Efetividade de Gestão Da Apa Triunfo Do Xingu PDF
Efetividade de Gestão Da Apa Triunfo Do Xingu PDF
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Belém
2013
2
Belém
2013
3
Banca Examinadora:
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor Deus, Pai Eterno e Todo Poderoso, Criador dos céus e da terra, pela sua
presença em minha vida e em minha casa.
Ao meu orientador Professor Dr. Juarez Pezzuti, pela orientação, paciência e apoio
ao longo desse trabalho.
Aos meus amigos de São Félix do Xingu, Luis Araújo e Noé, colaboradores
incondicionais durante as visitas técnicas e reuniões nas comunidades da APA
Triunfo do Xingu.
RESUMO
ABSTRACT
The APA Triunfo do Xingu is located in the region of the Terra do Meio southwest of
Pará was established in 2006 with approximately 1,670,000 ha is embedded in a
region with important remnants of Amazonian biodiversity. The region suffers major
anthropogenic pressure, mainly by deforestation due to illegal logging, the advance
of cattle and burned. The existence of a protected category in the APA in a region
with high levels of environmental degradation and land grabbing as the region of
Terra do Meio is hotly contested as an effective instrument to protect biodiversity and
land use. The study aimed to develop and implement a model of management
qualification of the APA Triunfo do Xingu based on the concept of effectiveness
management in order to assess whether it is meeting the objectives that guided its
creation. Indicators were developed and grouped into six themes: environmental
management, economic, legal, political, institutional and socio-cultural, and
subsequently qualified in three levels according to their respective scenarios. The
result demonstrated the degree of management effectiveness of 54.3%, current
conditions management APA Triunfo do Xingu were considered moderately
satisfactory. The politico-institutional indicator was the best punctuated with 66.6%;
indicator law and management had, respectively, the averages of 55.5% and 54.4%,
sociocultural and environmental indicators had, respectively, the average 49.9% and
47.1%, and the economic indicators recorded an average of 33.3%, and the group
with the worst performance management. There was a condition of high vulnerability
of the APA Triunfo do Xingu does not guarantee its existence and long-term
conservation objectives that guided its creation can hardly be achieved under these
conditions.
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................ 18
1.1 Hipótese..................................................................................... 23
1.2 Objetivos.................................................................................... 23
1.2.1 Objetivo geral.............................................................................. 23
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................. 23
1.3 A Estrutura do trabalho ........................................................... 24
2 AS FRENTES DE OCUPAÇÃO DA TERRA DO MEIO E O
25
DESMATAMENTO......................................................................
2.1 Introdução.................................................................................. 25
2.2 Revisão bibliográfica................................................................ 26
2.2.1 As Principais Frentes de Ocupação da Terra do Meio................ 27
2.2.2 As conectividades na Frente de Ocupação Leste (Xingu-Iriri).... 31
2.2.3 Fases de evolução da frente de ocupação Leste (Xingu-Iriri)..... 33
2.2.4 As características da exploração madeireira e da pecuária na
35
Frente de Ocupação Leste (Xingu-Iriri).......................................
2.2.5 As Políticas públicas para contenção do desmatamento em
41
São Félix do Xingu......................................................................
2.3 Considerações finais................................................................ 44
3 A PROTEÇÃO DA TERRA DO MEIO POR MEIO DA
CRIAÇÃO DE UNIDADES DE 47
CONSERVAÇÃO........................................................................
3.1 Introdução.................................................................................. 47
3.2 Revisão bibliográfica................................................................ 49
3.2.1 A Importância da biodiversidade na região da Terra do Meio..... 49
3.2.2 A importância das Unidades de Conservação............................ 54
3.2.3 A criação de Unidades de Conservação na Terra do Meio......... 59
3.2.4 A consolidação das Unidades de Conservação da Terra do
66
Meio.............................................................................................
3.3 Considerações finais................................................................ 69
4 A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL TRIUNFO DO XINGU
72
E SUA IMPORTÂNCIA PARA A TERRA DO MEIO .................
4.1 Introdução.................................................................................. 72
4.2 Revisão bibliográfica................................................................ 74
4.2.1 O Município de São Félix do Xingu............................................. 74
4.2.2 A categoria APA como instrumento de proteção da 87
biodiversidade
16
1 INTRODUÇÃO
A região da Terra do Meio, localizada a sudoeste do Estado do Pará é uma
vasta região de florestas tropicais que ocupa aproximadamente 6% do território do
Pará, abrangendo parte dos municípios de Altamira, São Félix do Xingu e Trairão,
integrando o grande corredor de biodiversidade da bacia hidrográfica do rio Xingu
onde ocorre uma grande diversidade de espécies e paisagens (ISA, 2012b; HOGAN
et al., 2009).
