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LEGAL DESIGN E VISUAL LAW: APLICAÇÃO NO PROCESSO

REVOLUCIONÁRIO JURÍDICO – DIGITAL

LEGAL DESIGN AND VISUAL LAW: APPLICATION IN THE REVOLUTIONARY


LEGAL – DIGITAL PROCESS

Ana Paula Couto e Silva1


Bruna Carolina Pereira2

Resumo: O presente artigo científico tem como finalidade demonstrar a importância de se


analisar o uso do Legal Design e Visual Law como ferramentas emergentes no processo
revolucionário jurídico-digital. O tema é atual e de suma relevância, visto que os recursos de
design estão sendo cada vez mais explorados pelos profissionais da área jurídica, sem que eles
estejam seguros dos efeitos de sua utilização. Portanto, espera-se através deste estudo que a
aplicação das tecnologias de Legal Design e Visual Law seja desmistificada por meio do
apontamento de seus benefícios dentro e fora dos tribunais.

Palavras-chave: Acessibilidade. Disrupção. Legal Design. Tecnologia. Visual Law.

Abstract: This scientific article aims to demonstrate the importance of analyzing the use of
Legal Design and Visual Law as emerging tools in the revolutionary digital legal process. The
topic is current and extremely relevant, since design resources are being increasingly explored
by legal professionals, without them being sure of the effects of their use. Therefore, it is
expected through this study that the application of Legal Design and Visual Law technologies
will be demystified by pointing out their benefits inside and outside the courts.

Keywords: Accessibility. Disruption. Legal Design. Technology. Visual Law.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo busca analisar e comprovar a eficácia do emprego das tecnologias


Legal Design e Visual Law no âmbito jurídico – digital, no sentido de assegurar a
democratização do direito e acessibilidade à justiça; e desmitificar seu uso para os profissionais
da área.

1 Acadêmica do curso de Direito do Centro Universitário UNA, campus Bom Despacho, da rede Ânima Educação.
E-mail: [email protected]
2 Acadêmica do curso de Direito do Centro Universitário UNA, campus Bom Despacho da rede Ânima Educação.
E-mail: [email protected]
Artigo apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de Graduação em Direito do Centro
Universitário UNA, campus Bom Despacho, 2022. Orientadora: Pauliana Maria Dias. Mestre em Direito
Processual Civil. Especialista em Direito Processual Civil. Especialista em Direito do Trabalho e Processual do
Trabalho. Advogada.
Para tanto, é imprescindível tratar da 4ª Revolução Industrial, que solidifica a onda
massiva de avanços tecnológicos que impactam o mundo, sobretudo após a década passada. É
notória a ruptura na forma de viver, trabalhar e relacionar; e não seria diferente na área jurídica,
sendo importantíssimo desenvolver estudos que tratem dos impactos tecnológicos no Direito.
Busca-se analisar como o direito digital vem avançando e conquistando espaço nos
tribunais e demais instituições jurídicas, a exemplo da criação da Lei Geral de Proteção de
Dados, a implantação do sistema PJE, a utilização de audiências virtuais e as intimações via
WhatsApp.
Pretende-se então entender os mecanismos Legal Design e Visual Law, como
tecnologias disruptivas que promovem a reformulação do direito, ou seja, uma mudança no
padrão jurídico. Desse modo, espera-se compreender os conceitos de cada ferramenta, pois,
embora sejam tecnologias que se complementam, possuem significados diferentes.
Interessa compreender o Legal Design para além da estética, como técnica inovadora na
reformulação dos serviços jurídicos, com foco na resolução efetiva dos problemas e que
promovem uma mudança de perspectiva e um direcionamento focado nos usuários do sistema
legal – os profissionais jurídicos e demais cidadãos. Ainda, examinar o Visual Law como um
desdobramento do Legal Design, que emprega técnicas visuais e de linguagem para facilitar a
comunicação dos documentos jurídicos, em vez de palavras rebuscadas, expressões em latim e
textos extensos e prolixos.
Ademais, deseja-se interpretar a aplicação de tais mecanismos no processo de garantia
e efetivação dos princípios constitucionais. No cenário atual, fica mais evidente a dificuldade
dos cidadãos em reconhecer seus direitos. Em decorrência, a análise desses mecanismos pode
demonstrar a celeridade e eficiência processual, bem como sugerir a efetiva participação da
população no processo jurídico, através do acesso à justiça, da garantia da ampla defesa e
contraditório.
É preciso falar que ainda há resistência na utilização destes mecanismos, pois o âmbito
jurídico possui uma reputação de grande prestígio que perpetua há séculos, e alguns críticos
acreditam que substituir o vocabulário complexo por algo mais simples e direto, empobrece e
banaliza o saber jurídico, tornando superficial a comunicação que dá suporte ao direito e à sua
prática jurídica. O estudo aponta a visão dos magistrados frente as práticas de Legal Design e
Visual Law e deve apresentar um contraponto, ao referenciar aplicação conjunta de tais
mecanismos como possíveis beneficiadores frente aos maiores interessados nas questões
jurídicas: a população que busca amparo judicial, mas que não detém conhecimento jurídico; e
os próprios cientistas do direito.

