Ilda Etica Profissional 2023
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O trabalho tem como tema: Causas e consequências da corrupção nas instituições públicas
moçambicanas, hoje.
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1.1. Objectivos do trabalho
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2. Análise e discussão
De acordo de Aristóteles, (cit. Martins, 2008, p 13), “todos os seres vivos nascem, crescem,
desenvolvem o seu corpo, atingem o ápice e depois começam um processo de decadência e
degeneração corporal que culmina com a morte.” Nesse ciclo, salienta-se a forma e a
celeridade com que a degeneração do corpo ocorre, em razão de doença, que leva à morte.
A expressão corrupção tem origem no vocábulo latino comtptione, e significa acção ou efeito
de corromper, decomposição, putrefacção, depravação, desmoralização, sedução e suborno
(Silva, 1996:63).
Como a palavra latina corruptos "evoca uma série de imagens do mal, designa o que destrói o
carácter saudável" (Klitgaard, 1994:38), estando a palavra "corrupto" carregada de um tom
moral. Porém, com o passar do tempo, as sociedades têm entendido o termo "corrupto" de
maneiras distintas, compreendendo que há diferenças subtis entre suborno e transacções, entre
propina e reciprocidades.
"Corrupção é a prática do uso do poder do cargo público para obtenção de ganho privado, à
margem das leis e regulamentações em vigor" Andreski (cit. Ribeiro, 2006:22).
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De acordo com Dicionário da língua portuguesa Michaelis, “corrupção é a acção ou efeito de
corromper; decomposição, putrefacção, depravação, desmoralização, devassidão, sedução e
suborno.”
Segundo o Léxico, corrupção é o “uso de meios ilegais para obter algo.” Etimologicamente,
este substantivo está estritamente ligado ao desvio de conduta. Na perspectiva jurídica
implica, também, a uma acção ou prática ilícita.
Igualmente, no âmbito jurídico, percebe-se que corrupção tem a ver com o desvio de conduta.
Para Lucília Lopes Silva:
No sentido amplo, a corrupção pode ser definida como “o fenómeno pelo qual um agente é
levado a agir de modo diferente dos padrões estabelecidos, de forma a favorecer interesses
ilegais ou ilegítimos”. Assim sendo, não apenas é praticada por funcionário público “mas,
também, pode ter origem no particular”. Dependendo do caso, a corrupção é praticada,
exclusivamente, por um ou por outro.
Técnica ou etimologicamente, fica evidente que corrupção tem a ver com a ausência da ética nas
acções e no comportamento. Entretanto, na epistemologia geral, existem leituras deferentes sobre este
fenómeno social.
A corrupção, enquanto fenómeno social, é reflexo da cultura levada a cabo sem princípios
éticos e valores morais. Não se trata de fenómeno político ou de qualquer outra classe, como
equivocadamente acredita ser. É um fenómeno ético cultural.
Nas palavras Ribeiro (2006) “[...] a corrupção pós-moderna não é o furto aos cofres públicos
por classes gananciosas, mas, em seu cerne, uma corrupção fruto da busca do poder pelo
poder”, que é o principal objectivo dos indivíduos socialmente organizados, pois, por meio do
poder se alcança o desejado enriquecimento essencial para a sobrevivência, em uma ordem
económica fundamentada no consumismo (p. 79).
O órgão da ONU de combate à corrupção (UNODC, 2010) lembra que, na Convenção acima,
“[o] conceito de corrupção é amplo, incluindo as práticas de suborno e de propina, a fraude, a
apropriação indevida ou qualquer outro desvio de recursos por parte de um funcionário
público.”
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As abordagens teóricas sobre corrupção têm distinguido a corrupção política (grande
corrupção) da corrupção burocrática (pequena corrupção). A grande corrupção acontece nos
altos níveis da autoridade política. Concretamente, acontece quando os políticos e os
decisores (chefes de Estado, Ministros e oficiais de topo), investidos da capacidade de
formular, estabelecer e implementar leis em nome do povo, tornam-se, eles próprios,
corruptos (Doig e Theobald, 2000).
A grande corrupção lida com indivíduos situados em altas esferas do poder, os quais exploram
as suas posições para extraírem subornos das corporações nacionais e internacionais,
apropriando-se dos pay-offs de contratos, ou desviam largos montantes do dinheiro público
para contas bancárias localizadas geralmente no exterior.
Nos Estados em desenvolvimento, Sachs e Warner afirmam que as causas são as grandes
reservas de recursos naturais, por implicarem na vasta burocracia para as exportações de
matérias-primas. Segundo eles, apud Mauro (2002, p. 139), “[...] economias ricas em recursos
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naturais têm maior comportamento parasítico. O volume de exportações de matéria-prima de
um Estado está associado aos índices de eficiência burocrática”.
Na esfera social, Mauro (2002, p. 139) defende que os “[...] factores sociológicos como a
ampla miscigenação estão relacionados a prática de corrupção no país”, e Tanzi, apud Mauro
(2002, p. 140), insiste que “[...] o funcionário público tende à prática de beneficiar amigos e
parentes, quando as relações forem culturalmente personalizadas.”
