Capítulo - Livro Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais (Final)
Capítulo - Livro Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais (Final)
Capítulo - Livro Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais (Final)
(Organizadores)
Prefácio
Deilton Ribeiro Brasil
Todas as obras publicadas pela Editora Fundação Fênix estão sob os direitos da
Creative Commons 4.0 –
Http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
Série Direito – 37
381p.
ISBN – 978-65-81110-28-4
https://doi.org/10.36592/9786581110284
Disponível em: https://www.fundarfenix.com.br
CDD – 340
_______________________________________________________________
1. Direito Tributário. 2. Direitos fundamentais. 3. Inteligência Artificial.
4. Tecnologia. 5. Tributação.
Índice para catálogo sistemático – Direito – 340
SUMÁRIO
PREFÁCIO
Deilton Ribeiro Brasil....................................................................................................... 13
APRESENTAÇÃO
Os Organizadores............................................................................................................ 19
ORGANIZADORES.......................................................................................................... 375
COLABORADORES......................................................................................................... 377
PREFÁCIO
Deilton Ribeiro BrasiDeilton Ribeiro Brasil
É com muita alegria e júbilo que aceitei o convite para prefaciar esta
enriquecedora obra coletiva organizada pelo Prof. Dr. Paulo Antônio Caliendo Velloso
da Silva, Profa. Dra. Denise Lucena Cavalcante e Doutorando Luiz Antônio da Silva
Bittencourt, sendo necessário registrar neste momento em que tão importante
trabalho vem a lume para divulgar o resultado de pesquisas científicas desenvolvidas
no âmbito do PPGD da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, Rio Grande
do Sul, para a comunidade jurídica.
O livro traz 16 (dezesseis) artigos com temas da maior relevância para o
Direito envolvendo as temáticas de tributação e tecnologia onde procuraram
perquirir soluções e equacionar as deficiências que surgem no âmbito dessa
temática perpassando pelos desafios emergentes na época atual pois se irradiam
sobre direitos fundamentais.
Indiscutivelmente, os leitores se sentirão motivados a prosseguir a leitura
desses artigos, que estão alicerçados na reflexão teórica e em trabalhos empíricos,
que se somam a valiosa produção científica, começando pelo primeiro artigo
intitulado “Limitações constitucionais ao poder de tributar com a finalidade
extrafiscal” de autoria de Paulo Antônio Caliendo Velloso da Silva que tece
importantes considerações sobre a doutrina clássica em Direito Tributário que
contribuiu para estabelecer limites constitucionais do poder de tributar. Para o autor,
houve uma expansão dos instrumentos fiscais para induzir comportamentos,
estimular setores econômicos, incentivar e desincentivar condutas. Para ele a
problemática está em definir e delimitar os contornos das limitações constitucionais
ao poder de tributar com escopos extrafiscais no contexto do Estado Democrático
de Direito.
O segundo texto “Análise das autuações tributárias originadas de acordo de
colaboração premiada sob a ótica constitucional”, de autoria de Thiago Dayan que
tece um paralelo entre o poder que o Estado detém de usar as informações dos
acordos de colaboração em desfavor dos delatores fazendo um contraponto entre a
proteção constitucional do delator em matéria tributária e as autuações tributárias.
14 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
durante a pandemia da Covid-19 o que gerou grande circulação de valores, ainda que
de modo totalmente virtual, não alcançados pela tributação clássica. Em seu estudo
o autor procura apontar possíveis “atualizações” de que necessita o arcabouço
jurídico em matéria de tributação do consumo em geral diante da magnitude da
Economia Digital evitando-se, quedas arrecadatórias em especial em períodos de
crises nas quais seja fundamental a atuação do Estado como vetor de políticas
públicas.
O texto “Tributação da herança digital”, do autor Alan Jece Baltazar, parte do
advento e a utilização da internet que criou uma infinidade de novos bens,
denominados de bens digitais. E tais bens, quando seu titular falece, resulta num
espólio digital, chamado de herança digital. Para o autor, tal acervo apresenta um
aspecto de extrema relevância, qual seja, a possibilidade da incidência do imposto
sobre a transmissão causa mortis e doação (ITCMD). Conclui-se que ainda não se
mostra permitido a cobrança do tributo em comento.
O décimo-quinto trabalho com o verbete “Tributação dos serviços digitais:
notas e perspectivas à luz do ordenamento jurídico brasileiro” é o resultado da
pesquisa de Andressa de Bittencourt Siqueira que aborda os novos desafios
impostos à tributação no contexto do desenvolvimento tecnológico e inovativo, para
além do fenômeno da digitalização. A autora suscita dois problemas de pesquisa. O
primeiro, perquire de que maneira o ordenamento jurídico-constitucional brasileiro
realiza a tributação de serviços digitais. O segundo, tem por objetivo identificar de
que modo o modelo de tributação atual brasileiro, bem como as propostas de
alteração deste, se situam no contexto global de tributação da economia digital. A
autora, conclui que não é prudente levar a cabo a tributação dos serviços digitais no
Brasil, sem uma compreensão mais ampla do fenômeno e da complexidade das
normas brasileiras. Para ela, da latente internacionalização da prestação de serviços,
sobretudo os digitais, emerge a necessidade de um arcabouço normativo que
compatibilize e harmonize normas tributárias em múltiplos níveis.
O décimo-sexto e derradeiro texto “Tributação dos trabalhadores na GIG
ECONOMY – o caso Uber”, de Bóris Chechi de Assis, cuida dos regimes de tributação
dos trabalhadores da gig economy no Brasil, mais especificamente com relação à
plataforma Uber. O autor discute possível enquadramento dos trabalhadores das
18 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Pós-Doutor em Direito pela Università degli Studi di Messina, Itália. Doutor em Direito
pela Universidade Gama Filho-RJ. Professor da Graduação e do PPGD - Mestrado
em Proteção dos Direitos Fundamentais da Universidade de Itaúna (UIT); Faculdades
Santo Agostinho (FASASETE-AFYA) e Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete
(FDCL). Professor visitante do PPGD da Universidade de Caxias do Sul (UCS). CV:
http://lattes.cnpq.br/1342540205762285. https://orcid.org/0000-0001-7268-8009.
E-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
Os organizadores
É com imensa satisfação que trazemos ao público do Direito Tributário esta
coletânea produzida com o esforço conjunto dos Programas de Pós-Graduação em
Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (conceito 6 da
CAPES), com apoio do PPGD, da Universidade Federal do Ceará.
Trata-se de mais um resultado da profícua Rede de Pesquisas em Direito
Tributário, Tecnologia e Direitos Fundamentais, composto pelos PPGDs da PUCRS,
UFC, UERJ, UFSC e IDP.
A proposta da obra foi resultado das pesquisas dos alunos dos programas de
pós-graduações dessas instituições e que, com temas novos e atuais, buscaram
trazer ao público em geral, uma forma de analisar o Direito Tributário e sua essencial
e necessária interface com os direitos fundamentais e a tecnologia.
Cada artigo traz reflexões relevantes, frutos dos fervorosos debates ocorridos
durante o ano letivo de 2021. Pelos textos ora apresentados, destacam-se inovações
que refletem uma perspectiva contemporânea de aprimoramento do Direito
Tributário, adotando a necessária percepção das mudanças comportamental e
estrutural decorrentes da era digital.
A presente coletânea traz uma contribuição singular para a área jurídica,
demonstrando que há um caminho a perquirir por todos aqueles que se dedicam a
repensar o Direito em suas mais variadas interfaces. As novidades aqui trazidas é
um estímulo para todo pesquisador, servindo, inclusive de fonte de pesquisa para
quem desejar um aprofundamento nos temas aqui abordados.
Também se faz necessário destacar que, além da grande preocupação com a
fundamentação teórica da matéria abordada em cada capítulo, os autores tiveram a
preocupação em realizar uma análise a partir de uma aplicação prática do Direito, o
que engrandece a presente obra, pois alcança tanto a aqueles investigadores do
Direito quanto também os seus operadores.
Ademais, os artigos refletem a posição pessoal de cada autor, que com
liberdade de pensamento, apresenta a sua proposta de reflexão a partir de um
referencial teórico prévio, sendo conscientes de que o Direito se constrói com a
20 | Água, clima e restauração dos ecossistemas…
Os organizadores.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-01
Paulo Caliendo1
RESUMO
A doutrina clássica em Direito Tributário delimitou e consolidou os limites
constitucionais ao poder de tributar de modo muito consistente. Os novos
desenvolvimentos na tributação expandiram os instrumentos fiscais para induzir
comportamentos, estimular setores econômicos, incentivar e desincentivar
condutas. O problema deste artigo está em definir e delimitar as limitações
constitucionais ao poder de tributar com finalidades extrafiscais. Quais são os
limites ao poder de tributar com finalidade extrafiscal? Assim, se pretende investigar
e analisar quais são os princípios que o orientam; bem como, determinar como
Estado ordena, intervém e promove os direitos fundamentais em Estado Democrático
de Direito, por meio do uso de instrumentos tributários.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduado em Direito pela UFRGS, Mestre em Direito dos Negócios pela Faculdade de Direito da
UFRGS. É Doutor em Direito Tributário pela PUC/SP. Professor Titular na PUC/RS, onde compõe o
corpo permanente do Mestrado e Doutorado, lecionando na Disciplina de Direito Tributário, e de
diversos cursos de Pós-Graduação no país. Autor do livro finalista do Prêmio Jabuti 2009 “Direito
Tributário e Análise Econômica do Direito”, publicado pela editora Elsevier. Conselheiro do CARF, do
Curso de Direito Tributário, 3ª. edição, Árbitro da lista brasileira do Mercosul. Advogado.
2
O presente artigo é um resumo do trabalho publicado CALIENDO, Paulo. Limitações constitucionais
ao poder de tributar com finalidade extrafiscal. 2013, n. 33. Nomos: Revista do Programa de Pós-
Graduação em Direito da UFC. Acesso em 17.09.2021.
22 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
3
Cf. PUGLIESI, Mario. La finanza e i suoi compiti extra-fiscali negli stati moderni. Padova: CEDAM, 1932.
4
Sobre o assunto veja-se a excelente tese de pós-doutoramento de CAVALCANTE, Denise Lucena.
Sustentabilidade financeira em prol da sustentabilidade ambiental. In RIBEIRO, Maria de Fátima;
QUEIROZ, Mary Elbe; CAVALCANTE, Denise Lucena; GRUPENMACHER, Betina Treiner. Novos Horizontes da
Tributação: um diálogo luso-brasileiros. São Paulo: Almedina, 2012, p. 176.
24 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
5
Cf. CAVALCANTE, Denise Lucena. Op. cit.
6
Cf. SELIGMAN, Edwin Robert Anderson. Essays in Taxation. Macmillan & co., ltd. 1913, p. 402 e 403.
26 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
renda ocorre por meio da transferência fiscal de recursos entre indivíduos, em uma
modalidade reformadora da realidade social. Podemos afirmar que enquanto os
meios ordinatórios querem preservar e manter a ordem constitucional, os meios
interventivos pretendem corrigir determinadas falhas de mercado e os meios
redistributivos visam a reforma social, corrigindo as falhas sociais.
Existem diversas técnicas utilizadas com o propósito de alcançar os fins
constitucionais, aplicando os meios previstos em lei. As técnicas são instrumentos
normativos vinculados ao meios e fins constitucionais e devem, portanto, infirmar ou
confirmar estes, sob pena de inconstitucionalidade. São exemplos de técnicas7: a
utilização de alíquota progressiva, seletivas, isenções fiscais8, reduções de alíquota,
aproveitamento de créditos fiscais, depreciação acelerada, dentre tantos outros 9. O
instrumento técnico permitirá a indução de determinados comportamentos tornando
a carga fiscal menor ou desincentivando tornando-a mais gravosa.
Existem tributos, entretanto, que possuem finalidade extrafiscal claramente
definida no ordenamento jurídico, de tal modo que este incorpora estas
características como parte de sua estrutura normativa. Como exemplo poderíamos
citar o IOF, o IPI, o II e o IE que possuem como finalidade relevante regular
determinado setor econômico (mercado financeiro, industrial ou comércio exterior).
Estes impostos não possuem natureza extrafiscal, dado que sua natureza não difere
dos demais impostos, contudo, estão sujeitos a um regime constitucional extrafiscal
próprio que lhes justifica o fato de serem exceção ao princípio da legalidade, da
anterioridade e da periodicidade mínima, bem como utilizarem-se de instrumentos
de técnica fiscal de incentivo ou desincentivo aos seus respectivos setores
(seletividade, ex-tarifário, entre outros). Dessa forma, podemos considerá-los como
impostos com finalidade estruturalmente extrafiscal.
7
Artigo 2.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais de Portugal: “2 - São benefícios fiscais as isenções, as
reduções de taxas, as deduções à matéria colectável e à colecta, as amortizações e reintegrações
aceleradas e outras medidas fiscais que obedeçam às características enunciadas no número
anterior”.
8
Sobre a natureza das isenções veja-se COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria Geral do Tributo, da
Interpretação e da Exoneração Tributária (O significado do art. 116, parágrafo único, do CTN). São
Paulo: Dialética, 2003, p. 218-219.
9
Cf. TÔRRES, Heleno Taveira. Desenvolvimento, meio ambiente e extrafiscalidade no Brasil. In: PIRES,
Manuel. Extrafiscalidade. Lisboa: Universidade Lusíada, 2011, p. 85-115.
Paulo Caliendo | 27
10
Cf. GIANINNI, A. D. Instituciones de derecho tributário. Traducción de Fernando Sainz de Bujanda, Ma·
drid, Editorial de Derecho Financiero, 1957.
28 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
11
No mesmo sentido entende Andrei Pithen Velloso que: “a despeito de se tratar de um controle
complexo, é aconselhável empreendê-lo antes que o da necessidade da medida ante meios fiscais
alternativos, pois a tributação extrafiscal é, em princípio, meio subsidiário perante as medidas não
fiscais: as finalidades alheias à imposição devem ser buscadas, em regra, mediante os institutos e
formas dos respectivos ramos jurídicos, e não do Direito Tributário”, VELLOSO, op. cit., p.314.
Igualmente afirma corretamente o autor que: “o recurso à criação de normas tributárias extrafiscais
deve ser uma solução de ultima ratio – e não a regra”; VELLOSO, op. cit., p.314. Não cabe, contudo, em
nosso entender, à proporcionalidade realizer o exame de necessidade dos fins pretendidos, mas ao
controle de que os meios utilizados são os menos gravosos e menos restritivos à liberdade e
igualdade.
Paulo Caliendo | 29
custosa, visto que não existem muitos graus de decisão ou uma menor burocracia
entre o poder decisório e o beneficiário das políticas públicas.
No Direito Constitucional brasileiro o princípio não se encontra claramente
disciplinado, contudo, se analisarmos o texto constitucional veremos claramente
uma restrição das competências tributárias estabelecendo uma atuação subsidiária
na ordem econômica. Determina o art. 173 que: “Art. 173. Ressalvados os casos
previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado
só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.”
De igual modo estabelece o texto constitucional que a ordem econômica é
fundada na “[...] na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, [...]”.
O texto constitucional quando trata das normas de indução econômica afirma
que o uso de funções estatais de incentivo devem estar previstas em lei e possuem
eficácia meramente indicativa para o setor privado, assim dispõe a CF/88 que: “Art.
174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá,
na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este
determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.”
O art. 174 da CF estabelece um regime constitucional claro para as normas
indutoras, inclusive para a extrafiscalidade, prevendo:
i) exigência formal de lei autorizativa (elemento formal);
ii) eficácia geral indicativa (eficácia limitada);
iii) atividade administrativa-normativa vinculada ao elemento formal e a
eficácia restrita e;
iv) valorização constitucional axiológica da iniciativa privada como
fundamento da ordem econômica.
Estes fundamentos ensejam a compreensão de que:
não existe no sistema constitucional nacional uma cláusula geral
autorizativa de instituição de tributos com finalidade extrafiscal, devendo
esta atuação estar prevista em lei e possuir justificativa relevante para que
supere a exigência de que função estatal deva ser meramente indicativa;
30 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
12
Cf. TIPKE, Klaus. Von der formelen zur Materielen Tatbestandslehre. Steuer und Wirtschaft, 1993. P.
105-113.
13
Para um panorama abrangente do regime aplicável ao ICMS veja-se MELO, José Eduardo Soares
de. ICMS. Teoria e Prática. São Paulo: Dialética, 2009.
14
RMS 37652 / MS. Decidiu-se nesse caso que: “5. O princípio da igualdade defendido pela recorrente
deve ser relativizado pelo princípio da capacidade contributiva, de modo que seja atribuído a cada
sujeito passivo tratamento adequado à sua condição, para minimizar desigualdades naturais. 6. A
ordem pleiteada não pode ser concedida, pois, caso a postura extrafiscal do Estado não fosse
permitida, a recorrente teria o direito ao benefício fiscal em questão e passaria a uma situação de
maior vantagem em relação às demais pequenas empresas do setor de carnes.7. É plenamente
razoável e proporcional a restrição imposta pelo § 1º do art. 13-A do Decreto Estadual n. 12.056, de
2006, do Estado do Mato Grosso do Sul, que exclui os grandes frigoríferos exportadores do regime
diferenciado do crédito presumido, até porque já possuem isenção de ICMS nas exportações devido
à previsão constitucional. 8. A extensão dos benefícios fiscais, por via jurisdicional, encontra limitação
absoluta no dogma da separação de poderes”.
34 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
15
Artigo 2.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais de Portugal: “3 - Os benefícios fiscais são
considerados despesas fiscais, as quais podem ser previstas no Orçamento do Estado ou em
documento anexo e, sendo caso disso, nos orçamentos das Regiões Autónomas e das autarquias
locais”.
16
A doutrina alemã considera os benefícios fiscais como formas de subvenções indiretas ou ocultas
(indirekte oder verstecke Subventionen) Conforme lembra Andrei Pithen Velloso, ver in VELLOSO, op.
cit., p. 309. Veja-se KREUSSLER, Horst. Der allgemeine Gleichheitssatz als Schranke für den
Subventionsgesetzgeber unter besonderer Berücksichtigung von wirtschaftspolitischen
Differenzierungszielen. Berlin: Duncker & Humblot, 1972.
Paulo Caliendo | 35
17
Cf. Estatuto dos Benefícios Fiscais de Portugal: “Artigo 6.º. Carácter genérico dos benefícios fiscais;
Respeito pela livre concorrência. 1 - A definição dos pressupostos objectivos e subjectivos dos
benefícios fiscais deve ser feita em termos genéricos, e tendo em vista a tutela de interesses públicos
relevantes, só se admitindo benefícios de natureza individual por razões excepcionais, devidamente
justificadas no diploma que os instituir. 2 - A formulação genérica dos benefícios fiscais deve
obedecer ao princípio da igualdade, de modo a não falsear ou ameaçar falsear a concorrência”.
18
Cf. • RIBEIRO, Maria de Fátima. Reflexos da tributação no desequilíbrio da livre concorrência In
RIBEIRO, Maria de Fátima; QUEIROZ, Mary Elbe; CAVALCANTE, Denise Lucena; GRUPENMACHER,
Betina Treiner. Novos Horizontes da Tributação: um diálogo luso-brasileiros. São Paulo: Almedina,
2012, p. 311.
36 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
COASE, Ronald. The Problem of Social Cost. Journal of Law and Economics. Vol. 3
(October 1960), pp. 1-44.
GOMES, Nuno Sá. Teoría Geral dos Benefícios Fiscais. Lisboa: Centro dos Estudos
Fiscais, 1991.
SELIGMAN, Edwin Robert Anderson. Essays in Taxation. Macmillan & co., ltd. 1913.
VINHAS, Marcos Andre. Regime Jurídico dos Incentivos Fiscais. Rio Janeiro:
Renovar, 2004.
VOGEL, Klaus. Die Steuergewalt und ihre Grenzen. In: FS 50 Jahre BVerfG, Bd. 2,
Tübingen 2001, 577.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-02
Thiago Dayan1
1 INTRODUÇÃO
Tema muito atual, pouco discutido, mas de grande importância para o futuro
no direito tributário. Pessoas que após celebrarem acordos de colaboração premiada
com o Estado, são surpreendidos com autuações tributárias vultuosas. No presente
trabalho, faremos um paralelo entre o poder que o Estado detém de usar as
informações dos acordos de colaboração em desfavor dos delatores. Faremos um
contraponto entre a proteção constitucional do delator em matéria tributária e as
autuações tributárias.
A delação premiada é um instituto ainda em processo de maturação. Depois
de inúmeros acordos de colaboração, vem se firmando, superando barreiras e a
prática vem mostrando as consequências desse negócio jurídico processual 2 .
Algumas surgem como positivas e outras negativas. Chegou a hora de analisar, de
forma mais efetiva e sob o ponto de vista do Direito Tributário e Constitucional, os
frutos já colhidos.
A delação premiada é um instituto novo, com forte presença nos tempos mais
1
Advogado. Mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público em Brasília.
Doutorando em Direito Tributário pela PUCRS. Conselheiro do CARF da 1ª Seção.
2
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 127.483/PR. Pleno. Relator: Ministro Dias
Toffoli, 27 de agosto de 2015. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP =TP&docID=10199666. Acesso em: 05 dez.
2019: “A colaboração é um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser qualificada
expressamente pela lei como “meio de obtenção de prova”, seu objeto é a cooperação do imputado
para a investigação e para o processo criminal, atividade de natureza processual, ainda que se
agregue a esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito material) concernente a sanção
premial a ser atribuída a esta colaboração.”
42 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
3
MENDONÇA, Andrey Borges de. A colaboração premiada e a nova lei do crime organizado (Lei n.
12.850/13). Custos legis: A revista do Ministério Público. (S.I.), v. 4. 2013.
4
“Voluntariedade: é a ação ou omissão empreendida livre de qualquer coação físico ou moral. Difere
da espontaneidade, que, em direito penal, significa conduta sinceramente desejada, fruto da aspiração
íntima de alguém”, conf. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas.
2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2007, p. 946.
Thiago Dayan | 43
5
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus no 127.483/PR. Pleno. Relator: Ministro Dias
Toffoli, 27 de agosto de 2015. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP =TP&docID=10199666. Acesso em: 05 dez.
2019.
6
FRIEDE, Reis. Curso de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 64.
7
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21. ed., rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 46.
44 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
3 PODER TRIBUTÁRIO
8
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PAQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 7. ed., v. 2.
Trad. de Carmen C Varrialle e outros, Brasília/DF: UNB, p. 933.
9
MACHADO, Hugo de Brito e MACHADO, Schubert de Farias. Dicionário de Direito Tributário. São
Paulo, Atlas: 2011, p. 176-177.
Thiago Dayan | 45
10
Estado Tributário é uma expressão utilizada que determina a predominância na atividade financeira
do Estado, o fenômeno da tributação. Tal estado, parte da liberdade individual, pois a receita é oriunda,
principalmente, do patrimônio do cidadão, dos impostos (Estado de direito).
11
PAPA JOÃO PAULO XXIII. Pacem in Terris (Encíclica), I, 58 apud DALLARI, Dalmo de Abreu.
Elementos de Teoria geral do estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 33
46 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
12
BRASIL. Lei no 5.172 de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui
normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios [Código Tributário
Nacional]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5172.htm . Acesso em: 01 set.
2019.
Thiago Dayan | 47
13
MACHADO. Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
14
SANTIAGO, Myrian Passos. Tributação do Ilícito. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 134.
48 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
15
GIARDINA, Emílio. Le Basi Teoriche de Principio Della Capacitá Contributiva. Milão: Dott. A. Giuffré
Editore, 1961, p. 6, n.8.
16
COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. São Paulo: Ed. Malheiros, 2012. p. 22.
17
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm. Acesso em: 09 nov. 2019.
Thiago Dayan | 49
econômicas. Essa ideia de divisão de carga tributária deve reger a legislação, definir
a interpretação das leis, limitar a possibilidade de o indivíduo alterar as
consequências das leis, limitar a possibilidade de o indivíduo alterar as
consequências tributárias de suas condutas, e fazer o direito tributário
compreensível, previsível e ensinável18.
Na mesma linha, Humberto Ávila, contribui para o entendimento de que o
princípio da igualdade pressupõe a relação entre os contribuintes com base em um
critério de diferenciação. O critério eleito pela Constituição para os impostos
pessoais, de que é exemplo o imposto de renda, é a capacidade contributiva (art. 145,
§1º, CF/99). Tal escolha tem duas sequências importantes. De um lado, o sentido
objetivo da capacidade contributiva limita a tributação somente a situações ou fatos
que conotem capacidade contributiva. Assim, aquilo que não revelar capacidade
contributiva não pode ser tributado. De outro lado, o sentido subjetivo da capacidade
contributiva leva necessariamente a que a tributação seja tanto maior, quanto maior
for a capacidade manifestada pelo sujeito passivo. Desse modo, os contribuintes que
manifestarem menor capacidade contributiva deverão pagar menos, e, aqueles que
exteriorizarem uma capacidade contributiva maior, deverão pagar mais. No exemplo
das autuações derivadas do acordo de colaboração, os delatores já devolveram o
que, outrora, foi roubado, anulando assim qualquer possibilidade de capacidade
contributiva19.
A capacidade contributiva foi considerada como sinônimo de riqueza ou de
patrimônio. Assim, definiu-se que o indivíduo deve concorrer aos encargos públicos
em razão de sua capacidade. O que se visava, na realidade, era o princípio da
contribuição estabelecida proporcionalmente às forças econômicas dos
particulares20.
O professor Rubens de Souza define que “a soma da riqueza disponível depois
de satisfeitas as necessidades elementares de existência, riqueza essa que pode ser
18
KIRCHHOF, Paul. Tributação no Estado Constitucional. Tradução: Pedro Adamy. São Paulo: Quartier
Latin, 2016, p. 27.
19
ÁVILA, Humberto. Dedutibilidade de despesas com o pagamento de indenização decorrente de
ilícitos praticados por ex-funcionários. In. ADAMY, Pedro Augustim; FERREIRA NETO, Arthur M.
Tributação do ilícito: estudos em comemoração aos 25 anos do Instituto de Estudos Tributários – IE.
São Paulo: Malheiros, 2018. p. 89.
20
SANTIAGO, Myrian Passos. Tributação do Ilícito. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 95.
50 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
absorvida pelo Estado sem reduzir o padrão de vida do contribuinte e sem prejudicar
as suas atividades econômicas” 21
Partindo deste ponto, para melhor explicar, o legislador constituinte positivou
o princípio da capacidade contributiva, através do art. 145, §1º da Constituição
Federal, o qual dispõe:
21
SOUZA, Rubens Gomes de. Compêndio de Legislação Tributária. 3. ed. Rio de Janeiro; Financeiras,
1960, p.83.
22
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm. Acesso em: 09 nov. 2019.
Thiago Dayan | 51
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a
propriedade, nos termos seguintes:
23
SANTIAGO, Myrian Passos. Tributação do Ilícito. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 135.
52 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
24
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm. Acesso em: 09 nov. 2019.
25
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm. Acesso em: 09 nov. 2019.
Thiago Dayan | 53
26
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasleiro. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 158.
54 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
tributário27.
Contudo, não existe justiça, muito menos igualdade/isonomia tributária nas
autuações que decorem de informações retiradas dos acordos de colaboração
premiada.
Por fim, amparado pelo mesmo princípio, há de se iniciar uma discussão a
respeito da legalidade das autuações tributárias, originadas dos compartilhamentos
das informações do acordo de colaboração com o Fisco. Partindo do princípio da
isonomia, o autuado não dispõe de mesma defesa frente aos sujeitos passivos que
não fizeram acordo de colaboração.
CONCLUSÃO
27
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 12. ed. São Paulo: Malheiros
Editores. 1999, p. 300/30 I.
28
A primeira fase da operação lava jato aconteceu em março de 2014, foram cumpridos 81 mandados
de busca e apreensão, 18 mandados de prisão preventiva, 10 mandados de prisão temporária e 19
mandados de condução coercitiva, em 17 cidades de 6 Estados e no Distrito Federal. Disponível em
http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-lava-jato/atuacao-na-1a-
instancia/investigacao/historico. Acessado em 04. dez. 2019.
29
Ao longo de mais de cinco anos da operação Lava Jato em Curitiba, chega a R$ 4.069.514.758,69 o
total de valores recuperados por meio de acordos de colaboração premiada, acordos de leniência,
termo de ajustamento de conduta (TAC) e renúncias voluntárias de réus ou condenados... - Veja mais
em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/12/02/valor-devolvido-pela-lava-
jato-ultrapassa-r-4-bilhoes.htm?cmpid=copiaecola
Thiago Dayan | 55
https://doi.org/10.36592/9786581110284-03
Bruna Lietz2
Gilberto Stürmer3
Luiz Antônio da Silva Bittencourt4
Resumo
A globalização é fenômeno que se consolidou em nível mundial e afetou o modo de
ser da sociedade, alterando, de certa forma, sua estrutura social. As barreiras
territoriais foram cedendo espaço ao processo de migração digital e o que era chão
1
Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001.
This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– Brasil (Capes) – Finance Code 001.
2
Mestre em Direitos Fundamentos Constitucionais em Direito Público e Direito Privado pela
PUCRS (Conceito CAPES 6). Especialista em Direito do Estado pela UFRGS. Especialista em Direito
Público pela UNIASSELVI. Coordenadora do eixo de pesquisa Estudos sino-brasileiros sobre
tributação e tecnologia do Grupo de Pesquisas Avançadas em Direito Tributário – GTax.
Coordenadora da Revista de Direitos Fundamentais e Tributação – RDFT. Professora. Advogada.
3
Advogado e parecerista. Conselheiro Seccional da OAB/RS (2013/2015). Membro do Instituto dos
Advogados do Rio Grande do Sul (IARGS). Membro da Associação dos Advogados Trabalhistas de
Empresas no Rio Grande do Sul (SATERGS). Titular da Cadeira nº 100 da Academia Brasileira de Direito
do Trabalho. Titular da Cadeira nº 4 e fundador da Academia Sul-rio-grandense de Direito do Trabalho.
Presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Direito do Trabalho (2018/2020). Bacharel em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1989). Mestre em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000). Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2005). Pós-doutor em Direito pela Universidade de Sevilla (Espanha)
(2014). Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação – Especialização em Direito do Trabalho e Direito
Processual do Trabalho da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Coordenador do Núcleo de Direito Público e Social da Escola de Direito da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Professor Titular de Direito do Trabalho nos cursos de graduação e
pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) na mesma escola. Tem, como principais
áreas de atuação, o Direito Individual do Trabalho e o Direito Coletivo do Trabalho, e, como principal
linha de pesquisa, a Eficácia e Efetividade da Constituição e dos Direitos Fundamentais no Direito do
Trabalho. http://lattes.cnpq.br/2198202518344562. E-mail: [email protected]
4
Doutorando em Direito pela PUCRS (2020-2023) (Capes 6) na modalidade de dupla Titulação com
Co-tutela com a Universidad de Sevilla, com Bolsa Capes Taxa. Mestre em Direito Privado, pelo
programa de pós-graduação strito senso da PucMinas (Capes 06). Aprovado conceito A. Especialista
em Derechos Humanos Laborales y Derecho Transnacional del Trabajo, pela Universidade de Castilla-
La Mancha, Espanha, 2017-2018. Graduado em DIREITO pela Faculdade de Direito Conselheiro
Lafaiete (2009-2013) e graduação incompleta em Filosofia pela Faculdade Dom Luciano (2007-2008).
Parecerista da Revista do Curso de Direito da UNIFOR e Direito em Debate da UNIJUÍ. Advogado. E-
mail: [email protected]; CV http://lattes.cnpq.br/1020223568689987.
58 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
de fábrica hoje se torna, cada dia mais, espaço virtual de trabalho. Nesse sentido,
neste ensaio, mediante uma metodologia hipotético-dedutiva com análise de dados
bibliográficos, procede-se a uma análise a respeito do tema da tributação sobre o
Imposto de Renda de Pessoa Física do trabalhador residente no exterior, buscando
trazer, de certa forma, uma análise prática sobre as condutas a serem adotadas por
aqueles que deixam o Brasil, para trabalhar no exterior e evitar o fenômeno da
bitributação.
Palavras chaves: Bitributação. Globalização. Imposto de Renda de Pessoa Física.
Trabalhador.
1 INTRODUÇÃO
reflexão no fato das mais variadas formas de prestação de serviço por pessoa física
residente ou não residente no Brasil, nacional ou estrangeiro, tentando demonstrar
que uma grande preocupação é justamente o de evitar a dupla tributação.
Embora a matéria comporte diversas formas de abordagem e se limite este
pequeno ensaio, o ponto de abordagem será refletir sobre a tributação do imposto
de renda do brasileiro que se descola fisicamente para território internacional,
prestando lá serviços para a empresa nacional ou estrangeira, buscando ainda
demonstrar a posição consolidada pelo CARF nessa matéria.
5
ROBSBAWM, Eric. Mundos dos trabalhos: novos estudos sobre a classe operária. São Paulo: Paz e
Terra, 2015.
6
LEAO XIII PAPA. Encíclica Rerum Novarum. Roma: Vaticano, 1891.
7
RAMOS VÁZQUEZ, Isabel. Derecho internacional obrero: origen y concepto. Iuslabor, v. 3, 2017. p.
336-372.
8
Idem. p. 87.
60 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
E mais, com a criação da OIT no ano de 1919, o que trouxe uma grande
expectativa de mudança social, pensando o homem em termos de dignidade
intrínseca a sua condição, como também trouxe um sentido para o trabalho. De fato,
necessário se faz perceber que
Desta forma, a OIT, visando cumprir seu papel social, nesses mais de um
século, o mundo passou por profundas transformações sociais que impactaram
frontalmente com o trabalho, principalmente na sua forma de organização e
estruturação. Tanto é que essa Organização, no ano de 2019, quando da
comemoração do seu centenário, consignou que
9
BITTENCOUR, Luiz Antônio da Silva. O trabalho decente para OIT e sua realização no Brasil. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2019. p. 19.
10
Ibidem. p.39
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 61
11
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Declaração do centenário da OIT para o futuro do
trabalho. Genebra: OIT, 2019. p. 7.
12
FINCATO, Denise; STÜRMER, Gilberto. Globalização 4.0 e o futuro do trabalho: o porvir na atuação
da ONU e OIT. In: BITTENCOURT, Luiz Antônio da Silva et al. (org.). Direito Internacional do Trabalho.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. p. 335-355. p. 339.
13
Idem. p. 339.
14
Idem.
62 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
15
FINCATO, Denise; STÜRMER, Gilberto. Globalização 4.0 e o futuro do trabalho: o porvir na atuação
da ONU e OIT. In: BITTENCOURT, Luiz Antônio da Silva et al. (org.). Direito Internacional do Trabalho.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. p. 335-355. p. 340.
16
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Relações trabalhistas no contexto da indústria 4.0.
Brasília: CNI, 2017. p. 18. Disponível em:
https://conexaotrabalho.portaldaindustria.com.br/media/publication/files/Relacoes_trabalhistas_w
eb.pdf. Acesso em: 10 jun. 2021.
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 63
17
Idem.
18
FINCATO, Denise; STÜRMER, Gilberto. Globalização 4.0 e o futuro do trabalho: o porvir na atuação
da ONU e OIT. In: BITTENCOURT, Luiz Antônio da Silva et al. (org.). Direito Internacional do Trabalho.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. p. 335-355. p. 342.
19
CALIENDO, Paulo. Direito Tributário Três Modos de Pensar a Tributação: Elementos para uma Teoria
Sistemática do Direito Tributário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
64 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
20
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 839.
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 65
soberano de qualquer Estado, já que todos fatos ocorridos dentro de seu território
são ordenados e disciplinados pelo seu sistema normativo21”.
Azevedo22, na análise de sobre o princípio da territorialidade, afirma que ela
pode ocorrer com base em duas vertentes: vertente real ou objetiva e vertente
pessoal ou subjetiva.
Na vertente real, “[...] a conexão é determinada pelos elementos materiais ou
objetivos da situação fiscal internacional”23, sendo analisados, no ato da tributação,
os elementos de conexão entre a fonte geradora e o dever de tributar, e leva-se em
conta “[...] o lugar da produção dos rendimentos, o lugar da situação dos bens, o lugar
da localização das transmissões do bens” 24. Já na vertente pessoal, como afirma a
autora, “[...] a conexão é determinada pelos elementos subjetivos da situação fiscal
internacional”25, aqui podendo ser considerado elemento de residência e domicílio
do contribuinte.
Heleno Taveira Torres ao tratar do princípio da territorialidade apresenta as
seguintes ponderações:
21
FRANCA FILHO, Marcílio Toscano. Princípios da tributação internacional sobre a renda. Revista de
Informação Legislativa, Brasília, n. 137, ano 35, p. 83-90, jan./mar.1998. p. 85.
22
AZEVEDO, Patrícia Anjos. O Critério da fonte e seu âmbito de aplicação. Direito, v. 26, n. 1, p. 141-
164, jan./jun. 2017.
23
Idem. p. 147.
24
Idem.
25
Ibidem.
26
TÔRRES, Heleno Taveira. Pluritributação internacional sobre as rendas de empresas. São Paulo: RT,
2001. p. 70.
66 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
27
BUFFON, Marciano; MORAIS, Carlos Yuri de Araújo. Tributação internacional e capacidade
contributiva. Revista Jurídica da Presidência, Brasília, edição comemorativa 17 anos, p. 329-352. p.
337.
28
TÔRRES, Heleno Taveira. Princípio da territorialidade e tributação de não-residentes no Brasil.
Prestações de serviços no exterior. Fonte de produção e fonte de pagamento. In: TÔRRES, Heleno
Taveira (Coord.). Direito Tributário Internacional Aplicado. São Paulo: Quartier Latin, 2003, p. 71-108.
p. 73.
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 67
29
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
30
Idem. p. 830.
68 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
como pessoa física, assim como em seu art. 3 quem são consideradas as pessoas
não-residentes no Brasil.
A temática da tributação dos proventos e ganho de capital tem inúmeros
contornos e é passível de diversas análises, especialmente diante do atual contexto
social. Um dos aspectos relevantes da análise proposta está nos procedimentos que
os brasileiros residentes no Brasil têm de proceder ao fixarem moradia em outro
Estado e evitar bitributação.
A retirada do contribuinte do Brasil em caráter definitivo ou então sua
transformação na condição de não residente no Brasil deve ser precedida de uma
Comunicação de Saída Definitiva do País. A apresentação da comunicação em
comento é realizada, atualmente, através de aplicativo disponível no site da RFB,
sendo necessária esta cientificação entre 30 dias antes da data de saída até o último
dia do mês de fevereiro do ano-calendário subsequente.
Além da apresentação da Comunicação de Saída Definitiva do País, o
contribuinte também necessita apresentar junto à Receita Federal do Brasil a
Declaração de Saída Definitiva do País e a Declarações de Ajuste Anual do Imposto
de Renda Pessoa Física. Ademais, deve o contribuinte também proceder o
recolhimento dos tributos devidos e comunicar a fonte pagadora que passou a
condição de não residente no Brasil.
O não comprimento das obrigações acessórias inerentes à saída definitiva do
País, assim como o não pagamento dos tributos devidos, acarreta diversas
penalidades. A não comunicação da saída definitiva do Brasil no prazo fixado na
legislação e normas regulamentares acarreta a incidência de multa. O não
cumprimento das obrigações legais inerentes à saída do Brasil leva à consideração
da possível existência de dupla residência fiscal, fazendo com que o contribuinte seja
tributado em ambos os países.