A denominação da região de Terra do Meio origina-se pela sua localização no
meio do interflúvio dos rios Xingu-Iriri, que demarcava o meio da área de exploração
extrativista de borracha e madeira na região. Atualmente, considera-se a mesma
denominação, porém os limites se extrapolam para as proximidades das rodovias
federais, BR-163 e BR-230 (HOGAN et al., 2009).
O cenário de grande pressão antrópica predominante na região polariza
basicamente duas situações: a necessidade imediata de proteção dos recursos
naturais existentes e a de garantir a permanência e sobrevivência das populações
locais.
A região agregou um grande contingente populacional durante as frentes de
exploração do látex da seringueira no início do século XX e, mesmo com a
decadência dessa atividade, não sofreu um despovoamento total. As populações
remanescentes instalaram-se em ao longo da bacia hidrográfica do rio Xingu
buscando sua sobrevivência através do extrativismo vegetal e animal, formando
núcleos populacionais que mais tarde tornaram-se vilas e cidades (HOGAN et al.,
2009).
Considerada como uma nova fronteira amazônica de desenvolvimento, a
região da Terra do Meio tem atraído diversos projetos de colonização e de
exploração dos recursos naturais buscando o desenvolvimento econômico, porém
sem a preocupação com os impactos socioambientais decorrentes.
As consequências socioambientais observadas na região demonstram o alto
grau de complexidade para a criação e gestão de áreas protegidas na forma de
Unidades de Conservação.
A preocupação com a proteção desse patrimônio socioambiental na região da
Terra do Meio vem se materializando desde a década de 1960 com a demarcação
de terras indígenas. Nesse aspecto, temos que nos reportar à criação do Parque
Indígena do Xingu em 1961 (ISA, 2012b), no estado de Mato Grosso.
18
1.1 Hipótese
A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu está cumprindo os objetivos
de conservação que nortearam sua criação, mesmo situada numa região com
grande pressão antrópica como a Terra do Meio e, ao mesmo tempo, sendo uma
categoria de manejo que apresenta grande descrédito como instrumento de
proteção ambiental.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Elaborar e aplicar um modelo de qualificação de gestão para a Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu considerando o histórico de uso e ocupação da
região da Terra do Meio e a atuação do poder público na criação de unidades de
conservação e no controle do desmatamento no município de São Félix do Xingu.
maquinários pesados, como tratores florestais, para descer o rio Curuá ou rio Iriri
chegando até a estrada Canopus. A segunda rota penetra a área do Riozinho do
Anfrísio a partir da BR-163, perto do município de Trairão, sendo o acesso permitido
somente a pessoas envolvidas na exploração madeireira.
Outro movimento populacional derivado da frente de ocupação oeste, a partir
de Rondônia, chega aos municípios da Calha Norte do rio Amazonas, configurando
uma nova frente estimulada pela dinâmica da produção da soja e pelo potencial
corredor de escoamento de grãos e de outros produtos formado pelo rio Madeira.
Em todos os casos, há ocupação de novas terras pela pecuária, pelo
agronegócio, pela exploração florestal, o que aquece o mercado de terras e
potencializa outras formas de sucessão no uso da terra (CASTRO, 2007; CASTRO
et al., 2002).
2002). Contudo, a atividade extrativista em São Félix do Xingu não foi de todo
extinta com a perda de castanheiras, seringueiras e com a abertura de estradas. Na
década de 1980, especificamente no período de 1986 a 1992, a coleta da folha de
jaborandi1 e a extração predominantemente artesanal do minério de cassiterita
tornaram-se atividades econômicas importantes na região, dando ainda um fôlego
ao extrativismo.
apossou das terras próximas à estrada e aos ramais, sem consolidar grandes
atividades agrícolas e intensificando o garimpo artesanal.
No mesmo período, a exploração do jaborandi foi retomada na margem
esquerda do rio Xingu, na Vila Primavera, no setor Santa Rosa e no setor Tabão,
criando assim a primeira colonização familiar.
