Efetividade de Gestão Da Apa Triunfo Do Xingu PDF

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
DO TRÓPICO ÚMIDO
CURSO DE DOUTORADO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

ANDRÉ LUIS SOUZA DA COSTA

EFETIVIDADE DE GESTÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL TRIUNFO


DO XINGU: desafios de consolidação de uma Unidade de Conservação na região da
Terra do Meio, Estado do Pará.

Belém
2013
2

ANDRÉ LUIS SOUZA DA COSTA

EFETIVIDADE DE GESTÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL TRIUNFO


DO XINGU: desafios de consolidação de uma Unidade de Conservação na região da
Terra do Meio, Estado do Pará.

Tese apresentada para obtenção de titulo de


Doutor em Ciências do Desenvolvimento
Socioambiental, Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Sustentável do Trópico
Úmido, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos,
Universidade Federal do Pará.

Orientador: Prof. Dr. Juarez Pezzuti

Belém
2013
3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Biblioteca do NAEA/UFPA)

Costa, André Luis Souza da, 1969-


Efetividade de gestão da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu:
desafios de consolidação de uma unidade de conservação na região da Terra do Meio,
estado do Pará / André Luis Souza da Costa; Orientador, Juarez Carlos Brito Pezzuti. –
2013.

201 f.: il.; 29 cm


Inclui bibliografias

Tese (doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos


Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido, Belém, 2013.

1. Proteção ambiental - Pará. 2. Área de conservação de recursos naturais.


3. Gestão ambiental- Pará. 4. Área de Proteção Integral Triunfo do Xingu. 5.
Desflorestamento - Pará. I. Pezzuti, Juarez Carlos Brito, orientador. II. Título.

CDD 22. ed. 363.7098115


4

ANDRÉ LUIS SOUZA DA COSTA

EFETIVIDADE DE GESTÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL TRIUNFO


DO XINGU: desafios de consolidação de uma Unidade de Conservação na região da
Terra do Meio, Estado do Pará.

Tese apresentada para obtenção de titulo de


Doutor em Ciências do Desenvolvimento
Socioambiental, Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Sustentável do Trópico
Úmido, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos,
Universidade Federal do Pará.

Aprovado em: 01/07/2013

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Juarez Carlos Brito Pezzuti (orientador)


Universidade Federal do Pará (UFPA)

Profª. Drª. Regina Oliveira da Silva


Universidade do Estado do Pará (UEPA)

Prof. Dr. Alfredo K. O. Homma


Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Profª. Drª. Nírvea Ravena


Universidade Federal do Pará (UFPA)

Prof. Dr. Josep Pont Vidal


Universidade Federal do Pará (UFPA)
5

Aos meus filhos, Mateus, Lucas, Carla e


Cássia.
Aos meus pais, Amadeu e Ester.
Ao meu irmão Francisco.
Pela confiança, amor e apoio em todos os
momentos.
6

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, Pai Eterno e Todo Poderoso, Criador dos céus e da terra, pela sua
presença em minha vida e em minha casa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela


oportunidade da bolsa de pesquisa e pela confiança.

Ao meu orientador Professor Dr. Juarez Pezzuti, pela orientação, paciência e apoio
ao longo desse trabalho.

À Drª. Regina Oliveira e Drª. Nírvea Ravena, pelas contribuições e sugestões.

Aos meus amigos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA),


especialmente os companheiros da APA Triunfo do Xingu, Pedrinho Baía, Liliane
Jucá, Márcia Sarges, Teresa Freitas e Charles Gemaque, pelo apoio e incentivo.

À Vera Bastos e família, amiga e grande incentivadora.

Aos meus amigos de São Félix do Xingu, Luis Araújo e Noé, colaboradores
incondicionais durante as visitas técnicas e reuniões nas comunidades da APA
Triunfo do Xingu.

Aos companheiros de turma do curso de doutorado, Izaura, Alessandro, Ivana,


Nazareno, Marina, Hisakhana Corbin, Karla e Wilker, pela companhia nos estudos e
pelos momentos de muitas descontrações ao longo do curso.
7

“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do


Onipotente descansará. Direi do Senhor, Ele é o meu Deus, o
meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei...”
Salmo 91
8

RESUMO

A APA Triunfo do Xingu localiza-se na região da Terra do Meio a sudoeste do


Estado do Pará foi criada em 2006 com aproximadamente 1.670.000 ha está
inserida numa região com importantes remanescentes da biodiversidade amazônica.
A região sofre grande pressão antrópica, principalmente pelo desflorestamento
decorrente da exploração madeireira ilegal, do avanço da pecuária e queimadas. A
existência de uma unidade de conservação na categoria APA numa região com altos
índices de degradação ambiental e grilagem de terras como a região da Terra do
Meio é muito contestada como instrumento efetivo de proteção da biodiversidade e
ordenamento territorial. O trabalho teve por objetivo elaborar e aplicar um modelo de
qualificação de gestão da APA Triunfo do Xingu baseando-se no conceito de
efetividade de gestão de maneira a aferir se a mesma está cumprindo os objetivos
que nortearam sua criação. Indicadores foram elaborados e agrupados em seis
temáticas: ambiental, gestão, econômico, legal, politico-institucionais e sociocultural,
e posteriormente qualificados em três níveis, de acordo com seus respectivos
cenários. O resultado final demonstrou o grau de efetividade de gestão de 54,3%, ou
seja, as condições atuais de gestão da APA Triunfo do Xingu foram consideradas
medianamente satisfatórias. O indicador politico-institucional foi o melhor pontuado
com 66,6%; o indicador legal e o de gestão registraram, respectivamente, as médias
de 55,5% e 54,4%; os indicadores sociocultural e ambiental registraram,
respectivamente, as médias de 49,9% e 47,1%; e os indicadores econômicos
registraram a média de 33,3%, sendo o grupo com o pior desempenho gerencial.
Observou-se uma condição de alta vulnerabilidade da APA Triunfo do Xingu que não
garante sua existência em longo prazo e os objetivos de conservação que nortearam
sua criação dificilmente poderão ser alcançados nessas condições.

Palavras-chave: Área de Proteção Ambiental. Efetividade de Gestão.


Desflorestamento. Biodiversidade.
9

ABSTRACT

The APA Triunfo do Xingu is located in the region of the Terra do Meio southwest of
Pará was established in 2006 with approximately 1,670,000 ha is embedded in a
region with important remnants of Amazonian biodiversity. The region suffers major
anthropogenic pressure, mainly by deforestation due to illegal logging, the advance
of cattle and burned. The existence of a protected category in the APA in a region
with high levels of environmental degradation and land grabbing as the region of
Terra do Meio is hotly contested as an effective instrument to protect biodiversity and
land use. The study aimed to develop and implement a model of management
qualification of the APA Triunfo do Xingu based on the concept of effectiveness
management in order to assess whether it is meeting the objectives that guided its
creation. Indicators were developed and grouped into six themes: environmental
management, economic, legal, political, institutional and socio-cultural, and
subsequently qualified in three levels according to their respective scenarios. The
result demonstrated the degree of management effectiveness of 54.3%, current
conditions management APA Triunfo do Xingu were considered moderately
satisfactory. The politico-institutional indicator was the best punctuated with 66.6%;
indicator law and management had, respectively, the averages of 55.5% and 54.4%,
sociocultural and environmental indicators had, respectively, the average 49.9% and
47.1%, and the economic indicators recorded an average of 33.3%, and the group
with the worst performance management. There was a condition of high vulnerability
of the APA Triunfo do Xingu does not guarantee its existence and long-term
conservation objectives that guided its creation can hardly be achieved under these
conditions.

Key words: Environmental Protection Area. Management Effectiveness.


Deforestation. Biodiversity.
10

LISTA DE GRÁFICOS

Evolução do rebanho bovino e do desflorestamento no Arco


Gráfico 1 40
do Desmatamento
Gráfico 2 Evolução do Desflorestamento em São Félix do Xingu 41
Gráfico 3 Evolução de adesões ao CAR em São Félix do Xingu 44
Dinâmica populacional do município de São Félix do Xingu
Gráfico 4 78
de 1980 a 2011
Evolução do rebanho bovino em São Félix do Xingu entre
Gráfico 5 80
2000 e 2009
Produção de madeira em tora no município de São Félix do
Gráfico 6 80
Xingu
Evolução da produção de cacau no município de São Félix
Gráfico 7 81
do Xingu
Gráfico 8 Produção de borracha no município de São Félix do Xingu 81
Produção de folhas de jaborandi no município de São Félix
Gráfico 9 82
do Xingu
Estimativa de estoque de madeira dentro e fora da APA
Gráfico 10 98
Triunfo do Xingu
Desmatamento em São Félix do Xingu e na APA Triunfo do
Gráfico 11 102
Xingu
Relação das áreas abertas com o nº de aberturas na
Gráfico 12 103
floresta
Gráfico 13 Evolução de queimadas em São Félix do Xingu 104
Número de focos de queimadas na APA Triunfo do Xingu
Gráfico 14 106
de 2007 a 2010
Focos de queimadas em Unidades de Conservação do
Gráfico 15 107
Pará entre 2007 e 2010
Resultados da efetividade de gestão das unidades de
Gráfico 16 128
conservação federais
Gráfico 17 Desempenho geral dos grupos de indicadores 176
Gráfico 18 Desempenho detalhado dos indicadores 177
Resultados do indicador ambiental, variável integridade
Gráfico 19 178
ambiental
Gráfico 20 Resultados do indicador ambiental, variável vulnerabilidade 180
Resultados do indicador de gestão, variável instrumentos
Gráfico 21 182
de gestão
Gráfico 22 Resultados do indicador de gestão, variável administração 183
Resultados do indicador econômico, variável geração de
Gráfico 23 184
renda
Gráfico 24 Resultados do indicador legal, variável marco legal 186
Resultados dos indicadores político-institucionais,
Gráfico 25 188
socioculturais
11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização geográfica da região denominada Terra do Meio 28


Frente leste de ocupação da Terra do Meio no interflúvio
Figura 2 30
Xingu-Iriri
Figura 3 Frentes de ocupação da região da Terra do Meio 32
Figura 4 Localização geográfica da região da Terra do Meio 51
Mosaico de Unidades de Conservação na Terra do Meio
Figura 5 61
proposto em 2003
Áreas prioritárias para criação de Unidades de Conservação
Figura 6 62
na Terra do Meio
Composição atual das Unidades de Conservação na região
Figura 7 63
da Terra do Meio
Alterações na composição do Mosaico de Unidades de
Figura 8 65
Conservação na Terra do Meio
Figura 9 Alteração de limites da APA Triunfo do Xingu e PARNA Serra
66
do Pardo
Figura 10 Localização geográfica do município de São Félix do Xingu 76
Localização da APA Triunfo do Xingu na região da Terra do
Figura 11 91
Meio
Figura 12 Zoneamento da estrada Canopus (Xingu-Iriri) 97
Desmatamento acumulado na APA Triunfo do Xingu até julho
Figura 13 101
de 1997
Desmatamento acumulado na APA Triunfo do Xingu até julho
Figura 14 101
de 2004
Pontos críticos de queimadas na APA Triunfo do Xingu de
Figura 15 105
janeiro a setembro de 2012
Fases da avaliação da efetividade de gestão de unidades de
Figura 16 122
conservação
Comunidades visitadas durante as oficinas do conselho
Figura 17 143
gestor
12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Identificação das instituições em São Félix do Xingu 85


Caracterização do uso e ocupação da região da APA
Quadro 2 94
Triunfo do Xingu
Indicadores de qualificação de manejo de unidades de
Quadro 3 121
conservação
Metodologias de avaliação da efetividade de gestão de
Quadro 4 130
unidades de conservação
Indicadores adotados para avaliação da efetividade de
Quadro 5 145
gestão da APA Triunfo do Xingu
Níveis de qualificação e cenários da avaliação de
Quadro 6 147
efetividade de gestão
Indicadores e cenários de conservação e manejo da
Quadro 7 148
biodiversidade
Indicadores e cenários do monitoramento da
Quadro 8 149
biodiversidade
Indicadores e cenários das pressões sobre a Unidade de
Quadro 9 150
Conservação
Quadro 10 Indicadores e cenários das mudanças na cobertura vegetal 151
Quadro 11 Indicadores e cenários da importância biológica 152
Quadro 12 Indicadores e cenários dos conflitos usuários/gestores 153
Indicadores e cenários da recuperação das áreas
Quadro 13 154
degradadas
Quadro 14 Indicadores e cenários do uso dos recursos naturais 155
Quadro 15 Indicadores e cenários das ameaças aos recursos naturais 156
Quadro 16 Indicadores e cenários da fiscalização 157
Quadro 17 Indicadores e cenários do plano de manejo 158
Quadro 18 Indicadores e cenários do zoneamento 159
Quadro 19 Indicadores e cenários do conselho gestor 160
Quadro 20 Indicadores e cenários da equipe técnica/operacional 161
Quadro 21 Indicadores e cenários da sustentabilidade financeira 162
Quadro 22 Indicadores e cenários da infraestrutura 163
Quadro 23 Indicadores e cenários dos equipamentos e materiais 163
Quadro 24 Indicadores e cenários do controle gerencial 164
Quadro 25 Indicadores e cenários do acesso à crédito 165
Indicadores e cenários da sustentabilidade das cadeias
Quadro 26 166
produtivas
Quadro 27 Indicadores e cenários da regularização fundiária 167
Quadro 28 Indicadores e cenários da base legal 168
Quadro 29 Indicadores e cenários da cooperação interinstitucional 169
Indicadores e cenários do sistema de gestão de unidades
Quadro 30 170
de conservação
Indicadores e cenários da manutenção dos processos
Quadro 31 172
tradicionais
Indicadores e cenários da mobilização e participação
Quadro 32 173
comunitária
Pontuação bruta dos indicadores de efetividade de gestão
Quadro 33 174
da APA Triunfo do Xingu
13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADEPARA Agencia de Defesa Agropecuária do Estado do Pará


APA Área de Proteção Ambiental
APATX Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu
AAÇÕES Central das Associações do Alto Xingu
Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do
ADAFAX
Alto Xingu
APP Área de Preservação Permanente
ARPA Programa Áreas Protegidas da Amazônia
Cooperativa Agrícola de Pequenos Produtores Rurais e
CAPPRU
Urbanos
CAR Cadastro Ambiental Rural
CDB Convenção sobre Diversidade Biológica
CFR Casa Familiar Rural
COOTAGRO Cooperativa dos Técnicos Agropecuários do Xingu
10ª Conferencia das Partes da Convenção da Diversidade
COP 10
Biológica
CPT Comissão Pastoral da Terra
EMATER Empresa de Assistência Técnica Rural
ECI Estratégia de Conservação e Investimento
FAUC Ferramenta de Avaliação de Unidades de Conservação
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IBAMA
Renováveis
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ITERPA Instituto de Terras do Pará
ICMBIO Instituto Chico Mendes de Biodiversidade
ICPC Instituto de Cooperação e Promoção Comunitária
ISA Instituto Socioambiental
IUCN International Union for the Conservation of Nature
LAR Licença de Atividade Rural
MMA Ministério de Meio Ambiente
MZEE Macro Zoneamento Ecológico Econômico do Pará
PNAP Plano Nacional de Áreas Protegidas
PRAD Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas
Assessoria Técnica, Social, Ambiental e Projetos
PROCAMPO
Agropecuários
Rapid Assessment and Priorization of Protected Area
RAPPAM
Management
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável
RESEX Reserva Extrativista
RL Reserva Legal
SECTAM Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente
SEMAGRI Secretaria Municipal de Agricultura de São Félix do Xingu
SEMMAS Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Félix do Xingu
SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
14

SPR Sindicato dos Produtores Rurais


STTR Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Félix do Xingu
SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
TNC The Nature Conservancy
UC Unidade de Conservação
WCPA World Comission Protected Areas
15

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................ 18
1.1 Hipótese..................................................................................... 23
1.2 Objetivos.................................................................................... 23
1.2.1 Objetivo geral.............................................................................. 23
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................. 23
1.3 A Estrutura do trabalho ........................................................... 24
2 AS FRENTES DE OCUPAÇÃO DA TERRA DO MEIO E O
25
DESMATAMENTO......................................................................
2.1 Introdução.................................................................................. 25
2.2 Revisão bibliográfica................................................................ 26
2.2.1 As Principais Frentes de Ocupação da Terra do Meio................ 27
2.2.2 As conectividades na Frente de Ocupação Leste (Xingu-Iriri).... 31
2.2.3 Fases de evolução da frente de ocupação Leste (Xingu-Iriri)..... 33
2.2.4 As características da exploração madeireira e da pecuária na
35
Frente de Ocupação Leste (Xingu-Iriri).......................................
2.2.5 As Políticas públicas para contenção do desmatamento em
41
São Félix do Xingu......................................................................
2.3 Considerações finais................................................................ 44
3 A PROTEÇÃO DA TERRA DO MEIO POR MEIO DA
CRIAÇÃO DE UNIDADES DE 47
CONSERVAÇÃO........................................................................
3.1 Introdução.................................................................................. 47
3.2 Revisão bibliográfica................................................................ 49
3.2.1 A Importância da biodiversidade na região da Terra do Meio..... 49
3.2.2 A importância das Unidades de Conservação............................ 54
3.2.3 A criação de Unidades de Conservação na Terra do Meio......... 59
3.2.4 A consolidação das Unidades de Conservação da Terra do
66
Meio.............................................................................................
3.3 Considerações finais................................................................ 69
4 A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL TRIUNFO DO XINGU
72
E SUA IMPORTÂNCIA PARA A TERRA DO MEIO .................
4.1 Introdução.................................................................................. 72
4.2 Revisão bibliográfica................................................................ 74
4.2.1 O Município de São Félix do Xingu............................................. 74
4.2.2 A categoria APA como instrumento de proteção da 87
biodiversidade
16

4.2.3 Aspectos gerais da Área de Proteção Ambiental Triunfo do 90


Xingu...........................................................................................
4.3 Considerações finais................................................................ 109
5 A EFETIVIDADE DE GESTÃO DE UNIDADES DE
111
CONSERVAÇÃO........................................................................
5.1 Introdução.................................................................................. 111
5.2 Revisão bibliográfica................................................................ 114
5.2.1 A gestão de Unidades de Conservação...................................... 114
5.2.2 A avaliação da gestão de Unidades de Conservação................. 118
5.2.3 Os princípios metodológicos para avaliar a gestão de
122
Unidades de Conservação..........................................................
5.2.4 A construção de indicadores adequados.................................... 124
5.2.5 Os esforços de aplicação das metodologias de avaliação de
126
efetividade de gestão..................................................................
5.2.6 A Efetividade de gestão em unidades de uso sustentável......... 133
5.2.7 Os desafios de consolidação das avaliacões de efetividade de
135
gestão das unidades de conservação………….……………….
5.3 Considerações finais................................................................ 136
6 A EFETIVIDADE DE GESTÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL TRIUNFO DO 139
XINGU.........................................................................................
6.1 Introdução.................................................................................. 139
6.2 Metodologia............................................................................... 141
6.2.1 A caracterização dos indicadores e cenários.............................. 148
6.2.2 Resultados e Discussão.............................................................. 175
6.2.2.1 Análise dos Grupos de Indicadores............................................ 176
6.2.2.2 Indicadores Ambientais............................................................... 179
6.2.2.3 Indicadores de Gestão................................................................ 182
6.2.2.4 Indicadores Econômicos............................................................. 185
6.2.2.5 Indicadores Legais...................................................................... 186
6.2.2.6 Indicadores Politico-Institucionais............................................... 188
6.2.2.7 Indicadores Socioculturais.......................................................... 190
7 CONCLUSÕES........................................................................... 191
REFERÊNCIAS........................................................................... 194
17

1 INTRODUÇÃO
A região da Terra do Meio, localizada a sudoeste do Estado do Pará é uma
vasta região de florestas tropicais que ocupa aproximadamente 6% do território do
Pará, abrangendo parte dos municípios de Altamira, São Félix do Xingu e Trairão,
integrando o grande corredor de biodiversidade da bacia hidrográfica do rio Xingu
onde ocorre uma grande diversidade de espécies e paisagens (ISA, 2012b; HOGAN
et al., 2009).
A denominação da região de Terra do Meio origina-se pela sua localização no
meio do interflúvio dos rios Xingu-Iriri, que demarcava o meio da área de exploração
extrativista de borracha e madeira na região. Atualmente, considera-se a mesma
denominação, porém os limites se extrapolam para as proximidades das rodovias
federais, BR-163 e BR-230 (HOGAN et al., 2009).
O cenário de grande pressão antrópica predominante na região polariza
basicamente duas situações: a necessidade imediata de proteção dos recursos
naturais existentes e a de garantir a permanência e sobrevivência das populações
locais.
A região agregou um grande contingente populacional durante as frentes de
exploração do látex da seringueira no início do século XX e, mesmo com a
decadência dessa atividade, não sofreu um despovoamento total. As populações
remanescentes instalaram-se em ao longo da bacia hidrográfica do rio Xingu
buscando sua sobrevivência através do extrativismo vegetal e animal, formando
núcleos populacionais que mais tarde tornaram-se vilas e cidades (HOGAN et al.,
2009).
Considerada como uma nova fronteira amazônica de desenvolvimento, a
região da Terra do Meio tem atraído diversos projetos de colonização e de
exploração dos recursos naturais buscando o desenvolvimento econômico, porém
sem a preocupação com os impactos socioambientais decorrentes.
As consequências socioambientais observadas na região demonstram o alto
grau de complexidade para a criação e gestão de áreas protegidas na forma de
Unidades de Conservação.
A preocupação com a proteção desse patrimônio socioambiental na região da
Terra do Meio vem se materializando desde a década de 1960 com a demarcação
de terras indígenas. Nesse aspecto, temos que nos reportar à criação do Parque
Indígena do Xingu em 1961 (ISA, 2012b), no estado de Mato Grosso.
18

Esse movimento de proteção avançou ao longo da bacia do Xingu com a


criação de outras terras indígenas na porção territorial do Estado do Pará,
dificultando o avanço da pressão antrópica na região.
Atualmente, a maioria das terras indígenas da região está demarcada e
representa 37,6% da bacia do Rio Xingu e 69,5% do corredor de áreas protegidas,
mas ainda há pendências de reconhecimento e desintrusão (ISA, 2012b).
Contudo, posteriormente à criação das terras indígenas, observou-se que
havia uma lacuna de proteção nas terras localizadas entre as mesmas,
principalmente no interflúvio do rio Xingu e rio Iriri, e que tem sido alvo constante da
exploração agressiva pelos agentes de ocupação, principalmente pela exploração
minerária, madeireira e agropecuária na região.
Exatamente nessa lacuna de proteção a ocupação da região foi intensificada
a partir da década de 1990. A estrada Canopus, também conhecida como Transiriri,
foi construída nesse período beneficiando interesses minerários e madeireiros
ligando a cidade de São Félix do Xingu ao rio Iriri, cortando a área que atualmente
faz parte da APA Triunfo do Xingu (ISA, 2012b; HOGAN et al., 2009).
Essa situação acelerou o processo de mobilização e pressão da sociedade
para a proteção dessa região, principalmente em função da sobrevivência das
populações locais historicamente instaladas na região.
A adoção de unidades de conservação para composição de áreas protegidas
na região já estava amadurecendo, demonstrando que elas poderiam aliar a
promoção do uso sustentável dos recursos naturais, a regulamentação de usos da
floresta e a fiscalização da legislação ambiental (HOGAN et al., 2009; BARRETO et
al., 2005; TERBORGH et al., 2002).
A criação das unidades de conservação chegou à região sob muitas
discussões e propostas. A partir de 2002 iniciou-se o processo de criação, porém
com muitas divergências em relação à localização, dimensões, categorias, objetivos
de conservação e esfera de jurisdição.
Atualmente, a região da Terra do Meio comporta um aglomerado de áreas
protegidas na forma de unidades de conservação federais e estaduais, e de terras
indígenas, ocupando aproximadamente 7,9 milhões de hectares, com o objetivo de
proteger toda a diversidade biológica que compõem o corredor ecológico da bacia
hidrográfica do Xingu da pressão antrópica oriunda principalmente da exploração
19

madeireira ilegal e da expansão da pecuária (ISA, 2012b; HOGAN et al., 2009;


VELÁSQUEZ et al, 2006; ISA, 2003).
Passada a fase de criação das Unidades de Conservação na região, o desafio
que se apresenta desde então é a busca pelo cumprimento dos objetivos que
nortearam a criação das mesmas.
Essa busca também está relacionada com a melhoria da qualidade de vida
das populações locais que, até a criação das Unidades de Conservação na região,
tinham forte inserção nas principais cadeias produtivas predominantes, como a
extração do látex, da folha de jaborandi, da pesca comercial, extração minerária e
madeireira e a pecuária.
As restrições de uso e ocupação do território que foram impostas pela
presença de unidades de conservação na região afetaram muitos segmentos dessas
cadeias produtivas, desvalorizando terras e restringindo a abertura de novas áreas
para exploração madeireira e pecuária.
As populações locais sentiram os efeitos dessas restrições. As atividades
madeireira e pecuária absorviam parte da mão-de-obra local gerando renda, e as
restrições intensificaram os graves conflitos e as demandas sociais já existentes.
É importante destacarmos o papel das unidades de conservação no
ordenamento territorial da região e como promotoras de benefícios ecológicos,
econômicos e culturais para as populações residentes e de entorno.
Para Milano (2012) dependendo do contexto em que a unidade de
conservação esteja inserida, pode haver um grau de complexidade diferenciado
entre a gestão de unidades dos grupos de proteção integral e de uso sustentável.
Nesse caso, o autor lembra que as Unidades de Conservação do grupo de uso
sustentável sugerem a proteção parcial dos recursos, cedendo direitos de
exploração dos recursos e de uso do território para diferentes finalidades e grupos
sociais, promovendo prejuízos à natureza, em particular à biodiversidade. O autor
lembra, ainda, que as referidas unidades geralmente são criadas em áreas muito
alteradas e que permitem seguir com as alterações impossibilitando a restauração
natural, e o alto grau de ocupação do território é um fator que aumenta a
complexidade de gestão.
É caso da APA Triunfo do Xingu, onde a complexidade de sua gestão advém
principalmente do processo intenso e degradante de uso e ocupação do território,
20

associado à necessidade de interrupção de um modelo de desenvolvimento


econômico predatório e a busca pelo desenvolvimento em bases sustentáveis.
A APA Triunfo do Xingu enfrenta um grande desafio de gestão, entre outros
fatores, por ter sido criada numa área de grande concentração populacional, com
grande pressão antrópica e com o território muito degradado e alterado, se
comparada com as demais unidades criadas na região da Terra do Meio. Contudo,
as unidades de conservação constituem uma importante ferramenta para proteção
da biodiversidade amplamente utilizada na esfera estadual e federal, buscando
evitar ou diminuir impactos ambientais, ao mesmo tempo auxiliar um processo de
ocupação racional do espaço em projetos de desenvolvimento local (BORGES et al.,
2007).
No Pará elas se destacam como instrumentos de proteção da biodiversidade
e de ordenamento territorial e ocupam 16,94% do território, ou seja,
aproximadamente 22 milhões de hectares, com 21 unidades de conservação entre
as de proteção integral e de uso sustentável (ISA, 2013; LOBATO et al, 2010).
A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, de gerenciamento estadual,
se destaca por sua dimensão, de aproximadamente 1,6 milhão de hectares; por sua
localização estratégica, ao extremo sul do bloco de áreas protegidas da Terra do
Meio; e por registrar altos índices anuais de desmatamento e de focos de queimadas
evidenciando a grande pressão antrópica em que está submetida (HAYASHI et al.,
2010).
A atenção desta pesquisa dada especificamente à Área de Proteção
Ambiental Triunfo do Xingu advêm de questionamentos recorrentes, principalmente
de gestores de unidades de conservação da região da Terra do Meio, em relação às
dúvidas sobre a real contribuição da mesma para o conjunto de áreas protegidas,
especificamente em relação ao ordenamento territorial e a regularização ambiental
na região.
Para Sousa et al. (2011) a gestão de APA é complexa e nem sempre atinge
os objetivos de conservação de forma satisfatória em ambientes terrestres. A grande
dificuldade de gestão dessa categoria muitas vezes decorre do grande número de
áreas privadas e à fragilidade do poder público em aplicar um zoneamento capaz de
disciplinar os usos permitidos na área de abrangência da unidade. O que é o caso
da APA Triunfo do Xingu.
21

Pádua (2011) ainda é mais contundente em relação à essa categoria de


unidade de conservação. A autora considera como ato inútil estabelecer grandes
áreas nessa categoria, onde nada se faz na prática e a proteção não passa de uma
intenção, sendo apenas tentativas de ordenamentos territoriais onde prevalece a
devastação. Ainda, o fato de a terra continuar em mãos de particulares restringe em
muito a possibilidade de real proteção.
Esses questionamentos na maioria das vezes subsidiam argumentos
contrários e desfavoráveis à categoria APA adotada na região da Terra do Meio;
fazem conotação com a impossibilidade de contenção e controle do desmatamento
e das queimadas, e destacam a ausência do poder público na gestão da unidade de
conservação, considerando até a possibilidade de exclusão da APA Triunfo do Xingu
do contexto do mosaico de áreas protegidas da Terra do Meio.
Entretanto, não podemos simplesmente associar de imediato à categoria APA
um padrão negativo de qualidade de gestão. O contexto em que a unidade está
inserida é determinante para a análise e qualificação de sua gestão.
No Pará foram criadas oito APA estaduais, em contextos diferenciados, sob
diferentes níveis de pressão antrópica, sob diferentes demandas de recursos
naturais, em diferentes estádios de degradação dos recursos naturais, em níveis
diferenciados de jurisdição, entre outros fatores, que determinarão a qualidade de
gestão e a possibilidade de alcance dos objetivos que nortearam sua criação.
Assim, o elemento de referência que estimula esta pesquisa é o desafio de
criar as condições necessárias para aferir a qualidade de gestão da Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, estabelecendo parâmetros técnicos que se
distanciem das análises predominantemente subjetivas, que não consideram as
peculiaridades locais e, muitas vezes, cometem injustiças, desconsiderando os
esforços institucionais, direcionamento e a aplicação de recursos públicos para a
gestão de unidades de conservação.
Uma ferramenta amplamente utilizada para esse fim tem como base o
conceito de efetividade de gestão, que busca respostas sobre a qualidade de gestão
de unidades de conservação através de várias metodologias aplicadas em sistemas
de unidades de conservação em vários países (LEVERINGTON et al., 2007;
HOCKINGS et al.,2006).
Apesar da grande diversidade de experiências de construção e aplicação de
metodologias de aferição da qualidade de gestão de unidades de conservação, em
22

especial na categoria Parques, o desafio desta pesquisa torna-se ainda mais


grandioso devido a maior complexidade de aferição da qualidade de gestão em
unidades de conservação do grupo de uso sustentável, em particular na APA Triunfo
do Xingu, em função da estreita relação entre as comunidades locais e a
necessidade de uso e conservação dos recursos naturais.
Nesse contexto podemos sugerir alguns questionamentos, como: A Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu está cumprindo os objetivos que nortearam sua
criação? É possível medir a qualidade de gestão da Área de Proteção Ambiental
Triunfo do Xingu considerando suas peculiaridades? A categoria Área de Proteção
Ambiental foi a melhor escolha no contexto da região da Terra do Meio?

1.1 Hipótese
A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu está cumprindo os objetivos
de conservação que nortearam sua criação, mesmo situada numa região com
grande pressão antrópica como a Terra do Meio e, ao mesmo tempo, sendo uma
categoria de manejo que apresenta grande descrédito como instrumento de
proteção ambiental.

1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Elaborar e aplicar um modelo de qualificação de gestão para a Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu considerando o histórico de uso e ocupação da
região da Terra do Meio e a atuação do poder público na criação de unidades de
conservação e no controle do desmatamento no município de São Félix do Xingu.

1.2.2 Objetivos específicos


a) Analisar o processo de uso e ocupação da região da Terra do Meio e
suas relações com o avanço do desmatamento a partir do município de
São Félix do Xingu;
b) Identificar as intervenções do poder público para promover a
regularização ambiental, a contenção e o controle do desmatamento no
município de São Félix do Xingu e na APA Triunfo do Xingu;
23

c) Analisar as contribuições das Unidades de Conservação da Terra do


Meio, especialmente da APA Triunfo do Xingu, para o ordenamento
territorial e a regularização ambiental na região;
d) Aferir o alcance dos objetivos de conservação que nortearam a criação
da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu e propor indicadores
capazes de avaliar sua gestão.

1.3 A estrutura do trabalho


O presente trabalho é dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo trata do
processo histórico de uso e ocupação da região da Terra do Meio e analisa os
aspectos que levaram a região a registrar os altos índices de desmatamento
observados nos últimos anos. O segundo capítulo destaca os benefícios
proporcionados pelas Unidades de Conservação, analisa o processo de criação das
Unidades de Conservação na região da Terra do Meio e suas contribuições para o
ordenamento territorial e regularização ambiental. O terceiro capítulo aborda
especificamente a APA Triunfo do Xingu e sua importância para a região da Terra do
Meio com destaque para o município de São Félix do Xingu. O quarto e quinto
capítulos abordam os conceitos e os aspectos metodológicos da efetividade de
gestão de Unidades de Conservação, sua aplicação no Brasil e em outros países,
detalham o modelo de aplicação proposto para avaliar a gestão da APA Triunfo do
Xingu e destacam os resultados obtidos.
24

2 AS FRENTES DE OCUPAÇÃO DA TERRA DO MEIO E O DESMATAMENTO


2.1 Introdução

Na região denominada Terra do Meio predomina um modelo de


desenvolvimento pautado na exploração mineral, madeireira e agropecuária,
atraindo um grande fluxo populacional oriundo de várias partes do país, e que tem
gerado altos índices de desmatamento (HOGAN et al. 2009).
A pressão sobre os recursos naturais oriunda, entre outros fatores, da
ocupação desordenada do território e do uso desenfreado dos recursos naturais tem
contribuído para a crescente alteração dos ecossistemas naturais (CASTRO, 2007;
OLIVEIRA; VEIGA, 2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO et al., 2002), com o
agravante da perda paulatina de uma grande diversidade cultural e de saberes
locais sobre esses ecossistemas que ainda subsistem na região.
As atividades extrativistas que foram importantes para a ocupação pioneira na
região no início do século XX, como a extração do látex de seringueira, da castanha-
do-pará, frutos e raízes, plantas medicinais, entre outras, estão sendo reduzidas
significativamente com o avanço do desmatamento, e restringem-se apenas às
terras indígenas e a poucas áreas para onde as frentes de expansão ainda não
alcançaram (CASTRO et al., 2002).
A região evoluiu rapidamente da exploração mineral e do extrativismo
madeireiro ilegal, principalmente do mogno (Swietenia macrophyla), para tornar-se
palco do avanço da pecuária extensiva. A mudança do extrativismo local para as
atividades de grande impacto ambiental têm gerado índices alarmantes de
desmatamento e uma grande demanda social, econômica e ambiental para a região.
É o que observamos no processo de ocupação da região leste da Terra do
Meio, a partir de São Félix do Xingu, que tem registrado altos índices de
desmatamento, focos de incêndios florestais, e também outros problemas
correlacionados, como as ocorrências recorrentes de trabalho em condições
assimiladas à escravidão e assassinatos ligados a conflitos fundiários e extração de
madeira (CASTRO, 2007; OLIVEIRA; VEIGA, 2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO
et al., 2002).
Os dados recentes de desmatamento no município de São Félix do Xingu
registraram 16.989 Km² de área desmatada acumulados até 2010 (DRIGO et al.,
25

2012), inserindo-o entre os municípios da Amazônia Legal com as maiores


probabilidades de desmatamento (SALES et al., 2011).
Num cenário onde predomina a grande pressão por recursos naturais e
grandes perdas de biodiversidade é importante destacar a complexidade social,
econômica e ambiental da região da Terra do Meio e entender qual a importância
estratégica das unidades de conservação e das terras indígenas existentes. Nesse
contexto a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu exerce um papel especial
para a conservação da biodiversidade e no controle do ordenamento territorial e
regularização ambiental da região, visto que alguns aspectos importantes como a
diversificação do uso e a dinâmica de ocupação da região da Terra do Meio tornam
mais complexa sua gestão.
Assim, é importante entendermos se o desmatamento resultante da forma de
ocupação e exploração da região, principalmente a partir de São Félix do Xingu,
pode ser contido com a criação de uma unidade de conservação na categoria Área
de Proteção Ambiental, e se não haveria outra estratégia de proteção mais
adequada a ser adotada para a região.
Nesse capítulo abordamos os aspectos sobre a importância ambiental da
região da Terra do Meio relacionando-os com o processo de ocupação e uso da
terra, evidenciando o grau de complexidade em relação à inserção de unidades de
conservação nesse contexto, principalmente na categoria Área de Proteção
Ambiental.

2.2 Revisão Bibliográfica


O conhecimento da dinâmica de ocupação da Terra do Meio, especialmente
das principais frentes de ocupação que têm pressionado os recursos naturais na
região da Terra do Meio, é importante para entendermos a importância da
implementação de um conjunto de unidades de conservação para a região.
Aqui identificamos os diferentes usos e formas de ocupação territorial na
região da Terra do Meio que desencadearam as alterações nas condições naturais,
principalmente na integridade da cobertura florestal nativa.
As perdas de cobertura florestal decorrentes do desmatamento são
equacionadas, principalmente, na frente de ocupação Leste (Xingu-Iriri) a partir do
município de São Félix do Xingu em direção à região onde foi criada a APA Triunfo
do Xingu.
26

2.2.1 As Principais Frentes de Ocupação da Terra do Meio


A ocupação inicial da região da Terra do Meio (Figura 1) é deflagrada ao norte
a partir do município de Altamira, sendo marcada por dois momentos distintos
importantes, antes e depois da construção da BR-230, mais conhecida como
Rodovia Transamazônica (SILVA, 2007; AMARAL et al., 2006).
No período que antecede à construção da Rodovia Transamazônica,
especificamente na primeira metade do século XVIII, a região de Altamira é marcada
pela presença de missões jesuíticas e de desbravadores (AMORIM, 2007; ISA,
2003).
A evolução dessa frente de ocupação é determinada pelo extrativismo da
borracha em seu ciclo áureo e da castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) ao longo
de toda a bacia do rio Xingu, incluindo o rio Iriri, atraindo pessoas de diversas
regiões dos pais, com predominância dos estados nordestinos (CASTRO et al.,
2010a; AMARAL et al., 2006).
Com a decadência do ciclo da borracha, essa atividade estagnou-se a partir
de 1929, dando espaço para as populações locais sobreviverem do extrativismo da
castanha, da caça e pesca. A partir de 1940 e 1942 surge um novo ciclo econômico
na região com a exploração de ouro e a reativação da produção de borracha na
bacia do Rio Xingu para atender às demandas dos países aliados durante a II
Guerra Mundial (CASTRO et al., 2010a; AMARAL et al., 2006).
A reativação da produção de borracha em grande escala com incentivo do
governo federal promoveu a instalação de diversos pontos de exploração e
transporte ao longo da bacia do Rio Xingu, contribuindo para a formação de diversos
municípios, entre eles o município de São Félix do Xingu (CASTRO et al., 2010a).
Posteriormente ao período do extrativismo, as populações remanescentes da
região, formadas predominantemente pelos seringueiros pioneiros, migraram para
ocupações mais ligadas à agricultura ou se deslocaram para os centros urbanos de
Altamira, de São Félix do Xingu, entre outros municípios, devido às dificuldades de
acesso à saúde, educação, transporte e a alternativas econômicas (CASTRO et al.,
2010a).
27

Figura 1 - Localização geográfica da região denominada Terra do Meio

Fonte: Dagnino et al. (2010).

