Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância
Tema: “Coesão e coerência textual”.
Nome do estudante: Alfândega Ricardo Tendecai.
Código: 708210064
Docente: Arsénio dos Aflitos Jorge Adriano.
Curso: Licenciatura em Ensino da
Língua Portuguesa
Disciplina: Linguística Descritiva do Português II
Ano de Frequência: 3º Ano
Tete, Maio de 2023
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Índice
1. Introdução ....................................................................................................................................3
1.1. Objectivos ....................................................................................................................................3
1.2. Metodologias ...............................................................................................................................3
2. Marco teórico ...............................................................................................................................4
3. Estudo sobre coesão e coerência: a pespectiva da linguística textual .........................................9
3.1 Coerência textual: o que é, onde se dá? ...........................................................................................10
3.2 Coerência: do que depende, como se estabelece?............................................................................11
3.3 Coesão textual..................................................................................................................................13
3.3.1 Mecanismos de coesão textual......................................................................................................14
4. Análise do texto .........................................................................................................................18
5. Conclusão ..................................................................................................................................20
5.1 Referências bibliográficas……………………………………………………………….22
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1. Introdução
O trabalho é atinente à cadeira da Linguística Descritiva do Português II, o qual, nos traz o
tema: “Coesão e coerência textual”. Diante desta temática, debruçaremos vários assuntos que
tem a ver com a coesão e coerência textual.
O que se nota em muitos casos, é que a Linguística textual enfrenta causas de seu
desenvolvimento entre elas se destacam: as falhas das gramáticas da frase no tratamento de
fenómenos como a referência, a definitivização, as relações entre sentenças não ligadas por
conjunções, a ordem das palavras no enunciado, a entoação, a concordância dos tempos
verbais, fenómenos estes que só podem ser explicados em termos de texto ou em referência a
um contexto situacional.
Assim, o que a legitima é sua capacidade de explicar fenómenos inexplicáveis por meio de uma
gramática do enunciado ou, entre enunciado e texto, já que há uma diferença qualitativa entre
ambos e não meramente quantitativa.
Sendo o texto mais do que a soma dos enunciados que o compõem, sua produção e
compreensão derivam de uma competência específica do falante — a competência textual.
Estruturalmente, o trabalho compõe da Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e por fim a
bibliografia como sustento deste trabalho.
1.1. Objectivos
1.1.2. Geral:
✓ Compreender até que ponto a coesão e coerência fornecem bases à Linguística textual.
1.1.3. Específicos:
✓ Apresentar vários conceitos ligados à coesão e coerência textual;
✓ Definir os termos “coesão e coerência textual;
✓ Diferenciar coesão da coerência textual
1.2. Metodologias
Com o intuito de atender aos objectivos propostos neste estudo e com base no desenvolvimento
do trabalho, apresentamos a metodologia que tornou viável a investigação deste trabalho.
1.2.1. Natureza da pesquisa
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Tendo em consideração o estudo e o desenvolvimento do trabalho, trata-se de um estudo
exploratório que, segundo Cooper e Schindler (2003), possibilita o desenvolvimento claro de
conceitos e definições.
À semelhança do que acontece na maioria das pesquisas exploratórias, a nossa pesquisa assume
a forma de pesquisa bibliográfica.
Conforme escreve Gil (1996), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído de livros e artigos científicos”, (p.48).
2. Marco teórico
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Para a análise dos discursos produzidos sobre a coesão e coerência, este estudo basear-se-á na
análise do discurso bakhtiniana.
Os pensamentos de Bakhtin permitem realizar uma análise do discurso que merece contexto
histórico, situação social, participantes e forma, além de alguns outros factores. Para que
possamos fazer uma análise baseada nessa linha teórica, alguns conceitos deverão ser
apresentados, tais quais: diálogo, ideologia, signo ideológico, significação, tema, enunciado,
enunciado concreto, enunciação.
Esta análise parte da ideia de que o mundo que conhecemos tornou-se uma cadeia ideológica,
em que os enunciados dialogam-se. Somado isso aos factos de: o homem (ser social) ser parte
integrante e producente dessa cadeia ideológica (portanto produto e produtor de uma criação
histórica) e à constatação de que, na língua, o homem se representava, percebeu-se que era
enorme o universo que levava a uma produção discursiva.
2.1 Signo ideológico
É possível perceber a partir do conceito de signo ideológico de que forma Bakhtin percebe a
luta de classes e as próprias classes manifestando-se na linguagem.
“A classe dominante tende a conferir ao signo ideológico um caráter intangível e acima das
diferenças de classe, a fim de abafar ou de ocultar a luta dos índices sociais de valor que aí se
trava, a fim de tornar o signo monovalente”, (Bakhtin/Voloshinov, 2006, p. 48).
Da mesma forma que há ideologias de classes dominantes, há as ideologias das outras classes.
O signo linguístico tem essa natureza ideológica, portanto “O signo se torna a arena onde se
desenvolve a luta de classes” (Bakhtin/ Voloshnov, 2006, p.47), o que nos leva ao dinamismo
nas significações desses signos.