A terceira fase, de ocupação pela agricultura familiar, ocorreu no período de
1993 a 1999, onde muitas famílias de colonos migrantes e de garimpeiros ocuparam
a região do Alto Xingu, especificamente nas áreas da Vila Taboca, na Terra Indígena
Apyterewa, no setor da vila Lindoeste/ Sudoeste e ao longo da estrada Canopus.
Essa fase evidencia a conectividade regional entre São Félix do Xingu e a
região da Rodovia Transamazônica, especialmente com os municípios de Altamira e
Uruará, através de movimentos populacionais pelo rio Xingu e por ramais
madeireiros ao norte.
A instalação de famílias de colonos que adquiriram terras por meio do Instituto
de Terras do Pará (ITERPA) ou compras de direitos dos ocupantes existentes, se
deu ao longo de toda a estrada Canopus, menos na Vila Canopus, onde a sede da
empresa e o seu material ainda eram guardados.
Na ocasião, foi feito um acordo entre o ITERPA e os colonos definindo o
estabelecimento das pequenas propriedades a uma distância de até 10 km da
estrada da Canopus, com um tamanho médio dos lotes de até 100 ha.
A quarta fase, de instalação das fazendas, ocorreu no período de 2000 a
2005. Em 2000, a sede da empresa Canopus foi invadida à força por fazendeiros e
pecuaristas e nas imediações da estrada se instalaram famílias de pequenos
colonos.
O acordo anteriormente feito entre o ITERPA e os colonos não foi legitimado
e a posse da terra não foi legalizada, facilitando o estabelecimento de fazendas de
médio e grande porte misturadas às propriedades dos colonos, cujas terras foram
adquiridas muitas vezes por meio de invasão, compra e agregação de lotes dos
pequenos produtores rurais. Os grileiros e grandes fazendeiros se apossaram das
terras nos ramais madeireiros.
Em várias ocasiões, esse processo foi violento, com a atuação de grupos de
pistoleiros, instaurando por um tempo uma verdadeira guerra entre ocupantes rivais
em toda a região da estrada. Com o decréscimo do conflito nos ramais, ligado à
34
2
O autor considera a condição de superlotação na pastagem quando a propriedade adotar de 7,5 a
10 Unidade Animal (UA) por alqueire.
38
Triunfo, localizada dentro de uma área que hoje se encontra a APA Triunfo do Xingu.
Nesta proposta, contudo, não foi recomendada a criação de nenhuma unidade de
conservação para a área que hoje é a APA.
Outro destaque foi a proposta de criação de um Parque Nacional e uma
Floresta Nacional na área onde hoje se encontra a Estação Ecológica Terra do Meio.
200 moradores tradicionais residentes ao longo dos rios Iriri e Curuá criando uma
situação agravante de ilegalidade para as famílias.
Figura 10: Localização geográfica e mapa de vegetação do município de São Félix do Xingu
b) Aspectos Socioeconômicos
1) Histórico de formação do município
As origens do município de São Felix do Xingu estão intimamente ligadas ao
município de Altamira. Em 14 de abril de 1874, através da Lei nº 811, foi criado o
município de Souzel, o qual fazia parte de Altamira (IDESP, 2011; SECTAM, 2006;
SECTAM, 2005; PMSFX, 2005). Na primeira década do século XX, o governo
desmembrou aquele município, criando o município de Xingu, com sede no distrito
de Altamira. Conforme a divisão territorial do estado, com data de 31 de dezembro
de 1936, o município de Xingu compunha-se de onze distritos: Altamira, Novo
Horizonte, São Félix, Porto de Moz, Tapará, Vilarinho do Monte, Veiros, Aquiqui,
Souzel, Alto Xingu e Iriri.
Pelo disposto no Decreto-Lei nº 2.972, de 31 de março de 1938, foi mudado o
topônimo do município de Xingu para Altamira, que passou a ser formado por dois
distritos: Altamira e Novo Horizonte (zonas de Novo Horizonte e São Félix).
A alteração foi confirmada pelo Decreto-Lei nº 3.131, de 31 de outubro de
1938, que estabelecia a divisão territorial do estado para o período de 1939 a 1943.
Em 29 de dezembro de 1961, durante o governo de Aurélio do Carmo,
através da Lei nº 2.460, foi criado o município de São Félix do Xingu, com área
desmembrada do município de Altamira.