Na fase posterior à abertura da Rodovia Transamazônica, diversos


segmentos econômicos foram impulsionados, inicialmente com predomínio da
agricultura, projetando a sede do município de Altamira como a cidade pólo do
desenvolvimento.
A abertura da rodovia, que foi construída durante o regime militar no âmbito
do Programa de Integração Nacional (PIN), aconteceu nos anos 1970 e visava
promover a colonização da região por agricultores das regiões Sul e Nordeste do
Brasil, assentando-os em lotes de 100 hectares ao longo da rodovia e nos
travessões abertos em sentido perpendicular à rodovia (SILVA, 2007; FVVP, 2006).
Esse movimento de expansão de fronteira fortalecido nos anos 1970 com os
programas governamentais procurou consolidar a colonização nas margens dos
grandes eixos rodoviários e abrir espaços à reprodução da pequena produção
familiar (CASTRO et al., 2010a).
No entanto, a modalidade padrão de apropriação da terra logo seria definida
pela presença de novos atores que se sucedem na terra (CASTRO et al., 2010a),
como os fazendeiros capitalizados, os grandes empreendimentos minerais, os
28

projetos de energia e de madeira, que se contrapõem, pela própria lógica de


funcionamento, à lógica da pequena produção.
A abertura da rodovia foi um dos fatores que contribuíram para a formação do
território geográfico da Transamazônica, considerando que vários municípios
surgiram às suas margens, configurando-se seu formato atual e destacando-se
como o maior pólo produtor de cacau e madeira em tora do Brasil e um dos maiores
produtores de gado e café do Pará (FVVP, 2006).
A expansão e a diversificação da economia no território estabelecido pela
Transamazônica foram fatores decisivos para o direcionamento à região mais ao sul,
a Terra do Meio, em busca de novas áreas para exploração de madeira e criação de
gado, criando assim as conectividades regionais.
A Frente Norte de ocupação tem sua conectividade regional estruturada a
partir dos municípios de Uruará e Altamira, viabilizada por uma rede física fortalecida
pela navegabilidade nos rios Xingu e Iriri, complementada por estradas e pistas de
pouso, ambas utilizadas de forma sazonal, que permitiram a mobilidade das
populações locais até o município de São Félix do Xingu (AMARAL et al., 2005).
A Frente Leste de ocupação caracteriza-se por movimentos populacionais
distintos, convergindo-se também com a frente oeste a partir da Rodovia BR-163,
também conhecida como Cuiabá-Santarém (CASTRO, 2007; VELASQUEZ et al.,
2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO et al., 2002).
O movimento populacional dessa frente de ocupação é oriundo da região
sudeste do Pará, com característica espontânea, onde a ação do governo foi
indireta, através da abertura de estradas e incentivos fiscais, favorecendo a
apropriação privada das terras por empresas e grupos econômicos ou fazendeiros
individuais (CASTRO, 2007; AMARAL et al., 2006; VELASQUEZ et al., 2006;
ESCADA et al., 2005; CASTRO et al., 2002; ESCADA; ALVES, 2001).
O movimento dessa frente de ocupação é caracterizado pelo deslocamento
de colonos oriundos dos estados de Goiás e Tocantins, passando pelos municípios
de Xinguara, Redenção e São Félix do Xingu, indo em direção à região da Terra do
Meio.
Dessa forma, a expansão da frente de ocupação para São Félix do Xingu é
resultante da ocupação massiva verificada nos anos 1970 em Marabá, abrindo um
círculo nas áreas novas do sul e sudeste do Pará.
29

As rodovias PA-150 e PA-279 foram responsáveis pela intensificação da


ocupação nesta região abrindo o acesso para a exploração do mogno no sul do
Pará, a partir de Marabá (ARAUJO et al., 2008; ESCADA; ALVES, 2001).
A rodovia estadual PA-150 (Figura 2), que liga o município de Moju a
Redenção, foi projetada a partir de 1966 para dar suporte ao desenvolvimento do
sudeste do Pará a partir de Marabá, em função do grande fluxo populacional oriundo
da Rodovia BR-230, a Transamazônica (SETRAN, 2012; TAVARELLA, 2008).

Figura 2- Frente leste de ocupação da Terra do Meio no interflúvio Xingu-Iriri

Fonte: MCT (2007).

A Rodovia Estadual PA-279, que liga o município de Xinguara a São Félix do


Xingu, foi aberta a partir de 1975 e concluída em 1983, sendo que um trecho a partir
do município de Tucumã continua aguardando a conclusão do asfaltamento.
A Frente Oeste de ocupação (Figura 3) caracteriza-se pelo movimento
populacional que se desloca dos estados do Paraná, do Mato Grosso do Sul e do
Mato Grosso, subindo a Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém) em direção aos
municípios de Novo Progresso, Moraes de Almeida, Trairão e Santarém,
espalhando-se desse município para os da Calha Norte, como Monte Alegre, Aveiro,
Juruti e Itacoatiara (Amazonas).
Essa frente converge para a região da Terra do Meio a partir da rodovia
Cuiabá-Santarém em pelo menos duas rotas de penetração (FEARNSIDE, 2005;
CASTRO et al., 2002). A primeira rota é movida pela exploração madeireira que
parte do município de Novo Progresso até ao rio Curuá. De lá, barcos transportam
30

maquinários pesados, como tratores florestais, para descer o rio Curuá ou rio Iriri
chegando até a estrada Canopus. A segunda rota penetra a área do Riozinho do
Anfrísio a partir da BR-163, perto do município de Trairão, sendo o acesso permitido
somente a pessoas envolvidas na exploração madeireira.
Outro movimento populacional derivado da frente de ocupação oeste, a partir
de Rondônia, chega aos municípios da Calha Norte do rio Amazonas, configurando
uma nova frente estimulada pela dinâmica da produção da soja e pelo potencial
corredor de escoamento de grãos e de outros produtos formado pelo rio Madeira.
Em todos os casos, há ocupação de novas terras pela pecuária, pelo
agronegócio, pela exploração florestal, o que aquece o mercado de terras e
potencializa outras formas de sucessão no uso da terra (CASTRO, 2007; CASTRO
et al., 2002).

2.2.2 As conectividades na Frente Leste de Ocupação (Xingu-Iriri)


A Frente Leste de ocupação (Xingu-Iriri) foi a mais intensa e evidencia
claramente a complexidade do processo de ocupação e uso do solo na região e
suas conectividades regionais.
As redes físicas, sociais e suas conectividades são consideradas muito
importantes para a dinâmica dessa frente de ocupação, sendo elementos
estruturantes da organização espacial (AMARAL et al., 2006).
A utilização das redes físicas formadas especificamente pelos rios e vilas
ribeirinhas foi importante para a atividade extrativista na bacia do rio Xingu.
Posteriormente, a abertura de estradas permitiu a instalação e evolução de outras
atividades econômicas, como a extração de madeira, garimpo e pecuária.
A região de São Félix do Xingu era um entreposto de comercialização de
látex, chamado São Félix da Boca do Rio, na confluência dos rios Fresco e Xingu.
Este roteiro já era conhecido dos portugueses desde 1669 com o nome indígena de
Tuyá e foi lugar de missões religiosas, sob o monopólio comercial de Altamira
(CASTRO et al., 2002).
A decadência das atividades extrativistas de látex, ouro e caça presentes
desde os primórdios de ocupação da região começa a partir da abertura das
primeiras estradas ligando a região ao resto do país, que deflagrou um novo ciclo
econômico pautado pela exploração intensiva de madeira e a pecuária promovendo
a eliminação sistemática de milhares de castanheiras e seringueiras (CASTRO et al.,
31

2002). Contudo, a atividade extrativista em São Félix do Xingu não foi de todo
extinta com a perda de castanheiras, seringueiras e com a abertura de estradas. Na
década de 1980, especificamente no período de 1986 a 1992, a coleta da folha de
jaborandi1 e a extração predominantemente artesanal do minério de cassiterita
tornaram-se atividades econômicas importantes na região, dando ainda um fôlego
ao extrativismo.

Figura 3: Frentes de ocupação da região da Terra do Meio

Fonte: ICMBio (2013).

A produção de folhas jaborandi tinha um único comprador final, uma empresa


multinacional de cosméticos, e foi explorada no período de 1980 a 2000 (CASTRO
et al., 2002), atraindo mão-de-obra dos estados do Nordeste, com predomínio do
Maranhão. Os estoques de plantas nativas foram reduzindo pela intensa coleta de
1
O jaborandi (Pilocarpus pennatifolius) é uma espécie vegetal existente somente no Brasil, rica em
pilocarpina, alcalóide bastante utilizado na indústria farmacêutica e de cosméticos (OLIVEIRA e
VEIGA, 2006).
32

folhas, inclusive folhas pequenas, que acabavam eliminando os arbustos, tornando a


atividade economicamente inviável.
No final da fase extrativista do jaborandi já havia uma forte tendência de
expansão da atividade madeireira em direção ao rio Iriri. Em meados dos anos 1990,
o esgotamento das reservas de mogno nas proximidades da Rodovia Estadual PA-
279, que liga São Félix do Xingu à Xinguara, e nas margens dos rios Fresco e Xingu
próximo à cidade de São Félix do Xingu, fomenta a entrada de grupos
desbravadores para as novas áreas de ocupação, em direção ao rio Iriri (CASTRO
et al., 2002).
Do município de São Félix do Xingu partiam as frentes de expansão da
madeira, especialmente do mogno, e da pecuária em direção ao norte às terras do
rio Iriri e à Terra do Meio, pela estrada Canopus, atravessando o município de
Altamira e terras Indígenas em direção à Rodovia BR-163, a Cuiabá-Santarém
(FEARNSIDE, 2005; CASTRO et al., 2002).

2.2.3 Fases de evolução da Frente Leste de ocupação (Xingu-Iriri)


A evolução da frente de ocupação Leste é dividida em cinco fases principais
(CASTRO, 2007; SABLAYROLLES et al., 2006; VELASQUEZ et al., 2006;
OLIVEIRA; VEIGA, 2006; AMARAL et al., 2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO et
al., 2002; ESCADA; ALVES, 2001), detalhadas a seguir.
A primeira fase, de mineração empresarial, ocorreu no período de 1975 a
1985. A Companhia Mineradora Canopus explorou uma jazida de cassiterita,
construindo a sua sede na atual Vila denominada Canopus. Durante esse período a
referida empresa construiu uma estrada no sentido leste/oeste ligando os rios Xingu
e o Iriri, denominada de Estrada Canopus.
A atividade mineral ainda persiste na região com a extração de cassiterita
através de pequenas produções artesanais ao longo da estrada que leva ao rio Iriri.
A segunda fase, de exploração ilegal de madeira de lei, ocorreu no período de
1986 a 1992. As empresas madeireiras de grande porte construíram os ramais no
sentido norte-sul, na parte central da Estrada Canopus, de forma a praticar a
extração seletiva de poucas espécies (mogno e cedro).
Na entrada dos ramais madeireiros se formaram a Vila Central, Vila Pontalina
e Vila Cabocla. Com a repressão mais atuante do governo federal, a atividade foi
abandonada em meados dos anos 1990. Parte dos empregados de madeireiras se
33

apossou das terras próximas à estrada e aos ramais, sem consolidar grandes
atividades agrícolas e intensificando o garimpo artesanal.
No mesmo período, a exploração do jaborandi foi retomada na margem
esquerda do rio Xingu, na Vila Primavera, no setor Santa Rosa e no setor Tabão,
criando assim a primeira colonização familiar.
A terceira fase, de ocupação pela agricultura familiar, ocorreu no período de
1993 a 1999, onde muitas famílias de colonos migrantes e de garimpeiros ocuparam
a região do Alto Xingu, especificamente nas áreas da Vila Taboca, na Terra Indígena
Apyterewa, no setor da vila Lindoeste/ Sudoeste e ao longo da estrada Canopus.
Essa fase evidencia a conectividade regional entre São Félix do Xingu e a
região da Rodovia Transamazônica, especialmente com os municípios de Altamira e
Uruará, através de movimentos populacionais pelo rio Xingu e por ramais
madeireiros ao norte.
A instalação de famílias de colonos que adquiriram terras por meio do Instituto
de Terras do Pará (ITERPA) ou compras de direitos dos ocupantes existentes, se
deu ao longo de toda a estrada Canopus, menos na Vila Canopus, onde a sede da
empresa e o seu material ainda eram guardados.
Na ocasião, foi feito um acordo entre o ITERPA e os colonos definindo o
estabelecimento das pequenas propriedades a uma distância de até 10 km da
estrada da Canopus, com um tamanho médio dos lotes de até 100 ha.
A quarta fase, de instalação das fazendas, ocorreu no período de 2000 a
2005. Em 2000, a sede da empresa Canopus foi invadida à força por fazendeiros e
pecuaristas e nas imediações da estrada se instalaram famílias de pequenos
colonos.
O acordo anteriormente feito entre o ITERPA e os colonos não foi legitimado
e a posse da terra não foi legalizada, facilitando o estabelecimento de fazendas de
médio e grande porte misturadas às propriedades dos colonos, cujas terras foram
adquiridas muitas vezes por meio de invasão, compra e agregação de lotes dos
pequenos produtores rurais. Os grileiros e grandes fazendeiros se apossaram das
terras nos ramais madeireiros.
Em várias ocasiões, esse processo foi violento, com a atuação de grupos de
pistoleiros, instaurando por um tempo uma verdadeira guerra entre ocupantes rivais
em toda a região da estrada. Com o decréscimo do conflito nos ramais, ligado à
34

estabilização da posse, a violência se deslocou para os rios, vitimando os


ribeirinhos, moradores tradicionais dessas áreas.
Nesse período, por iniciativa de fazendeiros locais, foi aberto um ramal e
recuperada uma ponte sobre o rio Triunfo permitindo a ligação da Vila Central à
sede do município de São Félix do Xingu, chamado de estrada dos Fazendeiros ou
estrada do Tabão, tornando-se uma alternativa ao antigo caminho de acesso pela
Vila Taboca e pela estrada Canopus. Ainda nessa fase, a abertura de pistas de
pouso permitiu a conexão local via aérea, ligando as fazendas às vilas e à sede do
município, como também a conexão regional a partir de São Félix do Xingu
(AMARAL et al., 2006).
Em 2006 inicia-se a quinta fase, com a criação da APA Triunfo do Xingu pelo
poder público estadual, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio
Ambiente (SECTAM), englobando as terras não incluídas nas Unidades de
Conservação do Governo Federal criadas anteriormente, em 2004 e 2005.
A proteção legal das áreas intensamente exploradas e griladas cria uma
expectativa imediata de ordenamento territorial e contenção do desmatamento e da
grilagem de terras na região, principalmente na área da APA Triunfo do Xingu.
Resultados que levariam ainda algum tempo para serem observados em função da
necessidade de consolidação das unidades de conservação.

2.2.4 As características da exploração madeireira e da pecuária na Frente Leste de


Ocupação (Xingu-Iriri)
Aqui nos reportamos à evolução e a forma de apropriação de áreas pela
exploração madeireira e pela pecuária na Frente Leste de ocupação (Xingu-Iriri)
destacando as consequências ambientais decorrentes, principalmente o
desmatamento.
Na fase do extrativismo de jaborandi, a coleta intensiva de folhas provocou a
redução da população de plantas adultas, nativas, o que posteriormente inviabilizou
economicamente a atividade (VELASQUEZ et al.,2006; CASTRO et al., 2002). Essa
fase atingiu diretamente a população dessa espécie arbustiva nativa na região, não
provocando alterações na cobertura florestal, porém direcionando as atenções para
a exploração madeireira e a pecuária que tornaram-se as atividades mais
degradantes em termos ambientais em função do desmatamento que têm provocado
em grandes áreas.
35

Para Castro et al. (2010b) essa degradação ambiental é resultante, entre


outros fatores, do sistema de corte e queima, em grande parte, como verificado nas
últimas décadas, de forma agressiva, muitas vezes precedida do avanço de frentes
madeireiras que abrem as vias de acesso às terras novas para extrair madeira
demarcando assim o processo de ocupação com sucessão na terra pela pecuária.
A ocupação de áreas pela exploração madeireira tem características
especificas. Segundo Araújo et al. (2008), numa determinada área a exploração
madeireira possibilita para as populações residentes uma alternativa de renda com a
venda do tronco em pé, a abertura de caminhos e vicinais, além de empregos nas
serrarias e nas equipes de localização, derrubada e tração de troncos.
Na atividade madeireira também existem os intermediários que primeiramente
atuam na fase de ocupação de uma determinada área verificando a disponibilidade
de serragem de madeira para o mercado local e oferecendo madeira para
compradores externos. Posteriormente, atuam no beneficiamento da madeira
especificamente na formação de pequenas serrarias artesanais improvisadas que
são progressivamente substituídos por grandes pátios de serragem.
Nesse processo, alguns indivíduos, geralmente ligados ao comércio local ou a
empresas especializadas, assumem uma posição intermediária na cadeia produtiva
madeireira e investem seus lucros na pecuária extensiva ou, em alguns casos, na
agricultura mecanizada. Para muitos atores intermediários a extração madeireira,
com tudo que representa em termos de transformação da paisagem, aparece como
oportunidade para o apossamento de áreas e como um prelúdio de expansão de
suas atividades agropecuárias (formação de fazendas), mas também como uma
forma de acumulação em si através da venda de lotes (ARAÚJO et al., 2008).
O processo crescente de desmatamento na frente de ocupação Xingu-Iriri
obedeceu às características de ocupação anteriormente citadas, e está diretamente
relacionado à evolução da exploração madeireira na região.
O movimento social e econômico dessa frente de ocupação é caracterizado
pelo avanço às novas áreas de floresta, apropriando-se de terras públicas para fins
privados e provocando a elevação das taxas de desmatamento. A direção do
desmatamento é ditada pela expansão das atividades econômica, principalmente a
pecuária (CASTRO, 2005).
A abertura das áreas de garimpo de cassiterita e, posteriormente, a
exploração do mogno e cedro a partir da localidade que hoje se encontra a Vila
36

Taboca, promoveram a proliferação de ramais que adentraram a região, ao norte,


atravessando o rio Xingu, formando a estrada Canopus, passando pela Vila Central
e finalizando no rio Iriri. Os ramais madeireiros e as áreas de estocagem abriram
clareiras provocando perdas consideráveis de cobertura florestal (CASTRO, 2007;
VELASQUEZ et al., 2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO et al., 2002; ESCADA;
ALVES, 2001).
O avanço da atividade madeireira criando os ramais ao longo da estrada
Canopus permitiu o estabelecimento das propriedades rurais com a criação de gado
de forma extensiva, de grandes dimensões, formadas a partir da apropriação de
lotes dos agricultores que se estabeleceram ao longo da estrada em função da
redução da atividade de garimpo de cassiterita (CASTRO, 2007; VELASQUEZ et al.,
2006; ESCADA et al., 2005; CASTRO et al., 2002; ESCADA; ALVES, 2001).
A transição da exploração madeireira para o desenvolvimento da pecuária foi
de forma gradual. Em 1993, a exploração madeireira era a atividade principal em
São Félix do Xingu e o abastecimento de carne bovina para consumo local era
proveniente de Redenção, transportada via aérea. A pecuária começa a se
desenvolver mais ou menos nesse período com o capital gerado pela madeira,
aquecendo o comércio local e outras atividades (CASTRO et al., 2002).
Ainda nesse período destacam-se os grupos populacionais
predominantemente formados por goianos, mineiros e tocantinos que representam
as frentes dos anos 80, interessadas nas atividades de madeira, especificamente
exploração do mogno e da pecuária (ARAÚJO et al., 2008; CASTRO et al., 2002).
Araújo et al. (2008) classificam essa dinâmica espacial da pecuária na região
de São Félix do Xingu como exógena, pois são comandadas por atores econômicos
de outras regiões e que têm no território apenas um lócus de reprodução de capital.
Além disso, a ausência de infraestrutura e de ordenamento territorial na
região foi determinante para a consolidação da cadeia produtiva pecuária que se
estabeleceu conforme seus interesses (POCCARD-CHAPUIS et al., 2005).
Outro fator que fortaleceu a atividade pecuária nesse período foi a abertura da
estrada dos fazendeiros a partir de 1999, a partir da Vila Central, criando a
alternativa de acesso à sede do município de São Félix do Xingu, direcionando e
fortalecendo a atividade pecuária em direção ao sul (CASTRO, 2007; CASTRO et
al., 2002).
37

O desenvolvimento da atividade pecuária teve outros fatores peculiares na


região, especificamente na frente de ocupação Leste (Xingu-Iriri). Segundo Escada
et al. (2005) a preferência especificamente por esse tipo de uso da terra na região
explica-se pelas seguintes razões:
a) Acesso a extensas terras públicas e condições que permitem a sua
apropriação ilegal (existência de cadeia de comercialização de terras, estruturação
deficiente dos órgãos fundiários e de registro de imóveis, formação particular de
rede de infraestrutura etc.);
b) Características biofísicas apropriadas para formação de pastagens e
criação de gado (chuvas suficientes e bem distribuídas, ausência de baixas
temperaturas, solos apropriados etc.);
c) Elevado grau de organização da cadeia produtiva da pecuária, que permite
o preço estável dos produtos e acesso facilitado aos mercados;
d) Simples e eficiente pacote tecnológico que permite a obtenção de certo
lucro e, acima de tudo, a garantia da posse da terra, para posterior legalização.
Para Castro et al. (2010b) a dinâmica do desenvolvimento da pecuária na
região de São Félix do Xingu manteve a tradição verificada no país de ser uma
atividade que avança sobre novas terras e efetiva a interiorização do mercado na
medida em que incorpora novos territórios à economia nacional.
Contudo, o desenvolvimento da pecuária na região não somente promoveu o
crescimento econômico e a acumulação de capital. A pecuária, principalmente
associada à atividade madeireira, promoveu também elevados índices de
desmatamento na região da frente de ocupação leste (Xingu-Iriri) registrados a partir
do final da década de 1990.
O desmatamento na região apresenta-se com uma dinâmica especifica. As
etapas de conversão da cobertura florestal em usos e coberturas associados à
pecuária em São Félix do Xingu iniciam-se com a conversão da cobertura florestal
para implantação de pastagem que, com o tempo, sofre um processo de degradação
por superlotação2 de gado, e o produtor é forçado a adquirir e/ou arrendar novas
terras. O resultado é a expansão do desmatamento para áreas mais remotas, com
grande disponibilidade de terras a preço baixo, como a região do rio Iriri (ESCADA et
al., 2005).

2
O autor considera a condição de superlotação na pastagem quando a propriedade adotar de 7,5 a
10 Unidade Animal (UA) por alqueire.
38

Outro fator associado à expansão da pecuária é a forma de apropriação de


terras. Nesse caso, Araújo et al. (2008) destacam a relação do parque madeireiro e
o mercado de terras, onde o preço da terra é o motivo principal da chegada de
pessoas capitalizadas para adquirir terras, consideradas de excelente qualidade
(terra roxa), e propícias à pecuária e agricultura. A grilagem constitui-se como um
processo fundamental da alta rentabilidade das fazendas, aliada a outros processos
clandestinos de apropriação de recursos. A extração e venda ilegais de madeira são
garantidas muitas vezes por pistoleiros que controlam o acesso às áreas griladas e
asseguram o trabalho de desmatamento e a formação de pastagens (ARAÚJO et al.,
2008).
Todas as facilidades observadas na região do município de São Félix do
Xingu para o desenvolvimento da pecuária, especialmente na frente de ocupação
Leste (Xingu-Iriri), a transformaram numa das grandes regiões detentoras de
rebanho bovino do Pará.
São Félix do Xingu é o município do Pará com o maior rebanho bovino e
apresenta um crescimento exponencial nos últimos anos, saltando de 72.840
cabeças em 1994 para 1.653.231 animais em 2007, correspondendo a um
incremento de 2.169,67% no seu rebanho, fruto do expressivo crescimento que
ocorreu na última década (CASTRO et al., 2010b). Observamos que a evolução do
rebanho bovino (Gráfico 1) está acompanhada por altas taxas de desmatamento,
principalmente nos municípios localizados no “Arco do Desmatamento”, que
compreende as regiões do Oeste do Maranhão, Sul/Sudeste do Pará, Norte do Mato
Grosso e, extensivamente, Rondônia e Acre (CASTRO et al., 2010b).
39

Gráfico1 - Evolução do rebanho bovino e do desflorestamento no Arco do Desmatamento

Fonte: Castro et al. (2010b).

2.2.5 As Políticas públicas para contenção do desmatamento em São Félix do Xingu


Em 2001, as operações de fiscalização foram intensificadas pelo IBAMA e
Policia Federal na região da Terra do Meio. O combate à exploração madeireira
ilegal, especificamente do mogno, resultou na apreensão de grandes estoques de
madeira em tora, caminhões, tratores, balsas. Ainda em 2001, o IBAMA publicou
uma Portaria com a proibição de comercialização e exportação do mogno, que
perdurou até 2003 quando os planos de manejo florestais foram liberados mediante
condicionantes (CASTRO et al., 2005). Ainda que os esforços legais e operacionais
estivessem em pleno desenvolvimento pelo poder público, até 2005, o município
ainda apresentava altos índices de desmatamento (Gráfico 2).
Essa situação levou o governo federal em 2007 a desencadear medidas
legais mais extremas, atingindo a cadeia produtiva madeireira e agropecuária na
região amazônica, inclusive no Estado do Pará.
O Decreto Federal nº 6.321, de 21 de dezembro de 2007, estabeleceu
importantes ações relativas à prevenção, monitoramento e controle de
desmatamento no Bioma Amazônia. Entre elas inseriu a análise da dinâmica
histórica de desmatamento nos municípios e exigiu o cadastro dos imóveis rurais em
cada município.
40

Gráfico 2 - Evolução do desflorestamento em São Félix do Xingu

Fonte: Amaral et al.(2013).

De acordo com o referido instrumento legal os imóveis rurais localizados nos


municípios inseridos na lista de embargo estão impossibilitados de obter novas
autorizações para o desmatamento e, também, de acessar novas linhas de crédito
para atividade agropecuária ou florestal.
Em 24 de janeiro de 2008, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicou a
Portaria nº 28 estabelecendo critérios de embargos aos municípios de acordo com o
desempenho e dinâmica de desmatamento, como: área total de floresta desmatada;
área total de floresta desmatada nos últimos três anos; e aumento da taxa de
desmatamento em pelo menos três dos últimos cinco anos. A referida Portaria
relaciona o município de São Félix do Xingu entre os municípios situados no Bioma
Amazônia onde as ações prioritárias de prevenção, monitoramento e controle do
desmatamento ilegal devem ser estabelecidos.
Em decorrência dos diversos instrumentos legais adotados, surgiram muitas
dúvidas principalmente em relação ao cadastro dos imóveis rurais dos municípios,
porém para realizá-lo não havia nenhuma ferramenta operacional. Até então,
somente existiam os cadastros operacionalizados pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Instituto de Terras do Pará (ITERPA),
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (EMATER) e Agencia de
Desenvolvimento da Pecuária do Pará (ADEPARA), que muitas vezes encontravam-
41

se desatualizados e com informações superficiais que não atendiam as exigências


legais.
Essa situação desencadeou o desenvolvimento de um sistema de cadastro
dos imóveis rurais pela Secretaria de Meio Ambiente do Pará (SEMA), denominado
Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado e regulamentado inicialmente a partir do
Decreto Estadual nº 1148, de 17 de julho de 2008.
A partir da primeira regulamentação do CAR em 2008 foram realizadas
diversas adaptações para melhorar o sistema de cadastro e acelerar as adesões dos
imóveis rurais. Assim, o decreto estadual n° 1848, de 21 de agosto de 2009, fez as
primeiras adaptações referente à primeira versão. Ainda em 2009 o governo federal
adotou o CAR para se aplicado em todo o território nacional e, através do Decreto
Federal nº 7029, de 10 de dezembro de 2009, instituiu o programa federal de apoio à
regularização ambiental de imóveis rurais, denominado Programa Mais Ambiente,
estabelecendo como um dos seus instrumentos o CAR.
O referido decreto federal adotou um conceito de CAR muito semelhante ao
estabelecido pela SEMA, definindo-o como “um sistema eletrônico de identificação
georreferenciada da propriedade rural ou posse rural, contendo a delimitação das
áreas de preservação permanente, da reserva legal e remanescentes de vegetação
nativa localizadas no interior do imóvel, para fins de controle e monitoramento”.
Para o aprimoramento da aplicação do CAR pelo governo do Pará, a SEMA
desenvolveu alguns ajustes na regulamentação estabelecendo critérios
diferenciados para imóveis rurais até 300 hectares e para propriedades maiores,
através da Instrução Normativa n° 037/2010, de 02 de fevereiro de 2010, e Instrução
Normativa n° 039/2010, de 04 de fevereiro de 2010.
Nos imóveis rurais com passivos ambientais decorrentes de desmatamento
identificados pelo CAR, foram estabelecidos critérios de restauração de áreas
degradadas através do Decreto Estadual nº 2099 de 27/01/2010, que “dispõe sobre
a manutenção, recomposição, condução da regeneração natural, compensação e
composição da área de Reserva Legal de imóveis rurais no Estado do Pará e dá
outras providências”.
A inclusão de 16 municípios paraenses na lista dos municípios embargados
pelo Ministério do Meio Ambiente desencadeou uma série de ações integradas
envolvendo as prefeituras, o governo estadual, o governo federal, as organizações
não governamentais e a sociedade civil para atender aos critérios de desembargo.
42

Nesse sentido, ainda em 2008, o governo do Pará lançou o Programa


Municípios Verdes com uma série de ações sustentáveis a serem adotadas pelos
municípios. O referido programa reúne as experiências que devem ser adotadas
pelos municípios, principalmente em relação às atividades produtivas sustentáveis,
com baixa emissão de carbono e alta responsabilidade social e ambiental
(GUIMARAES et al., 2011).
A experiência pioneira do município de Paragominas, que foi o primeiro
município do Pará a sair da lista de embargo do governo federal reconhecido
oficialmente em 2011 (GUIMARAES et al, 2011), se proliferou aos outros municípios
paraenses embargados.
Assim, a mobilização do poder público e da sociedade civil também permitiu
um grande avanço rumo ao desembargo em São Felix do Xingu. Em 2011, foi
lançado no município de São Félix do Xingu pelo Ministério do Meio Ambiente o
projeto Pacto pela Redução do Desmatamento no município de São Félix do Xingu,
Estado do Pará, com duração prevista para três anos (MMA, 2011; MMA, 2010).
O referido projeto tem como objetivos prover o município de São Félix do
Xingu de instrumentos adequados de gestão ambiental e territorial para controlar e
monitorar o desmatamento. Os resultados esperados pela implantação do projeto
são:
a) Criação do pacto municipal de redução do desmatamento;
b) Estabelecer o cadastro ambiental e mapeamento dos imóveis rurais;
c) Criar o plano municipal de recuperação de áreas degradadas;
d) Promover o fortalecimento institucional para monitoramento e
licenciamento ambiental.
Os resultados esperados já são palpáveis. Em 26 de agosto de 2011 a
Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu assinou um Termo de Compromisso com
o Ministério Publico para o estabelecimento do Pacto Municipal para o fim do
desmatamento ilegal no município (MMA, 2011).
O pacto municipal, que foi assinado por mais de 40 representantes do poder
púbico e da sociedade civil, relaciona os compromissos assumidos, e são descritos
a seguir.
a) Reduzir o desmatamento ilegal a zero;
b) Apoiar o desenvolvimento sustentável;
c) Mobilizar os proprietários de imóveis rurais à adesão ao CAR;
43

d) Agilizar as licenças ambientais de acordo com as normativas legais;


e) Utilizar os recursos florestais somente com as licenças ambientais;
f) Estabelecer a compensação ambiental pela floresta em pé;
g) Adotar sistemas produtivos sustentáveis;
h) Realizar ações preventivas e educativas para combate ao
desmatamento ilegal;
i) Agilizar a regularização fundiária;
j) Facilitar e agilizar o crédito e financiamento;
k) Manter e instalar infraestrutura adequada (pontes, estradas, rede
elétrica, outros).
Outros resultados ainda estão em evolução. Além das reduções dos índices
de desmatamento no município de São Félix do Xingu, no início de 2012, as
adesões ao CAR já estão quase atingindo os 80% (TNC, 2012) dos imóveis rurais
(Gráfico 3).
Gráfico 3 - Evolução de adesões ao CAR em São Félix do Xingu

Fonte: TNC (2012).

2.3 Considerações finais

A complexidade e a diversidade das pressões antrópicas existentes e as


consequências ambientais decorrentes evidenciam a necessidade de proteção do
patrimônio socioambiental da região da Terra do Meio.
As diversas fases de ocupação e uso do solo deflagraram um processo
crescente de perda de cobertura florestal que foi evidenciado neste capítulo,
44

destacando principalmente a frente de ocupação Leste (Xingu-Iriri) e, também, a


região da APA Triunfo do Xingu.
A demanda por matéria-prima oriunda da floresta, principalmente os produtos
madeireiros, e do subsolo (ouro, níquel) é impulsionada pelo poder econômico. Não
é diferente na região da Terra do Meio, que ainda detém importantes remanescentes
florestais nativos.
A busca por recursos naturais impulsiona o avanço para novas áreas ainda
pouco exploradas, como no caso do interflúvio Xingu-Iriri, ainda com remanescentes
florestais nativos riquíssimos em madeiras nobres.
O esgotamento da exploração madeireira nas florestas ao longo das rodovias
associado a necessidade de novas áreas para a ampliação da pecuária extensiva
direcionaram o avanço da frente de ocupação para a região do interflúvio Xingu-Iriri,
a partir da sede do município de São Félix do Xingu.
Na exploração madeireira e na pecuária predominam o modo de produção de
alto impacto ambiental, a apropriação ilegal de terras públicas, e a dominação das
cadeias produtivas por agentes de outros estados, com pouco retorno para a região
em termos de aplicação dos rendimentos econômicos auferidos.
O predomínio da grilagem de terras e pistolagem na formação das
propriedades rurais têm provocado altos índices de violência na região, com a
agregação de pequenas propriedades, contínuas ou não, para viabilizar a ampliação
das áreas destinadas aos grandes pecuaristas.
Por outro lado, a busca incessante pelos recursos naturais na região teve
pouca ou nenhuma preocupação com as comunidades locais que foram se
estabelecendo na região do Interflúvio Xingu-Iriri, principalmente ao longo das
estradas vicinais garimpeiras e madeireiras.
A aplicação de medidas legais extremas para reverter os altos índices de
desmatamento na região, como o embargo econômico de imóveis rurais com
passivos ambientais, associadas às ações integradas de fiscalização e gestão dos
espaços especialmente protegidos, tem surtido resultados importantes na contenção
do desmatamento.
A assinatura do pacto municipal para redução do desmatamento ilegal em
São Félix do Xingu evidencia o fortalecimento da integração do poder público com a
sociedade civil para um objetivo comum, e os resultados devem ser alcançados,
consolidados e mantidos em longo prazo.
45

A presença de unidades de conservação, na condição de um espaço


especialmente protegido, pode desempenhar a função de ordenamento territorial e
conservação dos recursos naturais na região da terra do meio, e é considerada uma
preocupação a mais aos agentes de exploração dos recursos naturais da região.
Um conjunto de áreas protegidas formando um território contínuo,
enfrentando problemas e pressões comuns, e sendo gerido de forma a alcançar
seus objetivos de conservação, constitui uma ferramenta poderosa para reverter
esse cenário de degradação socioambiental na região da Terra do Meio.
46

3 A PROTEÇÃO DA TERRA DO MEIO POR MEIO DA CRIAÇÃO DE UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO
3.1 Introdução

A região Amazônica abriga a maior floresta tropical e biodiversidade do


planeta, provê serviços ecossistêmicos vitais ao bem-estar da humanidade e
resguarda uma das maiores diversidades étnicas e culturais do mundo. É
considerada muito importante para o desenvolvimento econômico dos países por ela
abrangidos, pelo seu papel no suprimento de serviços fundamentais como a energia
hidrelétrica e minérios, agropecuária, hidrocarbonetos, produtos florestais, entre
outros, mas que muitas vezes são associados à degradação ambiental e aos
conflitos sociais (ARA, 2011). Os serviços ambientais providos, assim como as
formas de uso sustentáveis atuais e potencias da biodiversidade são, em grande
parte, negligenciados, assim como alternativas de desenvolvimento e geração de
riqueza com base no aproveitamento sustentável dos recursos florestais com a
manutenção da floresta.
As riquezas naturais contidas na região da Terra do Meio, como a seringueira
(Hevea brasiliensis) para obtenção do látex; a folha do jaborandi (Pilocarpus
pennatifolius) para utilização na indústria de cosméticos; as madeiras nobres de alto
valor comercial, como o mogno (Swietenia macrophylla) e o cedro (Cedrela odorata),
além do ouro e de outros minerais, foram determinantes para a complexa e intensa
ocupação e uso da terra no decorrer de seu desenvolvimento.
Essa complexidade de formas de apropriação da terra pela exploração
madeireira e pecuária extensiva, os incentivos oriundos do poder público para
promover a integração regional a partir da abertura de estradas oficiais e apoio
financeiro, além da diversidade de agentes de desenvolvimento atraídos de vários
estados, sobretudo do Nordeste, Centro-Oeste e Sul. O que predomina na região é
uma forma de desenvolvimento que tem provocado impactos ambientais, sobretudo
com elevados índices de desmatamento e perdas de biodiversidade que demandam
ações emergenciais de proteção.
Um fator importante é o valor da biodiversidade presente na região da Terra
do Meio ainda a ser conhecida, que se encontra sob grande pressão antrópica, e
que tem despertado a atenção de segmentos de ensino e pesquisa nacionais e
internacionais para a região. A preocupação com o valor da biodiversidade
desencadeou iniciativas de pesquisadores para a determinação de centros de
47

endemismo e de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade na


Amazônia. A ideia foi de direcionar esforços para evitar perdas significativas de
cobertura florestal nativa e, consequentemente, de biodiversidade que apenas
recentemente puderam ser equacionadas e monitoradas com mais precisão de
maneira a subsidiar as políticas públicas de proteção para a região.
Nesse sentido, é importante uma análise da viabilidade das medidas de
proteção legal adotadas na região da Terra do Meio, principalmente por meio da
criação de Unidades de Conservação.
A grande pressão antrópica e a velocidade do avanço das frentes de
ocupação da região deflagraram uma grande mobilização da sociedade civil e do
poder público para estabelecer urgentemente um bloco de áreas protegidas na
região da Terra do Meio, visto que as frentes Norte (Rodovia Transamazônica),
Oeste (Rodovia Cuiabá-Santarém) e Leste (Rodovia Belém-Brasília), avançaram
rapidamente e quase que simultaneamente em direção aos remanescentes de
biodiversidade da região.
A criação das Unidades de Conservação interrompeu o avanço dos
corredores de exploração dos recursos naturais que estavam se desenvolvendo
rapidamente entre as terras indígenas a partir do interflúvio Xingu-Iriri, interligados
por estradas madeireiras e garimpeiras, convergindo com a frente Oeste, a partir da
Rodovia Cuiabá-Santarém, e com a frente Norte, a partir da Rodovia
Transamazônica, através do Rio Iriri. É importante destacarmos o importante papel
estratégico das unidades de conservação na contenção dessa pressão existente na
região, inicialmente por meio de sua formalização legal e definição de limites
geográficos.
Alguns fatores podem dificultar o alcance desses objetivos. As grandes
dimensões territoriais, os entraves fundiários existentes antes da criação, a
diversidade de uso e ocupação das áreas por populações locais, e a
incompatibilidade das categorias das unidades com a realidade local, são alguns
fatores determinantes para o sucesso da gestão das Unidades de Conservação na
região da Terra do Meio.
Assim, nesse capitulo buscamos analisar a complexidade de uso e ocupação
da região da Terra do Meio e a conservação da biodiversidade por meio da criação e
consolidação das unidades. Questionamos, também, se o atual grau de
48

consolidação das Unidades de Conservação permite o alcance de seus objetivos de


conservação.