Enfim, se o homem é uma construção histórica e na língua se representa, então suas mudanças
também serão representadas na língua que será, portanto, dinâmica. É isso que dá à língua um
poder tão grande. É buscando entender essas características da sociedade, representadas na
línguagem que a A.D. (Análise do Discurso) bakhtiniana se foca.
Se a língua é determinada pela ideologia, a consciência, portanto, o pensamento, a “actividade
mental”, que são condicionados pela linguagem, são modelados pela ideologia. (Bakhtin/
Voloshinov, 2006, p. 16).
Pensando as bases da teoria marxista, pensamos nas classes, em suas ideologias e, por fim, na
luta de classes. Aos relacionar essas bases e o dinamismo da língua, percebemos que as palavras
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são dotadas de significações atribuídas por um grupo social, em determinadas situações sociais.
A significação da palavra, portanto, está no cruzamento das ideologias que por ela passaram, o
mesmo acontece com outros signos (algo de que o ser humano faz uso para representar suas
ideologias ou que se convencionou entre um grupo social como representação de uma
ideologia).
“Por ideologia entendemos todo o conjunto dos reflexos e das interpretações da realidade social
e natural que tem lugar no cérebro do homem e se expressa por meio de palavras [...] ou outras
formas sígnicas”, (Brait, 2005 p. 169).
2.2 Diálogo
Segundo Bakhtin (2006), o diálogo seria a reação do eu ao outro, ou seja, uma actividade
responsiva.
Há um constante diálogo entre os enunciados, palavras, signos, ideologias etc; esses reflectem
e refratam produções que a elas se relacionam de alguma forma. Perceberemos, a partir de
agora, a atuação desse conceito em outros conceitos da teoria Bakhtiniana.
2.3 Consciência: subjetividade versus objetividade
Até mesmo o mais subjectivo no indivíduo, sua consciência individual, se constrói de acordo
com a cadeia ideológica da sociedade a que pertence, ou seja, no diálogo com o outro é que vai
se criando uma consciência. As leis e lógicas da consciência individual são reflexo da
sociedade. E, ainda que essa construção da consciência se faça também através do diálogo, há
outros factores ligados à construção do sujeito, como as experiências com as quais esse sujeito
tem contacto.
Afinal, para Bakhtin “o sujeito não se constitui apenas pela acção discursiva, mas todas as
actividades humanas, mesmo as mediadas pelo discurso oferecem espaço de encontros de
constituição da subjectividade, pela constituição de sentidos”, (Brait, 2005, p. 171).
Portanto, um sujeito que se constrói em meio a uma cadeia ideológica parece não ter
subjectividade. No entanto, o conceito do diálogo nos leva a afirmar o contrário, pois os sujeitos
têm experiências diferentes em relação a essa cadeia discursiva.
Os sujeitos vão se construindo em meio a experiências variadas e, mesmo que em um momento,
dois sujeitos passem por uma mesma experiência, essa experiência, por estar em diálogo com
as experiências passadas desses sujeitos, será distinta a cada um.
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2.4 Significação e tema
Além do conceito de diálogo e de sujeito, é importante entender a relação entre significação e
tema nos estudos bakhtinianos. Se, na relação do eu com o outro, a necessidade a “troca” de
informação, então é necessário que os sujeitos ampliem ao máximo a capacidade de significar
de seus termos.
Porém, como já visto, os sujeitos têm experiências diferentes e, sendo assim, dialogam com os
significados de formas diferentes. Portanto, há duas formas de se ampliar a capacidade de
significar: o tema dependerá de uma enunciação que o potencialize; já a significação busca, na
objectividade, a capacidade de significar.
Nos trabalhos do Círculo de Bakhtin, lidava-se com as questões de produção de sentido de
forma ampla. Sendo assim, diferenciam-se tema e significação, como sendo o primeiro superior
ao segundo na capacidade de significar.
Brait (2005), diz que “o tema é indissociável da enunciação, pois, assim como esta, é a
expressão concreta da situação histórica concreta e como decorrência é único e irrepetível”, (p.
202).
Ainda acrescenta que “a significação é [...] um estágio mais estável dos signos e dos
enunciados, já que seus elementos, como fruto de uma convenção, podem ser utilizados em
diferentes enunciações com as mesmas indicações de sentido”, (Brait, 2005, p.202).
Ou seja, a significação (que é estável) colocada na enunciação (que varia) dá origem ao tema.
Da mesma forma, o tema tem importância na significação. Pois, sendo o tema variável em cada
enunciação, possibilita que o sistema seja flexível, portanto, permitindo que a significação seja
fixa.
2.5 Palavra
Em se tratando dos estudos bakhtinianos do discurso, ao relacionar os conceitos de palavra e
diálogo, percebemos que “a essa perspectiva [bakhtiniana] não interessa a palavra passiva e
solitária, mas a palavra na actuação complexa e heterogênea dos sujeitos sociais, vinculada a
situações, a falas passadas e antecipadas” (Marchezan, apud Brait, 2005, p.123).
É na palavra que há o discurso interior, ela é o instrumento da consciência na criação
ideológica.