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Outro ponto que será suscitado é a integração da inteligência artificial com o Legal
Design e Visual Law. Todavia, é uma área ainda inexplorada e que carece de dados concretos.
É sabido que a inteligência artificial está presente em metade dos tribunais brasileiros, a
tecnologia facilitou o funcionamento do Judiciário durante a pandemia do Covid-19,
aumentando a produtividade. Já é possível que essas inteligências transcrevam audiências,
elaborem sugestões de minuta até a realização do juízo de admissibilidade de recursos e o
cálculo da probabilidade de reversão de decisões. Utilizar mecanismos como Visual Law e
Legal Design, junto a inteligência artificial, pode trazer resultados satisfatórios nas soluções
das demandas jurídicas.
Para melhor compreender essa temática, foi adotado o método dedutivo com fulcro na
revisão bibliográfica, através do levantamento de materiais doutrinários, legislação
constitucional e infraconstitucional, além de artigos, entrevistas, pesquisas, teses e dissertações.
De maneira esquematizada, com foco em fomentar discussões sobre o tema, ao final do
presente estudo deverá ser compreendido a dimensão do sistema tecnológico e como a
utilização das técnicas de Legal Design e Visual Law podem contribuir para um sistema jurídico
mais dinâmico, eficiente e que seja sobretudo, justo, democrático, focado na inclusão e
integração dos indivíduos.

2 LEGAL DESIGN E VISUAL LAW: TECNOLOGIAS DISRUPTIVAS

No século XVIII a Inglaterra foi berço da I Revolução Industrial, quando surgiram


importantes invenções, como máquinas a vapor para produção e transporte de mercadorias,
além da utilização do carvão como fonte de energia; marco do capitalismo industrial. Após,
veio a II Revolução Industrial, na qual ocorreu a descoberta de petróleo e eletricidade como
fontes de energia, e o aumento da produção em massa, a exemplo do fordismo, símbolo do
capitalismo no século XX. A partir de 1945, as mudanças se intensificaram e deram início à III
Revolução Industrial: viu-se o avanço na conquista espacial, desenvolvimento da biotecnologia,
criação do computador e capitalismo industrial transformando-se em capitalismo financeiro;
uma onda que perdurou até a última década. (ORTIZ, 2021). Desde então, o globo tem sido
envolto por um avanço tecnológico colossal, que torna impossível não se falar hoje em Quarta
Revolução Industrial ou Revolução 4.0.

Em relação ao impacto sistêmico, a Revolução 4.0 provoca transformações em sistemas


inteiros, que envolvem empresas, indústrias, a sociedade e vários países. É perceptível

3
a modificação das sociedades, nos seus comportamentos e relações sociais, inclusive no
que tange a resolução de conflitos e normatizações da vida social. (Ortiz, 2021, p. 13).

Nesse sentido, importa dizer que o engenheiro e economista alemão Klaus Schwab,
também fundador do Fórum Econômico Mundial, é quem formula o conceito de Quarta
Revolução Industrial. Em obra homônima, o Schwab (2015) explica os motivos determinantes
que o fazem crer estar diante de uma mudança de paradigma: o quadro atual é totalmente
diferente dos demais; a humanidade vivencia algo diferente de tudo que já experienciou, uma
era em que a partir da velocidade, amplitude, profundidade e impacto sistêmico, transformará
profundamente a forma que as pessoas vivem, trabalham e se relacionam.

Diante das mudanças no mundo, como desenvolvimento da economia industrial, houve


várias transformações, denominadas revoluções industriais, conforme se baseou cada
momento da história. Seu primeiro momento foi de produção a vapor. Depois, foi a vez
da produção novidade por eletricidade, com o impulso dos meios de comunicação em
massa e informação. Até que se chegou a Quarta Revolução Industrial, com a internet
e as telecomunicações, que mudaram o jeito de produzir mediante a globalização.
(ORTIZ, 2021, p.11).

Por conseguinte, a Revolução 4.0 também explicita uma transformação profunda no


universo jurídico, provocada pelas inovações tecnológicas deste século, tendo nesse liame,
como um dos feitos mais notáveis a adoção de Inteligências Artificiais – AI’s, pelos Tribunais
de Justiça, capazes de simular o pensamento humano para tomadas de decisões e previsões,
com base em um complexo sistema de algoritmos. Explica Louise Silva (2021, p. 120):

Usar a tecnologia a serviço do direito confere a possibilidade de afetar de modo


determinante as análises de dados envolvendo casos que, talvez, não pudessem ser
adequadamente confrontados com os métodos tradicionais de pesquisa em
jurisprudências. Isso possibilita o manejo e o reconhecimento de padrões e o
cruzamento de informações e a geração de conclusões mais completas sobre os diversos
contextos envolvendo a esfera judicial.

Para Ortiz (2021), a modificação nas instituições sociais é nítida, e o direito como
ciência social aplicada é sujeito de modificações frente ao desenvolvimento tecnológico,
transformações socioeconômicas e questões jurídicas inéditas como inteligência artificial,
blockchain3, robóticas e outras, que estão paulatinamente sendo judicializadas.

Aplicação de novas tecnologias, ao mesmo tempo que levanta reflexões e debates sobre
as relações sociais e jurídicas, proporciona mais eficiência e interação entre o cidadão
e o Estado. [...] Na perspectiva da tecnologia da informação, o direito e o Estado

3 A tecnologia blockchain é uma rede que funciona com blocos encadeados muito seguros que sempre carregam
um conteúdo junto a uma impressão digital. Tecnoblog, O que é blockchain? São Paulo, 2017.