Com as Leis de nº 5.449 e nº 5.455, de 10 de maio de 1988, São Félix do
Xingu teve seu território desmembrado para criar os municípios de Ourilândia do
Norte e Tucumã. Atualmente, o município é constituído de dois distritos: São Félix do
Xingu e Gradaús.
2) População
O município de São Félix do Xingu tem experimentado diversas fases de
evolução de sua dinâmica populacional (IDESP, 2011; SECTAM, 2006; SECTAM,
2005; PMSFX, 2005), que podem ser correlacionadas com a dinâmica de uso e
ocupação da região (Gráfico 4).
Até 1980 o município de São Félix do Xingu ainda não havia sido afetado pelo
fluxo migratório estimulado pela abertura de estradas, assentamentos rurais e a
dinamização econômica que lhe sucedeu com a exploração madeireira e expansão
da fronteira agrícola e pecuária.
76
Gráfico 5 - Evolução do rebanho bovino em São Félix do Xingu entre 2000 e 2009
4) Organização social
Atuam no município aproximadamente 80 associações de agricultores
familiares, duas centrais de associações, uma casa familiar rural, uma importante
cooperativa de produtores, dois sindicatos para o mesmo segmento dos
trabalhadores rurais ou agricultores familiares, duas organizações não
81
5) Conflitos Sociais
O grande problema que se destaca no município de São Félix do Xingu é a
questão da regularização fundiária, que tem gerado altos índices de violência em
função da luta pela posse de terras.
No município cerca de 60% das terras são áreas legalmente protegidas,
incluindo as Unidades de Conservação e terras indígenas. Para os demais 40%,
uma área muito reduzida encontra-se titulada a particulares, outra parcela em
assentamentos da reforma agrária e as demais são áreas públicas e/ou terras
devolutas, que pela sua posse se observa um quadro crônico de conflitos e violência
(SANTOS et al., 2009).
82
conclusão Quadro 1
Âmbito Tipo de Denominação Atividades
organização
Cooperativa dos Técnicos
Cooperativa de técnicos que atua na elaboração de projetos de crédito
Agropecuários do Xingu
rural; cerca de 80% do trabalho é voltado para a agricultura familiar.
Empresa (COOTAGRO)
Prestadora Empresa privada com atuação principalmente em serviços de topografia e
Empresa VIA RURAL
de Serviços georreferenciamento de propriedades rurais na região.
Rurais Assessoria Técnica, Social,
Sociedade civil Ambiental e Projetos Agropecuários Com sede em Redenção; atua na elaboração de projetos agropecuários.
(PROCAMPO)
Apóia a documentação dos pescadores e sua regularização junto ao INSS
e Ministério da Pesca, tanto em relação aos direitos previdenciários quanto
Colônia de
Colônia de Pescadores Z-67 ao pagamento do seguro defeso; não tem experiência de trabalho com
Pescadores
manejo ou acordos de pesca e participa do Conselho Municipal de Meio
Ambiente.
Responsável pela gestão de assentamentos de reforma agrária; sua área
Instituição Instituto Nacional de Colonização e
de abrangência da Unidade Avançada é de 4 municípios: São Félix do
federal Reforma Agrária (INCRA)
Xingu, Tucumã, Ourilândia do Norte e Água Azul.
Empresa de Assistência Técnica e
Responsável pela assistência técnica dos agricultores.
Poder público Instituição Extensão Rural (EMATER)
estadual Agencia de Defesa Agropecuária do
Atua no combate à febre aftosa na região.
Estado do Pará (ADEPARÁ)
Secretaria Municipal de Agricultura Distribuição de sementes e serviços de patrulha mecanizada,
(SEMAGRI) principalmente recuperação de área degradada.
Instituição Administração da coleta seletiva de lixo e arborização de áreas públicas.
municipal Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (SEMMAS) Na área rural realiza fiscalizações em relação ao desmatamento ilegal.
Fonte: adaptado de Santos et al. (2009).
