ROTEIRO - AULA 4 - 16.03.2023 - DIREITO CIVIL I - Emancipação

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DIREITO CIVIL I

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

AULA 4

EMANCIPAÇÃO

A emancipação pode ser conceituada como a aquisição


antecipada da capacidade civil plena e é admitida em três
hipóteses: voluntária, judicial ou legal.

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a


pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Na emancipação voluntária, os pais e o menor, que deve contar


com, no mínimo, 16 anos, manifestam suas vontades no sentido de
conferir ao menor a capacidade plena. Realizada a escritura, esta deverá
ser levada ao Registro Civil das Pessoas Naturais, para que adquira
eficácia erga omnes. Vale ressaltar que esta modalidade de emancipação
não necessita de decisão judicial e pode ser feita diretamente no cartório.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,


mediante instrumento público, independentemente de homologação
judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis
anos completos;
A segunda modalidade de emancipação é a judicial, que tem
cabimento em duas hipóteses: quando os pais divergirem quanto à
emancipação voluntária ou quando o menor estiver sob o regime de
tutela.

A tutela é estabelecida judicialmente, observando o melhor


interesse da criança e tem cabimento quando os pais são mortos ou
perderam o poder familiar. O tutor não pode emancipar,
voluntariamente, o menor, de forma que cabe ao juiz verificar se o menor
goza, realmente, de requisitos para ser capaz plenamente ou se não é
apenas uma pretensão do tutor de se livrar do seu encargo.

A sentença que deferir a emancipação judicial deverá ser levada


ao Registro Civil das Pessoas Naturais, para que adquira eficácia erga
omnes.

O último caso de emancipação, a Legal, trata-se de


aquisição de capacidade por força de lei . Por isso, não precisa de
decisão judicial, tampouco de registro púbico. O artigo 5º, Parágrafo
único do Código Civil prevê a emancipação legal nas seguintes situações:

Art. 5º, Parágrafo único. Cessará, para os menores, a


incapacidade:

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;


V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de
relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis
anos completos tenha economia própria.

Vale lembrar, que a gravidez permite o casamento da menor de 16


anos, por decisão judicial.

Qualquer modalidade de emancipação é irrevogável e


irretratável, logo, mesmo cessando a causa que a gerou, a pessoa natural
não voltará a ser incapaz.

A exceção a esta regra é a emancipação fraudulenta. Se, por


exemplo, os pais tinham conhecimento da falta de discernimento do menor
e, ainda assim, o emancipa, procurando fugir de uma eventual ação de
responsabilidade civil, a capacidade civil plena poderá ser revogada, por
decisão judicial.

DIREITOS DA PERSONALIDADE

Os direitos da personalidade são direitos essenciais à proteção da


dignidade da pessoa humana.

Por isso, fala-se que os direitos da personalidade são expressões


da cláusula geral de tutela da pessoa humana.

Neste sentido, o enunciado 274 da IV jornada de Direito Civil,


disciplinou que “os direitos da personalidade, regulados de maneira não-
exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela
da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio
da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como
nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da
ponderação“.

É interessante observar que a valorização da Dignidade da Pessoa


Humana tem forte influência do Neoconstitucionalismo.

Fala-se em eficácia irradiante da Dignidade da Pessoa Humana.

Esse tema, contudo, será explicado oportunamente no tópico


específico.

Agora, vou iniciar os Direitos da Personalidade explicando quais


são as características dos direitos da personalidade.

Quais são as características dos Direitos da Personalidade?

Vitalício

Os direitos da personalidade são vitalícios, ou seja, acompanham


a pessoa durante toda a vida.

Isso não significa que os direitos da personalidade possam


acompanhá-lo após a morte.

A morte põe fim a personalidade jurídica (art. 6° do CC/02), motivo


pelo qual o de cujus não é sujeito de direitos.
Daí porque falamos que os direitos da personalidade NÃO são
perpétuos, mas apenas vitalícios.

