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João Pessoa – PB
2018
1
João Pessoa – PB
2018
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação
UFPB/BC
-
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, reconheço que sem Ele eu não teria tido
forças para alcançar meus sonhos e desejos.
Agradeço a minha família que em todo o tempo esteve comigo me apoiando e
incentivando a buscar meus objetivos e me realizar como ser humano e como profissional. Amo
todos!
Agradeço ao meu namorado Thiago Ruffo, por ser meu porto seguro. Aquele que esteve
comigo nos momentos mais difíceis. Me apoiou e me incentivou a prosseguir quando tudo
parecia dar errado e as crises de ansiedade tentavam me vencer. Sem a sua ajuda essa caminhada
teria sido muito mais árdua. Você tornou tudo mais leve e agradável, obrigada. Te amo!
Agradeço aos amigos e companheiros de trabalho do GPEBio e do Ambiente 16. Todas
as discussões, reuniões de grupo, leituras e dúvidas foram essenciais para o meu crescimento
pessoal e profissional. Vocês são parte fundamental dessa minha conquista.
Agradeço imensamente ao meu orientador Francisco José Pegado Abílio, que sempre
foi mais do que orientador, foi amigo. Aquele que abriu meus olhos para licenciatura, aquele
que me inspirou e inspira todos os dias a lutar e dar o meu melhor pela docência. Aquele que
me ensinou que a Educação é o único caminho. A você, Chico, meu muito obrigada hoje e
sempre. Nossa caminhada ainda não acabou.
A todos os professores de direta ou indiretamente contribuíram para minha formação,
desde a educação básica até aqui. A vocês, que me impulsionaram em minhas lutas e conquistas.
Agradeço as professoras de Biologia da rede Estadual de João Pessoa que de bom grado
se disponibilizaram a participar da minha pesquisa. Foram momentos preciosos de investigação,
desabafo, anseios por melhorias na Educação e em suas práticas. Essa luta continua.
Agradeço a disponibilidade da Banca examinadora em participar da qualificação e
defesa e pelas contribuições enriquecedoras. E a CAPES e UFPB pela bolsa que me deu maiores
condições de desenvolver esta pesquisa.
3
RESUMO
A avaliação da aprendizagem é um processo pertencente, historicamente, ao dia a dia do ser
humano. Institucionalmente falando, ela está diretamente relacionada à concepção dos
professores acerca da mesma. Nesse contexto, o ensino de Biologia se configura como uma
área que vincula teoria e prática, logo, propicia um ensino e avaliação mais dinâmico e menos
tradicional. O objetivo dessa pesquisa foi compreender o processo avaliativo escolar exercido
pelos professores de Biologia no ensino médio através das suas concepções e indicações da
prática. Para alcançar os objetivos pretendidos utilizou-se a abordagem qualitativa e os
pressupostos do método fenomenológico, empregando a saturação teórica para alcançar o
fechamento amostral. Foram realizadas 7 entrevistas semiestruturadas com professores
egressos do curso de Ciências Biológicas – UFPB e que atuam no ensino médio público de João
Pessoa - PB. Os resultados demonstraram que a categoria “ensino de Biologia atual na
perspectiva docente” envolve aspectos positivos e negativos, sendo o tema “relação carga
horaria reduzida para o conteúdo extenso” a característica mais citada nas entrevistas, em
contrapartida, o tema “relação com o cotidiano do aluno” foi destacado como o ponto positivo
mais importante da Biologia. As concepções indicam que as professoras investigadas possuem
elementos que se enquadram em diversos tipos avaliativos não tendo seu conhecimento e
prática limitada apenas a um tipo específico. Outra característica elencada a partir das
entrevistas é o entendimento do processo avaliativo como algo contínuo e não pontual, tendo
como principais entraves a: grande quantidade de alunos por turma; infraestrutura; tempo em
sala de aula; cobrança da instituição; Falta de recursos. Diante dos resultados obtidos, é possível
perceber a existência de fragilidades quanto às concepções sobre avaliação da aprendizagem no
ensino de Biologia, fragilidades essas, não superadas durante a formação inicial docente, no
entanto, podem ser contornadas durante um processo de formação continuada. Contudo, é
notória a inquietação e o desejo das professoras em sanar suas falhas. De fato, esse é um
processo que não depende apenas do docente, pois, são inúmeros os fatores encontrados no
sistema educacional que limitam a realização de uma avaliação que promova a aprendizagem.
ABSTRACT
The evaluation of learning is a process that belongs, historically, to the human being's daily life.
Institutionally speaking, the assessment of learning is directly related to the teachers' conception
of it. n this context, Biology teaching is configured as an area that links theory and practice, and
thus provides a more dynamic and less traditional teaching and assessment. The objective of
this research was to understand the school evaluation process practiced by Biology teachers in
high school through their conceptions and indications of practice.
In order to reach the desired objectives, the qualitative approach and the assumptions of the
phenomenological method were used, using the theoretical saturation to reach the sample
closure. Seven semistructured interviews were carried out with professors who had graduated
from the Biological Sciences course - UFPB and who work in the public high schools of the
city of João Pessoa - PB. The results showed that the category "teaching of current biology in
the teaching perspective" involves positive and negative aspects, with the theme "relation time
schedule reduced to the extensive content", the characteristic most cited in the interviews, in
contrast, the theme "relation with student's everyday life "was highlighted as the most important
positive point in biology. The conceptions indicate that the investigated teachers have elements
that fall into several types of evaluation, not having their knowledge and practice limited to
only one specific type. Another characteristic highlighted from the interviews is the
understanding of the evaluation process as something continuous and not punctual, having as
main obstacles: a large number of students per class; infrastructure; time in the classroom;
collection of the institution; Lack of resources. In view of the obtained results, it is possible to
perceive the existence of weaknesses regarding the conceptions about evaluation of learning in
the teaching of Biology, these weaknesses, not overcome during initial teacher training,
however, can be overcome during a process of continuous formation.
However, the restlessness and the desire of the teachers to heal their failures is notorious. In
fact, this is a process that does not depend only on the teacher, because there are innumerable
factors found in the educational system that limit the realization of an evaluation that promotes
learning.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Visão global dos resultados do PISA 2015 por país quanto aos índices em Ciências,
Matemática e Leitura. .............................................................................................................. 12
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Taxas (%) comparativas do rendimento escolar no ensino médio por rede
administrativa do estado da Paraíba (2013). ............................................................................ 13
SUMÁRIO
Figura 01 – Visão global dos resultados do PISA 2015 por país quanto aos índices em Ciências,
Matemática e Leitura.
1
OECD. Programme for International Student Assessment. Disponível em: <http://www.oecd.org/pisa/>
Acesso em: 25 mai. 2018.
2
IDEB. Resultados e Metas. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=356998> Acesso em: 25 mai. 2018.
13
Tabela 01 - Taxas (%) comparativas do rendimento escolar no ensino médio por rede administrativa do
estado da Paraíba (20133).
Os dados acima indicam que as taxas de abandono e reprovação nas escolas estaduais
são superiores ao total do estado enquanto que a federal e privada são inferiores. Já a taxa de
aprovação está abaixo da média total do estado, sendo, respectivamente 74,9% e 78,4%. A
avaliação da aprendizagem escolar se relaciona com os índices citados acima, visto que,
dependendo da forma que o processo avaliativo é realizado e das decisões tomadas pelo sistema
de ensino e pelos professores o futuro do alunado é definido, tendo em vista as consequências
que uma reprovação pode causar no mesmo.
3
Últimos dados publicados no Plano Estadual de Educação da Paraíba (2015-2025).
14
A avaliação, por muitas vezes, é considerada como uma etapa a parte do processo de
ensino e de aprendizagem, ou seja, muitos compreendem a avaliação como algo pontual e que
não promove aprendizado, servindo apenas ao propósito de medir o conhecimento. Nesse ponto
se encontra a dicotomia entre Educar e Avaliar trazida por Hoffmann (2002a). A mesma afirma
que os educadores percebem a ação de educar/ensino e a ação de avaliar como dois momentos
distintos e não relacionados, e exercem essas ações de forma diferenciada.
Quando se trata da avaliação, a postura que o professor assume em sala está fortemente
ligada à concepção, historicamente construída, que ele tem sobre ela. Em muitas situações, na
escola, a avaliação é considerada como um ato doloroso e de julgamento de resultados. As
concepções tradicionais, inconscientemente ou não, sedimentou-se numa prática angustiante e
punitiva (HOFFMANN, 2002a).
Essa ação punitiva acaba sendo reproduzida de forma natural no dia a dia escolar. De
acordo com Luckesi (2011) os professores utilizam as provas como instrumentos de ameaça e
chantagem prévia dos alunos, considerando ser uma motivação no processo de aprendizagem.
Um exemplo do que se ouve em sala de aula é quando o professore exige a atenção dos alunos
utilizando a prova como meio de consegui-la. Entretanto, é importante destacar que existem
aqueles docentes que realizam a prática avaliativa de forma coerente, ou seja, contínua e que
promove a aprendizagem buscando ampliar o conhecimento teórico/prático para exerce-la de
forma justa.
Essa visão da avaliação como forma punitiva faz parte do modelo tradicional definido
por Moretto (2008) como aquele que está focado em ações de memorização, tornando-a um
processo de troca, em que o alunado precisa devolver ao professor o que dele recebeu
exatamente como recebeu, esse modelo produziu pessoas sábias, criativas e de profundo
conhecimento, mas ela não atende mais às exigências de um novo contexto social e educacional
(MORETTO, 2008). A visão em questão coaduna com a educação bancária4 discutida por Paulo
Freire. Ele a define como o saber doado dos que se consideram sábios em direção aos que nada
sabem, doação que se fundamenta na ideologia da opressão (FREIRE, 2016).
Assim, o que deveria ser uma etapa tranquila e normal do ensino passa a ser visto como
algo traumático e estressante. Em muitos casos, para os alunos, a hora da prova é considerada
como o momento do acerto de contas, da verdade, de dizer ao professor o que ele espera que o
4
Baseada na obra de Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, a Educação Bancária, em cuja prática se dá a
inconciliação educador-educando, reforça as contradições e no momento em que o educador “bancário” vivesse a
superação da contradição já não seria “bancário”. Já não faria depósito. Já não tentaria domesticar. Já não
prescreveria. Saber com os educandos, enquanto estes soubessem com ele, seria sua tarefa. Já não estaria a serviço
da desumanização. A serviço da opressão, mas a serviço da libertação (FREIRE, 2016).
15
aluno saiba (MORETTO, 2008). Essa prova gera um conceito quantitativo de classificação,
denominado nota que, por sua vez, tem funções especificas para cada segmento. Perrenoud
(1999) reforça que tantos pais quanto professores utilizam a nota de maneira cínica, para obter
um mínimo, às vezes o máximo, de investimento no trabalho escolar. Os aspectos quantitativos
são mais considerados que os aspectos qualitativos do avaliar.
Sendo assim, a supervalorização do caráter quantitativo traz consigo um modelo
avaliativo excludente, pois não leva em consideração o processo de construção do
conhecimento. Esteban (2001) afirma que ela
É preciso entender que, não se pode pensar em avaliação da aprendizagem sem levar em
consideração o ensino, visto que, ensinar e aprender caminham juntos. Portanto, o ato de avaliar
precisa coadunar com o ensino realizado sobre determinado conteúdo. Numa concepção da
pedagogia progressista aprender é um processo complexo que envolve a reflexão, que se
concretiza durante as experiências, durante a assimilação de conhecimentos ou aquisição de
habilidade e competências (GONÇALVES; LARCHERT, 2012).
Todavia, nem sempre o ensino desenvolvido no meio escolar permite que o alunado se
aproprie dos conhecimentos científicos de forma a entendê-lo, questioná-lo, discuti-lo e aplicá-
lo como um instrumento do seu pensamento (PEDRANCINI, et al., 2007). Vale salientar que
“o êxito do ensino não depende tanto do conhecimento do professor, mas da sua capacidade de
criar espaços de aprendizagem” (GADOTTI, 2002, p.24). Por que tudo o que se ensina precisa
ter sentido, ou seja, não se pode falar sobre a taxonomia de um determinado grupo sem construir
sentido, construir significado sobre aquilo que se ensina.
Diante dessa realidade, a Biologia se destaca por possibilitar ao professor diversas
ferramentas de apoio para tornar o ensino menos tradicional e mais dinâmico, permitindo para
ampliação do seu entendimento como indivíduo, como biológico, do lugar que ocupa na
sociedade e natureza, das possíveis interferências na dinamicidade de ambas, desenvolvendo a
capacidade de fazê-lo se enxergar no mundo como ser atuante e globalizado, e
consequentemente no modo de agir/atuar nele, assim como de interferir na maneira como as
pessoas interagem e se relacionam com ele visando à melhoria da qualidade de vida
16
(KRASILCHIK, 2004; DEMO, 2004; MORAES, 2001). Dessa forma, o ensino de Biologia
pode possibilitar a utilização de instrumentos avaliativos que outras disciplinas, talvez, não
possam ou não tenham facilidade para aplicá-las.
Portanto, ensinar Biologia permite o desenvolvimento do senso crítico, reflexivo e
criativo dos conteúdos relacionando-os com a realidade que o rodeia, proporcionando aos
alunos a capacidade de opinar e se portar frente a temas polêmicos que influenciam diretamente
em sua vida (LACERDA; ABÍLIO, 2017). Nessa perspectiva, esse ensino deve nortear o
posicionamento do aluno frente às questões polêmicas (BRASIL, 2008).
Uma postura avaliativa norteada por um ensino crítico pode conferir aos alunos uma
perspectiva diferente do ensino e dos objetivos que ele buscará ao final do ensino básico. Para
se obter resultados satisfatórios no processo de ensino-aprendizagem em nossas escolas são
necessários hábitos diferenciados e estes, por sua vez, exigem novas aprendizagens, como
também condições para exercitá-las (LUCKESI, 2011).
à realidade encontrada nos cursos de Licenciatura, indicando ainda mais a gravidade dos
problemas que envolvem o contexto avaliativo em sala de aula.
O Estágio supervisionado é uma vivencia prática proporcionada pelo curso, sendo nesse
contexto de sala de aula no ensino médio que pude observar que os docentes de Biologia se
esforçavam para ministrar os conteúdos de forma a facilitar a compreensão dos alunos, mas
demonstrando possuir pouco domínio ou experiência no campo da avaliação não considerando
as modalidades didáticas que a Biologia possui como instrumentos no processo avaliativo.
Lembro que quando cursei a educação básica, passei pelos mesmos processos
avaliativos que vivenciei no ensino superior e que são os mesmos observados em sala de aula
durante o Estágio Supervisionado, ou seja, em um espaço temporal de quase 10 anos o campo
da avaliação sofreu pouca ou quase nenhuma alteração prática em sala.