Bakhtin (2006), salienta que “a palavra constitui o meio no qual se produzem lentas
acumulações quantitativas de mudanças que ainda não tiveram tempo de adquirir uma nova
qualidade ideológica, que ainda não tiveram tempo de engendrar uma forma ideológica nova e
acabada”, (p.42).
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Enfim, nem todo signo pode ser representado pelas palavras, mas todas as transformações
ideológicas passam pelo verbal.
Ou seja: “A palavra está presente em todos os actos de compreensão e em todos os actos de
interpretação”, (Bakhtin, 2006, p.38).
2.6 Signo
Também no signo dá-se o diálogo, dessa forma constrói-se o sentido. Sabendo que nos signos
estão impressas as ideologias de um grupo social, então esse mesmo diálogo que se dá na
língua, dar-se-á no discurso e, enfim, na vida.
Na produção teórica do Círculo, nota-se a preocupação dos autores de
lidar com as questões de sentido de forma ampla, isto é, pensar não
apenas os sentidos do signo ideológico; pensar o signo não apenas no
domínio da língua, mas também no domínio do discurso e, portanto da
vida, (Brait, 2005, p.201).
No diálogo que constrói o sentido de um signo ideológico há um encontro de ideologias. Por
isso, esse signo não faz parte de uma única realidade, mas está repleto de ideologias anteriores
e posteriores, que renovaram o sentido do signo, ao mesmo tempo em que resgatam sentidos
antigos, o que dependerá da enunciação.
“Um signo não existe apenas como parte de uma realidade, ele também reflecte e refrata uma
outra e ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou aprendê-la de um ponto de vista
específico, etc.”, (Bakhtin, 2006, p.32).
Os signos são a materialização das ideologias, “[...] só emergem, decididamente, do processo
de interação entre uma consciência individual e uma outra”, (Bakhtin, 2006, p.34).
O signo só poderá constituir-se entre indivíduos socialmente organizados, formadores de uma
unidade social.
É essa a “Razão pela qual as formas do signo são condicionadas tanto pela organização social
de tais indivíduos como pelas condições em que a interação acontece”, (Bakhtin, 2006, p. 45).
Cria-se, portanto, uma cadeia ideológica, já que “[...] compreender um signo consiste em
aproximar o signo apreendido de outros signos já conhecidos [...]” (p. 34).
Ou seja, a relação entre os signos é que permite a compreensão. Isso traz uma relação dialógica
das ideologias.
2.7 Enunciado, Enunciado Concreto e Enunciação
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No enunciado, estão representadas as ideologias e, para entendê-las, é necessário um estudo do
enunciado que passe por uma análise dialógica, ou seja, o enunciado deve ser estudado levando
em conta sua enunciação. A análise dialógica do discurso é o meio de entender ideologias do
locutor e sua sociedade por meio dos enunciados produzidos.
As noções de enunciado/ enunciação têm papel central na concepção
de linguagem que rege o pensamento bakhtiniano justamente porque a
linguagem é concebida de um ponto de vista histórico, cultural e social
que inclui, para efeito de compreensão e análise, a comunicação
efetiva e os sujeitos e discursos nela envolvidos, (Brait, 2005, p. 65).
O enunciado tem um ponto de visto histórico, pois ele tem relação com enunciados passados e
desperta enunciados futuros, que estão sempre em diálogo, agindo uns sobre os outros; tem um
ponto de vista cultural, pois esses enunciados têm uma relação temática; e tem um ponto de
vista social, que é a relação entre os interlocutores. É nesses pontos de vista histórico, social e
cultural que entram os termos enunciação e enunciado concreto. A enunciação é a situação
extraverbal, ou seja, todas as ideologias, todos enunciados, todos os acontecimentos
relacionados aos momentos em que um enunciado é produzido. Não é apenas uma causa
externa, senão uma parte integrada do enunciado.
O enunciado concreto, segundo essa perspectiva, nada mais é do que o enunciado quando
analisado em todo esse contexto. Ou seja, o enunciado concreto é aquele que é analisado em
relação histórica, social e cultural com outros enunciados anteriores e posteriores em relação
dialógica.
Nessa perspectiva, o enunciado e as particularidades de sua enunciação
configuram, necessariamente, o processo interactivo, ou seja, o verbal
e o não verbal que integram a situação e, ao mesmo tempo, fazem parte
de um contexto maior histórico, tanto no que diz respeito a aspectos
(enunciados, discursos e sujeitos etc.) que antecedem o enunciado
específico quanto ao que ele projecta adiante[...]. (Brait, 2005, p. 67).
3. Estudo sobre coesão e coerência: a pespectiva da linguística textual
Nesse capítulo, trataremos os estudos na área da Linguística Textual sobre coesão e coerência
textuais. É partindo deste conteúdo que nos pautaremos para fazer a comparação entre os
pareceres da linguística e dos grandes meios de comunicação.
Antes de apresentar os conceitos de coesão e coerência textuais estudadas pela área da
Linguística Textual, é necessário fazer uma breve menção ao olhar que essa área tem da língua.
Dessa forma, podemos entender melhor com que pontos de vistas esses temas serão tratados.