3.2 Revisão bibliográfica


O patrimônio socioambiental ainda existente na região da Terra do Meio tem
atraído a atenção de segmentos da sociedade interessados na exploração
desenfreada dos recursos naturais. Felizmente, também atrai a atenção de outros
segmentos da sociedade interessados em protegê-lo.
Para isso, as Unidades de Conservação foram adotadas na região como um
instrumento capaz não só de garantir a proteção desse patrimônio, mas também de
estabelecer o uso sustentável dos recursos naturais respeitando o modo de vida das
populações residentes, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (BRASIL, 2011).
Contudo, as Unidades de Conservação devem ser criadas e também geridas
de maneira a cumprir esses importantes objetivos. Esse é o grande desafio das
Unidades de Conservação da Terra do Meio.
Aqui nos reportamos à importância da biodiversidade na região da Terra do
Meio identificando os esforços desenvolvidos para gerar conhecimentos,
correlacionando-a as políticas públicas que deflagraram a criação de Unidades de
Conservação e os esforços para consolidação das mesmas.

3.2.1 A Importância da biodiversidade na região da Terra do Meio


A região denominada Terra do Meio, localizada no sudoeste do Estado do
Pará, é uma vasta região com cerca de 7,9 milhões de hectares, encoberta em
grande parte pela floresta Amazônica, e representa cerca de 6% do território do
Estado (Figura 4). Abrange 38,62% do município de Altamira, 19,25% do município
de São Félix do Xingu e uma pequena parte do município de Trairão. O nome Terra
do Meio deve-se ao fato da região se encontrar no interflúvio dos rios Xingu e Iriri
(ISA, 2006; VELÁSQUEZ et al., 2006; ISA, 2003).
Está inserida dentro de um conjunto maior de áreas protegidas chamada de
Corredor da Bacia Hidrográfica do Xingu com mais de 26 milhões de hectares e que
reúne um conjunto de 07 Unidades de Conservação e 18 terras indígenas (24
etnias) que constitui um mosaico de Unidades de Conservação de proteção integral
49

e uso sustentável, identificadas como áreas de alta importância para a conservação


da biodiversidade (ISA, 2006; VELÁSQUEZ et al., 2006; ISA, 2003).
A região é circundada pelas rodovias BR-163 (Rodovia Santarém - Cuiabá) e
BR-230 (Rodovia Transamazônica), e abriga nos municípios que surgiram um
grande fluxo migratório oriundo da região nordeste que vieram para atuar como
soldados da borracha (VELÁSQUEZ et al., 2006).
Ainda há uma grande lacuna de conhecimento científico na região, que ao
mesmo tempo está submetida a fortes pressões por estar situada entre alguns dos
principais eixos de desenvolvimento na Amazônia brasileira.
A região se manteve pouco alterada até 2001 com apenas 2% de perda de
cobertura florestal. Até esse período foram observados impactos pontuais pela
retirada do mogno (Swietenia macrophylla) nas áreas de floresta de terra firme
localizadas no interflúvio dos rios Xingu e Iriri; e pela agricultura de subsistência nas
áreas ribeirinhas (ISA, 2003).
A relevância socioambiental da região da Terra do Meio é confirmada por ISA
(2003) que apontam uma série de características peculiares, como:
a) A enorme biodiversidade e a sociodiversidade que abriga, com a
presença de populações tradicionais e extrativistas, indígenas e
ribeirinhas;
b) A presença de espécies economicamente importantes como o Mogno,
Seringueira e Castanha-do-Brasil;
c) A presença de endemismos e de grande diversidade de paisagens;
d) O seu isolamento do contexto regional e sua quase inacessibilidade;
e) O bom estado de conservação dos seus recursos naturais;
f) A presença de um cinturão de terras indígenas consolidadas ao seu
redor;
g) A baixa densidade populacional;
h) Um quadro fundiário onde predominam terras públicas devolutas
arrecadadas e matriculadas pelo ITERPA e pelo INCRA, na sua maioria
sem destinação, cujos recursos florestais estão sendo explorados de
forma ilegal e sofrendo as consequências de um processo impiedoso de
grilagem.
50

Figura 4: Localização geográfica da região da Terra do Meio

Fonte: Tavarella (2011).

Um aspecto evidenciado por Velásquez et al. (2006) é o bom estado de


conservação da região da Terra do Meio. Os autores justificam o fato, em parte, pela
presença do conjunto de terras indígenas no seu entorno, sendo uma situação ímpar
em relação às demais regiões de fronteira do país.
Esse bom estado de conservação tem sido ameaçado de forma crescente
pelo avanço do processo de uso e ocupação da região, que provoca perdas
consideráveis de cobertura florestal.
Em relação às lacunas de conhecimento, ISA (2003) considera como
agravante a inexistência de estudos sobre a biodiversidade amazônica e a
51

devastação de áreas naturais ainda desconhecidas pela ciência. O que é o caso da


região da Terra do Meio. A redução dessas lacunas na região amazônica, como
também na Terra do Meio, tem sido objeto de preocupação de pesquisadores e de
instituições de ensino e pesquisa no Brasil e do mundo.
Alguns estudos desenvolvidos na região, especificamente no rio Xingu, datam
de 1896, como o trabalho “Viagem ao Xingu” de Henri Coudreau, que se limitou a
tratar dos acidentes geográficos, dos interesses antropológicos e às implicações
políticas e econômicas referentes ao acesso e uso do rio Xingu, porém não
contemplando os estudos de fauna e flora (ISA, 2003).
Outros estudos mais antigos limitavam-se às áreas de acesso por via fluvial,
próximo a corredeiras. Os mais recentes, a partir do inicio do século XX,
principalmente os de ornitologia e ictiologia, já conseguiram chegar às áreas de
pesquisa com acesso via aérea e estradas, e têm registrado espécies endêmicas
(ISA, 2003).
Em 2010, foram publicados os resultados do projeto “espécies ameaçadas e
áreas criticas para a biodiversidade no estado do Pará” com o objetivo de aprimorar
os conhecimentos sobre a distribuição das espécies ameaçadas no Pará e propor
áreas críticas para sua conservação (ALBERNAZ; ÁVILA-PIRES, 2010; ALBERNAZ;
SOUZA, 2007). O projeto analisou os dados de ocorrência das espécies, clima,
topografia, os tipos de vegetação, a conversão de florestas e as áreas protegidas.
Nas áreas protegidas, o estudo considerou as unidades de conservação de proteção
integral e de uso sustentável e as terras indígenas.
Nas regiões centro-sul, incluindo a Terra do Meio e o interflúvio dos rios Xingu
e Iriri, leste e noroeste do Pará o referido estudo identificou 122 espécies diferentes
ameaçadas de extinção entre plantas, invertebrados, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos, distribuídas em 5.805 pontos de ocorrência.
Outra questão levantada pelo estudo confirma a importância da
biodiversidade existente no Estado do Pará, que inclui a região da Terra do Meio, é
a existência de ocorrência áreas criticas para conservação dentro de áreas
protegidas, unidades de conservação e terras indígenas.
A preocupação dos pesquisadores tem se concentrado na necessidade de se
estabelecer de forma urgente estratégias específicas de conservação para as essas
áreas críticas. Propõe-se a criação de zonas de preservação definidas no plano de
52

manejo; a elaboração do plano de uso para as terras indígenas e o monitoramento


do uso e dinâmica populacional de espécies de interesse econômico.
Outra questão levantada pela comunidade cientifica é a determinação de
áreas de endemismo. Elas são consideradas as menores unidades geográficas para
análise de biogeografia histórica, são a base para a formulação de hipóteses sobre
os processos responsáveis pela formação da biota regional, e abrigam conjuntos de
espécies únicas e insubstituíveis (SILVA et al, 2005). Os autores consideram a bacia
hidrográfica do Xingu como uma das mais importantes áreas de endemismo da
Amazônia Brasileira. A mesma integra um conjunto de três áreas denominadas
endemismo Rondônia, Pará e Belém, respectivamente, sendo que a área de
endemismo Pará é dividida em duas, a Tapajós e Xingu.
A maior ameaça a essas áreas são a perda de habitat, a degradação e a
fragmentação causada pelo desmatamento e extração seletiva de madeira (SILVA et
al, 2005). As florestas estão sendo convertidas em um mosaico de habitats alterados
pelo homem (pastagens e florestas superexploradas) e remanescentes isolados.
As altas taxas de desmatamento registradas na região da Terra do Meio
também preocupam a comunidade científica. Uma das formas de levantar a questão
de proteção dessas áreas é a correlação dos níveis antigos e atuais de perda
florestal como um indicador de vulnerabilidade para cada área de endemismo.
Para Silva et al (2005) os blocos de Unidades de Conservação nas áreas de
endemismo devem ser conectados por uma matriz de atividades econômicas
compatíveis com a conservação da biodiversidade formando, por exemplo,
corredores de biodiversidade regionais.
Nessa direção, estudos recentes sobre a biodiversidade estão sendo
desenvolvidos em algumas Unidades de Conservação na Terra do Meio. Alguns
estudos biológicos realizados em Unidades de Conservação federais, ao norte da
Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, especificamente na Estação
Ecológica Terra do Meio e no Parque Nacional da Serra do Pardo no âmbito do
Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) identificaram 29 espécies novas e
ameaçadas de extinção, 28 espécies ameaças e 01 espécie nova. A espécie nova
trata-se do primata Ateles marginatus, uma espécie de macaco-aranha encontrado
apenas na Estação Ecológica Terra do Meio (MMA, 2010).
Um estudo sobre a mastofauna terrestre realizado na Estação Ecológica
Terra do Meio, especificamente no interflúvio do rio Novo e rio Iriri, identificou 35
53

espécies de mamíferos, sendo que algumas delas estão incluídas em alguma


categoria de ameaça no Brasil (BEISIEGEL, 2008).
A identificação de áreas importantes sob o ponto de vista da biodiversidade e
seu reconhecimento pela comunidade científica ajudam em muito o direcionamento
de políticas públicas para sua proteção. Contudo, muitas áreas reconhecidamente
importantes e ainda não estudadas continuam sendo devastadas e espécies
desconhecidas têm sido extintas. Assim, as áreas especialmente protegidas
principalmente por meio de unidades de conservação são extremamente
importantes, pois o reconhecimento legal e a necessidade de sua implantação
podem resultar em ações concretas de proteção da biodiversidade desde que sejam
dadas as condições para que as mesmas cumpram seus objetivos.

3.2.2 A importância das Unidades de Conservação


As Unidades de Conservação são conhecidas e conceituadas em outros
países de forma geral como áreas protegidas na forma de parques naturais, terras
indígenas, entre outras denominações.
No Brasil, elas mantêm essa denominação específica e um papel
determinante na proteção do patrimônio natural, com diretrizes e bases conceituais
definidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), criado pela
lei federal nº 9.985/2000 (MMA, 2011).
As Unidades de Conservação são um espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração, as quais se aplicam
garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2006). As unidades integrantes do
SNUC contribuem para que os objetivos nacionais da conservação sejam
alcançados, e dividem-se basicamente em dois grupos: as de proteção integral e as
de uso sustentável.
As de proteção integral são aquelas destinadas à preservação da
biodiversidade, sendo permitida somente a pesquisa científica e, em alguns casos, o
turismo e atividades de educação ambiental, desde que haja prévia autorização do
órgão responsável. Não envolve consumo, coleta, extração de produtos madeireiros
ou minerais e não é permitida a permanência de populações, com exceção dos
Monumentos Naturais e Refúgios da Vida Silvestre.
54

As categorias deste grupo são: Estação Ecológica, Reserva Biológica,


Parque, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre.
As de uso sustentável são aquelas destinadas tanto à conservação da
biodiversidade como à extração racional dos recursos naturais. Nelas são permitidos
o turismo, a educação ambiental e a extração de produtos florestais madeireiros e
não madeireiros, com base no manejo sustentável e de acordo com o plano de
manejo da unidade. As populações denominadas tradicionais podem permanecer
em seu interior. As categorias deste grupo são: Área de Proteção Ambiental, Área
de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional/Estadual, Reserva Extrativista,
Reserva da Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva Particular do
Patrimônio Natural.
Elas são consideradas importantes ferramentas para a proteção e
conservação da biodiversidade em muitos países do mundo, sendo os elementos
centrais dos esforços mundiais para conservação da biodiversidade e promoção do
uso sustentável dos recursos naturais, buscando conciliar desenvolvimento
econômico e conservação (BORGES et al, 2007; BARRETO et al, 2005;
TERBORGH, 2002).
Ainda, elas também contribuem para assegurar o direito de permanência e a
cultura de populações tradicionais previamente existentes (VERÍSSIMO et al., 2011),
e funcionam como barreiras efetivas ao desmatamento (BRUNNER, 2001).
Nesse aspecto, Ferreira et al. (2005) evidenciaram que só pelo fato da criação
legal da área protegida já há um efeito de redução da pressão antrópica,
principalmente no desmatamento associado com a abertura de estradas
madeireiras. Além disso, a condição de proteção legal por meio da criação de
Unidades de Conservação também inibe a grilagem de terras em função da
necessidade de desapropriação de terras que, muitas vezes, não estão devidamente
registradas evitando assim as tentativas de posse ilegal de terras.
Com essa constatação podemos inferir que outros benefícios também podem
ser alcançados pelas Unidades de Conservação sob condições de gestão que
permitam sua consolidação.
A UICN (1991) e Faria (2004) destacam os vários benefícios das Unidades de
Conservação e os descrevem em categorias, detalhadas a seguir.
a) Os benefícios biológicos e ambientais são auferidos pela guarda de
ecossistemas naturais essenciais para a manutenção dos sistemas
55

sustentadores de vida; pela conservação de espécies da flora e fauna


silvestres representativos de um ou mais ecossistemas; e pela
conservação das características biofísicas importantes para a regulação
dos ciclos hidrológicos e climáticos, local e/ou regional.
b) Os benefícios econômicos são assegurados pela proteção de solos em
áreas sujeitas a erosão; pela oferta de empregos diretos e indiretos às
comunidades locais; o turismo que dinamiza a economia de muitos
municípios do país pela presença de Unidades de Conservação; pelo
aproveitamento sustentável dos recursos naturais por meio dos produtos
alternativos da floresta; o desenvolvimento de fármacos e cosméticos
consumidos cotidianamente, e pela barreira natural contra patologias em
cultivos agrícolas e animais.
c) Os benefícios culturais são proporcionados pelas oportunidades de
educação e pesquisa cientifica; pela possibilidade de entretenimento e
recreação e pela proteção e conservação de lugares históricos e
monumentos antropológicos.
Medeiros e Young (2011) evidenciam os benefícios econômicos
proporcionados pelas unidades de conservação e destacam que os mesmos são
usufruídos por grande parte da população brasileira.
Os autores relacionam, a seguir, alguns resultados de análises sobre o
impacto e o potencial econômico de alguns bens e serviços provisionados pelas
Unidades de Conservação para a economia e sociedade brasileiras.
a) A produção de madeira em tora nas Florestas Nacionais e Estaduais da
Amazônia, oriundas de áreas manejadas segundo o modelo de concessão
florestal, tem potencial de gerar, anualmente, entre R$ 1,2 bilhão a R$ 2,2
bilhões, mais do que toda a madeira nativa atualmente extraída no país;
b) A produção de borracha somente em 11 Reservas Extrativistas produtoras
resulta em R$ 16,5 milhões anuais; já a produção de castanha‐do‐pará tem
potencial para gerar, anualmente, R$ 39,2 milhões, considerando apenas
as 17 Reservas Extrativistas analisadas. Os ganhos podem ser ampliados
significativamente caso as Unidades de Conservação produtoras recebam
investimentos para desenvolver sua capacidade produtiva;
c) A visitação nos 67 Parques Nacionais existentes no Brasil tem potencial
para gerar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão por ano, considerando as
56

estimativas de fluxo de turistas projetadas para o país (cerca de 13,7


milhões de pessoas, entre brasileiros e estrangeiros) até 2016, ano das
Olimpíadas;
d) A soma das estimativas de visitação pública nas Unidades de Conservação
federais e estaduais consideradas pelo estudo indica que, se o potencial
das unidades for adequadamente explorado, cerca de 20 milhões de
pessoas visitarão essas áreas em 2016, com um impacto econômico
potencial de cerca de R$ 2,2 bilhões naquele ano;
e) A criação e manutenção das Unidades de Conservação no Brasil
impediram a emissão de pelo menos 2,8 bilhões de toneladas de carbono,
com um valor monetário conservadoramente estimado em R$ 96 bilhões;
f) Considerando os limites do custo de oportunidade do capital entre 3% e 6%
ao ano, pode‐se estimar o valor do “aluguel” anual do estoque de carbono
cujas emissões foram evitadas pelas Unidades de Conservação entre R$
2,9 bilhões e R$ 5,8 bilhões por ano; valores que superam os gastos atuais
e as necessidades de investimento adicional para a consolidação e
melhoria dessas unidades;
g) Ao mitigar a emissão de CO² e de outros gases de efeito estufa decorrente
da degradação de ecossistemas naturais, as Unidades de Conservação
ajudam a impedir o aumento da concentração desses gases na atmosfera
terrestre;
h) No que tange aos diferentes usos da água pela sociedade, 80% da
hidroeletricidade do país vem de fontes geradoras que têm pelo menos um
tributário a jusante de Unidade de Conservação; 9% da água para
consumo humano é diretamente captada em Unidades de Conservação e
26% é captada em fontes a jusante de Unidade de Conservação; 4% da
água utilizada em agricultura e irrigação é captada de fontes dentro ou a
jusante de Unidades de Conservação;
i) Em bacias hidrográficas e mananciais com maior cobertura florestal, o
custo associado ao tratamento da água destinada ao abastecimento
público é menor que o custo de tratamento em mananciais com baixa
cobertura florestal;
j) Em 2009, a receita real de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) Ecológico repassada aos municípios pela existência de
57

unidades de conservação em seus territórios foi de R$ 402 milhões. A


receita potencial para 12 estados que ainda não têm legislação de ICMS
Ecológico seria de R$ 14,9 milhões, considerando um percentual de 0,5%
para o critério “Unidade de Conservação” no repasse a que os municípios
fazem jus;
k) Outros importantes serviços ambientais, como a proteção de
assentamentos humanos contra deslizamentos, enchentes e outros
acidentes; a conservação de recursos pesqueiros e a conservação da
biodiversidade, não puderam ter seus valores estimados por falta de
informações ou metodologias adequadas. Por isso, os valores
apresentados por Medeiros e Young (2011) constituem uma subestimativa
dos serviços ambientais totais prestados pelas Unidades de Conservação.
De forma a consolidar as unidades de conservação e usufruir de seus
benefícios, o Brasil tem assumido formalmente compromissos internacionais de
proteção da biodiversidade evidenciando a importância das áreas protegidas para o
país.
Em 2006, o Brasil consolidou as Unidades de Conservação como instrumento
norteador de sua política de proteção da biodiversidade e estabeleceu metas
nacionais para conservação como parte do Plano Estratégico da Convenção sobre
Diversidade Biológica. Entre elas estava a criação de Unidades de Conservação em
pelo menos 30% do Bioma Amazônia e em 10% dos outros Biomas (MMA, 2011).
As referidas metas estabelecidas em 2010 pelo Brasil se tornaram ainda mais
desafiadoras. Até 2020, o país pretende conservar a biodiversidade criando um
sistema de áreas protegidas que envolva pelo menos 17% das áreas terrestres e de
águas continentais; e pelo menos 10% das áreas costeiras e marinhas (MMA, 2011).
O Brasil tem se empenhado para atingir as referidas metas conservação.
Algumas estratégias estão sendo traçadas para isso, como: a criação de 10 milhões
de hectares de Unidades de Conservação nos próximos quatro anos, ampliando a
proteção dos demais; a revisão a partir de 2012 do Mapa de Áreas Prioritárias para
a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade
Brasileira; e a integração da gestão do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) com outras áreas protegidas relevantes para a manutenção
da biodiversidade, tais como terras indígenas e territórios quilombolas.
58

O que se pretende para o SNUC é que seja efetivamente e equitativamente


manejado, com representatividade ecológica e conectividade, integradas com a
ampla paisagem terrestre e marinha (MMA, 2011; GUIMARAES et al, 2011).
Para isso, MMA (2011) recomenda algumas estratégias importantes que
devem ser fortalecidas na gestão de unidades de conservação, como:
a) Conscientizar a sociedade sobre os benefícios das UC’s;
b) Ampliar a participação social na criação, implantação e gestão das UC’s;
c) Estimular a interação das pessoas com as unidades, por exemplo, por meio
da visitação e consumo de produtos da sociobiodiversidade;
d) Valorizar a função sociocultural por meio do apoio às comunidades
envolvidas direta ou indiretamente com as UC’s;
e) Integrar as Unidades de Conservação a outras áreas protegidas;
f) Monitorar a biodiversidade e as ameaças às UC’s;
g) Garantir a sustentabilidade financeira do SNUC;
h) Aperfeiçoar o uso de recursos financeiros e humanos destinados à
conservação, por exemplo, por meio da formação e reconhecimento de
mosaicos de áreas protegidas, de áreas de preservação permanente,
reservas legais, e manutenção da conectividade dessas áreas por meio de
instrumentos de gestão do território;
i) Implementação de projetos de apoio financeiro.
Para que o país cumpra os compromissos assumidos nacional e
internacionalmente, foi instituído em 2006 o Plano Estratégico Nacional de Áreas
Protegidas (PNAP), através do Decreto nº 5.758/2006, que busca um sistema
abrangente de áreas protegidas ecologicamente representativas, efetivamente
manejadas e integradas a áreas terrestres e marinhas.
O PNAP busca integrar as Unidades de Conservação às terras indígenas e
quilombolas, além de reservas legais e áreas de preservação permanente,
identificadas como elementos integradores da paisagem (MMA, 2011; GUIMARÃES
et al, 2011).
59

3.2.3 A criação de Unidades de Conservação na Terra do Meio


O patrimônio natural da região da Terra do Meio, essencialmente composto
pela sua rica biodiversidade e pelas populações locais, evidencia que os desafios
para proteção dessa região são grandes e complexos diante da grande demanda
por seus recursos naturais.
O predomínio da gestão do território e dos recursos naturais na região da
Terra do Meio favorecendo a exploração madeireira e pecuária, formando uma
coalizão pró-pastoralização (TAVARELLA, 2008) do final da década de 1990 até
2005, evidenciou um caminho possivelmente irreversível rumo à perda de sua
sociobiodiversidade.
Segundo Veríssimo et al.(2011) a partir de 2003 foram criadas muitas
Unidades de Conservação na Amazônia, resultantes dos esforços do governo
federal e dos governos estaduais do Acre, Amazonas, Amapá e Pará. Os autores
apontam ainda três principais razões para isso: a necessidade de ordenar o território
e combater o desmatamento ilegal associado à grilagem de terras; a urgência em
proteger regiões com alto valor biológico; e a necessidade de atender às demandas
das populações tradicionais e de produção florestal sustentável.
Diante de taxas de desmatamento crescentes registradas no final da década
de 1990 na área denominada Arco do Desmatamento, incluindo a região da Terra do
Meio, desencadearam-se mobilizações sociais que passaram a pressionar o poder
público federal e estadual a tomar medidas urgentes de proteção.
Nesse período a região da Transamazônica vivia o momento de elaboração
do programa agroambiental que, além de outras propostas de desenvolvimento
local, previa a criação de duas Unidades de Conservação, o Parque Nacional do Iriri
e a Floresta Nacional Transamazônica (TAVARELLA, 2008).
Esse cenário de pressão social e sem perspectivas de reversão ou mudança
do modo de produção baseado predominantemente na ocupação de terras pela
exploração mineral, madeireira e pecuária levou o poder público a acelerar as
definições sobre quais as estratégias que seriam adotadas.
Em 2001, o Ministério do Meio Ambiente iniciou os estudos necessários para
identificar áreas prioritárias para conservação (DAGNINO et al., 2010) e apresentar
uma proposta para implantação de um mosaico de unidades de conservação no
médio Xingu (Figura 5), resultado de uma cooperação interinstitucional
governamental e não governamental, que foi publicado em 2003 (ISA, 2003).
60

A referida proposta recomendou a criação de Unidades de Conservação na


região da Terra do Meio, definindo denominações, localizações, categorias
dimensões, e suas respectivas justificativas, sendo: a Estação Ecológica Interflúvio
Xingu-Iriri; o Parque Nacional Serra do Pardo; as Reservas Extrativistas Riozinho do
Anfrízio, a Curuá-Iriri e a Xingu; a ampliação da Floresta Nacional Altamira; a
Floresta Nacional Transamazônica; a Floresta Nacional Xingu; e a Área de Proteção
Ambiental São Félix do Xingu.
Por outro lado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) também elaborou em 2004 uma proposta para criação
de unidades de conservação para a mesma região (DAGNINO et al., 2010;
TAVARELLA, 2008), porém não definindo categorias, denominações e dimensões,
mas priorizando as categorias de uso sustentável (Figura 6).

Figura 5: Mosaico de Unidades de Conservação na Terra do Meio proposto em 2003

Fonte: Torres (2008).

Algumas diferenças são evidentes, como a proposta de criação de uma


Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) na micro bacia hidrográfica do Rio
61

Triunfo, localizada dentro de uma área que hoje se encontra a APA Triunfo do Xingu.
Nesta proposta, contudo, não foi recomendada a criação de nenhuma unidade de
conservação para a área que hoje é a APA.
Outro destaque foi a proposta de criação de um Parque Nacional e uma
Floresta Nacional na área onde hoje se encontra a Estação Ecológica Terra do Meio.

Figura 6: Áreas prioritárias para criação de unidades de conservação na Terra do Meio

Fonte: Dagnino et al.(2010).

A composição atual das unidades de conservação da Terra do Meio é


formada por duas de proteção integral, totalizando 4.678.224 hectares, e por cinco
62

de uso sustentável, totalizando 3.917.811 hectares (Figura 7), ultrapassando-se


então os oito milhões de hectares (ISA, 2012a; PEZZUTI, 2009; ESCADA et al.,
2005).
Em 2004 e 2005, o governo federal cria a Estação Ecológica da Terra do
Meio, a Reserva Extrativista do Riozinho do Anfrísio e o Parque Nacional da Serra
do Pardo. Em 2006, a RESEX do Rio Iriri (ISA, 2012a; PEZZUTI, 2009; ESCADA et
al, 2005).

Figura 7 - Composição atual das unidades de conservação na região da Terra do Meio

Fonte: ISA (2012a).

No âmbito estadual, o governo do Pará por meio da Lei nº 6.745 de 2005,


propôs a implantação do Macrozoneamento Ecológico Econômico (MZEE) como um
instrumento central da política de ordenamento territorial do Pará para incentivar o
desenvolvimento das atividades econômicas em bases manejadas, a redução dos
63

conflitos fundiários e a diminuição do desmatamento ilegal (VERÍSSIMO et al, 2006;


PARÁ, 2005).
O referido Macrozoneamento estabeleceu quatro grandes zonas: a primeira
zona inclui as terras indígenas e os quilombolas e representam 28% do estado. A
segunda zona é destinada para as Unidades de Conservação na categoria de uso
sustentável, as quais somam 27% do território considerando as unidades existentes
bem como aquelas a ser criadas. A terceira zona é alocada para as unidades de
conservação de proteção integral (Parques, Reservas Biológicas e Estações
Ecológicas) existentes e a ser criadas, totalizando até 10% do território. Por fim,
estabelece uma zona para a consolidação e desenvolvimento de atividades
produtivas tradicionais (35%).
No final de 2006 o governo do Pará cria duas unidades de conservação de
uso sustentável, a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu e a Floresta
Estadual Iriri. A RESEX do Médio Xingu foi criada em abril de 2008 pelo governo
federal, completando o bloco de unidades de conservação da terra do meio (ISA,
2012a; LOBATO, 2010; PEZZUTI, 2009; ESCADA et al, 2005)
Contudo, o resultado final dessa composição de unidades de conservação
não observou as recomendações técnicas oriundas de estudos prévios realizados na
região. Algumas categorias de unidades de conservação foram mantidas, porém
suas dimensões foram significativamente alteradas (TORRES, 2008).
A Figura 8 ilustra as alterações de dimensões da Reserva Extrativista
(RESEX) Rio Iriri que tinha a proposta de uma área de 1.510.000 hectares, e foi
criada com 401.000 hectares, sofrendo uma perda de 1.109.000 hectares. Nesse
caso, a área perdida pela RESEX, que é uma unidade de uso sustentável, foi
destinada à ampliação da Estação Ecológica (ESEC) Terra do Meio que tinha como
proposta uma área de 2.904.000 hectares, e foi criada com 3.389.000 hectares,
incluindo também uma área significativa da APA Triunfo do Xingu.
Segundo Torres (2008) os estudos prévios realizados pelo Instituto
Socioambiental (ISA) identificaram ocupações tradicionais ao longo dos rios Iriri e
Curuá, embasando a proposta inicial de localização e dimensionamento da RESEX
Iriri de maneira a alcançar o último morador a montante dos referidos rios. A
alteração do dimensionamento da RESEX Iriri para compor a área da ESEC Terra
do Meio, que é uma unidade de conservação de proteção integral, incluiu mais de
64

200 moradores tradicionais residentes ao longo dos rios Iriri e Curuá criando uma
situação agravante de ilegalidade para as famílias.

Figura 8: Alterações na composição do mosaico de Unidades de Conservação na Terra do Meio

Fonte: Torres (2008).

No caso da APA Triunfo do Xingu, a mesma foi idealizada inicialmente com


1.347.000 hectares e foi criada com 1.678.000 hectares, ampliando sua área em 331
mil hectares (Figura 9). Nesse caso, Torres (2008) relata que muitas propriedades
rurais que estariam inseridas originalmente na área proposta para a ESEC Terra do
Meio foram deliberadamente inseridas na área da APA Triunfo do Xingu sendo
beneficiadas pela referida ampliação, sem qualquer fundamentação técnica.
Da mesma forma aconteceu com o Parque Nacional Serra do Pardo, que foi
proposto com 664.000 hectares e foi criado com 448.000 hectares, reduzindo sua
área em 216.000 hectares (Figura 9).
65

Figura 9: Alteração de limites da APA Triunfo do Xingu e PARNA Serra do Pardo

Fonte: Torres (2008).

3.2.4 A consolidação das Unidades de Conservação da Terra do Meio


A criação das unidades de conservação na região da Terra do Meio não
agradou a grande maioria dos segmentos econômicos e políticos da região
(TAVARELLA, 2008). A concentração e grilagem de terras, a exploração de madeira
e o avanço da pecuária foram extremamente prejudicados não só pela nova
condição de espaços especialmente protegidos como pelo aumento da presença do
poder público, principalmente pelas operações de fiscalização ambiental.
Posteriormente ao processo de criação das unidades de conservação,
resultante de uma grande coalização socioambiental contra as ações
governamentais desenvolvimentistas (TAVARELLA, 2008) geradoras de grandes
impactos ambientais, apresenta-se o desafio de que as mesmas possam mudar
essa forma de gestão do território e dos recursos naturais.
Ao mesmo tempo em que se pretende proteger o patrimônio natural de uma
região, são estabelecidas metas de conservação da biodiversidade em nível mundial
por países signatários, incluindo o Brasil, e as unidades de conservação são peças
fundamentais dos esforços mundiais para o alcance das mesmas.
66

Nesse sentido, MMA (2011) aponta os grandes desafios a serem enfrentados


pelo SNUC, com destaque para a ampliação da proteção dos biomas e,
principalmente, a consolidação das unidades de conservação existentes e a serem
criadas. Elas exigem plenas condições de gestão para que cumpram efetivamente o
seu papel de garantir a manutenção da rica biodiversidade e permitir que a
sociedade desfrute dos benefícios econômicos e sociais que esses espaços podem
proporcionar.
Se bem gerenciados, estes espaços especialmente protegidos podem dar
uma contribuição extremamente relevante para a proteção da natureza contra a
extinção de espécies, desmatamento em larga escala e mal uso de recursos
naturais.
Essa é uma questão importante referente às unidades de conservação que
geralmente não é valorizada. A grande preocupação normalmente se concentra na
representatividade de biomas ou ecossistemas florestais importantes, espécies
endêmicas, entre outros, inseridos nos limites físicos das unidades, ou referem-se às
suas dimensões geográficas.
Em um contexto especial de proteção da biodiversidade as unidades de
conservação desempenham um importante papel na definição e proteção de áreas
consideradas prioritárias.
Assim, Albernaz e Ávila-Pires (2009) destacam que elas permitem avaliar
quais os alvos já representados no sistema de unidades de conservação e quais
ainda não estão contemplados, e que, por isso, devem ser priorizados.
Para exemplificar essa questão, MMA (2002) ao avaliar e identificar ações
prioritárias para a conservação da Amazônia constatou-se que as unidades de
conservação criadas estavam mal distribuídas em relação às fitofisionomias gerando
lacunas e falta de conectividade entre elas.
Além da questão de representatividade de ecossistemas ou de inclusão de
áreas críticas para conservação da biodiversidade observada por Albernaz e Ávila-
Pires (2009), há o questionamento de Vieira et al. (2005) se uma unidade de
conservação sob baixo nível de implementação poderia cumprir uma de suas
importantes funções de diminuir o avanço do desmatamento.
A questão do nível ou grau de implementação de unidades de conservação
observada por Vieira et al. (2005) é vista por Borges et al. (2007) e Araújo et al.
(2009) como uma questão basicamente relacionada a gestão das mesmas.
67

Nesse caso, Borges et al. (2007) consideram que as unidades de


conservação da Amazônia estão sendo mal gerenciadas devido à falta de
instrumentos de planejamento, carência de infraestrutura básica, e recursos
humanos em número insuficiente.
Para isso, o poder público deve considerar a gestão dessas áreas como
prioridade (VERÍSSIMO et al., 2011; BORGES et al., 2007) e dispor de recursos
humanos e financeiros adequados, estrutura física básica, locais delimitados para
pesquisa, visitação, uso comunitário e produtivo. Além disso, é essencial que a
gestão esteja baseada num plano de manejo aprovado, e na existência de um
conselho gestor formal e atuante.
Em relação aos investimentos financeiros, MMA (2011) considera que os
mesmos devem ser planejados essencialmente observando dois custos específicos,
um para a criação, implementação e consolidação; e outro para as oportunidades
econômicas associadas à renúncia da renda da conversão florestal.
Para que a gestão de Unidades de Conservação seja eficiente, Borges et al.
(2007) elencaram algumas recomendações que, se devidamente adaptadas e
implementadas em nível local, podem contribuir a construção de um sistema
eficiente de unidades de conservação na Amazônia, como: implementar e manter
um sistema de informações sobre as Unidades de Conservação; fortalecer as
organizações estaduais de meio ambiente; estabelecer parcerias com organizações
da sociedade civil; realizar avaliações regulares da gestão; realizar análises técnicas
sobre a adequação de categorias e limites das unidades existentes; explorar
possibilidades das terras indígenas integrarem um sistema abrangente de áreas
protegidas; e promover a capacitação de diversos atores que compõem os
conselhos gestores.
A consolidação das Unidades de Conservação na Terra do Meio é um desafio
de grandes proporções. Da mesma forma que houve a mobilização de segmentos
da sociedade civil e do poder público formando uma coalização para conservação da
região, também há uma grande mobilização de segmentos do poder público e do
poder econômico para resistência às mudanças propostas, especialmente formando
uma coalizão contrária à criação das Unidades de Conservação.
A mobilização dos segmentos socioambientais que deflagrou e fortaleceu o
processo de criação das Unidades de Conservação partiu essencialmente de
Altamira, em função das pressões para uma agenda ambiental e de
68

desenvolvimento local para os agricultores familiares estabelecidos ao longo da


rodovia Transamazônica.
No caso de São Félix do Xingu, o movimento deu-se de forma contrária. A
mobilização socioambiental através dos movimentos sociais locais foi quase
inexistente, em função do poder político e econômico voltado para a exploração
mineral, madeireira e pecuária que domina essa frente de ocupação.
Alguns exemplos dessa mobilização contrária são evidenciados, por exemplo,
com a criação do Sindicato dos Produtores Rurais de São Félix do Xingu para
defender os interesses dos madeireiros e pecuaristas, e também pelas ações
judiciais contestando a criação das Unidades de Conservação e, inclusive, propondo
alterações de limites das mesmas.
Nesse aspecto, a consolidação das unidades de conservação criadas na
região da Terra do Meio representa uma mudança no cenário de governança
pressupondo a presença efetiva do poder público na região e estabelecendo o
controle e regulação do uso dos recursos naturais numa região que se encontra sob
intenso conflito pela posse da terra e, portanto, sob forte pressão pela conversão de
florestas em diferentes usos da terra.