Essa prática docente é direcionada por concepções, por isso é importante compreender
quais as concepções que norteiam a prática avaliativa do professor de Biologia do ensino médio.
Uma das grandes dificuldades identificadas por mim, durante o Estágio Supervisionado foi a
grande quantidade de alunos cursando o ensino médio, o que dificulta a prática avaliativa
docente.
Outro motivo importante que justifica a pesquisa nesta etapa do ensino é que nela se
consolida os conhecimentos construídos desde o ensino fundamental, assim como prepara o
aluno para vida fora da escola. Além de ser o alvo do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM5), que influencia diretamente a prática docente, pois, esta prática acaba sendo
direcionada pelos objetivos e exigências que o ENEM impõe.
A avaliação da aprendizagem escolar continua alicerçada em uma base, historicamente,
tradicional, mesmo com o passar dos anos e dos avanços das tecnologias pouco se tem visto
quanto às mudanças em sua estrutura e estas não estão alcançando o chão da sala de aula
(VASCONCELLOS, 2004). Nessa perspectiva, a avaliação apresenta como função principal a
verificação da aprendizagem dos conteúdos, e, muitas vezes, sem direito ao feedback6.
Outro ponto que indica a relevância deste trabalho é a escassez de autores que publicam
sobre esta temática, indicando que esta pesquisa pode dar base teórica para que os docentes
compreendam melhor a avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia auxiliando sua prática
5
Criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. No ano
de 2009 o MEC apresentou a proposta de reformulação do ENEM, a fim de ser utilizado como forma de seleção
unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais (BRASIL, 2018).
6
O feedback corresponde a retroinformação: comentários e informações sobre algo que já foi feito com o objetivo
de avaliação, ou seja, é o retorno, as críticas positivas e negativas sobre algo já realizado. Disponível em:
<https://michaelis.uol.com.br/moderno-ingles/>
18
avaliativa. A fim de reforçar essa afirmação, foi realizado um levantamento das dissertações e
teses na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD 7) sobre a avaliação da
aprendizagem no ensino de Biologia (Quadro 02),
Quadro 02- Levantamento das dissertações e teses relacionados a temática pesquisada avaliação da
aprendizagem no ensino de Biologia na BDTD a partir do banco de dados do período de 1993 a 2017.
7
BDTD. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Envolvendo 109 instituições de ensino superior
brasileiras. Disponível em:
<http://bdtd.ibict.br/vufind/Search/Results?lookfor=Avalia%C3%A7%C3%A3o+no+ensino+de+biologia&type=
Title&limit=20&sort=relevance> Acesso em: 9 abr. 2018.
19
foram de apenas 3 dissertações e teses, destas, somente 1 teve como lócus de pesquisa o ensino
médio.
Trazendo para o contexto do Programa de Pós-Graduação8 em Educação da UFPB
(PPGE-UFPB), foram encontrados nove trabalhos que possuíam alguma relação com a
temática, destes, nenhum trabalhava a avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia, e
apenas dois trabalhavam as concepções dos docentes de Biologia.
Diante disso, se faz necessário um maior aprofundamento teórico da temática
pesquisada, a fim de compreender a realidade vivenciada no dia a dia docente e, a partir daí,
contribuir com possíveis caminhos para atingir uma prática avaliativa mais coerente e justa.
Portanto, a proposta dessa pesquisa foi de entender o que os professores compreendem por
avaliação da aprendizagem e o processo avaliativo exercido por eles em sala de aula nos dias
atuais, podendo assim, contribuir com as discussões acerca dessa temática.
As inquietações supracitadas foram à base para a formulação de algumas
Questões/Problemáticas a serem respondidas, são elas: Como o professor entende o ensino de
Biologia atual nas escolas públicas?; Quais as concepções de professores de Biologia acerca da
avaliação da aprendizagem?; Como esse professor relata vivenciar a avaliação da aprendizagem
no ensino de Biologia?; Quais fatores limitam e influenciam sua prática avaliativa?.
A busca por sanar as inquietações supracitadas foi o combustível para o
desenvolvimento desta pesquisa, a fim de proporcionar a compreensão do quadro avaliativo
atual no ensino de Biologia. Diante disso, foi definido como Objetivo Geral, compreender o
processo avaliativo escolar exercido pelos professores de Biologia no ensino médio através das
suas concepções e indicações da sua prática. A partir disso, emergiram os seguintes Objetivos
Específicos: analisar as concepções de professores de Biologia do ensino médio sobre o ensino
de Biologia atual; investigar as concepções desses sujeitos sobre a avaliação da aprendizagem;
descrever, a partir dos relatos, como eles vivenciam o processo avaliativo em sala de aula;
identificar, a partir do discurso dos sujeitos, quais os fatores que influenciam sua prática
avaliativa.
Estes objetivos nortearam a pesquisa a fim de melhor expor o que é e como se vivencia
o fenômeno da avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia, na concepção dos professores
do ensino médio do município de João Pessoa – PB.
A fim de, contribuir para um melhor direcionamento sobre o percurso da pesquisa e uma
leitura dinâmica do seu desenrolar, este trabalho foi organizado em:
A SEÇÃO II – Apresenta a trajetória da avaliação na sociedade, desde suas versões mais
primitivas como a prova/exames, até as mais recentes, abrangendo não só o contexto
institucional, mas também os sociais onde o homem vivencia o sujeito avaliador e avaliado.
Bem como os primeiros indícios da avaliação no contexto institucional nacional. Está seção
também aborda um resumo sobre a evolução do ensino de Biologia e da avaliação da
aprendizagem no Brasil. Acredita-se que para o melhor entendimento do que ocorre na
atualidade é preciso compreender primeiro o caminho percorrido até o presente momento.
Quais os primeiros vestígios da avaliação na sociedade, como era realizada em suas primeiras
versões, quando ela passou a ser institucionalizada e quando as discussões começaram a surgir
no Brasil. Os pontos levantados, e outros que estarão presentes na seção, são primordiais para
a compreensão de como a Avaliação está posta nos dias de hoje.
Na SEÇÃO III “Avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia e a prática docente:
Apontamentos acerca dos documentos legais”, a primeira parte desta seção retrata um diálogo
entre os documentos legais e os autores da área sobre como deveria ser realizada a avaliação no
ensino médio e o que realmente está sendo realizado na prática. É preciso conhecer a base legal
que dá suporte à avaliação, assim como todos os processos que a instituição junto ao docente
deve exercer. Caracterizar a avaliação, e ela no ensino de Biologia, é um trabalho fundamental
para o desenvolvimento desta pesquisa. As discussões acerca das concepções que envolvem a
prática docente também estão presentes nessa seção. Partindo do princípio de que a investigação
sobre o que os professores pensam sobre determinados termos e processos tem relação direta
com a sua prática em sala de aula. Atrelado a isso estão os saberes que estes docentes
desenvolveram e desenvolvem durante a sua vida pessoal e acadêmica. As discussões sobre
estes temas norteiam significativamente o entendimento desta pesquisa e revelam aspectos que
são essenciais para contribuir com a melhoria no ensino de Biologia.
Na SEÇÃO IV, são abordadas as principais características do percurso metodológico da
investigação. Esta é fundamental para o leitor compreender o passo a passo de cada etapa para
a construção deste trabalho. Destacando a caracterização da pesquisa, a abordagem adotada, a
Fenomenologia, o cenário e amostragem da pesquisa; técnica utilizada para coleta de dados e o
método de análise dos dados obtidos; técnica utilizada para a definição dessa amostra, no caso,
a saturação teórica;
21
9
COLAIZZI, P. F. Psychological Research as th Phenomenologist view it. In: VALLE, R. S.; KING, M.
Existential Phenomenological Alternatives for Pshychology. Nova York: Oxford University Press, 1978.
22
Diariamente, o ser humano é bombardeado por situações, nas quais precisa escolher a
melhor forma de se portar. Portanto, avaliam perigos, possibilidades e intenções. Avaliam de
forma inconsciente, e suas ações refletem diretamente nos resultados do que foi julgado
(SANTOS; SILVA; ARAÚJO, 2018). De igual forma, as nossas ações estão intimamente
relacionadas ao que pensamos do mundo que nos cerca, seja, a natureza, a sociedade em que
vivemos o futuro, as relações com as pessoas e as vivências (COUTINHO, 2013). Diante disso,
a avaliação se configura como um processo característico e pertencente ao dia a dia do ser
humano.
Essa flexibilidade avaliativa permite que a mesma seja uma atividade comum no
cotidiano do ser humano, pois sempre estamos analisando situações com o intuito de
compreendê-las ou de resolver problemas, ou mesmo, tomando decisões que facilitem ou
venham a facilitar o processo de desenvolvimento humano. Ao considerarmos a avaliação como
um processo, entendemos que ela está em constante movimento ao longo da história. Os
primeiros vestígios referentes ela, estavam imbricados às práticas de exames/provas/testes, não
necessariamente atrelados ao contexto institucional.
Um desses relatos envolvendo a avaliação está presente na bíblia no livro de Juízes 12:5-
7, onde destaca que “[...] em algumas tribos primitivas, adolescentes eram submetidos a provas
relacionadas com seus usos e costumes, só depois de serem aprovados nessas provas eram
considerados adultos” (SOEIRO; AVELINE, 1982, p.12).
Outro exemplo referente à prática do exame/prova é conhecido e utilizado há milênios
na sociedade Chinesa, anos antes da era cristã para selecionar soldados para o exército
(LUCKESI, 2011). Esses exemplos demonstram que o exame, já nessa época, adquiria um
caráter de controle social, inclusão e exclusão, de sucesso ou fracasso. O indivíduo só era
considerado apto, se atingisse determinada pontuação.
Estes exames foram absorvidos pela instituição educacional, os quais apresentam
princípios pautados na “qualidade da educação, eficiência e eficácia do sistema educativo,
23
maior vinculação entre sistema escolar (entenda-se currículo) e necessidades sociais (entenda-
se modernização e/ou reconversão industrial) ” (ESTEBAN, 2002, p. 53).
Na primeira metade do século XX, o termo “exame” é substituído pelo “teste” (QI), esse
Quoeficiente Intelectual foi criado pelo psicólogo francês Alfred Binet, com o objetivo de medir
a inteligência dos alunos com dificuldade de aprendizagem na escola da rede pública francesa
no ano de 1905 (OLIVEIRA; ANACHE, 2005).
Em meados da segunda metade do século XX, o termo “teste” é substituído pelo termo
“avaliação”, empregado primordialmente pela administração cientifica por ser uma palavra que
expressava neutralidade, imagem acadêmica e insight de controle (SANTOS, 2008). Mais ou
menos nessa época surge a pedagogia tecnicista, onde na avaliação implica no surgimento de
livros mais técnicos sobre esse tema.
para a situação objeto de colonização. Sobre a questão de como era o sistema educacional da
época, Libâneo (1994) afirma que:
10
Plano de Estudo criado pelos Jesuítas para regulamentar o ensino nos colégios Jesuítas (SAVIANI, 2013).
25
11
A teoria positivista, orientadora da ciência, elege como critério único da verdade aquilo que pode ser
comprovado através da experiência, dos fatos visíveis e positivos. No sistema educacional o paradigma positivista
implanta a grade curricular organizada em áreas do conhecimento por disciplinas isoladas, formando especialistas
em suas áreas, aulas curtas, com conteúdo descontextualizado e fragmentado (BORGES; DALBÉRIO, 2007).
26
caminhando a passos lentos. Vale salientar que, embora a legislação indique isso, nem sempre
as práticas docentes são alcançadas no mesmo período, além do mais, várias concepções
compões e estruturam a prática avaliativa docente em sala de aula.
30
12
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUES. 2018. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/processo/>
Acesso em: 18 jun. 2018.
31
Nesse sentido, o modo como o professor foi avaliado durante a vida seja acadêmica ou
pessoal associado aos aspectos citados por Vasconcellos influenciam na forma como ele
realizará sua prática avaliativa. Esta frase está escrita em nosso inconsciente e, de lá, atua de
modo automático, dependendo da situação o modo examinativo de agir dispara por si mesmo,
automaticamente (LUCKESI, 2011). O inconsciente associado à praticidade e ao estímulo da
instituição por esse tipo de avaliação tradicional (provas e exames) faz com que ela seja
realizada mais frequentemente na mesma. Esse tipo de avaliação confere confiabilidade e
garantia de que o conteúdo está sendo ministrado e os alunos tem aprendido, pois, possuem um
documento que garanta a aprendizagem e justifica sua permanência ou não no mesmo
nível/turma.
Contudo, não se defende aqui que a prova é um instrumento falido em sua essência e
que deve ser retirado do processo de avaliação, mas sim, como aponta Moretto (2008) ela deve
ser repensada e reformulada para uma nova estruturação, onde as questões de memorização são
substituídas por questões, por exemplo, de síntese e aplicação do conhecimento, que permitem
ao aluno se posicionar e aplicar aquele conhecimento em outras situações.
Vários outros fatores também podem ser considerados como obstáculos para o exercício
da avaliação tais como a desvalorização salarial do professor, que o “obriga” a ministrar aulas
em mais de uma escola aumentando a quantidade de alunos, portanto, como praticar uma
avaliação consistente quando um mesmo professor tem inúmeras turmas com inúmeros alunos
32
em mais de uma escola. Sobre este questionamento Hoffmann (2011) aponta que de fato, é
muito difícil um olhar consistente sobre um grande número de alunos, em pouco tempo de aula,
daí a importância de se considerar o caráter passageiro dos registros e dos significados que se
atribui às respostas, reações e tarefas, que podem sempre vir a ser contraposto ou negados pelo
aprofundamento de tal observação.
Ou seja, as atribuições que sobrecarregam o professor, hoje, também determinam a
interpretação e avaliação exercida por eles, visto que, se as condições fossem favoráveis àqueles
resultados concluídos, por eles anteriormente, poderia sofrer alteração, pois o olhar sobre eles
seria outro.
O engessamento do sistema educacional no âmbito da avaliação, utilizando métodos
rígidos e burocráticos a serem seguidos também se configura como um empecilho para os
docentes que gostariam de praticar uma avaliação mais consistente em sala. Os professores são
condicionados a concepção de avaliação adotada pela instituição ou sistema de ensino, não
permitindo que os mesmos utilizem construções pessoais diferentes das preestabelecidas
(HOFFMANN, 2011).