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precisam se adequar e se reinventar, seja para acompanhar o avanço tecnológico, seja
para se aproximar da sociedade. (ORTIZ, 2021, p.18).

Nesse sentido, o Legal Design e o Visual Law se apresentam como tecnologias


disruptivas, que propõem uma reformulação na forma de se apresentar o direito, e somam-se às
demais inovações paradigmáticas, que buscam atualizar e aprimorar cada vez mais o universo
jurídico. Pode-se afirmar que:

Uma abordagem orientada ao design não é anti-tecnologia. A tecnologia é um recurso


que devemos usar em nossos projetos de inovação. O design centrado no ser humano
pode ser um impulsionador da inovação tanto quanto a tecnologia – se não for ainda
melhor. O design se preocupa não tanto com os meios pelos quais novos processos
legais podem ser realizados, mas sim com a experiência dos humanos que usarão esses
processos. (HAGAN, 2022 p. s/n).

Em 2013, ocorreu na Universidade de Stanford a criação do Legal Design Lab4, que se


tornou a principal referência acadêmica quando se trata da aplicação da metodologia do Design
Thinking5 no mundo do direito, sobretudo após o desenvolvimento do e-book Law by Design6.
Na referida obra, Hagan (2017) une o mundo da lei e do design, defendendo uma abordagem
orientada para a inovação jurídica.
Hagan foi responsável pelo desenvolvimento do método conhecido como Legal Design:

O legal design é a aplicação do design centrado no ser humano ao mundo do direito,


para tornar os sistemas e serviços jurídicos mais centrados no ser humano, utilizáveis
e satisfatórios. O design jurídico é uma maneira de avaliar e criar serviços jurídicos,
com foco em quão úteise envolventes esses serviços são. É uma abordagem com três
conjuntos principais de recursos – processo, mentalidade e mecânica – para os
profissionais do direito usarem. Esses três recursos podem nos ajudar a conceber,
construir e testar melhores maneiras de fazer as coisas no direito, que envolverão e
capacitarão tanto leigos quanto profissionais do direito. (HAGAN, 2022 p. s/n).

O Legal Design pode ser conceituado como “a aplicação de princípios e elementos de


design e a experiência do usuário na concepção e na elaboração de documentos ou produtos
jurídicos”. (MAIA; NYBØ; CUNHA, 2020, p. 7). Sendo assim, o Legal Design apresenta-se
como uma área de estudo multidisciplinar focada na comunicação jurídica objetiva e no

4 O Legal Design Lab é uma equipe interdisciplinar sediada na Stanford Law School & d.school, construindo uma
nova geração de produtos e serviços jurídicos. O laboratório de design jurídico, Stanford, Califórnia, 2022.
5 Design Thinking é uma abordagem que busca solução de problemas de forma coletiva e colaborativa em uma
perspectiva de máxima empatia com os interessados. Endeavor. Design Thinking: ferramenta de inovação para
empreendedoras e empreendedores. 21 de maio de 2021.
6 Law by design: “Lei por design” é uma lente de coloca o foco da lei na inovação, teste e construção de sistemas
que beneficiam as pessoas envolvidas neles. Hagan, Margaret, Law By Design, p.1, 2022.

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aprimoramento da própria experiência do direito, através da adoção de técnicas de design
centradas no público (COMPAGNUCCI et al. 2019).
Para o expert Bernardo de Azevedo e Souza (2021), o Legal Design se constitui como
uma área mãe do Visual Law, oferecendo potencialidades como a melhora dos serviços
jurídicos e a maneira como os jurisdicionados são atendidos, abrangendo tanto a experiência do
usuário no site de determinado tribunal ou empresa, como propriamente no momento de obter
as informações sobre seus direitos e deveres. Enquanto isso, o Visual Law trata propriamente
de uma nova forma de comunicação no Judiciário, na AGU, no Ministério Público e entre os
advogados e os clientes. O uso dessa técnica permite uma melhor comunicação das ideias
desenvolvidas pelos profissionais, possibilitando-os expor melhor os seus argumentos.
O uso do Visual Law envolve técnicas de recursos visuais, a exemplo: tabelas, figuras
e gráficos, inseridos em petições; visando assim uma melhoraria na comunicação dos
argumentos jurídicos e nas teses apresentadas, bem como na qualidade da comunicação entre
os atores processuais (AZEVEDO E SOUZA, 2021).
É necessário dizer que o aprimoramento da advocacia demanda novas concepções
acerca da utilização do Legal Design e do Visual Law no processo revolucionário digital. Não
obstante, deve se considerar dentro desse processo a implementação das Inteligências
Artificiais no ambiente jurídico como uma realidade que atinge mais os tribunais brasileiros e
que precisa ser encarada quando se fala da aplicabilidade do Legal Design e do Visual Law.

As novas ferramentas disponíveis possibilitam, portanto, a exploração de novas e criativas


soluções para problemas antigos da comunicação jurídica, do direito e do sistema de justiça.
Em igual sentido, auxilia a enfrentar os novos problemas, trazidos pelas tecnologias disruptivas.
Dessa forma, o legal design está entrelaçado com o avanço das inovações tecnológicas: na
medida que a tecnologia avança, surgem novas ferramentas, novas possibilidades e novos
desafios para se pensar o sistema do direito. (PRESGRAVE et al. p. 28)

Outrora, delimitar os conceitos de Legal Design e Visual permite entender com maior
facilidade a aplicabilidade de cada técnica. Logo, conclui-se que o Visual Law se estabelece
como uma área pertencente ao Legal Design.

