisas de lote.
III - incentivo à ocupação ordenada ao longo dos eixos de ligação com os demais
municípios da Região Metropolitana de Curitiba - RMC;
IV - na urbanização de áreas;
V - no parcelamento do solo.
CAPÍTULO II
DAS ZONAS E SETORES DE Uso
Art. 5°. O Município de Curitiba, conforme mapa de zoneamento anexo, que faz
parte integrante desta lei, fica dividido nas seguintes zonas e setores de uso:
I - Zona Central - ZC;
Parágrafo único. Os critérios de uso e ocupação do solo nos lotes nas diversas zonas
e setores especiais são os contidos nos Quadros anexos sob n°s I a XLIV, que fazem parte
integrante desta lei.
50
Art. 6°. A Zona Central - ZC, centro tradicional da cidade, é caracterizada pela
grande concentração de atividades e fimções urbanas de caráter setorial.
Art. 10. As Zonas Industriais - ZI, são aquelas destinadas à implantação de atividades
industriais de grande porte, localizadas em sua maioria na Cidade Industrial de Curitiba.
Art. 11. As Zonas de Uso Misto - ZUM, compreendem áreas de ocupação mista, com
média densidade habitacional, caracterizadas como apoio às zonas industriais e de serviços
localizadas na Cidade Industrial de Curitiba.
Art. 12. As Zonas Especiais - ZE, compreendem os grandes espaços fisicos cuja
ordenação de uso e ocupação do solo se caracteriza pela existência ou previsão de edificações,
equipamentos e instalações destinadas a grandes usos institucionais, subclassificando-se em:
Art. 14. Os Setores Especiais - SE, terão sua abrangência e definição estabelecidas
no Capítulo III, desta lei.
CAPÍTULO III
DOS sEToREs ESPECIAIS
Art. 15. Os Setores Especiais, compreendem áreas para as quais são estabelecidas
ordenações especiais de uso e ocupação do solo, condicionadas às suas características
locacionais, funcionais ou de ocupação urbanística, já existentes ou projetadas e aos objetivos
e diretrizes de ocupação da cidade.
Art. 16. Os Setores Especiais Estruturais - SE, são os principais eixos de crescimento
da cidade, caracterizados como áreas de expansão do centro tradicional e como corredores
comerciais, de serviços e de transportes, tendo como suporte um sistema trinário de
circulação.
§ 1°. Entende-se como sistema viário estrutural, o sistema trinário composto por uma
via central e duas vias externas, sendo a via central aquela que contém a canaleta para o
transporte de massa e as pistas lentas para atendimento às atividades lindeiras, e as vias
extemas, as mas paralelas com sentido único de tráfego destinada ao fluxo contínuo de
veículos.
§ 2°. Nos terrenos com fi'ente para a via central dos Setores Especiais Estruturais
deverá ser assegurada uma continuidade à testada comercial das novas edificações, através de
proposta específica de ocupação, denominada Plano Massa.
Art. 18. Os Setores Especiais dos Eixos de Adensamento são eixos de crescimento,
complementares da estruturação urbana, de ocupação mista e de média-alta densidade
habitacional.
Art. 20. O Setor Especial do Centro Cívico - CC, compreende a área onde se
concentram atividades administrativo-institucionais do Serviço Público Estadual e Municipal,
admitindo-se o uso habitacional e atividades comerciais e de prestação de serviços.
54
Art. 22. Para efeito do Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, as vias integrantes dos
Setores Especiais do Sistema Viário Básico classificam-se em:
II - Vias Setoriais - são eixos de ligação entre regiões, municípios vizinhos, área
central e áreas periféricas, possuindo forte integração e articulação com o sistema viário
principal, coincidindo em alguns casos com os antigos caminhos de chegada a Curitiba,
admitindo os usos preferencialmente setoriais;
III - Vias Coletoras "I - caracterizam-se por vias com média extensão e integradas ao
sistema viário principal, que já concentram o tráfego local e o comércio e serviço de médio
porte de atendimento à região;
V - Vias Coletoras 3 - são vias de pequena e média extensão que estruturam as áreas
de habitação de interesse social, onde devem se concentrar os usos voltados ao interesse da
região, propiciando a geração de emprego e renda.
Art. 23. O Setor Especial Histórico - SI-L parte da área central, engloba um grande
número de edificações originárias do processo de ocupação da cidade do fim do século XIX e
início do século XX, caracterizando o núcleo urbano com maior expressão histórica e cultural.
Art. 26. O Setor Especial Nova Curitiba - NC, constitui-se num eixo de
desenvolvimento urbano de ocupação mista, localizado no prolongamento oeste do Setor
Estrutural Norte, caracterizado por um sistema trinário conforme definido no § 1° do art. 17
desta lei.
Art. 27. O Setor Especial Institucional - SEI, compreende área de ocupação mista
com predominância de prestação de serviços e de média densidade habitacional, com grande
concentração de equipamentos educacionais e de serviços públicos de grande porte.
Art. 28. O Setor Especial dos Pontos Panorâmicos - SE-PP é constituído pelos locais
de observação da paisagem e pelos terrenos situados na encosta dessas elevações, onde os
parâmetros de uso e ocupação do solo serão controlados de maneira a não causar
interferências.
Art. 30. O Setor Especial Linhão do Emprego - SE-LE, é constituído por área de
ocupação mista com predominância de atividades de comércio, prestação de serviços e
pequenas indústrias voltadas à vocação da região e com incentivos à geração de emprego e
renda.