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A Linguística Textual originou-se quando a análise de palavras ou frases, fora de um contexto,
já não bastava para as questões formuladas. Foi necessário, então, que se criasse uma nova
ciência da língua, aquela que analisaria o texto propriamente dito. Sendo assim, não ficariam
excluídas dessa análise algumas partes da morfologia, da lexicologia e da fonologia.
Com o passar do tempo, a Linguística Textual percebeu a necessidade da infiltração da
pragmática em suas análises. Ou seja, os contextos da produção e da recepção passaram a ser
influentes na análise dos textos.
Podemos perceber, portanto, que o olhar da Linguística Textual é para o texto e seus contextos,
tais quais sua produção, sua recepção e sua interpretação. Isso tornará muito interessante os
discursos que analisaremos sobre coesão e coerência. Enquanto alguns buscam a definição de
textos coerentes e coesos e transformam esses conceitos em métodos para atribuir notas aos
produtores de um texto, outros defenderão que todo texto é coerente, buscando nele ligações
com situações em que seja pertinente um texto, anteriormente julgado incoerente por alguns
estudiosos.
Assim, passou-se a pesquisar o que faz com que um texto seja um texto, isto é, quais os
elementos ou factores responsáveis pela textualidade.
Conforme se disse acima, Beaugrande & Dressler (1981) apresentam um elenco de tais
factores, em número de sete: coesão, coerência, informatividade, situacionalidade,
intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade.
Este trabalho será dedicado ao estudo de um desses factores: “a coesão textual”, (Koch , 2005.p.
11).
3.1 Coerência textual: o que é, onde se dá?
Coerência, segundo Koch e Travaglia (1995), “se estabelece na interação, na interlocução
comunicativa entre dois usuários”, (p. 11).
É ela, a responsável pelo sentido que os usuários captam do texto.
E se dá ”[...]pela actuação conjunta de uma série de factores de ordem cognitiva, situacional,
sociocultural e interacional”, (Koch & Travaglia, 1995, p. 52).
A coerência se faz presente no texto desde o sentido que o enunciador busca atingir (já que o
enunciador quer que seu texto seja entendido), até a recepção e interpretação que um
enunciatário fará dele. Ou seja, ela estará presente em todos os momentos em que esse texto
for utilizado.
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Portanto, “[...] a coerência não está apenas nos textos nem só nos usuários, mas no processo
que coloca texto e usuário em relação numa situação”, (Koch & Travaglia, 1995, p.40).
Textualidade ou textura é o que faz de uma sequência linguística um texto e não um amontoado
aleatório de frases ou palavras. A sequência é percebida como texto quando aquele que a recebe
é capaz de percebê-la como unidade significativa global.
Portanto, “tendo em vista o conceito que se tem de coerência, podemos dizer que é ela que dá
origem à textualidade [...]”, (Koch & Travaglia, 1995, p. 20/27).
O facto mais marcante da coerência está em sua formação: Os momentos, as situações e os
usuários de um discurso construirão diferentes sentidos ao mesmo texto, portanto, um texto
pode ser coerente ou incoerente variando de acordo com a situação (com o contexto), em que
está utilizado.
Há autores que negam que haja um texto que seja incoerente. Charolles, por exemplo. Segundo
esse autor não há texto incoerente. Um leitor age sempre como se o texto fosse coerente e,
portanto, faz de tudo para encontrar sentido.
Continua ainda subsidiando que “[...] nesta tarefa, é sempre possível encontrar um contexto,
uma situação em que a sequência de frases dada como incoerente se torne coerente, vindo a
constituir um texto”, (Koch & Travaglia, 1995, p. 32).
E isso é óbvio, cada pessoa tem um contexto histórico diferente, o que causa algumas diferenças
às atribuições de sentidos que damos a cada palavra e conceito, por isso, um texto não é legível
no mesmo grau por todos os leitores.
Porém, apesar de terem contextos diferentes, os enunciatários buscarão em seu conhecimento
de mundo e em seu conhecimento partilhado com o enunciador encontrar alguma coerência no
texto, buscarão colocar o enunciado em situações e contextos em que se faça pertinente.
Percebemos, portanto, que a coerência se dá nos níveis sintático, semântico, temático,
ilocucional, e pragmático.
3.2 Coerência: do que depende, como se estabelece?
No livro “Texto e Coerência” (1995), Koch e Travaglia citam alguns factores que interferem
na coerência textual, tais quais conhecimento lingüístico, conhecimento de mundo,
conhecimento partilhado, inferências, factores pragmáticos, situacionalidade, intencionalidade,
aceitabilidade, informatividade, focalização, intertextualidade e relevância. Sobre alguns
desses conceitos discorreremos a partir de agora para entendermos onde se localizam os
maiores problemas de coerência no texto.
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Como já dito, o conhecimento de mundo é muito importante na construção da coerência textual,
mas, além disso, é importante que enunciador e enunciatário tenham certo grau de
conhecimento partilhado. Analisando a coerência, esses parecem ser os itens de maior
relevância em sua construção.