Visual Law é uma das áreas do Legal Design que não se refere apenas à aplicação de
conceitos visuais em projetos na área do Direito, mas à fase final do projeto de design
e visa melhorar a comunicação e a entrega das informações de petições, contratos,
projetos de transformação digital do ambiente jurídico, entre diversas outras
possibilidades. (COELHO E HOLTZ, [2020], p. 1)

É notória a busca constante pela adaptação do direito à nova realidade implementada


pela Quarta Revolução Industrial.

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Se analisarmos profundamente esse fenômeno, vamos compreender que todo esse
arcabouço de adaptação do Direito a essa nova realidade (de uso de tecnologia de
última geração para automação de tarefas e análise de dados e da aplicação de técnicas
de design para a solução de problemas) se integram pela busca de acesso à justiça, do
melhor caminho para dar a cada um o que lhe é de direito. (COELHO E HOLTZ,
[2020], p. 13)

Hagan (2022) defende a importância de se falar sobre inovação legal para além dos
termos estritamente tecnológicos, trazendo uma nova perspectiva no que concerne a aplicações
inovadoras como Legal Design, que devem sim serem reconhecidas como parte essencial no
desenvolvimento do direito 4.0.

Essas discussões são orientadas para aumentar a eficiência dos processos jurídicos,
automatizar tarefas humanas por meio de máquinas e aumentar a produtividade por
meio de um melhor gerenciamento de dados e conhecimento. Essas discussões
normalmente deixam de fora o conceito de design, apesar de sua riqueza em métodos,
processos, ferramentas e mentalidades que podem gerar inovações mais bem-
sucedidas, revolucionárias e intencionais (incluindo aquelas que usam tecnologia).
(HAGAN, 2022 p. s/n).

Destarte, o direto sofre atualmente uma disrupção, ou seja, uma quebra no padrão
estabelecido até então; em que diferentes aplicações ou tecnologias, como Visual Law,
cumprem o dever de atualizar o direito para que não se torne obsoleto, mas sim acompanhe os
tempos vigentes atendendo as necessidades imperiosas que a sociedade lhe demanda.

3 VISUAL LAW E LEGAL DESIGN COMO GARANTIDORES DOS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS

Segundo Raniere (2019), Estado e Direito podem ser definidos como fenômenos sociais
que objetivam a organização da vida em sociedade, e têm em comum a referência de poder.
Outrora, a concepção de democrático pode ser dada como o exercício da soberania popular.
O Estado de Direito iniciou-se após a Revolução Francesa, momento em que se mudou
a política das sociedades, acabando com o absolutismo. Foi um marco importante para que o
poder não se concentrasse apenas nas mãos de uma pessoa, somente a lei era soberana, mas não
atendia, necessariamente, a vontade geral do povo e o Estado era uma espécie de mediador de
conflitos (SILVEIRA, 2019).
No Estado Democrático de Direito, atender a vontade do povo é algo fundamental, o
que não significa que será a vontade da maioria ou de todos, até porque, quantidade numérica

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não é sinônimo de bom senso. A título de exemplo, cita-se o holocausto. O Estado Democrático
de Direito deve ser pautado na dignidade da pessoa humana, respeitadas as diferenças, com
participação popular e com poderes divididos e harmônicos entre si, estabelecendo uma
sociedade justa e estável, com relações de poder mais benéficas que prejudiciais (SILVEIRA,
2019). Nesse sentido, segundo Ranieri (2019, p.336):

Estado Democrático de Direito é a modalidade do Estado constitucional e


internacional de direito que, com o objetivo de promover e assegurar a mais ampla
proteção dos direitos fundamentais, tem na dignidade humana o seu elemento nuclear
e na soberania popular, na democracia e na justiça social os seus fundamentos.

Trazendo ao cenário atual, em se tratando de acessibilidade, é inegável a falta de aptidão


de muitos cidadãos para o reconhecimento de direitos juridicamente exigíveis (Cappelletti e
Garth, 1988), pois nem todos são letrados em direito, isso mostra o quanto o sistema jurídico
ainda precisa de adaptações.
A evolução do direito, principalmente nos aspectos tecnológicos e aplicação de
mecanismos da era digital, como Legal Design e Visual Law, tem impactado positivamente
quando se fala em compreensão do cidadão leigo, além do mais, é uma forma de inclusão e
sobretudo, parte da função do Estado Democrático de Direito. Assim, o Legal Design oferece
potenciais soluções aos problemas jurídicos. Para Azevedo e Souza (2021, online):

O Legal Design é amplo e abrange diversas finalidades, como desenvolver soluções


inovadoras e criativas para os problemas jurídicos; entregar serviços mais centrados
nos clientes; aprimorar o processo de tomada de decisões; transformar ideias em
produtos e negócios; e melhorar a comunicação dos documentos jurídicos.

Já o Visual Law, através de recursos visuais, objetiva tornar os documentos jurídicos


mais acessíveis de forma mais fluida e agradável, tanto para o cidadão leigo, quanto para o
profissional. Para isso, adota-se diversos tipos de elementos visuais, tais como: imagens, vídeos,
infográficos, gamificação7, QR codes, linhas do tempo, dentre outras coisas (AZEVEDO E
SOUZA, 2021).
Assegurar que a informação chegue a todas as realidades, faz parte do devido processo
legal, pautado no princípio da ampla defesa e contraditório, pois oportuniza extensa
participação das partes de maneira efetiva. Tais direitos são garantidos pelo art. 5º da
Constituição Federal.