3.3 Considerações finais

O uso e ocupação da região da Terra do Meio a partir da década de 1990


foram alavancados por meio da abertura de estradas e incentivos governamentais a
diversos projetos, como de exploração minerária, de colonização, de exploração
florestal e de agropecuária, gerando um processo acelerado e desordenado de
exploração dos recursos naturais e de impactos ambientais.
Nesse contexto, a criação de unidades de conservação na região não foi um
processo fácil, visto que as ações governamentais “desenvolvimentistas”
incentivando práticas de conversão do espaço florestal, principalmente pela
exploração madeireira e pecuária, em determinando momento teria que se
confrontar com as ações governamentais que tinham por objetivo a conservação da
Terra do Meio.
Criou-se, então, um choque entre interesses favoráveis e contrários aos
esforços de conservação da região. A mobilização socioambiental, oriunda de
segmentos da sociedade civil, foi determinante para que a região pudesse ter hoje
69

um bloco de áreas protegidas formado por unidades de conservação e terras


indígenas com a perspectiva de mudança do modelo de gestão do território e dos
recursos naturais extremamente predatórios.
Observamos a proposição de diversas categorias de unidades de
conservação para a região, algumas mais restritivas e outras menos restritivas,
considerando a necessidade de contenção de pressões antrópicas ou manutenção
de modos de vida tradicionais, o que tornou ainda mais complexa a definição.
A fase seguinte, de consolidação das unidades de conservação criadas,
constitui mais um grande desafio, e demandam a aplicação de altos investimentos
do poder público, entre outros fatores, em função das grandes dimensões territoriais
e dificuldades de acesso peculiares a região da Terra do Meio.
Contudo, as unidades de conservação criadas na região têm objetivos
comuns, papéis distintos, contextos diferentes, que demandam ações integradas
entre órgãos gestores, sociedade civil e iniciativa privada.
Por outro lado, a proposição de criação da APA Triunfo do Xingu localizada
na extremidade sul da região da Terra do Meio teve um questão peculiar.
Observamos que houve uma indefinição ou dúvida acerca da viabilidade de criação
de uma unidade de conservação, mesmo de uso sustentável, em uma área que já se
encontrava altamente alterada e sob intensa pressão antrópica.
Isso ficou evidente na proposta feita pelo IBAMA em 2004 que recomendou a
criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável envolvendo a área de
influencia do Igarapé Triunfo localizado dentro da atual APA Triunfo do Xingu. A
proposta deixara o restante da área desprovida de proteção sob a forma de unidade
de conservação, mesmo sendo a mesma limítrofe a duas unidades de conservação
de proteção integral que seriam criadas posteriormente, a ESEC Terra do Meio e o
PARNA Serra do Pardo.
Contudo, a proposta do MMA para criação de uma APA foi mantida e
colocada em prática pelo governo do Pará que criou a APA Triunfo do Xingu em
2006.
A APA Triunfo do Xingu uma vez consolidada em harmonia com as outras
unidades de conservação existentes na região, por meio da aplicação de
instrumentos de gestão pode contribuir para um controle maior sobre a exploração
dos recursos naturais existentes. Essa consolidação pressupõe não só maior aporte
de recursos financeiros, humanos ou materiais, e necessário usufruir da condição de
70

proteção legal de uma área especialmente protegida na forma de uma unidade de


conservação, mesmo que a categoria Área de Proteção Ambiental tenha menores
restrições de uso e ocupação. Nesse caso, o controle e acompanhamento da
atividade rural através do licenciamento e as exigências legais de cadastro
ambiental rural para subsidiar a regularização ambiental e fundiária das
propriedades rurais são elementos fundamentais para ajudar a APA Triunfo do Xingu
a alcançar seus objetivos de conservação.
Os passivos ambientais na região são muitos, gerados pela ausência do
poder público principalmente em criar, aplicar e fiscalizar o cumprimento dos
instrumentos de controle ambiental. A presença de uma unidade de conservação
pode ampliar significamente a eficiência desses instrumentos principalmente
ampliando a mobilização e a participação de segmentos da sociedade até então
excluídos desse processo.
O controle ambiental na APA Triunfo do Xingu pode ser potencialmente
intensificado com a participação dos atores sociais locais na gestão da unidade de
conservação, principalmente pelo acompanhamento das políticas públicas adotadas
ou no direcionamento e priorização de ações de interesse das comunidades locais.
71

4 A IMPORTÂNCIA DA APA TRIUNFO DO XINGU PARA A REGIÃO DA TERRA


DO MEIO
4.1 Introdução

As lacunas de proteção na região da Terra do Meio, especificamente


formadas pelas áreas localizadas entre as terras indígenas, a partir do final da
década de 1990 se tornaram o alvo imediato da intensa exploração madeireira e da
pecuária associadas às facilidades de grilagem de terras.
A pressão pelos recursos naturais na região avançava por várias frentes. Ao
norte, oriunda da rodovia Transamazônica, pelo oeste por meio da colonização ao
longo da rodovia Cuiabá-Santarém, e a leste por meio da abertura das estradas na
região sudoeste ligando Marabá a São Félix do Xingu e em direção ao rio Iriri.
A necessidade de novas áreas para a expansão das atividades madeireira e
pecuária direcionou medidas governamentais de incentivo para a expansão dessas
atividades em direção a região sudoeste do Pará, principalmente a partir da região
de Marabá.
Além de incentivos fiscais, acesso a crédito, entre outros incentivos
governamentais, novas estradas foram abertas ligando Marabá até São Félix do
Xingu, especialmente pela rodovia PA-279 a partir do município de Xinguara. Assim,
o caminho para o avanço da exploração madeireira e pecuária estava aberto
estabelecendo uma nova frente de ocupação da região da Terra do Meio a partir de
São Félix do Xingu. As diversas frentes de uso e ocupação da região tinham o
propósito estratégico de interligação com o objetivo de facilitar a exploração e o
escoamento dos recursos naturais, criando uma rede de conectividade por meio dos
rios, estradas e pistas de pouso.
A Frente Leste de ocupação a partir de São Félix do Xingu contribuiu
significativamente para o fortalecimento dessa conectividade. O avanço dessa frente
em direção ao interflúvio Xingu-Iriri facilitou a instalação de projetos de exploração
minerária, de assentamentos de reforma agrária, de exploração madeireira e
pecuária, sendo a responsável pelas maiores alterações da cobertura florestal nativa
da região, gerando índices alarmantes de desmatamento.
Por outro lado, a criação de Unidades de Conservação para composição das
lacunas de proteção na região teve como um dos objetivos principais estabelecer
uma barreira de contenção ao avanço da exploração predatória dos recursos
naturais e da grilagem de terras.
72

A criação das Unidades de Conservação na região da Terra do Meio, a partir


de 2004, associada à intensificação das ações de fiscalização que ocorreram na
região, a partir de 1999, não só estabeleceu uma barreira ao avanço da frente leste
de uso e ocupação, com também contribuiu significativamente para redução da
degradação ambiental na região.
Exatamente numa área crítica de avanço da frente de ocupação e expansão
econômica do município de São Félix do Xingu foi criada em 2006 a Área de
Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (APATX).
A APA Triunfo do Xingu ficou com a difícil tarefa de realizar o ordenamento
territorial e regularização ambiental na região, sendo uma categoria pouco restritiva,
criada numa área altamente degradada pela predominância das atividades de
exploração minerária, madeireira e pecuária, enfrentando uma verdadeira coalização
de forças contrárias a qualquer iniciativa de proteção ambiental na região.
Na região que corresponde à APA, importantes concentrações populacionais
se encontram isoladas e desassistidas pelo poder púbico em seus serviços básicos
essenciais para sobrevivência, enfrentando graves problemas ambientais
decorrentes do avanço do uso e ocupação da região, principalmente a partir de São
Félix do Xingu.
A consolidação da APA é um grande desafio, e o sucesso de sua gestão
depende da forma como ela será conduzida, principalmente se for desprovida de
aproximação com os diversos atores sociais locais.
Assim, diante de um cenário extremamente desfavorável para a consolidação
de uma Unidade de Conservação, principalmente numa categoria pouco restritiva,
questionamos se a APA Triunfo do Xingu tem condições de afirmar sua importância
para a região e cumprir seus objetivos de conservação, e desempenhar o papel
fundamental de articulação com os diversos segmentos da sociedade interessados
na proteção do patrimônio socioambiental da Terra do Meio.

4.2 Revisão bibliográfica


4.2.1 O Município de São Félix do Xingu
a) Aspectos geográficos e ambientais
O município de São Félix do Xingu pertence à Mesorregião Sudeste Paraense
(Figura 10), tendo como limites ao norte, os municípios de Senador José Porfírio,
Altamira, Anapú, Novo Repartimento e Água Azul do Norte; ao sul o estado do Mato
73

Grosso; a leste os municípios de Marabá, Parauapebas, Tucumã, Ourilândia do


Norte, Santana do Araguaia e Cumaru do Norte; e a oeste o município de Altamira
(TNC, 2011). A área total do município é de 84.879,66 Km², sendo o segundo maior
município do estado do Pará e do Brasil, ficando atrás apenas do município de
Altamira (IDESP, 2011).
O acidente geográfico mais importante é o rio Xingu, contendo, ainda, parte
da Serra dos Carajás. Outra característica relevante é a ocorrência de importantes
sítios arqueológicos na foz do igarapé Carapanã, afluente direto do rio Fresco.
O município abriga também importantes áreas indígenas, como a terra
indígena dos Apyterewa, com 773.470 hectares e a dos Kayapó, com 3.284.005
hectares, sendo que parte dessa área se localiza no município vizinho de Ourilândia
do Norte (ISA, 2012).
Segundo a classificação climática de Köppen, o clima do município de São
Félix do Xingu se enquadra na categoria Ami, para o tipo climático equatorial úmido,
com uma estação relativamente seca, bem definida, e outra com elevados índices
pluviométricos, registrando até 1.423 mm/ano (IDESP, 2011; SECTAM, 2006;
SECTAM, 2005; PMSFX, 2005)
O curso d’água de maior expressão é o rio Xingu, grande afluente da margem
direita do Amazonas, que nasce na Serra do Roncador, em Mato Grosso, e percorre
uma extensão de 1.980 km, até alcançar o rio Amazonas. O rio Xingu apresenta
numerosos trechos de queda d’água dentro do município de São Félix do Xingu, e
possui vários afluentes, destacando-se, de montante para jusante: Ribeirões da Paz,
Petita ou Porto Alegre e José Bispo, rio Fresco e os igarapés Triunfo, Porto Seguro,
Baú, São José e Portal. O rio Fresco é o afluente da margem direita, e em sua
confluência com o rio Xingu situa-se a sede municipal de São Félix do Xingu
(IDESP, 2011; SECTAM, 2006; SECTAM, 2005; PMSFX, 2005).
Os tipos de solos na região apresentam-se diversificados, porém com
predominância do podzólico vermelho-amarelo e terra roxa estruturada que
favorecem a atividade agropecuária (IDESP, 2011; SECTAM, 2006; SECTAM, 2005;
PMSFX, 2005). A cobertura vegetal no município apresenta a predominância da
Floresta Equatorial (Figura 10), abrangendo os subtipos aberta mista e latifoliada.
Ocorrem, também, grandes extensões de campos cerrados (IDESP, 2011; SECTAM,
2006; SECTAM, 2005; PMSFX, 2005).
74

Figura 10: Localização geográfica e mapa de vegetação do município de São Félix do Xingu

Fonte: TNC (2011).


75

b) Aspectos Socioeconômicos
1) Histórico de formação do município
As origens do município de São Felix do Xingu estão intimamente ligadas ao
município de Altamira. Em 14 de abril de 1874, através da Lei nº 811, foi criado o
município de Souzel, o qual fazia parte de Altamira (IDESP, 2011; SECTAM, 2006;
SECTAM, 2005; PMSFX, 2005). Na primeira década do século XX, o governo
desmembrou aquele município, criando o município de Xingu, com sede no distrito
de Altamira. Conforme a divisão territorial do estado, com data de 31 de dezembro
de 1936, o município de Xingu compunha-se de onze distritos: Altamira, Novo
Horizonte, São Félix, Porto de Moz, Tapará, Vilarinho do Monte, Veiros, Aquiqui,
Souzel, Alto Xingu e Iriri.
Pelo disposto no Decreto-Lei nº 2.972, de 31 de março de 1938, foi mudado o
topônimo do município de Xingu para Altamira, que passou a ser formado por dois
distritos: Altamira e Novo Horizonte (zonas de Novo Horizonte e São Félix).
A alteração foi confirmada pelo Decreto-Lei nº 3.131, de 31 de outubro de
1938, que estabelecia a divisão territorial do estado para o período de 1939 a 1943.
Em 29 de dezembro de 1961, durante o governo de Aurélio do Carmo,
através da Lei nº 2.460, foi criado o município de São Félix do Xingu, com área
desmembrada do município de Altamira.
Com as Leis de nº 5.449 e nº 5.455, de 10 de maio de 1988, São Félix do
Xingu teve seu território desmembrado para criar os municípios de Ourilândia do
Norte e Tucumã. Atualmente, o município é constituído de dois distritos: São Félix do
Xingu e Gradaús.

2) População
O município de São Félix do Xingu tem experimentado diversas fases de
evolução de sua dinâmica populacional (IDESP, 2011; SECTAM, 2006; SECTAM,
2005; PMSFX, 2005), que podem ser correlacionadas com a dinâmica de uso e
ocupação da região (Gráfico 4).
Até 1980 o município de São Félix do Xingu ainda não havia sido afetado pelo
fluxo migratório estimulado pela abertura de estradas, assentamentos rurais e a
dinamização econômica que lhe sucedeu com a exploração madeireira e expansão
da fronteira agrícola e pecuária.
76

Nesse período, a população total do município era de 4.982 habitantes. No


decorrer da década de 1980 houve um crescimento vertiginoso em função do forte
fluxo migratório.
Gráfico 4 - Dinâmica populacional do município de São Félix do Xingu de 1980 a 2011

Fonte: Adaptado de IDESP (2011).

Entre 1991 e 1996 o município continua registrando um crescimento


populacional estimulado pelos fluxos migratórios. Entre 1996 e 2000, esse
crescimento começa a desacelerar, possivelmente devido ao fracasso das políticas
de assentamentos rurais e, também, pela expansão da pecuarização, considerando
a baixa dinâmica da pecuária na geração de empregos.
No período de 2000 a 2006, o município sofre importante desaceleração em
sua economia em função das operações de fiscalização da extração madeireira
ilegal e desmatamentos ilegais para expansão de pastagens, além da criação das
unidades de conservação federais e estaduais.
Essa desaceleração econômica reflete diretamente no crescimento
populacional na região de São Félix do Xingu que registrou uma estabilização.
A partir de 2007, se observa a intensificação do fluxo migratório no município.
Esse fato se deve às políticas públicas voltadas para a regularização ambiental das
propriedades rurais e para o licenciamento ambiental das atividades rurais e de
outros empreendimentos, restabelecendo gradativamente as principais atividades
produtivas da região.
77

3) As principais atividades econômicas


O rebanho bovino no estado do Pará vem experimentando, nos últimos anos,
um expressivo crescimento, reflexo da política estadual de desenvolvimento que tem
priorizado os investimentos e incentivos à atividade pecuária, mais especificamente
na bovinocultura, e no processo de verticalização desta, especialmente nos
municípios das regiões sul e sudeste paraense (IDESP, 2011; SECTAM, 2006;
SECTAM, 2005; PMSFX, 2005).
No município de São Félix do Xingu a criação de animais é pouco
diversificada, com destaque para a pecuária bovina que é considerada a principal
atividade econômica. Atualmente, o município concentra o maior rebanho bovino do
Pará e o terceiro do Brasil, estando ainda em plena expansão (Gráfico 5), além do
grande crescimento da atividade madeireira, com a presença de grandes serrarias
na região.
A atividade pecuária, em muitos dos municípios da região de São Félix do
Xingu, voltada à produção de gado para abate e gado leiteiro, passa por um
processo de verticalização com a forte presença de frigoríficos e laticínios na região.
Nos municípios vizinhos de Tucumã, Canaã dos Carajás e Xinguara, a
presença de abatedouros industriais, frigoríficos e laticínios consolidam o processo
de verticalização da pecuária de corte e leiteira, com a produção de cortes especiais
embalados, leite e derivados, destinados ao mercado local, regional e nacional.
A produção bovina para abate, dos municípios da região, é destinada ainda,
aos frigoríficos instalados em municípios pólos como Redenção e Conceição do
Araguaia que atendem a demanda regional e nacional.
Outra atividade econômica de destaque no município é a produção
madeireira, que vem apresentando queda nos últimos anos em função do
esgotamento das reservas madeireiras de interesse econômico e das ações
governamentais integradas de fiscalização que vêm coibindo sistematicamente a
exploração ilegal de madeira na região, principalmente a partir de 2005 (Gráfico 6).
78

Gráfico 5 - Evolução do rebanho bovino em São Félix do Xingu entre 2000 e 2009

Fonte: Amaral et al. (2013).

Em São Félix do Xingu ocorre, ainda, a atividade ilegal de extração de


madeira em terras indígenas, em Unidades de Conservação e em assentamentos de
reforma agrária, gerando inúmeros conflitos sociais entre as categorias envolvidas.
Outras atividades produtivas não madeireiras estão em fase de crescimento, como a
produção de cacau (Gráfico 7) que tem evoluído bastante na região de São Félix do
Xingu, principalmente a partir de 2006 em função de medidas de incentivos de
crédito e de assistência técnica.
Gráfico 6 - Produção de madeira em tora no município de São Félix do Xingu

Fonte: Adaptado de IDESP (2011).


79

O município de São Félix do Xingu já foi destaque na produção de borracha


na forma de látex coagulado e que ainda sobrevive (Gráfico 8) entre as populações
ribeirinhas.
Gráfico 7 - Evolução da produção de cacau no município de São Félix do Xingu

Fonte: Adaptado de IDESP (2011).

Gráfico 8 - Produção de borracha no município de São Félix do Xingu

Fonte: Adaptado de IDESP (2011).

Outra atividade importante para o desenvolvimento econômico da região de


São Félix do Xingu foi a extração da folha de jaborandi, que ainda sobrevive na
região, no entanto, com baixa produção (Gráfico 9).
80

Gráfico 9 - Produção de folhas de jaborandi no município de São Félix do Xingu

Fonte: Adaptado de IDESP (2011).

Além disso, os empreendimentos minerários estão redescobrindo a região,


planejando para os próximos anos a instalação de grandes empresas para extração
de cobre e níquel, com geração de emprego e renda também por esse segmento
econômico.
O segmento minerário na região sudoeste do Pará é muito forte, com
destaque para os empreendimentos da Companhia Vale nos municípios adjacentes,
como Ourilândia do Norte e Tucumã.
Em São Félix do Xingu, há o registro de muitas autorizações de pesquisa e
lavra garimpeira, principalmente expedidos para grandes empresas, que indicam o
reaquecimento e a reinserção do município nesse segmento econômico.
Um destaque é a instalação do “projeto jacaré” da empresa mineradora Anglo
American que está em fase de elaboração dos estudos de impacto ambiental para
licenciamento, e pretende produzir 35 toneladas/ano de níquel e 05 toneladas/ano
de cobre a partir de 2015, gerando de 12 à 15 mil emprego na região (SEICOM,
2012).

4) Organização social
Atuam no município aproximadamente 80 associações de agricultores
familiares, duas centrais de associações, uma casa familiar rural, uma importante
cooperativa de produtores, dois sindicatos para o mesmo segmento dos
trabalhadores rurais ou agricultores familiares, duas organizações não
81

governamentais de apoio, algumas empresas prestadoras de serviços


agropecuários, uma colônia de pescadores, um sindicato dos produtores
pecuaristas, entre outras (Quadro 1).
Em relação à sociedade civil de São Félix do Xingu, Santos et al. (2009)
observaram os padrões de relacionamentos entre organizações identificaram duas
tendências aparentemente opostas: a fragmentação ou pulverização de
organizações, especialmente associações de pequenos produtores, e a formação de
blocos organizacionais a partir de determinados interesses políticos e econômicos.
Segundo os referidos autores, em relação aos pequenos produtores, as
organizações têm por objetivo apenas criar um mecanismo formal para o acesso dos
agricultores às linhas de crédito oficial, não sendo acompanhada de uma cultura
associativa.
A expressiva quantidade de agricultores e as dimensões territoriais do
município contribuem para esse fenômeno, considerando que, por exemplo, existem
no município 14 Projetos de Assentamento sob responsabilidade do INCRA com
capacidade de assentar 3.764 famílias, totalizando uma área de 259.046 ha
(SANTOS et al., 2009).
A outra tendência surge a partir da ausência de uma cultura associativa mais
sólida aliada à informalidade da maioria das associações. Assim, as organizações
são direcionadas para compor blocos de poder ou alianças identificadas com os
interesses dos grandes proprietários de terras.

5) Conflitos Sociais
O grande problema que se destaca no município de São Félix do Xingu é a
questão da regularização fundiária, que tem gerado altos índices de violência em
função da luta pela posse de terras.
No município cerca de 60% das terras são áreas legalmente protegidas,
incluindo as Unidades de Conservação e terras indígenas. Para os demais 40%,
uma área muito reduzida encontra-se titulada a particulares, outra parcela em
assentamentos da reforma agrária e as demais são áreas públicas e/ou terras
devolutas, que pela sua posse se observa um quadro crônico de conflitos e violência
(SANTOS et al., 2009).
82

Os conflitos fundiários na maioria das vezes ocorrem pela superposição das


pretensões (posses), passando a haver mais ocupantes do que terra para ser
ocupada em determinada região.
Historicamente, a grilagem tem-se beneficiado dos seguintes fatores
(SANTOS et al., 2009):
a) Reconhecimento do desmatamento, mesmo realizado em áreas públicas,
como benfeitoria, para fins de regularização fundiária;
b) Fragilidades de processos discriminatórios e de averiguação da
legitimidade de títulos;
c) Falta de supervisão dos cartórios de títulos e notas;
d) Baixo preço da terra e elevado retorno das atividades econômicas
insustentáveis;
e) Interesses políticos que incentivam ocupações de terras por posseiros;
f) Especulação relacionada com expectativas de desapropriações e/ou
instalação de infraestrutura.
Para Santos et al. (2009) a questão de grilagem de terras tem forte relação
com violações dos direitos humanos e trabalhistas, evasão de impostos, além de
fomentar a degradação ambiental no município.
A situação fundiária conflitiva induz a extração predatória de recursos
naturais, caracterizada pelo desmatamento da propriedade como prova de uso
produtivo da terra.
A criação de unidades de conservação na região e a intensificação da
fiscalização governamental não só tem reduzido significativamente o desmatamento
ilegal, mas também o avanço da grilagem de terras públicas.
Muitos proprietários rurais que tiveram suas terras incluídas nos limites de
unidades de conservação, por exemplo, estão aguardando a conclusão de
processos de desapropriação ou reintegração de posse, que muitas vezes não
resultam em qualquer indenização em função das terras griladas (SANTOS et al.,
2009).
83

Quadro 1 - Identificação das instituições em São Félix do Xingu


Tipo de
Âmbito Denominação Atividades
organização
Cooperativa Agrícola de
Pequenos Produtores Criada em 1992; comercialização da produção de cacau in natura em 2008 e em 2009; tem
Cooperativa
Rurais e Urbanos forte Importância econômica para o município e inserção nas comunidades rurais.
(CAPPRU)
Comissão Pastoral da Criada no final da década de 1990; mediação de conflitos: direitos dos trabalhadores e
Terra (CPT) agricultores familiares, trabalho escravo e de problemas trabalhistas, mediando conflitos.
Faz parte da rede de Casas Familiares Rurais no Pará e mantém em São Félix do Xingu
uma unidade educacional de formação de jovens agricultores; possui convênio com a
Casa Familiar Rural (CFR)
Secretaria de Estado de Educação - SEDUC que permite a viabilização da Casa e um sítio
onde se localiza a área de experimentação agrícola, alojamentos, refeitório e salas de aula;
Organização Associação para o
Organização criada pela CPT, CAPPRU e CFR como uma estrutura de animação e
Não- Desenvolvimento da
assessoria técnica a grupos de agricultores experimentadores e interessados na
Governamental Agricultura Familiar do Alto
viabilização de alternativas produtivas e organizativas para a agricultura familiar da região.
Sociedade Xingu (ADAFAX)
civil Central das Associações Criada há 2 anos a partir do ICPC, tem por objetivo agregar forças e capacitar as
do Alto Xingu (AAÇÕES) associações existentes no município.
Fundada em 2006 com o objetivo de prestar assistência às comunidades rurais, fazendo a
Instituto de Cooperação e
representação delas junto aos órgãos governamentais. Fazem parte do Conselho dos
Promoção Comunitária
Territórios do Alto Xingu que foi criado em 2008 para debater políticas agrárias e
(ICPC)
fortalecimento da agricultura familiar.
Sindicato dos Estabelecido em 1978 com base sindical em Altamira; foi retomada pelos trabalhadores em
Trabalhadores Rurais 1985; apóia a homologação de aposentadorias, indicando famílias clientes da reforma
(STTR) agrária e participa em vários espaços públicos.
Sindicato Sindicatos dos Agricultores Foi instituído pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar - FETRAF e criado
Familiares (SINTRAF) recentemente (2009) com objetivo de fortalecer a agricultura familiar e reforma agrária.
Sindicato dos Produtores
Representa os pecuaristas e madeireiros; tem força política e articulação estadual.
Rurais (SPR)
84

conclusão Quadro 1
Âmbito Tipo de Denominação Atividades
organização
Cooperativa dos Técnicos
Cooperativa de técnicos que atua na elaboração de projetos de crédito
Agropecuários do Xingu
rural; cerca de 80% do trabalho é voltado para a agricultura familiar.
Empresa (COOTAGRO)
Prestadora Empresa privada com atuação principalmente em serviços de topografia e
Empresa VIA RURAL
de Serviços georreferenciamento de propriedades rurais na região.
Rurais Assessoria Técnica, Social,
Sociedade civil Ambiental e Projetos Agropecuários Com sede em Redenção; atua na elaboração de projetos agropecuários.
(PROCAMPO)
Apóia a documentação dos pescadores e sua regularização junto ao INSS
e Ministério da Pesca, tanto em relação aos direitos previdenciários quanto
Colônia de
Colônia de Pescadores Z-67 ao pagamento do seguro defeso; não tem experiência de trabalho com
Pescadores
manejo ou acordos de pesca e participa do Conselho Municipal de Meio
Ambiente.
Responsável pela gestão de assentamentos de reforma agrária; sua área
Instituição Instituto Nacional de Colonização e
de abrangência da Unidade Avançada é de 4 municípios: São Félix do
federal Reforma Agrária (INCRA)
Xingu, Tucumã, Ourilândia do Norte e Água Azul.
Empresa de Assistência Técnica e
Responsável pela assistência técnica dos agricultores.
Poder público Instituição Extensão Rural (EMATER)
estadual Agencia de Defesa Agropecuária do
Atua no combate à febre aftosa na região.
Estado do Pará (ADEPARÁ)
Secretaria Municipal de Agricultura Distribuição de sementes e serviços de patrulha mecanizada,
(SEMAGRI) principalmente recuperação de área degradada.
Instituição Administração da coleta seletiva de lixo e arborização de áreas públicas.
municipal Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (SEMMAS) Na área rural realiza fiscalizações em relação ao desmatamento ilegal.
Fonte: adaptado de Santos et al. (2009).
85

4.2.2 A categoria APA como instrumento de proteção da biodiversidade


O objetivo central da categoria APA se relaciona à Categoria V da UICN
(PINHEIRO, 2012; 2013; DUDLEY, 2008), que diz respeito às paisagens protegidas,
com o conceito de superfície de terra, podendo incluir costas e mares, na qual a
interação do ser humano e da natureza, ao longo dos anos, produziu uma zona de
caráter definido, com importantes valores estéticos, ecológicos e/ou culturais que
freqüentemente abriga uma rica diversidade ecológica.
O principal objetivo da Categoria V é o de proteger e manter paisagens
terrestres e marinhas importantes e a conservação da natureza associada a elas,
bem como outros valores criados pelas interações com os seres humanos através
de práticas tradicionais de gestão. Além disso, essa Categoria possui outros
objetivos (PINHEIRO, 2012; 2013; DUDLEY, 2008), como:
a) Manter uma interação equilibrada entre a natureza e a cultura mediante a
proteção da paisagem e/ou gestão do meio ambiente e abordagens
tradicionais, as sociedades, culturas e valores espirituais associados;
b) Contribuir para a conservação em larga escala, mantendo paisagens
culturais e as espécies associadas e/ou fornecer oportunidades para a
conservação em paisagens que têm um alto nível de uso;
c) Proporcionar oportunidades para o bem-estar, gozo e atividades
socioeconômicas através de recreação e turismo;
d) Fornecer produtos naturais e serviços ambientais;
e) Fornecer uma estrutura para apoiar a participação da comunidade na
gestão das paisagens terrestres e marinhas;
f) Incentivar a conservação da biodiversidade e agir como modelos de
sustentabilidade para identificar lições que podem ser aplicadas de forma
mais ampla.
g) Servir como zonas-tampão em torno de um núcleo de uma ou mais áreas
de proteção integral para garantir que os usos da terra e da água não
ameacem a sua integridade;
Em geral, as Áreas de Proteção Ambiental (APA) enfrentam dificuldades para
sua gestão devido as grandes extensões, as tensões com as atividades econômicas
e com os proprietários privados, o grande número de atores envolvidos, a existência
de áreas urbanas em seu interior, dentre outros fatores que colocam em dúvida a
efetividade desta categoria de Unidade de Conservação para atingir os objetivos do
86

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e, em muitas ocasiões,


também sua relevância ecológica (PINHEIRO, 2012; 2013).
Para o ICMBio (2011), a APA é considerada fácil de ser legalmente criada,
principalmente pelo fato de não ser necessário desapropriar as propriedades
particulares abrangidas e por representar uma ação de governo em conservação
ambiental, gerando assim um grande descrédito para essa categoria de Unidade de
Conservação.
Atualmente essa categoria é mais representativa de todo o SNUC
abrangendo cerca de 430 mil km², correspondendo a quase 50% do total de
unidades de uso sustentável e 25% de todas as unidades de conservação (ICMBio,
2011).
Enquanto instrumento de proteção da biodiversidade a APA é muito
contestada em função de sua permissividade de uso, porém de acordo com o
contexto onde a unidade de conservação está inserida é importante identificarmos
as potencialidades e oportunidades que a mesma pode oferecer.
Nesse contexto, buscamos uma reflexão sobre as dificuldades encontradas e
as potencialidades a serem exploradas na gestão de APA’s. Destacamos as
opiniões de Côrte (1997) e Pinheiro (2012; 2013) decorrentes do conceito geral de
APA, que fizeram várias constatações em relação a gestão, principalmente as suas
potencialidades, como:
a) Conciliar o desenvolvimento de atividades humanas com a conservação
dos recursos naturais;
b) Proteger o solo, subsolo, a cobertura vegetal e a fauna local, promover a
melhoria da qualidade dos recursos hídricos, recuperar áreas degradadas;
c) São áreas submetidas ao planejamento e à gestão ambiental;
d) São áreas de uso múltiplo, controladas através do zoneamento,
fiscalização e educação ambiental;
e) Podem conter outras Unidades de Conservação mais restritivas;
f) Podem ter uso urbano;
g) Propiciam a experimentação de novas técnicas e atitudes que permitam
conciliar o uso da terra e o desenvolvimento regional com a manutenção
dos processos ecológicos essenciais;
87

h) Permitem que a população residente e do entorno sejam integradas às


práticas conservacionistas, através de ações de educação ambiental ou
participação no processo de planejamento e gestão;
i) Permitem o estabelecimento de um processo de cogestão entre órgãos
governamentais, não governamentais e setores organizados da sociedade.
j) A gestão participativa, descentralizada e integrada são importantes
componentes da gestão das APA, em especial a participação ativa da
sociedade civil e dos conselheiros gestores na solução de problemas,
destacando-se a capacitação continuada de conselheiros para uma
discussão aberta e democrática no conselho.
k) A perspectiva de gestão da APA é diferenciada, visando contribuir na
mobilização e sensibilização para o ordenamento territorial, que se
desenvolve através da interlocução direta com o poder público local,
partilhando uma gestão mais ampla do território, inclusive em áreas
privadas.
l) Outra perspectiva diferenciada na gestão das APA’s é o caráter dinâmico
do território, moldável pelas pressões políticas e socioeconômicas, que
requer um olhar mais profundo da paisagem natural e dos conflitos
socioambientais, trabalhando na construção de propostas de novas
Unidades de Conservação mais restritivas em áreas de maior valor
biológico, ou ainda, na defesa dos territórios de populações tradicionais em
novas áreas protegidas, reforçando a necessidade de conservação da
região.
Para Côrte (1997) entre os gestores há um maior entendimento de que a
adoção de normas de uso e ocupação do solo, aliada a um processo participativo de
gestão podem garantir a proteção dos atributos ambientais de uma APA.
Contudo, algumas resistências podem ser observadas nesse processo de
gestão. Nesse sentido, Côrte (1997) elencou três fatores importantes que devem ser
levados em consideração na gestão de uma APA que podem inviabilizar o alcance
de seus objetivos, como:
a) O excesso de restrições impostas pela legislação ambiental a uma
propriedade particular podem prejudicar as tentativas de busca do equilíbrio
entre os objetivos socioeconômicos e os ecológicos na gestão de uma APA.
88

b) O papel do poder público na gestão das APA’s, mesmo se imprescindível,


torna-se mais eficaz quando compartilhado entre os vários órgãos
governamentais envolvidos, o setor privado e a sociedade civil.
c) A gestão das APA’s, dada a sua característica de estabelecer ações de
conservação ambiental e não apenas de preservação, não deve ser
fundamentada em ações de controle e fiscalização, mas deve priorizar ações
de mediação de conflitos entre uso do solo e proteção dos recursos naturais.
A análise da situação atual de gestão de APA’s no Brasil pelo ICMBio (2011)
demonstrou que em geral elas são territorialmente extensas e os gestores tem
dificuldades de todo tipo para atuar de forma estratégica em sua gestão. A falta de
diretrizes para a sua consolidação faz com que cada APA atue de maneira diferente
para resolver as questões de proteção, autorização ao licenciamento, entre outras,
fragilizando a instituição e a credibilidade das ações da equipe, deixando em
segundo plano a promoção do desenvolvimento sustentável e o estímulo de práticas
proativas de gestão da unidade.
Como abordamos nos capítulos 1 e 2, no caso do município de São Félix do
Xingu, o processo de uso e ocupação da região e a criação de unidades de
conservação como medida de contenção dos avanços de desmatamento e grilagem
de terras nos remetem a uma reflexão quanto a viabilidade de uma APA,
especialmente na região do interflúvio Xingu-Iriri, onde os conflitos fundiários, o
avanço do desmatamento, da pecuária e da grilagem de terras tornam a gestão de
uma APA ainda mais difícil. Porém, com a expectativa de que algumas estratégias
de gestão podem viabilizar o alcance de seus objetivos.

