PDF - Juliana de Paiva Teixeira Fernandes PDF
PDF - Juliana de Paiva Teixeira Fernandes PDF
PDF - Juliana de Paiva Teixeira Fernandes PDF
JOÃO PESSOA
2019
JULIANA DE PAIVA TEIXEIRA FERNANDES
JOÃO PESSOA
2019
É expressamente proibido a comercialização deste documento, tanto na forma impressa como eletrônica.
Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na
reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano do trabalho.
Aos meus pais, Jurandi e Lutelcia, pela luta diária que enfrentam para dar o
melhor a mim e o meu irmão, apoiando da maneira que podem financeiramente e
emocionalmente, me passando sempre confiança, para que eu pudesse concluir da
melhor forma. E assim, sendo sempre meus exemplos de pessoas dedicadas,
batalhadoras, honestas e que lutam pelos seus sonhos. É para eles que retribuo o que
conquistei até agora e tenho imensa gratidão por tudo. Principalmente, a minha mãe
que mesmo com os problemas de saúde enfrentado durante esse período, nunca me
deixou baixar a cabeça, dando todo apoio para seguir em frente.
Ao meu irmão, Mateus, pela paciência que sempre tem comigo e por ser
sempre um incentivador em meus projetos e objetivos profissionais.
Por fim, a todos que contribuíram nesta etapa, minha eterna gratidão.
RESUMO
This monograph aims to discuss the new legal protection to combat violence against
women, the Law of the Feminicide of 13.104, which was sanctioned on March 9, 2015,
changing the Brazilian Penal Code in its article 121, making feminicide as qualifying
circumstance of the crime of homicide in cases against the woman by domestic and
familiar violence or contempt or discrimination to the condition of being woman. The
objective is to analyze the main difficulties to combat violence against women,
notwithstanding the existing legal framework for this purpose. Much progress has been
made in Brazil and in the international arena in terms of protecting women, but this
type of violence remains a challenge. In this way, we ask ourselves: in Brazil, what are
the main difficulties in combating violence against women? Why was the Maria da
Penha Law not enough to confront this kind of violence? What are the social and legal
repercussions of the Law of Feminicide? The issue is justified by the fact that violence
against women is a social problem of particular importance, and it also prompts several
discussions in the academic world. Regarding the methods of procedures used, the
research of source of the bibliographic type was adopted, using references already
published in the form of books, magazines, jurisprudence and written press. Finally, it
is concluded that the woman is the victim of a discriminatory history that generates
violence. Many initiatives have been taken to combat these aggressions, such as the
Maria da Penha Law in Brazil. However, a number of practical difficulties persist, and
the numbers of violence against women are still a source of concern.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46
8
1 INTRODUÇÃO
Conforme Pinaffi (s/d, p.03), foi no século XIX que houve a consolidação do
sistema capitalista, acabando de acarretar grandes mudanças, as quais as mulheres
passaram a trabalhar nas fábricas, levando a lutar pela igualdade de gêneros.
Assim, com o passar do tempo, movimentos feministas foram formando-se e a
mulher foi ganhando força para lutar contra o machismo cultural criado pela sociedade
ao longo de décadas, mostrando seu potencial, podendo usar calça, dirigir, sair
sozinha, cortar o cabelo, sem subordinação, conquistando sua independência e
confiança.
Foram grandes as lutas para que as mulheres fossem conseguindo aos poucos
seu espaço, e quebrando as barreiras de desigualdades com os homens, e com isso
dois grandes movimentos foram importantes para essas conquistas, foram eles o
feminista e o sufragista, ambos em meados do século XIX. O movimento feminista
lutou contra a desigualdade política e de direitos, já o sufragista lutou pela garantia de
voto pelas mulheres nas eleições.