7 Gamificação pode ser definida como o emprego de técnicas de jogos em situações do dia a dia. FIA, Business
School, Gamificação. O que é, vantagens e como implementar. 29 de julho de 2020.

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O devido processo legal, tem como função evitar o abuso de poder e garantir que todos
os outros princípios sejam empregados, como uma forma organizacional, que condensa todos
os outros princípios e garantias que devem ser aplicadas (MONTANS DE SÁ, 2021).
Ampla defesa e contraditório garantem que todos têm o direito de conhecer as demandas
e ter ciência de todos os atos do processo, bem como reagir da maneira que lhe for mais
benéfica, de acordo com a lei. (MONTANS DE SÁ, 2021). Ambos são tratados no mesmo
dispositivo da Constituição Federal:

Art.5, LV- Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (Brasil, 1988, Art.5º).

O princípio do contraditório se relaciona intimamente com o “poder de influência”,


conforme salienta DIDIER JR, (2021, p.92).

Não adianta permitir que a parte simplesmente participe do processo. Apenas isso não
é o suficiente para que se efetive o princípio do contraditório. É necessário que se
permita que ela seja ouvida, é claro, mas em condições de poder influenciar a decisão
do órgão jurisdicional. Se não for conferida a possibilidade de a parte influenciar a
decisão do órgão jurisdicional- e isso é o poder de influência, de interferir com
argumentos, ideias, alegando fatos, a garantia do contraditório estará ferida. É
fundamental perceber isso: o contraditório não se efetiva apenas com a ouvida da
parte; exige-se a participação com a possibilidade, conferida à parte, de influenciar no
conteúdo da decisão.

A ampla defesa está ligada ao contraditório, pois não há contraditório sem defesa. É a
concretização do contraditório. (MONTANS DE SÁ, 2021). Sendo assim, para que haja efetiva
participação, como garantia do contraditório e ampla defesa, a parte deve compreender
claramente seus direitos. Na visão de Britto e Cruz (2021 p.6):

A revolução tecnológica alcança cada vez mais espaços e chega ao mundo jurídico,
estreitando a relação do indivíduo com princípios fundamentais, promovendo o acesso
à justiça e garantindo o devido processo legal. Nesse contexto, a Informática Jurídica
pode ser definida como o processamento e o armazenamento eletrônico das
informações jurídicas, com caráter complementar e auxiliar ao trabalho dos
operadores do Direito.

Nesse liame, peças jurídicas extensas com linguajar rebuscado e prolixo tornam-se
desnecessárias, considerando que podem ser substituídas por uma comunicação clara, simples
e visualmente melhor. Assim, para Presgrave et al. (2021), os recursos aplicáveis através do
Visual Law são diversos e não pretendem substituir termos e expressões jurídicas, mas sim

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torná-las mais acessíveis ao público afetado, visam sobretudo, favorecer a compreensão para as
pessoas não atuantes na área jurídica.

[...] Elas abrangem tanto a utilização de recursos visuais ou audiovisuais (visual law),
quanto a busca por escrita mais direta e objetiva (voltado ao leigo), que favoreça a
compreensão, em detrimento da linguagem demasiado técnica e rebuscada, muitas
vezes incompreensível para pessoas que não atuem na área. (PRESGRAVE et al.,
2021, p. 49)

Por outro lado, a inteligência artificial tem desburocratizado as atividades jurídicas,


tornando-as mais céleres, práticas, eficientes e seguras, razão pela qual, os advogados têm
buscado desenvolver novas habilidades para aproveitar o máximo das tecnologias disponíveis
(AB2L, 2021).
Segundo Coutinho, (2021) advogados que veem a tecnologia como ferramentas
propulsoras de resultados, conseguem se relacionar melhor com esse quadro paradigmático,
fazendo dessa prática um diferencial competitivo no mercado.
Hagan (2022) sustenta que, advogados que incorporam novas tecnologias às práticas
jurídicas, tendem a conquistar o enorme mercado, e que os aplicadores do direito também
precisam assumir seus papéis de liderança no serviço público, experimentando novas
modalidades de assistência jurídica e pro bono; pensando sempre em maneiras mais eficazes
de levar orientação jurídica a mais pessoas. Contudo, é necessário que haja sensibilidade ao fazer
uso dessas técnicas:

Evidentemente, as estratégias de visual law utilizadas no âmbito de um processo


criminal, em que o que está em jogo é a liberdade do acusado, não pode ser a mesma
usada em um processo cível, em que se discute o inadimplemento contratual, por
exemplo. Igualmente, o uso de visual law em petições voltadas para magistrados não
é o mesmo daquele utilizado em contratos ou termos de uso e serviços direcionados
para leigos. (PRESGRAVE et al., 2021, p. 53).

