A ESTUPIDEZ de Rafael Spregelburd
A ESTUPIDEZ de Rafael Spregelburd
A ESTUPIDEZ de Rafael Spregelburd
CENA 5
Quarto do Hotel Patrizier. John é um rapaz de aspecto informal, porém sombrio. Entra no
quarto empurrando uma cadeira de rodas onde está sentada uma garota que tem problemas de
motricidade. Ela é Ivy, sua irmã. Os reais problemas de Ivy são um verdadeiro enigma, tanto
para John como para nós. Fica evidente que ela não entende nada do que lhe é falado e parece
incapacitada de movimentar-se por conta própria. Mas, possivelmente seu cérebro deve
apresentar uma grande atividade e o simples fato de vê-la provoca exaustão. John está falando
no celular, larga a cadeira da irmã de lado, depois se joga na cama, tira os sapatos, fica a
vontade. Todo isso é feito sem deixar de falar no celular.
JOHN: Não, não concordo. (...) Você está me pedindo para que seja forte? Por quê? Desde
quando força é um valor? (...) Já expliquei para você. Não estou a fim de ser forte. Muito menos
de ficar responsável por tudo. (...) Claro que eu vou. Não falei que estou em Las Vegas? Não
faço ideia quando chegaremos. Vou ter que parar algumas vezes no meio do caminho. Quero
aproveitar a viagem. (...) Não sei. (...) Acho que uns dias. (...) Ela está comigo. Onde posso
deixa-la! (Para Ivy que não fez nenhum movimento) Não engole isso, Ivy. Larga. (Para o
celular) Está querendo comer alguma coisa, não sei bem o que é, acho que restos deixados num
cinzeiro. (...) (Para Ivy) É a mamãe, está mandando lembranças. Não engole isso. (Ivy olha
desnorteada, ou não olha, ela não fez nada) Mãe, é uma tortura, um caso perdido, não escuta,
não obedece. E você pede para eu ser forte? Por que você não veio pegar ela então? (...) Não,
não deu para chegar ao enterro! Não dava para viajar na segunda. Não começa outra vez com
isso mamãe. (...) Estou fazendo o que posso. O trabalho desta semana ficou suspenso, furei um
casting que podia ter dado certo. Eu fui lá, retirei do instituto e a estou levando o mais rápido
que posso. Você pode me explicar para quê? Acho que Ivy não vai entender nada, você quer que
ela faça uma viagem de mais de mil quilômetros para ficar sabendo que seu pai morreu. (...)
Mamãe, ela é que está morta. Você não percebe? Todos vocês estão mortos. Não aguento mis
doenças. Eu não sou forte, não tenho por que sê-lo, não aguento mais doenças. (...) Eu também
gosto de você. (...) Me deixa explicar melhor: nossa família é um pesadelo. Só tenho uma única
coisa para falar: não tenho vocação para o sofrimento. Não faz parte da minha natureza. Nada se
apreende com o sofrimento. (...) Você assistiu muitos filmes idiotas. Não é culpa sua. Este é um
país de filmes idiotas. Eu trabalhei num deles. Falo uma cosa para você: por trás desses filmes
tem um monte de gente, um monte de mafiosos que exploram o sofrimento alheio. O roteirizam,
o glamorizam e finalmente o apresentam de um jeito que você acaba acreditando que apreendeu
alguma coisa. Viu mamãe, tudo isso é lixo. Não existe tal coisa. Pode-se sofrer eternamente sem
que haja nenhuma lição. Sem apreender nada para a próxima vez. Isso é o que aconteceu com a
gente. (...) É claro que eu sinto muito, mas pelo menos agora ele está morto e você vai melhorar.
Eu também. E não tem mensagem nenhuma. Deu para entender? (...) Não chora mãe. Deu para
entender? (...) Tudo bem. Melhor. (...) Não sei, vou procurar um lugar para comer por aí. (...) A
mesma coisa, trago algo para ela comer aqui. (...) Mãe, pelo amor de Deus. Como é que posso
sentar Ivy na mesa de um restaurante? (...) Eu sinto muito, mas não tenho vocação para
enfermeiro. (...) Ninguém tem que me perdoar nada, entendeu? (...) Ok. Tenho que desligar. (...)