Os conceitos lingüísticos no texto podem ser causadores de incoerências em partes dele, mas
isso não tira seu sentido total. Quando o enunciatário tem conhecimento do tema tratado pelo
enunciador, ele tem mais facilidade para cooperar na construção do sentido do texto, por isso,
noções básicas do assunto tratado são muito relevantes na construção da coerência de um texto.
Ao passo que o enunciatário depende de conhecimento compartilhado com o enunciador para
interpretar um texto, o bom enunciador deve buscar esses pontos de conhecimento
compartilhados para que possa produzir seu texto sendo o mais eficiente possível em transmitir
ao enunciatário o que deseja.
É aí que entra a focalização, quando um texto é produzido, todo o conhecimento de mundo dos
envolvidos nesse assunto vira-se para uma parte desse saber. Isso quer dizer que os sujeitos
envolvidos em uma fala focalizam sua atenção em alguns pontos.
O enunciador busca, a partir de seu texto, voltar as atenções para um devido ponto. Já o
enunciatário tentará interpretar o texto de acordo com relações que consegue fazer entre o texto
e seu conhecimento de mundo. É aí que o contexto de cada pessoa se faz importante na
construção da coerência e sentido de um texto.
Outro ponto importante a ser discutido, e ainda dependente do conhecimento de mundo, e
muitas vezes, até do conhecimento partilhado, são as inferências. Elas ocorrem quando algo
não está escrito, mas é possível pressupor a partir do texto. Ou seja, algo que não esteja
representado pelo lingüístico, mas que seja possível captar através do conhecimento de mundo.
Nesse momento, é necessário perceber que nem tudo o que se depreende a partir do texto é
necessário para sua interpretação. O texto mais qualificado é aquele que facilita as inferências
necessárias para seu entendimento e não possibilita ambigüidades e confusões causadas por
inferências indesejadas ou pouco importantes ao texto.
Basicamente se entende por “inferência aquilo que se usa para estabelecer uma relação, não
explícita no texto, entre dois elementos desse texto”, (Koch & Travaglia, 1995, p. 70).
Outro factor que implica fortemente na questão da coerência textual é o pragmático. Como já
dito, a linguística textual passou a se preocupar com o externo ao texto, com sua produção, com
seu enunciador, seu enunciatário e muito mais.
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A coerência, portanto, passou a ser vista também de outra forma. Um texto nunca fez sentido
sozinho. Aliás, em cada situação, como já vimos o mesmo texto pode ter um sentido diferente.
Sendo assim, provamos a notoriedade do pragmático nessa discussão.
Os factores pragmáticos que interferem na coerência textual são “[...] tipos de atos de fala,
contextos de situação, interação e interlocução, força ilocucionária, intenção comunicativa,
características e crenças do produtor e recebedor do textos, etc. tem a ver com a influência do
pragmático na coerência”, (Koch & Travaglia, 1995, p. 74).
Ainda muito ligada aos factores pragmáticos, temos a situacionalidade, isto é, um conjunto de
factores que dão relevância aos assuntos tratados em um texto em determinada situação. Se
essa relevância é pequena, o texto parecerá incoerente, o que poderia impossibilitar ou
dificultar o entendimento do conteúdo do texto.
“De acordo com Giora (1985), uma das principais condições para o estabelecimento da
coerência é a relevância discursiva” (Koch & Travaglia, 1995, p. 95).
O texto será coerente quando os enunciados de um mesmo texto tratarem de um mesmo tópico
discursivo; caso não haja uma ligação entre os enunciados, o texto só será coerente se entre
esses enunciados houver um conectivo explícito.
Concluímos, portanto, que em todo o procedimento da produção e recepção de um texto haverá
ligações directas com a coerência. Percebemos ainda que a coerência de um texto depende de
muito mais que unicamente seu enunciador e, portanto, pode ser problemático atribuir ao
enunciador, unicamente, esse tipo de problema.
3.3 Coesão textual
Poderíamos dizer que “a coesão textual é a responsável pela tessitura do texto, aquela que faz
as ligações entre os enunciados do texto por meio de dependências de ordem gramatical”, como
dizem Beaugrande e Dressler (1981, apud Koch, 2005., p. 16).
A partir dela, é possível fazer as ligações entre os elementos do texto e, com isso, percebemos
a acção de um elemento sobre o outro, montando o sentido do texto como um todo, fazendo as
relações de sentido no interior o texto. Percebemos, assim, que a coesão tem grande influência
na coerência.
Segundo Halliday e Hansan (1976), “[...] a coesão ocorre quando a interpretação de algum
elemento no discurso é dependente da de outro”, (p. 4).
Um pressupõe o outro.
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“Um pressupõe o outro, no sentido de que não se pode ser efectivamente decodificado a não
ser por recurso ao outro”, (Koch, 2005, p. 16).
Koch (2005) afirma que o conceito de coesão textual “[...] diz respeito a todos os processos de
sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística significativa
entre os elementos que ocorrem na superfície textual”, (Koch, 2005, pp. 18, 19).