85
Nº IDENTIFICAÇÃO/ PERÍODO DE
OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA LOCALIZAÇÃO OCUPAÇÃO
Continuação
IDENTIFICAÇÃO/
Nº PERÍODO DE
OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA OCUPAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
Abertura de ramais
1986 à 1992
madeireiros
Presença de grandes fazendas (grandes
(a) Vila Pontalina: Garimpeiros e ramais):
distante 94 km do rio
Solo apto para Nº propriedades rurais: 29;
Xingu próxima da 1993 à 1999 Colonos familiares agricultura; Tamanho: + 2.000 ha
Vila dos Crentes:
(estrada) Agricultura familiar Presença de Agricultores Familiares na
distante 84 km do rio
diversificada: roçado, Ocorrência estrada e nos pequenos ramais;
3 Xingu;
cacau e pequenos de garimpo Nº moradores: 650;
(b) Vila Cabocla:
pecuaristas Nº propriedades rurais: 240
distante 130 km do
T amanho médio: 380 há
rio Xingu; próxima
Chácaras: 5-25ha
do ramal Toca dos Grileiros nos ramais,
A partir de Não houve registro de conflitos
Sapos instalação de grandes
2000 fundiários.
fazendas
94
Conclusão
IDENTIFICAÇÃO/ PERÍODO
Nº
DE OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA
LOCALIZAÇÃO OCUPAÇÃO
5 Zonas localizadas nos finais dos ramais, distantes além de 10 km da estrada Canopus.
(a) MARGENS
DO RIO XINGU; Região de conflitos fundiários;
(b) MARGENS Beiradeiros, grileiros e Nenhuma Grilagem de terras;
6 2000
DO RIO IRIRI: fazendeiros Pecuária ocorrência Expulsão de ribeirinhos
distante 230 km do
rio Xingu.
VILA SANTA
Presença de pequenos Agricultores Familiares;
ROSA: distante 35 Agricultura familiar
Nenhuma Tamanho médio: 150 há
7 km de São Félix do 1980 Pequenos agricultores diferenciada (pecuária ou
ocorrência Não houve registro de conflitos fundiários;
Xingu; próxima a cacau).
Setor de fazendas.
região do Tabão.
Fonte: adaptado de Sablayrolles et al. (2006).
95
ESEC
TERRA DO MEIO
5 PARNA
SERRA DO PARDO
6
3 5 6
6
4
3
1
2
5 5
ESEC
TERRA DO MEIO 7
Para essas evidencias foram recomendadas algumas ações (ISA, 2003) que
poderiam ser conduzidas pela APA Triunfo do Xingu, como:
a) Interrupção do acesso e a fiscalização na área da estrada Xingu-Iriri
(Canopus) no limite proposto para criação da Estação Ecológica Terra do
Meio;
b) Consolidar uma maior presença das instituições do poder público na área;
c) Interromper os esquemas de grilagem de terras;
d) Resgatar o protagonismo e autoridade do estado do Pará no controle do
processo fundiário;
e) Realizar o licenciamento ambiental das propriedades rurais;
f) Assegurar a conectividade das reservas legais das propriedades com as
terras indígenas e Unidades de Conservação;
g) Dar especial atenção para preservação para dos morros e serras
incidentes dentro da APA;
h) Promover a mobilização de atores sociais locais e desenvolver estratégias
locais junto ao município de São Félix do Xingu.
APA TX
APA TX
Identificação do Satélite/Ano
permissividade dessa categoria, faz com que a possibilidade de real proteção seja
reduzida em função da pouca ingerência do órgão gestor da unidade em terras que
não são públicas.
Outra questão importante é que a condição de proteção legal estabelecida na
região pela APA Triunfo do Xingu, naturalmente, tem despertado a atenção da
opinião pública para as questões socioambientais da região e, assim, atraído
políticas públicas, evidenciadas no capitulo primeiro.
O controle do desmatamento não deve ser um objetivo isolado a ser
alcançado unilateralmente pelo órgão gestor da APA Triunfo do Xingu. As ações
integradas entre os gestores das várias unidades de conservação na região e
prefeituras locais, com forte inserção do governo federal, têm se mostrado promissor
no sentido de manter em médio e longo prazo os significativos resultados de
controle ambiental, principalmente em relação a redução do desmatamento.
Nesse sentido, López e Rodriguez (2006) lembram que, além das adaptações
às peculiaridades das Unidades de Conservação, os protocolos de avaliação da
gestão das mesmas devem reduzir os critérios técnicos e aumentar a projeção
social.
Entretanto, é importante lembrarmos que as referencias desenvolvidas pela
WCPA não constituem uma metodologia específica. Elas representam um guia
prático para a avaliação da efetividade de gestão das unidades de conservação.
Os benefícios dessas referências residem na ligação conceitual e na
utilização de critérios, princípios e elementos comuns para a avaliação da gestão
das unidades de conservação.