O CARF, ao julgar um recurso de um brasileiro que se mudou para Portugal e
onde exercia atividade remunerada e possui bens tributáveis no Brasil, decidiu que,
mesmo que haja acordo de não bitributação, o brasileiro, ao se retirar do país, deve
obedecer aos requisitos do art. 11-A da IN 208/2002. Caso contrato, a renda auferida
no exterior de brasileiro residente no exterior será tributada conforme art. 1º da Lei
7713/88.
70 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Nesse sentido, qualquer brasileiro que queira residir noutro país e ali
desenvolver atividades econômicas deve seguir as recomendações legais atinentes
à situação fiscal, para que não seja bitributado. A comunicação de saída definitiva e
apresentação de declaração de saída definitiva do Brasil é condição essencial para
não ser tributado em dois países.
A análise realizada permite verificar a existência de obrigações tributárias
acessórias que devem ser cumpridas pelos brasileiros que deixam de forma
definitiva o país. Aliás, conforme dados divulgados pela revista Exame em 2017, há
um crescimento nas saídas definitivas do Brasil, sendo que em 2018 houveram
aproximadamente 18 (dezoito) mil brasileiros comunicaram sua saída definitiva do
Brasil, quase o dobro de 2011, onde foram registradas 8 (oito) mil comunicações.
O crescimento das saídas definitivas do Brasil, assim como a circulação de
pessoas e a desterritorialização da prestação de serviços, traz novos influxos para
as normas tributárias. As facilitação do cumprimento das obrigações acessórias
associadas a saída definitiva do país, assim como o dever de informar os
contribuintes que deixam o Brasil por parte do fisco podem ser tidas como exemplos
de demandas em crescimento.
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 71
Todavia, esse dispositivo legal merece ser analisado com certa cautela,
porque a Receita Federal, ao regulamentar a matéria, editou requisitos, seja para que
se evite a dupla tributação, seja para que o brasileiro, ao receber renda proveniente
do exterior ou esteja no exterior trabalhando, adote uma postura, a fim de que o fisco
tenha controle de suas atividades.
Nesse sentido, assim estabelece o art. 1º da Instrução Normativa IN 208/2002
da Receita Federal. In verbis:
Definitiva do País, de que trata o art. 11-A, durante os primeiros 12 (doze) meses
consecutivos de ausência. (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº
1008, de 09 de fevereiro de 2010)
Parágrafo único. Para fins do disposto no inciso III, “b”, item 2, do caput, caso,
dentro de um período de doze meses, a pessoa física não complete 184 dias,
consecutivos ou não, de permanência no Brasil, novo período de até doze meses
será contado da data do ingresso seguinte àquele em que se iniciou a contagem
anterior.
No presente, merece destaque para o brasileiro que saia do país, mesmo que
em caráter temporário, e que essa ausência do país seja superior a 183 (cento e
oitenta e três) dias, ou que complete até um ano de sua ausência. Todavia, para que
o brasileiro não seja tributado na renda auferida no exterior, é necessária a adoção
de algumas medidas, conforme regulamentação.
O primeiro ponto é a necessidade de comunicação de sua saída definitiva do
País, até para evitar a aplicação de qualquer sanção pelo fisco.
Art. 11-A. A pessoa física residente no Brasil que se retire do território nacional
deve apresentar a Comunicação de Saída Definitiva do País
I - a partir da data da saída e até o último dia do mês de fevereiro do ano-
calendário subsequente, se esta ocorreu em caráter permanente; ou
II - a partir da data da caracterização da condição de não-residente e até o último
dia do mês de fevereiro do ano-calendário subsequente, se a saída ocorreu em
caráter temporário
§ 1º A Comunicação de que trata o caput não dispensa a apresentação da
Declaração de Saída Definitiva do País de que tratam os arts. 9º e 11
§ 2º Os dependentes, inscritos no CPF, que se retirem do território nacional na
mesma data do titular da Comunicação de que trata o caput devem constar
desta.
Para que o brasileiro goze da situação de não residente, ao deixar o país, deve,
então, apresentar a comunicação de saída definitiva do Brasil, adimplindo com o IRPF
devido na data da saída, uma vez que, com essa saída, o domicílio tributário será a
do país de origem, local onde será tributado.
Todavia, o não cumprimento dessa obrigação legal leva à consideração da
possível existência de dupla residência fiscal, o que o contribuinte poderá ser
tributado em ambos os países.
Bruna Lietz; Gilberto Stürmer; Luiz Antônio da Silva Bittencourt | 75
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
BITTENCOUR, Luiz Antônio da Silva. O trabalho decente para OIT e sua realização
no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
BRASIL. Receita Federal. Acordos para evitar a dupla tributação e prevenir a evasão
fiscal. Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://receita.economia.gov.br/acesso-
rapido/legislacao/acordos-internacionais/acordos-para-evitar-a-dupla-
tributacao/acordos-para-evitar-a-dupla-tributacao . Acesso em: 10 ago 2021.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
FLAVIO NETO, Luís; EVARISTO PINTO, Alexandre. Carf analisa tributação pelo
imposto de renda e dupla residência fiscal. Consultor Jurídico, 15 jul. 2020.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p.
839.
RIBEIRO, Otília Denise de Jesus et al. Tributação sobre a renda auferida no exterior
por residentes e não residentes no Brasil. Revista Eletrônica de Contabilidade,
Santa Maria, v. 06, n. 01, p. 46-55, jan./jun. 2012.
ROBSBAWM, Eric. Mundos dos trabalhos: novos estudos sobre a classe operária.
São Paulo: Paz e Terra, 2015.
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-04
Resumo
O presente artigo busca examinar a guerra fiscal de competências entre Estados e
Municípios para a cobrança de impostos decorrentes das operações das plataformas
digitais. Investiga-se a atividade deste tipo de plataforma, a fim de identificar a sua
natureza no contexto da computação em nuvem. Após, são analisadas as regras de
competência de cada imposto e as suas interpretações doutrinárias e
jurisprudenciais, para verificar, diante da materialidade de cada exação, os
argumentos e críticas pelos quais a competência para tributar estas operações seria
do Estado, por meio da cobrança de ICMS, ou do Município, por meio do ISS. Ainda,
são apresentadas algumas conclusões feitas no enfrentamento da matéria pelo
Supremo Tribunal Federal quando do julgamento, em 2021, das Ações Diretas de
Inconstitucionalidade 5.659 e 1945. Para tanto, o método científico envolve uma
abordagem dedutiva, com pesquisa explicativa e procedimentos bibliográfico e
documental.
Palavras-chave: Competência tributária. Computação em nuvem. ICMS. ISS.
Software as a service.
1 INTRODUÇÃO
Cada vez mais as empresas com existência física vêm migrando para o mundo
digital, através da adoção de plataformas de e-commerce, sistemas digitais de bases
1
Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mestre em Direito
e especialista em Direito Público pela Fundação Escola Superior do Ministério Público, advogada.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2263906623301856 . Endereço eletrônico: [email protected]
80 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2
Veja-se que, segundo a Associação de e-Commerce, o e-commerce brasileiro faturou 56,8% a mais
nos oito primeiros meses de 2020 em comparação com igual período do ano anterior. ABCOMM
(Associação Brasileira de Comércio Eletrônico). Faturamento do e-commerce cresce 56,8% neste ano
e chega a R$ 41,92 bilhões. Notícias, 21 set. 2020. Disponível em
https://abcomm.org/noticias/faturamento-do-e-commerce-cresce-568-neste-ano-e-chega-a-r-
4192-bilhoes/ Acesso: 1 abr. 2021.
3
Sobre isso, nota-se que, conforme o The Streaming Guide, estudo Kantar IBOPE Media, 98% dos
usuários de internet consomem algum tipo de conteúdo via streaming de áudio ou vídeo e 73%
afirmam que o consumo de streaming de vídeo (pago ou gratuito) aumentou após o início da atual
crise. KANTAR IBOPE MEDIA. As tendências para o mercado de vídeo. São Paulo, 26 nov. 2020.
Disponível em https://www.kantaribopemedia.com/as-tendencias-para-o-mercado-de-video/
Acesso: 1 abr. 2021.
4
Nos termos do voto-vista da Ministra Ellen Gracie, na p. 14 do acórdão. BRASIL, Supremo Tribunal
Federal. Medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade n. 4.389 - DF. Requerente:
Catharine Black Lipp João | 81
6
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 5344/2013. Dispõe sobre diretrizes gerais e normas
para a promoção, desenvolvimento e exploração da atividade de computação em nuvem no país.
Autor: Ruy Carneiro. Brasília, 09 abr. 2013. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=570970
7
VERAS, Manoel. Cloud computing: nova arquitetura da ti. Rio de Janeiro: Brasport, 2012.
8
SWETHA, S. An overview of saas model for business applications. International Research Journal of
Engineering and Technology, v. 07, n. 2, p.2346-2352, fev. 2020, p. 2347.
Catharine Black Lipp João | 83
9
KULKARNI, Gurudatt; GAMBHIR, Jayant; PALWE, Rajnikant. Cloud computing-software as service.
International Journal of Computer Science & Information Technology Research Excellence, v. 2, n. 1,
p. 90-93, jan./fev. 2012, p. 92
84 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Nos termos do artigo 155, inciso II, da Constituição Federal, compete aos
Estados instituir impostos sobre “as operações relativas à circulação de
mercadorias”, o que é conhecido como “ICMS-Mercadoria”.
Diante da necessidade de que o objeto negocial seja uma mercadoria, é
importante investigar o conteúdo deste conceito para a tributação do ICMS nesta
hipótese de incidência. Importa destacar que as mercadorias “[...] não são quaisquer
produtos ou bens”, mas os bens objeto de comércio: “[...] apenas aqueles que
constituem objeto de uma atividade econômica habitual e com finalidade lucrativa
consistente na venda de produtos, não se confundindo com a alienação eventual de
um bem por pessoa física ou mesmo por pessoa jurídica cuja atividade econômica
seja de outra natureza”.10 Na lição de Caliendo, “[...] as mercadorias são bens que
possuem conteúdo econômico e estão destinados à venda, ou seja, à circulação por
meio da transferência de sua propriedade”.11
O tradicional conceito de mercadoria, que envolvia um objeto material em
sentido estrito, passou a ser discutido diante do avanço das operações virtuais.
Nesse contexto, para Santos e Xavier: “[...] em vista da evolução do comércio
eletrônico, julgamos que o conceito de mercadoria não pode deixar de abarcar
circunstâncias novas, para se restringir a premissas que não mais estão amoldadas
à atualidade”12.
A respeito da natureza desses bens objetos de comércio, importa observar a
decisão proferida em 2010 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quando do
julgamento da medida cautelar na ADI n.1945, ajuizada em 1999, segundo a qual um
bem imaterial também poderia ser considerado mercadoria, sendo irrelevante a
inexistência de bem corpóreo ou mercadoria em sentido estrito para a cobrança do
ICMS. Nos termos da ementa da decisão, o STF considerou ser imperativo abarcar
10
PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021,
p. 187.
11
CALIENDO, Paulo. Op. cit., p. 923.
12
SANTOS, João Victor Guedes; XAVIER, Camila Caçador. A tributação pelo iss e pelo icms das
operações com software. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da economia digital: desafios no
brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 403.
Catharine Black Lipp João | 85
13
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.945
- MT. Requerente: Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMDB. Requerido: Governador do
Estado de Mato Grosso e outro. Relator do acórdão: Ministro Gilmar Mendes. Brasília, 26 maio 2010.
86 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
14
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 9ª vara da Fazenda Pública. Mandado de segurança
coletivo n. 1010278-54.2018.8.26.0053. Requerente: Brasscom - Associação Brasileira das
Empresas de Tecnolgia da Informação e Comunicação. Requerido: Coordenador da Coordenadoria da
Administração Tributária - CAT e outros. Julgador: Juiza Simone Gomes Rodrigues Casoretti. São
Paulo, 15 mar. 2018.
15
CALIENDO, Paulo. Curso de direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 922.
16
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário n. 540.829-SP. Recorrente: Estado de
São Paulo. Recorrido: Hayes wheels do Brasil ltda. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 set.
2014.
Catharine Black Lipp João | 87
17
PISCITELLI, Tathiane. Os desafios da tributação do comércio eletrônico. Revista Jurídica Luso-
Brasileira, ano 3, n. 1, p. 673-703, 2017, p. 687-688
18
ALMEIDA, Patrícia Silva de; MARTINS, Regina Célia de Carvalho; VITA, Jonathan Barros. Tributação
e cloud computing no brasil: apontamentos sobre incidência tributária em softwares as a service.
Revista de Direito Tributário Contemporâneo, v. 23, p. 41-61, mar./abr., 2020.
88 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
bens e seriam razão para seu rompimento”. 19 A partir disso, já é possível identificar
a existência de várias obrigações de não fazer que são assumidas pelo próprio
usuário da plataforma.
É explicado por Tollen que “[...] cada licença deve confirmar que o consumidor
receba apenas os direitos especificamente garantidos e que o fornecedor retenha a
titularidade do software”. 20 Conforme equipara o autor, é por essa razão que o
software não deve ser visto como um livro que foi comprado, que pode ser dado ou
vendido, mas, sim, como uma música que foi baixada, que não pode ser passada
adiante.21
Portanto, em que pese as tentativas de alguns estados brasileiros de tributar
as operações das plataformas digitais de SaaS, não seria legítima a incidência do
ICMS-Mercadoria, seja porque não haveria que se falar em uma “mercadoria”
enquanto bem corpóreo, mas um objeto do contrato de licença, isto é, uma cessão
do direito de uso, seja porque, ainda que se admitisse uma mercadoria digital
incorpórea, não haveria uma “circulação jurídica” desta, uma vez que não há
transferência da propriedade intelectual objeto do contrato de licença, observando-
se, especificamente no caso de SaaS, a impossibilidade da transferência de
titularidade pelo fato de a hospedagem das aplicações ser feita na nuvem.
Por sua vez, o imposto sobre serviço (ISS) possui fundamento constitucional
no artigo 156, III da Constituição que determina a sua competência aos municípios,
cabendo a lei complementar o papel de definir, entre os serviços de qualquer
natureza, aqueles que ensejam a instituição do ISS. A Lei Complementar n. 116 de
2003, que dispõe sobre o imposto sobre serviços de qualquer natureza, de
19
PISCITELLI, Tathiane. Os desafios da tributação do comércio eletronico. Revista Jurídica Luso-
Brasileira, ano 3, n. 1, p. 673-703, 2017, p. 689
20
TOLLEN, David W. The tech contracts handbook: cloud computing agréments, software licenses,
and other it contracts for lawyers and businesspeople. 2. ed. Chicago: ABA Publishing, 2016, p. 56
21
Ibid, p. 56-57.
Catharine Black Lipp João | 89
Nesse sentido, nas palavras de Santos e Xavier: “[...] serviço pressupõe uma
22
Embora seja entendida como taxativa a referida lista de serviços, admite-se “uma leitura extensiva
de cada item a fim de enquadrar serviços correlatos àqueles previstos expressamente”. PAULSEN,
Leandro. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021, p. 194.
Caliendo explica que “se por um lado, se veda o uso da interpretação analógica, não há vedação
absoluta ao uso da interpretação extensiva, visto que se admite que a incidência do imposto decorre
da natureza do serviço prestado e não de sua denominação”. CALIENDO, Paulo. Curso de direito
tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1001.
23
MALAVOGLIA, Theodoro; ALVARENGA, Christiane Alves; PISCITELLI, Tathiane. Iaas, pass e saas:
entre contratos típicos e atípicos. In. PISCITELLI, Tathiane; BOSSA, Gisele Barra (Coord.). Tributação
da nuvem: conceitos tecnológicos, desafios internos e internacionais. São Paulo: Thompson Reuters
Brasil, 2018. p. 413.
24
É importante verificar não apenas a lista de serviços, mas também o conceito de serviço, na medida
em que é possível a discussão nos tribunais superiores para fins de excluir atividades previstas na
lista que não concretizem um serviço. Exemplos de atividades previstas na lista que foram
consideradas excluídas da incidência do ISS porque não se enquadrariam no conceito de prestação
de serviços são a locação de bens móveis e o leasing operacional. BRASIL, Supremo Tribunal Federal.
Agravo regimental no recurso extraordinário n. 446.003-PR. Agravante: Município de Curitiba.
Agravado: Desafio locadora de veículos ltda. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, 04 ago. 2006.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário n. 592.905 - SC. Recorrente: Hsbc
investment bank brasil s/a - banco de investimento. Recorrido: Município de Caçador. Relator:
Ministro Eros Grau. Brasília, 05 mar. 2010.
25
SANTOS, Ramon Rocha. Conceito constitucional de serviço tributável pelo iss. 2019. 212 f. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019, p. 185.
90 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
26
SANTOS, João Victor Guedes; XAVIER, Camila Caçador. A tributação pelo iss e pelo icms das
operações com software. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da economia digital: desafios no
brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 402.
27
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário n. 651.703 - PR. Recorrente: Hospital
Marechal Cândido Rondon Ltda. Recorrido: Secretário Municipal de Finanças de Marechal Cândido
Rondon - PR. Relator: Ministro Luiz Fuz. Brasília, DF, 15 jun. 2016.
28
CALIENDO, Paulo. Curso de direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1000.
29
KULKARNI, Gurudatt; GAMBHIR, Jayant; PALWE, Rajnikant. Cloud computing-software as service.
International. Journal of Computer Science & Information Technology Research Excellence, v. 2, n. 1,
p. 90-93, jan./fev. 2012, p. 90.
Catharine Black Lipp João | 91
30
Aponta-se que essa distinção entre “softwares por encomenda” e “softwares de prateleira” já havia
sido feita pelo Supremo Tribunal Federal há mais de 20 anos quando do quando do julgamento de
Recurso Extraordinário, no qual consignou-se que aqueles não teriam por objeto uma mercadoria,
mas um bem incorpóreo que impossibilitaria a instituição de ICMS pelos Estados, enquanto estes,
materializando o corpus mechanicum da criação intelectual do programa, constituiriam mercadorias
92 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
postas no comércio. Na ocasião, entendeu-se que apenas os softwares padronizados que tivessem
suporte físico seriam considerados mercadorias, atrelando-se o conceito de mercadoria à existência
de suporte físico do bem, isto é, ao fato de o bem ser corpóreo. Nesse sentido, nas palavras do Ministro
Relator (p. 2 do seu voto): “o conceito de mercadoria efetivamente não inclui os bens incorpóreos,
como os direitos em geral: mercadoria é bem corpóreo objeto de atos de comércio ou destinado a sê-
lo”. BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário n. 176.626-3 - SP. Recorrente: Estado
de São Paulo. Recorrido: Munps processamento de dados ltda. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence.
Brasília, 10 nov. 1998.
31
FREITAS, Rodrigo de; OYAMADA, Bruno Akio. Operações de cloud computing (saas, iaas, paas, etc.):
icms vs. iss. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da economia digital: desafios no brasil, experiência
internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 387
32
CANEN, Doris. Marketplaces: iss e desafios. Revista de Direito e as Novas Tecnologias, v. 3, abr. jun.
2019
Catharine Black Lipp João | 93
33
FULGINITI, Bruno Capelli. Regras de competência e a tributação do streaming. Revista Direito
Tributário Atual, n.44. p. 115-138, 2020, p. 130.
94 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
34
FREITAS, Rodrigo de; OYAMADA, Bruno Akio. Operações de cloud computing (saas, iaas, paas, etc.):
icms vs. iss. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da economia digital: desafios no brasil, experiência
internacional e novas perspectivas. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 389 e 390
Catharine Black Lipp João | 95
julgamento das ADIs 5659 e 1945, o Supremo Tribunal Federal passou a considerar
irrelevante a distinção entre software sob encomenda ou padronizado.
35
A ADI 5659 foi proposta com pedido para declarar a incompatibilidade com a Constituição Federal
do Decreto estadual 46.877/2015 de Minas Gerais e a inconstitucionalidade parcial, sem redução de
texto, dos artigos 5º da Lei nº 6.763/1975, e 1º, I e II, do Decreto nº 43.080, ambos do Estado de Minas
Gerais, e do artigo 2º da Lei Complementar Federal nº 87/1996. BRASIL, Supremo Tribunal Federal.
Ação direta de inconstitucionalidade n. 5659. Requerente: Confederação nacional de serviços - CNS.
Relator: Ministro Dias Toffoli. Brasília, 24 fev. 2021
36
Por sua vez, a ADI 1945 foi proposta em 1999 para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº
7.098/1998, do Estado de Mato Grosso, que estabelece normas referentes ao ICMS. BRASIL, Supremo
Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade n. 1945. Requerente: Partido do movimento
democrático brasileiro - PMDB. Relator do acórdão: Ministro Dias Toffoli. Brasília, 24 fev. 2021
37
Importa observar que a lei impugnada na ADI 1945, cuja disputa permitiria análise apenas sobre a
questão do ICMS, diz respeito as operações com software considerando notadamente a realidade da
época, em que estas se davam por disquete, cd ou dvd, ou realizadas por transferência eletrônica de
dados. É por essa razão que em 2020 foi apregoado o julgamento em conjunto das duas ações, a fim
de que, através do julgamento no Plenário da Suprema Corte, fossem proferidas decisões harmônicas
e com maior alcance para tratar da matéria, inclusive em relação aos softwares que passaram a ser
hospedados na nuvem, sob a ótica não apenas do ICMS, mas também do ISS.
96 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Por sua vez, em relação à análise sobre ISS, constatou-se ser fundamental a
noção de que a elaboração de um software é um serviço que resulta do esforço
humano (obrigação de fazer), sendo que essa criação intelectual é sua característica
fundamental, não importando as distinções entre este ser “por encomenda”, “de
prateleira”, customizado, disponibilizado via download ou, ressalta-se, via
computação em nuvem. Daí porque, haveria uma operação mista ou complexa,
envolvendo, além da obrigação de dar um bem digital, uma obrigação de fazer
(presente no esforço intelectual e nos demais serviços prestados conforme o
contrato de licenciamento ou cessão de uso em questão), o que atrai a incidência do
imposto municipal sobre a operação, a qual encontra amparo no subitem 1.05 da
lista anexa à Lei Complementar n. 116/03. Também foi destacado pelo Ministro
Relator que, nos casos de diversas figuras negociais complexas, a clássica dicotomia
civilista entre obrigações de dar e de fazer seria insuficiente para solucionar a
questão da validade da cobrança de ISS sobre determinada operação, pois este
incidiria sobre atividades que representem tanto obrigações de fazer quanto
obrigações mistas, que também incluem uma obrigação de dar. Tanto o é que as
indefinições entre o ISS e o ICMS são resolvidas pela Corte com base em uma
sistemática objetiva, segundo a qual o ISS incide se o serviço está definido por lei
complementar como tributável por tal imposto, ainda que sua prestação envolva o
fornecimento de bens, ressalvadas as exceções previstas na lei.
Especificamente em relação à tributação das operações com software dentro
do contexto da computação em nuvem, como é o caso dos SaaS, o Ministro Relator
asseverou que o fato de o aplicativo estar localizado na nuvem (permanecendo
online em tempo integral, sem ser armazenado no disco rígido do computador do
usuário que o utiliza) seria uma circunstância atrativa da incidência do ISS. Além
disso, corrobora o enquadramento dessas operações de SaaS como obrigações de
fazer em favor do usuário para incidência do ISS o fato de que as empresas teriam
diversas obrigações para viabilizar o serviço no modelo SaaS, as quais exigem “[...]
ações [que] necessitam, em boa medida, de esforço humano, notadamente de
profissionais que detêm conhecimento especial sobre computação”.
Por fim, cita-se que houve modulação de efeitos da referida decisão, a qual,
em geral, terá eficácia ex nunc a partir da publicação da ata de julgamento, ficando
98 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Patrícia Silva de; MARTINS, Regina Célia de Carvalho; VITA, Jonathan
Barros. Tributação e cloud computing no brasil: apontamentos sobre incidência
tributária em softwares as a service. Revista de Direito Tributário Contemporâneo,
v. 23, p. 41-61, mar./abr., 2020.
100 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 5344/2013. Dispõe sobre diretrizes
gerais e normas para a promoção, desenvolvimento e exploração da atividade de
computação em nuvem no país. Autor: Ruy Carneiro. Brasília, 09 abr. 2013.
Disponível
emhttps://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=5
70970
Catharine Black Lipp João | 101
CALIENDO, Paulo. Curso de direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020
FREITAS, Rodrigo de; OYAMADA, Bruno Akio. Operações de cloud computing (saas,
iaas, paas, etc.): icms vs. iss. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da economia
digital: desafios no brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São
Paulo: Saraiva Educação, 2018
KANTAR IBOPE MEDIA. As tendências para o mercado de vídeo. São Paulo, 26 nov.
2020. Disponível em https://www.kantaribopemedia.com/as-tendencias-para-o-
mercado-de-video/ Acesso: 1 abr. 2021.
PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2021
SANTOS, João Victor Guedes; XAVIER, Camila Caçador. A tributação pelo iss e pelo
icms das operações com software. In. MONTEIRO, Alexandre. Tributação da
economia digital: desafios no brasil, experiência internacional e novas perspectivas.
São Paulo: Saraiva Educação, 2018
VERAS, Manoel. Cloud computing: nova arquitetura da ti. Rio de Janeiro: Brasport,
2012.
5. A TRIBUTAÇÃO EXTRAFISCAL DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS: UMA ANÁLISE DO
DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE TUTELA AMBIENTAL
https://doi.org/10.36592/9786581110284-05
Resumo:
Partindo do princípio de que os veículos elétricos são realmente capazes de reduzir
as chamadas pegadas antropocêntricas sobre os sistemas ecológicos, pondera-se
sobre a aplicação dos mecanismos da extrafiscalidade tributária para o fomento do
desenvolvimento sustentável e a proteção dos ecossistemas. Desta forma, serão
estudados os conceitos e a fundamentação teórica da aplicação da extrafiscalidade
tributária como um verdadeiro mecanismo de tutela ambiental. Serão analisados
também, os regramentos normativos já existentes em nosso ordenamento jurídico
pátrio, identificando quais demonstram melhor desempenho em fomentar os setores
elétrico e automotivo de forma consciente. Para que ao final seja possível identificar
quais seriam as melhores medidas e práticas a serem adotadas para a
comercialização dos carros elétricos. Neste sentido, a presente pesquisa trata-se de
uma pesquisa teórica exploratória, utilizando-se do método de abordagem indutivo.
PALAVRAS-CHAVES: 1. Tributação extrafiscal. 2. Tutela ambiental. 3. Economia
verde. 4. Carros elétricos. 5. Desenvolvimento sustentável.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogado. Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS). Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Especialista em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
104 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2
O tratado estabelece medidas com o objetivo de manter ou reduzir a temperatura global atual,
mantendo-a abaixo do limite estabelecido de dois graus celsius. (NAÇÕES UNIDAS. Acordo de Paris.
Paris, 2015 Disponível em: https://url.gratis/fm4Jj. Acesso em: 12 mar. 2021).
3
NAÇÕES UNIDAS. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Adoption of
the Paris Agreement. Paris, 2015. Disponível em: https://url.gratis/ubXWW. Acesso em: 25 mar. 2021.
4
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem parte da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável da ONU, representando 17 objetivos, e mais de 169 metas, a serem
alcançados em determinado período. (NAÇÕES UNIDAS. Brasil. Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável. Brasília, [202?]. Disponível em: https://url.gratis/8L4pN. Acesso em: 25 mar. 2021).
5
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012 (conhecida
como RIO+20) ficou estabelecida a Resolução n. 66/288 da Assembleia Geral das Nações Unidas,
denominada Future We Want, onde foram renovados os compromissos para com o desenvolvimento
sustentável e a garantia de um futuro econômica, social e ambientalmente sustentável para as
gerações presentes e futuras. (NAÇÕES UNIDAS. Departamento das Nações Unidas para Assuntos
Econômicos e Sociais. Future We Want. Nova Iorque, 2012. Disponível em: https://url.gratis/JKR5c.
Acesso em: 25 mar. 2021).
6
Em 1987, com a concepção do princípio do desenvolvimento sustentável pelo relatório nosso futuro
comum da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a temática ambiental ganhou
novas dimensões. Além de inspirar a multidisciplinariedade da matéria, como a indústria sustentável,
promoveu a educação ambiental como forma de instruir as presentes e as futuras gerações sobre as
pegadas humanas sobre os ecossistemas. (BRUNDTLAND, Gro Harlem, et al. World Commission on
Environment and Development. Our Common Future. Oxford, 1987. Disponível em:
https://url.gratis/cKrdd. Acesso em: 28 mar. 2021).
Pedro Agão Seabra Filter | 105
atmosfera, seja por dióxido de carbono ou óxidos de nitrogênio, são menores com
automotivos que não dependam de gasolina7.
Atualmente, tendo em vista a crescente demanda, o mercado automotivo tem
dado maior atenção aos carros elétricos e híbridos, aumentando a comercialização
de carros elétricos de forma notável. Em 2018, no ressurgimento do carro elétrico no
mercado brasileiro, foi comercializado o primeiro modelo no país, a BMW i3,
entretanto, no ano de 2020, chegaram ao mercado 16 novos modelos diferentes de
carros elétricos e híbridos.
Neste sentindo, sendo o veículo elétrico mais benéfico ao meio ambiente, e
consequentemente ao ser humano, questionasse sobre as possibilidades jurídicos
de fomento ao setor. Especificamente, sobre a aplicação da extrafiscalidade
tributária como um mecanismo de tutela ambiental.
Portanto, o presente trabalho se propõe a estudar os conceitos e a
fundamentação teórica da aplicação da extrafiscalidade tributária para o fomento da
comercialização dos veículos elétricos, exclusivamente os de categoria particular.
Serão analisados também, os regramentos normativos já existentes em nosso
ordenamento jurídico pátrio, buscando identificar quais apresentam melhor
desempenho para os setores elétrico e automotivo. Assim, a presente pesquisa é
uma pesquisa teórica exploratória, utilizando-se do método de abordagem indutivo.
7
CORNELL, Ryan. The Environmental Benefits of Electric Vehicles as a Function of Renewable Energy.
Dissertação (Mestrado em Artes Liberais) Faculdade de Sustentabilidade e Gestão Ambiental,
Universidade de Harvard. Cambridge, 2017, p. 39 e 103. Disponível em: https://url.gratis/n681l.
Acesso em: 28 mar. 2021.
8
VALE DO RIO DOCE. Sobre a Vale. A Vale está instalando, no Rio de Janeiro, um dos maiores sistemas
de armazenamento de energia em bateria para suprimento de demanda elétrica do país. Rio de
Janeiro, 2020. Disponível em: https://url.gratis/Uog66. Acesso em: 28 mar. 2021; VALE DO RIO DOCE.
Mineração. Níquel. Rio de Janeiro, [2020?]. Disponível em: https://url.gratis/63I7G. Acesso em: 28
mar. 2021.
106 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
9
HØYER, Karl Georg. The History of Alternative Fuels in Transportation: the case of electric and hybrid
cars. Utilities Policy, Amsterdã, vol. 16, n. 2, jun. 2018, p. 63-71. Disponível em:
https://url.gratis/TLaEx. Acesso em: 08 abr. 2021.
10
BARAN, Renato; LEGEY, Luiz Fernando Loureiro. Veículos elétricos: história e perspectivas no Brasil.
Brasília, 2010, p. 213. Disponível em: https://url.gratis/8JUbZ. Acesso em: 28 mar. 2021.
11
BARAN, Renato. A Introdução de Veículos Elétricos no Brasil: avaliação do impacto no consumo de
gasolina e eletricidade. Tese (Doutorado em Planejamento Energético) – Programa de Planejamento
Energético, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012, p. 87. Disponível em:
https://url.gratis/uBCIY. Acesso em: 28 mar. 2021.
Pedro Agão Seabra Filter | 107
12
BARAN, Renato. A Introdução de Veículos Elétricos no Brasil: avaliação do impacto no consumo de
gasolina e eletricidade. Tese (Doutorado em Planejamento Energético) – Programa de Planejamento
Energético, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012, p. 7-8. Disponível em:
https://url.gratis/uBCIY. Acesso em: 28 mar. 2021.
13
BARAN, Renato. A Introdução de Veículos Elétricos no Brasil: avaliação do impacto no consumo de
gasolina e eletricidade. Tese (Doutorado em Planejamento Energético) – Programa de Planejamento
Energético, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012, p. 10. Disponível em:
https://url.gratis/uBCIY. Acesso em: 28 mar. 2021.
14
Outros fatores externos ajudaram a alavancar o interesse pelos veículos elétricos, por exemplo, a
crise do petróleo de 1973, decorrente de embargos feitos por produtores de petróleo, especificamente
a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que alavancou o valor dos barris de petróleo para
mais de 400%. (BARAN, Renato. A Introdução de Veículos Elétricos no Brasil: avaliação do impacto no
consumo de gasolina e eletricidade. Tese (Doutorado em Planejamento Energético) – Programa de
Planejamento Energético, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012, p. 12.
Disponível em: https://url.gratis/uBCIY. Acesso em: 28 mar. 2021).
15
Relatório publicado pela Massachusetts Institute of Technology (MIT), chefiado por Donella
Meadows, a pedido do Clube de Roma, que evidenciou, por meio de projeções, que o crescimento
populacional aliado à finitude dos recursos naturais levaria o planeta a um limite do crescimento nos
próximos 100 anos, o que ocasionaria um colapso do meio ambiente e da sociedade humana.
(MEADOWS, Donella et al. Limits to growth. Nova Iorque: Universe Books, 1972. Disponível em:
https://url.gratis/eoVWN. Acesso em: 08 abr. 2021).
16
Conferência internacional realizada em Estocolmo, na Suécia, motivada pelos impactos sobre o
meio ambiente causados pela revolução industrial, cuja capacidade de modificar o meio ambiente
natural ao seu redor ficou evidenciada por diversas pesquisas e relatórios científicos. (NAÇÕES
UNIDAS. Brasil. A ONU e o meio ambiente. Brasília, [2015?]. Disponível em: https://url.gratis/bLGdM.
Acesso em: 08 abr. 2021).
108 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
17
Uma das obras mais relevantes para o pensamento ambientalista moderno é o bestseller Silent
Spring, da pesquisadora norte–americana Rachel Carson, no qual são descritos os impactos
causados pelos pesticidas ao meio ambiente. Em sua conclusão, a pesquisadora descreve que a
humanidade deverá optar por dois caminhos, o do progresso, que culminaria no colapso do meio
ambiente, e consequentemente humano, ou o da precaução, “our only chance to reach a destination
that assures the preservation of our earth”. (CARSON, Rachel. Silent spring. New Yok: Mariner Books,
2002, p. 276).
18
BARAN, Renato; LEGEY, Luiz Fernando Loureiro. Veículos elétricos: história e perspectivas no Brasil.
Brasília, 2010, p. 214-216. Disponível em: https://url.gratis/8JUbZ. Acesso em: 28 mar. 2021.
19
DE SOUZA, Wallisson Freitas, et al. Carros Elétricos: o futuro do automobilismo?. Instituto Federal
de Tocatins, 2018. Disponível em: https://url.gratis/xdxa3. Acesso em: 10 abr. 2021, p. 8; FUNDAÇÃO
GETULIO VARGAS ENERGIA. Carro Elétrico. Rio de Janeiro, FGV Energia, ano 4. n. 7. maio/2017, p. 18-
19. Disponível em: https://url.gratis/pMzfW. Acesso em: 10 abr. 2021.
20
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ENERGIA. Carro Elétrico. Rio de Janeiro, FGV Energia, ano 4. n. 7.
maio/2017, p. 8. Disponível em: https://url.gratis/pMzfW. Acesso em: 10 abr. 2021.
Pedro Agão Seabra Filter | 109
21
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ENERGIA. Carro Elétrico. Rio de Janeiro, FGV Energia, ano 4. n. 7.
maio/2017, p. 63. Disponível em: https://url.gratis/pMzfW. Acesso em: 10 abr. 2021.
22
CORNELL, Ryan. The Environmental Benefits of Electric Vehicles as a Function of Renewable Energy.
Dissertação (Mestrado em Artes Liberais) Faculdade de Sustentabilidade e Gestão Ambiental,
Universidade de Harvard. Cambridge, 2017, p. 39 e 103. Disponível em: https://url.gratis/n681l.
Acesso em: 28 mar. 2021.
23
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY – IEA. Global EV Outlook 2020: Entering the decade of electric
drive? Paris, 2020, p. 171 e 226. Disponível em: https://url.gratis/gMFQ5. Acesso em: 30 mar. 2021.
110 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
24
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ENERGIA. Carro Elétrico. Rio de Janeiro, FGV Energia, ano 4. n. 7.
maio/2017, p. 39. Disponível em: https://url.gratis/pMzfW. Acesso em: 10 abr. 2021.
25
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito ambiental: introdução, fundamentos e
teoria geral. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 395 e 396
26
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 395 e 396. Edição do
Kindle.
27
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário: completo. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 26;
Pedro Agão Seabra Filter | 111
28
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário: completo. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 396
29
CALIENDO, Paulo. Extrafiscalidade ambiental e o Incentivo às Energias Renováveis. em: CALIENDO,
Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação ambiental e energias renováveis. Porto
Alegre: Editora Fi, 2016.
30
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. p. 75.
31
CALIENDO, Paulo. Extrafiscalidade ambiental e o Incentivo às Energias Renováveis. em: CALIENDO,
Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação ambiental e energias renováveis. Porto
Alegre: Editora Fi, 2016. p. 17.
112 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
32
FENSTERSEIFER, Tiago. A Responsabilidade do Estado pelos Danos Causados às Pessoas
Atingidas pelos Desastres Ambientais Associados às Mudanças Climáticas: uma Análise à Luz dos
Deveres de Proteção Ambiental do Estado. Revista Opinião Jurídica, Fortaleza, ano 9, n. 13, p.322-354,
jan./dez. 2011, p. 331. Disponível em:
<http://periodicos.unichristus.edu.br/index.php/opiniaojuridica/article/view/794/254>. Acesso em:
01 dez. 2018.
33
FENSTERSEIFER, Tiago. A Responsabilidade do Estado pelos Danos Causados às Pessoas
Atingidas pelos Desastres Ambientais Associados às Mudanças Climáticas: uma Análise à Luz dos
Deveres de Proteção Ambiental do Estado. Revista Opinião Jurídica, Fortaleza, ano 9, n. 13, p.322-354,
jan./dez. 2011, p. 333. Disponível em:
<http://periodicos.unichristus.edu.br/index.php/opiniaojuridica/article/view/794/254>. Acesso em:
01 dez. 2018.
34
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito ambiental: introdução, fundamentos e
teoria geral. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 240 e 241.
35
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 47.
36
Conceito retirado do artigo 81, parágrafo único, I, da Lei n° 8.078/1990 (Código de Defesa do
Consumidor).
37
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 48 e
49.
Pedro Agão Seabra Filter | 113
38
CALIENDO, Paulo. Extrafiscalidade ambiental e o Incentivo às Energias Renováveis. em: CALIENDO,
Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação ambiental e energias renováveis. Porto
Alegre: Editora Fi, 2016, p. 15.
39
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional.
ed. 6. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 217.
114 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
40
SARMENTO JÚNIOR, Ricardo Ribeiro; COELI, Andréa Medina. Isenção Fiscal para Veículos Elétricos
e Híbridos. Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018, p. 4. Disponível em: https://url.gratis/K4f86.
Acesso em 14 abr. 2021.
41
NÜSKE, João Ricardo Fahrion. Veículos Elétricos, Desenvolvimento Sustentável e Tributação
Extrafiscal, p. 312. In: CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação Ambiental
e Energias Renováveis. Porto Alegre: Editora Fi, 2016.
