O Patio Dos Milagres Freudianos - Michel Onfray
O Patio Dos Milagres Freudianos - Michel Onfray
O Patio Dos Milagres Freudianos - Michel Onfray
TERCEIRA PARTE
METODOLOGIA
UM CASTELO NA ESPANHA
I
O PÁTIO DOS MILAGRES FREUDIANOS
“Q”, em francês, pode soar como “cul”, ou seja, cu. (N. do T.)
força da cocaína, um desejo recalcado: partir da matéria do mundo
para compreendê-lo.
Mas durante toda sua carreira, ele recalcará essa matéria do
mundo para preferir a matéria de um outro mundo – aquele de seus
sonhos, de seus desejos e de seus fantasmas. A cocaína provavelmente
teve algum papel desinibidor. Esse manuscrito sem título enviado ao
seu amigo, perdido durante muito tempo, antes de ser encontrado na
correspondência, conheceu uma odisseia espantosa: vendido a um
livreiro pela viúva de Fliess, notado por Maria Bonaparte a quem
Freud pediu seu desaparecimento (por seu lado, ele havia destruído as
cartas recebidas de Fliess), ainda assim comprado por ela, depositado
no banco Rothschild depois da entrada dos nazistas em Viena, salvo
da Gestapo e depositado na delegação dinamarquesa, atravessou a
Mancha envolvido num tecido impermeável, o texto acabará por
surgir em 1950 em Londres – e seis anos mais tarde em Paris. Ouve-se
dessas páginas a voz que fala no Além do princípio do prazer, um
texto no qual o corpo reaparece um pouco, ainda que afogado no
oceano conceitual – mas esse oceano conceitual parece mais
consistente do que o oceano de brumas que envolve tantas outras de
suas obras.