Jornalismo 2022
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Referencial Teórico.
O termo gonzo, segundo a wikipédia, seria uma gíria irlandesa do sul de Boston para
designar o último homem de pé após uma maratona de bebedeira. O termo foi criado
por Bill Cardoso, repórter do Boston Sunday Globe, para se referir a um artigo de
Thompson. O estilo gonzo pode ser visto também como um exemplo próprio dentro da
nobre arte de mentir utilizada de forma refinada na literatura, em narrativas como
novelas, contos e romances, um tipo de instrumento de trabalho que toma o fato como
fonte de inspiração para a imaginação. Como conceito, o termo gonzo perpassa a obra
de Thompson como um todo. No livro Hell 's Angels o autor utiliza métodos do new
journalism, por exemplo, para aproximar a relação entre fato e ficção. Como aponta :
James E. Caron em Hunter S. Thompson 's "Gonzo" Journalism and the Tall Tale
Tradition in America, o livro encarna a técnica literária utilizada pelo new journalism
como solução ao chamado problema do autor. A técnica consiste em passar ao leitor a
ilusão de um mise en scene através de um "downstage voice," como se ele próprio, o
leitor, visse os acontecimentos pelos olhos de alguém que está a participar das cenas.
Por outro lado, no filme assim como o livro Medo e Delírio em Las Vegas a ideia está
mais ligada ao envolvimento do autor na ação do que em seu encolhimento. No filme o
conceito gonzo esta mais ligado a Thompson e seu estilo do que a semelhanças ao new
journalism ou a outros autores da contracultura da década de 70.
Nessa relação do autor com o fato vê-se cada vez mais uma aproximação da ficção. No
artigo de James E. Caron, o autor chega a comparar o método de Thompson ao "conto
alto" de Mark Twain, estilo narrativo que flerta em suas histórias com elementos
fantásticos. Faz pensar se de fato o que Thompson propõe não seria pura ficção ao
radicalizar em suas obras cada vez mais os conceitos da reportagem. Pode-se ver isto
nas tentativas de lembrança evocadas pelo autor. Os eventos como a corrida no deserto
presente no filme que o personagem deveria cobrir serve como pretexto para que seja
enganchado uma verossimilhança a priori, para que o autor possa, então, participar da
cena e desenvolver a história a partir de si mesmo. Pegando então elementos
"reais",como as constantes deadlines que está sujeito como repórter e suas ligações a
eventos, locais e intuições reais, tece sua narrativa que será então apresentada como
notícia. Em um apontamento cínico, como é caro ao autor, pode-se apontar para um fato
de que, em grande medida, "as pessoas tendem a engolir a maioria das coisas que
ouvem"(James E. Caron). Nesse sentido quando Thompson aponta para a estética de
uma reportagem, embasado em princípios que podem ser lidos como sólidos, que lhe
dão credibilidade, faz um movimento na narrativa onde o fato está apenas como ponto
"fixo" de um pacto tácito, para que o mínimo de realidade possa ser estabelecido
enquanto a atenção é direcionada para esta fruição estética.
REFERÊNCIAS
Livros:
THOMPSON, Hunter. Hell’s Angels: The Strange and Terrible Saga of the Outlaw
Motorcycle Gangs. Laffont, 2000.
Filmes, Vídeos:
Artigos:
LACERDA, Mendes Luciene. O jornalismo gonzo: um possível diálogo entre Hunter S.
Thompson e Arthur Veríssimo.
CARON, E. J. Hunter S. Thompson's "Gonzo" Journalism and the Tall Tale Tradition in
America. Studies in Popular Culture, Vol. 8, No. 1 (1985), pp. 1-16