Pedro Agão Seabra Filter | 115
[...] o Estado deve implementar suas políticas com o mínimo de efeitos negativos
para a sociedade (minimum loss to socity), bem como a sua influência sobre as
decisões econômicas dos agentes privados deve ser realizada de modo a
influenciar o mínimo possível o sistema de formação de preços. A ofensa a estas
premissas implica a ineficiência geral do sistema econômico.
Ademais, por não serem produzidos no Brasil, a grande maioria dos carros
elétricos recebiam uma alíquota de 35% em razão do Imposto sobre Importação (II),
entretanto, como forma de incentivar o mercado interno, a Câmara de Comércio
Exterior (CAMEX) publicou no Diário Oficial da União a Resolução CAMEX nº 97/2015,
42
SÃO PAULO. Câmara Municipal. Lei nº 15.997 de 27 de maio de 2014. Estabelece a política
municipal de incentivo ao uso de carros elétricos ou movidos a hidrogênio, e dá outras providências.
São Paulo, 2014. Disponível em: https://url.gratis/R2wC9. Acesso em: 13 abr. 2021.
43
SÃO PAULO. Assembleia Legislativa. Projeto de Lei N. 1256/2019. Autoriza o Poder Executivo a
estabelecer uma política de incentivo ao uso de carros movidos à propulsão elétrica e híbridos. São
Paulo, 2018. Disponível em: https://url.gratis/iWlT9. Acesso em 12 abr. 2021.
44
CALIENDO, Paulo. Direito Tributário e Análise Econômica do Direito: uma visão crítica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008, p. 103.
116 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
reduzindo para zero a alíquota do referido imposto para carros elétricos e movidos a
células de combustível45.
No caso dos carros construídos em solo brasileiro, o Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) é o tributo específico. Atualmente, a regulamentação do IPI se
dá pela Lei nº 13.755/201846 que estabelece alíquotas específicas para cada um dos
modelos de veículos de fontes alternativas. Contudo, tramita pela Câmara dos
Deputados o projeto de lei n. 5308/202047 que busca isentar os modelos híbridos e
elétricos do referido tributo.
No projeto de lei acima referenciado, é possível destacar que a proposta lei
busca também a isenção dos veículos elétricos da incidência das contribuições do
PIS (Programa de Integração Social) e do CONFINS (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social)48.
Outro imposto de incidência sobre os veículos é o Imposto sobre a Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS), por onde os Estados cobram alíquotas no entorno
de 18% a 19%. Para Nüske, a medida que reduzir as alíquotas do ICMS sobre os
veículos elétricos, mesmo que apenas pela metade, poderia ser caracterizada como
“[...] um efetivo incentivo à aquisição” 49.
Em outro plano, conforme muito bem elucidado por Nüske50, não basta que os
agente políticos por meio da tributação extrafiscal criem incentivos ao consumo de
45
CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR (CAMEX). Resolução nº 97, de 26 de outubro de 2015. Altera a
Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum do MERCOSUL. Brasília, 2014. Disponível em:
https://url.gratis/7bVDw. Acesso em: 13 abr. 2021.
46
BRASIL. Lei nº 13.755, de 10 de dezembro de 2018. Estabelece requisitos obrigatórios para a
comercialização de veículos no Brasil; institui o Programa Rota 2030 - Mobilidade e Logística; dispõe
sobre o regime tributário de autopeças não produzidas; e altera as Leis n º 9.440, de 14 de março de
1997, 12.546, de 14 de dezembro de 2011, 10.865, de 30 de abril de 2004, 9.826, de 23 de agosto de
1999, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 8.383, de 30 de dezembro de 1991, e 8.989, de 24 de
fevereiro de 1995, e o Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967. Brasília, 2018. Disponível em:
https://url.gratis/eZd7n. Acesso em: 13 abr. 2021.
47
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 5308/2020. Dispõe sobre incentivos fiscais para
operações com veículos automóveis elétricos ou híbridos. Brasília, 2020. Disponível em:
https://url.gratis/lhtG6. Acesso em: 13 abr. 2021.
48
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 5308/2020. Dispõe sobre incentivos fiscais para
operações com veículos automóveis elétricos ou híbridos. Brasília, 2020. Disponível em:
https://url.gratis/lhtG6. Acesso em: 13 abr. 2021
49
NÜSKE, João Ricardo Fahrion. Veículos Elétricos, Desenvolvimento Sustentável e Tributação
Extrafiscal. In: CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação Ambiental e
Energias Renováveis. Porto Alegre: Editora Fi, 2016, p. 322.
50
NÜSKE, João Ricardo Fahrion. Veículos Elétricos, Desenvolvimento Sustentável e Tributação
Extrafiscal. In: CALIENDO, Paulo; CAVALCANTE, Denise Lucena (Orgs.). Tributação Ambiental e
Energias Renováveis. Porto Alegre: Editora Fi, 2016, p. 323 e 324.
Pedro Agão Seabra Filter | 117
CONCLUSÃO
51
Atualmente a norma regulamentadora da atividade é a Resolução Normativa nº 819, de 19 de junho
de 2018 do o Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica.
118 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
REFERÊNCIAS
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2017. Edição do
Kindle.
HØYER, Karl Georg. The History of Alternative Fuels in Transportation: the case of
electric and hybrid cars. Utilities Policy, Amsterdã, vol. 16, n. 2, jun. 2018, p. 63-71.
Disponível em: https://url.gratis/TLaEx. Acesso em: 08 abr. 2021.
MEADOWS, Donella et al. Limits to growth. Nova Iorque: Universe Books, 1972.
Disponível em: https://url.gratis/eoVWN. Acesso em: 08 abr. 2021.
NAÇÕES UNIDAS. Brasil. A ONU e o meio ambiente. Brasília, [2015?]. Disponível em:
https://url.gratis/bLGdM. Acesso em: 08 abr. 2021.
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário: completo. 8.ed. São Paulo: Saraiva,
2017.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos
direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 12. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2015.
SARMENTO JÚNIOR, Ricardo Ribeiro; COELI, Andréa Medina. Isenção Fiscal para
Veículos Elétricos e Híbridos. Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. Disponível
em: https://url.gratis/K4f86. Acesso em 14 abr. 2021.
VALE DO RIO DOCE. Mineração. Níquel. Rio de Janeiro, [2020?]. Disponível em:
https://url.gratis/63I7G. Acesso em: 28 mar. 2021.
VALE DO RIO DOCE. Sobre a Vale. A Vale está instalando, no Rio de Janeiro, um dos
maiores sistemas de armazenamento de energia em bateria para suprimento de
Pedro Agão Seabra Filter | 121
https://doi.org/10.36592/9786581110284-06
Roberta Scalzilli1
Resumo
O presente estudo tem por escopo analisar as implicações tributárias do trabalho
dos influenciadores digitais nas mídias sociais e a utilização de sistemas de
inteligência artificial de forma eficiente e transparente. Distante de esgotar as
controvérsias sobre tema tão polêmico, a ideia aqui é lançar novas luzes para que os
algoritmos utilizados na fiscalização da atividade do influenciador digital para fins
arrecadatórios sejam constantemente aperfeiçoados, contribuindo para a segurança
jurídica dos cidadãos. A necessária adequação do Sistema Tributário Brasileiro à
modernização da sociedade, impõe grandes desafios para Administração Pública
que deverá pautar seus atos na transparência e legalidade.
Palavras-chave: Influenciador digital, Mídias Sociais, Tecnologia, Inteligência
Artificial, Transparência.
1 INTRODUÇÃO
1
Mestra e Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS,
Especialista em Direito Empresarial. Professora em cursos de Pós-graduação Lato Sensu. Julgadora
do Tribunal de Ética OAB/RS. Advogada. E-mail: [email protected]. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4110110385591421.
124 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
novidade que a comunicação e entretenimento das redes sociais offline, migrou, com
o advento das novas tecnologias, para plataformas on line de redes sociais. O
conceito de mídias sociais comunica em diversas vertentes do ambiente virtual com
escopo de compartilhar informações, abarcando as plataformas e redes sociais. As
mídias digitais podem ser pagas, gratuitas ou próprias e o conhecimento dessas
alternativas possibilita ganhos financeiros na medida que determinadas pessoas
conseguem influenciar grandes públicos e promover ideias e marcas, movimentando
um grande capital.
Atualmente, vivemos a Revolução 4.0, na qual uma rede de dispositivos anula
qualquer barreira entre o mundo digital e o mundo real.
Com o advento da internet e das redes sociais, houve uma alteração na
dinâmica da comunicação e na forma como as pessoas consomem publicidade,
trazendo novos desafios ao direito, especialmente na seara tributária.
A utilização da internet é capaz de oferecer muitos benefícios à sociedade
como um todo, desde que seja centrada no ser humano, ética, sustentável, e respeite
os direitos e os valores fundamentais. Além disso, as redes sociais por se tratar de
uma tecnologia estratégica, também pode contribuir para proteção e fortalecimento
da democracia.
A edição de 2021 do relatório Global Digital Report divulgado pela Hootsuite
em parceria com a We Are Social constatou que os usuários de redes sociais gastam
quase 2 horas e meia conectados diariamente, o que equivale a quase um dia de vida
a cada semana.
Assim, o presente ensaio tem a finalidade de analisar as atividades
desenvolvidas pelo influenciador digital incitando reflexões que perpassam questões
importantes como o respeito ao consumidor com enfoque na forma como o direito
tributário vem enfrentando essas questões.
2
HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Tradução de.
Maurício Liesen. Belo Horizonte: Âyiné, 2018, p. 27.
3
YUVAL Noah Harari - 21 Lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
4
WEARESOCIAL. Disponível em: https://wearesocial.com. Acessado em: 05 jun.2021.
5
Mega / Celebridade - 1 milhão de seguidores ou mais, Macro - 100.000-1 milhão de seguidores,
Micro - 10.000-100.000 seguidores e Nano - 1.000-10.000 seguidores,
126 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
6
Esse tripé é muito importante, pois amparado nele alguns influencers chegam a ganhar milhões. De
maneira suscinta o alcance diz respeito ao potencial de propagar a mensagem ao maior número de
pessoas. A ressonância concerne na interação e engajamento por meio de comentários e
compartilhamentos, por exemplo. A relevância toca no quão importante e significativo o influenciador
é no seu nicho de atuação, independente do número de seguidores.
7
NICHOLAS CONFESSORE, GABRIEL J.X. DANCE, RICHARD HARRIS and MARK HANSENJAN. The
Follower Factory Everyone wants to be popular online. Some even pay for it. Inside social media’s
black market. 27, 2018. Disponível em
https://www.nytimes.com/interactive/2018/01/27/technology/social-media-bots-
.es.html?mtrref=www.nytimes.com&gwh=048A19406DF866765B9D593A51AA6512&gwt=regi&asset
Type=REGIWALL Acessado em: 25 mai 2021.
8
Nesse aspecto recomenda-se a análise da edição de 2021 do Social Media Industry Benchmark
Report. Disponível em:https://www.rivaliq.com/blog/social-media-industry-benchmark-
report/.Acessado em: 25 mai 2021.
9
O pagamento é feito em dólares baseado na regra de CPM (custo por mil). A cada 1000 views,
o youtuber pode ganhar valores entre 0,25 e 4,50 dólares.
10
Clube de canais são serviços de assinaturas oferecidos pelos youtubers para apoio recorrente
dos espectadores onde são exigidos no mínimo 30 mil inscritos. A estante de produtos trata -
se de um tipo de loja virtual que exige no mínimo 10 mil inscritos. Por meio do Super chat os
influencers podem receber doações com a finalidade de incentivar o trabalho. No YouTube
premium o youtuber recebe uma parte da taxa paga pelo usuário que é assinante quando ele
assiste vídeos.
Roberta Scalzilli | 127
11 12
Nas mídias sociais muitas são as formas de monetização. Os
influencers trabalham muito com publicidade para empresas na divulgação de
marcas,13 sem falar nos infoprodutores que vendem serviços como cursos on
line mentorias por meio de plataformas como Eduzz, Monetize e Hotmart.
As blogueiras-robôs são avatares virtuais feitas por computação gráfica que
tem feito grande sucesso na atualidade. Lil Miqueia, Shudu e Bermuda são expoentes
desse novo universo e contam com alto engajamento nas redes sociais sendo muito
procuradas por grandes marcas para campanhas publicitarias, capas de revistas,
despontando até como cantoras.
Um aspecto que merece atenção nesse contexto é o necessário respeito ao
consumidor, especialmente no que concerne à publicidade que deve ser sempre
transparente.
O digital influencer constitui um exemplo atual de como seus espectadores
têm sido persuadidos com publicidades disfarças, levando os seguidores que
acompanham a vida dos produtores de conteúdo nas redes sociais a desejar
consumir o mesmo produto divulgado pela pessoa admirada por sua beleza ou
status e que inspira confiança, pois afinal se sentem amigos íntimos daqueles que
em verdade são remunerados para influenciar e cuja informação muitas vezes não é
divulgada.1415
11
Tecnicamente há distinção entre o conceito de mídia social, mídia digital e rede social. Entende-se
mídia social como a difusão de conteúdo tanto on line como of line. Mídia digital pode ser concebida
como toda comunicação feita na internet. As redes sociais digitais são plataformas on line para
conectar pessoas e compartilhar conteúdos, sendo uma parte da mídia digital.
12
A venda de NFTs e a monetização para criadores será a nova aposta do Instagram. Disponível em:
https://beincrypto.com.br/instagram-podera-liberar-funcao-de-nft-na-rede-social/. Acessado
em:05 jun.2021.
13
Segundo dados obtidos em maio de 2021, o jogador Neymar Jr. Lidera o ranking de influenciadores
brasileiros com 141.6 milhões de seguidores no Instagran, integrando a lista dos 50 maiores
influenciadores digitais do mundo na 12° posição. Disponível
em:https://www.visualcapitalist.com/worlds-top-50-influencers-across-social-media-platforms/
Acessado em: 31 mai.2021.
14
Na Noruega, emendas à lei de marketing de 2009, obrigam influenciadores a sinalizar quando suas
imagens estiverem editadas nas publicidades. No Reino Unido a Advertising Standards Authority
(ASA) preconiza o mesmo entendimento, com intuito de reduzir a pressão sobre o padrão de beleza
em jovens.
15
Influenciadores digitais estão entre os primeiros da fila para vacinação contra Covid-19 na
Indonésia. O, chefe da agência de saúde de Bandung, disse que os artistas 'transmitiriam influências
e mensagens positivas' sobre as vacinas, especialmente para os jovens. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/01/indonesia-priorizara-influenciadores-digitais-em-
campanha-de-vacinacao.shtml. Acessado em 03 jun.2021.
128 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Por outro, lado aqui no Brasil mais de R$1,3 milhão dos cofres do governo federal foram utilizados
para pagar ações de marketing com influenciadores sobre a Covid-19. O valor foi investido pelo
Ministério da Saúde e pela Secretaria de Comunicação (Secom) e inclui R$85,9 mil destinados ao
cachê de 19 “famosos” contratados para divulgar estas campanhas em suas redes sociais
especialmente sobre cuidados precoces, com o cunho de informar sobre o coronavírus e difundir
métodos de prevenção. Disponível em: https://apublica.org/2021/03/influenciadores-digitais-
receberam-r-23-mil-do-governo-bolsonaro-para-propagandear-atendimento-precoce-contra-
covid-19/. Acessado em: 12 mai. 2021
16 Nesse sentido, o CONAR
(Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) criou um Guia
de Publicidade por influenciadores digitais que orienta que a informação deve ser clara ao
consumidor. Por exemplo: #parceriapaga, #publicidade. Disponível em:
http://conar.org.br/pdf/CONAR_Guia-de-Publicidade-Influenciadores_2021-03-11.pdf. Acessado
em: 21 abr. 2021.
Na mesma linha a ABRADI (Associação Brasileira dos Agentes Digitais) lançou em julho de 2017 o
“Código de Conduta para Agências Digitais na Contratação de Influenciadores. O código recomenda
uma aplicação mais ostensiva da identificação publicitária nas atividades dos influenciadores
digitais. Disponível em: https://abradi.com.br/setor-digital-lanca-codigo-de-conduta-para-
contratacao-de-influenciadores/.
Roberta Scalzilli | 129
poderá ser pontual para executar um trabalho específico ou mais estendido de forma
mensal, por exemplo.
Para atuar nesse mercado é possível que o influenciador seja pessoa física ou
jurídica.
Como pessoa física, quando o influencer começar a receber valores que ultrapassam
o limite de isenção, será necessário recolher o Imposto de Renda por meio do Carnê-
Leão, cuja alíquota pode chegar até 27,5% (seguindo a tabela de Imposto de Renda)
e 20% da renda total como contribuição previdenciária, observado o teto do INSS.
Diante disso, quando o influenciador digital começa a auferir uma
remuneração mais expressiva, abrir uma pessoa jurídica é a melhor alternativa para
redução da carga tributária. Nesse caso, será necessário recolher o Imposto de
Renda de Pessoa Jurídica, CSLL, PIS, COFINS, ISS e INSS sobre o pró-labore.
Para realizar o registro é preciso ter um CNAE (Classificação Nacional de
Atividade Econômica) com intuito de demonstrar qual a atividade melhor se encaixa
ao influenciador.
Outro ponto importante é a escolha do regime tributário que indica a forma
como serão recolhidos ou pagos os impostos da Pessoa Jurídica.
O lucro real é obrigatório para empresas com faturamento bruto superior a R$
78 milhões e companhias que trabalham com atividades financeiras. O lucro
presumido é indicado para empresas com faturamento anual de até R$ 78 milhões.
O Simples Nacional tem um limite de R$ 4,8 milhões e este pagamento ocorre de
forma mais simplificada através de uma única guia chamada DAS (Documento de
Arrecadação do Simples Nacional). O lucro arbitrado é o regime tributário com
situações específicas de enquadramento, muitas vezes utilizado quando o lucro real
ou presumido não for possível de ser determinado.
Entre os tributos que merecem destaque nessa temática estão o Imposto
Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e o Imposto Sobre a Renda de Qualquer
Natureza (IR).
O ISS é um imposto de competência municipal exigido quando há prestação
de serviços elencados na lista da Lei Complementar 116/200317. Algumas capitais
17
Alterada por meio da LC 157/2016, a qual, dentre outras alterações, acrescentou novos serviços que
podem ser tributados pelo ISS.
130 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
como, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro já introduziram em suas leis
municipais serviços semelhantes àqueles prestados por influenciadores digitais. É
necessário verificar tanto a legislação do município em que está estabelecido o
influenciador digital, quanto a do estabelecimento tomador do serviço, mas em geral,
opta- -se pelo local onde o conteúdo é produzido.
O contribuinte do imposto é quem efetivamente presta o serviço, ou seja, na
maioria dos casos, seria o próprio influenciador digital o responsável pelo
pagamento do ISS e pela emissão da nota fiscal. No entanto, em algumas hipóteses,
as leis municipais atribuem ao contratante do serviço a responsabilidade pelo
recolhimento.
O Imposto de Renda (IR) é um imposto exigido quando a pessoa física ou
jurídica aufere renda, ganho de capital ou proventos de qualquer natureza.
As faixas de tributação para pessoa física são de acordo com o rendimento
mensal do contribuinte, começando em 7,5%, podendo chegar até 27,5%.
Em outubro de 2006 a norte americana Google realizou a compra do YouTube,
hoje o maior site de compartilhamento de vídeos do mundo, portanto, os pagamentos
dos youtubers brasileiros advém de fonte estrangeira por meio do Google AdSense.
Nesse sentido, a Receita Federal tem investido muito em tecnologia para evitar a
sonegação de impostos.18
A empresa contratante dever reter o Imposto de Renda na fonte, caso o
influenciador digital desempenhe suas atividades como trabalhador autônomo.
Todavia, caso o influenciador digital exerça sua atividade por meio de Pessoa
Jurídica enquadrada no Simples Nacional, o contratante não deve reter o IR, pois a
legislação dispensa a retenção na fonte sobre os valores pagos às empresas
optantes do Simples. 19
No início de 2021 o YouTube informou que passará a reter na fonte os
impostos de criadores internacionais que acumulem visualizações monetizadas de
usuários dos Estados Unidos. Os produtores de conteúdo do Brasil, terão os
impostos retidos na fonte apenas das visualizações feitas por usuários americanos,
18
Caso seja obtido ganhos sem tributação é possível o recebimento de multa sobre os valores
omitidos.
19
Conforme artigo 32, inciso III, da Lei nº 10.833/2003 e Instrução Normativa RFB nº 765/2007.
Roberta Scalzilli | 131
ou seja, toda receita que vier de usuários nos Estados Unidos, incluindo ganhos com
visualizações de anúncios YouTube Prime, super chat, clube de canais. Esta retenção
na renda dos youtubers poderá chegar até 30% 20
Estamos caminhando em direção a uma cultura totalmente digital e nesse
cenário, um tema bastante discutido na atualidade é o da Tributação da Herança
Digital.21
Um caso decidido no Tribunal Federal da Alemanha demonstra a
necessidade da criação de melhores políticas para disciplinar a herança e a
privacidade digital. Uma menina faleceu aos 15 anos atropelada por um trem em
Berlim em 2012 e seus pais queriam acessar sua rede social para descobrir se havia
sido um suicídio ou acidente. O Tribunal decidiu que a mãe da adolescente
herdasse sua conta no Facebook, mas não apenas o acesso à página memorial que
a rede social cria, a partir do perfil de uma pessoa falecida, e sim à toda a conta
pessoal incluindo as mensagens privadas.
No entendimento da Corte alemã, os herdeiros devem receber o acesso à
mídia social, tal qual receberiam uma caixa de cartas pertencente à falecida. 22
Os bens digitais podem ou não ter valor patrimonial e assim como qualquer
outra herança poderão ser transferidos por testamento ou em razão da sucessão
20
A tributação em ganhos no YouTube com usuários nos EUA seguirá estes três cenários: 15% sobre
ganhos nos EUA: criadores que forneceram dados e estão em países com acordo fiscal com os EUA;
30% sobre ganhos nos EUA: criadores que forneceram dados e estão em países sem acordo fiscal
com os EUA – é o caso do Brasil; 24% sobre ganhos em todo o mundo: criadores que não forneceram
dados até 31 de maio de 2021. Disponível em: https://tecnoblog.net/. Acessado em: 02 jun 2021.
21
Sobre esse tema o STF no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 851108, com repercussão
geral reconhecida (Tema 825) que versa sobre o ITCMD sobre herança ou doação de bens no
exterior, decidiu por maioria que fica proibido que os Estados editem legislações locais em relação ao
ITCMD. A Constituição Federal prevê que uma lei complementar deverá ser editada para regulamentar a
competência para cobrar o tributo de quem mora no país e recebe uma doação ou herança de quem está no
exterior, mas ela nunca foi editada e os Estados vinham estabelecendo suas próprias normas. Essa
decisão tem um forte impacto nos cofres dos Estados. Na omissão da União em editar essa a norma geral
entende-se que deveria ser dada competência legislativa plena aos Estados, pois sob outra ótica, coloca-se em
risco o pacto federativo, na medida em que a autonomia financeira dos Estados é afetada.
22
REUTER. Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-facebook-privacy-germany/parents-
have-right-to-access-dead-daughters-facebook-profile-german-court-rules-idUSKBN1K219A?il=0
Acessado em: 03 de mai de 2021.
No caso concreto não estão envolvidos bens com valor patrimonial, razão pela qual entende-se
acertada a decisão da Corte. Por outro lado, necessário ponderar se o entendimento poderia ser
aplicado sem ressalvas em todos os casos ou em determinadas situações o acesso ao conteúdo
privado do falecido seria passível de implicações a memória deste e ao direito de autodeterminação
informativa como extensão da privacidade?
132 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Na sociedade 5.0 a Internet das coisas irá, cada vez mais, conectar pessoas e
objetos, abrindo todo tipo de conhecimento para o compartilhamento, e uma nova
geração de valor vai nascer focada no ser humano, no crescimento sustentável, na
integração entre o on-line e o off-line, equilibrando avanço econômico com a
23
Ver PL 1144/2021 e PL 3050/2020.
24
Código Civil, leis de marcas e patentes, software e direitos autorais.
25
OLHAR DIGITAL. Disponível em:https://olhardigital.com.br/2021/05/03/dicas-e-tutoriais/como-
transformar-uma-conta-do-facebook-em-memorial/.Acessado em: 03 de mai de 2021.
Roberta Scalzilli | 133
resolução de problemas sociais por meio de um sistema que integra o cyber espaço
e o espaço físico.
Essa iniciativa é um esforço para criar um contrato social e modelo
econômico que incorpore as inovações tecnológicas da quarta Revolução Industrial
em toda a sociedade. Trata-se de uma Revolução que posiciona o ser humano no
centro da inovação para proporcionar melhor qualidade de vida e demonstrar que os
sistemas inteligentes podem ser grandes aliados para resolver problemas sociais
complexos.
Nesse contexto, a sociedade 5.0 preconiza que o uso das tecnologias,
especialmente dos algoritmos, apresenta grande potencial benéfico para as pessoas,
todavia trata-se de um grande desafio sob o ponto de vista teórico, ético e
procedimental, passível de causar prejuízos a sorte de cidadãos quando usados para
manipulação social. Assim, diante do avanço tecnológico exponencial, é necessário
discutir importantes temas como a cyber segurança, proteção de dados, ética dos
algoritmos e transparência sempre a luz da Constituição Federal de modo a preservar
os direitos individuais e coletivos dos cidadãos.
Indubitavelmente as redes sociais auxiliadas pela inteligência artificial tem
impactado no modo como as pessoas veem o mundo, contudo dado o alcance e
importância dessas plataformas na comunicação, devem ser norteadas por
princípios éticos e transparentes para que os cidadãos possam agregar valor à
sociedade por meio do seu pensamento autônomo e livre de condicionantes
externos, pois a iniciativa popular na vida pública está prevista na Constituição
Federal26 e proporciona uma democracia forte.
Diante dessa premissa o ambiente digital não deve ser palco de guerras
ideológicas, ofensas ou qualquer outra prática que desatenda os ditames
Constitucionais, mas sim um espaço de igualdade de condições para uma vida digna
e cultural independente de classe social, raça, credo ou qualquer outro elemento
passível de discriminação.27
26
Artigo 14 da Constituição Federal: A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II -
referendo; III- Iniciativa popular.
27
Parafraseando Michael Sandel em conclusão de seu “The Tyranny of Merit what´s Become of the
Common Good” (e adaptando sua reflexão quanto a meritocracia e bem comum para o ambiente
134 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
virtual), pode-se dizer que o cenário ideal seria alcançar uma igualdade ampla e democrática de uma
doença, ou como uma biblioteca onde em um único local podem ser encontrados jovens velhos
brancos negros ricos e pobres respeitando as diferenças e que cidadãos diferentes possam se
encontrar em espaços públicos e reforçar a democracia e o zelo pelos direitos fundamentais em
qualquer ambiente.
28
MICROSOFT. The Future Computed: Artificial Intelligence and its role in society. Redmont: Microsoft
Corporation, 2018. p. 28.
29
Alan Turing, considerado o pioneiro da computação, se tornou célebre pelos estudos que
desenvolveu, bem como, pela criação, na década de 1930, que chamou de “máquina lógica da
computação” considerada precursora do computador. ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma
biografia da revolução digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 55; 61.
30
RUSSEL, Stuart; NORVIG, Peter. Inteligência artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 1.174.
Roberta Scalzilli | 135
31
A partir de 2010, tornou-se possível que as máquinas explorassem grande volume de dados (big
data), usando técnicas de aprendizagem profunda. A convergência de IA e big data começou no início
dos anos 2000, quando o Google e o Baidu – os novos mecanismos de busca da época – passaram
a utilizar sistemas de recomendação para propagandas alimentadas por IA e descobriram que os
resultados eram ainda melhores que o esperado. QIANG, Yang. A quarta revolução. O correio da
Unesco. n. 3. jul.-set. 2018. p. 22.
32
Inteligência Artificial aqui entendida como “área da ciência da computação orientada ao
entendimento, construção e validação de sistemas inteligentes”. RICH, Elaine; KNIGHT, Kevin.
Inteligência artificial. 2 ed. São Paulo: Makron Books, 1994. p. 722.
33
Entende-se por big data um conjunto de metodologias e tecnologias utilizadas para capturar,
armazenar e processar grande volume de informações.
Nesse contexto de alta conexão do consumidor, onde há uma grande captura de dados, o Big Data
surgiu para melhor gerir o excesso de informação a que estamos sujeitos na sociedade
contemporânea. Assim, o grande protagonismo da inteligência artificial e a riqueza do Big Data está
em conseguir trabalhar com dados não apenas estruturados, mas os não estruturados.
34
Compas (sigla em inglês para Correctional Offender Management Profiling for Alternative
Sanctions) trata-se de um questionário que avalia através de perguntas o quanto você pode ser capaz
de voltar a cometer um crime futuramente."O sistema transforma as respostas em pontos e
demonstrou inclinação em dar uma pontuação consideravelmente maior para infratores de minorias
étnicas.
35
A empresa Microsoft colocou em ação um robô no Twiter para interagir com jovens, porém em
pouco tempo demonstrou atitudes antissociais. Apesar dos benefícios da inteligência artificial,
também tem ocorrido registros de erros grosseiros com resultados inaceitáveis os quais não foram
possíveis nem mesmo de ser explicados. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/24/tecnologia/1458855274_096966.html Acesso em: 20 de
junho de 2020.
36
Além disso, a adoção de programas de compliance são bastante importantes na prevenção de
ilícitos.
136 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
37
FRAZÃO, Ana. Inteligência Artificial. In: Inteligência artificial e direito: ética, regulação e
responsabilidade, coordenado por Ana Frazão e Caitlin Mulholland. São Paulo: Thompson Reuters
Brasil, 2019, p.507.
38
Por meio de Inteligência Artificial, Machine Learning e com ferramentas de código aberto pode se
criar um algoritmo para treinar uma Rede Neural a mapear o rosto de uma pessoa. E, então, substituir
os movimentos labiais, expressões do rosto e piscar dos olhos, e até o rosto por completo, no corpo
de outra pessoa.
Roberta Scalzilli | 137
Nacional.39
O uso de algoritmos de inteligência artificial deve ser público e transparente
para que seja possível realizar o controle da legalidade dos atos direta ou
indiretamente ligados ao lançamento tributário, sob pena de incorrer em práticas
incompatíveis com as garantias decorrentes dos limites constitucionais ao poder de
tributar. Esse caminho objetiva evitar preconceitos e viesses, no entanto, diante
desses princípios os contribuintes poderão criar estratégias para escapar da
fiscalização.
A transparência e a publicidade constituem elementos fundamentais de uma
relação mais eficiente e harmônica entre o contribuinte e a Administração Pública.
Nesse contexto, a utilização de sistemas de inteligência artificial deve se
orientar em estrita vinculação à lei, sem qualquer finalidade de maximizar a
arrecadação, podendo os algoritmos indicar, inclusive, a devolução de um tributo
onde o pagamento foi realizado de forma indevida, independente de requerimento.
Assim, a atual realidade tecnológica impõe a criação de um novo Fisco com
vistas no desempenho mais eficiente de suas atribuições. Para enfrentamento do
cenário atual a Administração Tributária precisará se reinventar e assumir novas
competências para adaptar- se à transformação digital.
Por meio do uso da inteligência artificial e da possibilidade de análise
preditiva o Fisco terá melhores mecanismos de controle e combate a fraudes e
evasões fiscais, além do incremento na eficiência por meio políticas fiscais
adequadas e obediência aos limites legais.
O dever de transparência administrativa está essencialmente ligado ao
princípio da publicidade, presente no caput artigo 37 da Constituição Federal, e art.
5º, incisos XXXIII, XXXIV e LXXII.
Portanto, para que se perfectibilize integralmente esse princípio é necessário
que o contribuinte possua as informações necessárias dos tributos pagos 40 e que o
39
Nesse contexto o PL 5051 de 2019 e o PL 2120/20 estabelecem princípios ao uso da IA no país,
como respeito à dignidade humana e aos direitos humanos, transparência e auditoria dos sistemas,
garantia da privacidade e supervisão humana.
40
Ver Lei nº 12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação e Lei da Transparência (LC
131/2009).
138 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARCELLOS João. Além da ficção: Como a inteligência artificial tem sido essencial
para os negócios. Revista Brasileira de comércio eletrônico (E- Commerce Brasil),
São Paulo, Ed. 43, v. 8, 2018.
41
Ver Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000- Lei de responsabilidade fiscal.
Roberta Scalzilli | 139
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 24. ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2012.
CARROL, Evan; ROMANO, John. Your Digital Afterlife: Facebook, Flickr and Twitter
Are Your Estate, What's Your Legacy? New Riders, 2010.
FRAZÃO, Ana. Inteligência Artificial. In: FRAZÃO, Ana; MULHOLLAND, Caitlin (Coor.).
Inteligência artificial e direito: ética, regulação e responsabilidade. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2019.
MELO Álisson José Maia (et. al). Tributação e novas tecnologias: software -
criptomoedas - disponibilização de conteúdo - inteligência artificial. 1 ed. Editora
Foco, 2021.
MICROSOFT. The Future Computed: Artificial Intelligence and its role in society.
Redmont: Microsoft Corporation, 2018.
RICH, Elaine; KNIGHT, Kevin: Inteligência artificial. 2 ed. São Paulo: Makron Books,
1994.
RUSSEL, Stuart; NORVIG, Peter. Inteligência artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
SANDEL Michael. The Tyranny of Merit what´s Become of the Common Good,
Farrar, Straus and Giroux, 2020.
YUVAL Noah Harari. 21 Lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras,
2018.
7. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA APLICAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE
QUALQUER NATUREZA (ISS) COM ENFOQUE NA TRIBUTAÇÃO DO SOFTWARE NA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
https://doi.org/10.36592/9786581110284-07
Resumo
O trabalho em questão aborda a evolução do conflito de competência tributária
existente entre o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e o Imposto
sobre circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS), com enfoque especial na
definição de “serviços de qualquer natureza”. Como objetivo está a análise das
decisões proferidas nos RE 5.659 e 1.945, no ano de 2021, que trataram da aplicação
do ISS ou ICMS em operações envolvendo software. Para ser possível uma melhor
compreensão sobre a temática deste trabalho, os conceitos e principais discussões
sobre o ISS e ICMS foram apresentados, com exceção da discussão acerca da
territorialidade do ISS, uma vez que o enfoque do presente trabalho é a definição de
“serviços de qualquer natureza”. Foram adotados o método de abordagem dedutivo,
método de procedimento de estudo de caso, sendo uma pesquisa teórica e
explicativa.
Palavras-chaves: ISS. ICMS. Software. Serviços de qualquer natureza
1 INTRODUÇÃO
1
Doutoranda e Mestra em Direito, na linha de pesquisa Direito, Ciência e Tecnologia, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Especialista em Direito Empresarial pela
UniRitter. Advogada. Bolsista CNPq.
144 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2.1 ICMS
2.1.1 Mercadoria
Mercadorias são coisas móveis. São coisas porque bens corpóreos que valem
por si e não pelo que representam. Coisas, portanto, em sentido restrito, no qual
não se incluem os bens tais como os créditos, as ações, o dinheiro, entre outros.
E coisas móveis porque em nosso sistema jurídico os imóveis recebem
disciplinamento legal diverso, o que os exclui do conceito de mercadoria.
2
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 31ª ed. Malheiros editores ltda., 2010, pg.389.
3
RE 176.626/SP
146 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2.1.2 Circulação
4
MELO, José Eduardo Soares de; PAULSEN, Leandro. Impostos Federais, Estaduais e Municipais.
4ªed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, pg.213.
5
STURTS, Gabriel Pinos. Tributação do comércio eletrônico: Análise da incidência do ICMS. RET 34/5,
fev. 2004. Apud PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário completo. 8ªed. São Paulo: Saraiva,
2017, pg.353.
6
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva Educação, 3. ed. 2020, p.922
7
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 31ª ed. Malheiros editores ltda., 2010, pg.387.
8
Idem, pg.388.
9
STF, AgRAI 131.941/SP; STJ, Resp 1125133/SP
Martina Gaudie Ley Recena | 147
10 11
Conforme prevê o Código Civil (art.1.226 c/c 1.225, I ), só haverá
transferência de propriedade quando todos os atributos da propriedade forem
transferidos, sendo eles os direitos de usar, gozar, dispor e reivindicar12. No caso do
software, a Lei nº 9.609/98 prevê especificamente, que a sua comercialização se dará
por meio de licença 13 , enquanto a sua propriedade será transferida por meio da
cessão.
A licença é precisamente uma autorização, dada por quem tem o direito sobre
o software, para que uma pessoa faça uso do objeto do seu direito 14. No mesmo
sentido é o entendimento de Carlos Alberto Bittar15: “O contrato de licença (licensing)
é aquele através do qual o titular de direitos concede a outrem o uso do bem, nos fins
e pelas condições convencionadas, podendo revestir-se, ou não, de exclusividade”.
Já na cessão transfere-se os direitos patrimoniais do autor, adquirindo, assim,
o cessionário a titularidade desses direitos 16 . Plínio Cabral 17 explica a cessão de
forma certeira:
10
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos
entre vivos, só se adquirem com a tradição.
11
Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade;
12
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 12ªed. São Paulo: Saraiva,
2017, pg.242.
13
Art. 9º O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de licença.
14
BARBOSA, Denis Borges. Tributação do software pelo ISS. Disponível em:
http://denisbarbosa.addr.com/autorais.htm Acessado em 07 out. 2018.
15
BITTAR, Carlos Alberto. Contratos de Comercialização e Software. In Novos Contratos Empresariais.
São Paulo: RT, 1997, p. 39.
16
NETTO, José Carlos Costa. Estudos e Pareceres de Direito Autoral. Rio de Janeiro: Forense, 2015,
pg.142.
17
CABRAL, Plínio. A nova lei de Direitos Autorais. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998, p.130-131.
148 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2.2 ISS
18
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.
19
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva Educação, 3. ed. 2020, p.1001
Martina Gaudie Ley Recena | 149
3 RE 176.626: SOFTWARE
20
Idem. p. 1005.
21
Idem. p. 1002.
22
LC 116, art. 1º, §4º: “A incidência do imposto não depende da denominação dada ao serviço
prestado.”
150 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
23
BITTAR, Carlos Alberto. Contratos de Comercialização e Software. In Novos Contratos Empresariais.
São Paulo: RT, 1997, p. 39.
24
CABRAL, Plínio. A nova lei de Direitos Autorais. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998, p.130-131.
25
AMAD, Emir Iscandor. Contratos de software “Shrinkwrap licenses” e “clickwrap licenses”. Rio de
Janeiro: Renovar. 2002, p.96
26
Idem. p.106.
Martina Gaudie Ley Recena | 151
11 CRÍTICA
156 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Na decisão proferida na ADI 5.659, o Min. Dias Toffoli entendeu ser irrelevante
a operação ocorrer por intermédio de licença ou cessão. Contudo, necessária a
realização de alguns apontamentos.
No caso de licença de bem imaterial, por se equiparar a aluguel de bem móvel,
não há transferência de propriedade. Sendo aluguel, seria aplicável a súmula
vinculante 31, que entende inconstitucional a incidência do ISS sobre operações de
locação de bens móveis. Contudo, na decisão do RE 603.136 foi consignado que a
súmula em comento só é aplicável a operações exclusivamente de dar, excluindo-se
a sua incidência em operações mistas.