Koch afirma que a coesão textual se utiliza de alguns mecanismos para realizar suas relações
de sentido, tais quais, anáfora, catáfora, oposição ou contraste, finalidade ou meta,
conseqüência, localização temporal, explicação ou justificativa, adição de argumentos ou
ideias.
Podemos perceber, portanto, que a coesão se dá tanto no nível lexical quanto no gramatical,
como já diziam Halliday e Hansan (2005).
3.3.1 Mecanismos de coesão textual
A seguir, passaremos a olhar para as ferramentas utilizadas na tessitura de um texto
(mecanismos responsáveis pela ligação de sentido). Com isso, poderemos perceber o olhar da
linguística para o conceito de coesão.
[...] Halliday e Hansan (1976) distinguem cinco mecanismos de coesão:
✓ Referência (pessoal, demonstrativa, comparativa);
✓ Substituição (nominal, verbal, frasal);
✓ Elipse (nominal, verbal, frasal)
✓ Conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa);
✓ Coesão lexical (repetição, sinonímia, híperonímia, uso de nomes genéricos,
colocação)”. (Koch, 2005, p.20)
Elemento de referência é um item da língua que não constitui um significado semântico
sozinho, ele precisa remeter a outras palavras para constituir um valor no contexto em que é
usado.
Segundo Koch , para esses autores há dois tipos de referência, são elas: A exofórica e a
endofórica; enquanto a primeira remete a algo externo ao texto, a segunda remete a algo
explicitado no texto.
O segundo caso, referência endofórica, pode ocorrer de duas formas: anáfora ou catáfora A
anáfora ocorre quando a referência é feita a algo já explicitado no texto, ao passo que a catáfora
é o nome dado à referência feita a algo que ainda será apresentado no texto.
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Já uma substituição ocorre quando o item ao qual se faz referência tem algum contraste com o
item referencial. Isso é, quando o item traz alguma informação nova ou diferente. Para que não
haja a repetição de uma palavra, ou até de uma frase, é usada a substituição.
A elipse ocorre quando a recuperação de um elemento pode ser facilmente processada pelo
contexto, tornando desnecessário um item responsável por essa referência.
As conjunções são utilizadas quando queremos valorar a ligação entre dois elementos de um
texto.
A conjunção “[...] permite estabelecer relações significativas entre elementos ou orações do
texto”. (Koch, 2005, p. 21).
Temos, por fim, a coesão lexical, que se utiliza de repetição, sinonímia, hiperonímia, nomes
genéricos e colocação para fazer a remissão a alguns elementos do texto.
Em análise detalhada desses mecanismos, veremos que, muitas vezes, esses conceitos se
chocarão e em alguns exemplos ficará difícil discernir os casos. Portanto, os conceitos até aqui
citados já foram refutados por alguns linguístas mais atuais.
De qualquer forma, podemos perceber a partir dos pensamentos de Halliday e Hasan (1976), o
funcionamento básico dos mecanismos de coesão textual.
Porém, nos atentaremos para os pareceres de Koch (1995) sobre o assunto: a coesão remissiva
ou referencial e a coesão seqüencial.
A coesão referencial é aquela em que ocorre a recaptura de elementos em um texto; já a coesão
seqüencial é aquela que possibilita a relação de partes do texto, ou seja, constrói um texto
linguisticamente melhor formulado. Perceberemos que, muitas vezes, a coesão referencial não
apenas faz a ligação entre os termos, como ainda possibilita a sequenciação do texto.
3.4 Coesão referencial
Chamo, pois, de “coesão referencial aquela em que um componente da superfície do texto faz
remissão a outro(s) elemento (s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual e, ao
primeiro, denomino forma referencial ou remissiva e ao segundo, elemento de referência ou
referente textual”. (sequenciação)[...]. (Koch, 2005, p. 31).
Para o segmento dessas ideias será necessário entendermos, segundo Koch (2005), que:
a) O significado de elemento de referência é bastante amplo, podendo ser desde um sintagma
até um enunciado.
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b) O referente vai se construindo a cada vez que é citado; em cada novo contexto, adquirir mais
características, sendo assim vai se constituindo a partir do enunciado, segundo Blanche-
Benveniste.
c) A relação que existe entre o referencial e o referente também relaciona os contextos em que
ambos se envolvem, segundo Kallmeyer (1974).
Como já vimos, a coesão é obtida a partir do momento em que a forma remissiva faz remissão
a um termo inferível no texto.
Koch (2005) acredita que as formas remissivas podem ser de ordem gramatical ou lexical. As
formas gramaticais não fornecem instruções de sentido, mas de conexão (concordância) e
podem ser presas ou livres.
As formas remissivas gramaticais presas são as que acompanham um
nome, antecedendo-o e também ao(s) modificador(es) anteposto(s) ao
nome dentro do grupo nominal[...] e seriam, em termos de nossas
gramáticas tradicionais, os artigos, pronomes adjectivos
(demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos e relativos) e
os numerais cardinais e ordinais, quando acompanhados de nomes,
(Koch, 2005, p. 34).
Os pronomes adjectivos e numerais cardinais, quando ocupam um mesmo lugar dos artigos,
exercem a função-artigo.