4.2.3 Aspectos gerais da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu


a) Localização e dimensão
A APA Triunfo do Xingu foi criada pelo Decreto Estadual n° 2.612 de 04 de
dezembro de 2006, com área total de 1.679.280,52 hectares, sendo que 65% de sua
área ocorrem no município de São Félix do Xingu, e 35% no município de Altamira,
em sua porção territorial mais ao norte.
A APA integra o bloco de áreas protegidas da região da Terra do Meio (Figura
11) que é constituído por unidades de conservação federais e estaduais e terras
indígenas na região do Xingu.
89

Figura 11 - Localização da APA Triunfo do Xingu na região da Terra do Meio

Fonte: SEMA (2011).

b) Aspectos socioeconômicos e ambientais


Os primeiros estudos sobre os solos na região de São Félix do Xingu foram
realizados pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) em
1976 (PMSFX, 2005) com o objetivo conhecer o potencial de recursos naturais
disponíveis como parte do processo de desenvolvimento e valorização da região.
Posteriormente, estudos socioeconômicos e ambientais desenvolvidos se
reportaram de maneira geral à região da Terra do Meio (HOGAN et al., 2009;
SECTAM, 2006; SECTAM, 2005; PMSFX, 2005) com inserções gerais sobre o
município de São Félix do Xingu, e não especificamente para a área da APA Triunfo
do Xingu.
As informações específicas sobre a área da APA Triunfo do Xingu foram
geradas a partir do final da década de 1990 com o objetivo de subsidiar a criação
das Unidades de Conservação na região da Terra do Meio. Nesse período, estudos
socioeconômicos e ambientais, entre outros, importantes para o aprofundamento
dos conhecimentos sobre a região, foram conduzidos na área da APA e em seu
entorno. Alguns deles estão detalhados no primeiro capitulo desse documento,
90

especificamente sobre as dinâmicas de uso e ocupação da região da Terra do Meio,


com fortes inserções na área da APA Triunfo do Xingu.
O desenvolvimento da agricultura familiar especificamente na área de
influencia da estrada Canopus foi estudado por Sablayrolles et al. (2006) gerando
informações extremamente importantes para a APA Triunfo do Xingu. Os resultados
(Quadro 2; Figura 12) evidenciam os detalhes da dinâmica de ocupação, dos atores
sociais envolvidos e dos problemas decorrentes das fases de ocupação no
interflúvio Xingu-Iriri.
A agricultura familiar está presente nas diversas fases de ocupação da região
da APA Triunfo do Xingu, inicialmente incentivada nas proximidades da sede do
município de São Félix do Xingu através dos assentamentos rurais no inicio da
década de 1980.
Posteriormente, com a abertura da estrada Canopus ligando as áreas
ribeirinhas do rio Xingu ao rio Iriri, o arranjo produtivo de agricultura familiar foi sendo
gradativamente alterado pela chegada da exploração minerária, madeireira e
pecuária, e o estabelecimento de grandes fazendas, provocando a expulsão de
muitas famílias ribeirinhas e de agricultores.
Contudo, muitas famílias de agricultores em pequenas propriedades ainda
resistem ao longo da estrada e em áreas mais próximas às vilas e povoados, visto
que nas áreas mais afastadas da estrada e das concentrações populacionais
predominam as grandes propriedades rurais. Outras características importantes
sobre os núcleos populacionais na APA Triunfo do Xingu foram identificadas por
Costa et al. (2012) por ocasião do processo de criação da unidade e formação de
seu conselho gestor.
Nesse processo foram identificados doze principais núcleos comunitários
existentes na região da APA com um contingente populacional formado por
aproximadamente 2.200 famílias, uma grande concentração de propriedades rurais
acima de 500 hectares, em cerca de 60% da área da APA; o predomínio da pecuária
extensiva; a ocorrência de importantes áreas remanescentes para preservação de
flora e fauna; a precariedade dos serviços de educação, segurança, saúde, de
saneamento e de fornecimento de energia elétrica nos núcleos comunitários; as
potencialidades econômicas para os pequenos produtores rurais; e os conflitos
pautados pela questão fundiária e grilagem de terras.
91

Por outro lado, as potencialidades da cadeia produtiva madeireira na região


também foram estudadas pela TNC (2012) com forte inserção na área da APA
Triunfo do Xingu.
Os resultados evidenciaram que apesar das grandes perdas de cobertura
florestal nos últimos anos, a área da APA Triunfo do Xingu ainda detém maior
cobertura florestal do que em áreas do município de São Félix do Xingu localizadas
fora dela.
A atividade agropecuária ocupa 29% da área do município, sendo que
somente 15% dessa área estão dentro da APA.
Do total de 1.917.908 hectares de floresta nativa remanescente do município
de São Félix do Xingu, 1.247.295 hectares estão dentro da APA Triunfo do Xingu,
evidenciando um estoque de madeira maior dentro da área da APA (Gráfico 10).
A cadeia produtiva madeireira no município de São Félix do Xingu tem ainda
um grande potencial de exploração, sobretudo nas áreas florestais nativas
existentes dentro da APA Triunfo do Xingu.
92

Quadro 2 - Caracterização do uso e ocupação da região da APA Triunfo do Xingu

Nº IDENTIFICAÇÃO/ PERÍODO DE
OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA LOCALIZAÇÃO OCUPAÇÃO

Presença de grandes fazendas:


Colonos especuladores e extratores de
1986 à 1992
jaborandi.  Nº propriedades rurais: 24
Solo apto agricultura;  Tamanho médio: + 20.000 ha
Agricultura familiar Ocorrência de conflitos fundiários e
Vila Primavera: 1993 à 1999 Colonos familiares (estrada)
1 diversificada: roçado, Pouca grilagem de terras;
distante 20 km do
cacau e pequenos ocorrência Presença de Agricultores Familiares na
rio Xingu
pecuaristas. estrada e nos pequenos ramais:
Grileiros nos ramais, instalação de  Nº moradores: 675
A partir de 2000
grandes fazendas
 Nº propriedades rurais: 150
 Tamanho médio: 120 há
1985 Abertura da estrada Presença de grandes fazendas (estrada e
grandes ramais):
1986 à 1992 Abertura de ramais madeireiros Solo apto agricultura;
Agricultura familiar  Nº propriedades rurais: 01
1993 à 1999 Colonos familiares (estrada) diversificada: roçado,  Tamanho: + 300.000 ha
cacau e pequenos Presença de Agricultores Familiares na
Vila Central: pecuaristas. Vila, na estrada e nos pequenos
2 Nenhuma
distante 73 km do ramais;Tamanho médio: 20 há
ocorrência
rio Xingu
Grileiros nos ramais, instalação de Não houve registro de conflitos
A partir de 2000 fundiários
grandes fazendas
93

Continuação
IDENTIFICAÇÃO/
Nº PERÍODO DE
OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA OCUPAÇÃO
LOCALIZAÇÃO

1985 Abertura da estrada

Abertura de ramais
1986 à 1992
madeireiros
Presença de grandes fazendas (grandes
(a) Vila Pontalina: Garimpeiros e ramais):
distante 94 km do rio
Solo apto para Nº propriedades rurais: 29;
Xingu próxima da 1993 à 1999 Colonos familiares agricultura; Tamanho: + 2.000 ha
Vila dos Crentes:
(estrada) Agricultura familiar Presença de Agricultores Familiares na
distante 84 km do rio
diversificada: roçado, Ocorrência estrada e nos pequenos ramais;
3 Xingu;
cacau e pequenos de garimpo Nº moradores: 650;
(b) Vila Cabocla:
pecuaristas Nº propriedades rurais: 240
distante 130 km do
T amanho médio: 380 há
rio Xingu; próxima
Chácaras: 5-25ha
do ramal Toca dos Grileiros nos ramais,
A partir de Não houve registro de conflitos
Sapos instalação de grandes
2000 fundiários.
fazendas
94

Conclusão
IDENTIFICAÇÃO/ PERÍODO

DE OCUPANTE ATIVIDADE GARIMPO ASPECTOS FUNDIÁRIOS
ZONA
LOCALIZAÇÃO OCUPAÇÃO

Presença de grandes fazendas (grandes ramais):


1985
Abertura de estrada Garimpo: 300 ha após 10 km da estrada.
VILA CANOPUS:
Solo apto agricultura; Nº propriedades rurais: 11
distante 190 km do
(Invasão) Agricultura familiar Tamanho: + 80.000 ha
rio Xingu; próximo
Grileiros nos ramais; diversificada: roçado, Ocorrência Presença de Agricultores Familiares na estrada e
4 do Ramal do Jabá,
Colonos familiares na cacau e pequenos de garimpo nos pequenos ramais;
Ramal do Leão e
2000 estrada; pecuaristas/compradores. Nº moradores: 220
Ramal do Bala.
Garimpeiros na estrada; Nº propriedades rurais: 120
Instalação de grandes Tamanho médio: 450 há
fazendas Não houve registro de conflitos fundiários.

5 Zonas localizadas nos finais dos ramais, distantes além de 10 km da estrada Canopus.

(a) MARGENS
DO RIO XINGU; Região de conflitos fundiários;
(b) MARGENS Beiradeiros, grileiros e Nenhuma Grilagem de terras;
6 2000
DO RIO IRIRI: fazendeiros Pecuária ocorrência Expulsão de ribeirinhos
distante 230 km do
rio Xingu.

VILA SANTA
Presença de pequenos Agricultores Familiares;
ROSA: distante 35 Agricultura familiar
Nenhuma Tamanho médio: 150 há
7 km de São Félix do 1980 Pequenos agricultores diferenciada (pecuária ou
ocorrência Não houve registro de conflitos fundiários;
Xingu; próxima a cacau).
Setor de fazendas.
região do Tabão.
Fonte: adaptado de Sablayrolles et al. (2006).
95

Figura 12 - Zoneamento da estrada Canopus (Xingu-Iriri)

ESEC
TERRA DO MEIO
5 PARNA
SERRA DO PARDO

6
3 5 6
6
4
3

1
2

5 5

ESEC
TERRA DO MEIO 7

Fonte: Sablayrolles et al (2006).


96

Gráfico 10 - Estimativa de estoque de madeira dentro e fora da APA Triunfo do Xingu

Fonte: TNC (2011).

Entretanto, o estudo da cadeia produtiva madeireira evidenciou alguns fatores


limitantes para seu desenvolvimento no município de São Félix do Xingu.
Em relação à regulamentação:
a) Desconhecimento de como fazer o manejo florestal;
b) Legislação vigente extensa e confusa;
c) Dificuldade de regularização da atividade, considerada custosa e
demorada;
d) Dificuldade de acesso a financiamentos;
e) Acelerado processo de conversão de florestas em pastagens;
f) Dificuldade de titulação de terras;
g) Inexistência de compensações financeiras para quem mantém a floresta
em pé.
Em relação à gestão do território:
a) Estado precário de conservação das estradas;
b) Deficiente estrutura dos órgãos fiscalizadores;
c) Baixo preço da madeira;
d) Oferta limitada de madeira oriunda de planos de manejo legais;
e) Alta concorrência de madeira de origem ilegal;
f) Limitada oferta de assistência técnica.
Em relação às empresas:
97

g) Baixa capacidade de autofinanciamento dos planos de manejo;


h) Baixa capacidade de gestão do negócio;
i) Dificuldade de mão-de-obra para manejo legal com técnicas apropriadas;
j) Limitação de maquinário.
Alguns estudos importantes sobre a cadeia produtiva pecuária e a
recuperação de áreas degradadas estão em andamento no município de São Félix
do Xingu, também com forte inserção na área da APA Triunfo do Xingu, porém ainda
não foram concluídos.

A problemática ambiental na região da APA Triunfo do Xingu


A criação da APA Triunfo do Xingu foi subsidiada por importantes informações
sobre a região da Terra do Meio, considerando os aspectos peculiares da frente
leste de uso e ocupação da região.
Algumas peculiaridades da região onde seria criada a APA Triunfo do Xingu
foram evidenciadas por ISA (2003) que chamou a atenção sobre sua importância
estratégica para proteção da Terra do Meio, como:
a) A região era considerada um vetor de expansão agropecuária a partir de
São Felix do Xingu com abertura de novas fronteiras agrícolas;
b) Havia a incidência de um projeto de loteamento do ITERPA com muitas
ocupações;
c) A densidade populacional na área onde seria criada a APA era a maior em
relação às demais áreas da região da Terra do Meio;
d) Havia forte presença de terra roxa favorável a agricultura;
e) Havia a necessidade de dispor de instrumentos mais contundentes para
disciplinar a ocupação desordenada ao longo das estradas ligando a sede do
município de São Félix do Xingu ao rio Iriri;
f) Havia a necessidade de promover intervenções para minimizar o impacto
sobre as outras unidades de conservação localizadas no entorno.
O crescimento da ocupação ao longo das estradas a partir de São Félix do
Xingu até o rio Iriri era considerado uma grande ameaça a proteção da região, visto
que poderia induzir a migração e ocupação de áreas além da APA, intensificando a
especulação e a ocupação desordenada da região, aumentando a pressão sobre as
demais unidades de proteção integral adjacentes.
98

Para essas evidencias foram recomendadas algumas ações (ISA, 2003) que
poderiam ser conduzidas pela APA Triunfo do Xingu, como:
a) Interrupção do acesso e a fiscalização na área da estrada Xingu-Iriri
(Canopus) no limite proposto para criação da Estação Ecológica Terra do
Meio;
b) Consolidar uma maior presença das instituições do poder público na área;
c) Interromper os esquemas de grilagem de terras;
d) Resgatar o protagonismo e autoridade do estado do Pará no controle do
processo fundiário;
e) Realizar o licenciamento ambiental das propriedades rurais;
f) Assegurar a conectividade das reservas legais das propriedades com as
terras indígenas e Unidades de Conservação;
g) Dar especial atenção para preservação para dos morros e serras
incidentes dentro da APA;
h) Promover a mobilização de atores sociais locais e desenvolver estratégias
locais junto ao município de São Félix do Xingu.

A região é marcada pela degradação do ambiente natural recorrente nas


fases sucessivas de exploração dos recursos naturais, com destaque para o
crescente processo de perda da cobertura florestal nativa pelo desmatamento
(Figuras 13 e 14) e, também, para os elevados números de focos de calor e de
queimadas. Na região entre os rios Xingu e Iriri o desmatamento passou a se
intensificar a partir do final dos anos de 1990.
99

Figura 13 - Desmatamento acumulado na APA Triunfo do Xingu até julho de 1997

APA TX

Fonte: Tavarella (2011).

Figura 14 - Desmatamento acumulado na APA Triunfo do Xingu até julho de 2004

APA TX

Fonte: Tavarella (2011).


100

A extração clandestina e a venda de mogno aumentaram de forma


impressionante, nas áreas de novas fronteiras, a partir de 1999, o que deflagrou a
suspensão das autorizações de sua comercialização e maior fiscalização por parte
do IBAMA e Policia Federal, desde outubro de 2001, através da Operação Mogno.
Em São Félix do Xingu a atividade madeireira até meados de 2001
caracterizou-se como uma das frentes mais agressivas. As empresas madeireiras
estavam voltadas para a exploração do mogno, não se interessando por nenhuma
outra espécie, estabelecendo sua lógica de não estocar terra, deixando a
concentração de terras a cargo dos pecuaristas (CASTRO et al., 2002).
Os resultados da relação entre madeireiros e pecuaristas têm sido os
crescentes índices de desmatamento na região. Até o ano de 2001, o município de
São Félix do Xingu registrou a perda de 1.693,3 Km² de cobertura florestal pelo
desmatamento, mantendo níveis elevados até o ano de 2005.
A partir de 2007, com a atuação do poder público através da aplicação de
diversas medidas para contenção do desmatamento, os níveis começaram a reduzir
(Gráfico 11) chegando em 2012 com a perda de 39,2 Km² em São Félix do Xingu, e
17,96 Km² na APA Triunfo do Xingu (COSTA, 2012).

Gráfico 11 - Desmatamento em São Félix do Xingu e na APA Triunfo do Xingu

Fonte: Costa (2012).

Mesmo com a tendência de queda observada nas taxas de desmatamento na


APA Triunfo do Xingu desde sua criação, os números de perda de cobertura florestal
ainda são considerados altos, visto que a APA está situada numa região de grande
importância ecológica.
101

Nesse aspecto, Macedo (2010) lembra que os números evidenciam a


diminuição dos índices de desmatamento, porém se observa uma dinâmica diferente
do modo de abrir a floresta.

Gráfico 12 - Relação das áreas abertas com o nº de aberturas na floresta

Fonte: Macedo (2010).

Observa-se a diminuição da derrubada da floresta, e o avanço do


desmatamento sobre áreas com maior reserva de recursos ainda é grande e
constante, porém em pequenas áreas (Gráfico 12). Antes, abertura da floresta era
realizada em grandes áreas abertas. Atualmente, observam-se pequenas aberturas
na floresta, em áreas em média de 20 hectares.
Outra evidência importante na região de São Félix do Xingu é a forte
ocorrência de queimadas decorrentes da forma insustentável de uso e ocupação do
solo. Nos últimos anos, houve uma diminuição dos pontos de queimadas no
município (Gráfico 13), exceto em 2010, quando o período de estiagem foi
prolongado e houve uma diminuição das operações de fiscalização pelos órgãos
estaduais e federais na área.
102

Gráfico 13 - Evolução de queimadas em São Félix do Xingu

Identificação do Satélite/Ano

Fonte: Gemaque (2012).

O período de julho a setembro, menos chuvoso, é o de maior concentração


de focos de queimadas na área da APA Triunfo do Xingu (Gráfico 14), evidenciando
o predomínio do preparo do solo através de queimadas para a atividade
agropecuária. Os pontos críticos de queimadas dentro da APA (Figura 15) ocorrem
predominantemente nas áreas de maior concentração populacional (GEMAQUE,
2012), especificamente ao longo da estrada Canopus, das margens do rio Xingu até
o rio Iriri onde estão concentradas as propriedades rurais pequenas e médias, com
destaque para a vila Canopus e vila Central.
A região dos assentamentos também é alvo de muitos focos de queimadas,
com destaque para o assentamento Pombal. Nas áreas mais próximas da sede do
município de São Félix do Xingu onde se concentram muitos produtores familiares,
ocorrem muitos focos de calor, especificamente nas vilas Xadá e Santa Rosa.
Em função do município de São Félix do Xingu ter anualmente registrado
crescentes ocorrências de queimadas e incêndios florestais o mesmo foi
considerado pelo governo federal como um dos municípios prioritários da Amazônia
Legal para prevenção e controle de incêndios. Assim, desde 2011 o município conta
com o apoio do IBAMA que implantou o Programa de Prevenção e Combate a
Incêndios Florestais (PREVFOGO) em parceira com a prefeitura local e SEMA,
atuado inclusive na APA Triunfo do Xingu (IBAMA, 2012).
103

Figura 15 - Pontos críticos de queimadas na APA Triunfo do Xingu

Fonte: Gemaque (2012).


104

Gráfico 14 - Número de focos de queimadas na APA Triunfo do Xingu de 2007 a 2010

Fonte: Adaptado de INPE (2010).


105

Comparativamente, a APA Triunfo do Xingu concentrou os maiores registros


de focos de queimadas (Gráfico 15) entre as Unidades de Conservação do Estado
do Pará no período de 2007 a 2010.

Gráfico 15 - Focos de queimadas em unidades de conservação do Pará entre 2007 e 2010

Fonte: Adaptado de INPE (2010).


106

O papel da APA Triunfo do Xingu na região da Terra do Meio


A consolidação das unidades de conservação da Terra do Meio pressupõe a
garantia da integridade dos ecossistemas, a sustentabilidade das comunidades
locais da região e a diminuição da grilagem de terras públicas (ISA, 2003).
A criação da APA Triunfo do Xingu numa região de expansão econômica do
município de São Félix do Xingu tem por finalidade ordenar o caótico processo de
ocupação da região e, ao mesmo tempo, promover intervenções que possam
minimizar os impactos ambientais e a pressão antrópica sobre as outras unidades
localizadas no seu entorno.
Contudo, o cumprimento desses objetivos se torna mais difícil, entre outros
fatores, em função das limitações inerentes à categoria Área de Proteção Ambiental
(APA), principalmente se for de jurisdição estadual, como é o caso da APA Triunfo
do Xingu.
Numa região com graves problemas ambientais a criação de uma Unidade de
Conservação na categoria APA é motivo de muitos questionamentos, porém no
contexto da APA Triunfo do Xingu, observamos uma contribuição significativa para a
redução dos altos índices de desmatamento que, como vimos em capítulos
anteriores, estão associados a diversos fatores, como a grilagem de terras públicas,
a expansão da atividade agropecuária e a predominância de grandes propriedades
rurais.
Nessa questão, Veríssimo et al. (2011) destacam que até 2009 as APA’s
criadas na região Amazônica somavam 181.817 Km², o que corresponde a 15,5% do
total de Unidades de Conservação da Amazônia Legal.
Na Amazônia, a maioria delas foi criada em regiões sob grande pressão
antrópica, com altos índices de desmatamento. Até julho de 2009 o desmatamento
total nas APA’s da região amazônica atingiu 26.674 km², dos quais 97% ocorreram
nas APA’s estaduais e apenas 3% nas federais, sendo que a APA Triunfo do Xingu
figurou nesse período entre as que registraram os maiores índices anuais de
desmatamento.
No município de São Félix do Xingu e, concomitantemente, na área APA
Triunfo do Xingu, as ações do poder público para contenção do desmatamento são
diversificadas e constantes, com significativa redução dos índices de desmatamento.
Entretanto, o fato de que grande parte da área da APA Triunfo do Xingu é
formada por propriedades privadas com muitos passivos ambientais, aliada a
107

permissividade dessa categoria, faz com que a possibilidade de real proteção seja
reduzida em função da pouca ingerência do órgão gestor da unidade em terras que
não são públicas.
Outra questão importante é que a condição de proteção legal estabelecida na
região pela APA Triunfo do Xingu, naturalmente, tem despertado a atenção da
opinião pública para as questões socioambientais da região e, assim, atraído
políticas públicas, evidenciadas no capitulo primeiro.
O controle do desmatamento não deve ser um objetivo isolado a ser
alcançado unilateralmente pelo órgão gestor da APA Triunfo do Xingu. As ações
integradas entre os gestores das várias unidades de conservação na região e
prefeituras locais, com forte inserção do governo federal, têm se mostrado promissor
no sentido de manter em médio e longo prazo os significativos resultados de
controle ambiental, principalmente em relação a redução do desmatamento.

4.3 Considerações finais

Em função de toda a problemática ambiental existente no município de São


Félix do Xingu, a grande expectativa local é que APA Triunfo do Xingu solucione
todos os problemas.
As demandas socioambientais observadas na região de São Félix do Xingu,
com forte incidência na área da APA, estão voltadas especialmente para as
questões que envolvem a melhoria da qualidade de vida das populações locais.
A questão que envolve a qualidade de vida é importante, visto que as
atividades econômicas que se instalaram na região modificaram de forma drástica o
modo de vida local, com um fluxo migratório intenso e predominância de atividades
que relativamente absorvem pouca mão-de-obra local, como a pecuária, além da
expulsão de famílias pela grilagem de terras.
A rápida expansão socioeconômica da região associada às irregularidades
ambientais deflagrou profundas modificações nas principais cadeias produtivas em
função das iniciativas de controle ambiental, que também refletem no modo de vida
e na economia local.
A interrupção de um modelo econômico extremamente desfavorável às
populações ribeirinhas e aos pequenos agricultores cria uma grande expectativa
local, principalmente pela mudança para uma economia baseada na diversificação
108

da produção agrícola, adotando novos arranjos produtivos locais, com apoio e


incentivos do poder público.
Essa mudança certamente não é de fácil alcance, principalmente em curto e
médio prazo. As resistências de setores políticos e econômicos importantes são
muito grandes na região de São Félix do Xingu.
Na região, duas frentes antagônicas estão em franco enfrentamento
(TAVARELLA, 2008). De um lado, uma coalização de forças econômicas tentando
manter o modelo de uso e ocupação da região pautada pela grilagem de terras e
expansão da pecuária extensiva, gerando grandes perdas de cobertura florestal pelo
desmatamento ilegal. Por outro, uma coalização de forças tentando estabelecer um
novo modelo de desenvolvimento pautado pela proteção dos recursos ambientais,
criando Unidades de Conservação e intensificando operações de fiscalização e
controle ambiental.
Contudo, a adoção de políticas públicas diferentes daquelas incentivadoras
do desenvolvimento em detrimento do componente socioambiental, como a criação
de Unidades de Conservação, não é suficiente para a transformação almejada. É
necessária uma mudança das práticas de conversão do espaço florestal, aliada à
gestão efetiva das Unidades de Conservação criadas.
Nesse sentido, a APA Triunfo do Xingu pode contribuir de forma significativa
nesse processo de mudança. Apesar das limitações inerentes a categoria APA, a
criação e o fortalecimento dos instrumentos legais de gestão, como o Plano de
Manejo ou de Gestão, e o Conselho Gestor, são primordiais para promover a
mobilização dos atores sociais locais e desenvolver estratégias para uma nova
postura em relação ao desenvolvimento socioeconômico da região.
109

5 A EFETIVIDADE DE GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


5.1 Introdução

A criação de Unidades de Conservação continua sendo no Brasil e em muitos


países uma das ferramentas mais utilizadas para a contenção de pressões
antrópicas sobre a biodiversidade, a manutenção dos serviços ambientais e dos
interesses socioculturais, com grande contribuição para o desenvolvimento em
bases mais sustentáveis.
Nos últimos anos no Brasil ocorreu um salto quantitativo na criação de
unidades de conservação com a expansão de aproximadamente 120% da área total
de unidades de conservação nas esferas federal, estadual e municipal, destinando
perto de 70 milhões de hectares para a conservação in situ da biodiversidade e de
paisagens naturais com notável beleza cênica (SOUZA et al., 2012). Entre 2003 e
2008 o Brasil foi o responsável pela criação de 74% de todas as áreas terrestres
destinadas à conservação no mundo.
Comparando a situação das unidades de conservação no país com a de
outros países, Gurgel et al. (2012) destacam que o Brasil tem aproximadamente
15,7% de seu território continental sob proteção, e no mundo apenas 12,8%.
Atualmente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é
composto por 310 unidades federais, 397 estaduais, 60 municipais e 973 Reservas
Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), que abrangem cerca de 1.299.182 Km²
do território continental e marinho nacional. Do total, 748.397 Km² pertencem à
esfera federal, 546.523 km² à estadual e 4.262 Km² à municipal (SOUZA et al.,
2011).
Na área continental brasileira, o SNUC protege cerca de 1.273.764 Km²,
(15,7%) de seu total. Desta área, 23,8% estão no bioma Amazônia, 6,2% estão na
Caatinga, 6,6% estão no Cerrado, 6,9% estão na Mata Atlântica, 2,6% estão no
Pampa, e 4,8% estão no Pantanal (SOUZA et al., 2012; GURGEL et al., 2012).
Os números evidenciam uma quantidade significativa de Unidades de
Conservação criadas no Brasil. Contudo, temos que observar os compromissos
internacionais recentemente assumidos em relação às áreas protegidas.
A 10ª Conferencia das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica
(COP10-CDB) que ocorreu em 2010 no Japão, na cidade de Nagoya, estabeleceu
20 metas para construção de uma estratégia para a biodiversidade como parte das
110

obrigações dos países signatários, também conhecidas como metas de Aichi


(ORTEGA, 2012). Uma delas, a meta nº 11, estabelece patamares mínimos de
proteção e representatividade de remanescentes de vegetação nativa. Os países
signatários se comprometeram até 2020 proteger 17% das áreas terrestres e de
águas continentais, e 10% de áreas marinhas e costeiras, em especial as áreas de
importância para a biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Além disso, há a
recomendação de que essas áreas devem ser protegidas por meio de Unidades de
Conservação e que as mesmas devem ser geridas de maneira efetiva e equitativa,
ecologicamente representativas e satisfatoriamente interligadas e integradas em
paisagens terrestres e marinhas mais amplas (ORTEGA, 2012).
O Brasil já havia estabelecido metas até 2010 de proteção de áreas de
importância para a biodiversidade na forma de Unidades de Conservação, sendo
30% para o bioma Amazônia e 10% nos outros biomas (DOUROJEANNI, 2012;
SOUZA et al., 2012).
No bioma Amazônia o alcance já chega a 79% de sua meta. Nos biomas
Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga esse percentual está entre 60% e 70%. O
cumprimento das metas nos biomas Pampa e Pantanal ainda é preocupante, tendo
atingido, respectivamente, apenas 27% e 48% da meta. O mesmo ocorre em relação
à área marinha, a qual está protegida em apenas 1%, o que corresponde a apenas
25.418Km² (DOUROJEANNI, 2012; SOUZA et al., 2012).
Contudo, mesmo com os avanços significativos na criação de Unidades de
Conservação, o esforço deve ser mais intenso, pois para atingir as referidas metas é
necessário criar ainda aproximadamente 250 mil km² em Unidades de Conservação,
o que corresponde a 3% do território brasileiro (GURGEL et al., 2012; ORTEGA,
2012).
As metas de criação de Unidades de Conservação estão sendo alcançadas,
porém temos que lembrar se elas estão alcançando os objetivos que nortearam sua
criação. No Brasil, o processo de consolidação das unidades de conservação
criadas tem sido muito lento, gerando contestações de vários segmentos da
sociedade em relação ao descumprimento de seus objetivos. Nessas condições
surgiu a expressão “parques de papel” referindo-se às unidades criadas e não
implementadas, ou seja, aquelas que estavam somente registradas nos documentos
legais de criação, sendo que não havia na prática qualquer ação de gestão, seja de
111

equipe gestora, base física, sinalização, instrumentos de gestão, entre outras


(FARIA, 2004).
Contudo, as unidades de conservação geram muitos benefícios sociais,
econômicos e ambientais. Por exemplo, somente a existência das mesmas é capaz
de reduzir significativamente pressões antrópicas, sobretudo os avanços do
desmatamento, queimadas e aberturas de estradas ilegais, em áreas de extrema
importância socioambiental na Amazônia (FERREIRA; VENTICINQUE, 2005;
FARIA, 2004).
Entretanto, as lacunas de gestão das unidades de conservação ainda são
muito grandes. No Brasil, a maioria delas não dispõe de importantes instrumentos de
gestão, com o plano de manejo e o conselho gestor, evidenciando uma clara
limitação para o cumprimento dos objetivos de conservação.
Em relação aos planos de manejo, 78% das unidades de conservação
federais e estaduais não possuem planos de manejo (SOUZA et al., 2012).
As unidades federais contam, a partir da promulgação do SNUC, com 64
planos de manejo elaborados e 103 em fase de elaboração, totalizando um número
significativo de unidades realizando sua gestão com subsídios de planos de manejo.
Nas 397 unidades de conservação estaduais, 340 ainda não possuem plano de
manejo, sendo que apenas dois estão em fase de elaboração.
Em relação aos conselhos gestores das unidades, foram instituídos apenas
em 179 unidades de conservação federais e 77 estaduais (SOUZA et al., 2012).
Outras questões são importantes em relação à gestão das unidades de
conservação. Pádua (2012) destaca que o Brasil é um dos países do mundo que
possui menos funcionários por hectares protegidos e menos recursos financeiros,
que vêm minguando ano a ano, pois nos últimos anos se aumentou muito o número
e a extensão de unidades de conservação. Além disso, metade das unidades de
conservação carece de regularização fundiária.
Além disso, para Dourojeanni (2012) a escolha das categorias de manejo, o
tamanho de cada área e a sua localização no contexto ecológico regional, e a
garantia da qualidade do manejo são determinantes para o sucesso da gestão das
unidades de conservação.
As categorias adotadas, o tamanho e a localização das unidades de
conservação, sem dúvida, são fatores importantíssimos a se considerar na gestão.
Na Amazônia, por exemplo, existem unidades com mais de um milhão de hectares e
112

que precisam de esforços grandiosos para o cumprimento de seus objetivos de


conservação.
Contudo, o que chama a atenção é a baixa qualidade de gestão das unidades
de conservação. Segundo Dourojeanni (2012), na Amazônia a gestão é
extremamente deficiente, pior do que nos níveis nacionais da América Latina, os
quais já estão abaixo de qualquer outro continente, inclusive de países muito pobres
da África. Os investimentos são insuficientes e as unidades muitas vezes ficam
semiabandonadas, gerando conflitos com as comunidades locais.
Nesse cenário de acelerado processo de criação de unidades de
conservação, ainda predomina a preocupação com a quantidade, com o
cumprimento de metas e de hectares protegidos.
É necessário inserir a análise da qualidade de gestão, verificando se os
esforços para conservação da biodiversidade, o uso sustentável dos recursos
naturais e a melhoria da qualidade de vida das populações locais, estão dando
resultado. Para isso, alguns instrumentos de monitoramento da gestão estão sendo
elaborados e aplicados em unidades de conservação no mundo todo.
Contudo, observamos que a preocupação com a qualidade de gestão das
unidades de conservação vem crescendo ao longo dos últimos anos, inclusive
influenciada pelas exigências de implementação mínima das unidades de
conservação por parte das organizações financiadoras de projetos.
Neste capitulo correlacionamos as diversas metodologias que avaliam a
efetividade de gestão das unidades de conservação com as perspectivas de avanço
gerencial nas unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável.

5.2 Revisão bibliográfica


As dificuldades que envolvem a gestão das unidades de conservação são
grandes, porém muitos esforços estão sendo feitos pelos órgãos gestores para que
as mesmas alcancem seus objetivos de conservação.
Aqui evidenciamos os conceitos básicos que norteiam a gestão de unidades
de conservação e a importância dos instrumentos de avaliação da efetividade de
gestão, correlacionando-as com os resultados alcançados e suas potencialidades
para a gestão efetiva das unidades de conservação.
113

5.2.1 A gestão de Unidades de Conservação


Aqui adotamos o termo gestão de unidades de conservação em substituição
ao manejo, de maneira a fortalecer o entendimento de Araújo et al. (2008) de que as
unidades de conservação devem ser analisadas como espaços organizacionais e,
assim, dispor de mais alternativas para as analises com a finalidade de melhorar sua
gestão.
O termo gestão tem uma conotação gerencial mais ampla e, também,
contempla o conceito de manejo de unidades de conservação estabelecido pelo
SNUC (BRASIL, 2004), que o considera como todo e qualquer procedimento que
vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas.
Da mesma forma, contempla a definição de Cifuentes et al. (2000), onde o
manejo envolve vários elementos interconectados para assegurar a sustentabilidade
em longo prazo de seus valores naturais, culturais e sociais. A interpelação destes
elementos (de caráter legal, administrativo, social, institucional, científico, financeiro,
de planejamento, entre outros) requer uma estratégia de planejamento flexível e
dinâmica que guie o manejo apropriado de uma área protegida.
Faria (2004) tem o mesmo entendimento de Cifuentes et al. (2000) e define
de forma mais ampla a gestão de unidades de conservação como a equilibrada
coordenação dos componentes técnicos e operacionais (recursos humanos,
materiais e financeiros) e os diversos atores sociais que incidem sobre o
desenvolvimento da área, de maneira tal a obter-se a eficácia requerida para se
alcançar os objetivos para as quais a unidade de conservação foi criada e a
manutenção da produtividade dos ecossistemas abrangidos.
A gestão das unidades de conservação não é tarefa simples e envolve ações
diversificadas e integradas, e torna-se ainda mais complexa ao considerarmos a
exigência cada vez maior da sociedade para que as mesmas cumpram seus
objetivos.
Atualmente observamos um processo crescente de cobrança da sociedade
pelo direito de ter as unidades de conservação bem geridas e instaladas, cumprindo
seus objetivos, e dos cidadãos participarem das decisões tomadas e de conhecerem
os caminhos a serem seguidos. Dessa forma, é importante que os órgãos gestores
das unidades de conservação se preocupem mais com o processo de governança,
estabelecendo o diálogo com a sociedade civil para subsidiar a tomada de decisão
114

em relação ao uso, à normatização e o usufruto dos benefícios gerados pelos


recursos naturais e a biodiversidade.
Nesse sentido, López e Rodriguez (2006) afirmam que para as unidades de
conservação tenham boa governança é necessário que o órgão gestor garanta a
participação de todos os setores interessados. Por outro lado, para que as mesmas
tenham boa gestão é necessário adotar um processo de avaliação sistemática da
gestão.
Toledo (2006) elenca alguns fatores que são importantes para a boa
governança das unidades de conservação e que devem fazer parte da gestão
contribuindo para o alcance de seus objetivos, como: o marco jurídico-institucional,
os sistemas de conhecimento, os valores culturais que determinam a maneira que
as decisões são tomadas, os mecanismos de participação dos diferentes atores e as
formas em que se exerce a responsabilidade e o poder.
Para Vieira (2010) a governança não constitui uma ação isolada da sociedade
civil buscando maiores espaços de participação e influencia, compreende a ação
conjunta do poder publico e sociedade na busca por soluções e resultados para
problemas comuns.
O autor destaca alguns princípios do Programa das Nações Unidades para o
Desenvolvimento (PNUD) para uma boa governança, como:
a) Legitimidade de voz: participação; orientação para o consenso; o alto nível
de confiança entre os vários atores;
b) Direcionamento: visão estratégica; conformidade com diretrizes
internacionais; subsídios legais e planejamento;
c) Desempenho: capacidade de resposta às partes interessadas;
disponibilidade de informação; monitoramento e avaliação;
d) Prestação de contas: transparência;
e) Imparcialidade: equidade na gestão.
No Brasil as unidades de conservação não estão sendo geridas de forma a
atingir seus objetivos. Segundo Brito (2010), muitos fatores contribuem para que as
estratégias de proteção destas áreas não estejam sendo efetivamente realizadas,
como:
a) Falta de políticas públicas concretas ou a não inclusão das unidades de
conservação em políticas de âmbito nacional, regional e local. Isso implica em
115

conflitos de ordem institucional, possibilitando que estas fiquem suscetíveis a


influencias externas totalmente desfavoráveis à sua evolução;
b) Não consideração da presença de comunidades humanas dentro da
unidade de conservação ou na sua área de entorno, que ocorre desde a
etapa de planejamento, permitindo a existência de conflitos em todo o
processo de criação e gestão da área;
c) Implantação de leis proibitivas, como a proibição do uso dos recursos
naturais aos antigos usuários da área, mesmo quando o Estado não paga
as indenizações aos proprietários;
d) Deficiência de recursos financeiros básicos para manter a unidade de
conservação, o que afeta gravemente o progresso da área. Em geral, elas
recebem apenas recursos para a sua manutenção e em alguns casos são
alocados recursos para a desapropriação. Também há dificuldades, quanto
à pessoal qualificado para captar e gerenciar os recursos disponíveis nas
agências governamentais e não governamentais, tanto nacionais, quanto
internacionais;
e) Complexidade da malha jurídica, que normalmente necessita de
padronização de linguagem e de instrumentos administrativos comuns.
Lima et al. (2005) e Vieira et al. (2006) reforçam as constatações de Brito
(2010) e destacam que a ausência de ações efetivas de implantação das unidades
de conservação gera a insatisfação regional e o desgaste do nome e imagem
institucionais e, consequentemente, os conflitos.
Além disso, os autores lembram que ocorre um aumento na pressão sobre as
mesmas quando há deficiências na gestão, como: a demarcação, a sinalização, o
desenvolvimento de atividades educativas com as populações de entorno, os planos
de manejo, as atividades sustentáveis com populações tradicionais e as mudanças
nos padrões de ocupação e uso dos recursos naturais nas áreas de entorno.
A dúvida se as Unidades de Conservação têm cumprindo seus objetivos de
conservação tomam cada vez mais importância ao redor do mundo, principalmente
em relação a qual o impacto das ações de manejo sobre os processos ecológicos
que mantêm a diversidade biológica nos espaços protegidos (HERRERA;
CORRALES, 2004).
Diante de desafios e dificuldades de gestão das Unidades de Conservação, é
importante o desenvolvimento de ferramentas que sejam capazes de avaliar como
116

as unidades de conservação estão sendo geridas, estabelecendo parâmetros de


qualificação.