Muitas vezes esse conjunto de fatores culmina na “reprovação” e “repetência” dos
alunos. Para Penna Firme (2005) esta reprovação, está muito mais relacionada a um ato político
que reproduz as desigualdades de uma sociedade do que a um ato bem-intencionado. Nesse
ponto, se observa a importância da função avaliativa no âmbito escolar, a qual suas
consequências podem interferir positiva ou negativamente dentro e fora do contexto
educacional. Avaliar não é reprovar, mas sim, compreender e promover o desenvolvimento
pleno do indivíduo ou grupo social que busca o processo de alfabetização e de aprendizagem
(PENNA FIRME, 2005).
Outro fator que pode ser destacado é a confusão quanto aos conceitos de avaliar e
examinar. A fim de distingui-los, Luckesi (2011) aponta que o primeiro se caracteriza,
especialmente pelo seu diagnóstico e pela inclusão, enquanto que o segundo se caracteriza pela
classificação e seletividade do educando. Historicamente herdamos a naturalidade do examinar
e hoje, como docentes, acabamos por repetir a mesma prática que vivenciamos em nossa vida
escolar.
A avaliação ganhou um espaço tão abrangente no processo de ensino e aprendizagem
que a prática educativa escolar, segundo Luckesi (2011) passou a ser guiada pela “pedagogia
do exame”. O exemplo mais claro dessa pedagogia ocorre no ensino médio, quando no último
ano, as atividades docentes são voltadas e direcionadas para um treinamento, tendo em vista a
preparação para a entrada do aluno no ensino superior ou para outros fins, já que atualmente a
33
nota do ENEM abre portas para vários fins. No ensino médio as atividades centram-se na
resolução de provas abordando determinados conteúdos que mais estão presentes em
Vestibulares/ENEM. Os cursinhos são mais enfáticos ainda no processo de treinamento e
resolução de provas (LUCKESI, 2002).
Essa discussão mostra como o ensino está alicerçado em exames/provas. Essa
centralidade explica muito sobre a concepção de avaliação ao qual a instituição escola está
sedimentada.
Nessa perspectiva, o ensino está focado apenas nos resultados e nos produtos que aquele
aluno pode gerar. Esse tipo de pedagogia do exame não investe no aluno como um ser
inacabado, como dizia Paulo Freire, mas somente como um ser que deve apresentar produtos,
segundo os parâmetros esperados por determinada escolar (LUCKESI, 2011).
Não se defende aqui a abolição da preparação para o vestibular em sala de aula, no
entanto, é preciso partir do princípio de que o ENEM é apenas mais um caminho, não podendo
ser considerado como o único ou como aquele que dita às regras. A realidade dos fatos é que
muitas vezes o professor tem consciência disso, mas o próprio sistema ou escola faz exigências,
buscando lucro/status para aquela instituição. Contudo, o ENEM traz elementos positivos, pois
ele demonstra uma visão geral da qualidade do ensino.
Todavia, ele tem caráter classificatório, segundo Hoffmann (2017)13 sua finalidade é o
rankeamento, é a eliminação por classificação, ele não tem em sua essência a estratégia que
leva o sujeito que realizou este exame a melhorar a sua aprendizagem em função das
dificuldades percebidas em sua realização. Já os modelos avaliativos utilizados em sala de aula
não podem seguir o princípio classificatório, pois, as dificuldades percebidas durante a
avaliação devem ser trabalhadas em sala, demostrando que a avaliação faz parte do processo de
aprendizagem do alunado, o que proporciona o aperfeiçoamento de seus conhecimentos. Ou
seja, a finalidade do ENEM não é a mesma finalidade da avaliação escolar.
A avaliação, ainda mergulhada na classificação, é instrumento de interesse de vários
segmentos, tanto educacional quanto familiar. O sistema está interessado nos índices de
aprovação e reprovação dos estudantes; os pais esperam que seus filhos progridam nas séries
escolares; alguns professores se utilizam de mecanismos avaliativos como motivados dos
estudantes, através de ameaças; os alunos criam a expectativa da aprovação (LUCKESI, 2011).
Diante disso, o exercício escolar é permeado mais por uma pedagogia do exame do que por
uma pedagogia do ensino e aprendizagem.
13
HOFFMANN, J. Avaliação Mediadora. Entrevista. 2017. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=RWgqJVBpUQg> Acesso em: 30 mai. 2018.
34
Avaliação Diagnóstica
A Avaliação Diagnóstica pode ser entendida como aquela que se faz no início do
processo de ensino-aprendizagem, por isso também pode ser chamada de inicial ou preditiva
(COOL et al., 2004). Esta busca identificar as características dos seus alunos para, então, decidir
quais metodologias podem ser mais bem utilizadas na turma em questão. Nessa concepção, o
36
docente não chega com um modelo avaliativo já pré-definido e imutável, ele é construído à
medida que se conhece a turma.
Santos (2009) identifica a importância desse tipo de avaliação para as diversas esferas,
a mesma afirma que para o aluno, esta avaliação está relacionada à auto avaliação e seu
desenvolvimento; para o professor, ela refere-se à qualidade do conhecimento adquirido pelos
estudantes. Nesse sentido, a avaliação toma proporções maiores deixando de ser entendida
como um processo isolado e pertencente às quatro paredes da sala de aula.
Sobre esta temática, Gil afirma que ela:
A avaliação formativa é definida por Allal, Cardinet e Perrenoud (1986) como sendo a
avaliação que busca orientar o alunado quanto ao trabalho escolar, identificando suas
dificuldades a fim de encontrar o processo que lhes permitirão se desenvolver na aprendizagem.
A avaliação formativa é opositora a somativa que se constitui em um balanço parcial ou total
de um conjunto de aprendizagens. Ela se diferencia, ainda, da avaliação diagnostica por não
considerar o aluno como um caso a se tratar, considerando os erros como normais e parte do
professo, além de característicos do nível de desenvolvimento na aprendizagem que o aluno se
encontra.
A avaliação formativa possui um caráter controlador devendo ser desenvolvida durante
o período letivo, objetivando a identificação de que os alunos estão atingindo os objetivos
previamente determinados, ou seja, quais os resultados alcançados no decorrer das atividades
desenvolvidas, sendo através desse tipo de avaliação que o aluno passa a conhecer seus erros e
acertos, diante disso, ela é considerada como orientadora, pois direciona o tanto o trabalho
docente quanto e estudo do aluno (HAYDT, 2007).
Esse tipo de avaliação não se resume somente a acompanhar o aluno em seu processo
de formação, mas, a essência dela está na relação do professor com o aluno junto à tomada de
37
Avaliação Mediadora
terceiro princípio faz menção a provisoriedade dos registros de avaliação. Neste, os juízos
parciais não podem ser tomados como absolutos, sendo a decisão de aprovação ou reprovação
tomada a partir do histórico do processo de conhecimento do aluno (HOFFMANN, 2011).
Não se pode discutir avaliação da aprendizagem sem colocar em pauta um pouco do
currículo escolar, ambas as temáticas estão intimamente relacionadas. Para Cunha (2003) os
currículos, tradicionalmente, obedecem à lógica que organiza o conhecimento: do geral para o
mais restrito, da teoria para a prática, do ciclo básico para o ciclo profissionalizante. Já Moreira
(2003) afirma que o currículo é entendido como o conjunto de experiências vividas por
estudantes e docentes, desenroladas em torno do conhecimento escolar e organizadas pelas
instituições educacionais. Nessa perspectiva, o currículo se configura como o caminho que
direciona a ação docente e os processos a serem trabalhados na escola. Dessa forma, a prática
avaliativa segue um direcionamento de escolha e elaboração, trabalho realizado em conjunto
entre professor e instituição de acordo com o currículo elaborado pela escola, sem a ocorrência
do fator improviso.
De fato, é tarefa difícil mudar a imagem da avaliação dentro das escolas. Segundo
Hoffmann (2011) os indicadores que determinam o sucesso e o fracasso continuam a ser um
dos mais sérios fins de todas as escolas, as quais negam a individualidade dos alunos em função
de parâmetros avaliativos punitivos e excludentes. Mais difícil que modificar a imagem, é
conseguir atingir uma nova postura quanto à prática avaliativa exercida pelos docentes, mudar
a exclusão, os indicadores de sucesso e fracasso, a “prática da tortura homeopática” (LUCKESI,
2011) transformar a estrutura avaliativa do sistema de ensino tem se mostrado tarefa difícil,
mas não impossível.
Um dos passos principais atrelados à avaliação é a utilização dos instrumentos
avaliativos. Segundo Krasilchik (2004), frequentemente são observados objetivos que não se
coadunam, tais como desenvolver a capacidade de pensar crítica e logicamente, no entanto
preparar provas que evidenciam somente a capacidade de memorização. Moretto (2008) afirma
que o processo avaliativo necessita ser adequado à forma que se ensina. Ou seja, deve-se ter
coerência entre a escolha dos objetivos e os instrumentos. Dessa forma o docente leva em
consideração outros aspectos do processo cognitivo desenvolvendo o pensamento crítico e
reflexivo.
“Conhecer a produção das intenções socioeducativas; acompanhar a concretização
dessas ideias; analisar as bases e os modos em que as práticas pedagógicas escolares ocorrem e
em que resultam, é a avaliação” (SANTIAGO, 2006 p. 122). Ou seja, avaliar não é uma ação
limitada ou pontual, ela acompanha o aluno durante sua vida acadêmica, esse processo sugere
40
que a avaliação não pode se deter ao modelo tradicional ao qual está enraizada. E o ensino de
Biologia se configura como uma área que corrobora com uma avaliação que supera os moldes
tradicionais, pois, ao ser, em sua natureza, uma disciplina que relaciona teoria e prática, indica
que os instrumentos utilizados durante a avaliação devem ser, também, teóricos e práticos,
seguindo a coerência do ensino abordado em sala de aula, essa perspectiva permite uma
avaliação menos focada em provas e exames.
Para Coutinho, Rezende e Araújo (2013) é impossível se ensinar Biologia sem o
despertar da curiosidade do alunado, sem estimular o gosto pelo conhecimento, sem trabalhar
questões polêmicas e atuais a serem discutidas na escola, sem aulas práticas, sem utilizar outros
espaços escolares ou fora da escola, sem estratégias metodológicas que direcionem a aulas
dinâmicas e de participação dos alunos, sem ludicidade, sem tecnologia.
A história da Biologia demonstra que nem sempre o ensino seguiu esses princípios. Na
década dos anos de 1950, esse ensino era subdividido em botânica, zoologia e biologia geral,
assumindo um caráter descritivo e superficial. Com o passar das diversas mudanças ocorridas
nacional e internacionalmente, as bases para esse ensino adquiram um caráter mais social
voltado para o contexto do aluno. Essa mudança permite aos educadores admitirem que a
Biologia, além das funções inerentes ao currículo escolar, deve passar a desempenhar a função
de auxiliar os jovens na resolução e enfrentamento de problemas (KRASILCHIK, 2004).
O ensino como é posto atualmente, supracitado por Coutinho, Rezende e Araújo (2013),
exige que o professor possua habilidades e competências que permitam ao aluno associar os
conteúdos discutidos em sala de aula com o contexto ao qual eles estão inseridos,
desenvolvendo o senso crítico e criativo para resolver problemas e entender o mundo de forma
mais integrada.
Quando essa associação não ocorre à avaliação da aprendizagem sofre os reflexos dos
entraves vividos no ensino, visto que ambos os momentos estão correlacionados. Algumas
dificuldades no ensino das Ciências Biológicas são apontadas por Krasilchik (2004) quando
afirma que esse é tido como descritivo, com excesso de terminologia sem vinculação com a
análise do funcionamento das estruturas e a falta de coordenação com as outras disciplinas. Os
aspectos citados pela autora contribuem para a manutenção de um ensino teórico, memorístico
e fragmentado. As dificuldades trazidas pela própria carga teórica da disciplina acabam
culminando na dificuldade, também, no momento avaliativo.
Como esse componente curricular abre espaço para uma aula dinâmica e prática a
avaliação pode seguir pelo mesmo caminho, desenvolvendo avaliações com provas práticas, ou
transformando a sala de aula em um laboratório, utilizar espaços fora da sala para realizações
41
Outro ponto a destacar sobre o que diz a LDBEN é a “prevalência dos aspectos
qualitativos sobre os quantitativos”, assim como, os “resultados ao longo do período sobre os
de eventuais provas finais”. Hoffmann (2011) discute sobre a prevalência dos aspectos
qualitativos sobre os quantitativos quando afirma que:
Na perspectiva da autora, pode-se dizer que existe uma contradição entre valorizar os
aspectos qualitativos e a utilização de notas ou conceitos classificando o aluno.
Os exames geram notas e essas são a garantia ou a confiabilidade do estabelecimento
de ensino. Este, está centrado nos resultados das provas e exames desejando verificar no todo
das notas como estão os alunos (LUCKESI, 2011). Por sua vez, corrigir tarefas e testes só
apresenta significado como ponto de partida no processo avaliativo não terminal
(HOFFMANN, 2011). Desse modo, uma contradição entre o que se faz e o que se deveria fazer.
Muitas vezes, ou em sua maioria, o que está escrito não é colocada em prática.
A sala de aula mostra que a avaliação é pontual e fragmentada com prevalência dos
aspectos quantitativos sobre os qualitativos e das provas finais sobre os dos resultados ao longo
do período. “O que está sendo praticado no dia a dia de sala de aula não é o que consta nos
documentos que fundamentam a prática pedagógica” (CANDIDO, 2014, p.11), ou seja, a
prática avaliativa exercida atualmente em sala de aula é o oposto do que a LDBEN orienta que
as instituições de Ensino e os Professores sigam.
Pois, segundo Hoffmann (2011), a prática avaliativa não sofrerá alteração nas escolas
em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas sim, a partir do
compromisso e relação dos educadores com a realidade social que os cerca. Nesse sentido, por
mais embasamento que a lei possa proporcionar ao educador, se ele não se comprometer
diariamente com sua prática pedagógica nada irá mudar. Por mais que a autora aponte que o
professor precisa assumir a responsabilidade para que ocorra mudança, a realidade da sala de
aula no contexto atual tornam as teorias avaliativas utópicas e difíceis de se concretizarem. O
professor não pode ser considerado o único responsável pelo sucesso ou fracasso avaliativo.
As discussões acerca da avaliação da aprendizagem são cada vez mais frequentes
mesmo que seu surgimento no Brasil seja tão recente. O aumento dessa frequência demonstra
43
precisam ser reorganizados e reconstruídos. Essa etapa é fundamental para que os docentes
desconstruam concepções e crenças construídas durante a sua vida.
Portanto, a compreensão acerca da concepção é essencial para entender as discussões
que envolvem a avaliação da aprendizagem, visto que esta é parte fundamental do trabalho.