Absoluto

Na prática, isso significa que o titular do direito poderá exigir:

1. Que o Estado e toda a comunidade o respeite;


2. Que o Estado promova tais direitos.

O Estado e a coletividade, diante do direito da personalidade do


indivíduo, devem assumir postura de abstenção/ tolerância. Entretanto, o
Estado não deve ficar inerte.

A postura de abstenção do Estado ocorre para evitar a repressão


de tais direitos.

Em paralelo, é também função do Estado promover os direitos da


personalidade, tais como o direito à educação, à saúde, à igualdade,
dentre outros.

Por isso os direitos da personalidade são oponíveis não apenas


aos indivíduos, mas também ao Estado, que tem o dever de promovê-
los.
Ilimitado

É preciso ter cuidado com o termo “ilimitado”.

A leitura fria pode levar o operador do direito a falsa conclusão de


que os direitos da personalidade não tem limites.

Isso é um erro comum.

Em verdade, dos direitos da personalidade são ilimitados, pois


apresentam-se de forma não exaustiva na legislação.

Por exemplo, o reconhecimento do estado de filiação é um direito


da personalidade.

Neste sentido,

“o reconhecimento do estado de filiação configura direito


personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser
exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra os pais ou
seus herdeiros“. (STJ – AREsp: 1179890 SC 2017/0252143-5,
Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Publicação: DJ
16/12/2019)
Inato

Inato pode ser compreendido como algo que pertence ao ser desde
o seu nascimento.

Em paralelo, pode ser compreendido também como algo que


independe do próprio ordenamento jurídico.

O Direito admite as duas interpretações, sendo a última bastante


defendida pelo jusnaturalismo.

É justamente essa característica (inato) que coloca os direitos da


personalidade em posição ímpar no âmbito dos direitos privados.

Protegerem, desde o nascimento e independente do ordenamento,


valores originários da pessoa humana e, também da pessoa jurídica, como
a vida, a honra, a identidade, o segredo e a liberdade.

É preciso observar que, em regra, os direitos da personalidade


nascem junto a pessoa, contudo, excepcionalmente, podem ser adquiridos
(e.g. direito autoral).

Neste particular, é importante lembrar da discussão em torno


da teoria concepcionista moderada e demais teorias que discutem o início
da personalidade jurídica.
Também recomenda-se a leitura do artigo dedicado ao fim da
personalidade jurídica.

Extrapatrimoniais

Os direitos da personalidade não comportam avaliação econômica.

Entretanto, além de poder postular para que cesse a ameaça


(tutela inibitória), pode o ofendido postular pela reparação do dano moral
(art. 5°, V, CF/88).

Esta reparação assume, inclusive, caráter educativo (preventivo)


diante do ofensor.

Imprescritíveis

Falar pura e simplesmente que direitos da personalidade são


imprescritíveis é fácil…

Mas você já parou para pensar o porquê???

O Código Civil esclarece que, violado o direito, nasce para o titular


a pretensão, a qual se extingue pela prescrição (art. 189 do CC/02).
A pretensão, por sua vez, pode ser compreendida como sendo
o conteúdo do direito de ação.

A prescrição é, então, a perda do conteúdo do direito de ação.

Não é, ao contrário do que muitos defendem, a perda do direito de


ação, já que o direito de ação é direito fundamental e, portanto,
imprescritível (art. 5°, XXXV, CF/88)

Pois bem…

Já falamos, no tópico anterior, que os direitos da personalidade são


inatos.

Podemos, por isso, defender que nascem junto ao ser humano e


compõe sua própria existência.

Além disso, os direitos da personalidade são vitalícios, ou seja,


acompanham o indivíduo até a morte.

Por isso, não faz sentido falar em prescrição dos direitos da


personalidade.

Contudo, é preciso tomar cuidado com alguns detalhes…

Conforme esclareci no tópico anterior, o direito da personalidade


não comporta avaliação patrimonial, muito embora seja possível pedir, na
justiça, reparação pelo dano moral.