Assim, particulares pagam propina para alcançar seu fim com celeridade e eficiência e/ou
evitar custos. Para Rose-Ackerman (2002, p. 67), usam-se propinas/gorjetas para reduzir
tarifas e taxas de exportação e obter licenças de importação e de exportação, sendo motivadas
pela extensa burocracia, pela fragilidade socioeconómica e pela faculdade do cumprimento da
lei pelos agentes públicos.
Muitos autores abordam que corrupção é um problema comportamental. Carraro et al. (2011),
corrobora dizendo que a burocracia reforça a visão de vulnerabilidade e fragilidade da
governamental, em relação à praticada por indivíduos que atuam mediante grupos de interesse
em virtude de si próprio, transformando-se em comportamentos corruptos.
Kaufmann e Kraay afirmam que “[...] nem sempre a moeda de troca é o dinheiro, como
também presentes, mordomias, emprego para parentes ou até mesmo contribuições para
campanha eleitorais” (p. 55).
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2.3. Consequências da corrupção nas instituições públicas em Moçambique
Uma das consequências da corrupção na economia de um Estado é a redução dos
investimentos, uma vez que os empresários consideram o suborno como imposto nocivo.
Silva, cit. Fiesp (2006, p. 7), exprime que “[...] as empresas e investidores reduzem o fluxo de
investimentos devido à integração do suborno como factor de desconto no cálculo da
rentabilidade de projectos e procuram investir em países onde o nível de corrupção é menor”,
resultando no vínculo obrigatório do particular ao frequente pagamento e no silêncio da
transacção entre as partes.
Segundo Mauro (2002, p. 141), um sistema corrupto pode levar a infra-estrutura e a serviços
públicos inferiores,” gerando transtornos que dificultam o atendimento à necessidade pública.
Ela é um dos mais sérios obstáculos para redução da pobreza. A corrupção nega às pessoas
pobres os meios básicos de sobrevivência, forçando-as a gastar mais de sua renda em
propinas.
Os direitos humanos são negados onde a corrupção é abundante, porque um julgamento justo
cobra um preço alto onde os tribunais estão corrompidos. A corrupção mina a democracia e o
Estado de direito.
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A corrupção distorce o comércio nacional e com outros Estados, põe em risco à boa
governança e a ética no sector privado e ameaça a segurança nacional e internacional e a
sustentabilidade dos recursos naturais. Aqueles com menos poder são particularmente
desfavorecidos nos sistemas corruptos, que normalmente reforçam a discriminação de género.
A corrupção traz exclusão política: se os votos podem ser comprados, há pouco incentivo para
mudar o sistema que sustenta a pobreza.
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3. Conclusão
Com este trabalho, concluímos que a corrupção está presente na acção humana desde a
Antiguidade, trazendo consequências à sociedade e acarretando conflitos de interesses,
desigualdade social e entre outros. Neste contexto, suas sequelas destroem o sistema
socioeconómico.
A corrupção pode atrasar o crescimento de um país, seja por falta de investimento, ou por
desvios financeiros, causando ineficiências internas no mercado, afectando ainda mais a sua
população e acentuando as condições de pobreza e o desenvolvimento económico e atinge
principalmente cidadãos de classes sociais mais baixas e por isso a corrupção é um fenómeno
considerado negativo e injusto do ponto de vista social.
Conforme exposto, vê-se o quanto é nocivo o fenómeno da corrupção, que dilacera todo
sistema político e social, impedindo, dessa forma, um bom governo e, consequentemente, a
formação de uma boa sociedade.
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4. Referências bibliográficas
Carraro G. et al (2011). A banalidade da corrupção: uma forma de governar o Brasil.
Brasil, São Paulo: Editora UFMG.
Doig, A. e Theobald, R. (2000): Corrupção e democratização. Inglaterra, Londres:
Frank Cass.
Ética Moçambique (2001): “Estudo Sobre Corrupção”. Moçambique: Maputo.
Filgueiras, F. (2008) Corrupção, Democracia e Legitimidade, Brasil, Belo
Horizonte: Editora UFMG.
https://www.lexico.pt/corrupcao acessado em 16/04/2023
https://www.michaelis.oul dicionário de língua portuguesa/corrupção acessado em
16/04/2023
Kaufmann, D. e Kraay, F. (2006). Medindo a corrupção: mitos e realidades, Inglaterra,
Londres.
Klitgaard, R. (1994) A Corrupção sob Controlo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Martins, J. (2008) Corrupção. Brasil, São Paulo: Globo.
Mauro, F. (2002). A corrupção em países em desenvolvimento. Brasil, Belo
Horizonte: Renovar.
ONU (2010). Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção disponível em:
https://unodc.org./corrupcao
Ribeiro, R. (2010) Ancoragens e variações nas representações sociais da corrupção -
Análise Social. Brasil, São Paulo: Globo.
Rose-Ackerman, S. (2001) A corrupção e os Governos: causas, consequências e
reforma. Argentina: Siglo Ventiuno.
Silva, Lucília Lopes. Corrupção. Recanto das Letras. Disponível em:
http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos
Silva, M. (1996). A Economia Política Da Corrupção. Brasil, São Paulo: Núcleo de
Pesquisas e Publicações da Fundação Getúlio Vargas..
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