Assim, é importante verificarmos se a metodologia adotada para avaliação da
efetividade de gestão das Unidades de Conservação segue os seguintes princípios
(LEVERINGTON et al., 2008; PAVESE et al., 2007; HOCKINGS et al., 2000):
a) É útil e relevante para melhorar a gestão da unidade de conservação
demonstrando e proporcionado a melhoria da comunicação e das relações;
b) É lógica e sistemática, de acordo com a IUCN/WCPA; fornece a base
prática e teórica consistentes, aumentando a capacidade de harmonia de
informações através dos diferentes sistemas de unidades de conservação;
c) É baseada em bons indicadores, os quais são holísticos, balanceados e
úteis. Permite a adição de mais indicadores na estrutura de avaliação. A
forma de medir e pontuar os indicadores são claros. Atende as características
de bons indicadores, como:
1) Mensuráveis: capazes de ser registrados e analisados em
termos qualitativos e quantitativos;
2) Precisos: padronizados, definidos da mesma forma para
todos os indicadores;
3) Consistente: não muda ao longo do tempo, não há variação
na mensuração;
4) Sensível: se adapta proporcionalmente em resposta a uma
eventual mudança de condição ou item que estão sendo
mensurados.
d) É precisa, demonstra verdade, consistência e vai além da informação
desejada. É desejável repetir as avaliacões periodicamente; o sistema de
avaliação deve ser capaz de mostrar mudanças ao longo do tempo.
122
6.1 Introdução
A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu tem fundamental importância
para a proteção da sociobiodiversidade da região da Terra do Meio. Sua dimensão,
a diversidade de uso e ocupação do território e sua localização geográfica
estratégica demonstram a grande complexidade que envolve as ações de gestão
dessa unidade de conservação.
Mesmo sob grande pressão antrópica decorrente, principalmente, da
exploração madeireira ilegal, do avanço da pecuária extensiva e da grilagem de
terras, a região do município de São Félix do Xingu e, também, da Área de Proteção
Ambiental Triunfo do Xingu, têm registrado nos últimos anos uma redução
significativa nos índices de desmatamento e um maior controle ambiental, conforme
discutimos nos capítulos anteriores (COSTA, 2012; ARAÚJO, et al., 2012).
As políticas públicas adotadas para contenção do desmatamento ilegal e
paralisação do processo de grilagem de terras na região estão em andamento,
porém as conquistas ainda não são suficientes para a regularização ambiental no
município e sua saída do embargo econômico.
Ainda que haja muitos esforços integrados para regularização e controle
ambiental no município, não há garantias de manutenção em longo prazo das taxas
de desmatamento em níveis reduzidos que permitam a regularização ambiental
almejada.
A presença de uma Unidade de Conservação na região, mesmo na categoria
de uso sustentável como a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu,
proporciona uma condição especial de proteção legal à sua área de abrangência
direta e indireta. Assim, a mesma pode contribuir significativamente para a
regularização ambiental no município.
Entretanto, a categoria Área de Proteção Ambiental (APA) é muito
questionada em função da grande permissividade de uso dos recursos naturais e da
condição de manutenção da propriedade particular. Para muitos especialistas, e
também para muitos gestores de unidades, esses fatores são determinantes para
dificultar o alcance dos objetivos de proteção e conservação de sua
sociobiodiversidade.
138
Corte (1997) destaca que algumas dificuldades para gestão de uma Unidade
de Conservação na categoria APA estão relacionadas à limitação da autoridade do
órgão gestor sobre os recursos naturais em áreas privadas e às estratégias
adotadas de incentivo aos proprietários rurais para a colaboração nas ações de
proteção.
No Brasil, a categoria Área de Proteção Ambiental originalmente surge como
complemento das categorias de uso mais restrito, formando zonas de
amortecimento e corredores ecológicos, evitando maiores danos ambientais em
áreas sob grande pressão antrópica ou em áreas privadas que não seja possível
desapropriar, seja pelo custo ou complexidade jurídica (DOUROJEANNI; PÁDUA,
2007).
De forma geral, Dourojeanni e Pádua (2007) consideram que a categoria APA
tem um valor protetor muito baixo e, frequentemente, quase nulo. Contudo Pádua
(2012) defende sua necessidade para a conservação da biodiversidade, e lembra
que esta categoria geralmente é utilizada como zona tampão de outras categorias
de manejo ou para garantir corredores ecológicos, dependendo ainda da
concordância dos proprietários das terras com as restrições de uso. Nesse aspecto,
Souza et al. (2012) reforçam que, em função do grande número de áreas privadas e
à fragilidade de aplicação de um zoneamento capaz de disciplinar os usos na
unidade, a categoria é considerada de difícil gestão.