Para Guimarães (2010), o estudo que envolve as concepções dos docentes está inserido no
campo da investigação educacional, amplamente reconhecida como o estudo do pensamento ou
do conhecimento do professor, sendo importante conhecer a forma como o professor pensa,
pois, as suas ações são fortemente influenciadas pelo seu pensamento. Seguindo este princípio,
Silva e Silva (2018) apontam quem as concepções pedagógicas se referem às crenças que um
professor tem acerca do ensino e de sua prática docente, logo, essas crenças influenciam
diretamente em sua ação do professor. A forma como o professor vivencia e interpreta as
diversas situações determinam seu agir em sala de aula.
Por que pesquisar concepções? Porque analisar a concepção dos professores permite
uma melhor compreensão das possibilidades e limites que ele encontra, hoje, no ensino e,
consequentemente, na sua prática em sala de aula. Segundo Silva e Silva (2018) as concepções
se referem às crenças que um professor tem acerca do ensino e de sua prática docente. Ou seja,
essa prática recebe influência direta daquilo que o professor pensa, pois, antes de atingir a
concretude o pensamento passa por vários movimentos subjetivos e inerentes ao sujeito.
Por que pesquisar concepções e não percepção? A fim de diferenciar essas duas
vertentes, Matos e Jardilino (2016) definem concepções como a forma de se viver, avaliar e
agir com relação a um determinado fenômeno, mais especificamente, concepção seria a
operação de construir conceitos. Ela também pode ser definida como uma rede de ideias,
conceitos, representações e preconceitos, podendo informar a maneira como as pessoas
percebem, avaliam e agem com relação a um determinado fenômeno de acordo com as suas
experiências (MATOS; JARDILINO, 2016). Frente a isso Brown (2008), considera a
importância das pesquisas sobre conceito como fonte para determinar as características
estruturais das concepções. Já a percepção, se configura como a organização e interpretação de
sensações/dados sensoriais, que resultam em uma consciência de si e do meio ambiente como
uma representação dos objetos externos/exteriores (MATOS; JARDILINO, 2016). Portanto, o
presente trabalho se situa no campo da concepção, pois a forma como o professor vivencia e
experiência o fenômeno, foi o foco da mesma.
É importante ressaltar que a prática docente, especificamente a avaliativa exercida pelo
professor é resultante das concepções e saberes adquiridos por eles durante as experiências de
48
vida, formação inicial, formação continuada ou adquiridos de outra forma. Tardif (2010) aponta
que:
o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber
deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua
experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações
com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola, etc.
(p.11).
Nessa perspectiva, o saber docente é uma construção que ainda está em andamento,
adquirido tanto na vida pessoal quanto nas relações acadêmicas na formação inicial, e entre os
atores que compõe seu ambiente de trabalho. Para Pimenta (2012) esses saberes são
caracterizados como: saberes da experiência, do conhecimento – científicos e os saberes
pedagógicos. É nessa tríade que os docentes investigam sua própria prática e transformam esses
saberes em fazeres docente (PIMENTA, 2005).
Os saberes da experiência são aqueles acumulados durante a vida, produzidos no
cotidiano docente sendo confrontados com teorias e práticas próprias e de colegas de trabalhos,
a partir disso, esse docente constrói seu jeito de ser professor (PIMENTA, 2005; 2012).
Já os saberes específicos, estão atrelados aos conhecimentos necessários para atuação
na sua área profissional específica, nestes o professor se apropria de conhecimento científico,
tecnológico, cultural e técnico garantindo o desenvolvimento do seu trabalho e a construção do
conhecimento específico dos alunos (PIMENTA, 2005). Por fim, os saberes pedagógicos
correspondem aos conhecimentos desenvolvidos a partir da formação inicial, onde os
professores se apropriam de habilidades e competências para saber ensinar, ou seja, adquirem
um referencial para o processo de ensino a partir de programas como Pibid, Prolicem,
Residência Pedagógica e Monitorias. (PIMENTA, 2005). Embasado nessa tríade os professores
constroem e auxiliam o desenvolvimento humano do alunado.
Portanto, o entendimento de como o fenômeno Avaliação é concebido e vivenciado pelo
docente permite uma maior reflexão sobre a mudança de postura (concepção e prática) além de
facilitar o favorecimento de condições objetivas para que essa mudança ocorra. Então,
compreender a avaliação como fenômeno é buscar seu desvelamento através das concepções e
experiências dos docentes, a fim de, um melhor entendimento de como eles vivenciam essa
experiência.
49
4.2 A FENOMENOLOGIA
a luz, colocar sob iluminação, mostrar-se a si mesmo em si mesmo, a totalidade do que se mostra
diante de nós” (p.65-66).
Nesta perspectiva, Borge e Dalberio (2007, p.5) concebem a fenomenologia como sendo
“o estudo dos fenômenos em si mesmos, independentemente das condicionantes exteriores a
eles, cuja finalidade é aprender sua essência que é a estrutura de sua significação”, ou seja,
compreender a essência a partir das suas experiências, experiências essas que constituem tudo
o que se sabe do mundo. Moreira (2004) aponta que a fenomenologia é
14
Significa “forma” em Grego. (MOREIRA, 2004).
52
voltada para o fato de que quem vive à experiência é o sujeito não mais o pesquisador (como
no método filosófico), dessa forma, os dados obtidos passam a ser coletados de segunda mão,
sendo do sujeito para o pesquisador por meio de entrevistas ou escrevendo de próprio punho
(MOREIRA, 2004).
É importante destacar que, originalmente, Husserl nunca se propôs a desenvolver um
método para realizar pesquisa empírica, pois a fenomenologia deveria fornecer as bases para
desenvolver as ciências das essências, que seria a base racional para as ciências físicas e naturais
(MOREIRA, 2004).
Creswell (2014) destaca que um estudo fenomenológico
15
MOUSTAKAS, C. Phenomenological Research Methods. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.
53
Quando se fala em coleta de dados é preciso ter em mente que a escolha da técnica deve
atender as necessidades para atingir os objetivos e coadunar com o método escolhido.
54
Especificamente para este trabalho, foi escolhido como técnica de coleta a Entrevista
Semiestruturada, visto que, esse tipo de entrevista em profundidade corresponde a principal
forma de coleta de informações que a fenomenologia adota (CRESWELL, 2014). Como
estratégia de coleta de dados a entrevista é o momento, no qual os participantes descrevem
verbalmente suas experiências de um fenômeno (MOREIRA, 2004). Ela é um bom instrumento
de pesquisa ao qual permite a interação entre pesquisador(a) e o sujeito entrevistado(a) e a
obtenção de descrições detalhadas sobre o que se está pesquisando (OLIVEIRA, 2016). Essa
entrevista foi realizada com as professoras de Biologia que se enquadraram nos critérios
mencionados anteriormente no item 3.4.
O processo de análise dos dados obtidos foi realizado através do método
Fenomenológico de Colaizzi (1978), o qual é o mais comumente utilizado para analise
fenomenológica. Colaizzi (1978 apud MOREIRA, 2004) propõe sete passos que delineiam a
análise dos dados. Nesse sentido, seguindo a subjetividade característica da pesquisa
qualitativa, a extração dos significados, a formulação dos temas e a síntese da descrição da
essência da experiência foram analisados, interpretados e discutidos a partir da visão do
pesquisador. Vale salientar que os resultados da pesquisa fenomenológica são descritos
utilizando-se as palavras reais dos participantes e não códigos e linguagem científica
(MOREIRA, 2004).
b. Retornar a cada protocolo e extrair deles frases ou sentenças que se refira diretamente ao fenômeno
investigado; esse passo é chamado de “extração de assertivas significativas”.
Repetir o procedimento acima para cada protocolo e organize os sentidos formulados em “conjuntos de
temas”. Em seguida, teste esses conjuntos contra os protocolos originais de forma a validá-los. Isto é
d. atingido perguntando se existe algo nos protocolos originais que não estão presentes nos conjuntos de
temas e também se esta propõe algo que não esteja nos protocolos.
e. Todos os resultados obtidos até agora são integrados em uma descrição exaustiva do tópico investigado.
f. Um esforço deve ser feito para formular a descrição exaustiva do fenômeno investigado em uma
declaração de sua estrutura, da forma mais inequívoca possível.
g. Um passo final de validação pode ser obtido retornando a cada participante e – ou numa entrevista simples
ou numa série de entrevistas – perguntando-lhe sobre a adequação dos resultados obtidos.
Qualquer tipo de pausa ... Eu já tive aluno que não gosta de aula prática... é difícil...
mas acontece.... Tenho aluno que prefere escutar eu
falando...
Interrogação ? Por que tem que pensar como avaliar? O que avaliar?
Avaliar em que aspecto?
Comentários descritivos do não sei como explicar isso mas é uma forma de avaliar
transcritor ((risos)) de você vê o que é que ta deficiente o que é que ta
((minúscula)) faltando.
Indicação de que a fala foi Às vezes quando eu sinto que o aluno (...) por que também
interrompida em assim... as turmas são grandes.
determinado ponto. (...)
Entonação Enfática MAIÚSCULA Imagina aí sete turmas de quarenta alunos são MUITAS
provas
Foram realizadas entrevistas com sete professoras egressas da UFPB (Curso de Ciências
Biológicas – Licenciatura) e que hoje estão atuando no ensino médio (escolas públicas) de João
Pessoa - PB. Das professoras participantes da pesquisa, apenas duas não cursaram a disciplina
de “Avaliação da aprendizagem”.
A duração média das entrevistas foi de 25 min. Totalizando 3h. Todas as entrevistadas
eram do gênero feminino com idade variando de 25 a 34 anos. A média correspondente ao
tempo que esses docentes possuem de experiência em sala de aula é de 6,5 anos. Apenas uma
das professoras não tem pós-graduação (Quadro 06).
apontados. Para a primeira questão “O Ensino de Biologia atual na perspectiva Docente” foram
destacados sete tipos diferentes de enunciados onde a saturação referente a esta categoria foi
constatada na segunda entrevista conforma a (Tabela 02), vale lembrar que ao todo foram
realizadas sete entrevistas.
É importante destacar que a maioria das professoras entrevistadas citaram, como forma
de enxergar o ensino de Biologia atual, o “Conteúdo extenso X carga horária reduzida”,
“Dificuldade ao falar de nomenclatura científicas” e “Utilização do Livro Didático”. Dessa
maneira, entende-se que as categorias citadas obtiveram uma maior representatividade.
Para a segunda questão “Concepções sobre avaliação da aprendizagem” foram
identificados seis tipos de enunciados diferentes, atingindo a saturação na entrevista quatro
(Tabela 03).
Pôde-se observar uma maior frequência dos enunciados “Correção da avaliação em sala
de aula (Feedback)” e “Identificar se o aluno compreendeu”, estes dois enunciados foram
destacados como os mais representativos nesta categoria.
Na questão “Avaliação da Aprendizagem no ensino de Biologia” foram destacados
quatro tipos de enunciados diferentes. Nesta, a saturação foi atingida na entrevista três (Tabela
04).
Nesta questão foi possível identificar a grande ocorrência de relatos relacionados aos
enunciados “Metodologicamente diversificada”, seguida pelos enunciados “Quantidade de
alunos X avaliação diversa” e “Dificuldade estrutura para provas práticas” respectivamente.
A questão “Instrumentos mais utilizados pelos Docentes” elencou cinco tipos de
enunciados diferentes. Neste caso a saturação teoria foi alcançada na terceira entrevista (Tabela
05).
Nesta questão, o enunciado que se fez mais representativo foi “Cobrança dos alunos” e
“Contextualização das questões para o ENEM”, demonstrando que as professoras entrevistadas
sentem muito a cobrança dos alunos para que elas trabalhem assuntos voltados para o ENEM.
Na questão “Bases para a prática avaliativa Docente” foram elencadas quatro tipos de
enunciados diferenciados aos quais atingiram a saturação na quinta entrevista conforme
(Tabela 08).
Tabela 08 – Distribuição das frequências de tipos de enunciados diferentes, referente à questão “Bases
para a prática avaliativa Docente”. X = indica o surgimento de um novo enunciado.
Nesta questão o enunciado que mais foi representativo foi “A partir da Experiência”
e “Outras disciplinas da formação inicial” tanto pedagógicas quanto específicas, seguido pela
“Disciplina de Avaliação da aprendizagem”. Apenas uma professora indicou que sua base
avaliativa surge a partir da “Base na literatura”. O gráfico abaixo demonstra a dinâmica de
saturação entre todas as questões envolvidas na entrevista (Gráfico 01).
63
0
1 2 3 4 5 6 7
O gráfico demonstra que a saturação teórica total dos dados foi alcançada na entrevista 5,
ou seja, não ocorreu a adição de novos dados a pesquisa. Em função disso, optou-se pelo
encerramento das entrevistas atingindo o fechamento amostral, que segundo Fontanella, Ricas
e Turato (2008) ocorre quando os dados passam a apresentar redundância ou repetição. As duas
últimas entrevistas foram realizadas com o objetivo de constatar a saturação. É importante
destacar que os temas utilizados na saturação teórica são referentes às questões que compõe a
entrevista semiestruturada. Já os temas utilizados nos resultados emergiram a partir do discurso
das professoras, ou seja, a partir das respostas as entrevistas.
Ao todo foram descritas 149 assertivas significativas literais as quais foram organizadas
em 27 conjuntos de temas e 6 categorias, sendo elas: o ensino de Biologia atual na perspectiva
Docente; concepções e limites acerca da avaliação da aprendizagem; Significado e aplicação
da avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia; Bases para prática avaliativa Docente;
Instrumentos avaliativos como indicativos da prática Docente; Influência do ENEM na
avaliação da aprendizagem,
As assertivas surgiram a partir das sete entrevistas sobre o fenômeno investigado. A fim
de uma melhor compreensão das concepções das professoras entrevistados acerca da temática
64
em questão os relatos foram divididos em categorias que surgiram a partir das falas das
professoras acerca da sua concepção e prática.
Ao todo emergiram 156 assertivas significativas a partir das falas das professoras que
foram agrupadas em 27 conjuntos de temas e 6 categorias. Estes serão descritos a seguir, na
busca de uma melhor compreensão para os leitores sobre a estrutura do fenômeno investigado,
ou seja, como as professoras participantes da pesquisa vivenciam e experienciam a avaliação
da aprendizagem no ensino de Biologia (Quadro 07).
Quadro 07 - Categorias referentes às concepções das professoras e os grupos de temas que emergiram
a partir da análise Fenomenológica dos dados.