Questiona-se onde está o serviço nessa operação. Se o software for de
prateleira, o serviço está presente da mesma forma que na compra de uma mesa
comum. Não se sabe quem fez (pessoa física) e referida informação é irrelevante,
inexistindo, por conseguinte, a prevalência do esforço humano. Mas, mesmo que o
serviço não seja a atividade preponderante, estando listado na LC 116/03 irá incidir
o ISS.
A cessão em qualquer modalidade (prateleira ou sob encomenda) transfere a
propriedade do produto. No caso do software sob encomenda prevalece o serviço.
Logo, a cessão de parte não preponderante não deve interferir.
No caso de cessão de código fonte de software de prateleira, há a
transferência de propriedade de mercadoria. Seria o caso da venda de código fonte
do programa de computador Windows Visa. Contudo, não se trata de cessão ao
consumidor final, não sendo possível a operacionalização da venda de código fonte
(cessão) de software de prateleira a consumidor final.
Em síntese, nas decisões proferidas nos RESP 1.945 e 5.659, se entendeu que
no ISS há prevalência do esforço intelectual humano, devendo incidir sempre que a
operação estiver listada no anexo da LC 116/03, no intuito de se evitar um limbo
tributário, conferindo, assim, maior segurança jurídica e neutralidade.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em
11 jul. 2021.
BRASIL. Lei 9.609 de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da
propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e
dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9609.htm Acesso em 11 jul. 2021.
547245%22&base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pageSize=10&so
rt=_score&sortBy=desc&isAdvanced=true Acesso em 11 junho 2021.
CABRAL, Plínio. A nova lei de Direitos Autorais. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. 12 ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
MELO, José Eduardo Soares de; PAULSEN, Leandro. Impostos Federais, Estaduais e
Municipais. 4 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
Martina Gaudie Ley Recena | 159
NETTO, José Carlos Costa. Estudos e Pareceres de Direito Autoral. Rio de Janeiro:
Forense, 2015.
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário completo. 8 ed. São Paulo: Saraiva,
2017.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-08
Resumo
O objetivo deste ensaio é realizar estudo de caso relativo à discriminação negativa
por condição pessoal (doença grave), como critério para a recusa de contratação de
seguro de vida. O artigo foi dividido em três partes. Na primeira, analisa-se elementos
conceituais instrumentais ao estudo, quais sejam, não-discriminação,
antidiscriminação e direito das minorias. Na segunda, a função antidiscriminatória
da extrafiscalidade na proteção do direito das minorias. Terzo, procede-se ao estudo
de caso, inclusive com investigação de direito comparado. A necessidade premente
de um cosmopolitismo jurídico, para um direito da antidiscriminação transfronteiriço,
é a hipótese do trabalho. Este ensaio utiliza, na abordagem, o método hipotético-
dedutivo; na investigação, o procedimento tipológico e estruturalista; interpretação
tópico-sistemática valendo-se das técnicas de pesquisa exploratória e explicativa,
instrumentalmente documental (bibliográfica e jurisprudencial).
Palavras-chave: antidiscriminação – deficiência – doença grave – extrafiscalidade
1 INTRODUÇÃO
2
Econômica, social, ambiental, jurídico-política, ética, conforme FREITAS, Juarez. Sustentabilidade:
Direito ao Futuro. 4. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2019. 416p.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 163
3
Disponível em https://brasil.un.org/pt-br/sdgs , acesso em 13/07/2021.
4
RIOS, Roger Raupp. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações afirmativas.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, 295p.
5
Conforme o artigo I.1, da parte I da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas
de Discriminação Racial, promulgada pelo Decreto nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969, disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D65810.html, acesso em 13/07/2021.
6
Como tratada nas Diretivas 2000/43, 2000/78 e 2002/73 da União Europeia.
7
Expressão erigida no famoso caso Teamsters v. United States, 431 U.S. 324 (1977) , nota 15,
disponível em https://supreme.justia.com/cases/federal/us/431/324/ , acesso em 13/07/2021.
8
Griggs v. Duke Power Co., 401 U.S. 424 (1971), disponível em:
https://supreme.justia.com/cases/federal/us/401/424/, acesso em 14/07/2021.
164 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
9
Que não se confunde com o conceito de “direito das minorias”.
9
RIOS, Roger Raupp; LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo; SCHÄFER Gilberto. Direito da Antidiscriminação e
Direitos de Minorias: Perspectivas e Modelos de Proteção Individual e Coletivo. Disponível em
https://www.corteidh.or.cr/tablas/r36985.pdf, acesso em 14/07/2021, esclarecem-no como “[...] o
conjunto de normas, institutos, conceitos e princípios, previstos no direito internacional dos direitos
humanos, para a proteção de minorias nacionais ou étnicas, culturais, religiosas e linguísticas (UN,
2012) em face da discriminação, conjunto este objeto de análise e sistematização”. Sobre o tema,
ainda: APPIO, Eduardo. Direito das minorias. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2008.
10
RIOS, Roger Raupp; LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo; SCHÄFER Gilberto. Direito da Antidiscriminação e
Direitos de Minorias: Perspectivas e Modelos de Proteção Individual e Coletivo. Disponível em
https://www.corteidh.or.cr/tablas/r36985.pdf, acesso em 14/07/2021.
11
RIOS, Roger Raupp. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações afirmativas.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, 295p., p. 23
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 165
12
Democracy and Distrust. Cambridge: Harvard University Press, 1980.
13
A principal crítica à teoria de Ely é justamente não alcançar a discriminação indireta, mormente
quando não intencional.
14
A este respeito: WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
15
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição:
contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira
Mendes. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 2003, fls. 39/40.
16
Disponível em https://supreme.justia.com/cases/federal/us/344/141/, acesso em 14/07/2021.
17
Que defende o minimalismo judicial. SUNSTEIN, Cass. One Case at Time: judicial minimalism on the
supreme court. Cambridge: Oxford University Press, 1999.
18
Que advoga a necessidade de ações afirmativas. FISS, Owen. Affirmative Action as a Strategy of
Justice. Philosophy & Public Policy 37, 1997, p.37-38. Disponível em:
http://ojs2.gmu.edu/PPPQ/article/view/267/195, acesso em 14/07/2021, tendo o princípio de anti-
subordinação como ancoragem teorética. FISS, Owen. Another Equality: The Origins and Fate of Anti
subordination Theory. Issues in Legal Scholarship, New Haven, article 20. [2004]. Disponível em
166 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
https://law.yale.edu/sites/default/files/documents/faculty/papers/Fiss_AnotherEquality.pdf, acesso
em 14/07/2021.
19
Para o qual a atuação do Poder Judiciário coibindo atos discriminatórios individuais ou estruturais
é a voz amplificada das minorias oprimidas, que tem função antidiscriminatória, dado seus potenciais
efeitos retro e prospectivos. TRIBE, Laurence H. American constitutional law. 2. ed. Mineola: The
Foundation Press, 1988.
20
Ob.cit., p. 27.
21
RIOS, p.28.
22
As reflexões que serão trazidas aqui são paráfrases de RIOS (2008), p. 33 a 40, mas com alguns
acréscimos autorais.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 167
23
SAFATLE, Vladimir. Grande Hotel Abismo - por uma reconstrução da teoria do reconhecimento. São
Paulo: Martins Fontes, 2012.
24
DERRIDA, Jacques. “Os fins do homem”. Tradução de Joaquim Torres Costa e António M.
Magalhães. Margens da filosofia. Campinas: Editora Papirus, 1991. SAFATLE, Vladimir. A esquerda
que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três estelas, 2012.
25
RIOS, ob.cit., p. 33.
26
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação. (grifamos)
27
RIOS, ob.cit., p. 37
168 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
28
Idem, p. 38
29
Ibidem, p. 41
30
Nos Estados Unidos, como ensina RIOS, ob.cit., p. 52/53, a Suprema Corte estabeleceu uma
classificação de suspeição de tais e quais critérios proscritos, bem como as categorias de incidência,
os parâmetros de controle e as técnicas de escrutínio aplicadas em cada caso, num entrelaçamento
sistêmico que é denominado como equal protection doctrine.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 169
31
Conforme ensinam CALIENDO Paulo; RAMMÊ Rogério; MUNIZ Veyzon. Tributação e
sustentabilidade ambiental: a extrafiscalidade como instrumento de proteção do meio ambiente.
Revista de Direito Ambiental, vol. 76/2014, p. 471, Out.- Dez/2014. Disponível em
https://www.researchgate.net/publication/336370763, Acesso em: 16 jul. /2021.
170 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
32
Que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 171
37
Sobre o tema: JUNQUEIRA, Thiago. Tratamento de Dados Pessoais e Discriminação Algorítmica nos
Seguros. São Paulo: Tomson Reuters Brasil, 2020, 429p.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 173
38
que dispõe sobre as regras complementares de funcionamento e os critérios para operação das
coberturas de risco oferecidas em plano de seguro de pessoas, e dá outras providências.
39
Grifei.
174 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
existência da moléstia antes da contração, fato inconteste nos autos. Mesmo assim,
a recusa se fez.
Segundo ponto digno de nota é que o jovem rapaz comprovou que, inobstante
tivesse tido tal doença em seu histórico biomédico, dela estaria curado, conforme
documentação acostada ao caderno processual. Mas recusa, ainda assim, houve.
Terzo, considerando as normas protetivas ao consumidor, especialmente o
artigo art. 39, IX, do CDC, que textualmente veda “recusar a venda de bens ou a
prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante
pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis
especiais”, o caráter geral da proposta é vinculativa, de molde que os demandados,
in casu, não poderiam simplesmente ceifar do autor o acesso ao produto (seguro de
vida), sob pena de discriminação.
Ao invés da prepotência da recusa peremptória, os fornecedores poderiam, em
tese, oblar opções ao segurado, tais como: (a) excluir a doença pré-existente da
cobertura, exatamente como dita o artigo 62 da Circular SUSEP nº 302/2005 – que
em nenhum momento legitima este critério como ponderável para a recusa da
contratação-; (b) redimensionar o prêmio do seguro, de acordo com o risco do caso
especial, desde que não se lhes assegurasse vantagem excessiva, outro tanto
proscrita no artigo 39, V, CDC.
Contudo, no caso em testilha, nem mesmo estas antelações calhariam à
fiveleta, posto que houve cura da patologia antes da contratação.
Neste contexto, outra conclusão não há: a recusa da contratação, no caso em
estudo, representa indelével discriminação institucional.
Posto isto, o Acórdão foi exemplar em condenar os demandados a pagar
indenização por dano moral ao autor.
Gizo que seria perfeitamente plausível o pedido cominatório de assinatura do
contrato de seguro com efeitos ex tunc à data do início da sua vigência, não fosse a
superveniente e arbitrária recusa dos demandados cumulativamente com à
reparação pela pretium doloris, in re ipsa.
Mas, na situação em pauta, o decidido deu-se nos limites do princípio da
congruência, posto que o pleito cingiu-se ao dano moral experimentado.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 175
Artigo 3.º
Conceitos
Para efeitos da presente lei, entende-se por:
(...)
c) «Pessoas com risco agravado de saúde» pessoas que padecem de toda e
qualquer patologia que determina uma alteração orgânica ou funcional
irreversível, de longa duração, evolutiva, potencialmente incapacitante, sem
perspectiva de remissão completa e que altere a qualidade de vida do portador a
nível físico, mental, emocional, social e económico e seja causa potencial de
invalidez precoce ou de redução de esperança de vida;
Artigo 4.º
Práticas discriminatórias
Consideram-se práticas discriminatórias contra pessoas com deficiência as
ações ou omissões, dolosas ou negligentes, que, em razão da deficiência, violem
o princípio da igualdade, designadamente:
a) A recusa de obrigação ou o impedimento de fruição de bens ou serviços;
[...]
c) A recusa ou o condicionamento de venda, arrendamento ou subarrendamento
de imóveis, bem como o acesso ao crédito bancário para compra de habitação,
assim como a recusa ou penalização na celebração de contratos de seguros;
40
O inteiro teor da norma está disponível em https://dre.pt/pesquisa/-/search/5/maximized, acesso
em 10/06/2021.
41
Regulamentação Decreto-Lei n.º 34/2007, de 15 de Fevereiro, disponível em
https://dre.pt/pesquisa/-/search/518015/details/maximized , acesso em 10/06/2021.
42
Grifos nossos
43
Sem grifos no original
176 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Antes da normativa de 2006, Portugal já tinha editado a Lei n.º 38/2004 44, que
define as bases gerais do regime jurídico da prevenção, habilitação, reabilitação e
participação da pessoa com deficiência, podendo ser sobrelevados, no foco deste
texto, os artigos 5.º (princípio da cidadania45), 18 (intervenção de entidades públicas
e privadas) 46 , 20 (coesão social) 47 , 29 (direitos do consumidor) 48 e 48 (fundo de
apoio)49
A partir das diretrizes das Lei de 2004 e 2006, exsurge o primeiro PAIPDI (Plano
de Integração das Pessoas com Deficiência e Incapacidade – 2006 a 2009)50, que
pretende a “[...] reformulação de políticas sectoriais, de sistemas de informação e
estatística, de quadros legislativos, de procedimentos e de instrumentos de
avaliação, e de critérios de elegibilidade”.
Dentre os objetivos constantes do referido plano, destacam-se, por
pertinência temática ao caso brasileiro trazido à baila, a “[...] promoção dos direitos
humanos e do exercício da cidadania; integração das questões da deficiência e da
incapacidade nas políticas sectoriais; acessibilidade a serviços, equipamentos e
produtos”.
No detalhamento das estratégias e linhas de ação do mencionado planto,
assume assaz importância para o objeto deste ensaio, o que consta no item “3.1.5.1
Dar continuidade à revisão dos sistemas de seguros para a área da deficiência ou
incapacidade”51.
44
https://dre.pt/pesquisa/-/search/480708/details/maximized, acesoo em 10/06/2021.
45
“A pessoa com deficiência tem direito ao acesso a todos os bens e serviços da sociedade, bem
como o direito e o dever de desempenhar um papel activo no desenvolvimento da sociedade.”
46
“1 - As entidades públicas e privadas têm o dever de realizar todos os actos necessários para a
promoção e o desenvolvimento da política nacional de prevenção, habilitação, reabilitação e
participação da pessoa com deficiência.”
47
“As entidades privadas, nomeadamente as empresas, cooperativas, fundações e instituições com
ou sem fins lucrativos, estruturas representativas dos trabalhadores e associações de empregadores,
devem, no desenvolvimento da sua actividade e com vista ao reforço da coesão social, promover a
satisfação dos interesses económicos, sociais e culturais da pessoa com deficiência.”
48
“Compete ao Estado adoptar medidas específicas necessárias para assegurar os direitos de
consumidor da pessoa com deficiência, nomeadamente criando um regime especial de protecção”
49
A lei poderá prever a constituição de um fundo de apoio à pessoa com deficiência constituído pelo
produto de coimas de processos de contra-ordenação por violação dos direitos da pessoa com
deficiência.
50
Disponível em http://asurdosporto.org.pt/IMAGES/PAIPDI.PDF, acesso em 10/06/2021.
51
“Estratégia 3.1 – Protecção e Solidariedade Social. Linha de acção 3.1.5 Promover, como
complemento do sistema de protecção social, a conciliação de medidas de diferenciação positiva no
âmbito das políticas da administração pública. 3.1.5.1 Dar continuidade à revisão dos sistemas de
seguros para a área da deficiência ou incapacidade MTSS/MF 2006-2007”.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 177
52
Disponível em https://dre.pt/pesquisa/-/search/541782/details/maximized, acesso em
10/06/2021.
53
Inteiro teor disponível em https://dre.pt/pesquisa/-/search/493187/details/maximized, acesso em
10/06/2021.
54
Disponível em https://dre.pt/pesquisa/-/search/307186/details/maximized, acesso em
10/06/2021.
55
Para justificar a abordagem em testilha, colhemos este trecho da exposição de motivos “Para além
da discriminação de que são alvo as pessoas com deficiência, existem, dentro deste agrupamento
heterogéneo de pessoas, determinados grupo alvo, como é o caso, entre outros, das mulheres, das
crianças, dos imigrantes e dos desempregados, que deverão ser objecto de medidas adicionais de
discriminação positiva dado que acumulam desvantagens sociais.
Para além desta perspectiva integrada, também se inclui todo o tipo de medidas que visam combater
a discriminação ou minorar o impacto dos preconceitos em razão da deficiência ou incapacidade.
Este segundo objectivo é constituído, essencialmente, por medidas de sensibilização e pela formação
de vários agentes que, no exercício da sua actividade profissional, terão de ser capacitados de modo
a garantir que as pessoas com deficiências e incapacidades não serão discriminadas, por
desinformação ou desconhecimento.(...)”
56
Disponível em https://www.inr.pt/documents/11309/284924/ENIPD.pdf/5bce7969-0918-4013-
b95d-2a5a35a870c5, acesso em 14/07/2021.
57
Detalhamento disponível em http://www.agenda2030.org.br/sobre/, acesso em 19/07/2021.
178 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
58
Disponível em https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:12016P/TXT&from=FR , acesso em 15/07/2021.
59
O que leva à compreensão, primo occuli, que o texto é meramente enumerativo, principalmente
diante da sua intepretação sistemática com os demais artigos da Carta que serão mencionados na
sequência.
60
Existe uma ampla controvérsia sobre os modelos médico e social da incapacidade, o que escapa
aos lindes deste estudo. Contudo, é importante pontuar que a discriminação institucional dialoga com
o modelo social, que desloca o problema da pessoa (modelo médico) para as barreiras que impedem
o pleno exercício da sua personalidade, dos direitos inerentes à cidadania, sempre que possível de
forma autônoma.
Sobre este tema: RIESER R. The social modal of disability: Invisible children. In: Joint Conference on
Children, Images and Disability; 1995, disponível em
http://worldofinclusion.com/res/invisible/Invisible_Children.pdf, acesso em 18/07/2021.
61
Não ignoramos existir discussão terminológica entre deficiência e incapacidade, sendo aquela
mais restritiva e essa, mais abrangente e, portanto, mais inclusiva, mas não vamos adentrar à esta
questão, pelo recorte metodológico do trabalho.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 179
62
Disponível em https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-
01aa75ed71a1.0019.01/DOC_3&format=PDF, acesso em 18/07/2021.
63
Disponível em https://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2010:0636:FIN:pt:PDF, acesso em 18/07/2021.
64
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), o Fundo Social Europeu (FSE), sem prejuízo
das disposições específicas estabelecidas nos Regulamentos (CE) n.o 1080/2006, (CE) n.o 1081/2006
e (CE) n.o 1084/2006
65
Eis o inteiro teor: “As medidas necessárias à execução do presente regulamento serão aprovadas
nos termos da Decisão 1999/468/CE do Conselho, de 28 de Junho de 1999, que fixa as regras de
exercício das competências de execução atribuídas à Comissão (1 ). A Comissão aprovará as medidas
de execução do presente regulamento que assegurem a transparência e clarifiquem as disposições
aplicáveis à gestão dos programas operacionais no que se refere à organização das despesas por
categorias, à engenharia financeira, à gestão e controlo, ao intercâmbio electrónico de dados e à
publicidade, após ter obtido o parecer do Comité de Coordenação dos fundos na qualidade de comité
de gestão. É conveniente que a Comissão publique a lista das zonas elegíveis para o Objectivo da
Cooperação Territorial Europeia em aplicação dos critérios estabelecidos no presente regulamento,
180 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Igualmente merece relevo o seu artigo 16.o, que agrega caráter especial “[...] a
acessibilidade para as pessoas com deficiência [como] é um dos critérios que devem
ser respeitados na definição das operações co-financiadas pelos fundos e tidos em
conta nas várias fases de aplicação.”
66 67
O Fundo Social Europeu preconiza o reforço da “[...] capacidade
institucional dos intervenientes [...] que operam nos domínios [...] da formação e das
políticas sociais, nomeadamente no domínio da luta contra a discriminação”.
Nesta normativa, destacam-se os artigos 4.o, item 2 (coerência e
concentração temática) 68; 5.o, 1 (indicadores) 69; 8.o (promoção da igualdade de
oportunidades e da não discriminação) 70 , sendo que 20% dos recursos do FSE
76
Organização Mundial da Saúde, World Report on Disability 2011, disponível em
https://www.who.int/disabilities/world_report/2011/report.pdf, acesso em 19/07/2021.
77
Paráfrase, tradução livre. Texto original em inglês: “People with disabilities experience lower rates
of employment, are more likely to be economically disadvantaged, and are therefore less likely to afford
private health insurance. Employed people with disabilities may be excluded from private health
insurance because of pre-existing conditions or be “underinsured” because they have been denied
coverage for a long period or are excluded from claiming for treatment related to a pre-existing
condition or must pay higher premiums and out-of-pocket expenses. (…)”
78
Disponível em http://housedocs.house.gov/energycommerce/ppacacon.pdf , acesso em
19/07/2021.
79
Texto original em inglês (tradução livre): “(B) HEALTH AND RESOURCE DIFFERENCES.—
Consideration of, and the making of suitable allowances for, differences in health care needs of
enrollees and differences in local availability of, and access to, health care providers. Nothing in this
subparagraph shall be construed as allowing discrimination on the basis of pre-existing conditions or
other health status-related factors.”
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 183
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
80
Sobre o tema: SALDANHA, Jânia Maria Lopes. Cosmopolitismo Jurídico: teorias e práticas entre a
globalização e a mundialização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018, 146p.
Cíntia Teresinha Burhalde Mua | 185
ELY, John Hart. Democracy and Distrust. Cambridge: Harvard University Press,
1980.
FISS, Owen. Affirmative Action as a Strategy of Justice. Philosophy & Public Policy,
n. 37, p.37-38, 1997. Disponível em:
http://ojs2.gmu.edu/PPPQ/article/view/267/195. Acesso em: 14 jul. 2021.
FISS, Owen. Another Equality: The Origins and Fate of Anti subordination Theory.
Issues in Legal Scholarship, New Haven, article 20. [2004]. Disponível em
https://law.yale.edu/sites/default/files/documents/faculty/papers/Fiss_AnotherEq
uality.pdf. Acesso em: 14 jul. 2021.
RIESER R. The social modal of disability: Invisible children. In: Joint Conference on
Children, Images and Disability. 1995, disponível em
http://worldofinclusion.com/res/invisible/Invisible_Children.pdf. Acesso em: 14 jul.
2021.
RIOS, Roger Raupp; LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo; SCHÄFER Gilberto. Direito da
Antidiscriminação e Direitos de Minorias: Perspectivas e Modelos de Proteção
Individual e Coletivo. Disponível em https://www.corteidh.or.cr/tablas/r36985.pdf.
Acesso em: 14 jul. 2021.
SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três
estelas, 2012.
SUNSTEIN, Cass. One Case at Time: judicial minimalism on the supreme court.
Cambridge: Oxford University Press, 1999.
186 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
https://doi.org/10.36592/9786581110284-09
Resumo
A previdência é uma das políticas públicas de maior relevo nacionalmente, do ponto
de vista econômico e demográfico. Essa proteção social possui estrita relação com
o cenário laboral, visto que depende do recolhimento de contribuições por parte de
trabalhadores, empresas e pelo próprio Estado. Considerando o avanço inexorável
das tecnologias de informação e comunicação (TICs), o objetivo desse trabalho é
discutir o futuro da previdência social do ponto de vista tributário, a partir da
exploração de problemáticas e desafios para o equilíbrio do sistema previdenciário
quanto ao orçamento fiscal. Quanto aos resultados, elencou-se uma série de
caminhos que podem auxiliar na solução do problema em questão, desde medidas
mais progressistas até mais conservadoras. No que toca à metodologia, a pesquisa
é de tipo teórica, de cunho exploratório e majoritariamente bibliográfica, sendo
funcionalista o método de procedimento empregado.
Palavras-chave: Previdência; Financiamento; Novas tecnologias; Contribuições
Previdenciárias.
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada. Doutoranda em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Mestre em Direito e Justiça Social pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Membro do Grupo
de Pesquisa Novas Tecnologias, Processo e Relações de Trabalho (NTPRT). Bolsista CAPES. E-mail:
[email protected].
188 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Social. Este raciocínio parte do pressuposto de que grande parte da mão de obra
2
executada por seres humanos será substituída por inteligência artificial ,
prejudicando a arrecadação fiscal a partir da renda obtida do trabalho humano.
Por isso, primeiramente esse tópico analisará como se dá as fontes de custeio
e arrecadação previdenciária brasileira. Conforme Sarlet et al (2018, p. 708), “a
Constituição Federal consolidou um regime constitucional para a seguridade social
formatado para atender a padrões adequados de bem-estar social e, acima de tudo,
com o nítido objetivo de assegurar a todos uma vida digna e saudável”.
Para o alcance de tais direitos, todavia, faz-se necessário a observância do
orçamento público, um dos principais motivos alegados para o empreendimento de
reformas no sistema de proteção social pátrio. Nesse sentido, Sarlet (2008, p. 27)
pontua que o “custo dos direitos” está associado à crise de efetividade dos direitos
fundamentais, na medida em que se conecta com a maior ou menor carência de
recursos disponíveis para o atendimento das demandas sociais. Assim, advoga pela
necessidade de aprimoramento de mecanismos de gestão democrática do
orçamento público.
Em breve e popular síntese, diz-se que a Seguridade Social é dividida em três
ramificações, classificada nos seguintes termos: a saúde é de uso de todos, a
assistência para quem dela necessita e a previdência, exclusivamente, para quem
contribui. Assim sendo, apenas a Previdência, dos ramos pertencentes à Seguridade
Social, é essencialmente contributiva, sendo que as outras independem de
recolhimento por parte da população para que o cidadão tenha gozo dos benefícios,
mas tão somente o preenchimento dos requisitos dispostos na lei.
O orçamento da Seguridade Social é formado por recursos provenientes do
orçamento da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, juntamente às
contribuições sociais3. As contribuições de financiamento da seguridade social são
divididas por Caliendo (2020) como não previdenciárias (PIS, COFINS, CSLL, PASEP)
2
Segundo Castells, (ano, p. 324), “empregos estão sendo extintos e novos empregos estão sendo
criados, mas a relação quantitativa entre perdas e ganhos varia entre empresas, indústrias, setores
regiões e países em função da competitividade, estratégias empresariais, políticas governamentais,
ambientes institucionais e posição relativa na economia global. O resultado específico da interação
entre a tecnologia da informação e o emprego depende amplamente de fatores macroeconômicos,
estratégias econômicas e contextos sociopolíticos”.
3
Art. 195, CF;
190 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
4
Art. 149, §2º, III; art. 167; art. 194 e 195, CF;
Beatriz Lourenço Mendes | 191
(CPP), por sua vez, é a parcela devida pelo empregador para custear tal sistema de
proteção social5. Com o objetivo de reduzir a carga tributária das empresas, a Lei
12.546/2011 introduziu a contribuição previdenciária sobre a receita bruta (CPRB),
também conhecida como desoneração da folha de pagamento, tornando-a
obrigatória. Com o advento da Lei nº 13.161/2015, o empregador poderia escolher
entre a folha de pagamento ou a receita bruta como base de cálculo para
recolhimento do tributo.
A desoneração da folha de pagamento foi desenvolvida com o propósito de
dinamizar a economia brasileira, a partir da diminuição dos encargos patronais, o
que, supostamente, geraria o aumento de emprego e a formalização da mão de obra.
Segundo Garcia et al (2018) a proposta de desoneração de salário compunha um
conjunto de ações integrantes do Plano Brasil Maior (PBM), que visava o
desenvolvimento nacional, a partir da elevação da competitividade de empresas,
incentivo à empregabilidade e ampliação do mercado. Apesar da tentativa de
ampliação de contratos de emprego, a CPRB também reduz sensivelmente a
contribuição patronal à Previdência.
Sem adentrar ao mérito sobre os resultados desta política, é sabido que o
Brasil enfrenta uma crise de desemprego e com altíssimas taxas de trabalho
informal, um dos fatores que impactam fundamentalmente no sistema
previdenciário. De outro lado, o nível de exigência para novos cargos e funções requer
novas habilidades do cidadão brasileiro, como o domínio tecnológico, também
embaraçando a sustentabilidade da previdência por parte da contribuição do
trabalhador.
As grandes transformações de ordem social impactam diretamente nos cofres
públicos. A partir disso, a estratégia de tributação de robôs tem surgido como uma
opção frente à diminuição de trabalhos, já que, como visto, os rendimentos do
trabalho são a maior fonte de custeio da previdência brasileira. Esta nova modalidade
aumentaria a carga tributária das empresas que utilizam robôs ou tecnologias de
automação para otimizar a produção nos próprios empreendimentos.
5
Art. 22, da Lei 8.212/91
Beatriz Lourenço Mendes | 193
6
“Bill Gates wants to tax robots, but the EU says, “no way. No way”. In CNBX. Avaiable in
https://www.cnbc.com/2017/06/02/bill-gates-robot-tax-eu.html. Acess 13 jun 2021.
194 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
7
“Korea takes first step to introduce ‘robot tax’. In The Korea Times. Avaiable in:
https://www.koreatimes.co.kr/www/news/tech/2017/08/133_234312.html”. Access jun. 2021.
Beatriz Lourenço Mendes | 195
para a Previdência Brasileira. Enquanto esse debate ainda carece de maior substrato
nacionalmente, analisar-se-ão outras variáveis indispensáveis ao debate sobre a
sustentabilidade da Previdência Social.
Alguns elementos que impactam diretamente na arrecadação fiscal são a
informalidade do trabalho e desemprego, bem como a gestão dos recursos da
seguridade social. Sobre o primeiro aspecto, vislumbra-se que a arquitetura da
seguridade social é condicionada à formalização do trabalho, este, por sua vez,
retratado por elevados índices de desemprego e informalidade. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 14 milhões de
desempregados no Brasil, cenário agravado pela pandemia de coronavírus.
Como visto, o sistema previdenciário depende do financiamento por parte de
contribuintes economicamente ativos. Sendo assim, a empregabilidade é um fator
central para o equilíbrio da Previdência Social, merecendo uma atenção especial do
Estado relacionada ao incentivo de políticas públicas de fomento ao trabalho.
No que toca à gestão dos recursos da seguridade social, a economista Denise
Gentil (2020) apresenta algumas questões que são passíveis de melhoria no que toca
ao orçamento da seguridade social. Segundo a autora, as desonerações tributárias
são óbices à arrecadação tributária. Isso porque, ao mesmo tempo que tal política
busca a dinamização do mercado de trabalho e estímulo ao investimento privado,
gera uma queda na arrecadação da Previdência.
Outro fator citado pela economista, é a desvinculação de receitas da União
(DRU) Segundo Gentil, (2020, p. 14), “em 2016, o Congresso Nacional renovou a DRU
e aumentou de 20% para 30% a alíquota que pode ser desvinculada da seguridade
social, produzindo uma acentuada queda nas receitas que deveriam ser aplicadas na
área social, conforme determina a Constituição Federal”. Ainda, cita-se a
recuperação dos créditos da previdência, através da execução fiscal dos devedores
do INSS. Desta forma, a referida economista defende uma melhor gestão dos
recursos da previdência como ferramenta para manutenção da arrecadação fiscal.
Em síntese, para Gentil (2020), o equilíbrio da previdência passa pela
possibilidade de incrementos na produtividade do trabalho; aumento da poupança e
cobrança dos tributos (receitas da previdência); e aumento na taxa de crescimento
do emprego formal, isto é, do número de contribuintes.
196 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Todavia, esta implementação exige uma grande autonomia por parte da população,
na medida em que exige o recolhimento individual das contribuições em poupança,
diferentemente do modelo brasileiro, em que para segurados empregados e
empregados domésticos, cabe ao empregador o custeio da contribuição ao INSS.
Como o acesso aos direitos da seguridade social se constituem direitos
humanos e fundamentais, é preciso explorar as ferramentas que otimizem o bem-
estar da população e que garantam os direitos da cidadania, prezando pelo mínimo
existencial, sem, sobretudo, ignorar as questões orçamentárias envolvidas nas
prestações de políticas sociais.
CONCLUSÃO
dentre outros. No decorrer do atual trabalho foi possível enxergar uma série de
medidas, desde mais liberais até sociais-democratas para explorar o debate.
Perpassou-se pela questão das reformas previdenciárias, cujo objetivo inicial
constituía na substituição de previdência pública pela privada, políticas de incentivo
ao trabalho formal, a questão da renda básica universal, como uma proposta
interessante para aumentar o poder de compra da população, dentre outras. Com
isso, pretendeu-se investigar alguns caminhos sobre o futuro da Previdência, sem,
todavia, o esgotamento do debate sobre os temas em questão.
Sobretudo, entende-se que o tema em questão é polêmico, pois embora o
direito à previdência se trate de direito humano e fundamental, as prestações estatais
esbarram em óbices orçamentários, motivo pelo qual se pontou tanto alternativas
mais sociais, como a renda básica universal, como medidas destinadas ao
enxugamento do Estado, tal como a privatização da previdência.
Por fim, a discussão proposta pretende agregar ao debate sobre trabalho,
previdência e tributação, com algumas perspectivas à manutenção futura da
arrecadação e do financiamento da Previdência Social.
REFERÊNCIAS
ABBOT, Ryan Benjamin. BOGENSCHNEIDER, Bret. Should Robots Pay Taxes? Tax
Policy in the Age of Automation. Harvard Law & Policy Review, v. 12, mar. 2018.
ATKINSON, Robert D. The Case Against Taxing Robots, n. 4, abr. 2019. Disponível
em:< https://ssrn.com/abstract=3382824] or
[http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3382824>.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
GENTIL, D.L et al. Outro olhar para o financiamento da previdência social no Brasil:
a centralidade da formalização do trabalho, aumento de produtividade e gestão de
receitas. Revista de Economia Contemporânea, p. 1-31.
ISONI, Ananda T. Renda básica universal: um debate necessário. In: TOSTES, Anjuli;
MELO FILHO, Hugo (Org.). Quarentena: reflexões sobre a pandemia e depois. Bauru:
Canal 6, 2020.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-10
1 INTRODUÇÃO
1
Doutorando e Mestre em Direito pela PUCRS. Especialista em Direito Internacional Público e Privado
pela UFRGS. Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional UFRGS. Possui MBA em
Direito Empresarial com ênfase em Direito Tributário pelo Instituto de Desenvolvimento Cultural -
IDC. Advogado.
202 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
afirmações servem, em síntese, para ilustrar o momento pelo qual o contexto social
contemporâneo perpassa: sociedade de consumo.
Ganha importância, nesse contexto, a utilização de tributos com finalidade
extrafiscal, como forma de não só tornar mais simples a aquisição de produtos
considerados como essenciais, mas também, e principalmente, dificultar e/ou inibir
o acesso de produtos considerados prejudiciais, tóxicos e/ou não saudáveis. O
presente texto objetiva examinar, ainda que de maneira bastante embrionária, esse
assunto, com foco na importância dos tributos como ferramenta a inibir o consumo
de produtos considerados prejudiciais, como o das bebidas alcoólicas, bebidas
adocicadas, alimentos prejudiciais e o tabaco, tanto no Brasil como em outras partes
do globo.
2
BESSA, Leonardo Roscoe. O Consumidor e Seus Direitos: ao alcance de todos. 2. ed. Brasília: Brasília
Jurídica, 2004. p. 26.
Augusto Franke Dahinten | 203
3
PEREIRA, Mioranza Koppe Pereira; BOSSARDI, Rafaela Beal. Relações de Consumo ou o Consumo de
Relações: as relações afetivas na contemporaneidade. In: PEREIRA, Agostinho Oli Koppe; HORN, Luiz
Fernando Del Rio (orgs.) Relações de Consumo: humanismo. Caxias do Sul: Educs, 2011. p. 107.
204 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
4
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2009. p. 320/321.
5
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 350.
6
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 348.
7
Ainda quanto à Extrafiscalidade, Paulo Caliendo ensina: “O termo, contudo, ganhou força e expressão
assumindo ares de onipresença, ou seja, tornou-se um conceito ampliado, inchado, citado como
presente em praticamente cada canto onde houvesse uma política pública social ou econômica
sendo aplicada, especialmente no setor ambiental. Essa superexposição do conceito em ver de
fortalecê-lo o enfraqueceu, tornando-o ainda mais ambíguo, vago e incerto, de tal modo que esta
ampliação semântica exagerada o tornou vazio, no entendimento correto de importantes
doutrinadores. Ao tentar abarcar tudo, não significava nada [...]. Em nossa opinião, trata-se de um
conceito tecnicamente relevante, constitucionalmente delimitado e econômica e socialmente
benéfico, mas que exige uma reelaboração por parte da doutrina atual, para que a sua complexidade
possa voltar a trazer benefícios à teoria jurídica”. (CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3.
ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 349).
8
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 178.
Augusto Franke Dahinten | 205
menos no que tange ao direito tributários brasileiro, é falar em tributação que leva
em consideração o grau de essencialidade do produto.
Na prática, significa tributar os produtos/bens de maneira diferenciada,
proporcionalmente à sua essencialidade/superfluidade. A aplicação dos
mencionados princípios, no âmbito da tributação brasileira, é compreensível e está
em conformidade com o momento - de constitucionalismo, de valorização da pessoa
humana e dos direitos sociais - pelo qual a ordem jurídica brasileira (e até mesmo
mundial) passa, em que todo o ordenamento é quase que inteiramente voltado aos
princípios e valores constitucionais, que incluem, entre outros, a dignidade da pessoa
humana e a igualdade.
Embora a aplicação de tributos com essa finalidade conviva com
controvérsias e polêmicas, é inquestionável a validade e a importância de se utilizar
esses princípios quando da aplicação dos impostos em sua dimensão extrafiscal,
sobretudo quando incidentes nos impostos sobre o consumo e quando há, por parte
do Estado, legítimo interesse (e dever) no sentido de desestimular hábitos e práticas
consumeristas prejudicais9.
9
“O Estado deve regular esses produtos, e as ferramentas mais indicadas para isso são três: a) a
tributação com efeitos extrafiscais, não apenas incidindo sobre a produção de produtos nocivos à
saúde, mas também desonerando produtos saudáveis [...]” (PASQUALOTTO, Adalberto. Valor e
desvalor da livre iniciativa. Civilistica.com. a.8. 2019).
206 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
No mesmo norte: “Every state and the federal government can achieve
significant health and revenue gains by further increasing tobacco taxes.
Governments can raise even more revenue - and reduce all tobacco use - by
increasing taxes”12.
O mesmo pode-se dizer com relação ao Brasil. No mínimo no que tange ao IPI
- cuja aplicação, segundo a Constituição Federal de 1988, deve se dar seletividade
em função da essencialidade dos produtos - o que se constata é que, de fato, a
taxação dos produtos leva em consideração a sua natureza/qualidade. De acordo
com a Tabela (TIPI) atualmente vigente, a grande maioria dos produtos do gênero
alimentício, como leites e derivados, farinhas, derivados do trigo, café, cereais, frutas
e vegetais são tributados à alíquota zero ou sequer tributados. Situação inversa
ocorre, por exemplo, com bebidas alcóolicas, cuja alíquota flutua entre 10% e 30%. O
mesmo pode-se dizer com relação aos refrigerantes, doces, chocolates e
assemelhados, os quais são todos tributados. E quanto ao tabaco, dependendo do
produto, o IPI é aplicado com alíquota de até 300%.
10
Disponível em: <https://tobaccoatlas.org/topic/taxes/>. Acesso em 17/03.2021.
11
Disponível em: <https://www.lung.org/policy-advocacy/tobacco/tobacco-taxes >. Acesso em
17/03/2021.
12
Disponível em: <https://www.tobaccofreekids.org/what-we-do/us/state-tobacco-taxes>. Acesso
em 17/03/2021.
Augusto Franke Dahinten | 207
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 2 ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 19 ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2009.