Como já dito acima a mulher sempre foi criada para ser “dona do lar”, sendo
educada para os afazeres domésticos, portanto, somente após 1827 que aqui no
Brasil foi permitido o direito de estudar e frequentar a escola (ALÓ, s/d)
Conforme o Código Civil de 1916, a mulher era totalmente dependente do
marido, assim menciona Aló (s/d):
Por fim, com uma luta árdua e alguns direitos conquistados, a Constituição de
1988 veio para igualizar o direito entre homens e mulheres, através do seu artigo 5º,
inciso I, bem como tornando os direitos e deveres da sociedade conjugal exercido por
ambos, em seu artigo 223. Assim, sendo uma Carta Magna legislativa forte para o
reforço e luta dos demais direitos de igualdade de gênero e reconhecimento da mulher
na sociedade.
14
Foram nove anos sendo abusada praticamente todos os dias. Era algo
cotidiano, coisa rotineira. Perdi as contas de quantas vezes fui vítima.
Tinha vez que chegava a ser estuprada duas vezes no dia.
Não tenho como dizer o que foi mais terrível, porque tudo foi muito
ruim. No entanto, os abusos e os estupros foram mais fortes. As
torturas que sofri mexeram muito comigo, com o meu psicológico. Em
determinadas ocasiões, passava um dia inteiro sendo torturada,
destacou. (ALVES, 2019)
O domínio patrimonial do homem com sua esposa sempre foi muito comum nos
primórdios dos tempos, já que a mulher era objeto do seu marido, sendo ele
responsável por administrar seus bens.
A medida que o tempo foi passando e a mulher foi conquistando sua
independência esse domínio passou a ser violência patrimonial, e o homem que tenta
controlar o salário e bens da sua esposa, tentando subtrair e usufruir deles sem sua
autorização, está cometendo crime.
Por fim, temos a violência moral que está interligada com a violência psicológica
da mulher a qual define Aló (s/d):
Assim, podemos resumir esses cinco tipos de violência como os mais comuns
que as mulheres sofrem diariamente, bem como estes em muito dos casos são
realizados de forma sequencial, começando de uma violência psicológica até chegar
em uma violência física, as quais ocorridas de forma rotineira tendem a se agravar e
ocorrer por fim um feminicídio.
Este foi um marco na luta pela igualdade de gênero, por ser uma
organização em que suas ações possuem reverberações de alcance
mundial, levando os chefes de Estado a si posicionarem com ações
concretas, trazendo para o universo público algo que se escondia no
âmbito privado, fazendo com que, desde então, várias ações fossem
17
Desse modo, foi-se abrindo um novo olhar para a proteção da mulher, que
sofria silenciosamente, violentada de forma submissa, sem ter arma nenhuma para se
proteger.
A luta baseia-se em excluir as barreiras de pensamentos formadas em que o
homem é possuidor da mulher, podendo fazer o que puder com ela, inclusive matá-la
por uma obsessão cega e egoísta.
A força feminista continuou ativa em defesa das mulheres, sendo de tamanha
importância em defesa nos anos de 1979 e 1981 dos dois casos de grande relevância
e que chocaram o Brasil, foram eles os de Ângela Diniz e Eliane de Gramont, as quais
foram mortas por seus companheiros de forma violenta e fria, como assim descrevem
Pellegrino e Miklos (2019) o ocorrido em relação ao caso de Ângela Diniz:
Foi assim que a união das mulheres foi fazendo força, calando a voz daqueles
que queriam lhe calarem, e aos poucos abrindo novos projetos para somar com essa
luta a favor das mulheres, assim citado Biella (2005, p.22):
Maria da Penha é um exemplo de mulher que aguentou calada por muitos anos
todo o sofrimento que passava com seu marido, deixando essa violência chegar ao
extremo, a qual causou quase sua morte.
Todavia, ela não deixou se abalar pelos traumas sofridos, fazendo desses sua
arma para lutar e se unir as outras milhares de mulheres que sofriam do mesmo caso,
nascendo assim a Lei 11.340/2006, elaborada por um consórcio de entidades
feministas, sendo encaminhada ao Congresso Nacional e sancionada pelo ex-
presidente Luiz Inácio.