Quantidade de % de
CATEGORIA CONJUNTO DE TEMAS assertivas professoras que
significativas citam o tema
citadas pelas
professoras
Relação carga horaria reduzida para o 08 26%
conteúdo extenso
Teoria e Prática versus infraestrutura 03 9,6%
O ensino de escolar
Biologia atual na Relação com o cotidiano do aluno 05 16,1%
perspectiva Ensino de Biologia e as exigências para 03 9,6%
Docente o ENEM
Abstração dos conteúdos de Biologia 04 12,9%
Nomenclaturas científicas como entrave 04 12,9%
no ensino de Biologia
O ensino de Biologia e a formação 04 12,9%
cidadã
Total 31 100%
Princípios da Avaliação formativa 16 47%
Concepções e Princípios da Avaliação mediadora 02 5,9%
Limites acerca da Avaliação como processo contínuo 03 9%
Avaliação da Avaliação qualitativa (nota qualitativa) 04 11,7%
Aprendizagem Avaliação somativa. 01 2,9%
Limites para realização da avaliação em 08 23,5%
sala de aula
Total 34 100%
Significado e Diversificação das formas avaliativas 10 71,5%
aplicação da
avaliação da Aplicação de instrumentos voltados as 04 28,5%
aprendizagem no Ciências Biológicas.
ensino de Biologia
Total 14 100%
Prática avaliativa advinda da disciplina 04 23,6%
Bases para de Avaliação da Aprendizagem
prática avaliativa Prática avaliativa a partir da experiência 03 17,6%
Docente em sala de aula
A partir de outras disciplinas da 08 47%
formação inicial
65
Dos protocolos obtidos pelas entrevistas sobre o ensino de Biologia atual na perspectiva
docente foram retiradas 31 assertivas significativas às quais foram organizadas em 7 temas
principais exaustivamente descritos abaixo.
Tema 1- “Relação carga horária reduzida para o conteúdo extenso” – Esta temática
foi bastante destacada (26%) pelas docentes. Dessa forma, se configura como o tema mais
abordado. Ele revela a dificuldade existente no dia a dia da sala de aula em diversos contextos
e modalidades, neste caso específico, as professoras entrevistadas identificaram essa relação
como sendo um dos grandes entraves do ensino de Biologia atual, principalmente nas escolas
integrais técnicas (Projeto Escola Cidadã Técnica16). Neste modelo educacional a carga horária
da disciplina de Biologia foi ainda mais reduzida sendo destacado como uma dificuldade
marcante para o desenvolvimento de um ensino satisfatório. Vejamos alguns trechos.
Nós tínhamos três aulas de Biologia e agora nós temos duas, por que a
escola agora é técnica, aí assim, eu ainda não consegui entender como é que
numa disciplina como Biologia você só dá duas aulas. E no terceiro ano só é
16
Trata-se de um novo modelo de escola pública implantado na Paraíba, com a proposta de organização e funcionamento
em tempo único (integral). A Escola Cidadã Integral Técnica seguirá o mesmo modelo que a Escola Cidadã Integral,
mas tendo como diferencial os cursos técnicos, que visam a formação dos jovens para atuarem no mercado de trabalho
(PARAÍBA, 2018a).
66
uma aula, então o tempo com o conteúdo eles não casam, não casam
(Professora 5).
Neste tipo de ensino a carga horária foi reduzida, mas o programa de Biologia continua
o mesmo, essa nova estruturação faz com que o docente se desdobre para cumprir o programa
em um curto espaço de tempo. Para Silva et al. (2016) a carga horaria escolar não consegue
alcançar a necessidade real de se aprender Biologia, então o que a maioria dos professores
decide é fazer o resumo do resumo do resumo. Muitas vezes induzidos pela própria coordenação
escolar.
Você acaba tendo que preferir mesmo, tem que escolher alguns
assuntos para dar, não tem como você dar todos os assuntos de Biologia
(Professora 03).
qualidade quando, muitas vezes, não se têm tempo de conhecer a turma, planejar e executar um
ensino e a prática avaliativa coerente com o perfil dos alunos em questão.
Em contextos onde o professor leciona apenas em uma escola, e que não adotou o
Sistema Escola Cidadã Integral, a relação carga horária e conteúdo extenso se mostrou
amigável. Como demonstra a Professora 07,
17
O material da aprendizagem (livros, aulas, aplicativos, ...) tenha significativo lógico (isto é, seja relacionável de
maneira não-arbitrária e não literal). Nesse sentido, o material só pode ser potencialmente significativo, não
significativo: não existe livro, nem aula significativa, pois, o significado está nas pessoas, não nos materiais
(MOREIRA, 2011).
68
Ambos os estudos demonstram que este entrave está presente em diversos contextos
educacionais e é um fator que limita a ação docente de qualidade. Trazendo a reflexão sobre a
ação docente nos dias atuais, Ens e Donato (2011, p.86) inferem que “no contexto da sociedade
contemporânea, percebem-se os professores encurralados entre tensões e incertezas para
desempenhar a função de ensinar, graças às transformações da sociedade”.
Tema 2 – “Teoria e prática versus infraestrutura escolar” – Esta relação foi um dos
aspectos menos abordados na fala dos entrevistados, 9,6%, demonstrando que poucos
professores a sentem como um entrave. Este tema trouxe à discussão, quanto ao ensino de
Biologia atual as questões referentes à infraestrutura das escolas públicas que os entrevistados
lecionam. Pois, a Biologia é uma disciplina teórica e prática, onde ambas se complementam
para atingir suas reais necessidades.
Contudo, alternativas podem ser consideradas uteis como forma de aproximar a teoria
da prática, por exemplo, a utilização dos espaços verdes da escola para desenvolver aulas de
campo; o entorno da escola como um estudo do meio abordando outras áreas do conhecimento
e os aspectos sociais, ambientais, econômicas, políticas, geográficas, químicos, históricos, entre
outros; a transformação da sala de aula em laboratório para a realização de aulas práticas e
experimentações simples como a extração do DNA da banana. Inúmeras são as possibilidades
criativas que a Biologia permite desenvolver para aproximar o conteúdo de sua prática. É
possível transformar a sala de aula em laboratório desde que tenha boas condições
(KRASILSCHIK, 2004). Segundo Silva e Usso (2011) existem experimentos que exigem todo
o aparato de um laboratório, mas há outros que são simples e possíveis de serem realizados em
sala.
Enquanto nesta pesquisa poucos professores relataram a relação da ação docente com a
infraestrutura como um dos aspectos que mais dificulta o ensino da Biologia, na pesquisa
realizada por Viana e Brito (2016) com 16 professores das escolas estaduais do município de
Alfenas–MG, percebeu-se que a maioria dos entrevistados (13) destacaram essa relação como
a que confere maior dificuldade.
Ainda no trabalho de Viana e Brito (2016) 12 professores indicaram que por não ter
laboratórios disponíveis nas escolas que lecionam é preciso improvisar. Essa improvisação
reforça a ideia de que com conhecimento e criatividade os professores podem desenvolver
estratégias que aproximem a teoria da prática, facilitando a compreensão do alunado permitindo
o desenvolvimento de outras habilidades como o raciocínio lógico, a criatividade, o trabalho
colaborativo, entre outros.
Na pesquisa de Daniel et al. (2015) com professores de Biologia de 4 escolas do
município de Dois Vizinhos–PR, ao serem questionados sobre as dificuldades encontradas no
ensino de Biologia ressaltaram que a estrutura disponível não permite um ensino prático de
qualidade.
Diante disso, pode–se considerar que, em diversas regiões do país, os docentes sentem
dificuldades semelhantes quanto à infraestrutura necessária para a realização de aulas práticas.
Nesse sentido, é importante que o professor não se torne refém da falta de recursos, pois, mesmo
existindo fatores que limitam a utilização de aulas práticas um pequeno número de atividades
interessantes e desafiadoras para o aluno já seria suficiente para suprir as necessidades básicas
70
desse componente essencial à formação dos jovens que lhes permite relacionar os fatos às
soluções de problemas (KRASILCHIK, 2004).
Biologia é mais interessante para eles por que relaciona muito com o
cotidiano (Professora 1)
Para que essa contextualização seja exitosa o professor precisa sair da sua zona de
conforto e conhecer melhor a realidade dos seus alunos como vivem? onde vivem? de onde
vem? para onde pretendem ir?. Todos esses aspectos auxiliam o docente a conectar o conteúdo
com a vida dos mesmos.
Outro fator que precisa ser levado em consideração é o Livro Didático (LD). Os livros
utilizados em sala de aula não possuem contextualização regional, ou seja, suas atividades e
exemplos estão relacionados à outra região do país como o Sudeste. Portanto, o professor
precisa inovar e associar o conteúdo visto nos LD com a realidade dos alunos locais, utilizando
exemplos e acontecimentos da região. Essa associação tanto irá gerar uma melhor compreensão
daquilo que se deseja ensinar, quanto um maior conhecimento daquilo que o rodeia.
Dessa forma, a Biologia é apontada como uma das disciplinas que mais é permitido
fazer essa conexão.
[...] é mais fácil que as outras disciplinas e, para contextualizar eu faço umas
associações meia louca (Professora 6).
Você vai ter que relacionar com o cotidiano do aluno então quando se
dá aula de carboidrato não adianta nada você falar de classificação de
71
carboidratos por que os carbonos fazem tantas ligações você tem que falar de
que? De comida, do alimento então eu passo o ano inteiro falando de
alimentação quase uma nutricionista (Professora 4).
O ENEM, por se tratar de uma avaliação em larga escala, tem características e objetivos
específicos os quais buscam compreender, de uma maneira geral, como está o sistema de ensino
médio brasileiro, ele também é utilizado como porta de entrada para cursos superiores. Ele cria
um novo modelo de certificação, introdução das noções de competências e habilidades entre
outros elementos de mudança no ensino médio têm gerado impactos sobre o trabalho docente
(PIUNTI; OLIVEIRA, 2012). Diante disso, o ENEM passa a ser o objetivo final do ensino e da
avaliação e os professores, em muitos casos, precisam direcionar sua prática docente para os
conteúdos que mais são abordados e adotando avaliações similares as utilizadas por esse exame.
Ele condicionou o sistema de ensino a desenvolver suas atividades curriculares voltadas para
ele, ou seja, para Santos e Gioppo (2012).
Além das atribuições habituais da docência o professor ainda precisa lidar com as
cobranças para que seus alunos alcancem boas notas e bons índices de aprovação, tornando essa
escola um padrão a ser seguido. Dessa maneira as instituições de ensino acabam entrando em
uma competição, a fim de, que seus alunos obtenham melhor nota no ENEM elevando o status
da escola, o que Carneiro (2012) denomina de ensino médio midiático. Se esses índices se
tornam insatisfatórios o professor passa a ser mais criticado e a receber mais pressão por parte
da coordenação escolar. Esse contexto opressor instaurado retira a autonomia do professor
quanto à sequência dos conteúdos a serem trabalhos e a dinâmica das aulas tornando, como as
professoras entrevistadas relataram, o ensino mais conteudista. A Biologia deixa de ser ensinada
para a vida e formação cidadã do aluno e passa a ser ensinada para o ENEM.
Assim, como citado pela professora 5, o docente acaba se vendo numa situação onde
precisa se desdobrar para atender a todos os objetivos que o ensino de Biologia exige, bem
como, as exigências da instituição de ensino ao qual ele está inserido, as normas e diretrizes
que regem o trabalho docente e os exames aos quais seus alunos serão submetidos.
O impacto que o surgimento do ENEM causou a pratica docente e ao próprio sistema
de ensino começou a ser alvo de diversos estudos como, por exemplo, o trabalho desenvolvido
por Santos e Gioppo (2012) com professores de Biologia de seis escolas do município de
Curitiba-PR sobre a influência do ENEM na prática pedagógica desses docentes, ficou
constatado que o planejamento individual das aulas é influenciado pelo livro didático e pelo
ENEM, outro ponto importante é que as entrevistas destacaram a preocupação dos professores
em elaborar e aplicar questões características do ENEM, essa preocupação se dá pelo baixo
desempenho dessa escola no ultimo ENEM.
O LD é um dos instrumentos mais utilizados pelos professores, principalmente os que
atuam em escolas públicas, em muitos casos, é o único instrumento de auxilio que o professor
73
tem a sua disposição. Portanto, é preciso destacar a importância que ele tem no planejamento e
desenvolvimento das aulas. Mesmo se tratando de um instrumento mercadológico e lucrativo
sua utilização é fundamental no dia a dia de uma escola. No entanto, não pode ser aquele que
dita às regras, ou aquele que tem que ser trabalhado linha por linha durante o ano.
Já nas pesquisas de Marçal e Vlach (2011) com 16 professores do ensino médio de uma
escola do município de Patos de Minas–MG, que buscaram perceber a influência do ENEM na
prática docente, foi possível perceber que cerca de 50% dos professores relataram utilizar as
provas do ENEM em sala de aula, no entanto, 62,50% deles afirmaram que não alteraram seu
plano de ensino em função desse exame. Ou seja, o ENEM influencia na sua prática, mas essa
prática não é totalmente guiada pelo exame supracitado.
[...] essa pontualidade que a gente está falando de célula, essa invisibilidade,
entendeu? É tentar realmente trazer, resgatar isso para o dia a dia do aluno,
é o que eu tento fazer (Professora 2).
Com a realidade da escola pública, poucos alunos têm acesso a laboratórios de ciência,
no entanto, é possível a confecção e utilização de modelos didáticos de células, vírus, bactérias,
DNA, entre outros. Na ausência de laboratórios uma alternativa seria, justamente, a montagem
de modelos didáticos que contemplassem os conteúdos supracitados e dessa forma pudessem
74
trazer uma visão aproximada desse mundo abstrato (ORLANDO, et. al,. 2009). São inúmeras
possibilidades de trabalhos que se pode fazer com esses materiais. Dessa forma, sua utilização
contribui para uma melhor compreensão dos conteúdos abstratos que a Biologia dispõe. “Além
do lado visual, esses modelos permitem que o estudante manipule o material, visualizando-o de
vários ângulos, melhorando assim, sua compreensão sobre o conteúdo abordado” (ORLANDO,
et. al., 2009, p.2).
Resultados semelhantes a estes são encontrados nas pesquisas de Teodoro e Campos
(2016) com 3 professores das escolas estaduais do interior de São Paulo. Estes apontam que a
dificuldade maior está em ensinar os temas da 2 série do ensino médio, pois, são muito abstratos
o que confere uma dificuldade maior em imaginar os processos acontecendo, associado a isso
está à falta de estrutura relatada pelos professores entrevistados.
Na pesquisa de Santos e Cortelazzo (2010) com 15 professores da cidade de Idaiatuba
– SP, foram indicados que alguns conteúdos de Biologia são considerados abstratos e de difícil
articulação em sala, o conteúdo mais citado pelos entrevistados foi biologia celular.