A utilização dessas ferramentas traz benefícios diversos, e garante a aplicação dos


princípios da celeridade processual e da duração razoável do processo, e também o princípio da
eficiência processual, que nada mais é do que estabelecer técnicas para que o processo seja
eficiente, dinâmico e produza mais resultados com menores esforços (MONTANS DE SÁ,
2021).
Além disso, como consequência da pandemia do Covid-19, os processos interativos
entre os advogados, tribunais e a tecnologia, ficaram cada vez mais rápidos. Houve a
implantação do Processo Judicial Eletrônico (PJE), bem como audiências por meio do sistema

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Cisco Webex, o que facilitou muito, tanto para o Poder Judiciário, quanto para os advogados e
partes processuais.
Segundo o especialista Azevedo e Souza, (2019, p.7):

O processo eletrônico carrega consigo objetivos, como democratização do processo


judicial, e giza princípios constitucionais e processuais, como da economia
processual, da celeridade processual, do acesso à justiça, da automação das rotinas, da
razoável duração do processo, da instrumentalidade das formas, da oralidade, da
ampla acessibilidade, da imediatidade e da ampla disponibilidade. Por isso, é válido
afirma que a dinamização da comunicação jurídica, por intermédio da utilização de
recursos visuais, é elemento imprescindível.

Sendo assim, o emprego do Legal Design e do Visual Law, assegura o princípio


constitucional do acesso à justiça e reforça o Estado Democrático de Direito, frente ao processo
revolucionário jurídico – digital. Nesse sentido, a adoção dessas técnicas inovadoras, não
apenas permitem uma melhora significativa na comunicação jurídica e na compreensão do
conteúdo visado, mas também resguardam a aplicação do contraditório e da ampla defesa:

No âmbito do Direito, o desafio é utilizar destas ferramentas para melhorar a


comunicação jurídica, auxiliando na compreensão do conteúdo pretendido, sem que
este perca sua complexidade e profundidade. Em outras palavras, busca-se o uso
consciente da hipermodalidade para melhorar a comunicação jurídica, o que pode
contribuir também para a efetivação do contraditório e da ampla defesa.
(PRESGRAVE et al., 2021, p. 41).

Isto posto, fica cada vez mais evidente a importância dos mecanismos Legal Design e o
Visual Law, pois estão revolucionando o mundo jurídico. Quando aplicados da maneira certa,
atuam como meios de inclusão e praticidade processual: “a proposta do Legal Design e do
Visual Law é aproximar as pessoas da informação jurídica. Isso também é acesso à justiça”.
(COELHO E HOLTZ, 2020, p. 28). São métodos que chegaram para ficar, sendo assim, é uma
realidade que todos, em algum momento, vão desfrutar. O ponto importante é atender as
necessidades dos menos experientes, como forma de garantia constitucional.

4 LEGAL DESIGN E VISUAL LAW SOB A ÓTICA DOS TRIBUNAIS

Ainda paira sobre a esfera jurídica um temor causado pelas inovações tecnológicas
emergentes. Todavia, longe do que se acredita, tais mudanças não acabarão com o direito.
Existe uma demanda exponencial por profissionais aptos a esses novos desafios e a questão é
justamente a capacitação para essas novas habilidades e competências. Na realidade, o que está
mudando é a forma como os serviços jurídicos são prestados (COELHO E HOLTZ, 2020).

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No Brasil, a adoção de inteligências artificiais no Poder Judiciário é uma realidade; que
inclusive se mostra uma ferramenta essencial para auxiliar em atividades, como leitura
automatizada de documentos, bem como forma de apoio aos magistrados e servidores,
buscando reduzir o volume de demandas judiciais em tramitação. Entretanto, ainda não é
possível consentir que o poder de decisão do magistrado seja atribuído à tecnologia artificial,
ao passo que não se sabe até que ponto a IA consegue desenvolver o raciocínio lógico-jurídico
e chegar a um resultado ideal (SILVA, 2021).

Nada funciona sem os profissionais experientes de cada assunto para criar e


desenvolver essas inovações, sem aqueles que serão seus usuários e, principalmente,
sem aqueles que irão analisar todas as informações para transformá-las em resultado
e que têm a percepção sobre como levar a informação da forma adequada para o seu
público-alvo (COELHO E HOLTZ, 2020, p. 9).

Nessa onda revolucionária, o design oportuniza uma nova maneira de se pensar e


melhorar a experiência jurídica para o leigo, que utiliza o sistema legal buscando justiça ou
solucionar uma lide. É também importante do ponto de vista do aplicador do direito, seja ele o
juiz, o advogado, o serventuário de justiça ou outro. (HAGAN, 2022).
Pode-se dizer que, a aplicação de mecanismos visuais, pode tornar os textos mais
convincentes. Conforme explica Coelho e Holtz (2020), as imagens são identificadas e
processadas mais rapidamente do que as palavras, e são memorizadas com mais facilidade; esse
fato acontece devido a memória de longo prazo captar as palavras unicamente através do canal
verbal, ao passo que as imagens são captadas pelo canal verbal e visual, sendo armazenadas em
diferentes lugares do cérebro. Essa dupla captação gera diferentes possibilidades de acesso da
memória, utilizando-se qualquer um dos canais para lembrar a informação. Nota-se que a
imagem não substitui as palavras, mas a associação de elementos visuais ao conteúdo mais
tradicional, expandirá a percepção e a efetividade do armazenamento da informação. Esta
junção entre palavra e imagem é a modalidade de comunicação mais eficiente e natural para o
cérebro humano; e as representações visuais transparecem mais credibilidade do que apenas as
textuais.
A utilização de recursos visuais garante uma melhor experiência do usuário final,
através da democratização do acesso às informações jurídicas para leigos e para aqueles que
manuseiam peças processuais. Para Azevedo e Souza (2021), a adoção das técnicas de design
pode impactar positivamente a persuasão do magistrado. Sobre o Visual Law:

Trata-se da utilização de técnicas que conectam a linguagem escrita com a linguagem


visual ou audiovisual, o que é possível a partir do avanço tecnológico e, por

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consequência, dos novos meios que estão à disposição dos operadores do Direito. A
aplicação da técnica se relaciona à busca de funcionalidade das informações, mediante
o uso com cautela de elementos gráficos que amplifiquem a potencialidade de
absorção do conteúdo, mas sempre primando pela geração de empatia, nunca da
estranheza no interlocutor/usuário. (PRESGRAVE et al., 2021, p. 36)

Sob a perspectiva de que as peças processuais são instrumentos, que objetivam persuadir
os juízes, para decidir em prol de um dado argumento, os nudges são recursos indispensáveis
na estratégia de um advogado. Assim, o uso dos instrumentos de Legal Design pode ser um
recurso decisivo na elaboração de peças processuais. A preferência pela linguagem objetiva, de
cores e recursos textuais (fonte, negrito, tamanho, ícones, linha do tempo, etc.), pode ser a chave
para convencer um juiz sobre determinado argumento (MAIA; NYBØ; CUNHA, 2020, p. 21).
Coordenado por Azevedo e Souza, o grupo de pesquisa Visual Law publicou em 2021,
o resultado do estudo denominado “Elementos visuais em petições na visão da magistratura
federal”, respondido consensualmente por 147 juízes e juízas federais de primeiro grau, de 17
estados do país. O trabalho teve início em fevereiro de 2020, motivado pela inexistência de
investigações amplas no Brasil a esse respeito, e porque os profissionais estavam adotando
recursos visuais em peças processuais, sem saber como o Poder Judiciário receberia tal
novidade (AZEVEDO E SOUZA, 2021, online).
O grupo Visual Law, demonstrou por meio do estudo supracitado, que o magistrado vê
a argumentação genérica, a redação prolixa e o número excessivo de páginas como o maior
problema das petições. Questionados sobre quais recursos visuais eram mais recebidos por eles,
o fluxograma foi o que mais se destacou (46,4%), seguido do uso de links (37,9%) e gráficos
(35,9%). Cerca de 38% dos entrevistados acreditam que a combinação de elementos textuais e
visuais tornam a leitura e análise mais agradável. Destaca-se que somente 3,3% dos magistrados
se mostraram contrários ao uso de elementos visuais em petições. Sobre isso, o uso de QR
Codes (39,2%) e vídeos (34,6%) são recursos que menos agradam os participantes, sendo que
mais de 43% são favoráveis ao uso de qualquer elemento visual. Nesse contexto, 77,12%
indicaram que o uso moderado dos recursos visuais, facilita a análise da petição (AZEVEDO;
SOUZA, 2021, online).
Já a segunda fase do estudo, publicada em março, 2022 (online), sob o título “Elementos
visuais em petições na visão da magistratura estadual”, também sob coordenação de Azevedo
e Souza; contou com a participação de 517 juízes estaduais, integrantes de unidades judiciárias
de todos os estados do país. Agregando informação, 54,30% dos juízes entrevistados
responderam que um dos maiores problemas atuais nas petições é a transcrição excessiva de
jurisprudências. E sobre o que torna a leitura e análise de petições mais aprazível, 41%

13
selecionaram a combinação de elementos visuais e textuais, mas 54,1% são contrários ao uso
de ícones (pictogramas). Também, quando comparado à primeira pesquisa publicada, a
utilização de links em petições cresceu 11,2% e o uso de gráficos cresceu 6,2%, revelando que
há uma tendência dos advogados em investir na comunicação visual para reforçar seus
argumentos jurídicos.
Ainda, é importante ressaltar que 77,9% dos participantes assinalaram que o uso de
recursos visuais facilita a análise de petições desde que usado sem excessos. Por fim, concluiu-
se que a magistratura federal e estadual se mostra contrária ao uso de argumentação genérica,
bem como ao número excessivo de páginas e redação prolixa, idealizando assim, peças com
redação objetiva, que apresentem boa formatação, número de páginas reduzido e que façam uso
da combinação de elementos textuais e visuais.

Ademais, é possível perceber, após várias prototipações de peças jurídicas com


recursos visuais em nossos escritórios, que a utilização destes deve ser moderada para
não causar estranheza ao destinatário do texto. Isso porque nós, por natureza,
possuímos um grande grau de repulsa ou rejeição ao que difere daquilo a que estamos
habituados.
Por isso, é importante que as petições não representem uma ruptura completa com o
que é tradicionalmente utilizado na prática da advocacia, para que nenhuma
estranheza seja gerada. Ou seja, uma formatação completamente inovadora, que
rejeite os modelos tradicionais de peticionamento, pode ser prejudicial para a
compreensão da peça, gerando efeito oposto ao almejado com a utilização do visual
law (PRESGRAVE et al., 2021, p. 51).