MACHADO, Hugo Brito. Serviços Públicos e Tributação. In: TORRES, Heleno Taveira
(Coord.). Serviços Públicos e Direito Tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p.
268/297.
PEREIRA, Agostinho Oli Koppe; HORN, Luiz Fernando Del Rio (Orgs.). Relações de
Consumo: humanismo. Caxias do Sul: Educs, 2011. p. 105/128.
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: uma teoria geral dos
direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2011.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-11
Susana Sbrogio’Galia2
Resumo
A transformação digital fomentou a Indústria 4.0 e converteu dados pessoais em
patrimônio multidimensional do indivíduo. Contudo, os efeitos das normas protetivas
quanto ao tratamento de dados pessoais repercutirão de forma diferenciada nos
variados ramos do Direito, notadamente naquilo que distingue o Direito Público do
Direito Privado. Ciente desta nova realidade, este estudo analisa a política fiscal de
tratamento de dados dos contribuintes, amparada no Direito Tributário e em normas
protetivas de dados pessoais, com a finalidade de garantir a efetividade dos direitos
fundamentais.
Palavras-chave: Indústria 4.0. Política tributária. Proteção de dados pessoais.
Direitos fundamentais.
1
O presente artigo foi elaborado a partir de estudo realizado na disciplina de Tributação,
Desenvolvimento e Tecnologia, no Curso de Doutorado em Direito da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC/RS), ministrada pelo Professor Doutor Paulo Antônio Caliendo Velloso da
Silveira, a quem agradeço as valiosas contribuições.
2
Juíza Federal, Mestre e Doutoranda do programa de pós-graduação em Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), integrante da Turma Nacional de Uniformização
(TNU) para o biênio 2020-2022. http://lattes.cnpq.br/4784102934177155
212 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
3
Sobre o tema vide: HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Tradução
Janaina Marcoantonio. Porto Alegre, RS: L &PM, 2018.
4
SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial [livro eletrônico]. Tradução Daniel Moreira Miranda.
São Paulo: Edipro, 2019.
214 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
5
Segundo SCHWAB, o termo “indústria 4.0” foi cunhado em 2011 na feira de Hanover, para descrever
como as tecnologias digitais, aproximadamente a partir da virada do século, passam a revolucionar
as cadeias globais de valor (Ibidem, posição 237).
6
Ibidem, posição 225.
Susana Sbrogio’Galia | 215
7
Sobre Big Data Analytics e Inteligência Artificial na Indústria 4.0, ver Klaus Schwab (2019, posições
2419 a 2483 e 2341 a 2379).
8
Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/centrais-de-conteudo/comunicados-
mcti/estrategia-digital-brasileira/estrategiadigital.pdf Acesso em: 13/04/2021.
9
O termo “Accountability” não encontra tradução precisa do idioma inglês para o português.
Traduzido por “prestação de contas” ou “responsividade” não alcança todos os espectros da
multidimensionalidade nele contida. Representa-se aqui a ideia de controle recíproco entre os
Poderes do Estado (Accountability horizontal) e prestação de contas e vinculação entre
representantes e representados (Accountability vertical), pela expressão “responsabilidade ética”.
(MIGUEL, Luís Felipe. Impasses da accountability: dilemas e alternativas da representação política.
Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 25, nov. 2005. Disponível em
https://doi.org/10.1590/S0104-44782005000200004. Acesso em 08 de maio de 2020). Ainda sobre a
definição de Accountability, em sua acepção horizontal e vertical, destaca-se a obra The Self-
restraining State: Power and Accountability in New Democracies, editado por Andreas Schedler, Larry
Jay Diamond, Marc F. Plattner (Boulder, Colo.:Lynne Rienner Publisners, Inc.,1999).
216 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
10
Corresponde à transliteração de dois termos gregos: ēthos (ἦθος – com o sinal gráfico eta inicial)
e ethos (ἔθος – com o sinal gráfico épsilon inicial). O primeiro termo – ēthos – refere-se ao conjunto
normativo dos padrões de conduta de determinado grupo social; enquanto o segundo – ethos –
designa a constância do comportamento do indivíduo em referência e relação de implicação com o
ethos-costume, segundo Henrique C.Lima Vaz (Escritos de Filosofia IV: introdução à ética filosófica,
1. 7ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015, p. 15).
11
Sobre o tema, têm-se estudos acerca do Teorema da Impossibilidade de Kenneth J. Arrow (in A
Difficulty in the Concept of Social Welfare. Kenneth J. Arrow. The Journal of Political Economy, Vol.
58, No. 4. (Aug., 1950), pp. 328-346. Stable URL: http://links.jstor.org/sici?sici=0022-
3808%28195008%2958%3A4%3C328%3AADITCO%3E2.0.CO%3B2-R).
Susana Sbrogio’Galia | 217
12
URBINATI, Nadia. Representação como advocacy: um estudo sobre deliberação democrática.
Revista Política & Sociedade, v. 9, n. 16, p. 51-88, abr. 2010. p. 86.
13
Na lição de Juarez Freitas: “[...] a diretriz da sustentabilidade conduz à necessidade de
reconfiguração do tema da regulação, na presente hipótese, com ênfase em: a) reduzir assimetrias,
assumido a incorporação do dado axiológico; b) observar o princípio da máxima transparência,
afastando obscuridades do processo regulatório e fomentando a participação social; c) observar o
dever de motivação, explicando-se o contexto de deliberação, com maior destaque quando ingressar
na seara da restrição a direitos fundamentais; d) atuar de forma sistêmica, viabilizando parcerias e a
autorregulação; e) atuar na solução de situações emergenciais, na mesma medida em que evita
conflitos; f) assumir metas e contemplar os limites traçados pela Constituição; g) traçar contornos à
ponderação dos tópicos a serem ponderados, com atenção à necessidade de prevenção e precaução,
evitando que se subestimem ou superestimem riscos; h) concretizar o direito à administração pública
eficaz e eficiente, e responsiva.” (FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 3 ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2016, pp. 233-243).
218 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
14
URBINATI, Nadia. Representative Democracy. Chicago: University of Chicago Press, 2006. p. 28-29.
15
Igualmente sobre accountability: Costa, Paulo Jorge Nogueira da (2012), O Tribunal de Contas e a
Boa Governança Contributo para uma reforma do controlo financeiro externo em Portugal,
Dissertação de Doutoramento, Coimbra, FDUC. Disponível em:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/21154/3/O%20Tribunal%20de%20Contas%20 e%20a
%20Boa%20Governan%C3%A7a.pdf 0a%20Boa%20Governan%C3%A7a.pdf Acesso em 04/05/2021.
Veja-se que Accoutability pode ser compreendida no sentido de: prestar contas, informar, justificar
atos de deliberação de agentes públicos à sociedade por meio de instituições incumbidas deste
mister.
Susana Sbrogio’Galia | 219
16
Sobre o influxo do dado axiológico no esquema da ponderação e desenviesamento do
consequencialismo centrado em parâmetros quantitativos, tem-se análise de Juarez Freitas (Teoria
da regulação administrativa sustentável. RDA – Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v.
270, pp. 117-145, set./dez. 2015, pp. 121-128).
17
Decreto-Lei 4.657/42, com redação dada pela Lei 12.376/2010.
18
Sobre democracia continuada pela observância dos preceitos fundamentais da Constituição, tem-
se Dominique Rousseau (O Direito Constitucional contínuo: instituições, garantias de direitos e
utopias. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD) 8(3): 261-
271, setembro-dezembro 2016, Unisinos - doi: 10.4013/rechtd.2016.83.01).
220 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
19
Informações obtidas a partir das seguintes fontes: https://g1.globo.com/economia/imposto-de-
renda/2017/noticia/g1-visita-supercomputador-da-receita-que-analisa-declaracoes-do-ir-veja-
video.ghtml;
https://olhardigital.com.br/2019/02/17/noticias/os_supercomputadores_do_fisco_como_ferrament
as_no_combate_a_sonegacao/ Acessos em: 14/04/2021.
20
JAMBEIRO FILHO, Jorge Eduardo de Schoucair. 1º lugar. Inteligência artificial no sistema de seleção
aduaneira por aprendizado de máquina. In BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria da Receita
Federal. Administração Pública: Prêmio de Criatividade e Inovação da RFB: 14o Prêmio RFB - 2015:
coletânea de monografias premiadas. Brasília: SRF, 2016. p. 9-64. URI
http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4622.
Susana Sbrogio’Galia | 221
21
SANTOS, Karina Ribeiro dos, WITT, Cleonice. A utilização de ferramentas de tecnologia da
informação na prestação de serviços contábeis. ÁGORA: revista de divulgação científica, v. 16, n. 2(A),
Número Especial: I Seminário Integrado de Pesquisa e Extensão Universitária. p. 242 – 263.
22
Fonte: https://cio.com.br/gestao/por-seguranca-e-transparencia-receita-leva-base-de-cpf-para-
blockchain/ Acesso em: 14/04/2021.
222 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
23
Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/X:32016R0679&from=PT Acesso em:
14/04/2021.
Susana Sbrogio’Galia | 223
24
Com referência a dados estruturados e não estruturados.
25
Sobre Analítica de Big Data e seu significado no âmbito da proteção de dados, ver: HOFFMANN-
RIEM, Wolfgang. Big Data e Inteligência Artificial: Desafios para o Direito. Tradução dos Professores
Doutores Gabrielle Bezerra Sales Sarlet e Carlos Alberto Molinaro. Revisão do Professor Doutor Ingo
Wolfgang Sarlet. Revista Estudos Institucionais, v. 6, n. 2, p. 431-506, maio/ago. 2020. Doi:
10.21783/rei.v6i2.484
224 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
26
LAROSE, D. T. Discovering Knowledge in Data: An IntroducKon to Data Mining. John Wiley and Sons.
Inc., 2005, iX p.1. FAYYAD, Usama; PIATETSKY-SHAPIRO, Gregory; SMYTH, Padhraic. From data
mining to knowledge discovery in databases. AI magazine, v. 17, n. 3, p. 37, 1996, p. 39.
27
HOFFMANN-RIEM, 2020, p. 441.
28
FAYYAD, 1996 e Piatetsky-Shapiro 1991: Piatetsky-Shapiro, G. 1991. Knowledge Discovery in Real
Databases: A Report on the IJCAI-89 Workshop. AI Magazine, v. 11, n. 5, p. 68–70.
Susana Sbrogio’Galia | 225
29
Ibidem.
30
Correspondem a técnicas que podem ser aplicadas, tais como a elaboração de técnicas
exploratórias, a estimação de modelos confirmatórios ou a implementação de algoritmos,
estritamente vinculadas aos objetivos propostos (sobre modelagem de dados vide LAROSE, Daniel T.
Discovering knowledge in data : an introduction to data mining / Daniel T. Larose and Chantal D.
Larose. Second edition. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2014).
31
FAYYAD, 1996.
32
FAYYAD, 1996.
226 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
33
LAROSE, 2014.
34
Dados que fogem do padrão idealizado e podem conduzir a resultados inconsistentes.
35
Missing values ou Missing data cuida-se de conceito estatístico relacionado a falhas nos critérios
de amostragem que podem conduzir ao enviesamento das estimativas.
36
Envolve técnicas de agrupamento de variáveis e categorização segundo critérios específicos de
acordo com os objetivos da análise.
37
LAROSE, 2014, pp. 8-14: Considerando que a Mineração de Dados foca em encontrar maneiras de
descrever padrões e tendências nos dados, descrições de padrões e tendências costumam sugerir
possíveis explicações para esses mesmos padrões e tendências. Por isso, os modelos de Mineração
de Dados devem ser transparentes na maior medida possível. Ou seja, os resultados do modelo de
Mineração de Dados devem descrever padrões claros que são passíveis de intuitiva interpretação e
explicação. No ponto, tem-se que alguns métodos de Mineração de Dados são mais adequados para
uma interpretação transparente do que outros. A título de ilustração, as árvores de decisão fornecem
uma visão intuitiva e explicação mais acessível quanto aos resultados obtidos. De outra forma, as
Susana Sbrogio’Galia | 227
redes neurais são comparativamente dotadas de maior opacidade para leigos, devido à sua
característica não linear e complexa. Na estimativa, projeta-se o valor da variável alvo com base em
valores dos preditores (outros parâmetros ou variáveis de aferição). A seu turno, a predição realiza
prognose a partir das variáveis informadas.
A classificação elenca uma variável de destino categórica (não numérica), em que o modelo de
Mineração de Dados examina um grande conjunto de registros, cada qual contendo informações
sobre a meta específica.
Clustering consiste no agrupamento de registros, observações ou casos em classes de objetos
semelhantes, por meio de associações. Cluster representa uma coleção de registros semelhantes
entre si, e diferente de registros em outros clusters. O agrupamento difere da classificação porque
não há variável de destino para cluster. Não importa em classificação, estimativa ou predição
(prognose) do valor de uma variável de destino. Em vez disso, os algoritmos de agrupamento
segmentam todo o conjunto de dados em subgrupos ou clusters relativamente homogêneos.
A tarefa de associação busca descobrir regras para quantificar a relação entre dois ou mais atributos,
sob a formatação "Se antecedente, então consequente", provida de embasamento (Tradução livre).
38
Fonte: https://g1.globo.com/economia/imposto-de-renda/2017/noticia/g1-visit.ghtml. Acesso
em 23/04/2021.
228 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
39
Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: III -
pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução
de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou
instrumentos congêneres, observadas as disposições do Capítulo IV desta Lei;
40
Art. 23. O tratamento de dados pessoais pelas pessoas jurídicas de direito público referidas no
parágrafo único do art. 1º da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação),
deverá ser realizado para o atendimento de sua finalidade pública, na persecução do interesse público,
com o objetivo de executar as competências legais ou cumprir as atribuições legais do serviço
público, desde que: I - sejam informadas as hipóteses em que, no exercício de suas competências,
realizam o tratamento de dados pessoais, fornecendo informações claras e atualizadas sobre a
previsão legal, a finalidade, os procedimentos e as práticas utilizadas para a execução dessas
atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos; II - (VETADO);
e III - seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais,
nos termos do art. 39 desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) IV
- (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) § 1º A autoridade nacional poderá dispor sobre
as formas de publicidade das operações de tratamento.
§ 2º O disposto nesta Lei não dispensa as pessoas jurídicas mencionadas no caput deste artigo de
instituir as autoridades de que trata a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à
Informação) .
§ 3º Os prazos e procedimentos para exercício dos direitos do titular perante o Poder Público
observarão o disposto em legislação específica, em especial as disposições constantes da Lei nº
9.507, de 12 de novembro de 1997 (Lei do Habeas Data) , da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Lei
Geral do Processo Administrativo) , e da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à
Informação) .
§ 4º Os serviços notariais e de registro exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público,
terão o mesmo tratamento dispensado às pessoas jurídicas referidas no caput deste artigo, nos
termos desta Lei.
§ 5º Os órgãos notariais e de registro devem fornecer acesso aos dados por meio eletrônico para a
administração pública, tendo em vista as finalidades de que trata o caput deste artigo.
230 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
41
Art. 24. As empresas públicas e as sociedades de economia mista que atuam em regime de
concorrência, sujeitas ao disposto no art. 173 da Constituição Federal , terão o mesmo tratamento
dispensado às pessoas jurídicas de direito privado particulares, nos termos desta Lei.
Parágrafo único. As empresas públicas e as sociedades de economia mista, quando estiverem
operacionalizando políticas públicas e no âmbito da execução delas, terão o mesmo tratamento
dispensado aos órgãos e às entidades do Poder Público, nos termos deste Capítulo.
Art. 25. Os dados deverão ser mantidos em formato interoperável e estruturado para o uso
compartilhado, com vistas à execução de políticas públicas, à prestação de serviços públicos, à
descentralização da atividade pública e à disseminação e ao acesso das informações pelo público em
geral.
Art. 26. O uso compartilhado de dados pessoais pelo Poder Público deve atender a finalidades
específicas de execução de políticas públicas e atribuição legal pelos órgãos e pelas entidades
públicas, respeitados os princípios de proteção de dados pessoais elencados no art. 6º desta Lei.
42
Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: (...)
III - pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à
execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos,
convênios ou instrumentos congêneres, observadas as disposições do Capítulo IV desta Lei;
43
“§ 7º O tratamento posterior dos dados pessoais a que se referem os §§ 3º e 4º deste artigo poderá
ser realizado para novas finalidades, desde que observados os propósitos legítimos e específicos para
o novo tratamento e a preservação dos direitos do titular, assim como os fundamentos e os princípios
previstos nesta Lei.”
Susana Sbrogio’Galia | 231
O princípio da proporcionalidade exige que o meio a ser utilizado deva ser o mais
adequado e necessário, implicando que estes devam ser os menos gravosos ao
cidadão-contribuinte. Se um procedimento puder ser realizado eficientemente
pelo Estado não há porque transferir este ônus para o contribuinte. Se existir um
princípio colaborativo este é igualmente dirigido à contribuição do Estado em
favor do cidadão e não o contrário. Os deveres de cooperação não possuem
eficácia direta, somente as limitações constitucionais possuem46.
44
Sobre submissão do interesse público à proporcionalidade, vide: DANIEL WUNDER
HACHEM, Princípio constitucional da supremacia do interesse público. Belo Horizonte: Fórum, 2011;
e GABARDO, Emerson. O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado como
fundamento do Direito Administrativo Social. Revista de Investigações Constitucionais. Curitiba, vol.
4, n. 2, p. 95-130, maio/ago. 2017. DOI: 10.5380/rinc.v4i2.53437.
45
CALIENDO, Paulo. Princípio da subsidiariedade em matéria tributária: o caso da expansão dos
deveres de colaboração do contribuinte. Scientia Iuris, Londrina, v. 20, n. 2, p.28-50, jul. 2016. DOI:
10.5433/2178-8189.2016v20n2p28 ISSN: 2178-8189.
46
Ibidem, p.48
232 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Tribunal Constitucional Federal da Alemanha sobre a Lei do Censo (1983) 47, em que
reconhecido o direito à autodeterminação informativa advindo dos direitos
fundamentais da personalidade, englobando todos os dados pessoais, inclusive
sensíveis e alcançando não somente a esfera privada, senão também “[...] elementos
individualizáveis da tributação, os quais são grandezas econômicas (faturamento,
lucro, renda, entre outros) resultantes de ganhos em um mercado aberto” 48 . O
paradigma germânico igualmente registra que o direito à autodeterminação não seria
ilimitado, devendo ser aferido no contexto da doutrina dos limites-dos-limites49.
47
Grupos de cidadãos que impugnavam a lei federal de recenseamento alemã, editada em 1982,
propuseram reclamações constitucionais perante o Tribunal Constitucional Federal Alemão (BVerfG).
O objetivo da lei impugnada consistia na realização de censo demográfico no de 1983, em que, além
do levantamento do número de habitantes do país, haveria coleta de uma série de outros dados
pessoais dos cidadãos: “Em sede de liminar, o Tribunal Constitucional Federal suspendeu os efeitos
da lei de recenseamento e acabou por julgar parcialmente procedentes as reclamações
constitucionais. Em sua base, a realização do censo foi mantida, mas foi consideravelmente
modificada, conforme as ordens do Tribunal, para que fosse procedida por meios que resguardassem
a segurança dos dados dos cidadãos a serem entrevistados, como por exemplo, pela proibição de que
alguns dados obtidos, como nome e endereço, fossem transferidos a outros órgãos de governo”
(MENKE, Fabiano. A Proteção de Dados e o Direito Fundamental à Garantia da Confidencialidade e da
Integridade dos Sistemas Técnico-Informacionais no Direito Alemão. Revista Jurídica Luso-Brasileira,
ANO 5 (2019), Nº 1, p. 782-809, pp. 783-784).
48
SEER, Roman. Proteção de dados e tributação na Alemanha: repercussões do Regulamento Geral
sobre Proteção de Dados. Tradução de Diogo Brandau Signoretti. Revista Jurídica da Presidência,
Brasília v. 22 n. 126 Fev./Maio 2020 p. 20-47, p. 23. DOI: http://dx.doi.org/10.20499/2236-
3645.RJP2020v22e126-2128
49
Ibidem, p. 24. Por limites-dos-limites designa-se a doutrina constitucional alemã desenvolvida pelo
Tribunal Constitucional (BVerfG), “[...] segundo a qual a própria limitação de direitos fundamentais
também está sujeita a limites, por isso a expressão limite-do-limite” (Ibidem). Sobre o ponto, tem-se:
SARLET, Ingo Wolfgang. Constituição e proporcionalidade: o direito penal e os direitos fundamentais
entre proibição de excesso e de insuficiência. Revista da Ajuris, Porto Alegre, v. 32, n. 98, p. 105-149,
jun. 2005, p. 132. Segundo Sarlet, restou convencionado pela doutrina e jurisprudência, como
proibição de insuficiência, a insuficiente implementação dos deveres de proteção do Estado
(Untermassverbote), partindo-se da doutrina de Canaris e Isensee, aplicada pelo Tribunal
Constitucional alemão, de forma que “o legislador, ao implementar um dever de prestação que lhe foi
imposto pela Constituição (especialmente no âmbito dos deveres de proteção) encontra-se vinculado
pela proibição de insuficiência, de tal sorte que os níveis de proteção (portanto, as medidas
estabelecidas pelo legislador) deveriam ser suficientes para assegurar um padrão mínimo (adequado
e eficaz) de proteção constitucionalmente exigido. A violação da proibição de insuficiência, portanto,
encontra-se habitualmente representada por uma omissão (ainda que parcial) do poder público, no
que diz com o cumprimento de um imperativo constitucional, no caso, um imperativo de tutela ou
dever de proteção [...]”, ressaltando, Sarlet, não se esgotar nessa dimensão omissiva. Assim também
define Streck, considerando que a “proibição de proteção deficiente” refere-se à estrutura que o
princípio da proporcionalidade adquire na aplicação dos direitos fundamentais de proteção,
constituindo, por isso, uma de suas faces na qualidade de critério estrutural para determinação dos
direitos fundamentais (STRECK, Lenio Luiz. A dupla face do princípio da proporcionalidade: da
proibição de excesso (Übermassverbote) à proibição de proteção deficiente (Untermassverbote) ou
de como não há blindagem contra normas penais inconstitucionais. Revista da Ajuris, Porto Alegre, v.
32, n. 97, p. 171-201, mar. 2005, p.179-180). Observa-se que a análise realizada pelos autores elucida
Susana Sbrogio’Galia | 233
[...] o 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois
realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade
52
1) Acessibilidade à lei que prevê a medida de tratamento de dados pessoais; 2) Âmbito claro de
aplicação da medida de tratamento de dados pessoais, em termos de natureza das infrações,
categorias de pessoas cujas comunicações são passíveis de interceptação e finalidades para as quais
a interceptação pode ser usada; 3) Indicação clara da duração da medida de tratamento de dados
pessoais; 4) Autorização prévia da medida de tratamento de dados pessoais, de preferência por uma
autoridade judicial, mas, em qualquer caso, por uma autoridade independente e imparcial; 5)
Procedimentos de armazenamento, acesso, exame, uso e destruição dos dados interceptados, que
devem ser adequados, relevantes e limitados ao propósito pré-definido; 6) Condições para comunicar
os dados interceptados a outras partes, por exemplo, autoridades internacionais ou parceiros, sob as
quais o potencial de abuso deve ser levado em consideração; 7) Supervisão da implementação da
medida de tratamento de dados pessoais por um órgão de supervisão independente com poderes,
competência, acesso e controle efetivo e contínuo suficientes; e 8) Obrigação de notificação da
medida de tratamento de dados pessoais às pessoas em causa e existência de recursos disponíveis:
esses dois fatores estão indissociavelmente ligados no sentido de que, se a obrigação de sigilo para
proteger a atividade tornar nula a obrigação de notificação, é imperativo que os indivíduos sempre
tenham a oportunidade de buscar soluções protetivas. Parâmetros extraídos da jurisprudência do
TEDH sobre a intercepção orientada e do caso Weber e Saravia v. Alemanha (Application no. 54934/00
by Gabriele WEBER and Cesar Richard SARAVIA
against Germany, 29/06/2006. Disponível em:
https://hudoc.echr.coe.int/fre#{%22itemid%22:[%22001-76586%22]} Acesso em: 07/09/2020). Vide
igualmente TEDH, Information Note 219 - June 2018 Article 8, pp. 19-22, disponível em:
https://www.echr.coe.int/Documents/CLIN_2018_06_219_ENG.pdf Acesso em 07/07/2020.
53
Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os seguintes
princípios: I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e
informados ao titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas
finalidades; (...) III - necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de
suas finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação
às finalidades do tratamento de dados; IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada
e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados
pessoais; (...)
Susana Sbrogio’Galia | 235
54
Por sua vez, na tese firmada em julgamento ao tema 990 dos recursos sob o rito da repercussão
geral, o STF, dispensou a prévia autorização judicial para compartilhamento de dados com fins de
persecução criminal (RE 1055941 RG / SP).
55
Técnica popularizada pelos economistas comportamentais Richard Thaler e Cass Sunstain no
livro “Nudge: o empurrão para a escolha certa”, sendo incorporado no desenvolvimento de políticas
governamentais de indução de comportamento positivos em relação ao meio ambiente, saúde e
economia, para exemplificar. Os sludges, por sua vez, também buscam influenciar o comportamento
humano, porém sendo mais empregados na iniciativa privada no sentido de induzir o consumo,
236 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
58
Sobre a articulação da dignidade da pessoa humana com algumas das categorias de direitos
fundamentais, vide: SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais
na Constituição Federal de 1988. 10 ed. rev. atual. e ampl. 3. tir. – Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2019, pp. 122-127. E, em especial com relação aos direitos da personalidade. p.129-132.
238 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
59
Art. 52. Os agentes de tratamento de dados, em razão das infrações cometidas às normas previstas
nesta Lei, ficam sujeitos às seguintes sanções administrativas aplicáveis pela autoridade
nacional: (Vigência)
I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas;
(...)
IV - publicização da infração após devidamente apurada e confirmada a sua ocorrência;
V - bloqueio dos dados pessoais a que se refere a infração até a sua regularização;
VI - eliminação dos dados pessoais a que se refere a infração;
(...)
X - suspensão parcial do funcionamento do banco de dados a que se refere a infração pelo período
máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período, até a regularização da atividade de
tratamento pelo controlador; (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
XI - suspensão do exercício da atividade de tratamento dos dados pessoais a que se refere a infração
pelo período máximo de 6 (seis) meses, prorrogável por igual período; (Incluído pela Lei nº 13.853, de
2019)
XII - proibição parcial ou total do exercício de atividades relacionadas a tratamento de
dados. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
(...)
§ 3º O disposto nos incisos I, IV, V, VI, X, XI e XII do caput deste artigo poderá ser aplicado às entidades
e aos órgãos públicos, sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, na Lei
Susana Sbrogio’Galia | 239
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
VAZ, Henrique C.Lima. Escritos de Filosofia IV: introdução à ética filosófica, 1. 7 ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2015.
12. STOCK OPTIONS: ELEMENTOS PARA AFASTAR A NATUREZA REMUNERATÓRIA
https://doi.org/10.36592/9786581110284-12
1 INTRODUÇÃO
1
Doutorando e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS.
Pós-Graduado em Direito do Trabalho no Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter. Graduado em
Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Pesquisador do Núcleo de Pesquisas
CNPQ/PUCRS Relações de Trabalho e Sindicalismo. Advogado. E- mail: [email protected]
246 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2 STOCK OPTIONS
2
DAL MAS, Viviane Castro Neves Pascoal M. Stock options na relação de emprego. São Paulo: LTr,
2008. p. 17.
3
PINTO, Alexandre Evaristo; TAKATA, Marcos Shigueo. Stock Options à luz dos precedentes do CARF.
In: Lucas Bevilacqua; Vanessa Marini Cecconello; Michell Przepiorka. (Org.). Tributação Federal -
Jurisprudência do CARF em debate. 1ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020, p. 283-316. p. 285.
Diego Sena Bello | 249
4
ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa: fundamentos,
desenvolvimento e tendências. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 238-239.
5
URCO, Christian Fabián Castillo; SAÁ, Marcelo Javier Mancheno; MURILLO, Daniel Esteban Chamorro;
SALINAS, Jenny Margoth Gamboa. Felicidade no trabalho na geração Millennials, novos desafios para
os administradores. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14571-14582 sep. 2019. p. 14577.
250 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
6
MARCON, Rosilene; GODOI, Christiane Kleinübing. Remuneração por Stock Options e Desempenho
das Empresas: um estudo preliminar com empresas brasileiras. In: ENANPAD 2003, 2003, Atibaia.
Anais do Enanpad 2003. Disponível em:
http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/7/enanpad2003-grt-2140.pdf. p. 1-16. p. 11-12.
Diego Sena Bello | 251
7
ZOGBI, Paula. Brasil imita vale do silício com stock options para retenção de talentos. Infomoney.
mai. 2019. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/carreira/brasil-imita-vale-do-silicio-com-
stock-options-para-retencao-de-talentos/. Acesso em: 01 mai. 2021.
252 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
O referido projeto de lei apresenta critérios para definir se as opções possuem ou não
natureza salarial.8
Outro exemplo de proposta de regulamentação sobre o instituto encontrava-
se no denominado Marco Legal das Startups, contudo, no Senado o capítulo que
tratava das Stock Options foi suprimido com a justificativa, diga-se, acertada, de que
o tema não se referia somente as startups, bem como demandava legislação
específica.9 Ademais, o projeto inicial ao tratar do tema definia como tendo natureza
salarial, o que também era objeto de críticas, haja vista a tributação inerente, que
reduz a vantajosidade da adoção.10
Vislumbra-se, portanto, que o tema é cadente no cenário jurídico e econômico
brasileiro, de tal modo que propor elementos para definir a natureza jurídica das
Stock Options é de grande relevância. Assim, após a contextualização, apresentação
da origem e da relevância das Stock Options, emerge a necessidade de conceituar e
compreender o instituto à luz da doutrina, para construir o embasamento teórico
necessário para responder o problema dessa pesquisa.
8
BEZERRA, Carlos. Projeto de lei da Câmara nº 286, de 2015. Acrescenta o Art. 458-A à Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor
sobre a concessão de Opções de Ações (Stock Options). Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=946411. Acesso em:
01 mai. 2021.
9
BRASIL, Lei Complementar n. 182, de 1 de junho de 2021. Institui o marco legal das statups e do
empreendedorismo inovador; e altera a Lei n. 6.404, de 15 de novembro de 1976, e a Lei Complementar
n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-
complementar-n-182-de-1-de-junho-de-2021-323558527. Acesso em: 01 mai. 2021.
10
PIOVESAN, Eduardo. Câmara aprova marco legal das startups. Câmara dos Deputados. mai. 2021.
Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/757768-camara-aprova-marco-legal-das-
startups/. Acesso em: 01 mai. 2021
11
GREENSPAN, Alan. Stock options and related matters. Revista de Direito Bancário, do Mercado de
Capitais e da Arbitragem. Ano 5, n. 17, p. 13-19, jul./set. 2002. p. 15.
Diego Sena Bello | 253
12
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 265.
13
FILHO, Jorge Cavalcanti Boucinhas. Stock Options Plans na visão da doutrina e dos tribunais
brasileiros. Revista dos Tribunais. vol. 2, p. 409 – 430, 2012. p. 411.
14
FILHO, Jorge Cavalcanti Boucinhas. Stock Options Plans na visão da doutrina e dos tribunais
brasileiros. Revista dos Tribunais. vol. 2, p. 409 – 430, 2012. p. 411.
254 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Por fim, insta destacar que os planos de outorga de ações, no entanto, podem
ser utilizados tanto por companhias de capital aberto, quanto de capital fechado. No
entanto, para a discussão ora proposta, essa distinção não merece maior atenção,
bastante, por ora, assimilar a possibilidade de adoção por ambas.
Não obstante a convergência quanto a origem e definição do instituto pela
literatura, conforme apresentado nas linhas que sucedem, há grande divergência
quanto a natureza jurídica das Stock Options, haja vista a busca por identificar se o
15
BRITTO, Felipe Lorenzi de; FIGUEIREDO, Fernanda Balieiro; BUENO, Iva Maria Souza. Stock options:
os planos de opção de compra de ações. São Paulo: Almedina, 2017. p. 12.
16
BRASIL. Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em 01 mai.
2021.
Diego Sena Bello | 255
proveito econômico obtido pelo empregado nessa operação pode (ou não) ser
classificado como remuneração e, desse modo, tributado como tal. A título
preliminar, cabe destacar que há basicamente duas correntes, uma sustentando que
as Stock Options não integram a remuneração do empregado e não podem fazer
base para incidência de tributos e, por outra banda, outra corrente que reconhece o
vínculo dessa verba com o trabalho prestado pelo empregado e defende a natureza
salarial e, ao fim e ao cabo, a tributação como salário.
Desse modo, dedica-se o próximo capítulo a apresentar os argumentos de
cada corrente para ao final apresentar uma proposta de análise para diferenciação
no caso prático.
A natureza jurídica das Stock Options é tema controverso, uma vez que a
doutrina trabalhista e o Tribunal Superior do Trabalho, à luz da definição legal de
remuneração e da divisão das rubricas que integram – ou não – a remuneração do
empregado, consolidou seu entendimento no sentido de que as Stock Options não
possuem natureza salarial. Contudo, por outra banda, o Fisco e o CARF,
majoritariamente, defendem a natureza salarial do proveito econômico obtido com
os Planos e, desse modo, impõem a tributação como se verba de natureza salarial
fosse. Ocorre que a compreensão trabalhista se revela tecnicamente mais acertada,
contudo, de modo a produzir convergência, far-se-á uma compilação dos elementos
necessários para afastar a natureza salarial da verba de modo a, pelo menos, tentar
produzir um consenso na temática e, ao fim e ao cabo, trazer segurança jurídica para
a temática.
Dessarte, para construir uma base teórica sólida para tratar dos elementos
necessários para afastar a natureza salarial da verba, é necessário compreender
anteriormente os argumentos que embasam a posição trabalhista e do fisco,
conforme será apresentado detalhadamente no tópico a seguir:
256 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
[...] vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas
a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores
avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que
seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de
utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos
serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador
ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção
ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.
17
DELEGACIA da Receita Federal em Belo Horizonte autua empresa por remunerar executivos através
de “Stock Options”. Receita Federal, Brasília, 04/09/2018. Disponível em:
<http://idg.receita.fazenda.gov.br/noticias/ ascom/2018/setembro/delegacia-da-receita-federal-
em-belo-horizonte-autua-empresa-por-remunerar-executivos-atraves-de-201cstock-
options201d>. Acesso em: 01 mai. 2021.
Diego Sena Bello | 257
18
OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. FATO GERADOR. Os pagamentos efetuados a
funcionários, executivos e demais prestadores de serviço da empresa, por meio de opção de compra
de ações, caracterizam-se como remuneração, cabível, desta forma a incidência de contribuições
sociais previdenciárias.
PARTICIPAÇÃO NO LUCRO. DIRETORES ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS. A participação no
lucro prevista na Lei nº 6.404/1976 paga a administradores contribuintes individuais integra a base
de cálculo das contribuições sociais previdenciárias. JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. SÚMULA
CARF Nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. (Processo n.
11080.732476/2013-18. Acordão n. 9202-008.532. Data da Sessão: 28/01/2020).
[...] REMUNERAÇÃO INDIRETA. OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. NATUREZA
REMUNERATÓRIA. Os pagamentos efetuados pelas empresas a seus diretores, sob a forma de opções
de compra de ações - Stock Options, condicionada à permanência do beneficiário na empresa,
caracterizam-se como retribuição ao trabalho prestado, portanto têm natureza remuneratória.
(Recurso Especial do Procurador. Processo nº 16327.721356/2012-80. Acórdão 9202-005.968. Data
da Sessão 26/09/2017).
258 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
19
STOCK OPTIONS. CARÁTER MERCANTIL. PARCELA NÃO INTEGRANTE DO SALÁRIO
REMUNERAÇÃO. No presente caso, o plano de stock options é marcado pela onerosidade, pois o preço
de exercício da opção de compra das ações é estabelecido a valor de mercado, pela liberalidade da
adesão e pelo risco decorrente do exercício da opção de compra das ações, de modo que resta
manifesto o seu caráter mercantil, não devendo os montantes pagos em decorrência do referido plano
integrarem o salário de contribuição. (Recurso Voluntário Provido. Processo nº 16327.721357/2012-
24. Acórdão 2401-003.889. Data da Sessão 11/02/2015)
OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. FATO GERADOR DE IMPOSTO DE RENDA. Os
pagamentos efetuados a funcionários, executivos e demais prestadores de serviço da empresa, por
meio de opção de compra de ações, caracterizam-se como remuneração, cabível, desta forma a
incidência de contribuições sociais previdenciárias. (Recurso Especial do Procurador. Processo nº
16327.721357/201224. Acórdão 9202006.628. Data da Sessão 21/03/2018).
20
PINTO, Alexandre Evaristo; TAKATA, Marcos Shigueo. Stock Options à luz dos precedentes do CARF.
In: Lucas Bevilacqua; Vanessa Marini Cecconello; Michell Przepiorka. (Org.). Tributação Federal -
Jurisprudência do CARF em debate. 1ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020, p. 283-316. p. 299.
Diego Sena Bello | 259
risco de quem possui uma opção de compra de ação; (iv) habitualidade, isto é, a
‘stock option’ passa a ser concedida com frequência, tal qual uma remuneração
salarial; (v) sujeição do beneficiário a metas vinculadas, o que pode vir a
demonstrar algum caráter retributivo direto do trabalho prestado para o
beneficiário; e (vi) existência de clausula de limitação de perdas para o
beneficiário, o que denota que o risco permanece no todo ou em parte
significativa com a instituidora do plano de ‘stock options’.
21
MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do
trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 581.
22
[...] STOCK OPTION PLANS. NATUREZA SALARIAL. Não se configura a natureza salarial da parcela
quando a vantagem percebida está desvinculada da força de trabalho disponibilizada e se insere no
poder deliberativo do empregado, não se visualizando as ofensas aos arts. 457 e 458 da CLT. (...).
(TST; RR 3273/1998-064-02-00; Quarta Turma; Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen; Julg.
15/03/2006; DJU 31/03/2006)
[...] STOCK OPTIONS. O programa pelo qual o empregador oferta aos empregados o direito de compra
de ações (previsto na Lei de Sociedades Anônimas, n. 6404/76, art. 168, § 3º) não proporciona ao
trabalhador uma vantagem de natureza jurídica salarial. Isso porque, embora a possibilidade de
efetuar o negócio (compra e venda de ações) decorra do contrato de trabalho, o obreiro pode ou não
auferir lucro, sujeitando-se às variações do mercado acionário, detendo o benefício natureza jurídica
mercantil. O direito, portanto, não se vincula à força de trabalho, não detendo caráter contraprestativo,
não se lhe podendo atribuir índole salarial. Recurso de revista não conhecido. (TST – Processo
217800-35.2007.5.02.0033 – Rel. Ministro Maurício Godinho Delgado – 6ª Turma. Data: publicação
no DEJT em 03.12.2010).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. COMPRA DE AÇÕES VINCULADA AO CONTRATO
DE TRABALHO. -STOCK OPTIONS-. NATUREZA NÃO SALARIAL. EXAME DE MATÉRIA FÁTICA PARA
COMPREENSÃO DAS REGRAS DE AQUISIÇÃO. LIMITES DA SÚMULA 126/TST. As -stock options-,
regra geral, são parcelas econômicas vinculadas ao risco empresarial e aos lucros e resultados do
empreendimento. Nesta medida, melhor se enquadram na categoria não remuneratória da
participação em lucros e resultados (art. 7º, XI, da CF) do que no conceito, ainda que amplo, de salário
ou remuneração. De par com isso, a circunstância de serem fortemente suportadas pelo próprio
empregado, ainda que com preço diferenciado fornecido pela empresa, mais ainda afasta a novel
figura da natureza salarial prevista na CLT e na Constituição. De todo modo, torna-se inviável o
reconhecimento de natureza salarial decorrente da possibilidade de compra de ações a preço
260 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
reduzido pelos empregados para posterior revenda, ou a própria validade e extensão do direito de
compra, se a admissibilidade do recurso de revista pressupõe o exame de prova documental - o que
encontra óbice na Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR- 85740-
33.2009.5.03.0023 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 15/12/2010, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 04/02/2011).