Considerando a falta de infraestrutura adequada, na maioria das escolas públicas, como um dos
fatores que intensificam a abstração desses conteúdos. Pode-se considerar que a falta de
laboratórios está diretamente relacionada à abstração dos conteúdos, pois, essa ausência se
configura como uma impossibilidade de observar os conteúdos microscópicos. No entanto, cabe
ao professor, mesmo em meio a tantas atribuições e dificuldades, ser criativo e fazer a diferença
na sua prática docente transformando a própria sala de aula em laboratório de construção e
utilização dos materiais análogos.
No trabalho de Petrovich et al. (2014) realizou um trabalho com 71 estudantes do curso
de Licenciatura em Biologia do Rio Grande do Norte, foi constatado que os conteúdos de
citologia (22,6%) e genética (19,3%) foram apontados como os mais difíceis de ser trabalhados
em sala de aula tendo como maior justificativa para isso a abstração característica desses
conteúdos, cerca de 32,3% dos entrevistados apontaram esse problema. Para Orlando et al.
(2009) o caráter microscópico dos aspectos celulares e moleculares da Biologia atual, requer
uma boa infraestrutura de laboratório, com microscópios e aparelhos que possibilitem a
observação dos aspectos estudados, segundo ele, uma alternativa para esse déficit seria a
construção de modelos didáticos que contemplassem esses conteúdos.
de assimilação dos alunos. Ela também se configura como uma característica marcante da
Biologia. “O excesso de vocabulário técnico que o professor usa em suas aulas leva muitos
alunos a pensar que Biologia é só um conjunto de nomes de plantas, animais, órgãos, tecidos e
substancias que devem ser memorizadas” (KRASILCHIK, 2004, p.56).
Contudo, é possível desenvolver estratégias para que essa barreira da nomenclatura seja
superada, como explica a Professora 5:
[...] o problema do aluno é que ele não está adaptado à linguagem científica
eu trabalho muito isso na sala de aula por que os alunos acham ‘a tem muita
palavra difícil’ então se você for contextualizar aquela palavra, se você for
puxar, por exemplo, pela origem ele vai gravar mais fácil (Professora 5).
Esse tipo de linguagem usa uma terminologia, possui uma estrutura semântica e
gramatical e um significado conceitual diferenciado da linguagem vulgar o que a afasta do uso
coloquial (OLIVEIRA et al., 2009). A utilização de nomenclaturas cientificas sem a
contextualização e a associação com o cotidiano do aluno pode gerar um distanciamento entre
a Biologia e a vida.
O trabalho de Nascimento et al. (2015) com três professores de Biologia do ensino
médio do município de Iguatu–CE, realizada através de entrevistas, foi possível perceber na
fala dos professores que as nomenclaturas científicas foram um dos principais entraves no
ensino de Biologia. A exemplo disso tem a fala de um dos professores entrevistados por
Nascimento et al. (2015) “Os termos complicados que dificultam a aprendizagem do aluno” (p.
3). Esses termos acabam por desenvolver nos alunos uma aversão pelo conteúdo ou pela
disciplina, o que dificulta o trabalho docente.
Os resultados encontrados no trabalho de Sousa et al (2012), com 12 professores da rede
estadual no município de Araguatins–TO, aponta que a falta de compreensão dos termos
científicos por parte dos estudantes aparece em primeiro lugar na lista das dificuldades
encontradas ao se ensinar Biologia. O que difere desta pesquisa ao qual cerca de 12,9% dos
professores demonstraram sentir essa dificuldade.
Já a pesquisa de Silva, Morais e Cunha (2011) com professores da cidade de Imperatriz–
MA, os resultados apresentam semelhança, pois, apontam que as nomenclaturas científicas se
configuram como barreira no ensino de Biologia, visto que, são consideradas de difícil
compreensão pelos alunos, dessa forma. Ao se concentrar o ensino de Ciências e Biologia em
termos e nomenclaturas, os alunos podem ter a cabeça repleta de novos nomes, mas sem
atribuírem significado a esses nomes. É preciso estimular a reorganização conceitual da
informação para, então, alterar as suas configurações pré-existentes. “Por outro lado, elas
proporcionam ocasiões de encontrarem o seu modo de pensar e raciocinar desenvolvendo estruturas
organizacionais e criativas que, juntamente com a memória, vão desenvolver competências científicas
afetando a aprendizagem e orientando significativamente a construção do conhecimento” (OLIVEIRA;
et al, 2009, p.25).
77
Diante disso, pode-se inferir que ensinar nomenclatura por ensinar não torna a
aprendizagem mais eficiente, é necessário que os alunos entendam o significado e o conceito
de cada termo científico a fim de, facilitar a associação desse novo conhecimento com os
conhecimentos pré-existentes.
Existe uma questão de cidadania que tem que ser compreendida, que
os assuntos que a gente administra é para a vida, o projeto de vida da pessoa
e não para o projeto ENEM (Professora 1).
[...] ara ele virar um cidadão consciente um cidadão que entende como as
coisas funcionam para se tornar ator mesmo social (Professora 5).
situação de plebiscito, mesmo não sendo muito comum, que objetivasse discutir o rumo da
pesquisa cientifica no Brasil, o cidadão que se apropriou de conhecimentos científicos deixa de
ser influenciado por preceitos midiáticos e por ideologias manipuladoras (SILVA JUNIOR;
BARBOSA, 2009. p.5).
Ao se analisar todas as categorias que emergiram das entrevistas foi possível identificar
que o “ensino de Biologia e a formação cidadã” ou para a vida, está presente tanto na categoria
sobre o ensino de Biologia atual, quanto nas falas sobre a influência do ENEM na avaliação da
aprendizagem. Esta identificação demonstra a importância da Biologia para a vida do educando,
transpassando assim, os muros da sala de aula. Segundo as OCEM (BRASIL, 2008) no que diz
respeito à formação do educando como cidadão e como personalidade ética e crítica, a Biologia
tem grande contribuição a dar. Formar um cidadão ético, capaz de compreender e ser crítico
quanto às questões inerentes a vida humana e aos outros seres vivos.
Segundo Krasilchik (1988) os procedimentos como:
Portanto, é preciso que o professor desenvolva, junto aos alunos, seu papel também de
cientista, trabalhando os conteúdos de forma mais científica, a partir disso, despertar em seus
alunos a curiosidade e o senso crítico. O valor que se atribui a formação do cidadão está
relacionado a um processo de democratização, que, no Brasil, foi interrompido durante aos 20
anos após o golpe de 1964 (KRASILCHIK, 1988). Diante disse, fica notório a importância do
ensino de Biologia na formação do cidadão, cabendo ao professor auxiliar seus alunos nesse
caminho, trabalhando os conteúdos dessa disciplina para além de passar em uma prova ou
exame, mas trabalhando seus conteúdos para a vida, para o projeto de vida do alunado.
Eu acho que avaliar o aluno é entender como ele entendeu, acho que é
basicamente isso, saber se ele entendeu aquele assunto que foi abordado em
sala de aula. De alguma forma avalia-lo para que eu possa entender se ele
está no caminho certo, se ele errou demais, ou se ele não está indo pelos
conceitos necessários para que ele possa chegar à aprendizagem final
(Professora 5).
Na perspectiva formativa constata-se o que o aluno aprendeu e o que ele ainda não
aprendeu, para que o trabalho seja reorganizado e a aprendizagem seja garantida (VILLAS
BOAS, 2008). Dessa forma o “erro” do aluno está diretamente relacionado à aprendizagem e
não a punição. Segundo Torre (2007) esse erro deve ser compreendido como um sintoma e não
como um mal, pois, na aprendizagem eles são indicadores de lacunas de conhecimento,
estratégias inadequadas, falha na compreensão, lapso na execução, entre outros.
É possível encontrar na fala das professoras uma preocupação quanto ao aprendizado
do aluno e como a avaliação se caracteriza como momento de investigação e tomada de decisão
sobre prosseguir ou retornar. Dessa forma, é importante destacar que na perspectiva formativa
o momento da avaliação também é o momento de aprendizagem. Hadji (2001) aponta que a
80
avaliação formativa é aquela que se situa no centro da ação de formação. O avaliar não pode
deixar de ser considerado como momento de aprendizagem para ser apenas o de “com-prova-
ção” do que o aluno aprendeu (VASCONCELLOS, 2003). Ou seja, o processo avaliativo
também se configura como um espaço de formação e aprendizado. Sendo assim, está carregado
de questionamentos, de problematizações, de investigações, de interpretações e mediações
(LOCH, 2000).
Diante disso, o feedback, quando o professor dá um retorno acerca da avaliação que
determinado aluno fez, se configura como um importante passo no processo formativo. Sobre
isso a Professora 2 aponta que
Eu corrijo e identifico, por exemplo, qual foi o erro mais comum, o que
é que eles confundiram mais e isso passar de maneira geral para sala não
exatamente individual, por que realmente não tem condições (Professora 2).
Está dando certo, por que se ninguém está aprendendo é por que tem
alguma coisa errada (Professora 6).
Se todos os alunos tiram nota baixa na sua prova, nas suas avaliações,
será que o problema é só do aluno, entendeu? Pode ter sido a minha
explicação que eles não entenderam, então eu sempre fico atenta para essa
questão da autoavaliação também, é muito importante (Professora 7).
Nesta pesquisa, cerca de 47% das professoras entrevistadas relataram em suas falas
realizar, mesmo que não em sua totalidade, a avaliação formativa. Sendo a temática que mais
emergiu quando questionadas sobre as suas concepções avaliativas. Já o trabalho de Silva et al.
(2018) com 89 professores de 12 escolas do município de Mamanguape–PB, sobre a concepção
de professores acerca da avaliação da aprendizagem foi possível constatar resultados
semelhantes a estes, pois, 32% dos entrevistados indicaram a avaliação formativa como a
concepção mais encontrada em suas falas, correspondendo também à maioria dos docentes
participantes da pesquisa.
pontos18, agir como mediador entre duas situações e saber articulá-las. É quando o professor se
porta como o facilitador entre o conhecimento e o aluno, a fim de, direcionar o aluno a
construção do seu conhecimento.
Dessa forma, o professor aproveita tudo o que o alunado tem para dar, seja quanto a
pontos positivos ou pontos negativos, que, através de um processo mediador, pode ser
trabalhado e convertido em novas aprendizagens. É nessa perspectiva que a professora 4 expõe
sua visão sobre a avaliação.
Esta fala se destaca como mediação acompanha, dialoga e observa o aluno, ou seja,
analisa seu desempenho retirando o peso excessivo que é atribuído aos instrumentos formais
mais comuns. A perspectiva mediadora tem por fundamento os princípios da avaliação
formativa e seus fundamentos (HOFFMANN, 2013). Ambos os tipos de avaliação, mediadora
e formativa, estão intimamente relacionadas onde uma se beneficia de princípios e fundamentos
da outra.
18
DICIONÁRIO DE PORTUGUES ONLINE. Léxico. Disponível em: <https://www.lexico.pt/mediar/> Acesso
em: 17 mai. 2018.
83
limitam apenas as notas e ao desempenho do aluno como sendo aspectos mais relevantes
tornando a avaliação uma expressão dos resultados. Avaliar o processo de ensino e
aprendizagem é essencial para o educando, a palavra processo já demonstra a continuidade que
o ato avaliativo precisa ter (SOUZA, 2015).
Diante disso, é possível identificar que a fala das professoras entrevistadas está mais
próxima de uma avaliação continua do que pontual. Como pode-se observar nos exemplos
abaixo:
Então para mim você tem que avaliar o aluno o ano inteiro em tudo, a
progressão do aluno tem que ser contabilizada (Professora 4).
Para levar ao estudo aqui, por exemplo, tem que estudar continuamente
por que tem prova toda terça-feira. Eles têm que estar sempre estudando
então isso é importante também, por isso não excluo a prova (Professora 6).
A fala da professora 6 especifica que, no sistema de ensino que ela leciona, as provas
são realizadas toda terça-feira, dessa forma os alunos se veem obrigados a estarem sempre
estudando. No entanto, deve-se compreender que o fato de realizar atividades contínuas não
significa que a ação é mediadora ou formativa. Além das realizações de atividades é preciso
acompanhamento e aprendizagem a partir dessas atividades.
A pesquisa de Roncete (2016) com uma revisão dos trabalhos sobre as concepções de
avaliação dos professores indica que uma das características principais da avaliação,
demonstradas nas concepções, está relacionada ao caráter contínuo do processo e não na
pontualidade, outra marca identificada foi o caráter diagnóstico e dinâmico da avaliação.
Na investigação de Ferreira (2014a) com 6 professores do município de Itaporanga–PB,
indica que eles acreditam que a avaliação é um processo contínuo e que serve para apoiar o
docente em suas ações e decisões. Na pesquisa de Cavalcante (2014) com 10 professores de
uma escola localizada no município de Princesa Isabel–PB, foram constatados que 80% dos
entrevistados concebem a avaliação da aprendizagem como algo processual e contínuo onde os
resultados qualitativos prevalecem sobre os quantitativos.
professor mais próximo, individualmente, do aluno. Facilita a compreensão dos seus pontos
positivos e de onde é preciso melhorar.
A gente tem que fazer outras avaliações mediante a, por exemplo, eles
exigem que a gente pontue por comportamento, eu não concordo,
comportamento é algo que tem que ser intrínseco do aluno. Desfile, ponto
para o aluno, então não concordo. Mas assim, dentro das possibilidades a
gente tenta avaliar de outras formas sabe (Professora 5).
É você tem que ter uma nota qualitativa que, por mais que seja falha
né, você não consegue avaliar qualitativamente todos os alunos que estão ali
com você apenas 45min uma ou duas aulas por semana. Então todos os
professores fazer isso, dão o visto no caderno por que se você não dá o visto
os alunos não copiam, isso é fato, então, tem que ter essa avaliação, mas você
está avaliando o que ali, a habilidade do aluno de copiar? Eu acho muito
falha, não sou a favor dessa avaliação (Professora 7).
melhor forma possível. Essa consciência demonstra que esses docentes não avaliam por avaliar,
mas sim, buscam executar esse processo de maneira justa e com objetivos estabelecidos.
Na pesquisa de Silva et al. (2018) com 89 professores no município de Mamanguape-
PB, foram encontrados resultados que corroboram com esta pesquisa, pois, as concepções de
avaliação estavam atreladas as características comportamentais (13%) dos alunos, diante disso,
consideramos o caráter comportamental como sinônimo de Avaliação Qualitativa, visto que,
eles incluíram na categoria comportamental as seguintes responsabilidades que os alunos
devem ter: pontualidade; assiduidade; paciência; interesse; esforço; desenvoltura; interação;
esforço; colaboração; participação; parceria e criatividade.
Em Cavalcante (2014) com 10 professores de uma escola localizada no município
Princesa Isabel–PB, foram constatados que cerca de 40% dos participantes entendem os
aspectos qualitativos como mais importantes, adequados e eficaz sobre os quantitativos.