Em outro plano, o Conselho Nacional de Justiça, publicou a Resolução n° 347/2020,


que tem como objetivo instituir a Política de Governança das Contratações Públicas dos Órgãos
do Poder Judiciário. Seu art. 32 privilegia a acessibilidade às informações e, em seu parágrafo
único, determina a utilização, sempre que oportuna, dos recursos de Visual Law como
ferramentas de linguagem, quando estes forem garantidores de clareza, usabilidade e
acessibilidade durante a análise de dados e fluxos de trabalho, de documentos e de dados
estatísticos em ambiente digital (BRASIL, 2020).
Não obstante, o Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais, publicou dia 05 de outubro,
a portaria conjunta número 1391/PR/2022, que regulamenta o uso de linguagem e de Visual
Law (direito visual) no seu âmbito de competência. Conforme sugere a portaria, o fato advém
da modernização institucional e da necessidade de o Poder Judiciário adotar metodologias ágeis
e recursos tecnológicos para, através da otimização dos processos de trabalho, aperfeiçoar a
prestação jurisdicional e, colocar o usuário como elemento central na execução do serviço
público (MINAS GERAIS, 2022). A portaria em análise elenca quais são os fundamentos do
uso de linguagem simples e de direito visual:

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Art. 3º O uso de linguagem simples e de direito visual tem como fundamentos:
I - a crescente demanda da sociedade por comunicação com qualidade, eficiência e
transparência, de modo a facilitar seu conhecimento e acesso aos serviços do Poder
Judiciário;
II - o direito à adequada prestação de serviços, devendo os órgãos adotar linguagem
simples e compreensível a todos;
III - a capacidade de a linguagem atuar como um meio para facilitar o exercício de
direitos e o cumprimento de obrigações pela sociedade;
IV - o foco em quem usa os serviços e a geração de valor público. (MINAS GERAIS,
2022).

Pelo exposto, vê-se que a utilização do Legal Design e do Visual Law está sendo cada
vez mais utilizada no campo jurídico, mas exige o uso adequado e responsável, a fim de que
não cause estranhamento ao destinatário, e tenha um efeito diverso do pretendido.

4.1 CRÍTICAS À IMPLEMENTAÇÃO

Apesar da utilização de recursos visuais no meio jurídico ter sido bem recebida por
grande parte dos profissionais da área, ainda há aqueles mais tradicionalistas que estão receosos
quanto à prática. Por exemplo, Streck (2021) faz críticas veementes ao Visual Law. Para ele,
trata-se da desmoralização da ciência jurídica do direito; e reforça que não se deve substituir de
modo algum a reflexão humana por algoritmos ou desenhos, que o direito não precisa ser
inteligível a todas as pessoas, mas sim a quem cursou essa faculdade, pois o direito é uma
disciplina com especificidades. Por óbvio, essas críticas são contrárias aos princípios
constitucionais que resguardam o acesso à justiça.
Segundo Presgrave et al. (2021), é sabido que a inserção de Legal Design e Visual Law
gera desconforto quando não utilizados com sabedoria, como ocorre com aquelas petições que
mais se assemelham a reportagens jurídicas, devido ao uso exacerbado de recursos visuais.

[...] o Judiciário é adepto do modelo tradicionalmente conhecido de petições e que,


pelo menos por enquanto, não se interessa em vê-las na mesma formatação das
reportagens contidas em revistas. Isso mostra que os recursos visuais no ramo jurídico
são mais bem vistos quando possuem a função de facilitar o entendimento (como
linhas do tempo, esquemas e gráficos) do que quando visam apenas modificar o design
do modelo já conhecido de petição. (PRESGRAVE et al., 2021, p. 50).

Frente ao exposto, percebe-se que as técnicas de Legal Design e o Visual Law enfrentam
certa resistência, e têm ainda um grande caminho a ser percorrido, mas as conquistas que o
campo tem obtido no Brasil e no mundo, provam que o direito também tem caminhado rumo
ao futuro.

15
5 CONCLUSÃO

A temática suscitada no artigo científico em evidência, ostenta caráter urgente e de


solene magnitude frente ao direito atual. Desse modo, o assunto é dimensionado com a
seriedade que sugere, dado que o emprego dos recursos de Legal Design e Visual Law cresce
gradativamente no mundo jurídico, sendo os efeitos adversos incertos para a comunidade
pertinente.
O estudo demonstra como o desenvolvimento tecnológico tem provocado modificações
drásticas no direito, não se podendo excluir desse contexto as práticas de design, que se somam
às inovações disruptivas para atualizar e aprimorar o Judiciário. Destaca-se que a linguagem
objetiva e os recursos visuais adequados tornam a experiência do usuário final mais satisfatória
podendo, inclusive, impactar nas decisões dos magistrados.
Nesse enfoque, o Legal Design e o Visual Law, ao se pautar na dignidade da pessoa
humana, tornam-se importantes ferramentas no processo constitucional de democratização e
acesso à justiça. Também, garantem o devido processo legal, através da efetivação do
contraditório e da ampla defesa; e resguardam os princípios da celeridade processual, duração
razoável do processo e eficiência processual.
Apesar disso, vê-se que a aplicação do Visual Law e do legal Design nas práticas
jurídicas, é alvo de críticas pelos tradicionalistas, que temem a desmoralização do direito frente
ao uso das tecnologias implementadas no processo jurídico. Todavia, essa é uma realidade já
cristalizada e que não pode ser ignorada.
Portanto, resta evidente, a implementação Legal Design e Visual Law como prática
disruptiva cada vez mais aceita na comunidade jurídica, mas que deve pautar-se no
discernimento e moderação, cabendo aos profissionais da área, a competência em fazer com
que essas mudanças ocorram sob a égide da segurança jurídica.

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