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. (…) 5. PLANO DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. INTEGRAÇÃO.
NÃO CONHECIMENTO. Em que pese a possibilidade da compra e venda de ações decorrer do contrato
de trabalho, o trabalhador não possui garantia de obtenção de lucro, podendo este ocorrer ou não, por
consequência das variações do mercado acionário, consubstanciando-se em vantagem
eminentemente mercantil. Dessa forma, o referido direito não se encontra atrelado à força laboral,
pois não possui natureza de contraprestação, não havendo se falar, assim, em natureza salarial.
Precedente. Recurso de revista de que não se conhece. (RR - 201000-02.2008.5.15.0140, Relator
Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos. Data de Julgamento: 11/02/2015, 5ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 27/02/2015).
23
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
24
BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 749.
25
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
Diego Sena Bello | 261
26
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
27
STÜRMER, Gilberto; FINCATO, Denise Pires. A reforma trabalhista simplificada: comentários à Lei
nº 13.467/2017. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2019. p. 51.
28
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 764.
262 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
29
PINTO, Alexandre Evaristo; TAKATA, Marcos Shigueo. Stock Options à luz dos precedentes do CARF.
In: Lucas Bevilacqua; Vanessa Marini Cecconello; Michell Przepiorka. (Org.). Tributação Federal -
Jurisprudência do CARF em debate. 1ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020, p. 283-316. p. 299.
30
OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. FATO GERADOR. Os pagamentos efetuados a
funcionários, executivos e demais prestadores de serviço da empresa, por meio de opção de compra
de ações, caracterizam-se como remuneração, cabível, desta forma a incidência de contribuições
sociais previdenciárias. PARTICIPAÇÃO NO LUCRO. DIRETORES ADMINISTRADORES NÃO
EMPREGADOS. A participação no lucro prevista na Lei nº 6.404/1976 paga a administradores
contribuintes individuais integra a base de cálculo das contribuições sociais previdenciárias. JUROS
SOBRE MULTA DE OFÍCIO. SÚMULA CARF Nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa
referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à
multa de ofício. (Processo n. 11080.732476/2013-18. Acordão n. 9202-008.532. Data da Sessão:
28/01/2020).
Diego Sena Bello | 263
31
OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. FATO GERADOR. Os pagamentos efetuados a
funcionários, executivos e demais prestadores de serviço da empresa, por meio de opção de compra
de ações, caracterizam-se como remuneração, cabível, desta forma a incidência de contribuições
sociais previdenciárias. PARTICIPAÇÃO NO LUCRO. DIRETORES ADMINISTRADORES NÃO
EMPREGADOS. A participação no lucro prevista na Lei nº 6.404/1976 paga a administradores
contribuintes individuais integra a base de cálculo das contribuições sociais previdenciárias. JUROS
SOBRE MULTA DE OFÍCIO. SÚMULA CARF Nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa
referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à
multa de ofício. (Processo n. 11080.732476/2013-18. Acordão n. 9202-008.532. Data da Sessão:
28/01/2020).
32
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
33
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
264 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
34
BRASIL. Consolidação das leis do trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 01 mai. 2021.
Diego Sena Bello | 265
afastar a natureza salarial da parcela e não para que se reconheça como de natureza
salarial.
Nessa medida, apesar de os demais elementos - Adesão voluntária,
Onerosidade e Risco de Mercado – também encontrarem ressalvas a partir da
classificação das Stock Options como prêmios, entende-se que, em razão do caráter
mercantil da operação, os argumentos apresentados pelo Fisco revelam-se
coerentes. É sabido que o direito do trabalho (assim como os outros ramos do direito)
não se presta a fraudes e, desse modo, utilizar-se de conceitos e definições com o
intuito de ludibriar o Fisco é equivocado, assim, sugere-se que a avaliação da
natureza jurídica das Stock Options, de modo a identificar o seu caráter mercantil e
coligar a tese do Fisco com as definições juslaborais, seja realizada a partir da
análise desses três elementos, a saber:
a) Adesão voluntária – Nesse quesito verifica-se se o empregado é obrigado
a aderir ao plano ou de fato é uma liberalidade, um benefício concedido
pelo empregador com vistas a coligar os interesses do trabalhador ao da
empresa e fidelizá-lo ao empregador.
b) Onerosidade – deve-se analisar se os planos ofertam as ações a título
gratuito ou há um desembolso pelo empregado. Concorda-se, portanto,
com o Fisco quando entende que a onerosidade traz indicativos do caráter
mercantil à operação.
c) Risco de Mercado – em sendo uma operação de mercado que visa
justamente incentivar o empregado a buscar resultados para empresa, é
necessário que se tenha o risco de perda pela desvalorização, sob pena de
desvirtuar a própria essência do instituto. Se ofertado a título gratuito ou
preço vil, obviamente, qualquer ganho – pela simples volatilidade do
mercado, por exemplo – geraria uma receita ao empregado e, portanto,
esse não estaria incentivado a alcançar objetivos além do ordinariamente
esperado.
Dessarte, a partir das considerações alhures apresentadas acerca dos
elementos trabalhados nos julgados do CARF, essa pesquisa pretendeu conciliar os
entendimentos tão disparis e construir uma proposta de solução para o problema
que possa coadunar tais entendimentos e, desse modo, trazer segurança jurídica
266 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
para a adoção das Stock Options pelas empresas no Brasil. É importante avançar na
interpretação dos institutos, superando a ânsia do Fisco de tributar por tributar, sem
considerar a exegese adequada dos conceitos jurídicos, haja vista que o anseio pela
tributação traz insegurança jurídica e, desse modo, afasta do cenário nacional a
aplicabilidade do instituto e, por conseguinte, das vantagens que o mesmo traz para
a atividade econômica brasileira.
Não se pode olvidar que somente haverá direitos trabalhistas e impostos
enquanto existirem empregadores/empresas economicamente saudáveis e
competitivas no mercado globalizado. Assim, obviamente precisa-se tutelar direitos
e tributar, contudo, deve-se incentivar o desenvolvimento da atividade empresarial.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2009.
BEZERRA, Carlos. Projeto de lei da Câmara nº 286, de 2015. Acrescenta o Art. 458-A
à Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n.º 5.452, de
1º de maio de 1943, para dispor sobre a concessão de Opções de Ações (Stock
Options). Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=946
411. Acesso em: 01 mai. 2021.
BRASIL, Lei Complementar n. 182, de 1 de junho de 2021. Institui o marco legal das
statups e do empreendedorismo inovador; e altera a Lei n. 6.404, de 15 de
novembro de 1976, e a Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006.
Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-complementar-n-182-de-
1-de-junho-de-2021-323558527. Acesso em: 01 mai. 2021.
268 | Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
BRITTO, Felipe Lorenzi de; FIGUEIREDO, Fernanda Balieiro; BUENO, Iva Maria Souza.
Stock options: os planos de opção de compra de ações. São Paulo: Almedina, 2017.
DAL MAS, Viviane Castro Neves Pascoal M. Stock options na relação de emprego.
São Paulo: LTr, 2008.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015.
FILHO, Jorge Cavalcanti Boucinhas. Stock Options Plans na visão da doutrina e dos
tribunais brasileiros. Revista dos Tribunais, v. 2, p. 409 – 430, 2012.
GREENSPAN, Alan. Stock options and related matters. Revista de Direito Bancário,
do Mercado de Capitais e da Arbitragem, ano 5, n. 17, p. 13-19, jul./set. 2002.
PINTO, Alexandre Evaristo; TAKATA, Marcos Shigueo. Stock Options à luz dos
precedentes do CARF. In: BEVILÁCQUA, Lucas; CECCONELLO; Vanessa Marini;
PRZEPIORKA; Michell. (Org.). Tributação Federal - Jurisprudência do CARF em
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Diego Sena Bello | 269
PIOVESAN, Eduardo. Câmara aprova marco legal das startups. Câmara dos
Deputados. mai. 2021. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/757768-
camara-aprova-marco-legal-das-startups/. Acesso em: 01 mai. 2021
URCO, Christian Fabián Castillo; SAÁ, Marcelo Javier Mancheno; MURILLO, Daniel
Esteban Chamorro; SALINAS, Jenny Margoth Gamboa. Felicidade no trabalho na
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Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14571-14582, seT. 2019.
ZOGBI, Paula. Brasil imita vale do silício com stock options para retenção de
talentos. Infomoney, mai. 2019. Disponível em:
https://www.infomoney.com.br/carreira/brasil-imita-vale-do-silicio-com-stock-
options-para-retencao-de-talentos/. Acesso em: 01 mai. 2021.
13. TRIBUTAÇÃO, CONSUMO DIGITAL E PANDEMIA: A FISCALIDADE REGRESSIVA
COMO PARADIGMA E PARADOXO NA SUPERAÇÃO (?) DA CRISE E OS CAMINHOS
PARA UM NECESSÁRIO UPDATE TRIBUTÁRIO
https://doi.org/10.36592/9786581110284-13
1 INTRODUÇÃO
1
Doutorando (2020), Mestre (2017) e Bacharel (2014) em Direito pela Universidade Federal do Ceará
- PPGD/UFC. Professor do Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU. Assessor Jurídico
no Ministério Público do Estado do Ceará – MPCE. Professor membro da Comissão de Educação
Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil - Ceará - CEJ-OAB/CE. E-mail:
[email protected].
2
LEE, A. I’d love to change the World [música], A Space in Time [álbum], Ten Years After, 1971.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CTUsFm0BAu8>. Acesso em: 13 mar. 21.
272 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
a tributação sobre a renda que viera a recair sobre seus integrantes após tamanho
sucesso (e lucros), lançaram “The Taxman” (“O cobrador de tributos”).3
Não por acaso, reclamações mais ou menos exageradas como as que fizeram
os Garotos de Liverpool4 fazem-se ouvir, infelizmente não em belas canções, ano a
ano quando do período de declaração e recolhimento do Imposto de Renda. E tal
acontece mesmo enquanto o IR represente, se não para a população em geral, pelo
menos para os tributaristas, possível consenso em torno de sua instituição e
cobrança, sobretudo se comparado a outras modalidades de imposto ou mesmo
outras espécies tributárias, uma vez que corresponde a uma prestação pessoal,
direta e progressiva.
Ocorre, todavia, que nem mesmo a lógica progressiva, segundo a qual “quem
pode pagar mais deve pagar mais”, isentou a tributação sobre a renda de críticas e
mesmo opositores, no Brasil, sobretudo à época de sua instituição, ainda em 31 de
dezembro de 1922. A título de exemplo, ninguém menos que Rui Barbosa desferiu
seu ensaio O Impôsto Sobre a Renda, de 1898, no qual atribuía ao imposto de renda,
ao mesmo tempo, dificuldades práticas, caráter duvidoso de suas vantagens
orçamentais, medo de que o imposto sobrecarregasse a população por conta de
supostos “vícios fiscais, que o seu mecanismo de coletação e cobrança tende
naturalmente a desenvolver”. 5
O mesmo autor afirmava ainda que, pela sua “essência”, tal espécie tributária
seria “o mais intrusivo dos impostos, o mais inquisitório, o mais ocasionado a
conflitos entre a autoridade e os contribuintes”. Para Barbosa, ao devassar fortunas,
o imposto de renda também devassaria a vida privada em seu recato, expondo à
publicidade oficial o cidadão, sua intimidade, seu trabalho, suas economias, seus
recursos, e ainda, em clara defesa da livre iniciativa, “os segredos do capital, com as
suas opulências e as suas fraquezas, as suas depressões e as suas prosperidades,
tudo quanto pode excitar contra êle apetites e fomentar manobras hostis”. 6
3
HARRISON, G. Taxman [música], Revolver [álbum], The Beathles, 1966. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=l0zaebtU-CA>. Acesso em: 07 set. 21.
4
“[…] If you drive a car / I'll tax the street / If you try to sit / I'll tax your seat / If you get too cold / I'll
tax the heat / If you take a walk / I'll tax your feet / Taxman! […]”.
5
BARBOSA, R. Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XXV, 1898, Tomo III, A Imprensa, Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Saúde, 1947, p. 29.
6
Id., ib., loc. cit.
Isaac Rodrigues Cunha | 273
O fato é que, para evitar a insatisfação das classes ricas, i. e. aquelas que têm
renda a ser alcançada, logicamente, por um tributo sobre a renda, os governantes
acabaram preferindo os impostos indiretos. Por conta disso ou não, o imposto de
renda no Brasil só passou a vigorar em 31 de dezembro de 1922, nos termos do artigo
31 da Lei n. 4.625 daquele ano, apesar de tentativas anteriores, com impostos ou
7
Id., ib., loc. cit.
8
SMITH, A. Lectures on Justice, Police, Revenue and Arms. Oxford: Claredon Press, 1896. Disponível
em: <https://oll-resources.s3.us-east-
2.amazonaws.com/oll3/store/titles/2621/Smith_LecturesJustice1647_Bk.pdf >. Acesso em: 20 fev.
2021.
274 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
projetos semelhantes, pelo menos, em 1843, 1844, 1867 e 1879.9 No entanto, esta
não era uma peculiaridade de uma nação "jovem" como o Brasil, mera colônia até as
primeiras décadas do Século XIX.
Em França, por exemplo, por muito tempo só houve tentativas fracassadas
como as dos séculos XVII e XVIII, com os chamados “diexème” e “vingtième”, assim
denominados por conta das alíquotas de 10% e 20% nas quais se baseavam,
respectivamente, mas que logo foram reduzidos a 5% e depois a nada. Isso porque
somente na década de 1910, já no Século XX, é que o sistema tributário francês
instituiu efetivamente seu imposto de renda, pouco mais que uma década antes do
10
Brasil, que o fizera, como já assinalado, em 1922. E como se mantinham as
finanças antes disto? Por meio da tributação do trabalho e do consumo, obviamente.
Afinal, esta é a tradição fiscal do capitalismo ocidental, este é o seu paradigma
tributário: os governantes evitam, o tanto quanto puderem, lançar mão de tributos
diretos, sobretudo pela grande resistência das classes mais abastadas e, em razão
dessa, mais atingidas por tal tributação; por compensação, a fiscalidade é
direcionada para os tributos indiretos, ainda que afetem estes o tão defendido poder
de compra/consumo; os tributos regressivos, nesta sistemática, acabam
representando grande parte da infame “carga tributária” do País.
Tal estado de coisas se intensifica em um cenário no qual, como reflexo do
próprio capitalismo e do (hiper)consumismo que lhe é característico, a tributação
acaba sendo vista apenas como uma violação ao mencionado poder de compra,
apartada de suas finalidades mais nobres de distribuição de riquezas, redução de
desigualdades, regulação econômica, indução de comportamentos benéficos,
desestímulo a comportamentos maléficos etc. O tributo aparenta ser maléfico nesta
distopia em que as figuras do “cidadão” e da “sociedade” dão lugar às do
“consumidor” e do “mercado”, respectivamente, sobre o que já advertia, ainda em
9
RECEITA FEDERAL DO BRASIL. 80 anos de imposto de renda no Brasil: 1922-2002 [on-line source].
Brasília: Receita Federal, 2014. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/80AnosIR/principal.asp>. Acesso em: 01 mar. 21.
10
NÓBREGA, C. B. da. História do imposto de renda no Brasil, um enfoque da pessoa física (1922-
2013). Brasília: IBET/Receita Federal, 2014, p. Disponível em: <https://www.ibet.com.br/wp-
content/uploads/2016/05/Imp.-Renda.pdf>. Acesso em: 28 fev. 21.
Isaac Rodrigues Cunha | 275
11
“O advento da globalização e a feroz instauração de seu colonialismo gerado nas entranhas da
tecnologia contemporânea acrescentaram ao vocabulário em uso nos meios de comunicação uma
semântica do poder, em que o cidadão é o consumidor, a sociedade é o mercado, o Estado a capitania
de um império, a Nação, um agregado de súditos e vassalos, a soberania, um fóssil de ciência política,
o agricultor, um servo da gleba, o trabalhador, um ocasional prestador de serviço, não raro um
desqualificado, um imolado desse processo econômico seletivo e eliminatório que o arremessa ao
desemprego.” BONAVIDES, P. Teoria constitucional da democracia participativa: Por um Direito
Constitucional de luta e resistência. Por uma Nova Hermenêutica. Por uma repolitização da
legitimidade. São Paulo, Malheiros, 2003, p. 69.
276 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
como sempre novas são as crises, busca-se deslindar de forma a tributação precisa
adequar-se a este cenário.
Para tanto, elegem-se como objetivos específicos os seguintes, em número
de 5 (cinco): (i) recobrar, ainda que brevemente, o entendimento da doutrina e da
própria jurisprudência acerca dos assim chamados tributos indiretos; (ii) avaliar a
tributação sobre o consumo no Brasil, comparando-a com outras modalidades
fiscais, bem assim como outros países da analisados pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico; (iii) analisar os efeitos da Pandemia
sobre o consumo, bem como sobre a tributação incidente sobre este, sobretudo as
quedas na arrecadação das espécies relacionadas ao comércio presencial.
E ainda: (iv) compreender a realidade em que se insere a tributação no
contexto da Economia Digital, avaliando o que entende a doutrina, especialmente,
sobre o conceito de “presença digital relevante” ou “significativa”; (v) destacar as
principais novidades em matéria da tributação da economia digital no Pós(?)-
Pandemia, sobretudo as diretrizes e ações concretas compactuadas pelos Ministros
de Finanças e Diretores de Bancos Centrais das 7 (sete) maiores economias
mundiais, quando reunidos, em maio e junho do ano corrente, com líderes do Fundo
Monetário Internacional, do Banco Mundial, da OCDE e do Comitê de Estabilidade
Financeira.
A hipótese que norteia esta exposição é a seguinte: se o Estado ainda depende
do paradigma regressivo da tributação do consumo, não deveria esta dedicar-se
mais aos diversos bens e serviços que circulam de forma demasiado expressiva no
mundo digital, ao invés de concentrar seus esforços no comércio tradicional,
responsável, às mais das vezes, pela circulação de mercadorias e serviços que
compõem o primo-vivere-deinde-philosophare dos cidadãos? Acredita-se que muita
riqueza circule, intocada, intocável, em um mundo “que não se vê”, enquanto o mundo
em que se vive depende, para o custeio de direitos e políticas públicas, de novas
fontes de tributação.
12
É o caso das altas alíquotas ou tributos específicos aplicados a produtos e/ou serviços
considerados danosos ou voluptuários, como o álcool (sin tax), o cigarro etc., tendo ocorrido
experiências, ainda vigentes ou não, em outros países de tributação mais incisiva sobre produtos
açucarados (México, por exemplo, por meio seu Impuesto Especial sobre Producción y Servicios,
desde 01/01/2014) ou mesmo da pornografia, conforme se percebeu na Itália, cuja indústria do sexo
cinematográfico fatura milhões.
13
Sobre o assunto, cf. artigo laureado com 1º lugar no I Concurso de Artigos Científicos, categoria
estudantes, do Sindicato dos Fazendários do Ceará – SINTAF/CE: CUNHA, I. R. Tributação indireta,
anestesia fiscal e cidadania no Brasil: Atualidade de centenária Teoria da Ilusão Fiscal de Amilcare
Puviani (1903). In: Artigos científicos do Sintaf [on-line]. Fundação SINTAF, 1. ed., Fortaleza: Edições
Função SINTAF / Sindicato dos Fazendários dos Ceará, 2017, p. 108-122. Disponível em:
<http://www.fundacaosintaf.org.br/arquivos/files/Ebook%20Artigos%20Cientificos%20do%20Sintaf.
pdf>. Acesso em: 20 fev. 21.
278 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
14
MILL, J. S. Principles of Political Economy, edited by William J. Ashley, 7th edition, London:
Longmans, Green and Co., 1909. Disponível em:
<https://www.econlib.org/library/Mill/mlP.html?chapter_num=68#book-info>. Acesso em: 10 mar.
21.
15
MILL, op. cit., loc. cit.
Isaac Rodrigues Cunha | 279
16
MACHADO SEGUNDO, H. de B. Repetição do tributo indireto: Incoerências e contradições. São
Paulo: Malheiros, 2011.
17
CARVALHO, P. B. Curso de Direito Tributário. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 16.
18
Id, ibid., loc. cit.
19
BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Brasília: Diário Oficial
da União, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm>.
Acesso em: 10 dez. 20.
280 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
20
MACHADO SEGUNDO, H. de B. Ainda a restituição dos tributos indiretos. Nomos (Fortaleza), v. 32.2,
p. 223-274, 2012, p. 228. Disponível em:
<http://www.periodicos.ufc.br/index.php/nomos/article/view/359>. Acesso em: 17 dez. 2020.
21
BALEEIRO, A. Uma introdução à ciência das finanças. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1973, p. 197.
22
Id., id., ibid., loc. cit.
Isaac Rodrigues Cunha | 281
valores repercutidos, e muito mais longe ainda das autoridades responsáveis pela
gestão e aplicação destes mesmos recursos, na forma de políticas públicas.
Isso não ocorre com os impostos diretos. No Imposto de Renda, por exemplo,
o próprio procedimento de declaração e recolhimento do tributo em questão acaba
sendo muito mais “íntimo” por exigir mais atenção do contribuinte, tornando este, em
razão disto, mais consciente. Pode ocorrer, porém, que o próprio contribuinte decida,
por seu turno, delegar a um terceiro tal incumbência, deixando que apenas seu
contador, por exemplo, seja aquele a dialogar com o Fisco. Além disto, há
metodologias utilizadas pela própria Receita, como no caso do IR “retido na fonte”,
que retiram o caráter dialógico da prestação: a cobrança é automática; o contribuinte,
um autômato, ao que parece.
Nestes casos, ainda que a declaração seja devida, como obrigação acessória,
a retenção em folha dos valores devidos a título de IRPF acaba diluindo os tais
valores na gama de informações que se avultam para o trabalhador, por exemplo, em
seu holerite, figurando ali a tributação como “apenas mais um desconto” entre outros
tantos (previdência, empréstimo, plano de saúde etc.). Como uma necessária
deferência ao um dos primeiros pensadores a se dedicaram a tal assunto, essa
percepção distorcida da realidade tributária, mesmo no caso de tributos diretos,
porque característica da fiscalidade indireta, é chamada de “Hipótese de Mill”.23
Neste cenário, há que se levantar críticas mesmo contra um dos maiores
avanços, se não o maior avanço dos últimos tempos em matéria de
consciência/cidadania fiscal, qual fora a regulamentação, finalmente, do § 5º do art.
150 da Constituição Federal.24 Isso porque a louvável Lei n. 12.741/2012 provocara
alterações num diploma de Direito Privado, no caso a Lei n. 8.078/1990, o Código de
Defesa do Consumidor, acrescentando, justamente no rol de direitos básicos do art.
6º, como mais um componente do “direito à informação adequada e clara” do inciso
23
MAIA, D. B. de M. S. Tributação indireta e cidadania fiscal: uma análise dos mecanismos de
conscientização para mitigação da anestesia fiscal. 2015. Dissertação (mestrado) - Universidade
Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Fortaleza-CE, 2015,
p. 70. Disponível em: <http://pergamumweb.sti.ufc.br:8080/pergamumweb/vinculos/.pdf>. Acesso
em: 20 jan. 21.
24
“Art. 150. [...] § 5º A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca
dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. BRASIL.
282 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
25
“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: [...] III – a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
26
BALEEIRO, op. cit., p. 197.
Isaac Rodrigues Cunha | 283
recursos dos pobres do que dos ricos, “já que os artigos de alimentação e vestuário
absorvem a quase totalidade dos salários e apenas pequena parte dos altos
rendimentos das classes abastadas”.27
Este é, talvez, o ponto mais polêmico ou controverso do assunto. No entanto,
justos ou injustos, os tributos indiretos ainda representam expressiva fonte de
receita no Brasil. Todos os entes federativos (União, Estado, DF e municípios) têm
seus próprios tributos que incidem direta ou indiretamente sobre o consumo,
repercutindo-se seus valores nos respectivos preços de produtos e serviços. O
paradoxo se torna ainda um paradigma a partir do momento em que os Estados, por
exemplo, passam a depender substancialmente de tais modalidades, em detrimento
das demais, de caráter pessoal.
Nesse sentido, vale conferir o trabalho estatístico mais recente, da lavra da
própria Receita Federal, intitulado “Carga Tributária do Brasil 2019”, publicado em
2021, mas comparando os anos fiscais de 2018 e 2019. 28 Dos números que se
podem colher do referido estudo, verifica-se que os tributos incidentes sobre o
consumo ainda representam percentual bastante significativo da arrecadação. 29
Colhe-se da planilha “Carga Tributária e Variações por Base de Incidência - 2019 x
2018”, que os tributos os quais tiveram por base “bens e serviços” importaram, nas
arrecadações de 2018 e 2019, em R$ 1.042.722,52 milhões e R$ 1.042.722,52
milhões, respectivamente, correspondendo a 44,79% e 43,30% da receita daqueles
anos.30
Tais números e percentuais igualmente expressivos se contrastam com o
quanto recolhido, de outra banda, em matéria de tributos incidentes sobre a renda,
os quais representaram 21,62% e 22,45% das arrecadações do mesmo período. 31 O
mesmo relatório mostra que, se comparada sua tributação com a dos demais países
27
Id., ibid., loc. cit.
28
RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Carga Tributária no Brasil 2019. Análise por Tributos e Bases de
Incidência. Col. Estudos Tributários. Brasília: Ministério da Fazenda, 2021. Disponível em:
<https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/dados-
abertos/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-estatisticas/carga-tributaria-
no-brasil/ctb-2019-v2-publicacao.pdf/@@download/file/CTB%202019%20-%20V2%20-
%20publica%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 14 set. 21.
29
Id., ibid., p. 7.
30
Id., ibid., p. 4.
31
Id., ibid., loc. cit.
284 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
32
Id., ibid., p. 6.
33
REYNOLDS, O. The Richest Countries in the World, Focus Economics [blog], February 25, 2021.
Disponível em: <https://www.focus-economics.com/blog/richest-countries-in-the-world>. Acesso
em: 10 mar. 21.
34
O ano-fiscal levado em conta, nos países da OCDE analisados, foi o de 2018.
35
RECEITA, op. cit., 2021, p. 7.
36
RECEITA, op. cit., 2021, p. 8.
37
Na Pandemia, por ter esta recrudescido a crise econômica (recessão) já instaurada no país, o Índice
Gini nas regiões metropolitanas do Brasil atingiu expressivo quociente 0,637, valendo lembrar que,
quanto mais próximo do quociente 1,000, mais desigual economicamente é aquela sociedade. Sobre
o assunto, cf. SALATA, Andre Ricardo; RIBEIRO, Marcelo Gomes. Boletim Desigualdade nas
Isaac Rodrigues Cunha | 285
Metrópoles, Observatório das Metrópoles, PUC/RS, Porto Alegre/RS, n. 04, 2021. Disponível em:
<.https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/wp-
content/uploads/2021/07/BOLETIM_DESIGUALDADE-NAS-METROPOLES_04.pdf>. Acesso em: 14
set. 21.
286 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
38
RECEITA, op. cit., 2021, p. 6.
39
Id., ibid., loc. cit.
40
NES, E. F. Why are the taxes in Brazil so high? The Brazil Business [on-line], Septembar 10, 2012.
Disponível em: <https://thebrazilbusiness.com/reflection/why-are-the-taxes-in-brazil-so-
high#:~:text=The%20simple%20reason%20why%20the,managed%20to%20achieve%20institutional%
20stability>. Acesso em: 22 dez. 20.
Isaac Rodrigues Cunha | 287
Com maior gravidade, esse mesmo discurso é forçado por fontes outras as
quais transparecem possuir respaldo científico, estatístico, portanto num patamar
acima, vale dizer, das “correntes” de fake news do Whatsapp, mas igualmente
carregando dizeres no sentido de que a “alta carga tributária brasileira” seria culpada
de questões indizíveis como a evasão fiscal, alta da economia informal e do
subemprego que lhe é característico etc. Exemplo emblemático disto é a
“calculadora” Impostômetro, sabidamente idealizada e mantida por representantes
do setor econômico, associações comerciais e industriais e advogados tributaristas.
Para ilustrar, às 16h do dia 14 de setembro de 2021, data da finalização deste
artigo, o Impostômetro disparava uma “carga tributária” arrecadada na importância,
assustadoramente precisa, de R$ 1.794.471.958.280,16.41 O portal conta ainda, em
acréscimo, com outras informações, no sentido de que tais valores poderia ser
convertido milhões de casas, apartamentos, carros de luxo etc. Toda essa imagem
negativa do fisco acaba por contribuir para um sentimento negativo generalizado em
matéria fiscal, valendo resgatar a figura do contribuinte “mal-humorado”
(Staatsverdrossener), entre outras tantas figuras trabalhadas por Klaus Tipke na sua
Moral Tributária.42
Some-se a isto o fato de que tais cálculos, porque enviesados, não levam em
conta, por exemplo os altos índices sonegação fiscal, tampouco os fenômenos do
“planejamento tributário agressivo” e do BEPS, sigla inglês para “erosão de base e
transferência de lucros”, questão a que se tem dedicado a OCDE na última década.43
Se o planejamento tributário pode ser levantado como um desdobramento da
liberdade em sentido amplo, da legalidade e da livre iniciativa, todas de patamar
constitucional, não se pode negar que para cada direito vigente existe sua corruptela:
o abuso de direito, o exercício arbitrário das próprias razões.
Não por caso, no sentido contrário ao do Impostômetro, referindo como
números igualmente expressivos o quantum de tributos que não são pagos no Brasil,
41
Valor dado como recolhido de 01/01/2021 a 14/09/2021. INSTITUTO BRASILEIRO DE
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. Impostômetro, São Paulo: IBPT, 2021. Disponível em:
<https://impostometro.com.br/>. Acesso em: 14 set. 21.
42
TIPKE, Klaus. Besteuerungsmoral and Steuermoral. Westdeutscher Verlag GmbH: Wiesbaden, 2000.
43
ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT. Addressing Base Erosion and
Profit Shifting, Paris: OECD Publishing, 2013. Disponível em: < https://www.oecd.org/ctp/addressing-
base-erosion-and-profit-shifting-9789264192744-en.htm>. Acesso em: 29 oct. 20.
288 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
44
Valor dado como não-recolhido de 01/01/2021 a 14/09/2021. SINDICATO NACIONAL DOS
PROCURADORES DA FAZENDA NACIONAL. Sonegômetro, Brasília: SINPROFAZ, 2021. Disponível em:
<http://www.quantocustaobrasil.com.br/>. Acesso em: 16 mar. 21.
45
TIPKE, op. cit.
46
Infeliz e hercúleo trabalho seria, por meio de “clipagem”, angariar e reunir aqui as inúmeras vezes
em que o referido Ministro defendeu tal bandeira, por hora aceitando-se ser isto de conhecimento
público e notório.
47
HIDALGO, D. C. Keynes contra el coronavirus, The Conversation, em 23 mar. 2020, 19h. Disponível
em: <https://theconversation.com/keynes-contra-el-coronavirus-134303>. Acesso em: 20 dez. 20.
Isaac Rodrigues Cunha | 289
produto ou serviço (consumidor), e não pelo fornecedor ou prestador, isto não ocorre
justamente quando o produto não é comprado, quando o serviço não é prestado etc.
Foi o que ocorreu especialmente nas fases mais graves da Pandemia de Coronavírus.
Com efeito, sendo comprovadamente uma das medidas mais eficazes contra
a proliferação do Sars-Cov-19, o isolamento social, inclusive no nível de lockdown,
foi adotado pelas administrações estaduais e municipais por todo o Brasil, sobretudo
diante da inércia do Governo Federal, ainda hoje negacionista, em adotar medida
qualquer nesse sentido. Posto o isolamento total, ressalvados os serviços reputados
como essenciais, o comércio “de rua”, o comércio dos shopping centers etc. parou
quase completamente. À medida que o consumo diminuiu, também diminuiu a
arrecadação dos tributos incidentes no consumo, sobretudo o ICMS, de competência
dos estados. 48
Estimativas do 1º semestre de 2020 apontavam para uma queda nas
arrecadações no montante de R$ 16 (dezesseis) bilhões. 49 Nas palavras da própria
Secretaria do Tesouro Nacional, ao divulgar a Boletim “Estimativa da Carga Tributária
Bruta do Governo Geral”, “[e]m 2020, a carga tributária bruta (CTB) do governo geral
(governo central, estados e municípios) foi de 31,64% do PIB, o que representa uma
redução de 0,87 pontos percentuais do PIB em relação a 2019”.50 Consta da mesma
Nota Técnica que tal comportamento “foi influenciado pelos efeitos sobre a atividade
econômica e isenções tributárias relacionados à pandemia do coronavírus”. 51 No
auge da pandemia, o Estado do Ceará teria registrado maior queda na arrecadação,
tendo registrado uma perda real de 6,3%.52
48
CUNHA, M. Secretários de Fazenda falam sobre queda de arrecadação dos estados, Rádio Senado,
Notícias, July 07, 2020, 14:22pm. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2020/07/21/secretarios-de-fazenda-falam-a-
comissao-da-covid-19-sobre-queda-na-arrecadacao-dos-estados>. Acesso em: 10 dez. 20.
49
PITOMBO, J. P. Estados perdem R$ 16 bilhões em arrecadação no 1º semestre, Folha de São Paulo
[on-line], August 2, 2020, 23:15pm. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/estados-perdem-r-16-bilhoes-em-
arrecadacao-no-1o-semestre.shtml>. Acesso em: 10 dez. 20.
50
SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. Estimativa da Carga Tributária Bruta do Governo Geral
(2020), Março de 2021, Brasília: STN, 2021, p. 5. Disponível em:
<https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:38233>. Acesso em: 14 set.
21.
51
Id., ibid., loc. cit..
52
CEARÁ foi o estado com maior queda na arrecadação em 2020, mas tendência é de recuperação,
Diário do Nordeste, Negócios, em 5 fev. 21, às 18h29min. Disponível em:
290 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/ceara-foi-o-estado-com-maior-queda-
na-arrecadacao-em-2020-mas-tendencia-e-de-recuperacao-1.3043232>. Acesso em: 14 set. 21.
53
ALVES, X. Com pandemia, RMVale tem queda de 28,5% na arrecadação de impostos, O Vale,
Economia, em 22 ago. 21, 00h08min. Disponível em: <https://www.ovale.com.br/economia/com-
pandemia-rmvale-tem-queda-de-28-5-na-arrecadac-o-de-impostos-1.182246>. Acesso em: 14 set.
21.
Isaac Rodrigues Cunha | 291
realizar, por exemplo, uma busca na internet, ao traduzir o resumo deste trabalho
para o inglês, francês, italiano, sânscrito etc., cada vez com maior correição das
traduções.
Fato é que, se o mundo todo se tornara, em grande medida, digital, uma
digitalização também do Direito Tributário se faz necessária. Necessária é sua
atualização, o que não reflete necessariamente apenas uma “questão de tamanho”,
voltando-se ao volátil discurso da “alta carga tributária”. A Pandemia denotou a
urgência em se atingir tal modernização, sobretudo porque em muito dependeram
dos tributos as políticas públicas adotadas para seu contorno e ainda o serão para
sua superação por completo no futuro. A queda nas arrecadações, justamente
quando o Estado mais dela dependia para salvar vidas, demonstrou que o problema
não é “quanto”, mas “como”, ou antes mesmo “o que” tributar.
Se em primeiro lugar, e por vários motivos, o Brasil precisa superar o aspecto
ainda predominantemente regressivo de seu sistema tributário, a supressão
inadvertida e abrupta dos tributos que incidem sobre o consumo não é a resposta
para tanto: igualmente por vários motivos. A tributação do consumo, ademais da
considerável receita que garante, sobretudo aos estados, permite igualmente a
adoção de políticas extrafiscais relevantíssimas, por meio de sanções premiais a
contribuintes, tributação a menor de atividades benéficas, valendo também o inverso,
sobretudo diante de externalidades provocadas pela atividade econômica.
Desta sorte, a tributação do consumo não deve ser simplesmente suprimida,
mas, sim, simplificada, como ponto de partida. Nesse sentido, despontam as
propostas de instituição, à semelhança de outros países, de um IVA, sigla para
“Imposto sobre Valor Agregado”, substituindo alguns tributos federais (IPI e
PIS/CONFINS), um tributo estadual (ICMS) e um municipal (ISSQN), todos incidentes
sobre o consumo. Em linhas gerias, tais tributos seriam reunidos numa espécie
única, portanto arrecadados de uma única vez, para serem repassados depois aos
demais entes federativos.
Com efeito, pelo menos 2 (dois) Projetos de Emenda Constitucional sobre o
tema estão em discussão lá e cá nas Duas Casas do Congresso Nacional, quais
sejam a PEC n. 45/2019 e a n. PEC 110/2019. Outras propostas ainda em discussão,
no contexto da apregoada “Reforma Tributária”, encampam também a bandeira da
292 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
simplificação dos tributos sobre o consumo, como o fez uma das propostas
apresentada pelo Ministério da Economia, há pouco mais que 1 (um) ano, mas ainda
não submetida a votações 54 . Não sendo o IVA tema central do presente artigo,
cumpre apenas advertir que apenas a simplificação não será suficiente, haja vista
que os tributos sobre o consumo também precisam, finalmente “digitalizados”,
considerar as novas formas de consumo, sobretudo o digital.
Isso porque a própria Pandemia apresentara um cenário no qual, enquanto o
comércio baseado na presença física definhava, sofrendo as consequências do
isolamento social, com muitas empresas indo mesmo à falência, o comércio
eletrônico, pelas mesmas razões (era a única forma de comprar) aumentou
consideravelmente. Com milhões de novos clientes – muitos daqueles que, até
então, nunca haviam comprado nada pela internet antes ou o tinha feito de forma
esporádica – o setor experimentou um crescimento sem precedentes. Tudo isto
apesar da Pandemia, apesar da recessão que se faz sentir desde 2008, 2015, 2017.
55
54
SOUSA, J. de. Reforma tributária: o que contempla o projeto entregue pelo governo, Consultor
Jurídico, Opinião, August 8, 2020. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-ago-08/juliana-
souza-reforma-tributaria-projeto-governo>. Acesso em: 10 jan. 21.
55
DESIDÉRIO, Mariana. E-commerce vende R$ 33 bilhões na pandemia puxado por alimentos e
bebidas, Exame [on-line], Notícias, July 22, 2020. Disponível em: <https://exame.com/negocios/e-
commerce-vende-r-33-bilhoes-na-pandemia-puxado-por-alimentos-e-bebidas/>. Acesso em: 10
mar. 21.
56
TOGOH, I. Jeff Bezos ‘Trillionaire’ Is Trending On Twitter. Here’s Why, Forbes, Business, May 14,
2020. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/isabeltogoh/2020/05/14/jeff-bezos-
trillionaire-is-trending-on-twitter-heres-why/?sh=65b7f672e3dd>. Acesso em: 20 fev. 21.