Tema 5 – “Avaliação Somativa” – Apenas 2,9% das professoras demonstraram ter uma
concepção mais tradicional sobre a avaliação da aprendizagem, focada mais em teorias e livros
didáticos, indicando realizar uma aula e avaliação somativa. Esse tipo de avaliação infere que
durante o período letivo diversas atividades sejam realizadas, estes recebem uma nota que
somada deve representar o desempenho do aluno durante o período em questão19.
[...] é muito tradicional, é muita teoria ainda é muito livro didático, muita
prova o que torna tudo mais difícil (Professora 2).
Pode-se considerar, também, que a fala da professora seja referente à instituição e suas
exigências para que a avaliação da aprendizagem permaneça com esse caráter somativo. Ou,
seja resultado da lacuna que o componente “Avaliação da Aprendizagem” na formação inicial,
deixou na sua atuação profissional visto que, esta é uma das duas professoras que não cursaram
este componente.
Esse tipo de avaliação ainda está muito enraizado na sociedade, nas instituições de
ensino, nos professores e nos próprios alunos. Ela possui a função classificatória, por isso é
considerada como um modelo avaliativo tradicional. Mudar essa concepção é uma tarefa árdua
e demorada, pois, mudar acarreta o abandono de práticas seguras para algo incerto (VIDIGAL;
19
Tipos de Avaliação Educacional. Unidade 6. Disponível em: <
http://ava.opet.com.br/conteudo/editora/curso_cosmopolis/avaliacao_educacional/PDF_ava_educ_UT6.pdf>
Acesso em: 2 out. 2018.
86
ZAMBON; NASCIMENTO, 2013). Uma reflexão que surge a partir dos resultados é o fato de
que apenas um dos entrevistados indicou que sua prática é mais voltada para o modelo
tradicional de provas e exercícios, diante disso pode-se inferir que o fato dos professores
pertencerem à área das ciências favorece a utilização de processos avaliativos menos
tradicionais o que torna o ensino mais dinâmico, criativo, crítico.
Algumas características desse tipo de avaliação são evidenciadas por Luckesi (2006),
ele afirma que a avaliação tradicional é centrada no intelecto; na transmissão de conteúdos; e
na pessoa do professor, sendo assim, ela é um instrumento disciplinador.
Na pesquisa de Silva et al. (2018) com 89 professores no município de Mamanguape-
PB, foram detectados resultados semelhantes, pois, a avaliação tradicional surge como a
categoria menos encontrada nas falas dos entrevistados (10%). Já o estudo de Trevisan,
Delamuta e Lalin-Soato (2017) com cinco professores de matemática e ciências do município
localizado na região metropolitana de Londrina–PR, foi possível identificar que as concepções
dos entrevistados estavam muito atreladas a uma avaliação tradicional, pois, os professores
valorizam predominantemente o caráter classificatório e o aluno é considerado o único
responsável pelo processo avaliativo
Para Hoffmann (2014) a avaliação, enquanto relação dialógica vai conceber o
conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo professor, como ação-
reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido,
carregado de significados, de compreensão. Dessa forma, percebe-se que a responsabilidade do
processo avaliativo não é responsabilidade apenas do aluno ou apenas do professor, mas sim
uma relação dialógica e de mutua cooperação.
Em Rodrigues et al. (2016) com professores de Física no município de Teresina–PI, foi
possível constatar que os entrevistados ainda estão presos às práticas tradicionais, como
examinar, medir e classificar, no entanto, ficou evidente que existe um movimento, na maioria
dos entrevistados, bastante discreto em direção a uma mudança de concepção acerca da
avaliação. Estes dados indicam que por mais que a avaliação tradicional ainda esteja bastante
enraizada pode-se enxergar um futuro de possíveis mudanças no campo da avaliação. Pois, a
função classificatória, intimamente atrelada à avaliação tradicional, não auxilia em nada o
avanço e o crescimento (LUCKESI, 2011).
eles para a realização desta. Um dos maiores limites está relacionado à quantidade de turmas e
alunos que cada professor possui.
20
Nome substituído por questões éticas.
88
compreensão, (re)conhecimento visto que, existem situações cognitivas que exigem operações
que abordem diferentes complexidades, desde as mais simples as mais complexas.
Outro ponto a ser destacado é a visão da Professora 5, supracitado, ao apontar que não
adianta colocar a culpa no sistema, mas que é preciso se trabalhar com aquilo que tem à
disposição. Esse olhar indica que em meio a tantas dificuldades o professor não pode se
acomodar e culpabilizar o sistema por não realiza um processo avaliativo mais coerente. A fala
dessa professora surge como um incentivo para que outros professores sigam seu exemplo.
A falta de recursos foi uma das dificuldades citadas pelas professoras entrevistadas,
pois, essa falta dificulta a prática avaliativa do docente sendo também necessário levar em
consideração a história de vida de cada aluno, sobre isso uma das entrevistadas infere que:
[...] é muito pontual a gente fazer uma aula prática, não é coisa que a gente
tenha como na universidade, que você consegue fazer uma disciplina que faça
em uma semana teórico e prático, teórico e prático isso não é uma realidade
da escola pública né, ainda é muito o método tradicional, é muito teoria ainda
é muito livro didático é mais fácil (Professora 3).
Diante desse relato, a professora explica que as condições que hoje se encontra o sistema
de ensino público não permitem que ela exerça uma aula e avaliação mais teórica e prática. Ou
seja, muitas vezes o docente tem a intensão de realizar uma avaliação diferenciada saindo da
89
prova e exercícios, mas as condições de trabalho não permitem que eles realizem tal feito, o
modelo tradicional acaba se tornando a forma mais fácil de trabalhar em sala. Já a Professora 5
exemplifica as dificuldades encontradas por ela para realizar a avaliação:
Essa inquietação encontrada na fala da professora indica que ela compreende o processo
avaliativo e que, por mais que, tenha consciência do que deve ser feito se vê numa situação em
que precisa atender ao sistema de ensino e, ao mesmo tempo, exercer uma avaliação justa.
Muitas vezes o docente se vê nesse empasse sem saber como agir e como ser coerente sem fugir
das normas impostas pela instituição.
90
Isso vai diversificar minha avaliação se vai ser mais pratica mais
teórica se é prova se é trabalho seminário discussão trabalhos em equipe e
isso vai variar muito de turma para turma eu tento entender a necessidade da
turma (Professora 1).
Eu acho que a nossa área, por ser de ciências da natureza, eu acho que
possibilita assim essa criatividade maior, mas também depende do professor
(Professora 2).
91
um exemplo de disciplina com caráter interdisciplinar, pois, como ela explica, hoje, o
aquecimento global, sem voltar o olhar para o desenvolvimento econômico e industrial
estudado em História? (FORTUNATO; CONFORTIN; SILVA, 2013).
conceitos básicos, proporciona o contato direto com os fenômenos além de, permitir que o aluno
se deparar com situações imprevistas, fazendo com que os mesmos interpretem os resultados
utilizando a imaginação e raciocínio (KRASILCHIK, 2004).
A experimentação também é considerada uma prática, mas com a finalidade específica
de pôr a prova, testar um fenômeno físico, é um ensaio científico (ROSITO, 2008), portanto, a
sua utilização como ponto de partida para se atingir a compreensão de um conhecimento
permite que o aluno participe do seu processo de construção, e saia da postura passiva para uma
mais ativa, buscando causas, relações e explicações para se atingir determinados resultados e
interpretações (CARVALHO, 1999).
Já o Estudo do Meio, pode ser entendido como a imersão orientada em determinado
espaço levando em consideração toda sua complexidade e o desenvolvimento do diálogo com
o mundo e proporcionando novas aprendizagens (LÉLLIS; PRADA, 2011)
A utilização dessas modalidades durante o processo avaliativo desenvolve não só novas
habilidades, mas também torna a avaliação mais atrativa e prazerosa para o alunado, superando,
assim, o caráter angustiante e punitivo que a avaliação adquiriu.
avaliar como uma forma de dar o troco, né? Que bom que foi no início
(Professora 5).
Essa disciplina foi optativa e a única coisa que a gente fez foi ler,
leitura de textos, aquelas coisas de avaliação formal, os tipos de avaliação,
foi basicamente isso, a gente leu o livro de Hoffmann e pronto, foi só em cima
daquele livro (Professora 7).
desenvolvida por meio de procedimentos que não proporcionam oportunidade para que se
reorganizem as atividades (VILLAS BOAS; SOARES, 2016).
No estudo de Villas Boas (2017) com professores em formação dos cursos de
licenciatura em Ciências Biológicas, Educação Física, Física, Matemática e Química, foi
possível perceber que eles vinculavam a avaliação somente a dimensão técnica, ou seja, aos
instrumentos, muito provavelmente isso ocorreu devido ao processo avaliativo ao qual estavam
inseridos, sem experienciar a dinâmica avaliativa.
Segundo a autora supracitada, talvez isso ocorra por que a avaliação mexe com as
estruturas pessoais e institucionais, não é fácil aceitar ser avaliado e avaliar com rigor,
responsabilidade e ética. Avaliar é um processo complexo que envolve não só os conhecimentos
que os docentes possuem sobre o avaliar, como também, questões subjetivas e inerentes ao
sujeito, questões de criação, de formação na educação básica e de concepções. O ensino da
avaliação deve estar atrelado a um projeto de formação consistente e comprometido com o
desenvolvimento do educando (VILLAS BOAS; SOARES, 2016).
A partir disso o seguinte questionamento é levantado: já que existe uma disciplina
específica de avaliação da aprendizagem, por que este não foi o tema mais citado como principal
suporte para a pratica atual dos docentes? Um dos pontos fundamentais dessa investigação é o
fato da disciplina de avaliação da aprendizagem do curso de Ciências Biológicas da UFPB, ser
oferecida, no atual PPP, como uma disciplina optativa, ou seja, cabe ao aluno escolher se a
cursa ou não. O seu caráter optativo é um dos fatos que podem justificar uma maior atribuição
de que o fundamento para a prática avaliativa atual vem das outras disciplinas da formação e
não dela, visto que, duas das professoras entrevistadas não cursaram essa disciplina.
Na pesquisa de Villas Boas e Soares (2016) com os coordenadores dos cursos de Letras,
Matemática e Pedagogia, foi possível identificar resultados semelhantes a estes na questão da
disciplina de avaliação da aprendizagem ser tratada de forma optativa, neste caso específico,
nos cursos de Letras e Matemática, onde os coordenadores afirmaram que estudos sobre
avaliação eram de responsabilidade da área de educação, que oferece essa disciplina, de forma
optativa, na maioria das vezes por meio de uma única turma e sem que seja amplamente
divulgada entre os estudantes da licenciatura.
Acho que foi mais pela experiência mesmo, eu trabalhei numa escola
construtivista, então, a gente tinha que ter uma variedade de avaliações
principalmente que botasse o aluno como protagonista, então a gente tinha
que criar muitas formas diferentes de avaliar, não podia ser só prova, então
eu devo muito a minha experiência pessoal, a esses dois anos que trabalhei
nessa escola (Professora 7).
A Professora 3 supracitada, revela que, por não ter cursado a disciplina de avaliação
durante a formação, se espelhou nas outras disciplinas para construir seu conhecimento acerca
de como avaliar. Esse discurso é reforçado pela Professora 5 ao passar por avaliações não
exitosas e estressantes durante a formação decidiu não reproduzir e não realizar esse tipo de
avaliação com seus alunos. A fala dessa professora demonstra um sentimento de incapacidade
adquirido na formação por ter vivido situações avaliativas negativas, muitas vezes esses
traumas determinam como o professor se portará junto aos alunos e no processo avaliativo.
Portanto, aquilo que não foi satisfatório não foi passado adiante.
Discutir as dimensões teóricas e práticas da avaliação em outras disciplinas tambem é
possível, bem como, a observação do processo avaliativo exercido pelos professores
formadores, seus pontos positivos e negativos. Para Formosinho (2009, p.95) “A docência é
uma profissão que se aprende desde que se entra na escola, pela observação do comportamento
dos nossos professores”.
Mais especificamente, algumas disciplinas foram citadas como as que proporcionaram
maior aprendizado acerca da avaliação, como é o caso das disciplinas de pedagógicas
.
98
Tema 4 – “A partir das leituras” - Apenas 11,8% das professoras indicaram a busca
por novos conhecimentos acerca da avaliação em livros, em autores que trabalham esta
temática. Demonstrando que poucos docentes buscam ler e conhecer mais o que se está em
discussão sobre avaliação da aprendizagem.
[...] eu fui muito assim, de acordo com o que acho melhor, mas sempre lendo
um pouco para poder entender se é isso mesmo que é correto ou não para me
nortear para não fazer besteira (Professora 6).
A busca contínua pelo conhecimento não é algo fácil, principalmente diante de todas as
atribuições que, atualmente, o professor tem nas escolas públicas. No entanto, quando este não
busca esse conhecimento contínuo acaba ficando estagnado no tempo, não acompanha as
mudanças e as novas perspectivas educacionais que estão surgindo a cada momento, estes,
segundo Silva e Santos (2017) tornam-se profissionais desatualizados, pois, não buscam
aprimorar sua qualificação profissional. A compreensão de que o professor é um ser inacabado
e não detentor de todo o conhecimento é fundamental para uma constante busca pelo
aprendizado, e na avaliação não é diferente, o diferencial é que poucas pessoas pararam para
pensar no processo avaliativo, nos seus fundamentos e objetivos e muitos associam a avaliação
apenas aos instrumentos avaliativos. Para Freire (2005)
[...] por isto mesmo é que os reconhecem como seres que estão sendo, como
seres inacabados, inconclusos, em e com uma realidade que sendo histórica
também, é igualmente inacabada. Na verdade, diferentemente dos outros
animais, são apenas inacabados, mas não são seres históricos, os se sabem
inacabados. Tem a consciente de sua inconclusão (FREIRE, 2005, p. 83-84).
99
[...] coloque uma coisa na sua cabeça, todo bimestre tem que ter uma prova
é de lei, todas as escolas que eu participei exigiam isso (Professora 2).
Fica notório a exigência que as instituições de ensino têm quanto à manutenção da prova
como instrumento avaliativo principal, essa obrigatoriedade pode ser explicada pela
importância histórica que a prova tem, desde como um documento até a atribuição do caráter
científico a esse instrumento. No entanto, fica notório que as professoras buscam as melhores
maneiras para utilizar esse instrumento da forma mais coerente e diversificada possível, diante
das condições de trabalho que são importas a eles.