Ok, não chora mamãe. Beijo. (...) Não, eu chamo você. (...) Até. (Desliga) Era a mamãe. (Ivy
não reage) A mamãe! Você está cansada? Bom, eu também estou. Estou tendo uma ideia. (Pega
um cinzeiro, joga as cinzas na lixeira deixando-o quase limpo, pega um pacote de bolachas, as
quebra e põe no cinzeiro. Depois, coloca o cinzeiro no colo de Ivy, como se fosse um cachorro.)
Vamos ver se você apreende alguma coisa com tudo isso. Eu vou jantar. Aqui você tem o que
gosta tanto.
Ivy sorri um sorriso sábio. Em seguida faz esforços sobre-humanos para alcançar as bolachas.
Ela gosta muito dessas bolachas. John pega seu casaco e antes de sair empurra a cadeira de
rodas até o banheiro, fica encostado no umbral da porta olhando o espetáculo. Alguma coisa
parece retê-lo com interesse desmedido. Abre a porta.
CENA 15
IVY II
Mesmo quarto do motel Western Carol, agora é o número 6. São 15 horas da tarde. Escuta-se o
bater da porta. John sai do banheiro empurrando a cadeira de rodas de Ivy. Por algum motivo,
ela foi encoberta com um lençol como se fosse um móvel velho. John deixa Ivy num canto.
JOHN: Estou indo! (Arruma-se, tentando ajeitar o quarto, empurra torpemente alguns objetos
que estavam encima da cômoda. Recolhe-os do chão, dentre eles pega a fita de Finnegan que
erroneamente Verônica tinha deixado largada lá.) Quem é?
JOHN: Fortuna?
BERTA: Berta.
JOHN: (Abrindo a porta.) Não interessa o nome que esteja usando Fortuna, você não vai me
enganar assim tão facilmente. Oh, a Deusa pode ter muitos rostos.
BERTA: Você acha que eu gosto de atores? Dos ruins? Você não acredita que eu estava
morrendo de vergonha por ter que vir aqui? Acabei de conhecer você. Sou uma mulher com
seus problemas, com seus princípios.
Novo silêncio, Berta não responde. Parece existir uma grande história entre os dois.
BERTA: Algumas pessoas... Tem alguma coisa pra beber? Algumas pessoas não tem
inteligência suficiente para perceber até que ponto são infelizes.
BERTA: Eu não gostaria de ser inteligente assim. (Pausa) Eu apenas quero curtir uma noite.
Uma noite boa. Só isso.
BERTA: Saiba que não sou profissional. Não sou nenhuma biscate.
JOHN: Acho justo. Eu posso te ajudar. De onde você tirou que sou um ator ruim?
BERTA: Nunca cruzo com os famosos. É isso. Você fez aquela entrevista?
JOHN: (Pausa) Não. É um faroeste, tem uns irmãos que são obrigados a vender o rancho para
pagar dívidas de jogo. Eu faria um dos credores, não sei quanto tempo vai durar a dívida que
eles têm comigo se aceito o papel. Parece que duas ou três semanas.
JOHN: Não. Chama-se “Pequeno lago”. Falei, é uma bobagem. Arrumei a entrevista para
justificar minha viagem ou parte da viagem. Meu pai acabou de morrer, vou vê-lo. Vou ver
minha mãe também.
JOHN: Vou.
BERTA: Tudo bem. Não quero me envolver, viu? (Pausa, Berta fica idealizando viajar com
John para Nova Iorque.) Dá para você me emprestar cinquenta dólares?
BERTA: É lógico. Já que você vai embora cedo, não terei a quem pedir. Mas, tudo bem, se você
não tem cinquenta dólares, tudo bem.
JOHN: (Tira uma nota da carteira e deixa encima do criado mudo) Você vai embora se eu não
dou?
JOHN: Ótimo. (Faz um gesto indefinido, não fica claro se entrega o bilhete ou não) Depois
passo o número da conta da minha família, você deposita aqui e eu desconto lá. Vamos beber
alguma coisa?
JOHN: Para falar a verdade, entrei no cinema porque pensei que passavam filmes pornôs.
BERTA: Tinha duas ou três cenas fortes na fita. O pornô norte-americano é muito ruim.
JOHN: Não era pornô. Os filmes pornôs são o reino do detalhe. Eu gosto de filme pornô. Odeio
diretores com pretensões estéticas. Se eles têm pretensões estéticas, por que fazem cinema?