5.2.2 A avaliação da gestão de Unidades de Conservação


As definições de avaliação da gestão de Unidades de Conservação buscam
caminhos para um maior conhecimento da situação gerencial em que se encontram.
Para isso, o monitoramento das ações de manejo no espaço e no tempo são pontos
fundamentais.
A avaliação da gestão permite saber se as Unidades de Conservação estão
cumprindo suas metas e seus objetivos de conservação para as quais foram criadas,
ou seja, se elas estão sendo geridas efetivamente.
Ainda, os resultados auferidos proporcionam aos tomadores de decisão e
formuladores de políticas públicas identificarem tendências e aspectos que devem
ser considerados para alcançar uma melhor efetividade de gestão em um sistema ou
grupo de Unidades de Conservação (MMA, 2011).
Para Pavese et al. (2007) avaliar a efetividade de gestão de Unidades de
Conservação tem as seguintes características:
a) Permite e apóia uma aproximação adaptativa do manejo de áreas
protegidas;
b) Auxilia a alocação efetiva de recursos entre e dentro das áreas protegidas;
c) Promove a contabilidade e transparência divulgando os resultados da
efetividade de gestão aos interessados e ao público;
d) Ajuda a envolver a comunidade e promover os valores das áreas
protegidas.
Padovan (2001) também destaca que avaliar a gestão de Unidade de
Conservação implica a emissão de juízo acerca de resultados, eficácia e adequação
de programas com o objetivo de melhorar a efetividade de gestão.
Em concordância com a autora, Hockings et al. (2000) complementam que
essa avaliação pressupõe o estabelecimento de modalidades de julgamento
segundo critérios ou padrões pré-determinados e monitoramento, considerando um
processo de repetição da observação no espaço e tempo usando-se procedimentos
para coleta de dados que sejam comparáveis.
Para Cifuentes et al. (2000) a avaliação da gestão permite conhecer a
situação em que se encontram as ações e componentes do manejo e facilita ao
117

administrador da Unidade de Conservação tomar decisões com conhecimento claro


dos problemas e de suas causas.
Assim, é de grande importância o uso dos resultados das avaliacões para
ajustar e melhorar a gestão das unidades de conservação onde for necessário. Os
processos para encontrar as respostas a estas perguntas se conhecem como
avaliação da efetividade de gestão, sendo reconhecida como um componente vital
da gestão responsável e proativa (MMA, 2011; LEVERINGNTON et al, 2007;
HOCKINGS et al., 2000).
A preocupação com a avaliação da gestão de Unidades de Conservação
ganhou maior impulso a partir do II Congresso Mundial de Parques celebrado em
Bali, em 1982, quando se identificou a necessidade de melhorar a gestão das
unidades de conservação como forma de garantir sua conservação efetiva
(LEDERMAN; ARAUJO, 2012).
Algumas proposições metodológicas nesse sentido começaram a surgir no
inicio da década de 1990, com destaque para os grupos de pesquisa da Costa Rica
e Austrália.
Em 1995, a World Comission for Protected Areas (WCPA) estabeleceu um
grupo de trabalho para examinar as questões referentes à efetividade de manejo de
áreas protegidas. A partir dos resultados dos estudos desse grupo, foi desenvolvido
um quadro de referência que vem estimulando a criação de métodos de avaliação
da efetividade de gestão de Unidades de Conservação (HOCKINGS et al., 2000).
Assim, duas metodologias foram desenvolvidas quase simultaneamente e se
destacaram como referência. A proposta de Cifuentes et al. (2000) que elenca de
forma detalhada os indicadores de gestão e parâmetros de qualificação, e a de
Hockings et al. (2000), que estabelece o marco conceitual e os parâmetros de
qualificação da gestão das Unidades de Conservação a serem utilizados no mundo
todo.
A metodologia proposta por Cifuentes et al. (2000) é pioneira nesse tema. A
mesma é resultante de revisões realizadas em procedimentos de avaliação de
gestão aplicados em unidades de conservação da Venezuela em 1991; e de uma
tese sobre seleção de indicadores de avaliação de efetividade de gestão de
Unidades de Conservação desenvolvida na Costa Rica em 1993 (LEVERINGTON et
al., 2007).
118

Para os autores a avaliação da efetividade de gestão deve ser um processo


voluntário, externo e sistemático, considerando aspectos ambientais, sociais,
econômicos e institucionais, padrões ótimos e procedimentos adequados. Para isso,
se estabelece uma série de indicadores específicos (Quadro 3), como: legislação,
objetivos de manejo, limites, plano de manejo, apoio local, pessoal disponível,
infraestrutura, financiamento, retroalimentação de informação, ameaças e
integridade da área, qualificados com uma escala de quatro níveis. Os referidos
indicadores ajustam-se aos objetivos de manejo da área protegida, e ao tipo de
jurisdição (municipal, estatal, federal, privado).
Cifuentes et al. (2000) além de estabelecerem conceitos e diretrizes para a
avaliação da efetividade de gestão de Unidades de Conservação, propõe um
procedimento metodológico que pode ser aplicado em uma unidade ou num sistema
de Unidades de Conservação.
O marco conceitual proposto por Hockings et al. (2000) baseia-se na ideia de
que a boa gestão de unidades de conservação segue um processo que engloba
diferentes momentos (Figura 16), descritos a seguir.
a) Contexto: avalia a importância biológica e socioeconômica, as
vulnerabilidades, pressões e ameaças da unidade de conservação;
b) Planejamento: analisa os objetivos da Unidade de Conservação, seu
amparo legal e o desenho e planejamento da área;
c) Insumos: analisa os recursos humanos, meios de comunicação e
informação, infraestrutura e recursos financeiros disponíveis;
d) Processos: avalia o planejamento da gestão, a tomada de decisões e o
desenvolvimento de pesquisas, avaliações e monitoramento;
e) Resultados: avalia as ações desenvolvidas pelas unidades nos últimos dois
anos.
De maneira geral, o processo de avaliação da gestão deixa em evidência as
principais limitações para o cumprimento dos objetivos de conservação e permite
identificar as medidas prioritárias a serem adotadas para a melhoria gradual da
gestão da unidade de conservação, com critérios de sustentabilidade (FARIA, 2004).
A avaliação sistemática da efetividade de gestão instrumenta continuamente o
órgão gestor no estabelecimento de estratégias, na definição de metas e rumos de
investimentos, e tem sido considerada um importante componente de gestão das
unidades de conservação. Isso foi evidenciado durante o II Congresso Latino
119

Americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, que reafirmou a


necessidade de promover e aplicar avaliações de efetividade de gestão das áreas
protegidas como ferramenta para melhorar a gestão tanto de áreas individuais como
de sistemas de áreas protegidas (ELBERS, 2011).

Quadro 3 - Indicadores de qualificação de manejo de Unidades de Conservação


Nº Âmbito Indicador
Participação comunitária
Apoio interinstitucional e intrainstitucional
1 Politico
Apoio externo
Apoio a equipe técnica
Estrutura fundiária
2 Legal Conjunto de leis gerais
Diploma legal da unidade
Pessoal técnico
Pessoal geral
Financiamento
3 Administração
Infraestrutura
Organização
Administrador
Plano de manejo
4 Planejamento Nível de planejamento
Zoneamento
Informações socioeconômicas, cartográficas e
biofísicas.
5 Conhecimento
Monitoramento
Retroalimentação
Extração de madeira, agricultura, pastagem.
6 Uso Caça, pesca, extrativismo geral
Recreação e turismo
Pesquisa
Uso público
7 Programa de manejo Capacitação
Proteção, Manutenção
Manutenção
8 Biogeografia Tamanho, forma, insularidade.
Impactos por visitação
9 Ameaças Sedimentação, contaminação
Incêndios, catástrofes naturais.

Fonte: adaptado de Cifuentes et al (2000).


120

Figura 16 - Fases da avaliação da efetividade de gestão de unidades de conservação

Fonte: Hockings et al.(2000).

5.2.3 Os princípios metodológicos para avaliar a gestão de Unidades de


Conservação
Com o consenso global de que a avaliação da efetividade de gestão das
unidades de conservação é extremamente necessária para aferir se as mesmas
estão cumprindo seus objetivos, o que se seguiu foi a consolidação dos princípios
fundamentais para a construção de boas metodologias para esse fim.
As orientações básicas para a construção de boas metodologias já haviam
sido elencadas por ocasião dos resultados do grupo de trabalho do WCPA e que se
mostram muito importantes atualmente em função da proliferação de métodos de
avaliação de efetividade de gestão que estão sendo elaborados e aplicados nas
unidades de conservação em todo o mundo (LEDERMAN; ARAUJO, 2012;
LEVERINGTON et al, 2008; PAVESE et al., 2007; HOCKINGS et al. 2000).
De maneira geral, as avaliações de efetividade de gestão diferem em
metodologia, geografia e escopo. Isso é evidenciado em função de que em muitos
sistemas de unidades de conservação existem circunstâncias e necessidades
individuais, e os exercícios de avaliação muitas vezes devem se adaptar a essas
peculiaridades.
121

Nesse sentido, López e Rodriguez (2006) lembram que, além das adaptações
às peculiaridades das Unidades de Conservação, os protocolos de avaliação da
gestão das mesmas devem reduzir os critérios técnicos e aumentar a projeção
social.
Entretanto, é importante lembrarmos que as referencias desenvolvidas pela
WCPA não constituem uma metodologia específica. Elas representam um guia
prático para a avaliação da efetividade de gestão das unidades de conservação.
Os benefícios dessas referências residem na ligação conceitual e na
utilização de critérios, princípios e elementos comuns para a avaliação da gestão
das unidades de conservação.
Assim, é importante verificarmos se a metodologia adotada para avaliação da
efetividade de gestão das Unidades de Conservação segue os seguintes princípios
(LEVERINGTON et al., 2008; PAVESE et al., 2007; HOCKINGS et al., 2000):
a) É útil e relevante para melhorar a gestão da unidade de conservação
demonstrando e proporcionado a melhoria da comunicação e das relações;
b) É lógica e sistemática, de acordo com a IUCN/WCPA; fornece a base
prática e teórica consistentes, aumentando a capacidade de harmonia de
informações através dos diferentes sistemas de unidades de conservação;
c) É baseada em bons indicadores, os quais são holísticos, balanceados e
úteis. Permite a adição de mais indicadores na estrutura de avaliação. A
forma de medir e pontuar os indicadores são claros. Atende as características
de bons indicadores, como:
1) Mensuráveis: capazes de ser registrados e analisados em
termos qualitativos e quantitativos;
2) Precisos: padronizados, definidos da mesma forma para
todos os indicadores;
3) Consistente: não muda ao longo do tempo, não há variação
na mensuração;
4) Sensível: se adapta proporcionalmente em resposta a uma
eventual mudança de condição ou item que estão sendo
mensurados.
d) É precisa, demonstra verdade, consistência e vai além da informação
desejada. É desejável repetir as avaliacões periodicamente; o sistema de
avaliação deve ser capaz de mostrar mudanças ao longo do tempo.
122

e) É prática para implementar, permitindo um bom equilíbrio entre


mensurações, registros e gestão. Procedimentos caros e longos podem não
ser repetidos, e podem reduzir a aceitação por parte da equipe técnica e de
interessados;
f) É considerada como parte de um ciclo de gestão efetiva; está ligada a
valores definidos, objetivos e políticas;
g) É cooperativa, promove a boa comunicação, o trabalho em equipe e a
participação. A ampla participação melhora a acurácia, a perfeição, a
aceitação, e reforça a utilidade dos resultados da avaliação.
h) Promove uma comunicação oportuna e positiva e garante a utilização dos
resultados. As descobertas e recomendações devem retornar ao sistema de
gestão e influenciar futuros planos, alocação de recursos e ações de gestão.

5.2.4 A construção de indicadores adequados


Na avaliação da gestão das unidades de conservação são utilizados
amplamente os indicadores como instrumentos de análise da qualidade de gestão.
Contudo, essa ferramenta é amplamente adotada em vários contextos e tem
evoluído ao longo do tempo. Os primeiros indicadores utilizados, por exemplo, em
censos populacionais, eram exclusivamente quantitativos e contabilizados com
objetivos fiscais e militares. Após a Segunda Guerra Mundial foram adotados
indicadores econômicos como, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB); porém
considerados essencialmente monetaristas, classificando os custos ambientais e
sociais como externalidades. Na década de 1960 surgem nos Estados Unidos os
indicadores sociais utilizados em pesquisas sobre a disponibilidade de empregos no
país. Os referidos indicadores chegam ao Brasil somente na década de 1980, mas
partir da ECO-92 as pressões da sociedade civil levaram à criação de indicadores
capazes de medir o progresso e a qualidade de vida.
De maneira geral, se pretende que os indicadores contenham variáveis
capazes de fornecer as informações vitais sobre a sustentabilidade (viabilidade) e a
taxa de transformação de um sistema complexo, que são fundamentais para verificar
até que ponto a evolução do sistema corresponde às necessidades materiais e
valores éticos e morais da sociedade e quais as opções de intervenção para
modificar ou corrigir os rumos do desenvolvimento do sistema (FENZL; MACHADO,
2009).
123

Atualmente, a tendência é a construção de grupos de indicadores formando,


por exemplo, associações de indicadores ambientais, sociais, económicos e outros,
criando a composição denominada Índice.
Para isso, os indicadores devem atender três requisitos básicos (FENZL;
MACHADO, 2009) como:
a) Devem fornecer informações vitais sobre o estado atual (saúde,
viabilidade) do sistema que se quer avaliar;
b) Devem fornecer informações suficientes para possibilitar uma intervenção e
corrigir com sucesso a evolução do sistema, de acordo com objetivos
estabelecidos;
c) Devem permitir a avaliação do grau de sucesso da intervenção.
Os indicadores podem ser quantitativos, por exemplo, o número de habitantes
de um determinado lugar, ou qualitativos, por exemplo, o nível de vida de uma
população, porém todos os indicadores quantitativos devem ser traduzidos em
indicadores qualitativos, ou seja, em julgamento de valor.
A seleção ou os princípios orientadores para construção de um determinado
sistema de indicadores devem estar de acordo, por exemplo, com as necessidades
e circunstâncias de uma região ou instituição especifica. Os referidos princípios
orientadores são:
a) Relevância política: o indicador deve ser associado com um ou vários
assuntos relevantes e motivar decisões políticas que possam levar a ações
concretas de implementação de processos sustentáveis;
b) Simplicidade: os indicadores devem ser apresentados de forma a serem
facilmente entendidos e interessantes para o público ao qual se destinam;
c) Validade: o indicador deve refletir fielmente os fatos, e os dados devem ser
coletados mediante técnicas de mensuração cientificamente comprovados, e
deve ser verificável e reproduzível.
d) Dados em séries temporais: os indicadores precisam ser baseados em
dados levantados periodicamente para poder construir séries temporais que
reflitam a tendência do indicador ao longo do tempo;
e) Dados disponíveis acessíveis: os dados para construção devem ser de boa
qualidade podendo ser encontrados a um custo compatível com os objetivos;
f) Capacidade de agregar informações: na condição de construção de
indicadores de forma continua, é importante que os mesmos tenham a
124

capacidade de agregar informações e possam ampliar a cobertura de


assuntos, de maneira que haja constante atualização e posam ser utilizados
no futuro;
g) Sensibilidade: a capacidade de o indicador medir pequenas modificações do
processo para o qual ele foi construído.
h) Confiabilidade: os indicadores são confiáveis quando medições
independentes e repetidas chegam aos mesmos resultados.

5.2.5 Os esforços de aplicação das metodologias de avaliação de efetividade de


gestão
No Brasil, alguns estudos pioneiros foram realizados para avaliar a efetividade
de manejo das unidades de conservação. Um deles foi o método Degree of
Implementation and the Vulnerability of Brazilian Federal Conservation Areas
desenvolvido e aplicado pelo WWF (1999) que avaliou o grau de implementação e
vulnerabilidade das unidades de conservação federais de uso indireto.
Os resultados do referido estudo demonstraram que as regiões com pior
desempenho na implementação de suas unidades foram o Norte, Sul e Nordeste.
Das 86 unidades pesquisadas, 47 nunca foram implementadas, 32 foram
consideradas minimamente implementadas, e somente 7 foram classificadas com
grau razoável de implantação.
Até 2003 foram identificados 27 métodos de avaliação de efetividade de
gestão de unidades de conservação, incluindo tanto os aplicados em campo como
os que foram propostos e ainda não testados em campo (HOCKINGS, 2003).
Em 2008, um levantamento feito pelo WCPA e parceiros identificou mais de
5.700 avaliações realizadas em áreas protegidas em 84 países, utilizando mais de
40 metodologias de avaliação diferentes (Quadro 4).
Na América Latina foram feitas um total de 2.362 avaliações em 23 países,
utilizando 22 metodologias diferentes, muitas adaptadas para realidades locais e
situações regionais (LEDERMAN; ARAÚJO, 2012; LEVERINGTON et al., 2008;
PAVESE et al., 2007).
Uma das metodologias mais usadas no mundo é o Rapid Assessment and
Priorisation of Protected Area Management (RAPPAM) e Tracking Tool, aplicado na
Ásia, África, Europa e cada vez mais adotado na América Latina e Caribe. O Método
Central American Regional Environmental Project/Central America Protected Area
125

System (PROARCA/CAPAS) tem sido aplicado na América Latina e Caribe. Poucos


estudos de efetividade de gestão têm sido desenvolvidos na África e Ásia, com
exceção da Índia e Oceania (LEDERMAN; ARAUJO, 2012; LEVERINGTON et al.,
2008; PAVESE et al., 2007).
A aplicação da metodologia Tracking Tool é especialmente requerida pelo
Global Enviroment Fund, pelo Banco Mundial e pelo WWF para as unidades de
conservação que são apoiadas pelos mesmos. A América Latina tem uma
diversidade muito maior de metodologias de efetividade de gestão aplicadas em
campo e repetidas ao longo do tempo, gerando informações importantes para a
melhoria da qualidade de gestão.
Um grande esforço vem sendo desenvolvido pelo governo brasileiro para a
avaliação da gestão de unidades de conservação federais e estaduais, que têm
adotado as ferramentas Tracking Tool, o RAPPAM/WWF e a Medición de la
Efectividad del Manejo de Areas Protegidas - WWF/CATIE (FARIA, 2007 e 2004;
CIFUENTES et al., 2000). O RAPPAM foi aplicado pela primeira vez no Brasil em
2004 para avaliar a gestão de 23 unidades de conservação de proteção integral no
estado de São Paulo. Desde então, tem sido adotado por diferentes órgãos gestores
como ferramenta de análise de gestão de unidades de conservação em diferentes
contextos e áreas geográficas do país (MMA, 2011).
Em 2007, o IBAMA utilizou o método RAPPAM para avaliar a efetividade de
gestão de 246 unidades de conservação federais do Brasil, no ciclo 2005/2006,
sendo 116 pertencentes ao grupo de proteção integral e 130 ao grupo de uso
sustentável, contextualizando-as quanto às suas características biológicas e
socioeconômicas e suas vulnerabilidades (PRATES, 2012; ICMBio, 2012; IBAMA,
2007).
Em 2011, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) reaplicou a
referida ferramenta de avaliação em 292 unidades de conservação federais,
referente ao ciclo de 2010 e, posteriormente, procedeu a análise comparativa sobre
a evolução da gestão nas unidades estudas (Gráfico 16).
126

Gráfico 16 - Resultados de efetividade de gestão das unidades de conservação federais

Fonte: Prates (2012).

Em alguns Estados, principalmente os da região amazônica, a ferramenta


RAPPAM foi adotada para avaliar os sistemas estaduais de unidades de
conservação. Em 2009 o método foi aplicado em 17 unidades do Acre, 11 unidades
do Amapá e 42 unidades do Mato Grosso. Em 2011, em 54 unidades do Amazonas,
49 unidades no Pará e 53 unidades de Rondônia.
Em 2006, o estado do Amazonas desenvolveu e aplicou uma ferramenta de
avaliação seguindo as diretrizes do WCPA, porém adotando a construção de
indicadores especificamente para avaliar o primeiro ciclo de gestão, que abrange
desde sua criação até a execução do plano de gestão (GOVERNO DO AMAZONAS,
2006).
Em razão das exigências de organismos financiadores externos e também do
próprio governo federal, a gestão das Unidades de Conservação federais também
foram avaliadas pelo Programa Áreas Protegida da Amazônia (ARPA).
Para isso, foram desenvolvidas e aplicadas duas ferramentas de avaliação da
gestão das unidades de conservação apoiadas pelo referido programa, adaptando
componentes e elementos de planejamento dos métodos Tracking Tool e RAPPAM
(MARINELLI; MENDES, 2010).
A primeira delas, a Ferramenta de Avaliação da Efetividade de Unidades de
Conservações (FAUC) permite acompanhar o progresso das unidades de
conservação e os processos de criação em relação às metas do programa e orienta
os esforços dos gestores e órgãos executores para o foco de consolidação das
áreas protegidas (BUENO et al, 2012).
127

A segunda ferramenta, denominada Estratégia de Conservação e


Investimento (ECI) estabelece a partir da identificação da situação atual de gestão
de cada unidade de conservação e da previsão de avanço em relação às metas, os
tetos de alocação de recursos para cada ação. Para essa alocação de recursos são
consideradas a categoria de manejo, as estruturas e facilidades existentes, o tipo e a
intensidade das pressões e as características das unidades de conservação.
O êxito na utilização de ambas as ferramentas tem gerado dentro dos
próprios órgãos gestores do ARPA, em particular, o ICMBio, a expectativa de
ampliar o seu uso para o SNUC como um todo (BUENO et al, 2012).
128

Quadro 4 - Metodologias de avaliação da efetividade de gestão de Unidades de Conservação


Nº Abreviação Metodologia Organização/ Afiliação
01 RAPPAM/WWF Rapid Assessment and Priorisation of Protected Area Management WWF
02 Tracking tool Management Effectiveness Tracking Tool World Bank/WWF Alliance
03 EOH Enhancing our Heritage UNESCO / IUCN / UNF
04 Parques Nacionales Naturales de
AEMAPPS AEMAPPS: MEE with Social Participation – Colombia
Colombia/WWF Colombia
05 Degree of Implementation and the Vulnerability of Brazilian Federal
WWF/Brazil 1999 WWF Brazil with IBAMA
Conservation Areas
06 TNC CAP Conservation Action Planning TNC
07 Catalonia MEE Catalonia MEE Institució Catalana d’Història Natural
08 NOAA/National Ocean Service/IUCNWCPA
How is Your MPA Doing How is Your MPA Doing
Marine, WWF
09 Monitoring and Assessment with Relevant Indicators of Protected Areas
MARIPA-G WWF Guianas
of the Guianas (MARIPA-G)
10 Belize MEE Belize National Report on Management Effectiveness Forest Department Belize
11 Ecuador MEE: Indicadores para el Monitoreo y Evaluación del Manejo
Ecuador MEE Ministry of Environment
de las Áreas Naturales Protegidas del Ecuador
12 Finland MEE Management Effectiveness Study – Finland Metsahallitus
13 Manual para la evaluación de la Eficiencia de Manejo del Parque
Galápagos MEE SPNG
Nacional Galápagos. SPNG
14 MEE Indian MEE Indian IIPA/ Centre for equity studies
15 Peru MEE Peru MEE INRENA
16 Tasmanian WHA Tasmanian World Heritage MEE Tasmanian PWS
17 Metodología de Evaluación de Efectividad de Manejo (MEMS) del SNAP
MEMS SERNAP
de Bolívia
18 Rapid Evaluation of Management Effectiveness in Marine Protected
Mesoamerica MPA MBRS/PROARCA/CAPAS
Areas of Mesoamerica.
129

Nº Abreviação Metodologia Organização/ Afiliação


19 NSW SOP NSW State of Parks NSW DEC
20 Certificação de UC’s Certificação de Unidades de Conservação IPEMA/Padovan 2002
21 Parks profiles Parks profiles Parkswatch
Central American Regional Environmental
22 PROARCA/CAPAS Project/ Central America Protected Area TNC
System
23 Qld Park Integrity Qld Park Integrity assessment Queensland Parks and Wildlife Service
24 Scenery matrix Scenery matrix Forestry institute (IF-SP)
25 Mexcican System of Information, Monitoring
Mexico SIMEC National Commission of Protected areas of Mexico (CONANP)
and Evaluation for Conservation
26 TNC Parks in Peril Site Consolidation
PIP Site consolidation TNC/USAID
Scorecard
27 Valdiviana Valdiviana Ecoregion Argentina WWF
28 Venezuela Vision Venezuela Vision DGSPN – INPARQUES
29 Victorian SOP Victorian State of Parks Parks Victoria
30 WWF/CATIE WWF/CATIE Evaluation Methodology WWF/CATIE
31 Marine tracking tool WWF-World Bank MPA score card WWF-World Bank
32 PAN Parks PAN Parks PAN Parks Foundation
33 C.U.E.I.M., University Consortium for Industrial and Managerial
MEVAP Monitoring and Evaluation of Protected Areas Economics on behalf of the Ministry of the Environment and
Territory
34 West Indian Ocean MPA West Indian Ocean Workbook West Indian Ocean Marine Science Association
35 Egyptian Site-level Management Effectiveness Evaluations of Nature Conservation Sector (NCS), Egyptian Environmental
Assessment Egypt National Parks Affairs
36 Africa rainforest study Africa rainforest study academic/WCS
37 Marine Protected Area Evaluation Model
Alder
(Alder)
38 Central African Republic Central African Republic academic/WWF
39 Conservation International Management
CI METT Conservation International
Effectiveness Tracking Tool
40 Fraser Island WHA Fraser Island World Heritage Area Hockings
41 Korea survey on protected area management
Korea METT Korea Parks servisse
status
130

Nº Abreviação Metodologia Organização/ Afiliação


42 MEE – Congo MEE - Congo
43 PA Consolidation index PA Consolidation índex Conservation International
44 Queensland Parks and Wildlife
Qld Rapid Assessment Qld Rapid Assessment
Service
45 USA SOP US State of Parks NPCA
46 WWF West Africa Regional
WARPO WARPO
Program Office
47 Wetland tracking tool Wetland tracking tool WWF
48 WWF Italy system WWF Italy system WWF Italy
49 Metodologia para Implementação de Sistema de Gestão Ambiental
SGA – UC MMA/ SEBRAE-DF
em Unidades de Conservação
50 NEXUCS Núcleo de Excelência em Unidades de Conservação ARPA/GTZ
Fonte: Adaptado de Leverington et al.(2008).
131

5.2.6 A Efetividade de gestão em Unidades de Conservação de uso sustentável no


Brasil
No Brasil, a partir da década de 1990, houve um significativo incremento na
criação de unidades de uso sustentável, com destaque para as categorias Reserva
de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Extrativista (RESEX).
Entretanto, sempre houve uma grande preocupação dos órgãos gestores, de
organizações não governamentais, de pesquisadores e outros interessados com a
gestão das unidades de conservação dessa categoria, principalmente em relação à
baixa capacidade de implementação e consolidação das mesmas e, também, com
os conflitos decorrentes das péssimas condições de gestão.
Para Inoue e Lima (2007) a categoria de uso direto, ou uso sustentável, é a
mais carente de diretrizes de gestão, além de ser objeto de críticas quanto à sua
efetividade para conservação, aplicando-se também ao contexto brasileiro.
Nesse aspecto, Dourojeanni e Pádua (2007) destacam que as unidades de
conservação dessa categoria oferecem muitas desvantagens na proteção da
biodiversidade, entre as quais:
a) São estabelecidas com critérios de produção de bens e não de proteção
da natureza, ou são estabelecidas onde e como é possível;
b) A exploração dos recursos naturais, ainda nas suas versões mais
cuidadosas, promove impactos severos sobre os ecossistemas;
c) A presença de populações e os conflitos decorrentes complicam e
encarecem os custos de gestão;
d) Geralmente as possibilidades de sucesso econômico das várias Unidades
de Conservação de uso direto são remotas e frustram seus beneficiários.
Até 1999, os primeiros estudos de avaliação da efetividade de gestão no
Brasil se concentraram nas unidades de conservação de proteção integral,
especificamente na categoria Parque (WWF, 1999). A referida categoria sendo mais
restritiva em termos de uso dos recursos naturais, porém permitindo o uso público,
atraiu os primeiros estudos específicos sobre impactos ambientais e capacidade de
carga recreacional (COSTA, 2006).
Faria (2004) foi pioneiro no Brasil em incluir as Unidades de Conservação de
uso sustentável na avaliação da efetividade de gestão. No Estado de São Paulo, o
132

autor avaliou a gestão de 59 Unidades de Conservação estaduais e incluiu em seus


estudos indicadores para avaliar as florestas estaduais.
A partir da avaliação da efetividade de gestão no ciclo 2005/2006, o IBAMA
(2007) já destacava alguns fatores importantes que proporcionam a alta
vulnerabilidade em unidades de conservação de uso sustentável.
No estudo, alguns problemas peculiares a essa categoria foram elencados,
como: o fácil acesso às áreas propiciando o desenvolvimento de atividades ilegais, a
grande demanda por recursos naturais, as dificuldades de contratação e
manutenção de funcionários, a dificuldade de monitoramento das atividades ilegais
existentes e o elevado valor de mercado dos recursos naturais.
As pressões e ameaças também foram identificadas, com destaque para a
construção de infraestrutura, a conversão do uso do solo, a disposição de resíduos,
a expansão urbana e os impactos negativos da presença de populações humanas, a
baixa aplicação das leis, a presença de espécies exóticas invasoras, e a extração de
madeira.
Reafirmando as dificuldades relacionadas a efetividade de gestão das
unidades de uso sustentável, Inoue e Lima (2007) também apontaram alguns
questionamentos que as mesmas sofrem quanto à efetividade para conservação,
como: a melhoria da qualidade de vida; a perspectiva econômica para geração de
trabalho e renda; o papel do Estado e de outros atores na questão da governança; o
papel da cooperação internacional e a continuidade e planejamento de longo prazo.
Contudo, mesmo com todos os esforços para inserir as unidades de
conservação de uso sustentável os métodos para avaliar a efetividade de gestão
nessa categoria ainda estão deficientes.
Nesse sentido, Marinelli e Mendes (2010a) afirmam que as iniciativas de
avaliação de efetividade de gestão de unidades de conservação que estão em curso
são pontuais, ou seja, avaliam parte das unidades, ou não se voltam para a questão
socioambiental, concentrando-se em avaliações sobre gestão, geralmente do ponto
de vista do gestor e com apropriação de resultados e dados pelo órgão gestor.
Assim, em 2012 o Instituto Socioambiental (ISA) publicou uma nova
ferramenta de avaliação de efetividade de gestão de unidades de conservação. A
mesma foi desenvolvida especificamente para a categoria de uso sustentável, sendo
denominada de Sistema de Indicadores Socioambientais para Unidades de
133

Conservação da Amazônia Brasileira - SISU (MARINELLI; MENDES, 2010a;


MARINELLI; MENDES, 2010b).
A característica principal dessa ferramenta, além dos indicadores
socioambientais, é que a geração das informações sobre a gestão das Unidades de
Conservação é feita a partir da visão das comunidades residentes dentro e no
entorno das mesmas.
A mesma ainda não foi aplicada oficialmente nas unidades de conservação,
somente de forma experimental. A ferramenta tem a expectativa de monitorar a
contribuição das unidades de conservação para o desenvolvimento da
sustentabilidade socioambiental e para a melhoria da qualidade de vida das
populações que vivem nessas áreas especialmente protegidas, bem como sua
influência sobre as populações que vivem no seu entorno.

5.2.7 Os desafios de consolidação das avaliacões de efetividade de gestão das


Unidades de Conservação
O alto número e a diversidade de estudos evidenciam o número de órgãos
gestores que regularmente avaliam suas áreas protegidas.
Para Pavese et al. (2007) o ponto crítico do fortalecimento da gestão de
Unidades de Conservação no Brasil e no mundo é a regularidade de estudos de
efetividade de gestão.
Os autores lembram que todos os esforços de avaliação da efetividade de
gestão das Unidades de Conservação já enfrentam grandes desafios, como:
a) Fortalecer a transparência de gestão;
b) Assegurar que as avaliacões se tornem parte integrante do ciclo de gestão
dos órgãos gestores; que sejam um componente natural e não uma imposição
adicional;
c) Assegurar que todos os elementos do ciclo de gestão sejam avaliados;
d) Melhorar a avaliação dos resultados da gestão, com ênfase à integridade
ecológica e os benefícios às comunidades;
e) Descobrir os melhores caminhos para de forma consistente utilizar os
resultados das avaliacões para gerar mais gestão efetiva das áreas
protegidas;
f) Desenvolver um alto nível de cooperação entre as organizações;
134

g) Fortalecer a gestão de áreas protegidas existentes;


h) Fortalecer alianças com outras áreas protegidas, especialmente terras
indígenas, garantindo a viabilidade das mesmas em longo prazo;
i) Implementar regularmente estudos de avaliação de efetividade de gestão e
usar os resultados para melhorar a gestão;
Nos últimos anos a cooperação e os intercâmbios de ideias e experiências
entre órgãos gestores, organizações não governamentais e pesquisadores de
diferentes países têm criado uma rica fonte de informações para a avaliação da
efetividade de gestão de unidades de conservação. A variedade de metodologias
proporciona muitos benefícios, principalmente a adaptação de procedimentos e
indicadores à situações locais com diferentes enfoques.
Contudo, ainda há muita dificuldade em realizar cruzamentos de resultados
para se conhecer e avaliar uma determinada região. Para isso, muitos planejadores
e gestores têm trabalhado para padronizar os métodos, ou adotar uma deles para
aplicação regular na unidade de conservação ou no sistema.
No Brasil, o fortalecimento do SNUC depende, entre outros fatores, da
implementação e consolidação das unidades de conservação existentes e das que
forem criadas. Para isso, os estudos regulares de efetividade de gestão são
importantes ferramentas para esse objetivo (PRATES, 2012).

5.3 Considerações finais

As metas mundiais de proteção de áreas importantes e prioritárias para a


biodiversidade, além das questões relacionadas à sociobiodiversidade, estão sendo
atingidas de forma crescente, sobretudo no Brasil.
Os esforços dos órgãos gestores brasileiros e seus parceiros têm sido
grandes, sob o ponto de vista de melhoria gerencial e de aporte de recursos
financeiros, com o objetivo de consolidar as unidades de conservação já criadas ou
em fase de criação.
A integração e o fortalecimento da gestão das unidades de conservação em
nível do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) também são
desafios que estão em curso.
135

As Unidades de Conservação federais e estaduais estão cada vez mais


integrando sua gestão, realizando a avaliação da efetividade de gestão de forma
regular e, para fortalecer o monitoramento dos avanços gerenciais, têm adotado
métodos em comum.
Os desafios de consolidação das unidades são muito grandes. Os resultados
até aqui têm demonstrado níveis de consolidação heterogêneos, variando de muito
bem estruturadas a unidades que não dispõem de infraestrutura básica necessária
para seu funcionamento.
Contudo, muitas avaliações de efetividade de gestão têm sido aplicadas em
uma só oportunidade, principalmente nas unidades estaduais, não tendo uma
análise temporal consolidada para aferir com confiabilidade a qualidade de gestão e
os avanços alcançados.
As unidades federais com os ciclos de gestão referentes ao período de 2005
a 2010 avaliados, já podem contar com dados relevantes para analisar os avanços
auferidos.
Por outro lado, a expectativa de consolidação das Unidades de Conservação
passa certamente por fatores que extrapolam os ambientais, e que fogem ao
controle direto dos órgãos gestores. É necessário que a gestão das unidades esteja
alinhada com outras políticas públicas, como educação, saúde e infraestrutura, para
garantir a melhoria da qualidade de vida das populações locais.
Essa questão é bem evidente nas Unidades de Conservação de uso
sustentável, onde a participação das populações residentes tem crescido muito com
a adoção de instrumentos de gestão, como o conselho gestor, que incentivam o
envolvimento dos moradores na gestão.
Uma das categorias de Unidade de Conservação que sofrem muito nesse
aspecto, é a Área de Proteção Ambiental. Alguns fatores essenciais que as
populações almejam para melhoria da qualidade de vida, na maioria das vezes, fora
do alcance dos gestores, como a saúde, educação, moradia, transporte, ente outros.
Contudo, os órgãos gestores das unidades de conservação devem fazer a
sua parte, demonstrando que as mesmas podem e devem contribuir
significativamente para a busca de soluções dos problemas decorrentes da
degradação social e ambiental que ocorrem em muitas regiões do Brasil.
136

Essa demonstração certamente terá uma grande contribuição das


ferramentas de avaliação de efetividade e de gestão. Como vimos, as ferramentas
para isso que estão em curso tem sofrido modificações para tentar responder aos
questionamentos e críticas recorrentes que as unidades sofrem em relação às
dúvidas de sua viabilidade e existência em médio e longo prazos por não cumprirem
os objetivos que nortearam a criação.
A efetividade de gestão está aos poucos sendo reconhecida e consolidada
como um componente essencial para suporte à gestão das unidades de
conservação.
137

6 A EFETIVIDADE DE GESTÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL


TRIUNFO DO XINGU

6.1 Introdução
A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu tem fundamental importância
para a proteção da sociobiodiversidade da região da Terra do Meio. Sua dimensão,
a diversidade de uso e ocupação do território e sua localização geográfica
estratégica demonstram a grande complexidade que envolve as ações de gestão
dessa unidade de conservação.
Mesmo sob grande pressão antrópica decorrente, principalmente, da
exploração madeireira ilegal, do avanço da pecuária extensiva e da grilagem de
terras, a região do município de São Félix do Xingu e, também, da Área de Proteção
Ambiental Triunfo do Xingu, têm registrado nos últimos anos uma redução
significativa nos índices de desmatamento e um maior controle ambiental, conforme
discutimos nos capítulos anteriores (COSTA, 2012; ARAÚJO, et al., 2012).
As políticas públicas adotadas para contenção do desmatamento ilegal e
paralisação do processo de grilagem de terras na região estão em andamento,
porém as conquistas ainda não são suficientes para a regularização ambiental no
município e sua saída do embargo econômico.
Ainda que haja muitos esforços integrados para regularização e controle
ambiental no município, não há garantias de manutenção em longo prazo das taxas
de desmatamento em níveis reduzidos que permitam a regularização ambiental
almejada.
A presença de uma Unidade de Conservação na região, mesmo na categoria
de uso sustentável como a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu,
proporciona uma condição especial de proteção legal à sua área de abrangência
direta e indireta. Assim, a mesma pode contribuir significativamente para a
regularização ambiental no município.
Entretanto, a categoria Área de Proteção Ambiental (APA) é muito
questionada em função da grande permissividade de uso dos recursos naturais e da
condição de manutenção da propriedade particular. Para muitos especialistas, e
também para muitos gestores de unidades, esses fatores são determinantes para
dificultar o alcance dos objetivos de proteção e conservação de sua
sociobiodiversidade.
138

Corte (1997) destaca que algumas dificuldades para gestão de uma Unidade
de Conservação na categoria APA estão relacionadas à limitação da autoridade do
órgão gestor sobre os recursos naturais em áreas privadas e às estratégias
adotadas de incentivo aos proprietários rurais para a colaboração nas ações de
proteção.
No Brasil, a categoria Área de Proteção Ambiental originalmente surge como
complemento das categorias de uso mais restrito, formando zonas de
amortecimento e corredores ecológicos, evitando maiores danos ambientais em
áreas sob grande pressão antrópica ou em áreas privadas que não seja possível
desapropriar, seja pelo custo ou complexidade jurídica (DOUROJEANNI; PÁDUA,
2007).
De forma geral, Dourojeanni e Pádua (2007) consideram que a categoria APA
tem um valor protetor muito baixo e, frequentemente, quase nulo. Contudo Pádua
(2012) defende sua necessidade para a conservação da biodiversidade, e lembra
que esta categoria geralmente é utilizada como zona tampão de outras categorias
de manejo ou para garantir corredores ecológicos, dependendo ainda da
concordância dos proprietários das terras com as restrições de uso. Nesse aspecto,
Souza et al. (2012) reforçam que, em função do grande número de áreas privadas e
à fragilidade de aplicação de um zoneamento capaz de disciplinar os usos na
unidade, a categoria é considerada de difícil gestão.
Estas dúvidas têm colaborado para o descrédito da categoria APA como
instrumento de proteção ambiental, muito embora se conheça as suas inúmeras
potencialidades. Entretanto, o cumprimento de seus objetivos de conservação tem
se transformado em um grande desafio para os órgãos gestores. A avaliação da
efetividade de gestão pode ajudar a construir uma credibilidade sólida para a
categoria APA estabelecendo análises da qualidade de gestão sob critérios técnicos
e objetivos.
No caso da APA Triunfo do Xingu a aplicação dessa ferramenta de gestão
deverá melhorar significativamente o acompanhamento de sua gestão,
principalmente se for considerado nas análises os componentes de qualificação que
contemplem não só a proteção da biodiversidade, mas também os elementos da
sociobiodiversidade.
139

Nesse capitulo, demonstramos que a APA Triunfo do Xingu mesmo com


muitas dificuldades de gestão apresenta a maioria dos resultados de qualidade de
gestão em grau mediano, inferindo-se que a ferramenta de avaliação da gestão
conseguiu extrair elementos importantes do ciclo de gestão para subsidiar o
processo de avaliação.