Contudo, a prova não precisa ser considerada o vilão da avaliação, ou aquela que
representa o modelo tradicional avaliativo. Ela tem sua importância e seu valor nos dias atuais.
como determinar com clareza os objetivos da questão; verificar a relevância do conteúdo tendo
em vista o contexto e se é potencialmente significativo; buscar concepções prévias dos alunos
ligados ao conteúdo em questão; contextualizar a questão; elaborar perguntas claras e precisas;
utilizar a linguagem de aproximação. Já as questões precisam especificar o conteúdo a ser
explorado; indique o objetivo para a avaliação da aprendizagem, referente ao conteúdo; escreva
o nível de complexidade da questão, relativo à Taxonomia de Bloom; elabore a questão dentro
dos parâmetros indicados e indique os critérios para a correção.
Na pesquisa de Santos (2012) com 10 professores do ensino médio, foi possível
identificar resultados diferentes destes, pois, a prova escrita aparece como a mais utilizada
(19%) por eles no processo avaliativo. Diferentemente deste trabalho a qual a prova não aparece
como a mais utilizada entre as professoras entrevistadas.
Tema 2 – “Avaliações Práticas” - Esta temática foi citada por 24,4% das entrevistadas,
desvelando as formas práticas que elas utilizam para avaliar seus alunos, essas práticas são mais
comuns em disciplinas científicas, como é o caso da Biologia.
[...] nós fazemos feira cultural também, e ela entra como avaliação, no final
do ano a gente fez essa feira (Professora 4).
dinâmico pode ser trabalhoso, mas atinge um nível de envolvimento do alunado que torna o
âmbito escolar mais prazeroso e participativo. É função do professor proporcionar essas aulas
dinâmicas e articular fatores que estimulem o alunado a buscar, pesquisar e construir seu
próprio conhecimento (FRISON; SCHWARTZ, 2002).
Todas os relatos supracitados mostram exemplos utilizados por elas em suas práticas
avaliativas, exemplos que se distanciam da prova escrita, mas não fogem completamente do
caráter teórico, dessa forma, aqueles que se identificam mais com os instrumentos avaliativos
teóricos são contemplados, e aqueles que se identificam mais com os práticos também podem
se sentir contemplados como é o exemplo dos seminários, os álbuns seriados, jogos de
perguntas e respostas, entre outros. Estes exemplos tornam o momento avaliativo mais
dinâmico e menos cansativo. Essa é uma preocupação citada pela Professora 7, ao relatar o
exemplo de seus alunos que possuem 14 disciplinas e, ao realizar uma prova, seria apenas mais
uma prova, não agregando significado aquela avaliação. Por isso, opta pela realização de
avaliações diferenciadas. Para Santos (2012) utilizar diferentes formas avaliativas resulta numa
melhor qualidade do ensino além de permitir que o processo avaliativo saia do modelo
tradicional de exames e passe para uma concepção mais qualitativa.
Tema 4 – “Critérios para escolha dos instrumentos avaliativos” – Essa temática foi
a menos citadas pelas entrevistadas cerca de 16,1% vezes, ela elenca quais critérios são
103
utilizados pelas professoras para escolher e produzir os instrumentos utilizados por eles em
determinadas turmas, visto que, cada turma tem um perfil diferenciado.
Ambas as professoras afirmam que seu principal critério para escolha dos instrumentos
avaliativos é o calendário escolar. Dependendo do tempo de aula que determinada turma dispõe
durante o bimestre os tipos e formas avaliativas vão sendo escolhidos. Levando em
consideração que determinadas situações saem do planejamento e o professor precisa estar
preparado para possíveis adaptações em sua prática pedagógica. Por isso, a importância de um
planejamento flexível ao qual permita mudanças e alterações ao longo do processo.
Outro critério que emergiu das falas foi o conteúdo, ou seja, para elas é o conteúdo que
vai determinar quais instrumentos avaliativos serão utilizados.
Eu vou mais pelo conteúdo, assim, por que tem conteúdos que são mais
conteudista e tem outros que são mais práticos (Professora 5).
necessários critérios que guie a escolha e produção dos instrumentos avaliativos a fim de atingir
os objetivos preestabelecidos. Bem como, para permitir uma melhor interação e compreensão
dos conteúdos por parte do alunado. É preciso considerar critérios como se estes são essenciais,
reflexivos, abrangentes, contextualizados, claros e compatíveis com o trabalho que vem sendo
realizado pelo professor (VASCONCELLOS, 2003).
A Professora 4 foi à única que destacou a importância do diálogo com os alunos para
escolha e determinação de como serão realizadas as avaliações.
A título de conhecimento, a professora faz uma diagnose dos conteúdos que os alunos
acham importante e necessários para se trabalhar e a partir disso ela constrói o seu planejamento
de ensino e avaliação. Nessa situação, o aluno se sente contemplado e importante ao perceber
que sua opinião é levada em consideração pelo professor. No entanto, é necessário cuidado pois
existe um cronograma escolar a ser seguido. Dessa forma, a professora precisa conciliar os
desejos dos alunos e o plano determinado para o nível em que o aluno se encontra.
Tema 1 – “Cobrança dos alunos” – 26% das professoras afirmam se sentir cobradas
pelos alunos quanto a trabalhar temas voltadas para o ENEM em suas avaliações.
para saber dosar sua abordagem, nem atuar como se o ENEM não existisse, nem agir como se
esse fosse o único caminho a ser seguido.
Tema 2 – “Biologia focada para a vida ou para o ENEM” - Esta temática revela a
inquietação dos docentes frente ao ensino de Biologia e o foco do ENEM, sendo essa temática
a menos citada pelas entrevistadas, cerca de 8,6% vezes. As falas revelam que são esses dois
focos direcionam o trabalho docente no ensino médio, principalmente na 3 série. Existe um
confronto entre ensinar para a vida e ensinar para o ENEM.
Eu sempre trabalho com pessoas que tem impressão que tudo tem que
ser focado para o ENEM e eu não gosto de ser assim, por que ele não vai usar
a Biologia na vida dele só para o ENEM, entendeu? (Professora 1).
Nesse sentido, ambas as falas indicam que o ensino de Biologia supera os conteúdos
que este exame exige. A formação cidadã trabalha o conteúdo de forma a permitir que eles se
posicionem criticamente frente a temas políticos, entender que a vida e sua conservação fazem
parte da sua ação como ser humano, esses são elementos essenciais para a construção do homem
consciente e crítico. “Construir nações democráticas com cidadãos conscientes de seus direitos
e deveres e capazes de opinar a respeito dos destinos da ciência e da tecnologia e dos múltiplos
assuntos de suas vidas que, de alguma forma, são afetados por elas“ (KRASILCHIK, 1988).
Portanto, limitar-se ao formato do ENEM e a trabalhar, somente, questões que são recorrentes
nesse exame, é retroceder na construção do sujeito autônomo e crítico.
Outra questão que precisa ser destacada é que a avaliação utilizada nesse exame é
considerada de larga escala com objetivos e abordagens diferentes das utilizadas na avaliação
escolar. As avaliações em larga escala, como é o caso do ENEM, abrangem todas as escolas de
uma determinada rede utilizando procedimentos amostrais, com ênfase na mensuração e
quantificação do desempenho do alunado (LOPES JÚNIOR, 2016). Diferentemente, o foco da
avaliação da aprendizagem tem se desvinculado cada vez mais do caráter classificatório e de
mensuração, buscando a aprendizagem e a construção do conhecimento pelo aluno.
107
Tema 3 – “Questões contextualizadas para o ENEM” – Esta temática foi a que mais
emergiu a partir das entrevistas (39,4%). Nela, as professoras relataram como são trabalhadas
as questões de avaliações diante da influência do ENEM.
[...] retirados mesmo, né? Então, eu estou tendo essa dificuldade, empecilho
por que já vieram com essa coisa voltada para o ENEM, então, já sucumbiram
uns temas que normalmente eu dou por que acho importante, alguns temas já
foram retirados e me pediram já para focar em temas específicos e aí eu me
sinto mal com isso, por que a minha autonomia enquanto professora fica
prejudicada, entende? (Professora 1).
A professora supracitada relata que sofre, sim, pressão da escola quanto aos conteúdos
que o ENEM aborda, principalmente por que ela deixa de ter autonomia sobre sua forma de
trabalhar não conseguindo, também, cumprir os objetivos preestabelecidos para suas aulas.
Em contrapartida, outros contextos se mostram favoráveis, indicam que nem todas as
instituições atuam de forma a coagir ou pressionar o docente a retirar ou focar mais em uns
conteúdos e outros não. Como aponta os exemplos abaixo.
109
Eu não retiro nenhum conteúdo, por que o aluno ele tem que desfrutar
do conteúdo como um todo (Professora 5).
[...] é livre, não tem essa cobrança por aqui não (Professora 7).
dos instrumentos mais utilizados e até obrigatórios, outros instrumentos avaliativos mais
práticos e teóricos distintos da prova escrita estão incorporados na prática docente como
seminários, prova em grupo, relatórios de aulas de campo, experimentos simples, entre outros.
No decorrer da formação inicial as professoras entrevistadas despertaram para a
avaliação da aprendizagem, mais especificamente, aprenderam como avaliar ou não avaliar nas
diversas disciplinas do curso principalmente nas disciplinas Pedagógicas. A disciplina de
avaliação da aprendizagem, por ser optativa, não foi cursada por todas as professoras
entrevistadas, no entanto, apenas as que cursaram com uma professora específica demonstraram
aprender a teoria e a prática, sendo possível aplicar parte delas em sala de aula hoje. Contudo,
as que cursaram com outros professores apontam a mesma como sendo desarticulada entre
teoria e prática e, pouco relevante para a sua atuação hoje. Dessa forma, fica claro que não basta
cursar a disciplina, a forma como ela é trabalhada traz implicações fundamentais para o futuro
docente.
Uma crítica bastante pertinente foi feita pelas professoras, pois, todas indicaram sentir
algum tipo de influência do ENEM em sua prática avaliativa, umas mais e outras menos.
Influencia essa que se concretiza desde a cobrança dos alunos, para se trabalhar temas e formas
avaliativas semelhantes à desse exame, imposição das instituições de ensino sobre como o
professor deve atuar em sala de aula, acarretando na perda da sua autonomia como docente,
bem como, se sentem em uma situação desconfortável ao serem confrontados com os objetivos
de se ensinar e avaliar em Biologia, será que o foco deve ser o ENEM ou a formação do sujeito?
Qual caminho seguir. Foram questionamentos que surgiram a partir da vivencia dessas
professoras em seus respectivos contextos educacionais.
111
entre outros. Em seguida, a prova surgiu como a segunda mais utilizada em sala. Essa realidade
está atrelada a fatores como as condições de trabalho as quais as professoras são submetidas, a
infraestrutura, a disponibilidade de recursos didáticos e a deficiência na formação inicial. A
partir disso, é importante inferir a necessidade da realização de pesquisas na formação inicial
dos professores de Biologia, a fim de, identificar possíveis deficiências e buscar soluções para
melhorar a qualidade dessa formação.
Foi observado que por se tratar de uma investigação no Ensino Médio, as professoras
relataram sentir influência do ENEM em sua prática avaliativa. A maior influência está no
formato das suas avaliações escritas, pois, precisam utilizar questões contextualizadas com o
conteúdo e formato exigido por esse exame, tornando o momento avaliativo, também, como
um momento de preparação para ele. As professoras também se sentem cobradas pelos alunos
a realizar esse tipo de avaliação, se posicionando de forma a não mais aceitar questões que
envolvam outros conteúdos que não são abordados ou que são pouco abordados no ENEM, nem
questões que estão em formato de questões abertas, onde os mesmos precisam elaborar uma
resposta coerente e escreve-la.
Cabendo a reflexão sobre que tipo de aluno está saindo do Ensino Médio, alunos que se
prepararam apenas para esse exame, ou alunos que estão preparados para a cidadania?. Vale
destacar também, que as entrevistadas se sentem cobradas pelas instituições de ensino,
exercendo o papel controlador sobre os conteúdos, formato e foco que sua prática docente
segue, desconsiderando que o foco da Biologia não é somente o ENEM, mas sim, preparar o
sujeito para a vida. Dessa forma, a autonomia do professor é colocando em questionamento
podendo comprometer a qualidade do seu trabalho.
Percebeu-se a partir dos resultados existência de fragilidades quanto as concepções
sobre avaliação da aprendizagem no ensino de Biologia, pois, a conceituação relatada por elas
estava mais voltada para sua prática e não para um conceito propriamente dito. Contudo, é
notória a inquietação e o desejo das professoras em sanar suas falhas. No entanto, esse é um
processo que não depende apenas do docente, pois, são inúmeros os fatores encontrados no
sistema educacional que limitam a realização de um processo avaliativo coerente, justo e que
promova a aprendizagem. Outro fator importante é que as professoras não demonstravam
compreender a avaliação como um momento também de aprendizagem.
A experiência de realizar esta pesquisa foi enriquecedora tanto no âmbito
profissional/acadêmico quanto no pessoal. Ultrapassar a esfera da teoria e vivenciar na prática
aquilo que se estuda me fez olhar para o ensino e para a avaliação de forma diferente. As
dificuldades de formação, recursos, estrutura e sistema de ensino relatadas por elas, mostra que
114
mais pesquisas e ações precisam ser realizadas a fim de diminuir as limitações do sistema
educacional.
Por mais que tenhamos conhecido as concepções dos professores sobre a avaliação no
ensino de Biologia, suas características práticas, limitações e influências, é preciso à realização
de estudos que proporcionem o acompanhamento prático da avaliação a fim de, identificar as
potencialidades e limites vivenciados no dia a dia da sala de aula. E, a partir disso, proporcionar
aos cursos de Licenciatura um conhecimento mais aprofundado de como a avaliação está sendo
exercida no ensino de Biologia do ensino médio, seus entraves e potencialidades. A partir disso,
direcionar a formação inicial de forma a articular melhor a academia com o ensino básico.
Sugerimos, também, o desenvolvimento de um estudo que investigue os cursos de
Licenciatura, estão trabalhando os aspectos avaliativos, quais componentes curriculares
abordam esta temática? Será que ela se articula com a realidade da educação básica? Será que
a ementa proporciona a construção de um conhecimento teórico e prático da avaliação? Essas
são questões que surgiram a partir do desenrolar desse estudo.
Por fim, esperamos que a partir da descrição fenomenológica do fenômeno avaliação da
aprendizagem no ensino de Biologia, os leitores possam compreender melhor como é para esses
professores vivenciarem diariamente a avaliação da aprendizagem diante de suas diversas
característica, limitações, influências, práticas, importância.
115
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120
Temática Geral
1- O professor de Biologia cursou o componente curricular “Avaliação da
Aprendizagem” durante a formação inicial?
2- Como esse professor percebe o Ensino de Biologia atual?