Estas dúvidas têm colaborado para o descrédito da categoria APA como
instrumento de proteção ambiental, muito embora se conheça as suas inúmeras
potencialidades. Entretanto, o cumprimento de seus objetivos de conservação tem
se transformado em um grande desafio para os órgãos gestores. A avaliação da
efetividade de gestão pode ajudar a construir uma credibilidade sólida para a
categoria APA estabelecendo análises da qualidade de gestão sob critérios técnicos
e objetivos.
No caso da APA Triunfo do Xingu a aplicação dessa ferramenta de gestão
deverá melhorar significativamente o acompanhamento de sua gestão,
principalmente se for considerado nas análises os componentes de qualificação que
contemplem não só a proteção da biodiversidade, mas também os elementos da
sociobiodiversidade.
139
6.2 Metodologia
O estabelecimento de um processo sistemático de avaliação da gestão da
APA Triunfo do Xingu advém da complexidade do contexto em que a mesma está
inserida e, também, da necessidade de aferição de suas condições de gestão para
que possa alcançar seus objetivos de conservação.
Para isso, o procedimento metodológico adotado teve o cuidado de seguir as
diretrizes, princípios e o ciclo gerencial recomendados pela WCPA/IUCN para a
elaboração de métodos de avaliação de efetividade de gestão de unidades de
conservação, que foram publicados originalmente por Hockings et al. (2000) e
Hockings et al. (2006), e revisados por Leverington et al. (2008).
Outra característica importante adotada na condução deste estudo foi a
consulta a três importantes fontes de informações para subsidiar a seleção de
indicadores e dos cenários de qualificação:
a) A consulta a documentos técnicos de gestão da unidade, como os
diagnósticos e estudos socioambientais na região que antecederam a criação
da APA, as atas de formação e das reuniões do conselho gestor e das
oficinas de formação continuada dos conselheiros;
b) Os relatos da equipe técnica responsável pela gestão da unidade;
c) As observações em campo.
Assim, este estudo foi conduzido em quatro fases distintas, descritas a seguir.
Na primeira fase procedeu-se a coleta de informações primárias e
secundárias através de consulta a documentos técnicos, relatórios, diagnósticos e
outros documentos importantes sobre a avaliação de efetividade de manejo de
unidades de conservação, como também da APA Triunfo do Xingu.
Os dados secundários consultados foram extremamente importantes para a
construção de cenários e definição de indicadores, e estão citados nos capítulos
anteriores. As informações disponíveis sobre o processo de criação já
140
São pontos essenciais que devem ser resolvidos de maneira que possam
contribuir para o alcance dos objetivos de conservação da APATX.
Os resultados dos indicadores socioculturais referentes a variável
organização social alcançaram 66,6% do total ótimo. A pontuação mediana (66,6%)
observada nos indicadores de mobilização e participação comunitária (Gráfico 25)
demonstra que na APATX as organizações sociais estão ativas e têm participado de
debates buscando os benefícios para os proprietários rurais, principalmente para os
pequenos produtores.
Em função do embargo econômico ao município de São Félix do Xingu em
função da necessidade de redução dos altos índices de desmatamento registrados
na região desencadeou uma série de mobilizações do poder público e da sociedade
civil para reversão de cenário para, assim, evitar o colapso socioeconômico que
poderia se agravar.
Os segmentos políticos e econômicos sustentados pela exploração
madeireira e na pecuária historicamente dominam a região e não tem medido
esforços para que as ações de regularização e controle ambiental sejam bem
sucedidas no município.
Assim, as mobilizações de segmentos rurais, principalmente de pequenos
produtores ou de assentados foram de coibidas na região, e nos últimos anos têm se
fortalecido incentivadas por projetos e programas que visam a redução do
desmatamento ilegal na região.
A APATX tem se beneficiado desse processo de mobilização social e conta
desde 2011 com o conselho gestor formado e atuante com a presença de
importantes lideranças comunitárias residentes na área.
Além disso, há um processo de fortalecimento dessa participação social em
outros conselho ou fóruns, em projetos e cursos de qualificação voltados para a
busca de alternativas econômicas mais sustentáveis.
189
6.3 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Belém: WRI, IMAZON, 2005. 84 p.
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