21
Por fim, a luta em combate a violência não cessou, por mais que a Lei Maria da
Penha tenha sido tamanha importância, trazendo consigo medidas protetivas para a
mulher e medidas punitivas ao agressor, estas não foram suficientes.
Em razão das falhas existentes na Lei Maria da Penha, como também da
atuação do Judiciário e demais poderes quanto a ela, além dos aspectos machistas e
culturais enraizados em nossa sociedade, gerando assim o aumento de assassinatos
de milhares de mulheres, pelo fato de serem mulheres, houve a necessidade da
criação de uma nova lei para a criminalização destes fatos de forma mais rígida.
Assim, em 9 de março de 2015 foi sancionada a Lei nº 13.104/15, a qual alterou
o Código Penal, no seu artigo 121, prevendo o feminicídio como circunstância
qualificadora do crime de homicídio em casos contra mulheres por violência doméstica
e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher.
22
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403,
de 2011).
(...)
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
A falta de políticas públicas por parte do governo faz com que haja uma grande
falha estrutural na execução da Lei Maria da Penha, bem como na aplicabilidade das
medidas protetivas e de urgência e o acompanhamento adequado desses processos,
os quais tratam de casos delicados que vão além de uma punição rígida, mas também
a procura de uma infraestrutura social para com esses lares.
Como já exposto no capítulo acima, a Lei 11.340/06 trouxe a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar para facilitar a movimentação desses
processos e o acompanhamento adequado com estes.
Ocorre que a criação deles não se ampliou, principalmente nas comarcas dos
interiores, sendo um grande problema para eficácia na execução dos processos
relacionados a violência doméstica, os quais deveriam ser vistos com preferência,
mas em decorrência de estarem em muitas vezes misturados com processos de
28
Essa carência estrutural faz com que o trabalho dos magistrados seja
prejudicado, até porque é nos interiores que existem o maior números de casos de
violência doméstica, em razão de pensamentos ignorantes, machistas e culturais dos
moradores destas cidades, como também da ociosidade, a qual leva alguns sujeitos
ao vício cultural no alcoolismo, fazendo com que os grandes casos de violência
doméstica sejam realizados em conjunto com dependência química.
Na comarca de Guarabira, por exemplo, esse é um dos grandes problemas,
não há Juizado de Violência Doméstica e Familiar, fazendo com que esta competência
seja realizada por uma Vara Mista, a qual possui um total de 2.726 processos, os
quais em sua maioria são de crimes relacionados a violência doméstica e medidas
protetivas de urgência. Assim, é complicado atuar com processos tão delicados juntos
em uma Vara só. Se houvesse uma única Vara específica para isso, o trabalho seria
com muito mais eficiência e celeridade.
Outra grande falha, a qual a prática é totalmente diferente da teoria, é o
encaminhamento pela autoridade policial do pedido de medida protetiva em um prazo
de 48 horas. Geralmente, o prazo dura mais de dois dias, fazendo até que a mulher
se abstenha em continuar a demanda, requerendo a renúncia da representação
perante o juiz.
Em razão disso, há um projeto de lei em análise, de número 11/2019, além de
outro já vetados, com a intenção de dar a oportunidade a autoridade policial aplicar a
medida protetiva de forma imediata para amparar a vítima, afastando o agressor após
ser identificado em acolhimento humanizado o risco atual e iminente a mulher, sendo
necessário retirar de forma imediata o agressor do convívio familiar. Desse modo,
29
Pela Lei Maria da Penha atual, apenas o juiz pode fixar medidas
protetivas de urgência. “Todavia, a demora na formação do processo
até chegar às mãos da autoridade judiciária pode resultar em tragédias
como tem se observado nos noticiários, nas quais o companheiro
acaba com a vida de sua companheira antes que o pedido seja
analisado”, afirma a parlamentar.
O Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao
Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu
padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e
comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu
fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos.