6.2 Metodologia
O estabelecimento de um processo sistemático de avaliação da gestão da
APA Triunfo do Xingu advém da complexidade do contexto em que a mesma está
inserida e, também, da necessidade de aferição de suas condições de gestão para
que possa alcançar seus objetivos de conservação.
Para isso, o procedimento metodológico adotado teve o cuidado de seguir as
diretrizes, princípios e o ciclo gerencial recomendados pela WCPA/IUCN para a
elaboração de métodos de avaliação de efetividade de gestão de unidades de
conservação, que foram publicados originalmente por Hockings et al. (2000) e
Hockings et al. (2006), e revisados por Leverington et al. (2008).
Outra característica importante adotada na condução deste estudo foi a
consulta a três importantes fontes de informações para subsidiar a seleção de
indicadores e dos cenários de qualificação:
a) A consulta a documentos técnicos de gestão da unidade, como os
diagnósticos e estudos socioambientais na região que antecederam a criação
da APA, as atas de formação e das reuniões do conselho gestor e das
oficinas de formação continuada dos conselheiros;
b) Os relatos da equipe técnica responsável pela gestão da unidade;
c) As observações em campo.
Assim, este estudo foi conduzido em quatro fases distintas, descritas a seguir.
Na primeira fase procedeu-se a coleta de informações primárias e
secundárias através de consulta a documentos técnicos, relatórios, diagnósticos e
outros documentos importantes sobre a avaliação de efetividade de manejo de
unidades de conservação, como também da APA Triunfo do Xingu.
Os dados secundários consultados foram extremamente importantes para a
construção de cenários e definição de indicadores, e estão citados nos capítulos
anteriores. As informações disponíveis sobre o processo de criação já
140

demonstraram o contexto de degradação socioambiental na região. Outros dados


mais recentes, sobretudo os índices temporais de desmatamento e de focos de calor
e queimadas, também esclareceram os aspectos que atualmente interferem na
gestão da unidade.
Contudo, os dados obtidos foram extremamente importantes para levar a
cabo a avaliação da efetividade de gestão da APA, especialmente na definição dos
cenários de qualificação dos indicadores.
Uma das fontes de informações bem representativas sobre a situação atual
de gestão da APA Triunfo do Xingu, e que contribuiu de maneira significativa na
construção dos indicadores e dos cenários, foi o acompanhamento de todo o
processo de criação, composição e formação continuada do Conselho Gestor.
Nesse processo de construção do Conselho Gestor tivemos a oportunidade
de acompanhar os técnicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA)
durante a mobilização e a realização de oficinas em cada comunidade selecionada
dentro da APA Triunfo do Xingu (Figura 17).
Nas oficinas as comunidades receberam informações sobre temas diversos,
como: os conceitos básicos das unidades de conservação e do conselho gestor; a
importância da participação e organização comunitária; registraram-se os principais
problemas e dificuldades enfrentadas pelas comunidades residentes na APA e
identificaram-se as potenciais lideranças comunitárias para composição do conselho
gestor.
Além disso, as informações contidas nos relatórios técnicos que subsidiaram
a criação da APA Triunfo do Xingu (SECTAM, 2006; SECTAM, 2005) também foram
determinantes para enriquecer não só as escolhas dos cenários, mas também as
análises e perspectivas de melhorias gerenciais.
O acompanhamento para criação do conselho gestor, a partir de dezembro de
2009, incluiu a mobilização e a realização de oficinas nos principais núcleos
populacionais existentes dentro da APA Triunfo do Xingu partindo-se das vilas
localizadas no extremo norte da unidade em território pertencente ao município de
Altamira, indo em direção à sede do município de São Félix do Xingu.
Na oportunidade acompanhamos cinco oficinas de mobilização e
sensibilização nas seguintes comunidades: Vila Canopus, Vicinal do Bala, Vila
Caboclo, Vila Novo Planalto, Vila Central, Vila Tabão “T”’.
141

Figura 17 - Comunidades visitadas durante as oficinas do conselho gestor

Fonte: SEMA (2011).

Em 2010, as ações para criação do conselho gestor prosseguiram nas


comunidades localizadas a partir da área central mais da APA em direção à área
periférica da sede do município de São Félix do Xingu, no extremo sul da unidade.
Assim, em março de 2010 acompanhamos quatro oficinas nas seguintes
comunidades: Vila Novo Horizonte; Vila “T” do Triunfo; Vila Xadá e Vila Santa Rosa.
Em julho de 2010, acompanhamos duas oficinas em dois assentamentos de reforma
agrária, a Vila Primavera e a Vila Pombal.
Em outubro de 2010 acompanhamos a realização da assembléia geral na
sede do município de São Félix do Xingu, com a participação de representantes das
comunidades locais e de organizações não governamentais atuantes na região,
contabilizando aproximadamente 120 pessoas, que referendou a escolha e a
indicação dos conselheiros durante as oficinas.
Outro evento importante que participamos e que gerou importantes subsídios
para o presente estudo foi a oficina de capacitação em gestão territorial voltada para
os atores sociais ligados a APA Triunfo do Xingu, promovida pelo Instituto
Internacional de Educação do Brasil (IEB). O evento aconteceu nos dias 23 e 24 de
agosto de 2010 e reuniu 55 lideranças comunitárias que produziram importantes
142

recomendações para a gestão da unidade, inclusive realizando um exercício de


zoneamento.
Em 2011 acompanhamos a reunião de posse dos conselheiros que ocorreu
em abril, e as três reuniões ordinárias e duas reuniões para formação continuada
que ocorreram ainda em 2011 nos meses de junho e setembro e outra que ocorreu
em junho de 2012. As formações continuadas abordaram os temas de legislação
ambiental, de gestão participativa e a de elaboração do plano de ação do conselho
gestor.
Na segunda fase foram definidos os indicadores e os cenários de qualificação
para a avaliação da efetividade de gestão da APA Triunfo do Xingu. Seguindo as
recomendações da WCPA/IUCN, o método elaborado para este estudo adotou três
condições essenciais:
a) O uso de indicadores previamente selecionados, em consonância com os
objetivos de manejo da unidade de conservação;
b) A construção de cenários ótimos e atuais para cada indicador;
c) A associação dos referidos cenários a uma escala padrão de qualificação
que demonstrará o nível de efetividade de gestão da unidade.
De maneira geral, as características principais dos métodos mais utilizados
atualmente para avaliar a efetividade de gestão de unidades de conservação,
elencados no capitulo anterior, priorizam o uso de indicadores que qualificam os
aspectos administrativos em detrimento da qualificação com profundidade das
questões socioambientais.
Nesse estudo os indicadores e seus critérios e condições de qualificação
foram adaptados dos principais métodos de avaliação de efetividade publicados por
Cifuentes et al. (2000), Hockings et al. (2000), Hockings et al. (2006), Faria (2004) e
Marinelli e Mendes (2010a; 2010b).
Os mesmos são resultantes de adaptações da concepção dessas diferentes
linhas metodológicas, adicionando elementos peculiares ao contexto socioambiental
da APA Triunfo do Xingu (Quadro 5).
143

Quadro 5 - Indicadores adotados para avaliação da efetividade de gestão da APATX

Âmbito Variável Sub-variável


Conservação e manejo da biodiversidade
Monitoramento da biodiversidade
Integridade ambiental Pressões sobre a UC
Mudanças na cobertura vegetal
Importância biológica
Ambiental Conflitos usuários/gestores
Recuperação de Projetos de recuperação de áreas
ecossistemas degradadas
Uso dos recursos naturais
Vulnerabilidade
Ameaça aos recursos naturais
Proteção Fiscalização
Plano de manejo
Instrumentos de gestão Zoneamento
Conselho gestor
Equipe técnica/operacional
Gestão
Sustentabilidade financeira
Administração Infraestrutura
Equipamentos e materiais
Controle gerencial
Acesso á crédito
Econômico Geração de renda
Sustentabilidade de cadeias produtivas
Regularização fundiária
Legal Marco legal Base legal
Cooperação interinstitucional
Politico
Governança Sistema de gestão de UC
institucional
Conhecimento
tradicional Manutenção de processos tradicionais
Sociocultural
Organização social Mobilização e participação comunitária
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os cenários adotados aqui são instrumentos comumente utilizados em


planejamento estratégico, resultantes da articulação seletiva de opções que
funcionam como um modelo dinâmico da realidade, tendo como objetivo sondar o
futuro e prever os resultados possíveis de alcançar (COSTA, 2006; LIMA et al, 2005;
FARIA, 2004).
Na terceira fase, foi estabelecida a escala de classificação da efetividade de
gestão da APA Trunfo do Xingu que serviu como referência para as análises dos
indicadores de forma individual e em grupos (Quadro 6). A escala adotou três níveis
de qualificação e de classificação da avaliação de efetividade de gestão, com o
detalhamento dos cenários de gestão correspondentes.
Em relação aos níveis de qualificação, adotamos as seguintes considerações:
144

a) Valor (3) é correspondente à melhor situação desejada e viável para a


gestão da unidade de conservação, ou seja, o "cenário ótimo".
b) Valor (2) é correspondente a uma fase de transição ou intermediária
entre as ações de gestão da unidade.
c) Valor (1) é correspondente à pior situação possível de ocorrer na
gestão da unidade, ou aquela totalmente desfavorável aos seus objetivos
de conservação.
Os níveis de qualificação de cada indicador foram adaptados de Faria (2004)
e Cifuentes et al. (2000), e estão organizados em três níveis de qualificação com
seus respectivos cenários e interpretações (Quadro 6).
Na quarta fase procedeu-se a aferição dos elementos de gestão e a análise
da efetividade de gestão da APATX.
O resultado da avaliação da efetividade de gestão foi obtido mediante a
integração e comparação dos resultados quantitativos auferidos, posteriormente
sintetizados em uma planilha matriz.
O somatório das maiores pontuações (valor 3) possíveis de serem atribuídas
a cada indicador resulta um valor chamado de "total ótimo", que corresponde a
100% do total possível de ser alcançado; por sua vez, o somatório das pontuações
alcançadas a partir da análise da situação atual dos indicadores resulta um valor
designado como "total alcançado" (COSTA, 2006; FARIA, 2004; CIFUENTES et al.,
2000).
Comparando-se proporcionalmente estas duas grandezas obteve-se um valor
em porcentagem, tendo como referência os três níveis adotados que definiram o
nível de efetividade de gestão da APATX.
Os valores obtidos para cada indicador nos indicam pontos fortes ou
debilidades em certos aspectos da gestão, e ajudam a identificar as causas dos
problemas, realizar uma priorização dos mesmos e propor ações para combater
estes problemas e alcançar a condição ótima desejada.
145

Quadro 6 - Níveis de qualificação e cenários da avaliação de efetividade de gestão

Relação entre a Detalhamento da


situação ótima e Qualidade da
Nível Valor classificação
atual do Gestão
Indicador
A UC carece dos recursos
mínimos necessários para a
gestão básica; não há
qualquer articulação entre as
I 1 fases do ciclo de gestão; as
≤ 35% Insatisfatória garantias para sua
permanência em longo prazo
são reduzidas e seus
objetivos de conservação não
podem ser alcançados sob
essas circunstâncias.
A UC possui certos recursos
e meios indispensáveis para
sua gestão, porém faltam
ações essenciais para
melhorar a articulação entre
Medianamente as fases do ciclo de gestão;
II 36% - 79% 2 observa-se uma condição de
Satisfatória alta vulnerabilidade da UC
que não garante sua
existência em longo prazo; os
objetivos de conservação
dificilmente podem ser
alcançados em sua
totalidade.
Os recursos e meios que
possibilitam a gestão da UC
estão sendo atendidos
adequadamente e com bons
resultados; sua existência em
III 80 % - 100% 3 Satisfatória longo prazo está garantida
em função do equilíbrio entre
todas as fases do ciclo de
gestão, permitindo, assim, o
cumprimento na totalidade de
seus objetivos de
conservação.
Fonte: Adaptado de Cifuentes et al. (2000); Faria (2004).

6.2.1 A caracterização dos indicadores e cenários


Os indicadores ambientais enfocam os cenários relacionados com a proteção
da biodiversidade, com destaque para as ações sistematizadas e integradas em
níveis diferenciados de gestão e com a participação da sociedade civil.
Os indicadores e cenários da “conservação e manejo da biodiversidade”
(Quadro 7) destacam a importância da proteção de lugares ou pontos de reprodução
146

de espécies da flora e fauna, podendo ser endêmicas ou estar ameaçados de


extinção.
A preocupação do órgão gestor da unidade em mapear essas áreas é
considerada um ponto extremamente importante para subsidiar ações de proteção
das espécies. Nesse aspecto, as ações de gestão devem também ser direcionadas
para as intervenções que promovam a conectividade das paisagens florestais
fragmentadas remanescentes na unidade.
Quadro 7 - Indicadores e cenários de conservação e manejo da biodiversidade
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Existem pesquisas sobre espécies
relevantes para conservação; as
principais áreas de
reprodução/abrigo/alimentação das
espécies relevantes estão
mapeados; há monitoramento de
paisagens relevantes para 3
conservação; existem importantes
fragmentos florestais nativos
remanescentes com tamanhos
significativos que estão sob
permanente intervenção para
aumentar a conectividade.
Existem pesquisas sobre espécies
relevantes para conservação, porém
as áreas de
reprodução/abrigo/alimentação das
Conservação e espécies relevantes não estão
Integridade
manejo da mapeados; há monitoramento de
Ambiental ambiental paisagens relevantes para 2
biodiversidade conservação; existem importantes
fragmentos florestais nativos
remanescentes com tamanhos
significativos, porém não sofrem
nenhuma intervenção para aumentar
a conectividade.
Não existem pesquisas sobre
espécies relevantes para
conservação; não há identificação de
áreas de reprodução, abrigo e
alimentação das espécies relevantes
estão mapeados; não há 1
monitoramento de paisagens
relevantes para conservação; não há
nenhum tipo de intervenção nos
poucos fragmentos florestais nativos
remanescentes para aumentar a
conectividade.
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários de “monitoramento da biodiversidade” (Quadro 8)


destacam a importância do uso das ferramentas de geotecnologias para gerar
147

informações diversas, por exemplo, as possíveis alterações na cobertura florestal ou


uso do solo.
Outro aspecto importante relacionado a esse cenário é a integração das
ações em diferentes níveis do poder publico e, também, com a sociedade civil,
formando um sistema de monitoramento.

Quadro 8 - Indicadores e cenários do monitoramento da biodiversidade


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com um sistema de
monitoramento integrado, atualizado e
em tempo real, do uso dos recursos
naturais através de ferramentas
geotecnológicas que geram
informações sobre a cobertura vegetal,
focos de queimadas, abertura de
estradas, outros; conta também com 3
um banco de dados diversificado com
informações sobre licenciamentos;
planos de manejo florestal; estoques
de recursos naturais explorados,
outros; os quais subsidiam as
operações de fiscalização e as
atividades extrativistas;
Monitoramento Encontra-se em fase de elaboração um
Integridade sistema de monitoramento do uso dos
Ambiental da recursos naturais na UC através de
ambiental
biodiversidade ferramentas geotecnológicas que
geram informações atualizadas de
cobertura vegetal, focos de queimadas,
abertura de estradas, outros; está em 2
fase de elaboração um banco de dados
diversificado com informações sobre
processos de licenciamento; planos de
manejo florestal; outros; os quais
subsidiarão as ações de fiscalização e
as atividades extrativistas;
A UC não conta com nenhum sistema
de monitoramento do uso dos recursos
naturais; as informações sobre
cobertura vegetal, focos de queimadas, 1
abertura de estradas, outros são
desatualizadas; existe um banco de
dados desatualizado;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários das “pressões sobre a unidade de conservação”


(Quadro 9) destacam a ocorrência de grande demanda por recursos naturais na
unidade, porém considera uma condição favorável a gestão da unidade as ações
integradas de controle ambiental em níveis diferenciados e que podem coibir as
ações ilegais e os impactos negativos na mesma.
148

Os indicadores e cenários das “mudanças na cobertura vegetal” (Quadro 10)


apontam os números registrados de desmatamento, incêndios florestais ou foco de
calor, ou outros impactos negativos observados correlacionando-os às ações
integradas de fiscalização.
O acompanhamento sistemático da evolução de impactos negativos na
unidade de conservação é de fundamental importância para as tomadas de decisão
do órgão gestor para as ações de controle ambiental e integração de ações.

Quadro 9 - Indicadores e cenários das pressões sobre a unidade de conservação


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Existem na UC recursos naturais
sob grande pressão e demanda de
mercado, porém as medidas de
controle ambiental e gestão
integrada são plenamente aplicadas
evitando usos ilegais e impactos 3
negativos; o avanço de atividades
ilegais de exploração está
controlado, a expansão populacional
dentro da UC tem pouca variação e
encontra-se estável;
Existem na UC recursos naturais
sob grande pressão e demanda de
mercado, porém as medidas de
controle ambiental e gestão
integrada estão em fase de
Integridade Pressões aplicação ainda permitindo o registro 2
Ambiental de usos ilegais que provocam
ambiental sobre a UC
impactos negativos; a expansão
populacional dentro da UC tem
alguma variação, mas encontra-se
estável;
Os recursos naturais existentes na
UC estão sob grande pressão e
demanda de mercado; não há
medidas aplicadas de controle
ambiental e gestão integrada
permitindo o registro de usos ilegais
com muitos impactos negativos; 1
ainda há expansão populacional
dentro da UC em áreas sob
exploração ilegal de recursos
naturais provocando variações
sazonais e instabilidades
populacionais;
Fonte: Elaboração própria (2013).
149

Os indicadores e cenários da “importância biológica” (Quadro 11) destaca a


importância da unidade de conservação em conter amostras de ecossistemas
florestais que estão sob grande pressão fora de áreas protegidas. Além disso, a
existência de espécies ameaçadas de extinção ou endêmicas eleva ainda mais sua
importância na proteção da biodiversidade. Por outro lado, áreas críticas para
conservação e proteção da biodiversidade cada vez mais são ampliadas e muitas
delas ainda estão fora da proteção legal na forma de unidades de conservação.

Quadro 10 - Indicadores e cenários das mudanças na cobertura vegetal


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC tem registrado uma redução
significativa das perdas de
cobertura vegetal causadas pelo
desmatamento ilegal, pecuarização 3
e incêndios florestais; resultado das
ações integradas de fiscalização e
proteção da UC;
A UC tem registrado uma redução
significativa das perdas de
cobertura vegetal causadas pelo
Mudanças desmatamento ilegal, pecuarização
e incêndios florestais; porém em
Integridade na
Ambiental função das dificuldades de
ambiental cobertura articulação institucional as ações 2
integradas de fiscalização e
vegetal
proteção da UC têm sido pontuais e
emergenciais gerando ainda perdas
de cobertura vegetal,
principalmente no período de
menor pluviosidade;
A UC tem registrado altas taxas de
perdas de cobertura vegetal
causadas pelo desmatamento
1
ilegal, pecuarização e incêndios
florestais; não há ações integradas
de fiscalização e proteção da UC;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários dos “conflitos usuários e gestores” (Quadro 12)


destacam a importância da existência e respeito ao zoneamento da unidade de
conservação. Para isso, a elaboração de forma participativa e adequada às
necessidades dos moradores locais é considerada uma condição extremamente
favorável à gestão da mesma. Além disso, esse cenário destaca a redução ou
150

inexistência de conflitos decorrentes de possíveis insatisfações de usuários ou


gestores, e a adoção de práticas mais sustentáveis de produção.
Quadro 11 - Indicadores e cenários da importância biológica
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com ecossistemas
florestais cuja abrangência tem
diminuído; há ocorrência 3
espécies endêmicas; há registros
de espécies ameaçadas de
extinção.
A UC conta com ecossistemas
florestais cuja abrangência tem
Integridade Importância diminuído; há ocorrência 2
Ambiental espécies endêmicas; não há
ambiental biológica
registros de espécies ameaçadas
de extinção.
A UC não conta com
ecossistemas florestais cuja
abrangência tem diminuído; não
há ocorrência espécies 1
endêmicas; não há registros de
espécies ameaçadas de
extinção.
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários dos “projetos de recuperação de áreas


degradadas” (Quadro 13), destacam a questão da regularização ambiental das
propriedades rurais na área da unidade de conservação.
Os passivos ambientais das propriedades rurais em Áreas de Preservação
Permanente (APP) ou em Reserva Legal (RL) demandam intervenções de
recuperação das áreas degradadas, e as ações devem estar correlacionadas com o
plano de manejo da unidade e adequadas às necessidades locais.
Para a gestão da unidade de conservação o controle ambiental na forma de
acompanhamento da solução desses passivos ambientais e o pleno acordo com as
diretrizes estabelecidas pelo plano de manejo são de fundamental importância para
a proteção da biodiversidade.
Os indicadores e cenários de “uso dos recursos naturais” (Quadro 14)
relacionam-se com a redução da vulnerabilidade da biodiversidade que ocorre na
unidade de conservação. O monitoramento integrado dos usos que são praticados
na unidade é de fundamental importância para o controle ambiental. Para isso,
considera-se a existência de medidas de proteção como a sinalização de
151

determinadas áreas de uso dos recursos, além da presença de equipe técnica


mínima para apoiar as ações de monitoramento.

Quadro 12 - Indicadores e cenários dos conflitos usuários/gestores


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com zoneamento
elaborado de forma participativa e
adequado às necessidades locais,
que é conhecido e respeitado pelas
comunidades; não há conflitos
entre usuários e gestores; a
maioria dos usuários dos recursos
naturais e produtores 3
agroextrativistas adotam práticas
mais sustentáveis de exploração;
participam do controle e
ordenamento de atividades e
processos extrativistas contribuindo
para a redução de impactos nos
modos de vida tradicionais;
A UC conta com zoneamento
elaborado de forma participativa,
porém pouco adequado às
necessidades locais, sendo
conhecido, mas não respeitado
pelas comunidades gerando alguns
Integridade Conflitos conflitos entre usuários e gestores;
Ambiental a maioria dos usuários dos
ambiental usuários/gestor
recursos naturais e produtores 2
agroextrativistas conhecem
práticas mais sustentáveis de
exploração, mas pouco adotam;
participam pouco do controle e
ordenamento de atividades e
processo extrativistas, e não
contribuem para a minimização de
impactos nos modos de vida
tradicionais;
O zoneamento da UC encontra-se
em fase de elaboração; a ausência
desse instrumento de gestão gera
muitos conflitos entre usuários e
gestores; a maioria dos usuários
dos recursos naturais e produtores 1
agroextrativistas não conhecem
práticas mais sustentáveis de
exploração, e adotam as mais
danosas ao ambiente; contribuindo
para a maximização dos impactos
nos modos de vida tradicionais.
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários das “ameaças aos recursos naturais” (Quadro 15)


destaca o controle ambiental integrado de forma a reduzir as ameaças à unidade de
conservação. Além disso, é considerada como ponto positivo para a gestão a
152

formação de brigadas de controle e prevenção de incêndios florestais para atuar


especificamente na área da unidade.
Quadro 13 - Indicadores e cenários da recuperação das áreas degradadas

ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR


VARIÁVEL
A UC identifica e monitora
os passivos ambientais
das propriedades rurais;
projetos de recuperação
de áreas degradadas são 3
elaborados e implantados
conforme os programas
de manejo da UC e
adequados às
necessidades locais;
A UC identifica e monitora
os passivos ambientais
Projetos de das propriedades rurais;
Recuperação projetos de recuperação
recuperação de
Ambiental de de áreas degradadas são
áreas elaborados e implantados, 2
ecossistemas porém em
degradadas
desconformidade com os
programa de manejo da
UC e inadequados às
necessidades locais;
A UC tem dificuldade de
identificar e monitorar os
passivos ambientais das
propriedades rurais; não
há projetos de 1
recuperação de áreas
degradadas em
elaboração ou
implantação;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários da “fiscalização” (Quadro 16) destacam a


existência do plano de fiscalização da unidade de conservação. Sua elaboração de
forma integrada é de fundamental importância para o sucesso gerencial e contribuirá
significativamente com os esforços de proteção da biodiversidade existente.
153

Quadro 14 - Indicadores e cenários do uso dos recursos naturais

ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR


VARIÁVEL
Os usos legais e ilegais são
monitorados de forma integrada; os
acessos são controlados e sinalizados;
as práticas tradicionais são aplicadas de
acordo com os programas de manejo e 3
com as normas legais; a demanda por
recursos naturais existentes não é
pressionada por valor de mercado; a UC
conta com equipe técnica mínima para
gestão;
Os usos legais e ilegais são
monitorados, porém de forma isolada;
os acessos são controlados, mas não
Uso dos sinalizados; as práticas tradicionais são
aplicadas de acordo com os programas
Ambiental Vulnerabilidade recursos de manejo, porém com dificuldade para 2
naturais cumprimento das normas legais; a
demanda por recursos naturais
existentes é muito pressionada por valor
de mercado; a UC conta com equipe
técnica mínima para gestão;
Os usos legais e ilegais não são
monitorados; os acessos não são
controlados e nem sinalizados; as
práticas tradicionais não são aplicadas
de acordo com os programas de manejo 1
ou com as normas legais; a demanda
por recursos naturais existentes é
pressionada por valor de mercado; a UC
não conta com equipe técnica mínima
para gestão;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores de gestão enfocam os cenários relacionados com os principais


instrumentos de gestão, como o plano de manejo, o zoneamento e o conselho
gestor e, também, com os aspectos administrativos.
Os indicadores e cenários do “plano de manejo” (Quadro 17) destacam a
importância da unidade de conservação dispor do plano de manejo. A forma de
elaboração também é de fundamental importância para a gestão da unidade.
A participação de atores sociais e outros interessados em sua elaboração dão
maior legitimidade e garante a viabilidade das ações e evitam possíveis conflitos
futuros que podem inviabilizar sua execução.
Da mesma forma, os indicadores e cenários do zoneamento (Quadro 18)
destacam a adoção de instrumentos participativos em sua elaboração para viabilizar
sua aplicação e contribuição dos usuários.
154

Quadro 15 - Indicadores e cenários das ameaças aos recursos naturais

ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR


VARIÁVEL
A conversão de florestas em
pastagens; a mineração; a extração
madeireira e grilagem de terras são
controladas de forma integrada com
forte atuação em proteção e
fiscalização; as práticas agrícolas 3
sustentáveis são predominantes
com forte prevenção e controle de
incêndios florestais; a UC conta
com brigadas comunitárias
especificas de prevenção e controle
de incêndios florestais;
A conversão de florestas em
pastagens; a mineração; a extração
madeireira e a grilagem de terras
são controladas, porém de forma
desarticulada e com pouca atuação
Ameaças em proteção e fiscalização; as
práticas agrícolas não sustentáveis 2
Ambiental Vulnerabilidade aos recursos ainda predominam; há ações
naturais esporádicas de prevenção e
controle de incêndios florestais; a
UC não conta com brigadas
comunitárias especificas de
prevenção e controle de incêndios
florestais;
Não há ações de controle à
conversão de florestas em
pastagens; mineração; extração
madeireira ou grilagem de terras; a
atuação em proteção e fiscalização
é esporádica; as práticas agrícolas
não sustentáveis são 1
predominantes; não há ação de
prevenção e controle de incêndios
florestais; a UC não conta com
brigadas comunitárias de
prevenção e controle de incêndios
florestais;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários do “conselho gestor” (Quadro 19) destacam alguns


pontos estratégicos importantes para sua formação e, consequentemente, para
contribuição positiva para a gestão da unidade de conservação.
É destacada como condição favorável à gestão da unidade a adoção de
estratégias de participação e a realização de reuniões de sensibilização e
mobilização de atores locais nas comunidades locais para incentivar e motivar as
representações locais.
Uma vez formado o conselho, é imprescindível a adoção de ações de
capacitação continuada dos representantes.
155

Quadro 16 - Indicadores e cenários da fiscalização


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
UC conta com plano de
fiscalização elaborado de forma
integrada/interinstitucional, com
pontos estratégicos identificados
e sinalizados; existe infraestrutura
logística de suporte às ações de
fiscalização (barco, veiculo, 3
sistema de comunicação, equipe);
as ações são executadas de
forma integrada com aplicação de
penalidades legais; equipe
técnica qualificada de forma
continuada.
UC conta com plano de
fiscalização elaborado de forma
integrada/interinstitucional, porém
nem todos os pontos estratégicos
estão identificados e sinalizados;
Ambiental Proteção Fiscalização existe infraestrutura logística de
suporte às ações de fiscalização 2
(barco, veiculo, sistema de
comunicação, equipe); as ações
são executadas de forma
integrada, porém com baixa
aplicação de penalidades legais;
equipe técnica qualificada de
forma continuada.
UC não conta com plano de
fiscalização; não há infraestrutura
logística mínima de suporte às
ações de fiscalização (barco,
veiculo, sistema de comunicação,
equipe); as ações são executadas 1
de forma centralizada e pontual
com baixa aplicação de
penalidades legais; equipe
técnica qualificada de forma
esporádica.
Fonte: Elaboração própria (2013).

Para Magalhães et al. (2010), a melhoria da qualidade ambiental em uma


região está diretamente ligada ao processo de capacitação, para que os membros
dos conselhos possam atuar com mais conhecimento e a tomada de decisão seja
eficiente e eficaz. Além disso, a construção de um senso comum de
responsabilidade pela unidade e as respostas rápidas e concretas do poder público
para os pleitos, são fundamentais para manter a credibilidade do conselho gestor
(COHEN; SILVA, 2009).
156

Os indicadores e cenários administrativos enfocam a disponibilidade de


equipamentos e materiais, a existência e condições da infraestrutura, a equipe
técnica da unidade, sua sustentabilidade financeira e o controle gerencial.
Quadro 17 - Indicadores e cenários do plano de manejo
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Plano de manejo existe; foi
elaborado em até cinco anos da
data de criação da UC seguindo
um delineamento metodológico
especifico; elaborado sob
grande articulação 3
interinstitucional e utilizando de
forma ampla instrumentos
participativos; os programas de
manejo contemplam de forma
harmônica as demandas dos
usuários e os objetivos da UC;
Plano de manejo existe; foi
elaborado após cinco anos da
data de criação da UC seguindo
um delineamento metodológico
Instrumentos Plano de
Gestão especifico; elaborado sob
de gestão manejo limitada articulação
interinstitucional não utilizando 2
instrumentos participativos; os
programas de manejo
contemplam
predominantemente os
objetivos da UC em detrimento
das demandas dos usuários;
Plano de manejo não existe, ou
está em fase de elaboração ou
foi elaborado após cinco anos
da data de criação da UC; não
seguindo um delineamento 1
metodológico especifico;
elaborado sem nenhuma
articulação interinstitucional ou
instrumentos participativos;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários da “equipe técnica/operacional” (Quadro 20)


destacam a disponibilidade de uma equipe gestora com mínimo de cinco
funcionários. Essa é uma das exigências de muitos financiadores de projetos em
unidades de conservação que consideram esse componente como parte de um grau
de consolidação mínimo de gestão.
Os indicadores e cenários da “sustentabilidade financeira” (Quadro 21)
destacam que unidade de conservação deve contar com recursos públicos
157

suficientes e disponíveis de forma específica com os fundos ambientais ou de


compensação ambiental para viabilizar sua gestão. As parcerias interinstitucionais
firmadas também são consideradas elementos favoráveis à gestão da unidade de
conservação.
Quadro 18 - Indicadores e cenários do zoneamento
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Zoneamento elaborado a
partir de delineamento
metodológico especifico;
sob grande articulação
interinstitucional e ampla 3
adoção de instrumentos
participativos; normas de
uso reconhecidas e
aceitas pelas
comunidades;
Zoneamento elaborado a
partir de delineamento
metodológico especifico;
Instrumentos
Gestão sob pouca articulação
de gestão Zoneamento interinstitucional e pouca 2
adoção de instrumentos
participativos; normas de
uso pouco aceitas pelas
comunidades;
Não há zoneamento ou
está em fase de
elaboração a partir de um
delineamento
metodológico especifico; 1
sob nenhuma articulação
interinstitucional ou
adoção de instrumentos
participativos;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários da “Infraestrutura” (Quadro 22) destacam a


existência de instalações mínimas suficientes para atender as ações básicas de
gestão da unidade de conservação. As ações estabelecidas no plano de manejo
devem ter o suporte necessário das instalações físicas.
Da mesma forma, os indicadores e cenários “Equipamentos e materiais”
(Quadro 23) destaca a existência na unidade de conservação de materiais e
equipamentos suficientes para atender as atividades principais e emergenciais.
Os indicadores e cenários de “controle gerencial” (Quadro 24) destaca que a
avaliação sistemática da efetividade de gestão, com o suporte de outras ferramentas
158

gerenciais, é um fator primordial para o sucesso gerencial das unidades de


conservação.
Quadro 19 - Indicadores e cenários do conselho gestor
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Conselho gestor formado e
implementado em até três anos
da data de criação da UC;
adotaram-se instrumentos
participativos diversificados junto
às comunidades locais para
indicação de seus representantes
desde a sensibilização,
mobilização e oficinas
participativas; o esforço amostral 3
para participação incluiu um nº
significativo de comunidades que
indicaram seus representantes; o
conselho tem uma programação
diversificada de formação
continuada acoplada às reuniões
ordinárias; os processos de
formação e implementação do
conselho aconteceram sob forte
articulação interinstitucional.
Conselho gestor formado e
implementado em até cinco anos
da data de criação da UC;
Instrumentos Conselho
Gestão adotaram-se poucos
de gestão gestor instrumentos participativos junto
às comunidades limitando-se a
realização de uma oficina; o
esforço amostral foi limitado à 2
poucas comunidades; as
lideranças indicaram seus
representantes; o conselho tem
uma programação de formação
continuada, porém limitada a
poucos temas de interesse dos
conselheiros.
Conselho gestor formado e
implementado após cinco anos
da data de criação da UC; não foi
adotado qualquer instrumento
participativo junto às
comunidades limitando-se a
realização de uma reunião geral 1
com lideranças locais; a
indicação de representantes foi
por meio de consulta às
lideranças; o conselho não tem
programa de formação
continuada.
Fonte: Elaboração própria (2013).
159

Quadro 20 - Indicadores e cenários da equipe técnica/operacional


ÂMBITO VARIÁVEL SUB-VARIÁVEL CENÁRIO VALOR
A UC conta com
equipe gestora
efetiva, com mínimo
de cinco
funcionários;
graduada em níveis
superior e técnico,
lotada 3
especificamente na
UC; com grande
experiência e
qualificação
continuada em
gestão de áreas
protegidas.
A UC conta com
equipe gestora
efetiva/temporária,
com mínimo de três
funcionários;
graduada em níveis
Equipe
Gestão Administração técnicos, lotada 2
técnica/operacional especificamente na
UC; com pouca
experiência, porém
com qualificação
continuada em
gestão de áreas
protegidas.
A UC conta com
equipe gestora de
vinculo temporário,
com até dois
funcionários;
graduada em níveis
superior e/ou
técnico, lotada 1
especificamente na
UC; com pouca
experiência ou
qualificação
continuada em
gestão de áreas
protegidas.
Fonte: Elaboração própria (2013).
160

Quadro 21 - Indicadores e cenários da sustentabilidade financeira


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com recursos
públicos suficientes para
gestão oriundos do Fundo
de Meio Ambiente e de
Compensações Ambientais
geridos pelo órgão gestor;
conta também com suporte
técnico e operacional por 3
meio de acordos e
cooperações técnicas com
outras organizações e
instituições públicas e
privadas para
desenvolvimento de
atividades em parceria.
A UC conta com recursos
públicos suficientes para
gestão oriundos do Fundo
de Meio Ambiente e de
Sustentabilidade Compensações Ambientais
Gestão Administração geridos pelo órgão gestor;
financeira
conta também com suporte
técnico e operacional por 2
meio de acordos e
cooperações técnicas com
outras organizações e
instituições públicas e
privadas para
desenvolvimento de
atividades em parceria.
A UC conta com recursos
públicos insuficientes
oriundos do Fundo de Meio
Ambiente geridos pelo
órgão gestor; não conta
com nenhum suporte de 1
acordos e cooperações
técnicas com organizações
e instituições públicas e
privadas para atividades de
gestão em parcerias.
Fonte: Elaboração própria (2013).
161

Quadro 22 - Indicadores e cenários da infraestrutura


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com instalações
físicas compostas pela sede
administrativa/operacional; 3
alojamento, garagem/galpão,
suficientes para atender a
maioria das atividades;
A UC conta somente com a
Gestão Administração Infraestrutura sede
administrativa/operacional, 2
suficientes para atender
parcialmente as atividades;
A UC conta somente com a
sede administrativa, com
condições somente para 1
atender as atividades
emergenciais;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Quadro 23 - Indicadores e cenários dos equipamentos e materiais


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC conta com materiais e
equipamentos suficientes
para atender as atividades
principais e emergenciais; 3
em perfeito estado de uso e
conservação sob constante
manutenção;
A UC conta com materiais e
equipamentos suficientes
Equipamentos para atender as atividades
Gestão Administração principais e emergenciais; 2
e materiais
em perfeito estado de uso e
conservação sob constante
manutenção;
A UC conta com materiais e
equipamentos suficientes
para atender as atividades
principais e emergenciais; 1
em perfeito estado de uso e
conservação sob constante
manutenção;
Fonte: Elaboração própria (2013).
162

Quadro 24 - Indicadores e cenários do Controle Gerencial


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A UC adota
instrumentos de
controle gerencial de
atividades por meio de
relatórios gerenciais
periódicos e
qualificação de
indicadores de 3
desempenho para
aferir a evolução da
qualidade de gestão;
subsidiando a
distribuição e
aplicação de recursos
financeiros;
A UC adota
Controle
Gestão Administração instrumentos de
gerencial controle gerencial de
atividades por meio de
relatórios gerenciais 2
periódicos; os
resultados não
subsidiam a aplicação
de recursos
financeiros;
A UC não adota
nenhum instrumento
de controle gerencial
de atividades; e os
recursos financeiros 1
são aplicados
conforme
disponibilidade do
órgão gestor;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores econômicos enfocam os cenários relacionados com a geração


de renda, com destaque para o acesso a crédito e a sustentabilidade das cadeias
produtivas.
Os indicadores e cenários do “acesso a crédito” (Quadro 25) valorizam a
regularização ambiental das propriedades rurais localizadas na unidade de
conservação, o que favorece sua gestão. Nesse caso, as atividades rurais
desenvolvidas na propriedade deverão corresponder às exigências legais de
restauração florestal e também às diretrizes estabelecidas pelo plano de manejo.
163

Os indicadores e cenários da “sustentabilidade das cadeias produtivas”


(Quadro 26) destacam a diversificação da produção nas comunidades locais.
Evidenciam-se também os elementos estratégicos que proporcionam o
fortalecimento e sustentabilidade das cadeias produtivas relacionados com a
logística para produção.
Quadro 25 - Indicadores e cenários do acesso à crédito
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
As comunidades
locais acessam
diversas linhas de
crédito rural, estando
as propriedades
rurais em sua maioria 3
regulares em termos
ambientais e
fundiários; o nº de
famílias beneficiadas
é alto;
As comunidades
locais acessam
algumas linhas de
crédito rural, estando
as propriedades
rurais em sua maioria
Geração de Acesso ao 2
Econômico irregulares ou em
renda crédito fase de regularização
em termos
ambientais e
fundiários; poucas
famílias são
beneficiadas;
As comunidades
locais não acessam
linhas de crédito rural
em função das
propriedades rurais
encontrarem-se em
1
sua maioria
irregulares em
termos ambientais e
fundiários; poucas
famílias são
beneficiadas;
Fonte: Elaboração própria (2013).
164

Quadro 26 -: Indicadores e cenários da sustentabilidade das cadeias produtivas


ÂMBITO VARIÁVEL SUB-VARIÁVEL CENÁRIO VALOR
A maioria das comunidades
locais tem produção
agroextrativista diversificada,
alguns produtos são
certificados e licenciados, os
produtores preocupam-se com
o planejamento da produção e
valor agregado; atendem de 3
forma satisfatória demandas
internas e externas de
mercado; as bases
comunitárias de produção
dispõem de facilidades de
acesso, comunicação, energia
elétrica; sistemas de irrigação e
assessoria técnica;
A maioria das comunidades
locais têm dificuldades de
diversificar a produção
agroextrativista, predominando
as culturas de subsistência e
atendem precariamente as
demandas internas de mercado
Sustentabilidade dependendo de forma
Geração crescente de produtos 2
Econômico de cadeias externos; as bases
de renda
produtivas comunitárias de produção têm
melhor acesso nos meses de
baixa pluviosidade; o sistema
de comunicação é precário,
não há disponibilidade de
energia elétrica ou sistemas de
irrigação; a assessoria técnica
é esporádica;
Nas comunidades locais
predominam a produção
agroextrativista de
subsistência; a produção não
atende as demandas internas
de mercado tendo forte
dependência de produtos
externos; as bases
comunitárias de produção têm 1
dificuldades de acesso mesmo
nos meses de baixa
pluviosidade; o sistema de
comunicação é precário, não
há disponibilidade de energia
elétrica ou sistemas de
irrigação; a assessoria técnica
é esporádica ou inexistente;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores legais enfocam os cenários relacionados com o marco legal,


com destaque para a regularização fundiária, a base legal e a cooperação
interinstitucional.
165

Os indicadores e cenários da “regularização fundiária” (Quadro 27) destacam


principalmente a existência do plano de regularização fundiária como condição
favorável a gestão da unidade de conservação. A questão fundiária muitas vezes é
um processo demorado e, se não houver um cuidado por parte do gestor, cria-se um
a expectativa de resolução que não se pode ter em curto prazo. Essa situação
certamente gera conflitos entre usuário e gestores e que interferem
significativamente na gestão da unidade.