Art. 32. O Setor Especial de Ocupação Integrada - SE-OI compreende área reservada
a empreendimentos habitacionais, de comércio e serviço e a equipamentos de uso público, o
qual será objeto de plano de ocupação específico.
cAPÍTULo IV _,
DA CLASSIFICAÇAO DOS Usos
Art. 35. Em qualquer zona ou setor é admitido o uso do mesmo lote ou edificação
por mais de uma categoria, desde que permitida, tolerada ou permissível e sejam atendidas,
em cada caso, as características e exigências estabelecidas nesta lei e de demais diplomas
legais.
Art. 37. Serão considerados como empreendimentos de impacto aqueles que por sua
categoria, porte ou natureza possam causar impacto ou alteração no ambiente natural ou
construído, sobrecarga na capacidade de atendimento de infra-estrutura básica, e que exijam
licenciamento especial por parte dos órgãos competentes do Município.
CAPÍTULO v ~
DO APROVEITAMENTO E DA ocUPAÇAo DO soLo
Art. 38. De acordo com sua categoria, porte e natureza, em cada zona ou setor as
atividades urbanas serão consideradas como:
Parágrafo único. Para os efeitos de aplicação dos critérios estabelecidos nos quadros
de que trata este artigo, serão consideradas como de uso proibido, em cada zona ou setor de
uso, todas as atividades que ali não estejam relacionadas como de uso permitido, tolerado ou
permissível.
III - não ofenda os direitos de vizinhança, as disposições expressas desta lei e outras
ditadas pelo interesse da coletividade.
Art. 42. Para efeitos desta- lei, em cada zona ou setor, os critérios de assentamento e
implantação da edificação no terreno são estabelecidos pelos seguintes parâmetros de
ocupação:
§ 2°. Para fins de parcelamento do solo, nos terrenos de esquina, a testada mínima
estabelecida para o lote deverá ser acrescida do recuo obrigatório previsto para a zona ou setor
onde o terreno se localiza.
§ 3°. Quando se tratar de loteamentos existentes com lotes com padrão inferior ao
estabelecido para a zona ou setor, nos lotes de esquina, com profundidade inferior a l4,00m
(quatorze metros), o recuo mínimo estabelecido, poderá ser reduzido na proporção de O,50m
60
(cinqüenta centímetros) por metro ou fração de redução, até um máximo de 2,50m (dois
metros e cinqüenta centímetros).
§ 4°. Para efeito de aplicação do índice estabelecido para o afastamento das divisas,
prevalece a maior dimensão obtida entre o índice e o mínimo determinado nos Quadros
anexos, que fazem parte integrante desta lei.
§ 5°. De acordo com o tipo de atividade e a zona ou setor onde se localiza, a taxa de
permeabilidade poderá ser reduzida, substituída ou complementada através da implantação de
mecanismos de contenção de cheias, os quais serão objeto de regulamentação específica.
CAPÍTULO vr ` __ ~
DO INCENTIVO A PROTEÇAO E PRESERVAÇAO
ll - Unidades de Conservação;
IV - Áreas Verdes.
CAPÍTULO VII ~ r
DAS D1sPos1ÇoEs FINAIS E TRANs1ToR1As
Art. 45. Os limites entre as zonas e setores indicados no mapa de zoneamento anexo,
que faz parte integrante desta lei, poderão ser ajustados quando verificada a necessidade de tal
procedimento, com vistas a maior precisão dos limites, ou para se obter melhor adequação no
sítio onde se propuser a alteração, considerando-se as divisas dos imóveis, o sistema viário ou
a ocorrência de elementos naturais e outros fatores condicionantes.
61
Art. 46. A ocupação com habitações unifamiliares em série , nos terrenos com área
superior 15.000,00 m2 (quinze mil metros quadrados), situados na Zona Residencial Um.
Zona Residencial de Santa Felicidade e Zona Residencial do Batel, será analisada pelo
Conselho Municipal de Urbanismo - CMU, ouvido o Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano de Curitiba - [PPUC e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA, desde
que:
Art. 47. Será exigida a reserva de espaço coberto ou descoberto para estacionamento
e recreação nos lotes ocupados por edificações destinadas aos diferentes usos e atividades.
I - Os projetos já licenciados;
§ 1°. As renovações serão concedidas desde que a atividade não tenha demonstrado
qualquer um dos incovenientes apontados no "caput" deste artigo.
Art. 51. As determinações desta lei não substituem e nem isentam de obediência às
normas Federais, Estaduais e Municipais que objetivam assegurar condições sanitárias, de
iluminação, ventilação, insolação, circulação intema, para todos os tipos de edificações,
independente das zonas ou setores em que são construídas.
Art. 52. As infrações à presente lei darão ensejo à cassação do respectivo alvará,
embargo administrativo, aplicação de multas e demolição de obras.
Art. 53. Os casos omissos, serão analisados pelo Conselho Municipal de Urbanismo
CMU.
Art. 54. Esta lei será regulamentada no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da
data de sua publicação.
Art. 55. Esta lei entrará em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação,
revogadas as Leis n°s 4199/72, 5234/75, 5263/75, 5490/76, 6204/81, 6769/85, 7068/87 e
7622/91 e demais disposições em contrário, ressalvado o disposto no art. 48 desta lei.
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PREFEITO MUNICIPAL
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