Luto e Depressão
Luto e Depressão
Luto e Depressão
LUTO E DEPRESSÃO
1 IDENTIFICAÇÃO
Nome:
CPF:
Idade:
Solicitante:
Nº Inscrição no CRP:
Finalidade
2 DESCRIÇÃO DA DEMANDA
3 PROCEDIMENTOS
Pessoas ouvidas no processo:
Número de encontros:
Duração do processo realizado:
4 ANÁLISE
Nas semanas após o suicídio do filho, o sr. Pedro desenvolveu tristeza, insônia,
retraimento social, redução do prazer em atividades e má concentração. Esse grupo de
sintomas é típico de luto, reconhecido tanto pelo público leigo quanto por profissionais
da área da saúde, como uma reação humana normal à morte de um ente querido.
Na primeira consulta com o psiquiatra, o sr. Pedro demonstrou múltiplos sintomas que
normalmente são encontrados em depressão maior, mas, naquele momento, eles
pareciam ser mais bem identificados como luto normal. Esse ponto de vista ganha
respaldo pelo fato de que o luto apesar de causar sofrimento e disfunção tipicamente
atinge sua conclusão naturalmente no prazo de dois a seis meses, sem atendimento
clínico específico.
O DSM-IV reconheceu a normalidade do luto ao declarar que um diagnóstico de
transtorno depressivo maior (TDM) deve ser adiado durante dois meses, a menos que
a apresentação clínica seja caracterizada por sintomas graves não usuais como
ideação suicida ou psicose. A exclusão do luto no DSM-IV tem um bom motivo:
embora ele sem complicação possa ser algo doloroso, dura pouco e é benigno, sem
prejudicar gravemente o funcionamento nem aumentar o risco de suicídio como
ocorre na depressão maior.
Algumas pessoas, no entanto, realmente desenvolvem um transtorno do humor
após a morte de um ente querido, assim como depois de outros traumas, como ruína
financeira, perdas decorrentes de desastres naturais ou doenças e incapacidade
médica grave. Por causarem prejuízo e sofrimento extremo, essas síndromes do
humor justificam atendimento clínico antes de alcançarem o limite de dois meses do
DSM-IV, tempo durante o qual a maior parte dos sintomas depressivos pode ser
atribuída ao luto.
Devido à sobreposição significativa de sintomas entre luto e depressão maior, à
dificuldade em predizer quais sintomas irão persistir ou se intensificar e quais irão
melhorar por si, assim como à incerteza sobre o que é psicologicamente diferente
entre a perda de um ente querido e, por exemplo, a perda da casa devido a um
desastre natural, dedicou-se bastante atenção para ajustar as diferenças entre TDM e
luto.
Essa redefinição da exclusão do luto foi uma das alterações propostas para o DSM-5
que mais gerou controvérsia. Ela não apenas trata de uma experiência humana
universal, o luto , mas também traz à tona uma preocupação fundamental sobre a
psiquiatria, ambas de dentro e de fora da área: o que é normal? Diversos esboços do
DSM-5 foram debatidos e muitas pessoas (incluindo a mim) ficaram preocupadas que
a remoção do luto iria “medicalizar” o luto normal e equivocadamente rotular
indivíduos saudáveis com um diagnóstico psiquiátrico. A versão final do DSM-5 fez
alterações razoavelmente modestas, mas as controvérsias incorporadas à exclusão do
luto são relevantes neste caso.
5 CONCLUSÃO
um período de tempo entre duas semanas e dois meses. No caso do sr. Pedro, essa
mudança provavelmente significa que ele receberia um diagnóstico de TDM mais
rapidamente nos termos do DSM-5.
Especialistas favoráveis à remoção da exclusão de luto de 2 meses podem ficar
tranquilos com a avaliação clínica do sr. Pedro. O agravamento dos sintomas e a
história pessoal e familiar de depressão provavelmente justificam atendimento
clínico específico. Essa preocupação é compreensível, especialmente porque de 10 a
20% dos indivíduos em luto progridem para vivenciar uma síndrome de luto
complicado, caracterizada por saudades e preocupação perturbadora com o falecido,
além de um sentimento de raiva e descrença direcionado à morte. Apenas metade
dos indivíduos com depressão maior na população em geral e 33% de pacientes
depressivos no contexto de cuidados primários recebem algum tipo de tratamento
para depressão.
Para a maioria das pessoas em luto, no entanto, seus sintomas depressivos não
indicam uma depressão maior. Por exemplo, um estudo que usou dados do National
Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions (Levantamento
Epidemiológico Nacional sobre Álcool e Condições Relacionadas), mostrou que
sujeitos que haviam sofrido uma síndrome depressiva relacionada ao luto no
momento basal não apresentaram probabilidade maior, ao longo de um período de
acompanhamento de três anos, de apresentar um episódio depressivo maior do que
aqueles que não tinham história de depressão maior na vida no momento basal.
Esses dados confirmam a opinião amplamente aceita de que, para a maioria das
pessoas, o luto se resolve sozinho.
O DSM-5 reconhece essa realidade e pede aos clínicos que façam uso de seu
discernimento ao tentarem distinguir entre depressão clínica e luto. Ainda está para
ser comprovado se essa redução da barreira do diagnóstico depressivo maior irá
ajudar a identificar pacientes nos quais se justifica um atendimento clínico ou
encorajar a “medicalização” do luto. Por enquanto, os clínicos devem continuar a
reconhecer que, embora o luto possa, às vezes, desencadear depressão maior, ele
em si é uma reação emocional totalmente normal à perda e não requer tratamento.
( Local – Data )
Nome do Profissional
CRP __/____
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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