Uma coisa, portanto, é o pedido de reparação, ante a violação do


direito da personalidade.
Outra, completamente diferente, é o pedido de proteção do direito
da personalidade.

O pedido de reparação prescreve em 3 anos no Código Civil (art.


206, §3°, V, CC/02) e em 5 anos no Código de Defesa do Consumidor (art.
27 do CDC).

Todavia, o pedido que tem por objetivo


a proteção dou reconhecimento da ofensa ao direito da personalidade
não prescreve.

Aliás, o STJ expressamente reconheceu que a pretensão de


reconhecimento de ofensa a direito da personalidade é imprescritível.

Intransmissíveis e Irrenunciáveis

Ao menos em tese, o que se pretende com essa característica é


destacar que:

1. Os direitos da personalidade não podem ser transmitidos em


vida ou após a morte;
2. Os direitos da personalidade são irrenunciáveis.
Entretanto, há uma série de debates em torno do tema.

Em primeiro lugar, o próprio art. 11 do Código Civil aponta,


expressamente, que podem haver exceções na legislação:

Art. 11 do Código Civil: Com exceção dos casos


previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.

Desde já, então, é fácil perceber que nem todos os direitos da


personalidade são irrenunciáveis e intransmissíveis.

Outro detalhe merece muita atenção…

O art. 11 do Código Civil esclarece, na parte final, que os direitos


da personalidade não podem sofrer limitação voluntária.

O tema foi objeto de profundo debate na doutrina e legislação.

No programa de televisão denominado Big Brother, por exemplo,


os participantes devem abrir mão da sua liberdade.

Pois bem…

Como harmonizar o art. 11 com essa situação (e outras


semelhantes…), considerando que, voluntariamente, os participantes
optam por abrir mão da liberdade.
Para resolver esse e outros debates, o enunciado 4 da I Jornada
de Direito Civil do CJF esclareceu o seguinte: “o exercício dos direitos da
personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja
permanente nem geral“.

Portanto, o exercício do direito da personalidade pode ser limitado


voluntariamente, desde que de forma parcial e temporária.

Relativamente Indisponível

Como expliquei no tópico anterior, a intransmissibilidade e


irrenunciabilidade são relativas, já que podem ser feitas de forma
voluntária, desde que parcialmente e por prazo determinado, ou ainda,
desde que previsto em lei.

Da mesma forma, a indisponibilidade também é relativa, já que não


pode ser feita, em regra, de forma permanente e geral.

Evidente que há direitos indisponíveis, como, por exemplo, a


disposição do próprio corpo.

Outros, contudo, podem ser cedidos (e.g. direito autoral).

O que diz o Código Civil sobre os Direitos da Personalidade?

O rol apresentado pelo Código Civil é exemplificativo (não-


exaustivo).

Por exemplo, o reconhecimento do estado de filiação é um direito


da personalidade, embora não conste no rol.
Neste sentido, “o reconhecimento do estado de filiação configura
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser
exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra os pais ou seus
herdeiros“. (STJ – AREsp: 1179890 SC 2017/0252143-5, Relator: Ministro
MOURA RIBEIRO, Data de Publicação: DJ 16/12/2019)

Por isso, inclusive, falamos que os direitos da personalidade


são ilimitados.

Além disso, via de regra, são intransmissíveis e irrenunciáveis.

É muito importante observar que a própria legislação esclarece que


podem haver exceções.

Observe o que dispõe ao art. 11 do Código Civil:

Art. 11 do Código Civil: Com exceção dos casos previstos em


lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Aquele que experimentar algum prejuízo ou se ver ameaçado,
poderá reclamar perdas e danos, além de exigir que cesse a ameaça (art.
12 do CC/02).

Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida


prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até o quarto grau (art. 12, parágrafo único, do CC/02).

Aliás, é preciso lembrar que os direitos da personalidade


são vitalícios (e não perpétuos).
Significa dizer que tais direitos findam com a morte.

Para se aprofundar, recomendamos a leitura.