As formas gramaticais remissivas livres “[...] não acompanham um nome dentro de um grupo
nominal”, (Koch, 2005, p. 38).
Enquadram-se nessa lista, os pronomes pessoais de terceira pessoa, elipse, pronomes
substantivos de função pronominal, advérbios pronominais e pró-formas verbais (formas
verbais remissivas).
Já as formas remissivas lexicais são aquelas que fazem referência ao extralingüístico. Ou seja,
muitas vezes até fazem a concordância, mas principalmente dão instruções de sentido.
São elas, segundo Koch (2005):
a) Expressões ou grupos nominais definidos: “Trata-se de grupos nominais introduzidos pelo
artigo definido ou pelo demonstrativo que exercem função remissiva”, (Koch, 2005, p. 48).
b) Nominalizações: “Trata-se de formas nominalizadas (nomes deverbais), através das quais
se remete à predicação realizada pelo verbo e argumentos da oração anterior”, (Koch, 2005, p.
48).
c) Expressões sinônimas ou quase-sinônimas.
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d) Nomes genéricos.
e) Hiperônimos ou indicadores de classe.
f) Formas referenciais com lexema idêntico ao núcleo do SN antecedente, com ou sem
mudança de determinante.
g) Formas referenciais cujo lexema fornece instruções de sentido que representam uma
“categorização” das instruções de sentido de partes antecedentes do texto.
h) Formas referenciais em que as instruções de sentido do lexema constituem uma
“classificação” de partes anteriores ou seguintes do texto no nível metalingüístico.
Apesar de todo o esforço de enunciador e enunciatário, segundo Koch (2005), nem sempre é
fácil produzir algo que não traga ao texto ambigüidade, por isso, cabe ao enunciador dar o
maior número de pistas para que o leitor possa atingir o significado pretendido.
3.4.1 Coesão sequencial
Entre os segmentos de um texto há inúmeras relações semânticas e pragmáticas e essas relações
são percebidas quando o texto é bem projectado. Ou seja, são necessários procedimentos
lingüísticos que dão ao texto a coesão sequencial que permite a fluidez e conexão necessária
às partes do texto. A interdependência nesses textos pode ser mantida a partir da sequenciação
frástica ou parafrástica.
3.4.1.1 Sequenciação frástica
[...] a progressão se faz por meio de sucessivos encadeamentos, assinalados por uma série de
marcas lingüísticas através das quais se estabelecem, entre os enunciados que compõem o texto,
determinados tipos de relação.
O texto se desenrola sem rodeios ou retornos que provoquem um “ralentamento” no fluxo
informacional, (Koch, 2005, p. 60).
Para que se torne possível a sequenciação frástica, são necessários mecanismos que
possibilitem a manutenção do tema e o estabelecimento do semântico e pragmático.
Charolles (1986) ressalta que o uso dos mecanismos coesivos tem por função facilitar a
interpretação do texto e a construção da coerência pelos usuários.
“Por essa razão, seu uso inadequado pode dificultar a compreensão do texto: visto possuírem,
por convenção, funções bem específicas, eles não podem ser usados sem respeito a tais
convenções”, (Koch, 2005, p. 77).
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Esses mecanismos, segundo a listagem de Koch (2005) seriam, por exemplo:
a) Procedimento de manutenção temática, ou seja, para estimular a memória do enunciatário,
mantém o tema a partir do uso de um termo pertencente a um mesmo campo lexical em dois
momentos. Assim, fica possível continuar um tema.
b) Progressão temática, ou seja, a possibilitade de conectar o tema ao rema. Essa progressão
pode acontecer de várias formas, por exemplo, em progressão temática linear, progressão
temática com um tema constante, progressão com tema derivado, progressão pó
desenvolvimento de um rema subdividido e progressão com salto temático.
c) Encadeamento, responsável por estabelecer as relações semânticas entre orações, enunciados
e até mesmo sequências maiores do texto. Ela pode ocorrer por justaposição ou conexão. No
caso da conexão, são usados sinais de articulação que estabelecem, entre as partes do texto,
relações semânticas. Esses sinais de articulação seriam responsáveis por: Relações lógico-
semânticas (Tempo simultâneo, tempo contínuo ou progressivo); Relações discursivas ou
argumentativas (conjunção, disjunção argumentativa, explicação ou justificativa,
comprovação, conclusão, comparação, generalização/ extensão, especificação/
exemplificação, contraste, e correção/ redefinição).
3.4.1.2 Sequenciação parafrástica
No caso da sequenciação parafrástica, segundo Koch (2005), os procedimentos de recorrência
são:
1- Recorrência de termos;
2- Recorrência de estruturas- paralelismo sintático;
3- Recorrência de conteúdos semânticos- paráfrase;
4- Recorrência de recursos fonológicos segmentais e/ou supra-segmentais;
5- Recorrência de tempo ou aspecto verbal.
Esses procedimentos, muitas vezes, reformulam, fazem previsão ou acrescentam ideias ao
sentido do texto. Todos eles contribuem para a construção do sentido do texto ao mesmo tempo
em que fazem a ligação entre as partes.