Isaac Rodrigues Cunha | 293
57
OBERSON, Xavier. Taxing robots. Helping the Economy to Adapt to the Use of Artificial Intelligence.
Cheltenham, UK: Elgar, 2020.
58
Id., ibid..
59
OBERSON, op. cit.
294 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Com efeito, tem-se ainda que o fato de que, especialmente nos locais com
mais tímido desenvolvimento econômico e social, a economia digital acaba por
representar a maior, se não toda ou mesmo a única a base tributável em tais
localidades. Em tal cenário, a riqueza movimentada pela economia digital em tais
locais por eles passa, deles sai, esvai, sem deixar qualquer “rastro”, isto é, sem que
se retenha um mínimo de riqueza a ser destinada, na forma de receitas tributárias,
ao custeio de direitos. Negar a incidência do Direito Tributário sobre tais transações,
porque digitais, remotas, automatizadas etc., prejudica o financiamento de políticas
públicas destinadas justamente às pessoas que sustentam essa mesma economia
digital, consumindo dia após dia os bens e serviços que ela oferece.
CONCLUSÃO
Macron com o aumento de tarifas fiscais sobre os vinhos franceses caso o tributo
fosse efetivamente implementado.60
Tais ameaças, que não resistiram aos primeiros meses do Governo Biden,
denotam o quão sincronizadas deverão estar as economias mundiais com vistas a
evitar ou, ao menos, mitigar, a existência dos “vazios fiscais” que até então se
encontram, pulverizados, diluídos em doses homeopáticas, no mundo virtual. Aceno
interessante nesse sentido foram as diretrizes e diretrizes e ações concretas
compactuadas pelos Ministros de Finanças e Diretores de Bancos Centrais das 7
(sete) maiores economias mundiais, quando reunidos, em maio e junho do ano
corrente, com líderes do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da OCDE
e do Comitê de Estabilidade Financeira.61
Entre as inúmeras moções, colhe-se do ponto 16, por exemplo, que se
comprometeram aquelas autoridades reunidas em junho do ano corrente em apoiar
fortemente os “esforços em curso”, sobretudo no âmbito do G20 e da OCDE, com
vistas a “enfrentar os desafios fiscais decorrentes da globalização e da digitalização
da economia e para adotar um imposto mínimo global”. 62 A busca por uma
“regulação financeira global”, como exercício de uma “fiscalidade inovadora” (em
tempos de muita inovação), aparenta ser parte da solução do problema, como já
intuía, ainda em 2012, Tulio Rosembuj, da Universidade de Barcelona. 63
Verifica-se de tais reflexões que o mundo inteiro terá de adaptar-se, de forma
síncrona, com vistas a finalmente transformar uma economia digital livre ou bastante
reduzida de tributos, em uma economia digital equitativamente tributável, tributada.
Como na canção que iniciou as primeiras linhas deste artigo, apesar de muitas
pessoas quererem salvar o mundo, muitas estão deixando essa solução para outros,
principalmente para as próximas gerações. As Ciências das Finanças, porém, não se
60
GOTEV, Georgi. Macron backs down on digital tax following Trump’s tariff threats, Euroactiv, em 21
jan. 20. Disponível em: <https://www.euractiv.com/section/global-europe/news/macron-backs-
down-on-digital-tax-following-trumps-tariff-threats/>. Acesso em: 23 set. 21.
61
G7 Finance Ministers and Central Bank Governors’ Communiqué, G7 UK Presidence 2021, em 05 jun.
21. Disponível em: <https://www.g7uk.org/g7-finance-ministers-and-central-bank-governors-
communique/>. Acesso em: 20 ago. 21.
62
Ibid.
63
ROSEMBUJ, Tulio. La regulación financiera global y la fiscalidad inovadora, Crónica Tributaria, n.
143, Estudios y Notas, 2012, p. 185-203.
Isaac Rodrigues Cunha | 297
podem dar a tal luxo, devendo, em breve, para ontem, oferecer ou mesmo sofrer uma
necessária atualização, superando as contradições.
Afinal, não se busca abandonar, relegar para as gerações pretéritas, a
tributação sobre o consumo realizado presencialmente. Importa, diferente e
urgentemente, transformá-los, adaptá-los às novas realidades, às novas economias,
sobretudo a virtual. Não se busca um mundo “no rich no more”, sem ricos, sem
riqueza, por conta da tributação. Pretende-se, isto sim, um mundo em que não
existam riquezas intocáveis, inalcançáveis pela tributação, sobretudo pelas sabidas
funções sociais desta.64 Estejam estas riquezas circulando no mundo concreto, no
mundo material, físico, estejam elas circulando tão-somente no mundo digital.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, R. Obras Completas de Rui Barbosa. v. XXV, 1898, Tomo III, A Imprensa,
Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1947.
64
Entre as quais, de fato, “feed the poor”, como na música, alimentando os famintos com a distribuição
de riqueza.
298 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
CEARÁ foi o estado com maior queda na arrecadação em 2020, mas tendência é de
recuperação. Diário do Nordeste, Negócios, em 5 fev. 21, às 18h29min. Disponível
em: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/ceara-foi-o-estado-
com-maior-queda-na-arrecadacao-em-2020-mas-tendencia-e-de-recuperacao-
1.3043232>. Acesso em: 14 set. 21.
GOTEV, Georgi. Macron backs down on digital tax following Trump’s tariff threats,
Euroactiv, 21 jan. 20. Disponível em: <https://www.euractiv.com/section/global-
europe/news/macron-backs-down-on-digital-tax-following-trumps-tariff-
threats/>. Acesso em: 23 set. 21.
LEE, A. I’d love to change the World [música], Ten Years After, A Space in Time
[álbum], 1971. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=CTUsFm0BAu8>. Acesso em: 13 mar. 21.
Isaac Rodrigues Cunha | 299
NES, E. F. Why the taxes in Brazil are so high? The Brazil Business [on-line], 10 de
setembro de 2012. Disponível em: <https://thebrazilbusiness.com/reflection/why-
are-the-taxes-in-brazil-so-high#:~:text=The % 20simples% 20reason% 20why%
20the, gerenciado% 20to% 20achieve% 20institutional% 20stability>. Acesso em: 22
dez. 20.
OBERSON, Xavier. Taxing robots. Helping the Economy to Adapt to the Use of
Artificial Intelligence. Cheltenham, UK: Elgar, 2020.
_______. Carga Tributária no Brasil 2019. Análise por Tributos e Bases de Incidência.
Col. Estudos Tributários. Brasília: Ministério da Fazenda, 2021. Disponível em: <
https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/dados-
300 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
abertos/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/estudos-e-
estatisticas/carga-tributaria-no-brasil/ctb-2019-v2-
publicacao.pdf/@@download/file/CTB%202019%20-%20V2%20-
%20publica%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 14 set. 21.
SMITH, A. Palestras sobre Justiça, Polícia, Receita e Armas. Oxford: Claredon Press,
1896. Disponível em: <https://oll-resources.s3.us-east-
2.amazonaws.com/oll3/store/titles/2621/Smith_LecturesJustice1647_Bk.pdf>.
Acesso em: 20 fev. 21.
SOUSA, J. de. Reforma tributária: o que contempla o projeto entregue pelo governo,
Consultor Jurídico, Opinião, 8 de agosto de 2020. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2020-ago-08/juliana-souza-reforma- tributaria-
projeto-governo>. Acesso em: 10 jan. 21.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-14
Resumo
Com o advento e a utilização da internet, criou-se uma infinidade de novos bens,
denominados de bens digitais. E tais bens, quando seu titular falece, resulta num
espólio digital, chamado hodiernamente de herança digital. À toda evidência, tal
acervo apresenta um aspecto de extrema relevância, qual seja, a possibilidade da
incidência do imposto sobre a transmissão causa mortis e doação (ITCMD). Com
efeito, para verificar esta possível incidência, deve-se perquirir se os bens que
compõem a herança digital revelam-se (i) insuscetíveis de valoração econômica
(estritamente pessoais); (ii) com valor patrimonial concreto, destacando-se as
criptomoedas; ou (iii) com valor patrimonial abstrato, notadamente os tokens não-
fungíveis (NFTs). A partir desta classificação, inúmeras nuances e discussões se
apresentam, em especial no que tange à dificuldade de atribuição de valor dos bens
e à ausência de previsão de legal, uma vez que é cediço que a produção legislativa
não consegue acompanhar a velocidade das transformações econômicas e sociais.
Neste contexto, atualmente, salvo melhor juízo, conclui-se que ainda não se mostra
permitido a cobrança do tributo em comento pelos estados. Para elucidar o tema
proposto, utiliza-se de pesquisa bibliográfica para compor as referências teóricas,
como doutrina, artigos científicos e da legislação que dispõe sobre a matéria.
Palavras-chave: Herança digital. Bens digitais. Imposto sobre a transmissão causa
mortis e doação.
1
Doutorando na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, na área de
Fundamentos Constitucionais do Direito Público e do Direito Privado. Mestre em Direito pela Escola
Paulista de Direito – EPD. Bacharel em Direito pela PUC/RS. Tabelião de notas e registrador civil.
Endereço eletrônico: [email protected]. Endereço para acessar CV:
http://lattes.cnpq.br/4530890414949323.
302 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
1 INTRODUÇÃO
2
REDAÇÃO DO SITE “A VOZ DA INDÚSTRIA”. E-book "Especial Revoluções Industriais: passado,
presente e futuro da indústria". Disponível em: <https://avozdaindustria.com.br/indstria-40-
totvs/caminho-indstria-40-os-destaques-das-revolues-industriais>. Acesso em: 12 jul. 2021.
3
SARLET, Gabrielle Bezerra Sales. Notas sobre a identidade digital e o problema da herança digital:
uma análise jurídica acerca dos limites da proteção póstuma dos direitos da personalidade na internet
no ordenamento jurídico brasileiro. Revista de Direito Civil Contemporâneo, São Paulo, n. 5, v. 17, p.
33-59, out./dez. 2018, p. 02-03.
Alan Jece Baltazar | 303
4
“Pesquisa quanto à natureza: TEÓRICA (lastreada em farta, pertinente e atualizada bibliografia) ou
prática (na área jurídica, notoriamente via pesquisa de campo).” FINCATO, Denise Pires; GILLET,
Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto
Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 49.
5
“Pesquisa quanto aos objetivos: EXPLICATIVA: nela, o pesquisador, além de coletar, organizar e
analisar os dados, tenta identificar fatores determinantes dos mesmos e, ainda, suas consequências
e relações. É um tipo de pesquisa mais complexo.” FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da
Costa. A Pesquisa Jurídica sem Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto Alegre, RS: Editora
Fi, 2018, p. 49.
6
“Pesquisa quanto ao objeto: BIBLIOGRÁFICA: desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Estudos exploratórios, pesquisas sobre
ideologias, análise de diversas posições acerca de um problema são pesquisas que costumam ser
realizadas quase que exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Junto com o termo pesquisa
documental, é chamada por alguns autores de técnica de documentação indireta, sendo dita direta
toda a restante.” FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem
Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 50.
7
“Método DEDUTIVO de abordagem: baseado no raciocínio dedutivo, que é aquele cujo antecedente
é constituído de princípios universais, plenamente inteligíveis, do qual se chega a um consequente
menos universal. Deduzir é tirar como consequência, é inferir, concluir.” FINCATO, Denise Pires;
GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca.
Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 43.
8
“Método de procedimento ESTRUTURALISTA: parte da investigação de um fenômeno concreto (bens
digitais deixados por quem morre), atingindo o nível do abstrato através da constituição de um modelo
que represente o objeto de estudo (estudo sobre herança), retornando ao concreto, dessa vez como
uma realidade estruturada com a experiência do sujeito social (como resolver a questão da herança
digital).” FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem Mistérios:
do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 47.
9
“Método de interpretação SISTEMÁTICO: Kelsen introduz a noção de sistema para o direito, no que
se refere à sua compreensão, pois pensa que este deve ser compreendido como um sistema ordenado
e hierarquizado.” FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem
Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 48.
304 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
2 BREVES CONCEITOS
Inicia-se trazendo breves conceitos sobre direito civil, sobre direito tributário
e a relação entre as duas disciplinas, a fim de conduzir o pensamento acerca do tema
da herança digital desenvolvido no capítulo seguinte.
10
RIZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 27.
11
RIZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 27.
12
RIZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 27.
13
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. Parte Geral. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, v. 1, p. 60.
14
NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JR., Nelson. Instituições de Direito Civil: direitos da
personalidade (Direito de Humanidade). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 19.
Alan Jece Baltazar | 305
15
SARLET, Gabrielle Bezerra Sales. Notas sobre a identidade digital e o problema da herança digital:
uma análise jurídica acerca dos limites da proteção póstuma dos direitos da personalidade na internet
no ordenamento jurídico brasileiro. Revista de Direito Civil Contemporâneo, São Paulo, n. 5, v. 17, p.
33-59, out./dez. 2018, p. 11.
16
SARLET, Gabrielle Bezerra Sales. Notas sobre a identidade digital e o problema da herança digital:
uma análise jurídica acerca dos limites da proteção póstuma dos direitos da personalidade na internet
no ordenamento jurídico brasileiro. Revista de Direito Civil Contemporâneo, São Paulo, n. 5, v. 17, p.
33-59, out./dez. 2018, p. 11.
306 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
[...] bens digitais são instruções trazidas em linguagem binária que podem ser
processadas em dispositivos eletrônicos, tais como fotos, músicas, filmes, etc.,
ou seja, quaisquer informações que podem ser armazenadas em bytes nos
diversos aparelhos como computadores, celulares, tablets.”19
E a definição das famosas e atuais redes sociais digitais? Antes das digitais,
cabível colacionar o conceito de redes sociais. Para Maristela Basso e Fabrício
Polido 20, as redes de relacionamento social podem ser definidas como estruturas
constituídas entre indivíduos e grupos ou organizações num determinado espaço,
conectados a partir de vínculos pessoais (familiares, emocionais, profissionais etc.),
variando entre a formalidade e a causalidade, de modo aleatório ou ordenado. São
redes fundadas em relações intersubjetivas e podem ser objeto de estudo nos mais
diversos ramos da ciência, como a antropologia, política, economia e direito.
Por sua vez, a definição de redes sociais digitais, nos ensinamentos de Moisés
Fagundes Lara21, revela-se a seguinte: “Quando uma rede de pessoas usa a internet
para se comunicar temos uma rede social na internet, ou seja, um grupo de pessoas
com interesses comuns que se utilizam das novas tecnologias para interagirem.” Em
outras palavras, a partir do momento em que se utiliza algum meio virtual para se
comunicar e interagir com outras pessoas, estar-se-á participando de uma rede
social.
17
LACERDA, Bruno Torquato Zampier. Bens digitais. Indaiatuba: Foco Jurídico, 2017, p. 74.
18
LACERDA, Bruno Torquato Zampier. Bens digitais. Indaiatuba: Foco Jurídico, 2017, p. 61.
19
LARA, Moisés Fagundes. Herança Digital. Porto Alegre: s.c.p., 2016, p. 22.
20
BASSO, Maristela; POLIDO, Fabrício. Jurisdição e lei aplicável na Internet: adjudicando litígios de
violação de direitos da personalidade e as redes de relacionamento social. In: LUCCA, Newton De;
SIMÃO FILHO, Adalberto (Coord.). Direito & Internet – Aspectos jurídicos relevantes. São Paulo:
Quartier Latin, v. II, 2008, p. 447.
21
LARA, Moisés Fagundes. Herança Digital. Porto Alegre: s.c.p., 2016; p. 37.
Alan Jece Baltazar | 307
Art. 1º Esta Lei Dispõe sobre os dados pessoais inseridos na internet após a
morte do usuário.
Art. 2º A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar
com as seguintes alterações:
“Art. 12. ........................................................................................
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge ou o companheiro sobrevivente, parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau, ou qualquer pessoa com legítimo
interesse.” (NR)
“Art. 20. ........................................................................................
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção as pessoas indicadas no parágrafo único do art. 12.” (NR)
22
Ementa: Altera o art. 1.788 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que "institui o Código Civil".
Dados Complementares: Garante aos herdeiros a transmissão de todos os conteúdos de contas e
arquivos digitais.
23
Ementa: Acrescenta o Capítulo II-A e os arts. 1.797-A a 1.797-C à Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002.
Dados Complementares: Estabelece normas sobre herança digital. (Grifo inexistente no original).
24
Ementa: Acrescenta o art. 10-A à Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet), a
fim de dispor sobre a destinação das contas de aplicações de internet após a morte de seu titular.
25
EMENTA
Altera o art. 1.788 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
ENTENDA A PROPOSTA
O Projeto de Lei 3050/20 inclui no Código Civil o direito de herança digital. Pelo texto, são transmitidos
aos herdeiros todos os conteúdos, contas e arquivos digitais do autor da herança. (...)
308 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Art. 4º Esta lei entra em vigor após decorridos 30 (trinta) dias de sua publicação
oficial.” (Grifos e acréscimos em negrito inexistentes no original).
26
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 911.
27
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (...).
28
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...).
29
Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação
tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:
I - a analogia;
(...)
§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. (...).
310 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Física - IRPF30:
30
RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Perguntas e respostas: imposto sobre a renda de pessoa física.
2021. Disponível em: <https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-
frequentes/declaracoes/dirpf/pr-irpf-2021-v-1-2-2021-04-29.pdf>. Acesso em: 04 maio 2021.
Alan Jece Baltazar | 311
31
NEVARES, Ana Luiza. Testamento virtual: ponderações sobre a herança digital e o futuro do
testamento. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 10, n. 1, 2021. Disponível em:
<http://civilistica.com/testamento-virtual/>. Acesso em: 31 maio 2021.
32
“What Are Digital Asset Protection Trusts?
Digital Asset Protection Trusts (DAP Trusts) are trusts which allow the trust creator to place existing
digital rights and property into a trust for the trust beneficiaries to use.
Digital asset protection trusts are a new type of trust pioneered by lawyers in an effort to protect digital
rights which are not currently protected by any laws. Although wills were initially used to give
decedents control over their digital estate, that approach quickly ran into problems.” Disponível em:
<https://www.legalmatch.com/law-library/article/what-are-digital-asset-protection-trusts.html>.
Acesso em: 09 jul. 2021.
33
FACEBOOK. O que é um contato herdeiro e o que ele pode fazer com minha conta do Facebook?
Disponível em: <https://www.facebook.com/help/1568013990080948>. Acesso em: 31 maio 2021.
34
GOOGLE. Sobre o Gerenciador de contas inativas. Disponível em:
<https://support.google.com/accounts/answer/3036546>. Acesso em: 31 maio 2021.
312 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
35
NEVARES, Ana Luiza. Testamento virtual: ponderações sobre a herança digital e o futuro do
testamento. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 10, n. 1, 2021. Disponível em:
<http://civilistica.com/testamento-virtual/>. Acesso em: 31 maio 2021.
Alan Jece Baltazar | 313
36
FRITZ, Karina Nunes. German Report: Herança digital: Corte alemã e TJ/SP caminham em direções
opostas. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/coluna/german-report/345287/heranca-
digital-corte-alema-e-tj-sp-caminham-em-direcoes-opostas>. Acesso em: 01 jun. 2021.
37
MENDES, Laura Schertel Ferreira; FRITZ, Karina Nunes. Case Report: Corte Alemã Reconhece a
Transmissibilidade da Herança Digital. RDU, Porto Alegre, Volume 15, n. 85, 2019, 188-211, jan-fev
2019.
314 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
38
“Artículo 96. Derecho al testamento digital.
1. El acceso a contenidos gestionados por prestadores de servicios de la sociedade de la información
sobre personas fallecidas se regirá por las siguientes reglas:
a) Las personas vinculadas al fallecido por razones familiares o de hecho, así como sus herederos
podrán dirigirse a los prestadores de servicios de la sociedad de la información al objeto de acceder
a dichos contenidos e impartirles las instrucciones que estimen oportunas sobre su utilización,
destino o supresión. Como excepción, las personas mencionadas no podrán acceder a los contenidos
del causante, ni solicitar su modificación o eliminación, cuando la persona fallecida lo hubiese
prohibido expresamente o así lo establezca una ley. Dicha prohibición no afectará al derecho de los
herederos a acceder a los contenidos que pudiesen formar parte del caudal relicto.” Disponível em:
<https://www.boe.es/buscar/doc.php?id=BOE-A-2018-16673>. Acesso em: 16 ago. 2021.
39
Ementa: AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA – EXCLUSÃO DE PERFIL DA FILHA DA AUTORA DE REDE SOCIAL (FACEBOOK) APÓS
SUA MORTE – QUESTÃO DISCIPLINADA PELOS TERMOS DE USO DA PLATAFORMA, AOS QUAIS A
USUÁRIA ADERIU EM VIDA – TERMOS DE SERVIÇO QUE NÃO PADECEM DE QUALQUER ILEGALIDADE
OU ABUSIVIDADE NOS PONTOS ANALISADOS – POSSIBILIDADE DO USUÁRIO OPTAR PELO
APAGAMENTO DOS DADOS OU POR TRANSFORMAR O PERFIL EM "MEMORIAL", TRANSMITINDO OU
NÃO A SUA GESTÃO A TERCEIROS – INVIABILIDADE, CONTUDO, DE MANUTENÇÃO DO ACESSO
REGULAR PELOS FAMILIARES ATRAVÉS DE USUÁRIO E SENHA DA TITULAR FALECIDA, POIS A
HIPÓTESE É VEDADA PELA PLATAFORMA – DIREITO PERSONALÍSSIMO DO USUÁRIO, NÃO SE
TRANSMITINDO POR HERANÇA NO CASO DOS AUTOS, EIS QUE AUSENTE QUALQUER CONTEÚDO
PATRIMONIAL DELE ORIUNDO – AUSÊNCIA DE ILICITUDE NA CONDUTA DA APELADA A ENSEJAR
RESPONSABILIZAÇÃO OU DANO MORAL INDENIZÁVEL - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA – RECURSO
NÃO PROVIDO. (Apelação Cível n.º 1119688-66.2019.8.26.0100, Relator: Francisco Casconi, Comarca:
São Paulo, Órgão julgador: 31ª Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 09/03/2021, Data de
publicação: 11/03/2021). Grifo inexistente no original.
Alan Jece Baltazar | 315
40
Artigo 3º - Também sujeita-se ao imposto a transmissão de:
(...)
III - bem incorpóreo em geral, inclusive título e crédito que o represente, qualquer direito ou ação que
tenha de ser exercido e direitos autorais.
316 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Outro aspecto a considerar, como bem frisam João Ricardo Fahrion Nüski e
Juliana Homrich Marinho Nüske 45 , é que os criptoativos se encontram na
41
Art. 2.º O imposto tem como fato gerador a transmissão "causa mortis" e a doação a qualquer título,
de:
I - propriedade ou domínio útil de bens imóveis e de direitos a eles relativos;
II - bens móveis, títulos, créditos, ações, quotas e valores, de qualquer natureza, bem como dos
direitos a eles relativos.
42
https://www.imf.org/external/pubs/ft/bop/2019/pdf/Clarification0422.pdf
43
O registro é realizado com código cambial que abriga outras transações relativas a pagamentos e
recebimentos por bens, além de criptoativos.
44
BRASIL. Estatísticas do Setor Externo. Disponível em:
<https://www.bcb.gov.br/content/estatisticas/hist_estatisticassetorexterno/201908_Texto_de_estat
isticas_do_setor_externo.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2021.
45
NÜSKE, João Ricardo Fahrion; NÜSKE, Juliana Homrich Marinho. Criptoativos, sua localização e a
não incidência de imposto sobre transmissão causa mortis. In: BOREGGIO, Angelo (Org.). Direito
Alan Jece Baltazar | 317
46
blockchain , que a seu turno encontra-se pulverizada na rede mundial de
computadores (internet), inexistindo a figura de um servidor central no qual
permanecem armazenados os ativos, ou seja, não há localização geográfica para
eles e, consequentemente, mostra-se impossível falar-se em localização dos ativos.
Lembra-se que a definição desta localização revela-se indispensável para a análise
do aspecto espacial da obrigação tributária no caso do imposto sobre transmissão
causa mortis e doação.
Nessa senda, considerando que as criptomoedas não se localizam no Brasil,
relembra-se que a alínea “b” do inciso III do parágrafo 1º do artigo 155 da
Constituição Federal reza que se o de cujus possuía bens no exterior, a competência
para sua instituição será regulada por lei complementar. Esta lei regulamentar nunca
foi editada. Poderiam então os estados-membros, com base no disposto no
parágrafo 3º do artigo 24 da Carta Magna47, promulgar uma lei possibilitando esta
tributação?
Esta questão aportou ao Supremo Tribunal Federal, através do Recurso
Extraordinário n.º 851.108, que teve Repercussão Geral na matéria reconhecida em
2015, incluindo-a sob o Tema 825 48 e decisão do Pleno em 01/03/2021, com
publicação em 20/04/2021, vedando aos estados instituir o imposto sobre
Tributário e Financeiro: avanços, desafios e atualidades. Salvador/BA: Editora Mente Aberta, 2021, p.
131.
46
Conforme Vitor Frederico Kümpel e Bruno de Ávila Borgarelli: “Blockchain, para recordar,
corresponde à tecnologia disruptiva na qual as informações são consolidadas e encadeadas em
blocos virtuais. Daí a expressão blockchain (blocks in a chain). Pode-se fazer analogia com um livro,
no qual cada página contém um texto (o conteúdo) em cujo topo se insere uma informação sobre o
referido conteúdo (um título ou numeração). De fato, a blockchain constitui um livro-razão de
transações realizadas em determinada área. As transações da criptomoeda bitcoin, que dispensam a
intermediação de um agente financeiro, formaram o conteúdo inicial dessa tecnologia, há quase uma
década. A segurança é sua marca mais atraente: em virtude da forma de disposição dos blocos e
inviabilidade de modificação daquilo que "entra" no sistema, a possibilidade de atuação de hackers
fica sensivelmente reduzida (obstada mesmo, segundo alguns).” KÜMPEL, Vitor Frederico;
BORGARELLI, Bruno de Ávila. Blockchain e a atividade notarial e registral. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/coluna/registralhas/264501/blockchain-e-a-atividade-notarial-e-
registral>. Acesso em: 12 jul. 2021.
47
Art. 24. (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
48
Possibilidade de os Estados-membros fazerem uso de sua competência legislativa plena, com
fulcro no art. 24, § 3º, da Constituição e no art. 34, § 3º, do ADCT, ante a omissão do legislador nacional
em estabelecer as normas gerais pertinentes à competência para instituir o Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis ou Doação de quaisquer Bens ou Direitos – ITCMD, nas hipóteses
previstas no art. 155, § 1º, III, a e b, da Lei Maior.
318 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Dessa forma, por tudo isso, conclui-se, salvo melhor juízo, que, por ora, não é
possível cobrar ITCMD na transmissão de criptoativos por ocasião do falecimento de
seu titular.
NFTs, which store extra information that makes them work differently from, say,
an ETH coin. It is worth noting that other blockchains can implement their own
versions of NFTs. (Some already have.)
What’s worth picking up at the NFT supermarket?
NFTs can really be anything digital (such as drawings, music, your brain
downloaded and turned into an AI), but a lot of the current excitement is around
using the tech to sell digital art.”49 50 Grifos em negrito inexistentes no original.
49
CLARK, Mitchell. NFTs, explained - I have questions about this emerging... um... art form? Platform?
The Verge. Postado em 11 mar. 2021. Disponível em: <https://www.theverge.com/22310188/nft-
explainer-what-is-blockchain-crypto-art-faq>. Acesso em: 12 jul. 2021.
50
Em tradução livre: “O QUE É UM NFT? O QUE SIGNIFICA NFT? Token não fungível. Isso não deixa
nada mais claro. Certo, desculpe. "Não fungível" significa mais ou menos que é único e não pode ser
substituído por outro. Por exemplo, um bitcoin é fungível - troque um por outro bitcoin e você terá
exatamente a mesma coisa. Um cartão comercial único, no entanto, não é fungível. Se você o trocasse
por um cartão diferente, você teria algo completamente diferente. Você desistiu de um Squirtle e
ganhou um 1909 T206 Honus Wagner, que o StadiumTalk chama de "a Mona Lisa dos cards de
beisebol". (Vou acreditar na palavra deles.) Como funcionam os NFTs? Em um nível muito alto, a
maioria dos NFTs faz parte do blockchain Ethereum. Ethereum é uma criptomoeda, como bitcoin ou
dogecoin, mas seu blockchain também suporta esses NFTs, que armazenam informações extras que
os fazem funcionar de maneira diferente de, digamos, uma moeda ETH. É importante notar que outros
blockchains podem implementar suas próprias versões de NFTs. (Alguns já o fizeram.) O que vale a
pena pegar no supermercado NFT? Os NFTs podem realmente ser qualquer coisa digital (como
desenhos, música, seu cérebro baixado e transformado em uma IA), mas muito da excitação atual
está em usar a tecnologia para vender arte digital.”
Alan Jece Baltazar | 321
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
51
NÜSKE, João Ricardo Fahrion; NÜSKE, Juliana Homrich Marinho. Criptoativos, sua localização e a
não incidência de imposto sobre transmissão causa mortis. In: BOREGGIO, Angelo (Org.). Direito
Tributário e Financeiro: avanços, desafios e atualidades. Salvador/BA: Editora Mente Aberta, 2021, p.
138.
Alan Jece Baltazar | 323
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei n.º 1.144/2021, que dispõe sobre os
dados pessoais inseridos na internet após a morte do usuário, 2021. Disponível em:
</www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2275941>
. Acesso em: 04 maio 2021.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
CHEUNG, Jason. What Are Digital Asset Protection Trusts? Disponível em:
<https://www.legalmatch.com/law-library/article/what-are-digital-asset-
protection-trusts.html>. Acesso em: 09 jul. 2021.
CLARK, Mitchell. NFTs, explained - I have questions about this emerging... um... art
form? Platform? The Verge. Postado em 11 mar. 2021. Disponível em: <
https://www.theverge.com/22310188/nft-explainer-what-is-blockchain-crypto-
art-faq>. Acesso em: 12 jul. 2021.
FACEBOOK. O que é um contato herdeiro e o que ele pode fazer com minha conta do
Facebook? Disponível em: <https://www.facebook.com/help/1568013990080948>.
Acesso em: 31 maio 2021.
FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A Pesquisa Jurídica sem
Mistérios: do Projeto de Pesquisa à Banca. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.
FRITZ, Karina Nunes. German Report: Herança digital: Corte alemã e TJ/SP
caminham em direções opostas. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/coluna/german-report/345287/heranca-digital-
corte-alema-e-tj-sp-caminham-em-direcoes-opostas>. Acesso em: 01 jun. 2021.
LACERDA, Bruno Torquato Zampier. Bens digitais. Indaiatuba: Foco Jurídico, 2017.
MENDES, Laura Schertel Ferreira; FRITZ, Karina Nunes. Case Report: Corte Alemã
Reconhece a Transmissibilidade da Herança Digital. RDU, Porto Alegre, v. 15, n. 85,
p. 188-211, jan./fev, 2019.
NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JR., Nelson. Instituições de Direito Civil:
direitos da personalidade (Direito de Humanidade). São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2017.
NÜSKE, João Ricardo Fahrion; NÜSKE, Juliana Homrich Marinho. Criptoativos, sua
localização e a não incidência de imposto sobre transmissão causa mortis. In:
BOREGGIO, Angelo (Org.). Direito Tributário e Financeiro: avanços, desafios e
atualidades. Salvador: Editora Mente Aberta, 2021. p. 127-139.
RIZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. Parte Geral. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, v. 1.
https://doi.org/10.36592/9786581110284-15
1
Doutoranda e Mestre no Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCRS. Bolsista CAPES/PROEX.
Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais (GEDF/CNPq) e do Grupo de
Pesquisas Avançadas em Direito Tributário (GTAX). Advogada. E-mail:
[email protected]. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8239857531740075.
328 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
1 INTRODUÇÃO
2
CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil. In: FARIA, Renato Vilela;
SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Org.). Tributação da
Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo:
Saraiva, 2018. p. 793.
3
ALBERS, Marion. Recht & Netz: Entwicklungslinien und Problemkomplexe. In: ALBERS, Marion;
KATSIVELAS, Ioannis (coord.) Recht &Netz. Baden-Baden: Nomos, 2019. p. 10.
4
AUDY, Jorge. A inovação, o desenvolvimento e o papel da Universidade. Estudos avançados, v. 31, p.
75-87, 2017. p. 76 e 85.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 331
Não surpreende que o Sistema Tributário Nacional não seja míope quanto à
tributação das pessoas jurídicas gerenciadoras de plataformas, de modo geral, e à
tributação dos serviços digitais efetivamente prestados, de modo específico. Ainda
assim, o formato de tributação estabelecido é passível de críticas, sendo este o ponto
a ser esmiuçado nas próximas linhas. Cumpre realizar a análise de tal perspectiva,
porquanto o modo pelo qual a tributação é levada a cabo pode acarretar numerosos
prejuízos à economia nacional, sobretudo frente ao fenômeno da digitalização, em
que a falta de segurança e transparência, além da indeterminação de conceitos
332 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
5
CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil. In: FARIA, Renato Vilela;
SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Org.). Tributação da
Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo:
Saraiva, 2018. p. 794.
6
Sobre planos de saúde, v. STF, RE 651703, rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, j. 29.09.2016. Sobre a
tributação do software, STF, RE 176626, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, j. 10.11.1998; STF,
ADI 5659, rel. Min. Dias Toffoli, j. 24.02.2021; e STF, ADI 1945, rel. Min. Cármen Lúcia, redator do
acórdão Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j. 20.05.2021. Sobre arrendamento mercantil, STF, RE
592905, rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, j. 02.12.2009; e STF, RE 547245, rel. Min. Eros Grau,
Tribunal Pleno, j. 02.12.2009. Sobre uma perspectiva histórica e crítica do conceito de serviço adotado
pelo Supremo Tribunal Federal, cf. RECENA, Martina Gaudie Ley. Evolução histórica da aplicação do
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) com enfoque na tributação do software na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, publicado nesta mesma obra coletiva.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 333
Ainda que o tema sobre o qual aqui se debruça seja quanto a serviços digitais,
cumpre notar de modo mais detido um tipo de operação digital que envolve não
apenas mercadorias, mas a prestação de serviços, i. e. plataformas de marketplace.
O ICMS também incide sobre “[...] operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior” (Art.
155, inc. II, CF88. Grifou-se). A lógica é de que o contribuinte do ICMS seja o
fornecedor da operação subjacente e não propriamente os intermediários de
marketplace 7 . Nada obstante, é evidente que estamos frente a uma prestação de
serviços dos intermediários de marketplace aos mais diversos fornecedores de
mercadorias. Vale ressaltar, nessa linha, que “o fato de o serviço se realizar por uma
plataforma informatizada não o transforma em serviço de informática, do mesmo
modo que uma empresa de entregas que permita a contratação de um portador por
aplicativo segue sendo uma empresa de entregas – e não de informática”8.
O ISS, por sua vez, é instituído por Lei Municipal, e sua definição ocorre por
meio de Lei Complementar (Art. 156, inc. III, CF88). Tendo em vista que as regras
variam entre municípios (e. g. alíquota), esse é o principal ponto de debate tendo em
vista a internacionalização da prestação de serviços digitais. A base de cálculo, em
se tratando de ISS, é o preço do serviço (Art. 7º, LC 116/2003), sendo o contribuinte
o próprio prestador do serviço (Art. 5º, LC n. 116/2003), in casu, as plataformas.
Um exemplo de aplicação do ISS se concretiza no caso de serviços de
transporte privados fornecidos por aplicativos. No Anexo Lista de Serviços, apensado
à Lei LC n. 116/2003, tais serviços são, desde já, enquadrados no item 1.03, quanto
ao “processamento, armazenamento ou hospedagem de dados, textos, imagens,
vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e sistemas de informação, entre outros
formatos, e congêneres”. Nesses casos, a plataforma é prestadora de serviços aos
7
CASTELLO, Melissa. A Responsabilidade Tributária dos Marketplaces. I Forum Integrado de Direito
Tributário. OAB/RS. Disponível em: https://www.academia.edu/video/jEe8Bj. Acesso: 12 maio 2021.
8
PISCITELLI, Tathiane. Tributação da economia compartilhada: caso das plataformas digitais de
transporte e hospedagem sob a perspectiva do ISS. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira
(Coord.). Tributação da economia digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil,
2020. especialmente p. 454.
334 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
seus motoristas devidamente credenciados, que, por sua vez, prestam serviços aos
passageiros9.
Outra possibilidade de aplicação se dá a partir da prestação de serviços de
anúncios em plataformas de redes sociais online. A título de ilustração, no Facebook,
desde 2011, é adicionado PIS e COFINS ao preço da prestação de serviço de anúncios
que sejam voltados para usuários brasileiros. Desde fevereiro de 2018, passou a ser
adicionada a contraprestação referente ao ISS 10 . No Anexo Lista de Serviços,
apensado à Lei LC n. 116/2003, tais serviços são enquadrados no item 17.25 quanto
à “inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade, em
qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços
de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita)”.
Há também outras hipóteses de prestação de serviços, como aquelas
relacionadas à economia compartilhada e de hospedagem em aplicativo. Faz-se
coro à posição adotada por Tathiane Piscitelli no que tange à impropriedade da
cobrança de ISS na locação de bens imóveis. Segundo a autora, a prática de
prestação de serviços de hospedagens em aplicativos não se assemelham àquelas
do ramo da hotelaria, tendo em vista que não são prestados serviços de recepção e
alimentação, por exemplo, sendo utilizado apenas o bem imóvel11.
Refere-se, para fins de completude, que outros tributos incidem sobre pessoas
jurídicas que gerenciam plataformas prestadoras de serviços digitais. Tais tributos
– como o IRPJ, PIS, COFINS, CSLL, PIS/Cofins-importação, IRRF, IOF, Cide-Royalties
– não incidem propriamente sobre os serviços, isto é, a cada operação, mas, sim,
possuem bases de cálculo diversas, como o faturamento da empresa, valor do
9
Nada obstante, reconhece-se o intenso debate jurisprudencial sobre a ausência ou reconhecimento
do vínculo empregatício dos motoristas de transporte de aplicativo, tanto no Brasil como em outros
países (Reino Unido, Alemanha, França, Espanha). No Brasil, sobre o tema, ver a primeira decisão do
Tribunal Superior do Trabalho sobre o tema TST, RR 1000123-89.2017.5.02.0038, rel. Min. Breno
Medeiros, 5ª Turma, j. 05.02.2020.
10
FACEBOOK. Facebook for Business. Centro de Ajuda para Negócios, 2021. Disponível em:
https://www.facebook.com/business/help/133076073434794. Acesso em: 10 maio 2021.
11
PISCITELLI, Tathiane. Tributação da economia compartilhada: caso das plataformas digitais de
transporte e hospedagem sob a perspectiva do ISS. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira
(Coord.). Tributação da economia digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil,
2020. especialmente p. 460. Sobre o tema da locação de bens imóveis por aplicativo, o PL do Senado
n. 748/2015, de autoria do Senador Ricardo Ferraço, visava regulamentar a locação de bens imóveis
em sites e aplicativos. Contudo, o referido PL foi arquivado. Em 2019, outro PL, com um viés mais
restritivo, passou a tangenciar a matéria (Projeto de Lei n. 2474/2019).
Andressa de Bittencourt Siqueira | 335
resultado do exercício, receita etc. Na medida em que não são aplicadas diretamente
sobre o serviço, não serão aqui abordadas. Nada obstante, é importante referir tais
questões, precipuamente em função de que as propostas de alteração legislativa
atualmente em tramitação no Congresso Nacional não passam ao largo da
tributação de outras bases de cálculo que não a prestação de serviço em si, cujos
detalhamentos serão perquiridos no item 3.2.