A disposição do próprio corpo é admitida apenas por exigência


médica ou para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial
(art. 13 do Código Civil e Lei 9434/97).

Como regra, então, não se admite a disposição do próprio corpo


quando:

1. Importar diminuição permanente da integridade física;


2. Contrariar os bons costumes.

Repise-se, por oportuno, que poderá dispor do próprio corpo na


hipótese de exigência médica ou transplante, vedada a comercialização.

A disposição do próprio corpo é considerada direito da


personalidade e, portanto, irrenunciável e indisponível, exceto por
necessidade médica ou transplante.

É interessante observar que o Direito Médico alterou a estrutura


paternalista para o denominado consentimento informado.

O consentimento informado é desdobramento da dignidade da


pessoa humana e da capacidade de autodeterminação da pessoa natural.

É, em apertada síntese, a autonomia resguardada ao individuo


para decidir sobre questões existenciais.
Isso significa que o titular do direito à integridade física deixa de ser
objeto da prática médica e passa a ser sujeito de direitos.

Diante do desejo de transplante da doadora, “ao Poder


Judiciário incumbe tão somente a análise dos requisitos legais para a
concessão da autorização, especialmente, se a doadora é capaz de
realizar o ato de forma livre, genuína e gratuita, e se foi cumprido o dever
de informação pelo médico acerca dos riscos à saúde”. (TJ-RJ – APL:
00210033920198190002, Relator: Des(a). PETERSON BARROSO
SIMÃO, Data de Julgamento: 17/07/2019, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL)

É importante lembrar que “ninguém pode ser constrangido a


submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica“. (art. 15 do CC/02)

Portanto, sem consentimento, não pode o médico lançar mão de


tratamento ou intervenção.

Curioso observar que, ainda que exitoso o tratamento médico,


deverá indenizar, quando não autorizado o procedimento.

Ainda em relação ao próprio corpo, dispõe o Código Civil que é


válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do
próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo ser
revogado a qualquer tempo (art. 14 do CC/02).

O nome, prenome e sobrenome são protegidos pelo Código


Civil (art. 16 do CC/02), assim como também é protegido o pseudônimo
(art. 19 do CC/02).

A regra é a imutabilidade do nome.


Contudo, pautado na dignidade da pessoa humana e direito de
autodeterminação da pessoa natural, tem se admitido a alteração em
alguns casos, tais como divórcio, morte do cônjuge, dupla nacionalidade e
transgênero.

Outro direito protegido pela legislação é a imagem.

A imagem publicada sem autorização e com fins comerciais enseja


o direito de reparação, sendo dispensável a prova do prejuízo (Súmula 403
do STJ).

Mais do que isso.

Segundo o enunciado 278 da IV Jornada de Direito Civil do CJF,


“a publicidade que venha a divulgar, sem autorização, qualidades
inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome,
mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da
personalidade“.

A voz humana, por exemplo, também tem proteção jurídica (art. 5°,
XXII, da CF/88 e art. 17 e 29 da Lei 9.610).

Discussão interessante surgiu em relação as bibliografias


publicadas sem autorização prévia.

O tema ensejou o ajuizamento da Ação Declaratória de


Inconstitucionalidade (ADIN 4815) em face dos arts. 20 e 21 do Código
Civil.
Os arts. 20 e 21 do Código Civil, ao menos em tese, abriam
espaço para proibir a publicação das bibliografias não autorizadas, desde
que comprovado a presença de algum dos requisitos do dispositivo (e.g.
finalidade econômica, difamação, etc).

Contudo, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou


procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e
declarou inexigível a autorização prévia para a publicação de
biografias.

O objetivo da decisão foi preservar os direitos fundamentais


da liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença de pessoa
biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais (ou
de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).

O STJ também já decidiu que a ampla liberdade de informação,


opinião e crítica jornalística reconhecida constitucionalmente à imprensa
não é um direito absoluto, encontrando limitações, tais como a
preservação dos direitos da personalidade.

E POR AQUI FICAMOS...

ATÉ MAIS...

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