Bom cinema é detalhe, mais nada.
BERTA: Esse diretor fez um filme muito bom, eu acho. Claro que é bom para mim, se você
achou ruim, eu aceito. Eu gostei muito do filme. A primeira vez que vi, chorei feito uma boba.
Ver um filme mais de uma vez acaba cansando mesmo sendo bom. Não produz o mesmo efeito.
Eu a e a Susan assistimos tudo. Ela fala que... Você acha que ver filmes é uma boa preparação
para a vida? Às vezes, quando o filme é bom... Quando é europeu... Fico com aquela sensação...
De ter aprendido... Alguma coisa.
JOHN: Muito bem, a gente entende o que quiser, nem sempre o que é ensinado.
JOHN: Já entendi. Melhor façamos uma coisa, se você consegue demonstrar que Deus é um ser
muito bondoso, não precisa devolver o dinheiro.
BERTA: Eu não tenho que demonstrar nada. É um filme. Um filme cheio de efeitos especiais.
Alem do mais, tudo depende do exemplo que você escolher. O filme fala: as coisas de Deus são
desse jeito, não é? O Papa Leão X, depois do terremoto, naquela cena horrível dos cadáveres,
pergunta-se se Deus é bondoso. Indaga se o terremoto é castigo de Deus. Alça nos seus braços
o corpo da criancinha judia. Duvida. É genial. Duvida da bondade divina. Não questiona a não
existência de Deus. “Ele existe, mas talvez não seja só bondoso, talvez seja assustador”, isso é o
que se pergunta Leão X. E ele é o Papa, hein. Você poderia me dizer o que resta para nós?
JOHN: Você está doida? Ele não é o Papa. Ele é um ator que fala o texto, que foi escrito por um
roteirista, que não foi aceito pelo produtor e que foi finalmente escrito por uma cabeleireira com
pretensões de atriz, que certamente chupa o segundo produtor que é o encarregado de conseguir
os sponsors. Além do que, as crianças judias não são ruivas, nem aqui nem em Israel.
BERTA: De que sponsors você está falando? O que você chama de sponsors?
JOHN: (Fica muito violento) Não, não! De que Deus você está falando? Qual é o exemplo que
você quer dar, hein? Você está falando que Deus é bonzinho, anjozinho, bondoso, do que você
está falando? Então, dá para você me explicar o que está fazendo isto aqui?
De repente e sem nenhuma intenção aparente, levanta o lençol debaixo do qual está Ivy. A
garota, coitada, tem os olhos pintados de um jeito horroroso, ao estilo Marilyn Manson, e na
cabeça leva uma tiara barata com uns chifres de plástico. Berta vê isso e começa a berrar de
maneira escandalosa. Ficou aterrorizada com o que viu. Berra sem conseguir parar durante
um bom tempo, Berta procura pelos seus sapatos, feito uma cega, abre a porta e sai correndo
pelo pátio, vítima de um ataque de nervos. John olha Berta em silêncio, ele ficou calmo. Fala
para Ivy, imóvel na sua cadeira:
JOHN: Tira isso. Não bote essas coisas. Olha o jeito de se maquiar. Às vezes parece que você
faz de propósito, coitada. (Enquanto fala, retira a maquiagem de Ivy com extremo cuidado) Já
falta pouco. Lembra-se da casa, lembra-se da pracinha da frente? Não deve conseguir lembrar.
Lembra-se dos meus amigos que levaram você no Halloween vestida de fada madrinha? O que
será que aconteceu com eles? Muito bem. Chega disso. Você tem que explicar direito, quais são
as suas habilidades.
Silêncio.
JOHN: Desse jeito, não posso ajudar. E se não posso ajudar, você vira um monstro para mim.
Uma medusa. Fala sério. (Pausa) O que você sabe saber. (Pausa) Sabe ler? Entende o que estou
falando? (Silêncio) Como você é atrapalhada. Haja paciência. Tem que ter vontade mesmo, para
viver desse jeito. Se pelo menos você conseguisse ensinar para alguém. Para alguém que esteja
precisado. Agora tenho que ir embora. Tenho uma entrevista. Tenho um teste para um papel
secundário num seriado de faroeste. Promete que não vai aprontar mais. Que foi? Quer ir ao
banheiro agora? Quer que leve no banheiro? O que você quer? Quer essa fita, quer? (Puxa a
cadeira de rodas até o banheiro) Pega, escuta tuas musiquinhas, teus troços e me deixa numa
boa.