Quadro 27 - Indicadores e cenários da regularização fundiária


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Diagnóstico fundiário
concluído; os
levantamentos de cadeia
de dominialidade e de 3
socioeconomia estão
iniciados; plano de
regularização definido;
Diagnóstico fundiário em
andamento; os
Regularização levantamentos de cadeia
Legal Marco legal de dominialidade e de 2
fundiária
socioeconomia estão
iniciados; plano de
regularização indefinido;
Diagnóstico fundiário
inexistente; os
levantamentos de cadeia
de dominialidade e de 1
socioeconomia ainda
não iniciados; não há
plano de regularização;
Fonte: Elaboração própria (2013).

Os indicadores e cenários da “base legal” (Quadro 28) destacam a elaboração


da lei de criação da unidade de conservação em concordância com o SNUC, tendo
como ponto favorável à gestão sua plena aplicação e entendimento pelas
comunidades locais.
Os indicadores e cenários de “cooperação interinstitucional” (Quadro 29)
destaca a gestão ambiental integrada sendo plenamente aplicada na unidade de
conservação, principalmente com a participação de organizações da sociedade civil,
garantindo muitos benefícios às comunidades locais.
166

Quadro 28 - Indicadores e cenários da base legal


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
A lei de criação contempla as
principais informações
recomendadas pelo SNUC; a
base legal que norteia a
regularização ambiental em
propriedades rurais é bem
clara, é alto o entendimento 3
e adoção entre os moradores
locais; e encontra-se em
avançado processo de
aplicação; não há conflito de
jurisdição na aplicação da
base legal ambiental;
A lei de criação contempla as
principais informações
recomendadas pelo SNUC; a
base legal que norteia a
regularização ambiental em
propriedades rurais ainda
Marco
Legal Base legal encontra resistência ao 2
legal entendimento pelos
moradores locais, porem
encontra-se em avançado
processo de aplicação; não
há conflito de jurisdição na
aplicação da base legal
ambiental;
A lei de criação contempla as
principais informações
recomendadas pelo SNUC; a
base legal que norteia a
regularização ambiental em
propriedades rurais ainda
encontra resistência ao 1
entendimento pelos
moradores locais; e o
processo de aplicação é
lento; há conflito de
jurisdição na aplicação da
base legal ambiental;
Fonte: Elaboração própria (2013).
167

Quadro 29 - Indicadores e cenários da cooperação interinstitucional


ÂMBITO VARIÁVEL SUB-VARIÁVEL CENÁRIO VALOR
O órgão gestor
promove o
fortalecimento
institucional não só
através do aporte de
recursos humanos,
financeiros e
materiais, como
também incentiva a
gestão ambiental 3
integrada entre os
níveis federal,
estadual e municipal,
e entre organizações
do poder público e da
sociedade civil,
garantindo muitos
benefícios às
comunidades;
O órgão gestor
promove o
fortalecimento
Cooperação institucional não só
Legal Marco legal através do aporte de
interinstitucional
recursos humanos,
financeiros e
materiais, porém a
gestão ambiental
integrada entre os 2
níveis federal,
estadual e municipal,
e entre organizações
do poder público e da
sociedade civil, ainda
não é clara e
apresenta muitos
entraves
operacionais;
O órgão gestor não
promove o
fortalecimento
institucional; a gestão
ambiental integrada 1
ainda encontra-se no
discurso; e com
muitos entraves
burocráticos;
Fonte: Elaboração própria (2013).

O indicador político-institucional enfoca os cenários relacionados com a


governança, com destaque para o sistema de gestão de unidades de conservação.
168

Os indicadores e cenários do “sistema de gestão de unidades de


conservação” (Quadro 30) valorizam a gestão da unidade de conservação em
consonância com as diretrizes e metas de conservação estabelecidas nos diferentes
níveis do SISNAMA, com destaque para a existência de um sistema estadual de
unidades de conservação.
Quadro 30 - Indicadores e cenários do sistema de gestão de unidades de conservação
ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
O fortalecimento institucional é
permanente favorecendo o
alcance das metas e objetivos
de conservação da
biodiversidade estabelecidos
nos âmbitos nacional e
internacional; o sistema 3
estadual de gestão de áreas
protegidas existe formalmente
e é revisto periodicamente; as
políticas públicas adotadas
favorecem a gestão ambiental
integrada e participativa nas
UC's;
O fortalecimento institucional
não é permanente dificultando
o alcance das metas e
objetivos de conservação da
biodiversidade estabelecidos
Sistema de nos âmbitos nacional e
Politico internacional; o sistema 2
Governança gestão de estadual de gestão de áreas
institucional
UC protegidas encontra-se em
elaboração; as políticas
públicas adotadas ainda estão
distantes do fortalecimento da
gestão ambiental integrada e
participativa nas UC's;
Não há iniciativas de
fortalecimento institucional
para o alcance das metas e
objetivos de conservação da
biodiversidade estabelecidos
nos âmbitos nacional e
internacional; o sistema
estadual de gestão de áreas 1
protegidas não existe e não há
perspectivas de elaboração; as
políticas públicas adotadas
estão distantes do
fortalecimento da gestão
ambiental integrada e
participativa nas UC's;
Fonte: Elaboração própria (2013).
169

Os indicadores socioculturais enfocam os cenários relacionados com o


conhecimento tradicional e a organização social, com destaque para a manutenção
dos processos tradicionais e participação comunitária.
Os indicadores e cenários da “manutenção dos processos tradicionais”
(Quadro 31) valorizam as ações de proteção do conhecimento tradicional e o
incentivo nas comunidades locais da unidade a manter o modo de vida tradicional e
a adotar práticas tradicionais de produção mais sustentáveis.
Para o enquadramento dos cenários desse indicador consideramos as
peculiaridades da região da APATX.
Os aspectos tradicionais observados na região enfocam dois principais modos
de vida. Um deles se caracteriza pelas populações ribeirinhas que por muitas
gerações sobrevivem do extrativismo vegetal e animal, e da agricultura de
subsistência. O outro se caracteriza pelas populações de agricultores familiares
oriundas de fluxos migratórios, e que se estabeleceram na região desenvolvendo
meios de geração de renda pelo excedente da pequena produção, inclusive da
pecuária em pequena escala.
Os indicadores e cenários da “mobilização e participação comunitária”
(Quadro 32) valorizam a formalização das organizações sociais representativas das
comunidades locais e, também, a participação das mesmas nos diversos fóruns de
discussão e de acompanhamento das políticas públicas responsáveis pelos
benefícios às populações locais.
170

Quadro 31 - Indicadores e cenários da manutenção dos processos tradicionais


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
As comunidades locais contam com
ações permanentes de proteção do
conhecimento tradicional; as
comunidades locais são incentivadas a
manter o modo de vida tradicional e a
adotar práticas tradicionais de
produção mais sustentáveis para 3
redução ou minimização de impactos
nos recursos naturais da UC; os
conhecimentos tradicionais subsidiam
acordos e práticas extrativistas
sustentáveis, que são plenamente
respeitados pelos usuários;
As comunidades locais contam com
ações esporádicas de proteção do
Manutenção conhecimento tradicional; e são pouco
incentivadas a manter o modo de vida
Conhecimento de
Sociocultural tradicional e pouco incentivadas à
tradicional processos adoção de práticas tradicionais de
produção mais sustentáveis para 2
tradicionais
redução ou minimização de impactos
nos recursos naturais da UC; os
conhecimentos tradicionais subsidiam
acordos e práticas extrativistas
sustentáveis, porém são pouco
respeitados pelos usuários;
As comunidades locais não contam
com qualquer ação de proteção ao
conhecimento tradicional sendo raro
famílias que ainda mantém o modo de
vida tradicional; não há qualquer
1
incentivo às práticas tradicionais de
produção mais sustentáveis,
predominando as de alto impacto
ambiental para os recursos naturais da
UC;
Fonte: Elaboração própria (2013).
171

Quadro 32 - Indicadores e cenários da mobilização e participação comunitária


ÂMBITO VARIÁVEL SUB- CENÁRIO VALOR
VARIÁVEL
Os principais núcleos
populacionais localizados na
UC apresentam grande nº
de organizações
formalizadas, na forma de
sindicatos, associação de
moradores, de produtores e
trabalhadores rurais entre 3
outros; as lideranças
comunitárias são muito
participativas fazendo parte
de fóruns importantes para o
benefício das comunidades,
como o conselho gestor da
UC, conselhos de educação;
saúde, entre outros;
Alguns núcleos
populacionais localizados na
Mobilização UC, principalmente os de
maior concentração
Organização e
Sociocultural populacional, apresentam
social participação algumas organizações
formalizadas sobretudo em
comunitária
sindicatos, associação de 2
moradores, produtores e
trabalhadores rurais; sendo
a maioria ainda informal; as
lideranças comunitárias são
pouco participativas
limitando-se sua
participação no conselho
gestor da UC;
Poucos núcleos
populacionais localizados na
UC apresentam
organizações formalizadas,
sendo a maioria ainda
1
informal; a participação das
lideranças em fóruns
importantes para as
comunidades é fraca ou
nula;
Fonte: Elaboração própria (2013).
172

6.2.2 Resultados e Discussão


Os valores obtidos das análises dos cenários de gestão foram tabulados em
uma matriz bruta (Quadro 33) com a pontuação de todos os indicadores adotados
para análise da efetividade de gestão da APA Triunfo do Xingu.
Quadro 33 - Pontuação bruta dos indicadores de efetividade de gestão da APA Triunfo do Xingu
APA
Âmbito Variável Sub-variável Triunfo do
Xingu
Conservação e manejo da biodiversidade 1
Monitoramento da biodiversidade 1
Pressões sobre a UC 2
Integridade ambiental
Mudanças na cobertura vegetal 2
Importância biológica 3
Ambiente Conflitos usuários/gestores 1
Recuperação de
Projetos de recuperação de áreas degradadas 2
ecossistemas
Uso dos recursos naturais 1
Vulnerabilidade
Ameaça aos recursos naturais 1
Proteção Fiscalização 1
Plano de manejo 1
Instrumentos de gestão Zoneamento 1
Conselho gestor 3
Equipe técnica/operacional 2
Gestão
Sustentabilidade financeira 2
Administração Infraestrutura 1
Equipamentos e materiais 1
Controle gerencial 2
Acesso á crédito 1
Econômico Geração de renda
Sustentabilidade de cadeias produtivas 1
Regularização fundiária 1
Legal Marco legal Base legal 2
Cooperação interinstitucional 2
Politico
Governança Sistema de gestão de UC 2
institucional
Conhecimento tradicional Manutenção de processos tradicionais 1
Sociocultural
Organização social Mobilização e participação comunitária 2
Fonte: Elaboração própria (2013).
173

Posteriormente, os dados foram tabulados em uma matriz mais detalhada


com os cálculos dos totais ótimos e totais alcançados, que comparados entre si
geraram os valores percentuais, em cada grupo de indicadores.
Os valores percentuais obtidos foram comparados à escala de avaliação,
permitindo assim a classificação da efetividade de gestão da APA Triunfo do Xingu.
A partir da integração dos resultados da avaliação obteve-se o índice geral de
efetividade de gestão de 54,3% do ótimo para APA Triunfo do Xingu, representando
de forma geral que, dos 1.679.280,52 hectares de sua superfície, somente
911.849,32 hectares são geridos de forma a permitir o alcance dos objetivos para os
quais foi criada.
Podemos inferir também que apenas 54,3% do suporte total requerido pela
APA Triunfo do Xingu têm sido alcançados, ou seja, as condições de gestão
apresentadas pela unidade de conservação são consideradas medianamente
satisfatórias (Nível II).
A pontuação dentro deste nível nos permite inferir que a APA Triunfo do Xingu
possui certos recursos e meios indispensáveis para sua gestão, porém faltam ações
essenciais para melhorar a articulação entre as fases do ciclo de gestão; observa-se
uma condição de alta vulnerabilidade da UC que não garante sua existência em
longo prazo; os objetivos de conservação dificilmente podem ser alcançados em sua
totalidade.

6.2.2.1 Análise dos Grupos de Indicadores

De modo geral a unidade de conservação parece enfrentar problemas de


gestão na maioria das linhas de atuação, conforme os resultados dos 06 grupos de
indicadores analisados.
A pontuação de alguns grupos de indicadores é resultante da média da
pontuação de suas variáveis e sub-variáveis. O desempenho dos grupos de
indicadores quanto a efetividade de gestão apresentou uma classificação
diferenciada, conforme visualização nos gráficos 17 e 18.
174

Gráfico 17 - Desempenho geral dos grupos de indicadores

O indicador melhor pontuado foi o relativo ao Político-Institucional, com 66,6%


cada um em relação ao total ótimo possível de ser alcançado, o que indica um grau
de efetividade de gestão medianamente satisfatória.
Os indicadores Legais, de Gestão registraram respectivamente as médias de
55,5% e 54,4% em relação ao total ótimo possível de ser alcançado, o que indica
também um grau de efetividade de gestão medianamente satisfatória, porém com
desempenho gerencial inferior em comparação aos indicadores Politico-
Institucionais.
Os indicadores Socioculturais e Ambientais registraram respectivamente a
média de 49,9% e 47,1% em relação ao total ótimo possível de ser alcançado, o que
indica também um grau de efetividade de gestão medianamente satisfatória, porém
com desempenho gerencial ainda mais inferior do que os indicadores anteriores.
Os indicadores Econômicos registraram a média de 33,3% em relação ao
total ótimo possível de ser alcançado, o que indica um grau de efetividade de gestão
insatisfatória, com o pior desempenho gerencial de todos os outros indicadores.
175

Gráfico 18 - Desempenho detalhado dos indicadores


176

6.2.2.2 Indicadores Ambientais


Os resultados dos indicadores ambientais referentes a variável integridade
ambiental estão elencados no gráfico 19.

Gráfico 19 - Resultados do indicador ambiental, variável integridade ambiental

A média de pontuação do grupo variável integridade ambiental alcançou


55,5% do total ótimo. A baixa pontuação (33,3%) observada nos indicadores de
conservação e monitoramento da biodiversidade demonstra a insuficiência de ações
específicas de proteção das áreas críticas para conservação da biodiversidade na
APATX.
Há a necessidade de identificar as áreas importantes sob o ponto de vista de
proteção da biodiversidade na APATX, sobretudo nos fragmentos florestais
remanescentes que sofrem grande pressão.
Por exemplo, nas áreas da APATX contíguas às unidades de conservação
federais ainda há a ocorrência de importantes fragmentos florestais que poderão ter
intervenções para aumentar a conectividade e, assim, contribuir para a proteção de
espécies da flora e fauna da região.
A baixa pontuação observada no indicador de conflitos entre usuários e
gestores (33,3%) demonstra a grande pressão sobre os recursos naturais da APATX
que ainda resiste na região.
177

As atividades relacionadas com o extrativismo madeireiro e a pecuária ainda


resistem de forma ilegal provocando desmatamentos e incêndios florestais, mesmo
com as incursões pontuais de fiscalização.
O contexto de uso e ocupação da região da APATX e as lacunas de
ordenamento ambiental e fundiário complementam o cenário de conflitos entre os
órgãos ambientais e as populações locais que descumprem as leis ambientais por
resistência às normas legais, por desconhecimento ou por necessidade de
sobrevivência.
A pontuação mediana (66,6%) observada nos indicadores de pressões sobre
a unidade de conservação e de mudanças na cobertura vegetal demonstra certa
direção ao fortalecimento dos esforços para um maior conhecimento dos problemas
ambientais existentes na APATX.
Há um esforço integrado na região para gerar informações atualizadas das
mudanças de cobertura florestal ou do avanço de outras atividades degradantes sob
o ponto de vista ambiental.
As informações obtidas são extremamente importantes e que tem subsidiado
as ações de fiscalização e interrompido de maneira significativa o avanço do
desmatamento na APATX.
A pontuação máxima (100%) observada no indicador importância biológica
vem referendar a condição da APATX de agregar importantes ecossistemas e
espécies, sendo uma área considerada crítica para proteção da biodiversidade. Essa
condição ainda é pouco conhecida em função de que a APATX ainda carece de
estudos biológicos específicos que poderão referendar sua importância biológica.
Os resultados dos indicadores ambientais referentes a variável recuperação
de ecossistemas atingiram uma pontuação mediana (66,6%) observada no indicador
de projetos de recuperação de áreas degradadas, demonstrando certo
fortalecimento das ações de regularização ambiental na região da APATX.
Os esforços integrados nas esferas federal, estadual e municipal estão
fortalecendo as adesões ao CAR na região da APATX. O município de São Félix do
Xingu já alcançou mais de 80% das propriedades rurais com o referido cadastro e,
com isso, está sendo possível identificar os passivos ambientais das propriedades
rurais.
178

Os próximos passos estão concentrados na Licença de Atividade Rural (LAR)


que os proprietários rurais já estão requerendo para aprovação de financiamento.
Outro componente importante nesse processo de licenciamento é o Projeto
de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) que é solicitado em caso de
passivos ambientais.
Esses instrumentos estão contribuindo significativamente para o ordenamento
territorial e regularização ambiental na APATX, tendo como pontos fundamentais, e
que ainda estão em fase de elaboração, o protocolo estadual de restauração
florestal e o plano de manejo da APATX.
Os resultados dos indicadores ambientais referentes a variável
vulnerabilidade estão elencados no gráfico 20.

Gráfico 20 - Resultados do indicador ambiental, variável vulnerabilidade

A média de pontuação do grupo variável vulnerabilidade alcançou 33,3% do


total ótimo. A pontuação baixa (33,3%) observada nos indicadores do uso e ameaça
aos recursos naturais demonstra que a APATX ainda não está cumprindo seus
objetivos de conservação.
Ainda é recorrente a ocorrência de desmatamento ilegal, da extração
minerária ilegal, dos incêndios florestais, independentemente do período mais ou
menos chuvoso.
179

Outro fator preocupante na APATX é a predominância do uso do fogo no


preparo do solo para a agricultura ou para a renovação das pastagens, o que
demonstra que ainda muito trabalho deve ser feito para dar condições de produção
em consonância com as leis ambientais, e também, para conscientização dos
produtores rurais para a adoção de práticas mais sustentáveis de produção.
Em função de sua grande dimensão, a APATX apresenta muitos acessos por
uma extensa rede de estradas e de rios que se conectam dificultando ainda mais as
ações de prevenção ou interrupção da degradação ambiental, principalmente de
extração madeireira ilegal.
Assim, ainda que ações integradas de controle ambiental estejam em curso
gerando resultados significativos, os usos ilegais e as ameaças aos recursos
naturais da APATX permanecem fortalecidos e sempre buscando alternativas para
manutenção dos processos predatórios de exploração.
Os resultados dos indicadores ambientais referentes a variável
vulnerabilidade atingiram a pontuação baixa (33,3%) observada no indicador de
fiscalização demonstra que a APATX apresenta grande deficiência nessa ação.
As ações integradas de fiscalização na região da APATX têm ocorrido de
forma mais frequente e mais regular nos últimos meses em função dos altos índices
de desmatamentos registrados na região sudoeste do Pará.
O município de São Félix do Xingu sempre figura entre os municípios que
mais desmatam na região Amazônica e, nessas condições, a região consegue atrair
e agregar os esforços conjuntos das grandes operações de fiscalização.
Contudo, ainda que a APATX tenha usufruído dos resultados significativos de
redução do desmatamento, a mesma ainda não apresenta nenhum plano de
fiscalização ou uma logística especifica para essa ação.

6.2.2.3 Indicadores de Gestão

Os resultados dos indicadores de gestão referentes a variável instrumentos


de gestão estão elencados no gráfico 21.
A média do grupo variável instrumentos de gestão alcançou 55,5% do ótimo.
A pontuação baixa (33,3%) observada nos indicadores do plano de manejo e do
180

zoneamento demonstra que a APATX não dispõe desses importantes instrumentos


de gestão.
A ausência desses dois instrumentos para a gestão da APATX reflete
diretamente em ações importantes que certamente evitariam muitos conflitos e
ajudariam no alcance dos objetivos de conservação.

Gráfico 21 - Resultados do indicador de gestão, variável instrumentos de gestão

A pontuação máxima (100%) observada no indicador do conselho gestor


demonstra que a APATX concentrou esforços para dispor desse instrumento de
gestão. Porém, o mesmo não poderá contribuir para o cumprimento dos objetivos da
unidade sem ter como referencia o plano de manejo e o zoneamento.
Observamos que os esforços de formação do conselho gestor da APATX
através de estratégias de participação das comunidades têm renovado as
expectativas locais quanto á viabilidade da unidade. Portanto, a mesma deve se
esforçar para ter os três instrumentos de gestão de forma a alcançar seus objetivos.
Os resultados dos indicadores de gestão referentes a variável administração estão
elencados no gráfico 22. A média do grupo variável Administração alcançou 53,3%
do total ótimo. A pontuação baixa (33,3%) observada nos indicadores da
infraestrutura e dos equipamentos e materiais demonstra que a APATX não dispõe
de nenhuma logística para apoiar quaisquer outras ações.
181

Gráfico 22 - Resultados do indicador de gestão, variável administração

A base física utilizada pela unidade é compartilhada com outras instituições


ambientais que atuam no município de São Félix do Xingu que de certa forma
fortalece a gestão ambiental integrada.
A pontuação intermediária (66,6%) observada nos indicadores da equipe
técnica e operacional, da sustentabilidade financeira e do controle ambiental
demonstra certo fortalecimento nesse aspecto da gestão da APATX.
O suporte gerencial da equipe técnica é indispensável para as articulações
locais e o acompanhamento sistemático das ações.
A APATX conta com somente um técnico como ponto focal em sua base
física e outros três na sede do órgão gestor, e nenhum operacional. Essa situação é
contornada parcialmente pelas ações integradas com o município e com outros
parceiros locais.
Em relação ao controle gerencial, a APATX tem adotado instrumentos de
planejamento e monitoramento de suas ações de forma regular.
Contudo, os resultados auferidos não subsidiam o direcionamento de
recursos financeiros para ações consideradas deficientes. As decisões de aplicação
de recursos ainda são decididas de forma subjetiva e sujeitas a constantes
alterações, prejudicando a execução das ações planejadas.
182

No caso da sustentabilidade financeira, a APATX conta com estratégias de


captação de recursos que têm ajudado algumas ações de gestão, principalmente as
relacionadas com a formação e funcionamento do conselho gestor.
A realização de ações conjuntas tem gerado resultados positivos para a
gestão da APATX. Alguns acordos de cooperação técnica ou mesmo ações
informais integradas têm apoiado ações importantes em gestão participativa,
monitoramento de desmatamento e regularização ambiental das propriedades rurais.

6.2.2.4 Indicadores Econômicos

Os resultados dos indicadores econômicos referentes a variável geração de


renda estão elencados na gráfico 23.
A média do grupo variável geração de renda alcançou 33,3% do total ótimo. A
pontuação baixa (33,3%) observada nos indicadores acesso a crédito e de
sustentabilidade de cadeias produtivas demonstra que as propriedade rurais na
APATX não dispõem de nenhum apoio a alternativas de desenvolvimento local.
Nessas condições, as atividades econômicas relacionadas ao extrativismo
madeireiro ilegal e a pecuária extensiva terão plenas condições de ainda predominar
na região.

Gráfico 23 - Resultados do indicador econômico, variável geração de renda


183

A forma predatória de desenvolvimento das referidas atividades são


altamente prejudiciais à gestão da APATX, reduzindo significativamente as
possibilidades de alcance de seus objetivos de conservação.
O fortalecimento de arranjos produtivos alternativos com a inserção da
fruticultura, como o cacau, associado aos projetos de reflorestamento são
alternativas que estão sendo implantadas no município de São Félix do Xingu, e
muitas propriedades rurais localizadas na APATX estão aderindo a essas iniciativas.
Contudo, para consolidar essas alternativas de desenvolvimento econômico
na região são necessárias ações integradas que extrapolam às ambientais, como
viabilizar infraestrutura de acesso e transporte, de saneamento básico, de
eletrificação rural, de créditos bancários e de mercado.
Nesse caso, as populações residentes na região da APATX que não contam
com toda essa infraestrutura não poderão migrar para atividades econômicas
diferentes.
Os esforços integrados para adesão ao CAR são estrategicamente
importantes para que os proprietários rurais na região da APATX possam ter sua
situação ambiental regularizada e assim facilitar a obtenção da LAR e o acesso a
financiamentos para projetos considerados mais sustentáveis sob o ponto de vista
ambiental.

6.2.2.5 Indicadores Legais

Os resultados dos indicadores legais referentes a variável regularização


fundiária, base legal e cooperação institucional estão elencados no gráfico 24.
A média do grupo variável marco legal alcançou 55,5% do total ótimo. A
pontuação baixa (33,3%) observada nos indicadores de regularização fundiária
demonstra que as propriedades rurais na APATX não dispõem da questão fundiária
resolvida.
Na região da APATX o processo de grilagem de terras públicas tem sido
devastador, principalmente para as populações locais. Muitas famílias ribeirinhas
que residiam à gerações ou famílias de pequenos agricultores foram expulsas de
suas terras ou de seus lotes pelos novos proprietários de terras.
184

Gráfico 24 - Resultados do indicador legal, variável marco legal

A maioria delas tem se deslocado para as áreas periféricas da sede do


município de São Félix do Xingu, e outras tem sido remanejadas para os vários
assentamentos de reforma agrária do INCRA, sendo que alguns desses
assentamentos foram implantados na área da APATX.
Dessa maneira, os grandes proprietários rurais cada vez mais agregam os
lotes das famílias às suas propriedades e aumentam a área de desmatamento ilegal
para expansão da pecuária extensiva.
Essa situação fundiária indefinida tem contribuído significativamente para os
conflitos na região e para a degradação ambiental, principalmente pelo
desmatamento e incêndios florestais.
Nessas condições, as atividades econômicas relacionadas ao extrativismo
madeireiro ilegal e a pecuária extensiva terão plenas condições de ainda predominar
na região.
A pontuação mediana (66,6%) dos indicadores da base legal demonstra que a
APATX apresenta um suporte normativo ambiental bem elaborado.
O decreto de criação da APATX contempla as principais informações
recomendadas pelo SNUC, sobretudo em relação a definição de limites geográficos
e objetivos de conservação.
185

A regularização ambiental das propriedades rurais está bem fundamentada


nos instrumentos normativos do CAR e da LAR que estão fase de aplicação no
município de São Félix do Xingu e em muitas propriedades rurais localizadas na
APATX.
Contudo, ainda há muitas resistências e desconfianças às adesões à esses
instrumentos regulatórios pelos proprietários rurais motivadas principalmente das
irregularidades fundiárias e dos interesses de setores econômicos locais para a
manutenção do processo de exploração ilegal dos recursos naturais da região.
A pontuação mediana (66,6%) dos indicadores de cooperação
interinstitucional demonstra que a APATX dispõe de uma rede de parcerias para seu
suporte gerencial.
O município de São Félix do Xingu tem agregado nos últimos anos diversos
projetos e programas voltados para a contenção do desmatamento ilegal,
desenvolvidos por organizações governamentais e não-governamentais.
Muitas dessas iniciativas promovem ações diretas na área da APATX e
contribuem significativamente com a gestão da mesma.
Elencamos duas que consideramos importantes. A implantação do projeto
Pacto para Redução do Desmatamento Ilegal, coordenado pelo MMA, e a gestão
ambiental descentralizada conduzida pela SEMA, que são fundamentais para o
suporte da gestão da APATX.
Assim, a gestão da APATX tem usufruído das ações de regularização
ambiental das propriedades rurais, a qualificação de pequenos produtores rurais em
arranjos produtivos locais, a fiscalização e controle ambiental e o fortalecimento e
valorização das organizações sociais, que estão contribuindo para a redução do
desmatamento na região entre outras conquistas.
Entretanto, essa cooperação interinstitucional que tem beneficiado a gestão
da APATX deve evoluir para uma gestão integrada em nível de mosaico de unidades
de conservação da região da terá do meio.

6.2.2.6 Indicadores Politico-Institucionais

Os resultados dos indicadores politico-institucional referentes a variável


governança alcançaram 66,6% do total ótimo. A pontuação mediana (66,6%)
186

observada nos indicadores do sistema de gestão de unidades de conservação


(Gráfico 25) demonstra que o órgão gestor da APATX ainda não prioriza o
fortalecimento da gestão do sistema estadual de unidades de conservação.

Gráfico 25 - Resultados dos indicadores político=institucionais e socioculturais

Não há um sistema de gestão que estabeleça diretrizes de conservação que


contemplem as peculiaridades regionais das unidades de conservação estaduais,
que estabeleçam categorias de manejo específicas, e que fortaleçam a gestão
integrada e participativa nas unidades. Essa é uma das condições essenciais para
que as unidades de conservação estaduais possam cumprir seus objetivos de
conservação, inclusive a APATX. A reestruturação institucional ainda está em fase
de discussão, e em especial, algumas propostas são direcionadas para a criação de
um instituto que se dedique exclusivamente para a gestão do sistema estadual de
unidades de conservação. Por outro lado, a ações de gestão ambiental
desconcentrada e descentralizada já está alcançando muitos municípios no Pará,
fortalecendo as prefeituras inclusive para a criação e gestão de unidades de
conservação municipais.
Os municípios sob embargo econômico em função dos altos índices de
desmatamento, como é o caso de São Félix do Xingu, estão sendo orientados de
forma prioritária.
187

6.2.2.7 Indicadores Socioculturais

Os resultados dos indicadores socioculturais referentes a variável


conhecimentos tradicionais alcançaram 33,3% do total ótimo. A pontuação baixa
(33,3%) observada nos indicadores de manutenção dos processos tradicionais
demonstra que na APATX ainda predomina as atividades econômicas baseadas na
grande propriedade rural, principalmente a pecuária (Gráfico 25).
O processo de uso e ocupação do território substituiu de forma drástica o
modo de vida das populações locais, que rapidamente de populações ribeirinhas
que buscam os meios de sobrevivência nos rios para a pesca, a caça e a agricultura
de subsistência, para núcleos populacionais formados por agricultores familiares a
grandes proprietários rurais que se instalaram ao longo das estradas madeireiras.
A mudança desse modo de vida também foi influenciada pela origem das
famílias de agricultores que chegavam de outras regiões para trabalhar na cadeia
produtiva madeireira e pecuária.
Além disso, não havia condições favoráveis para o desenvolvimento da
agricultura familiar pelas famílias remanescentes que deixavam suas terras. Muitas
delas foram remanejadas para assentamentos de reforma agrária que, mesmo os
projetos atuais, não dão condições de sobrevivência para as famílias assentadas.
Outro problema dos referidos assentamentos são os altos índices de
desmatamento ilegal e incêndios florestais registrados, sendo que alguns deles
estão localizados na área da APATX.
Esse fato é notório em função da falta de condições de produção que leva às
famílias assentadas a permitir a retirada de madeira de forma ilegal de seus lotes e,
também, do uso do fogo para preparo de área para agricultura ou para a renovação
das pastagens.
Assim, é necessário incentivar o fortalecimento de outras cadeias produtivas
que não seja baseada no extrativismo madeireiro ou na pecuária. Algumas
iniciativas estão em andamento na região, como os incentivos à produção de cacau.
Contudo, isso só será possível com a questão fundiária encaminhada para
uma solução, evitando a grilagem de terras e a expulsão das famílias
remanescentes.
188

São pontos essenciais que devem ser resolvidos de maneira que possam
contribuir para o alcance dos objetivos de conservação da APATX.
Os resultados dos indicadores socioculturais referentes a variável
organização social alcançaram 66,6% do total ótimo. A pontuação mediana (66,6%)
observada nos indicadores de mobilização e participação comunitária (Gráfico 25)
demonstra que na APATX as organizações sociais estão ativas e têm participado de
debates buscando os benefícios para os proprietários rurais, principalmente para os
pequenos produtores.
Em função do embargo econômico ao município de São Félix do Xingu em
função da necessidade de redução dos altos índices de desmatamento registrados
na região desencadeou uma série de mobilizações do poder público e da sociedade
civil para reversão de cenário para, assim, evitar o colapso socioeconômico que
poderia se agravar.
Os segmentos políticos e econômicos sustentados pela exploração
madeireira e na pecuária historicamente dominam a região e não tem medido
esforços para que as ações de regularização e controle ambiental sejam bem
sucedidas no município.
Assim, as mobilizações de segmentos rurais, principalmente de pequenos
produtores ou de assentados foram de coibidas na região, e nos últimos anos têm se
fortalecido incentivadas por projetos e programas que visam a redução do
desmatamento ilegal na região.
A APATX tem se beneficiado desse processo de mobilização social e conta
desde 2011 com o conselho gestor formado e atuante com a presença de
importantes lideranças comunitárias residentes na área.
Além disso, há um processo de fortalecimento dessa participação social em
outros conselho ou fóruns, em projetos e cursos de qualificação voltados para a
busca de alternativas econômicas mais sustentáveis.
189

6.3 CONCLUSÕES

Os indicadores escolhidos representaram de forma clara e objetiva a situação


atual da gestão da unidade. A busca por indicadores que melhor possibilitariam a
visibilidade da situação atual da gestão teve como fonte de consulta diversas
metodologias citadas nesse capítulo, principalmente aquelas que foram aplicadas
em campo.
Procuramos construir uma escala de qualificação da efetividade de gestão
com um número mínimo de níveis que pudessem representar de forma objetiva a
situação atual da unidade estudada.
Os indicadores desse estudo procuraram contemplar o ciclo de gestão e suas
fases recomendadas pela WCPA/IUCN e que norteiam a construção de métodos de
avaliação de efetividade da gestão.
Contudo, a disposição dos indicadores que adotamos nesse estudo não
obedeceu rigidamente a cada uma das fases do ciclo de gestão, pois entendemos
que para proceder às análises correlacionadas, entre os indicadores individualmente
ou em grupo, não necessariamente eles devem estar dispostos de acordo com uma
determinada fase de gestão.
A construção dos cenários foi uma das fases mais complexas do processo de
construção metodológica, pois cada um deles está relacionado com um dos três
níveis de qualificação. A complexidade de construção dos cenários reside pelo fato
de que os mesmos agregam as situações ideais de gestão e as conflitantes com os
objetivos da APATX. Além disso, buscamos identificar as situações intermediárias
que consideramos transitórias, tanto para melhorar ou para piorar a gestão.
O acompanhamento de todo o processo de formação e funcionamento do
conselho gestor, como também das outras fontes de informação elencadas nesse
capitulo, foi fundamental para identificar as condições de qualificação da gestão.
De maneira geral os resultados evidenciaram que a gestão da APATX carece
de ações fundamentais para que possa alcançar seus objetivos.
O comportamento dos indicadores demonstra uma forte relação entre os
diferentes grupos, e observamos que o desempenho de uns influencia diretamente
no desempenho de outros.
190

Os gráficos evidenciaram a formação de três grupos diferenciados de desempenho


gerencial. Alguns componentes de gestão importantes para a APATX como, por
exemplo, a sustentabilidade das cadeias produtivas, a regularização fundiária, o
plano de manejo e zoneamento, estão entre os níveis mais baixos de desempenho
gerencial.
Assim, outros componentes como os conflitos entre usuários e gestores
também apresentaram desempenho gerencial baixo. A redução dos conflitos está
diretamente relacionada com a melhoria gerencial dos outros componentes
elencados anteriormente.
Alguns componentes apresentaram desempenho gerencial mediano como,
por exemplo, nos componentes de cooperação interinstitucional e mobilização e
participação comunitária. Esses resultados evidenciam os resultados dos esforços
de promoção dos espaços para a gestão participativa, tentando agregar lideranças e
os diferentes setores produtivos da região.
Os esforços do poder público e de organizações não governamentais para
fortalecer a gestão ambiental local pelas prefeituras têm surtido resultados positivos
para o município de São Félix do Xingu e para a gestão da APATX.
Assim, o mediano desempenho gerencial de componentes importantes para
que a APATX possa alcançar seus objetivos, como por exemplo, as pressões e
ameaças aos recursos naturais, têm plenas condições de avançar para níveis
melhores de efetividade.
Por fim, os dois componentes que apresentaram melhor desempenho
gerencial, o conselho gestor e a importância biológica, evidenciam condições
importantes para que a APATX possa alcançar seus objetivos.
Um conselho gestor bem representativo e atuante poderá ajudar o órgão
gestor a buscar as soluções necessárias não só para a melhoria gerencial da
APATX, mas também para a melhoria da qualidade de vida das populações
residentes e para a proteção da biodiversidade.
É de grande importância para gestão da APATX o reconhecimento de que a
mesma seja integrante de áreas críticas para conservação da biodiversidade.
Nessas condições, a unidade de conservação terá mais possibilidades de agregar
ações de proteção de biodiversidade existente na região e, consequentemente, de
melhorar seu desempenho gerencial.
191

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