12
CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil. In: FARIA, Renato Vilela;
SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Org.). Tributação da
Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo:
Saraiva, 2018. p. 792.
336 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
13
OECD. Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy, Action 1 - 2015 Final Report,
OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris, 2015. Disponível em:
https://doi.org/10.1787/9789264241046-en. Acesso em: 12 maio 2021.
14
OECD. Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy, Action 1 - 2015 Final Report,
OECD/G20 Base Erosion and Profit Shifting Project, OECD Publishing, Paris, 2015. Disponível em:
https://doi.org/10.1787/9789264241046-en. Acesso em: 12 maio 2021.
15
Sobre o tema, ver PALMA, Clotilde Celorico. A tributação da economia digital e a evolução crescente
na União Europeia. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira (Coord.). Tributação da economia
digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2020. p. 539.
16
GODOI, Marciano Seabra de. A reforma da tributação internacional da economia global digitalizada:
histórico, possibilidades e impasse político atual. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira
(Coord.). Tributação da economia digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil,
2020. p. 578.
17
VITA, Jonathan Barros. BEPS 2.0, Digital Services Tax - DST e perspectivas no direito brasileiro.
IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Constructivismo lógico-semântico e os diálogos
entre teoria e prática, p. 519-547, 2020.
18
GODOI, Marciano Seabra de. A reforma da tributação internacional da economia global digitalizada:
histórico, possibilidades e impasse político atual. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira
(Coord.). Tributação da economia digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil,
2020. p. 579.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 337
19
CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil. In: FARIA, Renato Vilela;
SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo (Org.). Tributação da
Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas perspectivas. São Paulo:
Saraiva, 2018. p. 797.
20
Para aprofundamentos sobre o tema, v. CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA
para o Brasil. In: FARIA, Renato Vilela; SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes
do Rêgo (Org.). Tributação da Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas
perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2018. Também, ROCHA, Melina. Tributação da economia digital por
meio de IVA/IBS: desafios e soluções. Revista Brasileira de Direito, v. 16, n. 3, p. 1-15, 2020.
21
LOBÃO, Yasmim. O federalismo fiscal e o modelo IVA de tributação: autonomia versus eficiência. In:
MERLIN, Lise Vieira da Costa Tupiassu; MENDES NETO, João Paulo (coord.). Tributação, meio
ambiente e desenvolvimento. São Paulo: Método, 2016. p. 365-392.
22
NABAIS, Casalta. Impostos sobre o consumo – O IVA. In: NABAIS, Casalta. Direito fiscal. 10. ed.
Coimbra: Almedina, 2017. p. 573.
338 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
“incide apenas sobe o valor acrescentado em cada uma das fases do circuito
económico, não dá origem a imposto sobre imposto como acontece no imposto
cumulativo, em que o imposto liquidado e cobrado em cada uma das fases do circuito
econômico integra a base tributável do imposto nas fases seguintes”23.
A unificação de um imposto único sobre consumo, seja de bens, seja de
serviços (incluindo os serviços digitais), ou até mesmo conglobando ambos, vêm
sendo objeto de debate de modo mais marcante nos últimos anos no Congresso
Nacional brasileiro, para além daqueles alinhados, num contexto geral, à tributação
da economia digital, o que será mais bem analisado no item subsequente à luz da
tributação dos serviços digitais.
23
NABAIS, Casalta. Impostos sobre o consumo – O IVA. In: NABAIS, Casalta. Direito fiscal. 10. ed.
Coimbra: Almedina, 2017. p. 575.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 339
Cofins, PIS, Pasep, IOF, Salário Educação, CIDE-Combustíveis, ISS e ICMS). Alguns
dos pontos controvertidos, e ainda em fase de debates, residem na alíquota única e
na variação por meio de um acordo entre os entes federados 24. A PEC n. 110/2019,
de modo geral, visa à criação de um IVA-dual, isto é, dois impostos de valor agregado,
um reunindo os tributos federais, e outro englobando os estaduais, substituindo nove
tributos atualmente cobrados (ICMS, ISS, IPI, a COFINS, PIS, PASEP, IOF, Salário
Educação e CIDE-Combustíveis)25.
Tendo por base as proposições de reforma tributária atualmente em
tramitação (PECs n. 45/2019 e PEC n. 110/2019), uma vez aprovadas, para além dos
inúmeros desafios daí desencadeados e do lapso temporal para a sua plena
implementação, alterariam completamente o contexto no que tange à tributação dos
serviços digitais, uma vez que já estariam por ela englobados. De todo modo, reforça-
se a necessidade uma reforma efetiva e que esteja em congruência com o arcabouço
tributário, assim como respeitando os princípios da legalidade tributária, além de
contar com bases de cálculos claras e transparentes, e de alíquotas justas e
proporcionais.
Em que pese a notoriedade dos referidos projetos de emenda à Constituição,
cabe tecer alguns aprofundamentos sobre o PL n. 2.358/2020 (Projeto para a Criação
da CIDE-Digital), o PLP n. 131/2020 (Projeto para o aumento da alíquota da COFINS
para serviços digitais) e o PLP n. 218/2020 (Projeto para a criação da Contribuição
Social sobre Serviços Digitais [CSSD]).
O primeiro, o PL n. 2.358/2020 (Projeto para a Criação da CIDE-Digital), dentre
as suas disposições, determina a tributação em alíquotas progressivas 1% sobre
receita bruta, com base no ano calendário, a partir de R$ 150 000 000 (cento e
cinquenta milhões de reais), podendo chegar a 5% sobre R$ 300 000 000 (trezentos
milhões de reais) (art. 6º). O eventual contribuinte da CIDE-Digital é a pessoa jurídica
(art. 4º), residente no Brasil ou no exterior, que incorre em algum dos seguintes fatos
geradores (art. 3º e seus incisos): (i) exibição de publicidade em plataforma digital;
24
BRASIL. Câmara dos Deputados. PEC n. 45/2019. Autor Deputado Baleia Rossi. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2196833. Acesso em:
12 jul. 2021.
25
BRASIL. Senado Federal. PEC n. 110/2019. Autor Senador Davi Alcolumbre e outros. Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137699. Acesso em: 12 jul. 2021.
340 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
26
BRASIL. Câmara dos Deputados. PL n.2.358/2020. Autor Deputado João Maia. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2251395. Acesso em:
12 jul. 2021.
27
Vale referir que a CIDE-Digital muito se aproxima da assim chamada CIDE-Royalties, porquanto ela
“poderia ser entendida como uma falsa CIDE, visto que ela objetiva instituir o Programa de Estímulo à
Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação e estimular o desenvolvimento tecnológico
brasileiro, mediante programas de pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre universidades,
centros de pesquisa e o setor produtivo, não demandando efetivamente um esforço estatal que
justificasse a sua classificação como contribuição (CALIENDO, Paulo. Curso de direito tributário. 3.
ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 1059).
28
Sobre o tema, Paulo Caliendo leciona: “Diversos economistas defenderam a natureza eficiente da
tributação do consumo, visto que esses autores entendiam que os indivíduos devem ser tributados
nos seus gastos, e não pela sua renda, dado que a tributação sobre os acréscimos patrimoniais induz
ao desincentivo à acumulação” CALIENDO, Paulo. Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil.
In: FARIA, Renato Vilela; SILVEIRA, Ricardo Maitto da; MONTEIRO, Alexandre Luiz Moraes do Rêgo
(Org.). Tributação da Economia Digital: Desafios no Brasil, experiência internacional e novas
perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 796.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 341
US$ 20 000 000 (vinte milhões de dólares) por serviços prestados no mundo; e (ii) R$
6 500 000 (seis milhões e quinhentos mil reais) no Brasil, contribua para o Fisco com
10,6% (dez vírgula seis por cento) sobre receita bruta mensal auferida no Brasil.
Apesar de o projeto de lei complementar referir-se à receita bruta no Brasil para a
composição da base de cálculo, assim como o PL n. 2.358/2020, o art. 1º, §§2º e 4º,
elenca a “receita tributável mensal”. Compreendem nesta última: (i) disponibilização
de plataforma digital para comunicação entre usuários; (ii) comercialização de
anúncios com o fim de direcionamento de mensagens; (iii) gerenciamento e
transmissão de dados relacionados aos usuários29.
De igual modo, as críticas tecidas ao PL n. 2.358/2020 se estendem ao PLP n.
131/2020, tendo em vista não apenas a sua redação confusa, como também em
função do engessamento das normas já existentes no Sistema Tributário Nacional.
Compreende-se a importância de ser estabelecido um lucro mínimo para que apenas
então o tributo possa incidir. Tal prática não é vedada e inclusive em nada fere a
isonomia entre os contribuintes, tendo em vista que eventual norma dessa natureza
tem o escopo de proteger empresas em seus estágios iniciais, não podendo o Fisco
impedir o crescimento destas empresas, nem aniquilar a inovação. Nada obstante,
há dúvidas sobre o efetivo alcance da norma que determina a ciência do Fisco sobre
o quantum auferido por determinada pessoa jurídica a nível global, sendo este um
dos requisitos cumulativos (juntamente com o requisito quanto aos lucros no Brasil),
para que a obrigação tributária possa se configurar. Em linhas gerais, a preocupação
permanece quanto ao PLP n. 131/2020 sobretudo quanto à sua eficácia e
efetividade.
Enfim, analisa-se o PLP n. 218/2020 (Projeto para a criação da Contribuição
Social sobre Serviços Digitais [CSSD]), cujos valores serão – uma vez aprovada a
proposta – integralmente destinados a programas de renda básica instituídos na
esfera federal (Art. 1º, § 2º). Assim como os dois últimos projetos sob análise, o fato
gerador da CSSD ocorre por ocasião do auferimento de receita bruta decorrente da
exibição de publicidade, plataforma comunicativa entre usuários e transmissão de
dados (Art. 2º e incisos). Contudo a diferença reside não apenas na criação de um
29
BRASIL. Senado Federal. PLP n. 131/2020. Autora Senadora Zenaide Maia. Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/142074. Acesso em: 12 jul. 2021.
342 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
novo tributo em si, mas também na alíquota de 3% sobre a receita por exibição e
proporcional ao número de usuários. De igual modo, o art. 3º também estabelece
uma receita bruta global mínima para que o eventual tributo incida, qual seja a
necessidade de lucro superior ao equivalente a R$ 4 500 000 000 (quatro bilhões e
quinhentos milhões de reais) a nível global30.
Reiteradas as críticas tecidas quanto à receita global como parâmetro para
tributação, dentre outras questões que, em maior ou menor grau, já foram abordadas,
um dos problemas relacionados ao PLP n. 218/2020 reside na revisão disruptiva
sobre o conceito de presença física e estabelecimento estável 31 , sob a ótica da
presença digital, mediante a criação de tão-somente uma contribuição. Essa nova
perspectiva, uma vez incorporada no Sistema Tributário Nacional, demanda uma
revisão da arquitetura normativa atual e de inúmeros conceitos já assentados, não
podendo ser discretamente adicionada ao complexo de normas tributárias sem
causar alvoroço no curto, médio e, de forma mais gravosa, longo prazo.
Reconhece-se a internacionalização da prestação de serviços, sobretudo os
digitais, e a necessidade de um arcabouço normativo que compatibilize e harmonize
normas tributárias nos contextos atual e futuro. Mais do que propostas inovadoras
nessa seara, é necessária a adoção de medidas eficazes e com potencial de
perenidade, tendo em vista a sensibilidade da normatização tributária, as quais
devem abarcar, ao seu modo, as presentes e futuras gerações à luz do acesso à
internet e da digitalização da economia.
CONCLUSÃO
30
BRASIL. Câmara dos Deputados. PLP n. 218/2020. Autor Deputado Danilo Forte. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2260638. Acesso em:
12 jul. 2021.
31
Sobre o conceito de estabelecimento estável, v. PALMA, Clotilde Celorico. A tributação da economia
digital e a evolução crescente na União Europeia. In: PISCITELLI, Tathiane; LARA, Daniela Silveira
(Coord.). Tributação da economia digital. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil,
2020. p. 539.
Andressa de Bittencourt Siqueira | 343
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Câmara dos Deputados. PEC n. 45/2019. Autor Deputado Baleia Rossi.
Disponível em:
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BRASIL. Câmara dos Deputados. PLP n. 218/2020. Autor Deputado Danilo Forte.
Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=226
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VITA, Jonathan Barros. BEPS 2.0, Digital Services Tax - DST e perspectivas no
direito brasileiro. IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Constructivismo
lógico-semântico e os diálogos entre teoria e prática, p. 519-547, 2020.
16. TRIBUTAÇÃO DOS TRABALHADORES NA GIG ECONOMY – O CASO UBER
https://doi.org/10.36592/9786581110284-16
Resumo
O presente trabalho busca estudar os regimes de tributação dos trabalhadores da
gig economy no Brasil, mais especificamente com relação à plataforma Uber.
Inicialmente, abordar-se-á o trabalho na indústria 4.0 e a ideia de disrupção trazida
pelas novas formatações de relação jurídica entre trabalhadores e plataformas.
Após, serão brevemente abordados os pressupostos gerais históricos do direito do
trabalho, comparando-se as novas formas de trabalho com os antigos conceitos
laborais. Discutir-se-á, posteriormente, o possível enquadramento dos
trabalhadores das plataformas intermediárias laborais, mais especificamente no
caso da Uber, expondo-se possível natureza autônoma ou subordinada da relação
jurídica. Discutir-se-á, também, a relação entre tributação e trabalho, partindo-se de
um ponto de vista sistêmico do ordenamento jurídico e do estado de bem-estar
social. Assim, comparar-se-ão os possíveis regimes de tributação dos trabalhadores
de acordo com a natureza jurídica da relação de trabalho – formal ou autônoma – e
as suas consequências econômicas e sociais. Finalmente, será analisado caso
análogo ocorrido na Inglaterra e as consequências do reenquadramento jurídico-
laboral dos trabalhadores da Uber no campo do direito tributário. A pesquisa fará uso
do método dedutivo e do método sistêmico e terá cunho bibliográfico, tanto de obras
gerais, como de artigos de revistas especializadas nacionais e internacionais.
Palavras-chave: tributação; direito do trabalho; tributação do trabalho; gig economy.
1
Doutorando em Direito na PUCRS. Mestre em Direito e Ciência Jurídica e Pós-Graduado em Ciências
Jurídico-Laborais pela Universidade de Lisboa. Advogado. Sócio do escritório Krieg da Fonseca
Advogados. E-mail: [email protected].
348 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
1 INTRODUÇÃO
maravilhosas e jamais antes vistas, pois não desejavam serem vistos como indignos.
Finalmente, após a entrega da vestimenta pelos tecelões, o imperador decide exibir
seus trajes míticos ao público em geral e desfila perante o povo. Todos se sentem
obrigados a festejar as roupas e o fazem, até que uma criança, em meio ao público,
grita: “ele está completamente nu”! Prassl questiona, de maneira perspicaz, em
raciocínio ao qual alinha-se na presente pesquisa, se a revolução no trabalho perante
a qual nos encontramos e nos é vendida não é mera ilusão – ou, melhor, se não é
justificativa suficiente à uma quebra de paradigma institucional do direito do
trabalho? É tamanha diferença de condições de trabalho que justifique a dificuldade
de enquadramento da relação dos trabalhadores na gig economy nas formas mais
clássicas?2
Trata-se de um dos grandes questionamentos em direito do trabalho
atualmente: qual a verdadeira (ou necessária) natureza da relação jurídica dos
trabalhadores de plataformas da gig economy?
A indústria 4.0 e suas particularidades acarretaram mudanças na forma de se
relacionar entre tomador e prestador de serviços e, também, podem acarretar
mudanças sistêmicas na estrutura jurídica alicerçada ao longo de anos – o estado
protetivo montado ao redor da figura do trabalho formal.
As plataformas, de maneira geral, são verdadeiros mecanismos de
terceirização pessoal, e as denominações em torno desse tipo de relação o
comprovam: economia compartilhada, crowdsourcing, gig economy, capitalismo de
multidão etc.3 O termo crowdsourcing justamente fora criado da junção das palavras
2
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 71.
3
“To begin with, navigating definitions is an intricate assignment when it comes to describe digitally
enabled forms of work in the so-called “platform economy”, known in everyday parlance also as the
“gig-economy” (2). At first glance, the list of labels grows day byday, together with the number of
businesses and people involved in this sector. In this report, notwithstanding the nuances of
meanings, “platform economy” (3), “on-demand economy”, and “collaborative economy” will be
used interchangeably (4). Whilst representing seducing buzzwords, these formulas have reached a
large consensus and they are therefore well suited to indicate a rather specific economic
segment.” In: DE STEFANO, Valerio; ALOISI, Antonio. European legal framework for digital labour
platforms.Luxemburgo: European Comission, 2018. Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwj2wKWJwtnxA
hVVqJUCHfLwADYQFjAGegQIBRAD&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttps%2Fpublications.jrc.ec.europa.eu%2Frepositor
y%2Fbitstream%2FJRC112243%2Fjrc112243_legal_framework_digital_labour_platforms_final.pdf&us
g=AOvVaw0hKwaT6Teieia7l9UnMoql. Acesso em: 03 jul. 2021.
350 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
4
HOWE, Jeff. The rise of crowdsourcing. In: Wired [S.l., 2006). Disponível em:
https://www.wired.com/2006/06/crowds/. Acesso em 03 jul. 2021.
5
TERMOS de uso da Uber. Disponível em: <https://www.uber.com/legal/pt-
br/document/?country=brazil&lang=pt-br&name=general-terms-of-use>. Acesso em: 03 jul. 2021.
6
ROSENBLAT, Alex. Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work. Oakland: University of
California Press, 2018, p. 5.
7
DE STEFANO, Valerio; ALOISI, Antonio. European legal framework for digital labour platforms.
Luxemburgo: European Comission, 2018. Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwj2wKWJwtnxA
hVVqJUCHfLwADYQFjAGegQIBRAD&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttps%2Fpublications.jrc.ec.europa.eu%2Frepositor
y%2Fbitstream%2FJRC112243%2Fjrc112243_legal_framework_digital_labour_platforms_final.pdf&us
g=AOvVaw0hKwaT6Teieia7l9UnMoql. Acesso em: 03 jul. 2021.
8
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 19.
Bóris Chechi de Assis | 351
9
“At the core of this economy are the frictions that characterize the labor market. These frictions are
the forces that keep the Beveridge curve away from the origin. The frictions could be due to a number
of factors, such as mismatch between the skill requirements of jobs and the skill mix of the
unemployed, differences in location, the institutional structure of an economy with regard to the
transmission of information about jobs, and others. An economy characterized by more frictions has
a Beverdige curve further away from the origin than an economy with fewer frictions. Because of
frictions, jobs that compete for the same workers could have different productivities and yet survive
in equilibrium. In frictionless markets only the most productive of these jobs survive, as competition
drives the wages in all jobs to the wage.” In: PISSARIDES, Cristopher A. Equilibrium in the Labor Market
with Search Frictions. The American Economic Review, Pittsburgh, vol. 101, n. 04, p. 1092-1105, jun.
2011.
10
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 19.
11
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 20.
12
FINCATO, Denise Pires; WÜNSCH, Guilherme. Subordinação algorítmica: caminho para o direito do
trabalho na encruzilhada tecnológica?. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, SP, v. 86,
n. 3, p. 40-56, jul./set. 2020.
352 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
3 TRIBUTAÇÃO E TRABALHO
13
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 1.
14
DE STEFANO, Valerio. “Negotiating the algorithm”: automation, artificial intelligence, and labor
protection. Comparative Labor Law & Policy Journal, Champaign, Illinois, vol. 41, nº. 1, p. 15-46, 2019.
15
Conforme Rosenblat, “when Uber describes its technology as merely a way to connect two groups
of end users – drivers and passengers – it underplays a more important feature of that technology:
Big Data. Smartphones are basically ubiquitous sensors, and smartphone apps can collect data
through these devices. The data-driven Uber platform gives the company a wide view into how drivers
do their work in certain respects, though it lacks the ability to examine the more qualitative aspects of
the job.” In: ROSENBLAT, Alex. Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work. Oakland:
University of California Press, 2018, p. 141.
16
“É por isso que o texto constitucional brasileiro preconiza a redução das desigualdades, que no
Brasil são muito acentuadas, e não a sua total e completa supressão, a qual terminaria por se mostrar
Bóris Chechi de Assis | 353
incompatível com o que determinam outros dispositivos da Constituição, como os que garantem a
liberdade de iniciativa e de concorrência, a propriedade e a herança, por exemplo.” In: MACHADO
SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019, p. 9.
17
COSTA NETO, João. Dignidade humana, assistência social e mínimo existencial: a decisão do
Bundesverfassungsgericht que declarou a inconstitucionalidade do valor do benefício pago aos
estrangeiros aspirantes a asilo. Revista de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, v. 1, n. 01, p.
173-197, jan-jun. 2014.
18
SARLET, Ingo Wolfgang; FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Reserva do possível, mínimo existencial e
direito à saúde. Revista Brasileira De Direitos Fundamentais & Justiça, 1(1), 171-213. 2007.
19
Ibidem.
20
SUPIOT, Alain. Crítica ao direito do trabalho. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2016, p. 92.
21
DRAY, Guilherme Machado. O princípio da protecção do trabalhador. Coimbra: Almedina, 2015.
22
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 26.
354 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
There are two underlying socioeconomic factors that bring into question the very
survival of the labour and social law systems of regulated capitalism as they have
developed in Europe since 1945, and more particularly since 1990 in the face of
globalization. The first is the pace of technological change. The traditional social
models in most of continental Europe have been coordinated market economies,
dependent on low labour turnover, strong job security, workers’ participation,
social security, and the protection of income. These models were a source of
comparative institutional advantage at the of stable Fordist production systems
with long-term investment, the development of in-firm skills, and incremental
technical innovation. They have, however, proved to be less well placed when
radical innovation is required in a highly competitive globalize market.25
23
DRAY, Guilherme Machado. O princípio da protecção do trabalhador. Coimbra: Almedina, 2015, p.
309.
24
Há quem sustente inexistir “disrupção” nova pela intermediação digital de trabalho, apenas novo
passo da disrupção já existente no avanço tecnológico: “Although creating gig work and making it
more efficient is at the heart of their business models, these labor platforms do not create a new world
of work or fundamentally disrupt an existing pattern of employment relations in the economy. Rather,
labor platforms should be seen as a recent step in a type of sectoral or firm restructuring that involves
a longer trend of growing dualization of the labor market: the growth of various forms of ‘alternate,’
contingent, or contract workers, who do not have the rights or social protections of “employees,” as
per employment and labor law.” In: COLLIER, Ruth Berins; DUBAL, Veena; CARTER, Christopher. The
Regulation of Labor Platforms: The Politics of the Uber Economy. The Berkley Roundtable on the
International Economy. Berkley, 2017. Disponível em: http://brie.berkeley.edu/sites/default/files/reg-
of-labor-platforms.pdf. Acesso em: 03 jul. 2021.
25
HEPPLE, Ben. Factors influencing the Making and Transformations of Labour Law in Europe. In:
DAVIDOV, Guy; LANGILLE, Brian. The idea of labour law. Oxford: Oxford University Press, 2013, p. 30-
42.
Bóris Chechi de Assis | 355
26
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A (in)seguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal
como possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS
Editora, 2020, p. 15.
27
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A (in)seguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal
como possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS
Editora, 2020, p. 15.
28
ALMEIDA, Saulo Nunes de Carvalho; FEITOSA, Raymundo Juliano Rego. Tributação indutora e
intervenção econômica como caminho de efetivação da proteção do trabalhador em face da
automação. Revista Argumentum, Marília/SP, v. 21, n. 3, p. 1001-1023, set.-dez. 2020.
29
ROSENBLAT, Alex. Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work. Oakland: University of
California Press, 2018, p. 116.
356 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
30
ROSENBLAT, Alex. Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work. Oakland: University of
California Press, 2018, p. 107.
31
QUANTO custa uma viagem com o app da Uber?. In: Uber. [S.l., 2021]. Disponível em:
https://www.uber.com/global/pt-br/price-estimate/. Acesso em: 10 jun. 2021.
Bóris Chechi de Assis | 357
32
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional do Trabalho (4ª Região). Recurso Ordinário nº 0020577-
23.2020.5.04.0014. 6º Turma. Recorrente: Raimundo Freire Coelho Junior. Recorrido: Uber do Brasil
Tecnologia LTDA.. Relatora: Des.ª Maria Cristina Schaan Ferreira, 08 de julho de 2021. Disponível em:
https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/nNXEqGufCTV53LOV0TdNAQ?. Acesso
em: 09 jul. 2021.
33
“As the gig economy continues to grow, it functions sometimes as a social safety net for workers
with high income volatility or gaps in employment, even outside the United States. This is partly why
sharing technology has been reframed as an engine of economic populism.” In: ROSENBLAT, Alex.
Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work. Oakland: University of California Press, 2018,
p. 29.
34
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1047.
358 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
35
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1053.
36
BRASIL. Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a
arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília,
DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
37
BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social,
institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1991.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
38
BRASIL. Portaria SEPRT/ME nº 636, de 13 de janeiro de 2021. Dispõe sobre o reajuste dos valores
previstos nos incisos II a VIII do § 1º do art. 11 da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro
de 2019, que trata da aplicação das alíquotas da contribuição previdenciária prevista nos arts. 4º, 5º
e 6º da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004. (Processo nº 10133.100018/2021-91). Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, p. 217, 14 jan. 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-
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Bóris Chechi de Assis | 359
39
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1077.
40
GARBUIO, Antonio Marcos; JÚNIOR, Celso Medeiros de Miranda; FERREIRA, Luzivaldo Luiz; CLAZER,
Rodrigo da Costa. Falha de governo e tributação da folha de pagamento. In: PINHEIRO, Armando
Castelar (coord.). Temas em direito e economia do trabalho. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2021, p.
17-44.
41
BRASIL. Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB nº 971. Brasília, DF: Receita Federal do
Brasil, 2009. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action=15937.
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42
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Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
43
BRASIL. Decreto nº 6.003, de 28 de dezembro de 2006. Regulamenta a arrecadação, a fiscalização
e a cobrança da contribuição social do salário-educação, a que se referem o art. 212, § 5o, da
Constituição, e as Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e 9.766, de 18 de dezembro de 1998, e
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2021.
360 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
44
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1062.
45
GARBUIO, Antonio Marcos; JÚNIOR, Celso Medeiros de Miranda; FERREIRA, Luzivaldo Luiz; CLAZER,
Rodrigo da Costa. Falha de governo e tributação da folha de pagamento. In: PINHEIRO, Armando
Castelar (coord.). Temas em direito e economia do trabalho. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2021, p.
17-44.
46
MATSUMOTO, Cristiane Ianagui; PAIVA, Mariana Monte Alegre de. A problemática envolvendo a
cobrança das contribuições ao Sistema S pelas próprias entidades. In: Migalhas. [S.l.], 17 abr. 2020.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/324857/a-problematica-envolvendo-a-
cobranca-das-contribuicoes-ao-sistema-s-pelas-proprias-entidades. Acesso em: 04 jul. 2021.
47
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dispor sobre os valores da tabela mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, 7.713, de 22 de
dezembro de 1988, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e 10.823, de 19 de dezembro de 2003.Brasília,
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2018/2015/lei/l13149.htm. Acesso em: 04 jul. 2021.
Bóris Chechi de Assis | 361
Até 1.903,98 - -
48
BRASIL. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8036consol.htm. Acesso em: 04 jul. 2021.
49
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1095.
362 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Percentual Valor
Remuneração - R$ 4.000,00
IRRF 22,5% R$ 1.000,00
Contribuição 11% R$ 440,00
Previdenciária – quota
parte do empregado
Valor líquido do R$ 2.560,00
empregado
RAT 3% R$ 120,00
Salário educação 2,5% R$ 100,00
Sistema S 5,6% R$ 224,00
Contribuição 20% R$ 800,00
Previdenciária – quota
parte do empregador
FGTS 8% R$ 320,00
Custo total empresa 49,1% R$ 5.964,00
Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.
50
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.
Rio de Janeiro, RJ: Presidência da República, 1943. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em 04 jul. 2021.
Bóris Chechi de Assis | 363
51
COMO declarar ganhos com a Uber no Imposto de Renda. In: Uber. Brasil, 12 abr. 2021. Disponível
em: https://www.uber.com/pt-BR/blog/informacoes-imposto-renda-motoristas-parceiros-uber/.
Acesso em: 04 jul. 2021.
52
BRASIL. Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a
arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília,
DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
53
BRASIL. Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988. Altera a legislação do imposto de renda e dá
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7713.htm. Acesso em: 04 jul. 2021.
54
BRASIL. Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a
arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília,
DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/decreto/D9580.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
55
BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social,
institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1991.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 03 jul. 2021.
364 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Percentual Valor
Remuneração - R$ 48.000,00
60% R$ 28.800,00
IRPF 7,5% R$ 2.160,00
Contribuição
Previdenciária – 20% R$ 440,00
contribuinte individual
Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.
Percentual Valor
Remuneração - R$ 4.000,00
60% R$ 2.400,00
IRPF 7,5% R$ 180,00
Contribuição
Previdenciária – 20% R$ 440,00
contribuinte individual
Valor líquido mensal R$ 3.380,00
Fonte: Elaborada pelo autor, 2021.
6 O EXEMPLO EUROPEU
56
BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas
de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no
63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de
outubro de 1999. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Acesso em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 04 jul. 2021.
57
SCHERER, Clovis; CASTRO, Jorge Abrahão de. Tributação sobre a folha de pagamento. In: FAGNANI,
Eduardo (organizador). A Reforma Tributária Necessária: diagnóstico e premissas. Brasília: ANFIP,
2018. p. 517-538.
366 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
“[T]he policy behind the inclusion of limb (b) ... can only have been to extend the
benefits of protection to workers who are in the same need of that type of
protection as employees stricto sensu - workers, that is, who are viewed as liable,
whatever their formal employment status, to be required to work excessive hours
(or, in the cases of Part II of the Employment Rights Act 1996 or the National
Minimum Wage Act 1998, to suffer unlawful deductions from their earnings or to
be paid too little). The reason why employees are thought to need such protection
is that they are in a subordinate and dependent position vis-à-vis their
employers: the purpose of the Regulations is to extend protection to workers who
are, substantively and economically, in the same position. Thus the essence of
58
Ou seja, “thinking about general goals of labour law, one could find at least three levels in the
literature. In the highest (first) level we can refer to abstract values that labour laws aim to protect or
promote, such as autonomy, equality, democracy (or ‘voice’), human dignity, social inclusion,
distributive justice, or capabilities. Somewhat more specifically (second level), we can point to some
broad characteristics of labour markets that explain/justify the need to regulate them, such as
inequality of bargaining power, the prevalence of market failures, the commodification of labour, or the
existence of obstacles to the realization of human capital. The goal of labour law is then understood
(sometimes implicitly) as addressing this problem. Finally, a yet more specific (third) level is focused
on the unique position, for example, subordination and dependency. On this view, the general goals of
labour law would be minimizing theses vulnerabilities and preventing unwanted outcomes resulting
from them.” In: DAVIDOV, Guy. A purposive approach to labour law. Oxford: Oxford University Press,
2018, p. 31.
Bóris Chechi de Assis | 367
the intended distinction must be between, on the one hand, workers whose
degree of dependence is essentially the same as that of employees and, on the
other, contractors who have a sufficiently arm’s-length and independent position
to be treated as being able to look after themselves in the relevant respects.”
[...]
59
REINO UNIDO. Suprema Corte do Reino Unido. On appeal from: [2018] EWCA Civ 2748. [2021] UKSC
5. Apelantes: Uber BV e outros. Apelados: Yaseen Aslam e outros. Relator: Lord Leggatt. Londres, 19
de fevereiro de 2021. Disponível em: https://www.supremecourt.uk/cases/docs/uksc-2019-0029-
judgment.pdf. Acesso em 04 jul. de 2021.
60
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 125.
61
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the gig economy.
Oxford: Oxford University Press, 2018, p. 127.
368 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
62
ALI, Hamza. Uber’s U.K. Court Loss Leaves Behind $2.1 Billion Tax Question. In: Bloomberg Tax [S.l.],
19 fev. 2021. Disponível em: https://news.bloombergtax.com/daily-tax-report-international/ubers-u-
k-court-loss-leaves-behind-2-1-billion-tax-question. Acesso em: 04 jul. 2021.
Bóris Chechi de Assis | 369
Seja qual for a mudança a ser tomada, deve sê-lo feito rapidamente, sob o risco de,
caso demorem as alterações jurídico-estruturais, graves penúrias à uma multidão de
trabalhadores.
REFERÊNCIAS
ALI, Hamza. Uber’s U.K. Court Loss Leaves Behind $2.1 Billion Tax Question. In:
Bloomberg Tax [S.l.], 19 fev. 2021. Disponível em:
https://news.bloombergtax.com/daily-tax-report-international/ubers-u-k-court-
loss-leaves-behind-2-1-billion-tax-question. Acesso em: 04 jul. 2021.
BRASIL. Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB nº 971. Brasília, DF:
Receita Federal do Brasil, 2009. Disponível em:
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&id
Ato=15937. Acesso em: 03 jul. 2021.
CALIENDO, Paulo. Curso de Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
COLLIER, Ruth Berins; DUBAL, Veena; CARTER, Christopher. The Regulation of Labor
Platforms: The Politics of the Uber Economy. The Berkley Roundtable on the
International Economy, Berkley, 2017. Disponível em:
http://brie.berkeley.edu/sites/default/files/reg-of-labor-platforms.pdf. Acesso em:
03 jul. 2021.
Bóris Chechi de Assis | 371
COMO declarar ganhos com a Uber no Imposto de Renda. In: Uber. Brasil, 12 abr.
2021. Disponível em: https://www.uber.com/pt-BR/blog/informacoes-imposto-
renda-motoristas-parceiros-uber/. Acesso em: 04 jul. 2021.
DAVIDOV, Guy. A purposive approach to labour law. Oxford: Oxford University Press,
2018.
DE STEFANO, Valerio; ALOISI, Antonio. European legal framework for digital labour
platforms. Luxemburgo: European Comission, 2018. Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUK
Ewj2wKWJwtnxAhVVqJUCHfLwADYQFjAGegQIBRAD&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttps%2Fpublicat
ions.jrc.ec.europa.eu%2Frepository%2Fbitstream%2FJRC112243%2Fjrc112243_leg
al_framework_digital_labour_platforms_final.pdf&usg=AOvVaw0hKwaT6Teieia7l9U
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HEPPLE, Ben. Factors influencing the Making and Transformations of Labour Law in
Europe. In: DAVIDOV, Guy; LANGILLE, Brian. The idea of labour law. Oxford: Oxford
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https://www.wired.com/2006/06/crowds/. Acesso em 03 jul. 2021.
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário. 11. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of the work in the
gig economy. Oxford: Oxford University Press, 2018.
QUANTO custa uma viagem com o app da Uber?. In: Uber. [S.l., 2021]. Disponível
em: https://www.uber.com/global/pt-br/price-estimate/. Acesso em: 10 jun. 2021.
REINO UNIDO. Suprema Corte do Reino Unido. On appeal from: [2018] EWCA Civ
2748. [2021] UKSC 5. Apelantes: Uber BV e outros. Apelados: Yaseen Aslam e
outros. Relator: Lord Leggatt. Londres, 19 de fevereiro de 2021. Disponível em:
https://www.supremecourt.uk/cases/docs/uksc-2019-0029-judgment.pdf. Acesso
em 04 jul. de 2021.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional do Trabalho (4ª Região). Recurso Ordinário
nº 0020577-23.2020.5.04.0014. 6º Turma. Recorrente: Raimundo Freire Coelho
Junior. Recorrido: Uber do Brasil Tecnologia LTDA.. Relatora: Des.ª Maria Cristina
Schaan Ferreira, 08 de julho de 2021. Disponível em:
https://www.trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/nNXEqGufCTV53LOV0T
dNAQ?. Acesso em: 09 jul. 2021.
ROSENBLAT, Alex. Uberland: how algorithms are rewriting the rules of work.
Oakland: University of California Press, 2018.
PAULO CALIENDO
Graduado em Direito pela UFRGS, Mestre em Direito dos Negócios pela Faculdade de
Direito da UFRGS. É Doutor em Direito Tributário pela PUC/SP. Professor Titular na
PUC/RS, onde compõe o corpo permanente do Mestrado e Doutorado, lecionando na
Disciplina de Direito Tributário, e de diversos cursos de Pós-Graduação no país.
Autor do livro finalista do Prêmio Jabuti 2009 “Direito Tributário e Análise Econômica
do Direito”, publicado pela editora Elsevier. Conselheiro do CARF, do Curso de Direito
Tributário, 3ª. edição, Árbitro da lista brasileira do Mercosul. Advogado.
COLABORADORES
Bruna Lietz
Mestre em Direitos Fundamentos Constitucionais em Direito Público e Direito
Privado pela PUCRS (Conceito CAPES 6). Especialista em Direito do Estado pela
UFRGS. Especialista em Direito Público pela UNIASSELVI. Coordenadora do eixo de
pesquisa Estudos sino-brasileiros sobre tributação e tecnologia do Grupo de
Pesquisas Avançadas em Direito Tributário – GTax. Coordenadora da Revista de
Direitos Fundamentais e Tributação – RDFT. Professora. Advogada.
Gilberto Stürmer
Advogado e parecerista. Conselheiro Seccional da OAB/RS (2013/2015). Membro do
Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (IARGS). Membro da Associação dos
Advogados Trabalhistas de Empresas no Rio Grande do Sul (SATERGS). Titular da
Cadeira nº 100 da Academia Brasileira de Direito do Trabalho. Titular da Cadeira nº 4
e fundador da Academia Sul-rio-grandense de Direito do Trabalho. Presidente da
Academia Sul-Rio-Grandense de Direito do Trabalho (2018/2020). Bacharel em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1989). Mestre em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000). Doutor em
Direito do Trabalho pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Pós-doutor
em Direito pela Universidade de Sevilla (Espanha) (2014). Coordenador dos Cursos
de Pós-Graduação – Especialização em Direito do Trabalho e Direito Processual do
Trabalho da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. Coordenador do Núcleo de Direito Público e Social da Escola de Direito da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professor Titular de Direito do
Trabalho nos cursos de graduação e pós-graduação (especialização, mestrado e
doutorado) na mesma escola. Tem, como principais áreas de atuação, o Direito
Individual do Trabalho e o Direito Coletivo do Trabalho, e, como principal linha de
pesquisa, a Eficácia e Efetividade da Constituição e dos Direitos Fundamentais no
Direito do Trabalho. http://lattes.cnpq.br/2198202518344562.
E-mail: [email protected].
380 |Tributação, Tecnologia e Direitos Fundamentais
Roberta Scalzilli
Mestra e Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul- PUCRS, Especialista em Direito Empresarial. Professora em cursos de Pós-
graduação Lato Sensu. Julgadora do Tribunal de Ética OAB/RS. Advogada. E-mail:
[email protected]. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4110110385591421.
Susana Sbrogio’Galia
Juíza Federal, Mestre e Doutoranda do programa de pós-graduação em Direito da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), integrante da Turma
Nacional de Uniformização (TNU) para o biênio 2020-2022.
http://lattes.cnpq.br/4784102934177155.
Thiago Dayan
Advogado. Mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito
Público em Brasília. Doutorando em Direito Tributário pela PUCRS. Conselheiro do
CARF da 1ª Seção.