Ele liga o play e deixamos de ouvir sua voz. Em troca, ouvimos a fita gravada por Finnegan.
VOZ DE FINNEGAN: Acontece que num sistema complexo, causa e efeito, vez ou outra estão
diretamente relacionados com nossas habituais categorias de tempo e espaço. Não existem
atalhos para entender o “destino” de um sistema complexo.
CENA 16 – FINNEGAN IV
Outro quarto, ainda no motel Western Carol. São 15 horas, Finnegan, deixa entrar Donnie
Crabtree.
DONNIE: Então, foi o Vásquez quem lhe deu meu nome. Muito amável. Pensei que em Berkley
ninguém quisesse indicar o meu nome.
DONNIE: Por causa da torneira. Suponho que Vásquez achou que eu era um idiota. Acho
estranho ele ter indicado meu nome, é isso.
DONNIE: (Decepcionado) Bom, é igualmente nobre da sua parte. Não acabamos bem, em
Berkley. O senhor deve saber que me mandaram embora. Eu tomei a liberdade de duvidar em
parte da sua explicação sobre a repetição das gotas de água da torneira, suponho que o senhor
sabe de qual estou falando. E ele não gostou de nada disso.
FINNEGAN: Suponho que não gostou. Os sistemas abertos são fáceis de criticar. Nenhum
professor gosta que se discípulos questionassem de forma ligeira algo que ele teve muito tempo
para desenvolver.
CENA 7
Quando a luz volta, vemos uma habitação do Hotel Magnus. É o quarto de Finnegan e Laetia.
Finnegan está acabando de arrumar a cama. A fala em off que começamos a escutar na
escuridão é a voz do seu pensamento.
VOZ F.: Sou matemático e tenho medo. Daqui a poucos anos a Equação Lorenz irá alimentar o
computador quântico, então teremos não apenas textos de extensão infinita que contenham
todos os textos, nem imagens tão amplas que contenham todo o visível, como também
conseguirão reordenar os acontecimentos. Isto é: predizer o futuro.
Batem na porta.
FINNEGAN: Ah...
VOZ F.: Homem nenhum pode viver, ver ou ler, a irracionalidade do tempo...
FINNEGAN: Imagino.
VERONICA: Vim.
VERÔNICA: Um Bourbon.
VOZ F.: Que uma imagem representa a velocidade absoluta do pensamento perante a
velocidade relativa que a linguagem representa.
VERONICA: Não tem importância. (Tira uma garrafinha do seu bolso e bebe no gargalho) Eu
fico a vontade, você fica a vontade enquanto me vê a vontade. Bebo por isso. Quer um gole?
VERONICA: Como é que vai ser? Como sempre é na coluna da Verônica. Eu faço a entrevista
para “O Violino”, você fixa o preço e se a revista concordar, neste final de semana o senhor será
o cientista mais lido em toda a história da ciência.
VOZ F.: O infinito é mensurável no mundo quântico, mas o homem não foi convocado para
constatá-lo.
VERONICA: Ótimo.
VOZ F.: Esse é o segredo e tenho que mantê-lo muito bem escondido.
FINNEGAN: Vou avisando que tem coisas que não posso revelar.
VERONICA: É meu jeito, também. (Liga um gravador) Entrevista com o doutor Robert
Finnegan, quarta feira 17 de março. Estou usando uma saia cor creme, ele veste informalmente
uma calça larga e camisa sem gravata. Muito bem, agora vou falar umas palavras e você vai
fazer associações com elas, depois eu escrevo a matéria. Pronto? Ciência.
FINNEGAN: Forte.
VERONICA: Forte.
FINNEGAN: Ciência.
FINNEGAN: Corredorzinho.
VERONICA: Como é?
VERONICA: Achei que você já sabia. Eu falo uma palavra e você deve “saber” qual é a outra
palavra que vai defini-lo bem perante os leitores.
FINNEGAN: O que?
VERONICA: Equação.
FINNEGAN: Iterativa.
VERONICA: Mmm. Vou por “quadratura”. Ninguém sabe o que é iterativa. Peste.
FINNEGAN: Bubônica.
VERONICA: Ódio.
FINNEGAN: Amor.
VERONICA: Amor.