Erica Veras também relata a eficiência que esse trabalho vem causando,
trazendo um sucesso de resultados que nem ela mesmo esperava, assim enfatiza:
31
Dessa forma, o sujeito ativo será qualquer pessoa que matar uma mulher em
caso de violência doméstica ou por questão de gênero. Sendo a mulher o único sujeito
passivo desta, ou seja o sexo feminino.
34
Conclui-se que este crime não cabe graça, anistia, indulto e fiança, sendo o
regime de cumprimento da pena inicialmente fechado.
Destaca-se também que antes da Lei 13.104/15, o feminicídio era enquadrado
de forma genérica podendo ser qualificado apenas por motivo fútil ou torpe, ou por
dificuldade da vítima se defender. Hoje, há expressão direta de homicídio qualificado.
Podendo também ser condenado pelas qualificadores de torpeza ou futilidade,
conforme o julgado do Ministro Cordeiro (2018) “não caracteriza bis in idem o
reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de
homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar”.
Portanto, foi a partir da Lei 13.104/15 que o assassinato de mulher em razão
do sexo feminino por violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à
condição de ser mulher passou a figurar tanto no rol das circunstâncias qualificadoras
do crime de homicídio, como também no rol dos crimes hediondos, desvelando um
fenômeno social tão grave que precisava ser enfrentado com qualidade, pois foi a
partir da nominação do problema com a visibilidade que lhe foi dada, foi possível se
extrair dados estatísticos qualificados para a elaboração de políticas públicas,
tratando-se de uma caminhada que ainda precisa muito a se enfrentar.
Ela procurou a polícia e a Justiça mais uma vez, mas não pode esperar
em casa. Sueli Amoedo, coordenadora dos Direitos da Mulher da
cidade dela, diz que sempre consegue um abrigo, mas nunca
imediatamente: “A gente sai procurando. Daí você recebe negativa
num primeiro local, aí você vai para um segundo local, até você
conseguir abrigar. Mas demora um pouquinho. Uns três dias, uns
quatro dias, até ter uma resposta. O que pode acontecer nesses
três, quatro dias? A morte dela. Esses três, quatro dias são
determinantes para elas viverem ou não”. (grifei)
A Lei do Feminicídio enfrenta críticas negativas diárias, seja por tratarem como
inconstitucional, ou por acharem desnecessário sua existência por parte de alguns
operadores do direito, encontrando grandes impasses também na aplicação do motivo
torpe no aumento de sua pena, interpretando sua aplicação como bis in idem, assim
expressa negativamente Cabete (2015, p.36):
Ocorre, que a Lei do Feminicídio não trata-se de uma mera criação do Direito
Penal Simbólico, mas sim de uma necessidade de combater os vários casos de
mulheres mortas por discriminação de gênero e em casos contínuos decorrentes de
violência doméstica, como mostra-se os números estaticamente provados, até já
citados neste trabalho, bem como os casos ocorridos diariamente, de grande
repercussão mostrados pelas mídias.
Nesta esteira, Batini (2019) ressalta a importância da Lei 13.104/15:
atuarem com cautela nesses casos, pois foi visto neste trabalho que caracterizar o
crime de feminicídio não é fácil, portanto não pode ser feito de qualquer forma.
Desse modo, ressalta Bandeira em entrevista feita a Ministra Carmen Lúcia:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Penal Brasileiro. 27.ed., Editora Rideel, São Paulo, 2018.
https://epoca.globo.com/apenas-3-em-cada-10-assassinatos-de-mulheres-sao-
legalmente-enquadrados-como-feminicidio-no-brasil-22966910 > Acesso em 15 de
março de 2019.
VILELA, Carolina. Feminicídio: Lar é o lugar mais perigoso para mulheres, diz
ONU. 2018. Disponível em < https://noticias.r7.com/internacional/feminicidio-lar-e-o-
lugar-mais-perigoso-para-mulheres-diz-onu-26112018 > Acesso em 11 de março de
2019