4. Análise do texto
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Eu so Manuel, aluna da 8ªclasse na escola primária da Universidade Católica. Gosto de ler
livros, filmes, futebol, matacão. Quando era criança brincava, estudava, corria, saltava na
piscina do meu quarto na companhia dos meus filhos.
Texto adaptado
Analisnado o texto coerentemente, nos dá conta de que o texto acima carece de um factor
denominado situacionalidade visto que a relevância dos assuntos no texto é pequena, o que
implica o texto ser incoerente, dificultando desta forma o entendimento do conteúdo do texto.
Eis os exemplo de algumas passagens do texto:
- Eu so Manuel, aluna da 8ªclasse na escola primária da Universidade Católica;
- Gosto de ler filmes, futebol, matacão;
- Quando era criança brincava....saltava na piscina do meu quarto na companhia dos meus
filhos.
Na passagem da expressão acima, nos torna difícil entender se “so” é a forma do verbo ser ou
advérbio de exclusão e ainda, o enunciado “Manuel” não se relaciona com “aluna” pois não
há concordância entre os géneros; nunca ouvi que alguem já leu futebol, matacão ou filme;
resta nos saber ainda se esse aluno ou aluna “quando era criança como que brincava... e
saltava na piscina do quarto dele na companhia dos filhos”, uma vez que era criança? É
impressionante nè!
Neste caso, os termos mencionados são implícitos.
Pois, sabemos que umas das condições para o estabelecimento da coerência é a relevância
discursiva. E, o texto seria coerente se os enunciados tratassem de um mesmo tópico discursivo
e, se entre os enunciados houvesse um conectivo explícito como por exemplo:
- Eu sou Manuel, aluno da 8ªclasse, na escola primária da Universidade Católica;
- Gosto de ler e assistir filmes, futebol, etc;
- Quando era criança brincava...saltava na piscina do meu quarto na companhia dos meus
amigos.
Quanto a coesão, podemos dizer que é possível fazer as ligações entre os elementos do texto e
percebemos a acção de um elemento sobre o outro, montando o sentido do texto como um todo,
fazendo as relações de sentido no interior do texto. Percebemos, assim, que a coesão tem grande
influência na coerência.
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A coesão se utiliza de alguns mecanismos para realizar suas relações de sentido, tais quais,
anáfora, catáfora, oposição ou contraste, finalidade ou meta, consequência, localização
temporal, explicação ou justificativa, adição de argumentos ou ideias; – o que não se
verifica no texto em análise.
Portanto, a coesão se dá tanto no nível lexical quanto no gramatical.
Se bem sabemos que a coesão sequencial possibilta a relação de partes do texto, ou seja,
constrói um texto linguisticamente melhor formulado. Muitas vezes, a coesão referencial não
apenas faz a ligação entre os termos, como ainda possibilita a sequenciação do texto. Porém, o
texto é bem projectado quando há coesão sequencial ou os procedimentos linguísticos que dão
ao texto a coesão sequencial, permitem a fluidez e a conexão necessária às partes do texto.
Segundo as explicações acima, algumas das passagens notáveis no texto acima são:
...aluna da 8ª classe na escola primária da Universidade Católica;
...gosto de ler...(...);
...quando era criança...(...).
Com base nos exemplos acima, vimos que as palavras sublinhadas fazem a ligação entre os
termos das frases, estabelecendo relações de sentido e, sem as quais, as frases não teriam
sentido.
5. Conclusão
Como vimos, os conceitos de coesão e coerência do discurso da Linguística Textual foram
ressignificados por discursos midiáticos/pedagógicos. O foco deste trabalho foi analisar os
enunciados sobre coesão e coerência num dado texto.
Buscamos a enunciação em que foi produzido o discurso da Linguística Textual e pudemos,
assim, contextualizar essea enunciação, melhor compreendendo suas significações. Além
disso, pudemos perceber os efeitos de novos valores nos conceitos de coesão e coerência,
causando a ressignificação de que tratamos. Assim, coesão e coerência entram para as
actividades didácticas como critérios para correcção de textos. Em nossa análise, mostramos
que, quando se fala de coesão, já não se pensa em uma tessitura competente do texto, senão no
emprego das conjunções, proposições, advérbios, pronomes, numerais, nomes, entre outros.
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Assim, um enunciado sobre a “qualidade” do texto, sobre coesão e coerência, que parece
inofensivo, é carregado de ideologias em conflito: os enunciados estão sempre em diálogo com
outros, e, no caso de nossa pesquisa, em diálogo que recupera uma memória discursiva que
vem do discurso da ciência e o ressignifica no discurso da padronização e normatização das
redações. Dessa maneira, os enunciados são tomados como signos que são espaço de conflito
ideológico.
5.1 Referências bibliográficas
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Lahud; Y. F. Vieira. São Paulo: Hucitec.
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Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto.
Gil, A. C. (1996). Metodologia do Ensino Superior. 2ª Edição. São Paulo: Atlas.
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Koch, Ingedore Grunfield Villaça. (2005). A coesão textual, 20. ed.- São Paulo: Contexto.
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