FINNEGAN: Ódio.
Pausa.
FINNEGAN: Como pode perceber, estou pouco me lixando. Faço pelo dinheiro.
VERONICA: Fico surpresa. Tem muita gente que pagaria por poder aparecer na “Inquietante
coluna de Verônica Aldgate”. Não liga para o que vai lido sobre você? Quem é o senhor?
FINNEGAN: É.
VERONICA: Como é?
FINNEGAN: Não.
VERONICA: Isso é interessante. (Liga o gravador) Para que precisa sua mulher?
VERONICA: Sua mulher... Precisa de dinheiro... Para dar para você? Isso não é a mesma coisa
que dizer que VOCÊ está precisando de dinheiro? É tímido? Tem problemas com o dinheiro?
VERONICA: E dá para falar para que precisa de dinheiro seu filho? Tem ou já teve problemas
com drogas?
FINNEGAN: Não sei. Não faço ideia. Estamos distanciados. Esse é o tema da entrevista?
VERONICA: Como é que posso saber disso?
FINNEGAN: O que vão querer ler seus leitores neste final de semana?
VERONICA: Veja Finnegan, não consigo acreditar que seja pelo dinheiro. Você está pedindo
cinquenta mil dólares para mim, enquanto duas editoras o perseguem para saber com qual delas
firma um contrato milionário. Foi sua mulher que falou para mim.
VERONICA: O que é?
FINNEGAN: Bom, pode escrever que estou trabalhando com cálculo de probabilidades.
VERONICA: Roleta?
FINNEGAN: Loteria.
FINNEGAN: ...
FINNEGAN: ...
VERONICA: Acho que temos o tema deste domingo. Voltando a brincadeira de Verônica, uma
palavra, outra palavra. Sarampo.
FINNEGAN: ...
FINNEGAN: ...
VERONICA: O que acha, hein? O que esteve fazendo três meses na Tailândia, Sr. Finnegan?
FINNEGAN: Férias.
VERONICA: Ah. Continuando. O número 151 e alguns decimais lhe diz alguma coisa? Aqui
está: 151,6718... Nada? Bom, outra palavra: Buxtehude!
VERONICA: Não, ao contrário. É você quem vai falar. O que é que você quer que as pessoas
saibam?
FINNEGAN: As pessoas? Que pessoas? Como pode falar assim de algo que você desconhece?
VERONICA: Não se engane. Conheço muito bem as pessoas. Eu procuro pela verdade,
Finnegan. Você também. Não entendo porque não podemos transformar isto num grande furo
de reportagem. A Equação Lorenz não pode ficar nas mãos de uns poucos iluminados que...
FINNEGAN: Qual é a relação entre isto e a Equação Lorenz? Quem falou com você, que é uma
imbecil, sobre a Equação Lorenz?
VERONICA: Não me subestime. Tem a loteria de Idaho, sua pesquisa nos arquivos do Hospital
Helen Mumford, suas viagens à Tailândia. Buxtehude. Pode ser outra coisa?
FINNEGAN: Mas não é! Isto não tem nada a ver com a Equação Lorenz! Vai embora, por
favor. (Abre a porta, pega o bolso de Verônica e o joga na rua)
FINNEGAN: Vá embora.
VERONICA: Como é de imaginar, eu posso até ir agora, mas ninguém vai conseguir segurar o
suplemento deste domingo! Um domingo, depois outro domingo... Milhões de leitores... Você
jogou meu bolso!
Verônica para, junta suas coisas vai até a porta e abre. Lá fora, doutro lado da porta, está
Laetitia com o bolso na mão. Ela e Brad escutaram tudo.
BRAD: Não.
BRAD: Pai.
feitos prófugos.
É isso?
O que é?
muito perigoso.
O que é horrível.
Bom!
cassete qualquer e a enfia no bolso A única vez que precisamos dele, não está.
Brad.
MAGGIE: Não.
BRAD: A Verônica?
(Brad chama do telefone do criado mudo) RALPH: (Off) Maggie, você tem alfazema?
Pelo amor de Deus, vá embora, ele não Brad sai e espera Maggie terminar de usar
Brad para fora do quarto e depois entra MAGGIE: Sabe o que você tem que passar?
RALPH: Gasolina?
BRAD: Então?
BRAD: É comigo?
BRAD: O meu?
Longa pausa.